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FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Relatório sobre:
Professor:
Jorge Bacelar Gouveia, Prof. Dr.
2
TRIBUTO: A IMPORTÂNCIA DO PLANEAMENTO FISCAL
E DA FISCALIZAÇÃO NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
Professor:
3
Luanda, Abril de 2023
4
RESUMO
A razão de ser da presente abordagem prende-se na importância que a
fiscalização e Planeamento Fiscal ocupa nas sociedades comerciais Anónimas, como
um mecanismo de reforço na tentativa de restabelecer a confiança dos accionistas,
investidores e os demais stakeholders, nos mercados financeiros e nas entidades
responsáveis pela sua regulação e supervisão.
Tendo isto em depreende-se que existe uma razão de ser para encarar o
planeamento fiscal através de uma lente. Os factores determinantes incluem o aumento
do escrutínio público sobre a evasão fiscal das empresas e um esforço renovado para
combater a evasão fiscal por parte das autoridades fiscais do país.
5
ABSTRACT
When addressing tax revenues in the Angolan legal system, it raises some
consequences, especially the issue on the Circulation Rate, since it has been a long time
since skeptical positions have arisen for jurists, jurists, inspectors and accountants.
Some pointed out as taxons, others as a tax and some asked that it is a special
contribution, but it should be noted that it required a thorough analysis of the authority
to whom it is entitled, because it is not enough for taxes to be competent in compliance
with the law, however there must be a consonance between the point of view of the
creation of the tax rule with the application of these to the facts and recipients in
question.
Subsequently, we will enter more specifically into the problem of which legal
nature the tax figure fits, in which, despite the multiple facets in which it appears, it
requires above all a more unitary view of it, thus recovering the genuine sense of the
tax, as well how to question ourselves about the non-morality that falls on taxpayers
since it is a tax, at the same time the reason that left something to be desired not to
respect its nomenclature previously applied. Finally, we will make an allusion to the tax
reform on the Motor Vehicle Tax (IVM), which remains as levied on vehicles,
motorcycles, tricycles and quadricycles, but extends a discount to recreational vessels
and private aircraft.
Keywords: Circulation Rate, Rate, Tax, Tax Figure and Tax on Motor Vehicles.
6
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A questão de fiscalização das sociedades foi colocada pela primeira vez com o
surgimento do conceito de governação das sociedades. Fala-se em governação (ou
governo) das sociedades para designar o complexo das regras (legais, estatutárias,
jurisprudências e deontológicas) instrumentos e questões respeitantes à administração
e ao controlo (ou fiscalização) das sociedades1.
Outros escândalos financeiros como (Enron, Dona Branca, Bernard Madoff, etc)
e o colapso mercados de capitais reavivaram a questão da governação das sociedades,
fazendo com que os Estados, entidades reguladoras, os accionistas e os investidores se
questionassem e continuem a questionar ( pois, para muitos países a crise dos mercados
ainda se continua a fazer sentir) sobre bondade, eficiência, eficácia dos sistemas e regras
existentes.
1
COUTINHO DE ABREU, Jorge Manuel, Governação das Sociedades Comerciais, 2ª edição, Almedina,
p. 7.
7
Ao longo dos tempos as convulsões dos mercados internacionais, tiveram
respostas diversas, como por exemplo a aprovação de um conjunto de normas 2,
publicação de relatórios, recomendações, posturas, etc.
2
The Sarbanes-Oxley Act of 2002, aprovado pelo Congresso do EUA.
3
JUNG, Salete, Sociedade Anónima, Noção Histórica e a Breve Visão sobre Acções de
Responsabilidade Civil, 2008.
4
Cfr no artigo 1º nº 2, da LSC.
5
Cfr o artigo 1 nº 3, da LSC.
8
2.1. Características
O capital social minímo exigido por lei é o equivalente a USD 20.000,00 (vinte
mil dólares norte-americanos). São sempre expressos num valor nominal o capital e as
acções, não podendo esse valor nominal, ser inferior a quantia equivalente a USD 5,00
expresso em moeda nacional, devendo ser sempre indexado a esse valor, sendo o valor
nominal das acções igual para todas9.
6
OLAVO CUNHA, Paulo, Manual de Direito das Sociedades Comerciais, p. 494, “ O caso Específico
das Sociedades Anónimas ”.
7
Cfr. artigo nº 1 do 304º LSC.
8
VALE, Sofia, As empresas cit, p 779.
9
Cfr os artigos 304º nº 1 e 2 e nº 3 do artigo 305º, da LSC.
9
Pelo menos 30% do capital social deve estar realizado no momento de
constituição da sociedade10. Nas Sociedades Anónimas a responsabilidade de cada sócio
é limitada ao valor das acções que subscrever, sendo o capital social dividido em
acções. Essas acções são de igual valor nominal, e de livre negociação.
10
Cfr o artigo 306º nº 1, da LSC.
11
Cfr o artigo 303º nº 1, da LSC.
12
Cfr o artigo 305º e 334º, todos da LSC.
10
Quando se aborda da estruturação orgância da governação das sociedades,
alguns dos autores portugueses13 dividem os sistemas de governação das sociedades em:
Quanto aos autores portugueses 14, por sua vez, defendem no que diz respeito à
estruturação orgânica de (administração e) fiscalização das sociedades anónimas
existem três e não dois sistemas:
13
COUTINHO DE ABREU, Jorge Manuel, PEREIRA DE ALMEIDA, António.
14
MENEZES CORDEIRO, António, Manual de Direito das Sociedades, Vol I, Das Sociedades em
Geral, 2ª edição, 2007, Almedina, p. 944 e seg.; FIGUEREDO DIAS, Gabriela, Fiscalização de
Sociedades e Responsabilidade Civil (antes da reforma CSC); PEREIRA DE ALMEIDA, António,
Sociedades Comerciais e Valores Mobiliários, Coimbra Editora, 5ª Edição, 2008, p. 417, demonstra
partilhar da mesma opinião que António Menezes Cordeiro.
11
A integração na estrutura societária de um órgão de fiscalização pode, consoante
o tipo societário em questão, ser permitida ou obrigatória. De facto, para as sociedades
por quotas, o regime supletivo é o da inexistência de um órgão de fiscalização, podendo,
porém, os sócios prever nos estatutos a existência de um órgão de fiscalização 15. Esta
distinção assenta no pressuposto de que as sociedades anónimas apresentam estruturas
de uma maior complexidade e que correspondem as empresas de maior envergadura.
12
constituindo o núcleo central da arte, são os sujeitos que desempenham a actividade de
administração20. A administração é, enquanto órgão coletivo, responsável por todas as
decisões relativas ao planeamento estratégico e pela gestão corrente. Não é um mero
executor, antes tem, desde logo, uma responsabilidade na gestão estratégica21.
20
A título de exemplo, o Grupo SONAE, constituído por um Conselho de Administração e uma
Comissão Executiva, é administrado por engenheiros e economistas,entre outros. O mesmo se passa com
o Grupo PT, que apresenta a mesma estrutura de governação. A referência norte-americana de exigência
de uma pessoa prudente quererá significar que o administrador terá que deter uma diligência superior,
própria do sector comercial ou empresarial.Neste sentido GUILLERMO GUERRA MARTÍN,ob.cit..Na
Itália discute-se se o dever de diligência se poderá reconduzir ao conceito de profissionalidade ou ao
conceito de “bom pai de família”. PEDRO CAETANO NUNES, ob.cit., 29. FRANCO BONELLI
defende particularmente que o padrão que se aplica é o critério da diligência de “buon padre di famiglia”.
Todavia, considera que se trata de um critério geral e objectivo (e até severo) que significa a diligência
devida a um administrador naquela circunstância,ob.cit.,175 e ss.
21
PERESTRELO DE OLIVEIRA, Ana, Bancos e Insider Loans: Empréstimos destinados à Subscrição
ou Aquisição de Ações do Banco pelos Administradores, Revistas do Direito das Sociedades, UL-FD-
CIDP, Lisboa, 2019, p. 436.
22
VALE, Sofia, Direito Comercial, in Direito de Angola ( Coordenação Elisa R. Nunes e Jorge Barcelar
Gouveia), FD-UAN, Luanda, 2014, p. 155.
23
VALE, Sofia, As Empresas cit, 2º paragráfo, p. 13.
24
BRITO CORREIA, Luís, Os administradores de sociedades anónimas (1993), refere que os “admi-
nistradores exercem, na verdade, o poder na empresa – na cédula base da economia, e portanto, numa das
componentes fundamentais da humanidade”.
25
Neste sentido, FERRER CORREIA, Lições de Direito Comercial (1983, reimp.), 390, BRITO COR-
REIA, ob.cit., ALEXANDRE SOVERAL MARTINS, Os Poderes de Representação dos
Administradores das sociedades Anónimas, BFD (1998), 18 e ss. Não obstante estes poderes não se
encontrarem, por vezes,conexos ou mesmo dirigidos ao órgão de administração.Neste sentido, vide
JORGE COUTINHO DE ABREU, Governação das sociedades (2006), p.37.
13
Na nossa precepção, a expressão que assume maior importância, uma vez que a
disponibilidade e o conhecimento da actividade da sociedade são naturalmente inerentes
à actividade de administrar – é a referência à “competência técnica” que exprime
claramente e reforça a ideia de profissionalização da qualidade de administrador. Com o
desenvolvimento crescente das sociedades anónimas e a importância fulcral dos
administradores na condução do destino das mesmas, que se reflecte no crescimento e
no desenvolvimento económico, impõe-se que os administradores possuam capacidades
técnicas26, que sejam capazes de responder aos desafios actuais e futuros da sociedade
que administram.
Ambos órgãos27, são eleitos em assembleia geral, em regra para mandatos de até
quatro anos28. Ao conselho administração cabe representar a sociedade em juízo, em
exclusivo e com plenos poderes e ainda geri-la com autonomia, devendo, porém,
durante a sua actuação, subordinar-se ás deliberações de assembleia geral e às
intervenções do conselho fiscal nos casos em que a lei ou o contrato de sociedade o
imponham.
26
CAIAIA, Moses, Investimento Privado no Direito Angolano, edição Ponto de Vista, Luanda, junho de
2019, p.38.
27
Cfr. o artigo 411º, 412º, 435º e 436º da LSC.
28
No pacto social pode estabelecer-se que os mandatos tenham duração inferior a quatro anos, contudo,
não é legalmente admitida a possibilidade de os mandatos serem de duração de superior a quatro anos
(cfr. 412º, nº 1 e 435º, nº 1 LSC)
14
administração após a obtenção de consentimento ou autorização da assembleia-geral
pode suscitar alguns conflitos de interesse, sobretudo no caso do administrador, que tem
também um interesse accionista, e que se repercutem no campo da representação, em
sentido lato (representação e vinculação) sociedade29.
A doutrina tem procurado definir um conjunto de situações que não tem sido
fácil, porquanto o tema é tratado de forma diversa pelas várias Legislações. Nos Estados
Unidos, a legislação, assim, como a doutrina e a jurisprudência, tratam-na no âmbito do
Contratos de Agência. A propósito, Clark31 apresenta quatro categorias, a saber:
29
CAIAIA, Moses, Temas de Direito das Sociedades Comerciais, O Problema da Vinculção da
Sociedade no caso do Administrador em Cumulação com a Posição de Accionista, Vol I, editora Ponto de
Vista, Março de 2019, p. 26.
30
JHERING, Rudolf Von, O Espírito do Direito Romano nas Diversas Fases de sua Evolução,
Alemanha, 1865.
31
CLARK, p. 142, opud, CUNHA, Rodrigo Ferraz Pimenta Da, cit, p.164.
15
É comum, por exemplo, nos EUA, aonde o problema é tratado no âmbito de
Agência, haver o conflito de interesses sócios maioritários e minoritários 32. Como
esccreve José Ferreira Gomes:
Cremos, assim, que no caso das sociedades com accionistas controladores 34, se
estes forem também administradores, os problemas serão ainda maiores, na medida em
que há um esforço da capacidade daqueles de influenciar a determinação dos destinos
societários, para além da concentração do capital que os mesmos já possuem. Há, assim,
uma diminuição da pouca influência que os accionistas minoritários já têm, o que não
lhes permite fazer alinhar as condutas dos accionistas maioritários em relação aos
interesses comuns.
32
Quando as posições e as vontades dos sócios maioritários sobreponham a dos sócios minoritários.
33
GOMES, José Ferreira, Da Adminstração à Fiscalização das Sociedades, A Obrigação de Vigilância
dos Órgãos da Sociedade, Almedina, 2015, p.40.
34
As sociedades para financiar ou alavancar a sua actividade ou ainda para recuperar de uma situação
díficl, quase sempre, fazem recurso ao crédito externo. Os credores da sociedades financiada, em face do
risco de crédito inerente ao financiamento e aos possíveis conflitos de interesses que possam existir com
os acionistas e/ou com os administradores da sociedade financiada e como mecanismo de protecção dos
seus interesses e que lhe permitem e legitimam a sua intervenção em interesses próprio, introduzem nos
contratos de financiamento as cláusulas Covenants.
35
PERESTRELO DE OLIVEIRA, Ana, Os credores e o governo societário: deveres de lealdade para os
credores controladores?, Revista de Direito das Sociedades, FD – Universidade de Lisboa, 2009. Esta
necessidade torna-se clara à luz dos mecanismos de supervisão da gestão levada a cabo pelos credores e
da sua participação da tomada de decisões empresariais. Paradigmaticamente sobre o tema,cfr.a análise
completa levada a cabo por SERVATIUS,Gläubigereinfluss durch covenants, Tübingen,2008,1 ss..
16
dispõe o art.º 64.º do CSC. A razão é histórica, porquanto a Lei das Sociedades
Comerciais, com algumas alterações, contém na sua maioria as normas em vigor no
CSC português antes da reforma de 2006.
Mas, há algumas situações que têm merecido uma atenção menor a nível da
doutrina e suscitam problemas, sendo que não é fácil dissociar o interesse do
administrador em relação ao interesse do accionista, pois sendo que se ambos
encontram na mesma pessoa37.
CAPÍTULO II
36
Em regra geral, os interesses do sócios são desassociados dos interesses dos administradores, porquanto
os sócios pretendem maximização dos lucros e destribuição de dividendos. E já os administradores
pretendem a manutenção dos cargos, aumento dos salários e dos prémios e pretensão accionista.
37
MANUEL, Leonildo, A Questão da Ingerência dos Credores Controladores: O Terceiro Poder?, 2020
p. 9 - “ Muitas das vezes o conflito existente entre o sócios e os administradores pode perpetuar em: i)
venda da empresa no âmbito de uma OPA hostil; ii) Sobrevalorização e falta de fiscalização financeira da
sociedade.
17
3.1. A Fiscalização das Sociedades Anónimas
18
Verificação da Ilictude do Objecto: verificação ilicitude do objecto social e/ou
da possibildade de este vir tornar-se ilícito ou contrário à lei.
Em qualquer um dos casos o Ministério Público deve requerer, sem necessidade de
precedência de acção declarativa, a liquidação judicial da sociedade. Mas, antes de fazê-
lo ou de tomar qualquer outra providência que repute pertinente, o Ministério Público
está obrigado a, por ofício, notificar a sociedade ou 41 os sócios para em prazo razoável
(a fixar pelo MP no referido ofício, mas que nunca deverá ser inferior a seis meses,
contados da data em que a notificação tenha sido feita), regularizar a situação anómala.
Para além do Ministério Público, outras entidades ou oficiais públicos como por
exemplo, notários e conservadores, têm poderes de fiscalização muito importantes.
41
Cfr. o nº2 do artigo 174.º LSC.
42
Cfr. o nº 1, do artigo 17.º da Lei n.º 16/10, de 15 de julho – Lei do Banco Nacional de Angola.
43
Cfr. artigos 7º e 9º da Lei nº 12/05, de 23 de Setebro – Lei dos Valores Mobiliários.
44
Cfr. o artigo 3.º nº 1, alínea b) do Decreto nº 63/04, de 26 de Setembro que aprova o Estatuto Orgânico
do Instituto de Supervisão de Seguros.
45
46
MARQUES, Tiago, Responsabilidades Civil dos Membros de Órgãos de Fiscalização das Sociedades
Anónimas, Almedina, 2009, p. 17 e ss.
47
Cfr. o nº 2, do artigo 7º, Lei nº 11/15, de 17 de junho, Lei da Simplificação do Processo de
Constituição das Sociedades Comerciais.
19
Transpondo as ideias acima expostas para a realidade angolana, sistematização
de acima para esta ideia, podemos concluir que os pontos i) e ii) se enquadram na
fiscalização interna e os pontos iii), iv) e v), respectivamente, integram a fiscalização
externa da sociedade.
48
Cfr o artigo 432º
49
VALE, Sofia, Principais Características do Órgão de Fiscalização das Sociedades, Luanda, Maio de
2014, p.2.
50
Registo semelhante ao supracitado.
51
Cfr. o nº 2 do artigo 315.º .
52
Cfr o nº 3 do artigo 433.º .
20
iii) Nomeiem uma pessoa singular para, em seu nome e representação, exercer essas
funções.
Olavo Silva, aludindo-se ao contexto actual, salienta que:
3.2.1. Incompatibilidades
21
Conselho Fiscal ou de único, com exercício de funções de membro do Conselho Fiscal
ou de Fiscal Único, com o exercício de outras funções e/ou actividades.
22
A LSC é omissa quanto sobre o procedimento ou forma da convocação de
reuniões do conselho fiscal, a LSC. Segundo a Dra. Neusa Melão Dias53, considera
admissível que a forma de convocação das reuniões do órgão de fiscalização colegial
(conselho fiscal) sejam aplicáveis as normas referentes à convocação do conselho de
administração54, todavia, julgo que no pacto social se pode estabelecer procedimento de
convocação das reuniões mais célere e informal, como por exemplo, determinar que
estas possam ser convocadas por e-mail (com assinatura digital). Mais uma vez, pode
(ou deve) pacto social regulamentar está questão, não sendo condenável a
admissibilidade dessa possibilidade, desde que a sociedade esteja em condições de
garantir a fiabilidade e a segurança das reuniões que ocorram nessas circunstâncias.
a) Fiscalização Administração
53
Conforme a Dra. Neusa Melão Dias, em Fiscalização das Sociedades Anónimas: Natureza, Regime,
Atribuições e Competências do Órgão de Fiscalização, TCC da Pós-graduação em Direito das
Sociedades Comerciais, FD-UAN, Luanda, Abril de 2012, p. 10.
54
Cfr. o nº 2 do artigo 429.º.
55
Cfr. artigo 441.º.
56
Cfr. o nº 1 alínea d) a i) do artigo 441.º
23
As funções de fiscalização da administração, da legalidade do contrato e da
actividade social fazem parte do chamado dever de fiscalização política57. Este dever de
fiscalização política desmembra-se em duas vertentes: (i) a fiscalização da
administração e (ii) fiscalização da legalidade.
Não tendo legislador sido mais preciso na indicação dos actos da administração
que estão sujeitos à fiscalização, entendo que esta incide sobre administração em
sentido amplo, estando aqui compreendida a gestão da sociedade a representação. Logo,
âmbito de actuação do órgão de fiscalização não se deve resumir apenas aos exercícios
de funções dos membros da administração (conselho de administração ou comissão
executiva), abrange também os actos praticados pelo directores, chefias, assembleia
gersl, trabalhadores, etc.
Para além de fiscalizar administração deve zelar pela observância da lei (não só
a LSC e a respectiva legislação complementar mas também o cumprimento de toda e
qualquer lei ou regulamento que seja aplicável à sociedade e à actividade, natureza
fiscal, administrativa, laboral, etc) e do pacto social. Neste contexto o membros do
órgão de fiscalização podem agir preventivamente (alertando para a obrigatoriedade de
cumprimento das normas, chamando a atenção para a aprovação de novos diplomas
aplicáveis à sociedade, impedidindo a prática de um acto ilegal, etc) ou reagir contra os
57
MARQUES, Tiago João Estevão, em Responsabilidade Civil dos Membros do Órgãos de Fiscalização
das Sociedades Anónimas, Almedina, 2009, p. 91.
58
Conforme a Dra. Raquel Etosse Porfírio Mussonguela, em Fiscalização das Sociedades Anónimas à
Luz do Ordenamento Jurídico Angolano, Curso de Pós-graduação de Direito de Bancário, FD –UAN,
Luanda, 2013.
24
actos ilegais, informando os demais órgão sociais da sua existência ou, se for caso, o
Ministério Público ou ainda arguindo judicialmente a ilegalidade das deliberações da
assembleia geral ou conselho de administração.
25
i. Obter de administração, para exame e verificação, a apresentação dos livros, dos
registos e dos documentos da sociedade, bem como, verificar as existências de
qualquer classe de valores, designadamente, dinheiro, títulos ou mercadorias.
ii. Obter da administração ou de qualquer um dos administradores informações ou
esclarecimentos sobre o decurso das operações ou actividades da sociedade ou
sobre qualquer um dos seus negócios.
iii. Obter de terceiros que tenham realizado operações por conta da sociedade as
informações de que careçam para o conviniente esclarecimento de tais
operações;
iv. Assistir às reuniões da administração, sempre que o julgam conviniente.
Dos deveres genéricos acima descritos, alguns, pela sua importância e natureza foram
objecto de tratamento especial, pelo que, julgo pertinente aprofundar um pouco mais a
análise do contéudo dos deveres gerais e específicos do órgão de fiscalização que são:
e) Dever de Diligência;
f) Dever de Impugnar as Deliberações Sociais;
g) Dever de Convocar a Assembleia Geral.
61
Cfr. o artigo 443.º.
26
4.1. A Figura do Administrador Independente nas Realidades
Societárias
62
O colapso da Penn Central Reailroad deveu-se, acima de tudo à passividade e desconhecimento da
situação financeira da sociedade por parte dos seus administradores, ao passo que o caso Watergate
demonstrou que os administradores raramente estavam a par das práticas contabilísticas da sociedade,
considerando, assim que não seria seu dever assegurar-se da sua conformidade com a lei. veja-se neste
sentido, GORDON, Jef- Frey n., The rise of independente Directors in the united States…, pp. 1520-
1526.
63
Cfr. SILVA, João Calvão Da, Responsabilidade Civil dos Administradores Não Executivos, da
comissão de auditoria e do conselho geral e de supervisão, in «Jornadas em homenagem ao Professor
Doutor Raúl ventura», Almedina, Coimbra, 2007, p. 106.
27
A conjugação destes dois factores fez com que a administração societária se
passasse a concentrar nas acções arbitrárias da comissão executiva e do CEO, tornando-
se o conselho de administração num mero “órgão passivo, composto por «yes man» de
ratificação automática de actos daquela”. Esta supremacia do CEO era ainda manifesta
quando diversas vezes, este acumulava as suas funções executivas com a presidência do
conselho de administração, passando aí o questionamento das decisões de gestão pouco
frequente e praticamente inexistente64.
Foi apenas uma questão de tempo até que os teóricos da corporate governance se
começassem a insurgir contra este status quo, clamando por uma mais activa, eficaz e
objectiva fiscalização da gestão da sociedade. Este desiderato seria alcançado segundo
eles, por via da inserção no seio de órgãos da administração de elementos cuja principal
(ou mesmo única) função se traduziria rigorosamente na monitorização e controlo da
actuação da equipa executiva: os administradores independentes, pois tal como os
anticorpos combatem a enfermidade dentro do organismo assolado e por isso são
tendencialmente mais eficazes nesta luta, assim de igual modo os AI deveriam também
inserir-se no núcleo dos principais quesitos societários, ou seja, no conselho de
administração. Logo na primeira parte do século passado, a Securities and Exchange
Committee através do Securities Exchange Actde 1934, consagrou a necessidade de uma
maioria de administradores independentes (Ai´s) no âmbito das comissões de auditoria.
A seguir foi a Bolsa de Nova york (Nyse) nos anos 50 que veio também afirmar
a necessidade deste tipo de composição da comissão de auditoria. Fora do contexto dos
administradores auditores, falou-se primeiro do outsider director, definido na doutrina e
pelas regras da Nyse de 1962, como o administrador que não tinha quaisquer ligações
com a função executiva. surgia então a divisão entre executives e non-executives que
mais tarde se desenvolveria nos ordenamentos jurídicos de matriz anglo-saxónica, em
particular o Reino Unido.
64
CORREIA, João Miguel Silva Fernandes, O Administrador Independente nas Sociedades Anónimas,
dissertação apresentada à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra no âmbito do 2.º Ciclo de
estudos em Direito, Área de especialização de Ciências Jurídico-empresariais, menção em Direito
empresarial, 2014, disponível em ˂https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/34804˃, consultado em
01.02.2018, p. 21.
28
administradores não-executivos distinguia ainda os affiliated (não independentes) e
non-affiliated directors (independentes). Nos anos subsequentes a Nyse bem como a
NASDAQ, introduziram nas suas regulamentações a figura do Ai afirmando a
imprescindibilidade da sua presença no desenvolvimento da função de fiscalização do
novo monitoring board. Porém, apenas em 1992 com os Principles of Corporate
Governance publicados pela American Law institute é que a função do board of
directors e o instituto do Ai se consolidaram nas regras de corporate governance norte-
americanas65.
Verifica-se deste modo uma alteração do paradigma que, até então, tinha vigorado
quanto à estrutura, modo de funcionamento e funções do órgão de administração da
sociedade: passou-se de um “advsing board” centrado na figura do CEO e dos insiders66
orientado quase exclusivamente para a planificação e tomada de decisões estratégicas,
para um autêntico “monitoring board” que deveria assegurar a conformidade da gestão
levada a cabo pelos administradores executivos com os interesses dos accionistas,
reafirmando-se dessa forma, a preponderância do shareholder value67 como objectivo
societário por excelência. Assistiu-se um reequilíbrio das forças no interior do conselho
de administração mitigando-se o excessivo protagonismo de que, anteriormente gozava
a facção executiva do órgão de administração. Se no “advisory” board o que relevava
era a confiança do CEO no conselho de administração, no “monitoring board”
valorizava-se antes a confiança do conselho de administração.
65
Tal como consagrado pela Securities and Exchange Commission (SEC), também os princípios
assumem, como parte de uma boa prática de governação, a presença de na comissão de auditoria de Ai´s
em relação ao management.
66
O órgão de administração das sociedades norte-americanas é habitualmente integrado por duas espécies
de administradores: os internos (insiders), que são, geralmente, os executivos e que dispõem da
competência, disponibilidade e tempo para se dedicarem à gestão diária dos negócios sociais; e os
externos (outsiders), normalmente não exe- cutivos e desligados da estrutura interna da sociedade, cujo
propósito é aconselhar, fiscalizar e apreciar o desempenho dos executivos. Os administradores não
executi- vos integram, em regra, os principais comités que são criados no seio do conselho de
administração, como o comité de auditoria, o comité de fixação de vencimentos ou o comité de
nomeações. neste sentido, veja SILVA, Artur Santos, Livro Branco…, op. cit., pp. 22-23.
67
Nos estados Unidos, é geralmente aceite que “as sociedades devem ser geridas por forma a maximizar
os lucros da empresa e a valorização do investimento realizado pelos accionistas” — a isto se chama a
“norma da primazia do accionista”. Para mais desenvolvimentos, cfr. EISENBERG, Melvin A.,
Perspectivas de convergência global dos sistemas de direcção e controlo das sociedades, in «Caderno do
Mercado de valores Mobiliários», n.º 5 1999, disponível em ˂http://www.cmvm.pt/pt/estatisticas
estudosePublicacoes/CadernosDoMercadoDevaloresMobiliarios/Documents/Cader nos%20MvM-5.pdf˃,
(consultado em 10.01.2018), pp. 119-120.
29
Em sede deste conflito de interesses que Autores como FAMA e Jensen 68 têm
aplicado a teoria económica de agência como a base das teorias de corporate
governance. A problemática de agência é um fenómeno social que afecta todas as
organizações e tem granjeado interesse da academia e de outras entidades,
particularmente daquelas que se dedicam a promover as práticas de boa governação.
Apesar de terem sido notabilizados no contexto anglosaxónico, propriamente nos EUA,
os problemas de agência têm sido apontados como um dos principais determinantes da
decadência ou estagnação das empresas. estes problemas emergem das diferenças dos
gostos e preferências (i.e. funções de utilidade) de cada indivíduo e manifestam-se
através do incumprimento total ou parcial dos contratos (in)formais que os stakeholders
estabelecem com a empresa e/ou entre si.
Obviamente que esses conflitos de interesses geram custos para as empresas (os
chamados custos de agência), que, se não forem devidamente restringidos, podem
comprometer a sua sustentabilidade. A teoria de agência tem sido aplicada aos
problemas de governação, uma vez que são os sócios que delegam ao órgão da
administração o poder de controlo da sociedade, para que estes, usando a sua
experiência e o seu profissionalismo se dediquem ao apuramento das melhores
estratégias para a maximização do lucro.
68
Cfr. FAMA, Eugene, JENSEN, Michael, Separation Of Owner Ship and Control, in Journal of Law and
Economics, Vol nº 26, Corporation and Private Property, A Conference Sponsored by the Hoover
Institution, June, 1983.
69
Cfr. GOMES, José Ferreira, Da Administração à Fiscalização das Sociedades – A Obrigação de
Vigilância Órgãos das Sociedades Anónimas, Almedina, 2017, p. 32 – 34.
30
Deste modo, no ordenamento jurídico Português, entende-se que esta solução
seria aquela que mais de acordo estaria com o princípio da uniformidade do direito
societário70, arguindo-se assim que um administrador só seria independente se assim o
pudesse ser considerado pelos critérios de independência aplicáveis a outros órgãos
socais, é uma praxe AI presidirem a Comissão de Auditoria.
Por isto o Higgs report, dedica uma parte a estas considerações, determinando
que para alcançar uma verdadeira independência o administrador não-executivo deve
possuir as seguintes qualidades: integridade e um elevado standard de ética; uma boa
capacidade de julgamento e avaliação; a habilidade e crença para devidamente
questionar a actividade dos executivos; e ainda qualidades profissionais e
conhecimentos técnicos suficientes. Através destes requisitos subjectivos, a actuação de
forma independente dos não-executivos é promovida, assumindo a independência
substancial um cargo preponderante na garantia da função do Ai na corporate
governance, sendo que só cumprirá as funções se for considerado independente
substancialmente.
70
PAIS FERREIRA, Ânia Sofia, O Administrador Independente: Conceito e Função de Independência
na Sociedades Anónimas, FD-Universidade de Coimbra, 2013, p. 87 e 88.
71
Seguimos de perto a interpretação apontada por NEVES, Rui de Oliveira, op. cit., pg. 143.
31
5. Enquadramento Constitucional do Planeamento Fiscal
É certo que, hoje em dia, vivemos tempos em que se assiste a uma grande
preocupação por parte dos contribuintes em obter uma poupança fiscal, enquanto
manifestação da liberdade e autodeterminação do ser humano, no sentido de minimizar
os encargos com a .
Mas, por vezes, a atuação dos contribuintes entra em conflito com os princípios
constitucionais, nomeadamente quando resulta de medidas discricionárias,
imprevisíveis, desproporcionais e desadequadas.
De acordo com o artigo 102.° da CRA, os impostos só podem ser criados por Lei,
que determina a sua incidência, taxas, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.
No Código Geral Tributário serão obrigatoriamente determinadas por lei a incidência, as
isenções e as taxas de cada imposto, bem como as formas processuais de atacar a
ilegalidade dos atos tributários (artº. 4°. do CGT).
32
À luz do artigo 23.° da CRA, “todos os cidadãos são iguais perante a Lei, gozam dos
mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção da sua cor, raça,
etnia, sexo, lugar de nascimento, religião, ideologia, grau de instrução, condição
económica ou social”.
6. Planeamento Fiscal
Os estudos que propõem uma nova perspectiva sobre o assunto são recentes,
começando com Slemrod (2004), Chen e Chu (2005) e Crocker e Slemrod (2005),
pioneiros no tratamento do tema do planeamento fiscal das empresas com a teoria da
agência desenvolvida por Jensen e Meckling em 1976. O planeamento fiscal é definido
72
Cfr. Artigo 8,°. do CGT
73
VASCO, Anselmo (2015). Fiscalidade Angolana, Mayamba Editora, p. 35.
33
como todas as actividades destinadas a produzir um benefício fiscal (Wahab e Holland,
2012).
Embora a redução dos impostos possa conduzir a lucros após impostos mais
elevados, existem custos reais e potenciais que inibem as empresas de maximizar os
lucros através do planeamento fiscal. Para além dos custos directos pagos sob a forma
de salários e honorários, podem surgir custos indirectos, como por exemplo, a
reestruturação das empresas.
Podem existir custos potenciais na medida em que o planeamento fiscal pode ser
contestado por uma administração fiscal, o que também pode conduzir a custos de
reputação. Por outro lado os dados empíricos dos EUA que sugerem que os custos de
planeamento fiscal constituem uma restrição significativa à actividade de planeamento
fiscal das empresas pode explicar o que Weisbach (2002) descreve como o "puzzle do
escondimento", ou seja, a razão pela qual as empresas não parecem minimizar as
obrigações fiscais.
O planeamento fiscal das Sociedades Anónimas é de interesse público, uma vez que
pode afectar o nível de bens públicos, o que pode contribuir para problemas sociais
(Slemrod, 2004).
O planeamento fiscal pode ser medido como a diferença entre a provisão fiscal
corrente de uma empresa actual, tal como divulgado nas suas demonstrações financeiras
anuais, e o nível (nacional) de imposto que seria devido se o seu lucro antes do impostos
estivesse sujeito a uma taxa legal.
34
exemplo, concluem que a remuneração dos directores fiscais está negativamente
relacionada com a taxa efectiva de imposto da empresa, o que sugere que existem
incentivos para que estes procurem obter taxas mais baixas.
A visão baseada em recursos (VBR) sustenta que as empresas podem obter somente
se tiverem recursos tangíveis superiores que são protegidos por alguma forma de
mecanismo de isolamento que impeça a sua difusão no sector.
35
Essencialmente, estes recursos valiosos tornam-se uma fonte de vantagem
competitiva sustentada competitiva sustentada quando não são perfeitamente imitáveis
nem substituíveis sem grande esforço (Barney, 1991). Em suma, para obter estes
rendimentos sustentáveis acima da média.
36
6.3. A fronteira entre planeamento fiscal, evasão fiscal e fraude
fiscal
A nossa realidade define um conjunto de faculdades aos contribuintes, para que
estes possam livremente estabelecer negócios jurídicos se apresentam como fiscalmente
menos onerosos. No entanto, por vezes, alguns comportamentos realizados pelos
contribuintes com a finalidade de obter uma poupança fiscal são manifestamente
ilícitos, não estando em conformidade com a Ordem Jurídica e constituindo, desta
forma, um verdadeiro delito, podendo ser alvo de uma sanção.
Neste sentido, podemos afirmar que existem condutas intra legem do contribuinte,
que consistem em actos de poupança fiscal ou de gestão fiscal, designadas na
terminologia inglesa por tax planning, e que têm em vista diminuir o imposto a pagar de
acordo com a lei existente.74
Por outro lado, registam-se condutas que podem não constituir um ato ilícito,
abusivo, anormal ou atípico, mas que podem, todavia, situar-se, fora da área de
abrangência fiscal - extra legem-, sendo o comportamento vulgarmente designado de
elisão fiscal ou de tax avoidance na terminologia Anglo-Saxónica.75
E, por fim, podemos ter condutas em que os contribuintes ao atuarem praticam atos
de evasão fiscal, são atos ilícitos destinados à prática de evasão ou fraude fiscal e que
são designados por tax evasion na doutrina anglo-saxónica.76
37
divergentes, se não mesmo contraditórias, criam insegurança e fomentam conflitos
interpretativos, entre a administração fiscal e os contribuintes.”77
Para Joaquim Rocha, a evasão fiscal respeita a letra da lei, mas viola o seu espírito,
dando corpo a um abuso de forma jurídica com propósitos fiscais, na medida em que se
utiliza uma forma jurídica sem um específico propósito negocial que não os propósitos
fiscais. Segundo este autor, o objetivo da evasão fiscal é claro e traduz-se num
afastamento, numa desoneração ou um deferimento tributário, procurando-se aproveitar
uma forma jurídica existente para outro fim, no sentido de conseguir uma poupança
fiscal.80
77
Cfr: SANTOS, António Carlos do “Planeamento Fiscal, Evasão Fiscal, Fraude Fiscal: o fiscalista e o seu
labirinto”, Revista do Curso de Mestrado em Direito da UFC, Coimbra, 2010, pp. 240-241
78
Cfr: NUNES, Gonçalo Nuno Cabral de Almeida Avelãs, “A Cláusula Geral Anti-Abuso em sede fiscal –
artigo: 38.º, n. º2 da Lei Geral Tributária”, Revista de Fiscalidade n. º3, Junho de 2000, pág. 43
79
SILVA, Amândio Fernandes; “O Direito dos contribuintes ao Planeamento Fiscal”,
Fiscalidade, TOC, novembro 2008, pág. 42.
80
ROCHA, Joaquim Freitas, “Direito Fiscal e autonomia da vontade. Do Direito Fiscal à livre planificação
fiscal”, Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Heinrich Ewald Hoster, Almedina, Coimbra, 2012,
pág 1228
38
A par disto, o planeamento fiscal extra legem pode ser manifestado através de duas
formas: por introdução da lei ou por lacuna da lei. A primeira manifestação é o próprio
ordenamento normativo que proporciona a diminuição da carga fiscal, já a segunda
manifestação, ocorre por imperfeições da própria lei, da qual resulta vantagem de menor
carga fiscal.
39
A influência dos impostos na gestão empresarial das Sociedades Anónimas
A Administração Geral Tributária (AGT) por outro lado, como um dos principais
interessados na informação contabilística, a fim de obter dados que lhe possibilite
81
REIS, Arnaldo, (2009). Demonstrações Contábeis: Estrutura e Análise, Saraiva Portugal, pág 15.
82
VIEIRA, Lauriana Rita Pires, “O planeamento fiscal abusivo: exemplificação de alguns esquemas”,
Dissertação de Mestrado, Mestrado em Contabilidade e Finanças, InstitutoSuperior e Contabilidade e
Administração do Porto, Porto, 2014
40
cobrar os diversos impostos, não se limita apenas à liquidação e cobrança dos impostos
procedendo no seu papel como fiscal a análise e verificação das contas, em busca de
erros ou mesmo possíveis actos de fraude fiscal. É por isso importante que, na
preparação da informação contabilística (demonstrações financeiras e relatórios de
gestão), se tenham em conta as perspectivas financeira, fiscal e de gestão, agregando em
si dados claros e concisos sobre tais abordagens.
A chave para a gestão bem sucedida de uma entidade vocacionada para o lucro,
reside como é bem sabido, na maximização das receitas e na diminuição dos custos, de
forma a aumentar os lucros. Ora, num mundo onde a concorrência empresarial é cada
vez mais feroz, não espanta, pois, que as empresas sejam pressionadas a procurar a
“otimização fiscal”.
83
BORGES, Humberto Nonavides (2002). Planejamento tributário: IPI, ICMS, ISS e IR., 7ª.ed. São Paulo:
Atlas, pág. 75
41
possibilita emprego de procedimento tributário legitimamente inserido na esfera de
liberdade fiscal.
Freitas Pereira85, afirma que a gestão fiscal nos tempos modernos caracteriza-se por
uma postura ativa da parte do contribuinte que procura inserir a variável fiscal nas suas
decisões. A realidade é que não há como esta variável não constar do processo diário de
gestão. Hoje, esta ferramenta deveser vista para a empresa numa perspectiva global, ou
seja, todas as operações a realizar devem merecer uma apreciação do seu impacto fiscal,
84
Manual de Gestão Fiscal da Faculdade de Economia da Universidade Katyavala Bwila (UKB), de 2013.
85
FREITAS PEREIRA, Manuel Henrique (2005). Fiscalidade, Coimbra, Almedina, pág. 24
42
e considerar a sua viabilidade. Muitas vezes, quando o gestor pauta pela redução da
carga fiscal, oneram-se outros custos não fiscais que importa também levar em
consideração e determinar o melhor caminho para a empresa.
Os procedimentos de gestão fiscal passam por opções entre regime geral ou regime
de neutralidade nas operações de fusão e cisão, na escolha das formas de realização das
operações ou actividades, baseando-se sempre nos benefícios, isenções ou exclusões
definidas na legislação fiscal relacionada aquela actividade, com particular relevância
para a definição da forma jurídica e para o local de realização da actividade. No
território nacional, por exemplo, algumas áreas de investimento são consideradas como
prioritárias e o investimento nestas zonas goza de elevados benefícios fiscais, bem como
isenções e outros incentivos.
86
FERREIRA, A. H. S. e DUARTE, A. M. P. (2005). Planejamento Tributário: Instrumento Eficaz de Eficaz de
Gestão Empresarial. Qualit@s – Revista Eletrônica, 4(2), 1-21.
43
Todos os procedimentos de gestão fiscal exigem o correto domínio e tratamento da
informação relativa a esta matéria, conforme abordamos anteriormente. É necessário
estar atento às revisões e alterações que vão surgindo no sistema tributário,
principalmente no que concerne às taxas, à incidência, aos prazos de liquidação e
pagamento e outros elementos. Conhecer e desenvolver as atividades com base nos
parâmetros legislados e a qualidade no arquivo dos documentos, é outro pormenor
importante, pois tão vantajoso quanto reduzir a carga fiscal é evitar a incidência de
multas fiscais, evitando irregularidades e controlando todas as operações passíveis de
tributação.
44