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Saúde da Criança e do Adolescente

Brasília-DF.
Elaboração

Luiz Henrique Horta Hargreaves

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES........................................................ 9

CAPÍTULO 1
ABORDAGEM DA CRIANÇA E PROBLEMAS MAIS COMUNS......................................................... 9

CAPÍTULO 2
ABORDAGEM DO ADOLESCENTE E PROBLEMAS MAIS COMUNS............................................... 34

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 50
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Este Caderno de Estudos e Pesquisa está voltado para a compreensão dos diferentes aspectos e
contextualização da criança e do adolescente na Saúde da Família.

É chegada a hora de estudarmos as primeiras fases da vida.

Com base nos cuidados preventivos e na atuação precoce em problemas de saúde, as crianças podem
atingir a fase adulta e a velhice com qualidade de vida.

O atendimento em Saúde da Família deve estar dimensionado e preparado sob todos os aspectos no
acolhimento das crianças e dos adolescentes. Esta não é uma ação específica a ser desenvolvida por
pediatras. Também por eles, mas por toda a equipe. O incentivo à amamentação e o acompanhamento
no crescimento e no desenvolvimento à adolescência, com todos os “ingredientes” fazem dessa
fase um momento repleto de cuidados, já que é grande o envolvimento com drogas, a ocorrência
de doenças sexualmente transmissíveis e, infelizmente, a taxa de mortalidade. Esta, por causas
externas, incluindo acidentes e homicídios, é a mais alta, quando comparada com as demais faixas
etárias. Por outro lado, é o momento em que vemos a criança se tornar adulta e “ganhar o mundo”.

Objetivos
»» Compreender os conceitos de prevenção de doenças e promoção de saúde para
crianças e adolescentes.

»» Compreender a importância do tema em Saúde da Família.

»» Apresentar conceitos e instrumentos de atendimento multidisciplinar a crianças e


adolescentes.

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SAÚDE DA FAMÍLIA – UNIDADE
ATENDIMENTO A CRIANÇAS ÚNICA
E ADOLESCENTES

CAPÍTULO 1
Abordagem da criança e problemas
mais comuns

Ciranda da Bailarina
“Procurando bem Medo de cair, gente
Todo mundo tem pereba Medo de vertigem
Marca de bexiga ou vacina Quem não tem
E tem piriri, tem lombriga Confessando bem
tem ameba Todo mundo faz pecado
Só a bailarina que não tem Logo assim que a missa termina
E não tem coceira Todo mundo tem
Verruga nem frieira um primeiro namorado
Nem falta de maneira ela não tem Só a bailarina que não tem
Futucando bem Sujo atrás da orelha
Todo mundo tem piolho Bigode de groselha
Ou tem cheiro de creolina Calcinha um pouco velha
Todo mundo tem Ela não tem
um irmão meio zarolho O padre também
Só a bailarina que não tem Pode até ficar vermelho
Nem unha encardida Se o vento levanta a batina
Nem dente com comida Reparando bem,
Nem casca de ferida ela não tem todo mundo tem pentelho
Não livra ninguém Só a bailarina que não tem
Todo mundo tem remela Sala sem mobília
Quando acorda às seis da matina Goteira na vasilha
Teve escarlatina Problema na família
ou tem febre amarela Quem não tem
Só a bailarina que não tem Procurando bem
Medo de subir, gente Todo mundo tem.”

(Composição: Edu Lobo / Chico Buarque)

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Problemas. Todo mundo tem, teve e terá. Até a bailarina. De todos os tipos. É uma situação inerente
à vida, e cabe a nós prevenir e atuar, de forma precoce e firme, na resolução e na condução das
melhores soluções.

A prevenção de problemas com a criança tem início muito antes do nascimento. É a partir da gravidez
que os primeiros cuidados devem ser adotados. Gravidez não é doença. Nós todos sabemos disso,
no entanto, há uma série de modificações fisiológicas na gestante que não podem ser ignoradas e
que merecem atenção, tanto para prevenir problemas com a futura mãe, quanto para o filho que se
está esperando.

É nesse contexto que surgiram os programas de pré-natal. Tão importantes e infelizmente não
acessível a todas as gestantes. É o momento em que é possível avaliar as condições de saúde da
gestante, verificar sua imunidade, doenças preexistentes e em atividade, bem como detectar
problemas nutricionais e oferecer a melhor assistência possível para que a gestação possa seguir seu
curso de forma natural e saudável.

Os profissionais de saúde da família não podem perder a oportunidade de abordar às gestantes,


com uma perspectiva de atuação positiva para a saúde da futura mãe, mas também da criança
esperada. Em que contexto essa criança está sendo gerada? É uma gravidez desejada? A gestante
é adolescente? O pai da criança está presente (não apenas fisicamente, mas sob o ponto de vista
emocional)? Qual a realidade socioeconômica dessa família? A gestante usa algum medicamento,
drogas, álcool? É tabagista? Com que frequência? Qual a realidade socioeconômica da futura
mãe? Como é a vizinhança? A que perigos e riscos naturais e ambientais a gestante e a futura
criança estão inseridas?

Os profissionais de saúde da família possuem grande vantagem sobre os que trabalham apenas em
Postos de Saúde ou Hospitais neste aspecto, uma vez que podem observar diretamente, a realidade
da futura mãe e de seu filho. Muitas vezes, a gestante omite determinadas situações, com vergonha
das condições socioeconômicas em que vive. Outras vezes, pode ser que para ela, as condições
estejam adequadas, pois está comparando a situação em que vive, com os demais da rua ou mesmo
usando como parâmetro o conforto. Mas como é o saneamento básico da casa em que mora? Como
está a sua alimentação? Ela trabalha? Em qual jornada? Como ela faz para ir ao trabalho?

Poderíamos fazer muitas outras perguntas. O importante é que percebamos que, como profissionais
de saúde da família, há muito a ser feito nesta avaliação, incluindo as orientações de pré-natal. Esta
não é uma ação exclusiva de ginecologistas, como também o acompanhamento da criança, não é
exclusividade do pediatra, embora sejam profissionais importantíssimos nestas ações. No entanto,
quantas comunidades em nosso país sequer possuem médico? Como esperar que apenas especialistas
possam atuar?

Diante de tantas questões que podem afetar de forma negativa uma gestação, podendo até mesmo
provocar a morte da gestante e do neonatal, o Governo Federal lançou o chamado “Pacto Nacional
pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal”.

Segundo estudos do Ministério da Saúde e que fundamentam este pacto, as principais causas de
mortalidade materna são:

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

»» hipertensão arterial;

»» hemorragias;

»» complicações por aborto;

»» infecções puerperais.

A saúde da mulher será foco de nossa atenção posteriormente, mas não podemos deixar de comentar
a importância da assistência pré-natal para a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças que
podem levar à condições acima, como hemorragias e controle da pressão arterial, que deve ser feita
por todo profissional de enfermagem e médicos.

Segundo Pesquisa Nacional coordenada pelo Professor Ruy Laurenti USP/MS, em 2002, houve
2.321 óbitos maternos (números absolutos).

Com relação à mortalidade neonatal, as principais causas elencadas foram as seguintes:

»» problemas respiratórios e circulatórios;

»» prematuridade e baixo peso;

»» infecções perinatais;

»» hemorragias.

De que forma um Pré-Natal benfeito pode diminuir a mortalidade neonatal? O que


vocês pensam a respeito disso?

Segundo o mesmo estudo, em 2002, houve 38.570 óbitos neonatais, ou seja, quase 40.000
“brasileirinhos” que não puderam ter a oportunidade de brincar e crescer, como tantos outros.

Como principais determinantes para estes números, foram apresentados:

»» oferta insuficiente de profissionais capacitados para atuar na atenção obstétrica e


neonatal;

»» reconhecimento restrito da magnitude da questão enquanto problema de Saúde


Pública;

»» precárias condições socioeconômicas da população;

»» baixa escolaridade: 60% das mulheres não concluíram o Ensino Fundamental.

De que forma as condições socioeconômicas da população impactam nestes números? Por quê? O
que a baixa escolaridade tem em comum com a mortalidade materna e neonatal? Nesta pesquisa,
foi evidenciado que a Região Nordeste compreende a maior taxa de mulheres com menos de 1 ano
de estudo (23,04%). De que forma essa taxa pode ser relacionada aos altos índices de mortalidade
infantil na região?

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Uma das causas importantes de mortalidade materna é a eclampsia, caracterizada por hipertensão
arterial, proteinúria e manifestações neurológicas, como a convulsão.

De acordo com este pacto em trabalho publicado pela conceituada revista Lancet em 1995 (The
Eclampsia Trial) e em 2002 (Magpie Collaborative Group. Do women with pre-eclampsia, and
their babies, benefit from magnesium sulphate?), “o tratamento de eclampsia com o uso de Sulfato
de Magnésio – 1g endovenosa por hora durante 24 horas em gestantes no anteparto com PA de
140x90mmhg e proteinúria de +, reduz em 70% a incidência de eclampsia”, com custo diário de R$
5,00. Um valor muito baixo, para um benefício tão grande. Naturalmente, que nenhum tratamento é
“receita de bolo” e há sempre condições clínicas que devem ser avaliadas e este é um tratamento que
apenas pode ser utilizado por médicos, já que requer o diagnóstico e a prescrição de medicamentos,
mas o que está acontecendo na opinião de vocês? Não há medicamento disponível? O tratamento
não é de conhecimento de todos médicos, ficando restrito apenas aos especialistas? De que forma o
Ministério da Saúde pode e deve mudar esta situação?

Falamos da importância do Pré-Natal, mas em que consiste de fato essa assistência e por que ela é
importante para a criança?

De acordo com as diretrizes de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Sociedades de


Ginecologia e Obstetrícia, “talvez o principal indicador do prognóstico ao nascimento seja o acesso
à assistência pré-natal.”

Segundo o mesmo texto, “as consultas devem ser mensais até a 28ª semana, quinzenais entre 28 e
36 semanas e semanais no termo.”

De acordo com a diretriz, já na primeira consulta, as seguintes informações devem ser obtidas
na anamnese:

»» data da última menstruação;

»» regularidade dos ciclos;

»» uso de anticoncepcionais;

»» número de filhos;

»» intercorrências clínicas, obstétricas e cirúrgicas;

»» detalhes de gestações prévias;

»» hospitalizações anteriores e exames de pré-natal realizados(em outras gestações);

»» uso de medicações;

»» história prévia de doença sexualmente transmissível;

»» exposição ambiental ou ocupacional de risco;

»» reações alérgicas;

»» história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações;

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

»» gemelaridade anterior;

»» fatores socioeconômicos;

»» atividade sexual;

»» uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas;

»» história infecciosa prévia;

»» vacinações prévias;

»» história de violências.

Alguns exames dos solicitados acima estão diretamente relacionados à saúde da mãe, mas e com
relação à saúde da criança? O histórico de doença sexualmente transmissível diz respeito apenas à
saúde da mãe? O que pode acontecer com um feto, cuja mãe, esteja com sífilis em atividade? E com
AIDS?

Exames complementares e uma boa avaliação biométrica e clínica da gestante são fundamentais.

<http://www.portalmedico.org.br/diretrizes/100_diretrizes/Pre_Natal.pdf>

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno5_saude_mulher.pdf>

<http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/protocolos/prenatal.pdf>

<http://www.scielo.br/pdf/csp/v20s2/17.pdf>

<http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n5/a11v61n5.pdf>

Para avançarmos em nossos estudos, vamos conceituar Mortalidade Infantil. Assim, temos que:

Taxa de Mortalidade Infantil


Definição: Quociente entre os óbitos de menores de um ano ocorridos em uma determinada
unidade geográfica e o período de tempo, e os nascidos vivos da mesma unidade nesse período,
segundo a fórmula:

Taxa de Mortalidade Infantil = ( Óbitos de Menores de 1 ano / Nascidos Vivos ) x 1.000

Nota: A maior variabilidade nas taxas, em alguns municípios, pode decorrer do número reduzido
de nascidos vivos e óbitos de menores de um ano, ocorridos em cada período considerado.

Obs.: Essa taxa é, em geral, multiplicada por 1.000 para facilitar a leitura e permitir comparação
internacional.

Fonte: <http://www.seade.gov.br/index.php>

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Observem o quadro abaixo do Ministério da Saúde, sobre a mortalidade infantil, no período de


2000 à 2004.

Taxa de Mortalidade Infantil Brasil, Regiões e Estados, 2000 – 2004

Regiões e Estados 2000 2004 Variação % 2000 – 2004


Brasil 26,8 22,5 –15,9
Região Norte 28,7 25,6 –10,9
Rondônia 25,6 22,2 –13,4
Acre 35,7 31,2 –12,6
Amazonas 29,1 26,5 –8,9
Roraima 22,5 19,0 –15,5
Pará 29,0 25,5 –11,9
Amapá 25,9 23,3 –10,0
Tocantins 29,4 27,3 –7,3
Região Nordeste 41,4 33,9 –18,0
Maranhão 42,5 35,2 –17,2
Piauí 37,0 30,0 –18,9
Ceará 37,2 29,4 –20,9
Rio Grande do Norte 41,5 35,1 –15,4
Paraíba 45,2 37,6 –16,9
Pernambuco 44,6 37,6 –15,9
Alagoas 58,0 47,1 –18,9
Sergipe 39,0 34,3 –12,1
Bahia 37,4 30,3 –19,2
Região Sudeste 18,0 14,9 –17,1
Minas Gerais 22,6 19,5 –13,5
Espírito Santo 18,8 15,0 –20,3
Rio de Janeiro 19,7 17,2 –12,7
São Paulo 17,3 14,5 –16,4
Região Sul 17,0 15,0 –12,1
Paraná 19,6 15,5 –20,7
Santa Catarina 15,7 13,6 –13,3
Rio Grande do Sul – 10,7 15,1 15,2 0,1
Região Centro-Oeste 21,0 18,7 –10,8
Mato Grosso do Sul 23,8 21,3
Mato Grosso 23,5 20,4 –13,2
Goiás 21,5 18,9 –12,3
Distrito Federal 14,4 13,9 –3,1
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – MS.

Que conclusões podem ser tiradas? Por que diferenças regionais? Por que os números continuam
altos?

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Fonte: Ministério da Saúde.

Fonte: Ministério da Saúde.

Que podemos aferir deste quadro? A situação está melhorando em quais aspectos? Onde está
piorando? Que fatores são os mais importantes causadores da mortalidade infantil?

Taxa de mortalidade infantil do Brasil segundo regiões e comparação com alguns países em 2003.

Brasil – 23,6 Sudeste – 15,6


Norte – 26,2 Sul – 15,8
Nordeste – 35,5 Centro-Oeste – 18,7
Fonte: Secretaria de Vigilância em Sáude – MS.

México – 19,7 Argentina – 16,5


Peru – 33,4 Chile – 7,8

Fonte: OPAS, 2006.

Por que a situação no México, no Chile e na Argentina é melhor que no Brasil?

Pesquise como está a situação em outros países, como Estados Unidos e Canadá. O
que eles fazem lá de diferente? No Canadá, o sistema de saúde é público e universal.
Por que os resultados são melhores?

Observem esta afirmação do Ministério da Saúde:

“Estudo produzido pelo Ministério da Saúde e publicado em 2006 (Macinko et


al.) mostrou que o Programa de Saúde da Família (PSF) teve impacto significativo

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

na queda da mortalidade infantil no Brasil, no período de 1991 a 2002. Para cada


aumento de 10% da cobertura do PSF a mortalidade infantil caiu 4,5%.

A cobertura média do PSF, nos municípios, em 2004, foi de 62,3%, em 2002 foi
de 54,8%. Aumentou 10% em dois anos, concentrando-se nos municípios com
menor renda, onde a mortalidade infantil apresenta índices mais elevados.

Apesar da queda grande no período, a mortalidade infantil ainda é alta se


comparada a outros países.”

De que forma o PSF teve um impacto tão positivo na redução da mortalidade infantil? Por que ainda
persistem as diferenças regionais?

Para reduzir esta mortalidade, sobretudo na Amazônia e na região Nordeste, o Ministério da Saúde
fez o chamado “Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil Nordeste–Amazônia Legal”. Em que
consiste este pacto? Em um compromisso mais amplo, voltado para as seguintes ações:

»» redução do analfabetismo;

»» redução da mortalidade infantil;

»» erradicação do sub-registro civil;

»» fortalecimento da agricultura familiar.

Como vocês avaliam este pacto, a ser assumido pelos governadores dos estados envolvidos,
juntamente com a União? Por que busca-se o fortalecimento da agricultura familiar neste contexto?
O que seria a erradicação do sub-registro civil? Por que ela é importante.

Para saber mais sobre estas ações:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/compromisso_novo.pdf>

O Ministério da Saúde estabeleceu a seguinte meta para erradicação da mortalidade infantil:

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Que reflexão vocês fazem desta meta? É razoável? Quais são as variáveis que podem
impactar de forma negativa? Como contorná-las?

<http://www.acs.min-saude.pt/wp-content/uploads/2009/06/beltrame_evora_
claunara_25_06_09.pdf>

<http://www.unilestemg.br/enfermagemintegrada/artigo/v1/eduardo_morais_
silva_e_helisamara_guedes.pdf>

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/evolucao_perspectivas_
mortalidade/evolucao_mortalidade.pdf>

<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v39n1/09.pdf>

<http://www.scielo.br/pdf/csp/v18n6/13269.pdf>

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2008/docsPDF/ABEP2008_1956.pdf>

<http://www.nesc.ufrj.br/cadernos/2005_1/resumos/Cad20051_silvano.pdf>

Aleitamento Materno

Fonte: WWW.maringa.pr.gov.br

O aleitamento materno, com frequência, é pouco valorizado. Todos que já trabalharam com recém-
nascidos, já ouviram de mães que deixaram de amamentar, que o “leite havia secado”, que o “leite era
muito ralo”, que “leite não sustenta ninguém”, dentre tantas outras coisas. Muitas então passaram a
alimentar seus filhos com leite de vaca. Este leite não é bom? Claro que é, para amamentar bezerros.

O que está por trás de muitos mitos são técnicas e formas inadequadas de amamentar.

Geralmente as mães que informam que o “leite é fraco”, não percebem ou não sabem verificar que a
criança está sugando de forma inadequada e por esta razão, vive insatisfeita.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Quanto melhor e mais eficiente a sucção, mais leite é produzido. Não há um estoque de leite que a
criança tenha de utilizar aos poucos. Infelizmente, ainda há muitos mitos sobre o tema, como, por
exemplo, o de que cerveja aumenta a produção de leite. Nada mais absurdo.

A Organização Panamericana de Saúde editou em conjunto com o Ministério da Saúde, o “Guia


Alimentar para Crianças Menores de 2 anos”.

O texto completo pode ser acessado em <http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/


Guiaaliment.pdf>

A amamentação é vantajosa sob todos aspectos. Permite um maior contato da mãe com o filho, é um
alimento completo para a criança, além de atuar positivamente no sistema imune da criança. Poucas
são as situações em que a amamentação seria contraindicada (algumas doenças que poderiam ser
transmitidas para a criança, pela mãe contaminada, bem como em alguns casos, onde a mãe tenha
que tomar determinados medicamentos, com risco de atuarem de forma importante na criança.
Estas condições devem ser conhecidas e avaliadas pelo pediatra.

Em 2002, durante a Assembleia Mundial de Saúde, os países-membros da OMS foram signatários


da Estratégia Mundial para Alimentação do Lactante e da Criança Pequena, com vistas a
“revitalizar esforços para promover, proteger e dar apoio apropriado à alimentação de lactantes e
crianças pequenas”.

Fonte: <http://www.who.int/childadolescent-health/NUTRITION/global_strategy.htm>.

A estratégia está baseada nos seguintes princípios:

»» todos os governos devem desenvolver e implementar uma ampla política sobre


alimentação do lactante e da criança pequena, no contexto de suas políticas nacionais
de nutrição, de saúde reprodutiva, para a criança e para redução da pobreza.

»» todas as mães devem ter acesso a assistência profissional e técnica para iniciar
e manter a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses da criança e para
assegurar a introdução, no período correto, de alimentação complementar adequada
e segura, juntamente com a amamentação até os 2 anos de idade ou mais.

»» os profissionais de saúde devem ser capacitados para fornecer aconselhamento


adequado sobre amamentação e tais serviços devem ser estendidos às comunidades,
por meio de treinamento de assistentes.

»» os governos devem rever os progressos obtidos com a implementação, em nível


nacional, do Código Internacional do Mercado de Substitutos do Leite Materno, e
considerar a necessidade de novas leis e medidas adicionais destinadas a proteger
as famílias da influência da propaganda destes produtos.

»» os governos devem adotar leis que protegem os direitos das mulheres trabalhadoras
de amamentar e estabelecer meios para que esse direito seja reforçado.

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

De acordo com o Banco de Dados sobre Amamentação da Organização Mundial de Saúde1

Apesar do reconhecimento geral das vantagens do leite materno sobre o


artificial, mesmo em países industrializados, as taxas de amamentação, no
geral, são baixas e só agora começam a melhorar, como é o caso da França,
Itália, Holanda, Espanha, Suíça e Reino Unido. Na Suécia, uma exceção, 98%
dos bebês, em 1990, tinham mamado em algum momento de suas vidas.
Progressos nas taxas de alimentação exclusiva com leite materno até os 4
meses foram obtidos na Polônia, que passou de 1,5% em 1988 para 17% em
1995; Suécia, de 55% em 1992 para 61% em 1993 e Armênia, de 0,7% em 1993
para 20.8% em 1997.

Os dados para a Região das Américas indicam que a porcentagem de crianças que
chegaram a mamar em algum momento é alta em alguns países: Chile, 97% em
1993; Colômbia, 95% em 1995 e Equador, 96% em 1994. Por outro lado, as taxas
de amamentação exclusiva até os quatro meses, ainda que altas se comparadas
com outras regiões, são mais modestas e estão caindo: Bolívia, 59% em 1989 e
53% em 1994; Colômbia, 19% em 1993 e 16% em 1995; República Dominicana
14% em 1986 e 10% em 1991.

O profissional de saúde da família tem importância fundamental no aleitamento materno, ao atuar


nas seguintes questões:

»» orientar a “mãe” com relação aos benefícios da amamentação, incentivando-a a


alimentar seu filho desta forma, ensinando as técnicas de amamentação e os cuidados
com os seios, com vistas a prevenção de mastites. Muitas mães acabam deixando
de amamentar seus filhos, dado a dor de mamas inflamadas ou em decorrência de
infecções, muitas vezes, importantes. É importante que os bicos dos seios estejam
sempre secos após a amamentação;

»» identificar mastites e outras situações que requeiram avaliação especializada


com vistas à saúde materna, e minimizar a possibilidade de abandono precoce da
amamentação;

»» avaliar os casos em que a amamentação está contraindicada, dado o risco


de transmissão de doenças da mãe para o filho ou em decorrência de uso de
determinados medicamentos;

»» atuar de forma multidisciplinar e com foco na saúde da criança e da mãe.

<http://www.pesquisando.eean.ufrj.br/viewpaper.php?id=81& print=1&cf=1>

<http://www.fiocruz.br/redeblh/media/albam.pdf>

<http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_3/pdf/06_Original.pdf>

<http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/protocolos/aleitamento.pdf>

1 Publicado no artigo disponível em http://biblioteca.planejamento.gov.br/biblioteca-tematica-1/textos/saude-epidemias-


xcampanhas-dados-descobertas/at_managed_file.2009-09-17.6307840513/.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Acidentes na Infância
A Prevenção de Acidentes é de fundamental importância em todas as faixas etárias da população,
mas quando nos referimos a crianças, o cuidado deve ser mais do que redobrado. Por uma questão
muito simples: as crianças, principalmente as menores, não tem a noção do perigo. Não sabem os
riscos a que estão expostas.

Os pais por sua vez, muitas vezes, não acreditam que podem ter seus filhos vitimados pelo mais
variados números e tipos de acidentes. Com frequência, ao dirigir, vejo crianças sentadas no colo do
motorista, no colo da passageira, como também no banco de trás, sem cinto de segurança. No banco
da frente, nem com o cinto, pode ser permitido! E de fato não é! Quando os acidentes ocorrem,
os pais ficam desesperados, o que é de se esperar, mas será que aquele acidente poderia ter sido
evitado? Infelizmente em boa parte dos casos, sim.

Em que contexto, o profissional de saúde da família, pode ajudar na prevenção de acidentes? De


uma maneira extremamente privilegiada, uma vez que tem a oportunidade de avaliar o meio em
que a criança está se desenvolvendo e, assim, buscar identificar os riscos a que está exposta. Há
riachos ou rios próximos? Há barrancos? A região é violenta? A família tem carro? Onde a criança
brinca? Do que ela gosta de brincar? Há fios e tomadas sem a devida proteção? Há fossos, poços,
bueiros, onde há risco grande de um acidente? Há instalações elétricas improvisadas? Muitas outras
perguntas vocês poderão fazer.

Preocupados com o tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou a Campanha Nacional de


Prevenção de Acidentes na Infância e na Adolescência.

Como parte desta Campanha, diferentes cartilhas forma elaboradas. Cada uma delas trata dos
acidentes mais comuns e a melhor forma de prevenção.

Assim temos:

Os acidentes de consumo2 são, na definição da Sociedade Brasileira de Pediatria, aqueles que


ocorrem quando um produto ou serviço, ainda que utilizado corretamente, causa danos à saúde ou
à segurança dos consumidores. É provocado por defeito dos produtos ou na prestação de serviços.”

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria,

até meados de 2004, o Brasil não tinha a menor ideia das sequelas sociais
e econômicas originadas pelo acidente de consumo. Imaginava-se que o
problema fosse grave, como em outros países. Nos Estados Unidos, por
exemplo, apenas de outubro de 1998 a setembro de 1999, as falhas em produtos
e serviços foram responsáveis por mais de 4 milhões de ferimentos tratados em
salas de emergência de hospitais, que provocaram 4.308 mortes e custaram
U$ 300.557.000 ao sistema de saúde.

Entre as medidas preventivas sugeridas pela Sociedade Brasileira de Pediatria estão as seguintes:

2 Acidente de Consumo: <http://www.sbp.com.br/acidentes_consumo.pdf>

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

»» é importante que se cumpram as normas do Novo Código Nacional de Trânsito


(Respeitar a faixa de pedestre; uso obrigatório do cinto de segurança; uso de assento
apropriado para crianças menores em automóveis; transporte de crianças sempre
no banco traseiro);

»» motoristas devem dobrar sua atenção nos locais onde passam crianças e adolescentes,
como portas de escola, clubes, condomínios, áreas de lazer;

»» ao transportar crianças em bicicletas, usar sempre o assento especial;

»» estimular o uso de equipamentos de segurança em práticas esportivas: skate, patins,


bicicletas etc;

»» proteger as janelas de residências, escolas e creches com telas e grades. As piscinas


devem ser protegidas com redes apropriadas ou cercadas;

»» proteger as crianças menores do risco de ferimentos com objetos e tomar cuidado


com as escadas e lajes, que devem ter acesso restrito;

»» as tomadas devem ser sempre protegidas e a fiação elétrica não pode ficar exposta
em locais onde circulem crianças;

»» remédios, produtos de limpeza, material inflamável, devem ficar longe do alcance das
crianças e nunca devem ser guardados em recipientes de refrigerantes ou similares;

»» afastar a criança de água ou alimentos muito quentes e de qualquer situação onde


exista risco de fogo e chama.

<http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=90&id_detalhe=356&tipo_detalhe=s>

“Em notícia publicada no jornal “Folha de São Paulo”, de 11/12/2008, sob o título
“Especialistas dão dicas para ajudar a escolher brinquedos mais seguros
e evitar possíveis riscos à saúde das crianças”, a repórter Amarílis Lage fez a
seguinte matéria:

“Na carta para o Papai Noel, a meninada faz seus pedidos: um urso fofo, uma boneca
gigante, um carrinho reluzente... Cabe aos pais acrescentar no canto da carta mais
uma orientação: que o brinquedo seja seguro.

Um dos primeiros aspectos a prestar atenção é a qualidade do brinquedo. Os que


são voltados para crianças até 14 anos devem apresentar o selo do Inmetro. Isso
significa que o brinquedo passou por testes como os de impacto, de inflamabilidade
e de mordida – para ver se a criança consegue arrancar pedaços pequenos da peça
com a boca. As peças sem o selo não foram submetidas aos testes ou não foram
aprovadas neles.

E não é só no comércio informal que os brinquedos sem certificação estão à venda. A


“Operação Papai Noel”, realizada pelo Ipem (Instituto de Pesos e Medidas do Estado
de São Paulo) entre os dias 1º e 5 deste mês, confiscou 612 brinquedos que estavam

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

sendo vendidos sem o selo do Inmetro em quatro lojas de São Paulo e São Bernardo
do Campo (Grande São Paulo). Mais 495 brinquedos irregulares foram apreendidos
em 11 lojas de São José dos Campos, São José do Rio Preto, Campinas e Bauru.

Para complicar, mesmo os brinquedos certificados viraram alvo de desconfiança


depois que marcas como Mattel e Gulliver promoveram o recall de algumas peças.
Mas, segundo Alessandra Françoia, coordenadora da ONG Criança Segura, os
brinquedos à venda no país são seguros. “Depois que as peças foram recolhidas, o
Inmetro avisou que seria mais rigoroso na certificação”, diz.

Gustavo Kuster, gerente de regulamentação do Inmetro, ressalta que, no Brasil, a


medida foi preventiva –já que aqui não houve registro de acidentes. Depois disso,
conta, o Inmetro mudou as regras para a importação. Até então, era feita uma
certificação no país de origem do brinquedo, e os testes eram repetidos a cada seis
meses, no país produtor e no Brasil. Após o recall, a regra passou a ser testar cada
lote de brinquedos que chega ao país.

Depois de o presente ser devidamente escolhido, embrulhado e colocado sob a


árvore, a missão de pais e cuidadores não termina.

“O selo do Inmetro assegura que o brinquedo é resistente, que não tem materiais
tóxicos. Mas não garante que a criança não irá se machucar”, afirma o pediatra Tulio
Konstantyner, pesquisador do projeto CrechEficiente, da Universidade Federal de
São Paulo.

Depois da seleção, vêm a supervisão, a manutenção e o armazenamento, avisa a


pediatra Renata Waksman, presidente do Departamento de Segurança da Criança
e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Brinquedo não é babá de
criança”, ressalta. Veja, a seguir, as dicas de especialistas para cada uma dessas etapas.

DICAS

Bicicletas e patins

Um dos sonhos de consumo infantil, as bicicletas devem ser acompanhadas sempre


de outro presente: um capacete. Ao escolher, fique atento para que o capacete não
fique solto nem apertado na cabeça da criança. Como essas peças não recebem o
selo do Inmetro, já que não há normas definidas para sua fabricação, a compra deve
levar em consideração aspectos como a credibilidade do fabricante.

Quando a criança andar de bicicleta, deve usar sapatos fechados e evitar cadarços
folgados ou soltos.

Para saber o tamanho adequado da bicicleta: os pés das crianças devem alcançar o
chão enquanto ela estiver sentada no selim.

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Ensine a criança a olhar sempre para a esquerda, a direita e novamente para a


esquerda antes de entrar numa rua; se usar a bicicleta à noite, é necessário usar
material refletor na roupa e na bicicleta.

Faixa etária

Ao comprar um brinquedo, fique atento à faixa etária para a qual ele é indicado. Os
testes de segurança variam conforme a faixa etária, e uma peça segura para uma
criança de oito anos pode oferecer riscos para outra de dois anos.

Pirataria

Não adquira brinquedos falsificados. Essas peças não passam pelos mesmos testes
que os brinquedos originais e, por isso, podem oferecer risco para as crianças,
como ter substâncias tóxicas em sua composição ou formar arestas pontiagudas
ao quebrar.

Artesanato

Não é por ser artesanal ou ter uma proposta educativa que um brinquedo está acima
do controle de segurança. Pequenos fabricantes também devem ser certificados
pelo Inmetro – processo que pode durar um pouco mais de 40 dias, caso a empresa
tenha poucos funcionários e os brinquedos passem imediatamente nos testes.
Brinquedos sem o selo do Inmetro oferecem tantos riscos de toxicidade e acidentes
quanto os falsificados.

Importados
Brinquedos vendidos no Mercosul, nos EUA e na Europa devem seguir as mesmas
normas dos que são vendidos no Brasil. Quem quiser comprar brinquedos no
exterior deve buscar saber qual é a certificadora equivalente ao Inmetro no país e só
comprar as peças que tenham o selo.

Embalagem
Uma embalagem bonita torna qualquer presente ainda mais interessante. Mas os
adultos devem estar atentos para que a embalagem seja descartada o quanto antes,
pois as fitas e os sacos plásticos oferecem riscos de estrangulamento e asfixia e os
grampos podem ferir as crianças.

Bexigas
Evite utilizar balões de látex e, se usá-los, supervisione a brincadeira das crianças com
menos de seis anos de idade. Não as deixe encherem bexigas e tenha cuidado com os
pedaços das que estourarem, já que eles podem ser ingeridos e causar asfixia.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Comprimento

Evite brinquedos com correntes, fios, fitas e cordas com mais de 15 cm de comprimento
para crianças de até quatro anos de idade, já que elas podem enrolá-los no pescoço,
correndo risco de estrangulamento.

Tamanho

Para testar se uma peça oferece ou não riscos para crianças em fase oral, a dica é usar
um tubo para guardar filme fotográfico. Tudo que couber no recipiente deve ficar
fora do alcance de crianças até os quatro anos de idade.

Móbile

É um mito que os móbiles podem deixar as crianças estrábicas. Essas peças são, na
verdade, benéficas para o desenvolvimento dos bebês. A dica é trocar de vez em
quando, para que a criança continue a ser estimulada.

Som

Evite brinquedos que gerem ruídos muito altos ou estridentes. Como as crianças
usam essas peças repetidamente e perto do ouvido, isso pode gerar lesões. Para
receber a certificação, um brinquedo sonoro deve gerar ruídos que chegam até a
criança com, no máximo, 85 decibéis (equivalente ao barulho de uma avenida com
tráfego pesado). No caso de objetos que ficam perto do ouvido, como telefones de
brinquedo, o limite é menor: 80 decibéis. Uma dica: se o adulto considerar o som
incômodo, não deve oferecê-lo à criança.

Pilhas

Quando um brinquedo precisar de pilhas, elas devem ser armazenadas de forma que
a criança não consiga retirá-las. As pilhas contêm substâncias tóxicas e corrosivas
e, caso a criança as engula, esse material pode ser liberado no estômago com
consequências muito graves, como úlceras.

Boias
As boias não são consideradas equipamentos de segurança, e sim brinquedos. Por
isso, devem ter o selo do Inmetro. Seu uso deve ser sempre acompanhado por um
adulto.

Pistola d’água
As pistolas d’água, outro brinquedo comum no verão, podem ser perigosas,
dependendo da pressão com a qual a água é ejetada. Traumas nos olhos são

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

comuns. De modo geral, brinquedos que arremessem ou lancem componentes


não são indicados para crianças com menos de cinco anos. A brincadeira deve ser
supervisionada por um adulto.

Videogame

Jogos eletrônicos também podem ter consequências para a saúde. Passar muito
tempo brincando dessa forma pode trazer problemas posturais e oftalmológicos.
Busque controlar o tempo de uso desses jogos e também fique atento à cadeira e à
posição da criança diante da tela.

Manutenção

Verifique os brinquedos com frequência para ver se algum deles quebrou e está
com pontas afiadas, por exemplo. A limpeza também é importante: busque seguir
a orientação do fabricante. Peças de plástico e de borracha devem ser lavadas
semanalmente com sabão neutro; peças de madeira podem ser higienizadas com
um pano úmido.

Guardar

Ensine as crianças a guardar os brinquedos após usá-los, isso evita o risco de tropeços
e escorregões. Escolha, para este fim, uma caixa que não tenha travas ou tampas que
possam prender os dedos das crianças.

Irmãos

Controlar o uso de brinquedos conforme a faixa etária pode ser difícil quando as
crianças têm acesso às peças dos irmãos mais velhos. O importante, nesse caso,
é guardar separadamente os brinquedos, tendo em mente dois grupos: aqueles
que são voltados para crianças até três anos e aqueles indicados para crianças
mais velhas.

Isso significa que não há perigo em uma criança de um ano ter acesso aos brinquedos
de outra de três anos. Uma criança de cinco anos também pode compartilhar
brinquedos com crianças mais velhas. Os brinquedos das crianças mais velhas
devem ser guardados em locais que as menores não alcançam.

Fontes: ALESSANDRA FRANÇOIA, coordenadora do programa formação de


mobilizadores da ONG Criança Segura; GUSTAVO KUSTER, gerente de regulamentação
do Inmetro; OSVALDO KINOCHITA, gerente técnico da Cebratec (Centro Brasileiro
de Tecnologia e Segurança de Produtos); RENATA WAKSMAN, presidente do
departamento de segurança da criança e do adolescente da Sociedade Brasileira de
Pediatria; TULIO KONSTANTYNER, pesquisador do projeto CrechEficiente, da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo).

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

De acordo com o site www.criancasegura.org.br, “os acidentes, ou lesões não


intencionais, representam a principal causa de morte de crianças de 1 a 14
anos no Brasil. No total, cerca de 6 mil crianças até 14 anos morrem e 140
mil são hospitalizadas anualmente segundo dados do Ministério da Saúde,
configurando-se como uma séria questão de saúde pública.

Estimativas mostram que a cada morte, outras quatro crianças ficam com
sequelas permanentes que irá gerar, provavelmente, consequências emocionais,
sociais e financeiras a essa família e à sociedade. De acordo com o governo
brasileiro, cerca de R$ 63 milhões são gastos na rede do SUS – Sistema Único
de Saúde.”

Ainda de acordo com o mesmo site, “segundo relatório da Organização Mundial de Saúde, somente
em 1998, aproximadamente 5,8 milhões de pessoas morreram vítimas de trauma no mundo, o que
representa 97,9 óbitos por 100.000 habitantes. Destes, aproximadamente 800.000 óbitos e 50
milhões de sequelados estão na faixa etária de 0 a 14 anos de idade.”

O site mostra, ainda, os tipos mais comuns de acidentes, de acordo com a faixa etária.

Mortalidade
Idade 1º Posto 2º Posto 3º Posto 4º Posto 5º Posto 6º Posto
Passageiro de Queimadura com Choque elétrico
Menor de 1 ano Sufocação 504 Queda 63 Afogamento 39
veículo 58 fogo 24 16
Passageiro de Queimadura
De 1 a 4 anos Afogamento 488 Atropelamento 239 Sufocação 120 Queda 90
veículo 110 com fogo 75
Passageiro de Queimadura com
De 5 a 9 anos Afogamento 417 Atropelamento 403 Queda 74 Ciclista 43
veículo 149 fogo 53
Passageiro de Choque elétrico
De 10 a 14 anos Afogamento 545 Atropelamento 340 Ciclista 112 Queda 88
veículo 228 62

Hospitalizações
Idade 1º Posto 2º Posto 3º Posto 4º Posto 5º Posto 6º Posto
Queimadura com Envenenam.
líquidos quentes e Choque elétrico Atropela-mento Queimadura com medicam.,
Menor de 1 ano Queda 2.509
outras fontes de 257 237 fogo 156 pesticidas e
calor 419 outros. 143
Queimadura com
Envenenam.
líquidos quentes e Atropela-mento Choque elétrico Queimad. com
De 1 a 4 anos Queda 13.683 Medicam., pesticidas
outras fontes de 1.792 1.464 fogo 980
e outros 1.041
calor 2.967
Queimadura com
Atropela-mento Choque elétrico líquidos quentes e Queimadura com
De 5 a 9 anos Queda 29.646 Ciclista 1.058
3.562 2.842 outras fontes de fogo 1.249
calor 1.334
Envenenam. por
Atropela-mento Choque elétrico Passageiro de
De 10 a 14 anos Queda 27.376 Ciclista 1.492 plantas e animais
3.221 3.142 veículo 1.143
venenosos 1.152

Fonte: DATASUS/Ministério da Saúde/2006. <http://www.criancasegura.org.br/relacao_dos_acidentes.asp>

No site <http://www.criancasegura.org.br/images/midia/pesquisadivulgacao%20out%2008.pdf>,
Vocês encontrarão uma apresentação sobre “Acidentes com Crianças e o Comportamento das Mães”.
De acordo com essa apresentação, citando dados da Organização Mundial de Saúde:

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

»» 1 milhão de crianças até 14 anos morrem em decorrência de acidentes todos os anos


ao redor do mundo.

»» Cerca de 50 milhões ficam com sequelas permanentes.

»» Mais de 90% destas mortes acontece nos países em desenvolvimento.

»» Nestes países, o acidente é a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos.

O site traz, ainda, importantes dados e orientações com relação à prevenção de acidentes em
diferentes situações.

<http://www.condeca.sp.gov.br/eventos_re/ii_forum_paulista/p2.pdf>

<http://www.socep.org.br/Rped/pdf/8.2%20Resumo%20Art%20Rev.pdf>

<http://www.criancasegura.org.br/downloads/pesquisa/Artigo%2010.pdf>

<http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/245.pdf>

<http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/245.pdf>

Diretrizes para transporte de crianças em veículos:

<http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/30-SegTransp.pdf>

<http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/31-Segtransp.pdf (Parte II)>

Uso de cinto de segurança na gravidez:

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/109.pdf>

Doenças Infecciosas
O número de doenças infecciosas na infância é bastante elevado, sobretudo em locais com baixas
condições de saneamento básico e higiene.

O profissional de saúde da família deve estar atento às condições que predispõe a transmissão de
doenças infecciosas, como o uso de água suja para ingestão e banho.

Perguntas básicas e comuns, na anamnese, não podem ser esquecidas, como, por exemplo, saber se a
família cria e convive com animais domésticos, inclusive aves. A casa onde a criança vive tem banheiro?
Esgoto? Fossa? Como são eliminados os dejetos? A casa é de alvenaria? Há doenças endêmicas na
região? Quais? Como se dá a transmissão? Há prevenção? A criança tem acesso a água para banho? Há
na região lagoas com caramujos? Há pessoas doentes nas imediações? Que tipo de doença?

Os sintomas e os sinais respiratórios, vômitos, febre e as diarréias devem ser objeto de atenção
para os profissionais de Saúde da Família. Em primeiro lugar, porque podem traduzir uma série de
doenças que podem ser graves. Em segundo, porque podem conduzir a quadros de descompensação
respiratória ou hemodinâmica (caso dos vômitos e diarreia), como também sepses.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

É fundamental, na questão preventiva, que sejam feitas as imunizações de acordo com o calendário
nacional de vacinações, conforme veremos mais adiante

< h t t p : / / w w w. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d = S 0 0 3 4 -
89101973000200001&lng=pt&nrm=iso>

Sarampo:<http://www2.ucg.br/cbb/downloads/mini_cursos/doencas_
exantematicas/sarampo.pdf>

Coqueluche: <ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/manu_coque.pdf>

Rubéola:<http://www2.ucg.br/cbb/downloads/mini_cursos/doencas_
exantematicas/rubeola.pdf>

Varicela: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/varicela/var-iv.html>

Hepatite A: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/hepatite/hepA-iv.html>

Leptospirose: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/leptospirose/lep-iv.html>

Poliomielite: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/polio/polio-iv.html>

Febre tifoide: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/ftifoide/ft-iv.html>

Caxumba: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/caxumba/caxumba-iv.html>

Doença Menigocócia: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/dm/dm-iv.html>

Gripe: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/gripe/>

Gripe Suína: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/apresentacao_gripe_


suina.pdf>

O Ministério da Saúde editou, em 2006, o Guia de Bolso de Doenças Infecciosas e


Parasitárias, que pode ser consultado on-line em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/guia_bolso_6ed.pdf>

Prevenção da Desidratação
Como dissemos anteriormente, a desidratação é sempre uma situação temida, uma vez que pode
conduzir a graves alterações metabólicas e hemodinâmicas, inclusive o choque hipovolêmico e a morte.

Na apresentação abaixo, da Universidade Federal da Bahia, o tema é


apresentado e discutido de forma bastante didática:

<http://www.medicina.ufba.br/educacao_medica/graduacao/dep_pediatria/disc_
pediatria/disc_prev_social/roteiros/desidratacao/diarreia_junho2005.pdf>

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Os textos abaixo são sobre o manejo da diarreia aguda na criança:

<http://www.saude.sc.gov.br/hijg/gastro/Diarreias.pdf>

<http://www.cremerj.com.br/palestras/275.PDF>

Ao tratarmos de doenças na infância, não podemos nos esquecer, que uma das importantes causas
de problemas na infância, com grave repercussão na vida adulta, diz respeito à Saúde Bucal.

Sobre este tema, o Ministério da Saúde elaborou cartilha que pode ser
consultada no seguinte site:

<http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/publicacoes/geral/ms_folder_sorriso.pdf>

Este é um material a ser apresentado à comunidade, de tal forma a incentivar e


a promover a saúde bucal, em todas as faixas etárias e gêneros.

As Diretrizes Nacionais de Saúde Bucal podem ser consultadas em:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_brasil_sorridente.pdf>

O Projeto chamado “Cárie Zero” da Prefeitura de São Paulo, está voltado para a Saúde
Bucal de Gestantes e Crianças e pode ser consultado em:

<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/saude/bucal/0007/
nascendo_cresc_viv.pdf>

O artigo abaixo, trata da promoção da saúde bucal na primeira infância:

<http://www.cro-pe.org.br/revista/v8n3/8.pdf>

O site abaixo apresenta artigo sobre como realizar a higiene bucal na infância:

<http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1225.pdf>

Imunização

Para completarmos o estudo deste capítulo, vamos tratar do tema das Imunizações ou Vacinações.
Como profissionais de saúde da família, é fundamental que em toda avaliação de crianças seja
verificado o cartão de vacinas. A participação em campanhas de vacinação deve ser altamente
estimulada e todos na faixa etária proposta, devem ser vacinados.

É importante que a mãe esteja consciente dos benefícios da vacinação e dos riscos de quem não
é imune.

A história das vacinações, no Brasil, é resumida pelo Ministério da Saúde da seguinte forma:

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Vacinação no Brasil – Histórico3

1804 – Instituída a primeira vacinação no País – contra a varíola.

1885 – Introdução da primeira geração da vacina antirrábica.

1897 – Primeira geração da vacina contra a peste.

1904 – Decreto da obrigatoriedade da vacinação contra varíola.

1937 – Produção e introdução da vacina contra a febre amarela.

Início da década de 1950 – implantação do toxóide tetânico (TT) e a vacina DTP, em alguns estados.

1961 – Primeira campanha contra a poliomielite, projeto experimental em Petrópolis – RJ e Santo


André – SP.

1962 – Primeira campanha nacional contra a varíola.

1967 – Introdução da vacina contra o sarampo para as crianças de oito meses a quatro anos de idade.

1968 – Inicia-se a vacinação com a vacina BCG.

1970 – Registros oficiais do Ministério da Saúde sobre casos de doenças preveníveis por vacinação:

›› 11.545 casos – poliomielite

›› 1.771 casos – varíola

›› 10.496 casos – difteria

›› 81.014 casos – coqueluche

›› 109.125 casos – sarampo

›› 111.945 casos – tuberculose

1971 – Ocorrência, no Brasil, do último caso de varíola.

1973 – Criado o Programa Nacional de Imunizações – PNI.

1975 – Instituição do Programa Nacional de Imunizações – PNI e do Sistema Nacional de Vigilância


Epidemiológica (Lei no 6.259).

1976 – Regulamentado o PNI.

1977 – Instituído em Portaria no 452 o primeiro Calendário Básico e o Cartão de Vacinas com as
vacinas obrigatórias para os menores de 1 ano de idade.

3 Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/saude

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

1992 a 2002 – Implantação gradativa nos estados da vacina dupla (sarampo e rubéola) ou tríplice
viral (sarampo, caxumba e rubéola).

1996 – Redefinição das estratégias de vacinação contra Hepatite B em menores de 1 ano de idade,
em todo o país, e ampliação da faixa etária para 15 anos na Amazônia Legal, SC, ES, PR e DF.

1999 – Substituição da vacina TT pela dupla tipo adulto (difteria e tétano) no calendário básico para
a faixa etária de 7 anos ou mais.

2002 – Introdução da vacina tetravalente para os menores de 1 ano.

2003 – Atualização do calendário na faixa etária de 12 meses a 11 anos de idade.

2004 – instituído o Calendário Básico de Vacinação em Portaria de no 597

2004 – Campanha de Vacinação de Seguimento contra sarampo, caxumba e rubéola para as crianças
de 12 meses a 4 anos, na qual foram vacinadas 12.777.709 crianças, 92.80% de cobertura vacinal.

2006 – inclusão da vacina contra o rotavírus humano para os menores de 6 meses de idade.

Para os que quiserem se aprofundar no assunto, o Ministério da Saúde disponibiliza a


publicação “Programa Nacional de Imunizações – 30 anos”, no seguinte site: <http://
portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/livro_30_anos_pni.pdf>

De acordo com o Datasus, por ocasião da Primeira Fase da Campanha Nacional


de Vacinação contra a Pólio, realizada em 20/06/2009, houve cobertura vacinal de
97,13% da população-alvo (crianças de 0-4 anos).

O que você acha desse percentual?

Na segunda etapa, realizada em 19/09/2009, a cobertura foi de 96,10%. Por que a


diferença?

O quadro abaixo mostra o calendário de vacinação para crianças.

Calendário Básico de Vacinação da Criança

IDADE VACINAS DOSES DOENÇAS EVITADAS


BCG – ID dose única Formas graves de tuberculose
Ao nascer
Vacina contra hepatite B (1)
1ª dose Hepatite B

1 mês Vacina contra hepatite B 2ª dose Hepatite B

Vacina tetravalente (DTP + Hib) (2) Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo
1ª dose
Haemophilus influenzae tipo b

2 meses VOP (vacina oral contra pólio) 1ª dose Poliomielite (paralisia infantil)
VORH (Vacina Oral de Rotavírus Diarreia por Rotavírus
1ª dose
Humano) (3)

31
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IDADE VACINAS DOSES DOENÇAS EVITADAS


Vacina tetravalente (DTP + Hib) Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo
2ª dose
Haemophilus influenzae tipo b

4 meses VOP (vacina oral contra pólio) 2ª dose Poliomielite (paralisia infantil)
VORH (Vacina Oral de Rotavírus Diarreia por Rotavírus
2ª dose
Humano) (4)
Vacina tetravalente (DTP + Hib) Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outras infecções causadas pelo
3ª dose
Haemophilus influenzae tipo b
6 meses
VOP (vacina oral contra pólio) 3ª dose Poliomielite (paralisia infantil)
Vacina contra hepatite B 3ª dose Hepatite B

9 meses Vacina contra febre amarela (5)


dose inicial Febre amarela

12 meses SRC (tríplice viral) dose única Sarampo, rubéola e caxumba

VOP (vacina oral contra pólio) reforço Poliomielite (paralisia infantil)


15 meses
DTP (tríplice bacteriana) 1º reforço Difteria, tétano e coqueluche
DTP (tríplice bacteriana 2º reforço Difteria, tétano e coqueluche
4 – 6 anos
SRC (tríplice viral) reforço Sarampo, rubéola e caxumba

10 anos Vacina contra febre amarela reforço Febre amarela

(1) A primeira dose da vacina contra a hepatite B deve ser administrada na maternidade, nas primeiras 12 horas de vida do recém-nascido. O esquema
básico constitui-se de 03 (três) doses, com intervalos de 30 dias da primeira para a segunda dose e 180 dias da primeira para a terceira dose.
(2) O esquema de vacinação atual é feito aos 2, 4 e 6 meses de idade com a vacina Tetravalente e dois reforços com a Tríplice Bacteriana (DTP). O
primeiro reforço aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos.
(3) É possível administar a primeira dose da Vacina Oral de Rotavírus Humano a partir de 1 mês e 15 dias a 3 meses e 7 dias de idade (6 a 14
semanas de vida).
(4) É possível administrar a segunda dose da Vacina Oral de Rotavírus Humano a partir de 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias de idade (14 a 24
semanas de vida). O intervalo mínimo preconizado entre a primeira e a segunda dose é de 4 semanas.
(5) A vacina contra febre amarela está indicada para crianças a partir dos 09 meses de idade, que residam ou que irão viajar para área endêmica
(estados: AP, TO, MA MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GO e DF), área de transição (alguns municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e
área de risco potencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG). Se viajar para áreas de risco, vacinar contra Febre Amarela 10 (dez) dias
antes da viagem.

Nos sites abaixo, vocês encontrarão diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria,


para diferentes tipos de vacinas:

Vacina Conjugada contra Neisseria-Meningite Subgrupo C

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/110.pdf>

Vacina contra Caxumba

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/111.pdf>

Vacina contra Febre Amarela

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/112.pdf>

Vacina contra Haemophilus Influenzae Tipo B

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/113.pdfV>

32
SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Vacina contra Hepatite A

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/114.pdf>

Vacina contra Hepatite B

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/115.pdf>

Vacina contra Influenzae

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/116.pdf>

Vacina contra Pneumococo

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/117.pdf>

Vacina contra Sarampo

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/118.pdf>

Vacina contra Poliomielite

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/119.pdf>

Vacina contra Raiva Humana

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/120.pdf>

Vacina contra Rubéola

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/121.pdf>

Vacina contra Tuberculose

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/122.pdf>

Vacina contra Varicela-Zoster

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/123.pdf>

Vacina Dupla (DT ou dT) – Difteria e Tétano

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/124.pdf>

Vacina Tríplice – (DTP) – Difteria/Tétano/Coqueluche

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/125.pdf>

Vacina Tríplice (DTP acelular) –Difteria/Tétano/Coqueluche

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/126.pdf>

33
CAPÍTULO 2
Abordagem do adolescente e
problemas mais comuns

Soneto de Fidelidade
“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”
(Vinícus de Moraes)

A bela e festejada poesia de Vinícius de Moraes, retrata o amor intenso, a paixão, o aqui e o agora.

A passagem da infância para a adolescência é assustadora para todos. São hormônios em ebulição,
modificações no corpo que surgem sem avisar. É a fase do surgimento das primeiras paixões. Da
menstruação que de uma hora para outra transforma meninas em mulheres. Da primeira ejaculação
dos meninos, muitas vezes, ocorrida de noite e enchendo-os de vergonha quando acordam.

A adolescência transpira intensidade, tal qual a poesia de Vinícius. É a paixão que parece eterna.
São as juras de amor que não têm fim. A criança que antes tinha suas roupas escolhidas pela mãe, de
uma hora para outra, passa a se governar. Surge a rebeldia, muitas vezes, sem motivo ou sem razão.

Surgem as novas amizades, os novos ambientes e, com eles, novas emoções, mas também outros
riscos. É a droga sempre presente, as primeiras relações sexuais (muitas vezes, sem proteção), o
primeiro emprego, a faculdade. Para alguns, é o momento em que a criança, passa a ter corpo de
adulto, embora ainda pense como criança. Para outros, o corpo é de criança, mas a cabeça de adulto.
Alguns sequer infância tiveram, pois trabalham desde cedo para ajudar no orçamento de casa.

Definir quando a criança se torna adolescente é sempre uma tarefa difícil e, na prática médica, adotou-
se que até os 12 anos, é criança, a partir daí, não mais. O que significa este “não mais”? Na grande

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

maioria dos serviços de saúde brasileiros, como hospitais e centros de saúde, equivale a dizer que a
partir dessa idade, este indivíduo de 12 anos, não mais será visto pelo pediatra, mas sim, pelo clínico,
como qualquer adulto.

Então é assim que deixamos de ser crianças? A noite anterior de nossos aniversários de 12 anos é
nossa última noite como criança? Que transformações ocorrem durante essa noite, que nos fazem
ser adultos? Obviamente, nenhuma. Mas é assim que funciona.

Pediatras que deixam de atender seus pacientes porque completaram 13 anos, e clínicos que não
sabem o que fazer com pessoas nesta idade.

No SUS, a questão é ainda mais complicada. Enquanto no atendimento privado e nos consultórios
os pediatras comumente continuem atendendo seus pacientes, muitas vezes até os 18 anos e
não há nenhum impedimento legal, ético ou moral quanto a isso, já que o médico pode exercer
livremente sua profissão, o mesmo não ocorre na rede pública. Ao marcar consulta ou fazer a ficha
de atendimento de alguém com 12 anos ou mais, não será dada a possibilidade de atendimento
com pediatra. Em raríssimas exceções onde haja um especialista em adolescência (hebiatra), pode
ser que a sorte esteja ao lado deste “pequeno adulto”.

Criança não é adulto em miniatura, já ensinava meu professor de pediatria. Portanto as doses das
medicações, não são a metade das dos adultos. O atendimento de crianças requer conhecimento
especializado. Embora seja necessário e importante a abordagem multidisciplinar da criança
e do adolescente, sobretudo no contexto da saúde da família, é fundamental que o atendimento
referenciado com o pediatra possa estar disponível. O mesmo dá-se com o adulto na Clínica
Médica e o mesmo deveria se dar com o adolescente na Hebiatria. Na ausência deste especialista, é
fundamental o entrosamento do pediatra com o clínico, como também com o ginecologista, no caso
das mulheres.

Muitas vezes, o psiquiatra é necessário na avaliação tanto da criança quanto do adolescente.

Nosso mundo tem assistido violência contra as crianças e adolescentes diariamente. Nunca se falou
tanto em pedofilia, como agora.

Vejam o que diz a Dra Evelyn Eisenstein, Pediatra e Hebiatra, Professora da Universidade do Rio de
janeiro, em artigo publicado na Associação Brasileira de Adolescência4.

Tráfico humano e exploração sexual


(Evelyn Eisenstein)

Tráfico humano é definido pelas Nações Unidas como recrutamento, transporte,


transferência, alojamento ou receptação de pessoas, por meio de ameaças ou o uso
da força, ou de outras formas de coação, rapto, fraude, engano ou abuso de poder,
em troca de pagamentos ou benefícios, em situações de vulnerabilidade para fins
de exploração. As principais manifestações dessas violências ocorrem como formas
de trabalho forçado, escravidão disfarçada ou exploração sexual, principalmente de

4 Fonte: http://www.asbrabr.com.br/asbra_artigo_01.htm

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

mulheres, adolescentes e até de crianças, que se tornam“produtos”de um mercado de


adoção ilegal, em práticas abusivas, nas quais a pessoa envolvida fica sem alternativa
a não ser se submeter à exploração para garantir sua própria sobrevivência. O preço
da ilusão torna-se a chave da prisão de muitos que caem nessa rede e desaparecem
no mapa das cidades, principalmente turísticas, e também nos grotões da miséria
urbana, em regiões de fronteiras.

Adolescentes e jovens adultos são as vítimas, em sua maioria, em mais de 130 países,
inclusive o Brasil. O número real é desconhecido, mas estima-se que em torno de
2,5 milhões de pessoas são traficadas ou exploradas para fins comerciais, inclusive
sexuais. Os traumas da violência corporal e sexual sofrida e do abandono social
ainda aumentam a exclusão e segregação, com perdas da dignidade e do sentido de
cidadania, tornando-se marcantes, indeléveis, com repercussões médicas e mentais,
por toda vida. Com isso, os Direitos Humanos assegurados em tantas convenções e
acordos nacionais e internacionais são desafiados ou esquecidos em meio a tanta
corrupção e impunidade.

O lucro advindo do tráfico e da exploração sexual é estimado em torno de 30 bilhões


de dólares anuais. Esse dinheiro circula em economias industrializadas ou nações
empobrecidas, por meio das redes associadas ao crime organizado, inclusive de
drogas, armas e na Internet, estimulando os conflitos entre os diferentes grupos
sociais ou étnicos.

Instrumentos legais e jurídicos existem, como o Protocolo das Nações Unidas


contra o crime organizado transnacional relativo à prevenção, repressão e punição
do tráfico de pessoas. No Brasil, há uma política nacional de enfrentamento, que,
aos poucos, vai saindo do papel e sendo implementada local e intersetorialmente,
mas sem a urgência necessária para driblar os entraves burocráticos que vão
pulverizando os recursos. Como se a vida dos outros nada valesse num mundo de
interesses imediatos!

O compromisso de parar a violência e evitar todas as formas de abuso é coletivo,


pois os crimes de tráfico humano e exploração sexual são de tal magnitude, que
ninguém poderá alcançar a liberdade que a cidadania plena de direitos oferece,
sem receber ajuda ou suporte social. Cabe a cada um de nós denunciar e recusar
o silêncio que esta escravidão humana impõe, degradando a todos que se calam
frente a tantos absurdos!

As estratégias de mudanças necessárias foram temas de debates durante a realização


do Fórum Internacional das Nações Unidas, que aconteceu de 13 a 15 de Fevereiro
em Viena, com a participação de governos, instituições não governamentais,
empresas do setor turístico, agências de mídia e de comunicação, conselhos de
mulheres e de jovens além de lideranças expressivas do mundo médico, cultural,
artístico e religioso. (Para consultas, acesse o website: <www.ungift.org>).

A vulnerabilidade do ciclo vicioso da pobreza e as ações de impacto para prevenção,


proteção e punição devem ser direcionadas à participação de toda sociedade

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

na construção de num mundo melhor, livre e digno, para todos cidadãos, sem
exceções, até a erradicação da exploração humana sob qualquer circunstância social
ou política.

O corpo humano não está à venda, nem é mercadoria ou objeto a ser possuído por
ninguém!

De acordo com o Ministério da Saúde, havia em 2000, no Brasil, cerca de 21.249.557 pessoas na
faixa etária de 12 a 18 anos.

Assistam a apresentação do Ministério da Saúde sobre a adolescentes e jovens, em


<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/adolescente/principal.htm>

Em 2005, O Ministério da Saúde publicou o livro “Saúde Integral de Adolescentes e


Jovens”. Não deixem de consultá-lo. Ele está disponível em <http://iah.iec.pa.gov.br/
iah/fulltext/pc/monografias/ms/sauintadoljov/sauintadoljov2005.pdf>.

A primeira questão que iremos levantar em nossa discussão, diz respeito à Violência contra os
Adolescentes. Sobre este tema, o Ministério da Saúde fez as seguintes recomendações5.

Prevenção à violência contra crianças e


adolescentes – parte 1
O que é?

É tudo o que fazemos ou deixamos de fazer que provoque dano físico, sexual e/ou psicológico à
criança ou ao adolescente.

Exemplos

»» violência física: beliscões, cintadas, chineladas, puxões de orelhas, uso da força


física ao tocar na criança ou no adolescente;

»» violência sexual: manipulação da genitália, exploração sexual, ato sexual com ou


sem penetração;

»» violência psicológica: rejeição, desrespeito, depreciação, rotulação, xingamento,


cobrança e punições exageradas;

»» negligência ou abandono: falha ou omissão em prover os cuidados, a atenção,


o afeto e as necessidades básicas da criança ou do adolescente, como saúde
e alimentação.

Indicações de que uma criança e(ou) adolescente possa estar sendo vítima de violência

»» lesões físicas;

5 Fonte: <http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/150violencia_crianca.html>.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

»» doenças sexualmente transmissíveis (DST);

»» problemas de aprendizagem;

»» comportamento muito agressivo ou apático;

»» comportamento extremamente tenso;

»» afastamento, isolamento;

»» conhecimento sexual inapropriado para a idade;

»» negar-se a voltar para casa;

»» ideias e/ou tentativas de suicídio;

»» autoflagelação;

»» fugas de casa;

»» choro sem causa aparente;

»» hiperatividade;

»» comportamento rebelde;

»» desnutrição;

»» aparência descuidada e suja.

Atitudes que podem ajudar a criança ou o adolescente vitimizado

»» não culpá-la;

»» mostrar que ela não está só;

»» acreditar nela;

»» deixar que ela fale sobre seus sentimentos;

»» incentivar a procura de ajuda profissional;

»» não criar expectativas que não sabe se poderão ser cumpridas;

»» reforçar atitudes positivas da criança e do adolescente;

»» incentivar a autoconfiança;

»» dizer e permitir que seja diferente;

»» respeitar seu jeito de ser.

Há um bom tempo, as crianças e os adolescentes eram tratados com pouca ou nenhuma consideração.
Posteriormente, muitos confundiram a relação mais aberta e afetuosa com falta de limites. Hoje em
dia, há uma busca de equilíbrio, já que essas duas formas de tratar a criança e o adolescente não
trouxeram resultados satisfatórios.

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

O que fazer

Tratar a criança e o adolescente como pessoa em condição diferenciada de desenvolvimento. Ter


claro, querendo ou não, que nós somos um modelo para eles, e que é preciso avaliar sempre nossa
atuação. Saber que rigidez, autoritarismo, gritaria não têm nada a ver com dar limites.

Em 1990, a professora Maria Cecília Minayo publicou artigo, com o tema, “A Violência na
Adolescência: Um Problema de Saúde Pública”.6

Estamos falando de quase 20 anos atrás, e se naquela época a situação já era crítica e preocupante,
infelizmente, vivemos momentos ainda mais angustiantes.

Sobre este tema, vejam o que diz a Professora Lucimar Françoso, doutora em medicina e
professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em editorial intitulado
“Mortalidade na Adolescência: grave problema de saúde pública” e publicado na Revista da
Sociedade de Pediatria de São Paulo:

Em comparação com outras faixas etárias, o coeficiente de mortalidade na


adolescência é baixo. Entretanto, a maior parte das mortes ocorridas nesse
período se relaciona diretamente ao trauma e à violência. Em 1998, nos
Estados Unidos, as mortes decorrentes de trauma, homicídio e suicídio, em
conjunto, foram responsáveis por 75% dos óbitos de jovens entre 15 e 19 anos
de idade.

No Brasil, as causas externas ou violentas constituem a principal e crescente


causa de mortalidade na segunda década de vida. Enquanto em 1979, o trauma
e a violência foram responsáveis por 45,6% dos óbitos de adolescentes, em
1996 e 2002, corresponderam a 63% e 66% dos motivos de morte nesse
grupo, respectivamente.

Entre as causas externas, os acidentes de trânsito ocupam o primeiro lugar na


faixa etária de 10 a 14 anos e o segundo entre 15 e 19 anos, perdendo apenas
para os homicídios.

Mortes de adolescentes por causas violentas são mais frequentes no sexo


masculino em todo o mundo.

No Brasil, os meninos corresponderam a 80,6% desses óbitos em 1996 e a


84,8% em 2002, com proporção de quatro indivíduos do sexo masculino para
cada indivíduo do feminino em 1996 e de 5,5 para 1 em 2002.

É indiscutível que a situação esteja crítica. Vemos diariamente, nos jornais e pela televisão,
verdadeiras cenas de guerra em grandes cidades brasileiras. Infelizmente a violência urbana está
tão banalizada, que a população parece estar “anestesiada”.

O envolvimento de crianças e adolescentes no tráfico e o consumo de drogas é causa e consequência


desta situação.

6 Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1990000300005

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Em julho de 2009, a Unicef, órgão das Nações Unidas, publicou o “Índice de Homicídios na
Adolescência – Análise preliminar dos homicídios em 267 municípios brasileiros com mais de 100
mil habitantes”.

Vejam o que diz um trecho do resumo executivo desse estudo:

O cálculo do Índice segue a lógica das tábuas de mortalidade e aplica taxas


específicas de homicídio por idade a uma coorte de 1.000 adolescentes na idade
inicial: 12 anos. A soma das mortes estimadas, ano a ano, até a idade final – 18
anos, traduz-se no número esperado de vidas perdidas por homicídio entre
os 12 e 18 anos, para cada grupo de 1.000 adolescentes. Dito de outra forma,
de cada 1.000 adolescentes que cumprem 12 anos, quantos serão vítimas de
homicídio antes de completar 19 anos.

O índice pode ser aplicado a diferentes faixas etárias seguindo o mesmo princípio.

Em sua apresentação de resultados:

O valor médio do IHA para os 267 municípios considerados é de 2,03


adolescentes mortos por homicídio antes de completar os 19 anos, para cada
grupo de 1.000 adolescentes de 12 anos. A cifra é bastante elevada, considerando
que uma sociedade não violenta deveria apresentar valores próximos de 0.

No entanto, a violência letal contra adolescentes não se distribui de forma


homogênea no território, e há alguns municípios com valores extremamente
elevados. [...] destacamos o caso de Foz do Iguaçu (Paraná), liderando o
ranking, e algumas outras cidades de meio porte como Governador Valadares
(Minas Gerais) e Cariacica (Espírito Santo). Entre as capitais, Maceió e Recife
aparecem nos primeiros lugares

O documento completo pode ser acessado em:

<http://www.unicef.org/brazil/pt/IHA.pdf>

Observem que os valores além de serem muito altos, mostram mais uma vez, que a associação entre
pobreza e violência, não é diretamente proporcional e não é causa direta de violência. As cidades
listadas como as mais violentas, não são as cidades mais pobres do país. Ao contrário, temos,
por exemplo, os seguintes dados da cidade de Governador Valadares, com relação ao Índice de
Desenvolvimento Urbano:

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Governador Valadares/MG: 0,772


Média do IDH-M em Minas Gerais: 0,719 Colocação no ranking Estadual: 157° (em 853 municípios)
Média do IDH-M na Região Sudeste: 0,745 Colocação no ranking Regional: 579° (em 1666 municípios)
Média do IDH-M no BRASIL: 0,699 Colocação no ranking Nacional: 1260° (em 5.507 municípios)
Fonte: Documento disponível no site Caminhos, resultado de parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Relatório gerado a partir do banco de dados
informatizado congregando informações da Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de
Crianças e Adolescentes (elaborada pelo VIOLES/SER/UnB), do Censo Demográfico 2000 (IBGE) e do Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil (PNUD / IPEA / FJP). Organização, tratamento de dados e formatação: Eduardo Ramirez.

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

A desigualdade social tem um papel muito mais importante na questão da violência, assim como, o
uso de drogas.

<http://www.ie.ufmt.br/semiedu2009/gts/gt7/Poster/REINALDO%20DE%20
SOUZA%20MARCHESI%20_448_.pdf>

<http://www.unec.edu.br/ics/artigos/dhumanos_e_universidade.pdf>

A questão da drogadicção é inseparável da discussão da violência, bem como é grande a pressão


por diversos segmentos da sociedade para que o uso de drogas não seja criminalizado. É um tema
polêmico, em que evidentemente todos devem participar com suas opiniões e estudos, mas de nossa
parte, enquanto profissionais de saúde, devemos nos ater ao que diz a lei. No momento, há drogas
ilícitas, como a maconha, os opioides, a cocaína e também o “lança-perfume”, tão consumido entre
os jovens, sobretudo em festas, mas responsável por muitas mortes.

Qualquer tipo de apoiamento ou incentivo ao uso de drogas implica crime previsto em nosso código
de ética. Mesmo que você seja a favor da liberação de drogas em nosso país, como profissional de
saúde da família e no exercício de sua função, não cabe esse tipo de manifestação diante de uma
legislação que tipifica tais substâncias como ilícitas.

O artigo a seguir, de autoria de Ana Cecília Marques e Marcelo Cruz, da Unidade


de Dependência de Drogas do Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo (UDED/Unifesp) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Atenção ao Uso de Drogas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NEPAD/
UERJ), respectivamente, trata da questão do uso de drogas por adolescentes e foi
publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria.

<http://w w w.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttex t&pid


=S1516-44462000000600009>

Outro artigo interessante sobre o tema pode ser encontrado em:

<http://ral-adolec.bvs.br/pdf/ral/v1n3/a04v01n3.pdf>

O texto abaixo discute a questão do uso de drogas, adolescência e ato infracional

<http://www.mp.rn.gov.br/caops/caopij/doutrina/doutrina_ato_infracional_drogas.
pdf>

O artigo abaixo trata da motivação no uso de drogas pelos adolescentes e sua


contextualização

<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/psd/v7n2/v7n2a01.pdf>

Abuso e dependência de opiáceos

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/008.pdf>

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Abuso e dependência de solventes e drogas inalantes

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/009.pdf>

Abuso e dependência da nicotina

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/007.pdf>

Abuso e dependência da maconha

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/006.pdf>

Abuso e dependência da cocaína

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/005.pdf>

Abuso e dependência dos benzodiazepínicos

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/004.pdf>

Abuso e dependência das anfetaminas

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/004.pdf>

Abuso e dependência do álcool

<http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/002.pdf>

Entre as drogas que preocupam, não podemos nos esquecer dos anabolizantes,
tema do seguinte artigo

<http://www.brazilpednews.org.br/mar2002/bnp3302.pdf>

Drogas: O Perigo do Uso de Anabolizantes

<http://www.sbp.com.br/img/documentos/doc_anabolizantes.pdf>

É igualmente importante termos em mente que, embora lícitos, o álcool e o tabagismo produzem
dependência química importante e é grande o número de jovens que são tabagistas e alcoolistas.

Álcool e adolescentes: estudo para implementar políticas municipais

<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v41n3/5705.pdf>

Uso pesado de álcool por estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio de


escolas centrais e periféricas de Campinas (SP): prevalência e fatores associados

<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n3/a07v26n3.pdf>

Alcoolismo em adolescentes: por que acontece?

<http://www.sbnpe.com.br/revista/V23-N4-167.pdf>

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

Uso de Álcool e Tabaco em Adolescentes

<http://www.pec.uem.br/pec_uem/revistas/arqmudi/volume_11/numero_02/
USO-DE-ALCOOL.pdf>

Prevalência e fatores de risco para tabagismo em adolescentes na América do


Sul: uma revisão sistemática da literatura

<http://journal.paho.org/uploads/1155582880.pdf>

De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, no período de 01/11/2007
a 29/02/2008, percebe-se que 50% dos infratores estão na faixa de 16 a 17 anos e 80% do total na
faixa de 14 a 17 anos.

No estudo realizado, foram considerados 725 adolescentes infratores havendo a recorrência de 25


adolescentes, totalizando 750 atos infracionais.

Do total de 725 adolescentes, 402 (55,45%) estavam matriculados regularmente em escolas, 322
(44,41%) não estavam matriculados e 1 não respondeu a essa pergunta, onde 77% dos alunos
matriculados, frequentavam a escola de forma regular.

Cerca de 62% dos alunos estava cursando o Ensino Fundamental; quase 17%, o Ensino Médio e 0,5%,
Ensino Superior.Não houve informação por parte de 11% e 9,5% dos alunos frequentava o Supletivo.

O crime mais prevalente foi o roubo, ou seja quando há subtração de um bem, com emprego de
violência ou grave ameaça.

Na apresentação final dos resultados, os autores afirmam que:

[...] É possível apontar o domínio dos adolescentes não frequentes à escola nos atos infracionais
Furto, Roubo,Tráfico de Drogas, Porte / Uso de Drogas e Porte Ilegal de Arma de Fogo / Munição
e Disparo, enquanto os adolescentes que frequentam a escola compõem a maior parte dos que
praticaram Ameaça / Injúria, Lesão Corporal e Pichação.

É interessante observarmos que o fato de os adolescentes frequentarem regularmente as salas de


aula, neste estudo, impactou no tipo de delito cometido, em que os mais graves foram cometidos por
alunos que não estavam estudando.

O estudo completo pode ser lido em:

<http://www.mpdft.gov.br/Comunicacao/site/Arquivos/perfil_adolescentes_
infratores.pdf>

Gravidez e Adolescência
Junto com a intensidade das emoções que acompanham a adolescência estão os primeiros encontros
amorosos e o modismo dos jovens atuais, que “ficam” com dezenas de pessoas numa mesma

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noite e sem qualquer compromisso posterior. O “ficar” pode variar de troca de beijos e abraços à
carícias mais íntimas e até mesmo a relação sexual. Quando ocorre, muitas vezes, é realizada sem
uso de preservativo, que teria a dupla função de prevenir doenças sexualmente transmissíveis e
uma gravidez indesejável. É comum encontrarmos jovens que avaliam a possibilidade de contrair
ou não uma doença sexualmente transmissível, apenas pela aparência da pessoa com quem irá se
relacionar. Com relação à gravidez, ainda é frequente a ideia machista de muitos jovens, que a
responsabilidade da prevenção recaia sobre a mulher.

De acordo com o site Psiquiweb <http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/adolesc3.html>

a incidência de gravidez na adolescência está crescendo e, nos EUA, onde


existem boas estatísticas, vê-se que de 1975 a 1989 a porcentagem dos
nascimentos de adolescentes grávidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990,
os partos de mães adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos
no país. Lidando com esses números, estima-se que aos 20 anos, 40% das
mulheres brancas e 64% de mulheres negras terão experimentado ao menos
1 gravidez nos EUA.

No Brasil a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhas de
adolescentes, número que representa três vezes mais garotas com menos de
15 anos grávidas que na década de 1970, engravidam hoje em dia (Referência).
A grande maioria dessas adolescentes não tem condições financeiras nem
emocionais para assumir a maternidade e, por causa da repressão familiar,
muitas delas fogem de casa e quase todas abandonam os estudos.

A Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde, de 1996, mostrou um dado


alarmante; 14% das adolescentes já tinhas pelo menos um filho e as jovens
mais pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas
grávidas atendidas pelo SUS no período de 1993 a 1998, houve aumento de
31% dos casos de meninas grávidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50
mil adolescentes foram parar nos hospitais públicos devido a complicações de
abortos clandestinos. Quase três mil na faixa dos 10 a 14 anos.

Fonte: <http://brasilcontraapedofilia.wordpress.com/2007/10/28/encontro-discute-reducao-da-gravidez-na-adolescencia/>

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Mais à frente, de acordo com dados de Maria Joana Siqueira, temos:

Números interessantes da Gravidez na Adolescência


Porcentagem de grávidas entre 16 e 17 anos 84%
Primigestas (primeira gestação) 75%
Frequentaram o pré-natal 95%
Tiveram parto normal 68%
Menarca (1a menstruação) entre os 11 e 12 anos 52%
Não utilizavam nenhum método contraceptivo 56%
Usavam camisinha às vezes 28%
Utilizavam a pílula 16%

A primeira relação sexual ocorreu


até os 13 anos 10%
entre 14 e 16 anos 27%
entre 17 e 18 anos 18%
entre 19 e 25 anos 17%
depois dos 25 anos 2%

O site traz ainda um importante estudo, sobre ideação suicida e gestação de adolescentes, onde diz
o seguinte:

“Gisleine Vaz Scavacini de Freitas e Neury José Botega (Unicamp) têm um


estudo sobre ideação de suicídio em adolescentes grávidas. Estudaram 120
adolescentes grávidas (40 de cada trimestre gestacional), com idades variando
entre 14 e 18 anos, atendidas em serviço de pré-natal da Secretaria Municipal
de Saúde de Piracicaba.

Do total dos sujeitos, foram encontrados: casos de ansiedade em 25 (21


%); casos de depressão em 28 (23%). Desses, 12 (10%) tinham ansiedade e
depressão. Ideação suicida ocorreu em 19 (16%) das pacientes. Não foram
encontradas diferenças nas prevalências de depressão, ansiedade e ideação
suicida nos diversos trimestres da gravidez.

As tentativas de suicídio anteriores ocorram em 13% das adolescentes grávidas.


A severidade dessas tentativas de suicídio teve associação significativa com o
grau da depressão, bem como com o estado civil da pacientes (solteira sem
namorado).”

A psicóloga Gláucia da Motta Bueno, em sua tese de mestrado, estudou o tema : “Adolescência,
Sexualidade e Gravidez”. Este estudo pode ser consultado em: <http://www.virtualpsy.org/infantil/
gravidez.html>.

A Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, elaborou um “Manual da Saúde


da Adolescente”, que está disponível em: <http://www.consensos.med.br/arquivo/pdf/adolescente_
febrasgo.pdf>.

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Gravidez adolescente: a diversidade das situações:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/rev_inf/vol19_n2_2002/vol19_
n2_2002_12artigo_p197a208.pdf>

A Gravidez na Adolescência sob a Perspectiva dos Familiares: Compartilhando


Projetos de Vida e Cuidado

<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a08.pdf>

Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens pais de uma


comunidade favelada do Rio de Janeiro

<http://www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a10v19s2.pdf>

Tendência secular da gravidez na adolescência

<http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1049.pdf>

Gravidez na adolescência e exclusão social: análise de disparidades intraurbanas

<http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v19n4/30332.pdf>

Desigualdades nos riscos de mortalidade na infância e de gravidez na adolescência


em populações vulneráveis nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_alap/PDF/ALAP2004_374.PDF>

“Gravidez de Adolescentes entre 10 e 14 anos e Vulnerabilidade Social”: Estudo


Exploratório em Cinco Capitais Brasileiras

<http://www.ecos.org.br/download/Pesquisa%20Gravidez%20na%20Adolescencia%
20-%20Mar%C3%A7o2004.pd>

Um grande cuidado que o profissional de saúde deve ter ao avaliar a sexualidade precoce e a gravidez
na adolescência é com relação ao juízo de valor. Mesmo que você tenha princípios éticos, morais ou
religiosos que sejam contrários à prática do adolescente, é fundamental que sua assistência esteja
voltada para as necessidades do paciente e que seu atendimento seja sob este prisma. Jamais um
profissional de saúde pode julgar a conduta dos pacientes que estão sendo atendidos. Muito menos
tentar “converter” essas pessoas para qualquer tipo de religião, filosofia. O Código de Ética Médico é
claro neste aspecto e a Constituição Federal, também. Isso não quer dizer que o paciente não deva ser
orientado a como proteger a sua saúde.

Mesmo que sua religião seja contrária a utilização de preservativos, seria um verdadeiro absurdo
que um profissional de saúde deixasse de orientar aos pacientes a utilizar este método de barreira,
na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e na gravidez. Aos profissionais que não
conseguem ter esse discernimento, que escolham áreas e profissões em que não tenham de orientar
as melhores práticas de saúde. Naturalmente que ninguém irá incentivar crianças a ter relações
sexuais, por outro lado, deixar de oferecer orientações importantes de proteção para adolescentes,

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SAÚDE DA FAMÍLIA – ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES │ UNIDADE ÚNICA

é permitir que eles possam contrair doenças graves e gestações indesejadas, aumentando a
possibilidade de abortos.

Toda mulher deve ter direito e acesso a um ginecologista, desde sua primeira menstruação.
Ginecologista não é apenas para quem tem vida sexual ativa, como pensam muitos. O câncer de
mama, de útero, de ovário, são doenças ainda muito prevalentes e cujo sucesso de tratamento está
diretamente relacionado ao diagnóstico precoce.

Diante da presença de adolescentes grávidas, qual deve ser a postura do profissional de saúde?
A de acolhimento. Sempre. Orientar quanto à necessidade de acompanhamento e à realização de
pré-natal benfeito. O suporte emocional é sempre importante para essas meninas. Geralmente, são
discriminadas na família, pelos vizinhos, na escola (algumas deixam de estudar), na Igreja e nos
mais variados locais. É grande o número de adolescentes grávidas que serão mães solteiras, daí a
importância da prevenção. É também possível que a adolescente ou os parentes, diante da angústia
da situação, pensem na possibilidade de aborto. Em nossa legislação, salvo situações específicas,
quando a mãe corre risco de morte se a gestação for conduzida a termo ou em caso de estupro, a
prática do aborto é crime previsto no Código Penal e quem ajuda ou sugere, também comete crime,
e no caso de profissionais de saúde, é considerado infração ética grave, passível de cassação do
registro profissional.

Nos casos, no entanto, em que há previsão legal, a adolescente deve ser orientada a procurar os
órgãos competentes. Os hospitais devem possuir setor de ginecologia apto a fornecer as informações
adequadas para essas pacientes.

O aborto entre adolescentes

<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v9n2/11513.pdf>

Gravidez e aborto na adolescência: Análise contextual de risco e proteção

<http://www.cienciahoje.pt/files/29/29626.pdf>

Magnitude do Aborto no Brasil: uma análise dos resultados de pesquisa

<http://www.ims.uerj.br/downloads/ipas_ims_seminario_aborto.pdf>

A chamada “pílula do dia seguinte” não deve ser usada como método contraceptivo. Muitas
meninas cientes da existência dessa medicação, preferem não realizar qualquer tipo de proteção,
para simplesmente, no dia seguinte ou até mesmo no mesmo dia, praticarem a anticoncepção de
emergência. Além de não estarem se prevenindo contra doenças sexualmente transmissíveis, o
resultado pode não ser o esperado, já que não é um método 100% eficaz.

Sobre este tema, vejam esta reportagem do portal Globo, publicado em 22/09/2008, sob o título:
“Uso repetido de pílula do dia seguinte é perigoso para a mulher”, e disponível em: http://g1.globo.
com/Noticias/Ciencia/0MUL766885-5603,00.html.

Na disciplina de Saúde do Homem e da Mulher, estudaremos melhor a questão dos métodos


contraceptivos, como também a anticoncepção de emergência e as doenças sexualmente transmissíveis.

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Gostaria, no entanto, de deixar o artigo seguinte como sugestão de leitura:

Adolescentes e jovens vivendo com hiv/aids: Cuidado e promoção da saúde no


cotidiano da equipe Multiprofissional

<http://www.crt.saude.sp.gov.br/resources/crt_aids/arquivosbibliotecacrt/
artigospdfcompletos/Adolescentes_e_jovens.pdf>

“Políticas Públicas nas DST/Aids com enfoque na adolescência e juventude”.


Disponível em: <http://www.coderp.com.br/ssaude/programas/aids/painel/aids-
adolesc.pdf>

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Para (não) finalizar
O atendimento à criança por profissionais de Saúde da Família é extremamente amplo, mas
igualmente importante.

Discutimos e apresentamos tópicos relevantes que, com frequência, acometem às crianças em


nosso país.

A adolescência é uma fase da vida, caracterizada pela “ebulição”. É o momento em que deixamos de
ser crianças, mas também não somos adultos. É a época das aventuras, da retomada dos sonhos , da
contestação e das paixões. Em todos os níveis. Sentimental e ideológico.

O profissional de Saúde da Família, deve estar atento às modificações fisiológicas que acompanham
esta fase, como também ser um grande orientador da família e do próprio adolescente. Atuar de
fato como alguém que se preocupa com a Saúde da Família e, portanto, do contexto em que este
adolescente está inserido.

O caderno é apenas um roteiro de estudos. Desta forma recomendo que acessem todos os links
indicados e complementem o estudo com as referências sugeridas.

Antes de encerrarmos, vale a lembrança da prevenção. E neste aspecto, é bom recordarmos que há
um calendário vacinal também para adolescentes e a orientação é fundamental neste sentido.

Calendário de Vacinação do Adolescente1

IDADE VACINAS DOSES DOENÇAS EVITADAS


Hepatite B 1ª dose Contra Hepatite B
De 11 a 19 anos (na primeira visita ao serviço dT (Dupla tipo adulto) (2) 1ª dose Contra Difteria e Tétano
de saúde) Febre amarela (3) Reforço Contra Febre Amarela
SCR (Tríplice viral) (4)
dose única Contra Sarampo, Caxumba e Rubéola
1 mês após a 1ª dose contra Hepatite B Hepatite B 2ª dose contra Hepatite B
6 meses após a 1ª dose contra Hepatite B Hepatite B 3ª dose contra Hepatite B
2 meses após a 1ª dose contra Difteria e Tétano dT (Dupla tipo adulto) 2ª dose Contra Difteria e Tétano
4 meses após a 1ª dose contra Difteria e Tétano dT (Dupla tipo adulto) 3ª dose Contra Difteria e Tétano
dT (Dupla tipo adulto) (5)
reforço Contra Difteria e Tétano
a cada 10 anos, por toda a vida
Febre amarela reforço Contra Febre Amarela
(1) Adolescente que não tiver comprovação de vacina anterior, seguir este esquema. Se apresentar documentação com esquema incompleto, completar
o esquema já iniciado.
(2) Adolescente que já recebeu anteriormente 03 (três) doses ou mais das vacinas DTP, DT ou dT, aplicar uma dose de reforço. É necessário doses de
reforço da vacina a cada 10 anos. Em caso de ferimentos graves, antecipar a dose de reforço para 5 anos após a última dose. O intervalo mínimo entre
as doses é de 30 dias.
(3) Adolescente que resida ou que for viajar para área endêmica (estados: AP, TO, MA, MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GO e DF), área de transição (alguns
municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e área de risco potencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG). Em viagem para essas
áreas, vacinar 10 (dez) dias antes da viagem.
(4) Adolescente que tiver duas doses da vacina Tríplice Viral (SCR) devidamente comprovada no cartão de vacinação, não precisa receber esta dose.
(5) Adolescente grávida, que esteja com a vacina em dia, mas recebeu sua última dose há mais de 5 (cinco) anos, precisa receber uma dose de reforço.
A dose deve ser aplicada no mínimo 20 dias antes da data provável do parto. Em caso de ferimentos graves, a dose de reforço deve ser antecipada
para cinco anos após a última dose.

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Referências
BARROS, Suely et al. Avaliaçao Antropométrica em Pediatria: guia prático para profissionais
da saúde. São Paulo: Ponto Crítico, 2008.

Bottcher, Thomas et al. Pediatra do Netter. Porto Alegre: Artmed, 2005.

CRESPIN, Jacques. Hebiatria – Medicina do Adolescente. São Paulo: Roca, 2007.

GOODMAN, Denise et al. Current – Procedimentos em Pediatria. São Paulo: Mcgraw Hill Brasil,
2009.

LISSAUER, Tom et al. Manual Ilustrado de Pediatria. São Paulo: Elsevier, 2008.

SILVEIRA, Dartiu et al. Drogas, família e adolescência. São Paulo: Atheneu, 2008.

VITALLE, Maria et al. Adolescência. Manole, 2007.

WILSON, David et al. Fundamentos de Enfermagem Pediátrica. São Paulo: Elsevier, 2006.

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