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Ergonomia e

Medicina do
Trabalho
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO
MARCOS RODOLFO DA SILVA
GISELLY SANTOS MENDES
AUTORIA
Elaine Christine Pessoa Delgado
Sou formada em administração de empresas pela Universidade
Federal de Campina Grande (2007), e tenho uma experiência técnico-
profissional de mais de 10 anos na área de gerência de empresas.

Marcos Rodolfo da Silva


Sou Graduado em Enfermagem, Pós-Graduado em Enfermagem
do Trabalho, Técnico em Radiologia e Instrumentador Cirúrgico pelo
Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB),
2010 - 2012 e 2008, respectivamente. Além disso, ao longo de minha
carreira, participei de cursos na área de urgência e emergência e atuei
como enfermeiro supervisor no Pronto Socorro Municipal Dr. Oscar Pirajá
Martins, na cidade de São João da Boa Vista (SP), de março de 2011 a
janeiro de 2014. Atualmente sou acadêmico do 5° ano do curso de Medicina
no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Unifae, São
João da Boa vista (SP). Além disso, desenvolvo materiais didáticos como
professor conteudista nas áreas de saúde pública, saúde do idoso, direito
à saúde e áreas correlatas.

Giselly Santos Mendes


Sou Mestre em Qualidade Ambiental, Tecnóloga em Polímeros,
Administradora, Educadora com uma experiência técnico-profissional de
mais de 12 anos na área de Processos Gerenciais e Educacionais.

Somos apaixonados pelo que fazemos e gostamos de transmitir


nossas experiências de vidas àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fomos convidados pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Medicina do Trabalho, Conceito e Legislação...................... 12
Conceito de Medicina do Trabalho ................................................................... 12

Legislação da Medicina do Trabalho ............................................................... 14

Impactos do Trabalho Sobre a Saúde e Segurança dos Trabalhadores 19

Atividades Insalubres, Perigosas e a Toxicologia


Ocupacional .............................................................. 22
Atividades Perigosas ............................................................................................ 22

Atividades Insalubres ........................................................................................... 26

A Toxicologia Ocupacional Relacionada com a Medicina do Trabalho ... 29

Medidas Preventivas e Especiais de Proteção .................... 32


Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho ............................................ 32

Medidas Especiais de Proteção ....................................................................... 36

Conduta Médico - Operacional ....................................... 41


Acidentes de Trabalho......................................................................................... 41

Doenças Ocupacionais ........................................................................................ 45

Conduta Médico-Operacional Pertinente à Medicina do Trabalho ...........51


Ergonomia e Medicina do Trabalho 9

04
UNIDADE
10 Ergonomia e Medicina do Trabalho

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Medicina do Trabalho não busca apenas a
prevenção de doenças e de acidentes do trabalho? Sabia que existem
várias medidas preventivas de Medicina do Trabalho? A vida dos
funcionários e o seu bem-estar são essenciais para conservar um bom
ambiente laboral. Para que os locais de trabalho sejam efetivamente
ambientes seguros, existem medidas obrigatórias que devem ser tomadas
para evitar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, auxiliando
nos casos de trabalhos insalubres ou perigosos. A Medicina do Trabalho
busca a prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, a promoção
da saúde e da qualidade de vida, com o intuito de possibilitar uma boa
relação entre pessoas e o seu trabalho. Existem alguns programas que
são fundamentais para auxiliar na prevenção às doenças e aos acidentes
de trabalho, como o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
e o Programa de Gerenciamento de Riscos. Nesta unidade iremos
compreender a Medicina do Trabalho e as normas referentes a esse
campo, as atividades perigosas e insalubres, a toxicologia ocupacional
e as respectivas medidas preventivas e especiais de proteção, como
também as doenças ocupacionais, as doenças do trabalho e a atuação
médica relacionada com a Medicina do Trabalho.

Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!


Ergonomia e Medicina do Trabalho 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Definir medicina do trabalho, compreendendo sua legislação e os


impactos das doenças ocupacionais sobre a saúde e segurança
dos trabalhadores.

2. Discernir sobre as atividades insalubres e perigosas, entendendo


a toxicologia ocupacional e seus impactos sobre a saúde do
trabalhador.

3. Descrever as medidas preventivas e as especiais de proteção da


medicina do trabalho.

4. Analisar os acidentes de trabalho, identificando as doenças


ocupacionais associadas e as respectivas condutas médico-
operacionais relacionadas.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Medicina do Trabalho, Conceito e


Legislação

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de identificar o


conceito de Medicina do Trabalho, quem são os médicos
do trabalho, explicar a legislação da Medicina do Trabalho
e os impactos do trabalho sobre a saúde e segurança dos
trabalhadores. E então, motivado para desenvolver esta
competência? Avante!.

Conceito de Medicina do Trabalho


Macedo (2008) define a Medicina do Trabalho como a especialidade
que aborda as relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores
e seu trabalho, buscando não apenas a prevenção das doenças e dos
acidentes de trabalho, mas também a promoção da saúde e da qualidade
de vida, por meio de ações propícias para garantir a saúde individual e
possibilitar uma relação saudável entre as pessoas e seu trabalho.

Para Prazeres (2018), a Segurança e Medicina do Trabalho pode ser


conceituada como uma das divisões do Direito do Trabalho, encarregada
de fornecer condições de proteção à saúde dos empregados no ambiente
laboral e de sua recuperação quando não tiverem condições de realizar
suas atividades.

NOTA:
Ela é uma especialidade médica que tem como propósito
a promoção, a proteção e a recuperação da saúde das
pessoas que laboram nos mais variados trabalhos e com
as mais diferentes relações empregatícias, mencionam
Bandini et al. (2017).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 13

A Medicina do Trabalho é baseada na ciência e deve buscar


comprovadas tecnologias disponíveis como instrumentos de trabalho,
assim como tem raízes no humanismo pragmático e engloba aspectos de
relacionamento humano, ético, jurídico trabalhista e previdenciário, afirma
Souto (2005).

A Medicina do Trabalho deve ser compreendida como a arte de


estudar, precaver e cuidar das doenças que derivam do trabalho, fazendo
uso dos fundamentos técnico-científicos da Medicina em suas execuções
pessoais e coletivas, tendo como ponto inicial as relações mútuas que
conectam os problemas de saúde (Figura 1) ou doença dos trabalhadores
ao ambiente físico e social no qual trabalham ou convivem, esclarece
Souto (2005).
Figura 1 - Problemas de saúde

Fonte: Freepik.

Macedo (2008) afirma que compete ao Serviço de Medicina do


Trabalho adotar os variados instrumentos e mecanismos que estão ao seu
alcance, com o propósito de resguardar a saúde dos trabalhadores, seja
resolvendo os problemas existentes, seja na prevenção de futuros.
O médico do trabalho tem um campo de atuação muito
amplo, extrapolando o âmbito tradicional da prática médica.
Não basta ao médico do trabalho ter conhecimento apenas
na sua área, ele também necessita de uma noção ampla
14 Ergonomia e Medicina do Trabalho

de outras áreas como Clínica Médica e Saúde Pública, por


exemplo, para que possa realizar programas de prevenção,
ou mesmo chegar a diagnósticos mais precisos. Também
o médico do trabalho deve trabalhar com uma equipe
multidisciplinar. Para isso, deve contar com o crucial auxilio
de engenheiros de segurança do trabalho, técnicos em
segurança do trabalho, fonoaudiologistas, fisioterapeutas
e outros profissionais capacitados para a promoção da
saúde no ambiente laboral. Vários são os campos de
atuação para o médico do trabalho. Entre os principais
destacam-se as empresas, perícia médica da previdência
social e judicial, assessoria sindical, consultoria privada e
toxicologia. (MACEDO, 2008, p. 23)

Todas as ações médico-sanitárias operacionalizadas dentro de uma


coletividade de trabalho devem ser incentivadas pela compreensão de
que a saúde do trabalhador é um meio imprescindível ao desenvolvimento
econômico e social, um motivo de valorização do homem e que, deste
modo, garante sua participação efetiva no progresso e na paz social,
expõe Souto (2005).

Legislação da Medicina do Trabalho


Conforme Oliveira (2017), para que o Estado cumpra seu papel
fundamental para a garantia dos direitos relacionados aos ambientes
do trabalho, é imprescindível que seja exigido dos empregadores o zelo
pela segurança e pela saúde dos trabalhadores, em observância ao
ordenamento jurídico.

A legislação da Medicina do Trabalho é bem ampla e inclui


vários diplomas legais, que vão desde a Constituição Federal até leis,
convenções, normas regulamentadoras, entre outros.
A Constituição Federal é a Carta Magna (Lei Soberana),
destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais
e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos. Os demais dispositivos (CLT, Código Civil,
Código de Processo Civil e legislação Previdenciária) são
as leis infraconstitucionais, típicas ou comuns, aprovadas
pela maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados
Ergonomia e Medicina do Trabalho 15

e do Senado Federal presentes durante a votação.


As Norma Regulamentares, por sua vez, constituem
normas infralegais que tratam da segurança e saúde do
trabalhador. (OLIVEIRA, 2017, p. 16)

A Constituição Federal estabelece o direito à vida e à saúde como


um direito de todos e garante acesso universal e igualitário, que deve ser
garantido por políticas sociais e econômicas que busquem a redução dos
riscos de acidentes inerentes ao trabalho, demonstra Oliveira (2017).

IMPORTANTE:

Merece destaque o art. 7º da CF, que estabelece os direitos


dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece as normas


que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, especialmente
relativas à Segurança e Medicina do Trabalho previstas em seu Capítulo V,
explicita Oliveira (2017). Prazeres (2018) menciona que a CLT trouxe muitos
benefícios aos empregados, isto é, cada vez mais garantias de saúde,
integridade física e outros benefícios são garantidos por essa lei, para que
os empregados possam desempenhar suas tarefas de maneira segura e
correta.

A legislação previdenciária, conforme o Instituto Nacional do Seguro


Social (INSS), tem como propósito garantir os benefícios acidentários
(auxílio-doença acidentário, auxílio doença, aposentadoria por invalidez,
aposentadoria especial, pensão por morte e reabilitação).

Em resposta aos problemas que os acidentes de trabalho (Figura 2)


manifestam, o Ministério da Previdência Social tem elaborado uma série
de normas, com a finalidade de estimular o investimento em saúde e
segurança no trabalho, prevenção de acidentes e doenças ocupacionais,
afirma Oliveira (2017).
16 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 2 - Acidente de trabalho

Fonte: Freepik.

As normas regulamentadoras referentes à segurança e saúde do


trabalhador são disposições complementares à CLT, fundamentando-se
em obrigações, direitos e deveres a serem seguidos por empregadores e
trabalhadores, com o objetivo de assegurar um trabalho seguro e sadio,
prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho, esclarece
Oliveira (2017).

Pretti (2011) destaca que a Portaria nº 3.214/78 do Ministério


do Trabalho aprovou as normas que normatizam os compromissos
relacionados com a segurança e medicina do trabalho, que ao longo
do tempo sofreram modificações de toda ordem, e mais cinco Normas
Regulamentadoras para o trabalhador rural. Entre essas normas
destacam-se:

• NR 2 – Inspeção prévia.

• NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.

• NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI.

• NR 7 – Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional.


Ergonomia e Medicina do Trabalho 17

• NR 9 – Programas de Gerenciamento de Riscos.

• NR 15 – Atividades e Operações Insalubres.

• NR 16 – Atividades e Operações Perigosas.

Essas normas regulamentadoras são de cumprimento obrigatório


pelas empresas públicas e privadas, órgãos da administração direta e
indireta e dos Poderes Legislativo e Judiciário, que tenham empregados
regidos pela CLT, relata Pretti (2011).

Existem também diversas Convenções da Organização Internacional


do Trabalho que abordam direitos dos trabalhadores e que foram
ratificadas pelo Brasil. Essas convenções são Tratados Internacionais que
estabelecem padrões e pisos mínimos a serem verificados e realizados
por todos os países que os ratificam.

ACESSE:

Aprofunde-se nesse tema conhecendo as convenções


ratificadas pelo Brasil clicando aqui.

O Código Civil assegura o direito a indenizações por danos resultantes


de acidentes ou doenças do trabalho. O Código de Processo Civil
determina regras e procedimentos legais para o cumprimento de perícias
judiciais acidentárias, aposentadoria, insalubridade, periculosidade, entre
outros tópicos aplicáveis, e o Código Penal possibilita a responsabilização
criminal do empregador por sujeitar a vida ou a saúde do trabalhador ao
perigo direto ou iminente, explana Oliveira (2017).
18 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 3 - Perigo direto

Fonte: Pixabay.

Cabe ainda destacar que a CLT determina a obrigação do


cumprimento dessas normas, tanto pelo empregador quanto pelo
trabalhador:
Art. 157 - Cabe às empresas:

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e


medicina do trabalho;

II - instruir os empregados, através de ordens de serviço,


quanto às precauções a tomar no sentido de evitar
acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;

III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo


órgão regional competente;

IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade


competente.

Art. 158 - Cabe aos empregados:

I - observar as normas de segurança e medicina do


trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do
artigo anterior

II - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos


deste Capítulo.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 19

III - conhecer, em segunda e última instância, dos


recursos voluntários ou de ofício, das decisões proferidas
pelos Delegados Regionais do Trabalho em matéria de
segurança e higiene do trabalho. (BRASIL, 1943)

Oliveira (2017) afirma que a legislação de segurança e saúde do


trabalhador tem como propósito a promoção da saúde e a melhoria da
qualidade de vida do trabalhador e a prevenção e acidentes e de danos
à saúde referentes ao trabalho ou que aconteçam durante este, por meio
da extinção ou diminuição dos riscos no local de trabalho.

Impactos do Trabalho Sobre a Saúde e


Segurança dos Trabalhadores
O ambiente de trabalho é o campo primordial dos riscos profissionais
e é nele que deve estar o foco das orientações dos trabalhadores
referentes à segurança e saúde no trabalho, com o propósito de alcançar
melhorias necessárias, informa Stonoga (2020).

De acordo com Macedo (2008, p. 65), a “Organização Mundial da


Saúde (OMS) define saúde como um perfeito estado de bem-estar físico,
psíquico e social.” Embora a saúde seja a meta de todos, o trabalhador
pode, em seu ambiente de trabalho, submeter-se a situações que o
prejudiquem.

Contudo, se o trabalho também é fundamental para sociedade


e para o próprio indivíduo, a perda da saúde é um motivo da redução
da capacidade laborativa e, no decorrer do tempo, pode ocasionar a
diminuição da qualidade de vida.

Muitos profissionais são acometidos por acidentes em seu local de


trabalho ou por doenças que têm origem no próprio ambiente laboral,
sejam elas ergonômicas, de intoxicações, psíquicas, entre várias outras.

Além dos perigos de ambiente de trabalho característicos, trabalho


e saúde estão relacionados a outros modos e causam maiores impactos
em saúde (Figura 4), pois as condições de trabalho, tipo de trabalho,
estado profissional e localização geográfica do ambiente de trabalho
20 Ergonomia e Medicina do Trabalho

também têm um impacto intenso no estado social e bem-estar dos


trabalhadores, elucida Stonoga (2020).
Figura 4 - Impactos em saúde

Fonte: Freepik.

Stonoga (2020) afirma que muitos serviços de Medicina Ocupacional


são limitados ao desempenho associado ao atendimento a acidentes de
trabalho e, ocasionalmente, consultas médicas admissionais, periódicas e
demissionais. Entretanto, Macedo (2008) explica que o Serviço de Medicina
do Trabalho deve transcender esses serviços e contar com funções de
prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e, consequentemente, a
conservação da força produtiva de trabalho.

A grande pluralidade de problemas de saúde ocupacional


relacionados com os riscos para a saúde e suas repercussões na esfera
global têm uma quantificação muito complexa. Determinadas estimativas
são fundamentadas para demonstrar os danos profissionais e doenças
informadas em estatísticas oficiais. Contudo, um grande número de danos
Ergonomia e Medicina do Trabalho 21

e doenças originados no ambiente de trabalho não é informado, lembra


Stonoga (2020).

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Neste capítulo você deve ter entendido
que a Medicina do Trabalho aborda as relações entre
a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu
trabalho, promovendo a saúde, qualidade de vida e
prevenção e doenças e acidentes de trabalho e que a
saúde do trabalhador é um meio imprescindível para
o desenvolvimento econômico e social, um motivo de
valorização do homem e que, deste modo, garante sua
participação efetiva no progresso e na paz social.

Você viu também que a legislação da Medicina do Trabalho é


bem ampla e inclui vários diplomas legais, que vão desde a Constituição
Federal até leis, convenções, normas regulamentadoras, entre outros.
Por fim, você compreendeu que muitos profissionais são acometidos
por acidentes em seu local de trabalho ou por doenças que têm origem
no próprio ambiente laboral, sejam elas ergonômicas, de intoxicações,
psíquicas, entre várias outras, e que a Medicina do Trabalho não deve se
limitar apenas ao atendimento a acidentes de trabalho e, ocasionalmente,
consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais, mas deve
também ter funções de prevenção, protegendo a saúde do trabalhador e,
consequentemente, a conservação da força produtiva de trabalho.
22 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Atividades Insalubres, Perigosas e a


Toxicologia Ocupacional

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos definir as atividades insalubres


e perigosas e entender a toxicologia ocupacional,
compreendendo seus principais pontos e como ela é
encontrada no ambiente laboral..

Atividades Perigosas
As atividades perigosas são aquelas que, por seu caráter ou
processos de trabalho, põem em risco a vida dos trabalhadores diante da
intensa exposição permanente sofrida.

De acordo com a Norma Regulamentadora 16, são classificadas


como atividades e operações perigosas aquelas que compreendem o
trabalho associado com explosivos, produtos inflamáveis, segurança
pessoal ou patrimonial, energia elétrica, locomoção em motocicletas,
radiações ionizantes ou substâncias radioativas, demonstram Barsano e
Barbosa (2018).

A CLT aponta como perigosas apenas as situações que envolvem


inflamáveis, explosivos, energia elétrica, roubos ou outras espécies de
violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial e as atividades de trabalhador em motocicleta. Contudo, a OJ
– SD11 – 345 do TST reconhece como atividade perigosa a exposição à
radiação ionizante ou substâncias radioativas.

IMPORTANTE:
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º XXXIII, veda
expressamente o trabalho em condições de periculosidade
a menores de dezoito anos.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 23

A Norma Regulamentadora 16 indica como atividades ou operações


perigosas as realizadas com explosivos submetidos a degradação química
ou auto catalítica e ação de agentes exteriores, tais como calor, umidade,
faíscas, fogo, fenômenos sísmicos, choque e atritos.

Barsano e Barbosa (2018) destacam que as atividades de transporte


de inflamáveis (Figura 5), líquidos ou gasosos liquefeitos, em todos os
tipos de recipientes e a granel, são classificadas como situações de
periculosidade – salvo para o transporte em pequenas quantidades, até
o limite de duzentos litros para os inflamáveis líquidos e cento e trinta e
cinco quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos.
Figura 5 - Transporte de inflamáveis

Fonte: Freepik.
24 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Correia (2018) afirma que o adicional de periculosidade cabe quando


a exposição ao risco é permanente ou intermitente (com intervalos), mas
é indevido se o contato for puramente casual ou se, mesmo que habitual,
acontecer por tempo muito reduzido. Ou seja, o trabalhador tem direito ao
adicional de periculosidade mesmo que existam intervalos na sua jornada,
mas não tem direito caso passe pouco tempo sujeito à condição perigosa.

Mas o que é esse adicional de periculosidade?

O adicional de periculosidade é uma porcentagem paga ao


trabalhador como uma forma de compensação no desempenho dessas
atividades perigosas.

O adicional de periculosidade consistirá em 30% calculado sobre


o salário-base, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios,
etc. (CLT, art. 193, § 1º).
SUM 132 O adicional de periculosidade, pago em caráter
permanente, integra o cálculo de indenização e de
horas extras (ex-Prejulgado nº 3). (ex-Súmula nº 132 - RA
102/1982, DJ 11.10.1982/ DJ 15.10.1982 - e ex-OJ nº 267 da
SBDI-I - inserida em 27.09.2002) II - Durante as horas de
sobreaviso, o empregado não se encontra em condições
de risco, razão pela qual é incabível a integração do
adicional de periculosidade sobre as mencionadas
horas. (ex-OJ nº 174 da SBDI-I - inserida em 08.11.2000)
Histórico: Súmula mantida - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003 Nº 132 Adicional de periculosidade O adicional
de periculosidade pago em caráter permanente integra
o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3). Redação
original - RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982 Nº 132
O adicional-periculosidade pago em caráter permanente
integra o cálculo de indenização (ex-Prejulgado nº 3).
(TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 2020)

Segundo a súmula 132 do TST, quando o trabalhador estiver de


sobreaviso, ou seja, de plantão ou esperando o chamado para o serviço
ou qualquer momento, não é considerado o adicional de periculosidade,
pois ele não está em contato direto com a atividade perigosa. A mesma
súmula determina, também, que esse adicional deverá incorporar o
cálculo de indenizações e horas extras, caso seja pago em caráter
permanente.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 25

A OJ-SDI1-259 do TST estabelece que o adicional de periculosidade


deve fazer parte da base de cálculo do adicional noturno, pois neste
horário o trabalhador também continua sob as condições de risco.

Mas como se identifica a periculosidade de uma atividade? A


atividade perigosa é atestada por meio de perícia.

Barsano e Barbosa (2018) informam que é opcional às empresas


e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas solicitar ao
Ministério do Trabalho, por meio das Delegacias Regionais do Trabalho, a
efetuação de perícia na organização ou setor da empresa, com a finalidade
de distinguir, especificar ou determinar a atividade perigosa (Figura 6).
Figura 6 - Atividade perigosa

Fonte: Freepik.

Entretanto, existem muitas situações em que o trabalhador ingressa


na justiça para requerer o adicional de periculosidade. Para isso, durante o
curso da ação é chamado um perito, pois apenas por meio da prova técnica
é que poderá ser atestado se o ambiente põe em risco a integridade física
do trabalhador.
26 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Atividades Insalubres
Conforme Correia (2018), as atividades insalubres são aquelas que
sujeitam o trabalhador a agentes nocivos à sua saúde e que excedem
o limite de tolerância, como os agentes químicos (chumbo), biológicos
(bactérias) e físicos (ruídos).
Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações
insalubres aquelas que, por sua natureza, condições
ou métodos de trabalho, exponham os empregados a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente
e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943)

O adicional de insalubridade é pago ao funcionário como uma


maneira de compensar o trabalho em condições mais danosas à sua
saúde. O Direito do Trabalho, com seu caráter protetivo, beneficia a
saúde do trabalhador, de forma que o adicional de insalubridade não se
integra, de maneira definitiva, ao patrimônio do empregado, pois quando
interrompido o agente insalubre, também acabará o pagamento de
adicional, esclarece Moura (2017).

Para que o adicional de insalubridade seja concedido, é obrigatório


que dois requisitos sejam preenchidos, segundo Correia (2018):

• A atividade nociva deverá ser averiguada por meio de perícia por


profissional habilitado, médico ou engenheiro do trabalho.

• É obrigatório que o agente esteja compreendido na relação oficial


do Ministério do Trabalho e Emprego.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que você


leia o texto “NR 15: Atividades e Operações Insalubres”,
clicando aqui.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 27

Ao contrário da periculosidade, que tem apenas uma porcentagem


para todos os casos, na insalubridade são estabelecidos graus de
estabilidade. O máximo é um adicional de 40% sobre o salário, o médio é
de 20% sobre o salário e o mínimo é de 10% sobre o salário.

A súmula nº 47 do TST diz que o trabalho realizado em condições


insalubres, em caráter intermitente, não afasta, só por essa circunstância,
o direito à percepção do respectivo adicional. Ou seja, mesmo que o
trabalhador tenha horários com intervalos, ele tem o direito de receber
o adicional. Contudo, este entendimento não é válido para o trabalhador
eventual, pois este não tem o adicional de insalubridade (Figura 7).
Figura 7 - Insalubridade

Fonte: Freepik.

A CLT, em seu art. 191, estabelece que a extinção ou a neutralização


da insalubridade acontecerá com:

• A tomada de medidas que mantenham o ambiente de trabalho


dentro dos limites de tolerância.

• O emprego de equipamentos de proteção individual ao


trabalhador, que reduzam a intensidade do agente agressivo a
limites de tolerância.
28 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Diante dessa normativa, devemos observar duas súmulas do TST


que são importantes: a súmula 80, que impõe que “a eliminação da
insalubridade mediante fornecimento de aparelhos protetores aprovados
pelo órgão competente do Poder Executivo exclui a percepção do
respectivo adicional”, e a súmula 289, que determina que apenas o
fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o desobriga
do pagamento do adicional de insalubridade, pois devem ser adotadas as
medidas que levem à redução ou eliminação da nocividade, inclusive as
referentes à utilização efetiva do equipamento pelo trabalhador.

EXPLICANDO MELHOR:

Para que seja excluído o adicional de insalubridade, não


basta apenas a entrega dos equipamentos de proteção,
mas é necessário que a insalubridade seja considera
eliminada.

Correia (2018) informa que o adicional de insalubridade integra as


demais verbas trabalhistas quando este for pago com habitualidade,
sendo incluído no décimo terceiro salário, nas férias, no FGTS e no aviso-
prévio, ficando excluído deste o descanso semanal remunerado.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 29

A Toxicologia Ocupacional Relacionada


com a Medicina do Trabalho
Para Buschinelli (2020), a possibilidade de um trabalhador ficar
doente pela exposição a um agente químico em um ambiente laboral
é a preocupação inicial da Toxicologia Ocupacional. Por esse motivo, as
análises dos ambientes e dos processos produtivos dos trabalhadores
deve ser realizado com cautela, buscando sempre diminuir esta
possibilidade o máximo possível.

Macedo (2008, p. 26) define a intoxicação como sendo “toda e


qualquer manifestação clínica ou laboratorial de efeitos adversos”. É um
estado doentio originado por um agente químico que causa o desequilíbrio
do organismo, provocando desde simples distúrbios de saúde até o óbito.

A Toxicologia pesquisa as consequências danosas de substâncias


químicas nos organismos vivos, levando em consideração a prevenção
e, em situações de falha, o tratamento dos atingidos. Entretanto, não
existem substâncias químicas (Figura 8) com ou sem efeitos danosos, mas
sim quantidades de substâncias com potencial nocivo. Essa quantidade é
a que pode ser efetivamente absorvida pelo organismo a ponto de afetá-
lo, explicita Buschinelli (2020).
Figura 8 - Substâncias químicas

Fonte: Freepik.
30 Ergonomia e Medicina do Trabalho

A Toxicologia Ocupacional é altamente preventiva, sendo


imprescindível para ela a adequada avaliação do risco ao qual o trabalhador
está exposto. Para isso, o primeiro passo é a informação qualitativa, que
é a verificação de quais são as substâncias que estão sendo empregadas
ou produzidas no processo, menciona Buschinelli (2020).

NOTA:

É imprescindível que o profissional de saúde e segurança do


trabalho (em específico o médico do trabalho e o higienista)
entenda de química para tratar de modo correto os riscos
químicos nos ambientes de trabalho (BUSCHINELLI, 2020).

O ambiente de trabalho pode proporcionar vários fatores de risco


para o trabalhador, contudo, a emissão de gases mediante vazamentos
de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no
trabalho.

Fatores como o armazenamento feito de forma inapropriada dos


produtos tóxicos podem provocar acidentes que acarretam a intoxicação.
Outro fator importante é a resistência física do trabalhador, pois quanto
mais baixa a resistência, maior o risco de contaminação, afirma Macedo
(2008).

Macedo (2008) lembra que o próprio trabalhador pode cometer


alguns erros que acabam provocando a intoxicação, como a falta ou o
uso incorreto dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Outro erro
é quando, em um ambiente aberto, os trabalhadores aplicam produtos
tóxicos contra o vento, o que também pode provocar intoxicações.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 31

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter compreendido que


as atividades perigosas põem em risco a vida dos
trabalhadores, por causa da exposição intensa e
permanente à atividades associadas com explosivos,
produtos inflamáveis, segurança pessoal ou patrimonial,
energia elétrica, locomoção em motocicletas, radiações
ionizantes ou substâncias radioativas e que, por causa
desse risco, os trabalhadores tem direito a um adicional de
30% nos casos de exposição permanente ou intermitente.
Você viu também que as atividades insalubres sujeitam
o trabalhador a agentes nocivos a sua saúde, como os
agentes químicos, biológicos e físicos.

Nessas situações, o trabalhador receberá adicionais de 40, 20 ou 10


por cento, dependendo do grau de insalubridade detectado. Por fim, você
compreendeu a Toxicologia Ocupacional, que é altamente preventiva,
imprescindível para ela a adequada avaliação do risco ao qual o
trabalhador está exposto e que o ambiente de trabalho pode proporcionar
vários fatores de risco para o trabalhador, contudo, a emissão de gases
mediante vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais
causas de intoxicação no trabalho.
32 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Medidas Preventivas e Especiais de


Proteção

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos descrever as medidas preventivas de


Medicina do Trabalho e as medidas especiais de proteção.
Vamos lá!.

Medidas Preventivas de Medicina do


Trabalho
Segundo Pretti (2011), a Segurança e Medicina do Trabalho abrange
uma série de medidas preventivas que devem ser seguidas no ambiente
de trabalho, buscando tornar mínimos os acidentes e as doenças
ocupacionais, como também proteger a integridade e a capacidade de
trabalho do empregado.

A CLT, em seu art. 168, determina que os empregadores deverão


providenciar, obrigatoriamente, exame médico em caso de admissão,
demissão e periodicamente, respeitando as condições estabelecidas na
Lei e nas instruções emitidas pelo Ministério do Trabalho em casos de
demissão e em situações complementares.

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional é proposto


para a prevenção e o controle da saúde dos empregados. Ele é realizado
por meio da gestão de inspeções médicas permanentes e tem como
finalidade a prevenção dos casos de doenças ocupacionais.

Refere-se a um programa de caráter preventivo, que realiza o


rastreamento e o diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados
ao trabalho, inclusive daqueles que acontecem sem manifestação
de sintomas. Além disso, verifica a existência de casos de doenças
profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. Desse
modo, seu planejamento e implementação devem ser baseados nos
riscos à saúde dos trabalhadores, explica Oliveira (2018).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 33

É por meio desse programa em que são executados e acompanha-


dos os resultados dos exames médicos obrigatórios segundo as ativida-
des desenvolvidas na empresa.

Gattai (2020) esclarece que o exame admissional deve ser feito


antes da contratação efetiva do novo empregado, e o exame tem como
propósito avaliar o estado de saúde física e psíquica indispensável para o
desempenho do cargo que o novo funcionário irá executar.

Outro intuito é o de oferecer orientação para as pessoas em


situações especiais de saúde que ocuparão a vaga de emprego. Além
do mais, o exame admissional é uma forma da organização se proteger
e comprovar que está contratando uma pessoa inteiramente capaz de
realizar aquele trabalho.

NOTA:

Médicos especializados em Medicina do Trabalho são


os encarregados de realizar os exames admissionais,
demissionais e periódicos e são eles que detectam as
enfermidades ocupacionais.

Os exames devem ser renovados a cada ano (exame periódico) e


também são obrigatórios quando acontece a demissão de empregados
(exame demissional), menciona Gattai (2020).
Figura 9 - Exame médico

Fonte: Freepik.
34 Ergonomia e Medicina do Trabalho

O exame demissional, de acordo com Rojas (2015), é uma garantia


para o trabalhador, já que ele precisa demonstrar ser capaz de exercer suas
atividades em outras empresas, e para o empregador, que fica informado
das condições de saúde do ex-funcionário, impedindo, dessa forma,
futuros problemas com reclamações trabalhistas e ações indenizatórias.

Todo exame efetuado pelo médico do trabalho deve ser seguido


do atestado de saúde ocupacional (ASO) e, conforme a Norma
regulamentadora 7, deverá compreender, no mínimo:

• O nome completo do trabalhador, o número de registro de sua


identidade e sua função.

• Os riscos ocupacionais específicos existentes, ou a ausência deles,


na atividade do empregado, de acordo com as instruções técnicas
expedidas pela Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho –
SSST.

• Apontamento dos procedimentos médicos aos quais o trabalhador


foi submetido, abrangendo os exames complementares e a data
em que foram realizados.

• O nome do médico coordenador, quando existir, com o devido


CRM.

• Indicação de apto ou inapto para a função específica que o


trabalhador vai ocupar, ocupa ou ocupou.

• Nome do médico responsável pelo exame e endereço ou meio


de contato.

• Data e assinatura do médico responsável do exame e carimbo,


assim como seu número de inscrição no CRM.

AOrganização Internacional do Trabalho (OIT) encara como a principal


finalidade dos exames médicos ocupacionais a verificação da efetividade
das medidas de controle do ambiente de trabalho. Outros propósitos são:
a constatação de anormalidades clínicas ou pré-clínicas em um momento
no qual uma intervenção é benéfica à saúde dos indivíduos; a prevenção
de um futuro desgaste da saúde dos trabalhadores; a contribuição
do aconselhamento relativo aos métodos de trabalho seguros e de
Ergonomia e Medicina do Trabalho 35

manutenção da saúde; a avaliação da aptidão para um verificado tipo de


trabalho, sendo a principal preocupação a adequação do ambiente de
trabalho para o trabalhador, explicita Buschinelli (2020).

A Consolidação das Leis Trabalhistas ainda determina que deverá


ser mantido no estabelecimento o material indispensável à prestação de
primeiros socorros médicos (Figura 10), conforme o risco da atividade.
Figura 10 - Primeiros socorros médicos

Fonte: Pixabay.

Outro ponto importante é a realização de exames toxicológicos, pois


a Consolidação de Leis Trabalhistas estabelece que serão exigidos esses
exames antes da admissão e em casos de demissões de trabalhadores
que atuem como motoristas profissionais, sendo resguardado o direito à
contraprova, caso o resultado tenha sido positivo e garantido que esses
resultados sejam confidenciais.
36 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Medidas Especiais de Proteção


A CLT estabelece outras medidas especiais de proteção, sendo a
primeira delas referente ao uso de equipamentos de proteção individual
em obras de construção, demolição ou reparos, e às medidas de
prevenção de acidentes.

Oliveira (2017) explica que podem ser empregados equipamentos


de proteção coletiva ou equipamentos de proteção individual, contudo,
deve-se sempre dar prioridade à proteção coletiva. Ao implantar as
medidas de proteção, as organizações devem verificar cada local de
trabalho e procurar a opção mais apropriada para oferecer ao trabalhador
uma boa condição de trabalho.

A NR 6 define que os equipamentos de proteção individual (EPI) são


os dispositivos ou produtos de uso individual utilizados pelo trabalhador.
Eles são adotados para a proteção contra riscos eu ameaçam a segurança
e a saúde dos trabalhadores. Além disso, a NR 6 regulamenta o uso dos
equipamentos de proteção individual e estabelece:
6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados,
gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito
estado de conservação e funcionamento, nas seguintes
circunstâncias:

a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam


completa proteção contra os riscos de acidentes do
trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho;

b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem


sendo implantadas; e,

c) para atender a situações de emergência. (MINISTÉRIO


DO TRABALHO E EMPREGO, 1978)

Outra medida está relacionada com os depósitos, armazenagem e


manuseio de combustíveis, inflamáveis e explosivos, além do trânsito e
continuação nas áreas relativas, assim como o trabalho em escavações,
túneis, galerias, minas e pedreiras, especialmente quanto à prevenção de
explosões, incêndios, desmoronamentos, soterramentos, eliminação de
poeiras, gases, entre outros.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 37

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se nesse tema lendo a NR 19, que trata dos


explosivos, e a NR 20, que aborda a segurança e a saúde
no trabalho com inflamáveis e combustíveis, clicando aqui.

Deve existir proteção contra insolação, calor, frio, umidade e vento,


especialmente no local de trabalho a céu aberto, com o fornecimento
de água potável, alojamento e profilaxia de endemias, determina a
Consolidação das Leis trabalhistas.

A NR 21 regulamenta os trabalhos realizados a céu aberto (Figura


11) e determina que “serão exigidas medidas especiais que protejam os
trabalhadores contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade e os
ventos inconvenientes”.
Figura 11 - Céu aberto

Fonte: Freepik.

A CLT, em seu art. 200, VI, prevê a proteção do trabalhador exposto


a substâncias químicas nocivas, radiações ionizantes e não ionizantes,
ruídos, vibrações e trepidações ou pressões anormais ao ambiente de
trabalho.
38 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Cabe ao Ministério do Trabalho regulamentar a especificação das


medidas cabíveis para extinção ou diminuição desses efeitos, dos limites
máximos quanto ao tempo de exposição, da intensidade da ação ou de seus
efeitos sobre o organismo do trabalhador, assim como regulamentar os
exames médicos obrigatórios, os limites de idade, o controle permanente
dos locais de trabalho e as demais exigências imprescindíveis.

Um programa muito importante para a saúde dos trabalhadores é o


Programa de Gerenciamenrto de Riscos, de acordo com a NR 9, é
estabelecido que:
Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece os
requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais
a agentes físicos, químicos e biológicos quando
identificados no Programa de Gerenciamento de Riscos
- PGR, previsto na NR-1, e subsidiá-lo quanto às
medidas de prevenção para os riscos
ocupacionais.(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO,
2021).

Os riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos


presentes no ambiente de trabalho que podem causar danos à saúde
quando estão acima dos limites toleráveis.

Deve existir, também, proteção contra incêndios com a medidas


preventivas adequadas, como portas e paredes com revestimentos
especiais, construção de paredes contrafogo, saídas amplas e protegidas
etc., como estabelece a CLT.

NOTA:

A NR 23 (proteção contra incêndio) estabelece que os


empregadores devem seguir as medidas de prevenção de
incêndios disponibilizadas pelos respectivos estados e as
normas técnicas correspondentes.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 39

Não se deve esquecer, ainda, a higiene nos locais de trabalho.


Devem existir medidas como: instalações sanitárias, fornecimento de
água potável, condições de limpeza no ambiente laboral, tratamento de
resíduos industriais, entre outros, determina a CLT.

Souto (2005) informa que, na política de medicina do trabalho


subordinada à aprovação da Direção Superior da Empresa ou Instituição,
devem estar contidos, pelo menos, os seguintes princípios e propósitos:

• Trocar, controlar ou diminuir as situações adversas do trabalho.

• Determinar requisitos para o atendimento imediato de acidentes,


oferecendo transporte rápido e efetivo de acidentados para
atendimento médico-hospitalar.

• Apresentar formas de tratar as manifestações transitórias de


doenças que aconteçam na empresa durante o período de
trabalho.

• Seguir as medidas que fazem parte da legislação específica


de medicina do trabalho; se apropriado, oferecer apoio aos
programas disponibilizados por ações voluntárias extramuro; se
for o caso, fazer a negociação coletiva de trabalho, na existência
de condições determinadas sobre medicina do trabalho; oferecer
os meios para efetuação de outras ações que sejam aceitas e
acordadas pela empresa.

• Oferecer garantia de que os trabalhadores serão ouvidos e


incentivados a contribuir em todas as fases do processo de gestão
de medicina do trabalho.

• Possibilitar os meios administrativos e financeiros para que exista


uma contínua preocupação de aperfeiçoar o sistema de gestão de
Medicina do Trabalho da empresa.

Por meio desses princípios, a direção demonstra o compromisso


de garantir proteção para todas as pessoas que trabalham na empresa,
mediante medidas preventivas.
40 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Todas as medidas adotadas no ambiente de trabalho devem levar


em consideração que a saúde do trabalhador é muito importante para os
trabalhos efetuados nas organizações.

RESUMINDO:

Agora, só para termos certeza de que você realmente


entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que
as medidas preventivas visam diminuir os acidentes e as
doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade
e a capacidade de trabalho do empregado, sendo uma
dessas medidas a obrigatoriedade de exame médico em
casos de demissão, admissão e periódicos, conforme
o programa de controle médico de saúde ocupacional.
Você compreendeu, também, que deve existir materiais
de primeiros socorros nos estabelecimentos e que a
realização de exames toxicológicos é necessária. Você viu
que existem várias medidas especiais de proteção, como o
uso de equipamentos de proteção individual; os trabalhos
com depósitos armazenagem e manuseio de combustíveis
e líquidos inflamáveis; trabalho com escavações, túneis,
galerias, minas e pedreiras, especialmente quanto à
prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos,
soterramentos, eliminação de poeiras, gases; trabalhos
realizados a céu aberto; exposição a substâncias químicas,
radiações, ruídos, vibrações e trepidações; prevenção
contra incêndios e a higiene no local de trabalho. Por fim,
você entendeu alguns princípios relativos à medicina do
trabalho que devem ser considerados nos ambientes
laborais.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 41

Conduta Médico - Operacional

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos analisar os acidentes de trabalho,


identificar as doenças ocupacionais e esclarecer a conduta
médico - operacional..

Acidentes de Trabalho
O processo de trabalho deve ser devidamente planejado, pois
quando isso não acontece, são geradas várias formas de perdas –
principalmente relacionadas com os trabalhadores – que afetam a saúde
e bem estar, por meio de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.
Mas o que é um acidente de trabalho?

A Lei nº 8.213/91 define o acidente do trabalho como toda lesão


corporal ou perturbação funcional que acontece com o empregado
durante suas atividades a serviço da empresa, provocando a morte,
a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o
trabalho.

Segundo Macedo (2008, p. 117), “Essa lesão pode ser caracterizada


apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmento do
organismo, como os membros, por exemplo.”

Monteiro e Bertagni (2016) afirmam que se refere a um episódio


único, inesperado, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e
de resultados, na maioria das vezes, imediatos.

IMPORTANTE:

Adversidades no ambiente de trabalho podem acabar


resultando em danos graves e até fatais, meses ou anos
após o seu acontecimento, sendo exigido o nexo de
causalidade e a lesividade, explana Macedo (2016).
42 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Dessa forma, para que algo seja considerado como acidente de


trabalho, deve existir a lesão e também a relação clara entre o acidente, o
dano causado e o trabalho (Figura 12).
Figura 12 - Dano causado e trabalho

Fonte: Freepik.

Mattos e Másculo (2011) afirmam que, hoje em dia, entende-se que


o acidente de trabalho começa a ocorrer quando algum componente do
processo laboral passa a não funcionar como planejado, isto é, quando
ele apresenta uma alteração.

Essa alteração não se apresenta somente como originária de falhas


ou quebras, ou seja, não é decorrência apenas do não alcance completo
do resultado principal do produto, mas pode acontecer também de um
resultado secundário, que não tenha função positiva no processo de
produção, informam Mattos e Másculo (2011).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 43

De acordo com a Lei 8.213:


Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho,
para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha


sido a causa única, haja contribuído diretamente para
a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija
atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário


do trabalho, em consequência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por


terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por


motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de


terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos


fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do


empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do


local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob


a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa


para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo


quando financiada por esta dentro de seus planos para
melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente
do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de
propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho


ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de
locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
(BRASIL, 1991)
44 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Assim, Macedo (2008) separa os tipos de acidentes em três, sendo


eles:

• O acidente típico, que é aquele resultante da natureza da atividade


profissional que o trabalhador desempenha.

• O acidente de trajeto, que acontece no trajeto entre a residência


do trabalhador e o lugar de trabalho e vice-versa.

• As doenças profissionais ou do trabalho, que são provocadas


pela execução de determinada função, peculiar a um emprego
específico.

A caracterização do acidente de trabalho ocorre por meio de


uma observação pericial, que deve determinar uma relação direta entre
o acidente e a lesão gerada. Quando isto acontecer, o médico perito
examinará o paciente e poderá determinar se ele poderá voltar ou não às
atividades normais designadas ao seu cargo.

Caso o perito determine o afastamento, será definido também,


a partir de sua avaliação clínica, se o funcionário permanecerá em
afastamento temporário ou definitivo do emprego, explícita Macedo
(2008).

NOTA:
O afastamento definitivo ou temporário dependerá do grau
da lesão sofrida, se esta lesão será revertida com o tempo
ou se é um tipo de lesão definitiva, que impossibilita a
atividade laboral.

Mattos e Másculo (2011) destacam o fato de que preocupar-se


exclusivamente com o agente causador da lesão pode ser uma atitude
limitada com relação à prevenção de acidentes.

Villela (2010) lembra que a culpa do empregado não impossibilita a


qualificação do acidente de trabalho, contudo, o dolo do empregado, que
ocorre quando este se acidenta propositalmente e de forma espontânea,
retira as consequências ocupacionais do fato.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 45

Doenças Ocupacionais
As doenças ocupacionais se dividem em doença profissional e
doença do trabalho. De acordo com Râmissa (2019), a doença profissional
e a doença do trabalho são classificadas como espécies do gênero de
doença ocupacional que, por sua vez, é espécie de acidente do trabalho.
Vejamos a diferença entre elas.

Segundo Monteiro e Bertagni (2016), as doenças profissionais


também são chamadas de ergopatias, tecnopatias ou doenças
profissionais típicas, e são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo
exercício profissional peculiar à determinada atividade. Derivam de micro
traumas que habitualmente acometem e vulneram as defesas biológicas
e, por conta do efeito cumulativo, acabam vencendo-as, provocando o
processo doentio.

Já as doenças do trabalho (Figura 13), também conhecidas como


mesopatias ou moléstias laborais atípicas, são aquelas desencadeadas
por condições especiais em que o trabalho é realizado, se relacionando
diretamente com ele. Elas também derivam de micro traumas mas, por
serem atípicas, determinam a constatação do nexo de causalidade com
o trabalho, normalmente por meio da vistoria do ambiente de trabalho,
esclarecem Monteiro e Bertagni (2016).
Figura 13 - Doenças do trabalho

Fonte: Freepik.
46 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Furtado et al. (2016) explica que, na esfera da Saúde do Trabalhador,


é comum a utilização da classificação de Schilling para caracterizar a
relação existente entre as doenças ocupacionais. Schilling assegurou que
o trabalho poderia se relacionar com as doenças, agrupando-os de três
formas distintas, que são:

• GRUPO I: engloba as situações nas quais o trabalho é causa


necessária da doença, representadas pelas doenças profissionais
em seu sentido literal, e pelas intoxicações agudas de procedência
ocupacional, como quando há a intoxicação por chumbo.

• GRUPO II: compreende as situações nas quais o trabalho é um


fator de risco e não a principal causa da doença, como nos casos
das doenças triviais, mais regulares ou que ocorrem mais cedo
em certos grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é
de natureza eminentemente epidemiológica, como neoplasias
malignas (cânceres), em alguns grupos ocupacionais ou profissões.

• GRUPO III: abrange as situações nas quais o trabalho é motivador


de um possível distúrbio, ou até mesmo intensifica uma doença já
instituída ou preexistente, caracterizadas pelas doenças alérgicas
de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em certos
grupos ocupacionais ou profissões, como a asma e as doenças
mentais.

A Lei 8.213/ determina alguns casos que não são considerados


como doença do trabalho:
§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante


de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação
de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho. (BRASIL, 1991).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 47

IMPORTANTE:

Nos casos em que a doença não provoca o afastamento do


trabalho, não é reconhecido o acidente do trabalho, pois a
cobertura do seguro acidentário está atrelada à atividade
laborativa, esclarece Villela (2010).

Macedo (2008) afirma que as doenças ocupacionais podem ser


provocadas por alguns agentes existentes no ambiente laboral que
causam riscos, podendo ser caracterizados como físicos, ergonômicos,
biológicos ou químicos.

Os riscos físicos são aqueles originados por agentes capazes de


alterar as propriedades físicas do meio ambiente, o que, posteriormente,
originará agressões em quem estiver nele presente, explicam Mattos e
Másculo (2011).

EXEMPLO: Os ruídos capazes de gerar danos ao aparelho auditivo,


iluminação, calor, vibrações, radiações etc.

Macedo (2008) destaca que algumas das consequências


indesejadas dos ruídos podem ser psicológicas (Figura 14), como
nervosismo e neuroses, além de perda de audição, dor de cabeça, vômitos,
diminuição do controle muscular, entre outros. Nos casos das vibrações,
elas podem originar síndromes dolorosas de origem vertebral, desordens
gastrintestinais, aumento da frequência cardíaca, etc. Já as radiações
podem acarretar conjuntivites e cataratas, além de queimaduras e lesões
cutâneas.
48 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 14 – Consequências psicológicas

Fonte: Freepik.

Os riscos químicos compreendem substâncias, compostos ou


produtos que possam adentrar no organismo, por conta da exposição
crônica ou acidental. Assim, o contato com esses produtos pode causar
várias consequências, tais como o aparecimento de câncer, mutações,
doenças sistêmicas, entre outros, informam Mattos e Másculo (2011).

Barsano e Barbosa (2013) definem os riscos ergonômicos como


aqueles que podem provocar distúrbios psicológicos e fisiológicos nos
trabalhadores, como nos casos de esforço físico intenso, levantamento e
transporte manual de peso, exigência de postura inapropriada, monotonia
e repetitividade etc.

Já os riscos biológicos abrangem os agentes que contaminam


os ambientes ocupacionais, que são os micro-organismos como vírus,
bactérias, protozoários, fungos, artrópodes, parasitas e derivados de
animais vegetais (agentes que causam alergias). Geralmente eles estão
em hospitais, ambientes de serviços de saúde em geral, matadouros,
Ergonomia e Medicina do Trabalho 49

laboratórios de análises e pesquisas, empresas de coleta e reciclagem de


lixo, entre outros, descreve Brevigliero et al. (2020).

Mattos e Másculo (2011) ainda mostram os riscos mecânicos, que são


aqueles que se caracterizam por agir em pontos específicos do ambiente
laboral, geralmente atuando sobre usuários diretos do agente causador
do risco e acarretando, algumas vezes, lesões agudas e imediatas.

EXEMPLO: Os materiais cortantes, os aquecidos, os perfurocortantes,


os que estão em movimento, os energizados etc.

Existem diversas doenças ocupacionais que atingem os


trabalhadores. Vamos observar apenas algumas delas, que são muito
recorrentes, conforme Rojas (2015):

• O distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT), que


atinge os membros superiores em torno do ombro e da região
cervical por causa do uso repetitivo dos músculos ou de postura
imprópria na execução das atividades profissionais.

• Perda Auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIR), que surge


com a redução gradual da audição resultante da exposição
contínua a níveis elevados de ruídos.

• Dermatoses ocupacionais, que podem ser causadas por agentes


biológicos, físicos e mecânicos, e podem aparecer como dermatite
irritativa de contato (que é aquela causada pela manipulação de
detergentes, solventes orgânicos e inorgânicos, resinas, óleos de
corte e outros produtos) e como dermatite alérgica de contato
(que é a ocasionada pelo contato com borracha e seus aditivos,
cromatos, resinas, metais plásticos, tintas, pigmentos e madeiras).

• Distúrbios neurológicos, que podem ser causados por toxinas que


estão no ambiente laboral, como solventes orgânicos, metais e
pesticidas.
50 Ergonomia e Medicina do Trabalho

• Doenças associadas ao estresse, que podem ser a irritabilidade,


fadiga, medo de acidente, de assalto e de desemprego, sonolência,
ansiedade, depressão, tensão e distúrbios do sono.

Râmissa (2019) menciona uma dessas doenças, que é a síndrome do


esgotamento profissional, conhecido também como síndrome de Burnout.
Essa doença é o resultado de um estresse sem fim, que provoca uma
exaustão emocional e física relacionada a um trabalho muito desgastante,
no qual a exigência é alta, as metas são quase impossíveis de serem
atingidas ou, ainda, quando existe uma carência de reconhecimento do
profissional.

O Burnout, nos dias atuais, tem sido objeto de definições em


diversas áreas, contudo, todos concordam que o campo profissional é o
ambiente mais favorável para o aparecimento do esgotamento.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 51

Conduta Médico-Operacional Pertinente à


Medicina do Trabalho
Os médicos desempenham um papel muito importante no auxílio ao
trabalhador. Macedo (2008) explica que muitos dos serviços de Medicina
Ocupacional limitam-se ao desempenho associado ao atendimento de
acidentes de trabalho e, eventualmente, consultas médicas admissionais
e demissionais.
Figura 15 - Medicina Ocupacional

Fonte: Freepik.

Outra atuação que merece destaque é quanto ao médico perito.


Barros e Teixeira (2015) afirmam que, em geral, os médicos peritos do
trabalho são responsáveis por verificar se o trabalhador está ou esteve
doente e determinar se a doença tem nexo de causalidade com o trabalho,
como também avaliar se existem sequelas que diminuam a capacidade
laborativa.
52 Ergonomia e Medicina do Trabalho

NOTA:

Em litígios na justiça que envolvam trabalhadores, são


constantes os diagnósticos relacionados com depressão,
síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático,
transtorno de ansiedade generalizada, síndrome de
Burnout e assédio moral, informam Barros e Teixeira (2015).

O Conselho Federal de Medicina, em sua resolução nº 2.183, de 21


de junho de 2018, determina que:
Art. 13. São atribuições e deveres do médico perito judicial
e assistentes técnicos:

I - examinar clinicamente o trabalhador e solicitar os


exames complementares, se necessários;

II - o médico perito judicial e assistentes técnicos,


ao vistoriarem o local de trabalho, devem fazer-se
acompanhar, se possível, pelo próprio trabalhador que
está sendo objeto da perícia, para melhor conhecimento
do seu ambiente de trabalho e função;

III - estabelecer o nexo causal, considerando o exposto no


artigo 2º e incisos (redação aprovada pela Resolução CFM
nº 1.940/2010) e tal como determina a Lei nº 12.842/2013,
ato privativo do médico. (CFM, 2018)

Macedo (2008) ainda lembra que é fundamental que os profissionais


de Medicina do Trabalho tenham o seu trabalho abalizado nos Códigos
de Ética Médica e de Conduta do Médico do Trabalho.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 53

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter compreendido que o acidente


de trabalho é toda lesão corporal ou perturbação funcional
que acontece com o empregado durante suas atividades
laborais, que os tipos de acidentes podem ser acidente
típico, acidente de trajeto e doenças profissionais ou do
trabalho. Você viu que as doenças profissionais são aquelas
produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional
peculiar à determinada atividade e que as doenças do
trabalho são aquelas desencadeadas em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado, assim
como também entendeu que elas podem ser provocadas
pelos agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos
e mecânicos. Por fim, você conheceu como deve ser a
conduta do médico do trabalho e do perito: pautadas na
ética e na conduta médica do trabalho.
54 Ergonomia e Medicina do Trabalho

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