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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

GDD
Nº 71006193593 (Nº CNJ: 0029809-83.2016.8.21.9000)
2016/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR USO
INDEVIDO DE IMAGEM. FILMAGEM REALIZADA
NO BAR COLORADO DURANTE PARTIDA DE
FUTEBOL. EVENTO ORGANIZADO NA COPA
LIBERTADORES. VÍDEO QUE EVIDENCIA
IMPLÍCITA CONCORDÂNCIA DE TODOS OS
PRESENTES NO EVENTO À TOMADA DE
FILMAGEM. IMAGEM DISCRETA DO AUTOR, COM
AUTORIZAÇÃO TÁCITA DURANTE O EVENTO.
DANOS MORAIS, NÃO CONFIGURADOS. NÃO
DEMONSTRADO QUAL VÍDEO FOI
DISPONIBILIZADO EM REDES SOCIAIS OU MÍDIAS
( TV, YOUTUBE). AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DE PROVEITO COMERCIAL COM UTILIZAÇÃO DA
IMAGEM DO AUTOR. AUSÊNCIA DE OFENSA À
PERSONALIDADE. ÔNUS DA PROVA DOS FATOS
ALEGADOS NA INICIAL QUE TOCAVA AO AUTOR
(ART. 373, I CPC), DO QUAL NÃO SE
DESINCUMBIU. ELEMENTOS QUE NÃO PERMITEM
CONCLUIR PELO USO INDEVIDO DA IMAGEM.
DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS FUNDAMENTOS.
RECURSO IMPROVIDO, POR MAIORIA.

RECURSO INOMINADO QUARTA TURMA RECURSAL CÍVEL

Nº 71006193593 (Nº CNJ: 0029809- COMARCA DE PORTO ALEGRE


83.2016.8.21.9000)

IVANDRO RODRIGO MORBACH RECORRENTE

TOYOTA DO BRASIL S.A. RECORRIDO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

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Acordam os Juízes de Direito integrantes da Quarta Turma


Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do
Sul, por maioria, em negar provimento ao recurso. Vendia Dra Gisele Anne
Vieira de Azambuja.
Participaram do julgamento, além da signatária (Presidente), os
eminentes Senhores DRA. GISELE ANNE VIEIRA DE AZAMBUJA E DR.
RICARDO PIPPI SCHMIDT.
Porto Alegre, 26 de agosto de 2016.

DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER,


Relatora.

RELATÓRIO
IVANDRO RODRIGO MORBACH formulou pedido em face de
TOYOTA DO BRASIL S.A..
No pedido inicial, EM APERTADA SÍNTESE, a parte autora
afirma que foi assistir um jogo nas dependências de um Estádio de Futebol.
Não avisou a namorada. Sem autorização expressa, a parte ré gravou vídeo
promocional, com a imagem de vários torcedores, inclusive da parte autora.
Diz que os vídeos foram parar na internet e televisão prejudicando seu
relacionamento. Alega que a parte ré obteve proveito comercial com a
filmagem. Pede a condenação da parte ré ao pagamento de indenização por
danos morais (fls.02/07).
A parte ré contestou, quanto ao mérito, que o ocorrido se
deu em local nas dependências do Estádio de Futebol, em campanha na
qual o próprio time teria participação. O time teria cedido o local para que
assistissem a partida em clima de irmandade. Os organizadores do evento
teriam convidado os produtores do vídeo para que gravassem no local. A

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equipe de filmagem foi recebida efusivamente. Defende que houve


autorização tácita na gravação do clipe. Diz que ninguém se insurgiu
contrariamente às filmagens (fls.23/31).
Parte do relatório extraído da sentença de fls. 35/38 que julgou
improcedente a ação.
Recurso Inominado da parte autora nas fls. 40/48, objetivando
reforma da sentença para julgar procedente a ação. Indeferido benefício da
assistência judiciária gratuita na fl. 57. Comprovado pagamento do preparo
nas fls. 59/60.
Contrarrazões nas fls. 63/70.

VOTOS
DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER (RELATORA)
Eminentes colegas.
Conheço do recurso inominado, pois preenchidos os
pressupostos de admissibilidade.
Adianto que o recurso não merece ser provido.
O autor postulou a indenização por danos morais em face de
gravação de vídeo promocional da ré, no qual aparecem vários torcedores
nas dependências do Sport Clube Internacional, num local reservado aos
torcedores para acompanharem a partida da Copa Libertadores da América,
que se realizava fora do país. O recorrente aduz que o vídeo foi veiculado,
sem autorização expressa do autor. Afirma ter namorada há bastante tempo,
a qual não foi avisada que estaria no local, por razões de foro íntimo.
A prova dos autos resume-se à juntada de dois vídeos, fls. 33 e
35.

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Assistindo aos vídeos do primeiro DVD (fl. 33) juntado pela ré e


não pelo autor, evidencia-se que todos são colaborativos com as filmagens,
sorrindo e falando às câmaras, enfim, anuindo de forma tácita com o vídeo e
uso da imagem. No segundo DVD, juntado pelo autor (fl. 35), embora não
haja qualquer indicação na peça recursal ou mesmo na inicial, da
localização e tempo em que o autor aparece na filmagem, incumbindo ao
juízo “adivinhar” quem é o autor e por quanto tempo aparece no vídeo, tenho
que é insuficiente para comprovar a irresignação de qualquer pessoa
presente no Bar Colorado, instalado dentro das dependências do Sport Club
Internacional, local em que é de conhecimento geral que são realizadas
reportagens, filmagens e, no caso dos autos, publicidade com o evento.
Na audiência de instrução (fl. 21), restou consignado que a
imagem que o autor entende indevidamente veiculada pela ré está no vídeo
juntado pelo autor (fl.35), em dois tempos, aos 2min15ss e 2min26ss.
Analisando os vídeos que aportaram aos autos pelo autor no DVD de fl. 35,
nos tempos indicados, não há qualquer imagem clara de torcedor no dito
evento, até porque, não identificado seu tipo físico, roupa, cabelo, etc, para
que se possa concluir de quem se trata. Ademais, nem mesmo na peça
recursal foi corrigido eventual erro na indicação do tempo do vídeo mais
longo (último vídeo do arquivo de fl. 35).
Certo é que a prova que tocava ao autor demonstrar de uso
indevido da imagem, danos na esfera subjetiva, não restaram comprovados.
Nenhuma publicação de tais vídeos de veiculação da suposta publicidade
veio aos autos, seja com indicação dos links do “youtube”, das redes sociais
como “facebook”, seja reprodução de propagandas em rádio e TV, não
incumbindo ao juízo “investigar” se tais imagens foram publicizadas.
Nenhuma testemunha foi ouvida, nem mesmo depoimento da
“namorada” do autor, referida na inicial para induzir a problemas decorrentes

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com a veiculação do vídeo, pelo menos para comprovar onde ela “achou” a
imagem do autor. Nenhuma prova também sobre a alegada veiculação de
sua imagem, sem autorização expressa, nas redes sociais.
A ré realizou filmagens naquela data associando o evento com
seu produto, terceiro evento de uma campanha, no qual participante da
Copa Libertadores, o Sport Club Internacional em parceria do canal Esporte
Interativo, a convite dos organizadores do Bar Colorado e de conhecimento
dos participantes. Ora, é de conhecimento geral que nestes eventos
geralmente há reportagem radiofônica e televisiva. No caso, ainda a
filmagem promocional, sem qualquer oposição dos presentes, juntamente
com a protagonista do vídeo, todos “se postaram” para tomada final (fl. 33, a
1minuto e 09segundos).
Os fatos se deram em maio de 2015 e a irresignação do autor
com o suposto uso da imagem se deu apenas em novembro de 2015, com o
ajuizamento da demanda.
A prova dos autos evidencia que a filmagem e uso foi
consentida pelo autor de forma tácita, abrindo mão de seu direito à
intimidade, permitindo a divulgação. A ré afirma que as gravações acostadas
não foram utilizadas no vídeo definitivo, embora realizadas no evento. O
vídeo definitivo por sua vez, não veio aos autos para demonstrar que nele o
autor estava.
Cabia ao autor comprovar a veiculação que lhe trouxe o
alegado dano à imagem, o que não restou claro nos autos. Ao contrário. A
prova é de que todos estavam cientes e anuíram com as filmagens
realizadas no Bar Colorado enquanto assistiam ao jogo em que participava o
Sport Club Internacional na Copa Libertadores.
Assim, a análise da prova e a conclusão contida no dispositivo
da sentença é o que parece ser mais adequado ao caso dos autos.

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Neste sentido, colaciono decisões que ratificam entendimento


contido na sentença atacada, proferidas nestas Turmas Recusais:
DIREITO DE PROTEÇÃO À IMAGEM. FOTOGRAFIA PUBLICADA
EM JORNAL DE CIRCULAÇÃO LOCAL. DANOS MORAIS.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA, MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. A autora postulou a indenização por
danos morais porque fora publicada fotografia sua em jornal local,
em publicação atual. Ocorre que a foto havia sido tirada
supostamente há cerca de um ano, em uma festa na qual a autora
aparece junto a um casal de jovens. Agora, vive em união estável e
teve problemas na relação, porque não conseguiu convencer seu
parceiro de que a fotografia é antiga. Todavia, a prova dos autos
evidencia que a fotografia foi consentida pela autora, uma vez que
aparece sorrindo e fazendo pose para a objetiva (f. 10). Portanto, a
própria parte abriu mão de seu direito à intimidade, permitindo que
conhecido fotógrafo que divulga festas noturnas de jovens a clicasse.
Ou seja, sabia que a fotografia seria publicada em jornal de
circulação local. Quando se abre mão do direito à intimidade, por
meio de fotografia, há um consentimento tácito de que esta possa
ser usada no veículo de divulgação, nas condições esperadas.
Ademais, não restou demonstrada a data em que a fotografia tinha
sido tirada. Conclusão acertada da sentença, ao considerar que o
dissabor experimentado pela parte decorreu mais do ciúme de seu
namorado do que da publicação em si. O namorado, aliás, em seu
depoimento, refere que sabia que a autora não estava na festa.
Incômodos próprios de relação de namoros entre jovens que não
caracterizam dor moral. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso
Cível Nº 71002406700, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Fabio Vieira Heerdt, Julgado em 24/06/2010)

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 RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL. FOTOS


EM JORNAL. AUTORIZAÇÃO IMPLÍCITA. DANO MORAL. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. Na medida em que a autora chamou e
recebeu em sua residência jornalista e fotógrafo, prepostos do jornal
demandado, permitindo inclusive fotografias da casa, em vista de ter
sido invadida por dejetos, por certo que implicitamente autorizou que
as fotos fossem publicadas no jornal para o qual trabalhavam os
referidos profissionais. Ademais, pela foto publicada no periódico,
não se pode concluir que tal implicou violação aos atributos de
personalidade da autora, pois se limita a retratar a mesma limpando
sua cozinha, havendo na legenda referência ao fato de que a autora
teve aquela invadida por água do "poço negro". Dano moral não
caracterizado. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos.
RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível Nº
71004136982, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 06/08/2013)

Nos termos do art. 46 da Lei nº 9.099/95, confirmo a proposta


de decisão homologada e torno os referidos fundamentos parte integrante
do presente acórdão.
Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas
da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e
parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos,
a súmula do julgamento servirá de acórdão.

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Diante do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao


recurso.
Custas pela parte recorrente, que arcará, ainda, com
honorários advocatícios fixados em R$ 700,00 (setecentos reais), corrigidos
pelo IGPM e acrescidos de juros de mora de um por cento ao mês, ambos a
contar do trânsito em julgado.

DRA. GISELE ANNE VIEIRA DE AZAMBUJA


Eminentes colegas:
Com toda a vênia ao excelente voto proferido pela eminente
relatora, preciso divergir.
E destaco que a posição que adoto, no sentido de que há dano
moral aqui, nada tem haver com a relação pessoal do autor com a namorada
dele, porque no caso a ação prescinde de prejuízo.
Aqui se trata de direito à imagem, princípio constitucional.
Vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem; 

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;   

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Ainda o Superior Tribunal de Justiça consagrou o direito à


indenização por danos morais pela violação da imagem, através da Súmula
nº 403.
Súmula 403 do STJ:
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação
não autorizada de imagem de pessoas com fins econômicos ou
comerciais.

O direito à imagem é personalíssimo o que ao seu titular e


apenas a ele confere o direito de dispor de sua imagem. E possui um duplo
conteúdo, o moral, porque direito de personalidade e o patrimonial, porque
ninguém pode se locupletar à custa alheia. E exatamente por isso a
obrigação de reparação está assentada no próprio uso indevido do direito de
personalidade do cidadão, não havendo falar ou cogitar de prejuízo ou
consequência deste dano.
E assim decidiu o STJ, 3ª Turma AI 735.529- AGRG
MINISTRO GOMES DE BARROS: “Apesar de não ter sido utilizada a
imagem do agravado em situação vexatória, a ora agravante utilizou-se para
fins econômicos, por vincular a pessoa a uma marca ou produto contra a sua
vontade, a publicação de fotografia não autorizada com fins lucrativos,
constitui ofensa ao direito à imagem, ensejando indenização por danos
morais.”
Ainda:
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS NO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DANO
MORAL CONFIGURADO. PUBLICAÇÃO DE NOME EM FOLDER
PUBLICITÁRIO SEM AUTORIZAÇÃO. REVISÃO DO ACÓRDÃO
RECORRIDO E MATÉRIA PROBATÓRIA. NÃO OCORRÊNCIA.
CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DELINEADAS PELAS INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS. JULGAMENTO MONOCRÁTICO.
POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 557 DO CPC.
1. Os danos morais em virtude de violação do direito à imagem
decorrem do próprio uso indevido, sendo prescindível a

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comprovação da existência de dano ou prejuízo, pois o dano é in re


ipsa. Teor da Súmula nº 403/STJ.
2. Não incide o óbice previsto na Súmula nº 7/STJ quando este
Tribunal, com base nas circunstâncias fáticas delineadas no
acórdão recorrido, lhes confere-lhes interpretação jurídica diversa.
3. É possível o julgamento monocrático do recurso especial quando
o aresto impugnado está em consonância com a orientação
jurisprudencial desta Corte, a teor do disposto no art. 557, caput,
do Código de Processo Civil.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no AgRg no Ag 1150859/PE, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/04/2013, DJe 02/05/2013)(g.n.)

E no caso, devidamente comprovado nos autos que a


publicação, onde aparece a imagem do autor integrava diretamente
estratégia comercial e publicitária da empresa demandada.
E não se diga que houve anuência tácita, porque o autor pode
efetivamente ter anuído a uma filmagem, que considerada ser de seu próprio
time, posto que vestido de camiseta do internacional, estava nas
dependências do clube para assistir a uma partida. Aliás, sobre o tema
envolvendo times de futebol, já decidiu o STF no sentido de que as imagens
que dizem respeito ao jogo em si, com imagens de jogadores ou mesmo de
torcedores, está mais para imagem pública, não possui fins lucrativos a não
ser informativos, e não ampara danos morais( RSTJ68/358, STJ/RT
714/253, STJ RF 331/226).
Contudo, e este ônus era da demandada, não há comprovação
de que alguém tenha noticiado que se tratava de uma matéria publicitária
que envolvia automóveis, fábrica ou agência. Incumbia à ré ter noticiado a
campanha e solicitado autorização de cada um dos participantes, o que não
fez.
Examinei os autos e assisti às filmagens. O que se vê são
colorados, bebendo, comendo e conversando em um local privado. Poderia
efetivamente ser uma campanha do próprio time. E nas condições, local e

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vestimenta do autor, seria efetivamente tácita a concordância, caso a


propaganda fosse do clube, e nada poderia reclamar. A questão aqui é que
se tratava de propaganda de automóvel, marca, e para fins comerciais e não
houve, repito, anuência ou concordância do autor. Ademais, o autor pode até
não gostar desta marca, ter automóvel de outra marca, e inclusive já ter tido
problemas com esta marca em outra oportunidade. Digo isso somente para
justificar que não lhe foi dada a oportunidade de rejeitar, não aceitar, refutar
a sua participação.
E dispõe o artigo 20 do Código Civil:
Artigo 20- Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
administração da Justiça ou à manutenção da ordem pública,
a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização de imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins
comerciais. (grifo meu).

Portanto colegas, o dano é a própria utilização indevida da


imagem sendo desnecessária a comprovação de quaisquer prejuízos.
E colaciono jurisprudência recentíssima do STJ:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
CIVIL E PROCESSUAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC.
AUSÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.
REEXAME PROVA. SÚMULA Nº 7/STJ. DANO MORAL. IN RE
IPSA. SÚMULA Nº 403/STJ. VALOR EXORBITANTE DA
INDENIZAÇÃO. NÃO VERIFICAÇÃO. RAZOABILIDADE.
ESPECIFICIDADES DA CAUSA.
1. Ausentes quaisquer dos vícios ensejadores dos aclaratórios,
afigura-se patente o intuito infringente da presente irresignação, que
objetiva não suprimir a omissão ou eliminar a contradição, mas,
sim, reformar o julgado por via inadequada.
2. Rever questão decidida com base no exame das circunstâncias
fáticas da causa esbarra no óbice da Súmula nº 7 do Superior
Tribunal de Justiça.
3. O aresto recorrido está alinhado à jurisprudência desta Corte
que
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se consolidou no sentido que os danos morais em virtude de


violação do direito à imagem decorrem de seu simples uso
indevido, sendo prescindível, em casos tais, a comprovação da
existência de prejuízo efetivo à honra ou ao bom nome do
titular daquele direito, pois o dano é in re ipsa. (Súmula nº
403/STJ).
4. O valor fixado à título de indenização por danos morais baseia-se
nas peculiaridades da causa. Assim, afastando-se a incidência da
Súmula nº 7/STJ, somente comporta revisão por este Tribunal
quando irrisório ou exorbitante, o que não ocorreu na hipótese dos
autos, em que arbitrado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)
diante da especificidade do caso concreto.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 675.054/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe
23/02/2016)

Nesse sentindo também já se manifestou o TJRS:


APELAÇÃO CÍVEL. RECURSO ADESIVO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE CESSAÇÃO DE
USO DE IMAGEM CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAL. FOTOGRAFIA DE MODELO
EM PUBLICIDADE NÃO AUTORIZADA. DANO MORAL IN
RE IPSA CONFIGURADO. VALOR DO DANO MATERIAL
NÃO INFORMADO. PEDIDO DE LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. VALOR DO DANO MATERIAL ARBITRADO
PELO JUÍZO. IMPOSSIBILIDADE E INADEQUAÇÃO. Trata-
se de recursos de apelação e adesivo interpostos contra
sentença de parcial procedência de pedidos de indenização
por danos materiais e moral decorrentes do uso indevido de
imagem. Ação dirigida à cessação do uso indevido de
imagem pela empresa demandada em materiais publicitários,
como outdoors, revistas de grande circulação, em seu site na
internet e em posters espalhados em diversa lojas. DEVER
DE INDENIZAR - A demandada não logrou êxito em
comprovar que possuía autorização para uso da imagem
da autora em campanhas publicitárias. Infração à
garantia fundamental do direito à imagem. Inteligência do
art. 5º, inc. X, da CF. Dever de indenizar configurado.
Apelação desprovida. DANO MORAL - O dano moral, no
caso em apreço, prescinde prova de sua ocorrência, por
se tratar de dano in re ipsa (aquele que não exige
comprovação, pois "os fatos falam por si"). "QUANTUM"
INDENIZATÓRIO - No arbitramento da indenização o
"quantum" deve ser fixado de tal forma que o valor não seja
tão irrisório que sirva de desestímulo ao ofensor, nem

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tampouco exacerbado a ponto de implicar enriquecimento


ilícito para a parte autora. Sendo assim, a quantia de R$
20.000,00 (vinte mil reais) se mostra adequada às
peculiaridades do caso concreto. DANOS MATERIAIS - A
parte autora em sua exordial aponta a existência de danos
materiais, mas, em momento algum, fornece qualquer valor
ou critério para fins de indenização, postulando pela
liquidação de sentença de seu prejuízo. Ao contrário do que
acontece com os pedidos de indenização por dano moral, o
valor do dano patrimonial não pode ser definido de acordo
com o livre arbítrio do julgador. Ademais, a parte autora pediu
de forma expressa na inicial que o valor devido deveria ser
apurado em liquidação de sentença. Assim, não poderia o
magistrado a quo ter fixado valor que entendia razoável ao
caso sem qualquer demonstração documental do prejuízo e
ao arrepio do pedido formulado na inicial. Improcedência do
pedido de indenização por danos materiais, pois não
demonstrado o prejuízo sofrido e, mesmo que assim não
fosse exigido, a parte autora não apontou na inicial qualquer
critério para sua definição. APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA. RECURSO ADESIVO PROVIDO. (Apelação Cível
Nº 70056934177, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Sylvio José Costa da Silva Tavares, Julgado em
21/05/2015) (grifo meu)

APELAÇÃO CÍVEL. ENSINO PARTICULAR. USO INDEVIDO


DA IMAGEM. DANO MORAL CARACATERIZADO. 1.
Preliminar de intempestividade afastada. Não há que se falar
em pré-tempestividade do recurso porque interposto antes da
publicação dos embargos de declaração, não sendo sequer
necessária a ratificação das razões recursais. Precedentes.
2. A utilização da imagem de uma pessoa, salvo nas
hipóteses de necessidade à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, só é possível mediante
autorização, cabendo indenização quando o uso indevido
tiver finalidade comercial. Arts. 5º, X, da Constituição Federal
e 20 do Código Civil. No caso em tela, não restou
demonstrado pela ré que obteve autorização do uso da
imagem da autora em material publicitário. 3. Dano moral
caracterizado. Agir ilícito que prescinde da demonstração de
prejuízo da parte ofendida. Dano in re ipsa. Inteligência da
Súmula 403 do e. STJ. Quantum indenizatório fixado em
R$3.000,00. À UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO
APELO. (Apelação Cível Nº 70051448082, Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias
Almeida, Julgado em 28/11/2012) (grifo meu)

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No que tange ao valor da indenização tenho por fixar em R$


3.000,00 valor já fixado em outras demandas e que foi objeto de acordo. A
quantia poderá amenizar o sofrimento e atende ao caráter pedagógico e
punitivo.
Do exposto, voto por dar provimento ao recurso para condenar
a demandada no pagamento de R$ 3.000,00. A quantia será corrigida pelo
IGPM a contra da fixação e juros à taxa legal a contar do evento.
Sem sucumbência em face do resultado do julgamento.
É como voto.

DR. RICARDO PIPPI SCHMIDT


Colegas:
Não há dúvida que o direito de imagem é um direito subjetivo
que depende de autorização do titular para sua divulgação, notadamente
quando for a imagem utilizada com fins econômicos ou comerciais.
Nesse sentido a Súmula 403 do STJ, já mencionada.
A autorização de que trata a súmula, contudo, pode ser
expressa ou tácita.
A autorização tácita está prevista no art. 111 do Código Civil,
quando prevê:
“O silêncio importa anuência, quando as
circunstâncias ou os usos o autorizarem e não for necessária a
declaração de vontade expressa”.

No caso, nas circunstâncias em que se deu a gravação,


evidente que a autorização prévia escrita não seria de rigor, já que as
filmagens se deram em ambiente aberto em que, como pano de fundo da

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gravação, apareciam muitos torcedores que, embora pudessem ser


identificáveis, não foram identificados especificamente nas filmagens.
O autor, mais do que torcedor, é conselheiro do clube e,
portanto, estava ciente de que em eventos como este, normalmente há
filmagens, como depois confirmou, pois presenciou a câmera e a
entrevistadora no local.
Ao não se opor à filmagem, que estava sendo realizada em
todos os ambientes da festa, mostrando os torcedores reunidos vibrando
com o jogo do seu time, com ela anuiu.
Sua alegação é de que não sabia que tais filmagens seriam
depois utilizadas em vídeo promocional, com fins comerciais.
Todavia, embora ausente informação no que concerne à
finalidade das filmagens e à identidade da pessoa que conduzia as
gravações e entrevistas, o fato é que não foi ele entrevistado, aparecendo e
sua imagem misturada a de outros torcedores e como tal identificado (mais
um torcedor), no contexto da ambientação do local onde o clube realizava
um evento de torcida.
De todo modo, e aqui o ponto crucial, mesmo que se
entendesse não tenha havido autorização, no caso concreto, não há que se
falar em dano passível de indenização diante da absoluta ausência de prova
concreta acerca da efetiva utilização da imagem do autor para fins
comerciais.
A par do fato de sua imagem corresponder a mero coadjuvante
(sem qualquer identificação ou destaque), mais um dos tantos torcedores
que lá se encontravam, verifica-se que inexiste nos autos prova de que
houve a utilização do trecho da gravação da sua imagem para veiculação de
um comercial da empresa requerida.

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Como bem destacado pela Relatora, não há provas quanto à


produção de vídeo comercial definitivo em que conste a imagem do autor,
nem há prova quanto à veiculação da publicidade desta propaganda nos
meios de comunicação (TV, rádio ou internet).
O só fato de constar o logotipo de um canal de TV no canto da
tela não é suficiente para extrair a conclusão de que toda aquela filmagem
do chamado “copião” foi divulgada, sabido que os vídeos sofrem edições,
notadamente em função do custo do tempo de televisão, tendo o réu, em
sua defesa, à fl. 25, dito que as gravações acostadas não foram utilizadas no
vídeo definitivo, o que afasta a alegação de que ausência de contestação,
no ponto.
Vale dizer, o autor apareceu, modo coadjuvante, como mais
um torcedor que estava no ambiente da gravação do DVD juntado aos autos
– chamado “copião”, o que não quer dizer que essa parte da gravação tenha
integrado a peça publicitária que foi ao final produzida e divulgada na
televisão, a afastar prova concreta, a cargo de quem alega, de que houve
“exposição da imagem do autor para fins comerciais”
Assim, muito mais do que a discussão em tese acerca da
extensão da proteção ao direito de imagem em si, o caso exige apreciação
probatória restrita aos fatos ocorridos, notadamente quanto à suposta
divulgação da imagem do autor para fins comerciais, o que não restou
provado.
Assim, não tendo o autor se desincumbido de tal ônus
probatório, impõe-se manter a sentença de improcedência, pelo que,
acompanho o voto da eminente Relatora.

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DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER - Presidente - Recurso Inominado nº


71006193593, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO, POR MAIORIA. VENCIDA A DRA GISELE ANNE VIEIRA DE
AZAMBUJA."

Juízo de Origem: 4.JUIZADO ESPECIAL CIVEL-F.CENTRAL PORTO


ALEGRE - Comarca de Porto Alegre

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