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OPINIÃO JOÃO PRATES ROMERO

A economia deve melhorar em 2023? SIM


ELEVAÇÃO DE GASTOS SOCIAIS COMBATERÁ POBREZA E DESIGUALDADE

30.dez.2022 às 21h00

João Prates Romero


Professor de economia do Cedeplar-UFMG (Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional da Universidade Federal de Minas Gerais)

O ano de 2023 marca a retomada de um modelo de desenvolvimento


econômico sustentável e inclusivo, substituindo o modelo de crescimento

predatório e excludente do governo Jair Bolsonaro (PL). O crescimento do


PIB será um pouco menor em 2023, mas alicerçado em brs qualitativamente
superiores, que permitirão maior crescimento futuro.

As reformas tributáriae do teto de gastos, prioritárias segundo o ministro

da Fazenda, Fernando Haddad, terão impacto significativo na economia. A


simplificação tributária melhorará o ambiente de negócios e, por reduzir
custos, motivará a produção industrial. Aprimoramentos na
tributação da renda, com taxação de dividendos e ajuste de faixas,
distribuirão renda do topo para a br, elevando o consumo. A nova regra de
gastos possibilitará aliar responsabilidade fiscal e provisão de serviços
públicos essenciais ao permitir certo crescimento real do gasto. O novo
regramento recolocará a dívida em trajetória sustentável, contribuindo para

a redução dos juros.

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante coletiva de imprensa no CCBB


(Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília - Pedro Ladeira - 13.dez.22/Folhapress

A PEC da Transiçãoé peça-chave para o ajuste de rota em 2023. Ela libera


recursos para recompor gastos com o Bolsa Família, saúde e educação, e para
retomar investimentos em infraestrutura, ciência, tecnologia e proteção
ambiental.

A elevação dos gastos sociais impulsionará a economia ao mesmo tempo que


combaterá a pobreza e a desigualdade. Estimativas de Fernando Gaiger
Silveira (Ipea), José Roberto Afonso (Ibre-FGV) e outros mostram que a
provisão de serviços públicos em saúde e educação gera redução expressiva
da desigualdade. Além disso, saúde e educação elevam a produtividade.
Retomar níveis adequados de investimento em infraestrutura, ciência e
tecnologia é crucial para elevar a produtividade e o emprego. Nos últimos

seis anos, o investimento em infraestrutura tem sido insuficiente para


repor a depreciação. Infraestrutura deteriorada significa maior custo país,
menor incentivo ao investimento privado e menor competitividade externa.
Na ciência e tecnologia, o quadro é ainda pior: o dispêndio atual se encontra
em nível próximo ao de 15 anos atrás. Ciência e tecnologia são cruciais para o
desenvolvimento, pois elevam a produtividade e o bem-estar social. Afinal,
foi a ciência, via Butantan, Fiocruz e tantas outras instituições, que nos

salvou da pandemia.

A destruição ambiental em curso no Brasil, por sua vez, aumenta os


eventos climáticos extremos, como secas e inundações, afetando
negativamente a infraestrutura e a produção agrícola. A retomada dos gastos
com fiscalização ambiental atrai investimentos externos, contribui para
reverter a mudança climática e reduz as perdas que ela causa.

A inflação, que vem caindo nos últimos meses, dificilmente será afetada
pelos gastos liberados pela PEC. A economia brasileira ainda está com
desemprego de 8% e 40% de informalidade, o que permite que a oferta
acomode algum aumento da demanda. A inflação em 2021 e 2022 decorreu,
sobretudo, dos maiores preços de combustíveis e alimentos, devido à
desorganização da oferta global causada pela pandemia e pela
guerra da Ucrânia. Com a queda recente do preço do petróleo e a
desaceleração dos países avançados, espera-se que a tendência de queda da
inflação continue em 2023. Isso permitirá uma gradual redução dos juros,
estimulando a economia e melhorando a trajetória da dívida.

É inegável que o desafio é grande, mas há motivos de sobra para otimismo


com o novo modelo de desenvolvimento da economia brasileira.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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