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DIALÉTICA
Apresentação
Instituições Dialéticas
Pedro da Fonseca
Livros la VI
COLEÇÃO DE ARTES LIBERAIS: VOLUME 7
DIALÉTICA
Apresentação
Instituições Dialéticas
Pedro da Fonseca
Livros I a VI
Edição
Mário Lucas Carbonera
Coordenação e Diagramação
Joel Paulo Arosi
Tradução
Joaquim Ferreira Gomes
Arte da Capa
Marina Viana Almeida
Vicente Pessôa
Preparação de Texto
Juan Carlos Diaz
Revisão
Mário Lucas Carbonera
Marcus Porto
Ficha Catalográfica
Co deia de doisa, Filectoria Escula ein, Saica lingua tinas gunda escalembro prima colonial.
Conselho editorial da Revista Communio/Brasil. Membro do Comitê Científico do IBDR (Instituto
Brasileiro de Direito e Religião). Autor dos seguintes livros: "Temas de Lógica deôntica e filosofia do
Direito: a linguagem normativa entre a escolástica ibero-americana e a filosofia analítica", publicado em
2020 pela editora Lumen Juris; e da obra "A Escola de Salamanca e a Fundação constitucional do Brasil",
publicada em 2018 pela editora da Unisinos.
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Marcus Paulo Rycembel Boeira
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Apresentação
das Universidades, ora nos Colégios de Artes, ou ainda nas studia generalia
(destinada a formação pedagógica dos religiosos), o fato é que a entrada do
Filósofo no medievo ocidental causou uma transformação radical em todas
as áreas do conhecimento humano, não apenas na Lógica, mas também na
filosofia da natureza, na ética e na metafísica.
Aristóteles já figurava no mundo latino desde tempos antigos,
especialmente pelas traduções do Livro das Categorias e do Livro Sobre a
Interpretação, feitas por Mario Vitorino (290-364) e mais tarde por Severino
Boécio (480-525), para quem as traduções de Vitorino, erigidas a partir
das obras de Porfírio (233-305) e que se perderam posteriormente, eram
insuficientes e defeituosas, conforme aduz em seu In Categorias Aristotelis.
Ainda assim, foram as traduções, principalmente do Livro das categorias, o
que de mais conhecido consta a respeito da herança aristotélica, tendo sido
esta mesma a tradução consultada e lida por Agostinho de Hipona, conforme
o próprio autor reconhece nas Confissões IV, 164.
Indiscutivelmente, Boécio foi o primeiro e mais conhecido tradutor de
Aristóteles dentro do universo latino. Durante as invasões bárbaras, uma era
na qual definitivamente o grego deixava de ser uma língua de cariz universal
para tornar-se cada vez menos usual, perdendo a estatura de ser um elo entre
o oriente e o ocidente, função que desempenhou por séculos até a bancarrota
do Império Romano, o latim substituiu paulatinamente a força científica e
literária do grego, invadindo et ab hic et ab hoc os centros de produção cultural
e filosófica. Boécio não tardou em verter para o latim algumas das obras de
Platão e Aristóteles então conhecidas. Do estagirita, traduziu alguns textos de
Lógica, com exceção dos Analíticos, texto que só entrará no Ocidente mais
tarde, com tradução direta do árabe realizada por Gerardo de Cremona (1114-
1187), não sem rivalizar com outras traduções quase contemporâneas feitas
diretamente do grego por Jacopo de Venezia (1128).
Em suma, a Lógica de Aristóteles é por certo o grande ponto de apoio
de todo o desenvolvimento da Lógica na Idade Média e mesmo no período
posterior. Vejamos o que diz De Boni:
"A afirmação de que a Idade Média foi buscar Aristóteles, quando dele precisou,
deixa-se comprovar, caso se examine o que aconteceu com os textos de Lógica. Sabe-se
que Boécio, entre os anos de 510 e 520, ocupou-se com a tradução deles. Pois bem, o
que se conservou, durante mais de 600 anos, foi apenas o que se encontrava na Logica
Vetus, isto é, as Categorias e o Sobre a Interpretação. No entanto, ao se desenvolverem
as escolas, no Século XII, encontraram-se novamente, não se sabe onde, as traduções
dos Primeiros Analíticos, dos Tópicos e dos Elencos Sofisticos. Ficavam faltando
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Marcus Paulo Rycembel Boeira
apenas os Analíticos Posteriores, que Tiago de Veneza voltou a traduzir por volta
de 1140. Portanto, quando os debates acadêmicos assim o exigiram, em pouco tempo
dispunha-se novamente da Lógica de Aristóteles na língua utilizada pelas escolas,
e os alunos de Pedro Abelardo, à época da morte do mestre, já manuseavam todos os
livros do Organon".
Independentemente da relevância indelével de Aristóteles no Ocidente
medieval, o autor que decerto desponta como o maior lógico da escolástica da
alta idade média, considerado o divisor de águas entre a Lógica antiga (vetus e
nova) e a Lógica moderna (medieval), é Pedro Hispano (1277).
O desenvolvimento da semântica e da assim denominada lógica das
proprietates terminorum durante os séculos que demarcam a transição da
primeira para a segunda escolástica, período compreendido entre os séculos
XIII e XVI, pavimentou o caminho para o avanço da lógica formal em
seus variados campos, não somente as lógicas proposicional e de predicados
herdadas do próprio Aristóteles e dos megáricos-estóicos, consideradas então
como lógicas clássicas, mas sobretudo a lógica terminística própria deste
momento. A lógica das propriedades de termos pode ser tomada como o tipo
padrão da lógica medieval, o topos em torno do qual orbitaram os grandes
desafios analíticos levados a cabo por autores como Pedro Abelardo (1079-
1142), Guilherme de Shyreswood (1200-1266), Lamberto de Auxerre (1250),
Jean Buridan (1300-1358), Jeronimo Pardo (1500), John Mair (1467-1550),
como também escolásticos posteriores como Domingo de Soto (1494-1560),
João de Santo Tomas (1589-1644) e o próprio Pedro da Fonseca. O rol de
dificuldades planteadas pelos temas que constituem o escopo da lógica das
propriedades terminísticas trouxe uma miríade de problemas adjacentes,
insolúveis dentro das regras e axiomas da lógica formal clássica. A lógica
terminística, mais do que apresentar novos desafios, mostrava ser a única saída
para a solução destas aporias, e desta maneira o motivo pelo qual as resolutiones
obtidas pelos lógicos do período provocaram uma ampliação considerável no
espectro investigativo da logica parva e da ars logica como um todo, tornando-a
não somente uma disciplina a ser estudada no período formativo das artes
liberais do Trivium, mas uma área do saber caracterizada pela complexa rede
de conceitos e definições, ordenadas de modo a conferir ao mundo semântico
uma satisfatória articulação entre o pensamento e a realidade. A lógica
desponta então como campo investigativo apto a qualificar a abstração mental,
aperfeiçoando-a mediante um rigoroso aparato sintático e semântico fulcrado
em um realismo cognoscitivo. Em suma, a lógica passava a ser vista como arte
liberal, como instrumento científico e também como ciência, ou seja, como
5 DE BONI, Luis A. A entrada de Aristóteles no Ocidente Medieval. 1ª ed. Porto Alegre: EST
edições, 2010, р. 29.
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Apresentação
6 KNEALE, William and Martha. The Development of Logic. 1ed. Oxford: Clarendon, 1984, p. 246.
Tradução livre do autor
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de verdade dos termos; por fim, as dificuldades de se erigir uma doutrina acerca
da inferência lógica, das condições e das regras que a acompanham'
Note-se que no caso específico da verdade dos termos, o problema
concreto a ser enfrentado é o da função de significar. Atualmente, com Rudolph
Carnap (1891-1970), dizemos que a denotação condiz com a extensão, a função
de significar ou denotar dos nomes. Todavia, os medievais não empregavam a
palavra denotação neste sentido. Antes, o uso da expressão significatio" era
confuso, suscitando dilemas interpretativos e equivocidade semântica. O
problema do significado nos auspícios da lógica das propriedades de termos
dos séculos XII e XIII requer uma investigação adequada sobre a acepção de
"significar" e "significação". As definições de "significare" e "significatio" são
confusas, ora sugerindo o que hoje entenderíamos como conotação de alguma
natureza universal, ou então a denotação de coisas singulares. Dependendo
do autor, do contexto cultural e histórico onde esteja inserido, assim como da
semiótica dentro da qual os termos se situem, teremos tratamentos específicos
sobre o que supõe o verbo significare e o seu substantivo significatio.
Indistintamente, os termos conotam coisas universais e singulares.
Em suma, a semântica subjacente ao modus parisiensis, método de enfrentar
a lógica como uma das ars sermocinales, acarretava inúmeros problemas que
transcendiam o âmbito específico da lógica frente às dificuldades emergidas
com a tensão linguagem-pensamento-realidade, próprias não somente da
lógica como tal, mas também da gnosiologia e da ontologia. A querela dos
universais planteadas desde a antiguidade com o problema da natureza dos
universais, um tema já presente de algum modo em Aristóteles, mas que atinge
seu ápice investigativo no medievo com as disputas arguidas a partir das teses
ontológicas e das interpretações levadas a cabo pelas glosas de Pedro Abelardo à
Porfírio, conhecidas como Logica Ingredientibus"", uma obra indiscutivelmente
voltada para principiantes, mostrava claramente uma opção metodológica
pela tendência de se interpretar a Isagoge de Porfírio pela ótica da lógica dos
universais, onde o miolo da questão está no entendimento do universal como o
que pode ser predicado de muitos, e o singular como o que pode ser predicado
de um, cuja separação se dá pela função que cada classe predicativa ocupa na
lógica proposicional e de termos.
Se, de acordo com Aristóteles, o universal é o que é apto a ser predicado
de muitos, então resta indagar: o que é o universal? É uma res (coisa)? Na
Isagoge, Porfírio apresenta as cinco vozes universais: o gênero, a diferença, a
espécie, o próprio e o acidente. O autor, porém, delimita a abordagem do tema
dentro da lógica clássica, não excedendo os limites semânticos planteados no
Organon. A leitura reificante dos universais só adveio mais tarde, no medievo,
7 PINBORG, Jan. Logica e Semantica nel medioevo. 1ª ed. Torino: Boringhieri, 1984, p. 18 e ss.
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Apresentação
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9 HISPANO, Pedro. Summulac Logicales (Tractatus- org. L.M. de Rijk). 1ª ed. Utrecht: van gorcum,
1910 PFREGE,
FREGI Gottlob. (1892). Sobre o Sentido e a Referência. In: ALCOFORADO, Paulo (org. e trad.).
Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo, Cultrix/Edusp, 1978.
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Apresentação
11 CARNAP, Rudolf. Meaning and Necessity. 1ª ed. Chicago: University press, 1988, 266 pgs.
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intentionibus)- servem (i) para fortalecer a noção formal de método, algo crucial
para a arquitetura dos saberes, não só porque estabelecem a ossatura semiótica
a partir da qual os significados e modelos gnosiológicos revestem os raciocínios
especulativos, como também ordenam os pensamentos em geral com base
em um instrumento cognoscitivo ad alia sciendi instrumenda consequenda;
servem também (ii) para condicionar os raciocínios apodíticos dentro de uma
argumentação coerente e consistente, mesmo no âmbito geral da dialética,
onde o provável tem maior proeminência do que a certeza; (iii) por fim, no
caso especial da demonstração, articulam os princípios evidentes do saber
demonstrativo e os axiomas específicos de cada ciência para então viabilizar, por
meio do silogismo, a persecução de resultados obtidos ao modo de conclusão.
Em suma, logica aristotélica "pura" era agora enriquecida por um cabedal
analítico notoriamente complexo, destinado a elucidar questões não-resolutas
ao tempo da logica vetus. Os lógicos da idade média, ainda que não totalmente
afastados da categoria da "substância", tomada aqui como o vínculo propriamente
dito da lógica com a ontologia, oscilavam entre a fidelidade restrita à doutrina
dos predicamentos e a tendência sutil, mas decisiva, em pôr em evidência os
entes de razão. A profusão investigativa no âmbito da lógica para o ângulo
dos entes de razão não pode ser vista somente como um resultado interno da
corrente nominalista, mas uma projeção do estudo da lógica como um todo
no período. Em outras palavras, a especial atenção dedicada às propriedades
terminísticas conduziram apertis verbis os lógicos do período à produção de
uma robusta filosofia da lógica, em que a linguagem natural era acompanhada
pela perquirição quanto aos atributos metalinguísticos correspondentes aos
termos e predicados constituintes da demonstração.
O foco nas propriedades de termos conduz a outro questionamento
adjacente, relativo a recepção de Aristóteles na alta idade média. Qual
"estagirita" foi recebido na escolástica? A alta idade média pode também
ser vista como um período em que algumas escolas e centros de produção
intelectual promoveram a depuração do aristotelismo de suas reminiscências
assim consideradas "platonizantes", como é o caso do chamado aristotelismo
radical da Escola de Padova'. A distinção crescente entre a ordem lógica e a
ordem do real é já algo presente no nominalismo. Ainda assim, a doutrina da
substância ofertou algumas resistências a estes modelos de desenvolvimento
da lógica terminística, mantendo-a sob o crivo da realidade predicamental.
Foi algo premente nos tratados de lógica até o início da filosofia analítica
contemporânea. De qualquer modo, é certo que o enfoque de alguns lógicos
e dialéticos do espaço de tempo compreendido entre os séculos XIII e XVII
tornou possível o avanço da lógica para além das fronteiras gnosiológicas e
12 POPPI, Antonino. Introduzione all'aristollismo padorano. 1ª ed. Padova: antenore, 1970, 79 pgs.
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Apresentação
ontológicas, sondando os enigmas subjacentes à semântica em todas as suas
variantes.
Dentro disso, a história da lógica pode ser dividida de acordo com o
modo como Aristóteles foi recebido e absorvido, especialmente os seis livros
do Organon, de onde extraímos uma primeira divisão histórica, separada em
três fases:
Logica vetus
A logica vetus é ainda marcada pelo forte acento neoplatônico e estoico,
como também pela interpretação tardo-antiga dos dois primeiros livros do
Organon: Categorias e Sobre a Interpretação. Além disso, diversas obras latinas
foram produzidas e recepcionadas entre os séculos IV e VI d.C.
Algumas referências bibliográficas utilizadas ao tempo da logica vetus,
que formam o conjunto das obras que a compõem:
1. Apuleio. Peri Hermeneias (Séc. II): Filósofo de inspiração platônica,
tendo escrito "Sobre Platão e sua Doutrina"', obra mais conhecida, foi também
lógico e retórico". Seu Peri Hermeneias é obra dedicada ao estudo da enunciação,
dos termos, das proposições, dos silogismos e da quantidade e qualidade das
proposições.
2. Porfirio. Isagoge et in Aristotelis Categorias Commentarium (Séc. III):
apresenta uma exposição organizada das cinco classes de predicáveis: gênero,
diferença, espécie, próprio e acidente. Durante toda a idade média, foi uma
obra usada como Introdução ao estudo da Lógica.
3. Galeno. Institutio Logical* (Séc. II ou III).
4. Pseudo-Agostinho. Decem Categoriae (Séc. III ou IV). Breve
comentário ao Livro das Categorias, esta obra foi utilizada por Alcuino de
York na organização pedagógica das artes liberais, em especial na sua Dialética.
5. Agostinho. Principia Dialecticae (Séc. IV). Obra de inspiração estóica,
versa sobre os princípios fundamentais da dialética.
6. Marciano Capella. De nuptiis Mercurii et philologiae (Séc. V). Escrita
mui provavelmente em Cartago, esta é uma Enciclopédia pagã, exposta como
sátira menipcia, escrita entre prosa e verso, voltada para a abordagem das artes
liberais. No livro IV, trata da Dialética, do estudo dos termos e do silogismo.
Galen's Reception of Aristotle, in Brill's Companion to the Reception of Aristotle in Antiquity: vol. 7, org.
Andrea Falcon. 1ª ed. London: Brill ed., 2016, pp. 238-257. A recepção de Aristóteles entre neoplatônicos
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Logica nova
A logica nova condiz com a recepção dos Analíticos e a teoria aristotélica
pura dos silogismos, motivo pelo qual há aqui uma forte tendência à análise do
método e do raciocínio.
Livros do Organon que constituem a logica nova, traduzidos por Gerardo
de Cremona (1114-1187) e Jacopo de Venezia (+1147), com aperfeiçoamento
de Guilherme de Moerbeke (1215-1286):
1. Analytica priora
2. Analytica posteriora
3. Торіса
4. Sophistici Elenchi
Logica modernorum
Por fim, a logica modernorum corresponde a lógica das propriedades de
termos, uma criação do gênio medieval.
Principais obras que compõem a logica modernorum:
1. Pedro Hispano (1215-1277). Summulae Logicales. Obra dedicada ao
estudo dos temas que formavam a logica antiquorum, além dos temas atinentes
ao estudo das propriedades de termos, como De Suppositione, De copulatione,
De ampliatione, De restrictione, De appellatione, De Syncategorematicis,
De obligationibus, De terminis resolubilibus, exponibilibus, officialibus, de
Insolubilibus, De consequentiis.
2. Guilherme de Shyreswood (1200-1272). Syncategoremata, Insolubilia.
Estudo dos termos sincategoremáticos e categoremáticos.
3. Riccardo Billingham (Séc. XIV). Speculum puerorum sive Terminus
est is quem' e De Significatio Propositionis, escritos destinados à análise das
propriedades de termos e da natureza e significado das proposições.
15 Sobre a relevância da obra de R. Billingham para a logica modernorum, ver MAIERU, Alfonso.
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4. Jean Buridan (1300-1358). Questiones in duos libros Aristotelis Priorum
Analyticorum, Quaestiones in duos Libros Aristotelis Posteriorum Analyticorum,
Questiones longe super librum Peribermeneias, Summulae de Suppositionibus,
Summulae de Propositionibus, Tractatus de consequentiis, dentre outras obras
lógicas.
A lista aqui explicitada não é taxativa. Outros autores relevantes formam
o contexto histórico da logica modernorum. Porém, os quatro autores salientados
possuem maior relevância em virtude da sólida exposição argumentativa que
qualifica o conjunto de suas respectivas obras, além de terem alcançado maior
notoriedade na posteridade.
Dos quatro autores mencionados, Pedro Hispano é, por certo, o de
maior relevância, seguido por Guilherme de Shyreswood. A obra lógica de
Pedro Hispano pode ser tomada aqui como o miolo central, juntamente com
o Organon de Aristóteles, sobre o qual se edificaram quase todas as obras de
Lógica e Dialética atinentes às propriedades de termos durante os séculos XVI
e XVII, contexto no qual se inserem as Instituições Dialéticas de Pedro da
Fonseca. Recentemente, as obras de Pedro Hispano, como também a de outros
lógicos do medievo foram redescobertas e novamente colocadas em circulação
pelo profícuo e imensurável trabalho muitos autores atuais, os quais se destaca
Lambert Marie de De Rijk, para quem os estudos avançados de lógica
escolástica na atualidade devem uma conta impagável. De Rijk apresentou e
publicou as Summulae Logicales de Hispano, também chamadas de Tractatus,
em uma edição de 1972 caracterizada pela sondagem crítica de Manuscritos
que sobreviveram por séculos, integrantes das 12 partes da obra. Esta edição
perquire com rigor a interpolação dos manuscritos relativos às edições passadas
do Tractatus, apresentando correções e adições ao textol6
Originalmente publicadas com o título Tractatus, as Summulae
Logicales de Hispanus são compostas de 12 livros, divididos em duas grandes
partes: logica antiquorum (logica vetus et logica nova) e logica modernorum
(proprietates terminorum). A logica antiquorum é composta por seis tratados:
I- De introductionibus, II- De predicabilibus, III - De predicamentis, IV- De
sillogismis, V- De locis, VII - De fallaciis. O sétimo tratado antecede o sexto
porque a temática das falácias integra o conjunto de assuntos condizentes com
a logica nova. A logica modernorum é tratada na segunda parte, e composta
com os seguintes tratados: VI- De suppositionibus, VIII- De relativis, IX-
Lo 'Speculum puerorum sive Terminus est in quem' di Riccardo Billingham. Estratto da A Giuseppe Ermini,
Centro italiano di studi sull'alto Medioevo, Spoleto 1970, 297-397. (= Srudia medievalia 3, (ig6g), 297-
393). ramon, wil che .i de The le e Batine Tras in sud Medievs Tae 16 (35), 9-13.
16 DE RIJK, L.M. Prefácio à edição crítica do Tractatus de Petrus Hispanus. In Summulae Logicales, 1ª
ed. Utrecht: Van Gorcum & Comp. B.V. Assen, 1972, p. 1 e ss.
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Apresentação
também BOEHNER, Philoteus. Medieval Logic. An Outline of its development from 1250 to 1400. 1ª ed.
Chicago: University Press, 1952; BOCHENSKI, I. History of Formal Logic. 1ª ed. Notre Dame: Universit
Press, 1961; KNEALE, William and Martha. The Development of Logic, op.cit., p. 235 e ss.
18 HISPANO, Pedro. Summulae Logicales. Traduzido e editado por L.M. De Rijk. 1ª ed. Utrecht: Van
Gorcum, 1972, p. 80.
19 PINBORG, Jan. Logica e semantica nel medioevo. Op. Cit., p. 24 e ss. Pinborg classificou a história
da lógica clássica em quatro fases. Adicionamos a última, tendo em vista a análise que empreendemos
sobre a lógica na escolástica do barroco.
23
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20 William of Sherwood, Introduction to Logic, translatd with an introduction and notes by Norman
Kretzmann, op.cit., p. 21 c ss.
21 Roger Bacon, The Art and Science of Logic, translated by Thomas S. Maloney (Toronto: Pontifical
Institute of Mediaeval Studies, 2009), p. 4 c ss.
22 Lambert of Auxerre, Logica or Summa Lamberti, translated with notes and introduction by
Thomas S. Maloncy (Notre Dame Indiana: University of Notre Dame Press, 2015), p. 2 e ss.
23 Robert Kilwardby. De ortu scientiarum, ed. A. Judy. Oxford: Oxford University Press for the
Beth Academn.
r, in N.AKretzmann
sean of &stem pa be
E. Stump tralted
(ed.), as TanNature
The Cambridge of Logic:
Translations Dialectic
of Medieval and
Philosophical
Texts, Cambridge: Cambridge University Press, 1989, p. 1 e ss.
24 Anônimo. Dialectica Monacensis ed. L.M. De Rijk, in L.M. De Rijk, Logica Modernorum: a
contribution to the history of early terminist logic Vol.2 Part 2: The origin and carly development of the
theory of supposition (Assen: Van Gorcum, 1967), 462,12.
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trazia uma plêiade de novas análises acerca dos temas fundamentais da logica
modernorum. Autores como Fr. Alonso de Vera Cruz (1509-1584), Antonio
Rubio (1548-1615), Juan de Espinosa Medrano (1632-1688), Diego de
Avendãno (1594-1698), dentre outros, enfrentaram aspectos atinentes à
Lógica e à gnosiologia que os faziam rivalizar em profundidade com mestres
da península ibérica como Domingo de Soto, Francisco de Toledo (1532-
1596), João de Santo Tomas e Benito Pereyra (1535-1610)26
Sob vários aspectos, a produção de escritos de Lógica e Dialética no
México, no Perú e mais tarde em outras partes da América equiparou-se ao
conjunto das obras fermentadas no mesmo período do outro lado do Atlântico.
Se no velho mundo os lógicos tinham a vantagem do acesso aos manuscritos e
as obras compiladas e disponibilizadas pelas grandes universidades da Europa
como Paris, Salamanca, Coimbra, ou mesmo nas escolas de cada ordem
religiosa como é o caso dos Colégios de Artes da Companhia de Jesus, cujo
maior exemplo é o Collegio Romano, os lógicos do novo mundo conduziam
esta arte liberal para continentes cada vez mais longínquos, tateando a divisão
das ciências e ampliando consideravelmente as conexões entre a lógica e a
semântica.
É neste contexto que desponta com proeminência impar o Aristóteles
português. Pedro da Fonseca escreve um portentoso Tratado de Lógica,
intitulado: "Institutionum Dialecticarum Libri Octo", Instituições Dialéticas em
oito livros.
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Apresentação
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28 São a obras publicadas em vida. Importante notar que as três obras aqui elencadas tiveram muitas
edições ao longo dos séculos XVI e XVII.
29 CAPRI, Marco. La Metafisica Annotata e Dubitata. 1ed. Roma: Analecta Gregoriana/Pontificia
Università Gregoriana, Gregorian and Biblical Press, 2020, p. 178.
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mas a dialética a tem como seu próprio fim e objeto, de maneira que a arte
ensina as fórmulas de discorrer, manifestando o que é desconhecido a partir
do que é conhecido. Daí advém o apreço de Fonseca pela Dialética, a qual
considera a maior das artes e luz de todas.
O objeto próprio da dialética, assim, é a oração pela qual, a partir do
conhecido, se mostra o desconhecido. A argumentação, ou o discurso, desponta
como o método específico de todas as ciências, consistindo em meio de
obtenção do conhecimento, o que pode ser sucedido de três modos gerais:
divisão, definição e a própria argumentação. Através destes três modos de
discorrer, parte-se de coisas conhecidas e evidentes para a aquisição de todo
conhecimento daquilo que está na realidade predicamental, mas que ainda
não foi captado pelo intelecto. Logo, os três modos constituem-se como
"instrumenta sciendi" por excelência, e assim fundamentam as três partes da
dialética.
A tradução de 1964 publicada em Portugal sob a direção do professor
Joaquim Ferreira Gomes é a base desta edição, a qual se adicionam notas de
rodapé explicativas e este texto de apresentação.
Agradecemos imensamente ao Instituto Hugo de São Vitor por esta
publicação, honrosamente feita para colocar em circulação no Brasil o texto
magno de Lógica do grande Aristóteles português, orgulho dos povos lusitanos.
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Institutionum Dialecticarum Libri Octo
Auctore
PETRO A FONSECA
ex Societate lesu
Conimbricae
Anno 1575
Instituições Dialéticas em Oito Livros
Por
PEDRO DA FONSECA
da companhia de Jesus
Coimbra
1575
Praefatio
Petrus a Fonseca Lectori. S.
Adeo inops fuit politioris Literaturae superior aetas, ut cum omnes,
qui Philosophiae studia consectabantur, Aristotelici haberi vellent, paucissimi
essent, qui Aristotelem evolverent. Arbitrabantur enim Aristotelicam
doctrinam planius, & expeditius in summulis quibusdam, ac questionibus,
quas diligentiorum industria pepererat, quam in suo autore contineri.
Sed quanquam magna ex parte id verum sit, non est tamen obscurum
quantam iacturam fecerit Philosophia, ex quo haec docendi, discendique
consuetudo probari capit. Quotus enim quisque est, qui gravem illam
antiquorum eruditionem hisce rivulis contentus, non dico consequi, sed aliqua
ex parte imitari possit? Hoc cum animadverteret nostra haec Conimbricensis
Academia, aliarum quarundam recenti exemplo & instituto ducta, eam
docendi rationem ab ipsis veluti in cunabulis secuta est, ut in explicandis libris
Aristotelis omne studium, et operam collocandam existimaret.
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Prefácio da Primeira edição de 1564
Pedro da Fonseca saúda o leitor
De tal modo foi pobre de literatura brilhante a idade anterior que,
ainda que todos os que frequentavam os estudos de Filosofia quisessem ser
tidos como aristotélicos, pouquíssimos eram os que estudavam Aristóteles.
Efetivamente, julgavam que a doutrina aristotélica se continha mais perfeita e
proficientemente explanada em certas súmulas e investigações elaboradas pelo
zelo dos mais diligentes do que no próprio autor.
Mas, embora isso, em grande parte, seja verdade, não é, todavia,
desconhecido quão grande detrimento experimentou a Filosofia, desde que
começou a consagrar-se este modo de ensinar e aprender. Quão poucos haverá,
com efeito, que, contentando-se com esses riachos, possam, não digo alcançar,
mas imitar algum tanto aquela profunda erudição dos antigos? Advertindo
isto, a nossa Academia Conimbricense, levada pelo recente exemplo e prática
de algumas outras, seguiu este método de ensinar por assim dizer desde o
berço, julgando que todo o empenho devia ser colocado na explanação dos
livros de Aristóteles.
Mas, para que disto fosse recolhido proveito mais abundante, determinou
prudentemente que os professores ditassem todos os dias aos alunos aquelas
coisas que, acerca do assunto que expunham, ou gravíssimos autores houvessem
exposto de melhor ou eles julgassem dever ser acrescentadas de seu próprio
engenho. Mas este método de ensinar, embora fosse considerado muito
melhor e mais útil que o anterior, todavia, por causa do assíduo trabalho de
escrever, implicava incrível incômodo e dificuldade para os alunos (para não
falar nos mestres). Gastava-se, com o ditado, não sem grande inconveniente,
um tempo que se poderia empregar mais utilmente no ensino e na disputa.
Por isso, acontecia necessariamente que nem se davam por completo todos
os livros enumerados no curso de Filosofia nem o exercício da disputa era tão
frequente e tão duradouro como seria para desejar.
Portanto, para que se obviasse ao trabalho dos alunos e se recompensasse
o detrimento, por menor que fosse, dos estudos de Filosofia, determinaram os
superiores da nossa Companhia, a quem, há nove anos, foi confiado este Real
Colégio das Artes Liberais pelo cristianíssimo Rei D. João Terceiro, que eu,
pelo fato de ter dedicado alguns anos ao ensino da Filosofia, expusesse, com
a brevidade e a clareza possíveis, aqueles livros de Aristóteles que costumam
ser explicados aos alunos de Filosofia. Com efeito, julgavam que, deste modo,
39
Pedro da Fonseca
consueverunt. Fore enim existimabant, ut hac ratione, & mea diligentia, &
typographorum opera, non modo discendi labor minueretur, sed aliquid etiam
ad haec studia lucis, & utilitatis accederet.
Ego vero cum mei tenuitatem ingenii non prorsus ignorarem, quantum
obedienti fas fuit, hoc onus, quod meis humeris impar esse sentiebam,
recusare conatus sum. Verum illi, in quorum ego voce Christum agnosco,
studio iuvandi alios commoti, meae potius facultatis, seu (ut verius loquar)
imbecillitatis periculum facere, quam ullam officii ocasionem praetermittere
voluerunt. Quia igitur impositum mihi onus reiicere non possum, dabo quam
diligentissime operam, ut, quod in me est, si non aliorum votis satisfecero,
certe corum, quibus meae vitae rationem commisi iussui non desim.
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Instituições Dialéticas - Prefácio
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Pedro da Fonseca
Faxit Deos opt. Max. ut noster hic labor, qui in eius gloriam, & multorum
utilitatem confertur, & ipsi gratus sit, & prosit omnibus, qui in bonis literis
institui volent.
42
Instituições Dialéticas - Prefácio
Com mais agrado, porém, compus este como que corpo inteiro de
Dialética, por ver que muitos jovens de notável engenho passam imediatamente
das humanidades para o estudo do Direito, os quais, se acaso fossem primeiro
instruídos com estes tratados, muito maiores progressos haveriam de fazer
naquelas disciplinas.
Permita Deus, sumo Bem e suma Grandeza, que este nosso trabalho,
elaborado para Sua glória e utilidade de muitos, não só a Ele seja agradável,
mas também aproveite a todos os que queiram instruir-se nas boas letras.
43
Liber I Institutionum Dialecticarum
Livro I das Instituições Dialéticas
Pedro da Fonseca
Porphy, tract. 1. Difinitio Dialecticae. / Plato. 7. de Repub. / D. August. 3. contra Academ. et. 2. de ordi. /
Cice. de claris orat.
fi
Livro I das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
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Livro I das Instituições Dialéticas
8 Cap. 1.
9 Retórica a Teodoreto, I, 1.
10 No Orador, a Bruto.
11Acadêmicos, segunda parte, livro 1.
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Pedro da Fonseca
51
Pedro da Fonseca
Nota do parágrafo: Divisione, de nitione, et argu omnis cognitio comparatur / Duos tantum
disserendi modos posuit Arist. / Cap. 7. text. 48. Idem Alber. in Porphy, tract. 1.2. post. 5. / Ut in Phaedro,
Sophista, et civili 1. de nibus. / In praefatione. / 2. Deordine. / Boeth. initio top. Cice.
52
fi
fi
fi
Livro I das Instituições Dialéticas
das categorias (dão-se neste livro os primeiros elementos de todos os modos de
discorrer), mas também a todo o método de definir, de dividir e de demonstrar.
Depois, até Santo Agostinho,18 ao falar da origem das artes, afirma que a
razão, definindo, dividindo, inferindo, não só originou a Gramática como a
defendeu de toda a intromissão de erro, o que não poderia ter feito sem o apoio
da Dialética, que dera à luz, como se fora em primeiro parto. É como se, ao
ensinar os três meios gerais de discorrer, a Dialética fosse arvorada em criadora
de todas as artes. Assim se verifica serem três os modos gerais de discorrer, de
cuja exposição tratam'' as três primeiras partes da Dialética.
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Pedro da Fonseca
5 Nota de parágrafo: Magnus Albert. in Porphy, tract. 1. 2. Post. Et 6. top. / Cur Arist. de sola
Argumentatione ex instituto disputet. / 1. meta. 6. ct 13, meta. 4. / Ut 1. prio.32 et. 2. post. 5. Socrates
primus definiendi author. Plato dividendi, Aristoteles ratiocinandi. / 2. elench. extremis verbis. / Lib. post.
/ Lib. top. / Quatenus subiectum Dialecticae recte dicatur Argumentat. aut. Syllogismus. Alb. Mag. In
Por. tract. 1. Scotus ibidem. / Inventionem, et iudicium ad doctrinam Argumentationis pertinere. / Ad top.
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Livro I das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
potius a nominibus, et verbis, ordienda sit artis Dialecticae tractatio. Hanc ergo
de nominibus, et verbis disputationem bipartitam faciemus.
6 Nota do parágrafo: Aris. 3. Rhet ad Theod. / 2. Plato in Sophista. / D. August. initio categoriarum
Ammonius. Boëth. et D. Th. in primum peri berm. / Li. 1. et 2. / Lib. 3. / . Lib. 4./. Lib. 5. / . Lib. 6.7. ct.8
/Ordo naturae. / Ordo doctrinae. / Obiectio. / Dilutio. / Hoc lib. / Lib. 2. / Lib. 8.
56
Livro I das Instituições Dialéticas
as que, naquela arte, são as mais pequenas; as letras, na verdade, embora sejam
simplesmente as partes mais pequenas da oração, contudo, a sua análise não
pertence à Dialética, mas à Gramática. Assim, não há razão para que o tratado
da arte da Dialética comece pelas letras, em vez de começar pelos nomes e
pelos verbos.
Repartiremos, portanto, esta exposição acerca dos nomes e dos verbos
em duas partes: em primeiro lugar,36 falaremos sobre as várias designações dos
nomes e dos verbos; em seguida," agruparemos todas as coisas como que em dez
classes (que são por Aristóteles" chamadas categorias, isto é, predicamentos), a
fim de que se possam encontrar facilmente para construir todos os gêneros de
orações. Do uso dos nomes e dos verbos que os modernos chamam suposição, e
de algumas outras suas determinadas propriedades, falaremos no último livro"
destas Instituições, porque nos parece mais conveniente diferi-lo para esse
lugar.
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Pedro da Fonseca
esse. Id quod Aristoteles, et caeteri omnes non hac tantum ratione fecerunt,
sed etiam quia interna oratione nemo alterum docere potest, incognitaque ex
notis alii patefacere, quod tamen quo pacto faciendum sit Dialecticus tradere
debet.
58
Livro I das Instituições Dialéticas
42 Cap. 8 e 9.
43 Cap. 10 c 11.
44 Cap. 12 e ss.
59
Pedro da Fonseca
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Livro I das Instituições Dialéticas
sinais dizem-se formais porque dão forma e em certo modo figura à potência
cognoscente.
Sinais instrumentais são as coisas que, postas à frente das potências
cognoscentes, conduzem ao conhecimento de outra. Deste gênero é a pegada
de animal impressa no pó, o fumo, a estátua, e outros assim. Com efeito, a
pegada é sinal do animal que a imprimiu; o fumo, de fogo latente; a estátua,
finalmente, de César ou de qualquer outro homem. Estes sinais dizem-se
instrumentais, ou porque por eles, como instrumentos, significamos a outros
os nossos conceitos, ou porque, do mesmo modo que o artífice, para mover
a matéria com o instrumento, necessita de mover o instrumento, assim as
potências aptas para o conhecimento, para conhecerem alguma coisa, por
meio deste gênero de sinais, necessitam de os perceber. Daqui se deduzirá
a claríssima distinção entre estes sinais e os anteriores: com efeito, aqueles
não têm de ser necessariamente percebidos por nós para, por meio da sua
percepção, chegarmos ao conhecimento da coisa significada; estes, porém, se
não são percebidos, a ninguém trazem o conhecimento dela. Diferem também
pela razão de que os primeiros nem são habitualmente chamados sinais, nem
com grande exatidão se diz que significam; mas estes últimos significam ao
máximo. Daí que Santo Agostinho," como que abrangendo todos os que na
conversação popular seriam chamados sinais, definiu o sinal deste modo: sinal
é aquilo que a si mesmo se mostra aos sentidos e, além de si, mostra algo ao
espírito.
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Livro I das Instituições Dialéticas
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Livro I das Instituições Dialéticas
48 Da Interpretação, 1, 1.
49 Cap. 10.
50 Da Interpretação, I, 1.
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Pedro da Fonseca
11 Nota do parágrafo: Duo semper gignuntur conceptus cum proponitur vox, aut scriptura significans
ex instituto. / Cap. 10. / Non ultimatus. Ultimatus. / Discrimen inter conceptum medium et ultimum. / 1.
Peri. 1. / Conceptus medius significat ex impo. et conceptum ultimum, et rem significatam.
66
Livro I das Instituições Dialéticas
51 Da Interpretação, 1, 2.
52 No livro III, cap. 1.
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Pedro da Fonseca
Quod si quis obiiciat, multa esse pro nomina, quae adiuncto verbo Est
efficiant orationem, quae verum, aut falsum significet, quales hae sunt, Ego
sum, Tu es, Ille est, quare pronomina esse nomina, quod videtur absurdum:
occurres, pronomina non ratione sui id efficere, sed ratione nominum, pro
quibus in oratione ponuntur: hanc autem extremam nominum conditionem
sic esse intelligendam, ut nomen ratione sui id efficere dicatur.12
12 Nota do parágrafo: 1. Peri. 2. / Nomina et verba infinita. / Quid significare cum tempore. / 3. Lib.
ap. 1. / Aiectiva adiectiva accepta. / Qua ratione pronomina reiiciantur a difinitione nominis.
Livro I das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
Enunciatio vero, ut obiter dicam, est oratio, quae verum, vel falsum
significat: praedicari autem est affirmari, aut negari de aliquo, sive id vere fiat,
sive falso. Unde praedicatum dicitur id, quod de aliquo affirmatur, aut negatur:
subiectum vero id, de quo affirmatur, aut negatur praedicatum. Sed de hisce
inferius. Hac igitur extrema definitionis particula eiiciuntur verba praesentis
temporis, quae non sunt indicativi modi, ut Disputa, Disputare, et participia
eiusdem temporis, ut disputans, quae quidem superioribus particulis reiici
non possunt. Reiiciuntur ergo, quia quadam corum reperias, quae nunquam
praedicentur, ut Disputa: alia vero, quae et si nonnunquam praedicentur,
aliquando tamen non predicantur, ut Disputare, Disputans, et similia. Si enim
dicas, Disputare est de questione proposita cum altero contendere, Disputans
loquitur, nec illud Disputare, nec illud Disputans praedicabuntur. Sola igitur,
ac omnia verba finita praesentis temporis indicativi modi compreenduntur, in
hac definitione, ut Disputo, Disputas, Deambulo, Deambulas.
Alexandre Magno, corpo animado e outras deste teor, ouvidas as quais, formamos
conceitos simples.
71
Pedro da Fonseca
Eodem fere modo occurres ei, qui opposuerit, verbum Est in hac
enunciatione, Adamus est animal, non praedicari. Dices enim, id non esse
mirum, quia non accipitur pro suo significato, quod est existere, ut accipitur in
hac enunciatione, Adamus est, sed exercet tantum officium syncategorematis
copulantis praedicatum cum subiecto, qua ratione copula verbalis appellari
solet. Itaque hoc est verborum proprium, ut, cum in enunciatione pro suis
significatis capiuntur, semper corum vice de subiecto aliquo dicantur. Idquod
ex ipsa verborum natura nascitur. Verba enim, quae verba sunt, hoc peculiare
habent, ut ipsa per se ac sine ullo vinculo extrinsecus assumpto, praedicari
possint. Exempli causa, ut verbum Disputat de Socrate praedicetur, non est
opus ut quaeratur externum aliquod vinculum ad predicationem perficiendam:
quoniam ipsum sese nomini adiunctum enunciationem absolvet, ut si dicas,
Socrates disputat. Quod tamen satis non erit, ut aliud quodcumque categorema
de subiecto proposito dicatur. Nam si nomini Socrates solum adiunxeris exempli
causa, nomen Philosophus, aut participium Disputans, dixerisque, Socrates
Philosophus, aut Socrates disputans, non absolveris haud dubie enunciationem,
sed necesse erit ut asciscas vinculum Est, cuius interpositu fiat alterius partis
de altera praedicatio.
Quia igitur haec est verborum propria natura, ut per seipsa praedicari
possint, nec egeant nisi subiecto, de quo dicantur, hinc est quod in enunciatione
posita, et pro suis significatis accepta semper de altero praedicentur, quocunque
modo mutentur partes enunciationis. Veluti si dicas, Plato disputat, Disputat
Plato, Plato disputat in Academia, Plato in Academia disputat, In Academia Plato
disputat, aut alio quovis modo enunciationem extruas. 4
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Livro I das Instituições Dialéticas
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Patro da Fonsera
15 Nota do parágrafo: Voces quae sunt vincula duntaxat partium orationis. / Lib. 3. ca. 4. / Voces quae
non videntur orationes et tamen sunt. / Lib. 3. cap. 1. / Quae directo ad nomen, et verbum revocentur. /
Quae oblique ad nomen et verbum reducantur. / Capit. 9. Epilogus.
74
Livro I das Instituições Dialéticas
55 Livro III, 4.
56 Cap. 9.
75
Pedro da Fonseca
apertum videtur ex his orationibus, quas conficere solemus, Blictri est dictio
duarum syllabarum, Scyndapsus nibil significat, et similibus.
Quod vero non sint nomina, aut verba, nec ad ista revocentur, ex dictis
perspicuum est. Huic obiectioni duobus modis occurri potest. Uno quidem,
has voces non esse partes orationis. Nam cum dicimus, Blictri est dictio duarum
syllabarum, illud Blictri non videtur subiectum enunciationis, ut aliquis
fortasse putaverit, sed aliqua alia particula, qua illud Blictri ostenditur, ut haec
vox, hoc, aut alia huiuscemodi, quae quidem aliquando exprimitur, ut in hac
enunciatione, Haec vox Blictri est dictio duarum syllabarum, aliquando vero, quia
facile intelligitur, subticetur, ut in superiori. Exemplum sumi potest in aliis
rebus. Nam sive scribas totum hoc, Haec figura O est cirulus, sive hoc tantum, O
est circulus, neutra in scriptura illud O erit subiectum enunciationis, sed illud,
Haec figura, quod in priori oratione exprimitur, in posteriori subticetur. Item
sive dicam totum hoc, Hic homo (ostendens digito Socratem) est Philosophus,
sive, ostenso codem, addam haec tantum verba, Est philosophus, neutro modo
fecerim ipsum Socratem, qui ostenditur subiectum enuntiationis, sed ea
tantum verba Hic homo, quae in priori oratione exprimuntur, in posteriori
perspicuitatis causa omittuntur. Cui quidem doctrinae satis favet consuetudo.
Fere enim vocibus huiusmodi non significativis, imo et significativis, cum pro
rebus significatis non accipiuntur, praeponuntur aliae particulae, quibus illae
indicentur, ut cum dicimus, Vox Blictri nihil significat, Verbum Disputo est primae
coniugationis: nec vero subticentur, nisi cum ex consuetudine intelliguntur, ut
apud Grammaticos Suffragatur huic sententiae commune illud Dialecticorum
proloquium, Significationem totius orationis conflari ex significationibus
suarum partium: quo fit, ut voces non significativae partes orationis censeri non
debeant. Itaque uno modo occurrere possumus, has voces non esse partes
orationis, sed res significatas, atque ostensas aliis dictionibus, quae sunt
orationis partes, quaeque ferre praeponuntur, et si, cum facile intelliguntur,
praetermittantur.
16 Nota do parágrafo: Obiectio. / Cap. 15. Prior solutio. / Voces non significativas non esse partes
orationis / Posterior solutio. / Cap. 15.
76
Livro I das Instituições Dialéticas
de duas sílabas, cindapso nada significa, e de outras semelhantes. E que não são
nomes ou verbos, nem a eles se reduzem, é fácil de ver pelo que ficou dito."
A esta objeção parece dever responder-se assim: estas vozes não são
partes da oração. Na verdade, quando dizemos blítri é uma dicção de duas sílabas,
blitri não parece o sujeito da enunciação, como talvez alguém tenha julgado,
mas qualquer outra partícula pela qual se mostra blítri, como esta voz, este
som, ou outra expressão deste gênero, a qual umas vezes se exprime, como
nesta enunciação: a voz blítri é uma dicção de duas sílabas, outras vezes, porque
facilmente se subentende, se omite, como na [enunciação] feita acima. Pode
exemplificar-se com outras coisas. Com efeito, quer se escreva por extenso:
a figura O é um círculo, quer somente: O é um círculo, em nenhuma destas
escritas aquele o será o sujeito da enunciação, mas a figura, que se exprime na
primeira oração e se subentende na segunda. Igualmente, quer eu diga tudo
isto: este homem (apontando Sócrates a dedo) é filósofo, quer (apontando o
mesmo Sócrates) diga só estas palavras: é filósofo, nem de um nem de outro
modo eu teria feito Sócrates — que é apontado — sujeito da enunciação, mas
sim as palavras este homem que na primeira oração estão expressas e na segunda
se omitem, em virtude da evidência. O uso favorece bastante esta doutrina.
Realmente, as mais das vezes, a tais vozes não significativas e até às significativas
não tomadas pelas coisas significadas, antepõem-se outras partículas com
que se indicam aquelas, como quando dizemos: a voz blítri nada significa, o
verbo disputo é da primeira conjugação; e não se subentendem senão quando são
entendidas em virtude do uso, segundo os gramáticos. Confirma esta opinião
aquele princípio dos dialéticos: a significação da oração toda é constituída pelas
significações das suas partes; de onde resulta que as vozes não significativas não
devem ter-se como partes da oração. E, sendo assim, de um só modo podemos
responder: é que essas vozes não são partes da oração, mas coisas significadas
e que são manifestadas por outras dicções que são partes da oração, e que,
ordinariamente, se lhe antepõem, embora se omitam quando facilmente se
subentendem.
Mas pode ainda responder-se de outro modo: que tais vozes são partes
da oração, sem serem, contudo, nomes ou verbos nem a estes se reduzirem,
como a objeção supõe; o que foi dito58, porém (isto é, que todas as partes
simples da oração são nomes ou verbos ou a estes se reduzem), não se deve
tomar universalmente, mas só quando as partes da oração são significativas.
Posto isto, é necessário que aquele que tiver resolvido a objeção negue aquela
regra dos dialéticos: a significação da oração toda é constituída pelas significações
das suas partes.
57 Cap. 15.
58 Cap. 15.
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Livro I das Instituições Dialéticas
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63 Primeiros Analíticos, I, 1.
64 Da Interpretação, I, 1.
65 Cap. 12 c 14.
66 Por exemplo: Predicamentos 1 e 5; Da Interpretação, I, 7; Segundos Analíticos, II, 10; Tópicos, II, 13, e
II, 2; Elencos, 1, 1; Metafísica, IV, 4.
67 É tirado dos Predicamentos, cap. 1.
68 Metafísica, IV, 7.
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Pedro da Fonseca
Haec vero dicuntur consilio aequivoca, quia non temere, et casu, sed
consilio, et ratione rebus diversis imponuntur, spectata nimirum cognatione
aliqua carum inter sese. Neque enim hoc genere complecti volumus ea, quae
solum ob memoriam, aut spem consilio aequivoca dicuntur, ut cum quis Pauli
nomine filium appellat, aut in memoriam Divi Pauli, aut sperans filium Divo
Paulo similem futurum, quoniam haec simpliciter sunt casu aequivoca cum
non imponantur rebus diversis ob aliquam carum inter se cognationem. Ea
igitur, quae ob affinitatem rerum significatarum consilio acquivoca vocantur,
aut relatione, aut comparatione relationum talia dicuntur.
Relatione quidem, uno e quattuor modis: vel ad «num nem, quo pacto
hoc nomen Sanum acquivocum est habenti sanitatem, ef cienti, et conservanti:
vel al uno ef ciente, quo pacto haec vox Medicum aequivoca est habenti artem
medicinae, et omnibus instrumentis, quibus medicus utitur: vel ab una forma,
quo pacto hacc vox Animal est aequivoca habenti formam animalis, et animali
depicto, et fictili: vel ab uno subiecto, quo pacto hoc vocabulum Ens aequivocum
est substantiae, quae per se existit, et accidentibus, quae per substantiam, cui
inhaerent, existunt.
18 Nota do parágrafo: Elicitur ex praed. cap. 1. / 4. meta. 7. / Casu acquivoca. / Nomen aequivocum
non est unum nomen sed multa. / 1. peri. 7. / Cur dicantur casu acquivoca. / Ut. 1. de gen. 6. et. 4. met 2.
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Livro I das Instituições Dialéticas
deste gênero não é uma só, mas várias,"" como: o galo canta; Alexandre é filho de
rei; Creso, tendo avançado para o Hális, perderá muitos reinos; os caminhos de Deus
são investigáveis.°
Estes nomes dizem-se equívocos por acaso, porque, ao impô-los, não se
tem nenhuma razão de conexão ou conveniência das coisas significadas. Estes
equívocos são considerados em Aristóteles"' como os equívocos propriamente
ditos.
69 Da Interpretação, 1, 7.
70 Este último exemplo só é válido em latim (N. do T.).
71 Por exemplo: Da Geração e da Corrupção, 1, 6; e Metafísica, IV, 2.
72 Na Ética, I, 6 e na Metafísica, IV, 2.
73 Etica, I, 6.
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Pedro da Fonseca
19 Nota do parágrafo; Ex. 1. eth. 6. et ex. 4. meta. 2. / Cur dicantur consilio aequivoca. / 1. eth. 6. /
Acquivoca re latione. / Acquivoca p portione. / Ct ce. de universitate. / Analoga que dicantur. / Ut. 2. post.
16. et. 1, eth. 6. et. 1, eth. 6. et. 5. meta. 6. / Vide Caie. de Analonia no minum.
20 Nota do parágrafo: Ex praed. 1. / Occurritur tacitae obiectioni. / Omnia pene nomina sunt
acquivoca. / 1. de gener. 6.
Livro I das Instituições Dialéticas
74 Dos Predicamentos, 1.
75 Da Geração e da Corrupção, 1, 7.
85
Pedro da Fonseca
contraria modo aliquo utrique extremo repugnet, et cum utroque modo aliquo
conveniat, merito Aristoteles ita de analogis loquitur, ut nunc ea reiiciat ab
aequivocis, nunc ab univocis: et rursus, modo appellet aequivoca, modo univoca.
Sed cum analogia diversis simpliciter rationibus suis conveniant
significatis, non item simpliciter eadem, sed quodammodo eadem, ut diximus,
non dubium est, quin maiorem cum aequivocis a casu, quam cum univocis
habeant societatem: id quod in causa fuit, ut ab Aristotele initio categoriarum
cadem definitione cum aequivocis a casu, sub communi nomine aequivocorum
definirentur, non item cum univocis sub univocorum nomine. Illud tamen adverte
aliter nos hoc loco, aliter Aristotelem de acquivocis, et univocis disserere: ille
siquidem de rebus, nos de vocibus loquitur.
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Livro I das Instituições Dialéticas
algum modo, convém a um e a outro, com razão fala Aristóteles dos análogos de
tal modo que umas vezes" os exclui dos equívocos, outras vezes" dos unívocos,
e, logo em seguida, lhes chama ora equívocos, 78 ora unívocos."
Mas como os análogos convêm aos seus significados segundo razões
simplesmente diversas e de certo modo as mesmas (não simplesmente as
mesmas), como dissemos, não há dúvida de que têm mais íntima relação com
os equívocos por acaso do que com os unívocos — o que fez que Aristóteles no
início das Categorias lhes tenha dado uma definição comum aos equívocos por
acaso sob o nome de equívocos, e não aos unívocos sob o nome de unívocos.
Note-se, todavia, que nós aqui estamos a discorrer acerca dos equívocos e dos
unívocos diferentemente de Aristóteles: ele falava, na verdade, das coisas;" nós,
das vozes.
São coisas equívocas as que são significadas por vozes equívocas;
unívocas, as que são significadas por vozes unívocas. Os modernos chamam às
vozes equívocas equívocos equivocantes, às vozes unívocas unívocos univocantes;
e às coisas equívocas equívocos equivocados, às unívocas, unívocos univocados.
Porém, sendo isto evidente, não é necessário usar destes vocábulos. Entenda-
se apenas, de passagem, que, segundo os vocábulos gregos, com maior
propriedade se chamam equívocas e unívocas as coisas do que as vozes. Com
efeito, quer os homônimos [óucvua] que nós dizemos equívocos, quer os
sinônimos (ouvávua] que chamamos unívocas, se dizem, pela própria força
dos vocábulos, como que possuidores do mesmo nome comum, nome esse
que, sem dúvida, se entende acerca das coisas que transmitem a denominação
para as vozes. E, assim, as vozes dizem-se equívocas, porque significam coisas
equívocas, e unívocas, porque significam coisas unívocas.
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Pedro da Fonseca
Nomen absolutum est, quod significat aliquid non quasi adiacens alicui,
sed quasi per se subsistens, seu (ut Dialectici loquuntur) per modum per se
stantis: qualia sunt omnia quae a definitione connotativorum reiecimus. Ex co
autem dictum videtur nomen connotativum, quia praeter id, quod significat,
aliud etiam, de quo dicitur, notat. Absolutum vero, quia praeter id, quod
significat, nil aliud notat, de quo dicatur.
Illud tamen hoc loco praetermittendum non est, latius patere Concreti
nominis nuncupationem, quam Connotativi: et Connotativi, quam, eius quod
apud Grammaticos Adiectivum dicitur. Quanquam enim omne adiectivum
est connotativum, et omne connotativum concretum (id quod animadvertenti
facile patebit) non tamen omne concretum est connotativum, nec omne
connotativum adiectivum. Haec enim vocabula, Socrates, Homo, Animal, et alia
pene infinita primarum, et secundarum substantiarum testibus etiam Theologis
concreta sunt, nec tamen connotativa dici possunt. Haec item verba. Pater,
Dominus, Praeceptor connotativa sunt, nec tamen adiectiva, sed substantiva.
Quo fit ut perperam hae nuncupationes a quibusdam confundantur, et pro
eadem promiscue usurpentur.23
23 Nota do parágrafo: Quid sit significare aliquid adiacens alicui. / Quid sit significare aliquid quasi
adiacens alicui. / Connotativum, aliud significat, et de alio dicitur. Album solam qualitatem significar.
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autem, cuius non est connotativum, denominative praedicari non potest. Haec
item nomina Bonus, Sapiens, Iustus, praedicantur denominative de hominibus,
quibus bonitas, Sapientia, et lustitia accidentaria est: de Deo autem, in cuius
simplicissima essentia huiusmodi perfectiones continentur, non denominative,
sed essentialiter, dicuntur. Aeneum quoque, Ligneum, et huiusmodi, dicuntur
denominative de figuris, ut de circulo, et triangulo: essentialiter autem, non
denominative de rebus ex figura et materia compositis, ut de triangulo aenco, et
ligneo circulo. Rationale denique dicitur denominative de animali, essentialiter
de homine, ac Socrate.24
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Astrologi, qui disserunt de mundo, sole et cateris huiusmodi, non agunt nisi
de rebus communibus, cum singularia omnium Philosophorum consensu a
disciplinis reiiciantur) his autem nominibus non congruit definitio nominis
communis, quia non praedicantur de pluribus (neque enim vere dicimus plures
esse mundos, aut, soles, aut lunas, aut mercurius) igitur definitio nominis non
convenit omnibus nominibus communibus. Quare non est recte tradita.
Priori obiectioni occurres, Altero e duobus modis nomina dici posse
communia, aut sola voce, aut voce, ac significatione simul: atque aequivoca
quidem nomina voce sola esse communia, nos ea tantum definivisse, quae
et voce, et significatione sunt communia, quare non mirum esse si definitio
nominis communis nomina communia prioris generis non comprehendat.
At dum ita respondeo videor plane retexere id, quod susupra dixi, Hoc
nomen Deus esse singulare, non commune. Ut enim hoc nomen Mundus
non significat primo hune mundum, sed mundum absolute, sub quo concipi
possunt plures mundi, sic nomen Deus non videtur primo significare hunc
Deum, sed Deum absolute, sub quo proinde concipi possunt plures Dii:
quare si nomen Mundus, quia significat mundum absolute, commune est,
pari ratione nomen Deus commune erit. Verum si recte attendis, nil retracto.
Nam longe aliter sentiendum est de nomine Deus, atque de nomine Mundus,
deque cateris huiusmodi. Haec namque significant res finitae perfectionis,
quae quidem communi conceptu concipi possunt, additionemque singularis
perfectionis, recipere, illud autem significat rem perfectionis infinitae, quae,
cum additionem perfectionis admittere nullo modo valeat, non potest concipi
nisi ut designata, et singularis.
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Livro I das Instituições Dialéticas
de coisas comuns, uma vez que os singulares são rejeitados das ciências pelo
consenso de todos os filósofos); ora, a estes nomes não se ajusta a definição do
nome comum, porque se não predicam de vários (e nem dizemos, com verdade,
que há vários Mundos, vários Sóis, Luas, ou Mercúrios); por isso, a definição
de nome comum não convém a todos os nomes comuns — de onde se infere
que a mesma não foi bem dada.
À primeira objeção responder-se-á que os nomes se podem dizer
comuns, por um de dois modos: ou só quanto à voz, ou quanto à voz e à
significação simultaneamente; ora os equívocos são todos comuns só quanto à
voz; nós, porém, só definimos os que são comuns quanto à voz e à significação;
por isso, não é para admirar se a definição de nome comum não compreendera
os comuns do primeiro gênero.
À segunda responder-se-á: aqueles nomes não só são verdadeiramente
comuns, como por nós foram definidos, mas também se predicam de vários.
Com efeito, não significando o nome Mundo, primariamente, este mundo
designado, mas o mundo absoluta e simplesmente, atento o modo como
os filósofos discorrem acerca do mundo, não há dúvida de que pelo modo
da sua significação se pode predicar de vários mundos que, sob um mundo
absoluta e simplesmente concebido, se podem apreender e pensar. E assim,
se se apreenderem na mente três mundos, já se poderá enunciar de cada um
deles, com exatidão, o nome Mundo, embora não existam vários na natureza
das coisas. O mesmo se deve dizer dos restantes nomes deste teor.
Mas, enquanto assim respondo, parece desdizer-se completamente o
que acima disse: que o nome Deus é singular, não comum. Assim como o
nome Mundo não significa, primariamente, este Mundo, mas o mundo em
absoluto, sob o qual se podem conceber vários mundos, assim o nome Deus
não parece significar, primariamente, este Deus, mas Deus em absoluto, sob o
qual se podem conceber vários deuses. Por isso, se o nome Mundo é comum
porque significa mundo em absoluto, com igual razão o nome Deus será
comum. Mas se bem se atender, não há contradição da minha parte. Com
efeito, muito diferentemente se deve pensar acerca do nome Deus e do nome
Mundo, e de outros assim. Estes, na verdade, significam coisas de perfeição
finita, as quais podem, na verdade, ser concebidas por um conceito comum e
receber a adição duma perfeição singular; aquele, porém, significa uma coisa de
perfeição infinita, a qual uma vez que, de modo nenhum, pode admitir adição
de perfeição, não pode conceber-se senão como designada e singular.
Mas, se alguém persistir em afirmar que o metafísico discorre sobre
Deus, e que, portanto, se os singulares, como dissemos, são rejeitados pelas
ciências, o nome de Deus não é singular, mas comum — responder-se-á: com
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razão se deve excetuar desta regra aquilo que, em virtude da sua perfeição, não
pode ser apreendido por conceito comum ou universal.
Não negarei, contudo, que o nome Deus, quer quanto à voz, quer ainda
de certo modo quanto à significação, é comum a Deus e aos homens que, na
Sagrada Escritura, em virtude do múnus de julgar ou duma graça pela qual são
semelhantes a Deus, se chamam deuses. Mas esta comunhão é analógica e não
dissemelhante daquela por que o nome de Heitor, o Troiano, se transmite aos
homens fortes, o de Cícero aos eloquentes e o de Jó aos pacientes.
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quam de iis, quae vera res non sunt, vere af rmantur: ut Nonhomo, Nonchimaera.
Illud enim dicitur de omnibus tum fictis, tum veris rebus, praeterquam de
homine: hoc autem de omnibus similiter praeterquam de chimaera. Quac
vero ex hoc genere aut cum solis veris rebus, aut cum üs, quae verae res non
sunt, reciprocantur, ut Nonnihil, et Nonens, ea, quia non tam late patent, non
dicuntur ab Aristotele infinita.
Nomina positiva sunt, quae non significant negationem alicuius, ut
Homo, Chimaera, Videns, prudens, Indutus, et similia. 28
Prima tamen obiectio facile diluetur, si dicas, hoc nomen Negatio nec esse
negativum, ut probatum est, nec significare negationem alicuius. Quanquam
enim omnis negatio specialis, ut negatio aspectus, negatio hominis, negatio
entis, et negatio hippocentauri neget aliquid, hoc est significatum alicuius
nominis, tamen negatio in commune nihil omnino negat.
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si ita colligas, Hoc nomen Pater significat respectum ad filium, ergo significat
respectum et filium. Cur autem duo in nobis gignantur conceptus audito
nomine Nonhomo, negationis scilicet, et hominis, causa est, quia negatio
specialis concipi non potest, nisi concipiatur id, quod negatur, non autem quod
una pars nominis infiniti imprimat unum conceptum, altera alterum. Non
secus enim audito nomine Pater concipimus et patrem, et filium: verum non
quia pars altera nominis gignat alterum conceptum, altera alterum, sed quia
pater sine filio percipi nullo modo potest.
29 Nota do parágrafo: Obiect. 1. / Obiect. 2. / Obiect. 3. / Cap. superiori. / Cap. 15. / Solut. 1. /
Sola negatio specialis ali quid negat. / Solut. 2. / 1. Peri. 2. / Vide supra / Cap. 13. / Occurritur ineptae
obiectioni. / Cur audito infinito nomine duo in nobis gignantur conceptus. / Solut. 3. / Duplex significatio
vocis Nihil.
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nomear em primeiro lugar, não é alheio a este emprego dos nomes o dizerem-
se as primeiras de primeira imposição e as segundas de segunda.
Embora, na verdade, os nomes de coisas fictícias, como esfinge, quimera,
e outras assim, não sejam de primeira nem de segunda intenção, na segunda
acepção, como se mostra pelo que ficou dito, podem, todavia, por certa redução,
dizer-se de primeira intenção, porque as coisas fictícias, apesar de não serem
verdadeiras, são, contudo, fingidas serem verdadeiras; o que ajuntarei para que
não haja nome algum, que, de um ou outro modo, se não diga de primeira ou
segunda intenção.
Baste o que disse acerca das várias denominações dos nomes e dos
verbos. Esta parte do nosso tratado corresponde ao início das Categorias
de Aristóteles, onde ele, antes de entrar nas categorias, diz alguma coisa dos
equívocos, unívocos e denominativos, dos complexos e incomplexos, dos
universais e singulares.
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Liber II Institutionum Dialecticarum
Livro II Das Instituições Dialéticas
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Ita fit ut duplex sit naturalis praedicatio sive secundum naturam, una
identica, in qua praedicatum, et subiectum sunt omnino idem altera, que directa
dicitur, (quae quidem formalis non incommode vocari posset) in qua id quod
est quasi forma praedicatur de eo, quod se habet, ut materia. Porro identica
etsi maxime naturalis est, tamen ea rationea nobis praetermissa est in prima
aditione, quia nihil habet artis. Nunc autem consultius eam comprehendimus,
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quia Porphyriana Isagoges, quam priori parte huius libri adumbrare conamur,
non excludit identicam, ut eo loco patebit.
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responderá bem quem disser que a justiça é uma virtude e que Sócrates é um
homem.
Predicam-se na pergunta qual é os que respondem acertadamente,
quando se pergunta pela qualidade de alguma coisa. Deste modo se predicam
de Sócrates: racional, vertical, e atributos semelhantes. Com efeito, se alguém
perguntar que qualidade de animal é Sócrates, aptamente responderá quem
disser que é animal racional, vertical, etc.
Predicam-se essencialmente os que pertencem à essência do sujeito.
Deste modo se predicam do homem tanto animal, como racional. E predicam-
se acidentalmente os que não pertencem à essência do sujeito. É deste modo
que se predica vertical de homem, e branco de cisne.
Predicam-se necessariamente (no sentido em que aqui se toma predicação
necessária)'" os que de tal modo se afirmam do sujeito que dele se não podem
negar sem o destruir. Assim se predica de homem capaz de educação. Com
efeito, se alguém negar que o homem é capaz de educação, é lógico que negue
que o mesmo é homem. Estes universais dizem-se do sujeito com tão firme
predicação, porque ou pertencem à essência do sujeito ou brotam dos íntimos
princípios da essência.
Finalmente, predicam-se não necessariamente ou contingentemente Os
universais que de tal modo se afirmam do sujeito, que podem negar-se do
mesmo sujeito sem o destruir. 1º Assim se predica branco não só de homem,
mas também de cisne. Assim como não nega que um homem é homem aquele
que nega que ele é branco, sendo de fato branco, assim não nega que um cisne
é cisne quem negar que ele é branco. Embora isto se diga falsamente, todavia,
daqui não se segue que o cisne se diga não cisne, uma vez que a brancura do cisne
nem pertence à sua essência, nem é exigida pelos seus princípios intrínsecos.
Mas não pertence a este lugar estudar estas coisas mais diligentemente.
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Ea vero dicuntur differe specie, quae aut sunt diversae species, ut homo
et equus: aut sub diversis speciebus continentur, ut Alexander, et Bucephalus
Alexandri equus.
Tam vero genus duplex est: aliud summum, aliud subalternum, ut vocant.
Ea res dicitur genus summum, quae supra se nullum genus habet: et, quae, cum
si genus, non est etiam species, ut substantia, qualitas, et alia, de quibus inferius
dicemus. Ea vero dicitur genus subalternum, supra quam aliud genus assignatur,
et quae, cum sit genus, est etiam species, ut corpus. Hoc enim comparatione
substantiae est species, comparatione corporis animati est genus. Latini tamen
saepenumero nomen generis pro quacunque re universali, (late etiam accepto
nomine universalis) usurpant: ut cum dicunt, multa esse animalium genera
Hominem, Equum, Leonem, et caetera: item Medicinae duo esse genera
subiecta, Sanum, et Aegrum. Quo loquendi charactere, quoniam usurpatissimus
est, saepissime utimur. 33
Caput IV - De specie
Species est id quod proxime sub aliquo genere collocatur: ut homo.
Proxime siquidem sub animali, quod genus est, continetur.
Est autem duplex species, altera infima, altera subalterna. Ea res dicitur
species subalterna, sub qua est alia species: seu, quae cum species sit, est etiam
genus: ut animal, corpus animatum, corpus. Nam horum quodque habet sub
se species, quarum comparatione est genus, et supra se genus aliquod, cuius
respectu est species. Ea vero res dicitur species infima, sub qua non collocatur
alia species: seu, Quae cum sit species, non est etiam genus: ut homo. Siquidem
homo nullam sub se habet speciem, sed sola individua, quorum nequaquam
genus est. Quo fit, ut aliam respectu horum sortiatur speciei appellationem,
qua sic species definitur. Species est, quae tantum de iis pluribus, quae solo
differunt numero, in questione Quid est praedicatur: ut homo de individuis
tantum hominibus, qui solo differunt numero.
Individuum est id, quod de una tantum re praedicatur: seu, cuius omnes
simul proprietates multis rebus convenire non possunt. His de causis dicimus
Socratem esse individuum, tum quia de se solo praedicatur, tum etiam quia
omnes eius proprietates simul acceptae in alia etiam re inveniri non possunt.
118
Livro II das Instituições Dialéticas
Diz-se que diferem na espécie as coisas que ou são espécies diversas, como
homem e cavalo, ou se contêm debaixo de espécies diversas, como Alexandre e
Bucéfalo, cavalo de Alexandre.
O gênero é duplo:113 supremo e subalterno, como dizem. Diz-se gênero
supremo o que, acima de si, não tem outro gênero, e que, visto ser gênero, não
é também espécie, como substância, qualidade, e outras coisas de que adiante
falaremos. Diz-se gênero subalterno o que tem acima de si outro gênero e
que, apesar de ser gênero, é também espécie, como corpo. Este, com efeito,
em relação à substância, é espécie; em relação ao corpo animado, é gênero.
Os latinos, todavia, empregam, muitas vezes, o nome de gênero por qualquer
coisa universal (tomado latamente o nome universal), como quando dizem: há
muitos gêneros de animais: homem, cavalo, leão, etc.; ou: são só dois os gêneros
sujeitos da Medicina — são e doente. Usamos muitíssimas vezes este modo de
falar, visto ser muito corrente.
Capítulo IV - Da espécie
Espécie é o que se coloca imediatamente sob algum gênero,''ª como
homem. Com efeito, homem está contido imediatamente abaixo de animal, que
é gênero.
A espécie é dupla: infima e subalterna. Diz-se espécie subalterna aquela
sob a qual há outra espécie, ou aquela que, sendo espécie, é também gênero,
como: animal, corpo animado, corpo. Na verdade, cada um destes tem, abaixo
de si, espécies em relação às quais é gênero, e tem, acima de si, um gênero em
relação ao qual é espécie. Diz-se espécie infima aquela sob a qual se não coloca
outra, ou aquela que, sendo espécie, não é também gênero, como homem. Na
verdade, homem não tem abaixo de si espécie alguma, mas só indivíduos, dos
quais de modo nenhum é gênero. Por isto, se escolhe em atenção a estes uma
outra denominação de espécie, pela qual ela se define assim: espécie é o que,
na resposta à pergunta o que é, só se predica daquelas várias coisas que diferem
apenas quanto ao número, como homem se predica somente dos homens
indivíduos, que só diferem quanto ao número.
Indivíduo é o que se predica de uma única coisa, ou aquilo cujas
propriedades, no seu conjunto, não podem convir simultaneamente a muitas
coisas. Por isso dizemos que Sócrates é um indivíduo, não só porque se
predica de si só, mas também porque todas as suas propriedades ou acidentes,
simultaneamente tomados, se não podem encontrar noutra coisa.
Diz-se que diferem quanto ao número as coisas que se enumeram como
diferentes. Assim: Sócrates e Platão, e, igualmente, homem e cavalo; mas
113 Porfírio, Da Espécie.
114 Porfírio, em Da Espécie.
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hominem, simul etiam dicit animal, quandoquidem homo, qua homo, est
animal. Ea vero differunt solo numero, quae et individua sunt, et sub genere
suo nullo universali discrimine dissident. Hoc modo differunt Socrates et
Plato, quia et individui homines sunt, et sub genere suo, quod est animal, nullo
universali discrimine distinguuntur, sed tantum quod Socrates sit hic, Plato
ille, quanquam sub alio genere universali aliquo discrimine distingui possint:
ut si Socrates sit albus, Plato vero niger. Non hoc modo differunt Alexander,
et Bucephalus, quia sub animali, alio etiam discrimine, quod universale est,
multisque individuis commune, distinguuntur: ut quod Alexander sit rationis
particeps, Bucephalus rationis expers. Cicero de nomine speciei ita inquit.
Formae sunt, quas Graeci idéas vocant: nostri siqui haec forte tractant, species
appellant: non pessime id quidem, sed inutiliter ad mutandos casus in dicendo.
Nolim enim, ne si Latine quidem dici possit, specierum, et speciebus dicere,
et saepe his casibus utendum est: at formis, et formarum velim. Cum autem
utroque verbo idem significetur, commoditatem in dicendo non arbitror
negligendam. Haec Cicero. Verum, Dialectici non tanta verborum religione
obstringuntur.34
Caput V - De Differentia
Differentia dici potest ea forma, quas res aut a se in alio, et alio tempore,
aut ab alia re, differt. Ea vero triplex est, communis, propria, et maxime propria.
Communis differentia est ea, quae nec pertinet ad essentiam rei, nec inseparabilis
ab ea est, ut sedere, stare, et huiusmodi alia. Propria est, quae inseparabilis
quidem est, sed tamen ad essentiam non pertinet, ut habere cicatricem, quae
iam callum obduxeri: habere oculos caesios: esse disciplinae capax, et similia.
Maxime vero propria, quae et specifica dicitur, est ea, quae et inseparabilis est, et
ad essentiam rei pertinet, ut corporeum esse, animatum, sensitivum, rationale,
et caetera huiusmodi.
Inter haec differentiarum genera est late patens discrimen. Communibus
enim, ac propriis differentiis, accidentaliter tantum res discrepant: maxime
autem propriis, essentialiter. Item communibus et propriis, nec dividuntur
genera in species, nec definitiones specierum assignantur: iis vero, quae maxime
propriae dicuntur, maxime. Ac illae quidem priores, vel proprietates sunt,
34 Nota do paragrafo: Porphy. de specie. / Species subalterna. / Species infima. / Species ut universale
quiddam est / Individuum / Quae differunt numero Boeth. in Porphy. ad cap. de gen. / Quac differant solo
numero. / Quae nos species. Cicer. in Topicis commodius formas dicendas putat.
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Livro II das Instituições Dialéticas
não enquanto homem e animal. Com efeito, quem diz homem, diz também,
simultaneamente, animal, visto que homem, enquanto homem, é animal.
Diferem só quanto ao número as coisas que são também indivíduos e, sob o
seu gênero, não diferem por nenhuma distinção universal. Sócrates e Platão
diferem segundo este modo, porque são homens indivíduos e, sob o seu gênero,
que é animal, não diferem por qualquer distinção universal, mas somente pelo
fato de Sócrates ser este e Platão aquele, embora sob outro gênero universal
possam diferir por alguma distinção universal, como se Sócrates fosse branco
e Platão negro. Não é segundo este modo que diferem Alexandre e Bucéfalo,
porque, sob animal, diferem também por uma outra distinção, universal é
comum a muitos indivíduos, e que é o fato de Alexandre ser racional e Bucéfalo
irracional. Cícero diz acerca do nome de espécie: formas são aquilo a que os
Gregos chamam idÉal [idéias]; os nossos, se por acaso alguns tratam destas
coisas, chamam-lhes espécies; não é modo de falar péssimo, mas é nocivo, pelo
que respeita à mudança dos casos na linguagem. Embora em latim se possa
dizer das espécies e às espécies, e muitas vezes se tem de usar destes casos, eu não
o aprovaria. Diria antes: às formas, das formas. Como, porém, com uma e outra
palavra se significa o mesmo, julgo que não deve desprezar-se a comodidade
na linguagem. Isto diz Cícero. Os dialéticos, porém, não estão obrigados a
tão grande respeito pelas palavras. [Boécio em "Porfírio" no capítulo sobre o
gênero.]
Capítulo V - Da diferença
Diferença pode dizer-se a forma pela qual uma coisa difere ou de si, em
tempos diferentes, ou de outra.115 É tríplice: comum, própria e maximamente
própria. Diferença comum é a que nem pertence à essência da coisa nem dela
é inseparável, como: sentar-se, estar de pé, e outros assim. Diferença própria é
a que é inseparável da essência, mas não pertence à essência, como: ter uma
cicatriz, ter um calo endurecido, ter olhos esverdeados, ser capaz de educação,
e outras semelhantes. Maximamente própria, que também se diz específica, é a
que não só é inseparável, mas também pertence à essência da coisa, como: ser
corpóreo, animado, sensitivo, racional, e outros mais.
Está bem patente a distinção entre estes gêneros de diferenças. Pelas
diferenças comuns e próprias, as coisas só diferem acidentalmente; pelas
maximamente próprias, diferem essencialmente. Do mesmo modo, nem os
gêneros se dividem em espécies, nem as espécies se definem pelas diferenças
comuns e próprias; mas, por aquelas que se dizem maximamente próprias,
maximamente [se dividem os gêneros e se estabelecem as definições]. E as
121
Pedro da Fonseca
vel accidentia, de quibus adhuc dicendum est: hae vero a cateris omnibus
universalibus distinguuntur.
Harum igitur, quae huius loci sunt, duo numerantur officia, alterum
quod dividant genera, alterum quod constituant species. Nam quemadmodum
aes, cum sit unum quid, diversis tamen figuris, ac formis distrahitur, ut ex ipso,
et accessione diversarum formarum fiant diversae res artificiosae ut statua, et
sphaera, sic animal, quod est genus hominis, et belluae, cum unius naturae sit,
tamen rationali, et irrationali, ut pote diversis differentiis, dividitur, ut ipsarum
accessione homo, et bellua, quae sunt diversae species, efficiantur.
Hinc fit ut differentia apte definiatur hoc modo. Differentia est id, quo
species suum genus excedit. Constat enim species genere ac differentia generi
adiuncta, qua tamen non constat genus. Item hoc modo. Differentia est id, quod
ita separat species sub codem genere, ut ad earum essentiam pertineat. Item
hoc modo Differentia est id, quod praedicatur de pluribus specie differentibus
in questione Quale est, necessario et essentialiter. Verum haec definitio non
complectitur eas differentias, quae proxime species infimas constituunt, ut
rationale. Omnes tamen complectetur, si expunxeris illud Differentibus specie.
Si enim quis te rogaverit, qualia nam animalia sint Socrates, et Plato secundum
differentiam necessario utrique convenientem, et ad utriusque essentiam
pertinentem, apte respondebis, esse rationalia. Atque ita in cateris.
Caput VI - De proprio
Proprium apud Aristotelem duplex est, complexum, et simplex. Complexum,
cum sit oratio, in definitionemque, ac descriptionem dividatur, alio pertinet.
35 Nota do parágrafo: Porphy. de differentia / Communis. / Propria. / Maxime propria. / Primum
discrimen. / Secundum. / Tertium. / Duo differentiarum officia / Prima definitio differentiae. / Secunda. /
Tertia. / Generalis differentia. / Specialis. / Differentia individuans / Scot. 2. d. 3. q. 6. et Caiet. in Librum
de ente et essent. q. 5. ar. 4. ad finem.
122
Livro II das Instituições Dialéticas
Capítulo VI - Do Próprio
O próprio, segundo Aristóteles, 16 é duplo: complexo e simples. O
complexo, visto ser oração e dividir-se em definição e descrição, será tratado em
outro lugar.'' O nome de próprio simples, se for tomado como acidental (o
116 Todo o livro V dos Tópicos e quase nas últimas palavras do sétimo.
117 No livro V.
123
Pedro da Fonseca
Simplicis vero nomen quadrifariam accipitur. Nam et id, quod soli alicui speciei
convenit, non tamen toti, proprium eidem soli alicui speciei convenit, non
tamen toti, proprium eidem esse dicitur, ut homini grammaticum esse: et id
etiam quod toti, non tamen soli, ut homini esse bipedem: et id quoque, quod
soli ac toti, non tamen semper, ut homini canescere: et id demum, quod soli, ac
toti, ac semper, ut homini esse aptum ut rideat.
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Livro II das Instituições Dialéticas
essencial, com efeito, pertence à terceira espécie de universal) toma-se em
quatro acepções.118 Com efeito, o que convém só a alguma espécie, e não à
espécie na sua totalidade, diz-se ser-lhe próprio, como é, para o homem, ser
gramático; igualmente, o que convém a toda uma espécie, mas não somente
a ela, como é, para o homem, ser bípede; e também o que convém só e a
toda uma espécie, todavia não sempre, como é, para o homem, encanecer; e,
finalmente, o que convém só e a toda uma espécie e sempre, como é, para o
homem, ser capaz de rir.
Destas acepções a última é a mais importante. Com efeito, diz-se
maximamente próprio duma coisa o que com ela tem reciprocidade. Ora tudo
o que se diz próprio no quarto modo tem reciprocidade com a coisa de que é
próprio, como neste exemplo: tudo o que é homem é capaz de rir, e, por sua
vez, tudo o que é capaz de rir é homem; e assim em outros deste gênero — o
que, todavia, nos três modos anteriores, nunca se diria com verdade, como é
bem claro.
Estes modos vão ser remetidos para o acidente, que em breve
explicaremos, pois não se predicam necessária, mas contingentemente, da
espécie — exceptuados alguns do segundo gênero, como é ser sensitivo, tomado
no sentido de faculdade ou potência de sentir, e outros semelhantes. Estes, com
efeito, predicam-se necessariamente, e nascem da própria essência da coisa,
condições estas que não convêm ao acidente, como diremos. Todavia, nenhum
destes é próprio do quarto gênero, segundo Porfirio,"° porque nenhum tem
reciprocidade com a espécie ínfima, a única que ele, ao falar do próprio, entende
com o nome de espécie.
Os dialéticos, portanto, para abrangerem todos os próprios que
dizem respeito ao quarto universal, de que agora tratamos, definem assim o
próprio: Próprio é o que, na pergunta qual é, se predica de vários acidental e
necessariamente, como: ser apto para sentir, para compreender as ciências, e
outras coisas deste gênero. Se, pois, alguém nos perguntar pela qualidade do
homem, segundo o que lhe convém acidental e necessariamente, responderemos
bem que é apto para sentir, para compreender as ciências, e outras coisas deste
gênero. Há duas espécies de próprio: uma geral, que tem reciprocidade com
uma coisa que é gênero; outra especial, que tem reciprocidade com uma coisa
que é espécie ínfima. Demos agora mesmo um exemplo de cada. Com efeito,
ser apto para sentir tem reciprocidade com animal e apto para compreender as
ciências tem reciprocidade com homem.
O Lúculo ciceroniano diz120 claramente que os físicos mais instruídos
ensinam que cada coisa, isto é, cada indivíduo, tem as suas propriedades. Isto
118 Porfírio, Do Próprio.
119 Como está patente no cap. sobre o gênero e do comum.
120 Questões Acadêmicas, primeira edição, livro II.
125
Pedro da Fonseca
Sed quaeret aliquis, qua ratione colligi possit, universalia non esse
plura, quam ea quinque, quae a nobis explicata sunt. Cui questioni haec
ratio reddi potest. Universalia aut praedicantur in questione Quid est, aut in
questione Quale est. Sin in questione Quid est, aut continent in se totam
naturam communem individuorum, aut partem: si partem, sunt genera:
si totam, sunt species. Si vero praedicantur in questione Quale est, aut
predicantur essentialiter, aut accidentaliter: si essentialiter, sunt differentiae:
si accidentaliter, aut praedicantur necessario, aut contingenter: si necessario
sunt propria: sit contingenter, sunt accidentia. Hac igitur ratione patet non
36 Nota do parágrafo: Toto. 5. top. et extremis pene verbis septimi. / Ad librum. 5. Porphyr. de
proprio. / 1 / 2 / 3 / 4 / Quarta proprii acceptio praecipua est / Primus, secundus, et tertius modus ad
accidens ptinent, quibusdam exceptis. / Ut ex capit. de genere, et ex communitat. patet. / Proprium quid
sit. / Proprium generale. / Speciale. / Academ. q. primae editionis. lib. 2. / Quo pacto verum videatur,
singularum rerum singulas esse proprietates
126
Livro II das Instituições Dialéticas
não me parece certo, a não ser que, pelo nome de propriedade, se entenda
a diferença individuante, ou todo o conjunto de acidentes comuns, que se
encontram somente numa coisa única.
127
Pedro da Fonseca
esse plura universalia, quam ea quinque, quae a nobis sunt exposita. His ergo
utcunque explicatis ad predicamenta ingrediamur.37
37 Nota do parágrafo: 1. phy. 3. texti. 28. et. 5. metaph. 30. text. 35. / Porphy. d accident. / 1. Top. 4. /
Quid accidens / Duplex accidens. Porphy. ibidem. / Omnia accidentia separantur cogitatione. / Cap. 2. /
Non esse plura universalia, quam quinque hactenus explicata.
128
Livro II das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
38 Nota do paragrafo: Es Porphy de specie. el Arist, praed. 2. ct. 1. post. 18. / Cap. 3. / Reale ras. /
Ur. 5. meta. ad cup. 7. / Eno rationis non ponitur per se in praedicamentis. / Quae ponantur sub grorir
summo. / Differentiar non pomuntor per se in praedicam. / Ner aliae quaedam partes. / Propria, 11
accidentia proni possunt. / Nota. / Praed. 5.
130
Livro II das Instituições Dialéticas
modo,
ente dearazão;
estas classes
e outras,dedecoisas,
outrosexceto Deus,
modos.!'' PorSumo Bemse
isso, tudo e Suma
reduz,Grandeza,
de algum
para o qual convergem antes, como rios para o pélago infinito de todo o ser,
estes mesmos predicamentos. E porque os nomes se usam em vez das coisas,
não há dúvida de que os mesmos predicamentos se podem considerar também
como constituídos por nomes, uns por si mesmos, outros redutivamente, como
dissemos acerca das coisas. É principalmente deste modo que o Dialético
considera os predicamentos, a fim de ter preparados neles, como em lugares
131
Pedro da Fonseca
Caput X - De substantia
Substantia, quae in primo predicamento per se ponitur, est ens reale,
per se subsistens: ut angelus, homo, lapis. Dixi Reale (quod verbum de inceps
in omnibus definitionibus intelligendum est) quia caeterorum entium nullum
per se pertinet ad aliquod predicamentum, ut paulo superius diximus. Addidi
Per se subsistens, hoc est non existens in alio ut in subiecto in haesionis, quia hoc
differt substantia ab accidentibus, quae pertinent ad alia predicamenta, quod
accidentia, nisi in subiecto in haesionis sint, naturaliter existere non possunt,
ipsa vero substantia naturaliter per se ipsam cohaeret, ac existit. Substantiarum
autem quaedam sunt primae, quaedam secundae. Primae substantiae sunt ea
entia, quae nec in subiecto sunt, nec de subiecto dicuntur, hoc est, quae nec
cohaerent in aliquo subiecto in haesionis, nec de ullo, ut de parte subiecta,
essentialiter praedicantur: ut Socrates, et Plato. Priori particula excluduntur
accidentia: posteriori excluduntur genera, et species substantiarum. Itaque
solas ac omnes individuas substantias complectitur haec definitio. Secundae
substantiae sunt genera, et species, sub quibus collocantur primae: ut animal, et
homo, sub quibus continentur Socrates, et Plato. Ordo specierum substantiae
ex supradictis utcunque patet.
prazer Nota de putprio is per hab. et contrico prega i predi posente quin cana.
/ Ex vocibus etiam constituuntur quodam modo praedicamenta. / Quo pacto dialecticus predicamenta
consideret.
132
Livro II das Instituições Dialéticas
comuns, os nomes e os verbos para a estrutura da oração. Mas, visto que, pela
disposição das coisas, sem dificuldade se entende a disposição dos vocábulos,
será suficiente explicar as séries predicamentais nas coisas. Isto, contudo, tem
de fazer-se, embora só pela rama (como costuma dizer-se), para não parecer
que nos esquecemos do nosso propósito.
Capítulo X - Da Substância
Substância, que se coloca por si no primeiro predicamento, é um ente
real por si existente,,132 como: anjo, homem, pedra. Disse real (palavra que, de
ora em diante, se deve subentender em todas as definições), porque nenhum
dos demais entes pertence por si a algum predicamento, como dissemos
pouco acima. Juntei por si existente, isto é, não existente em outro como em
sujeito de inerência porque é nisto que a substância difere dos acidentes, os
quais pertencem a outros predicamentos, visto que, se não estão no sujeito
de inerência, naturalmente não podem existir; porém, a substância é por si
mesma naturalmente coerente e existente. Das substâncias, umas são primeiras,
outras segundas. Substâncias primeiras são os entes que nem estão no sujeito,
nem se dizem do sujeito,133 isto é, que nem estão ligados a algum sujeito de
inerência nem de algum, como de parte sujeita, essencialmente se predicam,
como: Sócrates e Platão. Pela primeira parte excluem-se os acidentes, pela
segunda excluem-se os gêneros e as espécies das substâncias. E assim a
definição compreende só e todas as substâncias indivíduas. Substâncias segundas
são os gêneros e as espécies sob as quais se colocam as substâncias primeiras,
como: animal e homem, sob os quais se contêm Sócrates e Platão. A ordem das
espécies da substância ressalta, de qualquer modo, do que ficou dito acima.134
Entremos imediatamente nas propriedades das substâncias que por
si pertencem a este predicamento; dentre elas apresentam-se as quatro mais
importantes. A primeira é: não estar no sujeito — o que ressalta da definição
de substância. A segunda é: não ter contrário. Com efeito, uma vez que todos
os contrários estão no sujeito de inerência, como virtude e vício, brancura e
negrura, e nenhuma substância está no sujeito, como foi dito, conclui-se que
nada é contrário da substância. A terceira é: não receber mais e menos, isto é, não
se dizer mais ou menos tal. Com efeito, não dizemos que Sócrates é mais ou
menos homem do que em outro tempo, ou do que qualquer outro. O que é
evidente nas restantes substâncias. Mas estas propriedades ou afecções convêm
a outras, mesmo à maior parte [delas]. A quarta propriedade, que Aristóteles135
132
cap. 2. Dos Predicamentos, 2 e Metafísica, VII, 1. Santo Tomás, opúsculo 48, acerca dos predicamentos,
133 Predicamentos, 5.
134 Cap. 8.
135 Predicamentos, 5.
133
Pedro da Fonseca
haec est, ut cum una, eademque numero fuerit, possit in se contraria recipere, ut hic
lapis calorem, et frigus."
Caput XI - De quantitate
Quantitas est ens per se extensum ut superficies tabulae, et binarius
hominum. Tabula enim non per se ipsam, sed per superficiem, quam habet,
extensa est. Socrates item, et Plato, non per se ipsos, sed per binarium, qui in
ipsis cernitur, extensionem habent numeralem. Ipsa vero superficies, et ipse
binarius per se ipsa sunt extensa.
Quantitatem induas proximas species dividit Aristoteles, in continuam,
et discretam. Quantitas continua est, cuius partes communi aliquo termino
copulantur, ut partes lineae puncto: partes superficiei, linea: partes corporis,
superficie: partes temporis, puncto temporis, seu instanti. Hae vero traduntur
species quantitatis continuae, linea, superficies, corpus, tempus, et insuper locus.
Verum Aristoteles, quod ad locum attinet, videtur loqui ex aliorum sententia
suo tempore vulgata, quam ipse alibi non probat. Accipit enim locum pro
spatio, quod a quovis corpore occupatur, aut ocupari potest, quod veteres rem
quandam diversam ab omnia corpore esse dicebant, cum tamen nulla sit. Num
autem continuitas motis sit alia quadam species quantati continuae, alio loco
discutiemus.
Quantitatis porro tres traduntur affectiones. Prima est, Nil habere sibi
‹ ontrarium. Contraria namque maxime distant sub eodem genere nullae autem
duae quantitates reperiri possunt, quae sub genere quantitatis maxime distenti.
Secunda est, Non suscipere magis, et minus. Neque enim dixeris magis, aut minus
bicubitum aut tricubitum aliquid esse: quod in plerisque aliis quantitatibus
aperte cernes. Tertia est secundum quantitatem res dici aequales, et inaequales.
Nam aequalia sunt, quorum quantitas est una: inaequalia, quorum diversa.
Atque haec affectio dicitur maxime propria quantitatis, quia soli quantitati,
omni, ac perpetuo convenit. *
40 Nota do parágrafo: Ex praed. 2. et. 7. met. 1. / D. Tho. Op' 48. de praedicam. ca. 2. / Per se
subsistens. / In alio existens. / Primae substantiae. / Praed. 5. / Secundae substantiae. / Cap. 8. / Prima
proprietas. / Secunda. / Tertia. / Quarta.
41 Nota do parágrafo: Quantitas quid. / Praed. 6. / Quantitas continua. / Species quantitatis
continuae. / De loco, quo pacto loquatur Aristoteles. / 4. Phy. 4. / De motu alibi. / Quantitas discreta. /
134
Livro II das Instituições Dialéticas
Capítulo XI - Da Quantidade
Quantidade é um ente por si extenso, como a superfície duma tábua e
um binário de homens. A tábua, com efeito, não é extensa por si mesma, mas
pela superfície que tem. Do mesmo modo, Sócrates e Platão não têm extensão
numérica por si mesmos, mas pelo binário que neles se verifica. Porém, a
superfície e o binário são extensos por si.
Aristóteles136 divide a quantidade em duas espécies próximas: contínua
e discreta. Quantidade continua é aquela cujas partes se unem em algum termo
comum, como as partes da linha se unem no ponto, as partes da superfície na
linha, as partes do corpo na superfície, as partes do tempo no ponto de tempo,
ou instante. Na verdade, as espécies de quantidade contínua que se ensinam
são estas: linha, superfície, corpo, tempo, e além disso, lugar. Contudo, pelo
que diz respeito ao lugar, Aristóteles parece falar segundo a opinião de outros
divulgada no seu tempo, que ele não aprova em outros passos.!37 Efetivamente,
admite que lugar é o espaço ocupado por qualquer corpo ou que pode ser
ocupado, pelo fato de os antigos dizerem que era qualquer coisa diversa de
todo o corpo, não sendo, contudo, nenhuma. Se a continuidade do movimento
é uma outra espécie de quantidade contínua — discuti-lo-emos em outro lugar.
Quantidade discreta é aquela cujas partes se não unem em nenhum termo,
como quaternário. Com efeito, nada se encontrará por onde os dois binários,
de que ele consta, se liguem e como que se unam num todo. Apresentam-se
duas espécies desta quantidade: o número e a oração; examinaremos em outro
lugar se elas são verdadeiramente espécies de quantidade pertencente a este
predicamento.
São três as propriedades da quantidade. A primeira é: nada ter contrário
a si. Com efeito, os contrários distam ao máximo sob o mesmo gênero, e
duas quantidades, que distem ao máximo sob o gênero de quantidade, jamais
se podem encontrar. A segunda: não receber mais e menos. Não se dirá, pois,
que algo é mais ou menos constituído por dois côvados ou três côvados, o
que em várias outras quantidades claramente se verá. A terceira é: segundo a
quantidade, as coisas dizem-se iguais e desiguais. Na verdade, iguais são as coisas
cuja quantidade é uma só, desiguais aquelas cuja quantidade é diversa. 138 Ora
esta propriedade diz-se ao máximo própria da quantidade, porque convém só
à quantidade, a toda a quantidade e sempre.
136 Predicamentos, 6.
137 Física, IV, 4.
138 Metafísica, V, 15, tex. 20.
135
Pedro da Fonseca
Qualitatis tres sunt affectiones. Prima est, Habere aliquid sibi contrarium.
Nam virtuti contrarium est vitium, et aliis plerisque qualitatibus alia reperiuntur
contraria. Secunda est, Suscipere magis, et minus, ut esse magis, aut minus iustum,
magis, aut minus album. Tertia, quae maxime propria qualitatis affectio dicitur,
hacc est, Ut secundum cam res dicantur similes, ac dissimiles. Similia enim sunt ca,
quorum qualitas est una: dissimilia, quorum diversa.^2
Species quantitatis discretac. / Primac affectio quantitatis. / Secunda. / Tertia, / 5. meta. 15. tex. 20.
42 Nota do parágrafo: Pracd. 8. / Habitus, / Dispositio. / Naturalio potentia. / Naturalis impotentia.
/ patibilioqua litas. / Passio. / Forma. / Figura. / Figura. / Prima affectio qualitatis. / Secunda. / Tertia. / 5.
meta, 15. tex. 20.
136
Livro II das Instituições Dialéticas
139 Predicamentos, 8.
140 Metafísica, V, 15, tex. 20.
137
Pedro da Fonseca
Relatio est, qua aliquid, hoc ipso quod est, ad aliud se habet: ut aequalitas,
dominatus, servitus. Nam aequale, quatenus aquale est, aequalitate refertur ad
sibi aequale, et dominus, qua dominus est, dominatu refertur ad servum, qui
vicissim, qua servus est, ad dominum refertur servitute.
Relata vero sunt quaecunque hoc ipso quod sunt, ad aliud se habent: ut
aequale, dominus, servus. Relatorum autem quaedam sunt aequalis comparationis
(recentiores vocant aequiparantiae) ut acquale, simile, inaequale, dissimile.
Nam aequale ad aequale refertur, simile, ad simile, inaequale, ad inaequale,
et dissimile, ad dissimile. Itaque ea, ad quae huiusmodi relata referuntur, sunt
eiusdem appellationis ac naturae cum illis. Quaedam vero sunt inaequalis
comparationis, seu diversae appellationis, quae illi vocant disquiparantiae:
quorum duo sunt genera. Alia enim dicuntur maioris comparationis, quae
vocant superpositionis, ut pater, dominus, praeceptor, et catera omnia, quae
sunt digniora iis, ad quae referuntur: alia ex altera parte hisce respondent, quae
minoris comparationis dici possunt, ut filius, servus, discipulus et catera minus
digna iis, cum quibus conferuntur: quae vocari solent suppositionis.
138
Livro II das Instituições Dialéticas
139
Pedro da Fonseca
ipsam naturam: qualia sunt, habitus, scientia, et alia huiusmodi: quod alio loco
plenius docebimus."3
Huius generis species dicuntur esse supra, infra, ante, retro, ad dextram,
et ad sinistram.
Situm esse est, habere partes corporis certo quodam modo affectas
ad partes loci, ut stare, sedere, cubare: quae quidem appellantur positiones
140
Livro II das Instituições Dialéticas
141
Pedro da Fonseca
partimque
conversis adsunt naturales,
coelum vestigiisutmanibus
quae dictae
nitatur.sunt:
45 partim non naturales, ut siquis
Contrarie opposita sunt ipsa contraria. Contraria vero dicuntur ea, quae
sub codem genere maxime distant, et eidem subiecto vicissim insunt, nisi
corum alterum insit a natura: ut scientia, et error: virtus, et vitium: calor et
frigus: candor, et atror. Nam sub habitu, quod est genus quoddam qualitatis,
maxime distant tum scientia, et error, tum etiam virtus, et vitium: sub patibili
autem qualitate tum calor, et frigus, tum candor, et atror. Haec item, ut patet, in
codem subiecto inhaesionis vicissim insunt, cum mutuo ab eodem se expellant.
Additum est, Nisi corum alterum a natura insit, quia in locum eius, cui a natura
determinatum, et quasi prescriptum est, ut insit, non potest alterum succedere:
qua ratione nec ignis frigere potest, nec cygnus esse niger, nec corvus albus, nec
142
Livro II das Instituições Dialéticas
outras não naturais, como se alguém, pondo-se de pernas para o ar, se apoiasse
nas mãos.
143
Pedro da Fonseca
saxum molle, quippe cum haec omnia alterum excontrariis naturae praescripto
sibi vendicent.
Privatio vero duplex est, altera, a qua non potest fieri naturaliter ad
habitum regressus, ut caecitas, calvitium: altera, a qua naturaliter fit regressus,
ut tenebrae, nuditas, et huiusmodi. Quae omnia paululum animadvertenti
perspicua sunt.
144
Livro II das Instituições Dialéticas
pode vir outra — razão por que nem o fogo pode ser frio, nem o cisne ser
negro, nem o corvo, branco, nem o seixo, mole, pois que todas estas coisas
reivindicam para si, por exigência da natureza, o outro dos contrários.
Das coisas contrárias umas são imediatas, outras mediatas. Dizem-se
imediatas aquelas das quais uma existe necessariamente no sujeito próprio,
como a saúde e a doença em relação ao animal. Mediatas, aquelas das quais
nem uma nem outra necessariamente têm de existir no sujeito próprio, a não
ser que uma lá exista por natureza. Por exemplo: a cor branca e a cor negra
em relação ao corpo misto, e a virtude e o vício em relação a homem. Há,
com efeito, coisas intermédias entre coisas contrárias deste gênero, pelas quais
podem ser afetados os sujeitos próprios das coisas contrárias, removidas ambas
as coisas contrárias. Destas coisas intermédias, algumas têm nome, como o
amarelo e o cinzento, entre o branco e o preto; outras não o têm, como o que
está interposto entre a virtude e o vício, de que dizemos estarem afetados os
homens dementes por natureza. Mas as coisas médias que carecem de nome,
podem denominar-se pela negação dos extremos, como quando se diz que está
em situação média entre a virtude e o vício o que nem é probidade nem vício.
Privativamente opostos são o hábito ou forma e a privação da forma. Pelo
nome de hábito ou forma deve entender-se o que de algum modo adere à coisa,
como a vista aos olhos, o sentido do ouvido aos ouvidos, a fala à língua, a luz
ao ar, os cabelos à cabeça, a veste ao corpo. Privação, estrita e propriamente
tomada, é a negação duma forma deste gênero num sujeito apto por natureza,
e no tempo determinado pela natureza, para que nele exista essa forma. Por
exemplo: a cegueira, a surdez, ser mudo, escuro, calvo, nu. Disse num sujeito apto
por natureza, porque a negação num sujeito, que, por sua natureza, não é apto,
não é propriamente privação. Por isso, não dizemos pedras cegas, surdas ou
mudas, porque, por natureza, não são aptas para ver, ouvir ou falar. Acrescentei
suo ternet mimado fela matares pela a que na arique na uma que a,
de modo algum se poderá dizer dela privado. De onde deriva que o cachorro
antes de sete dias, que é o mínimo tempo fixado pela natureza para abrir os
olhos, 4 não se deve chamar cego; nem a criança, antes dos sete anos, se não
tem o uso da mente, se deve chamar demente, porque é mais ou menos essa a
idade marcada pela natureza para o uso da mente e da razão.
Há duas espécies de privação: uma, da qual se não pode naturalmente
voltar ao hábito, como a cegueira, a calvície; outra, da qual naturalmente se
volta ao hábito, como: as trevas, a nudez e outros. Tudo isto é evidente para
quem prestar um pouco de atenção.
145
Pedro da Fonseca
hist. lib. 8. Cap. 40. / Duplex privati. / Contradictorie opposita. / Ad caput. 10 predicament. / Ad lib. 8.
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Livro II das Instituições Dialéticas
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Liber III Institutionum Dialecticarum
Livro III Das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
a oração que tem vários sentidos, como esta: "aio te, Eacida, romanos vincere
passe" [que pode traduzir-se: digo que tu, filho de Éaco, podes vencer os romanos, ou:
digo que os Romanos podem vencer-te a ti, filho de Éaco] não é simplesmente uma
oração, mas orações, do mesmo modo que um nome com diversos significados,
como galo [ave, gaulês] não é simplesmente um nome, mas nomes, como acima
dissemos. E, assim, afirmamos tudo isto, porque julgamos que na oração e suas
partes, mais que à voz, se deve atender à significação.
153 Da Interpretação, 1, 3.
153
Pedro da Fonseca
Enunciatio absoluta est ea, quae absolute significat aliquid inesse, aut non
inesse alicui: ut, Homo est animal, Homo non est lapis. Modalis vero est, quae
quo modo aliquid alicui insit, aut non insit pronunciat: ut, Homo necessario est
animal, Homo necessario non est lapis, Hominem esse animal est necessarium,
Hominem non esse lapidem est necessarium.
ex 1. peri. 4. / Simplícis divisio ex. 1. prio. 2. / Enunciatio coniuncta seu hypothetica quae sit. ex. 1 peri. 4./
Enunciatio absoluta, seu de inesse. / Modalis.
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
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fit ratione copulae, coniunctionisve praedicati cum subiecto, quae quidem est
essentialis forma enunciationis.53
Enunciatio necessaria est, quae ita est vera, ut falsa esse non possit, ut
Homo est animal, Cygnus est candidus. In hoc genere poni solent omnes
affirmativae ex materia necessaria, seu naturali, et omnes negativae ex
materia impossibili, seu remota, de quibus mox dicemus. Hoc tamen quoad,
enunciationes ex materia necessaria, tum verum est, cum praedicatum non
53 Nota do parágrafo: Affirmatio. 1. peri. 4. / Negatio ibidem.
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
minus late patet, quam subiectum. Nam si praedicatum fuerit angustius, fieri
poterit, ut afirmativa sit falsa, ut si dicas, Omne animal est homo, Omne
animal est disciplinae capax, quae quidem sunt ex materia necessaria, ut statim
patebit.^
Enunciatio contingens est, quae cum necessaria non sit, potest tamen vera
esse, quae et vera, et falsa esse potest, ut Homo est grammaticus, Homo non est
grammaticus. Huiusmodi sunt omnes enunciationes ex materia contingenti,
quas statim explicabimus.
Enunciatio impossibilis est, quae ita est falsa, ut vera esse non possit,
ut Homo est lapis, Cygnus non est albus. Huiusmodi esse dicuntur omnes
affirmativae ex materia impossibili, et omnes negativae ex materia necessaria.
Id quod in iis, quae constant materia necessaria tunc verum esse intellige,
cum praedicatum non est angustius, quam subiectum. Si enim minus late
pateat, poterunt esse necessariae, ut si dicas, Quoddam animal non est homo,
Quoddam animal non est disciplinae capax. Haec divisio fit secundum
aptitudinem enuntiationis ad veritatem, et falsitatem. Sed quia haec aptitudo
nascitur ex materia enunciationis, explicandae sunt hoc loco enunciationes
constantes: ex materia necessaria, contingenti, et impossibili.
grammaticus:
sive affirmative, et omnes,
sive in praedicatur.
negative, quibus accidens
58 separabile de re, cuius est accidens
Enunciatio ex materia impossibili, seu remota, est, cuius praedicatum non
potest convenire subiecto, ut Homo est lapis, Cygnus est niger. Dicitur autem
160
Livro III das Instituições Dialéticas
não seja de menor extensão que o sujeito. É que, se o predicado for mais estrito,
pode suceder que a afirmativa seja falsa. Assim, estas [enunciações]: todo o
animal é homem; todo o animal é capaz de educação; as quais, sem dúvida, são
de matéria necessária, como imediatamente se fará ver.
A enunciação contingente é a que, não sendo necessária, pode, todavia,
ser verdadeira, ou a que pode ser quer verdadeira, quer falsa, como: o homem é
gramático; o homem não é gramático. Deste gênero são todas as enunciações
de matéria contingente, que explicaremos imediatamente.
A enunciação impossível é a que é falsa de modo a não poder ser verdadeira,
como: o homem é pedra; o cisne não é branco. Dizem-se ser deste gênero todas
as afirmativas de matéria impossível e todas as negativas de matéria necessária.
Entenda-se que isto é verdadeiro nas [enunciações] que constam de matéria
necessária, quando o predicado não é mais estrito que o sujeito. Se, na verdade,
[o predicado] for de menor extensão que o sujeito, poderão ser necessárias,
como quando se diz: certo animal não é homem; certo animal não é capaz de
educação. Esta divisão faz-se segundo a aptidão da enunciação para a verdade
e a falsidade. Mas, porque esta aptidão nasce da matéria da enunciação, devem
explicar-se neste lugar as enunciações que constam de matéria necessária,
contingente e impossível.
A enunciação de matéria necessária ou natural é aquela cujo predicado
não pode deixar de convir ao sujeito, como: o homem é animal, o homem
não é animal, e todas aquelas em que os superiores se afirmam ou negam dos
inferiores: — ou diferenças acerca das coisas que compõem, ou propriedades
acerca dos sujeitos cujas naturezas seguem ou acerca de sujeitos superiores, ou
acidentes inseparáveis das coisas de que se não podem separar; ou vice-versa,
isto é, inferiores acerca de superiores, e todas as outras, mudada a ordem. Todas
as predicações deste gênero, quer afirmem, quer neguem, se fazem em matéria
necessária e natural, embora nem todas sejam naturais, ou diretas, como se
toma claro pelo que acima foi dito.166
A enunciação de matéria contingente é aquela cujo predicado pode
convir ou não convir ao sujeito, como: o homem é gramático; o homem não
é gramático; e todas aquelas em que o acidente separável da coisa de que é
acidente se predica afirmativa ou negativamente.
A enunciação de matéria impossível ou remota é aquela cujo predicado não
pode convir ao sujeito, como: o homem é pedra; o cisne é negro. Esta divisão
diz-se, porém, segundo a matéria, porque se faz segundo a relação do predicado
para com o sujeito, que dissemos ser a matéria da enunciação.
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Enunciatio finita est, cuius nomina omnia, sive categoremata sunt finita,
ut Homo est iustus. Infinita vero, cuius aliquod categorema est infinitum, ut
Homo est noniustus, Socrates est homo noniustus. Quod si dixeris Socrates
est servus noniusti, non erit enunciatio infinita, quia illud Noniusti non est
categorema."
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Subalternans Subalternans
Omnis homo est iustus. Contrariae Nullus homo est iustus.
dicentes
Subalternae
Quidam homo est iustus. Subcontrariae Quidam homo non est iustus.
Subalternata Subalternata
Socrates est iustus. Contradicentes Socrates non est iustus.
166
Livro III das Instituições Dialéticas
Subalternante Subalternante
Todo o homem é justo. Nenhum homem é justo.
Contrárias
Subalternas
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
nenhum homem é justo, equivale a esta: este homem não é justo, e este outro homem
não é justo, e assim as restantes.
Quinta: uma enunciação particular equivale à disjunção de todas as suas
singulares, como esta: algum homem é justo equivale a esta oração: este homem é
justo, ou este outro homem é justo, e assim as restantes; e esta: algum homem não
é justo equivale a esta: este homem não é justo ou este outro homem não é justo; e
assim as restantes disjuntivamente.
171
fi
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consegue particulares, nitri romario p montapostionem. / Ex. 2. top. 3, ubi Aristor, radit
172
fi
fi
Livro III das Instituições Dialéticas
particular negativa, como se se disser: todo o homem é animal, logo todo o não
animal é não homem; algum animal não é bruto, logo algum não bruto não é
não-animal. Estas coisas retêm-se na memória, com este dístico:
como aiguma os modal, como a cis discurs. era que desio a o rodo
de necessário, de contingente, de possível e de impossível. As modais de necessário são
as que enunciam que alguma coisa é necessária ou não é necessária. As modais
168 Cap. 3.
169 Da Interpretação, II, 2 e Primeiros Analíticos I, 3 e 12.
173
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Livro III das Instituições Dialéticas
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67 Nota do paragrafo: Cap 3. / 2. peri. 3. et. 1. prio. 3. et. 12. / Ex necessario. / Ex contingenti. /
Ex possibili. / Ex impossibili. / Necessarium. / Contingens. / Possibile. / Impossibile. / Duae formulac
modalium. / Modus. / Dictum. Explicatur descriptio modalium. / Nota. / 2. peri. 3. / Primum discrimen.
/ Secundum. / Tertium. / Verbum dicti verius dicitur subiectum modalis quam dictum. / Modus est
principale praedicatum / 2. peri. 3. / Loco citate.
68 Nota do paragrafo: Duplex qualitas essentialis modalium. / Divisio modalium ratio ne qualitatis /
Quac nam modales simpliciter dicendae sint affirmativae, ac negativae. / Qualitas accidentalis modalium. /
Omnes modales aut sunt necessariae, aut impossibiles.
176
Livro III das Instituições Dialéticas
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indefinita, et singularis. Itaque hac ex parte modales dici solent aut universales,
ut Omnem hominem esse animal est necesse, aut particulares, ut Aliquem
hominem esse grammaticum est contingens, aut indefinitae, ut Hominem
mori est possibile, aut singulares, ut Socratem esse lapidem est impossibile.
In subiecto autem principali, quod est verbum dicti, reperitur ea quantitas,
quae verborum propria est, nimirum quantitas temporis: quae quidem duplex
est, universalis, aut particularis. Universalis distribuit verbum in omne tempus,
particularis in aliquod tempus. Atque universalis significatur modis Necessarium
et Impossibile: particularis duobus reliquis. Nam Necessarium perpetuo rem
ponit: Impossibile, perpetuo tollit: Contingens modo ponit, modo tollit: Possibile
denique ita rem ponit, ut quantum in ipso est, permittat rem aliquando
non esse. Itaque Necessarium, Impossibile, Contingens, et Possibile perinde se
habent in modalibus, atque signa illa Omnis, Nullus, Quidam non, et Quidam
in absolutis: nisi quod signa designant quantitatem numeralem, modi autem
quantitatem temporis. Unde fit, ut quemadmodum praeposita negatione signa
universalia fiunt particularia, et particularia universalia, ut supra dictum est,
sic modi universales fiunt particulares, et particulares universales. Itaque Non
necessarium, et Non impossibile sunt modi particulares: Non contingens autem, et
Non possibile universales, quemadmodum Non omnis, et Non nullus particularia,
Non quidam autem, et Non aliquis universalia signa esse diximus.
Nec mireris quod dixerim, quantitatem hanc temporis cerni in verbo
dicti, et tamen designari modum, qui de verbo dicti praedicatur. Nam
modus utrunque habet et quod sit praedicatum, et quod fungatur officio
syncategorematis designantis quantitatem temporis, quemadmodum signa
absolutarum enunciationum designant quantitatem multitudinis. Quia igitur
haec quantitas precipua est in modalibus, non immerito Aristoteles consuevit
collocare modos initio huiusmodi enunciationum, ut statim quantitas earum
ex ipso principio cognosci possit, quemadmodum in absolutis ex signis
praepositis intelligitur. Itaque hoc modo fere profert Aristoteles modales
enunciationes, Necesse est hominem esse animal, Contingens est Socratem
esse grammaticum, Non possibile est Socratem esse lapidem, et ita cateras:
non quidem ut efficiat ex modis subiecta, et ex dictis praedicata, sed ut quantitas
earum propria, ut diximus, atque adeo precipua qualitas statim appareat.
Proinde nos hoc loquendi genere deinceps utemur."9
178
Livro III das Instituições Dialéticas
179
Pedro da Fonseca
70 Nota do paragrafo: Duplex materia modalium/ Materia praecipua modalium est necessaria vel
impossibilis.
180
Livro III das Instituições Dialéticas
vez lhe não convenha não pode concordar com o mesmo, segue-se que toda a
relação do modo ao dito é ou de predicado necessário ou impossível, e assim
a matéria principal das modais ou é necessária ou impossível, mas nenhuma
[é) contingente. Desta como que raiz, nasce aquilo que pouco acima dissemos:
toda a enunciação modal é necessária ou impossível.
Até aqui falamos da qualidade, da quantidade e da matéria das modais.
Falemos agora da mútua relação entre elas, isto é, da sua oposição, equipolência
e conversão. Mas, para tratarmos dos dois primeiros capítulos, devem omitir-
se neste lugar as modais de contingente, explicado até aqui, ou (o que é o
mesmo) propriamente dito, para que não vá a sua irregularidade perturbar
o nosso trabalho. De fato, a sua natureza e condição são tão variadas que a
custo obedecem a alguma lei de oposição ou equipolência conjuntamente com
as outras modais. Porém, visto que Aristóteles,173 ao tratar da oposição e da
equipolência das modais, alude às enunciações de contingente tomado em sentido
impróprio, como se valesse o mesmo que o possível, nós também, para que não
pareça haver alguma discordância, ainda mesmo na aparência, entre este e o
tratado aristotélico, usaremos as mesmas enunciações na mesma significação
imprópria. Embora o assunto devesse, quando muito, ser mencionado em
atenção aos interesses dos espíritos ainda imaturos (o que fizemos na primeira
edição), seria de maior utilidade que nenhuma menção delas se fizesse neste
estudo.
181
Pedro da Fonseca
quac parota do pugilia ham emo conti es humodo copertunire rati, dici, subalte ado
reliquarum, quas practermismus, eaedem sunt quae absolutarum. Nam contrariae simul verae esse non
182
Livro III das Instituições Dialéticas
183
Pedro da Fonseca
Subalternae
Cont
Subalternae
Ex possibili
Subalternans Subalternans
Non possibile est Socratem Contrariae Non possibile est Socratem
sedere. non sedere.
Subalternae
possunt, sed tamen nonnullae sunt simul falsae contra vero subcontrariae simul falsae nunquam sunt,
autem, si subalternata est, falsa, subalternans etiam falsa est, non si illa vera, haec vera. Quae omnia patent
in propositis exemplis. Sed ut haec melius teneas, hanc aspice figuram enunciationum ex necessario: quae
ex modalibus etiam reliquorum generum confici potest.
184
Livro III das Instituições Dialéticas
Subalternas
De possível
Subalternante Subalternante
Não é possível que Sócrates Contrárias Não é possível que Sócrates
esteja sentado. não esteja sentado.
Cara,
Subalternas Subalternas
185
Pedro da Fonseca
Ex contingenti
Subalternans Subalternans
Non contingens est Socratem Non contingens est Socratem
Contrariae
sedere. non sedere.
Subalternae Subalternae
Ex impossibili
Subalternans Subalternans
Impossibile est Socratem Contrariae Impossibile est Socratem non
sedere. sedere.
Subalternae
Subalternae
186
Livro III das Instituições Dialéticas
De Contingente
Subalternante
Subalternante
Não é contingente que
Contrárias Não é contingente que
Sócrates esteja sentado.
Sócrates não esteja sentado.
Subalternas Subalternas
De Impossível
Subalternante
É impossível que Sócrates Subalternante
esteja sentado. Contrárias É impossível que Sócrates
não esteja sentado.
Subalternas
come
Subalternas
187
Pedro da Fonseca
Subalternae
3 Subcontrariae
4
Non necesse est aliquem Non necesse est omnem
hominem non esse animal. hominem esse animal.
Item
1
Necesse est omnem hominem esse Necesse est nullum hominem esse
animal. animal.
3
Non necesse est nullum hominem esse
4
Non necesse est omnem hominem esse
animal. animal.
188
Livro III das Instituições Dialéticas
3
Não é necessário que algum
Subcontrárias
4
Não é necessário que todo o
homem não seja animal. homem seja animal.
Do mesmo modo
1
É necessário que todo o homem
2
É necessário que nenhum
3
seja animal. homem seja animal.
189
Pedro da Fonseca
Ex possibili
1 2
Non possibile est omnem hominem esse Non possibile est aliquem hominem
animal. non esse animal.
3
Possibile est aliquem hominem non esse Possibile est omnem hominem esse
animal. animal.
Item
2
Non possibile est aliquem hominem Non possibile est aliquem hominem
esse animal. non esse animal.
3
Possibile est aliquem hominem non esse
4
Possibile est aliquem hominem esse
animal. animal.
Ex contingenti
1 2
Non contingens est omnem ominem Non contingens est aliquem hominem
esse animal. non esse animal.
3 4
Contingens est aliquem hominem non Contingens est omnem hominem esse
esse animal. animal.
Item
1 2
Non contingens est aliquem hominem Non contingens est aliquem hominem
esse animal. non esse animal.
3
Contingens est aliquem hominem non
4
Contingens est aliquem hominem esse
esse animal. animal.
190
Livro III das Instituições Dialéticas
De possível
Não é possível que todo o homem seja Não é possível que algum homem não
animal. seja animal.
4
É possível que todo o homem seja
É possível que algum homem não seja
animal. animal.
Do mesmo modo
1 2
Não é possível que algum homem seja Não é possível que algum homem não seja
animal. animal.
3
É possível que algum homem não seja
4
É possível que algum homem seja
animal. animal.
De contingente
1
Não é contingente que todo o homem
2
Não é contingente que algum homem
seja animal. não seja animal.
É contingente que algum homem não É contingente que todo o homem seja
seja animal. animal.
Do mesmo modo
191
Pedro da Fonseca
Ex impossibili
1
Impossibile est omnem hominem esse
2
Impossibile est aliquem hominem non
animal. esse animal.
3
Non impossibile est aliquem hominem Non impossibile est omnem hominem
non esse animal. esse animal.
Item
2
Impossibile est aliquem hominem esse Impossibile est aliquem hominem non
animal. esse animal.
3
Non impossibile est aliquem hominem Non impossibile est aliquem hominem
non esse animal. esse animal.
73 Haec duo posteriora exempla inservient modalibus ex impossibili, dummodo illud observes, ut
loco modi Non possibile ponas Impossibile, et loco modi Possibile ponas Non impossibile. Haec obiter
provectis dixerim.
192
Livro III das Instituições Dialéticas
De impossível
2
É impossível que todo o homem seja É impossível que algum homem não
animal. seja animal.
3
Não é impossível que algum homem
4
Não é impossível que todo o homem
não seja animal. seja animal.
Do mesmo modo
1
É impossível que algum homem seja É impossível que algum homem não
animal. seja animal.
3 4
Não é impossível que algum homem Não é impossível que algum homem
não seja animal. seja animal.
193
Pedro da Fonseca
Prima Tabella
Ar Necesse est Socratem esse hominem.
Non possibile est Socratem non esse hominem.
tu Non contingens est Socratem non esse hominem.
Impossibile est Socratem non esse hominem.
Secunda
Necesse est Socratem non esse hominem.
Non possibile est Socratem esse hominem.
ri
Non contingens est Socratem esse hominem.
ca Impossibile est Socratem esse hominem.
Tertia
Sunt Non necesse est Socratem non esse hominem.
Possibile est Socratem esse hominem.
Contingens est Socratem esse hominem.
ta
vi Non impossibile est Socratem esse hominem.
194
Livro III das Instituições Dialéticas
Primeira tabela
Ar É necessário que Sócrates seja homem.
gu Não é possível que Sócrates não seja homem.
tu Não é contingente que Sócrates não seja homem.
le É impossível que Sócrates não seja homem.
Segunda
Ve É necessário que Sócrates não seja homem.
Não é possível que Sócrates seja homem.
di Não é contingente que Sócrates seja homem.
ca É impossível que Sócrates seja homem.
Terceira
Sunt Não é necessário que Sócrates não seja homem.
a É possível que Sócrates seja homem.
ta É contingente que Sócrates seja homem.
vi Não é impossível que Sócrates seja homem.
195
Pedro da Fonseca
Quarta
Qui Non necesse est Socratem esse hominem.
re Possibile est Socratem non esse hominem.
fe Contingens est Socratem non esse hominem.
runt Non impossibile est Socratem non esse hominem.
2
Necesse est nullum hominem esse animal.
ri Non possibile est aliquem hominem esse animal.
di Non contingens est aliquem hominem non esse animal.
ca Impossibile est aliquem hominem esse animal.
3
Sunt Non necesse est nullum hominem esse animal.
Possibile est aliquem hominem esse animal.
a
ta Contingens est aliquem hominem non esse animal.
vi Non impossibile est aliquem hominem esse animal.
4
Qui Non necesse est omnem hominem esse animal.
Possibile est aliquem hominem non esse animal.
fe Contingens est aliquem hominem non esse animal.
runt Non impossibile est aliquem hominem esse animal.
196
Livro III das Instituições Dialéticas
Quarta
Qui Não é necessário que Sócrates seja homem.
re É possível que Sócrates não seja homem.
fe É contingente que Sócrates não seja homem.
runt Não é impossível que Sócrates não seja homem.
Todas as enunciações que se veem numa mesma tabela, qualquer que ela
seja, são equipolentes, como se estabelece nas duas regras citadas.
2
Ve É necessário que nenhum homem seja animal.
ri Não é possível que algum homem seja animal.
di Não é contingente que algum homem não seja animal.
ca É impossível que algum homem seja animal.
3
Sunt Não é necessário que nenhum homem seja animal.
a É possível que algum homem seja animal.
ta É contingente que algum homem, não seja animal.
Não é impossível que algum homem seja animal.
4
Qui Não é necessário que todo o homem seja animal.
re É possível que algum homem não seja animal.
fe É contingente que algum homem não seja animal.
runt Não é impossível que algum homem não seja animal.
197
Pedro da Fonseca
198
Livro III das Instituições Dialéticas
199
Pedro da Fonseca
2
E Possibile est aliquem hominem non esse animal.
den Contingens est aliquem hominem non esse animal.
Non impossibile est aliquem hominem non esse animal.
li Non necesse est aliquem hominem esse animal.
3
Non possibile est aliquem hominem esse animal.
li Non contingens est aliquem hominem esse animal.
a Impossibile est aliquem hominem esse animal.
Necesse est nullum hominem esse animal.
200
Livro III das Instituições Dialéticas
2
E É possível que algum homem não seja animal.
den É contingente que algum homem não seja animal.
tu Não é impossível que algum homem não seja animal.
li Não é necessário que algum homem seja animal.
3
Não é possível que algum homem seja animal.
li Não é contingente que algum homem seja animal.
É impossível que algum homem seja animal.
É necessário que nenhum homem seja animal.
201
Pedro da Fonseca
4
Pur Non possibile est aliquem hominem non esse animal.
pu Non contingens est aliquem hominem non esse animal.
Impossibile est aliquem hominem non esse animal.
a Necesse est omnem hominem esse animal.
202
Livro III das Instituições Dialéticas
Pur
4
Não é possível que algum homem não seja animal.
pu Não é contingente que algum homem não seja animal.
re É impossível que algum homem não seja animal.
É necessário que todo o homem seja animal.
203
Pedro da Fonseca
nulla si alia, quam secundum orationis situm, quae tamen ut unicuique est in
promptu, ita nulla indiget arte.
Quod si quis dicat modales enunciationes sub ea formula spectandas esse
in conversione, qua dicta illarum voce aliqua demonstrantur, ut si dicas, Haec
enunciatio, Socrates est homo, est necessaria, occurrendum erit, illud modalium
genus sub genere absolutarum vere comprehendi, ut supradictum est,
propositamque enunciationem hoc pacto esse convertendam, Haec enunciatio,
Socrates est homo, est necessaria, igitur aliquod necessarium est haec enunciatio
Socrates est homo, quo pacto supra diximus singulares absolutas, quae aliquid
affirmant, esse convertendas. Ita patet conversionem modalium, de quibus hic
agimus, non esse commutationem principaliam extremorum enunciationis,
sed corum, quae in dicto continentur.
204
Livro III das Instituições Dialéticas
177 Cap. 9.
178 Primeiros Analíticos, 1, 3.
205
Pedro da Fonseca
Sed multae sunt difficultates hac in re, quae postulant tum maiorem
auditorum inteligentiam, tum etiam longiorem tractatum, quam introductioni
conveniat. Restat ergo ut, quoniam enunciationes simplices utcumque
explicavimus, de coniunctis deinceps, quod satis videatur, dicamus. 75
75 Nota do paragrafo: 1. prio. 3. / Conversio modalium, quae sit. / Conversio modalium ex necessario.
/ 1. prio. 3. / Cur aliarum modalium conversiones non tradantur. / Conversio contingentium ex. / 1. prio. 3.
/ In fin. ca. 11. / 1. prio. 16.
206
Livro III das Instituições Dialéticas
207
Pedro da Fonseca
208
Livro III das Instituições Dialéticas
209
Pedro da Fonseca
est, non est nox: Si dies non est, nox est. Quae complicationes ex simplicibus
affirmativis, et negativis, in copulativis etiam, et disiunctivis spectari possunt.
210
fi
Livro III das Instituições Dialéticas
211
Pedro da Fonseca
numeretur, non in co veritatis gradu ponitur, ut dicatur falsa esse non posse.
Non tantum ergo necessariae, et impossibiles enunciationes conditionales
reperiuntur, sed contingentes etiam. Nec vero omnis bona consequutio est
necessaria, sed quaedam etiam probabilis, ut post dicemus.
Ita patet quid requiratur ad veritatem conditionalium enunciationum.
Quod tamen intellege dictum de affirmativis, ex quibus nullo negotio veritas
negativarum colligitur. Nam cum in hoc genere semper affirmativae, et
negativae, quae sola affirmatione, et negatione coniunctionis discrepant, sint
contradicentes, si conditionalis afirmativa fuerit vera, erit negativa falsa, si
vero illa falsa fuerit, haec vera erit. Id quod etiam in copulativis, et disiunctivis,
observandum est.
Revocantur autem ad conditionales primum rationales, ut Sol lucet,
ergo dies est: Omnis homo est rationis particeps, et mente captus est homo,
igitur mente captus est rationis particeps. Deinde causales, ut Quia sol lucet,
dies est: Quia homo est ex elementis compositus, mori potest. Item illae,
quas vocant temporales, locales, et id genus aliae, ut Cum sol lucet dies est:
Ubi sol lucet dies est: Quo semel est imbuta recens servabit odorem testa
diu: Quibuscum vixeris, corum mores imitaberis: et caeterae huiusmodi.
Sed quod ad rationales, et causales attinet (aliae enim fere negliguntur) illud
advertendum est, ad veritatem rationalis, praeter bonam consequentiam,
requiri veritatem antecedentis: ad veritatem autem causalis, ultra haec duo,
opus esse, ut in antecedente sit vera causa consequentis: modo enunciatio
proprie causalis fit. Saepe enim in sensu rationalis usurpatur, ut si dicas, Quia
Socrates est homo, est animal, volens significare, ex eo quod Socrates est homo,
consequi ut sit animal. Ita fit ut hae rationales non sint verae, Socrates est
homo, ergo est philosophus: Socrates est lapis, ergo est sensus expers: prior
quia consequutio est vitiosa posterior, non quia vitiosa sit consequutio, cum sit
apta, et bona, sed quia antecedens non est verum. Fit etiam, ut hae sint falsae,
Quia sol lucet Socrates dormit: Quia sol est ignis, calefacere potest: Quia sol
deficit, luna interponitur inter nos et ipsum: prima, quia consequutio non est
bona: secunda, quia antecedens non est verum: tertia, quia in antecedente non
est causa consequentis, sed potius effectus. Quia enim luna interpositu suo
nobis tegit solem, iccirco sol apud non deficit, non autem quia deficit, ideo luna
interponitur. Haec vero, quae dicimus de diiudicanda veritate, intelligendum
est in affirmativis. Nam negantium veritas ex affirmativis colligi poterit. Cum
enim affirmativae, et negativae semper in hoc genere sint contradicentes, si
affirmativa fuerit vera, erit negativa falsa, si vero illa falsa fuerit, haec vera erit.
Id quod etiam in copulativis et disiunctivis observabis.?
77 Nota do paragrafo: Omnis conditionalis constat duabus partibus praecipuis. / Nota, pro copulativis
et disiunctivis. / Conditionalis est aliquando vera ex simplicibus falsis. / Veritas condicionalis in sola
consequutione consistit. / Conditionalis nihil ponit. / Num omnis conditionalis vera sit necessaria. /
212
Livro III das Instituições Dialéticas
grau de verdade, que se diga não poder ser falsa. Não só se observam, portanto,
enunciações condicionais necessárias e impossíveis, mas também contingentes.
Na verdade, nem toda a boa consequência é necessária, mas alguma é também
provável, como adiante188 diremos.
Assim se vê claramente o que se requer para a verdade das enunciações
condicionais. Entenda-se, porém, que isto foi dito das afirmativas, das quais
se colige a verdade das negativas sem nenhuma dificuldade. Com efeito,
como neste gênero são sempre contraditórias as afirmativas e negativas que
diferem só na afirmação e negação da conjunção, se a condicional afirmativa
for verdadeira, será a negativa falsa, mas se aquela for falsa, esta será verdadeira.
Isto deve observar-se também nas copulativas e disjuntivas.
Reduzem-se, porém, às condicionais primeiramente as racionais, como:
o sol brilha, logo é dia; todo o homem é dotado de razão, o demente é homem,
logo o demente é dotado de razão; depois, as causais, como: porque o sol brilha,
é dia; porque o homem é composto de elementos, pode morrer. Igualmente
[se reduzem às condicionais] aquelas a que se dá o nome de temporais, locais, e
outras deste gênero, como: quando o sol brilha, é dia, onde o sol brilha é dia;
aonde uma vez foi embebido um vaso [de barro] fresco, conservará o odor
durante muito tempo; imitarás os costumes daqueles com quem viveres; e as
restantes deste modo. Mas, no que diz respeito à verdade das racionais e das
causais (pois as outras quase se desprezam), deve advertir-se que para a verdade
da racional se requer, além da boa consequência, a verdade do antecedente e a
do consequente (que se segue daquela); para a verdade da causal, além destas
duas coisas, é necessário que no antecedente se encontre a verdadeira causa
do consequente, desde que a enunciação seja propriamente causal. Muitas
vezes, efetivamente, usa-se [uma enunciação] no sentido racional, como se se
disser: porque Sócrates é homem, é animal, querendo significar que, do fato de
Sócrates ser homem, se segue que é animal. Assim acontece que estas racionais
não são verdadeiras: Sócrates é homem, portanto é filósofo; Sócrates é pedra,
logo é desprovido de sentidos. A primeira porque é viciosa a consequência, a
segunda porque, embora a consequência seja apta e boa, todavia o antecedente
não é verdadeiro. Acontece também que estas são falsas: porque o sol brilha,
Sócrates dorme; porque o sol é fogo, pode aquecer; porque o Sol se eclipsa,
a Lua interpõe-se entre nós e ele. A primeira porque a consequência não é
boa; a segunda porque o antecedente não é verdadeiro; a terceira porque no
antecedente não está a causa do consequente, mas antes o efeito. Na verdade,
porque a Lua, com a sua interposição, nos oculta o Sol, é que o Sol se eclipsa
para nós, e não é porque o Sol se eclipsa que a Lua se interpõe.
213
Pedro da Fonseca
Illud autem attendendum est hoc loco, etsi ad copulandas duas simplices
enunciationes una tantum copulativa coniunctio sufficiat, eleganter tamen, et
Plato audit. Dico autem non parum utiliter, propter negativas. Nec enim aeque
perspicue, et absque ambiguitate loquitur, qui negat propositam copulativam
hoc pacto, Non Socrates Loquitur, et Plato audit, atque is, qui hoc modo, Non
et Socrates loquitur, et Plato audit. Quod item in disiunctivis observandum est.
214
Livro III das Instituições Dialéticas
215
Pedro da Fonseca
216
Livro III das Instituições Dialéticas
217
Pedro da Fonseca
Quod si quis obiiciat, eum, qui ita loquitur, Aut Socrates est homo, aut
rationalis, hoc modo corrigi solere, Imo vero et est homo, et rationalis, nec
alia de causa, nisi quia falsam profert disiunctionem: occurendum est, eum,
qui sic loquitur, corrigi, non quod falsam pronunciet disiunctionem, sed quod
ineptam, et ridiculam. Ineptum est enim, ac ridiculum extruere disiunctionem
ex enunciationibus necessaris, aut necessario connexis. Id quod in hac
disiunctionum ratione, quam recentiores amplectuntur, diligenter cavendum
est. Nec tamen iccirco fuerit necessarium, ut ex simplicibus repugnantibus inter
se omnes disiunctio struatur, quia cum dicimus, Aut est hoc, aut est illud, non
semper volumus significare, aut hoc tantum, aut illud tantum esse verum, sed
saepe ita loquimur, ut saltem hoc verum esse, aut saltem illud declaremus. Quo
pacto dubium non est, quin tota disiunctio ex partibus non repugnantibus,
atque adeo simul veris, vera esse possit.
218
Livro III das Instituições Dialéticas
E, além disso, naquilo que havemos de dizer acerca da oposição das disjuntivas,
faremos grande uso das disjuntivas aprovadas e ensinadas por eles.
Mas, se alguém objetar que quem fala assim: ou Sócrates é homem, ou
racional, costuma corrigir-se deste modo: antes, é homem e racional, e nem
por outra causa senão porque profere uma disjunção falsa; deve responder-se
que quem assim fala é censurado não porque pronuncia uma disjunção falsa,
mas inepta e ridícula. Efetivamente, é inepto e ridículo, principalmente no
falar comum (no qual muitas vezes não se atende tanto ao que se diz segundo
a verdade como ao que se diz segundo o uso) construir uma disjunção de
enunciações necessárias ou conexas necessariamente. Deve evitar-se isto
diligentemente neste gênero de disjunções, que os modernos preconizam. Mas
nem por isso seria necessário que se construísse de simples repugnantes entre si
toda a disjunção, porque, quando dizemos: ou é isto ou é aquilo, não queremos
significar sempre que ou só isto, ou só aquilo é verdadeiro, mas, muitas vezes,
falamos assim para declararmos que isto pelo menos é verdadeiro, ou que aquilo
pelo menos é verdadeiro. Posto isto, não há dúvida de que a disjunção toda,
constante de partes não só não repugnantes mas também simultaneamente
verdadeiras, pode ser verdadeira.
Neste gênero de enunciações, tal como nas anteriores, notam-se
enunciações não só necessárias e impossíveis, como também contingentes.
Com efeito, devem dizer-se necessárias aquelas que constam de duas
contraditórias ou daquelas que se podem reduzir a contraditórias, como:
Sócrates ou fala, ou não fala; Sócrates ou é gramático, ou não tem a arte de
falar e escrever corretamente; o animal ou é homem, ou é bruto. Igualmente,
[devem dizer-se necessárias] aquelas cujas partes são todas, ou uma só,
necessárias, como: Sócrates é homem, ou não é pedra; Sócrates é homem, ou
não é gramático; Sócrates é homem, ou é pedra. Todavia, aquelas cujas partes
são todas necessárias, porque são ridículas, não se devem fazer, como dissemos.
Contingente é aquela cujas partes são todas, ou alguma, contingentes, não,
contudo, de tal maneira que sejam contraditórias ou se possam reduzir a
contraditórias, ou alguma delas seja necessária, para que não seja necessária
toda a disjunção, como agora dissemos. São exemplos de contingentes estas: ou
esta mulher não é mãe deste menino, ou o ama; ou este adolescente é pedra, ou
mediante longo trabalho se tomará douto. Impossíveis são aquelas cujas partes
são todas impossíveis, como: Sócrates ou é pedra ou é madeira. Dissemos isto
da natureza da disjunção e da verdade das enunciações conjuntas. Falemos
agora da sua oposição e equipolência.
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Pedro da Fonseca
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Livro III das Instituições Dialéticas
Sócratesé éanimal,
homem homem; seoSócrates
todo homem éé branco;
animal,seSócrates não é homem;
todo o homem é animal,senenhum
todo o
homem é branco ou algum homem não é branco — não podem, contudo,
ser simultaneamente verdadeiras. E isto tomar-se-á claro não só mediante
a indução feita em qualquer matéria, mas também por esta razão: é que, se
pudessem ser simultaneamente verdadeiras, alguma coisa repugnaria ao
consequente que não repugnaria ao antecedente, o que, no livro sexto,'' se
verá que é falso. Efetivamente, as simples contrárias e contraditórias repugnam
umas às outras e, contudo, dir-se-iam decorrer do mesmo antecedente. Daqui
se vê que nas negativas de qualquer descrição, que pomos como subcontrárias,
se observam as leis das subcontrárias, visto não poderem ser simultaneamente
falsas, mas sim simultaneamente verdadeiras. Com efeito, se as afirmativas não
podem ser simultaneamente verdadeiras, também as negativas não podem ser
191 Capítulo 5.
225
Pedro da Fonseca
226
Livro III das Instituições Dialéticas
227
Pedro da Fonseca
Non et nullus homo est sensus Non et omnis homo est sensus
particeps, et nullus equus est sensus particeps, et omnis equus est sensus
particeps. particeps.
Eadem ratio erit si una tantum simplex sit uni contraria, aut contradicens.
Probatio huius documenti satis aperta est. Nam quod affirmativae, quas
ponimus contrarias, possint esse simul falsae, his exemplis patet: Socrates
est lapis, et Plato est homo: Socrates non est lapis, et Plato Non est homo.
Omnis homo est albus, et omnis equus est albus. Nullus Homo est albus, et
nullus equus est albus. Item omnis homo est lapis, et aliquis homo est albus.
Aliquis homo non est lapis, et nullus homo est albus. Quod autem non
possint esse simul verae, non solum inductione patet qualibet materia, sed hac
etiam ratione. Quia si duae copulativae constantes ex simplicibus contraris,
aut contradicentibus possent esse simul verae, duae simplices contrariae, aut
contradicentes possent esse simul verae, quod fieri non posse supra dictum est.
Hinc patet negativas, quas dicimus subcontrarias posse esse simul veras, non
autem simul falsas, ut deductum est in conditionalibus, itemque fieri non posse,
ut superior afirmativa sit vera quin negativa inferior vera sit, aut inferior falsa
sit, quin superior sit falsa. Non admisimus autem copulativas, quarum omnes
simplices sunt subcontrariae, ne daremus contrarias simul veras, subcontrarias
simul falsas, et subalternantes veras falsis existentibus subalternatis, ut in his
patet, Aliquis homo est albus, et aliquis equus est albus: Aliquis homo non
est albus, et aliquis equus non est albus: Non et aliquis homo non est albus, et
aliquis equus non est albus: Non et aliquis homo est albus, et aliquis equus est
albus.
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
230
Livro III das Instituições Dialéticas
e algum cavalo não é branco, não e algum homem é branco e algum cavalo é
branco.
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Pedro da Fonseca
sit, quin superior negativa sit falsa: quod quo pacto efficiatur ex dictis false
inteliges. Non admisimus autem disiunctivas constantes simplicibus contrariis,
quia hoc pacto daremus contrarias simul veras, subcontrarias simul falsas, et
subalternantes veras falsis existentibus subalternatis, ut his exxemplis patet:
Non aut nullus homo est albus, aut nullus homo est albus, aut nullus equus est
albus
232
Livro III das Instituições Dialéticas
Deve notar-se, porém, que esta regra especial dada para as disjuntivas
não se deve aplicar apenas àquelas disjuntivas que os antigos aprovam, isto é,
às imediatas, ou seja, àquelas que, para serem verdadeiras, devem ter uma parte
verdadeira e a outra falsa; mas àquelas que os modernos admitem, àquelas, digo,
que nunca são consideradas falsas senão quando forem falsas todas as partes.
Com efeito, se a regra se aplicasse às imediatas, chegar-se-ia a subcontrárias
simultaneamente falsas e (o que se segue daqui) contrárias simultaneamente
verdadeiras e subalternantes verdadeiras coexistindo com subalternadas
falsas, como se vê nas descrições dadas. Na verdade, segundo o parecer dos
antigos, todas as disjuntivas afirmativas, que apresentamos em exemplo, são
falsas. Na primeira e na segunda descrição, porque as primeiras constam de
ambas as partes verdadeiras; as segundas, porque constam de ambas falsas;
na terceira, porque ambas as partes da disjuntiva são verdadeiras. De onde se
infere que, neste gênero de disjuntivas, não se dão subcontrárias. Que neste
[gênero] não possam constituir-se subcontrárias de simples contrárias, consta
com bastante clareza do exemplo apresentado um pouco atrás: ou todo o
homem é branco, ou todo o cavalo é branco; ou nenhum homem é branco, ou
nenhum cavalo é branco. Efetivamente, ambas as disjuntivas, não só segundo o
parecer dos modernos, mas também dos antigos, são falsas, visto constarem de
ambas as partes falsas. Como, porém, neste gênero de disjuntivas, não se dão
subcontrárias, acontece claramente que também não se podem dar contrárias
ou subalternas, mas só contraditórias.
Deve notar-se também que, embora as conjuntas racionais e as causais,
em razão das condicionais que incluem, sejam abrangidas pela regra especial
das condicionais, e, em razão da copulativa [formada] das enunciações do
antecedente e do consequente de que também constam, estejam compreendidas
na regra especial das copulativas, deve, contudo, formar-se a sua oposição
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Pedro da Fonseca
234
Livro III das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
est, Non aut Socrates non est albus, Plato non est albus. Copulativa autem
affirmativa solius coniuctionis, ut, Et Socrates non est albus, et Plato non est
albus arquipollet negativae solius coniunctionis, qualis est Non aut Socrates
est album, aut Plato est albus. Copulativa vero omnino negativa, ut, Non et
Socrates non est albus, et Plato non est albus, arquipollet disiunctivae omnino
affirmativae, qualis est, Aut Socrates est albus, aut Plato est albus. Denique
copulativa negativa solius coniunctionis, ut, Non et Socrates est albus, et Plato
est albus, equipollet disiunctivae affirmativae Solius coniunctionis, qualis est,
Aut Socrates non est albus, aut Plato non est albus. Quae omnia in subiectis
descriptionibus planius perspiciuntur.
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
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Livro III das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
copulativam, Et Si Sol lucet, non est dies, et Sol non lucet, et non est dies, et
lux Solis non est suapte natura causa diei, et reliquas oppositas codem modo,
quo in rationalibus.
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Livro III das Instituições Dialéticas
sol brilha, é dia, equivale-lhe esta copulativa: tanto se o sol brilha, é dia, quanto
o sol brilha, e é dia, e a luz do sol é a causa do dia, dar-se-lhe-á esta contrária
copulativa: e se o sol brilha, não é dia, e o sol não brilha, e não é dia, e a luz
do sol não é de sua própria natureza a causa do dia; e [se pedir] as restantes
opostas [far-se-á] do mesmo modo que nas racionais.
Isto, [o que há a dizer] acerca das enunciações conjuntas, omitidas
muitas outras, que homens aliás de grande talento deixaram escritas mais por
ostentação do que por utilidade. 196
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Pedro da Fonseca
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Livro III das Instituições Dialéticas
243
Pedro da Fonseca
viginti, id est, sunt plura, quam viginti: Lapis non est tantum animal, id est,
lapis est aliquid ultra quam animal. Nam enunciationes, quae exponuntur, sunt
verae, exponentes autem falsae. Sed de hoc genere exclusivarum nihil amplius
dicendum est.81
Exclusivae autem posterioris generis, quas exclusi subiecti nominavimus,
si et signum, et verbum affirmaverint, exponendae erunt copulative, priori
exponente indefinita, sive particulari affirmativa, et posteriori universali
negativa hoc modo. Tantum animal sentire potest, id est, animal sentire potest,
et nihil quod non sit animal, sentire potest. Si vero solum signum affirmaverint,
exponantur copulative, priori indefinita, sive particulari negativa, et posteriori
universali affirmativa hoc modo. Tantum substantia non est in subiecto, id est,
substantia non est in subiecto, et omne quod non est substantia, est in subiecto.
Si autem utrunque negaverint, exponantur disiunctive, priori universali
affirmativa, et posteriori particulari negativa hoc modo. Non solum animal
non est sensus capax, id est, omne animal est sensus capax, vel aliquid, quod
non est animal, non est sensus capax. Si denique solum signum negaverint,
exponantur disiunctive, priori universali negativa, et posteriori particulari
affirmativa hoc modo. Non solum animal est vivens, id est, nullum animal est
vivens, vel aliquid quod non est animal, est vivens.
expositiones
244
Livro III das Instituições Dialéticas
vinte, isto é, são mais que vinte; a pedra não é só animal, isto é, a pedra é algo
mais que animal. Na verdade, as enunciações que se expõem são verdadeiras
(visto que as suas contraditórias são falsas); as exponentes, porém, são falsas.
Mas, deste gênero de exclusivas, nada mais é necessário dizer.
Quanto às exclusivas do segundo gênero, a que chamamos de sujeito
excluído, se afirmarem o sinal e o verbo, deverão ser expostas copulativamente,
com a primeira exponente indefinida ou particular afirmativa, e a segunda
universal negativa, deste modo: só o animal pode sentir, isto é, o animal pode
sentir e nada que não seja animal pode sentir. Mas se afirmarem só o sinal,
exponham-se copulativamente, com a primeira [exponente] indefinida ou
particular negativa, e a segunda universal afirmativa, deste modo: só a substância
não está no sujeito, isto é, a substância não está no sujeito e tudo o que não
é substância está no sujeito. Se, porém, negarem um e outro, exponham-se
disjuntivamente, com a primeira [exponente] universal afirmativa e a segunda
particular negativa, deste modo: não só o animal não é dotado de sentidos, isto
é, todo o animal é dotado de sentidos, ou aquilo que não é animal não é dotado
de sentidos. Se, finalmente, negarem só o sinal, exponham-se disjuntivamente,
com a primeira universal negativa e a segunda particular afirmativa, deste
modo: não só o animal é vivo, isto é, nenhum animal é vivo, ou aquilo que não
é animal é vivo.
Assim, se bem se atentar, ver-se-á que as enunciações que afirmam
o sinal, isto é, a primeira e a segunda, se expõem copulativamente, com a
primeira exponente indefinida ou particular (o que aqui vale o mesmo) e a
segunda universal. Pelo contrário, [ver-se-á que] as que negam o sinal, isto é,
a terceira e a quarta, se expõem disjuntivamente, com a primeira exponente
universal e a segunda particular. Ver-se-á também que aquelas que afirmam
ou negam o sinal e o verbo simultaneamente, isto é, a primeira e a terceira, se
expõem com a primeira afirmativa e a segunda negativa; ao contrário, [ver-
se-á] que aquelas que afirmam um e negam outro, isto é, a segunda e a quarta,
se expõem com a primeira negativa e a segunda afirmativa. Finalmente, [ver-
se-á que] a primeira e a quarta se expõem pelas exponentes contraditórias; e,
semelhantemente, a segunda e a terceira. A primeira e a terceira, porém, pelas
[exponentes] subalternas; e, do mesmo modo, a segunda e a quarta.
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Pedro da Fonseca
246
Livro III das Instituições Dialéticas
condições das suas opostas e subalternas de que tiram o nome. Isto se entenderá
sem grande dificuldade, apresentando a exposição de cada uma. Para melhor se
reterem estas coisas, tomem-se estas quatro dicções:
247
Pedro da Fonseca
Subalternans
1
Tantum animal est aegrum.
2
Subalternans
Tantum animal non est agrum.
Contrariae
Id est Id est
Ig Animal est agrum, et
Nihil, quod non sit animal, est
To Animal non est aegrum, et
Omne, quod non est animal,
ne aegrum. nans est aegrum.
Subalternae
Subalternae
3 4
Non tantum animal non est Non tantum animal est
aegrum. aegrum.
Subcontrariae
Id est Id est
MaOmne animal est aegrum, vel Per Nullum animal est agrum, vel
Aliquid, quod non est animal, Aliquid quod non est animal,
los non est aegrum. dit est aegrum.
Subalternata Subalternata
248
Livro III das Instituições Dialéticas
Subalternante
1
Só o animal está doente.
2
Subalternante
Subalternas
ditórias.
3 4
Não só o animal não está doente. Não só o animal está doente.
Subcontrárias
Isto é: Isto é:
Ma Todo o animal está doente; ou Per Nenhum animal está doente; ou
Aquilo que não é animal não Aquilo que não é animal está
los está doente. dit doente.
Subalternada Subalternada
Chamarei ainda a atenção, contudo, para duas coisas que se dizem nesta
matéria em linguagem comum. A primeira é que a dicção exclusiva não exclui
as coisas concomitantes, isto é, aquelas que seguem necessariamente o sujeito
da exclusiva. Por exemplo, quando digo: só o homem pode falar, não excluo
animal e as outras coisas que se predicam necessariamente de homem, como
se negasse que elas possam falar, mas só excluo da participação da palavra tudo
aquilo que não é homem.
A segunda é que a exclusiva de sinal e de verbo afirmativo se converte
na universal afirmativa. São, por isso, boas conversões estas: só o animal está
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Pedro da Fonseca
aegrum, igitur omne agrum est animal: Tantum homo loqui potest, igitur
omne, quod loqui potest, est homo: et ita reliquae huius formae. 84
250
Livro III das Instituições Dialéticas
251
Pedro da Fonseca
nullum animal, quod non est homo, est rationis particeps, et omnis homo est
rationis particeps. Tertia vero, quae est subalternata primae, et contradictoria
secundae, exponitur disiunctive, priori exponente particulari affirmativa, et
posteriori particulari negativa hoc modo, Non omne mobile praeter Coelum
non potest interire, id est, Aliquod mobile, quod non est coelum, potest interire,
vel aliquod coelum non potest interire. Quarta denique, quae contradicit
primae, subalternatur secundae, et est subcontraria tertiae, etiam disiunctive
exponitur, priori tamen exponente particulari negativa, et posteriori particulari
affirmativa hoc modo, Non omne animal praeter hominem, est bipes, id est,
Aliquod animal, quod non est homo, non est bipes, vel aliquis homo est bipes.
Atque ita patet, priores duas exponi copulative, itemque exponentibus
universalibus: duas vero reliquas disiunctive, et exponentibus particularibus.
Praeterea, exponentes contrariarum esse contrarias, subcontrariarum
subcontrarias, contradicentium contradicentes, et subalternarum subalternas.
Quae omnia cernes in sequenti descriptione, notatis primum his quattuor
dictionibus.
Caute, Cedas, Prisco, Mori.
252
Livro III das Instituições Dialéticas
253
Pedro da Fonseca
Subalternans
Subalternae Subalternae
Contradicentes
3
Non omne mobile praeter caelum
4
Non omne mobile praeter
non potest interire. caelum interire potest.
Subcontrariae
Id est Id est
Pris Aliquod mobile, quod non est Mo Aliquod mobile, quod non est
caelum, interire potest vel caelum, non potest interire,
co Aliquod caelum, interire non vel
potest. Aliquod caelum interire potest.
Subalternata Subalternata
254
Livro III das Instituições Dialéticas
Subalternante Subalternante
1 2
Todo o móvel, excepto o céu, Todo o móvel, excepto o céu, não
pode morrer. pode morrer.
Contrárias
Isto é: Isto é:
Cau Todo o móvel que não é céu Ce Nenhum móvel que não é céu
pode morrer, e pode morrer, e
te Nenhum céu pode morrer. das Todo o céu pode morrer.
cons
Subalternas Subalternas
3
Não todo o móvel, excepto o céu,
4
Não todo o móvel, excepto o céu,
não pode morrer. pode morrer.
Subcontrárias
Isto é: Isto é:
Pris Algum móvel que não é céu Per Algum móvel que não é céu
pode morrer, ou não pode morrer, ou
co Algum céu não pode morrer. dit Algum céu pode morrer.
Subalternada Subalternada
255
Pedro da Fonseca
est albus est grammaticus. Verus enim sensus prioris enunciationis est Socrati
convenire crispitudinem (ut sic loquor) secundum capillos, posterioris autem,
Grammaticum Platonis non impedire quominus idem sit albus.
256
Livro III das Instituições Dialéticas
disser: Sócrates, enquanto tem cabelos, é crespo; Platão, conquanto seja branco,
é gramático. Com efeito, o verdadeiro sentido da primeira enunciação é que a
crespidão (por assim dizer) convém a Sócrates segundo os cabelos; mas o da
segunda é que a Gramática de Platão não impede que o mesmo seja branco.
A este gênero de enunciações pertencem aquelas nas quais se usam as
dicções reduplicativas no sentido segundo o qual significam a condição sine
qua non (como lhe chamam), isto é, sem a qual os predicados não convêm
aos sujeitos, como se se disser: o fogo, enquanto está próximo, ou pela razão
de estar próximo, aquece. Tais dicções tomam-se reduplicativamente quando
significam que aquilo que convém ao sujeito é a causa por que lhe convém
o predicado, como se se disser: Sócrates, enquanto é homem, é capaz de
educação. Com efeito, o sentido próprio e principal desta enunciação é: a
natureza humana, que convém a Sócrates, é a causa por que lhe convém a
educabilidade. Omitida, portanto, a primeira acepção, que é menos própria,
no que diz respeito à segunda, deve atender-se a que há quatro gêneros de
enunciações em que se toma deste modo a dicção reduplicativa: com efeito, ou
se afirmam a reduplicação e o verbo, como se se disser: o homem, enquanto
homem, é capaz de educação; ou só o verbo, como se se disser: o homem,
enquanto homem, não é capaz de educação; ou se negam ambos, como se
se disser: o homem, não enquanto homem, não é capaz de educação; ou só a
reduplicação, como se se disser: o homem, não enquanto homem, é capaz de
educação. E há quem explique tais enunciações com tantas exponentes que
mais parece obscurecer a coisa.
Parece ser certamente suficiente, na exposição destas, pôr-se em lugar
da palavra enquanto a palavra porque, propriamente tomada, ou seja enquanto
indica a causa, como se disse. Desta maneira, com efeito, não será muito difícil
entender o sentido delas. Mas se, pondo esta palavra, ainda não for bastante
clara a enunciação, deverá pedir-se a explicação àquilo que acima'"se disse da
enunciação causal.
Até agora [falamos] utilmente das enunciações que carecem de
exposição. As restantes coisas que, nesta matéria, costumam dizer-se, se se
pretender continuar [no estudo delas], gastar-se-á o tempo em vão.
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Liber IV Institutionum Dialecticarum
Livro IV Das Instituições Dialéticas
Pedro da Fonseca
260
Livro IV das Instituições Dialéticas
261
Pedro da Fonseca
86 Nota do paragrafo: Generalis divisio divisionis. / Distinctio quid. / Quae vox multiplex p prie non
dicatur dividi. / Id non proprie dividitur, quodnullo modo est unum. / 5. metaph. 26. tex. 31. / Omnis
divisio vocis multiplicis, etiam impropria, proprie dicitur distinctio. / 1. top. 13.
262
Livro IV das Instituições Dialéticas
evidente nos exemplos dados. Com efeito, se a voz múltipla tiver significações
ou sentidos igualmente principais, sem ordem alguma ou proporção que dê
uma certa unidade de significação (como a palavra gallus, que tanto significa
homem gaulês como galo, e esta oração: Audivi Graecos vicisse Troianos, com
a qual significo tanto ter eu ouvido que os gregos venceram os troianos, como
que os troianos venceram os gregos), não haverá razão para que a sua distinção
pertença a um gênero de divisão. De fato, não se divide aquilo que, de modo
nenhum, forma uma unidade. O todo, com efeito, como ensina Aristóteles, '"
enquanto todo, deve ter uma certa unidade.
Portanto, quer se concorde com isto, quer se conceda que vozes desse
gênero se dividem de alguma maneira (pode, efetivamente, a sua multiplicidade
dizer-se, de certo modo, unidade, em razão da palavra única com que se
expressa), toda a enumeração das significações ou dos sentidos da voz múltipla,
seja ela uma divisão propriamente dita ou uma divisão até certo ponto, está
compreendida propriamente no nome distinção — acerca de toda a qual, como
de uma coisa muitíssimo necessária no discorrer, nos deixou Aristóteles200
muitas regras.
E bastem as coisas que se disseram sobre o primeiro gênero de divisão.
Expliquemos agora o segundo, a que se dá o nome de partição.
263
Pedro da Fonseca
87 Nota do paragrafo: Partitio quid. / Partes integrantes. / Partes similares. / Aristo. 1. de generat.
5. et 1. de hist. anim. 1. vocat óporquepeis dissimilares ávoporopEpeis / Duplex partitio. / Divisio totius
potestate ad partitionem revocatur. / Ut passim libris de anima.
264
Livro IV das Instituições Dialéticas
265
Pedro da Fonseca
divisio physica. Dici autem solet haec divisio realis, ac physica, quia fit in partes
re diversas, ex quibus id, quod dividitur, naturaliter compositum est.
Ad hanc divisionem revocatur divisio compositi accidentalis in
subiectum et accidens: ut si dicas, Aeris figurati altera pars est aes, altera
figura. Revocatur etiam divisio quantitatum continuarum in partes divisibiles,
et indivisibiles, quoniam divisibiles sunt similes materiae, indivisibiles autem,
formae: quo pacto linea duorum palmorum dividitur in duos palmos, et in
punctum, quo palmi copulantur.
Si quis autem quaerat cur haec divisio individui non sit comprehensa
sub divisione totius essentialis, sed ad quandam cius speciem revocetur,
praesertim cum individuum non videatur excludendum a ratione totius
essentialis: respondendum est, causam huius rei esse, quia quemadmodum apud
Philosophos non agitur directo, ac ex instituto de definitione individuorum, ut
infra patebit, ita nec de illorum divisione. Atque haec eadem est causa, ob
quam individuum in ratione totius essentialis comprehensum non est.
266
Livro IV das Instituições Dialéticas
267
Pedro da Fonseca
Sed accuratior huius rei perscrutatio nec ad hunc locum, nec fortasse
ad hanc artem pertinet. Haec de divisionibus totius essentialis videntur satis. 88
268
Livro IV das Instituições Dialéticas
adiante20* se verá, assim também não tratam da sua divisão. É ainda esta a
causa por que o indivíduo não está compreendido na razão do todo essencial.
Mas, não pertence aqui, nem talvez mesmo a esta arte, uma investigação
mais profunda deste assunto. Parece que isto é o suficiente acerca das divisões
do todo essencial.
269
Pedro da Fonseca
89 Nota do paragrafo: Triplex divisio totius universalis in partes subiectas. / Praedicat 5. / Divisio
generis in species princeps omnium. / In Phaedro, et alibi. / Rerum essentiae fere ignorantur. / Divisiones
quorumdam analogorum.
270
Livro IV das Instituições Dialéticas
207 Metafísica, V, 1.
271
Pedro da Fonseca
Iam divisio totius universalis tribus modis per accidens fieri cernitur. Aut
enim subiectum dividitur in accidentia, aut accidens in subiecta, aut accidens
in accidentia. In qua distributione luniores omnes Boetium velut ducem
sequuntur, quem ex antiquis fere unum habemus, qui de divisione ex instituto
disserat.
Tunc divisio est subiecti in accidentia, cum membra dividentia accidunt
partibus subiectis divisi: ut si dicas, Animalium aliud loqui potest, aliud loqui
no potest: item aliud est rectum, aliud pronum: item aliud est aptum ad risum,
aliud ad hinnitum, aliud ad latratum, aliud ad mugitum, et caetera. Haec
namque omnia membra dividentia accidunt partibus subiectis animalis utpote
animalibus diversis.
Tunc autem divisio est accidentis in subiecta cum membris dividentibus
accidunt partes subiectae divisi: ut si dicas, Eorum, quae moventur, quaedam
sunt caeli, quaedam elementa, quadam mista: item, Bonorum quaedam sunt
in animo, quaedam in corpore. quedam in rebus externis: item Colorum
alius est in cygno, allius in corvo; alii in alis rebus. Hic e contrario cernas
licet membra dividentia esse res, quibus accidunt partes subiectae divisi. Nam
quoddam moveri accidit caeli, aliud elementis, aliud mistis. Reliqua exempla
sunt perspicua.
90 Nota do paragrafo: Hactenus sunt explicate divisiones per se. / Explicatur definitio divisionis.
272
Livro IV das Instituições Dialéticas
273
Pedro da Fonseca
274
Livro IV das Instituições Dialéticas
diversos corpos, como mármore, gordura e leite, que são partes sujeitas dum
corpo misto, a que convém a cor branca.
Mas objetará alguém que, sendo assim, será por acidente a seguinte
divisão: das coisas coloridas, uma é branca, outra negra, outra cinzenta — pois,
na verdade, os membros dividentes convêm às partes sujeitas do corpo misto,
a que convém o colorido que se divide. Todavia, é uma divisão por si, isto é,
do gênero em espécies. Responder-se-á que, nestas três divisões, como nos
quatro gêneros anteriores de divisões por acidente, é condição necessária que
os membros dividentes não sejam, por si, partes do dividendo. Nisto (como é
evidente pelo que se disse) se põe a razão da divisão por acidente, divisão que se
inclui em todas estas formas de divisões. Mas branco, negro e cinzento não são
partes acidentais do colorido, mas por si sujeitas a ele, como, bem entendido,
as espécies do gênero. Por isso, não se segue do que fica dito que esta e outras
divisões semelhantes sejam divisões por acidente.
275
Pedro da Fonseca
Quanquam hoc non est negandum dividi per se genus per differentias:
siquidem differentiae, contrahunt per se genus, quod proprietates, et accidentia
contrahunt per accidens. Quod si haec sententia non placet, dicito hanc
divisionem revocari ad divisionem per se totius universalis in partes subiectas:
quia differentiae, est in subiiciuntur per se alicui universali (neque enim ullam
naturam univocam in suis essentiis includunt) tamen constituunt per se
species, quae per se subiiciuntur generi: quod usque proprietates et accidentia
facere non possunt.
Si quis tamen magis probaverit divisionem hanc esse per accidens, alius
vero afferat Aristotelem septimo livro Metaphysicorum aperte dic differentias
communiores dividi per se in differentias minus communes, occurret ille,
id intelligendum esse de accidentibus, quibus utimur penuria verarum
differentiarum. Nec enim dubium est, quin accidentia communiora dividantur
per se in minus communia nempe ut genera in suas especies. Quo autem
Aristoteles ita si intelligendus, apertius intelliges, si perpendas id, quod ille
codem loco ait, Differentiam communiorem ita includi in inferiori, ut si minus
communis addatur communiori, commitatur nugatio, veluti si dicas, Pedes
habens bipes. Hoc enim de veris differentiis intelligi non potest. Dicimus enim
hominem esse corpus animatum, sensitivum, rationale, sine ulla repetitione
nugatoria: quod certe ideo accidit quia minus communes differentiae non
includunt essentialiter communiores.
276
Livro IV das Instituições Dialéticas
se divide naquelas coisas que se verificam, isto é, que convêm às partes por si
sujeitas. Assim, de fato, se pode tomar a palavra se verificam na explicação da
divisão por acidente, como se toma muitas vezes em Aristóteles? Todavia,
com isto não se pretende negar que o gênero se divida por si por meio das
diferenças, visto que as diferenças contraem por si o gênero, enquanto as
propriedades e os acidentes o contraem por acidente. Mas, se esta opinião não
agradar, diga-se que esta divisão pertence à divisão por si do todo universal
nas partes sujeitas; pois as diferenças, embora não se sujeitem por si a algum
universal (nem sequer incluam nas suas essências nenhuma natureza unívoca),
constituem por si espécies, que por si se sujeitam ao gênero; o que nunca as
propriedades e os acidentes podem fazer.
A divisão da diferença mais comum nas menos comuns, poder-se-á
igualmente julgar a partir da divisão por acidente do acidente em acidentes.
Pois, embora as diferenças menos comuns não sejam por si sujeitas às mais
comuns, contudo, constituem por si espécies, que se sujeitam por si às mais
comuns.
Se alguém, porém, provar que esta divisão é mais por acidente, e outro
mostrar que Aristóteles, no livro sétimo da Metafísica,212 diz abertamente que
as diferenças mais comuns se dividem por si em diferenças menos comuns,
responder-se-á que isto se deve entender dos acidentes, de que usamos, à falta
de diferenças verdadeiras. Efetivamente, não há dúvida de que os acidentes
mais comuns se dividam por si em menos comuns, como os gêneros nas suas
espécies. Que, Aristóteles deva ser entendido assim, compreender-se-á mais
claramente se se examinar o que ele diz no mesmo lugar: — a diferença mais
comum de tal modo se inclui na inferior que, se se juntar a menos comum à
mais comum, comete-se uma redundância, como se se disser: bípede que tem
pés. Ora isto não pode entender-se das verdadeiras diferenças, pois dissemos
que o homem é o corpo animado, sensitivo, racional, sem nenhuma repetição
pleonástica, o que acontece certamente porque as diferenças menos comuns
não incluem essencialmente as mais comuns.
Neste lugar, deve advertir-se que aquilo que dissemos da divisão do
gênero em diferenças universais deve dizer-se, pela mesma razão, da divisão da
espécie infima em diferenças individuantes; e aquilo que dissemos da divisão
da diferença mais comum nas menos comuns deve adaptar-se à divisão da
diferença universal em individuantes.
Não pode dizer-se quão útil é a divisão do gênero ou por diferenças
ou em diferenças, uma vez que este é o único meio legítimo para a divisão do
gênero em espécies e para as definições essenciais. Mas, como é muitíssimo
raro entre nós este gênero de divisão, muitíssimas vezes nos refugiamos nas
211 Por exemplo, Tópicos, VII, 3; e Elencos, I, 4.
212 Cap. 12, tex. 43.
277
Pedro da Fonseca
esse, aliud pronum: item, Aliud mansuetum natura, aliud ferum: rursum, Aliud
ingredi, aliud rapere, aliud natare, aliud volare.
278
Livro IV das Instituições Dialéticas
279
Pedro da Fonseca
Sed est quod obiiciat aliquis contra hoc praeceptum. Huius enim bonae
divisionis, Hominis altera pars ratione, considerationeque componens, est
animal, altera rationale, animal, quod est membrum dividens, non modo non
minus continet, quam homo, sed etiam latius patet, cum de pluribus, quam
homo, praedicetur. Item huius bonae divisionis, Alborum quaedam dura sunt,
quaedam mollia, alia liquentia, membra omnia simul accepta latius patent,
quam album: dicuntur siquidem de rebus etiam atris, ut de ebeno, de pice, et
atramento.
Priorem tamen facile dilues si dicas, animal, quod ad praedicationem
attinet, latius patere, quam hominem, verum quod attinet ad essentiam,
hominem plus aliquid continere: complectitur enim in essentia sua rationale,
quod non complectitur animal. Posteriori autem obiectioni sic occurres, In
omnibus divisionibus sive per se, sive peraccidens totius universalis in partes
subiectas, semper divisum in singulis membris dividentibus subaudiendum esse:
durum autem, molle, et liquens, et si latius patente, quam album, si nihil aliud
addideris, tamen si in unoquoque subaudias album, iam albo adaequabuntur.
Nam aeque late patet album per sese, atque totum hoc, Album durum, album
molle, et album liquens.
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altera pars est animus altera corpus, homo autem de Socrate dicitur, totum
etiam hoc copulatum, Animus et corpus, dicetur de Socrate: et e contra, si
copulatum ex corpore et animo, etiam homo. Quanquam Socrates non proprie
dicitur animus, et corpus, se concretum quid ex animo, et corpore. Si vero
animalium aliud est homo, aliud bestia, animal autem dicitur de Socrate,
totum etiam hoc disiunctum Homo vel bestia, dicetur de Socrate, et vice versa,
si disiunctum ex homine et bestia, etiam animal.?2
Cavenda igitur sunt haec duo vitia in dividendo, quia divisio inventa est
causa explicandi rem in partes, ac dilucidandi, non tenebras offundendi.
92 Nota do paragrafo: 2. post. 5. / Obiectio. / Altera obiectio. / Solutio prioris obiectionis. / Solutio
posteriores. / Omnia membra dividentia coniunctim, aut disiunctim accepta reciprocantur cum diviso.
93 Nota do paragrafo: 2. post. 5. et 14 et Boët. de divisione. / Cur totum saepe dividam in partes
remotas.
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são ao mesmo tempo brancos e doces, e animais que têm dois pés e que são
racionais. Não é sem razão que se rejeitam divisões deste gênero, porque, assim,
não se exprimiria retamente, ao enumerar os membros dividentes: um é isto,
outro é aquilo — forma de dividir que, contudo, é própria do quinto gênero
de divisão.
Mas dirá talvez alguém que, por conseguinte, não são isentas de erro
estas divisões aprovadas pelos filósofos: dos bens, uns são úteis, outros honestos,
outros agradáveis; das coisas extensas, umas são compridas, outras largas,
outras altas. Com efeito, a mesma ação pode ser útil, honesta e agradável, e
qualquer corpo é comprido, largo e alto, isto é, tem um certo comprimento,
uma certa largura e uma certa altura. Responder-se-á assim a esta objeção: os
membros dividentes das divisões deste gênero são repugnantes, se se conservar
a primeira forma de dividir, como se se disser: do bem, uma parte sujeita é o
útil, outra o honesto, outra o agradável; do contínuo permanente ou do que tem
grandeza, uma parte sujeita é o comprimento, outra a largura, outra a altura —
pois uma parte sujeita não é a outra, embora todas se possam dizer da mesma
coisa. Todavia, Aristóteles e Boécio, quando reprovam as divisões propostas
dos animais e dos corpos, não usam desta forma de dividir; e, se a usassem,
aquelas divisões não deveriam ser reprovadas por se oporem a esta regra, mas
antes por não serem adequadas ou incorrerem em alguma coisa explicada mais
acima.
Se se conservar, porém, a segunda forma de dividir (da qual os filósofos
usam geralmente), dir-se-á, em primeiro lugar, que se fazem muitas divisões
com nomes concretos, e que, contudo, se devem entender como se feitas fossem
com termos abstratos; como, por exemplo, aquela de Aristóteles:219 o quanto
em parte é contínuo e em parte discreto: é discreto, diz, como o número e
a oração; é contínuo, porém, como a linha, a superfície, o tempo e o lugar.
Na verdade, como estas coisas não são quantos, mas quantidades, o quanto
nesta divisão deve necessariamente tomar-se por quantidade. E, assim, já não
existe dificuldade alguma nas divisões apresentadas, uma vez que os membros
dividentes tomados como nomes abstratos repugnam verdadeiramente entre
si. Pois, nunca a utilidade é honestidade, nem a honestidade é prazer, nem o
prazer é utilidade. Nem se diria que o comprimento é largura, nem a largura
altura, nem a altura comprimento.
Dir-se-á, além disso, que a repugnância dos membros dividentes
muitas vezes se encontra, não nas palavras, mas no sentido em que se toma
a divisão, como nesta divisão de Pitágoras:220 dos que afluíam aos jogos da
Grécia, uns eram conduzidos pela esperança da vitória, outros pela avidez de
ganhar dinheiro, outros pela curiosidade de assistir. Aqui, quanto às palavras,
219 Predicamentos, 6.
220 Questões Tusculanas, 4.
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Liber V Institutionum Dialecticarum
Livro V Das Instituições Dialéticas
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Dicitur porro definitio Oratio, quia unum tantum nomen non potest
esse definitio. Definitio enim distincte subiicit intellectui, quod nomen definiti
confuse proponit. Unde cum de omni essentia, quae definitione explicatur, duo
conceptus formari possint, alter, quo essentia, quae declaratur, convenit cum
aliis, alter, quo ab eisdem distinguitur, fit necessario, ut omnis definitio duabus
minimum vocibus constare debeat, altera, quae gignat in mente conceptum
convenientiae, altera, quae distinctionis, differentiaeve.
Ita ergo fit, ut omnis definitio sit oratio, quanquam explicatio nominis
per aliud clarius, ad definitionem Autore Aristotele revocatur, ut si quis dicat,
Honestum, est decens. Quod vero additur, Quae essentiam aliquam naturamve
declarat, id diversam reddit Definitionem a cateris orationibus: nulli siquidem,
praeterquam definitioni, hoc munus demandatum est.
Illud tamen non videtur praetereundum hoc loco, nomen definitionis
duobus modis ab Aristotele accipi. Saepius enim accipitur pro ea sola oratione,
quae de definito conversim praedicatur (qualis est illa, Animal rationale,
comparatione hominis, ut diximus) ut cum ait, ipsam hominisrationem,
definitionemve, nisi vel Est, vel erat, vel Erit, aut aliquid tale addatur, non
esse enuntiationem, quia unum est, et non multa animal agressibile bipes. Et
iterum, in definitione nihil de aliquo praedicari. Et rursum, definitionem talem
esse debere, ut ipsa proposita statim, nulloque negotio cognosci possit cuius
rei sit definitio: ac inde eas esse vitiosas, quibus, ut intelligi possit, quarum
rerum sint definitiones, opus est adiungere nomina rerum, quae definiuntur:
quemadmodum in obsoletis veterum picturis nisi titulus aliquis ascriptus
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esset, nemo poterat intelligere cuius nam rei quaeque pictura esset His enim
locis, aliisque quamplurimis, plane accipit nomen definitionis pro ea sola
ratione, quae de definito conversim predicatur. Aliquando vero sumitur
pro tota enunciatione in qua insuper continetur definitum, (quale est totum
hoc, Homo est animal ratione) ut cum ait, Definitionem aut esse principium
demonstrationis, aut conclusionem, aut totam ratiocinationem sola verborum
collocatione a demonstratione differentem: et rursum, Omnem definitionem
esse universalem et affirmativam. His namque verbis aperte comprehendi
definitum nomini definitionis. Posteriorem acceptionem amplectitur
Quintilianus cum ait, Finitionem esse rei propositae propriam, et dilucidam,
et breviter comprehensam verbis enunciationem. Nos priorem, ut magis
usurpatam, libentius sequimur.?5
Nomen non accipitur hoc loco presse id est, ut a verbo distinguitur, sed
pro quocunque vocabulo, seu categoremate. Quidditas vero et natura nominis,
est ipsa eius significatio: quo fit ut nihil aliud sit, nominis quidditatem, et
naturam explicare, quam eius significationem pate facere. Id quod duobus fit
modis: altero, definitione soli nomini, quod definitur, congruenti, qualis est
ea, quam in exemplum attulimus: altero, ipsa definitine rei significatae. Saepe
95 Nota do parágrafo: Definitis quid. ex. 2. post. 10. / Quid definitum. / Unde dicta definitio, seu
finitio. / Quintili. lib. 7. cap. 4. / Cur definitio sit oratio. / 1. top. 4. et. 6. top. 5. et. 7. metaphy. 15. tex. 54.
/ 1. top. 4. 7 Definitionis nomen saepius accipitur pro solo praedicat. / 1. peri. 4. / 2. post. 3. / 6. top. 2. / Ur.
7. meta. 12. tex. 42 et caet. / #. post. 7. et. 2. post. 10. / 2. post. 3. / Lib. 7. ca. 4.
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96 Nota do parágrafo: Omnis definitio dici pol set modo aliquo definitio rei. / 2. post. 7. et 10. et. 7.
meta, 4. / 2. post. 10. / Quidditas. et natura nominis est ipsa cius significatio. / Duobus modis explicatur
nominis significatio. / Definitio res potest alicui esse definitio nominis. / Quam sit.
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a natureza do nome não é mais que esclarecer a sua significação. E isto faz-se
de dois modos: de um, pela definição congruente só com o nome que se define,
como aquela que aduzimos como exemplo; do outro, pela própria definição
da coisa significada. Muitas vezes, com efeito, quem ignora a significação do
vocábulo, pergunta, por esta forma de palavras, o que é que significa, como se
perguntasse o que é a coisa significada. Satisfá-lo plenamente quem lhe dá a
definição da coisa significada. Assim, se alguém perguntar o que é a Geometria,
desejando entender a significação do nome, e lhe for respondido que é a ciência
que trata das grandezas, pela definição da coisa julgará explicada a definição
do vocábulo. E assim, a que verdadeira e simplesmente é a definição da coisa,
poderá ser para alguém a definição do nome.
Acerca da definição do nome, e dos modos por que se explica a
significação do nome, é suficiente o que disse.
Este gênero de definição é muito necessário não só quando é
preciso demonstrar qualquer coisa, como Aristóteles?33 diz em certo
lugar, mas geralmente no início de cada disputa, como o mesmo diz mais
desenvolvidamente em outro lugar e os demais filósofos?* ensinam.
Pertencem a este gênero as orações que declaram a origem do vocábulo,
como quando dizemos: Cônsul é aquele que consulta [zela] a utilidade da
república; sol é o único que dá luz entre todos os astros; fidelidade é a virtude
em nome da qual se faz o que se diz; abstêmio é aquele que se abstém do álcool.
A estas orações chamam os gregos étuodoyía: [etimologias], isto é, termos
de verdade, como que explicações das vozes, que retêm ainda a verdadeira
explicação daquelas palavras em que se originaram. Cícero chama-as, com
um vocábulo novo, notações, porque são verdadeiros sinais das coisas. A isto
mesmo diz — chama Aristóteles 35 oúußodor [símbolo, indício] que, em latim,
quer dizer sinal.
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Ex causa efficiente sic fere definitur vox apud Aristotelem, Vox est sonus
quidam editus ab anima ictu aeris respiratione attracti cum ipsum ad fauces
allidit. Ex fine hoc modo definitur anima, Anima est forma, quae primo vivimus,
sentimus, et intelligimus Ex causa exemplari sic potest homo definiri, Homo
est animal factum ad imaginem et similtudinem Dei. Interdum autem plura,
aut etiam omnia genera causarum externarum in eadem definitione iunguntur:
ut si dicas, Homo est animal a Deo ad similitudinem divinae mentis factum,
97 Nota do parágrafo: [Duplex definitio rei. / Vide Aristo. 1, peri. 4. et. 2. post. 10 et 1. top. 3 et. 4.
Et toto. 5. ac 6. top. et. 7. meta. q. et 5. Et. 8. met. 6. Descriptio quid. / In descriptione primo ponendum
est genus, deinde una sola proprietas. / 5. top. 1. / Descriptioni ex collectione communium accidentium. /
Descriptioens generum ex differentis, quibus dividuntur. / Discriptiones non constantes vero genere. / 5.
meta. 6. 1. phy. 5. / Descriptiones oratoriae, ac poeticae rerum communium. / Cice. p Mile. / 4. Aeneid. /
2. post. 15. et. 6. top. 2. / Descriptiones rerum singularium. / Inexplicationes metaphorica. / Ovid. / Hora.
/ Cur descriptio dicta sit. / Cur descriptio dicatur proprium. / Cur oratio coniunctione una]
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Definio essentialis, ut Aristoteles definit, est oratio quod quid erat esse
significans. Hoc est oratio, quae conversim significat quidditatem essentiamve
rei, quae definitur. Rarissimum est hoc genus definitionis, saltem in substantiis.
Sed afferri solet in exemplum Animal rationale. Cum autem omnis essentia,
quae definiri potest, constet ex materia, et forma, aut saltem ex genere, et
differentia, (illae enim componunt essentiam re ipsa, et physice, haec ratione
tantum, considerationeque, ut supra diximus) efficitur, ut ea oratio dicatur
significare quod erat esse rei, quae constat nominibus propriae materiae,
ac formae rei, quae definitur, aut generis et differentiae. Exempli causa hae
orationes Animal constans ex corpore tali, et animo rationis participe, et,
Animal rationis particeps, sunt definitiones essentiales hominis: prior, quia
constat nominibus significantibus propriam materiam et formam hominis:
posterior, quia constat nominibus proximi generis proximaeque differentiae
eiusdem.
Itaque sit ut duplex sit definitio essentialis, altera ex propria materia et
forma generi adiunctis, altera ex proximo genere et, proxima differentia. Potest
tamen loco proximi generis poni genus remotum cum omnibus differentiis
interiectus, ut si dicas, Homo est substantia corporata, quae interiore potest,
vivens, sentiens, et rationis particeps.
At dicat aliquis definitionem traditam per materiam et formam regeneri
adiunctas in vitium nugationis incurrere. Siquidem in definitione, qua homo
dicitur animal constans tali copore, et animo rationis participe bis includuntur
corpus et animus, semel implite sive ratione animalis (constat enim animal
animo, et corpore) et iterum explicite, ac per se, quod idem vitium in caeteris
similibus definitionibus notari potest. Non recte igitur approbatum est hoc
definiendi genus.
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Livro V das Instituições Dialéticas
divina, para gozar a felicidade eterna. E é mais fácil definir uma coisa, a partir
de todas as causas simultaneamente, do que a partir de uma só, porque uma só,
se mais nada se lhe juntar, raramente restringe o gênero na espécie do definido.
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Quod autem posteriori loco obiectum est, facile diluetur si dicas, nihil
obstare quominus eiusdem rei dentur plures definitiones essentiales, modo illae
sint solo explicandi modo diversae cuiusmodi sunt, non tantum illa, de quibus
obiectio excitata est, sed etiam illae, quarum alteram, autore etiam Aristoteles,
diximus iradi per genus proximum, et differentiam proximam, alteram per
genus remotum, et omnes differentias interiectas. Neque enim plures, sed
unam, et eamdem essentiam explicite significant. Quod autem aristoteles
negat, huiusmodi est: fierir non posse, ut eiusdem rei (hoc est speciei) plures
tradantur difinitiones essentiales, quae plures essentias exprimant. Nam
ut unius speciei una tantum est essentia, ita omnes definitiones , quae illius
essentiam per essentialia declarant, eandem omnino essentiam exprimant
necesse est. Alioqui non erunt essentiales eiusdem speciei definitiones.
Urgebit adhuc fortasse aliquis, premetque hoc modo: Aristoteles
docet multis in locis omnem definitionem essentialem constare ex genere, et
differentia: nisi ergo illi fallitur, nulla constat materia et forma rei, praetermissa
differentia.
Sed resistendum est hoc modo, propriam materim, et formam rei,
seu potius constare ex propria meteria, ac forma rei, quatenus hiusmodi
sunt (id enim in hac definitionis formula generi adiicitur) vice differentiae
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Livro V das Instituições Dialéticas
vez explicitamente e por si. Vício idêntico se pode notar em outras definições
semelhantes. Portanto, este gênero de definir não foi retamente aprovado.
Além disso, Aristóteles " diz muitas vezes que há apenas uma definição
essencial para cada coisa.250 Portanto, não foi retamente que afirmamos
poderem dar-se duas definições essenciais da mesma coisa, uma pela matéria e
pela forma, outra pelo gênero e pela diferença.
Todavia, isto nada obsta. Com efeito, quanto à primeira objeção, deve
dizer-se, em primeiro lugar, que a matéria e a forma da coisa, que se define,
não se incluem na razão de todos os gêneros da mesma coisa. Nem sequer se
incluem na razão da substância do gênero supremo, como está patente, embora
daqui surja outra dificuldade, grande demais para ser mencionada neste
lugar. Além disso, a matéria e a forma não se incluem na razão dos gêneros
subalternos, do mesmo modo por que se juntam àqueles nas definições das
espécies. Com efeito, ainda que o corpo, que é a matéria do ser vivo, enquanto
corpo, se inclui na razão de animal, contudo, não se inclui nela enquanto é
humano, isto é, enquanto é informado por uma forma humana — o que é mais
claro que a luz. E, assim, junta-se corpo a animal na definição dada de homem;
do mesmo modo, ainda que a alma (que é a forma do ser vivo), enquanto é
alma, se inclua na razão de animal, contudo não se inclui enquanto é humana
ou dotada de razão, e por isso se junta a animal na mesma definição. E assim já
se não incorre em nenhuma redundância.
A segunda objeção facilmente se destrói, dizendo que nada obsta a que
se deem várias definições essenciais da mesma coisa, desde que sejam diferentes
apenas no modo de explicar, como o são não só aquelas em que se originou a
objeção, mas ainda outras, uma das quais (ainda segundo Aristóteles) dissemos
que se dava pelo gênero próximo e pela diferença próxima, e outra pelo gênero
remoto e por todas as diferenças intermédias. Pois significam, explicitamente,
não várias, mas uma e a mesma essência. O que, na verdade, Aristóteles nega
é que seja possível que da mesma coisa (isto é, da espécie) se deem várias
definições essenciais, que exprimam várias essências. Com efeito, sendo uma
só a essência de qualquer espécie, é necessário que todas as definições, que
declaram essa essência através de coisas essenciais, a exprimam inteiramente.
De outro modo, não seriam definições essenciais da mesma espécie.
Talvez alguém continue a insistir e a objetar assim: Aristóteles ensina, em
muitos lugares, que toda a definição essencial consta de gênero e de diferença;
logo, se assim for, nenhuma definição essencial consta da matéria e da forma
da coisa, com omissão da diferença.
Deve responder-se deste modo: a matéria própria e a forma da coisa
ou, antes, o fato de constar da matéria própria e da forma da coisa, enquanto
249 Tópicos, VI, 3.
250 Por exemplo, nos Tópicos, VI, 2 e 6 e Tópicos, VI, 2.
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Livro V das Instituições Dialéticas
são deste modo (pois nesta forma de definição, junta-se isto ao gênero), faz as
vezes da diferença. Com efeito, o que dissemos — que consta de determinado
corpo (isto é, ereto; ou de qualquer outro modo por que isto se explique "a
posteriori") e de alma racional — junta a animal o mesmo grau de natureza
humana que junta racional. Do mesmo modo acontece nas restantes espécies
de coisas que constam de matéria e de forma.
Pertencem à definição essencial as definições que constam de um
gênero remoto e de uma diferença próxima, omitidas ou todas ou algumas
das diferenças intermédias, como quando se diz: o homem é uma substância
corpórea, composta de razão, ou o homem é um corpo animado racional.
Pertencem-lhe ainda as que, em lugar da diferença próxima, constam do nome
da matéria próxima ou somente da forma, como quando se diz: o homem é um
animal que consta de corpo ereto; ou: o homem é um animal que consta de
alma racional. Com efeito, todas estas significam reciprocamente a quididade
da coisa, embora a não exprimam completamente, principalmente quando se
dão pelo gênero remoto. Pertencem-lhe também as que se fazem pelo gênero
e pela enumeração das partes integrantes, que pertencem à essência da coisa,
como quando se diz: a casa é o abrigo feito de paredes e de teto; a nação é a
sociedade constituída pelo clero, nobreza e povo.
Surge uma questão: se as definições, que juntam ao gênero e à diferença
alguma propriedade, se devem enumerar entre as definições essenciais, como
quando se diz: o homem é um animal racional capaz de uma vida feliz, ou, o
homem é um animal racional, por natureza doméstico e apto para a sociedade
civil. Na verdade, são reprovadas por Aristóteles. 251 A esta questão parece que
se deve responder que estas definições são, na verdade, redundantes (uma vez
que é suficiente colocar na definição as coisas que pertencem à essência da
coisa), e é por esta causa que não são aprovadas por Aristóteles; por outro
lado, não devem ser excluídas das essenciais, pois constam de partes que
significam reciprocamente a essência do definido, embora juntem outras que
não significam nenhuma parte da essência.
Muito menos se deverão excluir deste gênero aquelas que constam de
um nome que, não significando a essência do definido, é, porém, de tal modo
que, sem ele, não se pode entender a essência do definido, como quando se diz:
pai é um ser relativo, cuja relação se termina em filho; pois, embora o nome
filho não signifique nenhuma parte da essência de pai, contudo, sem ele, de
modo algum se pode entender a essência e a natureza de pai.
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et differentiae, proprietatem adiungunt sint essentiales / 5. top. 2. et top. 2. / Hinc collige non opus esse ut
omnem quod ponitur in essentiali de nitione, essentiam signi cat.
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Non modo autem accidentia omnia sive proxime, sive remote, per
substantia definienda sunt, sed etiam inter accidentia reperias plurima, quae
aliis praeterea additamentis egeant. Cuiusmodi sunt omnes habitus operantes,
potentiae naturales, et relata omnia. Habitus enim huiusmodi, et potentiae, per
suos actus, aut per obiecta, quae suos actus terminant, definiuntur, ut scientiae,
et virtutes. Sic Dialectica dicitur esse doctrina disserendi. Sic philosophia
naturalis dicitur scientia, quae agit de rebus naturalibus Sic iustitia dicitur
virtus qua quisque alii tribuit quod eius est. Sic aspectus definitur vis quaedam
naturalis, quae in coloribus percipiendis versatur. Relato vero omnia per ea, ad
quae referuntur, definiuntur: ut pater per filium, dominis per servum, et vice
versa.
Alia quaedam sunt in definiendis rebus observanda, quae instructiorem
postulant lectorem, quam sit is, quem hisce institutionibus informamus. Nunc
superest ut definiendi methodum, hoc est, viam et rationem investigandae
definitionis tradamus"
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addes, Corporata. Sed quia corporatae substantiae partim interire non possunt,
ut coeli, partim possunt, e quibus est homo, addes, Quae interire potest.
Rursus, quia earum substantiarum, quae intereunt, quaedam non vivunt, ut
lapides, aliae sunt viventes, in quibus est homo, addes, Vivens. Verum ne id
quidem satis est. Viventium enim quaedam nil sentiunt, ut plantae, quaedam
sentiunt, in quibus homo numeratur. Quare adiungendum est, Sentiens. Sed
commune adhuc. Nam corum, quae sentiunt, quaedam sunt expertia rationis,
quaedam rationem participant, ut Socrates, et Plato. Addes igitur, Rationis
particeps: quod satis erit. Nam totum hoc, substantia corporata, quae interire
potest, vivens, sentiens, et rationis particeps soli homini convenit, et cum co
reciprocatur. Existima ergo te hac via, et ratione invenisse hominis definitionem:
quod eodem modo in caeteris rebus definiendis observabis.
Quod autem Aristoteles codem loco ait, singulas differentias hac
methodo investigatas latius patere, quam id, quod definitur, non universe
accepiendum est (differentia siquidem, quae proxime componit speciem
non latius patet, quam species, ut idem ipse alibi docet) sed solum cum non
suppetunt essentiales differentiae. Tunc enim saepe cogimur dividere ea, quae
accipimus in ea accidentia, quarum singula latius pateant, quam res, quae
definitur, omnia autem simul iuncta cum eadem recurrant. Ut si dividas animal
in bipes, et non bipes: deinde animal bipes in pennatum, et implume: tum
definias hominem esse animal bipes implume.
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com mais razão, cada homem e cada besta são definidos remotos. De onde se
conclui que o definido remoto nem plenamente nem reciprocamente se explica
pela definição a respeito da qual se diz definido remoto, e, portanto, não deve
chamar-se simplesmente definido.
O segundo é que todo o definido, que se explica por uma definição, deve
ser uno por si, isto é, de uma só essência. Com efeito, como a definição é como
que uma imagem expressa de alguma essência, é necessário que as definições
sejam
infere, tantas
segundoquantas as de
a opinião essências que 263
Aristóteles, se explicam
que o que pela
é unodefinição. Disto
por acidente, se
como
homem branco, uma vez que não tem uma só natureza, mas muitas, certamente
se não define por uma definição simplesmente una. Confessa ele, 264 na verdade,
que essas coisas podem ser definidas por várias definições complicadas, como
se se disser: homem branco é o animal racional tingido de uma cor que dispersa
a vista.
E, como o nome equívoco não signi ca apenas uma natureza ou essência,
mas muitas, também se segue, do que foi dito, que nenhum equívoco se define,
sem se distinguir primeiro, o que é vulgaríssimo entre os dialéticos.265 Embora,
porém, se preceitue comumente isto para todos os equívocos, em certo modo,
contudo, não é observado em alguns análogos. Com efeito, alguns definem-
se antes de feita qualquer distinção deles próprios, como, em Aristóteles, os
princípios, a natureza, o movimento e muitíssimos outros. Se, porém, falarmos
da definição, que é simples e absolutamente una, não há dúvida de que sempre se
observa esta comum sentença. Na verdade, nunca uma definição inteiramente
una se atribui a qualquer equívoco, a não ser que o vocábulo equívoco se tome
por um significado apenas.
O terceiro é que tudo o que se define, seja universal, como, muitas vezes,
adverte Aristóteles.266 De onde se infere que aquelas palavras o que uma coisa,
por si, é destinada a ser e outras semelhantes de que Aristóteles usa, quando fala
da definição ou da quididade da coisa, são por elez67 sempre tomadas por uma
quididade ou essência universal. A causa por que só os universais se definem é
que os singulares (excetuo Deus, sumo Bem e suma Grandeza) são mutáveis, e
os universais nunca mudam, senão por acidente, isto é, em razão dos indivíduos.
Do homem, por exemplo, diz-se que nasce, morre, e muda completamente,
porque Sócrates ou qualquer outro dos singulares mudam; e, da mesma
maneira, isto acontece com os restantes. Uma vez, portanto, que a definição
263 Metafísica, VII, 12, tex. 42.
264 Tópicos, VI, 5.
265 Segundo os Tópicos, VI, 2 e 5.
266 Por exemplo nos Segundos Analíticos, 1, 7; e II, 14; e Metafisica, VII, 15.
267 Por exemplo, quase todo o livro VII da Metafísica.
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universalia definiri, ostendatur, sed haec una sufficiat hoc loco. Quod quidem
plane intelligitur de definitio propinquo. Nam remote dubium non est, quin
singularia definiantur. Verum hic dissensio est inter Dialecticos. Quidam
enim non agnoscentes ullam rem universalem, quae sit in singulis individuis,
quaeque primo, ac proxime significetur nomine universali, dicunt definitum
propinquum non esse rem universalem significatam nomine universali, sed
ipsum nomen universale: atque ita cum dicimus, Equus est animal hinniens,
hoc nomen Equus esse definitum propinquum, singulos vero equos, qui
(eorum sententia) equi nomine proxime significantur, esse definita remota.
Alii ponentes nomen universale proxime significare rem universalem, quae
existat in singulis, remote autem ipsa singula individuave, dicunt, definitum
propinquum esse rem universalem, quae proxime significatur nomine universali
(haec est enim quae proxime explicatur definitione) definita vero remota esse
illa eadem, quae illi astruunt. Sed contra priorem sententiam aliquando dabitur
disputandi locus: nos posteriorem probamus.
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Livro V das Instituições Dialéticas
deve ser de uma coisa imutável (pois é o princípio e o fundamento da ciência, 268
na qual se não admitem senão as coisas que de si não são mutáveis), resulta
que todo o definido deve ser universal. Há outras razões com que a presente
doutrina se costuma confirmar, mas, neste lugar, contentemo-nos apenas com
uma. Esta afirmação, porém, deve entender-se do definido próximo, pois os
indivíduos definem-se remotamente, não resta dúvida, como ressalta do que
se disse. Aqui, porém, há discordância entre os dialéticos. Uns, 269 com efeito,
que não admitem que coisa alguma universal exista em indivíduos singulares
e se signifique primeira e proximamente por um nome universal, dizem que o
definido próximo não é uma coisa universal significada por um nome universal,
mas sim o próprio nome universal; e, assim, quando dizemos que o cavalo é um
animal que relincha, este nome cavalo é o definido próximo, mas, segundo eles,
cada cavalo, que se significa proximamente pelo nome de cavalo, é um definido
remoto. Outros, que afirmam que o nome universal significa proximamente
uma coisa universal, que existe em cada singular — remotamente, porém, nos
próprios singulares ou indivíduos —; dizem que o definido próximo é uma
coisa universal que se significa proximamente pelo nome universal (na verdade,
esta é a que é proximamente explicada pela definição), mas que os definidos
remotos são aqueles mesmos que os autores anteriores afirmam. Mas contra
a primeira opinião, oferecer-se-á algum dia ocasião de a discutir, pois nós
aprovamos a segunda.270
O quarto é que tudo o que se define propriamente ou se descreve é
uma espécie, ou infima ou subalterna, sujeita? a um gênero, visto que, em
toda a definição ou descrição propriamente dita, deve pôr-se o gênero da coisa
que se define e a sua diferença ou propriedade. Compreende-se, por isto, que
nem os gêneros supremos nem as diferenças se definem propriamente: pois de
nenhum gênero há espécies. Contudo, as diferenças descrever-se-ão de algum
modo, segundo o uso das propriedades significadas por nomes concretos. Na
verdade, assim como dizemos que é dócil o animal que pode ser ensinado,
também podemos dizer que é racional o animal que é dotado de razão.
319
Pedro da Fonseca
vero hircocervus sit intelligi non potest. Ida quod codem libro pluribus
verbis exequitur. Sicut tamen placuerit, poterit sine crimine has figmentorum
definitiones nomine definitionis rei quodammodo et si remotissime,
compreendere. Nam et si figmenta non sunt res, tamen quasi in extremo
gradu rationem rerum participant, quam ob causam res fictae appellantur. Hoc
vero mihi cum Aristotelis doctrina pugnare non videtur. Docet enim (idque
non semel) etiam definitiones accidentium esse nominum interpretationes,
quoniam accidentia non sunt simpliciter res, sive entia. Saepe tamen concedit
haec explicari definitione rei, quia et si non sunt simpliciter entia, tamen
quodammodo sunt entia, sicque a numero entium non penitus excluduntur.
101 Nota do parágrafo: Duplex definitum / Propinquum / Remotum / Definitum remotum, non est
simpliciter definitum. Omne definitum unum quid per se esse debet. / 7. meta. 12. tex. 42. / Id quod est
una. / Omne quod definitur, est universalis. Ut. 1. post. 7. et 2. post. 14. et 7. metaphys. 15. / Ut feri toto 7.
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Livro V das Instituições Dialéticas
hircocervo significa isso. A causa desta opinião é que as ficções não têm uma
quididade ou essência verdadeira que seja explicada pela definição da coisa,
mas um nome verdadeiro que se declara por uma definição nominal. De onde
Aristóteles diz: o que não existe (isto é, não pode existir) jamais alguém sabe o
que é; mas [sabe] o que significa a oração ou o nome. Assim, pode perceber-se
o que significa hircocervo, mas não pode compreender-se o que seja hircocervo.
O que, no mesmo livro, se completa com mais palavras. Não julgo, porém,
que vá contra a verdade ou contra a opinião de Aristóteles o fato de este ter
compreendido remotissimamente definições como estas no nome de definição
real ou definição quid da coisa. Que não vai contra a verdade, manifesta-se em
que, embora as ficções não sejam coisas, contudo, como que participam, no
último grau, da razão das coisas, e por esta razão se chamam coisas fingidas.
De onde acontece que na definição quid da coisa se costuma compreender
no vocábulo da coisa tudo o que é designado por esse nome, seja um ente
real, de razão, fantasiado ou qualquer outro. Que não vai contra a doutrina de
Aristóteles, compreender-se-á por isto: ele ensina, com efeito (e mais de uma
vez),273 que também as definições dos acidentes são interpretações dos nomes,
pois os acidentes não são simplesmente coisas nem entes. Concede, porém,
muitas vezes,274 que estes se explicam pela definição real, principalmente
porque, embora não sejam simplesmente seres, contudo, são seres de certo
modo e, assim, não se excluem inteiramente do número dos seres. O que pode
acomodar-se, embora com menos ousio, às ficções.
Acerca da definição, são suficientes estas coisas. Agora, de entre as
numerosas regras apresentadas por Aristóteles, 275 para se observarem na
definição, vamos expor apenas as que parecem oferecer mais utilidade.
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Pedro da Fonseca
Item qui idem per id ipsum difiniunt. Nihil enim est notius seipso. Hoc
autem aperte, ac verbo codem, fere nunquam accidit, sed implicite, alioque
verbo, utpote cum in definitione ponitur aliquod nomen, quod definitur et
declaratur per ipsum definitum: ut si quis definiat solem astrum, quod dum
dies est nostrum hemisphaerium illustrat. Nam cum dies definiatur motus
solis super terram, efficitur, ut tandem sol definiatur per solem.
Item qui contrarium per suum contrarium defini aut, ut si quis definiat
bonum esse id, quod est malo contrarium. Huiusmodi est illud, Virtus est
vitium fugere: et illud, Prima sapientia stultitia caruisse. Causa est quia,
contrariorum eadem est scientia, et cognitio. Verum hic modus definiendi non
est usque adeo repudiandus.
Sed obiiciat aliquis contra hoc primum praeceptum, omne relatum per
illud ipsum relatum, ad quod refertur, esse definiendum, ut docent Philosophi,
relata vero inter sese, cum sint simul natura, esse ex notioribus, magisque
perspicuis definiendum
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Livro V das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
Occurres tamen, Nullum relatum (si proprie loquendum est) definiri per
illud relatum, ad quod refertur, sed per respectum suum, qui in illud terminatur,
intelligi potest sine suo termino, sit ut respectus patris intelligi non valeat sine
filio, sicque in definitione patris necessario ponendus sit filius, parique natione
pater in definitione filii: et caetera relata in definitionibus corum relatorum,
quae ad se vicissim referuntur. Quod igitur philosophi dicunt relata, quae sese
mutuo respiciunt, per se invicem esse definienda, non proprie accipiendum
est, sed quasi dicant, necessario alterum in definitione alterius esse ponendum,
ut quorsum tendant fui respectus, per quos relata vere, re proprie definiuntur,
intelligatur. Nunc autem et si relata ipsa sese vicissim respicientia sint aeque
cognita, aut incognita, tamen respectus ipsi sunt naturae ordine notiores, quam
relata. Itaque in relatis etiam definiendis hoc observatur, ut quod definitur, ex
notioribus explicetur.
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Livro V das Instituições Dialéticas
Responder-se-á, contudo: nenhum relativo (se se falar com propriedade)
se define pelo relativo a que se refere, mas pela sua relação, que se termina
e se conclui naquele.284 Por exemplo, pai não se define por filho, mas pela
sua relação que começa nele próprio e acaba no filho. E como, além disso,
nenhuma relação se pode entender sem o seu termo, acontece que a relação de
pai não se pode entender sem o filho, e assim na definição de pai deve pôr-se
necessariamente o filho, e com igual razão na definição de filho; e assim se
passam as coisas nos restantes relativos. Portanto, quando os filósofos dizem
que os relativos, que se relacionam mutuamente, devem ser definidos uns pelos
outros, não deve tomar-se isto à letra, mas como se quisessem dizer que um
deve necessariamente pôr-se na definição do outro, para se perceber para onde
tendem as suas relações, pelas quais se definem verdadeira e propriamente os
relativos. Com efeito, embora os próprios relativos, relacionados entre si, sejam
igualmente conhecidos ou desconhecidos, no entanto, as próprias relações,
enquanto se concebem distintamente pelos conceitos dos gêneros e das
diferenças de que constam, são na ordem da natureza mais conhecidas que os
relativos. E assim, também ao definir os relativos, se observa isto — que o que
se define se explique por coisas mais conhecidas.
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Pedro da Fonseca
Saepe tamen non datur vitio, quod plura verba ponantur in definitione,
quam quae satis esse videantur, quoniam raro id censetur supervacaneum,
quod aliquanto apertius rem declarat. Quare rarius hoc vitio, quam superiori,
laborat definitio. Quanquam ne illud quidem semper pro vitio habendum est,
quandoquidem graves authores, ne minutissime omnia persequantur, multas
saepe ommittunt medias differentias, praesertim cum facile intelligi possunt. 103
102 Nota do parágrafo: Definitio debet converti cum definito 6. top. 1. / Multae circunferuntur
nominum interpretationes quae non sunt bonae definitiones.
103 Nota do parágrafo: Nihil in definitione desiderari, aut supesse debet. / 6. Top. 3. / Quid supsit sive
redundet in definitione. 6. top. 2. / Saepe graves autores alis quid omittunt in definitionibus, quod facile
intelligatur.
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105 Nota do parágrafo: In investigatione definitionis per divisionem, quae servanda. 2. post. 14. / 1 / 2
1 3/ 6. top. 3. / Boeth. de Divisione. / In investiganda definitione per collectionem quid observandum. 2.
post. 15. / Saepissime verba, quae actum significant, pro ipsis facultatibus in definiendo accipiuntur. Nota
hacc.
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Liber VI Institutionum Dialecticarum
Livro VI Das Instituições Dialéticas
Pedro da Fonseca
Caput I - De consequentia
Restat ergo ut, quia de divisione, ac definitione iam diximus, deinceps
de Argumentatione, in qua plus opere Dialecticus insumit, disseramus.
Sed quoniam argumentatio est quaedam consequentia, (latius enim
patet consequentia, quam argumentatio) prius de consequentia, quam de
argumentatione, dicendum est.
Consequentia igitur, sive consequutio, est oratio, in qua ex aliquo aliquid
colligitur: ut Omnis homo est animal, igitur aliquis homo est animal. Id vero,
ex quo aliquid colligitur, dicitur antecedens: quod autem colligitur vocatur
tum consequens, tum conclusio: quanquam saepe tota consequentia conclusio
nominatur.
Consequentiarum autem quattuor sunt genera. Primum est cum
quaelibet enunciatio ex se ipsa, aut ex suae aequipollente colligitur. Alterum
genus est cum antecedens, et consequens eisdem praecise verbis, eodemque
ordine collocatis constituta sunt, sed tamen non idem valent: ut Omnis
homo est animal, igitur quidam homo est animal. Necesse est Socratem
esse animal, igitur non necesse est Socratem non esse animal. Nomine enim
verborum non complector hoc loco particulas ad quantitatem, aut qualitatem
pertinentes. Tertium genus est eum antecedens et consequens eisdem praecise
verbis constant, verum ordine converso, ut Nullus homo est lapis, igitur nullus
lapis est homo: necesse est omnem hominem esse animal, igitur necesse est
aliquod animal esse hominem. Atque ex consequentiis hactenus enumeratis
nulla dicitur argumentatio, sed consequentia duntaxat. Quartum genus est
cum antecedens et consequens non eisdem praecise verbis constant, quia
in antecedente continetur argumentum aliquod, uno, aut pluribus verbis
comprehensum, quod non continetur in consequente.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
Capítulo I - Da consequência
Uma vez que já falamos da divisão e da definição, resta-nos, portanto,
tratar da argumentação, a que o dialético se aplica com mais cuidado. Mas,
visto que a argumentação é uma espécie de consequência (pois é evidente que
a consequência é mais extensa que a argumentação), trataremos primeiro da
consequência, e depois da argumentação.
A consequência ou consecução é a oração na qual de alguma coisa se
deduz outra, como: todo o homem é animal; logo algum homem é animal.
Aquilo de que se deduz alguma coisa chama-se antecedente, o que se deduz
chama-se consequente ou conclusão, embora muitas vezes se chame conclusão
a toda a consequência.
Há quatro gêneros de consequências. O primeiro verifica-se quando
qualquer enunciação se deduz dela mesma, ou da sua equipolente. O segundo
gênero, quando o antecedente e o consequente são constituídos precisamente
pelas mesmas palavras, colocadas pela mesma ordem, mas de valor diferente,
como: todo o homem é animal, logo algum homem é animal; é necessário
que Sócrates seja animal, logo não é necessário que Sócrates não seja animal.
Pelo termo palavras não abranjo, neste lugar, as partículas que se referem à
quantidade ou à qualidade. O terceiro gênero verifica-se quando o antecedente
e o consequente constam precisamente das mesmas palavras, mas por ordem
inversa, como: nenhum homem é pedra, logo nenhuma pedra é homem; é
necessário que todo o homem seja animal, logo é necessário que algum animal
seja homem. Entre os consequentes até aqui enumerados, não existe qualquer
argumentação, mas apenas consequência. O quarto gênero verifica-se quando o
antecedente e o consequente não constam precisamente das mesmas palavras,
porque no antecedente está contido algum argumento, compreendido numa
ou várias palavras, que não está no consequente.
Este gênero costuma dividir-se em silogismo, entimema, indução e
exemplo, os quais, em razão do argumento, se chamam argumentações.
O silogismo verifica-se, por exemplo, quando se diz: deve fugir-se de
todo o vício, toda a mentira é vício, logo deve fugir-se de toda a mentira; se o
sol brilha é dia, ora o sol brilha, logo é dia.
Entimema, como: o homem é animal, logo o homem é dotado de
sentidos; este jovem aplica-se diligentemente aos estudos, logo torna-se douto.
Indução, como: todo o homem é dotado de sentidos, e todo o bruto
é dotado de sentidos, logo todo o animal é dotado de sentidos; Rômulo não
335
Pedro da Fonseca
106 Nota do parágrafo: Latius patet consequentia quam argumentatio. Consequentia quid. /
Antecedens, Consequens, et conclusio. Sacpe toto consequentia dicitur conclusio, maxime apud
Ciceronem. Primum genus consequentiarum. / Secundum. / Tertium / Quartum / Argumentationes.
Syllogismus Enthymema / Inductio. / Exemplum.
336
Livro VI das Instituições Dialéticas
teve, por muito tempo, o irmão como participante do governo, nem César a
Pompeu, nem Augusto a Antônio, ou qualquer outro, cuja memória chegou até
nós, pôde, por muito tempo, ter um comparticipante no governo; logo não há
ninguém que tenha, por muito tempo, um comparticipante no império.
Exemplo, como: Creso não pôde encontrar nas riquezas a felicidade,
logo também Crasso a não encontrará; Pisístrato, depois de pedir à República
guardas para sua defesa, assumiu o poder absoluto, logo também Dionísio o
assumirá.
Bastará, por agora, ter apresentado, por meio de exemplos, estas quatro
formas de argumentação, uma vez que adiante serão? tratadas cada uma de
per si.
Tais se nos afiguram os gêneros de consequências. Mas se, além destes,
existirem outros, a eles se reduzirão facilmente.
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Pedro da Fonseca
est homo, ergo est philosophus. Socrates est homo, ergo equus est animal:
quia in priori datur antecedens verum, et consequens falsum: posterioris autem
consequens, et semper verum est cum antecedente, tamen non ex eo quod
antecedens verum est, deprehenditur esse verum, quippe cum antecedente
existente vero, posset consequens, si nihil aliud prohiberet esse falsum. Ex
hoc documento efficitur, ut ad bonam consequentia non modo non sufficiat
veritas antecedentis et consequentis, sed ne requiratur quidem. Nam, ut ex
dictis perspicuum est, ex utroque vero constare potest consequentia vitiosa, ex
utroque autem falso, bona, et apta.
Alterum indicium huiusmodi est, Si id, quod contradicit consequenti,
repugnat antecedenti, bona est consequentia: sin minus, vitiosa. Repugnantiam
autem nomine hic intelligo ea, quae simul vera esse non possunt. Hoc
documento intelligimus illam esse bonam consequentiam, Socrates est homo,
ergo Socrates est animal, quia haec enunciatio Socrates non est animal, quae
contradicit consequenti, repugnat antecedenti. Illam autem cognoscimus
esse vitiosam, Socrates est homo, ergo Socrates est philosophus, quia hoc
pronunciatum, Socrates non est philosophus, quod contradicit consequenti,
non repugnat antecedenti. Neque enim Socrates, si non sit philosophus, non
erit homo. Eadem regula iudicamus, illam esse ineptam consequutionem,
nihilque colligentem, Socrates est homo, ergo equus est animal: quia et verum
esse ponamus, quod nullus equus sit animal, non tamen statim verum esse
inficiabimur Socratem esse hominem.107
Iam vero bona consequentia, aut est formalis, aut materialis: itemque
aut necessaria, aut probabilis. Consequentia formalis dicitur ea, quae vi formae
concludit. Ea vero dicitur concludere vi formae, cuius formam modumve
colligendi si retinueris, in quacumque alia materia, etiam impossibili, apte
concludes. Exempli causa, dicimus hanc esse formalem consequentiam, Omnis
virtus est laudabilis, temperantia est virtus, igitur temperantia est laudabilis,
quoniam vi formae concludit. Intelligimus autem eam concludere vi formae,
quia servata eadem forma, in qua vis alia materia, etiam impossibili, bene
concluditur, ut si dicas, Omnis leo est lapis, equus est leo, igitur equus est
lapis. Est enim bona haec consequutio ut ex dictis apertum est. Eadem ratione
dicimus hanc esse formalem consequentiam. Necesse est omnem hominem
esse animal, igitur necesse est aliquod animal esse hominem, quoniam hac
107 Nota do parágrafo: Bona consequentia. / Vitiosa. / Vitiosae consequentiae non sunt simpliciter
consequentiae. / 1 topi. 1. et elench. 1. / Primum documentum. / Ut bona sit consequentia non modo non
est satis, veritas, antecedentis, et consequentis sed ne requiritur quidem.
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forma retenta semper apte concluditur, ut si dicas, Necesse est omnem leonem
esse lapidem, igitur necesse est aliquem lapidem esse leonem.
Ut autem retineatur eadem forma, seu modus colligendi, primum
necesse est ut servetur eadem dispositio, seu ordo verborum, in quibus
cernitur vis consequutionis. Nam si huiusmodi verborum mutetur, mutata
haud dubie existimanda est consequutionis forma, ut patet in his duabus
consequentiis, Omnis virtus est qualitas, omnis iustitia est virtus, igitur omnis
iustitia est qualitas: Omnis laurus est substantia, omnis equus est substantia,
igitur omnis equus est laurus. Nam quia in priori consequentia subiectum
primae enunciationis est praedicatum secundae, quod non sit in posteriori
consequutione, alia certe forma est in priori, alia in posteriori.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
298 Elencos, I, 3.
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é dotado de sentidos, logo o homem é dotado de sentidos; um certo animal é
desprovido de razão, logo o homem é desprovido de razão.
Finalmente, é necessário que se conservem as mesmas conjunções e nexos
das partes principais da consecução. Por este motivo, não são da mesma forma
estas consequências: se é dia, o sol brilha; porque é dia, o sol brilha. Parece que
estas coisas se devem observar necessariamente (e outras, se existem, que digam
respeito ao modo de deduzir), se se tiver de manter a forma da consequência.
Consequência material é a que conclui só por força da matéria. Conclui
só por força da matéria aquela que, por força da forma, nada conclui, mas é,
todavia, tal que, tomando matéria semelhante, se conclui retamente sempre
na mesma forma. Por exemplo, dizemos que é material esta consequência: o
homem é animal, logo é dotado de sentidos — porque só pela matéria, isto é, só
por causa da relação das coisas significadas entre si, conclui retamente. É que ser
dotado de sentidos está de tal maneira conexo com animal que todo o animal
é necessariamente dotado de sentidos. Só por esta causa conclui retamente
aquele que, do fato de o homem ser animal, deduz que o mesmo é dotado de
sentidos. Digo só por esta causa, porque, mantida a mesma forma, se se tomar
uma matéria diferente, pode acontecer que se conclua inadequadamente,
como se se disser: o homem é animal, logo é capaz de relincho. Por esta razão,
entendemos que a consequência conclui por força da matéria porque, tomada
uma matéria semelhante, se conclui retamente sempre na mesma forma, como
se se disser: o loureiro é planta, logo é desprovido de sentidos. Com efeito,
assim como ser dotado de sentidos está necessária e universalmente conexo
com animal, assim ser desprovido de sentidos está conexo com planta. Pela
mesma razão, conclui bem, por força da matéria, o que assim deduz: o homem
é animal, logo não é desprovido de sentidos; o loureiro é planta, logo não é
dotado de sentidos. E assim em outras. Todavia, a consequência material com
menor propriedade se chama boa e apta.
Se, porém, nesta altura, alguém perguntar quais as consequências, dos
quatro gêneros dados no princípio,299 que são formais, e quais as materiais,
parece que deve responder-se isto: as do primeiro gênero são todas formais,
como por exemplo: o homem é animal, logo o homem é animal; todo o homem
é animal, logo nenhum homem não é animal. (Embora, na verdade, a primeira
seja ridícula, todavia é consequência formal e é, de longe, a mais necessária
de todas; igualmente, esta enunciação: o homem é homem — embora seja
pueril, contudo, é uma enunciação, e, entre as enunciações, a mais necessária de
todas). Das dos outros três gêneros, umas são formais e outras materiais. Por
exemplo: no segundo gênero, quando da subalternante se deduz a subalternada,
ou a particular da indefinida, a consequência é formal. Quando, porém, ao
299 Сар. I.
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contrário, da subalternada se deduz a subalternante, então é material, como
quando o gênero, a diferença ou a propriedade se predica da espécie, como se
se disser: o homem é animal, logo todo o homem é animal, etc. No terceiro
gênero, as conversões são consequências formais; as reciprocações, que se
fazem do sujeito e da propriedade ou do definido e da propriedade, ou do
definido e da definição, são materiais, como se se disser: todo o homem é
capaz de educação, logo tudo o que é capaz de educação é homem; todo o
homem é animal racional, logo todo o animal racional é homem. No quarto
gênero, finalmente, todos os silogismos são consequências formais; são, porém,
materiais as outras três formas de argumentação, à exceção talvez de algumas
induções, como depois30 se esclarecerá.
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por si, o homem é animal, logo o homem subsiste por si; todo o filósofo muda
de lugar, o que caminha é filósofo, logo o que caminha muda de lugar; toda a
pedra subsiste por si, o homem é pedra, logo o homem subsiste por si. Todas
estas consequências produzem uma conclusão necessária, mas a primeira de
um antecedente necessário, e a segunda, de um contingente, e a terceira, de um
impossível.
Quarta regra: do contingente nunca se segue o impossível, mas o
necessário ou o contingente; o contingente, porém, nunca se conclui do
necessário, mas do contingente ou do impossível.3 Que do contingente não
se conclui o impossível torna-se evidente pelo fato de o contingente poder ser
verdadeiro e o impossível ser sempre falso; se alguém, portanto, admitisse que
o impossível se conclui retamente do contingente, seria obrigado a admitir
que, numa boa consequência, pode existir um antecedente verdadeiro e um
consequente falso, o que de modo algum deve admitir-se. Que o necessário
se segue do contingente está explicado na regra precedente. De igual modo
se notará neste exemplo, que, do contingente, se segue o contingente: todo
o gramático é dialético, o homem é gramático, logo o homem é dialético. É
evidente que o contingente não se segue do necessário, porque, se se seguisse,
numa boa consequência poderia existir um antecedente verdadeiro e um
consequente falso. O necessário, na verdade, não pode deixar de ser verdadeiro;
mas o contingente pode, como dissemos, ser falso. Mostramos também, nesta
mesma regra, que o contingente se segue do contingente. Por último, entender-
se-á nesta argumentação que o contingente se segue do impossível: toda a
pedra fala, o homem é pedra, logo o homem fala.
Quinta regra: do impossível segue-se qualquer outro, isto é, o necessário,
o contingente, ou o impossível; o impossível, porém, não se segue senão do
impossível. E manifesto, pela terceira e quarta regras, que do impossível se
pode concluir o necessário e o contingente. Pela seguinte consequência
perceber-se-á se se conclui retamente o impossível do impossível: toda a pedra
é dotada da faculdade de viver, a esmeralda é pedra, logo a esmeralda é dotada
da faculdade de viver. Finalmente, é manifesto que o impossível se não segue
senão do impossível,306 porque, se se seguisse do necessário ou do contingente,
numa boa consequência, poderia existir um antecedente verdadeiro e um
consequente falso, como facilmente se compreenderá pelo que atrás se disse.
Sexta regra: tudo o que está com o antecedente está com o consequente;
mas nem tudo o que está com o consequente está com o antecedente. Assim se
exprimem os dialéticos. O sentido é este: tudo o que pode ser verdadeiro com
o antecedente pode também ser verdadeiro com o consequente, mas não ao
contrário. Assim, se for boa esta consequência — isto é homem, logo é animal
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Pedro da Fonseca
aliquid esse hominem , et esse bipes, erit etiam verum asserere esse animal, et
esse bipes: non tamen si vere dixeris aliquid esse animal et quadrupes, continuo
vere affirmabis quod sit homo et quadrupes. Ratio vero prioris partis huius
regula haec est, quia si aliquando id, quod stat cum antecedente, non staret
cum consequente, tunc sane everteret consequens non everso antecedente, quo
fieret ut in bona consequentia daretur antecedens verum, et consequens falsum.
Posterior autem pars confirmata relinquitur exemplo adducto. Ex co enim
patet, aliquando id, quod stat cum consequente, non stare cum antecedente:
quod satis est ad confirmandum institutum, modo ponas consequentiam illam
esse bonam, ut revera est, materialis tamen, non formalis, ut ex dictis facile
intelliges.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
— e for verdadeiro dizer que algo é homem e que é bípede, será também
verdadeiro dizer que esse algo é animal e que é bípede; porém, se se disser que
alguma coisa é animal e quadrúpede, não poderá afirmar-se, ato contínuo, que
é homem e quadrúpede. A razão da primeira parte desta regra é esta: se, alguma
vez, o que está com o antecedente não estivesse com o consequente, então, sem
dúvida, mudar-se-ia o consequente sem se mudar o antecedente e sucederia
então que, numa boa consequência, existiam um antecedente verdadeiro e um
consequente falso. A segunda parte fica confirmada pelo exemplo dado. Por
ele, na verdade, se vê que, às vezes, o que está com o consequente não está com
o antecedente — o que é bastante para confirmar o estabelecido, contanto que
se admita que aquela consequência é boa, como de fato é; é material, todavia, e
não formal, como facilmente se entenderá pelo que atrás se disse.
Sétima regra: tudo o que repugna ao consequente repugna ao antecedente;
todavia, nem tudo o que repugna ao antecedente repugna ao consequente. 307
A primeira parte é evidente, porque se repugnasse ao consequente alguma
coisa que não repugnasse ao antecedente, o consequente mudaria alguma
coisa sem que a mudasse o antecedente, e, numa boa consequência, existiria
assim um antecedente verdadeiro e um consequente falso, o que não pode
acontecer. Da primeira parte desta regra pode deduzir-se aquela tão batida
proposição dos dialéticos, (que é muitas vezes usada por Aristóteles):308 numa
boa consequência, do contraditório do consequente infere-se o contraditório
do antecedente; assim, se for boa esta consequência: Sócrates é pedra, logo
não é dotado de sentidos, será lícito concluir: Sócrates é dotado de sentidos,
logo Sócrates não é pedra. De igual modo, se for boa esta consequência: todo
o animal é branco, logo o homem é branco; será lícito concluir assim: algum
homem não é branco, logo algum animal não é branco. Na verdade, se do
contraditório do consequente se não concluísse o contraditório do antecedente
(e assim nem também o contrário), o contraditório do consequente poderia
então estar com o antecedente; algo, pois, repugnaria ao consequente que não
repugnava ao antecedente, o que a primeira parte desta regra não admite. A
segunda parte prova-se apenas com este único exemplo: isto não é homem,
repugna ao antecedente desta consequência isto é homem, logo é animal e,
todavia, não repugna ao consequente da mesma consequência (pois, Bucéfalo,
que não é homem, é animal); portanto, nem tudo o que repugna ao antecedente
repugna ao consequente.
Oitava regra: de onde se seguir o antecedente, segue-se o consequente; e
tudo o que se seguir do consequente, segue-se do antecedente. 309 Por exemplo,
se for apta esta consequência é animal, logo é substância, e se animal se segue de
307 Primeiros Analíticos, 1, 28.
308 Por exemplo, nos Primeiros Analíticos, 1, 42; e Segundos Analíticos, II, 2 e 4.
309 Primeiros Analíticos, I, 28 e 33.
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Pedro da Fonseca
homine, substantia sequetur ex homine: quod idem est ordine converso. Haec
regula ex eo probatur, quia cum in hoc concludendi modo minimum sint tres
consequentiae, si tertia non fuerit bona, nullum erit incommodum si detur
in ea antecedens verum, et consequens falsum. Faciamus igitur aliquid esse
hominem, quod tamen non sit substantia. Aut ergo cum ex homine concluditur
animal, aut cum ex animali concluditur substantia, datur antecedens verum et
consequens falsum, quod est contra hypothesim: ponimus siquidem priores
duas consequentias esse bonas. Possunt autem in hoc concludendi genere multo
plures, quam tres, iungi consequentiae. Semper enim extremum consequens
colligetur ex primo antecedente: ut si dicas, Si homo est, animal est: si animal,
vivens: si vivens, corpus: si corpus, substantia: igitur si homo est, substantia est.
Nostri hanc gradationem vulgo appellant argumentationem de primo
ad ultimum, Graeci Ewporny hoc est acervalem, ut Cicero interpretatur.
Quod vero idem ait, hoc genus argumentationis vitiosum esse, ac captiosum,
non ita intelligendum est, quasi non recte concludat. Nam si omnes priores
consequutiones, ex quibus extrema texitur, fuerint aptae, nihil vitii erit
in extrema. Sed id propterea asserit, quod in hoc concitato progressu
consequentiarum, quarum aliae aliis, quasi grana granis minutatim adduntur,
saepe ineptae cum aptis permiscentur, quae temporis brevitate non facile
pernoscuntur: quo fit ut tota congeris saepe hominem securum capiat. Sic stoici
fallaciter concludebant, omne, quod modo aliquo esset bonum, esse honestum.
Si bonum, agitur optabile: si optabile, expetendum: si expetendum, dignitatem
habet: si dignitatem habet, laudabile est: si laudabile, honestum: igitur si
bonum est, honestum est. Hic tertia consequutio est vitiosa. Multa enim sunt
expetenda, quae non habent dignitatem, ut nonnulla utilia, et alia quaedam
iucunda. Fit autem Sorites interdum ex universalibus enuntiationibus, ut si
dicas, Omnis homo est animal, et omne animal est vivens, et omne vivens est
substantia, igitur omnis homo est substantia.
Caput VI - De argumentatione
Argumentatio ex argumento, quod est eius quasi mens, nomen invenit.
Dicitur enim Cicerone autore, argumenti explicatio. Planius tamen et vis
vocabuli et natura rei hac definitione perspici potest. Argumentatio est oratio,
in qua ex argumento explicato altera pars questiones concluditur.
117 Nota do parágrafo: Octava. ex. 1. Pri. 28. Et 33. / Argumentatio de primo advitimum. / [cpotnu,
seu acervalis Cice. 2. De divinat. / Academ. Lib. 2. Primae. Edit. Stoici.
352
Livro VI das Instituições Dialéticas
Capítulo VI - Da argumentação
A argumentação tira o seu nome de argumento, que é como que a sua
alma. Diz-se, efetivamente, segundo Cícero,'12 a explicação do argumento.
Pode perceber-se mais claramente não só a força do vocábulo como também
310 Da Adivinhação, 2.
311 Acadêmicos, livro II, primeira edição.
312 Nas Partições.
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o termo médio, que tomam, não é argumento, uma vez que não traz nenhuma
fé ao consequente.
São abrangidas, portanto, pela definição dada, apenas as consequências
que constam de um médio e de um antecedente necessário ou provável ou que
assim pareça ser e que são comparados para dar qualquer fé ou assentimento
ao consequente. A este gênero, sobretudo quando conclui alguma coisa de
coisas necessárias ou prováveis, chama Aristóteles ora'16 áóens, isto é,
demonstração, tomando em sentido lato o vocábulo demonstração, ora'" TioTIS,
isto é, fé ou prova, ora'18 2óyos, isto é, razão. Entre os dialéticos, costuma ainda,
a cada passo, chamar-se-lhe argumento, porque no argumento reside toda a
força da argumentação.
316 Por exemplo, Retórica a Teodoreto, I, 1. Também Cícero, Acadêmicos, II, primeira edição.
317 Por exemplo, nos Primeiros Analíticos, II, 23; e Tópicos, 1, 7.
318 Por exemplo, Tópicos, I, 10 e expressamente no livro VII.
319 Por exemplo, Cícero nos Tópicos, que muitíssimos seguem.
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intelligantur nihil necesse sit ex inventione mutuari. Non est igitur cur prius
inventio argumentorum tradenda sit, quam iudicandi ratio attingatur.
Sed animadvertendum est duplex iudicium a Dialectico tradi oportere:
alterum, quo quisque sciat singulas construere argumentationes: alterum, quo
intelligat, qua methodo, et via argumenta omnia, qua ad aliquid tractandum
assumuntur, inter se disponenda sint.
Quamquam ergo prior iudicii pars ante inventionem tradi debeat, ut
diximus: posterior tamen, nisi post inventionem, tradi non potest. Inventione
siquidem docetur varietas argumentorum, quam qui ignoraverit, ordinem
in argumentis constituere non valebit. Nos igitur cum Aristotele, sive in
tractanda argumentatione in commune, sive cum de demonstratione ac
syllogismo Dialectico disseremus, prius eam iudicii partem, qua singularum
argumentationum constructio intelligitur, quam inventionem argumentorum
trademus. Quibus exactis, ad posteriorem, quae tum ordo, tum collocatio, tum
dispositio, et methodus appellatur, veniemus.!19
Prior iudicii pars, dicitur ab Aristotele ávázuais, id est, resolutio: posterior tátis, id est, ordo. / Prior
iudicii pars ante inventione tradenda est: posterior post inventionem. / Sis fecit Arist. in lib. Prio. Post. et
top. / Ari. 8. Top. 3. Ordinem: Cice. in part. collocati. Nem: / Quint. lib. 6. Cap. 1. Aisp. Acisionem
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Livro VI das Instituições Dialéticas
deste gênero. Não há, pois, motivo que obrigue a tratar primeiramente da
invenção dos argumentos e, só depois, do método de julgar.
Deve notar-se, contudo, que o dialético ensina duas espécies de juízo:
um com o qual saiba cada um constituir cada argumentação; outro com o qual
entenda cada um o caminho metódico para dispor entre si todos os argumentos
que se tomam para provar alguma coisa.
Embora, como dissemos, a primeira espécie de juízo deva ensinar-se antes
da invenção, a segunda, porém, não pode ensinar-se senão depois da invenção.
Porque a variedade dos argumentos se ensina pela invenção, ninguém que a
ignore poderá pôr ordem nos argumentos. Nós, portanto, com Aristóteles, 320
quer ao tratar da argumentação em comum, quer quando discorrermos acerca
da demonstração e do silogismo dialético, ensinaremos aquela espécie de juízo
por que se entende a construção de cada argumentação, antes da invenção dos
argumentos. Feito isto, passaremos à segunda, que se chama ou ordem,321 ou
colocação,322 ou disposição?23 ou método.
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animal é vivente, logo todo o animal é substância), pelo fato de constarem de
mais de duas proposições. Estes silogismos complicados deviam, com efeito,
rejeitar-se necessariamente, pois nenhum deles é um silogismo simplesmente,
mas vários [silogismos| encadeados.
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121 Nota do parágrafo: Materia propinquo. Remota. Propositio. quid. 1. pri. 1. / Terminus. Verbum
ist ut nectit praedicatum cum subiecto non est terminus Alex. ut Avero. Eodem loco. Et Boet. 1. De syll.
Categ. / In quas partes dicantur resolvi res artificiosa. / 1 peri. 3. / Propositio qua propositio est in duas
tantum partes resolvitur. / Divisiones terminorum / Cur termini hoc nomine appellentur. Alexand. Alia
divisio materiae in quattuor genera
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122 Nota do parágrafo: Maius extr. Minus ext. Medius terminus 1. pri. 34. / Maior propositio, seu
positio. Minor prop, seu assumptio. Conclusio, seu complexio. Ex Alexand. 1. prio. 4. et ex Cice. 1. de
inventione. Sumptiones, seu praemissae / Abusus quidam in disputationibus.
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outro modo, como se se disser: toda a virtude é qualidade, toda a justiça é
justiça, logo toda a justiça é qualidade; ou se estas palavras se encadearem de
modo diferente do que ensinamos.
O modo silogístico é a disposição das proposições, segundo a quantidade
e a qualidade, apta para tirar a conclusão. Não basta, com efeito, para concluir
silogisticamente, que se disponham os termos em figura adequada, se não se
der às proposições uma certa disposição segundo a quantidade e a qualidade.
Com efeito, se ambas as proposições forem, por exemplo, particulares, ou
ambas negativas, nada se seguirá, como claramente se vê, se se disser: algum
animal é cavalo, algum homem é animal, logo algum homem é cavalo; nenhum
animal é pedra, nenhum diamante é animal, logo nenhum diamante é pedra.
Portanto, além da figura, é necessário o modo, por meio do qual se salve a
forma do silogismo.
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125 Nota do parágrafo: 16. modi sunt in singulis figura, si computentur simul apti, et inepti. /
Modi directe concludentes in 1. figure. 1. prio. 4. / Ca. 21. at 25. / Dictiones modorum qualitatem, et
quantitatem enunciationum significant. / Omnis questio concluditur in 1. figura 1. prio. 4.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
O segundo modo verifica-se quando, de uma maior universal negativa e
de uma menor universal afirmativa, se infere uma conclusão universal negativa.
Tudo isso é significado pela palavra Celarent. Exemplo:
375
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1
Omne animal est substantia,
Ba
Omnis homo est animal,
lip Igitur quaedam substantia est homo.
2
Nullum animal est lapis,
Omnis homo est animal,
Igitur nullus lapis est homo.
3
Omne bonum expetendum est,
Da
bi Quidam labor este bonus,
tis Igitur quoddam expetendum est labor.
126 Nota do parágrafo: Hos modos collegit Theophrastus partim ex. 2. pri. 1. partim. ex. 1. prio. 7. ut
refer. Ale. 2. prio. 4.
376
Livro VI das Instituições Dialéticas
inferirem conclusões em que se convertem as conclusões destes. Os outros
dois, porém, diferem mais declaradamente dos outros quatro, que concluem
diretamente. Exemplos:
1
Ba Todo o animal é substância,
3
Da Todo o bem deve ser procurado,
bi Certo trabalho é bom,
tis Logo, alguma coisa que se deve procurar é trabalho.
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127 Nota do parágrafo: 2. prio. 5. / Negantes duntaxat questiones confirmantur in. 2. figura, veram
omnes. / 1 prio. 5'
380
Livro VI das Instituições Dialéticas
Os doze modos restantes, em razão da forma, nada concluem, porque
em cada um pode existir um antecedente verdadeiro e um consequente
falso. É, porém, próprio desta figura que se possam confirmar nela apenas as
questões negativas. Infere, pois, só conclusões negativas, tanto universais como
particulares. 350
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128 Nota do parágrafo: 1. prio. 6. / Particulares duntaxat quaestiones confirmantur in hac figura, verum
omnes 1. prio. 6.
129 Nota do parágrafo: Omnes hae regulae continentur 1. pri. 24.
382
fi
fi
fi
Livro VI das Instituições Dialéticas
O quarto modo verifica-se quando, de uma maior universal afirmativa
e de uma menor particular afirmativa, se infere uma conclusão particular
afirmativa. Chama-se-lhe Datisi, como:
figuras rier proprias decas a uriculares, comuns todas são quarca da forma.
Esta regra está patente no que se disse, pois, de duas particulares, podem surgir
quatro modos (ou ambas as proposições serão afirmativas, ou ambas negativas,
383
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385
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parte, et minor universe affirmat: tertius, cum maior affirmat ex parte, et minor
universe negat: quartus cum utraque est universa, sed maior affirmat, minore
negat: quintus cum maior affirmat in totum, et minor negat de parte. 131
Ex iis tandem, quae in tertia figura dicata sunt, haec una regula ipsi propria
colligitur, Ex minore negativa nihil effici. Qua regula comprehenduntur reliqui
modi nihil concludentes in hac figura, qui regulis generalibus comprehensi
non sunt. Hi vero tres sunt tantum: primus, cum maior universe affirmat,
minor universe negat: alter, cum maior universe affirmat, minor ex parte negat:
tertius, cum maior ex parte affirmat, et minor universe negat. 132
386
Livro VI das Instituições Dialéticas
universal; o segundo, quando a maior nega e a menor afirma universalmente; o
terceiro, quando a maior é afirmativa particular e a menor negativa universal;
o quarto, quando ambas são universais, mas a maior afirma e a menor nega; o
quinto, quando a maior é afirmativa universal e a menor negativa particular.
Também, do que dissemos ao tratar da segunda figura, se deduzem outras
tantas regras próprias dela.37 Primeira: de uma proposição maior particular,
nada se conclui em razão da forma. Segunda: de duas proposições afirmativas,
nada se conclui. Por estas duas regras são abrangidos também os restantes
cinco modos que nada concluem na segunda figura: o primeiro, quando a
maior é afirmativa particular e a menor negativa universal; o segundo, quando
a maior é negativa particular e a menor afirmativa universal; o terceiro, quando
ambas afirmam, mas a maior é particular e a menor universal; o quarto, quando
ambas afirmam universalmente; o quinto, quando ambas afirmam, mas a maior
é universal e a menor particular.
Finalmente, do que se disse na terceira figura, deduz-se uma única
regra própria dela:38 de uma maior negativa, nada resulta. São abrangidos por
esta regra os restantes modos que nada concluem nesta figura e que não são
abrangidos pelas regras gerais. Estes são apenas três: o primeiro, quando a
maior é afirmativa universal e a menor é negativa universal; o segundo, quando
a maior é afirmativa universal e a menor é negativa particular; o terceiro,
quando a maior é afirmativa particular e a menor negativa universal.
387
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359 Da Interpretação, 1, 5.
360 Livro ViII, cap. 32.
389
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Etenim nomen Substantia, quod non distribuitur (id est, non accipitur
universo) in assumptione, distribuitur in conclusione. Ex hoc documento
efficitur, ut merito, nec Darapti, nec Felapton, nec duo illi modi indirecte
concludentes Baralipton, et Fapesmo, colligant universalem conclusionem,
etiam si constent universalibus sumptionibus, quoniam si universalem
concludas, argumentaberis a termino non distributo ad distributum, ut
loquuntur recentiores: id quod animadvertenti facile patebit: Itaque non
segniter notando sunt haec documenta.135
390
Livro VI das Instituições Dialéticas
Outra regra é: o termo que não estiver distribuído no antecedente,
também não deve estar distribuído no consequente. Labora no vício contrário
este paralogismo:
Todo o animal é dotado se sentidos,
Todo o animal é substância,
Logo, toda a substância é dotada de sentidos.
Com efeito, a palavra substância, que se não distribui (isto é, se não
toma universalmente) na menor, distribui-se na conclusão. Desta regra resulta,
com razão, que nem Darapti nem Felapton nem os dois modos que concluem
indiretamente, Baralipton e Fapesmo, inferem uma conclusão universal,
embora constem de proposições universais, pois, se se concluir uma universal,
argumentar-se-á de um termo não distribuído para um distribuído, como
dizem os modernos, o que facilmente se tomará claro a quem nisso advertir.
Não devem, portanto, passar despercebidas estas regras.
391
Pedro da Fonseca
Syllogismus imperfectus est, qui una re, aut pluribus indiget, ut colligendi
necessitas evidens fiat. Cuiusmodi sunt reliqui omnes praeter quattuor
primos primae figurae. Neque enim adeo perspicue concludunt, ut necessitas
colligendi statim appareat: sed quisque corum eget conversione aliqua, aut
evidenti deductione ad id, quod fieri nequit, aut expositione, aut certe pluribus
conversionibus, quibus ipsa consequentiae necessitas plane perspiciatur. Ut
igitur quo pacto id fiat doceamus, necesse est vi ante explicemus, quid sit
evidens de ductio ad id, quod impossibile est, quid etiam expositio. Nam quid
sit conversio, et quot modis fiat, iam supra exposuimus. 136
Nullae formae mutuo sese ab eodem subiecto expellentes, simul reperiri possunt in
eadem re,
Omnis contraria sunt formae huiuscemodi,
Igitur nulla contraria reperiri simul possunt in eadem re.
Prior syllogismus directo probat institutum, et ideo vocatur бієктко,
quasi ostensivus: posterior non confirmat propositum nisi ex pacto et
conventione cum altero, et ideo dicitur §úwolious, quasi ex conditione posita.
136 Nota do parágrafo: Perfectus syllog. 1. pri. 1. / Alexand. 1. prio. 4. et Stot. 1. sent. g. 1. et ali.
/ Principia, quae dicuntur regulativus. 1 prio. 1. / Inquibus syllogismis proxime exerceatur vis horum
principiorum. / Imperfectus syllogismus. / Ibidem. / Lib. 3.
392
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Sócrates é sábio,
Sócrates é pobre,
Logo, certo pobre é sábio.
O segundo, de uma maior negativa e de uma menor afirmativa, deduz
uma particular negativa, deste modo:
399
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Merito ergo huiusmodi syllogismi dicti sunt expositorii, quia sunt adeo
perspicui et evidentes, ut rem ipsam sensibus exponere videantur. Unde etiam
fit ut non ab re demonstrationes sensibiles, appellari soleant.
Sed contra haec sic liceat argumentari. Hae sunt vitiosae ac fallaces
argumentationes, Essentia divina est pater, essentia divina est filius, ergo filius
est pater: Pater non est filius, pater est essentia divina, ergo essentia divina
non est filius: et tamen hi modi, traditi sunt in tertia figura (cum hi termini,
Essentia divina, et Pater in divinis sint singulares) igitur perperam traditi
videntur. Respondebis tamen, nomine medii termini singularis, que syllogismus
expositorius propositum confirmat, intelligendum esse eum, qui accipitur pro
aliquare individua, quae nec est plures res, nec est idem re cum ea, quae est
plures res (sic enim intellecto nomine tertii perspicua sunt duo illa principia,
quae attulimus: alioqui non parum habent ambiguitatis) at hunc terminum
Essentia divina accipi pro quadam re individua, hoc est, pro ipsa Deitate, quae
tamen est plures res, id est, plura supposita divina: et hunc terminum Pater (in
divinis) accipi pro quadam re individua, hoc est, pro prima persona trinitatis,
quae tamen est idem re cum essentia divina, quae est plures res. Non cernuntur
ergo modi supradicti in propositis argumentationibus:
400
Livro VI das Instituições Dialéticas
uma singular negativa a converter-se numa universal negativa, como atrás 71
foi dito.
Esta redução não é talvez natural, mas apenas aos olhos de uma pessoa
obstinada ou que com menor perspicácia considere a força desses modos. Com
efeito, sendo deste gênero os silogismos expositórios, talvez não careçam de
prova, porque se apresentam conhecidos por si a quem diligentemente neles
advertir, como a seguir se dirá. Tão longe estão [disso] que devem provar-se
por Bocardo e Ferison, que, por sua vez, se confirmam pelos expositórios.
401
Pedro da Fonseca
141 Nota do parágrafo: Principia per se nota, quorum vis proxime exercetur in expositoris syllogismis.
/ Cur expositorii syllogismi hoc nomine appellentur. Cur dicantur demonstrationes sensibiles ab
Alexand.I. pri.2.et.6. et ab aliis. Obiectio. / Solutis. / Ochamus tertia parte Logicae.cap.16. lege etiam
Sct.I.d.2.q.7. et Dur.I.d.33.q.1. / Aristotelis sententia.
142 Nota do parágrafo: Confirmatio per conversionem, seu ostensiva. / Cui principio nitatur probatio
ostensiva. / Qui nam syllogismi ostensive confirmentur.
402
Livro VI das Instituições Dialéticas
realidade que a essência divina, que é várias realidades. Não se veem, portanto,
nas argumentações propostas, os supraditos modos.
Embora Aristóteles não tenha negado que algum termo singular pudesse
ser termo médio do silogismo expositório, contudo, carecendo da ilustração
que dá a luz da fé, não concebia nenhuma realidade singular que pudesse ser
simultaneamente várias realidades. Daí que, para ele, aqueles dois princípios
sejam tidos como conhecidos por si, tomando o termo "terceiro" por qualquer
realidade singular.
Posto isto, fácil será entender como, através dos perfeitos se confirma a
necessidade de concluir dos silogismos imperfeitos. Embora ela possa provar-se
suficientemente pelo fato de, conservada a mesma forma, não poder encontrar-
se em nenhuma matéria um antecedente verdadeiro e um consequente falso, é
mais breve, porém, e mais segura esta via: não há ninguém que possa percorrer
todas as matérias, de onde resulta que o espírito do que duvida não se satisfaz
enquanto não comprovar um raciocínio imperfeito por um perfeito e evidente
por si. Assim, a primeira prova far-se-á por intermédio da conversão; a segunda,
por uma redução evidente ao absurdo; a terceira, pela exposição.
A prova por conversão (que se chama vulgarmente prova ostensiva
e redução ostensiva dos imperfeitos aos perfeitos) faz-se quando, das
proposições de um silogismo imperfeito, sem nenhuma conversão, ou com a
conversão de ambas ou de uma somente, se infere, por intermédio de algum
silogismo perfeito, a conclusão do imperfeito ou a sua convertida, de onde
aquela se infere por conversão. Visto que o que se segue do consequente se
segue do antecedente, como atrás 73 dissemos, perceber-se-á que a conclusão,
que for deduzida das proposições do silogismo perfeito, se conclui também
das proposições do imperfeito, de onde aquelas se inferem. Por este método,
provam-se todos os silogismos imperfeitos, à exceção de Baroco e Bocardo,
como a seguir se esclarecerá.
Baralipton, que é o primeiro dos modos imperfeitos, prova-se assim: das
suas proposições, sem nenhuma conversão, deduz-se uma conclusão universal
afirmativa em Barbara, de onde, finalmente, por uma conversão por acidente, se
infere uma conclusão deduzida indiretamente. Faz-se isto deste modo: alguém
diz que este silogismo em Baralipton:
373 Cap. 5.
403
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conclusio indirecte collecta. Exercentur ista hoc modo. Dicat aliquis, nihil
colligere hunc syllogismum in Baralipton,
romaismalest substanti,
Igitur quaedam substantia est homo.
Tunc ego confecto ex sumptionibus eiusdem syllogismi syllogismo
perfecto, sic probabo consequentiam.
Omne animal est substantia,
Et omnis homo est animal
Igitur omnis homo est substantia.
Tum sic.
Omnis homo est substantia,
Igitur quaedam substantia est homo.
Ergo ex primo antecedente necessario sequitur postremum consequens
in Baralipton, ut dictum est.
Eadem arte uteris in probationes duorum modorum sequentium, ut pote
Celantes, et Dabitis, per Celarent, et Darii, nisi quod conclusiones immediate
colecta in Celarent, et Darii, simpliciter convertendae sunt. Itaque tres primi
imperfecti modi non alta conversione probantur, quam conclusionis perfecti
syllogismi.
Fapesmo vero probatur conversione per accidens maioris, et simplici
minoris, et illatione suae conclusionis in Ferio. Quod ita intelliges. Neget
aliquis necessitatem colligendi huius syllogismi in Fapesmo,
lam sic.
Quaedam substantia est animal,
Et nullum animal est lapis,
Igitur quaedam substantia non est lapis.
404
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Livro VI das Instituições Dialéticas
Por conseguinte, do primeiro antecedente necessário, segue-se,
finalmente, o consequente em Fapesmo.
Frisesomorum prova-se do mesmo modo que Fapesmo, à exceção de que
a maior se converte simplesmente.
Cesare prova-se por conversão simples da maior e por ilação da sua
conclusão em Celarent.375
Camestres prova-se por conversão simples da menor e por ilação dá sua
conclusão convertida em Celarent, e por simples conversão desta.
Festino prova-se por conversão simples da maior e por ilação da sua
conclusão em Ferio.
Baroco não pode provar-se por conversão, porque a menor, sendo
particular negativa, não pode converter-se, e a maior, sendo afirmativa, não se
converte senão numa particular que, com outra particular, nada conclui.
Darapti prova-se por conversão por acidente da menor e por ilação da
sua conclusão em Darii.376
Felapton, também por conversão por acidente da menor, mas por ilação
da sua conclusão em Ferio.
Disamis, por conversão simples da maior, por ilação da sua conclusão
convertida em Darii e por conversão simples desta.
Datisi, por conversão simples da menor e por ilação da sua conclusão
em Darii.
Bocardo não se prova por conversão, porque a maior não se converte e a
menor só se converte numa particular que, com outra particular, nada conclui.
407
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144 Nota do parágrafo: Hic variat aliquantum significatio harum litterarum. / Poterat significatio, M
Praetermitti.
408
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D, F, significam o modo perfeito por meio do qual cada imperfeito deve ser
provado. B significa, de fato, que deve provar-se por Barbara; C, por Celarent,
D, por Darii; e F, por Ferio.
S, porém, significa que a enunciação, designada pela vogal precedente,
deve converter-se simplesmente; e P, por acidente. Note-se que estas duas letras,
por significarem que a conclusão deve converter-se, não se referem à conversão
da conclusão do silogismo imperfeito, mas à do perfeito que se constrói do
imperfeito, como é evidente pelo que se disse. Além disso, M significa a
mudança da maior na menor e da menor na maior, a que se dá o nome de
transposição das premissas. Esta transposição faz-se ao reduzir quatro modos:
Fapesmo, Frisesomorum, Camestres e Disamis, porque, na primeira figura, nem
a menor pode ser negativa, como nos três primeiros, nem a maior particular,
como no quarto. De resto, a mutação deste gênero não deve ser entendida
segundo a situação das partes da oração (esta não é necessária, uma vez que,
muitas vezes, na primeira figura, a proposição maior ocupa o lugar da segunda
e a menor o da primeira), mas segundo a natureza. A significação desta letra,
podia, sem dúvida, omitir-se; porque só a conversão ensina qual a proposição
do silogismo imperfeito que, no perfeito, se toma maior, e qual a menor.
Finalmente, C, posto na palavra depois da primeira sílaba, significa que
tal modo pode confirmar-se, não ostensiva ou diretamente, mas por redução
ao absurdo, tomando, evidentemente, no silogismo perfeito, a contraditória da
conclusão, em lugar daquela proposição que é designada pela vogal precedente,
como logo ficará claro. E, por isso, encontra-se apenas em dois modos, a saber
em Baroco e em Bocardo.
409
Pedro da Fonseca
verum, et consequens falsum. Me autem petente, ut det ita esse, annuat ille
dicatque,
Omne animal est substantia,
Et omnis homo est animal,
At.
Omnis homo est animal (ut dixeras)
Igitur nullus homo est animal, et omnis Homo est animal
quae quidem sunt contrariae enunciationes.
Collegi ergo evidenter ex dictis illius duas contrarias simul veras, ex
quibus etiam evidenter colligi possunt duae contradictoriae. Haec collectio, ut
vides, et si non directo ostendit perperam illum negasse conclusionem admissis
sumptionibus, tamen ex hypothesi id probat, ex hoc nimirum communi
principio, quod omnes disputantes tacite ponunt, Id possibile non esse, ex quo
impossibile aliquid consequi deprehenditur. 145
410
Livro VI das Instituições Dialéticas
411
Pedro da Fonseca
maiore: et improbandis modis tertiae, faciendum esse maiorem relicta eadem
minore. 145
Quanquam vero his observatis perfacile sit intelligere, quo perfecto
modo imperfectus quisque confirmetur, tamen ut multo etiam sit facilius,
accipe hunc versum.147
Phoebifer axis obit terras, athramque quotannis.
Cuius pramae duae dictiones inserviunt primae figurae: duae sequentes
secundae, duae extremae: tertiae. In quibus hae quattuor vocales, A, E, 1,
O, sunt observandae, quia hae designant conclusiones quattuor modorum
perfectorum, ac proinde quattuor perfectos modos, quibus imperfecti hoc
probationis genere confirmandi sunt.
A, significat Barbara: E, Celarent: I, Darii: O, Ferio. Non est tamen
habenda ratio vocalium, a quibus diphthongi incipiunt. Prima igitur dictio
significat, ex primis tribus imperfectis modis primae figurae, primum probari
per Celarent, secundum per Darii, tertium rursus per Celarent. Secunda vero,
significat ex duobus sequentibus, Fapesmo scilicet, et Frisesomorum, priorem
probari per Barbara, posteriorem per Darii. Ex quibus intelliges quid caterae
dictiones significent.
Haec de probatione imperfectorum syllogismorum per evidentem
deductionem ad impossibile, quae mihi non admodum proprie videtur dici
reductio imperfectorum ad perfectos, quoniam hac arte ex sumptionibus
imperfecti non struitur perfectus eandem conclusionem colligens, sed ex
contradicente conclusionis cum altera sumptionum concludens contrariam,
aut contradicentem alterius. 148
412
Livro VI das Instituições Dialéticas
413
Pedro da Fonsera
Tutt sit
414
fi
Livro VI das Instituições Dialéticas
415
Pedro da Fonseca
homo est grammaticus, et ominis homo est animal. Hoc pacto probantur per
expositionem reliqui quattuor modi tertiae figurae: quod facile est exemplis
ostendere.
De probatione igitur modorum tertiae figurae per expositionem, hacc
satis sint. Sed insurget quis contra ea, quae diximus, argumentabiturque hoc
modo, Hic syllogismus,
Aliquis oculus necessarius est ad videntum,
Omnis oculus est pars capitis,
Igitur aliqua pars capitis necessaria est ad videndum.
hic syllogismus, inquiet, est in Disamis, et tamen non potest probari
expositione, igitur non recte dictum est, omnes syllogismos tertiae figurae
hoc probationis genere posse probari. Confirmabit autem propositionem hac
ratione, Quia sub medio termino huius syllogismi non potest colligi, aut accipi
aliquid singulare, ratione cuius maior propositio sit vera: quandoquidem nec
dexter oculus meus (exempli causa) necessarius mihi est ad videndum, cum
sinistro cernere possim, nec sinister, cum dextro possim aspicere.
416
Livro VI das Instituições Dialéticas
ser gramático e de todo o homem ser animal. Provam-se de igual modo por
exposição os restantes quatro modos da terceira figura. E fácil mostrá-lo com
exemplos.
Baste isto acerca da prova dos modos da terceira figura por exposição.
Mas insurgir-se-á alguém contra o que dissemos, e argumentará deste modo:
este silogismo
Algum olho é necessário para ver,
Todo o olho é parte da cabeça,
Logo, alguma parte da cabeça é necessária para ver,
este silogismo — dirá — é em Disamis e, no entanto, não pode provar-
se por exposição; portanto, sem razão se disse que todos os silogismos da
terceira figura podem provar-se por este gênero de prova. E confirmará a
segunda proposição com esta razão: é que pelo termo médio deste silogismo
não pode deduzir-se ou tomar-se alguma coisa singular em razão da qual seja
verdadeira a proposição maior, pois, nem o meu olho direito (por exemplo) me
é necessário para ver, uma vez que posso ver com o esquerdo, nem o esquerdo,
uma vez que posso ver com o direito.
Responder-se-á, porém, que a proposição maior do silogismo proposto
pode ter um duplo sentido: disjuntivo e disjunto. O disjuntivo é deste teor:
este olho é necessário para ver, ou aquele olho é necessário para ver; assim a
proposição é falsa, porque ambas as partes da disjunção são falsas. O disjunto
é assim: este ou aquele olho é necessário para ver; este sentido é, sem dúvida,
verdadeiro, pois, um dos olhos, indiferentemente ou indeterminadamente, é
necessário para ver. Se, portanto, a proposição maior tem um sentido disjuntivo,
como o julgam, por causa da forma, os dialéticos modernos, o silogismo é em
Disamis; mas ela é falsa; de onde se conclui que se não pode compreender sob
o seu sujeito ou assumir algo singular a que convenha o predicado.
Se, porém, lhe concedemos um sentido disjunto, como pelo falar do
povo parece ter, ela será verdadeira, mas não fará silogismo. Com efeito, uma
proposição particular que se toma para o silogismo dado por Aristóteles e,
mais ainda, aquela que própria e simplesmente se diz particular, deve ter
sentido disjuntivo. No entanto, sobre o sentido disjuntivo e disjunto diremos
mais alguma coisa no fim destas instituições.379
417
Pedro da Fonseca
remota. Propinqua sunt duae propositiones modales, aut altera modalis, altera
absoluta, ut cernere licet in his syllogismis, 150
Necesse est omne animal esse substantiam,
Necesse est omnem hominem esse animal
Igitur necesse est omnem hominem esse substantiam,
Necesse est omnem virtutem esse qualitatem,
Omnis iustitia est virtus,
Igitur necesse est omnem iustitiam esse qualitatem.
Possuntque ad structuram modalium syllogismorum, non solum
modales propositiones cum absolutis, sed etiam modales cum modalibus
multifariam permisceri.
Remota vero materia sunt tres termini: in quibus quidem non numeratur
modus. Itaque ut modus in voncersione modalium non numeratur inter
praedicata et subiecta, sic in syllogismis modalibus non numeratur in terminis.
Denique forma modalium syllogismorum ex figura etiam et modo
constat, quemadmodum et absolutorum. Est que in utroque genere triplex
figura. At vero modi concludendi non idem sunt in omnibus. Quanquam
enim syllogismi, quorum utraque sumptio est ex necessario, eisdem illis modis
colligant conclusiones ex necessario, quibus absoluti colligunt absolutas (id
quod nullo negocio experieris) in reliquis tamen tanta est varietas, ut merito a
nobis hoc logo sint praetermittendi. 151
418
Livro VI das Instituições Dialéticas
é dupla: próxima e remota. A matéria próxima são duas proposições modais, ou
uma modal e outra absoluta, como pode ver-se nestes silogismos:
E necessário que todo o animal seja substância,
É necessário que todo o homem seja animal,
Logo, é necessário que todo o homem seja substância.
E necessário que toda a virtude seja qualidade,
Toda a justiça é virtude,
Logo, é necessário que toda a justiça seja qualidade.
Na construção dos silogismos modais, podem, muitas vezes, misturar-se
não só proposições modais com absolutas, mas ainda modais com modais.
A matéria remota são os três termos, entre os quais, evidentemente, se
não conta o modo. Portanto, da mesma maneira que na conversão das modais,
entre os predicados e os sujeitos, o modo se não conta, assim, nos silogismos
modais, se não conta entre os termos.
Finalmente, a forma dos silogismos modais, como a dos absolutos,
consta também de figura e de modo. Existe em ambos os gêneros uma tríplice
figura. Mas os modos de concluir não são os mesmos em todas. Embora os
silogismos, em que ambas as premissas são necessárias, infiram conclusões
necessárias pelos mesmos modos por que os absolutos inferem absolutas (o
que sem qualquer dificuldade se verificará), nos restantes, todavia, é tão grande
a sua variedade que, neste lugar, devemos com razão passá-los em silêncio.
419
Pedro da Fonseca
420
Livro VI das Instituições Dialéticas
421
Pedro da Fonseca
Cuiusque regis est distribuere magistratus,
Hoc igitur ut fiat aliquando loco casus obliqui ponendus est rectus
eiusdem nominis mutata aliquantulum reliqua oratione: ut si sensum illius
propositionis, Contrariorum eadem est scientia, hoc modo exprimas, Contraria
sunt res, quarum cadem est scientia, vel hoc modo, Contraria cadunt sub eadem
scientia. Aliquamdo vero ex sensu enunciationis eliciendus est rectus alterius
nominis, cui adiungatur idem obliquus, aut alius, qui eundem sensum efficiat:
ut si id, quod dictum est, Omnis potestas est a Deo, dicas hoc modo, Omnis
potestas est donum a Deo, vel, donum Dei. His ergo, et aliis modis revocare
poteris propositiones ex obliquis ad propositiones ex rectis, ut intelligas sit ne
apta, an vitiosa consequutio cuiusque propositi syllogismi ex obliquis.
422
Livro VI das Instituições Dialéticas
É próprio de cada rei distribuir magistraturas,
423
Pedro da Fonseca
Tertia est, Circulariter, seu in orbem ratiocinandi. Quod tum sit, cum
ex cadem conclusione, et convertente alterius sumptionis, altera sumptio
colligitur. Verbi causa, si dicas,
Omne quod est risus capax, est fletus capax,
omnis homo est risus capax,
igitur omnis homo est fletus capax,
ex conclusione quidem cum convertente maioris colliges minorem, er
eadem vero conclusione cum convertente minoris colliges minorem. Dices
enim,
Omnis homo est fletus capax,
omne fletus capax est risus capax,
igitur omnis homo est risus capax.
Et rursus.
Omnis homo est fletus capax,
omne risus capax est homo,
igitur omne risus capax est fletus capax.
Hic conversio late accipitur, ut scilicet complectitur reciprocationem
simplicem ex vi materiae, quae quidem sit inter terminos convertibiles, hoi
est, qui de se invicem universali affirmatione dicuntur, quales sunt ii, ex quibus
nunc propositi syllogismi confecti sunt. Unde fit, ut perfecta circulatio, hoc est.
424
Livro VI das Instituições Dialéticas
oblíquos a proposições de termos retos, para se perceber se é apta ou viciosa a
consecução de qualquer silogismo de termos oblíquos com que se depare.
425
Pedro da Fonseca
426
Livro VI das Instituições Dialéticas
A quarta é a de raciocinar conversivamente. Isto mesmo ensina
Aristóteles384 a fazer sobretudo quando, do contraditório da conclusão com
uma das proposições, se deduz o contraditório da outra proposição. Dissemos
acima385 que todos os silogismos imperfeitos podiam provar-se deste modo.
A quinta é a de raciocinar pelo impossível. O modo como se faz
dissemo-lo acima,386 quando discorremos acerca do silogismo que conclui no
impossível. Esta propriedade difere da anterior nisto: aquela requer o silogismo
feito de antemão para tomar o contraditório da conclusão com uma das
proposições; esta supõe somente que foi negada alguma proposição verdadeira,
cuja contraditória se toma com alguma proposição manifestamente verdadeira.
A sexta é a de raciocinar a partir de opostos, o que acontece quando, de
duas contrárias ou contraditórias, concluímos uma enunciação na qual se nega
o mesmo de si mesmo, como se se disser:
Todo o homem é animal,
E nenhum homem é animal,
Logo, nenhum homem é homem.
Nenhuma pedra é dotada de sentidos,
Alguma pedra é dotada de sentidos,
Logo, alguma pedra não é pedra.
Este gênero de raciocínios é muito apropriado para refutar aqueles que,
por audácia, admitem proposições opostas.
Isto parece ser o suficiente acerca dos silogismos simples ou categóricos;
digamos agora alguma coisa acerca dos compostos.
427
Pedro da Fonseca
153 Nota do parágrafo: Ex Cicero.in.top.et Boëthin lib.d syllog. Hypot. Et. D. Tho.opus. 48 cap. 16.
et sequentibus, et duerr.1 pri.ad cap.32 / Maior propositio. Minor. De quibus syllog. Hypoth agendum. /
Triplex syllog. Hypoth. Seu coniunctus. / Lib.3.
428
Livro VI das Instituições Dialéticas
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Pedro da Fonseca
154 Nota do parágrafo: Conditionalium syllog.duplex figura. / In singulis figuris sunt quattuor modi.
155 Nota do parágrafo: Copulativi syllog. Affirmativi nulli sunt. / Adverte
430
Livro VI das Instituições Dialéticas
ou:
Ora não está sentado,
Logo, caminha.
431
Pedro da Fonseca
Potest enim cubare. Hic generis tres sunt modi. Aut enim utraque pars
propositionis affirmat, ut in proposito exemplo cernis, aut utraque negat, ut si
dicas,
Non et Socrates non dormit, et non vigilat,
non dormit autem,
ergo vigilat,
vel,
non vigilat autem,
ergo dormit:
aut altera pars affirmat, altera negat, ut si dicas,
Non et Socrates deambulat, et non movetur,
deambulat autem,
ergo movetur,
vel,
non movetur autem,
ergo non deambulat.
Idem modus erit, si prior pars propositionis neget, posterior affirmet, ut
si diceres,
Non et Socrates non movetur, et deambulat,
non movetur autem,
ergo non deambulat,
vel
deambulat autem,
ergo movetur.
In his omnibus ut dixi sublata una parte statim ponitur altera. 156
non156
statim
Notaponitur altera. Copulativorum negantium una est figura, modi vero tres. / Una sublata parte
do parágrafo:
432
Livro VI das Instituições Dialéticas
Pade, na verdade, estar deitado. São três os modos deste gênero. Com
efeito, ou ambas as partes da proposição a rmam, como se vê no exemplo
apresentado; ou ambas negam, como se se disser:
Scictates não dorme e (simultaneamente| não está acordado.
Ota não dorme.
Logo, está acordado.
ou:
Ora não está acordado.
Logo, dorme.
ou uma parte a rma e outra nega, como se se disser:
Nem Sócrates anda e (simultaneamente] não se move,
Ora anda.
Logo, move-se.
ou:
Ora não se move,
Logo, não anda.
Será o mesmo modo, se a primeira parte da proposição negar e a segunda
afirmar, como se se disser:
Nem Sócrates (simultaneamente] se não move e anda,
Ora não se move,
Logo, não anda,
оц:
Ora anda,
Logo, move-se.
Em todos estes, como disse, posta uma parte, imediatamente se tira a
ouira.
Finalmente, nos disjuntivos afirmativos, isto é, naqueles em que a
particula disjuntiva não é negativa (omitimos, com efeito, o outro gênero,
porque menos usado), há uma dupla figura, se, de fato, a disjunção é de coisas
repugnantes, como os antigos a entendiam. A primeira põe uma parte para
excluir outra. A segunda exclui uma para pôr outra. Os modos de cada uma são
três. Com efeito, ou ambas as partes da proposição afirmam, como se se disser:
433
fi
fi
Pedro da Fonseca
vel,
est autem nox,
ergo non est dies:
aut utraque negat, ut sii dicas,
Aut dies non est, aut nox non est,
non est autem dies,
ergo nox est,
vel,
non est autem nox,
ergo dies:
aut altera pars affirmat, altera negat: ut,
Aut dies est, aut sol non lucet,
dies autem est,
ergo sol lucet et caet.
Atque haec exempla ad priorem figuram pertinent. Posterioris haec sunt.
Aut dies est, aut nox est,
non est autem dies,
ergo non est,
vel,
non est autem non,
ergo dies.
Aut dies non est, aut nox non est,
est autem dies,
ergo non est nox,
vel,
est autem nox,
ergo non est dies:
Et sic in caeteris. Cum autem disiunctio non est ex repugnantibus,
ut, Aut Miloni insidias fecit Clodius, aut Clodio Milo, sola posterior figura
apta est. Nam si disiunctio ex duabus partibus (de hac enim loquimur) est
vera, altera autem pars est falsa, dubium non est, quin altera sit vera: alioqui
tota propositio esset falsa. Non tamen si altera pars verae disiunctionis vera
est, statim altera falsa erit, cum utraque vera esse possit, ut ex iis, quae supra
diximus, perspicuum est.
434
Livro VI das Instituições Dialéticas
ou:
Ora é noite,
Logo, não é dia,
ou ambas negam, como se se disser:
Ou não é dia ou não é noite,
Ora não é dia,
Logo, é noite,
ou:
Ora não é noite,
Logo, é dia,
ou uma parte afirma e outra nega, como:
Ou é dia, ou o sol não brilha,
Ora, é dia,
Logo, o sol brilha, etc.
Pertencem estes exemplos à primeira figura. Da segunda são os seguintes:
ou:
•logo, é noite,
Ou não é dia, ou não é noite,
Ora é dia,
Logo, não é noite.
ou:
Ora é noite,
Logo, não é dia.
E assim nos restantes. Quando, porém, a disjunção não é de repugnantes,
como: ou Clódio armou insídias a Milão, ou Milão a Clódio — só a segunda
figura é apta. Com efeito, se a disjunção de duas partes (é desta, com efeito, que
falamos) é verdadeira, mas uma parte é falsa, não há dúvida de que a outra é
verdadeira; de contrário, toda a proposição é falsa. Porém, se uma parte de uma
disjunção verdadeira for verdadeira, não se segue imediatamente que a outra
seja falsa, uma vez que ambas podem ser verdadeiras, como é evidente pelo que
atrás388 dissemos.
435
Pedro da Fonseca
Haec de syllogismis hypotheticis satis esse videntur. Reliqua enim
fere, quae in hac re dici possunt, spinosa admodum sunt, et parum frugifera:
quorum apud Boëthium latissimus patet campus.
157 Nota do parágrafo: Disiunctivorum syllogi. duplex figura apud veteres:modi cuiusque tres. /
1i.3.ca.17.
436
Livro VI das Instituições Dialéticas
Isto parece ser o suficiente a respeito dos silogismos hipotéticos.
Efetivamente, o mais que possa dizer-se sobre este assunto é sobremaneira
espinhoso e de poucos frutos; acerca disso, um vastíssimo campo se oferece
em Boécio. 389
Uma vez que já falamos do silogismo, resta-nos agora prosseguir nos
outros três gêneros de argumentação.
437
Pedro da Fonseca
dicatur, quia videtur ea, quae ex repugnantibus conficitur, acutissma, sola haec
proprie nomen commune possidet: ut, Quem quis non accusat, damnat?
Verum si ratio vocabuli habeatur, non modo omnis sententia, sed etiam
quaecunque mentis conceptio enthymema appellari potest. Dicitur enim
enthymema, quintiliano interprete commentum, et commentario: Boëthio
vero, animi conceptio.
Quo nomine videtur hoc argumentationis genus appellatum, ut ab
exemplo, quod est alterum genus popularis argumentationis, destingueretur.
Exemplum enim ex re singulari sensui subiecta contendit aliquid efficere
enthymema vero ex ratione communi, quam animus apud se excogitat. Id
quod Aristoteles docet. Per exempla, inquit, et fabulas facilius discitur. Sunt
etenim quae explorata habeantur, et particularia sint. Enthymemata vero
demonstrationes sunt ex universalibus, quae minus quamparticularia novimus
et caet. Quo minus mihi fit verisimile, propterea hanc argumentationis
formulam enthymema fuisse nominatam, quod §v Ovuc, hoc est in animo,
maneat illa sumptio, quae praetermittitur, ut quidam volunt. 158
158 Nota do parágrafo: 2.de differ. Top. / Loco citato. / De sententia in top. / Cap.21. / Cice. /
Lib.5.ca.1 Lib.5.in top. Cice. Cur hoc argumentationis genus dictum sit enthymema/ In problem.
secti. 18.q.3. / Alia ratio minus verisimilis.
438
Livro VI das Instituições Dialéticas
pelo fato de se dizer "mortais", indica-se de passagem o antecedente, como se
se tivesse dito: os homens são mortais; não lhes é lícito, portanto, alimentar
uma ira imortal. São, portanto, entimemas as sentenças em que a razão se toca
de passagem; as restantes devem chamar-se conclusões ou apenas antecedentes
de entimemas. Mas, assim como, entre os gregos, o nome Homero, pela sua
excelência, se tornou comum a muitos poetas, assim também, quando qualquer
sentença (na qual se inclui a sua razão) se chama entimema, é porque se parece
com aquela que se forma de repugnantes, sumamente engenhosa, a única
que possui% propriamente o nome comum, como: quem não acusa alguém,
condena-o?
Mas, se se atender à etimologia da palavra, pode chamar-se entimema
com só to que sente segundo inda rea Quer conota inen. Entimema,
para Boécio, 398 conceito mental.
Parece que tal gênero de argumentação se designa com este nome para
se distinguir do exemplo, que é outro gênero de argumentação popular. O
exemplo, na verdade, pretende fazer alguma coisa a partir de algo singular,
sujeito aos sentidos; o entimema, a partir de uma razão comum, que o espírito
em si próprio descobre. Isto, o que Aristóteles399 ensina. Aprende-se, diz, mais
facilmente através de exemplos e de fábulas. Com efeito, são coisas que se
observam e que são particulares. Os entimemas, porém, são demonstrações a
partir de coisas universais, que conhecemos menos que as particulares, etc. Por
isto tenho por menos verosímil que esta fórmula de argumentação se chame,
como querem alguns, entimema, porque permanece Év Ouco, isto é, no espírito,
a proposição que se omite.
439
Pedro da Fonseca
minus universalia. Hoc inductionis genus ea de causa Socrati, ut primo autori
tribuit Aristoteles, quia Socrates primus quaesivit, ac definivit universalia, quae
quidem ex singularibus inductione colligebat.
Quam autem vim habeat inductio, alio loco dicemus, certe populari
sensui est valde accomodata.
In ea tamen diligenter curandum est, ne qua pars praetermittatur. Aut
igitur omnes numerandae sunt, aut si tam multae existant, ut vel numerari
159 Nota do parágrafo: 1.top.len. / Quae sit praestantior inductio. / 13.meta.4.1. meta.6. /
1. prio.1.1. top. 10. Praeceptum dividendi.
160 Nota do parágrafo: Quae inductiones sint consequentiae formales. / Lib.3.ca.7. / Hoc lib.ca.3 /
Cap.1.et.6.
440
Livro VI das Instituições Dialéticas
singulares para coisas universais é a indução principal, desde que pelo nome de
singulares se não entenda apenas aquilo que realmente é singular, mas ainda o
que é menos universal. Aristóteles atribui este gênero de indução a Sócrates,
como seu primeiro autor, pois foi Sócrates o primeiro que procurou e definiu
coisas universais, que, por indução, concluía de coisas singulares.
Qual o valor da indução, expô-lo-emos em outro lugar, mas é, com
certeza, muito apropriada*2 ao gosto do povo.
Deve, todavia, velar-se diligentemente por que nela não se omita
alguma parte. Portanto, ou devem enumerar-se todas ou, se forem tantas que
seja impossível contá-las ou pelo menos muito difícil e fastidioso, depois de
enumeradas umas tantas, devem juntar-se estas ou semelhantes palavras: "e
assim nas restantes"
Se se juntarem tais palavras, e o antecedente e o consequente constarem
precisamente dos mesmos termos, então a indução será finalmente uma
consequência formal, como se se disser: este fogo queima, e aquele fogo
queima, e assim os outros fogos; portanto, todo o fogo queima.
Na verdade, assim o antecedente e o consequente serão duas enunciações
equipolentes, como é evidente pelo que atrás43 se disse, e deduz-se de uma
para a outra uma consequência formal, como é claro ainda pelo que foi dito.404
Mas, para dizer a verdade, tais induções não são argumentações, como se
pode inferir deste mesmo livro-45 Contudo, fazemos menção delas entre as
argumentações, porque é costume definirem-se na mesma altura, e chamarem-
se argumentações em virtude da semelhança que têm com estas induções que
são argumentações.
441
Pedro da Fonseca
Exemplum secundi generis. Non sibi consulerent vectores, qui
gubernatores sorte deligerent, ergo non sibi consulet Respub. quae
creaverit magistratus. 161
Tertii generis exemplum. Equus olim pascua solus obtinebat: invasit
eam possessionem cervus, ut pasceret, depopulareturque. Incensus dolore
equus, cogitabat in conmodum suum ulcisci. Adit hominem, ut consulat: eum
implorat ut secum rationem aliquam ineat iniuriae vindicandae. At homo:
inveni, inquit, illam. Patere addi fraenum in os tibi, ego hasta desumpta dorsum
inscendam: ita incurremus, et conficiemus improbissimum animal. Approbavit
consilium equus, infrenatus est, equitem recepit in sedem. Ita loco suplicii de
cervo sumendi abductus est ipse in servitutem. Ergo, Himerei, vereor ne dum
conamini vestras iniurias ulcisci, idem vobis eveniat. Ac frenum quidem iam
iniecistis vobis creato imperatore Phalaride. Quod si custodes etiam salutis
adhibendos ei censetis, ac dorso recipitis, non video cur hoc non sit servire
Phalaridi.
161 Nota do parágrafo: Exemplum quid. 2. Rhe. Ad The. 20. / Exemplum rei gestae. / Parabole, seu
collatio.
162 Nota do parágrafo: Apologus, seu fabula. / Exempla primi generis proprie dicuntur exempla.
442
Livro VI das Instituições Dialéticas
Pisa; logo, a república dos Venezianos será lançada por terra, se os cidadãos
combaterem uns contra os outros.
Exemplo do segundo gênero: não se importariam consigo mesmos
os embarcados que escolhessem ao acaso os pilotos; logo, também não se
importará consigo mesma a república que crie magistrados ao acaso.
Exemplo do terceiro gênero:47 grangeara outrora um cavalo uns pastios
só para si. Invadiu-lhe a possessão um veado para nela pastar e devastar.
Inflamado pela dor, o cavalo pensou vingar-se do dano. Vai ter com o homem
a pedir-lhe um conselho sobre o meio de vingar a afronta. Mas o homem
disse-lhe então: Encontrei-o: consente que te ponha um freio na boca e que
eu, de lança em punho, te suba para o dorso; assim, arrancaremos contra
tão perverso animal e daremos cabo dele. O cavalo aprovou o conselho, foi
enfreado e deixou-se montar pelo cavaleiro. Assim, em lugar de submeter o
veado ao suplício, foi ele mesmo reduzido à escravidão. Portanto, temo que,
quando tentardes vingar as vossas injúrias, vos aconteça o mesmo. Mas já vos
pusestes um freio, elegendo Fálaris para vosso imperador. Se julgais que devem
ainda juntar-se-lhe guardas para sua defesa e os recebeis no dorso, não vejo
como é que isso não seja servir a Fálaris.
O primeiro, na verdade, visto narrar fatos passados, forma-se a partir de
coisas singulares e, do mesmo modo, o terceiro, pois se constrói a partir daquilo
que se finge ter passado; mas o segundo gênero conclui, muitas vezes, coisas
universais de coisas universais. Portanto, os exemplos do primeiro gênero são
exemplos propriamente ditos; os outros, impropriamente ditos.
443
Pedro da Fonseca
Atque prima duo genera plus virium habent, suntque apud cos, qui
res diligentius persequuntur, maioris ponderis: duo posteriora communi
hominum senovi magis accommodantur. Praeterea ut enthymema est
imperfectus syllogismas, sic exemplum est inductio imperfecta. Denique ut
e logismus, et inductio frequentius usurpantur a dialecticis, sic enthymema et
exemplum ab oretoribus. Unde fit ut enthymerata oratorii syllogismi, exempla
oratoriar inductiones ab Aristotele dicantur. Nam-etsi Aristoteles nomine
enthymematum, quibus Oratores utuntur, non solum imperfectos sive non
interre, quie familiare sit Oratoribus, ut eas sumptiones, quae perspicune sunt.
practermittant, ut ipse, idem adiungie. Unde factum videtur, ut enthymema
oratorium definitum st spud illum. Sollogismus imperfectus ex verisimilibus,
But signia
103 Nuta du paragrafo: Arist2 prio.24. et Ale.prio.4. / 1.top.10.2. Reth ad theod.2. / Non
taleh cudem modo, quiaexempium non colligit conclusioneminductionis, ut enthymema
sy lugion 2 ad lhar 2 Bucthi 2 de differ. top.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
Mas os dois primeiros gêneros têm mais força, e usam-nos aqueles
que diligentemente se dedicam a coisas de maior profundidade; os outros
dois acomodam-se melhor ao comum sentir dos homens.409 Além disso, o
entimema é um silogismo imperfeito, 410 assim como o exemplo é uma indução
imperfeita.* Depois, assim como o silogismo e a indução são empregados
mais frequentemente pelos dialéticos, assim também o entimema e o exemplo
o são mais pelos oradores. E por isso que Aristóteles 2 chama aos entimemas
os silogismos da oratória e aos exemplos, as induções da oratória. Embora
Aristóteles, sob o nome de entimemas, usados pelos oradores, compreenda não
só os silogismos imperfeitos e mutilados, mas também os perfeitos ou inteiros,
como se vê em muitos lugares, 413 compreende, contudo, principalmente os
imperfeitos ou não inteiros, que são familiares aos oradores, pois omitem as
premissas menores, que são evidentes; é assim que ele próprio os aduz. 44 Daqui
o fato de parecer que ele 15 define assim o entimema dos oradores: silogismo
imperfeito argumentando] de coisas prováveis e de sinais.
Embora os três gêneros posteriores recebam força do primeiro, isto é,
do silogismo, 416 e a ele, como cabeça de toda a argumentação, se reduzam,
nada dizemos acerca desta redução, visto que não falamos da redução do
silogismo composto ao simples, para não alongarmos este tratado mais do
que determinamos. Portanto, uma vez que, por determinação nossa, seguimos
largamente até agora as normas de julgar pelas quais se ordenam as formas de
argumentação, resta-nos, no respeitante a esta parte, encontrar o caminho geral
para descobrir os argumentos.
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Pedro da Fonseca
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Livro VI das Instituições Dialéticas
consequentes, entendemos aqui aquelas coisas que se afirmam universalmente
acerca das coisas de que são consequência, ou necessariamente, como virtude
acerca de justiça, ou provavelmente, como amar os filhos, falando dos pais.
Por antecedentes, entendemos aquelas coisas acerca das quais se afirmam
universalmente as coisas de que aquelas são antecedentes, quer porque isso
aconteça necessariamente, quer porque com verosimilhança; assim está a
justiça em relação à virtude e os pais em relação ao amor dos filhos. Finalmente,
chamamos repugnantes àquelas coisas que nunca ou raramente se podem
afirmar acerca das coisas em relação às quais se chamam repugnantes: como
o mal, acerca da justiça, ou odiar os filhos, acerca dos pais. Posto isto, e visto
que são quatro os gêneros de questões que podem ser propostas — afirmar
universalmente, afirmar em parte, negar universalmente e negar em parte —
podemos resumir em quatro regras*18 o método geral para encontrar o termo
médio ou argumento.
Primeira regra: Para se confirmar uma universal afirmativa, deve
procurar-se aquilo que é, ao mesmo tempo, antecedente do predicado e
consequente do sujeito. Por exemplo, se for proposta esta questão: toda a
justiça deve ou não ser louvada?, cuja parte afirmativa se quer provar, toma-se
virtude acerca da qual afirmam universalmente que deve ser louvada e que se
afirma universalmente de justiça, e confirma-se então em Barbara o proposto,
deste modo:
Toda a virtude deve ser louvada,
Toda a justiça é virtude,
Logo toda a justiça deve ser louvada.
Segunda: Para se confirmar uma particular afirmativa deve procurar-
se um termo médio que seja ao mesmo tempo antecedente do predicado e
do sujeito ou consequente do predicado e antecedente do sujeito. Provar-se-á
por este processo que alguma substância é ser vivo, ou tomando animal por
argumento, para concluir-se assim na terceira figura:
ou,
tomando corpo por termo médio, para concluir-se indiretamente na
primeira figura, assim:
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Pedro da Fonseca
Omne corpus est substantia,
omne vivens est corpus,
igitur quaedam substantia est vivens.
Tertium. Ut questio universalis negativa confirmetur, querendum
est medium, quod idem sit consequens subiecti, et repugnans praedicati,
aut contra, consequens praedicati, et repugnans subiecti. Hoc documento
probabis nullum hominem esse lapidem, vel sumpto animali pro argumento,
ut concludas in Celarent, aut Cesare hoc modo,
Nullum animal est lapis,
omnis homo est animal,
igitur nullus homo est lapis:
Nullus lapis est animal,
omnis homo est animal
igitur nullus homo est lapis:
vel sumpto sensus experte pro medio, ut concludas incelantes aut
Camestres hoc modo,
Nullum sensus expers est homo,
omnis lapis est sensus expers,
igitur nullus homo est lapis:
Omnis lapis est sensus expers,
nullus homo est sensus expers,
igitur nullus homo est lapis.
Quartum. Ut questio particularis negativa confirmetur, querendum
est medium, quod idem sit antecedens subiecti, et repugnans praedicati. Hoc
pacto probabis, quandam substantiam non esse viventem, sumpto lapide pro
argumento, concludendoque in prima figura hoc modo,
Nullus lapis est vivens,
quaedam substantia est lapis,
igitur quaedam substantia non est vivens:
in secunda hoc modo,
Nullum vivens est lapis,
quaedam substantia est lapis,
igitur quadam substantia non est vivens:
in tertia hoc modo,
Nullus lapis est vivens,
omnis lapis est substantia,
igitur quaedam substantia non est vivens.
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Livro VI das Instituições Dialéticas
Todo o corpo é substância,
Todo o corpo é ser vivo,
Logo, alguma substância é ser vivo.
Terceira: Para se confirmar uma universal negativa, deve procurar-se
um termo médio que seja ao mesmo tempo consequente do sujeito e repugne
ao predicado, ou, ao contrário, seja consequente do predicado e repugne ao
sujeito. Provar-se-á com esta regra que nenhum homem é pedra; tomando
animal por argumento, concluir-se-á assim em Celarent ou em Cesare:
Nenhum animal é pedra,
Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;
Nenhuma pedra é animal,
Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;
ou, tomando por termo médio o que é desprovido de sentidos, conclui-
se em Celantes ou em Camestres, deste modo:
Nada desprovido de sentidos é homem,
Toda a pedra é desprovida de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.
Toda a pedra é desprovida de sentidos,
Nenhum homem é desprovido de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.
Quarta: Para se confirmar uma particular negativa, deve procurar-se
um termo médio que, ao mesmo tempo, seja antecedente do sujeito e repugne
ao predicado. Por isto provar-se-á que alguma substância não é viva, tomando
pedra por argumento, e concluindo na primeira figura deste modo:
Nenhuma pedra é viva,
Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é viva.
Na segunda figura, deste modo:
Nenhum ser vivo é pedra,
Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.
Na terceira figura, desta maneira:
Nenhuma pedra é ser vivo.
Toda a pedra é substância,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.
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Pedro da Fonseca
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Livro VI das Instituições Dialéticas
Quanto ao método geral de procurar os argumentos, estas coisas
parecem ser suficientes
$51
O objeto próprio da dialética, assim, é a oração pela qual, a
partir do conhecido, se mostra o desconhecido. A argumen-
tação, ou o discurso, desponta como o método específico de
todas as ciências, consistindo em meio de obtenção do conhe-
cimento, o que pode ser sucedido de três modos gerais: divi-
são, definição e a própria argumentação. Através destes três
modos de discorrer, parte-se de coisas conhecidas e evidentes
para a aquisição de todo conhecimento daquilo que está na
realidade predicamental, mas que ainda não foi captado pelo
intelecto. Logo, os três modos constituem-se como "instru-
menta sciendi" por excelência, e assim fundamentam as três
partes da dialética.
Marcus Boeira
9786587 043234