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Diretor: Mário Ramires Conselheiro editorial: José António Saraiva Diretor Executivo: Vítor Rainho Dir. Exec. Adj.

: José Cabrita Saraiva Dir. de Arte: Francisco Alves

ALEXANDRE POMAR
‘AS PESSOAS SÓ VÃO AOS MUSEUS QUANDO
TÊM JARDINS E RESTAURANTE’
O CRÍTICO FALA SOBRE A ‘DESCONFIANÇA’ DAS PESSOAS EM RELAÇÃO À ARTE CONTEMPORÂNEA
E FAZ UMA VISITA GUIADA PELA OBRA DO PAI, O PINTOR JÚLIO POMAR,
DO NEO-REALISMO ÀS CORRIDAS DE CAVALOS, DOS NUS ERÓTICOS AOS ÍNDIOS DO BRASIL

SOL
Págs. 40-44
NASCER DO

Mário Ramires José António Saraiva Vítor Rainho


SIGAM A OBSESSÃO MARCELO, UM FENÓMENO
EDIÇÃO N.º 887  25 AGOSTO 2023  4 EUROS O CARNEIRO DE MEDINA EM MONTE GORDO E EM KIEV

JOÃO VARANDAS FERNANDES, DIRETOR DO CENTRO DE RESPONSABILIDADE INTEGRADO DE TRAUMATOLOGIA ORTOPÉDICA DO S. JOSÉ

‘O SNS É UM PILAR IMPORTANTE


DA ESTABILIDADE SOCIAL DO PAÍS’
…‘Mas há setores da Saúde que estão na Idade Média’
‘No meu serviço, 5 a 7% dos internados são estrangeiros’
‘10% dos acidentes com bicicletas e trotinetas são muito graves
e há um número significativo de atropelamentos de pessoas com mais de 75 anos’
Págs. 18-25

ANDRÉ GOMES PRESIDENCIAIS YEVGENY


PRESIDENTE DA REGIÃO DO TURISMO
DO ALGARVE APOIO A PRIGOZHIN
CENTENO FAZ ASCENSÃO
‘É UM POUCO ALARMISTA APARECER E QUEDA
DIZER QUE HOUVE ‘PESOS PESADOS’ DE UM
POUCOS PORTUGUESES DO PS DURO
NO ALGARVE’ Págs. 56-61 Págs. 6-7 Págs. 50-51

MAI dá posse Rentrée Mais Habitação, ‘O pai da Bomba


a novos do CDS o 28.º veto Atómica’
comandantes com Portas, de Marcelo… Oppenheimer,
da PSP e GNR Cristas sem o prodígio que
no dia 4 e Lobo Xavier consequências aterrorizou o mundo www.mantovani.pt
Pág. 64 Pág. 64 Págs. 8-11 LUZ.

47x47mm
2 25 AGOSTO 2023

MÁRIO RAMIRES
HOJE ESCREVO EU

Sigam o Carneiro

JUSTIN SULLIVAN/AFP
Maui: nem a ira da natureza justifica tragédias assim

N
ão se devem deitar foguetes antes de outubro seguinte. Era o 11.º mais mortífe- também prometidas pelo Presidente Mar- saco) – ou ir atacando o que tem de ser ex-
da festa, mas também não se deve ro da história; depois de Maui, passou a 12.º. celo – continua quase tudo por fazer. tinto, a começar sempre pelos fogos.
ignorar o que merece ser elogiado. O ministro da Administração Interna é, Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Porque estes dias de calor extremo, com
ventos fortes à mistura, faziam temer o pior.
E os exemplos que nos vão chegando um
P arece que, finalmente, aprendemos a
lição. Esperemos mesmo que sim. O
preço foi demasiado alto.
de facto, uma exceção num Governo de dei-
xa andar. E merece justo reconhecimento.
Aos poucos, com a cadeia de comando
bem resolvida, com meios humanos mais
profissionalizados, bem equipados e apoia-
pouco de todo o mundo são aterradores,
chocantes, revoltantes. Do país vizinho,
com as chamas descontroladas em Tene-
Se tudo continuar como até aqui, as coi-
sas melhoraram.
As coisas: a cadeia de comando e a or-
D epois de uma longa lista de ministros
da pasta terem fracassado e sido cru-
cificados por incompetência ou incapaci-
dos por meios adequados e suficientes, vai-
-se abrindo caminho para um efetivo com-
bate a esses lóbis e interesses paralelos.
rife, ao Havai, onde o cenário de destrui- ganização da Proteção Civil, os bombeiros dade para fazerem o que tinha de ser feito,
ção e horror é inacreditável. Não, nem a
ira da natureza justifica tamanha tragé-
dia. E se o número de vítimas já vai mui-
e as forças de segurança, as forças de pre-
venção, o planeamento e a vigilância, a
prontidão da resposta e a rapidez do ata-
José Luís Carneiro está a conseguir resul-
tados.
É verdade que os lóbis e interesses em
C om efeito, a primeira condição para
que também esse combate possa ter
sucesso é estar salvaguardado o interesse
to para lá do concebível, tudo aponta para que aos fogos sem poupar nos meios. causa são muitos. Na ordem da grandeza público, a começar pela vida e segurança
que o rescaldo final seja muito mais gravo- Fizesse-se na reflorestação, na preven- do dinheiro em jogo, muitos milhões e das pessoas e do património.
so. Dramático. Sim, dantesco. ção, no cadastro e na limpeza dos terrenos mais milhões. Porque esses lóbis e interesses ilegíti-
Nem se imagina o pânico daquela pobre as reformas a que assistimos em matéria E podemos ficar agarrados à denúncia mos alimentam-se da desgraça alheia.
gente rodeada por fogo e pelo mar. de combate e poderíamos estar bem mais desses lóbis de forma inconsequente – fala- Discreto, José Luís Carneiro vai sendo
Vêm-nos forçosamente à cabeça (e ao co- descansados. -se, fala-se, fala-se mas depois nada acon- eficaz.
ração) as imagens da fatídica EN 236 de nos- Mas nesses capítulos – apesar das pro- tece (veja-se o exemplo ainda tão recente Pena que o seu exemplo não seja segui-
sa triste memória e os incêndios assassinos messas dos Governos e de António Costa de Tiago Oliveira, que tão depressa pos a do pelos seus camaradas neste Governo
de Pedrógão Grande em junho de 2017 e os em particular e da atenção e vigilância boca no trombone como enfiou a viola no do PS. Antes fosse.
4 25 AGOSTO 2023

JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA


POLÍTICA A SÉRIO

A obsessão de Medina

MAFALDA GOMES
Fernando Medina: os ataques que a direita lhe faz, do PSD ao Chega, são intelectualmente desonestos

F O
ernando Medina foi repescado por Para Medina, teria sido mais popular de Salazar foi o equilíbrio das contas públi- s que defendem o alívio do défice e o au-
António Costa, que o fez ministro propor a descida dos impostos; e vai ter de cas e o pagamento da dívida ao estrangeiro. mento da dívida pública usam sempre
das Finanças depois de ter perdido a fazer, porque a pressão é muita. Para isso, aumentou muito os impostos, o mesmo argumento: a vantagem de dispor
surpreendentemente as eleições para a Câ- Mas ter usado o excedente orçamental provocando a ira das classes médias, que de capital para fomentar a economia.
mara de Lisboa. para a redução da dívida soberana é um lhe chamavam «louco». Só que isso é uma falácia que os núme-
Esse facto diminuiu-o, pois pareceu uma facto que merece elogios. Mas o futuro mostraria que era ele ros facilmente desmentem.
espécie de ‘prémio de consolação’. quem estava certo. Nas últimas décadas, a dívida cresceu
Não fazia-se sentido – dizia-se – dar a al-
guém uma pasta decisiva como ‘compen-
sação’ para uma derrota.
C omo acontece com todos os ministros
das Finanças que não tomam medidas
populares, Medina tem sido atacado por
Depois de consolidar as Finanças, Por-
tugal estabilizou a moeda e começou a
crescer ao ritmo europeu, aguentou o em-
avassaladoramente e a economia mante-
ve-se estagnada.
O crescimento económico foi pratica-
Houve também quem afirmasse que vários lados: pela direita, pela extrema-es- bate da II Guerra Mundial e do pós-guer- mente zero.
Medina entrava para o Governo para querda e mesmo por setores do PS. ra, apesar de quase não beneficiar do Pla- Fernando Medina está, pois, no cami-
‘equilibrar’ a inevitável presença de Pe- Estes são facilmente compreensíveis: os no Marshall, fez face a uma guerra colo- nho certo.
dro Nuno Santos. partidários de Pedro Nuno Santos verão nial em três frentes e, no fim, deixou uma Quando a maioria dos seus colegas de
Nuno Santos era mais à esquerda, Medi- sempre nele um adversário e criticá-lo-ão dívida pública irrisória e abundantes re- Governo trabalha para as sondagens ou
na mais à direita. independentemente do que faça. servas de ouro no Banco de Portugal. para as próximas eleições, desenvolven-
E depois havia o problema da sucessão. As críticas da extrema-esquerda tam- E, nesse período, o produto per capita do estratégias míopes, Medina tem a co-
Medina seria o candidato à liderança bém eram expectáveis: os esquerdistas dos portugueses não diminuiu em relação ragem de trocar o sucesso imediato por
lançado por António Costa para evitar a acham que o Estado deve endividar-se con- à média europeia, pelo contrário. objetivos a prazo.
ascensão do mesmo Pedro Nuno Santos. tinuamente e não pagar as dívidas. Se o país tivesse mantido o rumo dos dé-

T udo isso, repito, menorizou Fernando


Medina.
Já os ataques da direita são inaceitáveis
e intelectualmente desonestos.
É lamentável que o PSD (para não falar
fices altíssimos seguido durante boa par-
te da I República e, depois, na ditadura mi-
litar, é que teria havido uma catástrofe fi-
L embro-me da indignação que senti
quando Jorge Sampaio disse a Ma-
nuela Ferreira Leite que havia «mais
Ele era visto como uma ‘invenção’ de do Chega) ataque Medina, que está a fazer nanceira, com custos sociais enormes. vida para lá do Orçamento».
António Costa e não como um ministro a política que a direita historicamente de- Esforçava-se a ministra das Finanças,
com peso próprio.
Mas tem-se revelado uma boa surpresa.
Pôs o foco no controlo do défice e na di-
fende: o equilíbrio orçamental.
Falei deste tema na semana passada e
reafirmo-o nesta.
O controlo orçamental e a redução da
dívida pública são indispensáveis, por
vários motivos, todos eles óbvios.
contra tudo e contra todos (mesmo den-
tro do Governo), por equilibrar o Orça-
mento – e vinha o Presidente da Repúbli-
minuição da dívida pública, e tem perse- Tornam o país mais confiável aos olhos ca tirar-lhe o tapete.
guido com determinação esses objetivos.
Decidiu aproveitar a folga financeira
do Estado para reduzir a dívida do país –
A socialista Ana Gomes, que se tem dis-
tinguido pelos ataques ao Governo, re-
pete que Medina tem a «obsessão das
do exterior.
Baixam os juros da dívida e colocam o Te-
souro a salvo de eventuais crises e imprevistos.
Espero que Marcelo Rebelo de Sousa
não caia na mesma tentação.
São poucos, nos dias de hoje, os políti-
e, embora os resultados ainda não sejam contas certas», diz que «o Estado tem Aligeiram a prazo os encargos financei- cos capazes de prosseguir políticas me-
brilhantes, pelo menos travou um cresci- os cofres cheios mas o povo tem os bol- ros do Estado, libertando dinheiro para o nos populares.
mento galopante, que a continuar no mes- sos vazios», e fala em política «salaza- investimento. Quando surgem, ao menos que sejam
mo ritmo nos colocaria outra vez em rista» do Executivo. Não deixam uma fatura para pagar às apoiados por quem tem a obrigação de
maus lençóis. É certo que uma das primeiras medidas gerações futuras. ver mais longe.
6 25 AGOSTO 2023

F oco

BELÉM P
artindo de hoje, fal- tava mais presente na memória
tam 927 dias para o coletiva o combate à pandemia,
próximo Presidente chegou a estar entre os candida-
da República tomar tos presidenciais favoritos dos
posse. Dois anos, seis portugueses.
meses e 12 dias até 9 Gouveia e Melo surge agora
de março de 2026, o dia marcado atrás do líder do Chega, André
para Marcelo Rebelo de Sousa en- Ventura, que recolhe 11,4% das
tregar as chaves do Palácio de Be- intenções para surgir em quarto
lém ao seu sucessor. Se ainda é ce- na lista.

OS NOMES
do para serem lançadas as candi- Já Paulo Portas deve estar de-
daturas, certo é que já se começam finitivamente arredado da corri-
a desenhar várias possibilidades da, depois de ter sido nomeado
quando o assunto diz respeito ao para o conselho de administração
próximo inquilino. E os nomes na da Mota-Engil. Ainda assim, con-
corrida já são muitos. tinua a acalentar as esperanças

NA CORRIDA
À direita pode-se dizer que as de alguns dos seus indefetíveis.
hipóteses estão praticamente de- Aliás, o antigo presidente do CDS-
finidas. Pedro Passos Coelho até -PP ocupa este ano na Universi-
poderá ser o grande polarizador, dade de verão do PSD o lugar de
sendo o favorito do centro-direita Luís Marques Mendes, convida-
nas últimas sondagens (13,3%). do de honra dos ‘laranjinhas’ na
Mas no cenário provável de o an- edição do ano passado.
tigo primeiro-ministro não avan- O convite ao ex-líder dos cen-
Joana Mourão Carvalho çar, os nomes mais fortes são o Al- tristas foi até encarado por al-
joana.carvalho@nascerdosol.pt mirante Henrique Gouveia e Me- guns sociais-democratas como
lo e Luís Marques Mendes. uma abertura do partido a um

Restam dois anos e meio até Marcelo entregar as chaves Se o ex-líder social-democrata
continuar a assistir ao jogo polí-
possível apoio do PSD a uma can-
didatura presidencial de Paulo
do Palácio de Belém e a lista de nomes presidenciáveis é tico na bancada, Gouveia e Melo
deverá avançar. Apesar de recen-
Portas.
Contudo, Marques Mendes
cada vez mais longa. À direita, se Passos ficar a assistir do temente ter dado um tombo nas
intenções de voto é tido como
está mais próximo de ser o can-
didato oficial dos sociais-demo-
banco, podem entrar a jogo Gouveia e Melo e Marques aquele que consegue maior pene-
tração no centro-esquerda. Em
cratas, depois de ter surgido ao
lado do líder Luís Montenegro na
Mendes. À esquerda, Centeno e Guterres são favoritos. sondagens anteriores, quando es- rentrée política do partido no
NASCERDOSOL.PT 7

VÍTOR RAINHO
À ESQUERDA E À DIREITA

Marcelo, um fenómeno
em Monte Gordo e em Kiev
M
arcelo Rebelo de Sou- mundo. O homem é um anor-
sa, mais uma vez, bri- mal, e basta ver o gesto que fez
lhou no estrangeiro, de- a seguir para perceber isso.
monstrando que é o verdadeiro Mas daí a tornar-se um escân-
embaixador político português. dalo à escala global, parece-me
Demorou a ir à Ucrânia, mas nitidamente um exagero. A
quando foi deixou marca, sendo mãe da jogadora e a própria
o primeiro chefe de Estado a ‘vi- chegaram a dizer que o ato do
sitar’ uma trincheira, num ges- homem não tinha importância,
to simbólico, e até discursou em mas, parece-me, a campeã qua-
ucraniano – assim como o Presi- se foi obrigada a condenar pu-
dente da Lituânia – além de ter blicamente, através de um co-
passado uma noite na terra de municado do sindicato e da
Zelensky. Como a sua presença agência que a representa, o bei-
coincidiu com o dia da morte de jo sem consentimento. Que o
Prigozhyn, ainda teve direito a homem é um alarve, não há dú-
cobertura mundial, pois a im- vidas, mas que se queira con-
prensa estava em peso para ou- fundir violação com aquela ati-
vir a opinião do Presidente tude parva vai toda a distância
ucraniano que estava ao lado de do mundo.
Marcelo. A propósito, alguém se lem-
O Presidente português, nota- bra da polémica que deu o
-se, no estrangeiro sente-se beijo na boca entre os jogado-
como um peixe na água. Nas res do Sevilha, quando acaba-
minhas várias incursões por ram de vencer uma das inú-
África tive oportunidade de meras Liga Europa? Daniel
constatar a sua popularidade, Carriço e Ivan Rakitic ainda
Pontal. É o principal rosto do co- Resta agora saber se também es- Na semana passada, o Expres- na Guiné-Bissau diz-se que gozaram com o sucedido, e
mentário político em Portugal, tará à espera de um ‘convite’ (ou so deu ainda conta que o ex-mi- mais de metade da população não me recordo de alguma as-
percurso que partilha com o apoio formal) da sua família polí- nistro das Finanças convocou da capital esteve à sua espera, sociação LGBT+ ter dito algu-
atual Presidente da República, tica para se lançar na corrida. «um reencontro das tropas» mas a hora tardia a que chegou, ma coisa.
sendo frequentemente apontado À esquerda os cenários compli- para assinalar três anos desde fez com que muitos tivessem de
a suceder-lhe no cargo dada a sua
esfera de influência.
Apesar de nunca ter afastado
cam-se. Tal como o Nascer do
SOL avançou na sua última edi-
ção, o nome de Mário Centeno co-
que deixou o Governo. Entre os
convidados esteve o seu sucessor
no Executivo, João Leão.
regressar a suas casas mais ce-
do. Em Angola, o ti Célito é uma
verdadeira estrela, mostrando
P or fim, a Rússia de Putin,
que alguns comentadores
televisivos ainda consideram
a possibilidade de se candidatar meça a ganhar peso entre diri- A revelação de que Mário Cen- ao mundo que nos une muito uma nação cheia de razão. A
a Belém, no Calçadão da Quar- gentes e militantes socialistas teno será o nome preferido de mais coisas do que as que nos morte de Yevgeny Prigozhin
teira deu garantias de que o seu como candidato ganhador às pre- muitos socialistas para o partido dividem. Para desgosto de mui- fez-me lembrar, automatica-
percurso partidário acabou há sidenciais e uma figura menos não ficar mais uma vez refém de tos, Marcelo, em todos os países mente, o meu filme preferido:
16 anos. «Costumo dizer que a fraturante em relação a Augusto um candidato perdedor como dos PALOP, é recebido com um O Padrinho. Como bom mafio-
rentrée, os casamentos e ba- Santos Silva, agora que o presi- Santos Silva (e para não se repe- carinho muito especial, e nin- so que é, Putin deixou a poeira
tizados só sendo convidado. dente do Parlamento começa a tirem outras soluções falhadas guém quer saber do passado co- assentar e esperou a melhor
Luís Montenegro convidou- perder terreno nas várias sonda- como Ana Gomes, Sampaio da lonialista – tendo já passado ocasião, dois meses passados
-me, não podia dizer que gens já realizadas sobre putati- Nóvoa ou Maria de Belém) fez quase 50 anos. A este propósito, sobre a tentativa de golpe de Es-
não», respondeu, recusando ha- vos candidatos à sucessão de sair a terreiro várias tendências. lembro-me sempre que nunca tado, para aniquilar o seu anti-
ver outra razão subliminar ao Marcelo Rebelo de Sousa. Na úl- Nomes como o do secretário- vi os americanos queixarem-se go amigo.
facto de ter marcado presença tima, o socialista não foi além de -geral das Nações Unidas, Antó- do passado colonialista britâni- Na Rússia, como na Terra de
no Pontal. 1,4%, ficando apenas à frente do nio Guterres – que lidera as in- co, ao contrário de agora algu- Corleone, sabe-se que quem se
secretário-geral do PCP, Paulo tenções de voto com 15,1% num mas avantesmas brasileiras. mete com a máfia, acaba por
Raimundo (0,8%). estudo recente –, ou do diretor-ge- Voltando a Marcelo, se há al- morrer. Seja no ar ou em terra.
Entre socialis- O antigo ministro das Finan-
ças já terá até comunicado ao
ral da Organização Internacional
para as Migrações (OIM), Antó-
guém que não consegue estar
quieto e quer deixar uma mar-
O ar gélido de Putin não foi mui-
to diferente de Al Pacino, quan-
tas, o nome primeiro-ministro que não pre- nio Vitorino, voltaram à disputa. ca, é o Presidente da República. do no filme, durante o batizado
de Centeno tende cumprir mais nenhum
mandato à frente do Banco de
Na ala socialista que defende um
nome mais internacional, como
Em Monte Gordo ou em Kiev,
sente-se sempre em casa, desde
de um dos seus sobrinhos, man-
dou matar todos os mafiosos ad-
também Portugal. E a verdade é que o Guterres ou Vitorino, Centeno tam- que haja povo à volta! versários. O irmão seria morto
é apontado mandato do governador do banco bém não é desconsiderado, mas an- mais tarde. Neste caso, não se

ao lugar central termina no verão de 2025.


Havendo aqui um alinhamento
tes é apontado ao lugar de comissá-
rio europeu na hipótese de Portu- M udando de assunto, esta
semana ficou marcada
sabe quem serão os próximos
adversários ou ‘irmãos’ que Pu-
de comissário de datas, Centeno abandona o gal lutar por uma pasta financeira pelo beijo do presidente da Fe- tin mandará matar. Mas que há

europeu cargo mesmo a tempo de entrar


em campanha para as eleições
e poder, assim, emendar a mão de-
pois de um mandato mais apagado
deração de Futebol espanhola
a uma jogadora que havia aca-
uma lista, disso não há dúvidas.

presidenciais. da comissária Elisa Ferreira. bado de se tornar campeã do vitor.rainho@nascerdosol.pt


8 25 AGOSTO 2023

Política

VETO SEM

DREAMSTIME
CONSEQUÊNCIAS
MAS MARCA
POSIÇÃO
Sónia Peres Pinto
sonia.pinto@nascerdosol.pt

Posição de Marcelo pretende ‘marcar posição numa posição de muito auto


centramento e de autoestima».
de desagrado’, defende politólogo. Presidente O politólogo recorda ainda que
da Associação Nacional de Proprietários diz há três verbos na ação política que
que ‘se as coisas são explicadas tão linearmen- são fundamentais: querer, poder
te ninguém pode ignorar’. e dever. «O que nós aqui temos
é o Governo querer porque há
Marcelo Rebelo de Sousa voltou a aboliu o Estatuto do Indigena- um problema que urge resolver
dar um cartão vermelho ao Go- to, em que explicava claramen- e pode porque tem maioria ab-
verno ao vetar o pacote Mais Ha- te que o estatuto tinha sido uma soluta. Agora há o verbo dever
bitação. O Presidente da Repúbli- boa ideia, mas que tinha sido e isso implicaria que não fizes-
ca disse que o conjunto de medi- objeto de um mau aproveita- se tudo aquilo que pode se sen-
das não o convencia, mas do lado mento. E o que o Marcelo Rebe- tisse que isso não ir ao encon-
do Executivo a resposta não se fez lo de Sousa faz neste preâmbu- tro da maioria dos portugueses.
esperar. O plano irá novamente lo é precisamente a mesma coi- Neste caso, o o Presidente mos-
para o Parlamento, mas não será sa. Isto é, explica claramente trou que faltou o verbo dever,
alvo de alterações. Ao Nascer do que há um problema de habita- já que impôs à sua vontade e ao
SOL, José Filipe Pinto diz que de ção em Portugal, que atinge os impor a sua vontade, o Gover-
trata de «um veto político, mas jovens e a classe média e que no acaba por funcionar não uma terem atividade profissio- res conseguem tapar aqui e des-
nulo do ponto de vista da sua urge resolver. Mas ao mesmo apenas de um partido único, nal. A segunda coisa é terem tapar acolá e as coisas vão an-
efetividade». A ideia, de acordo tempo, as medidas avançadas mas de uma vontade única». consciência e a terceira é bom dando. Em relação à habitação,
com o politólogo, é «marcar uma relativas ao alojamento local e Ainda assim, afasta um cenário senso. E aqui falham estes três as coisas são mais graves por-
posição de desconforto e, si- o arrendamento coercivo não de mal-estar entre Marcelo e Costa, elementos. Apesar de o Gover- que não havendo casas, não as
multaneamente, uma posição vão resolver esse problema». já que entende que o Presidente da no ter uma maioria absoluta, a podem mostrar. E a realidade é
de desagrado, porque acha que Apesar dessa argumentação, o República tem direito à sua opi- massa pensante é muito supe- esta: as casas não se fazem com
o documento reflete exclusiva- Presidente sabe que «este veto nião e que o Governo pode manter rior e não condiz com a maio- leis. Fazem-se com terreno, com
mente a vontade do Partido So- politico não passa de uma ma- a sua posição inicial. «Se fosse in- ria absoluta de votos», comen- projeto, com cimento, tijolos. E
cialista, em que este não incor- nifestação de vontade presi- constitucional, o PS mostrar-se- ta. Em relação ao pacote Mais Ha- já estão há muitos anos no Go-
porou aquelas que eram as po- dencial e de desconforto presi- -ia muito incomodado», conclui. bitação, Frias Marques considera verno e nada é visível e depois
sições da oposição». dencial», uma vez que o Governo que «não tem pés, nem cabeça» há uma tentativa de transferir
Não é a primeira vez que o che- dispõe de maioria absoluta no Proprietários reagem e acredita que nem os que votam para os pequenos proprietários
fe de Estado mostra desconforto Parlamento. «Sabe que a Assem- Para o presidente da Associação no partido do Governo pensa, que privados uma função que é do
com documentos e com decretos- bleia da República pode confir- Nacional de Proprietários (ANP), o problema da falta de casas possa Estado. Mas não podem deitar
-leis, daí ter usado «o veto políti- mar o documento na íntegra e esta legislação não resolve o pro- ser revolvido com estas medidas, o olho ao galinheiro e começa-
co para dizer basta», continua ao confirmá-lo é obrigado a blema da habitação. Apesar de além de considerar que atinge um rem a comer a galinha dos ou-
José Filipe Pinto. A posição de promulgar, mas está a conside- aplaudir a decisão do Presidente segmento específico. «Dos 10 mi- tros», salienta o responsável.
Marcelo pode ser interpretada rar que o Governo está a entrar da República, António Frias Mar- lhões de portugueses, cerca de Quanto ao desfecho, António
como um ‘puxão de orelhas’ ao ques diz apenas que «é muito boa nove milhões estão instalados Frias Marques lembra que há um
Executivo. «Quem ler bem a mis- pessoa, mas o poder dele é o po- e alguns muito bem instalados. setor da sociedade que diz que há
siva do Presidente da Repúbli- der da rainha da Inglaterra, Conheço pessoas que têm a pri- problemas de inconstitucionalida-
ca que enviou ao presidente da como se dizia». No entanto, reco- meira habitação, a segunda, a de, na medida em que Constituição
Assembleia da República vai
perceber que há uma explica-
‘O Governo não nhece que este voto pode funcionar
como uma chamada de atenção.
terceira, a quarta e não lhes fal-
tam casas, vivendas e resorts»
defende a propriedade privada e a
questão do arrendamento coerci-
ção muito rigorosa das razões pode deitar «As pessoas que andam neste e para aqueles se deparam com vo ultrapassa tudo aquilo que os
que motivam o seu veto. Só en- o olho ao galinheiro mundo e nesta vida têm de sa- falta de casas defende que a res- proprietários poderiam imaginar.
contrei um documento em toda e começar ber o que é que se passa, não po- posta tem de ser dada pelo Estado O presidente da ANP chama ain-
a história da minha área de es-
pecialidade que fizesse o mes-
a comer a galinha dem estar fechados em gabine-
tes e saírem diretamente das ju-
e quem o representa é o Governo.
«O grande falhanço deste Go-
da atenção para outras medidas
que, no seu entender, não fazem
mo e foi quando Adriano Mo- dos outros’, diz ventudes partidárias para verno é a questão da habitação, sentido. «Muito embora as câma-
reira, em setembro de 1961, presidente da ANP cargos governativos, serem porque em relação a outros seto- ras depois paguem uma renda e
NASCERDOSOL.PT 9

NUNO MELO
CARTAS DO CALDAS

A culpa é do Passos e do Portas?


E
m algumas urgências do ca, despesa pública e carga fis- mente desproporcionado, ponde-
SNS, há doentes prioritá- cal, reduzindo mesmo assim a rado o beneficio para o trabalha-
rios com pulseira amare- qualidade e a eficácia dos servi- dor e aquilo que o Estado confis-
la que aguardam por um tempo ços públicos, num paradoxo di- ca. Para um salário bruto de 2000
médio de perto de 10 horas, an- gno de caso de estudo. Para des- euros, uma empresa abre mão de
tes de serem atendidos. Há dias, graça coletiva, António Costa 2475 euros, ficando o Estado com
um idoso morreu depois de ho- tenta crescer nas urnas, enquan- 45% (1113 euros) e o trabalhador
ras de espera com a anca parti- to arruína o país, pensando nas somente com 55% (1362 euros).
da e necessariamente com dores. próximas eleições, em vez de se Por cada 100 euros gastos, o socia-
Pressionados por condições motivar com o futuro das próxi- lismo retém 45 euros e muitas ve-
indignas e salários ridículos, mas gerações, como seria supos- zes os aumentos implicam altera-
para quem desempenha fun- to em líderes dignos desse nome. ções de escalões que os trabalha-
ções altamente especializadas dores não desejam, perpetuando
e de enorme responsabilidade,
por lidarem com a vida dos ou-
tros, os profissionais de saúde
O s jovens, aliás, são talvez o
custo de oportunidade mais
implacável desta falta de visão.
um modelo económico errado que
assenta em salários baixos.

têm sido conduzidos para a ine-


vitabilidade de greves, que nun-
ca desejaram no SNS.
Esta semana foi notícia que
Portugal é o segundo país euro-
peu a pagar pior aos jovens, ape-
E m vez de promover o cresci-
mento dos rendimentos das
famílias e das empresas, redu-
Na escola pública os professo- nas ultrapassado pela Grécia. E zindo a carga fiscal, o PS investe
res revezam-se nas ruas em pro- no exato oposto do que deve ser no aumento das dependências,
testo, em vez de concentrados a o normal funcionamento de um distribuindo as migalhas, com
ensinar, como gostariam. mobi- elevador social, a classe média que a pretexto da bondade assis-
lizados por reivindicações justas vem minguando em número e tencialista combate as dificulda-
a que a tutela não dá resposta. nos rendimentos e são cada vez des que gera e injustamente an-
Atualmente, os hospitais pri- mais os jovens que procuram garia votos. O resultado é um
vados são muito mais apelati- fora de fronteiras outras oportu- país cada vez mais pobre e mais
vos para os profissionais de nidades. Também aqui, a razão é desigual, caminhando inexora-
saúde, e são procurados mesmo encontrada com facilidade na velmente para o fundo da lista
por famílias de baixos recursos, apropriação abusiva do esforço dos países mais pobres da UE.
que não encontram respostas dos outros, pela voracidade tri- Paradoxalmente, os portugue-
Problema da habitação continua a provocar polémica capazes no SNS. butária do socialismo. ses encontram hoje muito mais
Por seu lado, as escolas do se- Qualquer empregador que razões para trabalharem fora do
também gostava de ver isso por- «pôs o dedo na ferida e se as tor privado estão invariavelmen- queira aumentar salários, é con- país, do que durante o difícil pe-
que isso não é exequível –e quem coisas são explicadas tão li- te no topo de todos os rankings, frontado com um encargo total- ríodo em que o PSD e o CDS no
está a pensar que isto vai para a nearmente ninguém pode igno- nas sem capacidade de acesso governo foram chamados a ultra-
frente está a pensar que as câ- rar. Agora se quiserem conti- aos mais pobres, porque o socia- passar a bancarrota legada pelo
maras em Portugal são eficien- nuar a laborar no erro conti- lismo extinguiu os contratos de PS liderado por José Sócrates,
tes, mas não, só cobram impos- nuem. Conheço muitas pessoas associação que lhes davam essa com António Costa a bordo par-
tos – o que acontece é que essa que passam a vida a errar». possibilidade democrática. Para lá do falso mito te do tempo e muitos dos atuais
pessoa vai ser privada do seu pa- Recorde-se que depois de Marce- governantes também. Para lá do
urbano, que alguém
trimónio para dar casa não sabe
quem, mas em compensação se
for casas ou vivendas que nun-
lo votar o pacote, a ministra da Ha-
bitação referiu que não serão feitas
alterações ao diploma. Mas do lado
S eria muito fácil multiplicar
exemplos deprimentes da fa-
lência das ofertas do Estado, ne-
quis que os jovens
emigrassem, ainda
falso mito urbano, de que nos
tempos da dolorosa intervenção
externa alguém quis que os jo-
ca estiveram no mercado de ar- do Presidente, a resposta não se fez cessárias para que ninguém fique escutaremos outra vens emigrassem, ainda escuta-
rendamento não lhes acontece esperar. «O Parlamento fica na de fora, a par e do crescimento da vez, que a culpa remos outra vez, perante os fra-
nada. Isto é, o arrendamento sua e vota em conformidade, con- qualidade e da eficácia no setor é do Passos Coelho cassos do PS, que a culpa é do
coercivo só se aplica às casas que firma a sua votação, e eu fico na privado. Para o que importa, a e do Paulo Portas Passos Coelho e do Paulo Portas.
tiveram o azar de nalgum mo- minha, no sentido de que não me conclusão irónica que indiscuti-
mento terem estado no mercado convenceu, mas de que vamos es- velmente se tem de retirar, é que
de arrendamento. Isto é de uma perar que daqui a dois anos e poucas vezes como desde 2015 Por-
injustiça terrível». meio, ou três anos, dê para veri- tugal contou com uma esquerda
O mesmo acontece, no seu en- ficar se [o pacote] era suficiente, tão ideologicamente preconcei-
tender, se uma câmara arrendar mobilizador e resolvia o conjun- tuosa, hostil à iniciativa privada
uma casa por mil euros, ter uma to de problemas existentes, ou fi- e carregada de dogmas na abor-
família que só pode pagar 500 e ser cava aquém disso». dagem do mercado, alcançando
o Estado a pagar a diferença dos Marina Gonçalves desvalorizou a como principal resultado do dis-
500. «Isso também não faz senti- «divergência» política. Já em rela- parate o definhamento trágico das
do nenhum. É o contribuinte ção às dúvidas levantadas quanto à ofertas públicas que diz querer de-
que está a pagar», refere. constitucionalidade do documento, fender, relativamente ao cresci-
Em relação ao desfecho, Antó- ficaram, no entender da ministra, mento do setor privado.
nio Frias Marques afirma que «o «completamente arrumadas», Atirando socialismo para
SARA MATOS

Presidente chamou a atenção após o Presidente da República ter cima dos problemas, o Governo
de muitas pessoas» e defende optado por não enviar o diploma conseguiu a brilhante marca de
que, a partir do momento em que para o Tribunal Constitucional. valores recorde de dívida públi-
10 25 AGOSTO 2023

Política

OS 28 VETOS

CARLOS COSTA/AFP
DO PRESIDENTE
MARCELO
Joana Mourão Carvalho
joana.carvalho@nascerdosol.pt

Há sete anos em Belém, Marcelo Rebelo de Sou- Depois da interrupção da legis-


latura em 2021 — por força do
sa já usou o veto político 28 vezes, sendo o PR chumbo do Orçamento do Esta-
mais interventivo no que toca ao primeiro man- do para 2022 —, o Governo assu-
dato. Mas Sampaio continua a ser o recordis- miu funções apenas três meses
ta em números globais. depois da eleição já com a guerra
da Ucrânia em curso e com um
OE por aprovar, tendo só entra-
O Presidente da República usou, reira dos professores e educado- do mesmo em atividade em se-
na passada segundda-feira, o veto res de infância. Após terem sido tembro, depois de gerir os proble-
político pela 28.ª vez, devolvendo realizadas alterações pelo Execu- mas causados pelo conflito. Por
ao Parlamento, onde o PS tem tivo, Marcelo promulgou a nova essa razão, o ano de 2022 passou
maioria, o pacote legislativo Mais versão do diploma na passada se- ileso aos vetos políticos.
Habitação. De acordo com a Cons- gunda-feira, depois de já ter sina- Assim, antes do veto à lei da eu-
tituição, a Assembleia da Repú- lizado que as alterações introdu- tanásia em novembro de 2021, a úl-
blica pode confirmar o voto por zidas provavelmente seriam sufi- tima vez que o Presidente da Re-
maioria absoluta dos deputados cientes para dar luz verde à lei pública tinha exercido o veto polí-
em efetividade de funções e nesse sobre a contagem do tempo de ser- tico tinha sido a 24 de agosto desse
caso Marcelo Rebelo de Sousa viço dos professores. ano, devolvendo ao Parlamento o
terá de promulgar o diploma no decreto que alterava as regras de
prazo de oito dias a contar da sua Eutanásia para trás enquadramento do Programa de
receção. É exatamente isso que os Também este ano, o chefe de Es- Apoio à Economia Local (PAEL),
socialistas tencionam fazer, mas tado já tinha feito uso do veto, a aprovado por PS, PCP e PEV.
sem introduzir qualquer altera- 19 de abril, quando devolveu ao Antes disso, o anterior veto ti-
ção ao documento. Parlamento o diploma sobre a nha sido a 22 de abril de 2021, tam-
O chefe de Estado justificou o despenalização da eutanásia, en- bém a um diploma do Parlamen-
veto com dois argumentos cen- tretanto confirmado pela maio- to, sobre o recurso à procriação
trais: a «ausência de acordo de ria parlamentar, obrigando à sua medicamente assistida (PMA)
regime ou de mínimo consen- promulgação. através da inseminação após a
so partidário» e o «possível ir- Marcelo enviou para o Tribu- morte do dador. gais com autorização de residên- tou as alterações à lei do financia-
realismo nos resultados proje- nal Constitucional o primeiro de- Já em 2020, último ano do pri- cia, ou que fixaram residência há mento dos partidos políticos, mas
tados» quanto aos prazos, os creto sobre esta matéria, em fe- meiro mandato, e em vésperas das pelo menos um ano e nasceram acabou a promulgá-las, reconhe-
meios e a máquina administrati- vereiro de 2021, vetou o segundo, eleições presidenciais, Marcelo em território nacional, possam cendo que não estava em Belém
va disponíveis, fazendo com que em novembro do mesmo ano, e Rebelo de Sousa acumulou seis ve- ter nacionalidade portuguesa — para impor «pontos de vista mi-
o diploma não seja «suficiente- enviou o terceiro também para tos, entre os quais o chumbo às por ter identificado «injustiças». noritários» sobre esta matéria.
mente credível quanto à sua fiscalização preventiva, em janei- iniciativas dos deputados para re- Por fim, chumbou o alargamento
execução a curto prazo». ro deste ano. Os dois envios para duzir o número de debates euro- do apoio aos sócios-gerentes no fi- TVDE também
Com esta decisão, Marcelo o Tribunal Constitucional leva- peus e para aumentar o número nal de junho de 2020, argumentan- receberam veto
soma já 28 vetos no currículo des- ram a vetos por inconstituciona- de assinaturas necessárias para do que este violava a «lei-travão», Recorreu novamente ao veto
de que chegou a Belém a 9 de lidade, não entrando para esta uma petição ser discutida em ple- uma vez que poderia envolver au- aquando da lei que regularizava
março de 2016: três vezes em 2016, contabilização. nário (de quatro mil para dez mil). mento de despesas previstas no a Uber e outras plataformas de
duas em 2017, seis em 2018, cinco Em ano de pandemia, que se Orçamento do Estado para 2020, transporte individual, por con-
em 2019, seis em 2020, três em pautou pela cooperação entre Be- dando espaço para os partidos ne- siderar necessário um maior
2021 e três em 2023. Destes, seis lém e São Bento, o Presidente da gociarem a proposta ao abrigo do equilíbrio com os táxis. Mas me-
incidiram sobre decretos do Go- República também vetou a pri- Orçamento Suplementar. ses depois deu luz verde à legis-
verno e 22 sobre legislação da As-
sembleia da República, sendo
Primeiro veto meira alteração à lei do mar, isto
é, a lei de bases da Política de Or-
Em 2018 e 2019, o Presidente
também usou o poder do veto por
lação, depois de terem sido efe-
tuadas alterações.
que foi entre 2018 e 2020 que fez político de Marcelo denamento e de Gestão do Espa- várias ocasiões, nomeadamente Também foi objeto de chum-
uso deste direito constitucional aconteceu três ço Marítimo Nacional, que tinha com o chumbo das polémicas leis bo presidencial a regulamenta-
de forma mais intensiva. meses depois de em vista dar mais autonomia às da procriação medicamente as- ção sobre o lóbi devido a «três
O último chumbo do Presidente
aconteceu no final do mês de ju-
entrar em funções regiões autónomas. Marcelo ve-
tou igualmente as alterações à lei
sistida e sobre a autodetermina-
ção da identidade de género e ex-
lacunas essenciais», em parti-
cular o facto de «não prever a
lho, com o veto ao diploma do Go- com a gestação da nacionalidade — que permi- pressão de género. sua aplicação ao Presidente
verno sobre a progressão na car- de substituição tem que filhos de imigrantes le- Logo a abrir o ano de 2018, ve- da República».
NASCERDOSOL.PT 11

tes. Na altura, o chefe de Estado


apontou uma intervenção «exces-
 FRASES
siva» da Assembleia da Repúbli-
ca «num espaço concreto da ad- Sobre a gestação
ministração pública, em parti- de substituição
cular do poder local». 08/06/2016
O PS voltou a insistir na lei, Falta afirmar de forma mais
mas expurgando o diploma das clara o interesse superior
propostas que Marcelo tinha ve- da criança, ou a necessidade
tado, obrigando à promulgação do de informação cabal a todos
novo texto em outubro de 2016. os interessados, ou permitir,
Seguiu-se o veto a um diploma a quem vai ter a responsabili-
do Governo que permitia a tro- dade de funcionar como
ca automática de informação fi- maternidade de substituição,
nanceira sobre depósitos bancá- que possa repensar até
rios superiores a 50 mil euros, ao momento do parto quanto
tendo Marcelo invocado como ao seu consentimento.
principal argumento a «situa-
ção particularmente grave vi- Sobre a lei
vida pela banca». do financiamento
Em maio de 2018, o Governo vi- dos partidos
ria a retomar a sua proposta exa- 24/03/2018
tamente nos mesmos termos por Tenho uma posição segundo
estarem «ultrapassadas as cir- a qual deve haver limites máxi-
cunstâncias conjunturais» que mos ao financiamento privado,
justificaram o veto do diploma que deve reduzir-se o conjunto
anteriormente. de despesas partidárias e que
deve haver financiamento
Em números globais, Sampaio sobretudo público. Mas sou
é campeão dos vetos ultraminoritário em Portugal
Em suma, Marcelo Rebelo de Sou- e o Presidente não está na pre-
sa tem sido um Presidente da Re- sidência para impor os seus
pública mais interventivo, soman- pontos de vista minoritários.
do 28 vetos num período de sete
anos, o que compara com os 25 ve- Sobre
tos de Cavaco Silva durante dez a despenalização da
anos (dois mandatos). morte medicamente
Mas o atual chefe do Estado não assistida
é detentor do recorde absoluto. 30/11/2021
Esse lugar pertence ao antigo Pre- Na mesma lei, e até no
sidente da República Jorge Sam- mesmo artigo, temos regras
paio que usou o veto político 75 ve- contraditórias. Dir-me-ão, isto
zes, ao longo dos seus 10 anos em é um problema jurídico? Não,
Marcelo foi eleito nas presidenciais de 24 de janeiro de 2016 e entrou em funções em março desse ano Belém, em especial durante o seu é um problema político,
segundo mandato. de substância. Porque quem
Marcelo vetou ainda o reco- da autarquia. Os deputados acor- Já em 2016, o primeiro ano do Ao longo de uma década, Sam- vai aplicar a lei precisa de ter
nhecimento de interesse público daram uma solução que ultrapas- seu mandato, a estreia dos vetos paio mais que duplicou o núme- um critério. Esta não é uma
da Escola Superior de Terapêuti- sava o veto, ao permitir a possibi- deu-se três meses depois de entrar ro de chumbos a diplomas do Go- questão menor, é uma questão
cas Não Convencionais, argumen- lidade de haver alienação de capi- em funções com a gestação de verno ou da Assembleia da Repú- de vida ou de morte, não
tando que «as ordens profissio- tal ou de concessão da Carris, mas substituição (barrigas de alu- blica relativamente ao seu é uma questão secundária.
nais competentes não aprovam limitando-a a entidades públicas guer). O direito de alguém poder antecessor no cargo: Mário Soa-
o ensino de terapêuticas não ou de capitais públicos. revogar o seu consentimento até res usou o veto político 37 vezes Sobre o pacote Mais
convencionais». No final de 2018, ao momento do parto foi uma das de 1986 a 1996. Habitação
foi igualmente alvo de veto o di- GNR só da Academia Militar razões invocadas por Marcelo No seu primeiro mandato (1996- 21/08/2023
ploma do Governo que mitigava Antes disso, Marcelo já tinha ve- para justificar o seu veto. Esta é -2001), Jorge Sampaio vetou ao Em termos simples, não é fácil
os efeitos do congelamento ocorri- tado o diploma que criava o novo uma matéria que ainda hoje está todo 12 diplomas. Mário Soares fê- de ver de onde virá a prometi-
do entre 2011 e 2017 na carreira Estatuto dos Militares da Guar- por regulamentar, apesar de a lei -lo menos vezes de 1986 a 1991, ve- da oferta de casa para habita-
docente, o que obrigou o Executi- da Nacional Republicana (GNR), para a gestação de substituição tando apenas sete. Nos cinco anos ção com eficácia e rapidez [...]
vo a sentar-se à mesa das negocia- considerando que a possibilida- em Portugal ter sido aprovada a seguintes, Sampaio devolveu 63 Isto é, tudo somado, nem no
ções com os sindicatos. de de promoção ao posto de bri- 16 de dezembro de 2021, após su- diplomas, enquanto que Soares arrendamento forçado, nem no
Em 2017, contaram-se apenas gadeiro-general podia «criar cessivos chumbos do Tribunal vetou 30, de 1991 a 1996. alojamento local, nem no en-
dois vetos, com destaque para problemas graves» à GNR e às Constitucional. Contudo, no que se refere ape- volvimento do Estado, nem no
aquele que recaiu sobre o diplo- Forças Armadas. Marcelo utilizou pela segunda nas ao primeiro mandato, Mar- seu apoio às cooperativas, nem
ma do Parlamento relativo aos Dois dias depois do veto, o Con- vez o veto político, devolvendo à celo surge em primeiro lugar no nos meios concretos e prazos
termos da transferência da Car- selho de Ministros alterou o novo Assembleia da República as alte- pódio com um total de 23 vetos. de atuação, nem na total ausên-
ris para Câmara Municipal de estatuto da GNR, prevendo agora rações aos estatutos da STCP e O segundo lugar pertence a Ca- cia de acordo de regime ou de
Lisboa, tendo Marcelo argumen- que naquela força apenas os coro- Metro do Porto, por se «vedar, ta- vaco Silva que vetou 13 diplomas mínimo consenso partidário, o
tado que era excessivo vedar a néis com formação de base na xativamente, qualquer partici- nos primeiros cinco anos no car- presente diploma é suficiente-
possibilidade de concessão da Academia Militar possam ser pro- pação de entidades privadas» go, apenas mais um que Jorge mente credível quanto à sua
Carris caso fosse essa a vontade movidos a brigadeiro-general. nas duas empresas de transpor- Sampaio. execução a curto prazo.
12 25 AGOSTO 2023

FRANCISCO GONÇALVES Política


POSFÁCIO

CHEGA

PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP


Manual para assassinatos
de caráter
PREPARA
I NOVO
maginemos que um deputa- todo, destruindo-se alguém pu-
do da Nação foi, na sua juven- blicamente, sem mais.
tude, o que se pode designar Ainda há poucas semanas re-
de delinquente juvenil. Foi cebemos a jornada mundial da

CONGRESSO
membro de uma claque de um juventude. O país parecia inspi-
clube de futebol e terá mesmo, rado pela energia positiva da-
alegadamente, chegado a incen- queles jovens. Lamentavelmen-
diar um autocarro. te, como se previa, a energia po-
Imaginemos também uma sitiva desapareceu. Voltou a
jornalista que saiu de um gru- torrente de lama e os julgamen- Joana Mourão Carvalho
po de comunicação social para tos na praça pública. joana.carvalho@nascerdosol.pt
um gabinete ministerial. Deixa
o gabinete ministerial e é eleita
vereadora numa autarquia. Não
obstante, segue para uma agên-
C omo poderão os jovens que
nos inspiraram durante a
jornada envolver-se na vida po-
André Ventura vai de novo a votos pela lide-
rança e desafia oposição interna a ir a jogo em
cia de comunicação e, entretan- lítica? Para quê? Para ser apedre- vez de se esconder ‘atrás de cortinados, tele-
to, é contratada para a assesso- jados na praça pública sem pos- visões ou redes sociais’. Aos juízes do TC dei-
ria da direção de um instituto
público. Um caso de porta gira-
sibilidade real de defesa? Para
que os ‘carrascos’ de serviço se
xa insinuações de ‘tendências partidárias’.
tória entre público e privado, fa- possam banquetear com mais
zendo parte das ‘girls’ nomea- uma carcaça? ‘Não, obrigado’ – Em novo confronto com o Tribu- na vida, em vez de se esconde-
das ou contratadas por conve- dirão! Escrevi há duas semanas, nal Constitucional, o Chega irá rem atrás de cortinados, televi-
niência político-partidária. nesta mesma coluna, que não vi- convocar uma nova convenção sões ou redes sociais venham a
Por fim, pense numa autarca vemos uma crise de participa- nacional, na sequência de os juí- votos e sujeitem-se ao escrutí-
que, no âmbito das suas funções, ção, mas uma crise de participa- zes do Palácio Ratton terem con- nio dos militantes».
tem refeições de trabalho. Estas ção política. Assim é, ser político firmado a anulação da última reu- «O momento em que os parti-
refeições, analisadas isolada- hoje é quase ser mártir. nião magna do partido, que decor- dos se definem é o momento
mente, podem ser entendidas Não há nada que dê mais satis- reu em janeiro, em Santarém. eleitoral. Ganhar na secretaria
como um abuso, particularmen- fação a quem goste da sua comu- André Ventura será mais uma vez não valerá de nada», atirou, re-
te, por quem não conhece o quo- candidato à presidência do parti- ferindo-se à oposição interna que
tidiano dos cargos executivos. do, revelou o próprio em conferên- nunca foi a votos.
Imaginam
Todos os personagens são cia de imprensa, na quarta-feira, Em vésperas de rentrée política Ventura é recandidato à liderança
reais. Todos podem ter o seu ca-
o que se passa na sede do partido em Lisboa. do partido, Ventura destacou tam-
ráter analisado por estes factos,
na casa de alguém «Por muita crítica, frustração bém que este arranque de ano po- Chega em vigor à altura. Ventura
mas será que isoladamente os que está a ser e contestação que estas decisões lítico é marcado por um «novo cli- ressalvou que «as pessoas não são
qualificam? ‘arrastado na lama’ nos mereçam, estes são os ór- ma de confronto institucional as mesmas» e criticou a falta de
durante dias, pela gãos de soberania do nosso país. permanente entre o terceiro indicações sobre como esta e ou-
comunicação social?
O manual para um assassina-
to de caráter é relativamen-
Por isso, mesmo contrariados,
reuni de urgência a direção na-
maior partido e as institui-
ções». «Isto era indesejável, des-
tras questões se resolve.
«O TC nunca é claro sobre as
te fácil de seguir: pega-se num cional do partido que, por una- necessário e parece-nos ser um consequências das suas deci-
detalhe ou numa fase da vida de nimidade, decidiu iniciar os ataque desproporcional à nos- sões», lamentou, reafirmando
uma pessoa. Analisa-se superfi- procedimentos para a realiza- sa existência e legitimidade en- que «esta não é uma questão ju-
cialmente, retiram-se fotogra- nidade do que nela poder desem- ção do VI congresso do Chega», quanto partido», lamentou. rídica, mas sim política».
fias das suas redes sociais, com- penhar um papel ativo. Hoje, po- anunciou, sublinhando que este O líder do Chega carregou nas De facto, no acórdão, os juízes
põem-se notícias e cria-se um rém, são cada vez menos os que será o sexto congresso do partido críticas ao TC, que acusou de «má do Palácio Ratton não retiram con-
turbilhão de comunicação nega- têm a resiliência para enfrentar em cinco anos, «caso único, sem fé» e de ter uma «tendência par- clusões quanto às deliberações to-
tiva sobre essa pessoa. as dificuldades da vida pública. paralelo em toda a Europa». tidária». «Nunca um partido madas na última convenção por se
Logo de seguida os comenta- O líder do Chega garantiu que político foi tão perseguido des- tratar de uma questão que «exor-
dores dão a sua sentença. Há
muito que se ultrapassou o cam-
po da opinião, aqui crucifica-se.
I maginam o que se passa na casa
de alguém que está a ser ‘arras-
tado na lama’ durante dias, pela
não «abandona o barco a meio
da viagem» e que continua «a
reunir as condições de confian-
de o 25 de Abril, e não podemos
acreditar que juízes nomeados
pelo PS e pelo PSD promovam
bita» o processo em questão.
Questionado se a convenção vai
servir também para alterar os es-
O juiz, como não sabe ser juiz, é comunicação social? Quem escre- ça» que lhe foram atribuídas. Ape- uma asfixia permanente e uma tatutos, André Ventura admitiu
apenas carrasco. Limpinho: jul- ve os artigos de opinião, particu- sar de ainda não estar definida a ilegalização encapotada do seu essa possibilidade, mas afirmou
ga-se, condena-se, mata-se e pro- larmente os jocosos, certamente data da convenção, André Ventu- oponente», insistiu.
cede-se à cremação em plena que se ri muito ao fazê-lo, mas será ra realçou que esta é uma nova Segundo o acórdão divulgado na
praça pública. Um festim! que os filhos dos seus alvos tam- oportunidade para que os militan- segunda-feira e no qual foi dada ra-
Tornou-se demasiado fácil bém se riem? Onde está o princí- tes escolham o rumo do partido, zão à queixa apresentada pela mi-
destruir publicamente uma pio da responsabilidade? Existe? mas deixou um recado aos seus litante número três Fernanda Mar-
‘Não podemos
pessoa a partir de uma peque- Claro que não: ‘Aqui crucifica-se!’. críticos internos: «Desafio todos ques Lopes, entre os argumentos
acreditar que juízes
na parte da sua vida. Não se co- Por este andar, recordando as os que entendem que sou eu ou para invalidar a convocatória da nomeados pelo PS
nhecem as suas ideias, o seu palavras da ex-ministra da Jus- esta direção nacional os respon- última convenção, o TC alegou que e pelo PSD promovam
desempenho profissional, a tiça, Francisca Van Dunem, sáveis pelo estado a que chegá- o Conselho Nacional que a convo- uma ilegalização
sua inserção familiar ou social, «não haverá quem queira ser mos para que apresentem uma cou «dispunha de uma composi- encapotada
mas de uma parte julga-se o padre desta paróquia». alternativa e para que, uma vez ção que violava» os estatutos do do seu oponente’
NASCERDOSOL.PT 13

DINIS DE ABREU
PÁTIO DAS CANTIGAS

O forrobodó da Santa Casa…


H A
á governantes, e nestes, os mais importante ‘marca’ da donados em hospitais públicos, tações externas, agora sob inves-
chamados ‘ajudantes’, Santa Casa de Lisboa – como por falta de estruturas de retaguar- tigação do Ministério Público.
que precisam de fazer a de tantas outras congéneres es- da para recebê-los. A pegada do descalabro está à
‘prova de vida’ para mostrar que palhadas pelo país – é o auxílio aos vista. Se a provedora não resistir
existem e para que servem.
Um deles, que tem a incum-
mais desfavorecidos, cumprindo
a sua vocação matricial, que nada T udo o mais onde a Santa Casa
invista, num desbragamento
às pressões de governantes – e já
se viu que não resiste – e não tra-
bência do Desporto, recorreu, tem a ver com festivais de rock ou de patrocínios, é um desperdício, var a fundo, será ela a primeira
pressuroso, às redes sociais, com um sortido variado de moda- feito em nome da ‘marca’ – uma vítima do colapso da Santa Casa...
para dar conta da ‘urgência’ em lidades desportivas, conforme parolice – que, segundo o anterior
reunir com a sua correligioná- consta do seu site, desde o equestre provedor, contou sempre com o Nota em rodapé 1: As sondagens
ria de partido e ex-ministra Ana ao motociclismo, andebol, atletis- visto da tutela e adjacentes, bem teimam em dizer que a populari-
Jorge, atual provedora da Santa mo, canoagem ou ciclismo, até ao como a tal «estratégia de inter- dade de Marcelo se mantém intac-
Casa da Misericórdia de Lisboa futebol, ginástica, judo, natação, nacionalização» (Santa Casa ta, o que equivale a ‘carimbar’ o
(SCML), preocupado com os cor- patinagem, remo, râguebi, surf, Global). Outro desastre, com mi- modo sui generis como tem exer-
tes anunciados nos patrocínios ténis de mesa, triatlo, voleibol, lhões gastos sem resultados, su- cido a função de Presidente da Re-
às mais variadas modalidades além de desporto específico para jeito agora a auditoria externa. pública, continuando a desempe-
desportivas. pessoas com deficiência. Por isso, há que esperar que nhar, com visível satisfação, o pa-
A iniciativa da nova provedo- No limite, compreende-se – e Ana Jorge meta ordem na Santa pel de comentador político…
ra, empossada em maio, é fácil de será de incentivar – que a Santa Casa e acabe com o forrobodó Talvez por isso, as câmaras e os
entender. A ‘toda-poderosa’ San- Casa reserve uma fatia dos lu- instalado, juntamente com qua- microfones perseguem-no, até em
ta Casa passou dos lucros sump- cros dos jogos sociais para apoiar dros de pessoal inflacionados. férias, solitário, de calções de ba-
tuários aos prejuízos, pela mão do atletas deficientes e paraolímpi- De facto, segundo o último re- nho, em Monte Gordo. E conver-
antecessor de Ana Jorge, que so- cos. Mas escapa a qualquer lógi- latório de gestão aprovado (2020), teram-se numa espécie de droga
mou aos inúmeros apoios despor- ca que patrocine tanta modalida- a Santa Casa contava com mais da qual depende em doses fartas.
tivos e a festivais de rock uma ‘es- de que perdeu a natureza amado- de seis mil funcionários, dos Temos, portanto, um Presidente a
tratégia internacional’ em jogos ra, cavalgada pela imparável quais 348 eram dirigentes, um fingir que governa, mesmo a par-
sociais, além da aquisição do fa- profissionalização. exagero. Se compararmos com tir da praia, nos intervalos de duas
lido Hospital da Cruz Vermelha. Perante a situação calamitosa anos anteriores, a diferença cho- braçadas; e um primeiro ministro
Sem querer ser exaustivo, vale em que Ana Jorge encontrou a ca: em 2016 havia menos de cin- que se eclipsa sempre que há uma
a pena enunciar alguns patrocí- Santa Casa (prejuízos de 52,8 mi- co mil funcionários, dos quais crise – ou reaparece, em ‘exclusi-
nios desportivos e de festivais, lhões de euros, apresentados em 290 eram dirigentes. vo’, na capa do Correio da Manhã
onde a Santa Casa derreteu – e 2020, em contraste com os lucros Apesar disso, ainda foram efe- para ‘plantar’ a mensagem de que
derrete – milhões, que deixaram de 37,5 milhões de euros do exer- tuadas novas (e onerosas) contra- ignora o veto de Marcelo ao paco-
de contar para a robustez dos cício anterior, além de contas por te ‘Mais Habitação’ –, deixando o
apoios sociais tão necessários. aprovar de 2021 e 2022), a decisão Governo a ‘nadar em seco’… Cons-
que «o mais natural para evi- Desde 2012, que a Santa Casa de cortar a fundo nos custos es- ta que o país não se importa... E
tar novos bloqueios é que não». concede, por exemplo, o seu patro- tranhos à ação social só poderia que em Kiev não se fala disso!...
Na convenção de Santarém, o cínio, ao festival Rock in Rio – uma ser aplaudida por qualquer gover- Há que esperar
partido deveria ter aprovado no- invenção brasileira da família Me- nante sensato. Mas não foi o caso. que Ana Jorge Nota em rodapé 2: A remendada
vos estatutos, mas voltou a ado- dina, exportada para Portugal, A única ‘marca’ digna da Santa profissionalização das Forças Ar-
tar os primeiros estatutos na se- com receita milionária garantida, Casa, respeita ao seu âmbito soli-
meta ordem na Santa madas deu nisto: há mais chefes
quência de outra decisão do TC à semelhança da feira tecnológica dário, do qual dependem milhares
Casa e acabe com do que soldados. A situação não
que chumbou aqueles que saíram designada por Web Summit, lan- de portugueses, envolvendo tanto o forrobodó instalado, é nova, mas tem-se agravado com
do congresso de Viseu, em 2021. çada por um irlandês esperto e a primeira infância, como a idade juntamente com a continuada sangria de efetivos.
Sobre a possibilidade de a candi- paga por um município ainda so- sénior, esta com dramática visibi- quadros de pessoal O Exército é o que mais sofre com
datura do Chega às eleições regio- cialista de mãos largas. lidade no número de doentes aban- inflacionados essa ‘deserção’. Mas nos outros
nais na Madeira, em setembro es- Mesmo assim, sobrou vonta- ramos, o desequilíbrio não é me-
tar em risco, o presidente argu- de à SCML para montar palco e nor. Terminado o serviço militar
mentou que «se o TC decidir que letreiro luminoso no Douro obrigatório, nunca houve cora-
a lista não pode ir a votos, é a Rock, outro festival de verão, en- gem política para fixar, ao menos,
democracia que está em causa». tre tantos que florescem como um serviço cívico mais curto no
A lista de candidatos às eleições cogumelos. tempo, mas eficaz na sensibiliza-
regionais foi aprovada pela dire- ção dos jovens para o espírito de
ção nacional, eleita numa conven-
ção entretanto anulada pelo Tri-
bunal Constitucional. No Tribu-
M ais recentemente, uma res-
ponsável de marketing da
Santa Casa, ufanava-se desse gas-
missão e a importância nacional
da instituição. O resultado está à
vista: contas feitas, faltam milha-
nal Judicial da Comarca da to perdulário em nome da expan- res de militares para operaciona-
Madeira havia uma queixa sobre são da ‘marca’, que, pelos vistos, lizar a estrutura. Algo que não pa-
a irregularidade da lista, mas o apesar das suas origens remon- rece preocupar o governo socia-
requerimento em que era contes- tarem a 1498, ainda não é sufi- lista, nem os seus ministros da
tada a legitimidade do partido foi cientemente conhecida... Defesa escolhidos a dedo...
indeferido, tendo a candidatura Ora, que se saiba, nem a San-
do Chega sido validada. No entan- ta Casa é uma ‘marca’ – a tolice Nota em rodapé 3: Esta coluna
to, a lei eleitoral diz que, no caso em ‘língua de pau’ –, nem a insti- não se publicará na próxima edi-
das listas, o último recurso é para tuição carece de publicidade ção do Nascer do SOL reapare-
o Tribunal Constitucional. para se promover. cendo a 8 de setembro. Até lá.
14 25 AGOSTO 2023

‘‘
Frases

A fronteira de Portugal
é a fronteira da Ucrânia.

ROMAN PILIPEY/AFP
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República, 23/08

sas, aos inimigos insidiosos e aos Carmo Sousa Lara


ataques injustificados. O problema Quando ficava mais gorda
é que não estamos numa situação era porque era feia, nojenta,
dessas. Poucos são os que atacam o incapaz, e não era válida.
primeiro-ministro, o Governo ou o Autora do livro ‘Uma Autoestima
partido. Mas muitos são os que já sem Tamanho’, Caras, 23/08
não acreditam nele e neles.
Américo Aguiar Sociólogo, Público, 19/08
O Papa Francisco falava de uma
árvore belíssima, que possamos Eduardo Sá
imaginar, uma árvore de frutos. Definir uma regra não é um
Não podemos esquecer-nos de exercício de repressão e de auto-
que essa beleza, esses frutos, a
razão de tudo isso, são as raízes,
ritarismo. É a forma de uma pes-
soa, lendo-se a si e ao seu filho, Diana
e as raízes não são visíveis.
Bispo auxiliar de Lisboa, 23/08
acolher o que haverá de indis-
pensável e de inadiável para ele.
Miguel Ángel Ramírez
No fim das contas, os golos são Chaves
Psicólogo, Observador, 21/08 como as miúdas nas discotecas: Não sofro
idem quanto mais te aproximas, mais por aquilo
Jorge Nuno Pinto da Costa, Daniel Carapau elas se afastam. E quando não
para o FC Porto, para esta Tenho um desejo para ser cum- lhes ligas nenhuma, tocam-te
que não tenho
instituição, para a cidade, prido depois de morrer: que haja no ombro e metem-se contigo. nem pelo que
para o país e para o mundo do música e dança no meu funeral. Treinador do Gijon, 20/08 não faço.
futebol, de um modo especial, é Dirigente dos Precários Inflexíveis,
exatamente isso, significa mui- Público, 18/08 John Gridham
to destes frutos, desta beleza, Donald Trump é um criminoso
idem
destas vitórias, destes sucessos. e devia estar preso. Sou a favor
Escritor, Sábado, 24/08 da igualdade
Mário Ferreira em tudo,
Paulo Fernandes é um gestor irre- Calvin D. Lawrence
preensível de um grupo que tem a A inteligência artificial tende a devemos ser
melhor margem comercial, a Cofi- falhar porque há preconceitos todos tratados
na (…) Os media não vão acabar, na nossa cultura (…) Quando da mesma
estão é numa fase de transição. Marante uma pessoa negra ouve falara forma, mas
Presidente do Conselho A música portuguesa podia es- em IA, já fica desconfiada.
de Administração da Media Capital, tar muito melhor. Como se algo mau fosse não sou
Público, 23/08 Músico, Notícias Magazine, 20/08 acontecer. fundamentalista.
Engenheiro da IBM, Público, 21/08 Apresentadora, Caras, 23/08
idem António Chainho
[Tem, ou teve, alguma ligação A inveja é uma coisa que existe Ricardo Dinis-Oliveira
à maçonaria?] É cada pergun- desde sempre. Todos os dias surgem nova
ta!... Bom, nunca me filiei em Guitarrista, Expresso, 18/08 drogas sintéticas (…) São igual-
nenhum partido, não pertenço mente ou até mais perigosas
a nenhum clube. Luís Braga da Cruz para a saúde quando compara-
O elogio de que menos gosto é das com as drogas clássicas.
António Barreto o de que estou muito bem para Presidente da Associação
Há heróis na história que soube- a minha idade. Portuguesa das Ciências Forenses,
ram resistir às campanhas adver- Antigo ministro da Economia, 22/08 CM, 20/08
NASCERDOSOL.PT 15

Cocktail
Petição
contra
D. Manuel
Clemente
A atribuição do nome de D. Manuel
Clemente à nova ponte ciclopedo-
nal sobre o Rio Trancão desenca-
deou uma tempestade mediática,
com a divulgação de uma petição
lançada por um tal Tiago Rolino,
que dizia falar
em nome dos
abusados se-
xuais por mem-
bros da Igreja –

GIANLUIGI GUERCIA/POOL/AFP
casos esses que,
segundo ele, o
cardeal-patriar-
ca teria ‘enco-
berto’. Mas alguém lhe deu procu-
ração para o fazer? O mais extraor-
dinário é que Tiago Rolino é
investigador do CES, discípulo de
Boaventura Sousa Santos, que foi Os BRICS reuniram-se em Joanesburgo, na África do Sul, tentando criar uma alternativa ao G7. E a ale-
acusado de assédio sexual naquela gria não faltou, como se vê na foto de família, em que posam os Presidentes Lula da Silva, Xi Jinping e Cyril Ramaphosa, o pri-
instituição. Pelos vistos, para o au- meiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o MNE da Rússia, Sergei Lavrov. Com a guerra na Ucrânia ao rubro, este entusias-
tor da petição, há abusos crimino- mo causa alguma impressão.
sos e abusos… virtuosos.

Acusações a Boaventura silenciadas Picanços


O livro Sexual Misconduct in Academia, O major-general Agostinho Cos-
que denunciou abusos sexuais de Boaven- ta, mais conhecido pelo ‘sôtôra’
tura Sousa Santos no CES, em Coimbra – (modo como trata as jornalistas),
que ele começou por negar mas depois reco- integra um painel da CNN com
nheceu, embora relativizando-os –, acaba Azeredo Lopes e Seixas da Costa.
de ser retirado de circulação pela editora E, se as suas relações com este
Routledge. Boaventura diz que não teve embaixador são em geral corda-
qualquer influência na decisão. Mas que ali tas, as ‘pegas’ com o ex-ministro
anda uma mãozinha de certa esquerda, so- são frequentes e explosivas. Um
bre isso parece não haver dúvidas. dia destes, nos seus habituais elo-
gios à Rússia, Agostinha Costa
referia o enorme «exército de
um milhão e cem mil ho-
Brigada do reumático mens», o «armamento cada vez
mais sofisticado» e a «avança- te. Comentário de Azeredo: «O
da tecnologia», acrescentando enriquecimento vê-se no ru-
Portugal está quase como os EUA ou a China, onde Jackson Martinez veio terminar no Portimonense. Se que a Rússia foi dos países que blo, que já vale menos de um
os futebolistas vão acabar a carreira. Otamendi re- lhes juntarmos Gonçalo Guedes (que, não sendo ve- mais enriqueceram ultimamen- centésimo do dólar».
gressou ao futebol português depois de uma grande lho, também voltou) e João Félix, que se diz que pode
carreira internacional. Di María, idem, aspas. E o voltar, temos aqui um padrão que faz pensar. Não se
mesmo vale para João Moutinho, embora noutro pa- pode dizer que Portugal seja o caixote do lixo, por-
tamar. E para Pizzi e Nico Gaitán. Antes, Quaresma
tinha vindo arrumar as botas em Guimarães, e até
que falamos de grandes jogadores. Mas qualquer dia
temos aqui uma ‘brigada do reumático’.
‘Eu vivo no Porto’
Agostinho Costa torce o nariz aos desarma nos seus elogios à Rússia,
apartes de Azeredo Lopes, e diz que e o ex-ministro, embora reconhe-
«convive bem com as suas opi- ça que a contraofensiva ucraniana
niões» – adiantando, condescen- «não está a correr bem», não dei-
dentemente, que «o senhor pro- xa passar sem resposta os comen-
fessor vive no seu mundo». Res- tários do general sobre o «falhan-
posta pronta de Azeredo: «Eu vivo ço» da operação ucraniana, que
no Porto». Enfim, o general não este não se cansa de sublinhar.
16 25 AGOSTO 2023

S ociedade

DREAMSTIME
COVID-19
O QUE SE DEVE
SABER SOBRE A
ÉRIS E A PIROLA
Maria Moreira Rato
maria.rato@nascerdosol.pt

A variante EG.5 (Éris) foi comunicada pela primeira vez que a parede imunitária origi-
nada pela vacinação e pelas in-
boa notícia é que a nossa imu-
nidade celular continua a res-
à OMS em fevereiro e, na semana passada, a BA.2.86 (Pi- feções existe. E ele quer ultra-
passá-la. Portanto, continua a
ponder bem».
«Por outro lado, como é uma
rola), foi detetada em amostras de pessoas na Dinamar- ‘fazer experiências’ para ro- XBB, e como a próxima vacina
ca e em Israel. Pelo menos dois casos foram identifica- deá-la e conseguir evitar os
nossos anticorpos. Há muitos
é feita à base da XBB, isto su-
gere que se recebermos o nos-
dos nos EUA. Para o epidemiologista Manuel Carmo Go- outros vírus que se adaptaram so reforço vacinal no próximo
a nós e praticamente não mu- outono, em princípio, vamos
mes, não há ainda motivo para alarme. dam, como o sarampo», avan- adquirir uma boa proteção du-

N
ça. «Há muitas pessoas que fo- rante quatro-cinco meses. Não
a semana a seguir à variante Ómicron, apresentar «ca- ções ao Nascer do SOL, Manuel ram vacinadas ou infetadas há há evidência de que a Éris seja
Jornada Mundial da racterísticas que escapam aos Carmo Gomes, epidemiologista e mais de quatro meses e sabe- mais patogénica do que as XBBs
Juventude, os casos anticorpos» e estar em «vanta- membro da Comissão Técnica de mos que, com o tempo, os anti- anteriores», adianta, explicando
de covid-19, em Por- gem de crescimento», afirma em Vacinação para a covid-19. corpos vão descendo», subli- que «nos EUA, houve uma subi-
tugal, mais do que tri- comunicado. «Por um lado, há um aspeto nha. «Esta Éris, que já por si da das hospitalizações». «Mas
plicaram (os casos Apesar destes fatores e da ‘pre- mais conceptual: vemos que o tem capacidade de fugir aos eu continuo a acompanhar os
diários passaram de 126, no do- valência aumentada’ da EG.5, não vírus continua a evoluir, não nossos anticorpos, vem infetar números de Portugal e não há
mingo 6 de agosto, para 442, no dia foram registadas, até ao momen- desistiu de nós, continua a pessoas que quase não têm an- um sinal, para já, nítido de que
10). No entanto, continuam a não to, alterações na gravidade da co- adaptar-se a esta situação de ticorpos. Origina novas infe- isso esteja a acontecer. No últi-
demonstrar severidade. Além do vid-19 e o risco para a saúde global uma população mundial em ções com relativa facilidade. A mo relatório do Instituto Ricar-
acompanhamento habitual dos que a variante representa é baixo. do Jorge, a Éris já era aproxi-
números, os especialistas estão de A estirpe EG.5 foi comunicada madamente metade das versões
olhos postos em duas variantes do pela primeira vez à OMS em feve- do vírus que estão a circular
vírus que, por enquanto, não pare- reiro e em 19 de julho foi designa- aqui em Portugal, mas não tem
cem ser motivo de alarme. da como variante sob monitoriza- tido grande impacto em termos
A Organização Mundial da Saú- ção. «A Éris é uma subvariante hospitalares».
de (OMS) alertou que a estirpe derivada da XBB. A XBB é uma «Mais recentemente, surgiu
EG.5 do SARS-CoV-2, classificada Ómicron, é uma variante que uma variante, com caracterís-
de interesse, pode provocar «um está a dominar praticamente ticas novas, estamos a olhar
aumento na incidência» de infe- desde o início do ano. A Éris, para ela cuidadosamente, mas
ções e «tornar-se dominante em aparentemente, é muito trans- não há ainda razões para estar-
alguns países ou mesmo no missível e tem aparecido bas- mos preocupados. O nome é
BRUNO GONÇALVES

mundo». A organização argumen- tante nas águas residuais, mas BA.2.86 e estamos a dar-lhe
ta que este alerta é feito devido à tem apenas duas mutações. Eu atenção porque ao contrário da
linhagem, resultante da sublinha- classificaria o risco de leve a Éris e de outras versões do ví-
gem recombinante XBB.1.9.2 da moderado», explica, em declara- Manuel Carmo Gomes não acredita que haja motivo para alarme rus, não teve uma evolução gra-
NASCERDOSOL.PT 17

FILIPA CHASQUEIRA
FALAR BAIXINHO

O filho perfeito
P
or vezes, quando se pla- é só tempo físico, é também tem-
neia ter um filho, colo- po psicológico. É estar disponí-
cam-se tantos objetivos, vel para construir uma relação
fazem-se tantos planos e im- de qualidade, que se tornará
põem-se tantas metas – algu- inscrita no outro, e também
mas delas inalcançáveis – que tempo de vivências e de expe-
em alguns casos o bebé imagi- riências várias que ficarão
nário não consegue dar lugar guardadas para sempre na sua
ao bebé real. Quantas pessoas memória afetiva. É esta dispo-
conhecemos que ficam à espe- nibilidade de tempo físico e psi-
ra do momento perfeito, da cológico que pautará um cres-
idade ideal, de um excelente cimento mental saudável e con-
ordenado, da altura mais favo- tribuirá para a formação de um
rável da relação e no meio de adulto completo e feliz.
tanta exigência o tempo vai
passando e o projeto de ter um
filho fica guardado para sem-
pre na gaveta da vida?
N ão é a melhor escola, a me-
lhor atividade, as melho-
res roupas, a melhor consola
Um filho não precisa de um ou o melhor quarto. Embora
percurso brilhante já delinea- haja escolas que aparentemen-
do e do enxoval de uma vida te pensaram em tudo para o
preparado para quando nascer. bem-estar das crianças, com
Precisa sobretudo de ser dese- todo o tipo de recursos e mais
jado e amado. algum e também com preços
Muitos pais ao terem um fi- tão elevados que dão a ilusão
‘Será que esta nova versão do vírus terá vantagem competitiva lho ambicionam que este ve- de garantir um futuro perfeito
com a Éris, por exemplo?’, pergunta Carmo Gomes nha a estar entre os melhores aos seus alunos, é em casa e so-
da escola, no pódio do desporto, bretudo nos primeiros anos
dual. O vírus pode evoluir gra- ram COVID-19 ou que recebe- ca do Sul (2); Israel (1); Estados que tire um bom curso, que ve- que se dita o equilíbrio emo-
dualmente, ir adicionando no- ram vacinas contra COVID-19. Unidos (2) e Reino Unido (1). Um nha a ocupar um cargo de topo cional e o bem-estar dos filhos.
vas mutações e permitir-nos Os cientistas estão a avaliar a dos casos nos Estados Unidos ocor- e fazem uma lista mental com É aí que tudo começa e tudo se
uma certa previsibilidade, ou eficácia da próxima vacina re numa pessoa detetada pela Vi- tudo o que não lhe poderá fal- forma. As maiores falhas po-
ter muitas mutações e ser me- atualizada contra a COVID-19. gilância Genómica Baseada em tar, ao que vão acrescentando derão deixar cicatrizes emo-
nos previsível. Ela apareceu A avaliação atual do CDC é que Viajantes do CDC. «A identifica- itens à medida que vai crescen- cionais e mesmo as melhores
nos EUA, em Israel, no Reino esta vacina atualizada será efi- ção destes casos em múltiplas do: um bom quarto, o computa- escolas já não terão capacida-
Unido, mas ainda não há mui- caz na redução de doenças gra- geografias é evidência de trans- dor mais recente do mercado, de para as reverter, embora
tas amostras», diz, sendo que de ves e hospitalizações. Neste missão internacional. Notavel- o telemóvel de última geração, possam ajudar no seu proces-
acordo com o CDC (Centers for ponto, não há evidências de que mente, a quantidade de sequen- uma mota, um carro. Há até so de cicatrização.
Control and Disease Prevention), esta variante esteja a causar ciação genómica do SARS-CoV- quem tenha só um filho para
«os testes existentes utilizados
para detetar e os medicamen-
doenças mais graves. Essa ava-
liação pode mudar à medida
-2 a nível mundial diminuiu
substancialmente em relação
que o irmão não lhe roube as
condições ideais, não se aper- Q uando se pensa em ter um
bebé, o mais importante
tos utilizados para tratar a CO- que dados científicos adicionais aos anos anteriores, o que signi- cebendo que poderão estar a não é a escola, as atividades ou
VID-19 parecem ser eficazes forem desenvolvidos». fica que mais variantes podem privá-lo de um companheiro e os bens materiais. Não é se
com esta variante. BA.2.86 A 23 de agosto, 9 sequências de surgir e espalhar-se sem serem amigo para vida. será o mais esperto, o mais es-
pode ser mais capaz de causar variantes BA.2.86 foram relatadas detetadas durante períodos de No meio de tantos projetos e tudioso ou o mais hábil. O que
infeção em pessoas que já tive- globalmente: Dinamarca (3); Áfri- tempo mais longos. É também teorias, muitas vezes esque- fará realmente diferença será
importante notar que o atual cem-se do mais importante: o a disponibilidade efetiva que
aumento de hospitalizações nos tempo e disponibilidade para temos para ele, para o ouvir,
Estados Unidos não é provavel- estar com o filho, para o ver para o observar, para o sentir
mente impulsionado pela va- crescer, para o acompanhar. e perceber. Para o amar e ofe-
Severidade da doença riante BA.2.86», salienta o CDC. recer genuinamente – através

De acordo com o CDC, relativamente à BA.2.86, «é muito


cedo para saber se esta variante pode causar doenças
«Será que esta nova versão do
vírus terá vantagem competiti-
va com a Éris, por exemplo? Se
O chamado ‘tempo de quali-
dade’, embora esteja em
voga, na nossa sociedade acele-
de uma relação de qualidade
certa, contínua e estável - aqui-
lo de que mais precisa: pais efe-
mais graves em comparação com variantes anteriores», tiver, é importante perceber- rada, parece mais raro e difícil tivamente presentes e envolvi-
mas está a monitorizar «de perto as taxas de hospitalização mos o que as 36 novas mutações de encontrar do que o ouro. Por- dos – física e emocionalmente –
para identificar quaisquer possíveis sinais precoces de que trazem em termos de perigosi- que o tempo de qualidade não é e não de presentes reais, ofere-
a variante BA.2.86 esteja a causar doenças mais graves. dade para nós. Mas também po- levar o filho ao parque uma vez cidos por pais ausentes, que se
Neste momento, os locais onde esta variante foi detectada demos chegar à conclusão de por semana, comprar-lhe um matam a trabalhar para lhe
não registaram aumentos nos indicadores de transmissão que não tem hipótese de crescer gelado e ficar com o sentimento proporcionar o que lhe faz me-
(por exemplo, casos, visitas ao serviço de urgências) ou em termos de casos. Nos últi- de dever cumprido. Tempo de nos falta.
hospitalizações desproporcionais aos observados em mos anos, aquilo a que assisti- qualidade é um compromisso
locais vizinhos. No entanto, ainda é demasiado cedo para mos mais é a versões do vírus a diário e contínuo de troca, de Psicóloga na ClinicaLab
avaliar os impactos com base nestes indicadores». aparecer e a desaparecer», con- empatia, de estar realmente Rita de Botton
clui Manuel Carmo Gomes. com o outro, de se envolver. Não filipachasqueira@gmail.com
18 25 AGOSTO 2023

Sociedade
JOÃO VARANDAS FERNANDES
DIRETOR DO CRI DE TRAUMATOLOGIA
ORTOPÉDICA NO HOSPITAL DE S. JOSÉ

‘Há setores
da Saúde que estão
na Idade Média’
Vítor Rainho Bruno Gonçalves (Fotografia)
vitor.rainho@nascerdosol.pt bruno.goncalves@nascerdosol.pt

Apesar das críticas, Varanda Fernandes acre- O que são os Centros de Responsa-
bilidade Integrada?
dita que o SNS pode ser salvo com uma refor- Os CRI’s são estruturas orgânicas
ma, que inclua, entre outros, o aprofundamen- de gestão intermédia na depen-
to dos Centros de Responsabilidade Integra- dência dos conselhos de adminis-
dos, até para acabar com as listas de espera. tração, entidades que se integram
e com as quais é estabelecido um
processo de contratualização in-
Tem um vasto currículo na área faixa etária dos 20-40 anos, e tam- terna, através do qual é negociado
da ortopedia. É o atual diretor do bém como os maiores de 75 são o compromisso de desempenho
Centro de Responsabilidade Inte- das principais vítimas de atrope- assistencial, económico-financei-
grado (CRI) de Traumatologia Or- lamento de bicicletas e trotinetas. ro por um período de três anos.
topédica no Hospital de S. José, e São um instrumento de autono-
o público futebolístico conhece-o Os Centros de Responsabilidade mia de gestão.
das suas andanças como vice-pre- (CRI) Integrada foram criados em
sidente do SL Benfica, na era de 2017, salvo erro. Isso significa que determinado de-
Luís Filipe Vieira. Fala com uma Já havia legislação antecedente, partamento médico, no seu caso ci-
rapidez impressionante, e bem au- do tempo da ministra Maria de rúrgico, tem uma verba para distri-
dível. Coordena o grupo de traba- Belém, uma forte defensora da buir por uma equipa que vai operar
lho de Saúde do CDS, mas isso não autonomia nas unidades de ges- qualquer doente, quer para o médi-
impediu o atual diretor executivo tão clínica. co e para os enfermeiros, quer para
do Serviço Nacional de Saúde, os anestesistas.
Fernando Araújo, de o convidar Por que verdadeiramente nunca en- A condição prioritária é aumen-
para liderar a Unidade Técnica de trou em vigor, sem ser em Coimbra? tar a acessibilidade e melhorar os
Missão para a implementação dos Entrou em Coimbra em pleno e tempos de resposta do SNS, com
CRI’s. Os detalhes do diploma em alguns sítios de uma forma té- autonomia. Ou seja, com a res-
para a formação desta unidade nue. Para se implementar comple- ponsabilização dos profissionais
técnica estão em elaboração, mas tamente é preciso vontade políti- na gestão dos recursos e que asse-
João Varandas Fernandes está en- ca. A razão para que as coisas se guram o desenvolvimento das me-
tusiasmado com a possibilidade possam fazer vêm muito das con- lhores práticas. E isso traz-nos in-
de ajudar o SNS a dar um pulo dições que haja para poderem ser centivos financeiros, que têm
com os tais Centros de Responsa- realizadas. A troika teve conse- uma componente variável e uma
bilidade Integrados, que permiti- quências negativas, mas, desde componente fixa, aí é que pode-
rão, na sua opinião, satisfazer 2017, com a legislação que foi sain- mos tratar das verbas a distribuir
doentes e profissionais de Saúde, do sobre os Centros de Responsa- por todos os os profissionais que
acabando com as listas de espera bilidade Integrada (CRI), e ulti- trabalham nos CRI’s.
cirúrgicas. O antigo diretor de Ur- mamente com a vontade política,
gência do Hospital S. José explica quer do atual ministro, quer da O que são as verbas fixas e as va-
também que hoje, na sua área, cin- direção executiva do Serviço Na- riáveis? E quem é que beneficia des-
co a sete por cento dos doentes in- cional de Saúde, tem sido possível sas verbas?
ternados já são estrangeiros e lem- dar passos no sentido de virem a Posso falar, no nosso caso, no CRI
bra os problemas que as novas for- ser implementados de uma forma de Traumatologia Ortopédica do
mas de mobilidade têm trazido à generalizada. Centro Hospitalar Universitário
NASCERDOSOL.PT 19

‘‘
Lisboa Central – que é composto dos ao seu desempenho. É muito seu estado de saúde precisamente
por sete hospitais –, temos uma importante a multiplicação das por não serem atendidos, já que fi-
distribuição de verbas por todos Unidades Locais de Saúde (ULS), cavam em casa?
os funcionários, desde o técnico que integram os Hospitais e os Os cuidados primários de saúde
administrativo aos técnicos de Centros de Saúde do mesmo con- são importantes, não só no trata-
diagnóstico e terapêutica, aos en- celho, porque com a aproximação O médico mento como também na preven-
fermeiros, aos auxiliares, aos dos cuidados (Primários de Saú- especialista de ção e na promoção. Na prevenção
médicos. de e Hospitalares) pode existir da doença e na prevenção da saú-
uma autonomização da gestão e medicina geral e de. Isso é tudo importante e, por-
No fundo, estamos a falar de traba- implementação de modelos de or- familiar tem um tanto, o médico especialista de
lho adicional para combater as lis-
tas de espera.
ganização e de financiamento,
quebrando a cultura ‘hospitalo-
papel medicina geral e familiar tem um
papel importantíssimo na socie-
Sim, é uma cirurgia que é efetua- cêntrica’, dinamizando os cuida- importantíssimo dade, quer em termos de promo-
da para além do horário do seu dos de saúde e contribuindo para na sociedade ção, de prevenção, como de trata-
próprio trabalho, e que é para dar uma melhoria na prestação de mento. Se isso funcionar, obvia-
resposta o mais rapidamente pos- cuidados. Estas Unidades devem mente que vai aliviar os hospitais.
sível aos doentes que se encon-
tram internados. Agora, os CRI’s,
consagrar cuidados dirigidos aos
cidadãos, não pretendendo ser
O problema da Mas para isso também funcionar,
porque a saúde não precisa só de
além disso tudo, têm parâmetros uma acumulação de serviços. Saúde não se medidas avulsas, precisa de uma
de grande avaliação na atividade resolve com reforma que tenha um caminho
assistencial e nos indicadores de
desempenho.
Se os CRI’s são para resolver os
problemas dos doentes e dos mé-
pensos rápidos. determinado. E esse caminho pas-
sa também, ao termos essas con-
dicos, qual a razão para não se alar- O problema é de dições nos cuidados primários de
Isso só tem a ver com quantidade gar a outros? tal maneira saúde, por ter condições nos hos-
de operações? Os médicos especialistas em me- pitais. E os CRIS’s vêm dar condi-
Tem a ver com a quantidade, mas dicina geral e familiar já têm as grave que só se ções aos hospitais para responder
também tem a ver com a demora USF tipo B, que são remunerados resolve com de uma forma rápida, com quali-
média, com a taxa de mortalidade,
com a taxa de infeções, com o nú-
também por incentivos. reformas dade e com satisfação, quer para
os profissionais de saúde, quer
mero de trabalhos publicados, com Então por que há tanta dificuldade estruturais para os doentes que precisam des-

’’
a taxa de ocupação do bloco opera- em arranjar médico de família? sa mesma assistência.
tório. Tem a ver com uma série de Há muita dificuldade em arran-
indicadores de atividade assisten- jar especialistas de medicina ge- E acha que isso poderá estancar um
cial, e não só, que têm de ser aci- ral e familiar porque é pouco atra- pouco a saída dos médicos do públi-
ma de 70%. Se for abaixo, já não tivo, e além de ser pouco atrativo co para o privado?
tem qualquer incentivo. No fun- do ponto de vista da realização que se não houver uma cobertu- Primeiro, há uma falta de planea-
do, os CRI’s têm um processo de profissional, em muitos dos casos, ra dos cuidados primários de saú- mento e um desinvestimento em
contratualização com um sistema as remunerações são muito bai- de, a pressão sobre os serviços de profissionais e em equipamentos,
de incentivos financeiros. Estes xas e, de facto, há zonas do país urgência e sobre os internamen- nomeadamente em instalações e
incentivos têm uma componente que estão mais carenciadas que tos hospitalares continua a exis- em tecnologias, com maior signi-
fixa e uma componente variável, outras. Mas o número de médicos tir. Acho que o nosso foco de ficado até nos cuidados primários
dependente do cumprimento do que são formados e que se candi- maior investimento neste mo- de saúde, nos cuidados continua-
Contrato-Programa, que engloba datam a essas vagas são manifes- mento deveria ser os cuidados de dos e nos cuidados paliativos.
vários parâmetros da atividade as- tamente inferiores ao número de saúde primários. Há um aumen- Esse é um aspeto. Há uma falta de
sistencial e indicadores de desem- vagas disponíveis. Há escassez de to das listas de espera porque não complementaridade entre os se-
penho. A componente fixa resul- candidatos. só há uma escassez de médicos de tores público, privado e social.
ta do valor da produção adicional família, como também a parte Não se verifica essa complemen-
contratada e a componente variá- Mas não seria de expandir este mo- hospitalar não está devidamente taridade, essa sinergia que é im-
vel da aplicação de uma percenta- delo do CRI? organizada para receber os doen- portante existir. Os portugueses
gem sobre esse valor. O valor é es- Penso que é fundamental a expan- tes que são referenciados. Chega- querem ter acesso a cuidados de
tabelecido no manual de operacio- são do modelo do USF tipo B – que mos a ter listas de espera de mais saúde de qualidade e no tempo
nalização definido por cada são remuneradas com incentivos, de dois anos em determinado tipo adequado. Julgo que os portugue-
Hospital, ajustado ao Índice de De- enquanto o modelo A não é remu- de doenças. E a burocracia tam- ses não querem saber se o cuida-
sempenho Global realizado. Este nerada com incentivos –, que tem bém nessa transição, nessa fluidez, do de saúde é prestado no sítio A,
modelo de contrato é desenvolvi- a ver com o número de doentes nesse fluxo de doentes, é angus- B ou C, querem é ter qualidade de
do para as especialidades cirúrgi- que são atendidos e com a cartei- tiante, tem um percurso difícil. saúde a tempo e horas. A Saúde
cas, mas vemos com urgência o ra de doentes que potencialmen- vive no estado de penumbra e é
desenvolvimento de um modelo se- te possam vir a estar sob a respon- Está a referir-se a quê? preciso inverter isso.
melhante para as especialidades sabilidade desse médico. À inscrição, ao encaminhamen-
médicas, área da saúde mental, to, à marcação da consulta, à mar- O Estado tem dinheiro para isso
serviços de urgência e meios com- Mas tem só a ver com o número de cação do exame. Tudo isso é difí- tudo? Já defendeu numa entrevis-
plementares de diagnóstico. doentes? cil. Por isso é que muitas das ve- ta que, por exemplo, os médicos de
Também tem índices de desem- zes, os doentes, para resolverem família podem estar no privado.
Digamos que é desde o médico de penho e tem a atividade assisten- os seus problemas, vão aos servi- Acha que isso faz algum sentido?
família até... cial em si. Mas, de facto, o núme- ços de urgência. Supostamente um médico que está
Os médicos especialistas de Me- ro é muito importante. Nós temos no privado ganha mais do que no
dicina Geral e Familiar, que exer- um país em que há cerca de Acha que este problema da falta de público.
cem a sua atividade nos Centros 1.500.000 doentes sem médico es- médicos de família tem alguma com- Os profissionais de saúde, nomea-
de Saúde, organizados em USF pecialista em medicina geral e fa- paração com o período da covid, em damente os médicos, ganham cer-
modelo B, têm incentivos atribuí- miliar. É urgente cobrir isso, por- que muitas pessoas agravaram o ca de 50 a 60% menos que os dos >
20 25 AGOSTO 2023

Sociedade
> países da União Europeia. O ser- precoce na maioria dos casos. Se basta publicar estes estatutos,
viço de saúde tem tido até agora tivermos os terapeutas lá, 365 dias têm que ser executados, tem que
uma amarra ideológica fortíssi- por ano, é mais fácil e mais rápi- haver alterações orgânicas no
ma que tem destruído boa parte do reabilitar esse doente poten- próprio Ministério da Saúde,
dos alicerces fundamentais do cialmente do que não tendo. Ou com a introdução da direção exe-
SNS. É excessivo. Há sectores da seja, temos de ter um fisiatra, te- cutiva do SNS, que não tem esta-
Saúde na Idade Média. Deve-se rapeutas, farmácia, psicologia, as- do a suceder. As Unidades Locais
despolitizar o serviço de Saúde, sistente social, nutrição, medici- de Saúde têm que ser divulgadas,
nomeadamente o público. Nós tí- na interna. têm de ser descentralizadas na
nhamos as Parcerias Público Pri- sua organização, por causa da in-
vadas (PPP), e o relatório do Tri- Acha que isso fará estancar a tegração de cuidados, ou seja,
bunal de Contas aponta que as ida de médicos do público para o juntar os cuidados primários de
PPP, na área da saúde, tinham ga- privado? saúde com os cuidados hospita-
nhos da ordem dos 200 milhões de Dou-lhe algumas soluções que po- lares tem vantagem na horizon-
euros e foram extintas por ideolo- dem estancar essa debandada. tal, em que o doente é tratado
gia. Não faz sentido. Estive numa Coordeno um grupo trabalho de através do fluxo. Torna-se mais
PPP, que foi a primeira e é a úni- saúde no CDS, onde participam fácil a comunicação.
ca que se mantém ainda hoje, que elementos reconhecidos de vários
é a de Cascais. Fui eu e um con- grupos profissionais, alguns até O objetivo é ligar os centros de
junto de colegas e de administra- independentes, e entendemos que saúde...
dores da Caixa Geral de Depósi- o sistema, além de doentiamente À atividade hospitalar, aos hos-
tos que fizemos a PPP com um politizado, tendencioso na sua ad- pitais.
gosto enorme, em que conseguía- ministração, provoca desigualda-
mos dar resposta, em termos de des no acesso e apresenta uma Mas não é isso que acontece? Não
qualidade, àquilo que a população enorme escalada e renúncia de estão em rede?
do concelho de Cascais precisava. profissionais de Saúde qualifica- Não, podem estar em rede, mas
Mas todas as outras acabaram, dos que saem quer para o estran- não estão interligados debaixo
como são os casos de Braga, Vila geiro, quer para a medicina pri- das mesmas regras e das mesmas
Franca de Xira, de Loures... Não vada. Esperemos que a direção orientações. No fundo, não estão.
há uma razão lógica, a não ser executiva do SNS, conjuntamente
ideológica, para extinguir essas com algumas orientações políti- Dê um exemplo concreto.
parcerias. Daí que diga que o Ser- cas, as venha a implementar, de- Se estiverem integrados na mes-
viço de Saúde não pode estar re- pois do Estatuto do SNS, e outros ma organização, na mesma dire-
fém das amarras ideológicas, tem diplomas orgânicos, serem, de ção que estão os cuidados hospi-
de ser preservado, tem de ser des- facto, publicados. talares, e este conjunto forma as
envolvido e com medidas em- unidades locais de saúde, a respos-
preendedoras. Aliás, a maioria Mas não acha que os CRI’s dão ta tende a ser mais mais rápida.
das correntes de opinião ligadas outras garantias financeiras aos
ao setor defende que este SNS pre- médicos? Vamos imaginar que tenho um pro-
cisa de uma reforma e que esta re- Dão ajuda, mas só por si não re- blema no pé. Vou ao centro de saú-
forma tem que assentar em vários solvem todas as questões, todos de. Onde é que se concretiza depois
pilares: nas USF com incentivos, os problemas que neste momen- essa ligação?
o modelo B, com os CRI’s nos hos- to existem no setor da Saúde. Não Se for um problema do pé simples,

‘‘
pitais, que são multidisciplinares, o Centro de Saúde resolve. Se for
têm várias especialidades, tratam um problema complicado, eles
determinado tipo de doenças es- passam uma marcação para uma
pecíficas, e que a seguir têm um consulta, neste caso em concreto,
conjunto de profissionais que de ortopedia, num hospital.
prestam assistência para um de-
terminado número de horas con- O SNS é um pilar E depois, qual é a ligação que é pre-
tratualizadas, àquela unidade.
Isto é uma vantagem para os
importante da ciso fazer?
Se houver essa integração de cui-
doentes. democracia e da dados a burocracia diminui. Um profissionais e os seus represen- acompanhada de remunerações
estabilidade exemplo: se as urgências forem tantes e a partir daí as medidas adequadas e de condições de tra-
Que tipos de especialidades?
A medicina interna, a farmacêu-
social do país multidisciplinares e polivalentes,
se forem concentradas, têm uma
não são avulsas. O problema da
Saúde não se resolve com pensos
balho, além de dar ao mesmo tem-
po alguma qualidade em termos fa-
tica, a neurocirurgia, a dermato- resposta melhor do que se forem rápidos. O problema é de tal ma- miliares. Porque o médico em Por-
logia. Há várias especialidades desconcentradas. neira grave que só se resolve com tugal trabalha mais horas e ganha
que colaboram com essas entida- O médico em medidas de fundo, com reformas menos, por isso é que há esta emi-
des. No meu caso, a fisiatria cola- Portugal trabalha Isso é o que o Governo está a tentar estruturais, e o Governo tem co- gração. Estou a falar do público, ob-
bora no meu Centro de Responsa- nhecimento delas. Só se resolve viamente. Não sei quanto é que ga-
bilidade Integrada... mais horas fazer, fechar as urgências daqui e
manter abertas ali. Mas está a pro- com estas reformas estruturais, nhará um médico do privado.
e ganha menos vocar uma grande contestação. com um pacote de medidas que
O que está a dizer é alargar a par-
te cirúrgica a todas as outras es-
50 a 60% do que Sim, mas não basta isso. Em Saú-
de, não se pode ter medidas avul-
tem que contemplar as USF, as ur-
gências metropolitanas, os CRI,
Mas, por exemplo, qual seria a so-
lução perfeita para não termos esta
truturas. os seus colegas sas. Tem que ser um pacote de re- isto é fundamental. Há aqui uma pouca vergonha do encerramento
Sim, de apoio à qualidade de um europeus formas, negociado, obviamente, questão que tem que ser tratada, das urgências de obstetrícia e por

’’
doente. Um doente é reoperado na com todos os profissionais e com que é a dedicação plena, que está aí fora?
área da traumatologia ortopédi- as entidades que lidam com o se- neste momento na ordem do dia. Primeiro tem que se ter um diá-
ca, precisa de uma reabilitação tor da saúde. Tem que se ouvir os E esta dedicação plena tem que ser logo com os profissionais do setor
NASCERDOSOL.PT 21

‘5 a 7% são
estrangeiros’
Portugal é o país da OCDE com mais que se deve ao esforço das equi-
urgências per capita? pas médicas e das equipas médico
Portugal continua a ser o país da cirúrgicas que têm pugnado para
OCDE com maior procura nos que isso suceda. Há uma credibi-
serviços de urgência e muitas de- lização em relação aos nossos ser-
las não são reais. Uma grande per- viços, há um reconhecimento.
centagem é de doentes menos gra-
ves que acorrem ao serviço de ur- Nalguns casos nem será bem reco-
gência, o que revela que existe nhecimento, é a inexistência de cui-
uma falta de investimento, como dados nos seus países. É natural
existe em todos os setores na área que venham muitos cidadãos dos
da saúde, mas em particular nos países de PALOP devido aos proto-
cuidados primários de saúde. colos existentes.
Sim, temos protocolos com esses
Muitas das pessoas que vão às ur- países, mas estou a falar em turis-
gências fazem-no por questões tas que vêm em cruzeiros, que são
sociais. aos milhares e desembarcam na
Uma percentagem de interna- Praça do Comércio, ali próximo, e
mentos que se encontram nos que a seguir têm um acidente em
hospitais são casos sociais. É Lisboa ou na proximidade da ca-
preciso um investimento nos pital. Nós tratamos desses cida-
cuidados continuados e paliati- dãos estrangeiros.
vos para que esses doentes pos-
sam ser retirados dos hospitais. E há muitos casos?
São camas que estão a ser ocu- É uma percentagem, posso dizer,
padas por doentes que não ne- de 5 a 7% de doentes internados.
cessitam de intervenção especia- Ou seja, num serviço em que se
lizada na área cirúrgica ou na interna cerca de 30 doentes, há
área médica, mas sim precisam sempre três, quatro, cinco doen-
de estar em unidades próprias tes estrangeiros internados.
de cuidados continuados ou de
cuidados paliativos. Mas estamos a falar desta nova imi-
gração?
Estamos a falar de pessoas que Estamos a falar de ambas as si-
não têm ninguém que cuide delas tuações, desta nova imigração
em casa e que vão ficando nos que ainda não está legalizada, jul-
hospitais. go eu, muitos deles não conse-
E ficam internadas num hospi- guem falar a língua portuguesa,
tal até se conseguir resolver o até ao turista de passagem. As
problema. Isso aumenta a taxa nossas urgências são muito hu-
de ocupação. manas, têm uma componente hu-
mana forte e apesar de todas as
Estava a falar dos sem-abrigos e de confusões que são geradas em
bêbedos, por exemplo, que vão às serviço de urgência, há uma res-
urgências, algumas vezes, apenas ponsabilidade de todos os profis-
que prestam serviço nessa área seis anos, vai para a Medicina pri- SNS, que não estão a ser dadas, para comerem. E esses casos exis- sionais que trabalham no servi-
de especialidade. Tem que haver vada. Então o setor público de e, por isso, estamos a assistir a tirão sempre. ço de urgência. Mesmo no meu
um consenso entre eles. O poder Saúde fica completamente vazio, esta deserção. Tenho no meu serviço sem-abri- serviço, onde são internadas pes-
político tem de estar disponível não é? Isto não tem lógica. gos que têm lesões graves e que soas que não falam outras lín-
para ajudar a criar consensos, Qual a razão para se ter criado a são lá tratados. Têm tanto direito guas, a não ser as de origem, nós
mas, ao mesmo tempo, fazer ver, E o que defende? Que a pessoa CCRIA, Convergência dos Centros a serem tratados como todos os temos uma capacidade de com-
com sustentabilidade, o que é me- deva ser obrigada... de Responsabilidade Integrada As- outros cidadãos portugueses, e preensão e de entendimento, e es-
lhor para os doentes, mas também Não, devem criar condições... sociação? não só. Neste momento, temos um ses doentes são tratados. Mas per-
o que é melhor para os profissio- Foi criada por vontade de um con- afluxo em Lisboa, nomeadamente cebemos que grande parte deles
nais. Não se pode fazer uma coi- Não acha que devia ser semelhan- junto de profissionais, predominan- de cidadãos estrangeiros, que são são clandestinos.
sa que só seja vantajosa para um te ao que se passa na Força Aérea, temente médicos, que trabalham submetidos aqui a intervenções
dos lados. O Governo tem de fazer em que um piloto formado não pode nos Centros de Responsabilidade cirúrgicas, são aqui tratados e de- Como é que os entendem?
investimentos significativos na ir para o privado sem indemnizar o Integrada em funcionamento nos pois é que vão para os seus países Ou falando inglês ou por gestos.
área da Saúde e na formação dos Estado? Hospitais. Estes profissionais têm de origem, coisa que não aconte- Muitas das vezes, chamamos in-
profissionais de Saúde. Uma equi- Acho que sim, que devia, mas como objetivos, apoiarem, dinami- cia anteriormente. Significa que térpretes para poderem fazer esse
pa demora, em média, quatro a mais importante do que isso é zarem, promoverem os CRI’s e com- a nossa Medicina evoluiu, que há papel. Nem sempre, mas já têm
seis anos para se formar e criar que sejam dadas condições a esse partilharem experiências, boas prá- um maior acreditar na nossa evo- sido solicitados tradutores para
rotinas. Ao final desses quatro a médico para permanecer no ticas clínicas e de governação.> lução do ponto de vista técnico, alguns dos doentes.
22 25 AGOSTO 2023

Sociedade
> É relevante colaborar no cresci- deste direito num qualquer bem de sivamente lançados avisos sobre
mento destas Unidades, com auto- consumo sujeito às leis da oferta e isto – desde há praticamente 15/20
nomia de gestão, facilitando os da procura, conduziram à atual si- anos que se adivinhava uma rutu-
mais variados meios de comunica- tuação da profunda crise na presta- ra, um desgaste e um colapso imi-
ção institucionais. A Associação é ção dos cuidados de saúde’, lê-se nente no serviço público de saúde.
criada para facilitar essa imple- no Manifesto. Acha que são os neo- Está a suceder, e se não forem to-
mentação, contribuindo com as ex- liberais os responsáveis pelo esta- madas medidas urgentes para
periências individuais e coletivas, do do SNS? isso, o SNS entra num desgaste
a nível local e regional. O nosso ob- Não sou um neoliberal puro. inumano, numa erosão enorme.
jetivo é contribuir para uma melho- Sou um defensor do SNS, insub-
ria na qualidade dos cuidados de Mas quando fala nos preconceitos misso a lutas político partidárias –
saúde e valorizar os profissionais ideológicos calculo que não esteja temos profissionais independen-
de saúde, modernizando a gestão e a falar dos neoliberais. tes e com as mais variadas opções,
fundamentar os incentivos basea- Certo, mas não pretendo uma li- mas temos em comum defender
dos no desempenho. beralização total e completa em um SNS adaptado aos atuais e pró-
relação à Saúde. Não é isso que de- ximos tempos. Sou coordenador
Em quantos hospitais existem os fendo, e aqui estou a falar em do grupo de trabalho do CDS na
CRI’s? nome pessoal. O SNS é um pilar área da saúde e existe uma sensi-
Existem cerca de 40 CRI’s a nível importante da democracia e da es- bilidade social muito sentida e par-
nacional, concretizados em vários tabilidade social do país. Sou um tilhada por todos. Sou um demo-
Hospitais. As comunicações que defensor do aprofundamento das crata-cristão, sou um homem de
têm sido efetuadas por vários res- reformas no SNS, sem perder a fé, mas não tenho as cartilhas
ponsáveis políticos, são no senti- sua matriz de universalidade e de como fundamento. Esta insubmis-
do de incentivar a criação de no- igualdade no acesso. Quando me são é uma revolta por o sistema de
vos Centros. lê isso, o título é Insubmissão e eu saúde estar excessivamente poli-
acabei por dizer que o Serviço tizado, tem que se despolitizar, des-
Defende a dedicação exclusiva ao Saúde, nomeadamente o público, de as nomeações para os conselhos
serviço público ou não? está com uma marca ideológica de administração. Tem que se ir às
Defendo a dedicação plena ao ser- que eu condeno. pessoas mais capazes. Sei que não
viço público, desde que haja con- é fácil, é um sistema complexo, o
dições de trabalho, de atualização, Mas o Manifesto condena as carti- da Saúde, mas temos que começar
de formação e de remuneração lhas neoliberais. por algum lado. Acho que esta di-
que sejam suficientemente apela- Deve haver bom senso no meio dis- reção executiva do SNS tem esta
tivas para que essa dedicação ple- to. As políticas podem ser muito vontade de começar a fazer, assim
na seja concretizada. A forma de discutidas, mas há uma coisa que sejam dados os meios para eles po-
podermos atrair os profissionais são as condições do país em que es- derem fazer.
é com o projeto e com a remunera- tamos a viver. O grau de desenvol-
ção. Os profissionais são atraídos vimento que o país tem, não só eco- Não é estranho um vice-presiden-
com isso. Os CRI’s estão numa nómico, mas em todas as outras te do CDS assinar um manifesto de
fase de desenvolvimento e de im- áreas. E a satisfação dos doentes e insubmissão que diz que ‘os pode-
plantação, daí que tenha sido o atraso nas reformas da saúde res político e económico têm tra-
oportuna a criação da Associação. que nós estamos a viver. Esta re- balhado articuladamente para sub-
A haver uma separação profissio- forma da saúde que estamos a exi- jugar a classe médica, consideran-
nal entre privado, social e o SNS gir, com mais investimento e me- do-a um inimigo interno que urge
só deve ser conseguida quando os lhor planeamento, isto já devia ter liquidar’. Acha que isto é verdade?
médicos no SNS tiverem as con- sido feito, e têm vindo a ser suces- É, não tenho problema nenhum

‘‘
dições remuneratórias e de pode- em ter assinado esse manifesto,
rem praticar a sua especialidade como muitas outras pessoas da
a nível europeu. minha área política.

Curiosamente, assinou o Manifes- O que será o SNS daqui a dez anos?


to da Insubmissão aos poderes po- Se nada for feito, será residual.
lítico e económicos. Sendo o repre- Sou um
sentante do CDS na área da Saúde, democrata- Ainda não explicou muito bem como
e perante o seu discurso, estranhei
ler este manifesto assinado por si.
-cristão, sou um é a integração entre o sistema pú-
blico, o privado e o social.
Que quase começa com a frase a homem de fé, Neste momento já existe uma in-
‘Saúde era na altura da ditadura fas- mas não tenho as teração entre o sistema público, o
privado e o social. Ao fim de seis
cista’. Mesmo à Esquerda são mui-
tos os que dizem que não houve fas- cartilhas como meses nas listas de espera cirúrgi-
cismo, houve sim uma ditadura. fundamento cas é dada a oportunidade ao
Mas eu não sou fascista, sou um doente de ser operado noutros
democrata. hospitais. Sejam eles públicos ou

‘A degradação continuada do direi-


Não podemos privados.

to constitucional à saúde por via de ganhar todos Se houver uma lista de espera de
políticas sucessivas de desinvesti- a mesma coisa seis meses.

’’
mento nos serviços públicos de Superior a seis meses. Falo no sis-
saúde e de aplicação cega de car- tema público, privado e social,
tilhas neoliberais de transformação nesta sinergia, nesta ligação que
NASCERDOSOL.PT 23

‘‘ ‘10% dos
é importante haver, porque no O Manifesto também fala na exce-
acesso aos cuidados primários lência que era o SNS, à semelhan-

acidentes
de saúde percebemos que há ça de muitos testemunhos públicos.
1.500.000 pessoas que não têm mé- Não há outros casos melhores,
dico de família. O setor privado e Já foram como sejam o inglês e o holandês?

tomadas
são
o social podiam ajudar a colma- Dou-lhe um exemplo: a mortali-
tar essa falha. A oportunidade de dade materno infantil diminuiu
os doentes serem observados por algumas drasticamente comparativamen-
um médico a que tivesse um aces-
so mais rápido. Essa integração,
medidas para
a probabilidade
te com os países da Europa. Não
nos podemos esquecer disso. Fo- muito
graves’
logo à nascença, primária, estru- ram estabelecidas, no SNS, uni-
tural, é uma coisa que defendo há de haver uma dades de cuidados intensivos,
muito tempo, a integração desses epidemia vias verdes para tratamento di-
três setores em determinado tipo ferenciado e rápido em relação a
de patologias. extrema determinado tipo de doenças, no- Quais são os números de aciden-
a acontecer meadamente os acidentes vascu- tes com trotinetas, bicicletas e
Os CRI’s algum dia poderão ser im-
plementados em força? Não have-
no breve ou lares cerebrais, os enfarte do
miocárdio. Isso deve-se tudo ao
afins?
No CRI, temos um protocolo
rá partidos que vão dizer que isto no médio prazo? SNS. E os CRI’s, a primeira im- com a Autoridade Nacional da
é desonesto porque cria desigual- plantação é no SNS, também aí Segurança Rodoviária, feito há
dades, uma vez que nem todos ga- estamos a ser pioneiros. É uma sensivelmente seis, sete meses,
nham o mesmo? Não se pode gestão autónoma, com vista a em que nós fornecemos os nú-
Os CRI’s são um caminho para o
presente e para o futuro. Nós não
dispensar a rede uma melhoria nos cuidados de
saúde, com vista a uma satisfa-
meros, respeitando os princí-
pios da confidencialidade. For-
somos todos iguais, e há, obvia- de saúde pública ção para doentes e profissionais. necemos os números dos aci-
mente, dentro do SNS quem seja O SNS em Portugal tem 40 anos dentes dos novos meios de
mais assíduo, que tem melhor e, como tudo na vida, precisa de mobilidade da nossa área de
formação, isso existe no SNS. Isto A mortalidade ser adaptado às realidades exis- influência, o Centro Hospita-
é uma organização de médicos,
são os médicos que estão a fazer,
materno infantil tentes. Vou dar-lhe um exemplo
concreto de uma situação que
lar Universidade de Lisboa
Central.
juntamente com os conselhos de diminuiu nos preocupa: já foram tomadas
administração, que estão a criar drasticamente algumas medidas para a proba- E quais são esses números?
os Centros de Responsabilidade bilidade de haver uma epidemia No primeiro semestre de 2023,
Integrados, está na lei. Obvia- comparativamen extrema a acontecer no breve ou ocorreram 216 acidentes de tro-
mente que tem profissionais nas te com os países no médio prazo? Não sei, agora tinetes, 372 de bicicletas, 52 de
mais variadas áreas, tem enfer-
meiros... Isto é um incentivo para
da Europa. Não se essas medidas não forem to-
madas, por exemplo...
skate e 20 de patins, que totali-
zam 660 ocorrências, das quais
reter os profissionais no SNS. nos podemos cerca de 10% com elevado grau
Isto não tem nada contra, não esquecer disso Está a falar na eventualidade de de gravidade. No primeiro se-
tem nada de ideológico.
e que isso tudo uma nova covid...
Covid ou uma nova variante, ou
mestre de 2022, o número regis-
tado de acidentes era de cerca
Mas sabe que há quem defenda se deve ao SNS outro tipo de epidemias. Têm que de 500. Há um aumento do nú-

’’
que todos devem ganhar o mesmo. ser tomadas medidas. Hoje, todos mero de acidentados por estes
Não podemos ganhar todos a mes- os estudos indicam o triplo do po- meios de mobilidade, não só dos
ma coisa. Aliás, já não ganhamos tencial de aumento em tempos condutores como dos transeun-
hoje a mesma coisa. As pessoas futuros. Tem que haver um inves- tes que circulam nas vias públi-
devem ser remuneradas pela sua timento de reforço na rede de cas e que acabam por ser atro-
diferenciação, pela sua prestação Parece-me que sim, por aquilo Saúde pública. Não se pode dis- pelados.
e pela sua capacidade de trabalho. que tenho ouvido e lido, há mé- pensar a rede de saúde pública.
Obviamente que para todos os ou- dicos que têm estado a ser con- Estamos preocupados com estas E há situações graves.
tros que não tenham essa capaci- testados na sua prática cirúr- questões do dia-a-dia, é impor- Há situações de traumatismos
dade, essa diferenciação, tem que gica, é o que tenho lido. Cada tante que sejam clarificadas, e muito graves com tratamento
haver remunerações. Não estou a CRI tem um conselho de ges- que sejam tomadas medidas para orto-traumatológico complexo,
dizer o contrário. tão, é autónomo, gere os seus que elas sejam resolvidas, pelo envolvendo também outras es-
funcionários. menos atenuadas, mas estamos pecialidades. Atualmente esta-
Por exemplo, um médico que opere a esquecer-nos que, por exemplo, mos a desenvolver estudos para
mal, que mate, entre aspas, doen- Neste vosso Manifesto, ainda não as epidemias sistémicas podem percebermos como surgem es-
tes, merece ser bem remunerado? percebi o que vão fazer? Dizem acontecer a qualquer momento e tes graus de energia mais inten-
Não. Merece desempenhar as fun- que não aceitam isto e aquilo, mas temos de estar preparados para sa que o habitual, capazes de
ções para o qual está predestina- então... elas. Não é como aconteceu ante- provocar lesões músculo-esque-
do. Pode ser melhor noutras ati- Já vai em mais de sete mil assina- riormente, infelizmente em rela- léticas que não eram normais
vidades, como em consultas. Pode turas. ção à covid, que por mero sinal em acidentes nas cidades.
ser melhor em cirurgias menos até nos saímos bem na maioria
complexas. Mas o que vão fazer a seguir? dos casos, graças ao esforço dos Há muitos idosos a serem atrope-
Provavelmente vamos ter algu- profissionais de saúde. lados?
E isso acontece de alguma forma no ma representatividade para ser- Os acidentes são mais frequen-
setor público? Há médicos, por mos ouvidos e fazer chegar a Onde se destacou, curiosamente, o tes na faixa etária entre os 20 e
exemplo, que são retirados de equi- nossa voz aonde temos que fazer novo diretor executivo do SNS, Fer- 40 anos de idade, mas também é
pas cirúrgicas porque não operam chegar, que são os órgãos do po- nando Araújo. significativo o atropelamento de
bem? der político. E muito bem. > pessoas com mais de 75 anos.
24 25 AGOSTO 2023

Sociedade

‘‘
> Acha que se ele conseguiu isso... sos devem ser céleres, após os
Conheço-o e sei que se lhe forem médicos apresentarem prova do
dados instrumentos para ele po- passado técnico científico, atra-
der executar uma reforma do vés de documentação originária
SNS, ele e a equipa, em conjun- Há uma desses próprios países. Pela ca-
to com os profissionais de saú-
de disponíveis para isso, vai ini-
dificuldade de rência de especialistas em algu-
mas áreas, não vejo razão para
ciar uma reforma de fundo no relação entre os fecharmos portas.
SNS, que é aquilo que todos nós profissionais
precisamos.
que trabalham E o que acha de se oferecer casas
para eles virem para cá?
Foi um dos responsáveis por ter nos CRI’s e os Os médicos portugueses devem
implementado no Hospital S. José que trabalham ser tratados em pé de igualdade.
Estão a oferecer casas? Não sei
a famosa triagem de Manchester.
No ano 2000 estava na equipa do fora desta se estão. Se estão a oferecer ca-
Dr. Fernando Araújo, do Dr. Jo- organização sas a médicos estrangeiros para
sé Manuel Almeida, de Coim-
bra, e do Dr. Freitas e, na altu-
autónoma virem trabalhar para o nosso
país, devem igualmente oferecer
ra, desempenhava as funções de casas aos médicos portugueses
diretor de urgência do Hospital que queiram ir trabalhar para as
de São José, onde os doentes O senhor regiões mais carenciadas de cui-
eram atendidos por ordem de ministro da dados de saúde. Não devem exis-
chegada. E nós todos entende-
mos que, para além daquilo que
Saúde, além tir privilégios dos médicos es-
trangeiros. Os profissionais por-
já se passava na maioria dos de ter uma tugueses devem estar em pé de
hospitais em Portugal, o S. José formação médi- igualdade. Além da oferta das
ainda não tinha a triagem de
Manchester e não se justificava
ca, é um político condições de habitação, devem
existir condições de trabalho e
essa situação. Após conversas de carreira. de formação.
com o ministro de então, o pro- Todos nós
fessor Correia de Campos, ele Até porque temos falta de pedia-
incentivou e ajudou muito a que sabemos tras, por exemplo.
trouxéssemos para os Hospitais o enraizamento E não só. Faltam-nos também
Civis de Lisboa a triagem de
Manchester. Isso foi uma mu-
e as caracterís- anestesistas, intensivistas, obs-
tetras, ortopedistas, internistas.
dança de paradigma enorme. ticas da sua
atuação na Isso tudo porquê? Porque não for-
Mas se já existia nos outros hos-
pitais em Portugal, qual a razão
região Norte mámos?
Não foram formados em quan-

’’
para não haver no S. José? tidade, mas também porque não
Não sei, talvez por existir uma ocuparam as vagas disponíveis.
cultura mais conservadora. A maior razão foi a deserção da
maioria dos profissionais for-
Mas quem é que a levou para os mados no SNS para a Medicina
outros hospitais? tros de Responsabilidade Inte- privada e para o estrangeiro. É um médico político que está a O médico responsável é que distri-
Foi a equipa do Fernando Araú- grados, neste momento, é a re- falar. Deixe o médico político, e bui pela equipa?
jo. Os outros hospitais foram lação interinstitucional entre Há uma certa ciumeira na classe explique casos concretos. Um De acordo com os médicos que
mais recetivos, foram mais vo- os serviços que são CRI’s e os médica entre os cirurgiões, porque transplante de um rim tem um trabalham nessas intervenções,
luntariosos para aceitar. que o não são. Há uma dificul- nem todos ganham a mesma coisa valor... faz-se a distribuição.
dade de relação entre os profis- com as operações adicionais que O grau de gravidade e a comple-
Como funcionava o S. José antes sionais que trabalham nos fazem. xidade são diferentes. Uns podem ter 20.000 euros para
dessa medida? CRI’s e os que trabalham fora Isso depende do GDH, o Grupo distribuir e outros 2000?
A triagem que existia no São Jo- desta organização autónoma. Diagnóstico Homogéneo, que dá Quem faz um transplante cardíaco A totalidade da quantia a distri-
sé, na sua maioria das vezes, era Daí que diga que é urgente es- a classificação exata da severida- recebe menos que alguns trans- buir a cada Unidade é posterior-
por ordem de chegada. E nós in- tabelecer regulamentos e diplo- de do doente, tendo correspon- plantes? mente repartida por todos.
troduzimos a triagem de Man- mas que façam com que esta ar- dência em termos de pagamento. O importante é aumentar o nú-
chester, que era por ordem de ticulação se possa fazer de uma Podemos concluir que é necessá- mero de dadores e órgãos dispo- Há quem diga que em alguns hos-
prioridade, por gravidade. Daí maneira mais amigável, mais rio refletir sobre os regulamen- níveis para transplante. Para pitais privados se opera a metro.
as várias cores, mas houve vá- sustentável do que aquilo que tos existentes em parceria com isso é necessário a alteração da Isto é: muitas vezes há outras so-
rias resistências de profissio- hoje sucede. as diferentes instituições. O mal Lei, nomeadamente permitir luções, mas a cirurgia é mais lu-
nais que se opunham a que tria- estar que está instalado nos pro- colheita de órgãos sem morte crativa.
gem de Manchester passasse a O que acha da contratação de mé- fissionais de saúde, nomeada- cerebral. Em concreto, não conheço as
ser feita por enfermeiros. dicos brasileiros e cubanos? mente pelos diferentes pagamen- atividades nos hospitais priva-
Somos um país aberto à emigra- tos, na prestação de trabalho em Os médicos ganham para além dos. Obviamente que depende
Acha que hoje poderá haver a mes- ção e não devemos impedir a Serviço de Urgência, em cuida- do ordenado normal com cada dos contratos que os médicos ti-
ma resistência em relação aos vinda de outros profissionais, dos especiais e nas áreas de transplante ou operação que verem nesse hospital. Quer nos
CRI’s que houve em relação à tria- desde que sejam respeitados os transplantação, podem ser ate- fazem? hospitais privados, quer nos pú-
gem de Manchester? critérios de admissão. A ques- nuados com uniformização des- As remunerações corresponden- blicos, o código deontológico e o
Os tempos são diferentes, mas tão da língua na sua plenitude é sas áreas, evitando deliberações tes à transplantação são entre- código de ética devem prevale-
o principal problema dos Cen- um problema parcial. Os proces- em casos particulares. gues à equipa que as executa. cer. Independentemente dos
NASCERDOSOL.PT 25

‘Luís Filipe
Vieira diz-me
que é inocente’
É amigo de Luís Filipe Vieira, como tempo, capacidade empresarial
vê estes processos em que ele está ou inovadora no SL Benfica. Es-
envolvido? peramos para ver, o Benfica tem
Sobre essa matéria quero dizer o que continuar a crescer e tem que
seguinte: estive no Benfica cerca ter uma estrutura que suporte o
de dez anos. Conheci o Benfica futebol profissional.
numa fase de grande atividade em-
presarial, de muito profissionalis- Fala na formação?
mo, uma excelente organização. Sim.
Estruturas que foram lançadas e
consolidadas – que já vinham de Mas não concluiu em relação a Luís
trás, de 2004, 2005, 2006, 2007, e eu Filipe Vieira.
entrei em 2012, 2013 –, como seja o Reconheço as qualidades que dis-
próprio estádio, as infraestruturas se, em relação aos processos sem-
que estão à volta do estádio, o cen- pre que tenho falado com ele, ele
tro de estágios, que neste momen- permanentemente me diz que não
to é o Benfica Futebol Campus, percebe por que está a ser acusado,
que era há uns tempos atrás o Cai- que não utilizou rigorosamente ne-
xa Futebol Campus. Sou amigo do nhum dinheiro do Benfica, e tenho
Luís Filipe Vieira porque lhe reco- de acreditar naquilo que ele me diz.
nheço qualidades empreendedo-
ras e capacidade de gestão inova- Ele não está só a ser acusado em
dora que tenho dificuldades em relação ao Benfica.
ver noutros presidentes que pas- Por aquilo que eu sei e por aquilo
saram pelo SL Benfica. Não em to- que ele me diz, está perfeitamen-
dos, mas em alguns. te à vontade e não tem responsa-
bilidades, e julgo que ele nem foi
E em relação ao atual, também? ainda acusado em nenhum dos
Em relação ao atual, é um homem crimes que era supostamente
do futebol. Apoiei a eleição do Rui atingido, mas estamos cá para ver.
Costa, como sabe saí porque acha- Acho que é o tempo da Justiça
va que devia ser dada a oportuni- atuar e veremos se há alguma ra-
dade ao presidente atual de for- zão que leve a mudar a minha opi-
contratos realizados por cada feito um hospital central tem ra. Todos nós sabemos o enrai- mar a sua própria equipa e, por- nião. Neste momento, a minha
instituição, existe um código de que se tomar em linha de conta zamento e as características da tanto, não mostrei vontade em opinião sobre ele é que está ino-
nomenclatura da Ordem dos a lotação e quais as funções que sua atuação na região Norte. O continuar, aliás, comigo saiu o Jo- cente em relação a qualquer frau-
Médicos. um hospital central vai ter em professor Fernando Araújo é sé Eduardo Moniz. Reconheço de que tenha feito dentro do SL
funcionamento. um médico que já desempenhou que o Rui Costa foi um brilhante Benfica.
Defendeu o novo Hospital Central. funções de secretário de Estado, atleta do Sport Lisboa e Benfica,
Não acha que vai ser um caos con- Vamos dar um exemplo concreto de mas é considerado um gestor foi um belíssimo jogador, é um ho- Tinha um ordenado enquanto vice-
centrar tudo num único hospital? um doente que está no Hospital dos nesta área. Acho que as razões mem do futebol, mas acho que ele -presidente do Benfica?
E pergunto se é ou não verdade Capuchos. Se for preciso tem de ir que levaram este ministro a ser está neste momento muito apos- Não, nunca tive ordenado ne-
que este modelo já foi afastado nal- fazer um exame ao Hospital São Jo- escolhido foram de ordem polí- tado na área desportiva e não tem nhum, como nenhum órgão social
guns países? sé. No caso de haver o Hospital Cen- tica, em detrimento de um mi- demonstrado, também é pouco o teve ordenado.
É verdade que este modelo já foi tral será tudo no mesmo sítio. nistro técnico. E a valorização
afastado em alguns países. Se Desde que tenha uma gestão que dou ao professor Fernando
vai ser um caos? Mais importan- com uma estratégia bem defini- Araújo está na expectativa de
te que a construção do Hospital da, tem tudo para resultar que ele consiga, se lhe forem da-
Central, neste momento, é gerir numa satisfação maior, quer dos os meios, pôr em prática a
sete hospitais com uma distân- para os profissionais, quer para reforma do sistema de saúde em
cia de quilómetros entre alguns, os doentes. Portugal. É importante e urgen-
não só do ponto de vista da ges- te lançar as bases de uma refor-
tão, como também é muito difí- Qual é a avaliação que faz do mi- ma estrutural do SNS. Se não fo-
cil do ponto de vista do apoio clí- nistro da Saúde? Acha que houve rem dados os meios, não vai re-
FACEBOOK S L BENFICA

nico. E há uma quantidade de falta de coragem do Governo para sultar. Apesar da complexidade
recursos humanos que, de uma ter nomeado Fernando Araújo? na abordagem de uma reforma
forma central, podiam ser me- O senhor ministro da Saúde, no sistema de saúde, penso que
lhor aproveitados do que estan- para além de ter uma formação se pode fazer mais e melhor sem
do de uma forma dispersa. A ser médica, é um político de carrei- tantas promessas. ‘Rui Costa não tem demonstrado capacidade empresarial’
26 25 AGOSTO 2023

Sociedade

BRUNO GONÇALVES
PROFESSORES:
‘A LUTA VAI
CONTINUAR’
Sara Porto
sara.porto@nascerdosol.pt

O diploma relativo à contagem do tempo de ser- é que não haverá nenhum alívio
naquilo que temos vindo a de-
viço dos professores já foi promulgado. Porém, sencadear», assegura. «Porque
o descontentamento por parte dos docentes man- aquilo que os professores exigem
têm-se e, por isso, as greves e manifestações irão é algo que toda a gente reconhe-
continuar. Da parte dos pais há inquietação. ce como justo: recuperar aquilo
que é seu. Trabalharam esses
Marcelo de Sousa promulgou esta levam a que «se vão criando ‘di- anos, anos esses que foram ex-
semana o diploma relativo à con- plomazinhos’ que depois não tremamente difíceis, em que até
tagem do tempo de serviço dos dão nenhuma resposta» e, a úni- existiram cortes nos salários,
professores que visa corrigir as ca coisa que provocam é «ainda congelamento de progressões,
assimetrias decorrentes dos dois mais problemas e mais assime- cortes de subsídios… Os profes-
períodos de congelamento da car- trias». «Algumas muito graves, sores nunca deixaram de dar o
reira e, segundo o Ministério da como distinções entre professo- seu melhor nesse período e ago-
Educação, João Costa, vai abran- res que têm o mesmo tempo de ra, o prémio que recebem por te-
ger, «no mínimo», cerca de 60 mil serviço, mas que, às vezes, por rem-no feito é verem apagados
professores. No entanto, os profes- um dia em que tiveram menos anos de serviço que seriam fun-
sores continuam descontentes e, uma hora ou duas horas no seu damentais não só no imediato, Mário Nogueira não compreende o que mudou no diploma
ao que parece, a luta vai continuar. horário letivo ficam imediata- para o seu salário, como tam-
Segundo Mário Nogueira, diri- mente excluídos; é um diploma bém, mais tarde, o impacto que pondo serviços mínimos que o sar da felicidade da mãe por ver a
gente da Federação Nacional de que não resolve a discrimina- isto tem na própria pensão de Tribunal da Relação de Lisboa sua filha a fazer o seu percurso,
Professores (Fenprof), o diploma ção entre aquilo que acontece aposentação, uma vez que as pes- veio declarar ilegais em cinco segundo a mesma, «o caminho
criará ainda mais problemas e as- no Continente com o que acon- soas estão a ganhar e a fazer des- decisões, que o ME recorreu e não tem sido fácil». «Eu não
simetrias e «não haverá ne- tece nas regiões autónomas; é contos muito abaixo do escalão perdeu. A nossa luta incomoda discordo da luta que as pessoas
nhum alívio naquilo que os um diploma que mantém a dife- a que deveriam estar», denuncia. porque obriga João Costa a sen- fazem. Eu acho que todas as
professores têm vindo a desen- rença entre os professores que Por isso, «a luta dos professo- tar-se à mesa com os sindicatos, classes têm legitimamente de
cadear ao longo deste ano». Já não recuperaram o tempo de res vai continuar com a mesma e embora ainda não tenhamos procurar boas condições. Isso
para a dirigente do Sindicato De serviço (6 anos, 6 meses e 23 intensidade na medida em que alcançado os nossos objetivos, é é um ponto assente. Neste sen-
Todos Os Professores (S.TO.P), dias) e a generalidade da admi- aquilo que os move é a resolução sabido que quem não luta pelo tido, os professores, qualquer
Carla Piedade, o sindicato «não nistração pública que recupe- deste e de outros problemas». que quer, aceita o que vier», con- impacto que eles queiram ter,
pode aceitar as migalhas po- rou os pontos, porque o tempo «Não vamos desistir de lutar por tinua, acrescentando que «o vai sempre manifestar-se nos
dres que João Costa lhes quer de serviço aí, na maior parte uma resolução. Aliás, como dize- S.TO.P, em nome dos profissio- alunos», afirma. «O que é que
dar». No que toca aos pais, apesar das categorias, é convertido em mos no comunicado, o senhor nais de educação, dos alunos e acontece? No caso da Beatriz,
de muitos compreenderam a luta, pontos e eles foram todos recu- Presidente da República disse do futuro de Portugal não pode ela é de uma geração que apa-
o cenário é de «inquietação» pela perados», explica o responsável. que existe uma porta entreaber- aceitar as migalhas podres que nhou o 1.º ano de covid em
instabilidade que todas as greves Seja como for, lamenta, este foi ta para a recuperação do tempo João Costa nos quer dar». casa, o segundo ano de meio co-
acabam por ter no ensino dos seus publicado e, como tal, agora tem de de serviço de forma faseada, nós Sobre um eventual arranque de vid em casa… Até no 3.º ano
discentes. «Se uma escola não se aplicar. «O que vai acontecer no dia 1 de setembro – primeiro ano letivo marcado por greves, houve um momento que ainda
os prepara para a vida não está em relação ao tempo de serviço, dia do ano escolar –, iremos apro- João Costa sublinhou que «os alu- não foi contínuo. Este ano, a 4.º
a cumprir a sua função», aler- em relação à luta que os profes- veitar essa ‘entreaberta’ para nos não podem ser mais prejudi- classe, seria o primeiro ano
ta uma mãe ao Nascer do SOL. sores têm vindo a desenvolver, apresentar ao Ministério da Edu- cados», lembrando que o passado limpo», lamenta, referindo-se às
cação uma proposta concreta de ano letivo foi «um ano em que as consequências que tiveram as
As greves continuarão recuperação deste tempo perdi- negociações não pararam». «Há greves dos professores deste ano.
«Este é um diploma que não re- do», garante Mário Nogueira. muitos professores que vão ver «Todas as interrupções criam
solve absolutamente nenhum Numa nota enviada ao Nascer do neste diploma, assim que for pu- instabilidade», garante. «Há
problema dos que estão asso-
ciados à perda de tempo de ser-
‘ O S.TO.P não pode SOL, o S.TO.P. afirma que «a luta
vai continuar já em setembro
blicado, a sua carreira acelera-
da no imediato», frisou, voltando
uma continuidade nas rotinas
das crianças, há uma continui-
viço dos professores», garante aceitar as migalhas por todas as formas legítimas, a sublinhar a importância de ter dade do aprender. No caso da
Mário Nogueira ao Nascer do podres que apresentadas e aprovadas pela «um ano em que se ponha os alu- minha filha, teve sorte, porque
SOL. Segundo o dirigente da João Costa nos classe, como a greve», garante a nos em primeiro lugar». teve um professor espetacular
Fenprof, «esta intenção/obsti-
nação do Governo de não con-
quer dar’, afirma dirigente Carla Piedade. «O minis-
tro da Educação tentou boicotar A instabilidade das crianças
que manteve sempre um fio
condutor e eles conseguiram
tar o tempo de serviço dos pro- Carla Piedade, a greve por tempo indetermina- A filha de Maria João Pataca pas- sempre adquirir os conheci-
fessores que esteve congelado», dirigente sindical do, iniciada a 9 de dezembro, im- sa este ano para o 5º ano. Mas ape- mentos necessários», conta.
NASCERDOSOL.PT 27

Opinião

Qual a distância que vai do coração


à consciência?

J
á não têm quem fale por eles, no site da IL, quanto aos idosos, es-
quem reclame por eles, quem tamos conversados.
se zangue por eles. Já não são Há Unidades de Cuidados Con-
os «portugueses com ambição» tinuados a fechar (4 em 2023, repre-
por quem Rui Rocha diz que vai lu- sentando menos 122 camas) por-
tar, ou os tais portugueses que Luís que os enfermeiros estão a emi-
Montenegro diz serem vítimas «do grar e o Estado paga e subsidia
esbulho fiscal» do Governo PS. mal. As UCC não foram considera-
Percebe-se que a Iniciativa Libe- das nos apoios às empresas pelo
ral regresse com pouco interesse LUÍS CASTRO aumento da energia – mas a fatura
pelos mais velhos, já que o seu elei- JORNALISTA do gás e da luz aumentou cinco ve-
torado são os mais novos. Mas, já é zes – e na pandemia não recebe-
difícil perceber porque o PSD es- ram qualquer reforço orçamental.
queceu aquela que foi a sua gran- ponsável por 50% e 28% aguar-
de base de apoio – mais ainda
quando nas últimas eleições teve
entre os mais velhos uma derrota
dam vaga na Estrutura Residen-
cial para Pessoas Idosas (ERPI). H á doentes a serem desviados
das unidades de Longa Dura-
ção para as de Média Duração, ocu-
estrondosa para o PS (51% vs 28%).
Metade dos quase 2,4 milhões de
votos dos socialistas vieram de
N a ‘Agenda Mobilizadora 2030-
-2040’ (a tal que as Televisões
ignoraram) o PSD explica que, no
pando vagas – assim o Estado não
tem de pagar o tratamento; há Uni-
dades a serem transformadas em
eleitores com mais de 54 anos. final do ano passado, a RNCCI dis- verdadeiros hospitais – mascaran-
PSD e IL não falaram dos mais ve- punha de 9.552 camas para inter- do as carências do SNS; há Unida-
lhos nas rentrées políticas. No Pontal namento, tendo crescido ao ritmo des a litigar com o Estado para que
e em Armação de Pêra, sociais-de- médio anual de 386 camas – uma este pague o que lhes deve – o Go-
mocratas e liberais não recupera- diminuição de 25% relativamen- verno nem cumpre a legislação que
ram o que recentemente escreve- te às 519 abertas anualmente pe- produz. Há providências cautelares
ram e que as Televisões não quise- los governos do PSD, entre 2011 e e ações judiciais contra o Estado
«Eu acredito que no próximo per pequeninas», continua. ram debater. O tema não dava gritos 2015. Por sua vez, entre 2019 e 2022, português por incumprimentos e
ano, com uma nova integração «Falta dinâmica de pares, ou polémica, não gerava emoções ou o número médio de utentes a por milhões em dívidas desde 2015.
no 5.ºano, este pára-arranca ritmo de trabalho. Se não hou- expulsões, não tinha VAR ou cla- aguardar vaga para entrar na
com que os professores dizem
que vão continuar, toda a ins-
tabilidade, todo o percurso des-
ver uma continuidade ou uma
forma de assegurar, em casa,
essa continuidade, as coisas
ques. Tristes critérios editoriais que
preferem petardos e very-lights –
haja barulho e animação. Mas são
Rede aumentou 88%, com desta-
que para a região do Algarve, onde
o número de utentes à espera su-
E assim o Estado poupa com a
miséria de quem não se con-
segue defender, de quem já não re-
tas crianças, é mais impactan- perdem-se», acredita. «Isto do os idosos que mais tempo passam à biu 207% no período referido. clama nem tem quem o faça por
te», alerta. De acordo com Maria Covid já deu uma cacetada nas frente da Televisão. Mas as Televisões também igno- eles. Miguel Torga já falava da fal-
João Pataca, o 5.º ano é muito di- coisas, estas greves é mais uma Portugal é o segundo país mais raram a ‘Sua Saúde’ da IL. Lá, pelo ta do «estremecimentos de cons-
ferente de tudo o que as crianças coisa», frisa. No entanto, reforça, envelhecido da UE (logo atrás da Itá- meio, lê-se que o Estado deve coor- ciência» dos portugueses; que
já viveram. «Imaginem isto com nada disto significa que os pro- lia). Dos 2,5 milhões de idosos (3 mil denar as Redes de Cuidados Conti- aqueles que apagam as estrelas
instabilidade, professores to- fessores não devam lutar pelos são centenários), quase 1 milhão di- nuados e a de Cuidados Paliativos acham que é com candeias que se
dos diferentes, cada um com a seus direitos. «Eu compreendo zem-se sós ou isolados e 400 mil es- «contratualizando diretamente alumia a vida; que se alguns so-
sua forma de ensinar, com o que quanto mais impacto têm tão em risco de pobreza. Um terço com os diferentes prestadores e, fressem as consequências das
seu ritmo… Estas crianças já na vida dos pais, mais valias dos idosos confessa que o seu esta- se necessário, garantindo a sua suas decisões, endoideceriam.
chegam a este novo ano com la- têm eles nos seus objetivos, do de saúde é mau ou muito mau, gestão via Subsistemas ou via Que não tapemos os olhos em
cunas nas aprendizagens por mas deste lado eu tenho a mi- 475 mil têm dificuldades em andar parceria público-privada». Se a vida, porque bem basta quando a
conta do ano inteiro que tive- nha filha que não tem respon- e subir escadas e 245 mil já quase Alternativa é Liberal, como se lê terra os cobrir.
ram em casa», explica, acrescen- sabilidade nisto», remata. não se conseguem vestir sozinhos.
tando que isso a preocupa muito Segundo indica a nota publica-
enquanto mãe.
«Nem é só nos resultados e
no aproveitamento, é também
da na segunda-feira no site da
Presidência, o diploma promul-
gado prevê um «regime especial
O s médicos que tratam os mais
velhos nos hospitais dizem
que a frase que mais escrevem é
na forma como estes veem a es- de regularização das assime- ‘Alta Clínica a aguardar resolução
cola, como se motivam, como trias na progressão na carrei- social’. É por isso que 1.675 idosos
convivem. Porque há aprendi- ra dos educadores de infância estão lá, esquecidos ou à espera,
zagens que se fazem fora da e dos professores dos ensinos alguns há mais de um ano – são
sala de aula, uns com os ou- básico e secundário dos esta- mais 627 do que no ano passado
tros. Se uma escola não os pre- belecimentos públicos», passo sem terem para onde ir. Também
para para a vida não está a que foi dado «atendendo à aber- são mais os dias que lá ficam e os
cumprir a sua função», denun- tura, incluindo na presente le- culpados destes internamentos
cia. «Eles vão começar um gislatura, constante das últi- inapropriados há muito que são
novo ciclo e todos os novos ci- mas versões dos diplomas, conhecidos: a falta de resposta da
clos são cheios de mudanças, para a questão da contagem do Rede Nacional de Cuidados Conti-
ainda mais nestas crianças, su- tempo de serviço». nuados Integrados (RCCI) é res-
28 25 AGOSTO 2023

Sociedade

Calor extremo na Europa


Maria Moreira Rato
maria.rato@nascerdosol.pt
PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP

A Europa está a viver tais que devastaram partes da


Croácia, Grécia, Suíça e Ilhas Ca-
uma ‘onda de calor nárias, em Espanha.
tardia’. Balcãs, Itália, Por exemplo, na Grécia, no iní-
Grécia, Espanha e cio desta semana, altas tempera-
Portugal são alguns turas afetaram o nordeste do país,
onde bombeiros estão a lutar para
dos países que mais apagar um grande incêndio flo-
sofrem. restal. As autoridades tiveram de
evacuar três vilas que estavam
O calor extremo tem vindo a atin- ameaçadas por duas frentes de
gir a Europa e Portugal não ficou fogo. Na região de Prodromos, a
de fora. Nesta terça-feira, as loca- noroeste de Atenas, um homem
lidades de Alvega e Pinhão alcan- faleceu devido à inalação de fumo
çaram a temperatura máxima enquanto tentava salvar os seus
mais alta em Portugal continen- animais de outro incêndio.
tal, atingindo 45,6 graus Celsius. Nas Ilhas Canárias, os bombei-
Além disso, cerca de metade do ros conseguiram evitar que as
território português registou tem- chamas alcançassem o Observa-
peraturas iguais ou acima de 40°C. O perigo de incêndio vai manter-se elevado pelo menos até segunda-feira tório de Tenerife. Um incêndio flo-
Conforme relatado pelo Institu- restal já está a deflagrar nas mon-
to Português do Mar e da Atmos- calizadas em Viana do Castelo, As temperaturas máximas previs- Itália e Espanha a ativar medidas tanhas e campos da ilha há mais
fera (IPMA), aproximadamente Cabo Carvoeiro, S. Pedro Moel, tas eram, em geral, inferiores a de emergência para proteger re- de uma semana. A área queima-
40% do território português regis- Santa Cruz, Almada, Cabo da 40ºC, com exceção da faixa costei- sidentes e turistas. Como o New da já ultrapassou 12.800 hectares,
tou, até às 18 horas de quarta-fei- Roca e Cabo Raso, que tiveram ra ocidental. Os incêndios tam- York Times noticia, «as condi- cobrindo uma extensão de 90 qui-
ra, temperaturas acima de 40ºC, e máximas superiores a 30ºC. bém ainda não deram descanso ções escaldantes» foram acom- lómetros. As autoridades afir-
cerca de 6% desse território al- No que diz respeito às condi- aos portugueses, com os fogos de panhadas por fortes tempestades mam que a situação mais crítica
cançou até mesmo temperaturas ções meteorológicas de ontem, ne- Nelas (Viseu) e Ourém (Santa- nos Balcãs e no norte de Itália, aparentemente já passou, mas
acima de 42ºC. Além disso, cerca nhum distrito esteve sob alerta rém) a preocuparem particular- que provocaram inundações re- ainda não têm total controlo so-
de 70% do país teve temperaturas vermelho. No entanto, Bragança, mente as autoridades. pentinas e destruição de proprie- bre o incêndio. A polícia confir-
máximas do ar acima de 35ºC, Guarda, Castelo Branco e Faro As temperaturas elevadas le- dades. O clima quente e seco aju- mou que o incêndio foi causado
com exceção de sete estações lo- ainda estiveram sob aviso laranja. varam as autoridades da Grécia, dou a alimentar incêndios flores- intencionalmente.

JUSTIÇA SAÚDE ANIMAIS JUSTIÇA

Idoso morre Idosos


no Hospital retirados
de Loures de lar ilegal
A administração do Hospital Bea- Cerca de 40 idosos foram retirados,
triz Ângelo, em Loures, vai abrir na tarde de terça-feira, de um lar
com «caráter de urgência» um ilegal que funcionava numa mora-
Inspetores inquérito à morte de um idoso de
93 anos que alegadamente esperou
dia, na Quinta Nossa Senhora da
Conceição, em Vila Franca de Xi-
do SEF seis horas para ser transferido ra. Segundo avançou o Correio da
para outra unidade. O idoso que Manhã, de acordo com os relatos
entregam-se possuía uma fratura na anca, terá dos vizinhos, o lar funcionava há
ficado, segundo vários órgãos de quatro anos e os idosos pagavam
Dois dos três inspetores do Serviço comunicação social, quase seis ho- cerca de 1000 euros por mês. O por-
de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)
condenados pela morte de Ihor Ho-
ras numa maca de uma ambulân-
cia dos Bombeiros Voluntários de
Invasão de vespa asiática tão do lar ficava aberto e os idosos
fugiam e pediam comida. Há regis-
meniukum, o migrante ucraniano Camarate à espera de ser levado Estão a aumentar os encontros com vespas-asiáticas, que estão mais ati- to de que faltam retirar 15 utentes.
que chegou a Portugal em março de até ao Hospital em questão. Aca- vas nesta altura do ano. Segundo os dados divulgados pelo Instituto da
2020, entregaram-se na manhã de bou por morrer no corredor. Se- Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) ao jornal Público, até
segunda-feira, para cumprir o que gundo o comandante da corpora- junho de 2023, 91 mil ninhos deste inseto invasor foram identificados,
resta da pena de nove anos de pri- ção de Camarate, Luís Martins, os dos quais 88 mil foram destruídos. E o problema não dá sinais de abran-
são a que foram condenados. O ter- bombeiros tinham uma ambulân- dar, já que, só em 2022, foram reportados e eliminados mais de 17 mil
ceiro envolvido – Duarte Laja – terá cia à porta, só que o hospital impe- ninhos. O número de vespas costuma disparar no Verão e só no último
pedido para se entregar mais tarde. diu o transporte, revelou à RTP3. mês houve registo de duas mortes causadas por picadas.
NASCERDOSOL.PT 29

Em Paz

DAVID Óbitos

DR
Toto Cutugno

JACOBS
N.1936 O cantor italiano Toto Cu-
tugno, conhecido internacional-
mente pelo seu sucesso Un Italia-
no vero – que alcançou o primei-
ro lugar nas tabelas musicais de
Sara Porto Itália e da Suíça, e o número dois
sara.porto@nascerdosol.pt em França –, e pela vitória no Fes-
tival Eurovisão da Canção em
1939-2023 O homem que mudou a TV 1990, com Insieme: 1992 – uma
canção sobre a Europa –, morreu
na terça-feira, aos 80 anos, anun-

D
avid Jacobs, o escritor e produtora com quem este se casou ciou o seu empresário. Segundo
produtor que mudou a em 1963, mudou-se de Nova Iorque revelou Danilo Mancuso, «depois
cara da televisão na déca- para Los Angeles depois do seu se- de uma longa doença, o estado
da de 80 ao criar as séries de ho- gundo casamento, com o ator John do cantor piorou nos últimos
rário nobre Dallas e o seu spin- Pleshette. Querendo ficar perto da meses». Depois de Gigliola Cin-
-off Knots Landing, que manti- filha, Jacobs decidiu ir também e, quetti em 1964, Toto Cutugno tor-
veram toda uma geração colada segundo uma entrevista à crítica nou-se o segundo italiano a ven-
ao ecrã, morreu no domingo pas- de TV Hilary Kingsley, Lynn, que David Jacobs sofria de doença de Alzheimer cer o Festival Eurovisão. O cantor
sado aos 84 anos. continuou a ser a sua agente, já que compôs também para muito ou-
A notícia da sua morte, em Bur- o divórcio entre ambos foi «amigá- mar Bergman, à americana. No visivas de sempre. Em 2007, tros artistas franceses. Segundo o
bank, na Califórnia, foi avançada vel», revelou que, na mudança, Ja- entanto, quando se juntou ao pro- ‘Dallas’ foi incluída na lista das jornal Il Corriere della Será, ven-
pela Hollywood Reporter que a cob lhe disso: « Pelo menos podes dutor executivo Michael Filer- «100 melhores Séries de TV de deu mais de 100 milhões de discos
confirmou através do ? lho do au- ajudar-me a encontrar traba- man, acabou por explorar a saga sempre», pela revista Time. durante a sua carreira.
tor. Segundo o mesmo, o argu- lho? Não quero fazer carreira de uma família texana enriqueci- Além disso, de acordo com os
mentista sofria de doença de como roteirista para cinema ou da pela exploração do petróleo, à meios de comunicação interna- Ron Cephas Jones
Alzheimer, a que veio juntar-se para a televisão. Quero apenas qual deu o nome de Dallas. «Eu cionais, esta levou o tom de tele- N.1957 Ron Cephas Jones, de 66
um quadro de múltiplas infeções. algo que valha a pena enquan- queria fazer arte. Ele queria fa- novela às séries, abusando das anos, morreu no sábado vítima
to tento escrever um romance zer lixo. E juntos, fizemos tele- traições, vinganças e reviravoltas. de doença prolongada. Segundo

N ascido em 1939, em Baltimo-


re, antes de começar a escre-
ver para séries, estudou pintura.
americano». E foi assim que este
começou a escrever para televisão.
David Jacobs começou a escrever
visão. Foi uma bela parceria»,
afirmou Jacobs numa entrevista
de 2008 ao site The Interviews: An
No ? nal dos anos 1980, David
Jacobs co-criou ainda Paradise,
um western passado no final do sé-
a revista People, o ator, que eter-
nizou a personagem William Hill
em This is Us, sofria de doença
Depois disso, dedicou-se às revis- para o programa policial The Blue Oral History of Television. culo XIX, que esteve no ar tam- pulmonar obstrutiva crónica,
tas, publicou livros de não-? cção Knight antes deste ser cancelado, Com um elenco composto por bém até 1991. tendo já sido submetido a um du-
e algumas histórias ? ccionais. o que lhe deu uma oportunidade Larry Hagman, Linda Gray e Pa- Depois da segunda temporada plo transplante de pulmão há
Mas a mudança de escritor para de editar a história da série Fa- trick Duffy, criada em 1978 para a de Dallas, o autor já estava envol- três anos. «Eu sou um milagre
a tela, segundo o The Guardian, mily, que lançou o resto da sua car- CBS, a mítica Dallas, que come- vido em Knots Landing, um ambulante», disse em 2022 à En-
foi relutante, pela necessidade de reira, que catapultou pouco tempo çou como uma minissérie de cin- spin-off da série. Este esteve no ar tertainment Weekly, a propósito
ganhar dinheiro após o fim do seu depois graças a Dallas. co episódios, foi-se expandindo, entre 1979 e 1993, tendo tido ain- dos seus problemas de saúde. O
primeiro casamento. prolongando-se até 1991. Ao todo, da uma continuação em formato artista foi quatro vezes nomea-
De acordo com o jornal britâni-
co, em 1975, a sua ex-mulher Lynn D e acordo com o The Mirror, o
escritor queria fazer um Ce-
foram para o ar 14 temporadas e
357 episódios o que faz dela uma
de minissérie em 1997. Em 2012,
Jacobs ainda regressou a Dallas,
do para os prémios Emmy pela
sua personagem na série em
Oliansky, uma agente literária e nas de um Casamento, de Ing- das mais duradouras séries tele- com algum do elenco original. questão, tendo conquistado a es-
tatueta duas vezes, uma em 2018
e outra em 2020, ano em que a

Francesco Alberoni
sua filha Jasmine conquistou
também um Emmy.

Efemérides
1929-2023 O sociólogo do amor

D
efendia que «a vida huma- nalista e escritor italiano morreu go, académico e escritor, investi- Cidade de Paris libertada
na não tem só um nasci- aos 93 anos, no dia 14 de agosto. gou comunicações de massa, fe- 25.08.1944 No dia 24 de agosto
mento, só uma infância, Considerado um dos principais nómenos migratórios e participa- de 1944, cerca de dois meses
é feita de vários renascimentos, nomes das Ciências Sociais em ção política na Itália. Formou-se após a invasão aliada da Nor-
de várias infâncias». Que o amor, Itália, segundo a agência de notí- em medicina na Universidade de mandia, Paris foi libertada dos
para durar, «tem de ser também cias italiana ANSA, estava inter- Pavia, tendo-se especializado em ocupantes alemães quando a 2.ª
confiança, também estima. Isto nado numa policlínica de Milão Psicologia e Sociologia, com foco Divisão Blindada da França Li-
é, deve adquirir algumas das para combater uma complicação nos estudos sobre movimentos co- vre, comandada pelo general
propriedades da amizade». E que surgiu durante um tratamen- letivos e processos amorosos. Foi Jacques-Philippe Leclerc, en-
que, até para a pessoa mais cansa- to para problemas renais. com o livro Enamoramento e trou na cidade. Recorde-se que
da, «o amor serve como desper- Amor, de 1979, onde procura ex- to nos afeta e àqueles que nos ro- a capital francesa era controla-
tador». Era, por isso, conhecido
como «o sociólogo do amor».
Francesco Alberoni, também jor-
A lberoni nasceu a 31 de dezem-
bro de 1929, em Piacenza. Na
sua longa carreira como sociólo-
plicar os fenómenos psicológicos
que ocorrem quando nos apaixo-
namos e como esse acontecimen-
deiam, que se tornou mundial-
mente conhecido. O livro foi tra-
duzido em 25 línguas.
da pela Alemanha nazi desde a
assinatura do armistício de 22
de junho de 1940.
30 25 AGOSTO 2023

História de Verão

DO ELÉTRICO
DE SINTRA
AOS
COMBOIOS
TURÍSTICOS
DA COSTA
E ODECEIXE
Maria Moreira Rato
maria.rato@nascerdosol.pt

Do elétrico de Sintra que começou por ligar a


vila a Colares e, depois, à Praia das Maçãs, pas-
sando pelos comboios turísticos da Costa da Ca-
parica e Odeceixe, o Nascer do SOL conta-lhe a

DREAMSTIME
história dos meios de transporte que tornam os
verões mais animados e memoráveis.
A ideia de conectar Sintra a Cola- Ao longo dos anos, os elétricos por autocarros. No entanto, a tico que começou a operar em mantidos. Portanto, a primeira
res e, depois, à Praia das Maçãs enfrentaram desafios, e em 1914, vontade de trazer de volta os elé- 1960. Conectava o centro da cida- paragem (na Praia da Saúde) ain-
através de um elétrico surgiu em a Companhia Sintra-Atlântico tricos permaneceu e, em 1980, a de da Costa da Caparica à Praia da era indicada como a quarta pa-
1886. No entanto, várias tentati- substituiu a empresa anterior que circulação foi reiniciada entre da Fonte da Telha, parando em vá- ragem de acordo com as placas.
vas fracassaram ao longo dos havia falido. A expansão conti- Banzão (Colares) e a praia. Nos rias praias ao longo da costa. An- À semelhança da Costa da Ca-
anos. Apenas em novembro de nuou, e em janeiro de 1930, os elé- anos seguintes, mais trechos fo- tes da construção de estradas e es- parica – cujo comboio «parou em
1898, Nunes de Carvalho e Emídio tricos chegaram à vila das Aze- ram recuperados, e em 2004, no tacionamentos próximos às 2020 devido à pandemia, a pro-
Pinheiro Borges receberam uma nhas do Mar, alcançando um com- centenário da linha, os elétricos praias, esse pequeno comboio a blemas financeiros e a uma fal-
concessão de 99 anos da Câmara primento total de 14,600 metros. regressaram a Sintra. diesel composto por três carrua- ta de entendimento entre o em-
Municipal de Sintra para cons- No entanto, a partir dos anos «Lembro-me bem de ir à gens com bancos de madeira era presário e a Câmara de Alma-
truir e operar um caminho de fer- 40, a popularidade dos elétricos praia, com os meus avós e ir- a única maneira de ter acesso às da», como noticiou o Público –,
ro a vapor entre Sintra e a Praia começou a declinar devido ao mãos, nos anos 80, quando era praias. O comboio percorria nove também Odeceixe tem um com-
das Maçãs, que mais tarde foi con- desenvolvimento dos transportes pequena. Sair de Lisboa já era quilômetros ao longo das dunas boio turístico, que marca presen-
vertido para tração elétrica. motorizados. A partir de 1953, bom, mas andar de comboio e em trilhos especialmente coloca- ça no verão há quase vinte anos.
Como é explicado na platafor- eles só funcionavam no verão, e elétrico tinha outra magia», dos para esse fim. Contudo, teve a atividade inter-
ma ‘Visit Sintra’, a Companhia do em 1955, o trecho entre a Praia sublinha Cátia Silva, hoje com Inicialmente, o Transpraia – rompida devido à pandemia, tal
Caminho de Ferro de Cintra à das Maçãs e Azenhas do Mar foi 46 anos. «Acho que, hoje em funcionava de junho a setembro – como o primeiro, mas sabe-se que
Praia das Maçãs foi formada em fechado. Em 1958, o trecho entre dia, os miúdos já não sabem tinha um total de vinte e duas pa- a mesma foi retomada em julho
julho de 1900, que mais tarde em Vila Velha e a Estação de Sintra bem o que é andar nos meios ragens. No entanto, em 2007, o do ano passado. «Quem vê o
1904 se tornou a Companhia Cin- também foi fechado. de transporte, ver tantas pes- percurso foi encurtado em cerca comboio verde e amarelo pas-
tra ao Oceano. A construção co- Apesar disso, os elétricos conti- soas, comer um gelado aqui e de um quilómetro. Antes de ter sar, fica logo com outra dispo-
meçou em agosto de 1902, e em nuaram a ser uma atração turísti- acolá... Tenho muitas sauda- sido interrompido, o serviço co- sição! Seja com portugueses ou
março de 1903, foram encomenda- ca, operando apenas durante o ve- des da minha infância e, sem meçava perto da Praia Nova, pró- estrangeiros, é uma maravilha
dos 13 elétricos à empresa ameri- rão entre Sintra (Estação) e a Praia dúvida, a Praia das Maçãs faz ximo da rotunda no final da Ave- vê-lo circular. Pelo menos, eu
cana J. G. Brill Company. das Maçãs. Em 1967, a Sintra- parte das minhas melhores re- nida General Humberto Delgado. acho», diz Maria Costa, de 68
Em março de 1904, o primeiro -Atlântico foi adquirida por um cordações!». Tal fica a uma distância de apro- anos, natural daquela freguesia
trecho da linha foi inaugurado en- grupo de camionagem, o que levou Mas há vilas e freguesias que ximadamente dez a quinze minu- do município de Aljezur. «Espe-
tre Sintra (Vila Velha) e São Sebas- a um declínio ainda maior dos in- vão ainda mais longe e criam tos a pé do terminal de autocar- ro continuar a vê-lo por mui-
tião de Colares, com cerca de 8,900 vestimentos e da infraestrutura. comboios turísticos de praia. Por ros e do centro da cidade. É inte- tos mais verões. Significa que
metros. Em julho do ano seguinte, Os elétricos operaram pela úl- exemplo, segundo o ‘Lisbon Bea- ressante notar que, apesar da continuo cá e que a minha fre-
a linha foi estendida até à Praia das tima vez até Sintra em 1974. Em ches Guide’, o Transpraia era um mudança no percurso, os núme- guesia não pára, continua a
Maçãs, totalizando 3,785 metros. julho de 1975, foram substituídos serviço sazonal de comboio turís- ros originais das paragens foram apostar na tradição!», conclui.
32 25 AGOSTO 2023

Inquérito
q

ALEXANDRE POÇO

‘Não alinho na estética moderna


do político engomadinho e
esterilizado de todos os vícios’
Se pudesse escolher, quais seriam mente à Cidade do Cabo. Foi no Que livros pensa conseguir ler em Quais seriam os filmes da sua vida Praia, campo ou cidade?
as suas férias de sonho e com verão sul-africano e tive a oportu- férias? que levaria para férias se os pudes- Gosto de praia e do campo, mas
quem? nidade de sair da piscina e ir di- Já acabei dois, A Corja de Cami- se rever? nada se compara à energia da ci-
Tenho vários planos de férias de reto para o jantar de Natal. lo Castelo Branco e Como Per- Este verão tenho-me lembrado dade. Gosto muito de viver e de
sonho, atualmente gostava muito der uma Eleição de Luís Paixão bastante de dois que adoro e que ser eleito deputado pelo distrito
de fazer uma longa viagem pelos Qual foi a pior experiência? Martins. Agora estou numa em- vejo as vezes que forem precisas: de Lisboa, precisamente porque
EUA. Ainda não surgiu a oportu- Ficar doente a meio da tal descida preitada longa, que espero termi- Os Condenados de Shawshank temos tudo isso: as praias da li-
nidade, mas ando a pensar no à pé da costa alentejana com um nar antes do regresso ao Parla- e 12 Angry Men. nha, de Mafra e de Sintra; o cam-
tema. Com quem, ou a dois ou calor abrasador. mento, a ler a História de Israel po e o mundo rural no interior do
com o meu grupo de amigos mais do grande historiador inglês, Toma comprimidos para dormir? distrito e ainda a grande metró-
chegados. Em férias desliga-se da atualidade Martin Gilbert. Nunca tomei e, felizmente, não pre- pole do país.
nacional e internacional? ciso de comprimidos para dormir.
Chega-lhe uma semana de férias, Não, nunca me desligo, gosto de Pensa ir a museus ou a exposições Quais as suas praias e restauran-
15 dias ou não prescinde um mês ver e ler notícias. durante as férias? Qual é o seu maior medo? tes preferidos?
seguido? Já tive a oportunidade de ir, gos- Perder a minha autonomia finan- Da Comporta para baixo estão
Uma semana é pouco, duas é um Em caso negativo, ‘atualiza-se’ to sempre de um misto de praia ceira e sentir-me refém da políti- as minhas praias favoritas fora
bom intermédio, sendo que o como? Lendo Jornais? Televisão? e recreação mais cultural, embo- ca. No dia que isso acontecer vou- de Lisboa. Não consigo nomear
ideal para conseguir descansar Rádio? Sites? Redes sociais? ra com maior predominância de -me embora. só uma, gosto de várias: Aber-
mais são 3 semanas. Mas atual- Com todos este meios, hoje mui- praia. ta Nova, Amado, Malhão, Mon-
mente na vida política, a qualquer to através das aplicações dos jor- Se tivesse mesmo que escolher te Clérigo, Vale dos Homens,
momento podemos ter de as inter- nais no telefone. preferia amor sem sexo ou sexo Odeceixe, os dois Carvalhal,
romper. sem amor? Amália, mas conseguia dizer
Se é fã da Netflix e da HBO como re- Há coisas que não se dizem numa mais. Restaurante recomendo
Qual foi a maior loucura que come- sistirá às suas séries preferidas? página de jornal, mas no geral, o Porto das Barcas em Vila

B.I.
teu numas férias? Dá sempre para aceder às aplica- acredito que o amor vence sem- Nova de Milfontes. Mais perto
Talvez as duas maiores foram des- ções no telefone, mas também pre no final. de casa, gosto muito do Guin-
cer a costa alentejana a pé e ir no sabe bem deixar algumas séries cho, e claro as praias de Oeiras
meu pequeno e pouco veloz KIA para o pós-férias. O mundo não O que acha de amores de verão? Já que marcaram e marcam toda
Picanto, o meu primeiro carro, acaba em agosto. viveu a experiência? a minha vida, como a praia do
até ao sul de França. Nome Espero que toda a gente tenha a Saisa ou a Torre.
Vai conseguir desligar-se das redes Local e data de nascimento: possibilidade de viver pelo menos
Qual o seu maior vício em férias? sociais? Pensa mandar fotos por Oeiras, 4 de julho de 1992 um na vida. Ou de começar uma Quais os petiscos imprescindíveis
Ficar na praia até quase à hora de WhatsApp aos amigos? Habilitações: paixão no verão. no verão? Cerveja, vinho ou cham-
jantar e a seguir ter uma boa jan- Não me desligo totalmente, mas Mestrado em Gestão panhe?
tarada com um grupo de amigos. tenho conseguido baixar bastan- Profissão: O verão puxa mais ao sexo? No verão gosto muito de comer
te a média horária de uso do tele- Deputado do PSD As estações do ano são importan- bom peixe assado. Este ano, opto
Lembra-se das melhores férias que fone. E sim, envio fotografias pelo à Assembleia da República tes, mas não são o alfa e ómega também por umas boas lapas da
teve? Algum pormenor o marcou? WhatsApp, nomeadamente de sí- e presidente da Juventude que determinam tudo nas nossas Madeira para dar boa sorte ao Mi-
Ir à África do Sul, mais concreta- tios bonitos e de boas comidas. Social Democrata vidas. guel Albuquerque. Não gosto de
NASCERDOSOL.PT 33

cerveja, pelo que escolho o vinho. reito à nossa opinião. Tem o meu
A direita do champanhe é mais ali respeito, como todos aqueles que
para o lado da IL. serviram a pátria nas Forças Ar-
madas.
As férias são a melhor oportuni-
dade para cometer excessos al- Se encontrasse André Ventura na
coólicos ou prefere ficar sempre praia o que faria?
sóbrio? Cumprimentaria, tal como à Ma-
Beber moderadamente, com ca- riana Mortágua ou ao Rui Tava-
beça e sem pegar no carro de- res. Gosto de ser educado.
pois. Não alinho na estética mo-
derna do político engomadinho Se se cruzasse com Georgina Ro-
e esterilizado de todos os vícios – driguez, companheira de Cristia-
esses são os primeiros de quem no Ronaldo, ou com George Cloo-
o eleitor deveria duvidar. ney aceitava pôr-lhes creme pro-
tetor nas costas?
Com quem não se quer cruzar de Sim, a ambos, sem qualquer tipo
todo? de problema. A proteção solar é
Não me gostaria de cruzar com muito importante.
uma equipa médica de um qual-
quer hospital público. Por dois Se se apaixonasse por um/a muçul-
motivos: antes de mais, porque mano aceitaria converter-se ao is-
seria sinal que não teriam cor- lamismo?
rido bem as férias; depois por- Não me convertia e nunca que lhe
que os coitados já têm tanto pediria para se converter ao cato-
para fazer com tão poucos licismo.
meios.
Que jogos leva para as férias para
Prefere ter os amigos por perto nas jogar com a família ou amigos?
férias ou bem longe? Tenho dois jogos preferidos:
Bem perto e o máximo de tempo Risco e Catan. Já gostava an-
possível. tes de entrar na política e
penso que a política devia ser
Seria um pesadelo ou uma agradá- muito mais do que um jogo de
vel surpresa cruzar-se nas férias tabuleiro.
com o major-general Agostinho
Costa? Quando foi a última vez que esteve
Seria-me indiferente. Vivemos numa igreja para rezar?
em democracia e todos temos di- Este verão.
34 25 AGOSTO 2023

Opinião
Mudar Portugal - Pensamento e liberdade
O
problema principal do nos- discursos de ódio, onde só uma vi- ‘neoliberal’, ‘de extrema-esquerda’, democracia e da política, dos valo-
so tempo é a degradação da são do mundo é lícita e aceitável. ‘de extrema-direita’, etc.. O domí- res aplicados aos planos económi-
Democracia e da Política. É Importa trazer o pensamento nio da política só é eficaz quando co, social, jurídico, etc., são funda-
comum falarmos e debatermos crítico e a coerência intelectual não se esgota numa reflexão abstra- mentais para que se possam anali-
conceitos que parecem já nada si- para o debate e recuperar o melhor ta e teórica mas implica necessa- sar questões como as temáticas da
gnificar ou, quando muito, surgi- da tradição política ocidental. Essa riamente uma efetivação na pró- atualidade – fundamentação e per-
rem com significados tão distintos tradição é bem antiga, como é o pria sociedade. tinência das questões ditas do ‘gé-
que tornam impossível o mínimo caso da separação de poderes, dos Esse debate político não pode ser nero’, políticas de imigração, rela-
entendimento e debate fecundo. A direitos e proteção contra o gover- apenas sobre economia e finanças. ção com a União Europeia, sobera-
democracia e a política necessitam ABEL MATOS SANTOS no arbitrário, da criação do Esta- Os seus fundamentos estão a mon- nia, divida pública, corrupção,
de clarificação e uma maior exi- PSICÓLOGO CLÍNICO do de Direito, do governo limitado, tante: a organização e o funciona- extremismos, não só de direita
gência em relação aos aspetos, não E EX-DIRIGENTE PARTIDÁRIO da separação entre as esferas da mento das democracias, os valores como de esquerda, populismos ne-
só teóricos mas práticos, implíci- Igreja e do Estado, da dignidade in- da sociedade democrática e a tão gativos de esquerda e de direita, etc.
tos no pensamento político. violável da pessoa humana e da relevante dimensão histórica, cul- Convocar a reflexão e o debate
Falta pensamento e até liberdade em posições extremadas e inconci- proteção dos direitos dos indiví- tural e axiológica. sobre estas temáticas é um dos
para pensar. Veja-se o caso presente liáveis, em que um dos lados reduz duos, que passa pelo cumprimen- Temas como a cultura, os valo- principais objetivos. Fazê-lo de um
da comunicação social, que apenas o outro a um inimigo, estamos pe- to dos deveres de todos –pilares res, os direitos e deveres e a cidada- modo fundamentado e amplo ofe-
parece permitir uma visão única do rante uma sociedade fracassada. fundamentais que amadureceram nia (levada até áreas como o am- rece alternativas a uma degrada-
que pode ser pensado e debatido. Me- Só uma política alicerçada em pro- com a democracia efetiva, mas que biente e a ecologia) foram deixados, ção da política que soçobra em ver-
ras táticas e visões utilitaristas subs- jetos que unam a sociedade com estão cada vez mais em causa. não poucas vezes, ao abandono. tentes totalitárias, fundamentalis-
tituíram a racionalidade e a neces- base em valores comuns e configu- O debate real de ideias e convic- Muito boa gente, os melhores, reti- tas e radicais ao colocar qualquer
sária construção de ideias e propos- rem um sentido abrangente, eco- ções deve estar aberto e confrontar raram-se para o mundo dos negó- debate no plano do maniqueísmo,
tas comuns, que são a base de nómico, social e político, podem as diferenças entre os diversos qua- cios e da gestão, ocuparam-se dos dos bons e dos maus, e nos proces-
sociedades e políticas verdadeira- vencer a sectarização, as hostilida- drantes ideológicos, aquilo que pro- mercados, para uma determinada sos de diabolização do outro, do
mente livres e democráticas. des, os interesses predominantes põem, os seus fundamentos e as res- visão neoliberal do mundo. A socie- que é crítico e pensa diferente.
Existem graves problemas a exi- de grupos e a manipulação perma- petivas implicações para a liberda- dade ficou reduzida a um discurso Toda a crítica, debate e reflexão
gir respostas na política, na cultu- nente, gerando novamente con- de individual e o bem comum. É predominantemente económico e partem de uma base de valores so-
ra ocidental e nos seus valores. As fiança nos cidadãos. fundamental regressar aos concei- financeiro que, sendo fundamen- bre os quais é elaborada. Debater e
sociedades contemporâneas oci- tos e clarificar o que significa, de tal, não é único nem sequer o prin- refletir não significa partilhar qual-
dentais dizem-se democráticas,
mas há lacunas importantes na-
quilo que se entende pelo conceito
H á uma crise de legitimidade e
de representação dos políti-
cos, como há do próprio debate ge-
facto, ser: ‘liberal’, ‘conservador’,
‘socialista,‘ ‘democrático’, ‘de es-
querda’, ‘de direita’, ‘libertário’,
cipal, deixando-se, assim, espaço
para que certas visões radicais e ex-
tremistas pudessem vir a assumir
quer relativismo, nem culturalis-
mo ou construtivismo. Nem tudo
vale o mesmo, nem tudo é relativo,
e nem sempre os seus principais nuinamente político. Por exem- como suas as áreas que foram dei- nem tudo depende da linguagem,
valores são devidamente preserva- plo, o que é hoje ser de direita ou xadas ao abandono. São agora as do contexto ou da perspetiva. Te-
dos e evidenciados; por exemplo, de esquerda? O que distingue o únicas que têm um discurso sobre mos uma história e uma cultura. O
no que diz respeito à liberdade de centro da direita? Porque é a di- essas áreas, ditando, por isso, as re- conceito de pessoa é fundamental.
expressão, ao primado da lei, à efe- reita diabolizada? Há uma crise de gras do jogo. Há dimensões que importa preser-
tiva participação dos cidadãos nas O fracasso da política revela-se Estas evidências tornam impres- var, e claro, adaptar ao nosso tempo,
legitimidade e de
decisões que a todos implicam e ao na ausência do debate de ideias e cindível a existência de espaços de corrigindo e melhorando o que é
exercício efetivo e permanente da da clarificação ideológica que,
representação dos reflexão e debate. necessário. Nem tudo no passado
cidadania. Há um afastamento além de serem praticamente nulos
políticos, como há foi bom, como também nem tudo
do próprio debate
cada vez maior das pessoas em re-
lação às decisões fundamentais
que afetam a sua vida (as decisões
no presente, surgem sempre envie-
sados, substituídos por táticas, es-
tratégias e interesses como meios
genuinamente político.
O que é hoje ser
A política, e a nossa democra-
cia em concreto, devem sub-
meter-se a um crivo crítico per-
no futuro será melhor, depende de
nós, cidadãos e sociedade no geral.
Devemos conservar o que vale a
da ‘Pólis, o’ exercício da ‘Política’). e fins, no triunfo de visões mani- de direita ou de manente, que não seja o registo pena, o que a experiência comum
Importa não só recuperar, como queístas, diabolizadoras e até em esquerda? reativo e panfletário das redes so- mostrou ser preferível, fundamen-
exigir o regresso do sentido mais ciais ou mesmo dos media, ou a tado e razoável, considerando sem-
nobre da política e contribuir para compreensível estratégia ideoló- pre o que deve ser melhorado e
uma maior qualidade da democra- gica de cada partido político. adaptado ao seu tempo.
cia. Mais política não significa As plataformas cívicas pode dia- Se a mudança faz parte da exis-
mais do mesmo (quer em termos logar com os partidos políticos e tência humana, ela em si não é um
de política quer de políticos), mas apresentar reflexões sobre deter- valor, alguns dos piores episódios
a recuperação do sentido mais pro- minados temas. Essa independên- da história devem-se a inovações
fundo e genuíno do conceito, o cia partidária não significa qual- políticas, sociais, filosóficas e ideo-
bom governo da Cidade, ‘Pólis’, da quer acriticismo, mas permite lógicas, basta pensar no século XX,
sociedade, com a participação in- uma liberdade de pensamento so- nas suas guerras, conflitos e expe-
formada e ativa de todos. Quando bre as mais diversas temáticas sem riências políticas e sociais como a
o cidadão se afasta da política e se qualquer compreensível obediên- Revolução Comunista e o Nazismo.
abstém, significa que a democra- cia partidária e/ou doutrinária. Não só os nossos valores e práti-
cia está a falhar, que o regime de Uma plataforma não é neutra cas culturais devem ser defendi-
governo participativo não está a nem imparcial, pode e deve ser crí- das, como há valores que não são
funcionar, que os cidadãos não tica, analítica, reflexiva e proble- negociáveis. Há inclusive, valores
BRUNO GONÇALVES

confiam nos seus representantes matizadora do seu objeto de estu- que não têm preço e não são mutá-
e, portanto, o sistema político en- do; e implicar propostas e ideias veis, porque são conquistas funda-
tra em colapso. para ‘mais política’ e ‘mais demo- mentais, resultado da nossa expe-
Se uma sociedade se acantona cracia’. Deste modo, a qualidade da riência e saber (continua).
NASCERDOSOL.PT 35

Todos, todos, todos! Parem de vender


os vossos filhos online!
A
través da televisão, segui como um irmão mais velho com a

D
atentamente os momentos sua experiência e sabedoria, enco- esde que iniciei esta de-
mais marcantes da presen- rajou-os: não tenhais medo. E lem- manda, uma das mais
ça em Portugal de Sua Santidade, brando a necessidade do amor, fri- difíceis a nível emocio-
o Papa Francisco, por ocasião das sou: «Quem ama não desiste». nal da minha vida, que fico
Jornada Mundial da Juventude – Cada um interpretará a mensa- chocada com a perversidade
acontecimento que, acrescente- gem de Francisco de acordo com existente no mundo digital. Se
-se, foi um êxito sem precedentes. as suas convicções, mas, se quiser- por um lado existem que se sai-
Como católico, foi para mim uma mos transportá-la para fora do ba 500 mil predadores sexuais
honra muito grande receber o San- LUÍS PAULINO PEREIRA contexto religioso, ela continua a ativos, sendo que por esta esti-
to Padre no meu país. Como portu- MÉDICO fazer todo o sentido – pois vivemos mativa, então devem ser mui- FRANCISCA DE MAGALHÃES
guês, sinto um orgulho enorme em num mundo onde as desigualda- to mais, por outro temos proge- BARROS
ver Portugal chegar aos quatro can- des são cada vez maiores e tam- nitores a ganhar dinheiro com PINTORA
tos do mundo e deixar de estar só novo/ A força da tua voz /É a bém aí encontramos razões para a venda da imagem dos seus fi-
para ficar orgulhosamente acom- esperança do teu povo!’. dizer «Todos, todos, todos!». lhos de 3, 4 e 5 anos, indo por aí
panhado por todas as nações do pla- Ao ouvir agora as suas pala- Vejamos: nem todos têm condi- fora, não fazendo qualquer ras- cra com a imagem dos próprios
neta. Uma vez mais se confirmou vras, bem como a mensagem que ções para viver condignamente, a treio de quem os segue, pois filhos, sabendo dos seus riscos.
que este país é exímio em receber nos deixou, continuo a conside- paz não chega a todos, a discrimi- quantos mais seguidores me-
bem quem nos visita e nunca abdi-
cou dessa tradição histórica, o que
é da maior justiça realçar.
rar aquele refrão muito atual.
Francisco, para além da posição
em que se encontra, é uma pessoa
nação entre as pessoas continua, o
direito à saúde é só para alguns –
basta olhar para o que se passa en-
lhor, lucrando assim, com aqui-
lo a que chamo de exploração
infantil, na sua vertente mais
É completamente inadmissí-
vel, que ao saber que estas
imagens vão parar a sites de por-
diferente, um homem bom, um ir- tre nós com a falta de reposta do macabra e perigosa. nografia, que são manipuladas e

O futuro nos dirá qual o efeito


da sua mensagem a longo
prazo no coração dos homens
mão, um amigo especial em quem
muita gente, como eu, se revê.
SNS –, a maioria dos idosos passa
por dificuldades e as novas tecno-
logias deixam para trás quem não É sabido que ao publicarem
assim as fotografias dos
trocadas entre predadores se-
xuais, os responsáveis por estas
crianças não sejam punidos cri-
após esta jornada. Uma coisa,
para já, é certa: pelo que se tem A plaudi com emoção os seus
discursos, mas gostei ainda
as consegue acompanhar. seus filhos, sendo muitas destas
fotografias hiper-sexualizadas,
minalmente por explorarem e po-
rém em risco a vida dos próprios
ouvido nas muitas entrevistas
aos peregrinos e pessoas em ge-
mais daquilo que ele improvisou
e, em minha opinião, foi aí que pe- Q uanto aos pontos altos deste
Encontro, registo aquele mar
roubando por completo a idade
das crianças, transformando-as
filhos em proveito próprio, fe-

ral, algo vai mudar; e a presença netrou no nosso coração. de gente no Parque Tejo, facto em mini-adultos ou adultas o Há progenitores
do Sumo Pontífice contribuiu Abriu as portas da Igreja a todos inédito no nosso país; o Papa em que para quem vê e para quem a ganhar dinheiro
para que nos sintamos rejuvenes- os que quiserem lá entrar, dizendo Fátima, com crianças deficientes as quer proteger, se torna com- com a venda
cidos e possamos partir para o fu- bem alto e claramente que todos que o abraçavam; e a Via Sacra pletamente assustador. É com-
da imagem dos seus
turo com mais entusiasmo, força são bem-vindos e ninguém deve ser no Parque Eduardo VII, um espe- pletamente surreal no negócio
anímica e amor ao próximo. excluído. Insistiu na palavra ‘todos’ táculo fantástico que a nossa me- em que isto se transformou e a
filhos de 3, 4 e 5
Sou suspeito ao falar do Papa por diversas vezes, para que não fi- mória nunca esquecerá. quantidade de gente que faz dis-
anos, não fazendo
Francisco. Já escrevi um artigo cassem dúvidas de que o convite é Ninguém pode ignorar o traba- to modo de vida, acho que os qualquer rastreio
sobre ele, aquando da sua primei- mesmo universal. Aos jovens, tal lho invisível dos voluntários e das seus filhos são uma autêntica de quem os segue,
ra visita a Portugal, e fiz a letra famílias de acolhimento, sem os montra ou catálogo, o que acaba pois quantos mais
para um hino em sua honra, com quais nada disto teria sido possí- por acontecer, pois não existe seguidores melhor...
música do padre António Carta- vel. Aqui fica o meu apreço e elo- qualquer supervisão. Devido
geno, gravado em CD em 2017, gio. O grupo coral, sob a batuta da ao facto de se ter criado a pala-
pois trata-se da personalidade categorizada Joana Carneiro, dis- vra ‘influenciador’, chegou-se
que mais admiro a nível mundial.
Como católico, pensa comentários, pois foi mais ao ridículo de pensar que estas
O que penso acerca dele pode re- foi para mim uma do que evidente a excelência da crianças, vítimas da alienação e chando os olhos a todos os avisos,
sumir-se ao refrão do hino com o honra muito grande sua atuação. Carminho, com a sua delírios dos seus pais, também porque dá jeito, no final do mês,
seu nome: ‘Francisco tu és para receber o Santo Padre voz inconfundível, cantou e encan- o sejam, dizendo explicitamen- receber às custas de um ser inde-
nós/ Aurora de um tempo no meu país tou peregrinos e todos os que tive- te nestas páginas que é o que feso, uma renda, fama e proveito
ram o privilégio de a poderem ou- são: influenciadores de conteú- próprio. Acho que basta desta au-
vir. A cobertura televisiva da RTP dos digitais. têntica barbaridade que é feita
esteve no seu melhor nível. Apre- com todas estas crianças que não
ciei os comentários oportunos e es-
clarecedores do padre José Carlos
Nunes e da minha colega, irmã
M ilhares e milhares de ima-
gens e milhares e milhares
de perfis, seguidos por perfis de
pediram para estar ali, expostas,
nuas, sem qualquer responsabi-
lização pelos seus direitos. Eu
Ângela Coelho. Fiquei sensibiliza- homens não identificados, sem penso que sim, deviam ser res-
do com a grande humanidade dos qualquer post publicado a ve- ponsabilizados criminalmente
elementos da segurança do Papa, rem estas imagens para sua todos os que exploram os seus fi-
em especial para com as crianças pura gratificação e sem qual- lhos de forma obscena na inter-
e doentes, o que nem sempre se ve- quer controlo, perfis de mulhe- net. E penso que já vamos tarde.
PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

rifica naquelas forças. res ligadas a negócios sexuais e


Vamos acolher a mensagem do
Papa Francisco que nos visitou
como peregrino da esperança. O
tudo e mais alguma coisa. E nes-
te choque térmico, de alguém
que começou a trabalhar numa
E enquanto isso não acontece
digo e repito as vezes que fo-
rem necessárias, parem de ven-
nosso dever é espalhar a paz, o petição europeia e a recolher as- der a imagem dos vossos filhos,
amor e a solidariedade. A quem? sinaturas no seu país, se vê a num contrato assinado com 500
A todos, todos, todos! tentar consciencializar quem lu- mil predadores sexuais online!
36 25 AGOSTO 2023

Opinião EDGAR CLARA


NO MEIO DE NÓS
Uma casa, uma árvore
O que vale a vida?
O
período de verão tende a
proporcionar tempo su-
ficiente para momentos

T
de reflexão, corrigindo aspetos enho estado de férias… relatório foi muitíssimo mais, se- pagas por mim para denunciar os
menos positivos nos nossos per- Tempo para me recolher no não mesmo o dobro, mas não há problemas que denunciei e que, se-
cursos e deixando para trás in- campo… dar um mergulho prestação de contas). Hoje, não te- gundo o meu parecer, é a base da
sistências absurdas em cami- no rio… cuidar da terra, semear a nho dúvidas: os números dados vida humana – a confiança nas ins-
nhos de insucesso demasiado plantar as hortaliças da época… pelo Relatório da Comissão Inde- tituições – não sei se vivo ou não
óbvios. Tal como acontece no in- mais tempo para pensar, ler, es- pendente não batem certo. Por um numa democracia, mas vejo que fui
terior de cada família, o mesmo ALEXANDRE FARIA crever… Nestes dias tenho pensa- lado, os dados dos padres diocesa- atacado na minha dignidade mais
deveria suceder no quadro ins- ESCRITOR, ADVOGADO E do no mundo velhaco em que vi- nos não batem certo com a lista íntima e as instituições democráti-
titucional que define as orienta- PRESIDENTE DO ESTORIL PRAIA vemos… na velhacaria, como di- apresentada ao Ministério Público cas, até agora, não me defenderam,
ções governativas do nosso país. ria a minha avó, que fazem passar e aos bispos. Por outro lado, a lista mesmo depois de ter escrito emails,
Quando uma criança de tenra os católicos por sofrimentos e an- dos religiosos não tem qualquer cartas e outras coisas demais.
idade desenha livremente, é fre- das autarquias, na rápida resolu- gústias que não seria permitido a equivalência com aquela apresen- Porque a vida humana, não tem
quente exteriorizar no papel uma ção deste problema, aumentando outro qualquer grupo social. tada aos religiosos. Foi mesmo mui- toda o mesmo valor. Uns valem
casa, rodeada ou não pelo seu nú- a oferta de imóveis para habitação Este último ano foi, para mim, to dinheiro deitado ao lixo, porque mais do que outros. No fundo, no
cleo familiar, e uma árvore. São e travando a perigosa subida dos particularmente duro, não apenas depois do estudo temos mais dúvi- fundo, as instituições democráticas
os desenhos mais comuns e re- seus custos. Mas terá de ser o Es- do ponto de vista pessoal, mas tam- das do que certezas… fazem connosco o que acusamos os
presentam a sua base de desejo tado a fazê-lo, sem receios, assu- bém da vivência da minha fé. Paro bispos de terem feito no passado:
para os anos seguintes, alicerces
de uma subsistência vindoura as-
sente nestes dois princípios tão
mindo o ensejo, por si ou em cola-
boração com cooperativas, de ga-
rantir um aumento considerável
para pensar e penso! Como me po-
siciono dentro da Igreja? O que es-
tou a dar ao mundo? Como posso
A ntes mesmo das férias, vieram
as polémicas com o Palco da
Jornada Mundial da Juventude
desde que não haja escândalo é pre-
ciso preservar a instituição.

simples, estruturantes para a sua


segurança e estabilidade, ou seja,
o lar e o Ambiente em redor.
de casas, seja por construção nova,
reabilitação urbana, uso de edifí-
cios públicos devolutos ou pelo re-
viver a minha vida cristã, longe de
todos os moralismos possíveis, no
meio de um mundo tão cheio de
(JMJ), os gastos do Governo, a eco-
nomia e a JMJ, a utilização da coi-
sa pública para eventos religiosos e
E u acredito que virá o dia da jus-
tiça – quem não se lembra do
Requiem de Mozart: Dies irae.
Ninguém questiona os enor- curso a prédios privados adquiri- preconceitos anticatólicos. muitas outras ‘polémicas’ que se Eu, como muitos, espero os novos
mes riscos que a atualidade apre- dos para arrendamento acessível. As verdades sobre as questões geraram à volta de tudo até chegar céus e uma nova terra. As coisas
senta a este quadro idílico infan- Se não existir uma regulação cla- dos abusos sexuais dentro da Igre- à ponte do Rio Trancão. Tudo e antigas estão a passar e começa a
til, atendendo à emergência da ra do setor público, não serão os ja e as mentiras que não são ditas mais umas botas, diria uma profes- aparecer uma coisa nova que já co-
crise habitacional e aos efeitos ne- privados a garantir os preços mais foi um dos problemas que se levan- sora de doutoramento, estes deba- meçamos a vislumbrar, mas ain-
fastos de uma Natureza revolto- acessíveis ou os destinatários pri- taram. Um dos membros da Co- tes fazem parte do ‘jogo’ democrá- da não a vemos claramente, por-
sa perante os sucessivos ataques vilegiados destas medidas. missão Independente disse, clara- tico, fazem parte da democracia e que a vemos como num espelho.
humanos, colocando em risco a mente, que o objetivo do seu traba- das instituições que a constituem. Porque a única coisa que vai ficar
certeza de um planeta e a confian- lho era o de despertar a sociedade Sinceramente. Depois de ter es- de tudo isto não são os valores,
O que começou mal
ça numa vida mais sustentável. portuguesa para estes problemas. crito para todas aquelas entidades mas as relações e posso dizer que
ainda vai a tempo Ao fim deste ano, penso: escrevi sinto que as nossas relações estão
de ser corrigido,
S em assumir as persistentes
consequências económicas
de uma irrealista ponderação
desde que as agendas
político-partidárias
para o secretário de Estado do Va-
ticano – sem resposta –, terei ago-
ra de denunciar à Rota Romana;
cada vez mais degradadas.
Hoje, parando um pouco dos afa-
zeres das paróquias, posso dizer
cambial desde a entrada no Eu- não perturbem escrevi para o diretor nacional da Os números dados que sinto que a minha vida vale
ro, Portugal está obrigado a rein- a eficácia necessária Polícia Judiciária e para a procu- pelo Relatório muito pouco. Não me sinto mesmo
ventar-se a toda a hora para radora-geral da República – os dois da Comissão reconhecido pelas nossas institui-
acompanhar um ritmo europeu sem resposta; para a presidente da ções civis e religiosas. Sinto, contu-
Independente
que não é o seu. Por isso, os fun- Comissão Nacional de Proteção de do, uma esperança de que virá o
dos europeus para a habitação Dados – que me levou a ter de con-
não batem certo. dia do encontro amoroso que há
Os dados dos padres
constituem a principal ferra-
menta para responder às neces-
sidades dos jovens e das famílias
O que começou mal ainda vai
a tempo de ser corrigido, des-
de que as agendas político-parti-
tratar um advogado para poder
dar seguimento a esta denúncia
porque não fizeram nada!
diocesanos não batem
certo com a lista
de superar todas estas velhacarias.
Porque a minha vida tem um va-
lor para Deus – que é Amor!
mais vulneráveis, assim como dárias não perturbem a eficácia apresentada ao MP O que é a vida? Quanto vale a
e aos bispos...
para uma classe média desespe-
rada por ter a possibilidade de
um tecto para si e para os seus.
necessária. Num país tendencial-
mente envelhecido e carenciado
de imigrantes, este período de re-
Q ueremos mesmo saber a ver-
dade ou só encher os ouvidos
com número que ninguém pode
vida? E o que é a vida humana?

Sendo um dos temas cruciais da flexão proporcionado ao Progra- comprovar, porque não há dados
sociedade, o Programa Mais Ha- ma Mais Habitação tem de ser seguros sobre os dados do Relató-
bitação do Governo originou le- aproveitado para reter os talen- rio? Eu por mim, gostaria de ter a
gítimas ambições e lançou uma tos jovens, para auxiliar uma clas- verdade nas minhas mãos, sem dei-
onda de esperança considerável. se média sufocada em taxas de xar de usar a razão, sem ter de usar
juro, impossibilitada de propor- da fé para acreditar que os dados

C omo o veto presidencial des- cionar uma habitação condigna científicos que me foram dados têm
PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP

te diploma legal atrasou o pro- aos seus filhos, corrigindo as difi- uma correspondência real e não
cesso, surgiu uma janela de opor- culdades da interioridade e asse- com base em denúncias anónimas.
tunidade para a Assembleia da Re- gurando condições favoráveis à Na altura dei uma entrevista a
pública melhorar um desígnio atração de quadros lusófonos, dizer que se este relatório não ser-
nacional para os portugueses, re- parceiros naturais da nossa rede vir para nada, quer dizer que dei-
colocando o papel do Estado, tan- histórica. Assim o Estado queira támos 200 mil euros ao lixo (parece
to da administração central como aceitar essa responsabilidade. que menti, porque o valor pago pelo
NASCERDOSOL.PT 37

MANUEL DOS SANTOS EDUARDO BAPTISTA CORREIA


FUNDO? NÃO HÁ DÚVIDAS, JÁ LÁ ESTAMOS A PONTA DO ICEBERG

Húbris? A arrogância Maledicência perigosa


e livre
do primeiro-ministro
A
falta de rigor é penosa não lhes interessa fazer uma

N
a última crónica referia-se Entretanto vamos conhecendo la, sem margem para dúvidas, a pés- em todas as circunstân- comparação desses gastos com
que: «A pobreza afeta hoje informações que só podem causar sima qualidade da governação exer- cias em que se verifica. outras realidades semelhantes
uma parte considerável perplexidade. cida em Portugal, a partir de 2015. Traz sempre consigo conse- do país, para se verificar que
da população portuguesa…..e a Os aeroportos portugueses rece- É inquestionável que se está à bei- quências negativas. No caso de estamos a tratar de temas mes-
classe média luta desesperada- beram, no primeiro semestre deste ra do fim de um ciclo, bem percetí- um exame, seja de filosofia ou quinhos e devidamente arqui-
mente para fugir a esse destino». ano, mais 28,4% de passageiros do vel no antagonismo crescente entre de matemática, é o próprio tetados para denegrir quem
A classe média é constituída pela que em igual período do ano ante- PR e Governo que é incapaz de li- obreiro dessa falta de rigor o efetivamente faz esse raro tra-
grande maioria de pessoas que pa- rior e os estrangeiros representam dar com uma maioria absoluta. principal prejudicado e o ime- balho bem feito.
gam impostos, vivem em casas, su- 70% do turismo nacional, ou seja, o Com o PRR, a popular bazuca, diatamente penalizado por
postamente próprias, lutam todos os
meses para pagar as crescentes ren-
das aos bancos, devidas pelos em-
país é refém de um único setor.
Em dois anos foi anulado (tam-
bém por razões externas) todo o alí-
mal concebido e em derrapagem (a
economista Susana Peralta previu
há meses que «a verdadeira ‘gerin-
uma avaliação negativa. É o
formato meritocrático que se
aplica na generalidade das ava-
O eiras mostra resultados de
saúde social e económica
únicos no país e referência na
préstimos contraídos e abdicam de vio de juros conseguido no pós- gonça’ é a governança do PRR, a liações escolares. Europa. A maledicência e a in-
muitas coisas para proporcionarem -troika que tão útil foi para os ‘êxi- ‘última oportunidade’» está a ser A falta de rigor é mais grave veja (última palavra dos Lu-
aos filhos uma formação escolar, na tos’ da ‘geringonça’. apenas o meio para fazer crescer o quando em qualquer outro con- síadas) não estão interessadas
esperança, progressivamente frus- O custo de emissão da dívida pú- grau de dependência das empresas texto, essa mesma falha, nor- em entender a razão pela qual
trada, que obtenham um lugar de- blica saltou para 3,5% em oposição e dos cidadãos em relação ao Esta- malmente originada em deslei- Oeiras é o melhor exemplo de
cente no chamado elevador social. aos 0,9% de 2021, o que, sem as re- do, aumentando exponencialmen- xo ou incompetência, prejudi- gestão pública municipal do
Atualmente este extrato social formas necessárias, vai colocar a te, a fidelização do voto, com enfra- ca outros para além dos país. A maledicência não está
corre o risco de caminhar progres- economia portuguesa sob uma quecimento da democracia. responsáveis do ‘trabalho’ mal interessada em reconhecer
sivamente para um estado de po- pressão insuportável. feito. O país está carregado de que se trabalha de forma dife-
breza relativa.
Segundo dados divulgados pelo
prol Rui Albuquerque, viviam em A s rendas de casa na cidade de
Lisboa são este ano (em valo-
T imothy Garton Ash, o historia-
dor britânico que se orgulha de
ser europeu (Pátrias) explica o pro-
faltas de rigor e qualidade, às
quais nos habituámos de tal
forma, ao ponto de as conside-
rente. Que o trabalho bem fei-

Portugal, em 2021, 2312 mil pessoas res absolutos) as mais altas da Eu- cesso de ascensão de Orbán ao po- rarmos normais. Verdade é A maledicência
em risco de pobreza ou exclusão so- ropa, e no resto do país seguem der, e a sua análise permite- nos que dá trabalho, muito traba- não está interessada
cial, com rendimento disponível uma trajetória semelhante, o que, perceber que uma mudança, por lho, muito estudo e muito es- em divulgar que
médio inferior a 560 euros, dos em conjunto com as baixas remu- dentro, de um regime não é uma forço, fazer bem feito. Mal feito entre os principais
quais 775 mil com rendimento infe- nerações oferecidas, explica o êxo- hipótese excluída para Portugal. qualquer um faz... visados dessa
rior a 370 euros. do da maioria dos mais qualifica- A arrogância (Húbris) revelada ul- maldade, presidente,
Informa o mesmo investigador
que, nesse ano, havia, próximo do
limiar da pobreza (rendimento mé-
dos recursos jovens.
Os salários médios perderam va-
lor em termos reais, não apenas
timamente pelo primeiro-ministro,
começa, aliás, a ser preocupante.
Sentimento negativo que se ma-
E screvo estas linhas intro-
dutórias a propósito da
notícia amplamente divulga-
vereadores
e dirigentes, há quem
trabalhe mais
dio inferior a 650 euros, cerca de pela inflação mas também pela nifesta com a recusa em proceder da dos 139 mil euros de despe-
776 mil indivíduos. pressão fiscal e pela baixa produ- a uma ampla remodelação, como a sas que a Câmara de Oeiras
de 10 horas por dia,
Estes números tem aumentado tividade (turismo incluído) que é maioria dos eleitores reclama, com pagou em refeições de traba- durante os 7 dias
todos os anos, o que demonstra que condicionada por políticas públi- a reação de ‘desprezo-estudado’ so- lho, representação, convida- da semana
parte da classe média (os que pa- cas ineficientes. bre as últimas decisões políticas do dos nacionais e estrangeiros.
gam impostos) se tem deslocado E, verdadeira cereja em cima do PR, com o anúncio da confirmação O destaque dado à notícia e o
para a zona da indignidade social. bolo, a nação ‘ganhou’, no espaço de da legislação ‘Mais Habitação’ sem destaque dado ao comunica-
Com estes ou números parecidos dois anos, 31 mil novos milionários. qualquer alteração, enfim, com a do justificativo por parte da to assenta em horas de dedica-
iremos comemorar o 50° aniversá- Este retrato ‘imperfeito’ que po- reação primária e negativista (an- câmara são tão desequilibra- ção e privação pessoal. A male-
rio do 25 de Abril o que não pode dei- dia ser complementado com muitos tes, durante e depois) à apresenta- dos que apenas esse dado nos dicência não está interessada
xar de ser considerado um falhan- mais dados de idêntico valor, reve- ção de propostas alternativas em mostra que, neste caso, a falta em divulgar que entre os prin-
ço histórico face aos propósitos ini- matéria de fiscalidade. de rigor tem por base a instru- cipais visados dessa maldade,
ciais da Revolução, em especial mentalização da maledicên- Presidente, Vereadores e diri-
quanto ao do desenvolvimento.
É óbvio que perante sintomas
tão nocivos é preciso encontrar
cia, maldosa e cobarde. gentes, há quem trabalhe mais
de 10 horas por dia, durante os

E m contraponto da fantasiosa afir-


mação ‘a culpa é do Passos’ pode-
mos, concluir, que, nos últimos 8 anos,
uma solução
A saída só pode assentar no es-
tabelecimento de um pacto de re-
O rigor da informação deve-
ria explicar que o valor
corresponde a um acumulado
7 dias da semana. Há quem
não tenha férias e quando apa-
renta estar de férias esteja
com Costa no poder, pouco ou nada gime que permita ‘construir’ uma desde 2017. Este montante, em constantemente a trabalhar.
se fez para inverter esta situação. nova Administração do Estado efi- cerca de 68 meses, correspon- Sei do que falo, por isso tenho
Acresce que a degradação afeta a ciente e moderna ao serviço do te- de a um montante diário médio a obrigação ética e meritocrá-
posição externa do país na UE que cido empresarial e dos cidadãos. de �68,1 que se for distribuído tica de o divulgar.
será, dentro de cinco anos, segun- Mas esta tarefa, provavelmente ci- por uma média de 7 vereado-
do o FMI, o mais pobre ou, na me- clópica e inatingível a curto prazo, res, mais não significa a média
E m vez de aprenderem e di-
JOHANNA GERON/AFP

lhor das hipóteses, o segundo mais só é possível com uma profunda mu- é de �9,7 por vereador, por dia. vulgarem os bons exem-
pobre desse espaço económico. dança de protagonistas e depois de Esse rigor, da matemática, pa- plos, dedicam-se a adulterar a
Portugal representa hoje, 1,6% um forte sobressalto da cidadania. rece não cativar os interessa- realidade, transformando nor-
da União Europeia ou 2,1% da A política tem de servir as pes- dos na maledicência escondida malidades desejáveis em apa-
Zona Euro. soas e não servir-se delas. na capa da cobardia. Também rentes aberrações.
38 25 AGOSTO 2023

Opinião JOÃO CERQUEIRA


BRUXEDOS
O SNS está nos Cuidados
Paliativos, mas necessita
de Cuidados Intensivos O cartaz Raúl Castro
O O A
Serviço Nacional de Saú- novo cartaz do PS ‘Gover- lém disso, o aumento das pen- dagens começaram indicar que
de é uma enorme mais va- nar a Pensar nas Pessoas’ sões antes da eleição decisiva, o PSD de Rui Rio poderia ganhar.
lia para os Portugueses, com António Costa diante por mais mísero que seja, tem ain- Os profetas da desgraça neolibe-
tem excelentes profissionais e é a de um sósia de Raúl Castro é o da o condão de fazer esquecer as ral desempenham o seguinte pa-
opção mais segura tanto em episó- símbolo perfeito do programa e trapalhadas, os escândalos e os ca- pel: assustar os pensionistas com
dios de urgência como, por exem- das intenções do Governo socia- sos de corrupção que durante os a vinda do homem do saco neoli-
plo, em problemas do foro oncoló- lista. O sósia de Raúl Castro, visi- anos anteriores indignaram os ci- beral, ou seja um governo PSD,
gico ou cardíaco. Por essa mesma velmente emocionado com a pro- dadãos de todas as idades. Um au- que lhes vai cortar fatalmente as
razão, não podemos continuar a ximidade do primeiro-ministro, mento de cinco euros numa pen- pensões. E como o medo é uma
assistir passivamente à contínua FERNANDO CAMELO representa a guinada ideológica são pode até obliterar o raciocínio das mais poderosas emoções hu-
e preocupante degradação do SNS. DE ALMEIDA para o marxismo dada pelo Go- de que se os biliões de euros des- manas, atuando nos recônditos
O Estado gasta uma fortuna a GESTOR verno nos últimos anos. A nacio- perdiçados na TAP fossem distri- primitivos do cérebro que regu-
formar médicos, referi ‘gasta’ em nalização da TAP, o ataque ao alo- buídos por esses mesmos pensio- lam o instinto de sobrevivência,
vez de ‘investe’, porque o custo jamento local, a lei das rendas e o nistas e investidos no Sistema Na- os profetas da desgraça neolibe-
com a formação dos profissionais Poderá sempre dizer-se que não pacote Mais Habitação são medi- cional de Saúde, estes passariam ral laranjinha, por muito que os
de saúde deixou de ser um inves- há viabilidade financeira para au- das contra o sistema de mercado a ter um nível de vida semelhan- líderes laranjinhas neguem tal
timento como seria desejável a mentar salários e assim atrair e dignas de um país comunista te aos reformados alemães. intenção ou tentem explicar que
partir do momento em que após a mais médicos para o SNS, mas que tanto Raúl como Fidel Castro Nos livros de Jorge Amado é os cortes da troika resultaram de
sua formação saem para o privado esse argumento não colhe. Man- aprovariam. É até provável que descrito como os caciques nordes- um desgoverno socialista, conse-
por falta de condições de trabalho dam as regras da boa gestão que no instante em que a fotografia foi tinos se perpetuavam no poder guem sempre aterrorizar os pen-
competitivas no setor público. pessoas motivadas produzem tirada, António Costa esteja a di- distribuindo feijão e cachaça pe- sionistas. E estes, ainda que não
Há uma enorme carência de mais e melhor, por outro lado, au- zer ao sósia de Raúl Castro: «A los pobres para assim ganharem muito convencidos, ou mesmo
profissionais no SNS, colocando mentando os recursos humanos história absolver-me-á». o seu voto. Em Portugal, o feijão tendo a sensação de estarem a ser
em causa o normal funcionamen- afetos ao SNS, o Estado para além e a cachaça chamam-se aumento enganados, voltam a votar em
to de várias valências em muitos
hospitais do país e dessa forma
de melhorar a qualidade dos servi-
ços prestados também iria poupar P orém, para lá das analogias cu-
banas, o cartaz mostra qual o
das pensões na altura certa.
É claro que a maioria dos pen-
quem lhe paga.

falhando nos serviços de saúde


prestados às pessoas.
Nos últimos dois anos, o núme-
na despesa com serviços extras
que têm um custo muito elevado.
verdadeiro projeto político do go-
verno socialista: vencer as eleições
com o voto dos pensionistas. Tendo
sionistas sabe que está a ser ma-
nipulada com aumentos pouco-
chinhos que não os resgatam da
P ortanto, antes que Portugal
se transforme numa Cuba
europeia e comecemos a ver car-
ro de utentes sem médico de famí-
lia aumentou cerca de 30%, as lis-
tas de espera nos hospitais para pri-
S egundo o relatório do Conse-
lho das Finanças Públicas
(CFP), o SNS gastou 170 milhões
Portugal quase 3,6 milhões de pen-
sionistas, cerca de 36% da popula-
ção, e tendendo a crescer o núme-
pobreza. É então que entram a
serviço os profetas da desgraça
neoliberal, como sucedeu nas pe-
tazes com o próprio Fidel Castro
em todo lado, na impossibilida-
de cognitiva de contrariar os pro-
meira consulta e cirurgia também de euros com prestadores de ser- ro de abstencionistas nas eleições, núltimas eleições quando as son- fetas da desgraça, resta aos diri-
aumentaram, há concelhos, como viços em 2022, mais 22,4% que no o governo de António Costa desco- gentes laranjinhas combater a
é o caso de Ovar, que tem mais de ano anterior. Estes números são briu a fórmula mágica não apenas propaganda socialista no mesmo
55.000 habitantes fixos e uma ele- preocupantes e reveladores do para as ganhar, mas até para se território e com as mesmas ar-
vada população flutuante durante problema real cuja resolução tar- perpetuar no poder à moda do PRI mas. Ou seja, convencem aqueles
a época balnear e o período do Car- da em chegar. mexicano. Basta aumentar as pen- O sósia de Raúl Castro, médicos cubanos que estão em
naval que nem um Serviço de Ur- Que raio de gestão é esta que sões uns meses antes das eleições. visivelmente Portugal a ganhar mais de 4000
gência Básico tem no hospital, resiste a aumentar salários de for- Não é preciso governar, aliás é até emocionado com euros, mas que na verdade só re-
como se não bastasse, foi colocada ma a tornar as carreiras mais altamente desaconselhável fazer cebem 20% do salário, ficando o
a proximidade
em cima da mesa a possibilidade competitivas e atraentes, incen- grandes alterações no modo de governo cubano com o resto, a ex-
de passar a integrar a ULS da Re- tivando os profissionais a traba- vida dos portugueses, é mesmo
do primeiro-ministro, plicar aos pensionistas a quem
gião de Aveiro que fica mais distan- lhar no Serviço Público, mas em proibitivo fazer a mais insignifi-
representa a guinada derem consultas que o projeto cu-
te do que a ULS de Entre o Douro e alternativa gasta 170 milhões com cante das reformas ou seja lá o que ideológica para bano de justiça social e proteção
Vouga para onde os utentes têm prestadores de serviços que não for destinado a produzir resulta- o marxismo dada dos idosos só gerou miséria –
sido reencaminhados até então, conseguem colmatar a falta de re- dos a médio e longo prazo. Os pen- pelo Governo com os seus filhos e os seus netos
este é apenas um exemplo da dis- cursos existente e não evitam o sionistas preferem o curto prazo. nos últimos anos a fugirem do país.
plicência com que os portugueses encerramento de serviços nos
estão a ser tratados no que a cuida- hospitais públicos? No fundo, não
dos de saúde diz respeito. resolvem coisa nenhuma…
Por essa razão, há cada vez É urgente atrair profissionais
mais gente a fazer seguro de saú- para o setor público e, não menos
de, só que para além de pagarem importante, reter os que ainda vão
o seguro, continuam a descontar resistindo. Agora, deixar sair os
da mesma forma para o Estado. profissionais portugueses que,
A solução não pode passar por como sabemos, têm uma formação
encerrar serviços, contribuindo muito exigente, para contratar pro-
desta forma para o definhamento fissionais de outras nacionalida-
da maior conquista que tivemos des é bem elucidativo do desnorte
após 1974, mais concretamente em que paira na gestão do SNS.
setembro de 1979. A solução tem O SNS está gravemente doente
que passar pela devida valorização e necessita de mais médicos Por-
dos profissionais de saúde no SNS. tugueses para o assistir!
DR
NASCERDOSOL.PT 39

Whatever. Just wash your hands O país não é para todos,


todos, todos
C
omo muitos portugueses, nas dois dias depois do meu con-

A
em agosto a família procu- tacto, prazo que, na circunstân- Jornada Mundial da Ju-
ra o Sul, descendo até ao Al- cia, não me prejudicou! ventude em Lisboa termi-
garve. É uma época em que, em re- nou. Tendo sido um suces-
gra, muito pouco de interesse se Qualidade (pouca) de serviço – so, demonstrou que o povo
passa, e em que são temas de con- duas notas negativas: o que fazer português esteve à altura das res-
versa os preços que se praticam, quando, depois de protestarmos ponsabilidades. Penso até que já
os restaurantes que se deve fre- por aguardar 15 minutos por dois será seguro afirmar, este foi o
quentar, a temperatura da água do cafés já pagos e nos dispormos a maior evento internacional que
mar e das noites de estio algarvio. JOSÉ MANUEL AZEVEDO sair, nos dizem que se quisermos teve lugar no Portugal democrá-
Não se fica também indiferente ECONOMISTA podemos ir bebê-los a outo lado, tico. No entanto, o real impacto do JOSÉ MARIA MATIAS
aos, infelizmente sempre repeti- pagando mais caro? E o que fazer encontro vivido, ainda está para ALUNO DO MESTRADO
dos, incêndios, às ‘novelas’ do fu- quando, depois de 3 anos de indis- ser compreendido. Há muitas di- DE CIÊNCIA POLÍTICA
tebol ou às gaffes dos políticos. mento total, estão contabilizados ponibilidade do serviço público mensões para abordar e várias E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Este ano, contudo, há matéria os custos que o enorme aumento de aluguer de bicicletas em Vila- coisas que mereceriam ser discu- NA UNIVERSIDADE
que justifica que Agosto não es- da procura pela ‘população flu- moura, nada de objetivo ter sido tidas, sendo difícil, hoje, gostava NOVA DE LISBOA
teja a ser assim tão silly nem tão tuante’ sempre provoca em acon- feito para o manter em funciona- apenas de focar-me num ponto.
desprovido de conteúdo. Alguns tecimentos destes? Quanto cus- mento? O fornecedor do sistema Para a história ficaram imortali-
exemplos: tou o reforço policial? Qual o de informação faliu – há mais de zadas as palavras do Papa Fran- terminam os estudos na Universi-
montante despendido pelas au- um ano e meio! – mas não teria cisco que fizeram eco em todo o dade, desse total, cerca de 20 mil,
Jornada Mundial da Juventu- tarquias em tarefas de limpeza e havido tempo para procurar al- mundo: «Todos, todos, todos». deixam todos os anos o país à pro-
de – destaco este evento como a saneamento? Quantas toneladas ternativas? Não foi por falta de Este foi o grito do Papa a explicar cura de melhores oportunidades.
grande notícia do mês, pelo qual de lixo foram recolhidas? Quan- contactos, telefónicos e por email, que o Cristianismo era um convi- Ou seja, o país perde anualmente
crentes e não crentes se devem tas foram recicladas? Esperemos manifestando insatisfação, que a te para todos, que a Igreja era de quase 40% dos recém-formados. O
sentir orgulhosos. Além de, no pela transparência de informa- Inframoura não agiu... Resulta- todos, que a salvação é para todos. país não é de todos, e feitas bem as
plano estrito da logística, tudo ter ção que o futuro cardeal Améri- do, imensas estações de estacio- Se isto era um apelo para todos contas, talvez seja um país para
aparentemente corrido às mil ma- co nos prometeu... namento com mais de metade dos pensarmos nos vários aspetos poucos, poucos, poucos. Portugal
ravilhas, deve ser realçado o cli- postos inoperacionais, bicicletas das nossas vidas, esta era uma não é a casa para um grande nú-
ma de enorme e contagiante ale- Agência para a Modernização que não conseguimos levantar ou oportunidade ideal para qual- mero de portugueses e isso é uma
gria que se viveu, tantos foram os Administrativa – não em agos- colocar nos postos, inúmeras cha- quer líder político olhar para o realidade muito triste.
jovens que nos visitaram ou que to, mas em julho, o Governo apre- madas dos clientes para que a Se- seu país. É seguro afirmar que O apelo à construção de uma
resolveram ficar por Lisboa, Lou- sentou o novo Programa Simplex, curitas (entidade responsável no nosso caso, os líderes políticos nação para todos os portugueses
res, Oeiras, Sintra, Fátima, para com 18 medidas que visam «mo- pela logística) lhes resolva pro- puderam escutar as palavras do é algo que deveria estar na men-
assistir às celebrações que o Papa dernizar processos e consagrar blemas de indisponibilidade, en- Papa na primeira fila. Não será te de todos os líderes políticos.
Francisco tão bem soube ‘liderar’. o digital como regra de atua- fim, exemplos do que não deve su- legítimo perguntar-lhes: será que Um país para os jovens, trabalha-
Foi sem dúvida uma grande vitó- ção para melhorar a qualida- ceder, muito menos em agosto! temos um Portugal para todos os dores e pensionistas.
ria do espírito empreendedor que, de dos serviços públicos». Não portugueses? Todos, todos, todos?
quando queremos, mesmo que
tarde e a más horas, conseguimos
demonstrar ao mundo!
sabendo quando todas as ditas
medidas verão a luz do dia, não
deixo de destacar, pela positiva,
RSA 103/2023, de 4 de agosto –
diz a Resolução do Conselho de
Ministros que o dia 31 de março
Será que temos líderes políticos
que têm essa consciência de to-
dos? Não falo de uma mentalida-
T emos sido governados maiori-
tariamente pelo PS nos últimos
27 anos. Em 2015, António Costa ao
Há questões que se devem, não uma situação que me sucedeu e passa a ser consagrado como o de coletivista, mas sim, se sentem formar a geringonça criou um pre-
obstante, colocar? Sim! Os custos que demonstra cuidado em ser- Dia Nacional da Visibilidade um apelo à unidade nacional? cedente na Democracia portugue-
para o erário público foram si- vir – a Agência teve a preocupa- Trans e que compete «ao Gover- sa. O PS, o BE e o PCP não se enten-
gnificativos (segundo percebi,
esta terá sido a primeira vez que
os municípios, e não os privados,
ção de me responder a um email
que lhe dirigi após não ter conse-
guido assinar um documento via
no e às demais entidades públi-
cas que prossigam a estratégia
de eliminação de entraves à
T enho as mais profundas dúvi-
das sobre se este país é para to-
dos. Seguramente não é para os 4,5
deram naquilo que queriam cons-
truir para o país, entenderam-se
naquilo que queriam destruir: o
suportaram investimentos desta digital, esclareceu-me devida- igualdade e à não discrimina- milhões de portugueses que vivem centro-direita. As feridas criadas
grandeza em JMJ), apesar de ha- mente sobre o motivo que estava ção das pessoas trans». Mais com menos de 554 euros por mês. por esse gesto poderão ser irrepa-
ver estudos que evidenciam que na origem dessa impossibilidade, uma perda de tempo para cum- Não é para 40% das famílias por- ráveis para a Democracia. Recente-
o retorno de curto e médio prazo e indicou-me as alternativas de prir a agenda woke, com uma me- tuguesas que têm rendimentos in- mente, os socialistas espanhóis se-
mais que os compensa; será que, que dispunha para solucionar a dida que provavelmente não pro- feriores a 830 euros mensais. Cer- guiram o exemplo português de
como disse o Governo, todos os questão. E a resposta foi dada ape- duzirá qualquer efeito prático! tamente, não é um país para 1,6 mi- 2015. Neste caso, as alianças que o
contratos celebrados por ajuste Por motivos profissionais estive lhões de pensionistas que recebem PSOE está obrigado a fazer, pode-
direto foram mesmo sujeitos a recentemente na Suécia, tendo fi- pensões inferiores ao salário mí- rão colocar em causa a própria in-
visto bom do Tribunal de Con- cado alojado no hotel habitual. nimo. Não é um país para 16,4% da tegridade do território espanhol.
tas? Por que razão, tendo nós sa- À semelhança de tantos outros, população que não consegue aque- A forma como o socialismo portu-
bido com tanta antecedência que havia dois lavabos comuns no cer as suas casas. Não é um país guês está a aplaudir isto, é de bra-
o evento seria celebrado em Por- piso da receção, um para Ladies para 22,4% dos trabalhadores que dar. Infelizmente os socialistas re-
tugal, não conseguimos evitar outro para Gentlemen. Desta vez, ganham o salário mínimo, o que lembram-nos da pior forma as suas
custos de última hora? Por que porém, qual não foi a minha sur- deveria ser uma exceção, mas que lealdades: primeiro vem sempre o
razão só uma notícia na comuni- presa quando reparei que tinham em Portugal é uma regra. Não é partido e a lógica da manutenção
cação social dando conta do cus- alterado a sinalética para Whate- um país para os jovens que, em mé- do poder. Se isso custar o país, que
to do altar-palco no Parque Tejo ver. Just wash your hands. Não dia saem de casa dos pais, aos 33 custe. Esta nunca será a forma de
levou a que o orçamento fosse re- consegui evitar um largo sorriso anos de idade. Não é um país para governar um país para todos, é a
visto ‘à lupa’, originando alguma com este exemplo de inclusão quem queira estudar e fixar-se. Em forma de garantir um país para os
poupança? E será que, no investi- cheio de humor. média, todos os anos, 50 mil jovens poucos. Para eles próprios.
40 25 AGOSTO 2023

C ultura

FOTOS: ODETTE RIBOT


ALEXANDRE POMAR,
CRÍTICO DE ARTE

‘HÁ MUITO
DE ANEDÓTICO
E DE ESPECULATIVO
NA EVOLUÇÃO
DAS ARTES’
José Cabrita Saraiva
jose.c.saraiva@nascerdosol.pt

Interessava-se por política mas um dispersos de Júlio Pomar, outro de


correspondência.
castigo acabou por fazê-lo resvalar Uma coisa um bocado intrigante no
para a crítica de arte. A propósito de percurso de Júlio Pomar, a meu ver, é

Júlio Pomar. Depois do Novo Rea- a maturidade dele logo com 19, 20
anos. Parece que nasceu ensinado.
lismo, fala-nos sobre a obra do pai, Na realidade ele não teve aulas de
pintura, saiu da Escola de Belas-
acerca da qual começou a escrever -Artes estava no segundo ano.
‘por hobby’. ‘Evitei sempre uma ex- Dizia que o ensino era uma «chatice de
cessiva proximidade’, afirma. morte».

E
No Porto não era assim tanto. Mas
ncontramo-nos no vel de detalhe espantoso. «Foi fei- ele foi suspenso em 48 e não quis
Atelier-Museu Júlio ta pela minha mulher, a Luí- regressar. Foi na altura em que fez
Pomar, que, soube-se sa, que era médica», explica-nos o cinema Batalha. É de facto sur-
por estes dias, vai ab- o crítico de arte. «Gostava de fa- preendente como é que se enco-
sorver o património zer casas de bonecas. Esta é menda uma decoração mural da-
da Fundação Júlio muito parecida com a casa quele tamanho a um tipo que tinha
Pomar, que será extinta até ao fi- dela no Porto». 19 anos. É um bocado um escânda-
nal do ano para evitar uma situa- Mas é na cozinha, de portas lo! Mas pronto, lá ficou, foi apaga-
ção de concorrência entre as duas abertas para o pequeno jardim do do e agora recuperado.
instituições. Depois, Alexandre pátio, que nos instalamos para
Pomar convida-nos a atravessar conversar, tomando como ponto A António Arroio também deve ter tido
a rua estreita para nos recolher- de partida Júlio Pomar. Depois aí um papel importante.
mos no seu apartamento. Na sala do Novo Realismo (ed. Guerra & Muitos dos artistas da altura – o
há um quadro famoso pintado Paz), um livro que reúne 18 arti- Vespeira, o Fernando de Azevedo,
pelo seu pai, Varina Comendo gos de Alexandre sobre a obra do etc. – saíam da António Arroio. E
Melancia, de 1949, mas também pai, a que se juntam dois anexos, quando passavam para a Escola de
uma casa de bonecas com um ní- um de textos curtos inéditos ou Belas-Artes eram todos reprova-
NASCERDOSOL.PT 41

dos. Havia ali uma hostilidade de tros. Isso também era importante mo, com as primeiras coisas do Na- davam imensas publicações de
classe aos que vinham da Casa Pia em termos económicos. dir Afonso, e a abstração, com o todo o género, muitas de artes e os
e da António Arroio com ensino [Fernando] Lanhas. São jovens que catálogos do MoMA de Nova Ior-
médio e muita gente foi fazer o cur- O que estabelece uma relação com a li- saem da escola e emergem num cli- que. Júlio Pomar conta que ele e o
so para o Porto nessa altura. teratura. Isso obrigava-o certamente ma que é definido pelo final da Vespeira passavam mais tempo na
a ler os livros, a conhecer as histórias. guerra e pelo optimismo de que os biblioteca da Academia Nacional
Portanto, a formação dele restrin- Há livros comprados por ele, al- aliados iam forçar a saída de Sala- de Belas-Artes do que na Escola de
giu-se a isso. guns de artes plásticas, outros não zar. A censura é muito aliviada em Belas-Artes.
Sim, à António Arroio e depois – poesia, outras coisas, literatura 45, quando Salazar promete elei-
um ano em Lisboa e um ano no – assinados desde 42, tinha ele 15 ções ‘tão livres como na livre Ingla- Aprendia mais nos livros do que nas
Porto. Logo no primeiro ano ele e anos. Felizmente, conservaram-se terra’. Foi nessa altura que o Júlio aulas?
os colegas fizeram uma exposição, muitos que tinham ficado em casa Pomar dirigiu o suplemento de Essas foram as referências. Todos
o Almada Negreiros comprou-lhe da Alice Jorge quando ele vai para arte no Jornal do Porto, é o come- os países europeus, em geral, e os
um quadro e levou-o para a expo- Paris em 63. Eu usei-os para um ca- ço das exposições gerais de artes Estados Unidos têm escolas realis-
sição do SPN [Secretariado de Pro- pítulo deste livro e ofereci-os à bi- plásticas, é quando ele pinta o Ga- tas próprias. E Portugal não tem.
paganda Nacional, liderado por blioteca do museu. danheiro, começa tudo aí. E as his- Não tem uma tradição artística for-
António Ferro, que tinha a seu tórias, em geral, do neo-realismo te e principalmente os jovens artis-
cargo a promoção das artes]. Foi O neo-realismo surge um bocadinho tentam começar antes, associando tas não se reconhecem no trabalho
tudo muito rápido. como ponto de referência deste livro... com o neo-realismo literário. Mas dos artistas mais velhos, portanto,
Eu não escrevi este livro de propó- são dois ritmos diferentes. O neo- recusam tudo e começam de novo.
Há muitos artistas que andam anos sito, usei textos que já existiam, e -realismo literário é muito ante- Isso é muito diferente do que acon-
a batalhar para fazer nome. tinha mais artigos escritos sobre o rior, começa no tempo da Guerra tece nos outros países. Em França,
Também há casos de desapareci- período mais antigo. Depois fiz de Espanha, finais dos anos 30, en- o que se afirma a seguir à II Gran-
mento, que têm dificuldade em con- grandes alterações, aumentei, pus quanto este grupo de jovens e es- de Guerra são os artistas históri-
tinuar com a carreira ou a obra. E notas, notas, muitas notas. Mas ele tas tendências emergem só em 45, cos do período anterior à guerra.
ele dizia, aliás era uma citação de ficou muito marcado em termos de beneficiando da euforia do fim da Não há propriamente jovens artis-
um mexicano: ‘Os pintores fazem- imagem pública pelo neo-realismo, guerra e da informação que chega- tas, há o regresso dos antigos. Em
-se, mas também se desfazem’. Por coisa que lhe desagradava muito. va em grande quantidade princi- Inglaterra é diferente, porque de-
outro lado, uma luta muito grande Porque, no fundo, ele só é neo-rea- palmente dos Estados Unidos. pois da guerra há aquele tempo de
dele logo no início era a defesa da lista durante dez anos, depois carências e só a partir do princípio
profissionalização. Ele insistia abandona e não volta a participar Propaganda? dos anos 50 é que renasce uma cer-
muito que não era possível ser um em nenhum estilo colectivo. Quan- Na altura não se separava propa- ta vida artística forte, e portanto já
bom pintor numa condição de ama- do os artistas não pertencem a um ganda de informação. Era a mes- é outra coisa. Penso que o neo-rea-
dor, tendo outros empregos. Aliás, estilo colectivo, como o surrealis- ma coisa. Só no fim da guerra é que lismo português, naquilo que tem
quando ele é afastado do ensino em mo ou a abstração lírica, torna se as palavras se distinguem. E é por de procura de modernidade e de
48, os amigos combinam-se e não muito difícil defini-los. E ficam isso que o António Ferro substitui conjugação de referências norte-
lhe arranjam nenhum emprego. agarrados a uma fórmula que às o SPN por SNI [Secretariado Na- -americanas, mexicanas e dos rea-
Era uma altura em que toda a gen- vezes é a fórmula inicial, mas já cional de Informação]. Tanto os lismos sociais em geral, e Picasso,
te passava para a publicidade, como não é a de continuidade. alemães como os americanos man- é original. Esse foi um equívoco

‘‘
o Vespeira, o Manuel de Azevedo, persistente, considerar que o neo-
etc. Ele foi afastado do ensino e eles Neste caso, uma fórmula com a qual -realismo era uma forma de dizer
não facilitaram, não lhe arranja- já não se identificava. realismo socialista para passar a
ram mais nada, obrigaram-no a fi- Pelo contrário, desagradava-lhe censura. Mas não, é claramente ou-
car a viver da pintura e da ilustra- muito continuar a ser referido tra coisa.
ção, que era muito importante, de- como um pintor neo-realista, ou
pois da cerâmica. que se atribuísse uma excessiva im- Quando ele foi Mas há aquela particularidade de

Ele apontava a falta de profissionali-


portância ao neo-realismo. Por ou-
tro lado, também me interessou
afastado do ensi- Pomar nunca querer ser metido
num ‘rebanho’, é muito cioso da sua
zação como uma das razões da es- muito estudar o período em que ele no, os amigos autonomia.
tagnação da arte em Portugal. Con- aparece com outros artistas e escri- combinaram e Mesmo naqueles anos entre 47/48
seguiu sempre viver só da pintura?
Da pintura, da ilustração, da cerâ-
tores, caso do Mário Cesariny e do
Cruzeiro Seixas, que vinham tam-
não lhe arranja- e 53, ele caracteriza o neo-realismo
pela sua abertura. Aliás, a partir
mica, da gravura. No início a cerâ- bém da António Arroio. Essa emer- ram emprego, dos quadros da colecção dele, que
mica vendia-se bem. Aliás há o gência em 1945 é um ponto de vira- para o obrigar a eram trocas entre artistas, acho
caso da primeira exposição em Lis- gem que eu acho muito forte. E o que se consegue mostrar o enorme
boa, em 1950, 1951. Quando vai, José-Augusto França, que não ia ao viver da pintura espírito de abertura. Tenho um La-
logo a seguir, ao Porto, toda a par- Porto, só falava da geração de 40. e da ilustração nhas lá dentro que foi trocado por
te da cerâmica é substituída por- um quadro do meu pai. Eles eram
que tinha-se vendido. E a pintura Andava mais por Lisboa. muito amigos, apesar de o Lanhas
é a mesma. E, depois da cerâmica,
a gravura vendia-se muito, era
Não ia ao Porto, e defendia o seu
grupo e os seus amigos. A história
Desagradava-lhe ser católico e conservador.

também um forte sustentáculo. Por foi muito construída pelo José-Au- muito continuar a Ele inicialmente propunha-se fazer
outro lado, a ilustração. Era o tem- gusto França, que era o único his- ser referido arte para o povo.
po daquelas edições ilustradas em
fascículos grandes. Imensa coisa,
toriador, e os seus discípulos, e hou-
ve um apagamento muito grande
como um pintor Era o espírito do pós-guerra.

desde o Dom Quixote, traduzido daquilo que se estava a passar no neo-realista Depois acabou por perceber que

’’
pelo Aquilino Ribeiro, ao Decame- Porto. É nas chamadas exposições esse credo era um pouco ingénuo?
ron, umas vezes com ilustrações independentes que se afirma o neo- Uma das coisas que mais se discu-
só dele, outras vezes dele e de ou- -realismo, que aparece o surrealis- tia na altura era que a arte moderna >
42 25 AGOSTO 2023

Cultura
> não era compreendida, não era ção da figura, enquanto o natura-
aceite pela população. Dirigiam- lismo representava com rigor a na-
-se muito à classe operária e os tra- tureza e o visível.
balhadores não tinham relação
nenhuma com a arte moderna. E Possivelmente, digo eu, porque
essa é uma questão que eles tra- também lhe interessava colocar um
tam em vários momentos. Inten- certo movimento na pintura.
cionalmente – e isso é uma marca Uma tensão dinâmica de formas.
do neo-realismo – as figuras de- E depois, a partir dos anos 60,
viam ser compreensíveis, legíveis. quando a pintura dele passa a ser
Portanto, o neo-realismo centra- muito mais gestual, e mais apro-
-se na representação de figuras po- ximada à abstração, aí interessou-
pulares com um caráter muito di- -se muito pela representação do
ferente daquilo que era a pintura movimento, pela expressão do mo-
miserabilista ou naturalista, na vimento, nas tauromaquias e nas
medida em que o povo que apare- corridas de cavalos, já feitas em
ce é um povo, digamos, orgulhoso. Paris, que são um exercício sobre
o movimento.
Dignificado?
Afirmativo, dignificado, e poten- Ele vai para Paris como bolseiro da
cialmente em luta. Mas em 1948, Gulbenkian?
com o fim da campanha de Norton Não. Vai para Paris em 63, já com
de Matos e com a entrada de Portu- contrato com uma galeria muito
gal na NATO, percebe-se que não boa que tinha vindo em 61 à ex-
vai haver uma liberalização e eles posição na Gulbenkian. O contra-
reconsideram aquilo que é uma to foi mediado pelo Manoel Vi-
pintura dirigida ao povo num con- nhas [empresário e mecenas]. Só
texto que já não é de luta. Júlio Po- depois de estar em Paris, um ano
mar faz uma autocrítica em rela- depois, é que tem a bolsa, que foi
ção à pintura que tinha feito até importante.
1950, em que surgem muitas mu-
lheres com crianças, meninos e Olhando para trás e conhecendo a
não sei quê, considera que é uma obra dele, nota alguma mudança
fase demasiado lírica e formalis- depois de ir para Paris?
ta. A partir de 51, Portugal entra Não é imediata, ele nunca faz mu-
na NATO. É o tempo da Guerra da danças imediatas. Por exemplo, ele
Coreia e das grandes campanhas vai a Madrid em 1950 e os quadros
dos PCs mundiais pela paz. E isso nessa expressão em que tenta con-
teve uma grande repercussão jugar o Goya e o Columbano numa
aqui. A partir de 51, ele pratica linguagem ibérica, dramática, só
uma pintura de maior empenha- aparecem em 55/56. É lento.
mento social. É o tempo do ciclo do
arroz, em que faziam passeios a Demora a assimilar?
Vila Franca de Xira para ver os Demora porque as mudanças têm ções muito próprias da pop, mais Eu pensava que precisavam de fa- o 25 de Abril e complica o merca-
trabalhadores do arroz. É uma a ver com a sua própria aventura a pop americana, não é uma mu- zer exposições para sobreviver. do aqui. Mas há várias cartas em
nova fase militante, que foi muito e não com a adopção de um outro dança imediata. A pop começa a Sim, precisavam de fazer exposi- que diz que ainda não nos pode pa-
esquecida ou mesmo desvaloriza- modelo imediato. Isso acontece circular a partir de 1961-62, chega ções para vender, embora se ven- gar a viagem a Paris, quando eu
da, por exemplo pelo Mário Dioní- também em Paris, onde ele passa a Paris por volta de 63-64, e é mui- desse muito nos ateliês. Aliás, em tinha 13 ou 14 anos. Aliás, foi pu-
sio, que sai do Partido Comunista das touradas para as corridas de to rejeitada em França. E ele co- 1966, ele vem de Paris a Portugal blicada agora a troca de cartas en-
em 53 e acha que as outras pessoas cavalos e depois para outro tema, meça a ter essa influência já no fi- fazer uma exposição de quadros tre a Menez e ele, e referem-se
todas deviam sair. E escreve num o catch, que é também uma ques- nal da década, 67-68. Há sempre recentes e praticamente todos já muito quer às dificuldades de sa-
livro em 1990 que quem não saiu tão de movimento, de tensão, mas uma décalage. Não houve uma estavam vendidos. O mercado por- ber o que pintar, o começar e apa-
foi obrigado a cumprir as directi- com o qual não fica satisfeito e mudança do tipo: ‘Agora eu vou tuguês é pequeno, mas ele foi sem- gar, ou não conseguir fazer, quer
vas do partido, o que não é verda- destrói os quadros quase todos. fazer pintura pop’. pre tendo os seus admiradores e às dificuldades económicas, por-
de. E desvaloriza completamente Seguem-se algumas mudanças colecionadores. que até muito tarde essas dificul-
os quadros do ciclo do arroz, que em 1967, com as assemblages e as Pelo que percebi, ele tinha sempre dades eram grandes.
eu considero muito fortes. É um composições de restos encontra- vários trabalhos em andamento. E o Alexandre ia a Paris visitá-lo?
período mais militante, mas é tam- dos nas praias e coisas do género. Com certeza não ia mudar o rumo Sim. Desde o divórcio dos meus O meio onde o Alexandre cresceu
bém um período final. A partir de Uma influência muito forte é o de um momento para o outro. pais, passávamos sempre uma também era assim de artistas e in-
55/56 já não é neo-realismo. Rauschenberg, um artista proto- Havia várias coisas em andamen- semana ou quinze dias de férias telectuais?
-pop. Nas cartas e numa entrevis- to e havia uma produção lenta. Ao com ele aqui. E mais tarde, já em Depois da separação dos meus
Olhando para a pintura posterior, ta fala muito no Rauschenberg, contrário do que se possa pensar, 67, com vinte anos, ia a Paris vi- pais vivi no Porto, e fui manten-
segundo aqueles padrões soviéti- dando-lhe a mesma importância ele não pintou muita coisa. E hou- sitá-lo. do, sim, uma relação com os
cos, seria pintura burguesa pura. que ao Velázquez. E a pintura dele ve alturas em que fez poucas expo- meios culturais do Porto – cultu-
Já não tem nada a ver com o rea- faz uma evolução muito grande, sições. Entre 66 e 73 não fez nenhu- Nessa altura ele já vivia mais desa- rais e políticos, porque de facto
lismo socialista de representação abandona o gestualismo das tou- ma. Fez em 73, depois há o período fogado? o que me interessou durante
dos heróis do povo e de uma visão radas e das corridas de cavalos do 25 de Abril, que complicou tudo, Não. Ele refere muito as dificulda- muito tempo, e mesmo como jor-
da história congelada. Há sempre para trabalhar com zonas de cor e só em 77 faz outra exposição. Na des económicas que houve sem- nalista, era a política. Fui para a
uma procura de fazer uma pintu- lisa, cores muito fortes e vibran- altura os pintores faziam muito pre até aos anos 70, e quando as Cultura por castigo no Diário de
ra moderna a partir da deforma- tes. Essa aproximação a condi- menos exposições que agora. coisas estavam melhores aparece Notícias.
NASCERDOSOL.PT 43

Assim sempre tinha a casa ocupada. rie dos tigres, e durante três anos dros desencadeados pela Mensa-
Tinha a casa ocupada e havia mui- só fez tigres. gem do Fernando Pessoa. E depois
tas coisas de que eu ia tratando. aparecem os temas mitológicos, que
Mas não tínhamos, nem tivemos, Porquê essa obsessão com os tigres? são interrompidos pelo convite
e eu evitei sempre, uma excessiva Os tigres começam com ilustrações para ir ao Brasil em 87.
proximidade. Comecei a escrever para um livro de Jorge Luis Borges.
como hobby. Aliás, é um conto em que andam à E aí nasce outra coisa.
procura do tigre e o tigre não apa- Nasce outra coisa. Toda a primei-
Para repor alguma injustiça ou re- rece. E as colagens que ele fez à vol- ra fase da obra tem a ver, digamos,
tificar algum erro? ta do tigre continuam numa série. com o espetáculo visto – as cenas
Isso é uma fase mais recente. No Isso foi uma coisa que sempre acon- de trabalho, as tauromaquias, as
Expresso, como crítico, não podia teceu: ter um estímulo para pegar corridas de cavalos são coisas a que
nem queria escrever sobre ele. De- numa série e continuar até esgotá- ele assistiu. No caso da pop a situa-
pois comecei a colaborar nalgumas -la. Os tigres acabam no momento ção muda, porque ele nunca viu
exposições, nalguns catálogos. Co- em que ele passa aos temas literá- um um desafio de rugby, no maio
missariei uma exposição ou outra, rios. As encomendas e os convites de 68 não andou lá metido. Passa a
muito discretamente... Fui-me en- são sempre muito importantes, por- usar muito a fotografia – o rugby
volvendo, e comecei a organizar o que são eles, muitas vezes, que suge- começa com uma fotografia num
catálogo raisonné como um hobby. rem novos temas. Em 82 há o convi- jornal que ele encontra na rua. De-
Mas nem sequer foi um trabalho te para os azulejos do Metropolita- pois há um oscilar entre a ligação
continuado porque muitas vezes no de Lisboa, e há um convite do aos espetáculos vistos e o imaginá-
dei prioridade a outros artistas e à Joaquim Vital, o editor de Paris, da rio da literatura, que aparece logo
fotografia. De maneira nenhuma Différence, para um livro sobre um nas séries do Dom Quixote. Com os
me fixei no trabalho dele. Aconte- poema do Edgar Poe, e os seus tra- índios do Brasil é um regresso ao
ce que acabei por acumular uma dutores – Baudelaire, Mallarmé e espetáculo vivo. É convidado para
informação muito grande, e é uma Pessoa. Isso deu origem a uma sé- estar presente na rodagem de um
obra difícil de acompanhar, porque rie de retratos de escritores. É tam- filme do Ruy Guerra na Amazónia.
são quase 80 anos de trabalho com bém nessa altura que faz sete qua- Isso interrompeu a produção dos

‘‘
várias mudanças. Para pessoas temas literários – e acho que foi be-
mais novas é muito difícil entrar néfico. Tudo isto oscila com os re-
em sintonia ou perceber a conti- tratos dos amigos, desde o princí-
nuidade da obra, porque é uma pio, nos anos 40, alguns feitos na
obra de descontinuidades. prisão. Há também o retrato famo-
so do Mário Soares e nos últimos
E isso é uma parte interessante, por- Ele referia muito anos de vida os retratos dos ami-
que uma das preocupações de um as dificuldades gos, de fadistas, etc.
artista deve ser não se repetir. Diz-
-se de alguns escritores que escre-
económicas que Ainda não tínhamos falado da pas-
vem sempre o mesmo livro... houve até sagem pela prisão. Tenho a ideia de

Alexandre Pomar e o jornalista à conversa,


A generalidade dos artistas fixam-
-se numa espécie de imagem de
aos anos 70, que normalmente estas figuras
eram mais poupadas.
na cozinha do apartamento do crítico marca. e quando as Claramente. É uma prisão de pou-
coisas estavam cos meses e não há violência física
Muitas vezes a vida faz-se desses
acasos.
José-Augusto França [na Gul-
benkian]. Foram logo elogiados
Um caso paradigmático é o de Noro-
nha da Costa.
melhores apare- nem tortura propriamente dita.
Pode ter sido marcante até em ter-
Era para ser promovido a sub- pelo Cesariny e proporcionou-se No caso dele houve sempre uma re- ce o 25 de Abril mos de notoriedade social. O Má-
chefe da [secção de] política, e a ida para o Expresso. Foi uma jeição desse tipo de produção. As e complica rio Soares conta que o levou a fa-
não fui. Aí houve uma zanga. A
política foi sempre o meu inte-
sorte grande. pinturas de cavalos tiveram um su-
cesso enorme porque estavam
o mercado zer o retrato do Norton de Matos e
esse desenho aparecia em todos os
resse predominante, mas profis- O facto de viver aqui tão perto pare- numa grande galeria de Paris e os comícios.
sionalmente acabei por ir parar ce sugerir uma relação quase umbili- americanos passavam e compra-
a esta área. cal com o Atelier-Museu Júlio Pomar. vam. Essa é a série de que se perde- Embora estivés- Disse-me que, embora vivessem pa-
Não existe. Embora estivéssemos ram [no sentido de se lhes perder o semos a viver redes-meias, no esquerdo e direito, só
a viver no direito e esquerdo do rasto] mais quadros porque foram
E eu pensava que era por causa
deste contexto familiar que tinha ido mesmo piso – ele tinha o ateliê em comprados por desconhecidos. Mas no direito lhe batia à porta se havia algum assun-
to para tratar. Nunca o via a pintar?
para a crítica de arte. cima – eu só lá ia quando tinha al- ele resolveu acabar com a série. e esquerdo do Raramente. Se ia lá acima ao ateliê
Não, não foi. Ir para a crítica de
arte foi um escorregar. Fui de
gum assunto a tratar. Não tínha-
mos nenhum relacionamento fa- Deve ser uma decisão difícil quando
mesmo andar, não era para o ir ver pintar, era para
tratar de alguma coisa. Não havia
castigo para a informação geral, miliar permanente. E isto come- se está a ter sucesso comercial. eu só lá ia quan- uma vinculação familiar muito for-
da informação geral fui para a çou porque, a certa altura, a seguir Há de facto uma permanente pes- do tinha algum te. Nem ele nem nenhum de nós cul-
cultura. Fiz muito cinema, tea-
tro e outras coisas. E depois co-
ao 25 de Abril, ele pediu-me para ir
passar uns tempos a uma casa que
quisa sobre processos de represen-
tação e reflexão sobre determina-
assunto a tratar. tivava uma proximidade grande.
Raramente lá ia comer a casa.
mecei a escrever sobre exposi- ele tinha comprado e portanto aca- dos temas. Primeiro a questão do Não tínhamos
ções e fiquei. Aquilo que me fez bei por me instalar nessa casa, em movimento, depois há a passagem nenhum relacio- Embora o seu irmão também seja
ficar e que proporcionou a pas-
sagem para o Expresso, que foi
Miraflores. Quando trocou a de Mi-
raflores por esta, ele preocupou-se
para estas composições de formas
recortadas sobre fundos lisos. De-
namento fami- pintor.
São coisas separadas.
um grande acontecimento para em assegurar que eu tinha parte pois esse período das cores lisas de liar permanente

’’
mim, foi o ter publicado em 82 do andar, o que também era uma referência pop dá lugar a uma série E não acompanhou, por exemplo, a
quatro artigos muito críticos so- vantagem para ele, porque vivia de colagens eróticas. E depois pas- evolução de algumas pinturas?
bre a exposição dos anos 40 do em Paris. sou das colagens eróticas para a sé- Nessa época o meu pai vivia em
44 25 AGOSTO 2023

Cultura
> França, praticamente só vinha cá ticas. Acho que há muito de ane-
passar férias. Só nos anos 80 é que dótico e de especulativo nesta evo-
passou a ter esta casa e só mais tar- lução das artes. E depois cria-se
de, quando começa a ter muita di- uma tradição da vanguarda que
ficuldade em subir os dois anda- já não é uma tradição de inovação,
res altos da casa de Paris e come- mas a repetição de gestos de hu-
çam a morrer os amigos de lá, se mor ou de provocações, mas que
instala aqui. são imediatamente absorvidas
pelo mercado e pelos museus e
As relações com os galeristas eram portanto, efetivamente, já não pro-
sempre pacíficas? vocam nada. Neste momento, a re-
Aqui em Portugal, a partir de 73 e lação das pessoas com a arte é, em
até 2000 e tal, manteve sempre re- geral, uma relação de grande des-
lação com a [galeria] 111, que tinha confiança. Antigamente ia-se às
como regra absorver a produção o galerias, agora as pessoas têm
mais possível para clientes portu- medo de entrar nas galerias, tem
gueses, em vez de apostar na inter- de se tocar à campainha...
nacionalização. Foi tendo várias
galerias em França, umas melho- É um pouco intimidatório...
res, outras piores, porque a primei- As pessoas vão aos museus quan-
ra, que era muito boa, a Lacloche, do eles têm jardins e refeitório, ou
passou a dedicar-se aos objectos de restaurante. Passeiam no CCB mas
artista e ao mobiliário de artista não entram, passeiam na Gul-
e, portanto, deixou de fazer expo- benkian mas não entram. Há uma
sições de pintura. descredibilização.

E também vendia no próprio ateliê? Vê isso como uma consequência da


Não, as relações com as galerias produção artística?
eram rígidas, ele aliás não tinha Da produção e de uma certa tradi-
jeito nenhum para isso. Nem a car- ção em que as vanguardas se suce-
reira comercial, nem a distribui- diam umas às outras e apagavam
ção, nem a estratégia mediática fo- obras de grande qualidade. Sei lá,
ram habilidades dele, ao contrário ninguém ligava ao Bonnard, por
de outros artistas. Embora possa exemplo. E a história não é feita só
não parecer, dado o excesso de en- dessa sequência de vanguardas.
trevistas e uma presença mediáti- Este é um terreno confuso e a quan-
ca forte, já nos anos 2000 e tal. An- tidade de livros com posições mui-
tes disso, a relação com a crítica to críticas em relação à arte con-
portuguesa não era feliz. temporânea é muito grande. Eu
Alexandre Pomar diz que a passagem do acervo da Fundação para o próprio publiquei muitas coisas
Houve algum choque? Ficou desa- Atelier-Museu é uma decisão ‘justa, uma vez que foi a CML que comprou afirmando uma desconfiança gran-
gradado com alguma coisa que se e adaptou o edifício e é a EGEAC que paga e gere o Atelier-Museu’ de em relação à orientação de Ser-
escreveu sobre ele? ralves, por exemplo. Foi-se criando
A crítica portuguesa nos anos 50 das porque ele tinha-as fotografa- tica que é muito rara é que não O Vítor Rainho costuma contar que, uma grande desconfiança, os públi-
considerava que a abstracção era do para os relatórios de bolseiro da são retratos de modelos, são re- nos tempos do Expresso, o Vicente cos afastaram-se, ou então uma ati-
um caminho inevitável, toda a arte Gulbenkian. tratos íntimos das várias mulhe- Jorge Silva tinha o hábito de pegar tude paralela a esta, que é ‘vale
ia ser abstracta, a figuração ti- res com quem viveu. numa espécie de uma moldura de tudo, a gente não tem opinião. En-
nham morrido, etc. Todos eles de- Já referiu a cerâmica, a gravura e a esferovite, punha-a na cabeça e di- quanto as pessoas vão ao cinema e
fendiam a abstracção e tinham ilustração. E escultura, também fez? O facto de nunca ter havido uma zia: ‘Pomar, olha aqui uma escultu- dizem ‘gostei’ ou ‘não gostei’, nas
uma posição muito reativa em re- Fez escultura desde o início, foi grande ligação familiar tem que ver ra do Cabrita Reis’. artes dizem ‘disso não percebo’. E
lação aos artistas que ainda ‘preci- uma coisa a que regressou de vez também com a forma como o seu O Vicente fazia uma paródia gran- isso é uma consequência desta de-
savam’ de uma referência figura- em quando. pai encarava o trabalho? de que expressava a desconfiança sorientação – também tem a ver
tiva. Depois, a seguir ao maio de 68, Sim, tem a ver com características do público em geral em relação às com a perda de eficácia dos mu-
também há uma grande contesta- Tenho a ideia de ver uma peça com pessoais, muito autocentradas. Di- nossas escolhas. Tenho ideia que seus, só fazem exposições temporá-
ção da pintura, muitos artistas uma certa ironia, que se chamava gamos que ele não é absorvido pelo foi mais no tempo em que ele tinha rias de afirmação de novos artistas.
abandonam a pintura, considera- ‘É uma pena’ e era mesmo uma pena universo familiar, como é muito uma namorada que pintava e não A Gulbenkian ainda tentava às ve-
va-se que era um produto para a de pássaro. frequente em artistas com alguma percebia porque é que não lhe pres- zes apresentar uma perspetiva his-
burguesia. E no princípio dos anos Era uma coisa muito irónica jo- importância. É tudo muito centra- távamos mais atenção. tórica do século XX, mas não há ne-
80 há um regresso à pintura e tam- gando com as palavras. O humor do na sua própria vida, na sua pro- nhum museu...
bém o regresso à figuração. é uma marca constante. E o ero- dução, na sua carreira. Não estou a falar do Cabrita Reis,
tismo. Há nus desenhados na pri- mas na arte contemporânea às ve- Que estabeleça um pouco as bases?
O seu pai sempre teve desconfian- são que foram expostos em 47 e O Lucian Freud dizia que tinha de ter zes vemos coisas um bocado esta- E que estabeleça credibilidades e no-
ça em relação à abstracção, não foi? foram criticados por críticos neo- tanta paciência para pintar os seus pafúrdias: um artista que cola uma toriedades. Depois os colecionado-
Acho que ele experimentou. Ao -realistas e defendidos pelo Má- quadros que não lhe sobrava ne- banana na parede, o outro que faz res habituaram-se a comprar jovens
longo dos anos 60 tentou a abstra- rio Dionísio. Em 52, a exposição nhuma para o resto... uma escultura invisível.... E tendemos artistas porque são muito baratos.
ção ou coisas que tendiam para a na Galeria de Março também ti- [risos] É capaz de ser qualquer a perguntar se não é uma fraude pura
abstração, mas isso nunca o satis- nha vários nus, lá lhe cai a críti- coisa parecida. Depois, com os e simples. Enquanto crítico, como Estão à procura daquele que se vai
fez e destruiu para aí 60 quadros ca neo-realista em cima outra vários divórcios e as várias rela- olha para estas manifestações? tornar famoso e valorizar imenso.
ou coisa do género. Aliás, publicá- vez. E depois tem as fases eróti- ções, o contexto familiar tam- Tive muitas vezes uma má rela- O mercado português está muito
mos um livro com as obras destruí- cas dos anos 70. Uma caracterís- bém vai mudando. ção com algumas propostas artís- marcado por alguns vícios.
NASCERDOSOL.PT 45

Cartaz
Espetáculos e Exposições Desporto na TV
FESTAS DO MAR A COMÉDIA DA MARMITA GIL VICENTE X BENFICA VILLAREAL
Até 3 de set. Até 27 de agosto Sáb., 20h30, Sport TV 1 X BARCELONA
Baía de Cascais Museu Arqueológico Nova deslocação dos campeões ao norte, Dom., 16h30,
Até domingo, dia 27 de São Miguel de Odrinhas onde já perderam o primeiro jogo. O futebol Eleven Sports 2
de agosto, atuam os Esta peça fala de justiça social, de conduta apresentado pela equipa de Roger Schmidt O Villareal quer repe-
seguintes músicos: Miguel Araújo, Diogo moral, de como passar de escravo a traba- ainda não convenceu e frente ao Gil Vicen- tir a boa época do ano passado, o Barcelo-
Piçarra e Excesso... lhador pago, como ser um rico humilde. te o Benfica vai ter um jogo exigente. na vai ter um jogo complicado.

NO JARDIM BOTÂNICO BRUNCH SHEFFIELD SPORTING X FAMALICÃO


DA AJUDA COM A RAINHA ELECTRONIK X MAN. CITY Dom., 20h30, Sport TV 1
Dom. 11h00, obrigatório reserva LISBOA 2023 Dom., 14h00, Com mais ou menos dificuldades, o Spor-
Jardim Botânico da Ajuda, Ajuda Até 17 de set. Eleven Sports 1 ting ganhou os jogos anteriores e lidera o
Visita passeio com encenação à época, a um Tapada da Ajuda, Lx O Manchester City campeonato. O Famalicão venceu em Bra-
dos mais belos jardins históricos do país, acom- É um dos eventos de música eletrónica mais está empenhado em defender o título pe- ga na primeira jornada, os leões estão avi-
panhada pela Rainha D. Maria Pia de Saboia. aclamados em Barcelona. Estreou em 2014. rante uma equipa que subiu de divisão. sados dos riscos que correm.

VISITAS TEMÁTICAS MESTRES JAPONESES FÓRMULA 1 - GP PAÍSES BAIXOS RIO AVE


AO CASTELO DESCONHECIDOS Dom., 14h00, Sport TV 4 X FC PORTO
DE S. JORGE Até dia 27 de agosto A correr em casa, Max Verstappen quer Seg., 20h15,
Hoje, vários horários Museu do Oriente, Lisboa manter a senda vitoriosa a caminho do ter- Sport TV 1
Castelo de S. Jorge, Lx A Mulher que Abandonei, de Kirio Uraya- ceiro título mundial. Se vencer, será a lou- Os jogos entre vizi-
Visitas realizadas por especialistas em his- ma, 1969, filme essencial da Nova Vaga Japo- cura. No regresso de férias aguarda-se nhos têm sido bastante animados nos últi-
tória, história de arte e arqueologia. nesa, narra a história de Tsutomu Yoshiok... maior competitividade das outras equipas. mos anos. O FC Porto vai ter vida difícil.

Filmes e Séries Estreias nas Salas

RITMO E SEDUÇÃO PARIS POLÍCIA CORRIDA MALUCA A CONSPIRAÇÃO DO CAIRO


Sex. 22h20 I Fox 1905 De Ross Venokur De Tarik Saleh
Uma comédia romântica inspirada na his- Dom. 22h00 I RTP 2 Zhi é um lóris lento Através de Adam, filho de um pescador a
tória verdadeira de Pierre Dulaine, um pro- Paris, 24 de dezembro que entra numa cor- quem é dada a oportunidade de estudar na
fessor de dança de Manhattan que disponi- 1904. Um corpo é encon- rida de carros através prestigiosa Universidade Al-Azhar no Cairo,
biliza o seu tempo para ensinar danças de trado nos jardins do Bois de Boulogne. O ins- da histórica Rota da Seda, na China, para o realizador, expõe a corrupção oficial do Egi-
salão a um grupo de estudantes. petor Antoine Joulin lidera a investigação. salvar a Aldeia dos Lóris. to que desencadeou a revolta da Praça Tahri.

COLO ONE PIECE FARANG – IMPLACÁVEL RETRATOS


Sáb. 23h30 I RTP2 Qui. I Netflix, Estreia De Xavier Gens FANTASMAS
Uma mãe tem dois Nesta adaptação live-action do popular Sam é um prisioneiro exemplar. A poucos De Kleber
empregos e o marido manga, o jovem pirata Monkey D. Luffy meses de sair da prisão, prepara assidua- Mendonça Filho
está desempregado. A pega no seu chapéu de palha e zarpa com mente a sua reintegração. Durante uma li- Um filme documental
filha adolescente, descurada pelo pai e ne- a sua tripulação em busca de um incrível cença, o seu passado apanha-o e um aciden- fruto de sete anos de trabalho e pesquisa, fil-
gligenciada pela mãe, começa a revoltar-se. tesouro... te deixa-o com apenas uma escolha: fugir. magens e montagem.

VELOCIDADE FURIOSA: PRESOS NO FALA COMIGO ALIBI.COM 2


HOBBS & SHAW ESTRANGEIRO De Danny Philippou De Philippe Lacheau
Dom. 21h30 I Hollywood Dom. 13h00 I NG e Michael Philippou Quando Greg a pede em casamento, Flo e a
O agente da polícia Luke Hobbs e o exilado Quando Roy Hallums Um grupo de amigos fica sua família querem conhecer os pais dele.
Deckard Shaw formam uma improvável alian- é raptado no Iraque viciado na emoção de Mas como pode Greg apresentá-los ao seu
ça quando um vilão ciber-geneticamente me- ao serviço do exército norte-americano, ini- evocar espíritos ao utilizar uma mão embal- pai criminoso, em divórcio conflituoso com
lhorado ameaça o futuro da humanidade. cia-se uma operação para o resgatar. samada, até em que um deles vai longe demais. a sua mãe, uma estrela de cinema erótico?

Sudoku
Sudoku 1 Sudoku 2 Sudoku 3

Soluções

Sudoku 3 Sudoku 2 Sudoku 1


46 25 AGOSTO 2023

D esporto

FOTOS DR
BOAVISTA
ESQUISITAS
CAMISOLAS
Afonso de Melo
afonso.melo@nascerdosol.pt

O Boavista entrou em grande neste 1975-76 para que o Boavista ga-


nhasse dimensão nacional graças
campeonato. Tempo para recordar a um campeonato no qual se ba-
teu durante algum tempo com o
a primeira grande aventura que o Benfica pelo primeiro lugar e se

levou a lutar pelo título – 1975-76. estreou em chegar ao fim como se-
gundo classificado. Nesse tempo,

C
quando um clube que não fosse
onfesso que tenho para os amigos) com três ale- Benfica, Sporting, FC Porto e ain-
alguma dose de res- mães, Matthaus, Brehme e Klins- da um restinho de Belenenses fi-
ponsabilidade na- mann, mas nem por isso deixa- cava em segundo era como se ti-
quela coisa de cha- ram de ser eliminados pelo con- vesse sido campeão. Ou quase.
mar ao Boavista o junto na altura comandado por
clube das camisolas Manuel José, com quem viajei de- A anulação de Alves
esquisitas. Não tem importância pois para Roma para assistirmos Disputada entre 16 equipas, a pro-
de especial e também não se co- juntos ao Roma-Inter. O guarda- va terminaria com o Benfica cam-
meteu nenhum crime pelo que -redes dos interistas era Walter peão, 50 pontos em 30 jogos, dois A força de Mané
posso contar a história sem ir pa- Zenga, conhecido por Walterone. pontos apenas de diferença para os
rar às caldeiras de Pêro Botelho. Conversei um bocado com ele so- axadrezados, ou para os adamados, ximava e a imprensa já começava a tas do Real Madrid e acabou por vir
Há muitos anos eu estava em Mi- bre a eliminatória e sobre o Boa- afinal o tabuleiro das 64 casas é o falar no encontro do ano, provavel- para ao Benfica.
lão. Ou, para ser mais correto, vista. Às tantas, encolheu os om- mesmo para os dois jogos. Três der- mente decisivo, como foi, para as Nelinho cumpriu o seu papel.
nos arredores de Milão, em La Pi- bros e disse: «No lo so niente di rotas para cada um, embora os en- contas gerais, Mário Wilson, o Ve- Neves de Sousa escreveria: «A vin-
netina, o centro de estágio e de Boavista. Apena qui ha dei cami- carnados, como forma de justifica- lho Capitão, treinador encarnado gança do Bessa roçou as raias
treinos do Inter. O sorteio da Taça cie particolare». Na minha obri- rem a justeza do título tenham ba- chamou Nelinho e explicou-lhe a do incrível. Alves mal tocou no
UEFA fizera com que Inter e Boa- gação de traduzir tal frase para tido o seu adversário duramente no sua ideia: ia dispensá-lo dos treinos.
vista se cruzassem e, nesse tem- português, frase que me soava a Bessa, por 4-1, quando o ano de 1976 Metia-se num comboio para o Por-
po, o jornal A Bola tinha a boa
prática de enviar um jornalista
título, já agora, passei o «parti-
colare» a esquisitas e, durante
se iniciava. Dia 10. Este episódio que
se segue foi-me contado por Neli-
to e ficava com a incumbência de to-
mar nota de todos os pormenores Uma escanda-
para acompanhar durante alguns uns tempos, o nome acabou por nho, o grande Nelan, figura única do jogo de João Alves, um médio de losa derrota
dias os adversários das equipas
portuguesas nos torneios inter-
pegar: o Boavista era o clube das
camisolas esquisitas.
do futebol português e primeira
grande transferência entre dois clu-
múltiplos recursos que viera do
Montijo e orientava toda a estraté-
no Bessa
nacionais de forma a fornecer aos Os quadradinhos do Boavista fo- bes portugueses quando assinou gia do onze dirigido por José Maria com o União
leitores notícias frescas sobre
elas e não pacotes requentados de
ram estreados no dia 29 de janeiro
de 1933, numa vitória retumban-
pelo Braga em 1978. Joaquim Ma-
nuel Rodrigues Silva Marques ti-
Pedroto. De tal ordem que na época
seguinte partiu para Salamanca, foi
de Tomar (0-1)
um bricabraque de banalidades. te frente ao Benfica por 4-0, deram nha um jeito muito especial para considerado o melhor estrangeiro arrasou
Era um grande Inter, treinado
por Corrado Orrico (Orrikson
sorte e ficaram para sempre. Mas
foi preciso esperar pela época de
contar episódios com chiste. À me-
dida em que o jogo do Bessa se apro-
do campeonato espanhol, viu abri-
rem-se-lhe e fecharem-se-lhe as por-
o sonho!
NASCERDOSOL.PT 47

AFONSO DE MELO
O MUNDO EM CALÇÕES

Estava-me nas tintas! Queria era rio!


N A
o tempo em que Águeda lotão, depois porque logo a seguir, lvalade estava cada vez mais
era a terra das bicicletas, na aldeia da Paz, o benfiquista perto e Bouquet cada vez
o meu tio Óscar Machado António Acúrsio promoveu uma mais longe. O seu ritmo era in-
era engenheiro na Flandria. A fuga tão inesperada como deses- fernal e parecia desprezar o ca-
Flandria era a Flandria e não ha- perada que o levou a passar pela lor bruto que se fazia sentir so-
via cá discussões. Nem com a Ericeira com um minuto e cinco bre Lisboa como se esta estives-
União Ciclista de Águeda nem segundos da primeira metade do se debaixo de um cobertor de
com a Órbita que era, segundo o pelotão que se partira em dois. papa. A vantagem do belga che-
anúncio ‘A bicicleta que todos gou aos três minutos e quinze.
querem ter!’. Éramos miúdos
pequenos quando o meu tio foi à
Bélgica, em trabalho, com o co-
N a beira das estradas o povo vi-
brava. Os nomes mais consa-
grados eram berrados com inten-
Entrou na pista de ciclismo do
estádio num ambiente de festa
e alegria. Bouquet que já tinha
lega Mendes Leal, e vieram de lá sidade. Em Terrugem, já António vencido nesse ano uma etapa da
ambos com bicicletas de corrida Acúrsio conseguira uma vanta- Volta à Itália erguia os braços e
para os filhos, o meu primo Pe- gem muito interessante de dois recebia a ovação devida ao ven-
dro e o Joca. Era de estadão! Bi- minutos. Era agora ou nunca! cedor da última tirada. A Flan-
cicletas de corrida e da Flandria! Toda a gente esperava por uma dria era a Flandria e decidira
Chiça-catano! O resto da malta resposta a condi-
João - o Luvas Pretas andava em pasteleiras e era um zer e que faria
pau, discutindo com inveja deste final de Vol-
quantas mudanças teriam aque- ta de 1964 um dos
les bólides das estradas, tão, tão mais excitantes
importantes que deram serven- de sempre. A ser-
Um onze de respeito tia a gente como Eddy Merckx, ra de Sintra apre-
Rik van Looy, Freddy Maertens sentava-se, de re-
e Joop Zoetmelk. E Joaquim pente, como um
Agostinho, já agora. obstáculo duro.
A Flandria já era a Flandria Mas Acúrsio pa-
quando surgiu na Volta a Portu- recia imparável e
gal pela primeira vez, em 1964. trepou-a como
Quero dizer: já era Flandria como um macaco com
equipa de ciclismo, como marca rodas. Seria, no entanto, Sérgio Em 1957, a Flandria
era bem mais antiga. Mas só a par- Páscoa, do Tavira, a vencer o de-
tir de 1957 é que os seus responsá- finitivo Prémio de Montanha. resolveu criar
veis resolveram entrar em provas. Seguia-se o mar e a Costa do uma equipa
E à bruta! Logo com cabeças de pe- Sol. E, no céu, o sol queimava for- de competição.
lotão como Joseph Planckaert e
Rick van Looy e jovens como
te a pele, os ombros e as costas dos
ciclistas, atirando-os para um es-
Em 1964 apresen-
Merckx, Peter Post, Herman van forço impiedoso. Não havia tem- tou-se na Volta a
Springel e Walter Godefroot. po a perder, ignoravam olimpica- Portugal - deu nas
Nessa Volta a Portugal partici- mente a beleza da paisagem, des- vistas, não ganhou
param, além de Benfica, FC Por- ceram em vertigem até ao
to e Sporting, o Sangalhos e o Re- Guincho, tomaram o caminho de
A fuga de Salvador Inconfundível Taí creio de Águeda, o que lhe deu Cascais, o ritmo era forte e deci-
um toque muito lá de casa, se en- dido. António Acúrsio entrou em
couro, ainda hoje dando voltas -3), no Restelo (2-4) e no Estádio tendem o que quero dizer. Que eu Cascais sob uma salva excitada mostrar a sua força: a seguir a
à cabeça para perceber como do Mar, frente ao Leixões (0-1). As saiba foi a única vez que o Re- de aplausos mas notava-se que o Bouquet, chegaram a Alvalade
aquilo aconteceu. Nelinho foi a do Boavista com o Benfica, como creio participou na Volta, mas ad- cansaço começara a tomar conta mais dois belgas, Van Den
arma secreta capaz de traver a já vimos, em Alvalade (0-1) e sur- mito estar enganado. Não é de su- dos seus movimentos. Por mo- Bergher e Boonen. Não chegou
mais influente pedra do Boavis- preendentemente no Bessa face pina importância porque toda a mentos fraquejou e isso foi-lhe fa- para a vitória na classificação
ta». Moinhos (2), Shéu e Jordão ao União de Tomar (0-1). União gente queria era ver os ciclistas tal. O pelotão, ávido, absorveu-o. coletiva, que seria do FC Porto
marcaram os golos do Benfica, Ma- de Tomar que só ganhou um jogo da Flandria. Mas a verdade é que Era como se tivesse sido engolido (Flandria em segundo), nem in-
nuel Barbosa o do Boavista. E que longe do Nabão e foi por um triz não foi ninguém da Flandria a as- por um polvo gigantesco com de- dividual – Joaquim Leão, do FC
Boavista! Botelho na baliza; defe- que não desceu de divisão. Mas, sumir o papel de vencedor final zenas de pernas a triturem aque- Porto, ganhou. Em Águeda, o
sa com gente como Barbosa e Ca- seja como for, a época acabou em no dia 30 de Agosto quando se la que fora até aí a sua tarde de tempo passava mais devagar do
rolino, Mário João e Leonel Trin- festa. No dia 13 de junho, no Ja- percorreu a histórica última eta- glória sob o sol. Outro belga, da que nunca passou. Nunca havia
dade; meio-campo à conta de Taí, mor, Acácio Casimiro e Manuel pa entre a Malveira e Lisboa, com Flandria, claro está, tentou nova dias seguintes. Só as manhãs e
Acácio Casimiro, Alves e Francis- Barbosa marcaram dois golos entrada olímpica no Estádio de fuga. O seu nome era Walter Bou- as tardes na piscina fluvial do
co Mário; ataque com Zezinho, contra o único golo de Rui Lopes, Alvalade depois do esforço derra- quet. A Flandria não passaria Sport Algés e Águeda. Confes-
Jorginho e Salvador. Camisolas es- do Vitória de Guimarães. Fora-se deiro para trepar a Calçada de pela Volta a Portugal sem deixar so. Nunca quis muito saber da
quisitas envergadas por grandes o campeonato, ganhava-se a Taça Carriche. Foi um festival de emo- a sua marca. Bouquet parecia que Volta. Estava-me nas tintas.
jogadores da sua época. de Portugal. Se não havia lugar ções. Primeiro porque o belga voava sobre pedais. Seis quilóme- Queria era o rio.
As três derrotas do Benfica se- para o ouro que houvesse lugar Franz Brandts tentou a sua sor- tros volvidos já tinha dois minu-
riam em casa com o FC Porto (1- para a prata. te provocando uma fissura no pe- tos de avanço sobre o pelotão. afonso.melo@newsplex.pt
48 25 AGOSTO 2023

Desporto

Nova época, vencedores antigos


João Sena
joao.sena@nascerdosol.pt

Os principais campeonatos europeus começa- outros candidatos ao título na Serie A italiana, o campeão Nápo-
Premier League já perderam pon- les entrou a ganhar. No duelo en-
ram. As equipas mais fortes não facilitaram e tos, caso do Liverppol, Tottenham tre treinadores portugueses, Pau-
já estão na frente. e Manchester United. O Chelsea lo Sousa (Salernitana) foi a casa
da era Pochettino continua sem de José Mourinho (Roma) estra-
Com o início do campeonato ita- o passar das semanas. O campeo- vencer o que demonstra, uma vez gar-lhe a festa ao empatar, um re-
liano e alemão, pode dizer-se que nato inglês está como terminou mais, que não basta injetar mi- sultado encorajador para a equi-
a bola já rola nos grandes estádios em 2022/23, com o campeão Man- lhões de euros para se ter uma pa de Salerno. Na liga francesa, o
europeus para gáudio de milhões chester City e o Arsenal na frente, equipa ganhadora. Em Espanha, campeão PSG, Mbappé voltou à

PAUL ELLIS/AFP
de adeptos. No começo da época tendo a companhia do Brighton, Real Madrid e Valencia são as úni- equipa e até marcou, continua
as expectativas são sempre eleva- estas as únicas equipas que ven- cas equipas que fizeram o pleno sem vencer, com isso é o Mónaco Manchester City
das, depois vão-se ajustando com ceram os jogos já disputados. Os de vitórias esta temporada. Na que está na frente. continua a vencer

JOKER 1.º 4 pts


-3
2.º 5 pts
-3
3.º 5 pts
-2
4.º 5 pts
-2
5.º 6 pts
-4
6.º 7 pts
-3
7.º 12 pts
2
8 .º 12 pts
5
9.º 13 pts
4
10.º 15 pts
5
11.º 16 pts
5
12.º 18 pts
7

APOSTAS 2023/2024
Classificação
Carla Matadinho João B. Duarte Manuel Monteiro Miguel Henrique José N. Liberato Ricardo Cardoso Fátima Lopes Carlos Xavier Sílvio Cérvan Hélio Loureiro Sandra Felgueiras Rui Ochôa
3.ª Jornada CEO Yellowstar Adminstrador Prof. U. Lusíada Advogado Economista Juiz Estilista Ex-prof. futebol Advogado Chef Jornalista Fotógrafo

Gil Vicente-Benfica 0-3 1-2 0-2 1-2 0-2 0-2 0-2 1-1 1-2 0-2 1-3 1-1
Rio Ave- FC Porto 2-2 0-1 1-2 1-2 1-2 0-2 1-1 0-1 0-2 1-3 1-2 0-1
Sporting-Famalicão 2-0 3-1 2-1 2-0 2-0 2-0 2-1 2-0 2-0 1-1 2-1 2-1
1
Incerteza Os apostadores estão divididos, há mais gente a apostar na vitória do Sporting do que nos triunfos do Benfica e FC Porto

PORTUGAL 3ª JORNADA ESPANHA 3ª JORNADA INGLATERRA 3ª JORNADA ITÁLIA 2ª JORNADA FRANÇA 3ª JORNADA
1 E. Amadora-Estoril Hoje (20h15)  5 Las Palmas-Real Sociedad Hoje (18h30)  1 Chelsea-Luton Town Hoje (20h)  5 Frosinone-Atalanta 26/08 (17h30)  4 Nantes-Mónaco Hoje (20h) 
1 Arouca-Portimonense 26/08 (15h30)  2 Celta Vigo-Real Madrid Hoje (20h30)  1 Bournemouth-Tottenham 26/08 (12h30)  3 Monza-Empoli 26/08 (17h30)  6 Marselha-Brest 26/08 (18h) 
2 Farense-Chaves 26/08 (18h)  5 Cádiz-Almería 26/08 (16h30)  3 Everton-Wolverhampton 26/08 (15h)  5 AC Milan-Torino 26/08 (19h45)  1 PSG-Lens 26/08 (20h) 
1 Gil Vicente-Benfica 26/08 (20h30)  3 Granada-Maiorca 26/08 (18h30)  2 Man. Utd-Nottingham F. 26/08 (15h)  3 Verona-Roma 26/08 (19h45)  4 Rennes-Le Havre 27/08 (12h) 
1 Boavista-Casa
BTV1 Pia
ELEVEN SPORTS 27/08 (15h30)  2 Sevilha-Girona 26/08 (20h30)  4 Brentford-Crystal Palace 26/08 (15h)  4 Fiorentina-Lecce 27/08 (17h30)  5 Montpellier-Reims 27/08 (14h) 
2 Villarreal-Barcelona 27/08 (16h30)  1 Arsenal-Fulham 26/08 (15h)  3 Juventus-Bolonha 27/08 (17h30) 
2 V. Guimarães-Vizela 27/08 (18h)  6 Estrasburgo-Toulouse 27/08 (14h) 
2 Valência-Osasuna 27/08 (18h30)  1 Brighton-West Ham 26/08 (17h30)  3 Nápoles-Sassuolo 27/08 (19h45) 
1 Sporting-Famalicão 27/08 (20h30)  4 Clermont-Metz 27/08 (14h) 
12 At. Bilbao-Bétis 27/08 (20h30)  12 Burnley-Aston Villa 27/08 (14h)  3 Lazio-Génova 27/08 (21h45) 
1 Rio Ave-FC Porto 28/08 (20h15)  2 Getafe-Alavés 28/08 (18h30)  1 Sheffield Utd-Man. City 27/08 (14h)  Salernitana-Udinese 28/08 (17h30)  4 Lorient-Lille 27/08 (16h05) 
2
+ Moreirense-Sp. Braga 09/09 (18h)  1 R. Vallecano-At. Madrid 28/08 (20h30)  1 Newcastle-Liverpool 27/08 (16h30)  2 Cagliari-Inter 28/08 (19h45)  3 Nice-Lyon 27/08 (19h45) 

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO


J V E D G P J V E D G P J V E D G P J V E D G P J V E D G P
1 Boavista 2 2 0 0 7-3 6 1 Real Madrid 2 2 0 0 5-1 6 1 Brighton 2 2 0 0 8-2 6 1 Fiorentina 1 1 0 0 4-1 3 1 Mónaco 2 2 0 0 7-2 6
2 Sporting 2 2 0 0 5-3 6 2 Rayo Vallecano 2 2 0 0 4-0 6 2 Man. City 2 2 0 0 4-0 6 2 Juventus 1 1 0 0 3-0 3 2 Brest 2 2 0 0 5-3 6
3 FC Porto 2 2 0 0 4-2 6 3 Valência 2 2 0 0 3-1 6 3 Arsenal 2 2 0 0 3-1 6 3 Nápoles 1 1 0 0 3-1 3 3 Rennes 2 1 1 0 6-2 4
4 Girona 2 1 1 0 4-1 4 4 Brentford 2 1 1 0 5-2 4 4 Atalanta 1 1 0 0 2-0 3
4 V. Guimarães 2 2 0 0 3-1 6 4 Montpellier 2 1 1 0 6-3 4
5 At. Madrid 2 1 1 0 3-1 4 5 Liverpool 2 1 1 0 4-2 4 5 Inter 1 1 0 0 2-0 3
5 Arouca 2 1 1 0 6-5 4 6 Barcelona 2 1 1 0 2-0 4 6 Tottenham 2 1 1 0 4-2 4 5 Lille 2 1 1 0 3-1 4
6 Milan 1 1 0 0 2-0 3
6 Famalicão 2 1 1 0 2-1 4 7 Bétis 2 1 1 0 2-1 4 7 West Ham 2 1 1 0 4-2 4 7 Lecce 1 1 0 0 2-1 3 6 Marselha 2 1 1 0 4-3 4
7 Estoril 2 1 0 1 5-4 3 8 Alavés 2 1 0 1 4-4 3 8 Newcastle 2 1 0 1 5-2 3 8 Verona 1 1 0 0 1-0 3 7 Toulouse 2 1 1 0 3-2 4
8 Rio Ave 2 1 0 1 2-2 3 9 At. Bilbao 2 1 0 1 2-2 3 9 Aston Villa 2 1 0 1 5-5 3 9 Roma 1 0 1 0 2-2 1 8 Reims 2 1 0 1 3-2 3
Classificação à hora de fecho do jornal

9 Benfica 2 1 0 1 4-3 3 10 Osasuna 2 1 0 1 2-2 3 10 Nottingham F. 2 1 0 1 3-3 3 10 Salernitana 1 0 1 0 2-2 1 9 Estrasburgo 2 1 0 1 2-4 3
10 Casa Pia 2 1 0 1 4-2 3 11 Villarreal 2 1 0 1 2-2 3 11 Crystal Palace 2 1 0 1 1-1 3 11 Cagliari 1 0 1 0 0-0 1 10 Nice 2 0 2 0 2-2 2
11 Gil Vicente 2 1 0 1 6-2 3 12 Cádiz 2 1 0 1 1-2 3 12 Man. United 2 1 0 1 1-2 3 12 Torino 1 0 1 0 0-0 1 11 Lorient 2 0 2 0 1-1 2
12 Sp. Braga 2 1 0 1 5-4 3 13 Real Sociedad 2 0 2 0 2-2 2 13 Fulham 2 1 0 1 1-3 3 13 Lazio 1 0 0 1 1-2 0 12 PSG 2 0 2 0 1-1 2
14 Las Palmas 2 0 1 1 1-2 1 14 Bournemouth 2 0 1 1 2-4 1 14 Empoli 1 0 0 1 0-1 0
13 Vizela 2 0 1 1 4-5 1 13 Le Havre 2 0 1 1 3-4 1
15 Maiorca 2 0 1 1 1-2 1 15 Chelsea 2 0 1 1 2-4 1 15 Frosinone 1 0 0 1 1-3 0
14 Moreirense 2 0 1 1 1-2 1 16 Celta 2 0 1 1 1-3 1 16 Sheffield United 2 0 0 2 1-3 0 16 Bolonha 1 0 0 1 0-2 0 14 Lens 2 0 1 1 3-4 1
15 Chaves 2 0 0 2 2-6 0 17 Getafe 2 0 1 1 0-3 1 17 Luton Town 1 0 0 1 1-4 0 17 Monza 1 0 0 1 0-2 0 15 Metz 2 0 1 1 3-7 1
16 Portimonense 2 0 0 2 1-9 0 18 Sevilha 2 0 0 2 4-6 0 18 Burnley 1 0 0 1 0-3 0 18 Sassuolo 1 0 0 1 0-2 0 16 Nantes 2 0 0 2 1-4 0
17 Farense 2 0 0 2 1-5 0 19 Almería 2 0 0 2 1-5 0 19 Wolverhampton 2 0 0 2 1-5 0 19 Génova 1 0 0 1 1-4 0 17 Clermont 2 0 0 2 2-6 0
18 E. Amadora 2 0 0 2 0-3 0 20 Granada 2 0 0 2 1-5 0 20 Everton 2 0 0 2 0-5 0 20 Udinese 1 0 0 1 0-3 0 18 Lyon 2 0 0 2 2-6 0
 Liga dos Campeões  Playoff Liga dos Campeões  Liga Europa  Playoff Liga Europa  Descem de divisão  Playoff descida de divisão Transm. Televisivas: SportTV Benfica TV Eleven Sports
BTV1 ELEVEN SPORTS  Diferido
NASCERDOSOL.PT 49

Castigos e despedida na liga


João Sena
joao.sena@nascerdosol.pt
MIGUEL RIOPA/AFP

A segunda jornada pro- são os primeiros a entrar em


ação (sábado) frente ao Gil Vi-
longou-se muito para cente, que tem o mesmo número
além dos relvados. Ben- de pontos dos encarnados e con-
fica, FC Porto e Sporting seguiram o resultado mais dila-
estiveram no ‘olho do fu- tado do campeonato ao golear o
Portimonense (5-0). O futebol
ração’. O futebol portu- praticado está longe daquilo que
guês continua a dar boas era o ano passado, os adeptos já
manchetes. perceberam isso e aguardam o
jogo de Barcelos com muita ex-
A história começa com o polémi- pectativa, até para ver se conti-
co primeiro golo do Sporting no nuam as opções de risco de Ro-
jogo com o Casa Pia em mais uma ger Schmidt. FC Porto e Sporting
demonstração de incompetência querem manter o registo de vitó-
dos árbitros que estiveram no rias, mas os adversários não cos-
VAR e AVAR (Hugo Miguel e Rui tumam facilitar. O Sporting rece-
Soares). O Conselho de Arbitra- be (domingo) o Famalicão, um
gem não perdeu tempo e, ainda jogo que, em princípio, não deve
nessa noite, suspendeu os dois ár- assustar os leões, só que os fama-
bitros por tempo indeterminado. O Boavista é a equipa mais concretizadora e lidera o campeonato licenses causaram uma das prin-
Não passou muito tempo até o cipais surpresas deste campeona-
Benfica ser notícia quando se que disse que «vão ter de levar Foi um jogador muito importan- Portimão golear (1-4) e está na to ao ganhar em Braga com uma
soube que Vlachodimos confron- comigo mais um ano», estava a te nos últimos anos, era a ‘cabe- frente da classificação com o mes- exibição perfeita. A equipa de Sér-
tou o treinador devido às decla- apanhar o avião para a Arábia ça pensante’ da equipa e tinha o mo número de pontos de Spor- gio Conceição tem uma desloca-
rações de Roger Schmidt, onde Saudita para se juntar a Cristia- ADN do clube bem vincado, era ting, FC Porto e Vitória de Guima- ção curta, mas difícil, a Vila do
acusou o guarda-redes de ser res- no Ronaldo e ao treinador Luís um jogador à Porto, por muito rães, mas tem melhor diferença Conde (segunda-feira), nos últi-
ponsável pela derrota do Benfica Castro no Al Nassr. O clube lide- que isso incomodasse os rivais. de golos. Estas quatro equipas fo- mos anos, os portistas têm passa-
frente ao Boavista. Ato contínuo, rado por Pinto da Costa vendeu Em termos meramente despor- ram as únicas que não perderam do dificuldades com o vizinho Rio
Vlachodimos saiu da lista de con- Otávio por 60 milhões de euros – tivos, há uma surpresa: o Boavis- pontos nas primeiras jornadas Ave. O Braga joga em Moreira de
vocados para o jogo contra o Es- foi a venda mais cara de sempre ta lidera o campeonato. Depois de e, no próximo fim de semana, há Cónegos (segunda-feira) frente ao
trela da Amadora e foi para casa. do FC Porto – e nos cofres do clu- ter vencido o campeão nacional jogos de elevado risco para os Moreirense, que criou grandes di-
Passadas poucas horas, aquele be entraram 47 milhões de euros. Benfica, a equipa de Petit foi a grandes. Os campeões nacionais ficuldades ao FC Porto.

FUTEBOL FUTEBOL CICLISMO FUTEBOL

UEFA dá a Braga em
mão ao árbitro vantagem
Hugo Miguel O Braga venceu (2-1) os gregos do
Panathinaaikos, na primeira mão
O Conselho de Arbitragem sus- do playoff de acesso à Liga dos
pendeu por tempo indetermina- Campeões. A segunda mão reali-
do o árbitro Hugo Miguel após o za-se em Atenas, na próxima ter-
erro grosseiro que cometeu en- ça-feira, dia 29. Caso vençam a eli-
quanto VAR no jogo Casa Pia- minatória, os bracarenses vão
-Sporting (1-2) do campeonato na- participar, pela terceira vez, na
Bernardo fica cional. Contra todas as expetati-
vas, a UEFA decidiu nomeá-lo
fase de grupos da liga milinoná-
ria, onde o Benfica e o FC Porto já
em Manchester para um encontro europeu. O ár- têm lugar garantido. O sorteio
bitro faz parte da equipa de arbi- realiza-se dia 31 de agosto.
Bernardo Silva comunicou aos
responsáveis do Manchester City
tragem como AVAR (assistente do
VAR) no jogo da primeira mão do
Seis portugueses em Espanha
que aceita a proposta de renova- playoff da Liga Conferência entre João Almeida regressa à estrada para disputar a Volta a Espanha, onde
ção do contrato até 2026. Depois o KRC Genk (Bélgica) e o Adana é um dos principais favoritos. O ciclista da UAE vai ter a companhia
de ter sido apontado com reforço Demirspor (Turquia). Com a aju- dos gémeos Ivo e Rui Oliveira, de Rui Costa, Nelson Oliveira e Rúben
do Barcelona e do PSG, o jogador, da do organismo que tutela o fu- Guerreiro. A prova começa amanhã e termina dia 10 de setembro. O per-
de 29 anos, vai continuar em Man- tebol europeu, Hugo Miguel ga- curso tem 21 etapas e uma distância de 3.160 quilómetros. As montanhas
chester. João Cancelo vai ser ce- nha assim nova vida fora de por- terão papel preponderante na edição deste ano, com destaque para os
dido ao Barcelona por emprésti- tas. António Nobre foi nomeado míticos Tourmalet e Angliru. Vingegaard vai participar com o objeti-
mo, com opção de compra. árbitro principal do encontro. vo de vencer e tentar uma histórica dupla vitória em França e Espanha.
50 25 AGOSTO 2023

I nternacional

YEVGENY
PRIGOZHIN
ASCENSÃO E QUEDA
AFP

Gonçalo Nabeiro *
goncalo.nabeiro@nascerdosol.pt

Dois meses após a tentativa de golpe de Estado, o jato Em- como Vladimir Putin lida com os
seus opositores ou com aqueles
tido do cargo de comandante-
-chefe das forças aeroespaciais e
braer Legacy 600 onde viajava o líder do Grupo Wagner, que considera infiéis. A morte de
Prigozhin faz crescer a lista de
alega-se que está num curto pe-
ríodo de férias.
Yevgeny Prigozhin, caiu a cerca de 160 quilómetros de Mos- mortes suspeitas de figuras in- Dmitry Utkin, outro dos passa-
covo. Prigozhin estava acompanhado por Dmitry Utkin, fluentes russas desde 2022.
Em junho deste ano, Kristina
geiros a bordo do Embraer Le-
gacy 600, é também uma parte im-
fundador e segunda figura do grupo de mercenários, e por Baikova, então vice-presidente portante da equação. Era funda-
do Loko-Bank, caiu do décimo dor do Grupo Wagner e a segunda
mais quatro líderes. Não houve sobreviventes. primeiro andar de um prédio em peça mais importante dos merce-

A
Moscovo. Pavel Antov, crítico do nários. O posto de líder do grupo
ascensão meteórica pria vida. O avião que transpor- (tanto russos como ucranianos). governo de Putin, em dezembro tinha-lhe sido oferecido pelo pró-
de Yevgeny Pri- tava o chefe do grupo Wagner A existência de uma filmagem do ano passado, caiu da varanda prio Presidente Putin, o que não
gozhin, um alegado caiu nas proximidades de Tver, que mostra o avião em queda li- do quarto do hotel onde estava aceitou – e não é inverosímil que
criminoso que se tendo, segundo a agência russa vre e já em chamas sustenta a hospedado, na Índia, e Yuri Vo- tenha sofrido as consequências
tornou dono de uma TASS, pegado fogo ao cair. Foram tese de intervenção exterior. Se- ronov, ligado à Gazprom, foi en- da sua recusa. Já Prigozhin, uma
empresa de catering encontrados os corpos de oito dos gundo a CNN, o FSB, os serviços contrado morto na piscina de figura bastante popular na Rús-
multimilionária e por fim líder dez ocupantes. secretos russos, tinha ordens su- casa em São Petersburgo. Estes sia, o que se verificou principal-
de um grupo de mercenários, ter- As causas do acidente têm sido periores para eliminar Prigozhin são apenas três casos de um vas- mente na sequência do golpe de
minou abruptamente esta quar- alvo de escrutínio e especulação. desde a tentativa de golpe de Es- to leque de mortes suspeitas nos estado falhado, poderá ter deixa-
ta-feira, dia 23. Era um «homem Aponta-se para hipóteses como tado, uma informação alegada- últimos dois anos. O General do Putin desconfortável quanto
talentoso» mas cometeu «erros sabotagem, um míssil de defesa mente dada pela Ucrânia. A reve- Sergei Surovikin, cujo paradei- às eleições do próximo ano. O
graves», sentenciou Vladimir antiaérea, avaria técnica ou até lação dá força à existência um pa- ro é desconhecido desde a rebe- Presidente russo já tinha ofereci-
Putin. E pagou por eles com a pró- intervenção dos serviços secretos drão ‘maquiavélico’ na forma lião do Grupo Wagner, foi demi- do opções para retirar Prigozhin
NASCERDOSOL.PT 51

Marcelo entre
a trincheira
e a cimeira
Presidente esteve em evidente o apoio português à Ucrâ-
solo ucraniano para nia, com Marcelo a declarar que
«o principal objetivo é a recu-
uma visita de dois dias. peração da integridade territo-
rial» (da Ucrânia) e que qualquer
Na aldeia de Moshchun, nos ar- solução que não envolva a Cri-
redores de Kiev, Marcelo Rebelo meia não passa de «ruído». O che-
de Sousa tornou-se o primeiro fe de Estado clarificou ainda que
chefe de Estado a entrar numa «a integridade da Ucrânia signi-
trincheira usada durante o con- fica as fronteiras reconhecidas
flito. O acontecimento inédito em 1991». O Presidente ucrania-
provocou uma reação de perple- no mostrou-se agradecido e até
xidade, principalmente na vice- ajudou Marcelo Rebelo de Sousa
-governadora de Kiev, Lesya com o dispositivo de tradução,
Arkadievna. «Isto nunca tinha num momento mais descontraído
acontecido! É o primeiro que da cimeira. Entretanto soaram os
faz isto», afirmou. O Presidente alarmes de ameaça de ataque aé-
mostrou-se sensibilizado e alegou reo – com Marcelo a manifestar a
que lhe fazia «lembrar a primei- sua confiança no sistema de defe-
ra Guerra Mundial». Bucha foi sa da capital ucraniana.
também um dos destinos da visi- A Ucrânia celebrou na quinta-
ta. Marcelo, juntamente com o -feira o seu Dia da Indepêndencia,
ministro ds Negócios Estrangei- onde o Presidente foi convidado
ros, João Cravinho, esteve pre- de honra e até discursou em ucra-
sente numa homenagem às víti- niano, estando também a ponde-
mas do massacre perpetrado pe- rar fazer um convite a Zelensky
los russos em fuga da cidade, para se deslocar a Lisboa.
localizada nos arredores de Kiev. A população ucraniana conhe-
O Presidente marcou ainda pre- ceu desta forma o ‘Presidente dos
sença na Cimeira Plataforma Cri- afetos’, que deixou (ainda mais)
meia, onde estiveram represen- vincado o compromisso e solida-
tantes de 60 países. Foi nesta con- riedade portuguesa para com o
de cena, como o exílio e a sua reação do Grupo Wagner, ainda nunciar-se. Joe Biden sugeriu a ferência que ficou ainda mais povo ucraniano.
substituição na liderança do Gru- que incerta, adivinha-se violenta. possibilidade da intervenção do
po Wagner, mas nenhuma delas Num vídeo, membros do grupo na próprio Putin na queda da aero-
foi concretizada. Bielorrúsia afirmaram que: nave: «Não há muito que acon-
«Fala-se muito daquilo que o teça na Rússia que não tenha
Repercussão internacional Grupo Wagner fará. Podemos o apoio de Putin. (…) Podem
A influência que os mercenários dizer uma coisa: estamos só a lembrar-se, quando me per-
têm tido no crescimento da esfe- começar, preparem-se para guntaram sobre isto, eu disse
ra de influência russa, principal- nós». Na noite da queda do jacto que seria cuidadoso sobre o
mente em África e no Médio que levava Prigozhin, a conta de que beberia e onde andaria. (…)
Oriente, é inegável. Tem sido um Twitter da plataforma Visegrád Não estou surpreendido». Esta
dos maiores propulsores do país, 24 noticiava que as autoridades postura americana pode estar re-
ainda que de forma obscura. da Bielorrússia tinham cortado o lacionada com informações dos
Apoiam golpes de estado, como acesso à internet para impedir os seus serviços de inteligência. Se-
MIGUEL FIGUEIREDO LOPES/PRESIDENTE DA REPÚBLICA

tem acontecido recentemente na mercenários de comunicarem en- gundo a Visegrád 24, o Departa-
região do Sahel, e são responsá- tre si para orquestrar a reação. mento de Estado dos EUA, dois
veis por acordos económicos e de Enquanto Putin se apressou em dias antes do incidente, apelou
exploração, assumindo-se como convocar uma reunião de emer- aos seus cidadãos presentes na
uma organização fundamental na gência no Kremlin, a Ucrânia, que Bielorrúsia que deixassem ime-
mudança do quadro geopolítico. celebrou o Dia da Independência, diatamente o país.
Prevê-se agora que a morte de Pri- viu a morte de Yevgeny Prigozhin Esta morte suspeita, que aconte-
gozhin – que acabara de divulga- como um ‘presente’. A Rússia já ceu no decorrer da cimeira dos
ram um vídeo, o primeiro desde confirmou que continuará a tra- BRICS, promete abalar o Kremlin,
o golpe de estado, em que referia balhar na investigação ao que de- não só dentro da Rússia como tam-
que estavam a tornar África mais signou por ‘caso criminal’. bém a nível internacional.
livre – vá agitar a política interna Entre as potências ocidentais,
e externa russa, uma vez que a os EUA foram os primeiros a pro- * Editado por José Cabrita Saraiva Marcelo na trincheira em Moshchun, perto de Kiev
52 25 AGOSTO 2023

ARISTÓTELES DRUMMOND Internacional


BRASIL PRESENTE

Petrobras volta CONTRAOFENSIVA


ao passado
AQUÉM DAS
A EXPECTATIVAS
cionistas da Petrobras, O destino de Bolsonaro pa-
que são mais de 700 mil rece ser pedir asilo a um país
pessoas físicas e seis mil ou acabar preso em um dos
empresas e fundos, estão preo- inúmeros processos a que
cupados com a orientação da responde.
empresa que é controlada pelo Este é o Brasil que ignora a
governo. Depois de diminuir economia, as dificuldades da Gonçalo Nabeiro *
o percentual dos lucros a ser população, para uma elite fa- goncalo.nabeiro@nascerdosol.pt
dividido como dividendos e zer política.
vender combustíveis abaixo Linha de defesa russa, uma das mais extensas dial, tem sido o maior entrave
do preço internacional, a em- VARIEDADES para os ucranianos, juntamente
presa anuncia que pode fazer • Lula da Silva em semana re-
desde a II Guerra Mundial, atinge mais de mil com a falta de superioridade aé-
acordo com as finanças em veladora. Discurso em Dur- quilómetros, o que coloca dificuldades aos ucra- rea. Também as características
ação que corre na Justiça, pa- ban lamentando ausência de nianos. Tal como a falta de superioridade aérea, do terreno, com vastas planícies
gando cerca de seis mil mi-
lhões de euros. Seria para aju-
Putin na reunião dos BRICS,
insistindo na troca do dólar
mas isso poderá mudar com a chegada de ca- e pouca vegetação, são um pon-
to a favor dos russos, facilitando
dar o governo a fechar as con- nas transações entre os países ças F-16 da Holanda e Dinamarca. Zelensky o processo de contra-ataque.
tas. Assim, a empresa, que membros e posição dúbia em manifestou confiança na vitória: ‘A verdade
estava recuperada, volta a in- relação à invasão da Ucrânia. está do nosso lado’. Ação internacional
vestir em refinarias e inter- Defesa da entrada da Venezue- Recentemente, Dinamarca e Ho-
rompeu a venda de algumas la e Argentina. Depois périplo Com início há cerca de dois me- de Bakhmut, enquanto «no sul, landa decidiram fornecer caças
unidades. E pode ainda per- por Angola e reunião dos paí- ses, a contraofensiva ucraniana a situação não sofreu mudan- F-16 à Ucrânia, uma ação que de-
manecer na área petroquími- ses da CPLP. Declarações vol- conta com quatro eixos de ataque ças significativas». monstra o compromisso europeu
ca, se não vender as ações que tadas para a mídia e o público principais, dois na região de Do- Já a Rússia, que tem atacado na ajuda a Kiev. Porém, só pode-
possui na Braskem, que está de esquerda. netsk e dois mais a sul, em Zapo- de forma sucessiva a região fron- rão ser usados em território
sendo negociada pelo Grupo • Paul McCartney estará no rizhzhia. Um dos principais obje- teiriça de Sumy com o objetivo ucraniano, como referiu Jakob
Odebrecht. Brasil em dezembro, em São tivos é cortar a ligação terrestre de chegar a Kiev, admitiu que Ellemann-Jensen, ministro da
Paulo, Rio, Belo Horizonte e entre a Rússia e Crimeia, facili- Moscovo foi alvo de ataques com Defesa dinamarquês. A Grécia
BRASIL MARCHA Curitiba, com ingressos esgo- tando o ataque a navios no mar drones, levando ao cancelamen- também entra nesta equação e,
PARA ‘NEM NEM’ tados. No Rio, a apresentação de Azov. Segundo a CNN, é nesta to de cerca de 50 voos do aeropor- ainda que não forneça caças, pro-
O Brasil continua dividido en- vai ser no Maracanã. parte do território que a contrao- to de Vnukovo, na capital russa, meteu ajudar no treino e forma-
tre Lula e Bolsonaro, mas cres- • As propriedades rurais do es- fensiva tem tido maior sucesso, segundo a Al Jazeera. O Kremlin ção dos pilotos ucranianos. A no-
ce a cada dia o número dos que pólio do ex-presidente Jango tendo sido recuperadas várias re- aponta ainda a existência de dois tícia foi recebida com entusias-
não querem nem um nem ou- Goulart serão vendidas em lei- giões, como Neskuchne, Blaho- feridos na sequência da queda de mo por Volodymyr Zelensky, que
tro. Lula governa ainda de um lão, com preço estimado em 40 datne, Rivnopil, Makarivka, Sta- destroços de um drone, perto de discursou em solo dinamarquês:
palanque, distribui recursos milhões de euros. romaiorske e Urozhaine. uma casa moscovita. «Tenho a certeza que vamos
que o país não tem, logo vai su- • O Banco Central projeta coi- A vice-ministra da Defesa ucra- Apesar de se registarem avan- vencer porque a verdade está
bir impostos e alimentar a in- bir vendas parceladas nos car- niana, Hanna Maliar, reconheceu ços, e alguns importantes, é de do nosso lado. A liberdade im-
flação. Bolsonaro revela sua tões de crédito, onde os juros que as batalhas em Kharkhiv têm ressalvar que a contraofensiva porta. A Europa importa».
mediocridade em trapalhadas andam por volta de 15% ao sido difíceis mas que vários qui- está a ficar aquém das expecta- Da Rússia, como seria expectá-
com joias, atestados falsos de mês e a inadimplência é gran- lómetros quadrados já foram re- tivas ucranianas e internacio- vel, veio uma reação condenató-
vacinação, conversas em Palá- de. Apenas parcelamentos conquistados na frente mais a les- nais. A linha defensiva russa, ria. Vladimir Barbin, embaixa-
cio com marginais – hackers – sem juros, como fazem as em- te. Maliar assegurou ainda que fo- que se estende por mais de mil dor russo na Dinamarca, afirmou
e é alvo de tenaz campanha. presas aéreas. ram retomados cerca de três quilómetros, das mais extensas que esta decisão apenas contri-
Eleições municipais ano que • A Virgin Atlantic vai come- quilómetros quadrados na zona desde a Segunda Guerra Mun- buirá para o escalar do conflito.
vem devem revelar a força da çar voos diários entre Londres
terceira via. e São Paulo.
O governador de São Paulo, • São mais de 120 mil os tem-
Tarcísio de Freitas, é o nome plos evangélicos no Brasil. Nos
em alta, fazendo bom governo últimos três anos, quase 20 mil
e tomando boas atitudes. Vai foram criados com diferentes
precisar do apoio de Bolsona- denominações.
ro, mas não pode ficar muito • A bolsa brasileira continua
próximo para não sofrer a re- caindo com as incertezas quan-
jeição do outro. Um desafio to à economia.
político. • O fantástico hotel Rosewood,
Lula está entre capitular e di- em São Paulo, pertence ao gru-
vidir o governo com todos os po francês do Crillon, de Paris,
ARIS MESSINIS/AFP

partidos, pois os conservado- e Carlyle, de Nova York. São


res são ampla maioria, ou en- três restaurantes com lotação
frentar estas resistências e con- plena ao almoço e ao jantar.
duzir o país para uma crise ins-
titucional. Rio de Janeiro, agosto de 2023 Soldados ucranianos disparam contra posições russas
NASCERDOSOL.PT 53

PP quer empenar a ‘gerigonça’


João Sena
joao.sena@nascerdosol.pt
SEBASTIAN MARISCAL/POOL/AFP

O Partido Popular ven- bilizar um governo. O facto de o


Vox, partido de extrema-direita,
ceu as eleições legislati- ser seu aliado pode complicar a
vas, e o Rei Filipe VI es- tarefa de Feijóo. Por essa razão
tendeu a passadeira para Santiago Abascal pondera apoiar
o governo. Contudo, o PP no parlamento, mas não fa-
zer parte do governo.
uma ‘geringonça’ à espa- Embora tenha perdido as elei-
nhola pode mudar tudo. ções, o PSOE tem mais aliados no
parlamento, o que levou Pedro
Terminada a ronda de reuniões Sánchez a afirmar que tem mais
com os partidos políticos espa- hipóteses de conseguir formar um
nhóis, Filipe VI deu ao Partido Po- governo estável, contando com o
pular (PP) a possibilidade de for- apoio da coligação Sumar e com
mar governo, mas isso não signi- outros movimentos regionalistas e
fica que a situação política esteja independentistas. As contas são
resolvida, bem pelo contrário. O relativamente fáceis de fazer. O PP
partido de Nuñez Feijóo foi o mais conta com 172 deputados, incluin-
votado nas eleições de julho, mas do os deputados do Vox, da UPN e
os conservadores não consegui- da Coalición Canaria, mas para ter
ram maioria absoluta, o que signi- maioria absoluta no parlamento
fica que vão ter de fazer acordos O Rei Filipe VI passou ao líder do PP, Nuñez Feijóo, a responsabilidade de formar governo são necessários 176 deputados. Já
com outros partidos para garan- o PSOE, Sumar, Junts, ERC, EH
tir o apoio parlamentar que lhes do afastada a possibilidade de no- caso dos nacionalistas e indepen- que aceitava a nomeação para se Bildu, PNV e BNG conseguem 178
permita governar. vas eleições em breve. As duas dentistas bascos, catalães e gale- submeter à votação do parlamen- deputados. Cabe agora à Mesa do
Por seu lado, o dirigente socia- principais forças partidárias não gos. Por esse motivo, Feijóo insis- to para ser primeiro-ministro, e Congresso dos Deputados agendar
lista Pedro Sánchez, atual primei- conseguiram os votos suficientes te em reunir-se com Sánchez para fez questão de frisar: «O Partido o debate e votação de tomada de
ro-ministro, não conseguiu segu- para fazer governo, agora vão ter tentar um acordo que permita ao Popular merece a oportunida- posse de Feijóo como primeiro-mi-
rar o eleitorado tradicional do de se coligar e todos os cenários partido mais votado governar. de formar governo, uma vez nistro. Se essa possibilidade falhar,
PSOE e foi derrotado nas eleições. são possíveis, com os partidos «Espanha não merece uma si- que foi o partido mais votado o Rei deverá repetir a ronda de au-
É a volta destes partidos que se mais pequenos e ideologicamente tuação ingovernável», afirmou. nas eleições». Disse ainda que diências com os partidos e indicar
vai decidir o futuro de Espanha opostos a ganharem um peso po- Depois de ser recebido por Fili- precisa de tempo para negociar novo candidato a primeiro-minis-
nos próximos tempos, não estan- lítico que não tiveram nas urnas, pe VI, o presidente do PP afirmou com os partidos que possam via- tro, como já aconteceu no passado.

GRÉCIA BRICS NICARÁGUA ÍNDIA

Imigrantes Nova ordem económica Jesuístas


sofrem em 2030 sob ameaça
maus tratos A cimeira dos BRICS terminou, ontem, na África do Sul, com a entra- Uma semana depois de ter toma-
da de seis novos países. Argentina, Egipto, Etiópia, Irão, Arábia Sau- do a Universidade Centro-Ameri-
Especialistas em direitos huma- dita e os Emirados Árabes Unidos foram convidados a tornarem-se cana pertencente aos jesuítas, o
nos da Organização das Nações membros de pleno direito a partir de 1 de janeiro de 2024. Estes países governo da Nicarágua dissolveu
Unidas (ONU) condenaram a Gré-
cia pelo uso de práticas que desu-
juntam-se ao grupo de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul). Esta organização representa mais de 42%
a filial nicaraguense da Compa-
nhia de Jesus, ordem religiosa dos
Superpotência
manizam os imigrantes que pe- da produção mundial e deve mudar a economia mundial até 2030. Du- jesuítas, e confiscou todas as suas no espaço
dem asilo nos controlos fronteiri- rante a cimeira, os membros também aprovaram uma resolução para propriedades. O líder sandinista
ços do país. Os elementos da ONU estudar a criação de «uma nova moeda de pagamentos». Daniel Ortega alega que a ordem A Índia tornou-se na manhã de
consideraram que está a ser vio- não cumpriu com a declaração de quarta-feira o quarto país a pou-
lado o princípio de não-repatria- impostos. «Caberá ao procura- sar na superfície lunar. A missão
mento forçado, assim como o di- dor-geral da República proce- espacial Chandrayaan-3 consolida
reito à vida das pessoas que che- der à transferência desses bens o papel da Índia como uma super-
gam ao país por vias ilegais.Os móveis e imóveis para o Esta- potência global no espaço. O local
especialistas solicitaram informa- do», confirmou a ministra do In- de aterragem da nave foi diferente
ções ao Governo grego sobre 12 re- terior, Amelia Coronel. É mais e fica mais próximo do pólo sul do
quisitantes de asilo provenientes um golpe do governo contra a satélite. Anteriormente, apenas os
da Somália, Eritreia e Etiópia, que Igreja Católica e, especialmente, EUA, a China e a antiga União So-
foram alegadamente detidos por contra o Papa Francisco, que per- viética tinham alunado com suces-
homens encapuzados, despojados tence à ordem e que, há meses, so. «Este é o momento para uma
dos seus pertences e levados à for- tenta libertar o bispo Ronaldo Ál- nova Índia», disse o primeiro-mi-
ça para o porto de Mitilene. varez, preso há um ano. nistro Narendra Modi.
54 25 AGOSTO 2023

Internacional

FACEBOOK PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - ANGOLA


JOÃO LOURENÇO
QUER LIGAÇÃO
ENTRE ATLÂNTICO
E ÍNDICO
Teresa Nogueira Pinto
teresa.pinto@nascerdosol.pt

Corredor do Lobito pode tornar-se de grande (e integração) regional é o comér-


cio. No plano continental, a en-
importância estratégica. João Lourenço, que trada em vigor da Zona de Livre
acaba de assumir a presidência da SADC, falou Comércio Continental Africana
em ‘esforço para recuperar e construir infrae- em janeiro de 2021 gerou grandes
truturas’. expectativas relativamente ao in-
cremento do comércio intracon-
A República de Angola assumiu, em 2018 e dirigiu um ambicioso tinental que, atualmente, repre-
no passado dia 17 de agosto, a processo de reforma, João Louren- senta apenas 14 por cento do co-
presidência rotativa da Comuni- ço apontou o financiamento como mércio global.
dade de Desenvolvimento da um dos principais desafios da or- Segundo dados da União Afri-
África Austral (SADC) para o pe- ganização, estabelecendo o objeti- cana, o comércio intrarregional
ríodo 2023/24. vo de reduzir «o nível de depen- na África Austral aumentou 4 por
É a terceira vez que o país assu- dência da sempre útil e apreciá- cento desde 2021, refletindo o im-
me a presidência da organização, vel solidariedade dos parceiros pacto positivo de medidas de sim-
composta por 16 Estados-mem- de cooperação internacional». plificação, como a digitalização
bros: Angola, Botsuana, Comores, É um problema comum a várias dos certificados de origem. Mas
República Democrática do Congo, organizações internacionais e re- uma condição necessária para o
Essuatíni, Lesoto, Madagáscar, gionais. Não existe agência sem in- aumento do comércio, e para a in-
Malawi, Maurícias, Moçambique, dependência financeira, mas, face tegração dos países da sub-região
Namíbia, Seicheles, África do Sul, às limitações e situações de incum- em cadeias de valor global, é a
Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué. primento por parte dos Estados- transformação das economias e a
Na 43.ª Cimeira Ordinária de -membros, aprofunda-se a depen- criação de infraestruturas de co-
Chefes de Estado e de Governo da dência de doadores que condicio- nectividade.
SADC o Presidente da República nam a agenda e autonomia da No caso da SADC, o objetivo de
angolano, João Lourenço, que su- organização. Por isso, o Presiden- potenciar o acordo de livre comér-
cedeu ao Presidente da República te angolano sublinhou a necessi- cio entre os Estados da sub-região
Democrática do Congo, Félix Tshi- dade de assegurar que todos os Es- é indissociável da implementação
sekedi, lembrou o desígnio da or- tados-membros aprovam e ratifi- da Estratégia e Roteiro para a In-
ganização, que assenta numa ló- cam a operacionalização do Fundo dustrialização (2015-63), que tem
gica de cooperação e integração de Desenvolvimento Regional da como objetivo a diversificação e
no espaço sub-regional: «Fazer da SADC, tido como ‘ferramenta-cha- reestruturação do setor indus-
SADC uma região pacífica, in- ve’ para financiar o programa de trial, a partir da identificação de
clusiva, competitiva e indus- industrialização regional. seis áreas prioritárias: agro-pro-
trializada». cessamento; beneficiação de mi-
Mas, apesar das oportunidades, Oportunidades e prioridades nerais; farmacêutica; bens de con-
tudo indica que o próximo ano, Como a história sugere, um dos sumo; bens de capital e serviços.
para a região, será marcado por grandes motores da cooperação O Presidente João Lourenço guela, do Huambo, do Bié e do participaram na cerimónia
desafios substanciais. sublinhou, neste aspeto, a neces- Moxico. Do ponto de vista sub- inaugural da concessão à Lobi-
sidade de investir em capital hu- -regional, o Corredor pode tor- to Atlantic International deste
Agência e autonomia mano, na produção de energia e nar-se de grande importância corredor ferroviário, por um pe-
financeira interconexão, na expansão da estratégica. A sua expansão até ríodo de 30 anos.
As prioridades, segundo o Presi- rede rodoviária e ferroviária, e no ao copperbelt na Zâmbia e à re- O objetivo, no longo prazo, é o
dente angolano, serão a «valori- 60% das divisas aumento da produção de etanol e gião do Katanga na RDC e a har- de ligar o Atlântico ao Índico,
zação do capital humano, ques- externas bens alimentares. monização de regulação permi- com a extensão até aos portos de
tões financeiras, paz e estabili- arrecadadas tirá reduzir de semanas para Dar es Salaam e da Beira.
Corredor do Lobito
dade na região».
Mas, seguindo a linha do Presi-
pelos governos Partindo do Porto do Lobito, o
dias o transporte destes mine-
rais até ao Oceano Atlântico. Em
Angola, afirmou João Louren-
ço, «está a fazer um grande es-
dente Paul Kagame, que assumiu da região vêm Corredor do Lobito liga Angola julho, João Lourenço, Hakainde forço para recuperar e cons-
a presidência da União Africana do setor mineiro de oeste a este através de Ben- Hichilema e Félix Tshisekedi truir infraestruturas, como o
NASCERDOSOL.PT 55

a pandemia de covid-19. Sessenta grandes custos humanos. Tam-


por cento das divisas externas ar- bém no norte de Moçambique,
recadadas pelos governos vêm do grupos terroristas tentam tirar
setor mineiro, que representa cer- partido do vazio de poder deixa-
ca de 10 por cento do PIB da re- do pelo Estado.
gião, e apenas 5 por cento dos pos-
tos de trabalho. Desafios de estabilização
E depois há os desafios da insta- Em Angola, como em tantas ou-
bilidade política. Na África do tras latitudes, o Estado e a nação
Sul, a constituição progressista e construíram-se também a partir
o contrato social que sustentou as dos escombros da guerra civil,
esperanças da transição e recon- que permitiu ultrapassar cliva-
ciliação parecem estar a falhar, gens étnicas e regionais. Benefi-
num contexto em que persiste a ciando dessa estabilização, e do
corrupção, a pobreza, a violência estatuto de potência regional, o
e tensões raciais. No Zimbabué, país tem tido um papel importan-
torna-se claro que o fim da lide- te nas várias tentativas de media-
rança personalizada e autoritária ção e resolução de conflitos na re-
de Robert Mugabe não abriu ca- gião. No caso do conflito na zona
minho à democracia, mas à per- leste da DRC (que é também um
petuação da ZANU-PF no poder. conflito por procuração entre Ki-
Durante a presidência angola- gali e Kinshasa) e depois dos su-
na, realizar-se-ão eleições no Rei- cessivos falhanços das iniciativas
no do Essuatíni, em Madagáscar de mediação extracontinentais,
e na RDC. A escalada da violência Luanda, tal como Nairobi, tentam
na região leste, o aumento dos pro- oferecer soluções africanas para
testos e tensões sociais e as ques- problemas africanos.
tões levantadas pela oposição re- Tudo indica que o próximo ano
lativamente ao processo eleitoral será marcado por vários desafios
sugerem que as eleições na RDC, à segurança no plano regional. O
agendadas para dezembro de 2023, envio de tropas, sob a égide da or-
serão um momento de tensão po- ganização, para a DRC, bem como
lítica que poderá exigir um posi- a decisão de manter a missão mi-
cionamento da organização. litar no norte de Moçambique por
Sobre os vários atos eleitorais, mais 12 meses trarão mais custos
João Lourenço afirmou que a or- e exigirão esforços diplomáticos
ganização está comprometida em significativos.
garantir eleições «pacíficas, li- Na DRC, não é clara a relação
vres e justas, em harmonia que as tropas da SADC manterão
com os princípios e orientações com a Força Regional da África
que regulam a realização de Oriental e a MONUSCO. Presente
eleições na região». desde 1999, a MONUSCO é uma
E o primeiro teste parece já es- das operações de manutenção de
tar aí. No Zimbabué, as eleições paz mais caras da história. Mas a
gerais da passada quarta-feira vol- ONU voltou a falhar na região e,
taram a ser marcadas por irregu- após várias controvérsias e o au-
laridades, e o líder da oposição, mento do descontentamento po-
Nelson Chamisa, contestou os re- pular, anunciou a retirada da MO-
sultados. Durante a presidência NUSCO até ao fim deste ano.
de Robert Mugabe, a SADC contri- Em Moçambique, a Missão da
buiu para assegurar a sua perma- Comunidade de Desenvolvimen-
nência no poder refletindo os la- to da África Austral em Moçam-
ços de solidariedade, dentro da or- bique (SAMIM) está presente em
ganização, entre os governos Cabo Delgado desde julho de 2021,
formados por movimentos de li- tendo sido a primeira vez que tro-
bertação transformados em par- pas sob comando da SADC se en-
tidos dominantes. E num cenário volveram em operações de com-
Corredor do Lobito, que vão micos, conflitos armados e cri- uma crise de endividamento, ten- de contestação ou violência pós- bate. Também aqui não é clara a
facilitar a interconexão e o ses políticas. do a Zâmbia sido o primeiro país -eleitoral, a SADC será chamada, relação entre as forças da SADC
movimento de pessoas e bens a entrar em incumprimento no como no passado, a pronunciar-se. e as forças ruandesas, tidas como
entre os Oceanos Atlântico e Uma região, várias crises período pós-pandemia. Em outros Mas na região também se sen- responsáveis pelo sucesso da con-
Índico». O objetivo é, também, Uma organização sub-regional ou países, como o Zimbabué ou a tem os efeitos da fragilidade do traofensiva e relativa estabiliza-
colocar produtos nos mercados regional também é um somatório África do Sul, sentem-se as conse- Estado. Na zona leste da RDC, o ção na região.
internacionais em condições dos desafios dos Estados que a in- quências da desindustrialização. Estado não tem o monopólio do Considerando o contexto regio-
mais vantajosas. tegram. E, na África Austral, os As economias de Angola e da RDC uso da força legítima. A combina- nal atual, o sucesso da presidên-
Mas assegurar a conectivida- desafios económicos, políticos e continuam dependentes de maté- ção de tensões internacionais e cia angolana será julgado com
de pode não ser suficiente para de segurança podem comprome- rias-primas, sendo particular- clivagens étnicas e religiosas com base nos avanços e resultados da
dinamizar as economias e o co- ter os objetivos de cooperação, mente vulneráveis a choques ne- o crime organizado e terrorismo cooperação regional em três fren-
mércio de uma região que en- transformação e comércio. gativos, como se confirmou du- militante deu origem a um cená- tes: comércio, mediação política
frenta enormes desafios econó- Os países da região enfrentam rante o crash das commodities ou rio de violência permanente, com e estabilização.
56 25 AGOSTO 2023

E conomia
ANDRÉ GOMES
PRESIDENTE DA REGIÃO DE TURISMO DO ALGARVE

‘O MERCADO NACIONAL
CONTINUA
A SER O PRINCIPAL
NO ALGARVE’
Sónia Peres Pinto Bruno Gonçalves (Fotografia)
sonia.pinto@nascerdosol.pt bruno.goncalves@nascerdosol.pt

André Gomes reconhece que este verão há me- te ao ano passado. Nos proveitos
globais também registámos uma
nos portugueses na região e diz que ‘é reflexo subida na ordem dos 20% no final
da situação económica do país’. Uma questão do primeiro semestre face a igual
a que tem de ser dada atenção, mas recusa alar- período do ano passado. Em rela-
mismos e lembra que ‘o Algarve está logo ali’. ção à questão dos portugueses jul-
go que é reflexo da situação eco-

P
nómica, que têm menos dinheiro
ara o novo presiden- sita: «Não acho que seja posi- disponível para as suas atividades
te do Turismo do Al- tivo o veto nem deste [Mais de lazer, para as suas férias e isso
garve deveria haver Habitação] nem de qualquer reflete-se nas suas escolhas e nas
um compromisso sé- diploma». opções que fazem, nomeadamente
rio por parte do Go- no maior período de férias que
verno para a realiza- De acordo com os indicadores que têm. Mas como costumo dizer, ‘o
ção de grandes eventos no Algar- têm sido divulgados, o Algarve está a Algarve está logo ali’ e isso faz
ve, como o MotoGP, tendo em sofrer uma quebra este verão de tu- com que os portugueses possam,
conta o seu retorno financeiro. ristas nacionais. Os dados são dema- a qualquer altura do ano, usufruir
De acordo com André Gomes não siado alarmistas? da nossa oferta turística diversi-
faz sentido andar todos os anos Julgo que são um pouco alarmis- ficada. Por exemplo, relativamen-
nesta incerteza e diz que se todos tas e esta análise que é divulgada te ao ano passado verificámos um
os concelhos aplicassem a taxa mês a mês vale o que vale. O mer- número muito grande de portu-
turística estariam menos depen- cado nacional continua a ser o gueses na região ao longo de todo
dentes do Estado central. Reco- principal mercado e vamos conti- o ano, o que quer dizer que vieram
nhece que o Algarve é um dos nuar a ter muitos portugueses no maioritariamente para o Algarve
mais afetados pela seca e pede Algarve como queremos sempre e vieram mais do que uma vez por
ação, lembrando que «infeliz- e como continuaremos a ter. De ano, daí existir agora esta diferen-
mente, nenhum destes inves- facto, verificou-se um decréscimo ça em relação à presença de por-
timentos, mesmo que os que já de 3% a 4% nos últimos dois me- tugueses na região. Além disso, no
estão concluídos e que estão ses, mas ao contrário da ideia que ano passado ainda existia o receio
em funcionamento, são solu- estes números transmitem, em de visitar alguns destinos, este
ções que nos resolvem o pro- particular em relação ao mercado ano, havendo liberdade de circu-
blema de falta de água no ime- nacional, estamos com mais gen- lação, talvez tenham escolhido al-
diato». O responsável admite te na região. Terminámos o pri- guns desses destinos tendo em
que há um problema de falta de meiro semestre com mais de cer- conta o preço – depois ao longo do
habitação na região, mas garan- ca de 13% de dormidas e estamos ano têm muitas oportunidades de
te que não é resolvido com restri- com mais de 20% de passageiros visitar o Algarve. Em qualquer
ções ao alojamento local e não he- no aeroporto de Faro relativamen- fim de semana vemos sempre
NASCERDOSOL.PT 57

‘‘
muitos portugueses rumarem a ferentes. Por exemplo, no ano pas- uma escassez muito grande de re-
sul, não só na época alta, mas prin- sado, todos se ‘queixavam’ que o cursos humanos qualificados
cipalmente nas denominadas épo- Algarve estava cheio, que não ha- para trabalhar ao nível médio.
cas baixas. via espaço para pôr uma toalha, Mas a solução também passa mui-

Os preços que estão a ser cobrados


que devíamos oferecer um serviço
de maior qualidade e é isso que es-
Acho natural, to pela qualificação dos nossos
trabalhadores, com a nossa oferta
também ditam essa escolha… tamos a registar este ano. que esses formativa e, nesse sentido, temos
Sim, o que nos faz augurar com ex- destinos [sul trabalho a devolver.
pectativa positiva o que serão os
resultados no final do ano e acre-
Era inevitável este aumento dos
preços?
de Espanha] E contrariar a ideia que as pessoas
dito que irão refletir o crescimen- No período pós-pandemia verifi- que não têm iam para o Algarve para trabalhar
to que tivemos durante a época cou-se – além da escassez de recur- nem de longe apenas no verão, havendo muita ro-
baixa no início do ano. Entre ja-
neiro e maio tivemos subidas re-
sos humanos e que não afeta ape-
nas o setor do turismo – também
nem de perto tatividade e pouca experiência…
Exato e não almejamos essa qua-
lativamente ao ano passado de um aumento dos custos de produ- a pujança lidade de serviço, queremos pres-
10% a 12%. Em relação às taxas de ção por parte das empresas, que e a força da tar outro tipo de serviços a quem
ocupação tivemos subidas de 34%. teve de ter reflexos nos preços, a nos visita. Isso era um fator que
Isso faz com que, no cômputo ge- par do aumento da inflação. Que- marca Algarve não contribuía em nada para este
ral, no final dos primeiros seis me- ro crer que o aumento que se ve- trabalhem objetivo.
ses do ano estejamos com mais
dormidas, com mais hóspedes e
rifica nos preços no Algarve refle-
tem isso mesmo. Quanto aos re-
agora muito Até ao final do ano, o que espera em
com mais turistas na região. Cla- cursos humanos e perante aquilo pelo preço termos de crescimento?
ro que esta questão de termos me- que é a escassez, os nossos empre- A informação que disponho atra-
nos portugueses no verão é para sários tiveram de pagar melhor e vés de contactos com empresários
termos atenção, mas não é obvia- ainda bem que o fazem. Temos de O Algarve não e com associações representati-
mente de todo alarmante. continuar com essa política.
pode crescer vas do setor é que estamos com
muito boas perspetivas em rela-
Marques Mendes no seu comentário Até por haver um problema de falta mais em ção àquilo que será esta segunda
semanal disse que havia cada vez de mão-de-obra... capacidade parte da época baixa, ou seja, a
mais portugueses a irem para o sul
de Espanha por ser mais barato...
Exatamente. A mão-de-obra tem
de ser mais valorizada para con-
tem de crescer partir de setembro. Ao nível de re-
servas está muito bom e a restau-
Acho natural, esses destinos não seguirmos captar os bons profis- em valor ração está com marcações, até

’’
têm nem de longe nem de perto a sionais e para oferecermos o tal porque começa a época do golfe.
pujança e a força da marca Algar- serviço de qualidade que preten- É provável que venhamos a regis-
ve, naquilo que é o seu reconheci- demos. tar níveis de crescimento seme-
mento como destino turístico a ní- lhantes aos que registámos na pri-
vel internacional e trabalham Em relação à falta de mão-de-obra e meira parte de época baixa entre
neste período de recuperação pós- que não afeta apenas o turismo acha moroso, muito burocrático e que, janeiro e maio.
-pandemia muito pelo preço. O Al- que a solução passa por uma aposta muitas vezes, não surte os efeitos
garve fez bem em não o fazer por- forte na imigração e numa maior agi- imediatos que a região necessita O Algarve é conhecido por ser um
que o serviço que prestamos é de lização dos processos? no que diz respeito à necessidade destino de sol e praia e agora tam-
qualidade, mas é de referir que as Esse é um dos caminhos, assim de mão-de-obra. bém pelo golfe. É preciso apostar em
taxas de ocupação que registámos como aumentar a nossa oferta for- outro tipo de oferta?
neste período de época alta, ou mativa turística na região, assen- Até há pouco tempo, o Algarve era O golfe tem sido uma aposta da úl-
seja, nos meses de junho até agos- te nas escolas de hotelaria e de tu- conhecido por necessitar de mão-de- tima década, que está a ter resul-
to, estão acima dos 90 e dos 95%. rismo e na Universidade do Algar- -obra sazonal. Essas diferenças em tados e que impacta naquilo que
Não podemos crescer mais em ca- ve para podermos pagar melhor relação a outras regiões do país já es- tem sido o nosso crescimento na
pacidade, mas podemos crescer com vista a captar os melhores re- tão mais atenuadas? época baixa. O turismo de natu-
em valor. É isso que se está a ve- cursos humanos. Por outro lado, Felizmente já estão um bocadinho reza, de oferta cultural, de oferta
rificar e os resultados que temos através da imigração, mas de uma mais atenuadas. Verificou-se um gastronómica e náutica são seg-
nos proveitos globais mostram imigração que, como temos defen- crescimento, em termos de taxas mentos diferentes, diferenciado-
isso mesmo. Estamos a crescer dido, seja feita de forma ética e de ocupação, de dormidas, de hós- res e complementares daquilo
em valor, numa altura em que não responsável. Não queremos tra- pedes na época baixa, mas é claro que é e continuará a ser sempre o
podemos crescer mais em capaci- zer trabalhadores a todo o custo que regista sempre um pico mais nosso principal investimento a ní-
dade e estamos a crescer em ocu- para virem trabalhar em condi- alto nestes dois meses de verão. A vel internacional, que é a nossa
pação nos períodos de época bai- ções não adequadas. Tudo isto é pensar no combate à sazonalida- oferta de sol/praia e golfe. Estes
xa, onde claramente podemos um desafio que tem sido objeto de de, e à necessidade de termos um dois produtos a nível internacio-
crescer ainda mais. trabalho nos últimos anos, quer nível de recursos humanos eleva- nal são os que dão força à marca
por parte do setor público, quer do durante grande parte do ano, Algarve que me apraz muito ver
Uma das preocupações que o setor por parte do setor privado. Nós também houve uma aposta por quando estou fora ou quando va-
tem tido nos últimos anos, não só o próprios, por exemplo, temos esta- parte dos empresários e que tive mos fazer a promoção da região
Algarve, mas todo o país, é crescer do envolvidos em missões no sen- oportunidade de verificar, nos externamente. Tenho pena que,
em valor. Agora que o objetivo come- tido de tentar fazer acordos com contactos com os mesmos e com muitas vezes, dentro do nosso
ça a ser alcançado surgem vozes crí- alguns países que possam ter as associações representativas do país e mesmo dentro da nossa pró-
ticas a dizer que os preços estão de- mão-de-obra que possam dispen- setor, em assegurar as equipas de pria região não haja esse reconhe-
masiado altos? sar e que estejam interessados em ano para ano, não se verificando cimento da marca Algarve e da
Independentemente das circuns- trabalhar para a nossa região, tanto aquele esforço de salvaguar- força que a região tem lá fora.
tâncias ou do que façamos, haverá mas com condições adequadas dar apenas o período de verão. No Vejo muitas vezes mais esse reco-
sempre vozes críticas e opiniões di- para o fazerem. É um trabalho entanto, continuamos a verificar nhecimento internacional do que >
58 25 AGOSTO 2023

Economia
> a nível interno. Mas isso também construção e entrada em funcio- No lançamento da sua candidatura
é próprio do nosso país e tem mui- namento. A esse nível, o país tem prometeu levar mais alto e mais lon-
to a ver com o tal fado e saudade. de ter uma resposta mais eficaz e ge o Algarve como principal destino
mais eficiente. turístico português. Que obstáculos
Daí também a importância das liga- espera enfrentar?
ções aéreas… A ferrovia é outro exemplo… Este reconhecimento do potencial
É bastante preponderante para a Infelizmente, Lisboa continua a turístico da nossa região permite-
nossa promoção internacional. E ser a única capital europeia que -nos almejar isso mesmo: levar ain-
ter comigo na direção o diretor do ainda não está ligada ao resto da da mais alto e mais longe o nosso
aeroporto irá contribuir para uma Europa por alta velocidade. Tam- destino. Não obstante todo o reco-
melhor promoção internacional e bém aí há necessidade de um in- nhecimento internacional que teve
para conseguirmos atrair novas vestimento grande, não só na alta nos últimos anos, nomeadamente
rotas para a região com voos dire- velocidade, mas falando na região ao nível de prémios internacionais
tos, o que é muito importante para do Algarve, por exemplo, na ele- – como o melhor destino de praia
todo o setor turístico. trificação da linha que há tanto da Europa, do mundo, melhor des-
tempo esperamos e que se encon- tino de golfe – permite-nos ambi-
E ao contrário de Lisboa, o aeropor- tra neste momento em desenvol- cionar ainda mais e de uma forma
to de Faro não tem problemas de vimento. Mais uma vez são pro- positiva. E quando queremos mais
constrangimento... jetos estruturantes, necessários, também temos de valorizar mais o
Não temos de todo. Às vezes te- mas que levam muitos anos para nosso destino, queremos que seja
mos alguns constrangimentos se concretizarem e para que pos- conhecido por mais mercados
com o SEF, com as justificações sam ser usufruídos pelos cida- emissores, daí também a impor-
de passaportes, mas o aeroporto dãos que vivem e que visitam a tância que tem o nosso trabalho de
está a trabalhar para melhorar região. No outro dia pergunta- diversificação. A história diz-nos
cada vez mais esses serviços. E ram-me o que é que achava de que há muitos anos vivíamos qua-
também tem muito a ver com o uma ligação de alta velocidade do se única e exclusivamente no mer-
nosso principal mercado emis- Algarve a Espanha, respondi que cado britânico. Hoje em dia temos
sor que é o britânico por ter saí- achava muito bem. Muitas vezes mercados emissores com cresci-
do da União Europeia. Pontual- acabam por utilizar soluções de mentos na ordem dos 25% como a
mente, perante um fluxo muito transporte, por exemplo, que Irlanda. Temos o mercado norte-
grande de voos num determina- existem em Sevilha, quer ao ní- -americano a crescer 89% entre os
do período curto, numa manhã, vel do aeroporto, quer da alta ve- Estados Unidos e Canadá. Isto per-
por exemplo, podem ocorrer al- locidade porque está muito pró- mite precisamente continuar a al-
guns constrangimentos, mas ximo. Os benefícios, quer para o mejar levar mais longe o que é a
como disse o aeroporto está a tra- país, quer para a região, de ter- marca Algarve e o potencial da
balhar em soluções para resol- mos uma ligação direta, fosse ela nossa região. Quanto aos desafios
ver esse problema. a Lisboa, fosse ela ao Algarve acredito que sejam muitos, ne-
com a nossa vizinha Espanha nhum trabalho é fácil. Mas a prin-
Mais rotas significam mais turistas através da alta velocidade só po- cipal dificuldade que identifiquei
e maior facilidade em chegar ao deria trazer benefícios para o tu- desde que apresentei a minha can-
nosso país... rismo, mas até para a própria eco- didatura é o sub-financiamento
É daquelas coisas que aprende- nomia das empresas ao nível das que as entidades regionais do tu-
mos logo quando começamos a exportações e das importações. rismo têm praticamente desde

‘‘
trabalhar em turismo: é muito di- 2015. Desde 2015 que a verba atri-
fícil trabalhar determinados mer- buída pelo Orçamento do Estado
cados emissores se não tivermos às entidades regionais do turismo
ligações diretas à região. É um tra- não muda. Estamos a falar de 16
balho que estamos a fazer e espe- milhões por ano, não há um incre- Esta semana, a Entidade do Turis- rismo Norte e Centro falou na neces-
ramos bons resultados em breve. mento ou uma atualização desta mo do Algarve, cumprindo os pra- sidade de atualizar as verbas desti-
Perante a falta dotação. Defendo, por exemplo, que zos e as diretivas emanadas por nadas à promoção já que o turismo é
Em relação a aeroporto como vê a po-
lémica em torno da nova infraestru-
de recursos a atualização fosse feita com base
no índice de preços no consumidor.
parte da Lei do Orçamento de Es-
tado apresentou o seu orçamento.
o principal motor da economia e um
dos maiores criadores de postos de
tura em Lisboa. Este impasse é preju- humanos, E não tendo informação oficial e trabalho…
dicial para todo o país ou apenas para os nossos Aí estaríamos a falar de 5,5 milhões atempada – porque são prazos É inconcebível que esta verba não
a zona da Grande Lisboa?
Claramente que é prejudicial
empresários de euros só para a região...
Este ano, o Orçamento de Estado
muito curtos e tomei posse recen-
temente, o que dificulta ainda
seja atualizada desde 2015 para a
principal atividade e motor da eco-
para todo o país. Temos um pro- tiveram de pagar deu-nos 4,1 milhões, mas se tives- mais o processo – pedimos cerca nomia do país. Não consigo enten-
blema em Portugal que é levar- melhor e ainda se havido uma atualização com de 5,5 milhões porque entendemos der a justificação, considerando
mos 50 anos a decidir sobre proje-
tos estruturantes para a econo-
bem que o fazem base no índice de preços no consu-
midor teríamos recebido uma do-
que é o valor que necessitamos
para desenvolver a nossa ativida-
os proveitos que o setor do turis-
mo traz ao país e que são reconhe-
mia e para o país. O aeroporto é tação de 5,5 milhões. Estamos ago- de e para atingir os objetivos que cidos todos os dias.
um desses exemplos, mas tam- ra a tratar do Orçamento do Esta- partilhámos com toda a estrutura
bém poderia falar no Hospital A imigração do para o próximo ano e as do Turismo de Portugal e com O secretário de Estado anunciou uma
Central do Algarve. São investi- deve ser feita entidades públicas estão a apre- quem consensualizamos estraté- verba extraordinária de mais três mi-
mentos fulcrais para responder sentar as suas necessidades orça- gias para desenvolver a nossa ati-
às necessidades que o país tem e de forma ética mentais para o exercício da ativi- vidade, mantendo-me fiel às mi-
lhões para a promoção turística e
eventos para o Algarve…
levamos muitos anos a discutir e responsável dade em 2024 para que, em setem- nhas intervenções. Foi um reforço extraordinário

’’
só a localização, nem sequer es- bro/outubro, se inicie o processo apresentado pelo secretário de Es-
tamos a falar do tempo que leva de aprovação do Orçamento, em Na semana passada, em entrevista tado, mas já tinha sido anunciado
depois para a contratualização, sede da Assembleia da República. ao nosso jornal, o presidente do Tu- alguns meses antes, em reunião
NASCERDOSOL.PT 59

‘‘
sença de um MotoGP, por exemplo.
Não podemos estar todos os anos a
pressionar e andar nesta incerte-
za se vamos receber a prova ou
O Algarve não. É importante haver um com-
promisso por parte do Estado, no
deveria ter sentido de garantir que vamos ter
um orçamento este tipo de provas durante dois,
de 5,5 milhões três anos para que todos, entidades
públicas, privadas, empresas, câ-
para desenvolver maras municipais, toda a infraes-
a sua atividade trutura turística e não turística da
de promoção região esteja preparada para rece-
ber este tipo de eventos.

Voltando ao financiamento. Faz sen-


O setor precisa tido a taxa turística na região?
de mais Sem dúvida. Tenho defendido a im-
financiamento portância da diversificação das
fontes de financiamento do turis-
para continuar mo ao nível regional e a taxa turís-
a manter tica é uma delas. Sou um defensor
da taxa turística e praticamente to-
Portugal como dos os destinos turísticos da Euro-
destino turístico pa e do mundo cobram. Então se
sempre que vamos lá fora em pro-
moção ou em férias pagamos taxa
Sou um defensor turística não vejo porque é que um
destino como Portugal, que é um
da taxa turística destino turístico por excelência,
não faça essa cobrança. Claro que
é importante que a sua aplicação
Já temos seja regulada e seja explicada a for-
unidades ma como será investida. No ano
passado, salvo erro, em sede da
hoteleiras AMAL [Comunidade Intermuni-
e projetos cipal do Algarve] foi consensuali-
de animação zado uma base de regulamento de
aplicação das taxas turísticas por
turística a parte dos diferentes municípios da
funcionarem com região. Temos três concelhos que
neste momento estão a aplicar a
dessalinizadoras taxa: Vila Real de Santo António,

’’
que já aplica há muitos anos, Faro
e Olhão. Mas tenho desafiado todos
os outros presidentes de câmara a
prosseguirem esse caminho, uma
de conselho estratégico. É muito trazem. Fiz a minha tomada de rismo de Portugal e com os priva- mas neste caso até temos métricas vez que muitos deles já têm traba-
benéfico, mas destina-se às asso- posse no Autódromo Internacio- dos envolvidos nestas provas para que nos permitem aferir quase no lho realizado a este nível, já têm re-
ciações de promoção turística. nal do Algarve e tive a oportunida- continuarmos a garantir a manu- imediato qual foi o impacto direto. gulamentos em consulta pública e
de de referir que só os eventos que tenção destas provas na região. Não é uma história, é um facto estão a proceder às contratualiza-
E eventos, como o MotoGP são im- acontecem neste local durante este comprovado. Há um investimento ções necessárias para a aquisição
portantes para atrair mais turistas ano – os que já aconteceram até Também a Jornada Mundial da Juven- público, no entanto, existe quase de software para fazer a gestão da
para a região? agora e os que estão calendariza- tude foi alvo de críticas por causa do sempre um retorno muito supe- sua cobrança. Aliás, ficou previs-
Esse reforço de verba não será dos e vão ocorrer até ao final do investimento que implicou…. rior. Esses investimentos que pas- to que 10% desta taxa cobrada na
para esses eventos. É uma ‘bata- ano – têm um retorno previsto di- Já me questionaram sobre o seu sam pelo Algarve são muito impor- região seja afeta à promoção inter-
lha’ que vamos continuar a travar reto na região na ordem dos 150 impacto para Lisboa e para o país tantes para a região e são muito nacional para estarmos menos de-
e digo batalha porque precisamos milhões de euros. Estamos a falar e respondi que estava de acordo. importantes para as entidades pú- pendentes do Estado central. Se ca-
de um compromisso sério e con- de um investimento público que Teve um impacto fantástico para blicas e para as entidades privadas. lhar se já tivéssemos toda a região
creto por parte do Governo no re- face ao retorno é claramente van- todo o país. Foi extraordinário ver Mas para que as pessoas venham a cobrar taxa turística e se desti-
conhecimento da importância da tajoso em muitas centenas de per- a dinâmica que as diferentes re- para esses eventos, sejam eles par- nássemos esses tais 10% à promo-
realização desses eventos na re- centagem e é com alguma dificul- giões e cidades deste país conhece- ticipantes, equipas, visitantes, tu- ção externa eventualmente já po-
gião e no país. Precisamos que dade que vejo esta falta de reconhe- ram à conta dos peregrinos e a vi- ristas é necessário ter um serviço deríamos ter garantido estes gran-
haja um reconhecimento por par- cimento, esta falta de investimento vência que trouxeram para essas de qualidade. E para nos preparar- des eventos por um período de um
te do Estado central em relação à direto e concreto na atração de cidades já que eram muitos jovens mos condignamente temos de ter ou de dois ou de três anos.
importância que estes eventos tra- grandes eventos como, o MotoGP, e provenientes de imensas nacio- um compromisso de uma forma
zem para que invistam nessas ini- o Masters de Golfe ou a Volta ao nalidades. Pode-se questionar um firme, concreta e até com um pra- Só há três concelhos que aplicam.
ciativas. Estamos a falar de inves- Algarve em bicicleta. São três investimento ou outro, como mui- zo alargado. Não podemos estar to- Tem havido resistência por parte dos
timentos completamente despro- exemplos de eventos que vamos tas vezes questionamos outros in- dos os anos nesta luta de arranjar outros que não aplicam?
porcionais face ao retorno que continuar a trabalhar com o Tu- vestimentos em áreas públicas, financiamento para garantir a pre- Acredito que tenha sido resultado >
60 25 AGOSTO 2023

Economia
> da pandemia, porque até 2019, tan- anos uma dessalinizadora para tra- E que seria ainda pior se nada fosse
to quanto tomei conhecimento, ha- tar a água que utiliza. O setor tu- feito...
via mais três ou quatro concelhos rístico da região está a fazer o seu Ainda estamos em agosto, não é ex-
que tinham trabalho feito no des- trabalho. Também é verdade que pectável que chova durante este
envolvimento dos respetivos regu- temos neste momento fontes de fi- mês, depois iremos ver como será
lamentos de aplicação, com as con- nanciamento que ajudam, nomea- quando chegarmos a setembro/ou-
sultas públicas. E já havia mais damente no âmbito do PRR e de ou- tubro e o que é que isso irá impli-
dois ou três municípios que ti- tros fundos europeus. Mas clara- car em relação à nossa capacidade
nham avançado com estes passos mente é preciso ação porque, de resposta face às necessidades.
que foram interrompidos durante infelizmente, nenhum destes inves- Quanto aos golfes foram injusta-
a pandemia. Mesmo durante a co- timentos, mesmo que os que já es- mente acusados de usarem um
vid, aqueles municípios que já co- tão concluídos e que estão em fun- maior consumo de água, como tam-
bravam acabaram por suspender cionamento, são soluções que re- bém existe, muitas vezes, na região
essa cobrança e retomaram no pe- solvem o problema no imediato. Há uma dicotomia entre o turismo e a
ríodo pós-pandemia. Gostaria que também municípios que têm de fa- agricultura, em que esta última
de uma forma generalizada todos zer investimentos para fazer uma está a fazer esforços para respon-
os municípios começassem a apli- melhor gestão das águas, mas são der a este problema que vivemos.
car a taxa até porque não deve ser investimentos que só nos trarão re- Por outro lado, há em alguns mu-
um fator diferenciador por parte sultados práticos provavelmente nicípios perdas de água que care-
dos turistas quando optam por um daqui a um ou dois ou três anos. cem de uma maior intervenção.
alojamento na região. Não faz sen-
tido terem em conta se o concelho O avanço desses projetos, nomeada- Em relação ao pacote Mais Habita-
cobra ou não a taxa turística. mente por parte dos privados impli- ção que foi esta semana vetado pelo
cou uma mudança de mentalidade? Presidente da República, o alojamen-
Vila Real de Santo António cobra e O golfe durante muitos anos foi acu- to local iria ser penalizado. Tendo em
Castro Marim não e são concelhos sado de usar demasiada água... conta que tem um grande peso na
que estão ao lado um do outro... O problema da água existe há vá- oferta da região que impacto é que
A região vale como um todo e a rios anos. É mais ou menos recor- poderia ter?
aplicação da taxa turística não rente, em função das mudanças Não acho que seja positivo o veto
deve ser um critério diferenciador climatéricas, principalmente na nem deste nem de qualquer diplo-
ou que seja de motivação por par- zona do Barlavento. Essa mudan- ma. Ao nível da política nacional
te de quem nos visita optar por ça de mentalidade já existe de há tem de haver uma consensualiza-
este ou por aquele concelho, em uns anos para cá e por isso mes- ção da legislação produzida para
função de cobrar ou não taxa. mo já se veem investimentos con- que não haja vetos porque todo o
cretizados. No entanto, perante veto, todo o atraso no processo le-
Outras das preocupações da região aquilo que é o alarme, a reação gislativo não beneficia os cida-
diz respeito à sua sustentabilidade. O torna-se mais premente para evi- dãos. A insegurança que estas al-
Algarve é um dos mais penalizados tar que nos próximos anos tenha- terações legislativas que, muitas
pela seca. É preciso um olhar mais mos uma situação de ‘alarme’ vezes, provocam acabam por ser
atento para este problema? como poderemos vir a ter ainda prejudicais para o desenvolvimen-
Sem dúvida e, acima de tudo, ação. este ano. to da atividade e para a vida das

‘‘
Se tivesse havido ação há uns anos pessoas. Sem dúvida que o proble-
não estaríamos se calhar agora ma da habitação existe e a respos-
com o problema que temos, muito ta por parte do setor público e do
em particular ao nível da susten- setor privado continua claramen-
tabilidade e no que diz respeito a te a não ser suficiente, continuan-
água para consumo. O setor turís- do a existir uma procura muito
tico da região, quer público, quer Estou na região maior do que a oferta. Depois te-
privado, está a fazer o seu trabalho
e ressalvo o Pacto Regional da
há 40 anos mos a questão da pressão dos re-
cursos humanos, em que há tam-
Água, que inclui um conjunto de e desses 40 bém uma dificuldade muito gran-
investimentos com financiamento dediquei, pelo de em encontrar alojamento para
já garantido, grande parte finan-
ciado a fundo perdido para insta-
menos, 15 os trabalhadores que a região pre-
cisa. Mas aí vimos um grupo ho-
lações de estações de tratamento da minha vida teleiro que adquiriu um grande
de águas residuais. Por exemplo, profissional, bloco de apartamentos para úni-
os campos de golfe têm investido
em sistemas não só de tratamento
ao turismo. ca e exclusivamente alojar os tra-
balhadores de uma unidade de
de águas residuais, mas também Mal de nós se cinco estrelas que abriu há relati-
em sistemas eletrónicos de medi- por sermos filhos vamente pouco tempo na Praia
ção da humidade da terra para per- Verde. Em relação ao alojamento
ceberem se precisam de água ou de ou por ser local não creio que seja um proble-
não. Tem havido muita inovação e maridos de não ma na região, nem acho que uma
muita tecnologia nos campos de
golfe, mas também nas unidades
o podemos fazer. restrição à sua atividade venha re-
solver o problema da falta de ha-
hoteleiras. Já temos unidades hote- Todos somos bitação. O alojamento local é uma
leiras e projetos de animação turís- filhos de alguém oferta que foi bastante reconheci-

’’
tica a funcionar com dessaliniza- da quando foi criada, trouxe di-
doras. É o caso, por exemplo, do nheiro para as famílias, serviu
Zoo Marine que já tem há alguns para reabilitar o edificado que es-
NASCERDOSOL.PT 61

tava abandonado e contribuiu em 11 hotéis para os próximos Opinião


muito para acabar com aquilo que dois, três anos. Este ano também
era uma economia paralela que já grandes unidades novas abri-
não pagava impostos e que se des-
envolvia com o arrendamento de
habitações sem contratos. É uma
ram e temos novas unidades pre-
vistas para abrir no próximo ano.
É claro que vimos com bons olhos
Em nome da confiança
oferta que tem a sua procura e este interesse por parte dos inves-

A
deve continuar a existir. No Algar- tidores internacionais e nacionais chegada do mês de setem-
ve não creio que seja nem um pro- que continuam a investir no Al- bro coloca, como habitual-
blema nem uma solução para a garve e a qualificar a oferta que mente, a discussão do Orça-
falta de habitação. temos disponível na região. mento de Estado na agenda me-
diática. Este ano não é exceção. A
Mas, por exemplo, os profissionais no Em relação à sua eleição para presi- política fiscal tem merecido gran-
setor da Saúde ou da Educação quei- dente do Turismo do Algarve. O PSD de relevo com a perspetiva de se
xam-se de ficarem sem casa quando criticou por ter sido dirigente da Ju- poder verificar uma redução da
chega o verão… ventude Socialista e por ser filho da carga fiscal para o próximo ano.
Sem dúvida e assisto a isso muito presidente da Câmara de Portimão… Na verdade, uma política fiscal
de perto. O problema do alojamen- A liberdade permite isso mesmo, responsável não deve ser vista de TERESA CANDEIAS*
to para trabalhadores não se refle- permite falarmos à vontade e di- forma parcelar mas como um
te só no setor turístico, reflete-se zermos o que queremos. Temos, todo dado que constitui um ins-
também ao nível dos professores, muitas vezes, infelizmente de trumento importante para fomen- caracterizada enquanto expectati-
dos médicos, dos profissionais de aprender a lidar com um nível de tar a poupança, estimular o inves- va generalizada de alguém de que
saúde na sua generalidade, das política que é desenvolvido, quer timento e aumentar a produti- pode acreditar na fiabilidade das
unidades das forças de segurança. na região, quer no país, que enten- vidade, contribuindo para o promessas de outrem sobre o seu
Mas também é um problema que do que não é o adequado, nem é desígnio de um crescimento eco- comportamento futuro. Nesse sen-
identificamos em todo o país, mas aquilo que as pessoas que votam nómico sustentado. O investi- tido, pode concluir-se que a confian-
mesmo que o alojamento local dei- nas diferentes eleições desejam. mento assume um papel decisivo ça permite reduzir a incerteza. No
xasse de existir não resolveria de Relativamente a essas acusações no crescimento económico permi- âmbito político, as teorias ligadas
um dia para o outro todos esses estou na região há 40 anos e des- tindo a dinamização e moderni- à escolha racional fundamentam a
problemas. Mas como se costuma ses 40 dediquei 15 anos, pelo me- zação do setor produtivo de forma construção da confiança institucio-
dizer há AL e AL e nem todos es- nos da minha vida profissional, ao a garantir a sua competitividade. nal na perceção dos cidadãos sobre
tão sujeitos às condições que de- turismo. Estive 10 anos no turis- Contudo, não se vislumbra que a eficácia do sistema político em di-
veriam reunir perante o serviço mo em Portimão, depois estive o contexto de crise internacional ferentes áreas basilares como a
que os turistas esperam quando cinco anos como diretor de promo- e de grande incerteza se dissipe. educação ou a saúde.
ficam nessa tipologia de alojamen- ção e animação turística na região Perante este cená-
to. Felizmente, tanto quanto tenho do Turismo do Algarve e perante rio as decisões de
conhecimento, a oferta de AL é as circunstâncias que se verifica- investimento tor-
bastante qualificada na região e ram proporcionou-se a candidatu- nam-se mais com-
até associada aos segmentos de tu- ra, coisa que, confesso nunca pen- plexas, verificando-
rismo diferenciadores e comple- sei em sê-lo ou fazê-lo. Mas não es- -se desconfiança
mentares, como o turismo de na- condo que o turismo é sem dúvida dos agentes econó-
tureza, o turismo cultural, onde aí a minha área de eleição no que diz micos face ao futu-
temos um alto nível de qualidade respeito ao desenvolvimento da ro e, consequente-
da oferta. O meu maior receio é minha atividade profissional. E mente, um aumen-
que haja o ressurgimento de toda mal de nós se por sermos filhos de to da aversão à
uma economia paralela que não não o podermos fazer. Todos so- realização de inves-

MARCO BERTORELLO/AFP
se quer desregulada e sem qual- mos filhos de alguém, ninguém timento. Se no pla-
quer tipo de avaliação das condi- apareceu na terra por obra e gra- no internacional
ções que são proporcionadas pe- ça do Espírito Santo, como se cos- subsiste um con-
los proprietários. tuma dizer. Até mencionaram o texto desfavorável,
facto de ser marido da presidente no plano nacional é
Em relação à oferta. A abertura de do Conselho de Administração do fundamental criar
hotéis no Algarve ficou abaixo das
1022. Já era previsível?
Diria, até com um conhecimento
Centro Hospitalar do Algarve. É
uma coisa completamente absur-
da. Já trabalhava em turismo há
condições que para que o inves-
timento ocorra seja através de in-
vestimento nacional ou de capta-
D esta forma, a estabilidade e a
confiança assumem um papel
fundamental no estímulo ao in-
muito prático, tendo em conta muitos anos quando conheci a mi- ção de investimento direto es- vestimento e ao crescimento eco-
uma ou duas reuniões que tive na nha mulher. Não merece mais co- trangeiro. Nesse sentido será nómico. Talvez por isso, esta se-
semana passada com investidores mentários do que isso. necessário para além de garantir mana tenhamos assistido ao veto
que estão a desenvolver projetos um quadro microeconómico e ma- presidencial do programa Mais
de construção de novos hotéis na A ideia seria criar mais polémicas em croeconómico favorável, garantir Habitação justificado pelo Senhor
região, que tem a ver muito com torno dos casos e casinhos? estabilidade e gerar confiança. Presidente da República por ques-
o impacto da pandemia que fez Desejo mesmo que este nível de tões de natureza política com uma
atrasar muitos projetos de investi-
mento que existiam para a região.
Na semana passada reuni-me com
política desapareça porque isso
também faria certamente com
que as pessoas tivessem mais in-
A estabilidade é fundamental
para que as decisões de inves-
timento de médio e longo prazo se
clara alusão à estabilidade e à efi-
cácia das medidas.

um presidente de câmara que me teresse pela política e dessem realizem com menor risco. A con- *Direção da Licenciatura
disse que só no seu concelho, no mais relevância ao que se faz a ní- fiança tem sido abordada enquan- em Gestão
espaço de dois, três anos, estão vel político no país. Este tipo de to conceito fundamental para o co- Faculdade de Ciências
previstos nove novos hotéis. Ou- opiniões ou de ações não ajudam nhecimento dos processos de cons- Económicas, Sociais
tro presidente de câmara falou-me em nada a esse propósito. trução de relações interpessoais e é e da Empresa
62 25 AGOSTO 2023

Economia

CARGA FISCAL PESA NOS SALÁRIOS


Sónia Peres Pinto
sonia.pinto@nascerdosol.pt

Eugénio Rosa diz que impostos elevados su- lação, são estes que suportam tam- lizado são os os trabalhadores e do com cinco medidas para redu-
bém a maior parte deste imposto. os pensionistas. Um cenário que, zir a carga fiscal em 1.200 mi-
portam a redução da dívida pública e faz com- E faz uma comparação entre o de acordo com o mesmo, se agra- lhões para todos os portugueses,
paração entre Governos de Passos e de Costa. Governo PSD e o Executivo socia- vou «ainda muito mais em apontando o dedo ao PS como
lista. Entre 2010 e 2015, em cinco 2023, segundo os dados refe- sendo «o campeão dos impos-
A carga fiscal pesa no bolso dos do nas receitas arrecadas pelo Es- anos, a receita arrecadada pelo rentes ao 1.º semestre de 2023 tos» e com o PS a responder
portugueses, o que se reflete no fi- tado que atingem os trabalhado- Estado tendo como origem o IRS divulgados pelo Ministério das como uma «verdadeira camba-
nal do mês tanto nos salários res e os pensionistas: IRS e IVA. aumentou em 3513 milhões (+ Finanças». lhota política».
como nas pensões. O alerta é dado Segundo Eugénio Rosa, a recei- 36,4%), passou de 9.641 milhões E lembra que o Orçamento do Recorde-se que, a par da redu-
por Eugénio Rosa e contraria o ta destes dois impostos represen- para 13.154 milhões de euros. Já a Estado para este ano previa que, ção da carga fiscal neste mon-
discurso de António Costa e de tou, em 2022, 63,4% da receita to- receita do IVA cresceu em 2.214 entre 2022 e 2023, a receita de IRS tante, o partido liderado por
Fernando Medina que têm afir- tal e mais de 90% dos rendimen- milhões (+16,8%) de 13.154 mi- aumentasse em 436,1 milhões, no Luís Montenegro prevê também
mado que desde 2015 temos assis- tos declarados para efeitos do IRS lhões para 15.368 milhões. entanto, segundo a Direção Geral reduzir o IRS para os jovens
tido a um redução nos impostos são de rendimentos do trabalho e Por seu lado, o período de 2015 a do Orçamento aumentou em 828,3 para os fixar no país. A medida
em vários milhões de euros. pensões. «Em 2021, dos 10.8281 2022 pode ser dividido em dois milhões só nos seis primeiros me- pressupõe que todos os jovens
E o economista dá exemplos: milhões liquidados para efei- subperíodos: entre 2015/2019, ou ses do ano quando comparado com até aos 35 anos, excluindo os que
«No Governo PSD/CDS, as re- tos de IRS – não inclui a recei- seja, nos primeiros quatro anos igual período do ano passado. se encontram no último escalão,
ceitas de impostos aumenta- ta de imposto sobre os juros com o apoio dos partidos de esquer- O mesmo cenário repete-se em tenham o seu IRS cortado em
ram 6.529 milhões (+16,7%), o cujo imposto é deduzido pela da, a receita de IVA aumentou em relação ao IVA, cuja receita au- dois terços.
que representa um aumento banca – 97.831 milhões, ou seja, 3418 milhões (+22,2%) passando de mentou em 916,4 milhões no pri- Já para estimular a produtivi-
médio anual de 1.306 milhões, 90,7% referem-se às categorias 5.368 milhões para 18.786 milhões meiro semestre, apesar da subida dade, o PSD propõe também uma
o que não deixa de ser signifi- A e H», logo são rendimentos do e a receita de IRS cresceu apenas prevista ser de 515,6 milhões. «A isenção de IRS e TSU (Taxa Social
cativo. No entanto, durante os trabalho e de pensões. 431 milhões (+3,3%), passando de espoliação dos trabalhadores e única) para prémios de produti-
sete anos do Governos PS, as Já em relação ao IVA defende 13.154 milhões para 13.585 milhões. pensionistas é evidente por vidade. Os prémios que ficam
receitas que têm como origem que se trata de «um imposto in- Já entre 2019/2022, a receita do IVA esta política fiscal que tem isentos são aqueles com um valor
os impostos aumentaram em justo», uma vez que não tem em aumentou 3.777 milhões (+20,1%) como objetivo reduzir a dívida até 6% do vencimento da remune-
16.798 milhões (+36,8%), o que conta o rendimento do contribuin- pois cresceu de 18.786 milhões e pública, além do que o Gover- ração base anual.
dá um aumento médio anual te, isto é, «seja rico ou pobre para 22.563 milhões e a receita de no se comprometeu com Bru- Por último, os sociais-democra-
de 2.400 milhões, ou seja, mais paga-se o mesmo valor de im- IRS subiu em 3.332 milhões xelas», salientou. tas propõem duas medidas estru-
83,8% do que o registado du- posto quando se adquire o mes- (+24,5%), já que passou de 13.585 turais de longo prazo: a atualiza-
rante o Executivo anterior». mo bem» e lembra que, como os milhões para 16.917 milhões. Propostas vs críticas ção dos escalões do IRS em linha
O economista diz, no entanto, trabalhadores e os pensionistas re- Uma situação que o leva a con- A questão ganha maiores contor- com a inflação e a regulação dos
que essa «evolução poderia ser presentam mais de 95% da popu- siderar que quem está a ser pena- nos depois de o PSD ter avançan- excessos de receita fiscal.
determinada por um aumento BRUNO GONÇALVES
A primeira medida tem como
significativo da riqueza criada objetivo «obrigar a atualização
no país (Produto Interno Bruto), dos escalões do IRS em linha
já que quanto maior for o PIB com a inflação para impedir,
maior será a receita de impostos como o Governo socialista tem
arrecadada», só que a realidade é feito, aumentos de IRS encapo-
outra: a receita de impostos alcan- tados». Ao mesmo tempo, quer
ça agora a percentagem mais ele- também «disciplinar e tornar
vada em percentagem do PIB. transparentes eventuais exces-
Apesar de reconhecer que foi sos de receita».
durante o Governo de Passos Coe- Segundo a proposta do PSD,
lho que se verificou um cresci- sempre que existirem excessos de
mento mais acentuado em termos receita fiscal, «o Estado só os
de carga de impostos – passou de pode gastar caso haja uma de-
21,8% do PIB para 25,4% do PIB – liberação parlamentar ou uma
Eugénio Rosa admite que com o lei que faça uma revisão orça-
Executivo socialista registou-se, mental e que aprove esses ex-
nos primeiros anos, até uma des- cessos. Senão, esse excesso não
cida – passou de 25,4% do PIB pode ser utilizado em respeito
para 24,7% do PIB, entre 2015 e à deliberação parlamentar».
2020 – mas, a partir de 2020, «a Um conjunto de propostas que
tendência inverteu-se e as re- levaram o secretário-geral adjun-
ceitas de impostos, em percen- to do PS a classificar como «um
tagem do PIB, começaram a logro» as propostas de reforma
aumentar», atingindo níveis má- fiscal do PSD, apontando-lhes
ximos, em 2022, de 26,1% do PIB. «sete pecados capitais», salien-
De acordo com as contas do eco- tando que o Governo socialista
nomista, há dois impostos que tem descido impostos e que não
apresentam um peso muito eleva- Economista lamenta caminho seguido por Fernando Medina aceita lições nesta matéria.
NASCERDOSOL.PT 63

SOL Crédito

RUI COSTA
NASCER DO

Diretor
Mário Ramires
Agrícola lucra
174 milhões
Diretor Executivo
Vítor Rainho
Diretor Executivo Adjunto
José Cabrita Saraiva
Diretor de Arte
Francisco Alves

Conselheiro Editorial José António Saraiva


Sónia Peres Pinto
Redatores Principais
Afonso de Melo e Felícia Cabrita sonia.pinto@nascerdosol.pt
Editora Executiva Sónia Peres Pinto Editores
Joana Andrade e Laura Ramires Política Joana Mou-
rão Carvalho e Raquel Abecasis Sociedade Maria Custos de estrutura subiram mais 17 milhões,
Moreira Rato e Sara Porto Economia Daniela
Soares Ferreira Internacional Hugo Geada e resultado ‘das atualizações da tabela salarial e
Teresa Nogueira Pinto Cultura Diogo Vaz Pinto
Desporto João Sena Imagem Miguel Silva (Fo-
da distribuição de prémios de desempenho’.
tógrafo) e Bruno Gonçalves (Fotógrafo), Óscar
Rocha (Infográfico), Ana Gonçalves (Gráfica), Mi-
O Crédito Agrícola apresentou aumento de 16,4% (+11,1 milhões
guel Peixe Dias (Gráfico), Júlio Rodrigues (Pós-
-Produção de imagem) e Fátima Albuquerque (Pós- um lucro de 174,1 milhões de eu- de euros).
-Produção de Imagem) Gestão de Conteúdos Gon- ros, no primeiro semestre, cor- Os custos de estrutura atingi-
çalo Morais e Nelma Tavares
respondente a um aumento ho- ram os 207,1 milhões de euros
Adjunta Direção Carolina Silva mólogo de 109,7 milhões de euros, durante o primeiro semestre de
Assistente Direção e Redação Margarida Alexandre influenciado «essencialmente 2023, um acréscimo de 9%, ou
Colaboradores e Colunistas Alexandre Faria, Aris- pelo crescimento do produto 17,1 milhões de euros, por com-
tóteles Drummond, Bernardo Theotónio-Pereira, bancário», que atingiu os 456 mi- paração com o mesmo período
Carlos Carreiras, Carlos Encarnação, Cleber Ben-
lhões de euros, um crescimento de 2022. «Este acréscimo jus-
vegnú, Dinis de Abreu, Edgar Clara, Eduardo Bap-
tista Correia, Elsa Severino, Ester Amorim, Filipa homólogo de 57,9% face a igual tificou-se principalmente pe-
Chasqueira, Filipa Melo, Filipa Roseta, Francisca de período do ano passado. los custos com pessoal, que
Magalhães Barros, Francisco Gonçalves, Guilher-
me Valente, João Cerqueira, João Maurício Brás,
A carteira de crédito a clientes registaram um aumento de
João Rodrigues, José Manuel Azevedo, Luís Fernan- atingiu os 11.967 milhões de eu- 9,8% (+11,3 milhões de eu-
des, Luís Filipe Pereira, Luís Mascarenhas Gaivão, ros, um crescimento de 67 mi- ros) devido essencialmente
Luís Paulino Pereira, Manuel Boto, Manuel dos San-
tos, Miguel Dós, Nuno Melo, Pedro Ramos, Raquel Pa- lhões de euros face a março de ao impacto das atualizações
radela Faustino, Ricardo Seabra e Virgílio Machado 2023, enquanto os depósitos de da tabela salarial e da distri-
clientes fixaram-se nos 19.787 mi- buição de prémios de desem-
Conselho de Administração
José Saldanha Bento, Luís Santos e Pedro Vargas lhões de euros no final de junho. penho», explicou a instituição
David Já as comissões registaram um financeira. Comissões registaram um aumento de de 16,4%
Fiscal Único Vítor Vale
Departamento Financeiro Conceição Salvador
(TOC) COMÉRCIO POUPANÇA ECONOMIA

G20: comércio Aforro: procura abranda Inflação mais


Departamento Comercial Maria João Jorge
mariajoao.jorge@newsplex.pt
Telemóvel 963553315

Produção e Distribuição Mário Silva (Diretor) externo contrai Os portugueses aplicaram 555 milhões de euros em Certificados de baixa do Euro
Aforro, tendo retirado 166 milhões de euros, em julho. Os dados foram
no 2º trimestre divulgados pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública O Ministério das Finanças revelou
Departamento de Informática Hugo Marques
(Diretor) e Miguel Branco
Departamento Jurídico e de Recursos Huma-
nos Fátima Esteves (Advogada), Ana Rodrigues (RH), – IGCP e referem que, desde agosto do ano passado, que o movimento que Portugal tem a taxa de infla-
Pedro Ferreira (Apoio Logístico), Egualdina Pereira As exportações e as importações mensal de entradas e saídas de poupança não era tão baixo. A contri- ção mais baixa da Zona Euro nos
(Serviço Limpeza)
do conjunto dos países do G20 re- buir para este abrandamento estará o facto de em junho ter começado alimentos e bebidas, citando dados
Redação e sede do proprietário/Editor gistaram uma contração no se- a ser comercializada uma nova série deste produto de poupança, de- do Eurostat e sublinhando o con-
Newsplex, S.A.
gundo trimestre de 3,1% e 2%, res- nominada ‘F’, que apresenta uma taxa de juro menos atrativa do que tributo da medida IVA zero. De
Taguspark. Núcleo Central, sala 362 a 373
2740-122 Porto Salvo, Oeiras petivamente, face ao trimestre an- a anterior: até ao máximo de 2,5% (mais prémio de manutenção). acordo com o gabinete de Fernan-
NIPC 513766073, Matriculada na CRC de Lisboa sob terior, revelou a Organização para do Medina, «a inflação neste tipo
o n.º 513766073, Capital Social 755.020 euros, De-
tentor de 98,21% do capital: Sunny Meridian - Unipes-
a Cooperação e Desenvolvimento de produtos desce desde abril,
soal, Lda, Detentor de 1,79%: Barod Ltd Económico (OCDE). Esta queda, altura em que o IVA 0% foi im-
Registo ERC 223939 de acordo com o organismo, ficou plementado pelo Governo».
Telefone Redação 211 976 146
Email geral@newsplex.pt a dever-se à fraca procura mun- Recorde-se que a taxa de infla-
Edição Online www.nascerdosol.pt dial e à diminuição dos preços das ção anual na Zona Euro recuou
Emails opiniao@nascerdosol.pt;
matérias-primas, nomeadamente para 5,3% em julho, após 8,9% no
cartasaodirector@nascerdosol.pt
da energia. Além disso refere que mesmo mês de 2022 e 5,5% em ju-
O estatuto editorial do Nascer do SOL encontra-se o comércio de mercadorias apre- nho de 2023, tendo Portugal a oi-
disponível em: https://sol.sapo.pt/estatico/estatutoe-
ditorial sentou, no período em análise, tava percentagem mais baixa, se-
uma forte contração na Ásia gundo o Eurostat. Esta percenta-
Impressão Sogapal Distribuição VASP
Depósito legal 247835/06 Oriental, com as exportações a gem compara então com os 5,5%
Registo ERC 125004 caírem 5,7% na China, em parte registados em junho deste ano e
Tiragem média no mês
devido à quebra nas vendas de com os 8,9% verificados no perío-
de julho 25.000 exemplares produtos eletrónicos de consumo. do homólogo de 2022.
SOL
TEMPO Norte Centro Sul Açores Madeira 00887

NASCER DO
Hoje
Máxima 25o 33o 38o 27o 32o
Mínima 17o 20o 27o 20o 24o 5 607727 125013
Amanhã
Máxima 22o 26o 37o 28o 31o
Mínima 14o 18o 21o 21o 24o

SOL
2023/08/25 6ªFeira

DINIS SOUSA
Com trinta e poucos anos, o maestro nas-
cido no Porto tem já um currículo bri-
lhante. Esta semana, a chapada de John
Eliot Gardiner a um cantor abriu-lhe

Convenção Programática marca rentrée do CDS mais uma porta: vai substituir o seu men-
tor nas representações da ópera Les

Melo junta Cristas, Portas e Monteiro


Troyens no festival Berlioz, em França, e
nos BBC Proms, onde aliás já dirigiu o
Monteverdi Choir.

O CDS-PP retoma os trabalhos depois do de setembro, na sede nacional do parti- do partido, centrados num novo ciclo
verão com a realização de uma conven- do, em Lisboa, e terá como objetivos decisivo para o futuro», esperando que
ção programática, reunindo os antigos lí- «marcar o ciclo eleitoral das eleições a presença de três antigos líderes o poten-
deres Assunção Cristas, Paulo Portas e regionais na Madeira e das eleições cie. De fora desta iniciativa ficam José Ri-
Manuel Monteiro. Este será o segundo en- europeias com a atualização da Decla- beiro e Castro e Francisco Rodrigues dos
contro público que o atual presidente do ração de Princípios do CDS-PP». A pro- Santos que não estarão presentes «por JOSÉ LUÍS CARNEIRO
partido, Nuno Melo, promove entre Por- posta para esse efeito será apresentada impedimentos pessoais». Com o calor a não dar tréguas, o ministro
tas e Monteiro, que estiveram de costas por António Lobo Xavier. Antes, a 4 de setembro, o partido vai da Administração Interna anunciou um
voltadas durante mais de duas décadas. O CDS-PP quer também «mobilizar marcar o arranque da campanha para as reforço de mais 5.200 militares da GNR no
De acordo com uma nota enviada às re- com sentido de união os simpatizan- eleições legislativas regionais da Madei- terreno. E revelou que já foram identifi-
dações, a iniciativa vai decorrer no dia 9 tes, militantes, dirigentes e autarcas ra, na Festa dos Romeiros. cados 803 suspeitos e detidas 57 pessoas
relacionadas com fogos florestais. A pre-
venção é fundamental – e a punição dos
incendiários também.

&
SOMBRA

ROGER SCHMIDT
Então é antes de um jogo, uma semana de-
HAMMAD AL-HUTHALI/AFP

pois dos acontecimentos, que o treinador


vai repreender o guarda-redes Vlachodi-
mos pela derrota no Bessa, da qual o gre-
go não teve culpa nenhuma? A história
está muito mal contada e Schmidt tem
contribuído para isso.

Chuvas torrenciais e ventos fortes varreram esta semana a cidade santa de Meca, na Arábia Saudita.
Um raio atingiu a imponente torre do relógio Makkah, de 600 metros de altura, construída pelo consórcio funda-
do pelo pai de Osama bin Laden. Terá sido uma manifestação de fúria divina?

A Fechar MARINA GONÇALVES


Dê a ministra as voltas que der, levar o
Financiamento do Estado foi MAI apresenta comandantes 80 casos de crianças perdidas pacote Mais Habitação de novo ao Parla-
negativo em 6.100 milhões da PSP e da GNR dia 4 nas praias portuguesas mento sem mudar uma vírgula, depois
O financiamento das administrações pú- O ministro da Administração Interna Segundo indica a Autoridade Marítima do veto presidencial, é uma afronta a
blicas foi negativo em 6.100 milhões no 1.º dará posse ao novo diretor nacional da Nacional (AMN), este ano já se contam, Marcelo. E, com o primeiro-ministro de
semestre. «Um financiamento líquido PSP no próximo dia 4, apesar do nome pelo menos, 80 casos de crianças que se férias no Algarve, Marina Gonçalves as-
negativo indica que as administrações ser conhecido até ao final deste mês. Na perderam ou desapareceram nas praias sume o ónus da arrogância da maioria
públicas utilizaram parte dos fundos ocasião, José Luís Carneiro também portuguesas. Os dados mostram que a absoluta.
obtidos para financiarem outros seto- dará posse ao novo comandante-geral da área da Capitania de Lisboa é aquela
res da economia», explica o BdP. GNR, tenente-general Rui Ribeiro Veloso. onde se concentram mais casos. José Cabrita Saraiva

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