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V OIIJME III
GLENN w. ERICKSON
I JoHN A. FossA
EDITORA DA
SBHMAT
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA . SUMÁRIO
CAPÍTULO 5
A LINHA DNIDIDA 107
C APÍTULO 6
Fwxos ARITMÉTicos 122
Catalogação da publicação. l!FRN/13iblioteca Central "Zilda Mamedc"
Divisão de Serviços Técnicos
RNIUF/BCZM CDUSJ
I
l
APRESENTAÇÃO
A
Série Textos de História da Matemática originou-
se com os preparativos para o IV Seminário da
História da Matemática, patrocinado pela
SI\IIMat e realizado na cidade de Natal, no Campus da UFRN,
de 08 a 11 de abril de 2001. Com o intuito de tornar os
llllllicursos mais significantes para os participantes, a Diretoria
du SBTTMat sugeriu que os ministrantes dos referidos minicursos
deveriam preparar textos de apoio aos mesmos. Os textos não
seriam necessariamente limitados ao conteúdo dos minicursos,
mas seriam pequenas obras de referência sobre os temas
abordados. Desta forma, esses textos não seriam apenas
materiais auxiliares das apresentações, mas verdadeiros livros
ir~dcpcndentcs, que trariam proveito a todos os leitores, mesmo
os que não participaram no JV SNHM. Com isto, pretende-se
contribuir de forma mais atuante e concreta ao desenvolvimento
dn I listória da Matemática entre nós, bem como proporcionar
111111 Jll~squisadores desta área um maior fórum para o debate e
ptll'll n divulgação dos seus resultados.
O presente volume, Vol.3 da Série, apresenta uma
ll'Conslrução nova da matemática da Academia platônica,
dl'llloslrando sua herança pitagórica e mostrando como a mesma
'''~llltlmu matemática embasa várias passagens matemáticas nos
d111logos de Platão. As passagens em questão, especialmente a
dn N11mcro Nupcial e a do Número do Tirano, têm sido
IH qllcnlcrncntc criticadas como sendo propositadamente
ohsurn111tistas ou simplesmente incompreensíveis. Uma vez que
ns rclcridas passagens são entendidas, porém, fornecem a chave
para a reconstrução, entre outros assuntos, da química, CAPÍTULO 1
astronomia e cosmogonia platônica, todos das quais são aqui
abordadas.
John A. Fossa
Editor Geral da Série
o NúMERO NUPCIAL
Textos de História da Matemática
Neste Capítulo, apresentaremos uma interpretação do
"Número Nupcial" com um certo grau de detalhamento, pois será
u busc para o que será abordado nos capítulos posteriores. Assim,
depois de fazeruma tradução do texto, passaremos em revista várias
das mais importantes interpretações do mesmo; em seguida,
identificaremos as principais falhas destas interpretações, e
finalmente, apresentaremos a nossa interpretação.
o TEXTO
1\. descrição do Número Nupcial é dada por Platão no Livro
VIII da República (546 B-D). Há até dúvidas sobre a coerência
do próprio texto grego, o que implica que cada tradução já é
uma interpretação do mesmo. Assim sendo, seguimos de perto
a tradução feita por Adam (1985, p. 24), pois, como veremos
udiante, 1\.dam chegou mais perto de uma interpretação
convincente do que a grande maioria dos outros comentadores.
Transcrevemos não somente a descrição estrita do referido
Número (que será delimitada pelos parênteses do tipo~ r), mas
também traduzimos parte do texto contíguo a ele para que se
torne evidente a finalidade do mesmo:
Uma República constituída da forma descrita
[acima] dificilmente degenerará; mas, desde que
tudo que vem a ser terá sua destruição, nossa
República também não durará para sempre, mas
será dissolvida. A dissolução acontecerá desta
forma: fertilidade e infertilidade de almas e
EsTUDOS SoBRE o NúMERO NUPCIAL
Glcnn W. Erickson
John A. Fossa
corpos vêem, não somente às plantas crescendo novos dirigentes terão pouco da natureza de
guardião, natureza necessária para provar a
no chão, mas também aos seres que vivam sobre a
terra - vêem sempre que as suas revoluções fazem bravura da raças de Hesíodo, suas próprias -
raças de ouro e prata e bronze e ferro. Assim,
as respetivas circunferências completas, sendo
menores para os que têm vidas curtas e maiores ferro será misturado com prata, e bronze com
para os com vidas compridas. No que se refere à ouro; dessemelhança surgirá por dentro, e
raça humana, mesmo que sejam sábios e educados também desigualdade, em que não há harmonia.
da maneira em que descrevemos [acima], os Isto, com certeza, será a origem da dissolução
dirigentes da República não conseguirão da República.
determinar a fecundidade apropriada e, logo, Simplificamos a passagem um pouco, pois nela Sócrates está
eventualmente engendrarão crianças quando não representando uma suposta fala das Musas e a nossa tradução não
devem. Ora, para uma criatura divina, há um reflete este fato. A simplificação, porém, não prejudica o
período que é compreendido por um número entendimento do que seja o Número Nupcial. Aliás, como vemos
completo. !Para uma criatura humana, o número na passagem acima, Platão não usa o termo ''Número Nupcial".
é o primeiro em que produtos da raiz pelo quadrado, Mesmo assim, apesar de se originar com os comentadores
tendo foito três distâncias com quatro limites, com posteriores, o nome é bastante apropriado para um número que é
respeito àquilo quefaz semelhar e dissemelhar bem "senhor dos melhores e piores nascimentos".
como crescer e decrescer, tornam tudo entre si
Antes de prosseguir, alguns comentários sobre a tradução se
conversível e racional. A sua base contém a razão
fazem necessários. Em primeiro lugar, com respeito ao número
de quatro para três, atrelada a cinco, e faz duas
harmonias quando aumentado três vezes: uma igual
para criaturas divinas, traduzimos
Ora, para uma criatura divina, há um período
um número igual de vezes, tantas vezes cem, a outra
que é compreendido por um número completo .
de comprimentos iguais em uma direção e, noutra,
desiguais (num lado, de cem quadrados oriundos Vários tradutores usam a frase número perfeito em vez de
do diâmetro racional de cinco, cada um diminuído número completo. Mas, um número perfeito é um número que
por um - ou, se do diâmetro irracional, por dois; é a soma das suas partes alíquotas. Por exemplo, seis é um
noutro, de cem cubos de três). )A soma destes, um número perfeito porque seus divisores são { 1, 2, 3, 6} e, assim,
número que mede a terra, é senhor dos melhores e suas partes alíquotas são {1, 2, 3} ; mas 1+2+3=6.
piores nascimentos. Quando os dirigentes, não Não há indício de que Platão queria dizer que o número
sabendo este número, dão as noivas aos noivos em para criaturas divinas tivesse esta caraterística.
tempos inapropriados, nascerão crianças de Quando Platão diz que as harmonias
natureza ruim e de má fortuna. É claro que as tornam tudo entre si conversível e racional
melhores destas serão escolhidas como os novos hú uma tendência para entender que ele está falando da
dirigentes; mas, não sendo dignas do oficio,
incomensurabilidade. Dois segmentos- por exemplo, o lado e
esquecerão as lições das Musas e subesti-marão
primeiro, a música e, depois, a ginástica. Os
' a diagonal de um quadrado - são incomensuráveis, se não
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Glcnn W. Erickson
john A. Fossa
11 1111)0'; SORRI: o N ú MERO NUPCIAL
10 ,
tSTlJDOS :::iOBRE O N UMERO NUPCIAL
Glenn W. Erickson
John A. Fossa
doutrina esotérica - o que nos permite usar os Diálogos para três", por exemplo, é obviamente 2700. A questão é qual é o
tentar reconstruir a doutrina esotérica - e foi publicada para significado deste número e como é que este número está
propósitos educacionais e polítios. Isto é, sem revelar os relacionado com o resto da passagem (e com o Número Nupcial
segredos mais sagrados, Platão, como um homem político, propriamente dito). Em vez de tentar listar todos os fatos que
provavelmente sentiu a necessidade de instruir os cidadães de parecem óbvios para nós, porém, será mais lógico ver primeiro
Atenas sobre o que ele considerava a verdade, bem como a o que as testemunhas da Antigüidade tinham a dizer sobre a
necessidade de influir na política da cidade. Assim, uma das referida passagem.
maneiras que ele encontrou para alcançar estas metas seria a O primeiro lugar a olhar é na obra de Aristóteles, um
apresentação de sua doutrina, devidamente simplificada nos membro da Academia que certamente deveria ter entendido o
Diálogos. ' que Platão queria dizer com esta passagem. Infelizmente,
Há, porém, mais uma razão pela qual a doutrina esotérica Aristóteles não nos deixou uma explicação maior do Número
n~o foi publicada. Parece que o pensamento de Platão, desde, Nupcial. Mesmo assim, ele fez alguns comentários rápidos que
dtgamos, a época em que escreveu o Menon, era baseado em podem nos ajudar. O mais importante comentário de Aristóteles
uma teoria matemática em desenvolvimento que visava é que a passagem se refere a um diagrama. Assim, não estamos
continuar a tradição pitagórica na medida do possível e, ao procurando um só número, mas um diagrama geométrico. Isto
mesmo tempo, abranger os novos acontecimentos matemáticos é, com a exceção da · "soma destes, um número que mede a
como os pmblemas resultantes da descoberta da incomensu-' terra," o "Número" que vai determinar os melhores e piores
rabilidade.Esta matemática seria tão incompreensível - e tão nascimentos é de fato algum tipo de desenho geométrico. Mas,
interessante- para o homem comum da Atenas do quarto século podemos concluir mais. Se o desenho vai ser útil no cálculo de
antes de Cristo quanto os teoremas e demonstrações da Análise períodos de tempo para determinar épocas apropriadas à
Matemática seriam para o homem comum de hoje em dia! Além procriação, então o desenho não vai ser como os diagramas
do mais, não havia uma terminologia técnica bem estabelecida geométricos de Euclides cujas dimensões são sempre arbitrárias.
.
especialmente para os problemas mais novos e isto complicava
' O desenho de Platão deve ser parte de uma geometria métrica
ainda mais a compreensão. Um exemplo claro deste tipo de em qu e os componentes do mesmo são mensurados.
problema é a interpretação neopitagórica dos números I ~speraríamos ainda mais, que, para recapturar o significado
masculinos e femininos dos primeiros pitagóricos. Os mais importante da t radição pitagórica, as medidas destes
neopitagóricos achavam todo tipo de significado místico nestes componentes devem ser dadas, sempre que possível, por
números, mas a distinção original era bastante simples: lltllncros naturais.
masculino e feminino eram termos técnicos para números Plutarco, Proclo, Quintiliano e lamblico indicam que o
ímpares e pares. desenho tem a ver com triângulos. Isto é muito consonante com
Tudo isto tomado sob consideração, ainda parece um tanto 11 herança pitagórica de Platão e deveríamos esperar que estes
dificil decifrar a passagem platônica que descreve o Número t riLlngu los sejam triângulos pitagóricos, isto é, triângulos
Nupcial. Há, porém, alguns aspectos claros. "Cem cubos de rctnngulos cujos lados são números naturais. Assim, o requisito
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Glenn W Erickson E~·moos SoBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
do ?ará~af? anterior, de que o "número" seja um diagrama, circunferência circunscrita ao quadrado. Notamos também que
sera sattsfetto automaticamente. Ainda mais, o triângulo sempre que o lado do quadrado é um número racional, digamos
pitagórico mais simples- o de lados 3, 4 e 5 - deveria estar q, então o seu diagonal será q"'2 e, portanto, irracional. Isto
envolvido de alguma forma no diagrama, como ambos Plutarco ilustra mais uma vez o que esclarecemos acima. Como os
e Proclus testemunham e em conformidade com as próprias números "masculinos" e "femininos" dos pitagóricos, o
palavras de Platão: "a razão de quatro para três, atrelada a "diâmetro irracional de cinco" é um termo técnico, aqui da
cinco." matemática acadêmica. Esse termo técnico aparentemente foi
Há ainda outro mistério desvendado por uma testemunha usado na Academia para se referir a certos tipos de números
antiga. Trata-se das frases "diâmetro racional" e "diâmetro irracionais, mas não obteve eco entre os matemáticos fora do
irracional" de cinco. Cinco é um número e um diâmetro é parte círculo platônico e, portanto, não se tornou parte do vocabulário
de um círculo ou uma medida de uma circunferência. Assim padrão da matemática. Felizmente, sobreviveu na tradição
sendo, como é possível que um número tenha um diâmetro? neopitagórica onde apareceu na obra de Teon. Tudo isto até
Será que esta é uma maneira obscura que Platão usou para se indica que Platão não estava sendo intencionalmente obscuro
referir a uma circunferência de diâmetro que mede cinco na passagem sob consideração. Muito pelo contrário, ele estava
unidades? sendo preciso no uso de termos técnicos para promover a clari-
O neopitagórico, Teon de Smirna (Theon of Smyrna, dade de expressão, uma caraterística da matemática desde a
1979), relata que o diâmetro irracional de um número é a AntigUidade até os dias de hoje.
diagonal de um quadrado cujo lado mede o número. Assim, o Já sabemos que os pensadores da Academia estavam
diâmetro irracional de cinco é a diagonal de um quadro de lado preocupados com os problemas decorrentes da descoberta da
cinco, como mostra a Figura 1. incomensurabilidade e, assim, seria natural para eles tentar lidar
com estes problemas no seu ambiente natural, ou seja, entre os
objetos geométricos como a diagonal de um quadrado. Em termos
modernos, eles estavam tentando fazer sentido dos números
irracionais. Mas, o que é o "diâmetro racional de cinco"? De novo,
é Teon que nos dá a resposta. O diâmetro racional de cinco é
simplesmente o número natural mais perto do diâmetro irracional
de cinco. Isto nos fornece uma outra surpresa, pois implica
fortemente que os matemáticos da Academia estavam interessados
em achar o que nós chamaríamos de aproximações racionais para
Figura 1. O Diâmetro Irracional de Cinco. números irracionais.
A última afirmação do parágrafo anterior talvez soa
A Figura 1 também mostra a proveniência da palavra estranho porque pode parecer pouco provável que os
"diâmetro", pois a diagonal do quadrado é o diâmetro da matemáticos da Academia tivessem os instrumentos necessários
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Glenn W. Erickson EsTUDos SoBRE o NúMERo NuPCIAL
John A. Fossa
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Ulenn W. i:.ricksou E::rruoos SoBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
uma espécie de ano maior em referência aos planetas. Este tipo que Platão herdou de Pitágoras - e que perdura até na ciência
de ano maior seria o período que leva os planetas a voltarem de nossos dias - é a de que há princípios matemáticos que
simultaneamente à mesma posição nos céus. Neugebauer (1975, estruturam o universo. Assim sendo, vamos voltar a nossa
v. I, p. 6 i 9) cita Filolau e Oinopides como dando um período atenção a alguns comentadores que levam o pensamento de
de aproximadamente 60 anos para este ano maior. A descoberta Platão a sério para ver se eles podem nos ajudar a compreender
da precisão dos equinócios e a conseqüente revolução de todos o Número Nupcial como uma forma cosmológica.
os corpos celestiais de forma muito devagar, porém; implicaria
em um Ano Maior muito mais majestoso e muito mais Ü EsTUDO DE DUPUIS
comprido. Tudo isto indica que, mesmo se, em um nível, a
passagem em questão seja uma paródia ou uma mofa, é muito Na edição francesa do livro de Teon de Smirna sobre a
mais do que uma piada. matemática platônica, J. Dupuis passa em revista várias
Cornford (1941, p. 269), na sua tradução da República, tentativas, do século XVI ao século XIX, de interpretar o
simplesmente deixa de traduzir a passagem. Em uma nota de Número Nupcial.Bumbaugh (1954, p. 143-146)traz uma versão
rodapé, ele diz que é extremamente obscura e discute inglesa do estudo de Dupuis. Faremos aqui um resumo do
rapidamente a interpretação de Adarn, sem detalhes. Finalmente mesmo a título de mostrar a grande diversidade de opiniões
conclui que embora a passagem seja ''fancijiif', ela contém uma referente a este assunto.
idéia séria, a saber, a da correspondência entre o macrocosmo Em 1566, Francisco Barocius (Barozzi) afirmou que o
e o microcosmo, sendo todos os dois estruturados por princípios Número Nupcial devia ser 1728 = 123 = (3+4+5) 3 •
matemáticos. Curiosamente, Marin Mersenne, em 1627, concluiu que o
Uma outra interpretação curiosa é a de Neugebauer (1975, Número deveria ser 729 porque 3+4 = 7 e 7x 100 = 700 ao qual
p. 26) que diz deveria ser somado o cubo de 3, ou seja, 29. Assim; um erro
When Hilprecht, in 1906, published a volume of besta de multiplicação levou Mersenne ao número,
"mathematical, metrological and chronological provavelmente preconcebido, 729; pois, de fato, 729 é o Número
tablets.from the Temple library of Nippur" he was do Tirano, dado por Platão em Livro IX da República e o qual
convinced that these texts showed a relation to será brevemente discutido no próximo Capítulo.
Plato 3' number mysticism. In book VIII of the Mais recentemente, Thomas Taylor propôs que o Número
"Republic " Plato gives some cabbalistic rules as
Nupcial teria de ser um milhão. Em contraste, C. E. Schneider, em
to how guardians should arrange for proper
marriages. By some wild artifices, Plato s cabal/a 1821, argumentou que este Número contém os fatores 8 e 27 (os
was brought into relationship with the numbers termos finais do chamado "A-diagrama" do 1Imeu). A J. H. Vmcent
found on the tablets. discordou, propondo 216, pois 216 = 63 e também é o último termo
A passagem é indicativa da atitude de autores como da proporção 1:8::27:216. Eduard Zeller, apoiando-se no Faedro,
Neugebauer que rejeita de antemão qualquer tentativa de afirmou que o Número Nupcial teria de ser 7500, ou seja % do
interpretar seriamente a passagem em questão. A idéia genial Ano Maior de 10000 anos (um Ano Maior platônico de 10000
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Gienn W. trickson l'.li niDOH SoBRE o N ú MERO N UPCIAL
John A. Fossa
anos era bastante popular entre os comentadores no início do século Se&rundo Ehrhardt, o triângulo com lados 3, 4 e 5 - que
XIX). Vários outros autores são mencionados por Dupuis mas doravante geralmente expressaremos como um temo pitagórico
estes não arriscaram um palpite sobre o segredo do Nú~ero (1, 4, 5) - é o protótipo de emparelhamentos. Ela rejeita a
Nupcial! sugestão de Plutarco de que os catetos representam o casal
É claro que estas interpretações não podem ser sustentadas divino Ísis e Osiris, enquanto a hipotenusa representa seu filho
pelo texto da República. Assim, voltaremos a nossa atenção llorus, como sendo mero misticismo. Para ela, a hipotenusa
agora para algumas interpretações que fazem uma tentativa séria representa o laço ou a união entre o casal. Os "cem" do texto
de desvendar o texto nas suas minúcias. Faremos o mesmo com são interpretados não como parte de um produto, mas como
elas, olhando-as nos seus detalhes, pois tal procedimento nos urna indicação de que há uma série de triângulos pitagóricos,
dará não somente uma apreciação maior das dificuldades baseados nos primeiros cem números naturais. Mas,
envolvidas na interpretação da passagem, mas também nos considerando que os naturais 1 e 2 não fazem parte de qualquer
proporcionará uma compreensão maior dos parâmetros a serem triângulo pitagórico, é necessário ir até 102. Assim sendo, temos
explicados. potencialmente uma série de cem triângulos pitagóricos, um
lrrfi ngulo para cada um dos números de 3 ~ n ~ 102, sendo n
PORQUE É IMPOSSÍVEL NÃO ERRAR
um dos catetos do triângulo. Por exemplo, correspondente ao
níuncro 3 temos o triângulo (3, 4, 5), onde 3 é um dos catetos.
Digamos que há potencialmente uma série de cem
.A primeira interpretação séria do Número Nupcial que
constd~raremos é a de Edit Ehrhardt ( 1986). O ponto de partida
triângulos porque alguns deles serão eliminados. Como veremos
u seguir, correspondente ao número 6, temos o triângulo (6, 8,
da e~~hcação de Ehrh~rdt é que precisamos esclarecer porque
os dmgentes necessanamente errarão no emparelhamento de 10), onde 6 é um dos catetos. Mas, como é que (6, 8, 10) é
noivas e noivos. Isto é, segundo a teoria cíclica do tempo, mesmo diferente de (3, 4, 5)?Desdeque(6, 8, 10) = 2(3, 4, 5), o triângulo
(6, 8, 1O) nada mais é do que uma versão maior do triângulo (3, 4,
a Repú~lica bem constituída não durará para sempre, mas
necessanamente degenerará. O problema, porém, é o seguinte: 5). Mas, por sua vez, (3, 4, 5) não é uma versão maior de qualquer
se a República fosse estabelecida segundo as diretrizes da razão outro triângulo pitagórico porque o maior divisor comum de 3, 4 e
estabelecidas na discussão anterior, o que poderia ocasionar o 5 é 1. Quando o maior divisor dos três lados de um triângulo
i~í~io deste processo de degeneração? A resposta é que os pitagórico é 1, dizemos que o triângulo é primitivo. Na lista de
dmgentes não poderão evitar erros na se1eção dos noivos e cem triângulos, todo triângulo que não seja primitivo será
eliminado, pois não seria um triângulo novo, mas apenas urna
noivas, mas eventualmente farão acasalamentos inapropriados.
Errarão mesmo se recebem o treinamento adequado para exercer versão maior de um triângulo primitivo da lista.
seu oficio de guardião. Como é isto possível? A resposta de Se a explicação de Ehrhardt parece mais obscura do que
Ehrhardt é que há ambigüidades no próprio processo de seleção o próprio texto platônico o qual pretende esclarecer, tudo deveria
que não pennitirão os dirigentes fazer uma escolha bem definida ser mais evidente quando vemos exatamente como a série de
em todos os casos. triângulos que ela propõe como a solução do problema é
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Glenn W. Erickson Hsn nos SoBRE o N úMERO N UPCIAL
John A. Fossa
construída. Na Antigüidade, houve duas fórmulas bem ·rodos os cinqüenta triângulos da lista acima são triângulos
conhecidas para obter triângulos pitagóricos. Uma, a chamada pitagóricos primitivos. De fato, a Fónnula de Pitágoras sempre
Fórmula de Pitágoras, começa com um número ímpar n como resulta em triângulos primitivos porque (n2+1)/2- (n2- l)/2 = 1.
um dos catetos; o outro cateto é dado por {n2-l)/2, enquanto a Isto é, a diferença entre a hipotenusa e o cateto maior é sempre
hipotenusa é dada por (n2+ 1)/2. É claro que n deve ser ímpar, I; logo, não há número maior do que I que é divisor comum da
senão (n2-1 )/2 e (n2+ 1)/2 não seriam números naturais. hipotenusa e do cateto maior.
É também fácil ver que o triângulo é retângulo, pois os l lá uma outra caraterística dos triângulos desta lista.
lados obedecem o Teorema de Pitágoras: Enquanto o primeiro cateto é sempre ímpar (por escolha), o
~cgundo cateto é sempre par. De novo, é fãcil mostrar que ambos
n2 + [(n2-1)/2] 2 = n2 + {n4-2n2-1)/4 os dois catetos não podem ser ímpares: caso contrário, teriam a
= 4n2/4 + {n4-2n2-1)/4 lorma 2p+ 1 e 2q+ 1 (lembramos que os catetos não podem ser
= (n4+2n2+ 1)/4 I ) c a soma dos seus quadrados não pode ser um quadrado
= [(n2+1)/2]2. perfeito, pois (2p+1)2 + (2q+ I )2 = 4(p2 + q2 + p + q) + 2 = 4r +
2, onde r=p2 + q2 + p + q. Uma vez que 4r + 2 não pode ser um
Assim sendo, sempre que n é ímpar, menos no caso em quadrado perfeito, o triângulo não pode ser retângulo! Como
quen=l , {n, (n2-l)/2, (n~l)/2) é um triângulo pitagórico. Logo, conseqüência deste fato, podemos concluir que a hipotenusa é
os 50 triângulos pitagóricos correspondentes aos números sempre ímpar no caso sob apreciação, pois é sempre um a mais
ímpares entre 3 e 102 são os seguintes: do que o cateto par.
Ehrhardt não usa o fato de que a hipotenusa seja sempre
(3, 4, 5) (37, 684, 685) (7 1, 2520 , 252 1) impar na sua interpretação, pois a hipotenusa só representa a
(5, 12, 13) (39, 760, 761) (73, 2664, 2665)
(7, 24, 25)
união entre os catetos. Também não é importante demonstrar
(41, 840, 841) (75, 2812, 2813)
(9, 40,41) (43, 924, 925) (77, 2964, 2965)
ns relações de paridade em geral; basta construir a lista e
(11, 60, 61) (45, 1012, 1013) (7 9, 3120, 3121) perceber as regularidades presentes nestes triângulos. O fato
(13, 84, 85) (47, 1104, 1105) (81, 3280, 3281) de que um dos catetos é ímpar e o outro par, porém, é muito
(15, 112, 113) (49, 1200, 1201) (83, 3444, 3445) importante porque, como vimos acima, a terminologia
(17, 144, 145) (51, 1300, 1301) (85, 3612, 3613)
(19, 180, 181)
pitagórica para ímpar e par é masculino e feminino e, portanto,
(53, 1404, 1405) (87, 3784, 3785)
(21, 220, 221) (55, 1512, 1513) (89, 3960, 3961)
seria altamente apropriado representar um casal pelos catetos
(23, 264, 265) (57, 1624, 1645) (91, 4140, 4141) dos triângulos da lista. Assim sendo, a tarefa dos dirigentes
(25, 312, 313) (59, 1740, 1741) {93, 4324, 4325) parece fácil: juntariam 3 com 4, 5 com 12, 7 com 24, e assim
(27, 364, 365) (61 , 1860, 1861) (95, 4512,4513) por diante.
(29, 420, 421) (63, 1984, 1985) (97, 4704, 4705)
(31 , 480, 481)
Até agora o universo parece um lugar bem comportado,
(65, 2112, 2113) (99, 4900, 4901)
(33, 544, 545) (67, 2244, 2245) (101, 5100, 5 101)
mas esta conclusão será modificada quando consideramos os
(35, 612, 613) (69, 2 380, 2381) t riàngulos baseados nos números pares de 4 a 102. Para construir
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Glenn W. Erickson 1 111nos SoBRE o NúMERo NuPCIAL
John A. Fossa
estes triângulos não podemos usar a Fónnula de Pitágoras porque, (8, 15, 17) (40, 399, 401) (72, 1295, 1297)
como vimos, n é sempre ímpar nesta Fónnula. Há, porém, outra ( 12, 35, 37) (44, 483, 485) (76, 1443, 1444)
(16, 63, 65) (48, 575, 577) (80, 1599, 1601)
fórmula conhecida na Antigüidade que constrói triângulos (20, 99, 101) (52, 675, 677) (84, 1763, 1765)
pitagóricos, começando com números pares. A Fónnula de Platão (24, 143, 145) (56, 783, 785) (88, 1935, 1937)
afirmaquesenépar(n, (n/2)2-1, (n/2)2+1) é um triângulopitagórico. (28, 195, 197) (60, 899, 901) (92, 2115, 2117)
Usando a Fónnula de Platão podemos gerar mais cinqüenta (32, 255, 257) (64, 1023, 1025) (96, 2303, 2305)
triângulos: (36, 323, 325) (68, 1155, 1157) (100, 2499, 2501)
(4, 3,5) (38, 360, 362) (72, 1295, 1297)
(6, 8, 10) (40, 399, 401) (74, 1368, 1370) De novo, certos aspectos dos triângulos desta lista de 24
(8, 15, 17) (42, 440, 442) (76, 1443, 1444) chamam nossa atenção. A diferença entre a hipotenusa e o
(10, 24, 26) (44, 483, 485) (78, 1520, 1522)
(12, 35, 37) (46, 528, 530)
segundo cateto é sempre 2: (n/2)2+1- ((n/2) 2·1] = 2. Isto quer
(80, 1599, 1601)
(.14, 48, 50) (48, 575, 577) (82, 1680, 1682)
tlizer que um triângulo dado pela Fórmula de Platão ou é
(16, 63, 65) (50, 624, 626) (84, 1763, 1765) primitivo ou é duas vezes um triângulo primitivo. Quando é
(18, 80, 82) (52, 675, 677) (86, 1848, 1850) primitivo, pelas mesmas razões que vimos acima, um cateto é
(20, 99, 101) (54, 728, 730) (88, 1935, 1937) par e o outro ímpar. Desde que o primeiro cateto é par (por
(22, 120, 122) (56, 783, 785) (90, 2024, 2026)
(24, 143, 145) (58, 840, 842) escolha), o segundo é ímpar e, portanto, a hipotenusa também
(92, 2115, 2117)
(26, 168, 170) (60, 899, 901) (94, 2208, 2210) é ímpar. Desta forma, os 24 novos triângulos pitagó:i~os
(28, 195, 197) (62, 960, 962) (96, 2303, 2305) primitivos têm a mesma caraterística de ter um lado fenuruno
(30, 224, 226) (64, 1023, 1025) (98, 2400, 2402) c outro masculino dos primeiros 50. Assim, estes triângulos
(32, 255, 257) (66, 1088, 1090) (100, 2499, 2501) são apropriados para representar a formação de casais para fins
(34, 288, 290) (68, 1155, 1157) (102, 2600, 2602)
(36, 323, 325) de procriação. Da mesma forma como foi feito n~ caso an~erior,
(70, 1224, 1226)
os dirigentes unirão 8 com 15, 12 com 35, e ass1m por d1ante.
Ora, não faz sentido manter duas listas separadas para o
Os triângulos desta lista, porém, não são todos primitivos.
mesmo propósito. Logo, juntamos as duas, colocando os seus
Na verdade, triângulos primitivos e não primitivos são
elementos em ordem. O resultado é a seguinte lista de 74
intercalados na lista, resultando em apenas 25 triângulos
triângulos pitagóricos primitivos:
primitivos. Entre estes 25, há um- o (4, 3, 5) - que já apareceu
na lista anterior, embora com a ordem dos catetos trocada. (71, 2520, 2521)
(3, 4, 5) (37, 684, 685)
Notamos ainda que os triângulos não primitivos são duas vezes (5, 12, 13) (39, 760, 761) (73, 2664, 2665)
algum triângulo primitivo que já apareceu na lista anterior e, (7, 24, 25) (40, 399, 401) (72, 1295, 1297)
portanto, não representam novos triângulos. Desta forma, os (8, 15, 17) (41, 840, 841) (75, 2812, 2813)
25 triângulos não primitivos e o triângulo repetido - o (4, 3, 5) (9, 40,41) (43, 924, 925) (76, 1443, 1444)
(11 , 60,61) (44, 483, 485) (77, 2964, 2965)
- serão eliminados da presente lista, dando-nos os seguintes 24 (79, 3120, 3121)
(12, 35, 37) (45, 1012, 1013)
triângulos pitagóricos primitivos novos: ( 13, 84, 85) (47, 1104, 1105) (80, 1599, 1601)
24 25
Glen n W. l!nckson
Hs 1\JJ>OS SOBRE o NúMERO NuPCIAL
John A. Fossa
(15, ll2, 113) (48, 575, 577) (81, 3280, 3281) Os casais ambíguos são:
(16, 63, 65) (49, 1200, 1201) (83, 3444, 3445)
(17, 144, 145) (51, 1300, 1301) (84, 1763, 1765) Noivas Noivos Laços
(19, 180, 181) (52, 675, 677) (85, 3612, 3613) 8 ou 112 15 17 ou 113
(20, 99, 101) (53, 1404, 1405) (87, 3784, 3785) 12 5 ou 35 13 ou 37
(21, 220, 221) (55, 1512, 1513) (88, 1935, 1937) 12 ou 612 35 37 ou 613
(23,264,265) (56, 783, 785) (89,3960,3961) 16 ou 1984 63 65 ou 1985
(24, 143, 145) (57, 1624, 1645) (91, 4140, 4141) 20 ou 4900 99 101 ou 4901
(25, 312, 313) (59, 1740, 1741) (92, 2115, 2117) 24 7 ou 143 25 ou 145
(27,364, 365) (60,899,901) (93, 4324, 4325) 40 9 ou 399 41 ou 401
(28, 195, 197) (61, 1860, 1861) (95, 4512, 4513) 60 11 ou 899 61 ou 901
(29,420,421) (63, 1984, 1985) (96, 2303, 2305) 13 ou 1763 85 ou 1765
84
(31, 480, 481) (64, 1023, 1025) (97,4704,4705)
(32,255,257) (65,2112,2113) (99, 4900, 4901)
(33,544, 545) (67,2244,2245) (100, 2499,2501) Assim, há nove casos em que os dirigentes podem errar;
(35, 612, 613) (68, 1155, 1157) (101, 5100, 5101) quatro casos involvem duas noivas possíveis para um único
(36,323,325) (69,2380,2381) noivo e cinco casos involvem dois noivos possíveis para uma
Agora, a ordem do universo, que parecia tão evidente única noiva. Segundo Ehrhardt, os dirigentes da República não
quando consideramos apenas os 50 triângulos dados pela teriam qualquer maneira racional de fazer uma escolha nestes
Fórmula de Pitágoras, desmorona. Isto acontece porque há nove casos. Assim sendo, eles acertariam alguns e errariam
emparelhamentos ambíguos. Os dirigentes não saberiam, por outros; mas os erros seriam cumulativos, eventualmente
exemplo, se 12 deve ser atrelado a 5 através de 13 ou se deve provocando uma falta no número necessário de homens
ser atrelado a 35 através de 37. Só precisamos nos preocupar qualificados para serem dirigentes da República. Notamos ainda
com as ambigüidades nos catetos. Os triângulos (3, 4, 5) e (5, que os erros, segundo esta explicação, não seriam ocasionados
12, 13), por exemplo, não contêm uma ambigüidade por causa pela falta de treinamento por parte dos dirigentes. Muito pelo
do fato de que 5 ocorre em todos os dois; isto acontece porque contrário, os erros ocorreriam independentemente da educação
o 5 do triângulo (3, 4, 5) é a hipotenusa e, portanto, não dos dirigentes porque a ambigüidade estaria na natureza da
representa um dos membros de um casal. Assim, dos 74 própria estrutura do universo. Os dirigentes, portanto, não
triângulos da lista, 57 resultam em acasalamentos únicos, poderiam evitar erros para sempre e a República estaria fadada
deixando os seguintes 17 triângulos envolvidos em empa- a dissolver-se, mais cedo ou mais tarde.
relhamentos ambíguos: A primeira vista, a interpretação de Ehrhardt é
(5, 12, 13) (13, 84, 85) (40, 399, 401) convincente. Quando confrontamos a sua interpretação com o
(7, 24, 25) (15, 112, 113) (60, 899, 901) que já decifra~os [ver acima, p. 9] desta passagem com a ajuda
(8, 15, 17) (16, 63, 65) (63, 1984, 1985) da testemunha antiga, porém, há grandes problemas. Em
(9, 40,41) (20, 99, 101) (84, 1763, 1765)
(11, 60, 61) (24, 143, 145) (99, 4900, 4901)
primeiro lugar, a tradução de Ehrhardt é muito estranha. Em
(12, 35, 37) (35, 612, 613)
27
26
Ulenn W. Erickson -
John A. Fossa
correspondência entre o macrocosmo e o microcosmo. Para n' com Brumbaugh, faz parte da projeção do quadrado na terceira
t d ' . os,
o es a o ~ um t~p~ de terceiro cosmos intermediário entre os dimensão, o quadrado terá um lado de 3 ou 9. Ele opta por um
outros dOis, participando também desta correspondência· assim lado de 3 para que o diâmetro irracional de 5 seja ...J5. Parece que
temos a. pr~porção macrocosmo :estado: :estado :microco~mo. há um erro de cálculo aqui, mas desde que voltaremos ao diâmetro
SeJa Isto como for, Brumbaugh identifica o cateto de irracional de cinco logo em seguida, podemos esquecê-lo por ora.
tama~ho 3 do triângulo (3, 4, 5) com os três estágios de
~atunda~e d~ ~Im~ e o .cateto de tamanho 4 com os quatro
tipos de mteligencia
F' 1 . obtidos da doutrina da Linha D'lVI'd'd 1 a.
m~ ment.e, a h1potenusa, de tamanho cinco, é identificada com
os c~nco tipos de dirigentes do estado. O resultado é mostrado
na Figura 2.
C D
30 31
lilenn W. Erkkson
John A. Fossa
. AFigura 4 representa, para Brumbaugh, o quadrado menos Quando avaliamos a interpretação de Brumbaugh à luz da
dms e ~ quadrado menos um. Em particular, o segmento AE testemunha antiga que aduzimos acima, a sua interpretação não
desta Ftgura representa o democrata e o tirano, pois eles são parece muito atraente. Embora a interpretação de Brumbaugh
governados pelos seus apetites, como é o caso do oligarca; desta faça o Número Nupcial ser um desenho geométrico, o desenho
forma os dois tipos anteriores são desprezados. O segmento tem pouca utilidade na determinação de noivos e noivas,
CE representa a forma mais baixa da inteligência e portanto reduzindo-se a uma mera matriz para a organização de
também é desprezado. O quadrado que resta contém,nove cel~ conceitos. De fato, Brumbaugh não explica exatamente como
repre~entando as nove maneiras em que a inteligência e a os dirigentes podem usar o desenho para fazer esta
matundade podem se combinar na criança. A terceira dimensão determinação. Ele usa um triângulo (3, 4, 5) na explicação da
sem~r~ .segundo Brumbaugh, representa a concretização desta~ passagem, mas este triângulo não faz parte do diagrama que
po~stbthdades n~ es~a~o e n? tempo. Assim, o Número Nupcial supostamente é o Numero Nupcial (Figura 3). Além disto, a
sena uma. matriZ tndtmensiOnal para a organização racional construção da Figura 4 parece inteiramente arbitrária, enquanto
das combmações de conceitos referentes a maturidade a -.un 0xplicação do diâmetro irracional de 5 constitui uma
int.eligência e a atualização de potencialidades nas parti~u l ontrudição frontal com a informação dada por Teon de Smirna.
landades corporais e sociais de cada indivíduo. Jlrwnhnugh chega ao número 2700, mas identifica este número
Finalmente, Brumbaugh volta para a Figura 2 e acha 0 0111 11 rllcdidn de uma área porque pensa que as "harmonias"
"quadra d"do a mesma por completar o quadrado obtendo a M o produtos, em vez de razões. Finalmente, notamos que, na
Figura 5. Ele faz isto para explicar o diâmetro ir.·acional de 5. Ílth.•r pr •tuçilo de Brumbaugh, a matemática é mais ornamental
Para tanto, porém, ele tem de modificar as dimensões da Figura clt, que Hignificativa.
2 que era um triângulo (3, 4, 5). Agora ele faz AC = 1 e AB = 2. 1)11111 os argumentos apontados no parágrafo anterior, parece
O resultado, é claro, é um triângulo que não é semelhante ao qm· 11 ultcrprctação de Brumbaugh não é adequada. Assim,
tri.ângulo,C?• 4, .5) e cuja hipotenusa é "-/5. Esta hipotenusa, ou \nllut'IIIUN11 nos~• atenção agora para a interpretação de James
seJa "-/5, e Identificada com o diâmetro irracional de 5. dum
~~·
AnAM I! YouNG
32
Glenn W Erickson EsTUDOs SoBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
de Dupuis, revisto acima, pode-se ver que este aspecto da sendo, Platão provavelmente, sempre segundo Adam, usou e.ste
interpretação de Adam era até inovador na época. período de 216 como uma unidade de mensur~ção da ~da
Enquanto a maioria dos comentadores tinham tentado reprodutiva da mulher. Os melhores filhos resultanam de uruões
identificar o Número Nupcial com um determinado número sexuais que Oéorressem no primeiro dia destes ciclos de 216
natural, como 216, 729, ou um milhão, Adam resgatou a idéia dias ou em dias em que o número 6 fosse dominante. Adam
básica de que o Número Nupcial estava relacionado de alguma considerou o número 6 importante porque há uma tradição
forma com um triângulo, em especial o triângulo (3, 4, 5). A neopitagórica segundo a qual 6 é o numero do casamento, pois
presença deste triângulo nas interpretações posteriores de
6 = 2x3, a união do primeiro número feminino com o primeiro
Ehrhardt e Brumbaugh, já revistas acima, é, pelo menos
número masculino. Para tanto, é claro, os neopitagóricos
parcialmente, devida ao trabalho de Adam. A nossa solução
precisavam ignorar a doutrina da Mônada, ou fonte de todo~ os
também foi facilitada pela interpretação de Adam em alguns
pontos. números como distinto do número 1; desta forma, podiam
declarar ~ue o próprio 1 não é um número, mas a referida f~n~e.
Também, ao contrário da grande maioria dos
Adam também precisava ignorar uma outra trad1çao
comentadores anteriores a ele, Adam argumentou que a
neopitagórica segundo a qual 5 era o número do casamento -
passagem em questão não descreve apenas um, mas dois
isto pela mesma razão citada em apoio de 6, usando apenas a
números, a saber 216 e 36002 (= 12.960.000). Estes números
sorna crn vez do produto para representar a união.
são determinados pelas seguintes equações:
O segundo número, 36002, segundo Adam, não se
rclucionu mais com seres humanos, mas representa o Número
33 + 4 3 +5 3 = 216
e Nupcial da própria Terra. Assim, 3600 2 + (4800x2700) =
( ( 3 + 4 + 5 ) X 5 ] 4 = 3600 2•
25.920.000 dias. Desde que o ano platônico idealizado tinha
360 dias, os 25.920.000 de dias dão 72000 anos, o que
Para evitar repetições, não entraremos nos detalhes de
representaria o Ano Maior. Durante a metade deste ciclo, ou
como Adam distilou estas equações do texto da República, pois
seja 36000 anos, a Terra e tudo nela estariam evoluindo,
vários destes detalhes aparecerão na nossa análise. Mesmo
enquanto durante a outra metade estariam decaindo.
assim, queremos mencionar que Adam notou que 3600 2 =
Um dos grandes problemas desta interpretação é que,
4800x2700. Também observamos o papel fundamental do
mesmo segundo a própria tradução de Adam, Platão não está
triângulo (3, 4, 5)- ou, mais precisamente, o seu perímetro-
nestas equações. descrevendo dois números nupciais - um para seres humanos e
um para a Terra - mas um só Número Nupcial, especificamente
O que era, segundo Adam, o significado destes dois
para seres humanos. De fato, Platão menciona que há um outro
números? O primeiro era considerado pelos antigos, segundo
Numero Nupcial para os Deuses (isto é, presumivelmente, o
Adam, o menor número de dias entre a concepção e o
( 'os mos), mas ele simplesmente não é discutido nesta passagem.
nascimento. Isto é, se o feto chegasse a nascer antes deste limite
Assim , os vários números contidos na passagem - e
de 216 dias depois da concepção, não poderia sobreviver. Assim
l'Oncordamos com Adam que há vários números descritos, como
34 35
Glenn W. btickson EsTUDos SoBRE o NúMERO NUPciAL
John A. Fossa
o 2700 - devem representar os comprimentos dos vários interpretação, desde que sua interpretação é derivativa da de
componentes do desenho. O outro grande problema com a Adam, deveria ser rejeitada pelas mesmas razões pelas quais
interpretação de Adam é que ela não faz uso de um desenho rejeitamos a de Adam.
geométrico. O papel do triângulo (3, 4, 5) é, na verdade,
apontado por Adam, mas somente como um pretexto para seus o NúMERO NUPCIAL E SEU SIGNIFICADO
cálculos aritméticos, não como um desenho geométrico. Ainda
mais, o conceito do AtJ.o Maior é devido ao fenômeno da A discussao a seguir pretende interpretar o Número Nupcial
processão dos equinócios e, embora fosse dificil estimar seu e explicar como Platão esperava que os dirigentes da República
valor a partir da observação, 72000 anos era certamente grande iriam utilizá~lo para determinar os melhores e piores acasalamentos.
demais e, portanto, estaria fora de cogitação. Na próxima seção, analisaremos a passagem da República traduzida
Mais recentemente, porém, Grace Chisholm Young ( 1923) no início deste Capítulo, para mostrar que a nossa interpretação é
aceitou o argumento de Adam, tentando apenas generalizar as consoante com a descrição platônica do mesmo. Tanto a solução
suas equações. Assim, ela investigou o par de equações proposta quanto a análise seguem, com poucas modificações, o
simultâneas nrgumcnto de Fossa e Erickson (1994) eErickson e Fossa (1996).
A Figura 6 mostra que o Número Nupcial é o triângulo
x3+y3+z3=t3 pitugórico (4500, 6000, 7500), deitado sobre sua hipotenusa. O
e x2+y=z2
1dR ngul o é subdividido pelo segmento perpendicular à
hipotenusa contendo o vértice oposto. Cada parte, por sua vez,
e afirmou (1923, p. 31) que l 1111hdividida pelo mesmo processo. Todos os triângulos do
dwgru ma (4500, 6000, 7500), (3600, 4800, 6000), (2700, 3600,
I fancied that Plato knew, or at least, with the I~00), (2880, 3840, 4800), (2160, 2880, 3600), que aparece
intuition of the mathematician, had jumped to the 1hu,,. vezes, e (1620, 2 I60, 2700) - são semelhantes ao triângulo
conciusion, that ali the soJutions possibJe of these
(I, •I, 5); notamos também que todos estes triângulos são
two simuJtaneous equations in integers were of the
form lt I IIHIII ON pitng6ricos.
3m, 4m, 5m, 6m.
The fact that I have a posteriori proved this to be 6000 2160
IMO~
true is, to say the least, suggestive, more especially
since Plato 'sformula for the solution ofthe equation
ofPythagoras would show that he had.fully grasped
the idea of a variable integer [êrifase de Younp./. 4300
Embora concordamos com a avaliação de Young de qw /~0(1
36
Glenn W. Erickson Esn.mos SoBRE o NúMERO NUPciAL
John A. Fossa
o 2700 - devem representar os comprimentos dos vários interpretação, desde que sua interpretação é derivativa da de
componentes do desenho. O outro grande problema com a Adam, deveria ser rejeitada pelas mesmas razões pelas quais
interpretação de Adam é que ela não faz uso de um desenho rejeitamos a de Adam.
geométrico. O papel do triângulo (3, 4, 5) é, na verdade,
apontado por Adam, mas somente como um pretexto para seus o NÚMERO NUPCIAL E SEU SIGNIFICADO
cálculos aritméticos, não como um desenho geométrico. Ainda
mais, o conceito do .A~11o Maior é devido ao fenômeno da A discussao a seguir pretende interpretar o Número Nupcial
processão dos equinócios e, embora fosse dificil estimar seu e explicar como Platão esperava que os dirigentes da República
valor a partir da observação, 72000 anos era certamente grande iriam utilizá-lo para detenninar os melhores e piores acasalamentos.
demais e, portanto, estaria fora de cogitação. Na próxima seção, analisaremos a passagem da República traduzida
Mais recentemente, porém, Grace Chisholm Young (1923) no início deste Capítulo, para mostrar que a nossa interpretação é
aceitou o argumento de Adam, tentando apenas generalizar as consoante com a descrição platônica do mesmo. Tanto a solução
suas equações. Assim, ela investigou o par de equações proposta quanto a análise seguem, com poucas modificações, o
simultâneas argumento de Fossa e Erickson (1994) eErickson e Fossa (1996).
A Figura 6 mostra que o Número Nupcial é o triângulo
x3+jl+z3=t3 pitugórico (4500, 6000, 7500), deitado sobre sua hipotenusa. O
e x2+y=z2 t r i ugulo é subdividido pelo segmento perpenàicular à
hipotenusa contendo o vértice oposto. Cada parte, por sua vez,
e afirmou (1923, p. 31) que t 1111hdividida pelo mesmo processo. Todos os triângulos do
diiiH"UIIlU (4500, 6000, 7500), (3600, 4800, 6000), (2700, 3600,
I fancied that Plato knew, or at least, with the 1 ~ 00), (2880, 3840, 4800), (2160, 2880, 3600), que aparece
intuition of the mathematician, had jumped to the d1111" vezes, c ( 1620, 2 I 60, 2700) - são semelhantes ao triângulo
conclusion, that aU the soJutions possible of these ( I, •I, ) ); notamos também que todos estes triângulos são
two simultaneous equations in integers were of the
111 IIH,IIIos pitngóricos.
form
3m, 4m, 5m, 6m.
The fact that I have a posteriori proved this to be
true is, to say the least, suggestive, more e5pecially
since Piato 'sformula for the solution ofthe equation
ofPythagoras would show that he had.fully grasped
the idea of a variable integer [ênfase de YounpJ
Embora concordamos com a avaliação de Young de qut• 1\00
ou o próprio Platão ou os matemáticos da Academia podcri11111 11 111 t•. o N1'11l1\l1tl Nup~..:iu l .
ter feito a demonstração que ela apresenta em favor uu su11
36
EsTUDOs SoBRE o NúMERO NUPCIAL
Glcnn W. Erickson
John A. Fossa
Até este ponto, porém, é extremamente dificil de perceber l . LffiDF perímetro 24 com ACDF perímetro 18
como o esquema poderia ser usado na prática para determinar 2. AA.DE perímetro 32 com ABDE perímetro 24
os melhores e piores nascimentos.Assim, é necessário 3. AABD perímetro 40 com ABCD perímetro 30.
determinar a natureza das medidas dos lados dos triângulos.
Desde que se trata da reprodução humana, faz sentido postular Desta forma, propomos identificar o perímetro do triângulo
que os números do diagrama representam medidas de tempo. com a idade do noivo/noiva que é representado pelo triângulo.
Sendo assim, a unidade que faz mais sentido é o dia. A Assim, temos um noivo de 24 anos procriando com urna noiva
verdadeira utilidade do esquema, porém, só se torna evidente de 18, um noivo de 32 anos procriando com uma noiva de 24, e
quando estes valores são expressos em anos. Lembrando que o um noivo de 40 anos procriando com uma noiva de 30.
ano platônico tem 360 dias, dividimos todos os valores da Figura Mas, o que é que a idade dos pais pode dizer para os
6 por 360 para obter a Figura 7, o Número Nupcial expresso dirigentes do estado sobre os futuros nascimentos? Em 460 E
em anos. Notamos, porém, que o próprio Número Nupcial é a da República, Platão escreve sobre o conceito de vigor, o pleno
Figura 6, pois todos os valores desta Figura são números desenvolvimento da constituição fisica do indivíduo,
naturais, como é de se esperar de um pitagórico da terceira parcialmente herdada e parcialmente cultivada pelos bons
geração. Só traduzimos esses valores em anos para facilitar o hábitos. O homem, segundo Platão, é mais vigoroso entre as
nosso raciocínio
39
38
EsTIJDOS SoBRE o NúMERO NUPCIAL
Glenn W. Erickson
John A. Fossa
~
resultante da procriação sexual dependeria do vigor dos pais.
Se os pais são muito jovens e, portanto, imaturos, não terão os 242~5 56
melhores filhos; na medida em que alcancem mais vigor, porém,
I 24 36 I
18 20 40 42
eles terão filhos sempre mais bem dotados.
É, de fato, exatamente esta relação que vemos colocada
esquematicamente nos três casos de "casamentos" simbolizados Figura 8. Vigor Relacionado com Idade.
no Número Nupcial. No primeiro caso, um noivo de 24 e uma
noiva de 18 se acasalam. Todos os dois são jovens demais, pois Ainda é preciso perguntar, porém, o que os triângulos
ainda não entraram em seus respectivos períodos de vigor. que representam os filhos dizem sobre os mesmos em cada caso.
Assim, a progênie desta união deverá ter poucos dotes. No <) trifingulo da progênie no Caso 1 tem um perímetro de 30; no
segundo caso, os pais têm 32 e 24 anos; ainda são jovens, mas ( 'u o 2, o perimetro é 40, enquanto é 50 no Caso 3. Obvi~e~te
já têm entrado, não obstante por pouco, em seus períodos de 11 o podemos concluir, por exemplo, que o filho do pnmerro
vigor. Desta forma, terão filhos com mais dotes do que os pais l 1 ui tl·l'fl10 anos de idade quando nascer. Assim, precisamos
imaturos já considerados no primeiro caso, mas ainda não serão '" 11111 11ovn princípio de interpretação para a progênie.
os melhores. Os filhos melhores nascerão aos pais que estão no A dmvc para a interpretação dos perímetros dos triângulos
ponto máximo do seu período de vigor, o que acontece na média 11 pll tulnndo os filhos é achada em República 540 A, onde
aritmética dos limites deste período. Para o homem, temos l'lnt hl ulir mu que o homem de ouro- isto é, o melhor tipo de
(25+55)/2 = 40, enquanto, para a mulher, temos (20+40)/2 = """" 111, Hnvcrnado pela razão e destinado a figurar entre os
30. Isto é exatamente o terceiro caso listado acima. d 1 ~· ult Hdo l~Htndu chega à plena maturidade aos 50 anos de
É de se supor que o mesmo raciocínio seja aplicável no hhuh M1111, ,·, hó muis dois tipos de homem, o de prata, que é
outro lado do máximo. Uma vez que os pais passam este ponto, 1• 1h, ,, ltu (t pnrlt' das forças armadas, e o homem de bronze e
eles começam a perder o vigor e, conseqüentemente, têm filhos 1 "''• 11 luu11t 111 BJll'litivo cujo lugar na sociedade é entre os
sempre menos bem dotados. Logo, a união de um noivo de 48 11 1 1 1111 Ih , mll'iroM. O homem de prata deverá chegar a sua
anos com uma noiva de 36 anos resultaria em um filho do tipo 1 n 111 tl11111ll11h '" '" 40 unos de idade c o homem de bronze e
intermediário, enquanto a união de um noivo de 56 com uma lU illluM dt 1dmlt.· A idéia de maturidade é um pouco
noiva de 42 daria um filho com poucos dotes. Representamos u 1 h v '"· tloq111111t o vigor é muís ligado a habilidade
lição platônica referente ao vigor dos pais graficamente nn '""' d• t '1 upnlulmk de dcscn1pcnhar bem a função
Figura 8, onde os números superiores são as idades dos noivn11 ht 1 I "', tt du IItH 11 dndt.· Esltt cnpucidade pode ser
e os inferiores são as das noivas. Notamos, porém, que a Figuru 1 l1 1 '' ' "• 11111 uvnlvt.• muiMdo que isto.
8 não faz parte do Número Nupcial, é apenas um esqucm11
gráfico que nós (não Platão) usamos para ilustrar a doutrinu
40
Glenn W. Erickson
John A. Fossa
Tudo isto posto, os três casos de procriação inseridos no que o homem l om as qualidades apropriadas receba o tipo correto
Número Nupcial podem ser explicitados da seguinte forma: de educação pmn assumir seu papel correto dentro da sociedade.
Se isto não ae<>•ltecer, a República começará a se dissolver.
Caso 1: LiBDF, perímetro 24, com t\CDF, perímetro 18, Podemo!! considerar estes três casos como os casos
resultando em t\BCD, perímetro 30. paradigmáticos que determinam a doutrina platônica referente à
questão da procriação. Os outros casos seriam explicados no mesmo
. Neste caso, os noivos ainda não entraram no período de espírito, como sugerimos na Figura 8. Desta forma, esta
VIgor; logo, são muito imaturos; seu filho ficará maduro na idade interpretação revela como o Número Nupcial poderia ser usado
de 30 anos e, assim, será um homem de bronze e ferro, ou seja, eficazmente pelos dirigentes para detenninar os melhores e piores
um artesão ou um fazendeiro. casamentos com o intuito de ter um número adequado de cada
tipo de homem necessário para o bem estar da República.
Caso 2: t:\ADE, perímetro 32, com .1BDE, perímetro 24, Mas, agora, a interpretação parece eficaz demais, pois
resultando em t:\ABD, perímetro 40. como poderiam os dirigentes errar na sua aplicação? Talvez a
resposta para esta questão é que o Número é predicado num
_ ~qu! os noivos entraram no período de vigor, mas ainda ano idealizado de 360 dias, mas o ano solar é ligeiramente maior.
nao atmgtram seu máximo; assim, seu filho terá mais dotes do A discrepância poderia fazer aparecer, inevitavelmente, os erros
que os do filho do caso anterior, alcançando a maturidade aos que iniciarão a lenta dissolução da República. Uma outra
40 anos d~ idade; logo, ele será um homem de prata, ou seja, possível resposta é que o algoritmo é, de fato, simples demais;
um guerreiro. isto é, é muito grosseiro, não sendo suficientemente sensível
para discriminar com certeza entre as várias habilidades dos
Caso 3: t:\ABD, perímetro 40, com .1BCD, perímetro 30, cidadões. Para tanto, parece que Platão necessitaria de um
resultando em t:\ABC, perímetro 50. instrumento mais preciso, digamos um indicador que poderia
funcionar com mais variáveis sobre cada indivíduo- algo como,
. Neste caso, os dois pais estão no ponto máximo do seu digamos, a astrologia. Este assunto será abordado no Capítulo
vtgor; como resultado, seu filho alcançará plena maturidade 3. Por enquanto, porém, queremos voltar a nossa atenção a
aos 50 anos de idade; conseqüentemente, ele será um homem questão da consonância da nossa interpretação do Número
de ouro, ou seja, um dirigente do estado. Nupciai com a descrição do mesmo dado por Platão.
É claro, que quando dizemos que um certo filho será um A CoNsTRuçÃo DO NúMERO NuPCIAL
homem de ouro ou um homem de prata, não queremos dizer
que ele fatalmente será este tipo de homem. Simplesmente Voltamos agora para a Figura 6, que reproduzimos na
afirmamos que ele ~stará qualificado para a correspondente página seguinte, para compará-la com o que tínhamos aprendido
função dentro da sociedade. Será a tarefa dos dirigentes garantir com a testemunha antiga. A Figura 6 é, de fato, um desenho da
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Glenn W Erickson ESTUDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
Geo~~tria Métrica e sua forma geral é, como já vimos, a de "lado" do número quadrado. Assim, poderia parecer que se trata
um tnangulo semelhante ao triângulo (3, 4, 5). Na verdade de um quadrado com um retângulo desenhado em lados
todo~ os seus componentes triangulares também sã~ adjacentes ou em lados opostos. Mas, as descrições que Platão
se~elhantes ao triân~lo (3, 4, 5). Os "cem cubos de três", ou usa descrevem as medidas numéricas, não o desenho
s:J,a 2700 aparece na Ftgura como a medida de um dos lados do geométrico. Assim, quando ele diz que num lado tem "cem
tnangulo menor. Ass~, até ,este ponto estamos em concordância cubos de três", isto não quer dizer que vamos achar um cubo
~,om a testemu~a antiga. E notável, que estritamente falando, (ou pior, cem cubos!) no desenho; simplesmente significa que
Ja temos toda a Informação necessária para determinar todas o número 2700 é uma das medidas do mesmo. Da mesma forma,
as~outras medidas da Fi~ra atr~vés das relações de semelhança. quando diz que um dos elementos das razões a:b e c:d é 100
Nao obs!ante, queremos mvestigar ainda o que podemos extrair vez um quadrado, não deveriamos procurar um quadrado na
da descnção de Platão.
figura, mas, ao contrário, simplesmente concluir que uma
medida da figura é um número quadrado. Note que
100xx2 = (10x)2•
Ora, se, nas harmonias, temos um número em cada lado
do quadrado e se o quadrado não se refere a um quadrado
geométrico, mas a um número, então o quadrado deverá
aparecer nas duas razões. Logo, na nossa representação algébrica
a:b e c:d, temos b=c e, portanto a:b e b:d. Também sabemos
7500
que b=(10x) 2 e ou a ou d é 2700. Desta forma, temos ou
Figura 6. O Número Nupcial. 2700:(10x)2 e (10x)2 :d ou d:(10x)2 e (10x)2: 2700.
Platão também especifica o outro lado de duas formas
Platão nos diz que há duas harmonias tais que diferentes, usando os diâmetros racionais e irracionais de cinco.
Mas, já sabemos que o diâmetro racional de cinco tem quadrado
uma igual a um número igual de vezes, tantas 49. Logo, "cem quadrados oriundos do diâmetro racional de
vezes cem, a outra de comprimentos iguais em
cinco, cada um diminuído por um" quer dizer 100x(49-l), ou
uma direção e, noutra, desiguais (num lado, de
seja 4800. O mesmo valor é obtido usando-se a descrição
cem quadrados oriundos do diâmetro racional
de cinco, cada um diminuído por um - ou se do alternativa em termos do diâmetro irracional de cinco. Com
diâmetro irracional, por dois; noutro, de cem efeito, desde que o diâmetro irracional de cinco tem quadrado
cubos de três). 50, cem quadrados oriundos do diâmetro irracional de cinco,
cada um diminuído por dois será lOOx(S0-2), ou 4800.
, As duas harmonias seriam duas razões a:b e c:d. Mas Platão Seguindo a prática grega de expressar uma razão com o número
so pare~e n?s dar três números: um número quadrado vezes maior primeiro, as duas harmonias são 4800:(10x)2 e (10x)2 :
100 e dOis numeres não quadrados que devem aparecer em cada
44 45
Glenn W Erickson H:-n,nos SOBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
46 47
vlenn W. Erickson
John A. Fossa
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Glenn W. Erickson Es tunos SoBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
A decomposição dos lados destes triângulos em fatores Finalmente, cada tabela pode ser escrita como uma proporção
primos revela algumas regularidades interessantes. A Tabela 1 continuada:
mostra estas regularidades para os catetos, enquanto a Tabela 2 3072:2304::2304:1728::1728:1296::1296:972 = 4:3
o faz para as hipotenusas. 3840:2880::2880:2160::2160:1620 = 4:3.
Em todos os dois casos a razão básica da proporção é 4:3,
972 2235 4135 ou seja uma quarta musical.
129 62 434 4234 As Tabàas 1 e 2 Q.mtas com as que o .:eftor :fuá pam as
1728 2633 4333 outras p artes do Núm ero N upc.:ia]) também nos aj.ldarn a
2304 2832 4432 com pre:rrlerm eh:>r o que a::onte:a.1 no pmce:a::> de construçâ:)
3072 10
2 3 4s3 cb N úm em N upchl. Pl:no. Quando d:iv±:lin os um tr:8ngub en
duas partes pam. c:on.st:ru.:ir rua a.Jt:itude, obten os dois novos
Tabela 1: Regularidades nos Catetos. (
~
t:r::8:ngubs s:m el1antBs ao t:r::8:ngub (3, 4, 5) • M as, os Jados
c:om~:x:>n:imtEs a:)S .B::::bs de 3 e de 4 no tr:Bngub o.r:i;;rhal se
1620 22345 41345 tDinal11tlashPo1EnUS3SdoSS3..1SCDrnfX)nmtEsevice versa. Ora,
2160 24335 42335 a Tabela 1 mostra que os catetos dos quatro componentes básicos
2880 26325 43325 não contêm um fator de 5 e, portanto, não podem ser decomposto
3840 :zoJ'' 44 3 5 em dois triângulos pitagóricos usando o presente processo.
Agora queremos voltar a atenção ao Número do Tirano.
Tabela 2: Regularidades nas Hipotenusas. Platão descreve este Número no Capítulo IX da República,
enquanto tinha descrito o Número Nupcial no Capítulo VIII. O
As regularidades reveladas nos componentes básicos do contexto do novo Número é muito distinto do do Capitulo VIII
Número Nupcial são, de fato, marcantes. Deixamos ao leitor a e, portanto, não há razão de se supor que haja uma relação entre
tarefa de determinar quais regularidades as outras partes deste os dois Números. De fato, os conientadores, até Erickson e Fossa
Número apresentam. Simplesmente notamos que todos os lados (1996) não têm percebido relação alguma entre eles.
dos triângulos componentes básicos são potências de 3, 4 e 5- Mas, exatamente o que é o Número do Tirano? No tivro
ou, em termos de primos, potências de 2, 3 e 5 - o que é, de IX da República, 587 D-E, Platão diz
fato, notável: os referidos componentes são não somente O Tirano, lembra-se, está a três distâncias do
semelhantes ao triângulo (3, 4, 5), mas também podem ser Oligarca, pois entre estes há o Democrata. Se
escritos como produtos de potências destes mesmos fatores. isto estiver correto, então seu prazer será três
Além disto, quaisquer três termos contíguos são relacionados vezes menos real do que o do Oligarca. Mas, o
pela média geométrica; por exemplo, 1296 é a média geométrica próprio Oligarca está na terceira distância abaixo
entre 972 e 1728. Também o termo 1728 é a média geométrica do Rei se identificarmos o Rei com o melhor tipo
entre 972 e 3072, embora estes três termos não sejam contíguos. de governante. Assim, o número que representa
52 53
Glenn W. Erickson EsTunos SoBRE o NúMERo NUPCIAL
Jolm A. Fossa
a distância que separa o prazer fantasioso do Embora as distâncias da Figura 4 pareçam todas iguais, não
Tirano do prazer real será três vezes três. Quando podemos meramente dividir 729 por 6 para achar a distância,
achamos o quadrado e, depois, o cubo, deste porque o resultado não seria um número natural. O mesmo
número, vemos, através destes cálculos, como o problema acontece se dizemos que RT é 729-1=728. Assim, a
intervalo é muito grande. Desta forma, descobrir- Figura 4 é uma figura esquemática, não desenhada à escala.
se-á que, no que diz respeito à verdade e à
Lembramos que o Rei e o Tirano são opostos ou extremos e,
realidade, a vida do Rei é 729 vezes mais feliz do
portanto, os outros tipos de governantes são algum tipo de média
que a do Tirano e a do Tirano é mais dolorosa
pela mesma medida. entre estes extremos. Lembramos também que a tradição antiga
A passagem parece, à primeira vista, matematicamente atribui a Platão um teorema matemático que se trata exatamente
incoerente. Temos três distâncias entre o Rei e o Oligarca e de médias geométricas. O chamado "Teorema de Platão" afirma
mais três entre o Oligarca e o Tirano. Mas em vez de somar as que entre quaisquer dois números quadrados há uma média
distâncias para chegar a seis, Platão calcula o cubo de nove e geométrica integral e que entre quaisquer dois números cúbicos
afirma que este número (93=729) representa a diferença entre a há duas médias proporcionais inteiras. Além disto, notamos que 1
felicidade do Rei e a do Tirano. e 729 são tanto números quadrados quanto números cúbicos. Como
Como podemos entender estes estranhos cálculos números quadrados, têm a média geométrica 27 e, como números
platônicos? Pois bem, já vimos na nossa discussão do Número cúbicos, têm duas médias proporcionais, 9 e 81. Assim sendo,
Nupcial no Capítulo 1 que distâncias são representadas como parece que o Oligarca seria a média geométrica entre o Rei e o
segmentos de retas . O Rei ocupa o primeiro lugar, Tirano, enquanto o Tunocrata e o Democrata seriam as médias
provavelmente correspondente ao número 1, enquanto o Tirano proporcionais entre os mesmos extremos. Portanto, podemos
ocupa o último lugar correspondente ao número 729. Há ainda completar a Figura 4, usando estes dados. O resultado é mostrado
três segmentos entre o Rei e o Oligarca e mais três entre o na Figura 5.
Oligarca e o Tirano. Esta informação poderá ser representada R Tim O D T
como na Figura 4.
R O T 3 9
I 81I
27
I
243 729
f---+--+--+-1--+----t-1 729
Figura 5. A Localização do Rei (R), Timocrata (Tim),
Oligarca (0), Democrata (D) e Tirano (T).
54 55
Glenn W. f:.rickson ESTUDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
mergulha nos prazeres corporais que escurecem a sua razão. Desta A Figura 6 mostra que o Rei é 4096 vezes mais feliz do
fonna, o Rei obtém mna verdadeira felicidade oriunda desta virtude que o Tirano com respeito à coragem, enquanto a Figura 7
que é, segundo o Número do TIJ'at1o, 729 vezes melhor do que a mostra que, no que diz respeito à sabedoria, o Rei é 15625
falsa felicidade que o Tirano obtém através da sua indulgência vezes mais feliz.
irrestrita aos prazeres corporais. Mas, há ainda mais duas virtudes Desde que as três virtudes são três dimensões da
platônicas fundamentais, a saber, coragem e sabedoria. O Rei terá personalidade, podemos unificar as Figuras 5~ 7 num único
estas duas virtudes, enquanto ao Tirano elas faltarão. Como diagrama. As potências de três e de quatro fonnam dois eixos
poderíamos medir a felicidade relativa do Rei oriunda da sua no plano horizontal, enquanto as potências de cinco são
possessão destas duas virtudes? colocadas num terceiro eixo que, por razões estéticas desce no
É sugestivo pensar nas virtudes como sendo ordenadas vertical. O resultado, mostrado na Figura 8, é a "~asca" da
hierarquicamente: coragem é mais nobre do que temperança e Pirâmide Platônica.
sabedoria é mais nobre do que coragem. Mesmo assim, elas
formam um trio holístico no homem bom. Uma imagem
R Tim O
matemática que retratasse esta situação seria a do triângulo (3, 1 4 16 64
4, 5), pois já vimos na descrição do Número Nupcial como o 5
atrela os outros dois lados numa harmonia unificada. Mas, já
vimos na Figura 5 como o número três, através das suas
Tim 2.5
potências, mede a felicidade oriunda da temperança. Assim, a
felicidade oriunda da coragem seria medida pelo número quatro 012.5
e a oriunda da sabedoria seria medida pelo número cinco,
confonne o mesmo esquema. D 62.5
R Ttm o D T 3125
I I I T Jj62.5
4 16 64 256 1024 4096
56 57
U l~11n W. Eriàwn EH'llJJ)()S SOBRE o NúMERO NUPCJAL
john A. Fossa
pitagórica - junto com uma regra recursiva que determina cada três eixos segundo as potências, respectivamente, de 3, 4 e 5.
elemento do fluxo como uma função dos elementos jã Dizemos, porém, que a Figura 8 é apenas a "casca" da Pirâmide.
produzidos. Um exemplo bem conhecido de um fluxo aritmético Pois, agora, semelhante ao que Platão fez no Timeu quando
unidimensional é a série de Fibonacci: preencheu os espaços na figura A, queremos preencher o interior
da Pirâmide por proporções continuadas, sempre lembrando
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ... que devemos nos limitar a números inteiros positivos. Como já
vimos, os números nos eixos já formam proporções continuadas.
A seqüência começa com a semente 1 e é gerada pela Assim, procuraremos fazer o mesmo para cada um dos cinco
seguinte regra: o novo elemento é a soma dos dois elementos planos transversais paralelos à base destacados na Figura 8,
anteriores (Fn = Fn-J + F0 _2). No caso do segundo elemento, bem como para a própria base.
para o qual só hã um elemento anterior, entendemos que a regra O primeiro corte ocorre nos pontos 3, 4 e 5 e poderá ser
manda repetir o primeiro elemento, 1. Alternativamente, representado da seguinte fonna:
podemos começar com duas sementes, 1 e 1, e então aplicar a 3
regra normalmente. 5
O Fluxo Diatônico é um exemplo de um fluxo aritmético 4
bidimensional. Começa com a semente 1 e progride para cima É claro que não hã proporções continuadas integrais entre
por duplicar o número abaixo (Dij = 2Di-I)• enquanto progride estes números, mas, os próprios números dão o triângulo (3, 4,
a direita por triplicar o número a esquerda (Dij = 3Du_ 1): 5). Assim, dizemos que o presente corte gera o único triângulo,
o (3, 4, 5).
O segundo corte ocorre no que podemos chamar do plano
do 1imocrata, tendo 9, 16 e 25 nas arestas da Pirâmide. Desde
que cada um destes números é quadrado, podemos usar o
16 48 144 432 1296 ... Teorema de Platão para achar as médias geométricas entre eles,
8 24 72 216 648 ... obtendo a seguinte configuração numérica:
4 12 36 108 324 ... 9
2 6 18 54 162 ... 15
1 3 9 27 81 ... 12 25
20
Chamamos este fluxo de Fluxo Diatônico porque contém 16
as razões das harmonias diatônicas: 2:1 (oitava), 3:2 (quinta),
4:3 (quarta), 9:8 (tom) e 256:243 (semitom). A configuração numérica do plano do 1imocrata gera três
Voltando à Figura 8, vemos que ela é um fluxo triângulos pitagóricos: (9, 12, 15), (12, 16, 20) e (15, 20, 25).
tridimensional, começando com a semente 1 e progredindo nos São todos semelhantes ao triângulo (3, 4, 5) com as respectivas
58
I..Jlênn >1/. !:.ttCKSOil EsTUDos SoBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
constantes de semelhança k 1=3, Js=4 e Js=5. Além disto, a Há ainda lugar para um número no interior deste plano e,
Figura 9 mostra que estes triângulos são relacionados entre si de fato, 60 é a média geométrica de 36 e 100, de 48 e 75, e de
da mesma forma que as partes do Número Nupcial estão 45 e 80. A configuração gera seis triângulos pitagóricos (27,
relacionadas. 36, 45), (36, 48, 60), (48, 64, 80), (45, 60, 75), (60, 80, 100) e
(75, 100, 125). De novo, todos estes triângulos são semelhantes
ao triângulo (3 , 4, 5) e as suas constantes de semelhança são
dadas pela configuração numérica do plano anterior (o plano
do Timocrata).
25
Figura 9. Os Triângulos do Plano do Timocrata.
60 6]
ulenn w. Erickson
John A. Fossa
interior do plano. A configuração numérica deste plano, Enquanto o plano do Oligarca parecia uma versão menor
portanto, assume a seguinte forma: do Número Nupcial, o plano do Democrata parece uma versão
menor do Número Nupcial Pleno, estreitando ainda mais as
81 relações entre o Número Nupcial e o Número do Tirano.
135 O penúltimo plano intercepta a Pirâmide nos números 243,
108 225 1024 e 3125. Desde que estes números não são quadrados nem
180 375 cubos, o Teorema de Platão não é diretamente aplicável. Mesmo
144 300 625 assim, podemos achar uma proporção continuada entre cada
240 500 par destes números usando a estratégia dada nas Tabelas 1 e 2;
192 400 por exemplo, 1024:768::768:576::576:432::432:324::324:243.
320 Pode-se ainda preencher o interior do plano da mesma forma,
256 finalmente obtendo o seguinte resultado:
62
Gl<!nn W. hickson ESTUDOS SOBRE O NúMERO N UPCIAL
John A . Fossa
64
vlenn w. Erick.~on hSTUDOS ~OBRE o NúMERO NUPL"lAL
John A. Fossa
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Glenn W. Erickson
Joh n A. Fossa
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.Esmoos ~OBRE o NúMERo NuPCIAL
John A. Fossa
empilhar cubos de tal maneira que formam estruturas estáveis. aspectos mais intrínsecos dos Elementos. Lembrando-nos da
Em contraste o octaedro e o icosaedro não permanecem no sua forma geométrica, seria natural pensar que a proporção está
'
mesmo lugar, mas têm uma tendência de rolar com mu~ta
.
entre os volumes dos sólidos. Quem se der o trabalho de calcular
facilidade. O mais leve destes dois Elementos é o Ar que, assun estes volumes, porém, descobrirá logo que esta hipótese não
sendo deve ter a forma do octaedro, ficando o icosaedro para a parece muito frutífera. Mais uma vez, serão os componentes
Águ;. Para uma discussão mais pormenorizada destas básicos que nos fornecerão a chave do enigma.
identificações, ver Fossa e Erickson (1990). Platão indica que há componentes próximos e compo-
nentes remotos dos poliedros regulares. Os componentes
A PROPORÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS MATERIAIS próximos são os triângulos que formam as faces. Estes triângulos
não são as próprias faces, triângulos equiláteros e quadrados,
Ora, enquanto pensarmos em Fogo como sendo o fogo mas meio triângulos equiláteros e meio quadrados, dispostos
fenomenológico que encontramos no nosso planeta, não teremos conforme mostra a Figura 1 de Capítulo 2. Assim, os "sólidos
uma compreensão completa dos Elementos Materiais corno regulares" são, de fato, ocos. Não obstante, é necessário ir mais
foram idealizados pelos antigos. Precisamos reconhecer que o longe: quais são os componentes remotos. Platão não nos diz.
Fogo é primordialmente o fogo das estrelas fixas. Em contraste, Mesmo assim, é óbvio que os componentes dos meio triângulos
a Terra está no centro do universo. Assim, a geometria do são segmentos de retas e que segmentos são representações
universo implica que Fogo e Terra estão em extremos opostos, geométricas de números. Portanto, os "sólidos" não somente
sendo mediados por Ar e Água. De fato, com uma exceção que são ocos, mas nem são superficies! São compostos somente de
abordaremos posteriormente, os Elementos Materiais são vigas ou hastes. Mas, desta forma, os componentes mais remotos
sempre listados na ordem que reflete suas posições no universo, - isto é, o princípios mais básicos - são números, o que situa
a saber: Fogo, Ar, Água e Terra. Aritmeticamente, isto se traduz esta parte da doutrina platônica dentro do projeto de pesquisa
em uma proporção continuada com Fogo e Terra nos extremos pitagórico e também faz sentido aritmético da proporção
e Ar e Água como as médias: continuada proposta pelo próprio Platão.
Fogo:Ar: :Ar:Água: :Água:Terra. Em Fossa e Erickson (1990), concluímos que a proporção
teria a forma
Na verdade, Platão diz, em Timeu 32 C, que os Elementos
Materiais estão em proporção e é nesta proporção que consiste
a harmonia e união do universo. Tanto Cornford ( 193 7, p. 4 7) quanto Heath (Euclid 1956,
Mas, como é que podemos entender esta proporção? Não v. ü., p. 294) concordam com esta forma da proporção, insistindo
é muito convincente afirmar que a proporção está simplesmente que os extremos, Fogo e Terra, devem ser números cúbicos.
entre a quantidade de cada elemento no universo (o tanto de Ainda em Fossa e Erickson (1990), especulamos que a razão
Fogo :o tanto de Ar:: ... ),pois tal proporção não revelaria a x:y deve ser irracional, possivelmente refletindo a dualidade
harmonia e união entre os mesmos. Precisamos relacionar
70 71
Glenn W. Erickson
.I::.SWD(Ii, SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
Razão/Necessidade na construção do universo. Agora, porém, Logo, a Forma numérica do Fogo se tornaria 192. Para manter
não acreditamos que a nossa interpretação anterior seja correta. a razão da proporção de uma quarta musical, será necessário
Proporemos a seguir 1 uma nova interpretação predicada também multiplicar os outros tennos da mesma por 3, resultando
na hipótese de que a razão da proporção seja uma quarta musical na nova proporção
(4:3) e mostraremos como esta hipótese nos permite reconstruir
a química platônica. 192:144::144:108::108:81.
Se mantivermos, por enquanto, a hipótese de que os
extremos da nossa proporção são números cúbicos e Neste processo, conseguimos manter a razão da proporção
estipularmos que a razão seja 4:3, então a proporção continuada uma quarta musical, mas os extremos não são mais números
tomará a seguinte forma: cúbicos.
Antes de prosseguir, devemos verificar que as arestas dos
64:48::48:36::36:27. outros Elementos também são números inteiros. Ar tem a forma
geométrica do octaedro e, portanto, tem doze arestas. Segundo
O resultado parece muito apropriado porque é mais uma a nossa nova proporção, Ar teria a Forma 144. Mas, 144/12 é
aplicação do Teorema de Platão que afinna que entre dois números 12, um número inteiro. Água é o ícosaedro, tendo trinta arestas;
cúbicos existem duas médias proporcionais integrais. De fato, assim, cada aresta mediria 108/3 O, ou seja 18/5, que não é um
parece uma proporção perfeita. Infelizmente, Platão diz (32 B) inteiro. Multiplicando-se a proporção por cinco, obtemos a
que o Demiurgo não conseguiu fazer uma proporção perfeita, mas, seguinte nova proporção
por assim dizer, só chegou perto. Onde está a falha?
Vamos olhar um pouco mais de perto o Elemento Fogo. 960:720::720:540::540:405.
Na presente interpretação, a Forma do Fogo seria 64. Mas, o
Fogo tem a forma geométrica do tetraedro que, por sua vez, é Finalmente, Terra, é agora 405. Mas, Terra é o cubo, que
composta por seis arestas. Assim sendo, cada aresta teria a tem doze arestas e 405/12 é 13 5/4. Multiplicado-se a última
Forma numérica de 64/6, ou seja, 32/3. Mas, seria extremamente proporção por quatro, obtemos
inapropriado, do ponto de vista pitagórico, ter Formas não
integrais para os componentes dos Elementos Materiais. 3840:2880::2880:2160 ::2160:1620(=4:3).
Conseqüentemente, será necessário eliminar a fração. Podemos
fazer isto de maneira mais simples, multiplicando~se por três. A proporção é menos perfeiâa do que a proporção original
porque os extremos não são números cúbicos. Conse-
qüentemente, o que estava garanaido pelo Teorema de Platão -
1 Ver nosso artigo "Sobre a Proporção entre os Elementos Materiais no
Iímeu"
a saber, a existência de duas médaas proporcionais - é somente
in Fossa (2001). Uma grande parte do presente Capítulo é transcrito do
referido artigo. um fato derivativo destes números. Isto é, desde que 3840 e
1620 não são números cúbicos, o Teorema de Platão não se
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73
Glenn W. Erickson bHJDOS SOBRE o N ú MERü NUPCIAL
John A. Fossa
aplica a eles e, portanto, parece que não temos garantia de que outro rúvel, resultando numa espiral sempre mais rica e complexa,
hã duas médias integrais entre estes dois extremos. A garantia, mas sempre "semelhante" aos outros níveis. A expressão exotérica,
embora não seja dada diretamente pelo Teorema de Platão, é isto é a explicação popular, desta doutrina seria naturalmente a
dada derivativamente pelo fato de que 3840 e 1620 são múltiplos doutrina cíclica do tempo que Platão expõe na República.
de números cúbicos pela mesma constante. Isto é, 3840 = 60x64 Rã ainda um pormenor do texto do 'flmeu que apoia a nossa
= 60x43, enquanto 1620 = 60x27 = 60x3 3 . Desta forma, o interpretação. Enquanto ambos Heath (1981, v. 1, p. 89) e Cornford
Teorema de Platão nos garante duas médias integrais entre os (1937, p. 47) insistem que o Fogo e a Terra devem ser números
números cúbicos 64 e 27; portanto, as médias integrais entre cúbicos, Platão é muíto claro neste respeito, dizendo (Tzmeu 32A)
3840 e 1620 serão 60 vezes as médias entre 64 e 27. Assim, as apenas que são números sólidos. De fato, Platão é tão claro com
médias entre 64 e 27 são 48 e 36; mas, 60x48 = 2880 e 60x36 respeito a este ponto que Heath e Comford precisam fazer
= 2160 que são, como jã vimos, as médias entre 3840 e 1620. maravilhas interpretativas para determinar o que Platão "realmente
Assim sendo, vemos claramente como a natureza das coisas quer dizer'' (Heath, 1981, v. 1, p. 89). Assim, mais uma vez, Platão
(o número de arestas de cada sólido) força o Demiurgo a fazer é acusado de obscurantismo deliberado:
uma proporção imperfeita entre os Elementos Materiais. Também
vemos como ele faz o melhor possível, dadas as exigências da Here as in many other p/aces, Plato is compressing
Necessidade. Hã ainda um aspecto interessante deste processo de his statement of technica/ matters to such a point
construção da proporção entre os Elementos Materiais que merece that only expert readers would folly appreciate his
ser notado. Primeiro, é claro que, quando multiplicamos a meaning (Comford 1937, p. 47).
proporção original64:48::48:36::36:27 por uma constante, a razão
básica da nova proporção, 3840:2880::2880:2160::2160:1620, Em contraste às interpretações de Heath e Cornford, a nossa
continua sendo 4:3, ou seja uma quarta musical. Além disto, porém, explica o que Platão disse, em vez do que ele "queria dizer''!
notamos que a constante de multiplicação é 60; isto é,
3840:2880::2880:2160::2160:1620=60x(64:48::48:36::36:27). Isto As VARIEDADES DOS ELEMENTOS
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Glenn W. Erickson t,,IlJOOS 80BRE o NüMERO NL"'PCIAL
John A. Fossa
em virtude da sua forma geométrica. Assim, podemos dizer só podem conter potências de 2, 3 e 5 na sua decomposição em
que Fogo é quente e seco, Ar morno e úmido, Água fresca e fatores primos, pois estes são não somente os fatores primos do
molhada, e Terra fria e seca. Mas agora não é intereiramente Triângulo Pitagórico, mas também do fator de multiplicação (60)
claro como este número tão pequeno de qualidades pode ger~ usado para tornar integrais as arestas dos elementos. Notamos ainda
um mundo sensorial tão diversificado quanto é o nosso. E que um procedimento semelhante foi usado na Babilônia na
possível que considerações deste tipo levaram Platão a formular construção, por exemplo, da tableta Plimpton 322. Desta forma,
sua doutrina de variedades. Segundo esta doutrina, cada se kx3840 é uma variedade do Fogo, k=2Px)Gx5r onde p,q e r são
Elemento Material admite tamanhos diferentes ou ''variedades". inteiros positivos ou zero. Assim sendo, temos toda a informação
Embora todas as variedades de um Elemento sejam necessária para determinar a forma exata de cada variedade. No
geometricamente semelhantes, é possível conceber pequenas que segue faremos alguns cálculos, mas por enquanto nos
variações nas suas qualidades conforme seu tamanho. Isto é satisfaremos com a seguinte descrição geral: os Modos Eminentes
sugerido pelo fato de que as qualidades formam grupos naturais (ou seja, as Formas) de Fogo, Ar, Água e Terra são respectivamente
cujos membros não diferem em espécie, mas em intensidade. 3 840, 2880, 2160 e 1620, enquanto as suas variedades são k vezes
Há, por exemplo, a seguinte escala: quente, momo, fresco, e estes números, onde os únicos fatores primos de k são 2, 3 e I ou 5.
frio. As variedades permitiriam subgradações nestas escalas, Há, é claro, um número infinito de sólidos que satisfazem a
proporcionando mais variedade inata entre os Elementos descrição acima. É, portanto, necessário determinar o princípio
Materiais e, portando, tomando a sua explicação mais provável. que limita a fonnação de variedades, tomando-as finita em número.
É exatamente em relação à doutrina das variedades dos Quando o limite for estabelecido, poderemos listar todas as
Elementos Materiais que achamos um outro grande problema variedades e, assim, teremos as respostas às duas perguntas restantes
na interpretação do pensamento platônico, até agora não do penúltimo parágrafo.
esclarecido satisfatoriamente. Pretendemos sugerir aqui uma Quando começamos a calcular os valores das variedades,
reconstrução que explicaria (i) a forma das variedades, (ii) o observamos que certos valores representam mais do que um
número exato destas e (üi) o princípio de limitação que garante Elemento. O valor 6480, por exemplo, é 4 x 1620 e 3 x2160 e, assim,
que não haverá um número infinito das mesmas. é tanto uma variedade do Fogo quanto uma variedade da Água. O
Em primeiro lugar, como já indicamos acima, todas as primeiro número que é uma variedade de todos os quatro elementos
variedades de um mesmo Elemento devem ser semelhantes. é 103680. 2 O referido número é, portanto, o término lógico dos
Lembramos que o Demiurgo fez tudo o mais perfeito possível; vários tipos de variedades; além deste ponto, nada poderia ser
assim, as variedades devem ser múltiplos integrais das formas diferenciado. De fato, por ser uma mescla de todos os elementos
básicas dos elemt(ntos. Em princípio, poderíamos também admitir
submúltiplos, mas, então, como já vimos acima, perderíamos a 2 Esse número é também 10 vezes o maior número da alma do mundo, pois
proporção musical entre os Modos Eminentes (as variedades mais como mostraremos noutro lugar todos estes números devem ser
simples, portanto, menores) dos Elementos Materiais. Além disto, multiplicados por 384. Assim, 103680 = 10368xl0=27x384 x l0. Mas,
o Derniurgo fez tudo simétrico; assim, os fatores de multiplicação 10 representa o tetrakys que compreende tudo que existe.
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Glenn W. Erickson ES11JDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
A TABELA PERIÓDICA PLATÔNICA o ponto 5 contém todos os valores da base multiplicado por 5 e,
em geral, o plano paralelo à base e contendo o ponto 5r contém
A tabela periódica dos Elementos Materiais dada acima não todos os valores da base multiplicado por 5r. Embora o resultado
é muito propícia para quem quer estudar a química dos mesmos, pareça uma antecipação das coordenadas cartesianas, não era
ou seja a maneira em que eles se combinam e se transformam uns usado pelos matemáticos da Academia para relacionar pontos
nos outros. É, porém, possível dar um arranjo mais elegante à arbitrários no espaço, mas para sistematizar as relações entre
referida tabela através da Pirâmide Platônica. No Capítulo 2, num as potências de 2, 3, e 5 e as suas médias geométricas. Assim, o
contexto completamente distinto do presente argumento, vimos cubo, embora seja tridimensional, é mais parecido com os vários
I
como a Pirâmide Platônica unificou os conceitos do Número tipos de tabelas que são tão ubíquas na matemática babilônica.
Nupcial e do Número do Tirano, todos os dois encontrados na Agora podemos apresentar as variedades dos Elementos
República. Agora a mesma estrutura, com duas modificações segundo suas posições relativas no cubo descrito acima. O
inessenciais, aparece de novo como o fundamento da discussão primeiro nível de variedades é a seguinte parte do plano de 5-
dos Elementos Materiais no Timeu . Imaginemos um cubo, múltiplos da base:
potencialmente infinito, em que um vértice é marcado 1. Sobre
um lado da sua base coloca-se as potências de 2, enquanto de um
I
lado adjacente coloca-se as potências de 3; as potências de 5 são 61HO
'-:-:~---9-2-i6--õ----~ I
1 !&912iilil.______,
3 o720
colocadas em uma aresta vertical e as médias geométricas são I I
I '
colocadas conforme mostra a Figura 1. 15360 : 46080 ~- - ---·
7680 : 23040
_-·r··----------·-----------.. .;.2
3 4 3
3 5
3840 111520 13456 0;.·.. ~-:~~~~~::~T I
625
f : 5760 :17280 51840 l.t..:.:.~.::.:.:.~-:;
[_ - ~~~ ~ -- _!_ ~~~~-- - ~5_9_2_0---- ~7_7_6~- jJ
125 :.............; .............. ,.
d a e b
80 81
Glenn W. Erickson ES'll.IDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
I
nota, é claro' se localiza diretamente acima daquela nota).
. .
I
l.~~~o_o_ L .......... .
O segundo rúvel das variedades é paralelo ao ~nmetro
plano, 5 para cima. Obtemos os valores do segundo ruvel por I 54000 -~
multiplicar os do primeiro rúvel por 5, desprezando resultados : . • • • • • • • • • • • • • ; - !- - - - - ,
81000
maiores do que 103680, a matéria prima. O segundo rúvel é,
40500
portanto, uma porção menor do segundo plano:
Figura 4. O Segundo Nível da Tabela Periódica Platônica
76800
38400
~----,
O valor 96000 é situado diretamente acima do valor 19200
192oo :--s-76õõJL::.:.:-.::.~.:-~-~ do segundo plano de variedades. Embora seja uma tabela
: 28800 i 86400 :I tridimencional, a presente figura parece uma antecipação
I i l:
: 14400 i 43200 it
L-- ---- ---!------ -~:• •••••••• ••••· • : genuína da tabela periódica de Mendeleev, pois sistematiza as
i 21600 64800 ~--------------·-··: variedades dos Elementos Materiais de uma forma que incentiva
i:................
10800 32400 9?200 i
--······························ ..
investigações sobre as suas transformações.
16200 48600
8100 24300 72900 A QuíMICA PlATóNICA
82 83
UlCllll w. L I H.:K~U ll Esnmos Soaru: o NuMERo NuPCIAL
John A. Fossa
900
960 960
972
1080 1080
1152
1200
1280
1296
1440 1440
1600
Figura S. A Decomposição do Triângulo Eqüilátero. 1620
1728
1800
Assim, os seis componentes de uma face com lado s terão 1920 1920
medidas de (s--.J3/6, s/2, (s--.J3)/3). Vejamos, por exemplo, a 2160
2400
variedade 2160 da água. Desde que o icosaedro tem 30 arestas 2560
(ver tabela acima), s=2160/30=72 e, assim, esta variedade da 2880 2880
água será composta de triângulos medindo (12--.J3, 36, 24·~3).
3000
3200
Para determinar o tamanho relativo dos triângulos básicos de 3240
3600
cada variedade, será suficiente listar apenas a medida do lado 3840 3840
integral ( s/2) na seguinte tabela: 4320
84 85
Glcnn W. Erickson
Esmoos SoBRE o NúMERo NuPCIAL
John A. Fossa
FOGO AR ÁGUA
Pl P2 P3 Pl P2 P3 Pl P2 P3 2 Fogo 11520 <:::;> 1 Ar 23040.
4800
5120 Notamos que entre as variedades do primeiro nível,
5760
6400 somente o Fogo e o Ar participam deste tipo de transformação.
7680 Ist? poderá ser uma razão pela qual Platão usou mais dois planos,
8000
8640 pois quando são contemplados, o Ar e a Água também
transformam-se um n~ outro. Não há transformações deste tipo,
P 1, P2 e P3 querem dizer, respectivamente, Plano I, Plano 2 porém, entre Fogo e Agua.
e Plano 3. Desta forma, os Elementos listados na coluna Fogo P1 Os triângulos básicos ainda podem combinar-se de outra
correspondem às variedades de Fogo da Figura 2. Seme- maneira para formar triângulos básicos de tamanhos diferentes.
lhantemente, os listados na coluna P2 correspondem às variedades Como se pode ver no seguinte diagrama, n2 triângulos formam um
da Figura 3 e os na coluna P3 às variedades da Figura 4. O mesmo novo triângulo que tem medidas laterais n vezeso triângulo original:
esquema aplica-se aos outros dois Elementos, Ar e Água.
A tabela acima, juntamente com a tabela periódica, permite-
nos discernir quais transformações são possíveis. O tipo mais
simples de transformação acontece quando os triângulos básicos
do reagente e o produto são do mesmo tamanho. Assim, por
exemplo, a variedade do Fogo 11520 e a variedade do Ar 23040
são compostas de triângulos de tamanho (320...f3, 960, 640...f3) e,
portanto, podem transformar-se um no outro. É até possível
escrever-se uma equação química para a transformação. Para tanto,
empregamos a seguinte tabela de componentes:
Figura 6. U m Arranjo de n 2 Triângulos.
Elemento poliedro faces componentes componentes
por face totais Não podemos, porém, juntar dois triângulos no lado maior,
Fogo tetraedro 4 6 24 como sugere Comford (1937, p.238), porque os lados serão
Ar octaedro 8 6 48 números irracionais:
Água icosaedro 20 6 120
86 87
Glenn W. Erickson
l!s I\ IDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A . Fossa
A variedade 17280 de Água tem (96-..f3, 288, 192-..f3) como geometricamente como as arestas dos sólidos, e determina a
triângulos básicos, enquanto a variedade 34560 de F~go tem forma de cada elemento e as variedades dos mesmos, bem como
(960-..f3 , 2880, 1920-..f3) = 10(96-..f3, 288, 192-..f3). ~sun, 100 as suas posições na tabela periódica. A química especifica quais
triângulos de (96-..f3, 288, 192...J3) podem se combmar para transformações por resolução entre estas variedades acontecem,
formar um de (960...J3, 2880, 1920-..f3). Destes últimos, ou seja, determina as transformações que acontecem quando
precisamos de 24 para fazer o tetraedro do Fogo 34560, ou seja os sólidos são resolvidos em componentes triangulares. Vemos
precisamos de 2400 triângulos do tipo (96...J3, 28~, 192-..f3) para ainda como o Demiurgo usa o Triângulo Pitagórico para dar
formar esta variedade do Fogo. Mas, cada partiCula de Agua uma simetria aritmética às suas construções cosmológicas.
tem 120 componentes triangulares. Portanto, precisamos de 20 Talvez o mais surpreendente de tudo, porém, é que a mesma
partículas de Água para cada partícula de Fogo a ser formada: estrutura matemática que fundamentou e unificou as passagens
matemáticas da República reaparece agora no Timeu como a
1 Fogo 34560 <=> 20 Água 17280. base para a construção do universo.
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I! SIUDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
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Esnmos SoBRE o NúMERo NUP<.."'AL
John A. Fossa
F~oÁ
através da acumulação de um Elemento em excesso, pois Isto 2880
4500
só produziria males psicológicos e não um tipo de personalidade.
Mas, então, qual o mecanismo que organiza os Elementos 3840
Materiais dentro da alma, de forma que um ou outro tenha
proeminência? Para Platão, os planetas eram seres vivos - ou
espíritos tutelares - que circulavam nos céus e, em conseqüência 7500
desta moção, emitiam notas musicais. No momento em que
Figura 1. As Formas dos Elementos Materiais no Número Nupcial.
uma criança nascia, a nota musical emitida pelo planeta
dominante nos céus na ocasião imprimiria sua natureza na sua
alma. Este é, então, o mecanismo fundamental para a formação Cada algoritmo é limitado por algum aspecto significante
de personalidades diferentes através da influência dos "astros". da situação. No caso do Número Nupcial, a subdivisão do
Para chegar a uma astrologia plenamente desenvolvida, bastava triângulo é feita até que não seja possível achar-se triângulos
se fazer duas correlações: uma entre os planetas e os signos do com lados integrais (ver Capítulo 1). A Pirâmide Platônica é
truncada em números que são tanto quadrados quanto cubos, o
que proporciona a doutrina o número correto de médias pa ra
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"U'
Glenn W. Erickson
Esrooos SoBRE o NúMERO NL""PCIAL
John A. Fossa
Capítulo 3). Mas, quando estes três limites distintos são Jnolhado ~~ \
aplicados aos três processos diferentes, achamos o Número Fogo / e B \
Nupcial na base da Pirâmide Platônica e as formas dos
Elementos Materiais nos catetos do Número Nupcial! Parece,
3840 i~ 17o\:2a~of~ Terra
'I
~4 r 2 1620
de fato, que tudo está começando a se encaixar, que a harmonia -9 \
A/ ~~
fundamental do universo está sendo percebida. 30 72 172B F 1728 972 E
seco molhado molhado seco
A conclusão original é reforçada quando voltarmos a nossa
atenção ao Número Nupcial Pleno e identificarmos os catetos dos
triângulos com as propriedades fundamentais dos Elementos que Figura 2. As Propriedades dos Elementos Materiais no Número
estão nas hipotenusas. A Figura 2 mostra essas relações. No Nupcial Pleno.
Capítulo 1, vimos que o Número Nupcial sanciona os seguintes
três tipos de acasalamentos (ver a Figura 2): No primeiro caso, Triângulo DEF +Triângulo CDF, temos
a junção de Ar (quente e molhado) com Terra (fria e seca).
Triângulo DEF + Triângulo CDF Assim sendo, o filho, representado pelo Triângulo CEF terá
Triângulo BCF + Triângulo ABF uma mistura de todas as propriedades fundamentais. De fato, o
Triângulo CEF + Triângulo ACF. cateto CF é a conjunção de quente e frio, enquanto o cateto EF
l é a conjunção de seco e molhado. No segundo caso, Triângulo
BCF + Triângulo ABF, Água (fria e molhada) se junta com
Fogo (quente e seco), resultando no filho ACF. O cateto CF,
como já vimos, é a conjunção de quente e frio; o outro cateto,
AF, é a conjunção de seco e molhado. No terceiro caso
Triângulo CEF +Triângulo ACF, todos os Elementos participam
'
na união e, portanto, todos estão presentes no filho. Desta forma,
os três tipos de acasalamento resultam em filhos que têm uma
proporção harmoniosa de todos os Elementos Materiais e suas
propriedades fundamentais.
Embora o esquema representado na Figura 2 inclui novos
aspectos do Número Nupcial que são altamente relevantes para a
eugênia platônica, ainda não resolvemos o problema de com9
·--- - - - - -
94 95
Glenn W. Erickson ESTUDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
john A. Fossa
Sagít6.rio t4
manifestado por indivíduos com tipos de personalidade distintos Áries Fogo e
3840
e, em oualquer caso, (2) observação empírica não é um tipo de
conhecimento muito confiável na opinião de Platão. É exatamente
neste ponto que a astrologia resolve o problema.
3072 1728 1728 972
Voltamos à Figura 2 e concebemos os catetos AC e CE seco •olhado ~olhado seco
como uma representação estilística da abóbada dos céus. Então
o zodíaco percorrerá o trajeto ED-DC-CB-BA quatro vezes no Figura 3. Os Trígonos Tradicionais no Número Nupcial.
curso de um ano. Se associarmos os signos do zodíaco em
ordem com estes segmentos, começando com Touro na posição Há ainda um aspecto da Figura 3, relacionado com a ordem
ED, obteremos a Figura 3 . Nesta Figura, os signos são dos Elementos Materiais, que merece atenção especial. Como
organizados em quatro grupos de três signos cada. Estes grupos já vimos, na Antigüidade, a ordem desses Elementos é quase
são os trigonos da astrologia tradicional. Assim, Leão, Sagitário invariavelmente Fogo, Ar, Água, Terra. Isto é, o Fogo está nos
e Áries formam o trígono de Fogo; Câncer, Escorpião e Peixes corpos ,celestiais c a Terra no centro do universo, enquanto o
formam o trigono de Água; Gêmeos, Libra e Aquário formam Ar e a Agua mediam estes dois opostos. A única anomalia está
o trígono de Ar; e Touro, Virgem e Capricórnio formam o trigono exatamente na astrologia tradicional, onde o trigono de Ar e o
de Terra. Assim, parece que a astrologia tradicional teve as suas trígono de Água têm as suas posições invertidas. Até agora,
origens na Academia platônica. esta anomalia era completamente inexplicável, pois a ordem
Agora, porém, os dirigentes da República possuem um fixa dos Elementos faz parte do seu próprio papel como um
instrumento mas preciso para determinar o tipo de personalidade sistema científico. A Figura 3, no entanto, mostra claramente
de cada individuo porque a astrologia identificará o referido porque a inversão aconteceu: a astrologia tradicional segue a
tipo a partir da data do nascimento do mesmo. Conse- ordem das formas dos Elementos no Número Nupcial.
qüentemente, os erros na determinação dos acasalamentos que
são inevitáveis, quando os dirigentes usam somente o Número O Thema Mundi
Nupcial, agora podem ser evitados com a ajuda da astrologia.
A doutrina astrológica apresentada acima naturalmente nos
reporta à "criação" do universo. Na construção da alma do
mundo pelo Demiurgo no Timeu, Platão faz o mesmo distribuir
os planetas harmoniosamente nos céus, sem, no entanto, nos
explicar como seja esta distribuição. O problema de determinar
C)()
97
Glenn W. Erickson ESTI..TDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
o posicionamento relativo dos planetas no prirrúero dia do mundo (8:?). para ~arte e então desceríamos as outras concordâncias.
ganharia mais tarde a acepção de Thema Mundi. F. M. Comford A umca subtda (musical) de Júpiter para Marte parece estranha.
(1977, p. 79) sugere a seguinte abordagem ao problema: ~m qualquer caso, a abordagem de Cornford é muito geral
e, asstm, não nos permite determinar a posição exata dos
The differences between them [os planetas] planetas no ~omento da construção do universo pelo Demiurgo.
correspond in some unspecified way to the six Notamos amda que o Thema Mundi platônico não somente
intervals between the seven terms ofthe series, I, 2,
preconiza o posicionamento dos sete planetas, mas também visa
3, 4, 8, 9, 27 ('the double and triple intervals '). The
d~terminar a posição das Estrelas Fixas e das três Parcas (ver 0
simplest view is that these figures measure the radii
ofthe successive orbits: the radius ofthe Moon's mtto de Er, na República), o que não é levado em conta pela
orbit = 1, that of the Sun 's = 2, and so on. abordagem de Cornford. [Para mais sobre Cornford ver
Erickson, 1995.] '
Cornford ainda afirma que Platão provavelmente não Embora Platão indique que o número de inícios divinos é
queria precisar os detalhes porque, para tanto, não tinha difer~nte do dos inícios humanos (o Número Nupcial), a relação
informação empírica suficiente. Só queria, sempre segundo estreita entre o macrocosmo e o microcosmo indica que o Thema
Cornford, garantir que os intervalos fossem dados por razões Mundi deveria ser relacionado ao Número Nupcial. Seria até
entre números naturais pequenos. provãvel que o número de inícios divinos fosse o Número
Em termos harmônicos, a abordagem de Cornford implica Nupcial Pleno, fazendo assim o microcosmo um detalhe do
que tem uma oitava (2: 1) entre o Sol e a Lua, uma quinta (3 :2) macro_c~smo. Es~a conclusão é reforçada pela interpretação
entre Vênus e o Sol, uma quarta (4:3) entre Mercúrio e Vênus, astrologtca do Numero Nupcial feita acima. Talvez a maneira
uma oitava (8:4 = 2:1) entre Marte e Mercúrio, um tom (9:8) mais fácil de usar o Número Nupcial para determinar o Thema
entre Júpiter e Marte, e uma oitava e uma quinta (27:9 = 3:1 = Mundi seja supor-se que cada vértice dos vários subtriângulos
2:1 x3 :2) entre Saturno e Júpiter. Embora esses valores sejam deste corresponda à um planeta, com a Terra situada na base,
todos concordâncias para os antigos, o resultado não parece ter conforme a disposição ilustrada pela Figura 4. Assim, os
beleza intelectual alguma, parecendo mais com uma salada comprimentos dos segmentos corresponderiam aos raios das
órbitas dos planetas.
arbitrãria de concordâncias. Ainda mais, para obter este
resultado, Cornford inverteu a posição de dois dos elementos Desde que há, na Figura 4, dois pontos a uma distância de
da série, pois Platão não faz uma série de ordem crescente, mas 1728 da Terra (marcados com um X na Figura), colocamos o
sim uma de potências de 2 e 3 intercaladas: 1, 2, 3, 22, 32, 23, 33, planeta desta órbita (o Sol) no lugar simétrico com respeito aos
ou seja 1, 2, 3, 4, 9, 8, 27. Assim sendo, a série poderia dois pontos, ou seja na vertical 1728 acima da Terra. Ocstu
representar, não os raios das órbitas, mas as distâncias entre as forma, podemos relacionar a posição inicial dos planotn ~<~ l' OIIl
mesmas. Neste caso, começando com Saturno desceríamos três as suas cores dadas por Platão na República. Os Plnm•1111 1111
vertical diretamente acima da Terra (Lua, Sol, M,,, , 111111 ,
quintas (27:8 = 3:2x3:2x3:2) para Júpiter, subiríamos um tom
Saturno) são os planetas amarelos. Os dois phuwtm11111 , uh 111
98 99
Glenn W. Erickson
bruoos SoaRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
da Figura (Vênus e Júpiter) são brancos, enquanto os coloridos lugar que deveríamos achar os planetas, pois eles circulam
(Marte, vennelho, e as Estrelas Fixas, multi~loridas) são n~ b~se. através do zodíaco.
Ainda mais, as Parcas são distribuídas simétncamente nos verttces O problema assinalado no parágrafo anterior, porém, pode
da Figura em intervalos musicais de uma quarta (4:3). ser eliminado por um expediente simples. Todos os triângulos
do diagrama são múltiplos do Triângulo Pitagórico- o triângulo
Sat/P (3600) retângulo com lados medindo 3, 4 e 5. Assim, cada triângulo
do diagrama terá lados medindo 3k, 4k e 5k, onde k é um número
natural que varia de triângulo para triângulo. Assim, podemos
cortar a hipotenusa (5k) em dois segmentos medindo 3k e 2k,
como mostra a Figura 5. Geometricamente, a construção é fácil:
basta cortar da hipotenusa um segmento do tamanho do cateto
menor usando o compasso.
As razões das distâncias entre os planetas são, nesta Figura 5. A Divisão da Hipotenusa numa Quinta Musical.
hipótese, dadas na seguinte tabela:
Aplicando este procedimento aos quatro triângulos de
EF:Sat Sat:Jup Jup:Mar Mar:Mer Mer:Ve Ve:Sol Sol:Lua hipotenusas medindo 3840, 2160, 2880 e 1620, obtemos um
4:3 5:4 16:15 75:64 16:15 5:4 4:3
novo diagrama (Figura 6) cujo perímetro é composto de
segmentos de medidas que são produtos de potências de 2 e 3 .
Apesar da configuração simétrica destas raz?es, perde~os
É exatamente este que Platão nos diz no Tzmeu (36D) quando
as concordâncias musicais, o que enfraquece a mterpretaçao.
afirma que as órbitas dos planetas são dispostas segundo
As discordâncias da tabela resultam do fato de que os
intervalos de dupla e tríplice razões. Desta fonna, os dois lados
comprimentos dos segmentos (hipotenusas) correspondendo aos
do diagrama que representam os quatro Elementos também
Elementos Materiais têm um fator de 5, enquanto as
representam a abóbada celestial e podemos identificar as órbitus
concordâncias só têm 2 e 3 como fatores primos (oitava = 2: 1,
de cada planeta pela ordem relativa dos mesmos du Tc11 H
quinta = 3:2, quarta= 4:3, tom= 9:8). Mas, é exatamente neste
100 101
UICUL1 w. LlH... l\..)Utl
Te=a
1620
972
~----------~----~~----~--~V~us
3072 1728 1728 972
Clot ho
Parca Parca de Duas Mãos Parca
6 o
Figura 6. Os Corpos Celestiais no Número Nupcial.
Xaz te
102
103
Glenn W. Erichon csTUoos SoBRE o NúMERo NUPciAL
John A. Fossa
Estrelas
Sol (Fogo)
1
4
8 4
6 o
648 4
Sat/1 Me=úrio Clotho
(3072)
1
6 o
Sat Mer (Ar)
(Ar)
Júpiter(1536)
Assim, temos um remoinho que parece intercalado com o Figura 9. Os Elementos Materiais nos Remoinhos dos Céus.
primeiro remoinho - da mesma forma em que as potências de
2 e as potências de 3 foram intercaladas na série 1, 2, 3, 4, 9, 8, Assim, dentro de cada remoinho temos
27 - o que reforça ainda mais a sensação de movimento nos
céus. O novo remoinho é também composto de intervalos de Fogo:Ar::Ar:Água::Água:Terra::4:3
quartas musicais, de tal forma que
o que é exatamente a proporção entre os Elementos Materiais
Lua:Sol::Sol:Mercúrio::Mercúrio:Júpiter::4:3. que achamos no Capítulo anterior.
Para analisar melhor a influência dos planetas sobre os
Os dois remoinhos também estão relacionados entre si por tempos propícios para a reprodução, seria necessário abordar
quintas musicais, pois os elementos correspondentes de cada mais três aspectos da doutrina platônica. Devido a limitações
um são separados por este intervalo, de tal forma que de espaço, porém, somente podemos indicar a seguir, de modo
qualitativo, as relações necessárias para completar a análise:
Vênus:Lua::Marte:Sol::Saturno:Mercúrio::Estrelas:Júpiter::3:2.
!04 105
Glenn W. Erickson
John A. Fossa
106
Glenn W. Erickson bm;oos SOBRE o NúMHRo NUPCIAL
john A. Fossa
A idéia básica de Kutler é a de que os gregos poderiam ter Antigüidade como o "Retângulo de Pitágoras" . Seja como for,
descoberto o "Triângulo de Pascal" através de perceber a sua voltaremos a nossa atenção agora à relação entre a Linha
relação com a Linha Dividida. O referido "Triângulo" é, porém, Dividida e os temos pitagóricos.
mais básico do que o argumento que Kutler propõe e veremos,
no próximo Capítulo, como era conhecido aos primeiros TERNOS PITAGóRICOS
pitagóricos dentro do contexto de fluxos aritméticos.
Ironicamente, o próprio Kutler (1993, p. 84) só percebeu a Lembramos de que um temo pitagórico é um conjunto de
relação entre a Linha Dividida e o Triângulo de Pascal depois três números inteiros positivos que medem os lados de um
de perceber uma relação análoga entre o Triângulo de Pascal e triângulo retângulo . Assim, (a, b, c) é um temo pitagórico sse
a divisão de triângulos retângulos pela altura à hipotenusa. A a, h, e c são todos inteiros positivos (ou seja, números naturais)
Figura 2 mostra a segunda divisão, correspondente a terceira tais que a2 + b2 = c 2• Convencionaremos que no temo pitagórico
linha ( 1 2 1) do Triângulo de Pascal, em que temos um (a, b, c), c sempre será a hipotenusa; além disto, geralmente
componente triangular de tamanho A, dois de tamanho B e um escreveremos o temo de tal forma que a<b.
de tamanho C. O próprio Pitágoras foi creditado com a descoberta de uma
fórmula para temos pitagóricos. Podemos escrevê-la da seguinte
forma:
108 109
Glenn W. Erickson E:m oos SoBRE o NúMERo NUPCJAL
John A. Fossa
+ [Y:!(nz-1))2 = [Y:!(n2+1))2. Os exemplos sugerem que c-b é temo é gerado pela Fórmula de Platão na forma (4, 3, 5); é o
sempre igual a 1; desde que Y2(n2+ 1) - Y:!(n2 -1) = 1, isto é correto. único caso em que temos b<a. Como foi o caso com a Fórmula
Como conseqüência, a Fórmula sempre gera ternos pitagóricos de Pitágoras, o temo (20, 21, 29) não é gerado pela Fórmula de
primitivos, ou seja temos para os quais o MDC{ a, b, c} = 1. Se Platão. Isto significa que não podemos gerar todos os temos
um temo não for primitivo, ele será um múltiplo de um temo pitagóricos primitivos, mesmo usando as duas fórmulas
primitivo; por exemplo, (6, 8, 1O) = 2 x(3, 4, 5). Uma outra conjuntamente.
conseqüência do fato de que c-b= 1 é que a Fórmula de Pitágoras Carl Boyer ( 1974, p. 65) sugere que a Fórmula de Platão é
não gera todos os temos pitagóricos primitivos, pois (20, 21, 29) é nada mais do que uma pequena variação da Fórmula de
um temo primitivo, mas 29 - 21 = 8 -:;:. 1. Pitagóras, pois os valores da Fórmula de Platão são meramente
Há outra fórmula que gera ternos pitagóricos, conhecida o dobro dos da Fórmula de Pitágoras. Mas, Thomas Heath (1981,
na Antigüidade. Atribuída a Platão, esta fórmula pode ser escrita p. 81; original1921)já tinha notado que isto não explica porque
da seguinte maneira: a restrição a inteiros ímpares na Fórmula de Pitágoras
desaparece na Fórmula de Platão. Além disto, não explica
neN, maior do que 1 => porque uma nova série de temos pitagóricos primitivos é gerada
(2n, n2 -1, nZ+ 1) é um temo pitagórico. pela Fórmula de Platão. Assim sendo, parece que os
comentários menosprezantes de Boyer não avalia de forma
Listamos os primeiros ternos gerados pela Fórmula de Platão: correta a importância da Fórmula de Platão. Heath ainda sugere
que todas as duas fórmulas provavelmente resultaram de
n temo considerações relacionadas com os números figurados . A
2 (4,3,5) sugestão parece razoável no contexto do conhecimento
3 (6, 8, 10) matemático dos primeiros pitagóricos. Seja tudo isto como for,
4 (8, 15, 17) porém, queremos apresentar uma derivação alternativa de todas
5 (10, 24, 26) as duas fórmulas a partir da Linha Dividida.
6 (12, 35, 37) Como já vimos na Figura 1, as duas partes interiores (B) da
Linha Dividida são congruentes. Assim sendo, cada uma das partes
Os exemplos indicam que a Fórmula de Platão gera temos, B é a média geométrica entre o extremo maior A e o extremo
nem sempre primitivos, para os quais c-b=2. Desde que (n2+ 1) menor C, pois da relação que define a Linha Dividida, A:B::B:C,
- (n2 -1) = 2, isto é correto. Esse fato implica que o temo gerado segue de imediato que B~AC. Agora, seja C=l. Então, os
é ou primitivo ou duas vezes um terno primitivo. Além disto, segmentos B são medidos por um inteiro n, enquanto o segmento
desde que n2-1 < 2n não é satisfeito por qualquer inteiro maior A é medido por um inteiro x, conforme mostra a Figura 3.
de 2, o terno (3, 4, 5) é o único que é gerado por todas as duas
fórmulas, a de Pitágoras e a de Platão, o que destaca o referido X n 1
temo mais uma vez como algo especial. Notamos ainda que o
Figura 3. Uma Linha Dividida.
110 111
Glcnn W. Erickson
john A. Fossa
Es·woos SoBRE o NúMERo NuPCIAL
Mas, da relação x:n: :n:1, x = n2 • Assim, a Figura 3 se torna do referido triângulo é um terno primitivo não gerado pela
Figura 4. Fórmula de Pitágoras (menos no caso n=2).
n
2
n n 1
Os temos pitagóricos seriam de importância à aritmética
sagrada de Platão porque as medidas dos seus lados são números
Figura 4. Uma Média Geométrica na Linha Dividida. inteiros. A derivação dada acima das duas fórmulas, conhecidas
na AntigUidade, que geram ternos pitagóricos é significante,
O resultado mostrado na Figura 4 é um caso especial da do ponto de vista religioso, porque unifica os ternos, a Linha
primeira parte do Teorema de Platão - que entre dois inteiros Dividida e o Diagrama de Pappus - este último sendo central à
quadrados (no caso, n 2 e 1) há uma média geométrica inteira estrutura do Número Nupcial. Tudo isto indica que há uma
(n). A média pode ser construída pelo Diagrama de Pappus unidade profunda no universo. Até agora1 porém, a nossa
(Euclides VI, 13), como mostra a Figura 5. apresentação tem sido um tanto não-platônica porque tem usado
considerações algébricas abstratas, em vez de um algoritmo
aritmético reiterant e que era caraterístico da matemática
platônica. O que se precisa, então, é um processo algorítmico
que gerasse as várias Linhas Divididas, as quais podem ser
convertidas em Diagramas de Pappus e temos pitagóricos como
foi ilustrado acima.
1!2 113
Ulenn w. t:.ncKson bnuuos :SoBRE o N úMERo N li1'CIAL
John A. Fossa
Mas, agora é fácil ver como podemos gerar uma Linha de forma, o referido procedimento unifica as duas fórmulas
uma outra: complementares e esclarece ainda mais a relação entre elas.
Há ainda ternos primitivos, como (20, 21, 29), que não
1/1/1/1 ~ 1+1+1+1/1+1/1+111 ~ 4/2/2/1 são gerados pelo algoritmo dado acima, pois não são dados
4/2/2/1 ~ 4+2+2+ 1/2+ 1/2+ 111 ~ 9/3/311 pela Fórmula de Pitágoras, nem a de Platão. Podemos
9/3/3/1 ~ 9+ 3+3+ 1/3+ 1/3+111 ~ 16/4/411 generalizar o algoritmo para obter estes ternos também?
16/4/4/1 ~ 16+4+4+1/4+1/4+1/1 ~ 25/5/5/1 Podemos tentar manter E, em vez de e, fixo, como nos seguintes
e, em geral, exemplos:
1/111/1 ~ 1+1+1+1/1+111+1/1 ~ 4/2/2/1
n2/n/n/1 ~ n2+n+n+ 1/n+ 1/n+ 111 ~ (n2+ 1)2/n+ 1/n+1/1. 4/2/2/1 ~ 4+2+2+ 1/4+2/4+2/4 ~ 9/6/6/4
9/6/6/4 ~ 9+6+6+4/9+6/9+6/9 ~ 25/15115/9
O procedimento ilustrado acima pode ser fonnulado da 25/15/15/9 ~ 25+ 15+ 15+9/25+15/25+ 15/25
seguinte maneira: ~ 64/40/40/25.
E/M/M/e~ E +M+M+e/M+e/M+e/e Mais uma vez a regra é óbvia: a média somada com o
extremo maior será a média geométrica entre a Linha toda e o
onde E é o extremo maior, e o extremo menor e M a média exiremo maior, ou seja
geométrica entre E e e. Isto significa que, dada uma Linha
Dividida, a média somada com o extremo menor será a média E/MIM/e~ E+M+M+e/E+MIE+M/E .
geométrica entre a Linha toda e o extremo menor. Nos casos
considerados até agora e= 1, mas veremos mais adiante que isto Desde que temos agora duas maneiras de gerar Linhas
não é sempre o caso e, portanto, damos a regra já na sua fonna Divididas de uma dada Linha, cada Linha gerará duas novas
mais geral. Do caso geral acima, vemos que, começando com a Linhas (menos no caso da Linha 111/111 que gera 4/2/211
Linha 1/111/1 e usando apenas a regra dada, geramos somente independentemente de qual das duas regras seja usada). Assim,
Linhas da fonna n2/n/n/ 1; nestas Linhas a média M é aumentada 4/2/2/1 gera 9/3/3/ 1 pela primeira regra e 9/6/6/4 pela segunda.
por 1 cada vez que iteramos o processo, o que significa que A seguir, damos um segmento inicial da seqüência completa
todas as Linhas da referida fonna são geradas. de Linhas Divididas geradas pelas duas regras:
Embora, como já vimos, a Linha fundamental 111/1/1 não
gera um terno pitagórico, para toda n> 1, a Linha n2/n/n/1 gera Nível Linha Temo
um temo na maneira explicada acima. Em particular, quando Nt 1111111
n é ímpar, os ternos gerados correspondem aos dados pela N2 4/2/2/1 (3, 4 ,5)
Fórmula de Pitágoras, enquanto, quando n é par, eles N3 9/3/311 (3 , 4 ,5)
t:nrrespondem aos temos dados pela Fórmula de Platão. Desta 9/6/6/4 (5, 12 ,13)
/1 ·I 115
Glenn W. Erickson Es·mnos SOBRE o NúMERo NUPciAL
John A. Fossa
16/4/4/1 (8, 15 ,17) conjecturar que o algoritmo gera somente e todos os ternos
16/12112/9 (7, 24 ,25) primitivos. Demonstraremos, a seguir, e~ta conjetura.
25/10/10/4 (20, 21 ,29) Começamos com o seguinte lema:
25115/15/9 (8, 15 '17)
Lema 1. Toda Linha Dividida da seqúência acima
Separamos a seqüência em níveis (Nn) que consistem do tem a forma n21nmlnmlm 2, onde n, m EN e, por
resultado de usar as duas regras com cada Linha do nível anterior convenção n>m (menos no caso 11111/1).
(N~ ) . Claramente, o número de Linhas no nível Nn é 2n·2, para
n> 1. Para este segmento inicial das Linhas Divididas, também Demonstração:
listamos os ternos pitagóricos gerados pela Linhas. Destes quatro
níveis, vemos que Linhas Divididas distintas podem gerar o Por inspeção, todas as Linhas nos primeiros quatro níveis têm
mesmo temo. Também vemos que o temo (20, 21, 29), que não a referida forma. Assim, basta mostrar que as duas regras
era gerado pela Fórmula de Pitágoras, nem a de Platão, é gerado preservam a forma. Seja n2/nm/nm/m2 uma Linha Dividida
pela seqüência de Linhas Divididas. Exemplificamos isto na qualquer da referida seqüência. Então, pela primeira regra,
Figura 6. Em geral, quando E+M é ímpar, o triângulo no temos
Digrama de Pappus, como aconteceu na Figura 6, é um temo
pitagórico. Quando E+M é par, o referido triângulo é ~um n2/nm/nm/m2 ::::::> n 2+nm+nm+m2/ nm+ m2/ nm+ m2/m2
temo. É o caso de 9/6/6/4 que gera (5/2, 6, 13/2). Assim, o = (n+m) 2/(n+m)m/(n+m)m/m2,
terno pitagórico é obtido pela multiplicação por dois - no e, pela segunda,
exemplo, 2-x-(--5/Z, 6, 13/2) = (5, 12, 13). n2/nm/nm/m2 => n2+nm+nm+m2/ n2+nm I nm+ m2/n2
= (n+m)2/n(n+m)/n(n+m)/n2•
Logo, as duas regras preservam a forma da Linha e o lema está
estabelecido.
Figura 6. A Linha 25/10/10/4 Gera o Terno (20, 21, 29). Demonstraremos agora mais um lema.
Observamos que todos os ternos gerados nos primeiros quatro Lema 2. Em toda Linha Dividida da seqiJ{lll('fO
níveis são temos pitagóricos primitivos. A observação nos leva a acima n e m são primos entre si.
ll6 11 7
Glen n W. Erickson Esn.roos SoBRE o NúMERo NUPCIAL
John A. Fossa
do referido triângulo, é um triângulo pitagórico. ck Pappus é pitagórico e o temo gerado pelo algortimo é (nm,
1
J( n l- m 2), ~(n2+m 2)). Seja d um divisor primo de nm. Desde
qtH.' n c m são primos entre si (Lema 2) d divide n, digamos,
llllts não m. Logo, d divide n2, mas não m2 ; portanto, d não
tltvtdc n2 t m2 (senão, dividiria (n2+m2)-n2 = m2), nem ~(nz+mz).
'\-.,,m, (nm, ~(n2-m2), ~(n2+m2)) é primitivo.
Pura completar a nossa demonstração, só falta mostrar que
l•uln terno primitivo é gerado por uma Linha Dividida da
• qll< ncia. Isto é o teor do próximo teorema.
Figura 7. O Triângulo no Diagrama de Pappus
Correspondente à Linha n2/ nm/ nm/ml.
118 119
Teorema 2. Seja (a, b, c) um terno pitagórico 961/248/248/64 = 1P/31x8/31 x8/82
primitivo. Então (a, b, c) é gerado por alguma
<== (31-8)2/23 xS/23 xS/8 2
Linha da seqüência de Linhas Divididas obtidas
<=: (23-8)2/15x8/15x8/82
da Linha 1111111 através das duas regras
especificadas acima. <== !F/8x7/8x7/(15-8)2
2 2 2
Ç: ] 17/7/(8-7) = 7 /7/7/1
121
Eswnos SoBRE o NúMERO NUPCIAL
123
u tenn w. t.nckson
John A. Fossa ESTUDOS SOBRE o NúMERO NUPCIAL
Mas, essa regra não pode ser correta porque não gera novos
1 1 2 3 5 8 13 21 ...
elementos dos elementos já gerados. Fluxos sempre são
e dada pela regra
recursivos neste sentido. A regra correta é somar dois lados
mais 1, ou seja nI = 1
1\+t = 1\+ 1\.1, k>O.
~ =1
Essa regra ilustra um problema que aparece em vários Fluxos.
1\+t = 1\ + 2k+ 1, k>O.
Na grande maioria dos casos da aplicação da regra, não há
Um termo útil neste contexto é o de gnomon, o que significa nenhum problema. Mas, quando k=l, temos n 2=n 1+n0 • No
entanto n0 não existe. Há duas maneiras de enfrentar esse
algo como "o que foi adicionado a uma figura para obter outra
figura" e, por analogia, f\+1 -I\ em qualquer Fluxo Aditivo. problema. A primeira é consider_ar o caso como uma. som~
degenerada, simplesmente repettndo n 1; claramente, 1sto e
Como esses dois exemplos ilustram, todos os números
eqUivalente a considerar n0=0. A segunda maneira de contornar
figurados são Fluxos Aditivos. Assim, é muito provável que
esse tipo de Fluxo foi estudado intensivamente pelos primeiros o problema seria usar duas sementes
pitagóricos. Apresentaremos agora uma possível reconstrução
1 1.
desta matemática pitagórica. Começaremos com alguns
exemplos instrutivos. Assim, a regra se torna:
Análoga à Linha Dividida 1/111 / 1, temos o Fluxo n1 = ~ = 1
monádico: 1\+t = I\+ 1\.J' k> 1.
1 1 1 1 1 1 1 1 ...
De modo geral, usaremos a primeira convenção quando essse
problema aparece nas seqüências no resto deste capítulo, sem
Esse Fluxo começa com a semente 1 e é gerado pela regra
nI = 1 mencioná-lo de novo.
Como já vimos, o "Triângulo de Pascal" era bem conhecido
1\+t = I\ , k>O.
na Antigüidade na forma do Retângulo de Pitágoras:
A seqüência dos números naturais
1 2 3 4 5 6 7 8 ... 1 1 1 1 1 1 1 1
é dada pela regra 1 2 3 4 5 6 7 8
nI = 1 1 3 6 10 15 21 28 36
1 4 10 20 35 56 84 120
1\+1 = I\+ 1, k>O.
1 5 15 35 70 126 210 330
Outra seqüência bem conhecida, a de Fibonacci, foi certamente 1 6 21 56 126 252 462 792
estudada pelos primeiros pitagóricos:
124
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Glcnn W. Erickson
Esruoos SoBRE o NúMERO NUPCIAL
John A. Fossa
O Triângulo de Pascal é um Fluxo bidimensional, dado pela Mais tarde, desenvolveu-se um outro tipo de construção
regra (certamente conhecida por Platão), em que as figuras são
n11 = 1 concebidas como se movendo no espaço. Assim, o ponto se
ni+tk+t = ni+tk+ nik+t • i, k>O. desloca para formar o segmento, enquanto o segmento se move
para fortnar o quadrado. Finalmente, o quadrado se desloca no
Esse Fluxo é interessante por muitas razões, entre as quais espaço para formar o cubo. Desta forma, o quadrado e o cubo
mencionamos apenas o fato de que vários Fluxos são considerados os protótipos respectivos do ser bi- e
unidimensionais aparecem nas suas linhas e colunas. tridimensionais, em vez do triângulo e da pirâmide. Mas, seja
isto como for, o que nos importa aqui é a relação do Tetraktys
UM TETRAKTYS DE TETRAKTYS
com a construção do universo.O universo, porém, é composto
dos Elementos Materiais. Não vemos a doutrina dos Elementos
O Tetraktys era o conjunto sagrado { 1, 2, 3, 4} que Materiais atestada na cultura grega até relativamente tarde na
compreende o universo através da construção de pontos. O história. Não obstante, a doutrina tem origens pré-gregas e era
ponto, por si só, é a manifestação geométrica da Mônada. Dois conhecida pelos pitagóricos provavelmente através de fontes
pontos detenninam um segmento, ou o ser unidimensional. Três do Oriente Médio. Mostraremos agora como a noção do
pontos detenninam um triângulo eqüilátero, que é o protótipo Tetrak.tys pode ser combinada com os Fluxos Aditivos para
do ser bidimensional. Finalmente, quatro pontos detenninam explicar as formas geométricas dos Elementos Materiais de uma
a pirâmide (tetraedro), o protótipo do ser tridimensional (ver maneira que difere da de Platão.
Figura 3). A soma destes elementos, 1+2+3+4= 10, é o número Em primeiro lugar, investigamos as primeiras quatro linhas
completo ou "perfeito" - não no sentido de ser a soma das suas do Triângulo de Pascal:
partes alíquotas, mas porque compreende tudo que existe no 1 1 1 1 1 1 1 1 ... seqüência monádica
nosso mundo tridimensional. I 2 3 4 5 6 7 8 . . . números naturais
1 3 6 10 15 21 28 36 ... números triangulares
4
1 4 10 20 35 56 84 120 .. . números tetraedrais.
A primeira linha, sendo a seqüência monádica, corresponde
ao número 1. A segunda linha, os números naturais, é a mais simples
das seqüências unidimensionais com diferenças internas. Assim,
corresponde ao número 2 e ao segmento na construção de pontos.
As terceira e quarta linhas são precisamente os Fluxos que
correspondem ao triângulo e ao tetraedro da referida construção
Figura 3. Construção de Pon~os. (ver aFigura 3). Logo, esses quatro Fluxos, tomados conjuntamente,
é um verdadeiro Tetrak.tys, compreendendo tudo que existe no
nosso mundo tridimensional! Observamos que há uma outra razão
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Esruoos SoBRE o NúMil'RO NVPC1AL
John A. Fossa
muito forte indicando que os quatro Fluxos fazem uma unidade: com cada elemento do Tetraktys original { 1, 2, 3, 4} . É até
embora cada Fluxo, como um Fluxo unidimensional, tenha sua possível se ver uma antecipação da doutrina platônica das
própria regra de formação, há uma única regra que gera os quatro variedades dos Elementos Materiais nos vários números
conjuntamente como um Fluxo bidimensional (truncado). piramidais e escrever equações químicas entre as variedades.
Há outros Fluxos que formam Tetraktys de modo análogo. Por exemplo, 4 Ar30 ~ 3 Água 30.
Por exemplo, usando a regra do Triângulo de Pascal e duas sementes Há, porém, um aspecto desta interpretação que não é muito
(em negrito nos Fluxos abaixo), obtemos satisfatório. Enquanto, o tetraedro é uma figura regular e a
2 2 2 2 2 2 2 . . . dupla monádica pirâmide com base quadrada é simplesmente a pirâmide egípcia,
1 3 5 7 9 11 13 15 ... números ímpares
1 4 9 16 25 36 49 64 ... números quadrados
as pirâmides com bases pentagonais e hexagonais são figuras
1 5 14 30 55 91 140 224 ... pirâmides, base quadrada. estranhas e talvez não foram consideradas apropriadas para entes
Usando a tripla monádica em vez da dupla, obtemos tão fundamentais quanto os Elementos Materiais. Podemos
3 3 3 3 3 3 3 ... tripla monádica vislumbrar uma interpretação alternativa ao observar que a
l 4 7 10 13 16 19 12 ... 3n-2 seqüência de pirâmides com bases quadradas dada no segundo
5 12 22 35 51 70 82 .. . números pentagonais Tetraktys (o da dupla monádica) podem ser realiza como uma
1 6 18 40 75 126 196 278 .. . pirâmides, base pentagonal. seqüência de dulpo tetraedros, onde por duplo tertraedro
Finalmente, usando a quarta monádica, obtemos entendemos dois tetraedros juntados pelas bases. Isto é possível
4 4 4 4 4 4 4 . . . quarta monádica porque o número quadrado qk (k> 1) sempre pod~ ser
1 5 9 13 17 21 25 29 ... 4n-3 decomposto nos dois números triangulares~ e tk.J, como a Ftgura
I 6 15 28 45 66 91 120 ... números hexagonais 4 mostra para o caso k=4. A Figura 5 mostra a transformação
1 7 22 50 95 161 252 372 . . . pirâmides, base hexagonal. de uma pirâmide com base quadrada em um duplo tetraedro.
É claro que podemos continuar desta forma sempre criando
novos números piramidais com bases diferentes. Mas, já temos o
um Tetraktys de Tetraktys e, portanto, seria apropriado atribuir o
a forma geométrica aos Elementos Materiais em conformidade
com os números sólidos gerados em cada Tetraktys. Assim,
Fogo seria o tetraedro, Ar a pirâmide com base quadrada, Água
a pirâmide com base pentagonal, e Terra a pirâmide com base
hexagonal. Para mostrar ainda mais a lógica da associação,
Uma outra figura natural pode ser formada por um processo
podemos rescrever o primeiro Tetraktys, o da seqüência
análogo. Isto é, juntamos a pirâmide de base quadrada pela base.
monádica, usando duas sementes. Para tanto, basta eliminar
O resultado é um octaedro, que é uma figura regular. Os octaedros
n11 e colocar n 12=11;:1=l como as sementes. Então, o conjunto de
são dados pelo seguinte Fluxo
sementes usado para formar o Tetraktys de Tetraktys é { 1e 1,
1e2, 1e3, 1e4} ; isto é, 1 é usado respectivamente em conjunção
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SÉRIE TEXTOS DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
VoLUME III
GLENN w. ERICKSON
}oHN A. FossA
EDITORA DA
SBHMAT