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CM NOVAREJO
NO VAREJO
O mais importante no varejo para os mais importantes do varejo
18
jul/ago 2011 R$ 15,50
Ano 3
EM GUARDA!
Em guarda!
de territórios
CAPITAL DE GIRO O APERTO ECONÔMICO EXIGE CRIATIVIDADE DOS VAREJISTAS
32 E-COMMERCE
Na americana Zappos, gestão se faz com
diversão e felicidade
36 GESTÃO
Juros elevados, inadimplência e crédito
caro exigem dos varejistas estratégias
32
diferentes para gerenciar capital de giro
42 MARKETING SENSORIAL
Os três sentidos do corpo humano que
58
podem ser estimulados na loja
52 TREINAMENTO
Como empresas motivam (e retêm)
pessoas em tempos de emprego farto
68 FÓRUM
Representantes de diversos segmentos
debatem como prevenir perdas e fraudes
10 PRATELEIRA
14 PONTO DE VENDA
22 CAPA
52
46 EVENTO
50 ARTIGO
58 CASE GESTÃO
62 INTERNACIONAL
62
66 MOBILIDADE
74 APLICATIVO
80 COMPORTAMENTO
82 OPINIÃO
42
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No corpo
Camisetas,
chinelos e
guarda-chuvas
completam
a coleção
MUITO ALÉM DA G
Retornável
Até mesas e
cadeiras são feitas
com embalagens
de refrigerante
recicladas
Rock
Por Thiago Borges Uma loja para
comprar desde
bonés dos Rolling
Stones até uma
mochila do
Nirvana que não
tem cheiro de
última fronteira
do marketing Por Juliana Gonçalves
O levante
dos quase
grandes
É chegada a hora da revolução: contra gigantes
do mercado, varejistas de médio porte investem
em artilharia, ensaiam disputas e bolam planos
de ataque ao território do inimigo. Nessa guerra
cujo prêmio são os consumidores alheios,
os combatentes não podem deixar para trás
quem estava ao seu lado desde o início
22 | JJul
ul/A 2011CONSUMIDOR
go2011
/Ago CONSUMIDORMODERNO
MODERNONOVAREJO
NOVAREJO
(como a Salfer) tornam-se objeto de como a sueca H&M e a japonesa tar os grandes. Antônio Carlos Ruó-
interesse das grandes”, destaca Clau- Uniqlo, miram seus canhões para tolo, diretor do Ibope Inteligência,
dio Felisoni, presidente do conselho cá. A Cencosud, do Chile, já contro- ressalta que é necessário substituir
do Provar/Ibevar. A chance de ser la os supermercados G. Barbosa (do os veteranos por novos comandan-
abatido e depois substituído pelas Sergipe) e Bretas (de Minas). tes, mais preparados para lidar com
potências do varejo não é desprezí- Não dá para esperar pelo ataque. as armadilhas contemporâneas.
vel. Bons exemplos disso são os con- No ramo alimentício, por exemplo, A Salfer edita seus balanços des-
glomerados Pão de Açúcar-Ponto apesar de existirem 85 mil pontos de de 2000, quando seu fundador mor-
Frio-Casas Bahia, Ricardo Eletro- autosserviço no Brasil, 46% do mer- reu. A partir daí, os sócios adotaram >>>
práticas de governança corporativa e, em 2004, nome- riantes são possíveis”, atesta Vanderlei. “Nossa intenção
aram Vanderlei como presidente. Três anos depois, ele é ter um modelo que perpetue”, completa.
criou um conselho de administração formado por mem- Não foi diferente na Avenida, rede mato-grossense
bros da família e gente do mercado que se reúne uma que é a maior varejista de moda do Centro-Oeste. Por
vez por mês. “Eu acho que uma futura fusão, a compra lá, saiu o pai Ailton Caseli e entrou o filho Rodrigo Ca-
de alguém, um private equity ou abertura de capital são seli. Há dois anos, o sucessor iniciou as auditorias de
inerentes às possibilidades da empresa. Todas essas va- balanços, a adequação financeira e a adoção da gover-
nança. Isso feito, mudou o escritório central da empre-
sa para São Paulo – onde sequer a Avenida tem lojas – e
consolidou seus cinco centros de distribuição em um
só, inaugurado recentemente em Campo Grande (MS).
Rodrigo lidera uma armada para alçar a Avenida à
altura de rivais nacionais, como Riachuelo, Renner, Ma-
risa e C&A. Até o fim do ano, deve totalizar 80 lojas por
dez Estados e tem a meta de abrir mais 120 em cinco
anos, quando quer atingir o faturamento de R$ 1 bilhão
– três vezes maior que hoje.
Para tanto, ele conversa com oito fundos de inves-
timento do Brasil e do exterior para tentar vender 35%
da empresa. “Crescemos numa velocidade de 26% ao
ano, só que agora, para continuar nesse ritmo, e devi-
do ao nosso tamanho, precisamos de mais recursos”,
explica. O objetivo é deixar tudo pronto para uma nova
batalha, em 2016, quando Rodrigo pretende abrir o ca-
pital da Avenida.
ARTILHARIA
O mercado de capitais é um caminho para aumen-
tar a munição. A falta de um “patrocinador” para o
projeto de expansão pode ser decisiva. E, agora, com
o aperto na concessão de crédito imposto pelo Banco
MARCHA QUE VEM DO SUL Central, os donos do dinheiro preferem bancar as gran-
des operações, nas quais a segurança é maior. “O que
“NOSSOS PRINCIPAIS CONCORRENTES SÃO TODOS
sobra para ele? Tem de se tornar mais eficiente”, obser-
AQUELES QUE ESTÃO DE PORTAS ABERTAS”
va Kemp, da Serasa.
Vanderlei Gonçalves, da Salfer
Cléber Morais, presidente da Bematech, vai além:
“Num cenário altamente complexo e competitivo, me-
FRONT Móveis e eletrodomésticos lhorar a eficiência nos negócios deve ser a principal
QG Joinville (SC), desde 1958 missão de todos os empresários do varejo”. Em tempos
de guerra, significa gastar melhor para ao menos pro-
BASES* 210 lojas teger o território conquistado. O suor de agora é com-
MUNIÇÃO** R$ 700 milhões pensado depois. “Existe a oportunidade dele crescer de
três a cinco anos no mesmo ritmo, desde que se mo-
Faturar R$ 1 bilhão até 2012 dernize”, observa Alejandro Padron, sócio para varejo
ALVO
e expandir para SP e RS da IBM. “Mas quem não investir em tecnologia vai ficar
defasado e não vai aguentar a concorrência”, alerta.
ARMA Aposta no crescimento orgânico A bravura de Vanderlei no comando da Salfer resul-
*Até o momento tou em boas condecorações. A indústria atende à rede
**Faturamento em 2010 catarinense com mais respeito, em especial após a onda
com duas unidades, Rubens foi convidado a abrir uma brasileiros não têm o hábito de almoçar pizza, Rubens
loja no Shopping ABC Plaza, em Santo André (SP). Ele também precisou incrementar o cardápio com petiscos
aceitou, mas corria o risco de jogar mais de uma década e outras massas. Em 2003, com nove lojas funcionando,
de tradição no lixo. Rubens aderiu às franquias e, para atender à demanda,
O cliente que frequenta a praça de alimentação espe- criou uma cozinha central no Morumbi. Lá os fornece-
ra um prato por, no máximo, dez minutos. “Eu tive de de- dores entregam os produtos, que são manipulados e en-
senhar equipamentos diferentes para a operação, para viados às lojas na quantidade exata para o consumo. Os
poder atingir esse tempo de preparo”, lembra. Como os custos com insumos, mão de obra e manutenção caíram
15%. A Patroni deve encerrar o ano com 150 lojas e um
faturamento de R$ 150 milhões. Em cinco anos, serão
500 unidades.
Rubens prepara a abertura de um centro de distri-
buição no Nordeste e uma nova cozinha central para
suportar a demanda. “Tem-se de pensar em estrutura,
acompanhar o crescimento antecipadamente, primar
por qualidade e continuar dentro dos padrões que es-
tabelecemos”, lembra. O que não muda desde 1984,
entretanto, é a produção da massa da pizza. Ainda
hoje, mesmo com vários franqueados, a massa é feita
na frente do cliente.
EM GUARDA
A guerra está em andamento e não é permitido des-
cansar. “Os grandes vão continuar incorporando, en-
quanto novos vão surgir para disputar espaço também”,
nota Kemp, da Serasa Experian. É preciso optar entre
desistir ou continuar o combate. “Em algum aspecto, ele
tem de ser o melhor”, lembra Ruótolo, do Ibope.
A Salfer optou por ser grande. E se prepara para
brigar com as que já estão no mercado. No final de
2008, Vanderlei e os membros do conselho estabe-
leceram uma nova meta: até 2012, atingir o primeiro
bilhão. Ao observar os ataques promovidos nos dois
últimos anos, quando foram abertas 82 novas lojas e a
ALIANÇA receita chegou a R$ 700 milhões em 2010, parece que
“100% DO QUE É VENDIDO NOS Vanderlei está no rumo certo. “Não estamos corren-
ASSOCIADOS É NEGOCIADO NA REDE” do atrás de bilhões. Ele é o nosso norteador”, diz. “Se
Paulo Ângelo Cardilli, da Super Rede atingirmos R$ 950 milhões ou R$ 1,1 bilhão, vamos
comemorar do mesmo jeito”, salienta.
FRONT Alimentos Para chegar ao patamar pretendido, Vanderlei prepa-
ra seu exército para lutar em novas frentes. Uma delas
QG Fortaleza, desde 2001 é a internet, em que a Salfer atua modestamente desde
BASES* 36 lojas 2008. E a outra é a entrada em dois novos Estados – Rio
Grande do Sul e São Paulo – onde já pleiteia alianças
MUNIÇÃO* R$ 1,3 bilhão com varejistas locais. O pequeno exército de Vanderlei
ALVO Pelo menos três novas lojas em 2011 está em marcha. Os próximos capítulos dessa guerra
vão revelar se está em curso, ou não, o surgimento de
ARMA Associação de supermercadistas um novo império. Vai depender de como a Salfer vai li-
*Até o final do ano dar com o povo das terras que pretende alcançar.v
cando bons negócios para alavancar. até por conta da necessidade de dar
Um dia, recebe uma ligação de um tal suporte ao Customer Loyalty Team,
de Nick para lançar o shoesite.com. O que é como se referem à Central de
argumento: o negócio de calçados nos Relacionamento (algo como Equipe
EUA movimentava US$ 40 bilhões por de Lealdade ao Cliente).
ano e as vendas por catálogos apenas Em Las Vegas, o grupo se uniu.
US$ 2 bilhões. O comércio eletrônico Uma grande família de cem pessoas.
deve continuar crescendo e as pesso- Uma empresa pequena com pessoas
as devem continuar usando sapatos, e departamentos próximos consegue
FOTOS Divulgação
VALORES DA
CULTURA ZAPPOS:
Transmitir “Uau!” sempre
Abraçar e conduzir mudanças
Criar diversão e um pouco de esquisitice
Ser ousado, criativo e ter a mente aberta
Buscar crescimento e aprendizagem
Construir relacionamentos abertos e honestos
com a comunicação
Construir uma equipe positiva e com espírito
de família
Fazer mais com menos
Ser apaixonado e determinado único para aumentar o valor do tem-
Ser humilde po de vida útil do cliente. Esse valor
pode, sim, vir a aumentar se a empre-
o fator diferencial da Zappos. Desde sa conseguir agregar emoção em cada
o início, sua principal liderança vestiu interação. Um exemplo: um cliente faz
a carapuça do cliente e decidiu que um pedido de sapatos à meia-noite e
esse seria o seu principal diferencial. é surpreendido com a entrega apenas
Com o tempo, Tony Hsieh se tornou oito horas mais tarde. Isso é experiên-
um crítico contumaz de empresas que cia e com o frete grátis.
negligenciam o serviço ao cliente, Embora apenas 5% das vendas
têm respostas engessadas, robotizam sejam concretizadas via telefone, a
os representantes da linha de frente e Zappos considera esse o melhor dis-
se preocupam em diminuir despesas positivo para gerenciamento de marca
desse centro de custos. Depois não e construção de imagem caso a intera-
entendem os motivos da insatisfação ção seja memorável.
generalizada dos consumidores. Controles e scripts não existem na
A Zappos acredita que o melhor central de 400 pessoas. Já tiveram casos
marketing está na central de relacio- de ligações de seis horas de duração.
namento, pois resulta em boca a boca Cada funcionário é treinado e deve ter o
– o combustível mais eficaz destes bom senso para lidar com cada cliente.
novos tempos, além de seu potencial A ideia é fazer com que a própria perso-
nalidade de cada agente faça a diferen-
ça. Com essa filosofia, a empresa atin-
giu vendas superiores a US$ 1 bilhão em
menos de dez anos e, como coroação
desse sucesso, aceitou fazer parte de
MOTIVAÇÃO um grupo gigantesco, sinônimo de qua-
Colaboradores satisfeitos lidade no comércio eletrônico, a Ama-
garantem serviço de zon, pela importância de US$ 1,2 bi. De-
qualidade: um pedido feito
à meia-noite é entregue talhe: a operação, os valores e a cultura
oito horas depois Zappos permanecem intactas. A diver-
são e a felicidade venceram.
O DESAFIO DO
CAPITAL
DE GIRO
Juros elevados,
avanço da
inadimplência e
crédito mais caro
exigem novas
estratégias para
manter fôlego
A
s altas doses do remédio do governo para da rede, enxugou as compras de 35 para 30
combater a inflação estão causando efeitos dias. “Não podemos extrapolar nos custos.
colaterais na gestão do capital de giro das A administração do giro do estoque tem de
empresas, que estão mudando suas estra- ser feita toda hora, seja acordado ou dor-
tégias para não deixar a operação sucumbir mindo”, ressalta.
à alta da taxa de juros, crédito mais caro e O importante é estar ciente do ciclo
sinais de desaceleração nas vendas. Alon- econômico, verificando o tempo de per-
gar prazos de pagamento com fornecedo- manência do produto na companhia. Pe-
res, ampliar prazos para os clientes e acha- ríodos longos demandam custos elevados
tar as margens foram alguns dos impactos e esticam o prazo para retorno do investi-
da política monetária no setor varejista. O mento realizado. “Embora o capital de giro
momento atual requer atenção maior do represente em média 40% do total de ativo
empresário para reduzir a necessidade de das empresas, ele é muito mais difícil de
captação de recursos com financeiras. ser gerido porque está sujeito às mudan-
Quando os juros estão subindo, é im- ças internas e do cenário macroeconômi-
portante verificar se o capital necessário co”, pondera Edson Silva Pereira, consul-
está no caixa da companhia ou no banco. tor do Sebrae–SP. O encurtamento desse
Para Marcel Solimeo, economista-chefe da ciclo é uma ação a ser buscada por todas
ACSP (Associação Comercial de São Pau- as gestões financeiras.
lo), recorrer ao mercado é sinal de que a Pasquotto puxa as rédeas do departa-
administração do estoque não está bem. “A mento de compras para não extrapolar nos
gestão eficiente das mercadorias está entre custos. A saída é adequar o financiamento
as maneiras mais simples para não depen- da operação com a indústria e o consumi-
der das linhas de crédito.” O capital de giro, dor. “O País está se reequilibrando econo-
FOTOS iStockphoto/Douglas Luccena
composto pelo dinheiro em caixa, precisa micamente, após forte crescimento. Como
ser bem gerenciado. Manter o equilíbrio não é possível repassar totalmente os cus-
entre os prazos das faturas a pagar e esto- tos dos juros elevados para o cliente, fica-
que e contas a receber é o segredo. mos com margem de lucro menor”. Para
Fracionar as compras para as 87 lojas é manter a rede competitiva e elevar o fatu-
a estratégia da paulista Cybelar. A estraté- ramento para R$ 480 milhões, 22% maior
gia foi reduzir os dias de estoque de cate- do que em 2010, o diretor quer diminuir a
gorias que demandam mais capital, como imobilização, dando preferência a pontos
a linha branca. Ubirajara Pasquotto, diretor de venda alugados. >>>
GÔNDOLAS CHEIAS
Mesmo em supermercado, nas quais os clientes
necessitam de menos crédito para comprar, as em-
presas estão arcando com parte do financiamento. A
Coop (Cooperativa de Consumo) assume a conta do
crediário do consumidor por um mês. Antonio Carlos
Cattai, gerente financeiro da rede, explica que o ideal é
mexer nessa equação para que as contas a receber en-
trem antes no caixa da companhia, mas é difícil, já que
o mercado é quem manda e essa condição não pode
ser modificada sob pena de perder vendas. “Se temos
estoque para 30 dias e conseguimos pagá-lo em 45,
estamos com o índice de tesouraria positivo. Analisa-
mos os dias de estoque, prazo médio de recebimento
e casamos com vencimento médio das compras. Com
a pressão para reduzir o estoque médio e conseguir
prazos maiores de pagamento, é preciso atenção para Ricardo Paixão,
não faltar produtos nas gôndolas”, relata. da Felisoni
Cattai garante a manutenção do prazo de paga- Serviços
financeiros têm
mento dos cooperados até a hora em que os concor- ganhos tão
rentes decidirem reduzi-lo. Na categoria de alimen- importantes
tos, a política é de até 40 dias sem juros ou parcelado quanto a venda
de produtos em
em três vezes com juros no private label – os eletro- determinados
eletrônicos são feitos em até 12 vezes sem juros. segmentos
José Domingos
Alves, da
Lojas Cem
“Mandamos em
nosso território,
enquanto os
concorrentes são
dependentes das
taxas negociadas
com os bancos”
Mortalidade
atinge 27% das empresas no primeiro ano
Falta de planejamento prévio e gestão deficiente do capital de giro estão entre os
principais motivos que levam novas empresas a fecharem as portas, segundo o
Sebrae–SP. Entretanto o índice de 27% de empresas que fecham as portas em
um ano é o menor dos últimos dez anos. Antes, chegava a 35%. O consultor da
entidade, Luís Lobrigatti, ressalta que o nível de capacitação dos empreendedores
melhorou e isso contribuiu para que menos negócios fechassem as portas.
O Sebrae–SP identificou que a mortalidade é maior entre empresas com idade média
de cinco anos: 58% das que iniciaram as atividades em 2003 fecharam as portas em
2009. A inadimplência é resultado de administração ineficiente e uma das principais
causas da falta de capital de giro.
Luís Lobrigatti, do Sebrae–SP. pois os impostos para vender a supervisor da companhia, que fa-
É preciso ter o menor estoque prazo são inferiores quando com- turou R$ 2,135 bilhões em 2010.
possível, mas sem correr o risco parados ao modelo tradicional.” Alves diz que o fato de a em-
de perder a prontidão, pois com- presa estar capitalizada e contro-
prar produto em excesso pode Contraponto lar sozinha suas operações finan-
levar ao pagamento de juros. A maior varejista do País, o ceiras a posiciona em situação de
Para não comprometer o fluxo Grupo Pão de Açúcar, anunciou conforto. “Mandamos em nosso
de caixa, o consultor recomenda em maio que vem reduzindo território, enquanto os concor-
atenção com a política de venda vendas sem juros e o prazo de rentes são dependentes das taxas
a prazo, principalmente quando parcelamento para diminuir negociadas com os bancos.”
o crediário é próprio. despesas financeiras. Roberto Por enquanto, a Lojas Cem
Maria Gabriela, da Pontal, Fulcherberguer, vice-presidente não precisou alterar taxas de juros
cobra taxas maiores nos parce- comercial da empresa, disse na nem os prazos de pagamento com
lamentos feitos no cartão da loja época que as vendas sem juros a indústria. O giro acontece nor-
acima de seis vezes e no crediá- na Nova Globex chegaram a res- malmente em 45 dias. E o ritmo
rio, reflexo da alta no mercado. A ponder por 70% do total, mas ca- de crescimento está mantido, com
inadimplência entre os clientes íram para 50%. Ele afirmou que investimento de R$ 55 milhões
varia de 3,5% a 4,5%, e permanece a companhia não está perdendo para abrir dez filiais, totalizando
estável mesmo com os indicado- vendas com a nova estratégia. 200 até o fim do ano. Outro deta-
res apontando tendência de alta. Quarta maior varejista de mó- lhe é que todos os pontos da va-
Paixão ressalta que o ambien- veis e eletroeletrônicos, a paulis- rejista são próprios, não alugados.
te econômico hostil eleva a pres- ta Lojas Cem foi por outro lado: Paixão, da Felisoni, explica
são em cima das pequenas redes, alongou o prazo de financiamen- que ao optar por imóveis próprios
que estão gastando mais capital to sem juros aos clientes para até o ritmo de expansão tende a ser
de giro para custear o financia- dez vezes, dependendo das ações menor por ser difícil encontrar
mento aos consumidores. “As em- no ponto de venda. É pratica- bons pontos de vendas. Outro fa-
presas que têm braços financeiros mente o dobro do que costuma tor é que a estrutura da empresa
conseguem atenuar esses efeitos, fazer, diz José Domingos Alves, fica mais densa.
Tripla
ação Por Tatiana Alcalde
Aroma
Memória olfativa
Uma pesquisa do Instituto Millward Brown constatou cam maior sensação
que 75% das percepções e conexões emocionais vêm do de prazer. Já os de ca-
olfato. “O aroma é uma das sensações mais eficazes para nela e cedro são estimulan-
se trabalhar no varejo, porque tem efeito instantâneo. Ao tes, enquanto os de baunilha trazem
inspirar, as moléculas que bailam no ar com o perfume uma sensação de conforto.
são absorvidas e vão parar no sistema límbico onde está Para adequar o aroma a um ponto de venda é feito
situado o trono das nossas emoções”, diz Fátima Leão, um estudo. “Pesquisamos quem é o consumidor e o seu
diretora criativa da Camaleão Marketing Olfativo. “É ali perfil e levamos em conta onde o aroma vai ser colocado,
que o desejo de compra, as sensações de bem-estar e de se é ponto de venda de massa ou se é mais sofisticado e
acolhimento podem ser despertadas”, completa. menor”, explica. “Em paralelo, buscamos entender o es-
O consumidor bem recebido, acolhido e calmo, per- pírito da marca com o seu criador. Depois passamos ao
manece mais tempo na loja e fica mais sensível ao consu- processo de elaboração dos aromas e testes até chegar ao
mo. Pesquisas apontam para o uso de aromas específicos aroma final”, detalha.
para cada situação, produto, ambiente, e o perfil de clien- Em qualquer lugar, ao sentir o cheiro característico
te atendido. Alguns dos mais indicados para o varejo são da loja, o cliente pode se lembrar da marca e do que ela
os cítricos, com efeito revigorante, e os florais e a lavanda, oferece. “Você identifica a marca com um aroma, que fica
relaxantes. Aromas amadeirados e almiscarados provo- gravado no subconsciente do consumidor”, diz Fátima.
Música
Identidade sonora
Há dois fatores principais que justificam o uso da pro- sente bem, permanece por mais tempo na loja, fica mais
gramação musical, também chamada de music branding, acessível ao vendedor e mais à vontade para experimentar
em um ponto de venda: a criação de uma identidade so- roupas ou conhecer produtos. Ele até não se incomoda
nora para a marca e a redução do custo psíquico, ou seja, com a fila quando ouve o que gosta”, explica Casanova.
da percepção de tempo que o cliente tem dentro da loja. Josué Varella, gerente de marketing da TNG, rede de
Segundo Alexandre Casanova, diretor da ListenX, em- lojas de moda, ressalta ainda que a programação musical,
presa de ambientação musical, muitas lojas deixam a pro- considerando os horários de pico nas lojas, é um dos fato-
gramação musical a cargo do gerente. Sem uma orienta- res que proporcionam ritmo aos atendimentos. Em 2003,
ção específica, ele pode destruir a experiência de compra a marca adotou o music branding não somente pelas
do cliente. “A programação musical deve ser construída vantagens como também pelas dificuldades em construir
de acordo com o perfil e com os atributos da marca, para uma identidade musical que fosse seguida pelos colabo-
trabalhar a imagem que ela quer passar para o público e radores e entendida pelos consumidores. “Unificando e
assim agregar boas sensações durante a visita”, pontua. equalizando nossa identidade musical, evitamos distor-
Por exemplo, se a marca tem como atributos a ções e influências regionais, e alinhamos nossa ima-
jovialidade e a descontração, as músicas gem como marca”, afirma.
devem refletir tais aspectos para tornar o Segundo o executivo, o maior ganho é o de
ambiente mais atrativo. imagem. “Mas no médio prazo, estimamos um
Uma programação corretamen- aumento em torno de 15 a 20% nas
te desenvolvida também traba- vendas, devido, principalmente,
lha a percepção de tempo do ao aumento do tempo de per-
consumidor. “O ambiente fica manência do consumidor no
mais agradável, o cliente se ponto de venda”, diz.
CONTROLE DE HUMOR
A ListenX desenvolveu uma metodologia que avalia o nível de energia da música.
A unidade classifica a influência física e emocional que cada melodia exerce sobre
o ser humano. “Há cerca de 20 fatores que influenciam o nível de energia de uma
música, entre eles o ritmo, a letra e os instrumentos usados”, explica Casanova.
A variação do nível de energia pode impactar de maneira diferente o público.
Por isso é fundamental montar uma estratégia específica para cada estabelecimento
considerando o perfil do cliente, os horários de pico, a proposta de marketing e os
atributos da marca. “Com isso, o conteúdo veiculado muda ao longo do horário de
atendimento”, comenta.
É possível ter três níveis de energia diferentes – para o período da manhã, da
tarde e da noite. “80% de nossos clientes têm uma programação com os três
níveis de energia. Pela manhã, o nível é moderado, mas se o público da loja mudou
naquele período do dia, é possível ir para o nível da tarde ou da noite, e isso controla
o humor dentro da loja”, explica.
A mudança do nível de energia da música também pode influenciar o ritmo de
atendimento. Casanova conta que a loja de um cliente, sempre no final do ano,
ficava lotada e ele tinha que fechar as portas para que os consumidores que estavam
dentro do local pudessem terminar de fazer suas compras. “Isso gerava filas e
filas. Então, aumentamos o nível de energia da música da programação de forma
a acelerar o processo de compra e o trabalho dos vendedores. Os consumidores
passaram a comprar mais rápido e a loja não teve mais que fechar as portas”. v
O
Durante a feira
e congresso de
varejo Brasilshop,
tendências, panoramas
e inovações do setor
foram destaque
Por Redação
consumidor
apaixonado por você
46 | Jul/Ago 2011 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO
Stephen
Kanitz,
consultor
“O Brasil
vai nadar de
braçada”
Nabil
Sahyoun,
da Alshop
“Fizemos uma
FOTOS Divulgação/Fredy Uehara
projeção de
crescimento
de 9% para
2011, que
deve ser
revisada,
para cima ou
para baixo”
Marque um encontro
com o cliente no provador
POR PATRICIA VOLPI E Acabaram-se os espaços acanha- A rede norte-americana Anthropologie in-
SÉRGIO BARBI dos, escondidos e mal resolvidos nas lojas de seriu cadeiras na área de espera porque per-
vestuário, resquícios de uma época em que ex- cebeu que a maioria das suas clientes vinha à
perimentar uma peça era como pedir um favor loja acompanhada, assim as amigas poderiam
ao vendedor. Até pouco tempo, os provadores aguardar e participar da escolha. Espelhos tam-
ficavam escondidos porque eram acrescentados bém devem ser selecionados cuidadosamente,
depois que o projeto já estava pronto numa ten- principalmente aqueles que causam a falsa sen-
tativa de resolver um “problema” do cliente. O sação de emagrecimento e aumentam a chance
varejo se sofisticou e percebeu que o “problema” do cliente se decepcionar depois.
era, na verdade, uma das maiores oportunidades O uso da tecnologia é um incentivo para ex-
de venda e merecedor de atenção especial. perimentar. Os mais simples são os dispositivos
A teoria dos especialistas de varejo é: quanto eletrônicos que funcionam como campainhas
mais o cliente experimenta o produto e tempo para chamar as vendedoras e trocar peças de
passa com ele, maior a roupas. Mas há equi-
chance de comprar. Estu- pamentos sofistica-
do da consultoria britâni- dos que oferecem
ca Envision Retail aponta telas sensíveis ao
que a chance de com- toque para pesquisa
prar aumenta 71% entre de peças e combi-
quem passa no provador. nações possíveis, ou
Eles ganharam o permitem enviar co-
meio das lojas, espaços mentários para redes
nobres e posições de sociais para saber a
destaque. Os designers opinião das amigas.
especializados em lo- Os sensores de pre-
jas têm valorizado esse sença são outra no-
espaço em seus projetos, para que o cliente vidade que bloqueiam portas automaticamente
Patricia Volpi,
coordenadora
de projetos, e
Sérgio Barbi,
diretor-
executivo,
ambos do
escritório
brasileiro
da FRCH
Design
Worldwide
possa interagir com o produto, sem pressa
ou vergonha. Um terço do tempo dos clientes
nas lojas de roupa acontece dentro do prova-
dor, segundo pesquisas da FRCH.
Não é tão fácil planejar um “trocador-vende-
dor” e a atenção aos detalhes faz a diferença. Por
ser uma área onde as pessoas muitas vezes se
sentem expostas e inseguras, o conforto deve ser
levado na máxima consideração. Fatores como
iluminação, materiais, limpeza, temperatura são
cruciais. Cores e materiais frios são evitados pe-
los designers porque não lembram ambientes
domésticos acolhedores. A estética e o alto de-
sign dão lugar ao conforto. Mais do que parecer
ao acesso externo quando o provador está sendo
utilizado, evitando as desagradáveis trancas que
se quebram com facilidade e ainda sem falar no
constrangimento de alguém abrir a porta ines-
peradamente. Algumas lojas permitem que os
clientes personalizem seu espaço, escolhendo
clips de música em monitores de LED, selecione
o som do seu ambiente, defina a cor predomi-
nante da iluminação ou até mesmo o cheiro do
provador de acordo com seu estado de espírito.
A realidade aumentada simula, com apoio de
câmeras, espelhos e monitores o uso das roupas
pelos clientes, sem eles terem que prová-las fi-
sicamente. O provador do futuro poderá ser um
(
arrojado, inovador e lindo, o espaço deve ser espaço coletivo, onde os clientes não se sentem
acolhedor e vendedor. sozinhos e sem jeito, pelo contrário! v
Empresas como
Zema e Griletto
investem em
cursos que não
estão relacionados
às atividades dos
colaboradores. Vale
tudo para fidelizar o
cliente interno
Por Cintia Santos
Não basta
treinar,
é preciso
motivar
52 | Jul/Ago 2011 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO
“Oferecemos
bonificações
em dinheiro”, maior número de colaboradores, a companhia encontrou
diz Marta Minopoli
nas videoaulas um apoio para seu plano de carreira. O
curso é composto de cinco módulos, com cinco vídeos
cada um. Ao final de cada gravação, de aproximadamen-
nossos líderes e vão multiplicar o aprendizado”, diz. Além te 15 minutos, o colaborador faz uma avaliação on-line
dos cursos internos, nos quais muitas vezes os professores e ganha um certificado de conclusão. Após seis meses,
são treinados pela Zema, a varejista também procura re- o funcionário será submetido a um novo módulo e terá
cursos em cada cidade onde tem lojas. “Fazemos parcerias chances de ser promovido após a finalização de cada ba-
com associações comerciais em diversas localidades”, conta. teria de curso.
Para o especialista em varejo da Praxis Education, “Antes, os critérios para promoção dos funcionários
o treinamento a distância é importante, mas não deve era muito subjetiva. O atendente poderia ficar amigo do
ser adotado como única modalidade de aprendizado. gerente e conseguir uma promoção a partir daí”, diz Marta
“Para dar certo, exige grande disciplina dos envolvidos. Minopoli, coordenadora de recursos humanos do Griletto.
Nada substitui a troca de informação em sala de aula. Como acontece na maior parte das redes de varejo e
Além disso, há um ganho de motivação quando a aula serviços, no Griletto a rotatividade também é alta, prin-
é presencial”, diz Ribeiro. cipalmente em lojas recém-inauguradas. “Toda semana
O Griletto, rede de restaurantes com 70 unidades no realizamos entrevistas para novas contratações. É comum
País, está finalizando os detalhes para implementar seu essas pessoas trocarem de emprego para receber R$ 10 ou
treinamento a distância. Além de conseguir ensinar um R$ 20 a mais por mês”, diz. Com o reforço do treinamento
TRANSFORMAÇÃO
Angela Silva chegou ao Giraffas há um ano para ocu-
par um novo cargo na empresa, a direção de treinamen-
to. A executiva desenvolveu um programa para treinar
funcionários e franqueados no qual a companhia inves-
tiu R$ 150 mil. Agora, os colaboradores passam por um
processo de treinamento a cada seis meses e não apenas
no momento da admissão. “Nossos consultores vão ro-
dar todas as lojas para atualizar os funcionários. Será um
treinamento contínuo”, diz. Com anos de experiência no
segmento fast-food, Angela afirma que a principal recla-
mação dos colaboradores gira em torno dos baixos salá-
rios pagos pelas empresas. “Um profissional do comércio
ganha cerca de R$ 560. Por isso o setor perde muita gente
para o call center, em que os salários são maiores”, afirma.
O novo método imposto por Angela ao Giraffas chega
em um momento decisivo para a empresa. Em junho, a
companhia inaugurou sua primeira unidade em Miami,
Estados Unidos. Uma das mudanças no jeito de atender
e que teve implicações no treinamento da nova equipe foi
quanto a maneira de servir. Na unidade de Miami, o clien-
te faz o pedido no caixa e aguarda pelo seu prato na mesa,
método que também vai ser aplicado no Brasil. Também
será introduzido na rede o serviço de café da manhã.
Mas enquanto as companhias gastam energia de-
senvolvendo maneiras de treinar seus funcionários, al-
gumas preferem importar métodos criativos de outros
“Nossos segmentos. A rede de laboratórios Fleury foi buscar ins-
piração na hotelaria para atender seus clientes. Recen-
consultores temente a empresa contratou profissionais que geren-
Droga Raia
melhora gestão
das informações
sobre vendas,
estoque,
logística e outras
variáveis após
implantação
do sistema
de business
intelligence
80%, o número de relatórios para execu- tórios úteis a todos os níveis da empresa,
tivos de vendas cresceu em seis vezes e a em formatos adequados para cada um
quantidade de funcionários necessários deles: a área que avalia os tickets de ven-
para produzi-los agora é cinco vezes me- das recebe estudos mais analíticos; os
nor. O ROI veio em seis meses. executivos, indicadores de tendências”,
Implantado em um servidor na matriz afirma Ricardo Carlotto, diretor comer-
da Droga Raia, localizada na capital pau- cial de negócios analíticos e tecnologia
lista, o Business Objects faz a integração da SAP Brasil.
dos registros gerados pelos diferentes Ele cita um exemplo prático dos bene-
sistemas que compõem a estrutura or- fícios trazidos com a aplicação do sistema.
ganizacional de uma rede varejista – de “É possível definir que os produtos traba-
vendas, de estoque, contábil, logístico e lhem com certa margem de lucro e estabe-
assim por diante – combinando-os para lecer um desvio padrão, ou seja, que qual-
fornecer informações que permitem ava- quer índice fora desse patamar seja uma
liar a produtividade da empresa nos exceção e, nesses casos, o sistema dispare
mínimos detalhes. um alerta”, explica. “Em um dos produtos,
“O nosso sistema faz a o número caiu muito além do aceitável.
captura e a estruturação de Graças à plataforma, descobriu-se que seus
todos esses dados, de for- impostos aumentaram e o valor não havia
ma a gerar uma série de sido repassado para o preço final.”
análises. Você cria rela- No caso da Droga Raia, a manuten-
ção da plataforma de BI instalada de for-
Ricardo Carlotto, ma centralizada é feita em parceria com
da SAP “A cada a SAP. Mais do que consertar eventuais
semestre,
adicionamos ao falhas, esse trabalho está voltado para
software uma a implantação de mudanças conforme a
nova forma necessidade da empresa, especialmente o
de uso”
acréscimo de novas funções: agora, a fer-
ramenta tem um recurso que simula ce-
nários em uma solução de PowerPoint. A
solução também recebe adaptações para
assumir mais tarefas dentro da estrutura
operacional da rede farmacêutica. “No
começo, o sistema gerenciava somente a
área de vendas; depois, também passou
a controlar o estoque. Recentemente, foi
a vez do departamento de gestão. A cada
semestre, adicionamos ao software uma
nova forma de utilização”, afirma o diretor
da SAP. v
S
Com aplicativo onia Coelho não se preocupa mais com
cobranças de dívidas ou o risco de carre-
da Redecard, gar um bolo de cédulas por aí. Ela revende
profissionais cosméticos da empresa Mary Kay desde
1998 e, por um bom tempo, suas clientes
autônomos usam tinham como opção de pagamento apenas cheque,
o aparelho como dinheiro vivo ou pendurar a conta (no caso das mais
confiáveis). Pois um simples celular pré-pago resol-
POS. Mas, como veu esse problema: há cinco anos, Sonia utiliza o
Por Thiago Borges
outras soluções aparelho para fazer transações com cartão de crédito.
A representante de vendas aderiu à modernidade
para pagamentos em 2006, quando a Mary Kay fez uma parceria com a
O celular móveis,
tecnologia ainda
Redecard para realizar testes com essa nova modali-
dade de pagamento. “As pessoas queriam pagar com
cartão
Apesar de ter 212 milhões de telefones móveis, não há
uma regulação específica do mercado para esse tipo
de atividade e muito menos um padrão tecnológico
– o que torna a modalidade pouco atrativa aos consu-
midores. Para os lojistas, idem. Se não há público, não
compensa investir em novas plataformas.
Trocar experiências
É preciso
Fórum NOVAREJO traz representantes dos maiores
varejistas do Brasil para discutir o tema
“Gestão eficaz de prevenção de perdas e fraudes no varejo”
Mensurar: o primeiro
passo para a prevenção
No final de 2009, um estudo
divulgado pelo Provar (Programa
de Administração do Varejo) da FIA
de Pesquisas do Varejo da Grã-Bre-
tanha, o Brasil é o sétimo país com
mais perdas. Cláudio Landsberg,
diretor-geral da Linx Prevenção de
Perdas, unidade de negócios da
Linx, crê que a tecnologia na pre-
venção de perdas é fundamental.
“Por isso oferecemos soluções para
apoio da Linx, empresa de solu- (Fundação Instituto de Administra- o dia a dia do varejo inclusive para
ções de tecnologias em gestão em- ção) indicava que as perdas no se- a gestão de fraudes e perdas”.
presarial para o varejo. tor varejista no Brasil atingiam, em Se todas as pesquisas de mer-
Durante a conversa, sob a me- média, a marca de 2,05% do fatu- cado trabalham com margens de
diação de Daniel Zanco, sócio- ramento de uma organização. Em erro, quando se fala em perdas
-diretor da consultora Universo junho de 2010, as perdas no setor no varejo os números são nor-
Varejo, e Bia Rodrigues, gerente de varejista brasileiro alcançavam a malmente questionáveis. “Muitas
inteligência de negócios do Grupo casa dos R$ 11,6 bilhões/ano. empresas dizem que não perdem
Padrão, os participantes discuti- Segundo o Provar, as grandes nada, pois na verdade não mensu-
ram sobre as ferramentas, estraté- redes chegam a investir 30% do seu ram o que perdem”, revela Zanco.
gias e tecnologias que auxiliam os lucro em tecnologia para estancar A cultura de prevenção de per-
Fotos Douglas Luccena
varejistas a prevenir fraudes contá- o problema. Além do prejuízo cau- das é recente, começou com a es-
beis, de estoque e de concessão de sado por furtos externos e inter- tabilização da moeda que forçou
crédito. Estavam presentes repre- nos, 14% desse montante escoa o varejista a tirar sua lucratividade
sentantes da Lojas Marisa; C&C; em razão de erros administrativos, do produto em si e não da inflação.
Drogaria Onofre; Alshop; Polishop; e 5,8% por problemas com forne- “O controle de fraude ainda não é
Grupo Pão de Açúcar; Linx; Casas cedores. De acordo com o Centro considerado algo em nível de go-
PESSOAS X PROCESSOS
Sem dúvida os colaboradores
têm papel fundamental na preven-
ção de perdas. As empresas nor-
malmente dosam o quanto eles
podem interferir, ao deixar menos
ou mais brechas nos processos in-
ternos. “Seria mais importante fo-
car em processos ou em pessoas?”,
questiona Bia, do Grupo Padrão. A
coordenadora de operações e de
frente de caixa do Grupo Pão de “Soluções como RFID
Açúcar, Carla Palhavã, considera
que o cuidado com o colaborador tendem a ficar
é o mais importante, pois afeta to- mais acessíveis”
dos os procedimentos adotados. Cláudio Landsberg, da
“Mesmo o processo estando re- Márcio Souza, analista de crédito e
Linx Prevenção de
dondo, de nada adianta se as pes- cobrança da Casas Bahia. Esses
soas não estão motivadas e se não Perdas, unidade de cuidados a mais se refletem inclu-
há uma boa liderança.” negócios da Linx sive nos treinamentos para cola-
O grupo possui quatro mil fun- boradores. “O forte do nosso trei-
cionários na área de prevenção de precisam ser bem desenhados para namento é voltado para o analista
perdas, enquanto na frente de cai- que não permitam falhas”, afirma. de crédito que, além de consultar
xa há dez mil colaboradores. Com Hoje, a rede de vestuário conta a Serasa e o SPC, vai julgar caso a
um turnover alto, os frequentes com 14 mil colaboradores no Brasil caso, respeitando o limite mínimo
treinamentos são mais que neces- e todos são remunerados pela di- de um salário mínimo. Ou seja, é
sários. “O ideal é controlar os pro- minuição de perdas. Essa tática é a fase mais delicada do processo e
cessos aliados à tecnologia e bus- muito comum no varejo; Onofre e passível de fraudes”, confessa.
car depender cada vez menos das Casas Bahia também praticam. Treinamentos constantes tam-
pessoas”, opina Carlos Rizziolli, A rede do famoso jargão bém fazem parte da prevenção de
responsável pelas operações de “quer pagar quanto” não escon- perdas na opinião dos represen-
perdas também do Pão de Açúcar. de o receio com o colaborador tantes de outras empresas presen-
Assim como Rizziolli, Pitico, da mal-intencionado. “Hoje, diria tes. Segundo os executivos da
Lojas Marisa, crê que as organiza- que as fraudes externas estão Polishop, Felipe Brasil, responsá-
ções não devem depender unica- controladas. Nossa maior aten- vel pelo e-commerce, e Rubens
mente de pessoas. “Colaboradores ção está voltada aos fraudadores Cilone, diretor financeiro, a rede
e tecnologia nos ajudaram na ges- internos, pois esses sabem lidar com 130 lojas e multicanal por
tão de fraude, porém os processos com os nossos processos”, relata excelência (já que também vende
A EVOLUÇÃO DO
CATÁLOGO POR THIAGO BORGES
74 | JM
ULAI/A
/JGO 2011 CONSUMIDOR
UN 2011 CONSUMIDOR MODERNO
MODERNO NOVAREJO
NOVAREJO
understand?
O inglês tem presença
crescente nas vitrines pelo
País. Coisa de varejista,
publicitário ou consumidor?
A raiz é mais embaixo
O
cheeseburguer de um fast-food que fica no shopping center aqui ao lado
está com um preço ótimo: 50% off, e quem comprar ainda leva um re-
frigerante light totalmente free. O problema é que nem tem serviço de
delivery! O único motoboy decidiu ir trabalhar num contact center. Puro
marketing furado – e olha que se trata de uma megastore, hein...
Não, esta matéria não é um desabafo contra os proprietários da dita lanchonete, e sim
uma análise do varejo brasileiro e seu uso de palavras de outras línguas que não a portu-
guesa. Situações como a apresentada acima se tornaram comuns. Basta dar uma volta para
se deparar com alguma “sale” promovida por um lojista qualquer – isso se você não parar
antes para comer um hot dog ou fazer um download de um single novo lançado na net.
São tantos termos em inglês que o deputado Raul Carrion, do Rio Grande do Sul,
criou uma lei para restringir o uso dos estrangeirismos em seu Estado. Carrion quer
acabar com os “smartphones”, “shopping centers” e “coffee breaks”. Ele defende o uso
dos equivalentes na nossa língua mãe: “telefones inteligentes”, “centros comerciais” e
“intervalos para o café”. Por que esse bullying todo contra o português, não é mesmo?
Os colegas de Assembleia Legislativa aprovaram o projeto do deputado, mas o go-
vernador Tarso Genro praticamente vetou a norma: o novo texto apenas indica que o
uso de palavras em português é prioritário. A pergunta que fica é: por que, de fato, usa-
mos tantos estrangeirismos? A culpa é das agências de propaganda ou dos varejistas?
“Essa discussão é anterior à propaganda e ao varejo em si, e graças a Deus a língua por-
tuguesa é dinâmica”, defende-se André Pedroso, diretor de criação da agência DM9DDB.
“Se você analisar a formação da língua portuguesa, vai ver que ela tem palavras de origem
latina, grega, árabe, espanhola...”, completa, lembrando que termos como batom, gara-
gem, açougue ou açúcar não foram inventados pelos compatriotas da terrinha.
Para o professor Sírio Possenti, do Departamento de Linguística da Universidade
de Campinas (Unicamp), adotar estrangeirismos está ok. O próprio idioma português,
quando chegou ao Brasil, sofreu influência de dialetos indígenas e africanos, diferen-
ciando-nos de Portugal. “Temos de entender um aspecto das línguas, que é o que uma
expressão tem de conotação, e não só de informação”. Por exemplo: a palavra deletar, do
SA
mente assimilada pelos bra-
sileiros e se tornou um sinônimo
de “apagar” usado exclusivamente
para a linguagem computacional.
Daniel Zanco é
especialista em
varejo e franchising, e
investimento e preferem lidar com um
over head para suportar diversos dos seus
processos. Não é raro ver empresas que
possuem sócios ou funcionários usando
análises predominantemente subjetivas para
definir, por exemplo, ações de compra ou
ressuprimento para redes de lojas. A análise
sócio-diretor da Universo
Varejo Consultoria
www.universovarejo.com.br
sistematizada do comportamento
de compra dos consumidores
também é usualmente negligenciada,
caracterizando uma enorme
oportunidade de ganhos desperdiçada.
nGestão É normal no varejo de
moda a figura do sócio-fundador
pública de ações precisam investir muito