Você está na página 1de 39

ACONSELHAMENTO E CONSULTORIA

EM ALEITAMENTO MATERNO DO
PRÉ-NATAL AO PUERPÉRIO
UNIDADE I
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO
Elaboração
Ana Caiane Rocha da Silva

Atualização
Jackson Santos dos Reis

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................4

UNIDADE I
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO..................................................................................................................7

CAPÍTULO 1
HABILIDADES PARA O ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO............................................................................. 7

CAPÍTULO 2
PROMOÇÃO DA AUTOESTIMA E PREPARO PARA TOMADA DE DECISÕES........................................................... 14

CAPÍTULO 3
ORIENTAÇÕES SOBRE O ALEITAMENTO MATERNO NO PRÉ-NATAL....................................................................... 20

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................37
INTRODUÇÃO

O aprimoramento de fontes alternativas ao leite materno explica a diminuição


da duração e das taxas de amamentação em nível mundial, principalmente no
século passado. Nas capitais brasileiras, a duração média da amamentação é de
10 meses. No entanto, a duração média da amamentação exclusiva é de apenas
23 dias, variando de região para região.

Para reverter essa situação, várias medidas foram propostas e implementadas


por organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e
o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) bem como por organizações
brasileiras como o Ministério da Saúde, o Instituto de Saúde de São Paulo, as
Secretarias Estaduais de Saúde, a Sociedade Brasileira de Pediatria, entre outras.
Essas medidas incluem, entre outras, educação em manejo da amamentação,
treinamento de profissionais de saúde e aconselhamento sobre amamentação.

Um pediatra com experiência em amamentação desempenha um papel crucial na


promoção da prática da amamentação, influenciando diretamente sua duração
e taxa. Os pediatras são treinados para detectar problemas e resolvê-los. Para
isso, utilizam as queixas da mãe como base para seu julgamento clínico. No
entanto, eles nem sempre têm uma imagem do problema real vivenciado pela
mãe. Quando uma mãe procura um pediatra, espera ter uma boa assistência e a
solução para seus problemas, mas raramente tem a oportunidade de expor seus
sentimentos e contextualizar suas dificuldades, talvez devido à incapacidade do
profissional de construir uma ponte entre a teoria e prática. Assim, o encontro
entre o pediatra e a mãe não é tão lucrativo quanto deveria. Muitas vezes, é
comum encontrar uma das seguintes situações: mães que começam a amamentar
de maneira satisfatória, mas introduzem alimentação complementar ou deixam
de amamentar algumas semanas depois do parto, e pediatras com falta de
experiência no manejo da amamentação, não prestando assistência satisfatória.

A compreensão adicional dos problemas que cercam uma consulta médica, a


fim de diagnosticá-los adequadamente e, em seguida, poder ajudar uma mãe
a resolver seu problema, é a base do aconselhamento sobre amamentação. O
aconselhamento sobre amamentação é especialmente recomendado desde 1994
pela Força-Tarefa Canadense sobre Cuidados de Saúde Preventiva (CTFPHC) e
pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF).
A educação formal em amamentação é aquela fornecida além das informações
sobre amamentação oferecidas como parte do atendimento pré-natal padrão e pode
incluir sessões de educação individual ou em grupo lideradas por conselheiros ou
profissionais de saúde, visitas domiciliares, consultas sobre lactação, distribuição
de documentos impressos/escritos, materiais, demonstrações em vídeo e inclusão
de futuros pais em atividades de aprendizagem. O período pré-natal oferece uma
oportunidade para fornecer às mulheres grávidas e aos seus parceiros e famílias
informações sobre os benefícios da amamentação no momento em que muitas
decisões sobre alimentação infantil estão sendo contempladas.

A importância da alimentação infantil apropriada e o papel vital desempenhado


pela amamentação na sobrevivência, crescimento e desenvolvimento infantil são
bem conhecidos. A amamentação ajuda a proteger o bebê contra algumas das
principais causas de morbimortalidade infantil. Atualmente, recomenda-se que, a
partir de uma hora do nascimento, os bebês sejam amamentados exclusivamente
pela mãe pelos primeiros seis meses de vida e que, junto com a introdução de
outros alimentos, a amamentação continue até os 2 anos de idade ou mais.
Infelizmente, as práticas de alimentação infantil ainda estão longe de ser ideais.
Em muitas partes do mundo, as taxas de aleitamento materno exclusivo são
baixas e muitas mulheres param de amamentar mais cedo do que pretendiam.
Estima-se que 1,5 milhão de vidas poderiam ser salvas a cada ano se os bebês
fossem alimentados de acordo com as práticas de amamentação recomendadas.

O aconselhamento pode ser definido como uma relação interpessoal em que um


conselheiro ajuda os indivíduos em sua totalidade psicológica a se ajustarem com
mais eficiência ao meio ambiente. Também é considerado ajudar os indivíduos
a tomar decisões para resolver seus próprios problemas, incluindo informações
objetivas que permitem um melhor uso dos recursos pessoais.

É importante notar a diferença entre simplesmente dar conselhos e aconselhamento.


Dar conselhos é dizer a alguém o que fazer. O aconselhamento preocupa-se com
a maneira como os pediatras abordam profissionalmente uma mãe, ouvindo-a,
tentando entendê-la e, depois, com seus conhecimentos, oferecem ajuda para
planejar e tomar decisões e ser forte o suficiente para lidar com a pressão,
aumentando, assim, sua autoconfiança e autoestima.
Objetivos
» Conhecer e aprender sobre aconselhamento em aleitamento materno.

» Aprender sobre consultoria em aleitamento materno.

» Aprender sobre o desmame.


ACONSELHAMENTO EM
ALEITAMENTO MATERNO
UNIDADE I

CAPÍTULO 1
HABILIDADES PARA O ACONSELHAMENTO EM
AMAMENTAÇÃO

Em 1995, um curso sobre “Aconselhamento sobre amamentação: um curso de


treinamento” foi implementado e contou com o apoio do Ministério da Saúde,
secretarias estaduais de Saúde e Instituto de Saúde de São Paulo. O curso foi uma
iniciativa do Control of Diarrheal Diseases (CDD), em conjunto com a OMS/UNICEF,
que o idealizou e implementou, e foi testado pela primeira vez, em 1991, nas
Filipinas; em 1992, na Jamaica e, em 1993, em Bangladesh. Desde então, vários
países implementaram este curso, cujo objetivo é formar profissionais de saúde em
algumas habilidades específicas, a fim de facilitar a comunicação e implementar
uma ação construtiva, considerando as bases fisiológicas da lactação. Uma
avaliação do curso de Aconselhamento em Aleitamento Materno implementado
no Brasil concluiu que os participantes adquirem habilidades de aconselhamento,
no entanto, para que possam aplicar o que aprenderam, o manejo clínico da
lactação deve ser aprimorado e deve haver supervisão contínua.

Para a continuidade da amamentação, a mãe precisa receber apoio e ajuda


específicos para suas dificuldades ou problemas de autoconfiança. No seguimento,
a preocupação em acolher a mãe é semelhante à do pré-natal. A dinâmica de
grupo antes das consultas fornece às mães informações relevantes, acalmando-as
e facilitando a comunicação com o profissional de saúde durante a assistência.

7
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

A ajuda prática na dinâmica de grupo inclui três fases diferentes:

» Ter profissionais treinados para dar as boas-vindas às mães com um sorriso e uma
atitude carinhosa, indicando onde devem procurar ajuda; evitando formalidades
burocráticas ou uma fila de espera.

» Promover acomodação confortável enquanto esperam.

» Dar às mães um lanche, suco ou apenas água. Após a dinâmica de grupo,


as mães têm uma consulta individual na qual aprenderão algumas atitudes
facilitadoras.

A maneira como as perguntas são formuladas também conta. Perguntas abertas,


além de incentivar as mães a falar e expor o que sentem, maximizam a duração da
consulta. Perguntas abertas geralmente começam com palavras como: “como”, “o
que”, “quem”, “onde” etc. As perguntas sim/não levam a informações imprecisas
e podem bloquear a comunicação. No entanto, às vezes são necessárias. Exemplo:
“Você recebeu atendimento pré-natal?” Perguntas específicas fazem a comunicação
avançar. Exemplo: “Quando você começou a amamentar?” Às vezes, muitas
perguntas são feitas, resultando em respostas inúteis, fazendo com que a mãe
fale menos.

Ao relatar o que a mãe acabou de dizer, os profissionais de saúde mostram


que entenderam o que ela disse. Dessa forma, ela provavelmente irá falar mais
sobre o assunto e poderá ajudar a levar a conversa para um nível mais profundo.
Assentindo, sorrindo ou usando expressões como “Sério?”; “Hum hum!”; “humm
...”; “Poxa!”; “Então?”; “Eu sei”, motivam a mãe a falar. Reagir é uma maneira
de mostrar que os profissionais de saúde estão ouvindo e que ela pode contar
com eles, e também uma maneira de incentivar as mães a conversar.

Uma mãe que amamenta perde a autoconfiança com bastante facilidade e pode
sucumbir à pressão de familiares e amigos para que desmame prematuramente.
É essencial que os profissionais de saúde façam com que a mãe se sinta
confiante e à vontade consigo mesma, evitando o uso de algumas palavras –
certo, errado, bom, ruim, muito (de), apropriado, pelo livro, normalmente,
bastante, problema –, uma vez que palavras podem parecer críticas.

8
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

Todas as habilidades de aconselhamento devem ser usadas durante a consulta,


com ênfase especial na empatia, aceitando o que a mãe diz, não julgando-a, não
“impondo” comportamentos e atitudes em relação à prática da amamentação,
elogiando, informando e sugerindo para que a mãe possa decidir o que é
melhor para seu filho.

Fornecer às mães informações adequadas sobre a amamentação não é uma tarefa


fácil, mas deve ser superada. Os profissionais de saúde devem estar sempre
conscientes e preparados para mudar sua rotina e comportamento e lembrar que,
mesmo que ocorram erros, às vezes, o mais importante é tentar fazer as coisas
corretamente. Mudar o paradigma do cuidado com base no aconselhamento
sobre amamentação ainda é um desafio a ser superado.

Durante a gravidez e após o nascimento, é importante discutir com as mulheres


a importância do aleitamento materno exclusivo por seis meses. Tente incluir
o parceiro ou outros membros da família e comunicar-lhes tudo sobre os
benefícios da amamentação para a mãe e o bebê, o processo de amamentação,
quando e por quanto tempo alimentar. Também se deve discutir a amamentação
continuada após seis meses e a introdução de outros alimentos além do leite
materno.

Benefícios da amamentação para mãe e bebê

» O leite materno fornece todos os nutrientes que um bebê precisa para os


primeiros seis meses de vida para crescer e se desenvolver.

» O leite materno continua a fornecer nutrientes de alta qualidade e ajuda a


proteger contra infecções até os dois anos de idade ou mais.

» O leite materno protege os bebês de infecções e doenças.

» Os bebês acham o leite materno fácil de digerir.

» O corpo do bebê usa o leite materno com eficiência.

» A amamentação pode contribuir para o espaçamento entre gestações.

» A amamentação ajuda o útero da mãe a se contrair, reduzindo o risco de


sangramento após o nascimento.

9
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

» A amamentação reduz a taxa de câncer de mama e de ovário na mãe.

» A amamentação promove um retorno mais rápido ao peso pré-gestacional


da mãe.

» A amamentação promove o relacionamento emocional, ou vínculo, entre


mãe e bebê.

Comunique informações sobre as vantagens da amamentação (incluindo benefícios


para a saúde, benefícios econômicos etc.), para ajudar as mulheres a decidirem por
qual método de alimentação escolherão. Certifique-se de discutir também os
riscos de não amamentar. Responda a quaisquer perguntas ou preocupações
que a mulher possa ter. Por exemplo, algumas mulheres não percebem que
é normal o bebê perder peso nos primeiros três ou quatro dias após o
nascimento e que isso não reflete a maneira como ela está amamentando
ou a qualidade do seu leite materno.

Algumas mulheres podem optar por não amamentar. Você deve respeitar esta
decisão, mesmo se não concordar com ela e apoiar a mãe na substituição segura
de alimentos.

Riscos de não amamentação:

» Os bebês podem adoecer com mais frequência com diarreia, desnutrição e


pneumonia e correm maior risco de morrer.

» Os bebês não recebem proteção natural para doenças.

Todas as mães devem ser incentivadas a amamentar exclusivamente seus bebês


até os seis meses de idade. Amamentação exclusiva significa que o bebê não
recebe nenhum outro alimento ou bebida, nem mesmo água. Eles só recebem
leite materno. Certifique-se de que a mãe ou outras pessoas na casa não deem
nada ao bebê que interfira na amamentação exclusiva (figura 1).

10
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

Figura 1. Incentivo à amamentação exclusiva.

Para incentivar e apoiar a amamentação exclusiva, você pode fazer o seguinte:


1. Incentive a amamentação com frequência, dia e noite, e aconselhe a mãe a permitir
que o bebê se alimente pelo tempo que desejar. Diga a ela que é bastante normal que
um bebê se alimente até oito vezes ao dia. Explique a ela os sinais que um bebê
mostrará quando precisar ser alimentado (como “torcer”, procurar o mamilo, chupar a
mão).
2. Tranquilize os pais de que não há necessidade de dar ao bebê outra bebida ou
comida, nem mesmo água – o leite materno tem tudo o que o bebê precisa.
3. Ajude a mãe sempre que precisar de assistência e, principalmente, se for a primeira
vez, mãe adolescente ou mãe com outras necessidades especiais.
4. Explique à mãe que ela deve deixar o bebê terminar o primeiro seio e parar de
mamar sozinha antes de oferecer o segundo seio.
5. Incentive a mãe a iniciar cada mamada com um peito diferente. Por exemplo, se a
mama esquerda for usada para iniciar uma alimentação, na próxima alimentação
comece com a mama direita.
6. Se for necessário ordenhar o leite materno, mostre à mãe como fazer isso e mostre
como alimentar o bebê através do leite ordenhado na xícara.
7. Tranquilize a mãe de que seu corpo produzirá leite materno suficiente para satisfazer
as necessidades do bebê. Só porque um bebê está chorando, isso não significa que
ele não tem leite materno suficiente. Um bebê que está exigindo mais mamadas pode
estar crescendo. Ao permitir que o bebê mame com mais frequência, seu corpo
produzirá mais leite materno para atender às necessidades do bebê.
8. Explique que a mãe pode fornecer todo o leite materno necessário para o bebê nos
primeiros 6 meses e além.
9. Explique que a mãe pode continuar amamentando se precisar voltar ao trabalho ou
à escola, expressando o leite materno ou alimentando a criança com mais frequência
quando estiver em casa.
10. Aconselhe-a a procurar ajuda (ou voltar para conversar com o profissional) se
o bebê não estiver se alimentando bem ou se ela tiver alguma dificuldade
ou preocupação com a amamentação, mamilos ou seios doloridos. Se
necessário, encaminhe-a a um conselheiro de alimentação infantil treinado.

Fonte: elaborada pela autora.

É importante conversar e discutir com as mães sobre condições especiais que


podem acontecer, como:

Apoio à alimentação de bebês prematuros e/ou com


baixo peso ao nascer
Bebês com baixo peso ou prematuros devem ser alimentados com o leite materno
da mãe. A mãe pode precisar de apoio extra para iniciar a amamentação ou

11
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

expressar o leite materno o mais rapidamente possível após o nascimento. Como


os bebês com baixo peso ao nascer podem, às vezes, se cansar facilmente ao
se alimentar, é particularmente importante que a mãe alimente o bebê o mais
rapidamente possível, respondendo à demanda e pelo menos 8 refeições durante
24 horas, durante o dia e à noite. No entanto, vale ressaltar que é necessário a
avaliação de cada prematuro.

Se uma mãe não pode alimentar seu próprio bebê, ainda assim, é melhor que
um bebê com baixo peso ao nascer seja alimentado com leite materno. Algumas
instalações criaram bancos de leite materno, nos quais o leite materno de mulheres
saudáveis ​​é coletado, pasteurizado e mantido congelado. Se sua instituição não
possui um banco de leite materno, talvez o hospital de referência local possa
colocá-lo em contato com um. Tente descobrir sobre os bancos de leite materno
na sua região e mantenha essas informações disponíveis para mães que não
podem amamentar por um tempo devido a problemas de saúde. Se o bebê com
baixo peso ao nascer ou prematuro não puder ser alimentado com leite materno,
seja pela mãe ou por um banco de leite materno, o bebê poderá receber fórmula
infantil padrão por xícara.

Incentivar o contato contínuo com a pele pode ajudar os bebês com baixo peso
ao nascer a se aquecer e apoiar a amamentação sob demanda. Certifique-se de
que os pais estejam cientes de todos os sinais de perigo do recém-nascido e
que eles entendam que é especialmente importante levar um recém-nascido de
baixo peso ao serviço de saúde se tiverem alguma preocupação, pois esses bebês
pequenos correm um risco particular de infecções e dificuldades alimentares.

Apoio à mãe que ainda não está amamentando

Se a mãe ou o bebê estiverem doentes ou o bebê for muito pequeno para mamar,
você precisará dar apoio e ajuda extras. Primeiro, ensine a mãe como expressar
o leite e alimentar o bebê usando uma xícara. Se você não foi treinado para
fazer isso, procure um consultor de alimentação infantil sempre que possível.
Se a mãe e o bebê estiverem separados por qualquer motivo, tranquilize a mãe

12
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

sobre o progresso do bebê sempre que ela pedir. Incentive a mãe a começar a
amamentar o bebê assim que ela ou o bebê puder.

Suporte para gêmeos que amamentam

Muitas mães que dão à luz dois ou mais bebês estão preocupadas com o fato de
não terem leite suficiente. Tranquilize-a de que ela terá leite suficiente para os
dois bebês. Incentive a mãe a amamentar um bebê de cada vez até que a rotina
de amamentação seja estabelecida. Você pode então mostrar-lhe as diferentes
maneiras pelas quais ela pode alimentar os bebês e trabalhar com ela para
descobrir com qual método ela se sente mais confortável. Se um dos gêmeos
for mais fraco ou menor que o outro, verifique se o gêmeo mais fraco também
recebe leite suficiente.

Conselhos para mulheres que não estão amamentando

Algumas mulheres podem não ser capazes de amamentar e outras podem optar
por não fazê-lo. O direito da mulher de tomar uma decisão informada deve ser
apoiado e respeitado. Se, depois de discutir os benefícios da amamentação e
os riscos de não amamentar, a mãe decide não amamentar, é preciso mostrar-
lhe métodos alternativos.

Essas mães precisam aprender a preparar e alimentar com segurança a fórmula


para seus bebês. Você também pode ter outras mulheres cujos bebês morreram
ou que tiveram um natimorto. Essas mulheres podem sentir desconforto nos
seios por um período de tempo. Aconselhe-as a não estimular os seios ou os
mamilos. Mostre-lhes como apoiar os seios com um sutiã ou um pano firme e
bem ajustado. Ensine a mãe a expressar apenas um pouco de leite para aliviar
o desconforto, mas não o suficiente para estimular mais produção de leite.

13
CAPÍTULO 2
PROMOÇÃO DA AUTOESTIMA E PREPARO PARA TOMADA
DE DECISÕES

Para se ter sucesso com a amamentação, os profissionais de saúde precisam


estar prontos para proteger, apoiar e promover a amamentação por meio de
suas habilidades clínicas e de aconselhamento, estando preparados para não
promover apenas a importância da amamentação, mas também a promoção da
autoestima.

É muito importante promover a amamentação, mas não há sucesso nessa promoção


sem apoio e proteção. Portanto, é necessário criar condições para resolver os
problemas que possam surgir, e isso significa dar suporte. Proteção significa
cuidar para que nenhum obstáculo atrapalhe a amamentação. Assim, promoção,
apoio e proteção devem ser dados no pré-natal, pós-parto e pelo menos durante
os dois primeiros anos de vida da criança.

É essencial compreender a diferença entre o simples ato de aconselhar –


porque dar conselhos ou aconselhar significa dizer à pessoa o que fazer – e o
aconselhamento – que é uma maneira de o profissional agir. O profissional ouve
e procura entender e atender à mãe por meio de seu conhecimento e fornece
apoio, ajudando a mãe a planejar e tomar decisões e a se fortalecer para que
possa enfrentar as pressões e, assim, aumentar sua autoestima e autoconfiança.
A principal ideia do aconselhamento sobre amamentação é estabelecer entre o
profissional e a mãe uma ação construtiva e uma facilitação da comunicação.

A gravidez e o pós-parto são um período considerado o auge do desenvolvimento


psicossexual feminino. O período de amamentação fecha esse ciclo, aprovando a
identidade feminina da mulher. É por isso que qualquer obstáculo nesse estágio
pode afetar diretamente sua autoestima, que naturalmente estará vulnerável a
distúrbios emocionais.

Os aspectos emocionais pelos quais a mãe passa são um fator muito importante
para o sucesso da amamentação, porque não basta colocar o bebê no peito para
que o leite seja produzido, colocar o bebê no peito não é tudo, é preciso levar
em consideração as emoções experimentadas pela dona da mama. O pós-parto,
por ser um período de profundas mudanças emocionais na mãe, pode torná-la
mais emocional e sensível, portanto, emoções negativas podem prejudicar a
“queda” do leite pela inibição do reflexo da ocitocina. As emoções positivas –
como calma, tranquilidade e confiança – aumentam os níveis de liberação de
ocitocina e auxiliam o processo de amamentação.

14
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

A amamentação pode provocar nas mães fantasias, medos e emoções em relação


à qualidade do leite e à competência em cuidar do bebê. No entanto, as emoções
influenciam os mecanismos psicossomáticos da lactação. Calma, confiança e
tranquilidade ajudam a efetividade de uma boa amamentação, mas quando
a mãe sofre dores, tem medo, depressão, tensão, fadiga, ansiedade, pode
haver perdas na amamentação.

Ao atender uma mãe, deve-se avaliar tudo ao seu redor, pois não adianta orientar,
aconselhar sem entender os aspectos culturais que norteiam essa mãe. Portanto,
deve-se levantar questões sobre a história de vida dessa mãe e trabalhar para
despertar sua autoconfiança, mostrando que a melhor pessoa para cuidar do
bebê é ela mesma. Assim ela terá certeza de que seu papel como mãe não será
negativamente influenciada por questões socioculturais.

No entanto, a amamentação é muito importante para a vida do bebê, e mais


importante se ele é amamentado por uma mãe otimista e autoconfiante. É papel
da equipe de saúde da amamentação criar condições para a mãe amamentar seu
bebê com satisfação e desfrutar e ter sucesso nessa fase muito especial de suas
vidas.

É essencial que a equipe de saúde tenha um papel de acolher as mães e bebês


para escutar e prestar esclarecimento às dúvidas e aflições, incentivar a troca de
experiências e, quando necessário, fazer uma avaliação única de cada caso. Para
informações precisas e reais sobre saúde, é necessário enfatizar as características
pessoais, humanas e interdisciplinares da formação de profissionais de saúde. O
perfil de cada membro da equipe se torna essencial para desempenho adequado,
melhora o serviço e, consequentemente, a saúde do usuário.

Trabalho em equipe melhora em múltiplas habilidades o contexto interdisciplinar,


e a cooperação entre profissionais é fundamental para a fluidez dos serviços
de saúde. Atualmente, as equipes estão conquistando espaço nas organizações
de serviço graças à maneira eficiente de organizar e aproveitar as habilidades
humanas. Uma visão mais global do trabalho coletivo torna-se necessária
para um melhor aproveitamento das qualidades dos profissionais em relação
à saúde materna e infantil.

As mulheres precisam de apoio extra, incentivo e segurança durante a


amamentação. Embora consideremos a amamentação um processo natural, ainda
é uma habilidade que precisa ser aprendida. Inicialmente, a amamentação pode

15
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

parecer exigente, pois o bebê pode querer mamar com frequência. Os bebês, no
entanto, começam a estabelecer seu próprio padrão ao longo do tempo, e a mãe
passa a se sentir mais confortável e à vontade.

Algumas mulheres também acham que o reflexo inicial de “desapontamento” é


muito forte, o que causa dor, ou elas sofrem fortes dores após a contração do
útero. Tranquilize-as de que isso passará. O reflexo de ‘desapontamento’ também
pode causar vazamento de leite quando elas têm relações sexuais. Tranquilize-as
de que isso é normal e que talvez precisem dizer ao marido ou parceiro que isso
é normal.

Às vezes, maridos ou parceiros podem se sentir excluídos do processo de


amamentação. Incentive-os a se envolverem de outras maneiras. Isso pode
facilitar a situação e ajudar os homens a fornecer mais apoio à amamentação;
por exemplo, pedindo que ele busque o bebê para a mamada, ajudando a deixar
a mulher confortável ou cuidando das outras crianças enquanto ela está se
alimentando. Massagear o bebê e cantarolar para acalmar um bebê são outras
maneiras muito úteis de envolver os homens.

O papel materno significa estabelecer a identidade materna e realizar atos com


base nas necessidades de um bebê e, ao aceitar um novo membro da família
após o parto, ocorre a interação entre os membros da família. O papel materno
começa ao reconhecer cada papel e é fortalecido à medida que a criança cresce
ao longo de seu ciclo de vida. O papel materno é importante porque tem um
efeito decisivo na vida de uma criança, desenvolve e mantém a relação mãe-bebê
ideal e forma a base do crescimento e desenvolvimento normais de uma criança.

No entanto, uma mulher experimenta grandes mudanças físicas e mentais,


juntamente com a transição do papel materno no processo de desenvolvimento
chamado parto. Essas mudanças dão alegria e satisfação a uma mulher, mas
também dão um fardo e a responsabilidade de ter que reajustar atividades e
papéis ao mesmo tempo. Portanto, a situação estressante devido ao ônus de ter
que se adaptar a um novo papel de mãe pode causar resultados negativos, como
falta de cuidado com o bebê e interação inadequada de mãe para filho. Além
disso, uma mãe com dificuldades na transição do papel materno pode causar
retardo de crescimento, problemas comportamentais e deficiências cognitivas
do desenvolvimento em uma criança.

No caso da transição de um papel materno bem-sucedido, o estado psicológico


da mãe, que aparece desde o final da gravidez até o parto precoce, se torna uma

16
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

pista importante, e a autoconfiança no papel materno significa que essa transição


foi feita com sucesso. Se uma mulher sente que pode cuidar bem de um bebê,
sua autoestima aumenta e a interação com o bebê se torna positiva, mostrando
uma reação afetuosa ao bebê. Por outro lado, se a autoconfiança de cuidar de
um bebê diminui, há dificuldade em desempenhar o papel materno.

A autoconfiança materna em uma mulher é importante para a transição para o


período da maternidade no processo de criação de uma identidade de si mesma
e de uma identidade materna. O apoio formal e o treinamento melhoram a
autoconfiança materna. O apoio social, a experiência anterior com uma criança
e a aquisição das habilidades necessárias para os pais por meio de um maior
conhecimento e adaptação ao seu papel podem aumentar a autoconfiança materna.

As mães precisam de apoio emocional pós-parto. Esse apoio pode ajudar


na saúde das mães e nos papéis maternos no período pós-parto. Esse apoio
pode ser emocional, financeiro e educacional, juntamente com a promoção da
autoconfiança. Esse apoio pode ser fornecido pelo cônjuge, outros parentes ou
profissionais de saúde.

A maioria das mulheres primíparas não está pronta para enfrentar o papel
materno. Além disso, as mulheres primíparas sofrem de ansiedade devido à
falta de experiência, conhecimento e habilidades maternas, seguida por uma
baixa autoconfiança. O programa de treinamento para os pais, considerando
suas necessidades, aumenta o conhecimento dos pais sobre seu papel e cria
autoconfiança. Dado que a mãe está mais confiante durante o terceiro trimestre
da gravidez, esse estágio é o melhor momento para treinar antes e depois a
assistência ao parto, juntamente com cuidados com o bebê.

Muitas mulheres acham difícil a amamentação devido a problemas como


ingurgitamento ou mamilos doloridos. O ingurgitamento pode ocorrer alguns
dias após o nascimento ou a qualquer momento quando o padrão de alimentação
do bebê mudar. Os seios ficam cheios de leite e tecido; o leite não flui bem e a
pele fica esticada (especialmente o mamilo). Isso dificulta o engate do bebê. Às
vezes, a pele fica vermelha e a mulher tem febre que geralmente desaparece em 24
horas. Para evitar o ingurgitamento, ajude as mulheres a iniciar a amamentação
logo após o nascimento, assegure um bom apego e incentive a amamentação
irrestrita. Para evitar o ingurgitamento, recomenda-se que a mãe coloque
compressas quentes nos seios ou tome um banho quente e expresse leite
suficiente para reduzir o desconforto, o que ajuda a facilitar o apego. Os
mamilos rachados ou doloridos ocorrem principalmente porque o bebê não

17
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

está aderindo adequadamente. Ajude a mãe a garantir que o bebê esteja bem
conectado. As estruturas de tomada de decisão podem ser ferramentas úteis
para analisar e resolver dilemas éticos (figura 2).

Figura 2. Abordagem ética sobre o processo de tomada de decisão em dez etapas.

1. Descrever o problema 6. Esclarecer questões legais

2. Reunir os fatos 7. Explorar opções e alternativas

3. Esclarecer valores 8. Decidir o curso da ação

4. Observar 9. Desenvolver um plano de ação

5. Identificar princípios éticos 10. Avaliar o plano

Fonte: elaborada pela autora.

A compreensão sustenta que a ética nunca deve ser reduzida a decisões, esse
tipo de estrutura não foi desenvolvido especificamente para consultores de
aleitamento materno, mas podemos considerá-la. Valores influenciam
decisões, especialmente decisões éticas. A maioria dos consultores trabalha
com mulheres com uma ampla variedade de estilos de vida e de uma infinidade
de culturas. A consciência de suas próprias crenças e valores pode evitar
viés ao trabalhar com um paciente/cliente com uma visão diferente. Para
desenvolver essa autoconscientização, cada consultor de lactação precisa
tomar tempo para esclarecer crenças e valores pessoais. O que é mais
importante para a mãe, lazer ou segurança financeira? De onde vêm seus
valores? Quais são as suas definições de família, carreira e funções para
as mulheres? Quais são as suas opiniões sobre parto domiciliar ou o uso
de epidurais no trabalho de parto? Como a mãe se sente sobre disciplinar
crianças, tempo para o desmame e bebês? A mãe consegue trabalhar com
uma mulher que detém valores pessoais muito diferentes dela?

Ainda podemos sugerir mais cinco abordagens ética sobre o processo de tomada de
decisão, são elas:

18
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

Figura 3. Processo de tomada de decisão.

1. Coletar, analisar e interpretar os dados.

2. Declarar o dilema.

3. Considerar as escolhas de ação.

4. Declarar o dilema.

5. Analisar as vantagens e desvantagens de cada


curso de ação.

Fonte: elaborada pela autora.

Essas etapas são semelhantes ao processo de enfermagem que utiliza avaliação,


diagnóstico, planejamento e implementação como etapas na realização das
tarefas de enfermagem. Nos dois processos, o praticante deve fazer perguntas
ou reunir fatos para determinar o problema, para identificar regras ou códigos
que se aplicam à situação e pensar em todas as alternativas possíveis de ações.
Nos dois casos, a legalidade de possíveis ações é também considerada ao decidir
ações profissionais.

Esses processos éticos de tomada de decisão incorporam princípios e normas


relevantes de todos os três princípios éticos e dos cinco princípios discutidos
anteriormente. Ambos os processos recomendam a identificação dos princípios
éticos relevantes e determinam quaisquer princípios que possam estar em
conflito. Essas são ferramentas que os profissionais em aconselhamento
materno podem aprender mais profundamente e ajustá-las a seus próprios
valores e decisões quando necessário.

Para consultores de lactação, dilemas morais e éticos e questões administrativas


podem ser sutis e complexas. Muitas vezes, é simplesmente a sensação de que algo
não está certo sobre uma situação e que esse sentimento desconfortável pode
durar muito tempo depois de o incidente ocorrer. É preciso ter o conhecimento
da especialidade com uma visão geral de algumas das principais teorias e
princípios da ética.

19
CAPÍTULO 3
ORIENTAÇÕES SOBRE O ALEITAMENTO MATERNO NO
PRÉ-NATAL

A promoção da amamentação no pré-natal pode influenciar significativamente


a decisão da mãe de amamentar. O incentivo pré-natal aumenta as taxas de
amamentação e pode identificar possíveis áreas problemáticas.

Durante a gravidez, as mulheres se comportam de maneira diferente do habitual,


com perguntas, mostrando insegurança e medo. Isso as torna mais sensíveis e
mais suscetíveis às pressões de suas famílias, profissionais de saúde e amigos
em relação à capacidade de amamentar. Além disso, as mães podem estar em
conflito consigo mesmas sobre sua decisão de amamentar. Nesse contexto, as
mães podem facilmente perder a confiança e a autoestima, sentindo-se muito
propensas a dar mamadeira aos bebês. Mães com uma sólida autoestima podem
resistir às pressões contra a amamentação. As seguintes recomendações são
particularmente úteis durante o pré-natal:

» Dê a devida atenção aos sentimentos expostos pela mãe, respeitando sua


decisão sobre o que ela achar melhor para ela e seu filho, não causando
preocupações ou dúvidas sobre sua capacidade de produzir leite.

» Deixe a decisão final para a mãe e mostre que ela é capaz de escolher o
que é melhor para ela e seu filho. Os profissionais de saúde devem apenas
dar sugestões e informações relevantes com evidências científicas em uma
linguagem clara e simples. A mãe sempre tem um conhecimento prático,
portanto os profissionais de saúde devem compartilhar seus conhecimentos
sobre amamentação.

» Perceba a verdadeira razão da consulta médica. A identificação da queixa


real (que nem sempre é relatada) é a chave para sugestões apropriadas
sobre a amamentação.

» Corrija ideias erradas e forneça informações precisas de maneira positiva,


sem que isso pareça uma crítica. Ao fornecer informações, os pediatras
mostram que têm experiência no tópico. No entanto, ao falar sobre isso,
suas informações e sugestões podem não ser entendidas adequadamente ou
podem não ser aceitas pela mãe. Portanto, é importante selecionar apenas
uma ou duas informações relevantes a serem fornecidas de forma positiva
e de maneira que a mãe possa perceber o que deve ser mudado, sempre
com uma atitude humilde em relação à mãe.

20
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

» Reforçar a importância da consulta médica. Tal consulta pode ter significados


diferentes para a mãe: interromper sua rotina, expor seus sentimentos,
esperar ajuda, gastar dinheiro e tempo. Um simples compromisso é sempre
muito importante para uma mãe que procura ajuda e/ou orientação.

» Preste atenção ao comportamento verbal e não verbal da mãe e do


profissional de saúde. Este é o primeiro passo do compromisso que, às
vezes, se desenvolve sem nenhuma percepção sobre a diferença oculta entre
as linhas de comunicação que envolvem olhar sem ver e ouvir sem escutar.
Antes de falar ou não falar, os profissionais de saúde podem facilitar a
comunicação ou, pelo contrário, diminuir o interesse da mãe. Assim, a
comunicação entre os profissionais de saúde e a mãe durante a consulta
pode ocorrer sem expressão verbal, apenas por meio da linguagem corporal.
Os profissionais de saúde devem demonstrar forte convicção, naturalidade
e usar alguma linguagem clara.

» Mostre cuidado e atenção desde o momento em que a mãe chega ao


hospital/unidade até que ela saia. Acolher a mãe, que é o primeiro passo
para estabelecer uma boa relação médico-paciente, é fundamental aqui.

Uma estratégia que pode ser utilizada no pré-natal é a dinâmica de grupo nas
salas de espera, envolvendo as futuras mães e as pessoas que as acompanham. A
introdução de todos os participantes é importante para quebrar o gelo e aquecer
a reunião. Todos os participantes devem se sentir incluídos, à vontade para fazer
suas perguntas, aprender com as experiências de outros participantes, resolver
problemas e tomar sua decisão sobre a amamentação. Para obter melhores
resultados, o coordenador de dinâmica de grupo deve lembrar os participantes
das informações relevantes que não foram mencionadas durante a reunião e
explicá-las em linguagem simples.

Orientação antecipatória: pontos principais


Os profissionais devem interagir com as mulheres grávidas no período pré-natal,
desempenhando um papel importante na criação das bases para o sucesso da
amamentação. Discussões sobre as metas e expectativas da amamentação durante
o período pré-natal ajudarão o profissional de saúde e a futura mãe a trabalharem
em conjunto para identificar seu sistema de apoio e os indivíduos que terão
impacto no seu sucesso.

21
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

A falta de apoio de uma pessoa significativa foi identificada como o fator mais importante
para aqueles que optaram pela fórmula alimentar.

Conhecer a família e o histórico cultural da mãe pode ajudar o clínico a identificar


possíveis barreiras. As pessoas de apoio da paciente e que a acompanham às visitas
ao consultório devem ser incluídas nos esforços de promoção da amamentação,
uma vez que provavelmente são importantes influenciadores na sua decisão de
amamentar.

Intenções e atitudes da mãe em relação à amamentação

Aconselhe todas as mulheres grávidas sobre suas decisões sobre alimentação


infantil, mesmo aquelas que têm outros filhos.

Podemos seguir três etapas para o aconselhamento das mulheres sobre suas
opções de alimentação infantil. Essa estratégia de aconselhamento é baseada
em evidências e projetada para enfrentar as barreiras à amamentação. Essa
técnica permite que os profissionais de saúde discutam abertamente questões
e preocupações com os pacientes.

As três etapas da estratégia de aconselhamento incluem:

Etapa 1: faça uma pergunta aberta

Isso incentiva o diálogo franco sobre a amamentação, começando com perguntas


abertas. Isso indicará as barreiras específicas de uma mãe à escolha da amamentação
e permitirá que você se concentre em seus problemas pessoais. É uma maneira
eficiente de direcionar seus esforços educacionais para as preocupações dela.
Exemplos:

“O que você ouviu sobre a amamentação?”

“Que preocupações você tem sobre a amamentação?”

Etapa 2: afirme suas preocupações

Esta etapa é crítica, pois ajudará a paciente a perceber que é ouvida. Normaliza
qualquer preocupação que o paciente possa ter; permite que ela saiba que você não
considera suas preocupações tolas ou estúpidas; e, mais importante, isso a ajuda
a desenvolver um relacionamento com você. Exemplos:

22
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

“Sabe, eu ouvi essa preocupação de muitas mulheres ... bom que você
mencione isso.”

“Muitas mulheres se perguntam se sua dieta deve ser realmente boa para
amamentar.”

Etapa 3. Ofereça educação direcionada às suas preocupações


específicas
Aborde as preocupações e elimine os equívocos a cada visita. Exemplos:

“Você sabia que seu peito trabalha para produzir leite de qualidade, mesmo
quando sua dieta não é tão boa?”

“Existem várias maneiras de alimentar seu bebê quando você está afastada dele
– aqui está um panfleto sobre a amamentação depois de voltar ao trabalho.”

O Protocolo n. 19 da Academia de Medicina em Aleitamento Materno: Promoção


da Amamentação no Pré-natal recomenda que as seguintes estratégias para o
trimestre sejam implementadas de acordo com as três etapas da Estratégia de
Aconselhamento (ROSEN-CAROLE; HARTMAN, 2015):

O primeiro trimestre
1. Incorporar e educar parceiros, pais e amigos sobre os benefícios da
amamentação para mães e bebês.

2. Avaliar o conhecimento básico sobre a amamentação.

3. Promover benefícios do aleitamento materno para mãe e bebê.

4. Abordar barreiras comuns conhecidas, como falta de autoconfiança,


constrangimento, restrições de tempo e sociais, preocupações com dieta e
saúde, falta de apoio social, preocupações com emprego e cuidados com a
criança e medo da dor.

5. Enfatizar a importância do aleitamento materno exclusivo por seis meses.

6. Continuar fazendo perguntas abertas.

O segundo trimestre
1. Incentivar as mulheres a identificar modelos de amamentação, conversando
com familiares, amigos e colegas que amamentaram com sucesso.

2. Discutir o vínculo entre a experiência do parto e a amamentação


bem-sucedida, incluindo intervenções não farmacológicas e farmacológicas
para o tratamento da dor no trabalho de parto.

23
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

3. Discutor os conceitos básicos da amamentação, como a importância da


amamentação e oferta/demanda exclusivas, alimentação sob demanda,
frequência das mamadas, dicas de alimentação, como saber que uma criança
está recebendo o suficiente para comer, evitando mamilos artificiais até
que a criança esteja amamentando bem, e a importância de uma boa trava.

4. Incentivar a mãe que trabalha fora de casa a começar a pensar se e quando


voltará ao trabalho após o nascimento do bebê. Se ela planeja retornar ao
trabalho, incentive a mulher a considerar quais instalações estão disponíveis
para bombear e armazenar o leite materno, quanto tempo levará para a
licença de maternidade e quais políticas e legislação da empresa estão
disponíveis para apoiá-la.

5. Recomendar participar de um programa de amamentação pré-natal para a


paciente e seu parceiro, além da educação no consultório.

6. Incentivar a participação em um grupo de apoio aos pares em amamentação.


Fornecer uma lista de opções educacionais locais e recursos de amamentação
para os pacientes.

O terceiro trimestre
1. Discutir o que acontecerá na sala de parto em condições normais.

2. Incentivar a criação de um plano de parto que inclua a importância de práticas


que promovam o sucesso da amamentação.

3. Rever a fisiologia do início da amamentação e como a suplementação pode inibir


o desenvolvimento do suprimento de leite da mãe.

4. Discutir a variedade de posições que as mães usam ao amamentar seus recém-


nascidos. Cada mãe precisa encontrar uma posição ou posições que funcionem
para ela. É importante que as mães estejam em uma posição confortável
durante a amamentação. Nos primeiros dias pós-parto, a posição deitada ou
deitada de lado pode ser a mais fácil. Demonstre a mecânica da amamentação,
como posicionar o recém-nascido no seio. Use uma boneca para explicar
várias posições.

5. Discutir a importância do contato precoce com a pele.

6. Estabelecer a expectativa de que as primeiras mamadas sejam pequenas.

7. Discutir a importância da retirada do leite com as mãos. A expressão das mãos


alivia o ingurgitamento e funciona melhor do que uma bomba inicialmente,
e pode ajudar nos primeiros dias.

24
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

8. Discutir os recursos disponíveis para amamentação no hospital.

9. Recomendar a compra de sutiãs adequados.

10. Incentivara outra visita a um grupo de apoio à amamentação, pois o interesse


e as metas da mãe em participar podem ser diferentes daqueles do início
da gravidez.

11. Recomendar que a mãe identifique um médico pediátrico que apoie a


amamentação. Sugira que ela discuta os planos de assistência médica e
apoio à amamentação com seu médico pediatra.

Tranquilizem a mãe em relação à amamentação


» Oriente a mãe que outras partes do corpo, como orelhas, nariz, dedos
ou pés, têm várias formas e tamanhos e ninguém pergunta se as orelhas
grandes ouvem melhor que as orelhas pequenas. Seios e mamilos podem
parecer diferentes e ainda funcionam perfeitamente bem, exceto em casos
muito raros.

» As práticas pré-natais, como usar sutiã, usar cremes ou usar conchas nas
mamas, não ajudam na amamentação.

» Práticas como ‘endurecer’ os mamilos esfregando com uma toalha áspera ou


colocando álcool nos mamilos ou puxar excessivamente não são necessárias e
podem danificar a pele e os pequenos músculos que apoiam a amamentação,
e não devem ser incentivados.

O exame das mamas durante a gravidez pode ser útil se for usado para:

» Indicar a uma mulher como seus seios estão aumentando de tamanho, que
há mais fluxo sanguíneo para eles e alterações na sensibilidade e como esses
são todos sinais de que seu corpo está se preparando para amamentar.

» Verifique se há qualquer cirurgia anterior no peito ou na mama, trauma ou


outro problema (por exemplo, nódulos na mama).

» Converse com a mãe sobre o autoexame regular da mama e por que ele
pode ser útil.

» O exame das mamas durante a gravidez pode ser prejudicial se for usado para
julgar os mamilos ou seios de uma mulher como adequados ou inadequados
para a amamentação. É muito raro uma mulher ser incapaz de amamentar
devido ao formato de seus seios ou mamilos.

25
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

» A preparação pré-natal ideal é usar o tempo para discutir o conhecimento,


crenças e sentimentos da mulher sobre a amamentação e aumentar a
confiança da mulher em sua capacidade de amamentar exclusivamente o
bebê.

Amamentação durante a gravidez

Muitas mulheres se preocupam com a amamentação durante a gravidez, pois a


amamentação pode causar contrações uterinas leves. No entanto, em uma gravidez
saudável, essas contrações não são uma preocupação, pois geralmente não causam
trabalho de parto prematuro. Isso ocorre porque a ocitocina, o hormônio liberado
durante a amamentação, que estimula as contrações, geralmente é liberado em
uma quantidade tão pequena durante a amamentação que não é suficiente para
causar um trabalho de parto prematuro. Tais contrações também são inofensivas
para o feto e raramente aumentam as chances de aborto. Além disso, embora um
pequeno número de hormônios da gravidez passe para o leite, esses hormônios
não representam risco.

Embora a amamentação durante a gravidez seja geralmente considerada segura,


há alguns casos em que o desmame pode ser aconselhável:

» gravidez de alto risco ou se estiver em risco de parto prematuro;

» gravidez gemelar;

» suspensão de sexo durante a gravidez;

» sangramento ou dor uterina;

Caso ocorra a apresentação de algum desses sintomas, indica-se uma conversa


com o médico para determinar se o desmame será necessário.

Orientações sobre o aleitamento materno no puerpério

Para ajudar uma mãe a aprender a amamentar, primeiro incentive-a a se colocar


em uma posição confortável. Mostre-lhe como manter o bebê reto, com a cabeça e
o corpo voltados para o peito e com o nariz em frente ao mamilo. Ela deve segurar
o bebê próximo, apoiando todo o corpo, não apenas o pescoço e os ombros.

Observe a mãe amamentando seu bebê e ofereça ajuda e assistência, se necessário.


Procure sinais de bom apego e amamentação eficaz (chupa lenta e profundamente,
com pausas). Se a pega não for boa, incentive a mãe a reposicionar o bebê.
Mostre à mãe como tirar o bebê da mama, inserindo o dedo mindinho no canto

26
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

da boca do bebê. Continue encorajando e tranquilizando a mãe o tempo todo.


Incentive-a a reposicionar o bebê até que ela se sinta confortável e o bebê esteja
chupando bem. Tranquilize-a de que não há necessidade de pressa, mesmo que
o bebê esteja chorando.

Após o nascimento, seque o bebê. Coloque-o no peito da mãe, de preferência com


contato pele a pele. Use um cobertor para cobrir o bebê e a mãe, para mantê-lo
aquecido. Quando o bebê parecer pronto, incentive a mãe a ajudar o bebê no
seio. Os bebês mostram que estão prontos para tomar o seio quando começam
a se “torcer” ou a procurar o seio. Alguns bebês precisam de incentivo para se
agarrar a essa fase.

É importante que todas as mães iniciem o contato pele a pele desde o nascimento,
o mais rapidamente possível depois do nascimento – de preferência na primeira
hora. Deve-se deixar o bebê mamar quando parecer pronto. Alguns bebês podem
demorar mais para começar a mamar. Como profissional de saúde, você tem um
papel importante em ajudar a mãe a fazer isso. O contato precoce ajudará a mãe
a se relacionar com seu bebê, isto é, a desenvolver um relacionamento íntimo
e amoroso. Também aumenta a probabilidade de ela começar a amamentar.

Mostre à mãe como segurar o bebê:

» verificar se a cabeça e o corpo do bebê estão alinhados;

» verificar se o bebê está de frente para o peito e se o nariz está do lado


oposto ao mamilo;

» observar se corpo do bebê está próximo ao corpo da mãe;

» apoiar todo o corpo do bebê, não apenas o pescoço e os ombros.

Mostre à mãe como ajudar o bebê a se conectar:

» tocar os lábios do bebê com o mamilo;

» esperar até a boca do bebê se abrir;

» mover o bebê rapidamente para o peito, apontando o lábio inferior da


criança bem abaixo do mamilo.

Procure sinais de boa pega:

» aréola visível acima da boca do bebê;

» boca aberta;

27
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

» lábio inferior virado para fora;

» queixo do bebê tocando a mama.

Procure sinais de amamentação eficaz (ou seja, lenta e profunda, por vezes,
pausando).

Se o acessório ao mamar não estiver bom, tente novamente. Então reavalie.

Se houver ingurgitamento mamário, expresse uma pequena quantidade de leite


materno antes de iniciar a amamentação para suavizar a área dos mamilos, para
que seja mais fácil para o bebê anexar.

Posição e pega

Dando ênfase às posições e/ou pegas do bebê, são importantes uma boa pega
e um posicionamento correto para evitar dores nos mamilos e permitir que o
bebê obtenha leite suficiente. Os bebês podem agarrar-se ao seio com sucesso
a partir de várias posições. Cada bebê pode preferir uma posição específica.

Podemos observar, na figura 4, a forma correta de uma boa pega do bebê. Ele
precisa abocanhar toda a auréola e não só o mamilo. A parte do lábio e a língua
da criança precisam chegar primeiro ao seio da mãe, uma dica é aproximar o
queixo do bebê ao mamilo e quando ele abrir a boca, preencher o máximo que
der da auréola na boca. Para facilitar a colocação da aréola na boca do bebê,
pode-se ensinar a mãe a fazer uma pinça com o dedo indicador e polegar, em
forma de C. É imprescindível ensinar para a mãe a forma correta da pega do
bebê para evitar problemas futuros com a amamentação.

Do contrário, o bebê beberá ar.

Figura 4. Pega correta do bebê.

Fonte: https://www.unimedsorocaba.coop.br/Maternidade/Amamentacao/PegaCorreta.

28
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

A posição correta para amamentar é aquela em que a mãe e o bebê se sentem


confortáveis, para que esse momento seja prazeroso para ambos. Deve-se orientar
a mãe sobre as opções de posições para amamentação. Podemos destacar a
posição tradicional, em que a mãe fica sentada com o seu bebê no colo (figura
5); posição deitada, a mãe fica deitada ao lado do bebê, ideal para os momentos
de cansaço (figura 6); posição inversa, a mãe fica sentada e o bebê fica de forma
invertida, por baixo do braço da mãe, do lado do seio oferecido (figura 7); e
posição cavalinho, essa posição é ideal para bebês maiores, o bebê fica sentado
na coxa da mãe que também está sentada (figura 8).

Figura 5. Posição tradicional.

Fonte: https://chadegravidez.com.br/posicoes-para-amamentar/.

Figura 6. Posição deitada.

Fonte: https://omanualdaspapinhas.com/qual-a-melhor-posicao-para-o-bebe-mamar/.

29
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

Figura 7. Posição lateral inversa.

Fonte: https://www.unimedsorocaba.coop.br/Maternidade/Amamentacao/Posicoes.

Figura 8. Posição cavalinho.

Fonte: https://chadegravidez.com.br/posicoes-para-amamentar/.

Ajude a mãe a:

» Iniciar a amamentação dentro de 1 hora após o nascimento.

» Alimentar o bebê a cada 2 ou 3 horas. Acordar o bebê para mamar, mesmo


que ele não acorde sozinho, 2 horas após a última mamada.

» Sempre começar a amamentar antes de oferecer um copo. Se necessário,


melhore o fluxo de leite (deixe a mãe expressar um pouco de leite antes de
colocar o bebê no peito).

30
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

» Manter o bebê por mais tempo no peito. Permita pausas longas ou alimentação
longa e lenta. Não interrompa a alimentação se o bebê ainda estiver tentando.

Se o bebê ainda não estiver amamentando bem e por tempo suficiente, faça o
que funcionar melhor em seu ambiente:

» Deixe a mãe expressar o leite materno na boca do bebê.

Deixe a mãe expressar o leite materno e alimentar o bebê com o copo. No primeiro
dia, expresse o leite materno e alimente o colostro por colher.

» Ensine a mãe a observar a deglutição se estiver dando leite materno expresso.

» Pesar o bebê diariamente (se houver balanças exatas e precisas), registrar


e avaliar o ganho de peso.

Se a mãe estiver doente e incapaz de amamentar, ajude-a a expressar o leite


materno e a alimentar o bebê com o copo. No primeiro dia, expresse em uma colher
e alimente por colher.

Pontos importantes para orientar as mães: mamilos invertidos,


planos, grandes e longos

Os mamilos se formam naturalmente em uma ampla variedade de formas que


geralmente não afetam a capacidade da mãe de amamentar com sucesso. No
entanto, alguns mamilos parecem planos, grandes ou longos, e o bebê tem
dificuldade em se prender a eles. A maioria dos mamilos planos é protrátil – se
a mãe os puxa para fora com os dedos, eles se esticam, da mesma forma que têm
que se esticar na boca do bebê. Um bebê não deve ter dificuldade em mamar
de um mamilo protrátil. Às vezes, um mamilo invertido é não protrátil, não se
estica quando puxado. Isso dificulta a fixação do bebê. A prolongação geralmente
melhora durante a gravidez e na primeira semana após o nascimento do bebê.
Um mamilo grande ou longo pode dificultar que o bebê leve tecido mamário
suficiente à boca. Às vezes, a base do mamilo é visível, mesmo que o bebê tenha
uma boca amplamente aberta.

31
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

As diferentes formas dos mamilos são uma característica física natural da mama.
Um mamilo invertido é mantido por um tecido conjuntivo apertado que pode se
soltar depois que o bebê mama por um tempo. Os mesmos princípios se aplicam
aos mamilos planos, grandes ou longos.

» O tratamento pré-natal não é útil. Se uma mulher grávida estiver preocupada


com a forma dos mamilos, explique que os bebês costumam mamar sem
dificuldade mesmo em mamilos de formas incomuns, e que obter uma ajuda
especializada após o parto é a coisa mais importante.

» Assim que possível, após o parto, a mãe deve ser ajudada a se posicionar
e tentar prender o bebê. Às vezes, ajuda-se a mãe tomar uma posição
diferente, como se debruçar sobre o bebê, para que o peito e o mamilo
caiam em direção a sua boca.

» A mãe deve dar ao bebê bastante contato pele a pele perto da mama e deixar
que ele tente encontrar sua própria maneira de tirar a mama, o que muitos
fazem.

» Se um bebê não puder se apegar na primeira ou nas duas semanas seguintes,


a mãe poderá expressar o leite materno e alimentá-lo.

» A mãe deve continuar colocando o bebê no seio em diferentes posições e


permitindo que ele tente. Ela pode expressar o leite na boca do bebê e tocar
os lábios para estimular o reflexo de enraizamento e incentivar o bebê a
abrir mais a boca.

» À medida que o bebê cresce, a boca logo se torna maior e ele pode se apegar
mais facilmente.

» Para mamilos planos ou invertidos, uma bomba de mama eficaz, seringa


ou outro dispositivo que puxe para alongar o mamilo pode ser usado para
retirar o mamilo imediatamente antes da amamentação. Isso facilita para
o bebê. Esses dispositivos também podem ser usados em outros momentos
após o nascimento, para romper ainda mais as aderências sob o mamilo,
aplicando pressão uniforme a partir do centro do mamilo.

Se a mãe não puder amamentar, use uma das seguintes opções:

» Leite materno tratado termicamente.

» Se não estiver disponível, a fórmula infantil comercial.

32
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

» Se não estiver disponível, faça a fórmula caseira a partir de leite animal


modificado.

Métodos de alimentação alternativos

Expresse o leite materno

A mãe precisa de recipientes limpos para coletar e armazenar o leite. Um jarro,


uma tigela ou xícara de pescoço largo podem ser usados. Uma vez expresso, o leite
deve ser armazenado com uma tampa bem ajustada. Ensine a mãe a expressar o
leite materno sozinha, não faça isso por ela. Ensine-a da seguinte forma:

» lave bem as mãos;

» sente-se ou levante-se confortavelmente e segure um recipiente limpo


debaixo do peito;

» coloque o indicador e o polegar em ambos os lados da aréola, atrás do


mamilo;

» pressione levemente para dentro em direção à mama entre o indicador e


o polegar;

» expresse um lado até que o fluxo de leite diminua. então expresse o outro lado;

» continue alternando os lados por pelo menos 20 a 30 minutos.

Se o leite não fluir bem:

» aplique compressas quentes;

» peça a alguém que massageie suas costas e pescoço antes de expressar;

» ensine à mãe a massagem nos seios e nos mamilos;

» alimente o bebê por xícara imediatamente. Caso contrário, armazene o leite


expresso em local fresco, limpo e seguro;

» se necessário, repita o procedimento para expressar o leite materno pelo


menos oito vezes em 24 horas. Expresse o quanto o bebê mamaria ou mais,
a cada 3 horas.

Quando não estiver amamentando, expresse um pouco para aliviar a dor.

Expresse manualmente o leite materno diretamente na boca do bebê

» ensine a mãe a expressar o leite materno;

» mantenha o bebê em contato pele a pele, com a boca próxima ao mamilo;

33
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

» expresse o peito até que algumas gotas de leite materno apareçam no mamilo;

» aguarde até que o bebê esteja alerta e abra a boca e os olhos, ou estimule-o
levemente para despertá-lo;

» deixe o bebê cheirar e lamber o mamilo e tentar sugar;

» deixe um pouco de leite materno cair na boca do bebê;

» aguarde até o bebê engolir antes de expressar mais gotas de leite materno;

» depois de algum tempo, quando o bebê tiver o suficiente, ele fechará a boca
e não tomará mais leite materno;

» peça à mãe que repita esse processo a cada 1 ou 2 horas, se o bebê for muito
pequeno (ou a cada 2 ou 3 horas, se o bebê não for muito pequeno);

» seja flexível a cada alimentação, mas verifique se a ingestão é adequada,


verificando o ganho de peso diário.

Ensine à mãe o tratamento térmico do leite materno expresso

Explique com cuidado e demonstre como tratar com calor o leite materno
expresso. Observe a mãe praticar o tratamento térmico do leite materno expresso.
Verifique o entendimento da mãe antes que ela saia.

» expresse o leite materno (50 a 150 ml) em um frasco de vidro limpo de 450
ml e feche-o com uma tampa;

» rotule o frasco com o nome do bebê, a data e a hora;

» coloque a jarra em uma panela (cerca de 1 litro) e despeje água fervente


na panela - 450 ml ou 2 cm abaixo da borda da panela. Se o frasco estiver
flutuando, coloque um peso em cima dele;

» deixe em pé por meia hora. Retire o leite, deixe esfriar, administre ao bebê
ou guarde na geladeira.

Copo de leite materno expresso

Ensine a mãe a alimentar o bebê com um copo. Não alimente o bebê sozinho. A
mãe deve:

» medir a quantidade de leite no copo;

» segurar o bebê sentado semiverticalmente no colo;

34
ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO | UNIDADE I

» segurar o copo de leite nos lábios do bebê;

» colocar o copo levemente no lábio inferior;

» tocar a borda do copo na parte externa do lábio superior;

» colocar o copo de ponta para que o leite chegue aos lábios do bebê, mas
não despejar o leite na boca do bebê;

» deixar o bebê alerta.

O bebê termina de mamar quando a boca fecha ou quando não está interessado em
tomar mais.

Se o bebê não receber a quantia calculada:

» alimente por mais tempo ou alimente com mais frequência;

» ensine a mãe a medir a ingestão do bebê por 24 horas, não apenas a cada
mamada.

Se a mãe não expressar leite suficiente nos primeiros dias ou não puder amamentar,
use uma das seguintes opções de alimentação:

» leite materno tratado termicamente;

» fórmula caseira ou comercial.

O bebê está se alimentando bem se a quantidade necessária de leite for ingerida,


derramando pouco e o ganho de peso for mantido.

Aleitamento materno exclusivo


Todas as mães devem ser incentivadas a amamentar exclusivamente seus bebês
até os seis meses de idade. Amamentação exclusiva significa que o bebê não
recebe nenhum outro alimento ou bebida, nem mesmo água. Ele só recebe
leite materno. Certifique-se de que a mãe ou outras pessoas na instituição não
deem nada ao bebê que possa interferir na amamentação exclusiva.

Para incentivar e apoiar a amamentação exclusiva, você pode fazer o seguinte:

A discussão sobre a amamentação deve começar durante a gravidez, perguntando


às mulheres como elas planejam alimentar o bebê. Nesse momento, você não
precisa sobrecarregar as mulheres com muita informação. Atenha-se aos fatos
básicos sobre os benefícios da amamentação para o bebê e para a mãe. Converse
com as mulheres sobre os benefícios de iniciar o contato pele a pele o mais

35
UNIDADE I | ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO

rapidamente possível após o nascimento (de preferência dentro de uma hora)


para facilitar o início precoce da amamentação. Você deve ajudar a mãe com a
primeira amamentação, mostrando-lhe como posicionar e prender o bebê. As
manifestações são importantes, pois a amamentação é uma habilidade que as
mães aprendem. Tenha bonecas disponíveis para demonstrar a posição. Lembre-se de
fornecer o apoio e a garantia de que cada mulher precisa – isso varia de acordo
com a mulher.

Pense em como você poderá oferecer apoio e segurança às mulheres depois que
elas saírem da unidade de saúde e estiverem em casa. Uma vez em casa, muitas
mulheres experimentam problemas de alimentação, como seios inchados ou
mamilos rachados. Outras podem ser pressionadas pelos membros da família a
oferecer alimentos ou bebidas suplementares.

Como você pode trabalhar com as mulheres para superar alguns desses problemas? Uma
maneira é conversar com todos os familiares sobre a importância do aleitamento
materno exclusivo. Você também pode avaliar a amamentação em qualquer visita
ou reunião durante o período pós-natal. Considere também realizar uma sessão
especial para problemas de amamentação.

» Frequentemente, existem grupos para apoiar as mulheres que estão


amamentando. Descubra qual apoio existe ou entre em contato com mulheres
que amamentaram com sucesso e veja se elas estariam disponíveis para
apoiar mulheres após o nascimento.

» Antes da alta e se a mãe retornar ao estabelecimento de saúde durante o


período pós-natal, é necessário avaliar o andamento da amamentação. Você
também deve avaliar a amamentação e fornecer informações relevantes
durante as visitas de rotina e a qualquer momento, se houver dificuldade
de alimentar ou se a mãe estiver preocupada com a alimentação.

36
REFERÊNCIAS

BERTINI, G.; BRESCHI, R.; DANI, C. O gráfico fisiológico da perda de peso ajuda a identificar bebês de
alto risco que precisam de apoio à amamentação. Acta Paediatr., v. 104, n. 10. pp. 1024-1027, 2015.

BRASIL . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. 2a. ed. Brasília: Ministério
da Saúde, 2015.

CASEY, ROSEN-CAROLE; SCOTT, HARTMAN and the Academy of Breastfeeding Medicine.


Breastfeeding Promotion in the Prenatal Setting, Revision. General Pediatrics, v. 10, n. 10, 2015.

CHÁ DE GRAVIDEZ. Conheça diversas posições para amamentar. Disponível em: https://
chadegravidez.com.br/posicoes-para-amamentar/. Acesso em: 25 mar. 2020.

CRIANDO CRIANÇAS. Gráficos de crescimento infantil. Disponível em: http://criandocriancas.


blogspot.com/2009/05/tabela-de-crescimento-infantil.html. Acesso em: 25 mar. 2020.

ELTONSY, S.; BLINN, A.; SONIER, B.; DEROCHE, S.; MULAJA, A.; HYNES, W.; BARRIEAU, A.;
BELANGER, M. Fluidos intravenosos intraparto para parto cesáreo e perda de peso de recém-
nascidos: um estudo de coorte retrospectivo. BMJ Paediatr Open, v. 1, n. 1, 2017.

GEDDES, D. T.; LANGTON, D. B.; GOLLOW, I.; JACOBS, L. A.; HARTMANN, P. E.; SIMMER, K.
(2008). Frenulotomia para lactentes com anquiloglossia: efeito sobre o mecanismo de remoção e
sucção de leite, imaginado por ultrassom. Pediatrics, v. 122, n. 1, pp. 188-94, 2008.

GROSSMAN, X.; CHAUDHURI, J. H..; FELDMANWINTER, L.; MEREWOOD, A. (2012). Perda


de peso neonatal em um hospital americano para bebês. J Acad Nutr Diet, v. 112, n. 3, pp. 410-
413, 2012.

HIRTH, R.; WEITKAMP, T.; DWIVEDI, A. (2012). Fluidos intravenosos maternos e peso do bebê.
Aleitamento clínico, n. 3, pp. 59-93, 2012.

HOWARD, C. R. et al. “Ensaio clínico randomizado sobre uso de chupeta e mamadeira ou mamadeira
e seu efeito na amamentação”. Pediatrics, v. 111, n. 3, pp.511-18, 2003.

IUBEL, Maria Luiza. A chupeta da discórdia. Gazeta do Povo, Curitiba, 27 de março de 2015.
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/maternidade/
chupeta-da-discordia/. Acesso em: 25 mar. 2020.

KRAMER, M. S. et al. “Uso de chupeta, desmame precoce e comportamento de choro/confusão”.


Jornal da Associação Médica Americana, v. 286, n.3, pp.322-326, 2001.

MACDONALD, P. D.; ROSS, S. R. M.; GRANT, L.; YOUNG, D. (2003). Perda de peso neonatal em lactentes
alimentados com mama e fórmula. Arquivos de Doença na Infância-Fetal e Edição Neonatal, v.
88, n. 6, pp. 472-476, 2003.F472-F476.

37
Referências

MÃE TIPO EU. Método BLW: introdução alimentar sem papinha com vídeo. Disponível em: http://www.
maetipoeu.com.br/dicas/metodo-blw-introducao-alimentar-sem-papinha/. Acesso em: 25 mar. 2020.

MEI, Z.; GRUMMER-STRAWN, L. M.; THOMPSON, D. E.; DIETZ, W. H (2004). Mudanças nos percentis
de crescimento durante a primeira infância: análise de dados longitudinais do California Child Health
and Development Study. Pediatrics, v. 113, n. 6, pp.617-627e617-e627, 2004.

NOEL-WEISS, J.; COURANT, G.; WOODEND, A. K. (2008). Perda de peso fisiológico no neonato
amamentado: uma revisão sistemática. Open Med., v. 2, n. 4, pp. 99-100e99-e110, 2008.

NOEL-WEISS, J.; COURANT, G.; WOODEND, A. K (2008). Perda de peso fisiológico no neonato
amamentado: uma revisão sistemática. Abra Med v. 2, n. 4, pp. e99-110 – e110, 2008.

NOEL-WEISS, J.; WOODEND, A. K.; PETERSON.; W. E.; GIBB, W. E.; GROLL, D. L (2011). Estudo
observacional das associações entre fluidos maternos durante o parto, produção neonatal e perda de peso
do recém-nascido amamentado. Revista Internacional de Aleitamento Materno, v. 6, n. 9, 2011.

O MANUAL DAS PAPINHAS. Qual a melhor posição para o bebê mamar. Disponível em: https://
omanualdaspapinhas.com/qual-a-melhor-posicao-para-o-bebe-mamar/. Acesso em: 25 mar. 2020.

OMS, Grupo de Estudo de Referência sobre Crescimento Multicêntrico da OMS. (2006). Padrões de
crescimento infantil da OMS baseados em comprimento/altura, peso e idade. Acta Paediatrica, (Oslo,
Noruega: 1992). Suplemento 450, pp. 76-85, 2006.

RAPLEY, G.; FORSTE, R.; CAMERON, S.; BROWN, A.; WRIGHT, C. Babyled weaning: a new frontier.
ICAN, v. 7, pp. 7785, 2015.

RAPLEY, G.; MURKETT, T. Babyled weaning: helping your baby to love good food. Reino Unido:
Vermilion; 2008.

SOLO INFANTIL. Como fazer o bebê pegar mamadeira: as oito dicas mais infalíveis! Disponível
em: https://soloinfantil.com/bebe/como-fazer-o-bebe-pegar-mamadeira/. Acesso em: 25 mar. 2020.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA – SBP. Como obter o Certificado Internacional de


Consultor em Lactação pelo IBLCE (International Board Of Lactation Consultant Examiners), 2006.
Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2012/12/Como-obter-o-Certificado-
Internacional-de-Consultor-em-Lactao-pelo-IBLCE.pdf. Acesso em: 19 dez. 2020.

UNIMED SOROCABA. Pega correta dos bebês. Disponível em: https://www.unimedsorocaba.coop.


br/Maternidade/Amamentacao/PegaCorreta. Acesso em: 25 mar. 2020.

UNIMED SOROCABA. Posições para amamentar. Disponível em: https://www.unimedsorocaba.


coop.br/Maternidade/Amamentacao/Posicoes. Acesso em: 25 mar. 2020.

WATSON, J.; HODNETT, E.; ARMSON, B. A.; DAVIES, B.; WATT-WATSON, J. (2012). Um estudo
controlado randomizado do efeito do manejo de fluidos intravenosos intraparto na perda de peso de
recém-nascidos amamentados. JOGNN, v. 41, pp. 24-32, 2012.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Infant and young feeding: model chapter for medical students
and allied health professionals. Geneva: WHO; 2009.

38
Referências

Sites
https://www.mamebem.com.br/produto/especializacao-em-cuidado-materno-infantil-com-enfoque-
em-aleitamento-materno-rio-de-janeiro/. Acesso em: 25 mar. 2020.

https://chadegravidez.com.br/posicoes-para-amamentar/ Acesso em: 25 mar. 2020.

https://www.unimedsorocaba.coop.br/Maternidade/Amamentacao/PegaCorreta. Acesso em: 30 out. 2020.

https://crisnegrao.com.br/consultoria-em-amamentacao/. Acesso em: 30 out. 2020.

https://dicademae.com/que-formula-infantil-dar-ao-meu-filho-2/. Acesso em: 28 dez. 2020.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4685902/. Acesso em: 30 dez. 2020.

39

Você também pode gostar