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ID: 99479870 02-06-2022 Âmbito: Interesse Geral Corte: 1 de 2

Dinheiro

m grupo que opera fu-

nerárias que paga menos
uns milhões em impos-
tos ao abrigo de um be- 4

nefício fiscal para quem está no

setor financeiro. Dezenas de be-
nefícios fiscais, concedidos a em- r""
presas, mas que ninguém - nem
peritos contratados pelo Governo
- sabe ao certo explicar para que
servem. Centenas de empresas
que poupam milhões de euros na
sua fatura fiscal graças a benefícios
a que não têm direito, mas que
ninguém verifica. "Nas empresas Governo
funciona como no caso das pessoas O secretário de
antes de a declaração de 1RS vir Estado António
pré-preenchida pelo Fisco - qual- Mendonça
quer companhia pega no anexo Mendes garan-
dos benefícios fiscais e mete lá te mudanças
qualquer coisa", explica um perito este ano e diz
ouvido pela SÁBADO, conhecedor que as poupan-
da realidade desta despesa fiscal, ças são para
que preferiu o anonimato. "É assim baixar impos-
porque ninguém avalia", explica. tos ou reinves-
Todos os anos o Estado deixa de tir nos serviços
receber centenas de milhões de
euros por causa de vantagens fis- "O FMI ESTÁ
cais concedidas a empresas e par- A APRIMO-
ticulares: os benefícios fiscais. Em RAR O
2020, ano de pandemia, foram 2,3 MODELO DE
mil milhões de euros; em anos an- AVALIAÇÃO
teriores, com a economia a funcio- DOS BENEFÍ-
nar em pleno. o valor superou 3 CIOS FIS-
mil milhões. A receita que o Estado CAIS", DIZ O
deixa de ter quando concede um SECRETÁRIO
benefício fiscal - se. por exemplo, DE ESTADO
cais (diminuíram desde então, mas
continuam a ser perto de 500).
dá uma dedução fiscal a uma em- espalhados por vários impostos.
presa que contrata jovens e des- Além da quantidade de incentivos,
empregados de longa duração - que torna mais complexo o con-
não é um mal em si. "A receita trolo da despesa fiscal, os peritos
perdida é o preço que o legislador não conseguiram encontrar "fun-
aceita para ter um resultado posi- ção definida" para 127 benefícios -
tivo, extrafiscal, com aquele bene- ou seja, não conseguiram perceber
fício". explica o fiscalista João Es- para que servia cerca de um quar-
panha. "Para saber se esse resulta- to dos apoios em impostos conce-
do é positivo é preciso que exista a didos pelo Estado. Entre os restan-
avaliação posterior sobre o efeito tes que tinham uma função atri-
do benefício - no caso do incenti- buída. a maior parte estava na
vo ao emprego, por exemplo, são categoria genérica "Assuntos Eco-
as empresas maiores e já com ca- nómicos - outros".
pacidade para contratar que o Quatro anos depois de ter dito
aproveitam", diz. que queria rever este estado de
O problema tem duas frentes: coisas, o Ministério das Finanças
por um lado, a multiplicação de diz que está mais perto de o con-
benefícios sem justificação, nem seguir fazer. A ajudar estão duas
avaliação posterior; por outro, a instituições que fizeram parte da
ausência gritante de controlo so- troika: a Comissão Europeia, que
bre a sua execução no terreno. Um tutela o financiamento a que Por-
relatório publicado em 2019, a pe- tugal se candidatou para fazer esta
dido do Governo, deu uma ideia reforma; e o Fundo Monetário In-
mais precisa do descontrolo na ternacional (FMI), cujos técnicos
primeira frente do problema: os estão a trabalhar com peritos den-
peritos contabilizaram ao todo 542 tro e fora da Autoridade Tributária
tipos diferentes de benefícios fis- para desenhar um modelo de ava-

ROMBO. VANTAGENS DADAS SEM ESTUDO E SEM VERIFICAÇÃO

A GRANDE MÁQUINA E
Técnicos do FMI têm vindo a Portugal para ajudar a pôr cobro ao descontrolo nos mais de 400 ber

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liação e controlo dos benefícios
fiscais. Os técnicos do FMI — que.
segundo apurou a SÁBADO. fica-
ram surpreendidos com o grau de
descontrolo existente — têm feito
reuniões em Lisboa. "O FMI está a
aprimorar o modelo de avaliação
dos benefícios fiscais". explica
António Mendonça Mendes, que
atribui à pandemia uma parte do
atraso na reforma. O secretário de
Estado dos Assuntos Fiscais indica
à SÁBADO que até ao fim do ano
haverá um modelo novo, assim
como uma unidade técnica de
política fiscal, que funcionará nas
Finanças e que terá a missão de
avaliar cada medida antes. du-
rante e depois de ser atribuído
o benefício.
A poupança é para devolver
Mendonça Mendes diz que o que
o erário público conseguir poupar
nesta despesa servirá para baixar
impostos ou para reafetar em des-
pesa em áreas carenciadas (ver
caixa para exemplos). Para já, os
técnicos portugueses e os do FMI
estão a olhar para três que inci-
E QUEIMAR MILHOES
?fcios fiscais para empresas. Em muitos, o Estado nem sabe quanto gasta.
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O custo real do caos
Uma poupança de 10% nos
benefícios equivaleria a...
Os cerca de 230 milhões
que estes 10% valeriam são questão das falhas no controlo
mais do que o Estado vai sobre quem recebe o quê. O rela-
gastar este ano com o tr
tório de 2019 apontava que o Esta-
aumento salarial de do não sabia, por exemplo, quanto
0,9% na Função Pública. gastava em quase 50% dos benefí-
cios fiscais no IRC. O Tribunal de
Ganhos modestos com o Contas, que todos os anos insiste
o
Em
controlo dos benefícios mais na urgência de rever o modelo.
2020, a do que pagavam todo o aponta no parecer à Conta Geral
despesa com finanças
os benefícios pacote de alívio fiscal ,do Estado de 2020 que não viu
fiscais às no IRS este ano. formação sobre o custo de quase
empresas
metade dos benefícios fiscais.
superou 2,3
mil milhões A poupança consegui- Esta opacidade convive com a
de euros ria financiar a totalidade dos quase total falta de controlo. Numa
197 milhões de euros previstos auditoria feita em 2014 à despesa
para a atualização extraor- com benefícios fiscais, o Tribunal
dinária das pensões mais de Contas encontrou um volume
baixas este ano. de 490 milhões de euros por
quantificar e irregularidades varia-
das (numa amostra aleatória supe-
rior a 300 milhões de coros as ir-
regularidades valiam quase 13%).
dem no imposto sobre os lucros Numa passagem do contradi-
das empresas (IRC), estando o Go- tório a que tem direito nestas au-
verno a recorrer a peritos cio Cen- ditorias, a Autoridade Tributária
tro de Estudos Fiscais e de univer- reconhecia que estava a quantifi-
sidades para avaliar os que vão car a despesa fiscal de IRC com
PERITOS NÃO sendo renovados e que foram base "em montantes declarados
SOUBERAM "criados sem estudo e não tiveram pelos contribuintes lempresas1
EXPLICAR avaliação posterior", diz o secre- relativamente aos quais não é
PARA QUE tário de Estado. possível verificar a sua veracida-
SERVEM 127 A julgar pelos estudos e docu- de" -• ou seja, com base no que
TIPOS DE mentos feitos sobre a matéria, a as empresas diziam, sem verificar.
BENEFÍCIOS futura entidade de controlo terá. Uma falta de controlo que, no
FISCAIS em conjunto com o Fisco. muito caso dos contribuintes indivi-
ATRIBUÍDOS trabalho. Além da avaliação eco- duais. sujeitos a maior escrutínio,
ÀS EMPRESAS nómica de cada benefício há a acabou há anos.
Por Bruno Faria Lopes