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C-oleção Debates

Dirigida por J. Guinsburg

haroldo de campos
METALINGUAGEM
&OUTRAS METAS
ENSAIOS DE TEORIA E CRÍTICA LITERÁRTA

Equipe de realização - Revisáo: Afonso Nuncs l-opes e Maria Prata; EDITORA PERSPECTIVA
Produçáo: Ricardo W. Neves e Sylüa Chamis.
SUMÁRIO

..
EBnÁcroÀrnnotÇÁo. 11

llEnÁctclÀ+uePtÇÁo.... L3

!âEtg l; METALINGUAGFM 1s

L7
l, A Nova Estética de Max Bense '
l, Dr Trrdução como Criação e como Crítica ' ' ' ' 3t
4. edição reústa e ampliada 49
l, Btummond, Mestre de Coisas
57
l, A Llnguagem do Iauaretê
65
t, Mulllu c o Mundo Substantivo
Ü, 0 {leômctra Engajado. . .
77
Direitos rcservados à
EDITORA PERSPECTIVA S.A.
89
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 3025 ?. Llrlrrn,, c ParticiPação. . . .

01401 - São Paulo - SP - Brasil


97
Telefones: 885- 8388/885-6878 l, Efilllrtlce Miramarina
1992
7
9. Bandeira, o Desconstelizador. 109

PARTE II: OUTRAS METAS LLl

10. Sobre Roland Barthes 119

11. Iracema: uma Arqueografia de Vanguarda L21

12. Tópicos (Fragmentários) para uma Historiografia


do Como.... 747

L3. Mário de Andrade: a Imaginação Estrutural . . . . 1.61

14. Introdução à Escritura de Clarice Lispector . . . . 183

15. Mário Faustino ou a Impaciência órfica 189 procedi'


A novidade, novidade do material e do
16. Uma Leminskíada Barrocodélica. . . .
n11
L L.1 mento, é indispensável para rcda obra poética'
Vr.eoíuln M.ltaxÓvsrc
17. Arte Pobre, Tempo de Pobreza, Poesia Menos. . 221
a
18. Da Razão Antropofágica: Diálogo e Diferença na A inovação é um acréscimo à civilização sob
Cultura Brasileira 23t forma de informação.
M,l.x BeNse
19. Minha Relação com a Tradição é Musical 257
A difamada palavra acperímento deve ser empre-
20. Do Epos ao Epifânico (Gênese e Elaboração das a(pen-
gada em sentido positivo; somente enquanto
Galúxias) 'rnentaçõo,
269 não como algo posto a salvo do perigo' tem
a arte, afinal, ainda uma chance'
21. Ficção como Fundação. . . 279 T. w. ADoRNo
22. Poesia e Música ?-83

23. Da Crítica Antecipadora: Evocação de Sérgio


Buarque de Holanda 289

ÍNnrcB oNoMÁsrrco 299


-Í',r
í

18. DA RAZAO ANTROPON-ÁGICE: DÉLOGO


E DIFERENÇA NA CULTURA BRASILEIILA*
** Lt* rc,c,À l)s #€ {a'vw f 't §
'Echte Potemí* nimm.t ein Buch sich so liebevoll
Kanniba[e sích einen SdugtÜtgurüstet"'
vo.r, wie ein
(Á polênica verdadeira apotleta-se de um lhT o
tão ailorosament€ quttnto um canibal que preparo
para si uma críancinln-)

ller-rcn BeNlaun

1. Vanguartla e/ou Subdesenvolvimento

A questão do nacir:nal e do universal (notadamente do


europeu) na cultrtra latino-americana, que envolve o[tras
mais específicas, como a da relação entre patrinrônio cultu-
ral universal e peculiaridade.s locais, ou ainda, mais deter-

a Texto dâtsdo de 198fl, publicado oÍí8inâlmente na rcvísta colót1uio/lnts,


Lisboa, Fundaçáo Calouste Gulbekian, nr 62, julho 1981: em espÍrnhol, em Vnelto'
México, no 68, jurlro 1982, e Vuelta Stdanreicatn, Buenos Aires,-no 4, novenltrtu
1986; cm Íoglês, oa ltún Ámu-cu Literuty R*iew, University of Pitlsburgh, o0
27'

231
minadâmente, a da possibilidade de uma literatura experi- Marx e Engels: "Err lugar do antigo istúatrrento das provín-
mental, de vanguàrda, $um país srrbdesenvolvido, foi por cias e das naçóes bastando-se a si próprias, desenvolvem-se
uritn enfocada, nu:rt trabalho de L962l, com auxílio de uma relações universais, unra interdependência universal de
reflexão de Engels sobre o probleura da divisâo do trabalho ilaçõôs. E o que é verdaileiro quanto à produção material o
em filoso{ia, contida numa famose carta a Conrad Schmidt é também üo tocânte às produções do espírito. As obras in-
(27 out. 1890): "Enquauto domínio determinado da divisão telectuais de uma na$o tornam-§e a propriedade comurn
do trabalho, a filosofia de cada época supõe uma documen- de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se
tação intele ctual (Gectlukerutmteríal) determinada, que lhe dia a dia mais impossíveis; e da multiplicidade das literatu-
é transmitida por seus predecessores e da qual ela §e servs ras nacionais e locais nasce uma literatura universal"3. A
como ponto de partida. Isto explica porque pode acontecer ictéia goetheana da l|leltliterofiff oncontra, nesse texto, uma
.que paíres economicamente retardatários possam, não obs- íeleitura em Íermos do que se poderia definir como unrâ
tânte, tocaÍ o primeiro violino em filosofia". A supremacia prítis interserniótica: é o mundo das comunicações, a
dr: ecorrômico, para Engels, aqui, não se registra diretâmen- pressáo di alógica tla com u nicaçáo intersubj étiva gen e r aliza'
te, mas nas "condiçóes prescritas pelo próprio domínio inte- ,1u, qr" preordena e conÍigura o signo literário universal ;uÊ-gJ"*,"':. --1.-
co*o "signo ideológico" (no serrtido eln que Volochinov - 'lYleqt iy:*l.- ftltn*
ressâdo", ou seja, ildireramente, mediada pelo material fur- r__.-.,

telectual transrnitido. Àqueles que não eram capazes de e/ou Bakhtin -, tros anos 20, iria tentar formular a sua a-
cotlsiderar a coniploxidaile ciosse movimeüto no plano cul- "semiótica sociológica", de base gq5!ry)t&"t"jryu- lnaciaa-r líi/!â§r
tural, Engels reprovavâ, afirmando: "O que falta a essôs §e- zamento de discursos, diálogo neces§ário e nâ<l xenofobia
nhores é a dialàtica'. É de Engels, também, a imagem do nronológica, paralelogratna de forças em âtrito dialético
"grupo infinito de paralelog:amas de forças"' do qual resul- e não equação a unra incógnita mimótico-pavloviana' Assim,
d"-Pr>',§§\,
toda reãução mecanicista, todo fatalisrno autopuuitivo, se-
ta o evento histórico, e que' não obstante a postulada de-
terminaião econômica em
tírltinra instância, não poderiam gundo o qual, a um país não descnvolvido econonticamente C,.-Í^'.^*QF *d
iambém áeveria caber, por reflexo condicionado, uma lite- a-\lr{dr *
ser objeto de uma análise simplista, mecânica, como se so de
raturâ subdesenvolvida, sempre me pareccü falácia so-
tratasie da mera'resolução de uma "equação de prirneiro -{rrruxrflê (.&*-â'
grau" {carta a Joseph Bloch, 21 set- 1890). Pareceu-me eiologismo ingênuo.
sempre que, em matéria de trabalho literário, tarnbém Mais tarde, encontrei em Octavio Paz (Coniente Alter' aÇit*-g^* ) v&úc\'-
ocorria essa lei complexificadora da transurissáo do legado na, 1967), no çstudo "Invención, Subdssarrollo, Moderni-
dad", observações iluminadoras, que, pa'tintlo de um gran- à;f'db
b-ç
cultural, à qual nâo se podia furtar a produção poética e que
pernritia identificar o surgimento do novo aincla nas con- de intelectual de outro país latino-americâno, o México, li- '? '
Í1,'TDJ?'
nhanr conflrmar-me nas reflexões sobre o problema da si-
dições de urna economia subdesenvolvida2. Morrrlente na
ópoca atual, com a verificação factual daquela previsão de tuaçáo do poeta brasileiro perante o universal: "Algunos
críticos ,n**i.unot emplôarr la palabra 'subdesarrollo' para

jan--jun, 1986; em Írâncê§, Leilrú ittemot;otale, Paris, n" 20, printemps 1989; cm ita- algurn em lelaçáo com
determinados períodor de lloresciruento não estão de modo
liauo, Leuem internaziotule, Ronra, no 20, prinravera 1989; em alenâo, Letrre inter geral da sociedade' nen, couseqüentcmenlê' com a base nrate-
o dasenvolvimento
nilíonal, Berlirn, n! 11, Winter 1990; republicailo Bô Br§il oa Dolaín Bíbliognlfco' os Gttgos conrpa-
ria! a ossaturq pot *ttin dizeç r3e tul orgnniração Por exempto'
Bibtioreca Mário de Árdrade. São Paulo, v. 44, no 14' jan.-dee. 19E3. ainda, Shakespearc"'
rados aos Éoderuo§, ou,
l. Haroldo de Crmpos, "A Poesia Concrela e a Reatidade Naciooal", 3- Trecho do "ManiÍeslo Conunista" {184E}'
Tendáncia nê 4. B€lo Horizonte, !962; ídern, "Avangutrclia e Sincronia nella LetÍera- ja4'ka'
4, Refiro-me, eru especiul, à otrra <le Volochinov, i[a*simr ífilosoJí-w
tura Brmilianr Odiema", .4ul /íut n{ }09-t10, lv{ilano, Lampugnani Nígri Etlitore, ern 1929, e atritruída por alguns êsiudio§i]s a ]r'Í' It{' Bakh-
prrbliada em [-eningrodo,
1969.
ii* 6e tratt. brusiüiru, Maxismo e Fílosofa do Linguugerry Sáo Paulo'- HuciÍec'
2. Poder-se-ia confrontar, si$dâ, esta Passageil! de Marx, em 1857, no Íinul da
Inrroduçdo a {Jnn Crttica da Econonúa Polítictt: "Com rellçáo à âr{c, §sbe-sÊ que
1e7e)
2,j
2i2
priação coulo de expropria$o, desierarquização, descons-
describir la situación de las artes y las lctras hispanoanrcri-
i.ução. Todo passadó que nos é "outro" rnerece ser rregado'
canâs: nuestra cultura está'subdesarrollada', la obra dc fu-
Vale dizer: mercce seicorniclo, devorado' Com esta especi-
lano rompe el 'subdesarrollo de la novelística naciÔnal', etc'
ficação elucidativa: o canibal era um "pÔlemista" (do grego
Creo que con esa palabra aluden a ciertas corrientes que no
oólenws = lutâ, combate), mas também üm "atttologista":
son de su gusto (ni del mío): nacionalismo cerrado, acade-
,ó ,lruoruuu os inimigos que consiclerâva bravos' para deles
mismo, traãicionalismo, etc. Pero la palabra'subdesarrollo'
tirar proteína e tutano para o robustecimento e a rerrovação
pertence a la economía y es un eufemismo de las Naciones
de sras próprias forças naturais-.. Exemplo: Oswald de An-
tJnidas para rlesignar a las naciones atrasadas, con un bajo
drade inipiio,r-"* ató certo ponto no cubismo poemático-
nivel de vida, sin industria o con una industria incipiente' La
itinerante de Blaise Cendrars (sobre gÚem, por outro lado'
noción de 'srtbdesarrollo' es unâ excrecencia de Ia idea de
não deixou também de exercer influência no período herÓi-
progresso económico y social. Aparte de que me Ícpugna
co da criação da chama<la "poesia pau-brasil", 7923'7924)'
reOlcir ta pluralidacl cle ciülizaciones y el dcstino mismo dcl
No entantã, ao invés da "kodak" excursionista do "pirate du
hombre a un solo modelo: la sociedad industrial, dudo que
lac Leman", preocupada em registrar o pitoresco e o exÔti-
la relación entre prosperidad económica y excelcncia artíst;-
co nas suas airrlanças por terras brasileiras, o "camerâ-eye"
ca sea la cle causa y efecto. No se puede llamar 'subdesar- pat-
do peema-minuto oswaldiano deflagra, nÔ meramente
rollados' a Kavafis, I3orges, Unamuno, Reyes, a pesar de la um registro satírico
.ugilii.o, um ele:nento crítico, câpta
situación marginal de Crecia, Espaía y América Latirra' La do*s costumes nacionais estratifica<los, detona
uma cápsula
prisa por 'desarrollarse', por lo demás, me hace pensar en <le humor dessacralizanto, que não eucontranlos
nos turístit
ilna dLsenfrenada carrera para llegar tnás prontos que los
otros al infierno". já
de Route. Com Oswakl, na dócada de 20, estamos mais
ereio que, no Brasil; com a "Antropofagia" dc Oswald próximos, por antecipação, do antiilusionismo da
poesia
L de Anclradá, nos anô§ ?0 (retonrada depois, em termos de (os poemas escritos
fuac- '»UA iacônica áo nr""t t do final dos anos 30
cosmovisão filosófico*existôncial, nos aÍ]os 50, na lesç A Cri'
em basic German e aguçâdos de farpa'crítica) do
que da
se da Fílosofla 1r'{essiânica), tivemos um sentido agudo dessa
cromotipia descomprometitla de Cendrars' O suíço
pensou
necessiclade de pensar o nacional sm -relaciongrngl!9-dêlq o amigo brasi-
qr, ,iI11" r*d"s.oú,to o Brasil e escaldado
glço-g-diqlÉtisg-con, o'ffiãl- A "Antropofagia" oswal- Oswald pediu-
leiro ,r,rora panela de "fondu" cosmopolita-
ãiana - jfifor*,.leiãAffilugaÉ - éopensamentoda â gen-
lhe emprestãda a nráquina fotográficae retribuiuJhe
IVÇTLçAL deroração crítica do Iegaclo cultural universal, elaborado
UM tileza iomendo-o. Sutilezas do morubixaba Cunhambebe:
não a pirtir da perspectiva submissa e reconciliada do "bom .,Lá vem a nôssâ comida pulando", como diziam os tupi-
,elvagem" (ideátizaào sob o modelo das virt'des europóias tem certo
nambás à vista do europeu Hans Staden' O caso
no domantismo brasileiro tle tipo nativista, em Gonçalves Posta entre pa1ên-
Dias e José de Alencar, por exemplo), mas seguntlo o Ponto futal*to na relação ffuidobro/Reverdy'
cle vista desabusado do "mau selvagem", devorador dc
t".". u ociosa pólê*i"u cle prioridades, que poema Re-
de
verdg ern forçà e originatidade, equivale, na poesia con-
brancos, antropófago. I3la não envolve uma submissão (uma
temporânea, à sítrtese aeroépica <IaÁliazor?
catequesc), mas uma transculturação; melhor ainda, uma
"trarisvaloração": uma visâo crítica da história como função
rregativa (no sentido de Nietzsche), capaz tanto cle apro- 2. N a c ír» w listncs l{ o cta I Versus N a ci a n a lí tt w O n
s t o ló gic o

Acho que a um nacionalismo ontotógico' calcado


no
Andrudc' Trcchos Esrcthi'
*oJJo organicista-biolÓgico da evolução de uma']:t"
5. Ver, P- er-r llle u estudü ínll'odulório a Oswal<t <Ic
dc Andrade"'
do-r, Rio de Janeiro, Agir' 1967; mfii§ Ícenlemenle' o en:aio "Oswakl
eu Europe {"La rnodernísrire brésil[en"]' no J99, Paris' nrur' 1979- i
2i5
234
(modelo que iüspka, sub-repticianrente, toda historiografia similadas"). Pois bern, Iv{achado - nosso Borges no Oito-
cerrtos *, cuja o'Dra marca Õ.Mtsía na suma con- lownx
literária empenhada na individuação de unt "classicismo nâ- Je r*- (A,n
cional", Inoürento de optimaçâo de um prôcesso de floração cordante deisas leituras logoffirca@al por não ser
,,oo1--{
nacional... Como o Ulisses mitológico de Fernaudo Pessoâ,
gradativa, aiimentado na "pretensâo objetivista" e nâ "te-
que "foi por não ser existindo'--", e "nos criou"'"
lcologia im.anente" do historicisrno do século XIX)6, pode-
se opor ,(o-u, .ro mínirno, enr benefício do arojamento do Daíã necessielade de se pensar a díferença, o naciona-
"ltfl2c,,twc cx rloutftrio, cbntrapor no sentido musical do termo) url na- lismo como tsgvimento dialógrco da diierene-(e.náo como
cionalismo rnodal, difererrcial. No primeiro caso, busca-se a unção platOnic" da o@ãrasourúcomodatícia do mes'
, lv,rry-?- ,,)-fiJo' origem e o itinerário de pryla de um Logos nacional mo): o-des-caráter, ao invÉs do caráter; a ruptura, em lugar
' ^+t -t--^L pontual. Trata-se de um episódio da mçtafísica ocidental da
presença, transferido para as nossas latitu<les tropicais, e fÍ ão ever
que não se dá bem conta do sentido último dessa trans-
ia$o- Urn capítulo a apeudicitar ao logocentristno platoni- tffili.tu du
"volução
natural, gradualista, harmoniosa.
zante gue Derrida, na Granutatologíe, submeteu a urna lú- Uma nova idêia de tradição (artitradição), a operar como
cida e reveladora análise, náo por acaso sob a instigaçáo de coniravoluçâo, como coutracorrents opostâ ao cáttort pres-
tlois ex-cêntricos: Fenollosa, o anti-sinôlogo' e Nietzsclrc, o tigiado e giorioso. Aquela tese de Adorno, recapitulada po.r
do senti-
pulvcriz.ador de certezas. Pretende-se""ftesse primeiro caso., Jíuss: "Ai nos ,Jeparãn os com o verdadeiro tenia
do da tradição: a[uilo que é relegado à margern do cami-
detectar o momonto-{ger11ry49-eg-9!Pt1itp (d9 t'ogg§)
disruPções, as in- úo, desprczido, iubjugado; aquilo q1e á coletado sobvi-o
@*ãfr6cnça]ãs 1'monstruoso") para úlelhor defi- ,oroe de'uotiqualhas; áãi qr" busca refúgio o que há de
G"r, as rnargens, o vo na tradiçáo, não no conjunto daquelas olrras que supos*
nição tle uma estrada real: o traçado retilíneo dessa logofa- criandtl
nià através da história- O instante do apogeu (conrparávol à tarnente desuiiutn o tômpo-.."? Mário de Anclrade'
caráter"'
prrjança orgânica da árvore) coincide com o 'la parousía úacunaícra, o anti-herói nacional "sÔm nenhunt
no seu
ãesse Logoi plenanente desat:rochatlo no quintal domósti- denunciotl iulu", subliminannente (aqui'vale dizer'
que ronda
co: só que, quando se vai descrever o que seia essa substâtr- caso, "oswalclianarnente"), a falácia logocêntrica
('retrâto ontolàgico; a busca macunaímica' vista
cia entificada - o "caráter" nacional * cai-se llunl todo naciorralismo
derridia-
módio", aguacio e convencional, onde nada ó característico d*r.u p*rrpectiva radical, di-fere (no duplo sentido
o momento talismânico da pleni-
e o patriocentrismo reconciliador tem que recorrer a hipós- no de divergir e retardar)
dognrática do eará-
tasos para sustentar-se. Machado d,; Assis, por exernplo. 0 i.ra" *onolõgi.u; suspende a investidura
(donde-o
grande e inclassiÍicável lvlachado, cleglutidor de Laurence teÍ uno e único qrre finalmente seria encontrado
Sterne e de incontáveis outros (é dcle a metáfora da cabeça p*tigo de reçristünizar o aspecto selvagem-canibalesco do
da auréola religiosa do
como um "bucho de rumin*nte", onde, corno lembra Au- nr** *macuraímico, rrimbaldo-o
grrsto Meyer num atilad<l estudo de fontes, "todas as su- broot, o perigo de repor o índio tocheiro e filho-de-Ir{a-
,ia, o Guurani cavalheirásco ridicularizado no Manifesto
de
gestões, depois de ruisturaclas e trituradas, Prcparam-se Pa- *
Oswald, no lugar do tncftster-antrcpÔfago; crro
ou tenta-
râ nova mastigação, cornplicaclo quiruisrno em quc já nâo Ó * dos rnissionários euro-
tiva de'neutrâlização e conjuro
possível distinguir o organisrno assimilador das matérias as-
f.ur, qu" traduziram o nome de Macunaíma - o "Crande
iuÍuul'ão, indígenas do Roraima * pelo santo apelativo do
6. Cf. Harr IlobcrtJauss, "Ccschíchtc der Kunst und lli§loric". Lhemturges'
thichle als Pmvokttíon, Frankfurt â. iU.. Suhrkrnlp, 1970; vcr mcu livro ASeqiiesrro
do Banoco na Fonnaçãa da l,íteralurd Brasiteiru: O Caso Grcgóio de lv{auos, SaNa' [I' R' Jauss' ap" cÍ"
?. 1'. W. ACorno , lhesen iilter T'ratliion (1966), apud
dor, Bahia, FundaçÍo Casa dc Jorgc 1989.
^n1ôrlô, 237
236
Deuscristão...).@te di-ferida e porérn, empenhados ro mesmo esforço parousíaco (ainda
tg§!t3$-$"-l@ o m ovimêruõãiã16- que com diverso, e até mesmo antagônico, tinrbre ideológi-
ef ,Escon ce.ía nl e, "câ rnavaffi co): a constituição do espírito (ou consciência) nacionãf
resolvido; do mesmo e da alteridade, do aborígene e do
Machado de Assis camo tenttinus ad quem do rotei.o ou_
alienígena .{q, europeu). Um espaço cúico paradoxal, ao
tológico, como sBa culminaçâo, nos dois casos. Em ambos, *
tq!q.j4 i a interrogaçao sem@, unna análise mais rigorosa, trâtâ-se da ultima$o historio-
em luiiâr do preceito tranqiiilizador do manual de escotci-
gráfica (com os natrrais amadurecimentos teóricos e a ten-
ros.
tativa de "normalização" da interferência perturbailora de
, Nisso, nesse substancialismo logofânico, não sç distin- Machado de Assís) do projeto fundamental do Romantismo
" guem muito os dois principais modelos de leitura da tra- brasileiro, entendido por Antonio Candido como um ((pro-
diçáo propostos pela historiografia literária brasileira con- cesso de construção genealógiea", um ,.processo retilíneã de
temporânea. O disfórico e o eufôrico. O de Antonio Candi- abrasileiramento", cuja fase ingônua (com Maclrado, o Ro-
do (Fannoção da Literoturo Brasileíro, l95g) e o de Afrânio mantismo tornar-se*ia adulto e crítico) é assim ilustrada, pi-
Coutinho (Introduçdo à Literatura no Brusil,lgÍg; Conceito torescametrte, pelo mesmo crítico: "Resultaria uma espécie
de Literatura Brasil ei ra, 7960; À Tra diçao Áfonunda, 196g). de espectograma em que a môsma cor fosse passando das
O primeiro, economizando operacionalmente o Barroco tonalídades esmaecidas para as mais densamente carrega-
por um argumentô de ordem sociológia (ausência de pro- das, até o nacionalismo triunfal dos indianistas románticos,,.
dução impressa e de público) e individuando no Arcadismb
pré-romântico o "momento formativo', inaugurat; montado, 3. O Banoco: A Não-htfâncict
corn a elegância e a coerência interna de um construto ma-
temático, sobre o esque*a da transmissâo de *.n*ug**i Toda questão logocêntrica da origem, na literatura bra-
referenciais (temático-naiiüstas); priülegiando, no proces- sileira (e isso poderá ser válido para outras lite,raturas lati*
so, a função comunicativa e a emocional (exteriorizaáora de no-americanas, à parte o problema, a sgr considerado sotr
"veleidades profundas") da linguagem s, por extensão, da Ii- luz especial, das grandes culfuras pré-colombianas) esbarra
teratura; alimentando, porém, por ôutro lado, certo ceticis- num obstáculo historiográfico: o Barrocos. Direi que o Bar*
mo irônico quanto à arbitrariedade do gesto cííticô de obje- roco, para nós, é a não-origem, porque é a não-infância"
tivaçâo interpretativa e à rentabilidade estética do modelo Nossas literaturas, emergindo com o Barroco, não tiverarn
assim construído (nesse sentido, disfóríco). O segundo, ca- infância (infans: o que não fala). Nunca foranr afásicas. Já
paz de resgatar o Barroco brasileiro, sem maiores crtnstran- nasceram adultas (como certos heróis mitológicos) e falan-
gimentos nem discutíveis iriibições metodológicas, pelos ilo um código universal extremamÊnÍe elaborado: o código
critérios da crítica estilístico-periodológica e* qu, se moi- retórico barroco (com sobrevivências tardomedievaÍs e re-
da, íato sensu (neste resgate importantíssimo consiste o seu nàs'cerrtistas, decantadas já, no caso brasileiro, pelo manei^
mérito principal); voltando-se ç)aÍa a reconstrução de uma .

tradição pressupostamente ..afortunada,,: uma escala evolu-


8. GosÍâfia de reterir âqui, de pássâgem, a Íese <Ja possível identiGaçárr de
tivo-ascensional (náo sem resquícios,.ufanistas,,), na qual g unr "trarroco iridígcna", préolombiano, c+racterizado por um "idioma de sígnos e
Barroco se integra naturalmente, comô desponiar auioral; de símbolos, baseado no mito". EsÍe pontc de vista (que náo rJeixa dc ter a[inírjadcs
mouos preocupatlo com a definição rigorosa de seu modelo com a concepçáo panbarroquisla <1e um EugenÍo D'Ors) loi srrstenÍado pclo Prof.
Alfredo A" Roggiano (Univexity ôi Pittsburgh), numa mmunicaçáo apresentacla ao
semiológico de leitura que parece depender antes da pró_
XVII Cr:ngrsso do "Institu(o Ih(erttacíônal de Literâluft Itre roâmcrfanâ", h{arlrirl,
pria fortuna, axiomaticamente declaiada como tal, des- 1975, conr apoio no exemplo mcxicano e a paíir de cônceitos de-Paul Wtxthr:ím,
sa tradíçõo (por esta razão, chamei-o eufóico). Ambos, ldeas tun'lameatalc del arte prehisptitÍc<; en iíéxico, F-on<lo de Crrllura Eçonóarica.
1957.
/JÓ
rismo cámoniano, este últirno,
aliás, estilisticamente influen-
te em Gón_gora). Articular-se corno íeridades e dizê-lo em condição alierada. Gregório de Ma_
diferença enr relação a
essa panóplia de universalia, tos, brasileiro formado em Coirobra,
eiso nosso ,,§ascer,, como lite_ b.oo.o entre mulatos e
ratura: uma sorte de partenogônese nrestiços, inimizado com os nobres
sern ovo ontológi"o áu t".ru e com üs reinóis
Ie di7.er: dfere,nea ori.-g"* ou o oro de Colombo..,).
i;;- de PortugaÍ, por seu turno híbrrido
.*pUrua irr";l;""I,
3 nãs mais podendo ser uem uma coisa
Márjq Fausrino,"onro
inesquJ.fu"t co*f"rfr.fr" ãr';;iíh, o** outrarl.ã:rr;
geraçâo, escreveu no Íim dos anos no reino nern_ advogado na Colônia ultramarina,
50: .,O barroquisrno do dilacerado
seicenÍo, italiano ou espanhol, é, aliás, como o Brasii na sua situação de dependên.ir,
o prin eiro gruoà" ártou.a *a_
ledicentemente ern boea-de_inferooi o
impulso organiza<iq na poesia do ociáeote,
no senti<to de À.r*o mecanismo
fazer uma poesia ..orgânica,,, isto é, qr" permutatório do código áulico do Barroco
ar"r"" presta-se à desa_
' linhas de força dos pióprios *ate.iuis a partir das busada virulência da crítica; o estilo engenÀoso
d" *,.gil;
de-qr" .* faz, poesia da Iouvação cortês é c.mesmo_ qu" prop[iu
em" que o poema reflete uma o;ogo-a*_"ipíri-
visão por*.norizada do mun_
do, à medida que constitui urrr out.o *unOo, to contundentç da sárira e o jogo_ãe_iorpo desiabocaOà
microscópico e aa
coisificado. I..,] A verdadeira poesia erótica. Gregório é já o nossá primeiro antropótago,
do-úaroquismo seis_ o viu Augusto <ie Canrpos (.,o prinreiro antropófalo
.o*o
centista é evidentemente, antes de nrais expe-
nacta, uma pocsia
culta". E, considerando ern especial da nossa po"iir,';, nuL instiganre esrudo-poenra
o cassbrasileiro: 1i"1*I{"
de 1974m. e nosso prinreiro transcultu;ador:
traduziir, com
traço diferencial, personaiíssimo, revelado no próprio
rna_
É surpreeodente, frisamos uma vez- maís, o alto nír,el técnico com nipular irônico da combinatória tópica, tlois-sonetos
de
que principiou a poesia no Brasil, em todas as suâs corÍentes. Góngora ("N{ientras por competi, con tu cabello,, e ..Ilustre
A poesia
começour entre nós, como uma ârte, comÕ algo que pode ser ensinaão y hermosísirna lvÍaría,,) num terceiro (..Discreta e formosís-
pe-
k:s conpêtentes e apreendido e piaticado poiqu.*'po*rui um
mínimo de sinra Maria"), que desmontava e explicitava os segredos
habitídade para os fins em üsra. Em nortugut como no Brasil, da
no.século
XVII, aprendia-se a faz-er verso. em manuais cômo o c$ebre Er Árte de máquina sonetífera barroca, e que, ádernais, sendo duas
ve-
Trobor, os poctas mais velhos ensinavam aos nrenos experientes; zes de G(rngora, era ainda de Garcilaso de
demías começar?m a florescer. Não é portâtrto <ie todÀ
€ as aca_
Carnões, e rrrais renrotamente de Ausônió (poil
$ Vega, de
espãntoso (consi-
dera*do-se que ou ünham da Europa já versados fla arte, ou ,*ioAo.
iam tá es_ esses poetâs' por seu turno, alimentara o cordovês
tudáJa) quc se ertcontre enl nossos primeiros poetas, maiores seus so_
e menores, netos paradigmais, que o baiano Gregório ressonetiza
um elevado parjráo técnico [,..J9. nur'
Íertíus tão mistificador e cnngenial nã sua síntese
dialética
inesperada, que os comentadores acadêmicos,
Falar o código barroco, na literatura do Brasil Colônia, até hoje, não
.
sigrificava se conseguem aproximar desse produto tttonstntúso
tentar ertrair a diferença da morfose do mesmo- sem
Na medida em que o estilo alegórico do Biirroco era unr mtrrruurar santimoniosaffente o coajuro prütetor da
pala-
di- wa *plágio"...). Sor Juilrâ, no Méxicá, é outro ,*",npto.
zer alternativo - um estilo em que, no linrite, qualquer
coi_ seu barroco diferencial, clireí apenas * acompanlro,i
ú
sa poderia simbolizar qualquer outra (como expücãu io Oa-
I Wal_ tavia Paz (Las pcras del O{nrc, lgST) _ que, no seu
ter Benjamit em seu estudo capital sobre o Trauerspíel auge,
alemão) - a',correute alterna,, do Barroco Basflico ern "Primero Suefro,,, não é a Góngoia que
era unl ela r"ptira, nrãr,
duplo dizer do outro conro diíerença: clizer um
código de al-
10. Árrgusto de Campos, ,,Aíe Fin{l parr Gregórío,,, en Uattía/lnvenç<itt
9- Mário Faustino. ..Hvoluçio ds possiâ Çtíntiantdogía d.e pouia Baktnal,l"hlrolr, pr.peg" l97al NoÍa
Brasileira * Grcgórío de Matos e ie ersirio enccntra-§e, hoje, em O *rtttrlt;co,'dlmporrnia-Uas
prrra esra edíçío: li.
Manucl Botelho rte Olivcira,,, Suple mento l_etíar" Sâo paulo,
Dcminícal <Jo Jontul dô Btasil, Río de
1986. A idúia foi retornada
Janeirtr, 14 e 2g.o9jg. for I. Wirnih oa iotrodu6o a Cresório
<te Ma-
tos, Pmas.Esco llid os, Sáo I)a u Io,{e.ue_l
Cul{ri1 Í g7ó.
240
241
Colônia, ela, nos melhores caso§, tinha a chance de articu-
que
antes, ao Romantismo alemão e ao onirismo surrealista lar-se conro dupla diferença. Á diferença do diferente. Sor
ela se antecipa, num §ó lance, a partir do confinameuto Juana soúando o seu sonho piramidal pré-surrealista-
conventual que lhe servia de territÓrio liwe para os vÔos da Gregório de Matos tangendo a suâ viola goliárdica precur-
imaginação criadora no espaço colonial, repressivo enquan- sora da guitarra elótrica do baiano "tropicalista" Caetano
to desterro dos centros de n-raior cultura e enquanto marco Veloso (como o üu James Amado, o mais recente editor
masculino de isolarnento parâ uma poeta mulher e douta' dos côdices poéticos gregorianos)- Caviedes levando a deste
Falando a diferença nos interstícios de um cÓdigo uni- as composturas do estilo culto, nas sátiras desabusadas, ra-
versal, os escritorss Iatino-americanos do Barroco também belaisianas, de seuDle4te del Pamaso.".
travavam entre si um diálogo que só hoje corneça a ser re-
tomado. Um diálogo que podia ser explícito: Sor Juaua dis- 4. Bsnoco e Razão.AiltroPofáçica
cutia as corrstruçôes teológicas do Padre Vieira, o grande
prosador do Barroco brasileiro, em sua irrtervenção polêmi- Já no Barroco so nutre uma possível "raáo antropofá-
ca denominada CnsÍs sobre trtt semtôn (publicada com o tí- grca", dosconstrutora do logocentrismo que herdamos do
tulo Cafia Atenagôica em 1690, ainda em vida de Vieira, ócidente. Diferencial no universal, corneçou por aí a torção
portanto). E as discutia para devorá-las e a seu autor' Para e a contorsão de um discurso que nos pudesse desensimes-
i*po, o seu wif feminino ao engenho parenético üeiriano' mar do rlesmo. É uma antitradição que passa pelos vãos da
pela
Paia desiorÍar-se da grandfloqua arrogância masculina historiografia tradicional, gua filtra por suas brecha§, que
viaardilosa da cavilaçâo castradora, na interpreta@o api- suas fissuras- Náo se trata de uma antitra<Iiçã0
causa
nrentada de psicanálise de Ludwig Pfandft' Hoje, nos "rrviera-por direta, que isto seria substituir uma linearida-
por derivação
surpresa quinrlo encontramos, em Borges' uma referência à" po, outia, mas do reconhecimento de certos desenhos ou
uma dis-
aos'Serrõei de Euclides da Cunha, não mais do que pôrcrlrsos marglnals, arr longo do roteiro preferencial da
tante recordação de leitura. É que ficamos mais afastados'
iistoriografia úrmativa' Em prosa, a umâ dada altura do
na geografia espiritual, do qtte Sor Juana e Vieira, quÊ ope-
*diferen.ial*ente
um código comrm' E havia ainda'
pro."*ã a" **unarã., rrr*u áetet"lioadJ tonfiguração' ela
,urã.,, produziria o filão do "rontance malandro", as§im batizrr<Ío
por oütro lado, o diálogo implícito: o baiano Gregório, a por Antonio Candido em "Dialótica da Malandragem"
L"*icana Sor Juana, o pétu"no Caüedes, todos eles partici- ensaio que, a meu v€r, num certo serltido, represen'
pavam de um discurso que §e revezava troPologicamenie'
iilzol,
ia a'íáesl"iturui' ,l.lib*tada, pelo crítico, da estrada real to-
àinda quundo não houvesse contemporaneidade exata nem pografacla em sua Forntaçãa da Literatura Brosileira' Unt
referêrrcia alusiva direta. Hsse discurso §e prolongava
i"gundo'pensamento, projetado com- argúcia sobre o,seu
também como trm simpósio retrospectivo no tempo: a ele
prvr*"iro i.açado retilíneo e cronográfico. deslineari-zando-o
compareciam Gôngora, Quevedo, Lope, Garcila§o, Canrões,
emproldeumanovapossibilidadederecorteinteligíveldo
Sá dã Miranda, Petrarca-.. A literatura, na Colônia como
na
que, excêntrica na mesmo sspaço, reorganizado âgora em diferentc conste-
metrópole, se fazia de literatura. Só
lação. Aqul a Iiistória passa a ser o produto de uma
çons-
trução, dL urrra apropiiação re-configuradora, "ntoitadolÔ-
gtca", na acepção de Walter Benjamin- Distinguindo o
ro-
lt-Ludrvig PÍaldl lr'Íünche n, 1946' n{ota PaÍa e$tÚ ediçáo: Sobre I
Cy!. *'.-
Palm por §at}cdori4 dlspomos hÔje dâ iluÚ)Í- i",uu." ..rnalandro" da "picaresca" eurcpéia, Candido reco-
nagatm, ou sel{aigrra de Alena, sÚa

nãora leituraile Oi:tavio Paz. em Sor Juona Inés de ía Cruz o Las tamqas e um
nhece nele elementos arquetípicos de matriz folclórica
de la íe

Barcelana,SeixBanal,lgS2;Paediscuteecriticâose'\cessosdeinterprekçáo"psi-
cosomátics" <le Phndl; a "mvilaçâo", pÔr eremplo, ao contrírio dÕ
que pensâ o es- fermento vivo de realismo popularesco. Renroto ç mo-
tr.tdioso alemáo, sefia efeito, náo **u, do "tempcranrento nrelancólim" de Sot derníssimo, o gênero se faz reprcsentar no Brasil' prirnei-
"
Juana,
24i
'>,1')
râmente, pela obra Menzóias de wn Sütgefito ríe tÍítí- to. Um terto de textos. Univcrsal e difercncial. paródico.
cias (1852-1853), de Manuel Aptonio de Almeida, desloca- Paralelográfico. LJm .,canto parâlelo,, de tradutor/A*oorr_
da, quase rrma antiÇuâllra, na série romanesca preferenciat dor: descentrado, excêntrico.
de nosso Romantismo canônico (a que vai de Joaquim N{a-
nuel de Macedo a José de Alencar). Não à toa essa nova 5. A Poesía CancreÍa: [fifla Outra Constelaçiio
possibiüdade de leitura da tradiSo ocorreu ao crítico no
momento da revalorização dos ronrances-invenções de Os- Na poesia brasileira contemporâneâ, a poesio concreÍa
u,ald de Andrade, sobretudo do Serufinr ponte Grande, Lg33 pode também reclamar essa tradição ..antinormativz,,,,
(experimeuto de transgressão serniolírgica da ordcm, de po,
uma ôutra e peculiâr redistribuição dos elementos
configu_
contestaSo da legalidadp e da legibilidade estatuírias, pela radores disponíveis. Há de ser constituída igualmenr"
tlesordem perene, pela versatilidade anárquiqa),r. Iances, por Íelarces. De Gregório a SousândÃde: i*
do ,.Bo.a
Na medida em que tradição "mâlandra,, seria um outro do fnferno" da Bahia barroca ao Rornânti.o *urunhr*"
üome pâra "carnavaliz-a$o", ela retroage ao Barroco, ao "maudit", cântor d,e O Infunro de íIlall.Írreet (1870). De
Barroco visto por Severo Sarduy como fenômeno bakhti- Gregório a Sousândrade e deste a Osrvald: do àerriár
da
nialo par excelência: espaço lúdico da polifonia e da lin- nobreza do "sangue tatu,' ac oficiante do Tafiürtre,
ra (nrissa
guageur convulsionadat3. Nâo esqrieçamos que euevedo, o negra dos índios do Amazonas), ao recontador pau-brasílico
Quevedo dos souetos concsitistas. é o mesmo autor da da crônica da descobertaia. De Oswald a Drur*nrond e h,{u_
Históría. de la vida del Buscôtt, llanrut[o Don pablos, ewnr rilo. De todos eles a João Cabrai de Mslo Neto, engenhsiro
plo de vagabwtdos y espejo de tqcafios (1626). Nosso primei- de estruturas "ruondrianescâs,). fjm outro dese'hlo. Urna
ro "herói" (anti-herói) nialqndro é o artropófago Gregório sutra constclação. O antidiscurso geometrízando a prolife_
de Matos (como o a,Jmite, desse novo ângulo de visaCa, o raso harroca- o Padre vieira e lúaila*né.: ambos eixa<Iris-
próprio Arrtonio Candido, numa guase-apostila à sua For- tas da linguagem, ambos ,.syrtexiers,,. A poesia sonorista
mação, onrle Gregório, barrado pela clausura do argumento tupi e o elogio da concisão (a vocaçâo rle haicai japcnês)
sociológico, não tem vez neln üa de ace.sso). A ..rnusâ nos Manifestos oswaldianos:
crioula", a '(musâ praguejadora". O prirneiro antropófa-
go-malandro. Nâo falo de uma biografia. Falo dt: um bio- Cátiti Câtiri
grafema preservado na tradiçáo oral e disperso em códices Imara Notiá
i

apógrafos. De unraper.ronq por trás da qual ressoa um tex- Notiá Imara


Ipeju

12. Cf- H. de Campos, "Serníim: um Grande Não Livro', e .,Serafirl: análise


síntagnrátiü", Suplemen{o Literário <te O Estddo de S. Paulo, ti_12.1g6t e 8.3.1969;
vet, ainda, ürcu ensaio ínÍrodutório à ree<íiSo tk Satfim potúe Çronrie, de Osrval<l
14. Rcllrc-mc ao sôneÍa de Gregório de l,íátffi, no qual o poetí s€ Lrulla <Ja
ileAndra<le, Rio de Janeiro, Civilizaçio Brasileir4 1971-
prosápia da "nova nobreza" brasireíra ("os dcscendeaÍe dL mngrre
13. Ver meu emaio de 1973. "Stntcturali.sm and Senriotirs ie Brâz.il: Re{ros- de tfltu"i, quc
invocavil [oros de li<ialgLria gcncalógicos, a padi'do opiiáo p.r(u!r:ês
pect/Prosptct", Disposilío, no ?-8, Ann r1.rilor, Univ?r$ity oí ivtichiga[ (Dept. of n. niogoÀi
vares Corrcia, o Caranluru, que dsposara a lilha rje urn
Romirnce l:nguags), 1978. Obscrvei, eorão, a propósito de ,.DialÉtica rje §{ahn- caciquc Ílt1ígcnt; iartra-
mra (1868), pnrte do longo pocme Gwsa, de Sousâlttrrrde (f&i-f902), é uruit sa-
dragem", que a eslrutura narraliva siogular, dcriomiaacia por Â. Cancliclo .'român*
rabanda oryiástíco-salíricq tre ínrlíos, rnissionririos e coro.iza<!<xcs,
nralandro", apro[in]ava-se, de ceÍia formâ, da tese de I,!- llakhtin sob[e â litcratura b,srada ro mo,
delo "Walpurgisuzcbl" do Fux! I, de Goethe;,prrl BrarrT (nonle de um
"carnavalcsrz", trerl como de Çeltôs cspcculaçóe tipológiru de Notthrop Frye- CÍ. cerio tipo r1e
madcir4 da qu*l se e.rÍraía (inta vermclha, muito aprmiada pclos traficrntes
ainda, de Scveró Sm'dtry, "flârÍoco y neobarroco,', emÁn,éríca lttlína en su l.ilera- euro-
peus) é o r'íturo dâ pÍinlÉiÍa mkÍânea de poernas <Ie oswarrr dc
lura, Méxio:, UNESCO-Siglo XXI, i9Z, e o erceleÚie bnlanço crírim de Ernir Ro- Âu<rmdc, pubricada
cm 1925, na qual sío aproveíbdos, so{r a fonna de rncrntlgcn! c:rcerbs.de crônicgs
díguez l{onegal, "Carrraval/Arrtropofa6ia/l]arotjía", Í(eyrtra íbetotutieicaaa, na
e
rela(os cscritos sobre o país à épo<a <ja descobeda e dm inícios da col<inü_acão
l0E-109, Iritlçburgh f.979. c:r
terrà.
244
245
Ou:
ser a óptica diferenciadora e a condifro de possibilidade_
A diferença podia agora ponsar-se como funriadora.
Fer
Somos concretistasr.
sob a ünearidade da hisiOria convencionâI, esse gest[
constelarmente * por solidariedade quase subliminar _
A poesia concreta representa o momento de sincronia "crtava" um outro: o do Romantismo aiemão de leua,
cora
sua concep$o dialética da ..poesia universal progr"rsiru,
absoluta da Iiteratura brasileira. EIa nâo apenas pôde falar
que desembocou em Mallarmé e produziu oo'OJO..,t"
a diferença num código universal (como CiegOrio de Matos ' Iimite espiritual do Coup de Dés
o
e o Pe. Vieira uo Barroco; como Sousândrade recombinan_ 1á"a" o Ofienre ja .oã*_
do a herança greco-latina, Dantô, Camões, Milton, Goethe ça a romper, com seu modelo sintótico-analógico de escri_
tura ideogrâmica a perturbar o monologis*ã fogi.o_urir-
.,e Byron no seu Guesa Errante., como Oswald de Andrade,
totélico do verso discursivo ocidental). Tratava_se de
"pau-trrasilizando" futurismo italiano e cubismo francês). reca_
ni.baitzSr uma poérica. O momento (a dócada
Ela, metalingüisticamente, repensou o próprio código, a Ae SS) erq
ademais, intersemiótico: nâ Europa, produzia_se
própria
lunção
poérica (ou a operação dessJcóA;go)" Á Oi- á o"-
ferença (o nacional) passou a sôr com ela o lugar opératório y1_mús.ica pós-weberniana (BouÉ2, §tock.hausen); ;;;
da nova síntese do código universal. Mais do que um legado !UA, Cage, os começos da indeterminação aleatóiia no
piano preparado; no Brasil, na música popular,
de poetas, aqui se tratava.ds zssrrmiÍ, criticar e r€üâsiigâr desponta_
vjr.Tl aü cbndições preparatórias da ..bossa nola,,
uma poética. Num certo sentido, tem raáo Max Bease, de João
Gilberto (nosso Webern pontilhista do.,samba de urna
quando, ao tratar da poesia concreta brasileir4 faz.antes no-
ta só"); na arquitetura Niemeyer e no urbanismo Lúcio
uma distin$o entre um conceito tradicional (clássico) e um
Costa respondiarn, para nôsso uso, a Le Corbusier e
progressivo (não-clássico) de tireratura. Ao primeiro, de
ao Bouhaus; na pintura: as Bienais de São paulo. E
acordo côm Bense, respori<leria uma obra como a de Cur- a nos-
tius sobre aLíÍeraturs Eu.ropéia e a ldade Média Lotina,na
sa geração redeseobriu e rejuvenesceu Volpi: nosso
"Mondrian trecentesco" (D. pignatari), com suas bandeiri_
qual passado e pÍesente convergem pâra uma .,unitlade de
nhas, seus mastros listados e suâs fachadas seriadas,
sentido"l ao segundo, o Plano piloto para poesia corzÇrc- côm a
sua "cor-luz" estruturâI, que nos parecid mais pintor do
ra (1958) do grupo Noigandres, dando por encerrado o ,,ci-
que o suíço Max Bill...
clo histórico do verso"16. Na verdade, o que ocorria, aqui,
era a mudança radical do registro dialógico. Ao invés da ve- A poesia côncretâ, brasileiramente, pensou uma rova
tha questão de influências, em termos de autores e obras, poética, nacional e universal. Um planetário de ,,signos em
abria-se um rrovo processo: autorcs de uma literatura su* rotação", cujos pontos-oventos chamavam-se (quaú íuclices
postamente periférica subitamente se apropriavarn do total topogr'áficos) Mallarmó, Joyce, Apollinairq pound, cum-
do código, reivindicavam-no como patrimônio seu, como mings, ou Oswald de Ándrade, Joâo Cabral de tr{elo l.leto
uru botim vacante à espera de um novo sujeito histórico, pa_ e, mais para tráq retrospectivamente, Sousândrade _ o
ra remeditar:lhe o funcionamento eÍn terrnos de uma poóti_ Sousândrade redescoberto e reavaliado do vertiginoso Irr-
ca generalizada e radical, de que o caso brasileiro passava a femo ideogrâmico da Bolsa de Nova Iorque... (Um Found
avant-la-lettre, com seu Hades financeiro presidido pelo si_
nistro Mamonas).
ú. E:r.lratos do "Manifesto Artropófago,, (f92S), de Oswall de Andr*drr.
16. Max Bense, "Xonkrete pomie,' (Aulisslich ds SonrlerheÊes notgcrnóus
zuor zehrjãhrigen Bestehen dieser Gruppe Íúr "konkrete poesie,, in Brasitienl,
Significativainente, essa nova poética veio, desde logo,
spmchz im Technischtt Ttitalt4 rs, siuítgarÇ Kohlhammer, r965;.Bro'?r'a ische acompanhada de uma reflexão sabre o Barroco. L.{eu.art[p
In-
Idlrgerc, Wiesbaden. Limes Verlag, 1965- de 1955 (vários anos antes do livro de Urnberro Eco) indã,
246
247
iava-se "A Obra de Arte Aberta", e propugnavâ um neo' de cores diferentes pr., dlrtinguir certas trajetórias alterna-
I
barroco ao invés da obra cônclusa, de tipo "diamante"lT' tivas em sua partitura...); além das peculiaridades de unra
Em 1955, novembro' em Ulm, Alemanha, Décio F'gtta- sintaxe mais lúdica, a dimensâo semântica: â sátira contex-
tari encontra-se, por acaso, com Eugen Gomringer, à época tual, inclusive política, presente desde o comÊço (coca'cola
Do de Pignatari, por exemplo, que data de 1957); a eÍótica' na
secretário de Max Bill na Hochschule für Gestaltung.
encontro de circunstância chegou-se à descobrerta recíproca' lirrha corporal do barroco âvoengo. Nada mais distante da
Havia muifos pontos em comum no programa poético dos neutralidade e da assepsia da Escola do Zürich (sem que,
com isto, se queira negar os mé.ritos tlesta, ern seu âmbito
brasileiros do grupo Noigandres e no do poeta suíço das
konstellaíion n. Etboçou-se entâo um movimento, em base próprio; ou se tratar;a, com novos protagonistas, de um ns-
ilternacional, teudo Gomringer, eur 1956, aceito o títu-lo
ge- vo i'round" do cotejo entre o brasileiro Oswald e o suíço
ral proposto pelos brasileitos: poesia concreto, e que, desde Cendrars?)- O contacto com â nova ruúsica foi essencial:
entáo, p*.ou a ter trânsito universal' Em 1956, também'
no tambóm com os joverts compositores de São Paulo'(Cozzel-
Mu.eu',I" Arte Moderna de são Paulo, teve lugar a primei- la, Duprat, Medaglia; depois Willy Correa de Oliveira e
iu e*potiçao mundial de poesia concretâ; do eveuto pàrtici' Gitberto Mendes). Lsmbro-me, enr meados de 1959,. em
p*uÀ apenâs artistas brasileiros: poetas e pintores; â§
mos- Colônia, â surpresa e o interesse de Stockhausen diante dos
exemplares da revista Noígandres. E'le, àquela altura, apesaÍ
irrs int.inr.ionais, inúuleras, sucederam a e§ta, pioncira'
Outro fato a assinalar: apesâr de seu despoja*rento
e de inãentiv;rr os experimentos de Hans G' Helnrs, preferia
o poÔ- compor, ao estilo montagem, o§ tôxios de que neçessitava
de sua voluntfuia Celimitaçãc de meios (buscava-se
(ver, por exernplo, Gesang der lüngtinge, com linhas extraí-
ma como resultatlo coletivo, anônimo; o "desaparecimento
àas dã Livra de Daníel): no Brasil, por seu lado' todo urn
elocutório do eu", à Matlarmé; as çstruturas elementares' à
para os crí grupo de poetas trabalhava em textos que incorporavam, à
Oswald e Webern), a poesia concreta brasileira,
os adversários desde logo) par*- ãinta,xe do poen r, intersemioticamente, parâmetros hauri-
ticos e observadores 1pu.,
plúrima, polifacática' ao dos na prática e na teoria da nova música que despontavz-
cia irremediavelmente barroquista,
das konstelíatíonett (Pouco iempo depois, falando sôbre "Musik und Graphik"
ser compararla à austera ortogonalidade
ào "Ferienkurse firt Neue Musik", Darmstadt, Stockhausert
ã* Co**ng"r, límpidas pui* Çomo umâ composição de
"
tsill. Nossa-'<liíereriça" produzira urna resultante diversa
ua deixaria registrado um eco desse contacto; ú' Damrstãdter
do poema, ainda que os dados globais do novo pro- Beitrtige anr rzeuen Musik,Schott, 1960).
química
úais tar,le, esse percurso poesia/música de vanguarda
gau*u poético tivessem pontos em comum' Alóm dos poe-
ãas de'leiturarrúliipla (os poemas em core§-vozes do pae- (erudita) reverteria pita uma excepcional conjuntura brasi-
tantenos, de Augusto de Campr:s; Boulez viu-os
em São ài.ar Augusto de Campos seria o principal crítico e propur
nador dÃova música popular de Caetano Veloso e Gilberto
iurlo, em 1954, num encontro na casa do pintor Valdemar
Cordeiro, em que falamos todos, animadamente, sobre
We- Gil (para cujos arranjos iustrumentais concorreria, ern oca-
bern e MallarÀé; naTroisíênte Sonate, de 1957, Boulez usa sioeiiecisivis, a invenção experimental de Rogério Duprat e
l,ltio Medagiia)' Oprorlussul?ró, como o definiu D' Pignatari:
a poética da inve.nçao no consumo de massa,
para alénr do ce-
]v{ilano' Bompíani' 1961 Par* o
17. Refrro-ne s Umberto Eco, OpenÁpeta' como terfiro de compa'
1968)' Ecorcdi- tiâisrno arlorniano... Imagine-se, sÓ
prcfácio à edíção brasileira dcsle seu livro (§áo Paulo' PerspectiYa' os "Beatlcs"
giu o seguinte conrentário: "É poi crrrioso chc alcilni anni prima che io scrivessi ra$o e demonstra$o, esta convergência ideal:
i temi it un sobre iex-
bpua ef,.rc,Haroldô de Campos, in un suo aÉico-lc]]l' ne anlicipue em contacto presencial com John Cage
* egli avessi recetÉito il libro che io non avsvâ âoQíâ
modo stu1reÍaeote, (omô
scrito e clle âvrei scritto..* letto il suo articolo' Ma questo significa che cedi tos de e.e.cummittgs."' (E verdade que houve Yoko
"oLpon,lo - Oh!
"lu"'
problenri appniolro in nrotJo imperioso [a un dato momento storiço' si de<iucono
stâlÔ dclle dcerche in atto"'
luasi automnti.anrcrrle tllllct 249
248

il
de bibliote-
nasuniversalia'a São bárbaros alexandrino§, aprÔvisionados
Yoko! - o Oriente...) Mais uma vez, porém'
caseaóticasedefichárioslabirínticos.ÂBihliotecadeBa-
,liferença- Ouça-selra çá Aznl,de Caetano"'
ú"i poa" chamar-se Biblioteca Muaicipal Miguel Cané e§-
e
num modesto quarteirão de
Álexandittos: Redevoração Planetáia
t* proriaotiamente instalada e tristonha' ao
6- Os Bárbaros íu"'"ot Aires f'urna localidade pardacenta
Borges serviil como obscuro
r"ao".i" da càade"), onde
funcionário, e em cujo porão costumava refugiar-se
da
Desenraiuda e cosmopotita' a liter«tura hkpa-
*r.qri*"á coddiana, o- se fu-úivam ente a leituras
no-americana é regresso e procura de unta tradição' ãntregand
na "capilla"
Áo ProcuráJ4 a inveruo-" irrtirrit"t... Ou, então, acomodar-se, plenária'
do Móxicq uma bi-
OcÍÂvto PAz (1961, Puertas al Campo) iurifo.** de Alfonso Reyes, na cidade
de vinte aÍlosr cÔIE
-Es iç ein Verswh, sich gleichsam a posteriori
túoátu onde se ericlausurou,,por Çerca
e insaciável'"'
eine Vergangenheit zu gebeq aus der man stafiTnletl
,u* *ur,"s copiosas, um leitor viajadfusimo no Bairro
mochte,im éegr:nsot' zu der aus der matt stamnú'"
õ;ain;r, ** dão Paulo, nâ rua Ep"l chaves' lt-
J;b;rrr-Érnda, onde Mário de Andrade preenchia suas
margens das pági-
E unn tentaliva dq por assint tlizer' nos outorSa' .ü*ã"l"i "ra L rendilhava de notasdeãs Súoenberg e Stra-
' fios ttm passado a Posterio{ do qual poderíanos ;;;q;" compulsava, entre partituras e futuristas ita-
provir, em lugar daquele oulro' dQ qual efeti'anrente ,ir.ü, ."f*aireas de e*pressiottislu* {111":
somos Provenienes' It^nos, torrro, de Freuà e *atados folclóricos"'
Ou' Íinal-
Ntulzscl{E Vieja' ali mes-
,r*nt", proliferar numa casa de La Hatrana
de um mcrgulho
;;;;',1; o "Êtrusco" l-nzamalima' depois
Creio que o "Coup de Dents" d".9Yld
cle Andrade' girar sua
il;;;. desvâosclos alfarrabistas cubauos' fazia
.uu Jiaeiiá "marxitar:'.(marx
+ maxilar)'8' maneira de
na
il** armilar de leitura' descentrada, cambiante,
legado civiliàcional europeY (a primeira
data
;;il;; seria o
".feru
fabulosa, c(lmo uÍR orbe hieroglífico
incubado pelo Pássaro
de sua revolu$o antrofofágica na
História do Brasil
;; á" devora$o ao àitpã Sardinha' fato dignitário catequista ^--;
Roca...
vem
novo no relacio- mandíbula devoradora desses nâüos bárbaros
nortusuês. em Ú56), apo;h para um muito uma herança cul-
os europeus' já a esta al- manducantlo e "arruinando" desde
ffi;il L;'"pVr-áii"l-AmÊrica:
bárbaros ;;;;üà, vez mais planetária' em relaçâo.à
qual sua inves-
,*^, ie* de apienttet a cônvivsr com o§ novos * desconstrutora funciona com o ímpe-
cÔntexto outro e alternativo' os e§Íão úia-*"rgtrrf
exceot.ificado,a
oue há muito, num L da antitradição carnavalesca' dassacraliz;nte'
ã;;";à;" iá*nao deles carne de sua cârne e osso de seu por-Bakhtin em.contraparte à estrada
qr" ha muito os estão ressintetizando quimicamente ;;;;;;r, "uo*au literatuia monológi-
".-", real da positivismo épico lukácsi":' t
e irrefragável metabolismo da diferença'
por um impetuoso
clrlne; ."]J"ú" ,*rrada e uní'oca' Ao invós' o policulturalisma
(E não só a europeus: ingráientes orientais' hindus' ."*Ui*álo elúdico, a transmuta$o,-paródica de sentido
à* iupon"u"r, iênt "nãudo no alambique "synrpoético" são os dispo-
ããior"r, a hibridizaçao aberta e multiliugüe'
" ,r"u-atqri*istas: em Tablada e Octavio Paz; nos
ã*u.t" e realimentação
J."oa"ro, bifúcados" de Borges e nos ritos iniciáticos do sitivos que respondem pela alimentação
baroquista: a transenciclopédia
Elizondo de Farabr.lrtf', em Lezama e Severo
Sarduy; em ;;;;r;"t .lessà aln''ag"ito
onde tudo pode coexistir
carnavalizada ,Jos nouãs bárbaros,
ói*ufa e na poesia cãnueta brasileira, por exemplo') que esmagam a matéria da tra-
com tudo. São mecanismos
tropical' convertendo ta-
aiçao ,o*o dertes de um e"!'enho
sumoso' Lez-ama crioli-
Oswâld d€ Afidrudc a§i- los e tegumentos ern bugaço ã caldo
18. Sob o pscudônimo tlocadilhcíco de "Marxilar"'
(f928'1929)'
nou attigos em sun Rdísta deÁnrroPoÍa7'a 251
250
za Prousf e itlteÍcomunica
Mallarrné com Gõugora: suas
tações sâo truncad* ci- tavarn-se para o
* up*d;;;;.
rtigesráodítuvtatradár;B;;;r.r;:à""iffJfr
simbolista nrarginal: todos
T"ll"
viarn diversamenre _ ina"p"nã"oil;;;r" reescre_
(com sua .,viaje a la :ril*Jffi coucluso poeüa universal...
* um rnesno in-
oscura.Cüa" de cacodelprria"),
obscuro ,.nefelibata,, Uaiaoo
m nlr.ii, pedro Kilfuerry, ura
à
.o*;*,a. .}iuo Çcftáz.ardiulosa,"d il_;il;*e irlandêq mulato
diversos, .o* o.tt:or",
*
G;;",.Ii;:.f#::;rffi"; aos 32 *'o',
marca da circunstância
argentiía iil;, ü#d"X]t[fl"'morto "* 1e17, de urrra
Cortázar, transmigradu, quando, no
Jo* no*)ü".s poÍtenhas, caso de gig*tio,ã::.'l*".'-,ll'*:ffi ;tln,:t:ffiltmU_li
parjs da Rive para Túta.u Corbiêre
,
Gauch")-'o B;;;;;"ão a
oo* rrru Tistes Ti_ lau ir"*rru ffirgJ ..cotoquial_irônica,,
ges de Cabrera I^1|1t
oruoor^-ãÇelho de t-ewis
roll para mnfraternizar-se com ,.*elanti"ista,, Car- ^0,*^.lrar*")
smla,
e corn i.,o
gue o aproxima, pioneiro
J*.r""ffi;"
dicção especialís_
o
Dumpry e corn Sh"r, The penman.Diongfo I{umntv e.que.i,lo,,ro;ãil;,"
Os Ratos, rcfaz o dia de
ilp"H;l"j; Machado, àm :tr[r;3:j;rên.io". rlai sutirezas JJ rio.,çao
d. ;; ;;;:
pois bem: todo
en divi d ada de um rao_, i-,{r"ei
anos 30 (um ,razar.en
i ffi
i"?'1: i?;: i::
a azaraiorNaáazenq Iutando
"â:l esse borborigmo de digesto,
ruminação f1..rgo11 e ancestral toda essa
quejá se perde nos arcaflos
te-nosso_de-cada-dia..-). pelo lei, do ternpo, não podia pe.*o,,e.*iinãefinidamente
neiro de veredas
c ri*i.a*ãil
criva o serrâo rni- ignorada
rnerr'rrri*.ir*,iffi;é urn Fausro
da Europa. A bbom, f"nO*"uo
..."rü'" ao ní_
fistofi Íologicc, atrism ado me- vel dos nzriss-nted,ía, serviu de "piaérmico,
I{ ei d e gger cabo clor.. n
nas tramaJdu'lirgrrrg"*
qual um espantado e tarüo
ut*.r, J*áun atório * entre
' Llosa se poderia dizer "
C-u.p"o t'ü
ôu'* o, Fu en r es, V a rga s norre-americânos,r;id;i:;-"#1,::T§J:}::T?:ff
outro tanto: outrasdecocções, :
am áIgarn ar, diversas
e sinsula res
outros de mastiga$o cultural,
.,pesadero àogünuçõ"*. ^ "X"Ooirr'r,"i* O_ Ez.a pound
o da Írisrbria-, p*;;;;;:tp;;_ será o exernplo mais caracterí$ico
em nossos dias, como
I*tino-americanos, .1- escrirores foi no pas-sado o
;][1,; I*[,,"*, nos rempera* o ecumenismo de Wrii-wiituran).
mertos mú militartes, de 1ra" assornbrado e aüso aos navegantes De alerta
partJJprça"._ de empenho, incautos, para com a
sido um barroco e obscssivo tem turbulôncia Iarvarla e explosivid"
ao paroxismo oxirroresco
p_;.d.j;; escrírura (levado gica que se vinla descnvolvenO"
u*u ,iuo rêIa$o dialó_
quando se satre em convivio *'U""prf"iamente,
esca-
çado e doloroso ** for- moeteada pela suficiência nronolingüe
I mundo sem l"t as de grandes con_ dos usuarios de Iín-
ti'gentes populacionai, guas "imperiais,' ícomo
francês,ãar-r"rl""i;;,
ainda comerá o biscoiro rrrilJ;;"'ãão*ro;.
..Á. o ;"rr;:
ri"" r". r.Ur#:i _ varicinavamassa glês, cada vez rriais), uma
que estava minando e
-retação cor-
rvald de Andrade, n,* os_ roendo as bases da koin.é literãria
,ro*ãino lJãrao
.,prinzip
pelo ,.mais i."a"Ària, em termos de
, Iiteraturas velhas,, e ,.maio.ãs,iã" lioor.os,,, .,galhos
.TlfXilí";,ifiI",:;r" -rlreparal
a rnedura nutrienre, a;; principais" e "esgalhos secundários,,.
.ú ; ; ;iilJ,:, i: i}Íüi II H:J:rx j:.,, j"Êã :I
monrando
Éorg"u p"tri*"oor, o europeu
"o*mais escrever
dia
A urn
d"*"brtfflX:t:ff§:
às prinreiras Aa."Ourt"rtJ'Jj"ulo, a sua prosa dà mundo ssm
uma convergência insuspeit*da -r*ilunt*;vislumbrou cada vez rnais avassatadoi da
o contributo
dif".";;;;;J,ruau
pound e Eliot .,descolxiár;;; , enquantô pelos
f;;;tror*"
mentavanr dele, de sua ..togopf,i^; e se ati_
'ora_
;à;;i";para a renovaSo
da poesia dc rínsua ingrcü, , A
pôesiâ dispersa e
r-rgour, li.
recalhidas postuÍsamente e anarhadas
espârsa de pedro Kilkcny
(l885-t9i7) foram
L6pez veratde -* "i Buenos o;;ffi
-a,I,rosa p..
Aires e en Re/Vísão de K.r-
?Al;a; il'treià, "rg*.
kerry, sâo pauro, Fun<to Esleduà.I.
por <rirercntes dc,,lnr*,-i.rii*"il*,ri**
canr n h os enrrecruzadc,
i
id ;i;;;;.' iiêurr_* em 1:o, vor_
saiu a 2r ediÇâo âüpliada o*:.I.ro pr" ur*1i,.,1"", iaf,"lr,r;. "o,*o:
lauio Pa4 a que mc reporto, é -f_i,"r"'ru.",
io.-,il,xl;:
Em r9r5.
o esÍ*do de rlc-
y li'eHlidá'1" (7979)' en Et sisnr
a(a falalo, MiÁxô, louq"i,., , *"g.-
vonia ?ltíjlÍurs

253
Braál and Hispanic ÂmeÍica", TriQuarteell', nq 38 ("In the
zes bárbaros alexandrinos. Os üwos que lia já não podiarn
rvake of tbe!Vake"),1977 -
seÍ os mesmos, depois de manducados e digeridos pelo cego Escrever, hoje, na América Latina como rta Europa,
homeríada de Buenos Aires, quô ousara até mesrro rees-
significará, cada vez mais, reescrevôr, rema§tígar. Hoi btár-
crever o Quijote, sob o pseudônimo de Pierre Menard...
bãroi. Os vândalos, há muito, já cruzararn as fronteiras e
Que haveria de novo, sem Borges, no nouveau roman dç tumultuam o se*ado e a ágara, como preflunciado no poe-
Robbe-Grillet? Quem poderá agora ler Proust sem admitir
ma de Kaváfis. Que os escritores logocêntricos, que se ima-
lxzama Lima? Ler Mallarmá, hoje, sem considerar as hipó- ginavam usufrutuários priülegiados de uma orgulhosa korirá
teses intertsxtuais de Trthe de Vallejo e Blanco de Octavio
ãe mao únicq preparem-se pârã a tarefa cada vez mais ur-
Paz? Ou contribuir para o "poema universal progressivo"
gente de reconhecer e redevorar o tutano diferencial dos
" sem redeglutir a poesia concreta brasileira do grupo Noí-
" gandres'! Nathalie Sarrautq uma vez, em meados dos anos iovos bárbaros da politópica e polifônica civilização pla-
netária. Afinal, não custa repensar a advertência atualíssima
60 (lembro-me que Ungaretti, o relho lJngaretti, carregado do velho Goethe: '-Eine iede Literatur ennuyiert sich zuletzt
de reminiscências brasileiras, em visita a Sáo Paulo, partici- in sich selbst, wenn sie nicht durch fremdç Teilnahme wie-
pava da mesma reunião), observou-me, em conversa, que a der aufgefrischt wird" ("Toda literatura, fechada em si
índole da escrita francesa não comportava um expe,rirnento mesma, acaba por definhar no tédio, se não se deixa, reno-
à Joyce. Perguntei-lhe, de troco (vivos em miúa memória, va<lamelte, üvificar por meio da contribuição estrangeira")'
igrral e tanto quanto neolatina, os exemplos do À{aama{nw A alteri<iade á, antes de rnais uada, um necessário exercício
de Mário de Andrade e do Grande Senão de Guimarães de autocrítica'
Rosa), se não considerava Rabelais um escritor francôs.
Desde 1963, eu havia pri+cipiado â escrever e a publicar as
minhas Galáias, uma "trarrouca mortopopéia ibericafra"
entoada, a contracanto, no "fcldorado eldorido latinoamar-
go". Desde a segunda metade dos aaos 60 ("Sur Góngora",
L966), Severo Sarduy começâra a barroquizar, por ato de

mentos áas Galóxinr em alemão (Versucltsbuch/Galarien,


"Rot" ?5, L966, editados por Max Bense e E. Walther, tra-
duzidos por Anatol Rosenfeld e Vilern Flusser). Também
de 1966 é, Conzpacl, de Maurice Roche, um escritor-músico,
que jamais teve dúvidas quanta à viabilidade renovada do
iegado rabElaisiano eru sua lí"go*. Fragmentos das Galá-
xas, traduzidos para o francês, em Change ("1-a poétique la
mémoire"), número de setembro, l91A. Ob,servação de Oc-
tavio Paz: "Me gustaría escogÇÍ como divisa eI final del
primer fragmeuto; el vocablo es nti fábula" ("le vocable est
ma fable"). Considere-se, âgora, o joyceano e galático Pa-
radis de Philippe Sollers, subseqüente (tacitamente tributá-
rio..-) Contei essa história e retracei esse roteiro, mais cir-
cunstanciadamente, ern "sanscreed latinized'. the l4/ake ín

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