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REPÚBLICA DE ANGOLA

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MINISTÉRIO DA ECONOMIA E PLANEAMENTO

PROPOSTA DE
Memorando ZONAS FRANCAS
PARA A
PROVÍNCIA DE CABINDA

24 de Maio de 2022
Índice

I. INTRODUÇÃO...................................................................................................................3
II. CONTEXTO DA PROVÍNCIA DE CABINDA..................................................................4
III. POSSÍVEIS CENÁRIOS DE ZONAS FRANCAS PARA CABINDA................................6
IV. ANÁLISE DAS PROPOSTAS DE ZONAS FRANCAS......................................................7
V. CONCLUSÃO....................................................................................................................13
ANEXOS..................................................................................................................................14

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I. INTRODUÇÃO

1. O Executivo identificou a possibilidade de criação de Zonas Francas na Província de


Cabinda, como instrumento para dinamização local e fomento socioeconómico.

2. Com base nas orientações do Executivo, definiu-se uma equipa de trabalho


multissectorial que, em alinhamento com o Governo Provincial de Cabinda e com os
empresários locais, procedeu a um conjunto de reuniões de trabalho e visitas de
terreno, de modo a que pudessem ser identificadas opções para implementação de
Zonas Francas na Província.

3. Como resultado das diferentes sessões de trabalho, foram identificados como objetivos
principais a serem alcançados, os seguintes:

 Aumento das exportações não petrolíferas da Província de Cabinda, considerando


o forte desequilíbrio da balança local; e

 Desenvolvimento económico da Província, com geração de emprego e aumento


de liquidez para a economia Local.

4. Como aspectos preponderantes do alcance dos objetivos apresentados, foram


identificadas diferentes opções para a definição de Zonas Francas na Província, e
reformulação do regime especial, nomeadamente:

a) Zona Franca do Caio, considerando o posicionamento geográfico estratégico


da província com o Porto Caio;

b) Zona Franca de Cacongo, considerando o potencial produtivo da província;

c) Província de Cabinda – Zona Franca;

d) Província de Cabinda com benefícios de Zona Franca

5. Tendo em consideração as opções acima, o presente documento apresenta em detalhe


as vantagens e inconvenientes de cada uma das opções apresentadas.

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II. CONTEXTO DA PROVÍNCIA DE CABINDA

6. Analisando a província de Cabinda numa componente de comércio externo, verifica-se


que a mesma apresenta um desequilíbrio na balança comercial externa, apesar de ser
um dos principais pontos de saída de produtos nacionais.

Figura 1: Dinâmicas de comércio externo da província de Cabinda

7. Cabinda é a província com maior volume de exportações no País, sendo responsável


por 95% das mesmas em 2021, situação decorrente da importância da Província no
contexto do sector petrolífero. Todavia, a balança comercial da província apresenta
desequilíbrios, verificando-se a preponderância de importações, comparativamente às
exportações, quando excluindo os produtos associados ao sector petrolífero.

8. Existe assim um potencial a explorar da produção local, quer para substituição de


produtos importados, internacionalmente ou de outras províncias, quer para
exportação para os mercados, com destaque para os mercados regionais.

9. É imperativo o aproveitamento da posição estratégica privilegiada que a província


dispõe, sendo parte integral da rota marítima a nível regional e internacional,
colocando- se em situação privilegiada perante o Porto de Ponta Negra. Alguns dos
principais portos marítimos do País (Luanda, Lobito, Soyo e Cabinda) fazem parte de
várias rotas internacionais operadas pelas maiores empresas de transporte marítimo,
nomeadamente Niledutch, CMA-CGM, Maersk e UAL.

10. Relativamente ao potencial produtivo, o Governo Provincial de Cabinda sustentou o


potencial da produção de bens alimentares, sendo previsto um aumento substancial da

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produção dos principais produtos, conforme dados do Governo Provincial de Cabinda
(Figura 2).

Figura 2: Estimativas de produção da província de Cabinda

11. As culturas alimentares são a principal categoria de produtos com estimativa de


produção na província de Cabinda, sendo de destacar o potencial de aumento de
produção da mandioca, banana, batata-doce, fruta tropical e hortícolas, como
resultados de projectos de investimento identificados pelo Governo Provincial de
Cabinda. Adicionalmente, importa referir o potencial aumento de produção em m 3 de
madeira, perspetivando-se um volume de 20.0000 m3 em 2024.

12. Cabinda está situada numa zona estratégica, sendo um enclave na costa ocidental de
África que faz fronteira com a República do Congo e com a República Democrática do
Congo, representando um potencial de cerca de 100 milhões de consumidores.

13. Por outro lado, posiciona-se como uma base logística para o comércio regional, sendo o
ponto de partida para diferentes regiões, sendo de destacar a sua ligação ao Porto de
Ponta Negra.

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III. POSSÍVEIS CENÁRIOS DE ZONAS FRANCAS PARA CABINDA

14. Com base no alinhamento do Governo Provincial de Cabinda e dos empresários locais,
foi identificada a possibilidade de criação de duas zonas francas em Cabinda, servindo
objectivos de desenvolvimento diferenciados.

15. Cada uma das zonas francas propostas apresenta características estruturais
diferenciadas, que impactam a economia local numa perspetiva produtiva e de
exportação para os mercados regionais.

16. A proposta de Zona Franca do Caio beneficiará de uma área de localização privilegiada,
junto ao Porto de Águas Profundas do Caio, com um nível muito elevado de
infraestruturação e de condições de funcionamento para a selecção e a atracção dos
melhores projectos. É concebível que com a construção do Porto de Águas Profundas
do Caio, o corredor de Cabinda/Sul possa ser a melhor ligação por mar para as duas
grandes metrópoles de Kinshasa e Brazzaville.

17. No que respeita a serviços a serem desenvolvidos, perspectivam-se instalações de


armazenamento e distribuição para operações de comércio, transbordo e reexportação.

18. Quanto a potenciais actividades da zona, perspectivam-se as actividades de entreposto


e actividades relacionadas a comércio, agrupamento de produtos para exportação (Ex.
equipamentos eletrónicos) e suporte a indústria petrolífera presente na Província.

19. Por outro lado, a Zona Franca de Cacongo terá uma vocação estrita de promoção e
desenvolvimento da agroindústria na província de Cabinda, sendo idealmente uma
infraestrutura para alavancar o grande potencial da Província, e particularmente dos
municípios de Cacongo, Buco Zau e Belize. Para a decisão de localização desta
infraestrutura, no entroncamento de Bitchequete, foi fundamental a situação
geográfica de relativa equidistância aos principais centros de produção, à fronteira de
Massabi e ao Porto de Águas Profundas do Caio.

20. O cenário da Zona Franca de Cacongo contempla infraestruturas de apoio à indústria,


armazenagem, água, electricidade, telecomunicações, logística e outros serviços. As
actividades a serem executadas estão exclusivamente alinhadas com a Agroindústria.

21. Atendendo à condição de território ultraperiférico da província de Cabinda e à


consequente necessidade de estimular o seu desenvolvimento, será importante, para

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além da criação de zonas francas, que seja criado para todo o território da província de
Cabinda um conjunto de benefícios fiscais e aduaneiros específicos.

22. A província de Cabinda beneficia desde 2004 de um Regime Especial Aduaneiro,


Portuário e de Transmissão de Bens. A revisão deste Regime, permitiria conferir maior
competitividade à província de Cabinda, com impacto no consumo e no investimento
privado.

23. Um terceiro cenário possível seria a revisão do Regime Especial Aduaneiro, Portuário e
de Transmissão de Bens, consubstanciando-se numa efectiva e relevante redução carga
fiscal e de direitos aduaneiros. Perspectiva-se que a “Região Franca de Cabinda” seja
uma medida diferenciadora, promotora do desenvolvimento para todo o território da
Província, atenuando as assimetrias ainda existentes.

24. Um quarto e último cenário seria converter toda a província de Cabinda numa zona
franca, criando uma Sociedade de Desenvolvimento/Gestão da Zona Franca totalmente
pública para o efeito e fazendo do Governador de Cabinda no gestor da Sociedade.

IV. ANÁLISE DAS PROPOSTAS DE ZONAS FRANCAS

25. Atendendo aos reconhecidos benefícios associados a implementação de zonas francas


nos diferentes países, e atendendo aos desafios de desenvolvimento económico
identificados na província de Cabinda, é validada a pertinência de constituição de
zonas francas na Província.

26. Foi apresentada, como sugestão dos intervenientes locais, a constituição de duas zonas,
sendo de destacar os aspectos que se seguem:

A. Zona Franca do Caio

27. O Porto Caio é um dos principais projectos na Província e com um grau de


implementação consideravelmente avançado e com impacto no curto-prazo para os
anseios da Província, no que respeita a importação e exportação de produtos diversos.

28. O projecto de Zona Franca do Caio permitiria um posicionamento estratégico da


Província, considerando os países fronteiriços, principalmente a República
Democrática

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do Congo, República do Congo, Gabão e Zâmbia. De forma geral, a zona da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) apresenta um
potencial de importações de USD 160 mil milhões, dos quais:

Figura 3: Importação de Produtos na Região SADC

29. No que respeita à procura dos países da SADC, verifica-se que a Província apresenta
maturidade limitada para exportar todos os potenciais produtos, verificando-se no
curto- prazo potencial para a exportação de combustíveis, considerando os projectos da
Refinaria de Cabinda e a actividade corrente de exportação desse mesmo produto.

30. Adicionalmente, o modelo de zonas francas portuárias, é uma práctica comum e com
sucessos reconhecidos a nível mundial, sendo de destacar os exemplos da Zona Franca
do Panamá (Colon), das Maurícias e de Marrocos (Tanger), considerando o seu papel
de elevada importância na logística marítima regional e internacional.

B. Zona Franca de Cacongo

31. A Zona Franca de Cacongo, atendendo ao seu cariz de especialização, apresenta


oportunidades no que respeita ao desenvolvimento da produção agrícola,
posicionando- se como um potencial catalisador da actividade a jusante.

32. Para o sucesso da Zona Franca de Cacongo identificam-se desafios no que respeita à
capacidade de aumento de escala da produção local, que é maioritariamente artesanal e
virada primariamente para o mercado local.

33. Adicionalmente, a implementação da Zona Franca de Cacongo, atendendo ao seu


elevado nível de especialização, requer disponibilidade considerável de mão-de-obra
especializada no sector da agroindústria, de modo a fazer face à demanda gerada pelas
diferentes indústrias a serem implantadas na região.

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34. As perspectivas de desenvolvimento agrícola, para sustentar a futura zona franca, são
suportadas por perspectivas de investimento não consolidadas, criando um factor de
incerteza sobre a capacidade de sourcing das futuras unidades industriais a serem
implementadas.

35. Adicionalmente, considerando a procura dos países fronteiriços, verifica-se um


desalinhamento entre a oferta e a procura externa. Analisando a República
Democrática do Congo, verifica-se um volume total de importações de USD 1,9
milhões, dos quais:

Figura 4: Importação de produtos da República do Congo

36. Dos produtos identificados, atendendo a inexistência de iniciativas económicas de


maturidade relevante, não é possível perspectivar que no curto prazo a província tenha
a capacidade para endereçar a procura regional pelos diferentes produtos identificados,
sendo necessário investimentos massivos em projectos/actividades que possam servir de
catalisadores.

37. Os modelos de Zonas Francas apresentadas demonstram vantagens e desvantagens a


serem consideradas, sendo crítico de salientar a pressão que as mesmas exercerão sobre
os serviços públicos locais, devido o potencial aumento do movimento populacional.

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Figura 5: Vantagens e desvantagens dos modelos de zona franca escolhidos

38. Considerando as características das zonas apresentadas, foram identificados os Factores


Críticos de Sucesso (FCS) de projectos semelhantes e ponderados consoante os
pressupostos de cada um dos projectos escolhidos pelos stakeholders da Província de
Cabinda, considerando a constatação realizada pela equipa de trabalho:

Figura 6: Factores críticos de sucesso dos possíveis cenários de zonas francas para Cabinda

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39. Das duas opções de zona franca, considera-se que a Zona Franca do Porto Caio
apresenta maior viabilidade no curto prazo, considerando os investimentos realizados e
os factores críticos de sucessos endereçados, nomeadamente no que respeita à
existência de infraestruturas de suporte, capital humano qualificado e a existência de
projectos âncora na Província, sendo de realçar a peritagem acumulada do Porto de
Cabinda.

40. O projecto da Zona Franca de Cacongo carece de investimento no que respeita a


infraestrutura de suporte, capacitação de recursos humanos e criação de uma cadeia de
valor que permita a sua sustentabilidade com base na economia local. Estes aspectos
serão concretizados numa perspectiva de médio-longo prazo, condicionados pela
capacidade de materialização por parte do Governo Províncial e dos diferentes
stakeholders.

C. Província de Cabinda – Zona Fanca

41. Atendendo a performance do actual Regime Especial Aduaneiro, Tributário e de


Transmissão de Bens da Província de Cabinda, cujo resultado tem-se revelado abaixo
das expectatrivas, é urgente o melhoramento do regime especial vigente de forma a
equiparar ao regime de zona franca – tornado á Província de Cabinda numa Zona
Franca.

42. Apresenta como desvantagem, tendo em conta á actual Lei das Zonas Francas, estipular
que a Zona Franca é gerida por uma Entidade Gestora.

D. Província de Cabinda com benefícios de Zona Franca

43. A proposta de um novo regime, apelidado de Região Franca, é uma política especial e
emergencial de ajuda à dinamização da região que, contudo, não deve inviabilizar a
transformação estrutural do contexto de mercado e da economia da região, de modo a
torná-la mais competitiva e sustentável, apresentamos os benefícios.

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44. No que respeita ao Modelo de Relação, a proposta passa pela consideração de um
Modelo Privado, ou Público-Privado, com a criação de uma Entidade Gestora
denominada Sociedade de Desenvolvimento da Zona Franca de Cabinda.

Figura 7: Modelos de relação para zonas francas

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V. CONCLUSÃO

45. Este memorando traz uma abordagem de geometria variável na eventual decisão de se
fazer de Cabinda uma zona de produção e exportação competitiva.

46. Tendo em conta, as características da província de Cabinda e mediante as possíveis


opções, a transformação da província inteira num território equiparado a uma zona
franca seria o modelo certo para rapidamente se atingir o desenvolvimento almejado,
transformando um regime tributário especial existente num outro mais competitivo,
salvaguardando o capital humano e físico existente para a materialização deste
desiderato. Isto permitiria potenciar as exportações e atrair investimento privado,
nacional e estrangeiro, promovendo a diversificação da economia e redução das
assimetrias regionais.

47. Deste modo, a revisão do Estatuto Especial da Província de Cabinda para um regime
equiparado a uma zona franca, de facto, seria o mais coerente e financeira e
humanamente menos oneroso, pois as fronteiras terrestres e aduaneiras já estão criadas
e em funcionamento. Este cenário envolveria porém um processo de aprovação junto
da Assembleia Nacional.

48. Uma segunda melhor opção e menos ambiciosa seria a criação de duas zonas francas
delimitadas na Província, servindo objectivos de desenvolvimento diferenciados e a
constituição de uma Entidade Gestora denominada Sociedade de Desenvolvimento da
Zona Franca de Cabinda, sendo que a mais simples de se materializar a curto prazo
seria a Zona Franca de Caio, uma vez que a área já está delimitada e com uma relativa
integridade do espaço.

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ANEXOS

Principais Impactos

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Proposta de regime para a futura região franca de cabinda e as zonas francas

15
Casos de Estudo

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