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a INTRODUÇÃO À FISCALIDADE 

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cal e, ao mesmo tempo, se torna imperativo construir uma economia com dinâmicas competitivas de tabilização’ do sistema fiscal português, que apenas conseguirá atrair investimento estável e dura-
atracção internacional. douro se gerar confiança nos operadores económicos. E esta confiança, conforme acima se
O que deverá ser questionado, pois, prende-se com o sentido e a orientação desses processos de agi- sublinhou, tem uma dimensão sistemática e globalizante. Prende-se essencialmente com a natureza,
lização. Por outras palavras, teremos obrigatoriamente de nos questionar do seguinte: estão ou não o funcionamento e as principais características da legislação fiscal, administrativa e criminal. Pren-
estes processos de simplificação a ir no sentido correcto? de-se, igualmente, com a celeridade e a imparcialidade do sistema de justiça.
  Ainda relativamente a este ultimo ponto, o combate à corrupção revela-se como outro aspecto
essencial. De facto, tal como tem sublinhado o Parlamento Europeu (por exemplo no Relatório Sal-
3. A Reforma do IRC: uma reforma para as pequenas e médias empresas? 97
  vatore Iacolino ), os níveis de corrupção e, em geral, de fuga e evasão fiscal têm um impacto extre-
 
  mamente negativo no índice de confiança dos cidadãos, provocando um efeito-fuga dos investidores
Sabemos que o tecido empresarial português é constituído, maioritariamente, por pequenas é médias e outros operadores económicos. Este é um aspecto que terá de merecer, a breve trecho, atenção
empresas. São estas que constituem, para além disso, a percentagem maioritária em termos de capa- especial por parte do legislador.
cidade empregadora e de criação de dinâmicas sócio-económicas. Impõe-se, assim, uma questão: Finalmente, deveremos ainda perguntar-nos se alguns aspectos da reforma recentemente aprovada
será que a presente reforma do IRC beneficia as pequenas e médias empresas? não poderá, pontualmente, revelar-se permissiva a condutas abusivas. Por um lado, a expressa revo-
Tal como estava inicialmente proposta pela Comissão, a resposta parecia-me francamente negativa. gação da necessidade de ‘reconhecimento económico’ [pela Autoridade Tributária] para a dedução
Por um lado, o sentido genérico da reforma parecia no sentido de beneficiar sobretudo aqueles que de prejuízos fiscais em caso de operações de concentração empresarial poderá facilmente, conforme
volume maior de lucros obtivessem. Por outro lado, o aumento do montante mínimo do pagamento acima se referiu, fazer reemergir um potencial mercado de compra e venda de prejuízos fiscais, com
especial por conta (PEC) para 1500 Euros e mesmo (num momento posterior) para 1750 Euros afi- claras intenções fraudulentas. Por outro lado, a excessiva permissividade do regime aprovado da
gurava-se como extremamente penalizador das pequenas e médias empresas ao configurar-se como ‘Participation Exemption’ (ao exigir apenas a detenção de 5% do capital para a isenção de IRC no
uma “colecta mínima agravada” que teria de ser suportada por estas entidades. âmbito da distribuição de dividendos e mais-valias) poderá, tal como foi já alertado por vários ana-
G No entanto, com o acordo alcançado o final do ano transacto, arrisco-me a afirmar que poderão
emergir desta reforma aspectos bastante positivos para as pequenas e médias empresas.
listas, provocar abusos flagrantes no âmbito da gestão de partes do capital social das empresas.
Neste domínio, Portugal arrisca transformar-se numa plataforma de triangulação de rendimentos de
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Desde logo, deve ser sublinhado que o Governo recuou na proposta de aumento do PEC e manteve capitais, abrigando cá sociedades interpostas que não contribuem efectivamente para a economia
os valores que se encontravam já em vigor (1000 Euros). Porém, não pode deixar de ser enfatizada a real, para o crescimento e para o emprego, o que é especialmente grave num contexto legal e juris-
criação de uma taxa intermédia de IRC para as pequenas e médias empresas: efectivamente, de prudencial em que, como sabemos, as cláusulas anti-abuso existentes são particularmente
acordo com a nova regulação, estas entidades beneficiarão de uma taxa de IRC de 17% aplicável ineficientes.
aos primeiros 10 mil euros de matéria colectável, o que permite, sem margem de dúvidas, uma dis-  
tribuição mais justa, proporcional e equitativa dos esforços fiscais das empresas, atendendo ao  
 
volume de negócios e à matéria colectável.  
Ora, juntando aos dois aspectos acima mencionados a criação do regime simplificado para as peque-  
nas e médias empresas - com claros elementos de simplificação e desburocratização – parece ser de  
 
concluir pelo sentido favorável da reforma do IRC para aquelas entidades. De facto, segundo os últi-
 
mos dados conhecidos, para além de um beneficio difuso em relação à eliminação de cerca de vinte  
obrigações acessórias no âmbito da legislação fiscal, prevê-se que, já em 2014, cerca de 400.000
empresas suportem um valor mais baixo em sede de IRC do que suportaram nos anos de 2013 e
2012.
No entanto, esta dimensão não deve obnubilar nem fazer esquecer um conjunto de pontos essenciais
que ficou por fazer e outros em que se foi longe de mais em termos de equilíbrio do sistema fiscal
e/ou da redução da litigiosidade. A reforma da justiça contenciosa é um aspecto essencial para a ‘es-

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