MINO CARTA BENJAMIN NETANYAHU ESPECIAL PAC NO PRIMEIRO CADERNO

E SEU PROTETOR JOE BIDEN TORNAM-SE DA SÉRIE, OS PLANOS DE INVESTIMENTO

OS CLAROS VILÕES DO PLANETA, NA TRANSIÇÃO SUSTENTÁVEL, NOS
MENOS PARA O JORNALISMO NATIVO TRANSPORTES E NA INDÚSTRIA DE DEFESA
 CartaCapital
22 DE NOVE M llR O DE 2023 · ANO XXIX • Nº 1286

6 MINO CARTA 22 CRACOLlHDIA

8 A SEMA NA A prefeitura dcSáo Paulo
l'ccha o último hotel
11 AL DO FORNlZIERI
social do progra ma
12 PEDRO SERRANO De Braços Abe rtos
Nosso Mundo
38 ARGENTINA Dividido
e ntre projetos opostos,
o pais vai decidir

Seu País
20 PODER A briga e ntre

provoca uma cisão no

os
irmãos Cid e Ciro Gomes
Economia
2A ENTREVISTA
A Pctrobras vai lidcr.ir
o futuro voto a voto
•O ENTREVISTA
Netanyahu me nospreza
a possibilidade de a
48 CAÇADORES
DE ATE NÇÃO

EMPRESAS DE DELIVERY ECOMÉRCIO

a transição e nergética guerra avançar para o
PDT do Ceará e ameaça do País, garante norte, d iz Hégis Mo relon ELETRÔNIÇO TORNAM-SE C~NTRAIS
contaminar o partido Maurício Tolmasq,uim •2 CISJOROlNIA o
apoio NASELEÇAO DE FILMES ESERIES
35 PIULO NOGUEIU BITISTA JI. ao llamascresce
50 THE OBSERVER 0 mundo mágico dos
C aµa: Pilar Ve lloso. Fotos: 38 BELLUZZO A manipulação e m resposta à
cogu melos med icinais 53 CINEMA Nas idas
J im Watson/AFP, Kyle das opiniões cm favor do violência israelense
e vindas da pandemia 54 IDEIAS As Fo rças
Mazza/AFP e iStockphoto mercado e dos poderosos 44 EUA O que viria a ser Armadas no combate ao inimigo interno
.,
um segu ndo mandato de
Trump na Casa Branca
56 LIVROA vida intima nas periferias
S7 AF ONSINHO 58 CHARGE Por Vcncs Cailano
..
.,"o
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AECONOMIAVERDE PELO RALO tu
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EARETOMADA DOS INVESTIMENTOS "'
PÚBLICOS GERAMOPORTUNIDADES VÍTIMAS DE FRAUDE, OS ASSOCIADOS TEMEM ....
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PARA OSETOR PRODUTIVO Pá\1.27 ABAfl!CARROTA DO PO~TALIS, OFUNDO DE ,.

PENSAO DOS FUNCIONARIOS DOS CORREIOS .,"'"'
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CENTRAL DE ATENDIMENTO FA LE CONOSCO: HTTP:/IATENDIMENTO.CARTACAPITALCOM.BR "

4 C AR l AC fl Pll A I COM DR
CartaCapital .........
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CARTAS CAPITAIS
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.....- ......_ , , , ... ..,,,._,,,,,_.......- ........_., ......_.,,,... _.,, ....- ........- ......_,,,,,,_,,,,,,.._

-----···-···----··-..·-·-·-..···-·····-····-..-·--··-····-
Hoje percebi que o sistema financeiro
está montado para ganhar em todos os
aspectos humanos, levando o ser huma-
1 no a se questionar até na sexualidade.
' Uma paranoia de rotularmos a nós mes-
'. mos e ao outro como isso, aquilo, quan-
do o que importa seria nos questionar·
mos se ainda temos humanidade,
1'
Maria Heleno Mesquita
1; QUINTAS-COL UNAS
,.., U com repugnância a reportagem.
1, I~ O nojo n5o advam da sua escrita,
RTA-
CIIOOml-OIXll1lll nu....ca..a ·1 M aurício Thuswohl, sempre objetiva e
- -- 1(,l-lbt•
IDO!U:S,ln:il d.Olbl!p<sltzMtc.l>f ib::lçlolC:mli~
oportuna, mas da situação relatada,
0:t• b ...lb •lllar1 •'"''"°"" À ESPRRA DO A POCALIPSH ·1' Como exp licar ou j ustificar a leva de bol-
'ltlellollrtmlH:l>ll\- 1 ~ Pa rece a f ábula do escorpião e o sonari~tas quo continua a ocupar cargos
($(.IEJIAllS, W t C:....ltm" bu l cm t Sdu:t<"' W..a
ll!ISSOClllS<C.r.tn
~ sapo, só que encenada pe lo homem . de chefia na Petrobras? Por que motivos o
SUE:--.ar• 1 . . .. . com o p róprio homem. ~ da natureza dele presidente os conserva na estatal, se,
guerrear, mas vai acabar se picando, 1, com uma simplos canetada, poderia

!'
basset Francisco Eduardo demiti· los, recolocando-os no lamaçal
-'d
llllllll lLWOLTM. lta•'-111.10'..ta , de insignificância de onde .-.inca
!DOllOt '°'S..,,,..!11' "-'NEXtll)ll4/4 01>0 PIGMEU M ORAL i deveriam ter saido?
@ O t erreno moral eles já perderam
faz tempo. Isso que dã eleger um
1 E/isabeto Ribeiro

extremista, Agora, a imagem int emacio· SEM C/IANCH DE DEFESA

nal de Israel est á comprometida,
Jos4 Queiroz @ Quando pretos e pobres têm
chance de defesa? Quando
não são jogados nas prisões sem o
(n:'I Não tem como defender os ata· devido procesr.o legal, uma "bala
~ ques israelenses sem flertar com o perdida" encontra seu corpo,
m11 -i..~1711~~
ft 1 y _ ,, fascismo. O Estado de Israel está empe· Luiz Antônio do Sirvo
~~IJQD>Nll cn.a.. nhado no extermínio do povo palestino.
f/ll!la1~19' (/1l'JGll•I).~
~-..:i-~-.32'1•1151. Andreo Serpa (n:'I Racismo escancarado! A polícia
;ajeb '@'j , P mmtr
llô- l b > .Q!J!UJD1!ill,...... ts l ~ brasileira e a dos EUA sempre
ammswm 'l!' , , h
2

APOSTA N O ESCURO fizeram isso com a população preta,

(n:'I A pr ivatização pode funcionar, Prendem injustamente, para substituir
mlllllllllJl!8.11U[ _ _, . .~....
l ~ mas não em set ores de monopólio algum peixe grande ou mostrar serviço
•- llam<7119 - ll'lll' Ol\b419-0ll
-~ -(ll):ICl«.lb natural, no qual não existe a possibilidade com a r:ipida ·resolução" do caso.
WllCll!Jlt ...pj*:çle,.,..U<hl. . .llm:llalo~ .... de competição entre as empresas, Da CoruFooco
•1 ••,,,__ _ ...., • .,..~ ..- ..... .
mesma for ma, não dá para privatizar
~ ...... ~,., tu -11mt dt ~
bem: e serviços essenciais,
....._...'fdfa,,.....,._... .,...........
f'l'lnA'!.llipJ ""dt-111 •11111~-. . . . . ... .fqd

·~-t>dl1 L111.,..orr11~Jl' é:1J/W!.U' ro l'Cr'"" clt

,, ,~
Ano Carolino HRRA'l:A
Foi o papo Francisco quem pediu o
-·-····~-
1111ES111fb:lhbft l). , lllo-
·li'
FORJ\f AS DE M ATAI? empenho do comunidade internacio-
,.., Text o m ui to bom, Não me at entava nal em prol da um cessar-fogo no Faixo
!llllllll)kls,.~1..,...,1• P'll
~ para isso, porque pensava q ue to- de Gaza, Por um erro de tradução,
~·-·e.-·~· das as pessoas teriam suas zonas de o reportagem "Guerra da palavras·,
prazeres instaladas naturalmente e fun· origino/mente publicada no Observei;
~ IVC. cionando de acordo com o que eu conhe·
eia da sociedade, Casar-se, eu pensava
o versão dominical do diário britdnico
T he Guardian, atribuía o apelo o Bento
ser algo natural, vindo do além, e que to- XVI, Pedimos desculpas aos leitores
das as pessoas teriam essa destino. pelo confusão.

CENTRAI. DEATENDIM E.' \TO

CARTAS PARA ESTA SEÇI O
Fali' Conmm: hltp'J/Atmcinlmlto.c.tJCapitalcom. ~:-nu1~~IC3rtx:lpl1Jola>m.br. oup:uu lluaclJI C~.881.IO"lllCIU, 01301 OOO,S101'3Ulo,SI~
B! seonb aWt.\ cbs 9às18 luas-tdO!criados •l'OrltlOl.IVOdl!l!SplQl.llScartass:lo~epoo1:msollt'rcuus.outruCllt!'AlnlaçOC!Sp:11111~~ sa-
rmietlclnpe!Oe-null r~rta<2 pli.Lt'OllLM
Edi<;t}nanlffiorn: ~tll.com.hr
-·--·-_, ____ ___ ,
-22--·--·--·--,--,··---22--2··--··--·····-22--22--22--·--·-
C A RTAC A PITA L -,,-,, OI NOVI U 9RO 01 :>o:>:i :>
EDITORIAL

Mino Carta
Os vilões do ntundo
Sem contar a mídia nativa, incapaz de
perceber o acerto da política brasileira

nde há de se originar o sur-

to de ódio a tomar conta do
grande vilão do momento, ou
seja, Benjamin Netanyahu?
Nes ta área sombria dos humores do vi-
lão, antes dos palestinos caberia a refe-
rência ao povo alemão, que tão compaC'-
tamente envergou o uniforme nazista e
se e ngajou na jornada antissemita, a ser
registrada historicamente como Holo-
causto. Tal personagem poderia ser evo-
cada para firmar a primaziadocriminoso
de guerra em sua denodada faina de des-
truir até a última alma eo último telhado,
de sorte a riscardevezdo mapa o Hamas.
Na consagração da absurda crença de
queosopressoressãoasvítimasdosopri-
midos,o Hamasresultadeverdadeda re-
volta palestina, afastada sem remissão
a moldura infame de uma guer ra muito
além de desigual. Caso quiséssemos defi-
nir com precisão histórica, a situação pre-
cipit ada pelaatitudede Tel-Aviv, teríamos
de citar também a contribuição ofertada
a Netanyahu pelo presidente dos Estados
Un idos, Joe Biden, perdido na observa-
ção do vácuo de TorriceIli e acossado pelo
crescimento nas pesquisas na candidatu-
ra provavelmente assustadora de Donald
Trump, que o próprio filho define desres-
peitosamente como ªartista".
Militam, aliás, ao lado destes senhores
osjornalões nativos, lembr.idosdosarrou-
bosdeflagrados nos tempos da Guerr.idos
Seis Dias, comandada pelo general Moshe
Dayan,o mesmo que nos brindou com a vi-
sitada filha Yael,recebidacom pompasob

6 C AR IAC h PI 1A I COM ll R
a proteç.'ío do delegado Fleury. O gover no
do presidente Lula, sagazmente, orienta-
do pelo conselheiro especial Celso Amo-
rim, condena a violência judia depois de
haver elaborado um impecável projeto de
paz que Biden se recusou a aceitar antes
mesmo da negativa de Netanyahu.
corre-me comparar o atual pri-
por Charles Chaplin, desde o luminoso
homenzinho ingenuamente e nvolvido
nos tor mentos dos tempos modernos.
Desde o crítico da civilização dos EUA
em Um Rei cm Nova York até O Grande
Ditador, disposto a brincar com o mun-
do transformado numa enorme bola de
borracha a dançar- lhe sobre a cabeça
mente judeu, mas facilmente olvidável.
Chaplin éumaluzpelocaminhodavi-
da, mesmo quando traça um perfil ne-
gativo, ou certamente ridículo, dos seus
intérpretes, mas nunca se afastado que
precis a ser lembrado. Com Netanyahu,
o cenário é brutalmente diverso. Trata-
·se, de fato, de alguém preso irremedia-

O
aos toques leves de ponta de dedos, co- velmente ao seu destino de fanático do
meiro-ministro judeu com as medidas incursões com breves referên- Apocalipse. Seria um daqueles que em-
e ncantadoras figuras c riadas cias a momentos de pieguismo t ipica- purraram Crist o nasubidado Gólgota.•

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CARTACAPITAL - ?? O I NOVUABR O 0 1 "O?:. 1

O factoide da
"dama do tráfico"
Lula saiu em defesa, na
quarta-feira 15, do ministro
da Justiça e Segurança
Pública, Flávio Oino. Há dias,
a mídia faz um enorme
estardalhaço com a
informação de que Luciano
Barbosa Farias, esposa
do traficante "Tio Patinhas",
apontado como líder
do Comando Vermelho
em Manaus, participou de
reuniões na pasta para
debater a situação do sistema
carcerário, representando
uma associação que presta
auxílio a familiares de presos.
Houve, sem dúvida, um
erro na verificação dos
convidados, mas o episódio
tem sido explorado pelas
milícias bolsonar istas para
semear a fake news de
que Dino tem relações com
o narcotráfico. Trata-se
de "absurdos ataques
artificialmente plantados",
reagiu o presidente,
reiterando que seu ministro
não chegou a se encontrar
com a tal "dama do tráfico".
8 C AR l AC fl Pll AI COM DR
Guerra/ Faltava
''boa vontade''
Após um mês de recusas de Israel,
Lula consegue repatriar 32 brasileiros
que estavam retidos na Faixa de Ga7.a
eo Hamascometeu um ato de ter-
rorismo e fez o que fez, o Es tado de
Israel também está cometendo vá-
rios atos de te rrorismo ao não leva r
em conta que as crianças não estão em guerra,
que as mulheres não estão em guerra", d iscur-
sou Lula na segunda-feira 13, ao recepcionar,
na Base Aérea de Brasília, 32 brasileiros re-
patriados da J<~aixa de Gaza. Eles só foram au-
torizados a ent rar no Egito pela passagem de
Rafah no dia anterior, após mais de um mês
de insistentes apelos feitos pelo 1tamaraty.
Mais cedo, o pr esidente a firmou que a libera-
ção "dependia da boa vontade de Israel".
Aparentemente, essa 'boa vontadeu só ocor-
reu após oemb aixador de lsr.iel no Br.isil,
Daniel ZoharZonshine, impor um novo cons-
t rangimento ao governo Lula. Depois d edis-
torcer o conteúdo de uma resolução do PT que
condenava tan.toos ataques do Hamasq uan-
do os crimes de guerra comet idos pelas forças
armadas israelenses, insinuando que o pa rti-
do era con ivente com o terrorismo, o diplomat a
reuniu-se na Câmara dos Deputados com par-
lament ares de ext rema-direita e com J air Bol-
sonaro. Ao término do encontro, o ex-presiden- diplomata no atual contexto causaria mais
te disse ter interced ido em favor da liberação danos que benefícios. Seja como for. após
dos brasileiros retidos em Ga:r..a. Não tardou conseguir repatriar os brasileiros que esta-
para as milícias digitais bolsonaristas atribui- vam em Gaza, Lula pode ser mais incisivo na
rem ao " Mito" o mérito pela repatr iação. denúncia do massacre promovido pelo Es-
Na avaliação do deputado federal t ado de Israel. Dos mais de li mil mortos e m
Lindbergh Far ias,do PTfluminense,oem- Ga7.a até a terça-feira 14, dois terços e ram
baixador ~cruzou a linha do aceitável" ao se crianças, mulheres e idosos, segundo
reunir com Bolsonaro e seus assec:l~is. ~ Bas- a Agência das Nações Unidas para os Refu-
t a. Que o ltamaraty avalie e requisit e sua ex- giados Palestinos. Outros 29,8 mil ficaram
pulsão do País", sugeriu no X, antigo Twitter. feridos nos incessantes bombardeios israe-
O gover no availia, poré m, que a re moção do lenses ao ter r itório.
 22.11.23

Recorde de
Espanha/ Orgulho e fúria f eminicídios
A anistia aos separatiStas catalães incendeia o país
O Brasil registrou 722
feminicídi os entre janeiro
cialist as do PSOE e ao primeiro-ministro e junho deste ano, a lta de
s eleições antecipadas produ-
2,6% em relação ao mesmo
ziram o efeito inverso do dese- Pedro Sánchez montar um novo gabi ne- período do ano passado.
jado: em vez de debela r a crise te, em uma a liança com o Sumar, mais à es- De acordo com o Fórum
política espanhola, jogou mais querda, e com as forças independent istas Brasileiro de Segurança
le nha na fogueira. "Vencedor" nas urn as, o da Catalunha. Em troca do apo io no Parla- Pública, respon sável pelo
levantamento, o número
direitista PP não conseguiu formar maio- mento, Sánchez aceitou uma das tantas rei-
é o maior para o primeiro
ria no Parlamento por conta da radioat ivi- vindicações catalãs, a a nistia aos 1íderes semestre desde o início
dade do aliado VOX, legenda de ult radirei- condenados por organi zar um plebiscito de da série histórica, em
ta rechaçada pelos demais partidos. 1nvia- independência cm 2017, entre eles Caries 2019. Os assassinatos
bil izada a investidura do PP, coube aos so- Puigdemont, exilado e m Bruxelas. Desde o de mulheres por questões
de gênero cresceram por
anúncio da a nistia, pro-
conta da explosão de casos
testos violentos têm reu- no Sudeste. Foram 273
nido milhares deespa- mortes nos seis primeiros
n hóis contrár ios ao acor- mesesdoano, alta de 16,2%
do nas ruas das principais na compar ação com ig ua l
período de 2022.
cidades. O PP s urfa na in-
dignação popular e insu-
fla as manifestações, na
esperança de desestabi-
li;r.ar o novo mandato do
PSOE a ntes do seu ini-
cio efetivo. Geografica-
mente, a Espanha conti-
nua unida. Politicamente,
é um país irremediavel-
AEspa11haéia1111afs11<>llUcatne11ter"aehado mente rachado.

,
Terrorismo/ CELULA TABAJARA
PRESO 1IGAOO AO l IL/BOLLAH é PAGODEIRO [VIAJOU AO 1 ÍBANO DUAS V[LES
a
,-o No domingo 12, a Polícia Fede- O utro "terrorista· preso dias mascate que não fala árabe, o
....,w.., ral prendeu no Rio de Janeiro antes chorou às vésperas da que dizer das motivações para
um terceiro suspeito de integrar audi.ê ncia de custódia. O advo- um o tentado em solo brasileiro?
'
-,n
., ~
.. a "céh.Jla terrorista operada pelo gado José Roberto Timóteo, in- "Não faz sentido. O Brasil tem
o-.
u<> Hezbollah no Brasir e identifi- siste que seu cliente é vítima boas relações tanto com o Lí-
wo
"-"'
<> <
cada pelo Mossad, o serviço se- de a lgum engano: ·o Jean (Car- bano, que é a base deles, quan-
creto israelense, como propa- los de Souza) não é libanês, to com o Irã, acusado de finan-
« ,.
JO.
... gandeou o gabinete do premier n5o tem parente libanês e nem ciá-lo", observa Gaberto Marin-
<a
::o>i Benjamin Netanyahu. Trata-se fala o idioma. Ele nem sequer goni, professor de Relações In-
oun
"",:.
do músico Michael Messias, de sabia o que era Hezbollah·. ternacionais da UFABC. ·o
43 anos, que visitou o Líbano Se parece pouco crível o in- Hezbollah tem milhares de sol-
"""'
~!!i
,;.. duas vezes para, segundo ele,
realizar"showsde pagode".
teresse do grupo paramilitar
em recrutar um pagodeiro e um
dados. Por que terceirizaria 1.m
ataque a uma célula tabajara?"
APF1J31ecelJlsa1 e111cascasde
tl tlt ba1i.a11ala11çadas IJOr·TelAvrv

C AR TAC APITA L - ?? O I NOVUABRO 0 1 ;>li?:. 9

A Semana

E a Ucrânia?
Relegada a segundo plano
após o início do conflito em
Gaza, a guorra na Ucrânia
continua a produzir estragos
e impasses. O presidente
Te1ta Costase
ucraniano, Volodymyr pt·ectpltado?
Zelensky, não poderá, por
exemplo, contar com a
promessa de envio, pela
União Europeia, de 1 milhõo
de munições, que não será
cumprida. A informação
foi dada por Boris Pistorius,
ministro da Defesa da
Alemanha, durante uma
reunião em Bruxe las. Um
dos entraves, explicou Josep
Borrei!, chanceler da UE,
são os compromissos de
exportação dos países
produtores (40% da munição
-
é vendida para fora do
continente). Falta capacidade
para acelerar a produção.
Portugal/ Lavajatismo além-mar
O estrago da denúncia fajuta do Ministério Público está feito

ortug ueses que se têm em alta medidas brandas de coação aos acusados.

P conta, por serem europeus, habi-

tantes do "'Primeiro Mundo", re-
luta m em aceita r, mas a verdade
é que, faz tempo, a Justiça do país apresenta
laivos do lavajatismo brazuca. O mais recen-
Dois deles tiveram o passaporte confisca-
do e te rão de paga r caução para mante r a li-
berdade. Não deixa de ser um avanço em re-
lação aos processos contra o ex-prcmicr José
Sócrates, que há uma década enfre nta, so- j

<
te escândalo político revela-se a cada dia um zinho, uma máquina de difamação incapaz .,
o
esctmdalo judiciário, d as corporações que de demonstrar os crimes a ele atribuídos. 'a:<>
B
pretende m s ubstituir a escolha dos eleito- Sócrates, não custa lembrar, passou 11 meses
res. Em uma semana, resta pouco da denú n- na prisão sem ser condenado e, p ior, sem co- "'"<>
z
cia do Ministé rio Público de favorecimento nhecer o teor das acusações. Embora ta rdia- ...
w
:·
a uma empresa de dala ccnler e de negócios mente, também neste caso, em breve, a ver- <>
o
(;
nas concessões de exploração de lítio e de hi- dade dos fatos será restabelecida. De qual- <r
.,
~

drogênio verde que levaram à renúncia do quer forma, tanto no passado quanto ago-
primeiro-ministro, António Costa, do Par- ra, o estrago está feito. Novas eleições foram
tido Socialista. Os procuradores confundi- convocadas para IOde março. Na primei-
ram pe rsonagens, erraram datas, anexaram ra sondagem divulgada na segunda 13, pe- w

provas falhas. Por fim, na segunda-feira 13, la CNNf l'Vl,o PS aparece com 26%,o PSD, "<>o
o juiz de inst rução do caso rejeitou as acusa- tucanato lusit ano, registra 25% e o Chega, o ~

...'z
ções de corrupção, além de afastar por pri n- bolsonarismo local, alcança 17%, o dobro das
cípio as insinuações contra Costa, e impôs intenções de voto na medição anterior.
.."'<>
10 CA R 1ACA PIJAl CO IA DR
 ALDO FORNAZIERI
Cient istn político, professor dn Escokl de
Sociologi:i e Politicn e nutor. entre outros,
de Liderança e Poder (Contrncorrente)
Duas tragédias
"" Diante das urnas, os
argentinos serão obrigados
a escolher entre um
carreirista incompetente
e um cand idato a ditador
A
s.eleiç.ões presidenciais argen-
tinas inscrevem-se no contex-
to da trágica normalidade da
América Latina. Essa trágica normali-
dade pode ser definida, sinteticamen-
te, como a incapacidade das elites polí-
ticas, econõm icas e dos atores sociais de
produzirem mudanças inovadoras sig-
nificativas que provoquem uma redu-
ção drástica da pobreza, da excl usão so- 1
cial e da violê ncia. Xem as direitas, nem
os centros políticos, nem as esquerdas se
mostram capazes de mudar a realidade.
Quando conseguem dar cinco passos à
frente, depois emendam em dez recuos.
Os s istemas políticos latino-ameri-
canos estão dominados pelos oligarcas
dos partidos, que ditam os termos das
disputas, as repartições dos orçamentos,
os privilégios políticos e os favorecidos
econômicos. Os partidocratas,àesquer-
daeàdircita,se insularam do social: não
representamgrupossociaisorgani:r..ados,
mas eleitores. E esses últimos são captu-
rados por estmtégias de marketing elei-
toral. Os aristocrat as partidários que go-
vernam nas diferentes esferas do Estado
são invariavelmente inoompetentes,ge-
ralmentecorruptos,bastantedemagogos
e pouco afeitos à responsabilidade ÍISCaL
:-.Ião mudam as estruturas da iniquida-
u
~ desocialedainjustiça.Oferccemprogra-
.,
,_ mas sociais compensatórios aos pobres.
•
:. Com certafrequência.osistemadedo- ,
míniodas aristocracias partidárias en-
tra e m crise. Em regra, ocorrem retro-
cessos, com a ascensão de grupos mais
extremados de direita. Jair Bolsonaro foi
frutodessacrise. As distribuições das be-
nesses do poderdurante o governo Dilma
Rousseff deixou de satisfazer um campo
majoritário que poderia dar sustentabi -
lid.ide ao governo. M ichel Temer foi um
gig.intesco fracasso. Este primeiro .ino
do terceiro mandato de Lula mostr.iquão
árdua é <1 tarefa de negociar <1 distribui-
ção dos benefícios do poder e garantir
uma estabilidade mini ma.
O fenômeno Milei naArgentinaé pro-
duto do mesmo processo. Nesses momen-
tos.surgem candidatos de ruptura, antis-
sistema. Bolsonaro foi isso, o que não signi-
fica dizer que M ilei seja igual a Bolson.iro.
Escolher entre Sergio MassaeJavier
M ilei é optar por uma entre duas tragé-
dias. ~·fassa é um oportunista, um car-
reirista incompetente. Não se move por
ideias, e sim pelo apetite do poder pelo po-
der. Como ministroda Economia, está le-
gando ao pais uma das maiores inflações
da história: 138% ao ano. Já trafegou por
vários agrupamentos pol itioos, segundo as
conveniências pessoais. Agora é um pero-
n istadedireita. O mesmo peronismo que,
com acontribu içâododireitista Mauricio
.Macri, afundou a Argentina numa crise
social e econômica interminável. Com
uma dívida impagável, hoje o pais tem
quase metade da população na pobre7.a.
.\1 ilei é uma tragédia combinada oom
farsa,cinismoecomédia. Trafegadode-
sequil íbrioe pertu rbação psicológica ao
misticismo singular. criado por ele. ao se
aconselhar com o seu falecido cão. De n-
tro desta confusão, agrega ingredien-
tes neoliberais: privati7.ações radicais,
desregulamentação geral da economia
CARTACAPITAL
e o fim do Banco Central. E.sta propos-
ta não é dele, e sim de Milto n Friedman,
um dos pais do neoliberalismo. Para es-
se autor.o Federal Reserve seria o grande
responsável pelas instabilidades mone-
tárias dos J<:UA. Por isso. propunha ape-
nas leis que regul.imentassem a moeda,
sem uma autoridade monetár ia.
Milei propõe .iinda a dolari1.ação da
moeda argentina. Esta proposta se cho-
ca com a visão de outr.i ícone do neolibe-
ralismo: Marg;iret Thatcher. Quando er.i
primeira-ministra.eladiscursou no Par-
lamento britânico contra a adesão ao Tra-
tado de Maastricht,afirmandoque,seos
ingleses abrissem mão da libra em fuvordo
euro,cstariamabrindomãodasoberania.
Aocontráriode Bolsonaro . .\1ileiado-
taum libertarianismoextremado:os in-
divíduos são senhores absolutos de suas
liberdades, das disposições de seus cor-
pos e das escolhas que fazem, inclusive
sexuais e no uso de drogas. Ele vai além
do l<:Stado mínimo. O Estado não passa
de uma organização criminosa. Deve-
ria ser extinto. Por caminhos diferen-
tes, Mi lei prega a mesma antipolítica de
Holsonaro.1::umdiscursodecarteirinha
dos candidatos ~1 ditadores. Mas. no po-
der, os antissistema semp re ade rem ao
sistema. Tornam-se oligarcas da parti-
docracia. estadocrntas e corruptos.
Bolsonaro foi evidência desse fenôme-
no. Se M ilei ven<,-er,seguiráo mesmoca-
minho.Só restará recorrer ao espírito do
falecido cão Canon. Uma tragédia monu-
mental. Por outro lado.se Massa vencer.
nad<i indica que aArgentinaenoontreum
camin ho de saída da trágica normalida-
de. ~tas ao menos haverá um jogo polí-
tico mais milongueiro, um pouco mais
previsivel, mais enfadonho- uma tragé-
dia monumental atenuada. •
alfomaz1e1ri@gmail.com
:.>;1 D I N OVE MBRO OI ;.>O;.>:J 11
PEDRO SERRANO
Advogodo e professor de Direito Constituciona da
PUC de São Poulo, é autor. entre outros, de A utoritarismo
e Golpes no América latino {Alameda Editorial)
Apagão estatal
... Os serviços públicos
delegados à iniciativa
privada continuam sob
a responsabilidade
do Estado, que tem o d ever
de fisc alizar a atuação
das concessio n á rias
cidade de São Paulo vivenciou,
A recentemente, um gravíssimo
e incomum quadro de descon-
tinuidade na prestação do serviço públi-
co de distribuição de energia elétr ica.
Após eventos naturais que deveriam ser
ra7.oavelmente esperados e enfrentados
de forma eficaz, a população paulistana
ficou às escuras por longos e longos d ias.
Tendo em vista que a prestação do ser-
viço público de distribuição de energia
elétrica ocorre por meio de contrato de
concessão de serviço público, realizare-
mos, nesta coluna, uma incursão no regi-
meju ridico de delegação dos serviços pú-
blicos do Estado para a iniciativa privada.
A primeira questão que se coloca é que a
concessionária demorou muito parares-
tabelecer o forneci mcnto de energia, colo-
cando em xeque planos de contingências
contra eventos extraordinários razoavel-
mente previsíveis e em face dosquaisde-
veria haver uma imediataecfctiva rc;ição.
O;id;i a relevância social dos serviços
públicos concedidos. é dever dos órgãos
estatais promovera fiscalizaçãoe,even-
tualmente,cominarsançõcsadministra-
tivas cm face da concessionária. Com
efeito. incumbe ao Poder Público, dire-
tamente ou sob regime de concessão ou
1Z C AR I AC APl l AI C OM DR
permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos. Quando
o Estado resolve delegar a sua prestação
atravésdecontratosdeconcessãodcser-
viço público, como ocorre com a distri-
buição de energia elétrica em São Pau lo,
a relação público-priv-.idadeve ser cons-
ta n temente fiscalizada.
A concessão de serviço público é um
instituto de DiretoAdminjstrativo, atra-
vés do qual o Estado atribui a prestação
de uma atividade de relevante interesse
coletivo a alguém que aceita prestti-loem
nome próprio, mas nas condições fixadas
unilateralmente pelo Poder Público.Ati-
tularidadedaatividadedelegadaperma-
nece nas mãos do Estado, ao qual compe-
te fiscali7.á-la intensamente.
A e ssencialidade do fornecimento de
energia elétrica para a população é inques-
tionável. Não se tratadeatividadeeconô-
micaqualquer, em face da qual a iniciati-
va privada, com mero intuito lucrat ivo,
pode sujeitá-la aos interesses e às regras
de mercado. Trata-se de serviço público.
OprofessorCelsoAntônio Bandeira de
Mello, em seu Curso dc DirciloAdminis-
lraiivo (Ed. Malheiros),concei tuaoservi-
ço público como ~toda atividade de ofere-
cimento de utilidade ou comodidade ma-
terial destinada à satisfação da coletivi-
dade em geral (...),que o Estado assume
como pertinente a seus deveres e pres-
ta por si mesmo ou por quem 1he faça as
vezes.sob um regimede Direito Público,
ins ti tu ido em favor dos interesses defini-
doscomo públicos nosistema normativo~.
Veja-se, portanto, que a noção de ser-
viço público pressupõeooferecimentode
util idades ou comodidades materiaissin-
gu 1armente desfrutáveis pelos cidadãos,
asquaiso Estadoreputacomoimprescin-
díveisàsconveniênciasbásicasdasocieda-
de. Ademais, o serviço público está sujei-
to ao regimejurídioo-administrativo, bem
como aos seus pr incípios norteadores, tajs
como<> d a supremacia do interesse públi-
~'O,odauniversalidadeeodacontinuidade.
O dever de continuidade na presta-
ção do serviço público de energia elétri-
ca leva-nos a questionar a.s r.izões pelas
quajscx pressiva parcelada população fi-
cou tanto tempo sem o serviço. E' preciso
que os órgãos de controle invest iguem o
cometi mentode faltagrave por parte da
concessionária de serviço público, o que
pode. inclusive, ensejar a declaração de
caducidade do contrato administrativo.
Regular processo administrativo de-
ve.asseguradososdireitosàampladefe-
sa e contraditório, aferir se a concessio-
nária incorreu em incúria na prestação
do serviço delegado, bem comose fe-L pre-
valecer, na sua gestão. propósitos mera-
mente lucrativosemdetrimentodas res-
postas tempestivas gar.intidoras da re-
gularidade e da continuidade na distri-
buição de energia elétrica.
Mais especificamente, os órgãos de
~-ontrolc federais, estaduais e munici-
pais. cada um nos limites de suas atri-
buições, devem investigar a atuação da
concessionária de serviço público, bem
como aferir se as obrigações contratuais
estão sendo adequada mente cumpridas.
Não se pode admitir, em hipótese al-
guma, o colapso na prestação dos servi-
r,.-os públicos de distribuição de energia
elétrica. Casou m modelo de gestão pri-
vado esteja colocando em risco o interes-
se público, é dever dos poderes públicos
assumiraprestaçãodiretadoserviçoora
concedido.semprejuízodaresponsabili- ;!
1.açãodo particular cont ratado. •
<>
.,
....
<
rediiCao@cürtacap1ta1.com.br m
 ~ When will you refund the money to the
B~Y ~IHLO~ workers of the Brazilian Postal Service?

VÍTIMAS DE FRAUDE, OS ASSOCIADOS

TEMEM A BANCARROTA DO POSTALIS, FUNDO
DE PENSÃO DOS CORREIOS

por l\I AU RÍ C I O T ll US \V O llL

14 C .ll R l.llC .llP ll .111 CO IA llR

 B:\Y Mellon é um
típico protagonis-
ta da saga de Wall
Street, onde, mos-
tram as crises his-
tóricas, os lucros
são privados e os
prejuízos. socializados. Sua est rutura
aluai surgiu em 2007, resultado da fusão
entre o l\'tellon e o Bank of New York. E.s-
se último tem uma história mais longa e
conturbada. Fundado em 1784,passou por
diversas m5os e esteve envolvido em um
esquema de lavagem de dinhei rooriundo
das privatizações selvagens na Rússia após
a queda do comunismo. O processo durou
uma década, até ser encerrado em 2005,
dois anos antes da fusão com o Mellon.
Atualmente, a instituição, repaginada e
recuperadadosdcslizesdopass."ldo,admi-
n istra 1,7 trilhão de dólares em at ivos e é
um adas maiores do planeta nesse quesito.
Sólido parceiro, certo? Bem, melhor per-
guntar aos associados do Postalis, o fun-
do de pensão dos funcionários dos Cor-
reios. A fundação está à beira da insol-
vência. com um rombo estimado cm cer-
ca de 10 bilhões de reais,eosatuaisadmi-
nistradoresculpam o banco norte-ameri-
cano, entre outros, pelasituação falimen-
tarque pode deixar SOO mil participantes,
entre pensionistas e familiares, a ver na-
vios. Uma investigaçãoemsegredodeJus-
tiça corre no .M inistério Público Federal.
Pa ra tentar evitar o pior, a interrup-
ção do pag~1mento das aposentadorias e
dema is benefícios, funcionários da ativa
e aposentados iniciaram uma campanha
parasensibil izar a Justiça e o governo fe-
deral. Na próxima quinta-fci ra 23, está
marcado um protesto na filial do banco
no Rio de Janeiro. Em setembro, um gru-
po organizado pela Associação dos Pro-
fissionais dos Correios (Adcap) realizou
uma manifestação semelhante em :>lova
<
,
York. em frente à sede da instituição, em
%
u uma tentativa de constr.inger a diretoria
..
u
, e levar o Bl\Y Mellon a sentar-se à mesa
ii:
~ de negociações, ideia rejeitada pelos exc-
~ cut ivos nomeados no Brasil. kA questão é
civil, penal e descortina um drama social
muito grave. Estamos falando de um nú-
mero elevado de brasileirosquesofremas
consequências da má gestão do Postal is.
São cerca de SOO mil participantes assisti-
dos e suas famílias,oequivalente às popu-
lações de cidades do porte de Florianópo-
1is ou Aracaju, que estão perdendo a saú-
de e a dignidade por culpa dos represen-
tantes do BNY Mellon", denuncia Robcr-
val Borges, presidentedaAdcap.
Em parceria com aAssociação dos Apo-
sent ados dos Correios (AAC) e a Federa-
ção Naciona l dos Trabalhadores em Em-
presas de Correios e Telégrafos (Fentect),
a Adcap enviou à Câmara dos Depu tados
um pedido de audiência pública para de-
bater a ~sustentabi !idade" do Postalis. Se-
gundo a descrição que embasa o requeri-
mento, o Plano de Benefício Definido do
fundo, afetado pela m:í gestão do BNY
Mellon, detém hoje ativos avaliados em
3, l bilhões de reais, montante que. se-
gundo as entidades,. garante o pagamen-
to das aposentadorias e pensões por, no
máximo.36meses. Ou seja.se nada for fei-
to para salvar o Postal is, ai nsolvência se-
r:ídecretada em algum momento de 2026.
O pedido de audiência pública foi pro-
tocolado pelo deputado federal Leonar-
do Monteiro, do PT, e aprovado por una-
nimidade em 31 de outubro pela Comis-
são de Trabalho da Câmara dos Deputa-
dos. Ainda não se sabe, porém, quando a
reunião de fato vai acontecer. "A inten-
ção é reali:r.ar a audiência de forma con-
juntacom a Comissão de Previdência, As-
sistência Social, 1nfância, Adolescência e
Pamilia. É um tema de muita re levância
para os trabalhadores cios Correios e esta-
A FUNDACÃO COBRA NA JUSTIÇA
OS JUÍZOS CAUSADOS PELA MÁ
GESTÃO DO BNY ME.LLON, BANCO
NO ·AMERICANO. A 1 NCIA
POÚTICA SÓ PIOROU A SITUAÇÃO
C A R TA C APITAL
mosalinhandoa melhor data, ainda neste
ano, para a realização do debate", garan-
te o parlamentar, também presidente da
Frente Parlamentar M istaem Defesa dos
Correios. Monteiro promete-articular na
basegovernistaaçõesque possam comple-
mentaros processos que tramitam no âm-
bito judicial em relação ao Postalis para
responsabilizar o BNY Mellon e reaver os
valores referentes à contribuição dos tra-
balhadores para sua previdêncian.
5oser:í fácil,aju lgar pelo
descasodobanco,quete-
ve 250 milhões de reais
bloqueados pelaJustiça.
Na força-tarefa montada
pelo Ministério Público em busca de uma
solução negociada, o máximo que o BNY
Mellon aceitou pagar a título de ressar-
cimento foram 400 milhões de reais, se-
gundo um dos seus participantes, quan-
tia irrisória diante do rombo no fundo de
pensão. Além da ação principal, que cor-
re em segredo de Justiça, outros 11 pro-
cessos contra a instituição norte-ameri-
cana foram movidos pelo Postal is, mas até
o momento apenas um teve sentença de-
cretada em primeira instância. Em maio
do a no passado, a 2ª Vara Empresarial do
Hiode Janeiro condenou o banco a ressar-
ciro fundo cm 56,7 m ilhões,em decorrên-
cia de operações financeiras malsucedi-
das em 2011. Cabe recurso.
A Comissão de Valores Mobiliários
igualme nte aplicou sanções a executivos
do banco, mas, como é comum nos proces-
sos cm tramitação na autarquia, as pun i-
ções são insuficientes. Emjulho de2018,
a CVM proibiu José Carlos de Oliveira,
'/ '/ OI NOVI MllRO IH :>O;;> :J 10
 R /~J>()R'/'/\(lHlvf /)/~' C/\ PI\

então presidente do Bl\Y Mellon no País,

de atuar no mercado financeiro durante
três anos por irregularidades nagestãodo O POSTAUS SÓ TEM PATRIMÔNIO
Pacific Fundo de Investimento Renda Fi- P. COBRIR 36 MESES DE PAGAMENTO
xaeCrédito Privado,quetinhao Postalis DOS BENEÁCIOS. O ROMBO PASSA
como cot ista único, e multou a institui-
ção nova-iorquina em 7,2 milhões de re-
DE 10 BILHÕES DE IS
ais, o equivalente a l0%dovalordaopera-
ção. Três meses depois, a comissão abriu
novo processo por fraudes na emissão de lente a 72% dos ativos disponíveis. A CPI rente para os padrões do mercado", per-
72 milhões de reais em debênturesem iti- apontou aindaapl icaçõesdeficit:írias rea- m itiu aplicações duvidosas com avalia-
dos pela RO Participações. Em janeiro de 1izadas pelo BNY Mellon que contribuí- ç.õ es incorretas de ativos, sem laudos ou
2019, a CVM voltou a punirdfrigentesdo ram para gerar o preju izo do Postal is, en- metodologia. Vejamosa transação que le-
BN Y Mellon e do PostaJis pela emissão de tre elas a aquisição deu m terreno em Ca- vou àcondenaçãojudicial de2011. O BNY
Certificados de Recebíveis 1mobiliários jamar, na Grande São Pau lo, acomprade ~1ellon associou-se ao NSG PG, especiali-
lastreados em papéis podres no valor de tírulos da divida ex-terna da Argentina e zado em 1nvest imentos em Direi tos Cre-
101 mil hões de reais. Na ocasião, os presi- da Venezuela, a participação em cotas do ditórios, ou seja, em adquirir precatórios
dentes da fu ndação, Alexej Predtchensky, BVA, banco envolvido em fraudes e que e outros créditos judiciais para renego-
e do banco, José Carlos Xavier de OI ivei- foi à falência em 2012,eo investimento na ciá-los com terceiros. Na ocasião, a ins-
ra, acabaram inabilitados por70 meses. Usi na Canabrava, que arrancou 700 mi- titu ição norte-americana informou ao
lhões de reais dos fundos de pensão para Postalis que o valor de compra dos direi-
ma das bases dos pro- produzir etanol no estado do Rio de Ja- toscreditórios equivaleria a 70,5 milhões
cessos judiciais é o rela- neiro, masque só deu prej u izo. de reais e a quantia a receber chegaria a
tório da CPI dos Fundos Basicamente, a gestão fraudu lenta 170 mi lhões, lucro considerável. Entre-
de Pensão, aprovado no apontada pela CPI ocorria por um emara- tanto,o banco pagou apenas 13,Smilhões
Congresso em 2015. A co- nhado de fundos de investimento sobre- de reais e deixou de informaraoscotistas
m iss.'ío constatou a gestão fraudulenta dos postos e obscuros sem a devida supervi- um :ígiode 56,7 milhões, ·'detalhe" qued i-
recursos do Postal is e culpou executivos são. A estrutura, descrita pelos procura- minuiu os ganhos da fundação. Segundo
tanto d a própria fundação quanto do BNY dor es como "complexa e pouco trans pa- as investigações, a prática era corriquei-
Mellon pela situaçãocalamitosa. ·'Os pre-
juízos decorrentes da má administração
financeira do Postalisnãoseresumiam a
situações pontuais ou mesmo esporádicas
ou que pudessem decorrer unicamente da
imprevisibilidade do mercado", descreve o
relatório. Tratava-se, na verdade, de "um
problema estrutural de governança" com-
provado pelos números. "O prejuízo de-
corrente da má administração dos recu r-
sos somava, no fim de 2014, o montante
de, aproximadamente, 5,6 bi !hões de re-
ais, com o especial destaquedeque,do re-
ferido valor, aquantiade 3,4bilhõesde re-
ais é or iunda da aplicação de recursos no
mercado de v-.ilores mobiliários."
Àquela altura, a dramática situação,
concluíram os parlamentares, estava ex-
plicita na diferença negativa de 7,7bilhôes
de reais entre o déficit e o património do
fundo registrado ao fim de 2014, equiva- O jJlal IO de 1ecUIJef'l•çãodo Postalls exJile l nals sactlflclos

10 CA R 1ACA PIJAl CO IA DR

ra. '"A responsabiJidadedo banc.-oéeviden-
te, por tudo que se produziu de documen- 1
tos, das conclusões da CP!, passando pe- 1
las condenações da Comissão de Valores 1., aprpoens6vel pela Adminlstraçõo dos recursos o pllca dos no ~er:ado de
Mobiliários, até as ações em curso no Mi-
nistério Público, que apontam e compro-
vam a ocorrência de crimes", diz Borges.
1 "lionórios o o Posta11s verifico-se que o BNY M ellon. ao m enos no Brosll.
nquanto a J ustiça tarda, . m 1 se m ostrou à oltu.ra de svo repulaçõ o mundial no medld~ ~m <;lue o
os prej ufaos para os par-
ticipantes se acumu lam.
Segundo as entidades dos
traba lhadores, mais de 10
mil funcionários cancelaram a adesão ao
plano de previdência por foi ta de condi-
ções de pagar a contribuição extra sobre
os benefícios recebidos ou previstos are-
ceber, adotada a partir de 2013 e desde en-
tão reajustadaanualmente. Outros milha-
res cancelaram o plano de saúde por au-
sência de condições de arcar com a men-
salidade. Todos os participantes do siste-
ma previdenciário pagam, a títulodecon-
tribuição extraordinária, l9,93%do va lor
do benefício para cobrir parte do défici t.
Acrescido de 8,7% de taxa normal esta-
tutária repassada ao Postal is, a mordida
totaliza 28,63% de desconto sobre ova-
lor das aposentadorias. Mas, apesar dos
desembolsos extras dos filiados, o déficit
atual continua na casa dos 10 bil hões de
reais. Estatal patrocinadora do fundo de
pensão,osCorreiosdesembolsam 300 mi-
lhões de reais anuais como contribuição
extraordinária pa ra tapar o buraco pro-
duzido pelas barbeiragensdo BNY Mellon.
E há mais sacrifícios à vista. Até o fim
do ano. a diretoria do Postalis pretende
anunciar uma proposta para reequilibrar
as contas do fundo e impedir- ou adiar -
a bancarrota. Traduçào:osassociadosse-
rãochamadosaaceitaruma redução dos
benefícios. A pensão por morte deve ser
redmdda de 80% a 100% do valor princi-
pal para 50%. O pecúlio por morte, equi-
.... valente a dez vezes o montante do paga-
mento mensal, será extinto, e haverá um
o
.,o
.,
w
o
reajuste de 75% da taxa aplicada sobre o
décimo terceiro. Além d isso, as contribui-
,,.'" ções extras adotadas desde o início da cri-
CÂMARA DOS DEPUTADOS
CPI _FUNDOS OE PENSÃO
portír do odiçõ o de outros comodos de liscolizoçõo. o1ém d aqueles ló
existentes e dispostos no Estotvto do Fundo. . -
Poro tanto, contratou os serviços de uma lnshlulçoo
dos maiores - se nõo o
mund lolmente reconhecida e tido como um 0
maior - opera d ora de Fund os de Investimentos. o BNY M ellon.
Nõo é exagerad o 1embíor que. nos termos da prop~sta
sentado e do contrato celebrado com o Postolls. o SNY M ellon ficou
res . b Carteiro Propna - com
Va lores M obili6rlos e pela Controlod or10 so re 0
poder d e veto. frisa-se.
_j ,
Analisando alguns Investimentos que geraram p1eju1zos
,Í ~~~do de Pensõo d os Trobalhodores dos Correios possui udm défl2co''ip5ro~~~
_ . f bo1anço de 201 4 publico o em -.
, oo seu potrimomo - con orme . . de l 40 mil participantes e
·' este q ue tem deixod~ opreens~vo os mo1S
1 f ndo terá condições de
benefici6rios d os Correios q ue nao sabem se 0 u .
1. assegurar-lhes o pagamento do com plemento da a posentodono.
No que d'z iespei1o unica mente ao balo~,ço das
I'
. xi d
nl l m déficit no vo1or de
, aollcoções 9narcciros. o ~osto11s oprcse a"': ções dclicl tário~ que
ntc 3 .! bill°'oes Dentre os 01n1co
9
1 ~~~otrl~~~a~1mp ara ge~r o reten~o prcju~o algl-~~~~ls:~~~rr~~~~~~~;:~,
. noticiados pelo imprens? co~o s~o. os ... aso~ a da Ar enllno e Vcne1ueto.
1 Cajomar oql-isiçõo d e títulos do d 1v1d a exte u g . e b va
l ~qulsiçõ~ de coto5 do Banco BVA. o inves timento no Usina ano ro .
j dentre outros.
' Dia nte d e ta ntos cosas concretos d e, no mínimo.
1 d . llroçõo "orrlscoda" d os recursos do Postolis. a próprio lnslitulçõ o BNY
1 a m1n S _ C · ÕO _ desti1\JIU boO parte do
~ Mellon Interna cional - na vlsao desta om1ss ª
~
1
"\j ~ :; hl·U·I'
.... ..,'1'•• ...... · - '
1
i Incer teza rcleyan! c Qlli!Oto à cont j1111jdadf operar.iooal
(Fnuilibroo Atuarial dn Plano RDl
1 Ascemons1·ações cc•1tábeos 1nd1v1dui11~ do Plano de Benefic.10 Defu)odo for~rn preparada~
no pre::.1'4.1posto da tont1nud<Jde normal dewa~ .tt1v1dad<?">. Conforme rncnt onildo r•,i nota
1 (>Xpllcallv,o 1?. a ~1tu<1<;.lc> econôrnico-clludr ial do Plano de Benefício Def1nid0. err• 31 de
deze mbro de z018. é deficitária en1Rs6.034 68 mil, observada por meio do con;-o nt0 entre
! <JS P rov15Õ('5 \Jlat cmJtic.as e o Pat-in ô'lio dt? Coberrur a do Plano. Esw f<>to indica 1nçcrtcz<1
qJe pode le•1am<1r duvida ouanto ~ caeac1d<1de de cont nuidade opera e onal do Plano BD.
Os planos da administração para manu tençãõdasativldãcles do plano BD estão divulgados
1 na nota explicativa n° 2-1.1. e estão embasados pr incipalmente nos seguintes aspectos: a)
i na efotiva aplicação de um TAC - Termo de Ajustamento de Conduta cuj<i proposta prevê
que o Postalls. a Prev!c e o Patrocinador (Correios) acordam por uma definição mais
adequada de uma estratégia previdenciária para tratamento do desequilibrío têcnko do
Plano: b) no i?xito nos processos judiciais para recuperação dos ativos aprovisionados
1 historicamente para perdas. conforme divulgados na nota explicativa n° S: e e) no escudo
especifico da anàlíse da liquidez divulgado n<1 nota explicativa 0·2.1.1. que indica que os
! recursos garantidores do plano serão compatíveis com suas obrigações até o ano de 2029.
As demonstrações contábeis mencionadas no pri meiro parâgrafo foram elaboradas no
1
pressuposto de continuidade normal das atividades do plano. Nossa opinião não estã
modifíc.ada em função desse assunto.
! ACPI dos Fu11dosde Pensão e Ulna audlt<>1ta li odepef 1de11te
1 a1.1011ta1aJn a ljestão ft·auc:tulel 1ta do bal ico 11<>1te-a1nel leal IO
C ARTAC AP ITA L - ?:>O I NOVI l.I BRO O I :-o:>:'.I 17
se se tornarão permanentes e vitalícias e
alçadas a um novo porccntual - 37.53%
para os pensionistas e 2CJ,7t% no caso de
aposentados e assistidos. "Com as medi-
das, o Postalis escapará da insolvência
nocurtoprazo, mas a solução para o cor-
te das contribuições extraordinárias dos
benefícios é uma recuperação cm termos
monetários", diz Fábio Conde, presidente
do Conselho Fiscal do íundo de pensão.

Posta lis,descreve Conde,

tem hoje um patrimônio
de cobert ura de pouco
mais de :i bilhões de reais
e um déficit ligeir.1mente
super iora t 2 bilhões de reais...Aequação".
afirma, -implica uma redução de benefí-
cios de pensiioe pecúlio e também na vita-
liciedade da cont ribuiçiio ext raordin:íria.
OsCorreiospagariioametadeeospartici-
pantesdo plano pagam a outra metade."O
plano, acrescenta, atacaria os desencaixes
financeiro e atuarial. -o déficit financei-
ro vem basicamente dos problemas com
o B:'\Y Mellon, que, por um determinado
tempo, foi o gestor e administrador fidu-
ciário do plano de beneficio continuado.
Ficou claro na CPI que o banco foz uma
gestiio fraudulenta e temerária dos inves-
ti mcntos do Postalis,oqueveioagerar, no A aposee 1tadol la e oun os bel ieflclos expectativa é de que o atual governo res-
período até 2017, a maior parte do rombo dos fl.tldol iár los dos Col1elos e f11111111at es gate essa divida (moral) porque os partici-
estão sob t Isco. São 50011• IJf ejUclcados
financeiro que sofremos hoje e pagamos pantes estão adoecendo e morrendo como
com as contribuições extraordinárias." consequência do que aconteceu~, diz Luiz
O embate entre o BNY Mellon e o a disputa parar na Justiça. A interferên- Albcrto Barreto, ex-presidente da Adcap e
Postalis atravessou d iversos governos e cia.de nada adiantou. Ao contrário. Opa- ex-diretor do Postalis. A intervenção sob
diretorias do íundo. Iniciado em janei- trimônio da fundação continuou a derre- Temer, afirma Bar reto, foi prejud icial à
ro de 20t t, primeiro mês do governo de ter no período, descalabro acentuado pe- fundação, porter realizado a ·'reprecifica·
Di1ma Rousscff, com o objetivo de ..ad mi- lo desinteresse do governo de Jai r Bolso· ção" deativossem nenhum embasamento
n istrar as carteiras de investimento in- naro em lidar com a situaç;io. técnico, o que causou ainda mais redução
terna e externa do Postal is, a preci ficação Emborasigiloso.sabe-seque no princi- nopatrimôniodoplanodebeneficioconti-
dos ativos, o controle de enquadramen- pal processo em curso no .\1inistério Públi- nuado. '"A intervenção não cumpriu a legis-
to e conformidade das operações. o mo- co ::ipa recem os nomes de políticos envol- lação, no que diz respeito à implementação
nitoramento de risco e a prcstaçiio de in- vidos direta ou indiretamente no imbró- de planos de equacionamento. Tal descum-
formações", o contrato com o banco nor- glio. f: o caso do emedebista Edison Lo- primento resultou em prejuízo de, apro-
te-americano começou a ser contestado bão, ex-senador e ex-ministro do gover- ximadamente. 2 bilhões de reais. Outro
pelos funcionários dos Correios em 20t4. no Dilma Rousseff. E do ex-Posto lpiran· ponto a se destacar foi a interrupção das
Uma intervenção pública só ocorreria. ga de Bolsonaro, Paulo Guedes, no passa· ações do Postal is contra o Bl\Y Mellon."
porém. três anos mais tarde, cm 2017, no do sócio do BNY Mellon no Brasil.Outros Integrante do Conselho Fiscal da fun-
mandato-tampão de Michel Temer, após personagens ainda podem surgir. -Nossa dação. E.dgard Cordeiro afirma: ·o BNY

18 CARIAC APllAI COM BR

 Mellon precisa ressarcir os empregados
dos Correios para não ter seu processo jul-
gadoe,secondenado,scrobrigado asairda
Bolsa de ' ova York". Cordeiro cita um pe-
dido do procurador Luiz Costa, autor da
Ação Civil Pública do Minis tério Público,
para que o banco recompre as cotas de i n-
vesti mento do Postal is pelos valores infor-
mados pela própria inst it u ição, num total
de 6,2 bilhões de reais a serem corrigidos
pela inflação. "Que o BNY Mellondevolva
também l.2milhãode rcaisindevidamen-
teoobradosdo fundo como taxasdcadmi-
n istração cm sobreposição. E, por conta
do grave dano moral causado aos parlici-
pantes,quepague 20 mil rcaisacadaum."
s associados da funda-
ção esperam agora con-
tar com o apoio do go-
verno federal -os atuais
dirigentes do Postal is e
também dos Correios têm demonstra-
do boa vontade para resolver os prejui7.os
causados pelo banco. mas há demora exa-
gerada nas providências", dir. Cordeiro.
Em agosto, revela o conselheiro, Fabiano
Silva Santos. presidente da estatal, pro-
meteu ingressar com uma ação contra o
BNY Mellon.Cumpriua promcssa?-Não
temos conhecimento de nada concreto
até o momento."
Borges também cobra atenção do Po-
der Executivo: -Necessitamos de enga-
jamento do Estado brasileiro na questão
do B:-.IY Mellon, pois há condenações na
CVM e na Justiça. A posição de institui-
ções como os Ministérios das Relações
Exteriores, da Fazenda e da Justiça po-
de agili:r.a r uma conclusão", diz o presi-
dente daAdcap. Já o presidente do Con-
selho Piscai do Postalis acredita em um
ambiente político mais favorável à solu-
ç:io da crise: - Esperamos que as direções
do fundoedosCorreios possam usara in-
fluência política que têm para fazer pres-
são sobre o B:-.IY Mellon e levar a uma ne-
gociação com o Ministério Público".
Presidente do Postal is desde abril, Ca-
milo Femandesafirmaquesuagestãoes-
tá total mente comprometida na operação
de salvamento do fundo...A diretoria. os
Correios, as associações, os sindicatos e
as federações estão unidos e focados em
resolver os problemas que ocorreram nas
gestões anteriores. A patrocinadora tem
seempenhadoem contribuir para a solu-
ção dos problemas." A fundação. emenda
Pernandes, vai recorrer a quem tem poder
de decisão. "'Contamos com o governo e
com o Congresso pa ra conseguirumare-
paração. Acreditamos que todos estarão
do nosso lado, para o Postal is conseguir
recuperar esses investimentos ma lsuce-
d idos." O plano de ajuste, acrescenta, é o
pont~1pé inicial da recuperação defin it i-
va do fu ndo de pensão. •·o novo equacio-
namento que está prestes;i ser implanta-
do vai permitir a retomadadoequilibrio.
Com esse novo equacionamento, teremos
um balanço sem ressalvas e o plano terá
liquider. e solvência, já que suas reservas
matemáticas serão recalculadas. A dire-
toria executiva está otimista."
O BNY Mellon estabeleceu um nmu pa-
tama rdefaltadetransparência. Nem a as-
sessoria de imprensado banco se dignou a
atender aos pedidos de esclarecimento de
CarlaCapilal. O presidente dos Correios
também não se pronunciou até o fecha-
mentodestacdiç:io.Arroladocomoparti-
cipante no requerimento de audiência pú-
blica sobre o Postai is, o ministro Vi nícius
Marques de Carvalho, da Controladoria-
·Geral da Un ião, informou, por intermé-
d io de sua assessoria, que ..até o momen-
to não foi comunicado sobre o assunto". •

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CAR TA CAP ITAL -,.-,. OI NOVI MllRO IH ;;>O;;>:J 19

 Seu País
Parente é serpente
PODER A bri ga dos irmãos Cid e Ciro Gomes provoca uma
cisão no PDT do Ceará e ameaça contam inar todo o partido
POR FABfOI AMENDO NÇA
briga pol ítica,ju ríd ica e fa-
miliar dos irmãos Ferrei-
ra Gomes arrasta-se por
um ano e meio no Ceará e
abala as estrutu ras do
PDT,partidotrabalhistacriadopor Leo-
nel Brizola há mais de 40 anos. No auge,
a legenda chegou a ter 18 deputados fede-
rais só pelo estado do Rio de Janeiro. Ho-
je, a bancada completa na Câmara conta
com 17 parlamentares representando as
27 u nidades da federação e corre o risco
de perder ao menos quatro deles, caso o
senador Cid Gomes vença a batalhajurí-
dica e resolva deixar o POT cearense, le-
vando consigo todo o seu grupo político.
Dos cinco deputados federais pelo esta-
do, quatro são "cidistas" (além de um su-
plente), assim como dez dos 13 estaduais
(e outros três suplentes) e maisde40dos
55 prefeitos pedetistas. Caso isso se con-
cretize, é grande o risco de o PDT
cearense ser dizimado, enfraquecendo o
partido também em nível nacional.
A possibilidadedessadebandada foi pa-
rar na Just iça, em uma queda de braço en-
tre Cid Gomes e o deputado feder.ti André
Figueiredo, ligado a Ciro Gomes. Presi-
dente estadu al do PDT, Figueiredo licen-
ciou-se do cargo, em junho, para assum ir
in terinamente a presidência do PDT na-
cional, depois que Carlos Lupi se afas tou
paracomandar o Ministério da Previdên-
cia no governo Lula. Vice da legenda no
zo CA R TAC A P llA I CO IA BR
Cear:í, Cid passou acomandaro diretório
estadual e aprovou, em agosto, uma car-
ta de anuência que liberava o presidente
da Assembleia Legislativa, Evandro Lei-
tão, a deixar a agremiação sem perder o
mandato, fer indo o princípio da fide lida-
de partidária A decisão abre brecha para
que outros parlamentares façam o mes-
mo, o que provocou uma reação imedia-
ta d a a la "ci r is ta", que judicial izou o caso.
O clima esquentou a inda mais após
Cid tentar aprovar o apoio formal do PDT
ao governo Elmano de Freitas, do PT. Fi-
gueiredo suspendeu sua licença do di re-
tórfocearense,destituiu Cid e reassumiu
o comando local do partido. Nova açãoj u-
dicial e uma liminar devolveram ao sena-
dor a condução da legenda.A partirdaí. os
dristas levaram o caso para a Executiva
Nacional, que, no fim de outubro, resol-
veu intervir no PDT cearense. Acionada
porCid,aJustiçaderrubouaintervenção.
Ele alega que as decisões tomadas quando
esteve à frente do partido fo ram aprova-
das pelamaioriado diretório e classificou
Ao menos quatro
deputados federais
cogitam abandonar
o partido trabalhist a
a intervenção como um ato "autoritár io."
·'Se não há a conciliação, o que deve
prevalecer é o sentimento da maioria. O
PDT do Ceará dividiu-se. Tentou-se ao
máximo fazer uma reconciliação, mas
eles não desejam isso. Querem, sendo
m inoritários, com andar o partido. 1sso
não é razoável, a minoria tem de se con-
formarem ser minoria. Comandar o par-
tido, me perdoe, não é razoável. Eadire-
ção nacional dever ia se esforçar pa ra fa-
zer uma unificação e, quando não conse-
gui r, precisa respeitar a decisão da maio-
r ia", defendeu-se Cid Gomes, acusando
Figueiredodeserparcial nacondiçãode
presidente nacional da legenda. -o sena-
dor podesa ir na hora que quiser, e le não
tem mais clima de permanecer no PDT.
Eos parlamentares vão ter de ou judicia-
liza r a carta de anuência ou aguardar o
prazodajanelaqueé março de 2026", re-
bateu André Figueiredo, demonstrando
que o PDTvai cobrar a fidelidade parti-
dária de seus parlamentares e brigar na
Justiça por esses mandatos.
Na terça-feira 14, Cid reuniu-se com
mais de 40 prefeitos para d iscutir a pos-
sibilidadededesfiliaçãodo PDT, uma vez
que, diferentemente dos deputados, elei-
tos no sistema proporcional,os prefeitos,
assim como o próprio senador, não preci-
sam de anuência do partido para sedes-
filiar e, portanto, não correm o risco de a
legenda pedir o mandato de volta. Segu n-

doCid,o gr upo está avaliando duas alter-
nativas: permanecer no PDTc lutarpara
renovarodiretório por maisquatroanos
ou sair colel ivamentc. "'O que está acon-
tecendo é um a aberração. O grupo do se-
nador está indo contra a Justiça Eleitoral,
~ que diz que o mandato pertence ao par-
<
.,,
w
tido. Está atuando contra oi nlercsse do
., próprio PDT. Se ele quer seguirout roca-
~ minho, tudo bem, mas os trâmilesdaJus-
~
::: tiçae da legalidade no PDT scrJo respeita-
!"' dose, defende Hoberto Viana,ciristae in-
~ tegrante dos di rctórios estadual e nacio-
:'i na!. No núcleo familiar, LiaGomcs.depu-
~ tada estadual. Ivo Gomes, prefeito de So-
TAMBÉM
NESTA
SEÇÃO
Disputo\ fratricida . As rusgas se
aprofundam desde a eleição de 2022
bral, e Lúcio Gomes, da Companhia Do-
cas do Ceará, estão do lado de Cid.
Esta crise tem origem nas eleições do
a no passado e foi potencializada com
a aproximação do pleito municipal de
2024. F.m 2022. o PDT lançou para go-
vernador Roberto Cláudio, ex-prefeito
de Fortale7.a, em detrimento da então
governadora lzoldaCela. Cláudio é liga-
doaCiroe lzolda,aCid. Orachaimplodiu
a aliança entre PDT e PT, pois os petis-
CARTACAP ITAL
...... pág. 22
Cracolâ n dia. A Prefeitura
R fecha o último hotel social do
programa De Braços Abertos
las nãoaceitavnm a indicação de Cláudio
e colocavam como condição para a ma-
nutenção da coligação a candidatura de
l :1',olda. Derrotado internamente. Cid não
teve participação al iva na campanha de
Cláudioe,agora,defcndeaadesãodopar-
tidoaogoverno El manode Freitas,oque
levou Ciro a chamá-Iode "'traidor ". A su-
cess.iode Fortaleza também coloca Ciro
e Cid c m lados opostos. O ex-presidenciá-
vel defende a reeleição do prefeito José
Sarto, enquanto o senador quer lançar
Evando l.eitão,que devese filiar ao PT.
·o núcleo duro do PDT hámuitotem-
poestavasobocomandodos irmãoseca-
da um cumpria um papel muitoespecífi-
codentrodogrupo. Enquanto Cid cuidava
das questões domésticas, mais internas,
sendo um artífice da coalizão e, portan-
to.tendo um bom trânsito com deputados
e prefeitos, Ciro cuidava mais das ques-
tões nacionais, dos grandes projetos. Por
mu ito tempo eles concordaram e cami-
nharam ju nlos. Em algumas eleições pon-
tuais, havia ali algumas divergências, mas
nada passivei de uma crise como a que a
gente vê agoraft,analisa a socióloga Mona-
lisa Torres, pesquisadora e professorada
Universidade Estadual do Ceará.
..O PDT está sedesca racterizando, d i-
m inu indo. 1higenle boa lá <1 inda, mas é
minoria e não ocupa cargos de impor-
tância, po rque nesses o Lupi colocou
a família e os amigos mais chegados. A
crise no Ce<1d tem a ver com os desar-
ranjos do partido ao longo do tempo. Se
tivesse alguém com autoridade política
no PDT, não teria chegado a esse ponto
abrigadeCiroeCid. Faltou consistência
política do partido e, agora, vemos uma
c rise aguda que não terá solução sem al-
guns danos. O POT perdeu o fio da his-
tória. 1.upi deixou para trás o viés traba-
lhista de Bri7.ola e le\rou o partido para
o fisiologismo", critica Vivaldo Barbo-
sa.ex-pedetistac brizolista histórico. •
-,.-,. OI NOVI MBRO l> I ;- o;o:J Z1
Seu País
Melancólica
despedida
CRACOLÂNDIA A prefeitura de São Paulo
fecha o último hotel remanescente
do programa De Braços Abertos
PO H MARIANA SERAFIN I
11 oroito anos, tive um CEP
na Rua do Triunfo. Por
mais que fosse uma mo-
radiaprovisória,eu tinha
um ende reço fixo. Fui re-
alocadoemoutroespa<,'O na Praça da Re-
pública. mas lá tenho hora para entrar e
sair e não posso deixar os meus perten-
ces", lamenta Cleiton Ferreira, despeja-
do do hotel New J. uz na sexta-feira 10,
quando a Vigilância Sanitária lacrou as
po rtas da pensão que, por quase uma dé-
cada, acolheu frequentadores da Cra-
colândia paulistana. O espaço era o últi-
mo hotel social remanescente do progra-
ma De Braços Abertos, que, inspirado
nas bem-sucedidas experiências inter-
nacionais como o housingjirst, oferecia
moradia, trabalho e tratamento a depen-
dentes químicos sem exigir, como con-
trapartida, abstinência completa.
O programa foi lançado em 2014 pelo
então prefeito Fernando l-laddad, do r1:
mas durou pouco, apenas três anos. Su-
cessordo petist ana administmção muni-
cipal, o tucano João Doria incumbiu-seda
m issãodederrubar a maior parte das pen-
sões existentes na região da Cracolând ia,
tanto as que abrigavam dependentesquí-
m icos com rec ursosdaprefeituraquanto
as que ofereciam uma alternativa de mo-
mdia barata aos trabalhadoresdo Centro.
22 CAIHACAPl l fll CO M DR
Parte das depauperadas ed ifica~-ões tam-
bém oferecia refúgio a traficantes de dro-
gas, justificativa utili:r.<ida para as demo-
lições, que abriram espaço para gmndes
empreendimentos imobiliários. Poucos
hotéis sociais do De Braços Abertos per-
ma neceram ativos. O emedebista Ricar-
do Nunes cuidou de lançar a pedra final.
Ou melhor, um bloco de concreto, seme-
1hanteaoque hoje impedeoacessodosan-
tigos moradores do New Luz.
No passado, a Rua do Triunfo chegou a
abrigar o principal núcleo cinematográ-
fico do País. Em meio à malandragem eà
prostituição que rodeavam ~L'iantigases­
tacões ferroviárias da Luze Sorocabana,
circulavam diretores, atores e roteir istas
renomados. Hoje, o local é um si mbolo da
degradação do Centro de São Paulo. An-
tigos palacetesdosanos 1920foram ocu-
pados por trabalhadores sem-teto. Os es-
túdios foram transformados em depósi-
tos, estacionamentos e comércios à bei-
ra da falência. Masavidaainda pulsa no
A maior parte
dos d esalojados
voltou a viver em
situação de rua
logradouro, e Cleiton Ferreira é um bom
exemplo. Aos 44 a nos, Denti n ho, como
é<.'O nhecido, reinventou-se e hoje traba-
lha como agente de redução de danos no
Centro de Convivência E' de Lei, além de
ser ator e artista plástico.
Em uma caminhada pela região, três
dias após o despejo, Dentinho reencon-
tmantigos vizinhos. DescobrequeAlceri e
Denis voltaram a viverem situação de rua.
Combina rn de manter contato, para tentar
buscar um novo espaço. :\o hotel, que che-
gou a abr igar 55 pessoas no in íciodo proje-
to, ainda viviam 13 hóspedes. Destes, ape-
nas seis foram realocados em novas mo-
radias, informou a prefeitura por meio de
nota. "A Vida era uma senhora que man-
tinha contato com a família, as netas dela
vinham visitá-la aqui de vez em quando.
Desde sexta, não sabemos onde ela est:í."
A Vigilância Sanitária a legaqueoespa-
çoestava impróprio para habitação. "Cla-
ro que estava degradado. Desde 2017, a
prefeitura não fazia manutenção alguma",
denuncia Malu Gama, assessora da verea-
dora petista Luna Zaratini, que acompa-
nhou a rei irada dos moradores. No ed i fí-
cio de doisanda res, ficaram para trás ob-
jetos que não puderam ser levados, devi-
do à pressa da polícia em executara ordem
de despejo, comunicada na noite anterior.
Umdosquartosseguiarom um pôsterdos
Beatles na parede. Em outro, havia uma
sacola com roupas. ~vi muitas pessoas
se transfo rmarem aqui. Alguns chega-
ram sem nem lembrar como se usava um
banheiro, depois de t antos anos moran-
do na r ua. Vários conseguiram afasta r-
-se das drogas e se est abelecer num tra-
balho", relata o dono da pensão, José dos
AnjosOiiveira. "'Aqui,eleseram livres,en-
travam e saíam quando queriam. O afas-
tamento das drogas veio de forma natu-
ral, com acompanhamento psicológico."
Poi o que aconteceu com Dentinho.
Aos 30 anos, ele estava sem trabalho e

sem perspectivas, afundado cm depres-
são pela morte da mãe. Vivia na casa de
familiares, mas começou a abusar de
substâncias químicas e a convivência
tornou-se cada vez mais difícil.'" Minha
droga sempre foioákool. Depois, vieram
a cocaína e todo o resto", diz o artista,
que dormiu debaixo das marquises pau-
1is tanas por dois anos. Frequentador da
Cracolândia, ficou cego de um o lho du-
rante uma violenta dispersão dos usuá-
r ios de drogas pela Polícia Militar. Uma
bomba e~1ourou próxima ao rosto dele.
Hoje, Dentinho continua frequentando
o fluxo. mas para tentar resgatar outras
pessoas da dependência química. Cami-
-...
•w nh a com tranqui lidadee fim1eza,e seor-
Redenç.lo. Cleiton Ferreira, o Dentinho, morou
por oito anos na pensão, onde conseguiu ~ar
a dependência química e viver com cfrgnidade
--·---
sevidaaquL" Do::\ew Luzo artista guar- gar nenhum, mas na dança me sentia con-
da boas e más recordações. ~J\o começo, fiante", recorda. Nos anos de rua. conse-
foi complicado. Muitas pessoas conviven- guia algum dinheiro com livros usados.
do num mesmoespaçogeraconílitos".Ao "Comprava nos sebos e revendia na Ave·
conquistar um quarto próprio, asit uaç5o nida P<1ulista, ou aqui no fluxo mesmo."
melhorou significat ivamente. Dentinho A partir do Centro de Convivência i'.:
tinha de tudo: tevé,airf l)l(!r, micro-ondas, de l .ei, foi c."Onv idado a integrar um pro-
nolcbookpara t rabalhar de casa, uma ca· jetodepesquisada Unifespsobre"vulne-
ma e muitos 1ivros. Apaixonado por 1IQs rabilidades e reinve nções na pande mia
e jogos, recorda-se com alegria do d ia em deCovid-19". A coordenadora do estudo,
que conseguiu comprar um vicleogame. Na na Foster, recorda com carinho ache-
"Guardo a nota fiscal de tudo, para não gad<l de Dent in ho ... Ele trouxe um olhar
ser acusado pela polícia de reccptação." que nenhum pesquisador da universida-
de conseguiria ter, era nosso interlocu-
Filho de um trabalhador da constru- tor com o território." Sem endereço fixo,
ção civil e uma dona de casa vindos do in- Dentinho agora guarda seus pertences
terior da Bahia. Dentinho enfrenta difi- no Cent ro i'.:de Lei e na casa de amigos. NA

..-
•• gulhade conhecero centro his tórico co-
mo a pai ma da mão. "O problema não é o
uso da droga em si, mas a pobreza. Ten-
tam apagar cio mapa um lugarondevivem
milhares de pessoas, como se não existis-
culdadesdesdeainfüncia.Queriaserdan-
çarino, mas o pai dizia que o Axé não era
"coisa de homem". "Uma criança preta,
pobre, com um óculos fundo de garrafa e
os dentes tortos não se sente bem em lu-
prefcituraquerque minha vida caiba nu-
ma mochila, enquanto tudo que eu mais
quero é ter estabilidade. conqu istar mi-
nha casa, ter um espaço para cozinhar e
receber meus amigos." •

CARTACAPITAl ;q OI HOV I M ORO or l'0?3 zs

 Economia

....
•
/
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.. •
l't

ri meirod iretordeTransição

Papel decisivo Energética da Petrobras,

Maur icio Tolmasquim acre-
dita que a estatal petrolifera
tem cond içõesde 1iderar esse
ENTREVISTA A Petrobras tem todas as processo no Pais. aument ar as parcerias

condições de liderar a transição energética lcK-ais, ampliar as encomendas ao parque

produtivo doméstico e manter sua trad i-
do País, garante Mauricio Tolmasquim Ç<io de grandes inovações tecnológicas. Ex-
-presidente da Empresa de Pesquisa Ener-
A CARLOS DRUMMON D gética e professor aposentado da pós-gra-
duação em Engenharia da CoppefU FRJ,
Tolmasquim apresenta, na entrevista a se-
gu ir, as principais diretri;r..es da empresa,
antes da definição do plano estratégico pa-
ra o período de 2024 a 2028.

Z 4 CA R TAC A P ll A I CO IA BR

CartaCapital: Qual é a relação en-
tre as estratégias de transição energé-
tica da Petrobras e do Brasil?
Mauricio Tolmas qu im : A Pe trobras
é a maior empresa brasileira, faz inves-
timentos muito expressivos e, por con-
ta d isso. te m todas as cond içõcs de 1ide-
rar a transição e nergética no Brasil. 1'.: a
maior consumidora e himbém a maior
produtora de hidr<>gênio gerado de fon-
tes fósseis do País, uma forte candidata a
alavancar o desenvolvi ment<> dessa área.
CC: Qual é o estágio da transição
energética na Petrobras, em compara-
ção com grandes petroleiras mundiais?
MT: :"loque diz respeitoàdescarboniza-
ção das suas atividades. a Pct robras está
avançada em relação a empresas de ou-
tros países. Ondeestáatrasadaé na par-
te de descarboni1.açâo do seu portfólio,
que consiste em introduzir novos pro-
dutos com menos ~'Onteúdodc carbono.
CC: Em que ntrno será a mudança?
MT: Depende muitodaregulamentaçâo.A
eól icaoffshorc, por exemplo, tem um Pro-
jeto de Lei no Congresso e só poderemos
começara i nvestirquando ele for aprov-.i-
do. O mar é uma área da União, que tem
de conceder ao investidor o direito de ex-
plorar. Da mesma íorma, a captura e ar-
mazenamento de carbono a União tem de
conceder. A Pctrobras tem ~1tuado nos lo-
cais de ex pi oração já concecl idos e quere-
mos caminhar para out r.is :íreas, fora dos
.. nossos campos de petróleo, mas, para is-
so. tem de haverumaconccssão. Também
..."'<>< naáreade hidrogênio, o marco regulató-
• r io estabelece o critério par.io hidrogênio
...... . ..
1
ser considerado verde. Ou ~1 ra um invcs-
<> "-
.,~ ­
oº
. timento ser consideradode baixo cartxmo.
.. ...
~~
"> <
n.,
CC: Quaissãoosprincipais riscosda
transição energética da empresa?
......,
... MT:O primeirodelesé o risco rcgulatório.
A transição energé ticadependede legisla-
""
<> ..
.....
t.>iW;
-.
., .z
ções. regulamentações e metas governa-
... mentaisparaarecluçâodacmissâodccar-
...
~
• bono. A velocidade do processo depende
TAMBÉM
NESTA
SEÇÃO
Economia. Oritmodasmudanças
dependerá dos marcos regulatórios
aprovados, avalia Tolmasquim
daquilo que for regulamentado. Há tam-
bém o risco tecnológico. Serão adotadas
tecnologias novas. por exemplo, na área
de hidrogênio, e dependemos da viabili-
dade econômica dessas tecnologias e de
que elas tenham a eficiência esperada. Ou-
tro risco é o de reputação. é fundamental
queaquiloquefor definidoscjarealmente
realizado no prazo estipulado. Existe ain-
da o risco financeiro. A transição energé-
tica precisa de investimentos sign ificati-
vosem novas tecnologias, infraest rutura,
com retorno para a empresa sem abalar a
sua saúde financeira. Por fim, há o risco
"A estatal conseguiu
capturar 10 bilhões
de toneladas de gás
carbônico em 2022,
o equivalente a 2$°/o
do volume mundial",
diz diretor da estatal
C A RTAC AP ITAL
pág. 36
Belluzzo. Camufladas, as ideias
do mercado manipulam opiniões
para beneficiar os poderosos
dedemanda,porqueseapostaráemalgu-
masáreas e produtos novos, como hidro-
gênioverdc,cólicaoff.~hore, biocombustí-
vel e diesel renovável, e é preciso ter um
grau deccrtezadeque haverá procura, pe-
loprcçoemquescrâo produzidos.Seodie-
sei renovável da Pet robras,o Diesel R. com
5%dc óleo vegeta 1,dest in:ido ao transpor-
te rodoviá rio, não en trar na lei do Com-
bustível do Futuro, cria-se um problema
de falta de demanda par.i o produto e um
risco para a empresa, porque houve inves-
timentos em um novo processo de refino.
CC :Opetróleodemoroudécadaspa-
ra éllrnefltar de 5% para 50% a sua par-
ticipação no mix de combustíveis utiliza-
dos no mundo. A mesma demora deverá
se repetir na transição energética atual?
MT: ~:diferente. No caso do petróleo, a
mudança foi devida a questões econômi-
cas, tecnológicas e de facilidade de utili-
zação, que o tornaram mais compet itivo.
Agora, não é só um<i questão econômica,
masde políticas.cm nível mundial. para
fomentar a transição. Há países proibin-
do, a partir de um certo ano, a venda de
veículos movidos a combustível carburan-
te. Nos EUA, o lnflalion Rcduclion Acl dá
incentivodc7 mil dólares para quem com-
pra carro elétrico, o que torna essa opção
competitiva. l loje4S%dademandadepe-
tr<Íleo está re lacionada ao setor automo-
t ivo e tornar o carro elétrico competitivo
tem um imp<icto enorme. Ocorreu tam-
bém uma grande queda dos preços das
energias eólica e solar, que tornou com-
petitiva a eletricidade dessas fontes.A ca-
paci<fade instalada disparou. Entre 201Se
2022,agcraçãodeenergiafotovoltaicaau-
mentou maisde400%.Aproduçâodecar-
roselétricos cresceu 2.000%nesse perío-
do.A velocidade de transição paraascner-
gias renováveis não vai demorar tanto.
CC: As parcerias para investimentos
incluirão as empresas locais, inclusive
no desenvolvimento de tecnologia?
MT: A Petrobrastem um históricodeenor-
77 O I HOVI Mll RO IH 707:J ZO
Economia
me contr ibuição para a economia nacio-
nal. No ano passado, recolheu quase 150
bilhões de reais em tributos, e apenas nes-
te primeiro semestre, foram 120bilhões. É
a força motriz da cadeia de energia nacio-
nal ecatalisadorado setordeequ ipamen-
tos, dada a exigência de conteúdo local. No
novo gover no, mostra uma preocupação
grande com os fornecedores locais e isso
vai ocorrer também na transii,-ão energéti-
ca. Ao entrar nessa área, a Petrobrasajuda
a fomentar a indústria nacional, a promo-
ver a geração de empregos e a desenvolver
tecnologias por meio de parcerias com em-
presas nacionais, slarlups e fornecedores
locais,queajudam adesenvolversoluções
locais.Acompanhiatambém mantém um
programa de pesquisa e desenvolvimento
que alavanca programas de pesquisa em
universidades brasileiras, instituições de
pesquisa e empresas nacionais.
CC: Em quais tecnologias de descar-
bonizaçào o Brasil pode desempenhar
um papel de liderança, como ocorreu na
exploração em águas ultraprofundas?
MT:A Petrobras tem condição de ser a em-
presa que vai tornar viáveis algumas das
tecnologias que hoje estão na ponta, como
as de biocombust íveis, de hidrogênio ver-
Exemplo. A RefirkYia Riograndense opera 100% com óleo vegetal e produz náilon e PVC
zo CARIACAPll AI CO IA BR
"Na geração offshore,
os ventos são mais
fortes e constantes.
Isso permite uma
produção de en ergia
elétrica mais estável"
de, a partir de fontes renováveis, de hid ro-
gênio azu 1, a partir de fósseis, mas captu-
rando e ar mazenando o hidrogênio, ede
captura e armazenamento de carbono.
CC: Quais são as prioridades da
Petrobras na transição energética?
MT: As prioridades são biocombustíveis,
diesel re novável para a área rodoviária,
produç-.io de combustíveis avançados pa-
raaviação,com 100%deusodeóleovege-
tal. Está em teste um navio afretado com
24%de biodiesel com muitos bons resul-
tados.Destaque-se também a produção de
substitutos para petroquím icosuti li;r.ados
na produção de borr.icha sintética, náilon
e PVC.A nossa Refinaria Riograndensees-
tá operando 100% com óleo vegetal e pro-
duzindo náilon, PVCe borrachasintética.
Por fim, as prioridades incluem a energia
eólica, onshore e offshoro, energia solar
onshoro, h id rogên io e captura e arma;r.e-
namento de carbono. A Petrobras captu-
rou 10 bilhões de toneladas de gás carbô-
nico em 2022, o equivalente a 25% de tu-
do que tinha sido capturado no mundo.
CC: Como a Petrobras conseguiu
atingir um quarto da captura mundial?
MT: O petróleo do pré-sal tem um con-
teúdo de gás carbônico muito alto e isso,
do ponto de vista am biental, inviabiliza-
ria a produção petrolífera. O Cenpes de-
senvolveu um mecanismo para separar o
gás carbônico do gás natura] einjetarno
reservatório de petróleo. Fica capturado
lá. Teve outra vantagem, porque sedes-
cobriu que, ao injetar o gás contendo gás
carbônico e um pouco de água, se conse-
gueextr.iir ma is petróleo do reservatór io.
CC: Qual é o motivo de se fazerem in-
vestimentos em eólicas offshore, quan-
do o custo dessa modalidade é três ve-
zes superior ao das eólicas onshore?
MT: Na geração offshore, os ve ntos são
mais fortes e constantes, e isso permite
um a prod ução de e nergia mais estável.
Além disso, a Petrobras tem tradição de
at ividades no mar e há sinergia em logís-
tica, know-ho111 e capacidade humana, o
que leva todas as grandes pet roleiras do
mundo que atuam na área onshore para
aeólicaoffshore. Fi naJmente, o mecanis-
mo para tornar os geradores ma is eficien-
tes implica utilizar torres mais altas e
com pás e demais componentes maiores,
eem terra já se at ingiu o limite, queéde
7gigawatt(GW).Asestradasnãopermi-
tem transportar pás muito grandes. Na
Chi na,j~í há geradores off.~horede 14 GW.
CC: Há perspectiva de aumento do
investimento em gás? Vaca Muerta, na
.,
Argentina, é uma boa oportunidade? •a:
MT: Vaca Muerta é uma das ma iores re- "'oa
servasdegásdexistodomundo,oferecen- :.. ~
do um potencial significativo para a pro- ....
o
dução de gás natural. Vários investidores ::.
o
têm demonstrado interesse, devido à sua ~ ~
extensão e ao potencial de produç5o. • ::.
GOVCRNO fCDCRAL

r1.
UNIÃO E RECONSTR U ÇÃO
Carta

CARTACAPITAL ...... l>I llOVI MllRO 0( -..un Z7

-~·~e.~<-:.~.~!. . !._~~c . . . - . . . -.. . . .-.. . . - . . . . -.. . . . -.. . . .-... . -.. . . .-... . -... . .-... . .-.. . . . -.. . . . -.. . . .-.. . . -.. . . -.. ..
GOVERNO FEDERAL

UNI ÃO E R!CON$TRUCÃO

~-

INDÚSTRIA VERDE
DEsc N- Ã A t ransição ecológica abre nova janela para o
Brasil prosperar, inovar e fazer sua parte na preservação do planeta

s temperaturas no planeta
registram sucessivos recor-
des neste ano. Setembro e
outubro foram os mai s
uentes d a história, desde o
início das medições. O Acordo de Paris,
firmado por mais de 190nações,em20!5,
com a meta de 1imitar o aquecimento glo-
bal até o fim do século a 1,5 gr.iu, torna-
-se cada vez mais uma quimera. Estudo
recente da Organi'l..açâo ~ eteorológica
Mundial indica probabilidadede66%de
esse limite ser ultrapassado nos próxi-
mos cinco anos. Neste contexto, a partir
de :io de novembro será realizada a 28ª
Conferência das Partes, em Dubai, nos
EmiradosÁrabes Unidos.
O caminho da redução global deem is-
são de poluentes rumo a uma economia
de baixo carbono passa pelo Brasil, o que
abre oportunidades para o País adicio-
nar valor agregado à indústria ve rde. A
tra111sição energética é um dos eixos prin-
cipais do Ministério de Minas e Energia
no âmbito do Novo Programa deAcelera-
çãodo Crescimento, o PAC. Estão previs-
tos 540,3 bilhões de reais em im•estimen-
tos.. Enquantoo Brasil tem maisde48%de
fontes renováveis em sua matriz energé-
tica, a média mund ial não passa de 14%.
A diferença é ainda maior se comparada
com os pa ises mais desenvolvidos, fi 1iados
àürgani:r.açâo para a Cooperação e Desen-
volvimento Econômico, cuja participação
de fontes renováveis é de meros 11%. Se na
China, na Í ndiaenaseconomiasdesenvol-
vidas o carvão tem papel de destaque, no
Brasil, as hidrelétricas, as usinas solares
e eólicas e o etanol despontam.
·'o Brasil pode tornar-se uma potên-
cia descarboni;r.ante no mundo", afirma
LuizAugusto Barroso, presidente dacon-
sultoria PSR.A matriz baseada em fontes
limpas faz com que muitas empresas pre-
tendam investir para reduzir sua pega-
da de carbono ou olhar novas tecnologias

Z8 C/IRTllCllPll AI COM BR
······ · - · ···· · - · ·.. ···- ··"··- ·· .. ·· - - ·....- -...... - ....... _ ......_ ......., _.....- - - · · · - · -.. ····· · -.. ····· - · · · ·..··- ···"- - '""' ' - " '" ' - ''"'º_ _,,, ... _ .... , .._ .......- ......_

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GOVERNO ,IEOERAL

U NIÃO ! RlCOHSTRUÇÃO
1-

--
..,,..,• . •
.à' •

-
comoo h idrogênioverdeeocombust ivcl Lídef" na produção de energia renovável, o Nordeste atrai montadoras
sustentável de aviação. No caso da fonte como a BYD, de carros elétricos. A r99iâo também será um hub do hidrogênio verde
solar, o Brasil acumula 34 gigawatts de
potência instalada.de acordo com dados
da Associação Brasileira de Energia So-
lar Fotovoltaica.SegundooOpcrador Na-
cional doSistema, a fontc,ccnt ral izadae
distribuída. responde por 15%dagcração.
porcentual Cl>1imado cm 24% até 2027.
··o potencial é muito grande". diz Bar-
bara Rubim, vice-presidente daAbsolar. li
O uso do vento também tem gan ha-
do csp~1ço na mal r iz elétrica, com desta-
1
<
"'
>
o
que para os projetos no Nordeste, dctcn-
tordecercade 1XYibda potência instalada.
" O Brasil ocupa atualmente o sexto lugar
...~::! noranking mundial de capacidade insta-
, ,, ~·

I~
'
_, lada de energia cólica onshore (terra), com
<
...o 26 gigawalts. Em 2012,cstava cm 15º lu- 1
•• gar. Com ventos contínuos e intensos, as
: usinas eólicas nordestinas chegam aopc-
k rar em boa parte do tempo com fator de
i
~ capacidade superior a 60"ro, dobro da mé- 1
~ dia mundial. As instalações eólicas, até
i junho de 2023, foramde2,3gigas,44,5%
..
~ d as adições à matriz elétrica nacional.
·o Brasil poderá usar a matriz para rein- 1

C A RTAC A P ITAL -,. -,. l>I llO VI MllRO OC -,ou ?I Z 9

-~·~e.~<-:.~.~!. . !._~~c . . . - . . . -.. . . .-.. . . - ... ..-.. . . . -.. . . .-... . -.. . . .-... . .-... . .-... . .-.. . . . -.. . . . -.. . . .-.. . . -.. . . -.. ..
GOVERNO FEDERAL

UNI ÃO E R!CON $T RUCÃO

dus trializa r cadeias produtivas", proje-

ta Elbia G:rnnoum, presidente-executiva
da Associação Brasileira de Energia E,óli-
ca. O potencial está também no alto-mar.
Enqu:mtoo governo sinaliza com are-
guJação para as eólicas offehore até o fim
doano,empresasse movimentam para in-
vestir nesse novo segmento. Foram proto-
colados cerca de 200 gigawatts em proje-
tos no Institu to Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Nat urais Renová-
veis. Entre os interessados est á a Pe tro-
bras, em busca da ampliação no merc"3do
de renováveis, via eól icasoff.~hore e usinas
solares. "A Petrobras precisa olhar para a
tra nsição energética e descarboni:r.arpro-
cessos", acentua Mauricio Tomalsquim,
diretor de transição energética da estatal.

Em setembro, a companhia anu nciou

os pedidos de 1ice ncia mento de dez áreas
marítimas para ai nsta lação de estrutu-
ras de energia eólica co m potência de 23
g igawatts. Das dez áreas marítimas, se-
te ficam no Nordeste (três no Rio Gran-
de do ~orte, três no Ceará e uma no Ma-
ranh ão) e as demais estão localizadas no
Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rio
de Janeiro. Para 1iderar o novo segmen-
to, a e mpresa firmou parceria com a \Veg,
fo rnecedo ra de motores elé tric..'Os, para
o desenvolvime nto de um aerogerador
capaz de produzir 7 megawatts de e ner-
g ia, o maior a ser fabricado no Bras il. " Is-
so marca a entrada efetiva da Petrobras
no segme nto de e ne rg ia eólic:i offshorc",
diz o presidente, J ean Paul Pr.ites. A pe-
troleira investirá 130 milhõesde reais no
projeto, em andamento. O acordo abran-
ge o desenvolvimentode tecnologias pa-
ra a fabricação dos componentes do ae-
rogerador, adequados às condições eó-
licas do País, bem como a cons trução e
test es de um protótipo, co m co ntrapar-
tidas técnicasecomerciais par.ia estatal.
A WEGprevê queoequipamento poderá
ser produzido em série a partir de 2025.
Com 47 pro postas incluídas no no-
vo PAC e investimentos de 32 3 bilhões
de reais nos próximos anos, a Pet robras
tem uma série de proje tos a lém d as eól i-
cas offshore. Outra frenteéocombustivel
de aviação suste ntável, produzido, e ntre
outros, com matérias-primas biológicas,
resíduos sólidos municipais ou gases re-
siduais de indúst r ias. O setor contribui
com ao redor de 2"Ai das emissõesglobais
de gás carbônico e é um dos mais desa fia-
dor es paradescarbonizar, devido ~1 longa
vida útil dos aviões e à falta de alte rnati-
vas viáveis de babco carbono.A Petrobras
tem planos de produzir co mbus tível de
aviação suste ntável em uma pla nta de-
dicada de biorrefino ao lado da refinaria
Preside nte Bernardes, na pau 1ista Cuba-
t ão. " Vamos construir uma unidade de
refino dedicada a óleos vegetais só para
<.-ombustíveldeaviação, ta mbém com pa-
tente do Centro de Pesquisa, Desenvol-
vime nto e Inovação", descreve Tolmas-
qui m. "Somos um ator fundamental pa-
ra prove r esse combustível s us te ntável
para o mundo."
Ademandapotencial futura égrande.
A União Europeiabusca estimularo mer-
cado. A partir de 2025, todos os aviões
que partirem de um aeroporto europeu
deverão conte r uma parcela mínima de
combus tível renovável.Segundo o acor-
do, a porce ntagem de SA F a ser mistura-
d a com o que rose ne começará com 2%
e m 2025 e pas sará a 6% em 2030, 20%

30 C/IRTACAPll AI CO M BR
.......- ......_ . , ,,,. __ ..._ _ -
.,, ..... ..... ....-
.....
em 2035. 34% em 2040 e 70% até 2050.
O Brasil tem condições de se tornar um
grande produtor e exportador global de
combustível de aviação sustentável. por
meio de algumas das possíveis rotas tec-
4
nológicascertificadas,graças à abundân-
"'' cia de resíduos agrícolas. florestais, ou a
..
"-. p:irtirdoetanol de segunda geração.
Outra possibilidade que se abre é o hi-
""'... drogênio verde, que desponta nos próxi-
- -.
' mos anos como um:i das principais pro-
messasde energéticos para a descarboni-
zação da economia. Com uma matriz na
qual os renováveis como hidrelétricas,
solares e cólicas respondem por mais de
o
~ 80"1Õdaeletricidade gerada, o País é um
<
<> dos lideres mundiais nesse setor. A com-
;;
petitividade em energia renovável pode
< conferir uma vantagem na produção de
..
o
o
.., hidrogênio verde, pois o custo da energia
-
n
renovável é de 70% daquele da produção
• do energético. O Brasil, segundo estudo da
"
_
.......- ....··--·..·· ·-··..··--.......- ......._
Elbia GanllOlnl,
da Abeeolica, e Bárbara Rubim,
da Absolar, representam setores
auciais à reindustrialização
Bloomberg, é um dos poucos capazes de
oferecer hidrogênio verde a um custo in-
ferior a 1dólar por quilo até 2o:m.
A mineradora australiana Fortescue
não tem produção relevante de metais
no Brasil. mas planeja um investimento
bilionário em hidrogênio verde no por-
to de Pecém, no Ceará. No início de no-
vembro. a multinacionaJ recebeu a pri-
meira licença prévia do hub. O projeto da
empresa poderá somar 5 bilhões de dóla-
res em investimento, tem potencial pa-
ra produzir 837 toneladas de hidrogê-
nio verde por dia a partir do consumo
de 2.1 mil mega\\--atts de energia renová-
vel. De acordo com o estudo de impac-
,,,,,,_ __ -
...... ... ... .....
GOVERNO ,IEOERAL
UNIÃO ! RlCOHSTRUÇÃO
1-
to ambiental, o projeto geraria cerca de
5 mil empregos na fase de construção. O
setor ainda aguarda a regulação, em de-
bate no Congresso. Para Pau lo Alvaren-
ga, CEOda Thysscnkrupp South Ameri-
ca, o Brasil tem uma janela de oportu n i-
dade para ser aproveitada, usando o mer-
cado doméstico como impulso. ~o País é
um grande import:1dor de fertilizantes
e é grande potência agr ícola. então po·-
de fomentara reindustr ialização verde."
Os projetos ma is avançados de hidro-
gênio verde no Brasil estão localizados
no ='!ordeste, com destaque para Ceará,
Bahia e Pernambuco. O potencial solar
e eólico da região, a proximidade com os
mercados da Europa e dos Estados Uni-
dos e termin:iis portuários com capaci-
dade de receber grandes navios têm fei-
to os nove estados nordestinos largarem
na frente na corr ida por atração de inves-
timentos na tecnologia. Há outra variá-
vel relevante: a União Europeia anun-
ciou.cm maio, a metade importarlO mi-
lhões de toneladas de hidrogênio verde
até 2030. Um dos portos definidos como
estrntégicopara:i importação é ode Ro-
terdã, n:i 1lolanda, o maior da Europ:i e
acio nista do termin:il de Pecém.
O primeiro projeto operacional de hi-
drogênio verde no Brasil foi lançado, em
14dcdezembrode2022,pelaEDPemuma
unidade de geração t érmic<1 da cmpres:i
em São Gonç:ilo do Amarante, no Ceará.
Hesultadode investimentos cm pesquisa e
dcsenvolvimentode41.9 mi lhõesde reais,
a plant:i contempl:i uma usina solar com
cap:icidade de 3 megawatts e u m módulo
elet rol isador para a produção do combus-
tível com cap:icidade para produzir 250
Jlim!lfh do gás. Isso permite à EDP, dona
daTcrmelétrica Pecém l,quegera620 me-
gawattsdecncrgi:i produzida com carvão
mineral, quesubst it ua motores auxiliares
àbasedcólcospcsados.Oempreendimen-
to deverá responder por cerca de 10% do
consumo totaJ da unidade.
C A RTA CA PITA L ... ... D I ll OV I MllRO Ol ;.un 31
-~·~l?.~~.!.~!. J.~~c . . . ._. . . .- . . . ._. . . ._. . . .- . . . . ._. . . . ._. . . . ._. . . . . _. . . . _. . . . . -.. . . .- . . . . -.. ·····-·······-·······-·····. -····
GOVE RN O FE DER AL

U N IÃO E RECONSTRUÇÃO
1-

POR OUTRAS ROTAS

-
Diversif icar as alternativas
e reduzir a dependência das rodovias nunca foi
tão determinante para o futuro da economia

a ís de dimensões continen-
ta is, o Brasil nunca conse-
g uiu e levar a eficiência da
malha de t ransporte à altu-
ra das exigências da compe-
tição internacional. As estradas sempre
foram domina ntes e respondem atual-
me nte por 65% do vol ume d e cargas e
95% dos passageiros. No novo PAC. es-
tão previstos 280 bilhões de reais para
o setor, 79bilhõesem recursos saídos do
Orçame nto-Geral da Un ião e 201 bi-
lhões em investimentos privados, que
incluem concessões. A expectativa é de
que obras de rodovias e ferrovias gerem
ma.is de l milhãodeempregosaté2026.
Em 2022, estima-se, o Brasi l possuía
l,72 milhão de quilômetros de rodovias.
Desse total, 213,5 mil quilômetros esta-
vam pavimentados (12.4% do total), 1,35
milhão de quilômetros não pavimenta-
dos (78,5%) e 157,3mi1 qui lômetros de ro-
dovias planejadas (9,1%).Jáem termos de
qualidade da infraestrutura, no compa·
rativoglobal pelo ÍndicedeCompetitivi-
dadeGlobal, produzidopelo Fór um Eco-
nômico Mundial e m 2019, o Brasil posi-
cionou-se em 116° lugar entre 141 países.
Segundo a Pesquisa da Con federa-
ção Nacional de Transportes de Rodo-
vias 2022. d a extensão total avaliada, de
110.333 quilômetros, 72.763 quilômetros
(66%) apresentaram algum tipo de pro-

3Z CARIACAPl l AI CO t.l .BR

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..
_-
.,,
_
....... ...,.._.,,,,,_,,,,,_,,,,,_,.. ......
Mod~is. Entro os projolOs no
portfólio, dostacam-so duas forrovias
a sorom conoctadas iJ Norto-Sul
blema.Aprox imadamentc, 25"ro dessc to-
tal foi classificado, cm estado geral, como
ruim ou péssimo. scgu ndo a CNT.
O desafio nesse caso é melhorar a qua-
lidade da s estradas que cortam o Pais,
otimizando a fluidez e a seg urança. O
custo total es timado dos acidentes oc.-or-
ridosem rodovias federais em 2022 foi de
12,9 bilhões de reais. O valor é pratica-
mente 100% maior do que todo o inves-
timento público fede ral aplicado no ano
passado na malha pública (6.51bilhões)
e representa um aumento de quase 800
milhões em relação a 2021.
Além de perdas de vidas, as más con-
dições das rodovias tê m peso sobre o
bolso: empresas do transporte rodoviá-
rio de cargas podem ter um acrésc imo
de, em média, 33, 1% no custo opera-
cional que te r iam. caso as rodovias es-
tivessem cm melhor estado. Estudo da
CNT apon ta que estradas cm condir,.-õcs
ruins rep resentam um c usto de, aproxi-
madamente, 4.89 bilhões de reais pa ra
os transportadores de cargas e de passa-
geiros no Brasil, uma vez que se estima
um cons umo adicional e dcsnecess.irio
de 1,072 bilhão de 1itros de diesel.
O governo te m buscado nas co nces-
sões melhorar o quadro. No fim de agos-
to, foi realizada a primeira licitação de
.,
w
1
lotes de rodovias do Paraná controladas
..,."'"
o
a
<
pela União. O Grupo PMria foi o vence-
dor do leilão do primeiro lote, que faz co-
.,o
~ nexão entre o porto de Paranaguá,a Re-
<.> gião Metropolita na de Curit ibae a Ponte
o daAmi7.ade. na fronteirac.'Omo Paraguai.
••
..• Com oferta de desconto de 18,25% na ta-
" rifa por quilômetro rodado,ogrupoarrc-
u matou 473 quilômet ros e deverá investir
..._,
1
7.9 bilhões de reaisem obrasde melhorias
;;,
.,o e manutenção cm trechos das rodovias.
o
" Em setembro, foi a vez da licitação dos
.. --.....- -···--···--··..--···..--···..--····..·-·····-···....-_......._ .....-
......
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..... _ _
..,,..,_,,,,,,.,_,,,,. _. ..._., ...
._ _.....
.......
,_,,,,,_, , , _ , _.,,,,_
605 quilômetros de rodovias do Lote 2 do
Paraná, que interliga Curitiba.o litornl. a
região dos Campos Gerais e o norte do
estado. O Consórcio Infraest rutura arre-
matou o lote e investirá mais de 17bilhões
de reais nas rodovias ao longo dos próxi-
mos 30 anos. O projeto abrange diversas
melhorias, incluindo aduplicaçãode 350
quilômetroseaadiçãode 13?qu ilômetros
de faixasextras.Asconccssões con ti nua-
rão. A intenç;iodogovernofederaléde le-
var a leilão no primeiro semestre de 2024
mais dois lotes de rodovias no Paraná: um
abrange561,97 quilômetros, passa parci-
dades como Londrina e Ponta Grossa e
prevê investimentos de 8,1 bilhões de re-
ais. O outro tem uma extensão total de
662,18quilômetrosecortaos mu n icípios
de Pato Branco, Cascavel e Guarapuava,
com investimentosde8.5bilhõcsde reais.
Na última semana de no\•embro, se-
rá realizado o leilão de um trecho da
BR-381/ MG de 304 quilômet ros e ntre
Governador Valadares e Belo Horizon-
te. A concessão terádu ração de 30 anos e
os investimentos ultrapassam 10 bilhões
de reais. Já nos dois primeiros anos de
concessão, em torno de 1, 1bilhão devem
ser investidos para a realização dos tra-
balhos inicia.is de recuperação e requa-
lificação do pavimento, além de melho-
rias nas inalizaçãovertical e hori.zo nta l.
Em ferrov ias, um dos destaques é a
constr ução de duas 1i nhas que deverão se
interligar à Norte-Sul, o que ampliani as
opções no centro do País. aumentando a
possibilidade de oagronegócio us.tro cor-
redor sobre trilhos para exportação. Hoje,
CARTACAPITAL
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....., ,,,,,_
... ....
....,, . , _..,,,.._,,,, ... _ ....., _
GOVlltNO rlDlltAL
. r1.
V H IÃO I RECOHSTRVÇÃO
os trilhos respondem por 2 1,5% da movi-
mentação de cargas. porcentual que po-
derá subir para 40% na próxima década.
O principal produto escoado é o minério
de ferro, e 91% do volume exportado che-
gou aos portos brasileiros por trilhos. O
modal ferroviário também responde pe-
lo transporte de mais de 42% de grãos.
Apesa r de o l ransporte de minério e car-
vão representar perto de 67% dacircula-
ção sobre trilhos, a diversificação de car-
gas transp<>rtadas tem aumentado. Des-
de ICJCJ7, a movimentação de contêineres
crcsceuquase 165vezes,altamédiaanual
de 22,7%. Em 2022, foram maisde575 mil
TEUs (unidade equivalente a um contéi-
ner de 20 pés) transportados por ferro-
vias, uma evolução positi va de 19% em
relação a 2021. Para aumentar a partici-
pação ferroviária na matriz de transpor-
tes, trabalha-se na construção da Ferro-
via de 1ntegração Centro-Oeste (Fico),
cujas obras são executadas pela Vale co-
mo contr.ipa r tida à prorrogação anteci-
pada do contr.itode concessão da 1-::Strada
de Ferro Vitória-Minas à mineradora. A
previsão de conclusão é de até cinco anos.
A ferrovia interligará os polos pro-
dutores de grãos do Centro-Oeste até a
Norte-Sul. Com 888 quilômetros de ex-
tens.io, sendo 383 de Mara Rosa (GO) a
Água Boa(M'l')e505dcÁgu aBoaa Lucas
do Hio Verde (M'I'), a Fico escoar~i a pro-
dução de s<>ja e milho do cent ro-norte do
estado de Mato Grosso, maior região pro-
dutora de soja do Brasil, em direção aos
portos de São f ,uis, Santos ou Paranaguá.
Também es tá no PAC a Ferrovia de Inte-
gração Oeste-1.cste (Fiol),que ligaráofu-
t u ro porto de li héus, no litoral baiano, a
Figueirópolis, no Toc.intins, onde seco-
nectará com a Nortc-Sul.Aconclusãoda
Fiol está prevista para 2027. O corredor
logist icovisa permitir o escoamento para
o mercadoexternodo mi nério de ferro do
sul da Bahia.além de possibilitarotrans-
portefer roviáriodegrãosdooeste baiano
ao porto, em direito de passagem. •
..... 0 1 NOVI M ORO or ?Ol'I 33
-····· -........_ .,,,.._ ,,,,,_ .......- ....·-···"··-··..···-······-·······-·····-···..--······-·-·....- ....·-···..--......- .....- ......
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-~_sp_e~_ia.!. _1 ..~A~---··..···-··..··-·..···-···..··-··..··-···..··-........_ ......_ .......- .....- ........- ...··-······-··..··-··..··-··..··-

OOV lllNO , I Dl llA L

U N IÃO E RECONSTRUÇÃO

Autonomia futi..ra. O Brasil negociou

a transferência de tecnologia na
compra dos caças da sueca Gripen
-·--·-···-··----·--·---

dos principais projetos do setor incluí-

dos no Programa de Aceleração do Cres-
cimento, que prevê 52.8 bilhões de dóla-
res nos próximos anos. A principal vanta-
gem do submarino nuclear é que ele po-
de ficar muito mais tempo submerso do
que os movidos a diesel, pois gera ener-
gia pela quebra de núcleos atômicos edis-
pensa o oxigênio necessário para a quei-
madodiescl.Assim,osubmarinonuclear
pode ficar imcrso por meses a fio, enquan-
to o convencional precisa se aproximar da
superfície para recarregar as baterias. O
projeto, que envolve parceria e transfe-
rência de tecnologia com o governo fran-
cês, deve ser concluído em 2029.

Nos ares, o principal destaque foi a

inauguraçãoda linha de produção do caça
Gripen, no interior de São Paulo, em maio.
A íâbricada Embraer na paulista Gavião
Peixoto rcceber:i o programa de transfe-

TERRA, MAR E AR rência de tecnologia da produção do caça

aéreo firmado com o governo da Suécia.
Em parceria com a empresa sueca Saab,
a Embraer produzirá. com engenheiros
DEFESA A modernização dos e têcnioos brasileiros, IS das 36 unidades
equipamentos das Forças Armadas previstas.A linha de montagem éa única
existente fora da Suécia e abre portas pa-
é um dos eixos de investimento ra tornar o Brasil um centro de produção
e exportação de caças. O contrato para o
desenvolvimento ea produção foi firmado
importância crescente do sade Pesquisa Energética,aextraçãode em oul ubro de 20l4. A previsão é de que,
Brasil no cen:irio am- petróleo e gás dever:i c rescer pouco em 2027, a últimaaeronavesejaentregue.
biental e energético mun- mais de 80% até 2030. A produção de O Exército projeta. por sua vez, a com-
dial tem feito o governo petróleo deve saltar de 2.9 milhões de pra d e 714 viaturas blindadas para mo-
buscar melhorar o moni- bar ris por d ia em 2021para5,2 milhões dernizar sua frota ao longo dos próxi-
toramento das fronteiras e investir na
modernização da indústria de defesa.
em 2029, volume m ant ido em 2030 e
2031. O au mento é oriundo do pré-sal.
mos anos. Em agosto. foram adquiridos
20veiculos especiali;r.ados. O modelo re- •...
..
,
com iniciativas de transferência de tec-
nologia para fortalecer as companhias
Em outubro, a Marinha deu o pontapé
naetapainicialdaconstruçãodeumsub-
siste a disparos de armas de calibre 5.56 <>
mm e 7.62 mm, além de estilhaços de ar- 7•
..
o
brasileiras. Segundo o Plano Decenal de marino nuclear, que deve ser o primeiro tilharia. minas e explosivos, e possui ca-
Expansão de Energia 2031, da Empre- da frota das Forças Armadas. Esse é um pacidade para rebocar até 42 toneladas. • o
' ..
3 4 CARIAC APlllll COM Bll
 PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Ecorl"'"'l ~ta, ·~ 1cj - ~ ~o vv B ..nco de
Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai.
e d retOC"·executrvo no FMI pelo Br:isd e lll;)IS dez países
Sainuel e o acordo coin a U.E.
..,. A negocia ção repete a
Alca, enterrada por Lula,
e acaba com a indústria
Q
uero escreve r hoje sobre Sa-
muel Pinheiro Guimarães e
um tema candente, ligado a ele,
que se abate neste momenlosobre nós -
a negociação de um péssimo acordo en-
tre l\lercosul e União Europeia, em ple-
no governo Lula.
O leitor ou lcitoraconheceSamuel Pi-
nheiroGuimarães?Se nãoconhece,de-
vedeclarardeprontoumaimensalacuna
cultural.! mensa, mas não imperdoável.
Averdadeéqueno Brasil não é incomum
que grandes figuras sejam esquecidas, ao
passo que nulidades totais. dedicadas a
prestarserviçoaintercssesestrangeiros
e às camadas tupiniquins locais. são ce-
lebradas em prosa e verso.
Samuel é u m desses brnsileiros que
ainda não receberam o reconhecimento
que merec.'Cm. T rata-se deu m dos maio-
res diplomatas da sua geração, t alve:r. o
maior. Além de ser um grande servidor
público, construiu e constrói um a vasta
obra intelectual.
O momento culminante da sua ação
prática foi como vice-ministro das He-
lações Exteriores, na gestão Celso Amo-
rim. Entre mu itas outras batalhas. des-
tacoaquelcvouaoarquiv:imentodaÁrea
de LivreComérciodasAméricas- aAlca,
umapropostados Estados Unidos que te-
ria sido desastrosa para nós.Juntamente
.
u
~ comCelsoAmorimeAdhcmar Bahadian,
.. trabalhou com firme1.:i e habilidade pa-
•
:. raimpediraconcreti zaçâodesscacordo.
Isso nos t raz para o presente, que é o
que interessamais.Samuel,comoeu,de-
ve estar dando os proverbiais -arrancas
triunfais de cachorro atropelado" por
causa do avanço, no gover no Lu la, do
ac.-ordo Mercosul- União Eu ropeia. Pois,
pasmem, esse acordo é essencial mente
igual ao da Alca e não se compreende,
portanto. que o mesmo presidente Lula
continue a dar seguimento a uma nego-
ciação desse estilo -e, destaque-se, con-
cluída no essencial em 2019 pelos gover-
nos Bolsonaroe.Ylauricio.\1acri,com to-
das as deficiências que isso acarreta.
O resultado da negociação dos gover-
nos Bolsonaro e .\1acri com a UE foi tão
ruim. mas tão ruim.que um negociador
europeu chegou a dizer: '"\.Vc havc in a
way gol away wilh murd<!T on lhis dcar,
o que em tradução livre significa - o acor-
do é tão favorável a nós que equivale a um
assassinato.
O acordo só não foi assinado durante o
1
período Bolsonaro porque o governo bra-
sileiro adotou políticas na área ambiental
que terminaram por inviabi li1.ar a sua fi-
n~1l izaç<io. Era previsível que a questão se
recolocaria, como de fato ocorreu, se l .u-
la fosseeleitoem 2022.Além d isso, os eu-
ropeus apresentaram, em 2023, um pro-
tocolo ad iciona.l ou sidc lcller, reforçando
as exigências na área ambiental e configu-
rando de forma ainda mais clara o que se
poderia chamar de ..protecionismo verde",
a imposição de barreiras ao comércio sob
o pretexto de proteger o meio ambiente.
O que fez o gover no Lula? Hetomou
as negociações, aceitando como ponto
de partida o pacote herdado de Bolso-
naro. O Mercosul ficou. assim. na posi-
ção intrin sicamentedesfavorável de pe-
C A RTAC A PI TA L
dir modificações a um acordo vasto, in-
trusivo e visto como pronto. ou pratica-
mente pronto. O espaço não permite ex-
plicar bem o assunto. Hemeto li versão
onlincdcste artigo.
Até agora, pelo que sei, o governo le-
vantou apen~isdois pontos: 1 . Busca evi-
tarou atenuar o .. protecionismo verde"
dos europeus, modificando as cláusulas
ambientais e questionando a sidc lcllcr.
2 . Tenta alterar o capítulo de compras
governamentais com o intuito de pre-
servar alguma margem para direcionar
as licitações públicas a produtores na-
cionais. São pontos positivos, mas lon-
ge, muito longe de serem suficientes pa-
ra tornar esse acordo palatável para nós.
Oacordo MercosulfUnião Europeia, a
exemplo da Alca e de outros acordos fei-
tos por países desenvolvidos com satéli-
tes da periferia. afeta de forma negativ:i
diversos aspectos da economia. Pratica-
mente inviabili1.a uma política de rei n-
dustria 1izaçâo e desenvolvimento.
Hesta saber se o presidente e seus mi-
nistros estão bem informados sobre o
acordo e conscientes do risco que esta-
mos correndo. A negociação vem sendo
conduzida, sobretudo. segundo se noti-
cia, pelo segundo ou terceiro escalão do
Ministério das Helações Exteriores e do
Ministério do Desenvolvimento, 1ndús-
tria e Comércio. A vingar esse acordo, o
primeiro ministério deveria ser rebati7.a-
do de MinistériodoSubdesenvolvimen-
to; e o segundo precisaria mandar seus
diplomalasdevoltaaosbanc:osescolares.
Não conversei com Samuel recente-
mente, mas ten hocerte1.adequeelecon-
cordaria com essas recomendações exas-
peradas.
riotmaJ1.com
-,.-,. D I NOVI MllRO D I ?O;>:J 30
Economia
Ideologia.
e economia
PODER Camufladas, as ideias do mercado ! fug ia ram-se nas casamatas que e nclau -
manipulam opiniões e beneficiam poderosos !
POR LUl7 GONZAGA BEL! U 7ZO
m suassempreoportunas di-
gressões no site GG)(, Luis
Nassif cuidou de examinar
um artigo escr ito por pes-
q uisadores de Cambridge.
Evelyne Hubscher, Tho mas Sattle r e
Marcos Wag ner investiga m as re lações
entre austeridadee polarização politica.
O tema é crucial pa ra a compreensão
das re lações entre política e economia,
dirão alguns. Desconfio que a impo r-
t ância do te ma transcend a essa visão e
caminhe na direção do desvendamento
das relaçõesentreo poder d as ideias e as
ideias do poder.
O esc ritor italian o Marco D' Eramo pu-
blicou, em 2020,o livro Domínio, que tra-
ta das estratégias adotad as pelos empre-
sá rios co nservadores nos Estados Uni-
dos para enfrentar a guerra das ideias.
D' Eramo usa propositadamenteaexpres-
são guerra de ideias, e não debate de ideias.
Ele justificaaescolhadepois de analisar o
manual da contr.iinteligênciadas Forças
ArmadasAmer icanas. Rezao manual:"A
forma cultural ma is importante para as
forças Coin (contrai nsu rgência) é e nten-
der a na rrativa... Na rr.itivas são os meios
pelos quais as ideologias são expressas e
absorvidas pelos indivíduos em uma so-
cied ade (. ..).Ouvindo narrativas, as for-
ças Coin podem identificar o núcleo dos
va lores-chave da sociedade".
3 0 CARTACA P ll AI CO IA BR
1 de Ronald Reagan e MargaretTh atcher.
1 troradenominada Economi a Política re-
1 mist a do mainslream sugeriu que as na r-
' rativas (ideologias?) não podem desmen-
Em s ua obra-prima Ideologia e Uto-
pia. Karl Manheim apostou na pereni'l~"\­
çãodo ambientesocial,cultu ral e políti-
co que acompanhou a posterid ade daSe-
gund a Guerra Mund ial "Agora é bastan-
te claroquesomenteem um mundo inte-
lectual em rápida e profunda muda nça as
ideias e os valores, antes considerados fi-
xos, poderiam ter sido submetidos a uma
crítica minuciosa. Em nenhumaoutrasi-
tuação os homens poderi am es ta r sufi-
cie ntemente atentos par.i descobrir oele-
me nto ideológico e m todo pensamento. É
verdade, é claro, q ue os homens lutar.im
co11traas ideias de seus adversários, mas
no [passado, em sua maioria, eles o fi ze-
ram apenas para se agarrar aos seus pró-
prios absolutos de forma m ::iis te imos::i.
Hoje, há demasiados pontos de vista d e
igual va lor e prestigio,c::1d::1um mostran-
do a relatividade do outro, para nos per-
mitti rto marqualque r posição e co nside-
rá-la inexpug nável e absoluta."
As es perança s de Man heim foram
O famigerado ajuste
transformou-se
em uma ferramenta
para justificar
cortes seletivos
de rrotadas depois das escaladas neoli-
berais que avassalaram o mundo depo is
Na era neol iberal,os ~cie ntistas" e mpe-
nhados em pen .-orrer os labirintosdaou-
s uram o co nhecime nto nas enxovi as do
sabe r absoluto.
Em deli rio subpositivista, um econo-
tir os fatos, como se os Jfatos" da vida so-
cial não fossem inseparáveis das narra-
tivas sobre eles. Desgraçadamente pa-
ra a mati lha d e cães ra ivosos que e mi-
te m lat idos na Eco nomia, os humanos
formulam narrativas para configura r a
"realidade'. Escravos da 1ing uage m, os
bipedes falantes est ão sempre di ante de
uma di sputa de narrativas, significados,
até mesmo quandoescolhem instrumen-
tos de co mp rovação empírica dos fatos
que pre te ndem narrar.
Umexemplode procedimentosduvido-
sos pode ser encontrado na ideia de supe-
rávit fiscal estrutural que trata deelimi-
na r os efeitos do ciclo econômico nas re-
ceitas do governo. Nesse procedimento
estão embutidas ideias peregrinas.
Or sola Costantini, economista sênior
do lnstitutefor New EconomicThinking.
expõe as hipóteses dos mercados a respei-
to do orçamento e das finanças públicas.
Camufladas em uma aura técnica e cien-
t ífica, essas hi póteses são tra nsform adas
e m ferramentas pa ra gara ntir a perma-
nen te Mtendência ao eq uilíbrio" da eco-
nomi a monetário-financeira capitalista.
t\as catacumbas do Orçamento C i-
clicame nte Ajus tado repousa o e<mcei-
to de equilíbrio. Esse é o conceito domi-
nante na teo ria econômica queobs<:ure-
ce a compree nsão do capital is mo como
economia monetário -fina nceira em per-
manente m ovimento.
 Políticos e funcionários dos governos
têm se valido do conceito de orçamento
ciclicamente ajustado para limitar adis-
ponibilidadede políticasque pareçam vi-
áveis para a comunidade. Gestores públ i-
cos podem. dessa forma.evitaro aborre-
cimento de tomar responsabi 1idade polí-
tica por sutis escolhas: Nôs temos de fa-
zer! O o rçamento determ ina!
Por rád io, televisãoejorna l,a.~pcssoas
são ··informadas" que precisam se sacri-
ficar, aceitar cortes nos gastos sociais e
menosdireitosebeneficios trabalhistas.
ou encarar a destruição da economia -
tudo em nome da ciência econômica.
Caberia aqui, a menção a um episódio
da históriaeconômicaque ilustra as con-
sequências sociais da visão equilibrista.
Vou me valer da narrativa de 1ljal mar
Schacht, o economista que coordenou a
..
o
o
~
recuperação da economia alemã depois
da trombada da Grande Depressão:
..
• ..A economia alemã estava mais uma
vez no fundo do abismo. e mais de 6 mi- l n~. As turbulêocias financeiras de
lhões de desempregados corriam pelas 2008 deixaram claro que os economistas
ruas em busca de sustento, prontos pa- midiáticos defendem o sistema fatido
porque são pagos paios bancos
ra seguir um guia providencial que os ti-
rasse da miséria. Quando penso no cha n-
--
····-·..··-·.. .. ···-·····--··--·····-··~--
celer Brüning, fico atordoado! Mostrou,
mais uma vez, umacompreens5odasitu- ·se houverf.ibricas não utili1.adas, má-
ação que desafiava a inteligência. ao eS<.'0- quinas não utilizadas e estoques não uti-
1her este momento para acentuar ainda lizados, também deve haver capital não
mais a sua política de deflação, preocu- utilizado. Mobilizaressecapital comem-
pado c.'Om seu único objetivo: alc<mçar a préstimos (ao governo) seria um empre-
todo o custo um equilíbrio nas finanças endimento sem esperança. A confiança
1
públicas! Ele. provavelmente, queria que 1
· pública n<t capacidade do Estado foi pre-
o pais morresse, mas com boa saúde... Fe- jud icada por governos anteriores (Schachl
lizmente, Hindenburgacabou demitindo faz menção aos temores despertadas pela
Brüning, a quem o povo havia apelidado hiperinflação de 1922/23). Eu tinha, por-
de'ochancelerdafome'. Eramaiode 1932. tanto, de encontrar uma maneira de mo.-
Tarde demais, o estrago estava feito~. bit izar esse capital jacente nos depósitos
O estrago provocado pela austeridade e nos bolsos onde ele estava guardado,
do equilibrista Brüning resultou na as- sem esperar que ele continuasse parado
censão do Partido Nacional-Socialista por muito tempoou pudesseperderoseu
nas eleições de 1933. Convidado pa ra re- valor.A partir desse pensamento surgiu o
tomaro comando da economia. Hjalmar esquema que m.-iis tarde se tomou conhe-
Schacht refletiu: cido como Mefo-Bills (Letras !\lcfo)". •
CARTA CAPITAL -,.-,. OI NOVI MllRO IH ;>O;;>:J 37
No olho mecânico
OBSERVATÓRIO DAS E• EIÇÕES Dividida entre dois projetos
opostos, a Argentina decidirá no voto a voto seu futuro
POR LEONARDO AVl~I r LFR E ANORESSA ROVAN I'
s su rpreendentes resulta-
1
dos tanto das eleições pri-
márias,em agosto,quanto
doprimeirotumodaselei-
ções argentinas, em outu-
bro, abriram uma série de inter rogações
em relação aos principais atores políticos
no país. De um lado,acoalizãodecentro-
-direitaconhecidacomoCambiemos, que
elegeu Maurício Macri para a Presidência
em 2015, foi certamente a principal der-
rotada, nas primárias e no primeiro tur-
no. Macri apostou na candidata com me-
nos viabilidade, Patrícia Bull rich, derro-
tada no primeiro tu r no, tirando do jogo
político o candidato centrista que t inha
mais capacidade de enfrentar Javier Mi-
lei. Ao mesmo tempo, ele movimentou-se
em d ireçâo a Milei e, com isso, dividiu seu
partidoaoperdcrapoiotantode integran-
tesda União Cívica Radical como de mais
moderados, caso de Horacio Lar reta,que
disputou com BuUrich a indicação da co-
ai izão para a eleição.
Os peron is tas mostraram uma enorme
resiliência e capacidade de recuperação
e confi rmaram o motivo pelo qual são a
espinha dorsal da política argentina. Ser-
gio Massa, depois de praticamente ficar
de fora da disputa pelo primeiro turno e
ser o primeiro candidato peronistadesde
a redemocratização a ter menos de 30%
dos votos em uma e leição prim:iria, con-
segu iu uma r ecuper ação surpreenden-
38 C/IRTllCAPll AI CO M BR
te e passou para o segu ndo tu r no como
candidato mais vot ado do país, à frente
de M ilei. O próprio fato de Massa ser o mi-
nistro da Economia em um governo cuja
situação econômica é desastrosa impõe,
no entanto, uma serie de impasses ao seu
desempenho no segundo t u mo.
Milei conseguiu o feito de não avançar
nem hum ponto entre sua performance ab-
solutamente excepcional nas eleições pri-
márias e s ua performance decepcionan-
te no primeiro turno. Mas, com o apoio
recebido de Bullrich e Macri, chega ao
segundo turno posicionado para dispu-
tar a eleição no voto a voto, como parece
ser o que ocorrerá no próximo domingo.
As quatro semanas que separam o pri-
meiro do segu ndo tu mo eleitoral não bas-
taram para dissipar<> hori1..onte turvo que
aArgentinadescortinouem outubro. Des-
ta \•ez, a incerte:r.a no cenário é sustenta-
da por três fatores. O primeiro é adificu I-
dade que pesquisas deopi n ião pública en-
frentam para retratar e mensuraro desejo
As pesquisas não
conseguiram captar
as reais intenções
do eleitorado. A
incerteza prevalece
dos argentinos.Assim comoocorreu nas
eleições primárias e no primeiro turno,
as pesquisas divergem ao capturaras pre-
ferências do eleitor. Grande parte sinal i-
7.a que o nome do próximo presidente ar-
gentino está no que conhecemos aqui co-
mo margem de erro: alguns institutos in-
dicam Milei numericamente ~1 frente na
disputa, outros têm Massa como líder,
mas identificar um eventual vencedor é
um desafio estatisticamente arriscado.
A pesq u isa Celag, feita presencial-
mente com 2.005 eleitores ent re 25 de
outubro e 8 de novembro, coloca Massa
numericame nte à frente da disputa, com
50,8%das preferências contra 49,2%de
M ilei, considerando-se apenas os votos
válidos. A margem de erro da pesqu isa
é de até 2,2 pontos porcentuais. Um da-
do destaca-se, porém: ao serem questio-
nados sobre quem acham que vencerá a
d isputa, os argentinos apontam Massa
com folgada margem. Já o levan tamen-
to feito no início do mês pela consultoria
Atlas) ntel por meio digital ind ica empa-
te técnico entre os candidatos no limite
da margem de er ro, de 2 pontos porcen-
tuais. Neste caso, M ilei lidera com 52%
das intenções de votos v-.ilidos.
Entre os jovens de até 24 anos, Mi lei
atinge espantosos 61% das intenções de
voto e é maioria nas preferências do elei-
torado masculino. Quandoseolha para o
total dos eleitores- ou seja, considerando-

-se também os votos brancos, nulos e in-
decisos - , Milei tem o apoio de 48.5% dos
eleitores, mas apenas 38,4% dos argenti-
nosacreditam queele cumprir-.i a promes-
sade dol:irizarosistema monetário, uma
de suas principais bandeiras. Outros 30%
afirmaram nãosaberavaliarscessaéu ma
proposta que pode ser levada a cabo.
Um segundo pilarnesscccnário ésobre
quem deve, de fato, comparecer ias urnas
no próximo domingo. Com 77%departi-
ci pação do eleitorado, a taxa deabstcnç5o
bateu recorde histórico no primeiro tur-
no, apesar de subir 7 pontos porcentuais
em relação às primárias. Quase um quarto
preferiu se eximir de escolhcrentreocan-
didatogovernistade um país enredado em
uma longa crise econômica, um oulsidcr
deextrema-direitaquescconstruiusobre
um discurso ant ipoliticae uma candidata
:!a quenãosoubetirarproveitodasfraque1.as
o> de seus dois principais adversários. Em
~ uma disputa tão acirrada, qualquer osci-
::; lação neste índice pode ser o elemcntode-
fi nidor. Segundo a Atlas! ntcl, dos eleitores
TAMBÉM
NESTA
SEÇÃO
que declararam não ter votado ou que in-
validaram o voto no primeiro turno, 32%
pretendem agora votar em M ilei e outros
22% preferem Massa. E cerca de um quar-
to dos eleitores de Bullrich, principal der-
rotada do primeiro turno. decidiram não
votar em ninguém.
Eaqui entra em jogo o terceiro ponto.
Em busca dos eleitores indecisos, os dois
candidatos se enfrentaram, no domingo
12, e m um debate ao vivo, dando início
à semana decis iva para a Argentina. Um
Milei menos despenteado e mais acuado
duelou com um ministro da Economia
treinado para emparedar seu rival.A au-
diência do evento, promovido pela Justi-
ça Eleitoral. atingiu 47 pontos. sem con-
siderar as trans missões viaslrcaming.e,
segundo a mídia local, atraiu mais espec-
tadores do que afinal da Libertadores e n-
tre BocaJunio rse Fluminense.Sem pes-
quisas de opi nião que possam captar o
eventual impacto do debate nas prefe-
rê ncias dos argentinos. entretanto, o
CARTACAPITAL
pág. 44
The Observar. Os EUA
comoç:im a imaginar o que seria
um segundo mandato de Trunp
bom desempenho de J\'l assa serve agora
para alimenta r expectativas.
Quarenta anos depois da e leição que
marcou o retorno do siste ma democráti-
co à Argen tina. dois projetos opostos co-
locam o regime à prova. Só ~assa ofere­
ce as ga rantias neccss~i rias para impedir
que retrocessos democráticos, oportu -
nisticamcntcjustificados pelo desespe-
ro socioeconômico, tome m o país de as-
salto. E cm uma Argentina dividida, ca-
da voto importa. •
•1,ronardoAvrllzl'ré pro.f/'$SOr t ítular
d<' Ci~ncia FtJlíllca da 111-i\ '/G. doutorem
Sociologia Políiica fK'la /\·cw Schooljbr Social
Rescarch <'coord<'nadordo 1f\·CT-1DDC.
Andressallomniéjomalislal'douloranda
l'm Ci~ncia Política pela Unicamp.
O Obst'n'Olório das 1-Jt>iÇ(Jes na Argentina
éum projeto lnlí'maclonaldo l nstit u/o da
Democracia. sediado na UFMGl'coordenado
por/.ronardoAlTitzrr. F:n\'ol\'eumacquipe
depcsqulsadorrs di' dil'Cl"SOS insliluiçt'Jes e
unil'<'rsidadí's. no Brasil e na Argentina. eli!rn
coo10objctf\'Ocmlro/acompanharaseleiçt'Jes
prrsuknciaisnopaisvizinho
n OI HOVI M ORO OI 707:J 39
Nosso Mundo
Aposta suicida
ENTREVISTA Netanyahu não pondera que
a guerra pode espraiar para o Líbano
e a Síria, observa pesquisador francês
A 1 FNFIDF OUARTI- Pl ON, DE PAHIS
esquisador do l ni."tituto Oo-
minic:mo de Es tudos Orien-
t a is do Egito e es pecialista
em história d as ciências ára-
bes, Régis Morelon conhece
com profundidade a situação polít ica do
Oriente Méd io. Morou na Argélia, no Lí-
bano, naSíriaeviveu por27 anos no Cai-
ro. Chocado com o apo io de François
Hollande ao bombardeio is raele nse em
Gaza e m 20 14, escreveu um a carta ao
presidente, compa ra ndo o te rritório pa-
lestino ao Gue to de Varsóvia.
Após os ataques do Hamasem 7deou-
tubro, ele acompanha com apreensão o
desproporcional revide is raelense, que,
segundo sua avaliação, a meaça a exis-
tência do próprio Estado de Israel. Para
o especialista, os ventos da opinião pú-
blica mundi al começam a mudar de d i-
reção. Pudera.Segundo a ONG Breaki ng
the Silence, a força aéreadeTel-Avivdes-
pejou mais bombas em Gazaq ueos EUA
no Afeganis tão dura nte um a no inte iro.
Carta Capital: Em 2014, na terceira
lntifoda, o senhor escreveu uma carta a
François Hollande, que havia recebido
seu voto, e disse estar "profundamen·
te escandalizado" com o apoio do pre-
sidente francês aos bombardeios isra-
elenses. Como qualificar o apoio incon-
dicional de Macron a Netanyahu agora,
com mais de 11 mil mortos em Gaza?
4 0 C/IRTllCll Pll AI CO M BR
Régis Morelon: Macro n não entende
nadado coníl ito israelo-palestino. De-
pois, e le ainda tentou buscar aJgu m cré-
dito junto aos pa íses árabes, mas seu
apoio a Netanyahu foi tão absoluto que
ni nguém ma is o leva a sério.
CC: O que mudou de 2014 para cá?
RM: Éq uase a mes ma situação. Os ate n-
tad os do Ha mas vira ra m pre texto para
bom bardea r Gaza ind iscrim inada men-
te. Ls rael é dominado pela vingança, mas
a re tal iação despropo rcio nal pode fa-
zera opinião pública mund ial se volta r
cont ra eles. Ao contrá rio d as outras ve-
zes, fala-se muitododireito inte rnacio-
nal ignorado por Israel. Antes, n ingué m
cobrava isso.
CC: Um pouco antes do 7 de outu-
bro, o psicanalista Gérard M iller obser-
vou, em artigo publicado no Le Monde,
que grande parte de judeus franceses to da "gra nde substit u ição", segundo o
aderiu ao discurso da extrema-direita. qua los muçulmanosestaria m esmagan-
O q ue explica esse f enômeno? do a civilização judaico-cristã francesa.
RM: A extre m a-dire ita divulga o mi- O l slã é apontado como o gra nde terro r.
Mas ne m todos os judeus pensam des-
sa form a. Te nho um a migo com dupla
,. nacional idade que devolveu seu passa-
''E um conflito por te is raele nse em 2014. "Neta nyahu
assimétrico, um nos faz perder nossa alma eeu me rec u-
foguete contra so a aceita r", disse à época, acrescenta n-
umF-16, mas do que vá rios a m igos judeus t ambém se
sentiam constrangidos.
Israel não sabe o CC: Em 2019, M acron disse que o
que fazer depois" antissemitismo era consubst ancial ao

antissionismo. O que pensa a respeito?
RM: Macron é um incom peten te. Te-
nho a m igos judeus totalmente antissio-
.. n istas, porque são contra a apropriação
&
..
4
,. porlsrael das ter ras palestinas. Eu tam-
< bém sou antission ista. n5o por ser contra
X ré m, que Israel transgride as leis inte r-
<
V
,. a existência de Is rael, mas por me opor
w
~ à expansão de colonos extrem istas so-
~ bre a Cisjordân ia e Jerusalém Orient al.
>
M
Sou a ntissionista porque sou contra es-
se projeto da -Grande Israel".
o
~ CC: Alguns Judeus tratam qualquer
:: gesto de solidariedade à causa pales-
..
.º tina como uma ameaça à existência de
Vis3o glob:.I. O brutal revide
aos a roques do Hamas comoça
a trazer danos para a imagem
de Israel, avalia Régis Morelon
Israel. Esse tipo de comportamento é
induzido pela propaganda sionista?
RM:Claro! A únicasoluçâoparaoconfli-
to na região seria a existência de dois Es-
tados, mas essa proposta tem sido inter-
ditada pelo avanço dos colonos judeus so-
bre os territórios palestinos. Os diploma-
tas podem continuardi7..endo:-Queremos
dois Estados", mas talvez seja impossível.
CC: Militares dos EUA cooperam
ativa mente com as forças armadas de
Israel. O governo norte-americano é
cúmplice do massacre em Gaza?
RM:Sim, claro. O governo dos EUA con-
tinua a apoiar Israel incond icionalmen-
te, inclusive com o envio de militares,
mas ac ho interessante que, nas univer-
sidades no rte-americanas, há muitos in-
telectuais pró-palesti nos. lt a primeira
vez que isso acontece. Os lideres dos de-
mais paises não dizem cla ramente. po-
nacionais, exat amente por causa do res-
paldo de \Vash ington. Isso é muito gra-
ve. Talvez isso comece a muda r, cada vez
maisouçovo7..escriticas, mas Israel sem-
pre ignorou as resoluções da ONU sem
sofrer sanções.
CC: Rony Brauman, um dos funda-
doresda ONG Médicos sem Fronteiras,
CARTACAP ITAL
sustenta que o confronto entre Israel
e Hamas é uma ·guerra assimétrica·.
pois não há dois exércitos que se en-
frentam, e sim o bombardeio incessan-
te de uma das forças armadas mais po-
derosas do mundo contra combaten-
tes de recursos limitados.
RM: Ele tem razão. é um conflito assi-
mé trico, um foguete contra um F'-16,
mas Israel não sabe o que fazer depois,
no pós-guerra. Neta nya hu tam bém não
se q uestion a sobre a possibilidade de a
g uer ra avançar pa rno norte, nas fronte i-
ras com o l .ibanoe a Síria. Acxistênciade
1srael está cm jogo, é uma aposta suicida.
CC: Dos mais de 11 mil mortos em
Gaza, dois terços são crianças, mulhe-
res e idosos. A Cruz Vermelha tem de-
nunciado o bombardeio até de ambu-
lâncias com feridos. Esta catástrofe
humanitária está sendo televisionada.
Como explicar a indiferença da comu-
nidade internacional?
RM: ~:preciso d istinguir a comunidade
internacional no nível do povoe na esfera
dos governos. NoOcidente,as populações
estão cad:1 vez mais críticas em relação a
Israel. Todo o Sul Global coloca-se con-
tra lsrncl e pede um cessar-fogo imedia-
to. Ex islem as posiçõcsoficiaisdecada pais
e existe a percepção popular sobre o con-
flito. l lá uma d istância impressiona nte.
CC: O senhor percebe o uso da reli-
gião judaica, de um povo escolhido pa-
ra ocupar aquela terra, para justificar
a opressão do povo palestino?
RM:Vi outro dia na televisão um colono
quedizia:-Dcus nos deu esta terra". Éum
arg ume nto de au toridade. quem pode
quei.1 iona r os desígn ios divinos? Como
di zia o escritor austr íacoStephen Zweig,
de orige m juda ica. ..os homens q ue pre-
tendem combater por Deus são os mais
ant issociais da terra. porque creem que
ouvem mensagcnsdivi nasesuasorelhas
permanece m surdas a qualque r palavra
de human idade". •
.,.-_, OI NOVI MBRO l>I "º":J 41
Nosso Mundo
Quem semeia
vento...
TheObserver Na Cisjordânia
ocupada, o apoio ao Hamas cresce
em resposta à violência israelense
PO R JASON BURKE. OI- JF NlN. 1- S UF IAN TAHA, DE RA MAl LAH
epoisdamarchapelocentro
dacidade,oshomenssedis-
persaram para as mesqu1-
tas, parasuascasas, paraas
poucas barracas abertas
que vendem suco ou café. Muitosestavam
armados, embalavam seus rifles de assal-
toMlúe munições nos braços. Todos eram
jovens, de cabelos curtos, camisetas pre-
tas e bonés de beisebol, tênis ou botas de
combate,eestav-.im prontos para lutar. ·a
véspera, muito tinham feito exatamente
isso. Um ataque das forças israelenses a
Jenin, cidade no extremo norte da Cisjor-
dânia ocupada, levou a uma batalha longa
e caótica. Quando terminou, havia 14mor-
tos e muitos mais feridos. Entre estes, ao
menos dois não combatentes: uma para-
médica de 31 anos gravemente ferida
quando tentou resgatar um militanteeum
trabalhador da construção civil de 40
anos. As Forças de Defesa de Israel afir-
maram ter detido líderes terroristas, des-
truído infrnestruturas terroristas eapre-
endido um estoquede bombasartesanais.
Os corpos de muitas das vítimas dos
combates foram conduzidos pela rua
principal de J enin na sexta-feira 10, en-
voltos em mortalhas com as cores do
Hamaseda facçlio menor Jihad Islâmica,
e erguidos em macas por jovens, muitos
dos q uais portavam armas. "Nós somos
4 Z CA RíACA P l l A I CO IA. BR
a resistência à ocupação. Em Gaza, na
Cisjordânia, somos um e o mesmo", d is-
se wm jovem combatentedo Hamas, l'Om
um lenço xadrez puxado até os olhos.
Benjamin Netanyahu,o primeiro-mi-
nistro israelense, prometeu esmagar o
gr upo extremista islâmico para garan-
tir que nu nca se repita m os ataques de 7
de o utubro contra Israel. Um porta-voz
do exército israelense insistiu na sexta-
-feira 10 que o foco perm anecia em Ga-
;-.a, no território controlado pelo 1-lamas.
Entretanto, a atenção agora se volta pa-
ra a Cisjordânia. onde a violê ncia aumen-
toui drasticamente nas últimas semanas.
Desde o ataq ue do Hamas no mês
passado, 176 palestinos foram mortos
por soldados e colonos judeus na Cisjor-
dânia, ocupada por lsrnel após a guerra
de 1967. Três israelenses também foram
mortos em ataques de palestinos, segun-
do estatísticas da ONU. Mais de 2.5 mil
foram presos pelas forças de segurança
israelenses, namaioriamilitantesdo Ha-
mas que planejavam ataques, integran-
"Há uma pequena
intifada", afirma o
analista H ani al-Masri
tes ou simpatizantes, disseram autori-
dades israelenses. "Aqui na Cisjordânia
háumapequenainlifada",disse Hanial-
-Masri, analista em Ha mallah, usando o
termopamdesignaras revoltas em mas-
sa em Gaza e na Cisjordânia em 1987 e
novamente em 2000. Os protestos, disse
Masri, foram limitados tanto pela onda
de detenções quanto pelo bloqueio efe-
tivo de grande parte da Cisjordânia. As
viagens, que sempre foran1 difíceis para
os palestinos, agora são ainda mais ra-
ras. devido ao fechamento dos postos de
controle desde 7 de outubro.
Hámuitasdif1Culdadeseconômicas. Em
Hamallah, sede da Autoridade Palestina,
um comerciante deartigosdec<Y.r.inha dis-
se ter demitido funcionários e que poderá
ser forçado a fecharcompletamente,se os
palestinos locais não forem autorizados a
entrarem Jerusalém em breve. Um educa-
dor do campo de r"Cfugiados de al-Am'ari,
que não revelou seu nome por medo de
ser preso, acrescenta: "A Cisjordânia es-
tá em ponto de ebulição. Há uma geração
aqui sem chances, sem futuro, sem vida. A
tensão está aumentando cada vez mais".
A maioria dos observadores acredita
que os acontecimentos das últimas se-
manas são o presságio de grandes mu-
danças. Mahmoud Abbas, o frágil pre-
sidente da Autoridade Palestina, de 87
anos, lidera uma adm inistração despre-
zada por inúmeros compatriotas por sua
incompetência, corrupção e compromis-
sos. Muitos no Ocidente sugeriram que
a autoridade poderia assumir o contro-
lede Gaza, se os israelenses alcançassem
seu objetivo de "esmagar" o Hamas. Al-
tos funcionários da AP disseram que
não voltarão a governar Gaza sem um
acordo abrangente que inclua a Cisjor-
dânia num Estado palestino soberano.
Algu nsdiplomatas levantam a possibili-
dade de que uma renovada Organização
para a Libertação da Palestina, fundada

•Terroristas• de amanhi. O assassinato de palestinos na Cisjordânia, por colonos
ou soldados judeus, só fomenta o ódio, base de um conffito de quase seis décadas
e m 19ú4e mais tarde reconhecida como
única representante do povo pa lestino,
..":'; possa assumir um papel importante.
Isso significa que a sucessão de Abb:is
..
n
é iminente. Muitos acreditam que o pró-
ximo líde r será llussein al-Sheikh, um
._o
colaborador próxi modo presidente, mes-
.•
u
....•."
mo q ue a escolha popular fosse Ma rwa n
Barghouti, de ú2 anos, que cumpre cin-
:';
co pen as de prisão perpétua num presi-
••<> dio israelenscefreque nte menteédcscri-
......,. to pelos palestinos como o seu - Nelson
.. ~andela". Os defensores d a A P salien-
tam q ue e la deveria ser uma e ntid ade
provisória parncr iaras instituições pa ra
um Es tado palestino que nunca existiu.
Mas amaiori a admitcqueo l la mascon-
quistou um apoio popular maciço, devi-
do às muitas deficiências d a AP.
Je nin está agora na miradas forças de
segura nça isr aelenses. Suas cente nas de
combatentes,apoiadasporoutrosquces-
tão pro ntos parn a mobili7.ação. re pre-
sentam um importante desafio ao obje-
tivo de Is rael de destruir as capacidades
militares e politicasdaorgani7.ação is lã-
mica extrem ista. -compreendemos que
temosdelidar com toda a infraestrutura
CAR TACAPITAl
do l la mas. seja em Ga7.a, seja na Cisjo r-
dânia ou em qualq ue r outro lugar", disse
o p rofessor Kobi Michael.do 1nstitutode
Estudos de Segura nça Nacional em Tel-
·Aviv. - Também te remos de lida r com o
elemento ideológico, mas não podemos
fazer issocom bomb:isetirote ios. Extir-
par a ideologia é um processo que dura-
rá anos, mas não est:í 1igado aos objeti-
vos imediatos da guerra."
l li1quemsalientcas ligações entre G:t7.a
e a Cisjordânia. Os milita ntes do 1lamas
em J enin descrevem aqueles no enclave
costeiro como .. irmãos" e esperam novos
ataques como os de 7 de outubro. "Avio-
lência deve ser en frentad a com violên-
cia, em todos os lugares", disse um deles.
O custo humano é alto, inevitavelmente.
Outra operação em Ramallah pelas forças
israelensesna qui nta-feira 9 levou à prisão
de ao menos dois -suspeitos de ter roris-
mo", mas também a maissofrimentociviL
Mohanad Jaad al-Haq, um motoris-
t a de 30 anos, estava a pressado porque
seu chefe não gosta que ele se atrase pa-
ra o trabalho. Geralmente, o desjejumda
manhã e ra um café e um cigarro. Naque-
la ma nhã, ele nem bebeu todo o café. Po r
volta das 6h30, saiu do apartamento o n-
de mora com a mu lher,acunh ad aeosde'l
filhoseent rou na rua est reita do acampa-
me nto de ai-Am'a ri. Momentos depois, es-
tava caido, ferido com uma bala no abdo-
me. Sem que soubesse, o exército israelen-
se tinha entrado no cam po alguns minu-
tos a ntes pa ra prender um morado r. Não
se sabe quem atirou cm 1laq. Gera l men-
te, os soldados fazem muito barulho e to-
dos ficam dent ro de casa, d isse sua mu-
lher, Alaa. Mas o marido estava compres-
sa.• Estou cheia de esperança em Deus de
que ele esteja bem e segu ro", afirmou ela.
'" Recuso-me a pensar em qualquer outra
coisa, mas estou com medo." •
Troduçdodí' J.uiz Robt!rto M. Gooçahes.
;q 01 HOV I M ORO or l'0?3 43
Nosso Mundo
Pesadelo em
Washington
TheObserver O que viria a ser um segundo
mandato de Donald Trump na Casa Branca
POR DAVID SMITH, DE WASHINGTO N
• umdiafrioeumamultídãoestá
reunida no National Mali, em
Washington, para a posse do
47º presidente dos Estados
Un idos. Ao meio-dia de 20 de
janeiro de 2025, Donald Trump coloca a
mão sobre uma Bíblia, faz o juramento de
posse e um discurso inaugural com um te-
ma simples: retaliação. Esse é o cenário de
pesadelo param ilhões de norte-america-
nos, cada vez mais forçados a levá-lo a sé-
rio. As pesquisas de opinião mostram
Trumpà frente par.ia nomeação presiden-
cial republicana e a IY.iter por pouco<> de-
mocr.ita Joe Biden num confronto hipo-
tético. Os analistas políticos podem fazer
muitasressalvas,masquasetodosconc-0r-
dam que a corrida para a Casa Branca no
próximo ano será muito acirrada.
O fato de haver uma hipótese mais do
queremotadeoex-presidente,duasvezes
acusadodeimpcachmenlequatrovezesin-
diciado, retornar ao Salão Oval faz soar o
alarme. "Seria o fim do nosso país como o
conhecemos", disse recentemente Hillary
Clinton,queperdeu paraTrumpem 2016,
no programa de entrevistas The Vieiv, na
A BC. "E eu não digo isso levianamente."
A ex-secretá ria de Estado observou que
a história mostra como os líderes podem
ser eleitos legitimamente e depois abolir
as eleições, a oposição e uma imprensa li-
vre.• Hitler foi devidamente eleito': acres-
44 C/IRTllC/IPll /l l COM BR
centou Cli ntun. "De repente, alguém cum
essas tendênciasditatoriaiseautoritárias
dirma ·oK, vamos acabar com issu, vamos
jogar essas pessuas na prisão'. E eles ge-
ralmente não avisam sobre isso. Trump
está nos dizendo o que pretende fazer."
Famoso por desprezar o apito cani-
no dus políticos, preferindo um megafo-
ne, Trump tem sido caracteristicamente
transparente sobre suas intenções num
segundo mandato. Ele deu o tom em mar-
ço, quando discursou na Conferência de
Ação Política Conservadora, enquadran-
do as eleições de 2024 como "a batalha fi-
nal" para os Estados Unidos e dizendo a
seus apoiadores: "E u sou a sua retaliação".
Trump prometeu perdoar os rebeldes
de 6 de janeiro num segundo mandato.
O síteAxios informou sobre seu plano de
desmantelar o '' Estado profundo", expu r-
gando potencialmente mi lhares de fun-
cionários públ icose nomeando seus asse-
clas ideológicos. Uma reportagem recente
no jornal 771e New York Times contou que dedireitaagressivosquenãocontestariam
suaequipequerprcencheraCasa Branca e a expansão do poder presidencial. E The
osórgâosgovernamentaiscomadvogados Washington J>osl informou que Trump
discute como usar o Departamento de
Justiça para investigar ou processar su-
postos inimigos, entre eles seu ex-che-
"Eu sou a sua fe de gabinete J ohn Kelly, o ex-procura-
retaliação", discursou dor-geral\Vill iam Barr eo ex-presidente
o republicano do Estado-Maior Conju ntu, general Mark
 Bolha. Trump evita participar dos
ck!OOtos com outros postulantes do
Partido Repli>licano. Prefere falar sem
contropontos a seus fanáticos seguidores

tador. O <..-onsensoesmagador dos cientis-

tas é de que estamos nos aproximando do
ponto sem retorno das mudanças climá-
t icas e que quat ro anos de Tru mp ser iam
u m desastre pa ra o planeta. Ele quer per-
. •
f u ra r, escavar e q ueimar .

Trump escapou do interrogatório so-

M iJley. O jornal acrescentou que ele tam-
bém considera invocar a Lei de Insurrei-
....
~
ção em seu primeiro dia no cargo, o que
.; lhe per mitiria usar os militares pam re-
o
z
•... primir protestos e dissidências.
claro q ue seu segundo mandato será de
vingança. Elevai usaropoderdogovcrno
para perseguir e processar seus inimigos
e para consolidar seu próprio poder. ou
ao menos o de seus ai iados e rompa rsas.
brcsua agenda politicaaoevitaros três de-
bates primários republicanos realizados
até agora. Mas deu muitas pistas em comí-
ciosdecampanhaeanúncioson/inedeque
seu segundo mandato faria o primeiro pa-
recer quase tímido e moderado em com-
paração. Ele prometeu ampliar seu muro
na fronteim,enviarforças especiais para
combater os cartéis de droga no México,
"tal como derrubamos o Estado Islâmi-
co e o Califado do El",e impor a pena de
morte aos traficantes de drogas. Outras
propostas incluem punir os médicos que
prest am cuidados de afirmação de gêne-
ro, reforçar as restrições ao voto nas elei-
ções e eviscera r progrnmas de diversida-
de, e<1uidadce inclusão na educação. O ex-
-presidente já classificou a crise climática
como uma farsa e zomba regularmente de
fontes de energia renováveis, como a eóli-
ca. Um segundo mandato certa mente ati-
varia mais perfurações de gás e petróleo.
Ele prometeu ainda acabar com a guerra
entre a Rússia e a Ucrânia em 24 horas,
o que muitos observadores interpretam
como efetivamente agitar uma bandeira
branca para o presidente Vladimir Putin.
~:pouco provável que Tru mp enoont re
muita resistência por parte das bases do

-..
n Allan Lichtman, professor de His-
tór ia da Un iversidade Amer ica n a em
Ele j:í demonstrou que não tem respeito
pela lei ou pelas tradições da democracia
Partido Republicano, que recentemente
elegeu M ikeJohnson, negacionistaeleito-
-....
<>
n
Washing ton, disse: '"Seria um desastre norte-americana e. portanto, um segun- rale fervoroso opositor do d irei to ao abor-
V
para os Estados Unidos. Ele j:ídeixou bem do mandato de Tr umpseria muitoass us- to. a presidente da Câmara dos Deputa-

CARTAC AP ITAL -,.-,. OI HOVI MORO OI :>o-..;, 4~

Nosso Mundo

dos. Uma eleição que produza a Presidên-

ciadc Trump provavelmentetambémda-
rá aos republ icanosocontroleda Câmara
edo Senado, tal como ac."Onteceu em 2016.
Ezra Levi n, cofu ndador e codi retor-exe-
cutivo do movimento popular progressis-
ta lndivisible, disse: "Nesse cenário, vo-
cê vê as ferramentas do Poder Execut ivo
usadas para represá! ia, para desmante-
lar nossas instituições democráticas, co-
mo ele está atualmente prometendo fazer
muitopublicamente,masvocêtambémvê
integrantes da direita trumpista na Câ-
mara e no Senado controlando a legisla-
tura". Levin prossegue:"Temosagoraum
nacionalista cristão brancoqueéo presi-
dente da Câmara e que, muito provavel-
mente, seria o presidente da Câmara em
2025, nâo num cenário de governo dividi-
do entre democratas ou republicanos, mas
em umemqueelepossarealmentedefinir
aspolíticas.Aivocêvêaproibiçãoaoabor-
to, proibição nacional de livros, redução
do financiamento da educação, um im-
posto sobre contraceptivos, toda a agen-
da que eles tentaram promover em 2017,
e mais, porque o Partido Republicano nos
anos seguintes só se tornou mais radical
à medida que os moderados foram expul-
sos pe los apoiadores de Trump".
As instituições dos
Levin, um ex-funcionário do Con- EUA resistiriam a
gresso, emendou: MÉ certo focar no que mais quatro, ou oito,
Trumpprometefazer, mas lembre-sede anos de Trump?
que não éapen•IS T rump, porque ele traz
consigo muitos outros maus atores pa-
ra o Poder Legislativo, e eles vão causar
enormes danos <.'Om o seu apoio".
A implementação dessa agenda p-.irec:ia briramqueTrumpsuperaBidenemcinco
absurdadepoisdainsurreiçãode6dejanei- dos seis estados cruciais par.idecidiroCo-
rode 2021, enquanto acusações criminais légio Eleitoral. As pesquisas do F.merson
contra Trump se acumu lavam em quatro College também colocaram Trumpà fren-
jurisdições. Ela demonstrou, porém, no- te em cinco dos seis estados decisivos. A
tável resiliência política e domina o cam- C . N situou Trump à frente de Biden por
po das primárias republicanas em mais 4?% a 45% em nível nacional, enquanto
de 40 pontos porcentuais. Uma série de os eleitores expressam insatisfação com
pesquisas de opinião um ano antes do dia a economia e com o aumento dos preços.
das eleições assustou os democratas. Thc Michael Steele, ex-presidentedo Comi-
New York Times e o Si ena College desco- tê Nacional Repu blica no, alertou: "O fato

40 C/IRTllCll Pll AI CO M BR
Política nos tribunais. Os trumpistas
dosdonham das condenações
do líder. Os opositores depositam
suas espel"anças na Justiça
de Donald Tr ump estar derrotando J oe
Biden nas pesquisas em cinco dos seis es-
tados decisivos é terrivelmente doloroso
de acreditar, porque diz que você valori-
za o país e a sua Constituição muito me-
nos do que valoriza sua própria autograti-
ficação. Entendo, os tempos não são igual-
mente bons para todos ao mesmo tem-
po, as pessoas estão passando por coisas,
mas não vou sentar edizerqueo cara que
tentou derrubar o governo, que sabotou a
pandemia mais importante dos tempos
modernos, resultando na morte de mais
de 1 milhão de norte-americanos, que
brinca com os nossos inimigos na Rússia
e na China.será a resposta à inflação ele-
vada que. aliás, é a metade do que era há
um ano. !\ão estou comprando o que al-
guns tentam vender, pensando que será
melhor com Donald Trump".
Steele acrescentou: - Ele rep resen-
ta um pe rigo claro e presente. Ele é uma
ameaça e eu acredi to em sua palavra.
Quando u m candidato diz à sua base:· Eu
sou a sua retaliação~ isso não é bom para
o resto de nós. As pessoas precisam tirar
ac:lbeçadaareia,quanclo se tTatade qual
é essa ameaça".
04Sºpresiclentesofreu,noentanto, um
revésquandoosdemocratasconscguiram
vitórias arrebatadoras nas eleições espo-
rádicas na Virgínia.em Xew Jersey e ou-
tros locais. impulsionadas em parte pela
exigênciadoseleitoresaodireitoaoabor-
to. Os principaisopositoresde Trumpo ci-
taram como prova de que ele é um tóxico
eleitoral e responsável por uma longa série
de derrotas republicanas nas urnas. Os re-
sultados foram suficientes para acalmar
os nervos sobre se Biden,que completa 81
anos no fim deste mês. é o homem ce rto
para uma campan ha eleitoral cansativa.
CARTACAPITAL
Enquanto isso, Trump passou a segun-
da-feira num tribunal de .:\ova York, por
causa de um processo de fraude que ame-
açadesmembrarseu impérioempresarial,
uma visão prévia dosjulgamentos e tribu-
lações legais que ainda poderão minar sua
candidatura no próximo ano.
Se o homem visto como um autocrata
espera superar esses obstáculos eretor-
n:1 r ao poderem janeiro de 2025,os obi-
tuários da democracia norte-americ<1na
certamentcscr5ocscritos. Mas nem todos
acreditam que o Trump 2.0 seria tão apo-
cal iptico. Elainc Kamarck, pesquisadorn
sên ior do grupo de pensadores Brook ings
1nslitutionquetrabalhou na administra-
ção de Bill Clinton, disse: "Há um pouco
de exagero, um pouco de histeria em re-
lação a isso. As barreiras de proteção da
democracia ainda estão em muito boa
forma". A Suprema Corte e os tribunais
inferiores rejeitaram esmagadoramen-
te a tentat iva de Trumpdeanular as elei-
ções de 2020, observou Kamarck. -isso
não mudou. :-la verdade. o Judiciár io ago-
ra tem mais gente que não apoia Trump,
porque Biden teve três anos para nomear
juízes e ele nomeou muitos juízes."
Um possível novo presidente Trump
também seria controlado pelo Congres-
so, onde seria improvável que os repu-
blicanos tivessem a maioria de 60 votos
no Senado para aprovar a legislação. Um
verdadeiro autocrat:1 também desfru-
t a do controle dos militares. ''Vejam to-
dos os assessores graduados que se man i-
festaram contra T rump como presiden-
te. Não há indício de que eles segui riam
ordens ilegais dele, não é assim que fun-
ciona." Kamarck reconheceu: -Acho que
seria ruim para os Estados Unidos, e ele
certamente tentaria ser um ditador, mas
é aqui queconliamos nos pais fundado-
res. Eles antecederam Trump. mas com
uma peruca branca com cachos, e cons-
.•
>
w
truíram um sistema para evitá-lo. Acho ......,"
que esse sistema funcionará". • ...
•
~
<.>
Troduçàock 1-'liZ Robt'rto M. Gonçalles. ...<>
:,>;>O I NOVI U BRO or ?0'1:.0 4 7
Plural
Caçador~~
de atenção
AUDIOVISUAL Empresas de delivery e de
comércio eletrônico se tornam centrais
no processo de escolha de f ilmes e séries
POR ANA PAU LA SOUSA
stão em d isput a, neste mo-
mento, no Congresso Nacio-
nal, dois l' rojetos de Lei que
oferecem diferentes cami-
nhos para a regulação dos
serviços de vídeo sob demanda no País.
As principais reivindicações da produ-
ção independente giram em torno da cria-
ção de mecanismos que indu;-.am e obri-
guem as plataformasdeslreaming a dire-
ciona r recursos para obras brasi !eiras in-
dependentes - via investimento direto e
pagamento de tributos - e que 1hes garan-
tam um mínimo de visibilidade.
Que a regulação desse segmento é não
só necessária, mas urgente, todos pare-
cem concordar. Mas do que estamos exa-
tamente falando? Decerto, não apenas de
audiovisual, uma vez que a atividade não
diz respeito apenas a estúdios, grupos de
mídia, produtores e artistas. Elaest~1 inse-
rida nos modelos de negócios de empresas
as mais variadas, de Ap ple a Rappi.
A regu lação, portanto, interferiráem
um mercadoquevai muito além dos filmes
e séries. Parte da briga comercial dessas
empresas se dá pela atenção de um públi-
cosoter radoporofertas- deobrasaudio-
visuais,serviçosdedelivcry, pacotesdeda-
dosparacelulares.games, tudo misturado.
4 8 C/IRTllCllPllA I CO M BR
O excesso de oferta, como aponta o
pesquisador Pedro Cu ri, coordenador do
Curso de CinemaeAudiovisual da Escola
Superior de Propaganda e Marketing do
Rio, tem feito com que, cada vez mais, a es-
colhadoqueassistirdependade um novo
sistema de mediação, no qual asbig lechs,
com seus algoritmos e sistemas de reco-
mendação, têm papel relevante.
NotrabalhoNa1WinhaMãoÉMaisBa-
ralo: l\1fc!diação de Acesso e Slreaming no
Brasil, apresentado na sexta-feira 10 du-
rante o encontro da Sociedade Brasilei-
ra de Est udos de Cinema e Audiovisual
(Socine),em Foz do Iguaçu, Cu ri, por meio
de um recorte de dados, ofereceu um pa-
noramadachamadaet'Onomiadaatenção.
1 OS HÁBITOS DOS CONECTADOS Curi partiu de uma pesquisado Hub
Polo monos duas Entertainment Research, que traba-
44%
1 assin.aturas lha com empresas como ABC, Comcast,
·etflix, Hasbro, Sony eAT&T. O estudo
!, Polo monos tTôs 18%
assinaturas demonstrou queosespectadoresdos Esta-
dos Unidos precisam de 7,4 fontes de con-
1 Quatro ou mais teúdo para satisfazer suas necessidades.
1 :assinaturas
7%
Aos sistemas de recomendação t radi-
; cionais, como criticas, comerciais na TV
1 O QUE O ESPECTADOR e boca. a boca., somaram-se os con hecidis-
i LI~: PRIMEIRO - Em o/o si mos algoritmos. Mas não só. Cada vez
mais, o audiovisual integra grandes pa-
1 ~ss__s._7~ cotes de ofertas de serviços (ver imagens
ao/ado). Se,antes,a H BOeraosuprassu -
mo de u m pacote de TV por assinatura,
39 40
1 • hoje a H BO Max pode ser um simples be-
··--·.-
;4
34; ;.._..
3:----.... • nefício para quem assina o Rappi.
30 ...
30___...
1
"'As agregadoras prometem mais fa-
cilidade na gestão dos diferentes ser vi-
1
ços e fay,em parcerias com empresas que
prometem, por exemplo, taxas de entre-
o o
5
1 .....,....--
4
-~·---411--_ ...s gamais baratas em t roca da assinatura
' •
1 2018 •
2019 2020 2021 2022 2023 de conteúdo premiumn, diz Cu ri, dando
materialidade àquilo que, no fundo, to-
1. • TV ao vivo • Big 5' dosexperimentamos no dia a dia.
e Outras plataformas "'Hoje, mais que nunca, o público está
1 absolutamente inserido na cadeia produ-
'Nctfllx, YouT..00. Amazon Prlmc Vldeo,
i Globoplay e Oisnay+
R>ntc: fU Entcnalnmcnt Rc5"ilfCWPcdro Curl
tiva do audiovisualn, prossegue o pesqui-
sador. "O audiovisual está totalmente liga-
 TAMBÉM pág. 50
NESTA ~· Novo 61eo de cobra? O
SEÇÃO f~ mercado de fungos curativos
~.. so expando mundialmente

~toilogos ill b,;ici,;ida.

ti ..... ),.,
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que, sceu consumo vídeos no meu celular,
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filmes, séries e música

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'""""" ·-
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*9#11!\*

O que fica claro é que, ao mesmo tem-

1
po que os catálogos de filmes e séries são
importantcsparavariadasempresas,elcs
são apenas mais uma dentre muitas for-
mas de um negócio se d iferenciar. Nes- 1 Vídeo. Muslc and Stream lng
< secenár io, uma das funções da regulação YouTube Premfum
.....
u
n talve-Lseja,dentreoutrascoisas, permitir
•

-
._
o

"
que o -consumidor" seja entendido e trata-
do também como público e espectador. • 1
Enjoy 3 monttt. of YcKITube Pt etnium

CARTACAPI TA L ·,q OI NOVI MORO OI '1U'1:J 49

Plural
Fungos contra
todos os males
TheObserver O consumo de cogumelos
medicinais avança, mas as propriedades
atribuídas a eles carece de evidências
POR NIC FLFMING
aprese ntadora Sheila
Dillon, diagnosticadacom
câncer na medula óssea
e m 2011, contou, no Thc
Food J>rogram, na rádio
BBC, que começou a tomar supleme ntos
de cogumelos após ter descoberto que,
no Japã.o, eles eram utilizados para ate-
nuar os efeitos da radioterapia e daqui-
mioterapia. Qua ndo consultou seu onco-
logista,elaouv iu que "'corria o risco de se
tornar uma propagandistan.
Sheila DiJlon disse não saber se havia
ligação ent re os suple mentos e o sucesso
do seu tratamento. Mas ela não é a ún ica
a aceitar a ideia de que os fungos têm po-
tencial muito maior para tratar proble-
mas de saúde do que admite a medicina
ocident al convenciona l.
Estima-se que o mercado global de
cogumelos funcion:ús crescerá de 8 bi-
lhões de dólares, em 2020, para 19,3 bi-
lhões de dólares, em 2030.A redede lojas
Holland & Barrett oferece 17 diferentes
suplementos contendo fungos. "'Nos úl-
timos dois meses, vimos um aumento de
70% nas compras de produtos de cogu-
melos", diz Rachel Chatterton, chefe de
aJ imentos da empresa, ªe não esperamos
queoboomdiminuatãocedo.n
O Bristol Fungarium vende extratos
de fungos que, supostamente. aliviam a
:JO CARTAC A P ll A I CO IA B R
1. an s iedade, previnem a formação de ru-
i gas, estabilizam a pressão arterial e ate-
nuam as ondas de calor da menopausa.
Deproblemascard íacosediabetes tipo 2
j aalergiasecâncer, a listadedoençasque
. os cogumelos tratam é longa. ::vias essas
1 afi r mações são apoiadas em evidências
• científic:as?Ouoscogumelos medicinais
1 são apenas a última moda?
Em um antigo cele iro de grãos no nor-
1
te de Somerset, na Grã-Bretanha, cabe-
ças de rcishi bulbosos, cor creme, e r-
1
guem-se em hastes vermelho-escuras,
ao lado de fileiras de jubas-de-leão gigan-
1
tes, semelhantes a couves-flores, em pra-
teleiras metálicas. Esta é a sala de culti-
1
I,_ vo do Bristol Fungarium. Na safa ao lado,
'
sete funcionários t rabalham para trans-
•.
1 formar fungos em tinturas e embalá-los
' para atender pedidos.
1
1 "Precisamos de
j métodos científicos
1
avançados para
1 identificar os fungos
· úteis para aliviar ou
1 tratar doenças", diz
i um micologista

Cura ou ongodo?. O mercado global de
cogumelos funcionais deve crescer de 8
bilhões de dólares, em 2020, para pelo
menos 19,3 bilhões de dólares, em 2030
Lá fora, opedrios constroem uma se-
gunda sala para duplicar a produç-~o. No
ano passado, as vendas totalizara m mais
de 8 milhões de reais. Tom Baxter, que
fundou a empresa em 2019, espera que
esse valor dobre nos próximos 12 meses.
Cerca de metade da receita do Bristol
Fungarium vem da juba-de-leão, que, se-
gu ndo um fo lheto da empresa, é benéfi-
c<1 para pacientescomdemência leve, tem
potencial para aliviar a doença inflama·
tó r ia intestina l e, supostamente, aju-
da a co ntrolar os sintomas de transtor-
no de déficit de atenção e hiperatividade.
As evidências de test es em hu manos que
apoiam essas afirmações são escassas,
embora ten ha sido demonstrado que ex-
tratos de juba-de-leão estimulam o cres-
cimento de células nervosas em roedores.
''O corpo humano é uma galáxia de tri-
lhões de células que interagem entre si e
com os micróbios do nosso microbioma",
diz o professor N icholas Money, mico lo-
gista da Universidade Miami, e m Ohio,
nos Estados Unidos, que publicou uma
resenha sobre cogumelos medicinais
CARTACAPITAL - 77 DI NOVE Mll RO DI
em 2016. ~Estudos pre liminares de cé-
lulas em animais são um ponto de parti·
da interessante, mas extrapolar os efei-
tos observados em células cultivadas pa-
ra o tratamento de doenças graves é to-
talme nte absurdo."
Baxter reconhece que muitas afir-
mações feitas sobre cogumelos medi-
cinais se baseiam e m extrapolações de
culturas de célul as. No entanto, ele des-
taca que dois ensaios clínicos com juba·
· de·leão apontaram melhora nos resu l-
tados de testes e m adultos idosos com
comprometimento cognitivo leve e be-
nefícios para pessoas com AI zhei me r le-
ve. Noprimeíroensaio,apenas IS partici-
pantes tomaram os suplementos e, no se-
g undo, 20. Ambos envolveram pesquisa-
dores 1igados a empresas que c:omerciali·
zam suplementos de cogumelos.
Muitas p ropriedades têm s ido
atribuídas ao rcíshí: que ele pode est imu-
larosistema imunológico e a saúde intes-
tina l, aliviar a fadiga e melhorar o sono.
Alguns pesquisadores tan1bém dizem que
a cul tura de célulaseest udosem an imais
sugere que ele pode promover a atividade
anticancerígena do sistema imunológico.
"O rcishi pode ativar as células assas·
sinas natu ra is do corpo que podem ata-
car ascélulas cancerígenas e aumentar a
apoptose, ou morte celular programada,
das células cancerígenas", diz Giuseppe
Venturella, botânico e micologista da
Universidade de Palermo, na Itália.
Embora a maior ia das pesquisas sobre
o fungo tenha ocorrido e m culturas de
células, uma revis.'ío identificou 26 tes-
4
tes de rcishi em humanos, incluindo a l-
g uns que ide ntificaram benefícios para ...,..
o
o
pacientes com pressão a ita, diabetes tipo o
2, doenr,.-as cardíacas, hepatite Becâncer. '"w
...
Seu autor destacou que ta is descobertas o
'o
foran1, com frequência, prejudicadas pe- ..
T
V
o
lo fato de os participantes sabere m es-
tar recebendo o tratamento, pelo peque- ..
o
'
)' 0 7~ 01
Plural
no tamanho das amostras e pela fa lta de
acompanhamento confi r matório.
Extratos do cogumelo cauda-de-peru
têm sido usados em tratamentos conven-
ciona is contra o câncer desde as décadas
de 1970 no Japão e 1980 na China. Um
grupo especialista em avaliação de pes-
quisas da Univers idade de Po rts mouth
revisou sete e nsaios clínicos random i-
zadosqueexaminaram seo polissacarí-
deo-K, um ext.-.ito decauda-de-peru, re-
duziu os efe itos l'Olaterais da radiote.-.i-
pia ou quimiote rapia e m pacientes com
câncer colorretal.
O pequeno número de participantes
no est udo, a faJta de grupos de controle
com placebo e a possibilidade de os pa-
cie ntes reportare m efeitos secundá rios
de forma dife rente por sabere m estar to-
mando PSK fize ram com que os benefí-
cios não pudessem ser comprovados.
O cogumelo chaga, que cresce em bétu-
las e se assemelha a carvão queimado, pre-
vi ne rugas e combate infecções bacteria-
nas, segundo quem o vende. Cordycep.s, o
"fungo z umbi" que inspirou a série da
H BO Thc Lasl of Us, melhora o desem-
:oz CA R IACA P11 Al CO t.l .BR
Negócio. O Bris tol Fungarium (acima)
vende extratos curativos. O cientista
Nich olas Money reconhece o potencial
dos fungos, mas desconfia da nova onda
pe nho nos exercícios, atua como ant ide-
pressivoeaumentaalibidofeminina. Em
nenhum desses casos, háensaiosclínicos
bem elaborados a sustentar tais alegações.
De acordo com as legislações d e
mU1itos dos países ocidentais. a rotula-
gem dos a limentos n ão pode atribuir a
eles "a propriedade de preve n ir, trat ar
ou curar uma doença humana". Tais
at ributos se enquadram nas reguJamen-
t ações sobre medicamentos e reque re m
autorização de comercialização - no ca-
so do Brasil, da Agência Nacional de Vi-
gilâ ncia Sanitá ria.
Enquanto os medicamentos são ba-
seados em compostos purificados espe-
cíficos que foram exaustivamente testa-
dos quanto à segurança e eficácia, os su-
plementos medicina is de cogu meios po-
dem conter centenas de produtosqu im i-
cosdiferentes. Os níveis decompos tos ati-
vos também podem variar depe ndendo de
uma série de fatores, incluindo a idade e
o local do cultivo e de onde provêm os ex-
tratos- se dos corpos frutíferos dosc,'Ogu-
meloso u de seus micélios, semelhantes a
raízes. Também é difícil saber que doses
estão contidas nos prod utos. Às vezes, as
espécies de fungos a nunciadas nos rótu-
los nem sequer est ão nos produ tos.
Embora a maioria dos efeitos benéfi-
cos dos cogume los à saúde não seja e n-
dossada por e nsaios de boa qualidade
com huma nos, mesmo os céticos reco-
nhecem que a ausência de evidência não
éevidênciade ausência. Muitos medica-
mentos derivados de fungos - como os
antibióticos penicilina e ce falosporinas,
e a lovast atina, que reduz o colesterol -
já est ão e m uso.
Mo n e y, au t or d o livro 1\ifo lds,
Mushrooms and i\ifedicines (Bolores, Co-
gumelos e i\1edicamenlos), diz que a lgu-
mas propriedades atribuídas aos cogu-
melos não têm fundame nto científico
..."
e "equiva lem a pouco ma is que óleo de ...>
cobra". Mas pondera que os fungos tê m "...
o
relações químicas ricas com o ut ros or- <
ganis mos e contê m muitos compostos .,u
m
úte is. " Prec isamos de métodos científi- "·~,.
cos avançados para ide ntificar aqueles ...
que são genuinamente úte is para aliviar ..
•w
"
ou tratar doenças humanas". conclui. • "r
~
""
Traduçdo: /,uiz RoberiD M. Gonçali<es. "•
ft
Plural
Mande noticias
do mundo de lá
CRÍTICA VAI f VI M CONS 1RÓI Sl A PART IR 0[ CARTAS [ M 1 ORMA
D VÍIJI O 1ROCADAS POR DUAS CINI ASl AS NO INÍCIO DA PANDI MIA
POR CÁSSIO 5 11\RLING CARi o:;
uem escreveriacart~1s agora que o
Q
mu ndo trocoualé a brevidade do
telegrama pela instanta neidade
do Telegram? O e-mail, termo usado para
aportuguesara extens5odccorreioeletrô-
nicosupostamente substituiu o papel (eo
selo, o envelope e a ida à agência postal).
~1 as artis tas, gente ma is preocupada
comproblcmasdoquecomsoluções.de-
ra m um jeito de tira roobjetocarta does-
quecimento.
Vai e Vem, documentário da cineas-
ta mexicana Chica Barbosa e da bras i-
leira Fernanda Pessoa - e m cartaz des-
de a quinta-feira 16 - retoma essa form a
de interlocução tornada obsoleta na era
da hipe rco municação.
No lugar do papel, as d ireto ras adota-
ram o vídeo como suporte.
A solução evoca o projeto Corrcs-
pondcncias, que re uniu o c ineasta es-
pa nhol Victor Erice e o ira nia no Abbas
CAR TACAPITAl
Kia rostami num fasci nanted iálogo au-
d iovisual entre 2005 e 2007.
A correspondê ncia entre Chica e Fe r-
n;mdaé mais exis te nc ial e experimental
que conceituai.A troca ocorreu ao lo ngo
de 2020, no contexto da pande mia.
Fernanda enfrcntavao isolamento no
Brasil,e nquantoChicaviviao distancia-
mentocm l..osAngcles. l.áecá,governos
homicidas <.'O mplicav-.i m asobrev ivência,
tornando a po pulação refém de ide ias tão
letais quanto o Coronavirus.
A perspectiva adotada pelasci neastas
é feminista, ou seja, dissidente. E elas se
impuseram três regras, explicitadas no
início do filme:
1 . -Até o fi m do ano, vamos nos falar ape-
nas por videocartas, como a ntídoto aos
aplicativos de mensagens e chamadas.
2 . Cadacartascrá inspirada formalmen-
te e/ou te maticamente por uma cineas-
ta experimental.
3 . Prazo para resposta.: 3 semanas".
Po r que c artas? - Po rq ue tínhamos
necessidade de nos comunicarmos, e H-
gações por vídeo e mensagens de voz no
WhatsApp não e ram s uficientes pa ra
dar conta daquela re al idade", explica
Fernanda.
Pois cartas, ao cont nirio das mensa-
gens ins tantâneas, demandam tempo,
pausas,el;1boraçâoe um tanto de reflexão.
As t rocas que compõe m o filme reve-
lam essa necessidade, pois não contê m
apenas relatos da experiência, registros
de u m cot id ia no que converteu as trocas
num t recoabstr.ito. llefletiré usara ima-
ginação para escapar, reinve ntar, inter-
pre ta r e projetar.
Em vez de fa ze r do fi lme um
1nstagra m Stories expandido. as cine-
astas se expressam sem perder o hori-
7.onte do nós.Assim. Vai e Vem funciona
como memó ria de te mposdifíceisecomo
alerta de que outros piores podem vir. •
;q 0 1 HOVI M ORO or l'0?3 !13
Plural
Morrer pela pátria
e viver sem razao
IDEIAS Ossoldados das Forças Armadas
são, desde a Independência, trei nados
para combater um suposto inimigo interno
POR GIL BFR 10 MAíl lNGON J•
m preocupante consenso
de elites ronda a democra-
cia brasileira: o de q ue as
Forças Armadas nada tive-
ram a ver com a escalada
golpista dos últimos quatro anos, cujo
ponto cu lmina nte foi o terror de Sde ja-
neiro, cm Brasília.
Governo, Judiciárioea maioria do Le-
g islativo irmanados com boa parte da
mídfaapressam-seem construir orar,.-ões
sem sujeito diante de um histórico de or-
dens do dia, acampamentos cm frente a
quartéis e participação de altos oficiais
emarticulações parJdcsacredit ar urnas,
instituiçõeseorganiY.ar,.-õesdasociedade.
Trat a-se de um '·passar o pano" amplo
e irrestrito, na tentativa de convencer a
opinião pública de que, sem os fardados,
a legalidade teria ido à breca.
1nú meras vozes se insurgem contra
esse acordão. Uma das mais qualifica-
das é a de Manuel Domingos Neto, em O
Que Fazer com o M ililar - Anolações pa-
ra Uma Nova Defesa Nacional. Profes-
soraposentado da Universidade Federal
do Ceará e ex-deputado federal, o autor
apresenta uma espéciedesintesedequa-
se meio século de pesquisas, incontáveis
contatos com oficiais e refinada análise
do passado recente.
Domingos Neto não faz rodeios em seu
:> 4 C/IRTllCll Pll AI CO M BR
racioci nio: ·YEscrevi este livro pam os que
acham possível apaziguar o quartel com
ate111d imento às demandas corporativas.
Lufa acred itou nisso e foi preso. Voltou ao
governocontingenciado pelo fuzil. Dilma
também acreditou e perdeu o cargo".
Par.io pesquisador, o problema essen-
cial é aquilo que ele chama de t ranst or-
no de personalidade funcional dom il itar.
Toda a pregação dos comandos super io-
res exalta a defesa da soberania e deu m
OQUP. FAZER COM O Mll.JTAR
- ANOTAÇÔESPARA ll/11A NOVA
DEFESA NACIONAi.
Maliuel DolnlllQGS Neto.
Gabrnete de Leitura
(224 págs., 90reals)
difuso conceito de pátria. Contudo, des-
de a 1ndependência, os soldados são ma-
joritariamente tre inados para outra ati-
vidade, o combate ao "inimigo interno".
Isso teria se concretizado na manu-
tenção do sistema colonial-escravista,
na repressão a movimentos separatis-
tas no 1mpério e a qualquer tipo de re-
belião popular na República. '.'la Guerra
Fria, a parti r de 1945, a missão foi em-
balada pelas teorias de contrai nsu rgên-
cia e no combate à chamada subversão.
Sob tal contex'to. escreve o autor, o sol-
dado se percebe como "político, policial,
empresário, assistente social, ad minis-
trador público, construtor de estradas,
perfurador de poços noSemiárido,guar-
da florestal, vigia de fronteira, entendido
em Segu rança Pública, controlador dos
tráfegos aéreo, costeiro e fluvial, su pre-
mo avaliador da moralidade e planeja-
dor do destino nacional". 1ncapazes de
desempenhar sua fu nção essencial,a de-
fesa contra a agressão externa, as Forças
arrogaram-se o papel de interventoras
frequentes na vida política.
Domingos Neto avalia que o Brasil
possui um arremedo de Defesa - nesse
campo, a República teria fracassado. "Pa-
ra a afirm ação da soberania brasileira,
precisamos de uma nova Defesa, que re-
vise as funções, a organização e a cultu-
ra das Forças Armadas. Chamo essa re-
visão de reforma militar", diz.
A partir dai o livro esboça bases de
uma profunda mudança na o rganização
e nos objetivos d a caserna. O passo ini-
cial seria o rompimento das Forças Ar-
madas com a grande indústria transna-
cional de armas e com os desígnios das
potências hegemônicas.
A reforma proposta deveria rever o nú-
mero excessivo degenerais sem função e
ad istribuiçãodastropas pelo País, além
de abrir caminho para que mulheres e
negros tenham ascensão hierárquica.
 Oosvio. O profossor Manuel Domingos Dois pontos buscam amarrar o con-
Neto mostrn por que a Dofosa arroga-se junto de proposições feitas no livro. O
o papel de interventora na vida política primeiro é acabar com a ideia de que as
........ 4....... ........... ........ .......... ......... ........ ......
Forças Armadas seriam um poder mo-
derador, com capacidade de inte rvir na
O trabalho e xalta a necessidade de vida política do Pais, como estabelece
maior investimento estata l cm ciência o art igo 142 da Constituição. O segun-
e tecnologia, para dota r o seto r de ca- do aponta para uma política abrangen-
pac idade operacional d iante das novas te de Defesa.que precisai ncluiracoesão
ca racte rísticas da guerra. Po r fim , de- social e cidadã do Pais. Isso implicaria
ve-se abrir um grande debate nacional redução da pobreza e da desigualdade,
sobre De fesa. Trata-se de articulação na mitigação dos preconceitos e dispa-
Estado. O apelo é enfático:·· 1tojc, os gene-
ra is tentam administrar perdas e danos
porseu envolvi mcntodi reto e indireto na
baderna golpista. l.ula pers iste noapazi-
g uamc nto:comemorn o Diado Exército,
rit ual enaltecedo r da índole colonial da
corporação e exalta o Exército de Caxias,
expressão que legitima as intervenções
domésticas da Fo rça Te rrestre".
Tudo indica haver uma oportunidade
histórica para se promove r uma grande
reestrutu ração nas forças de Defesaese-

....
~
e mine nte me nte po lítica, que não po-
de se restringi r aos muros da caserna.
ridades regionais e na consolidação do
regi me democrático .
gu ra nça. O livro de Manuel Domingos
Neto é um alerta de que essa oportuni-
• -comandantes precisam ser consulta- dade não dura para sempre. •
-
o
%
<
dos sobre a Defesa. mas a sua concep-
ção e condução cabem ao político". s u-
O Que Fazer c o m o MiUtar é obra de
intervenção e quase um libelo pela mu- •Professor dt' llr/OÇ(Jcs
..., blinha Domingos l\cto.
&

dança do lugardasArmas nas políticas de l ntrmacionaisdo UFABC.

CAR TACAPITAL n O I HOVI MO RO IH 707:J oo

Plural
Um poema para
os fins de mundo
LIVRO AS PI Rll 1 RIAS BRASll 1 IRAS l A VIDA ÍN- IMA
or sr us MORADORl s SAO AS PRO 1AGON IS~AS
00 PUNGI N 11 ROMANCI O C( U PARA OS fJAS f ARDOS
E
m O Céu !'ara os Bastardos. os
ônibus e t rens alinhavam a narra-
tiva na mes ma med ida cm que di-
t<1m o compasso da vida de quem mora a
infi ndáveis hor.isdo t raba lho. Chama-se.
inclusive, Fim-de-Mundo o lugar onde vi-
ve a na rradora, nascida Maria Expedicio-
nária e tor nada Sá Nar inha.
Empregada doméstica e conhecedora
d as plantas e de seus poderes curativos.
Sá :\ar inha pega uns livros na biblioteca
d a casa d a patroa e registra memó-
rias e pensamentos e m u m cade rno
de capa vem1clha. Observndorasutil
dos ambie ntes, ela olha com delica-
dC'l.a pa ra seus vb:in hos, mas car re-
ga ta mbé m um t ravo de amargu ra.
Sá Narinha começou a nasce r
para a esc ritora Li lia Guerra, que é
também aux iliar de enfermagem,
no livro Ruo do f,orguinh o (202 1).
Outros dos personage ns d e O Céu
Pa ra os Bastardos habitavam os
contos de l'crifobia (2018).
A desp eito da consistê ncia das
fig uras dese nhadas pe la auto ra,
não seria exato <1tribuir a a lgum<1
delas o protagonis mo. O persona-
gem centra l desse punge nte livro
é um lugar de -calçadas a leijadas"
e - fios repletos de restos de rabio-
la": o Fim-de-Mundo, feito à ima-
gem eseme lhançadas ta ntas peri-
ferias que só q uem nelas vive sente
na pele o que realmente são. Ula Guet ta. aauto1a étar11bé111 auxd!;il dee1tfe1 111aye111
l>O CA RI AC ll P ll ll l COM BR
E Li lia, moradora de Cidade Tirade n-
tes, extre mo leste da cidade de São Pau lo,
é uma dessas pessoas. Tam bém por isso,
como disse ela e m entrevista à f'olho de
S. Paulo. o transporte público se faz tão
presente em sua ficção.
~É uma co ntradição que ô nibus tão
compridos tenham só um a porta para
desembar que (._) Tenho vontade de co-
nhece r o e nge nheiro responsáve l pela
proeza". iro niza s ua narrado ra, que re-
Océupara
os bastardos
O Cl~ll PARA OS BASTARDOS
LllaGu.ma. Todavia
(176 págs .• 54.90realSJ
flete a inda sobre o custo da passagem, o
medo dos assaltos e o sonho de um as-
sento~' janela. M ~: preciso sair de casa
cada ve:i: mais cedo. E vo ltamos cada \'e7.
mais tarde."
Embora seja um livro repleto de perso-
nagens e pa is:igens que se liga m fei-
to mosaico, OCéu Paraos Baslardos
te m també m um conflito central,
que, acerta altura, acompanhamos
quase comosuspense. l\"ocentrodo
conílitoestá Júlio César. filho de Sá
Nar inha, que nunca pôde ser bat i-
:r.ado por ser o filho bastardo de u m
ho mem casado.
Enquanto acompan hamos a tra-
ma principal, vamos conhecendo
Melquíades. com s ua barraca dos
cacarecos; Duca e Celso.casal uni-
do pelo d estino trincado e pelas
drogas; e Tia Bê, com se u -chineli-
nho gasto. re mend ado de arame".
Foi Cora Co ralina que m disse:
-ra:i:da tua vida mesquinha um poe-
ma". Dona de uma escrita rica e m
desc rições e sensorialidades - que
ressoam um pouco a Cart ola, Zeca
Pagodinho e 'oel Hosa - . Lilia fe:i:,
dasuavida e d asvidasdaquelesque
crw.am seu cotidiano. um poema. • ...
- por Ana P:lula Sousa .~
..
 ... .. ..
_,,.,, _,,, ,,,_,, ,,. -······-···..··-······-·······-····..·-········-·······-........-
AFONSINHO
Primeiro jogador de futebol a conquistar o passe livre, foi
ídolo do Botafogo nos anos 1960. Médico, usou o esporte
para auxiliar no tratamento de pacientes psiquiátricos
Para onde vantos?
--·--····--··-·---·--·---
.,._ Entre Palmeiras
e Fluminense, qual
é o estilo apropriado
ao futebol brasileiro:
o toque-toque de Diniz ou
a verticalidade de Abel?
E
ste mundo noqualgiramosjun-
tos anda mesmo com cara de
bola dividida. E o que e u tento.
neste espaço. é utili:r.ar o futebol como
um espelho através do qual vemos al-
guns dos rumos tomados pela socieda-
de. F.stasemana, apóso Palmeiras assu-
mira liderança do Campeonato Brasi-
leiro ao vencer o Inter por3 ao. o técni-
co Abel Fe rreira perdeu as estribeiras.
Ele disse estar "de saco cheio" e desan-
cou tudo o que via pela frente .
Reclamou dadesorgani7.açãodo fute-
bol mundial,comasdatas Fifa.docalen-
dário brasileiro e de seu clube, que aluga
a "arena" para shows e oobrigaa se virar
pelos campos das rcdonde-.r.as. De quebra.
pichou os gramados.
Quanto ao calcnd~írio, ajudou a ma-
lhar cm ferro frio. Todos estão perdi-
dos, da e ntidade máxima aos clubes
me nos favorecidos. Não há tempo ne m
......:: espaço paracnfiartantosjogos. Aganân-
;;
...~ eia criou uma situação de fato esdrúxula.
..• Abel Ferreira ..sentou a madeira" nas
alterarões improvisadas das tabelas e
"o ~
~ nasdatasqucprcjudicam os plancjamen-
n
.,~ tos.Citou ainda a interrupçãodasequên-
~ ciadosjogos,odesrespeitoaos intervalos
..
~
:,.
das partidas, o excesso de viagens e com-
promissos dos jogadores. "Oito jogoscom
...~ intervalo de dois ou três d ias é uma ver-
• gonha!", bradou.
........_,......_,,..,.,_,,,,,,.._,,,,,,,_.,,.... _.......- ......
-------..---·--·
Ele falou ainda do tratamento dado ciedade marcada pelo individualismo.
aos técnicos nestes trópicos quentes, res- Tudo isso acaba por levar a diferentes
salvandoseu clubecsuacomissão técni- cenas de descontrole. Na partida entre
ca- o alviverde,afinal de contas, está na Coriliba e Cru:r.eiro, pelo Brasileirão, vi-
ponta da tabela. mos os torcedoresdoclubemineiro inva-
A referência do treinador português ~1 diremo gramado após o gol de Róbson,
esculhambação do relacionamento entre , aos 45 do segundo te mpo. Na sequê ncia,
os clubes e os técnicos foi enfática e bem torcedores do Coritiba fizeram o mesmo
colocada. A contratação e adem issãodos movimento. A partir daí o que se viu foi
treinadores. num ritmo intenso, e por ve- uma selvageria completa. Ou seja.justa-
zes desrespeitoso, mostram ai rrespon- menteoopostodoque, ao fim de seu pro-
sabil idade dos dirigentes com o cofre dos nunciamento explosivo. pediu Abel Fer-
clubes e com os profissionais. reira: "Verticalidade, gols e samba".
:-lesse ponto é que convergimos para a
Cabe lembrar que os profissionais s ituação do nosso futebol. Entre os gran-
nada fa:r.em para mudar a situação. E des campeões do momento. Palmeiras e
essa é uma particularidade que está Fluminense, qual é o estilo apropriado
em todos os seto res do futebol. Não se ao futebol brasileiro: o toque-toque e n-
ouve falar de nenhuma representação volvente do Dinizou a verticalidade do
coletiva na defesa dos interesses Abel? Para o nde vamos?
comuns de cada função e do esporte co- Apóssuacorajosaeagoravitoriosadi-
mo um todo. Efeito colateral de uma so- reção - e ainda diante das d ificcis parti-
das eliminatórias contra Colômbia e Ar-
gentina pela Seleção - Diníz passou a fi-
g urar, de fato, entre os melhores treina-
dores bras ileiros.
Agora.~1 palavra de orde m da "i ntensi-
dade" soma-se a ideia de "verticalidade",
levantada por Ferreirnequesetraduz no
'·partir para c ima", que é a o rientação
dos tre inadores portugueses que aqui
tê m apo rtado. Também não podemos
nos esquecer de que tanto Diniz quan-
to Ferreira treinam à exaustão as trian-
gulações.pontocomumaambasasesco-
lhas e base de qualquer que seja a opção.
E, por falarem base.o jornal O Globo
trouxe esta semana uma excelente re-
portagem sobre os campeonatos de vár-
7.ea, o utro sustentáculo da formação do
futebol brasileiro.quando vivíamos d ias
melhores. Na ván.ea, sabemos, o grande
trunfo foi sempre a espontaneidade. •
•&co cheio•. Abel Ferreira explodiu redacao@cart;>c:apit:al.oom.br
CARTACAPITAl ;/;/ OI NOVr MBRO Dr ?O;/:J IH
VENES CAITANO

lJ

:ia CARlA CAPllAl CO IA DR

RAU LLSANTIAGO

•::1•ia•::ast é o mais novo

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