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A U L A 0 3 – D I R E I TO S

F U N D A M E N TA I S E
HUMANOS
15.02.2024
AULA 03
Profª Manoela Fleck
CARACTERÍSTICAS
DIREITOS
HUMANOS
• UNIVERSALIDADE E INERÊNCIA
• À sociedade internacional corresponde, portanto, o
Direito Internacional
• Arcabouço jurídico que rege a vida e as relações
internacionais
• Além dos Estados, passaram a influenciar a dinâmica
das relações internacionais vários outros atores
internacionais, como as organizações internacionais,
as ONGs, as empresas transnacionais e até mesmo os
indivíduos
• Atribuição desses direitos a todos os seres
humanos, não importando nenhuma outra
qualidade adicional, como nacionalidade, opção
política, orientação sexual, credo, entre outras.
• A universalidade possui vínculo indissociável com
UNIVERSALIDADE E
o processo de internacionalização dos direitos
humanos – a barbárie do totalitarismo nazista gerou
INEREÊNCIA
a ruptura do paradigma da proteção nacional dos
direitos humanos, graças a negação do valor do ser
humano como fonte essencial do Direito.
• Conceito de inerência dos direitos humanos:
qualidade de pertencimento desses direitos a todos
os membros da espécie humana, sem qualquer
distinção.
• Edição da Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948: marco da
universalidade e inerência dos direitos
humanos.
• Os direitos humanos não mais dependem do
reconhecimento por parte de um Estado ou
da existência do vínculo da nacionalidade,
existindo o dever internacional de proteção
aos indivíduos, confirmando-se o caráter
universal e transnacional desses direitos.
UNIVERSALIDAD
E E INEREÊNCIA

Os direitos humanos incidem nas relações privadas, o


que gera a eficácia dos direitos humanos nas relações
entre os particulares.

Os direitos humanos exigem que o Estado aja para


protegê-los, quer de condutas dos agentes públicos ou
mesmo de particulares (dimensão objetiva dos direitos
humanos).
Indivisibilidade,
interdependência e
unidade
Todos os direitos humanos possuem a mesma
proteção jurídica, uma vez que são essenciais
para uma vida digna.

Possui duas facetas: 1) implica reconhecer que o


direito protegido apresenta uma unidade
incindível em si; 2) assegura que não é possível
proteger apenas alguns dos direitos humanos
reconhecidos.
Normas internacionais que
confirmaram a
indivisibilidade e a
interdependência

• Proclamação de Direitos Humanos da 1ª


Conferência Mundial de Direitos
Humanos da ONU (Teerã, 1968).
• Declaração sobre o Direito ao
Desenvolvimento (1986).
• Declaração de Viena (aprovada na 2ª
Conferência Mundial de Direitos
Humanos da ONU, 1993).
ARTIGO 6º §2. Todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais
são indivisíveis e interdependentes;
atenção igual econsideração urgente
devem ser dadas à implementação,
promoção e proteção dos direitos
civis, políticos,econômicos, sociais e
culturais.

De c l a ra ç ã o sobre o Di re i t o a o
De se nvol vi m e nt o (1986).
•Abertura dos direitos humanos: consiste na possibilidade de expansão do rol
dos direitos necessários a uma vida digna – consolidação da não exauribilidade
A abertura dos dos direitos humanos.

direitos humanos, •A abertura pode ser: a) Internacional: fruto do aumento do rol de direitos
não exaustividade e protegidos oriundo do Direito Internacional dos Direitos Humanos;
fundamentalidade •b) Nacional: fruto do trabalho de interpretação ampliativa realizado pelo Poder
Constituinte Derivado e pelos tribunais nacionais.
Imprescritibilidade, •IMPRESCRITIBILIDADE: Implica o
reconhecimento de que os direitos
inalienabilidade, humanos não se perdem pela passagem do
indisponibilidade tempo.

•INALIENABILIDADE: Pugna pela


impossibilidade de se atribuir uma
dimensão pecuniária dos direitos humanos
para fins de venda.

•INDISPONIBILIDADE: Revela a
impossibilidade de o próprio ser humano –
titular dos direitos humanos – abrir mão de
sua condição humana e permitir a violação
desses direitos.
•Pela própria definição de direitos
Imprescritibilidade, humanos, o indivíduo não é livre para não
inalienabilidade, exercer os direitos quando há lesão à
dignidade humana – limites da liberdade de
indisponibilidade exercício dos direitos calcada na autonomia
da vontade.

•Tais características perdem utilidade em


um cenário marcado pela expansão dos
direitos humanos, já que os conflitos entre
direitos humanos fazem com que a sua
interpretação tenha que ser acionada para
estabelecer os limites entre eles, sem que
seja útil apelar à proteção da
intangibilidade conferida genericamente a
todos, pois ambos os direitos em conflito
também a terão.
•“Efeito cliquet” ou princípio do não retorno da concretização
•Consiste na vedação da eliminação da concretização já alcançada na proteção
Proibição do de algum direito, admitindo-se somente de aprimoramentos e acréscimos.
retrocesso
Entrenchment ou
entrincheiramento
Consiste na preservação do mínimo já
concretizado dos direitos fundamentais,
impedindo o retrocesso, que poderia ser realizado
pela supressão normativa ou ainda pelo
amesquinhamento ou diminuição de suas
prestações à coletividade.

Proteção contra efeitos retroativos

Este é proibido por ofensa ao ato jurídico


perfeito, à coisa julgada e ao direito adquirido.
Difere da vedação do retrocesso, que proíbe as
medidas de efeitos retrocessivos, que são aquelas
que objetivam a supressão ou diminuição da
satisfação de um dos direitos humanos.
Fundamentos da Constituição brasileira

para a proibição do retrocesso

1) Estado Democrático de Direito;


2) dignidade da pessoa humana;
3) aplicabilidade imediata das normas definidoras
de direitos fundamentais;
4) proteção da confiança e segurança jurídica (a
lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada); e
5) cláusula pétrea prevista no art. 60, § 4º, IV.
Art. 60. A Constituição poderá
ser emendada mediante
proposta:

§ 4º Não será objeto de


deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir:

IV - os direitos e garantias
individuais.
Classificação adotada
na Constituição de
1988

Direitos individuais: consistem no conjunto de


direitos cujo conteúdo impacta somente a esfera de
interesse protegido de um indivíduo.

Direitos sociais: conjunto de faculdades e posições


jurídicas pelas quais um indivíduo pode exigir
prestações do Estado ou da sociedade ou até mesmo a
abstenção de agir, tudo para assegurar condições
materiais mínimas de sobrevivência.
Classificação adotada
na Constituição de
1988

Direitos sociais: conjunto de faculdades e posições jurídicas pelas quais um indivíduo pode exigir prestações do
Estado ou da sociedade ou até mesmo a abstenção de agir, tudo para assegurar condições materiais mínimas de
sobrevivência.

Direitos de nacionalidade, sendo a nacionalidade definida como o vínculo jurídico entre determinada pessoa,
denominada nacional, e um Estado, pelo qual são estabelecidos direitos e deveres recíprocos.

Direitos políticos: constituem um conjunto de direitos de participação na formação da vontade do poder.


Classificação adotada na
Constituição de 1988

•Partidos políticos: associações de pessoas, de natureza de


direito privado no Brasil, criadas para assumir o poder e
realizar seu ideário ideológico.

•Direitos coletivos:

•Direitos difusos: direitos transindividuais de natureza


indivisível, que abrangem número indeterminado de
pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato.

•Direitos coletivos em sentido estrito: direitos


metaindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou
com a parte contrária por uma relação jurídica base.
Mínimo existencial e
a reserva do possível

•O mínimo existencial consiste no conjunto de direitos


cuja concretização é imprescindível para promover
condições adequadas de existência digna, assegurando
o direito geral de liberdade e os direitos sociais
básicos, tais como o direito à educação, o direito à
saúde, o direito à previdência e assistência social, o
direito à moradia, o direito à alimentação, entre outros.

•A reserva do possível consiste em argumento,


desenvolvido originariamente pelo Tribunal
Constitucional Federal da Alemanha, pelo qual se
reconhece a limitação de recursos estatais, a qual
impede a implementação imediata de todos os direitos
que exijam prestações positivas.
• Por isso, o indivíduo só pode ter expectativa de
implementação de direitos na medida do possível, ou
seja, o Estado não pode ser exigido a concretizar todos
os direitos que dependem de prestações materiais.
CONCEITO DE
DIGNIDADE DA
PESSOA
HUMANA
Raiz da palavra: dignus, que ressalta aquilo que possui
honra ou importância.

São Tomás de Aquino: reconhecimento da dignidade


humana, qualidade inerente a todos os seres humanos,
que nos separa dos demais seres e objetos.

O intelecto e a semelhança com Deus geram a


dignidade que é inerente ao homem, como espécie.
CONCEITO DE
DIGNIDADE DA
PESSOA
HUMANA
• Kant: a dignidade da pessoa humana consiste que
cada indivíduo é um fim em si mesmo, com
autonomia para se comportar de acordo com seu
arbítrio, nunca um meio ou instrumento para a
consecução de resultados, não possuindo preço.

Sarlet e Peres Luño: dignidade humana como a


qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano,
que o protege contra todo tratamento degradante e
discriminação odiosa, bem como assegura condições
materiais mínimas de sobrevivência.
CONCEITO DE
DIGNIDADE DA
PESSOA
HUMANA
• Nos diplomas internacionais e nacionais, a dignidade
humana é inscrita como princípio geral ou
fundamental, mas não como um direito autônomo.
Trata-se de uma categoria jurídica que, por estar na
origem de todos os direitos humanos, lhes confere
conteúdo ético.

A dignidade humana dá unidade axiológica a um


sistema jurídico, fornecendo um substrato material
para que os direitos possam florescer.
Não trata de um aspecto particular da existência, mas
de uma qualidade inerente a todo ser humano, sendo
um valor que o identifica como tal.
Art. 1º A República Federativa
do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem
como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa


humana;
OS DIREITOS E
GARANTIAS EM
ESPÉCIE
Os direitos humanos, por definição, são direitos de
todos os indivíduos, não importando origem, religião,
grupo social ou político, orientação sexual e qualquer
outro fator.

Esse é o sentido do art. 5º da CF/88, que prevê que


“todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”.
Art. 5º Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes
OS DIREITOS E
GARANTIAS EM
ESPÉCIE
E os direitos fundamentais podem ser estendidos às
pessoas jurídicas?

Desde que o direito invocado tenha pertinência


temática com a natureza da pessoa jurídica

Direito à imagem e à honra objetiva, acesso à justiça e


até mesmo assistência jurídica gratuita.

Cabe à pessoa jurídica provar e não somente alegar a


insuficiência de recursos.

.
OS DIREITOS E
GARANTIAS EM
ESPÉCIE
E os direitos fundamentais podem ser estendidos às
pessoas jurídicas?

Desde que o direito invocado tenha pertinência


temática com a natureza da pessoa jurídica

Direito à imagem e à honra objetiva, acesso à justiça e


até mesmo assistência jurídica gratuita.

Cabe à pessoa jurídica provar e não somente alegar a


insuficiência de recursos.

.
OS DIREITOS E
GARANTIAS EM
ESPÉCIE
Entes despersonalizados: podem invocar
determinados direitos pertinentes com sua situação
(por exemplo, acesso à justiça) como as sociedades de
fato, condomínio, espólio, massa falida e o nascituro.
Unidade III

01 02 03
Direitos e deveres individuais Direitos fundamentais, Incisos e parágrafos do art. 5º
e coletivos humanos e tratados da Constituição Federal
internacionais
Direito à vida

Dispõe a Constituição de 1988: Art. 5º Todos são iguais perante a lei,


sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

O direito à vida engloba diferentes facetas, que vão desde o direito de


nascer, de permanecer vivo e de defender a própria vida e,
Direito à vida

Para o Estado, a “inviolabilidade do direito à vida” resulta em três


obrigações:
(i) a obrigação de respeito;
(ii) a obrigação de garantia; e
(iii) a obrigação de tutela:

A obrigação de respeito consiste no dever dos agentes estatais em não


violar, arbitrariamente, a vida de outrem.

A obrigação de garantia consiste no dever de prevenção da violação


da vida por parte de terceiros e eventual punição para quem
arbitrariamente viola a vida de outrem.

A obrigação de tutela implica o dever do Estado de assegurar uma


vida digna, garantindo condições materiais mínimas de sobrevivência.
Direito à vida

A Constituição de 1988 não dispõe sobre o início da vida humana ou o


instante preciso em que ela começa.

A mera menção ao direito à vida implica proteção aos que ainda não
nasceram (embriões e fetos), visto que, sem tal proteção, a vida sequer
poderia existir.

A Convenção Americana de Direitos Humanos é mais detalhada,


determinando que “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o
momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida
arbitrariamente” (4.1)

O direito à vida estabelecido na Constituição e nos tratados exige que


o Estado proteja, por lei, os embriões ainda não implantados no útero
(gerados in vitro) e a vida intrauterina.
Direito à vida
Da mesma maneira que o início da vida,

O término da vida não possui previsão constitucional.

Coube ao Código Civil estabelecer, sucintamente, que a existência da


pessoa natural termina com a morte (art. 6º).

A Lei n. 9.434/97 (Lei dos Transplantes) optou pelo critério da “morte


encefálica” para que seja atestado o término das funções vitais do
organismo humano e, com isso, autorizada a retirada post mortem de
tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante
ou tratamento (art. 3º).

E a ortotanásia ?
Direito à vida
Da mesma maneira que o início da vida,

O término da vida não possui previsão constitucional.

Coube ao Código Civil estabelecer, sucintamente, que a existência da


pessoa natural termina com a morte (art. 6º).

A Lei n. 9.434/97 (Lei dos Transplantes) optou pelo critério da “morte


encefálica” para que seja atestado o término das funções vitais do
organismo humano e, com isso, autorizada a retirada post mortem de
tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante
ou tratamento (art. 3º).

E a ortotanásia ?
Pena de morte

A pena de morte é expressamente vedada pela Constituição de 1988,


salvo em caso de guerra declarada (“art. 5º, XLVII – não haverá
penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada”).

A pena de morte no Brasil é executada por fuzilamento (art. 56 do


CPM).

Caso a pena seja imposta em zona de operações de guerra, pode ser


imediatamente executada, quando o exigir o interesse da ordem e da
disciplina militares (art. 57).

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