SOCIEDADE HYPE ECONOMIA

Leia os
Estudo revela Moda
pressupostos
que 41% dos Luanda 2020
para
angolanos são em formato
a revisão do
pobres P.18 virtual P.21
PDN P.28

E
O índice de pobreza em Angola

SUPLEMENTO DO SEMANÁRIO VANGUARDA . NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

??
12
1 2 / 0 6 / 2 0 2 0 / C U L T U R A / E S T I L O / T E N D Ê N C I A S BALANÇO DE PORTUGAL PARA ANGOLA
Abrimos a secção de Economia do
ZEE paga dividendos Exportações
06
05 Vanguarda com a boa nova de que 900

atinge 41% dos cidadãos, o que ECONOMIA

2020
2017
SUPLEMENTO DO
SEMANÁRIO
VANGUARDA.
ao Estado pela
primeira vez
Prosseguimos com as sociedades gestoras
de , uma medida que
Os resultados passa
líquidos
caem 27,3%
produtos já exibem o selo Feito em Angola.
em Abril
da As para
exportaçõesas mãoa
de Portugal para An-

significa que 41 em cada 100

NÃO PODE SER
VENDIDO
Zona Económica Especial gola caíram 27,3% em Abril, o primei-
SEPARADAMENTE

do Presidente
(ZEE)da República
Luanda-Bengo segundo
as- ro mês em que ambos os países estive-
cenderam de 192,23 mi- ram em regime de confinamento,
despacho. Elhões
porKzfim, em 2018, õfomento
para enquanto asdaimportações de produtos
532,71 milhões Kz no ano angolanos para Portugal caíram quase
competitividade entre
passado, dando lugar os
ao agentes
50%. De acordo com os números do

angolanos tem um nível de

primeiro pagamento de INE, Portugal exportou produtos e
económicosdividendos
concorre ao Estado para uma
des- bens maior
no valor de 100 milhõese de euros
de que o polo está opera- em Abril de 2019, contra os 73,4 mi-
melhor oferta de
cional, há 11bens
anos. e serviços aos
lhões vendidos em Abril deste ano.

consumo abaixo da linha da Pressupostos para

a revisão do Plano
Opinião

pobreza (12.181 Kz/mês). de Desenvolvimento Agostinho Rodrigues

Transparência!..
Nacional
Os dados vêm expostos no Executivo vai realizar uma revisão intercalar do
Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022
Distintas iniciativas para o repovoamento do
planalto de Camabatela foram desenvolvidas
pelo Executivo, cujos resultados são ainda
questionáveis. Mais uma coisa é certa – o

“Relatório de Pobreza Para (a par da revisão do OGE para 2020) e elaborar um

Programa de Acção para os anos 2020 a 2022.
A revisão do PDN deve estar assente em
pressupostos sólidos que possam, de forma
repovoamento do planalto de Camabatela se for
devidamente equacionado, observando o
princípio de transparência, o afastamento de
burocracia, o amiguismo e o nepotismo,
claramente que estamos diante de uma
estratégia cujos benéficos deverão ser notáveis

Angola 2020”, lançado recen- eficiente, antever futuros desafios para a

economia. P28
num futuro muito breve. Uma porta aberta –
uma oportunidade para o País se tornar
auto-suficiente na produção de carne bovina
made in Angola não apenas para atender as
necessidades nacionais, mas, sobretudo, para a
exportação. É, pois, preciso acautelar que os

temente pelo Instituto Nacio- ricos, os empresários, os endinheirados não

abocanhem todo o gado proveniente do Chade,
cuja previsão são 75 mil cabeças em detrimento
das famílias camponesas. Pelo preço de aquisição
de 15 mil Kz (para as famílias camponesas) a 150

nal de Estatística (INE). O

mil para o sector empresarial, de acordo com a
programação do projecto. Se não forem
acautelados factores de igualdade e transferência
o elo mais fraco, as famílias de baixa renda, os
camponeses podem ficar de fora. A estratégia
muito bem conseguida pode contribuir para o

informe indica ainda que 56%

combate à fome e à pobreza, na geração de
postos de trabalho, na redução da importação de

Vanguarda Director Interino Estêvão Martins

carne e na poupança de divisas.
*Editor
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12 Junho 2020 | Ano 5 | Número do total da população pobre MODA LUANDA 2020
EM FORMATO VIRTUAL
164 Semanal | Preço: 500 Kz reside nas áreas rurais.

ORLANDO ZUMBI
www.vanguarda.co.ao

TEMA DA SEMANA
ENTREVISTA A JOSÉ OCTAVIO SERRA VAN-DÚNEM
Oposição
dividida “A situação actual obriga
quanto ao as lideranças a pensar
resultado em políticas públicas
da execução
Partidos políticos da oposi- adequadas”
ção divergem na avaliação
do desempenho do Executi- Sociólogo e filósofo, José Octávio Serra
vo durante a vigência do
Estado de Emergência. P06 Van-Dúnem, diz que não se deve ter ilusões,
porque é provável que haja necessidade de o País
POLÍTICA vir a implementar medidas económicas com
impacto muito duro na vida das famílias, no
Polémica sentido de mitigar os efeitos da pandemia. P12
sobre as
assinaturas
dos partidos
políticos
Luís Jimbo diz que a exigên-
cia de 7.500 colide com
alguns direitos e liberdades
consagrados na Constitui-
ção da República. P10
PUB
2 Primeira Linha
Vanguarda 12/ 06 / 2020

Sumário

O Kwenda Desígnios Estudo do Lucas Luís Jimbo

é importante, para a INE revela Ngonda e as
mas não revisão do que 41% dos apoia reservas
suficiente PDN a luz angolanos Executivo à Lei dos
para uma dos desafios vivem na no combate partidos
vida condigna económicos pobreza ao COVID-19 políticos

Sociólogo e docente Executivo pretende, Instituto Nacional de Lucas Bengui Ngonda, Luís Jimbo, director
universitário, Octávio ainda este ano, realizar Estatística (INE), acaba presidente da Frente executivo do Instituto
Serra Van-Dúnem, uma revisão intercalar do de lançar o “Relatório de Nacional de Libertação Angolano de Sistemas
destaca que o programa de Plano de Desenvolvimento Pobreza para Angola 2020”. de Angola (FNLA), em Eleitorais e Democracia
transferência social Nacional 2018-2022 e O documento indica que o declarações exclusivas ao (IASED), por razões
monetária (Kwenda), que elaborar um Programa de índice de pobreza em Vanguarda, dá nota positiva históricas na forma como
terá a duração de um ano, Acção para os anos 2020 a Angola atinge 41% dos ao desempenho do os partidos históricos
que visa o reforço do 2022. A revisão do PDN deve cidadãos, o que significa Executivo, durante a foram formados, assim
sistema de protecção estar assente em pressupostos que 41 de cada 100 primeira etapa do Estado de como, nasceu o
social implementado pelo sólidos que possam, de forma angolanos têm um nível de excepção, porque, a seu ver, multipartidarismo e das
Executivo é uma decisão eficiente, antever futuros consumo abaixo da linha da foram implementadas primeiras eleições de
que deve ser aplaudida. desafios para a economia. pobreza (12.181 Kz/mês). medidas que permitiram 1992; ao contrário da Lei
Contudo, ressalta, o Embora a elaboração do Observa ainda que 56% do conter a progressão da Constitucional de 1992, a
problema coloca-se ao actual documento reitor total da população pobre pandemia da COVID-19 em Constituição da República
nível de se saber qual o tenha obedecido critérios reside nas áreas rurais, Angola. O líder do partido de Angola de 2010
passo seguinte ou, melhor, válidos, o Executivo 44% na zona urbana, sendo dos Irmãos encara com colocou os Partidos
qual o seu objectivo. reconhece que o mesmo não que o índice da pobreza é de normalidade o montante (43 Políticos com pedra
Avança que é fundamental pode ser usado para avaliar os 10%, isto é, o défice médio mil milhões Kz) gasto pelo angular do garante ao
incluir as famílias na objectivos de médio prazo e as do consumo por pessoa Executivo para prevenir e direito dos cidadãos
cadeia produtiva e em perspectivas económicas para abaixo da linha da pobreza. combater o SARS-CoV 2, o participaram na vida
actividades geradoras de os próximos dois anos. Na Constata-se no relatório novo coronavírus que pública consagrado no nº
rendimentos, porque só base, estão causas exógenas que o índice de intensidade acomete mais de 7,1 milhões 1 do artigo 52.º da CRA e
desta forma se poderá como a Pandemia da de pobreza é de 4%, de pessoas em todo o mundo, reduziu o direito e a
contribuir para a sua COVID-19 que provocou a medida que reflecte a principalmente os Estados liberdade de associação
sustentabilidade e paralisação em grande escala severidade da pobreza, Unidos da América que política num mero
autonomia. das actividades económicas e tendo em conta a regista perto de 2 milhões de instrumento processual
Por outro lado, considera a queda abrupta do preço do desigualdade existente infectados.“Na espectativa de eleitoral nas fases das
a transferência social barril de petróleo. Este entre os pobres. O relatório se criar condições para candidaturas e da
monetária, imediata, com último, gerou forte impacto aponta ainda que os índices contrapor as projecções da companha eleitoral.
base em programas bem na decisão de revisão do PDN, de pobreza apresentam Organização Mundial da Resultado deste contexto
estruturados é uma vez que mais de um terço valor altos nas áreas rurais, Saúde (OMS), segunda a qual jurídico-político angolano,
importante, mas não da economia nacional estar em relação as zonas Angola atingiria os 10 mil na óptica de Luís Jimbo, os
suficiente para uma atrelada ao sector petrolífero, urbanas. Ao analisar a casos de COVID-19 em Junho, Partidos Políticos (PP) se
condição de cidadania bem como ao facto das pobreza por sexo, o o Executivo viu-se obrigado a formam ano antes do ano
mais ampla, sendo receitas deste sector documento diz que não gastar muito dinheiro e é das Eleições Gerais, e para
necessário investimentos sustentarem a execução das existem diferenças muito normal que isso as Eleições Autárquicas.
em saúde e educação. políticas de desenvolvimento. significativas. aconteça”. coligação.
(P 12) (P 28) (P 18) (P 07) (P 10)

An
nálise
por Ricardo David Lopes
Exemplos e simbolismo
O
porta-voz do Ministério do Interior pediu
nesta semana desculpas públicas pelo
comportamento de agentes da Polícia Na-
cional ao longo deste período de pande-
mia, com episódios vários de recurso excessivo ao uso
da força contra cidadãos. Waldemar José deu assim o
rosto pela corporação, na sequência de novos relatos
de violência por parte de agentes, incluindo contra me-
nores, com a morte como resultado.
Tem razão o porta-voz quando diz que os agentes da
Polícia Nacional têm como missão proteger os cidadãos
e que existem “para garantir a legalidade, manter a tran-
quilidade e a ordem pública, assim como todos os prin-
cípios que norteiam o Estado democrático e de direito”.
E tem também razão quando pede que não se confun-
da a árvore com a floresta, e não se tome por ‘maus’ 120
mil efectivos pelo facto de uns quantos não merecerem
envergar a farda, usando e abusando de uma autoridade
que apenas lhes foi delegada.
Mas as desculpas, como é costume dizer-se, evitam-
se, e a notícia de que 10 agentes estão presos e irão ser
julgados por terem causado a morte a cidadãos desde o
início do estado de emergência não vai atenuar o desgos-
to nem a perda da família do jovem de 15 anos morto há
dias por um agente em Luanda, ou da zungueira alvo de
um alegado disparo acidental na Huíla.
A violência policial exige o reconhecimento do erro e
a admissão da culpa pela hierarquia – e, neste aspecto, o
Ministério do Interior fez o que devia. Mas o que impor-
ta é que a mão da Justiça seja particularmente pesada
A crise que Angola enfrenta é
profunda, e o País tem muito
poucos instrumentos – leia-se,
dinheiro – para lhe fazer frente.
O pouco que tem, deve usar com
racional e em projectos que valha
a pena salvar.
para com os culpados, porque não poderia ser de outra
forma, e que o Estado assuma as consequências dos ac-
tos praticados por agentes seus. Indemnizar as famílias
destas e de outras vítimas é o mínimo que se espera. Não
é o dinheiro que importa, mas o simbolismo tem um si-
gnificado. E o Estado tem que ser uma pessoa de bem.
A notícia de que o Candando se prepara para fechar
metade das lojas e lançar no desemprego 1.000 pessoas
caiu que nem uma ‘bomba’ nos media nesta semana,
uma péssima notícia desde logo para quem vai perder o
seu trabalho e as suas famílias.
A empresária Isabel dos Santos, accionista da empre-
sa que detém a cadeia de oito lojas e que emprega cerca
de 2.000 pessoas, confirmou a notícia em primeira mão
ao Valor Económico, e explicou que a ‘culpa’ é do arresto
das suas contas em Luanda e Lisboa, na sequência do
processo que o Estado lhe moveu por, alegadamente, a
gestora e o marido deverem mais de 1.000 milhões USD
aos cofres públicos.
Presume-se, portanto, que, não fosse o arresto, o
Candando não fecharia lojas nem despediria pessoas,
passaria imune à crise que assola o País – e que possivel-
mente ainda está no começo. É difícil de acreditar que tal
seja verdade, mas é agradável imaginar que sim.
A crise que Angola enfrenta é profunda, e o País tem
muito poucos instrumentos – leia-se, dinheiro – para
lhe fazer frente. O pouco que tem, deve usar com ra-
cional e em projectos que valha a pena salvar. O Can-
dando, provavelmente, é um deles, pelo emprego que
criou, pelo apoio que dá à produção nacional e pela
inovação que trouxe ao mercado de retalho alimentar,
obrigando a concorrência a melhorar-se. Vamos espe-
rar que a ‘guerrilha’ mediática com o Poder angolano,
alimentada em boa parte pela filha mais velha do ex-
Presidente da República, não crie má vontade e preju-
dique um eventual apoio do Estado ao projecto, que
não merece definhar.
PS – a crise no Candando viria a ser reiterada por
Jacinda Ardern, Primeira
ministra da Nova Zelândia
3
Vanguarda 12 / 06 / 2020
um surreal comunicado da administração da retalhista
reagindo à “circulação de notícias nos meios de comu-
nicação” dando conta do fecho de lojas e despedimen-
tos. O documento, eivado de erros de pontuação, não
refere números, mas insiste na teoria do arresto e ex-
plica que a empresa precisa de ajuda – e que já falou
com o Ministério do Comércio. É mais um tiro no pé
numa estratégia de comunicação que há muito está
fora de controlo.
A Nova Zelândia venceu o coronavírus, na sequência
de uma estratégia apertada de um governo liderado por
uma primeira-ministra que, em Abril, anunciou um cor-
te temporário de 20%, por seis meses, no seu próprio
salário e dos ministros. Contas feitas, estão em causa 1,6
milhões USD canalizados para o combate à pandemia,
um valor baixo se pensarmos em termos macro, mas va-
lioso em termos simbólicos e de exemplo.
Por cá, não houve ainda notícia deste tipo de medidas
ainda que se conheçam outras de contenção orçamental
afectando os próprios membros do Governo.
É certo que o salário da primeira-ministra da Nova Ze-
lândia supera os 30 mil USD e que o dos ministros ultra-
passa os 20 mil USD, números que fariam sorrir de ale-
gria qualquer titular de um cargo governativo em Angola
(e na maior parte do mundo…). Por cá, ganha-se menos
no Governo, mas mesmo assim imensamente mais do
que quase toda a população. Não seria bem recebida pe-
los cidadãos angolanos uma medida alinhada com a or-
denada por Jacinda Ardern? Fica à consideração de quem
de direito. V
4 Primeira Linha
Vanguarda 12/ 06 / 2020

Opinião

Youran Mandonga*

Máscara personalizada, vaidade

ou protecção?
O
mundo vive, há alguns meses, um terror
com o surgimento do novo Coronavírus,
que causa a doença da COVID-19, doença
que surgiu na China, em Dezembro, pro-
priamente na província de Hubei, cidade de Wuhan.
Devido à sua perigosidade, a OMS a considerou
como Pandemia (doença que apresenta uma distribui-
ção em grande escala, espalhando-se por diversos paí-
ses), entretanto, embora a doença tenha um nível de
contaminação/ propagação fácil e rápida, há, também,
métodos de prevenção simples, dentre os quais o dis-
tanciamento social, a lavagem das mãos regularmente
com água e sabão, a desinfestação com álcool em gel e
o uso da máscara, este último item o tema central deste
artigo.
Existem diversos tipos de máscaras de protecção
respiratória como as: de cirurgia, as de esponja, más-
cara com respirador FFP3, máscaras com filtro de car-
bono e as de tecido ou pano, esta última, neste mo-
mento, tem sido muito usada na sociedade angolana,
devido à redução de custos financeiros, principalmen-
te, uma vez que esse tipo de máscara pode ser reutili-
zada, diferente das outras que não podem, desde que
se faça a devida higienização, ou seja, lavar com deter-
gente ou sabão e, posteriormente, engomá-la com o
ferro de engomar numa temperatura de 100 graus.
Os decretos presidências sobre o passado Estado
de Emergência e o actual de Calamidade, em Angola,
obrigam, num dos seus pontos, o uso em lugares fe- sas, isto é, as empresas começaram a fazer as máscaras personalizadas. Deu para ver que, devido a uma peque-
chados e alguns espaços abertos de máscara de pro- com a sua marca, para dar aos seus funcionários, e co- na investigação, em quase todo mundo, os angolanos e
tecção respiratória, dado que o uso da mesma por par- meçou, afinal, a disputa, qual é a melhor máscara? Que os brasileiros são os que mais estão com esta moda de
te das pessoas reduz muito a chance de infecção pelo máscara é mais bonita? usar máscaras personalizadas.
novo Coronavírus, sem esquecer que a mesma deve O que era para ser um meio de protecção, que impe- Olhando para todo esse contexto, posso concluir
ter duas camadas. Então, os angolanos optaram por de a contaminação do novo Coronavírus, uma vez que que, nos dias de hoje, a máscara de tecido personaliza-
passar a usar mais a máscara de tecido, por ser reci- o mesmo é transmissível pela boca, passou a ser moti- da passou a ter mais um cunho de vaidade e luxúria do
clável e mais acessível ao bolso do pacato cidadão. vo de vaidade para muitos. que de protecção, pois algumas pessoas, até, sentem
No meio da protecção, surgiu o espírito de vaidade, É visível, nos dias de hoje, na cidade de Luanda fun- vergonha, se estiverem ao lado de alguém que tenha
afinal todos queremos usar a máscara de tecido, mas damentalmente, as pessoas a usar máscaras personali- uma máscara personalizada e ela não tiver uma, outros
de preferência personalizada. Num abrir e fechar de zadas com os seus nomes ou logotipo de empresas, há vão até mais longe, sentindo inveja do próximo, por ter
olhos, as gráficas reinventaram a sua actividade, pois até pessoas que personalizam com o nome da sua/ seu uma máscara personalizada, mas o que temos de terem
há muitos dos seus serviços que não são possíveis fa- amada/o para exprimir os seus sentimentos, até às conta, nesta fase, é que devemos usar a máscara, seja
zer, neste período, e, com isso, começaram a produzir crianças, que muitas nos últimos dias, não têm saído ela personalizada ou não, porque o mais importante é
máscaras personalizadas, que tem sido o principal de casa, têm máscaras personalizadas. a nossa protecção, e não a exibição ou vaidade. V
serviço. Posso até afirmar, sem medo de errar, que já há pes-
Em princípio, as máscaras de tecido eram persona- soas a oferecer máscaras personalizadas como presen- * Licenciado em Língua Portuguesa e
lizadas com os nomes próprios das pessoas, depois co- te de aniversário, já que outro dia vi que até os noivos, Comunicação e CEO da Yurbel Consultoria
meçaram com a personalização por parte das empre- que contraem o matrimónio, estão a usar máscaras Textual.

Patrício
Batsîkama*
Patriotismo
A
ideia de “amar e servir in-
condicionalmente o seu
país” é uma construção ba-
seada em quatro pressu-
postos principais e convergentes: (a)
ideia de Nação; (b) alegoria a comuni-
dade; (c) inviolabilidade dos símbolos
de pertença; (d) defesa dos três pontos
acima mencionados.
Há três acepções sobre “ideia de Na-
ção”. Primeira: as pessoas são socio-on-
tológicas distribuídas e altamente dife-
renciadas, cuja unidade é, antes,
territorial e psicológica (sociocultural)
para depois ser política e económica.
Segunda: toda unidade pressupões
pluralidade. Natio é, etimologicamen-
te, uma convergência paralela e não se
tolera trair esta unidade em nenhuma
circunstância, o que leva a indivisibili-
Pela sua complexidade,
percebe-se que o
patriotismo é uma
construção.
dade simbólica.
Terceira: a institucionalização dos
dois domínios de violência simbólica:
(i) Estado, que pressupõe terra, povo,
etc. com legitimidade da força; (ii) So-
ciedade enquanto contraste do Estado,
onde existe, porém, a fonte existencial
da Natio.
Em relação a “alegoria a comunida-
de”, existe quatro fontes, nomeada-
mente: (a) antropomorfização da hon-
ra e distinção; (b) dogmatização da
Razão do Estado suportados pelas leis
e outras ferramentas institucionais;
(c) ritualização da Ordem como tea-
tralização do Poder legal; (d) celebra-
ção de amizade institucional e dialógi-
ca cuja utilidade codifica a
convergência paralela permanente. * Historiador
5
Vanguarda 12 / 06 / 2020
“Tenho a honra de, em nome do
povo angolano, do Executivo e no
meu próprio, felicitar o povo,
Governo português e Vossa
Excelência, pela
celebração
A inviolabilidade dos símbolos de
pertença substancia-se na semântica do 10 de Junho,
destes símbolos que, em tese, o seu
valor e garantia ultrapassam o egoís- Dia Nacional
mo de cada integrante. Assenta-se nos
aspectos socioculturais que, na expe- de Portugal”.
riência idiossincrática, confundem-se
com a Verdade, a Sublimidade e o va-
João Lourenço,
Presidente da República
Em termos de
princípios, ele não “Estamos a passar por um perío-
difere do simples
cidadão ao mais alto
mandatário de
do excepcional, como todos sabe-
qualquer país. mos, mas é preocupação do Exe-
cutivo angolano assegurar que
lor em si. O falar, a construção das
proposições, o sorrir e a complexida- existam menos despedimentos
de de interiorizar o que nos rodeia são
suas expressões vivas.
Pela sua complexidade, percebe-se
possíveis, e para isso é importan-
que o patriotismo é uma construção.
Em termos de princípios, ele não dife-
te que exista essa articulação que
re do simples cidadão ao mais alto
mandatário de qualquer país. Ele di-
temos estados a fazer”.
verge, contudo, pelo tamanho de res-
ponsabilidade e opções estruturais. Manuel Homem
Daí, alguns são extremistas e outros ministro das Telecomunicações e Tecnologias
moderados. de Informação e Comunicação Social
A partida, o patriotismo não favore-
ce a bajulação, nem tão pouco o cliente-
lismo. O cidadão serve tanto quanto o
alto mandatário. Ambos acreditam em “A operacionalização
Natio enquanto pertença colectiva pri-
mitiva (coisa pública).
m
da máquina do Estado, se for
Isto é, uma origem imutável das suas digita
digitalizada automaticamente,
diferenças. Dito de outra maneira, a
Natio é uma crença de pertença existen- s mais eficiente e criará
será
cial e apriorística que organiza os ar-
quétipos da colectividade.
be
benefícios. Então, é preciso
Desta forma, o patriotismo assenta- um plano estratégico do
se nos valores que definem o modelo do
servidor e defensor da pátria a partir
Estado para digitalizar
das virtudes relativas a inviolabilidade a sua governação.
dos símbolos da comunidade. V
António Nunes, CEO Angola Cables
6 Tema Da Semana
Vanguarda 12/ 06 / 2020
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Oposição
dividida
quanto ao
resultado da
execução das
medidas do
Executivo
A morte de cidadãos, causada pela
repressão dos agentes da Polícia Na-
cional, e as falhas no cumprimento
de algumas medidas, tidas impor-
tantes, levantaram críticas por parte
dos partidos da oposição com as-
sento parlamentar que, na hora de
avaliar a actuação governamental,
no período de excepção, aduziram
argumentos divergentes
texto Fernando Baxi
fotos Carlos Muyenga
Maurílio Luiele,
deputado da UNITA
O
s partidos políti-
cos da oposição
com representa-
ção parlamentar
têm opiniões dis-
cordantes, na ava-
liação do desem-
penho do
Executivo durante a vigência do Estado
de Emergência (27 de Março a 25 de
Maio), quebrando assim a unanimidade
demonstrada pelas respectivas forças
políticas, nos primeiros momentos do
período de excepção no País.
Lucas Bengui Ngonda, presidente da
Frente Nacional de Libertação de Ango-
la (FNLA), em declarações exclusivas
ao Vanguarda, dá nota positiva ao de-
sempenho do Executivo, durante a pri-
meira etapa do Estado de excepção,
porque, a seu ver, foram implementa-
das medidas que permitiram conter a
progressão da pandemia da COVID-19
em Angola.
O líder do partido dos Irmãos encara
com normalidade o montante (43 mil
milhões Kz) gasto pelo Executivo para
prevenir e combater o SARS-CoV 2,
novo coronavírus que acomete mais de
7,1 milhões de pessoas em todo o mun-
do, principalmente os Estados Unidos
da América que regista perto de 2 mi-
lhões de infectados.
“Na espectativa de se criar condições
para contrapor as projecções da Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS), se-
gunda a qual Angola atingiria 10 mil
casos de COVID-19 até Junho, o Execu-
tivo viu-se obrigado a gastar muito di-
nheiro. É muito normal que isso acon-
teça”, disse Lucas Ngonda.
“A Polícia Nacional e
das Forças Armadas
Angolanas têm a missão
de proteger o cidadão”
Lucas Ngonda evita tecer quaisquer
argumentos polémico sobre a matéria.
“Não podemos especular, apesar de ter
havido algumas informações nas redes
sociais a dar conta de desvio de fun-
dos”.
Apesar do voto positivo ao Executi-

vo, o líder da FNLA identificou algumas
falhas ocorridas durante a vigência do
Estado de Emergência, que na perspec-
tiva dele poderiam ser evitadas, se hou-
vesse maior rigor na implementação
das medidas programadas.
“As pessoas indicadas para abastecer
água potável (por intermédio de cister-
nas) gratuitamente aos munícipes mais
carenciados fizeram o contrário, ven-
deram. Foi um crime porque a medida
visava salvaguardar a vida dos cida-
dãos”.
Outra falha apontada por Lucas
Ngonda consiste no facto de o “Executi-
vo não ter disponibilizado fundos para
acudir os mais necessitados, como
aconteceu noutros países, aliás a cesta
básica nem chegou a um terço das po-
pulações carenciadas”.
Ngonda também criticou o compor-
tamento das forças de defesa e seguran-
ça durante o Estado de Emergência, ale-
gando que o agente da Polícia Nacional
e das Forças Armadas Angolanas (FAA)
têm a missão de proteger o cidadão e
pautar-se por uma postura digna.
O também representante da FNLA
no Parlamento aproveitou a ocasião
para repudiar os comentários do minis-
Lucas Ngonda,
deputado da FNLA
tro do Interior, Eugénio Laborinho, que
incentivavam a uma postura pouco or-
todoxa dos agentes da Polícia Nacional,
na abordagem com os cidadãos, em ple-
no Estado de Emergência.
Manuel Fernandes, deputado à As-
sembleia Nacional pela banca da CASA-
CE, também considera positivo o de-
sempenho do Executivo na primeira
fase do Estado de excepção, embora re-
conheça a existência de algumas falhas.
O parlamentar aponta o confinamen-
to domiciliar obrigatório como uma das
medidas positivas, pois, segundo o
mesmo, foi por este mecanismo que se
conseguiu manter os níveis de contá-
gios da COVID-19 abaixo da média pro-
jectada pela OMS, até Junho do corrente
ano.
Também contribuíram para o suces-
so das medidas adoptadas no combate à
COVID-19, na perspectiva do deputado
da CASA-CE, a cerca sanitária sobre a
província de Luanda e o encerramento
da fonteira nacional para o resto do
mundo.
À semelhança do presidente da
FNLA, Manuel Fernandes também con-
dena a violência policial, no decorrer
do Estado de Emergência e escusa-se a
fazer quaisquer comentários a respeito
do montante gasto pelo Executivo, no
âmbito das despesas efectuadas para o
combate à COVID-19.
O deputado da CASA-CE também cri-
ticou a postura da banca, pois (na opi-
nião dele) aquele sector ficou por cum-
prir a orientação de minimizar a
intervenção sobre o sector empresarial
privado.
“Na espectativa de
contrapor as projecções
da OMS, o Executivo
viu-se obrigado a gastar
muito dinheiro”
A UNITA, maior partido da oposição,
absteve-se na hora de avaliar a presta-
ção do Executivo, com o argumento de
que foi notória a incapacidade das auto-
ridades de impor as medidas de confi-
namento domiciliar e restrição de mo-
bilidade, sobretudo em áreas
7
Vanguarda 12 / 06 / 2020
Manuel Fernandes,
deputado da CASA-CE.
suburbanas e rurais do País.
O comportamento dos cidadãos,
quanto ao acatamento das medidas de
confinamento, deveu-se a imperativos
de sobrevivência, “facto que o Relató-
rio do Executivo omite”, como se pode
depreender no comunicado do Grupo
Parlamentar da UNITA, assinado por
Maurílio Luiele, primeiro vice-presi-
dente na Casa das Leis .
“A UNITA desde muito cedo apelou
para a necessidade de medidas vigoro-
sas para a contenção da COVID-19, por
isso manifestou-se favorável a Declara-
ção do Estado de Emergência e a sua re-
novação por considerar que este propi-
ciava o ambiente necessário à
implementação das medidas de isola-
mento e distanciamento social que são
imprescindíveis para conter a propaga-
ção do novo coronavírus”.
Os deputados dissidentes da CASA-
CE também se abstiveram de votar fa-
voravelmente o relatório sobre o Esta-
do de Emergência, apresentado pelo
Executivo na Assembleia Nacional
(AN). As razões apresentadas pelos
parlamentares (do outro lado da barri-
cada da CASA-CE) assemelham-se às
apresentadas pela UNITA. V
 VANGUARDA 1-10-2015

8 Tema Da Semana
Vanguarda 12 / 06 / 2020

PERÍODO DE EXCEPÇÃO

Executivo mostra-se à altura dos

desafios impostos pela COVID-19
O relatório expõe os resultados das actividades realizadas durante a vigência
do Estado de Emergência e perspectiva a implementação de medidas para a
continuidade do combate ao vírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19
texto Fernando Baxi foto Carlos Muyenga

A
inexperiência de todos os ac-
tores envolvidos sobre o com-
portamento do vírus SARS-
CoV-2 e da COVID-19 foi dos
principais constrangimentos que os ór-
gãos do Executivos enfrentaram na im-
plementação e controlo das medidas de
combate à respectiva doença, descreve
o Relatório das Actividades Realizadas
para o Controlo da Pandemia da CO-
VID-19, recentemente publicado.
Também consta dos constrangi-
mentos, segundo o relatório apre-
sentado recentemente pelo Executi-
vo, no Parlamento, a insuficiência de
meios de transportes, combustíveis,
lubrificantes e sobressalentes para
apoio às missões das autoridades sa-
nitárias e das forças de seguranças.
Outro elemento constrangedor re-
gistado na exposição oficial do Exe-
cutivo prendeu-se com a increduli-
dade das populações à doença da
COVID-19, levando ao não acatamen-
to inicial das medidas de isolamento
social e uso de máscaras individuais.
Os órgãos públicos, engajados no

As doações em bens
materiais foram em
maior dimensão
oferecidas pelo Estado
do Qatar e pela
República Popular
da China
processo de luta contra a pandemia,
depararam-se com dificuldade de
fornecimento de energia eléctrica no
interior das províncias, assim como
o abastecimento de água potável,
aliada às avarias das cisternas e mo-
to-cisternas devido ao mau estado
das estradas.
Outro constrangimento verificado
foi o défice de forças de defesa e se-
gurança para cobertura satisfatória
do território nacional, no controlo
do cumprimento das medidas pelos
cidadãos.
No âmbito do combate à COVID-
19, o Executivo perspectiva fiscalizar
a implementação e cumprimento das
medidas definidas para o período da
situação de calamidade pública, con-
forme o “Decreto Presidencial n.º
142/20 de 25 de Maio.
Ainda constam das perspectivas
do Executivo, a monitorização do
Plano Nacional de Contingência para
o controlo da COVID-19, descreve o
relatório que prevê, igualmente,
continuar o apoio institucional na
transportação e asseguramento de
bens adquiridos para contenção da
pandemia.
O Executivo perspectiva também
prosseguir a estratégia de investiga-
ção de casos, rastreio de contactos e
estabelecimento de cordões sanitá-
rios nos focos de transmissão da
doença.
Do plano, consta a instalação de
mais hospitais de campanha para a
além dos já instalados nas províncias
de Luanda, Cabinda e em curso na
Lunda Norte.
Prevê-se ainda a captação de mais
recursos financeiros para responder
às necessidades do Plano de Contin-
gência e da Sociedade em geral.
Ainda em relação à COVID-19, o
Executivo, no relatório, diz que o
cumprimento das medidas de preven-
ção e controlo durante o Estado de
Emergência e na Situação de Calami-
dade Pública, por parte de toda a so-
ciedade angolana, permitiu evitar a
propagação da doença pelo País.
O Executivo
perspectiva fiscalizar a
implementação e
cumprimento das
medidas definidas para
o período da situação
de calamidade pública
O vírus SARS-CoV-2 e a doença CO-
VID-19 em Angola, de acordo com o
relatório, está limitada à província de
Luanda, tendo o município de Talato-
na com maior número de casos, razão
bastante para manter até agora a cer-
ca sanitária na capital do País e deter-
minar cordões sanitários nos focos
de transmissão que se registam.
Durante o período de Estado de
Emergência, o Executivo recebeu
doações em bens materiais, alimenta-
res e valores monetários avaliados
em 4,2 mil milhões Kz; 5,5 milhões
USD e 772,2 mil euros, provenientes
de diversas entidades, descreve o re-
latório.
“As doações em valores monetários
foram maior proporção feitas pelos
bancos BAI, BNA, BNI E BFA e direc-
cionados em pagamentos efectuados
para compra de equipamentos e ma-
terial de biossegurança”.
O relatório também indica que as
doações em bens materiais foram em
maior dimensão oferecidas pelo Esta-
do do Qatar e pela República Popular
da China.
O Executivo disponibilizou, duran-
te o Estado de Emergência, 43 mil mi-
lhões Kz. V
PUB
10 Política
Vanguarda 12/ 06 / 2020
MAIS DE SETE MIL ASSINATURAS,
Cláussula da Lei dos Partidos
Políticos gera polémica
A Lei 22/10 dos Partidos Políticos está a ser “sancionada” por alguns círculos
da sociedade que defendem a revisão da cláusula de 7500 assinaturas e
outras burocracias como exigência para legalização de um projecto político.
texto Agostinho Rodrigues foto DR
A
Lei dos Partidos Políticos
emana que a inscrição de um
Partido Político é feita a re-
querimento de, no mínimo de
sete mil e quinhentos cidadãos maiores
de dezoito anos e no pleno gozo dos seus
direitos civis e políticos, devendo entre
os requentes figurar pelo menos cento e
cinquenta residentes em cada uma das
províncias do País.
O director executivo do Instituto An-
golano de Sistemas Eleitorais e Demo-
cracia (IASED) e coordenador do Obser-
vatório Eleitoral Angolano (OBEA), Luís
Jimbo diz que a exigência de 7500 colide
com alguns direitos e liberdades consa-
grados na Constituição da República.
Luís Jimbo adianta que não faz qual-
quer sentido manter a referida cláusula,
pois, segundo ele, a vigência e solidez de
um partido político leva anos, logo, um
pleito eleitoral não pode extinguir um
projecto anteriormente criado. “Isso
não contribui para estabilidade política
e muito menos para cultura democrática
num País com menos de 20 anos de al-
ternância democrática em cada cinco
anos”, diz acrescentando ainda que, a
cultura democrática deve ter muito tem-
po de vigência.
O director executivo do Instituto An-
golano de Sistemas Eleitorais e Demo-
cracia e coordenador do Observatório
Eleitoral Angolano a lei em causa visou
única e exclusivamente proteger os anti-
gos movimentos de libertação nacional
transformados em partidos políticos,
MPLA, UNITA e FNLA. “Os partidos po-
líticos devem demorar durante muito
tempo. Agostinho Neto para conduzir o
País a independência levou tempo, des-
de 1962 até 1979, o Partido Socialista
Português vem desde 1920”, afirmou,
ressaltando que criar uma ideologia po-
lítica, a doutrina leva muito tempo”, in-
sistiu o director do IASED.
Luís Jimbo admite mesmo que algo
está mal na Lei dos Partidos Políticos e
cita como exemplo a exigência de 150
assinaturas para conformação de uma
candidatura para as eleições autárquicas
e igual quantidade de assinaturas ao ní-
vel provincial para criação de um parti-
do político. “Parece uma loja que no dia
seguinte perde-se o alvará”, ironizou
Luís Jimbo, para quem a cláusula das
7500 assinaturas e a extinção de parti-
dos políticos “está a prejudicar a socie-
dade”.
Por sua vez, o jurista Albano Pedro
descreve a Lei dos partidos políticos,
fundamentalmente a cláusula das 7500
como “argumento impeditivo”. “Qual é a
importância desta cláusula se os parti-
dos políticos são descortinados pelo
voto?”, questionou Albano Pedro, numa
alusão de que a exigência das assinatu-
ras “força militâncias”. “De forma implí-
cita os subscritores acabam por ser mili-
tantes além de que está cláusula quarta
direitos”.
O também analista político entende
Penso que não há
qualquer tipo de
burocracia, não há
qualquer tipo de
barreiras dos cidadãos
em participar na vida
política nacional
que os cidadãos devem apoiar o surgi-
mento de partidos políticos, anulando-
se as 7500 assinaturas, pois os partidos
são “sujeitos ao voto” e a “extinção”. “No
âmbito do direito comparado, o sistema
brasileiro e sul-africano não encontram
respaldo em Angola. O sistema político
angolano neste quesito dificulta o exer-
cício democrático do ponto de vista do
multipartidarismo”, apontou.
Para o jurista e presidente da Associa-
ção Mãos Livres, Salvador Freire, o que a
lei estabelece deve ser cumprido por to-
dos os partidos políticos ou coligações
que pretendam ter “anuência para a vida
política no País”. “A lei determina 7.500

assinaturas e, naturalmente, são obriga-
ções que a própria lei determina e nisto
os partidos políticos e coligações ou as
comissões criadas para a constituição
destes partidos devem cumprir na inte-
Luís Jimbo admite
mesmo que algo está
mal na Lei dos Partidos
Políticos e cita como
exemplo a exigência de
150 assinaturas para
conformação de uma
candidatura
gra para que sejam credenciadas como
partidos políticos”, afirmou.
Salvador Freire discordou da tese de-
fendida pelo director do IASED, Luís
Jimbo e do jurista Albano Pedro referin-
do que a cláusula em polémica “não fere
a participação do cidadão na vida políti-
ca”, porquanto a lei estabelece as regras
que devem ser cumpridas. “Penso que
não há qualquer tipo de burocracia, não
há qualquer tipo de barreiras dos cida-
dãos em participar na vida política na-
cional”, explicou. V
Partidos políticos angolanos
Alguns partidos políticos extintos
por não concorrerem por duas
consecutivas em pleitos eleitorais,
art.33º, nº 4, alínea b, da Lei dos
Partidos Políticos
Dos 48 partidos extintos publicamos
parte dos mesmos, de acordo com
dados actualizados do Tribunal
Constitucional de Fevereiro de 2020.
FDA, POSDA, UNPD, PUNA
PDN, PC, PDRA, PAUD
MPR/SN, PAUS, ADLA
PCCA, PPLA, PAR, PP
PRPA, PRPA, PRA, ADAC
PSD, PAI, PSDA, PLPA
PIR, PSA, UNLDDA, PALDA
PDA, PREA, PSN, NA
PN, PSDA, TRD
Nas eleições gerais de 2012, por não
terem obtido 0,5% dos votos valida-
mente expressos, foram extintos 19
partidos políticos, a luz do artigo 33º, nº
4, alínea i, da Lei dos Partidos Políticos.
Foram extintos também nos últimos
pleitos eleitorais no País nove
coligações de partidos políticos,
nomeadamente CPO, ND, FUMA, UTPA,
CDO, CUP, UD-CPE, C.A.U e LUA.
LUÍS JIMBO
”O actual ordenamento
jurídico-político tem
consequências “penosas”
A
nalisando a Lei dos parti-
dos Políticos, Luís Jimbo,
director executivo do Ins-
tituto Angolano de Siste-
mas Eleitorais e Democracia (IASED)
e coordenador do Observatório Elei-
toral Angolano (OBEA) considerou
que o actual ordenamento jurídico-
político tem consequências “peno-
sas” e ónus aos líderes das organiza-
ções politicas.
Ultimamente surgem questiona-
mentos a Lei dos partidos políticos,
fundamentalmente no que se refere
a exigência das 7500 e todo um
processo burrocratico. Defende a
revisão da referida lei?
Por razões históricas na forma como os
partidos históricos foram formados,
assim como, nasceu o multipartidaris-
mo e das primeiras eleições de 1992; ao
contrário da Lei Constitucional de 1992,
a Constituição da República de Angola
de 2010 colocou os Partidos Políticos
com pedra angular do garante ao direito
dos cidadãos participaram na vida
pública consagrado no nº 1 do artigo
52.º da CRA e reduziu o direito e a
liberdade de associação política num
mero instrumento processual eleitoral
nas fases das candidaturas e da compa-
nha eleitoral.
Acha que as 7.500 assinaturas
inviabilizam a formalização de
projectos políticos?
Resultado deste contexto jurídico-
político angolano os Partidos Políticos
(PP) se formam ano antes do ano das
Eleições Gerais, e para as Eleições
Autárquicas, os novos Grupos de
Cidadãos (GC) são formalizados “tipo”
PP pelo Tribunal Constitucional no
mesmo processo de apresentação de
candidaturas das eleições autárquicas
com requisitos matérias igual aos de
criação dos PP mas agravada no número
de assinantes, uma vez que no municí-
pio se exige 150 mil assinaturas para
criação dos GC e na Província também
se exige 150 mil para criação dos PP.
Contudo, na fase do apuramento e
divulgação dos resultados eleitorais
definitivos pelo Tribunal Constitucio-
nal, os GC sem lugar na Assembleia da
Autarquia são extintos pelo efeito da
“declaração de prepositura” e qualquer
PP pode ser extintos por não participar,
por duas vezes consecutivas, isolada-
mente ou em coligação, em qualquer
eleição legislativa ou autárquica; ou não
atingir 0,5% do total dos votos expres-
sos nas eleições legislativas a nível
nacional, estabelecidos n.º4 do artigo
33.º da Lei 22/10 dos Partidos Políticos.
A clausula das 7500 assinaturas
quarta o direito de participação dos
cidadãos à cidadania?
Ora, a solução do problema do espaço
político partidário no contexto angola-
no não esta no numero exigido de
assinantes e muito menos no processo
de constituição dos Partidos Políticos,
mas sim, na falta de outras garantias e
instrumentos de participação e contri-
buição dos partidos políticos e das
associações políticas com assento ou
sem assento no parlamento nos espaços
democráticos e de decisão política a
nível nacional, provinciais e municipal
sem estar agarrado aos resultados de
cada ciclo eleitoral, como é por exemplo
em Moçambique. Por outro, a CRA
precisa melhorar o sistema eleitoral no
provimento para os cargos de Presiden-
te da Republica e de Deputados que
garante maior liberdade ao cidadão de
escolher e de participar directamente,
principalmente, a nível do Poder Local.
Exemplos destes sistemas são os da
Zâmbia e do Zimbabwe que tem um
modelo de governo Presidencialista
assim como em Angola.
É legitima a reclamação de alguns
sectores da sociedade neste quesi-
to?
Convenhamos entender que o multipar-
tidarismo angolano está a transformar-
se em bipartidarismo parlamentar entre
o MPLA e a UNITA com uma maioria
independentista de jovens potenciais
eleitores e activos civicamente. Ora
vejamos, nas primeiras eleições de 1992
concorreram dez Partidos e 4 coliga-
ções, reconheçamos que foi ordena-
mento jurídico favorável ao multiparti-
darismo e a liberdade de escolha para
candidatura de PR; a partir do ciclo
eleitoral de 2008 participaram 15
Partidos Políticos (PP) e foram extintos
cinco PP e cinco coligação de PP; em
2012 participaram 5 PP e 4 coligações
de PP foram extintos um PP e três
11
Vanguarda 12 / 06 / 2020
coligações de PP; nas eleições de 2017
participaram 5 PP e uma Coligação
nenhum extinto. Porém, ao contrário da
extinção cresce a população geral com
uma taxa de 65% de jovens e crescem
os dados estatísticos de abstenção
eleitoral.
A lei dos Partidos Políticos fere o
princípio de participação do cida-
dão?
Também o actual ordenamento jurídi-
co-político tem consequências “peno-
sas” e ónus aos líderes das organizações
politicas e os seus associados que
promove uma relação de pura conflitua-
lidade entre os seus membros porque a
lei obriga o PP nascer não só com 7500
membros distribuídos pelo território
nacional, mas como também exige
representação legal e sede a nível
provincial. Esta tarefa patrimonial é
muito onerosa, e associada a isso em
contexto pré-eleitoral com os custos e
mobilidade para campanha eleitoral é
uma “aventura política” com conse-
quências graves não só de gestão de
expectativas pós- eleitoral como
também de dividas e prejuízos patrimo-
niais para aqueles PP que são extintos
pelos resultados eleitorais, e para
muitos destes grandes líderes políticos
que põem fim à vontade do querer e de
acreditar no seu País. Neste contexto,
há PP que existiram menos de um ciclo
eleitoral de cinco anos, isso não
contribui para estabilidade política e
muito menos pra cultura democrática
num País com menos de vinte anos de
alternância democrática em cada cinco
anos.V
 VANGUARDA 1-10-2015

12 Política
Vanguarda 12 / 06 / 2020

Angola: um exemplo de expressão

na liberdade de imprensa (Parte 2)

A
Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos no seu artigo 19º, defende que
“Todos os seres humanos têm direito à
liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter
opiniões e de procurar, receber e transmitir infor-
mações e ideias por quaisquer meios e indepen-
dentemente de fronteiras”. Os progressos em An-
gola sobre a liberdade de imprensa são vivíseis. Há
degradação da liberdade de imprensa no mundo,
com o aumento da hostilidade e do ódio contra jor-
nalistas. A maior degradação ocorre no continente
americano, onde além dos EUA e do Brasil a situa-
ção tem piorado significativamente na Venezuela e
na Nicarágua, enquanto que o México continua a
ser o principal palco de homícidos de jornalistas
com 10 vítimas em 2018.
Nos EUA os jornalistas vêm os seus trabalhos
cada vez mais questionados pelas principais insti-
tuições políticas, sendo que os EUA perderam três
posições no ranking mundial da RFS em 2019. Os ronavírus e a posição dos países no Ranking Mun- cionalmente consagrado.
jornalistas europeus também estão sujeitos a mui- dial. A China e o Irão, (antes) focos da epidemia, As condições para o livre exercício do jornalis-
ta forma de intimidação e pressão e a um assédio instauraram sistemas de censura massivos. No Ira- mo poderão estar condicionadas com as diferentes
judicial crescente. que, a agência de notícias Reuters teve a sua licen- crises que cada vez mais se apresentam visiveis:
Jornalistas assasinados em Malta, Eslováquia e ça suspensa por três meses, algumas horas após a crise económica, crise de confiança, crise demo-
Bulgaria, e sofreram ataques verbais e físicos na publicação de uma notícia que questionava os nú- crática, crise tecnológica e crise geopolítica.
Servia e Montenegro. Na Hungria alguns partidos meros oficiais dos casos de coronavírus. Até mes- Hoje a liberdade de expressão é um valor que pa-
políticos continuam a desprezar os meios de co- mo na Europa, na Hungria, o primeiro ministro rece ser defendido por todos. Na prática, porém,
municação social. O assassinato do jornalista sau- Viktor Orbán aprovou uma lei chamada “coronaví- as ameaças a esse direito fundamental têm sido de-
rus” que prevê penas de até cinco anos de prisão fendidas com alguma selectividade. Quando ela é
para quem disseminar informações falsas, um atacada dos dois lados da polarização e defendida
Nos EUA os jornalistas vêm os meio de coerção completamente desproporcional. apenas quando convém, o resultado é um ambiente
O mundo vive hoje um momento difícil com efei- no qual é cada vez mais inseguro discutir temas
seus trabalhos cada vez mais tos multiplicadores decisivos para o jornalismo. sensíveis. De acordo com a edição 2020 do Ranking
questionados pelas principais Não é um momento normal e começaremos a viver Mundial da Liberdade de Imprensa, compilado
instituições políticas, sendo que as crises que comprometem o futuro do jornalis- pela Repórteres sem Fronteiras (RSF), demonstra
os EUA perderam três posições no mo. que a próxima década será decisiva para o futuro
ranking mundial da RFS em 2019. Os desafios futuros do jornalismo que cobre a do jornalismo. Angola ocupa a posição 106 ao con-
presidência de João Lourenço: o que está reserva- trário do lugar 109 de 2019 e 121 de 2018. A pande-
do para a mídia sob o novo governo do MPLA? mia da Covid-19 destaca e amplia as múltiplas cri-
dita Jamal Khashoggi, em Outubro de 2018, expôs Como os repórteres angolanos se adaptarão? ses que ameaçam o direito a informações livres,
de forma crua os riscos enfrentados pelos profis- Após trinta e oito anos no cargo, que legado da independentes, plurais e confiáveis.
sionais da Comunicação Social no médio oriente. mídia, José Eduardo dos Santos deixou e o que isso Quero, com este artigo de opinião, contribuir
Na China, a imprensa oficial controla os debates significa para os jornalistas de uma nova Angola? para uma reflexão sobre superação de uma realida-
públicos. A Noruega ocupa o topo da tabela da lista A Lei de Imprensa e um diploma que visa esta- de de intolerância, ódio crescente, guerras, racis-
dos melhores países do mundo, enquanto a Coreia belecer os princi pios gerais que devem enquadrar mo e ataques a jornalistas e fazedores de opinião,
do Norte assume o último lugar antes ocupado pelo a actividade da comunicac a o social, na perspecti- onde a comunicação com verdade é uma compo-
Turcomenistão. va de permitir a regulac a o das formas de acesso e nente essencial.
Existe uma correlação óbvia entre a repressão à exerci cio da liberdade de imprensa, que constitui Entre opinião, crónicas e ensaios esta é a minha
liberdade de imprensa durante a epidemia do co- um direito fundamental dos cidada os, constitu- visão! V
PUB
14 Grande Entrevista
Vanguarda 12/ 06 / 2020

O
José Octávio Serra Van-Dúnem programa de
transferência
social monetá-
ria (Kwenda),
para acudir os
mais vulnerá-
veis, recente-
mente lançado
pelo Governo, tem sido alvo de
críticas, devido aos valores consi-
derados exíguos e os critérios que
estão a ser usados para a seleção
dos alvos. O que lhe oferece dizer a
respeito?
Este programa de transferência so-
cial monetária (Kwenda), que terá a du-
ração de um ano, visa, em nosso enten-
der, o reforço do sistema de protecção
social implementado pelo Executivo e
até aí é uma decisão que deve ser aplau-
dida. Contudo, o problema coloca-se ao
nível de se saber qual o passo seguinte
ou, melhor, qual o seu objectivo e aqui
pensamos que é fundamental incluir as
famílias na cadeia produtiva, e em acti-
vidades geradoras de rendimentos,
porque só desta forma se poderá con-
tribuir para a sua sustentabilidade e au-
tonomia. Por outro lado, a transferên-
cia social monetária, imediata, com
base em programas bem estruturados é
importante, mas não suficiente para
uma condição de cidadania mais ampla,
sendo necessário investimentos em
saúde e educação.
Será o começo de uma nova era
para a resolução dos problemas
sociais?
O programa pode sim ser um começo
de uma nova era da questão da inclusão
social. A pobreza para onde estes
programas são dirigidos deve ser
compreendida como um fenômeno
multidimensional, pedindo uma
estratégia global de articulação da
política económica com a política
social, não devendo esta última ser
vista como uma questão marginal,
assistencialista ou meramente com-
pensatória. Um outro aspecto funda-

“A situação actual
mental, em nosso entender, é olhar

vai obrigar as lideranças

a pensar em políticas
públicas adequadas”
O Sociólogo e filósofo, José Octávio Serra Van-Dúnem,
diz que não podemos ter ilusões, porque pode ser que
haja necessidade de o País vir a implementar medidas
económicas com impacto muito duro na vida das
famílias, no sentido de mitigar os efeitos da pandemia.
texto Estêvão Martins fotos Walter Fernandes
 15
Vanguarda 12 / 06 / 2020

com muita atenção para os contextos
em que os municípios e populações
mais vulneráveis se encontram.
Em função do custo de vida actual,
qual é o valor que julga ideal para
acudir as necessidades dos mais
desfavorecidos, no âmbito deste
programa?
Começaria por lhe dizer que não há,
nestas situações um valor ideal, mas
como é necessário ter uma referência,
pensamos que o valor referente a cesta
básica poderia ser um ponto de partida
aceitável.
Face aos constrangimentos vigen-
tes, acredita ser viável o reinício
das aulas no calendário determina-
do pelo Executivo?
O reinício das aulas implica pensar-se
de forma realista nos vários cenários
que temos disponíveis, sendo o
primeiro deles, a dificuldade de
alinhamento da necessidade de se
cumprir o calendário, com as condi-
ções reais das escolas, das famílias, da
sociedade e de se cumprir com o
recomendado pelas autoridades
sanitárias internacionais e nacionais. A
pandemia criou um novo ambiente de
sociabilidade, ao qual não se pode
fugir, ao invés, deverá ser o ponto de
partida. Neste sentido, talvez não fosse
de dispensar a possibilidade de um
calendário alternativo a começar em
Setembro com término em Junho, para
posteriormente, se voltar gradualmen-
te ao calendário normal que existia.
Este nosso entendimento, advêm do
facto que a pandemia ainda está em
curso e não conhecemos o seu desfe-
cho, pelo que só é recomendável e
possível ir encontrando acções alterna-
tivas que permitam não se perder tudo,
mas alinhar as necessidades, no caso
de se salvar o ano lectivo.
Este entendimento se adequa a
todos os níveis de ensino?
Pensamos que se identificam mais
questões transversais, no sentido das
dificuldades, em relações a todos os
níveis de ensino, do que aquelas que as
diferenciam. Por último, entendo que
poderia proceder-se a um trabalho de
auscultação a nível nacional, porque
pensamos que se calhar o país não está
todo a viver esse momento como
Luanda, então impõe-se ter isso em
conta, com os principais actores, pais,
professores, sindicatos, tutela (de
forma representativa) para uma
avaliação realista de como se avançar.
Nos últimos anos o País ganhou
várias universidades e institutos
superiores, mas ao mesmo tempo
questiona-se a qualidade do ensino
praticado nessas instituições. O
que estará na base deste fenómeno
na sua opinião?
Sem cairmos em lugares comuns nessa
abordagem, vamos de forma directa, e
concreta, dizer o que pensamos e o que
nos preocupa. E começamos por pensar
que o problema está na primeira parte
da sua pergunta, diz que o País ganhou
várias universidades e institutos
superiores (IES), se calhar antes disso
acontecer, dever-se-ia ter feito um
estudo profundo, com todas as variá-
veis que nos pudesse dar indicadores
precisos sobre o estado da arte do que
tínhamos. Queremos com isso dizer
que se impunha e se impõe (re) pensar
que qualidade de ensino temos e
queremos no ensino superior. Por
outro lado, uma reflexão sobre esta
temática, pode parecer uma visão
redutora se isolada da problemática
mais ampla que é pensar-se no produto
que a universidade recebe, trabalha e
entrega a sociedade. Fugindo do
circulo vicioso que um autor, Evandro
Amaral, num estudo muito interessan-
te sobre o sistema de ensino em
Angola, referiu que uma das dificulda-
des de se ter melhorias no ensino e
educação em Angola, tem a ver com a
culpabilização do outro, no caso:
professores que culpam alunos; alunos
que culpam professores; a sociedade
que culpa o governo e por aí vai. Ou
seja, em sistema fechado de vitimiza-
ção, onde não é possível encontrar
saídas.
Como acha que se mudar o quadro?
Como temos referido, este quadro só
poderá ser ultrapassado se todos os
envolvidos cumprirem a sua parte em
relação a uma agenda bem definida,
sobretudo em relação as três tarefas
fundamentais que a universidade
precisa de cumprir: ensino, investiga-
ção e extensão. Ora, temos todos
consciência que muitas das IES não
estão comprometidas com essa
obrigatoriedade, pelo contrário
denominam-se IES sem preencherem
os requisitos mínimos para tal, seja em
infraestruturas, capital humano, ou
mesmo programas que permitam que
os alunos desenvolvam capacidades
que lhes permita enfrentar o mercado
de trabalho cada vez mais exigente e
competitivo. Neste sentido temos
presente o olhar do sociólogo Claus
Off, que diz que as IES transformadas
em máquinas de produção de diplomas
no vazio, contribuem para a criação de
um exército de reserva que, no limite,
certifica muita gente que, em termos
práticos, não chega nunca a entrar no
mercado de trabalho, por falta de
competências. Na aula de sapiência de
abertura do ano lectivo deste ano na
UMA, fomos enfáticos ao sublinhar que
o reverter deste quadro depende de
nós, assumindo que a universidade tem
que olhar para dentro de si e avaliar-se,
para além de se submeter a avaliação
externa.
Ao mesmo tempo, observa-se uma
fraca aposta na pesquisa e na
investigação científica para a
criação de condições de desenvolvi-
mento. Como reverter esse quadro?
É importante que haja uma definição
clara de que forma é que vamos criar,
ou desenvolver centros de excelência,
de pesquisa nos vários domínios do
conhecimento. Ora, isso só será viável,
em nosso entender, se forem criados
pressupostos, começando pelo estatuto
da carreira de investigação científica,
de forma a que a carreira seja atraente,
motivante. Criação de órgãos de
fomento com possibilidades de
financiamento robustos. É necessário
que órgãos de fomento se encarreguem
de estabelecer políticas que incentivem
apresentação de projectos de pesquisa,
que possam ser financiados e cujos
resultados possam servir de “pano de
fundo” para implementação de políti-
cas públicas, possam ser publicados,
divulgados etc. Numa palavra só, nunca
na história da humanidade, houve
tanta demanda social pelo saber
científico, pelo que o desenvolvimento,
como tal, está dependente da forma
como encaremos o desafio do conheci-
mento científico. O momento actual,
com a pandemia da COVID 19, é disso
um grande exemplo.
Como professor, como olha para as
aulas à distância, como tem sido
adoptado na generalidade dos
países?
Neste período de confinamento dei
aulas à distância para um curso de
mestrado, para uma Universidade fora
de Angola. Ficamos com a ideia de que
é algo que veio para ficar, embora seja
necessário ter presente que essa
experiência, em nosso entender, ainda
tem um caminho a percorrer, tendo em
conta a nossa realidade. As experiên-
cias de ensino à distância mostram
tanto para alunos como para professo-
res um jeito novo de aprender e
ensinar. No nosso caso específico é
preciso ter um suporte técnico que não
falhe, estamos a pensar na velocidade
da internet, no acesso a tecnologia, por
parte da maioria dos alunos, nas
condições de pudermos dar as aulas
por videoconferência, na disciplina que
se impõe por parte de quem dá e quem
recebe as aulas, na preparação das
matérias a leccionar, etc. Agora,
parece-me incontornável que pense-
mos que daqui para frente essa possibi-
lidade vai ser cada vez mais aproveita-
da, sobretudo na óptica de optimizar
custos, com retorno garantido de
resultados.
O teletrabalho tem ganho terreno
neste contexto. Quais os prós e

“
contras deste regime, na sua
opinião?
O teletrabalho à primeira vista parece
só ter vantagens. Segundo especialis-
O reinício das aulas implica tas, o trabalho em Home office propicia
pensar-se de forma realista nos uma maior conciliação entre a vida
profissional e familiar, reduz despesas
vários cenários que temos empresariais e inclusive, aumento de
disponíveis, sendo o primeiro produtividade. Contudo, a par das
deles, a dificuldade de vantagens indicadas, observamos
desvantagens, como sejam o sedenta-
alinhamento da necessidade de rismo cresce; aumenta o risco das
se cumprir o calendário, com as pessoas não se desconectarem; de
trabalharem mais horas do que as
condições reais das escolas, das habituais; a identificação do funcioná-
famílias, da sociedade e de se rio com a empresa pode diminuir com
cumprir com o recomendado o aumento do isolamento; o controle
do desempenho dos funcionários pode
pelas autoridades sanitárias tornar-se mais complexo ao ser feito à
internacionais e nacionais. distância. Por último, do ponto de vista
social, poderá existir uma redução das
relações interpessoais que são a base
da sociedade, para além da possibilida-
16 Grande Entrevista
Vanguarda 12/ 06 / 2020
de de se aumentarem as diferenças
sociais com base na desigualdade no
acesso as novas tecnologias. Neste
sentido, entendemos que a adaptação
ao teletrabalho não é uma tarefa fácil e
depende da personalidade de cada um
de nós. O que pode parecer de fácil
adaptação com o passar do tempo pode
tornar-se entediante e ter resultados
negativos na relação laboral, emprega-
dor, empregado e sociedade. Neste
sentido se foi um facto que o teletraba-
lho foi o mecanismo mais rápido que as
empresas e as organizações encontra-
ram para dar resposta, ao quadro
criado pela pandemia em todo mundo e
também há a percepção de que veio
para ficar, é necessário que se façam os
estudos e enquadramentos contextuali-
zados para a sua implementação de
forma contínua.
À luz da comissão criada pelo
Presidente da República, o que
deve ser alterado nos manuais
escolares?
Não sendo uma das minhas áreas de
trabalho, parece-nos que a primeira
abordagem que deve ser feita, ou
melhor, alteração dos manuais deverá
ter a ver com erros grosseiros que
foram identificados nos actuais
manuais. Pensamos que se pode e deve
aproveitar esse momento para rever
conteúdos, pois muito se tem falado
sobre os mesmos, orientados para uma
melhor aprendizagem de conhecimen-
tos por parte dos alunos. Não nos
podemos esquecer de que os manuais
escolares representam o primeiro
contacto dos alunos com um mundo
novo, o do conhecimento, logo não
podem ser defraudados logo de início.
Quais são os desafios, do ponto de
vista social, que a COVID-19 impõe
à governação do presidente João
Lourenço?
A COVID-19, como já foi referido
muitas vezes, trouxe para a nossa vida
comum um conjunto de desafios,
ligados a problemas sociais, alguns dos
quais vindos de longe, que contribuem
para o acentuado nível de pobreza que
as nossas comunidades vivem. É
evidente que o Executivo não estava a
espera da pandemia e dos seus efeitos,
para colocar em marcha um programa
de governação adequado a esse
momento e realidade, mas terá que
repensar e redirecionar as suas acções
e programas, sobretudo aqueles que
poderão e deverão ter um maior
impacto junto da população mais
vulnerável. Mesmo porque a COVID-19
atinge de forma muito desigual os
vários níveis da sociedade, pelo que
todos sabemos que, por exemplo a
franja da sociedade cujas almofadas
sociais não existem, estão mais expos-
tas a pandemia e, no nosso caso,
infelizmente, é a maioria da população.
Então, o que esperamos é que o social,
a par com o económico esteja na
agenda dos programas a serem imple-
mentados, não de forma retórica, mas
que haja a sensibilidade de levar os
beneficiários para a solução dos
problemas, criando condições de
possibilidade de os ouvir. Pensamos e
esperamos que neste desafios de
redução eficaz das assimetrias sociais,
no pós COVID-19, se tenha atenção
necessária, para que mais a frente não
tenhamos que recuar por inadaptação
de tais programas a uma realidade que
já se fazia presente.
Neste período de
confinamento dei
aulas à distância
para um curso de
mestrado, para uma
Universidade fora
de Angola.
A COVID-19 veio provar que se deve
investir cada vez mais na saúde.
Qual é a quota do OGE que defende
para este sector, no seu ponto de
vista?
Defendemos que o OGE deve transpa-
recer as grandes prioridades que o País
deve ter nomeadamente os domínios
da saúde e da educação. Pensamos que
a quota deverá ser aquela que melhor
possa, no imediato, dar resposta aos
problemas já identificados e aos
programas, como acima referimos, que
podem dar solução.
À semelhança da COVID-19, acha
que o Governo deveria dedicar a
“
Pensamos que o
País terá de tirar
lições da pandemia
da COVID-19.
Portanto, no médio
prazo, as
consequências
serão no sentido se
(re) pensar toda
forma de
estar e ser.
mesma atenção no combate, por
exemplo, à malária, principal
causa de morte em Angola?
Sim, mas isso só é possível fazê-lo com
investimento. Sabemos que o País vive
uma crise financeira sem precedentes,
mas o que fazer, perante a urgência de
termos saúde e educação, como áreas
fundamentais para responder ao
Covid-19 e a outras pandemias, como a
malária que é a principal causa de
morte no nosso País.
O País se encontra em Estado de
Calamidade Pública, devido a
pandemia da COVID-19, que alterou
o modus Vivendi da população. No
médio prazo, que consequências o
País terá fruto da pandemia?
Pensamos que o País terá de tirar lições
da pandemia da COVID-19. Portanto,
no médio prazo, as consequências
serão no sentido se (re) pensar toda
forma de estar e ser, das pessoas, das
comunidades e da sociedade em geral.
Tudo o que mexe com a economia, com
a sociabilidade está e vai sofrer um
impacto brutal que deve obrigar as
lideranças dos países a pensar políticas
públicas adequadas para aliviar os
efeitos menos bons de medidas duras
que se foram impostas à população,
pois isto não se vai resolver com o
trinómio, álcool gel, máscara e lavar as
mãos. Estamos a dizer que não pode-
mos ter ilusões que pode ser que haja
necessidade de se implementarem
medidas económicas duras, com
impacto muito duro na vida das
pessoas e das famílias, mas o que se
espera é que haja sempre o bom senso
de ao mesmo tempo promover, acções,
programas de alívio, sobretudo, como
também já referimos, para as famílias
que se encontram em situação de maior
vulnerabilidade. Pensamos que o
desafio, em termos sociológicos, é ir
para além do assistencialismo e
enfrentar o desafio da integração das
famílias, através do emprego, pois só
dessa forma vamos dar estabilidade as
famílias e contribuir para coesão
social.
É possível apelar para a responsa-
bilidade social das empresas, numa
altura em que se debatem com os
efeitos da COVID-19?
A COVID-19 veio deixar as empresas,
de uma maneira geral, num quadro
muito delicado e de fragilização visível.
Pensar em responsabilidade social,
neste cenário, é complicado, mas ainda
assim, é possível desenvolver um
trabalho dentro das organizações e das
empresas criando e desenvolvendo o
espírito da solidariedade. Este conceito
de solidariedade, está intimamente
 17
Vanguarda 12 / 06 / 2020

ligado as relações de confiança que é
preciso ter em conta em momentos de
crise, como o que estamos a viver.
Na sua opinião, há condições para a
realização das eleições autárquicas
em Angola, ainda este ano, apesar
dos efeitos da pandemia?
Os decisores políticos melhor avaliarão
essa possibilidade, aliás já foi dito que o
calendário em relação as autarquias é
para ser cumprido. Em nosso entender
pensamos que o desenvolvimento da
pandemia e os seus efeitos poderão
condicionar esse desfecho, mas não
vejo nisso um problema, já que neste
momento estamos todos à braços com
um problema maior de saúde pública
com contornos muito complexos.
Costuma dizer-se que em momentos
como este, não adianta entrarmos em
discussões que nos possam tirar do foco
principal, que no caso é mesmo o
combate à COVID-19, mesmo porque os
vários estados de emergência que
vivemos e o Estado de Calamidade que
vivemos, mexeu com a vida das comuni-
dades e vai levar algum tempo a
voltarmos a normalidade da vida
quotidiana e social. Contudo, isso não
significa que se tire da agenda a questão
das autarquias, mas que se pense nelas
tendo em conta o contexto real em que
nos encontramos.
Sendo sociólogo, como olha para as
consequências do confinamento?
São todas negativas, ou há algo
positivo?
O confinamento social por si só é um
constrangimento, sobretudo porque
implica limitar a mobilidade das
No após COVID-19
Se tenha atenção necessária, para que mais a frente não
tenhamos que recuar por inadaptação de tais programas
a uma realidade que já se fazia presente.
pessoas. No caso presente, o lado
negativo é exactamente esse, o da
necessidade de alterarmos os nossos
hábitos e relações sociais, mas por
uma causa mais do que justa, se
pensarmos que o confinamento foi e é,
a única forma de reduzirmos o contá-
gio e o crescimento da pandemia,
assim o dizem os especialistas de
saúde. Ao confinamento está ligado o
isolamento social que em muitos casos
não foi cumprido na íntegra, seja por
impossibilidade de muitos cidadãos
cuja vida profissional se faz na rua e da
rua. Estamos a falar dos cidadãos que
dependem do mercado informal para
ganharem o seu sustento, seja por um
conjunto, não tão pequeno como isso,
de cidadãos que pura e simplesmente
desrespeitou as orientações das
autoridades sanitárias, colocando em
risco a sua vida e a vida da comunida-
de. Podemos até entender que num
primeiro momento o efeito surpresa
da pandemia fez a sua parte, no não
cumprimento das medidas que si
impunham, mas no momento seguin-
te, parece-nos ter havido alguma falta
de consciencialização do perigo
iminente.
Que balanço faz do combate à
corrupção e outras práticas lesivas
ao erário, visto que prosseguem os
casos de gestão danosa da coisa
pública?
O combate a corrupção deve ser
entendido como um contínuo, um
processo que não deverá ter uma data
término pré-defenida, pois ela, a
corrupção, enquanto crime é também
um fenómeno social, que como todos os
fenómenos sociais, deve ser estudado,
diagnosticado, interpretado e combati-
do. Esse combate deve em nosso
entender ter um lado ligado a trans-
gressão da lei, e neste sentido a defini-
ção penal da corrupção representa uma
parte fundamental da realidade da
corrupção, que diz respeito. Mas por
outro lado, é necessário desenvolver
um trabalho pedagógico, de educação
no sentido de alinhar o cidadão a boas
práticas dentro da sua esfera privada e
pública. Aqui é preciso frisar que esse
processo de aprendizagem deve ser
abrangente, inclusive aos órgãos de
justiça e seus actores, que têm a respon-
sabilidade de criar e fazer funcionar os
mecanismos de combate a corrupção.
Entendemos que no caso do nosso país,
o caminho ainda é longo, mas já se está
caminhando, sobretudo desenvolvendo
a ideia do combate a impunidade e a
corrupção é condição incontornável
para seguirmos para um entendimento
social, assente na coesão social e no
normal funcionamento das Instituições.
Como avalia o combate de forma
sociologicamente?
Diríamos que ainda é cedo para uma
avaliação concreta, pois sociologica-
mente essa avaliação não deve ser feita
a partir de casos isolados, mas sim, de
resultados mais gerais sobre o impacto
de mudanças de comportamento no
conjunto mais amplo, que é a sociedade
como um todo. Então, a ideia que deve
prevalecer é que estamos perante um
compromisso político de governação,
que pede a participação de governantes
e governados, sobretudo se pensarmos
que a questão da corrupção significa
pensar os elementos ligados à própria
moralidade da política e da sociedade,
como disse Alexis Tocqueville, ao
discutir o interesse bem compreendido.
Isso leva-nos a entender a corrupção
em confronto com a própria democra-
cia, a qual representa o regime dos
interesses , sem os quais não se domes-
ticam as paixões e, muito menos, se
pode pensar um valor típico de socieda-
des que se pretendem democráticas.
Os próximos meses vão ser comple-
xos, com a economia fortemente
deprimida e o Governo sem muita
capacidade para acorrer ao comba-
te à pobreza. Qual a mensagem que
deve ser passada às populações
neste contexto?
A mensagem deve ser de proximidade e
esperança, com exemplos que consoli-
dem relações de confiança, no sentido
de um caminhar conjunto para se
ultrapassar o momento de stress, mais
um dos muitos já vividos, que as

“
populações vivem. Podem existir
muitas dificuldades, mas tudo depende
da forma como essa mensagem é
O combate a corrupção transmitida e chega ao cidadão. V
deve ser entendido como
um contínuo, um processo BI
que não deverá ter uma José Octávio Serra Van-Dúnem
data término pré-defenida, Sociólogo, professor Catedrático
pois ela, a corrupção, da Faculdade de Direito da Univer-
enquanto crime é também sidade Agostinho Neto é director
um fenómeno social. do Centro de Estudos Jurídicos,
Económicos e Sociais (CEJES) da
Universidade Agostinho Neto. É
também professor Convidado da
Faculdade de Direito da Universi-
dade Nova de Lisboa e pesquisa-
dor convidado da Faculdade de
Educação da Universidade Federal
de Pelotas (Brasil).
 VANGUARDA 1-10-2015

18 Sociedade
Vanguarda 12 / 06 / 2020

RELATÓRIO DO INE

Estudo revela que 41% dos angolanos

estão no limiar da pobreza
O relatório destaca ainda que a pobreza é maior nas províncias do Cuanza Sul,
Lunda Sul, Huíla, Huambo, Uíge, Bié, Cunene e Moxico.
texto Luzia dos Santos foto DR

O
índice de pobreza em Angola
atinge 41% dos cidadãos, o
que significa que 41 em cada
100 angolanos têm um nível
de consumo abaixo da linha da pobreza
(12.181 Kz/ mês).
Os dados vêm expostos no “Relatório
de Pobreza Para Angola 2020”, lançado
recentemente pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE). O informe indica ainda
que 56% do total da população pobre re-
side nas áreas rurais, 44% na zona urba-
na, sendo que o índice da pobreza é de
10%, isto é, o défice médio do consumo
por pessoa abaixo da linha da pobreza.
Constata-se no relatório que o índice
de intensidade da pobreza é de 4%, me-
dida que reflecte a severidade da pobre-
za, tendo em conta a desigualdade exis-
tente entre os pobres.
O relatório aponta ainda que os índi-
ces de pobreza apresentam valor altos
nas áreas rurais, em relação as zonas ur-
banas. Ao analisar a pobreza por sexo, o
documento revela que não existem dife-
renças significativas para ambos, sendo
superior para os homens com 40,8% e
mulheres com 40,2%.
O relatório demonstra, por um lado,
que analisando por província destacam-
se cinco regiões com o índice de incidên- cias do Bié (53%), Huambo (52%), Lun- Os números revelam igualmente que crianças dependentes, os agregados fa-
cia inferior à média nacional, nomeada- da Sul (49%), Uíge (45%), Cuanza Nor- 55% da população com o ensino primá- miliares sem crianças dependentes são
mente Luanda, Lunda Norte, Cabinda, te (44%) e Moxico (43%). rio é pobre, enquanto apenas 17% da menos pobres (17%), ao passo que os
Cuando Cubango e Zaire). Nas áreas rurais 16 províncias estão população que tem ensino secundário agregados com três ou mais crianças re-
O relatório destaca ainda que a pobre- acima da média nacional excepto Cabin- ou mais alto é pobre. presentam 48% dos pobres.
za é maior nas províncias do Cuanza Sul, da (39%) e Lunda Norte (32%). Já as O relatório mostra igualmente, que a O relatório aponta que a actividade e
Lunda Sul, Huíla, Huambo, Uíge, Bié, Cu- províncias do Moxico (81%) e Cunene pobreza está também positivamente ocupação do chefe do agregado, influen-
nene e Moxico, onde mais de metade da (68%) apresentam o maior número de correlacionada com a composição do cia na condição de pobreza.
população vive no limiar da pobreza. pobres que residem na área rural. agregado familiar. Ou seja, a população “A pobreza é maior entre a população
Já as províncias do Namibe, Benguela, Por seu lado, as províncias do Uíge, que vive em agregados com maior nú- que vive em agregados cujo chefe está
Malanje, Cuanza Norte e Bengo apresen- Lunda Sul, Huíla e Moxico apresentam mero de crianças dependentes são, em desempregado (43%) do que entre a po-
tam a incidência entre 42% a 48%. os índices de intensidade mais elevados geral, mais pobres. pulação residente em agregados em que
“Luanda é a província que apresenta o 7% e 9%. Ao contrário da população que vive o chefe está empregado (42%)”, lê-se no
menor índice de incidência com 20%, O relatório mostra também que os ín- em agregados com maior número de documento do INE. V
enquanto o Cunene e Moxico apresentam dices de pobreza mais elevados se acen-
o maior índice de incidência com 62%”, tua na população com 65 ou mais anos
refere o documento. de idade: incidência 43,7%, profundi- Incidência
c dê c eme relação
e ç o ao chefe
Índice mais elevados
dade 12,7% e intensidade 5,8%. Os ín-
dices abaixo da média nacional encon-
do agregado familiar
Por outro lado, as províncias do Cune- tram-se nas idades inferiores a 34 anos
ne, Bié e Moxico apresentam o índice de de idade. Relativamente à ocupação do chefe do agregado familiar, com base no relatório, a
pobreza mais elevados 16% e 18%, res- De acordo ainda com o documento do incidência da pobreza é maior entre aqueles que vivem com um chefe de agregado
pectivamente. Com 4%, sendo o índice INE, o nível de escolaridade da popula- que trabalha por conta própria 51% em relação aos que trabalham por conta de
mais baixo estão as províncias de Cabin- ção está claramente associado à situação outrem com 27%.
da, Luanda e Lunda Norte. de pobreza no País. Os dados mostram Entre os chefes assalariados, os que trabalham no sector público e privado vivem
Entretanto, a distribuição do índice que quanto mais elevado é o nível de es- situações de pobreza consideravelmente menores em comparação com os que
de incidência situa-se acima da média colaridade da população, mais baixo o trabalham por conta própria. A população cujo chefe do agregado trabalha com
nacional nas áreas urbanas das provín- nível de pobreza. familiares representa 56% dos pobres.
 VANGUARDA 1-10-2015
Paulo de Carvalho*
“Sofro de uma doença rara,
a arterite de Takayasu”
C
hamo-me Lumena Sacingonge, tenho hoje 41
anos de idade e vivo há 25 anos com uma
doença rara, a arterite de Takayasu. Nasci
em 1979, na Quibala. Os meus pais são de
duas aldeias da comuna de Kariango, também no Kuan-
za-Sul.
Cresci saudável, até que aos 16 anos comecei a sentir
picadas no peito e dificuldade a andar. Estudava então a
6ª classe, na escola Ngola Nzinga, aqui em Luanda. Pen-
sava então que eram dores passageiras, motivadas pelo
cansaço. A minha primeira gravidez foi particularmente
dolorosa, mas pensei que se tratava de dores provocadas
pelo estado de gestação.
O meu primeiro desmaio ocorreu no ano 2003, quan-
do trabalhava como enfermeira numa clínica privada de
Luanda. Na altura, tendo eu dois empregos (o segundo
era num cartório notarial), o médico deu conta de uma
mancha no pulmão esquerdo.
Sempre que engravidasse, lá vinham as dores e a difi-
culdade para andar. Devido a esses problemas, tive de
preterir um dos empregos. Optei por manter o emprego
no cartório, deixando de ser enfermeira (que era o em-
prego mais cansativo).
Este médico sugeriu que fosse a
Lisboa fazer uma cirurgia, o que
veio a ocorrer em 2012. Apesar de
ter melhorado logo a seguir à
cirurgia, a verdade é que logo
depois as dores e a fadiga
aumentaram.
Em 2006, na minha última gravidez, tive de ficar na
cama durante 5 longos meses. Não conseguia andar, sen-
tia grande cansaço e tinha dores no peito e tonturas. Mas
depois do parto, voltei a sentir-me melhor. Não comple-
tamente bem, mas sentia-me bastante melhor do que no
período da gestação.
Porém, os problemas continuaram e, em 2012, fui a
Cuba para consultas médicas. Em Havana, foram-me dia-
gnosticados gânglios linfáticos dilatados, para além da
constatação de que o meu organismo resfriava com de-
masiada facilidade. Pensava ter encontrado a causa para
todo o meu sofrimento; mas estava ainda longe disso…
Depois de Havana, surgiram novas queixas, incluindo
fortes dores de estômago. Por essa razão, em Dezembro
do mesmo ano, fui a Windhoek, onde me foi diagnostica-
da uma gastrite.
Fiz o tratamento contra a gastrite, mas a verdade é
que as dores no peito se mantinham. Por essa razão, os
meus familiares decidiram enviar-me ao Brasil no ano
seguinte, para novas consultas e exames médicos.
Uma vez que os gânglios tinham aumentado ainda
mais de tamanho, fiz em S. Paulo uma cirurgia, com a re-
tirada de um dos gânglios, para estudo durante 2 meses.
Foi também confirmada a gastrite, para além de se ter
detectado que a artéria aorta estava dilatada, com 3 milí-
metros a mais.
De regresso a Luanda, as dores aumentaram e come-
cei a perder a memória. Aumentou também a dificuldade
para pôr os pés no chão e para andar. E foi-me apresenta-
da a forte possibilidade de ter tuberculose.
Fui então encaminhada ao Dr. José Roberto, cardiolo-
gista. Foi este médico angolano que pediu uma tomogra-
fia, graças à qual detectou a não visualização da artéria
subclávia esquerda, que terá sido um bom passo para se
saber de que doença padecia realmente. Porque até aí só
tinham sido detectadas consequências e nunca a real
causa do meu sofrimento.
Este médico sugeriu que fosse a Lisboa fazer uma ci-
rurgia, o que veio a ocorrer em 2012. Apesar de ter me-
lhorado logo a seguir à cirurgia, a verdade é que logo de-
pois as dores e a fadiga aumentaram.
Foi em Lisboa, onde um cirurgião do Hospital Purido
Valente me disse que estava a desenvolver uma arterite
de Takayasu, uma doença rara, que não tem cura.
Tendo finalmente sido detectada a doença de que pa-
decia, pedi junta médica em 2013. Três anos depois, fixei
residência em Lisboa. A junta médica paga o alojamento,
bem como parte da alimentação e medicamentos.
Uma vez que já tenho residência em Lisboa, o Estado
português auxilia, com o acesso a consultas gratuitas e a
alguns medicamentos. Sou obrigada a medicação bas-
tante forte, que causa distúrbios. Hoje, devido à medica-
ção que utilizo, quase dupliquei o peso em relação ao meu
peso de há 20 anos atrás. E tudo indica que o peso conti-
nue a aumentar, na sequência da forte medicação diária.
Para além disso, vivo em constante baixa imunidade,
correndo por isso o risco de contrair outras doenças – o
que ocorre de quando em quando. Além dos medicamen-
tos convencionais, recorro também a tratamentos natu-
rais, que auxiliam enormemente na diminuição das do-
res e no melhoramento dos níveis de imunidade.
Gostaria que as mulheres jovens do meu país soubes-
sem desta doença e ficassem atentas aos sintomas, para
não sofrerem quanto eu sofri e ainda sofro. Afinal, foram
já 25 anos de sofrimento, a maior parte dos quais sem sa-
ber de que doença padecia. Só ao fim de duas décadas se
descobriu de que doença padecia.
Era bom que esta informação circulasse entre as jo-
19
Vanguarda 12 / 06/ 2020
vens do meu país, de modo que ficassem atentas aos sin-
tomas. E também para deixarmos de pensar que aquilo
que é raro só acontece aos outros e não pode acontecer a
nós próprios.
O que é a arterite de Takayasu
A arterite de Takayasu é uma doença inflamatória de
causa desconhecida, que afecta a artéria aorta. Surge
normalmente entre os 15 e os 30 anos, atingindo maio-
ritariamente mulheres.
É uma doença tão rara, que afecta somente 2 a 3 pes-
soas por cada milhão de habitantes. Estima-se, pois, que
em Angola haja à volta de 50 pessoas afectadas pela doen-
ça, mas se calhar nem um quinto dessas pessoas sabe que
convive com a arterite de Takayasu.
Os sintomas mais comuns são a fadiga, perda de peso,
febres baixas, redução da temperatura nos braços e per-
nas, dores (nos membros, no peito e nas articulações),
distúrbios visuais, tonturas, desmaios, falta de ar, hiper-
tensão e sopros nas artérias ou no coração.
É uma doença tão rara, que afecta
somente 2 a 3 pessoas por cada
milhão de habitantes. Estima-se,
pois, que em Angola haja à volta
de 50 pessoas afectadas pela
doença, mas se calhar nem um
quinto dessas pessoas sabe que
convive com a arterite de
Takayasu.
Nas mulheres, esses sintomas ocorrem sobretudo no
período pré-menstrual e no período menstrual. E tam-
bém no período de gestação.
Por se tratar de doença rara e com sintomatologia co-
mum a outras doenças, é de difícil diagnóstico. São co-
muns diagnósticos errados, sendo mais frequente a con-
fusão com o HIV ou a tuberculose (como sucedeu comigo,
em relação a esta última doença).
Os jovens (maioritariamente mulheres) devem ficar
atentos aos sintomas, de modo a encararem a possibili-
dade de terem esta doença. Havendo disso conhecimen-
to, mais facilmente poderão combater as dores e o evoluir
da doença que, como se disse, não tem cura.
Observação: O caso é real, mas o nome e os dados de
identificação são fictícios. V
*Sociólogo
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EM FORMATO VIRTUAL
ORLANDO ZUMBI
22

E
Vanguarda 12 / 06/ 2020

sta semana será recheada de eventos culturais para dei-

xar os seus dias mais entretidos. Vai poder acompanhar,
por exemplo, a conferência” Roda dos Britos” com Gil-
mário Vemba e assistir o concerto musical que incorpo-
ra um duelo entre C4 Pedro e Mika Mendes. o Show do
Mês esta de volta e nesta edição traz a Banda Maravilha e
para terminar veja a exposição do Museu del Prado, em
Madrid.

Ponto Por Ponto

1 2  4 

Conferência Batalha de Hits Show Filme Exposição

“Roda dos Britos”
com Gilmário
Vemba
O humorista Gilmário Vemba é o
convidado especial da iniciativa
“Roda dos Britos”. O artista
opina sobre “O Futuro das
Festas”, que será o tema central
do evento. A conversa será
transmitida em directo no
instagram do humorista, a 12
de Junho, sexta-feira, a partir
das 20h30. O convidado foi
durante 20 anos membro do
grupo humorístico “Os Tune-
zas”, mas agora segue carreira a
solo.
Duelo entre C4
Pedro e Mika
Mendes
Os cantores, C4 Pedro e Mika
Mendes vão apresentar os seus
maiores sucessos num evento
denominado Batalha de Hits.
O evento acontece no proxímo
Domingo, 14 de Junho, a partir
das 21 horas e será transmitido no
Instagram dos artistas.
Não deixe de acompanhar esta
batalha épica, no conforto da sua
casa entre os dois icones da
musica angolana e caboverdiana.
Show do mês
com Banda
Maravilha
O “Show do Mês” está de volta e,
desta vez com novidades. Os
espectáculos vão passar a ser
transmitidos na Televisão
Pública de Angola (TPA). O
concerto vai decorrer a 13 de
Junho, entre as 16 e as 18h00. O
evento será transmitido,
gratuitamente nas redes sociais,
uma iniciativa da produção do
evento. Esta nova edição resulta
de uma parceria entre o Show
do Mês e a TPA.
Estreia do
filme Bala
Perdida
A trama gira em torno de um
mecânico cadastrado que é
recrutado pela polícia para tornar
os carros-patrulha mais rápidos
nas perseguições de alta velocida-
de, mas o perigo que o persegue é
mais veloz. O filme francês do
director Guillaume Pierret,
estreia a 19 de Junho no serviço
streaming da Netlix. O elenco é
formado por Rod Paradot,
Alban Lenoir, Ramzy Bedia,
Nicholas Duvauch e Stéfi Celma
Museu
del Prado
em Madrid
O mais importante museu da
Espanha e um dos mais notáveis
do mundo disponibiliza o seu
acervo online.
O Prado tem entre os destaques
o quadro “As Meninas”, de
Diogo Velázquez. A colecção é
bastante completa, com obras
da pintura espanhola, francesa,
flamenga, alemã e italiana.
Vai poder ver na app Google Arts
Culture.

Será o fim do Cirque du Soleil ?
Um reinado em expansão desde 1984, o Cirque du Soleil, desmoronou-se nos
últimos três meses, através da pandemia da COVID-19, que parou o mundo dos
espectáculos e tem actualmente uma dívida de 815 milhões de euros.
E
texto Vanguarda fotos DR
mbora considerada a maior produtora de espectáculos do
mundo, com um capital bastante acima da média no sector,
a empresa canadiana possui a dívida há cerca de cinco
anos.
O co-fundador e ex-proprietário, Guy Laliberté afirma
estar disposto a adquirir a empresa para tirá-la desta
situação, assim como a Quebecor, grupo de comunicação
social canadiano. Porém, no momento é impossível,
porque a actual administração do Cirque du Soleil recusa-se a divulgar as
contas verdadeiras da empresa, acusando a Quebecor de pressionar para
desvalorizar as acções e comprar a empresa a um preço baixo.
Por enquanto, a única entidade que já injectou dinheiro na empresa foi o
Governo do Quebec, que aprovou um empréstimo de 182 milhões de euros
23
Vanguarda 12 / 06/ 2020
para impedir que um dos maiores motivos de orgulho do Estado canadiano
se afunde.
O Cirque du Soleil nasceu e está sediado na cidade de Montreal e emprega
cinco mil pessoas. Agora, 95 por cento foram colocados em “lay off ”. A
esses podem ser adicionados os artistas e produtores dos 20 “shows” que
estão em digressão, ou seja, cerca de 100 por cada produção.
Apesar dos 182 milhões de euros recebidos do Governo de Quebec e de
outros 45 milhões de euros que os proprietários injectaram no início de
Maio, a empresa tem que fazer um reembolso de 150 milhões de euros a
quem já tinha comprado bilhetes para os espectáculos, entretanto
cancelados.
Embora a situação seja muito complicada, os trabalhadores permanecem
calmos. V
24
Vanguarda 12 / 06/ 2020 Instagram

MODA LUANDA 2020 EM

FORMATO VIRTUAL
Com 14 desfiles, o concurso que já vai na 23ª edição, desta vez com o tema
“Neon Vibes” apresenta a 1ª edição do Moda Luanda Virtual, com um conceito
inovador para que a indústria da moda possa continuar a funcionar,
apesar da situação actual que o mundo atravessa.

Texto Juliana Imperial fotos Orlando Zumbi


E
m consequência dos constrangimen-
tos e restrições resultantes da pandemia
da COVID-19, este ano a Step Models
apresentará a 1ª edição do Moda Luanda
Virtual, em parceria com a Tv Zimbo e a
Platinaline no próximo 21 de Junho. O
evento incluirá também, como é habi-
tual, a entrega dos troféus Moda Luanda
nas categorias de Moda, Música e TV e Ci-
nema, com votação pública no website do
evento www.modaluanda2020.com e
ainda os troféus Carreira e Prestígio, in-
dicados pela organização.
Um grupo restrito de manequins irá
assegurar as apresentações de 14 desfiles
dos estilistas angolanos como Sisters Pai-
va, Pretah, Minha Marcah, Conquistador,
Millucha Design, Wan Kiamy, La Atitude,
Soraia da Piedade, Regarde Moi, Manzvat,
Layart, Mussulus, Nadir Tati contará
igualmente com a participação de alunos
da escola de modelagem e estilismo Arte
e Fashion, de Dina Simão.
Será acautelado o distanciamneto mí-
nimo exigido entre os profissionais en-
volvidos, tanto nos bastidores como em
passarelle.
Os criadores de moda farão a apresen-
tação das suas colecções a partir dos seus
ateliers ou de casa e os nomeados aos tro-
féus Moda Luanda estarão presentes na
emissão em directo através de uma plata-
forma digital para poderem assistir e
agradecer aos mesmos, também em di-
recto, recebendo depois, os troféus e de-
mais prémios em casa na semana poste-
rior ao evento.
Em estúdio a apresentadora estará
isolada a assegurar a condução do evento
e em áreas separadas, pivots da Tv Zimbo
e comentaristas irão assegurar interac-
ções diversas com os telespectadores e
profissionais da moda, entre outras sur-
presas preparadas para esta edição. Em-
bora realizado em 2020, o evento visa
premiar e homenagear profissionais da
Música, Moda, Cinema e TV durante o
ano de 2019.
As votações já começaram no site ofi-
cial do evento. Dentro da categoria de
Moda, destacam-se as nomeações de Me-
lhor Modelo, Melhor Manequim Nacio-
nal 2019, Melhor Top Model, Maquilha-
dora do ano, fotografo do ano, Colecção
do ano, Melhor Momento Red Carpet Fe-
minino, e Melhor Red Carpet Masculino.
Na categoria de música, destacam-se
as seguintes nomeações: Melhor Artista
ou Grupo e Música, Melhor Perfomance
25
Vanguarda 12 / 06/ 2020
Feminina em palco do ano 2019, Melhor
Perfomance Masculina em Palco de 2019,
Música Romântica do ano, Música de
Festa do ano e a Estrela em Ascensão de
2019.
Há ainda as nomeações de Espectácu-
lo do ano de 2019 (show ou festival e res-
pectivos produtores), Melhor Colabora-
ção do ano, Melhor Vídeo , Melhor Artista
(masculino ou feminino).
Na categoria de Cinema e Vídeo desta-
cam-se as seguintes de Melhor Actor num
Projecto Drama de 2019, Melhor Actor
num Projecto Comédia de 2019, Melhor
Actriz num Projecto Comédia, Melhor
Apresentadora de um Magazine de Ac-
tualidade do ano de 2019, Melhor Apre-
sentador de Magazine de Actualidade do
ano de 2019, Melhor apresentador de
Magazine Temático do ano e Melhor
apresentador e apresentadora de Maga-
zine Temático de 2019. Consta ainda a
categoria de Melhor Apresentador e
apresentadora de TalkShow do ano de
2019 entre outros.
E
??
12 BALANÇO
Abrimos a secção de Economia do
DE PORTUGAL PARA ANGOLA

ZEE paga dividendos Exportações

06
05 Vanguarda com a boa nova de que 900
ao Estado pela caem 27,3%
2020
2017 produtos já exibem o selo Feito em Angola.
primeira vez em Abril
Prosseguimos com as sociedades gestoras
ECONOMIA
SUPLEMENTO DO
SEMANÁRIO
VANGUARDA.
NÃO PODE SER de , uma medida que
Os resultados passa
líquidos da As para
exportaçõesas mãoa
de Portugal para An-
VENDIDO
Zona Económica Especial gola caíram 27,3% em Abril, o primei-
SEPARADAMENTE

do Presidente
(ZEE)da República
Luanda-Bengo segundo
as- ro mês em que ambos os países estive-
cenderam de 192,23 mi- ram em regime de confinamento,
despacho. Elhões
porKzfim, em 2018, õfomento
para enquanto asdaimportações de produtos
532,71 milhões Kz no ano angolanos para Portugal caíram quase
competitividade entre
passado, dando lugar os
ao agentes
50%. De acordo com os números do
primeiro pagamento de INE, Portugal exportou produtos e
económicosdividendos
concorre ao Estado para uma
des- bens maior
no valor de 100 milhõese de euros
de que o polo está opera- em Abril de 2019, contra os 73,4 mi-
melhor oferta de
cional, bens
há 11 anos. e serviços aos
lhões vendidos em Abril deste ano.

Opinião
Pressupostos para
a revisão do Plano
de Desenvolvimento Agostinho Rodrigues

Transparência!..
Nacional Distintas iniciativas para o repovoamento do
Executivo vai realizar uma revisão intercalar do planalto de Camabatela foram desenvolvidas
pelo Executivo, cujos resultados são ainda
Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022 questionáveis. Mais uma coisa é certa – o
(a par da revisão do OGE/2020) e elaborar um repovoamento do planalto de Camabatela se for
devidamente equacionado, observando o
Programa de Acção para os anos 2020 a 2022. princípio de transparência, o afastamento de
A revisão do PDN deve estar assente em burocracia, o amiguismo e o nepotismo,
pressupostos sólidos que possam, de forma claramente que estamos diante de uma
estratégia cujos benéficos deverão ser notáveis
eficiente, antever futuros desafios para a num futuro muito breve. Uma porta aberta –
economia. P28 uma oportunidade para o País se tornar
auto-suficiente na produção de carne bovina
made in Angola não apenas para atender as
necessidades nacionais, mas, sobretudo também
para a exportação. É, pois, preciso acautelar que
os ricos, os empresários, os endinheirados não
abocanhem todo o gado proveniente do Chade,
cuja previsão são 75 mil cabeças em detrimento
das famílias camponesas. Pelo preço de aquisição
de 15 mil Kz (para as famílias camponesas) a 150
mil para o sector empresarial, de acordo com a
programação do projecto. Se não forem
acautelados factores de igualdade e transferência
o elo mais fraco, as famílias de baixa renda, os
camponeses podem ficar de fora. A estratégia
muito bem conseguida pode contribuir para o
combate à fome e à pobreza, na geração de
postos de trabalho, na redução da importação de
carne e na poupança de divisas.
*Editor
PUB
28 Economia
Vanguarda 12/ 06 / 2020

PROGRAMA DE ACÇÃO 2020/2022

Pressupostos para a revisão do Plano

de Desenvolvimento Nacional
Embora a elaboração do actual documento reitor tenha obedecido critérios válidos,
o Executivo reconhece que o mesmo não pode ser usado para avaliar os objectivos
de médio prazo e as perspectivas económicas para os próximos dois anos.
texto Joaquina Dungue e Henrique Kaniaki foto Carlos Muyenga

O
Executivo vai realizar uma
revisão intercalar do Plano
de Desenvolvimento Nacio-
nal 2018-2022 (a par da revi-
são do OGE para 2020) e elaborar um
Programa de Acção para os anos 2020
a 2022.
A revisão do PDN deve estar assente
em pressupostos sólidos que possam,
de forma eficiente, antever futuros de-
safios para a economia. Embora a ela-
boração do actual documento reitor
tenha obedecido critérios válidos, o
Executivo reconhece que o mesmo não
pode ser usado para avaliar os objecti-
vos de médio prazo e as perspectivas
económicas para os próximos dois
anos.
Na base, estão causas exógenas como
As previsões da AIE a Pandemia da COVID-19 que provocou
apontam para um preço a paralisação em grande escala das ac-
tividades económicas e a queda abrup-
médio de 33 USD para ta do preço do barril de petróleo.
2020 e uma média de 46 Este último, gerou forte impacto na
decisão de revisão do PDN, uma vez
USD para 2021 e 2022 que mais de um terço da economia na-
cional estar atrelada ao sector petrolí-
fero, bem como pelo facto das receitas
provenientes deste sector sustentarem
a execução das políticas de desenvolvi-
mento levada a cabo pelo Executivo.
O actual plano, tem como pressu-
posto um preço médio do barril a 57,08
USD para 2020 e uma média de 56,86
USD para 2021 e 2022, enquanto as
previsões pós Covid-19 feitas pela
Agência Internacional de Energia (AIE)
apontam para um preço médio de 33
USD para 2020 e uma média de 46 USD
para 2021 e 2022, um gap de 24,08 USD
e 10,8 USD que dá lugar à uma revisão.
Ademais o PDN prevê uma produção
anual na ordem dos 583,5 milhões de
barris e uma média de 1,5 milhões de
barris por dia, na actual conjuntura o

Ministério das Finanças anunciou em
Março a redução para 1,3 milhões de
barris diários, ou seja, 503,7 milhões
de barris por ano.
Tendo em conta que mais de 64%
das nossas receitas fiscais são petrolí-
feras, a revisão deverá incluir ajustes
significativos no quadro macro-fiscal
de curto e médio prazos para alinhar a
perspectiva de execução orçamental do
plano a nova conjuntura.
De 2020 a 2022 o quadro macro-fis-
cal de médio prazo do plano prevê um
superavit orçamental médio de aproxi-
madamente 208 mil milhões de kz. De
acordo com o economista Mateus Ma-
nuel, ajustar esta tendência ao actual
quadro, tendo em conta um período de
recuperação com estimativa do preço
do brent inferior a USD 46, as finanças
públicas estariam asfixiadas.
“Novas dívidas estão a ser contraí-
das e não haverá espaço para poupança
pública de aproximadamente 208 mil
milhões de kz” refere.
Revisão do ciclo económico
Para o triénio 2020/2022, o plano pre-
vê uma taxa média de crescimento eco-
nómico de 3,4% e de 2,4% em 2020.
As novas previsões para 2020 feitas
pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) apontam para uma recessão de
1,4%, sendo pouco provável que a eco-
nomia registe as taxas estimadas no
“2021 é um potencial
ano de recuperação (...)
muitas empresas
passarão a produzir
para pagar dívidas”.
PDN (2,6% para 2021 e 4,1% para
2022).
“A minha previsão é que a economia
não cresça mais do que 2% nos próxi-
mos dois anos (principalmente em
2021)” prevê o economista. “Tendo em
conta que o Governo está a arregimen-
tar recursos no sentido de combater a
actual pandemia, dependendo de como
será o desfecho, 2021 é um potencial
ano de recuperação económica em que
possivelmente muitas empresas passa-
rão a produzir para pagar dívidas”.
Importa destacar que o relatório de
fundamentação do OGE 2020 previa
para a agricultura um crescimento de
3,1% face a 2019, em relação as pescas,
um crescimento de 4%. Esperava-se
que a produção total de pescado ultra-
passasse as 460 mil toneladas de 2019
para 477 mil toneladas em 2020, in-
fluenciada pelo aumento da produção
de 273 mil toneladas da pesca indus-
trial e semi-industrial e 172 mil tonela-
das da pesca artesanal.
Já na indústria transformadora, pro-
jectava-se um crescimento moderado
em 2020, com uma taxa de crescimen-
to de 1,2%, contra o crescimento de
3,6% prognosticado para 2019. En-
quanto que a Construção deveria regis-
tar uma desaceleração do seu cresci-
mento, de 2,2 pp, ao passar de 3,5%
estimado para 2019 para um cresci-
mento previsto de 1,3% em 2020.
Não menos importante, o sector dos
Serviços (inclui os serviços de comér-
cio, transportes, correios e telecomu-
nicações, intermediação financeira,
serviços imobiliários e aluguer, outros
serviços mercantis – que integra o tu-
rismo) a previsão para 2020 apontava
um crescimento de 1,2%, superior ao
registo de 0,5% estimado para 2019.
Para melhorar o ambiente de negó-
cio o País pretendia subir 15 posições
até 2022 no Doing Business do Banco
Mundial segundo o PND (2018-2022).
De acordo o relatório do Banco Mun-
dial, Doing Bussines 2020, Angola des-
ceu 4 lugares no ranking global, pas-
sando da posição 173 para a 177 em 190,
em 2020.
Medidas para impulsionar a economia
Contudo, a revisão intercalar do PDN
dá lugar ao Programa de Acção para o
triénio 2020/2022, entretanto, até a fi-
nalização do processo, foram criadas
medidas que visam fortalecer a produ-
ção nacional, com a disponibilização
de linhas de financiamentos com taxas
de juros bonificadas de 9%.
Para impulsionar a produção princi-
palmente no domínio da agricultura, o
Fundo de Desenvolvimento Agrário vai
destinar 15 mil milhões kz para poten-
cializar a agricultura familiar.
Por sua vez, o Banco de Desenvolvi-
mento de Angola (BDA) apoia todos os
operadores que pretendam adquirir
produtos locais com 26,3 mil milhões
kz. A compra de produtos de origem
nacional terá maior ênfase nos bens
agrícolas e pescados.
Para os fornecedores de insumos,
principalmente os ligados à actividade
agrícola e pescas, com realce para os
pequenos e médios fornecedores, o
BDA destina ainda 13 mil milhões de
kz.
Os produtores que beneficiarem do
empréstimo do BDA contam ainda com
o apoio do Fundo Activo de Capital de
Risco Angolano (FACRA) que vai desti-
nar quatro mil milhões de Kz como in-
vestimento de capital de risco.
O investimento no capital próprio
permite que estas empresas paguem o
empréstimo inicial (down payment)
dos seus projectos.
O FACRA destina, também, três mil
Estatística comparada
2020
Preço(Médio)
Previsão PND
Últimas previsões
Fonte: PND, Agência Internacional de Energia (AIE),
29
Vanguarda 12 / 06 / 2020
milhões de kz para repasse às socieda-
des de micro-finanças, nomeadamente
caixas agrícolas e instituições de mi-
cro-crédito.
Ainda nesta senda, o BNA desem-
bolsou um total de 23,8 mil milhões de
kz para ajudar as empresas nacionais a
lidarem com os impactos económicos e
sociais da pandemia da covid-19, fican-
do ainda com mais de 76 mil milhões
A revisão intercalar do
PDN dá lugar ao
Programa de Acção
para o triénio
2020/2022
de kz disponíveis para imprimir liqui-
dez à economia.
Melhorar o ambiente de negócio e
concorrência
O Executivo tomou medidas para
melhorar o ambiente de negócio den-
tre elas, as empresas deixam de proce-
der ao registo estatístico na sua cria-
ção, deixando a responsabilidade para
o Instituto Nacional de Estatística
(INE), que junto da Administração Ge-
ral Tributária (AGT), fazem o devido
registo no ficheiro único de empresas.
Quanto a emissão de Alvará Comer-
cial, doravante fica restrita às activida-
des consideradas de risco, designada-
mente comercialização de bens
alimentares, espécies vivas vegetais,
animais, aves e pescados, medicamen-
tos, venda de automóveis, combustí-
veis, lubrificantes e produtos quími-
cos.
As restantes deixam de ter obriga-
ção de obtenção de alvará comercial,
bastando, para o exercício da activida-
de, uma solicitação dirigida à Adminis-
tração Municipal e consequente autori-
zação.
As empresas, no quadro da medida
de melhoria do ambiente de negócio,
deixam de licenciar contratos de ges-
tão, prestação de serviços e assistência
técnica estrangeira junto do BNA e do
Ministério da Economia e Planeamen-
to.
O Executivo pretende ainda, a médio
prazo, trabalhar na reconversão da
economia informal em todo o País.
Para o efeito foi criada uma equipa
multissectorial para dar resposta ao
desafio.
Foram anunciadas medidas para a
sua reestruturação e organização, prin-
cipalmente, as actividades económicas
ligadas à venda ambulante, aos merca-
dos, ao transporte de mercadorias e
passageiros. V
Petróleo Crescimento
Inflação (%) Económico (%)
Produção (barril/
57,08 USD 1,5 milhões 13,4 2,4
33 USD 1,3 milhões 25 -1,4
 VANGUARDA 1-10-2015

30 Panorama
Vanguarda 12 / 06 / 2020

1 – Cidade belga remove estátua de Leopoldo II, saqueador do Congo. A cidade belga de Antuérpia, nesta terça-feira, confirmou a remoção de uma estátua do líder da
era colonial, o rei Leopoldo II. A medida ocorre dias depois de ter sido desfigurada por manifestantes anti-racismo. Leopold é alvo de críticas severas sobre o papel que
suas tropas desempenharam na dizimação do Congo no final do século XIX. | 2 – Burundi quer que tribunal declare presidência vaga. Burundi buscará uma interpretação
constitucional sobre como proceder sobre o vácuo de poder criado pela morte do presidente Pierre Nkurunziza em 8 de junho. | 3 – PM da Tanzânia visita chefe da
oposição hospitalizado. O governo da Tanzânia ofereceu seu apoio a um líder da oposição que foi hospitalizado após ser agredido na noite de segunda-feira. O
primeiro-ministro Kassim Majaliwa visitou pessoalmente a cabeceira do líder do Chadema Freeman Mbowe, que foi atacado por assaltantes desconhecidos.
| 4 – Irmão de George Floyd diz ao Congresso que ‘ele não merecia morrer por US$ 20’. Philonise Floyd, irmão de George Floyd, compareceu à capital dos Estados Unidos
nesta quarta-feira (10) com um apelo emocionado para que o Congresso não deixe seu irmão ter morrido em vão, dizendo que “ele não merecia morrer por US$ 20”.
| 5 – Deputados da Etiópia aprovam a permanência de Abiy no poder em meio a tensões no atraso das pesquisas. A câmara parlamentar superior da Etiópia, House of
Federation (HoF), aprovou uma extensão ao mandato do atual parlamento, bem como aos parlamentos e conselhos regionais.

2 3

4 5
Euronews/Lusa/Globo/Terra/VOA/ElPais/DN/Jornal economico
 VANGUARDA 1-10-2015
Malcolm X
DR
Malcolm X nasceu na cidade de Oma-
ha, no estado de Nebraska, a 19 de
Maio de 1925. Seu nome de registo era
Malcolm Little e seus pais chamavam-
se Earl Little e Louise Little.
texto Vanguarda
31
Vanguarda 12/ 06 / 2020
M
alcolm X foi um reconhecido activista americano que lutou pe-
los direitos da comunidade afro-americana, em seu país, du-
rante a era americana dos movimentos em luta dos direitos
civis (1950 e 1960). Fez parte de uma organização afro-ameri-
cana chamada Nação do Islão, sendo, provavelmente, o nome de maior re-
percussão dessa organização durante o final da década de 1950 e o início da
década de 1960. O seu pai era um ministro baptista que participava de uma
organização que lutava por direitos para a comunidade afro-americana nos
Estados Unidos e em outras partes do mundo denominada Universal Negro
Improvement Association (Associação Universal pelo Progresso dos Ne-
gros, em uma tradução livre).
A actuação de Earl Little pela UNIA fez com que ele e sua família fossem
intensamente perseguidos por movimentos de supremacia branca, sobretu-
do do Ku Klux Klan. A perseguição à família de Malcolm X fez com que eles
mudassem de cidades por duas vezes: de Omaha para Milwaukee e de
Milwaukee para Lansing. A perseguição contra o pai de Malcolm terminou
de maneira trágica, com seu assassinato em 1931.
A polícia nunca desvendou as causas do crime, mas os biógrafos de Mal-
colm afirmam que todas as evidências indicam que a morte de Earl Little
tenha sido obra dos supremacistas. Depois disso, a família de Malcolm de-
sestruturou-se, principalmente após a seguradora ter se recusado a pagar o
seguro de vida para Louise Little. A mãe de Malcolm desenvolveu transtor-
nos psíquicos, que a levaram à internação em uma clínica psiquiátrica. A
partir daí, Malcolm e seus irmãos foram encaminhados para centros de
adopção localizados em Lansing, estado de Michigan.
Durante os três anos em que esteve no orfanato, Malcolm seguiu seus es-
tudos, inclusive tirando boas notas. No entanto, um episódio em que seu
professor o desestimulou da carreira de advogado porque Malcolm era ne-
gro fez com que ele perdesse o interesse pelos estudos. A partir de 1941,
Malcolm abandonou Lansing e mudou-se para a cidade de Boston, no estado
de Massachusetts. Em Boston, Malcolm passou a viver com sua meia-irmã,
Ella Little-Collins. Durante o período em que morava com sua irmã, Mal-
A partir de 1952, Malcolm saiu da prisão e
passou a actuar pelo Nação do Islão, tendo
uma rápida ascensão dentro dos quadros
dessa organização.
colm passou a trabalhar como engraxador nas ruas de Boston. Após fazer
algumas amizades, iniciou uma vida de boemia e passou a consumir bebidas
alcoólicas, vender e consumir drogas.
Não demorou muito para que Malcolm passasse a praticar pequenos de-
litos. Em um deles, acabou sendo detido em 1946. Durante seu julgamento,
foi condenado a 10 anos de prisão por arrombamento e roubo de proprieda-
de particular. A aproximação de Malcolm X com o Nação do Islão ocorreu a
partir de intensa troca de correspondências com Elijah Mohammad, líder
dessa organização. Elijah Mohammad autoproclamava-se como mensagei-
ro escolhido para trazer a mensagem de Alá. Assim, Malcolm converteu-se
ao Islamismo e passou a fazer parte do Nação do Islã em 1952.
A partir de 1952, Malcolm saiu da prisão e passou a actuar pelo Nação do
Islão, tendo uma rápida ascensão dentro dos quadros dessa organização.
Malcolm X afirmava que a comunidade afro-americana deveria utilizar to-
dos os meios necessários para alcançar os seus direitos. Malcolm inclusive
chegou a tecer críticas contra um dos grandes nomes da luta pelos direitos
civis dos afro-americanos, Martin Luther King Jr.
O estopim para a saída de Malcolm da organização ocorreu em 1963,
quando, após o assassinato do presidente John F. Kennedy, Malcolm teceu
comentários que foram considerados grosseiros e que repercutiram mal
para a imagem do Nação do Islão. Depois da organização, Malcolm realizou
uma viagem para Meca. Durante essa viagem, Malcolm alterou seu nome
para El-Hajj Malik El e também fez uma viagem pelo continente africano.
Essas viagens fizeram Malcolm fundar duas novas organizações: a Mus-
lim Mosque Inc. (Associação da Mesquita Muçulmana) e a Organização pela
Unidade Afro-Americana. Assim, Malcolm passou a actuar pelas suas novas
organizações, realizando discursos por diferentes partes dos Estados Uni-
dos. A fundação de duas novas organizações por Malcolm não foi bem vista
por Elijah e pelos membros do Nação do Islão. Assim, Malcolm foi transfor-
mado em inimigo do Nação do Islão e passou a ser alvo de críticas no jornal
da organização.
Algumas declarações realizadas pelo Nação do Islão foram consideradas
como incentivos da organização para que Malcolm X fosse assassinado. Isso
de fato acabou por acontecer quando três membros do Nação do Islão ataca-
ram Malcolm X durante um discurso que realizava em um auditório no Har-
lem, no dia 21 de fevereiro de 1965. Malcolm X foi alvejado por mais de 10
tiros e faleceu a caminho do hospital. V
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Vanguarda 12 / 06 / 2020

EDITORIAL SOCIEDADE ECONOMIA POLÍTICA

Uma decisão Luanda com BNA Embaixador

que se impõe! novos postos
de emissão
de B.I.
Três novos postos de emissão
de Bilhete de Identidade (BI),
com capacidade diária para
emitir cada um 50 exemplares,
foram inaugurados ontem no
Bairro Calemba II, Administra-
ção do Distrito Urbano do
Futungo e no Mercado do
Kifica, município de Talatona.
Estêvão Martins
disponibiliza destaca
26 mil oportunidades
milhões Kz de Angola
O Banco Nacional de Angola O embaixador de Angola na
desembolsou, até 5 de Junho, China, João Salvador Neto,
26.109 milhões Kz para a afirmou, em Pequim, que
compra de Títulos de Tesouro a Angola tem várias oportunida-
41 empresas, onde participa- des que podem ser exploradas
ram 10 bancos comerciais. Este no âmbito da cooperação com
montante representa cerca de a China, apontando os sectores
26% da linha de liquidez agrícola, pescas, indústria,
disponibilizado pelo BNA. turismo e petrolífero.

A o admitir a possibilidade da anulação do

ano lectivo 2020, cujo reinício está
inicialmente marcado para o próximo
mês de Julho, devido a falta de
condições de biossegurança, nas escolas do País,
a ministra de Estado para a Área Social, Carolina
Cerqueira, deixa claro que existe um alto risco de
contágio e de disseminação da COVID-19, caso as
aulas recomessem nas actuais condições em que
se assiste uma continua subida da espiral de casos
positivos em Luanda, epicentro da pandemia no
País. Embora o regresso às aulas esteja
condicionado à evolução da situação
epidemiológica da enfermidade, conforme
determina a declaração do Estado de Calamidade
Pública em vigor no País, desde o finado dia 26, é
dado assente que as escolas podem ser um grande
foco de transmissão da COVID-19, numa altura
em que o País se encontra a um passo da
transmissão comunitária, como referiu há
tempos a ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta. Essa
afirmação da titular da pasta da saúde, na
verdade, é hoje questionada, pelo facto de haver
fortes indícios da existência de casos de
transmissão comunitária. Apenas a tão propalada
testagem em massa, que teima em chegar, pode
certificar ou não. Em função da vulnerabilidade e
da falta de noção de perigo das crianças, que pode
colocar em risco as suas vidas e muitos adultos, o
Simprof defendeu o reinício das aulas no próximo
mês de Setembro, por forma a justar o ano lectivo
ao calendário da UNESCO, que aliás já vigorou no
País. O entrevistado da ‘Grande Entrevista’ desta
edição do Vanguarda corrobora da opinião dos
sindicalistas, notando que “talvez não fosse de

DR
dispensar a possibilidade de um calendário
alternativo a começar em Setembro com término
em Junho, para posteriormente, se voltar
Antigo director do Vanguarda, nomeado secretário
gradualmente ao calendário normal que existia”. de Estado para Ensino Secundário, toma posse hoje
O entendimento de José Octávio Serra Van-Dúnem
advêm do facto de a pandemia ainda estar em O Presidente da República, João Lourenço, nomeou nesta quarta-feira Gildo Matias José para o
curso e seu desfecho incerto. Mas para já, a cargo de secretário de Estado para o Ensino Secundário. A tomada de posse acontece hoje (12) no
pretensão de se ouvir os pais dos menores, Palácio Presidencial, a partir das 9h.
encarregados de educação e sociedade civil sobre Com formação em Pedagogia e Políticas Públicas, o ex-analista político, antes de exercer as
o binómio aulas vs COVID-19 é nota positiva, na funções de Coordenador-Adjunto da Unidade Técnica de Programação, Acompanhamento e
medida em que está em causa a salvaguarda da Avaliação, de que foi exonerado para exercer as novas funções, foi um dos primeiros directores do
vida humana diante de um inimigo comum e jornal Vanguarda.
invisível. O também docente universitário, dedicado às áreas disciplinares de representação política e
movimentos sociais, já desempenhou funções técnicas no Secretariado Executivo da CPLP.

V
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