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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
Identificação

PROCESSO nº 0010717-22.2016.5.15.0114 (RO)


9ª VARA DO TRABALHO DE CAMPINAS
RECORRENTE: ALINE BEDIN JACCOMO MARCHESI
RECORRENTE: GEVISA S.A.
RECORRIDO: WCA RH CAMPINAS LTDA - EPP
JUÍZA SENTENCIANTE: MARIA FLAVIA RONCEL DE OLIVEIRA ALAITE
RELATOR: Regiane Cecília Lizi
G.D.JAAM./rkk

Inconformadas com a r. sentença id. 1ea949e recorrem a reclamante


e a segunda reclamada.

A reclamante (id. f39bbff) postula o reconhecimento de equiparação


salarial com paradigma que apontada e a condenação das reclamadas ao
pagamento de diferenças salariais e também indenização por assédio sexual.

Contrarrazões id. 4c90f09 da primeira reclamada e id. a59d22a da


segunda reclamada.

A segunda reclamada, Gevisa S.A., recorre adesivamente (id.


b289647), suscitando preliminarmente a sua ilegitimidade passiva. No mérito,
busca a exclusão do vínculo empregatício direto reconhecido e da
responsabilização solidária das reclamadas. Também postula a exclusão da
indenização pela demissão no trintídio que antecede a data base da categoria
profissional.

Contrarrazões da reclamante id. 976b120.

Não houve remessa à D. Procuradoria, nos termos do Regimento


Interno desta Corte.

É O RELATÓRIO.

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VOTO

Conheço dos recursos porque preenchidos os pressupostos de


admissibilidade.

RECURSO DA RECLAMANTE

MÉRITO

Equiparação salarial
A reclamante postula o deferimento de diferenças salariais por
equiparação com a paradigma, Ana Cláudia.
Sem razão a reclamante.
Em se tratando de pleito de diferenças salariais decorrentes de
equiparação salarial, pertence à reclamante o ônus de comprovar a identidade
entre sua função e a do paradigma (art. 461 da CLT) nos termos dos artigos 818 da
CLT e 333, inciso I, do CPC.
Acaso reconhecida a identidade de funções, constitui encargo da
reclamada comprovar diferença de tempo de serviço superior a 02 (dois) anos ou a
maior produtividade ou a melhor perfeição técnica do trabalho do paradigma (artigo
461 da CLT), isto é, os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
daquele, nos termos dos artigos (art. 333, inc. II, do CPC) conforme entendimento
veiculado na Súmula nº 6 do TST:

Súmula nº 6 do TST
EQUIPARAÇÃO SALARIAL. ART. 461 DA CLT (redação do
item VI alterada) - Res. 198/2015, republicada em razão de
erro material - DEJT divulgado em 12, 15 e 16.06.2015
I - Para os fins previstos no § 2º do art. 461 da CLT, só é
válido o quadro de pessoal organizado em carreira quando
homologado pelo Ministério do Trabalho, excluindo-se,
apenas, dessa exigência o quadro de carreira das entidades
de direito público da administração direta, autárquica e
fundacional aprovado por ato administrativo da autoridade
competente. (ex-Súmula nº 06 - alterada pela Res. 104/2000,
DJ 20.12.2000)
II - Para efeito de equiparação de salários em caso de
trabalho igual, conta-se o tempo de serviço na função e não
no emprego. (ex-Súmula nº 135 - RA 102/1982, DJ

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11.10.1982 e DJ 15.10.1982)
III - A equiparação salarial só é possível se o empregado e o
paradigma exercerem a mesma função, desempenhando as
mesmas tarefas, não importando se os cargos têm, ou não, a
mesma denominação. (ex-OJ da SBDI-1 nº 328 - DJ
09.12.2003)
IV - É desnecessário que, ao tempo da reclamação sobre
equiparação salarial, reclamante e paradigma estejam a
serviço do estabelecimento, desde que o pedido se relacione
com situação pretérita. (ex-Súmula nº 22 - RA 57/1970, DO-
GB 27.11.1970)
V - A cessão de empregados não exclui a equiparação
salarial, embora exercida a função em órgão governamental
estranho à cedente, se esta responde pelos salários do
paradigma e do reclamante. (ex-Súmula nº 111 - RA
102/1980, DJ 25.09.1980)
VI - Presentes os pressupostos do art. 461 da CLT, é
irrelevante a circunstância de que o desnível salarial tenha
origem em decisão judicial que beneficiou o paradigma,
exceto: a) se decorrente de vantagem pessoal ou de tese
jurídica superada pela jurisprudência de Corte Superior; b) na
hipótese de equiparação salarial em cadeia, suscitada em
defesa, se o empregador produzir prova do alegado fato
modificativo, impeditivo ou extintivo do direito à equiparação
salarial em relação ao paradigma remoto, considerada
irrelevante, para esse efeito, a existência de diferença de
tempo de serviço na função superior a dois anos entre o
reclamante e os empregados paradigmas componentes da
cadeia equiparatória, à exceção do paradigma imediato.
VII - Desde que atendidos os requisitos do art. 461 da CLT, é
possível a equiparação salarial de trabalho intelectual, que
pode ser avaliado por sua perfeição técnica, cuja aferição terá
critérios objetivos. (ex-OJ da SBDI-1 nº 298 - DJ 11.08.2003)
VIII - É do empregador o ônus da prova do fato impeditivo,
modificativo ou extintivo da equiparação salarial. (ex-Súmula
nº 68 - RA 9/1977, DJ 11.02.1977)
IX - Na ação de equiparação salarial, a prescrição é parcial e
só alcança as diferenças salariais vencidas no período de 5
(cinco) anos que precedeu o ajuizamento. (ex-Súmula nº 274 -
alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)
X - O conceito de "mesma localidade" de que trata o art. 461
da CLT refere-se, em princípio, ao mesmo município, ou a
municípios distintos que, comprovadamente, pertençam à
mesma região metropolitana. (ex-OJ da SBDI-1 nº 252 -
inserida em 13.03.2002)

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Na petição inicial, a autora afirma que a sua função consistia em


realizar "seleção, recrutamento e treinamento dos funcionários" e que, com o
tempo, passou a acumular outras atribuições, tais como "entrevistas de
desligamento, conferência das notas fiscais enviadas pelos prestadores de
serviços, dentre os quais, inserção dessas notas fiscais no sistema interno para
pagamento, solicitação de documentos de departamento pessoal dos terceirizados
junto as empresas terceirizadas, dentre elas a própria primeira reclamada (WCA
RH), que procuravam o RH para tirarem dúvidas".
Em defesa, a segunda reclamada alega que a paradigma apontada
desempenhava atividades distintas, inclusive de gestão de recursos da empresa,
respondendo por cargos, salários e benefícios dos empregados, atividades que
demandam acesso a indicadores financeiros sigilosos da empresa, o que não era o
caso da reclamante.
A testemunha Mauro Guido Mecco Polito, arrolada pela reclamante,
declarou expressamente que "não tinha conhecimento das atribuições dela"
(reclamante) e "que lhe parecia que a função da Sra Ana Cláudia era a mesma da
reclamante".
Já a testemunha Mirella Karen Leite corroborou a identidade das
funções entre a reclamante e a paradigma apontada (id. b29cd0f):

[...] que a função da reclamante era idêntica à da depoente e


estava subordinada aos mesmos chefes; que Ana Cláudia
também era analista de RH; que não havia nenhuma função
que Ana Cláudia fazia e que a depoente e a reclamante não
pudessem fazer; que a depoente dava suporte à área de
cargos e salários, fazia recrutamento, seleção e treinamento e
compra de benefícios de final de ano, bem como descrição de
cargos e salários; que a reclamante tinha as mesmas funções
assim como Ana Cláudia; que não havia dados sigilosos que
apenas Ana Cláudia tivesse conhecimento; que inclusive
indicadores financeiros da empresa estavam disponíveis à
depoente e à reclamante; [...]; que trabalhava no mesmo
ambiente que a reclamante e a Sr Ana Cláudia; que Ana
Cláudia era empregada da GEVISA; que Ana Cláudia não
tinha nenhuma responsabilidade além daquelas que depoente
e reclamante tinham; que na função de analista Ana Cláudia
entrou um pouco antes que a reclamante; que Ana Cláudia
fazia entrevistas de candidatos; que os aumentos salariais
vinham da gerência; que qualquer uma poderia
operacionalizar estes aumentos; que a depoente já o fez [...]

Entretanto a última testemunha ouvida, Bruna Queli Garcia contraria


as alegações da testemunha anterior (id. b29cd0f):

[...] que trabalha na GEVISA desde 2007 atualmente como


analista de RH e está nesta função desde 2014; que nesta
função faz procedimentos de admissão (inclusão da admissão

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no sistema e integração) atualização de cadastro,


afastamentos, dúvidas sobre folha, procedimentos de
demissão e homologações; que não tem acesso a indicadores
financeiros; que trabalhou com a reclamante; que a
reclamante fazia recrutamento e seleção de vagas
operacionais e aprendizes do SENAI; que a reclamante não
dava suporte à àrea de cargos e salários e nem comprava
benefícios; que trabalhou com a Sr Mirella; que as àreas se
complementam, mas a reclamante não operava e nem dava
suporte a cargos e salários; que os chefes da reclamante
foram Geraldo Diniz, André Pinto e no final Alberto Ferreira;
que enquanto a reclamante cuidava de recrutamento e
seleção a Sra Ana Cláudia cuidava do setor de benefícios,
cargos e salários e remuneração tanto dos recém admitidos
quanto à avaliação dos que já estavam trabalhando; [...];que
Ana Cláudia lançava no sistema aumentos salariais; que a
reclamante não fazia isso; que Ana Cláudia não entrevistava
candidatos; que Aline entrevistava; [...]

Considerando que a prova oral restou cindida e contraditória, a


questão se resolve pela distribuição do ônus probatório. Tratando-se a identidade
de funções fato constitutivo do pleito de equiparação salarial, competia à autora o
ônus de produzir prova segura de suas alegações, ônus não cumprido a contento.
Nego provimento.

Assédio sexual
Alega a reclamante que foi assediada sexualmente pelo seu superior
hierárquico e postula a reparação de danos morais.
Analiso.
O assédio sexual, segundo explicita Rodolfo Pamplona Filho, "in"
Assédio Sexual: questões conceituais, Revista do Direito do Trabalho nº 103,
Editora Revista dos Tribunais, pág. 182: "conceitua-se assédio sexual como toda
conduta de natureza sexual não desejada que, embora repelida pelo destinatário, é
continuadamente reiterada, cerceando-lhe a liberdade sexual".
A Lei 10.224/2001 inseriu no capítulo dos crimes contra a liberdade
sexual o delito de assédio sexual (artigo 216-A do Código Penal):

Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua
condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício do emprego, cargo ou função.
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Com o novo dispositivo penal protege-se a liberdade sexual das


pessoas quando o titular está submetido a outrem numa relação de poder, em

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decorrência de superioridade administrativa ou de contrato de trabalho.


Alice Monteiro de Barros ('in' CURSO DE DIREITO DO TRABALHO,
2ª edição, Editora LTR, páginas 900 e seguintes) dispõe que:

"O assédio sexual, por se tratar de uma violência contra


outrem, até mesmo com reflexos psicológicos, poderá situar-
se também como assédio moral, segundo vários
doutrinadores.
Atualmente, o assédio sexual vem sendo apontado como um
dos fatores responsáveis pela discriminação de que são
vítimas as mulheres no mercado de trabalho, embora o
problema seja antigo e generalizado.
Aliás, o Brasil ratificou a Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher -
"Convenção de Belém do Pará/MRE" - tornando-a pública por
meio do Decreto de Promulgação n. 1.973, de 1º de agosto de
1996. Essa norma internacional considera o assédio sexual
como violência contra a mulher (art. 2º,"b"). Similarmente é o
art. 1º, § 2º, II, da Lei n. 10.778, de 24 de novembro de 2003,
que estabelece notificação compulsória no território nacional,
no caso de violência contra a mulher que for atendida em
serviços de saúde público ou privado.
Há, ainda, os que vêem no assédio sexual um atentado à
liberdade humana. Aliás, o Código Penal, ao tipificar o
assédio sexual por chantagem como crime, o inclui no
Capítulo VI, dos crimes contra os costumes, integrando os
delitos contra a liberdade sexual. Excepcionalmente, a
doutrina tem admitido a tentativa desse crime como por
exemplo a interceptação de bilhete contendo o ato coativo
visando ao benefício de cunho sexual.
......
Os países disciplinam a temática na legislação penal,
trabalhista ou em leis sobre igualdades de oportunidades.
Consideram o assédio uma violação à intimidade ou à
dignidade da pessoa, conseqüentemente o punem com o
pagamento de indenização por dano material e/ou moral,
além do que fr devido na hipótese de uma rescisão indireta do
contrato de trabalho.
O assunto apresenta novos problemas para o Direito do
Trabalho, principalmente em face das atitudes culturais que
devem sopesar-se na elaboração de seu conceito e na
apreciação do comportamento faltoso. O conceito jurídico de
assédio sexual encontra-se em franco desenvolvimento na
legislação sobre o tema.
......
São relevantes para a caracterização do assédio sexual: que

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o comportamento seja indesejável para a vítima, gerando um


clima de hostilidade, intimidação ou humilhação a seu respeito
e que a recusa de tal comportamento seja considerada
explícita ou implicitamente para a tomada de decisão afetando
os direitos da vítima em matéria de emprego ou de
remuneração. Quando o assédio sexual advém do
empregador ou de seus prepostos, ele implica abuso de
poder, tendo o empregador responsabilidade de fato pelo mau
uso da autoridade que ele tenha delegado a alguém.
......
Distinguem-se o "assédio sexual por intimidação" (assédio
ambiental), que é o mais genérico, e o "assédio sexual por
chantagem". É o chamado assédio quid pro quo, ou seja, "isto
por aquilo". O primeiro caracteriza-se por incitações sexuais
importunas, ou por outras manifestações da mesma índole,
verbais ou físicas, com o efeito de prejudicar a atuação laboral
de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil, de
intimidação ou abuso no trabalho. Já o "assédio sexual por
chantagem" traduz, em geral, exigência formulada por
superior hierárquico a um subordinado para que se preste à
atividade sexual, sob pena de perder o emprego ou benefícios
advindos da relação de emprego.
São inúmeras as manifestações do assédio sexual. Poderá
assumir a forma não verbal (olhares concupiscentes e
sugestivos, exibição de fotos e textos pornográficos seguidos
de insinuações, passeios freqüentes no local de trabalho ou
diante do domicílio da vítima, perseguição à pessoa
assediada, exibicionismo, entre outros); verbal (convites
reiterados para sair, pressões sexuais sutis ou grosseiras,
telefonemas obscenos, comentários inoportunos de natureza
sexual), e físico (toques, encurralamento dentro de um
ângulo, roçaduras, apertos, palmadas, esbarrões propositais,
apalpadelas, agarramentos, etc). Na maioria das vezes, os
gestos são acompanhados de linguagem sexista.
Em princípio, a caracterização do assédio sexual pressupõe
reiteração, mas poderá configurar-se também por um só
incidente, suficientemente grave.
Sob o prisma do Direito do Trabalho, se o assédio é de
iniciativa de um empregado em relação a outro colega, ao
empregador, ou a pessoa que se utiliza do serviço da
empresa, poderá o autor ser dispensado, pela prática de
incontinência de conduta ou mau procedimento. Se o autor do
assédio é o empregador ou outro superior hierárquico, o
empregado poderá postular a rescisão indireta do contrato de
trabalho, com amparo no art. 483. Em ambas as situações, o
pleito versará também sobre compensação por dano material
e/ou moral, dada a violação ao direito à intimidade,
assegurado em preceito constitucional.

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Relativamente ao ônus da prova, cumpre ressaltar que ele


fica a cargo do empregado.
O problema, que geralmente se enfrenta nos ordenamentos
jurídicos, não é a extensão do princípio da não-discriminação,
já existente em muitos países, inclusive no Brasil, mas a
dificuldade de se comprovar o tratamento diferenciado, cujo
ônus compete exclusivamente ao empregado que se
considera discriminado. Dada a dificuldade de se desincumbir
desse encargo, o que inviabiliza a efetivação do princípio em
exame, já se sugere a inversão desse ônus (princípio da
aptidão para a prova) em um Código-Tipo do Direito do
Trabalho para a América do Sul, prevendo-se o ressarcimento
dos prejuízos sofridos.
Em face do exposto, a jurisprudência não vem exigindo prova
cabal e ocular dessa conduta para configurar o assédio
sexual.
Cumpre frisar, todavia, que se houver acusação falsa de
assédio sexual, seu autor estará sujeito às sanções alusivas
à calúnia, à difamação e à injúria. A sanção recíproca evita
atitude irresponsável, com o propósito exclusivo de angariar
vultosas indenizações.
Para se combater o assédio sexual, não basta um
instrumento legislativo avançado que, sem dúvida, poderá ter,
a par do cunho punitivo, um caráter pedagógico, mas é
necessária, principalmente, uma profunda modificação nas
relações humanas, na mentalidade dos homens e das
mulheres".

Assim, o assédio sexual se caracteriza mediante a realização de ato


ou comportamento indesejável para a vítima, advinda do empregador ou de seus
prepostos, que gere clima de hostilidade, intimidação ou humilhação, afetando os
direitos da vítima em matéria de emprego ou de remuneração.
No mais, é fato que a produção de provas acerca da ocorrência da
prática de assédio sexual seja das mais difíceis, dado que, em sua grande
maioria, quando existente, a prática se dá de modo velado, às escuras, sem que
outras pessoas do ambiente de trabalho possam presenciar ou perceber.
O ônus da prova, porém, é do trabalhador nos termos do artigo 818
da CLT. Não obstante a produção de provas acerca da ocorrência da prática de
assédio sexual seja das mais difíceis, como já discorrido, não pode a condenação
decorrer de mera presunção, na ausência de fortes indícios da ocorrência do fato e
da autoria.
Embora a testemunha Mirella Karen Leite tenha afirmado que "a
reclamante e a Sra Carolina Polewacz foram vítimas de assédio por parte do Sr
André Pinto", logo em seguida esclareceu que "não presenciou o Sr André
assediando a reclamante e nem a Sra Carolina".
Digno de nota que a testemunha em questão foi ouvida em

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procedimento interno da empresa destinado a apurar as denúncias de assédio


sexual formalizados pela reclamante e pela Sra Carolina Polewacz, referida pela
testemunha, sendo que afirmou no depoimento id. b29cd0f que "antes de ser
entrevistada a depoente não sabia o que estava acontecendo".
Verifico que no caso dos autos a autora não se desincumbiu
satisfatoriamente do ônus que lhe competia, nos termos dos artigos 818, da CLT e
373, I, do CPC.
Nego provimento.

RECURSO ADESIVO DA SEGUNDA RECLAMADA

PRELIMINAR

Ilegitimidade passiva
A segunda reclamada suscita a sua ilegitimidade passiva, alegando
que a reclamante foi contratada pela primeira reclamada.
Sem razão a recorrente.
A reclamante alegou na inicial que foi contratada por empresa
interposta e postulou o reconhecimento de vínculo empregatício diretamente com a
tomadora dos serviços, no caso a ora recorrente.

A pretensão de reconhecimento de vínculo direto foi deduzida em face


da recorrente, pessoa em face de quem foi proposta a presente ação e que,
portanto, deve respondê-la.

O argumento recursal de ausência de vínculo empregatício pertence


ao mérito da causa, que em nada interfere na pertinência subjetiva da relação
jurídica processual que se constituiu validamente.

Deve, portanto, a recorrente responder aos termos da ação e figurar


no polo passivo do processo.

Rejeito.

MÉRITO

Vínculo empregatício direto


A recorrente pretende o afastamento do vínculo empregatício direto
reconhecido com a reclamante.
Sem razão..
A autora alegou que iniciou a prestação de serviços junto à recorrente

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como menor aprendiz, tendo se ativo depois como estagiária, e que, por fim, foi
contratada por intermédio da primeira reclamada.
Aduz que embora o contrato tenha sido formalizado com a primeira
reclamada, sempre prestou serviços nas dependências da segunda reclamada, a
quem estava subordinada e com esta tratando todas as questões referentes a sua
prestação de serviços, praticamente sem contato com a primeira reclamada.
O preposto da recorrente confirmou em depoimento pessoal (id.
b29cd0f) que "a trajetória profissional da reclamante foi a seguinte: iniciou como
menor aprendiz na GEVISA por meio da instituição Círculo de Amigos do menor
aprendiz de Campinas, depois foi estagiária e quanto se formou passou a trabalhar
como terceirizada".
Já o preposto da primeira reclamada confirmou a subordinação da
reclamante diretamente à tomadora dos serviços:

que quem controlava o trabalho da reclamante era a GEVISA;


que ela só entrava em contato com a 1ª reclamada se
houvesse algum problema; que era difícil a reclamante entrar
em contato com a 1ª reclamada; que na GEVISA o contato
dela era no RH, área na qual ela trabalhava; que no RH da
GEVISA trabalhavam as seguintes terceirizadas: reclamante,
Mirela e Caroline; que elas ajudavam na parte geral
administrativa; que não sabe se elas cuidavam da área de
cargos, salários e benefícios; que na função delas competia
realizar a seleção; que não sabe o tipo de contratação que a
reclamante fazia, se de terceirizados ou empregados para a
GEVISA; que não havia nenhum tipo de gestão da WCA para
a reclamante

As testemunhas ouvidas também confirmam que a reclamante era


diretamente subordinada à tomadora de serviços.
Neste sentido a testemunha Mauro Guido Mecco Polito:

que trabalhou para a 1ª reclamada (WCA) de 2002 a fev/2016


como gerente geral; que a reclamante trabalhava na GEVISA;
que só tinha contato com a reclamante quando fazia visitar à
GEVISA; [...]; que o depoente não tinha conhecimento das
atribuições dela; que a reclamante praticamente não entrava
em contato com a WCA; [...]; depoente fazia uma visita à
GEVISA a cada 2 ou 3 meses; [...]

Igual o teor do depoimento da testemunha Mirella Karen Leite, que


trabalhou junto com a reclamante, igualmente contratada por intermédio da
primeira reclamada:

que trabalhou para a 1ª reclamada de fev/2006 a ago/2015

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como analista de RH; que trabalhava dentro da GEVISA; que


teve diversos chefes como por exemplo Eliane Pereira,
Geraldo Diniz e André Pinto; que tinha pouco contato com o
pessoal da WCA; que a função da reclamante era idêntica à
da depoente e estava subordinada aos mesmos chefes;

Mesmo a testemunha arrolada pela segunda reclamada (Bruna Queli


Garcia) confirma que "ninguém do escritório a WCA costumava visitar a GEVISA;
que isso acontecia mesmo na época que estava vigente o contrato entre as
reclamadas".
Portanto, suficientemente demonstrado que os requisitos ensejadores
do vínculo empregatício (habitualidade, pessoalidade, onerosidade e subordinação)
estabeleceram-se entre a reclamante a tomadora dos serviços, servindo a primeira
reclamada como mera empresa interposta, aplicando-se o entendimento do item I
da Súmula nº 331 do C. TST.
Mantido o reconhecimento do vínculo empregatício com a recorrente,
prejudicado o apelo quanto a negativa de responsabilidade solidária.
Nego provimento.

Indenização - demissão no trintídio que antecede a data base


Alega a reclamada que, sendo a reclamante empregada da primeira
reclamada, é inaplicável a norma coletiva firmada pela recorrente. Postula a
exclusão da indenização prevista no artigo 9º da Lei nº 6.708/1979.
Sem razão a reclamada.
Em razão do reconhecimento de vínculo empregatício diretamente
entre a reclamante e a tomadora dos serviços, aplicam-se à autora as normas
coletivas firmadas pela recorrente.
Nego provimento.

Relatório
Fundamentação

Mérito
Recurso da parte

Item de recurso

Conclusão do recurso
Dispositivo

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Por tais fundamentos, decide-se conhecer dos recursos, e, no


mérito, negar-lhes provimento, mantendo íntegra a r. decisão de origem, nos
termos da fundamentação, integrante deste dispositivo.

Cabeçalho do acórdão
Acórdão
Julgamento ADIADO da Pauta de 29 de maio de 2018 por determinação do
Exmo. Sr. Desembargador Fabio Grasseli, Presidente da 10ª Câmara.

Sessão realizada virtualmente aos 06 de junho de 2018 (conforme previsto no


artigo 1º da Resolução Administrativa n° 21/2015, publicada no DEJT de
10/12/2015).

Composição: Exmos. Srs. Juíza Regiane Cecília Lizi (Relatora),


Desembargadores Edison dos Santos Pelegrini (Presidente Regimental) e
Ricardo Regis Laraia.
Ministério Público do Trabalho: Exmo(a). Sr(a). Procurador(a) Ciente.
Acordam os magistrados da 10ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da
15ª Região em julgar o processo nos termos do voto proposto pelo(a)
Exmo(a). Sr(a). Relator(a).
Votação unânime.

Assinatura
Regiane Cecília Lizi
Relatora

Votos Revisores

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