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DIREITO ADMINISTRATIVO
Pontos atualizados: nº 18 (Info 655); nº 12 (Info 656); nº 17 (Info 657); nº 07 (Info 658); nº 20
(Info 658); nº 30 (Info 658); nº 07 (Info 659); Info 20 (Info 660); nº 03 (Info 676)
1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO: É possível o corte da
energia elétrica por fraude no medidor, desde que cumpridos alguns requisitos – (Info 634) –
IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!! – (TJBA-2019)
OBS: Não se trata propriamente de uma alteração do posicionamento antigo, mas sim de uma
decisão mais completa em relação ao julgado veiculado no Info 508 do STJ.
Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relação dos gastos efetuados
com o cartão corporativo pela chefe da representação da Presidência da República em SP.
O Governo concedeu ao jornal a relação dos gastos efetuados no período, ou seja, os valores
despendidos. No entanto, negou-se a fornecer informações detalhadas como os tipos de gastos,
as datas, valores individuais de cada transação, CNPJ/razão social das empresas contratadas etc.
O STJ entendeu que essa recusa ao fornecimento do extrato completo (incluindo tipo, data,
valor das transações efetuadas e CNPJ dos fornecedores) constitui ilegal violação ao direito de
acesso à informação de interesse coletivo (Lei 12.527/2011), já que não havia qualquer evidência
de que a publicidade desses elementos atentaria contra a segurança do Presidente e Vice-
Presidente da República ou de suas famílias.
STJ. 1ª Seção. MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 12/11/14 (Info 552).
2. PODERES ADMINISTRATIVOS
2.1. PODER DE POLÍCIA: O termo “bombeiro civil” pode ser utilizado pelos profissionais de
empresas privadas atuantes no ramo – (Info 648)
2.2. PODER DE POLÍCIA: Agência de turismo que faça câmbio é equiparada à instituição
financeira e está sujeita à fiscalização do BACEN – (Info 647) – Atenção! Concursos Federais!
ATENÇÃO: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o
Sistema Financeiro Nacional (art. 1º, I, da Lei 7.492/86): STJ. 5ª T. RHC 9.281/PR, Rel. Min.
Gilson Dipp, DJe 30/10/2000.
2.3. PODER DE POLÍCIA: Competência do DNIT para fiscalizar trânsito nas rodovias e
estradas federais – (Info 623) – Apenas Concursos Federais!!!
A Lei 7.102/83 estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares
que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores.
O art. 11 dessa Lei prevê que “a propriedade e a administração das empresas especializadas que
vierem a se constituir são vedadas a estrangeiros.”
Esse art. 11 deve ser interpretado segundo a Constituição Federal que, desde a EC 6/95, proíbe,
em regra, que a lei faça discriminação entre “empresa brasileira de capital nacional” e “empresa
brasileira de capital estrangeiro”. Em outras palavras, para o texto constitucional atual, em
regra, desde que uma empresa seja brasileira (constituída no Brasil e sujeita às leis brasileiras),
a origem do seu capital é irrelevante.
Diante disso, a interpretação atual do art. 11 deve ser a seguinte:
Empresas constituídas no exterior são proibidas de atuar no setor de segurança privada.
Todavia, empresas que sejam constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede
e administração no País são consideradas “empresas brasileiras” (art. 1.126 do Código
Civil), sendo irrelevante que tenham na sua composição societária, direta ou
indiretamente, participação ou controle pelo capital estrangeiro.
2.6. PODER DE POLÍCIA: Não cabe ao Banco Central fiscalizar o Serasa – (Info 595)
O Banco Central tem o dever de exercer o controle do crédito e fiscalizar a atividade das
instituições financeiras.
O Serasa não é uma instituição financeira, considerando que não exerce coleta, intermediação
nem aplicação de recursos financeiros, nem a custódia de valor de propriedade de terceiros, seja
como atividade principal ou acessória.
Logo, não é da atribuição do Banco Central a fiscalização das atividades do Serasa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.768-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 1/12/16 (Info 595).
2.7. PODER DE POLÍCIA: Atribuição para classificar como medicamento produto importado
– (Info 577) – IMPORTANTE!!!
3. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
3.1. FUNDAÇÕES PÚBLICAS DE DIREITO PRIVADO: As fundações públicas de direito
privadas fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais –
(Info 676) – IMPORTANTE!!!
As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.
A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de
direito público. Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao
conferido aos entes da Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de
direito público, que se adquire no momento de sua criação, decorrente da própria lei.
STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/03/20 (Info 676)
3.2. SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS: Serviços sociais autônomos não devem figurar no
polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições
sociais – (Info 646)
As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações
judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a
repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas.
Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas
de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte
e ente federado.
O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse
jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos
serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/04/2019 (Info 646).
3.3. Legitimidade do Município para defesa dos consumidores – (Info 626) – IMPORTANTE!!!
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades institucionais
a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige
pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil pública
contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa bancária denominada
“renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias. O banco contestou a
demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem legitimidade ad causam
para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de
uma tarifa bancária.
O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no Info 626 do STJ.
Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos: No caso de ação civil
pública proposta por ente político, a pertinência temática ou representatividade adequada são
presumidas. Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas
finalidades institucionais, a defesa coletiva dos consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando
constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
3.4. Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios –
(Info 610) – Atenção! Advocacia Pública!
Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo
direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito público.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/6/17 (Info 610).
OBS:
Quem representa os Municípios em juízo: A representação judicial dos Municípios, ativa e
passivamente, deve ser exercida por seu Prefeito ou Procurador, conforme previsto no art. 75, III,
do CPC/2015:
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: (...)
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
Portanto, não é possível que essa regra expressa seja alterada para que a representação se faça
por associação de municípios.
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito privado, haja
vista que se submete às normas de direito público. Assim sendo, não se pode admitir que haja
uma delegação para que uma pessoa jurídica de direito privado (associação) possa tutelar
interesses de pessoa jurídica de direito público (Município).
Em qualquer tipo de ação, permitir que os Municípios sejam representados por associações
equivaleria a autorizar que eles dispusessem de uma série de privilégios materiais e processuais
estabelecidos pela lei em seu favor. E, como esses privilégios visam a tutelar o interesse público,
não há como os Munícipios disporem deles ajuizando suas ações por meio de associações, pois o
interesse público é indisponível.
Existem outros precedentes do STJ no mesmo sentido:
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito
privado, haja vista que se submete às normas de direito público. Assim sendo,
insuscetível de renúncia ou de delegação a pessoa jurídica de direito privado, tutelar
interesse de pessoa jurídica de direito público sob forma de substituição processual.
STJ. 2ª Turma. REsp 1446813/CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j.
20/11/2014.
4. ATOS ADMINISTRATIVOS
4.1. CONTROLE DE ATOS ADMINISTRATIVOS: Judiciário pode determinar que
Estado implemente plantão em Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator – (Info
609)
Comando: Ante o exposto, o STJ deu provimento ao recurso especial interposto pelo MP e
determinou que o Estado do Mato Grosso do Sul implementasse, no prazo máximo de 120
dias, o regime de plantão de 24 horas na Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e
Juventude de Campo Grande/MS, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.
4.2. Portaria interministerial produzida, em conjunto, por dois Ministérios não pode ser
revogada por portaria posterior editada por apenas uma das Pastas – (Info 597)
O Poder Judiciário não tem competência para autorizar, ainda que a título precário, a
prestação de serviço de radiodifusão com finalidade exclusivamente educativa.
O art. 223 da CF/88 atribui competência ao Poder Executivo para outorgar e renovar
concessão, permissão e autorização, bem como fiscalizar o serviço de radiodifusão sonora e
de sons e imagens.
O funcionamento das rádios educativas, mesmo que a título precário, está definido na
legislação infraconstitucional, em portaria do Ministério das Comunicações e em portaria
interministerial do Ministério das Comunicações e do Ministério da Educação, exigindo
prévia outorga do poder concedente, a qual não pode ser suprida por autorização judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.353.341-PE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 12/5/15 (Info 562).
5. LICITAÇÕES
5.1. Empresa em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre a
sua viabilidade econômica – (Info 631) – IMPORTANTE!!!
Se você observar novamente a redação do art. 31, II, da Lei 8.666/93, verá que ela ainda fala
em “concordata”. Assim, o art. 31 da Lei 8.666/93 não teve o texto alterado para se amoldar à
nova sistemática, tampouco foi derrogado (expressamente).
Quando o art. 31, II, da Lei 8.666/93 fala em “concordata”, deve-se ler agora “recuperação
judicial”?
Vale ressaltar que o art. 52, I, da Lei 11.101/05, que é posterior à Lei de Licitações, prevê a
possibilidade de as empresas em recuperação judicial contratarem com o Poder Público
(devendo apresentar ao Poder Público as certidões positivas de débitos). Ora, se tais
empresas podem contratar com o poder público, devemos interpretar que o legislador
permitiu que elas participassem de licitações, considerando que, em regra, só se pode
contratar com a Administração Pública após prévio procedimento licitatório. Veja:
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz
deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...)
II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o
devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público
ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
observando o disposto no art. 69 desta Lei;
A interpretação sistemática dos dispositivos da Lei 8.666/93 e da Lei 11.101/05 nos leva à
conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada entre os princípios nelas
imbuídos, pois a preservação da empresa, a sua função social e o estímulo à atividade
econômica atendem também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se
busca a manutenção da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.
Daí se infere que a dispensa de apresentação de certidão negativa não exime a empresa em
recuperação judicial de comprovar a sua capacidade econômica para poder participar da
licitação.
5.2. Flexibilização da Lei 8.666/93 no “Minha Casa, Minha Vida” – (Info 624) –
IMPORTANTE!!!
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no Programa Minha
Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, desde que se
observem os princípios gerais da administração pública.
STJ. 2ª Turma. REsp 1687381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/4/18 (Info 624).
OBS:
Lei 10.188/2001: A Lei 10.188/01 criou o Programa de Arrendamento Residencial. O objetivo
desse Programa foi o de garantir moradia à população de baixa renda, sob a forma de
arrendamento residencial com opção de compra. A gestão do Programa cabe ao Ministério
das Cidades e sua operacionalização à Caixa Econômica Federal (CEF). Tendo em vista o
caráter social do programa, o legislador decidiu que as regras de licitação poderiam ser
flexibilizadas. Confira:
Art. 4º (...)
Parágrafo único. As operações de aquisição, construção, recuperação,
arrendamento e venda de imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela
CEF, respeitados os princípios da legalidade, finalidade, razoabilidade,
moralidade administrativa, interesse público e eficiência, ficando dispensada
da observância das disposições específicas da lei geral de licitação.
Pergunta: Esse art. 4º, § único, da Lei 10.188/01, que flexibiliza as regras de licitação, pode
ser aplicado também para o programa “Minha Casa, Minha Vida”? SIM.
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no
Programa Minha Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei
10.188/01, desde que se observem os princípios gerais da administração
pública. STJ. 2ª T. REsp 1.687.381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/4/18 (Info
624).
Programa Minha Casa, Minha Vida: “Minha Casa, Minha Vida” é um programa
habitacional que tem por objetivo criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição
de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou
reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (art. 1º da
Lei nº 11.977/2009).
Trata-se hoje da principal política habitacional do país que objetiva o desenvolvimento
urbano e o acesso à moradia para famílias de baixa renda, a fim de reduzir o enorme déficit
habitacional brasileiro e também os impactos ambientais e sociais decorrentes das ocupações
irregulares e das habitações precárias.
O interesse social desse Programa é inegável, principalmente na perspectiva da efetivação do
direito fundamental à moradia digna, da inserção desse direito entre as necessidades básicas
dos brasileiros e da competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
para promover programas de construção de moradias e melhorias das condições
habitacionais, nos termos dos arts. 1º, III, 7º, IV, e 23, IX, da Constituição Federal.
Em face da peculiaridade de sua natureza e do flagrante interesse social envolvido no
“Programa Minha Casa, Minha Vida”, por força do art. 4º, § único, da Lei 10.188/01,
eventualmente, as regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas,
desde que se observem os princípios gerais da administração pública, isto é, aqueles
previstos no art. 37 da Constituição Federal e que se consubstanciam em legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
5.3. Proibição do art. 9º, III, da Lei 8.666/93 permanece mesmo que o servidor esteja
licenciado – (Info 602) – (MPMG-2018)
Se um servidor público for sócio ou funcionário de uma empresa, ela não poderá participar
de licitações realizadas pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado este servidor
público (art. 9º, III, da Lei nº 8.666/93).
O fato de o servidor estar licenciado do cargo não afasta a referida proibição, considerando
que, mesmo de licença, ele não deixa possuir vínculo com a Administração Pública.
Assim, o fato de o servidor estar licenciado não afasta o entendimento segundo o qual não
pode participar de procedimento licitatório a empresa que possuir em seu quadro de
pessoal servidor ou dirigente do órgão contratante ou responsável pela licitação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.607.715-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 7/3/17 (Info 602).
5.4. Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei n. 10.520/02 (Lei do Pregão) – (Info
561)
6. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
6.1. Contratos de franquia dos Correios celebrados sem licitação – (Info 616) – Apenas
Concursos Federais!
Como se vê o prazo do parágrafo único do art. 7º já se esgotou. Apesar disso, continuam existindo
contratos que não foram regularizados. Qual é a situação desses contratos? Eles continuam
produzindo efeitos. O STJ decidiu que, mesmo ultrapassado esse prazo do art. 7º, parágrafo
único, da Lei 11.668/08, enquanto não houver a regularização, tais contratos continuam
produzindo efeitos. Em homenagem ao princípio da continuidade dos serviços públicos,
enquanto não houver a assinatura de novos contratos de franquia, os antigos deverão continuar
produzindo efeitos mesmo que tenham sido firmados sem licitação. Não se trata de perpetuar os
contratos sem licitação, mas sim de respeitar a continuidade dos serviços públicos até que novos
ajustes sejam firmados.
Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos
repasses federais, o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no
CAUC não pode impedir que o consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio
público é uma pessoa jurídica distinta dos entes federativos que o integram e, segundo o
princípio da intranscendência das sanções, as punições impostas não podem superar a
dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar outras pessoas
jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de
Informações para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus,
após a celebração de convênio, à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC
101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, j. 10/11/15 (Info 577).
OBS:
Lei 13.821/19: Inseriu o parágrafo único ao art. 14 da Lei 11.107/05, encampando esse
entendimento do STJ e afirmando, expressamente, que os requisitos de regularidade para a
celebração do convênio entre a União e o Consórcio devem ser analisados com base na pessoa
jurídica do Consórcio, não havendo motivos para se negar a assinatura do instrumento por conta
de restrições existentes em nome de um dos integrantes do Consórcio, tendo em vista que são
pessoas jurídicas distintas:
Art. 14. A União poderá celebrar convênios com os consórcios públicos, com o
objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação de políticas públicas em
escalas adequadas.
Parágrafo único. Para a celebração dos convênios de que trata o caput deste artigo,
as exigências legais de regularidade aplicar-se-ão ao próprio consórcio público
envolvido, e não aos entes federativos nele consorciados. (Parágrafo único inserido
pela Lei nº 13.821/2019)
6.3. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária - (Info 571) - Atenção! Advocacia Pública!
Imagine a seguinte situação: a União possui um contrato com a empresa privada "XXX
Vigilância Ltda". Por meio deste contrato, a empresa, com seus funcionários, obrigou-se a fazer
a vigilância armada do prédio onde funciona o órgão público federal, recebendo, em
contraprestação, R$ 200 mil mensais. A União, percebendo que a empresa estava atrasando os
salários e com receio de ser condenada por responsabilidade subsidiária (Súmula 331 do TST),
decidiu suspender o pagamento da contraprestação mensal devida e ajuizar ação de
consignação em pagamento a fim de depositar em juízo os R$ 200 mil previstos no contrato.
Surgiu, no entanto, uma dúvida: onde deverá ser proposta essa ação, na Justiça Federal comum
ou na Justiça do Trabalho?
Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação de
consignação em pagamento movida pela União contra sociedade empresária por ela contratada
para a prestação de serviços terceirizados, caso a demanda tenha sido proposta com o intuito de
evitar futura responsabilização trabalhista subsidiária da Administração nos termos da Súmula
331 do TST.
STJ. 2ª Seção. CC 136.739-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 23/9/2015 (Info 571).
Para que a pessoa possa participar de licitações e contratar com a Administração Pública é
necessário que comprove sua regularidade fiscal, ou seja, a inexistência de débitos com o Poder
Público.
Essa regularidade fiscal não é exigida apenas no momento da licitação e da contratação,
persistindo durante toda a execução do contrato.
No entanto, segundo o STJ, é ilegal reter o pagamento devido a fornecedor em situação de
irregularidade perante o Fisco. Essa prática não é permitida, considerando que não existe
autorização na Lei para que seja feita (viola o princípio da legalidade).
No caso de falta de regularidade fiscal durante a execução do pacto, a Lei de Licitações autoriza
que o Poder Público imponha penalidades ao contratado (art. 87) ou rescinda o contrato.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1313659-RR, Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/10/12 (Info 507).
7. CONCURSOS PÚBLICOS
7.1. Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa Econômica Federal – (Info 659)
– IMPORTANTE!!!
A Caixa Econômica Federal, embora vinculada como empresa pública ao Estado, executa uma
atividade econômica em ambiente de concorrência.
A terceirização pela Caixa Econômica Federal dos serviços jurídicos não se revela ilegal,
considerando que esses serviços não estão relacionados com a atividade-fim da empresa.
STJ. 2ª T. REsp 1318740-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, j. 16/10/18
(Info 659).
7.3. A candidata que está amamentando (lactante) na época do curso de formação para o cargo
de agente penitenciário tem direito de fazer o curso em um período posterior – (Info 645) –
IMPORTANTE!!!
Apesar de a hipótese não ser exatamente igual ao que decidiu o STF no RE 1058333/PR, o STJ
entendeu que as premissas estabelecidas naquele julgamento são plenamente aplicáveis ao
caso concreto. Com efeito, a candidata, ao ser convocada para o Curso de Formação, encontrava-
se em licença maternidade, com apenas um mês de nascimento da sua filha, período em que
sabidamente todas as mulheres estão impossibilitadas de praticar atividades físicas, estando
totalmente voltadas para amamentação e cuidados com o recém-nascido. Também nessa hipótese
devem ser observados os direitos destacados pelo STF no RE 1058333/PR e que são
constitucionalmente protegidos (saúde, maternidade, família e planejamento familiar),
merecendo a candidata lactante o mesmo amparo estabelecido pelo Supremo para as gestantes.
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à
nomeação caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação
inequívoca da administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição
orçamentária.
STJ. 1ª S. MS 22.813-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/06/2018 (Info 630).
OBS:
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? SIM. O
candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui
direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame.
O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.
O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do
concurso foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Em regra, não.
Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso
ainda não expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os
candidatos aprovados no primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto
poderão exigir sua nomeação? Em regra, não.
Hipóteses nas quais existirá direito subjetivo à nomeação: O STF listou as três hipóteses nas quais
existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público:
1) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
2) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação;
3) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada
por parte da administração.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi aprovado no cargo de Procurador na 20ª
posição. O edital do concurso oferecia apenas 15 cargos. João foi aprovado fora do número de
vagas. Os 15 primeiros colocados tomaram posse e começaram a exercer a função. Durante o
prazo de validade do concurso, 5 Procuradores se aposentaram, ou seja, surgiram 5 novas vagas.
Apesar disso, a Administração Pública não fez mais nenhuma nomeação. Quase no fim do prazo
de validade do certame, o Procurador-Geral encaminhou um expediente ao Chefe do Poder
Executivo relatando a existência das 5 vagas e afirmando que precisava de autorização para a
realização de novo concurso porque a quantidade de Procuradores estava muito abaixo do
necessário para o órgão. No expediente, o Procurador-Geral afirmou que havia dotação
orçamentária para a nomeação desses novos Procuradores. João e os outros 4 aprovados
conseguiram cópia deste expediente e impetraram mandado de segurança alegando que tinham
direito de ser nomeados.
O STJ concordou com o pedido dos candidatos? SIM. É o que foi decidido pelo STJ, no Info 630. O
STJ entendeu que essa hipótese (surgimento de novas vagas + necessidade do provimento +
inexistência de restrição orçamentária) foi prevista pelo STF como uma hipótese na qual surge o
direito subjetivo à nomeação. Trata-se de situação descrita no final da ementa do julgado do STF
no RE 837311. Confira:
(...) reconhece-se, excepcionalmente, o direito subjetivo à nomeação aos candidatos
devidamente aprovados no concurso público, pois houve, dentro da validade do
processo seletivo e, também, logo após expirado o referido prazo, manifestações
inequívocas da Administração piauiense acerca da existência de vagas e,
sobretudo, da necessidade de chamamento de novos Defensores Públicos para o
Estado. (...) STF. Plenário. RE 837311, Rel. Min. Luiz Fux, j. 9/12/15.
7.5. A nomeação tardia de candidato aprovado em concurso não gera direito à indenização,
ainda que a demora tenha origem em erro reconhecido pela própria Administração Pública – (Info
617) – IMPORTANTE!!!
Esse entendimento do STF aplica-se mesmo que o erro tenha sido reconhecido
administrativamente pelo Poder Público (e não por decisão judicial).
Assim, a nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público não gera direito à
indenização, ainda que a demora tenha origem em erro reconhecido pela própria
Administração Pública.
STJ. 1ª T. REsp 1238344-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 30/11/17 (Info 617).
OBS:
O fato de a Administração Pública ter reconhecido o erro administrativamente não muda a
situação. Assim, deve-se aplicar o entendimento do STF firmado no RE 724347/DF. Isso porque a
ratio decidendi constante do precedente do STF consagra a compreensão de que o pagamento de
remuneração e a percepção de demais vantagens por servidor público pressupõe o efetivo
exercício no cargo, sob pena de enriquecimento sem causa.
Ora, se mesmo quando a ilegalidade da nomeação tardia é declarada por provimento jurisdicional
o direito à indenização é afastado pela jurisprudência (salvo situação de arbitrariedade flagrante),
não há razão para, reconhecido o erro pela própria Administração, determinar-se o pagamento de
valores retroativos.
7.6. O candidato aprovado fora do número de vagas, mas que fique dentro do número de
vagas em virtude da desistência de alguém melhor colocado, passa a ter direito subjetivo de ser
nomeado – (Info 612) – IMPORTANTE!!!
O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do
concurso foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Em regra, não.
Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso
ainda não expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os
candidatos aprovados no primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto
poderão exigir sua nomeação? Em regra, não.
Hipóteses nas quais existirá direito subjetivo à nomeação: O STF listou as três hipóteses nas quais
existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público:
4) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
5) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação;
6) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por
parte da administração.
O candidato aprovado fora do número de vagas, mas que fique dentro do número de vagas em
virtude da desistência de alguém melhor colocado, passa a ter direito subjetivo de ser nomeado?
SIM.
A desistência de candidatos melhor classificados em concurso público convola a
mera expectativa em direito líquido e certo, garantindo a nomeação dos candidatos
que passarem a constar dentro do número de vagas previstas no edital. STJ. 1ª T.
RMS 53.506-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 26/9/17 (Info 612). STJ. 2ª T. RMS
52.251/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/9/17.
Ex: João foi aprovado em 13º lugar no concurso público para técnico administrativo. Vale ressaltar
que o edital do certame previa a existência de 8 vagas. Ocorre que 5 candidatos melhor
classificados que João desistiram. Logo, ele, que antes tinha mera expectativa de direito, passou a
ter direito líquido e certo com as desistências.
A simples alteração na ordem de aplicação das provas de teste físico em concurso público ,
desde que anunciada com antecedência e aplicada igualmente a todos, não viola direito líquido
e certo dos candidatos inscritos.
Ex: o edital inicial dizia que, no dia da prova de esforço físico, o teste de equilíbrio seria o
primeiro e a corrida o último; depois foi publicado um novo edital alterando a ordem.
STJ. 1ª T. RMS 36.064-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 13/6/17 (Info 608).
7.8. O espelho de prova, com a motivação da avaliação do candidato, deve ser apresentado
antes ou durante a divulgação do resultado, sob pena de nulidade – (Info 603) – IMPORTANTE!!!
A banca examinadora do certame, por ocasião da divulgação dos resultados das provas, deve
demonstrar, de forma clara e transparente, que os critérios de avaliação previstos no edital
foram devidamente considerados, sob pena de nulidade da avaliação.
As informações constantes dos espelhos de provas subjetivas representam a motivação do ato
administrativo, consistente na atribuição de nota ao candidato.
Essa motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato
administrativo, pois caso se permita a motivação posterior, isso pode dar ensejo para que se
fabriquem, forjem ou criem motivações.
Não é legítima a conduta da banca examinadora de divulgar o espelho de provas com a
motivação das notas após ser contestada na via judicial ou administrativa.
Destaque-se também que não há fundamentação válida se a banca apenas divulga critérios
muito subjetivos e a nota global dos candidatos, desacompanhados do padrão de resposta e das
notas atribuídas para cada um dos critérios adotados.
STJ. 2ª T. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 20/4/17 (Info 603).
OBS:
No caso das provas discursiva e oral, etapas em que há uma maior discricionariedade por parte
dos examinadores, mesmo assim é necessário que sejam divulgados os critérios de avaliação dos
candidatos? SIM. Realmente nas provas dissertativa e oral existe uma margem maior para que o
avaliador se valha de suas impressões. Justamente por essa razão, tais etapas devem adotar
critérios de avaliação e correção os mais objetivos possíveis, a fim de evitar violação ao princípio
da impessoalidade.
Dessa forma, o ideal é que as bancas examinadoras forneçam espelhos de correção que permitam
ao candidato condições de identificar:
a) o padrão de resposta esperado pela banca examinadora para cada questão;
b) a pontuação válida para cada um dos critérios;
c) a nota que lhe foi atribuída em cada um deles; e, por fim,
d) a nota global obtida pelo candidato.
Essas exigências são necessárias para possibilitar o exercício do devido processo administrativo
recursal, consagrado no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes.”.
Motivação do ato administrativo: Vale ressaltar que tais informações que deverão constar nos
espelhos das provas subjetivas como forma de atribuição de nota ao candidato representam a
“motivação do ato administrativo”. Essa motivação do ato administrativo é uma exigência
expressa dos arts. 2º e 50, III e § 1º, da Lei 9.784/99, que trata do processo administrativo no
âmbito federal.
Motivação deve ser anterior ou concomitante à divulgação do resultado: A motivação deve ser
apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato administrativo. Isso porque entende-
se que se fosse permitida a motivação posterior, isso poderia dar ensejo para que se fabricassem,
forjassem ou criassem motivações para burlar eventual impugnação ao ato. Em outras palavras, se
fosse permitida a motivação posterior, o Administrador mal intencionado poderia decidir do jeito
que quisesse e, depois, quando questionado, apresentaria motivação apenas para refutar aquela
impugnação. Não se deve, portanto, admitir como legítima a prática imotivada de um ato que, ao
ser contestado na via judicial ou administrativa, venha o gestor "construir" algum motivo que dê
ensejo à validade do ato administrativo.
Por essa razão, repita-se: a motivação deve ocorrer, em regra, antes ou durante a prática do ato
administrativo. Exceção: a jurisprudência entende que, no caso de remoção ex officio, a motivação
pode ser apresentada mesmo após o ato ter sido praticado. Nesse sentido: STJ REsp
1.331.224/MG.
Mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato
poderá exigir essa providência: Alguns editais de concursos públicos não preveem os critérios de
correção ou, às vezes, embora os prevejam, não estabelecem as notas ou a possibilidade de
divulgação dos padrões de respostas que serão atribuídos a cada um desses critérios. Em tese, com
suporte na máxima de que "o edital faz lei entre as partes", o candidato nada poderia fazer caso o
resultado de sua avaliação fosse divulgado sem a indicação dos critérios ou das notas a eles
correspondentes, ou, ainda, dos padrões de respostas esperados pela banca examinadora. Tal
pensamento, no entanto, não merece prosperar, pois os editais de concursos públicos não estão
acima da Constituição Federal ou das leis que preconizam os princípios da impessoalidade, do
devido processo administrativo, da motivação, da razoabilidade e proporcionalidade. Assim,
mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato tem
direito de exigir essa providência.
7.9. O grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui
flagrante ilegalidade apta a ensejar a nulidade da questão – (Info 603) – IMPORTANTE!!!
O STF, em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, firmou a seguinte tese:
"Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora
para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas" (RE 632.853).
Do voto condutor do mencionado acórdão, percebe-se que a tese nele constante buscou
esclarecer que o Poder Judiciário não pode avaliar as respostas dadas pelo candidato e as notas
a eles atribuídas se for necessário apreciar o conteúdo das questões ou os critérios utilizados na
correção, exceto se flagrante a ilegalidade.
Ao analisar uma prova para o cargo de assessor do MPRS, o STJ decidiu anular uma das
questões discursivas pelo fato de que ela possuía um grave erro no enunciado, o que
prejudicou o candidato na elaboração de sua resposta.
No enunciado da questão constou a expressão “permissão de saída”, mas na verdade o
examinador queria saber sobre a “saída temporária”, tanto que a resposta padrão do gabarito
envolvia este segundo instituto. Houve, portanto, uma troca dos conceitos.
A própria comissão examinadora reconheceu que houve o erro no enunciado, mas afirmou que
isso não atrapalhou os candidatos e, por isso, manteve as notas.
O STJ, contudo, não concordou com isso e anulou a questão. Se a própria banca examinadora
reconhece o erro na formulação da questão, não se pode fechar os olhos para tal constatação ao
simplório argumento de que referido erro não influiria na análise do enunciado pelo candidato.
Vale ressaltar que o STJ afirmou que esta anulação não contraria o que decidiu o STF no
julgamento do RE 632.853 por duas razões:
1) o candidato não está buscando que o Poder Judiciário reexamine o conteúdo da questão
ou o critério de correção para decidir se a resposta dada por ele está ou não correta . Em outras
palavras, não se quer que recorrija a prova. O que o impetrante pretende é que seja reconhecido
que o enunciado da questão apresenta um erro grave insuperável.
2) o STF decidiu que, em regra, não é possível a anulação de questões de concurso, salvo
se houver ilegalidade a permitir a atuação do Poder Judiciário. Em outras palavras, existe uma
“exceção” à tese fixada no RE 632.853. E, no presente caso, estamos diante de uma flagrante
ilegalidade da banca examinadora.
STJ. 2ª T. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 20/4/17 (Info 603).
OBS:
O que o impetrante pretende é que seja reconhecido que o enunciado da questão apresenta um
erro grave insuperável, qual seja, a troca das palavras "saída temporária" por "permissão de
saída", fato reconhecido pela própria banca. Dessa forma, tem-se, no presente caso, um
distinguishing (distinção) em relação ao precedente do STF. Assim, é possível reconhecer
circunstâncias particulares do caso concreto e que permitem fazer uma diferenciação com o
objetivo de não subordiná-lo ao precedente do STF.
Além disso, o STJ tem afirmado que essa tese do STF no RE 632853 é a regra geral, mas que existe
uma exceção: se houver flagrante ilegalidade, o Poder Judiciário poderia rever questões de
concurso. Veja um precedente no qual o STJ afirmou a existência dessa “exceção”:
(...) II. É firme a compreensão do STJ no sentido de que "o reexame dos critérios
usados por banca examinadora na formulação de questões, correção e atribuição de
notas em provas de concursos públicos é vedado, como regra, ao Poder Judiciário,
que deve se limitar à análise da legalidade e da observância às regras contidas no
respectivo edital" (STJ, AgRg no AREsp 266.582/DF, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 07/03/13). Na mesma linha, recentemente
- em 23/04/15 -, o Plenário do STF, apreciando o Tema 485 da Repercussão Geral,
nos termos do voto do Relator, Ministro GILMAR MENDES, conheceu e deu
provimento ao RE 632.853/CE, para fixar a tese de que "não compete ao Poder
Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar
respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes.
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do
conteúdo das questões do concurso com o previsto no edital do certame" (DJe de
29/06/2015). (...) STJ. 2ª T. AgRg no RMS 46.998/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães,
j. 01/09/15.
Dever da banca de formular questões com enunciados corretos: Como já dito, a própria banca
examinadora reconheceu o erro na formulação da questão. Não se pode fechar os olhos para tal
constatação ao simplório argumento de que o referido erro não influiria na análise do enunciado
pelo candidato. É dever das bancas examinadoras zelarem pela correta formulação das questões,
sob pena de agir em desconformidade com a lei e o edital, comprometendo, sem sombra de
dúvidas, o empenho realizado pelos candidatos durante quase toda uma vida.
Nas exatas e sábias palavras do Min. Og Fernandes: “Quantas pessoas não levam dois, três, quatro,
dez anos ou mais se preparando para concursos públicos, para depois se depararem com questões mal
formuladas e, pior, com desculpas muitas das vezes infundadas, de que tal erro na formulação não influiria
na solução da questão, como vejo acontecer na presente hipótese. Assim, tenho que o caso é de flagrante
ilegalidade a admitir a declaração de nulidade da questão.”
7.10. Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a
entidade que promoveu o concurso (e não contra a instituição contratada) – (Info 600) –
IMPORTANTE!!!
Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste em lei e no edital de concurso
público, é possível que o candidato menor de idade aprovado no concurso tome posse no cargo
de auxiliar de biblioteca no caso em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse,
já havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1º/12/2015 (Info 576).
OBS: No caso em análise, o requisito da idade mínima de 18 anos deve ser flexibilizado pela
natureza das atribuições do cargo de auxiliar de biblioteca, tendo em vista que a atividade desse
cargo é plenamente compatível com a idade de 17 anos e 10 meses do candidato que já havia sido
emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses. Além disso, o art. 5º, § único, do CC, ao
dispor sobre as hipóteses de cessação da incapacidade para os menores de 18 anos - entre elas, a
emancipação voluntária concedida pelos pais (caso em análise) e o exercício de emprego público
efetivo -, permite o acesso do menor de 18 anos ao emprego público efetivo.
7.12. Aprovado fora do número de vagas e desistência dos que estavam na sua frente – (Info
567) – IMPORTANTE!!!
7.14. Exame médico admissional possui caráter eliminatório em concursos públicos federais –
(Info 538)
O candidato a cargo público federal pode ser eliminado em exame médico admissional, ainda
que a lei que discipline a carreira não confira caráter eliminatório ao referido exame. Isso
porque a inspeção de saúde é exigência geral direcionada a todos os cargos públicos federais,
conforme previsto na Lei 8.112/90 (arts. 5º, inciso V e 14).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.414.990-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 3/4/14 (Info 538).
O candidato com surdez unilateral NÃO tem direito a participar do concurso público nas vagas
reservadas aos deficientes. A surdez unilateral não é considerada como deficiência auditiva
segundo o Decreto 3.298/99.
STJ. Corte Especial. MS 18.966-DF, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Humberto
Martins, j. 2/10/2013 (Info 535).
7.18. Governador é parte ilegítima em MS contra ato de concurso estadual no qual o candidato
quer pontuação – (Info 519) – IMPORTANTE!!! – (Cartórios/TJSE-2014)
O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado
de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de
concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva
unidade federativa.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 37924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 9/4/13 (Info 519).
No caso em que lei estadual que regule a carreira de professor estabeleça, como requisito para a
admissão no cargo, apenas a apresentação de diploma em ensino superior, não é possível que o
edital do respectivo concurso exija do candidato diploma de pós-graduação.
STJ. 2ª T. RMS 33.478-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013 (Info 518).
A nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial NÃO gera direito à
indenização.
STJ. 6ª T. AgRg nos EDcl nos EDcl no RMS 30.054-SP, Min. Og Fernandes, j. 19/2/13 (Info 515).
8. SERVIÇOS PÚBLICOS
8.1. É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica se houve
prévio aviso por meio de rádio – (Info 598)
Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público).
Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses
previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95:
a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso prévio);
b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário seja
previamente avisado;
c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado.
Se a concessionária de energia elétrica divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio
do Município, que haverá, daqui a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia
elétrica por algumas horas em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a
exigência da Lei nº 8.987/95?
SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio
de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio,
prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 15/12/16 (Info 598).
A concessão deverá ser extinta? SIM. Segundo o art. 37, XXI, da CF/88 e o art. 2º, II, da Lei
8.987/95, a concessão de serviço público deverá ser precedida de licitação. Logo, se a
concessão for feita sem a observância de tal exigência haverá a nulidade do ato.
É possível que o juiz conceda um prazo durante o qual a permissão continuará válida a fim
de permitir que o Poder Público se organize e faça um novo certame? SIM. Declarada a
nulidade de permissão outorgada sem licitação pública ainda antes da CF/88, é possível ao
magistrado estabelecer, independentemente de eventual direito a indenização do
permissionário, prazo máximo para o termo final do contrato de adesão firmado
precariamente. Esse prazo não pode ser muito alto. Conforme já decidiu o STF em situação
análoga, não há respaldo constitucional que justifique a prorrogação da licitação além do
prazo razoável para a realização dos devidos procedimentos licitatórios. A segurança
jurídica não pode ser confundida com conservação do ilícito (STF. Plenário. ADI 3521, Rel.
Min. Eros Grau, j. 28⁄09⁄06).
Passado o prazo, caso não tenha sido ainda realizada a licitação, a Administração Pública
deverá retomar a prestação do serviço? SIM. Extinto o contrato de concessão por decurso do
prazo de vigência, cabe ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a
realização de nova licitação, a fim de assegurar a plena observância do princípio da
continuidade do serviço público.
Para que a Administração retome a prestação do serviço ela deverá indenizar previamente a
empresa? NÃO. A retomada do serviço pela Administração não depende do prévio
pagamento de eventual indenização, que deverá ser pleiteada pela empresa nas vias
ordinárias (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1139802/SC, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j.
12/04/11). Assim, declarada a nulidade da concessão outorgada sem licitação pública, não se
pode condicionar o termo final do contrato ao pagamento prévio de eventual indenização,
cabendo ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de
nova licitação.
Ainda que fosse pertinente discutir isso na ACP, a empresa tem direito de ser indenizada?
NÃO. O ajuste firmado entre a empresa e o Estado constitui um contrato de permissão de
caráter precário, feito sem licitação, de forma que o permissionário submeteu-se a todos os
riscos inerentes de tal prática feita ao arrepio da lei. Segundo o STJ, para que se pudesse
cogitar de indenização aos permissionários seria indispensável que tivesse sido realizado
prévio procedimento licitatório. Em outras palavras, era indispensável o cumprimento dos
ditames constitucionais e legais, com a realização de prévio procedimento licitatório para que
se pudesse cogitar de indenização à permissionária, o que não ocorreu no presente caso.
10.3. MP pode instaurar inquérito civil para apurar ato de improbidade praticado por
magistrado e solicitar seu depoimento pessoal – (Info 609) – IMPORTANTE!!!
É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato
ímprobo atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na
Corregedoria do Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da
Corregedoria pelo órgão ministerial investigante.
A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil
instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o
disposto no art. 33, IV, da LC nº 35/79 (LOMAN).
STJ. 1ª T. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio
Kukina, j. 7/3/17 (Info 609).
OBS:
Art. 33. São prerrogativas do magistrado: (...)
IV - não estar sujeito a notificação ou a intimação para comparecimento, salvo se
expedida por autoridade judicial;
Primeira pergunta: é possível que o Ministério Público instaure inquérito civil para apurar
suposto ato de improbidade administrativa praticado por um magistrado mesmo que a
Corregedoria do Tribunal já esteja conduzindo investigação sobre os mesmos fatos? SIM. Não há
incompatibilidade porque o Ministério Público instaura o inquérito civil para apurar possível
prática de improbidade e a Corregedoria deflagra o procedimento para investigar e impor
eventual sanção disciplinar. Vale ressaltar, inclusive, que o art. 12 da Lei 8.429/92, ao listar o rol
de sanções aplicáveis ao agente ímprobo, preconiza, de modo expresso, que tais penalidades serão
impostas “independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação
específica”.
OBS:
Noções gerais sobre o reexame necessário: O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau de
jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do CPC/2015 e em algumas leis
esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do
respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária.
Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é tecnicamente
incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício” ou “recurso
obrigatório”.
Exceções ao reexame necessário: O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo a
sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a obrigatoriedade do reexame
necessário:
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito
econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações
de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que
constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver
fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa.
Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular: A Lei 4.717/65 prevê que se o
juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa sentença estará sujeita ao
reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo.
Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário.
Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a
Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o cidadão
perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de
jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não
necessariamente da Fazenda Pública).
É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de improbidade administrativa?
SIM. É o que foi decidido pelo STJ, publicado no Info 607:
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de
improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19
da Lei 4.717/65. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j.
24/5/17 (Info 607).
Vale ressaltar que se a ação de improbidade administrativa for julgada improcedente haverá a
necessidade de remessa oficial independentemente do valor da sucumbência (STJ. 2ª Turma.
AgInt no REsp 1379659/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2017).
A hipótese dos autos diz respeito ao ajuizamento de ação civil pública em face de ex-agente da
Polícia Civil do Distrito Federal que, quando no exercício de sua função, após desentendimento
de trânsito com terceiro, teria sacado arma de fogo e efetuado disparos em via pública. Um dos
disparos efetuados teria atingido uma pessoa alheia ao embate, que se encontrava nas
proximidades, no interior de seu veículo.
A apuração de falta disciplinar realizada no PAD não se confunde com a ação de improbidade
administrativa, esta sabidamente processada perante o Poder Judiciário, a quem cabe a
imposição das sanções previstas nos incisos do art. 12 da Lei n.º 8.429/92.
Há reconhecida independência das instâncias civil, penal e administrativa, que é afastada
quando a esfera penal taxativamente afirmar que não houve o fato, e/ou, acaso existente, houver
demonstrações inequívocas de que o agente não foi o seu causador.
Este fundamento, inclusive, autoriza a conclusão no sentido de que as penalidades aplicadas
em sede de processo administrativo disciplinar e no âmbito da improbidade administrativa,
embora possam incidir na restrição de um mesmo direito, são distintas entre si, tendo em vista
que se assentam em distintos planos.
Isso porque, dentre outros fatores de diferenciação, nos termos do art. 12 da Lei 8.429/92, a
sanção referente à perda da função pública é aplicável (desde que presentes os requisitos da
proporcionalidade e da razoabilidade) a todos os atos de improbidade administrativa, sejam
eles causadores de lesão ao Erário, ensejadores de enriquecimento ilícito e/ou violadores dos
princípios da Administração Pública.
Por outro lado, nem todas as faltas funcionais previstas na lei de servidores públicos ensejam a
aplicação da demissão, sendo que, dada as consequência de tal penalidade, somente aquelas
consideradas mais nocivas ao deveres funcionais do agente público no exercício da função
pública são hábeis a fundamentar a imposição de tal penalidade.
Portanto, exsurge o interesse recursal da parte ora recorrente em postular perante o Tribunal a
quo a reforma da sentença prolatada em 1º grau, a fim de que, observadas as cláusulas gerais da
proporcionalidade e da razoabilidade, possa ser analisado o mérito das alegações contidas no
recurso de apelação referentes ao pedido ministerial de aplicação da penalidade de perda da
função pública.
STJ. 2ª T. REsp 1364075/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 24/11/2015.
10.6. Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato – (Info
584) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019) (MPPR-2019)
Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o
ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.
STJ. 1ª T. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, j. 17/5/16 (Info 584).
(TJBA-2019-CESPE): De acordo com a legislação pertinente e a jurisprudência dos tribunais
superiores, na hipótese de o prefeito de determinado município desviar dolosamente recursos
públicos obtidos pelo ente municipal mediante convênio com a União, ainda que o tribunal de
contas local condene o prefeito ao ressarcimento ao erário, o Poder Judiciário também poderá
condená-lo em ressarcimento ao erário em ação civil pública por improbidade administrativa.
BL: Info 584, STJ.
(MPPR-2019): A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que não configura bis in idem a
coexistência de acórdão condenatório do Tribunal de Contas ao ressarcimento do erário com
sentença condenatória proferida em ação civil pública por improbidade administrativa. BL:
Info 584, STJ.
OBS:
Atenção: As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual o fato de o
TCU já ter punido o administrador com o ressarcimento ao erário não proíbe que seja proposta
ação de improbidade administrativa relacionada com o mesmo fato e que o administrador seja
novamente condenado pelo Poder Judiciário a ressarcir ao erário.
Mas o administrador pagará duas vezes o ressarcimento? Neste caso, haverá um enriquecimento
sem causa do Poder Público, que receberá duas vezes o ressarcimento... NÃO. O STJ afirmou que
no momento do segundo pagamento, deverá ser feito o abatimento do valor que foi pago na
primeira execução que foi movida. O que não se permite é a constrição patrimonial além do
efetivo prejuízo apurado. Assim, é possível a formação de dois títulos executivos, devendo ser
observada a devida dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento
da execução do título remanescente.
10.7. Inaplicabilidade das sanções por ato de improbidade administrativa abaixo do mínimo
legal – (Info 581)
No caso de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública, as penalidades de suspensão dos direitos políticos e de
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios não podem ser fixadas abaixo de 3 anos, considerando que este é o mínimo previsto
no art. 12, III, da Lei 8.429/92. Não existe autorização na lei para estipular sanções abaixo desse
patamar.
STJ. 2ª T. REsp 1.582.014-CE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/4/16 (Info 581).
Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade
administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se,
contudo, a possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário.
STJ. 1ª T. REsp 1.412.214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Benedito Gonçalves, j. 8/3/16 (Info 580).
OBS:
Improbidade administrativa: É um ato praticado por agente público, ou por particular em
conjunto com agente público, e que gera enriquecimento ilícito, causa prejuízo ao erário ou atenta
contra os princípios da Administração Pública.
Imagine a seguinte situação: João, sócio de uma empresa que comercializa materiais médicos, foi
convidado para ser Secretário de Saúde. Ele soube que a Secretaria pretendia fazer uma licitação
para a compra de diversos equipamentos médicos. Assumindo a Secretaria, a empresa de João não
poderia participar da licitação, considerando que existe vedação expressa na Lei nº 8.666/93:
Art. 9º Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução
de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: (...)
III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela
licitação.
Diante disso, a fim de poder participar do certame, João, antes de tomar posse como Secretário, fez
uma alteração contratual e saiu do quadro societário, dando lugar ao seu amigo, Pedro Laranja.
Na prática, contudo, João é quem continuava sendo o dono da empresa. João assumiu a Secretaria
e deflagrou o procedimento licitatório. A empresa participou e venceu a licitação, fornecendo os
materiais e recebendo o pagamento por isso.
Ocorre que o MP descobriu o esquema e ingressou com ação de improbidade contra João, Pedro e
a empresa, alegando que incidiram no caput do art. 9º da Lei nº 8.429/92:
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades
mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
Defesa: João alegou que não houve prejuízo ao erário, considerando que os preços apresentados
estavam dentro da média do mercado. Para tanto, apresentou laudo pericial comprovando isso. A
defesa argumentou que, não tendo havido prejuízo, não pode haver a condenação por
improbidade administrativa com base no art. 9º da Lei 8429/92.
A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? O simples fato de não ter havido prejuízo ao erário é
motivo suficiente para afastar a configuração do ato de improbidade previsto no art. 9º da Lei
8.429/92? NÃO. Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de
improbidade administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei 8.429/92). Para a
configuração do art. 9º da LIA não se exige prejuízo ao erário, bastando que tenha havido
enriquecimento ilícito do agente público. Nesse sentido, veja o que diz o art. 21 da Lei 8.429/92:
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de
ressarcimento;
A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman Benjamin, j. 26/8/2015 (Info 577).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Dois policiais prenderam um homem em flagrante e
passaram a torturá-lo para que confessasse o crime. O MP ajuizou ação de improbidade contra os
policiais. A defesa alegou que não ficou caracterizado ato de improbidade, uma vez que este
pressupõe, obrigatoriamente, uma lesão direta à própria Administração e não a terceiros, haja
vista que o bem jurídico que se deseja proteger é a probidade na Administração Pública. No caso
concreto, não teria havido lesão à Administração, mas apenas ao particular (preso). Ainda
segundo a tese invocada, a improbidade administrativa caracteriza-se como um ato imoral com
feição de corrupção de natureza econômica, conduta inexistente no tipo penal de tortura, cujo bem
jurídico protegido é completamente diverso da Lei de Improbidade.
O caso chegou até o STJ. Houve prática de ato de improbidade administrativa? SIM.
Tortura: improbidade administrativa: Para o STJ, é injustificável que a tortura praticada por
servidor público, um dos atos mais gravosos à dignidade da pessoa humana e aos direitos
humanos, seja punido apenas no âmbito disciplinar, civil e penal, afastando-se a aplicação da Lei
da Improbidade Administrativa. Eventual punição administrativa do servidor não impede a
aplicação das penas da Lei de Improbidade, porque os objetivos de ambas as esferas são diversos
e as penalidades previstas na Lei 8429/92 mais amplas.
Universo das vítimas protegidas pela Lei 8.429/92: A Lei 8429/92 não prevê expressamente quais
seriam as vítimas mediatas ou imediatas da atividade ímproba para fins de configuração do ato
ilícito. Essa ausência de menção explícita certamente decorre do fato de que o ato de improbidade,
muitas vezes, é um fenômeno pluriofensivo, ou seja, atinge, de maneira concomitante, diferentes
bens jurídicos e diversas pessoas. Para saber se a conduta pode ser caracterizada como ato de
improbidade, é primordial verificar se, dentre os bens jurídicos atingidos pela postura do agente
público, algum deles está relacionado com o interesse público. Se houver, pode-se concluir que a
própria Administração Pública estará igualmente vulnerada e, dessa forma, ficará caracterizado o
ato de improbidade para os fins do art. 1º da Lei 8429/92.
Dever convencional, constitucional e legal de o Estado reprimir tais condutas: No caso concreto, a
conduta dos policiais afrontou não só a Constituição da República (arts. 1º, III, e 4º, II) e a
legislação infraconstitucional, mas também tratados e convenções internacionais, a exemplo da
Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto nº 678/92). Em tais situações, se o Brasil
não toma as devidas medidas para punir os infratores, pode, inclusive, ser responsabilizado nas
ordens interna e externa. A tortura perpetrada por policiais contra presos mantidos sob a sua
custódia tem reflexo jurídico imediato, que é o de gerar obrigação indenizatória ao Estado, nos
termos do art. 37, § 6º, da CF/88. Há aí, como consequência, interesse direto da Administração
Pública.
Tortura praticada por policiais atenta contra toda a coletividade: Nos termos do art. 144 da
CF/88, as forças de segurança são destinadas à preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas. Assim, o agente público incumbido da missão de garantir o respeito à ordem pública,
como é o caso do policial, ao descumprir com suas obrigações legais e constitucionais de forma
frontal, mais que atentar apenas contra um indivíduo, atinge toda a coletividade e a corporação a
que pertence de forma imediata.
Situação se enquadra no art. 11 da Lei 8429/92: O legislador, ao prever, no art. 11 da Lei 8429/92,
que constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de lealdade às instituições, findou por
tornar de interesse público, e da própria Administração, a proteção da legitimidade social, da
imagem e das atribuições dos entes/entidades estatais. Daí resulta que atividade que atente
gravemente contra esses bens imateriais tem a potencialidade de ser considerada improbidade
administrativa. Na hipótese dos autos, o ato ímprobo se caracteriza também pelo fato de que as
vítimas foram torturadas, em instalações públicas, ou melhor, na Delegacia de Polícia.
Em síntese: A situação de tortura praticada por policiais, além das repercussões nas esferas penal,
civil e disciplinar, configura também ato de improbidade administrativa, porque, além de atingir a
pessoa-vítima, alcança simultaneamente interesses caros à Administração em geral, às instituições
de segurança pública em especial, e ao próprio Estado Democrático de Direito.
OBS: Com esse julgado acima, resta superado o entendimento esposado no REsp 1.558.038-PE,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2015 (Info 573).
10.10. Aplicação de multa eleitoral e sanção por ato de improbidade administrativa – (Info 576)
10.11. Recurso cabível contra a decisão do juiz que rejeita a inicial contra apenas alguns réus –
(Info 574)
10.13. Estagiário de serviço público está sujeito à Lei de Improbidade – (Info 568) –
IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2016)
O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está
sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. Isso porque o conceito de
agente público para fins de improbidade abrange não apenas os servidores públicos, mas todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função na Administração Pública.
Além disso, é possível aplicar a lei de improbidade mesmo para quem não é agente público,
mas induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer
forma, direta ou indireta. É o caso do chamado "terceiro", definido pelo art. 3º da Lei nº
8.429/92.
STJ. 2ª T. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 18/8/15 (Info 568).
(TJDFT-2016-CESPE): O estagiário de órgão público, independentemente do recebimento de
remuneração, está sujeito à responsabilização por ato de improbidade administrativa. BL: Info
568 do STJ.
O membro do Ministério Público pode ser processado e condenado por ato de improbidade
administrativa?
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República)
pode ser processado e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na
Lei 8.429/92.
Mesmo gozando de vitaliciedade e a Lei prevendo uma série de condições para a perda do
cargo, o membro do MP, se for réu em uma ação de improbidade administrativa, poderá ser
condenado à perda da função pública? O membro do MP pode ser réu em uma ação de
improbidade de que trata a Lei 8.429/92 e, ao final, ser condenado à perda do cargo mesmo sem
ser adotado o procedimento da Lei 8.625/93 e da LC 75/93?
SIM. O STJ decidiu que é possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade
administrativa, a condenação de membro do Ministério Público à pena de perda da função
pública prevista no art. 12 da Lei 8.429/92.
A Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) e a LC 75/93 preveem uma série de regras para
que possa ser ajuizada ação civil pública de perda do cargo contra o membro do MP. Tais
disposições impedem que o membro do MP perca o cargo em ação de improbidade?
NÃO. Segundo o STJ, o fato de essas leis preverem a garantia da vitaliciedade aos membros do
MP e a necessidade de ação judicial para a aplicação da pena de demissão não significa que elas
proíbam que o membro do MP possa perder o cargo em razão de sentença proferida na ação
civil pública por ato de improbidade administrativa.
Essas leis tratam dos casos em que houve um procedimento administrativo no âmbito do MP
para apuração de fatos imputados contra o Promotor/Procurador e, sendo verificada qualquer
das situações previstas nos incisos do § 1º do art. 38, deverá obter-se autorização do Conselho
Superior para o ajuizamento de ação civil específica.
Desse modo, tais leis não cuidam de improbidade administrativa e, portanto, nada interferem
nas disposições da Lei 8.429/92.
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei 8.625/93, mas estas não
excluem (não impedem) que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei
8.429/92. Os dois sistemas convivem harmonicamente. Um não exclui o outro.
Não há falar em formação de litisconsórcio passivo necessário entre eventuais réus e as pessoas
participantes ou beneficiárias das supostas fraudes e irregularidades nas ações civis públicas
movidas para o fim de apurar e punir atos de improbidade administrativa, pois não há, na Lei
de Improbidade, previsão legal de formação de
litisconsórcio entre o suposto autor do ato de improbidade e eventuais beneficiários, tampouco
havendo relação jurídica entre as partes a obrigar o magistrado a decidir de modo uniforme a
demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 896.044/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16/09/10.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1421144/PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 26/5/15.
OBS: “Nas ações de improbidade administrativa, não há litisconsórcio passivo necessário entre o agente
público e os terceiros beneficiados com o ato ímprobo.” (Jurisprudência em Teses: tese n.9/ STJ)
10.16. Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito
que não prestou contas de convênio federal – (Info 559) – IMPORTANTE!!!
10.17. REVISÃO DAS SANÇÕES IMPOSTAS EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL – (Info 549)
10.19. Desnecessária prova de que o réu esteja dilapidando seu patrimônio – (Info 547) –
IMPORTANTE!!! - (TJDFT-2014) (MPAC-2014) (MPF-2015) (PGM-Salvador/BA-2015) (MPSC-2016)
(TJPR-2017) (TJCE-2018) (TJMG-2018) (MPMG-2018) (MPPR-2019) (MPCE-2020)
Pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se desfazendo
de seus bens.
É desnecessária a prova de que os réus estejam dilapidando efetivamente seus patrimônios ou
de que eles estariam na iminência de fazê-lo (prova de periculum in mora concreto).
O requisito do periculum in mora está implícito no referido art. 7º, parágrafo único, da Lei
8.429/92, que visa assegurar “o integral ressarcimento” de eventual prejuízo ao erário, o que,
inclusive, atende à determinação contida no art. 37, § 4º, da CF/88.
Como a indisponibilidade dos bens visa evitar que ocorra a dilapidação patrimonial, o STJ
entende que não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou
dissipação, na medida em que exigir a comprovação de que esse fato estaria ocorrendo ou
prestes a ocorrer tornaria difícil a efetivação da medida cautelar em análise.
Além do mais, o disposto no referido art. 7º em nenhum momento exige o requisito da
urgência, reclamando apenas a demonstração, numa cognição sumária, de que o ato de
improbidade causou lesão ao patrimônio público ou ensejou enriquecimento ilícito.
Vale ressaltar, no entanto, que a decretação da indisponibilidade de bens, apesar da
excepcionalidade legal expressa da desnecessidade da demonstração do risco de dilapidação do
patrimônio, não é uma medida de adoção automática, devendo ser adequadamente
fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da Constituição Federal),
sobretudo por se tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES).
STJ. 1ª S. REsp 1366721-BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og
Fernandes, j. 26/2/14 (recurso repetitivo) (Info 547).
(MPPR-2019): O STJ firmou jurisprudência segundo a qual o juízo pode decretar,
fundamentadamente, a indisponibilidade de bens do demandado, quando presentes indícios de
responsabilidade pela prática de ato ímprobo que cause lesão ao patrimônio público ou importe
enriquecimento ilícito, prescindindo da comprovação de dilapidação de patrimônio, ou sua
iminência, restando dispensada, assim, a demonstração de periculum in mora. BL: Info 547,
STJ.
(MPMG-2018): A indisponibilidade de bens do agente a quem se imputa a prática de ato de
improbidade administrativa revelou-se medida extremamente útil à efetividade da pretensão
de ressarcimento ao erário dos prejuízos causados pela malversação da coisa pública. A
respeito dela, é CORRETO afirmar: tem natureza de tutela cautelar de evidência, sendo
desnecessário, para sua decretação, demonstrar o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. BL: Info 547 do STJ.
(TJPR-2017-CESPE): Tratando-se de tutela provisória que determina a indisponibilidade de
bens do réu em ACP por ato de improbidade administrativa, dispensa-se a comprovação de
periculum in mora. BL: Info 547 do STJ.
(MPF-2015): O MP ajuizou ACP de Improbidade Administrativa contra o Prefeito Municipal de
Maracutaia e seu Secretário da Educação por desvio de verbas federais, destinadas ao custeio
de merenda e transporte escolar. Com base no art. 7º da LIA, foi postulada a indisponibilidade
dos bens dos réus. Em hipóteses como a presente, entende o STJ que: A indisponibilidade dos
bens e cabível quando o julgador entender presentes fortes indícios de responsabilidade na
pratica de ato de improbidade que cause dano ao erário, estando o periculum in mora implícito
no referido dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37, § 4°, da Constituição
Federal. BL: Info 547, STJ.
(MPF-2015): O MP ajuizou ACP de Improbidade Administrativa contra o Prefeito Municipal de
Maracutaia e seu Secretário da Educação por desvio de verbas federais, destinadas ao custeio
de merenda e transporte escolar. Com base no art. 7º da LIA, foi postulada a indisponibilidade
dos bens dos réus. Em hipóteses como a presente, entende o STJ que: A decretação de
indisponibilidade dos bens não está condicionada a comprovação de dilapidação efetiva ou
iminente de patrimônio, porquanto visa, justamente, a evitar a dilapidação patrimonial. BL:
Info 547, STJ.
De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16, porque muitas vezes é cobrada
nas provas a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como correto.
OBS2: Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu? SIM. É admissível a
concessão de liminar inaudita altera parte para a decretação de indisponibilidade e sequestro de
bens, visando assegurar o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao
Erário. O STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens
em ação de improbidade administrativa pode ser deferida nos autos da ação principal sem
audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação para defesa prévia (art. 17, § 7º da
LIA).
OBS3: Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado
ato de improbidade exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora? NÃO.
Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é
desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam
dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de
fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. A
medida cautelar de indisponibilidade de bens prevista na LIA consiste em uma tutela de
evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois pela própria
natureza do bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.
10.20. Dispensabilidade de prova do dano no caso do art. 11 da Lei de Improbidade – (Info 547)
– (TJBA-2012) (TJDFT-2014) (MPF-2017)
Para a configuração dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios
da administração pública (art. 11, Lei 8.429/92), é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo
prejuízo aos cofres públicos.
STJ. 1ª T. REsp 1.192.758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão
Min. Sérgio Kukina, j. 4/9/2014 (Info 547).
OBS1: Requisitos: Para a configuração dos atos de improbidade tipificados no art. 11 da Lei n.
8.429/92, exige-se que a conduta seja praticada por agente público (ou a ele equiparado), atuando
no exercício de seu munus público, havendo, ainda, a necessidade do preenchimento dos seguintes
requisitos: a) conduta ilícita; b) improbidade do ato, configurada pela tipicidade do
comportamento, ajustado em algum dos incisos do 11 da LIA; c) elemento volitivo,
consubstanciado no DOLO de cometer a ilicitude e causar prejuízo ao Erário; d) ofensa aos
princípios da Administração Pública. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1306817/AC,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 06/05/2014 (não divulgado em Info).
OBS1: Após o oferecimento da defesa prévia, o magistrado poderá se deparar com três
situações:
1) Existem provas ou indícios do ato de improbidade: o juiz deverá receber a ação.
2) Não existem provas ou indícios do ato de improbidade: o juiz mesmo assim deverá
receber a ação exatamente para se oportunizar a ampla produção de provas, necessárias
ao pleno e efetivo convencimento do julgador (REsp 1.192.758-MG).
3) Existem provas cabais e irretorquíveis de que não houve ato ímprobo: só nessa hipótese a
ação deverá ser rejeitada de plano.
OBS2: Recurso contra a decisão do juiz que recebe a petição inicial: Agravo de instrumento (§ 10
do art. 17 da LIA).
OBS3: Recurso contra a decisão do juiz que rejeita a petição inicial: Apelação.
Esse art. 19 instituiu uma remessa necessária específica para a ação popular.
Sentença de carência da ação ou sentença de improcedência: existe reexame necessário.
Assim, mesmo que ninguém recorra, o juiz deverá remeter o processo para ser
reanalisado pelo Tribunal.
Sentença e procedência: não há reexame necessário.
O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação civil pública? SIM.
Por aplicação analógica, as sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se
indistintamente ao reexame necessário (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 17/03/2011).
O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação de improbidade
administrativa? NÃO. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de
improbidade administrativa NÃO está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de
Ação Popular. A ação de improbidade administrativa segue um rito próprio e tem objeto
específico, disciplinado na Lei 8.429/92 não cabendo, neste caso, analogia, paralelismo ou outra
forma de interpretação, para importar instituto criado em lei diversa.
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública cujo pedido seja a
condenação por improbidade administrativa de agente público que tenha cobrado taxa por
valor superior ao custo do serviço prestado, ainda que a causa de pedir envolva questões
tributárias.
STJ. 1ª T. REsp 1.387.960-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 22/5/14 (Info 543).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública de
improbidade administrativa contra João, ex-prefeito, em virtude de ele ter cobrado taxa em valor
superior ao custo do serviço prestado. Com isso, segundo o MP, o agente público violou o
princípio da legalidade, merecendo ser condenado pela prática de improbidade administrativa
prevista no art. 11 da Lei 8.429/92.
Tese da defesa: A defesa do agente público alegou que o MP não tinha legitimidade para ajuizar
ACP tratando sobre o tema em virtude da vedação contida no parágrafo único do art. 1º da Lei
7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados.
A tese foi aceita pelo STJ? NÃO. O STJ decidiu que o MP tem legitimidade para ajuizar ação civil
pública cujo pedido seja a condenação por improbidade administrativa de agente público que
tenha cobrado taxa por valor superior ao custo do serviço prestado, ainda que a causa de pedir
envolva questões tributárias. Realmente, de acordo com o parágrafo único do art. 1º da Lei
7.347/1985, não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos.
Essa restrição, contudo, está relacionada ao pedido, o qual tem aptidão para formar coisa julgada,
e não à causa de pedir. Em outras palavras, não seria cabível uma ACP cujo pedido envolvesse
tributos. No presente caso, entretanto, a análise da questão tributária é apenas a causa de pedir,
estando, portanto, fora do alcance da vedação prevista no referido dispositivo.
A contratação, por agente político, de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da
Súmula Vinculante 13 do STF configura ato de improbidade administrativa?
NÃO. Posição da 1ª Turma do STJ.
SIM. Entendimento da 2ª Turma do STJ.
STJ. 1ª T. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 24/4/14 (Info 540).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.386.255/PB, Rel. Min. Humberto Martins, j. 24/04/14 (não divulgado
em Info).
10.27. A indisponibilidade de bens na ação de improbidade não pode recair sobre os bens
impenhoráveis – (Info 539)
10.28. Se o médico não atuou, no caso concreto, como agente público, não há ato de improbidade
– (Info 537) – IMPORTTANTE!!!
Não comete ato de improbidade administrativa o médico que cobra honorários por
procedimento realizado em hospital privado que também seja conveniado à rede pública de
saúde, desde que o atendimento não seja custeado pelo próprio sistema público de saúde.
Em outras palavras, médico de hospital conveniado com o SUS que cobra do paciente por uma
cirurgia que já foi paga pelo plano de saúde não pratica improbidade administrativa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.414.669-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20/2/14 (Info 537).
10.29. IMPOSSIBILIDADE DE AÇÃO APENAS CONTRA O TERCEIRO – (Info 535) –
IMPORTANTE!!! (TJMS-2015) (TJPB-2015) (MPSC-2016/2019)
É possível imaginar que exista ato de improbidade com a atuação apenas do “terceiro” (sem a
participação de um agente público)? É possível que, em uma ação de improbidade
administrativa, o terceiro figure sozinho como réu?
NÃO. Para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92 é indispensável
que seja identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade.
Assim, não é possível a propositura de ação de improbidade exclusivamente contra o particular,
sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.171.017-PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 25/2/14 (Info 535).
(MPSC-2016): É inviável a propositura de ação civil de improbidade administrativa
exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo
passivo da demanda. BL: art. 3º da LIA e Info 535 do STJ.
Para o STJ, a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias
ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito
penal e nos crimes de responsabilidade.
STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12.514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 16/9/2013 (Info 527).
(MPF-2015): Em relação à competência e entendimento atual do STJ: A ação de improbidade
administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta
contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de
responsabilidade. BL: Info 527, STJ.
(MPMG-2014): De acordo com a jurisprudência pacificada no âmbito do STJ, a ação de
improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que
proposta contra deputado federal. BL: Info 527, STJ.
OBS:
Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos
a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização
civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-
administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de
função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não
é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240
AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/18
(Info 901).
10.33. PREFEITO QUE INTERCEDE JUNTO AO DELEGADO PARA QUE ESTE LIBERE
TEMPORARIAMENTE UM PRESO PARA COMPARECER AO ENTERRO DE SUA AVÓ
O assédio moral, mais do que provocações no local de trabalho — sarcasmo, crítica, zombaria e
trote —, é campanha de terror psicológico pela rejeição.
A prática de assédio moral enquadra-se na conduta prevista no art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92,
em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e malferimento à impessoalidade,
ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém.
STJ. 2ª Turma. REsp 1286466/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03/09/2013.
A petição inicial na ação por ato de improbidade administrativa, além dos requisitos do art. 282
do CPC, deve ser instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes
da existência do ato de improbidade. Assim, diz-se que a ação de improbidade administrativa,
além das condições genéricas da ação, exige ainda a presença da justa causa
STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 4/10/2012.
O ato do Conselho de Contabilidade que requisita dos contadores e dos técnicos os livros e
fichas contábeis de seus clientes, a fim de promover a fiscalização da atividade contábil dos
profissionais nele inscritos, não importa em ofensa aos princípios da privacidade e do sigilo
profissional.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 19/9/17 (Info 612).
11.3. Técnico de futebol não precisa ser inscrito no Conselho Regional de Educação Física –
(Info 607)
11.4. Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades – (Info 603)
Segundo o art. 8º da Lei 12.514/11, para que os Conselhos Profissionais ajuízem execução fiscal
cobrando anuidades em atraso, é necessário que o total da quantia executada seja de, no
mínimo, quatro vezes o valor da anuidade.
Mesmo sem poder executar a dívida, o Conselho Profissional poderá adotar uma outra sanção
contra o inadimplente: poderá suspender ou cancelar seu registro profissional.
Assim, o fato de os conselhos não poderem executar dívidas inferiores a quatro vezes o valor
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não impede que seja feita a
suspensão ou o cancelamento do registro do profissional que deixar de efetuar o pagamento das
anuidades. Isso está previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei 12.514/11.
No caso específico dos Engenheiros e Arquitetos, o cancelamento do registro somente pode
acontecer desde que o atraso seja de, no mínimo, duas anuidades consecutivas (art. 64 da Lei
5.194/66).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.659.989-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/4/17 (Info 603)
11.5. Lojas que vendam animais vivos e medicamentos veterinários não precisam se inscrever
no Conselho Regional de Medicina Veterinária – (Info 602)
Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária,
nem à contratação de profissionais nele inscritos como responsáveis técnicos, as pessoas
jurídicas que explorem as atividades de comercialização de animais vivos e a venda de
medicamentos veterinários, pois não são atividades reservadas à atuação privativa do médico
veterinário.
STJ. 1ª S. REsp 1.338.942-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 26/4/17 (recurso repetitivo) (Info 602).
Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional
noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral – Tema
163) (Info 919).
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois
inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª T. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/4/19 (Info 937).
STF. 2ª T. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 27/03/2019 (Info 646).
OBS:
É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?
REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.
EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando
houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;
No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado
pela Lei nº 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação
remunerada de cargos públicos. (...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da
compatibilidade de horários.
Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A
jurisprudência acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos
públicos mesmo que a soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais? SIM. É possível a
acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. É o que foi decidido no
Infos 632 e 646 do STJ.
12.3. PENSÃO POR MORTE: Não há que se falar em prescrição de fundo de direito nas ações
em que se busca a concessão do benefício de pensão por morte – (Info 644) – IMPORTANTE!!!
Não ocorre a prescrição do fundo de direito no pedido de concessão de pensão por morte,
estando prescritas apenas as prestações vencidas no quinquênio que precedeu à propositura da
ação.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1269726-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13/3/19 (Info 644).
OBS:
Indeferimento administrativo e ação judicial: Algumas vezes, o dependente do servidor público
formula o requerimento administrativo de pensão por morte, mas a Administração Pública nega o
benefício afirmando que não estão presentes os requisitos legais. Neste caso, a pessoa prejudicada
poderá ajuizar uma ação questionando esse indeferimento e pedindo a concessão judicial do
benefício.
Existe algum prazo para o ajuizamento dessa ação? SIM. Esta pretensão está sujeita ao prazo
prescricional de 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, servidor público do Estado de Minas Gerais,
faleceu em abril/2010, deixando apenas uma companheira (Maria), com quem vivia em união
estável. Em abril/2016, Maria foi até a Administração Pública e requereu a pensão por morte,
tendo, contudo, o pedido sido negado, em maio/2016, sob o argumento de que os requisitos legais
não estavam preenchidos. Em junho/2016, Maria ajuizou ação contra o Estado pedindo a
concessão da pensão. O juiz, contudo, extinguiu o processo sob a alegação de que a pretensão
estaria prescrita, considerando que já se passaram mais de 5 anos desde a data do óbito. Logo,
para o magistrado, Maria perdeu o direito à pensão por morte. Houve a prescrição do próprio
fundo de direito. Maria recorreu contra a decisão alegando que não existe prescrição do fundo de
direito neste caso, havendo apenas prescrição das parcelas atrasadas que venceram há mais de 5
anos, contados do ajuizamento da ação.
Prescrição do “fundo de direito” x prescrição “de trato sucessivo”: Existe uma classificação da
prescrição que a divide em:
Prescrição do fundo de direito Prescrição progressiva
(prescrição nuclear) (Prescrição de obrigações de trato sucessivo)
Ocorre quando o direito subjetivo é violado Ocorre quando a obrigação do devedor é de
por um ato único, começando, aí, a correr o trato sucessivo, ou seja, contínua. Em outras
prazo prescricional que a pessoa lesada tem palavras, o devedor, periodicamente, deve
para exigir do devedor a prestação. fornecer aquela prestação ao credor. Toda vez
Esgotado esse prazo, extingue-se a que não o faz, ele viola o direito do credor e
pretensão e o credor não mais poderá exigir este tem a pretensão de exigir o cumprimento.
nada do devedor. Em palavras mais simples, é aquela que atinge
Em palavras mais simples, é aquela que apenas as parcelas (e não o direito como um
atinge a exigibilidade do direito como um todo).
todo. Ex: o devedor combinou de pagar uma
Ex: o devedor combinou de pagar a dívida indenização ao credor até o fim de sua vida.
em uma só vez, em fev/2008. Se ele não Essa verba é paga em prestações (fev/2008,
pagou, iniciou-se o prazo prescricional, que fev/2010, fev/2012 etc.). Imagine que ele não
terminou em fevereiro/2013. tenha pagado nenhuma. A prescrição quanto a
fev/2008 e fev/2010 já ocorreu. Persistem, no
entanto, as prestações de fev/2012 e as
seguintes.
Voltando ao nosso caso concreto: a decisão do juiz está correta? NÃO. Não há prescrição do
fundo de direito neste caso. É o que foi decidido no Info 644 do STJ.
Benefícios previdenciários são de trato sucessivo e, por isso, não há prescrição do fundo de
direito: Os benefícios previdenciários envolvem relações de trato sucessivo e atendem
necessidades de caráter alimentar, razão pela qual não se admite a tese de prescrição do fundo
de direito. O benefício previdenciário possui natureza de direito indisponível, razão pela qual o
benefício previdenciário em si não prescreve, somente as prestações não reclamadas no prazo
de 5 anos é que prescreverão, uma a uma, em razão da inércia do beneficiário. Desse modo, se a
parte demorou mais de 5 anos para ingressar com a ação judicial pleiteando a pensão por morte,
ela não perdeu a possibilidade de obter o benefício. O que ela perdeu foi apenas as parcelas que
venceram há mais de 5 anos contados da propositura da ação.
Explicando melhor: Maria ajuizou a ação em junho/2016. Isso significa que, se o juiz acolher o
pedido e entender que realmente ela tinha direito à pensão por morte, ela receberá as prestações
atrasadas (retroativas) relacionados com os últimos 5 anos, contadas do ajuizamento da ação.
Isso significa que Maria terá direito de receber as parcelas da pensão por morte referentes ao
período de junho de 2011 para frente. Pelo fato de ter demorado mais de 5 anos, Maria perdeu o
direito de receber as parcelas de abril de 2010 (mês do óbito) até maio de 2011. Estas parcelas estão
prescritas. As demais, não.
O STF, analisando o regime geral de previdência social, chegou ao seguinte entendimento que
pode ser perfeitamente aplicável também ao regime próprio:
O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez
implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso
do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial
do benefício previdenciário. STF. Plenário. RE 626489, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 16/10/2013 (repercussão geral) (Info 724).
Súmula 85-STJ: Nas causas em que se pretende a concessão de benefício de caráter previdenciário,
inexistindo negativa expressa e formal da Administração, não há falar em prescrição do fundo de
direito, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932, porquanto a obrigação é de trato
sucessivo, motivo pelo qual incide, no caso, o disposto na Súmula 85 do STJ:
Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública
figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a
prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à
propositura da ação.
Não se pode admitir que o decurso do tempo legitime a violação de um direito fundamental. O
reconhecimento da prescrição de fundo de direito à concessão de um benefício de caráter
previdenciário excluirá seu beneficiário da proteção social, retirando-lhe o direito fundamental
à previdência social, ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana e da garantia
constitucional do mínimo existencial.
Quando o indivíduo preenche os requisitos legais, ele se torna titular do benefício previdenciário
e esse direito não se extingue pelo não exercício no prazo prescricional: O STJ possui o
entendimento de que, cumpridas as formalidades legais, o direito ao benefício previdenciário
incorpora-se ao patrimônio jurídico do beneficiário, não sendo extinto pelo fato de ele não
exercer a sua pretensão no prazo de 5 anos. Assim, a prescrição de 5 anos não envolve a
prescrição do fundo de direito, mas apenas das prestações pretéritas que não foram pagas.
RGPS: O caso julgado do EREsp 1269726/MG envolvia o regime próprio de previdência social,
mas pode ser aplicado também para o RGPS. Nesse sentido: STJ. 1ª T. AgInt no AgInt no REsp
1489291/ES, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/04/2019.
Cuidado para não confundir com a ação de revisão do benefício concedido: Se a Administração
Pública defere o benefício previdenciário (RPPS), mas o beneficiário não concorda com aquilo
que foi concedido, ele tem 5 anos para ajuizar uma ação de revisão. Se não o fizer neste prazo,
haverá prescrição do fundo de direito:
Ocorre a prescrição do próprio fundo de direito na busca da revisão do ato de
aposentadoria, após o transcurso de mais de cinco anos entre o ato de concessão e
o ajuizamento da ação. A aposentadoria do servidor público é concedida por um
único ato e, a partir dessa concessão, inicia-se a pretensão do aposentado de exigir
sua revisão. Superado esse prazo de cinco anos, extingue-se não apenas a pretensão
de receber as parcelas em atraso, mas também o próprio fundo de direito. STJ. 2ª T.
REsp 1730407/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 13/12/2018.
Nos casos em que o servidor busca a revisão do ato de aposentadoria, ocorre a
prescrição do próprio fundo de direito após o transcurso de mais de cinco anos
entre o ato de concessão e o ajuizamento da ação. Inteligência do art. 1º do Decreto
20.910/32. A existência de norma específica que regula a prescrição quinquenal, nos
feitos que envolvem as relações de cunho administrativo - tais como aquelas que
envolvem a Administração Pública e os seus servidores -, afasta a adoção do prazo
decenal previsto no art. 103, caput, da Lei 8.213/91, que dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social. STJ. 1ª Seção. Pet 9.156/RJ, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, julgado em 28/05/2014.
12.4. Ainda que a hora-aula do professor não seja de 60 minutos, mas sim de 50 ou 45 minutos,
esses 10 ou 15 minutos que sobram como intervalo são considerados como atividades de interação
com os educandos (e não como atividades extraclasse) – (Info 644)
O art. 4º da Lei 11.738/08 (lei que regulamenta o piso salarial nacional do Magistério) estabelece
que os professores deverão cumprir sua jornada de trabalho da seguinte forma:
• 2/3 da carga horária é para atividades de sala de aula; e
• 1/3 da carga horária pode ser utilizado para atividades extraclasse (ex: preparação das aulas,
reuniões pedagógicas, reuniões com os pais etc.).
Em alguns Estados, a hora-aula do professor não é de 60 minutos, mas sim de 50 minutos (se
diurna) ou 45 minutos (se noturna). Esses 10 ou 15 minutos que sobram como intervalo são
considerados como atividades de interação com os educandos, ou seja, atividade de aula (e não
como atividades extraclasse).
Assim, o cômputo dos 10 ou 15 minutos que faltam para que a “hora-aula” complete
efetivamente uma “hora de relógio” não pode ser considerado como tempo de atividade
extraclasse dos profissionais do magistério.
STJ. 2ª T. REsp 1569560-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Ac. Min. Og Fernandes, j. 21/6/18
(Info 644).
A Lei 12.855/13, que instituiu a Indenização por Trabalho em Localidade Estratégica, é norma
de eficácia condicionada à prévia regulamentação, para definição das localidades consideradas
estratégicas, para fins de pagamento da referida vantagem.
STJ. 1ª Seção. REsp 1617086-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 28/11/18 (recurso repetitivo)
(Info 641).
12.6. Reajuste geral de 28,86% e Policiais Rodoviários Federais – (Info 631) – Apenas Concursos
Federais!
O reajuste geral de 28,86%, concedido pelas Leis nº 8.622/93 e 8.627/93, não pode ser
compensado pelas novas gratificações criadas pela Lei nº 9.654/98.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1577881-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 27/6/18 (Info 631).
Isso significa que o lesado, além de voltar ao cargo público que ocupava, terá direito a toda
remuneração retroativa, desde 1963, data em que ele foi demitido? NÃO. Não se deve confundir
imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos efeitos patrimoniais e
funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do autor, que poderia ter buscado seu
direito desde a publicação da Constituição da República. Isso significa dizer que:
• O lesado terá direito de ser reintegrado;
• ele terá direito à remuneração retroativa, mas limitada aos últimos 5 anos, contados para trás,
tendo marco o ajuizamento. Como o pedido foi formulado em 2011, ele terá direito à remuneração
retroativa desde 2006.
Essa compreensão, inclusive, restou estampada no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002:
Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da
remuneração que o anistiado político receberia se na ativa estivesse, considerada a
graduação a que teria direito, obedecidos os prazos para promoção previstos nas leis
e regulamentos vigentes, e asseguradas as promoções ao oficialato,
independentemente de requisitos e condições, respeitadas as características e
peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares, e,
se necessário, considerando-se os seus paradigmas. (...)
§ 6º Os valores apurados nos termos deste artigo poderão gerar efeitos financeiros a
partir de 5 de outubro de 1988, considerando-se para início da retroatividade e da
prescrição quinquenal a data do protocolo da petição ou requerimento inicial de
anistia, de acordo com os arts. 1º e 4º do Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932.
12.8. ACUMULAÇÃO DE CARGOS: Auditor Fiscal do Trabalho não pode acumular seu cargo
com outro da área de saúde – (Info 625)
O Auditor Fiscal do Trabalho, com especialidade em medicina do trabalho, não pode cumular o
exercício do seu cargo com outro da área de saúde.
STJ. 1ª Turma. REsp 1460331-CE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de
Faria, j. 10/04/2018 (Info 625).
12.9. Termo inicial do adicional de insalubridade – (Info 624) – Atenção! Concursos Federais!
O termo inicial do adicional de insalubridade a que faz jus o servidor público é a data do laudo
pericial.
STJ. 1ª Seção. PUIL 413-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 11/04/2018 (Info 624).
OBS: O STJ tem reiteradamente decidido no sentido de que “o pagamento do adicional de
insalubridade está condicionado ao laudo que prova efetivamente as condições insalubres a que
estão submetidos os Servidores. Assim, não cabe seu pagamento pelo período que antecedeu a
perícia e a formalização do laudo comprobatório, devendo ser afastada a possibilidade de
presumir insalubridade em épocas passadas, emprestando-se efeitos retroativos a laudo pericial
atual” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.400.637/RS, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 24/11/2015).
O direito à percepção de VPNI não impede a sua eventual absorção pelo subsídio e, do mesmo
modo, não inviabiliza a aplicação do teto constitucional, que inclui a vantagem de caráter
pessoal no cômputo da remuneração do servidor para observância do teto.
STJ. 1ª Turma. RMS 33744-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 5/4/18 (Info 624).
OBS:
TETO REMUNERATÓRIO:
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que
os agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns
agentes públicos recebessem os chamados “supersalários”, que são incompatíveis com o serviço
público. Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos
para o âmbito dos Estados e Municípios (chamados de subtetos). O teto geral do serviço público
no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$ 33.763,00 (bruto).
A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto? Sim.
A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
O teto remuneratório existe desde quando? A redação originária da CF/88 já previa a existência
de um teto remuneratório, mas o dispositivo constitucional não era autoaplicável. Assim, na
prática, o teto só foi implementado com a EC nº 41/2003. Confira a evolução histórica do tema:
Redação original da CF/88: previa, no inciso XI do art. 37, que cada ente da Federação
deveria editar sua própria lei fixando o teto remuneratório dos servidores públicos. Na
prática, o teto não era exigido porque, segundo a jurisprudência, o inciso XI não era
autoaplicável, já que dependia de lei para produzir todos seus efeitos.
EC 19/98: alterou esse inciso estabelecendo que o teto remuneratório seria um só para
todos os servidores públicos do país, sendo este limite o subsídio mensal dos Ministros
do STF. Na prática, o teto continuava não sendo exigido porque ainda não havia lei.
EC 41/03: alterou novamente o inciso XI trazendo duas novidades importantes: 1)
passou a admitir que os Estados e Municípios instituíssem subtetos estaduais e
municipais; 2) previu que, mesmo sem lei regulamentando, o teto remuneratório
deveria ser imediatamente aplicado, utilizando-se como limite o valor da remuneração
recebida, na época, pelo Ministro do STF (art. 8º da EC 41/2003).
EC 47/05: acrescentou o § 11 ao art. 37 estabelecendo que estão fora do limite do teto as
parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/03, que foi
publicada em 31/12/03. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente
que, enquanto não houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração
do Ministro do STF na época. O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19,
remuneração do Ministro do STF naquele momento.
Obviamente, tal situação gerou reação das pessoas prejudicadas, que recorreram ao Poder
Judiciário questionando a constitucionalidade dessa previsão. O que decidiu o STF? Era possível
aplicar imediatamente o teto previsto na EC 41/03, reduzindo a remuneração de quem ganhava
acima desse valor? SIM. O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o teto fixado pela EC
41/03 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos
servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se
submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior. A aplicação imediata
da EC 41/03 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o princípio da
irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido. Em outras palavras, com a EC
41/03, quem recebia acima do teto fixado teve a sua remuneração reduzida para respeitar o teto.
Essa redução foi legítima. STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
2/10/2014 (Info 761).
Não há violação ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? NÃO. O art. 5º, XXXVI (“a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”), também não pode ser invocado
para excepcionar a imposição do teto. Segundo o STF, a cláusula da irredutibilidade somente
pode ser invocada se a remuneração que estava sendo recebida pelo servidor estava em
conformidade com a CF/88. Desse modo, os vencimentos acima do teto constitucional, ainda que
com o beneplácito de disciplinas normativas anteriores, não estão amparados pela regra da
irredutibilidade. O pagamento de remunerações superiores ao teto, além de se contrapor aos
princípios da moralidade, da transparência e da austeridade na administração dos gastos com
custeio, representa gravíssima quebra da coerência hierárquica essencial à organização do serviço
público. O Min. Zavascki lembrou, por fim, que o fato de o art. 9º da EC 41/03 ser objeto de ação
direta de inconstitucionalidade ainda pendente de apreciação, não impediria, contudo, que o STF
fizesse impor a força normativa do próprio art. 37, XI, da CF, cujo enunciado seria suficiente para
coibir situações inconstitucionais de remuneração excessiva.
E os servidores que receberam vantagens pessoais acima do teto antes dessa decisão do STF
deverão devolver os valores? A Administração Pública poderá ingressar com ações cobrando o
ressarcimento dessas quantias recebidas acima do teto a título de vantagens pessoais? NÃO. O
STF afirmou que os servidores não estão obrigados a restituir os valores eventualmente recebidos
em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015 (data da decisão do STF).
VPNI: A Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável (VPNI) era uma vantagem de caráter
pessoal que era paga a determinados servidores que tinham direito aos antigos quintos/décimos.
Ela foi extinta. Ocorre que as pessoas que recebiam a VPNI pretendiam continuar recebendo a
quantia indefinidamente e, inclusive, acima do teto, sob o argumento de que foram adquiridas
antes de o teto ser instituído e, portanto, constituiriam direito adquirido. Essa tese não foi acolhida
pela jurisprudência, que entende que a verba que antes era paga a título de VPNI:
Deve ser absorvida pelo subsídio (o servidor que recebe subsídio não tem direito a
outras parcelas remuneratórias mensais);
Deve estar sujeita ao teto, considerando que as vantagens de caráter pessoal não devem
ultrapassar o teto).
O direito à percepção de VPNI não impede a sua eventual absorção pelo subsídio e,
do mesmo modo, não inviabiliza a aplicação do teto constitucional, que inclui a
vantagem de caráter pessoal no cômputo da remuneração do servidor para
observância do teto. STJ. 1ª T. RMS 33.744-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
5/4/18 (Info 624).
12.11. Acordo de divisão da pensão por morte não altera a ordem legal de beneficiários, mas
autoriza desconto pela entidade de previdência – (Info 618)
O acordo de partilha de pensão por morte, homologado judicialmente, não altera a ordem legal
do pensionamento, podendo, todavia, impor ao órgão de previdência a obrigação de depositar
parcela do benefício em favor do acordante que não figura como beneficiário perante a
autarquia previdenciária.
STJ. 2ª T. RMS 45817-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, j. 26/09/17
(Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João, servidor público municipal de São Gonçalo (RJ), vive
em união estável com Maria. Determinado dia, João faleceu sem deixar filhos. Segundo o Estatuto
dos Servidores Públicos do Município de São Gonçalo, em caso de falecimento sem filhos, a
pensão por morte deverá ser paga, em sua integralidade, para a companheira/esposa. Ocorre que
Maria e Francisca (mãe de João) fizeram, entre si, um acordo homologado judicialmente no qual
Maria aceitou dividir igualmente o valor da pensão por morte com a sogra. De posse desse
acordo, Francisca foi até o Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de São Gonçalo
(autarquia responsável por gerir os benefícios previdenciários) e requereu que a pensão por morte
fosse paga de forma dividida entre ela e Maria. A autarquia previdenciária não aceitou, afirmando
que se ela fizesse isso estaria descumprindo a ordem de pagamento prevista na lei municipal.
Alegou que este acordo, apesar de homologado judicialmente, não pode alterar a ordem legal dos
beneficiários da pensão. Diante disso, afirmou que não tinha obrigação nenhuma de depositar
metade do valor para Francisca, considerando que ela não é beneficiária. Logo, iria depositar
integralmente o valor para Maria.
A questão chegou até o STJ. O que decidiu o Tribunal? A autarquia previdenciária tem razão? Em
parte.
O acordo, mesmo homologado judicialmente, não pode alterar a ordem prevista na lei: O acordo
de partilha de pensão por morte, mesmo homologado judicialmente, não tem a força de alterar
a ordem legal de pagamento da pensão. Apesar de ter havido acordo de vontades entre a
companheira supérstite e a mãe do instituidor da pensão, este ajuste não tem a força de alterar a
previsão legal. Segundo a lei do Município, se existir esposa ou companheira do servidor falecido,
os ascendentes não herdam. Caso fosse admitido que o acordo alterasse a ordem legal, poderia
acontecer a seguinte burla às regras do sistema previdenciário: se Maria falecesse antes de
Francisca, esta, mesmo sem ser beneficiária segundo a lei, passaria a receber a integralidade da
pensão. Desse modo, alguém que não era originalmente beneficiária teria se tornado pelo simples
fato de ter havido um acordo entre particulares.
Veja bem: não se está dizendo que o acordo não é possível. Ele é válido. No entanto, fica
limitado estritamente à esfera privada, sem o condão de gerar vínculo previdenciário, ou seja,
não altera as regras previstas na lei. Em suma, este acordo não teve a força de transformar a mãe
do falecido em beneficiária da pensão por morte porque a lei prevê que, havendo
cônjuge/companheira, esta será a única beneficiária.
O acordo pode obrigar a autarquia previdenciária a separar os pagamentos: O acordo não altera
quem a lei prevê como sendo beneficiário. No entanto, o acordo de partilha de pensão por morte
tem a força de impor ao órgão de previdência a obrigação de depositar parcela do benefício em
favor da acordante mesmo que ela não figure como beneficiária perante a lei . Em outras
palavras, é possível que a beneficiária da pensão faça um acordo e diga para a autarquia
previdenciária: pague metade do valor para mim e a outra metade para essa outra pessoa.
O desconto foi autorizado por ajuste entre as partes, sendo perfeitamente possível porque está
relacionado com um direito obrigacional/patrimonial disponível da parte, podendo ser
homologado pelo juízo e produzir efeitos em face do ente pagador.
Vale ressaltar, no entanto, que nos assentamentos da autarquia previdenciária deverá constar
como pensionista apenas, e tão somente, a beneficiária legal (Maria). O desconto que será feito
pela entidade será igual àqueles que se faz para outros débitos, como de alimentos, por exemplo.
Caso a acordante que não é beneficiária legal da pensão morra (se Francisca morrer), o
pagamento voltará a ser feito em sua integralidade para a beneficiária legal (Maria) . Por outro
lado, se a beneficiária legal (Maria) falecer antes de Francisca, cessa o pagamento da pensão e
Francisca não receberá mais nada. Isso porque, como já explicado, o acordo não tornou Francisca
beneficiária da pensão considerando que a lei não autoriza essa hipótese.
12.12. Inexistência de direito à remoção para acompanhamento de cônjuge que foi removido a
pedido (art. 36 da Lei 8.112/90) – (Info 617) – IMPORTANTE!!! PACIFICOU!!!
Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife. É aberta
uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro. Este concorre no concurso de remoção e consegue
ser removido para a capital baiana. Soraia terá direito de ser removida junto com Pedro, com
fulcro no art. 36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é transferido de localidade a pedido,
após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge o direito subjetivo de também
ser transferido para acompanhá-lo, independentemente do interesse da Administração?
NÃO. O servidor público federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo
único, III, "a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também servidor,
tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse da Administração (nos moldes do
inciso I do mesmo dispositivo legal).
STJ. 1ª Seção. EREsp 1247360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/11/17 (Info 617).
OBS:
Remoção: Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo
quadro, com ou sem mudança de sede (art. 36 da Lei nº 8.112/90).
Remoção para acompanhar cônjuge (art. 36, parágrafo único, III, “a”): A Lei 8.112/90 prevê que o
servidor público federal tem direito subjetivo de ser removido para acompanhar seu
cônjuge/companheiro que tiver sido removido no interesse da Administração.
Ex: João e Maria, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife.
João é removido de ofício, no interesse da Administração, para Porto Velho (art. 36, parágrafo
único, I da Lei nº 8.112/90). Logo, Maria tem direito de também ser removida para Porto Velho,
acompanhando seu cônjuge.
Essa regra está prevista no art. 36, parágrafo único, III, “a” da Lei nº 8.112/90:
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção: (...)
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da
Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou
militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;
Cônjuge que passou em concurso público. Se o cônjuge do servidor público for aprovado em um
concurso público e tiver que se mudar para tomar posse, este servidor terá direito à remoção
prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90? Ex.: Eduardo e Mônica são
casados e moram em Boa Vista. Eduardo é servidor público federal e Mônica estuda para
concurso. Mônica é, então, aprovada para um cargo público federal e sua lotação inicial é
Fortaleza. Eduardo terá direito de se remover para Fortaleza para acompanhar sua esposa? NÃO.
De acordo com o art. 36, III, "a" da Lei 8.112/90, a remoção para acompanhamento de cônjuge
exige prévio deslocamento de qualquer deles no interesse da Administração, inadmitindo-se
qualquer outra forma de alteração de domicílio.
O STJ considera que se a pessoa tem que alterar seu domicílio em virtude da aprovação em
concurso público, isso ocorre no interesse próprio da pessoa (e não no interesse da
Administração). Assim, não há direito subjetivo à remoção do art. 36, III, "a", da Lei 8.112/90,
considerando que a pessoa estava ciente de que iria assumir o cargo em local diverso da
residência do cônjuge.
Cônjuge que foi removido a pedido. Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos
federais lotados em Recife. É aberta uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro. Este concorre
no concurso de remoção e consegue ser removido para a capital baiana. Soraia terá direito de ser
removida junto com Pedro, com fulcro no art. 36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é
transferido de localidade a pedido, após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge
o direito subjetivo de também ser transferido para acompanhá-lo, independentemente do
interesse da Administração? NÃO. O servidor público federal somente tem direito à remoção
prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o
cônjuge/companheiro, também servidor, tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse
da Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal). STJ. 1ª Seção. EREsp
1.247.360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617).
O deslocamento “no interesse da Administração”, para os fins do art. 36, inciso III, “a”, da Lei
8.112/90, é apenas aquele em que o servidor público é removido de ofício pela Administração
Pública, não quando tenha voluntariamente se candidatado a concorrer à vaga aberta para
remoção. Se a remoção anterior foi a pedido, a pessoa não terá direito de ser também removida
para acompanhar seu cônjuge/companheiro. A transferência por conta de concurso de remoção
consiste em uma modalidade da remoção “a pedido”. Logo, ela não dá direito à remoção para
acompanhar cônjuge.
12.13. União não deve figurar na ação proposta pedindo a implementação do piso nacional do
magistério – (Info 606)
Os dispositivos do art. 4º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei 11.738/08 não amparam a tese de que a
União é parte legítima, perante terceiros particulares, em demandas que visam à sua
responsabilização pela implementação do piso nacional do magistério, afigurando-se correta a
decisão que a exclui da lide e declara a incompetência da Justiça Federal para processar e julgar
o feito ou, em sendo a única parte na lide, que decreta a extinção da demanda sem resolução do
mérito.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.559.965-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (recurso repetitivo) (Info
606).
12.15. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 600) – IMPORTANTE!!!
Se o candidato tomou posse por força de decisão judicial precária e esta, posteriormente, é
revogada, ele perderá o cargo, mesmo que já o esteja ocupando há muitos anos. Não se aplica,
ao caso, a teoria do fato consumado. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
A situação será diferente se ele se aposentou antes do processo chegar ao fim.
Imagine que o candidato tomou posse no cargo por força de decisão judicial precária. Passaram-
se vários anos e ele, após cumprir todos os requisitos, aposentou neste cargo por tempo de
contribuição. Após a aposentadoria, a decisão que o amparou foi reformada. Neste caso, não
haverá a cassação de sua aposentadoria.
Nas palavras do STJ: quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias
e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de
contribuição durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação
posterior da segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode
ocasionar a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).
O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, oriundo das perdas
salariais resultantes da conversão de cruzeiro real em URV, na remuneração do servidor, deve
ocorrer no momento em que a carreira passa por uma restruturação remuneratória.
STJ. 3ª Seção. EREsp 900.311-RN, Rel. Min. Felix Fischer, j. 22/2/17 (Info 598).
12.17. Não se aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais
– (Info 598) – Atenção! Advocacia Pública!
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor
público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade
estrita, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não
confirmada por ocasião do julgamento de mérito.
Em outras palavras, se a pessoa consegue uma decisão provisória garantindo a ela a remoção e,
posteriormente, esta decisão é revogada, esta remoção terá que ser desfeita mesmo que já tenha
se passado muitos anos.
Não se aplica a "Teoria do Fato Consumado" em relação a atos praticados sob contestação das
pessoas envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência da irregularidade nas
vias adequadas, ainda que, pela demora no transcurso do procedimento destinado à apuração
da legalidade do ato, este gere efeitos no mundo concreto.
Verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deve ser desfeito, preservando-se apenas aquilo
que, pela consolidação fática irreversível, não puder ser restituído ao status quo ante.
Se a Administração Pública, mesmo após a decisão liminar, continuou questionando no
processo a legalidade da remoção do servidor/autor, não se pode aplicar a teoria do fato
consumado, devendo o ato ser desfeito, salvo se tivesse havido uma consolidação fática
irreversível (ou seja, se não fosse mais possível voltar ao "status quo ante").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 7/12/16 (Info 598).
OBS: O que é a Teoria do Fato Consumado? Segundo esta teoria, as situações jurídicas
consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser
desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais
(STJ. REsp 709.934/RJ). Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou
determinada situação jurídica e, após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada,
ainda assim não deve ser desconstituída, para que não haja insegurança jurídica.
"A teoria do fato consumado foi construída ao longo dos anos como um mecanismo de
estabilização de atos ou decisões, em casos excepcionais, nos quais a restauração da estrita
legalidade seria faticamente impossível ou, ainda que possível, causaria danos sociais de grande
monta e irreparáveis, com malferimento do postulado da segurança jurídica." (Min. Raul Araújo).
Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.
Art. 54 da Lei nº 9.784/99: A teoria do fato consumado guarda íntima relação com a convalidação
dos atos administrativos, atualmente regulada pelo art. 54 da Lei nº 9.784/99, que dispõe:
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da
percepção do primeiro pagamento.
§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade
administrativa que importe impugnação à validade do ato.
A teoria do fato consumado não se presta, assim, para mitigar a interpretação do art. 36, III, "a", da
Lei 8.112/90, assegurando ao servidor lotação para acompanhamento de cônjuge fora da estrita
moldura normativa.
Não se deve perder de vista que a teoria do fato consumado é de aplicação excepcional, e deve ser
adotada com cuidado e moderação, para que não sirva de mecanismo para premiar quem não tem
direito, pelo só fato da demora no julgamento definitivo da causa em que fora deferida uma
decisão liminar, cuja duração deve ser provisória por natureza.
12.18. É constitucional o art. 2º, parágrafo único, da LC 152/2015, que prevê regra especial de
transição para a idade da aposentadoria compulsória dos servidores do Serviço Exterior Brasileiro
- (Info 596)
12.19. Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas
demais verbas recebidas por tais profissionais – (Info 594)
A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional,
sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de
incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e
gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações
locais.
STJ. 1ª S. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 23/11/16 (recurso repetitivo) (Info 594).
Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional da Administração Pública,
continuaram sendo depositados em conta de servidor público após o seu falecimento.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 15/3/16 (Info 579).
OBS:
SERVIDOR QUE RECEBE INDEVIDAMENTE VALORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente
revogada, tal quantia poderá ser exigida de volta pela Administração Pública? NÃO. O STJ
possui entendimento pacífico no sentido de que é incabível a restituição ao erário dos valores
recebidos de boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação
da lei por parte da Administração Pública. Em virtude do princípio da legítima confiança, o
servidor público, em regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos pela
Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita. Assim, diante da ausência da
comprovação da má-fé no recebimento dos valores pagos indevidamente por erro de direito da
Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na remuneração do servidor público, a
título de reposição ao erário. STJ. 1ª S. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
10/10/2012 (recurso repetitivo).
Posição do TCU sobre o tema: Vale a pena conhecer também o entendimento do TCU, que é
parecido com o do STJ, apesar de um pouco mais rigoroso com o servidor ao exigir que o erro seja
escusável.
Súmula 249 do TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente
percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de
erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de
autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da
presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas
salariais.
Como vimos acima, o STJ tem o entendimento pacificado no sentido de que as verbas alimentares
pagas ao servidor de boa-fé não podem ser repetidas (pedidas de volta) mesmo que tenham sido
pagas indevidamente por erro da Administração Pública na interpretação da lei. Isso porque gera
uma falsa expectativa no servidor de que os valores recebidos são legais e definitivos, o que
decorre, em certo grau, pela presunção de validade e de legitimidade do ato administrativo que
ordenou a despesa. Veja o recurso repetitivo que consolidou a posição:
(...) quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei, resultando
em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores
recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos
mesmos, ante a boa-fé do servidor público. (...) (STJ. 1ª Seção. REsp 1244182/PB, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/10/2012)
Contudo, no caso de as quantias indevidas terem sido pagas aos herdeiros do falecido, a situação
deverá ser analisada sob outro ângulo e merece uma conclusão diferente. Isso porque, nesse caso,
os valores pagos já não mais possuem caráter alimentar. Os salários ou proventos do servidor
possuem natureza alimentar somente em relação ao próprio servidor. Se ele já morreu, tais valores
são considerados como herança e herança não é remuneração nem aposentadoria. Logo, não é
uma verba alimentícia.
Pelo princípio da saisine, com a morte, houve a transferência imediata da titularidade da conta
bancária da falecida aos seus herdeiros e os valores que foram nela depositados (por erro) não
tinham mais qualquer destinação alimentar. Logo, por não se estar diante de verbas de natureza
alimentar, não é nem mesmo necessário analisar se os herdeiros estavam ou não de boa-fé ao sacar
o dinheiro. A boa-fé aqui não importa. Os herdeiros têm o dever de restituir as quantias porque
eles não possuem nenhum direito sobre as verbas. O fundamento aqui para que ocorra a
devolução está baseado no princípio da proibição do enriquecimento sem causa, previsto no art.
884 do CC:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado
a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
12.21. Monitoramento de e-mail corporativo de servidor público – (Info 576) – IMPORTANTE!!!
O STJ reconheceu que tradutor e intérprete de LIBRAS é um cargo "técnico" para fins de
enquadramento na exceção constitucional, com fulcro nos arts. 6º e 7º da Lei 12319/10, que
regulamenta a profissão.
A legislação brasileira reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como um sistema
linguístico de comunicação, cuja formação profissional deve ser fomentada pelo poder público
para fins de viabilizar a comunicação com a pessoa portadora de deficiência e, consequentemente,
promover sua inclusão nas esferas sociais.
O Decreto 5626/05 e a Lei 12319/10 deixam claro que o exercício da profissão de tradutor e
intérprete de Libras exige conhecimentos técnicos e específicos relativos a um sistema linguístico
próprio, totalmente diferente da Língua Portuguesa, mas a esta associada para fins de viabilizar a
comunicação com pessoas portadoras de deficiência.
O conceito de "cargo técnico ou científico" não exige, necessariamente, que se trate de um cargo de
nível superior.
O STJ entende que cargo técnico ou científico, para fins de acumulação com o de professor, nos
termos do art. 37, XVII, da CF/88, é aquele para cujo exercício sejam exigidos conhecimentos
técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior (STJ. 5ª Turma.
RMS 20.033/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 15/02/2007).
Cargo técnico "é aquele que requer conhecimento específico na área de atuação do profissional, com
habilitação específica de grau universitário ou profissionalizante de 2º grau" (STJ. 2ª Turma. RMS
42.392/AC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/02/2015). É aquele que exige da pessoa
um conjunto de atribuições ligadas ao conhecimento específico de uma área do saber.
Segundo já decidiu o STJ, somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele
exigir, no desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de
alguma área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica. Nesse
sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio, não se
enquadram no conceito constitucional (STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux,
red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/5/2014. Info 747).
Cargo científico "é o conjunto de atribuições cuja execução tem por finalidade a investigação coordenada e
sistematizada de fatos, predominantemente de especulação, visando a ampliar o conhecimento humano."
(STJ. 5ª Turma. RMS 28.644/AP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 06/12/2011).
12.23. Fixação de limitação temporal para o recebimento de nova ajuda de custo – (Info 569)
A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização prevista no art. 51, I, da Lei
8.112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o princípio da legalidade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.257.665-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/10/2014 (recurso
repetitivo) (Info 569).
12.24. Férias gozadas em período coincidente com o da licença à gestante – (Info 566)
Maria, servidora pública, estava grávida. A criança nasceu em março/2015. A partir daí, ela
começou a usufruir a licença-maternidade (que é de 180 dias). Em setembro/2015, a servidora
retornou ao trabalho. Quando voltou a trabalhar, Maria foi até o departamento de recursos
humanos do órgão e explicou o seguinte para a diretora do setor: "minhas férias estavam
marcadas para julho/2015. Ocorre que neste período eu estava de licença-maternidade. Logo,
minhas férias foram interrompidas e eu quero agora remarcar esse período de férias referente a
julho/2015 para dezembro/2015." O pedido de Maria poderá ser aceito?
NÃO. A Lei nº 8.112/90 não assegura à servidora pública o direito de usufruir, em momento
posterior, os dias de férias já gozados em período coincidente com o da licença à gestante.
Ao contrário do que afirma Maria, houve sim o gozo das férias, ainda que ao mesmo tempo em
que ela fazia jus à licença-maternidade, visto que a referida licença não é causa interruptiva das
férias.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 39.563-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/8/2015 (Info 566).
O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF e STJ entendem que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).
STJ. 1ª Seção. MS 21.598-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015 (Info 564).
12.26. Auxílio-reclusão previsto para servidores públicos federais (art. 229 da Lei 8.112/90) –
(Info 560)
O art. 229 da Lei 8.112/90 prevê a concessão de auxílio-reclusão para os dependentes dos
servidores públicos federais que estiverem presos.
Ao contrário do auxílio-reclusão do RGPS, previsto no art. 201, IV, da CF/88, o auxílio-reclusão
da Lei 8.112/90 não exige que o servidor público preso seja enquadrado como pessoa de baixa
renda.
O art. 13 da EC 20/98 traz uma regra para que o segurado seja considerado de “baixa renda” para
fins de pagamento do auxílio-reclusão. Essa regra, contudo, somente vale para servidores
públicos que forem vinculados ao RGPS.
Assim, para a concessão do auxílio-reclusão da Lei 8.112/90 não se aplica aos servidores
públicos estatutários ocupantes de cargos efetivos a exigência de baixa renda prevista no art. 13
da EC 20/98.
Assim, conclui-se que o art. 13 da EC 20/98 não afeta a situação jurídica dos servidores
ocupantes de cargo público de provimento efetivo, mas apenas dos servidores vinculados ao
RGPS, isto é, empregados públicos, contratados temporariamente e ocupantes de cargos
exclusivamente em comissão.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.510.425-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j. 16/4/2015 (Info 560).
12.27. Aposentadoria por invalidez com proventos proporcionais se a doença não estiver
prevista no art. 186 da lei 8.112/1990 – (Info 557) - Atualize Infos de 2014!
A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença
incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que
ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser tido
como exaustivo (taxativo).
Com base no entendimento acima exposto, o STJ tem decidido que serão PROPORCIONAIS (e
não integrais) os proventos de aposentadoria de servidor público federal diagnosticado com
doença grave, contagiosa ou incurável que não esteja prevista no art. 186, § 1º, da Lei n.
8.112⁄1990 nem indicada em lei.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
12.28. Inaplicabilidade do direito à recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor público
estadual – (Info 553) – IMPORTANTE!!!
Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I,
da Lei 8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do
estado for omisso acerca desse direito.
Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos
servidores públicos estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou
municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal
situação não gera o aumento de gastos. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90
sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja
legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se
justificava para proteção da unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da
CF/88).
No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho
constitucional.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).
12.30. Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte, mesmo que a lei
previdenciária não a inclua no rol de dependentes – (Info 546) – IMPORTANTE!!!
12.31. Pensão por morte da Lei 8.112/90 e surgimento de outro beneficiário – (Info 545) –
IMPORTANTE!!!
A viúva do servidor público federal tem direito à pensão vitalícia por morte, nos termos do art.
217, I, “a”, da Lei 8.112/90.
O filho menor de 21 anos do servidor falecido também tem direito à pensão temporária por
morte (art. 217, II, “a”).
Se o servidor deixou viúva e filho menor, o valor da pensão por morte será dividido entre eles.
No caso concreto, o servidor faleceu deixando viúva e, até então, nenhum filho conhecido. A
esposa supérstite passou a receber a pensão quando foi surpreendida por uma citação a respeito
de ação de investigação de paternidade na qual se alegava que seu marido tinha um filho não
reconhecido.
Após algum tempo, a ação é julgada procedente, reconhecendo-se que realmente o menor é
filho do falecido. A partir daí, a viúva terá que dividir o valor da pensão por morte com o outro
herdeiro. No entanto, a viúva, que vinha recebendo a totalidade do benefício, não terá que
pagar ao filho posteriormente reconhecido a quota das parcelas recebidas antes da sentença de
reconhecimento da paternidade. Os valores que ela já recebeu e que pertenciam ao filho
reconhecido não poderão ser exigidas porque são verbas alimentares, recebidas de boa-fé,
sendo, portanto, irrepetíveis.
STJ. 3ª Turma. REsp 990.549-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 5/6/14 (Info 545).
O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a
revisão do ato de sua aposentadoria é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
Após esse período ocorre a prescrição do próprio fundo de direito.
STJ. 1ª Seção. Pet 9.156-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 28/5/14 (Info 542).
Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente revogada, tal
quantia poderá ser exigida pela Administração Pública?
SIM. É devida a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela
Administração Pública a servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada.
O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em boa-fé do servidor, considerando que ele
sabia que poderia haver alteração da decisão que tinha caráter precário (provisório).
STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014.
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas, sem
concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual, temporário
ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público. Esse é o entendimento do STF (Plenário. ADI 3247/MA, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014. Info 740).
O STJ adotou essa mesma conclusão. No caso concreto, o Ministério da Saúde autorizou a
contratação de 200 profissionais para a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. O
sindicato dos servidores públicos impetrou MS contra este ato alegando que os servidores
estavam sendo contratados para a análise de processos administrativos do órgão, o que não
é uma atividade temporária, mas sim permanente e, portanto, não se enquadraria no art.
37, IX, da CF/88, devendo ser desempenhada por servidores estatutários da autarquia. O
MS foi julgado improcedente. Segundo decidiu o STJ, admite-se a contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art.
37, IX, da CF/88) ainda que para o exercício de atividades permanentes do órgão ou
entidade. No caso concreto, as contratações temporárias se fazem necessárias em
decorrência do crescente número de demandas e do enorme passivo de procedimentos
administrativos que estão parados junto à ANS. Ademais, o quadro de pessoal da agência
já está completo, inexistindo, portanto, cargos vagos para a realização de concurso público.
STJ. 1ª Seção. MS 20.335-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/4/2015 (Info 560).
Maria é empregada pública federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda está cheia
de vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no
processo seletivo aberto pelo Ministério do Meio Ambiente para contratar servidores
temporários.
A empregada pública aposentada poderá ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os
proventos da aposentadoria e também a remuneração proveniente do serviço temporário?
SIM. É possível a cumulação de proventos de aposentadoria de emprego público com
remuneração proveniente de exercício de “cargo” temporário.
O § 3º do art. 118 da Lei 8.112/90 proíbe apenas a acumulação de proventos de
aposentadoria com remuneração de cargo ou emprego público efetivo.
Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, não estão vinculados a
um cargo ou emprego público, exercendo apenas uma função administrativa temporária
(função autônoma, justamente por não estar vinculada a cargo ou emprego).
Além disso, ainda que se considere que isso é um “cargo” público, não se trata de cargo
público efetivo já que as pessoas são selecionadas mediante processo seletivo simplificado
e irão exercer essa função por um prazo determinado, não possuindo direito à estabilidade.
Em suma, não é cargo; mas mesmo que fosse, não seria cargo efetivo.
Ademais, a aposentadoria da interessada se deu pelo Regime Geral de Previdência Social –
RGPS (ela era empregada pública), não se lhe aplicando, portanto, o disposto no § 10 do
art. 37 da CF/88, segundo o qual “É vedada a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta
Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre
nomeação e exoneração”. Isso porque a aposentadoria dos empregados públicos, concedida
no regime do RGPS, é disciplinada não pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art. 201. Logo,
não se pode atribuir interpretação extensiva em prejuízo do empregado público
aposentado pelo RGPS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/4/2015 (Info 559).
O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do
contrato firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF,
na análise do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).
Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.
Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio para
realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados decorrentes de
greve (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, j.
24/5/2016).
15.2. Possibilidade de desconto dos dias parados da remuneração dos grevistas – (Info 563)
Deve ser suspensa a execução da decisão liminar (art. 25, § 3º, da Lei 8.038/1990) proibitiva
de desconto salarial dos dias de paralisação decorrentes de greve dos professores do
Estado de São Paulo, movimento paredista que durava mais de 60 dias até a análise do
pedido de suspensão de segurança, sem êxito nas tentativas de acordo e sem notícia de
decisão judicial sobre as relações obrigacionais entre grevistas e o Estado, e que, além
disso, já havia levado ao dispêndio de vultosos recursos na contratação de professores
substitutos, como forma de impedir a iminente interrupção da prestação do serviço
público educacional do Estado.
STJ. Corte Especial. AgRg na SS 2.784-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 3/6/15 (Info 563).
16. FGTS
16.1. Aplica-se a TR para contas vinculadas ao FGTS – (Info 625) – IMPORTANTE!!!
A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que
estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder
Judiciário substituir o mencionado índice.
STJ. 1ª Seção. REsp 1614874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 11/4/18 (recurso repetitivo)
(Info 625).
OBS: Tendo o legislador estipulado a TR como o índice legal de remuneração das contas
vinculadas ao FGTS, não pode tal índice ser substituído por outro, pelo Poder Judiciário,
simplesmente sob a alegação da existência de outros índices que melhor repõem as perdas
decorrentes do processo inflacionário, porque tal providência está claramente inserida no
âmbito de atuação do Poder Legislativo, sob pena de vulnerar o princípio da Separação dos
Poderes.
STF: Vale ressaltar que o tema acima ainda poderá sofrer mudança. Isso porque existe uma
ADI no STF na qual se alega a inconstitucionalidade de trecho do art. 13, caput, da Lei nº
8.036/90 e do art. 17, caput, da Lei nº 8.177/91, ao argumento de que viola o direito de
propriedade, o direito dos trabalhadores ao FGTS e o princípio da moralidade administrativa
a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária dos depósitos
vinculados ao FGTS. Assim, o Supremo é quem dará a palavra final sobre o assunto. Por
enquanto, porém, permanece válida a TR como índice de correção monetária das contas do
FGTS.
O art. 141, I, da Lei 8.112/90 prevê que as penalidades disciplinares de demissão e cassação de
aposentadoria ou disponibilidade de servidores públicos ligados ao Poder Executivo federal
devem ser aplicadas pelo Presidente da República.
Por meio do Decreto 3.035/99, o Presidente da República delegou aos Ministros de Estado e ao
Advogado-Geral da União a atribuição para aplicar tais penalidades.
Assim, o Advogado-Geral da União, com base no Decreto nº 3.035/99, possui competência para,
em processo administrativo disciplinar, aplicar pena de demissão a Procurador da Fazenda
Nacional, que é membro integrantes da carreira da AGU.
Vale ressaltar, contudo, que cabe recurso hierárquico próprio ao Presidente da República contra
a aplicação dessa penalidade.
STJ. 1ª S. MS 17449-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 14/08/19 (Info 657).
17.2. Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do
processo administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato
sendo apurado na esfera penal – (Info 651) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO!
17.3. CGU tem competência para aplicar pena de demissão a servidor do Poder Executivo
Federal mesmo que ele estivesse cedido para a Câmara dos Deputados – (Info 629) – Apenas
Concursos Federais!
17.4. É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante sua gestão
em fundação privada de apoio à Universidade Federal – (Info 613) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS!
Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo servidor público,
não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do
CP.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/2/17 (Info 602).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João é servidor público. Ele era o responsável por emitir o
DARE (Documento de Arrecadação de Receitas Estaduais), que é um documento no qual são
listados os valores que são devidos pelo contribuinte e que ele deverá pagar. Atualmente, na
maioria dos Estados o DARE é emitido de forma on line, sem a participação direta dos servidores
públicos. O contribuinte entra na página da internet e emite o DARE sozinho, gerando o valor que
ele tem que pagar segundo as informações contidas na base de dados. Voltando ao exemplo. Em
1996, João preencheu de forma errada emissão de um DARE, fazendo com que o contribuinte
pagasse menos tributos do que o devido, causando prejuízos à Administração Pública. Alguns
meses depois, João, já trabalhando em outra unidade fiscal, novamente preencheu de forma
incorreta uma nova DARE de outro contribuinte. Dois anos depois, as condutas do servidor foram
descobertas. A Administração Pública instaurou dois Processos Administrativos Disciplinares
para apurar os fatos. No primeiro foi aplicada a pena de suspensão de 90 dias. No segundo,
concluído quase um ano depois, João foi punido com a pena de demissão, tendo sido considerada
como agravante a suspensão imposta no processo disciplinar anterior.
Tese do ex-servidor: João ingressou com ação alegando que os fatos investigados configuram
aquilo que no Direito Penal é chamado de “continuidade delitiva” (art. 71 do CP). Logo, as
condutas deveriam ter sido apuradas em um único processo administrativo disciplinar, em vez de
dois, como foi feito. Argumentou que a existência da continuidade delitiva não foi considerada
pela Administração Pública, o que acabou lhe prejudicando. Isso porque se fosse somente um
processo, ele deveria ter recebido a pena de suspensão com aumento do quantum sancionatório
previsto no art. 71, caput, do CP:
Crime continuado
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e
do art. 75 deste Código.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? NÃO. O STJ negou o pedido do ex-servidor e afirmou que:
Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo
servidor público, não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório
previsto no art. 71, caput, do CP. STJ. 1ª S. REsp 1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, j. 22/2/2017 (Info 602).
Existe polêmica se a continuidade delitiva, que é prevista no Código Penal, pode ser aplicada ao
processo administrativo disciplinar. Há decisão do STJ não admitindo:
(...) Incabível a incidência, por analogia, da regra do crime continuado, prevista no
art. 71 do Código Penal, porque a aplicação da legislação penal ao processo
administrativo restringe-se aos ilícitos que, cometidos por servidores, possuam
também tipificação criminal. (...) STJ. 5ª T. RMS 19.853/MS, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
04/12/09.
O Min. Relator Benedito Gonçalves argumentou que, mesmo se considerássemos ser possível a
aplicação do crime continuado ao PAD, ainda assim o servidor, no caso concreto, não teria direito
ao benefício porque não estavam presentes os requisitos.
Ao interpretar o art. 71 do Código Penal, o STJ adotou a teoria mista (objetivo-subjetiva),
segundo a qual, para que seja considerado crime continuado, é necessário o preenchimento de:
a) requisitos objetivos: o crime deve ter sido praticado nas mesmas condições de
tempo, lugar e modo de execução do delito, conforme prevê expressamente o art. 71;
e
b) requisitos de natureza subjetiva: é a unidade de desígnio, ou seja, o liame
volitivo entre os delitos, a demonstrar que os atos criminosos se apresentam
entrelaçados (a conduta posterior deve constituir um desdobramento da anterior). O
agente queria cometer um só crime, mas escolheu fazer isso de forma parcelada.
No caso concreto, o Ministro Relator afirmou que os requisitos não estavam preenchidos. Isso
porque os ilícitos foram praticados em condições de tempo, lugar e modo de execução diferentes,
estando também ausente a unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre as condutas.
Não restou demonstrado que a conduta subsequente foi praticada como continuação da primeira,
existindo, na verdade, reiteração de ilícitos que indica delinquência habitual, o que descaracteriza
a ocorrência de crime continuado.
Obs: neste julgado o STJ não afirmou expressamente se a continuidade delitiva pode ou não ser
aplicada ao PAD. Isso porque, no caso concreto, mesmo que se admitisse o instituto, os requisitos
não estariam preenchidos.
17.6. Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido – (Info 598) –
IMPORTANTE!!!
17.8. Termo inicial do prazo prescricional no caso de infração disciplinar – (Info 543)
Não há direito de regresso, portanto, não é cabível a execução regressiva proposta pela
Eletrobrás contra a União em razão da condenação das mesmas ao pagamento das diferenças na
devolução do empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica ao particular
contribuinte da exação.
STJ. 1ª S. REsp 1576254-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 26/6/19 (recurso repetitivo –
Tema 963) (Info 655).
Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais
inerentes à reparação econômica devida (juros de mora e correção monetária) a anistiado
político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º
do ADCT e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/02.
STF. 1ª T. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/5/19 (Info 940).
18.3. Concessionária de rodovia não responde civilmente por roubo e sequestro – (Info 640) –
IMPORTANTE!!! – (DPEDF-2019)
Concessionária de rodovia não responde por roubo e sequestro ocorridos nas dependências de
estabelecimento por ela mantido para a utilização de usuários.
A segurança que a concessionária deve fornecer aos usuários diz respeito ao bom estado de
conservação e sinalização da rodovia. Não tem, contudo, como a concessionária garantir
segurança privada ao longo da estrada, mesmo que seja em postos de pedágio ou de
atendimento ao usuário.
O roubo com emprego de arma de fogo é considerado um fato de terceiro equiparável a força
maior, que exclui o dever de indenizar. Trata-se de fato inevitável e irresistível e, assim, gera
uma impossibilidade absoluta de não ocorrência do dano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1749941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/12/18 (Info 640).
18.4. União não tem o dever de indenizar indústrias nacionais prejudicadas com a redução das
alíquotas do imposto de importação – (Info 634) – IMPORTANTE!!!
O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/94, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do
imposto de importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada
de um enorme volume de brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China,
sendo estes bem mais baratos que os nacionais. Como resultado, várias indústrias de
brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que permaneceram, sofreram grandes
prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra a União afirmando
que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público
deveria ser condenado a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido.
Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado
decorrentes da alteração de política econômico-tributária no caso de o ente público não ter se
comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento específico , ou
seja, se o Estado tivesse combinado uma determinada ação econômica que não foi cumprida.
A referida Portaria tinha nitidamente uma finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração
das alíquotas do imposto de importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo
que se falar em quebra do princípio da confiança, por dois motivos:
1º) o ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de redução ou de
aumento das alíquotas de imposto de importação para incentivar ou conter
determinados setores da economia;
2º) o Estado não havia se comprometido com essa indústria de manter as alíquotas
em determinado patamar.
A responsabilidade estatal por ato omissivo que gera dano ao meio ambiente é solidária, mas
de execução subsidiária.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.326.903/DF, rel. Min. Og Fernandes, j. 24.04.2018.
OBS: A responsabilidade do Estado por dano ao meio ambiente decorrente de sua omissão no
dever de fiscalização é de caráter solidário, mas de execução subsidiária, na condição de
devedor-reserva. Há responsabilidade do Estado ainda que, por meios apenas indiretos,
contribua para a consolidação, agravamento ou perpetuação dos danos experimentados pela
sociedade. Hipótese que não se confunde com a situação de garantidor universal.
O anistiado político que obteve, na via administrativa, a reparação econômica prevista na Lei
10.559/02 (Lei de Anistia) não está impedido de pleitear, na esfera judicial, indenização por
danos morais pelo mesmo episódio político. Inexiste vedação para a acumulação da reparação
econômica com indenização por danos morais, porquanto se tratam de verbas indenizatórias
com fundamentos e finalidades diversas: aquela visa à recomposição patrimonial (danos
emergentes e lucros cessantes), ao passo que esta tem por escopo a tutela da integridade moral,
expressão dos direitos da personalidade.
Nas hipóteses de condenação imposta à Fazenda Pública, como regra geral, a atualização
monetária e a compensação da mora devem observar os critérios previstos no art. 1º-F da Lei
9.494/97, com a redação dada pela Lei 11.960/2009.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.485.260-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 5/4/2016 (Info 581).
OBS: A Lei nº 10.559/2002, em seu art. 16, prevê o seguinte:
Art. 16. Os direitos expressos nesta Lei não excluem os conferidos por outras normas
legais ou constitucionais, vedada a acumulação de quaisquer pagamentos ou
benefícios ou indenização com o mesmo fundamento, facultando-se a opção mais
favorável.
Esse dispositivo pode dar a impressão de que seria proibida a acumulação da reparação
econômica com a indenização por danos morais. Contudo, não foi esta a interpretação dada pelo
STJ.
Além disso, a reparação econômica prevista na Lei 10.559/02 não tem por objetivo indenizar
danos morais.
O art. 8º do ADCT determina que seja paga reparação econômica para aquelas pessoas que
sofreram prejuízos na sua esfera profissional e, por consequência, patrimonial. A Lei 10.559/2002,
ao regulamentar o art. 8º do ADCT, restringiu-se a estipular os direitos profissionais do anistiado
político e suas repercussões econômicas. Analisando os arts. 4º e 5º da Lei fica ainda mais claro
que essa reparação econômica tem natureza patrimonial e se destina a compensar o anistiado pelo
fato de ele não mais ter podido exercer suas atividades laborais.
O recebimento da reparação econômica de que trata a Lei nº 10.559/02 não exclui, por si só, o
direito de o anistiado buscar na via judicial, em ação autônoma e distinta, a reparação dos danos
morais que tenha sofrido em decorrência da mesma perseguição política geradora da anterior
reparação administrativa (art. 5º, V e X, da CF/88), pois distintos se revelam os fundamentos que
amparam cada uma dessas situações.
Suponha que o TRF, em sede de apelação, condenou a União ao pagamento da indenização por
danos morais fixando o termo inicial dos juros de mora e da correção monetária como sendo a
data do evento danoso e determinando a aplicação do índice conhecido como INPC (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE). Agiu corretamente o Tribunal neste ponto? NÃO.
Portanto, os juros moratórios e a correção monetária não terão como termo inicial a data do evento
danoso e o índice de correção não poderá ser o INPC.
Como regra geral nas condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública, a atualização
monetária e a compensação da mora deverão observar os parâmetros estipulados no art. 1ºF da
Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/2009)
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento
(Súmula 362 do STJ).
18.7. Ilegitimidade passiva da União em demanda que envolve erro médico ocorrido em
hospital do SUS – (Info 563) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE OS INFOS DE 2014!!!
A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro
médico ocorrido em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único
de Saúde (SUS).
De acordo com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados
ao SUS é do Município, a quem compete responder em tais casos.
STJ. 1ª S. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/5/2015 (Info 563).
É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação
de indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de
ônibus).
O fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 14 c/c art.
27, do CDC.
STJ. 3ª T. REsp 1.277.724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 26/5/2015 (Info 563).
Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da
prescrição será o trânsito em julgado da sentença penal.
Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo
inicial da prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª T. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, j. 12/2/2015 (Info 556).
18.10. Existência de cadáver em decomposição em reservatório de água – (Info 553)
Se o INSS paga pensão por morte aos dependentes do segurado que morreu em virtude de
acidente de trabalho, a autarquia poderá ajuizar ação contra o empregador pedindo o
ressarcimento desses valores (art. 120 da Lei 8.213/91).
O prazo prescricional dessa ação é de 5 anos, contados da data da concessão do benefício.
Deve-se chamar atenção para o fato de que, passados os 5 anos, haverá a prescrição do próprio
fundo de direito.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.457.646-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/10/2014 (Info 550).
18.12. Responsabilidade solidária dos três entes por má prestação de serviços do SUS – (Info
543)
A União – e não só Estados, Distrito Federal e Municípios – tem legitimidade passiva em ação
de indenização por erro médico ocorrido em hospital da rede privada durante atendimento
custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 16/6/14 (Info 543)
OBS: A 1ª Turma do STJ decidiu que, como o funcionamento do SUS é de responsabilidade
solidária da União, dos Estados e dos Municípios, é de se concluir que qualquer um destes entes
tem legitimidade ad causam para figurar no polo passivo de quaisquer demandas que envolvam tal
sistema, inclusive as relacionadas à indenizatória por erro médico ocorrido em hospitais privados
conveniados. Em outras palavras, em caso de má prestação de serviço por hospital privado que
atuar como credenciado do SUS, a vítima poderá buscar a responsabilidade civil da União, do
Estado ou do Município, sendo essa responsabilidade solidária.
OBS: Devemos aguardar para ver se esse precedente irá se consolidar. De qualquer modo, é muito
provável que em provas de concurso (especialmente CESPE) seja cobrado exatamente o
entendimento exposto nesse último julgado.
18.13. Danos morais decorrentes de tortura no regime militar: imprescritível – (Info 523) –
IMPORTANTE!!! – (TJSC-2017)
As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o
Regime Militar de exceção são imprescritíveis.
Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Dec. 20.910/32.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/6/13 (Info 523).
OBS: O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período
(regime militar) em que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo
havido, sem dúvida, incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do
direito à dignidade da pessoa humana (AgRg no Ag 1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª
T, j. 09/08/2011).
Caso o Poder Público tenha reconhecido administrativamente o débito, o termo inicial do prazo
prescricional de 5 anos para que servidor público exija seu direito será a data desse ato de
reconhecimento.
Para o STJ, o reconhecimento do débito implica renúncia, pela Administração, ao prazo
prescricional já transcorrido.
STJ. 1ª T. AgRg no AgRg no AREsp 51.586-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 13/11/12 (Info
509).
O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do
Estado ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da
actio nata.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.333.609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, j. 23/10/12 (Info 507).
18.17. Termo inicial do prazo prescrição para o ajuizamento da ação de indenização por danos
decorrentes de crime
Se o indivíduo ocupou irregularmente um bem público, ele terá que ser retirado do local e não
receberá indenização pelas acessões feitas nem terá direito à retenção pelas benfeitorias
realizadas, mesmo que ele estivesse de boa-fé. Isso porque a ocupação irregular de bem público
não pode ser classificada como posse. Trata-se de mera detenção, possuindo, portanto, natureza
precária, não sendo protegida juridicamente.
Desse modo, quando irregularmente ocupado o bem público, não há que se falar em direito de
retenção pelas benfeitorias realizadas, tampouco em direito a indenização pelas acessões, ainda
que as benfeitorias tenham sido realizadas de boa-fé. Ex: pessoa que construiu um bar na beira
da praia (bem da União).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.470.182-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 4/11/14 (Info 551).
20.3. Não cabimento de restituição pelo expropriado dos honorários periciais – (Info 626)
Nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária descabe a
restituição, pelo expropriado sucumbente, de honorários periciais aos assistentes técnicos do
INCRA e do MPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1306051-MA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 8/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio possuía um imóvel rural. A União entendeu que
o referido imóvel rural não estava cumprindo a sua função social e que deveria ser desapropriado
por interesse social, para fins de reforma agrária, nos termos do art. 184 da CF/88.
Decreto declarando o imóvel de interesse social: A desapropriação por interesse social para fins de
reforma agrária é de competência privativa da União e será precedida de decreto declarando o
imóvel de interesse social, para fins de reforma agrária (art. 2º da LC 76/93).
Contestação: A contestação apresentada pelo proprietário deve ser oferecida no prazo de 15 dias
e versar matéria de interesse da defesa, excluída a apreciação quanto ao interesse social
declarado.
Perícia: Recebida a contestação, o juiz, se for o caso, determinará a realização de prova pericial.
As partes (INCRA e expropriado), assim como também o MPF, podem indicar assistentes técnicos
para acompanharam o trabalho do perito.
Despesas judiciais, honorários do advogado e do perito: Veja o que diz o art. 19 da LC 76/93
sobre a responsabilidade pelas despesas judiciais, honorários do advogado e do perito:
Art. 19. As despesas judiciais e os honorários do advogado e do perito constituem
encargos do sucumbente, assim entendido o expropriado, se o valor da indenização
for igual ou inferior ao preço oferecido, ou o expropriante, na hipótese de valor
superior ao preço oferecido.
§ 1º Os honorários do advogado do expropriado serão fixados em até vinte por
cento sobre a diferença entre o preço oferecido e o valor da indenização.
§ 2º Os honorários periciais serão pagos em valor fixo, estabelecido pelo juiz,
atendida à complexidade do trabalho desenvolvido.
Suponhamos que o expropriado foi sucumbente, ou seja, a indenização foi fixada pelo juiz em
valor inferior ao oferecido pelo INCRA. Neste caso, ele terá que pagar honorários periciais aos
assistentes técnicos do INCRA e do MPF? NÃO. É o que foi decidido no Info 626 do STJ.
Os assistentes técnicos do INCRA e do MPF são servidores de carreira das instituições. Não
foram, portanto, contratados de maneira particular para a realização do acompanhamento deste
trabalho pericial. Logo, o expropriado não deverá pagar qualquer valor a este título. Assim,
sendo os assistentes técnicos servidores de carreira da Administração Pública ou do MP, não é
devido o pagamento de honorários periciais pelo expropriado sucumbente, considerando que tais
profissionais recebem remuneração por esse serviço em razão do cargo que ocupam.
20.5. Ente desapropriante não responde por tributos anteriores à desapropriação – (Info 606)
O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas
hipóteses em que o período de ocorrência dos fatos geradores é anterior ao ato de aquisição
originária da propriedade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.668.058-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 8/6/17 (Info 606).
Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, ficar constatado que a área medida
do bem é maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado receberá
indenização correspondente à área registrada, ficando a diferença depositada em Juízo até que,
posteriormente, se complemente o registro ou se defina a titularidade para o pagamento a quem
de direito. A indenização devida deverá considerar a área efetivamente desapropriada, ainda
que o tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de não se configurar
enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.466.747-PE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 24/2/15 (Info 556).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/5/14 (Info 540).
O art. 26 do Decreto-Lei n. 3.365/41 determina que o valor da indenização será calculado com
base no preço do imóvel no momento da perícia (avaliação): “no valor da indenização, que será
contemporâneo da avaliação, não se incluirão os direitos de terceiros contra o expropriado.”
20.10. Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel – (Info
540)
No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que a área
registrada em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá levantar somente
o valor da indenização correspondente à área registrada, devendo o depósito indenizatório
relativo ao espaço remanescente ficar retido em juízo até que o expropriado promova a
retificação do registro ou até que seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio.
STJ. 2ª T. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/5/14 (Info 540).
Não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva florestal não
poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da
produtividade do imóvel rural.
STJ. 2ª T. REsp 1.235.220-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/4/2014 (Info 539).
O novo Código Florestal (Lei 12.651/12) modificou o tratamento legal e passou a dizer que as
reservas florestais devem ser registradas no órgão ambiental. Apesar disso, o STJ decidiu
recentemente que o Novo Código Florestal manteve inalterada a intenção do legislador de
exigir a perfeita identificação da área de reserva legal, modificando apenas o órgão responsável
pelo registro e manutenção desses dados, não se justificando a alteração do entendimento
jurisprudencial a respeito da matéria.
STJ. 2ª T. REsp 1297128/BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 06/06/2013.
O promissário comprador do imóvel tem direito de receber a indenização no caso deste imóvel
ter sofrido desapropriação indireta, ainda que esta promessa não esteja registrada no Cartório
de Registro de Imóveis.
STJ. 2ª T. REsp 1.204.923-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j. 20/3/2012 (Info 493).
22. TOMBAMENTO
22.1. RESPONSABILIDADE PELA CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL TOMBADO – (Info 507)
Em regra, o proprietário não tem direito à indenização por conta das limitações administrativas
que incidam sobre sua propriedade (a limitação administrativa é gratuita).
No entanto, excepcionalmente, a jurisprudência reconhece o direito à indenização quando a
limitação administrativa reduzir o valor econômico do bem.
O prazo prescricional para que o proprietário busque a indenização por conta das limitações
administrativas é de 5 anos.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.317.806-MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 6/11/12 (Info 508).
O Ministério Público Federal é parte ilegítima para ajuizar ação civil pública que visa à
anulação da tramitação de Projeto de Lei do Plano Diretor de município, ao argumento da falta
de participação popular nos respectivos trabalhos legislativos.
No caso concreto, o MPF ajuizou ACP contra o Município de Florianópolis e a União
argumentando que o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara de Vereadores o
projeto de Lei do Plano Diretor da cidade sem a realização das necessárias audiências públicas,
o que violaria o Estatuto da Cidade. O STJ entendeu que a legitimidade para essa demanda
seria do Ministério Público estadual (e não do MPF).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.687.821-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 07/11/17 (Info 616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Procurador da República (Ministério Público Federal)
ajuizou ação civil pública contra o Município de Florianópolis e a União, sob o argumento de que
o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara de Vereadores o projeto de Lei do
Plano Diretor da cidade sem a realização de audiências públicas, o que violaria a garantia da
efetiva participação popular no procedimento, conforme exige a Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da
Cidade):
Art. 40 (...)
§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua
implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:
I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e
de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;
Na ação, o MPF alega que a União possui o dever legal de zelar pela obediência ao Estatuto da
Cidade e que, apesar disso, simplesmente negligenciou de suas funções, sendo, portanto, omissa.
Em virtude disso, o Parquet federal formulou os seguintes pedidos:
a) o trancamento da tramitação do projeto de lei e a sua devolução ao Poder
Executivo municipal;
b) a determinação para que o Município realize as referidas audiências públicas
antes de encaminhar novamente o projeto;
c) a condenação da União a orientar e fiscalizar o estrito cumprimento do Estatuto
da Cidade durante o processo de elaboração do Plano Diretor.
O STJ concordou com a tese do Município? SIM. O que o MPF pretende, na verdade, é impor uma
conduta aos Poderes Executivo e Legislativo do Município. Dessa forma, tal atividade está
relacionada com as atribuições do Ministério Público estadual, conforme se observa pelo art. 27
da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional dos Ministérios Públicos dos Estados):
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas
Constituições Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito:
I - pelos poderes estaduais ou municipais;
II - pelos órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal, direta ou
indireta;
III - pelos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou
municipal;
IV - por entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município
ou executem serviço de relevância pública.
Algumas questões relacionadas com o Plano Diretor, como é o caso da disciplina do uso do solo
urbano, podem ter impacto no meio ambiente, o que poderia legitimar o Ministério Público
Federal para a demanda. Ocorre que não é essa a pretensão específica do MPF. A causa de pedir
da ação proposta pelo MPF diz respeito, exclusivamente, à suposta inobservância das
audiências públicas, não havendo, portanto, um pedido voltado especificamente para a tutela
direta do meio ambiente.
A presença da União no polo passivo não tem o condão de conferir legitimidade ao MPF
porque essa inclusão foi indevida, devendo o ente federal ser excluído da lide, já que não cabe
à União definir o conteúdo de Planos Diretores, uma vez que, por determinação legal e
constitucional, a matéria é de exclusiva competência municipal. Se a União atuasse na forma
como pretende o MPF haveria, na verdade, uma violação aos princípios da legalidade e da
autonomia dos entes federados.
Qual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional
liberal a ele vinculado e a partir de quando é contado?
5 anos. Esse prazo começa a ser contado, não da data em que a infração disciplinar ocorrer, mas
sim do dia em que o Conselho Profissional tiver conhecimento do respectivo fato (art. 1º da Lei
6.838/80).
STJ. 1ª T. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 5/3/2015 (Info 557).
28. OAB
28.1. Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC – (Info
586)
A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de
graduação em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada"
(art. 8º, II, do Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não
ter sido reconhecido pelo MEC.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 14/6/16 (Info 586).
OBS
A Lei não exige que o curso de Direito já tenha sido reconhecido. Desse modo, a exigência de
reconhecimento do curso não encontra amparo legal nem mesmo para a inscrição como advogado,
tendo em vista que a Lei nº 8.906/94 apenas prevê a conclusão do curso em instituição
oficialmente autorizada e credenciada. Portanto, a exigência feita pela OAB foi ilegal.
A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem
mero caráter informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a
participação, em licitações, das empresas ali constantes.
STJ. 1ª Seção. MS 21.750-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/17 (Info 615).
OBS:
CEIS: O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é um banco de informações
mantido pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU)
que consolida a relação das empresas e pessoas físicas que sofreram sanções tendo como efeito
restrição ao direito de participar de licitações ou de celebrar contratos com a Administração
Pública. O CEIS é, portanto, uma fonte de consulta para os gestores públicos quando estão
realizando processos de compras. A Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) trouxe a
obrigatoriedade para os entes públicos de manter o Cadastro atualizado. Assim, existe um sistema
integrado mantido pela CGU, que é alimentado diretamente pelos órgãos e entidades da União,
dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Dessa forma, tão logo uma empresa ou pessoa física
seja punida, o próprio órgão/entidade que aplicou a sanção faz a inclusão no CEIS.
30. ENFITEUSE
30.1. O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança da multa prevista no § 2º do art.
116 do DL 9.760/46 é a data em que a União tem ciência efetiva da ausência de transferência das
obrigações enfitêuticas – (Info 658)
O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança da multa prevista no § 2º do art. 116 do
Decreto-Lei 9.760/46 é a data em que a União tem ciência efetiva da ausência de transferência
das obrigações enfitêuticas.
E quando a União tem essa ciência efetiva? Quando ocorre a comunicação à SPU.
A comunicação à Secretaria de Patrimônio da União - SPU é o momento em que a União toma
conhecimento da alienação, sendo irrelevante a data em que emitida a Declaração de Operação
Imobiliária (DOI).
STJ. 2ª T. REsp 1765707-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/08/19 (Info 658).
O militar temporário não estável, considerado incapaz apenas para o serviço militar, somente
terá direito à reforma ex officio se comprovar o nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a
prestação das atividades militares.
STJ. Corte Especial. EREsp 1123371-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Mauro Campbell
Marques, j. 19/9/18 (Info 643).
31.2. Militares podem autorizar descontos de até 70% da sua remuneração para pagamento de
empréstimo consignado – (Info 618) – Atenção! Concursos Federais!
As Leis 8.112/90 e 10.820/03 preveem que, se o servidor público civil fizer um empréstimo
consignado, o limite máximo de descontos que ele poderá autorizar que sejam feitos em sua
remuneração é de 30% (mais 5% se forem despesas com cartão de crédito).
Esse limite não se aplica para os militares. Isso porque os militares estão submetidos a um
regramento específico previsto na MP 2.215-10/2001, que permite que seja descontado até 70%
da remuneração dos militares para pagamento de empréstimos consignados.
Desse modo, os descontos em folha, juntamente com os descontos obrigatórios, podem alcançar
o percentual de 70% das remunerações ou dos proventos brutos dos servidores militares.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 272665-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 13/12/17 (Info 618).
OBS:
Os servidores públicos militares não estão sujeitos ao limite previsto no art. 45 da Lei nº 8.112/90 e
na Lei nº 10.820/2003.
Por quê? Porque existe uma previsão específica para servidores públicos militares na Medida
Provisória 2.215-10/01. Esta MP trata sobre a reestruturação da remuneração dos militares das
Forças Armadas. Veja o que diz o seu art. 14, § 3º:
Art. 14. Descontos são os abatimentos que podem sofrer a remuneração ou os
proventos do militar para cumprimento de obrigações assumidas ou impostas em
virtude de disposição de lei ou de regulamento.
§ 1º Os descontos podem ser obrigatórios ou autorizados.
§ 2º Os descontos obrigatórios têm prioridade sobre os autorizados.
§ 3º Na aplicação dos descontos, o militar não pode receber quantia inferior a
trinta por cento da sua remuneração ou proventos.
O § 3º acima está dizendo que, mesmo com os descontos, o militar não pode receber menos que
30% de sua remuneração. Em outras palavras, esse § 3º permite que seja descontado até 70% da
remuneração dos militares. Ou seja, enquanto os descontos em folha dos servidores públicos civis
não podem ultrapassar o valor de 30% da remuneração ou do provento, os descontos em folha dos
servidores militares devem respeitar o limite máximo de 70% da remuneração ou dos proventos.
Mas este valor de desconto (70%) é muito alto, desproporcional... O Poder Judiciário não pode
corrigir isso? NÃO. Foi uma opção do legislador. Logo, não compete ao Poder Judiciário alterar
esse quantum com base nos princípios da proporcionalidade ou razoabilidade, sob pena de
incorrer em flagrante interpretação contra legem, a violar o princípio constitucional da
legalidade e a invadir a esfera de competência do Poder Legislativo. Com efeito, os descontos
em folha de pagamento de servidores públicos militares não estão sujeitos à limitação de 30%
prevista nos arts. 2º, § 2º e 6º, § 5º, ambos da Lei 10.820/03 c/c art. 45 da Lei 8.112/90. Isso porque
os militares estão submetidos a um regramento específico capaz de afastar a limitação contida
nas Leis 8.112/90 e 10.820/03 a partir do art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, que assim dispõe: "a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das
já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior". Essa norma específica está no art. 14, § 3º,
da Medida Provisória n. 2.215-10/2001, pois assevera que os militares não podem receber quantia
inferior a 30% da remuneração ou proventos.
32.2. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO: Qual infração de trânsito pratica o condutor que se recusa a
fazer o teste do "bafômetro" e/ou os exames clínicos? – (Info 612)
A sanção do art. 277, § 3º, do CTB dispensa demonstração da embriaguez por outros meios de
prova, uma vez que a infração reprimida não é a de embriaguez ao volante, prevista no art. 165,
mas a de recusa em se submeter aos procedimentos do caput do art. 277, de natureza
instrumental e formal, consumada com o comportamento contrário ao comando legal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.677.380-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 10/10/17 (Info 612).
Obs: a conclusão acima exposta foi acolhida pelo legislador que, por meio da Lei 13.281/16,
acrescentou uma infração administrativa exclusivamente para o condutor que se recusar a se
submeter ao teste de etilômetro e/ou exames clínicos. Logo, atualmente, tais situações se
enquadram no novo art. 165-A ao CTB, que tem a seguinte redação:
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277.
32.3. Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT – (Info 586) – Atenção!
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33. IBGE
33.1. Sigilo das informações coletadas pelo IBGE – (Info 617)
O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações
individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em
quaisquer outros procedimentos administrativos.
STJ. 1ª Turma.REsp 1353602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 30/11/17 (Info 617).
Não é válido o disposto no art. 1º, II, do Decreto nº 7.860/2012, que estabelece a intervenção da
autoridade pública na atividade de praticagem para promover, de forma ordinária e
permanente, a fixação dos preços máximos a serem pagos na contratação dos serviços em cada
zona portuária.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.662.196-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 19/9/17 (Info 612).
37. ROYALTIES
37.1. Pontos de entrega de gás canalizado e pagamento de royalties – (Info 625) – Carreiras
Federais!
A Lei nº 12.734/2012, que alterou os arts. 48, § 3º, e 49, § 7º, da Lei nº 9.478/1997 e passou a
considerar os pontos de entrega de gás canalizado (city gates) como instalações de embarque e
desembarque, para fins de pagamento de royalties aos municípios afetados por tais operações,
não tem eficácia retroativa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.452.798-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de
Faria, j. 19/4/2018 (Info 625).
38. FUNDEP
38.1. É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a
diferenças do FUNDEF – (Info 643) – IMPORTANTE!!!