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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Atualizado em 02/12/2020: novas questões de concurso e julgados.

Pontos atualizados: nº 18 (Info 655); nº 12 (Info 656); nº 17 (Info 657); nº 07 (Info 658); nº 20
(Info 658); nº 30 (Info 658); nº 07 (Info 659); Info 20 (Info 660); nº 03 (Info 676)

1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO: É possível o corte da
energia elétrica por fraude no medidor, desde que cumpridos alguns requisitos – (Info 634) –
IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!! – (TJBA-2019)

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho


medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço
de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo
recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude,
contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem
prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da
dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.412.433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/4/18 (recurso repetitivo) (Info
634).
(TJBA-2019-CESPE): O corte de energia elétrica pela administração pública é inadmissível caso
a dívida derivada de fraude no medidor cometida pelo consumidor seja relativa a período
anterior a noventa dias precedentes à constatação da fraude. BL: Info 634, STJ.

OBS: Não se trata propriamente de uma alteração do posicionamento antigo, mas sim de uma
decisão mais completa em relação ao julgado veiculado no Info 508 do STJ.

1.2. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE: Imprensa tem direito de acesso a informações


detalhadas do cartão corporativo do governo – (Info 552) – IMPORTANTE!!!

Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relação dos gastos efetuados
com o cartão corporativo pela chefe da representação da Presidência da República em SP.
O Governo concedeu ao jornal a relação dos gastos efetuados no período, ou seja, os valores
despendidos. No entanto, negou-se a fornecer informações detalhadas como os tipos de gastos,
as datas, valores individuais de cada transação, CNPJ/razão social das empresas contratadas etc.
O STJ entendeu que essa recusa ao fornecimento do extrato completo (incluindo tipo, data,
valor das transações efetuadas e CNPJ dos fornecedores) constitui ilegal violação ao direito de
acesso à informação de interesse coletivo (Lei 12.527/2011), já que não havia qualquer evidência
de que a publicidade desses elementos atentaria contra a segurança do Presidente e Vice-
Presidente da República ou de suas famílias.
STJ. 1ª Seção. MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 12/11/14 (Info 552).

1.3. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS: Corte de serviços


públicos essenciais e débitos pretéritos – (Info 508)

Não é legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a inadimplência


do consumidor decorrer de débitos pretéritos, o débito originar-se de suposta fraude no
medidor de consumo de energia apurada unilateralmente pela concessionária e inexistir aviso
prévio ao consumidor inadimplente.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 211.514-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 18/10/12 (Info 508).

2. PODERES ADMINISTRATIVOS
2.1. PODER DE POLÍCIA: O termo “bombeiro civil” pode ser utilizado pelos profissionais de
empresas privadas atuantes no ramo – (Info 648)

Profissionais de empresas privadas que exerçam atividade de prevenção e combate ao incêndio


podem adotar a nomenclatura “bombeiro civil”.
O art. 2º da Lei 11.901/09 dispõe que são “bombeiros civis” (também chamado de “brigadista
particular”) os empregados contratados tanto por empresas públicas quanto privadas que
exerçam atividade de prevenção e combate ao incêndio.
A Lei 12.664/12 não revogou a Lei 11.901/09, mas apenas proibiu o uso de uniformes que
possuam insígnias, distintivos e emblemas representativos das instituições públicas.
STJ. 1ª T. REsp 1.549.433-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 9/4/19 (Info 648).

2.2. PODER DE POLÍCIA: Agência de turismo que faça câmbio é equiparada à instituição
financeira e está sujeita à fiscalização do BACEN – (Info 647) – Atenção! Concursos Federais!

A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada


a instituição financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do Banco Central.
Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham
como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de
propriedade de terceiros (art. 17 da Lei nº 4.595/64).
STJ. 1ª T. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 9/4/19 (Info 647).

ATENÇÃO: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o
Sistema Financeiro Nacional (art. 1º, I, da Lei 7.492/86): STJ. 5ª T. RHC 9.281/PR, Rel. Min.
Gilson Dipp, DJe 30/10/2000.

2.3. PODER DE POLÍCIA: Competência do DNIT para fiscalizar trânsito nas rodovias e
estradas federais – (Info 623) – Apenas Concursos Federais!!!

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para a


fiscalização do trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não
exclusivo, penalidade por infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da
conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da Lei 10.233/01 e 21 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito
Brasileiro).
STJ. 1ª Seção. REsp 1588969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 28/2/18 (recurso repetitivo)
(Info 623).

2.4. PODER DE POLÍCIA: Fiscalização prévia do camarão in natura – (Info 620)

É obrigatória a prévia fiscalização do camarão in natura, ainda que na condição de matéria-


prima, antes do beneficiamento em outros Estados da Federação, podendo tal atividade ser
realizada no próprio estabelecimento rural onde se desenvolve a carcinicultura.
STJ. 1ª Turma. REsp 1536399-PI, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 8/2/18 (Info 620).

2.5. PODER DE POLÍCIA: Empresas brasileiras poderão desenvolver atividades de segurança


privada, ainda que tenham sócios estrangeiros – (Info 596)

A Lei 7.102/83 estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares
que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores.
O art. 11 dessa Lei prevê que “a propriedade e a administração das empresas especializadas que
vierem a se constituir são vedadas a estrangeiros.”
Esse art. 11 deve ser interpretado segundo a Constituição Federal que, desde a EC 6/95, proíbe,
em regra, que a lei faça discriminação entre “empresa brasileira de capital nacional” e “empresa
brasileira de capital estrangeiro”. Em outras palavras, para o texto constitucional atual, em
regra, desde que uma empresa seja brasileira (constituída no Brasil e sujeita às leis brasileiras),
a origem do seu capital é irrelevante.
Diante disso, a interpretação atual do art. 11 deve ser a seguinte:
 Empresas constituídas no exterior são proibidas de atuar no setor de segurança privada.

 Todavia, empresas que sejam constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede
e administração no País são consideradas “empresas brasileiras” (art. 1.126 do Código
Civil), sendo irrelevante que tenham na sua composição societária, direta ou
indiretamente, participação ou controle pelo capital estrangeiro.

 Logo, “empresas brasileiras” poderão praticar atividades de segurança privada no país


ainda que tenham sócios estrangeiros.
A restrição veiculada pelo art. 11 da Lei 7.102/83, de acordo com a CF/88, não impede a
participação de capital estrangeiro nas sociedades nacionais (empresas brasileiras) que prestam
serviço de segurança privada.
STJ. 1ª Seção. MS 19.088-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/12/16 (Info 596).

2.6. PODER DE POLÍCIA: Não cabe ao Banco Central fiscalizar o Serasa – (Info 595)

O Banco Central tem o dever de exercer o controle do crédito e fiscalizar a atividade das
instituições financeiras.
O Serasa não é uma instituição financeira, considerando que não exerce coleta, intermediação
nem aplicação de recursos financeiros, nem a custódia de valor de propriedade de terceiros, seja
como atividade principal ou acessória.
Logo, não é da atribuição do Banco Central a fiscalização das atividades do Serasa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.768-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 1/12/16 (Info 595).

2.7. PODER DE POLÍCIA: Atribuição para classificar como medicamento produto importado
– (Info 577) – IMPORTANTE!!!

Se a ANVISA classificou determinado produto importado como "cosmético", a autoridade


aduaneira não poderá alterar essa classificação para defini-lo como "medicamento".
Incumbe à ANVISA regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam
risco à saúde pública (art. 8º da Lei 9.782/99). Assim, é da Agência a atribuição de definir o que
é medicamento e o que é cosmético.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.555.004-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/2/16 (Info 577).
OBS:
 Quando se confere a certo e determinado órgão administrativo alguma atribuição
operacional, está-se, por via de consequência, excluindo esta atribuição dos demais órgãos
administrativos. Isso é um dos pilares do funcionamento estatal e abalá-lo seria o mesmo que
abrir a porta da Administração para a confusão, a celeuma e o caos.
 Cabe à ANVISA não somente a competência para realizar a classificação do produto, mas
também o dever da vigilância sanitária, atribuição que não pertence à autoridade aduaneira,
inclusive porque os seus agentes não dispõem do conhecimento técnico-científico exigido
para isso.
 Se a autoridade aduaneira pudesse classificar livremente os produtos importados, é evidente
que as alíquotas aplicadas seriam sempre as mais elevadas.
 No caso concreto, a ANVISA expediu um parecer definindo a natureza cosmetológica do
sabão antiacne, de modo que se pode considerar na via administrativa essa questão como
uma questão encerrada, até porque o Fisco não é instância revisora das decisões da
ANVISA.

2.8. PODER DE POLÍCIA: Compete aos Conselhos Regionais de Farmácia fiscalizar se as


drogarias e farmácias funcionam com a presença constante de um farmacêutico – (Info 554)

As farmácias e drogarias deverão, obrigatoriamente, ter em seu estabelecimento, durante todo o


período de funcionamento, um farmacêutico inscrito no Conselho Regional de Farmácia.
A competência para fiscalizar essa exigência é dos Conselhos Regionais de Farmácia.
A Vigilância Sanitária não fiscaliza a presença do farmacêutico no estabelecimento. Sua
atuação fica restrita ao licenciamento do estabelecimento e à fiscalização do cumprimento de
padrões sanitários.
Em suma, o STJ definiu a seguinte tese:
“Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem competência para fiscalização e autuação das
farmácias e drogarias, quanto ao cumprimento da exigência de manterem profissional
legalmente habilitado (farmacêutico) durante todo o período de funcionamento dos respectivos
estabelecimentos, sob pena de esses incorrerem em infração passível de multa, nos termos do
art. 24 da Lei 3.820/1960, c/c o art. 15 da Lei 5.991/1973.”
STJ. 1ª Seção. REsp 1.382.751-MG, Rel. Min. Og Fernandes, j. 12/11/14 (recurso repetitivo) (Info
554)

2.9. PODER DE POLÍCIA: Ausência de autorização do Poder Público para exploração de


serviço de radiodifusão x Poder de Policia – (Sem Info) (Anal. Legisl./Câm. Deputados-2014)

A exploração dos serviços de radiodifusão, inclusive comunitária de baixa potência, depende de


autorização ou concessão do Poder Concedente, sendo indevido o funcionamento de rádio
comunitária sem o prévio licenciamento.
Inexistindo a regular autorização do Poder Público para a exploração do serviço de radiodifusão
ressai perfeitamente legal, a despeito da abertura ou não de processo administrativo, a
interrupção e lacre das transmissões, estando tal proceder dentro do poder de polícia da
Administração Pública.
STJ, 1ª Turma. AgRg no REsp 1074432/MG, Rel. Min Francisco Falcão, j. 06/11/2008.
(Anal. Legisl./Câm. Deputados-2014-CESPE): Suponha que Paulo possua rádio de transmissão
clandestina, sem a devida autorização do órgão competente, em pleno funcionamento. Nessa
situação, segundo o STJ, ao descobrir esse fato, a administração pública deve interromper a
transmissão e lacrar o local imediatamente, sem prévia manifestação de Paulo, porque essa
forma de ação decorre diretamente do exercício do poder de polícia, não se tratando,
propriamente, de uma sanção administrativa.

OBS: Observe que a intervenção é decorrente de uma medida autoexecutória do poder de


polícia. Nesse caso, podemos dizer que a ação não se trata, "propriamente, de uma sanção
administrativa". Se fosse administrativa, Paulo teria sido chamado, previamente, para dar
esclarecimentos. Ou seja, a autoexecutoriedade dispensou o processo administrativo que
investigaria a irregularidade. Não havendo processo administrativo, não há que se falar em
sanção administrativa.

3. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
3.1. FUNDAÇÕES PÚBLICAS DE DIREITO PRIVADO: As fundações públicas de direito
privadas fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais –
(Info 676) – IMPORTANTE!!!

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.
A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de
direito público. Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao
conferido aos entes da Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de
direito público, que se adquire no momento de sua criação, decorrente da própria lei.
STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/03/20 (Info 676)

3.2. SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS: Serviços sociais autônomos não devem figurar no
polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições
sociais – (Info 646)

As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações
judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a
repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas.
Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas
de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte
e ente federado.
O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse
jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos
serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/04/2019 (Info 646).

3.3. Legitimidade do Município para defesa dos consumidores – (Info 626) – IMPORTANTE!!!

Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos
consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades institucionais
a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige
pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil pública
contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa bancária denominada
“renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias. O banco contestou a
demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem legitimidade ad causam
para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de
uma tarifa bancária.
O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade? SIM. É o que foi decidido no Info 626 do STJ.

A legitimidade extraordinária dos entes políticos: Os entes federativos ou políticos, enquanto


gestores da coisa pública e do bem comum, são, em tese, os maiores interessados na defesa dos
interesses metaindividuais, considerando que o Estado “tem por fim o bem comum de um povo
situado em um determinado território” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral
do estado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 100). Assim, na defesa do bem comum do povo, cabe aos
órgãos públicos promover a tutela dos interesses da população. Trata-se, em verdade, de dever-
poder, o que impõe aos entes políticos o dever de agir na defesa de interesses metaindividuais.
Ademais, a legitimação dos entes políticos para a defesa de interesses metaindividuais é
justificada pela qualidade de sua estrutura, capaz de conferir maior probabilidade de êxito na
implementação da tutela coletiva.

Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos: No caso de ação civil
pública proposta por ente político, a pertinência temática ou representatividade adequada são
presumidas. Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas
finalidades institucionais, a defesa coletiva dos consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando
constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos


consumidores, o Município é o ente político que terá maior contato com as eventuais lesões
cometidas contra esses interesses, pois, “por certo, será no Município que esses fatos ensejadores
da ação civil pública se farão sentir com maior intensidade [...] em face da proximidade, da
imediatidade entre ele e seus munícipes” (LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do Processo
Coletivo. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).

Como foi cobrado em concursos:


 “A ação civil pública não poderá ser proposta pelos Estados e Municípios”. (Analista
Judiciário – TRF3 – FCC- 2007 – Falso)
 “O Município não tem legitimidade para propor ação civil pública”. (Procurador
Municipal de Poá-SP – VUNESP – 2014 – Falso).
 “Têm legitimidade para propor a ação civil pública, dentre outros, os Municípios”.
(Analista Judiciário – TRT 11a – FCC – 2017 – Verdadeiro).

3.4. Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios –
(Info 610) – Atenção! Advocacia Pública!

Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo
direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito público.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/6/17 (Info 610).
OBS:
Quem representa os Municípios em juízo: A representação judicial dos Municípios, ativa e
passivamente, deve ser exercida por seu Prefeito ou Procurador, conforme previsto no art. 75, III,
do CPC/2015:
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: (...)
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;

Portanto, não é possível que essa regra expressa seja alterada para que a representação se faça
por associação de municípios.

A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito privado, haja
vista que se submete às normas de direito público. Assim sendo, não se pode admitir que haja
uma delegação para que uma pessoa jurídica de direito privado (associação) possa tutelar
interesses de pessoa jurídica de direito público (Município).

Em qualquer tipo de ação, permitir que os Municípios sejam representados por associações
equivaleria a autorizar que eles dispusessem de uma série de privilégios materiais e processuais
estabelecidos pela lei em seu favor. E, como esses privilégios visam a tutelar o interesse público,
não há como os Munícipios disporem deles ajuizando suas ações por meio de associações, pois o
interesse público é indisponível.
Existem outros precedentes do STJ no mesmo sentido:
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito
privado, haja vista que se submete às normas de direito público. Assim sendo,
insuscetível de renúncia ou de delegação a pessoa jurídica de direito privado, tutelar
interesse de pessoa jurídica de direito público sob forma de substituição processual.
STJ. 2ª Turma. REsp 1446813/CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j.
20/11/2014.

4. ATOS ADMINISTRATIVOS
4.1. CONTROLE DE ATOS ADMINISTRATIVOS: Judiciário pode determinar que
Estado implemente plantão em Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator – (Info
609)

A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24


horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui
abuso de poder, tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder
Judiciário.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20/6/17 (Info
609).
OBS: Assim, o STJ considerou que, ao não se oferecer plantão 24 horas na Delegacia
especializada de apuração dos atos infracionais, houve violação à CF/88, ao art. 172 do ECA
e também ao item 12.1 das Regras de Beijing considerando que, fora do horário de
funcionamento da Delegacia, os jovens infratores serão submetidos às unidades policiais
comuns, onde estarão expostos ao contato com presos maiores de idade.

A decisão governamental de encerrar o plantão na Delegacia não é uma escolha aceitável do


Estado sob os aspectos moral e ético, representando induvidosa preterição de uma prioridade
imposta pela Constituição Federal, além de conduta contrária à lei e ao tratado internacional,
constituindo, portanto, hipótese na qual se admite que o Poder Judiciário intervenha
legitimamente no caso mesmo em se tratando de um ato discricionário.

A jurisprudência do STF entende que o Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode


determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias de direitos
constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure violação do
princípio da separação de Poderes (STF. 1ª T. ARE 886710 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j.
3/11/15).

Comando: Ante o exposto, o STJ deu provimento ao recurso especial interposto pelo MP e
determinou que o Estado do Mato Grosso do Sul implementasse, no prazo máximo de 120
dias, o regime de plantão de 24 horas na Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e
Juventude de Campo Grande/MS, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.

4.2. Portaria interministerial produzida, em conjunto, por dois Ministérios não pode ser
revogada por portaria posterior editada por apenas uma das Pastas – (Info 597)

A portaria interministerial editada pelos Ministérios da Educação e do Planejamento


demanda a manifestação das duas Pastas para a sua revogação.
Ex: o art. 7º do Decreto 6.253/07 determinou que os Ministérios da Educação e da Fazenda
deveriam editar um ato conjunto definindo os valores, por aluno, para fins de aplicação
dos recursos do FUNDEB. Atendendo a este comando, em março de 2009, os Ministros da
Educação e da Fazenda editaram a Portaria interministerial 221/09 estipulando tais valores.
Ocorre que alguns meses depois, o Ministro da Educação editou, sozinho, ou seja, sem o
Ministro da Fazenda, a Portaria 788/09 revogando a Portaria interministerial 221/09 e
definindo novos valores por aluno para recebimento dos recursos do FUNDEB. O STJ
concluiu que esta segunda portaria não teve o condão de revogar a primeira. A
regulamentação do valor por aluno do FUNDEB exige um ato administrativo complexo
que, para a sua formação, impõe a manifestação de dois ou mais órgãos para dar existência
ao ato (no caso, portaria interministerial). Por simetria, somente seria possível a revogação
do ato administrativo anterior por autoridade/órgão competente para produzi-lo. Em suma,
o primeiro ato somente poderia ser revogado por outra portaria interministerial das duas
Pastas.
STJ. 1ª Seção. MS 14.731/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 14/12/16 (Info 597).

4.3. Incompetência do Poder Judiciário para autorizar o funcionamento de rádio


educativa – (Info 562)

O Poder Judiciário não tem competência para autorizar, ainda que a título precário, a
prestação de serviço de radiodifusão com finalidade exclusivamente educativa.
O art. 223 da CF/88 atribui competência ao Poder Executivo para outorgar e renovar
concessão, permissão e autorização, bem como fiscalizar o serviço de radiodifusão sonora e
de sons e imagens.
O funcionamento das rádios educativas, mesmo que a título precário, está definido na
legislação infraconstitucional, em portaria do Ministério das Comunicações e em portaria
interministerial do Ministério das Comunicações e do Ministério da Educação, exigindo
prévia outorga do poder concedente, a qual não pode ser suprida por autorização judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.353.341-PE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 12/5/15 (Info 562).

5. LICITAÇÕES
5.1. Empresa em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre a
sua viabilidade econômica – (Info 631) – IMPORTANTE!!!

Sociedade empresária em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que


demonstre, na fase de habilitação, a sua viabilidade econômica.
STJ. 1ª Turma. AREsp 309867-ES, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 26/6/18 (Info 631).
OBS: Vejamos o teor do art. 31, II da Lei 8.666/93:
Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-
á a: (...)
II - certidão negativa de falência ou concordata expedida pelo distribuidor da
sede da pessoa jurídica, ou de execução patrimonial, expedida no domicílio da
pessoa física;

Se você observar novamente a redação do art. 31, II, da Lei 8.666/93, verá que ela ainda fala
em “concordata”. Assim, o art. 31 da Lei 8.666/93 não teve o texto alterado para se amoldar à
nova sistemática, tampouco foi derrogado (expressamente).

Diante dessa situação, surgiu a seguinte polêmica na doutrina:


As restrições impostas à antiga concordata aplicam-se agora para a recuperação judicial?

Quando o art. 31, II, da Lei 8.666/93 fala em “concordata”, deve-se ler agora “recuperação
judicial”?

A empresa que participar de licitação deverá apresentar certidão negativa de recuperação


judicial?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Os efeitos da concordata sobre a Como o art. 31, II, da Lei de Licitações não foi
contratação administrativa devem ser alterado para substituir certidão negativa de
aplicados à recuperação judicial. Isso concordata por certidão negativa de
porque há a presunção de insolvência da recuperação judicial, a Administração não
empresa em crise. Desse modo, pode exigir tal documento como condição de
empresas que estão em recuperação habilitação, haja vista a ausência de
judicial não poderiam participar de autorização legislativa. Assim, as empresas
licitações. submetidas à recuperação judicial estão
dispensadas da apresentação da referida
certidão.
É a posição, por exemplo, de Marçal É a posição defendida por Joel de Menezes
Justen Filho (Comentários à Lei de Niebuhr (Licitação Pública e Contrato
Licitações e Contratos Administrativos. 16ª Administrativo. 4ª ed., Belo Horizonte: Fórum,
ed., São Paulo: RT, 2014, p. 638). 2015, p. 447).
Foi a corrente adotada pelo STJ.
 
O art. 31, II da Lei 8.666/93 é uma norma restritiva e, por isso, não admite interpretação que
amplie o seu sentido. Por força do princípio da legalidade, é vedado à Administração
conferir interpretação extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o dispuser
de forma expressa. Logo, é incabível a automática inabilitação de empresas em recuperação
judicial unicamente pela não apresentação de certidão negativa.

Vale ressaltar que o art. 52, I, da Lei 11.101/05, que é posterior à Lei de Licitações, prevê a
possibilidade de as empresas em recuperação judicial contratarem com o Poder Público
(devendo apresentar ao Poder Público as certidões positivas de débitos). Ora, se tais
empresas podem contratar com o poder público, devemos interpretar que o legislador
permitiu que elas participassem de licitações, considerando que, em regra, só se pode
contratar com a Administração Pública após prévio procedimento licitatório. Veja:
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz
deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...)
II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o
devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público
ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
observando o disposto no art. 69 desta Lei;

O objetivo primordial da Lei 11.101/05 é viabilizar a superação da situação de crise


econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação
da empresa, a sua função social e o estímulo à atividade econômica. Diferentemente da
concordata, cujo objetivo precípuo era o de assegurar a proteção dos credores e a recuperação
de seus créditos, a nova Lei busca a proteção da empresa que se encontre em dificuldades
econômicas.

A interpretação sistemática dos dispositivos da Lei 8.666/93 e da Lei 11.101/05 nos leva à
conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada entre os princípios nelas
imbuídos, pois a preservação da empresa, a sua função social e o estímulo à atividade
econômica atendem também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se
busca a manutenção da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.

Negar à pessoa jurídica em crise econômico-financeira o direito de participar de licitações


públicas, única e exclusivamente pela ausência de entrega da certidão negativa de
recuperação judicial, vai de encontro ao sentido atribuído pelo legislador ao instituto
recuperacional.

Cautelas podem ser exigidas para se demonstrar a capacidade econômica da empresa: É


necessário que se adotem providências a fim de avaliar se a empresa recuperanda
participante do certame, caso seja vencedora, tem condições de suportar os custos da
execução do contrato. Significa dizer, é preciso aferir se a empresa sujeita ao regime da Lei
11.101/05 possui aptidão econômica e financeira, conforme exige o art. 27, III, da Lei
8.666/93:
Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,
exclusivamente, documentação relativa a: (...)
III - qualificação econômico-financeira;

Daí se infere que a dispensa de apresentação de certidão negativa não exime a empresa em
recuperação judicial de comprovar a sua capacidade econômica para poder participar da
licitação.

Se a empresa estiver em recuperação judicial, caberá à Administração Pública (pregoeiro


ou comissão de licitação) diligenciar a fim de avaliar a real situação de capacidade
econômico-financeira da empresa licitante.

Dessa forma, a exigência de apresentação de certidão negativa de recuperação judicial deve


ser relativizada a fim de possibilitar à empresa em recuperação judicial participar do
certame, desde que demonstre, na fase de habilitação, a sua capacidade econômica.

5.2. Flexibilização da Lei 8.666/93 no “Minha Casa, Minha Vida” – (Info 624) –
IMPORTANTE!!!
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no Programa Minha
Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, desde que se
observem os princípios gerais da administração pública.
STJ. 2ª Turma. REsp 1687381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/4/18 (Info 624).
OBS:
Lei 10.188/2001: A Lei 10.188/01 criou o Programa de Arrendamento Residencial. O objetivo
desse Programa foi o de garantir moradia à população de baixa renda, sob a forma de
arrendamento residencial com opção de compra. A gestão do Programa cabe ao Ministério
das Cidades e sua operacionalização à Caixa Econômica Federal (CEF). Tendo em vista o
caráter social do programa, o legislador decidiu que as regras de licitação poderiam ser
flexibilizadas. Confira:
Art. 4º (...)
Parágrafo único. As operações de aquisição, construção, recuperação,
arrendamento e venda de imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela
CEF, respeitados os princípios da legalidade, finalidade, razoabilidade,
moralidade administrativa, interesse público e eficiência, ficando dispensada
da observância das disposições específicas da lei geral de licitação.

Pergunta: Esse art. 4º, § único, da Lei 10.188/01, que flexibiliza as regras de licitação, pode
ser aplicado também para o programa “Minha Casa, Minha Vida”? SIM.
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no
Programa Minha Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei
10.188/01, desde que se observem os princípios gerais da administração
pública. STJ. 2ª T. REsp 1.687.381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/4/18 (Info
624).

Programa Minha Casa, Minha Vida: “Minha Casa, Minha Vida” é um programa
habitacional que tem por objetivo criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição
de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou
reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (art. 1º da
Lei nº 11.977/2009).
Trata-se hoje da principal política habitacional do país que objetiva o desenvolvimento
urbano e o acesso à moradia para famílias de baixa renda, a fim de reduzir o enorme déficit
habitacional brasileiro e também os impactos ambientais e sociais decorrentes das ocupações
irregulares e das habitações precárias.
O interesse social desse Programa é inegável, principalmente na perspectiva da efetivação do
direito fundamental à moradia digna, da inserção desse direito entre as necessidades básicas
dos brasileiros e da competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
para promover programas de construção de moradias e melhorias das condições
habitacionais, nos termos dos arts. 1º, III, 7º, IV, e 23, IX, da Constituição Federal.
Em face da peculiaridade de sua natureza e do flagrante interesse social envolvido no
“Programa Minha Casa, Minha Vida”, por força do art. 4º, § único, da Lei 10.188/01,
eventualmente, as regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas,
desde que se observem os princípios gerais da administração pública, isto é, aqueles
previstos no art. 37 da Constituição Federal e que se consubstanciam em legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

5.3. Proibição do art. 9º, III, da Lei 8.666/93 permanece mesmo que o servidor esteja
licenciado – (Info 602) – (MPMG-2018)

Se um servidor público for sócio ou funcionário de uma empresa, ela não poderá participar
de licitações realizadas pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado este servidor
público (art. 9º, III, da Lei nº 8.666/93).
O fato de o servidor estar licenciado do cargo não afasta a referida proibição, considerando
que, mesmo de licença, ele não deixa possuir vínculo com a Administração Pública.
Assim, o fato de o servidor estar licenciado não afasta o entendimento segundo o qual não
pode participar de procedimento licitatório a empresa que possuir em seu quadro de
pessoal servidor ou dirigente do órgão contratante ou responsável pela licitação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.607.715-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 7/3/17 (Info 602).
5.4. Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei n. 10.520/02 (Lei do Pregão) – (Info
561)

O pregão é uma modalidade de licitação disciplinada pela Lei 10.520/2002.


O art. 7º da Lei prevê que o licitante que for convocado dentro do prazo de validade de sua
proposta e não celebrar o contrato, deixar de entregar a documentação, apresentar
documentação falsa, retardar a execução do que contratado, não mantiver a proposta, falhar
ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude
fiscal, ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou
Municípios pelo prazo de até 5 anos.
Esse prazo de 5 anos (ou menos) de punição começa a ser contado quando? Inicia-se com a
publicação da decisão no Diário Oficial ou somente no dia em que é feito o registro
negativo sobre a empresa no SICAF? Isso é importante porque a inserção dessa informação
no SICAF pode demorar um tempo para acontecer. Qual é, portanto, o termo inicial da
sanção?
A data da publicação no Diário Oficial.
O termo inicial para efeito de contagem e detração (abatimento) da penalidade prevista no
art. 7º da Lei 10.520/02, aplicada por órgão federal, coincide com a data em que foi
publicada a decisão administrativa no Diário Oficial da União – e não com a do registro no
SICAF.
STJ. 1ª Seção. MS 20.784-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves
Lima, j. 9/4/15 (Info 561).

6. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
6.1. Contratos de franquia dos Correios celebrados sem licitação – (Info 616) – Apenas
Concursos Federais!

Os contratos das Agências de Correios Franqueadas em vigor em 27 de novembro de 2007 que


não sejam precedidos de licitação possuem eficácia até que as novas avenças sejam firmadas,
ainda que descumprido o prazo estabelecido pelo art. 7º, parágrafo único, da Lei 11.668/08.
STJ. 1ª Turma. AREsp 613.239-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 07/11/17 (Info 616).
OBS:
Art. 7º Até que entrem em vigor os contratos de franquia postal celebrados de
acordo com o estabelecido nesta Lei, continuarão com eficácia aqueles firmados com
as Agências de Correios Franqueadas que estiverem em vigor em 27 de novembro
de 2007.
Parágrafo único. A ECT deverá concluir as contratações a que se refere este artigo
até 30 de setembro de 2012. (Redação dada pela Lei nº 12.400, de 2011).

Como se vê o prazo do parágrafo único do art. 7º já se esgotou. Apesar disso, continuam existindo
contratos que não foram regularizados. Qual é a situação desses contratos? Eles continuam
produzindo efeitos. O STJ decidiu que, mesmo ultrapassado esse prazo do art. 7º, parágrafo
único, da Lei 11.668/08, enquanto não houver a regularização, tais contratos continuam
produzindo efeitos. Em homenagem ao princípio da continuidade dos serviços públicos,
enquanto não houver a assinatura de novos contratos de franquia, os antigos deverão continuar
produzindo efeitos mesmo que tenham sido firmados sem licitação. Não se trata de perpetuar os
contratos sem licitação, mas sim de respeitar a continuidade dos serviços públicos até que novos
ajustes sejam firmados.

O Decreto nº 6.639/2008 determinou a extinção automática de todos os contratos de franquia


firmados sem prévia licitação após o prazo do art. 7º, § único, da Lei 11.668/08, mesmo que ainda
não tenham sido celebrados novos pactos. Essa previsão é válida? NÃO. O STJ entendeu que essa
previsão do Decreto é ilegal porque a Lei 11.668/08 conferiu um prazo para a realização de novos
contratos, mas não determinou a extinção automática dos anteriores, exigindo que eles
permaneçam eficazes até que novos ajustes sejam firmados. Logo, o Decreto disse mais do que a
Lei e violou o princípio da continuidade dos serviços públicos.

6.2. Princípio da intranscendência e entidade integrante de consórcio público com pendência


no CAUC – (Info 577) – IMPORTANTE!!!

Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos
repasses federais, o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no
CAUC não pode impedir que o consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio
público é uma pessoa jurídica distinta dos entes federativos que o integram e, segundo o
princípio da intranscendência das sanções, as punições impostas não podem superar a
dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar outras pessoas
jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de
Informações para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus,
após a celebração de convênio, à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC
101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, j. 10/11/15 (Info 577).
OBS:
Lei 13.821/19: Inseriu o parágrafo único ao art. 14 da Lei 11.107/05, encampando esse
entendimento do STJ e afirmando, expressamente, que os requisitos de regularidade para a
celebração do convênio entre a União e o Consórcio devem ser analisados com base na pessoa
jurídica do Consórcio, não havendo motivos para se negar a assinatura do instrumento por conta
de restrições existentes em nome de um dos integrantes do Consórcio, tendo em vista que são
pessoas jurídicas distintas:
Art. 14. A União poderá celebrar convênios com os consórcios públicos, com o
objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação de políticas públicas em
escalas adequadas.
Parágrafo único. Para a celebração dos convênios de que trata o caput deste artigo,
as exigências legais de regularidade aplicar-se-ão ao próprio consórcio público
envolvido, e não aos entes federativos nele consorciados. (Parágrafo único inserido
pela Lei nº 13.821/2019)

6.3. Ação de consignação em pagamento proposta pela União para afastar eventual
responsabilização trabalhista subsidiária - (Info 571) - Atenção! Advocacia Pública!

Imagine a seguinte situação: a União possui um contrato com a empresa privada "XXX
Vigilância Ltda". Por meio deste contrato, a empresa, com seus funcionários, obrigou-se a fazer
a vigilância armada do prédio onde funciona o órgão público federal, recebendo, em
contraprestação, R$ 200 mil mensais. A União, percebendo que a empresa estava atrasando os
salários e com receio de ser condenada por responsabilidade subsidiária (Súmula 331 do TST),
decidiu suspender o pagamento da contraprestação mensal devida e ajuizar ação de
consignação em pagamento a fim de depositar em juízo os R$ 200 mil previstos no contrato.
Surgiu, no entanto, uma dúvida: onde deverá ser proposta essa ação, na Justiça Federal comum
ou na Justiça do Trabalho?
Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação de
consignação em pagamento movida pela União contra sociedade empresária por ela contratada
para a prestação de serviços terceirizados, caso a demanda tenha sido proposta com o intuito de
evitar futura responsabilização trabalhista subsidiária da Administração nos termos da Súmula
331 do TST.
STJ. 2ª Seção. CC 136.739-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 23/9/2015 (Info 571).

6.4. Regularidade fiscal durante o contrato – (Info 507) – IMPORTANTE!!! – (MPRO-2008)

Para que a pessoa possa participar de licitações e contratar com a Administração Pública é
necessário que comprove sua regularidade fiscal, ou seja, a inexistência de débitos com o Poder
Público.
Essa regularidade fiscal não é exigida apenas no momento da licitação e da contratação,
persistindo durante toda a execução do contrato.
No entanto, segundo o STJ, é ilegal reter o pagamento devido a fornecedor em situação de
irregularidade perante o Fisco. Essa prática não é permitida, considerando que não existe
autorização na Lei para que seja feita (viola o princípio da legalidade).
No caso de falta de regularidade fiscal durante a execução do pacto, a Lei de Licitações autoriza
que o Poder Público imponha penalidades ao contratado (art. 87) ou rescinda o contrato.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1313659-RR, Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/10/12 (Info 507).

7. CONCURSOS PÚBLICOS
7.1. Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa Econômica Federal – (Info 659)
– IMPORTANTE!!!

A Caixa Econômica Federal, embora vinculada como empresa pública ao Estado, executa uma
atividade econômica em ambiente de concorrência.
A terceirização pela Caixa Econômica Federal dos serviços jurídicos não se revela ilegal,
considerando que esses serviços não estão relacionados com a atividade-fim da empresa.
STJ. 2ª T. REsp 1318740-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, j. 16/10/18
(Info 659).

7.2. FASES DO CONCURSO: No MP/SP existia a figura do estágio em prorrogação, ou seja,


um estágio exercido por bacharéis em Direito; aqueles que exerceram esse estágio podem
computar esse tempo como atividade jurídica para fins de pontuação em concurso público – (Info
658)

A atividade denominada estágio em prorrogação do Ministério Público do Estado de São Paulo


deve ser considerada privativa de bacharel em Direito para fins de atribuição de pontos pelo
exercício de atividade jurídica na prova de títulos em concurso público.
STJ. 1ª T. RMS 54554-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 01/10/19 (Info 658).

7.3. A candidata que está amamentando (lactante) na época do curso de formação para o cargo
de agente penitenciário tem direito de fazer o curso em um período posterior – (Info 645) –
IMPORTANTE!!!

É constitucional a remarcação de curso de formação para o cargo de agente penitenciário


feminino de candidata que esteja lactante à época de sua realização, independentemente da
previsão expressa em edital do concurso público.
STJ. 1ª T. RMS 52622-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 26/3/19 (Info 645).
OBS: O STF afirmou que a candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de
fazer a prova em uma nova data no futuro. Além disso, asseverou que, mesmo que o edital proíba
expressamente a gestante terá direito à remarcação do teste:
É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja
grávida à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em
edital do concurso público. STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j.
21/11/18 (repercussão geral).

Apesar de a hipótese não ser exatamente igual ao que decidiu o STF no RE 1058333/PR, o STJ
entendeu que as premissas estabelecidas naquele julgamento são plenamente aplicáveis ao
caso concreto. Com efeito, a candidata, ao ser convocada para o Curso de Formação, encontrava-
se em licença maternidade, com apenas um mês de nascimento da sua filha, período em que
sabidamente todas as mulheres estão impossibilitadas de praticar atividades físicas, estando
totalmente voltadas para amamentação e cuidados com o recém-nascido. Também nessa hipótese
devem ser observados os direitos destacados pelo STF no RE 1058333/PR e que são
constitucionalmente protegidos (saúde, maternidade, família e planejamento familiar),
merecendo a candidata lactante o mesmo amparo estabelecido pelo Supremo para as gestantes.

7.4. Surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência de restrição


orçamentária = direito subjetivo à nomeação – (Info 630)

O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à
nomeação caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação
inequívoca da administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição
orçamentária.
STJ. 1ª S. MS 22.813-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/06/2018 (Info 630).
OBS:
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? SIM. O
candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui
direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame.

O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.

O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.

Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do
concurso foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Em regra, não.

Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso
ainda não expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os
candidatos aprovados no primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto
poderão exigir sua nomeação? Em regra, não.

A situação pode ser assim definida:


REGRA: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo
durante o prazo de validade do certame anterior não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital.

EXCEÇÃO: Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal:


• que existe inequívoca necessidade de nomeação de aprovado durante o período de validade
do certame; e
• que está havendo preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear
os aprovados.

Hipóteses nas quais existirá direito subjetivo à nomeação: O STF listou as três hipóteses nas quais
existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público:
1) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
2) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação;
3) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada
por parte da administração.

Tese fixada pelo STF em repercussão geral:


O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo,
durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o
direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital ,
ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder
Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo
candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em
concurso público exsurge nas seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 09/12/15 (repercussão geral)
(Info 811).

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi aprovado no cargo de Procurador na 20ª
posição. O edital do concurso oferecia apenas 15 cargos. João foi aprovado fora do número de
vagas. Os 15 primeiros colocados tomaram posse e começaram a exercer a função. Durante o
prazo de validade do concurso, 5 Procuradores se aposentaram, ou seja, surgiram 5 novas vagas.
Apesar disso, a Administração Pública não fez mais nenhuma nomeação. Quase no fim do prazo
de validade do certame, o Procurador-Geral encaminhou um expediente ao Chefe do Poder
Executivo relatando a existência das 5 vagas e afirmando que precisava de autorização para a
realização de novo concurso porque a quantidade de Procuradores estava muito abaixo do
necessário para o órgão. No expediente, o Procurador-Geral afirmou que havia dotação
orçamentária para a nomeação desses novos Procuradores. João e os outros 4 aprovados
conseguiram cópia deste expediente e impetraram mandado de segurança alegando que tinham
direito de ser nomeados.

O STJ concordou com o pedido dos candidatos? SIM. É o que foi decidido pelo STJ, no Info 630. O
STJ entendeu que essa hipótese (surgimento de novas vagas + necessidade do provimento +
inexistência de restrição orçamentária) foi prevista pelo STF como uma hipótese na qual surge o
direito subjetivo à nomeação. Trata-se de situação descrita no final da ementa do julgado do STF
no RE 837311. Confira:
(...) reconhece-se, excepcionalmente, o direito subjetivo à nomeação aos candidatos
devidamente aprovados no concurso público, pois houve, dentro da validade do
processo seletivo e, também, logo após expirado o referido prazo, manifestações
inequívocas da Administração piauiense acerca da existência de vagas e,
sobretudo, da necessidade de chamamento de novos Defensores Públicos para o
Estado. (...) STF. Plenário. RE 837311, Rel. Min. Luiz Fux, j. 9/12/15.

7.5. A nomeação tardia de candidato aprovado em concurso não gera direito à indenização,
ainda que a demora tenha origem em erro reconhecido pela própria Administração Pública – (Info
617) – IMPORTANTE!!!

O STF, em sede de repercussão geral, fixou a seguinte tese:


Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus
à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo
situação de arbitrariedade flagrante.
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 26/2/15 (repercussão geral) (Info 775).

Esse entendimento do STF aplica-se mesmo que o erro tenha sido reconhecido
administrativamente pelo Poder Público (e não por decisão judicial).
Assim, a nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público não gera direito à
indenização, ainda que a demora tenha origem em erro reconhecido pela própria
Administração Pública.
STJ. 1ª T. REsp 1238344-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 30/11/17 (Info 617).
OBS:
O fato de a Administração Pública ter reconhecido o erro administrativamente não muda a
situação. Assim, deve-se aplicar o entendimento do STF firmado no RE 724347/DF. Isso porque a
ratio decidendi constante do precedente do STF consagra a compreensão de que o pagamento de
remuneração e a percepção de demais vantagens por servidor público pressupõe o efetivo
exercício no cargo, sob pena de enriquecimento sem causa.

Ora, se mesmo quando a ilegalidade da nomeação tardia é declarada por provimento jurisdicional
o direito à indenização é afastado pela jurisprudência (salvo situação de arbitrariedade flagrante),
não há razão para, reconhecido o erro pela própria Administração, determinar-se o pagamento de
valores retroativos.

Se fosse admitida essa “exceção” (pagar indenização em caso de erro reconhecido


administrativamente), isso acabaria desestimulando que a Administração Pública exercesse o seu
poder-dever de autotutela, ou seja, desencorajaria que a Administração corrigisse seus próprios
equívocos. Haveria, então, um estímulo à judicialização, o que não atende ao interesse público.

7.6. O candidato aprovado fora do número de vagas, mas que fique dentro do número de
vagas em virtude da desistência de alguém melhor colocado, passa a ter direito subjetivo de ser
nomeado – (Info 612) – IMPORTANTE!!!

A desistência de candidatos melhor classificados em concurso público convola a mera


expectativa em direito líquido e certo, garantindo a nomeação dos candidatos que passarem a
constar dentro do número de vagas previstas no edital.
STJ. 1ª T. RMS 53.506-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 26/9/17 (Info 612).
STJ. 2ª T. RMS 52.251/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/9/17.
STF. 1ª T. ARE 1058317 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1/12/17.
OBS:
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? SIM. O
candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui
direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame.

O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? Em regra,
não.

Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do
concurso foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Em regra, não.

Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso
ainda não expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os
candidatos aprovados no primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto
poderão exigir sua nomeação? Em regra, não.

A situação pode ser assim definida:


REGRA: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo
durante o prazo de validade do certame anterior não gera automaticamente o direito à nomeação
dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital.

EXCEÇÃO: Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal:


• que existe inequívoca necessidade de nomeação de aprovado durante o período de validade do
certame; e
• que está havendo preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os
aprovados.

Hipóteses nas quais existirá direito subjetivo à nomeação: O STF listou as três hipóteses nas quais
existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público:
4) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
5) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação;
6) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por
parte da administração.

Tese fixada pelo STF em repercussão geral:


O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo,
durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o
direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital ,
ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder
Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo
candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em
concurso público exsurge nas seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015
(repercussão geral) (Info 811).

O candidato aprovado fora do número de vagas, mas que fique dentro do número de vagas em
virtude da desistência de alguém melhor colocado, passa a ter direito subjetivo de ser nomeado?
SIM.
A desistência de candidatos melhor classificados em concurso público convola a
mera expectativa em direito líquido e certo, garantindo a nomeação dos candidatos
que passarem a constar dentro do número de vagas previstas no edital. STJ. 1ª T.
RMS 53.506-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 26/9/17 (Info 612). STJ. 2ª T. RMS
52.251/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 5/9/17.

Ex: João foi aprovado em 13º lugar no concurso público para técnico administrativo. Vale ressaltar
que o edital do certame previa a existência de 8 vagas. Ocorre que 5 candidatos melhor
classificados que João desistiram. Logo, ele, que antes tinha mera expectativa de direito, passou a
ter direito líquido e certo com as desistências.

Há também precedentes do STF neste mesmo sentido:


O direito à nomeação também se estende ao candidato aprovado fora do número de
vagas previstas no edital, mas que passe a figurar entre as vagas em decorrência da
desistência de candidatos classificados em colocação superior. STF. 1ª T. ARE
1058317 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1/12/17.

O Plenário desta Corte, no julgamento do RE 598.099/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes,


firmou entendimento no sentido de que possui direito subjetivo à nomeação o
candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital de concurso
público. O direito à nomeação também se estende ao candidato aprovado fora do
número de vagas previstas no edital, mas que passe a figurar entre as vagas em
decorrência da desistência de candidatos classificados em colocação superior. STF.
2ª T. RE 643674 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 13/8/13.
7.7. É válida a alteração na ordem de aplicação das provas do teste físico desde que anunciada
com antecedência – (Info 608)

A simples alteração na ordem de aplicação das provas de teste físico em concurso público ,
desde que anunciada com antecedência e aplicada igualmente a todos, não viola direito líquido
e certo dos candidatos inscritos.
Ex: o edital inicial dizia que, no dia da prova de esforço físico, o teste de equilíbrio seria o
primeiro e a corrida o último; depois foi publicado um novo edital alterando a ordem.
STJ. 1ª T. RMS 36.064-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 13/6/17 (Info 608).

7.8. O espelho de prova, com a motivação da avaliação do candidato, deve ser apresentado
antes ou durante a divulgação do resultado, sob pena de nulidade – (Info 603) – IMPORTANTE!!!

A banca examinadora do certame, por ocasião da divulgação dos resultados das provas, deve
demonstrar, de forma clara e transparente, que os critérios de avaliação previstos no edital
foram devidamente considerados, sob pena de nulidade da avaliação.
As informações constantes dos espelhos de provas subjetivas representam a motivação do ato
administrativo, consistente na atribuição de nota ao candidato.
Essa motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato
administrativo, pois caso se permita a motivação posterior, isso pode dar ensejo para que se
fabriquem, forjem ou criem motivações.
Não é legítima a conduta da banca examinadora de divulgar o espelho de provas com a
motivação das notas após ser contestada na via judicial ou administrativa.
Destaque-se também que não há fundamentação válida se a banca apenas divulga critérios
muito subjetivos e a nota global dos candidatos, desacompanhados do padrão de resposta e das
notas atribuídas para cada um dos critérios adotados.
STJ. 2ª T. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 20/4/17 (Info 603).
OBS:
No caso das provas discursiva e oral, etapas em que há uma maior discricionariedade por parte
dos examinadores, mesmo assim é necessário que sejam divulgados os critérios de avaliação dos
candidatos? SIM. Realmente nas provas dissertativa e oral existe uma margem maior para que o
avaliador se valha de suas impressões. Justamente por essa razão, tais etapas devem adotar
critérios de avaliação e correção os mais objetivos possíveis, a fim de evitar violação ao princípio
da impessoalidade.
Dessa forma, o ideal é que as bancas examinadoras forneçam espelhos de correção que permitam
ao candidato condições de identificar:
a) o padrão de resposta esperado pela banca examinadora para cada questão;
b) a pontuação válida para cada um dos critérios;
c) a nota que lhe foi atribuída em cada um deles; e, por fim,
d) a nota global obtida pelo candidato.

Essas exigências são necessárias para possibilitar o exercício do devido processo administrativo
recursal, consagrado no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes.”.

Motivação do ato administrativo: Vale ressaltar que tais informações que deverão constar nos
espelhos das provas subjetivas como forma de atribuição de nota ao candidato representam a
“motivação do ato administrativo”. Essa motivação do ato administrativo é uma exigência
expressa dos arts. 2º e 50, III e § 1º, da Lei 9.784/99, que trata do processo administrativo no
âmbito federal.

Motivação deve ser anterior ou concomitante à divulgação do resultado: A motivação deve ser
apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato administrativo. Isso porque entende-
se que se fosse permitida a motivação posterior, isso poderia dar ensejo para que se fabricassem,
forjassem ou criassem motivações para burlar eventual impugnação ao ato. Em outras palavras, se
fosse permitida a motivação posterior, o Administrador mal intencionado poderia decidir do jeito
que quisesse e, depois, quando questionado, apresentaria motivação apenas para refutar aquela
impugnação. Não se deve, portanto, admitir como legítima a prática imotivada de um ato que, ao
ser contestado na via judicial ou administrativa, venha o gestor "construir" algum motivo que dê
ensejo à validade do ato administrativo.

Por essa razão, repita-se: a motivação deve ocorrer, em regra, antes ou durante a prática do ato
administrativo. Exceção: a jurisprudência entende que, no caso de remoção ex officio, a motivação
pode ser apresentada mesmo após o ato ter sido praticado. Nesse sentido: STJ REsp
1.331.224/MG.

Mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato
poderá exigir essa providência: Alguns editais de concursos públicos não preveem os critérios de
correção ou, às vezes, embora os prevejam, não estabelecem as notas ou a possibilidade de
divulgação dos padrões de respostas que serão atribuídos a cada um desses critérios. Em tese, com
suporte na máxima de que "o edital faz lei entre as partes", o candidato nada poderia fazer caso o
resultado de sua avaliação fosse divulgado sem a indicação dos critérios ou das notas a eles
correspondentes, ou, ainda, dos padrões de respostas esperados pela banca examinadora. Tal
pensamento, no entanto, não merece prosperar, pois os editais de concursos públicos não estão
acima da Constituição Federal ou das leis que preconizam os princípios da impessoalidade, do
devido processo administrativo, da motivação, da razoabilidade e proporcionalidade. Assim,
mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato tem
direito de exigir essa providência.

7.9. O grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui
flagrante ilegalidade apta a ensejar a nulidade da questão – (Info 603) – IMPORTANTE!!!

O STF, em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, firmou a seguinte tese:
"Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora
para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas" (RE 632.853).
Do voto condutor do mencionado acórdão, percebe-se que a tese nele constante buscou
esclarecer que o Poder Judiciário não pode avaliar as respostas dadas pelo candidato e as notas
a eles atribuídas se for necessário apreciar o conteúdo das questões ou os critérios utilizados na
correção, exceto se flagrante a ilegalidade.
Ao analisar uma prova para o cargo de assessor do MPRS, o STJ decidiu anular uma das
questões discursivas pelo fato de que ela possuía um grave erro no enunciado, o que
prejudicou o candidato na elaboração de sua resposta.
No enunciado da questão constou a expressão “permissão de saída”, mas na verdade o
examinador queria saber sobre a “saída temporária”, tanto que a resposta padrão do gabarito
envolvia este segundo instituto. Houve, portanto, uma troca dos conceitos.
A própria comissão examinadora reconheceu que houve o erro no enunciado, mas afirmou que
isso não atrapalhou os candidatos e, por isso, manteve as notas.
O STJ, contudo, não concordou com isso e anulou a questão. Se a própria banca examinadora
reconhece o erro na formulação da questão, não se pode fechar os olhos para tal constatação ao
simplório argumento de que referido erro não influiria na análise do enunciado pelo candidato.
Vale ressaltar que o STJ afirmou que esta anulação não contraria o que decidiu o STF no
julgamento do RE 632.853 por duas razões:
1) o candidato não está buscando que o Poder Judiciário reexamine o conteúdo da questão
ou o critério de correção para decidir se a resposta dada por ele está ou não correta . Em outras
palavras, não se quer que recorrija a prova. O que o impetrante pretende é que seja reconhecido
que o enunciado da questão apresenta um erro grave insuperável.

2) o STF decidiu que, em regra, não é possível a anulação de questões de concurso, salvo
se houver ilegalidade a permitir a atuação do Poder Judiciário. Em outras palavras, existe uma
“exceção” à tese fixada no RE 632.853. E, no presente caso, estamos diante de uma flagrante
ilegalidade da banca examinadora.
STJ. 2ª T. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 20/4/17 (Info 603).
OBS:
O que o impetrante pretende é que seja reconhecido que o enunciado da questão apresenta um
erro grave insuperável, qual seja, a troca das palavras "saída temporária" por "permissão de
saída", fato reconhecido pela própria banca. Dessa forma, tem-se, no presente caso, um
distinguishing (distinção) em relação ao precedente do STF. Assim, é possível reconhecer
circunstâncias particulares do caso concreto e que permitem fazer uma diferenciação com o
objetivo de não subordiná-lo ao precedente do STF.

Além disso, o STJ tem afirmado que essa tese do STF no RE 632853 é a regra geral, mas que existe
uma exceção: se houver flagrante ilegalidade, o Poder Judiciário poderia rever questões de
concurso. Veja um precedente no qual o STJ afirmou a existência dessa “exceção”:
(...) II. É firme a compreensão do STJ no sentido de que "o reexame dos critérios
usados por banca examinadora na formulação de questões, correção e atribuição de
notas em provas de concursos públicos é vedado, como regra, ao Poder Judiciário,
que deve se limitar à análise da legalidade e da observância às regras contidas no
respectivo edital" (STJ, AgRg no AREsp 266.582/DF, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 07/03/13). Na mesma linha, recentemente
- em 23/04/15 -, o Plenário do STF, apreciando o Tema 485 da Repercussão Geral,
nos termos do voto do Relator, Ministro GILMAR MENDES, conheceu e deu
provimento ao RE 632.853/CE, para fixar a tese de que "não compete ao Poder
Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar
respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes.
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do
conteúdo das questões do concurso com o previsto no edital do certame" (DJe de
29/06/2015). (...) STJ. 2ª T. AgRg no RMS 46.998/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães,
j. 01/09/15.

Dever da banca de formular questões com enunciados corretos: Como já dito, a própria banca
examinadora reconheceu o erro na formulação da questão. Não se pode fechar os olhos para tal
constatação ao simplório argumento de que o referido erro não influiria na análise do enunciado
pelo candidato. É dever das bancas examinadoras zelarem pela correta formulação das questões,
sob pena de agir em desconformidade com a lei e o edital, comprometendo, sem sombra de
dúvidas, o empenho realizado pelos candidatos durante quase toda uma vida.

Nas exatas e sábias palavras do Min. Og Fernandes: “Quantas pessoas não levam dois, três, quatro,
dez anos ou mais se preparando para concursos públicos, para depois se depararem com questões mal
formuladas e, pior, com desculpas muitas das vezes infundadas, de que tal erro na formulação não influiria
na solução da questão, como vejo acontecer na presente hipótese. Assim, tenho que o caso é de flagrante
ilegalidade a admitir a declaração de nulidade da questão.”

Diante disso, o STJ declarou nula a referida questão.

7.10. Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a
entidade que promoveu o concurso (e não contra a instituição contratada) – (Info 600) –
IMPORTANTE!!!

Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em razão


da subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital – a
legitimidade passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame.
Ex: o Estado do ES abriu concurso para agente penitenciário. O CESPE foi contratado para
realizar as provas. João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido,
contudo, reprovado no exame psicotécnico. Diante disso, João quer ajuizar ação ordinária
questionando os critérios de avaliação do exame psicotécnico previstos no edital sob o
argumento de que eles eram subjetivos. Essa ação terá que ser proposta contra o Estado do ES (e
não contra o CESPE).
STJ. 1ª T. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 7/3/17 (Info 600).

7.11. Posse em cargo público por menor de idade – (Info 576)

Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste em lei e no edital de concurso
público, é possível que o candidato menor de idade aprovado no concurso tome posse no cargo
de auxiliar de biblioteca no caso em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse,
já havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1º/12/2015 (Info 576).
OBS: No caso em análise, o requisito da idade mínima de 18 anos deve ser flexibilizado pela
natureza das atribuições do cargo de auxiliar de biblioteca, tendo em vista que a atividade desse
cargo é plenamente compatível com a idade de 17 anos e 10 meses do candidato que já havia sido
emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses. Além disso, o art. 5º, § único, do CC, ao
dispor sobre as hipóteses de cessação da incapacidade para os menores de 18 anos - entre elas, a
emancipação voluntária concedida pelos pais (caso em análise) e o exercício de emprego público
efetivo -, permite o acesso do menor de 18 anos ao emprego público efetivo.

7.12. Aprovado fora do número de vagas e desistência dos que estavam na sua frente – (Info
567) – IMPORTANTE!!!

Situação 1: o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso


público tem direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na
ordem de classificação, aprovado dentro do número de vagas, for convocado e manifestar
desistência.
Ex: eram 10 vagas e João passou em 11º lugar; ocorre que o 10º colocado foi convocado e
desistiu de assumir; João tem direito subjetivo de ser nomeado.
Em suma, tem direito subjetivo à nomeação o candidato aprovado fora do número de vagas
previstas no edital, mas que passe a figurar entre as vagas em decorrência da desistência de
candidatos classificados em colocação superior.

Situação 2: o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso


público tem direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na
ordem de classificação, embora aprovado fora do número de vagas, for convocado para vaga
surgida posteriormente e manifestar desistência.
Ex: João fez um concurso público para o cargo de Procurador do Estado, cujo edital previa 10
vagas, tendo sido aprovado e, na classificação final, ficou em 12º lugar. Os 10 candidatos
aprovados nas primeiras posições foram nomeados e empossados. Um ano depois, é aprovada
uma lei criando uma nova vaga para o cargo de Procurador do Estado. Pedro, o candidato
aprovado em 11º lugar no concurso, foi convocado para tomar posse no cargo, mas, por ter
outros interesses, acabou desistindo de assumir.
STJ. 1ª T. AgRg no ROMS 48.266-TO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 18/8/15 (Info 567).
STJ. 1ª T. AgRg noRMS 41.031-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 18/8/15 (Info 567).

7.13. TERMO INICIAL DO MANDADO DE SEGURANÇA ENVOLVENDO CONCURSO


PÚBLICO – (Info 545) – (PGEMT-2016)

O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se


discuta regra editalícia que tenha fundamentado eliminação em concurso público é a DATA
EM QUE O CANDIDATO TOMA CIÊNCIA DO ATO ADMINISTRATIVO QUE
DETERMINA SUA EXCLUSÃO DO CERTAME, e não a da publicação do edital do certame.
STJ. Corte Especial. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 1º/7/14 (Info 545).

7.14. Exame médico admissional possui caráter eliminatório em concursos públicos federais –
(Info 538)

O candidato a cargo público federal pode ser eliminado em exame médico admissional, ainda
que a lei que discipline a carreira não confira caráter eliminatório ao referido exame. Isso
porque a inspeção de saúde é exigência geral direcionada a todos os cargos públicos federais,
conforme previsto na Lei 8.112/90 (arts. 5º, inciso V e 14).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.414.990-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 3/4/14 (Info 538).

7.15. INVESTIGAÇÃO SOCIAL – (Info 535)

A jurisprudência entende que o fato de haver instauração de inquérito policial ou propositura


de ação penal contra candidato, por si só, não pode implicar a sua eliminação.
A eliminação nessas circunstâncias, sem o necessário trânsito em julgado da condenação,
violaria o princípio constitucional da presunção de inocência.
Assim, em regra, para que seja configurado antecedente criminal, é necessário o trânsito em
julgado.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 39.580-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 11/2/2014 (Info 535).

7.16. SURDEZ UNILATERAL – (Info 535)

O candidato com surdez unilateral NÃO tem direito a participar do concurso público nas vagas
reservadas aos deficientes. A surdez unilateral não é considerada como deficiência auditiva
segundo o Decreto 3.298/99.
STJ. Corte Especial. MS 18.966-DF, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Humberto
Martins, j. 2/10/2013 (Info 535).

7.17. VALIDADE DO TESTE PSICOTÉCNICO – (Info 535)

É admitida a realização de exame psicotécnico em concursos públicos se forem atendidos os


seguintes requisitos: previsão em lei, previsão no edital com a devida publicidade dos critérios
objetivos fixados e possibilidade de recurso.
STJ. 2ª T. REsp 1.429.656-PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, j. 11/2/2014 (Info 535).

7.18. Governador é parte ilegítima em MS contra ato de concurso estadual no qual o candidato
quer pontuação – (Info 519) – IMPORTANTE!!! – (Cartórios/TJSE-2014)

O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado
de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de
concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva
unidade federativa.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 37924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 9/4/13 (Info 519).

7.19. REQUISITOS DO CARGO DEVEM ESTAR PREVISTOS NA LEI – (Info 518)

No caso em que lei estadual que regule a carreira de professor estabeleça, como requisito para a
admissão no cargo, apenas a apresentação de diploma em ensino superior, não é possível que o
edital do respectivo concurso exija do candidato diploma de pós-graduação.
STJ. 2ª T. RMS 33.478-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013 (Info 518).

7.20. CONVOCAÇÃO DO CANDIDATO APROVADO APENAS PELO DIÁRIO OFICIAL –


(Info 515)

Viola os princípios da razoabilidade e da publicidade a convocação para determinada fase de


concurso público ou para nomeação de candidato aprovado apenas mediante publicação do
chamamento em Diário Oficial quando passado muito tempo entre a realização ou a divulgação
do resultado da etapa imediatamente anterior e a referida convocação, uma vez que é inviável
exigir que o candidato acompanhe, diariamente, com leitura atenta, as publicações oficiais.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 37.227-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/12/2012 (Info 515).

7.21. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR EM CASO DE NOMEAÇÃO TARDIA –


(Info 515)

A nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial NÃO gera direito à
indenização.
STJ. 6ª T. AgRg nos EDcl nos EDcl no RMS 30.054-SP, Min. Og Fernandes, j. 19/2/13 (Info 515).

7.22. NEGATIVA DE NOMEAÇÃO EM VIRTUDE DE DEMISSÃO ANTERIOR

Ocorre abuso de poder se a Administração Pública se nega a nomear candidato aprovado em


concurso para o exercício de cargo no serviço público estadual em virtude de anterior demissão
no âmbito do Poder Público Federal se inexistente qualquer previsão em lei ou no edital de
regência do certame.
STJ. 6ª Turma. RMS 30.518-RR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 19/6/2012.

8. SERVIÇOS PÚBLICOS
8.1. É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica se houve
prévio aviso por meio de rádio – (Info 598)

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público).
Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses
previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95:
a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso prévio);
b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário seja
previamente avisado;
c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado.
Se a concessionária de energia elétrica divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio
do Município, que haverá, daqui a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia
elétrica por algumas horas em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a
exigência da Lei nº 8.987/95?
SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio
de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio,
prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 15/12/16 (Info 598).

8.2. Permissão de serviços públicos concedida sem licitação – (Info 546)

I – Declarada a nulidade de permissão outorgada sem licitação pública ainda antes da


CF/88, é possível ao magistrado estabelecer, independentemente de eventual direito a
indenização do permissionário, prazo máximo para o termo final do contrato de adesão
firmado precariamente.
II – A retomada do serviço pela Administração não depende do prévio pagamento de
eventual indenização, que deverá ser pleiteada pela empresa nas vias ordinárias.
III – Em ação civil pública movida para anular permissões para a prestação de serviços de
transporte coletivo concedidas sem licitação e para condenar o Estado a providenciar as
licitações cabíveis, não cabe discutir eventual indenização devida pelo Estado ao
permissionário.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.435.347-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 19/8/2014
(Info 546).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: A empresa “X” era permissionária de um serviço
público estadual. Ocorre que essa permissão foi feita sem que tivesse havido prévia licitação.
A permissão foi concedida antes da CF/88, mas já na vigência da atual Carta, foram
praticados atos administrativos prorrogando a permissão. Diante disso, o MP ajuizou ação
civil pública pedindo a declaração de nulidade do ato de permissão, a retomada do serviço
pela Administração Pública e que esta realizasse licitação para nova delegação. A empresa,
ao se defender, alegou que, antes de o serviço ser retomado pela Administração Pública, ela
deveria ser indenizada pelos investimentos realizados.

A concessão deverá ser extinta? SIM. Segundo o art. 37, XXI, da CF/88 e o art. 2º, II, da Lei
8.987/95, a concessão de serviço público deverá ser precedida de licitação. Logo, se a
concessão for feita sem a observância de tal exigência haverá a nulidade do ato.

É possível que o juiz conceda um prazo durante o qual a permissão continuará válida a fim
de permitir que o Poder Público se organize e faça um novo certame? SIM. Declarada a
nulidade de permissão outorgada sem licitação pública ainda antes da CF/88, é possível ao
magistrado estabelecer, independentemente de eventual direito a indenização do
permissionário, prazo máximo para o termo final do contrato de adesão firmado
precariamente. Esse prazo não pode ser muito alto. Conforme já decidiu o STF em situação
análoga, não há respaldo constitucional que justifique a prorrogação da licitação além do
prazo razoável para a realização dos devidos procedimentos licitatórios. A segurança
jurídica não pode ser confundida com conservação do ilícito (STF. Plenário. ADI 3521, Rel.
Min. Eros Grau, j. 28⁄09⁄06).

Passado o prazo, caso não tenha sido ainda realizada a licitação, a Administração Pública
deverá retomar a prestação do serviço? SIM. Extinto o contrato de concessão por decurso do
prazo de vigência, cabe ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a
realização de nova licitação, a fim de assegurar a plena observância do princípio da
continuidade do serviço público.

Para que a Administração retome a prestação do serviço ela deverá indenizar previamente a
empresa? NÃO. A retomada do serviço pela Administração não depende do prévio
pagamento de eventual indenização, que deverá ser pleiteada pela empresa nas vias
ordinárias (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1139802/SC, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j.
12/04/11). Assim, declarada a nulidade da concessão outorgada sem licitação pública, não se
pode condicionar o termo final do contrato ao pagamento prévio de eventual indenização,
cabendo ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de
nova licitação.

A empresa requerida na ACP poderá pleitear o recebimento da indenização nesta mesma


ação? NÃO. A ação civil pública é o instrumento processual destinado à defesa judicial de
interesses difusos e coletivos, permitindo a tutela jurisdicional do Estado com vistas à
proteção de certos bens jurídicos. Por meio desta ação, reprime-se ou previne-se a ocorrência
de danos ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio público, aos bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, dentre outros, podendo ter por
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Assim, não cabe neste tipo de ação, em que se busca a tutela do bem coletivo, a condenação
do Estado em indenizar o "réu", no caso, a permissionária de serviço público, na indenização
dos investimentos realizados. Isso deverá ser pleiteado em ação autônoma.

Ainda que fosse pertinente discutir isso na ACP, a empresa tem direito de ser indenizada?
NÃO. O ajuste firmado entre a empresa e o Estado constitui um contrato de permissão de
caráter precário, feito sem licitação, de forma que o permissionário submeteu-se a todos os
riscos inerentes de tal prática feita ao arrepio da lei. Segundo o STJ, para que se pudesse
cogitar de indenização aos permissionários seria indispensável que tivesse sido realizado
prévio procedimento licitatório. Em outras palavras, era indispensável o cumprimento dos
ditames constitucionais e legais, com a realização de prévio procedimento licitatório para que
se pudesse cogitar de indenização à permissionária, o que não ocorreu no presente caso.

9. TARIFAS DE TRANSPORTE PÚBLICO


9.1. Decisão que suspende reajuste das tarifas de transporte público urbano viola a
ordem pública – (Info 605)

A interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de transporte público


urbano viola a ordem pública, mormente nos casos em que houver, por parte da Fazenda
estadual, esclarecimento de que a metodologia adotada para fixação dos preços era técnica.
Segundo a “doutrina Chenery”, o Poder Judiciário não pode anular um ato político
adotado pela Administração Pública sob o argumento de que ele não se valeu de
metodologia técnica. Isso porque, em temas envolvendo questões técnicas e complexas, os
Tribunais não gozam de expertise para concluir se os critérios adotados pela
Administração são corretos ou não.
Assim, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde que não sejam revestidas de
reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.
STJ. Corte Especial. AgInt no AgInt na SLS 2.240-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 7/6/17 (Info
605).
OBS: A “doutrina Chenery” é bem explicada por um autor norte-americano chamado
Richard Posner, que trata sobre a análise econômica do Direito, ou seja, sobre os reflexos
econômicos das decisões judiciais (Economic Analysis of Law. Fifth Edition. New York:
Aspen Law and Business, 1996).

10. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


10.1. Os atos de improbidade que atentam contra os princípios da Administração Pública exige
prova do dolo – (SEM INFO) – (TJSP-2018) (PGM/AM-2018)

A orientação do STJ é no sentido de que a configuração da improbidade administrativa do art.


11 da Lei n. 8.429/92 pressupõe a comprovação de dolo – e, para tanto, basta o dolo genérico ou
lato sensu.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp n. 873.901/SP, rel. Min. Sérgio Kukina, j. 12/06/2018.
(TJSP-2018-VUNESP): No tocante à improbidade administrativa, pode-se afirmar a
caracterização de ato de improbidade por violação dos princípios da administração pública
exige prova de dolo do agente. BL: art. 11, LIA.
(PGM/AM-2018-CESPE): Considerando o entendimento do STJ acerca da improbidade
administrativa, julgue o item subsequente. O ato de improbidade administrativa violador do
princípio da moralidade não requer a demonstração específica de dano ao erário ou de
enriquecimento ilícito, exigindo-se apenas a demonstração do dolo genérico. BL: art. 11, da Lei
8429 e julgados acima.

10.2. COMPETÊNCIA: Improbidade e verbas transferidas pela União ao município – (SEM


INFO) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!

Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de


eventuais irregularidades praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes
de convênio federal, o simples fato das verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o
Tribunal de Contas da União, por si só, não justifica a competência da Justiça Federal.
Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de verba desviada, no
âmbito civil, não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual.
Se houver manifestação de interesse jurídico por ente federal que justifique a presença no
processo (v.g. União ou MPF), regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da
Súmula 150/STJ, a competência para processar e julgar a ação civil de improbidade
administrativa será da Justiça Federal.
As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da
competência em matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para
deslocar a competência para a Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo,
não podem ser utilizadas como critério para as demandas cíveis.
Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida
em razão da presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88
na relação processual, seja como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza
da verba federal sujeita à fiscalização do TCU.
Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de
desvio de verba recebida em razão de convênio firmado com a ente federal, salvo se houver a
presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação
processual.
STJ. 1ª Seção. CC 142354/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/9/15.
STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 133.619/PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 9/5/18.

10.3. MP pode instaurar inquérito civil para apurar ato de improbidade praticado por
magistrado e solicitar seu depoimento pessoal – (Info 609) – IMPORTANTE!!!

É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato
ímprobo atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na
Corregedoria do Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da
Corregedoria pelo órgão ministerial investigante.
A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil
instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o
disposto no art. 33, IV, da LC nº 35/79 (LOMAN).
STJ. 1ª T. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio
Kukina, j. 7/3/17 (Info 609).
OBS:
Art. 33. São prerrogativas do magistrado: (...)
IV - não estar sujeito a notificação ou a intimação para comparecimento, salvo se
expedida por autoridade judicial;

Primeira pergunta: é possível que o Ministério Público instaure inquérito civil para apurar
suposto ato de improbidade administrativa praticado por um magistrado mesmo que a
Corregedoria do Tribunal já esteja conduzindo investigação sobre os mesmos fatos? SIM. Não há
incompatibilidade porque o Ministério Público instaura o inquérito civil para apurar possível
prática de improbidade e a Corregedoria deflagra o procedimento para investigar e impor
eventual sanção disciplinar. Vale ressaltar, inclusive, que o art. 12 da Lei 8.429/92, ao listar o rol
de sanções aplicáveis ao agente ímprobo, preconiza, de modo expresso, que tais penalidades serão
impostas “independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação
específica”.

Segunda pergunta: há ilegalidade no fato de o MP expedir notificação para que o magistrado


preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil? Essa prática viola o art. 33, IV, da
LOMAN? NÃO. O magistrado estava sendo investigado nos autos do inquérito civil presidido
pelo Procurador da República. Este não poderia concluir a investigação sem dar oportunidade
para que o magistrado, se assim desejasse, oferecesse sua versão dos fatos. Logo, ao se expedir
solicitação para que o magistrado prestasse depoimento pessoal, o membro do MP quis, tão
somente, garantir o direito do investigado de se defender. Não se pode conceber que,
supostamente com o objetivo de preservar uma prerrogativa funcional (receber convocação
somente através de outra autoridade judicial), acabe-se, em verdade, por suprimir do magistrado
a faculdade de participar do processo no qual está sendo investigado. Vale ressaltar que o
magistrado não tinha o dever de atender à solicitação do MP e assim, se quisesse, poderia
simplesmente recusar o chamado. Deve-se, portanto, compatibilizar as garantias trazidas na
LOMAN com a responsabilidade institucional do Parquet de oferecer ao investigado a
possibilidade de dar a sua versão dos fatos apurados.

10.4. Aplica-se às ações de improbidade administrativa o reexame necessário previsto no art. 19


da lei da ação popular – (Info 607) – IMPORTANTE!!! – (PGEPE-2018)

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade


administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e
por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 24/5/17 (Info 607).
(PGEPE-2018-CESPE): De acordo com o STJ, a sentença que julgar improcedente a ação de
improbidade administrativa se submeterá ao regime de reexame necessário,
independentemente do valor atribuído à causa. BL: Info 607, STJ.

OBS:
Noções gerais sobre o reexame necessário: O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau de
jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do CPC/2015 e em algumas leis
esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do
respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária.

Deixa eu explicar melhor:


- Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância: a) for contra a Fazenda Pública; ou b) julgar
procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (o que também é uma sentença contra a
Fazenda Pública);
- Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau (Tribunal de
Justiça ou Tribunal Regional Federal);
- Mesmo que a Fazenda Pública não recorra;
- E, enquanto não for realizado o reexame necessário, não haverá trânsito em julgado.

Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é tecnicamente
incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício” ou “recurso
obrigatório”.

Exceções ao reexame necessário: O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo a
sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a obrigatoriedade do reexame
necessário:
§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito
econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações
de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que
constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver
fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa.

Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular: A Lei 4.717/65 prevê que se o
juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa sentença estará sujeita ao
reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo.

Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário.
Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a
Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o cidadão
perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de
jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não
necessariamente da Fazenda Pública).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de improbidade administrativa?
SIM. É o que foi decidido pelo STJ, publicado no Info 607:
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de
improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19
da Lei 4.717/65. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j.
24/5/17 (Info 607).

Vale ressaltar que se a ação de improbidade administrativa for julgada improcedente haverá a
necessidade de remessa oficial independentemente do valor da sucumbência (STJ. 2ª Turma.
AgInt no REsp 1379659/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2017).

10.5. A pena de demissão em sede de processo administrativo disciplinar VERSUS a


possibilidade de incidência da sanção referente à perda da função pública prevista no art. 12, III
da Lei 8429/92: independência entre as esferas civil, penal e administrativa – (Sem Info) – (TJMG-
2018)

A hipótese dos autos diz respeito ao ajuizamento de ação civil pública em face de ex-agente da
Polícia Civil do Distrito Federal que, quando no exercício de sua função, após desentendimento
de trânsito com terceiro, teria sacado arma de fogo e efetuado disparos em via pública. Um dos
disparos efetuados teria atingido uma pessoa alheia ao embate, que se encontrava nas
proximidades, no interior de seu veículo.
A apuração de falta disciplinar realizada no PAD não se confunde com a ação de improbidade
administrativa, esta sabidamente processada perante o Poder Judiciário, a quem cabe a
imposição das sanções previstas nos incisos do art. 12 da Lei n.º 8.429/92.
Há reconhecida independência das instâncias civil, penal e administrativa, que é afastada
quando a esfera penal taxativamente afirmar que não houve o fato, e/ou, acaso existente, houver
demonstrações inequívocas de que o agente não foi o seu causador.
Este fundamento, inclusive, autoriza a conclusão no sentido de que as penalidades aplicadas
em sede de processo administrativo disciplinar e no âmbito da improbidade administrativa,
embora possam incidir na restrição de um mesmo direito, são distintas entre si, tendo em vista
que se assentam em distintos planos.
Isso porque, dentre outros fatores de diferenciação, nos termos do art. 12 da Lei 8.429/92, a
sanção referente à perda da função pública é aplicável (desde que presentes os requisitos da
proporcionalidade e da razoabilidade) a todos os atos de improbidade administrativa, sejam
eles causadores de lesão ao Erário, ensejadores de enriquecimento ilícito e/ou violadores dos
princípios da Administração Pública.
Por outro lado, nem todas as faltas funcionais previstas na lei de servidores públicos ensejam a
aplicação da demissão, sendo que, dada as consequência de tal penalidade, somente aquelas
consideradas mais nocivas ao deveres funcionais do agente público no exercício da função
pública são hábeis a fundamentar a imposição de tal penalidade.
Portanto, exsurge o interesse recursal da parte ora recorrente em postular perante o Tribunal a
quo a reforma da sentença prolatada em 1º grau, a fim de que, observadas as cláusulas gerais da
proporcionalidade e da razoabilidade, possa ser analisado o mérito das alegações contidas no
recurso de apelação referentes ao pedido ministerial de aplicação da penalidade de perda da
função pública.
STJ. 2ª T. REsp 1364075/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 24/11/2015.

10.6. Possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento ao erário pelo mesmo fato – (Info
584) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019) (MPPR-2019)

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o
ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.
STJ. 1ª T. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª
Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, j. 17/5/16 (Info 584).
(TJBA-2019-CESPE): De acordo com a legislação pertinente e a jurisprudência dos tribunais
superiores, na hipótese de o prefeito de determinado município desviar dolosamente recursos
públicos obtidos pelo ente municipal mediante convênio com a União, ainda que o tribunal de
contas local condene o prefeito ao ressarcimento ao erário, o Poder Judiciário também poderá
condená-lo em ressarcimento ao erário em ação civil pública por improbidade administrativa.
BL: Info 584, STJ.
(MPPR-2019): A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que não configura bis in idem a
coexistência de acórdão condenatório do Tribunal de Contas ao ressarcimento do erário com
sentença condenatória proferida em ação civil pública por improbidade administrativa. BL:
Info 584, STJ.

OBS:
Atenção: As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual o fato de o
TCU já ter punido o administrador com o ressarcimento ao erário não proíbe que seja proposta
ação de improbidade administrativa relacionada com o mesmo fato e que o administrador seja
novamente condenado pelo Poder Judiciário a ressarcir ao erário.

Mas o administrador pagará duas vezes o ressarcimento? Neste caso, haverá um enriquecimento
sem causa do Poder Público, que receberá duas vezes o ressarcimento... NÃO. O STJ afirmou que
no momento do segundo pagamento, deverá ser feito o abatimento do valor que foi pago na
primeira execução que foi movida. O que não se permite é a constrição patrimonial além do
efetivo prejuízo apurado. Assim, é possível a formação de dois títulos executivos, devendo ser
observada a devida dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento
da execução do título remanescente.

Vale ressaltar que existem outros precedentes no mesmo sentido:


(...) 1. O fato de existir um título executivo extrajudicial, decorrente de condenação
proferida pelo TCU, não impede que os legitimados ingressem com ação de improbidade
administrativa requerendo a condenação da recorrida nas penas constantes no art. 12, II da
Lei 8429/92, inclusive a de ressarcimento integral do prejuízo. (...) 3. Ademais, não se há
falar em bis in idem. A proibição da dupla penalização se restringe ao abalo patrimonial
que o executado poderá sofrer. O princípio não pode ser interpretado de maneira ampla,
de modo a impedir a formação de um título executivo judicial, em razão do simples fato de
já existir um outro título de natureza extrajudicial. (...) STJ. 2ª T. REsp 1135858/TO, Rel.
Min. Humberto Martins, j. 22/09/2009.

(...) 6. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual a


fiscalização do TCU não inibe a propositura da ação civil pública, tanto mais que,
consoante informações prestadas pela autoridade coatora, “na hipótese de ser condenada
ao final do processo judicial, bastaria à Impetrante a apresentação dos documentos
comprobatórios da quitação do débito na esfera administrativa ou vice-versa.”. Assim, não
ocorreria duplo ressarcimento em favor da União pelo mesmo fato. (...) STF. 1ª T. MS 26969,
Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/11/14.

10.7. Inaplicabilidade das sanções por ato de improbidade administrativa abaixo do mínimo
legal – (Info 581)

No caso de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública, as penalidades de suspensão dos direitos políticos e de
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios não podem ser fixadas abaixo de 3 anos, considerando que este é o mínimo previsto
no art. 12, III, da Lei 8.429/92. Não existe autorização na lei para estipular sanções abaixo desse
patamar.
STJ. 2ª T. REsp 1.582.014-CE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/4/16 (Info 581).

10.8. Desnecessidade de lesão ao patrimônio público em ato de improbidade administrativa


que importa enriquecimento ilícito – (Info 580)

Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade
administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se,
contudo, a possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário.
STJ. 1ª T. REsp 1.412.214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Benedito Gonçalves, j. 8/3/16 (Info 580).
OBS:
Improbidade administrativa: É um ato praticado por agente público, ou por particular em
conjunto com agente público, e que gera enriquecimento ilícito, causa prejuízo ao erário ou atenta
contra os princípios da Administração Pública.
Imagine a seguinte situação: João, sócio de uma empresa que comercializa materiais médicos, foi
convidado para ser Secretário de Saúde. Ele soube que a Secretaria pretendia fazer uma licitação
para a compra de diversos equipamentos médicos. Assumindo a Secretaria, a empresa de João não
poderia participar da licitação, considerando que existe vedação expressa na Lei nº 8.666/93:
Art. 9º Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução
de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: (...)
III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela
licitação.

Diante disso, a fim de poder participar do certame, João, antes de tomar posse como Secretário, fez
uma alteração contratual e saiu do quadro societário, dando lugar ao seu amigo, Pedro Laranja.
Na prática, contudo, João é quem continuava sendo o dono da empresa. João assumiu a Secretaria
e deflagrou o procedimento licitatório. A empresa participou e venceu a licitação, fornecendo os
materiais e recebendo o pagamento por isso.

Ocorre que o MP descobriu o esquema e ingressou com ação de improbidade contra João, Pedro e
a empresa, alegando que incidiram no caput do art. 9º da Lei nº 8.429/92:
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades
mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:

Defesa: João alegou que não houve prejuízo ao erário, considerando que os preços apresentados
estavam dentro da média do mercado. Para tanto, apresentou laudo pericial comprovando isso. A
defesa argumentou que, não tendo havido prejuízo, não pode haver a condenação por
improbidade administrativa com base no art. 9º da Lei 8429/92.

A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? O simples fato de não ter havido prejuízo ao erário é
motivo suficiente para afastar a configuração do ato de improbidade previsto no art. 9º da Lei
8.429/92? NÃO. Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de
improbidade administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei 8.429/92). Para a
configuração do art. 9º da LIA não se exige prejuízo ao erário, bastando que tenha havido
enriquecimento ilícito do agente público. Nesse sentido, veja o que diz o art. 21 da Lei 8.429/92:
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de
ressarcimento;

Comprovada a ilegalidade na conduta do agente, bem como a presença do dolo indispensável à


configuração do ato de improbidade administrativa, a ausência de dano ao patrimônio público
exclui tão-somente a possibilidade de condenação na pena de ressarcimento ao erário. As demais
penalidades são, em tese, compatíveis com os atos de improbidade tipificados no art. 9º da LIA. O
prejuízo ao erário só é indispensável no caso do art. 10 da Lei nº 8.429/92.

10.9. Caracterização de tortura como ato de improbidade administrativa – (Info 577) –


IMPORTANTE!!!

A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman Benjamin, j. 26/8/2015 (Info 577).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Dois policiais prenderam um homem em flagrante e
passaram a torturá-lo para que confessasse o crime. O MP ajuizou ação de improbidade contra os
policiais. A defesa alegou que não ficou caracterizado ato de improbidade, uma vez que este
pressupõe, obrigatoriamente, uma lesão direta à própria Administração e não a terceiros, haja
vista que o bem jurídico que se deseja proteger é a probidade na Administração Pública. No caso
concreto, não teria havido lesão à Administração, mas apenas ao particular (preso). Ainda
segundo a tese invocada, a improbidade administrativa caracteriza-se como um ato imoral com
feição de corrupção de natureza econômica, conduta inexistente no tipo penal de tortura, cujo bem
jurídico protegido é completamente diverso da Lei de Improbidade.

O caso chegou até o STJ. Houve prática de ato de improbidade administrativa? SIM.

Tortura: improbidade administrativa: Para o STJ, é injustificável que a tortura praticada por
servidor público, um dos atos mais gravosos à dignidade da pessoa humana e aos direitos
humanos, seja punido apenas no âmbito disciplinar, civil e penal, afastando-se a aplicação da Lei
da Improbidade Administrativa. Eventual punição administrativa do servidor não impede a
aplicação das penas da Lei de Improbidade, porque os objetivos de ambas as esferas são diversos
e as penalidades previstas na Lei 8429/92 mais amplas.

Universo das vítimas protegidas pela Lei 8.429/92: A Lei 8429/92 não prevê expressamente quais
seriam as vítimas mediatas ou imediatas da atividade ímproba para fins de configuração do ato
ilícito. Essa ausência de menção explícita certamente decorre do fato de que o ato de improbidade,
muitas vezes, é um fenômeno pluriofensivo, ou seja, atinge, de maneira concomitante, diferentes
bens jurídicos e diversas pessoas. Para saber se a conduta pode ser caracterizada como ato de
improbidade, é primordial verificar se, dentre os bens jurídicos atingidos pela postura do agente
público, algum deles está relacionado com o interesse público. Se houver, pode-se concluir que a
própria Administração Pública estará igualmente vulnerada e, dessa forma, ficará caracterizado o
ato de improbidade para os fins do art. 1º da Lei 8429/92.

Dever convencional, constitucional e legal de o Estado reprimir tais condutas: No caso concreto, a
conduta dos policiais afrontou não só a Constituição da República (arts. 1º, III, e 4º, II) e a
legislação infraconstitucional, mas também tratados e convenções internacionais, a exemplo da
Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto nº 678/92). Em tais situações, se o Brasil
não toma as devidas medidas para punir os infratores, pode, inclusive, ser responsabilizado nas
ordens interna e externa. A tortura perpetrada por policiais contra presos mantidos sob a sua
custódia tem reflexo jurídico imediato, que é o de gerar obrigação indenizatória ao Estado, nos
termos do art. 37, § 6º, da CF/88. Há aí, como consequência, interesse direto da Administração
Pública.

Tortura praticada por policiais atenta contra toda a coletividade: Nos termos do art. 144 da
CF/88, as forças de segurança são destinadas à preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas. Assim, o agente público incumbido da missão de garantir o respeito à ordem pública,
como é o caso do policial, ao descumprir com suas obrigações legais e constitucionais de forma
frontal, mais que atentar apenas contra um indivíduo, atinge toda a coletividade e a corporação a
que pertence de forma imediata.

Situação se enquadra no art. 11 da Lei 8429/92: O legislador, ao prever, no art. 11 da Lei 8429/92,
que constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de lealdade às instituições, findou por
tornar de interesse público, e da própria Administração, a proteção da legitimidade social, da
imagem e das atribuições dos entes/entidades estatais. Daí resulta que atividade que atente
gravemente contra esses bens imateriais tem a potencialidade de ser considerada improbidade
administrativa. Na hipótese dos autos, o ato ímprobo se caracteriza também pelo fato de que as
vítimas foram torturadas, em instalações públicas, ou melhor, na Delegacia de Polícia.

Em síntese: A situação de tortura praticada por policiais, além das repercussões nas esferas penal,
civil e disciplinar, configura também ato de improbidade administrativa, porque, além de atingir a
pessoa-vítima, alcança simultaneamente interesses caros à Administração em geral, às instituições
de segurança pública em especial, e ao próprio Estado Democrático de Direito.

OBS: Com esse julgado acima, resta superado o entendimento esposado no REsp 1.558.038-PE,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2015 (Info 573).

10.10. Aplicação de multa eleitoral e sanção por ato de improbidade administrativa – (Info 576)

A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por infringência às disposições


contidas na Lei 9.504/97 (Lei das Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções
previstas na Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), inclusive da multa civil, pelo ato
de improbidade decorrente da mesma conduta.
STJ. 2ª T. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 15/12/2015 (Info 576).
OBS:
O art. 12 da LIA é muito claro ao dizer que as penalidades impostas pela prática de ato de
improbidade administrativa independem das demais sanções penais, civis e administrativas
previstas em legislação específica.
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na
legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato:
Desse modo, o fato de o agente ímprobo ter sido condenado pela Justiça Eleitoral ao pagamento
de multa por violação às disposições contidas na Lei das Eleições não impede sua condenação em
quaisquer das sanções previstas na LIA, não havendo que se falar em bis in idem.

10.11. Recurso cabível contra a decisão do juiz que rejeita a inicial contra apenas alguns réus –
(Info 574)

Recursos cabíveis contra a:


1) sentença que rejeita a inicial da ação de improbidade: cabe APELAÇÃO.
2) decisão que recebe a inicial da ação de improbidade: cabe AGRAVO DE INSTRUMENTO.
3) decisão que recebe a inicial contra alguns réus e rejeita para os demais: AGRAVO DE
INSTRUMENTO (obs: caso o autor da ação de improbidade interponha apelação em vez do AI,
será possível receber o recurso, com base no princípio da fungibilidade, desde que não haja
má-fé e tenha sido interposto no prazo do recurso correto).
Segundo decidiu o STJ, pode ser conhecida a apelação que, sem má-fé e em prazo compatível
com o previsto para o agravo de instrumento, foi interposta contra decisão que, em juízo prévio
de admissibilidade em ação de improbidade administrativa, reconheceu a ilegitimidade
passiva ad causam de alguns dos réus.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.305.905-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 13/10/15 (Info 574).

10.12. Termo inicial do prazo prescricional no caso de reeleição – (Info 571)

O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida contra prefeito reeleito


só se inicia após o término do segundo mandato, ainda que tenha havido descontinuidade entre
o primeiro e o segundo mandato em razão da anulação de pleito eleitoral, com posse provisória
do Presidente da Câmara, por determinação da Justiça Eleitoral, antes da reeleição do prefeito
em novas eleições convocadas.
Ex: João foi Prefeito no período jan/2001 a dez/2004 (primeiro mandato). Em 2002 ele praticou
um ato de improbidade administrativa. Em out/2004 concorreu e conseguiu ser reeleito para um
novo mandato (que seria de jan/2005 a dez/2008). Ocorre que não chegou a tomar posse em 1º
de janeiro de 2005, pois teve seu registro de candidatura cassado em virtude de condenação na
Justiça Eleitoral. Tomou posse o Presidente da Câmara Municipal. O TRE marcou nova eleição
para o Município e João foi novamente eleito, tendo tomado posse em fevereiro de 2006. Desse
modo, João ficou fora da Prefeitura durante 1 ano e 1 mês, período no qual o Município foi
comandado pelo Presidente da Câmara. Em 2008, acabou o segundo mandato de João.
O prazo prescricional quanto à improbidade praticada em 2002 somente se iniciou em
dezembro de 2008 com o término do segundo mandato.
STJ. 2ª T. REsp 1.414.757-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info 571).

10.13. Estagiário de serviço público está sujeito à Lei de Improbidade – (Info 568) –
IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2016)

O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está
sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. Isso porque o conceito de
agente público para fins de improbidade abrange não apenas os servidores públicos, mas todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função na Administração Pública.
Além disso, é possível aplicar a lei de improbidade mesmo para quem não é agente público,
mas induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer
forma, direta ou indireta. É o caso do chamado "terceiro", definido pelo art. 3º da Lei nº
8.429/92.
STJ. 2ª T. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 18/8/15 (Info 568).
(TJDFT-2016-CESPE): O estagiário de órgão público, independentemente do recebimento de
remuneração, está sujeito à responsabilização por ato de improbidade administrativa. BL: Info
568 do STJ.

10.14. Aplicação da pena de perda da função pública a membro do MP em ação de improbidade


administrativa – (Info 560) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! MINISTÉRIO PÚBLICO!!! – (MPSC-
2016)

O membro do Ministério Público pode ser processado e condenado por ato de improbidade
administrativa?
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República)
pode ser processado e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na
Lei 8.429/92.

Mesmo gozando de vitaliciedade e a Lei prevendo uma série de condições para a perda do
cargo, o membro do MP, se for réu em uma ação de improbidade administrativa, poderá ser
condenado à perda da função pública? O membro do MP pode ser réu em uma ação de
improbidade de que trata a Lei 8.429/92 e, ao final, ser condenado à perda do cargo mesmo sem
ser adotado o procedimento da Lei 8.625/93 e da LC 75/93?
SIM. O STJ decidiu que é possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade
administrativa, a condenação de membro do Ministério Público à pena de perda da função
pública prevista no art. 12 da Lei 8.429/92.

A Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) e a LC 75/93 preveem uma série de regras para
que possa ser ajuizada ação civil pública de perda do cargo contra o membro do MP. Tais
disposições impedem que o membro do MP perca o cargo em ação de improbidade?
NÃO. Segundo o STJ, o fato de essas leis preverem a garantia da vitaliciedade aos membros do
MP e a necessidade de ação judicial para a aplicação da pena de demissão não significa que elas
proíbam que o membro do MP possa perder o cargo em razão de sentença proferida na ação
civil pública por ato de improbidade administrativa.
Essas leis tratam dos casos em que houve um procedimento administrativo no âmbito do MP
para apuração de fatos imputados contra o Promotor/Procurador e, sendo verificada qualquer
das situações previstas nos incisos do § 1º do art. 38, deverá obter-se autorização do Conselho
Superior para o ajuizamento de ação civil específica.
Desse modo, tais leis não cuidam de improbidade administrativa e, portanto, nada interferem
nas disposições da Lei 8.429/92.
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei 8.625/93, mas estas não
excluem (não impedem) que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei
8.429/92. Os dois sistemas convivem harmonicamente. Um não exclui o outro.

Se o membro do MP praticou um ato de improbidade administrativa, ele poderá ser réu em


uma ação civil e perder o cargo? Essa ação deverá ser proposta segundo o rito da lei da carreira
(LC 75/93 / Lei 8.625/93) ou poderá ser proposta nos termos da Lei 8.429/92?
SIM. O membro do MP que praticou ato de improbidade administrativa poderá ser réu em uma
ação civil e perder o cargo. Existem duas hipóteses possíveis:
 Instaurar o processo administrativo de que trata a lei da carreira (LC 75/93: MPU / Lei
8.625/93: MPE) e, ao final, o PGR ou o PGJ ajuizar ação civil de perda do cargo contra o
membro do MP.
 Ser proposta ação de improbidade administrativa, nos termos da Lei 8.429/92. Neste caso,
não existe legitimidade exclusiva do PGR ou PGJ. A ação poderá ser proposta até mesmo
por um Promotor de Justiça (no caso do MPE) ou Procurador da República (MPF) que atue
em 1ª instância.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.191.613-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 19/3/2015 (Info 560).

10.15. Inexigibilidade de formação de litisconsórcio passivo necessário entre o réu agente


público e os particulares beneficiados pelo ato ímprobo – (Sem Info) – (TJCE-2018)

Não há falar em formação de litisconsórcio passivo necessário entre eventuais réus e as pessoas
participantes ou beneficiárias das supostas fraudes e irregularidades nas ações civis públicas
movidas para o fim de apurar e punir atos de improbidade administrativa, pois não há, na Lei
de Improbidade, previsão legal de formação de
litisconsórcio entre o suposto autor do ato de improbidade e eventuais beneficiários, tampouco
havendo relação jurídica entre as partes a obrigar o magistrado a decidir de modo uniforme a
demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 896.044/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16/09/10.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1421144/PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 26/5/15.
OBS: “Nas ações de improbidade administrativa, não há litisconsórcio passivo necessário entre o agente
público e os terceiros beneficiados com o ato ímprobo.” (Jurisprudência em Teses: tese n.9/ STJ)

10.16. Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito
que não prestou contas de convênio federal – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

Determinado Município ajuizou Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra o


ex-prefeito da cidade, sob o argumento de que este, enquanto prefeito, firmou convênio com
órgão/entidade federal e recebeu recursos para aplicar em favor da população e, no entanto, não
prestou contas no prazo devido, o que fez com o que o Município fosse incluído no cadastro
negativo da União, estando, portanto, impossibilitado de receber novos recursos federais.
Esta ação de improbidade administrativa deverá ser julgada pela Justiça Federal ou Estadual?
 Regra: compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação civil
pública de improbidade administrativa na qual se apure irregularidades na prestação de
contas, por ex-prefeito, relacionadas a verbas federais transferidas mediante convênio e
incorporadas ao patrimônio municipal.
 Exceção: será de competência da Justiça Federal se a União, autarquia federal, fundação
federal ou empresa pública federal manifestar expressamente interesse de intervir na
causa porque, neste caso, a situação se amoldará no art. 109, I, da CF/88.
STJ. 1ª Seção. CC 131.323-TO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/3/2015 (Info 559).

10.17. REVISÃO DAS SANÇÕES IMPOSTAS EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL – (Info 549)

As penalidades aplicadas em decorrência da prática de ato de improbidade administrativa


podem ser revistas em recurso especial desde que esteja patente a violação aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.
O STJ entende que isso não configura reexame de prova, não encontrando óbice na Súmula 7
da Corte (A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial).
STJ. 1ª S. EREsp 1.215.121-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 14/8/2014 (Info 549).

10.18. Fracionamento da contratação para burlar a licitação – (Info 549) – IMPORTANTE!!! –


(TJPR-2019)

Para a condenação por ato de improbidade administrativa no art. 10, é indispensável a


demonstração de que ocorreu efetivo dano ao erário.
O Prefeito que contrata, sem licitação, empresa para fornecer material para o Município
burlando o procedimento licitatório por meio da prática conhecida como fracionamento do
contrato, comete ato de improbidade administrativa (art. 10, VII).
Para o STJ, em casos de fracionamento de compras e contratações com o objetivo de se
dispensar ilegalmente o procedimento licitatório o prejuízo ao erário é considerado presumido
(in re ipsa), na medida em que o Poder Público, por força da conduta ímproba do
administrador, deixa de contratar a melhor proposta, o que gera prejuízos aos cofres públicos.
Segundo o art. 21, I, da Lei 8.429/92, o autor do ato de improbidade somente poderá receber a
sanção de ressarcimento ao erário se ficar comprovada a efetiva ocorrência de dano ao
patrimônio público. Tratando-se de fracionamento de licitação, o prejuízo ao patrimônio
público é presumido, de forma que o autor do ato de improbidade poderá ser condenado a
ressarcir o erário.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.376.524-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j. 2/9/2014 (Info 549).

10.19. Desnecessária prova de que o réu esteja dilapidando seu patrimônio – (Info 547) –
IMPORTANTE!!! - (TJDFT-2014) (MPAC-2014) (MPF-2015) (PGM-Salvador/BA-2015) (MPSC-2016)
(TJPR-2017) (TJCE-2018) (TJMG-2018) (MPMG-2018) (MPPR-2019) (MPCE-2020)

Pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se desfazendo
de seus bens.
É desnecessária a prova de que os réus estejam dilapidando efetivamente seus patrimônios ou
de que eles estariam na iminência de fazê-lo (prova de periculum in mora concreto).
O requisito do periculum in mora está implícito no referido art. 7º, parágrafo único, da Lei
8.429/92, que visa assegurar “o integral ressarcimento” de eventual prejuízo ao erário, o que,
inclusive, atende à determinação contida no art. 37, § 4º, da CF/88.
Como a indisponibilidade dos bens visa evitar que ocorra a dilapidação patrimonial, o STJ
entende que não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou
dissipação, na medida em que exigir a comprovação de que esse fato estaria ocorrendo ou
prestes a ocorrer tornaria difícil a efetivação da medida cautelar em análise.
Além do mais, o disposto no referido art. 7º em nenhum momento exige o requisito da
urgência, reclamando apenas a demonstração, numa cognição sumária, de que o ato de
improbidade causou lesão ao patrimônio público ou ensejou enriquecimento ilícito.
Vale ressaltar, no entanto, que a decretação da indisponibilidade de bens, apesar da
excepcionalidade legal expressa da desnecessidade da demonstração do risco de dilapidação do
patrimônio, não é uma medida de adoção automática, devendo ser adequadamente
fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da Constituição Federal),
sobretudo por se tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES).
STJ. 1ª S. REsp 1366721-BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og
Fernandes, j. 26/2/14 (recurso repetitivo) (Info 547).
(MPPR-2019): O STJ firmou jurisprudência segundo a qual o juízo pode decretar,
fundamentadamente, a indisponibilidade de bens do demandado, quando presentes indícios de
responsabilidade pela prática de ato ímprobo que cause lesão ao patrimônio público ou importe
enriquecimento ilícito, prescindindo da comprovação de dilapidação de patrimônio, ou sua
iminência, restando dispensada, assim, a demonstração de periculum in mora. BL: Info 547,
STJ.
(MPMG-2018): A indisponibilidade de bens do agente a quem se imputa a prática de ato de
improbidade administrativa revelou-se medida extremamente útil à efetividade da pretensão
de ressarcimento ao erário dos prejuízos causados pela malversação da coisa pública. A
respeito dela, é CORRETO afirmar: tem natureza de tutela cautelar de evidência, sendo
desnecessário, para sua decretação, demonstrar o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. BL: Info 547 do STJ.
(TJPR-2017-CESPE): Tratando-se de tutela provisória que determina a indisponibilidade de
bens do réu em ACP por ato de improbidade administrativa, dispensa-se a comprovação de
periculum in mora. BL: Info 547 do STJ.
(MPF-2015): O MP ajuizou ACP de Improbidade Administrativa contra o Prefeito Municipal de
Maracutaia e seu Secretário da Educação por desvio de verbas federais, destinadas ao custeio
de merenda e transporte escolar. Com base no art. 7º da LIA, foi postulada a indisponibilidade
dos bens dos réus. Em hipóteses como a presente, entende o STJ que: A indisponibilidade dos
bens e cabível quando o julgador entender presentes fortes indícios de responsabilidade na
pratica de ato de improbidade que cause dano ao erário, estando o periculum in mora implícito
no referido dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37, § 4°, da Constituição
Federal. BL: Info 547, STJ.
(MPF-2015): O MP ajuizou ACP de Improbidade Administrativa contra o Prefeito Municipal de
Maracutaia e seu Secretário da Educação por desvio de verbas federais, destinadas ao custeio
de merenda e transporte escolar. Com base no art. 7º da LIA, foi postulada a indisponibilidade
dos bens dos réus. Em hipóteses como a presente, entende o STJ que: A decretação de
indisponibilidade dos bens não está condicionada a comprovação de dilapidação efetiva ou
iminente de patrimônio, porquanto visa, justamente, a evitar a dilapidação patrimonial. BL:
Info 547, STJ.

OBS1: Quem decreta essa indisponibilidade? O juiz, a requerimento do Ministério Público. A


redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade administrativa
irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as informações recebidas
e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade dos bens do suspeito ao juiz,
antes ou durante o curso da ação principal (ação de improbidade). Em outras palavras, a
indisponibilidade pode ser requerida como medida preparatória ou incidental. Quando o art. 7º
fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa representação pode
ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um processo judicial. Além disso, o
MP poderá requerer a indisponibilidade ainda que não tenha sido provocado por nenhuma
autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido notícia da suposta
prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal).

De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16, porque muitas vezes é cobrada
nas provas a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como correto.

OBS2: Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu? SIM. É admissível a
concessão de liminar inaudita altera parte para a decretação de indisponibilidade e sequestro de
bens, visando assegurar o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao
Erário. O STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens
em ação de improbidade administrativa pode ser deferida nos autos da ação principal sem
audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação para defesa prévia (art. 17, § 7º da
LIA).

OBS3: Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado
ato de improbidade exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora? NÃO.
Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é
desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam
dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de
fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. A
medida cautelar de indisponibilidade de bens prevista na LIA consiste em uma tutela de
evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois pela própria
natureza do bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.

10.20. Dispensabilidade de prova do dano no caso do art. 11 da Lei de Improbidade – (Info 547)
– (TJBA-2012) (TJDFT-2014) (MPF-2017)

Para a configuração dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios
da administração pública (art. 11, Lei 8.429/92), é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo
prejuízo aos cofres públicos.
STJ. 1ª T. REsp 1.192.758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão
Min. Sérgio Kukina, j. 4/9/2014 (Info 547).
OBS1: Requisitos: Para a configuração dos atos de improbidade tipificados no art. 11 da Lei n.
8.429/92, exige-se que a conduta seja praticada por agente público (ou a ele equiparado), atuando
no exercício de seu munus público, havendo, ainda, a necessidade do preenchimento dos seguintes
requisitos: a) conduta ilícita; b) improbidade do ato, configurada pela tipicidade do
comportamento, ajustado em algum dos incisos do 11 da LIA; c) elemento volitivo,
consubstanciado no DOLO de cometer a ilicitude e causar prejuízo ao Erário; d) ofensa aos
princípios da Administração Pública. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1306817/AC,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 06/05/2014 (não divulgado em Info).

OBS2: Elemento subjetivo: A configuração do ato de improbidade por ofensa a princípio da


administração depende da demonstração do chamado dolo genérico ou lato sensu (STJ. 2ª Turma.
REsp 1383649/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2013). Ressalte-se que não se
exige dolo específico (elemento subjetivo específico) para sua tipificação (STJ. 2ª Turma. AgRg no
AREsp 307.583/RN, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013).

OBS3: Dispensabilidade de prova do dano ou de enriquecimento ilícito do agente: O STJ entende


que é DISPENSÁVEL a prova de dano para a configuração do ato de improbidade previsto no art.
11 da Lei 8249/92 (STJ. 2ª Turma. REsp 1286466/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em
03/09/2013). Também não é necessário que se prove que o agente teve enriquecimento ilícito com
o ato.

10.21. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE – (Info 547) – (TJBA-2012) (TJDFT-2014)


(MPF-2017)

De acordo com a orientação jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de cometimento


de atos enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação de
improbidade deve ser recebida pelo juiz, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da
Lei nº 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público (AgRg no REsp 1.317.127-ES).
STJ. 1ª T. REsp 1.192.758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão
Min. Sérgio Kukina, j. 4/9/14 (Info 547).
(MPF-2017): Segundo o entendimento do STJ: Na ação civil pública por ato de improbidade
administrativa, ajuizada pelo MP, a presença de indícios de cometimento de atos previstos na
Lei 8.429/92 autoriza o recebimento da petição inicial, pois deve prevalecer, na fase inicial, o
princípio do in dubio pro societate. BL: art. 17, §§7º a 9º, LIA e Info 547, STJ.

OBS1: Após o oferecimento da defesa prévia, o magistrado poderá se deparar com três
situações:
1) Existem provas ou indícios do ato de improbidade: o juiz deverá receber a ação.
2) Não existem provas ou indícios do ato de improbidade: o juiz mesmo assim deverá
receber a ação exatamente para se oportunizar a ampla produção de provas, necessárias
ao pleno e efetivo convencimento do julgador (REsp 1.192.758-MG).
3) Existem provas cabais e irretorquíveis de que não houve ato ímprobo: só nessa hipótese a
ação deverá ser rejeitada de plano.

OBS2: Recurso contra a decisão do juiz que recebe a petição inicial: Agravo de instrumento (§ 10
do art. 17 da LIA).

OBS3: Recurso contra a decisão do juiz que rejeita a petição inicial: Apelação.

10.22. Interrupção do prazo prescricional na ação de improbidade – (Info 546) –


IMPORTANTE!!!
Nas ações civis por ato de improbidade administrativa, o prazo prescricional é interrompido
com o mero ajuizamento da ação de improbidade dentro do prazo de 5 anos contado a partir do
término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança , ainda que a
citação do réu seja efetivada após esse prazo. Assim, se a ação de improbidade foi ajuizada
dentro do prazo prescricional, eventual demora na citação do réu não prejudica a pretensão
condenatória da parte autora.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 2/9/14 (Info 546).

10.23. Não se aplica à sentença de improbidade administrativa a remessa necessária prevista no


art. 19 da Lei de Ação Popular – (Info 546) – IMPORTANTE!!! – (TJMS-2015)

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade


administrativa não está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de Ação Popular
(Lei 4.717/65).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 4/9/14 (Info 546).
OBS:
Lei de Ação Popular: A Lei 4717/65 prevê a seguinte regra: “Art. 19. A sentença que concluir pela
carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo”.

Esse art. 19 instituiu uma remessa necessária específica para a ação popular.
 Sentença de carência da ação ou sentença de improcedência: existe reexame necessário.
Assim, mesmo que ninguém recorra, o juiz deverá remeter o processo para ser
reanalisado pelo Tribunal.
 Sentença e procedência: não há reexame necessário.

O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação civil pública? SIM.
Por aplicação analógica, as sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se
indistintamente ao reexame necessário (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 17/03/2011).

O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação de improbidade
administrativa? NÃO. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de
improbidade administrativa NÃO está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de
Ação Popular. A ação de improbidade administrativa segue um rito próprio e tem objeto
específico, disciplinado na Lei 8.429/92 não cabendo, neste caso, analogia, paralelismo ou outra
forma de interpretação, para importar instituto criado em lei diversa.

10.24. Legitimidade do MP para ação civil pública de improbidade administrativa envolvendo


tributos – (Info 543) – Atenção! Ministério Público! - (TJDFT-2014)

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública cujo pedido seja a
condenação por improbidade administrativa de agente público que tenha cobrado taxa por
valor superior ao custo do serviço prestado, ainda que a causa de pedir envolva questões
tributárias.
STJ. 1ª T. REsp 1.387.960-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 22/5/14 (Info 543).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública de
improbidade administrativa contra João, ex-prefeito, em virtude de ele ter cobrado taxa em valor
superior ao custo do serviço prestado. Com isso, segundo o MP, o agente público violou o
princípio da legalidade, merecendo ser condenado pela prática de improbidade administrativa
prevista no art. 11 da Lei 8.429/92.

Tese da defesa: A defesa do agente público alegou que o MP não tinha legitimidade para ajuizar
ACP tratando sobre o tema em virtude da vedação contida no parágrafo único do art. 1º da Lei
7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados.

A tese foi aceita pelo STJ? NÃO. O STJ decidiu que o MP tem legitimidade para ajuizar ação civil
pública cujo pedido seja a condenação por improbidade administrativa de agente público que
tenha cobrado taxa por valor superior ao custo do serviço prestado, ainda que a causa de pedir
envolva questões tributárias. Realmente, de acordo com o parágrafo único do art. 1º da Lei
7.347/1985, não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos.
Essa restrição, contudo, está relacionada ao pedido, o qual tem aptidão para formar coisa julgada,
e não à causa de pedir. Em outras palavras, não seria cabível uma ACP cujo pedido envolvesse
tributos. No presente caso, entretanto, a análise da questão tributária é apenas a causa de pedir,
estando, portanto, fora do alcance da vedação prevista no referido dispositivo.

10.25. ILEGALIDADE X IMPROBIDADE – (Info 540)

Toda conduta ilegal é um ato de improbidade administrativa?


NÃO. Conforme explica o Min. Napoleão Nunes Maia Filho, a distinção entre conduta ilegal e
conduta ímproba imputada a agente público ou privado é muito antiga.
A ilegalidade e a improbidade não são situações ou conceitos intercambiáveis, cada uma delas
tendo o seu significado.
A improbidade é uma ilegalidade qualificada pelo intuito malsão (nocivo) do agente, atuando
com desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave.
Em outras palavras, nem todas as vezes que o agente praticar um ato ilegal, ele terá cometido
um ato ímprobo. Para que o ato ilegal seja considerado ímprobo, exige-se um plus, que é o
intuito de atuar com desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave.
A confusão entre os dois conceitos existe porque o art. 11 da Lei 8.429/92 prevê como ato de
improbidade qualquer conduta que ofenda os princípios da Administração Pública, entre os
quais se inscreve o da legalidade (art. 37 da CF). Mas isso não significa, repito, que toda
ilegalidade é ímproba.
A conduta do agente não pode ser considerada ímproba analisando-se a questão apenas do
ponto de vista objetivo, o que iria gerar a responsabilidade objetiva. Quando não se faz
distinção conceitual entre ilegalidade e improbidade, corre-se o risco de adotar-se a
responsabilidade objetiva.
STJ. 1ª T. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 24/4/2014 (Info 540).

10.26. Contratação de parentes antes da SV 13 do STF e improbidade administrativa – (Info 540)

A contratação, por agente político, de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da
Súmula Vinculante 13 do STF configura ato de improbidade administrativa?
NÃO. Posição da 1ª Turma do STJ.
SIM. Entendimento da 2ª Turma do STJ.
STJ. 1ª T. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 24/4/14 (Info 540).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.386.255/PB, Rel. Min. Humberto Martins, j. 24/04/14 (não divulgado
em Info).

10.27. A indisponibilidade de bens na ação de improbidade não pode recair sobre os bens
impenhoráveis – (Info 539)

A medida de indisponibilidade de bens na ação de improbidade deve recair sobre a totalidade


do patrimônio do acusado, excluídos, contudo, os bens impenhoráveis.
Os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas trabalhistas não
podem ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de improbidade
administrativa. Isso porque a aplicação financeira das verbas trabalhistas não implica a perda
da natureza salarial destas, uma vez que o seu uso pelo empregado ou trabalhador é uma defesa
contra a inflação e os infortúnios.
Desse modo, é possível a indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o estoque de
capital investido, de natureza salarial, é impenhorável.
STJ. 1ª T. REsp 1.164.037-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 20/2/14 (Info 540).

10.28. Se o médico não atuou, no caso concreto, como agente público, não há ato de improbidade
– (Info 537) – IMPORTTANTE!!!

Não comete ato de improbidade administrativa o médico que cobra honorários por
procedimento realizado em hospital privado que também seja conveniado à rede pública de
saúde, desde que o atendimento não seja custeado pelo próprio sistema público de saúde.
Em outras palavras, médico de hospital conveniado com o SUS que cobra do paciente por uma
cirurgia que já foi paga pelo plano de saúde não pratica improbidade administrativa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.414.669-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20/2/14 (Info 537).
10.29. IMPOSSIBILIDADE DE AÇÃO APENAS CONTRA O TERCEIRO – (Info 535) –
IMPORTANTE!!! (TJMS-2015) (TJPB-2015) (MPSC-2016/2019)

É possível imaginar que exista ato de improbidade com a atuação apenas do “terceiro” (sem a
participação de um agente público)? É possível que, em uma ação de improbidade
administrativa, o terceiro figure sozinho como réu?
NÃO. Para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92 é indispensável
que seja identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade.
Assim, não é possível a propositura de ação de improbidade exclusivamente contra o particular,
sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.171.017-PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 25/2/14 (Info 535).
(MPSC-2016): É inviável a propositura de ação civil de improbidade administrativa
exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo
passivo da demanda. BL: art. 3º da LIA e Info 535 do STJ.

10.30. AUSÊNCIA DOLOSA NA PRESTAÇÃO DE CONTAS

A ausência de prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao


Princípio da Publicidade. Vale ressaltar, no entanto, que o simples atraso na entrega das contas,
sem que exista dolo na espécie, não configura ato de improbidade.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.382.436-RN, Rel. Min. Humberto Martins, j. 20/8/2013 (Info 529).
Assim, se o Prefeito não presta contas e fica provado que assim agiu com dolo ou má-fé ele poderá
ser condenado por improbidade administrativa.

10.31. AÇÃO DE IMPROBIDADE CONTRA AGENTES POLÍTICOS É DE COMPETÊNCIA


DO JUÍZO DE 1ª INSTÂNCIA – (Info 527) – (TJDFT-2014) (MPMG-2014) (MPF-2015)

Para o STJ, a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias
ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito
penal e nos crimes de responsabilidade.
STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12.514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 16/9/2013 (Info 527).
(MPF-2015): Em relação à competência e entendimento atual do STJ: A ação de improbidade
administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta
contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de
responsabilidade. BL: Info 527, STJ.
(MPMG-2014): De acordo com a jurisprudência pacificada no âmbito do STJ, a ação de
improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que
proposta contra deputado federal. BL: Info 527, STJ.

OBS:
Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos
a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização
civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-
administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de
função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não
é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240
AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/18
(Info 901).

10.32. PUBLICIDADE GOVERNAMENTAL QUE NÃO TENHA FINS EDUCACIONAIS,


INFORMATIVOS E DE ORIENTAÇÃO SOCIAL

Configura ato de improbidade administrativa a propaganda ou campanha publicitária que tem


por objetivo promover favorecimento pessoal, de terceiro, de partido ou de ideologia, com
utilização indevida da máquina pública.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 496.566/DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/05/2014.

10.33. PREFEITO QUE INTERCEDE JUNTO AO DELEGADO PARA QUE ESTE LIBERE
TEMPORARIAMENTE UM PRESO PARA COMPARECER AO ENTERRO DE SUA AVÓ

Não configura ato de improbidade a conduta do agente político de intervir na liberação de


preso para comparecimento em enterro de sua avó, uma vez que não está presente o dolo, ou
seja, a manifesta vontade, omissiva ou comissiva, de violar princípio constitucional regulador
da Administração Pública.
A conduta do agente, apesar de ilegal, teve um fim até mesmo humanitário, pois conduziu-se
no sentido de liberar provisoriamente o preso para que este pudesse comparecer ao enterro de
sua avó, não consistindo, portanto, em ato de improbidade, em razão da ausência do elemento
subjetivo do tipo, o dolo.
STJ. 1ª Turma. REsp 1414933/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/11/2013.

10.34. PREFEITO QUE PRATICA ASSÉDIO MORAL CONTRA SERVIDOR PÚBLICO

O assédio moral, mais do que provocações no local de trabalho — sarcasmo, crítica, zombaria e
trote —, é campanha de terror psicológico pela rejeição.
A prática de assédio moral enquadra-se na conduta prevista no art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92,
em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e malferimento à impessoalidade,
ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém.
STJ. 2ª Turma. REsp 1286466/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03/09/2013.

10.35. PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial na ação por ato de improbidade administrativa, além dos requisitos do art. 282
do CPC, deve ser instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes
da existência do ato de improbidade. Assim, diz-se que a ação de improbidade administrativa,
além das condições genéricas da ação, exige ainda a presença da justa causa
STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 4/10/2012.

11. CONSELHOS PROFISSIONAIS


11.1. Conselho de Contabilidade, no exercício de fiscalização, pode requisitar dos contadores
os livros e fichas contábeis de seus clientes – (Info 612)

O ato do Conselho de Contabilidade que requisita dos contadores e dos técnicos os livros e
fichas contábeis de seus clientes, a fim de promover a fiscalização da atividade contábil dos
profissionais nele inscritos, não importa em ofensa aos princípios da privacidade e do sigilo
profissional.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 19/9/17 (Info 612).

11.2. Quem pode ser responsável técnico em drogarias – (Info 611)

É facultado aos técnicos de farmácia, regularmente inscritos no Conselho Regional de Farmácia,


a assunção de responsabilidade técnica por drogaria, independentemente do preenchimento
dos requisitos previstos nos arts. 15, § 3º, da Lei 5.991/73, c/c o art. 28 do Decreto 74.170/74,
entendimento que deve ser aplicado até a entrada em vigor da Lei nº 13.021/2014.
Obs: após a Lei 13.021/14 apenas farmacêuticos habilitados na forma da lei poderão atuar como
responsáveis técnicos por farmácias com manipulação e drogarias.
STJ. 1ª S. REsp 1.243.994-MG, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (recurso repetitivo) (Info 611).

11.3. Técnico de futebol não precisa ser inscrito no Conselho Regional de Educação Física –
(Info 607)

O exercício da profissão de técnico ou treinador profissional de futebol não se restringe aos


profissionais graduados em Educação Física, não havendo obrigatoriedade legal de registro
junto ao respectivo Conselho Regional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.650.759-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/4/17 (Info 607).

11.4. Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades – (Info 603)

Segundo o art. 8º da Lei 12.514/11, para que os Conselhos Profissionais ajuízem execução fiscal
cobrando anuidades em atraso, é necessário que o total da quantia executada seja de, no
mínimo, quatro vezes o valor da anuidade.
Mesmo sem poder executar a dívida, o Conselho Profissional poderá adotar uma outra sanção
contra o inadimplente: poderá suspender ou cancelar seu registro profissional.

Assim, o fato de os conselhos não poderem executar dívidas inferiores a quatro vezes o valor
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não impede que seja feita a
suspensão ou o cancelamento do registro do profissional que deixar de efetuar o pagamento das
anuidades. Isso está previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei 12.514/11.
No caso específico dos Engenheiros e Arquitetos, o cancelamento do registro somente pode
acontecer desde que o atraso seja de, no mínimo, duas anuidades consecutivas (art. 64 da Lei
5.194/66).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.659.989-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/4/17 (Info 603)

11.5. Lojas que vendam animais vivos e medicamentos veterinários não precisam se inscrever
no Conselho Regional de Medicina Veterinária – (Info 602)

Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária,
nem à contratação de profissionais nele inscritos como responsáveis técnicos, as pessoas
jurídicas que explorem as atividades de comercialização de animais vivos e a venda de
medicamentos veterinários, pois não são atividades reservadas à atuação privativa do médico
veterinário.
STJ. 1ª S. REsp 1.338.942-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 26/4/17 (recurso repetitivo) (Info 602).

12. SERVIDORES PÚBLICOS


12.1. APOSENTADORIA: A contribuição previdenciária paga pelo servidor não deve incidir
sobre parcelas que não são incorporadas à sua aposentadoria – (Info 656) – IMPORTANTE!!!

Em adequação ao entendimento do STF, não incide contribuição previdenciária sobre verba


não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias,
serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade.
STJ. 1ª T. EDcl no AgInt no REsp 1659435-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 03/09/19
(Info 656).

Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional
noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral – Tema
163) (Info 919).

12.2. ACUMULAÇÃO DE CARGOS: É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada


semanal ultrapasse 60h – (Info 646) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois
inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª T. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/4/19 (Info 937).
STF. 2ª T. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 27/03/2019 (Info 646).
OBS:
É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?
REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.

EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando
houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;

No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado
pela Lei nº 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação
remunerada de cargos públicos. (...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da
compatibilidade de horários.

Parecer-AGU nº GQ-145/98: Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União


(AGU) emitiu o parecer nº GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderá
acumular cargos se houver compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não
ultrapasse 60 horas semanais. Assim, para a AGU, mesmo que exista compatibilidade de
horários, se a jornada semanal ficar acima de 60 horas, a acumulação não será permitida,
considerando que o servidor estaria muito cansado e isso atrapalharia seu desempenho funcional,
em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência.

Obs: esse parecer foi revogado em abril/2019.

Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A
jurisprudência acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos
públicos mesmo que a soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais? SIM. É possível a
acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. É o que foi decidido no
Infos 632 e 646 do STJ.

O fundamento é constitucional. Ora, a CF/88 em nenhum momento exigiu que a jornada


semanal dos dois cargos fosse de até 60 horas. O texto constitucional exigiu apenas que haja
compatibilidade de horários. Logo, essa exigência feita de que a jornada seja de até 60 horas está
além daquilo que a Constituição impôs, sendo, portanto, ilegítima. Assim, quando houver
compatibilidade de horários, a existência de norma infraconstitucional limitadora de jornada
semanal de trabalho não constitui óbice ao reconhecimento da cumulação de cargos prevista no
art. 37, XVI, da Constituição Federal.

Posição do TCU: A jurisprudência atual do TCU é no sentido de que a questão da


incompatibilidade de horários entre os cargos acumuláveis deve ser estudada caso a caso, sem a
limitação objetiva de 60 horas semanais. Nesse sentido: Acórdãos 1.338/2011-TCU-Plenário, de
relatoria do Ministro Augusto Nardes, e 1.168/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro José
Jorge.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


 (Juiz Federal Substituto - TRF2 - IBFC - 2018) É lícita a acumulação de dois cargos
privativos da área de saúde, bastando a demonstração concreta da compatibilidade de
horários, mesmo que a soma das horas semanais trabalhadas ultrapasse o limite de
jornada estipulado em ato administrativo (CERTO)

12.3. PENSÃO POR MORTE: Não há que se falar em prescrição de fundo de direito nas ações
em que se busca a concessão do benefício de pensão por morte – (Info 644) – IMPORTANTE!!!

Não ocorre a prescrição do fundo de direito no pedido de concessão de pensão por morte,
estando prescritas apenas as prestações vencidas no quinquênio que precedeu à propositura da
ação.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1269726-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13/3/19 (Info 644).
OBS:
Indeferimento administrativo e ação judicial: Algumas vezes, o dependente do servidor público
formula o requerimento administrativo de pensão por morte, mas a Administração Pública nega o
benefício afirmando que não estão presentes os requisitos legais. Neste caso, a pessoa prejudicada
poderá ajuizar uma ação questionando esse indeferimento e pedindo a concessão judicial do
benefício.
 
Existe algum prazo para o ajuizamento dessa ação? SIM. Esta pretensão está sujeita ao prazo
prescricional de 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932.
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, servidor público do Estado de Minas Gerais,
faleceu em abril/2010, deixando apenas uma companheira (Maria), com quem vivia em união
estável. Em abril/2016, Maria foi até a Administração Pública e requereu a pensão por morte,
tendo, contudo, o pedido sido negado, em maio/2016, sob o argumento de que os requisitos legais
não estavam preenchidos. Em junho/2016, Maria ajuizou ação contra o Estado pedindo a
concessão da pensão. O juiz, contudo, extinguiu o processo sob a alegação de que a pretensão
estaria prescrita, considerando que já se passaram mais de 5 anos desde a data do óbito. Logo,
para o magistrado, Maria perdeu o direito à pensão por morte. Houve a prescrição do próprio
fundo de direito. Maria recorreu contra a decisão alegando que não existe prescrição do fundo de
direito neste caso, havendo apenas prescrição das parcelas atrasadas que venceram há mais de 5
anos, contados do ajuizamento da ação.
 
Prescrição do “fundo de direito” x prescrição “de trato sucessivo”: Existe uma classificação da
prescrição que a divide em:
Prescrição do fundo de direito Prescrição progressiva
(prescrição nuclear) (Prescrição de obrigações de trato sucessivo)
Ocorre quando o direito subjetivo é violado Ocorre quando a obrigação do devedor é de
por um ato único, começando, aí, a correr o trato sucessivo, ou seja, contínua. Em outras
prazo prescricional que a pessoa lesada tem palavras, o devedor, periodicamente, deve
para exigir do devedor a prestação. fornecer aquela prestação ao credor. Toda vez
Esgotado esse prazo, extingue-se a que não o faz, ele viola o direito do credor e
pretensão e o credor não mais poderá exigir este tem a pretensão de exigir o cumprimento.
nada do devedor. Em palavras mais simples, é aquela que atinge
Em palavras mais simples, é aquela que apenas as parcelas (e não o direito como um
atinge a exigibilidade do direito como um todo).
todo. Ex: o devedor combinou de pagar uma
Ex: o devedor combinou de pagar a dívida indenização ao credor até o fim de sua vida.
em uma só vez, em fev/2008. Se ele não Essa verba é paga em prestações (fev/2008,
pagou, iniciou-se o prazo prescricional, que fev/2010, fev/2012 etc.). Imagine que ele não
terminou em fevereiro/2013. tenha pagado nenhuma. A prescrição quanto a
fev/2008 e fev/2010 já ocorreu. Persistem, no
entanto, as prestações de fev/2012 e as
seguintes.
 
Voltando ao nosso caso concreto: a decisão do juiz está correta? NÃO. Não há prescrição do
fundo de direito neste caso. É o que foi decidido no Info 644 do STJ.

Benefícios previdenciários são de trato sucessivo e, por isso, não há prescrição do fundo de
direito: Os benefícios previdenciários envolvem relações de trato sucessivo e atendem
necessidades de caráter alimentar, razão pela qual não se admite a tese de prescrição do fundo
de direito. O benefício previdenciário possui natureza de direito indisponível, razão pela qual o
benefício previdenciário em si não prescreve, somente as prestações não reclamadas no prazo
de 5 anos é que prescreverão, uma a uma, em razão da inércia do beneficiário. Desse modo, se a
parte demorou mais de 5 anos para ingressar com a ação judicial pleiteando a pensão por morte,
ela não perdeu a possibilidade de obter o benefício. O que ela perdeu foi apenas as parcelas que
venceram há mais de 5 anos contados da propositura da ação.

Explicando melhor: Maria ajuizou a ação em junho/2016. Isso significa que, se o juiz acolher o
pedido e entender que realmente ela tinha direito à pensão por morte, ela receberá as prestações
atrasadas (retroativas) relacionados com os últimos 5 anos, contadas do ajuizamento da ação.
Isso significa que Maria terá direito de receber as parcelas da pensão por morte referentes ao
período de junho de 2011 para frente. Pelo fato de ter demorado mais de 5 anos, Maria perdeu o
direito de receber as parcelas de abril de 2010 (mês do óbito) até maio de 2011. Estas parcelas estão
prescritas. As demais, não.
 
O STF, analisando o regime geral de previdência social, chegou ao seguinte entendimento que
pode ser perfeitamente aplicável também ao regime próprio:
O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez
implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso
do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial
do benefício previdenciário. STF. Plenário. RE 626489, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 16/10/2013 (repercussão geral) (Info 724).
 
Súmula 85-STJ: Nas causas em que se pretende a concessão de benefício de caráter previdenciário,
inexistindo negativa expressa e formal da Administração, não há falar em prescrição do fundo de
direito, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932, porquanto a obrigação é de trato
sucessivo, motivo pelo qual incide, no caso, o disposto na Súmula 85 do STJ:
Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública
figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a
prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à
propositura da ação.
 
Não se pode admitir que o decurso do tempo legitime a violação de um direito fundamental. O
reconhecimento da prescrição de fundo de direito à concessão de um benefício de caráter
previdenciário excluirá seu beneficiário da proteção social, retirando-lhe o direito fundamental
à previdência social, ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana e da garantia
constitucional do mínimo existencial.
 
Quando o indivíduo preenche os requisitos legais, ele se torna titular do benefício previdenciário
e esse direito não se extingue pelo não exercício no prazo prescricional: O STJ possui o
entendimento de que, cumpridas as formalidades legais, o direito ao benefício previdenciário
incorpora-se ao patrimônio jurídico do beneficiário, não sendo extinto pelo fato de ele não
exercer a sua pretensão no prazo de 5 anos. Assim, a prescrição de 5 anos não envolve a
prescrição do fundo de direito, mas apenas das prestações pretéritas que não foram pagas.
 
RGPS: O caso julgado do EREsp 1269726/MG envolvia o regime próprio de previdência social,
mas pode ser aplicado também para o RGPS. Nesse sentido: STJ. 1ª T. AgInt no AgInt no REsp
1489291/ES, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/04/2019.
 
Cuidado para não confundir com a ação de revisão do benefício concedido: Se a Administração
Pública defere o benefício previdenciário (RPPS), mas o beneficiário não concorda com aquilo
que foi concedido, ele tem 5 anos para ajuizar uma ação de revisão. Se não o fizer neste prazo,
haverá prescrição do fundo de direito:
Ocorre a prescrição do próprio fundo de direito na busca da revisão do ato de
aposentadoria, após o transcurso de mais de cinco anos entre o ato de concessão e
o ajuizamento da ação. A aposentadoria do servidor público é concedida por um
único ato e, a partir dessa concessão, inicia-se a pretensão do aposentado de exigir
sua revisão. Superado esse prazo de cinco anos, extingue-se não apenas a pretensão
de receber as parcelas em atraso, mas também o próprio fundo de direito. STJ. 2ª T.
REsp 1730407/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 13/12/2018.
 
Nos casos em que o servidor busca a revisão do ato de aposentadoria, ocorre a
prescrição do próprio fundo de direito após o transcurso de mais de cinco anos
entre o ato de concessão e o ajuizamento da ação. Inteligência do art. 1º do Decreto
20.910/32. A existência de norma específica que regula a prescrição quinquenal, nos
feitos que envolvem as relações de cunho administrativo - tais como aquelas que
envolvem a Administração Pública e os seus servidores -, afasta a adoção do prazo
decenal previsto no art. 103, caput, da Lei 8.213/91, que dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social. STJ. 1ª Seção. Pet 9.156/RJ, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, julgado em 28/05/2014.

12.4. Ainda que a hora-aula do professor não seja de 60 minutos, mas sim de 50 ou 45 minutos,
esses 10 ou 15 minutos que sobram como intervalo são considerados como atividades de interação
com os educandos (e não como atividades extraclasse) – (Info 644)

O art. 4º da Lei 11.738/08 (lei que regulamenta o piso salarial nacional do Magistério) estabelece
que os professores deverão cumprir sua jornada de trabalho da seguinte forma:
• 2/3 da carga horária é para atividades de sala de aula; e
• 1/3 da carga horária pode ser utilizado para atividades extraclasse (ex: preparação das aulas,
reuniões pedagógicas, reuniões com os pais etc.).
Em alguns Estados, a hora-aula do professor não é de 60 minutos, mas sim de 50 minutos (se
diurna) ou 45 minutos (se noturna). Esses 10 ou 15 minutos que sobram como intervalo são
considerados como atividades de interação com os educandos, ou seja, atividade de aula (e não
como atividades extraclasse).
Assim, o cômputo dos 10 ou 15 minutos que faltam para que a “hora-aula” complete
efetivamente uma “hora de relógio” não pode ser considerado como tempo de atividade
extraclasse dos profissionais do magistério.
STJ. 2ª T. REsp 1569560-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Ac. Min. Og Fernandes, j. 21/6/18
(Info 644).

12.5. REMUNERAÇÃO: A Indenização por Trabalho em Localidade Estratégica somente podia


ser paga após a regulamentação da Lei 12.855/2013 pelo Poder Executivo – (Info 641) – RECURSO
REPETITIVO!!!

A Lei 12.855/13, que instituiu a Indenização por Trabalho em Localidade Estratégica, é norma
de eficácia condicionada à prévia regulamentação, para definição das localidades consideradas
estratégicas, para fins de pagamento da referida vantagem.
STJ. 1ª Seção. REsp 1617086-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, j. 28/11/18 (recurso repetitivo)
(Info 641).

12.6. Reajuste geral de 28,86% e Policiais Rodoviários Federais – (Info 631) – Apenas Concursos
Federais!

O reajuste geral de 28,86%, concedido pelas Leis nº 8.622/93 e 8.627/93, não pode ser
compensado pelas novas gratificações criadas pela Lei nº 9.654/98.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1577881-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 27/6/18 (Info 631).

12.7. São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se


deu em razão de perseguição política praticada na época da ditadura militar – (Info 630) –
IMPORTANTE!!!

São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em


razão de atos de exceção praticados durante o regime militar.
Ex: João era servidor da ALE/PR. Em 1963, João foi demitido em razão de perseguição política
perpetrada na época da ditadura militar. Em 2011, João ajuizou ação ordinária contra o Estado
do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. Esta pretensão é considerada imprescritível
considerando que envolve a efetivação da dignidade da pessoa humana.
Vale ressaltar, contudo, que a imprescritibilidade da ação que visa reparar danos provocados
pelos atos de exceção não implica no afastamento da prescrição quinquenal sobre as parcelas
eventualmente devidas ao autor.
Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos
efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do Autor, o
qual poderia ter buscado seu direito desde a publicação da Constituição da República. Em
outras palavras, o recebimento dos “atrasados” ficará restrito aos últimos 5 anos contados do
pedido.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 26/6/18 (Info 630).
OBS: A CF/88 não prevê prazo prescricional para o exercício do direito de agir quando se trata
de defender o direito inalienável à dignidade humana, sobretudo quando violados durante o
período do regime de exceção. É certo que a prescrição é a regra no ordenamento jurídico. Assim,
em regra, para uma pretensão ser considerada imprescritível deverá haver um comando expresso
no texto constitucional, como é o caso do art. 37, § 5º da CF/88. O STJ, no entanto,
excepcionalmente, afirma que, mesmo sem uma previsão expressa, é possível considerar que as
pretensões que buscam reparações decorrentes do regime militar de exceção são imprescritíveis
considerando que envolvem a concretização da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido:
(...) 1. A dignidade da pessoa humana, valor erigido como um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil, experimenta os mais expressivos atentados quando
engendradas a tortura e a morte, máxime por delito de opinião. (...)
4. À luz das cláusulas pétreas constitucionais, é juridicamente sustentável assentar
que a proteção da dignidade da pessoa humana perdura enquanto subsiste a
República Federativa, posto seu fundamento.
5. Consectariamente, não há falar em prescrição da ação que visa implementar um
dos pilares da República, máxime porque a Constituição não estipulou lapso
prescricional ao direito de agir, correspondente ao direito inalienável à dignidade.
(...)
12. A exigibilidade a qualquer tempo dos consectários às violações dos direitos
humanos decorre do princípio de que o reconhecimento da dignidade humana é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz, razão por que a Declaração
Universal inaugura seu regramento superior estabelecendo no art. 1º que "todos
os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos".
13. A Constituição federal funda-se na premissa de que a dignidade da pessoa
humana é inarredável de qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu
corpo de normas, dos denominados direitos fundamentais e os efetive em nome da
promessa da inafastabilidade da jurisdição, marcando a relação umbilical entre os
direitos humanos e o direito processual. (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 1165986/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/11/2010.

Assim, é pacífico o entendimento no STJ no sentido de que:


As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos
durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis. Não se aplica o prazo
prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Dec. 20.910/32. STJ. 2ª T. REsp
1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/6/2013 (Info 523).
Nesse sentido, o STJ afirmou que a ação buscando a reintegração ao cargo público deve seguir o
mesmo regramento das ações de indenização. Isso porque a causa de pedir também decorre da
violação de direitos fundamentais perpetrada durante o regime militar. Ora, o retorno ao serviço
público representa uma forma de reparação, estando intimamente ligada ao princípio da
dignidade humana, tendo em vista que o trabalho representa uma das expressões mais relevantes
do ser humano.

Isso significa que o lesado, além de voltar ao cargo público que ocupava, terá direito a toda
remuneração retroativa, desde 1963, data em que ele foi demitido? NÃO. Não se deve confundir
imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos efeitos patrimoniais e
funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do autor, que poderia ter buscado seu
direito desde a publicação da Constituição da República. Isso significa dizer que:
• O lesado terá direito de ser reintegrado;
• ele terá direito à remuneração retroativa, mas limitada aos últimos 5 anos, contados para trás,
tendo marco o ajuizamento. Como o pedido foi formulado em 2011, ele terá direito à remuneração
retroativa desde 2006.

Essa compreensão, inclusive, restou estampada no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002:
Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da
remuneração que o anistiado político receberia se na ativa estivesse, considerada a
graduação a que teria direito, obedecidos os prazos para promoção previstos nas leis
e regulamentos vigentes, e asseguradas as promoções ao oficialato,
independentemente de requisitos e condições, respeitadas as características e
peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares, e,
se necessário, considerando-se os seus paradigmas. (...)
§ 6º Os valores apurados nos termos deste artigo poderão gerar efeitos financeiros a
partir de 5 de outubro de 1988, considerando-se para início da retroatividade e da
prescrição quinquenal a data do protocolo da petição ou requerimento inicial de
anistia, de acordo com os arts. 1º e 4º do Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932.

Assim, são imprescritíveis as ações de reintegração a cargo público decorrentes de perseguição,


tortura e prisão, praticadas durante o regime militar, por motivos políticos, ficando, contudo,
eventuais efeitos retroativos, sujeitos à prescrição quinquenal.

12.8. ACUMULAÇÃO DE CARGOS: Auditor Fiscal do Trabalho não pode acumular seu cargo
com outro da área de saúde – (Info 625)

O Auditor Fiscal do Trabalho, com especialidade em medicina do trabalho, não pode cumular o
exercício do seu cargo com outro da área de saúde.
STJ. 1ª Turma. REsp 1460331-CE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de
Faria, j. 10/04/2018 (Info 625).

12.9. Termo inicial do adicional de insalubridade – (Info 624) – Atenção! Concursos Federais!

O termo inicial do adicional de insalubridade a que faz jus o servidor público é a data do laudo
pericial.
STJ. 1ª Seção. PUIL 413-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 11/04/2018 (Info 624).
OBS: O STJ tem reiteradamente decidido no sentido de que “o pagamento do adicional de
insalubridade está condicionado ao laudo que prova efetivamente as condições insalubres a que
estão submetidos os Servidores. Assim, não cabe seu pagamento pelo período que antecedeu a
perícia e a formalização do laudo comprobatório, devendo ser afastada a possibilidade de
presumir insalubridade em épocas passadas, emprestando-se efeitos retroativos a laudo pericial
atual” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.400.637/RS, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 24/11/2015).

12.10. VPNI (Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável): incorporação pelo subsídio e


incidência do teto – (Info 624)

O direito à percepção de VPNI não impede a sua eventual absorção pelo subsídio e, do mesmo
modo, não inviabiliza a aplicação do teto constitucional, que inclui a vantagem de caráter
pessoal no cômputo da remuneração do servidor para observância do teto.
STJ. 1ª Turma. RMS 33744-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 5/4/18 (Info 624).
OBS:
TETO REMUNERATÓRIO:
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que
os agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns
agentes públicos recebessem os chamados “supersalários”, que são incompatíveis com o serviço
público. Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos
para o âmbito dos Estados e Municípios (chamados de subtetos). O teto geral do serviço público
no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$ 33.763,00 (bruto).

A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.

O teto vale também para a Administração direta e indireta?


 Agentes públicos da administração direta: SEMPRE

 Agentes públicos das autarquias e fundações: SEMPRE

 Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista : o teto


somente se aplica se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber
recursos da União, dos Estados, do DF ou dos Municípios para pagamento de despesas
de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º).

Quais as parcelas incluídas nesse limite?


 Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes
do valor total percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.

 Exceções: Estão fora do teto as seguintes verbas:


a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º
da CF/88, tais como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc. (Fernanda
Marinela);
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§
19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos. O STJ entende
que se o servidor acumular dois cargos públicos nas hipóteses previstas na CF/88, a
remuneração de cada cargo não poderá ser superior ao teto constitucional, sendo
possível, no entanto, que a soma dos dois ultrapasse esse limite (STJ. 2ª T. AgRg no
AgRg no RMS 33.100/DF, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, j. 7/5/13). Ex.: se
determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu
subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério.
Nesse caso, o teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo
permitido que ele recebesse acima do limite previsto no art. 37, XI da CF, se
considerarmos seus ganhos globais.

Obs.: esse quadro de exceções é a posição atualmente majoritária.

Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto? Sim.
A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.

O teto remuneratório existe desde quando? A redação originária da CF/88 já previa a existência
de um teto remuneratório, mas o dispositivo constitucional não era autoaplicável. Assim, na
prática, o teto só foi implementado com a EC nº 41/2003. Confira a evolução histórica do tema:
 Redação original da CF/88: previa, no inciso XI do art. 37, que cada ente da Federação
deveria editar sua própria lei fixando o teto remuneratório dos servidores públicos. Na
prática, o teto não era exigido porque, segundo a jurisprudência, o inciso XI não era
autoaplicável, já que dependia de lei para produzir todos seus efeitos.
 EC 19/98: alterou esse inciso estabelecendo que o teto remuneratório seria um só para
todos os servidores públicos do país, sendo este limite o subsídio mensal dos Ministros
do STF. Na prática, o teto continuava não sendo exigido porque ainda não havia lei.
 EC 41/03: alterou novamente o inciso XI trazendo duas novidades importantes: 1)
passou a admitir que os Estados e Municípios instituíssem subtetos estaduais e
municipais; 2) previu que, mesmo sem lei regulamentando, o teto remuneratório
deveria ser imediatamente aplicado, utilizando-se como limite o valor da remuneração
recebida, na época, pelo Ministro do STF (art. 8º da EC 41/2003).
 EC 47/05: acrescentou o § 11 ao art. 37 estabelecendo que estão fora do limite do teto as
parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/03, que foi
publicada em 31/12/03. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente
que, enquanto não houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração
do Ministro do STF na época. O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19,
remuneração do Ministro do STF naquele momento.

REMUNERAÇÃO DAS PESSOAS QUE RECEBIAM ACIMA DO TETO:


Quando o teto foi finalmente implementado na prática (EC 41/03), o que aconteceu com a
remuneração das pessoas que recebiam acima do teto que foi instituído? Essas pessoas tiveram
direito adquirido de continuar recebendo acima do teto? NÃO. O art. 9º da EC 41/03 determinou
que quaisquer remunerações ou proventos que estivessem sendo recebidos acima do teto
deveriam ser imediatamente reduzidos ao limite fixado, não podendo a pessoa invocar direito
adquirido. Assim, em 1/1/04, se o servidor público tinha uma remuneração de R$ 25.000,00, por
exemplo, passou a receber apenas R$ 19.115,19.

Obviamente, tal situação gerou reação das pessoas prejudicadas, que recorreram ao Poder
Judiciário questionando a constitucionalidade dessa previsão. O que decidiu o STF? Era possível
aplicar imediatamente o teto previsto na EC 41/03, reduzindo a remuneração de quem ganhava
acima desse valor? SIM. O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o teto fixado pela EC
41/03 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos
servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se
submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior. A aplicação imediata
da EC 41/03 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o princípio da
irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido. Em outras palavras, com a EC
41/03, quem recebia acima do teto fixado teve a sua remuneração reduzida para respeitar o teto.
Essa redução foi legítima. STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
2/10/2014 (Info 761).

Mas isso não viola o princípio da irredutibilidade da remuneração/proventos? NÃO. Segundo o


STF, a garantia da irredutibilidade de remuneração/proventos não impede a aplicação imediata
do teto. Isso porque o próprio texto constitucional, ao tratar sobre o princípio da irredutibilidade,
ressalva expressamente o inciso XI do art. 37, deixando claro que é possível a redução da
remuneração/proventos para aplicação do teto. Nesse sentido, confira o art. 37, XV, art. 95, III e
art. 128, § 5º, I, “c”. Nas palavras do Min. Teori Zavascki, ao condicionar a fruição da garantia de
irredutibilidade de vencimentos à observância do teto (art. 37, XI, da CF/88), a literalidade dos
citados dispositivos constitucionais deixa fora de dúvida que o respeito ao teto representa
verdadeira condição de legitimidade para o pagamento das remunerações no serviço público.

Não há violação ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? NÃO. O art. 5º, XXXVI (“a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”), também não pode ser invocado
para excepcionar a imposição do teto. Segundo o STF, a cláusula da irredutibilidade somente
pode ser invocada se a remuneração que estava sendo recebida pelo servidor estava em
conformidade com a CF/88. Desse modo, os vencimentos acima do teto constitucional, ainda que
com o beneplácito de disciplinas normativas anteriores, não estão amparados pela regra da
irredutibilidade. O pagamento de remunerações superiores ao teto, além de se contrapor aos
princípios da moralidade, da transparência e da austeridade na administração dos gastos com
custeio, representa gravíssima quebra da coerência hierárquica essencial à organização do serviço
público. O Min. Zavascki lembrou, por fim, que o fato de o art. 9º da EC 41/03 ser objeto de ação
direta de inconstitucionalidade ainda pendente de apreciação, não impediria, contudo, que o STF
fizesse impor a força normativa do próprio art. 37, XI, da CF, cujo enunciado seria suficiente para
coibir situações inconstitucionais de remuneração excessiva.

VANTAGENS PESSOAIS TIVERAM QUE FICAR DENTRO DO TETO?


Mesmo após a decisão do STF no RE 609381/GO, alguns servidores continuavam tentando excluir
do teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes da EC 41/03 (que implementou, na
prática, o teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de
vencimentos, modalidade qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas
antes da vigência da EC 41/03 fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As
vantagens pessoais anteriores à EC 41/03 estão fora do teto? NÃO. Computam-se, para efeito de
observância do teto remuneratório do art. 37, XI, da CF/88, também os valores percebidos pelo
servidor público anteriormente à vigência da EC 41/03 a título de vantagens pessoais. O art. 37,
XI, da CF/88, na redação da EC 41/03, é expresso ao incluir as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza para fins de limitação dos ganhos ao teto remuneratório do serviço público. A EC
41/003 não violou a cláusula do direito adquirido, porque o postulado da irredutibilidade de
vencimentos, desde sua redação original, já indicava que deveria ser respeitado o teto
remuneratório (art. 37, XI, da CF/88). Em outras palavras, a Constituição assegurou a
irredutibilidade, mas no mesmo dispositivo já mencionou que deveria ser respeitado o teto
remuneratório. Assim, a Constituição não só autoriza, como exige, o cômputo, para efeito de
incidência do teto, de adicionais por tempo de serviço, sexta parte, prêmio de produtividade e
gratificações, ainda que qualificados como vantagens de natureza pessoal percebidas antes do
advento da EC 41/03. STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/11/15
(repercussão geral) (Info 808).

E os servidores que receberam vantagens pessoais acima do teto antes dessa decisão do STF
deverão devolver os valores? A Administração Pública poderá ingressar com ações cobrando o
ressarcimento dessas quantias recebidas acima do teto a título de vantagens pessoais? NÃO. O
STF afirmou que os servidores não estão obrigados a restituir os valores eventualmente recebidos
em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015 (data da decisão do STF).

Em todos os julgamentos de recursos extraordinários com repercussão geral reconhecida o STF


elabora uma frase que resume a tese adotada pelo Tribunal. A tese fixada pela Corte neste caso
foi a seguinte: Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI,
da Constituição da República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC
41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores
eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015. STF. Plenário. RE
606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

VPNI: A Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável (VPNI) era uma vantagem de caráter
pessoal que era paga a determinados servidores que tinham direito aos antigos quintos/décimos.
Ela foi extinta. Ocorre que as pessoas que recebiam a VPNI pretendiam continuar recebendo a
quantia indefinidamente e, inclusive, acima do teto, sob o argumento de que foram adquiridas
antes de o teto ser instituído e, portanto, constituiriam direito adquirido. Essa tese não foi acolhida
pela jurisprudência, que entende que a verba que antes era paga a título de VPNI:
 Deve ser absorvida pelo subsídio (o servidor que recebe subsídio não tem direito a
outras parcelas remuneratórias mensais);
 Deve estar sujeita ao teto, considerando que as vantagens de caráter pessoal não devem
ultrapassar o teto).

O direito à percepção de VPNI não impede a sua eventual absorção pelo subsídio e,
do mesmo modo, não inviabiliza a aplicação do teto constitucional, que inclui a
vantagem de caráter pessoal no cômputo da remuneração do servidor para
observância do teto. STJ. 1ª T. RMS 33.744-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
5/4/18 (Info 624).

12.11. Acordo de divisão da pensão por morte não altera a ordem legal de beneficiários, mas
autoriza desconto pela entidade de previdência – (Info 618)

O acordo de partilha de pensão por morte, homologado judicialmente, não altera a ordem legal
do pensionamento, podendo, todavia, impor ao órgão de previdência a obrigação de depositar
parcela do benefício em favor do acordante que não figura como beneficiário perante a
autarquia previdenciária.
STJ. 2ª T. RMS 45817-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, j. 26/09/17
(Info 618).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João, servidor público municipal de São Gonçalo (RJ), vive
em união estável com Maria. Determinado dia, João faleceu sem deixar filhos. Segundo o Estatuto
dos Servidores Públicos do Município de São Gonçalo, em caso de falecimento sem filhos, a
pensão por morte deverá ser paga, em sua integralidade, para a companheira/esposa. Ocorre que
Maria e Francisca (mãe de João) fizeram, entre si, um acordo homologado judicialmente no qual
Maria aceitou dividir igualmente o valor da pensão por morte com a sogra. De posse desse
acordo, Francisca foi até o Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de São Gonçalo
(autarquia responsável por gerir os benefícios previdenciários) e requereu que a pensão por morte
fosse paga de forma dividida entre ela e Maria. A autarquia previdenciária não aceitou, afirmando
que se ela fizesse isso estaria descumprindo a ordem de pagamento prevista na lei municipal.
Alegou que este acordo, apesar de homologado judicialmente, não pode alterar a ordem legal dos
beneficiários da pensão. Diante disso, afirmou que não tinha obrigação nenhuma de depositar
metade do valor para Francisca, considerando que ela não é beneficiária. Logo, iria depositar
integralmente o valor para Maria.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu o Tribunal? A autarquia previdenciária tem razão? Em
parte.

O acordo, mesmo homologado judicialmente, não pode alterar a ordem prevista na lei: O acordo
de partilha de pensão por morte, mesmo homologado judicialmente, não tem a força de alterar
a ordem legal de pagamento da pensão. Apesar de ter havido acordo de vontades entre a
companheira supérstite e a mãe do instituidor da pensão, este ajuste não tem a força de alterar a
previsão legal. Segundo a lei do Município, se existir esposa ou companheira do servidor falecido,
os ascendentes não herdam. Caso fosse admitido que o acordo alterasse a ordem legal, poderia
acontecer a seguinte burla às regras do sistema previdenciário: se Maria falecesse antes de
Francisca, esta, mesmo sem ser beneficiária segundo a lei, passaria a receber a integralidade da
pensão. Desse modo, alguém que não era originalmente beneficiária teria se tornado pelo simples
fato de ter havido um acordo entre particulares.

Veja bem: não se está dizendo que o acordo não é possível. Ele é válido. No entanto, fica
limitado estritamente à esfera privada, sem o condão de gerar vínculo previdenciário, ou seja,
não altera as regras previstas na lei. Em suma, este acordo não teve a força de transformar a mãe
do falecido em beneficiária da pensão por morte porque a lei prevê que, havendo
cônjuge/companheira, esta será a única beneficiária.

O acordo pode obrigar a autarquia previdenciária a separar os pagamentos: O acordo não altera
quem a lei prevê como sendo beneficiário. No entanto, o acordo de partilha de pensão por morte
tem a força de impor ao órgão de previdência a obrigação de depositar parcela do benefício em
favor da acordante mesmo que ela não figure como beneficiária perante a lei . Em outras
palavras, é possível que a beneficiária da pensão faça um acordo e diga para a autarquia
previdenciária: pague metade do valor para mim e a outra metade para essa outra pessoa.

O desconto foi autorizado por ajuste entre as partes, sendo perfeitamente possível porque está
relacionado com um direito obrigacional/patrimonial disponível da parte, podendo ser
homologado pelo juízo e produzir efeitos em face do ente pagador.

Vale ressaltar, no entanto, que nos assentamentos da autarquia previdenciária deverá constar
como pensionista apenas, e tão somente, a beneficiária legal (Maria). O desconto que será feito
pela entidade será igual àqueles que se faz para outros débitos, como de alimentos, por exemplo.
Caso a acordante que não é beneficiária legal da pensão morra (se Francisca morrer), o
pagamento voltará a ser feito em sua integralidade para a beneficiária legal (Maria) . Por outro
lado, se a beneficiária legal (Maria) falecer antes de Francisca, cessa o pagamento da pensão e
Francisca não receberá mais nada. Isso porque, como já explicado, o acordo não tornou Francisca
beneficiária da pensão considerando que a lei não autoriza essa hipótese.

12.12. Inexistência de direito à remoção para acompanhamento de cônjuge que foi removido a
pedido (art. 36 da Lei 8.112/90) – (Info 617) – IMPORTANTE!!! PACIFICOU!!!

Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife. É aberta
uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro. Este concorre no concurso de remoção e consegue
ser removido para a capital baiana. Soraia terá direito de ser removida junto com Pedro, com
fulcro no art. 36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é transferido de localidade a pedido,
após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge o direito subjetivo de também
ser transferido para acompanhá-lo, independentemente do interesse da Administração?
NÃO. O servidor público federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo
único, III, "a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também servidor,
tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse da Administração (nos moldes do
inciso I do mesmo dispositivo legal).
STJ. 1ª Seção. EREsp 1247360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/11/17 (Info 617).
OBS:
Remoção: Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo
quadro, com ou sem mudança de sede (art. 36 da Lei nº 8.112/90).

Modalidades de remoção previstas na Lei nº 8.112/90:


•Remoção ex officio: é aquela que ocorre por imposição da Administração Pública (art. 36,
parágrafo único, I);
•Remoção a pedido do próprio servidor: como o próprio nome indica, é aquela na qual o
servidor requer sua mudança (art. 36, parágrafo único, II e III).

O art. 36 da Lei nº 8.112/90 trata de três hipóteses de remoção:


1) de ofício, “no interesse da Administração” e mesmo que contra a vontade do servidor (inciso I);
2) a pedido do servidor e “a critério da Administração” (inciso II) e
3) a pedido do servidor, “independentemente do interesse da Administração” (inciso III), nas
estritas hipóteses das alíneas “a”, “b” e “c”.

Veja a redação dos dispositivos legais:


Art. 36 (...)
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção:
I – de ofício, no interesse da Administração;
II – a pedido, a critério da Administração;
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da
Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou
militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva
às suas expensas e conste do seu assentamento funcional, condicionada à
comprovação por junta médica oficial;
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de
interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados.

Remoção para acompanhar cônjuge (art. 36, parágrafo único, III, “a”): A Lei 8.112/90 prevê que o
servidor público federal tem direito subjetivo de ser removido para acompanhar seu
cônjuge/companheiro que tiver sido removido no interesse da Administração.
Ex: João e Maria, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife.
João é removido de ofício, no interesse da Administração, para Porto Velho (art. 36, parágrafo
único, I da Lei nº 8.112/90). Logo, Maria tem direito de também ser removida para Porto Velho,
acompanhando seu cônjuge.
Essa regra está prevista no art. 36, parágrafo único, III, “a” da Lei nº 8.112/90:
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção: (...)
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da
Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou
militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;

Cônjuge que passou em concurso público. Se o cônjuge do servidor público for aprovado em um
concurso público e tiver que se mudar para tomar posse, este servidor terá direito à remoção
prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90? Ex.: Eduardo e Mônica são
casados e moram em Boa Vista. Eduardo é servidor público federal e Mônica estuda para
concurso. Mônica é, então, aprovada para um cargo público federal e sua lotação inicial é
Fortaleza. Eduardo terá direito de se remover para Fortaleza para acompanhar sua esposa? NÃO.
De acordo com o art. 36, III, "a" da Lei 8.112/90, a remoção para acompanhamento de cônjuge
exige prévio deslocamento de qualquer deles no interesse da Administração, inadmitindo-se
qualquer outra forma de alteração de domicílio.

O STJ considera que se a pessoa tem que alterar seu domicílio em virtude da aprovação em
concurso público, isso ocorre no interesse próprio da pessoa (e não no interesse da
Administração). Assim, não há direito subjetivo à remoção do art. 36, III, "a", da Lei 8.112/90,
considerando que a pessoa estava ciente de que iria assumir o cargo em local diverso da
residência do cônjuge.

Veja precedente neste sentido:


(...) 2. Dispõe a Lei 8.112/80, em seu artigo 36, inciso III, alínea "a" que a remoção a
pedido do servidor para acompanhamento de cônjuge ou companheiro,
independentemente da existência de vaga, exige obrigatoriamente o cumprimento
de requisito específico, qual seja, que o cônjuge seja servidor público, removido no
interesse da Administração, não se admitindo qualquer outra forma de alteração de
domicílio. 3. Da leitura dos autos, extrai-se que o pedido de remoção foi motivado
pela aprovação de um dos recorrentes em concurso público para o cargo efetivo de
Escrivão da Polícia Federal, tendo sido lotado em município diverso do domicílio do
casal. 4. No caso, não se configurou aquele requisito - deslocamento no interesse da
Administração, pois o cônjuge assumiu cargo em outra localidade de forma
voluntária, objetivando satisfazer interesse próprio. Ou seja, o caso dos autos versa
sobre assunção de forma originária em cargo público federal, após aprovação em
concurso público, e não de remoção por obra da Administração. 5. Inevitável
perceber, portanto, que os recorrentes não se enquadram entre as hipóteses taxativas
do art. 36 da Lei 8.112/90. (...) STJ. 2ª Turma. REsp 1310531/CE, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 06/11/2012.

Cônjuge que foi removido a pedido. Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos
federais lotados em Recife. É aberta uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro. Este concorre
no concurso de remoção e consegue ser removido para a capital baiana. Soraia terá direito de ser
removida junto com Pedro, com fulcro no art. 36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é
transferido de localidade a pedido, após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge
o direito subjetivo de também ser transferido para acompanhá-lo, independentemente do
interesse da Administração? NÃO. O servidor público federal somente tem direito à remoção
prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o
cônjuge/companheiro, também servidor, tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse
da Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal). STJ. 1ª Seção. EREsp
1.247.360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617).

O deslocamento “no interesse da Administração”, para os fins do art. 36, inciso III, “a”, da Lei
8.112/90, é apenas aquele em que o servidor público é removido de ofício pela Administração
Pública, não quando tenha voluntariamente se candidatado a concorrer à vaga aberta para
remoção. Se a remoção anterior foi a pedido, a pessoa não terá direito de ser também removida
para acompanhar seu cônjuge/companheiro. A transferência por conta de concurso de remoção
consiste em uma modalidade da remoção “a pedido”. Logo, ela não dá direito à remoção para
acompanhar cônjuge.

12.13. União não deve figurar na ação proposta pedindo a implementação do piso nacional do
magistério – (Info 606)

Os dispositivos do art. 4º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei 11.738/08 não amparam a tese de que a
União é parte legítima, perante terceiros particulares, em demandas que visam à sua
responsabilização pela implementação do piso nacional do magistério, afigurando-se correta a
decisão que a exclui da lide e declara a incompetência da Justiça Federal para processar e julgar
o feito ou, em sendo a única parte na lide, que decreta a extinção da demanda sem resolução do
mérito.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.559.965-RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 14/6/17 (recurso repetitivo) (Info
606).

12.14. O valor do abono de permanência deverá ser levado em consideração na conversão da


licença-prêmio em pecúnia – (Info 600)

O abono de permanência insere-se no conceito de remuneração do cargo efetivo, de forma a


compor a base de cálculo da licença-prêmio não gozada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 7/3/17 (Info 600).

12.15. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 600) – IMPORTANTE!!!

Se o candidato tomou posse por força de decisão judicial precária e esta, posteriormente, é
revogada, ele perderá o cargo, mesmo que já o esteja ocupando há muitos anos. Não se aplica,
ao caso, a teoria do fato consumado. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
A situação será diferente se ele se aposentou antes do processo chegar ao fim.
Imagine que o candidato tomou posse no cargo por força de decisão judicial precária. Passaram-
se vários anos e ele, após cumprir todos os requisitos, aposentou neste cargo por tempo de
contribuição. Após a aposentadoria, a decisão que o amparou foi reformada. Neste caso, não
haverá a cassação de sua aposentadoria.
Nas palavras do STJ: quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias
e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de
contribuição durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação
posterior da segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode
ocasionar a cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).

12.16. URV e 11,98% - (Info 598)

O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, oriundo das perdas
salariais resultantes da conversão de cruzeiro real em URV, na remuneração do servidor, deve
ocorrer no momento em que a carreira passa por uma restruturação remuneratória.
STJ. 3ª Seção. EREsp 900.311-RN, Rel. Min. Felix Fischer, j. 22/2/17 (Info 598).

12.17. Não se aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais
– (Info 598) – Atenção! Advocacia Pública!

A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor
público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade
estrita, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não
confirmada por ocasião do julgamento de mérito.
Em outras palavras, se a pessoa consegue uma decisão provisória garantindo a ela a remoção e,
posteriormente, esta decisão é revogada, esta remoção terá que ser desfeita mesmo que já tenha
se passado muitos anos.
Não se aplica a "Teoria do Fato Consumado" em relação a atos praticados sob contestação das
pessoas envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência da irregularidade nas
vias adequadas, ainda que, pela demora no transcurso do procedimento destinado à apuração
da legalidade do ato, este gere efeitos no mundo concreto.
Verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deve ser desfeito, preservando-se apenas aquilo
que, pela consolidação fática irreversível, não puder ser restituído ao status quo ante.
Se a Administração Pública, mesmo após a decisão liminar, continuou questionando no
processo a legalidade da remoção do servidor/autor, não se pode aplicar a teoria do fato
consumado, devendo o ato ser desfeito, salvo se tivesse havido uma consolidação fática
irreversível (ou seja, se não fosse mais possível voltar ao "status quo ante").
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 7/12/16 (Info 598).
OBS: O que é a Teoria do Fato Consumado? Segundo esta teoria, as situações jurídicas
consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser
desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais
(STJ. REsp 709.934/RJ). Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou
determinada situação jurídica e, após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada,
ainda assim não deve ser desconstituída, para que não haja insegurança jurídica.

"A teoria do fato consumado foi construída ao longo dos anos como um mecanismo de
estabilização de atos ou decisões, em casos excepcionais, nos quais a restauração da estrita
legalidade seria faticamente impossível ou, ainda que possível, causaria danos sociais de grande
monta e irreparáveis, com malferimento do postulado da segurança jurídica." (Min. Raul Araújo).

Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.

Art. 54 da Lei nº 9.784/99: A teoria do fato consumado guarda íntima relação com a convalidação
dos atos administrativos, atualmente regulada pelo art. 54 da Lei nº 9.784/99, que dispõe:
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da
percepção do primeiro pagamento.
§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade
administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Influência do comportamento das partes na aplicação da teoria: O comportamento das partes


influencia na aplicação ou não da teoria do fato consumado. Veja:
1ª) Se o ato contrário à lei é praticado sem dolo e sem contestação de ninguém, vigorando por anos com
aparência de legalidade: neste caso, o ato deverá ser preservado em homenagem à segurança
jurídica. Protege-se, com isso, a boa-fé e o princípio da confiança legítima do administrado.
2ª) Se o ato praticado é questionado pela Administração Pública, que, desde o início defende que ele é
irregular: neste caso não se deve aplicar a teoria do fato consumado, mesmo que tenha transcorrido
muitos anos. Nessa segunda hipótese, verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deverá ser
desfeito, salvo se tiver havido uma consolidação fática irreversível (ou seja, não é possível voltar
ao "status quo ante").

A teoria do fato consumado não se presta, assim, para mitigar a interpretação do art. 36, III, "a", da
Lei 8.112/90, assegurando ao servidor lotação para acompanhamento de cônjuge fora da estrita
moldura normativa.

Não se deve perder de vista que a teoria do fato consumado é de aplicação excepcional, e deve ser
adotada com cuidado e moderação, para que não sirva de mecanismo para premiar quem não tem
direito, pelo só fato da demora no julgamento definitivo da causa em que fora deferida uma
decisão liminar, cuja duração deve ser provisória por natureza.

12.18. É constitucional o art. 2º, parágrafo único, da LC 152/2015, que prevê regra especial de
transição para a idade da aposentadoria compulsória dos servidores do Serviço Exterior Brasileiro
- (Info 596)

Não viola o princípio da isonomia o implemento de regra de transição de aposentadoria dos


servidores integrantes do Serviço Exterior Brasileiro (Lei nº 11.440/2006), como está previsto no
parágrafo único do art. 2º da LC 152/2015, considerando-se as peculiaridades da carreira, as
necessidades do Estado e a ordem constitucional vigente.
STJ. 1ª Seção. MS 22.394-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 9/11/2016 (Info 596).

12.19. Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas
demais verbas recebidas por tais profissionais – (Info 594)

A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do
magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional,
sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de
incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e
gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações
locais.
STJ. 1ª S. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 23/11/16 (recurso repetitivo) (Info 594).

12.20. Restituição à Administração Pública de proventos depositados a servidor público falecido


– (Info 579) – IMPORTANTE!!!

Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional da Administração Pública,
continuaram sendo depositados em conta de servidor público após o seu falecimento.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 15/3/16 (Info 579).
OBS:
SERVIDOR QUE RECEBE INDEVIDAMENTE VALORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente
revogada, tal quantia poderá ser exigida de volta pela Administração Pública? NÃO. O STJ
possui entendimento pacífico no sentido de que é incabível a restituição ao erário dos valores
recebidos de boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação
da lei por parte da Administração Pública. Em virtude do princípio da legítima confiança, o
servidor público, em regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos pela
Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita. Assim, diante da ausência da
comprovação da má-fé no recebimento dos valores pagos indevidamente por erro de direito da
Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na remuneração do servidor público, a
título de reposição ao erário. STJ. 1ª S. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
10/10/2012 (recurso repetitivo).

Posição do TCU sobre o tema: Vale a pena conhecer também o entendimento do TCU, que é
parecido com o do STJ, apesar de um pouco mais rigoroso com o servidor ao exigir que o erro seja
escusável.
Súmula 249 do TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente
percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de
erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de
autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da
presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas
salariais.

Recebimento de valores indevidos em decorrência de erro operacional: No exemplo acima, o


servidor recebeu os valores indevidamente por causa de erro da Administração na interpretação
da lei. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo a posição majoritária no STJ, este mesmo
entendimento deve ser aplicado nos casos em que o servidor recebe as quantias indevidas por
força de erro operacional da Administração. Confira:
(...) Esta Corte firmou entendimento no sentido de não ser devida a devolução de
verba paga indevidamente a servidor em decorrência de erro operacional da
Administração Pública, quando se constata que o recebimento pelo beneficiado se
deu de boa-fé, como no caso em análise. (...) STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1560973/RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/04/2016.

Em suma: valores recebidos pelo servidor em decorrência de errônea interpretação da lei e em


virtude de erro operacional estão sujeitos ao mesmo tratamento. Assim, houve boa-fé do servidor,
não se restitui; não houve boa-fé, deve-se restituir.

HERDEIRO DE SERVIDOR QUE RECEBE VALORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


DECORRENTE DE ERRO OPERACIONAL
Imagine a seguinte situação hipotética: Maria era servidora pública aposentada e recebia todos os
meses seus proventos na conta bancária. Determinado dia, Maria faleceu e seus dois filhos
informaram ao departamento de pessoal do Estado a morte da mãe. Com o falecimento da
servidora, o correto seria que cessasse o pagamento dos proventos, já que os filhos não tinham
direito à pensão por morte, considerando que eram maiores e capazes. Ocorre que, por uma falha
no programa de computador do órgão público, os proventos continuaram a ser depositados na
conta bancária da falecida, o que perdurou por três meses. Os filhos de Maria tinham o cartão e a
senha da conta bancária e, à medida que os valores iam sendo depositados, eles sacavam as
quantias. A Administração, enfim, percebeu o erro, cessou os novos pagamentos e cobrou dos
filhos a restituição dos três meses pagos.

O pleito da Administração Pública deverá ser atendido? Os herdeiros da servidora deverão


devolver o dinheiro? SIM.

Como vimos acima, o STJ tem o entendimento pacificado no sentido de que as verbas alimentares
pagas ao servidor de boa-fé não podem ser repetidas (pedidas de volta) mesmo que tenham sido
pagas indevidamente por erro da Administração Pública na interpretação da lei. Isso porque gera
uma falsa expectativa no servidor de que os valores recebidos são legais e definitivos, o que
decorre, em certo grau, pela presunção de validade e de legitimidade do ato administrativo que
ordenou a despesa. Veja o recurso repetitivo que consolidou a posição:
(...) quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei, resultando
em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores
recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos
mesmos, ante a boa-fé do servidor público. (...) (STJ. 1ª Seção. REsp 1244182/PB, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/10/2012)

Contudo, no caso de as quantias indevidas terem sido pagas aos herdeiros do falecido, a situação
deverá ser analisada sob outro ângulo e merece uma conclusão diferente. Isso porque, nesse caso,
os valores pagos já não mais possuem caráter alimentar. Os salários ou proventos do servidor
possuem natureza alimentar somente em relação ao próprio servidor. Se ele já morreu, tais valores
são considerados como herança e herança não é remuneração nem aposentadoria. Logo, não é
uma verba alimentícia.

Pelo princípio da saisine, com a morte, houve a transferência imediata da titularidade da conta
bancária da falecida aos seus herdeiros e os valores que foram nela depositados (por erro) não
tinham mais qualquer destinação alimentar. Logo, por não se estar diante de verbas de natureza
alimentar, não é nem mesmo necessário analisar se os herdeiros estavam ou não de boa-fé ao sacar
o dinheiro. A boa-fé aqui não importa. Os herdeiros têm o dever de restituir as quantias porque
eles não possuem nenhum direito sobre as verbas. O fundamento aqui para que ocorra a
devolução está baseado no princípio da proibição do enriquecimento sem causa, previsto no art.
884 do CC:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado
a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
12.21. Monitoramento de e-mail corporativo de servidor público – (Info 576) – IMPORTANTE!!!

As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não


configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da
Administração Pública e da própria coletividade, especialmente quando exista, nas disposições
normativas acerca do seu uso, expressa menção da sua destinação somente para assuntos e
matérias afetas ao serviço, bem como advertência sobre monitoramento e acesso ao conteúdo
das comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou instruir procedimento
administrativo.
STJ. 2ª Turma. RMS 48.665-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/9/2015 (Info 576).

12.22. Acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS com de professor – (Info 575) –


IMPORTANTE!!!

É possível a acumulação de um cargo público de professor com outro de intérprete e tradutor da


Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.547-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/12/2015 (Info
575).
Obs.:
A acumulação, neste caso, é autorizada pela alínea "b" do inciso XVI do art. 37 da CF/88:
"b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;"

O STJ reconheceu que tradutor e intérprete de LIBRAS é um cargo "técnico" para fins de
enquadramento na exceção constitucional, com fulcro nos arts. 6º e 7º da Lei 12319/10, que
regulamenta a profissão.
A legislação brasileira reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como um sistema
linguístico de comunicação, cuja formação profissional deve ser fomentada pelo poder público
para fins de viabilizar a comunicação com a pessoa portadora de deficiência e, consequentemente,
promover sua inclusão nas esferas sociais.
O Decreto 5626/05 e a Lei 12319/10 deixam claro que o exercício da profissão de tradutor e
intérprete de Libras exige conhecimentos técnicos e específicos relativos a um sistema linguístico
próprio, totalmente diferente da Língua Portuguesa, mas a esta associada para fins de viabilizar a
comunicação com pessoas portadoras de deficiência.
O conceito de "cargo técnico ou científico" não exige, necessariamente, que se trate de um cargo de
nível superior.
O STJ entende que cargo técnico ou científico, para fins de acumulação com o de professor, nos
termos do art. 37, XVII, da CF/88, é aquele para cujo exercício sejam exigidos conhecimentos
técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior (STJ. 5ª Turma.
RMS 20.033/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 15/02/2007).
Cargo técnico "é aquele que requer conhecimento específico na área de atuação do profissional, com
habilitação específica de grau universitário ou profissionalizante de 2º grau" (STJ. 2ª Turma. RMS
42.392/AC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/02/2015). É aquele que exige da pessoa
um conjunto de atribuições ligadas ao conhecimento específico de uma área do saber.
Segundo já decidiu o STJ, somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele
exigir, no desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de
alguma área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica. Nesse
sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio, não se
enquadram no conceito constitucional (STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux,
red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/5/2014. Info 747).
Cargo científico "é o conjunto de atribuições cuja execução tem por finalidade a investigação coordenada e
sistematizada de fatos, predominantemente de especulação, visando a ampliar o conhecimento humano."
(STJ. 5ª Turma. RMS 28.644/AP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 06/12/2011).

12.23. Fixação de limitação temporal para o recebimento de nova ajuda de custo – (Info 569)

A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização prevista no art. 51, I, da Lei
8.112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o princípio da legalidade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.257.665-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/10/2014 (recurso
repetitivo) (Info 569).

12.24. Férias gozadas em período coincidente com o da licença à gestante – (Info 566)

Maria, servidora pública, estava grávida. A criança nasceu em março/2015. A partir daí, ela
começou a usufruir a licença-maternidade (que é de 180 dias). Em setembro/2015, a servidora
retornou ao trabalho. Quando voltou a trabalhar, Maria foi até o departamento de recursos
humanos do órgão e explicou o seguinte para a diretora do setor: "minhas férias estavam
marcadas para julho/2015. Ocorre que neste período eu estava de licença-maternidade. Logo,
minhas férias foram interrompidas e eu quero agora remarcar esse período de férias referente a
julho/2015 para dezembro/2015." O pedido de Maria poderá ser aceito?
NÃO. A Lei nº 8.112/90 não assegura à servidora pública o direito de usufruir, em momento
posterior, os dias de férias já gozados em período coincidente com o da licença à gestante.
Ao contrário do que afirma Maria, houve sim o gozo das férias, ainda que ao mesmo tempo em
que ela fazia jus à licença-maternidade, visto que a referida licença não é causa interruptiva das
férias.
STJ. 2ª T. AgRg no RMS 39.563-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 6/8/2015 (Info 566).

12.25. O art. 170 da Lei 8.112/1990 é inconstitucional – (Info 564) – IMPORTANTE!!!

O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF e STJ entendem que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).
STJ. 1ª Seção. MS 21.598-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015 (Info 564).

12.26. Auxílio-reclusão previsto para servidores públicos federais (art. 229 da Lei 8.112/90) –
(Info 560)

O art. 229 da Lei 8.112/90 prevê a concessão de auxílio-reclusão para os dependentes dos
servidores públicos federais que estiverem presos.
Ao contrário do auxílio-reclusão do RGPS, previsto no art. 201, IV, da CF/88, o auxílio-reclusão
da Lei 8.112/90 não exige que o servidor público preso seja enquadrado como pessoa de baixa
renda.
O art. 13 da EC 20/98 traz uma regra para que o segurado seja considerado de “baixa renda” para
fins de pagamento do auxílio-reclusão. Essa regra, contudo, somente vale para servidores
públicos que forem vinculados ao RGPS.
Assim, para a concessão do auxílio-reclusão da Lei 8.112/90 não se aplica aos servidores
públicos estatutários ocupantes de cargos efetivos a exigência de baixa renda prevista no art. 13
da EC 20/98.
Assim, conclui-se que o art. 13 da EC 20/98 não afeta a situação jurídica dos servidores
ocupantes de cargo público de provimento efetivo, mas apenas dos servidores vinculados ao
RGPS, isto é, empregados públicos, contratados temporariamente e ocupantes de cargos
exclusivamente em comissão.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.510.425-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j. 16/4/2015 (Info 560).
12.27. Aposentadoria por invalidez com proventos proporcionais se a doença não estiver
prevista no art. 186 da lei 8.112/1990 – (Info 557) - Atualize Infos de 2014!

A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença
incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que
ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser tido
como exaustivo (taxativo).
Com base no entendimento acima exposto, o STJ tem decidido que serão PROPORCIONAIS (e
não integrais) os proventos de aposentadoria de servidor público federal diagnosticado com
doença grave, contagiosa ou incurável que não esteja prevista no art. 186, § 1º, da Lei n.
8.112⁄1990 nem indicada em lei.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

12.28. Inaplicabilidade do direito à recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor público
estadual – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I,
da Lei 8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do
estado for omisso acerca desse direito.
Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos
servidores públicos estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou
municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal
situação não gera o aumento de gastos. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90
sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja
legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se
justificava para proteção da unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da
CF/88).
No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho
constitucional.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

12.29. Restituição de valores recebidos – (Info 548) – IMPORTANTE!!!

I – Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente


revogada: NÃO é devida a restituição ao erário dessa quantia. Há boa-fé do servidor.
II – Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente revogada:
É devida a restituição ao erário dessa quantia. Não há boa-fé.
III – Se o servidor público recebe valores por sentença judicial transitada em julgado.
Posteriormente, esta sentença é desconstituída em ação rescisória: NÃO é devida a restituição
da quantia. Há boa-fé.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014 (Info 548).

12.30. Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte, mesmo que a lei
previdenciária não a inclua no rol de dependentes – (Info 546) – IMPORTANTE!!!

Se um segurado de regime previdenciário for detentor da guarda judicial de uma criança ou


adolescente que dele dependa economicamente, caso esse segurado morra, esse menor terá
direito à pensão por morte, mesmo que a lei que regulamente o regime previdenciário não
preveja a criança ou adolescente sob guarda no rol de dependentes. Isso porque o ECA já
determina que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos
os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (§ 3º do art. 33). Logo, havendo previsão
expressa no ECA pouco importa que a lei previdenciária tenha ou não disposição semelhante.
Vale ressaltar que o ECA prevalece mesmo que seja mais antigo que a lei previdenciária porque
é considerado lei específica de proteção às crianças e adolescentes.
STJ. 1ª Seção. RMS 36.034-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2014 (Info 546).

12.31. Pensão por morte da Lei 8.112/90 e surgimento de outro beneficiário – (Info 545) –
IMPORTANTE!!!

A viúva do servidor público federal tem direito à pensão vitalícia por morte, nos termos do art.
217, I, “a”, da Lei 8.112/90.
O filho menor de 21 anos do servidor falecido também tem direito à pensão temporária por
morte (art. 217, II, “a”).
Se o servidor deixou viúva e filho menor, o valor da pensão por morte será dividido entre eles.
No caso concreto, o servidor faleceu deixando viúva e, até então, nenhum filho conhecido. A
esposa supérstite passou a receber a pensão quando foi surpreendida por uma citação a respeito
de ação de investigação de paternidade na qual se alegava que seu marido tinha um filho não
reconhecido.
Após algum tempo, a ação é julgada procedente, reconhecendo-se que realmente o menor é
filho do falecido. A partir daí, a viúva terá que dividir o valor da pensão por morte com o outro
herdeiro. No entanto, a viúva, que vinha recebendo a totalidade do benefício, não terá que
pagar ao filho posteriormente reconhecido a quota das parcelas recebidas antes da sentença de
reconhecimento da paternidade. Os valores que ela já recebeu e que pertenciam ao filho
reconhecido não poderão ser exigidas porque são verbas alimentares, recebidas de boa-fé,
sendo, portanto, irrepetíveis.
STJ. 3ª Turma. REsp 990.549-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 5/6/14 (Info 545).

12.32. PRAZO DA AÇÃO DE REVISÃO DE APOSENTADORIA NO SERVIÇO PÚBLICO –


(Info 542) – IMPORTANTE!!!

O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a
revisão do ato de sua aposentadoria é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
Após esse período ocorre a prescrição do próprio fundo de direito.
STJ. 1ª Seção. Pet 9.156-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 28/5/14 (Info 542).

12.33. SERVIDOR PÚBLICO DESIGNADO PARA EXERCER ATRIBUIÇÕES DIVERSAS DE


SEU CARGO – (Info 530)

A Administração Pública não pode, sob a simples alegação de insuficiência de servidores em


determinada unidade, designar servidor para o exercício de atribuições diversas daquelas
referentes ao cargo para o qual fora nomeado após aprovação em concurso.
STJ. 2ª T. RMS 37.248-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

12.34. RECEBIMENTO DE VALORES POR MEIO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente


revogada, tal quantia poderá ser exigida de volta pela Administração Pública?
NÃO. O STJ possui entendimento pacífico no sentido de que é incabível a restituição ao erário
dos valores recebidos de boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou
inadequada interpretação da lei por parte da Administração Pública.
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público, em regra, tem a justa
expectativa de que são legais os valores pagos pela Administração Pública, porque jungida à
legalidade estrita.
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no recebimento dos valores pagos
indevidamente por erro de direito da Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na
remuneração do servidor público, a título de reposição ao erário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 10/10/2012 (recurso repetitivo).

12.35. RECEBIMENTO DOS VALORES POR MEIO DE DECISÃO JUDICIAL

Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente revogada, tal
quantia poderá ser exigida pela Administração Pública?
SIM. É devida a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela
Administração Pública a servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada.
O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em boa-fé do servidor, considerando que ele
sabia que poderia haver alteração da decisão que tinha caráter precário (provisório).
STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014.

13. SERVIDORES TEMPORÁRIOS


13.1. Contratação temporária de servidor público para atividades de caráter permanente –
(Info 560)

O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas, sem
concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual, temporário
ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público. Esse é o entendimento do STF (Plenário. ADI 3247/MA, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014. Info 740).

O STJ adotou essa mesma conclusão. No caso concreto, o Ministério da Saúde autorizou a
contratação de 200 profissionais para a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. O
sindicato dos servidores públicos impetrou MS contra este ato alegando que os servidores
estavam sendo contratados para a análise de processos administrativos do órgão, o que não
é uma atividade temporária, mas sim permanente e, portanto, não se enquadraria no art.
37, IX, da CF/88, devendo ser desempenhada por servidores estatutários da autarquia. O
MS foi julgado improcedente. Segundo decidiu o STJ, admite-se a contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art.
37, IX, da CF/88) ainda que para o exercício de atividades permanentes do órgão ou
entidade. No caso concreto, as contratações temporárias se fazem necessárias em
decorrência do crescente número de demandas e do enorme passivo de procedimentos
administrativos que estão parados junto à ANS. Ademais, o quadro de pessoal da agência
já está completo, inexistindo, portanto, cargos vagos para a realização de concurso público.
STJ. 1ª Seção. MS 20.335-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/4/2015 (Info 560).

13.2. Acumulação de aposentadoria de emprego público com remuneração de “cargo”


temporário – (Info 559) – IMPORTANTE!!!

Maria é empregada pública federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda está cheia
de vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no
processo seletivo aberto pelo Ministério do Meio Ambiente para contratar servidores
temporários.
A empregada pública aposentada poderá ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os
proventos da aposentadoria e também a remuneração proveniente do serviço temporário?
SIM. É possível a cumulação de proventos de aposentadoria de emprego público com
remuneração proveniente de exercício de “cargo” temporário.
O § 3º do art. 118 da Lei 8.112/90 proíbe apenas a acumulação de proventos de
aposentadoria com remuneração de cargo ou emprego público efetivo.
Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, não estão vinculados a
um cargo ou emprego público, exercendo apenas uma função administrativa temporária
(função autônoma, justamente por não estar vinculada a cargo ou emprego).
Além disso, ainda que se considere que isso é um “cargo” público, não se trata de cargo
público efetivo já que as pessoas são selecionadas mediante processo seletivo simplificado
e irão exercer essa função por um prazo determinado, não possuindo direito à estabilidade.
Em suma, não é cargo; mas mesmo que fosse, não seria cargo efetivo.
Ademais, a aposentadoria da interessada se deu pelo Regime Geral de Previdência Social –
RGPS (ela era empregada pública), não se lhe aplicando, portanto, o disposto no § 10 do
art. 37 da CF/88, segundo o qual “É vedada a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta
Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre
nomeação e exoneração”. Isso porque a aposentadoria dos empregados públicos, concedida
no regime do RGPS, é disciplinada não pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art. 201. Logo,
não se pode atribuir interpretação extensiva em prejuízo do empregado público
aposentado pelo RGPS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 7/4/2015 (Info 559).

13.3. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO DECLARADO NULO E


INAPLICABILIDADE DO ART. 19-A DA LEI 8.036/90 – (Info 518)

O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do
contrato firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF,
na análise do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

13.4.COMPETÊNCIA PARA JULGAR DEMANDAS PROPOSTAS POR SERVIDORES


TEMPORÁRIOS

A Justiça competente para julgar qualquer direito relacionado à contratação do servidor


nos casos do art. 37, IX, é sempre a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal), não
importando que a lei estadual ou municipal estabeleça o regime da CLT, uma vez que o
fez de forma indevida.
STF. 2ª Turma. AI 784188 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 10/05/2011.

14. TETO REMUNERATÓRIO


TETO REMUNERATÓRIO
14.1. E SERVIDOR QUE OCUPA DOIS CARGOS
ACUMULÁVEIS – (Info 508)

A acumulação de proventos de servidor aposentado em decorrência do exercício cumulado


de dois cargos de profissionais da área de saúde legalmente exercidos, nos termos
autorizados pela CF/88, não se submete ao teto constitucional, devendo os cargos ser
considerados isoladamente para esse fim.
STJ. 2ª Turma. RMS 38.682-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 18/10/12 (Info 508).

15. GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO


15.1.O desconto dos dias parados pode ser feito de forma parcelada – (Info 592) –
IMPORTANTE!!!

Não se mostra razoável a possibilidade de desconto em parcela única sobre a remuneração


do servidor público dos dias parados e não compensados provenientes do exercício do
direito de greve.
STJ. 2ª Turma. RMS 49.339-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 6/10/2016 (Info 592).
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. Mesmo sem ter sido
ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores públicos podem fazer
greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para os trabalhadores da
iniciativa privada (Lei 7.701/88 e Lei 7.783/89). Nesse sentido: STF. Plenário. MI 708, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.

Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da


remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
 Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
 Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.

Foi o que decidiu o STF recentemente, fixando a seguinte tese:


A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos
servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional
que dela decorre. É permitida a compensação em caso de acordo. O
desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve
foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).

Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.

Em vez de realizar o desconto, é possível que os servidores públicos façam a compensação


dos dias parados (ex: trabalhando duas horas a mais por dia)? SIM. A compensação dos dias
e horas paradas ou mesmo o parcelamento dos descontos poderão ser objeto de negociação,
uma vez que se encontram dentro das opções discricionárias do administrador. Ressalte-se,
contudo, que não há uma obrigatoriedade de a Administração Pública aceitar a
compensação.

Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio para
realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados decorrentes de
greve (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, j.
24/5/2016).

A Administração Pública poderá determinar (obrigar) que os descontos na remuneração do


servidor público sejam realizados de uma só vez, ou seja, em parcela única? A
Administração pode impedir que o servidor parcele o desconto dos valores devidos? NÃO. É
o que foi decidido no Info 592. O art. 46 da Lei nº 8.112/90 assim dispõe sobre o assunto:
Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atualizadas até 30
de junho de 1994, serão previamente comunicadas ao servidor
ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo
máximo de trinta dias, podendo ser parceladas, a pedido do
interessado.
§ 1º O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao
correspondente a dez por cento da remuneração, provento ou
pensão.

Deve-se destacar que a remuneração possui natureza alimentar e o referido desconto em


parcela única causaria, nessa hipótese, um dano desarrazoado ao servidor.
Atenção: vale ressaltar que, no caso concreto acima (RMS 49.339-SP), tratava-se de servidor
público estadual e o STJ aplicou a Lei nº 8.112/90 por analogia.

15.2. Possibilidade de desconto dos dias parados da remuneração dos grevistas – (Info 563)

Deve ser suspensa a execução da decisão liminar (art. 25, § 3º, da Lei 8.038/1990) proibitiva
de desconto salarial dos dias de paralisação decorrentes de greve dos professores do
Estado de São Paulo, movimento paredista que durava mais de 60 dias até a análise do
pedido de suspensão de segurança, sem êxito nas tentativas de acordo e sem notícia de
decisão judicial sobre as relações obrigacionais entre grevistas e o Estado, e que, além
disso, já havia levado ao dispêndio de vultosos recursos na contratação de professores
substitutos, como forma de impedir a iminente interrupção da prestação do serviço
público educacional do Estado.
STJ. Corte Especial. AgRg na SS 2.784-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 3/6/15 (Info 563).

16. FGTS
16.1. Aplica-se a TR para contas vinculadas ao FGTS – (Info 625) – IMPORTANTE!!!

A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que
estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder
Judiciário substituir o mencionado índice.
STJ. 1ª Seção. REsp 1614874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 11/4/18 (recurso repetitivo)
(Info 625).
OBS: Tendo o legislador estipulado a TR como o índice legal de remuneração das contas
vinculadas ao FGTS, não pode tal índice ser substituído por outro, pelo Poder Judiciário,
simplesmente sob a alegação da existência de outros índices que melhor repõem as perdas
decorrentes do processo inflacionário, porque tal providência está claramente inserida no
âmbito de atuação do Poder Legislativo, sob pena de vulnerar o princípio da Separação dos
Poderes.

STF: Vale ressaltar que o tema acima ainda poderá sofrer mudança. Isso porque existe uma
ADI no STF na qual se alega a inconstitucionalidade de trecho do art. 13, caput, da Lei nº
8.036/90 e do art. 17, caput, da Lei nº 8.177/91, ao argumento de que viola o direito de
propriedade, o direito dos trabalhadores ao FGTS e o princípio da moralidade administrativa
a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária dos depósitos
vinculados ao FGTS. Assim, o Supremo é quem dará a palavra final sobre o assunto. Por
enquanto, porém, permanece válida a TR como índice de correção monetária das contas do
FGTS.

Sobre o tema, é importante recordar o enunciado 459 do STJ:


Súmula 459-STJ: A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de
correção monetária, aos débitos com o FGTS recolhidos pelo empregador, mas
não repassados ao fundo.

17. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


17.1. Cabe recurso hierárquico próprio ao Presidente da República contra penalidade
disciplinar aplicada por delegação com base no Decreto 3.035/99 – (Info 657)

O art. 141, I, da Lei 8.112/90 prevê que as penalidades disciplinares de demissão e cassação de
aposentadoria ou disponibilidade de servidores públicos ligados ao Poder Executivo federal
devem ser aplicadas pelo Presidente da República.
Por meio do Decreto 3.035/99, o Presidente da República delegou aos Ministros de Estado e ao
Advogado-Geral da União a atribuição para aplicar tais penalidades.
Assim, o Advogado-Geral da União, com base no Decreto nº 3.035/99, possui competência para,
em processo administrativo disciplinar, aplicar pena de demissão a Procurador da Fazenda
Nacional, que é membro integrantes da carreira da AGU.
Vale ressaltar, contudo, que cabe recurso hierárquico próprio ao Presidente da República contra
a aplicação dessa penalidade.
STJ. 1ª S. MS 17449-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 14/08/19 (Info 657).
17.2. Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do
processo administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato
sendo apurado na esfera penal – (Info 651) – IMPORTANTE!!! MUDANÇA DE
ENTENDIMENTO!

O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também


capituladas como crime independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.
Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo
apurado na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou
instauração de inquérito policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo
prescricional previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, j.
22/5/19 (Info 651).
OBS:
Também é a posição do STF:
(...) LEGITIMIDADE DA APLICAÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL DA LEI
PENAL, INDEPENDENTEMENTE, DE INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO
NA ESFERA CRIMINAL. (...) STF. 1ª T. MS 35631 ED/DF, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, DJe 22/11/18.

(...) Capitulada a infração administrativa como crime, o prazo prescricional da


respectiva ação disciplinar tem por parâmetro o estabelecido na lei penal (art. 109
do CP), conforme determina o art. 142, § 2º, da Lei nº 8.112/1990,
independentemente da instauração de ação penal. (...) STF. 1ª T. AgRg no RMS
31.506/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 26/3/15.

17.3. CGU tem competência para aplicar pena de demissão a servidor do Poder Executivo
Federal mesmo que ele estivesse cedido para a Câmara dos Deputados – (Info 629) – Apenas
Concursos Federais!

Compete ao Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União a aplicação da


penalidade de demissão a servidor do Poder Executivo Federal, independentemente de se
encontrar cedido à época dos fatos para o Poder Legislativo Federal.
STJ. 1ª Seção. MS 19.994-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 23/05/2018 (Info 629).

17.4. É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante sua gestão
em fundação privada de apoio à Universidade Federal – (Info 613) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS!

É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e sanção, nos moldes da Lei nº


8.112/90, em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de fundação privada de
apoio à instituição federal de ensino superior.
STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 23/8/17 (Info 613).
OBS:
Os atos praticados por servidor público federal que assumiu cargo de gestão em fundação de
natureza privada podem ser apurados no âmbito da Lei nº 8.112/90.
As fundações de natureza privada são regidas pelo direito privado e possuem o objetivo de
propiciar agilidade e autonomia às atividades acadêmicas como um todo, captando e
administrando recursos públicos e/ou privados.
Embora os atos ilícitos tenham sido perpetrados em uma fundação de apoio de natureza
privada, é perfeitamente legal a instauração do procedimento disciplinar, o julgamento e a
sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/1990, especialmente quando a acusação imputada envolve
desvios de recursos públicos oriundos de universidade federal - na qual o impetrante exercia
cargo de professor adjunto -, o que contraria os princípios basilares da administração pública.
Assim, o fato de passar a integrar também o corpo funcional da fundação não faz com que o
impetrante deixe de ser servidor público federal, mantendo-se, portanto, sob o regramento da
Lei nº 8.112/90.
Em outras palavras, o fato de estar vinculado ao ente de apoio não o exime das sanções previstas
no regime jurídico dos servidores públicos civis da União.
Ademais, não se pode esquecer que, a despeito do caráter privado da fundação, está-se tratando,
na espécie, de entidade para o fim específico de dar apoio a instituição federal, utilizando para
isso recursos públicos. Dessa forma, observa-se uma relação intrínseca entre a universidade e a
fundação, o que significa que devem ser observados os deveres impostos ao servidor público,
esteja ele exercendo atividade na universidade federal ou na própria fundação de apoio,
concomitantemente ou não.
Logo, eventuais irregularidades praticadas no ente de apoio irão refletir necessariamente na
universidade federal e causarão, de algum modo, dano ao erário.

17.5. Aplicação de crime continuado no PAD – (Info 602)

Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo servidor público,
não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do
CP.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/2/17 (Info 602).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: João é servidor público. Ele era o responsável por emitir o
DARE (Documento de Arrecadação de Receitas Estaduais), que é um documento no qual são
listados os valores que são devidos pelo contribuinte e que ele deverá pagar. Atualmente, na
maioria dos Estados o DARE é emitido de forma on line, sem a participação direta dos servidores
públicos. O contribuinte entra na página da internet e emite o DARE sozinho, gerando o valor que
ele tem que pagar segundo as informações contidas na base de dados. Voltando ao exemplo. Em
1996, João preencheu de forma errada emissão de um DARE, fazendo com que o contribuinte
pagasse menos tributos do que o devido, causando prejuízos à Administração Pública. Alguns
meses depois, João, já trabalhando em outra unidade fiscal, novamente preencheu de forma
incorreta uma nova DARE de outro contribuinte. Dois anos depois, as condutas do servidor foram
descobertas. A Administração Pública instaurou dois Processos Administrativos Disciplinares
para apurar os fatos. No primeiro foi aplicada a pena de suspensão de 90 dias. No segundo,
concluído quase um ano depois, João foi punido com a pena de demissão, tendo sido considerada
como agravante a suspensão imposta no processo disciplinar anterior.

Tese do ex-servidor: João ingressou com ação alegando que os fatos investigados configuram
aquilo que no Direito Penal é chamado de “continuidade delitiva” (art. 71 do CP). Logo, as
condutas deveriam ter sido apuradas em um único processo administrativo disciplinar, em vez de
dois, como foi feito. Argumentou que a existência da continuidade delitiva não foi considerada
pela Administração Pública, o que acabou lhe prejudicando. Isso porque se fosse somente um
processo, ele deveria ter recebido a pena de suspensão com aumento do quantum sancionatório
previsto no art. 71, caput, do CP:
Crime continuado
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e
do art. 75 deste Código.

A tese de João foi acolhida pelo STJ? NÃO. O STJ negou o pedido do ex-servidor e afirmou que:
Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo
servidor público, não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório
previsto no art. 71, caput, do CP. STJ. 1ª S. REsp 1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, j. 22/2/2017 (Info 602).

Existe polêmica se a continuidade delitiva, que é prevista no Código Penal, pode ser aplicada ao
processo administrativo disciplinar. Há decisão do STJ não admitindo:
(...) Incabível a incidência, por analogia, da regra do crime continuado, prevista no
art. 71 do Código Penal, porque a aplicação da legislação penal ao processo
administrativo restringe-se aos ilícitos que, cometidos por servidores, possuam
também tipificação criminal. (...) STJ. 5ª T. RMS 19.853/MS, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
04/12/09.

O Min. Relator Benedito Gonçalves argumentou que, mesmo se considerássemos ser possível a
aplicação do crime continuado ao PAD, ainda assim o servidor, no caso concreto, não teria direito
ao benefício porque não estavam presentes os requisitos.
Ao interpretar o art. 71 do Código Penal, o STJ adotou a teoria mista (objetivo-subjetiva),
segundo a qual, para que seja considerado crime continuado, é necessário o preenchimento de:
a) requisitos objetivos: o crime deve ter sido praticado nas mesmas condições de
tempo, lugar e modo de execução do delito, conforme prevê expressamente o art. 71;
e
b) requisitos de natureza subjetiva: é a unidade de desígnio, ou seja, o liame
volitivo entre os delitos, a demonstrar que os atos criminosos se apresentam
entrelaçados (a conduta posterior deve constituir um desdobramento da anterior). O
agente queria cometer um só crime, mas escolheu fazer isso de forma parcelada.

No caso concreto, o Ministro Relator afirmou que os requisitos não estavam preenchidos. Isso
porque os ilícitos foram praticados em condições de tempo, lugar e modo de execução diferentes,
estando também ausente a unidade de desígnios ou vínculo subjetivo entre as condutas.

Não restou demonstrado que a conduta subsequente foi praticada como continuação da primeira,
existindo, na verdade, reiteração de ilícitos que indica delinquência habitual, o que descaracteriza
a ocorrência de crime continuado.

Obs: neste julgado o STJ não afirmou expressamente se a continuidade delitiva pode ou não ser
aplicada ao PAD. Isso porque, no caso concreto, mesmo que se admitisse o instituto, os requisitos
não estariam preenchidos.

17.6. Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido – (Info 598) –
IMPORTANTE!!!

A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer,


preferencialmente, no órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade . Por outro
lado, o julgamento e a eventual aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o
servidor efetivo estiver vinculado.
Ex: João é servidor efetivo (técnico judiciário) do TJDFT e foi cedido para um cargo em
comissão no STJ. Quando ainda estava prestando serviços no STJ, João praticou uma infração
disciplinar. A Instauração do PAD deverá ser feita preferencialmente pelo STJ. Por outro lado,
o julgamento do servidor e aplicação da sanção deverão ser realizados obrigatoriamente pelo
TJDFT.
STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 16/11/16 (Info 598).
OBS: Assim, cabe ao órgão cessionário: instaurar o processo administrativo disciplinar, rescindir o
contrato de cessão e devolver o servidor. O julgamento, contudo, deverá ser realizado pelo órgão
cedente. Vale ressaltar que o julgamento e a aplicação da sanção são um único ato, que se
materializa com a edição de despacho, portaria ou decreto, proferido pela autoridade competente,
devidamente publicado para os efeitos legais (arts. 141, 166 e 167 da Lei nº 8.112/90).

17.7. Possibilidade de execução imediata de penalidade imposta em PAD – (Info 559) –


IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!!

Determinado servidor público federal recebeu pena de demissão em processo administrativo


disciplinar contra si instaurado. O servidor interpôs recurso administrativo com a decisão
proferida. Ocorre que, antes mesmo de ser julgado o recurso, a Administração Pública já cessou
o pagamento da remuneração do servidor e o afastou das funções.
É possível que a sanção aplicada seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente
recurso interposto no âmbito administrativo?
SIM. É possível o cumprimento imediato da penalidade imposta ao servidor logo após o
julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabível.
Não há qualquer ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa imposta em
PAD a servidor público, ainda que a decisão não tenha transitado em julgado
administrativamente.
STJ. 1ª Seção. MS 19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/3/15 (Info 559).

17.8. Termo inicial do prazo prescricional no caso de infração disciplinar – (Info 543)

No âmbito de ação disciplinar de servidor público federal, o prazo de prescrição da pretensão


punitiva estatal começa a fluir na data em que a irregularidade praticada pelo servidor tornou-
se conhecida por alguma autoridade do serviço público, e não, necessariamente, pela
autoridade competente para a instauração do processo administrativo disciplinar.
STJ. 1ª Seção. MS 20.162-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 12/2/14 (Info 543).
OBS: A partir de quando se inicia a contagem do prazo prescricional? O prazo de prescrição
começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido (art. 142, § 1º da Lei 8.112/90).

18. RESPONSABILIDADE CIVIL


18.1. Se a Eletrobrás e a União foram condenadas a pagar valores decorrentes do empréstimo
compulsório sobre consumo de energia elétrica e a Eletrobrás quitou toda a dívida com o
particular, ela não poderá pedir o ressarcimento da União – (Info 655) – RECURSO
REPETITIVO!!!

Não há direito de regresso, portanto, não é cabível a execução regressiva proposta pela
Eletrobrás contra a União em razão da condenação das mesmas ao pagamento das diferenças na
devolução do empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica ao particular
contribuinte da exação.
STJ. 1ª S. REsp 1576254-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 26/6/19 (recurso repetitivo –
Tema 963) (Info 655).

18.2. ANISTIA POLÍTICA: O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo


dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção
monetária – (Info 652)

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais
inerentes à reparação econômica devida (juros de mora e correção monetária) a anistiado
político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º
do ADCT e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/02.
STF. 1ª T. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/5/19 (Info 940).

É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental para


pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos, independentemente
de decisão expressa nesse sentido.
STJ. 1ª Seção. AgInt no MS 24212-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 26/06/19 (Info 652).

Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de


modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial.
STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 01/08/2018.

18.3. Concessionária de rodovia não responde civilmente por roubo e sequestro – (Info 640) –
IMPORTANTE!!! – (DPEDF-2019)

Concessionária de rodovia não responde por roubo e sequestro ocorridos nas dependências de
estabelecimento por ela mantido para a utilização de usuários.
A segurança que a concessionária deve fornecer aos usuários diz respeito ao bom estado de
conservação e sinalização da rodovia. Não tem, contudo, como a concessionária garantir
segurança privada ao longo da estrada, mesmo que seja em postos de pedágio ou de
atendimento ao usuário.
O roubo com emprego de arma de fogo é considerado um fato de terceiro equiparável a força
maior, que exclui o dever de indenizar. Trata-se de fato inevitável e irresistível e, assim, gera
uma impossibilidade absoluta de não ocorrência do dano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1749941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/12/18 (Info 640).

Cuidado. O STF já reconheceu a responsabilidade civil da concessionária que administra a


rodovia por FURTO ocorrido em seu pátio: STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

18.4. União não tem o dever de indenizar indústrias nacionais prejudicadas com a redução das
alíquotas do imposto de importação – (Info 634) – IMPORTANTE!!!

O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/94, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do
imposto de importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada
de um enorme volume de brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China,
sendo estes bem mais baratos que os nacionais. Como resultado, várias indústrias de
brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que permaneceram, sofreram grandes
prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra a União afirmando
que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público
deveria ser condenado a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido.
Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado
decorrentes da alteração de política econômico-tributária no caso de o ente público não ter se
comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento específico , ou
seja, se o Estado tivesse combinado uma determinada ação econômica que não foi cumprida.
A referida Portaria tinha nitidamente uma finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração
das alíquotas do imposto de importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo
que se falar em quebra do princípio da confiança, por dois motivos:
1º) o ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de redução ou de
aumento das alíquotas de imposto de importação para incentivar ou conter
determinados setores da economia;
2º) o Estado não havia se comprometido com essa indústria de manter as alíquotas
em determinado patamar.

O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias pelas


sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da
atividade próprio da álea econômica de cada ramo produtivo.
Não havia direito subjetivo da indústria quanto à manutenção da alíquota do imposto de
importação.
STJ. 1ª T. REsp 1492832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 4/9/18 (Info 634).

18.5. Responsabilidade civil do Estado ao meio decorrente de sua omissão no dever de


fiscalização – (Sem Info) – (TJMG-2018)

A responsabilidade estatal por ato omissivo que gera dano ao meio ambiente é solidária, mas
de execução subsidiária.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.326.903/DF, rel. Min. Og Fernandes, j. 24.04.2018.
OBS: A responsabilidade do Estado por dano ao meio ambiente decorrente de sua omissão no
dever de fiscalização é de caráter solidário, mas de execução subsidiária, na condição de
devedor-reserva. Há responsabilidade do Estado ainda que, por meios apenas indiretos,
contribua para a consolidação, agravamento ou perpetuação dos danos experimentados pela
sociedade. Hipótese que não se confunde com a situação de garantidor universal.

18.6. Indenização por danos morais a anistiado político – (Info 581)

O anistiado político que obteve, na via administrativa, a reparação econômica prevista na Lei
10.559/02 (Lei de Anistia) não está impedido de pleitear, na esfera judicial, indenização por
danos morais pelo mesmo episódio político. Inexiste vedação para a acumulação da reparação
econômica com indenização por danos morais, porquanto se tratam de verbas indenizatórias
com fundamentos e finalidades diversas: aquela visa à recomposição patrimonial (danos
emergentes e lucros cessantes), ao passo que esta tem por escopo a tutela da integridade moral,
expressão dos direitos da personalidade.
Nas hipóteses de condenação imposta à Fazenda Pública, como regra geral, a atualização
monetária e a compensação da mora devem observar os critérios previstos no art. 1º-F da Lei
9.494/97, com a redação dada pela Lei 11.960/2009.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.485.260-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 5/4/2016 (Info 581).
OBS: A Lei nº 10.559/2002, em seu art. 16, prevê o seguinte:
Art. 16. Os direitos expressos nesta Lei não excluem os conferidos por outras normas
legais ou constitucionais, vedada a acumulação de quaisquer pagamentos ou
benefícios ou indenização com o mesmo fundamento, facultando-se a opção mais
favorável.

Esse dispositivo pode dar a impressão de que seria proibida a acumulação da reparação
econômica com a indenização por danos morais. Contudo, não foi esta a interpretação dada pelo
STJ.

Segundo entendeu o Tribunal, o art. 16 é um comando dirigido, antes e unicamente, à


Administração Pública, e não à jurisdição. Em outras palavras, esse dispositivo proíbe que o Poder
Público pague, administrativamente, a reparação econômica cumulada com outros pagamentos,
benefícios ou indenização.

Além disso, a reparação econômica prevista na Lei 10.559/02 não tem por objetivo indenizar
danos morais.
O art. 8º do ADCT determina que seja paga reparação econômica para aquelas pessoas que
sofreram prejuízos na sua esfera profissional e, por consequência, patrimonial. A Lei 10.559/2002,
ao regulamentar o art. 8º do ADCT, restringiu-se a estipular os direitos profissionais do anistiado
político e suas repercussões econômicas. Analisando os arts. 4º e 5º da Lei fica ainda mais claro
que essa reparação econômica tem natureza patrimonial e se destina a compensar o anistiado pelo
fato de ele não mais ter podido exercer suas atividades laborais.

O recebimento da reparação econômica de que trata a Lei nº 10.559/02 não exclui, por si só, o
direito de o anistiado buscar na via judicial, em ação autônoma e distinta, a reparação dos danos
morais que tenha sofrido em decorrência da mesma perseguição política geradora da anterior
reparação administrativa (art. 5º, V e X, da CF/88), pois distintos se revelam os fundamentos que
amparam cada uma dessas situações.

Suponha que o TRF, em sede de apelação, condenou a União ao pagamento da indenização por
danos morais fixando o termo inicial dos juros de mora e da correção monetária como sendo a
data do evento danoso e determinando a aplicação do índice conhecido como INPC (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE). Agiu corretamente o Tribunal neste ponto? NÃO.

Portanto, os juros moratórios e a correção monetária não terão como termo inicial a data do evento
danoso e o índice de correção não poderá ser o INPC.

Como regra geral nas condenações pecuniárias impostas à Fazenda Pública, a atualização
monetária e a compensação da mora deverão observar os parâmetros estipulados no art. 1ºF da
Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/2009)

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento
(Súmula 362 do STJ).

18.7. Ilegitimidade passiva da União em demanda que envolve erro médico ocorrido em
hospital do SUS – (Info 563) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE OS INFOS DE 2014!!!

A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro
médico ocorrido em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único
de Saúde (SUS).
De acordo com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados
ao SUS é do Município, a quem compete responder em tais casos.
STJ. 1ª S. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/5/2015 (Info 563).

18.8. PRAZO PRESCRICIONAL E PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO


PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO – (Info 563)

É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação
de indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de
ônibus).
O fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 14 c/c art.
27, do CDC.
STJ. 3ª T. REsp 1.277.724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 26/5/2015 (Info 563).

18.9. Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de


preso – (Info 556) – IMPORTANTE!!!

Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
 Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da
prescrição será o trânsito em julgado da sentença penal.
 Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo
inicial da prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª T. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, j. 12/2/2015 (Info 556).
18.10. Existência de cadáver em decomposição em reservatório de água – (Info 553)

Foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um dos reservatórios de água que


abastece uma cidade.
Determinado consumidor ajuizou ação de indenização contra a empresa pública concessionária
do serviço de água e o STJ entendeu que ela deveria ser condenada a reparar os danos morais
sofridos pelo cliente.
Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária decorrente de
falha do dever de efetiva vigilância do reservatório de água.
Além disso, restou caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral,
quando a Companhia não garantiu a qualidade da água distribuída à população.
O dano moral, no caso, é in re ipsa, ou seja, o resultado danoso é presumido.
STJ. 2ª T. REsp 1.492.710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 16/12/2014 (Info 553).

18.11. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Prazo


prescricional da ação ajuizada pelo INSS contra o empregador – (Info 550) – CONCURSOS
FEDERAIS!!!

Se o INSS paga pensão por morte aos dependentes do segurado que morreu em virtude de
acidente de trabalho, a autarquia poderá ajuizar ação contra o empregador pedindo o
ressarcimento desses valores (art. 120 da Lei 8.213/91).
O prazo prescricional dessa ação é de 5 anos, contados da data da concessão do benefício.
Deve-se chamar atenção para o fato de que, passados os 5 anos, haverá a prescrição do próprio
fundo de direito.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.457.646-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

18.12. Responsabilidade solidária dos três entes por má prestação de serviços do SUS – (Info
543)

A União – e não só Estados, Distrito Federal e Municípios – tem legitimidade passiva em ação
de indenização por erro médico ocorrido em hospital da rede privada durante atendimento
custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 16/6/14 (Info 543)
OBS: A 1ª Turma do STJ decidiu que, como o funcionamento do SUS é de responsabilidade
solidária da União, dos Estados e dos Municípios, é de se concluir que qualquer um destes entes
tem legitimidade ad causam para figurar no polo passivo de quaisquer demandas que envolvam tal
sistema, inclusive as relacionadas à indenizatória por erro médico ocorrido em hospitais privados
conveniados. Em outras palavras, em caso de má prestação de serviço por hospital privado que
atuar como credenciado do SUS, a vítima poderá buscar a responsabilidade civil da União, do
Estado ou do Município, sendo essa responsabilidade solidária.

OBS: Devemos aguardar para ver se esse precedente irá se consolidar. De qualquer modo, é muito
provável que em provas de concurso (especialmente CESPE) seja cobrado exatamente o
entendimento exposto nesse último julgado.

18.13. Danos morais decorrentes de tortura no regime militar: imprescritível – (Info 523) –
IMPORTANTE!!! – (TJSC-2017)

As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o
Regime Militar de exceção são imprescritíveis.
Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Dec. 20.910/32.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/6/13 (Info 523).
OBS: O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período
(regime militar) em que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo
havido, sem dúvida, incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do
direito à dignidade da pessoa humana (AgRg no Ag 1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª
T, j. 09/08/2011).

Conforme entendimento desta Corte “a prescrição quinquenal disposta no art. 1º do Decreto


20.910/1932, não se aplica aos danos decorrentes de violação de direitos fundamentais, os quais
são imprescritíveis, principalmente quando ocorreram durante o Regime Militar, época em que os
jurisdicionados não podiam deduzir a contento suas pretensões” (AgRg no AREsp 302.070/PR
Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 5/6/2013).
18.14. Regra geral da prescrição em ações contra a Fazenda Pública – (Info 512)

O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 anos,


conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar
de norma especial, que prevalece sobre a geral.
STJ. 1ª S. REsp 1.251.993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell, j. 12/12/12 (recurso repetitivo) (Info
512).

18.15. Reconhecimento administrativo pela Fazenda e renúncia ao prazo prescricional – (Info


509)

Caso o Poder Público tenha reconhecido administrativamente o débito, o termo inicial do prazo
prescricional de 5 anos para que servidor público exija seu direito será a data desse ato de
reconhecimento.
Para o STJ, o reconhecimento do débito implica renúncia, pela Administração, ao prazo
prescricional já transcorrido.
STJ. 1ª T. AgRg no AgRg no AREsp 51.586-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 13/11/12 (Info
509).

18.16. INÍCIO DO PRAZO PRESCRICIONAL – (Info 507)

O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do
Estado ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da
actio nata.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.333.609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, j. 23/10/12 (Info 507).

18.17. Termo inicial do prazo prescrição para o ajuizamento da ação de indenização por danos
decorrentes de crime

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INDENIZAÇÃO.
PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO. TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO PENAL
CONDENATÓRIA. PRECEDENTES. 1. O termo a quo da prescrição da ação de indenização
decorrente de ilícito penal praticado por agente do Estado. Ação civil ex delicto só tem início a
partir do trânsito em julgado da ação penal condenatória. 2. Reiterados precedentes. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento (STJ - AgRg no Ag: 441273 RJ)

(MPMS-2015-FAPEC): O termo inicial do prazo de prescrição para o ajuizamento da ação de


indenização por danos decorrentes de crime – ação civil ex delicto – é a data do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, não se aplicando na hipótese a noção de
independência entre as instâncias civil e penal. BL: STJ - AgRg no Ag: 441273 RJ.

19. BENS PÚBLICOS


19.1. Inexistência de direito à indenização e retenção pelas acessões e benfeitorias em bem
público irregularmente ocupado – (Info 551) – IMPORTANTE!!!

Se o indivíduo ocupou irregularmente um bem público, ele terá que ser retirado do local e não
receberá indenização pelas acessões feitas nem terá direito à retenção pelas benfeitorias
realizadas, mesmo que ele estivesse de boa-fé. Isso porque a ocupação irregular de bem público
não pode ser classificada como posse. Trata-se de mera detenção, possuindo, portanto, natureza
precária, não sendo protegida juridicamente.
Desse modo, quando irregularmente ocupado o bem público, não há que se falar em direito de
retenção pelas benfeitorias realizadas, tampouco em direito a indenização pelas acessões, ainda
que as benfeitorias tenham sido realizadas de boa-fé. Ex: pessoa que construiu um bar na beira
da praia (bem da União).
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.470.182-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 4/11/14 (Info 551).

20. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA


20.1. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA: Não configura desapropriação indireta quando o
Estado se limita a realizar serviços públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por
particulares apresenta situação consolidada e irreversível – (Info 660)

Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação


indireta quando, em gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e
irreversível, limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido
para o esbulho ocasionado exclusivamente por particulares.
Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento
administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela
perda da propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos
essenciais para a comunidade instalada no local.
STJ. 2ª T. REsp 1770001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 05/11/19 (Info 660).

20.2. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA: O prazo prescricional no caso de ação de


desapropriação indireta é, em regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de
comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local – (Info 658) – IMPORTANTE!!!

Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?


Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002).
Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços
públicos no local.
Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é
de 10 anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou
serviços públicos no local. Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso
a parte interessada comprove, concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços
no local, afastando a presunção legal.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1575846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, j. 26/06/19 (Info 658).
Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta
prescreve em vinte anos).

20.3. Não cabimento de restituição pelo expropriado dos honorários periciais – (Info 626)

Nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária descabe a
restituição, pelo expropriado sucumbente, de honorários periciais aos assistentes técnicos do
INCRA e do MPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1306051-MA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 8/5/18 (Info 626).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio possuía um imóvel rural. A União entendeu que
o referido imóvel rural não estava cumprindo a sua função social e que deveria ser desapropriado
por interesse social, para fins de reforma agrária, nos termos do art. 184 da CF/88.

Procedimento da LC 76/93: O procedimento judicial da desapropriação de imóvel rural, por


interesse social, para fins de reforma agrária, deverá obedecer ao contraditório especial, de rito
sumário, previsto na LC 76/93.

Decreto declarando o imóvel de interesse social: A desapropriação por interesse social para fins de
reforma agrária é de competência privativa da União e será precedida de decreto declarando o
imóvel de interesse social, para fins de reforma agrária (art. 2º da LC 76/93).

Ação de desapropriação: Em seguida, o órgão federal executor da reforma agrária (atualmente, o


INCRA) deverá propor ação de desapropriação, que será processada e julgada na Justiça
Federal.

Contestação: A contestação apresentada pelo proprietário deve ser oferecida no prazo de 15 dias
e versar matéria de interesse da defesa, excluída a apreciação quanto ao interesse social
declarado.

Perícia: Recebida a contestação, o juiz, se for o caso, determinará a realização de prova pericial.
As partes (INCRA e expropriado), assim como também o MPF, podem indicar assistentes técnicos
para acompanharam o trabalho do perito.

Sentença: O juiz proferirá sentença na audiência de instrução e julgamento ou nos 30 dias


subsequentes, indicando os fatos que motivaram o seu convencimento. Ao fixar o valor da
indenização, o juiz considerará, além dos laudos periciais, outros meios objetivos de
convencimento, inclusive a pesquisa de mercado. O valor da indenização corresponderá ao valor
apurado na data da perícia, ou ao consignado pelo juiz, corrigido monetariamente até a data de
seu efetivo pagamento. Na sentença, o juiz individualizará o valor do imóvel, de suas benfeitorias
e dos demais componentes do valor da indenização.

Despesas judiciais, honorários do advogado e do perito: Veja o que diz o art. 19 da LC 76/93
sobre a responsabilidade pelas despesas judiciais, honorários do advogado e do perito:
Art. 19. As despesas judiciais e os honorários do advogado e do perito constituem
encargos do sucumbente, assim entendido o expropriado, se o valor da indenização
for igual ou inferior ao preço oferecido, ou o expropriante, na hipótese de valor
superior ao preço oferecido.
§ 1º Os honorários do advogado do expropriado serão fixados em até vinte por
cento sobre a diferença entre o preço oferecido e o valor da indenização.
§ 2º Os honorários periciais serão pagos em valor fixo, estabelecido pelo juiz,
atendida à complexidade do trabalho desenvolvido.

Suponhamos que o expropriado foi sucumbente, ou seja, a indenização foi fixada pelo juiz em
valor inferior ao oferecido pelo INCRA. Neste caso, ele terá que pagar honorários periciais aos
assistentes técnicos do INCRA e do MPF? NÃO. É o que foi decidido no Info 626 do STJ.

Os assistentes técnicos do INCRA e do MPF são servidores de carreira das instituições. Não
foram, portanto, contratados de maneira particular para a realização do acompanhamento deste
trabalho pericial. Logo, o expropriado não deverá pagar qualquer valor a este título. Assim,
sendo os assistentes técnicos servidores de carreira da Administração Pública ou do MP, não é
devido o pagamento de honorários periciais pelo expropriado sucumbente, considerando que tais
profissionais recebem remuneração por esse serviço em razão do cargo que ocupam.

20.4. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA: Compartilhamento de infraestrutura por


concessionárias de serviços públicos – (Info 614)

O compartilhamento de infraestrutura de estação rádio base de telefonia celular por


prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo caracteriza servidão
administrativa, não ensejando direito à indenização ao locador da área utilizada para instalação
dos equipamentos.
O direito de uso previsto no art. 73 da Lei 9.472/97 constitui-se como servidão administrativa
instituída pela lei em benefício das prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse
coletivo, constituindo-se direito real, de natureza pública, a ser exercido sobre bem de
propriedade alheia, para fins de utilidade pública, instituído com base em lei específica.
Ex: João possui um terreno na beira da estrada. Ele celebrou contrato de locação com a Embratel
permitindo que a empresa instalasse, em seu imóvel, uma torre e uma antena de
telecomunicações. Alguns meses depois, a Embratel permitiu que a TIM compartilhasse de sua
infraestrutura. João ajuizou ação de indenização alegando que o contrato de locação proíbe que
a locatária faça a sublocação do imóvel para outra empresa. Ele não terá direito à indenização.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.309.158-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/9/17 (Info 614).
OBS: O principal ponto para resolver a questão está no art. 73 da Lei 9.472/97 (Lei Geral das
Telecomunicações), que prevê o seguinte:
Art. 73. As prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo terão
direito à utilização de postes, dutos, condutos e servidões pertencentes ou
controlados por prestadora de serviços de telecomunicações ou de outros serviços
de interesse público, de forma não discriminatória e a preços e condições justos e
razoáveis.
Parágrafo único. Caberá ao órgão regulador do cessionário dos meios a serem
utilizados definir as condições para adequado atendimento do disposto no caput.

A Resolução 274/01 da Anatel, em observância ao disposto no art. 73 da Lei 9.472/97, instituiu o


Regulamento para disciplinar o compartilhamento de infraestrutura entre prestadoras de
serviços de Telecomunicações. Segundo esta Resolução, o compartilhamento de infraestrutura
entre prestadoras de serviços de Telecomunicações só pode ser negado se houver alguma razão de
ordem técnica relacionada com a limitação na capacidade, segurança, estabilidade, confiabilidade,
violação de requisitos de engenharia ou de cláusulas e condições estabelecidas pela Anatel.

O compartilhamento de infraestrutura atende ao interesse público porque permite que haja:


a) barateamento dos custos do serviço público;
b) minimização dos impactos urbanísticos, paisagísticos e ambientais;
c) otimização da manutenção contínua da rede;
d) condições a ensejar a cobrança de tarifas mais baixas dos consumidores;
e) fomento à concorrência, expansão e melhoria da cobertura da rede.

Dessa forma, analisando essas previsões normativas, chega-se à conclusão de que o


compartilhamento de infraestrutura é compulsório, não se podendo atribuir a ele natureza
jurídica de sublocação. Logo, o direito de uso previsto no art. 73 da Lei 9.472/97 constitui-se
como servidão administrativa instituída pela lei em benefício das prestadoras de serviços de
telecomunicações de interesse coletivo, constituindo-se direito real, de natureza pública, a ser
exercido sobre bem de propriedade alheia, para fins de utilidade pública, instituído com base em
lei específica. Assim, considerando a característica de servidão administrativa do
compartilhamento de infraestrutura, só haveria de cogitar-se em indenização se houvesse
redução do potencial de exploração econômica do bem imóvel. Logo, não houve ilícito contratual
na conduta da empresa que fez o compartilhamento de sua infraestrutura para outra prestadora
de serviços de telecomunicações.

20.5. Ente desapropriante não responde por tributos anteriores à desapropriação – (Info 606)

O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas
hipóteses em que o período de ocorrência dos fatos geradores é anterior ao ato de aquisição
originária da propriedade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.668.058-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 8/6/17 (Info 606).

20.6. Desistência da desapropriação – (Info 596) – (PGM-Niterói-2015) (TRF3-2013)

É possível que o expropriante desista da ação de desapropriação?


SIM, é possível a desistência da desapropriação a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em
julgado, desde que:
a) ainda não tenha havido o pagamento integral do preço (pois nessa hipótese já terá se
consolidado a transferência da propriedade do expropriado para o expropriante); e
b) o imóvel possa ser devolvido sem que ele tenha sido alterado de forma substancial (que
impeça sua utilização como antes era possível). Ex: era uma casa e já foi totalmente demolida.
É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência da
desapropriação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.368.773-MS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Herman
Benjamin, j. em 6/12/16 (Info 596).

20.7. Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel –


(Infos 540 e 556)

Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, ficar constatado que a área medida
do bem é maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado receberá
indenização correspondente à área registrada, ficando a diferença depositada em Juízo até que,
posteriormente, se complemente o registro ou se defina a titularidade para o pagamento a quem
de direito. A indenização devida deverá considerar a área efetivamente desapropriada, ainda
que o tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de não se configurar
enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.466.747-PE, Rel. Min. Humberto Martins, j. 24/2/15 (Info 556).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/5/14 (Info 540).

20.8. VALOR DA INDENIZAÇÃO – (Info 549)

O art. 26 do Decreto-Lei n. 3.365/41 determina que o valor da indenização será calculado com
base no preço do imóvel no momento da perícia (avaliação): “no valor da indenização, que será
contemporâneo da avaliação, não se incluirão os direitos de terceiros contra o expropriado.”

A avaliação de que trata esse artigo é a administrativa ou a judicial? Em outras palavras, o


valor da indenização a ser paga será calculado com base no preço do imóvel no momento da
avaliação administrativa ou judicial?
No momento da avaliação judicial. Nas desapropriações para fins de reforma agrária, o valor da
indenização deve ser contemporâneo à avaliação efetivada em juízo, tendo como base o laudo
adotado pelo juiz para a fixação do justo preço, pouco importando a data da imissão na posse
ou mesmo a da avaliação administrativa.
De fato, a avaliação efetivada em juízo, ordinariamente, deverá se reportar à época em que for
realizada – e não ao passado – para fixar a importância correspondente ao bem objeto da
expropriação, haja vista que exigir que esses trabalhos técnicos refiram-se à realidade passada
(de anos, muitas vezes) pode prejudicar a qualidade das avaliações e o contraditório.
Logo, quando o art. 26 do DL 3.365/41 afirma que a indenização, em regra, deverá corresponder
ao valor do imóvel apurado na data da perícia, ela está se referindo à avaliação judicial.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.459.124-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, 18/9/2014 (Info 549).

20.9. DISPENSA DE CITAÇÃO DO CÔNJUGE NA AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO POR


UTILIDADE PÚBLICA – (Info 547)

Na ação de desapropriação por utilidade pública, a citação do proprietário do imóvel


desapropriado dispensa a do respectivo cônjuge.
A desapropriação por utilidade pública rege-se pelo Decreto-Lei nº 3.365/41.
A ação de desapropriação é uma ação de natureza real, uma vez que tem por objeto (pedido) a
propriedade de um bem imóvel.
O CPC determina que, nas ações que versem sobre direitos reais imobiliários, tanto o réu como
o seu cônjuge devem ser citados (§ 1º do art. 10).
Essa regra não se aplica nas ações de desapropriação por utilidade pública. Se a Fazenda
Pública ajuíza ação de desapropriação por utilidade pública contra o proprietário, o seu cônjuge
não precisará ser citado. Isso porque o art. 16 do DL 3.365/1941 (Lei das Desapropriações) dispõe
que a “citação far-se-á por mandado na pessoa do proprietário dos bens; a do marido dispensa a
da mulher”. Logo, não se aplica o § 1º do art. 10 do CPC considerando que esta é norma geral
em relação ao art. 16 do DL 3.365/41, que é lei específica.
STJ. 2ª T. REsp 1.404.085-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/8/2014 (Info 547).

20.10. Indenização por desapropriação e prova de apenas parte da propriedade do imóvel – (Info
540)

No procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária, caso se constate que a área
registrada em cartório é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá levantar somente
o valor da indenização correspondente à área registrada, devendo o depósito indenizatório
relativo ao espaço remanescente ficar retido em juízo até que o expropriado promova a
retificação do registro ou até que seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio.
STJ. 2ª T. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 6/5/14 (Info 540).

20.11. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA E ÁREA DE RESERVA


LEGAL – (Info 539)

Não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva florestal não
poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da
produtividade do imóvel rural.
STJ. 2ª T. REsp 1.235.220-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 22/4/2014 (Info 539).

O novo Código Florestal (Lei 12.651/12) modificou o tratamento legal e passou a dizer que as
reservas florestais devem ser registradas no órgão ambiental. Apesar disso, o STJ decidiu
recentemente que o Novo Código Florestal manteve inalterada a intenção do legislador de
exigir a perfeita identificação da área de reserva legal, modificando apenas o órgão responsável
pelo registro e manutenção desses dados, não se justificando a alteração do entendimento
jurisprudencial a respeito da matéria.
STJ. 2ª T. REsp 1297128/BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 06/06/2013.

21. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA


21.1. INDENIZAÇÃO PAGA AO PROMISSÁRIO COMPRADOR NO CASO DE
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA – (Info 493)

O promissário comprador do imóvel tem direito de receber a indenização no caso deste imóvel
ter sofrido desapropriação indireta, ainda que esta promessa não esteja registrada no Cartório
de Registro de Imóveis.
STJ. 2ª T. REsp 1.204.923-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j. 20/3/2012 (Info 493).

21.2. Desapropriação indireta não se confunde com limitação administrativa -


IMPORTANTE!!! (TJCE-2018)
A limitação administrativa distingue-se da desapropriação, uma vez que nesta há transferência
da propriedade individual para o domínio do expropriante, com integral indenização; e
naquela há, apenas, restrição ao uso da propriedade imposta genericamente a todos os
proprietários, sem qualquer indenização.
Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder
Público. Desse modo, as restrições ao direito de propriedade impostas por normas ambientais,
ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não constituem desapropriação indireta.
A edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade caracteriza uma limitação
administrativa, cujos prejuízos causados devem ser indenizados por meio de uma ação de
direito pessoal, e não de direito real, como é o caso da ação contra a desapropriação indireta.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1359433/MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 12/03/2013.
(TJCE-2018-CESPE): Conforme entendimento jurisprudencial do STJ, a limitação
administrativa sobre determinado bem constitui modalidade de intervenção restritiva na
propriedade de caráter geral, mas que pode dar ensejo a indenização de natureza jurídica de
direito pessoal, se a limitação causar redução do valor econômico do bem e a sua aquisição tiver
ocorrido anteriormente à instituição da restrição. BL: Entend. Jurisprud.

22. TOMBAMENTO
22.1. RESPONSABILIDADE PELA CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL TOMBADO – (Info 507)

A responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é do proprietário, salvo quando


demonstrado que ele não dispõe de recurso para proceder à reparação.
STJ. 2ª T. AgRg no AREsp 176.140-BA, Rel. Min. Castro Meira, j. 18/10/2012 (Info 507).

23. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA


23.1. Limitação administrativa e Indenização – (Info 508) – (TJCE-2018)

Em regra, o proprietário não tem direito à indenização por conta das limitações administrativas
que incidam sobre sua propriedade (a limitação administrativa é gratuita).
No entanto, excepcionalmente, a jurisprudência reconhece o direito à indenização quando a
limitação administrativa reduzir o valor econômico do bem.
O prazo prescricional para que o proprietário busque a indenização por conta das limitações
administrativas é de 5 anos.
STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.317.806-MG, Rel. Min. Humberto Martins, j. 6/11/12 (Info 508).

24. DIREITO URBANÍSTICO


24.1. O art. 40 da Lei 6.766/79 prevê um poder-dever do Município de regularizar os
loteamentos irregulares ou clandestinos – (Info 651) – IMPORTANTE!!! Atenção PGM!!!

Existe o poder-dever do Município de regularizar loteamentos clandestinos ou irregulares. Esse


poder-dever, contudo, fica restrito à realização das obras essenciais a serem implantadas em
conformidade com a legislação urbanística local (art. 40, caput e § 5º, da Lei 6.799/79).
Após fazer a regularização, o Município tem também o poder-dever de cobrar dos responsáveis
(ex: loteador) os custos que teve para realizar a sua atuação saneadora.
Portanto, para o STJ, o art. 40 da Lei nº 6.766/79 prevê o poder-poder do Município de
regularizar loteamento não autorizado ou executado sem observância das determinações do ato
administrativo de licença, configurando, portanto, ato vinculado da municipalidade.
STJ. 1ª S. REsp 1164893-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 23/11/16 (Info 651).

25. PLANO DIRETOR


25.1. MPF não possui legitimidade para ajuizar ACP contra Município pedindo que sejam
realizadas audiências públicas antes do envio do projeto de Lei do Plano Diretor – (Info 616) –
IMPORTANTE!!! Concursos do MP!!!

O Ministério Público Federal é parte ilegítima para ajuizar ação civil pública que visa à
anulação da tramitação de Projeto de Lei do Plano Diretor de município, ao argumento da falta
de participação popular nos respectivos trabalhos legislativos.
No caso concreto, o MPF ajuizou ACP contra o Município de Florianópolis e a União
argumentando que o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara de Vereadores o
projeto de Lei do Plano Diretor da cidade sem a realização das necessárias audiências públicas,
o que violaria o Estatuto da Cidade. O STJ entendeu que a legitimidade para essa demanda
seria do Ministério Público estadual (e não do MPF).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.687.821-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 07/11/17 (Info 616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Procurador da República (Ministério Público Federal)
ajuizou ação civil pública contra o Município de Florianópolis e a União, sob o argumento de que
o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara de Vereadores o projeto de Lei do
Plano Diretor da cidade sem a realização de audiências públicas, o que violaria a garantia da
efetiva participação popular no procedimento, conforme exige a Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da
Cidade):
Art. 40 (...)
§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua
implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:
I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e
de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;

Na ação, o MPF alega que a União possui o dever legal de zelar pela obediência ao Estatuto da
Cidade e que, apesar disso, simplesmente negligenciou de suas funções, sendo, portanto, omissa.
Em virtude disso, o Parquet federal formulou os seguintes pedidos:
a) o trancamento da tramitação do projeto de lei e a sua devolução ao Poder
Executivo municipal;
b) a determinação para que o Município realize as referidas audiências públicas
antes de encaminhar novamente o projeto;
c) a condenação da União a orientar e fiscalizar o estrito cumprimento do Estatuto
da Cidade durante o processo de elaboração do Plano Diretor.

Contestação do Município: O Município alegou, dentre outros argumentos, que o Ministério


Público Federal é parte ilegítima para ajuizar a presente demanda, porque a pretensão veiculada
diz respeito a assunto de interesse local, não havendo afronta a bem, direito ou interesse da União.

O STJ concordou com a tese do Município? SIM. O que o MPF pretende, na verdade, é impor uma
conduta aos Poderes Executivo e Legislativo do Município. Dessa forma, tal atividade está
relacionada com as atribuições do Ministério Público estadual, conforme se observa pelo art. 27
da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional dos Ministérios Públicos dos Estados):
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas
Constituições Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito:
I - pelos poderes estaduais ou municipais;
II - pelos órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal, direta ou
indireta;
III - pelos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou
municipal;
IV - por entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município
ou executem serviço de relevância pública.

Algumas questões relacionadas com o Plano Diretor, como é o caso da disciplina do uso do solo
urbano, podem ter impacto no meio ambiente, o que poderia legitimar o Ministério Público
Federal para a demanda. Ocorre que não é essa a pretensão específica do MPF. A causa de pedir
da ação proposta pelo MPF diz respeito, exclusivamente, à suposta inobservância das
audiências públicas, não havendo, portanto, um pedido voltado especificamente para a tutela
direta do meio ambiente.

A presença da União no polo passivo não tem o condão de conferir legitimidade ao MPF
porque essa inclusão foi indevida, devendo o ente federal ser excluído da lide, já que não cabe
à União definir o conteúdo de Planos Diretores, uma vez que, por determinação legal e
constitucional, a matéria é de exclusiva competência municipal. Se a União atuasse na forma
como pretende o MPF haveria, na verdade, uma violação aos princípios da legalidade e da
autonomia dos entes federados.

26. AÇÃO POPULAR


26.1. Impossibilidade de condenação de ressarcimento ao erário fundada em lesão presumida –
(Info 557)
Determinado contrato administrativo foi celebrado, tendo havido, no entanto, irregularidades
formais no procedimento de licitação. A empresa contratada cumpriu exatamente os serviços
previstos no contrato e recebeu por isso.
Neste caso, o STJ entendeu que até seria possível a declaração de nulidade de contrato
administrativo, mas não se poderia condenar a empresa a ressarcir o erário se não houve
comprovação real de lesão aos cofres públicos.
Para o STJ, eventual violação à boa-fé e aos valores éticos esperados nas práticas
administrativas não configura, por si só, elemento suficiente para ensejar a presunção de lesão
ao patrimônio público, uma vez que a responsabilidade dos agentes em face de conduta
praticada em detrimento do patrimônio público exige a comprovação e a quantificação do dano .
Adotar entendimento em sentido contrário acarretaria evidente enriquecimento sem causa do
ente público, que usufruiu dos serviços prestados em razão do contrato firmado durante o
período de sua vigência.
STJ. 1ª T. REsp 1.447.237-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/12/14 (Info 557).

27. CONSELHO PROFISSIONAL


27.1. Termo inicial do prazo prescricional para punição de profissional liberal por infração
disciplinar – (Info 557)

Qual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional
liberal a ele vinculado e a partir de quando é contado?
5 anos. Esse prazo começa a ser contado, não da data em que a infração disciplinar ocorrer, mas
sim do dia em que o Conselho Profissional tiver conhecimento do respectivo fato (art. 1º da Lei
6.838/80).
STJ. 1ª T. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 5/3/2015 (Info 557).

28. OAB
28.1. Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC – (Info
586)

A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de
graduação em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada"
(art. 8º, II, do Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não
ter sido reconhecido pelo MEC.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 14/6/16 (Info 586).
OBS
A Lei não exige que o curso de Direito já tenha sido reconhecido. Desse modo, a exigência de
reconhecimento do curso não encontra amparo legal nem mesmo para a inscrição como advogado,
tendo em vista que a Lei nº 8.906/94 apenas prevê a conclusão do curso em instituição
oficialmente autorizada e credenciada. Portanto, a exigência feita pela OAB foi ilegal.

É desarrazoado exigir do estudante que aguarde, por prazo indeterminado, estagnado no


mercado de trabalho, o fim da demora da Administração Pública que ainda não terminou de
fiscalizar o curso já autorizado a funcionar (STJ. 2ª Turma. REsp 1.277.643/PR, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJ 27/2/2012).

29. CADASTRO NACIONAL DE EMPRESAS INIDÔNEAS E SUSPENSAS


29.1. Mera divulgação do nome da empresa punida no CEIS da CGU não gera dano – (Info 615)

A divulgação do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS pela CGU tem
mero caráter informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a
participação, em licitações, das empresas ali constantes.
STJ. 1ª Seção. MS 21.750-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/17 (Info 615).
OBS:
CEIS: O Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) é um banco de informações
mantido pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU)
que consolida a relação das empresas e pessoas físicas que sofreram sanções tendo como efeito
restrição ao direito de participar de licitações ou de celebrar contratos com a Administração
Pública. O CEIS é, portanto, uma fonte de consulta para os gestores públicos quando estão
realizando processos de compras. A Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) trouxe a
obrigatoriedade para os entes públicos de manter o Cadastro atualizado. Assim, existe um sistema
integrado mantido pela CGU, que é alimentado diretamente pelos órgãos e entidades da União,
dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Dessa forma, tão logo uma empresa ou pessoa física
seja punida, o próprio órgão/entidade que aplicou a sanção faz a inclusão no CEIS.

Vale ressaltar que a inclusão do nome da autora no Portal da Transparência e no Cadastro de


Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) não gera, por si só, qualquer dano à empresa. Isso porque
o impedimento de contratar e licitar não decorre do fato de a empresa estar no CEIS. Este
impedimento existe porque a empresa foi punida pelo Governo do Estado de São Paulo e a
simples divulgação não muda nada isso nem faz com que ela passe a ser punida em todo o Brasil.
Se a empresa estiver sendo indevidamente excluída de licitações por outro ente cuja decisão não
se aplica (outros Estados, Municípios etc), deverá ingressar com ações judiciais contra esse ente
que está tolhendo seu direito. A divulgação de seu nome no CEIS não interfere nada.

30. ENFITEUSE
30.1. O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança da multa prevista no § 2º do art.
116 do DL 9.760/46 é a data em que a União tem ciência efetiva da ausência de transferência das
obrigações enfitêuticas – (Info 658)

O termo inicial do prazo prescricional para a cobrança da multa prevista no § 2º do art. 116 do
Decreto-Lei 9.760/46 é a data em que a União tem ciência efetiva da ausência de transferência
das obrigações enfitêuticas.
E quando a União tem essa ciência efetiva? Quando ocorre a comunicação à SPU.
A comunicação à Secretaria de Patrimônio da União - SPU é o momento em que a União toma
conhecimento da alienação, sendo irrelevante a data em que emitida a Declaração de Operação
Imobiliária (DOI).
STJ. 2ª T. REsp 1765707-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/08/19 (Info 658).

31. DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


31.1. Nos casos em que não há nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação do
serviço militar e o militar temporário não estável é considerado incapaz somente para as
atividades próprias do Exército, é cabível a desincorporação – (Info 643)

O militar temporário não estável, considerado incapaz apenas para o serviço militar, somente
terá direito à reforma ex officio se comprovar o nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a
prestação das atividades militares.
STJ. Corte Especial. EREsp 1123371-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Mauro Campbell
Marques, j. 19/9/18 (Info 643).

31.2. Militares podem autorizar descontos de até 70% da sua remuneração para pagamento de
empréstimo consignado – (Info 618) – Atenção! Concursos Federais!

As Leis 8.112/90 e 10.820/03 preveem que, se o servidor público civil fizer um empréstimo
consignado, o limite máximo de descontos que ele poderá autorizar que sejam feitos em sua
remuneração é de 30% (mais 5% se forem despesas com cartão de crédito).
Esse limite não se aplica para os militares. Isso porque os militares estão submetidos a um
regramento específico previsto na MP 2.215-10/2001, que permite que seja descontado até 70%
da remuneração dos militares para pagamento de empréstimos consignados.
Desse modo, os descontos em folha, juntamente com os descontos obrigatórios, podem alcançar
o percentual de 70% das remunerações ou dos proventos brutos dos servidores militares.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 272665-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 13/12/17 (Info 618).
OBS:
Os servidores públicos militares não estão sujeitos ao limite previsto no art. 45 da Lei nº 8.112/90 e
na Lei nº 10.820/2003.

Por quê? Porque existe uma previsão específica para servidores públicos militares na Medida
Provisória 2.215-10/01. Esta MP trata sobre a reestruturação da remuneração dos militares das
Forças Armadas. Veja o que diz o seu art. 14, § 3º:
Art. 14. Descontos são os abatimentos que podem sofrer a remuneração ou os
proventos do militar para cumprimento de obrigações assumidas ou impostas em
virtude de disposição de lei ou de regulamento.
§ 1º Os descontos podem ser obrigatórios ou autorizados.
§ 2º Os descontos obrigatórios têm prioridade sobre os autorizados.
§ 3º Na aplicação dos descontos, o militar não pode receber quantia inferior a
trinta por cento da sua remuneração ou proventos.
O § 3º acima está dizendo que, mesmo com os descontos, o militar não pode receber menos que
30% de sua remuneração. Em outras palavras, esse § 3º permite que seja descontado até 70% da
remuneração dos militares. Ou seja, enquanto os descontos em folha dos servidores públicos civis
não podem ultrapassar o valor de 30% da remuneração ou do provento, os descontos em folha dos
servidores militares devem respeitar o limite máximo de 70% da remuneração ou dos proventos.

Mas este valor de desconto (70%) é muito alto, desproporcional... O Poder Judiciário não pode
corrigir isso? NÃO. Foi uma opção do legislador. Logo, não compete ao Poder Judiciário alterar
esse quantum com base nos princípios da proporcionalidade ou razoabilidade, sob pena de
incorrer em flagrante interpretação contra legem, a violar o princípio constitucional da
legalidade e a invadir a esfera de competência do Poder Legislativo. Com efeito, os descontos
em folha de pagamento de servidores públicos militares não estão sujeitos à limitação de 30%
prevista nos arts. 2º, § 2º e 6º, § 5º, ambos da Lei 10.820/03 c/c art. 45 da Lei 8.112/90. Isso porque
os militares estão submetidos a um regramento específico capaz de afastar a limitação contida
nas Leis 8.112/90 e 10.820/03 a partir do art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, que assim dispõe: "a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das
já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior". Essa norma específica está no art. 14, § 3º,
da Medida Provisória n. 2.215-10/2001, pois assevera que os militares não podem receber quantia
inferior a 30% da remuneração ou proventos.

32. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO


32.1. Carros dos conselhos profissionais não podem ser registrados como veículos oficiais –
(Info 619)

Os conselhos de fiscalização profissional não possuem autorização para registrar os veículos de


sua propriedade como oficiais.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1029385-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 5/12/17 (Info 619).

32.2. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO: Qual infração de trânsito pratica o condutor que se recusa a
fazer o teste do "bafômetro" e/ou os exames clínicos? – (Info 612)

A sanção do art. 277, § 3º, do CTB dispensa demonstração da embriaguez por outros meios de
prova, uma vez que a infração reprimida não é a de embriaguez ao volante, prevista no art. 165,
mas a de recusa em se submeter aos procedimentos do caput do art. 277, de natureza
instrumental e formal, consumada com o comportamento contrário ao comando legal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.677.380-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 10/10/17 (Info 612).

Obs: a conclusão acima exposta foi acolhida pelo legislador que, por meio da Lei 13.281/16,
acrescentou uma infração administrativa exclusivamente para o condutor que se recusar a se
submeter ao teste de etilômetro e/ou exames clínicos. Logo, atualmente, tais situações se
enquadram no novo art. 165-A ao CTB, que tem a seguinte redação:
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro
procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277.

32.3. Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT – (Info 586) – Atenção!
Concursos Federais!

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) tem competência para


autuar e aplicar sanções por excesso de velocidade em rodovias e estradas federais.
A competência da Polícia Rodoviária Federal para aplicar multas de trânsito nas rodovias
federais não é exclusiva.
Se analisarmos o art. 82, § 3º da Lei 10.233/01 c/c art. 21, VI, da Lei 9.503/97, veremos que o DNIT
detém competência para aplicar multa por excesso de velocidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.583.822-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 23/6/16 (Info 586).
STJ. 2ª Turma. REsp 1592969/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 05/05/16.

32.4. Responsabilidade por infração relacionada à condução e à propriedade e regularidade de


veículo – (Info 561) – PRÁTICA FORENSE!!!

Devem ser impostas tanto ao condutor quanto ao proprietário do veículo as penalidades de


multa e de registro de pontos aplicadas em decorrência da infração de trânsito consistente em
conduzir veículo que não esteja registrado e devidamente licenciado (art. 230, V, do CTB).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.626-SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. 5/5/15 (Info 561).

32.5. Recusa à expedição de CNH definitiva não depende de prévio procedimento


administrativo – (Info 550)

Não depende de prévio procedimento administrativo a recusa à expedição da CNH definitiva


motivada pelo cometimento de infração de trânsito de natureza grave durante o prazo anual de
permissão provisória para dirigir (art. 148, § 3º, do CTB).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.483.845-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 16/10/14 (Info 550).

33. IBGE
33.1. Sigilo das informações coletadas pelo IBGE – (Info 617)

O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações
individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em
quaisquer outros procedimentos administrativos.
STJ. 1ª Turma.REsp 1353602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 30/11/17 (Info 617).

34. TERRENOS DE MARINHA


34.1. Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel localizado em terreno de marinha sem
pagamento de laudêmio

É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de propriedade da


União quando ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a certidão da Secretaria do
Patrimônio da União (SPU), ainda que o pacto tenha sido registrado no Cartório competente.
Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de marinha, ele
deverá obter autorização da União, por meio da SPU, pagando o laudêmio e cumprindo outras
formalidades exigidas. Somente assim esta alienação será possível de ser feita validamente.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 9/8/16 (Info 589).

35. DIREITO MARÍTIMO


35.1. Não é válida a norma contida em Decreto prevendo que a autoridade pública deverá fixar,
de forma ordinária e permanente, o preço dos serviços de praticagem – (Info 612)

Não é válido o disposto no art. 1º, II, do Decreto nº 7.860/2012, que estabelece a intervenção da
autoridade pública na atividade de praticagem para promover, de forma ordinária e
permanente, a fixação dos preços máximos a serem pagos na contratação dos serviços em cada
zona portuária.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.662.196-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 19/9/17 (Info 612).

36. DIREITO EDUCACIONAL


36.1. Aluno que conclui as matérias do ensino médio em escola técnica tem direito ao
certificado de conclusão do ensino médio, ainda que opte por não fazer o estágio
profissionalizante – (Info 634)

A emissão do certificado de conclusão do ensino médio, realizado de forma integrada com o


técnico, ao estudante aprovado nas disciplinas regulares independe do estágio
profissionalizante.
Caso concreto: João fez o ensino médio em instituto federal de educação. Ocorre que optou por
não concluir o estágio profissionalizante. A única consequência negativa para ele vai ser não ter
direito ao certificado técnico-profissional. No entanto, não há nada que o impeça de ter direito
ao certificado de conclusão do ensino médio, considerando que efetivamente estudou e foi
aprovado nas respectivas matérias.
STJ. 1ª Turma. REsp 1681607-PE, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 20/9/18 (Info 634).

37. ROYALTIES
37.1. Pontos de entrega de gás canalizado e pagamento de royalties – (Info 625) – Carreiras
Federais!
A Lei nº 12.734/2012, que alterou os arts. 48, § 3º, e 49, § 7º, da Lei nº 9.478/1997 e passou a
considerar os pontos de entrega de gás canalizado (city gates) como instalações de embarque e
desembarque, para fins de pagamento de royalties aos municípios afetados por tais operações,
não tem eficácia retroativa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.452.798-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de
Faria, j. 19/4/2018 (Info 625).

38. FUNDEP
38.1. É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a
diferenças do FUNDEF – (Info 643) – IMPORTANTE!!!

É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças


do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente
vinculados ao custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a sua
utilização em despesa diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ingressou com ação contra a União com o
objetivo de conseguir o repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía
procuradores municipais concursados, foi contratado um escritório de advocacia privado para
patrocinar a causa. No contrato assinado com os advogados ficou combinado que, se o
Município vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao escritório. O pedido foi
julgado procedente e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20% do valor da
condenação (verbas do FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento dos
honorários contratuais dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º da Lei
8.906/94. Esse pedido não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, § 4º, da Lei
8.906/94 nas execuções contra a União em que se persigam quantias devidas ao
FUNDEF/FUNDEB, devendo o advogado credor buscar a satisfação de seu crédito por outros
meios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1703697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, j. 10/10/18 (Info 643).

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