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Atualidades , Economia

Tags:
alimentos , economia , ENEM2021Brasil ,
segurança alimentar

O que influencia o
aumento no preço
dos alimentos?
Entenda!
Publicado em 19 de agosto de 2021

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Ir ao mercado fazer as compras do


mês ou da semana é uma
situação cotidiana, mas que nos
últimos meses vem testando o
planejamento da renda familiar dos
brasileiros. Manter armários e
geladeira abastecidos com alimentos
variados é uma tarefa cada vez mais
difícil. Contudo, o cenário não é novo.

Em 2008, ao analisar a crise


econômica no Brasil, o ex-Diretor
Geral da Organização para a
Alimentação e Agricultura das
Nações Unidas (FAO-ONU) José
Graziano da Silva pontuou reflexões
importantes sobre o consumo dos
alimentos que ajudam na
compreensão do quadro atual: “O
que pagamos hoje por um alimento
na realidade é resultado de uma
definição que ocorreu no passado,
baseada na especulação sobre a
provável oferta e demanda futura, os
resultados do próprio plantio e a
demanda efetivado presente” (2008,
p.68).

Apesar de não ter uma pandemia


para pesar em sua análise, os
apontamentos de Silva direcionam
para o quadro brasileiro atual. O
aumento dos alimentos não é
incomum, respondendo a políticas
internas e externas, mas que
fatores estão pesando nos preços
dos alimentos hoje?

Vamos entender melhor sobre isso!

Por que os alimentos


estão mais caros? Três
fatores em jogo!
Arroz, feijão, óleo e leite, itens
básicos da alimentação brasileira,
estão mais caros. Nos últimos meses,
em 2021, os preços observados nas
prateleiras do mercado subiram em
resposta a desvalorização do real,
mudanças nos hábitos de consumo e
ao aumento da inflação, aliados a
crise econômica criada pela
pandemia da Covid-19.

Para Patrícia Costa, economista e


coordenadora da Pesquisa Nacional
da Cesta Básica de Alimentos,
realizada pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), os três
fatores vêm convergindo desde o
segundo semestre de 2020.

Em entrevista ao Politize! ela explica


a questão: “O real desvalorizado é
um fomento para exportação. Na
pandemia, o Brasil assumiu uma
posição de continuar exportando,
enquanto outros países seguraram o
estoque de suas produções. E, ainda
tínhamos o auxílio emergencial de R$
600 circulando, dando um maior
poder de comprar as famílias. Com
pouca oferta para muita demanda o
preço subiu, impactando na
inflação”.

Bom…vamos entender cada um


desses fatores!

O efeito da inflação
Para compreendermos o efeito da
inflação, primeiro precisamos
entender o impacto da alta nas
commodities, produtos que servem
como a matéria-prima para
fabricação de terceiros – como é o
caso do milho que serve de insumo
para o leite e para carne – e são
cotadas em dólar. De acordo com
Costa, com a alta
das commodities se privilegia o lucro
que o agronegócio pode gerar com a
exportação dos produtos em
detrimento do mercado interno do
país.

Ela pontua que o equilíbrio entre a


exportação e o armazenamento de
alimentos para o consumo da
população local é um dos fatores que
ajudam a estabilizar os preços dos
alimentos, mas o cenário de crise
que o Brasil vivencia está tornando
todo o processo, desde a produção
até o consumo final, mais caro;
chegando aos preços observados nos
mercados.

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“É uma política que privilegia a


exportação sem estabelecer políticas
agrícolas que controlem o consumo
interno, seja estimulando um
aumento da produção ou exportando
menos; era o que a Conab
(Companhia Nacional de
Abastecimento) deveria conseguir
fazer neste cenário. Existem outros
elementos que se somam a conta,
como a alta da gasolina e da energia
elétrica que fazem parte do processo
de distribuição e armazenamento
dos alimentos”.

Para se ter uma ideia, entre abril de


2020 a abril de 2021, o preço das
commodities agrícolas utilizadas na
indústria de alimentos variou de 20%
a 100%, segundo a Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos
(Abia). De acordo com o
levantamento, insumos como milho,
soja e arroz subiram 84%, 79% e 59%,
respectivamente, ao longo do
período analisado. Já o trigo e o leite
tiveram alta de 37%, enquanto o café
robusta subiu 36% e o açúcar ficou
40%.

Segundo dados do Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística (IBGE), a
inflação começou a registrar um
aumento gradual com a distribuição
do auxílio emergencial em 2020.
Desde então, o preço do óleo de soja
subiu 87,89%, o arroz ficou 69,80%
mais caro e a batata passou custar
47,84% a mais. Os preços mais altos,
que pesam para as famílias mais
pobres e vulneráveis, promoveram
outro cenário para os
supermercados.

O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo,


teve lucro de R$ 1,59 bilhão no último
trimestre de 2020, um aumento de
58,5% em relação ao mesmo período
de 2019. Já o Carrefour registrou
lucro de R$ 935 milhões, um aumento
de 47% em relação ao último
trimestre do ano anterior, segundo
reportagem da Gênero e Número.

Vale pontuar que o índice geral de


vendas, que é calculado pela
Associação Brasileira de
Supermercados (Abras), disparou em
2020: os supermercados venderam
9,36% a mais do que em 2019, o maior
aumento anual da categoria em 20
anos, revelou a Gênero e Número.

Moeda em baixa
Outro ponto que influência nos
preços é a desvalorização do real
brasileiro em comparação ao dólar.
Entre dezembro de 2019 a outubro de
2020, o real perdeu 28% do seu valor
perante o dólar. De acordo com um
levantamento da Fundação Getulio
Vargas, divulgado pelo BBC News
Brasil, é o pior desempenho entre as
30 moedas mais negociadas do
mundo junto ao peso argentino.

A desvalorização do real ocorre


devido à crise econômica e política
vivenciada pelo país desde 2015 e
agravada pela pandemia, que
colocou o mercado brasileiro como
“instável para o investimento
estrangeiro”, devido a
insegurança na capacidade de
austeridade fiscal – políticas que
atuam para equilibrar os gastos e a
arrecadação do Estado – brasileira
no pós-pandemia. É neste cenário
que os diversos insumos
importados acabam tendo seus
preços influenciados pelas variações
das cotações internacionais.

Assim, as commodities exportadas


geram lucro por serem cotados em
dólar, mas ficam mais caras quando
importadas, afetando também o
preço para o consumidor final. Em
entrevista à BBC News Brasil,
a economista Maria Andreia
Lameiras, pesquisadora responsável
pelo Indicador Ipea de Inflação por
Faixa de Renda, explicou a questão:

“Aí, essa alta de alimentos no Brasil


fica ainda maior, porque aquele
alimento que tenho que importar fica
mais caro e porque o produtor do
grão, da carne, vê que é mais
vantajoso exportar do que vender
para o mercado interno, porque ele
vai receber em dólar e acaba tendo
rentabilidade muito maior”,
argumenta.

Alta demanda para pouca


oferta
Além do efeito da inflação nas
commodities e a desvalorização
da moeda, outro fator que
impacta no aumento dos preços é a
Lei da Oferta e Demanda,
desenvolvida por Adam Smith. De
acordo com Smith, o preço de uma
mercadoria seria regulado com base
na “quantidade efetiva colocada no
mercado (oferta) e a demanda
daqueles que estão dispostos a
pagar pelo preço total do produto,
considerando o trabalho para a sua
produção e o lucro a ser pago para
colocá-lo no mercado”.

O conceito, criado ao longo do século


XVIII, ainda se mostra atual. Um
exemplo de sua funcionalidade pode
ser observada com a diminuição do
auxílio emergencial em 2021, que não
deve passar de R$ 300 para quem
conseguir o benefício. A queda no
poder de compra, ou seja, de se
conseguir adquirir bens através
de recursos monetários, leva a uma
baixa nos preços pois a demanda
pelos alimentos irá
diminuir enquanto outro problema se
agrava pelo país.

“No momento, temos uma população


extremamente empobrecida que está
pagando mais caro pela pandemia.
São famílias vulneráveis e informais
que perderam o emprego e a
oportunidade de renda. Em 2020, o
auxílio compensava em certa medida
o desemprego dando um maior
poder aquisitivo para famílias que
passaram a cozinhar mais em casa.
Mas agora o que temos é insuficiente.
Quando não se tem renda, a família
deixa de comer. E, quando as
pessoas compram menos, a
demanda diminui fazendo com que o
aumento não chegue ao consumidor
final”, argumenta Patrícia Costa, do
DIEESE.

Em março deste ano, o IBGE revelou


que a suspensão do auxílio
emergencial, que ocorreu em
dezembro, e a realização de grandes
eventos no início do ano, como o
Carnaval, já estavam causando este
efeito com a desaceleração gradual
da inflação. Para Patrícia, contudo,
os preços dos alimentos continuam
altos para a população,
principalmente a mais vulnerável,
que precisa lidar com um baixo
poder aquisitivo.

“Você tem o alimento no mercado,


mas a população não
consegue comprar. O Diesse analisa
apenas os 13 itens principais da
cesta, então há comportamentos que
não conseguimos acompanhar, como
por exemplo, quem está trocando a
carne pelo frango ou ovo. As pessoas
estão sem renda, sem auxílio e com
um salário mínimo abaixo da
inflação”.

De acordo com edição de maio da


Pesquisa Nacional da Cesta Básica
do DIEESE (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos), o salário mínimo
necessário para as despesas básicas
de um trabalhador e sua família teria
que ser de R$ 5.351,11. Esse valor
corresponde a 4,86 vezes o mínimo
oficial (R$ 1.100). No total, o
trabalhador remunerado pelo salário
mínimo comprometeu, em média,
54,84% da renda para comprar os
alimentos básicos para uma pessoa
adulta.

Em entrevista ao Jornal da USP no


Ar, em novembro de 2020, o professor
e especialista em inflação da
Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade (FEA)
da USP, Heron do Carmo, já
destacava o peso desigual dos
alimentos na renda familiar. “Se nós
calculássemos só a inflação da
classe média, ela seria menor que a
inflação geral, enquanto a dos mais
pobres é muito maior que a geral”.

O cenário foi analisado pelo Jornal


Folha de S. Paulo, com base em
dados do Dieese e do Procon-SP. Em
2019, o consumidor ia ao
supermercado com R$ 100 e saía
com 11 produtos básicos, entre eles o
arroz, feijão, açúcar e o café, sendo
que ainda havia espaço para levar 1
quilo de carne de primeira, pão
francês e queijo mussarela.

Com o mesmo valor em abril de 2020,


contudo, a carne deu lugar ao frango
congelado para que os outros itens
se mantivessem no carinho. No
mesmo mês, já em 2021, com o valor
do novo auxílio, o paulistano
conseguiria levar 39% de uma cesta
completa de alimentos, que na
capital, segundo o DIESSE, custava
em média, R$ 639,47, até fevereiro de
2021.

Sem um reajuste adequado no


salário mínimo, a população
brasileira vivenciará ao longo de
2021 o menor poder de compra –
capacidade de adquiri bens e
serviços por meio do real – em
relação aos produtos da cesta básica
desde 2005, segundo o
Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).

Ainda, segundo Patrícia Costa, do


DIEESE, o Brasil deveria aprender
com as experiências passadas,
principalmente com o cenário
vivenciado na crise econômica de
2008-2009. “A pandemia da Covid-19
não permite comparação com outros
anos, mas existem lições que já
aprendemos. Sobrevivemos à crise
de 2009 devido ao consumo interno.
E o auxílio emergencial do último ano
evidenciou a importância do
consumidor brasileiro. Hoje, não tem
nada que possibilite o crescimento
interno, um real crescimento e
desenvolvimento do país. Agora,
seria fundamental políticas de
valorização do salário mínimo e
manter os alimentos [produção] aqui
dentro. Estamos dando o melhor
para fora quando deveríamos estar
contendo a exportação. É um
sistema que penaliza mais
duramente as famílias de baixa
renda”, argumenta.

Atualmente, está em tramitação no


Senado o Projeto de Lei
Complementar (PLP) nº 53, de 2021,
que tem como objetivo vetar o
aumento dos preços dos alimentos
da cesta básica acima da inflação
durante a pandemia. Segundo o
Valor Investe, o PLP pretende
conceder às famílias carentes em
situação de vulnerabilidade social o
direito de receber a cesta básica em
meio à crise causada pela pandemia.
O projeto propõe, ainda, alíquota
zero para os impostos IPI, ICMS,
Cofins e Pis/Pasep sobre comidas da
cesta básica.

REFERÊNCIAS

SILVA, J. G. da; TAVARES, L.


Segurança alimentar e a alta dos
preços dos alimentos: oportunidades
e desafios.

O BRASIL CHEGOU PERTO…

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Antônio Cicero Gomes Pereira


O Brasil não valoriza o trabalho do cidadão,
logo permanecemos no circulo vicioso,
priorizando as exportações de commodities e
consequentemente aumentasndo os prfeços
internos. A sua explicação é plenamente
compreensível. E agora o que fazer?
Você economista está com a palavra. Dê a
solução.
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Mariana Lima
Mariana Lima, repórter da
periferia e roteirista de
podcasts. Acredita que os
Direitos Humanos são uma
ponte para o desenvolvimento social.
Homenageada no 1º Prêmio Neusa Maria
de Jornalismo.

1 comentário

ANTONIO CICERO gomes pereira

Antônio Cicero Gomes Pereira


O Brasil não valoriza o trabalho
do cidadão, logo permanecemos
no circulo vicioso, priorizando as
exportações de commodities e
consequentemente aumentasndo
os prfeços internos. A sua
explicação é plenamente
compreensível. E agora o que
fazer?
Você economista está com a
palavra. Dê a solução.

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