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pt | sábado, 6 de abril de 2024


N.º 660| Este caderno faz parte integrante
do Diário de Notícias n.º 56 597 e do
Jornal de Notícias n.º 308 do ano 136

TECNOLOGIA
MARIA DA GRAÇA CARVALHO Solução portuguesa
de IA para
“CONTINUA A HAVER otimizar vendas
online acena aos
MANIPULAÇÃO E POUCA Estados Unidos

TRANSPARÊNCIA NO SOUL
Inovação gelada
MERCADO DA ENERGIA” com ADN luso
quer ser líder no
mercado europeu
Numa das últimas entrevistas
como eurodeputada, a nova
ministra da Energia explica o DINHEIRO
novo quadro de sanções EM CAMPO
contra grandes operadores Endrick, novo
que manipulam preços no fenómeno do Brasil,
mercado grossista de não se cansa de
energia. quebrar recordes

ENTREVISTA
Pedro Folgado:
“Devemos estar
GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS

atentos ao impacto
do investimento
estrangeiro
em setores
estratégicos”

FERROVIA A VIDA DO DINHEIRO

Bruxelas puxa JORGE PORTUGAL


DIRETOR-GERAL DA COTEC PORTUGAL

“APENAS 6%
pelos comboios DAS EMPRESAS QUE
GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS

para não se SE DIZEM INOVADORAS


COLABORAM COM
atrasar na luta O SETOR ACADÉMICO”
pelo ambiente
02 sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt

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OPINIÃO ARMINDO SOBE&DESCE EDITORIAL BRUNO


MONTEIRO CONTREIRAS
Presidente
da CIP MATEUS
CHRISTINE LAGARDE Jornalista
PRESIDENTE DO BCE

A taxa de inflação na zona


euro continuou a abrandar
A política é um serviço, não em março (2,4%) o que dá
mais argumentos ao Banco
Hat-trick de Fernando
se esgota na luta pelo poder Central Europeu para co- Alexandre

A T
meçar a descer as taxas
de juro diretoras, o que
poderá acontecer já na
inteligente gestão do silêncio, iniciada logo a partir da reunião de 6 de junho, an- alvez nunca antes como agora, um ministro da Edu-
eleição, a 10 de março, permitiu ao primeiro-ministro tes mesmo de a Reserva cação tenha de ter tido estas três palavras tão pre-
gerir com êxito a escolha dos seus ministros e secretá- Federal norte-americana sentes nas suas decisões, como as tem de ter um
rios de Estado. Não houve especulação nem ruído de dar início ao ciclo de des- ministro da Economia, no contexto dos desafios
cidas, acreditam alguns
fundo, o que permite à nova equipa governamental ini- analistas. As atas da reu- que se colocam às empresas portuguesas: inovação,
ciar funções com um importante capital político do seu lado. Co- nião de política monetária sustentabilidade e internacionalização. O economista Fernando
meço por aqui porque esta tranquilidade e naturalidade na gestão do BCE do início de março Alexandre, que tutela o “super” Ministério da Educação, Ciên-
deste momento de capital importância não é infelizmente uma revelam que o conselho de cia e Inovação, e a secretária de Estado da Ciência, a investiga-
prática habitual no nosso país, o que acaba invariavelmente por governadores reconheceu dora Ana Paiva, que vão gerir também o Ensino Superior, ficam
que “os argumentos para
dificultar ainda mais o início de funções dos novos executivos. considerar cortes nas ta- responsáveis por decisões das mais importantes para a competi-
Desta vez, isso não aconteceu, o que é uma boa notícia até pelo xas estavam a fortalecer- tividade e afirmação das empresas nacionais num mercado glo-
contraste com a tensão que define o atual ambiente político-parti- -se”, e os últimos dados bal, para reter talento no nosso país e para o cumprimento de
dário nacional. sobre a evolução dos pre- metas ambientais às quais não podemos (nem devemos) fugir.
ços vêm confirmar isso,
A uma equipa de ministros com músculo político e competên- com a inflação no espaço E a inovação, como ponto de partida, é a chave para a sustenta-
cia técnica, Luís Montenegro juntou um grupo de secretários de da moeda única a abran- bilidade e para as exportações – é o nosso gerador de riqueza nas
Estado com ampla experiência profissional no setor privado e dar pelo terceiro mês con- empresas, na economia e nos recursos humanos.
também na máquina pública. Na Economia, área fundamental secutivo. Para as famílias Não é apelidado de “super” Ministério ao acaso. A escola pú-
para o nosso desenvolvimento, o ministro Pedro Reis apontou portuguesas, a maioria blica é basilar na construção de uma sociedade melhor, mais
com créditos à habitação
João Rui Ferreira para a Secretaria de Estado da Economia. O facto indexados à Euribor, são justa e mais igualitária, e o descontentamento dos professores
de João Ferreira ter sido presidente da APCOR, a associação da cor- boas notícias. de hoje, as reformas dos mais experientes e a recusa dos mais
tiça, entre 2012 e 2021, significa que conhece bem o movimento jovens em escolher a via profissional do ensino, têm degradado
associativo e, claro, a vida empresarial. São boas características – à a perceção pública sobre este valor real – o que é pena. Não é
partida, oferecem um capital de conhecimento e uma larga expe- THOMAS GUNTHER fácil imprimir políticas públicas que, no imediato, contrariem
riência que podem ajudar a definir boas políticas públicas para DIRETOR-GERAL DA VOLKSWAGEN este historial de problemas. E isso será desgastante para Fer-
esta área nevrálgica. AUTOEUROPA nando Alexandre, que acumula ainda duas pastas, que a meu
A passagem de Pedro Reis pela AICEP também abre boas expec- A paz social na fábrica da ver, deveriam ser autónomas: a inovação; e o ensino superior e
tativas ao país. Precisamos de continuar a aumentar o peso das ex- Volkswagen em Palmela ciência. São três ministérios em um.
ainda não está garantida.
portações no PIB e, acima de tudo, temos de internacionalizar Os trabalhadores chumba- O diretor-geral da COTEC diz em entrevista (que pode ler
mais a nossa economia. Não basta vender para fora em contento- ram esta semana o pré- nesta edição) que “é relevante a política de inovação para a po-
res, embora isso seja muito importante; também não é suficiente -acordo laboral a que ti- lítica de competitividade. Para o objetivo da competitividade
fortalecermos mais o turismo nacional e robustecermos os servi- nham chegado a comissão das empresas há que ter noção de que os fatores hoje modernos
ços – estou convencido de que nos falta dar um passo essencial: a de trabalhadores e a ad- para a economia de inovação, portanto, os fatores contemporâ-
ministração da fábrica, li-
internacionalização das nossas empresas. Temos de estar mais derada por Thomas neos que contribuem para a competitividade, são o capital hu-
presentes nos mercados externos, as nossas companhias têm de Gunther, após semanas de mano avançado, e aqui não estamos a falar, note-se, de licen-
estar bem ancoradas nos mercados com mais massa crítica, têm de negociações. As condições ciados e mestrados. Estamos a falar já num nível avançado que
estar lá e ter visibilidade. Já temos alguns bons exemplos, sim, previstas, nomeadamente são doutorados”. Jorge Portugal toca num ponto essencial que
mas precisamos de muitos mais. Este é realmente o único cami- a subida de 6,4% dos sa- junta inovação, ensino superior e ciência. Colocar doutorados
lários este ano e de 2,6%,
nho para darmos escala às nossas ambições individuais e coletivas ou 0,6% acima da infla- nas empresas é um acelerador da inovação e abre portas a uma
e, assim, reduzirmos a nossa vulnerabilidade económica. ção, em 2025 e 2026, além linguagem comum entre as empresas e a academia. Já se come-
Os governos fazem-se de programas, ideias e pessoas. Estas três de prémios anuais, não ça a entender o que Fernando Alexandre e Ana Paiva possam
condições estão agora reunidas. Os governos fazem-se também de convenceram a maioria fazer pela inovação, ensino superior e ciência, e economia. E
dos quase cinco mil traba-
negociação, abertura e determinação – características que, no en- lhadores da unidade alemã exclui-se a educação desta equação?
tanto, têm forçosamente de ser partilhadas também pelas oposi- em Portugal. Os aumentos Este pode ser o hat-trick do “super” ministro? Já está identi-
ções. Todos os portugueses estão a par das dificuldades que resul- previstos, segundo Tho- ficado que um dos problemas empresariais é o distanciamento
tam dos instáveis equilíbrios partidários do atual Parlamento, mas mas Gunther, seriam os à academia. E que uma das soluções pode ser a inclusão de dou-
estou absolutamente certo de que ninguém quer viver em cam- “mais altos na história da torados nas empresas. É uma das formas de aproveitar o retor-
Volkswagen/Autoeuropa”,
panha eleitoral permanente, até pelos elevados custos que esse e até poderiam beliscar a no económico da ciência no tecido empresarial (mas atenção
ruído e essa paralisia têm. A política não pode converter-se apenas competitividade da unida- que não se pode deixar de combater a precariedade na ciência,
numa disputa permanente e sem quartel pelo poder. A política é, de portuguesa da marca valorizando também os bolseiros e a investigação académica).
antes de mais, um serviço prestado a bem da nação. Ora bem, este automóvel alemã. A co- Voltando a Jorge Portugal, há outros dois pontos fundamen-
desígnio tem de ser procurado e defendido, não pode ser esqueci- missão de trabalhadores tais: o de que não há sustentabilidade sem inovação; e o de que
quer voltar a negociar, res-
do e desvalorizado. Não pode. É o nosso presente e o nosso futuro ta saber o que fará o dire- as exportações aumentam por força da inovação e da sustenta-
que estão em jogo. tor-geral. bilidade.
NotíciasFlix

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A Vida do Dinheiro

Jorge Portugal “Apenas 6%


das empresas que se dizem
inovadoras colaboram com
o setor académico”
Para o diretor-geral da COTEC Portugal, associação empresarial para a
inovação, ter doutorados nas empresas é essencial para construir pontes
com as universidades, promovendo a mesma cultura e linguagem.
Texto: Bruno Contreiras Mateus e Ana Maria Ramos (TSF)

D as 38 mil empresas
que exportam, apenas
uma em cada dez têm
capacidade de desen-
volvimento tecnológico pró-
prio.” É o retrato que nos traça
Jorge Portugal, diretor-geral da
tido que diria que a primeira priori-
dade é alargar este núcleo de em-
presas que têm capacidade de des-
envolvimento tecnológico próprio
e que, acima de tudo, apostam e in-
vestem naquilo que é o balanço in-
tangível, o balanço incorpóreo da
nanciamento para crescer. E aqui
há soluções que têm de vir de vá-
rias fontes. A primeira é, natural-
mente, os capitais próprios. É os
empresários perceberem que, para
poderem crescer mais depressa e
não tendo esse capital, têm de o ir
E acha que a aplicação dos fun-
dos de financiamento público
está direcionada para a inovação
ou era preciso fazer muito mais
e melhor?
O direcionamento dos fundos pú-
blicos, nomeadamente dirigidos ao
ria que um dos temas que é impor-
tante tem a ver com a digitalização
das empresas e, portanto, a infraes-
trutura. Nos últimos 20 anos, Por-
tugal foi um dos países onde as te-
lecomunicações e as infraestrutu-
ras, portanto, a banda larga e as in-
associação empresarial para a ino- empresa. E o que vemos, isto é um buscar a algum lado, e, portanto, ir investimento em investigação e fraestruturas de telecomunicações,
vação COTEC Portugal, nesta estudo recente de investigadores buscar investidores que possam desenvolvimento, portanto, em quer fixas, quer móveis, estiveram
conversa sobre inovação empre- da Universidade de Coimbra, é que acelerar a base de capitais próprios. desenvolvimento de novas tecno- sempre na linha da frente. E temos
sarial, olhando para a composição ao longo destes dez anos o investi- O segundo é claramente a banca. A logias que depois possam ser apli- dois associados no setor, neste caso
do novo governo e as necessida- mento incorpóreo das empresas banca tem aqui um papel de finan- cadas no negócio, têm vindo a im- a NOS e a Altice, que têm sido pró-
des mais urgentes para gerar ri- portuguesas não tem acompanha- ciamento da economia e, portanto, pulsionar um aumento significati- digos em investimento sucessivo
queza para o país. do esta abertura da economia. Por- não deve ser exclusivo, mas é um vo. Estamos a falar, nos últimos nas várias gerações em termos de
tanto, há aqui, aparentemente, um papel importante. Terceiro, mas anos, de cerca de 15% ao ano do in- infraestruturas digitais. Esse, entre
Com o novo governo a iniciar desalinhamento entre aquilo que é não deve aparecer como um fator vestimento em I&D das empresas outros, será um dos temas, que a
funções, quais são as prioridades o investimento que garante as de condição necessária, é um fator e, portanto, agregado. O que vemos infraestrutura portuguesa conti-
que o novo ministro da Econo- margens, que garante a competiti- que adiciona, principalmente em é uma grande disparidade. Vemos nue competitiva do ponto de vista
mia, Pedro Reis, deverá ter? vidade internacional, que garante áreas de maior risco como são, por um núcleo muito pequeno de em- das telecomunicações e do digital.
Diria que temos de olhar para aqui- que é possível vender com valor exemplo, muitas das áreas asso- presas que investem muito em in- Diria que há outra questão que é a
lo que é a situação da economia acrescentado e, por essa via, conse- ciadas com a sustentabilidade, vestigação e desenvolvimento, energia, porque hoje vamos crescer
portuguesa. Comecemos pelo se- guir sustentar a função de inova- com novos processos produtivos, voltamos aos tais um em cada dez cada vez mais com um modelo que
tor exportador, que nos últimos ção, o investimento, os jovens ta- com a utilização de novas formas exportadores, e depois vemos o tem vindo a ser desenvolvido de
dez anos tem vindo a abrir-se subs- lentosos, fixá-los em Portugal e de inovação, de tecnologia, aí os resto das empresas que investem um mix de energia, já com um pen-
tancialmente do ponto de vista do nas empresas portuguesas. fundos públicos têm um papel a muito pouco. Portanto, há que tra- dor renovável bastante acentuado
seu peso do negócio internacional. Mas como financiar essa inova- desempenhar. zer mais empresas, criar capacidade e, portanto, nesse aspeto é um fa-
Em 2010 tínhamos pouco mais de ção? de investimento em investigação e tor de competitividade para a eco-
30%. Hoje temos mais de 50%. Isto é outro problema. É importan- desenvolvimento e, sim, exigir que nomia portuguesa.
Portanto, claramente, essa abertu- te. Tradicionalmente, vemos que esses fundos não sejam apenas Que contributo podem dar gran-
ra é um sinal positivo. No entanto, as empresas competitivas, que cha- “Quando se fala considerados do ponto de vista do des obras públicas como o novo
o que sabemos é que das 38 mil mamos as inovadoras, estão em to- da coesão do instrumento de política pública, aeroporto ou o TGV?
empresas que exportam, apenas das as áreas de atividade, principal- apenas como uma despesa que a O aeroporto e o TGV são questões
uma em cada dez têm capacidade mente no setor industrial, no setor
país, vemos a empresa tem de cumprir, mas a recorrentes. Não vos queria maçar,
de desenvolvimento tecnológico transformador, espalhadas por importância de empresa deve prestar contas sobre nem os ouvintes, com mais uma
próprio, significa desenvolver pro- todo o país. Quando se fala da coe- muitas PME que exatamente como é que esse apoio opinião, mas, obviamente, sabe-
dutos e processos de produção ino-
vadores, mais sustentáveis, com
são do país, vemos a importância
de muitas PME que são grandes
são grandes foi transformado em exportações e
em produtos e serviços comerciali-
mos quão importantes são as in-
fraestruturas aeroportuárias para
menor consumo de recursos, com empresas a nível local porque são empresas a nível záveis no mercado internacional uma indústria que é fundamental
produtos com melhor ciclo de vida exportadoras, porque são altamen- local porque são de médio ou alto valor. para Portugal, que é o turismo.
e, por isso, na prática, que respon- te produtivas. E, nessa perspetiva, exportadoras, E qual será o grande desafio do Também entendemos que, relati-
dam às necessidades dos clientes, temos empresas que estão em cres- novo titular das Infraestruturas, vamente aos países da Europa, que
dos clientes dos clientes e das em- cimento, mas também temos em- são altamente Miguel Pinto luz? estamos atrás na ferrovia de alta
presas portuguesas. E é neste sen- presas que, de facto, precisam de fi- produtivas.” Dentro do quadro da inovação, di- velocidade.
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portanto, nessa perspetiva, eram e com maior capacidade se criar va-
100 empresas. Hoje a COTEC tem lor acrescentado. Só crio valor
muitas dessas 100 empresas funda- acrescentado se combinar investi-
doras ainda, mas tem 230 PME ino- mentos e isso significa dois tipos
vadoras e cada vez mais estas ino- de investimentos. São discricioná-
vadoras também se estão a juntar. rios. O primeiro é em abrir merca-
Mas também tem organismos da dos para vender os meus produtos
administração pública, provavel- e o outro é em inovação para ven-
mente ficarão surpreendidos – o der produtos que esses mercados
IAPMEI, a AICEP e a Agência Na- queiram e que tragam alguma coi-
cional de Inovação são nossos asso- sa de novo, relativamente ao que já
ciados –, e este ano, posso também existe. Portanto, só para dar a ideia,
aqui anunciar em primeira mão, te- tradicionalmente, e não é do go-
remos também autarquias. verno anterior, tenho o Ministério
E vão começar por onde nas au- da Ciência, Tecnologia e Ensino
tarquias? Superior, tenho o Ministério dos
Temos algumas autarquias que já Negócios Estrangeiros, que, diga-
manifestaram a vontade de aderir à mos, tem a parte de internaciona-
COTEC. Mas porquê autarquias? lização, tenho o Ministério da Jus-
Bom, é muito simples, porque uma tiça, onde está a propriedade inte-

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS


parte muito importante da política lectual e o INPI, etc.. Tenho o Mi-
de competitividade, ou da compe- nistério da Educação, típico, e de-
titividade das empresas, não está pois tenho o Ministério da Econo-
dentro das empresas, está naquilo mia. E, já agora, no último gover-
que é a localização onde as empre- no, a digitalização foi parar debai-
sas estão. xo da alçada do primeiro-ministro.
E nas condições... Pronto, ainda é mais longe. Por-
E nas condições. Quais são essas tanto, a questão aqui é como é que
condições? Voltamos outra vez evito a balcanização, digamos, da
aos fatores de competitividade da organização da política pública e
economia da inovação. Portanto, dos instrumentos, para um fim
se tenho uma empresa numa uni- único, que é tornar as empresas
Neste governo existe o Ministé- empresas portuguesas que se di- ta questão da sustentabilidade, na dade de território e não tenho mais competitivas, que possam
rio da Educação, Ciência e Inova- zem inovadoras colaboram com o eficiência dos recursos, nos resí- pessoas, e pessoas jovens, capaci- crescer através da inovação? Isso
ção, mas a inovação toca muitos setor académico. Houve aqui tam- duos, no aproveitamento dos sub- tadas, etc., a empresa fecha, por- exige o modelo de governo da ino-
outros ministérios. Esta nova bém um processo, ao longo destes produtos, no ciclo de vida do produ- que não consegue trabalhar, a não vação e não é só a questão de haver
formação do governo compro- anos, e começou há bastante anos, to, etc.. Portanto, elas já são susten- ser que tenha um modelo comple- o nome da inovação.
mete de alguma forma aquilo [por parte da COTEC] de chamar a táveis e do ponto de vista social, di- tamente remoto, mas aí pode es- A COTEC anunciou no verão
que é o investimento das empre- atenção da banca, dos gestores de gamos, acidentes, minimização de tar nessa localização ou pode estar passado a criação de uma plata-
sas em investigação e desenvol- risco, dos gestores comerciais, exa- acidentes de trabalho, condições de noutra qualquer. Portanto, acesso forma para internacionalizar
vimento? tamente de que é preciso olhar para trabalho do ponto de vista de doen- ao talento, e aqui acesso ao talen- tecnológicas. Que balanço é que
De facto, a pergunta que me faz o investimento das empresas no in- ças a longo prazo muito menores, to tem a ver com políticas de habi- se pode fazer?
tem toda a pertinência, porque se é tangível, perceber qual é o papel do do ponto de vista da sua governan- tação, políticas de educação, polí- Lançámos isso em junho e, como
relevante a política de inovação conhecimento, das marcas, dos mo- ce interna, portanto, são empresas, ticas de mobilidade, que são polí- tudo, as coisas demoram sempre
para a política de competitividade, delos de utilidade. O Inovadora CO- e estamos a falar de PME, que fo- ticas tipicamente territoriais. De- muito tempo ou demoram algum
para a competitividade das empre- TEC também tem tido esse papel e ram construídas para durar. Agora, a pois, uma segunda dimensão que tempo. Tivemos seis, sete grandes
sas, há que ter noção de que os fato- este ano é o quarto ano, já batemos questão é que precisam também de vemos também muitas autarquias empresas que já estão internacio-
res hoje modernos para a economia os recordes, temos mais de 1300 olhar, e é esse também o incentivo a liderar, é a dimensão da ligação nais, mas algumas multinacionais
de inovação, portanto, os fatores empresas, posso anunciar aqui em do Inovadora Evolution, é assim entre as empresas e o sistema que estão em Portugal como, por
contemporâneos que contribuem primeira mão, e esperamos acabar que lhe vamos chamar, para pode- científico e o sistema educacional. exemplo, a Siemens ou a Kindril,
para a competitividade, são o capi- nas 1500 ou 1600 candidaturas, o rem ir começando a olhar para estes Vemos exatamente autarquias que aderiram e que, na prática, o
tal humano avançado, e aqui não que significa que, sem fazer prog- indicadores mínimos e poderem onde temos uma promoção da li- compromisso dessas empresas foi
estamos a falar, note-se, de licencia- nósticos antes do fim do jogo, tere- reportar e dar visibilidade também gação das empresas com as uni- ajudar as empresas tecnológicas
dos e mestrados. Estamos a falar já mos claramente mais de mil em- a esses indicadores, para que o mer- versidades, com os sistemas cien- portuguesas a poder entrar em
num nível avançado que são douto- presas em Portugal com o certifica- cado, a banca, os seus clientes, pos- tíficos, etc., e isso é outro dos fato- novos mercados. E, às vezes, essa
rados. A COTEC tem desenvolvido do e estatuto Inovadora. sam saber. res de competitividade. Terceira ajuda simplesmente é uma refe-
e lançou há pouco tempo uma pla- Uma bandeira vossa, além da O ano de 2024 marca o início, dimensão, o ecossistema, que é a rência, é ir, é dizer, é fazer uma
taforma a que chamou Programa inovação, é a sustentabilidade. precisamente, da terceira tem- ligação das empresas umas com as apresentação a potenciais clientes
D100<->E100, exatamente para co- E na sustentabilidade vamos lançar porada de existência da COTEC. outras. Portanto, apesar de tudo, já num determinado mercado. Nes-
locar 100 doutorados em 100 em- ainda este ano às inovadoras a pos- O que é que definiram neste vos- falámos da cultura de colaboração, te momento, estão cerca de 50
presas. Porque entendemos que é sibilidade de poderem reportar o so plano de atividades além des- as empresas colaboram muito empresas na plataforma. Gosta-
absolutamente essencial – não só a seu perfil de sustentabilidade. É um te programa? pouco. E nós portugueses descon- ríamos, obviamente, que estives-
capacidade de um doutorado de po- modelo mínimo que foi desenvol- Estamos a fazer 21 anos agora, so- fiamos muito uns dos outros. sem mais, mas até agora é este o
der resolver problemas concretos, vido por uma entidade europeia e mos uma associação de base em- Voltando um pouco atrás, à número.
de poder aprender mais rapidamen- recomendado para as empresas que presarial que não tem só empresas, questão da formação do gover-
te porque está treinado para isso, não têm que obrigatoriamente re- isso é o que é interessante. Come- no: quando se coloca no Ministé-
numa lógica mais abrangente do portar, mas como estão integradas çámos pelas 100 maiores empresas rio da Educação, que terá o ensi-
que o licenciado que tem uma for- em cadeias de abastecimento em do país, que responderam ao repto no superior também, inovação e
mação mais específica, e de cons- que os seus clientes já vão ser obri- do presidente [Jorge] Sampaio, na ciência, significa que esta pode
truir uma ponte e pontes com a gados a reportar, de alguma forma altura, a dizer que colocassem a ser uma forma de tentar criar to-
mesma cultura e a mesma lingua- vão ser interpeladas para estas ques- inovação como prioridade chave dos esses indicadores atrativos
gem com a academia. Se calhar fi- tões de sustentabilidade. E aqui es- do país, aliás, a convite do Rei Juan para manter os jovens talentos
cam surpreendidos de saber que, do tamos a falar de reporting, porque Carlos e do presidente Jorge Napo- em Portugal?
ponto de vista de colaboração com há muitas empresas que são inova- litano, que já tinham criado a CO- Só consigo pagar bons salários aos
as universidades, apenas 6% das doras e que já estão a trabalhar nes- TEC Itália e a COTEC Espanha. E, meus trabalhadores mais criativos www.dinheirovivo.pt
06 sábado, 6 de abril de 2024
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Destaque

BRUXELAS PUXA PELOS


O Corredor Atlântico, que serve tais da Lituânia e da Moldávia [país
Portugal, não sofreu alterações: candidato à UE], que querem apro-
mantêm-se as ligações ferroviárias ximar-se da Polónia e da bitola eu-

COMBOIOS PARA NÃO


Lisboa-Porto-Vigo; Aveiro-Viseu- ropeia. Os dois países querem fugir
-Salamanca e Lisboa-Elvas-Madrid. aos padrões de carris definidos pela
A Ucrânia integra pela primeira Rússia há mais de um século. “Será
vez a rede transeuropeia, estando um processo muito dispendioso,

SE ATRASAR NA LUTA
previstas ligações de cidades como mas penso que a nossa segurança
Kiev, Mariupol e Odessa à UE. Com nacional não pode ficar compro-
a ameaça russa cada vez mais pre- metida por uma questão financei-
sente, também se falou sobre in- ra”, sinalizou Loreta Maskaliovien,

PELO AMBIENTE
vestimentos para melhorar a circu- vice-ministra lituana dos Transpor-
lação de veículos militares. tes e Comunicações.
A padronização do transporte Apesar de incluída nos acessos à
ferroviário é o principal marco nos Europa, a Ucrânia não quer mudar
corredores transeuropeus, que ga- já a bitola de toda a rede. “É preciso
nharam nova dinâmica com a guer- manter a atual capacidade”, notou
ra na Ucrânia. Na visão de Bruxelas, o líder dos caminhos-de-ferro ucra-
Para a União Europeia ser neutra em carbono até 2050, o Estados-membros como Portugal, nianos, Oleg Yakovenko. A nível
transporte ferroviário será uma das principais ferramentas. Bélgica, Finlândia, Letónia, Lituâ-
nia e Estónia têm de ter planos para
nacional, o comboio é responsável
por 65% do transporte de mercado-
Construção de novas linhas terá de ter menos emissões e mudar de bitola [distância entre rias e 25% dos passageiros. Para
carris] nos principais corredores. aceder aos corredores europeus, no
Bruxelas insiste na mudança da bitola, apesar de já haver Mesmo soluções como os cambia- entanto, os ucranianos estão a falar
outras opções. Texto: Diogo Ferreira Nunes, em Bruxelas dores de bitola, que são usados na
alta velocidade espanhola e que
com os espanhóis para apostar nos
cambiadores de bitola.
permitem ajustar os rodados aos O mesmo ponto foi assinalado
padrões europeus e ibéricos, são noutro painel pelo ministro espa-
A cerca de quatro quilómetros do União Europeia (UE) “anda no en- Os comboios serão determinan- vistas como medidas transitórias. nhol dos Transportes. “Temos de
centro de Bruxelas, Schaerbeek é gate” a tentar convencer pessoas e tes para cumprir o objetivo climáti- “Prefiro um bom plano do que conjugar a rede de alta velocidade
uma das estações ferroviárias mais empresas a voltarem a apostar no co até 2050 nos passageiros e nas soluções intermédias que nos fa- em bitola europeia com as outras
antigas da Europa. O comboio es- transporte sobre carris. A UE corre mercadorias entre os 8% e os 5%, zem depender de outros sistemas”, bitolas”, referiu Óscar Puente.
treou-se aqui em 1835, quando a contra o tempo. Tem 25 anos (e respetivamente. Este foi o foco da salientou Herald Ruijters, subdire- Ainda não se percebeu se haverá
Bélgica deu os primeiros passos so- sete meses) para atingir a neutrali- edição deste ano dos Connecting tor-geral do departamento de Mo- fundos europeus suficientes para
bre carris. No século XIX, o trans- dade carbónica e os meios de trans- Europe Days, iniciativa da Comis- bilidade e Transportes da Comissão todas as obras necessárias. Por cau-
porte ferroviário dominou as via- porte têm de baixar as emissões em são Europeia dedicada aos trans- Europeia [DG-Move], durante um sa disso, o ministro dos Transportes
gens europeias. No século XX, o au- 90% – atualmente, representam portes, que decorreu na capital bel- dos debates. da Chéquia admitiu a existência de
tomóvel passou para a linha da um quarto de toda a poluição e au- ga. A revisão dos corredores tran- Ao lado deste responsável esta- investidores privados em futuros
frente. Cerca de 190 anos depois, a mentaram nos últimos 30 anos. seuropeus foi um dos destaques. vam representantes governamen- projetos. “Precisamos de mostrar o
sábado, 6 de abril de 2024
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de vagões com recurso a manobra- ENTREVISTA
dores. Além de aumentar a segu-
rança desta operação, o sistema
quer acelerar a formação de com- Óscar Puente
boios de mercadorias e aumentar a
capacidade do transporte de carga. “Se houvesse assim tanta procura,
A solução pode ser instalada em
qualquer um dos mais de 400 mil
vagões de mercadorias existentes
os comboios noturnos seriam viáveis”
em toda a Europa. Funciona em Apesar de um novo governo, o ministro espanhol dos
qualquer temperatura, mesmo pe-
rante frio extremo – chegaram a ser
Transportes não espera mudanças no empenho de Portugal
feitos testes na Suécia, com 25 relativamente à alta velocidade. Óscar Puente garante que os
graus negativos. países ibéricos têm boas relações ferroviárias.
No futuro, pretende-se que a fer-
ramenta funcione de forma autó- —DIOGO FERREIRA NUNES
noma e controlada remotamente – geral@dinheirovivo.pt
o que terá consequências para as
carreiras de trabalhadores ferroviá- Óscar Puente nasceu em 1968
rios. A inteligência artificial, conju- em Valladolid. É o ministro es-
gada com a leitura de dados dos panhol dos Transportes e da
sensores, pode facilitar a localiza- Mobilidade desde novembro do
ção e gestão dos vagões. ano passado. Foi presidente da
Câmara de Valladolid entre
Caderno de encargos para 2015 e junho de 2023. O antigo
a próxima Comissão “alcalde” sabe da importância
Como se quer o comboio como do comboio nas ligações trans-
principal meio de transporte euro- fronteiriças: Valladolid foi uma
peu nos próximos anos, os minis- das estações do Sud Express até
tros europeus dos Transportes, março de 2020, quando o servi-
após reunião informal na capital da ço ferroviário entre Lisboa e
Bélgica, deixaram um caderno de Hendaye (na fronteira com
encargos para o próximo elenco da França) foi suspenso unilateral-
Comissão Europeia: facilitar a com- mente pela Renfe, que alugava
pra de um bilhete de comboio em o material circulante. A empre-
Demonstração de um sistema toda a UE, independentemente das sa pública ferroviária espanhola
automático de engate de empresas envolvidas; desenvolver também era a parceira da CP no Óscar Puente, ministro espanhol dos Transportes e da Mobilidade
comboios, sem recurso a uma estratégia para os comboios comboio Lusitânia, entre Lisboa Sustentável. FOTO: JULIEN NIZET/DR
manobradores, que foi noturnos, com tarifas reduzidas e e Madrid, que partilhava o per-
apresentado na estação ferroviária em alternativa a voos de curta e curso com o Sud Express até guês para marcarmos uma reu- durante a noite, tornando difícil
de Schaerbeek, Bruxelas, na última média distância; equilibrar a fiscali- Medina del Campo. nião. conjugar esses trabalhos com a
terça-feira. Na frente, de fato azul dade entre meios de transporte, so- Quatro anos depois, Óscar O novo ministro das Infraes- realização desses comboios.
claro, o vice-primeiro-ministro e bretudo no capítulo energético; re- Puente põe de parte o regresso truturas é Miguel Pinto Luz, Acho que as pessoas que defen-
ministro belga da Mobilidade, fletir, nos preços dos transportes, das ligações ferroviárias notur- do PSD. Esperam alguma mu- dem os comboios noturnos fa-
Georges Gilkinet. os custos das externalidades, como nas entre os dois países, algo dança na estratégia do lado zem mais barulho do que real-
FOTO: DIREITOS RESERVADOS a poluição e o trânsito; aumentar o singular na atual realidade euro- português? mente representam. Se houves-
financiamento para o transporte peia, onde estão a ser recupera- Espero que não haja mudanças. se assim tanta procura, então os
ferroviário; e proteger a indústria das ou criados comboios notur- A relação com Portugal tem sido comboios noturnos seriam viá-
valor das novas infraestruturas aos europeia da “concorrência injusta” nos. O ministro espanhol está muito boa até agora. Por isso, veis e economicamente realizá-
cidadãos e apostar em parcerias de países extracomunitários a nível mais focado nas ligações de alta sinto maior necessidade de falar veis. Só que não há procura su-
com investidores privados. Essa é fiscal, social e laboral. velocidade, sobretudo com Vi- com França porque é mais com- ficiente.
uma solução pragmática para o fu- A Europa tem de preparar-se, por go, e espera reunir-se em breve plicado. Portugal e Espanha têm Tem novidades da ligação de
turo”, propôs Martin Kupka. isso, para a ampliação e construção com o novo homólogo portu- muitos objetivos e projetos co- alta velocidade entre Porto e
As mercadorias também foram de novas linhas ferroviárias – mas guês, Miguel Pinto Luz. Apesar muns. Vigo? Do lado português, a
incluídas no certame europeu. Em não a todo o custo (ambiental). O de o ministro ser do PSD, Óscar A Renfe e a CP continuam a construção não deve ficar
Schaerbeek, a UE apresentou um uso da energia geotérmica e das re- Puente não esperar mudanças ser parceiras ferroviárias ou a pronta antes de 2032.
sistema de engate automático dos nováveis, a reutilização de mate- no empenho português para a Renfe vai passar a fazer sozi- Vamos ver se agora é dado um
comboios: o Digital Automatic riais usados na construção, a apos- ferrovia. nha os serviços com Portu- impulso nesse projeto. Há qua-
Coupler quer romper com pratica- ta em aço de alta qualidade e ci- gal? tro importantes ligações trans-
mente dois séculos de acoplagem mento com menos dióxido de car- Anunciou que iria falar com o Temos de ver isso. Depende do fronteiriças ferroviárias, para
bono, além do transporte de mate- homólogo francês sobre rela- nível de liberalização da rede Vigo [via Porto], Salamanca [via
riais através de circuitos próprios ções ferroviárias transfron- ferroviária portuguesa. A Renfe Guarda], Badajoz [via Elvas] e
em vez de camiões foram algumas teiriças à margem da cimeira é uma empresa que está a cres- Huelva [via Faro]. Esta última
Soluções como os das sugestões deixadas num relató- de ministros dos Transportes cer a nível internacional e onde ainda não está no mapa do cor-
cambiadores de rio elaborado por mais de 20 espe- em Bruxelas. Quando vai fa- tem oportunidade de operar, as- redor Atlântico transeuropeu.
lar com as autoridades portu-
bitola, usados na alta cialistas.
Resta saber se medidas políticas guesas?
sim o vai fazer.
Admite o regresso dos com-
Para mim, Portugal sempre teve
maior interesse em fazer a liga-
velocidade espanhola e técnicas vão acelerar ainda mais Há muito pouco tempo tive boios noturnos caso haja fi- ção ferroviária com Espanha por
e que permitem os projetos ferroviários na viagem
europeia pela descarbonização, ga-
uma reunião com o embaixador
de Portugal em Espanha. Na se-
nanciamento público?
Os comboios noturnos têm dois
Porto e Vigo. Portugal deve fa-
zer um esforço nesse corredor.
ajustar os rodados aos rantido o futuro da humanidade os mana passada, estive em Portu- problemas: perdem dinheiro, Em Espanha, estamos a traba-
padrões europeus e próximos 190 anos (pelo menos). gal para um encontro com o pelo que necessitam de um lhar na saída sul de Vigo. Atem-
embaixador de Espanha em Por- apoio público; a nível operacio- padamente, iremos fazer a nos-
ibéricos, são vistas O jornalista viajou tugal. Ficámos à espera da for- nal, a manutenção da maior sa parte. Mas não me compro-
como transitórias. a convite da DG-MOVE mação do novo governo portu- parte da rede ferroviária é feita meto com prazos.
08 sábado, 6 de abril de 2024
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Negócios

Tiago Costa Rocha, CEO da Full Venue (à direita), e Marcos Castro, diretor de operações. FOTO: DIREITOS RESERVADOS

TECNOLOGIA
—ANA RITA GUERRA
geral@dinheirovivo.pt

Qualquer utilizador que faz uma


pesquisa online por calções de cor-

Solução portuguesa rida ou as datas das próximas mara-


tonas sabe que, assim que entrar no
Facebook ou Instagram, vai ver

de IA para otimizar
anúncios a sapatilhas, aplicações de
running e suplementos para atle-
tas. É a máquina de segmentação
da Meta a funcionar, apanhando na

vendas online acena aos


sua rede gigantesca todo e qualquer
comportamento que possa gerar
negócio para um anunciante.
Mas o Instagram não sabe quem
é que foi à loja de desporto do seu

Estados Unidos bairro comparar opções, nem


quem tem ficha de cliente numa
das gigantes do segmento. Isso só
seria possível com uma solução
que digerisse todo o tipo de dados
de vendas e marketing e gerasse al-
Full Venue usa Inteligência Artificial para ajudar empresas a vender mais com menos custos e vos tão segmentados que o retorno
promocional triplicaria. O Insta-
está de olho no mercado norte-americano. Começou por usar a tecnologia para vender mais gram não tem isso, porque a solu-
assentos em estádios e garantir casa cheia, e está em negociações com Benfica, Sporting e Porto. ção foi criada por uma startup por-
tuguesa.
sábado, 6 de abril de 2024
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fazerem a magia e aumentarem as de entrada no mercado america- OPINIÃO LUÍS TAVARES
vendas.” no”, refere Tiago Costa Rocha. “A BRAVO
economista, presi-
Um dos clientes da Full Venue Major League Soccer também é dente
em Portugal é a Lightning Bolt, um objetivo”, diz, referindo con- do Internacional
marca historicamente ligada ao tactos com uma equipa do Utah, Affairs Network
surf que vende moda e acessórios. A Real Salt Lake. A ideia é dinamizar
plataforma analisa as fontes de da- as receitas dos clubes nos canais
dos da marca, desde a loja online ao B2C – bilhetes, lugares anuais e
email marketing, identifica grupos
inclinados para comprar produtos e
merchandising.
A segunda vertente que motivou
A que ritmo podem
passa-os ao departamento de
marketing. O objetivo é que “consi-
a Full Venue foi a dos eventos, no-
meadamente festivais de música.
descer as taxas de juro?
gam apontar as suas campanhas de Trabalha com o Primavera Sound
marketing com muito mais asserti- (Barcelona e Porto), Marés Vivas,

P
vidade, baixando nos gastos que Sudoeste, Paredes de Coura e Blue arece claro que teremos já atingido o pico da subida
têm a nível da publicidade e comu- Ticket. “Percebemos que havia es- das taxas de juro por parte dos bancos centrais mais
nicação e aumentando as vendas.” paço em eventos culturais e passa- relevantes, e que o próximo sentido é para baixo. A
A proposta fez virar cabeças no mos para esse lado e estamos a cres- Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central
mercado europeu e explica porque cer também”, explica o CEO. Europeu – embora de forma menos atrevida – já
é que a startup levantou uma ron- Mas é no retalho de moda online incorporaram nos seus discursos esta narrativa, e esta mesma
da semente de dois milhões de eu- que a equipa vê agora o próximo perspetiva deverá começar a fazer-se sentir até ao verão. O
ros em janeiro, liderada pela GED grande passo: “Acreditamos que há primeiro corte será, sem dúvida, o mais simbólico. Porque sinaliza
Ventures. Este financiamento ser- um potencial brutal.” Especial- a inversão de um período complexo e que teve impacto nos
virá para a expansão do negócio e o mente porque muitas marcas não rendimentos e custos das famílias, nas empresas e também em
lançamento em chão mais firme têm o orçamento ilimitado das gi- certa medida para os Estados Europeus, que tiverem de gerir um
no próximo ano, com a Full Venue gantes para anunciarem nas plata- braço de ferro entre incentivos fiscais para apoiar a economia, e o
já de olhos postos no enorme mer- formas da Meta, Google, TikTok e controlo da inflação. Mas a dimensão do ciclo de descidas é sem
cado norte-americano. outras de uma forma eficaz. E, por dúvida igualmente importante, porque ajudará a antecipar um
“Temos o objetivo e estamos a outro lado, estas plataformas so- sentimento positivo relativamente ao ritmo a que as economias
fazer um push para entrar nos Esta- ciais aplicam os algoritmos nos da- poderão recuperar durante o resto de 2024, e também definir o
dos Unidos”, sublinha Tiago Costa dos dos clientes que têm lá conta, tom para 2025.
Rocha. “É difícil”, admite. “Mas é mas não têm visibilidade para o No entanto, e ao contrário do que é prática nos Estados Unidos,
possível.” resto. na Europa não existe uma clara orientação sobre as taxas diretoras
Aqui, a ideia é entrar pelo seg- “Nós estamos ligados aos dados da zona euro. E isso levanta um conjunto de preocupações, e que
mento em que a Full Venue se fo- diretos da marca, é um nível de In- estão ligadas desde logo ao impacto positivo no desempenho
cou inicialmente. Tal como o nome teligência Artificial anterior”, ex- macroeconómico da publicação de projeções dos observatórios
em inglês indica, a startup come- plica Rocha. “Conseguimos separar relativamente aos custos financeiros, sobretudo porque ajudarão a
çou por querer usar Inteligência Ar- o trigo do joio e criar segmentos nas reduzir a incerteza sobre a trajetória futura das taxas de juro. Ou
tificial para vender mais assentos plataformas apenas com o que in- seja, as famílias e as empresas poderão estar mais ansiosas por
em estádios e garantir casa cheia. teressa.” reagir às perspetivas de cortes nas taxas refletidas nestas projeções
Fecharam contrato com federações O resultado, segundo o CEO, é do que às que podem ser inferidas a partir dos mercados
e clubes de futebol europeus – tal que a Full Venue triplica o retorno financeiros e que são inerentemente mais voláteis. Sobretudo, a
como o espanhol Villa Real e as fe- das campanhas. Em vez de um incerteza relativamente à amplitude das taxas de juro é
derações da Roménia, Bélgica, País ROAS (retorno do investimento importante devido ao seu impacto negativo nas decisões das
de Gales, Finlândia e Albânia – e es- em publicidade) de 4 ou 5, a startup empresas.
tão em conversações com o Benfi- está a permitir alcançar níveis dos No entanto, neste momento, o que pode ser retirado de alguns
“A Full Venue utiliza Inteligên- ca, Sporting e Porto em Portugal. 15 aos 25, garante Rocha. Isso é re- indicadores públicos aponta no sentido de uma descida
cia Artificial para ajudar os seus Nos Estados Unidos, a atenção está levante para as marcas que têm or- relativamente importante das taxas de juro na Europa até ao final
clientes a aumentarem as suas ven- virada precisamente para o futebol, çamentos apertados e pressão para de 2025. Olhando para o consenso dos economistas e analistas que
das ao consumidor”, diz ao Dinhei- estando identificadas as tecnológi- aumentar as vendas. acompanham a política monetária do Banco Central Europeu (à
ro Vivo o CEO da empresa, Tiago ca que operam na área. “Se não tiverem este tipo de so- data de final de março), a taxa de depósito (4%) atingirá os 3% no
Costa Rocha. A solução é complexa “Já há coisas parecidas, competi- luções, no futuro vai-se tornar in- final deste ano, e os 2,25% em dezembro de 2025. Outra forma de
e está a ser desenvolvida desde dores e estamos numa conversação frutífero colocar dinheiro em pu- analisar, com base na curva forward , ou seja, para contratos
2020, quando o empreendedor longa com a U.S. Soccer, que para blicidade, porque a concorrência é futuros aplicando taxas de juro de curto prazo em euros, os
fundou a startup, mas a ideia resu- nós foi identificada como o ponto muito grande”, considera Rocha. mercados financeiros indiciam em média uma descida da taxa de
me-se a isso: dizer às equipas de O obstáculo da startup é que es- depósito de 85 pontos base (pb) até ao final deste ano, e de 150 pb
marketing para que alvos apontar, tas soluções caso a caso, que in- até ao final de 2025. Ou seja, um valor entre os 2,25% e 2,5% será
de forma a que o dinheiro que in- cluem consultoria, têm um custo a um valor que neste momento poderá ser um bom intervalo do que
vestem em anúncios, envolvimen- que muitas empresas torcem o na- esperar até ao final de 2025, e que a verificar-se poderá constituir
to e outras ações resulte em maior Dentro de seis riz. No futuro, o negócio será esca- uma variável relevante para as economias europeias, e com
número de conversões.
“Nós aparecemos para adicionar
meses a um ano, a lado por outra via: a Full Venue pre-
tende lançar, dentro de seis meses
particular interesse para Portugal, que detém uma elevada
exposição das famílias e empresas a endividamento, e no caso do
uma camada de ciência de dados, empresa quer a um ano, uma solução similar em crédito hipotecário, a estruturas variáveis das taxas de juro.
de aprendizagem automática”, ex- lançar uma regime self-service para quem faz Os sinais são, neste momento, ligeiramente favoráveis. O ciclo
plica Tiago Costa Rocha. “Os clien- marketing digital. A pessoa faz lo- de descida de taxas parece ter chegado, e os sinais apontam para
tes recolhem dados que, grande solução em regime gin, conecta os dados da marca, cor- que, em 2025, as taxas de juro possam ter algum ímpeto de descida
parte das vezes, não estão a fazer de self-service para re os modelos disponíveis e inte- para níveis mais neutrais, compatíveis com cenários de
nada com eles”, descreve. “A Full
Venue entra, unifica-os, aplica mo-
quem faz gra-os nas suas plataforma de co-
municação. “Tudo isso de forma in-
estabilidade definidos como tal pelo BCE (2%). No entanto, o
percurso ainda não está isento de obstáculos. Caberá ter aos países
delos proprietários, identifica clus- marketing digital, dependente, em meia dúzia de cli- europeus, como Portugal, uma elevada preocupação com
ters com alta propensão de compra
de determinados produtos e co-
que dispensa ques”, indica Rocha. “É quase jun-
tar a consultora de IA com a empre-
implementação do crescimento económico sustentável e digital,
mas relativamente aos danos colaterais que esta transição pode
munica diretamente com as equi- custos com sa de produto, que nos vai trazer es- trazer, nomeadamente no que diz respeito ao emprego e
pas de marketing, para estas depois consultoria. cala.” desigualdade. O combate pelo crescimento também deverá ser
acompanhado sempre, por um combate pela coesão social.
10 Negócios sábado, 6 de abril de 2024
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Maria da Graça
Carvalho
“Continua a haver
manipulação e pouca
transparência no
mercado da energia”
A nova ministra da Energia, numa das últimas
entrevistas como eurodeputada, explica o novo quadro
de sanções contra grandes operadores que manipulam
preços no mercado grossista de energia. Texto: Luís Reis Ribeiro

N uma das últimas entre-


vistas que deu como
eurodeputada (do PPE -
Partido Popular Euro-
peu, ao qual pertence o
PSD), Maria da Graça Carvalho, que
este mês foi empossada como mi-
nistra do Ambiente e Energia do go-
A também professora e investiga-
dora, é formada em Engenharia
Mecânica pelo Instituto Superior
Técnico e doutorada pelo Imperial
College (Londres).

Relativamente a esta reforma do


quadro legal contra a manipula-
to de regras na luta contra a mani-
pulação do mercado, a que soma o
outro relatório com o desenho do
mercado elétrico. Ambos têm como
fim proteger os consumidores.
Esse desenho do mercado elétri-
co visa o quê, em concreto?
Este regulamento do mercado elé-
sas que sofreram muito. Quanto ao
REMIT, como disse, é o nome cur-
indireta. Daí também ser preciso ter
aqui uma transparência grande nes-
verno de Luís Montenegro, explica ção do mercado grossista da trico passa a prever a possibilidade to para a luta contra a manipulação te sistema. Portanto, o que nós pro-
como vai funcionar o novo Regula- energia, para uma maior transpa- de decretar imediatamente um re- do mercado grossista e tem como pusemos e foi aprovado – e tenho
mento de Proteção da União Contra rência na formação de preços em gime de crise. Ou seja, se acontecer objetivo dar maior transparência a muito gosto em ter o apoio de todos
a Manipulação do Mercado Grossis- benefício dos consumidores fi- alguma coisa grave, como aconte- este mercado. Porque continuamos os grupos políticos, extremos in-
ta da Energia (REMIT), do qual foi nais, foi a guerra que precipitou a ceu no passado, já não é preciso ter a ter manipulação e pouca transpa- cluídos, desde o ID [grupo Identida-
relatora-principal no Parlamento urgência de rever esta lei espe- uma legislação de emergência para rência no mercado da energia. de e Democracia, que congrega a
Europeu (PE). Este quadro legal RE- cial de proteção dos consumido- proteger os consumidores. Este Para explicar melhor aos nossos extrema-direita europeia e do qual
MIT foi revisto na sequência da in- res no mercado energético? quadro para responder às crises que leitores: o que é um mercado faz parte o Chega] e o ECR [grupo
vasão da Ucrânia pela Rússia e do Foi uma resposta à crise, essencial- possam existir é um quadro perma- grossista de energia e por que ra- dos Conservadores e Reformistas
pico que se seguiu nos preços da mente, à crise. A invasão da Ucrânia nente. A legislação nesta proposta zão ele é importante para a for- Europeus] – do PPE, do Renew Eu-
energia, para o qual também contri- pela Rússia teve como consequên- está prevista com critérios muito ri- mação do preço final relevante rope, dos Socialistas, dos Verdes e da
buíram práticas ilegais por parte de cia uma grave crise de energia, por- gorosos e aí os Estados-membros para os consumidores? Esquerda, todos eles apoiam esta
empresas, que este regulamento que nós dependíamos imenso da podem ajudar os consumidores, os A formação do preço começa exata- iniciativa.
visa justamente combater. importação da Rússia, de carvão, consumidores privados e as empre- mente aí, na importação, os preços Frisou em particular que até a
Assim, o objetivo fundamental e fi- petróleo e gás, mas essencialmente da importação da energia, portanto, extrema direita apoia isto. Que
nal é reforçar a proteção dos consu- gás. E houve a urgência de ter me- temos que começar a controlar aí leitura faz dessa convergência
midores. Neste caso, apertando didas que nos protegessem e que di- para depois conseguir controlar o neste dossiê?
mais o cerco às tentativas de mani- minuíssemos a dependência da preço final para os consumidores. E, A extrema-direita e a esquerda vo-
pulação dos mercado de energia, Rússia, que aumentassem a trans- “É preciso que os como disse, até agora, tem havido tam a favor, sim. De início não esta-
não apenas pelos operadores do se- parência e que protegessem os con- consumidores pouca transparência. Nós, por vam em parte de acordo, mas resol-
tor em causa, mas também do setor sumidores do grande aumento dos exemplo, tivemos ainda recente- veram apoiar, porque é difícil ser
financeiro. A revisão do REMIT visa preços que houve nessa crise. Hou-
sintam nos preços mente uma notícia, Portugal au- contra uma coisa que aumenta a
ainda reforçar os poderes da agência ve países, em toda a Europa, com que pagam o mentou a importação de gás natu- transparência. Eles de início não es-
europeia – ACER – que representa uma subida em flecha dos preços, esforço de ral liquefeito da Rússia, mas não foi tavam muito contentes de estar-
os reguladores. No final de feverei- como todos recordamos. investimento que só Portugal, foi Espanha, Bélgica, os mos a dar mais poder à Europa...
ro, a proposta de lei redigida por Em Portugal foi assim, mas, por países continuam a importar mui- E ao regulador, imagino.
Graça Carvalho foi aprovada por es- exemplo, nos países do Leste eu- toda a sociedade to. Diminuíram o gás por pipeline, Sim. Mas da forma como fizemos
magadora maioria no PE, com 440 ropeu foi ainda mais dramático. está a fazer há por gasoduto, mas continuam a im- esta reforma, penso que aumentou
votos a favor, 32 votos contra e 31 Sim, totalmente, e Espanha tam- muito tempo nas portar via marítima, por navio. Ou muito o equilíbrio entre a agência
abstenções. Terá agora de ser for- bém teve problemas graves. Este seja, podemos estar a falar em im- europeia e reguladores nacionais.
malmente aprovada pelo Conse- novo quadro legal, composto pelo energias portações daqui ou dali, mas nunca É expectável, no fim deste pro-
lho, para se tornar lei. REMIT, passa a ser o nosso conjun- renováveis.” sabemos bem porque vêm por via cesso sendo ele bem sucedido,
sábado, 6 de abril de 2024
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“Sanção mínima o peso da Rússia deve rondar os
15%, ou seja, menos de metade do
passa a ser cinco que era. Mas, o nosso objetivo é
milhões de euros, chegar a zero.
isto para pessoas Voltando à questão da regulação
e da falta de transparência e abu-
singulares. Para sos no mercado energético: sen-
empresas, pessoas tiram que piorou nos últimos
coletivas, passa a tempos?
Houve um período em que houve
15% do volume de mais situações irregulares, aliás, isso
negócios. Portanto, nota-se após o início da guerra. De
estamos a falar de facto, houve um aumento de san-
ções aplicadas pelos reguladores na-
sanções relevantes cionais.
e muito grandes.” Com esta vossa proposta tentam
apertar ainda mais a malha às
empresas que prevaricam?
Como disse, reforça ou dá pela pri-
dem beneficiar mais dessa moda- meira vez poder à agência europeia
lidade de produção de energia para ter ela própria poderes de in-
para autoconsumo e partilha? vestigação e de aplicar multas e de
Primeiro, há uma restrição impor- maior persuasão e escrutínio dos re-
tante neste desenho: no caso das guladores nacionais.
empresas que decidem produzir Como é em termos de sanções?
energia para também poder parti- São pesadas?
lhar, esta não pode ser a sua princi- Definimos os mínimos das sanções
pal atividade. Quer dizer, não po- porque o que se via, quando olháva-
dem ser utilities, nem produtores de mos para os 27 Estados-membros, é
energia. Mas todos os outros podem que não era nada uniforme, variava
beneficiar e muito. Estamos a falar imenso de país para país e, portan-

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS


de fábricas, parques de ciência e tec- to, os operadores do mercado que se
nologia, parques industriais. Estou queriam aproveitar dessas diferen-
a falar destes, porque a maioria tem ças, poderiam ir para os países onde
possibilidade financeira, tem espa- as sanções eram mais leves. Com
ço. Por que é que não hão de produ- esta reforma, por exemplo, para o
zir a sua eletricidade e o que lhes so- abuso de informação privilegiada e
bra partilhar? Conseguiu-se pôr isto manipulação do mercado, a sanção
na proposta, mas foi uma das coisas mínima passa a ser cinco milhões
mais difíceis, porque o que estava, o de euros, isto para pessoas singula-
que vinha do contributo da Comis- res. Para empresas, pessoas coleti-
além de promover a transparên- veis, se isto é mais barato, é preciso da energia. Mas isto é algo com o são e que era aceite por muitos Es- vas, a sanção mínima passa a ser
cia – porque, supostamente, as pelo menos que se veja e sinta que qual a Comissão Europeia (CE) e a tados-membros e por muitos cole- 15% do volume de negócios. Por-
pessoas vão conseguir ver me- não estamos a aumentar tanto o maior parte dos países ainda não se gas, representava um retrocesso tanto, estamos a falar de sanções re-
lhor o que é que estão a consu- preço da eletricidade, por exemplo. sentem confortáveis. grande, por exemplo, para Portugal. levantes e muito grandes e que, no
mir e os preços –, que a energia É muito importante que isto come- Mas porque será? Conseguimos que não fosse, aliás, caso de empresas que operam em
fique mais barata também para ce a ser visível, porque estamos Eu acho que ainda há muita menta- depois conseguimos incluir mais pelo menos dois países, podem ser-
os consumidores finais? num ponto em que toda a gente lidade do centralismo no mercado facilidade em relação às autoriza- vir de dissuasor relativamente a
Isso vai depender muito das taxas e ouve dizer, já é muito competitivo da energia. Aquela ideia de ter uma ções. O quadro ficou todo ele mui- más práticas, esperamos.
dos impostos de cada um dos Esta- ter energias renováveis, já são mui- empresa muito grande, a utility to mais facilitador e amigo de quem Há pouco tempo a Engie, que é
dos nacionais. Mas, por exemplo, to mais baratas... clássica, um modelo que tem 20 opta por produzir energia para auto- uma gigante energética francesa,
temos as condições, aqui neste rela- Mas as pessoas ainda não sentem anos, e agora o modelo de futuro vai consumo e o que sobrar, partilhar foi multada por uma série de pro-
tório e no do desenho do mercado isso. ter de ser muito mais descentraliza- com outros. cessos em apenas 500 mil euros.
elétrico, para que a descida do pre- ... mas depois não se sente, é isso. É do, muito mais digitalizado, com Referiu há pouco a questão da É para que desfechos destes dei-
ço, por exemplo, das renováveis, se preciso que haja uma transparência maior inovação, e vai dar maior po- guerra, de como esta veio provo- xem de acontecer?
possa refletir no preço final. na formação do que se paga, que os der a cada um de nós. Só para você car uma grave disrupção nos pre- Basicamente, sim. As sanções míni-
Em Portugal teria impacto. consumidores sintam nos preços ver como isto se desenrolou. Pri- ços, um choque mesmo. E falou mas têm de ser grandes para o siste-
Podia, mas depende do que é que que pagam o esforço de investi- meiro, consegui introduzir no rela- da Rússia. Hoje, qual é o ponto da ma ser eficaz e fazer sentido. E com
vamos pôr sempre depois em cima mento que toda a sociedade está a tório a ideia de que nós temos que situação relativamente à depen- este novo quadro, aumenta o nú-
do preço da geração de energia. fazer há muito tempo nas energias ter partilha de energia, mas do ou- dência europeia da energia rus- mero de casos em que a agência eu-
Mas, sim, temos as condições para renováveis. tro lado [CE e outros países] a res- sa? ropeia pode atuar e, ato contínuo,
haver maior investimento e que os Outra forma de aliviar a fatura posta era então só para as famílias e Com a guerra, no início de 2022, a os reguladores nacionais em causa.
lucros obtidos sejam, de certo modo energética passa por famílias e só para as habitações. Nessa altura Europa lançou o programa Re- Portanto, agora basta ser um qual-
e cada vez mais, em favor da desci- pequenas empresas apostarem disse que também seria importante power EU [medidas para poupar quer operador transfronteiriço e os
da dos preços no consumidor final. em renováveis para autoconsu- para as empresas. E a resposta a isto energia, produzir energia limpa e reguladores já podem atuar, caso
Outra coisa que está no outro rela- mo. Tem havido apoios, subsí- foi “então só para as empresas mui- diversificar o aprovisionamento exista um motivo, porque é preciso
tório, o referido desenho do merca- dios, mas esta modalidade devia to pequeninas”. E eu questionei: energético] onde muitas medidas e apenas a irregularidade ou ilícito
do elétrico, é que é preciso que a ainda crescer muito mais, não? mas porquê?! Nós em Portugal te- financiamentos foram diretamente acontecer em dois Estados-mem-
grande aposta nas renováveis seja Exato, isso é outra coisa que no mos empresas grandes a fazer parti- para a Europa ficar menos depen- bros. E hoje, na Europa, os operado-
refletida em todos os consumido- mercado elétrico da energia foi sur- lha de energia, temos vários proje- dente da importação de gás russo. res são todos transfronteiriços, basi-
res. Há uma especial atenção aos preendente para mim que tanto tos já com dimensão. E assim foi: lá Aliás, nós no ano anterior à invasão, camente. Portanto, o alcance deste
consumidores vulneráveis, mas to- aqui no Parlamento, como no Con- conseguimos que ficasse para to- em 2021, cerca de 40% do nosso gás novo regime é grande.
dos os consumidores, na classe mé- selho, foi essencialmente Portugal dos, quer dizer, e esse é o futuro, importado vinha da Rússia e, neste
dia, na empresas. Ou seja, se esta- a defender o autoconsumo, as co- não é? momento, o que vem por gasoduto Em Estrasburgo. O jornalista viajou a
mos a investir nas energias renová- munidades de energia e a partilha Que empresas e entidades po- é apenas 8%. Depois com os navios, convite do Parlamento Europeu
12 Negócios sábado, 6 de abril de 2024
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ANÁLISE ALBERTO
CASTRO
Economista
e professor
universitário

Escrever direito
por linhas tortas

A
história corre à boca pequena: há
uns anos, foi encomendado um
livro sobre casos de sucesso na in-
ternacionalização de empresas
portuguesas. Como é natural, a
obra demorou algum tempo a produzir e,
quando estava pronta para ser publicada, o
editor constatou que várias das empresas re-
ferenciadas tinham falhado, quando não fali-
do. De acordo com a norma vigente num cer-
to tipo de literatura de gestão, mais preocupa-
da com receitas, e pretensos casos de sucesso,
O Hotel The Rebello tem uma vista privilegiada para o rio Douro e para o centro histórico do Porto. FOTO: DIREITOS RESERVADOS do que com análises sérias, o livro não chegou
a ser distribuído. Talvez o mesmo acontecesse
HOTELARIA noutros contextos, mas, em Portugal, onde

Bomporto quer crescer quase ninguém admite ter errado, por maio-
ria de razão. Foi pena: como sempre se soube,
e é hoje consensual, pode-se quase sempre
aprender mais com os erros com exemplos de

nas grandes cidades do país erros do que com escritos, mais ou menos
apologéticos, sobre sucessos não poucas vezes
efémeros.
Aprender com
The Rebello foi a última aposta do grupo. Hotel foi pensado para famílias “Alguns os erros, mas não
e grupos de amigos descobrirem a Invicta num ambiente de luxo. resultados significa endeusá-
-los, passo que al-
parecem guma dessa dita
—SÓNIA SANTOS PEREIRA drados. Todas têm cozinha equipada e espa- nerado e o The Rebello, que abriu portas no paradoxais. As literatura, sempre
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt ço exterior. “Este conceito tem muita pro- verão passado, está agora a entrar em velo- organizações com à procura de
cura”, frisa o responsável. cidade cruzeiro. Para os turistas, o hotel ofe- “sound bites”, não
O último investimento do grupo hoteleiro O valor despendido na construção do The rece uma localização privilegiada, uma vis- melhor hesitou dar, quase
Bomporto está debruçado sobre o rio Dou- Rebello é sigiloso. “Há muitos investidores ta ímpar e serviços de luxo. Já os dois restau- desempenho são, erigindo em dog-
por trás” do projeto, diz Nicolas Rouco. Al- rantes (um dos quais com bar no rooftop) es-
ro, a contemplar todo o casario do centro
histórico do Porto. Chama-se The Rebello, guns são portugueses, mas a maioria do ca- tão de portas abertas a todos os que preten- não poucas vezes, ma (“fail fast, fail
often”) aquilo que
numa homenagem aos tradicionais barcos pital é estrangeiro, proveniente de países dam usufruir da gastronomia e do ambien- as que reportam continua a ser um
de transporte do vinho do Porto, e tem 103 como África do Sul, Brasil, EUA, Inglaterra te de um espaço premium. Nicolas Rouco mais erros.” insucesso. A es-
suítes de luxo (com um, dois e três quartos), ou Holanda. Há proprietários (28 suítes fo- prevê que a taxa de ocupação atinja este ano ses, vale a pena
SPA (com piscina aquecida, quatro salas de ram vendidas) e subscritores de um fundo 68%, uma franca melhoria face aos 46% re- recomendar o li-
tratamento, sauna e ginásio), dois restau- imobiliário (detém as outras 75 unidades) gistados em 2023. Para já, o hotel tem cap- vro de Amy Edmondson, “The Right Kind of
rantes e igual número de bares, sala de reu- criado especificamente para desenvolver tado especialmente as atenções dos ingle- Wrong” que o Financial Times considerou o
niões e espaço dedicado às crianças. O hotel, este empreendimento. Segundo o respon- ses, norte-americanos, franceses e espa- “business book of the year” de 2023 (permito-
que ocupa quatro antigos edifícios indus- sável, o rendimento anual da aplicação nhóis, cuja estadia média ronda as 2,3 noi- -me um à parte: em 19 anos, foi a primeira
triais no Cais de Gaia, é o terceiro projeto do apresentou-se-lhes atrativo, mas houve tes. O gestor quer também incrementar as vez que o prémio foi atribuído a um livro de
Bomporto Hotels em Portugal. O grupo também compradores interessados em ob- receitas dos espaços de restauração e explo- gestão, o que talvez diga alguma coisa sobre a
quer continuar a crescer no país. ter um visto gold. rar o potencial do rooftop. qualidade da investigação em gestão e, sobre-
O foco está, para já, na consolidação do Certo é que este capital tem de ser remu- E vai olhando para as oportunidades de tudo, sobre a capacidade de a tornar acessível
The Rebello. O hotel replica um modelo já expansão. Como afirma, “o grupo quer a quem a pratica).
ensaiado no The Lumiares, em Lisboa, tam- crescer em Portugal” e as atenções estão fo- Como o título permite intuir, nem todos os

94
bém propriedade do Bomporto, e que des- cadas nas urbes. “Gostamos de estar nas erros são iguais. O livro documenta-o, alian-
de a primeira hora demonstrou ser um su- grandes cidades. Estamos a estudar várias do, de forma exemplar, investigação e exem-
cesso. Como explica Nicolas Roucos, diretor possibilidades”, afirma, sem adiantar mais plificação. Alguns resultados parecem parado-
do grupo, a filosofia é de um AL (alojamen- pormenores. Na sua opinião, o turismo em xais. As organizações com melhor desempe-
to local), mas com serviços de uma unida- Portugal ainda tem espaço para crescer. Lis- nho são, não poucas vezes, as que reportam
de 5 estrelas – pequeno-almoço, restauran- boa enfrenta o problema da sobrelotação do mais erros, já que na organização existe um
te, bar, SPA... É um piscar de olhos às famí- aeroporto, o que impede o reforço da sua ambiente em que prevalece o que a autora
lias que querem estar juntas, mas em quar- posição como destino turístico, lembra. Já o designa por “segurança psicológica”: nin-
tos separados, aos grupos de amigos, que Porto não se debate com esse problema. guém ter medo de ser penalizado apenas por-
pretendem um espaço em comum, mas —Colaboradores “Está ainda a ser descoberto”, defende. que errou, o que fomenta um contexto de
também privacidade. A suíte mais pequena O The Rebello emprega 94 pessoas. Na Além do The Rebello, o grupo Bomporto aprendizagem, melhoria e inovação. Este é,
do The Rebello tem 37 metros quadrados e época alta, subirão para 110. No total, o detém o The Lumiares e o The Vintage, am- apenas, o ponto de partida de um livro que se
a maior estende-se até aos 193 metros qua- grupo responde por 240 colaboradores. bos em Lisboa. recomenda.
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ENTREVISTA

Pedro Folgado “Devemos estar


atentos ao impacto do investimento
estrangeiro em setores estratégicos”
Para o autor do livro “informações Económicas - Fundamentos para uma abordagem
sistémica”, lançado esta semana, o Estado tem um papel central na defesa dos
interesses económicos nacionais, mas as empresas não podem ficar à margem.
—CARLA ALVES RIBEIRO estudo do Centro Superior de sido ainda evidenciado em algum científica e académica são absolu- postura de recusar ou de dificultar
carla.ribeiro@dinheirovivo.pt Estudos de Defesa Nacional de discurso político e também no sur- tamente imprescindíveis para a o investimento com base apenas
Espanha, que cita no livro? gimento de percursos académicos eficácia do seu desempenho. Mais na sua origem, mas devemos a
Num mundo cada vez globaliza- É difícil fazer uma avaliação nesses e oferta formativa nestas matérias. ainda, deve incluir como propósito todo o momento avaliar e monito-
do os sistemas de informações exatos termos. Contudo, o que é Empiricamente, também me pare- o desenvolvimento de uma cultu- rizar os seus desenvolvimentos.
económicas são cruciais para a apontado no estudo referido é um ce que as instituições relevantes ra de colaboração dos agentes eco- A exclusão da Huawei do 5G em
segurança nacional? dado objetivo: no contexto euro- neste âmbito têm dado passos no nómicos entre si, particularmente Portugal resultou de ação estra-
Decididamente sim. A interdepen- peu, os países que mais sofreram sentido de aprofundarem meca- quando se encontram em proces- tégica nacional neste domínio,
dência económica é efetivamente na crise da dívida soberana foram nismos de articulação. Parece-me, sos de internacionalização. ou de simples obediência às
crescente e o conhecimento é um efetivamente aqueles que não no entanto, inegável que ainda te- A China tem sido um dos países orientações de Bruxelas?
ativo fundamental para a ação dos apresentavam evidências de dis- mos um percurso pela frente. que mais tem utilizado empre- Não tendo acompanhado ou tido
Estados e das empresas no cenário porem de sistemas estruturados de Dos modelos de diferentes países sas estatais para a prossecução qualquer contacto com o processo,
internacional e nos mercados glo- informações económicas. Se fizer- analisados no livro, qual é o mais dos seus interesses geopolíticos? diria que essa decisão deverá ter re-
bais. O próprio entendimento so- mos o mesmo exercício de raciocí- eficaz? Apesar de não ser caso único, a sultado em primeiro lugar da ação
bre o conceito de segurança nacio- nio no sentido inverso, verifica- É difícil fazer essa avaliação, até China aparece como um dos países e da decisão estratégica nacional.
nal evoluiu no sentido de abarcar e mos que os países que melhor re- porque a estruturação destes siste- que mais tem vindo a desenvolver Obviamente que não podemos ig-
dar maior relevo à segurança eco- sistiram à crise foram precisamen- mas depende muito do contexto dinâmicas de atuação em matérias norar o contexto internacional e o
nómica e, neste contexto, a ação te aqueles que dispões desse tipo específico de cada país. Todos os geoeconómicas mais incisivas e quadro de relações internacionais
dos serviços de informações e a de sistemas. modelos estudados (França, Esta- vincadas no cenário internacional, em que nos inserimos, mas a segu-
utilidade das informações econó- Mudou alguma coisa neste domí- dos Unidos da América, Alema- recorrendo por exemplo às desi- rança nacional é, em primeira ins-
micas ganham relevância. nio desde os anos da troika? nha, Japão, Reino Unido e Canadá) gnadas State-Owned Enterprises tância, uma responsabilidade bási-
Portugal sofreu mais na crise da Creio que, desde logo, mudou para partilham traços em comum, mas (SOE) na prossecução de estraté- ca do Estado. Nesse sentido, qual-
dívida soberana por não ter um melhor a sensibilização para a im- todos têm algumas características gias de globalização e controlo. O quer decisão nesse domínio deve
sistema formal de informação portância de estar atento às dinâ- particulares decorrentes das suas recurso a este tipo de empresas, assentar sempre no interesse na-
económica, como defende um micas ggeoeconómicas e o entendi- circunstâncias. Também por isso, que podem assumir diversas tipo- cional, sem prejuízo de outros ali-
estratégi-
mento sobre os setores estrat no livro optámos por analisar estes logias, é mesmo uma “marca” da nhamentos complementares.
cos da economia nacional. Aliás,
Aliá se modelos com o propósito de ex- economia chinesa em diversos se- A Europa e os Estados Unidos
olharmos para o Conceito EstrEstraté- trair ensinamentos passíveis de tores (comunicações e energia, por devem limitar a ação de empre-
gico de Defesa Nacional at atual- aplicação no contexto nacional, exemplo). Contudo, é curioso assi- sas chinesas por razões de segu-
mente em vigor (que dat data de em vez de escolher um modelo nalar que, apesar do contributo rança?
2013), constatamos qu que o para simplesmente emular. que estas empresas têm dado à Qualquer país deve limitar, ou
equilíbrio financeiro, o cresci-
cre Que modelo defende para Portu- projeção dos interesses geoeconó- mesmo obstar, a ação de empresas
mento económico e a auto
autono- gal? micos e geopolíticos chineses, o ou outras entidades que possam
mia energética e alimentar são Tendo por base o estudo desenvol- seu peso significativo na economia representar um risco para a segu-
já assumidos como vetores e li- vido, entendo que no caso portu- interna começa a produzir alguns rança nacional, independente-
nhas de ação estratégica. Isto tem guês um hipotético modelo deve, efeitos menos positivos no dina- mente da sua nacionalidade. Ago-
em primeiro lugar, fazer uso das mismo do respetivo setor privado. ra, é inegável o contexto geopolíti-
instituições já existentes, aprovei- O investimento da China em co de rivalidade sistémica que se
Livro de Pedro Folgado tem por tando as suas potencialidades e ca- Portugal em setores estratégicos vive nas relações da Europa e dos
base uma tese de doutoramento pacidades para alavancar um siste- no período da crise deve enten- EUA com a China e isso deve ser
em Estudos Estratégicos. FOTO: D.R ma de informações económicas. der-se nessa ótica? tido em especial consideração.
Em termos de características, de- Não só, mas também. No período Quem gostaria que lê-se o livro?
fendemos que o Estado deve assu- da crise tivemos um conjunto si- Para além do público mais eviden-
mir um papel central e a estrutura gnificativo de investimentos es- te oriundo do meio académico e
de direção e coordenação deve si- trangeiros em setores estratégicos, político, gostaria que o livro fosse
tuar-se junto dos patamares mais chineses e de outras origens, que tido em particular atenção por ges-
elevados da decisão política, con- inegavelmente ajudaram a econo- tores e líderes empresariais, uma
tando com a colaboração ativa dos mia portuguesa a recuperar. Ainda vez que são as empresas o “motor”
Serviços de Informações. O princí- hoje, a atração de Investimento da economia e também as mais
pio de funcionamento subjacente Direto Estrangeiro (IDE) é, e bem, afetadas (positiva ou negativa-
deverá assentar numa direção cen- uma das prioridades da política mente) pelas atividades das infor-
tralizada, mas a operacionalização económica nacional. O que não si- mações económicas. Mesmo que o
deve decorrer da forma mais flexí- gnifica que não devamos estar Estado deva assumir um papel
vel e descentralizada possível, por atentos à origem e aos objetivos central nesta matéria, os agentes
forma a garantir simultaneamente desses investimentos, e sobretudo económicos são atores incontorná-
coerência e abrangência. Não obs- ao impacto que possam vir a ter veis e indispensáveis na defesa e
tante, a estreita colaboração com em matéria de controlo dos setores projeção dos interesses económi-
os agentes económicos do setor de atividade estratégicos do país. cos nacionais e na salvaguarda da
privado e com as comunidades Ou seja, não devemos adotar uma nossa segurança económica.
14 sábado, 6 de abril de 2024
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Inovação no Explorer sai da Startup Portugal


Turismo junta 14 Micronipol e leva fazedores às
startups e 17 PME vende à Veolia universidades
Fazedores A 3.ª edição do Check-in Tou-
rism Innovation juntou este
A Explorer Investments chegou
a acordo com a Veolia Portugal
A Startup Portugal, liderada
por António Dias Martins (na
ano 14 startups e 17 PME em para a alienação de 100% do foto), lançou o programa “Start
projetos colaborativos inova- capital da Micronipol, empresa Now, Cry Later” para envolver
dores para o setor das viagens de Micronização e Reciclagem as universidades na comunida-
www.dinheirovivo.pt e do turismo, diz a Nova SBE de Polímeros. A Explorer deti- de empreendedora. Terá início
Leia as últimas notícias sobre Haddad Entrepreneurship Ins- nha 70% da empresa, e dois no dia 10 de abril e vai percor-
fazedores, conheça novas ideias titute, promotora do progra- sócios fundadores 30%. A rer 12 instituições, com mas-
e saiba passo a passo o que precisa ma, em conjunto com o Nova conclusão da operação está terclasses de fundadores de
para criar o seu negócio SBE Westmont Institute of Hos- ainda sujeita à aprovação da startups, investidores e repre-
pitality e Turismo de Portugal. Autoridade da Concorrência. sentantes de incubadoras.

Soul Inovação gelada com ADN luso


quer ser líder no mercado europeu
Portugueses criaram uma banheira de gelo doméstica, que promete revolucionar a prática de crioterapia. Em
2024, preveem atingir um milhão de euros em vendas e a cinco anos querem ser líderes na Europa.

—MARIANA COELHO DIAS atingir temperaturas de três graus


mariana.dias@dinheirovivo.pt em pouco mais de quatro horas,
mantendo a água limpa e pronta
Num mundo cada vez mais voltado para uso graças ao sistema de filtra-
para o bem-estar, Mário Caetano, gem. Já o seu design permite uma
coach e palestrante focado em aju- instalação tanto permanente quan-
dar pessoas a descobrirem o seu pro- to portátil, adaptando-se facilmen-
pósito de vida, e Tomás Sá-Chaves, te a qualquer espaço ou necessida-
fotógrafo e ex-técnico audiovisual, de. A tecnologia é controlável por
uniram-se em 2023 para empreen- uma app.
der no mercado de crioterapia. Embora atualmente seja fabrica-
Como? Lançando a Soul, uma ba- da na China, pelos “melhores for-
nheira de gelo para uso doméstico, necedores de unidades de refrige-
que promete revolucionar a forma ração e de banheiras portáteis do
como os atletas e o público em ge- mercado”, garantem os empreen-
ral têm acesso à prática milenar. dedores, a intenção é que a Soul co-
Confiando no fator inovação, mece a ser feita em Portugal futura-
mas também no potencial que o mente, com produção própria.
próprio negócio demonstrou entre “Estamos empenhados em aju-
fronteiras, os empreendedores pre- dar os nossos clientes a fortalecer o
veem tornar-se líderes europeus no corpo e a sintonizar a mente para
ramo de imersão em água gelada, que cada um possa ter mais energia,
num espaço de cinco anos. Mas, já melhor foco e maior entusiasmo na
em 2024, as metas passam por atin- sua vida”, afirmam os responsá-
gir um volume de vendas na ordem veis.
de um milhão de euros e expandir sua introdução no desporto. Não Serra da Estrela, serviu de principal Tomás Sá-Chaves e Mário Destinada a empresários, atletas,
as equipas comerciais, administrati- obstante, a adesão por parte do se- incentivo. Desde o uso de um barril Caetano. FOTO: DR profissionais de saúde e do fitness,
vas, de marketing e logística, para tor comercial, em particular giná- de madeira até à tentativa com uma bem como pessoas com problemas
poder proporcionar “o melhor pro- sios e health clubs, também ajudou arca congeladora, o processo de pes- de saúde, a Soul está disponível para
duto e apoio ao cliente” do merca- à conquista de cada vez mais adep- quisa e desenvolvimento de uma venda no site oficial da empresa,
do. tos – entre os quais, os dois portu- solução duradoura e economica- com um preço que ronda os 4500
A técnica terapêutica – que con- gueses. mente viável foi “meticuloso” e le- Produto destina-se euros – “abaixo das outras opções
siste na exposição do corpo huma- No caso de Mário Caetano, a ins- vou meses. de mercado semelhantes” –, estan-
no a baixas temperaturas, visando o piração para conceber uma solução Ao Dinheiro Vivo, os fundadores essencialmente a do disponível para entrega em Por-
estimulo de reações benéficas no de crioterapia surgiu após participar explicam que o seu produto distin- empresários, atletas, tugal Continental.
organismo, designadamente ao ní-
vel do desempenho físico e mental,
numa expedição à Polónia, onde
explorou o método do atleta holan-
gue-se pela “praticidade, segurança,
eficiência e respeito pelo ambien-
profissionais de A receção nacional, indicam Má-
rio Caetano e Tomás Sá-Chaves,
da redução dos níveis de ansiedade dês Wim Hof, com o próprio, e des- te”. Ora, feita de PVC de alta dura- saúde e do fitness, tem sido “bastante positiva”, fazen-
e stress, do fortalecimento do siste-
ma imunitário e da diminuição de
cobriu os benefícios do frio. Já para
Tomás Sá-Chaves, a experiência
bilidade com tecnologia drop stich
(o mesmo utilizado em pranchas de
bem como a pessoas do antever um “rápido crescimen-
to” que permitirá dar o próximo
dores crónicas –, popularizou-se “transformadora” de seis dias no paddle), esta banheira integra um com problemas de passo: consolidar ao nível europeu,
desde 2020, sobretudo através da Retiro no Gelo, nas águas geladas da refrigerador de 0.8HP, que permite saúde. através de um plano de cinco anos.
sábado, 6 de abril de 2024
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Buzz

Dinheiro
em campo
Endrick, novo
fenómeno do
Brasil não se Endrick, num jogo amigável
contra a Espanha.
legenda e creditos da foto

cansa de quebrar
FOTO: PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP
principal legenda dkdkl dçsç
spsps spspsp spsps. FOTO: META

recordes

60
No campo, marca um golo a cada 45 que gere a carreira de centenas de que avalia o preço de mercado
minutos pela seleção e supera Haaland atletas. “Era por isso esperado”,
prossegue Freitas, “que a maior
dos atletas, Endrick está cotado
em 55 milhões de euros, mesmo
com a mesma idade. Fora dele, é trending parte dos interessados, não só sem ter ainda chegado a Madrid,
topic na rede social X, e conquista Europa, pelo clube, mas pelo futebol es- mais do dobro do segundo atleta
Ásia e África. panhol, buscasse mais informa-
ções dele antes e após esse jogo”.
do Brasileirão na lista, o médio
André, do Fluminense, cujo va-
—Milhões de euros “Já na Ásia, o crescimento tam- lor de mercado é de 25 milhões.
—JOÃO ALMEIDA MOREIRA o mais comentado no X, ex-Twit- Quantia, dependendo de ob- bém estava previsto tendo em Entre os atletas no mundo com
geral@dinheirovivo.pt ter, com mais de 300 mil men- jetivos, paga pelo Real Ma- conta o número de admiradores 17 anos, o brasileiro também está
ções. drid, pelo craque ainda do da seleção brasileira no continen- disparado na frente. Lewis Miley,
Amanhã joga-se em São Paulo a Três dias depois, voltou a mar- Palmeiras. te, no Bangladesh, por exemplo, do Newcastle, segundo da lista do

55
final do campeonato paulista de car pela seleção pentacampeã do nos mundiais de futebol a popu- Transfermarkt, vale 22 milhões,
futebol entre o Palmeiras, de Abel mundo, desta vez à Espanha, lação praticamente se divide en- El Junior Kroupi, do Lorient, ter-
Ferreira, e o Santos, mas, com noutro templo, o Santiago Ber- tre os que torcem pelo Brasil e ceiro na tabela, não passa dos 15.
todo o respeito pelos torneios es- nabéu, a sua futura casa, e tor- pela Argentina”. Para justificar a diferença entre
taduais do Brasil e pelo historial nou-se o assunto mais comenta- “Os países africanos, entretan- Endrick e a concorrência, o site
dos dois rivais, os olhos do mun- do no Brasil, com mais de 200 to, têm adoração pelo futebol bra- sublinha que a média de golos do
do não vão estar nem na prova mil comentários. sileiro”, complementa Fábio atacante na seleção está em um a
nem nos clubes. Será em Endrick, No Google Trends, ferramenta Wolff, sócio-diretor da Wolff cada 45 minutos. Mais: o jogador
17 tenros anos e 1,73 metros de que mostra os mais populares —Milhões de euros Sports e especialista em marketing marcou 18 golos em 66 partidas
gente, que os holofotes vão inci- termos buscados no Google, o Valor de mercado do prodí- desportivo, que faz a captação de pelo Palmeiras, mais do que Er-
dir. nome de Endrick teve uma pro- gio, mais do dobro de qual- contratos entre marcas envolven- ling Haaland, o segundo atleta
O prodígio brasileiro, já contra- cura fora da curva em três conti- quer outro jogador de 17 do profissionais do desporto. “En- mais valioso do mundo do mo-
tado pelo Real Madrid por 60 mi- nentes, Europa, Ásia e África, du- anos no mundo ou a atuar tão, acho natural que quando sur- mento, com a mesma idade: o
lhões de euros, dependendo de rante o dia do jogo com a seleção no Brasil. ge um novo ídolo na seleção brasi- norueguês marcara 16 em 62 en-


objetivos, não para de encher de espanhola. leira, como Endrick, os países afri- contros antes dos 18 anos.
água a boca dos amantes do fute- “Os principais clubes espa- canos estejam entre os que mais Nessa lista de mais valiosos do
bol jogado no campo e também nhóis são muito influentes no busquem o nome dele”. mundo, liderada por Jude
nos gabinetes. norte da África e Endrick vem “É um jovem que vem que- Bellingham, futuro colega de En-
No último dia 23 de março, sendo cada vez mais associado ao brando recordes e fazendo o que drick no Bernabéu, entre dezenas
após fazer o golo da vitória do Bra- Real Madrid”, conta ao DV Thia- ninguém com a sua idade fez nas de jogadores da Premier League,
sil sobre a Inglaterra, em pleno go Freitas, COO no Brasil da Roc últimas décadas, continuamen- de La Liga e de outros campeona-
Wembley, tornando-se o mais Nation Sports, a empresa de en- te, em diferentes palcos e níveis tos de topo, só um membro da liga
novo a conseguir marcar pela se- tretenimento norte-americana, —Mais novo de exigência, o que vai só elevan- portuguesa se intromete, o sueco
leção desde ninguém menos do comandada pelo cantor Jay-Z, Depois de Ronaldo Fenóme- do o interesse pela sua trajetó- Gyökeres, do Sporting, e um do
que Ronaldo Fenómeno, viu o que se tornou acionista maioritá- no a marcar pela seleção ria”, completa Thiago Freitas. campeonato brasileiro. Nem vale
seu nome, por algumas horas, ser ria da TFM Agency, companhia aos 17. No Transfermarkt, site alemão a pena dizer quem.
16 sábado, 6 de abril de 2024
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