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PARCERIA JURÍDICA E COOPERAÇÃO TÉCNICA


Devido a nossa larga experiência como advogados altamente experientes em Direito
Ambiental, muitos colegas advogados, engenheiros ambientais, florestais, biólogos,
agrônomos e técnicos ambientais em geral, nos procuram ou nos indicam para atuarmos
em defesa de seus clientes, alvos de fiscalizações ambientais ou que demandam
assessoria jurídica especializada.
Nosso conhecimento em Direito Ambiental permite uma atuação especializada,
abrangente e distinta em matéria ambiental, e, portanto, com maior excelência nos
serviços prestados.
A parceria profissional pode ser exercida, por exemplo, mediante elaboração de peças
processuais ambientais avulsas, emissão de parecer, consultoria, ou então, colaboração
técnica-jurídica durante um processo que envolva Direito Ambiental, seja na esfera
administrativa, cível ou penal.
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dúvidas, entre em contato conosco e teremos enorme satisfação em prestar mais
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EXPERTISE DO ESCRITÓRIO
O escritório, com sede em Florianópolis e atuação em todo território nacional, é especializado
e dedicado exclusivamente à área de Direito Ambiental, nas esferas administrativa, cível e
criminal, principalmente nos seguintes serviços:

 ADMINISTRATIVO: elaboração de defesa prévia, alegações finais, recursos


administrativos e outras medidas contra auto de infração e termo de embargo lavrados
por infração ambiental por órgãos municipais, estaduais ou federais; assessoria e
acompanhamento em audiência de conciliação ambienta, termos de ajustamento de
conduta ou de compromisso e plano de recuperação de área degrada;

 CÍVEL: ajuizamento de ação anulatória de auto de infração ambiental e revogação de


termo de embargo ou redução de multas ambientais; declaratória de nulidade de ato
administrativo ambiental; defesa em execução fiscal de cobrança de multa ambiental e
defesa em ação civil pública ambiental, além do ajuizamento de medidas de urgência e
outras ações judiciais, com destaque para recursos aos STF e STJ;

 PENAL: acompanhamento em inquérito policial, transação penal, termo circunstanciado,


suspensão condicional do processo e demais diligências necessárias decorrentes de
crimes ambientais; impetração de habeas corpus, e defesa em ações penais por crime
ambiental em geral, inclusive recursos ao STF e STJ.

PRINCIPAIS SERVIÇOS
 Ação Civil Pública  Poluição  Inquérito no Ministério
Público e inquérito policial
 Anulação de Auto de  Multas Ambientais
Infração Ambiental  Audiência de conciliação
 Devolução de bens ou ambiental
 Crime Ambiental animais apreendidos
 Medidas de urgência e
 Habeas Corpus  Redução de multa revogação de liminar
ambiental
 Demolição  Agravo de instrumento
 Embargos à execução
 Desmatamento fiscal de multa ambiental  Parceria Jurídica
 Desembargo de área,  Alegações finais  Consultas, assessoria e
obra ou atividade pareceres ambientais
 Processo administrativo
 Execução Fiscal de Multa ambiental  Cursos e Palestras
Ambiental
 Recursos ao STJ e STF  Ver todos
 Pesca Ilegal
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE...

Autos n...

ACUSADO, já qualificado nos autos em epígrafe que lhe


move o Ministério Público de Santa Catarina, vem, por seu
advogado, à honrada presença de Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO
pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

1. DA DENÚNCIA

O Ministério Público apresentou denúncia sob a alegação de que o denunciado


(i) destruiu floresta considerada de preservação permanente, (ii) promoveu a construção em solo
não edificável, assim considerado em razão de seu valor ecológico, sem autorização da
autoridade competente, consubstanciada na canalização de curso d'água natural e edificação
residencial, em alvenaria, situada próxima a curso d'água natural, e por isso, (iii) impediu e
dificultou a regeneração natural das formas de florestas e demais formas de vegetação em razão
da manutenção da edificação situada dentro de área de preservação permanente, (iv) deixando
de cumprir obrigação de relevante interesse social.

Dessa forma, entendeu o Parquet que o denunciado praticou os crimes


tipificados no art. 38, art. 48, art. 64 e art. 68, todos da Lei n. 9.605/98 c/c os artigos 29 e 69 do
Decreto-Lei n. 2.848/40, in verbis:

Lei n. 9.605/98

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,


mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de
proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais


formas de vegetação:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim
considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico,
histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem
autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de
cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano, sem
prejuízo da multa.

Decreto-Lei n. 2.848/40

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída
de um sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica


dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa
de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado
cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e
sucessivamente as demais.

A denúncia foi recebida tendo em vista o entendimento desse d. Juízo acerca


da configuração dos pressupostos para o exercício da ação penal e da justa causa para a sua
deflagração, razão pela qual o denunciado foi citado. Daí a presente manifestação.

2. INÉPCIA DA INICIAL – FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO E


ATIPICIDADE DA CONDUTA – JUSTA CAUSA EVIDENCIADA
– OFENSA AO ART. 5º, LV DA CF/88 E ART. 41 E 156 DO CPP

Com efeito, a denúncia deve conter a exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas, nos termos do
artigo 41 do Código de Processo Penal.

No caso em tela, data máxima vênia, com elevado e profundo respeito ao digno
subscritor da denúncia, a peça acusatória não descreve satisfatoriamente o fato delituoso
supostamente perpetrado. Isso porque, imputa-se ao denunciado os crimes, mas não se aponta
sequer uma única prova a respeito do fato. Assim, impossível se aferir a materialidade ou não
da infração penal.

Nesse espeque, ainda que a jurisprudência pátria venha minimizando os


rigores do art. 41 do CPP, é certo que não se pode tolerar uma acusação genérica, vaga e
imprecisa, como aquela ofertada contra o denunciado, concessa venia.

In casu, como já mencionado, a denúncia não descreveu com clareza


suficiente quais os fatos que apontavam a responsabilidade o denunciado em cada um dos
crimes elencados. Frise-se, que o conhecimento exato destas questões é salutar para se verificar
a ocorrência da prescrição, já que muitos dos delitos imputados ao denunciado, ao que parece,
datam de longínquos anos.

O Parquet alegou que os fatos foram comprovados por estudo pericial


realizado anos após a ocorrência dos supostos delitos, que atestou a existência da construção
distante do curso d'água de 2 metros de largura, a supressão da vegetação ciliar das margens
do corpo hídrico, a canalização, bem como a impossibilidade da regeneração da vegetação
nativa em decorrência da manutenção da construção.

Equivoca-se o Parquet.

É que a perícia constatou que o local não era um ambiente pristino, sendo
que o curso d’água ali existe, bem como suas margens, encontravam-se extremamente
descaracterizados, em função do processo de urbanização histórico já estabelecido, com
ausência de vegetação ciliar de grande porte. Desta forma, as funções ecológicas
comumente desempenhadas pela vegetação ciliar já se encontravam comprometidas.

Ao ser questionado sobre a natureza do local, o Expert esclareceu que a


região era urbanizada e possuía infraestrutura, com vias pavimentadas, meio-fio,
abastecimento por energia elétrica e água encanada, sistema de iluminação pública e rede
de drenagem de águas pluviais. Seu entorno era ocupado por diversas residenciais e
estabelecimentos comerciais. O solo no local era predominantemente arenoso e o relevo
era plano. Ou seja, trata-se de área consolidada.

Já quando questionado se a referida área é de preservação permanente, o


Expert limitou-se a citar o art. 4º, inc. I, alínea a da Lei 12.651/12 que trata da distância mínima
para construção da margem dos rios. Ora. Em perícia inconclusiva, diz o Expert que no local
havia um curso d’água inominado.

Data venia, referido curso d’água, foi aberto há muitos anos pela própria
municipalidade e munícipes, agravando-se devido a erosão causada pelas águas da chuva
devido à urbanização no bairro, e quando não há chuva, há somente esgoto ─ basta uma análise
microbiológica da água ─ Prova disso, são as próprias imagens do laudo pericial.

Ora. O artigo 41 do Diploma Processual Penal disciplina que a denúncia


conterá a exposição do fato supostamente criminoso "com todas as suas circunstâncias",
exatamente para excluir as inseguranças que trazem a denúncia incompleta, insuficiente e
deficiente. No caso dos autos, a data em que teria ocorrido os fatos é genérica. Por outro lado,
a perícia concluiu que não havia floresta no local, o que descaracteriza a incidência do art.
38 da Lei 9.605/98.

Mas veja, quando prestou depoimento na Delegacia de Polícia, o denunciado


informou que a consulta de viabilidade foi deferida pela Prefeitura Municipal, razão pela qual
iniciou a construção do imóvel, ainda sem alvará, dada a urgência com a qual o locador do imóvel
que residia até então solicitou a devolução para alugar na temporada. Mas frise-se, jamais
construiu sobre curso d’água ou desrespeitou as normas ambientais, mesmo porque, quando
iniciou a obra, não havia uma gota de água sequer na vala.

Depois, a denúncia, ainda que vaga, imputa ao denunciado a canalização do


suposto curso d’água. Pois bem. Como já esclarecido, inexiste natural de curso d’água. E só há
água, quando há chuva. No mais, só há esgoto com odor repugnante. Daí a necessidade de se
construir uma canalização, que não causou dano ambiental algum. Pelo contrário, apenas
melhorou as condições habitacionais de toda a região, negligenciadas pela Prefeitura.

A acusação também refere-se ao art. 68 da Lei 9.605/98, mas é totalmente


descabida, pois não há na peça acusatória, nenhuma menção de qual seria o dever legal ou
contratual de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental que o denunciado teria,
limitando-se o Parquet, à simples inclusão do referido artigo na denúncia.

Assim, a denúncia não estabelece o vínculo suficiente entre o denunciado e os


supostos atos ilícitos que lhes estão sendo atribuídos, notabilizando a ofensa ao devido processo
legal (artigo 5º, LV, da CF/88), o qual impõe o contraditório (art. 5º, LV, da CF/88), e determina o
onus probandi à acusação (art. 156, 1ª parte, do CPP). Com certeza, todas estas lacunas
ensejam a imediata rejeição da denúncia em relação à denunciado, ou ao menos, a rejeição
parcial, principalmente em relação aos delitos do art. 38 e art. 68 da Lei 9.605/98.

3. DA INEXISTÊNCIA DE CURSO D’ÁGUA E ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE – CRIME AMBIENTAL ATÍPICO
Outra injusta imputação diz respeito a alegada edificação residencial, situada
a 4 metros do afigurado curso d'água natural. Ocorre que não é isso que existe no local.

Trata-se, na verdade, de canal aberto há muitos anos pela municipalidade e


munícipes, que se agravou pela erosão causada pelas águas da chuva devido ao processo de
urbanização do bairro, e atualmente, serve apenas para escoamento de esgoto advindo de
outros imóveis. Frise-se que só há água na vala, quando há chuva, o que não pode ser
confundindo com curso d’água protegido por lei em nenhuma hipótese, muito menos para
condenar injustamente pessoa inocente.

É fundamental esclarecer a correta interpretação do artigo do art. 4º, I, do


Código Florestal vigente, uma vez que este protege apenas as faixas marginais que estejam
situadas ao longo de cursos d’água naturais, perenes e intermitentes, excluídos os efêmeros.
Ou seja, exclui da sua proteção, os cursos d’água que possuem escoamento superficial apenas
durante os períodos de precipitação. Dita o referido dispositivo:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de: (...).

Ressalte-se que os cursos d’água naturais, cuja função ambiental é


reconhecidamente de suma importância para o ecossistema, por certo não se equiparam aos
elementos hídricos que já sofreram diversas modificações e intervenções, como é o caso daquele
apontado na denúncia, que serve simples e puramente para escoamento de esgoto. Basta uma
análise microbiológica dos dejetos que por ele passam.

Assim sendo, consoante a própria exegese do artigo 4º, I, do Código Florestal,


para que as faixas marginais de cursos d’água sejam consideradas áreas de preservação
permanente, o elemento hídrico deve ser natural, não se aplicando aos canais abertos por
erosão.

4. DO CRIME DO ART. 38

A denúncia faz menção de que entre o dia 2013 e 2014 o denunciado teria
supostamente praticado o crime do art. 38 da Lei 9.605/98, in verbis:

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,


mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de
proteção.
Ocorre que a perícia realizada anos depois constatou que o local periciado não
era um ambiente pristino, sendo que o curso d’água ali existe, bem como suas margens,
encontravam-se extremamente descaracterizados, em função do processo de urbanização
histórico já estabelecido, com ausência de vegetação ciliar de grande porte. Desta forma,
as funções ecológicas comumente desempenhadas pela vegetação ciliar já se
encontravam comprometidas.

Como se vê, a solução da controvérsia está na definição da abrangência do


elemento normativo do tipo "floresta", constante no tipo penal. Contudo, a questão dispensa
maiores dilações, visto que o Superior Tribunal de Justiça, em situação análoga à presente,
decidiu que a destruição de vegetação rasteira ─ ainda que fosse o caso nestes autos ─ não se
subsume ao tipo legal previsto no art. 38 da Lei 9.605/1998, senão vejamos:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1.


TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. 2. CRIME
AMBIENTAL. ART. 38 DA LEI N. 9.605/1998. DESTRUIÇÃO DE FLORESTA
DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ELEMENTARES DO TIPO.
NECESSIDADE DE DESCRIÇÃO. 3. DENÚNCIA QUE NÃO INDICA AS
ELEMENTARES DO TIPO PENAL IMPUTADO. DESCRIÇÃO QUE NÃO SE
AMOLDA AO ART. 38 DA LEI N. 9.605/1998. NARRATIVA INCOMPLETA.
AMPLA DEFESA INVIABILIZADA. 4. RECURSO EM HABEAS CORPUS A
QUE SE DÁ PROVIMENTO PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL. 1. [...]. 2. O
art. 38 da Lei n. 9.605/1998 dispõe que é crime "destruir ou danificar floresta
considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-
la com infringência das normas de proteção". O Superior Tribunal de Justiça,
ao analisar referido tipo penal, assentou que "o elemento normativo
'floresta', constante do tipo de injusto do art. 38 da Lei nº 9.605/98, é a
formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou
menos extensa. O elemento central é o fato de ser constituída por árvores
de grande porte". 3. Na hipótese dos autos, consta da denúncia que o
recorrente construiu em zona costeira, sem a devida licença ambiental e
contrariando as normas legais e regulamentos pertinentes, ao proceder à
"ampliação de um imóvel com construção de uma academia de ginástica e
lanchonete com dois pavimentos, distando aproximadamente 70 (setenta)
metros do mar e próximo a dunas móveis e fixas, falésias vivas e fontes de
água doce". Não consta, portanto, da narrativa nenhuma indicação de que
houve desmatamento de floresta considerada de preservação permanente
nem se menciona a legislação em vigor que foi eventualmente desrespeitada.
Dessa forma, tem-se que a narrativa não se amolda ao tipo penal imputado,
revelando a incompletude da imputação trazida na denúncia, situação que
inviabiliza o exercício da ampla defesa. 4. Recurso em habeas corpus a que
se dá provimento para trancar a Ação Penal n. 8560-28.2013.8.06.0164/0 por
inépcia, sem prejuízo de oferecimento de nova inicial acusatória, desde que
observados os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal. (RHC
63.909/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 26/03/2019, DJe 22/04/2019).

Ora. Além de devidamente comprovado pela perícia que não havia floresta no
local, sequer há provas nos autos da prática do art. 38 da Lei 9.605/98, muito menos na denúncia.
Logo, a conduta atribuída à denunciado é equivocada, situação que impõe a rejeição da denúncia
neste ponto com a consequente absolvição.

5. DOS CRIMES DOS ARTS. 38, 48, 64 E 68 –


PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – POSSIBILIDADE

Certo de que Vossa Excelência aceitará as alegações do denunciado, porém,


ainda assim, faz-se necessário discorrer sobre o princípio da consunção, plenamente aplicável
ao caso em tela.

Pois bem. Não há como acolher a pretensão punitiva estatal quanto a


condenação individual por suposta infração aos artigos 38, 48 e 64 da Lei no 9.605/98, na medida
que o fato específico que consubstancia a presença da elementar do tipo penal na hipótese de
“destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente” (lembrando que inexistia
floresta no local) e "impedir a regeneração vegetação natural", configura mero exaurimento do
ato de erigir obra em área non aedificandi.

No caso em questão, o denunciado teria erigido edificação de forma irregular


em supostamente área de preservação, o que denota a conduta prevista no r. art. 64. O
enquadramento no art. 38 e 48 se deu em razão de que para construir, ter-se-ia destruído
floresta, ao passo de que a edificação promovida estaria em consequência, impedindo a
regeneração da vegetação, e por isso deixou de cumprir dever legal nos termos do art. 68.

Esta breve síntese permite perceber que a conduta enquadrada nos arts. 38 e
48 é, sem dúvida, crime-meio em relação ao art. 64, porquanto a finalidade era, evidentemente,
a edificação de determinada obra para utilização de moradia. De igual forma, o tipo penal previsto
no art. 68 também está absorvido pelo art. 64, pois como aponta o Parquet, o objetivo era
construir, sendo este portanto, o crime-fim e único passível de apreciação.

De mais a mais, o STJ tem entendimento pacificado no sentido de que o art.


48 da Lei 9.605/98 é absorvido pelo art. 64 da mesma Lei, entendimento este que também deve
ser aplicado aos arts. 38 e 68. Inclusive, esse é o tema do Informativo de Jurisprudência n. 0597
de 15 de março de 2017, cujo destaque é exatamente o discutido nestes autos:

O crime de edificação proibida (art. 64 da Lei n. 9.605/1998) absorve o


crime de destruição de vegetação (art. 48 da mesma lei) quando a
conduta do agente se realiza com o único intento de construir em local
não edificável.
Posto isto, uma vez absorvido o crime-meio, não autônomo, pelo crime-fim, a
desclassificação desse tipo penal é medida que se impõe e se requer a este d. Juízo.

6. DO CRIME DO ART. 68 - IMPOSSIBILIDADE

Por fim, a denúncia aponta que o denunciado teria infringido o art. 68 da Lei
9.605/98, o qual prevê: “Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir
obrigação de relevante interesse ambiental. ”

O dispositivo em tela configura tipo penal aberto, pois a lei não definiu o que
seja “obrigação de relevante interesse ambiental”. Nesse sentido:

DIREITO PENAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. ARTIGO 68 DA LEI


Nº 9.605/98. FALSIDADE IDEOLÓGICA. INOCORRÊNCIA DE
ELEMENTARES. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. O
crime inscrito no art. 68 da Lei nº 9.605/98 é tipo penal aberto. A lei não
definiu o que seja "obrigação de relevante interesse ambiental", hábil a
configurar a conduta típica, de modo que a compreensão e alcance da
norma devem ser delimitados no caso concreto. (TRF-4 - ACR: 18 PR
2005.70.05.000018-4, Relator: Revisor, Data de Julgamento: 27/05/2009,
OITAVA TURMA).

Logo, trata-se de crime que consiste em deixar de cumprir dever legal ou


contratual relativo a relevante interesse ambiental. Ocorre que a denúncia sequer aponta qual
seria a obrigação descumprida pelo denunciado, muito menos qual é o relevante interesse
ambiental, o que por si só, impõe a rejeição da denúncia ou absolvição em relação ao tipo do art.
68.

Ademais, considerando hipoteticamente que o denunciado o tenha praticado,


seria necessário a previsão do prazo para o cumprimento de tal obrigação, pois do contrário não
é possível identificar o momento consumativo da infração, o que viola preceito constitucional.

O Professor Luiz Flávio Gomes, em lição que discute a constitucionalidade do


aludido artigo, leciona que:

De qualquer sorte, ainda que se reconheça a constitucionalidade deste tipo


penal, sua aplicação demanda redobrada cautela, sendo necessário ficar
perfeitamente demonstrado o dever (legal ou contratual) do agente e a
relevância do interesse ambiental violado. (Lei de Crimes Ambientais:
comentários à Lei 9.605/1998. São Paulo: MÉTODO, 2015. P. 261).

Assim, a infração ao art. 68 da Lei n. 9.605/98 depende da existência do dever


legal ou contratual, conferido ao servidor público ou particular, de prevenir ou reprimir as
agressões ao meio ambiente, fato não demonstrado na denúncia. Portanto, necessária é a
rejeição da denúncia com a consequente absolvição da denunciado. É o que se requer.

Mas caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, requer seja
aplicado a pena mínima prevista no parágrafo único do art. 68 da Lei 9.605/98, por tratar-se de
prática de delito culposo, em razão da Prefeitura ter deferido a viabilidade de construção, na qual
constou que o terreno era edificável. Assim, incorreu o denunciado em erro de tipo, consoante o
exposto abaixo.

7. PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE - DO ERRO DE


TIPO – CONFIGURAÇÃO DE CRIME CULPOSO

Na improvável e remota hipótese de não ser acatado o pedido de rejeição da


denúncia e absolvição conforme argumentação despendida até agora, o que não se acredita,
discorre-se, em homenagem ao princípio da eventualidade, sobre elementos que certamente
acarretarão na improcedência de denúncia.

É que segundo o Parquet, o denunciado teria erigido casa em área de


preservação permanente. Acontece, que o imóvel só foi construído, porque a Prefeitura deferiu
a viabilidade, conforme consta nos autos.

Ora. Não poderia imaginar o denunciado, que a Prefeitura estaria


cometendo um erro grotesco, mesmo porque, não havia no local nenhum curso d’água, apenas
uma vala de esgoto, que durante o verão daquela temporada, estava mais seco do que a areia
do deserto.

Então, evidente que o denunciado incidiu em erro de tipo, conforme leciona


Cezar Roberto Bitencourt:

Erro de tipo é aquele que recai sobre circunstância elementar da descrição


típica. É a falsa percepção da realidade sobre um elemento constitutivo do
crime. O erro de tipo essencial sempre exclui o dolo, permitindo, quando for o
caso, a punição pelo crime culposo, uma vez que a culpabilidade permanece
intacta. O erro de tipo inevitável exclui a tipicidade não por falta do tipo objetivo,
mas por carência do tipo subjetivo. (Tratado de direito penal: parte geral. 17.
ed. rev.,ampl. e atual. de acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. São Paulo:
Saraiva, 2012.p. 787).

Guilherme de Souza Nucci é escorreito ao conceituar o instituto:

Conceito de erro de tipo: é o erro que incide sobre elementos objetivos do tipo
penal, abrangendo qualificadoras, causas de aumento e agravantes. O engano
a respeito de um dos elementos que compõem o modelo legal de conduta
proibida sempre exclui o dolo, podendo levar à punição por crime culposo. Não
basta o agente afirmar que lhe faltou noção precisa dos elementos do tipo
penal; é fundamental existir verossimilhança nessa alegação. Se houver
razoabilidade no equívoco, afastam-se o dolo e também a culpa. Inexistindo
razoabilidade, pode-se afastar o dolo, mantendo-se a culpa (pune-se, caso
haja, o tipo culposo). )Código penal comentado / Guilherme de Souza Nucci. –
17. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 146).

Logo, ante o fato de que as provas não demonstram a atuação dolosa do


denunciado, vez que apenas edificou o imóvel induzido a erro provocado por terceiro, no caso,
a Prefeitura, e, portanto sem plena consciência do delito que estava cometendo, incidindo
em erro de tipo, a absolvição é medida que se impõe e se requer.

8. REQUERIMENTO

Ex positis, requer a Vossa Excelência se digne a receber a presente resposta,


para:

a) Rejeitar a denúncia com fundamento no art. 395, I, do CPP, em relação ao denunciado


(inépcia da peça acusatória – falta de individualização e atipicidade da conduta e
ausência de provas), e por restar prejudicado o direito de defesa previsto no art. 5º, LV,
da CF/88, e, ainda, por descumprimento do art. 41 do CPP;

b) Rejeitar a denúncia, nos termos do artigo 395, inciso III (falta de justa causa para o
exercício da ação penal), do CPP, visto que inexistente a prova da materialidade e
indícios mínimos de autoria;

c) REQUER-SE ainda, seja o denunciado ABSOLVIDO SUMARIAMENTE, com escopo no


art. 397, III do CPP quanto ao art. 38 da Lei 9.605/98 por evidente ausência de floresta
no local, bem como, pelo art. 397, IV, do CPP, diante da incidência da causa extintiva de
punibilidade do art. 64 da Lei 9.605/98 que absorve o art. 48 do mesmo diploma legal,
prevista no art. 107, IV, c/c art. 109, V, ambos do Código Penal, computando-se a data
dos fatos em homenagem ao princípio do in dubio pro reo, e ainda, quanto ao art. 68 da
Lei 9.605/98, por atipicidade da conduta.

d) Subsidiariamente, requer a aplicação do princípio da consunção ao caso em tela,


desclassificando os tipos penais dos artigos 38, 48 e 68 para o único crime, em tese, do
art. 64 da Lei 9.605/98, declarando a incompetência deste Juízo para julgar crimes de
menor potencial ofensivo.

e) Na remota hipótese de não ser este o entendimento de Vossa Excelência, o que não se
acredita, REQUER-SE protestar e provar o alegado por todos os meios de prova em
direito admitidos, inclusive nova perícia técnica e oitiva dos demais denunciados e dos
indicados no rol de testemunhas abaixo arroladas, que deverão ser intimadas por Vossa
Excelência na forma da lei;

f) Em homenagem ao princípio da eventualidade, requer o reconhecimento de que o


denunciado incorreu em erro de tipo, vez que foi induzido pela Prefeitura que a área era
habitável conforme depreende-se da consulta de viabilidade. Ainda em homenagem a
referido princípio, requer a aplicação do parágrafo único do art. 68 da Lei 9.605/98, por
tratar-se de delito praticado na modalidade culposa.

g) Em qualquer dos casos, ao final, requer a absolvição do denunciado;

h) Por fim, que as intimações e notificações sejam todas feitas em nome do advogado
subscritor.

Pede deferimento.

LOCAL E DATA

ADVOGADO

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