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Pausânias
Descrição
da Grécia
Livro iii
ISSN: 2183-220X
Diretoras Principais
Main Editors
Assistentes Editoriais
Editoral Assistants
Daniela Pereira
Universidade de Coimbra
Comissão Científica
Editorial Board
Adriane Duarte Frederico Lourenço
Universidade de São Paulo Universidade de Coimbra
Pausânias
Descrição
da Grécia
Livro iii
Título Title
Descrição da Grécia. Livro III
Description of Greece (Book III)
ISSN
2183-220X
ISBN
978-989-26-2381-8
© novembro 2020
ISBN Digital
978-989-26-2382-5 Imprensa da Universidade de Coimbra
Classica Digitalia Vniversitatis
DOI Conimbrigensis
https://doi.org/10.14195/978-989-26- http://classicadigitalia.uc.pt
2382-5 Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos da Universidade de
Coimbra
Filiação Affiliation
Universidade de Coimbra – University of Coimbra
Resumo
O propósito deste livro é fornecer, em língua portuguesa, uma tradução da
Descrição da Grécia de Pausânias, Livro III, acompanhada de um estudo
introdutório e de um aparato de notas informativas.
Palavras-chave
Lacónia, Esparta, história, arqueologia, mitos.
Abstract
This book offers a Portuguese translation of Pausanias, Description of
Greece, Book I, with an introduction and a commentary.
Keywords
Laconia, Sparta, history, archaeology, myths.
(Página deixada propositadamente em branco)
Autora
Author
Maria de Fátima Silva is Full Professor at the Institute for Classical Stu-
dies and a member of the Centre for Classical and Humanistic Studies
of the Faculty of Letters of the University of Coimbra. Author of a PhD
thesis entitled Critique of Theatre in Ancient Comedy, she has dedicated
herself to deepening the subject ‘Greek comic and tragic theater’, on
which she has published several books and numerous articles. She has
also produced translations of Aristophanes and Menander, as well as of
other authors such as Herodotus, Aristotle, Theophrastus and Chariton.
More recently she has been dedicated to reception studies, especially
with regard to the influences of Greek theater on Portuguese theatre.
7
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Índice
Introdução 11
A estrutura do Livro III e o trajeto histórico da Lacónia 11
Práticas, cultos e festas emblemáticos da Lacónia 22
A tradição homérica: uma garantia de prestígio e ancestralidade 28
Mitos influentes de origem lacónia 30
Bibliografia 35
9
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Introdução
2
Se uma síntese histórica é um elemento que se tornará constante
em Pausânias na abertura dos diferentes Livros, foi também já obser-
vado que é o Livro III a dar início a essa convenção e, neste caso, com
uma extensão apreciável. A diarquia espartana é naturalmente respon-
sável por isso. Sobre as fontes usadas por Pausânias, com relevância
particular para Heródoto no que respeita à primeira fase pré-histórica,
vide Meadows (1995).
12
Pausânias
5
É o caso, por exemplo, da campanha contra Argos e a Cinúria,
narrada, a propósito dos Ágidas, em 3.2.2-4, e retomada a propósito
da ação dos Euripôntidas, em 3.7.2-3. Prezler (2007) 84 valoriza esta
síntese histórica sobre as duas casas reais espartanas como um eixo
essencial na Descrição da Grécia. Dada a importância política de
Esparta, as intervenções dos seus soberanos dentro e para além do
Peloponeso expandem de forma significativa a rede de episódios da
história geral da Hélade abarcada por Pausânias.
14
Pausânias
6
Importa também valorizar a influência das biografias de Plutarco,
decisiva quando se trata de acompanhar a atuação de uma determinada
figura em particular.
15
Descrição da Grécia
7
Apud Flower (2018) 427.
8
(2001) 170.
17
Descrição da Grécia
9
Cf. Ateneu 131d-f, que associa as cerimónias dos Carneia com
práticas militares.
10
Esta atitude, de acordo com Flower (2018) 428, explica-se por um
princípio que parece nortear a religião e o comportamento espartano
em geral: o que se poderia chamar “atuar de acordo com as regras”. Por
isso os vemos mais dispostos a suspender uma campanha militar do que
a alterar o seu calendário de celebrações.
24
Pausânias
11
Vide Calame (2018) 182.
25
Descrição da Grécia
12
Guarducci (1984) 99-100 prefere entender que, mais do que sig-
nificar a substituição de sacrifícios humanos por uma flagelação ritual,
a sujeição ao chicote era prova de resistência e maturidade.
26
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13
Tradução de Lourenço (2005).
28
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33
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Bibliografia
35
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Estudos
Alcock, S., Cherry, J., Elsner, J. (eds.) (2001), Pausanias: Travel and
Memory in Roman Greece. Oxford: University Press.
Baldassi, C. (2018), The Leucippides in Greek myth: Abductions, ritu-
als and weddings. University of Edinburg: PhD thesis.
Boardman, J., Hammond, N. G. L., Lewis, D. M., Ostwald, M.
(21988), The Cambridge Ancient History. IV. Cambridge: Uni-
versity Press.
Bury, J. B., Cook, S. A., Adcock, F. E. (1969), The Cambridge
Ancient History. IV. Cambridge: University Press.
Calame, C. (2018), “Pre-classical Sparta as song culture”, in Powell
(ed.): 178-99.
Cartledge, P. (2001), “Sparta’s Pausanias. Another Laconian Past”,
in Alcock, Cherry, Elsner (eds.): 167-72.
Cavanagh, W. (2018), “An Archaeology of Ancient Sparta with refer-
ence to Laconia and Messenia”, in Powell (ed.): A Companion
to Sparta: 61-92.
Cepeda Ruiz, J. (2006), “La ciudad sin muros: Esparta durante los
períodos arcaico y clásico”, Antig. Crist. 23: 939-51.
36
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PAUSÂNIAS
DESCRIÇÃO DA GRÉCIA
3.LACÓNIA
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3.1.1. Origens míticas
A seguir aos Hermes,1 para ocidente, já é Lacónia. Ao que
dizem os próprios Lacedemónios, Lélex, um autóctone, foi
o primeiro a reinar naquela terra e dele receberam nome os
Léleges, de que era soberano.2 De Lélex nasceram Miles e um
outro filho mais novo, Policáon. Onde Policáon se foi estabe-
lecer e por que motivo, falarei adiante.3 Depois da morte de
Miles, foi Eurotas, o seu filho, quem assumiu o poder. Este
fez escoar para o mar a água que alagava a planície, através de
um canal; a esta corrente – porque a água restante formou o
curso de um rio – deu o nome de Eurotas.4 1.2. Como não
1
Esta é uma expressão de encadeamento com o final do Livro II; em
2.38.7, Pausânias referiu-se às estátuas de Hermes existentes nas alturas
do monte Párnon, “onde se estabelece a fronteira entre os Lacedemónios
e os Argivos e Tegeatas”. Este pode ser o momento para mencionar
sinteticamente a configuração geográfica da Lacónia com as suas refe-
rências principais. Esta região ocupa a parte sudeste do Peloponeso,
e consta de uma vasta planície cruzada pelo curso do Eurotas. Nos
extremos oriental e ocidental, é circunscrita pelos montes Párnon e
Taígeto que, prolongando-se até aos cabos de Málea e Ténero, definem
o contorno do Golfo da Lacónia.
2
O próprio território, a partir dele, usava o antigo nome de Lelégia.
Foi o genro de Eurotas, Lacedémon, quando mais tarde assumiu o
poder (vide infra 3.1.2), quem lhe mudou o nome para Lacedemónia.
Logo, Pausânias considera os Léleges os primeiros habitantes da
Lacónia. Musti, Torelli (2008) 167 resumem a propósito: “Portanto,
ao primeiro estrato de povoamento e tradições míticas sobre a Lacónia
pertencem nomes de mero significado étnico (não grego) e territorial:
um nível pré-dórico, construído com materiais míticos (que o mito
apresenta com a sua função fundamental de fantasia em torno do
passado), expresso através de noções principalmente geográficas e a
intuição de relações autênticas entre os Gregos e o ambiente em que
progressivamente penetraram”.
3
Vide infra 4.1.2.
4
“De bela corrente”. Com o seu curso de c. 100 km, o Eurotas é um
rio importante na região. Corre entre a Lacónia e a Messénia, cruza os
45
Descrição da Grécia
13
Segundo o mito, Perieres, filho de Éolo, tornou-se rei da Mes-
sénia. Casado com Gorgófone, filha de Perseu e de Andrómeda, teve
dois filhos: Afareu e Leucipo (vide supra nota 12, infra 4.2.4). Tíndaro e
Icário, seus meios-irmãos, viriam a nascer do casamento de Gorgófone
com Ébalo; cf. Graves (1977) II.246.
14
Vide infra 3.26.1-3. Naturalmente os Messénios reivindicam para
si a tradição ligada ao exílio de Tíndaro, dando voz à eterna rivalidade
entre as duas regiões.
15
Héracles eliminou Hipocoonte e os filhos e restituiu o poder a
Tíndaro; cf. Apolodoro 2.7.3.
16
Tíndaro tinha filhos varões, os Dioscuros, cuja apoteose os impe-
diu de dar continuidade ao poder do pai. Foi através do casamento de
Helena com Menelau que se encontrou um sucessor para Ébalo. Com
a subida de Menelau ao trono, o poder na Lacónia passou dos Léleges
para os Aqueus e com eles se manteria até à chegada dos Dórios.
17
Cf. Eurípides, Andrómaca.
18
Como filho de Orestes e de Hermíone, Tisâmeno reinava sobre
Argos, Micenas e Esparta, mas foi derrubado do poder pelos Heracli-
das. Com ele terminou, portanto, a dinastia atrida na Lacónia.
19
Sobre a partilha do poder entre os Heraclidas, nomeadamente
Témeno e Cresfonte, vide supra 2.18.7-8 e notas respetivas. A Lacónia
coube aos filhos de Aristodemo, Procles e Eurístenes, que deram início
à diarquia espartana. Este processo teria ocorrido na segunda metade
do séc. X a.C.
20
Aristodemo era um irmão já falecido de Témeno e Cresfonte, os
Heraclidas que chefiaram a conquista do Peloponeso; vide supra 2.18.7.
48
Pausânias
21
Medonte e Estrófio.
22
Heródoto 6.52 testemunha ainda uma outra versão: Aristodemo
não teria sido morto, mas participado na conquista do território de que
lhe coube a Lacónia.
23
Por a dinastia dos Ágidas ser considerada mais antiga, podia
admitir-se que Eurístenes fosse também mais velho do que o irmão.
A ideia de que se tratava de gémeos, por seu lado, ajudava a justificar
a monarquia dual (cf. Heródoto 6.52.2-4). Teria havido no processo
um artifício da mãe, Argia, para conseguir esse resultado. Morto
Aristodemo pouco depois do nascimento dos filhos, Argia, valendo-se
da semelhança entre eles, simulou não saber qual era o primogénito,
a quem os Lacedemónios pretendiam atribuir a sucessão. Perante a
dificuldade, a Pítia teria declarado que os designassem reis a ambos,
ainda que ao primogénito fossem atribuídas honras superiores (6.51.1,
6.52.5). Possivelmente esta justificação mítica aludia a algum acordo
estabelecido entre duas famílias poderosas que repartiram, em época
arcaica, o poder em Esparta. Sobre a diarquia espartana, cf. Sahlins
(2011).
24
Heródoto 6.52.8 insiste na animosidade que sempre existiu entre
os dois irmãos.
49
Descrição da Grécia
25
Segundo a tradição, Teras era um tebano, descendente de Polini-
ces (cf. Heródoto 4.147.1), e, em última análise, de Cadmo, o fundador
da cidade. Durante a menoridade dos sobrinhos, Teras foi regente em
Esparta. Seu pai Autésion tinha partido para Esparta em obediência a
um oráculo (vide infra 9.5.8); sobre Argia, cf. Heródoto 6.52.2.
26
Nome antigo de Tera (cf. Heródoto 4.147.4). Este processo de
fundação da colónia terá ocorrido c. 750 a.C. Heródoto 4.147.3 justifica
este desejo de Teras com o repúdio por se ver governado por outros,
quando o trono da cidade passou para os sobrinhos, ele que até aí
detivera o poder.
27
Um fenício, que acompanhou Cadmo na busca da irmã, Europa.
Cf. Heródoto 4.147.4-5, que, no entanto, identifica Membliaro como
parente de Cadmo.
28
Sobre a linhagem dupla na casa real espartana, cf. Heródoto
6.51-60.
50
Pausânias
3.2.1. Os Ágidas
Ao que se conta, Eurístenes, o filho mais velho de Aristo-
demo, teve um filho, Ágis;29 daí que a descendência de Eurís-
tenes seja chamada Ágidas. 30 No seu reinado, o projeto de
Patreu, filho de Prêugenes, de instituir na Acaia uma cidade
que dele recebeu o nome de Patras – que ainda hoje conserva
–, teve a cooperação dos Lacedemónios. Concordaram também
que Gras, filho de Équelas, filho de Pêntilo, filho de Orestes,31
embarcasse a fundar uma colónia. Ele foi então aportar na
região situada entre a Iónia e a Mísia, que hoje em dia se chama
Eólia.32 É que o seu avô Pêntilo já se tinha antes apropriado
de Lesbos, a ilha fronteiriça ao continente. 2.2. No reinado
de Equéstrato,33 filho de Ágis, em Esparta, os Lacedemónios
expulsaram os Cinúrios em idade militar, invocando como
pretexto que, sendo eles parentes dos Argivos, permitiam que
bandidos da Cinúria arrasassem a Argólida, e eles próprios
faziam, às claras, incursões nesse território.34 Diz-se, de facto,
que os Cinúrios descendem dos Argivos, e afirma-se que são
29
Eurístenes reinou entre c. 1102-1059 a.C. e Ágis a partir de então.
30
Pausânias dedica a sua atenção à primeira das duas casas reais de
Esparta. Dentro de cada uma delas, a sucessão era hereditária. Na diar-
quia, o exercício do poder conferia direitos iguais a ambos os monarcas.
Heródoto 7.204 traça a genealogia ascendente de Ágis até Héracles.
Do reinado de Ágis I, Pausânias distingue a fundação de duas cidades,
Patras, na Acaia, e Eólia, entre a Iónia e a Mísia, na Ásia Menor.
31
Pêntilo era um filho bastardo de Orestes, nascido de uma relação
com Erígone, filha de Egisto e Clitemnestra. Em Lesbos, fundou uma
cidade que dele recebeu o nome, Pêntile.
32
Heródoto 1.149 enumera as cidades colonizadas na região da Ásia
Menor designada por Eólia. Esta ocupava um território situado no
noroeste da Anatólia, compreendendo sobretudo a faixa costeira e ilhas
adjacentes.
33
C. 1058-1024 a.C.
34
Situada a nordeste do Peloponeso, entre a Argólida e a Lacónia,
51
Descrição da Grécia
43
Vide infra 3.7.3.
44
C. 854-814 a.C.
45
Esparta prosseguia com a expansão e absorção das pequenas
comunidades mais próximas, num período que antecedeu de pouco a
primeira guerra contra a Messénia (750-740 a.C.). Cepeda Ruiz (2006)
946 pode concluir: “A situação privilegiada de Esparta tornava possível
a sua expansão para os quatro pontos cardiais, levando, na direção
norte, a sua expansão até às colinas da Arcádia; para leste, atravessando
o monte Párnon, até Cinúria, onde se defrontaria com o seu eterno
inimigo dório, Argos; com ele tropeçaria também na direção sul, até ao
golfo da Lacónia. A anexação mais apetecível seria a ocidental, de uma
Messénia possuidora de grandes extensões de terras férteis”. Sobre Fáris
e Amiclas, cf. Ilíada 2.582, 584, Estrabão 8.363.
46
Vide infra 4.4.1-3. Segundo a versão espartana, Téleclo teria sido
morto em defesa de jovens espartanas que participavam num festival a
54
Pausânias
Ártemis, em Limnas, assaltadas por Messénios. Estes, por seu lado, con-
trapunham que Téleclo teria infiltrado no santuário rapazes disfarçados
de moças, na intenção de chacinar os Messénios que o frequentavam.
Este conflito estaria na base da Primeira Guerra Messénica.
47
C. 814-777 a.C.
48
Vide infra 3.20.6-7, situada um pouco a oriente de Gítio. Assim
prosseguia a expansão do poder de Esparta na Lacónia. Sobre a captura
desta cidade, vide Éforo, FGrHist 70 F117.
49
Os hilotas tinham estatuto de escravos. Constituíam uma
população suburbana, sujeita a exercer um conjunto de tarefas ser-
vis destinadas a garantir, por exemplo, o abastecimento alimentar à
população citadina. A sublevação, entre eles, era um risco permanente
e efetivo. Sobre os grupos inferiores na sociedade espartana, cf. Domín-
guez Monedero, Pascual González (1999) 104-5.
50
É mais ou menos consensual que Crotona era uma colónia aqueia
e não espartana; por seu lado, os Locros que habitavam o cabo Zefírio
eram um grupo de Locros ózolas e opúncios. Em ambos os casos trata-
-se de um processo de colonização no sul da Itália.
55
Descrição da Grécia
51
Vide infra 4.6-13.
52
Vide infra 4.4.4, 4.6.4-5. Ou seja, um Euripôntida, rei no séc.
VIII a.C.
53
Um Ágida.
54
Vide infra 3.11.10 e 3.12.3.
56
Pausânias
55
C. 550-520 a.C. Vide infra 4.15-23, Heródoto 1.67.1. Esta repre-
senta mais uma etapa nos conflitos entre Lacedemónios e Arcádios.
56
Sobre Licas, cf. Heródoto 1.67-8. Pausânias parafraseia de perto
Heródoto, que é, no entanto, mais pormenorizado na narrativa.
57
Sobre este oráculo e as questões que levaram à sua consulta, cf.
Heródoto 1.67.2; na versão do historiador de Halicarnasso, a pronúncia
do oráculo pretendia fornecer aos Lacedemónios uma solução para
levar a cabo com êxito o conflito contra os Tegeatas. A uma primeira
57
Descrição da Grécia
61
Cf. Heródoto 5.39-41, e ainda Boardman, Hammond, Lewis,
Ostwald (21988) 356-7.
62
Heródoto 5.42.1-2 narra a mesma versão com mais alguns por-
menores: as intrigas que se geraram em volta do nascimento de Dorieu,
por parte da família da segunda mulher de Anaxândrides, receosa da
concorrência de um outro herdeiro; o atraso mental de que Cleómenes,
enfim escolhido como rei, sofria; e o desagrado de Dorieu por se ver
preterido, o que o levou a partir de Esparta para fundar uma colónia
(vide infra 3.16.4-5, Diodoro 4.23.3). Cleómenes I foi soberano de
Esparta entre 520-488 a.C.
63
O texto de Pausânias segue de perto a versão de Heródoto, em
5.42-8, que é, no entanto, muito mais explícito sobre o destino deste
projeto colonizador. Sobre as colónias fundadas por Dorieu, cf. ainda
Bury, Cook, Adcock (1969) 358-62.
59
Descrição da Grécia
64
Vide supra 2.20.8, 2.21.10, 2.22.5 e notas respetivas. Heródoto
6.76-83 refere-se ao mesmo episódio, mas coloca-o temporalmente não
no início do reinado de Cleómenes, mas perto já da sua morte. Esta
investida (c. 494 a.C.) contra Argos não se consumaria a não ser por
este golpe doloso e sacrílego; cf. Silva, Soares (2007) 39.
65
Em 510 a.C. Cf. Heródoto 5.64.1-2. Afirmam Silva, Soares (2007)
41: “Num espaço temporal que vai de 512 a 503, assiste-se a cinco
expedições contra Atenas, importantes para desmitificar a reputação
antidespótica de que gozavam os Espartanos, consagrada nas pala-
vras de Tucídides (1.18.1) ...”. A cidade lacedemónia não desprezou a
oportunidade de ganhar influência junto de uma população então já
desgostada com o domínio dos tiranos, claramente em decadência como
o tiranicídio veio a provar.
66
Em 508 a.C. Cf. Heródoto 5.70. Segundo o autor de Histórias, foi
Iságoras a apelar a Cleómenes, “com quem tinha laços de hospitalidade
desde o tempo do cerco aos Pisistrátidas”, e a sugerir-lhe mesmo a forma
de atuar contra os Alcmeónidas, seus concorrentes ao poder de Atenas.
De facto, depois de eliminados os tiranos, Atenas tornou-se cenário de
uma disputa entre dois grupos, ambos vinculados a famílias de prestígio
na cidade (Heródoto 5.66, 70, 73), os Alcmeónidas, de tendência mais
democrática, e Iságoras, defensor de uma ideologia oligárquica, que ia
ao encontro das preferências de Esparta. O objetivo passava por depor o
poder nas mãos de um grupo de trezentos cidadãos. Heródoto confirma
o fracasso desta campanha, que se deveu à reação defensiva do conselho
ateniense. “Cleómenes escapa com vida, mas sorte diversa suportaram
os apoiantes de Iságoras, presos e executados (5.73.1)” (Silva, Soares
(2007) 44). Por isso, a campanha veio a renovar-se anos mais tarde
(507-506 a.C.), com o mesmo objetivo, de garantir o poder a Iságoras.
60
Pausânias
67
Em 491 a.C. Cf. Heródoto 6.50.1-3. Em 7.138, Heródoto justifica
estes movimentos simpatizantes com os Persas como tentativas de algu-
mas cidades gregas de se protegerem da arremetida inimiga. Neste caso,
a contínua inimizade entre Atenas e Egina estimulou nos Atenienses o
receio de que semelhante aliança com a potência oriental lhes pudesse
trazer fortes inconvenientes. Por isso apelou ao apoio de Esparta.
68
“Pedir água e terra” era um gesto simbólico da submissão que
a Pérsia reclamava dos povos que abordava com esta exigência; cf.
Heródoto 4.126, 5.17.1, 5.18.1, 7.131-3.
69
Cf. Heródoto 6.61-74. Segundo esta versão, Aríston, apesar de ter
tido duas esposas, não tinha filhos. Ora foi de um terceiro casamento,
com a que tinha sido esposa de um amigo forçado por dolo a entregar-
-lha, que, antes do tempo de gestação, nasceu um filho, Demarato. Daí
que, ao ser confrontado com a notícia do nascimento do filho, Aríston
tenha negado a paternidade. Esta declaração que, na altura, não teve
qualquer efeito, veio mais tarde, já morto Aríston, a ter repercussões
pesadas na sucessão.
70
Heródoto 6.65.1-4 explica o recurso à aliança com Leotíquides,
um inimigo de Demarato a quem este tinha subtraído a noiva. Foi
61
Descrição da Grécia
76
Protesilau, um guerreiro da Tessália aliado dos Aqueus invasores
de Troia, foi o primeiro a desembarcar em solo asiático e também a
primeira vítima da guerra (Il. 2.701). Recebeu, então, um culto no
Quersoneso Trácio (vide supra 1.34.2 e nota respetiva; cf. Píndaro,
Ístmica 1.58)
77
Cf. Heródoto 7.33, 9.116.2. No primeiro destes passos, Heródoto
explicita qual o sacrilégio cometido por Artaíctes e o castigo a que foi
sujeito: “Os Atenienses, por ordem de Xantipo, filho de Arífron, cap-
turaram o persa Artaíctes, que era governador de Sesto, e cravaram-no
vivo numa tábua, porque costumava levar mulheres para o santuário de
Protesilau, em Eleunte, cometendo constantes sacrilégios”. No segundo,
a versão é diferente: “Em Eleunte, no Quersoneso, fica o túmulo de Pro-
tesilau e, à sua volta, um terreno sagrado, onde se encontram grandes
riquezas, taças de ouro e prata, bronze, vestes e outras ofertas votivas,
que Artaíctes saqueou com a anuência do rei”.
78
Sobre esta impiedade dos Megarenses e a cólera que desencadeou
nas deusas eleusínias, vide supra 1.36.3 e nota respetiva.
79
Vide supra 1.13.5 e nota respetiva. Cf. Heródoto 7.204, que elogia
Leónidas como o mais distinto dos generais reunidos nas Termópilas.
Como rei, Leónidas I ocupou o trono de Esparta entre 488-480 a.C.
80
Heródoto 7.202, 7. 205.2 não só confirma este número, como
acrescenta um catálogo dos aliados na defesa das Termópilas. Chegada
a hora do confronto com os Persas, porém, essas forças de apoio foram
dispensadas e a resistência garantida apenas pelos 300 Espartanos. Ape-
sar da derrota espartana, a desproporção de forças entre as duas partes
63
Descrição da Grécia
85
Vide supra 1.27.1 e nota respetiva.
86
Cf. Heródoto 9.76-9.
87
A Descrição da Grécia passa agora para uma outra fase da história
espartana e grega, num período que vai de 478-404 a.C., ou seja, do
pós-Guerras Pérsicas ao termo da Guerra do Peloponeso. A sua fonte
principal deixa de ser Heródoto para passar a ser Xenofonte. Vide supra
1.13.4 e notas respetivas.
88
Em 403 a.C., tempo em que Esparta impunha o seu poder a uma
Atenas vencida na Guerra do Peloponeso. A motivação principal desta
campanha de Pausânias na Ática tinha por objetivo reforçar a autori-
dade dos Trinta Tiranos, colocados no poder pelo general espartano
Lisandro. Cf. Xenofonte, Helénicas 2.3.11, Plutarco, Vida de Lisandro
15. Apesar de terem sido investidos no poder com caráter provisório,
para preparar um conjunto de leis que haveriam de orientar o governo
de Atenas, dilatavam a tarefa de modo a, entretanto, tomarem medidas
totalmente arbitrárias e exercerem um poder baseado na violência.
A campanha de Pausânias fazia, portanto, frente aos objetivos de Lisan-
dro, então uma personagem poderosa na política espartana.
89
O general ateniense Trasibulo representava uma tendência
democrática para a gestão de Atenas. Durante a governação dos Trinta
Tiranos foi forçado a exilar-se da cidade. Foi do exterior que organizou
uma arremetida, que lhe permitiu ocupar o Pireu. O povo de Atenas
estava então dividido entre os que se mantinham na cidade, sob a
autoridade oligárquica dos Trinta Tiranos, e os que se encontravam no
Pireu, defensores de um regime democrático.
65
Descrição da Grécia
90
Cf. Xenofonte, Helénicas 2.4.29-39, Plutarco, Vida de Lisandro 21.
Estes dois testemunhos são unânimes em considerar que Pausânias se
associou a Lisandro na campanha contra Atenas por temer a ambição
do general a tornar-se senhor da cidade. Escreve Plutarco (21.3): “Mas
os reis, que lhe tinham inveja e que temiam que ele se apropriasse uma
segunda vez de Atenas, combinaram que um deles se encarregaria desta
expedição. Partiu então Pausânias, aparentemente para apoiar os tiranos
contra o povo, mas na verdade para pôr fim à guerra e impedir que
Lisandro, com o apoio dos seus partidários, se tornasse no novo senhor
de Atenas”. Vide Ruzé (2018) 322.
91
Vide infra 3.9-10.
92
Cf. Ilíada 2.503, onde é referida a participação de Haliarto na
campanha troiana. Sobre o avanço de Lisandro contra a Fócida, cf.
Plutarco, Vida de Lisandro 28.1. Sobre o ataque de Lisandro a Haliarto,
esclarece Xenofonte, Helénicas 2.5.18: “Tentou primeiro persuadir os
habitantes a se destacarem de Tebas e se declararem independentes.
66
Pausânias
99
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.5.25, Plutarco, Vidas de Ágis e
Cleónimo 3.5. Segundo a tradição, este templo tinha sido erigido por
Aleu (vide infra 8.45.4-8.47.4). Tratava-se de um templo muito antigo,
imponente e prestigiado, que Pausânias considera distinto entre os que
povoavam o Peloponeso. Sobre a longa história do santuário, cf. Ostby
(2020).
100
Sobre Crísis, vide supra 2.17.7 e nota respetiva, e sobre Leotíqui-
des, infra 3.7.9.
101
Em 394 a.C. Vide supra 1.29.11, Xenofonte, Helénicas 4.2.9.
102
Em 387 a.C.
103
Esta campanha desastrada, como, de resto, as empreendidas pelo
68
Pausânias
3.7.1. Os Euripôntidas
Da linhagem de Eurístenes,119 dos chamados Ágidas, Cleó-
menes, filho de Leónidas, foi, em Esparta, o último rei. Sobre
a outra linhagem ouvi contar o seguinte. Procles, filho de Aris-
todemo, pôs ao filho o nome de Soo.120 Ao que se diz, Euri-
ponte, filho de Soo, ganhou tamanha fama que os soberanos
115
Demarato refugiou-se na corte persa; cf. Heródoto 6.67.1, 7.3-4,
7.101-5.
116
C. 241 a.C.
117
Cleómenes III, morto em 219 a.C. e último monarca na dinastia
dos Ágidas.
118
Vide supra 2.9.1-3 e notas respetivas.
119
Vide supra 3.1.7 e nota respetiva.
120
Plutarco, Vida de Licurgo 2.1-3 dá relevo à personalidade e
importância deste Soo, a que Pausânias não reserva mais do que uma
alusão.
72
Pausânias
121
Cf. as genealogias dos Euripôntidas dadas por Heródoto (8.131.2-
3) e Plutarco (Vida de Licurgo 1.8), que não coincidem com a fornecida
por Pausânias. A expressão “ouvi contar o seguinte” sugere que as fontes
usadas pelo autor da Descrição da Grécia eram orais e a sua versão dis-
tinta de outras. O reinado de Euriponte situou-se entre c. 890-860 a.C.
Plutarco, Vida de Licurgo 2.4 sintetiza os motivos da popularidade deste
monarca da forma seguinte: “Deu-se aos soberanos desta linhagem o
nome de Euripôntidas, ao que parece, por Euriponte ter sido o primeiro
a abrandar o absolutismo excessivo da realeza, lutando pela populari-
dade e pelo agrado do povo”.
122
C. 860-830 a.C. A propósito deste monarca dos Euripôntidas,
Pausânias repete as ações espartanas já relatadas supra 3.2.2-4, contra
os Argivos e Cinúria.
123
O reinado do primeiro entre c. 830-800 a.C., e o do segundo
entre 800-780 a.C.
124
Carilo – ou Carilau – reinou c. 780-750 a.C.
125
Dominada a Messénia, os Espartanos voltaram-se então para a
Arcádia. Vide infra 8.1.6, 8.48.4; cf. ainda Heródoto 1.66.2, que relata
o fracasso desta campanha alimentada pela má interpretação de um
oráculo; este dizia assim: “Pedes-me a Arcádia? Muito me pedes, mas
não ta dou. Pois na Arcádia há muita gente comedora de bolotas que te
resistirá. Mas não quero ser-te adversa. Dou-te Tégea, que os teus pés
pisarão na dança, e uma bela planície que medirás com a corda”. Na
73
Descrição da Grécia
132
C. 550-515 a.C.
133
Cf. Heródoto 6.61.2-5. Conta Heródoto como a ama da criança,
penalizada pela sua disformidade, a levava todos os dias ao templo de
Helena, em Terapne. As preces da serva não foram em vão; um dia apa-
receu-lhe, pelo caminho, uma mulher que, tocando a criança, anunciou
que ela se tornaria na mais bela de todas as Espartanas. Vaticínio que
se cumpriu. Este episódio serve como um aition para o estabelecimento
de um culto de Helena em Terapne (vide infra 3.19.9); cf. Isócrates,
Encómio de Helena 63, que afirma que, em Terapne, Menelau e Helena
recebiam homenagens como deuses. Vide Richer (2007) 237.
134
Ilíada 19.91-133. Ao escusar-se da ofensa feita a Aquiles que,
ao desencadear-lhe a cólera, foi responsável por tantas mortes e reve-
ses para os Aqueus, Agamémnon argumenta com o poder de Ate, a
Obnubilação, que até ao senhor do Olimpo foi capaz de sujeitar. Foi
graças a Ate que Hera conseguiu enganar o divino marido, ao saber
do nascimento iminente de Héracles, filho de Alcmena, fruto de mais
uma infidelidade de Zeus. Vinculando-o a um juramento – “mas agora
jura-me, ó Olímpio, um poderoso juramento, / que a quantos vivem
à sua volta regerá o homem / que neste dia cairá entre os pés de uma
mulher, / da raça dos homens cuja origem vem do teu próprio sangue!”
(Ilíada 19.108-11, tradução de Frederico Lourenço) -, Hera manipulou
a palavra divina: apressou o nascimento de Euristeu, cuja gestação ia
ainda no sétimo mês, e atrasou o parto de Alcmena. Com esta jogada
garantiu o ascendente de Euristeu sobre Héracles.
135
Vide supra 3.4.4 e nota respetiva.
75
Descrição da Grécia
do que tinha dito. Demarato,136 que era rei e, aliás, com muito
prestígio em Esparta, por ter, com Cleómenes, libertado os
Atenienses dos Pisístratos,137 devido à imprudência de Arís-
ton e à inimizade de Cleónimo, perdeu o trono. Dirigiu-se
então para a corte do rei Dario, na Pérsia, e pela Ásia ficou a
sua descendência durante muito tempo, tanto quanto se diz.
7.9. Leotíquides,138 que se tornou rei no lugar de Demarato,
associou-se aos Atenienses e ao seu general Xantipo, filho de
Árifron, na campanha contra Mícale.139 A seguir, avançou con-
tra os Alévadas, na Tessália.140 Como sempre saía vencedor nas
batalhas, ser-lhe-ia possível conquistar a Tessália inteira. Mas
136
C. 515-491 a.C.
137
C. 510 a.C. Vide supra 3.4.2 e nota respetiva.
138
Leotíquides II reinou c. 491-469 a.C. Vide supra 3.4.4; cf. Heró-
doto 6.71.1.
139
479 a.C. Trata-se de Xantipo, pai de Péricles (cf. Heródoto
6.131.2, 9.98-106). Tucídides 1.89.2 relata brevemente este episódio:
“Depois que os Medos se retiraram da Europa, vencidos em mar e terra
pelos Gregos, e que o resto das suas forças se tinham refugiado com os
navios em Mícale, foram derrotadas. Leotíquides, o rei dos Lacedemó-
nios, que comandava os Gregos em Mícale, regressou à pátria com os
aliados do Peloponeso”. Mícale é um promontório situado a noroeste
de Mileto, diante de Samos.
140
Cf. Heródoto 7.6.2 a respeito da conivência que os Alévadas,
reis da Tessália, tinham tentado estabelecer com Xerxes. Trata-se de
uma família aristocrática, de grande poder, que se dizia descendente
de um rei mítico, Alevas, e que viria a assumir, na guerra, uma posição
pró-persa (cf. Heródoto 7.130.3, 9.58.2). Em 9.58.2, Heródoto refere
alguns nomes integrantes desta família de Larissa: Tórax e os seus
irmãos Eurípilo e Trasideu, que funcionavam como conselheiros de
Mardónio. Schrader (1983) 27 acentua que não se tratava propriamente
da família real tessália e que o termo βασιλεῖς aqui usado por Heródoto
se referia a “dinastas”. Não era desinteressado este apoio dado às pre-
tensões persas, fazendo crer ao rei que toda a Tessália estava envolvida
nessa posição pró-persa; quando na verdade os Alévadas esperavam de
Xerxes apoio recíproco, para estenderem o seu poder a toda a região.
76
Pausânias
141
Vide supra 3.5.6 e nota respetiva.
142
Arquidamo II, c. 469-427 a.C. A estratégia de Arquidamo foi
tão determinante que os primeiros anos da Guerra do Peloponeso, desde
o seu eclodir em 431 a.C. até à paz de Nícias, em 421 a.C., receberam
dele o nome. Cf. Tucídides 1.79-87, sobre o debate tido em Esparta a
propósito da conveniência de desencadear um ataque aos Atenienses: à
opinião dominante, que teve por porta-voz Estenelaides, que era favo-
rável a uma investida imediata, Arquidamo contrapôs argumentos de
prudência, salientando as dificuldades e risco que uma campanha mais
longínqua do que aquelas a que os Lacedemónios estavam acostumados,
no Peloponeso, exigente de meios e de perícia, podia acarretar. Sobre
a estratégia de incursões e devastação do território ático, cf. Tucídides
2.19.20.
143
427 a.C. Sobre a invasão de Plateias pelos Lacedemónios perante
a sua cumplicidade com os Atenienses, cf. Tucídides 2.71-8.
144
432 a.C.
77
Descrição da Grécia
145
A avaliação de Pausânias sobre o enfraquecimento da Grécia, em
função da Guerra do Peloponeso e da vulnerabilidade que facilitou a
invasão e ocupação macedónia por Filipe II, é muito pertinente.
146
427-400 a.C.
147
Cf. Plutarco, Vida de Agesilau 1.1, sobre a descendência de Arqui-
damo II (469-427 a.C.), um Euripôntida; e ainda, em 20.1, a referência
à vitória de Cinisca na corrida de cavalos nos Jogos Olímpicos; vide
ainda infra 3.15.1, Xenofonte, Agesilau 9.6. Picazo Gurina (2008) 172
recorda a importância e aparato de que se revestiam as vitórias espar-
tanas em Olímpia. Foi a partir do séc. VI a.C. que se iniciaram nessas
competições. Das suas vitórias, erguiam, no recinto da competição,
monumentos vistosos, dadas as restrições que Esparta impunha a esse
género de celebração pública. A vitória de Cinisca foi obtida em 392
a.C. e dela foi também erigido um monumento no santuário olímpico.
148
Cf. Antologia Palatina 13.6; vide infra 3.15.1, 6.1.6.
149
Fr. 17a Page. Cf. Tucídides 1.132.2; trata-se do seguinte dístico:
“Depois de destruir o exército medo, o comandante dos Gregos, Pau-
sânias, consagrou a Febo este registo”. Esta trípode era de ouro e foi
78
Pausânias
151
398 a.C.
152
Sobre as questões suscitadas entre os comentadores pela existên-
cia desta muralha e pela sua demolição, vide Musti, Torelli (2008) 184.
153
413 a.C. Tucídides 7.18.1 atribui a Alcibíades a insistência, junto
dos Lacedemónios, da fortificação de Deceleia; a seguir, 7.19.1-2, relata
a invasão da Ática pelas forças de Ágis II. Tucídides precisa ainda a
localização de Deceleia, entre Atenas e a Beócia e, portanto, com uma
boa posição estratégica. Sobre os objetivos espartanos desenvolvidos a
partir de Deceleia, cf. Tucídides 7.27.3. Agora que se tinham instalado
em território acessível ao inimigo, os Lacedemónios incrementaram as
devastações e saques.
154
405 a.C.; cf. Xenofonte, Helénicas 2.1.21-30. Neste confronto
naval, a tradicionalmente poderosa armada ateniense enfrentou as forças
navais espartanas, recém-constituídas com apoio persa e comandadas
por Lisandro. A derrota ateniense nesta batalha foi um passo impor-
tante para afirmar a hegemonia de Esparta no mundo grego, nos anos
finais da Guerra do Peloponeso.
155
Vide supra 3.5.1-4.
156
Cf. Xenofonte, Helénicas 2.1.31.
80
Pausânias
157
Vide supra 3.4.4. Cf. Plutarco, Vida de Agesilau 3.3, que dá este
filho como fruto de uma relação entre a mulher de Ágis e Alcibíades, o
Alcmeónida, refugiado na corte espartana após a fuga da Sicília. Depois
de ter persistido em negar essa paternidade, Ágis teria sido, na hora da
morte, persuadido por Leotíquides a declará-lo como filho.
158
Xenofonte, Helénicas 3.2.31, conta que Ágis tinha ido a Delfos
fazer oferendas ao deus em comemoração da vitória na Guerra do
Peloponeso. No regresso, adoeceu em Hereia, na Arcádia, foi levado de
volta para Esparta e, ao fim de pouco tempo, morreu.
159
Sobre a questão sucessória entre Leotíquides e Agesilau e os
diversos testemunhos disponíveis, cf. Xenofonte, Helénicas 3.3.1-2; e
ainda Roy (2009) 437-43.
160
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.3.3, Plutarco, Vida de Agesilau 3.7.
81
Descrição da Grécia
161
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.3.3, Plutarco, Vida de Agesilau 2.3.
162
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.3.4, Plutarco, Vida de Agesilau 3.4;
este último refere a importância desse apoio, gozando Lisandro de
muito prestígio na altura; vide supra 3.5.1-4, 3.8.6.
163
Entre 400-360 a.C.
164
398 a.C. Sobre a decisão da campanha, cf. Plutarco, Vida de
Agesilau 6.1-4.
165
Artaxerxes II foi rei entre 404-359 a.C. Era filho primogénito de
Dario II e de Parisátide, e irmão, entre outros (Ctésias situa em treze
o número dos filhos do casal), de Ciro, Otabes e Oxatres. De seu avô
com o mesmo nome, Artaxerxes I, parecia ter herdado a prudência e
revelava, nas suas atitudes, delicadeza, ao contrário de seu irmão Ciro,
naturalmente instável e violento (Plutarco, Vida de Artaxerxes 2.1, 4.4).
Os primeiros anos do reinado de Artaxerxes II foram agitados por
uma guerra sucessória; apesar de seu pai, Dario II, o ter indicado, na
qualidade de primogénito, como seu sucessor, um dos irmãos, Ciro,
com o apoio da mãe, Parisátide (Plutarco, Vida de Artaxerxes 2.3-4),
contestou a decisão e lançou-se num violento conflito contra o monarca
seu irmão, pela reivindicação do trono, a partir do próprio dia da coroa-
ção oficial (conflito de que Plutarco se ocupa em Vida de Artaxerxes 1-19,
e que teve muito eco na Grécia pela participação de inúmeros Gregos,
nele incorporados). Esta divergência teve o seu desfecho na batalha
de Cunaxa (Plutarco, Vida de Artaxerxes 8.2), em 401 a.C., que deu a
vitória a Artaxerxes e causou a morte de Ciro.
82
Pausânias
166
Sobre a influência exercida por Lisandro na Ásia, causadora de
algum incómodo em Agesilau, cf. Plutarco, Vida de Agesilau 7-8.
167
Vide supra 2.5.5.
168
Cf. Plutarco, Vida de Artaxerxes 21.1-2: “Artaxerxes retirou
também aos Lacedemónios o império do mar, com a ajuda de Cónon,
general ateniense, que juntou a sua frota à do sátrapa Farnabazo; é que,
depois da derrota de Egospótamo, Cónon manteve-se na ilha de Chipre,
não tanto em nome da sua segurança, mas à espera de alguma mudança
nos acontecimentos, como se espera uma maré para embarcar. Sentia
que os projetos que tinha concebido exigiam um grande potencial, e
que faltava ao que o Rei possuía um homem capaz de o comandar”.
83
Descrição da Grécia
169
Sobre a referência a este sacrifício e a comparação com Agamém-
non, cf. Plutarco, Vida de Agesilau 6.6-11. Plutarco atribui ao modelo de
ritual adotado por Agesilau a investida dos Tebanos, desagradados com
o facto de não estar a ser seguida a sua norma nesse tipo de situações.
Musti, Torelli (2008) 186 sublinham a tendência propagandística dos
Gregos, quando se tratava de atacar a Ásia, de apelarem ao modelo
homérico, neste caso no recrutamento e no sacrifício propiciatório.
170
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.4.11-2.
171
Rio situado a norte de Esmirna.
172
Plutarco, Vida de Agesilau 9.5-6 pronuncia-se sobre a forma por
que Agesilau constituiu a sua poderosa cavalaria; e sobre a vitória de
84
Pausânias
176
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.5.1, Plutarco, Vida de Artaxerxes
20.4-5.
177
Cf. Plutarco, Vida de Artaxerxes 22.8.
178
Estes são pormenores omitidos por Plutarco, Vida de Agesilau 15,
ao recordar a ordem de retirada dada a Agesilau pelos Lacedemónios.
Em contrapartida são também enumerados, por Xenofonte, Helénicas
3.5.1, os contactos estabelecidos, ainda que não haja coincidência total
nos nomes.
179
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.5.3-4: “Os chefes políticos, em Tebas,
convencidos de que, se não houvesse alguém que desse início à guerra,
os Lacedemónios não quereriam romper a trégua com os seus aliados,
convenceram os Locros Opúncios a saquear um território contestado
entre os Focenses e eles próprios; imaginavam que, perante este golpe,
os Focenses invadiriam a Lócride. E não se enganaram. Os Focenses
procederam de imediato à invasão e saquearam a dobrar. Por seu lado,
o partido de Androclides persuadiu facilmente os Tebanos a acudirem
em socorro dos Locros, porque estes teriam invadido não o território
em litígio, mas um território considerado amigo e aliado, a Lócride.
No entanto, quando, por sua vez, os Tebanos invadiram a Fócide e a
saquearam, logo os Focenses apelaram por socorro aos Lacedemónios,
com o argumento de que não tinham sido eles os agressores e de que
a invasão da Lócride tinha sido uma represália”. Sobre os Locros, vide
supra 1.23.4.
86
Pausânias
180
Cf. Xenofonte, Helénicas 3.5.5. Sobre os acontecimentos já antes
expostos a propósito de Pausânias, vide supra 3.5.3-6.
181
Em 394 a.C. Cf. Xenofonte, Helénicas 4.3.1-9.
182
Abido situava-se na costa asiática, junto ao Helesponto, na zona
mais apertada do estreito. Tratava-se de uma colónia de Mileto. Por sua
vez Sesto era a principal cidade da costa europeia junto ao Helesponto,
fronteiriça a Abido.
183
Cf. Xenofonte, Helénicas 4.3.15-23, Plutarco, Vida de Agesilau 18.
87
Descrição da Grécia
184
Cf. Xenofonte, Helénicas 4.3.20, Plutarco, Vida de Agesilau 19.1-2.
185
Sobre os Jogos Ístmicos, vide supra 2.1.7 e nota respetiva.
186
Cf. Xenofonte, Helénicas 4.5.1-2.
187
Como filho de Amiclas, Jacinto fazia parte da mais estrita
tradição desta cidade, sendo as Jacíntias uma das principais festas de
Esparta. Vide supra 3.1.3 e nota respetiva. Cf. Heródoto 9.7, Xenofonte,
Helénicas 4.5.11. As festividades combinavam um primeiro momento
de luto pela morte de Jacinto, seguido de rituais festivos ligados à sua
apoteose.
188
390 a.C. Cf. Xenofonte, Helénicas 4.4.15, 4.5.11, Plutarco, Vida
de Agesilau 22.3-4.
189
Cf. Xenofonte, Helénicas 4.6.1-9, Plutarco, Vida de Agesilau
22.9-11.
88
Pausânias
190
Sobre esta campanha no Egito, cf. Xenofonte, Agesilau 2.27-
31, Plutarco, Vida de Agesilau 36. Reinava então, no Egito, Taco (c.
365-360 a.C.), que se revoltou contra Artaxerxes II da Pérsia. Agesilau
andava nessa altura pelos 80 anos de idade.
191
Arquidamo III (c. 360-338 a.C.).
192
Segundo Musti, Torelli (2008) 188, talvez a referência ao bene-
fício de que os Atenienses tinham sido objeto aluda à participação que
os Focenses tinham tido na campanha ateniense na Tessália, em 455
(cf. Tucídides 1.111.1).
193
O historiador do séc. IV a.C. Cf. FGrHist 115F 312, autor de
uma versão fortemente anti-espartana, que incluía corrupção sobre o
monarca lacónio. Esta foi a Terceira Guerra Sagrada, que ocorreu entre
356-346 a.C., e se desencadeou devido a uma multa avultada imposta
aos Focenses, em 357 a.C., pela Anfictionia de Delfos, sob pretexto de
cultivo de terras sagradas. Neste conflito, os Tebanos tinham como
prioridade defender a sua prerrogativa na gestão do santuário de Delfos.
Com eles alinharam Espartanos e Atenienses, enquanto os Focenses
tinham do seu lado os Lócrios e os Tessálios. Pausânias regressa a este
mesmo episódio infra 4.5.4.
89
Descrição da Grécia
194
Sobre esta campanha, cf. Diodoro Sículo 16.62.4-63.1, 16.88.3,
Ateneu 536 c-d, Plutarco, Vida de Ágis 3.3.
195
Cf. Plutarco, Vida de Ágis 3.3: “Agesilau teve um filho, Arqui-
damo, que foi morto em Itália pelos Messápios, perto de Mardónio.
Ágis, o filho mais velho de Arquidamo, morreu frente a Megalópolis,
liquidado por Antípatro, sem deixar filhos, pelo que o trono de Esparta
passou para as mãos do seu irmão, Eudâmidas. O filho deste último,
chamado Arquidamo, foi pai de Eudâmidas, que teve por filho Ágis”.
Ambos os autores, Plutarco e Pausânias, referem Ágis III (rei entre
338-330 a.C.) e Ágis IV (rei entre 244-241 a.C.). Sobre a remissão feita
por Pausânias, vide supra 2.8.9 e nota respetiva.
196
Vide supra 2.38.7, 3.1.1 e notas respetivas.
197
Ou seja, “sombrio”. Talvez o epíteto de Zeus o associe com as
sombras do Hades.
90
Pausânias
pela espessura das árvores, mas por esse ser um epíteto de Zeus;
de facto, à esquerda do caminho, num desvio no máximo de
dez estádios,198 fica o santuário de Zeus Escótitas. Voltando à
estrada, quando se avança mais um pouco, de novo à esquerda
fica uma estátua de Héracles e um troféu. Ao que se diz, foi
Héracles quem o erigiu depois de matar Hipocoonte e os
filhos.199 10.7. Num terceiro desvio desse caminho reto, à
direita, há um carreiro que conduz a Cárias (Nogueiras) e ao
santuário de Ártemis. É que a região de Cárias é dedicada a
Ártemis e às ninfas; há mesmo uma estátua de Ártemis Cariá-
tide, no exterior. Aí, as jovens lacedemónias fazem, todos os
anos, danças, de acordo com a tradição local.200 Quando se dá
a volta e se regressa à rua principal, ficam as ruínas de Selá-
sia. Quanto a esta cidade, como antes escrevi,201 os Aqueus
reduziram-na à escravatura, depois de vencerem em com-
bate os Lacedemónios e o rei Cleómenes, filho de Leónidas.
10.8. No Tórnax, um pouco mais adiante, há uma estátua de
Apolo Piteu,202 feita segundo o mesmo modelo da de Amiclas.
Que estátua é essa, vou tratar noutro momento.203 Entre os
Lacedemónios a de Amiclas tem mais prestígio, a ponto de usa-
198
O estádio corresponde a 192,27 metros.
199
Vide infra 3.15.4-6, 3.19.7 e notas respetivas.
200
Escrevem Musti, Torelli (2008) 189-90: “A grande festa femi-
nina anual, centrada em danças que eram célebres, fundada, segundo
a tradição pelos próprios Dioscuros (...), teve uma importância notável
na religião lacónica, talvez também pelas suas relações com os ritos
iniciáticos e a esfera dionisíaca (...) através da figura mítica de Cária,
filha de Díon, rei da Lacónia, e sacerdotisa amada por Dioniso, que a
transformou em nogueira”.
201
Vide supra 2.9.2 e nota respetiva.
202
Cf. Xenofonte, Helénicas 6.5.27. O Tórnax é uma colina situada
a nordeste de Esparta, na margem esquerda do Eurotas.
203
Vide infra 3.19.2.
91
Descrição da Grécia
204
Cf. Heródoto 1.69.4. Segundo Heródoto, Creso ofereceu aos
Lacedemónios o ouro que eles pensavam comprar para ornamentarem
a estátua de Apolo.
205
Vide supra 1.39.3.
206
Cavanagh (2018) 67 imagina a ágora de Esparta, nos seus pri-
mórdios, “como um ponto de reunião do exército, que só começou
a tomar forma no séc. VIII a.C.”. E acrescenta: “Certamente alguns
dos monumentos referidos pelo visitante Pausânias em época romana
pertenciam ao séc. VI a.C.”.
207
A gerousía é, para Domínguez Monedero, Pascual González
(1999) 101, “uma reminiscência dos velhos conselhos de anciãos que
muitas póleis gregas tiveram em época arcaica”. Depois de nomeados
para o cargo, os membros da gerousía exerciam-no com caráter vitalício.
Era sua missão funcionar como tribunal superior em Esparta, além do
controle que tinham sobre as decisões da assembleia. Por isso, como
afirma Leão (2010c), “a importância do conselho de anciãos (Gerusia)
e o seu papel de moderador constitucional, prevenindo os riscos de
excesso de poder, seja da parte dos reis (a realeza espartana assentava
numa diarquia), seja da parte do povo”.
92
Pausânias
208
Com a decadência da monarquia, os éforos, uma magistratura
muito antiga, foram reforçando o seu poder e autoridade. Sobre esta
proporção no exercício do poder entre reis e éforos, escrevem Domín-
guez Monedero, Pascual González (1999) 96: “sendo desmedidos os
poderes dos reis, durante os anos prévios às Guerras Médicas houve
que estabelecer mecanismos de controle; os éforos, cujo caráter colegial
e cuja anuidade podia equilibrar o inconveniente de dotá-los de grande
poder, além de serem já uma velha magistratura tradicionalmente rela-
cionada com os distintos poderes (reis, gerousía, assembleia), seriam
assim vistos como a solução mais aceitável”. Sobre o espetro de funções,
de grande importância política e administrativa, que lhes estavam
atribuídas, cf. Domínguez Monedero, Pascual González (1999) 96-9.
209
Neste enunciado, será de ter em conta a observação de Musti,
Torelli (2008) 191: “Pausânias parece, inicialmente, distinguir com
clareza três magistraturas, mas depois recorda apenas dois colégios, o
dos éforos e o dos bidieios. Será que ele entende simplesmente associar
de facto e conceptualmente as duas magistraturas, embora distintas
(éforos e νομοφύλακες), por terem em comum a ‘vigilância’ das leis,
ou chega a identificá-las?”
210
De forma sintética, Pausânias traça a estrutura governativa de
Esparta na fase que se sucedeu à monarquia, com a morte de Cleóme-
nes III (vide supra 2.9.1-3). Musti, Torelli (2008) 191 dizem, sobre os
bidieios, que não têm qualquer outra referência em textos além de Pau-
sânias (embora referidos em inscrições): “Deve tratar-se de magistrados
que têm de ‘ver’, no sentido de manter o controle sobre o Platanistas
e outros concursos de jovens, uma magistratura, portanto, de caráter
organizativo, pedagógico e moral”.
211
Platanistas designa, literalmente, um “lugar onde existem plá-
tanos, ou circundado de plátanos”, e aplica-se a um recinto em que se
praticava exercício físico e mesmo alguma competição. Este espaço,
rodeado por um canal, constituía uma espécie de ‘ilha artificial’; vide
infra 3.14.8. Cf. Sanders (2009) 199-200.
93
Descrição da Grécia
212
O destaque dado a Mardónio indicia que se trata do saque
feito aos Persas em Plateias; sobre esta batalha, vide supra 1.27.1 e nota
respetiva.
213
Cf. Heródoto 7.99, 8.68-9, 8.101-3.
214
A menção de cultos imperiais romanos esclarece a imagem da
praça que Pausânias tem por referência. Nela se associam edifícios
antigos com novas construções que o fluxo histórico sugeriu.
215
Vide supra 3.8.6 e nota respetiva.
94
Pausânias
216
Família a quem se atribuía um ascendente divino e que exercia
funções sacerdotais; vide infra 4.24.4. Sobre Tisâmenes diz Heródoto,
a propósito dos sacrifícios que precederam a batalha de Plateias (9.33.1):
“Da parte dos Gregos, o sacrificante era Tisâmenes, filho de Antíoco.
Seguia na expedição como adivinho; era eleu e da família dos Iâmidas,
mas os Espartanos tinham-lhe dado a cidadania”. E a seguir Heródoto
regista o mesmo oráculo sobre as cinco proezas anunciadas a Tisâmenes
(9.35.1-2) e, como condição para se transferir para Esparta, que lhe
fossem justamente concedidos direitos de cidadão (9.33.2-5).
217
Masaracchia (1978) 170 salienta que: “Se se excetuarem Plateias
e Tânagra, trata-se de guerras causadas pelo movimento anti-espartano
no Peloponeso, por volta dos anos 470-460 a.C.”.
218
479 a.C.
219
Heródoto recorda os conflitos entre Lacedemónios e Tegeatas:
durante o séc. VI a.C. (1.66-8) e, de novo, c. 473-470 a.C. (9.35.2). Vide
ainda Powell (2018) 296.
95
Descrição da Grécia
220
Esta batalha foi praticamente coincidente com a de Tégea, entre
470-465 a.C.
221
464 a.C. Esta foi a Terceira Guerra Messénica, que Tucídides
descreve em 1.101-3. Itome era um monte com uma posição central
na Messénia, vizinho da capital da região. Sobre os hilotas, Tucídides
(1.101.2) esclarece: “A maior parte dos hilotas era constituída pelos
descendentes dos antigos Messénios há muito reduzidos à escravatura;
por isso todos foram designados pelo nome de Messénios”.
222
Vide infra 4.24.4.
223
Cf. Tucídides 1.103.1-2: “Os de Itome, após dez anos de assé-
dio, como não podiam continuar a resistir, fizeram um acordo com
os Lacedemónios em que se comprometiam a sair do Peloponeso sob
proteção do pacto para nunca mais voltar; quem quer que fosse apa-
nhado, tornava-se escravo de quem o tivesse capturado. Existia, além
disso, um oráculo pítico, antes comunicado aos Lacedemónios, que
lhes determinava que deixassem partir o suplicante de Zeus Itometa”.
224
457 a.C.
225
Pseudo-Plutarco, Sobre a Música 1134b-c informa, sobre a origem
destes festejos: “Pois, com efeito, a primeira das instituições musicais
em Esparta deveu-se a Terpandro. A responsabilidade da segunda
96
Pausânias
231
Cf. Musti, Torelli (2008) 197, que comentam: “O santuário das
Meras, que contém o túmulo de Orestes e os altares (preferencialmente
as estátuas) de Héstia, Zeus Xénios e Atena Xénia, funciona, junta-
mente com o antigo ephoreîon, como centro político-sacral da cidade
arcaica, com alguns túmulos heroicos de grande importância ideológica,
e com o culto da divindade protetora da hospitalidade”.
232
Vide supra 3.1.4. Em sedução, Penélope podia competir com as
mais belas, deusas e mulheres: com a perfeição imortal de uma Calipso
(Odisseia 5. 209-10), ou com a juventude atraente de Nausícaa (Odisseia
7. 313). Sobre a competição pela conquista da mão da filha de Icário,
cf. Apolodoro 3.10.6, 3.10.9.
233
Cf. Píndaro, Pítica 9.111-6.
98
Pausânias
234
Ou seja, “comprada com bois, a troco de bois”. Este edifício
estava afeto aos funcionários que se encarregavam de adquirir bois para
os sacrifícios.
235
Vide supra 3.3.2-3.
236
Vide supra 3.11.2 e nota respetiva.
237
“Protetora dos caminhos”.
238
Vide supra 3.1.1 e nota respetiva.
239
Vide supra 3.1.1 e nota respetiva.
240
Vide supra 2.18.4 e nota respetiva.
241
Hipermnestra, a mãe de Anfiarau, era irmã de Leda, a mãe dos
Dioscuros. Sobre Íope, possivelmente um herói local, não há mais
nenhuma informação. Quanto ao epíteto de Posídon advém do culto
que lhe era prestado no cabo Ténaro, na Lacónia.
99
Descrição da Grécia
242
Vide infra 3.25.4, sobre o culto de Posídon no cabo Ténaro.
Esparta abunda em herôa. Sobre este tipo de culto e o seu significado
social e político, Ekroth (2007) 103 comenta: “A ocorrência de cultos
heroicos dá-se em paralelo com o surgir da cidade-estado, e podem
ser vistos como uma resposta às mudanças políticas e sociais. Já foi
sugerido que funcionam como mecanismos para os aristocratas e famí-
lias destacadas se afirmarem, ou como expedientes dos proprietários
de terras e pequenas comunidades reivindicarem direitos à terra e ao
território”.
243
Cf. o comentário de Musti, Torelli (2008) 201: “Os dois
momentos de maior mobilização nacional, do ponto de vista histórico
dos Gregos de época mais tardia, e no conceito de Pausânias, fruto
da sistematização historiográfica, em particular do séc. IV a.C., são a
guerra contra Xerxes e, ainda antes, a de Troia”.
244
Vide infra 7.24.1. Taltíbio era bem conhecido como arauto de
Agamémnon (cf. Ilíada 1. 320, 3.118, 4.192, 7.276, 19.196, 19.250, 19.267,
23.897, Eurípides, Troianas, Hécuba) e a sua ira desencadeou-se em
defesa da inviolabilidade da classe a que pertencia. Os seus descenden-
tes, os Taltibíadas, assumiram o desempenho de todas as missões com
origem em Esparta. Heródoto 7.134.1 dá testemunho desta linhagem
e suas prerrogativas: “Seja como for, sobre os Lacedemónios desenca-
deou-se a ira de Taltíbio, o arauto de Agamémnon. Em Esparta há um
santuário dedicado a Taltíbio e continua a haver descendentes seus, que
100
Pausânias
pelo rei Dario para pedirem terra e água245 fez-se sentir sobre
os Lacedemónios em geral e, em Atenas, atingiu em particu-
lar a casa de um único homem, Milcíades, filho de Címon.246
É que Milcíades foi o responsável, por parte dos Atenienses,
pela morte dos que vieram à Ática como arautos. 12.8. Os
Lacedemónios possuem um altar de Apolo Ácritas, e um san-
tuário da Terra, a que chamam Gasepto. Mais acima, edifica-
ram outro a Apolo Maleates.247 Ao fundo da rua Afetaída, já
muito perto da muralha, há um santuário de Dictina248 e os
túmulos régios dos chamados Euripôntidas.249 Junto ao Helé-
nio há um santuário de Arsínoe, filha de Leucipo e irmã de
258
Timóteo de Mileto (c. 450-360 a.C.) foi responsabilizado, entre
os seus contemporâneos (segunda metade do séc. V a.C.), pela degra-
dação da música. Assim, o poeta cómico Ferécrates, no Quíron (fr. 155
K.-A.), sugeria os atropelos então cometidos. Obscuro no pormenor,
este fragmento é, na generalidade, muito significativo. A Mousikê,
uma pobre mulher prostituída, responsabiliza pelas vicissitudes da sua
existência Melanípides, Cinésias, Frínis e, muito em especial, Timóteo.
E os testemunhos cómicos sobre a nova escola lírica, suas novidades e
cultores, multiplicam-se: cf. Aristófanes, Nuvens 335-9, Paz 828-37,
Aves 1373-1409, Rãs 153, Pluto 290-315; Ferécrates fr. 6 K.-A.; Êupolis
fr. 148 K.-A.; Anaxândrides fr. 6 K.-A.; Antífanes fr. 110 K.-A.; Aléxis
fr. 300 K.-A. Todos estes testemunhos vêm confirmar a afirmação
de Pseudo-Plutarco, Sobre a Música 1142b, acerca do empenho que a
comédia manifestou na denúncia da deterioração progressiva da música:
“também outros comediógrafos (Ferécrates, Aristófanes) denunciaram a
inaptidão daqueles que esfacelaram a música”. O sentido conservador de
Esparta manifesta-se também no repúdio por estas novidades musicais.
259
Vide supra 3.11.11 e nota respetiva.
260
Vide infra 3.21.3.
261
Vide supra 3.1.3.
262
Os Dioscuros. Segundo a tradição, do relacionamento amoroso
de Zeus com Leda nasceram Pólux e Helena, enquanto Castor e Cli-
temnestra seriam filhos de Tíndaro e Leda. Ibas e Linceu, por sua vez,
eram filhos de Afareu, irmão de Tíndaro (vide supra 3.1.4). Depois de
103
Descrição da Grécia
267
Depois de venerado como um deus independente, Carneu foi
assimilado a Apolo e teve um culto entre os Aqueus em fase pré-dórica.
O seu nome provém de kárnos, uma palavra para “gado”, talvez em refe-
rência aos animais usados nos sacrifícios. As Carneias, uma das festas
de maior ressonância em Esparta, celebravam o termo da preparação
militar dos mancebos e a inclusão dos jovens adultos na comunidade.
Sobre as provas desportivas incluídas neste festival, vide Calame (2018)
181-2.
268
Cf. Graves (1977) II.209-10, a propósito do regresso dos Hera-
clidas e da recuperação do Peloponeso: “Mais cedo teriam tido sucesso
na campanha, se um dos seus chefes não tivesse assassinado Carno, um
poeta da Acarnânia, quando se lhes apresentou a entoar versos profé-
ticos, por o terem confundido com um mago enviado contra eles por
Tisâmenes. Como castigo por este sacrilégio, a armada dos Heraclidas
naufragou e a fome dizimou-lhes o exército”.
269
Praxila é uma poetisa de Sícion, mais ou menos contemporânea
de Telesila (vide supra 2.20.8 e nota respetiva), de meados do séc. V a.C.
O seu prestígio em Sícion ficou de certa forma reconhecido na estátua
que dela esculpiu Lisipo. Ainda que seja muito vago o conhecimento
que temos da sua produção poética (desenvolvida dentro dos modelos
da lírica coral), títulos como “Aquiles” e “Adónis” aludem a alguns dos
seus poemas. Cf. Lesky (1968) 207-8. Sobre o passo aqui em causa, cf.
fr. 7 Page; a etimologia sugerida não tem verosimilhança.
105
Descrição da Grécia
270
Vide supra 3.12.1.
271
Uma das colinas, situada a sudeste do centro da cidade antiga.
272
Trata-se, portanto, de uma corrida feminina incluída nas festas
de Dioniso. Informam Musti, Torelli (2008) 208, que este é um rito
de caráter nupcial sugestivo da disputa que Ulisses venceu na Afetaída
e que lhe garantiu a mão de Penélope. Sobre a possível relação entre as
Leucípides e as Dionisíadas, vide Baldassi (2018) 79-80. Esta autora
chama a atenção para a proximidade na referência a motivos associados
com bodas nupciais – o santuário de Hera Hiperquíria e a estátua de
Afrodite Hera –, o que abonaria do mesmo caráter quanto à corrida
das Dionisíadas.
273
A Plêuron era atribuída a fundação de uma cidade com o seu
nome na Etólia. Musti, Torelli (2008) 209 sublinham o facto de este
106
Pausânias
286
Plutarco (Vida de Agesilau 32.6) identifica com o nome de Issório
o local onde se situava este templo. Cartledge (apud Richer (2007) 243)
considera que vários santuários de Esparta estão localizados de forma a
delimitar a cintura da cidade e que esse é o caso do de Ártemis Issória,
situado no extremo noroeste. Sobre este culto, vide infra 3.25.4.
287
Vide supra 2.30.3. Britomártis é o nome de uma deusa cretense
das montanhas, que por vezes se sobrepõe a Ártemis.
288
Estas vitórias foram conseguidas nos anos de 668, 664, 660 a.C.
Cf. 4.23.4, 4.23.10, 6.13.2, 8.39.3.
289
Inicialmente, a prova de corrida implicava apenas uma pista e
um sentido (entre 776-724 a.C.), antes de o percurso ser ampliado com
a ida e volta (c. 400 metros). A corrida simples, o chamado “estádio”
(192,27 metros), era a prova principal nos Jogos Olímpicos. Sobre a
introdução da corrida dupla, vide infra 5.8.6.
290
Cf. Heródoto 4.153-9. Ao referir-se à campanha levada a
cabo por Tera sob a chefia de Bato, Heródoto não inclui o nome de
Quíonis. A sublevação dos Líbios contra os colonos de Tera deveu-se,
naturalmente, a um conflito de interesses que Heródoto traduz com
esta observação (4.159): “Quando uma grande multidão se encontrava
109
Descrição da Grécia
296
Vide supra 3.1.4-5, 3.10.6 e notas respetivas.
297
Talvez Júlio Êuricles Herculano.
298
Equivalente a déspoina, “senhora”. Este era um atributo da deusa
ligado com a fecundidade das plantas. Em 8.37.1, Pausânias descreve
uma imagem de Ártemis Hegémone como “segurando tochas”, o que a
poderia associar com um culto fúnebre. Themelis (1999) 174 considera
que “a iconografia, bem como o carácter ctónico de Ártemis Hegémone,
a relaciona com Ártemis Orthía ou Phósphoros venerada na Messénia”.
299
Ἄγνος (Vitex agnus-castus L.); cf. Teofrasto, História das plantas
1.3.2, 1.14.2, 3.12.1-2, 4.10.2, 9.5.1. Esta era uma planta popular na
Antiguidade pelas suas diversas qualidades. O espinheiro (ῥάμνος)
é Ramnus lycioides L.; cf. Teofrasto, História das plantas 1.5.3, 1.9.4,
3.18.1-3, 3.18.12, 5.9.7.
300
Vide supra 3.13.1 e nota respetiva.
301
Vide supra 3.1.4 e nota respetiva.
111
Descrição da Grécia
302
Vide supra 3.11.2 e nota respetiva.
303
Vide supra 3.2.4 e nota respetiva.
304
Febeu relaciona-se muito provavelmente com um culto de Febo
(vide infra 3.20.2; cf. Heródoto 6.61.3). Terapne era uma povoação do
lado ocidental do vale do Eurotas, cujo nome, segundo a tradição, pro-
viria de uma filha de Lélex. Ficou conhecido por lá ter sido construído
um templo de Menelau (o Meneláion) onde, ao que se dizia, estavam
sepultados Menelau e Helena.
305
Ou seja, Ares. Eniálio, uma designação micénica do deus, tor-
nou-se, em época clássica, num epíteto.
306
Epíteto de Hécate.
112
Pausânias
307
Vide supra 3.8.2 e nota respetiva.
308
Álcman refere Álcimo e Enársforo no fr. 1 Page.
309
Álcman participou, como poeta lírico, na fase de grande proje-
ção artística vivida por Esparta entre os séc. VII-VI a.C. Celebrizou-se
em particular pela composição de partheneia, cantos para donzelas, de
que sobreviveu o Grande Partenéion (fr. 1 Page). Nos partheneîa eram
celebrados os encantos das jovens da aristocracia. Calame (2018) 183
amplia o espetro de influência da poesia de Álcman: “A atividade de
Álcman como compositor e mestre de coros, conhecida essencialmente
através do que sobreviveu dos partheneîa, está associada a cada um dos
grandes momentos das festas e cultos que marcavam o ritmo da vida
política e social de Esparta. Vimos como a poesia de Álcman era usada
nas Gimnopédias, para iniciar os guerreiros. Vários dos seus poemas,
infelizmente muito fragmentários, referem-se também aos Dioscuros,
Castor e Pólux”. Sobre o pouco que os fragmentos conservados nos
113
Descrição da Grécia
312
Vide supra 3.1.7 e nota respetiva. Sobre Tisâmeno, vide supra
2.18.7, 3.1.5.
313
Vide supra 3.1.7-8 e nota respetiva.
314
Vide supra 3.13.9 e nota respetiva.
315
Vide supra 3.14.9 e nota respetiva.
316
Vide supra 1.22.4 e nota respetiva.
317
Lésche é a designação para um lugar público de encontro, reunião
ou convívio. Diferentemente do que acontece com a Stoá Poikíle de
Atenas que Pausânias descreve com alguma minúcia, não adianta, sobre
esta Lésche, mais do que o nome, eventualmente por a sua decoração
lhe não parecer digna de registo. Musti, Torelli (2008) 221 admitem
115
Descrição da Grécia
323
Flower (2018) 434 chama a atenção para a raridade com que
Afrodite é representada armada e considera esta versão típica de um
entendimento espartano da divindade.
324
De Helena, responsável de adultério e causadora da Guerra de
Troia, e de Clitemnestra, também ela traidora do marido, Agamémnon,
a quem assassinou no regresso da guerra.
325
Ou seja, as Leucípides, que despertaram o interesse de Castor e
Pólux e foram por eles raptadas. Sobre os traços essenciais deste mito,
vide Baldassi (2018) 4-23. Sobre a relevância da informação proporcio-
nada por Pausânias quanto à antiguidade deste mito, escreve a mesma
autora (7): “Segundo Pausânias, o rapto das Leucípides era narrado nos
Cypria (provavelmente do séc. VII a.C.). Atesta também que a mesma
cena aparecia na decoração de um certo número de edifícios arcaicos,
tal como o templo de Atena em Esparta, o trono de Apolo em Amiclas,
o templo dos Dioscuros em Argos e o Anakeîon em Atenas”. Calame
(2018) 183 sublinha como o seu ascendente, simultaneamente divino
117
Descrição da Grécia
326
331
Ou seja, os Dioscuros.
332
Planta identificada como Ferula tingitana L. Esta era uma
espécie própria de planaltos, cujo principal produtor era a região da
Cirenaica, na Líbia. Da sua importância para a economia da região fala
o facto de o sílfio figurar nas suas moedas. Heródoto (4.169, 4.192) refe-
re-se-lhe a propósito da fundação de Cirene, empreendida por colonos
de Tera (cf. Heródoto 4.147-158; vide supra 3.15.6), c. 631 a.C. Mas a
proposta de Teofrasto (História das plantas 6.3.3) indica uma fundação
um pouco mais tardia, c. 611 a.C. Esta região do norte de África gozou
de uma grande prosperidade, como produtora de cereais, lã, azeite e
sobretudo sílfio. A sua popularidade na Atenas clássica é testemunhada
pela insistência com que a comédia se lhe refere; cf. Aristófanes, Cava-
leiros 895, Aves 534, 1582, Mulheres na assembleia 1171, Pluto 925.
333
O nome de Quílon (séc. VI a.C.) figurava entre os dos Sete
Sábios (cf. Heródoto 1.56.3). Era conhecido pelo pragmatismo e pela
piedade. Diógenes Laércio 1.68 parece sugerir que ele fosse responsável
pela criação do eforato, ou que o tenha reformado, com o que contri-
buiu para a estruturação do governo e da sociedade espartanos. Musti,
Torelli (2008) 224 não hesitam em chamar-lhe “o grande protagonista
119
Descrição da Grécia
337
Vide supra 3.2.4 e nota respetiva.
338
Vide supra 3.1.6-7 e nota respetiva.
339
Vide supra 3.3.2 e nota respetiva.
340
Cf. Heródoto 8.2.1-2, em que são alistados os povos que comba-
teram no Artemísio; a propósito do comando de Euribíades, Heródoto
escreve: “O comandante em chefe das forças navais, Euribíades, filho
de Euriclides, foi indigitado pelos Espartanos. É que os aliados fizeram
saber que, se o Lacónio não fosse o comandante, rejeitariam a chefia dos
Atenienses”; em 8.42.2, Heródoto abona ainda que, embora não perten-
cendo à família real espartana, normalmente encarregada do comando
das tropas, Euribíades manteve a mesma prerrogativa em Salamina; cf.
8.74.2; por fim, em 8.124.2, Heródoto complementa a informação com
as honras que os Espartanos lhe concederam em reconhecimento do seu
feito, ao mesmo nível das concedidas ao ateniense Temístocles, ambos
louvados pela sua determinação e astúcia.
341
Cf. Heródoto 6.69.3.
342
Cf. Ogden (2007) 237-8, que identifica o culto de Orthía como
patrocinador da transição da adolescência para a vida adulta. Acrescenta
ainda que a identificação de Orthía com Ártemis é tardia. E especula
sobre a interpretação dada ao qualificativo, como correspondente a uma
divindade que garante o crescimento “correto, direito”. O santuário de
Ártemis Órtia situava-se junto do Eurotas.
121
Descrição da Grécia
343
Vide supra 1.23.7, 1.33.1 e notas respetivas.
344
Anaítis era uma deusa persa patrocinadora da fertilidade e da
procriação.
345
Vide infra 8.46.3.
346
Esparta não era uma cidade com a estrutura urbana existente
em outras cidades. Resultava de um agrupamento de povoações (obaí,
Limnas, Cinosura, Mésoa, Pítane, Amiclas), também elas agrupadas
por um sistema de sinecismo; cf. Tucídides 1.10.2.
122
Pausânias
347
Este teste à resistência dos jovens, que já representava um avanço
instalado em época helenística, é também referido por Plutarco, Vida
de Licurgo 18.1, Cícero, Tusculanas 2.6.
348
Esta era uma antiga fortaleza de Tebas, que ascendia a c. 1400
a.C. Veio a ser destruída, em 335 a.C., por Alexandre da Macedónia,
no seu ataque à Grécia, e reconstruída posteriormente (c. 316 a.C.) por
Cassandro. A tradição atribuía a sua construção ao fundador mítico da
cidade, Cadmo (vide supra 2.6.2 e nota respetiva).
349
Vide supra 2.24.1 e nota respetiva.
123
Descrição da Grécia
350
Será oportuno citar Tucídides 1.10.2 a propósito da arquitetura
urbana de Esparta: “... a cidade não tem templos nem edifícios sump-
tuosos e não está construída de forma conjunta; antes é formada por
aldeias dispersas à maneira antiga da Grécia”. Quanto ao “templo de
bronze”, cf. Tucídides 1.128.2; vide ainda Gagliano (2015) 81-112. Sobre
a designação deste templo, Calonge Ruiz, Torres Esbarranch (1990) 339
especulam: “A denominação Calcieco pode ser diversamente interpre-
tada; podia dever-se ao bronze do templo, das portas ou do telhado,
ou à estátua da deusa. É, no entanto, provável que reflita uma antiga
relação de época micénica entre Atena e a classe dos artistas do bronze”.
Cavanagh (2018) 67 sublinha que, “embora os Espartanos tivessem
conhecimento da arquitetura em pedra e da ordem dórica, tinham um
gosto particular por traçados insólitos de edifícios (como o Meneláion, o
trono de Apolo em Amiclas, Atena Chalkíoikos), explorando um design
intrincado e materiais de valor (bronze, marfim, ouro), ainda que em
pequena escala”.
351
Vide supra 2.22.6 e infra 3.18.5.
352
Trata-se de um artista do bronze, de finais do séc. VI a.C., autor
também de três trípodes de Amiclas; vide infra 3.18.5. Era ainda de sua
autoria a estátua que se encontrava no templo de Atena Chalkíoikos,
como Pausânias aqui testemunha.
124
Pausânias
353
Ou seja, além dos que lhe foram encomendados por Euristeu.
É o caso, por exemplo, do homicídio dos filhos de Hipocoonte (vide
supra 2.18.7).
354
Vide supra 3.13.1 e nota respetiva. Além desta representação,
Pausânias refere ainda a presença do mesmo motivo no trono de Apolo
em Amiclas (vide infra 3.18.11).
355
Vide supra 1.20.3.
356
Vide supra 1.22.7, 2.21.6-7 e notas respetivas.
357
Vide supra 2.24.2 e nota respetiva.
358
A primeira em 407 a.C. e a segunda em 405 a.C. Sobre a
vitória obtida por Lisandro em Éfeso, vide Plutarco, Vida de Lisandro
5.1-2; sobre a sua intervenção em Egospótamo, vide supra 3.8.6 e nota
respetiva.
125
Descrição da Grécia
359
Nesta aceção a deusa era representada com armas, de modo
equivalente ao deus Ares. Atena e Zeus usavam o mesmo epíteto.
360
As únicas referências a este artista são-nos dadas por Pausânias.
Vide infra 6.4.4, onde se diz que era discípulo de Euquiro de Corinto e
que, por sua vez, se tornou mestre de Pitágoras de Régio.
361
Vide supra 2.15.1, 2.22.5.
362
C. 368 a.C. Esta foi a segunda mulher a conquistar uma vitória
olímpica, depois da sua compatriota Cinisca, vencedora em 392 a.C.
(vide supra 3.8.1-2 e nota respetiva).
363
Vide supra 1.13.4, 3.4.9 e notas respetivas.
364
Cf. Heródoto 9.60-88, Tucídides 1.94-5.
126
Pausânias
365
Anos depois do termo das Guerras Pérsicas e da vitória de
Plateias, Pausânias comandou uma armada em direção à Ásia (c. 478
a.C.), com o intuito de ocupar territórios importantes para os inte-
resses persas, caso de Chipre e Bizâncio. A ameaça persa continuava,
naturalmente, latente. Mas caraterísticas do seu génio, motivadoras de
fricções com os homens sob seu comando, levaram a que fosse suspenso
de funções e intimado a regressar a Esparta. Pouco tempo depois do
regresso, foi eliminado sob acusação de traição: ou de ter conspirado
com os hilotas em desfavor dos interesses do poder espartano, ou de ter
negociado com o rei persa, o velho inimigo da Grécia.
366
O templo era conhecido como lugar de refúgio para suplicantes,
ainda que perseguidos como criminosos. Pausânias foi acusado de ter
conspirado com Xerxes e de ter fomentado uma sublevação de hilotas.
Perante a possibilidade de ser preso, fugiu a refugiar-se no Chalkíoikos.
Mas os éforos deram ordem para o manterem lá fechado até morrer
de fome (c. 470 a.C.). Mais tarde, conscientes de que tinham violado
a regra de proteção aos suplicantes e incorrido na punição de Zeus
Hicésio, consultaram o oráculo de Delfos. Este ordenou-lhes que levas-
sem o túmulo de Pausânias para dentro do templo e dedicassem dois
corpos em vez de um à deusa. Foi por isso que erigiram duas estátuas
de Pausânias ao lado do altar de Atena. Tucídides 1.128-34 faz um
relato minucioso deste episódio. Gagliano (2015) 82 valoriza o facto de
o registo sobre este templo ter mais a ver com a sua intervenção política
do que propriamente com o culto nele executado.
127
Descrição da Grécia
367
“Protetor dos criminosos arrependidos”.
368
Sacerdotes que, com rituais propiciatórios, evocavam os mortos.
369
Epidôtes era a designação de um “espírito” (daímon) da puri-
ficação, que acalmava a ira de Zeus Hicésio. Em Delfos, funcionava
de acólito de Apolo e presidia aos rituais de purificação destinados a
eliminar a poluição causada por um crime.
370
Ilíada 14.231, 16.672.
371
Um lugar do lado norte de Esparta.
372
Este episódio é narrado em pormenor por Plutarco, Vida de
Lisandro 11. Aí se abona a reação desfavorável que a constituição elabo-
rada por Licurgo provocou entre a classe mais abonada, a ponto de o
128
Pausânias
376
Ou seja, a estátua da deusa raptada de Creta foi objeto de um
culto em Esparta, de que Cnageu se tornou epónimo.
377
Vide supra 1.17.5-6, 1.41.5.
378
Sobre a localização de Amiclas, a escassos quilómetros a sul
de Esparta, na margem direita do Eurotas, cf. Políbio 5.18-9. Sobre a
edificação desta cidade pelo rei de Esparta com o mesmo nome, vide
supra 3.1.3.
379
Fr. 62 Page.
380
A longa descrição dedicada a Amiclas abona da sua monumen-
talidade. São sobretudo “dignos de se ver” o trono obra de Báticles e a
estátua de Apolo Amicleu. Vlachou (2017) 31 descreve assim a imagem
do deus: “A estátua de Apolo tinha dimensões colossais, dando a ideia
de um pilar de bronze a que se acrescentaram um rosto, mãos e pés; nas
mãos segurava uma espada e um arco”. E quanto ao trono, acrescenta
(41): “De acordo com a descrição de Pausânias (III 19), em vez de um
templo um enorme trono dominava a colina, no meio do qual se encon-
trava um altar, que dava acesso ao túmulo de Jacinto e à estátua em
130
Pausânias
386
Nafissi (2020) 1 afirma, em termos gerais, a propósito da deco-
ração do trono: “A decoração – na minha opinião esculpida em pedra
– estava claramente dividida em três partes. No exterior, podiam ver-se
vinte e cinco cenas, catorze no interior (...) e, por fim, na base da estátua
colossal, havia relevos”.
387
Tífon é referido em Ilíada 2.783; por sua vez Hesíodo, Teogonia
297-300 faz uma descrição minuciosa de Equidna: “Na cavidade de
uma gruta nasceu a divina Equidna, de espírito violento. O seu corpo
é metade mulher, de belas faces e olhos luzentes, e metade uma enorme
serpente, tão terrível quanto grande, matizada, cruel, moradora das
profundezas insondáveis da terra”; cf. Teogonia 304-8, 820-1, 869. Da
união de Tífon – “um bandido terrível e sem lei” – com Equidna nasceu
uma descendência de monstros.
388
Os Tritões são criaturas marinhas, misto de homem e peixe. Cf.
Teogonia 930-3: “De Anfitrite e do tonitruante Sacudidor da terra, nas-
ceu o grande e poderoso Tritão que, nas profundezas marinhas, junto
da mãe e do nobre pai, habita um palácio de ouro, divindade terrível”.
389
Trata-se de duas das Plêiades, as sete filhas de Atlas e da ninfa
Plêione. Da união com Zeus, Taígete tornou-se mãe de Lacedémon
(vide supra 3.1.2). Sobre Alcíone e a sua união com Posídon, vide supra
2.30.8, Apolodoro, Biblioteca 3.10.1.
390
Cf. Graves (1977) II.197. Cicno, filho de Ares, costumava desa-
fiar os seus hóspedes para travarem com ele uma competição de carros
de cavalos. Sempre vencedor, Cicno degolava-os e usava os despojos
para decorar o templo do pai. Desagradado com Cicno, que costumava
desviar cabeças de gado enviadas em sacrifício a Delfos, Apolo incitou
Héracles a enfrentá-lo. Com a ajuda de Atena e de Iolau, no papel de
132
Pausânias
cocheiro, o herói conseguiu vencer o inimigo, por sua vez apoiado pelo
próprio deus Ares.
391
Vide Finglass 2021: 139. Esta é uma aventura provavelmente
situada na Arcádia, no regresso de Héracles da vitória sobre Gérion,
que Simónides relatava num poema perdido, intitulado Geroneida;
cf. Apolodoro, Biblioteca 2.5.4, Diodoro Sículo 4.12. Relata Finglass:
“Quando Folo destapa um jarro de vinho particularmente aromático,
chama a atenção dos outros Centauros, que Héracles tem de enfrentar
com fogo e flechas. Deste conflito resulta a morte involuntária de Quí-
ron e do próprio Folo, que Héracles sepulta antes de prosseguir viagem.
Por outro lado, o episódio de Folo é mais vulgarmente associado com
um outro trabalho, a caçada que Héracles desencadeou do javali de
Erimanto” e, nesse caso, anterior à aventura no extremo ocidente.
392
Vide supra 1.27.10.
393
Os poemas homéricos são também fonte de inspiração para
a decoração do trono. A excelência dos Feaces como bailarinos e de
Demódoco, o aedo da corte de Alcínoo, como cantor é também rela-
cionada em Odisseia 8.250-5, 261-367, 8.370-84.
394
Sobre a vitória de Perseu contra a Medusa, vide supra 2.21.5,
2.27.2 e notas respetivas. Perseu, a par de Héracles, Teseu e Belerofonte,
compõe o conjunto de heróis pan-helénicos presentes no Trono.
395
Um gigante desconhecido, mas Túrio é um epíteto lacónio de
Ares.
396
Êurito é um dos filhos de Hipocoonte e sobrinhos de Tíndaro,
que o despojaram do trono. Vide supra 3.1.4.
397
Vide supra 3.13.1 e nota respetiva.
398
É interessante o comentário feito por Musti, Torelli (2008) 240 a
propósito desta referência: “O texto de Pausânias, com esta prolepse dos
nomes dos protagonistas, sublinha o efeito de ‘par lógico’, destas duas
133
Descrição da Grécia
404
Mémnon contava-se entre os aliados dos Troianos mortos por
Aquiles (cf. Píndaro, Olímpica, 2.82, Ístmica, 5.39-41). Ésquilo foi autor
de um Mémnon e de uma Psychostasía (Pesagem das almas), inspiradas
num tema épico, fonte muito da sua preferência. Já Homero (Ilíada
22.209-213) tinha colocado na mão de Zeus uma balança para avaliar
dos destinos de Aquiles e Heitor. Ésquilo teria, segundo Plutarco,
Questões Morais 16f-17ª, aproveitado o motivo na sua Psychostasía (Pesa-
gem das almas), onde Tétis e a Aurora, profundamente angustiadas,
assistiam à pesagem das almas dos respetivos filhos, procurando saber
qual deles morreria em primeiro lugar (cf. Taplin (1977) 431-2). De
facto, se Aquiles sai vencedor no duelo e mata Mémnon, ele próprio
está condenado a morrer em breve. Nafissi (2020) 6 comenta a pro-
pósito: “Pode pôr-se a hipótese de que o Trono proponha, neste caso,
uma meditação sobre o destino, a dor e a morte, na sua relação com a
imortalidade e apoteose”.
405
Diomedes, rei da Trácia, habitava as costas do Mar Negro e
era famoso pelas éguas devoradoras de homens que possuía e a quem
abundantemente alimentava com a carne dos seus hóspedes. Roubar-lhe
esses animais que, depois de devorarem o próprio dono, se pacificaram,
foi o oitavo trabalho de Héracles. Cf. Graves (1977) II.122-4.
406
O Centauro Nesso, filho de Ixião e Nefele (a Nuvem), foi
morto por Héracles por ter tentado violar Dejanira, depois de a ter
transportado na travessia do rio Eveno. Como vingança, Nesso, antes
de morrer, aconselhou a jovem a recolher um pouco do seu sangue e
assegurou-lhe tratar-se de um elixir que lhe garantiria a fidelidade do
herói. Foi quando Héracles tomou Ecália e se apaixonou por Íole que
Dejanira impregnou uma túnica com o veneno do Centauro e o matou.
Sófocles tomou este mito como assunto para Traquínias.
407
Este é o célebre julgamento de beleza das deusas – Hera, Atena e
Afrodite -, ocorrido no monte Ida, junto a Troia, e arbitrado por Páris
Alexandre, surpreendido pela chegada das três beldades que Hermes
acompanhava. Deixando-se subornar por Afrodite, que lhe prometia a
mais bela mulher do mundo, Páris foi o causador da Guerra de Troia,
como aliás um oráculo tinha predito desde que ele nasceu. Este é um
tema frutuoso na literatura, nomeadamente na tragédia de Eurípides,
onde ocorre com frequência; cf. e.g., Andrómaca 274-92, Hécuba 644-6,
135
Descrição da Grécia
Helena 357-9, 676, 678, Ifigénia em Áulis 180 sqq., 573 sqq., 1284-309.
Mas da sua antiguidade é testemunha uma referência da Ilíada 24.29-
30. Vide ainda Walcot (1977).
408
Sobre Adrasto e Tideu como membros da campanha dos Sete
contra Tebas, vide 1.8.2 e nota respetiva. Não há versões literárias que
testemunhem o duelo entre Anfiarau e Licurgo, que poderá estar rela-
cionado com o mito de Hipsípila. Furiosas contra Hipsípila, que tinha
poupado seu pai Toas à matança que as mulheres de Lemnos perpetra-
ram contra todos os homens da ilha, a jovem viu-se expulsa juntamente
com os filhos. Capturados por piratas, todos foram vendidos a Licurgo,
rei de Némea. Encarregada de cuidar do filho do monarca, Ofeltes,
Hipsípila, enquanto indicava uma fonte aos guerreiros atacantes de
Tebas, descuidou-se e permitiu que a criança fosse trucidada por uma
serpente (sobre este mito, vide supra 2.15.2 e nota respetiva). Licurgo
quis então vingar-se de Hipsípila, do que foi impedido por Adrasto,
comandante da expedição.
409
Sobre Io, vide supra 1.25.1 e nota respetiva.
410
Sobre este episódio mítico de tradição ática, vide supra 1.2.6 e
nota respetiva.
411
Sobre a Hidra de Lerna, vide supra 2.37.4 e nota respetiva; sobre
o rapto de Cérbero, o cão do inferno, vide supra 2.31.2 e nota respetiva;
Graves (1977) II.107-10, 152-8 respetivamente.
412
Filhos dos Dioscuros.
413
Vide supra 2.18.6 e nota respetiva.
414
Vide supra 2.1.9 e nota respetiva.
415
Sobre este considerado o décimo trabalho de Héracles e a sua
representação na literatura e nas artes, vide Graves (1977) II.132-44,
Finglass (2021). A primeira menção a este ‘trabalho’, certamente com
136
Pausânias
uma tradição anterior, é feita por Hesíodo, Teogonia 287-94. Como neto
de Medusa, o próprio Gérion era também um monstro de três cabeças,
habitante de remotas paragens a ocidente. A eliminação de Gérion por
Héracles tornou-se um motivo popular na arte grega na sua fase arcaica,
séc. VII-VI a.C. Apolodoro, Biblioteca 2.5.10 e Diodoro Sículo 4.17.1-
4.25.1 dão um testemunho significativo dos pormenores deste mito.
416
Para além dos motivos míticos, Báticles representou-se a si pró-
prio e aos seus colaboradores.
417
Sobre a luta de Héracles contra o javali de Cálidon vide supra
1.27.6 e nota respetiva. Os filhos gémeos de Actor, rei da Ftia, eram
Eurícion e Ctéato, conhecidos pela sua força. Augias, rei de Elis, recor-
reu a eles, seus sobrinhos, na resistência contra Héracles, na divergência
que surgiu depois da limpeza dos seus estábulos, o quinto trabalho do
herói, que Augias se recusou a compensar como combinado. Sobre a
articulação deste motivo com o seguinte, protagonizado por Cálais e
Zetes, Musti, Torelli (2008) 243-4 escrevem: “O primeiro par, Héracles
e os filhos de Actor, Eurícion e Ctéato, e Cálais e Zetes e as Harpias,
caraterizam-se por estreitas simetrias ou polaridade: os protagonistas
(respetivamente negativos e positivos) são gémeos, o objeto é a liber-
tação de uma passagem obrigatória (terrestre e marítima), o pano
de fundo é o mar (descendentes de Posídon os Actóridas, passagem
marítima para as Harpias)”.
418
Fineu, filho de Agenor, era rei da Trácia. Por ser demasiado
agudo na capacidade profética, os deuses puniram-no com a cegueira.
Passou a ser perseguido pelas Harpias, que lhe roubavam ou conspur-
cavam a comida e o puseram à beira da morte. Foi então que Cálais
e Zetes, filhos de Bóreas, integrados no grupo dos Argonautas, o
libertaram, expulsando as perseguidoras para as ilhas Estrófades. Em
137
Descrição da Grécia
428
Vergara Cerqueira (2019) 194 considera esta porta um acesso ao
interior da tumba, como seria próprio dos cultos a divindades ínferas.
Durante as Jacíntias, entrava-se no túmulo para oferecer sacrifícios
próprios aos mortos, adequados ao culto heroico.
429
Ou seja, Íris, a mensageira dos deuses.
430
Vide supra 1.42.7 e nota respetiva.
431
Musti, Torelli (2008) 246 consideram esta enumeração de divin-
dades, constituindo uma assembleia, como a imagem da receção divina
aos dois irmãos, Jacinto e Polibeia. Este quadro de ascensão ao Olimpo
corresponde, de certa forma, a igual ascensão de Héracles ao convívio
dos imortais (vide supra 3.18.11, 3.19.5). A disposição das divindades é
coerente com os seus atributos, primeiro os deuses marinhos, depois os
dos infernos e, por fim, os celestes. Com Dioniso, um deus relevante
em Amiclas, estão a mãe, Sémele, e a ama, Ino. As Meras e as Horas
marcam, entre os diversos estatutos divinos, o destino e o tempo.
Musti, Torelli (2008) 247, registando a visibilidade pouco comum de
Polibeia, justificam a sua inclusão como o meio de integrar no culto e
nas celebrações das Jacíntias, ao lado do elemento masculino, também
o feminino. Sobre Polibeia, vide Vergara Cerqueira (2019) 194-5. Este
autor salienta, a par da afinidade entre Jacinto e Apolo, a que relaciona-
ria Polibeia com Ártemis, “enquanto pares de irmãos”.
432
Sobre a simbologia deste pormenor, vide Vergara Cerqueira
(2019) 196-7: “Jacinto com barba, daí, presumivelmente adulto, em
contraste com a imagem geral de um erômenos, um efebo que se pre-
sumiria imberbe”.
140
Pausânias
433
Pintor ático, contemporâneo e colaborador de Praxíteles, da
segunda metade do séc. IV a.C. (cf. Plínio, História Natural 35. 40).
434
As filhas de Téstio eram Leda (vide supra nota 331, 3.13.8) e
Hipermnestra, mãe de Anfiarau (vide supra 3.12.5 e nota respetiva).
435
Vide supra 3.1.3 e nota respetiva.
436
Apesar da resistência oposta pelos seus cidadãos, a cidade acabou
tomada por Tisâmeno (c. 750 a.C.); vide supra 3.2.6.
437
Vide supra 2.16.6 e infra 3.26.5.
438
Vide supra 3.14.9 e nota respetiva.
439
Sobre o importante culto de Atena Álea em Tégea, vide supra
3.5.6 e nota respetiva.
141
Descrição da Grécia
440
Pausânias inspira-se na similitude que há entre Téritas e theríon,
“fera”.
441
Ilíada 24.41.
442
Vide supra 3.1.1.
443
Cf. supra nota 132.
444
Tlepólemo, filho de Héracles, viu-se condenado ao exílio por ter
morto Licímnio, seu tio, e veio a tornar-se rei de Rodes, onde fundou
as principais cidades, Lindos, Camiro e Iáliso. Foi um dos pretendentes
de Helena e acabou morto por Sarpédon na Guerra de Troia (cf. Ilíada
2.653-70). Vide Diodoro Sículo 4.58-9. Sobre Nicóstrato e Megapentes,
filhos de Menelau, vide supra 3.18.13.
142
Pausânias
445
Esta era uma das versões da morte de Helena.
446
À tradição de Helena juntam-se agora versões da Magna Grécia,
narradas por colonos como os habitantes de Crotona e de Hímera.
447
Danúbio.
448
Segundo a tradição, Aquiles teria sido sepultado na ilha de
Leuce.
449
Vide supra 3.3.1-2 e nota respetiva.
450
Este Ájax, rei dos Locros, também conhecido como ‘segundo
Ájax’ para o distinguir do filho de Télamon (vide supra 1.5.2 e nota
respetiva) com o mesmo nome, teve, mesmo assim, um papel relevante
na Guerra de Troia. Em combate, os Lócrios tinham por hábito pre-
servar um espaço nas suas fileiras em honra de Ájax, seu compatriota,
convencidos de contarem com o apoio do herói. Foi por esse espaço
que Leónimo, num combate entre Locros e Crotoniatas, quis penetrar,
acabando ferido pelo fantasma do velho guerreiro. Como o ferimento
143
Descrição da Grécia
460
Cf. Ilíada 2.583.
461
Ao contrário da sua preferência habitual pela paisagem cons-
truída, neste caso Pausânias preocupa-se em insistir na descrição do
ambiente natural do Taígeto, uma das montanhas mais abruptas da
Grécia, estabelecendo uma fronteira entre a Lacónia e a Messénia.
462
Fratura no texto. Musti, Torelli (2008) 255 imaginam que uma
ideia do tipo “observava as caçadas da filha, Ártemis” teria sentido a
preencher esta lacuna.
463
Vide supra 3.19.7.
464
Vide supra 1.28.3 e nota respetiva.
146
Pausânias
465
Cf. Ilíada 2.584. O nome da cidade alude a “pântano”. Referem-
-se-lhe também Tucídides 4.54.4, Xenofonte, Helénicas 6.5.32.
466
Cf. Apolodoro 2.4.7, Estrabão 8.5.2.
467
Cf. Ilíada 2.684. Sobre as designações de Hélade e Helenos,
vide Ferreira (1983), (2005) 15-42. Ferreira (2005) 17-8 sistematiza a
ideia de que, embora a designação homérica para Gregos seja sobre-
tudo Aqueus, a par de Argivos e Dánaos (cf. Tucídides 1.3.3), mesmo
assim o etnónimo Helenos aparece registado em Ilíada 2.684, a
designar um povo subordinado ao comando de Aquiles. O topó-
nimo Hélade tem um uso mais frequente na épica homérica: cf.
Ilíada 2.683, 9.395, 9.447, 9. 478, 16.595. E acrescenta Ferreira em
uníssono com Pausânias: “tem sido interpretado em todas elas como
designando uma parte da Tessália pertencente ao reino de Aquiles,
precisamente o sítio onde habitavam os Helenos”; para de seguida
ampliar: “as ocorrências em Ilíada 9. 447 e 478 – (...) – parecem pres-
supor que, na Ilíada, esse topónimo designaria já uma ampla zona que
englobava pelo menos parte da Beócia, a Lócrida oriental e parte da
Tessália”.
147
Descrição da Grécia
468
Vide supra 3.11.2 e nota respetiva.
469
Ou seja, a fundação do templo que homenageava Aquiles atri-
buía-se a um seu bisneto, Prax. Seu pai Pérgamo era considerado filho
de Neoptólemo e Andrómaca. Após a morte de Heleno, um dos filhos
de Príamo, seu tio e padrasto Pérgamo atravessou para a Ásia onde veio
a fundar a cidade que usava o seu nome.
470
Com este juramento, sugerido por Ulisses, a que vinculou alguns
dos mais prestigiados heróis da Grécia, Tíndaro pretendia evitar melin-
dres e garantir a paz entre o eleito e os concorrentes preteridos. Cf.
Hesíodo, Catálogo de Mulheres fr. 155.78-85.
471
Este epíteto está associado com as coroas, stémmata.
472
Vide supra 3.12.1.
148
Pausânias
473
C. 440 a.C.
474
Sobre esta lista dos campeões olímpicos informa Plutarco, Vida
de Numa 1.6: “É difícil calcular datas com exatidão, sobretudo se se
quiser fazê-las concordar com a lista dos vencedores olímpicos, cuja
redação feita, ao que se diz, tardiamente por Hípias de Eleia não se
apoia sobre qualquer documento confiável”.
475
Sobre Égio, vide supra 3.12.7. Vitória alcançada em 280 a.C.; vide
supra 2.19.7, infra 8.12.5, 10.23.14.
476
Vide supra 3.1.4. Sobre estas diversas povoações arcaicas da
Lacónia (séc. X a.C.), vide Powell (2018) 62.
149
Descrição da Grécia
477
Esta cidade, situada na zona noroeste da Lacónia, fronteiriça
com a Arcádia, foi – embora esta versão não mereça a concordância de
Pausânias – disputada entre as duas regiões; vide infra 8.35.4.
478
Vide supra 2.3.5 e nota respetiva.
479
Ilíada 2.583.
150
Pausânias
480
“Lacónios livres”. Este processo de libertação de escravos
aconteceu em 21 a.C.; segundo Lafond (2018) 408‑9, representou prova-
velmente um gesto de reconhecimento de Augusto para com as cidades
do litoral da Lacónia, pelo apoio que lhe tinham dado na batalha de
Ácio. As cidades libertadas passaram a constituir uma confederação.
481
Primeira não apenas na enumeração, mas também em importân-
cia, como porto e arsenal de Esparta, na foz do Eurotas. Por isso merece
a Pausânias uma descrição mais pormenorizada do que as restantes;
vide infra 3.21.8.
482
Situada nas proximidades de Pírrico e não longe do cabo Ténaro,
teria sido fundada por um ateniense de nome Teutras. Como referências
da cidade são mencionados a fonte Naia e um culto de Ártemis Isória;
vide infra 3.25.4.
483
Enquanto Gítio, o porto de Esparta situado próximo da embo-
cadura do Eurotas, era artificial, Lás era uma zona portuária natural, a
sul de Gítio e na costa do golfo da Lacónia.
484
Esta última também costeira, mas voltada para o golfo da Mes-
sénia tal como Étilo e Tálamas.
485
Estas eram duas cidades próximas, na região do golfo da Mes-
sénia. Segundo a tradição, Gerénia foi a cidade para onde Nestor se
retirou depois que Héracles conquistou Pilos. Macáon, filho de Asclé-
pio, tinha lá o seu túmulo e uma estátua.
151
Descrição da Grécia
486
Asopo, Ácrias e Beas na costa leste do golfo da Lacónia; todas as
seguintes na faixa oriental da Lacónia.
487
Vide Tucídides 6.105.2.
488
A soberania sobre esta cidade oscilou entre a Lacónia (séc.
VI-III) e, a partir de então, a Argólida. Tucídides (2.56.6, 6.105.2)
refere-se-lhe como vítima de uma primeira investida destruidora
comandada por Péricles, em 431 a.C., e de uma segunda, anos mais
tarde (414 a.C.), de novo pelos Atenienses. Sobre algumas tradições de
Brásias, vide infra 3.24.3-5.
489
Gerontras era uma cidade já habitada antes da chegada dos
Heraclidas ao Peloponeso, que acabou destruída, juntamente com Ami-
clas e Fátis, pelos Lacedemónios, na época de Téleclo. Em Gerontras
havia um culto forte a Ares, aí homenageado com um templo e um
bosque sagrado, que serviam de cenário a festejos anuais em honra do
deus. Vide infra 3.22.6-8.
490
Vide infra 3.22.8.
491
Declínio que deve ter acontecido sob domínio romano.
492
Ou seja, as seis que faltam às discriminadas para completar as
vinte e quatro: Citera, Cardamila, Túria, Faras, Cotirta, Hipola.
152
Pausânias
493
18.140-1.
494
A loucura de Orestes causada pelo matricídio era um tema
muito popular e presente na tragédia (Ésquilo, Euménides, Eurípides,
Ifigénia entre os Tauros, Orestes). Sobre o mesmo tema, vide supra 2.31.4,
2.31.8-9.
495
Forma dórica associada com καταπαύω, “cessar”, e correspon-
dente, no ático, a algo como καταπαύτης, “aquele que põe fim”.
496
Ilíada 3.443-5.
497
Sobre este culto em Haliarto, vide infra 9.33.3.
153
Descrição da Grécia
498
Cidade conquistada por Esparta, que está na origem do nome
dos hilotas.
499
Vide supra 2.22.3, onde Bróteas é referido como pai de Tântalo.
A comparação é feita com a estátua existente na Magnésia, junto ao
Sípilo; vide infra 5.13.7.
500
Vide supra 2.12.3.
154
Pausânias
501
Sobre Gerontras, Christien (2018) 622 reconhece a extraor-
dinária importância como ponto de comunicação para a Lacónia,
justificativa de uma particular importância administrativa. Confir-
ma-o a abundância de uma epigrafia local. É, portanto, muito natural
que Esparta controlasse permanentemente este local, ou mantivesse
residentes lá.
502
Pausânias refere-se agora ao extremo nordeste da Lacónia.
503
De novo na costa do golfo da Lacónia.
155
Descrição da Grécia
mento”.
156
Pausânias
506
Sobre este culto de origem fenícia e os lugares em que era mais
pujante, vide supra 1.14.7 e nota respetiva. A questão da antiguidade
relativa destes que são os principais cultos de Afrodite não coincide nos
testemunhos de Heródoto (1.105.2-3) e de Pausânias. Mas as referências
à “sagrada Citera” em Homero (Ilíada 15.432, Odisseia 9.81) são a prova
do prestígio da ilha e da antiguidade do culto.
507
Talvez porque, na tradição mítica, Citera fosse identificada com
o local de nascimento de Afrodite. A atestar a importância deste culto
está o epíteto de Citereia, usado e.g. por Camões, Os Lusíadas 1.34.1,
9.53.8 e 57.5.
157
Descrição da Grécia
508
A tradição que fazia de Delos o lugar do nascimento de Apolo
garantiu à ilha uma posição de relevo como centro de culto e, em con-
sequência do cruzamento de muitos peregrinos e das muitas oferendas
que, por seu intermédio, lá se aglomeravam, também como espaço com
vivacidade económica. Sem dúvida que a sua prosperidade, durante o
séc. V a.C., esteve muito ligada à história política e cultural de Atenas,
que presidia à Liga de Delos, que nela tinha sede. Com a derrocada
de Atenas no final do século, a ilha sofreu decadência equivalente.
O destino de Delos como santuário de referência na época clássica
veio a alterar-se com a ocupação romana. Por ter apoiado a Macedónia
contra os interesses de Roma, a ilha viu-se privada de autonomia em
167 a.C. Delos foi então declarada porto livre, onde o comércio se
processava sem impostos e de uma forma muito ativa. A destruição de
Corinto pelos Romanos em 146 a.C. veio ainda contribuir para reforçar
a importância comercial de Delos. Muitos dos produtos de origem
oriental apetecidos pela aristocracia romana transitavam por Delos.
Este foi um tempo em que o prestígio comercial da ilha ultrapassou a
sua tradição cultual.
509
Musti, Torelli (2008) 271-2 introduzem uma correção nesta
informação de Pausânias, de resto dissonante com outros testemunhos,
e pormenorizam a discussão gerada a respeito desta invasão. O saque
é geralmente atribuído a um outro general, Arquelau, em 88 a.C., e
não a Menófanes. Sobre o mesmo acontecimento, cf. ainda Apiano,
Mitridáticas 28.108.
510
No séc. I a.C., ao tempo do conflito de Roma com Mitridates,
rei do Ponto, Delos foi mais do que uma vez saqueada, o que marcou o
início da sua derrocada definitiva. A chamada Primeira Guerra Mitridá-
tica (89-85 a.C.) representou uma reação do oriente contra a hegemonia
158
Pausânias
513
Sobre a multiplicação dos cultos de Asclépio pelo mundo grego,
a partir de Epidauro, vide supra Livro II, nota 516.
514
Sobre o mito de Ino, cf. Higino, Fábula 4: “Átamas, rei da
Tessália, convencido de que Ino, a sua esposa – de quem tinha dois
filhos – tinha morrido, desposou Temisto, filha de uma ninfa e dela
teve filhos gémeos. Mais tarde veio a saber que Ino estava no Parnaso,
onde se entregava a ritos báquicos. Mandou buscá-la e, quando lha
trouxeram, prendeu-a. Temisto soube que ela tinha sido encontrada,
mas não a conhecia. Apostou-se então em lhe matar os filhos. Deu a
saber a sua intenção a Ino, que julgava ser uma cativa; recomendou-lhe
que vestisse os seus próprios filhos com vestes brancas e os de Ino com
negras. Mas Ino fez exatamente o contrário. Então Temisto, iludida,
matou os próprios filhos. Quando percebeu o erro, suicidou-se. Átamas,
em consequência, tomado de loucura, numa caçada atingiu o seu filho
mais velho, Learco; nessa altura Ino, com o filho mais novo, Melicertes,
lançou-se ao mar e foi feita deusa”. Eurípides dedicou a este mito uma
tragédia que intitulou Ino. Sobre outros cultos de Ino em diversas
povoações da Lacónia, vide infra 3.26.1, 3.26.4
515
Por efeito da ebulição vulcânica, o que se atirar para dentro da
cratera de um vulcão pode ser rejeitado. Este é, portanto, um ritual
também praticado na Sicília.
160
Pausânias
Cleómenes e Agesípolis não coincide nos dois passos, filho neste caso,
irmão no passo anterior.
161
Descrição da Grécia
517
Atalanta era conhecida justamente como caçadora da Arcádia,
uma protegida de Ártemis. Ter sido abandonada ao nascer, amamen-
tada por uma ursa e criada por caçadores contribuiu certamente para
essa identidade. Participou, com distintos heróis, na caça ao javali da
Calidónia (vide supra Livro I, nota 561) e na aventura dos Argonautas.
Segundo a tradição, numa tentativa de precaver a virgindade tinha por
hábito prometer casamento àquele que a vencesse na corrida; aqueles
que o tentavam sem resultado eram mortos. Até que Hipómenes, com
a intervenção de Afrodite, que lhe deu três maçãs de ouro para distrair
Atalanta, conseguiu vencer o desafio. Dessa união resultou Partenopeu,
um dos Sete atacantes de Tebas.
518
É bem conhecido o mito de Sémele, uma das filhas do rei de
Tebas, Cadmo, e uma das amadas mortais do deus supremo. Na versão
mais comum, Sémele, inspirada por Hera que pretendia eliminar a rival,
pediu ao amante divino que se lhe mostrasse em todo o seu esplendor
e foi fulminada. Foi então que Hermes lhe retirou do ventre o filho
que gerava para que a gestação se completasse na coxa paterna. Cf.
Graves (1977) I.56. Esta versão mencionada por Pausânias aproxima
a história de Sémele de outras célebres, como a de Dánae e Perseu.
Sobre a repercussão do mito de Sémele noutras partes do Peloponeso,
nomeadamente em Trezena ou Lerna, vide supra 2.31.2, 2.37.5.
162
Pausânias
519
Vide supra 1.42.7 e nota respetiva.
520
Sobre cultos de Aquiles existentes no Peloponeso, vide supra
3.20.8.
521
O mesmo tipo de pequenas estatuetas é referido adiante, 3.26.3.
Coribantes eram divindades secundárias de origem oriental, que, pouco
a pouco, se foram disseminando por toda a Grécia. Os ritos que os
homenageavam eram danças de ritmo frenético, acompanhadas de
instrumentos de percussão. As caraterísticas do seu culto promoveram
a associação com os Cabiros e Curetes. Assimilados a estes últimos,
funcionaram como protetores de Zeus por incumbência de Rea, quando
ainda criança. Musti, Torelli (2008) 275 interpretam este conjunto de
estátuas como representativas de “Atena acompanhada, à semelhança
do que sucede em Imbro e Samotrácia, pelos Cabiros, (...) protetores da
navegação e referidos em número variável, de três a nove”.
522
Vide supra 3.21.7 e nota respetiva. A comprovar a sua antigui-
dade está a menção que lhe é feita em Ilíada 2.585.
523
Sobre a forte influência homérica nas tradições, cultos e toponí-
mia desta região da Lacónia, vide Introdução.
163
Descrição da Grécia
524
Sobre a oportunidade do avanço de Filipe II sobre a Grécia e da
devastação causada, vide supra 3.7.11. A invasão da Lacónia por Filipe
II aconteceu em 337 a.C.; cf. Políbio 5.19.
164
Pausânias
525
Vide supra 3.19.13.
526
Sobre esta obra atribuída a Hesíodo, vide supra 1.3.1 e nota
respetiva.
527
Ilíada 1.158.
528
Ilíada 23.790.
529
Odisseia 11.627-31.
530
Se Teseu, de uma geração mais antiga do que Ulisses, tinha
raptado Helena, Aquiles seria demasiado jovem para se candidatar à
mão da beldade.
531
Sobre a ilha de Ciro, vide supra 1.17.6, 3.3.7 e notas respetivas.
Sobre o casamento de Pirro com Hermíone, vide Livro I, nota 208.
165
Descrição da Grécia
O impetuoso coreuta,
que o monte de Málea criou, esposo de Náiade,
Sileno.
532
Vide supra 3.21.7 e nota respetiva.
533
Pausânias hesita na etimologia do nome da cidade de Pirro. Ou
a relaciona com o nome de Pirro, o Eácida, ou com a dança pírrica dos
Curetes ou Coribantes (vide supra 3.24.5).
534
Vide supra 3.23.2.
535
Fr. 156 Snell-Maehler. Sobre Sileno, vide supra 1.23.5 e nota
respetiva.
536
Sobre a invasão da Grécia pelas Amazonas, vide supra 1.2.1, 1.41.7
e notas respetivas.
537
Vide supra 1.21.7 e nota respetiva.
166
Pausânias
538
Vide supra 3.14.2 e nota respetiva.
539
O cabo Ténaro é o ponto mais meridional da Grécia continen-
tal, separando os golfos da Lacónia do lado oriental e da Messénia,
a ocidente. Essa localização extrema sugeriu o mito de que Hades
habitava no Ténaro, tradição que Pausânias recusa com argumentos da
topografia local. Posídon, cujo culto estava muito disseminado pelas
ilhas e pelas regiões costeiras sobretudo do Peloponeso, era, no cabo
Ténaro, famoso. Este santuário gozava da prerrogativa de asilo (cf.
Tucídides 1.128.1). Sobre pormenores do culto e da história do Ténaro,
vide Plácido (1993) 127-35.
540
Cf. Píndaro, fr. 249ª Snell, Sófocles, Traquínias 1098; cf. ainda
Diodoro Sículo 4.25.4, Estrabão 8.363.
541
Vide supra 3.18.13 e nota respetiva.
542
FGrHist 1F 27.
543
Vide supra 3.7.7 e nota respetiva.
544
Ilíada 8.367-8 (“quando, por ordem de Euristeu, foi à mansão de
Hades, o Guardião, para lhe trazer do Érebo o cão do terrível Hades”),
167
Descrição da Grécia
nome específico, nem lhe atribuiu uma imagem, como fez com
a Quimera.545 Foram os que vieram depois quem lhe chamou
Cérbero; quanto a outros traços, imaginaram-no semelhante
a um cão e atribuíram-lhe três cabeças, mesmo se por “cão”
Homero não tivesse dito que se trata de um animal doméstico
ou de uma serpente chamada “cão de Hades”. 25.7. Existem no
Ténaro outras oferendas, caso de Aríon o citaredo, em bronze,
montado num golfinho. A história desse Aríon e do golfinho
é narrada por Heródoto no seu relato da Lídia, como a ouviu
contar.546 Há em Poroselene547 um golfinho que mostra grati-
dão, por ter sido curado 547por uma criança, depois de ferido por
pescadores. Eu mesmo vi esse golfinho, que respondia ao cha-
mamento da criança e a transportava fosse quando fosse que ela
quisesse montá-lo. 25.8. No Ténaro existe também uma fonte,
que hoje em dia não tem nada de espantoso; mas dantes, ao
que dizem, quem olhava para a água via portos e navios. Essas
visões teriam cessado quando uma mulher lá lavou roupa suja.
25.9. Do promontório do Ténaro, por mar, são qualquer
coisa como quarenta estádios até Cenépolis (Cidade nova).548
Dantes também ela tinha o nome de Ténaro. Lá existe um
mégaron de Deméter e, sobre o mar, um templo e uma imagem
de Afrodite, de pé e em mármore. A trinta estádios, fica Tírides,
um promontório do Ténaro, e as ruínas da cidade de Hípola,
onde se situa o santuário de Atena Hipolaítis. A pouca dis-
tância está a cidade e o porto de Messa.549 25.10. Desse porto
até Étilo550 são uns cento e cinquenta estádios. O herói que
deu o nome à cidade, de origem argiva, era filho de Anfíanax
551
Vide supra 2.19.1.
552
Vide supra 3.23.8, 3.24.4, infra 3.26.4.
553
Sobre o culto do Sol, vide supra 3.20.4. Pasífae (Selene, Lua) e
Hélios (Sol) constituem um par sagrado, com origem em Creta.
554
Esta é uma região que confina com a Messénia, sempre sujeita a
conflitos pela definição de fronteiras.
555
Fr. 23 Page.
556
Vide supra 3.21.2.
170
Pausânias
557
Certamente na sua qualidade de divindades protetoras dos
navegantes.
558
O pai das Leucípides, que desposaram Castor e Pólux.
559
Vide supra 2.26.7.
560
Vide supra 3.19.6. Nome que Lícofron, no séc. III a.C., daria ao
poema que dedicou a Cassandra.
171
Descrição da Grécia
561
Do monte Itome; vide supra 3.11.8 e nota respetiva.
562
Ilíada 9.150, 9.292. A cidade figura entre as ofertas a que
Agamémnon se diz disposto no sentido de apaziguar a cólera de Aquiles
e de o fazer regressar ao combate.
563
Esta conta-se entre as diversas medidas tomadas por Augusto
para favorecer Esparta. Vide infra 4.1.1, 4.30.2, 4.31.1-2, em que Pau-
sânias refere uma parte da Messénia anexada à Lacónia por Augusto.
Assim o imperador pretenderia mostrar gratidão para com uma cidade
que, com Mantineia, se mostrara a única no continente grego a não
tomar o partido de Marco António, na batalha de Ácio. Vide Lafond
(2018) 408.
564
Sobre a relação do culto das Nereides com Aquiles, vide supra
2.1.8. Sobre o casamento de Pirro com Hermíone, vide supra 3.25.1.
565
Ilíada 9.150, 9.292.
172
Pausânias
566
Vide supra 3.21.7 e nota respetiva. Pausânias é insistente em
utilizar o testemunho homérico em defesa das pretensões messénicas
à região.
567
Vide Livro II, nota 44; e ainda 2.18.7,
568
Vide supra 2.26.10 e nota respetiva.
569
Fr. 7 Kinkel. A Pequena Ilíada fazia parte dos poemas do ciclo
épico e era atribuída a Lesques. Provavelmente seria um relato dos acon-
tecimentos posteriores à morte de Heitor, dando assim continuidade ao
assunto da Ilíada. Vide Lesky (1968) 106.
570
Vide supra 1.4.6 e nota respetiva. Eurípilo compareceu na Guerra
de Troia ao comando dos Mísios, como aliado dos Troianos (cf. Ilíada
11.819, 16.27); vide infra 9.5.15.
571
Irmão de Macáon. Vide supra 2.26.10 e nota respetiva.
173
Descrição da Grécia
entrada estreita, mas que tem dentro coisas que merecem uma
visita. Quando se sobe de Gerénia para o interior uns trinta
estádios, encontra-se Alagónia, uma cidade que já referi572 na
lista dos Eleuterolacones. Merecem uma visita os santuários de
Dioniso e de Ártemis.
572
Vide supra 3.21.7.
174
Índice de topónimos e antropónimos
177
Descrição da Grécia
181
Descrição da Grécia
182
Pausânias
190
Pausânias
193
Descrição da Grécia
195
(Página deixada propositadamente em branco)
Pausânias é o nosso único testemunho de literatura
periegética e o autor de um relato precioso sobre a
Grécia da época de ocupação romana (séc. II d.C.).
A sua descrição é a de alguém que viajou e sintetiza o
que ‘viu’, com um olhar que não é só o de um turista
curioso, mas de um intelectual que dispõe de uma só-
lida formação cultural e de uma informação ampla,
em resultado de uma recolha criteriosa de todo o tipo
de fontes, orais e escritas.
Para com Pausânias mantemos em aberto uma
enorme dívida: a de ter salvado um lastro de mo-
numentos, de acontecimentos históricos, de figuras
e de tradições que, sem ele, se teriam em definitivo
apagado da memória dos homens.
OBRA PUBLICADA
COM A COORDENAÇÃO
CIENTÍFICA