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NÍCOLAS MORAIS FERREIRA – 2019

DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROF. MARIA LUCIA BARBOSA

DIREITOS FUNDAMENTAIS
▪ Conjunto de direitos considerados indispensáveis para a vida humana
• DF – Âmbito constitucional com força vinculante.
• DH – Matriz internacional, soft law.
▪ São resultado de uma maturação histórica.
▪ A Constituição Federal foi a primeira a usar as expressões Direitos e Garantias
Fundamentais de forma a abranger as diversas espécies de direitos: individuais,
coletivos, sociais, de nacionalidade e os direitos políticos.
▪ Expressões como “direitos individuais”, “direitos do homem” e principalmente “direitos
humanos” seguem sendo usadas, porém tratam de categorias em geral mais limitadas
do que o complexo representado pelos direitos fundamentais
• Direitos Fundamentais – Aqueles reconhecidos e positivados na esfera do
direito constitucional positivo de determinado Estado.
• Direitos Humanos – Guarda relação com os documentos de direito
internacional, referindo-se às posições jurídicas que se reconhecem ao
homem, independentemente de sua vinculação com uma ordem
constitucional, o que revela um caráter supranacional.
▪ Dessa forma, a doutrina vem alertando sobre a confusão que uma falta de consenso
pode gerar na esfera conceitual, o que reforça a necessidade de se adotar uma
terminologia única, no caso, a de direitos fundamentais.
▪ Reconhecer a diferença dos termos, contudo, não anula a íntima relação existente
entre os dois, uma vez que a grande maioria das constituições se inspiraram que
diversos documentos internacionais no período pós-guerra. (Aproximação dos
conteúdos das declarações internacionais e dos textos constitucionais.)
▪ O apagamento das fronteiras nacionais vem culminando na necessidade de
agregamento internacional (Internacionalização dos DH como algo universal).

PERSPECTIVA HISTÓRICO-EVOLUTIVA
▪ A história dos direitos fundamentais é também a história que desemboca no
surgimento do moderno Estado Constitucional, o qual se sustenta no reconhecimento
e na proteção da dignidade da pessoa humana e nos direitos fundamentais do homem.
▪ Buscando sintetizar a trajetória dos direitos fundamentais, Klaus Stern identifica três
etapas:
• Uma pré-história, que se estende até o século XVIII
• Uma fase intermediária, que corresponde ao período de elaboração da
doutrina jusnaturalista e da afirmação dos direitos naturais do homem
• A fase da constitucionalização, iniciada em 1776, com as sucessivas
declarações de direitos dos novos Estados americanos.
▪ É na Inglaterra, durante o século XII, que encontramos o principal documento referido
pelos estudiosos da área: A Magna Charta Libertatum, firmada em 1215 pelo Rei João
Sem-Terra e pelos bispos e barões ingleses.
▪ Também de suma importância para a evolução que conduziu ao nascimento dos
direitos fundamentais foi a Reforma Protestante, a qual reivindicou o reconhecimento
da liberdade religiosa e de culto.
▪ As revoluções inglesas do século XVII significaram a evolução das liberdades e
privilégios estamentais medievais e corporativos para liberdades genéricas no plano
do direito público, ampliando as liberdades reconhecidas.
▪ A paternidade dos direitos fundamentais é disputada entre a Declaração de Direitos do
Povo da Virgínia (1776) e a Declaração Francesa (1789).
▪ Foram os direitos consagrados nas primeiras emendas da Constituição norte-
americana que marcaram a transição para os direitos fundamentais constitucionais.

GERAÇÕES/DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ Os direitos fundamentais passaram por diversas transformações, tanto no que diz
com seu conteúdo, quanto no que concerna à sua titularidade, eficácia e efetivação.
▪ Karel Vasak difundiu a ideia de que a evolução dos direitos (humanos e fundamentais)
poderia ser compreendida por meio de três gerações de direitos. (Havendo na
atualidade quem defende até mesmo uma sexta geração)
▪ A teoria dimensional dos direitos fundamentais não aponta, tão somente, para o
caráter cumulativo do processo evolutivo e para a natureza complementar de todos
os D.F, mas afirma sua unidade e indivisibilidade no contexto do D.C interno e na esfera
do moderno direito internacional dos direitos humanos.
▪ A evolução do reconhecimento jurídico-positivo dos direitos humanos e fundamentais
não se revela uniforme. Ex: Segue havendo constituições que não contemplam uma
série de direitos fundamentais.
• 1ª Dimensão
o Autonomia pessoal, obrigações de não fazer estatal
o Produto peculiar do pensamento liberal-burguês do século XVIII,
marcado por um cunho individualista.
o Direito de cunho “negativo”, uma vez dirigidos a uma abstenção por
parte dos poderes públicos.
o “Direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.”
• 2ª Dimensão
o Direitos Sociais
o Impacto da industrialização e os graves problemas sociais e
econômicos que acompanharam tal fenômeno.
o Dimensão “positiva”, uma vez que se importa em propiciar um direito
de participar do bem-estar social.
o Assegurar ao indivíduo direitos a prestações sociais, tais como
assistência social, saúde e educação.
o “Liberdade socias”, como o direito de sindicalização, repouso semanal
e garantia de um salário mínimo.
• 3ª Dimensão
o Pós-Segunda Guerra Mundial
o Direitos transindividuais ou metaindividuais
o Direitos de fraternidade ou solidariedade, uma vez que se desprendem
da figura do homem-indivíduo como seu titular, destinando-se à
proteção de grupos humanos.
o Direitos à paz, a autodeterminação dos povos, ao meio ambiente e
qualidade de vida.
• 4ª Dimensão (Bonavides)
o Globalização dos direitos fundamentais.
o Corresponde à democracia direta, à informação e ao direito ao
pluralismo.
▪ A divisibilidade dos direitos em dimensões ou gerações apresenta a virtude de
viabilizar a compreensão de que a trajetória evolutiva dos direitos humanos e
fundamentais é dinâmico e dialético.
▪ Críticas:
• A divisão em dimensões não consegue explicar de maneira satisfatória toda a
complexidade do processo de formação histórica e social dos direitos. (Paulo
de T. Brandão)
• Álvaro Ricardo de Souza Cruz defende que as dimensões não passariam de
uma forma acadêmica de facilitar a reconstrução histórica pela concretização
dos direitos fundamentais.

CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ Universalidade
• Pretensão de abranger todos os indivíduos.
• O relativismo cultural não pode servir como argumento para questionar
direitos fundamentais básicos.
▪ Relatividade
• Os direitos fundamentais são relacionais.
▪ Indisponibilidade, Imprescritibilidade, Inalienabilidade e Irrenunciabilidade
• O cidadão não pode abrir mão de seus direitos fundamentais
▪ Dimensão Objetiva e Subjetiva
• D. Subj. estão incorporados no patrimônio jurídico.
• D, Obj. estão nas normas positivadas.
▪ Eficácia erga omnes (vertical e horizontal)
• Os direitos fundamentais são direitos oponíveis ao próprio estado. (verticais)
PESSOA - ESTADO
• Os direitos fundamentais são oponíveis aos próprios indivíduos. (horizontais)
PESSOA - PESSOA
▪ Aplicabilidade Imediata
• Entram em vigor a partir do seu momento de publicação (Art. 5° § 1°).
• O mandato de injunção é um remédio constitucional com função de buscar a
aplicabilidade em caso de ausência da norma regulamentadora, pode ser
exercido por qualquer cidadão. (controle difuso de constitucionalidade)
• A ação direta de inconstitucionalidade por omissão deve ser proposta por um
poder competente, e se trata de um controle difuso de constitucionalidade.
▪ Atipicidade (abertura do sistema ou não exaustividade)
• Se adaptam a mudanças sociais.
▪ Centralidade e constitucionalização
• No pós-guerra, vemos, nas constituições, uma centralidade na busca pela
dignidade humana.
• A dignidade humana é o foco da constituição.

TEORIA DOS 4 STATUS DE JELLINEK


▪ Status Passivo: Indivíduo detentor de deveres.
▪ Status Negativo: Indivíduo goza de um espeço de liberdade perante os poderes
públicos.
▪ Status Positivo: Indivíduo tem direito de exigir que o Estado atue positivamente.
▪ Status Ativo: Indivíduo possui competência para influenciar na formação da vontade
do Estado (direitos públicos).

DIREITOS FUNDAMENTAIS NO SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO


▪ O que qualifica um direito como fundamental, é precisamente a circunstância de que
esta fundamentalidade é simultaneamente formal e material.
▪ A fundamentalidade formal se encontra ligada ao direito constitucional positivo, no
sentido de um regime jurídico definido a partir da própria constituição, sendo
composto pelos seguintes elementos:
a) Os direitos fundamentais situam-se no ápice de todo o ordenamento jurídico
b) Na qualidade de normas constitucionais, encontram-se submetidos a limites
formais (procedimento agravado) e materiais (cláusulas pétreas)
c) As normas de direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e vinculam de
forma imediata as entidades públicas.
▪ A fundamentalidade material, por sua vez, implica análise do conteúdo dos direitos,
isto é, da circunstância de conterem, ou não, decisões fundamentais sobre a estrutura
do Estado e da sociedade.
▪ Nessa perspectiva, é preciso ressalvar que determinado direito é fundamental não
apenas pela relevância do bem jurídico tutelado em si mesmo, mas especialmente
pela relevância daquele bem jurídico na perspectiva das opções do constituinte.
▪ Direitos fundamentais seriam, portanto, todas as posições jurídicas concernentes
às pessoas, que foram expressamente integradas à constituição, bem como todas
as posições jurídicas que possam lhes ser equiparadas.
▪ Os direitos fundamentais dispersos na constituição são alvos de bastantes
discussões na questão se compartilham do regime jurídico pleno dos direitos
fundamentais
• Seria possível recorrer a um critério geral, segundo o qual os direitos fora do
catálogo somente serão equiparados aos integrantes do rol do título II. Os
critérios seriam: substância e relevância.
• Nessa identificação, deve se analisar o critério da importância, se atentando
para os parâmetros retirados da própria CF.

DIREITOS SEDIADOS NOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS


▪ Nossa Constituição alanca a abertura do sistema no art. 5°, § 2°, mencionando apenas
os tratados internacionais:
• § 2º- Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
▪ As convenções assinadas em tratados necessitam de aprovação com quórum de 3/5
em 2 turnos para serem ratificadas no país.
▪ As grandes discussões acerca de tal assunto são sobre a forma pela qual acontece a
incorporação de tratadas, e a força normativa dos tratados de direitos humanos no
Brasil.
▪ Quanto à forma de ingresso dos tratados, é necessário apontar a inexistência de
preceito expresso na Constituição.
• Normalmente tem sido adotada a necessidade de procedimento formal de
incorporação, o qual resulta da interação entre o Executivo e o Legislativo, os
quais possuem atribuição de aprovar o tratado conforme os arts. 84, VIII, e 49,
I, acrescidos, por força de emenda constitucional, do art. 5, § 3.
▪ Assim sendo, uma vez ratificados, os tratados operam como fonte de direitos
fundamentais na ordem interna brasileira.
▪ Status dos Tratados de Direitos Humanos na Constituição:
• Primeiro momento - os tratados tinham a mesma força que uma lei federal
• O STF mudou sua posição no julgamento do REX em que se passou a não adotar
a prisão do depositário infiel, ainda que pretendida na CF, aplicando o Pacto
San Jose da Costa Rica
• O STF adotou a tese do Min. Gilmar Mendes, em que os tratados de DH
incorporados na à ordem jurídica teriam o status de norma supralegal (entre
lei ordinária e a Constituição Federa)
• Em 09/07/2008, a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência
passou a ser a primeira norma internacional equivalente à emenda
constitucional, uma vez que, para sua incorporação, o Congresso seguiu os
trâmites do processo legislativo de emendas (Norma Constitucional foram da
Constituição).
▪ Logo, os tratados incorporados antes da inserção do § 3.º no art. 5.º da CF possuem
hierarquia supralegal, prevalecendo, portanto, sobre toda e qualquer norma
infraconstitucional interna, mas cedendo em face da CF. Por sua vez, os tratados
aprovados pelo Congresso Nacional na forma do art. 5.º, § 3.º, da CF possuem
hierarquia e força normativa equivalentes às emendas constitucionais.

DIMENSÃO SUBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ Seja em sentido mais amplo, seja em sentido mais estrito, a noção de uma perspectiva
subjetiva dos direitos fundamentais abrange a possiblidade do titular fazer valer
judicialmente os seus poderes outorgados pela norma constitucional.
▪ Segundo J.J. Gomes Canotilho, os direitos fundamentais são, em primeira linha,
direitos individuais, o que resulta de serem protegidos sob a forma de direito subjetivo.

DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ No âmbito da teoria constitucional, vem sendo defendido que a função dos direitos
fundamentais não se limita a serem direitos subjetivos.
▪ Os D.F também passaram a apresentar-se como um conjunto de valores objetivos
básicos e fins diretivos da ação positiva dos poderes públicos.
▪ A dimensão objetiva, por tanto, significa que às normas que preveem direitos
subjetivos é outorgada função autônoma, transcendendo a perspectiva subjetiva.
▪ Esta está vinculada ao reconhecimento que de que os direitos fundamentais implicam
deveres de proteção por parte do Estado.
▪ Todas as funções dos D.F guardam entre si direta conexão, se complementando
reciprocamente.

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


▪ Direitos: bens e vantagens presentes na norma constitucional, são dotados de
conteúdo declaratório, portanto, são normas que declaram a existência de um
interesse, de uma vantagem. Ex: direito à vida; à propriedade.
▪ Garantias: instrumentos que asseguram o exercício dos devidos direitos ou
prontamente os reparam, caso violados, dessa forma, investem o seu titular de
uma posição subjetiva no sentido de invocar a garantia em seu favor. Ex: habeas
corpus.

▪ Titular do direito: é o sujeito do direito, quem se figura como sujeito ativo da relação do
direito subjetivo
▪ Destinatário do direito: é a pessoa em face da qual o titular pode exigir o respeito, a
proteção ou a promoção do seu direito.
• São pessoas físicas ou jurídicas (de direito público ou privado), que estão
vinculadas pelas normais de direitos fundamentais.
• Inexiste ato de entidade púbica que seja livre dos direitos fundamentais.
• Além dos órgãos estatais, os particulares também estão sujeitos à força
vinculante dos direitos fundamentais.
• Na CF, o texto constitucional nada dispôs sobre os destinatários dos direitos
fundamentais, porém a doutrina e a jurisprudência nunca questionaram tal
vínculo.
▪ A determinação da titularidade dos direitos fundamentais não pode correr de modo
prévio para os direitos fundamentais em geral, mas reclama identificação
individualizada, à luz de cada norma de direito fundamental.
▪ A CF não contem cláusula expressa assegurando DF às pessoas jurídicas, porém isso
não impediu a doutrina e jurisprudência de reconhecerem tal possibilidade.
▪ As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata
(art. 5°, §1)
• As normas constitucionais são dotadas de todos os meios e elementos
necessários a sua pronta incidência.

REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
▪ São espécies do gênero garantias.
▪ A proteção do direito nem sempre estará nas regras definidas constitucionalismo
como remédios, em alguns casos pode estar na norma definidora do direito.
▪ Servem como instrumentos à disposição das pessoas para reclamarem, em juízo, uma
proteção a seus direitos, motivo pelo qual são também conhecidos como ações
constitucionais;
1) Habeas Corpus:
• “Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder” (art. 5.º, LXVIII)
• O habeas corpus se baseia na garantia da liberdade individual diante do poder
estatal, sendo anteparo de fundamental importância à pessoa diante do
Estado.
• É uma ação, não um recurso, que tem por função prevenir ou reprimir prisões
ilegais.
• Pode ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem
como pelo Ministério Público, sendo o seu titular aquele que está na iminência
de sofrer ou está sofrendo coação ilegal de sua liberdade.
2) Mandado de Segurança:
• “Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público” (art. 5°, LXIX)
• Trata-se de ação que visa a tutela do direito contra o ilícito, causador ou não
de dano, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública.
• Protege tanto direitos individuais quanto direitos coletivos.
• O que se postula pelo mandado de segurança é a concessão de ordem contra a
autoridade coatora a fim de encerrar o comportamento lesionante.
• Não cabe mandado de segurança para decisão judicial com trânsito em
julgado.
• São titulares todas as pessoas físicas ou jurídicas, pouco importante se
nacionais ou estrangeiras.
3) Mandado de Injunção:
• “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania” (art. 5°, LXXI)
• Trata-se de instrumento que, juntamente à ADI por omissão, visa tutelar a
pessoa diante das omissões inconstitucionais do Estado.
• Segundo Pedro Lenza “o mandado de injunção surge para “curar” uma
“doença” denominada síndrome de inefetividade das normas constitucionais”.
o Ex: Direito de greve do funcionário público, uma vez que não existe
norma reguladora desta.
4) Habeas Data:
• “conceder-se-á habeas data: (art. 5°, LXXII)
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo;”
• O habeas data surge como forma de proteção do direito à informação pessoal
e eventuais providências correlatas.
• Trata de ação que visa determinar a liberação de informação, ratificação de
dados ou a complementação de informações.
• Pode ser impetrado por pessoa física ou jurídica, seja nacional ou estrangeiro,
para tutela do direito à informação que lhe diga respeito de forma direta.
2) Ação Popular:
• “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e
do ônus da sucumbência” (art. 5°, LXXIII)
• Confere ao cidadão a possibilidade de ajuizar uma ação face ao poder pública
na defesa dos itens anteriormente mencionados, sem atribuir custos ao
cidadão.
• A doutrina costuma afirmar o fato da ação popular ter como pressuposto a
afirmação de ato lesivo por parte do demandante, sendo a lesividade elemento
essencial da causa petendi.
• A ação popular pode ser proposta por qualquer cidadão, necessitando titulo
eleitoral ou documento correspondente, não admitindo propositura por
pessoa jurídica. O MP também não pode propor ação popular.

ABRANGÊNCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (SUJEITOS)


▪ Assim como mencionado acima, a determinação da titularidade dos direitos
fundamentais não pode correr de modo prévio para os direitos fundamentais.
▪ A CF atribui titularidade dos direitos e garantias fundamentais aos brasileiros e
estrangeiros residentes no país (art. 5°, caput).
▪ O STF vem ampliando a titularidade mediante interpretação para estrangeiro não
residentes, apátridas e pessoa jurídica.
▪ O direito constitucional positivo brasileiro adotou o princípio da universalidade.
• Embora vinculado ao princípio da igualdade, não se confundem.
• De acordo com a universalidade, todas as pessoas, por serem pessoas, são
titulares de direitos e deveres fundamentais, o que não quer dizer que não
possa haver diferenças a serem consideradas. Ex: brasileiro nato e
naturalizado.
• A universalidade será alargada ou restringida de acordo com a postura do
legislador constituinte, mas sempre respeitando o núcleo essencial dos DF.
• Ainda, é importante frisar que o principio da universalidade não é incompatível
com o fato de que nem mesmo brasileiros e estrangeiros residentes são
titulares de todos os direitos sem qualquer restrição.
• Alguns são atribuídos apenas a determinadas categorias de pessoas. (Ex:
direitos dos cônjuges, dos pais, dos filhos, dos trabalhadores, etc.)
▪ O texto constitucional exige que algumas distinções entre nacionais e estrangeiros
devam ser observadas.
▪ A nacionalidade é vínculo político e pessoa que se estabelece entre o Estado e o
indivíduo, fazendo com que este integre uma dada comunidade política, fazendo com
que o Estado distinga o nacional do estrangeiro para diversos fins.
▪ No art. 5°, caput, a CF tem por brasileiros: todas as pessoas que possuem nacionalidade
brasileira, independente da forma de aquisição (natos ou naturalizados), ressalvadas
algumas exceções reservadas aos brasileiros natos, Ex: certos direitos políticos, como
ocupação de cargos de Presidente, Vice-Presidente, Ministro do STF, etc.

TITULARIDADE POR ESTRANGEIROS (RESIDENTE X NÃO RESIDENTE)


▪ A Constituição de 1988 estabelece distinção entre estrangeiros residentes e não
residentes, podendo ser interpretada de modo mais ou menos restritivo, sempre
guiada pelo princípio da dignidade humana.
▪ Estrangeiros residentes: são considerados todos que, não sendo brasileiros natos ou
naturalizados, se encontram no país, guardando algum vínculo com certa duração.
• Ex: estrangeiro que trabalho no Brasil, resida com familiares ou que possui
visto de duração superior à de turista, etc.
▪ Em questão de qualquer estrangeiro, ainda não residente, há que invocar o principio
da universalidade, que está fortemente ancorado no princípio da dignidade da pessoa
humana, implicando na presunção que a titularidade de um direito fundamental é
atribuída a todos.
▪ São pelo menos 3 critérios para determinação de quais D.F podem ter sua titularidade
atribuída mesma aos estrangeiros não residentes:
1) Por força do princípio da universalidade, combinado com o principio da
dignidade da pessoa humana, a fim de garantir direitos de todos, brasileiros e
estrangeiros, residentes ou não.
2) A própria C.F enuncia casos de alargamento da titularidade, apontando
exceção para o estabelecido no art. 5°, caput, ainda mais quando esse critério
for complemente à universalidade e dignidade da pessoa humana. Ex:
“ninguém será submetido a tortura”.
3) Recorrendo-se à noção de abertura material do catálogo de direitos
fundamentais consagrada no art. 5°, §2, o qual menciona os direitos previstos
nos tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte.

APLICABILIDADE IMEDIATA DAS NORMAS DE DIREITOS E GARANTIAS


FUNDAMENTAIS
▪ Como previamente mencionada, tal disposição está garantida no art. 5°, §1,
fortalecendo a força jurídica privilegiada das normas de direitos fundamentais.
▪ Tal dispositivo nunca foi previsto nas Constituições brasileiras anteriores, sendo uma
inovação da CF de 1988.
▪ O mandamento da imediata aplicabilidade alcança todas as normas de direitos
fundamentais, independentemente de sua localização no texto.
▪ A afirmação de que todas as normas de direitos e garantias fundamentais possuem
direta aplicabilidade não corresponde que a eficácia jurídica seja idêntica.
▪ A aplicabilidade direta afasta, em geral, a necessidade de uma interposição
legislativa.
▪ Dessa forma, por terem direta aplicabilidade, as normas de direitos fundamentais têm
a seu favor a presunção de serem sempre de eficácia plena (não serem
completamente dependentes de uma prévia regulamentação legal para gerarem
efeitos)
▪ Porém, de acordo com a jurisprudência do STF, verifica-se que este assume a
premissa de que a aplicabilidade direta das normas de DF é incompatível com a “mera
programaticidade”, necessitando de extração das suas consequências no que tange
sua eficácia e efetividade.
• Ex: o caso do direito de greve dos servidores públicos, por exemplo, ilustra
essa situação em não há previsão legislativa na garantia de tal direito.
▪ Diretrizes essenciais do art. 5°, §1:
a) É possível extrair tanto um dever de maximização da eficácia e da efetividade
das normas, quanto regra impositiva da aplicação imediata das normas.
b) Exclusão do caráter meramente programático das normas de direitos
fundamentais, não podem ser reduzidas a normas não autoaplicáveis.
c) Enfatiza-se que a ausência de lei não poderá, em regra, operar como elemento
impeditivo da aplicação da norma de direito fundamental.
d) A eficácia jurídica das normas de DF está diretamente conectada com a
necessária vinculação de todos os órgãos estatais aos próprios DF.

EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ Eficácia horizontal - Privada ou externa
▪ Eficácia vertical - Estado x Particular
▪ Eficácia indireta ou mediata:
• Dimensão proibitiva voltada ao legislador que não poderá promover
retrocesso de DF e dimensão positiva que impõe ao legislador o dever de
implementar direitos, ponderando os que devem ser aplicados às relações
privadas.
▪ Eficácia imediata:
• Alguns direitos podem ser aplicados às relações privadas sem que hajam
intermediação legislativa para sua concretização.
▪ Eficácia irradiante dos DF:
• Consequência de uma dimensão objetiva, os DF têm eficácia irradiante
(Sarmento), para o legislativo elaborar a lei, para a administração ao governar
e ao Judiciário para solucionar conflitos.

LIMITES E RESTRIÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS


▪ A prática constitucional atual apresenta características comuns dotadas de
importância especial para a realização dos direitos fundamentais, se destacando 3:
âmbito de proteção, limites e limites aos limites dos direitos fundamentais.
▪ Âmbito de proteção:
• Abrange os diferentes pressupostos fáticos instituídos pela respectiva norma
jurídica, ou seja, o bem jurídico protegido.
• Considerando que nenhuma ordem jurídica é capaz de proteger os DF de forma
ilimitada, a ideia de que os DF não são absolutos tem sido amplamente aceita
na contemporaneidade.
• A “teoria interna” diz que um direito fundamental existe desde sempre com seu
conteúdo determinado, ou seja, esse direito já nasce com seus limites. Dessa
forma, o processo de definição dos limites seria algo interno a ele.
• A “teoria externa”, por sua vez, distingue os direitos fundamentais das
restrições a eles impostas, urgindo a necessidade de identificação dos
contornos de cada direito.
• Tal distinção, contudo, não afasta a possibilidade de direitos sem restrições, já
que não é necessária a relação entre direito e restrição.
• Exemplo de restrição: o direito fundamental à inviolabilidade de
correspondência, previsto no art. 5.º, XII, da CF/1988. O STF considerou a
interceptação de cartas de presidiários pela administração penitenciária
medida excepcional, enquadrando-a como restrição aos direitos
fundamentais dos presos.
▪ Os limites dos direitos fundamentais:
• A identificação dos limites dos DF é condição para que se possa controlar o seu
desenvolvimento normativo.
• Os limites podem ser definidos como ações ou omissões dos poderes públicas
ou de particulares que dificultem, reduzam ou eliminem o acesso ao bem
jurídico protegido.
• Os direitos fundamentais podem ser restringidos tanto por (1) expressa
disposição constitucional como por (2) norma legal promulgada com
fundamento na Constituição (há quem inclua também por (3) força de colisão
entre direitos)
• Qualquer das três espécies referias exige, diretamente ou indiretamente, um
fundamento constitucional.
▪ Limites aos limites dos direitos fundamentais:
• Nesse aspecto, é importante ressaltar que as limitações aos direitos
fundamentais somente serão tidas como justificadas se forem compatíveis
com a Constituição.
• O controle da constitucionalidade (formal e materialmente) implica, no plano
formal, a investigação da competência, procedimento e da forma adotada
pelas autoridades estatais.
• Os limites aos limites funcionam, portanto, como verdadeiras barreiras à
restringibilidade destes direitos, garantindo a eficácia dos direitos
fundamentais nas suas múltiplas dimensões e funções.
▪ Proporcionalidade e razoabilidade como limites dos limites
• O princípio da proporcionalidade, que constitui um dos pilares do Estado
Democrática de Direito brasileira, se apresenta como instrumento metódico
de controle dos atos dos poderes públicos, sem prejuízo de sua eventual
aplicação aos sujeitos privados.
• Tal principio pode atuar como critério de controle de constitucionalidade das
medidas restritivas, sendo um dos principais limites às limitações dos DF.
• Por outro lado, o Estado pode frustrar seus deveres de proteção atuando de
modo insuficiente, ou seja, ficando abaixo dos níveis mínimos de proteção
constitucionalmente exigidos.
• O princípio da proporcionalidade costuma ser desdobrado em 3 elementos:
a) Adequação ou conformidade, no sentido de um controle da viabilidade
b) Necessidade ou exigibilidade, a opção pelo meio restritivo menos
gravoso.
c) Proporcionalidade em sentido estrito entre os meios utilizados e os
fins pretendidos (razoabilidade ou justa medida)
• A aferição da proporcionalidade de uma medida restritiva há de partir do
pressuposto de que a compreensão de um direito encontra sua razão na tutela
de outro bem jurídico, a restrição deve ter finalidade legítima.
• A aplicação da proporcionalidade como proibição de proteção insuficiente, se
divide em uma análise trifásica:
a) Exame da adequação ou idoneidade, afim de assegurar uma proteção
eficaz do bem protegido.
b) Averiguar se existe uma concepção de proteção(segurança) mais
eficaz, sem intervir de modo mais rigoroso em bens fundamentais de
terceiros ou interesses da coletividade.
c) Investigar se o impacto das ameaças e riscos remanescentes após a
efetivação das medidas de proteção é de ser tolerado em face de uma
ponderação, a qual visa preservar outros direitos e bens
fundamentais.
• A razoabilidade também identificada com a proporcionalidade em sentido
estrito, uma vez proposta a comparação entre a importância da realização do
fim e a intensidade da restrição aos direitos fundamentais.
• A razoabilidade também não necessita do procedimento trifásico
anteriormente mencionado.

DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

DIREITO À VIDA
▪ Na CF de 1988, o direito à vida foi expressamente contemplado no caput do art. 5°.
▪ Também é importante mencionar a proteção da vida por meio da proibição da pena de
morte, salvo em caso de guerra declarada (art. 5°, XLVII, a)
• A proibição da pena de morte, contudo, não implica que o direito à vida tenha
um caráter absoluto nem impede que a vida de alguém seja tomada sem
sanção jurídica (ex: legítima defesa)
▪ O conceito de vida, para efeitos da proteção jusfundamental, é aquele de existência
física, cuidando de critério meramente biológico.
▪ Consiste no direito de todos os seres humanos de viverem, abarcando a existência
corporal no sentido da existência biológica e fisiológica do ser humano.
▪ O direito à vida digna: proíbe tratamento indigno, degradante, desumano, tortura,
penas de caráter perpetuo, trabalhos forçados e cruéis. Surge da ligação entre o
direito a vida e a dignidade da pessoa humana.
▪ Todavia, é importante ressaltar que direito à vida e dignidade humana não se
confundem, uma vez sendo direitos autônomos e diferentes, a fim de evitar os ricos de
uma “biologização” da dignidade.
▪ Outro direito o qual este possui forte conexão é o direito à integridade física, o qual
protege a integridade corporal e psíquica.
▪ O direito à saúde, embora também apresente forte conexão com o tópico atual, com
este não pode ser confundido.
▪ No contexto da proteção ambiental, o direito à vida também impõe medidas de
proteção contra a degradação do meio ambiente.
▪ Sua titularidade é a mais ampla possível, sendo assegurada a qualquer pessoa
natural, não sendo apenas reservada aos brasileiros e estrangeiros residentes.
▪ Questão sobre fetos:
• De acordo com o STF (ADIn 3.510), não haveria titularidade de um direito à vida
antes do nascimento com vida.
• Por outro lado, é também possível compreender da decisão referida que a
proteção da vida intrauterina, se da por extensão do âmbito subjetivo de
proteção da dignidade humana.
• Dessa forma, verifica-se que o reconhecimento de tal titularidade antes do
nascimento segue sujeito de controvérsia.
▪ Obrigações estatais derivadas do dever de proteção da vida abrangem:
a) Dever de proteção da vida por meio de medidas positivas
b) Dever de amparo financeiro
c) Estabelecimento de normas de direito organizacional e processual
d) Deveres de criminalização e responsabilidade civil e administrativa
e) Proibições e sanções estatais direcionadas aos particulares
▪ Discussão sobre a interrupção da gravidez:
• Questão que polariza as opiniões na esfera doutrinária, legislativa e
jurisprudencial.
• No Brasil, para efeitos da legislação infraconstitucional, a prática voluntária
do aborto, salvo nos casos de risco para a vida da mãe ou vítima de delito
sexual, permanece sendo crime.

DIREITO DE IGUALDADE
▪ Igualdade e justiça são noções que guardam uma conexão íntima.
▪ No direito constitucional contemporâneo, a igualdade passou a constituir valor
central, representando a pedra angular do constitucionalismo moderno.
▪ O principio da igualdade, dessa forma, se apresenta como um dos princípios
estruturantes das dimensões liberais, democráticas e sociais projetadas pela
Constituição de 1988.
▪ Art. I, Declaração Universal dos Direitos Humanos:
• “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.”
▪ Importante notar que o princípio da igualdade e o direito de igualdade sofreram
significativa mutação quanto ao seu significado e alcance, especialmente acerca da
transição de uma concepção estritamente formal para uma noção material.
▪ Na perspectiva mencionada no tópico anterior, cabe identificar 3 fases que
representam a mudança quanto ao entendimento do princípio da igualdade:
a) Igualdade compreendida como igualdade de todos perante a lei.
b) Igualdade compreendida como proibição de discriminação de qualquer
natureza.
c) Igualdade como igualdade da própria lei, portanto, uma igualdade “na” lei.
▪ Da igualdade formal à igualdade material:
• Na sua primeira fase, o principio da igualdade se referenciava à noção de que
todos os homens são iguais, sendo, portanto, compreendida como absoluta em
termos jurídicos
• A igualdade formal, portanto, exige que todos que se encontrem numa mesma
situação recebem idêntico tratamento (igualdade na aplicação da lei).
• A atribuição de um sentimento material à igualdade, o qual não deixa de ser
uma igualdade de todos perante a lei, foi uma reação à ideia de que a igualdade
forma não afastava, por si só, situações de injustiça.
• Dessa forma, a igualdade perante a lei e na aplicação da lei se migrou para
uma igualdade também “na lei”. Portanto, na segunda fase, a igualdade opera
como exigência de critérios razoáveis e justos para determinados
tratamentos desiguais.
• Além disso, igualdade em sentido material também significa proibição de
tratamento arbitrário, ou seja, vedação de critérios injustos e violadores da
dignidade da pessoa humana.
• Por sua vez, a terceira fase se caracteriza pela evolução do princípio no âmbito
do constitucionalismo moderno, passando a se chamar de uma igualdade
social ou de fato.
▪ A Constituição de 1988 não limitou a enunciar a igualdade apenas no art. 5°, caput, mas
estabeleceu, ao logo do texto, uma série de disposições sobre o tratamento igualitário
e a proibição da discriminação.
• Ex: igualdade entre homens e mulheres, proibição de diferença de salários,
igualdade de direitos entre o trabalhador permanente e avulso, etc.
▪ Dimensão objetiva: a igualdade constitui valor estruturante do Estado Constitucional
na condição de Estado Democrático e Social.
▪ Dimensão subjetiva: opera como fundamento de posições individuais e mesmo
coletivas que tem por objeto a proibição de tratamentos em desacordo com as
exigências da igualdade, assim como funciona de fundamento de direitos derivados a
prestações.

PROIBIÇÃO DA TORTURA
▪ Elencada no art. 5°, III, e também na Lei de tortura (9455/97)
• III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
• (Lei da Tortura) Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
▪ Mesmo que não houvesse dispositivo na Constituição Federal especificamente sobre
tortura, tal proibição poderia ser diretamente deduzida do princípio da dignidade da
pessoa humana e sua integridade corporal, psíquica e moral.
▪ Nesse âmbito estamos diante de regras e não de princípios, implicando delegar o que
viola ou não viola a dignidade humana.
▪ Não é admitido o recuso de ponderação de bens e uso da proporcionalidade no conflito
entre a proibição da tortura e de tratamentos desumanos e degradantes, afinal, esta
assume caráter absoluto.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
▪ Estabelecido no art. 5°, II, da Constituição Federal de 1988.
▪ Exigência de que a administração pública apenas poderá intervir em algum caso
concreto se tiver sido autorizada por lei, ou pelo menos com base nesta (legalidade
estrita)
▪ No âmbito dos particulares, por sua vez, o principio se baseia na permissividade das
condutas não proibidas por força da lei (autonomia da vontade)
▪ O princípio da legalidade constitui, portanto, uma garantia (fundamental)
constitucional da liberdade.

DIREITOS DE LIBERDADE
▪ Na Constituição de 1988, é possível afirmar a existência de um elenco de direitos
fundamentais específicos (liberdade de expressão, de reunião e manifestação, etc.),
mas também de um direito geral de liberdade.
▪ O constituinte brasileiro desenvolveu um catálogo minucioso de liberdades, ao
contrário de constituições como a alemã e a portuguesa, as quais consagram a
liberdade de forma mais genérica.
▪ O direito geral de liberdade pode ser interpretado na previsão do art. 5°, §2, o qual
estabelecer um sistema aberto de direitos e garantias fundamentais.
• Está aberto à integração com outras liberdades previstas nas declarações de
direitos no plano internacional.
• Funciona como um principio geral de interpretação e integração em espécie e
de identificação de liberdades implícitas na ordem constitucional.
• Dessa forma, a positivação de um direito geral de liberdade introduz uma
cláusula geral que permite dela derivar outras liberdades não expressamente
consagradas no texto constitucional.
▪ A liberdade é vista como um valor relacional, uma vez que esta é exercida nos limites
dos direitos fundamentais do outro.
▪ Além da liberdade formal, é relevante mencionar a existência de uma liberdade
material, uma vez que, apenas o reconhecimento e a proteção de ambas as dimensões
correspondem às exigências da dignidade da pessoa humana.
• Liberdade formal: assume a feição de uma liberdade jurídica, no sentido de
que “é permitido tanto fazer algo, quanto deixar de fazê-lo, isso ocorre
exatamente quando algo não é nem obrigatório, nem proibido”.
• Liberdade material: esta, por sua vez, além da liberdade formal, abrange uma
visão econômico-social, implicando na ausência de barreiras econômicas que
consequentemente impeçam o exercício de alternativas de ação.
▪ Espécies de liberdade ne CF:
a) Liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
b) Liberdade de expressão artística;
c) Liberdade de ensino e pesquisa;
d) Liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
e) Liberdade de expressão religiosa
1) Liberdade de Expressão:
• A Constituição Federal de 1988 guarda sintonia com a evolução registrada, a
contar da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 no âmbito do
direito internacional dos direitos humanos.
• Em nossa ultima Carta magna, as liberdades de expressão não foram apenas
mais detalhadas, como também passaram a corresponder ao patamar do
Estado Democrático de Direito.
• A liberdade de expressão, nas suas diversas manifestações, engloba tanto o
direito de a pessoa se exprimir quanto o de não se expressar ou mesmo de não
se informar.
• Art. 5°, IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”
• Art. 5.º, V: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem”
• Art. 5°, VI: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei,
a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”
• Art. 5°, IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença”.
• Em nosso texto, encontramos diversos enunciados dispersos, formulados de
modo a assegurar expressamente os direitos de liberdade da pessoa (Ex: art.
206, II, o qual trata da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
pensamento nas diretrizes do ensino”)
• A liberdade de expressão encontra limites na restrição voltada ao combate do
preconceito e intolerância contra as minorias estigmatizadas (ponderação e
proporcionalidade)
• Vedação do anonimato (art. 5°, IV)
o Aplica-se às liberdades de expressão em geral.
o Devido ao anonimato, eventual responsabilização civil ou penal
poderia ficar inviabilizada.
o Não exclui o sigilo da fonte, mas a comunicação com esse direito nem
sempre é de fácil realização na prática.
• Direito de resposta proporciona ao agravo (art. 5°, V)
o Ao mesmo tempo em que reconhece e protege a liberdade de
expressão, a CF assegura o direito de resposta proporcional às
manifestações que venham a afetar bens e direitos fundamentais de
terceiros.
o É um meio de assegurar o contraditório no processo público da
comunicação.
• O STF (na ADPF 130) decidiu pela não recepção da Lei de Imprensa,
que regulamentava o direito de resposta, mostrado que o direito de
resposta encontra-se consagrado como direito fundamental na
Constituição Federal.
• A questão do chamado discurso do ódio é de grande relevância ao contexto da
liberdade de expressão, uma vez que esta encontra limites na dignidade da
pessoa humanas e todos os grupos afetados por mensagens de teor
discriminatório ou violento. Exemplo: Caso “Ellwanger”, no qual o STF alegou
condenação criminal ao autor de obras de teor antissemita.
• Outra situação de grande repercussão sobre os limites do ilícito pena, foi
2) Liberdade de consciência e crença (religiosa)
• Constituem uma das mais antigas e fortes reivindicações do indivíduo.
• A liberdade religiosa foi uma das primeiras liberdades asseguradas nas
declarações de direitos.
• Jellinek afirma ter sido a primeira expressão da ideia de um direito universal
e fundamental da pessoa humana.
• Na Constituição de 1988, vemos a liberdade religiosa contemplada em 3
momentos do título “Dos direitos e garantias fundamentais”:
o Art. 5.º, VI: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
o Art. 5.º, VII: “É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”.
o Art. 5.º, VIII: “Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei”.
• Embora conexas, a liberdade de consciência e crença não se confundem,
apresentando dimensões autônomas. A primeira assume uma dimensão mais
ampla.
o Segundo Konrad Hesse, é possível afirmar que a liberdade de crença e de
confissão religiosa e ideológica aparece como uma manifestação particular
do direito fundamental mais geral da liberdade de consciência
• Na Constituição Federal de 1988, o Estado Laico é defendido no art. 19, o qual
veda aos entes da Federação que estabeleçam, subvencionem ou embaracem
o funcionamento de cultos religiosos ou igrejas. (a referência a Deus no
preâmbulo não possui caráter normativo, não compromete a neutralidade)
• A liberdade de consciência e crença, assim como os demais direitos, encontra
limites em outros direitos fundamentais e na dignidade da pessoa humana.
(Ex: atos de cunho religioso que afetam terceiros ou levem a um dever de
proteção estatal da pessoa contra si próprio, como no caso de greve de fome)

DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS


▪ A CF de 1988 foi a primeira na história constitucional brasileira a prever um título
específico para os chamados direitos e garantais fundamentais (Título II), no qual o
capítulo II se dedica exclusivamente aos direitos sociais.
• Titulo II contém: direitos e deveres individuais e coletivos, dir. sociais, dir. da
nacionalidade e dir. políticos.
▪ A busca pela justiça social estabelece vínculo direito com as diretrizes estabelecidas
pela constituinte de 88, a qual se intitulou como “cidadã”.
▪ Embora não estejam todos reunidos, o art. 6° é onde se encontram concentrados a
maioria dos direitos sociais, sendo estes: educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e
assistência aos desamparados.
▪ Ademais, tais direitos foram objeto de densificação por meio de dispositivos ao longo
do texto constitucional.
▪ Os direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como
verdadeiras liberdades positivas, tendo por finalidade a melhoria da condição de vida
e visando a concretização da igualdade social.
▪ A supremacia normativa garantida aos direitos sociais pela CF de 88 a posiciona em
um lugar de vanguarda, visto que tais direitos são vistos como tendo uma eficácia
bastante restrita em outros casos.
▪ Assim como as demais normas de direitos fundamentais, os direitos sociais também
possuem aplicabilidade direta.
▪ Os direitos sociais se encontram protegidos contra poder de reforma constitucional e
contra intervenções restritivas por parte dos órgãos estatais.
▪ Os direitos sociais atuam na dimensão subjetiva quando operam como direitos
subjetivos, em função da possibilidade de serem exigíveis em face de seus
destinatários.
▪ Por sua vez, os direitos sociais atuam na dimensão objetiva quando suas normas
possuem uma eficácia dirigente ou irradiante, que impõe ao Estado o dever de
permanente realização dos direitos socias.
▪ Importa ser enfatizado que os direitos sociais também não são direitos absolutos,
estando submetidas a um sistema de limites e limites dos limites, assim como aos
critérios de proporcionalidade e razoabilidade.
▪ Proibição jurídico-constitucional de retrocesso:
• Serve como mecanismo de controle para coibir medidas restritivas ou mesmo
supressivas de direitos sociais.
• Costuma ser vinculada ao dever de realização progressiva dos direitos
sociais, em função de tratados internacionais ratificados pelo Brasil.
• Além disso, tal proibição guarda relação com o principio da segurança jurídica,
e assim com os princípios do Estado Democrática e Social de Direito.
• Dessa forma, uma possível limitação é limitada da seguinte forma:
a) A medida estatal que eventualmente restringe ou suprime um bem e/ou
serviço protegido com base em direito social deve buscar atender finalidade
constitucionalmente legítima
b) A medida restritiva não poderá afetar o núcleo essencial do direito social,
núcleo que compreende o conjunto de elementos essenciais
c) Indispensável a observância das exigências da proporcionalidade (tanto no
que proíbe excessos quanto naquilo que veda a proteção insuficiente) e da
razoabilidade
▪ Importante ressaltar que os direitos sociais são dependentes, para efeitos de sua
efetividade, da alocação de recursos matérias e humanos, assumindo significativa
relevância econômico-financeira.
▪ A previsão de investimentos mínimos em saúde e educação revela o quanto o
constituinte de 1988 apostou nesses âmbitos como meios para realizar os objetivos
fundamentais do Estado Democrática brasileiro.
• Conflito: EC. 95 seria inconstitucional? De acordo com Ingo, sim.
a) Direitos à proteção e promoção da saúde:
• Vínculo contundente com o direito à vida e ao princípio da dignidade da pessoa
humana.
• Destaque para as leis que dispõem sobre a organização e os benefícios do SUS
e o fornecimento de medicamentos.
• Além de normas definidoras de direito, a constituição também abrange
normas de cunho impositivo de deveres e tarefas, a exemplo do art. 196.
• A responsabilidade do Estado é solidária, abrangendo todos os entes da
Federação.
• Resulta problemática função estabelecer os contornos do que constitui o
objeto do direito à saúde e os seus limites objetivos e subjetivos.
• Ao contrário do que pretende expressiva doutrina, não há como do princípio da
universalidade um princípio da gratuidade do acesso, visto que acesso
igualitário e universal (art. 196 da CF) não se confunde com um acesso
totalmente gratuito.
• Outro ponto crucial vinculado ao direito à saúde é o do fornecimento de bens e
serviços essenciais pelo Poder Público ou por sua delegação, como é o caso do
saneamento básico e do fornecimento de energia elétrica.
b) Direito ao trabalho (trabalhadores rurais e urbanos)
• O direito ao trabalho está alancado no caput do art. 6. Porém, podemos
destacar o art. 7 por contemplar um extenso elenco de direitos e garantias dos
trabalhos urbanos e rurais, em combinação com os arts. 8 a 11 (liberdade
sindical, direito de greve e participação dos trabalhadores na gestão da
empresa).
• São alguns direitos dos trabalhadores:
➢ Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário (II),
➢ Irredutibilidade do salário (VI),
➢ Décimo terceiro salário (VIII),
➢ Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno (IX),
➢ Participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa (XI),
➢ Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais (XIII),
➢ Repouso semanal remunerado (XV),
➢ Gozo de férias anuais remuneradas (XVII),
➢ Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de
cento e vinte dias (XVIII),
➢ Licença-paternidade (XIX),
➢ Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos
(XX),
➢ Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias
(XXI),
➢ Aposentadoria (XXIV),
➢ Seguro contra acidentes de trabalho (XXVIII),
➢ Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (XXX),
➢ Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão
do trabalhador portador de deficiência (XXXI),
➢ Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de quatorze anos (XXXIII)
• Também no caso do direito ao trabalho é possível identificar a forte conexão
com outros direitos fundamentais, reforçando a tese da interdependência e
indivisibilidade dos direitos fundamentais.
• Exemplo básico é a questão do salário, o qual deve ser assegurado ao
trabalhador com valor “capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e
às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social”
c) Direito à segurança social: previdência e assistência aos desamparados:
• Além de inserir a assistência e previdência social nos direitos sociais do art.6,
o constituinte também consagrou o regime da seguridade social (arts. 194 a
204), abarcando 3 eixos: saúde, previdência social e assistência social.
o Tais medidas objetivam atender a padrões adequados de bem-estar social e,
acima de tudo, com o nítido objetivo de assegurar a todos uma vida digna e
saudável
• O sistema da previdência social é regido pela exigência de contribuição
previdenciária para que se possa fazer jus a tal direito.
• Necessária correlação entre benefícios e serviços da previdência social, como
sistema seguro, e as respectivas fontes de custeio, em ordem a lhe garantir
continuidade e certeza de longo alcance.
• A assistência social ou assistência aos desamparados, configura-se como a
expressão máxima do princípio da solidariedade e mesmo do respeito à
dignidade da pessoa humana.
o Presente no art. 203 da CF, o qual, em resumo, diz “ a assistência social
será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição
à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à
maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças
e adolescentes carentes (...)”
• A obrigação estatal de prestar assistência social independe de contribuição à
seguridade social, daí o caráter solidário e redistributivo.

DIREITOS DA NACIONALIDADE (ainda em D. Sociais)


▪ Direito fundamental da pessoa humana cuja outorga cabe ao Estado soberano, não
excluindo a possibilidade de o indivíduo optar por outra nacionalidade.
▪ É um vínculo politico e pessoal que se estabelece entre o Estado e o indivíduo,
integrando esse em uma dada comunidade política.
▪ Pontes de Miranda:
• “(...)é o laço que une juridicamente o indivíduo ao Estado e, até certo ponto, o Estado
ao indivíduo”.767 Assim, é, em determinado sentido, correta a afirmação de que, em
face do Estado, todo indivíduo ou é “nacional” ou “estrangeiro”, o que, por evidente, não
significa que o estrangeiro não seja titular até mesmo de determinados direitos
fundamentais em relação aos Estados”
▪ O povo, indivíduos que detêm a nacionalidade (natos ou naturalizados), não se
confunde com a noção de cidadania, uma vez que esta ultima está relacionada com a
participação do indivíduo no processo do poder e garantia de acesso ao espaço público.
▪ A nacionalidade passou a ser reconhecida como direito na Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948), a qual determina o direito do indivíduo a ter uma
nacionalidade e de não poder ser dela arbitrariamente privado.
• O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, dispõe que “toda pessoa tem direito
à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a
outra”
▪ Devido aos processos de integração supranacional ou por força de acordos bilaterais
ou multilaterais entre os países, verifica-se uma gradativa extensão de direitos e
prerrogativas outrora assegurados apenas aos nacionais de um Estado.
▪ Diferentemente do Brasil, muitos países não constitucionalizaram o tema, a exemplo
dos Estados Unidos, deixando tais decisões à disposição do Congresso e do Presidente.
▪ Na Constituição de 1988, a nacionalidade revela relevância na própria condição de
titular de direitos fundamentais no âmbito jurídico-constitucional interno.
▪ A dimensão subjetiva da nacionalidade está presente, em parte, nas definições da
própria Constituição, parte reguladas pelas leis infraconstitucionais. Já sua dimensão
objetiva corresponde aos deveres de proteção estatal, organização e procedimento,
abrangendo os aspectos essenciais do regime jurídico nacional.
▪ Nacionalidade primária (Brasileiro Nato):
• O art. 12, I, determina as hipóteses que caracterizam o brasileiro nato:
a) Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não estejam a serviço de seu país. (Ius Soli)
b) Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil (Ius Sanguinis + serviço no
Brasil)
c) Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
pela nacionalidade brasileira (Ius Sanguinis + registro ou opção afirmativa após
atingida maioridade).
• Valido mencionar que houve um período em que foi suprimida a possibilidade
de registro do nascido no exterior, afetando a possibilidade de garantir a
condição de brasileiro nato no caso “c”.
• Nessa questão, assumiu relevância o problema dos apátridas, gerado pela
privação da nacionalidade brasileira em relação aos nascidos em países que
adotam a regra do jus sanguinis, situação que pode ser tida como intolerável
frente à previsão da Declaração Universal dos Direitos Humanos de que todos
têm direito a uma nacionalidade (art. XV)
▪ Nacionalidade adquirida (Brasileiro Naturalizado):
• Adquirida por meio de um ato de vontade do indivíduo, não decorrendo de um
fato natural.
• Pode ter dividida em expressa ou tácita:
o A tácita costuma ser uma opção do Estado que busca aumentar de forma
significativa o número de nacionais, sendo uma oferta do Estado.
o Não existe mais no ordenamento brasileiro, uma vez que a Constituição
apenas contempla a modalidade expressa.
o Por sua vez, a expressa se caracteriza pela necessidade de manifestação do
indivíduo interessado.
• Naturalização ordinária:
o Se dá na forma prevista em lei (art. 12, II, a), como é o caso do Estatuto do
Estrangeiros e das diversas hipóteses legais genéricas.
o Estrangeiros em geral x estrangeiros oriundos de países de língua
portuguesa - para o segundo tipo, é exigido apenas residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral.
o Já os portugueses com residência permanente no Brasil encontram-se em
outro regime, no qual a CF prevê a atribuição de direitos inerentes ao
brasileiro naturalizado, sem prejuízo à nacionalidade portuguesa (art. 12, §1)
o Exemplo no Estatuto do Estrangeiro:
➢ Radicação precoce (art. 115) - nascido no estrangeiro, mas que se
radicarem no brasil até os 5 anos
➢ Conclusão de curso superior (art. 116) - deve residir aqui antes da
maioridade, cursar ensino superior no brasil e requerer a
nacionalidade até 1 ano após a formatura
• Naturalização extraordinária:
o O art. 12, II, b, dispõe serem naturalizados “os estrangeiros de qualquer
nacionalidade residentes no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram nacionalidade brasileira”
o A doutrina inclusive se refere a existência de um direito subjetivo à
naturalização nesses casos.
• Outra hipótese especial é a que usa o casamento como critério para aquisição
da nacionalidade, o que não é objeto de reconhecimento por parte da ordem
jurídico-constitucional brasileira (salvo caso de diplomata)
▪ Brasileiro Nato x Brasileiro Naturalizado:
• De acordo com o art.12, §2, a lei não poderá estabelecer distinção entre
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos por ela previstos.
• Dessa forma, mesmo afirmada a paridade entres estes, a própria Constituição
prevê algumas diferenças.
• Ao todo, são 4 hipóteses de tratamento diferenciado previstas na CF:
a) Ao exercício de determinados cargos;
b) Ao exercício de determinadas funções;
c) Em matéria de extradição;
d) No que diz com a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão
sonora e de sons e imagens.
• Fora isso, a CF também estabelece um elenco fechado de cargos privativos de
brasileiro nato: Presidente e Vice-Presidente da República; de Presidente da
Câmara dos Deputados; de Presidente do Senado Federal; de Ministro do
Supremo Tribunal Federal; da carreira diplomática; de oficial das Forças
Armadas; de Ministro de Estado da Defesa.
• Brasileiro nato não pode ser extraditado.
▪ Perda e reaquisição da Nacionalidade Brasileira:
• A perda da nacionalidade se dará apenas em duas hipóteses previstas na
Constituição (art. 12, §4)
I. Aquele que tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional
II. Aquele que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro
residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis
• Os destinatários da hipótese I são apenas os brasileiros naturalizados
• Já a hipótese II pode atingir tanto brasileiros natos quanto naturalizados.
▪ Quase-nacionalidade:
• De acordo com o art. 12, §1, deve ser atribuído aos portugueses com residência
permanente no país, se houve reciprocidade em favor dos brasileiros, os
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos nela previstos.
• Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre Brasil e Portugal.
• No caso dos direitos políticos, deverá haver prova do seu gozo em Portugal e
da residência no Brasil há pelo menos 3 anos.
• O benefício é extinto se o indivíduo perder sua nacionalidade e se cessar a
autorização para permanecer no Estado de residência.
▪ Extradição:
• Ato requerido por outro país, pelo qual se entrega um indivíduo a outra Estado,
por participação em infração penal.
• De acordo com o art. 5°, LI, o brasileiro nato não poderá ser extraditado, porém
tal regra não se aplica ao brasileiro naturalizado.
• São 3 as condições para justificar a extradição:
a) A existência de tratado internacional ou compromisso de reciprocidade
entre os Estados envolvidos, sendo que, nesse último caso, o governo
brasileiro pode rejeitá-la in limine
b) A condenação ou prisão do sujeito em virtude da prática de crime
c) Que se verifique a dupla incriminação, ou seja, que o fato seja considerado
crime no Brasil e no país que solicita a extradição
• A extradição de brasileiros refugiados em outros países, deve ser feito pelo
Min. Justiça e encaminhado para o Min. Rel. Exteriores para que formalize o
pleito. Não há papel do STF.
• Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.
• Não será concedida extradição quando (art. 77 Est. do Estrangeiro)
I. Quando “o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou
no Estado requerente”;
II. Quando “o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime
imputado ao extraditando”;
III. Quando “a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a
1 (um) ano”;
IV. Quando “o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido
condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o
pedido”;
V. Quando “estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei
brasileira ou a do Estado requerente”;
VI. Quando “o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante
Tribunal ou juízo de exceção”
▪ Expulsão (art. 65 do E.E)
• A expulsão assume o caráter de reação a condutas ilícitas ou inconvenientes,
praticadas em território brasileiro pelo estrangeiro.
• O presidente possui conveniência e oportunidade de decretar a expulsão
• A possibilidade de expulsão, contudo, encontra limites, e é o próprio Estatuto
do Estrangeiro, designadamente no art. 75, que dispõe destes.
I. Não se dará a expulsão se o estrangeiro tiver “cônjuge brasileiro do qual não
esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento
tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos.
II. Tenha “filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele
dependa economicamente”
▪ Deportação:
• É a forma de exclusão do território nacional do estrangeiro que nele entrou de
forma irregular, ou que sua permanência se tornou irregular.
• A deportação, por sua vez, uma vez voltando a estar em situação regular, não
impede o futuro retorno do estrangeiro ao País.
• O instituto da deportação não se aplica aos brasileiros, pois, do contrário,
estaria configurada a hipótese do banimento, expressamente vedada pela
Constituição (art. 5.º, XLVII, d).

DIREITOS POLÍTICOS
▪ A cidadania, bem como os direitos e deveres fundamentais correlatos, guarda estreita
relação com os direitos de participação ativa na formação da vontade política estatal,
bem como dos processos democráticos e decisórios.
▪ Tal aspecto revela a vinculação entre democracia e a garantia organizacional e
política da dignidade da pessoa humana.
▪ Por ser um Estado Democrático Direito, o estado brasileiro guarda relação direta entre
democracia e direitos políticos (se verifica uma relação de reciprocidade e
interdependência)
▪ A democracia não é apenas forma, um mero processo de legitimação do poder estatal.
Esta também possui uma dimensão material, cabendo o reconhecimento, respeito,
proteção e promoção de determinados princípios e direitos.
▪ Os direitos políticos dizem respeito, dessa forma, ao processo político interno dos
Estados, ao respectivo modelo democrático e do conteúdo e ao alcance dos
respectivos direitos políticos.
▪ Direitos políticos em perspectiva supranacional:
• O direito internacional dos direitos humanos acabou consagrando uma pauta
mínima em matéria de direitos políticos, a começar pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
• Tal fato ocorreu em função do valor da democracia para a comunidade
internacional, e a relevância da participação individual nos processos de
decisão.
▪ Direitos políticos no constitucionalismo brasileiro:
• Os direitos políticos, como de resto os direitos fundamentais em geral, tiveram
uma posição de destaque na Constituição Federal.
• Os direitos políticos em sentido estrito, no sentido de direitos e garantias
diretamente destinados a assegurar uma livre e eficaz participação do
cidadão nos processos de tomada de decisão política na esfera estatal, foram
contemplados pela CF nos arts. 14 a 16.
• Por sua vez, a questão dos partidos políticos foi determinada no art. 17, sendo
de grande importância, uma vez que ninguém poderá eleger alguém que não
esteja vinculado a um partido político.
▪ A dimensão objetiva dos direitos políticos se relaciona com a ampliação do espaço da
dimensão subjetiva, pois, para além de direitos negativos, a primeira tem por objeto
bloquear a intervenção no âmbito de proteção do direito ou, de assegurar o não
impedimento de ações ou omissões por parte do seu titular, os direitos políticos
assumem a condição de direitos a prestações.
▪ Diretrizes principais dos direitos políticos:
1) Todos os direitos políticos previstos no Título II da CF têm igual dignidade
constitucional na condição de direitos fundamentais
2) Como direitos fundamentais, todos os direitos políticos devem ser submetidos,
em termos substanciais, ao mesmo regime jurídico-constitucional, com
destaque para a aplicabilidade imediata de suas normas, cláusulas pétreas e
restrições em matéria de direitos fundamentais.
3) Os direitos políticos não têm a priori peso maior ou menor que os demais
direitos e garantias fundamentais, devendo ser aplicados de modo sistemático
e harmônico.
4) Numa perspectiva material está em causa a sua posição de destaque para a
dignidade da pessoa humana e a democracia, já numa visão formal se traduz,
num conjunto de garantias, ou seja, num regime jurídico-constitucional
privilegiado.
▪ Titularidade dos direitos políticos:
• Titulares dos direitos políticos na perspectiva da Constituição Federal são, em
regra, os nacionais, ou seja, os brasileiros natos e naturalizados.
• A titularidade vária em ativa e passiva:
o A titularidade ativa (assim como do passivo) pressupõe, todavia, o
alistamento eleitoral, que é obrigatório para os maiores de 18 anos e
facultativo para os analfabetos.
o Para a titularidade passiva, por sua vez, devem ser atendidas as
condições de elegibilidade previstas no art. 14, § 3.º, da CF. Trata-se de
requisitos a serem observados em todos os casos, seja qual for o cargo
eletivo almejado, além do pleno exercício dos direitos políticos, o
alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição e a filiação
partidária.

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