Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
J. G. Bennett
O ENEAGRAMA
EDITORA PENSAMENTO
São Paulo
Título do original:
Enneagram Studies
Edição Ano
-3-4-5-6-7-8-9 •93
EDITORA PENSAMENTO
Rua Dr. Mário Vicente, 374 - 04270 São Paulo, SP
Impresso em nossas oficinas gráficas.
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Introdução à Primeira Edição (inglesa)
A Visão do Todo
O Triunfo Sobre o Acaso
Uma Cozinha em Funcionamento
O Processo Industrial
O Homem Como Transformador de Energia
A Realização da Beleza
A Transformação do Homem
A Simbiose Biosférica
O Eneagrama Planetário
Apêndice I: Processo Estruturado na Experiência Científica
Apêndice II: O Sermão da Montanha
Agradecimentos
A. G. E. Blake
Prefácio
A. G. B. Blake Daglingworth,
dezembro, 1979.
Introdução à Primeira Edição
2/7 = .285714
3/7 = .42857Í
4/7 = .571428
5/7 = .714285
6/7 = .857142
•••
Os tópicos seguintes são respostas dadas a perguntas dos alunos. O
ponto 6 é o dos comensais, as pessoas que comem a refeição. Mas é
correto dizer que todos estão aí incluídos, até mesmo os cozinheiros e os
seus auxiliares. Se considerarmos uma situação ideal, a preocupação e o
interesse deles é que essa refeição cumpra o seu destino. Todos veem a
refeição em função do que vai acontecer com a comunidade como um
todo. Nesse sentido, ela inclui os cozinheiros. Se dissermos que eles não
são verdadeiramente o mesmo que os convidados, estaremos certos. Temos
então que levar isso em conta e perguntar-nos por que razão. Se não há
realmente aqui nenhum lugar para os cozinheiros, onde estão eles?
Podemos dizer que eles representam a vontade que realiza tudo. Todo o
evento é a manifestação da vontade do cozinheiro e, portanto, em verdade,
ele está em toda parte. Não há um lugar onde possamos fixar o cozinheiro.
•••
O ponto 9 representa o início da digestão da comida. Às vezes
perguntam como é que o eneagrama tem os pontos 1-4-2-8-5-7, quando
não há nenhum 10 e nenhuma divisão por 7. É possível construir um
modelo, como o fizemos há muitos anos atrás em Coombe Springs, com o
eneagrama numa espiral, de modo que os dois dós estejam separados.
Embora, quando são projetados num plano, esses dós sejam o mesmo, o
processo se move numa espiral. Na verdade, não é necessário fazer isso,
porque o eneagrama é apenas uma taquigrafia mental ou uma forma de
manter o padrão na nossa mente. É esse o valor do eneagrama e a razão
pela qual podemos nos beneficiar muito, habituando-nos a ele, de modo
que possamos considerar os processos e ver os fatores que surgem e as
coisas que estão faltando. Todos nós podemos ver o que acontece numa
cozinha quando não se leva cm conta apenas uma dessas relações. Não é
coisa muito grave o fato de um auxiliar de cozinha entusiástico retirar da
prateleira todo um conjunto de frigideiras e descobrir que a comida vai ser
cozida e não frita. Mas, quando deixamos de atentar para isso, o processo
se toma definitivo, as mudanças são irreversíveis e os erros começam a
acompanhar o processo.
•••
Essa figura interna de seis pontos 1-4-2-8-5-7, representa o que se
passa na visão mental do cozinheiro. É a mente deste que percorre os
pontos 1-4-2-8-5-7, enquanto a própria comida percorre os pontos 4-5-6-7-
8 e a cozinha passa pelos pontos 1-2-3-4-5-7-8. Quando o cozinheiro
considera as coisas do ponto de vista da refeição acabada e da sua
consumação, ele tem em mente as duas coisas que estão nos pontos 2 e 5.
Uma é a situação da cozinha e outra, o processo de cozinhar ou as pessoas
que tem sob o seu controle. Ele tem sob o seu controle os auxiliares de
cozinha que vão fazer o trabalho do lado direito e que entram em ação no
ponto 2 e os próprios cozinheiros, que entram em ação no ponto 5.
Devidamente equilibradas, essas duas coisas darão como resultado a
conclusão da refeição. A sua própria intenção está presente o tempo todo,
imaginando como será a refeição na hora de ser comida.
Os três pontos 3, 6 e 9 são os pontos de contato com o mundo
exterior. A cozinha foi equipada a partir do exterior, ela não se equipa a si
mesma. Os mantimentos vieram de fora, não cresceram dentro da cozinha.
Os convidados vieram de fora, não saíram da cozinha. Este é um aspecto
muito importante, quando somos levados a aplicar o eneagrama às três
espécies de alimento do Homem. Não é o cozinheiro quem convida os
comensais nem é ele na verdade que normalmente encomenda os
mantimentos, mas o responsável pelas provisões. Não é o cozinheiro quem
equipa a cozinha. Se estivéssemos considerando isso em função de um
grande restaurante, poderíamos supor haver uma firma contratada para
montar a cozinha. Haveria um maítre responsável pela recepção dos
convidados. A responsabilidade do cozinheiro estaria dentro da cozinha. É
evidente que pode ocorrer de as coisas se tomarem mais simples e que
uma pessoa tenha que desempenhar vários papéis. É claro que uma mãe
que cozinha para a sua família tem que ser tudo. Vai até mais longe e se
toma uma convidada. Mas, mesmo quando ocorre essa circunstância, os
papéis ainda estão presentes.
Às vezes nos perguntamos por que, mesmo para as pessoas que
gostam de cozinhar, é tão difícil cozinhar para si mesmas e tão fácil fazê-
lo para os outros. É porque é difícil a gente desempenhar o papel desse dó;
temos que ser a “nossa própria força neutralizadora”. Sabemos como é,
quando estamos preparando uma refeição para nós mesmos, especialmente
se a tivermos que fazer inúmeras vezes: vamos para a cozinha e vemos os
mantimentos e sentimos que não podemos conciliar uma coisa com outra;
assim, acabamos desistindo e tomando uma xícara de chá. Há toda uma
série de outras explicações para o fato de ser tão difícil cozinhar para si
mesmo, mas é interessante que deve haver também uma explicação
cósmica.
•••
O ponto 7 está relacionado com a sensação, com o que está
acontecendo dentro das pessoas. Exteriormente, do ponto de vista de
efetivamente suprir as pessoas de comida, não importa a quantidade do
que é posto no prato, porque os molhos não são parte importante do valor
nutritivo da comida. O ato de servir faz parte do aspecto estético, mas é
muito importante. Uma refeição que negligencia o ponto 7 carece de algo
muito definido. Se compreendermos isso, compreenderemos então o
significado da nota lá da oitava. Às vezes, ao estudar a lei das oitavas,
podemos compreender algo sobre a nota sol, mas pode ser difícil ver o que
acontece, exceto que a qualidade é enfatizada. Isso é muito importante em
relação à comida e noutros exemplos de um processo que se completa a si
mesmo.
O processo concreto da refeição dá uma volta completa na parte
exterior do círculo: limpeza geral da cozinha (ponto 1), decidir o que vai
ser cozido e distribuir tarefas (ponto 2), entrada dos mantimentos (ponto
3), começo da preparação destes (ponto 4), cozimento (ponto 5), tocar a
campainha (ponto 6), servir a refeição (ponto 7), comê-la (ponto 8), ir
embora e fazer a digestão (ponto 9); esse processo gira na parte externa do
círculo e esse é o único caminho que pode seguir. Mas, do ponto de vista
do processo mental e do modo como se efetua, ele segue a sequência 1-4-
2-8-5-7. É isso que faz do eneagrama esse símbolo extraordinário. É
realmente um espanto que esse símbolo notável tenha sido criado e deve-
se um grande respeito àqueles que o criaram. É digno de nota mencionar
aqui que o grande Bahauddin, Xá de Bukhara» foi chamado Nakshband ou
construtor de símbolos, e dizem que ele teria revelado os seus
ensinamentos por meio de símbolos. Quando o eneagrama começou a
aparecer pela primeira vez abertamente (provavelmente no século XV,
quando surgiu o sistema decimal) não é improvável que Bahauddin ou
seus sucessores tenham algo a ver com ele.
A profunda significação do eneagrama reside na distinção que ele
faz entre o ciclo funcional, que é o que segue a sequência 1-2-3-4-5-6-7-8-
9 e o ciclo da vontade, que obedece à sequência 1-4-2-8-5-7.
•••
Alguém fez uma pergunta inteligente sobre o papel do fogo: “Não
seria o fogo uma entidade independente? Ele não participa como os
mantimentos e as pessoas o fazem.” Mas se pensarmos nele, veremos que
participa do meio pelo qual todo o processo de cozinhar é executado.
Embora seja um recurso peculiar e extraordinário, não passa, no entanto,
disso. Um instrumento ainda mais extraordinário está presente na cozinha:
a inteligência do cozinheiro, que não deve ser esquecida. A inteligência do
cozinheiro é também parte do modo como a cozinha funciona. No entanto,
ela não entra no processo, não é o alimento, não sofre transformações.
O cozinheiro-chefe deve ver o progresso como um todo. O seu papel
não é acompanhar cada parte do processo de cozinhar desde o princípio até
o fim. Ao contrário, ele deve ser capaz de ver o fim antes do princípio.
Esse papel “intemporal” é de importância central para a compreensão de
qualquer processo cósmico e uma das virtudes do eneagrama é nos
permitir ver isso claramente.
•••
O eneagrama pode nos dizer quem somos realmente, mas devemos
primeiro saber que ele nos fala. Podemos, um dia, descobrir que o
eneagrama é mais do que uma representação de nós mesmos, só que ao
contrário: o direito é esquerdo, e o esquerdo é direito. Lembro-me
vivamente quando vi pela primeira vez que o eneagrama era uma
representação de mim mesmo. Ouspensky estava fazendo uma conferência
sobre o eneagrama por volta de 1924 e me pediu que traçasse o diagrama
no quadro-negro. Quando eu estava riscando as linhas familiares, senti-me
saindo de mim mesmo e entrando no diagrama. Observei que estava me
defrontando comigo mesmo e percebi pela primeira vez a diferença
fundamental entre os dois lados do nosso corpo. Quanto tempo isso durou
não sei, mas, desde aquela noite, me convenci de que o eneagrama é um
diagrama vivo e que podemos nos sentir como eneagramas. Estava
particularmente impressionado por ver que compreendia o ponto 6,
embora não fosse com a cabeça.
Há uma entrada em cada estágio onde algo está sendo feito. Qual é a
diferença entre o lado direito e o esquerdo do eneagrama? Num outro caso,
diríamos que o lado esquerdo é o aspecto espiritual e o direito o material.
É do lado esquerdo que saímos do mundo no qual começamos. Este é o
papel do fogo no cozimento. Antes que as pessoas tivessem feito muitas
outras coisas na vida humana, até onde podemos ver, usaram fogo para
cozinhar os seus alimentos. Deve haver alguma razão para isto. Sem
dúvida, não é necessário para o corpo do homem; podemos sobreviver
comendo apenas alimento cru. Mas algo levou o homem a fazer isso e a
razão é que o efeito do fogo sobre o alimento não é apenas tomá-lo
saboroso. Ele libera uma energia particular do alimento de que
precisamos, preparando-o para quando ele ultrapassa as necessidades do
organismo físico. Poderíamos dizer que, se comêssemos apenas alimentos
crus, estaríamos sob influências animais tão poderosas, que o lado humano
da nossa natureza encontraria muita dificuldade em se manifestar. A razão
disso está relacionada com o nível de energia do fogo. Agora a pergunta é:
“Tudo bem, mas não é o calor, proveniente da madeira que é introduzida
para atiçar o fogo, tanto uma entrada no processo quanto no próprio
alimento? Assim, por que o distinguimos?” Se pensarmos um pouco sobre
ele, ele começa a entrar em foco. Considerando os fatos concretos que
ocorrem na cozinha, não introduzimos o fogo no momento em que o
alimento está sendo cozido. O fogo foi providenciado. Tradicionalmente,
acendeu-se o fogo de manhã e tudo está pronto para cozinhar. Dessa forma,
o fogo já foi introduzido no ponto 1. Onde usamos coisas artificiais, como
o gás e a eletricidade, fez-se algo equivalente. É parte da estrutura geral da
própria cozinha e pertence à primeira oitava. Não é realmente introduzido
no ponto 5, mas entra no ponto 1, no mesmo sentido de que está
‘‘providenciado”. É provável que se estivermos cozinhando com lenha ou
carvão, esses dois elementos tenham sido postos na cozinha antes que algo
tenha começado, sendo a primeira coisa feita de manhã. Se estivermos
cozinhando com algo que venha de fora, tudo será providenciado para que
esteja ali desde o começo. A provisão de fogo é inerente à primeira oitava
da própria cozinha. O que Gurdjieff chama de Harnel-Miatznel está
descrito no capítulo do Purgatório, em Beelzebub's Tales na fórmula: “o
superior se mistura com o inferior para dar origem ao intermediário”. Na
versão de Ouspensky, temos: “o oxigênio combina com o carbono para dar
origem ao nitrogênio”. Essa fórmula, sem sentido para um químico,
significa que os elementos ativo e passivo de uma situação podem, em
condições apropriadas, liberar a “terceira força”, representada pelo
nitrogênio. A menos que o carbono seja disponível, as transformações não
podem ocorrer e, no entanto, isso não começa com o elemento ativo, mas
com o passivo, isto é, o oxigênio. O Harnel-Miatznel ocorre nas transições
0-1, 4-5 e 7-8 do eneagrama. O elemento ativo na transição 4-5 é o fogo
que cozinha a comida, mas ele próprio não é para ser comido.
O Processo Industrial
1. A Voz.
2. O Trabalho.
3. O Método.
Esta fase pode durar muito tempo e está fadada a levar a períodos de
perplexidade, desencorajamento e até mesmo de dúvida em relação ao
professor, assim como a períodos de progresso e esperança. Uma
característica definida dessa fase é a completa dependência ao professor. O
ouvido da moça não está educado nem o seu gosto desenvolvido. Ela não
pode reconhecer quando produziu um som correto.
Fase Três. Quando a moça começa a ouvir pela primeira vez a sua própria
voz e pode criticar a si mesma, ela inicia a terceira fase representada pelo
número 4 no símbolo. O professor também deu um passo nesse momento.
O que ele havia previsto como meramente possível — no elemento de
Valor de Expectativa — agora está começando a aparecer. A moça vê que
pode trabalhar. Inicialmente tinha apenas momentâneos lampejos — uma
simples frase cantada com plena consciência de ter feito o que devia.
Daqui por diante, todas as outras canções comparadas com essa parecerão
fáceis e inexpressivas. À medida que a experiência começa a se tomar
mais frequente, ela se dá conta também de que não sabe como isso se faz.
Nada do que ela ou o seu professor possam fazer nessa fase a ajudará.
Toma conhecimento, pela primeira vez, de que a arte de cantar pode ser
conquistada, mas está acima dela fazê-lo.
•••
Respostas a perguntas formuladas:
PRIMEIRO TERNO
Fase inicial O Ser Humano
Segunda fase A Família
Terceira fase O Clã ou Nação
A família
Comunidades nacionais
As civilizações
As épocas
A humanidade
A categoria da Essência Humana compreende todos os seres
passados, presentes ou futuros, que, vivendo na Terra, têm a possibilidade
de transformação consciente. Dentro desta Totalidade, diferentes espécies
de homens apareceram no passado e, sem dúvida, aparecerão no futuro.
Qualquer desses ciclos principais de transformação humana determina
uma totalidade que chamaremos de uma Humanidade. A duração de tal
elemento na Biosfera pode ser de uma centena de milhar de anos — nessa
fase, não temos um critério para decidir. Pode acontecer que os ciclos
sucessivos correspondam ao desenvolvimento das Personalidades numa
única totalidade humana.{16} O princípio orientador aqui é a crença de que
a humanidade tem um só destino a cumprir e que todas as comunidades
subordinadas estão incluídas nesse destino, quer estejam cientes disso ou
não.
A espiritualização
Ramo evolutivo
As totalidades humanas que aparecerão na Terra não podem por si
mesmas realizar a tarefa total da transformação da Biosfera num Ser
Criador Consciente. Para a realização dessa grande meta, é necessária a
combinação de muitos papéis diferentes. Entendemos por Ramo Evolutivo
a comunidade que, durante um período fundamenta] de tempo, é o ponto
de crescimento no qual se concentra a significação da vida na Terra.
Por dois ou três bilhões de anos, a Terra tem sido uma totalidade
autorrenovável. Ela sustentou a vida e produziu as energias requeridas
para a evolução do sistema solar. Participa de um equilíbrio entre o
planeta, a Biosfera e o que Teilhard de Chardin chama a noosfera ou esfera
da inteligência. Esse equilíbrio é necessário para o cumprimento de um
grande objetivo para o qual o sistema foi criado. Durante os dois ou três
milhões de anos — o que não passa de uma milésima parte do tempo de
existência da vida — a Terra foi a sede da raça humana. Vamos ver se
podemos compreender, com o auxílio do eneagrama, esse equilíbrio e sua
necessidade, e o lugar que ocupamos nele.
A Terra é, na verdade, o corpo do espírito planetário. Essa grande
ideia foi formulada há cem anos atrás pelo filósofo e psicólogo alemão
Gustav Fechner na sua obra Tagesansicht gegen Nachtansicht (Visão
diurna versus Visão noturna). Ele estava talvez inclinado a representar o
ser planetário demasiadamente baseado no modelo do ser humano; mas foi
um dos precursores da nova época. Seu livro será redescoberto e relido à
medida que começa a se realizar a sua profecia. A Terra não é um ser
“vivo” no sentido de que os homens e os cavalos, as abelhas e os vermes o
são. Ela cria vida num sentido semelhante ao modo como um cozinheiro
“prepara” uma refeição ou um pintor “pinta” um retrato. Há um Gênio
Criativo associado à Terra, que é expresso pela palavra Elohim no livro do
Gênese. Esse gênio criativo desempenha o mesmo papel na evolução da
vida que o cozinheiro-chefe na preparação da refeição. Podemos também
imaginar os poderes espirituais que realizam todas as funções exigidas
pela evolução do planeta. A estas Gurdjieff dava o nome de “Exército
Celestial”.
A Terra sólida é a cozinha e a Biosfera é o alimento a ser cozido. A
comunidade que deve ser alimentada é o mundo espiritual, que necessita
de corpos para cumprir o seu destino. Podemos representar as três oitavas
do eneagrama como está mostrado no diagrama planetário.
A sequência na qual as formas de vida surgiram faz a volta do
círculo. Inicialmente havia a Terra com os seus mares e sua atmosfera. Sob
a ação da intensa radiação do Sol, a superfície foi lentamente transformada
e ativada até que começaram a aparecer compostos autorrenováveis. Essa
é a transição ré-mi da rocha em terra. O aparecimento da vida foi uma
etapa criativa — que se completou com o aparecimento da reprodução
sexual e, daí, a possibilidade de evolução por variação e sobrevivência. As
notas fá e sol, a vegetação e os invertebrados, compreendem todas as
formas de vida nas quais não há nenhum pensamento e sentimento
individuais. O estágio seguinte se dá com o advento de um poder que é
superior ao instinto e é partilhado por todas as formas de vida dotadas de
um sistema nervoso, isto é, os cordados, que abrangem os répteis, os
peixes, os pássaros, os animais e o homem. Esse poder resulta da
organização da energia sensitiva que ocorre na nota lá e da consciência, na
nota sí.
O homem, como um ser natural, pertence ao estágio final do
processo de evolução, mas é capaz de uma transformação posterior por
meio de um novo ciclo que começa na nota dó ou ponto 9 do eneagrama.
Esse é o caminho da espiritualização.
Temos, então, três processos bem definidos:
1. A Evolução do Planeta
Dó A Terra primitiva
Ré Rochas, água e ar
Mi Terra e água do mar
Fá Vegetação
Sol Invertebrados e micróbios
Lá Animais
Si Homem
Dó A Terra espiritualizada
2. A Emergência da Vida
Dó Formas autorreprodutoras
Ré Vegetação
Mi Invertebrados
Fá Animais
Sol Homem
(Lá) Homem Consciente
(Si) Homem Criativo
(Dó) Homem unido ao Criador
3. A Transformação Espiritual
Dó O Exército Celestial
Ré Os Seres Sensíveis u
Mi Os Seres Conscientes
(Fá) Os Seres Transformados
Até aqui o esquema não revelou nada de novo. Ele serve para nos
dar uma visão da totalidade da vida planetária e do seu lugar no sistema de
Manutenção Recíproca, através do qual o universo cumpre o seu destino.
Mas ele não nos diz nada sobre o modo como os processos são controlados
e dirigidos. Devemos voltar à figura recorrente de seis pontos, que
representa o ponto de vista da Inteligência diretiva; como o cozinheiro-
chefe é no exemplo da cozinha. A ideia mecanicista da evolução rejeita a
noção de uma Inteligência diretiva, achando que isso é uma complicação
desnecessária; no entanto, um século de pesquisas, levadas a cabo com
enormes recursos por cientistas da mais elevada capacidade, não
conseguiu produzir uma explicação convincente da evolução da vida no
planeta, baseada no mecanicismo puro, com a negação do papel da
inteligência.
Imaginemos uma Inteligência Demiúrgica capaz de estudar a
história de três bilhões de anos e considerar um milhão de anos como o
fazemos com o trabalho de uma semana. É essencial colocar-se na
perspectiva de uma escala de tempo dessa ordem, se tivermos que ver o
destino de nosso planeta como um todo. Poderíamos também levar em
conta três espécies diferentes de tempo: uma linear, outra circular e ainda
outra exponential. Este é um aspecto do eneagrama que até aqui não
consideramos, mas é necessário vê-lo dessa maneira, se quisermos
conciliar os fatos observados de progresso, repetição e recorrência e de
aceleração. O estudo do tempo e da eternidade é tão vasto que não
podemos fazer mais do que mencioná-lo nesse estágio.
K. W. Pledge
Wittgenstein
Resumo
Prefácio
Uma vez completado, o círculo não tem princípio nem fim. Isso
simboliza o poder dos processos completos de se perpetuarem
repetidamente. Uma vez realizados, eles alteram o curso dos
acontecimentos, como uma experiência histórica, desde que consumada,
não pode ser desfeita, mas pode ser levada em conta pelo futuro
conhecimento. A recorrência do círculo também simboliza que os
processos podem crescer e se desenvolver em força e importância, como o
simples processo da experiência de Newton deu origem, sem nenhuma
mudança no processo fundamental completo envolvido, ao espectrômetro.
O círculo fechado simboliza também a exigência de isolamento de
uma área dentro da qual o processo completo pode ir adiante. Para que um
evento se efetue deve haver algum lugar em que possa ser situado. Um
evento é uma situação que tem existência real dentro do mundo existente,
que “encontrou o seu lugar" e persiste nele com a sua própria força
independente do meio exterior das contingências sempre mutáveis.
Aqui começamos a tocar o cerne da questão e a encontrar uma
ligação com a ciência. A ciência ocupa-se com o estudo da ordem dentro
do mundo existente. Ela procede a este estudo criando e examinando
situações artificiais de que é retirada, tanto quanto é humanamente
possível, a contingência. Essas situações chamam-se experiências e são a
fonte de informações restritas, mas não-contingentes, sobre os processos
completos dentro do mundo.
A concretização de uma experiência é o ato de colocar um evento
dentro de um processo completo. A capacidade de afastar as contingências
é a condição para a colocação de tais eventos. Mais exatamente, não é a
capacidade de afastar, mas a de circunscrever a contingência que é o traço
distintivo do grande experimentador. Aston, Faraday, Michelson, Newton
foram homens brilhantes com o dom de realizar justamente a ação
estruturada correta, numa situação experimental que afastava as
contingências. Há mesmo uma afirmação a respeito de Michelson no
sentido de que “o seu interferômetro era um admirável instrumento... nas
mãos de Michelson”. Há muitas evidências que mostram que os grandes
avanços, no domínio da ciência, são marcados por uma percepção da
presença da incerteza nas etapas teóricas avançadas: a contingência nos
golpes de mestre experimentais.{21}
A dificuldade da aplicação do simbolismo de ação generalizada,
que não ocorre nas matemáticas, é a multiplicidade de significações.
Enquanto no simbolismo mais corrente há uma correspondência mais ou
menos unívoca entre o símbolo e o significado, no simbolismo de ação
estruturada as correspondências são de um para muitos e,
correspondentemente, complexas. Assim, o triângulo interno da figura
simboliza que devem existir não um, mas três processos de
desenvolvimento, de origens independentes e mutuamente interativos,
para garantir que um só desses processos possa chegar ao seu termo.
O triângulo serve também para simbolizar que os três processos
devem se ligar de acordo com a relação de afirmação, negação e
conciliação determinada pelo sistema de três termos ou tríade. Na relação,
o primeiro processo completo, sendo o principal dos três, transmite a
afirmação. O segundo transmite os impulsos de negação a que o primeiro
está sujeito em consequência do acaso e da incerteza e da contribuição
necessária das condições ambientais através das quais o primeiro deve
prosseguir. O terceiro processo está relacionado com a condução bem-
sucedida do desenvolvimento a sua pretendida conclusão, através de uma
conciliação desses dois impulsos de ação oposta.
Outro aspecto que o triângulo simboliza se refere à feição
qualitativa e quantitativa da interação dos processos. Os três processos
devem ser combinados — devem ser do tipo e grau adequados para que
haja uma combinação correta e a consequente excelência de qualidade no
produto final. Um extraordinário exemplo disso ocorre no espectrômetro,
onde a tríade interna, formada pelo colimador, o prisma e o telescópio,
permite uma harmonização surpreendentemente apurada dentro do
processo global e uma exatidão de medida até frações de um percentual de
praxe.
dó - ré - mi / fá - sol - lá - si / dó'
Situação
Estrutura do Evento
Harmonia Interna
Espaço de Medição
A Estrutura de Oitava
Primeiro Processo
Segundo Processo
Terceiro Processo
Fig. 21 — Eneagrama
indicando a oitava principal do espectrômetro
Processo de Ajustamento
A Estrutura Tríplice
Colimador-Prisma-Telescópio
Conciliação Perfeita
Poder de Conciliação
Transformação
O processo de transformação qualitativa, através do qual as fases
dos processos completos se transformam umas nas outras, é triádico.
Gurdjieff expressou isso numa fórmula geral ilusoriamente simples, a
saber:
Incidência no Prisma
Refração no Meio
Palavras Finais
Observações finais
O Sermão da Montanha
O Pai somos nós mesmos; essa parte de nós que está no mundo
incondicionado é o Pai; viemos dessa parte. Devemos amoldar as nossas
vidas de acordo com o padrão, o dharma, do nosso ser real, obedecer ao
nosso dharma e aceitá-lo.
Todo esse capítulo consiste apenas em ilustrações do modo como
será necessário vivermos, se a nossa comunidade tiver que funcionar. Que
eram essas comunidades? Naquela época, havia muitas comunidades
formadas não apenas por cristãos, mas por outros também. Havia
comunidades mitraístas e comunidades dos antigos deuses. Mas as
comunidades cristãs tinham estabelecido para si mesmas uma tarefa
determinada: estavam todas diante da profecia do fim do mundo.
Esperavam que o velho mundo morresse e que o mundo novo surgisse, e
deviam se preparar para isso. Algumas comunidades, especialmente as da
Síria, compreenderam isso de maneira errônea, porque pensavam que
deviam abandonar todos os interesses da vida. Disseram-lhes que não
deviam se casar, que não devia haver relações entre homens e mulheres,
que deviam deixar tudo, porque nada disso tinha importância para o
mundo que iria chegar. Mas, em nenhum lugar desse documento ou
legominismo sugere-se àqueles para quem foi elaborado que não devessem
se casar e continuar sua vida normal, cumprindo todas as suas obrigações
exteriores. Só que eles tinham de adquirir uma determinada força a partir
de sua própria maneira de viver, de sua vida comunitária, para que fossem
capazes de suportar.
Naturalmente, houve violências e pressões. Comunidades foram
perseguidas e muita gente martirizada. Durante o século II viu-se uma
força extraordinária, sem a qual a semente teria morrido. Devemos
compreender que essa era uma preparação muito perspicaz para uma época
de perturbações que estava chegando. Sem se ajustarem a esses elevados
padrões de trabalho sobre si mesmos e de aceitação recíproca, eles não
poderiam ter suportado isso, não só porque não te riam tido o apoio mútuo,
mas, o que é mais importante, não contariam com a energia necessária.
Aconteceu muitíssimas vezes que essas comunidades escaparam de ser
destruídas e aniquiladas, diante de todas as probabilidades. Elas eram, na
sua maioria, comunidades judias da Diáspora, a dispersão posterior à
destruição de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo. Houve uma grande
congregação em Alexandria e na costa do Egito. Nessa ocasião, Jerusalém
tinha sido praticamente destruída. A maioria dos judeus voltou a um modo
de vida muito rígido. Eles procuraram refúgio na Lei. Quando o templo foi
destruído, a Lei tomou-se um templo para eles. Eles mantiveram um
padrão de vida muito elevado e eram também constantemente perseguidos
e estavam sempre em perigo. O recurso de que se serviram foi a
observância estrita da Lei e a preservação de tudo o que fazia parte de sua
vida. Esta também os preservou e eles sobreviveram a esse período de
perturbações, mas seu papel era diferente. As comunidades que seguiam o
Sermão da Montanha buscavam algo diferente de regras rígidas.
Dentro da comunidade, os que têm devem dar e trabalhar para os
que não têm. Portanto, a primeira coisa que tem que ser considerada é
como se opera esse dar e receber. Há a lei da esmola: deve-se dar uma
parte das suas posses para ajudar os pobres, pela lei sagrada. Mas de que
maneira? isso não é uma coisa que deva ser vista pelas pessoas, não é
aquilo em que devemos ser uma luz, uma manifestação diferente daquela
que é exigida. Portanto, não é para ser realizada dessa maneira, para que as
pessoas vejam. De início, parece haver nitidamente uma grande
contradição entre a sentença: “Que a vossa luz brilhe assim diante dos
homens, que eles possam ver as vossas boas obras” e: “Cuidai para que
não deis as vossas esmolas diante dos homens para que eles as vejam.”
Qualquer um pode dar-se conta desta e de muitas outras contradições. Essa
luz deve brilhar, não através dessas ações visíveis, não pela observância
das leis e dos costumes, mas por aquilo que emana, aquilo que esta
comunidade tem em si mesma. É essa a parte secreta do Trabalho. Regras
muito simples estão começando agora a aparecer — ou antes, estão sendo
expostos princípios, não regras de conduta.
Há por exemplo, o princípio das duas fases do trabalho. Quando
alguém faz certo tipo de esforço ou sacrifício de trabalho, a recompensa
disso é ser posto diante de uma tentação, que significa a possibilidade de
fazer algo diferente. Nesse caso, a tentação deve ser valorizada por ter
dado esmolas. O verdadeiro trabalho aqui não reside realmente em dar,
mas em não esperar que nos agradeçam por isso. A liberdade consiste em
dar de tal modo que não nos agradeçam ou valorizem por esse ato.
Aprendamos esse segredo e então teremos estabelecido uma ligação com o
Pai, com o mundo interior, com o ser interior. Isso se aplica também aos
outros exemplos apresentados em relação à oração e ao jejum.
O segundo capítulo do Sermão da Montanha é do princípio ao fim
relacionado com a maneira de se chegar ao Reino dos Céus, de se
transformar numa comunidade dessa ordem. São estes os segredos e
métodos que devemos estar prontos a utilizar: ocultemos nosso trabalho
tanto quanto pudermos para deter a energia resultante de nossos próprios
esforços e sacrifícios; não nos contentemos com ela, mas deixemos que se
acumule e aumente. Em seguida, ela começa a ser partilhada e os outros
começam a participar dela; é então que podemos fazer algo, realmente
ajudar os outros. Essa ação é descrita no final da oração “Perdoa-nos as
nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” Falar sobre
a Oração do Senhor detalhadamente é uma coisa muito séria, mas direi
umas poucas palavras sobre ela.
A primeira coisa que devemos nos perguntar é o que quer dizer “vãs
recitações”, como as usadas pelos pagãos. Isso soa como se fosse, na
verdade, uma espécie de rejeição do culto mitraísta, que utiliza uma
porção de mantras. O que é uma recitação vã? Vão significa, na verdade,
vazio de substância. Deve haver uma substância material concreta da
oração: ela é feita de algo.