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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Análise da ocorrência da morfologia verbal na lingua bantu

Ilda Fernando Castigo - 708205868

Curso: Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa


Turma: C
Disciplina: Línguas Bantu
Ano de frequência: 2º Ano
1° Trabalho
Docente: Liana Jonas Akongondo

Chimoio, Junho de 2021


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ção Tutor Subto
máxim tal
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Estrutura  Capa 0.5
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
 Discussão 0.5
organizacionais
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização 1.0
(indicação clara do
problema)
 Descrição dos objectivos 1.0
Introdução
 Metodologia adequada ao 2.0
objecto de trabalho

 Articulação e domínio do 2.0


discurso académico
(expressão escrita cuidada,
coerência / coesão textual
Conteúdo  Revisão bibliográfica 2.0
Análise e
discussão nacional e internacionais
relevantes na área de estudo
 Exploração dos dados. 2.0
Conclusão  Contributos teóricos 2.0
práticos
Formatação  Paginação, tipo e tamanho 1.0
de letra, paragrafo,
Aspectos espaçamento entre linhas.
gerais
Normas APA 6a  Rigor e coerência das 4.0
Referências edição em citações/referências
bibliográfica citações e bibliográficas
s bibliografia
Folha para recomendações de melhoria: a ser preenchida pelo tutor
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Índice
1. Introdução...............................................................................................................................1
1.1. Objectivos do Trabalho........................................................................................................2
1.2. Metodologia do Trabalho.....................................................................................................2
2. Análise e discussão.................................................................................................................3
2.1. Conceito de Línguas Bantu..................................................................................................3
2.2. Conceito de Morfologia.......................................................................................................3
2.3 Características das línguas bantu..........................................................................................4
2.4. Os morfemas do tempo verbal na língua tewe.....................................................................6
2.4.1. Morfemas do Tempo Futuro.............................................................................................7
2.4.2. Morfemas do Tempo passado...........................................................................................8
2.4.3. Morfemas do Tempo presente........................................................................................10
2.4.4. Breves notas sobre verbos auxiliares na língua tewe......................................................11
3. Conclusão..............................................................................................................................13
Referências bibliográficas.........................................................................................................14
1. Introdução

O presente trabalho da cadeira de Linguística Bantu irá debruçar acerca da ocorrência da


morfologia verbal na lingua bantu, particularmente a língua tewe. Entretanto esta língua faz
parte das línguas do grupo bantu, expandidas por quase toda parte sul do equador de África e,
hoje se estima em mais de 600 línguas distribuídos por mais de duzentos milhões de falantes
pertencentes a este grupo.
Assim, o estudo da morfologia verbal das línguas bantu tem merecido especial atenção
principalmente por serem “línguas cujas palavras são constituídas por mais do que um
morfema, mas as fronteiras entre os morfemas são sempre bem definidas.
Por outro lado, refira-se que este trabalho encontra-se estruturado em três capítulos:
introdução, analise e discussão e conclusões.

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1.1. Objectivos do Trabalho

Objectivo geral

 Analisar a ocorrência da morfologia verbal da língua tewe.

Objectivos específicos

 Definir a morfologia e Morfologia verbal;


 Identificar o objecto de estudo da morfologia.
 Caracterizar as línguas bantu;
 Descrever os morfemas do tempo verbal na língua tewe.

1.2. Metodologia do Trabalho.

A metodologia é o conjunto de métodos e técnicas utilizadas para a execução de uma


pesquisa. Assim, para a efectivação deste trabalho foi usado o método bibliográfico. Este
método permitiu a consulta de várias obras que abordam sobre Línguas bantu.

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2. Análise e discussão

2.1. Conceito de Línguas Bantu


De acordo com Zona (s/d, p. 10), Línguas Bantu refere-se ao conjunto de línguas faladas na
África Meridional e que apresentam características comuns a nível fonético, fonológico,
sintáctico, morfológico.
O termo Bantu foi empregue pela primeira vez por Bleek (alemão), “ Pai da Filologia Bantu.
O termo Bantu surge da reconstituição do termo muntu que designa “pessoa” ou “gente”.

2.2. Conceito de Morfologia


A Morfologia pode ser definida como o estudo da estrutura das palavras duma determinada
língua, da formação delas e das regras que se envolvem nesse processo. Também pode ser
definida como o estudo dos morfemas, das regras que regem a sua combinação na formação
da palavra e da sua função no sintagma e na frase (Zona, sd).
Entretanto, etimologicamente, o termo morfologia é constituído por duas partes, que são:
morfo “forma” e lógia “ciência” significando ciência que estuda as formas (Quiraque e Paula,
2017), .
Para Ngunga (2004, p. 99), “morfologia pode ser definida como o estudo dos morfemas, das
regras que regem a combinação na formação da palavra e da sua função no sintagma e na
frase”.

Por outro lado, refira-se que o objecto de estudo da morfologia é o morfema que é a menor
unidade da língua portadora de sentido (lexical e gramatical) na hierarquia da palavra.

Exemplo: Lingua tewe


a) mu- ndu “ pessoa”
b) Ku-fanba “andar”
c) Inini nd-a-ry-a “eu comi”
d) Inini a-ndi-ca-ry-i “eu não comerei”

Entretanto, não se deve confundir o morfema com a sílaba, pois enquanto o morfema é uma
unidade de sentido, a sílaba é uma unidade fonético-fonológica. Contudo, na estrutura da
palavra, um morfema pode coincidir com uma sílaba ou mesmo com uma palavra ou ainda
com uma frase.

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Os morfemas podem ser radicais, prefixos, sufixos, infixos, suprafixos, e reduplicativos
dependendo da sua função e da sua localização na palavra.

2.3 Características das línguas bantu

Existem, duas (2) características de línguas que evidenciam a sua total ou parcial distinção
com as outras línguas não bantu, nomeadamente:

i) São línguas aglutinantes, isto é, a palavra é formada por afixação de morfema ou afixos
presos a outro morfema (raiz) que constituem o núcleo da palavra (Dacala apud Nhantumbo,
2009).

A raiz possui uma estrutura verbal básica de tipo -CVC- (consoante, vogal, consoante).
Apesar de ter esta estrutura como básica, existem, nestas línguas, verbos com estruturas mais
extensas ou ainda mais reduzidas que a estrutura básica. As outras raízes podem ser de tipo -
C-, -CV-, -CVC-, CVCVC-, ou mais extensas, formadas por um prefixo verbal que marca a
forma infinitiva (ku-), radical verbal e a vogal final que geralmente é -a.

Realça-se que para o caso de Moçambique o prefixo verbal do infinitivo pode variar para Gu-
e O-, dependendo de cada língua bantu daquele país. Observemos exemplos abaixo do tewe:
a) ku-p-a “dar” b) ku-f-a ‘morrer’

PV-dar-VF PV-morrer-VF

c) ku-ry-a “comer” d) ku-zw-a ‘ouvir’

PV-comer-VF PV-ouvir-VF

e) ku-pond-a “bater” f) ku-dad-a ‘gingar’

PV-bater-VF PV-gingar-VF

Nos exemplos acima, encontramos em todos os verbos o prefixo da forma infinitiva do verbo
(ku-), uma raiz e a vogal final (-a). Em (1a-b) temos raízes de tipo -C-, em (1c-d) encontramos
raizes de tipo -CV-, em (1e-f) encontramos raízes de tipo -CVC-, em (1g) raízes de tipo -
CVCVC-, e em (1h) temos raízes mais extensos, de tipo -CVCVCVC-. O conjunto dessas
raízes é invariável e a maior parte de morfemas gramaticais afixa-se a eles (NGUNGA, 2014).

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No geral, cada morfe de uma palavra indica um morfema (gramatical ou lexical) diferente na
sua estrutura de forma verbal ou nominal.

Como referimos anteriormente, entendemos morfe como a forma física que representa um
morfema, forma abstracta.

Outra característica tipológica, que diferencia as línguas bantu das outras línguas isolantes e
flexionais é o indicador do género dos nomes. Isto é, nestas línguas, os indicadores de género,
devem ser prefixos, através dos quais os nomes podem ser distribuídos em classes cujo
número geralmente varia entre 10 e 20 (Ngunga, 2014). Salienta-se que, nas línguas bantu o
conceito de género não se refere ao que na língua portuguesa entende-se como a escolha ou
opção pelos papéis sociais preferenciais de pertença que o indivíduo de sexo, característica
biológica, masculino ou feminino pode ter, ou ainda a distinção de género humano, animal e
objecto como é considerado nas línguas de sinais, mas sim ao número dos elementos
nominais (singular plural).

Exemplos 3:

mu-nhu “pessoa” vs a-nhu ‘pessoas’

PN1-TN PN2-TN

b) mu-ti ‘árvore’ vs mi-ti ‘árvores’

PN3-TN PN4-TN

c) i-bvi “joelho” vs ma-bvi ‘joelhos’

PN5-TN PN6-TN

d) ci-tiki “banco” vs zvi-tiki ‘bancos’

PN7-TN PN8-TN

Observando os exemplos em (3) teremos o seguinte: os morfemas mu- e a- dos exemplos 3a);
mu- e mi- dos exemplos 3b); i- e ma- dos exemplos de 3c); ci- e zvi- dos exemplos 3d)
opõem-se pela ideia de singular/plural nos exemplos em causa. Portanto, são os prefixos que
marcam o género das classes daqueles nomes.

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Neste sentido, os prefixos mu- e a- são das classes 1 e 2, respectivamente; os prefixos mu- e
mi- indicam nomes das classes 3 e 4, os prefixos i- e ma- indicam nomes das classes 5 e 6; e
os prefixos ci- e zvi- indicam nomes das classes 7 e 8.

Ainda nestes exemplos, os temas nominais -nhu; -ti; -bvi; e -tiki são os morfemas que
indicam a ideia de pessoa, árvore, joelho e banco respectivamente.

2.4. Os morfemas do tempo verbal na língua tewe

O estudo da morfologia verbal das línguas bantu também tem merecido especial atenção
principalmente por serem “línguas cujas palavras são constituídas por mais do que um
morfema, mas as fronteiras entre os morfemas são sempre bem definidas (Comrie apud
Nhamtumbo, 2009, p. 129)”.
Assim, o verbo é uma das unidades linguísticas que evidência este carácter aglutinante, nas
línguas bantu. Para Cunha e Cintra (2002, p. 377) “O verbo é uma palavra de forma variável
que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo”. Para Ngunga
(2004) verbos são palavras que servem para relatar factos, acções, descrever estados, seres,
situações, etc. Este autor, acrescenta que em muitas línguas o verbo conjugado trás consigo as
marcas do sujeito sobre o qual se faz a afirmação, o tempo em que o fenómeno tem lugar, o
número dos sujeitos sobre os quais se faz a afirmação, etc. Estes elementos vêm acoplados à
estrutura da forma verbal, o que faz com que a estrutura do verbo nestas línguas seja
complexa.
Na perspectiva de Coelho (2013, p. 89), “verbo é a palavra variável com a qual se expressa
uma ocorrência, seja ela processo, evento, atividade ou estado, marcada no tempo”. O que
caracteriza, de facto, um verbo, distinguindo-o das demais classes de palavras é a sua
perspectiva de marcação temporal, ou seja, todas as outras palavras variáveis flexionam em
género e número, e alguns pronomes como os pessoais indicam as pessoas do acto
comunicativo. No entanto, a flexão de tempo e de modo são privilégios exclusivos do verbo
(Coelho, 2013). É nessa exclusividade do verbo que o nosso estudo se centra, procurando
olhar para as variações que o tempo verbal traz na língua tewe.
Para Nurse (2003, citado por Fumo, 2009, p. 96), “o tempo […] reflecte não o mundo, mas a
nossa visão e categorização do mundo, dai que diferentes línguas dividam a linha do tempo de
forma diferenciada, o que resulta em diferentes números de tempos”. Neste contexto muitas
línguas são notavelmente conhecidas pelas suas múltiplas divisões do tempo que podem ser o
passado, o presente e o futuro. Na opinião de Gunga (2004, p. 159) “tempo é um fenómeno

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que reflecte a natureza de um povo”. O mesmo autor sublinha que, as marcas do tempo nas
formas verbais constituem tentativas de representação nas línguas do mundo dessa categoria
filosófica com que os homens coexistem ao longo da vida. Essas marcas variam de língua
para língua porque os falantes das diferentes línguas transportam marcas variáveis de acordo
com a sua maneira de ser e estar no mundo.
Cunha e Cintra (2002, p. 379), nos lembram com muita prioridade de que o “tempo é a
variação que indica o momento em que se dá o facto expresso pelo verbo”. Para estes autores,
os três tempos naturais são: presente, que designa um facto ocorrido no momento em que se
fala, pretérito ou passado, que designa um facto ocorrido antes do momento em que se fala, e
o futuro que designa um facto ocorrido após o momento em que se fala.
Em muitas línguas bantu o tempo é lexicalizado e pode compreender várias divisões que
podem ser expressas através de diferentes morfemas independentes (Mutaka e Tamanji,
2000). Mais do que exprimir o tempo (passado, presente, e futuro), em que a ação expressa
pelo verbo se realiza, tal como a língua portuguesa e algumas línguas bantu (como Makhuwa,
Sena, Tonga, etc.), a língua tewe também divide a linha do tempo de forma diferenciada,
dependendo do momento em que uma determina acção decorre, resultando, assim, em
diferentes números e morfemas que marcam o tempo em causa, como veremos na descrição a
seguir.

2.4.1. Morfemas do Tempo Futuro

Um dos tempos em que uma acção pode ocorrer referenciado por Cunha e Cintra, (2002) é o
futuro. Na língua tewe o futuro pode ser marcado de dois momentos diferentes. Exemplos 2:

a) inini ndi-ca-won-a “eu verei (hoje, amanhã)”

Eu MS-MT/F. Prox.-ver-VF

b) inini ndi-ca-ry-a “eu comerei (hoje, amanhã)”

Eu MS-MT/F. Prox.-comer-VF

c) inini ndi-ca-rim-a “eu cutivarei (hoje, amanhã”

Eu MS-MT/F. Prox.-cultivar-VF

d) inini ndi-cazo-won-a “eu hei-de ver (no próxima semana ou mês)”

Eu MS-MT/F. Dist.-ver-VF

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e) inini ndi-cazo-ry-a “eu hei-de comer (no próxima semana ou mês)”

Eu MS-MT/F. Dist.-comer-VF

f) inini ndi-cazo-rim-a “eu hei-de cultivar(no próxima semana ou mês)”

Eu MS-MT/F. Dist.-cultivar-VF

Os exemplos em (2) demonstram que a acção ocorrerá após o momento em que se fala. Em
(2a), (2b) e (2c) o morfema que indica a marca do tempo futuro é o morfema -ca- e em e (2d),
(2e) e (2f) o morfema que indica o mesmo tempo é o morfema -cazo-. O morfema -ca-
representa a colocação da acção num momento imediatamente próximo ao momento em que a
acção do verbo é expressa. Portanto trata-se do morfema que indica o futuro próximo, e
encontra-se na posição central entre a marca do sujeito ndi- e os radicais verbais -won-, -ry- e
-rim- ‘ver’, ‘comer’ e ‘cultivar’, respectivamente.

O morfema -cazo- mostra que há uma distância entre o momento de enunciação e o momento
da realização das acções. Portanto, trata-se do morfema que indica o futuro distante e
encontra-se na posição central entre a marca do sujeito (ndi-) e os radicais verbais.

Repare-se que, nesta língua, para indicar o futuro distante, mantém-se o morfema da marca do
futuro próximo -ca- e nele é acrescentado um outro elemento (-zo-), ficando -cazo- para
indicar que esta acção será realizada num futuro mais distante que o momento de enunciação.

2.4.2. Morfemas do Tempo passado


Este tempo indica um facto ocorrido antes do momento em que se fala. O passado na língua
tewe pode ser marcado de três momentos. Exemplo 3:

a) inini nd-a-won-a “eu vi (hoje)”

eu MS-P.Rec.-ver-VF

b) inini nd-a-ry-a “eu comi (hoje)”

eu MS-P.Rec.-comer-VF

c) inini nd-a-rim-a “eu cultivei (hoje)”

eu MS-P.Rec.-cultivar-VF

d) inini nd-aka-won-a “eu vi (ontem, semana passado)”

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eu MS-P.Méd.-ver-VF

e) inini nd-aka-ry-a “eu comi (ontem, semana passado)”

eu MS-P.Méd.-comer-VF

f) inini nd-aka-rim-a “eu cultivei (ontem, semana passado)”

eu MS-P.Méd.-cultivar-VF

g) inini nd-akazo-won-a “eu vi (no ano passado ou mês passado)”

eu MS-P.Rem.-ver-VF

h) inini nd-akazo-ry-a “eu comi (no ano passado ou mês passado)”

eu MS-P.Rem.-comer-VF

i) inini nd-akazo-rim-a “eu cultivei (no ano passado ou mês passado)”

eu MS-P.Rem.-cultivar-VF

Os exemplos acima representam situações de acções realizadas no tempo passado. Eles


representam o mesmo tempo (passado), mas expresso de forma diferente de acordo com o
momento em que a acção é realizada nesse passado.

Em (3a-c) estamos perante um passado recente, que é marcado pelo morfema -a- antecedido
do morfema nd(i)- que indica a marca do sujeito e precedido pelos radicais verbais -won-
(‘ver’), -ry- (‘comer’) e rim- (“cultivar”).
A afixação da marca do passado é resultado da aplicação de uma regra fonológica para
resolução de hiatos, visto que em alguns casos, nestas línguas não é aceite a sequência de
vogais. Neste caso, a marca de sujeito é o morfema nd(i)- onde o /i/ sofreu elisão, para evitar
o hiato que forma quando se acrescenta à estrutura da forma verbal marca de tempo recente, -
a-.
Nos exemplos (3d-f), estamos perante um passado médio onde a acção é realizada no
momento não muito recente em relação ao momento da fala, mas também não se refere a um
momento remoto. Este passado é marcado pelo morfema -aka- que aparece logo depois da
marca de sujeito ndi- e precedido pelos radicais verbais.

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Por fim, nos exemplos (3g-i) estamos perante o passado remoto marcado pelo morfema -
akazo-. Este morfema também aparece logo depois da marca de sujeito nd(i)- e precedido
pelos radicais verbais.

Assim, quando pronunciado este enunciado, o ouvinte percebe que se trata de uma acção que
aconteceu há muito tempo em relação ao momento da fala. E, em alguns momentos, este
passado deixa impressão de que o acontecimento já não é muito importante por ter passado
muito tempo depois da sua realização. Deste modo, na língua tewe, o passado é dividido em
três momentos, a saber: recente (-a-), médio (-aka-) e remoto (-akazo-). Respectivamente, e
em ambos os casos acontece o mesmo processo de resolução de hiatos que já foi explicado
nos parágrafos acima.

2.4.3. Morfemas do Tempo presente


Na língua tewe, o presente também é marcado de diferentes maneiras dependendo do tempo
causa. Exemplo 4:

a) inini ndi-no-won-a “eu vejo”

Eu MS-MT/Pr.hab.-ver-VF

b) inini ndi-no-ry-a “eu como”

Eu MS-MT/Pr.Hab.-comer-VF

c) inini ndi-no-rim-a “eu cultivo”

Eu MS-MT/Pr.Hab.-cultivar-VF

d) inini ndi-ri ku-won-a “eu estou a ver” ou “estou vendo”

Eu MS-V.Aux./MT.Pr.Prog. PV-ver-VF

e) inini ndi-ri ku-ry-a “eu estou a comer” ou “estou comendo”

Eu MS-V.Aux./MT.Pr.Prog. PV-comer-VF

f) inini ndi-ri ku-rim-a “eu estou a cultivar” ou “estou cultivando”

Eu MS-V. Aux./MT. Pr. Prog. PV-cultivar-VF

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Nos exemplos (4a), (4b) (4c) estamos perante o presente habitual ou factual. Este tempo é
marcado pelo morfema -no- que se encontra na posição central entre as marcas do sujeito ndi-
e o radical verbal. Nos exemplos (4d) e (4e) (4f) estamos perante um presente progressivo
ou contínuo.

Este tempo é marcado pelo verbo auxiliar defectivo (-ri) antecedido pelo morfema que indica
a marca do sujeito ndi- e precedido, isoladamente, pelo verbo lexical (principal), onde para o
caso acima ku- é o morfema da forma infinitiva do verbo, -won- , -ry- e -rim- “ver”,
‘comer’, ‘cultivar’, são radicais verbais, e a vogal final -a.

2.4.4. Breves notas sobre verbos auxiliares na língua tewe


Os verbos auxiliares, em gramática e em linguística, são uma classe de verbos que veiculam
informação gramatical, adicionando-a ao verbo principal. Na língua portuguesa “verbo
auxiliar é o que se apresenta fazendo o serviço do outro, tem a função de auxiliar a
conjugação do chamado verbo principal, o qual se encontra em uma das formas nominais
(infinitivo; gerúndio; e particípio), formas não flexionais (Coelho, 2013, p. 95)”.

Segundo Mberi (2002), o estudo dos verbos auxiliares nas línguas bantu tem merecido
especial atenção para vários autores, dentre eles Cole, 1955; Mkhatshwa, 1991; Paulo, 199;
Slattery1981. Estes autores são unânimes ao afirmarem que o mais importante nos verbos
auxiliares, é que estes devem ser seguidos por uma outra forma verbal (verbo principal), que
carrega consigo o significado lexical das frases.

Para Dembembe (1987, citado por MBERI, 2002, p. 5), “na língua shona5, podemos
identificar dois tipos de verbos auxiliares”. Os primeiros são verbos auxiliares defectivos (que
têm uma estrutura constituída por uma consoante e uma vogal (CV)), e os segundos tipos de
verbos auxiliares deficientes (Doke1990, Hannsn’s 1984). De acordo com Jefferies et al
(1994, apud MBERI op. cit), estes últimos aparecem de forma congelada (aglutinada) a forma
verbal, ocorrem no interior da forma verbal e geralmente seguem qualquer marca de tempo,
aspecto ou modo.

Uma das características importantes que distingue verbos auxiliares defectivos dos lexicais, é
que os primeiros não podem conter consigo nenhum afixo derivacional. A outra característica
que os distingue é que os verbos auxiliares defectivos não carregam, na sua estrutura, o
prefixo do objecto como afixos flexionais (MBERI, 2002, p. 36).

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Portanto porque a língua em estudo faz parte de línguas do grupo Shona (S.10, na
classificação de Guthrie 1967-71), os verbos auxiliares também ocorrem, como podemos ver
nos exemplos (4d-f) e (5a-i). Para além do verbo auxiliar defectivo -ri ‘ser’ e/ou ‘estar’ (no
presente) mencionado por Mberi (2002), também encontramos nas línguas pertencentes a este
grupo, outros verbos auxiliares defectivos6. Observemos os exemplos abaixo:

5.a) inini nd-a-nga nd-a-sim-a ‘eu tinha semeado’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. MS-P.Rec. -semear-VF

b) inini nd-a-nga nd-a-ry-a ‘eu tinha comido’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. MS-P.Rec. -comer-VF

c) inini nd-a-nga nd-a-yend-a ‘eu tinha ido’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. MS-P.Rec.-ir-VF

d) inini nd-a-bva ku-sim-a ‘eu acabei de semear

eu MS-P.Rec.-V.Aux. PV -semeiar-VF

e) inini nd-a-bva ku-ry-a ‘eu acabei de comer’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. PV -comer-VF

f) inini nd-a-bva ku-tamb-a ‘eu acabei de dançar ’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. PV -dançar-VF

g) inini nd-a-ti sim-a! ‘eu disse semeie!’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. semeiar-VF

h) inini nd-a-ti ry-a! ‘eu disse coma!’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. comer-VF

i) inini nd-a-ti tamb-a! ‘eu disse dança!’

eu MS-P.Rec.-V.Aux. dançar-VF

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Em (5) encontramos exemplos de alguns verbos auxiliares defectivos na língua tewe. Em (5a-
c) temos o verbo auxiliar defectivo -nga ‘ser’ e/ou ‘estar’ (no passado); em (5d-f),
encontramos o verbo auxiliar defectivo -bva ‘acabar de’ e, finalmente, em (5g-i), encontramos
o verbo auxiliar defectivo -ti ‘dizer’ (passado)’, etc. Uma das informações importantes a tecer
nestes exemplos, é que diferente do que acontece nos exemplos (5d-f), onde o verbo auxiliar
defectivo -ri carrega consigo a informação de aspecto durativo, nos exemplos (5a-i), a marca
do tempo aparece isolada a do verbo auxiliar.

3. Conclusão

Em muitas línguas bantu o tempo é lexicalizado e pode compreender várias divisões que
podem ser expressas através de diferentes morfemas independentes. Mais do que exprimir o
tempo (passado, presente, e futuro), em que a acção expressa pelo verbo se realiza, tal como a
língua portuguesa e algumas línguas bantu (como Makhuwa, Sena, Tonga, etc.), a língua tewe
também divide a linha do tempo de forma diferenciada, dependendo do momento em que uma
determina acção decorre, resultando, assim, em diferentes números e morfemas que marcam o
tempo em causa.
O tempo passado nesta língua subdivide-se em três momentos (recente, médio e remoto), o
presente subdivide-se em dois momentos (habitual ou factual e progressivo ou continuo), e
por último o futuro subdivide-se em dois momentos (próximo e distante).
Na língua tewe o futuro pode ser marcado de duas formas diferentes. Portanto, para indicar o
futuro distante, mantém-se o morfema da marca do futuro próximo -ca- e a ele é acrescentado
um outro elemento (-zo-), ficando -cazo- para indicar que esta ação será realizada num futuro
mais distante ainda.
O presente é basicamente aspectual. Isto é, quase infalivelmente esse tempo facilmente se
deixa confundir com o aspecto. Assim, quando pronunciamos uma sentença onde as formas
verbais estão flexionadas no presente, não tem nada a ver com o facto de os actos referidos
eventos estarem a decorrer agora ou no momento de fala.

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Referências bibliográficas

 Azuaga, L. Morfologia. (1996). Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Editorial


Caminho. Lisboa. 1996.
 Coelho, B. J. (2013). Formação de Palavras: Textos de apoio a aulas. 1ª ed. Catalão-
Brasil. Caio G. Editora.
 Cunha, C.; Cintra, L. (2002). Nova Gramática do Português Contemporâneo. 17ª
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 Fumo, P. (2009). Tempo e Aspecto em Rhonga. Maputo: CEA
 Ngunga, A. (2004). Introdução à Linguística Bantu. Maputo: Universidade Eduardo
Mondlane
 Nhantumbo, N. (2009). Morfologia da Marca do Passado na Língua Copi: in
NGUNGA, Armindo (Ed.). Lexicografia e Descrição de Línguas Bantu. Maputo: CEA
 Zona, W. (s/d). Linguística bantu..Beira: UCM-ced.

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