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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL

Atualizado em 18/08/2018: novos julgados.

Pontos atualizados: nº 04 (Info 626)

1. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


1.1. Lei aplicável para reger a sucessão causa mortis e bem imóvel situado no
exterior – (Info 563)

Aplica-se a lei brasileira para reger a sucessão de bem imóvel situado no exterior?
A Justiça brasileira é competente para julgar inventário e partilha de bem imóvel
localizado em outro país?
NÃO. Ainda que o domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei
estrangeira da situação da coisa (e não a lei brasileira) na sucessão de bem imóvel
situado no exterior.
O art. 10 da LINDB afirma que a lei do domicílio do autor da herança regulará a
sucessão por morte. Ocorre que essa regra não é absoluta e deverá ser interpretada
sistematicamente, ou seja, em conjunto com os demais dispositivos que regulam o
tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o art. 89 do
CPC 1973 (art. 23 do CPC 2015).
Desse modo, esses dispositivos revelam que a lei brasileira só se aplica para os
bens situados no Brasil e autoridade judiciária brasileira somente poderá fazer o
inventário dos bens imóveis aqui localizados.

Mas no caso em que há um bem imóvel no Brasil e outro no exterior, como fazer?
Deverão ser abertos dois inventários: um aqui no Brasil para reger o bem situado
em nosso território e outro no exterior para partilhar o imóvel de lá.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 28/4/15 (Info
563).

2. REFÚGIO
2.1. Condição para expulsão de refugiado – (Info 571) – IMPORTANTE!!!

A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer


sem a regular perda dessa condição.
Assim, mesmo que o refugiado seja condenado com trânsito em julgado pela
prática de crime grave, antes de ele ser expulso deverá ser instaurado devido
processo legal, com contraditório e ampla defesa, para se decretar a perda da
condição de refugiado, nos termos do art. 39, III, da Lei nº 9.474/97. Somente após
essa providência, ele poderá ser expulso.
STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 14/10/15 (Info 571).

3. AÇÃO PENAL
3.1. Extradição supletiva – (Info 566) – IMPORTANTE!!!
A pessoa que foi extraditada somente pode ser julgada ou cumprir pena no Brasil
pelo(s) crime(s) contido(s) no pedido de extradição. Se o extraditando havia
cometido outros crimes antes do pedido de extradição, em regra, ele não poderá
responder por tais delitos se não constaram expressamente no pedido de
extradição. A isso se dá o nome de "princípio da especialidade". Ex: o Brasil pediu
a extradição mencionando o crime 1; logo, em regra, o réu somente poderá
responder por este delito; como o crime 2 tinha sido praticado antes do pedido de
extradição, o governo brasileiro deveria ter mencionado expressamente não apenas
o crime 1, como também o 2.
Para que o réu responda pelo crime 2, o governo brasileiro deverá formular ao
Estado estrangeiro um pedido de extensão da autorização da extradição. Isso é
chamado de "extradição supletiva".
Assim, caso seja oferecida denúncia pelo Ministério Público por fato anterior e
não contido na solicitação de extradição da pessoa entregue, deve a ação penal
correspondente ser suspensa até que seja julgado pedido de extradição supletiva.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.569-MT, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/8/2015 (Info 566).

4. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


4.1. Para que a sentença estrangeira seja homologada no Brasil é necessário que
ela esteja eficaz no país de origem – (Info 626) – ATENÇÃO! Mudança de
Entendimento!!!

Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença


estrangeira esteja eficaz no país de origem para sua homologação no Brasil.
O art. 963, III, do CPC/2015, não mais exige que a decisão judicial que se pretende
homologar tenha transitado em julgado, mas apenas que ela seja eficaz em seu
país de origem, tendo sido tacitamente revogado o art. 216-D,III, do RISTJ.
STJ. Corte Especial. SEC 14812-EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
16/05/2018 (Info 626).
OBS:
A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro
Estado soberano? A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o
fato do Poder Judiciário do próprio país ser o responsável pela resolução dos seus
conflitos de interesses. Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos
EUA ou de Portugal, por exemplo, não tem força obrigatória no Brasil, considerando
que, por sermos um país soberano, a função de dizer o direito é atribuída ao Poder
Judiciário brasileiro.
 
Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia
no Brasil. Como proceder para que isso ocorra? Em regra, para que uma decisão
proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil, é
necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito
pela Justiça brasileira. A isso chamamos de homologação de sentença estrangeira.
Veja o que diz o CPC/2015 sobre o tema:
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil
após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão
do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em
sentido contrário de lei ou tratado.
 
Assim, a lei ou tratado internacional poderá facilitar ou dispensar a homologação
de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur. Ex: a sentença estrangeira de
divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação
pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC/2015).
Segundo a doutrina:
“O processo de homologação de sentença estrangeira visa
aferir a possibilidade de decisões estrangeiras produzirem
efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI,
Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil
comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 489).
 
“Uma vez homologada, a sentença poderá produzir os
mesmos efeitos de uma sentença nacional” (PORTELA,
Paulo. Direito internacional público e privado. Salvador:
Juspodivm, 2010, p. 562).
 
Como é feita a homologação de sentença estrangeira?
 Em regra, a homologação de decisão estrangeira será requerida pela parte
interessada por meio de ação de homologação de decisão estrangeira.

 Exceção: o Brasil poderá firmar tratado internacional dispensando a


propositura desta ação.
 
CPC/2015:
Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será
requerida por ação de homologação de decisão estrangeira,
salvo disposição especial em sentido contrário prevista em
tratado.
 
No Brasil, quem é o órgão competente para análise e homologação de sentenças
estrangeiras? O Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CF/88).
 
Onde estão previstas as regras para a homologação de sentenças estrangeiras?
 em tratados internacionais firmados pelo Brasil;
 nos arts. 960 a 965 do CPC/2015; e
 nos arts. 216-A a 216-X do Regimento Interno do STJ.
 
Vale ressaltar que o RISTJ somente se aplica em caráter supletivo e naquilo que for
compatível com a legislação federal.

Algumas observações sobre o tema:


 Para que a decisão estrangeira seja homologada no Brasil, é preciso que ela
seja definitiva (§ 1º do art. 961 do CPC/2015);
 Uma decisão que no estrangeiro não é considerada judicial, ou seja, uma
decisão que no estrangeiro não foi proferida pelo Poder Judiciário no
exercício de sua função típica, pode, mesmo assim, ser homologada no
Brasil se aqui, em nosso país, ela for considerada decisão judicial. É o que
prevê o § 1º do art. 961 do CPC 2015: "É passível de homologação (...) a
decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza jurisdicional.";
 A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente (§ 2º do art. 961);
 A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e
realizar atos de execução provisória no processo de homologação de
decisão estrangeira (§ 3º do art. 961).
 Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal
quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada
à autoridade brasileira (§ 4º do art. 961).
 
A sentença estrangeira de divórcio consensual, para produzir efeitos no Brasil,
precisa de homologação pelo STJ? NÃO. A sentença estrangeira de divórcio
consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ
(§ 5º do art. 961 do CPC 2015). No caso de sentença estrangeira de divórcio
consensual, o próprio juiz possui competência para examinar a validade da
decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em
processo de sua competência (§ 6º do art. 961).
 
Peculiaridades envolvendo decisão estrangeira concessiva de medida de urgência:
 É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de
urgência (art. 962).
 A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de
medida de urgência é feita por meio de carta rogatória.
 A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser
executada, desde que garantido o contraditório em momento posterior.
 O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade
jurisdicional prolatora da decisão estrangeira. Em outras palavras, não cabe
à autoridade jurisdicional brasileira reavaliar a presença ou não da
urgência.
 Vimos acima que em alguns casos pode ser dispensada a homologação para
que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil. Nesta situação, a
decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos,
de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para
dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo STJ.
 
Quais são os requisitos indispensáveis à homologação da decisão estrangeira?
Segundo o art. 963 do CPC/2015, para que a decisão estrangeira seja homologada, é
necessário que:
I - tenha sido proferida no exterior por autoridade
competente;
II -as partes tenham sido citadas ou que tenha havido
legalmente a revelia;
III -seja eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofenda a coisa julgada brasileira;
V - esteja acompanhada de tradução oficial, salvo disposição
que a dispense prevista em tratado;
VI – não contenha manifesta ofensa à ordem pública.
 
Para que a sentença estrangeira seja homologada no Brasil, é necessário que ela
tenha transitado em julgado no exterior? O trânsito em julgado é um requisito para
a homologação da sentença estrangeira? NÃO mais. Segundo o art. 216-D, III, do
RISTJ, para que a sentença estrangeira possa ser homologada no Brasil exige-se que
ela tenha transitado em julgado. Veja:
Art. 216-D. A decisão estrangeira deverá:
(...)
III - ter transitado em julgado.
(Incluído pela Emenda Regimental 18/ 2014)
 
Ocorre que o STJ decidiu que esse inciso III do art. 216-D do RISTJ foi tacitamente
revogado pelo CPC/2015. Isso porque o novo CPC previu os requisitos para a
homologação da sentença estrangeira e, em vez de exigir o trânsito em julgado,
afirmou que basta que a sentença estrangeira seja eficaz no país de origem.
Confira:
Art. 963.  Constituem requisitos indispensáveis à
homologação da decisão:
(...)
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
 
Desse modo, conforme entendeu o STJ, o CPC/2015, ao exigir que a sentença
estrangeira seja apenas “eficaz” no país em que foi proferida, teria deixado de exigir
o trânsito em julgado.
 
Essa é a posição também de parcela significativa da doutrina:
“4. Decisão eficaz, mas sem que necessariamente tenha
transitado em julgado. O inciso III contempla importante
inovação do CPC/2015 na matéria. É necessário que a
decisão estrangeira, para ser homologada, seja eficaz, ou
seja, suscetível de produzir efeitos no país de origem. Não
precisa, contudo, já ter transitado em julgado, superando
longa tradição do direito brasileiro sobreo tema. Fica
afastada, portanto, a aplicação do art. 216-D, III, do
Regimento Interno do STJ e da Súmula 420 do STF, que
exigem que a decisão estrangeira tivesse transitado em
julgado. A alteração é significativa, pois basta que o
provimento seja eficaz no país de origem para que possa ser
homologado no Brasil, o que abre margem, em tese, para a
homologação de decisões estrangeiras objeto de recurso no
país de origem sem efeito suspensivo.”(GAJARDONI,
Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, André
Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar. Execução e recursos:
comentários ao CPC de 2015. São Paulo: Método, 2017. p. 754).
 
Se este entendimento prevalecer realmente no STJ, fica superada a Súmula 420 do
STF:
Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no
estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.

4.2. Não cabe renúncia em processo de homologação de sentença estrangeira –


(Info 621)

É inadmissível a renúncia em sede de homologação de provimento estrangeiro.


STJ. Corte Especial. SEC 8542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/11/17 (Info
621).

4.3. A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de


interesse processual na homologação de provimento estrangeiro – (Info 621)

A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse


processual na homologação de provimento estrangeiro.
Ex: Juan, cidadão equatoriano, ajuizou, no Equador, ação de indenização contra
uma empresa norte-americana. A justiça equatoriana condenou a empresa a pagar
indenização em favor do autor. Juan ingressou, então, com pedido de
homologação desta sentença estrangeira no Brasil. Vale ressaltar que Juan não
tem domicílio no Estado brasileiro. Neste caso concreto, a sentença não envolve
partes brasileiras ou domiciliadas no país, tampouco a lide originária se refere a
fatos ocorridos no Brasil, nem a sentença homologanda impôs qualquer obrigação
a ser cumprida em território nacional. Deste modo, a ausência de jurisdição
brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual do requerente.
STJ. Corte Especial. SEC 8542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/11/17 (Info
621).

4.4. Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil –


(Info 586)

É possível a homologação pelo STJ de sentença eclesiástica de anulação de


matrimônio, confirmada pelo órgão de controle superior da Santa Sé.
STJ. Corte Especial. SEC 11.962-EX, Rel. Min. Felix Fischer, j. 4/11/2015 (Info 574).

4.5. Homologação de sentença eclesiástica de anulação de matrimônio – (Info 574)

É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o


perdimento de imóvel situado no Brasil em razão de o bem ser produto do crime
de lavagem de dinheiro.
Ex: cidadão finlandês foi condenado em seu país pela prática de lavagem de
dinheiro. Na sentença, determinou-se o perdimento de imóvel situado no Brasil.
Esta sentença estrangeira pode ser homologada pelo STJ.
Não há ofensa ao art. 23, I, do CPC/2015, pois a sentença estrangeira não tratou
especificamente sobre a situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas
sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal, determinando o perdimento
de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais.
STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/5/16 (Info 586).

4.6. Peculiaridade da sentença estrangeira que trate sobre guarda e alimentos –


(Info 548) – ATENÇÃO! DPU!

Em 2008, John (americano) e Juliana (brasileira) se divorciaram nos EUA e a


sentença transitada em julgado determinou que a guarda ficasse com o pai.
Em 2009, Juliana ajuizou ação de guarda no Brasil e o juiz brasileiro concedeu a
guarda à mãe. Ressalte-se que a existência de sentença estrangeira transitada em
julgado não impede a instauração de ação de guarda perante o Poder Judiciário
brasileiro, eis que a sentença de guarda e alimentos não é imutável (art. 43 do
ECA).
Em 2010, John pede a homologação da sentença estrangeira no Brasil.
Essa sentença estrangeira não poderá ser homologada. A sentença estrangeira não
pode ser homologada na parte em que verse sobre guarda ou alimentos quando já
exista decisão do Judiciário Brasileiro acerca do mesmo assunto, mesmo que esta
decisão tenha sido proferida em caráter provisório e após o trânsito em julgado
daquela. Se fosse homologada haveria afronta à soberania da jurisdição nacional.
STJ. Corte Especial. SEC 6.485-EX, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 03/09/2014 (Info 548).

5. DIVÓRCIO REALIZADO NO BRASIL E BENS SITUADOS NO


ESTRANGEIRO
5.1. Ação de divórcio de pessoas domiciliadas no Brasil e bens situados no
estrangeiro – (Info 544)

Em ação de divórcio e partilha de bens de brasileiros, casados e residentes no


Brasil, a autoridade judiciária brasileira tem competência para, reconhecendo o
direito à meação e a existência de bens situados no exterior, fazer incluir seus
valores na partilha.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.410.958-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 22/4/14
(Info 544).

6. CONVENÇÃO DE HAIA
6.1. Afastamento da regra do art. 12 e consideração da manifestação da criança
que revele maturidade capaz de compreender a controvérsia – (Info 565) –
IMPORTANTE!!!

A Convenção de Haia determina que a autoridade central deve ordenar o retorno


imediato da criança quando é acionada no período de menos de 1 ano entre a data
da transferência ou da retenção indevidas e a data do início do processo perante a
autoridade judicial ou administrativa do Estado contratante onde a criança se
encontrar (art. 12).
Essa regra é absoluta? Se o processo foi iniciado com menos de 1 ano da retenção
indevida, será sempre obrigatório o retorno da criança?
NÃO. O pedido de retorno imediato de criança retida ilicitamente por sua
genitora no Brasil pode ser indeferido, mesmo que transcorrido menos de 1 ano
entre a retenção indevida e o início do processo perante a autoridade judicial ou
administrativa (art. 12 da Convenção de Haia), na hipótese em que o menor - com
idade e maturidade suficientes para compreender a controvérsia - estiver
adaptado ao novo meio e manifestar seu desejo de não regressar ao domicílio
paterno no estrangeiro.
Assim, em situações excepcionalíssimas, nos termos da Convenção da Haia e no
propósito de se preservar o superior interesse do menor, a autoridade central
poderá negar o pedido de retorno imediato ao país de origem, como na hipótese
de a criança já se encontrar integrada ao novo meio em que vive e manifestar o
desejo de não regressar para o domicílio estrangeiro do genitor.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.214.408-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2015
(Info 565).

7. HIPOTECA NAVAL
7.1. É reconhecida a eficácia, no Brasil, de hipoteca de navio registrada no país de
nacionalidade da embarcação – (Info 618)

A hipoteca de navio registrada no país de nacionalidade da embarcação tem


eficácia extraterritorial, alcançando o âmbito interno nacional.
Ex: navio de nacionalidade liberiana foi hipotecado na Libéria; essa hipoteca
produz efeitos aqui no Brasil, inclusive nas execuções propostas contra a empresa
proprietária do navio e que gerem a penhora dessa embarcação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1705222-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/11/17 (Info
618).
OBS:
O navio é um bem móvel. Mesmo assim ele está sujeito à hipoteca? SIM. As grandes
embarcações e aeronaves, embora efetivamente sejam bens móveis pelo critério
físico, no plano jurídico, em vista de sua importância econômica e com o objetivo de
conferir maior segurança jurídica, estão sujeitas à hipoteca.
 
Regulamentação: A hipoteca de navios se encontra disciplinada pelo art. 278 do
Decreto 18.871/29, que promulga a Convenção de Direito Internacional Privado de
Havana (Código Bustamante), e pelos arts. 12 a 14 da Lei 7.652/88, que dispõem
sobre o registro de propriedade marítima.
 
Hipoteca marítima tem efeitos extraterritoriais: A Convenção de Direito
Internacional Privado de Havana (Código Bustamante) estabelece que a hipoteca
marítima e os privilégios e garantias de caráter real, constituídos de acordo com a
lei do pavilhão (lei da bandeira do navio), têm efeitos extraterritoriais, até nos
países cuja legislação não conheça ou não regule essa hipoteca ou esses
privilégios. De igual modo, o art. 1º da Convenção de Bruxelas para a Unificação de
Certas Regras Relativas aos Princípios e Hipotecas Marítimas (Decreto 351/35) prevê
que as hipotecas sobre navios regularmente estabelecidas e registradas serão
consideradas válidas e acatadas em todos os outros países contratantes.
 
Essa hipoteca marítima deveria ter sido registrada também no Brasil? NÃO. Não
cabe o registro, no Brasil, da hipoteca da embarcação de bandeira de outro país,
pertencente à sociedade empresária estrangeira. Com efeito, na leitura da Lei
7.652/88 (que dispõe sobre o registro de propriedade marítima) e dos demais
diplomas internos, nota-se um claro cuidado do legislador em não estabelecer
disposição que confronte com as convenções internacionais a que o Estado aderiu,
respeitando-se a soberania dos países em que estão registrados os navios e
respectivas hipotecas, de modo a fornecer segurança jurídica aos proprietários e
detentores de direitos sobre embarcações. O registro hipotecário é ato de soberania
do Estado da nacionalidade da embarcação, estando sob sua jurisdição as
respectivas questões administrativas.
 
Negar eficácia à hipoteca marítima internacional viola as convenções
internacionais: Desse modo, diante de tudo que foi exposto, conclui-se que negar
eficácia à hipoteca seria desrespeitar diversas convenções internacionais, gerando
insegurança jurídica, com possíveis restrições e aumento de custo para o afretamento
de embarcações utilizadas no Brasil.

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