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Rev i sta E l etr ôn ic a Ge st ão & Soc ied ad e

v .1 4 , n . 40 , p . 3 95 3 -3 96 4 | Se t em b ro /D ez e mb ro – 20 20
IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g es .v 1 4 i4 0. 31 7 4
Do min gu es , E . P. ; Ca rd o s o, D. F .; Ma ga lh ã es , A. S. ; S i mon a to, T . C.

OS EFEITOS CONTRACIONISTAS DA PEC E MERGENCIAL : O IMPACTO DA INCERTEZA DO


PAGAMENTO DE SALÁRIOS DO SETOR PÚBLICO NA ECONOMIA BRASILEIRA
E d son Pau lo Do m in gu es 1 , Déb o r a Fr eir e C ar d os o 2 , A lin e Sou z a M ag a lh ães 2 , Th i ag o C av a lcan te
S im on a t o 3

1- Pr of es sor n o CE DE PL AR /UF M G
2- Pr of es sor a n o CE DE P LA R /U FM G
3- Dou tor an d o n o CE DE PL AR/ U FM G

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo projetar os principais impactos econômicos gerados pelo corte
em até 25% dos vencimentos e das horas de trabalho do funcionalismo, previstos na Pro posta de
Emenda Constitucional (PEC) 186. Os resultados apontam efeitos negativos significativo s sobre
os setores, além dos efeitos sobre o PIB e emprego, no curto e médio prazo. As sim ulações
indicam que o PIB po de recuar de -1,4%, para o corte de 25%, a -0,30%, para um corte de 5%,
como efeito de curto prazo desse tipo de política. No médio prazo, o impacto negativo é
permanente se a medida não for revertida: -1%, para corte de 25%, e -0,2%, para corte de 5%.

Palavras -Chave: Gasto Público, Austeridade, Emprego; Salários, Equilíbrio Geral Computável.

Su b m etid o e m 2 5 d e Ma rço d e 2 0 2 0.
Ap rov ad o e m 06 d eJ u lh o d e 2 02 0. | 3953
Sis t e ma Doub le Bl ind Re vie w
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ABSTRACT

This work aims to project the main eco nomic impacts of the reduction of up to 25% of salaries
and working hours of the civil servants, fo reseen in the Proposed Constitutional Am endment
(PEC) 186. The results point out significant negative effects on the sectors, in addition to effects
on GDP and employment in the short and medium term. The sim ulations indicate that GDP may
decline from -1.4%, to the 25% cut, to -0.30%, to a 5% cut, as a short -term effect of this type of
policy. In the medium term, the negative impact is perm anent if the measure is not reversed: -
1%, for a 25% cut, and -0.2%, for a 5% cut.

Keywords : Public expenditure, Austerity, Labor, Wages, Computable General Equilibrium.

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INTRODUÇÃO Emergencial está em tramitação no Senado e


deverá ser votad a no plenário até o fim de
A PEC emergencial enviada pelo governo ao março. As análises so bre os impactos da PEC
Congresso prevê o corte em até 25% dos Emergencial realizadas até o momento têm
vencimentos e das horas de trabalho do foco prioritário nas estimativas de economia
funcionalismo público , se necessário, dada a de recursos do Gov erno, mas pouco se
situação de déficits fiscais consecutivos. Essa discute sobre os efeito s reais do corte dessas
foi a saída encontrada para que a regra de remunerações ou das horas de trabalho de
teto de gastos pudesse ser cumprida. servidores na economia.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Os economistas tem estudado os efeitos de


186, também chamada de PEC Emergencial, é riscos e incerteza sobre a decisão de
uma medida pro posta pelo governo que consumo das famílias, podendo -se citar o
confere nova redação ao Art. 169 da trabalho clássico nesse tema de Dreze e
Constituição Federal (CF), passando a Modigliani (1972). Dentre as respostas a
explicitar que o ajuste de despesas em caso incertezas nos rendimentos está a
de descumprimento de limite já previsto na possibilidade de uma atitude de precaução
CF, em sua redação atual, poderia ser feito das famílias, que po de se materializar em
via remuneração, número de servidores e redução preventiva de consumo e aumento
jornada de trabalho. A PEC 186 estabelece de poupanças. Ou seja, mesmo que o corte de
cortes de despesas correntes do setor salários não se materialize, a mera
público, sempre que o orçamen to da União possibilidade (em lei) de que isso ocorra
ultrapassar o limite estabelecido pela Regra pode produzir um efeito de redução
de Ouro, que determina que o Governo não precaucionaria de consumo. E essa redução
pode se endiv idar para pagar despesas de consumo obviamente gera uma série de
correntes. Isso seria feito via o impedimento efeitos na economia, como a queda de
da concessão de reajustes salariais, produção e do crescimento econômico.
promoção e a contratação de servidore s, e
permite a redução da jornada de trabalho dos A dinâmica econômica brasileira recente
servidores (IFI, 2019). mostra o baixíssimo crescimento do consum o
e da renda das famílias, associados ao
A proposta está incluída no Plano Mais Brasil desemprego e ao trabalho informal. Um
e foi apresentada ao Congresso em 05 de efeito adicional de incerteza sobre a renda
novembro de 2019. Atualmente, A PEC

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de servidores público s só viria a trazer um seguindo a tradição australiana de modelo s


elemento adicional de obstáculo para a dessa natureza 1.
recuperação ec onôm ica, que é um do s
Nosso modelo possui uma extensa base de
objetivos da própria PEC emergencial.
dados, construída a partir das informações
Portanto, parece que uma política que pode
mais recentes das contas nacionais, da matriz
ser contraproducente em termos de
de insumo -produto, da pesquisa de
crescimento está sendo analisada apenas do
orçamentos familiares e das co ntas externas.
ponto de vista fiscal e contábil. Os analistas
Essa base de dado s é uma fotografia
econômicos parecem desconside rar essas
detalhada das relaçõ es econômicas entre
questões e focam apenas no efeito sobre as
setores, famílias, governo e setor externo.
finanças públicas da P EC emergencial. Pode -
Em linhas gerais, a estrutura central do
se estimar o efeito do corte do consumo dos
modelo é composta por blocos de equações
servidores na economia brasileira por meio
que determinam relações de oferta e
de modelos de simulação.
demanda, comportamento dos setores

METODOLOGIA produtivos e da demanda final, como


famílias, investidores e governo. Além disso ,
Para analisar o efeito possível de retração de vários agregados nacionais são definido s
consumo dos servido res públicos, e traçar nesse bloco, como nível de emprego, saldo
seu impacto na economia brasileira, comercial e índices de preços. E inovação
utilizamos um modelo econômico de desse modelo para este trabalho é sua
simulação, do tipo equilíbrio geral capacidade de sim ulação de impacto s
computável (EGC) com periodicidade trimestrais na sua dinâmica temporal.
trimestral. Esse modelo ap resenta estrutura
teórica e aplicada semelhante a modelos EGC DADOS E HIPÓTESES DE SIMULAÇÃO
na literatura brasileira e internacio nal,
A estratégia empírica que ad otamos assume
que o corte de salários do funcionalism o

1
Sobre a tradição australiana em modelos EGC vide estabeleceu em meados dos anos 1990 e se encontra
https://www.copsmodels.com/ftp/workpapr/g-264.pdf, amplamente disseminada em diversos grupos de pesquisa,
que resume o trabalho desenvolvido no CoPS-Center of como no NEREUS (http://www.usp.br/nereus/), NEMEA e
Policy Studies da Victoria University (Austrália) desde os em universidades como UFPR, UFJF, FGV-SP e Esalq-USP.
anos 1980. No Brasil essa linha de modelos EGC se

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público implica redução de consumo. Esse Considerando o conceito de Governo Geral 3,


choque negativo de consumo impacta as os dados mais recentes do mercado de
diversas dimensões da economia: produção, trabalho formal em 2018 (RAIS -MTE)
emprego, renda, preços e a própria mostram que o setor da Administração
arrecadação de tributos. Estes impactos são Pública pagou cerca de 220 bilhões de reais
estimados pelo modelo. em salários, 12% do total de salários pagos,
em 2018, no Brasil. Em alguns estados, esse
A simulação capta os ajustes ao longo do
percentual ficou entre 15% e 20% (Tocantins,
tempo decorrentes das mudanças de preços
Sergipe, Paraíba, Goiás e Amazonas, por
e realocações na economia, em relação a um
exemplo), chegando a 34% no Distrito
cenário em que essa redução de co nsumo não
Federal.
ocorre (denominado cenário base).
Analisamos duas possiblidades : corte Se um corte de 25% fosse aplicado sobre os
permanente e corte temporário de salários salários da Administração Públi ca, isso
do funcionalismo. significaria cerca de R$ 55 bilhões a meno s
de remunerações na economia brasileira, ou
A importância dos salários e do emprego do
-3% sobre o total de salários no mercado de
setor público na eco nomia brasileira é um
trabalho brasileiro. Adotamos estes
dado relevante para o dimensionamento
parâmetros para as simulações de impacto
adequado dos impactos que uma medida de
com nosso modelo.
corte de remunerações, co mo a prevista na
PEC emergencial, po derá gerar. Após as O ponto de partida da s simulações é o
despesas previdenciárias do INSS, as primeiro trimestre de 2020, em que testamos
despesas de pessoal são a segunda maior três cortes de consumo das famílias de
despesa do Governo Central 2, sendo que a servidores públicos: 5%, 10% e 25%.
previdência dos servidores federais já está
contabilizada dentro das despesas de pessoal
(IFI, 2019).

2 3
O Governo Central é composto por administrações Compreende as administrações direta, indireta e as
federais: Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco empresas públicas dependentes do orçamento de todas as
Central. esferas de governo. Não inclui as estatais não dependentes
do orçamento.

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RESULTADOS cenário sem essa política. Ao longo do s


trimestres seguintes, há ajustes que levam a
Nossos resultados indicam que o PIB po de impactos (queda) menores. Mas, no médio
recuar de -1,4% (corte de 25%) a prazo, o impacto negativo é permanente se a
-0,30% (corte de 5%) como efeito de curto medida não for revertida: -1% para corte de
prazo desse tipo de política, em relação a um 25% e -0,2% para corte de 5% (Gráfico 1).

Gráfico 1 | Impacto no PIB real de cortes de consumo dos servidores públicos (desvio % acumulado
em relação ao cenário base).

0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1
-1,2
-1,4
-1,6
Corte 25% Corte 10% Corte 5%

Fonte : Resultados de simulações com o modelo BRIGDE-TRIM.

O emprego também responde fortemente no desemprego, não recomenda que um a


curto prazo, seguido de um ajustamento. No política desse tipo seja efetivada.
nosso modelo, os salários se ajustam ao s
Mesmo que o co rte de salários seja
choques de modo que o emprego volta ao
temporário, o efeito de curto prazo é
patamar pré -choque (Gráfico 2). Mas, no
significativo. Se os salários são retomado s
curto prazo (6 meses), há queda de emprego,
em 1 ano após o corte, pode haver
ou ampliação de desemprego. A situação
recuperação de PIB e emprego, mas que não
atual do país, com elevada taxa de
compensam o efeito inicial (Gráfico 3).

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Gráfico 2 | Impacto no emprego de cortes de consumo dos servidores públicos (desvio % acumulado em
relação ao cenário base).

0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1
-1,2
-1,4
-1,6
-1,8
-2
Corte 25% Corte 10% Corte 5%

Fonte : Resultados de simulações com o modelo BRIGDE-TRIM.

Gráfico 3 | Impacto sobre PIB e Emprego de cortes temporários de consumo dos servidores públicos
(desvio % acumulado em relação ao cenário base).
0,4
0,3
0,2
0,1
0
-0,1
-0,2
-0,3
-0,4
-0,5

PIB Emprego

Fonte : Resultados de simulações com o modelo BRIGDE-TRIM.

Nosso modelo também permite capturar o consumo. O Gráfico 4 ilustra o efeito


efeito setorial dos choques negativos de heterogêneo do corte de consumo, que

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penaliza setores de serviços (ligados ao entre setores de serviços e da indúst ria o


consumo doméstico), mas que pode efeito é bastante diferenciado. A Tabela 1
beneficiar a agro pecuária e o setor extrativ o mostra setores com maiores perdas e com
(segmentos exportado res que se beneficiam maiores ganhos. Destacam -se as perdas em
da queda de preços e realocação de fatores Edificações, Transporte de Passageiros e
desencadeada pela retração econômica). Telecomunicações; e os ganhos em Celulose
Podemos observar o impacto nos 110 e Siderurgia.
produtos do modelo, e concluir que mesmo

Gráfico 4 | Impacto sobre os setores de cortes temporários de consumo dos servidores públicos (desvio %
acumulado em relação ao cenário base).
2,00

1,50

1,00

0,50

0,00

-0,50

-1,00

Agropecuaria Extrativa Industria Serviços

Fonte : Resultados de simulações com o modelo BRIGDE-TRIM.

Vale realçar que uma redução da jornada de o gasto federal com educação com a classe de
trabalho e, consequentemente, na menor nível de renda (famílias com
remuneração de serv idores, também teria rendimentos de até 2 salários mínimos) foi
impacto na provisão de bens e serviço s cerca de vinte vezes superio r ao verificado
públicos, como saúde e educação, que para classe de maior nível de renda (famílias
atendem, de forma mais ampla, a população com rendimentos acima de 30 salário s
de baixa renda. Consi derando a estrutura mínimos). Para os gastos federais com saúde,
distributiva desagregada em 10 classes de essa pro porção é de 1 7 vezes.
renda, Cardoso (2019) estima que, em 2015,

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Tabela 1 | Impacto sobre a atividade setorial do corte de 5% no consumo dos servidores públicos (var.%
acumulada em 2023 em relação ao cenário base).
Var. % (desvio em relação ao cenário
Setores base em 2023)

Edificações -1,40
Transporte Passageiros -1,15
Telecomunicações -0,79
Eletrônicos e equip. de comunicações -0,63
Livros e Jornais -0,62
Educação e Saúde -0,51
Serviços de Alimentação -0,43
Móveis -0,35
Cimento -0,33
Açúcar 3,11
Minerais Met. Não-Ferrosos 3,18
Carvão Mineral 3,18
Celulose 3,27
Siderurgia 3,40
Fonte : Resultados de simulações com o modelo BRIGDE-TRIM.

Vale realçar que uma redução da jornada de mínimos). Para os gastos federais com saúde,
trabalho e, consequentemente, na essa pro porção é de 1 7 vez es.
remuneração de serv idores, também teria
Cardoso (2019) também projeta que no longo
impacto na provisão de bens e serviço s
prazo uma redução da participação do
públicos, como saúde e educação, que
Governo na economia, como a prevista pela
atendem, de forma mais ampla, a população
regra do teto de gastos, aumentaria a
de baixa renda. Considerando a estrutura
desigualdade de renda, medida pelo índice
distributiva desagregada em 10 classes de
de gini, dada a redução dos gastos com saúde
renda, Cardoso (2019) estima que, em 2015,
e educação públicas e, consequentemente,
o gasto federal com educação com a classe de
da provisão desses serviços. Esse resultado
menor nível de renda (famílias com
sugere que, co nsiderando ainda uma
rendimentos de até 2 salários mínimos) foi
adicional redução da jornada de trabalho de
cerca de vinte vezes superior ao verificado
servidores com respectiva redução na
para classe de maior nível de renda (famílias
remuneração, a redução na provisão de bens
com rendimentos acima de 30 salário s
e serviços públicos iria ser ampliada, o que

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tende a piorar a situação socioeconômica das


famílias mais pobres, com consequente
ampliação da desigualdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta nota técnica tem o objetivo de subsidiar


o debate público acerca da discussão sobre a
PEC emergencial, chamando a atenção para
os potenciais impactos sobre o nível de
atividade, emprego e, não menos
importante, sobre a desigualdade. O sistem a
econômico é interdependente, de forma que
quaisquer medidas de política econômica
devem ser avaliadas pelo seu impacto em
diversas dimensões. A análise meramente
fiscal, que tem caracterizado a discussão
sobre a PEC Emergencial, desconsidera
outros impactos, tão o u mais relevantes,
dessas medidas, como os apresentados neste
trabalho. O debate e as decisões de políticas
públicas precisam ser qualificados com
estudos amplos e com rigor metodológico e
empírico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, G.; FREIRE, D.; DOMINGUES, E. P. Austeridade fiscal no Brasil: Impactos na renda das famílias e na atividade econômica.
In: 18 Seminário de Diamantina, 2019, Diamantina. Anais do 18 Seminário de Diamantina, 2019.

CARDOSO, G. Política fiscal e gasto público no Brasil: impactos na renda das famílias e na atividade econômica. Dissertação
(Mestrado em Economia) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Faculdade de Ciências Econômicas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.

DRÈZE, J. H; MODIGLIANI, F. Consumption Decisions under Uncertainty. Journal of Economic Theory, 5, 308–335, 1972.

INSTITUIÇÃO FISCAL INDEPENDENTE. Retrato das despesas de pessoal no serviço público federal civil Parte 1. Brasília: ESTUDO
ESPECIAL Nº 11. Dez, 2019.

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CONTATO

Edson Paulo Doming ues


Universidade Federal de Minas G erais, Bel o Horizonte, MG, Brasil
E-mail: domi ngues.edson@gmail.com

Débora Freire Cardos o


Universidade Federal de Minas G erais, Bel o Horizonte, MG, Brasil
E-mail: dfr eirecar dos o@gmail.com

Aline Souz a Magal hães


Universidade Federal de Minas G erais, Bel o Horizonte, MG, Brasil
E-mail: alinesmagal haes@hotmail.com

Thiago Cavalcante Si monato


Universidade Federal de Minas G erais, Bel o Horizonte, MG, Brasil
E-mail: thiag o.c.simonato@gmail.com

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