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Rodrigo Rengel
Federal University of Santa Catarina
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All content following this page was uploaded by Rodrigo Rengel on 23 July 2019.
O Marketing 3.0 como estratégia das empresas para consolidação e criação de novos
mercados: Um ensaio teórico
Resumo:
Para consolidar sua participação ou ainda buscar novos nichos de mercado, as empresas têm
buscado estabelecer relações saudáveis, duráveis e de ganho recíproco para com seus clientes.
Desta forma, o Marketing 3.0, ou também denominado marketing de valores faz-se de extrema
importância para que este cliente possa ser fidelizado, pois este tipo de abordagem com o cliente
busca relações mais éticas e transparentes, com ações socioambientais responsáveis, buscando
a sustentabilidade como foco de todas as atividades. As organizações deverão buscar entender,
atender e superar as aspirações dos consumidores, e a necessidade de se colocar este
consumidor no foco de todas ações, incluindo o marketing, da empresa. Para isso, serão
necessárias ações para o empoderamento deste cliente, a fim de gerar laços de confiança para
que se possa conhecer suas vontades e necessidades. É necessário antecipar-se ao mercado e
buscar práticas inovadoras e visionárias, e que o objetivo central da organização seja sempre a
satisfação total deste consumidor.
1. Introdução
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1.0 planejava as ações de venda com foco no produto, ou seja, este modelo focava nas
características do produto em si, como preço baixo, qualidade e vantagens para o consumidor
final. O primeiro modelo evoluiu para o Marketing 2.0, e o foco passou a ser o cliente. Neste
modelo, é preciso atingir o coração do consumidor, conquistá-lo pela emoção. Já o Marketing
3.0, é uma soma dos dois primeiros tipos de marketing e de muitas outras características. Nele,
as empresas devem conquistar o consumidor pela alma e, para fazer isso, não basta apenas
transmitir emoção, é necessário interagir com o consumidor, tratando-o como um ser humano
pleno, com necessidades reais, defeitos e personalidade. O Marketing 3.0 é um modelo
sustentável, que preocupa-se em mostrar o quanto a empresa pode contribuir e/ou já contribui
para a evolução do mundo. O novo modelo surgiu com a nova onda tecnológica,
principalmente, com a ascensão das mídias sociais (KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN,
2010).
Diante desse contexto, decidiu-se pela realização deste estudo com o objetivo de
averiguar como empresas e consumidores estão se posicionando em relação a estas mudanças
que ocorreram no mercado nas últimas décadas, e como as organizações precisam se mobilizar
para atenderem a estas novas exigências impostas por esta forma de marketing, que começa
muito antes da existência de um produto/serviço, e vai muito além da concretização de sua
venda. Assim, este ensaio visa contribuir para sistematizar o conhecimento acadêmico sobre o
tema e ampliar a compreensão do mercado atual.
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disso, este conceito parece um caminho para viabilizar a atuação de empresas que precisam
crescer num mundo com situações contrastantes: mercados saturados e desaquecidos por um
lado, e imensos mercados emergentes, por outro lado, e que demandam novas práticas de
inclusão pelo consumo, o que requer uma evolução sustentável na visão e nas práticas de
marketing.
3. Evolução do marketing
Ao longo das últimas décadas, a sociedade passou por uma evolução impressionante no
marketing, o que exige de todos os gestores das organizações uma aguçada percepção das
mudanças que podem significar o sucesso ou o fracasso das empresas e negócios.
Hobsbawn (2006) descreve a Revolução Industrial como um movimento social e
industrial surgido no século XVIII, e que este movimento foi o marco transitório entre os
sistemas de produção manufatureiro e o capitalismo. Antes da máquina a vapor, principal marco
da primeira fase do capitalismo, os produtos eram artesanais, de produção lenta e em baixa
escala. O capitalismo, com suas máquinas e instalações de fábricas, permitiu a produção em
série e em larga escala. Hobsbawn (2006), descreve o desenvolvimento da revolução industrial
como um processo progressivo, de modos que, afirma que não há um fim, haja vista que a
revolução se tornou constante após seu surgimento e ainda se tem observado mudanças
continuas que só se estabilizarão quando se alcançar uma economia industrial madura.
O cenário na época, conforme descreve Hobsbawn (2006), era de revoltas sociais pelo
mundo, que envolviam os grandes burgueses, que eram detentores de todos os meios de
produção, e os proletariados, que se sentiam injustiçados com suas exaustivas cargas de trabalho
que chegavam até 16 horas por dia, com as baixíssimas remunerações e com condições de
trabalho que os levavam a exaustão extrema por esforço repetitivo.
Os burgueses, detentores desse poder, aproveitavam a pobreza dos trabalhadores,
forçando-os a trabalhar cada vez mais para gerar riquezas, enquanto o proletariado trabalhava
quase para sua subsistência, pois muitos vinham do campo, onde não tiveram oportunidade e
pensavam encontrar na indústria uma forma de tentar fugir dessa miséria. Este cenário, aliado
com a vasta mão-de-obra disponível, tornou clara a desvalorização dos trabalhadores, como
exemplifica Efimov (1945) na década de noventa do século XVIII o tecelão ganhava até quatro
libras esterlinas por semana, enquanto nos princípios do século XIX, depois da invenção do tear
de Cartwright, seus salários desceram a treze schillings, e em 1806 a dez schillings e em 1816,
a cinco schillig. E isto acontecia, precisamente, quando os preços dos produtos de primeira
necessidade subiam.
A venda dos bens se baseava entre o vendedor e comprador, pois não existia
concorrência e os produtos não eram produzidos para atender às necessidades do comprador,
mas sim para serem funcionais. A despreocupação dos vendedores quanto a qualidade de seus
produtos, tornavam inexistentes as características que faziam a diferenciação do produto
(EFIMOV, 1945).
Alguns modelos de produção fizeram muito sucesso, como o Fordismo, que
revolucionou a indústria automobilística. Henry Ford pensou em uma linha de montagem
altamente sincronizada, onde os trabalhadores eram contratados para fazerem determinada
tarefa, que geralmente era montagem de peças. Um processo simples que fazia que o tempo
fosse reduzido, gerando mais lucro e produtividade de seus trabalhadores. Um modelo de
produção que foi uma tendência, na época (EFIMOV, 1945).
A Revolução Industrial estimulou a produção de bens de consumo, a alta oferta de
produtos fez nascer a necessidade de pensar em estratégias que fizessem o público comprar as
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mercadorias produzidas. Estes e outros aspectos são descritos por Gomes e Kury no artigo
“Evolução do marketing para o Marketing 3.0: O Marketing de Causa” (2013).
Durante a Revolução Industrial, o grande objetivo era padronizar e ganhar em escala
sobre todos os produtos, que eram praticamente sem distinção e não havia necessidade de
escolha para o consumidor. Essa era a época do Marketing 1.0, quando o Marketing era voltado
somente para o produto, para a produção em escala, mercadorias com preço baixo e grande
número de compradores (GOMES; KURY, 2013).
Para Freitas e Ramos Júnior (2014), no início o marketing se preocupava com a
produção e distribuição de bens e mercadorias, seu objetivo era “vender a todo custo”. A visão
deste segmento, na época, destacava o produto, e este deveria ser fabricado em grande
quantidade, pois só assim seria possível atender a necessidade de consumo da população, que
crescia exponencialmente, e ser distribuído com eficiência. A preocupação com o cliente ou
qualidade do produto não existiam, pois, a concorrência era baixa e o marketing era eficaz o
suficiente para convencer o público a comprar o produto disponível.
Após a 2ª Guerra Mundial, havia um excesso de produtos no mercado, a oferta superou
a procura e os produtos acumularam no estoque. Neste momento, a produção não era o foco do
processo, agora a maior preocupação era melhorar os seus pontos fracos, assim a venda e a
melhoria da qualidade dos produtos assumiram a posição de destaque do processo. Durante este
período percebeu-se que a estratégia de “vender a todo custo” não era tão funcional, as vendas
neste modelo eram esporádicas e não fidelizavam os consumidores, pois estes sentiam-se
enganados ao comprar um produto com características inferiores ao divulgado (FREITAS;
RAMOS JUNIOR, 2014).
A mudança na relação entre o consumidor, mercado e produto produziu um novo
conceito de marketing, sendo as preocupações com as vendas e o relacionamento com o cliente
o marco deste novo modelo, denominado Marketing 2.0. O mesmo é orientado ao consumidor
e possui o objetivo de satisfazer e reter compradores, para isso as instituições se preocuparam
em interagir com o consumidor, de forma que o relacionamento entre elas fosse mais direto, de
um para um. A qualidade e o diferencial do produto passaram a ser o foco principal. Com os
avanços tecnológicos nos anos 80, as ferramentas de comunicação evoluíram para o estado de
integração mundial, impulsionado principalmente pela a expansão do mercado internacional
(KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN, 2010).
Esse processo foi determinado pela integração dos meios de comunicação no mercado
corporativo, na qual corporações espalhadas em diferentes regiões do mundo poderiam se
comunicar em tempo real. Posteriormente com o passar dos anos essa tendência abrangeu os
diversos setores. Assim, o marketing foi transformando-se mais uma vez, em resposta à nova
dinâmica do meio e as empresas expandindo seu foco dos produtos para os consumidores, e
para as questões humanas (KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN, 2010).
Essas mudanças redesenharam vários aspectos do mercado mundial. A relação entre
compradores e empresas tornou-se mais complexa, sendo os clientes aqueles que mais
impulsionaram estas mudanças. Com o crescimento do mercado, uma série de empresas e
grupos concorriam para obter maior número de consumidores, dando aos mesmos maior poder
na escolha. Em contrapartida as marcas verificaram a necessidade de aprimorar e adequar seus
produtos para estes novos clientes. Essa mudança de postura requer uma maior disponibilidade
de diálogo das empresas com o cliente, o que redefiniu as desigualdades de poder entre as partes
(KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN, 2010).
Segundo Kotler, Kartajaya e Setiwan (2010), a evolução do marketing pode ser dividida
em 3 grandes fases, conforme o quadro abaixo:
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A partir dos anos 2000, a sociedade passa a vivenciar a era do Marketing 3.0, voltado
para os valores, ou seja, além de a empresa satisfazer o consumidor em relação ao
produto/serviço, é necessário satisfazer todos seus anseios, tornando importante incorporar ao
produto emoção e não apenas funcionalidade e, assim, apelando para o espírito humano
(KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN, 2010).
4. Marketing 3.0
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devem estar cientes dos problemas comunitários relacionados com seus negócios. Os
profissionais de marketing precisam identificar as ansiedades e desejos dos consumidores e,
então, planejar como alcançar suas mentes, corações e espíritos. No paradoxo da globalização,
a ansiedade e o desejo genéricos dos consumidores consistem em transformar a sociedade – e
o mundo como um todo – em um lugar melhor e talvez até mesmo ideal para se viver. Portanto,
as empresas que pretendem ser ícones devem compartilhar do mesmo sonho com os
consumidores e fazer a diferença (KOTLER; KARTAJAYA; SETIWAN, 2010).
Neste período surgem as redes sociais na internet. São plataformas que estimulam a
interação e possibilitam o envio de mensagens, fotos, vídeos, músicas, links interessantes,
diversas formas de interagir com conhecidos, amigos, colegas de trabalho e inclusive com
desconhecidos. A facilidade de comunicação é imensa, e o público aprova, tanto que o número
de usuários aumenta a cada dia, e a quantidade de informação criada e divulgada na internet
cresce junto. Ainda de acordo com Kotler, Kartajaya e Setiwan (2010) o Marketing 3.0 é tido
como um estado avançado do marketing, no qual, além do convencional busca incrementar à
missão, visão e valores da empresa, não sendo apenas considerado como sinônimo de venda ou
de uma ferramenta para gerar a demanda, mas sim com uma ferramenta que busca a confiança
dos consumidores.
Para incluir as boas ações na cultura corporativa e manter-se firme a este seu
compromisso, a melhor abordagem é incorporá-las à missão, à visão e aos valores da empresa.
Os líderes das empresas tentam encarnar essas declarações no seu DNA corporativo. Kotler,
Kartajaya e Setiwan (2010) exemplificam os esforços das organizações para ocupar mentes,
corações e espíritos dos clientes atuais e futuros na Figura 1:
Ao mesmo tempo, a sociedade passa por um período onde as pessoas estão perdendo a
confiança nas grandes instituições e passam a consultar aos seus semelhantes. A opinião do
consumidor em um fórum de discussão é mais confiável do que o especialista do comercial de
TV. Então a internet torna-se um meio eficiente para consulta antes de efetuar uma compra.
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negócio em termos de qualidade, custo e entrega; (10) Colete informações relevantes, mas use
sua sabedoria para tomar a decisão final.
Portanto, nessa realidade do Marketing 3.0, o sucesso de qualquer organização passa
pelo desenvolvimento de seus parceiros, da comunidade e da sociedade em geral (KOTLER;
KARTAJAYA; SETIWAN, 2010). Assim, a empresa poderá atrair e, principalmente, reter
clientes que se interessem pelos problemas que a sociedade enfrenta atualmente, e os que serão
enfrentados pelos seus filhos e netos. Em consequência dessas ações, também os empregados
das empresas socialmente responsáveis tendem a se sentir parte de algo mais importante do que
simples máquinas de fazer dinheiro. Por conseguinte, investidores, fornecedores e
distribuidores reagirão positivamente às iniciativas de responsabilidade social da empresa.
As organizações precisam alcançar e compartilhar as questões que estão na mente e no
coração das pessoas. Cada empresa precisa encontrar sua própria maneira de demonstrar que
compartilha destas preocupações. Cuidar não é apenas uma questão de quanto se dá, mas de
como se manifesta esse cuidado social no modelo de negócios, nas ofertas e nas práticas da
organização.
5. Considerações finais
O Marketing 3.0 está relacionado ao ser humano: seus anseios, medos, cultura, desejos,
sonhos, etc. Com o advento da internet, com a transformação das mídias sociais e, com isso, o
aumento do poder de expressão dos consumidores, as organizações foram obrigadas a se
aproximar mais destes consumidores, pois, para atendê-los, ela precisará se tornar cada vez
mais atrativa. Para isso, precisarão elaborar estratégias de marketing que falem a linguagem
deste mercado. Daí a importância da empresa “humanizar” o seu processo de comunicação
junto a este mercado.
Além disso, é importante que as organizações entendam que, hoje, uma compra vai
muito além de um produto, muito além do que a marca representa: o consumidor precisa se
identificar e se simpatizar com a marca, ter boas experiências com ela, ou seja, a marca precisa
expressar um pouco do que este consumidor é. E, principalmente, que estas empresas precisam
desempenhar um papel social, precisam estar relacionadas às questões ambientais, à reciclagem
e reutilização de produtos, e buscando a sustentabilidade para os seus processos de produção.
As empresas, neste contexto do Marketing 3.0, devem se tornar pontes, ligando pessoas.
Precisam criar comunidades, tornar-se elo entre pessoas que pensam semelhante e gostam do
mesmo produto, que tenham objetivos sociais comuns e pensem nas questões ambientais e
sustentáveis. Com estas atitudes, a empresa acaba criando uma identificação com este
consumidor e assim gerando laços de fidelidade cada vez mais profícuos.
O Marketing 3.0 não muda o objetivo principal da empresa, que é gerar lucro. Porém, a
relação com o cliente acaba se tornando uma relação ganha/ganha, pois, as empresas que
praticam o Marketing 3.0 acabam direcionando parte dos seus lucros para investimentos que
demonstrem preocupações ambientais/sociais e, com isso, gerando valor para a sociedade.
A revolução tecnológica alterou a forma com que são construídos e mantidos
relacionamentos, a partir do momento em que difundiu o uso de computadores pessoais e
aparelhos de telefonia móveis, e popularizou a internet. Dessa forma, todo o padrão de
comunicação foi alterado, pois neste momento passa a existir a possibilidade de comunicar-se
com diversas pessoas, nas mais variadas distâncias, por um valor acessível e com uma rapidez
sem precedentes.
Portanto, em tempos de vendas cada dia mais holísticas e clientes cada vez mais
exigentes, faz-se necessário buscar, além de satisfazer as necessidades, desejos e sonhos de
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Referências
GOMES, M.; KURY, G.A Evolução do Marketing para o Marketing 3.0: O Marketing de
Causa. In: XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Mossoró - RN –
2013 Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nordeste2013/resumos/R37-0945-
1.pdf>. Acesso em: 08 de abr de 2018.
KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIWAN, I. Marketing 3.0: as forças que estão definindo
o novo Marketing centrado no ser-humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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