Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TECNOLOGIA
MARIA DA GRAÇA CARVALHO Solução portuguesa
de IA para
“CONTINUA A HAVER otimizar vendas
online acena aos
MANIPULAÇÃO E POUCA Estados Unidos
TRANSPARÊNCIA NO SOUL
Inovação gelada
MERCADO DA ENERGIA” com ADN luso
quer ser líder no
mercado europeu
Numa das últimas entrevistas
como eurodeputada, a nova
ministra da Energia explica o DINHEIRO
novo quadro de sanções EM CAMPO
contra grandes operadores Endrick, novo
que manipulam preços no fenómeno do Brasil,
mercado grossista de não se cansa de
energia. quebrar recordes
ENTREVISTA
Pedro Folgado:
“Devemos estar
GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS
atentos ao impacto
do investimento
estrangeiro
em setores
estratégicos”
“APENAS 6%
pelos comboios DAS EMPRESAS QUE
GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS
Diretor Editorial Bruno Contreiras Mateus | Diretor de Arte Rui Leitão | Editora em Lisboa Carla Alves Ribeiro | Editora no Porto Teresa Costa | Redação Ilídia Pinto, José Varela
Rodrigues, Luís Reis Ribeiro, Mariana Coelho Dias, Mónica Costa, Rute Simão e Sónia Santos Pereira | Departamento de Arte Vítor Higgs, Eva Almeida, Fernando Almeida, João Coelho
e Rafael Costa | Digitalização Nuno Espada | Dinheiro Vivo registado na ERC com o n.º 126 077 | Global Notícias - Media Group, SA, matriculada na Conservatória do Registo Comercial
de Almada | Capital Social: € 9 309 016,95 | Pessoa Coletiva n.º 502535369 | Membros do Conselho de Administração Marco Belo Galinha (Presidente), Kevin King Lun Ho, António
Mendes Ferreira, Victor Santos Menezes, Vitor Coutinho, Diogo Queiroz de Andrade, Rui Rodrigues e José Pedro Soeiro | Secretário-geral Afonso Camões | Controlinveste Conteúdos,
SA | Detentores com mais 5% do capital da empresa: Páginas Civilizadas, Lda. – 41,51%, KNJ Global Holdings Limited – 29,35%, José Pedro Carvalho Reis Soeiro – 20,40%, Grandes
A abrir
Notícias, Lda. – 8,74% | Global Notícias – Media Group, SA, Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195-219, 4049-011 Porto; Tel.: (+351) 222 096 100 Fax: (+351) 222 096 200; Filial – Rua Tomás
da Fonseca, Torre E, 3.º piso, 1600-209 Lisboa; Tel.: (+351) 213 187 500 Fax: (+351) 213 187 501; | Estatuto editorial em www.dinheirovivo.pt | Head of Social Media Artur Madeira |
Data Protection Officer António Santos | Diretor de Tecnologias e Sistemas de Informação David Marques | Diretor Geral Comercial Miguel Simões |
Direção Comercial Vítor Cunha (Porto), Pedro Veiga Fernandes (Lisboa) e Carlos Rebocho (Classificados).
A T
meçar a descer as taxas
de juro diretoras, o que
poderá acontecer já na
inteligente gestão do silêncio, iniciada logo a partir da reunião de 6 de junho, an- alvez nunca antes como agora, um ministro da Edu-
eleição, a 10 de março, permitiu ao primeiro-ministro tes mesmo de a Reserva cação tenha de ter tido estas três palavras tão pre-
gerir com êxito a escolha dos seus ministros e secretá- Federal norte-americana sentes nas suas decisões, como as tem de ter um
rios de Estado. Não houve especulação nem ruído de dar início ao ciclo de des- ministro da Economia, no contexto dos desafios
cidas, acreditam alguns
fundo, o que permite à nova equipa governamental ini- analistas. As atas da reu- que se colocam às empresas portuguesas: inovação,
ciar funções com um importante capital político do seu lado. Co- nião de política monetária sustentabilidade e internacionalização. O economista Fernando
meço por aqui porque esta tranquilidade e naturalidade na gestão do BCE do início de março Alexandre, que tutela o “super” Ministério da Educação, Ciên-
deste momento de capital importância não é infelizmente uma revelam que o conselho de cia e Inovação, e a secretária de Estado da Ciência, a investiga-
prática habitual no nosso país, o que acaba invariavelmente por governadores reconheceu dora Ana Paiva, que vão gerir também o Ensino Superior, ficam
que “os argumentos para
dificultar ainda mais o início de funções dos novos executivos. considerar cortes nas ta- responsáveis por decisões das mais importantes para a competi-
Desta vez, isso não aconteceu, o que é uma boa notícia até pelo xas estavam a fortalecer- tividade e afirmação das empresas nacionais num mercado glo-
contraste com a tensão que define o atual ambiente político-parti- -se”, e os últimos dados bal, para reter talento no nosso país e para o cumprimento de
dário nacional. sobre a evolução dos pre- metas ambientais às quais não podemos (nem devemos) fugir.
ços vêm confirmar isso,
A uma equipa de ministros com músculo político e competên- com a inflação no espaço E a inovação, como ponto de partida, é a chave para a sustenta-
cia técnica, Luís Montenegro juntou um grupo de secretários de da moeda única a abran- bilidade e para as exportações – é o nosso gerador de riqueza nas
Estado com ampla experiência profissional no setor privado e dar pelo terceiro mês con- empresas, na economia e nos recursos humanos.
também na máquina pública. Na Economia, área fundamental secutivo. Para as famílias Não é apelidado de “super” Ministério ao acaso. A escola pú-
para o nosso desenvolvimento, o ministro Pedro Reis apontou portuguesas, a maioria blica é basilar na construção de uma sociedade melhor, mais
com créditos à habitação
João Rui Ferreira para a Secretaria de Estado da Economia. O facto indexados à Euribor, são justa e mais igualitária, e o descontentamento dos professores
de João Ferreira ter sido presidente da APCOR, a associação da cor- boas notícias. de hoje, as reformas dos mais experientes e a recusa dos mais
tiça, entre 2012 e 2021, significa que conhece bem o movimento jovens em escolher a via profissional do ensino, têm degradado
associativo e, claro, a vida empresarial. São boas características – à a perceção pública sobre este valor real – o que é pena. Não é
partida, oferecem um capital de conhecimento e uma larga expe- THOMAS GUNTHER fácil imprimir políticas públicas que, no imediato, contrariem
riência que podem ajudar a definir boas políticas públicas para DIRETOR-GERAL DA VOLKSWAGEN este historial de problemas. E isso será desgastante para Fer-
esta área nevrálgica. AUTOEUROPA nando Alexandre, que acumula ainda duas pastas, que a meu
A passagem de Pedro Reis pela AICEP também abre boas expec- A paz social na fábrica da ver, deveriam ser autónomas: a inovação; e o ensino superior e
tativas ao país. Precisamos de continuar a aumentar o peso das ex- Volkswagen em Palmela ciência. São três ministérios em um.
ainda não está garantida.
portações no PIB e, acima de tudo, temos de internacionalizar Os trabalhadores chumba- O diretor-geral da COTEC diz em entrevista (que pode ler
mais a nossa economia. Não basta vender para fora em contento- ram esta semana o pré- nesta edição) que “é relevante a política de inovação para a po-
res, embora isso seja muito importante; também não é suficiente -acordo laboral a que ti- lítica de competitividade. Para o objetivo da competitividade
fortalecermos mais o turismo nacional e robustecermos os servi- nham chegado a comissão das empresas há que ter noção de que os fatores hoje modernos
ços – estou convencido de que nos falta dar um passo essencial: a de trabalhadores e a ad- para a economia de inovação, portanto, os fatores contemporâ-
ministração da fábrica, li-
internacionalização das nossas empresas. Temos de estar mais derada por Thomas neos que contribuem para a competitividade, são o capital hu-
presentes nos mercados externos, as nossas companhias têm de Gunther, após semanas de mano avançado, e aqui não estamos a falar, note-se, de licen-
estar bem ancoradas nos mercados com mais massa crítica, têm de negociações. As condições ciados e mestrados. Estamos a falar já num nível avançado que
estar lá e ter visibilidade. Já temos alguns bons exemplos, sim, previstas, nomeadamente são doutorados”. Jorge Portugal toca num ponto essencial que
mas precisamos de muitos mais. Este é realmente o único cami- a subida de 6,4% dos sa- junta inovação, ensino superior e ciência. Colocar doutorados
lários este ano e de 2,6%,
nho para darmos escala às nossas ambições individuais e coletivas ou 0,6% acima da infla- nas empresas é um acelerador da inovação e abre portas a uma
e, assim, reduzirmos a nossa vulnerabilidade económica. ção, em 2025 e 2026, além linguagem comum entre as empresas e a academia. Já se come-
Os governos fazem-se de programas, ideias e pessoas. Estas três de prémios anuais, não ça a entender o que Fernando Alexandre e Ana Paiva possam
condições estão agora reunidas. Os governos fazem-se também de convenceram a maioria fazer pela inovação, ensino superior e ciência, e economia. E
dos quase cinco mil traba-
negociação, abertura e determinação – características que, no en- lhadores da unidade alemã exclui-se a educação desta equação?
tanto, têm forçosamente de ser partilhadas também pelas oposi- em Portugal. Os aumentos Este pode ser o hat-trick do “super” ministro? Já está identi-
ções. Todos os portugueses estão a par das dificuldades que resul- previstos, segundo Tho- ficado que um dos problemas empresariais é o distanciamento
tam dos instáveis equilíbrios partidários do atual Parlamento, mas mas Gunther, seriam os à academia. E que uma das soluções pode ser a inclusão de dou-
estou absolutamente certo de que ninguém quer viver em cam- “mais altos na história da torados nas empresas. É uma das formas de aproveitar o retor-
Volkswagen/Autoeuropa”,
panha eleitoral permanente, até pelos elevados custos que esse e até poderiam beliscar a no económico da ciência no tecido empresarial (mas atenção
ruído e essa paralisia têm. A política não pode converter-se apenas competitividade da unida- que não se pode deixar de combater a precariedade na ciência,
numa disputa permanente e sem quartel pelo poder. A política é, de portuguesa da marca valorizando também os bolseiros e a investigação académica).
antes de mais, um serviço prestado a bem da nação. Ora bem, este automóvel alemã. A co- Voltando a Jorge Portugal, há outros dois pontos fundamen-
desígnio tem de ser procurado e defendido, não pode ser esqueci- missão de trabalhadores tais: o de que não há sustentabilidade sem inovação; e o de que
quer voltar a negociar, res-
do e desvalorizado. Não pode. É o nosso presente e o nosso futuro ta saber o que fará o dire- as exportações aumentam por força da inovação e da sustenta-
que estão em jogo. tor-geral. bilidade.
NotíciasFlix
A Vida do Dinheiro
D as 38 mil empresas
que exportam, apenas
uma em cada dez têm
capacidade de desen-
volvimento tecnológico pró-
prio.” É o retrato que nos traça
Jorge Portugal, diretor-geral da
tido que diria que a primeira priori-
dade é alargar este núcleo de em-
presas que têm capacidade de des-
envolvimento tecnológico próprio
e que, acima de tudo, apostam e in-
vestem naquilo que é o balanço in-
tangível, o balanço incorpóreo da
nanciamento para crescer. E aqui
há soluções que têm de vir de vá-
rias fontes. A primeira é, natural-
mente, os capitais próprios. É os
empresários perceberem que, para
poderem crescer mais depressa e
não tendo esse capital, têm de o ir
E acha que a aplicação dos fun-
dos de financiamento público
está direcionada para a inovação
ou era preciso fazer muito mais
e melhor?
O direcionamento dos fundos pú-
blicos, nomeadamente dirigidos ao
ria que um dos temas que é impor-
tante tem a ver com a digitalização
das empresas e, portanto, a infraes-
trutura. Nos últimos 20 anos, Por-
tugal foi um dos países onde as te-
lecomunicações e as infraestrutu-
ras, portanto, a banda larga e as in-
associação empresarial para a ino- empresa. E o que vemos, isto é um buscar a algum lado, e, portanto, ir investimento em investigação e fraestruturas de telecomunicações,
vação COTEC Portugal, nesta estudo recente de investigadores buscar investidores que possam desenvolvimento, portanto, em quer fixas, quer móveis, estiveram
conversa sobre inovação empre- da Universidade de Coimbra, é que acelerar a base de capitais próprios. desenvolvimento de novas tecno- sempre na linha da frente. E temos
sarial, olhando para a composição ao longo destes dez anos o investi- O segundo é claramente a banca. A logias que depois possam ser apli- dois associados no setor, neste caso
do novo governo e as necessida- mento incorpóreo das empresas banca tem aqui um papel de finan- cadas no negócio, têm vindo a im- a NOS e a Altice, que têm sido pró-
des mais urgentes para gerar ri- portuguesas não tem acompanha- ciamento da economia e, portanto, pulsionar um aumento significati- digos em investimento sucessivo
queza para o país. do esta abertura da economia. Por- não deve ser exclusivo, mas é um vo. Estamos a falar, nos últimos nas várias gerações em termos de
tanto, há aqui, aparentemente, um papel importante. Terceiro, mas anos, de cerca de 15% ao ano do in- infraestruturas digitais. Esse, entre
Com o novo governo a iniciar desalinhamento entre aquilo que é não deve aparecer como um fator vestimento em I&D das empresas outros, será um dos temas, que a
funções, quais são as prioridades o investimento que garante as de condição necessária, é um fator e, portanto, agregado. O que vemos infraestrutura portuguesa conti-
que o novo ministro da Econo- margens, que garante a competiti- que adiciona, principalmente em é uma grande disparidade. Vemos nue competitiva do ponto de vista
mia, Pedro Reis, deverá ter? vidade internacional, que garante áreas de maior risco como são, por um núcleo muito pequeno de em- das telecomunicações e do digital.
Diria que temos de olhar para aqui- que é possível vender com valor exemplo, muitas das áreas asso- presas que investem muito em in- Diria que há outra questão que é a
lo que é a situação da economia acrescentado e, por essa via, conse- ciadas com a sustentabilidade, vestigação e desenvolvimento, energia, porque hoje vamos crescer
portuguesa. Comecemos pelo se- guir sustentar a função de inova- com novos processos produtivos, voltamos aos tais um em cada dez cada vez mais com um modelo que
tor exportador, que nos últimos ção, o investimento, os jovens ta- com a utilização de novas formas exportadores, e depois vemos o tem vindo a ser desenvolvido de
dez anos tem vindo a abrir-se subs- lentosos, fixá-los em Portugal e de inovação, de tecnologia, aí os resto das empresas que investem um mix de energia, já com um pen-
tancialmente do ponto de vista do nas empresas portuguesas. fundos públicos têm um papel a muito pouco. Portanto, há que tra- dor renovável bastante acentuado
seu peso do negócio internacional. Mas como financiar essa inova- desempenhar. zer mais empresas, criar capacidade e, portanto, nesse aspeto é um fa-
Em 2010 tínhamos pouco mais de ção? de investimento em investigação e tor de competitividade para a eco-
30%. Hoje temos mais de 50%. Isto é outro problema. É importan- desenvolvimento e, sim, exigir que nomia portuguesa.
Portanto, claramente, essa abertu- te. Tradicionalmente, vemos que esses fundos não sejam apenas Que contributo podem dar gran-
ra é um sinal positivo. No entanto, as empresas competitivas, que cha- “Quando se fala considerados do ponto de vista do des obras públicas como o novo
o que sabemos é que das 38 mil mamos as inovadoras, estão em to- da coesão do instrumento de política pública, aeroporto ou o TGV?
empresas que exportam, apenas das as áreas de atividade, principal- apenas como uma despesa que a O aeroporto e o TGV são questões
uma em cada dez têm capacidade mente no setor industrial, no setor
país, vemos a empresa tem de cumprir, mas a recorrentes. Não vos queria maçar,
de desenvolvimento tecnológico transformador, espalhadas por importância de empresa deve prestar contas sobre nem os ouvintes, com mais uma
próprio, significa desenvolver pro- todo o país. Quando se fala da coe- muitas PME que exatamente como é que esse apoio opinião, mas, obviamente, sabe-
dutos e processos de produção ino-
vadores, mais sustentáveis, com
são do país, vemos a importância
de muitas PME que são grandes
são grandes foi transformado em exportações e
em produtos e serviços comerciali-
mos quão importantes são as in-
fraestruturas aeroportuárias para
menor consumo de recursos, com empresas a nível local porque são empresas a nível záveis no mercado internacional uma indústria que é fundamental
produtos com melhor ciclo de vida exportadoras, porque são altamen- local porque são de médio ou alto valor. para Portugal, que é o turismo.
e, por isso, na prática, que respon- te produtivas. E, nessa perspetiva, exportadoras, E qual será o grande desafio do Também entendemos que, relati-
dam às necessidades dos clientes, temos empresas que estão em cres- novo titular das Infraestruturas, vamente aos países da Europa, que
dos clientes dos clientes e das em- cimento, mas também temos em- são altamente Miguel Pinto luz? estamos atrás na ferrovia de alta
presas portuguesas. E é neste sen- presas que, de facto, precisam de fi- produtivas.” Dentro do quadro da inovação, di- velocidade.
sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt 05
portanto, nessa perspetiva, eram e com maior capacidade se criar va-
100 empresas. Hoje a COTEC tem lor acrescentado. Só crio valor
muitas dessas 100 empresas funda- acrescentado se combinar investi-
doras ainda, mas tem 230 PME ino- mentos e isso significa dois tipos
vadoras e cada vez mais estas ino- de investimentos. São discricioná-
vadoras também se estão a juntar. rios. O primeiro é em abrir merca-
Mas também tem organismos da dos para vender os meus produtos
administração pública, provavel- e o outro é em inovação para ven-
mente ficarão surpreendidos – o der produtos que esses mercados
IAPMEI, a AICEP e a Agência Na- queiram e que tragam alguma coi-
cional de Inovação são nossos asso- sa de novo, relativamente ao que já
ciados –, e este ano, posso também existe. Portanto, só para dar a ideia,
aqui anunciar em primeira mão, te- tradicionalmente, e não é do go-
remos também autarquias. verno anterior, tenho o Ministério
E vão começar por onde nas au- da Ciência, Tecnologia e Ensino
tarquias? Superior, tenho o Ministério dos
Temos algumas autarquias que já Negócios Estrangeiros, que, diga-
manifestaram a vontade de aderir à mos, tem a parte de internaciona-
COTEC. Mas porquê autarquias? lização, tenho o Ministério da Jus-
Bom, é muito simples, porque uma tiça, onde está a propriedade inte-
Destaque
SE ATRASAR NA LUTA
previstas ligações de cidades como mas penso que a nossa segurança
Kiev, Mariupol e Odessa à UE. Com nacional não pode ficar compro-
a ameaça russa cada vez mais pre- metida por uma questão financei-
sente, também se falou sobre in- ra”, sinalizou Loreta Maskaliovien,
PELO AMBIENTE
vestimentos para melhorar a circu- vice-ministra lituana dos Transpor-
lação de veículos militares. tes e Comunicações.
A padronização do transporte Apesar de incluída nos acessos à
ferroviário é o principal marco nos Europa, a Ucrânia não quer mudar
corredores transeuropeus, que ga- já a bitola de toda a rede. “É preciso
nharam nova dinâmica com a guer- manter a atual capacidade”, notou
ra na Ucrânia. Na visão de Bruxelas, o líder dos caminhos-de-ferro ucra-
Para a União Europeia ser neutra em carbono até 2050, o Estados-membros como Portugal, nianos, Oleg Yakovenko. A nível
transporte ferroviário será uma das principais ferramentas. Bélgica, Finlândia, Letónia, Lituâ-
nia e Estónia têm de ter planos para
nacional, o comboio é responsável
por 65% do transporte de mercado-
Construção de novas linhas terá de ter menos emissões e mudar de bitola [distância entre rias e 25% dos passageiros. Para
carris] nos principais corredores. aceder aos corredores europeus, no
Bruxelas insiste na mudança da bitola, apesar de já haver Mesmo soluções como os cambia- entanto, os ucranianos estão a falar
outras opções. Texto: Diogo Ferreira Nunes, em Bruxelas dores de bitola, que são usados na
alta velocidade espanhola e que
com os espanhóis para apostar nos
cambiadores de bitola.
permitem ajustar os rodados aos O mesmo ponto foi assinalado
padrões europeus e ibéricos, são noutro painel pelo ministro espa-
A cerca de quatro quilómetros do União Europeia (UE) “anda no en- Os comboios serão determinan- vistas como medidas transitórias. nhol dos Transportes. “Temos de
centro de Bruxelas, Schaerbeek é gate” a tentar convencer pessoas e tes para cumprir o objetivo climáti- “Prefiro um bom plano do que conjugar a rede de alta velocidade
uma das estações ferroviárias mais empresas a voltarem a apostar no co até 2050 nos passageiros e nas soluções intermédias que nos fa- em bitola europeia com as outras
antigas da Europa. O comboio es- transporte sobre carris. A UE corre mercadorias entre os 8% e os 5%, zem depender de outros sistemas”, bitolas”, referiu Óscar Puente.
treou-se aqui em 1835, quando a contra o tempo. Tem 25 anos (e respetivamente. Este foi o foco da salientou Herald Ruijters, subdire- Ainda não se percebeu se haverá
Bélgica deu os primeiros passos so- sete meses) para atingir a neutrali- edição deste ano dos Connecting tor-geral do departamento de Mo- fundos europeus suficientes para
bre carris. No século XIX, o trans- dade carbónica e os meios de trans- Europe Days, iniciativa da Comis- bilidade e Transportes da Comissão todas as obras necessárias. Por cau-
porte ferroviário dominou as via- porte têm de baixar as emissões em são Europeia dedicada aos trans- Europeia [DG-Move], durante um sa disso, o ministro dos Transportes
gens europeias. No século XX, o au- 90% – atualmente, representam portes, que decorreu na capital bel- dos debates. da Chéquia admitiu a existência de
tomóvel passou para a linha da um quarto de toda a poluição e au- ga. A revisão dos corredores tran- Ao lado deste responsável esta- investidores privados em futuros
frente. Cerca de 190 anos depois, a mentaram nos últimos 30 anos. seuropeus foi um dos destaques. vam representantes governamen- projetos. “Precisamos de mostrar o
sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt 07
de vagões com recurso a manobra- ENTREVISTA
dores. Além de aumentar a segu-
rança desta operação, o sistema
quer acelerar a formação de com- Óscar Puente
boios de mercadorias e aumentar a
capacidade do transporte de carga. “Se houvesse assim tanta procura,
A solução pode ser instalada em
qualquer um dos mais de 400 mil
vagões de mercadorias existentes
os comboios noturnos seriam viáveis”
em toda a Europa. Funciona em Apesar de um novo governo, o ministro espanhol dos
qualquer temperatura, mesmo pe-
rante frio extremo – chegaram a ser
Transportes não espera mudanças no empenho de Portugal
feitos testes na Suécia, com 25 relativamente à alta velocidade. Óscar Puente garante que os
graus negativos. países ibéricos têm boas relações ferroviárias.
No futuro, pretende-se que a fer-
ramenta funcione de forma autó- —DIOGO FERREIRA NUNES
noma e controlada remotamente – geral@dinheirovivo.pt
o que terá consequências para as
carreiras de trabalhadores ferroviá- Óscar Puente nasceu em 1968
rios. A inteligência artificial, conju- em Valladolid. É o ministro es-
gada com a leitura de dados dos panhol dos Transportes e da
sensores, pode facilitar a localiza- Mobilidade desde novembro do
ção e gestão dos vagões. ano passado. Foi presidente da
Câmara de Valladolid entre
Caderno de encargos para 2015 e junho de 2023. O antigo
a próxima Comissão “alcalde” sabe da importância
Como se quer o comboio como do comboio nas ligações trans-
principal meio de transporte euro- fronteiriças: Valladolid foi uma
peu nos próximos anos, os minis- das estações do Sud Express até
tros europeus dos Transportes, março de 2020, quando o servi-
após reunião informal na capital da ço ferroviário entre Lisboa e
Bélgica, deixaram um caderno de Hendaye (na fronteira com
encargos para o próximo elenco da França) foi suspenso unilateral-
Comissão Europeia: facilitar a com- mente pela Renfe, que alugava
pra de um bilhete de comboio em o material circulante. A empre-
Demonstração de um sistema toda a UE, independentemente das sa pública ferroviária espanhola
automático de engate de empresas envolvidas; desenvolver também era a parceira da CP no Óscar Puente, ministro espanhol dos Transportes e da Mobilidade
comboios, sem recurso a uma estratégia para os comboios comboio Lusitânia, entre Lisboa Sustentável. FOTO: JULIEN NIZET/DR
manobradores, que foi noturnos, com tarifas reduzidas e e Madrid, que partilhava o per-
apresentado na estação ferroviária em alternativa a voos de curta e curso com o Sud Express até guês para marcarmos uma reu- durante a noite, tornando difícil
de Schaerbeek, Bruxelas, na última média distância; equilibrar a fiscali- Medina del Campo. nião. conjugar esses trabalhos com a
terça-feira. Na frente, de fato azul dade entre meios de transporte, so- Quatro anos depois, Óscar O novo ministro das Infraes- realização desses comboios.
claro, o vice-primeiro-ministro e bretudo no capítulo energético; re- Puente põe de parte o regresso truturas é Miguel Pinto Luz, Acho que as pessoas que defen-
ministro belga da Mobilidade, fletir, nos preços dos transportes, das ligações ferroviárias notur- do PSD. Esperam alguma mu- dem os comboios noturnos fa-
Georges Gilkinet. os custos das externalidades, como nas entre os dois países, algo dança na estratégia do lado zem mais barulho do que real-
FOTO: DIREITOS RESERVADOS a poluição e o trânsito; aumentar o singular na atual realidade euro- português? mente representam. Se houves-
financiamento para o transporte peia, onde estão a ser recupera- Espero que não haja mudanças. se assim tanta procura, então os
ferroviário; e proteger a indústria das ou criados comboios notur- A relação com Portugal tem sido comboios noturnos seriam viá-
valor das novas infraestruturas aos europeia da “concorrência injusta” nos. O ministro espanhol está muito boa até agora. Por isso, veis e economicamente realizá-
cidadãos e apostar em parcerias de países extracomunitários a nível mais focado nas ligações de alta sinto maior necessidade de falar veis. Só que não há procura su-
com investidores privados. Essa é fiscal, social e laboral. velocidade, sobretudo com Vi- com França porque é mais com- ficiente.
uma solução pragmática para o fu- A Europa tem de preparar-se, por go, e espera reunir-se em breve plicado. Portugal e Espanha têm Tem novidades da ligação de
turo”, propôs Martin Kupka. isso, para a ampliação e construção com o novo homólogo portu- muitos objetivos e projetos co- alta velocidade entre Porto e
As mercadorias também foram de novas linhas ferroviárias – mas guês, Miguel Pinto Luz. Apesar muns. Vigo? Do lado português, a
incluídas no certame europeu. Em não a todo o custo (ambiental). O de o ministro ser do PSD, Óscar A Renfe e a CP continuam a construção não deve ficar
Schaerbeek, a UE apresentou um uso da energia geotérmica e das re- Puente não esperar mudanças ser parceiras ferroviárias ou a pronta antes de 2032.
sistema de engate automático dos nováveis, a reutilização de mate- no empenho português para a Renfe vai passar a fazer sozi- Vamos ver se agora é dado um
comboios: o Digital Automatic riais usados na construção, a apos- ferrovia. nha os serviços com Portu- impulso nesse projeto. Há qua-
Coupler quer romper com pratica- ta em aço de alta qualidade e ci- gal? tro importantes ligações trans-
mente dois séculos de acoplagem mento com menos dióxido de car- Anunciou que iria falar com o Temos de ver isso. Depende do fronteiriças ferroviárias, para
bono, além do transporte de mate- homólogo francês sobre rela- nível de liberalização da rede Vigo [via Porto], Salamanca [via
riais através de circuitos próprios ções ferroviárias transfron- ferroviária portuguesa. A Renfe Guarda], Badajoz [via Elvas] e
em vez de camiões foram algumas teiriças à margem da cimeira é uma empresa que está a cres- Huelva [via Faro]. Esta última
Soluções como os das sugestões deixadas num relató- de ministros dos Transportes cer a nível internacional e onde ainda não está no mapa do cor-
cambiadores de rio elaborado por mais de 20 espe- em Bruxelas. Quando vai fa- tem oportunidade de operar, as- redor Atlântico transeuropeu.
lar com as autoridades portu-
bitola, usados na alta cialistas.
Resta saber se medidas políticas guesas?
sim o vai fazer.
Admite o regresso dos com-
Para mim, Portugal sempre teve
maior interesse em fazer a liga-
velocidade espanhola e técnicas vão acelerar ainda mais Há muito pouco tempo tive boios noturnos caso haja fi- ção ferroviária com Espanha por
e que permitem os projetos ferroviários na viagem
europeia pela descarbonização, ga-
uma reunião com o embaixador
de Portugal em Espanha. Na se-
nanciamento público?
Os comboios noturnos têm dois
Porto e Vigo. Portugal deve fa-
zer um esforço nesse corredor.
ajustar os rodados aos rantido o futuro da humanidade os mana passada, estive em Portu- problemas: perdem dinheiro, Em Espanha, estamos a traba-
padrões europeus e próximos 190 anos (pelo menos). gal para um encontro com o pelo que necessitam de um lhar na saída sul de Vigo. Atem-
embaixador de Espanha em Por- apoio público; a nível operacio- padamente, iremos fazer a nos-
ibéricos, são vistas O jornalista viajou tugal. Ficámos à espera da for- nal, a manutenção da maior sa parte. Mas não me compro-
como transitórias. a convite da DG-MOVE mação do novo governo portu- parte da rede ferroviária é feita meto com prazos.
08 sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt
Negócios
Tiago Costa Rocha, CEO da Full Venue (à direita), e Marcos Castro, diretor de operações. FOTO: DIREITOS RESERVADOS
TECNOLOGIA
—ANA RITA GUERRA
geral@dinheirovivo.pt
de IA para otimizar
anúncios a sapatilhas, aplicações de
running e suplementos para atle-
tas. É a máquina de segmentação
da Meta a funcionar, apanhando na
P
vidade, baixando nos gastos que Sudoeste, Paredes de Coura e Blue arece claro que teremos já atingido o pico da subida
têm a nível da publicidade e comu- Ticket. “Percebemos que havia es- das taxas de juro por parte dos bancos centrais mais
nicação e aumentando as vendas.” paço em eventos culturais e passa- relevantes, e que o próximo sentido é para baixo. A
A proposta fez virar cabeças no mos para esse lado e estamos a cres- Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central
mercado europeu e explica porque cer também”, explica o CEO. Europeu – embora de forma menos atrevida – já
é que a startup levantou uma ron- Mas é no retalho de moda online incorporaram nos seus discursos esta narrativa, e esta mesma
da semente de dois milhões de eu- que a equipa vê agora o próximo perspetiva deverá começar a fazer-se sentir até ao verão. O
ros em janeiro, liderada pela GED grande passo: “Acreditamos que há primeiro corte será, sem dúvida, o mais simbólico. Porque sinaliza
Ventures. Este financiamento ser- um potencial brutal.” Especial- a inversão de um período complexo e que teve impacto nos
virá para a expansão do negócio e o mente porque muitas marcas não rendimentos e custos das famílias, nas empresas e também em
lançamento em chão mais firme têm o orçamento ilimitado das gi- certa medida para os Estados Europeus, que tiverem de gerir um
no próximo ano, com a Full Venue gantes para anunciarem nas plata- braço de ferro entre incentivos fiscais para apoiar a economia, e o
já de olhos postos no enorme mer- formas da Meta, Google, TikTok e controlo da inflação. Mas a dimensão do ciclo de descidas é sem
cado norte-americano. outras de uma forma eficaz. E, por dúvida igualmente importante, porque ajudará a antecipar um
“Temos o objetivo e estamos a outro lado, estas plataformas so- sentimento positivo relativamente ao ritmo a que as economias
fazer um push para entrar nos Esta- ciais aplicam os algoritmos nos da- poderão recuperar durante o resto de 2024, e também definir o
dos Unidos”, sublinha Tiago Costa dos dos clientes que têm lá conta, tom para 2025.
Rocha. “É difícil”, admite. “Mas é mas não têm visibilidade para o No entanto, e ao contrário do que é prática nos Estados Unidos,
possível.” resto. na Europa não existe uma clara orientação sobre as taxas diretoras
Aqui, a ideia é entrar pelo seg- “Nós estamos ligados aos dados da zona euro. E isso levanta um conjunto de preocupações, e que
mento em que a Full Venue se fo- diretos da marca, é um nível de In- estão ligadas desde logo ao impacto positivo no desempenho
cou inicialmente. Tal como o nome teligência Artificial anterior”, ex- macroeconómico da publicação de projeções dos observatórios
em inglês indica, a startup come- plica Rocha. “Conseguimos separar relativamente aos custos financeiros, sobretudo porque ajudarão a
çou por querer usar Inteligência Ar- o trigo do joio e criar segmentos nas reduzir a incerteza sobre a trajetória futura das taxas de juro. Ou
tificial para vender mais assentos plataformas apenas com o que in- seja, as famílias e as empresas poderão estar mais ansiosas por
em estádios e garantir casa cheia. teressa.” reagir às perspetivas de cortes nas taxas refletidas nestas projeções
Fecharam contrato com federações O resultado, segundo o CEO, é do que às que podem ser inferidas a partir dos mercados
e clubes de futebol europeus – tal que a Full Venue triplica o retorno financeiros e que são inerentemente mais voláteis. Sobretudo, a
como o espanhol Villa Real e as fe- das campanhas. Em vez de um incerteza relativamente à amplitude das taxas de juro é
derações da Roménia, Bélgica, País ROAS (retorno do investimento importante devido ao seu impacto negativo nas decisões das
de Gales, Finlândia e Albânia – e es- em publicidade) de 4 ou 5, a startup empresas.
tão em conversações com o Benfi- está a permitir alcançar níveis dos No entanto, neste momento, o que pode ser retirado de alguns
“A Full Venue utiliza Inteligên- ca, Sporting e Porto em Portugal. 15 aos 25, garante Rocha. Isso é re- indicadores públicos aponta no sentido de uma descida
cia Artificial para ajudar os seus Nos Estados Unidos, a atenção está levante para as marcas que têm or- relativamente importante das taxas de juro na Europa até ao final
clientes a aumentarem as suas ven- virada precisamente para o futebol, çamentos apertados e pressão para de 2025. Olhando para o consenso dos economistas e analistas que
das ao consumidor”, diz ao Dinhei- estando identificadas as tecnológi- aumentar as vendas. acompanham a política monetária do Banco Central Europeu (à
ro Vivo o CEO da empresa, Tiago ca que operam na área. “Se não tiverem este tipo de so- data de final de março), a taxa de depósito (4%) atingirá os 3% no
Costa Rocha. A solução é complexa “Já há coisas parecidas, competi- luções, no futuro vai-se tornar in- final deste ano, e os 2,25% em dezembro de 2025. Outra forma de
e está a ser desenvolvida desde dores e estamos numa conversação frutífero colocar dinheiro em pu- analisar, com base na curva forward , ou seja, para contratos
2020, quando o empreendedor longa com a U.S. Soccer, que para blicidade, porque a concorrência é futuros aplicando taxas de juro de curto prazo em euros, os
fundou a startup, mas a ideia resu- nós foi identificada como o ponto muito grande”, considera Rocha. mercados financeiros indiciam em média uma descida da taxa de
me-se a isso: dizer às equipas de O obstáculo da startup é que es- depósito de 85 pontos base (pb) até ao final deste ano, e de 150 pb
marketing para que alvos apontar, tas soluções caso a caso, que in- até ao final de 2025. Ou seja, um valor entre os 2,25% e 2,5% será
de forma a que o dinheiro que in- cluem consultoria, têm um custo a um valor que neste momento poderá ser um bom intervalo do que
vestem em anúncios, envolvimen- que muitas empresas torcem o na- esperar até ao final de 2025, e que a verificar-se poderá constituir
to e outras ações resulte em maior Dentro de seis riz. No futuro, o negócio será esca- uma variável relevante para as economias europeias, e com
número de conversões.
“Nós aparecemos para adicionar
meses a um ano, a lado por outra via: a Full Venue pre-
tende lançar, dentro de seis meses
particular interesse para Portugal, que detém uma elevada
exposição das famílias e empresas a endividamento, e no caso do
uma camada de ciência de dados, empresa quer a um ano, uma solução similar em crédito hipotecário, a estruturas variáveis das taxas de juro.
de aprendizagem automática”, ex- lançar uma regime self-service para quem faz Os sinais são, neste momento, ligeiramente favoráveis. O ciclo
plica Tiago Costa Rocha. “Os clien- marketing digital. A pessoa faz lo- de descida de taxas parece ter chegado, e os sinais apontam para
tes recolhem dados que, grande solução em regime gin, conecta os dados da marca, cor- que, em 2025, as taxas de juro possam ter algum ímpeto de descida
parte das vezes, não estão a fazer de self-service para re os modelos disponíveis e inte- para níveis mais neutrais, compatíveis com cenários de
nada com eles”, descreve. “A Full
Venue entra, unifica-os, aplica mo-
quem faz gra-os nas suas plataforma de co-
municação. “Tudo isso de forma in-
estabilidade definidos como tal pelo BCE (2%). No entanto, o
percurso ainda não está isento de obstáculos. Caberá ter aos países
delos proprietários, identifica clus- marketing digital, dependente, em meia dúzia de cli- europeus, como Portugal, uma elevada preocupação com
ters com alta propensão de compra
de determinados produtos e co-
que dispensa ques”, indica Rocha. “É quase jun-
tar a consultora de IA com a empre-
implementação do crescimento económico sustentável e digital,
mas relativamente aos danos colaterais que esta transição pode
munica diretamente com as equi- custos com sa de produto, que nos vai trazer es- trazer, nomeadamente no que diz respeito ao emprego e
pas de marketing, para estas depois consultoria. cala.” desigualdade. O combate pelo crescimento também deverá ser
acompanhado sempre, por um combate pela coesão social.
10 Negócios sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt
Maria da Graça
Carvalho
“Continua a haver
manipulação e pouca
transparência no
mercado da energia”
A nova ministra da Energia, numa das últimas
entrevistas como eurodeputada, explica o novo quadro
de sanções contra grandes operadores que manipulam
preços no mercado grossista de energia. Texto: Luís Reis Ribeiro
ANÁLISE ALBERTO
CASTRO
Economista
e professor
universitário
Escrever direito
por linhas tortas
A
história corre à boca pequena: há
uns anos, foi encomendado um
livro sobre casos de sucesso na in-
ternacionalização de empresas
portuguesas. Como é natural, a
obra demorou algum tempo a produzir e,
quando estava pronta para ser publicada, o
editor constatou que várias das empresas re-
ferenciadas tinham falhado, quando não fali-
do. De acordo com a norma vigente num cer-
to tipo de literatura de gestão, mais preocupa-
da com receitas, e pretensos casos de sucesso,
O Hotel The Rebello tem uma vista privilegiada para o rio Douro e para o centro histórico do Porto. FOTO: DIREITOS RESERVADOS do que com análises sérias, o livro não chegou
a ser distribuído. Talvez o mesmo acontecesse
HOTELARIA noutros contextos, mas, em Portugal, onde
Bomporto quer crescer quase ninguém admite ter errado, por maio-
ria de razão. Foi pena: como sempre se soube,
e é hoje consensual, pode-se quase sempre
aprender mais com os erros com exemplos de
nas grandes cidades do país erros do que com escritos, mais ou menos
apologéticos, sobre sucessos não poucas vezes
efémeros.
Aprender com
The Rebello foi a última aposta do grupo. Hotel foi pensado para famílias “Alguns os erros, mas não
e grupos de amigos descobrirem a Invicta num ambiente de luxo. resultados significa endeusá-
-los, passo que al-
parecem guma dessa dita
—SÓNIA SANTOS PEREIRA drados. Todas têm cozinha equipada e espa- nerado e o The Rebello, que abriu portas no paradoxais. As literatura, sempre
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt ço exterior. “Este conceito tem muita pro- verão passado, está agora a entrar em velo- organizações com à procura de
cura”, frisa o responsável. cidade cruzeiro. Para os turistas, o hotel ofe- “sound bites”, não
O último investimento do grupo hoteleiro O valor despendido na construção do The rece uma localização privilegiada, uma vis- melhor hesitou dar, quase
Bomporto está debruçado sobre o rio Dou- Rebello é sigiloso. “Há muitos investidores ta ímpar e serviços de luxo. Já os dois restau- desempenho são, erigindo em dog-
por trás” do projeto, diz Nicolas Rouco. Al- rantes (um dos quais com bar no rooftop) es-
ro, a contemplar todo o casario do centro
histórico do Porto. Chama-se The Rebello, guns são portugueses, mas a maioria do ca- tão de portas abertas a todos os que preten- não poucas vezes, ma (“fail fast, fail
often”) aquilo que
numa homenagem aos tradicionais barcos pital é estrangeiro, proveniente de países dam usufruir da gastronomia e do ambien- as que reportam continua a ser um
de transporte do vinho do Porto, e tem 103 como África do Sul, Brasil, EUA, Inglaterra te de um espaço premium. Nicolas Rouco mais erros.” insucesso. A es-
suítes de luxo (com um, dois e três quartos), ou Holanda. Há proprietários (28 suítes fo- prevê que a taxa de ocupação atinja este ano ses, vale a pena
SPA (com piscina aquecida, quatro salas de ram vendidas) e subscritores de um fundo 68%, uma franca melhoria face aos 46% re- recomendar o li-
tratamento, sauna e ginásio), dois restau- imobiliário (detém as outras 75 unidades) gistados em 2023. Para já, o hotel tem cap- vro de Amy Edmondson, “The Right Kind of
rantes e igual número de bares, sala de reu- criado especificamente para desenvolver tado especialmente as atenções dos ingle- Wrong” que o Financial Times considerou o
niões e espaço dedicado às crianças. O hotel, este empreendimento. Segundo o respon- ses, norte-americanos, franceses e espa- “business book of the year” de 2023 (permito-
que ocupa quatro antigos edifícios indus- sável, o rendimento anual da aplicação nhóis, cuja estadia média ronda as 2,3 noi- -me um à parte: em 19 anos, foi a primeira
triais no Cais de Gaia, é o terceiro projeto do apresentou-se-lhes atrativo, mas houve tes. O gestor quer também incrementar as vez que o prémio foi atribuído a um livro de
Bomporto Hotels em Portugal. O grupo também compradores interessados em ob- receitas dos espaços de restauração e explo- gestão, o que talvez diga alguma coisa sobre a
quer continuar a crescer no país. ter um visto gold. rar o potencial do rooftop. qualidade da investigação em gestão e, sobre-
O foco está, para já, na consolidação do Certo é que este capital tem de ser remu- E vai olhando para as oportunidades de tudo, sobre a capacidade de a tornar acessível
The Rebello. O hotel replica um modelo já expansão. Como afirma, “o grupo quer a quem a pratica).
ensaiado no The Lumiares, em Lisboa, tam- crescer em Portugal” e as atenções estão fo- Como o título permite intuir, nem todos os
94
bém propriedade do Bomporto, e que des- cadas nas urbes. “Gostamos de estar nas erros são iguais. O livro documenta-o, alian-
de a primeira hora demonstrou ser um su- grandes cidades. Estamos a estudar várias do, de forma exemplar, investigação e exem-
cesso. Como explica Nicolas Roucos, diretor possibilidades”, afirma, sem adiantar mais plificação. Alguns resultados parecem parado-
do grupo, a filosofia é de um AL (alojamen- pormenores. Na sua opinião, o turismo em xais. As organizações com melhor desempe-
to local), mas com serviços de uma unida- Portugal ainda tem espaço para crescer. Lis- nho são, não poucas vezes, as que reportam
de 5 estrelas – pequeno-almoço, restauran- boa enfrenta o problema da sobrelotação do mais erros, já que na organização existe um
te, bar, SPA... É um piscar de olhos às famí- aeroporto, o que impede o reforço da sua ambiente em que prevalece o que a autora
lias que querem estar juntas, mas em quar- posição como destino turístico, lembra. Já o designa por “segurança psicológica”: nin-
tos separados, aos grupos de amigos, que Porto não se debate com esse problema. guém ter medo de ser penalizado apenas por-
pretendem um espaço em comum, mas —Colaboradores “Está ainda a ser descoberto”, defende. que errou, o que fomenta um contexto de
também privacidade. A suíte mais pequena O The Rebello emprega 94 pessoas. Na Além do The Rebello, o grupo Bomporto aprendizagem, melhoria e inovação. Este é,
do The Rebello tem 37 metros quadrados e época alta, subirão para 110. No total, o detém o The Lumiares e o The Vintage, am- apenas, o ponto de partida de um livro que se
a maior estende-se até aos 193 metros qua- grupo responde por 240 colaboradores. bos em Lisboa. recomenda.
sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt 13
ENTREVISTA
Buzz
Dinheiro
em campo
Endrick, novo
fenómeno do
Brasil não se Endrick, num jogo amigável
contra a Espanha.
legenda e creditos da foto
cansa de quebrar
FOTO: PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP
principal legenda dkdkl dçsç
spsps spspsp spsps. FOTO: META
recordes
60
No campo, marca um golo a cada 45 que gere a carreira de centenas de que avalia o preço de mercado
minutos pela seleção e supera Haaland atletas. “Era por isso esperado”,
prossegue Freitas, “que a maior
dos atletas, Endrick está cotado
em 55 milhões de euros, mesmo
com a mesma idade. Fora dele, é trending parte dos interessados, não só sem ter ainda chegado a Madrid,
topic na rede social X, e conquista Europa, pelo clube, mas pelo futebol es- mais do dobro do segundo atleta
Ásia e África. panhol, buscasse mais informa-
ções dele antes e após esse jogo”.
do Brasileirão na lista, o médio
André, do Fluminense, cujo va-
—Milhões de euros “Já na Ásia, o crescimento tam- lor de mercado é de 25 milhões.
—JOÃO ALMEIDA MOREIRA o mais comentado no X, ex-Twit- Quantia, dependendo de ob- bém estava previsto tendo em Entre os atletas no mundo com
geral@dinheirovivo.pt ter, com mais de 300 mil men- jetivos, paga pelo Real Ma- conta o número de admiradores 17 anos, o brasileiro também está
ções. drid, pelo craque ainda do da seleção brasileira no continen- disparado na frente. Lewis Miley,
Amanhã joga-se em São Paulo a Três dias depois, voltou a mar- Palmeiras. te, no Bangladesh, por exemplo, do Newcastle, segundo da lista do
55
final do campeonato paulista de car pela seleção pentacampeã do nos mundiais de futebol a popu- Transfermarkt, vale 22 milhões,
futebol entre o Palmeiras, de Abel mundo, desta vez à Espanha, lação praticamente se divide en- El Junior Kroupi, do Lorient, ter-
Ferreira, e o Santos, mas, com noutro templo, o Santiago Ber- tre os que torcem pelo Brasil e ceiro na tabela, não passa dos 15.
todo o respeito pelos torneios es- nabéu, a sua futura casa, e tor- pela Argentina”. Para justificar a diferença entre
taduais do Brasil e pelo historial nou-se o assunto mais comenta- “Os países africanos, entretan- Endrick e a concorrência, o site
dos dois rivais, os olhos do mun- do no Brasil, com mais de 200 to, têm adoração pelo futebol bra- sublinha que a média de golos do
do não vão estar nem na prova mil comentários. sileiro”, complementa Fábio atacante na seleção está em um a
nem nos clubes. Será em Endrick, No Google Trends, ferramenta Wolff, sócio-diretor da Wolff cada 45 minutos. Mais: o jogador
17 tenros anos e 1,73 metros de que mostra os mais populares —Milhões de euros Sports e especialista em marketing marcou 18 golos em 66 partidas
gente, que os holofotes vão inci- termos buscados no Google, o Valor de mercado do prodí- desportivo, que faz a captação de pelo Palmeiras, mais do que Er-
dir. nome de Endrick teve uma pro- gio, mais do dobro de qual- contratos entre marcas envolven- ling Haaland, o segundo atleta
O prodígio brasileiro, já contra- cura fora da curva em três conti- quer outro jogador de 17 do profissionais do desporto. “En- mais valioso do mundo do mo-
tado pelo Real Madrid por 60 mi- nentes, Europa, Ásia e África, du- anos no mundo ou a atuar tão, acho natural que quando sur- mento, com a mesma idade: o
lhões de euros, dependendo de rante o dia do jogo com a seleção no Brasil. ge um novo ídolo na seleção brasi- norueguês marcara 16 em 62 en-
2º
objetivos, não para de encher de espanhola. leira, como Endrick, os países afri- contros antes dos 18 anos.
água a boca dos amantes do fute- “Os principais clubes espa- canos estejam entre os que mais Nessa lista de mais valiosos do
bol jogado no campo e também nhóis são muito influentes no busquem o nome dele”. mundo, liderada por Jude
nos gabinetes. norte da África e Endrick vem “É um jovem que vem que- Bellingham, futuro colega de En-
No último dia 23 de março, sendo cada vez mais associado ao brando recordes e fazendo o que drick no Bernabéu, entre dezenas
após fazer o golo da vitória do Bra- Real Madrid”, conta ao DV Thia- ninguém com a sua idade fez nas de jogadores da Premier League,
sil sobre a Inglaterra, em pleno go Freitas, COO no Brasil da Roc últimas décadas, continuamen- de La Liga e de outros campeona-
Wembley, tornando-se o mais Nation Sports, a empresa de en- te, em diferentes palcos e níveis tos de topo, só um membro da liga
novo a conseguir marcar pela se- tretenimento norte-americana, —Mais novo de exigência, o que vai só elevan- portuguesa se intromete, o sueco
leção desde ninguém menos do comandada pelo cantor Jay-Z, Depois de Ronaldo Fenóme- do o interesse pela sua trajetó- Gyökeres, do Sporting, e um do
que Ronaldo Fenómeno, viu o que se tornou acionista maioritá- no a marcar pela seleção ria”, completa Thiago Freitas. campeonato brasileiro. Nem vale
seu nome, por algumas horas, ser ria da TFM Agency, companhia aos 17. No Transfermarkt, site alemão a pena dizer quem.
16 sábado, 6 de abril de 2024
www.dinheirovivo.pt
PUBLICIDADE