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Nº 30 // MAIO DE 2015

VAREJO DA MODA

PEQUENOS
NEGÓCIOS
DESPONTAM
NO SETOR
Brasil é o quarto país com melhor
Divulgação

desempenho econômico no varejo da moda


// SUMÁRIO//

PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO NACIONAL


Robson Braga de Andrade
DIRETOR-PRESIDENTE
Luiz Barretto
DIRETORA-TÉCNICA
Heloisa Menezes
05 EDITORIAL
CRIATIVIDADE E INFORMAÇÃO IMPULSIONAM VAREJO DA MODA

06
DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
José Claudio dos Santos ARTIGO
PEQUENOS NEGÓCIOS NO VAREJO DA MODA
GERENTE DA UNIDADE DE ATENDIMENTO
COLETIVO – COMÉRCIO
Juarez de Paula
CHEFE DA ASSESSORIA DE IMPRENSA
08 ENTREVISTA
WALTER RODRIGUES, ESTILISTA, DESIGNER E
COORDENADOR DO NÚCLEO DE DESIGN DA ASSINTECAL
Denise Chaves

CONHECER SEBRAE
VAREJO DA MODA
13 MERCADO
PEQUENOS NEGÓCIOS PODEM CRESCER NO SEGMENTO
EXPANSÃO DAS FRANQUIAS É TIDA COMO CERTA
RESPONSÁVEL TÉCNICO
Wilsa Sette Morais Figueiredo
SUPERVISÃO EDITORIAL
Larissa Meira
20 TENDÊNCIAS
CAÇADORES DE NOVOS MERCADOS AJUDAM VAREJO A CRESCER
FAST FASHION DECRETA O FIM DAS ESTAÇÕES
REPÓRTERES
Alessandra Flach
Sérgio Maggio 26 CADEIA PRODUTIVA
INDÚSTRIA E VAREJO DEVEM CAMINHAR JUNTOS
EDIÇÃO
Beth Nardelli
PRODUÇÃO
Grupo Informe Comunicação Integrada
32 COMPORTAMENTO
O BRASILEIRO CONSOME MODA ATÉ QUANDO NÃO FAZ COMPRAS

EDIÇÃO DE FOTOS
Rubens José 41 CONECTIVIDADE
REDES SOCIAIS VERSUS VAREJO DA MODA
PROJETO GRÁFICO
Heyboo Design Studio
DIREÇÃO DE ARTE
47 E-COMMERCE
COMPRAR ROUPAS PELA INTERNET VIRA MODA
Chica Magalhães
TIRAGEM
5 mil exemplares 52 BRANDING
QUANDO A MARCA É O PATRIMÔNIO

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E


PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE
SGAS 604/605 – CONJUNTO A
55 VISUAL MERCHANDISING
LOJAS CRIAM ATMOSFERA DE COMPRAS PARA ALAVANCAR VENDAS

ASA SUL – BRASÍLIA – DF


CEP 70200-645 – FONE (61) 3348-7100

CENTRAL DE RELACIONAMENTO
59 BRECHÓS
DO BAÚ PARA O VAREJO
0800 570 0800
WW.SEBRAE.COM.BR

4 VAREJO DA MODA // SEBRAE


E D I T O R I A L / LUIZ BARRETTO*

CRIATIVIDADE
E INFORMAÇÃO
IMPULSIONAM

Rodrigo de Oliveira/Agência Sebrae


VAREJO DA MODA

O
empreendedorismo brasilei- Há uma demanda expressiva de con- crescimento das empresas do setor.
ro mudou muito na última sumidores de vestuário, calçados e aces- Para o empresário, é essencial conhe-
década. Os avanços obtidos sórios e, para atender a esses clientes, cer informações sobre o mercado, com-
com o aprimoramento da quase 800 mil pequenos negócios pre- preender a movimentação do varejo de
legislação, o fortalecimento do nosso cisam se preparar para atuar neste mer- rua e de shopping centers ou saber quais
mercado interno e a melhora no nível cado competitivo. Para obter sustentabi- são os modelos de negócios que mais
de escolaridade dos empresários pro- lidade, o empreendedor deve investir em conquistam os consumidores, por exem-
porcionaram um grande salto no volu- capacitação e conhecimento. plo. A utilização de novas ferramentas
me de empresas desse porte: de 2 mi- Nesta edição da Revista Conhecer, para divulgação do produto e o investi-
lhões para os atuais 9 milhões. Os dados serão abordadas nossas ações para os mento no relacionamento com o cliente,
mostram que o sonho de empreender pequenos negócios que atuam nesse por meio da adoção de canais como as
do brasileiro está se tornando cada vez segmento. Temos o papel fundamental redes sociais, se tornam um diferencial.
mais uma realidade. E sob esse aspecto, de inserir os pequenos negócios no mer- O Sebrae está ampliando seu aten-
o Sebrae tem muito a contribuir. cado da moda, ajudando-os a compreen- dimento aos segmentos da moda esten-
Trabalhamos para fomentar o em- der tendências e cenários. dendo o foco sobre toda sua cadeia de va-
preendedorismo e apoiar o desenvolvi- A moda faz parte da identidade do lor. Sabemos que há espaço para o varejo
mento dos pequenos negócios. Atuamos brasileiro, as pessoas estão atentas aos da moda inovar e conquistar seu lugar em
em todos os setores, especialmente, o lançamentos de coleções e produtos diferentes nichos do mercado interno e
comércio, onde está concentrada me- que antes eram objeto de desejo e agora externo. Basta manter o olhar atento às
tade dos empreendedores brasileiros de estão ao alcance de todas as classes so- demandas do consumidor, investir na ca-
pequeno porte. No segmento da moda ciais, desde que melhorou a distribuição pacitação e nas ideias criativas.
e acessórios houve também grandes de renda no país. Entender e analisar o Boa leitura!
avanços e hoje o Brasil detém o quinto comportamento desse consumidor se
maior mercado mundial. faz fundamental para a sobrevivência e *Presidente do Sebrae Nacional

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/ / A R T I G O / / HELOISA MENEZES*

PEQUENOS
NEGÓCIOS
NO VAREJO
DA MODA

Charles Damasceno
C
riatividade e diversidade são o quinto maior mercado da moda em e priorizou alguns ramos1 do comércio
a principal grife que diferen- todo o mundo. Por serem altamente com grande concentração de pequenos
cia a moda brasileira mundo negócios. Um deles é o varejo da moda.
competitivos, prevalece o desafio da
afora. É um mundo de gla- Em todo o país, há cerca de 780 mil
gestão do pequeno varejo da moda, o
mour e de trabalho intenso que traz lojas de vestuário, calçados e acessó-
consigo uma longa e ampla cadeia, que também é condição básica para
rios: 318 mil microempreendedores
com predominância de pequenos negó- que possam desfilar um padrão mun-
individuais, além de 383 mil microem-
cios. Abrange desde fornecedores da in- dial de presença no mercado, com presas e 79 mil empresas de pequeno
dústria de tecidos e de confecções, até o diferenciais para se manterem em porte.2 Em 2012, o Sebrae atendeu 24%,
varejo da moda, com lojas e marcas em atividade e/ou expandir.
múltiplos segmentos, de moda praia à
Como apoiar esses pequenos negó-
infantil; de surfware à moda gestante 1 Além do varejo da moda, o Sebrae atua priori-
cios em ambientes tão competitivos de tariamente nos seguintes segmentos do comér-
e esportiva, infanto-juvenil à íntima e cio: pequeno varejo alimentar - minimercados,
brechós, entre muitos outros. modo a alcançarem excelência em ges- mercadinhos e mercearias, varejo de material de
construção, lojas de autopeças e farmácias.
Um mercado diversificado, muito tão? Desde 2011, o Sebrae decidiu forta-
2 Totais segundo o Cadastro Sebrae de Empre-
dinâmico e altamente competitivo. É lecer sua atuação de forma segmentada, sas/2012.

6 VAREJO DA MODA // SEBRAE


ou 184,5 mil pequenos negócios desse cas e Estratégias para ter Sucesso no
segmento. Também foram priorizadas Varejo da Moda” e quatro Fóruns de
cinco modalidades transversais de atu- Debate Sobre o Mercado de Brechós
ação, o que potencializa o atendimen- em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de
to do Sebrae: revitalização de espaços Janeiro e Brasília. Destaque também
comerciais, e-commerce, franquias, foi a criação do “Programa acadêmico
centrais de negócios e encadeamento varejo de moda”, que vai preparar co-
produtivo. ordenadores e gestores para atuarem
O Sebrae realizou ações para como especialistas a partir de agosto
incentivar a apresentação de projetos, de 2015. O curso começou no dia 21
disseminar conhecimentos e dar vi- de outubro de 2014.
sibilidade ao segmento, como a vi- O Sebrae vai atuar em 34 projetos
deoconferência em agosto de 2013, em dez estados e no Distrito Federal
que apresentou dados sobre o varejo neste ano. Será importante ampliar
da moda a gestores de projetos de 15 a construção de projetos coletivos;
estados. Três meses depois, o encon- buscar soluções específicas que per-
tro nacional reuniu 17 estados e for- mitam aos pequenos negócios inovar
SERÁ IMPORTANTE malizou o grupo de trabalho com um e aumentar sua produtividade, agregar
representante de cada região. O GT serviços – e valor – a seus produtos,
AMPLIAR A discutiu e elaborou as estratégias de visando à diferenciação, ampliação
CONSTRUÇÃO atuação em âmbito nacional. de mercados e à competitividade das
Em outubro de 2014, o encontro empresas; estabelecer novas parcerias
DE PROJETOS
nacional de gestores de projetos da institucionais; obter, construir e dis-
COLETIVOS; moda envolveu 13 estados e partici- seminar conhecimento e informações
BUSCAR SOLUÇÕES pantes do varejo e da indústria para a sobre automação nos diversos aspectos
troca de experiência e apresentação de da gestão desses negócios.
ESPECÍFICAS propostas visando à atuação integra- Desde 2010, esse mercado cres-
QUE PERMITAM da. Diversos materiais foram produ- ceu bastante, impulsionado pelo vigor
zidos para disseminar conhecimento do mercado interno – mais emprego,
AOS PEQUENOS e subsidiar as ações do Sebrae, entre renda e consumidores – e pelo e-com-
NEGÓCIOS INOVAR eles, boletins, cartilhas, estudos seto- merce. Os desafios da inovação e maior
riais, inteligência em feira, respostas competitividade persistem devido à
E AUMENTAR SUA
técnicas e infográficos. própria dinâmica do mercado da moda.
PRODUTIVIDADE, Como estratégia de aproximação Para os próximos anos, o Sebrae seguirá
AGREGAR SERVIÇOS dos empresários da moda, também na sua estratégia de promover e apoiar
foi criada a página Sebrae no Varejo o varejo da moda em todo o país.
– E VALOR – A SEUS da Moda, no Facebook. Realizamos o
PRODUTOS evento virtual “Papo de Negócio - Di- *Diretora-Técnica do Sebrae

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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES

P
ara auxiliar os empreendedo-
res de pequenos negócios de
moda, Sebrae e instituições
como a Associação Brasilei-
ra de Empresas de Componentes para
Couro, Calçados e Artefatos (Assinte-
cal) e o Instituto Brasileiro de Moda
(IBModa) têm capitaneado projetos
que passam por toda a cadeia produti-
va do setor até chegar ao varejo. A ideia
é que os lojistas conheçam tendências
de materiais, cores, produtos e inovação
para melhorar o processo de decisão de
compra das novas coleções pelos pro-
fissionais do mercado de varejo.
Hoje coordenador do Núcleo de De-
sign da Assintecal, o renomado estilis-
ta e designer Walter Rodrigues acredita
que a mudança de comportamento do
consumidor brasileiro, a segmentação
e a “personalidade” dos produtos de
moda são fatores que devem ser leva-
dos em consideração pelos pequenos

Murilo Medina
negócios de varejo da moda ao montar
seus estoques e grades. “Estamos ten-
tando mostrar aos empresários essa

VAREJISTAS
visão de que eles vão ter de segmentar
suas coleções, definindo muito bem o
seu grupo de consumidores, focando

DEVEM INVESTIR
num nicho específico e oferecendo pro-
dutos que emocionem, que saiam do
lugar comum”, afirma Walter.

EM PRODUTOS
O designer – que iniciou sua carrei-
ra em 1983, é parceiro do Sebrae des-
de 2000 e sempre esteve à frente de
projetos que dinamizem e capacitem
comunidades de baixa renda – afirma
que a chegada de grandes redes vare- DE QUALIDADE
8 VAREJO DA MODA // SEBRAE
jistas ao Brasil pode motivar a profis- e se sobressair no mercado da moda.
sionalização dos pequenos varejistas. Nós acreditamos que os pequenos têm
“A entrada de grandes conglomerados uma facilidade imensa no processo da
internacionais de moda no mercado moda. É a capacidade de adaptação e
brasileiro tem causado deslumbramen- de mudança para atender às necessi-
to no consumidor, mas essa fase vai dades desse mercado que tem cada vez
passar e os pequenos negócios de va- mais possibilidades de escolhas.
rejo da moda têm de estar preparados Se fizermos uma reflexão sobre os
para competir quando esse momento últimos dez anos de produtos de moda
chegar”, explica Walter. no Brasil, a gente evoluiu em uma
quantidade gigantesca de opções para
Revista Conhecer: Como coordenador o consumidor final. Hoje, em São Pau-
do núcleo de design da Assintecal lo, ele pode ir na Chanel, que é a marca
e curador de desenvolvimento de mais desejada do mundo, na Hermès
materiais, você capta tendências que que é uma das mais sofisticadas do
vêm do comportamento das pessoas mundo, na Renner, na Topshop, na Fo-
e ajuda as empresas a traduzi-las rever 21 ou ele pode ir ao Brás e fazer
em produtos. Como isso pode ser compras numa pequena loja de rua. O
aplicado pelos pequenos negócios de produto está completamente acessível.
varejo da moda? Então, nessa guerra do mercado da
Walter Rodrigues: O mais impor- moda o pequeno pode sair ganhando
tante do nosso trabalho, como desig- muitas vezes pela capacidade de evo-
ners, em direção à moda – e isso vai luir, de conectar-se com as informações
afetar o varejo porque ele é o ponto fi- e propor respostas mais rapidamente
nal de toda a discussão de um produto do que o grande. Para mim, o grande
– é cruzar todas as informações desde trunfo é este: a velocidade com que ele
o mercado, os processos econômicos, possa vir a compreender as tendências
o momento mundial, a sintonia de do mercado e traduzi-las em moda. É
mundo, a questão tecnológica, cinema, para isso que nós trabalhamos.
música, novelas, literatura, enfim, de
"O IMPORTANTE tudo o que envolve cultura para des- Revista Conhecer: E os pequenos
PARA O VAREJO cobrir o que vai influenciar na maneira podem trabalhar positivamente
do consumidor se posicionar. O projeto essa rapidez com que as tendências
É SABER QUE O da Assintecal com o Sebrae tenta faci- surgem e desaparecem?
BRASILEIRO É UM litar esse processo e mostrar aos em- Walter Rodrigues: Eu acho que
preendedores um caminho com mais podem. Nós temos bons exemplos.
BOM CONSUMIDOR possibilidades, estratégias e planeja- Tem um projeto dentro do Instituto
DE MODA" mento para atingir esse consumidor By Brasil (IBB – um órgão indepen-

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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES

dente da Assintecal e parceiro dela


e do Sebrae) que está em São João
Batista (SC), com o Ronaldo Fraga, e
em Nova Serrana (MG), em Campina
Grande (PB) e em Novo Hamburgo
(RS), sob a minha coordenação, que
investe na identidade local. Nossa
proposta é exatamente fazer com que
o empreendedor conheça o todo à
volta dele, as particularidades locais
e entender como ele pode utilizar
essas informações no seu produto,
para vender a outras localidades.
Estabelecer um conhecimento da cul-
tura local, vegetação, sabores, cores,
onde a empresa está inserida, definir
como ele pode decodificar isso para
o produto e como esse produto pode
encantar as pessoas que estão fora
dessa localidade. Isso faz a marca ser
Murilo Medina
reconhecida pelo lugar de onde vem,
trabalha tendências locais. Além de
encantar pela originalidade, pode igual. Isso, inclusive, é uma boa manei- ção. Ninguém “precisa” de mais roupa
fazer uma propaganda incrível do lu- ra de explicar a importância do design ou mais sapato, as pessoas compram
gar ao qual ela pertence, gerar uma e do diferencial na moda. Com a faci- porque querem algo bonito, diferente.
onda de curiosidade a respeito dessa litação das escolhas, dos métodos de Então a moda tem que tocar o consu-
região. Isso está muito inserido den- produção, do acesso a produtos, é ainda midor, encantá-lo de alguma forma.
tro da ideia da economia criativa que mais importante ser original e buscar
IBB, Assintecal e Sebrae defendem. uma identidade, uma personalidade Revista Conhecer: E é possível
para o produto de moda. dizer quem é o consumidor da moda
Revista Conhecer: Acaba gerando um Se você vai ao shopping, por exem- brasileira hoje?
diferencial. plo, e não consome nada de moda, de Walter Rodrigues: Não falamos
Walter Rodrigues: Isso. E um dife- sapato ou de objetos, é porque não nem em classes, nem em idade. Tem
rencial de peso. Um produto que tem viu nada nas vitrines que te emo- moda para todo mundo e é possível
o sabor e a cor do lugar de onde vem, cionasse. Isso porque o consumo da comprar coisas caras, mas dá para se
traz junto um diferencial e as pessoas moda é, em primeira instância, a ge- vestir bem com coisas baratas tam-
pagam um pouco a mais por isso, sem ração do desejo por algo diferente. bém. Nos últimos tempos houve uma
dúvida. Ainda mais hoje que tudo é tão Estamos falando de desejo, de emo- mudança clara no comportamento do

10 VAREJO DA MODA // SEBRAE


pessoas entendem o consumo e se po- Revista Conhecer: E é onde a
sicionam sobre moda. E para a cadeia Assintecal e o Sebrae entram...
da moda isso parece confuso e compli- Walter Rodrigues: Exatamente. O
cado, mas não é, é matemática pura. empreendedor de moda precisa de um
Ao fazer coisas boas, colocá-las com apoio, principalmente do Sebrae, para a
rapidez e qualidade à disposição do conscientização da importância de todas
consumidor e atendê-lo bem, não tem as etapas necessárias ao bom funciona-
como não lucrar com moda. É como mento de uma empresa. Seja ela de pro-
2+2 são 4. Não tem erro. O importante dução ou de varejo da moda. É um setor
para o varejo é saber que o brasileiro é muito importante para a economia no
um bom consumidor de moda. Brasil. Em termos de postos de emprego,
estamos atrás apenas da construção civil.
Revista Conhecer: O que dita o No momento em que o Brasil estiver ab-
mercado, então, é o comportamento solutamente conectado com as tendên-
do consumidor? cias de moda mundiais, o fortalecimento
Walter Rodrigues: Com certeza. dos pequenos é o que fará a diferença no
Moda é comportamento. E hoje eu di- mercado da moda brasileiro, o que permi-
ria que com as novas tecnologias, os tirá que elas possam realmente competir.
smartphones, televisão, internet, en-
fim, as tendências passam muito mais Revista Conhecer: Então, na hora
rápido, porque tudo cansa mais rapida- de vender a moda, o que conquista
mente. Tudo explode em velocidade e o consumidor brasileiro é o produto
consumidor brasileiro. Quem usava satura o consumidor. Ainda mais agora mais original?
apenas um chinelo de borracha antes, que temos uma ascendência de classe Walter Rodrigues: Ainda não. O con-
hoje pode comprar uma sandália mais D que passou pra C ou de E que passou sumidor brasileiro, hoje, está se adaptan-
bonita, mesmo que ainda não seja para D, que está adorando consumir. do e animado com o poder de consumo,
de couro. Isso interfere na autoesti- Estamos trabalhando para construir a com todas as possibilidades oferecidas.
ma desse consumidor. O consumidor consciência de que é possível ganhar Nós ainda estamos trabalhando para
brasileiro percebeu que pode adquirir dinheiro com moda no Brasil e com construir esse novo cenário de consumo,
um produto de moda porque já atin- varejo da moda quando se tem estra- mas entendemos que o deslumbramen-
giu suas necessidades básicas. Agora tégias muito definidas, com planos de to com o poder de compra é necessário
pode comprar bem-estar. Ele está cada negócios, com um olhar para o futuro, e iria acontecer. E, da mesma maneira
vez mais descobrindo como é bom ser transformando esse empreendedor que que ele está forte agora, a tendência é
bem tratado e o nosso mercado está entrou no ramo muitas vezes por um que desapareça e o consumidor queira
dando para ele milhões de chances de desafio pessoal em um empresário de o produto mais original. E aí, a marca
se sentir assim, bem atendido, bonito sucesso na área. Quanto mais você pla- que tiver personalidade será mais valo-
e cheiroso. Estamos vivendo um mo- neja, menos erra e errar é prejuízo, algo rizada. Estamos caminhando para isso.
mento histórico nessa mudança. As que nenhum empresário quer. Ainda não vejo no Brasil uma percepção

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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES

tão forte de mercado de moda que leve a todos acham que varejo é mais sim-
um slow fashion, como na Europa, que é ples do que a parte criativa, da in-
a questão do consumo consciente. dústria e de produção, mas é muito
complicado vender moda. Na maioria
Revista Conhecer: Mas é importante das vezes, as pessoas pensam que
segmentar o varejo em nichos de podem abrir um negócio apenas por-
consumo? que têm bom gosto, mas o varejo tem
Walter Rodrigues: Sim. Isso é ab- que ser pensado, estudado e dirigido.
solutamente necessário. É a primeira Sem um varejo consistente, o fato
pergunta que fazemos ao entrar numa de as marcas buscarem sua própria
empresa: quem é o seu consumidor? distribuição é uma evolução natural.
Quando a gente pesquisa o comporta- No Rio Grande do Sul, por exemplo,
mento do consumidor, a gente busca eu trabalho com empresas que ainda
compreender principalmente o que esse não atingem o varejo de lojas, não
consumidor final quer, para fazermos conseguem vender sua roupa para
produtos mais direcionados a eles. Às ve- lojistas, mas vendem direto para o
zes ele nem sabe que quer aquilo e esse consumidor final em showrooms pró-
é o nosso maior desafio. Se eu sei para prios. O importante é conhecer o seu
quem eu vendo, fica mais fácil produzir consumidor. Eu acho que criar outros
e oferecer produtos. Sei se meu consumi- centros de moda também é um ca-
dor usa couro, se usa mangas compridas, minho. Já existem alguns. Eu pode-
se usa decote. Eu trabalho, por exemplo, ria citar Teresina, Goiânia, Fortaleza,
com uma empresa de joias no Rio Gran- Caruaru, Florianópolis, Maringá. A
de do Sul que tem uma linha de produ- polarização desses centros – tirando
tos religiosos, medalhinhas, crucifixos, do eixo Rio-São Paulo-Belo Horizon-
mas também temos linhas com o peixe, te, que ainda é o mais forte na moda
que é um símbolo evangélico. A pessoa – permite a ampliação das possibili-
evangélica também vai consumir moda, dades de consumo. Com isso, as lojas
ela só não vai comprar a imagem de uma nas pequenas cidades têm um produ-
santa, por exemplo. É muito importante, to mais bem acabado, mais opções de
"O FORTALECIMENTO portanto, saber para quem eu ofereço marcas. Quanto mais a gente conse-
meu produto, para quem eu vendo. guir descentralizar os polos de moda,
DOS PEQUENOS
melhor para o varejista de moda,
É O QUE FARÁ A Revista Conhecer: O que ainda melhor para o consumidor. A descen-
DIFERENÇA NO precisa mudar no varejo da moda tralização do varejo da moda permite
brasileiro? a expansão da nossa moda para esse
MERCADO DA MODA Walter Rodrigues: Precisamos ter Brasil gigantesco e o Sebrae tem co-
BRASILEIRO" varejos mais consistentes. No Brasil, laborado com isso muito bem.

12 VAREJO DA MODA // SEBRAE


// MERCADO //
Divulgação

PEQUENOS NEGÓCIOS PODEM


CRESCER NO VAREJO DA MODA

A
poiado pela indústria inova- tribuição da renda, índice de formalização 120 bilhões, sem contar os acessórios,
dora, o mercado do varejo da do trabalho, aumento do poder aquisitivo com outros R$ 40 bilhões. O varejo da
moda no Brasil vem se expan- e maior facilidade de acesso ao crédito – moda, assim, consolida-se como um
dindo nos últimos cinco anos. impulsionou a expansão do setor. mercado promissor que conta com qua-
Dados do Instituto de Estudos e Marke- O Brasil é o 4º país no varejo da se 800 mil pequenos negócios de ves-
ting Industrial (IEMI) mostram que o moda em termos de desempenho eco- tuário, calçados e acessórios, responsá-
crescimento do consumo de moda pela nômico. Com saldo positivo nos últi- veis por 38% do volume de vendas do
classe média – turbinado por melhor dis- mos seis anos, movimenta cerca de R$ setor, segundo o mesmo levantamento.

MAIO DE 2015 13
// MERCADO //

Bernardo Rabello
Desde a década de 1990, há mais O varejo já se adaptou e oferece ao
dinheiro para fazer compras. “Nesse brasileiro artigos de moda que têm pro-
período, todos os segmentos de roupa dutos mais caros, produtos médios e mais
cresceram, e cresceram bem”, afirma populares. Os produtos médios, mesmo
Marcelo Prado, diretor do IEMI. com marca, estão muito atrativos para a
Estudo do Sebrae com o Instituto classe C, em preço e em design. “A moda
Data Popular, em 2012, comprova o au- é encantamento, o que mais influencia o
mento da faixa de renda e poder aquisi- consumo é a emoção. Tanto que 75% das
tivo das classes C e D, que representam compras de moda são à primeira vista,
53,9% da população e movimentam aquilo que encantou o consumidor na vi-
mais de R$ 1,03 trilhão por ano. “São trine ou na loja”, explica o diretor do IEMI.
40 milhões de novos consumidores que A equação é simples: a pessoa passa pela
ingressaram no mercado nos últimos loja, se encanta com o produto, olha o
dez anos e querem consumir moda”, ex- preço, vê que cabe no orçamento dela –
plica Juarez de Paula, gerente da UACC. não que seja barato, mas que está na faixa
A pesquisa revela, ainda, que o seg- de preço que pode pagar por ele – e com-
mento de moda é um dos que mais pra. “A compra vai depender muito mais
crescem com o avanço da Classe C. do interesse que o consumidor tem pela
Em 2012 houve um aumento de 153% moda, pelo produto e da valorização que
nos gastos da Classe C com produtos aquilo dá para ele”, avalia Prado.
de moda, em comparação a 2002. Fo- O crescimento do mercado brasi-
ram R$ 55,7 bilhões gastos com rou- leiro de moda atual é alavancado pe-
pas, sapatos e acessórios. “As classes las grandes varejistas, que investem
que mais consomem moda no Brasil fortemente em novas unidades e na
são a B e C, mas a C com mais força. diversificação dos produtos. As redes
Quando falamos em moda, pensamos de varejo especializadas em vestuário e
em grife, mas no Brasil isso não quer acessórios têm compreendido melhor o
dizer nada. Não é a renda que dita a novo consumidor brasileiro e possuem
aquisição, mas uma percepção de va- condições de continuar a crescer bem
Divulgação

lor pessoal”, afirma o diretor do IEMI. acima do crescimento médio do merca-

14 VAREJO DA MODA // SEBRAE


Divulgação

do. O pequeno varejo, no entanto, tem multimarca viu sua participação no mer- queno sai porque não consegue pagar o
crescido a um ritmo menor. cado reduzir de 42% para 37% do volume custo do negócio. Não é rentável para ele”,
Segundo análise do IEMI sobre os total comercializado e, embora ainda explica o presidente do IEMI. O foco dos
canais de varejo da moda no Brasil, as preserve a posição como principal canal shoppings são as lojas monomarcas, que
pequenas lojas independentes, também de vendas para esta categoria de produto trabalham com giro e metragens meno-
conhecidas como pequeno varejo multi- no Brasil, em volume, empata em valores res, conseguindo ser rentáveis.
marca – mais de 118 mil pontos de venda (30%) com as lojas de departamento Na última década, foram erguidos
distribuídos por quase todos os municí- especializadas. Logo, a primeira posição 160 novos shoppings no Brasil, o que
pios e que historicamente sempre foram poderá ser perdida nos próximos anos. facilitou o crescimento de marcas pró-
o principal canal de venda de roupas no A explicação é simples. A expansão prias. “O Brasil ainda é o único lugar do
país –, não têm se beneficiado da atual dos shoppings diminui o avanço dos pe- mundo em que o mercado de shoppin-
expansão da demanda interna pelo pro- quenos negócios. “Os pequenos negócios gs centers está em expansão. Temos
duto. Com um crescimento de apenas 5% multimarcas não se sustentam em sho- novos shoppings sendo construídos
em volume de peças nos últimos cinco ppings. Quando gera tráfego e o shopping a cada ano, agora avançando para as
anos (2008 a 2012), o pequeno varejo começa a cobrar fundo de comércio, o pe- cidades de médio porte”, explica Jua-

MAIO DE 2015 15
// MERCADO //

rez de Paula. Com esse crescimento, o


número de redes de franquias de moda,
por exemplo, avançou 259% no perío-
do. Isso porque quase 60% das lojas de
shoppings comercializam roupas e ne-
les se encontra 1/3 de todos os pontos
de venda de vestuário no país.
Para o gerente da UACC, no entanto,
há espaço para o crescimento do varejo
Fotos: Divulgação

da moda, ainda que em ritmo menor.


“O ritmo de crescimento diminuiu, mas
ainda está expandindo. O empresário só
tem que estar mais atento ao mercado e Loja modelo no Sebrae melhor seu negócio”, explica Fábio
às mudanças para não ser surpreendido funciona como laboratório de Azevedo, consultor de Marketing e
por um cenário desfavorável”, aconselha. Varejo do Sebrae em São Paulo.
Segundo o especialista em varejo e Possibilitar a pequenos varejistas O laboratório é de encher os
empreendedorismo Cláudio Forner, o es- de moda uma verdadeira experiência olhos. No primeiro pavimento fica a
paço é grande para os pequenos varejis- multissetorial, com acesso a diferen- loja conceitual, com peças de roupas
tas investirem. “Não existe concentração tes formas de atendimento, técnicas expostas, sistemas de automação de
de mercado, o empreendedor de moda de liderança, soluções de automação vendas, visual merchandising, esto-
tem de ficar atento à movimentação do e de estoque, é a proposta da loja mo- que etc. Visitas guiadas possibilitam
grande varejo que dita o ritmo do mer- delo inaugurada no Brás, pelo Sebrae conhecer detalhes de cada uma des-
cado e tem apenas 10% deste comércio. em São Paulo. A loja faz parte do sas áreas. O segundo andar possui
Existe um grande mercado para o peque- projeto “Negócios de Moda”, e é mais um ponto de atendimento com con-
no varejo, basta prestar atenção”, orienta. uma ferramenta de qualificação e sultores e especialistas de diversas
Indo em direção contrária ao movimento capacitação para os empreendedores áreas e, no terceiro, o empresário
de expansão via shoppings, Forner acre- que não dispõem de recursos finan- pode participar de cursos de curta
dita na oportunidade de crescimento no ceiros para testar o funcionamento duração, oficinas e workshops. “A loja
comércio de rua. “Tem empreendedor que de seu comércio. Com 450m², a loja modelo é uma forma de atender o lo-
quer expandir, mas não tem espaço nos laboratório tem três pavimentos que jista com excelência, gratuitamente,
shoppings, cujo custo é mais alto, e acaba funcionam como ambientes de ex- e entregar um know-how do varejo”,
expandindo para o varejo de rua”, lembra. perimentação para os visitantes. “O ressalta Azevedo.
Juarez de Paula concorda e lembra Brás é visitado hoje por mais de 100 Aberta ao público em geral, a
que a moda é um mercado crescente, mil pessoas por dia. É grande a opor- loja funciona de segunda a sexta-fei-
tanto que é o segmento maior do va- tunidade de o lojista vir até o bairro ra, das 9h às 17h, e a expectativa é
rejo, em densidade de empresas e em para realizar suas compras e na loja atender de três a cinco mil donos de
poder. “Por isso é um dos cinco que modelo poderá entender como gerir pequenos varejos por mês.
priorizamos no Sebrae”, diz.

16 VAREJO DA MODA // SEBRAE


502
2.703 114 mil 191 311 Franquias de
moda ou quase
marcas de
franquias
pontos de
vendas sob redes
Acessórios e
redes
Vestuário 19%
o modelo de
franquias calçados das franquias
do país

EXPANSÃO DAS explica João Augusto Pérsico, coorde-


nador nacional de franquias do Sebrae.
FRANQUIAS É TIDA De acordo com dados da ABF, o fran-
chising vem crescendo sempre acima
COMO CERTA do PIB brasileiro. O setor de vestuário
já ocupa o quarto lugar em vendas en-
Espécie de “ilha” no varejo brasileiro,
tre todo o segmento de franquias. As
o setor de franquias tem demonstrado
franquias de roupas faturaram R$ 8,3
um desempenho de vendas que con-
bilhões em 2012 e R$ 9,3 bilhões em
trasta com o cenário econômico do país. 2013, um crescimento de mais de 12%.
Enquanto grande parte do comércio tem Já os segmentos de acessórios pesso-
sofrido com as oscilações da economia ais e calçados faturaram R$ 6,2 bilhões
brasileira, a Associação Brasileira de – utilize um contrato para conceder a em 2012 e R$ 7,3 bilhões em 2013, um
Franchising (ABF) aposta em uma alta outros empreendedores – os franquea- crescimento de 17,1%.
entre 5,5% e 7% nas vendas do setor em dos – o direito de uso de sua marca e de Para o diretor de inteligência de mer-
2014 na comparação anual. As franquias exploração comercial do que tiver sido cado da ABF, Rogério Feijó, o complexo
de moda – 502 redes entre vestuário, desenvolvido ou testado por ele. A prin- de moda tem crescido via franchising
calçados e acessórios – representaram cipal diferença nesse modelo é ter um por aproximar as marcas do consumidor
14,5% do faturamento total do setor, em plano de negócios costurado a quatro final. “O setor vai bem porque o fran-
2013, que foi de R$ 115 bilhões. mãos. “O franqueado recebe orientação chising permite à marca estar em todo
Estratégia empresarial para expan- para a instalação e operação da uni- o Brasil, nas cidades com mais capaci-
são de negócios e comercialização de dade franqueada, mantendo o padrão dade de absorver o consumo. E o varejo
produtos e serviços, a franquia permi- exigido e remunerando a franqueado- da moda cansou de brigar por ponta de
te que o franqueador – uma empresa, ra pela concessão dos direitos e pela gôndola, de lidar com a concorrência de
detentora de uma marca ou patente transferência desses conhecimentos”, importados. Adotou, então, o franchising

MAIO DE 2015 17
// MERCADO //

de lojas exclusivas, com diferenciais no


processo de decisão de compra utilizan-
do fatores sensoriais e lançando tendên-
cias e conceitos que são decisivos na
hora da compra”, afirma.
Em 2013, o setor representava 2,4%
do PIB. Em postos de trabalho, as fran-
quias já superaram 1 milhão de em-
pregos diretos. São 2.703 marcas de
franquias e mais de 114 mil pontos de
vendas sob esse modelo, no país.
grandes marcas. Daí a proximidade com rior. A empresa virou Eva Bag & Shoes e
De acordo com a ABF, 90% das fran-
o Sebrae, que assinou convênio com a passou a investir em design e materiais
quias se enquadram em micro e peque-
Associação para levar o curso “Entenden- diferenciados. Os calçados e bolsas da
nas empresas, ainda que representem
do o franchising” a 19 unidades federati- marca, confeccionados com materiais
vas. Também resultado de parceria com nobres – até nas palmilhas é utilizado
Fotos: Divulgação o Sebrae, outra conquista foi a destina- o couro –, pedrarias e tecidos como os
ção de R$ 50 milhões do Fundo de Aval feitos manualmente por comunidades
às Micro e Pequenas Empresas (Fampe) de artesãos da Paraíba, conquistaram a
para a expansão das franquias. consumidora da classe A. E a Eva Bag &
Shoes foi além: começou a exportar para
EVA BAG & SHOES – PARAÍBA Estados Unidos, Portugal e África do Sul.
Em 2007 a empresa passou a in-
MODA DE ALTO vestir em lojas próprias e franquias.
VALOR AGREGADO Em 2014, participou do projeto Iden-
tidade da Paraíba, promovido em par-
Em 1992, Evanilza Gonçalves fun- ceria pelo Sebrae e Instituto By Brasil
dou a Eva Calçados, em Campina Gran- (IBB), que leva os designers do IBB até
de (PB). “Desde cedo descobri o gosto as empresas para que os empreen-
por trabalhos manuais. Criei bijuterias dedores apliquem as tendências em
com couro e peles exóticas que fizeram produtos com características locais. O
muito sucesso e me fizeram sonhar calçado feminino feito pelo designer
mais alto”, conta. da marca, Abraão Gomes L. Cavalcan-
Depois de procurar o Sebrae, come- te, dentro do projeto Identidade, após
çou a produzir bolsas, calçados e aces- consultoria de Walter Rodrigues e Eu-
sórios femininos, sempre com um toque genia Castellanos, foi indicado ao 20º
artesanal. Após participar de feiras, a Prêmio Francal Top de Estilismo na
marca fez sucesso no Brasil e no exte- categoria profissional.

18 VAREJO DA MODA // SEBRAE


TRAVE UNDERWEAR – RIO DE “Nossa ideia era fazer cuecas moder- MAIS Q BÁSICA – SANTA CATARINA
JANEIRO nas e diferenciadas para os homens que DE PEQUENO VAREJO
MODA ÍNTIMA buscavam, além de conforto e pratici-
A SEIS FRANQUIAS
dade, estilo e elegância”, explica Lima.
SOMENTE PARA ELES Dividindo espaço com a Suspiro Íntimo,
Ao se mudar para o Brasil, em
a Trave começou a produzir cuecas em
Depois de 25 anos produzindo lin- 2006, o casal argentino Raúl Bernar-
tecidos tecnológicos, específicos para a
geries para grandes marcas na fábri- do e Maria Alejandra buscava realizar
prática de esportes, e inovadores.
ca Suspiro Íntimo, em Nova Friburgo, o sonho de ter um negócio próprio.
O primeiro ponto de vendas fez sucesso,
o empresário Carlos Eduardo Lima e Após muita pesquisa e cursos como
o que incentivou os empreendedores a in-
sua irmã decidiram que era hora de o Negócio Certo, do Sebrae em Santa
vestir na expansão da marca. O modelo de
investir em marca própria. A experi- Catarina, abriram uma loja de roupas
negócios escolhido foi o de microfranquias,
ência com moda íntima facilitou a es- femininas em Florianópolis, investin-
com investimento do franqueado de até
colha do nicho em que iriam investir, do em blusas, regatas e vestidos bá-
R$ 150 mil. O Sebrae participou ajudan-
sicos confeccionados em malhas de
mas ambos queriam inovar. Nascia do a formatar um plano de negócios para
qualidade, sem estampa. “Aprende-
a Trave Underwear. Uma marca de franquear a marca por meio de quiosques
mos um pouco do varejo, aprendemos
moda íntima para homens. pré-fabricados em aeroportos e shoppings.
de malha, e a partir daí decidimos co-
nhecer mais sobre a produção”, diz o
empresário Raúl Bernardo.
“O Negócio Certo é um programa
completo, em que o empresário pode
fazer o seu plano de negócio, com um
modelo formulado, e dispõe de asses-
soria e consultoria do Sebrae, para
verificar a consistência do plano”,
explica Joel Fernandes, do Sebrae em
Florianópolis.
Há um ano e meio, os argentinos
abriram uma segunda loja, fizeram
novos cursos e entraram no mercado
de franquias, que se mostrou a melhor
escolha e resultou em quatro novas
lojas em menos de 18 meses. As qua-
tro franquias ficam no interior de São
Paulo e a expectativa da família argen-
tina é abrir mais cinco franquias até
setembro de 2015.

MAIO DE 2015 19
// TENDÊNCIAS //

CAÇADORES
DE NOVOS
MERCADOS
AJUDAM VAREJO
A CRESCER
Divulgação

Cada vez mais solicitado por empresas de pequeno porte, cool


hunter aponta mercados ainda desconhecidos

N
ão estranhe se você vir por de tendências, aquele que percebe uma pode ser o diferencial que faltava para
aí alguém fotografando direção que já está tomada. O chama- garantir o crescimento de uma loja. De
pessoas como se elas es- do cool hunter (literalmente traduzido posse de dados estratégicos, ele pode,
tivessem no tapete verme- para caçador de coisas bacanas) quer por exemplo, alimentar o negócio de
lho do Oscar, usando um modelito úni- identificar “espaços em branco” para informações para o fast fashion ou o vi-
co. Ou ainda esquadrinhando, com uma que a empresa que o contratou possa sual merchandising. Em geral, o foco de
grande angular, materiais excêntricos avançar no mercado por nichos ainda um cool hunter é bem amplo: a padro-
para serem aplicados na indústria da não explorados. nização de estratégia de informações
moda. Esses supostos voyeurs estão O cool hunter não busca detectar so- para o mercado. “São oportunidades
infiltrados pelos centros das grandes mente uma direção de comportamento, para o crescimento do negócio, inde-
cidades brasileiras com um objetivo ele se insere no grupo analisado, para pendentemente do tamanho da em-
principal: descobrir oportunidades ter oportunidade de prever seus dese- presa e de sua capacidade econômica”,
para o crescimento de um negócio. É jos. Para o pequeno varejo da moda, explica Carol Garcia, chefe da divisão
muito mais que o conhecido caçador contar com um especialista como esse de cultura da agência Nau.

20 VAREJO DA MODA // SEBRAE


Com uma larga experiência como
cool hunter, Carol Garcia, doutora em
comunicação e semiótica, comenta que
o pequeno empreendedor brasileiro
tem percebido que o caminho do cres-
cimento pode ser feito com base em
exaustivas pesquisas e poder sistemá-
tico de observação.
Os estudos feitos pelo cool hunter
visam apontar oportunidades para que
as empresas comercializem seus pro-
dutos em nichos poucos explorados,
mas aquecidos. “O bom cool hunter en-
tende a empresa, agrega conhecimento
e valor ao produto e, sobretudo, ensina
o time a continuar essa operação sem
sua presença”, explica Carol Garcia.
Para isso, antes de lançar os olhos so-
bre o objeto de pesquisa, é preciso se
debruçar na história, posicionamento
e performance da empresa; entender
a variedade de produtos oferecidos, o
preço, informar-se sobre as estratégias
de lançamento e de promoção já utili-
zados, além de ficar a par da estrutura
de marketing da empresa.
Com o uso das tecnologias digi- "É PRECISO
tais, o cool hunter está interligado PERCEBER
em rede ao mundo 24 horas por dia.
Deslocamentos presenciais raramen-
O FARO DA
te são necessários. Agora, utiliza-se INFORMAÇÃO,
o profissional local, que conhece me-
ESTAR NO
lhor a região em questão, para o en-
vio de dados e troca de conhecimen- LUGAR CERTO
tos. “Hoje somos mais ágeis e mais E NA HORA
focados que nos anos 1990, quando
esse tipo de atividade se estabeleceu
CERTA"
Divulgação

nas empresas”, conta Carol Garcia. Martina Pinho

MAIO DE 2015 21
// TENDÊNCIAS //

COOL HUNTING E A MODA extrema importância e precisa lidar Onde encontrar


com a forte presença de marcas inter- um cool hunter
O tempo do cool hunter é o das in- nacionais. É preciso perceber o faro da No Brasil, não existe formação
formações adiantadas. No ambiente informação, estar no lugar certo e na específica de cool hunter. Se um em-
profissional, brinca-se que eles não hora certa para não sermos passados presário desejar contratar um, poderá
sabem o que está na moda, mas o para trás”, acredita. encontrar em cursos de curta duração
que poderá vir a ser moda. Assim que Não por acaso, a profissão está inti- ou nas faculdades de moda. Nesses
saiu da faculdade de moda, em 2010, mamente ligada ao setor de marketing locais, os profissionais aprendem a
Martina Pinho experimentou viver e do segmento fashion, mas hoje o cool desenvolver o raciocínio estratégico
esse tempo para frente. Trabalhou no hunter também trabalha com vários e a visão integrada das atividades de
portal WSGN, uma vitrine mundial de setores ligados ao consumo e ao va- pesquisa de tendências, conhecem
tendências, e mergulhou sobre um rejo. As pesquisas podem resultar em as ferramentas necessárias para que
universo que não vislumbrava: a Amé- sugestões de cores, modelos ou tecidos seus futuros clientes obtenham van-
rica Latina. Lembra-se com afetivida- específicos para uma coleção ou para a tagem competitiva sustentável nos
de da participação como olheira das grade da estação, ou até em propostas segmentos de moda e estilo de vida.
semanas de moda na Colômbia e na de segmentação da loja em nichos de Mas muitos deles começam como
Argentina. A atividade deu lastro para moda percebidos pelo especialista. “En- trainee. “Na Colômbia, a universidade
outros caminhos. Hoje, ela não sai às tender o público e identificar as brechas Colegiatura Colombiana, de Medellín,
ruas com a câmera na mão, mas guar- internas do mercado é muito importan- está lançando uma especialização
da a sede de desbravar o mundo que a te. No Brasil, ainda estamos atrelados voltada a essa atividade, com grande
atividade lhe proporcionou. “Há quatro ao mercado global, e não trabalhando a procura”, conta Carol Garcia.
anos, a atividade era mais tímida. Tí- moda regionalmente”, lembra Martina. Focado em preparar seus técnicos
nhamos, na maioria, algumas grandes A par da dinâmica do mercado de para atender os pequenos negócios
empresas usando as informações des- moda no Brasil, Carol Garcia sugere de varejo da moda, o Sebrae tem
ses profissionais. Hoje, o cool hunter que se contrate uma consultoria em um curso interno, na Universidade
está dentro do mercado”, avalia. cool hunting pelo período de uma Sebrae, sobre o segmento. Uma das
E estar no mercado é entender o coleção, podendo atingir o máximo matérias do curso é exatamente so-
mercado. Para saber lidar com peque- de três temporadas. Depois disso, a bre o cool hunting. A ideia é preparar
nos negócios de varejo da moda ou equipe interna precisar estar afinada esses profissionais para orientar os
grandes redes, não basta ser descola- para assumir essa atividade rotineira- empreendedores que buscam aten-
do, ter um olhar apurado sobre arte e mente. “O cool hunter implementa a dimento no Sebrae sobre a impor-
senso de oportunidade. Martina Pinho operação, aplica a metodologia e en- tância de usar os serviços de um cool
não tem dúvidas: esse tipo de conhe- sina a equipe da empresa a prosseguir hunter na definição de estratégias
cimento é tão vital quanto perceber e evoluir nessa direção. Desaconselho como mudança de nicho de merca-
que o vermelho que está surgindo aqui assistência permanente: a equipe in- do, prestação de serviços agregados
e acolá está conectado com a volta do terna precisa tomar a liderança dessa e até aquisição de mercadorias que
são ou serão tendência.
movimento surrealista, por exemplo. atividade, pois conhece seu mercado
“O mercado de moda no Brasil é de melhor do que ninguém.”

22 VAREJO DA MODA // SEBRAE


FAST FASHION DECRETA
O FIM DAS ESTAÇÕES
Sucesso na Europa, o modelo altera
a lógica das coleções sazonais e
vira estratégia no varejo da moda

O
modelo tem ares de novi- ganizativos para competir nas
dades no Brasil, mas quem indústrias híbridas, Enrico Cietta
o conhece apressa o passo. alerta que a velocidade é apenas
Toda semana tem roupa um aspecto desse negócio. “O êxi-
com cheiro de fábrica nas araras. Como to está na gerência da cadeia de
camaleões, as vitrinas se modificam produtividade”, ensina em obra de
e enchem os olhos dos consumidores tema raro no país. Para aderir ao
de moda. Não é preciso esperar mais modelo industrial e mercadológico,
as estações para saber qual a coleção que encurta o tempo de criação e pro-
concebida pelo estilista. Agora há os dução com um sistema de distribuição
designers, que criam dia e noite para eficiente e rápido, é preciso compreen- antenada para as últimas tendências,
abastecer a demanda do mercado se- der as diferenças do modelo padrão do oferecendo aos clientes o que há de
dento. O combustível para acelerá-lo é varejo da moda. “É uma revolução na mais novo. Isso resulta em alta produ-
o cliente. É ele quem determina o que maneira tradicional de apresentar as tividade e competitividade com pre-
vende e o que sai de linha. Nascido na coleções sazonais”, defende o especia- ços mais baixos, se comparado àquela
Europa, o fast fashion (presente no país lista e escritor italiano Enrico Cietta. marca cuja prioridade é a identidade
em marcas como Arezzo e Farm) está Adotar um ou outro implica um e o estilo. “O modelo do fast fashion
pronto para cair nas graças do pequeno alinhamento quase ideológico do pressupõe a capacidade de responder
empreendedor brasileiro. empreendedor frente ao mercado. Se ao comportamento dos produtos nas
Autor do livro A revolução do fast optar pelo fast fashion, o negócio vai lojas e sinalizadores de tendências, di-
fashion – Estratégias e modelos or- ter que se consolidar como uma marca recionando desenvolvimento e produ-

MAIO DE 2015 23
// TENDÊNCIAS //

ção para a cadeia produtiva”, observa o ças em liquidações. Sem perda de tem-
consultor Alberto Serrentino, fundador po, faz-se necessário parar de fabricar o
da Varese Retail (SP). que não está vendendo e abrir demanda
É preciso respirar junto com o ponto de produção para as novas coleções que
de venda. Monitorar o desempenho de estão sendo desenhadas, a partir da cap-
produtos e realimentar de informações

Douglas Luccena
tação das tendências.
a cadeia de produção, que planeja e No Brasil, a Arezzo lança cinco pro-
executa. “A integração da cadeia de for- dutos por dia, dois mil por ano, troca a
necedores é fundamental e a capacida- vitrine uma vez por semana e mantém
de de identificar tendências, postergan- o tempo de rotatividade de uma peça, PONTO A PONTO //
do as decisões sobre os produtos, leva
aos menores índices de erros”, avalia
nas lojas, em 45 dias. São variáveis que O PENSAMENTO
precisam ser monitoradas como indi-
Alberto Serrentino. cadores para o bom funcionamento do DE ALBERTO
VELOCIDADES VARIÁVEIS
sistema. E quem baliza esse círculo é o SERRENTINO
target da marca (definição do público-
Como os produtos têm vida curta e os -alvo). Ele controla a velocidade que va- EUROPA
estoques são baixos, a velocidade de re- ria de empresa a empresa. Na Europa, “O modelo nasceu e se popula-
torno obtida pela cadeia do fast fashion há o fast fashion de luxo, cujo tempo de rizou, é comum haver empresas de
dá a dinâmica da logística de produção. produção é maior do que o fast fashion pequeno e médio porte operando o
O objetivo do giro de estoque é reduzir de larga escala. Assim, as velocidades fast fashion. A Itália possui diversos
produtos encalhados e queimas de pe- se tornam quase singulares de cada operadores que desenvolvem e dis-
empreendedor. tribuem produtos em redes mono-
Acostumado a ver pequenos em- marca ou multimarca e que não são
Divulgação

preendedores adotando o fast fashion grandes corporações.”


na Europa, Alberto Serrentino consta-
ta que o modelo está influenciando o BRASIL
modo de produção do varejo tradicio- “Não há resistência dos fast
nal no mundo. “Independentemente da fashion no Brasil. Há limitações
adoção do fast fashion, os ciclos de vida estruturais. O fast fashion se tor-
de produtos de moda estão se tornando nou relevante ao ser adotado por
mais curtos. A tendência é a progres- grandes empresas de varejo. Elas
siva fragmentação das coleções, para comandam a cadeia, integram for-
aumentar a frequência de renovação e necedores e produção, focam agili-
o fluxo de novidade nas lojas. As con- dade. No Brasil, o varejo ainda não
sumidoras se acostumam a encontrar desenvolveu a competência de in-
novidades a cada visita às lojas e im- tegração e comando sobre a cadeia
põem ao varejo mudanças na gestão de produtiva de moda. Mas há espaço
O italiano Enrico Cietta é autor de livro sobre fast
fashion: modelo tem velocidades variáveis coleções e ciclos de vida de produtos.” para que o modelo se desenvolva.”

24 VAREJO DA MODA // SEBRAE


O ajuste da máquina de cool hunting na rede uruguaia de ção publicitária em mídias impressas
fast fashion Lu by Lolita. e digitais”, enumera Carol Garcia.
Enquanto a cadeia do fast fashion O trabalho iniciou-se pelo visual Esses ajustes incluíram também
imprime velocidade de produção de merchandising das lojas e styling de assistência aos recursos humanos
semanas, a presença do cool hunter produtos. “A reordenação do espaço da empresa e captação de fornece-
(que planeja e identifica brechas no físico permitiu ao cliente a melhor dores. O resultado comercial atingiu
mercado, além de captar tendências) percepção da harmonização de pro- cerca de 60% acima do anteriormen-
é fundamental para que esse sistema dutos e estilos. Posteriormente, atu- te registrado, com picos de 80% em
funcione com baixo índice de perda. amos no desenvolvimento de produ- datas específicas do calendário pro-
Entre novembro de 2010 e junho de tos, fazendo o ajuste necessário com mocional. A Lu by Lolita está hoje
2012, Carol Garcia, da agência Nau foco no consumidor objetivado e, na em vários países da América Latina,
(SP), liderou uma complexa operação sequência, reordenamos a comunica- inclusive no Brasil.

AS DIFERENÇAS DE MODELOS
MODELO PADRÃO FAST FASHION

Coleções Coleções sazonais Minicoleções


(semestrais) (semanais)
Tempo de produção 24 meses Poucas semanas
Preços Variados Baixos e competitivos
Lançamento Coleções Temas
Orientações Estilistas Consumidor
Tendências Maior risco Menor risco
Prioridade Identidade e estilo Lucro

Fonte: Sebrae

MAIO DE 2015 25
// CADEIA PRODUTIVA //

INDÚSTRIA E VAREJO
DEVEM CAMINHAR JUNTOS
A
Fortalecimento da indústria da moda é um dos
mais importantes setores da
mil empresas formais e 5,5% do PIB da
indústria de transformação, o setor ge-
articulação entre economia brasileira. Sua ca- rou R$ 140 bilhões em 2012, segundo
elos da cadeia deia produtiva, que contem- relatório setorial da Texbrasil. Quando
pla os segmentos de têxtil e confecção, à geração de postos de trabalho, é o
é alternativa couro e calçados, e gemas e joias, é segundo maior empregador do país,
estratégica para os reconhecida pelo elevado potencial de sendo responsável por 2,4 milhões de

pequenos negócios geração de renda e de emprego e tem


a vantagem competitiva de estar total-
empregos diretos e mais de 8 milhões
entre diretos e indiretos, sendo 75%
no setor da moda mente estabelecida no país. Com 300 mão de obra feminina.

26 VAREJO DA MODA // SEBRAE


O setor tem recebido suporte do plástico e borracha, na qual se inserem
Sebrae para crescer e se fortalecer chinelos e sandálias, com 56,5% da
ainda mais. Os motivos são fáceis produção nacional. Os calçados con-
de notar. O mercado têxtil e de con- feccionados em couro, com forte apelo
fecção mundial é muito dinâmico, exportador, representam outros 12,6%,
com lançamentos de novas coleções enquanto os calçados de laminados
quatro vezes ao ano, e produziu, em sintéticos respondem por 15,2%, segui-
2013, cerca de US$ 58,2 bilhões, o dos pela linha de esportivos, com 8,5%,
equivalente a 5,7% do valor total da e pelos artigos confeccionados em ou-
produção da indústria brasileira de tros materiais, com 7,2%.
transformação. De acordo com o pre- A indústria de gemas, joias e afins,
sidente da Associação Brasileira da que compreende desde a extração mi-
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), neral, a lapidação e artefatos de pedras,
Rafael Cervone, o Brasil ostenta uma à indústria joalheira, de folheados e
posição invejável no setor. “Somos bijuterias, é responsável pela produção
uma grande e potencial cadeia pro- de cerca de 1/3 do volume das gemas
dutiva. Estamos entre os cinco maio- do mundo, excetuados o diamante,
res produtores do mundo, com um o rubi e a safira, com 70% a 80% das
parque de máquinas e equipamentos pedras brasileiras sendo exportadas. O
com custo de reposição equivalente Brasil é considerado, ainda, um impor-
a mais de R$ 150 bilhões e mais de tante produtor de ouro, ocupando o 12º
33 mil empresas em todo o território, lugar no ranking mundial com 80% da
provando que esse setor é, mais que exportação da cadeia, em 2012.
tudo, uma forte vocação nacional.”
Segundo a Abit, o Brasil é o segundo
mais importante fornecedor de índigo, o
O SEBRAE E A CADEIA
O BRASIL É O terceiro de malha e o quinto maior pro- DE VALOR DA MODA
SEGUNDO MAIS dutor mundial de algodão; está entre
os cinco principais países produtores de A cadeia de valor da moda tem
IMPORTANTE confecção e é um dos oito grandes mer- sido um importante instrumento de
FORNECEDOR DE cados de fios, filamentos e tecidos. inovação de modelos de negócio. A
Na indústria de calçados, o cenário nova indústria da moda tem seu foco
ÍNDIGO, O TERCEIRO
é semelhante. Em 2013, o setor calça- em temas como produção sustentável,
DE MALHA E O dista produziu cerca de R$ 26,8 bilhões, biodiversidade, valorização cultural
QUINTO MAIOR o equivalente a 1,2% do valor total da e diversas áreas que garantem novas
receita líquida da indústria de transfor- perspectivas aos pequenos negócios
PRODUTOR MUNDIAL mação brasileira. A produção brasileira do setor. Mais de 23 mil empresas do
DE ALGODÃO é dominada pela linha de calçados de segmento produtivo são atendidas hoje

MAIO DE 2015 27
// CADEIA PRODUTIVA //

O VAREJO
Na ponta da cadeia produtiva da
moda está o varejo, que também tem
recebido apoio para continuar crescen-
do. De acordo com pesquisas do IEMI, as
lojas independentes representam 20%
da distribuição da confecção no Brasil e
16% da venda de calçados. Elas são, para
as pequenas indústrias, o principal canal
de distribuição da produção de moda.
Análise feita pelo Sebrae mostra que
o ponto de venda é relevante na estra-
tégia comercial da indústria porque é
lá que o consumidor decide a compra e
fornece informações sobre preferências
e perfil de consumo, faz reclamações e
avalia o produto. A indústria, por sua
vez, fornece ao varejo informações im-
portantes sobre tendências de moda,
pelo Sebrae em projetos que envolvem 243 cursos e 1,7 mil palestras, além de
novos produtos e novas tecnologias.
incremento tecnológico, inteligência nove missões técnicas.
“A integração da indústria com o
competitiva, ampliação de mercado e No segmento de têxtil e confecção,
varejo é uma alternativa estratégica
aumento das vendas. as maiores concentrações de pequenos para os pequenos negócios da moda.
Para auxiliar na sobrevivência sus- negócios industriais estão nas confec- Os resultados são maior velocidade de
tentável e competitiva desses empre- ções, facções e no beneficiamento de inserção de novos produtos no merca-
endimentos, o Sebrae e o Senai, por tecidos e artigos de vestuário. Os três do, aumento no nível de serviço para o
exemplo, promovem o convênio “Moda: elos da cadeia são o foco de atendi- consumidor final, fidelização à marca
ações criativas para o fortalecimento da mento do Sebrae na parte de vestuário. e à loja e um aumento das vendas em
competitividade industrial”. O projeto Para a indústria de couro e calçados, a todos os elos da cadeia”, revela Roberta
mapeia tendências e orienta os donos maior concentração de pequenos negó- Aviz, da Coordenação Nacional da In-
de negócio do setor têxtil a incorporar cios está na produção final de calçados dústria da Moda do Sebrae.
inovação na elaboração de seus produ- e artefatos, foco prioritário do Sebrae. O atendimento prestado pelo Se-
tos. O convênio vai beneficiar cerca de E na indústria de gemas, joias e afins, brae aos empreendedores de moda é
120 mil empresas em ações que aju- quase a totalidade é de pequenos negó- diferente quando o assunto é indústria
dam a promover a inovação necessária cios. Os elos da cadeia com maior con- e quando é varejo, principalmente por-
para o setor nacional enfrentar a con- centração de empresas são a produção que fabricantes e lojistas têm necessi-
corrência estrangeira. Até 2017, serão final de bijuterias, joias e folheados. dades diferentes. Enquanto a Unidade

28 VAREJO DA MODA // SEBRAE


EMPRESAS DA CADEIA DE VALOR
Fabricação de acessórios de
vestuário: 1.434 microempresas;
258 pequenas empresas; e 26
empresas de médio porte.

Lapidação de gemas e
fabricação de artefatos:
1.008 micro; 164 pequenas;
e 7 médias.

Fabricação de bijuterias
e artefatos: 578 micro;
Fonte: Rais/MTE (Relação Anual de
103 pequenas; e 6 médias. Informações Sociais, Ministério do
Trabalho e Emprego) de 2011

de Atendimento Coletivo – Indústria Para Juarez, o setor tende a crescer. fiação, a tecelagem, o acabamento e
(Uacin) foca em redução de custos de “Mesmo com um cenário menos pro- a confecção. Sua complexidade, que
produção, melhorias de maquinário e missor, tanto na indústria quanto no em um primeiro momento pode-
do processo produtivo, inovação que varejo, o setor da moda é sempre forte ria dificultar o crescimento de uma
resulte em mais produtividade e mais porque o consumo dele é permanen- grande marca, permite, no entanto,
competitividade da indústria, no varejo te, as pessoas não podem deixar de se a inclusão dos pequenos negócios
são trabalhados elementos que resul- vestir. Então, sempre há pessoas consu- na produção. Ao participar da cadeia
tem em aumento de vendas e cresci- mindo moda”, acredita. produtiva como fornecedor, o peque-
mento das lojas. Atratividade da loja e no negócio aumenta a sua competi-
melhorias nas vitrines para aumentar tividade, inova e promove o desen-
o fluxo de clientes, redução de custos,
ENCADEAMENTO volvimento sustentável, enquanto a
marketing, atendimento e fluxo de es- PRODUTIVO NA MODA grande empresa otimiza seus produ-
toque, por exemplo, fazem parte dos tos e serviços, reduz custos e amplia
atendimentos prestados pela Unidade A indústria da moda possui grande sua flexibilidade e agilidade.
de Atendimento Coletivo – Comércio potencial para projetos de encadea- Dentre os 300 maiores contri-
(UACC). “A ideia é, nos dois casos, for- mento produtivo. A cadeia é uma das buintes do Sebrae, foram identifica-
talecer o negócio”, explica Juarez de mais amplas no mercado, composta das diversas empresas do segmento
Paula, gerente da Unidade. por várias etapas produtivas como a da moda para trabalhar como âncoras

MAIO DE 2015 29
// CADEIA PRODUTIVA //

em projetos de encadeamento produ-


tivo. As Casas Pernambucanas, C&A,
Lojas Renner e Marisa, que se enqua-
dram no grande varejo da moda. A
Grendene, Alpargatas e Paquetá, que
fazem parte da indústria de calçados.
E a Guararapes Confecções, que é
uma indústria têxtil. Tanto as indús-
trias de calçados quanto de confecção
possuem lojas próprias como um dos
canais de distribuição.
Para aumentar a participação dos
pequenos nas cadeias de valor da
moda, o Sebrae tem apresentado diver-
sos convênios e parcerias nacionais e
regionais de encadeamento produtivo
que envolvem milhares de pequenas

Divulgação
empresas e as chamadas empresas
âncoras. É o caso do convênio entre
o Sebrae em SC e a Tecnoblu, no Vale
do Itajaí, que beneficiou vinte e cinco gerar 20 mil empregos diretos, com
pequenos negócios, entre faccionistas produção diária de 150 mil peças.
e representantes comerciais, em um O funcionário público José Medei-
projeto de produção e revenda para a ros de Araújo já faz parte do projeto.
fabricante de etiquetas, tags, botões Após participar do Empretec do Se-
e outros complementos decorativos, brae, Araújo decidiu entrar no ramo de
"HÁ ESPAÇO que tem clientes como Colcci, Hering, confecções, trabalhando no modelo de
PARA A MODA Malwee, Riachuelo e Renner. facções. Desde o primeiro contrato com
Antes mesmo de consolidar um a Hering, em 2007, e a expansão de
BRASILEIRA NO projeto de encadeamento produtivo, seu negócio com prestação de serviços
MERCADO EXTERIOR, o Sebrae no Rio Grande do Norte já também para a Guararapes, Araújo viu
investe em parcerias com grandes seu faturamento crescer 30% ao ano e
DESDE QUE HAJA marcas para estimular o crescimen- encerrou 2013 com R$ 1,8 milhão de
INVESTIMENTO NO to das micro e pequenas confecções. receita. “Comecei tudo com a ajuda do
Dentro do Pró Sertão, a instituição Sebrae e do Senai. Hoje produzimos
MADE IN BRASIL" apoia a implementação, desenvolvi- 2.400 peças por dia, com capacidade
Roberto Davidowicz, mento e expansão de cerca de 300 para 2.900, e temos 122 empregados”,
presidente da Abest facções de costura até 2018 e deve explica o empreendedor.

30 VAREJO DA MODA // SEBRAE


viajaram o mundo”, comemora Rodney. AVECVOUS – MG
Artesã há dez anos, a microempreende-
dora individual participou de consultorias,
IDENTIDADE E
capacitações, feiras e eventos, com o apoio GLAMOUR EM
do Sebrae, e já atendeu encomendas da
Espanha e dos Estados Unidos.
NÉCESSAIRE
Por meio do Projeto Comprador, do
A empresária Diana Victor Spyer
Sebrae, a maior parte da produção da Bio-
Prates, dona da marca mineira de bol-
joias Cores da Mata é vendida para São
sas e nécessaires AvecVous, há mais
Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo,
de 30 anos no mercado atendendo so-
no atacado. O nome da marca veio de uma
mente a revendedores, decidiu que era
peça de mesmo nome criada exclusiva-
hora de vender suas peças diretamente
mente para disputar, com outras 90 peças,
para o consumidor final. A primeira loja
o prêmio da Unesco. O colar de Rodney
de varejo da marca foi aberta em Belo
Paiva ficou em 2º lugar na premiação.
Horizonte e os clientes também podem
A experiência como varejista começou
comprar no e-commerce. A estratégia
com a loja da Casa do Artesão, em Rio
de investimento em pronta entrega
Branco. Mais tarde, abriu um showroom
deve ser incrementada, em 2015, com
em casa. O Sebrae ajudou a colocar preço,
fazer a divulgação dos produtos, criar em- um ponto de vendas em São Paulo.
BIOJOIAS CORES DA MATA – AC balagens e até novas peças. “Antes a gente “As pessoas já vêm ao bairro em
busca de lojas de roupas, então somos
ARTESÃ ACRIANA trabalhava só com a semente, mas com a
mais uma opção para complementar
ajuda de uma designer que o Sebrae trou-
FAZ SUCESSO xe, aprendemos a trabalhar com reaprovei- as compras desse cliente que quer te-
ENTRE FAMOSAS tamento de madeira”, diz Rodney. cidos bonitos e produto de qualidade”,
A artesã também teve a oportunidade explica a empreendedora, que espera
Aos dez anos de idade, a acriana de expor durante a nona edição da Inspi- um aumento de 15% no volume de ven-
Rodney Paiva trabalhava em casas de ramais Verão 2014 – Salão de Design e das. A expansão dos negócios foi refle-
família e não imaginava que, um dia, Inovação de Materiais, em São Paulo. O xo natural da participação da empresa
suas biojoias seriam usadas por famosas resultado de tanta divulgação é o aumen- no programa Identidade BH, realizado
e venceriam um prêmio internacional da to na procura pelos produtos da Cores da pelo Sebrae em Minas Gerais e outras
Unesco. Com a floresta como fonte de Mata. “Nossas consumidoras querem no- entidades representativas do setor de
inspiração, a artesã transforma resíduos vidades, peças bonitas e diferentes, arte- calçados e bolsas no estado.
de madeira e sementes de jarina, açaí, sanais, que foram feitas com carinho, com Sob a consultoria do estilista Walter
paxiúba, amarelão e tucumã em moda cuidado, para deixar quem as usa mais Rodrigues e a partir de um novo olhar vol-
sustentável, com a marca Cores da Mata. bonita”, resume a artesã, que é apaixona- tado à capital mineira, a empresária Diana
“Meus colares são usados pela presi- da pelo que faz. E paixão é o segredo para Prates criou novas estampas, como os azu-
dente Dilma, pela tenista Serena Williams, quem produz e vende moda no Brasil. lejos da igreja da Pampulha.

MAIO DE 2015 31
// COMPORTAMENTO //

BRASILEIRO CONSOME MODA


ATÉ QUANDO NÃO FAZ COMPRAS
Especialista diz que acesso a marcas por meio das ferramentas
digitais é uma forma de estabelecer um relacionamento de consumo

H
iperconectado, interessado, em uma loja, em detrimento de outra. hábitos, interesses e gostos desse con-
diversificado, impulsivo e, A consultora em gestão estratégica sumidor, o que ele faz, que suportes uti-
principalmente, apaixo- do mercado de moda Tetê Rebello tem liza para se conectar, exatamente para
nado. Ao traçar o perfil do focado pesquisas de comportamento entender a cabeça dele e trabalhar es-
novo consumidor de moda no Brasil, a do consumidor na cultura digital. Ela tratégias focadas”, revela.
unanimidade entre os especialistas é acredita que existem muitas variáveis, O aumento da renda média das famí-
que o brasileiro hoje está muito mais in- entre influências culturais, econômicas lias também é avaliado quando se quer
teressado em moda e a consome, mes- e sociais, que precisam ser conside- entender o novo consumidor no Brasil.
mo que não vá às compras. O cenário radas na análise desse novo perfil. “O A mudança no perfil de consumo se ex-
do consumo vem mudando nos últimos mais difícil de detectar é aquilo que plica porque a maneira como a pessoa
dez anos e quem estuda o setor adapta, nos afeta internamente. Hoje quem se veste deixa transparecer ascensão
desde então, a maneira de mensurar o trabalha com pesquisa de mercado, de social e melhoria de renda. “O momento
que motiva esse consumidor a comprar cool-hunting, se preocupa mais com os é apropriado para convencer o consumi-
dor de que vale a pena investir no visual.
As pessoas gostam de estar bem vesti-
das, com peças atuais e hoje têm mui-
to mais acesso à informação de moda”,
acredita o stylist Fernando Lackman.
A pesquisa “Comportamento de
Compra do Consumidor de Vestuário”,
feita pelo Instituto de Estudos e Marke-
ting Industrial (IEMI), em 2012, revela
que 92% dos 4 mil consumidores ouvi-
dos querem estar bem-vestidos. Des-
ses, 44% são pessoas antenadas

32 VAREJO DA MODA // SEBRAE


cias e frequentam mais eventos, vão
naturalmente consumir mais moda,
porque estar mais ou menos arrumado
está muito ligado às necessidades do
dia a dia”, explica.
Na direção oposta, o coordenador
e professor do Núcleo de Varejo da
ESPM, Ricardo Pastore, acredita que a
cultura da moda no Brasil ainda é frá-
Fotos: Divulgação

gil exatamente por causa do estilo de


vida do brasileiro. “No Brasil não há
uma cobrança por estilo, mesmo em
ambientes corporativos, e o brasilei-
com moda e que gostam de ter o que é ro ainda usa roupa e sapato, não usa
novo. Os outros 48% querem estar ar- moda”, aponta. Para o pesquisador, que
rumados, mas não se incomodam em coordena um laboratório de varejo na
usar peças de coleções passadas. ESPM, o fato de termos apenas uma ou
Para o diretor executivo do Institu- duas estações bem definidas no ano
to Brasileiro de Moda (IBModa), André também dificulta para o mercado. “Com
Robic, o brasileiro acompanha as ten- o mesmo guarda-roupa você pode pas-
dências, sim, mas o que vai determinar sar o ano todo, pode ir levando. Então,
o consumo é o estilo de vida do consu- quando o orçamento aperta, a primeira
midor. “Conforme as pessoas são mais coisa que se corta é o gasto com moda.”
ativas, mais interessadas em tendên- Os dados encontrados pelo IEMI
confirmam isso. Os artigos de vestuário
encontram-se na quinta posição entre
os itens com maiores gastos das famí- lojas temporárias ou pop up stores,
lias brasileiras. Em média, cada família nas redes sociais, nos sites de bus-
gasta R$ 118,20 por mês com produtos ca. Para a marca se aproximar desse
desse segmento, ficando atrás dos itens novo consumidor, é imprescindível
de necessidades básicas: habitação, estar em vários suportes comunica-
alimentação, transporte e saúde. cionais e de venda, o que chamamos
A dica da consultora Tetê Rebello de omni channel”, explica. Ao se rela-
para o pequeno varejista de moda é cionar com a marca que desperta sua
investir em ferramentas digitais gra- atenção, ainda que não adquira um
tuitas. “O consumidor hoje é hiperco- produto da loja, aquele cliente esta-
nectado e está buscando a marca em belece uma relação de consumo com
todos os lugares, na loja física, nas ela. “Ele pode não ter poder aquisiti-

MAIO DE 2015 33
// COMPORTAMENTO //

vo para comprar determinada marca, PERFIS DE CONSUMO do que o planejado para exibir estilo ou
mas uma vez que a procura em um para mostrar a própria personalidade.
dos canais comunicacionais, já está Além disso, duas em cada dez pessoas
consumindo de alguma forma essa (22,8%) concordam que vale a pena fa-
marca. Consome a ideia, o conceito, zer uma dívida para comprar uma rou-
as experiências que ela propõe.” Funcional: pa que as tornem especiais, enquanto
Na prática, o novo consumidor de
moda já não se contenta em comprar
50,7% 21% dos entrevistados fazem gastos
não planejados somente para se senti-
escolhe suas compras de
um produto. Ele está atrás de experiên- acordo com o que já possui; rem valorizados.
cias que deem significado às aquisições geralmente compra em épocas Um estudo do IEMI, datado de 2012,
de liquidações
e justifiquem o consumo. Por isso, o também aponta distintos perfis de
pequeno empresário interessado em se consumidores de vestuário.
lançar no varejo da moda, explica a co- Para o diretor do IBModa, mesmo
ordenadora de moda do Sebrae no Rio com esses dados, ainda é difícil definir
de Janeiro, Fabiana Pereira Leite, deve Seguidor o perfil do consumidor de moda. “Idade
pesquisar e se planejar. “Comprar moda
tem muito a ver com autoestima, com a
36,8% e classe social já não são variáveis tão
importantes para segmentar o perfil do
gosta de moda e sempre
pessoa se sentir bem, por isso o varejis- procura novidades consumidor de moda. O que realmente
ta precisa pesquisar, principalmente, o vai definir é a própria moda ditada nas
comportamento de consumo e tendên- ruas, na internet, nas novelas, na vida
cias do comportamento do consumidor, pessoal”, acredita. Para André Robic, o
para entender o que faz uma pessoa grande desafio dos pequenos é enten-
sair de casa para ir àquela loja comprar Independente der o estilo de vida, aspirações e visões
um produto de moda”, ensina. de mundo do seu público-alvo e tradu-
José Vignoli, educador financeiro do 8,5% zir tudo isso na personalidade do seu
portal Meu Bolso Feliz, concorda que o consome roupas e acessórios negócio, nas peças de moda que vende.
somente em último caso, é
atendimento e ambiente acolhedores impulsionado apenas pela O professor Pastore defende que
conquistam o cliente. “O ato de com- necessidade uma boa maneira de alcançar esse
prar pode provocar uma sensação de público é investir em tecnologia e
bem-estar, euforia e relaxamento. Um relacionamento. “O pequeno ganha
ambiente propício induz ainda mais no atendimento, pois conhece seus
o consumo”, afirma Vignoli. Pesquisa Multiplicador clientes pelo nome e os atende pes-
recente do portal, com 656 consumi-
dores, aponta o comportamento do
4% soalmente, então, o que ele precisa é
ter conhecimento e processos bem de-
é o primeiro a adquirir
consumidor de moda. Revela que 64,2% novidades, lê e se informa finidos, investir em tecnologia – e hoje
fizeram compras, por impulso, de arti- sobre moda, gosta de consumir isso é barato, existem softwares de
marcas e tem maior gasto
gos de que não precisavam, enquanto pessoal médio com moda gestão bem em conta – e estabelecer
14,7% dos consumidores gastam mais bons canais com o cliente”, defende.

34 VAREJO DA MODA // SEBRAE


BLOGUEIRAS E Há quem acredite que a moda de blo-
gs esteja passando, mas o Brasil ocupa
CELEBRIDADES o segundo lugar no mundo em relação

DA INTERNET ao alcance de blogs. Para Tetê Rebello,


investir nessa linha de divulgação ainda
APROXIMAM dá resultado. “Nossas pesquisas mos-
tram que as lojas que contratam cele-
A MODA DAS bridades para divulgar suas coleções
CONSUMIDORAS chegam a ter aumentos de 70% nas
vendas, além de visibilidade da marca

Fotos: Divulgação
Fenômeno que surgiu há poucos e reconhecimento. Mas isso é caríssimo,
anos, a explosão de blogueiras e celebri- então, o que vem funcionando muito
dades de internet que falam sobre moda bem são as blogueiras, as celebridades
e estilo de vida virou febre e é mais uma ou formadoras de opinião locais”, revela.
ferramenta de divulgação de tendências. A pesquisadora acredita que o au-
Há centenas de blogs brasileiros que fa- mento do interesse pelas marcas apre-
lam exclusivamente sobre o assunto, o sentadas por essas pessoas, em blogs e
que leva a um aumento natural do in- redes sociais, se deve a um “interesse
teresse pelo tema e, consequentemen- aspiracional”, ao desejo de saber o que
te, do consumo das marcas usadas por ocorre em classes mais altas. “Bloguei-
quem as divulga nessa mídia. Segundo ras mais conhecidas, como a Camila
dados da comScore – empresa mundial Coutinho (blog Garotas Estúpidas) ou
que observa o comportamento dos usu- a Thássia (do blogdathassia), que hoje
ários de internet –, mais de três quartos têm cachês de celebridades, represen-
da população online brasileira (77,3%) tam um aspiracional de classe A, de
acessam mensalmente blogs famosos marcas internacionais, que as consu-
em busca de informações sobre moda. midoras da classe C vão seguir porque
Alçadas ao posto de formadoras de querem saber o que elas estão consu-
opinião, essas celebridades que foram mindo, que marcas estão divulgando,
surgindo de forma despretensiosa come- que hotéis frequentam”, explica.
çaram a acumular milhões de seguidores, O varejista que decidir investir nes-
mostrando seu estilo próprio e contando se tipo de parceria, no entanto, precisa
histórias pessoais. A linguagem informal escolher personalidades que tenham o
e a proximidade com esses seguidores perfil do seu negócio. “Ele precisa es-
conferiram credibilidade aos blogs e, tar atento para não escolher alguém
assim, a postagem de conteúdos diários que não represente seu público. Às
abriu espaço para a divulgação de produ- vezes a marca está posicionada para a
tos, em parceria com marcas e lojas. classe C e o empresário quer trabalhar

MAIO DE 2015 35
// COMPORTAMENTO //

com uma blogueira que tem um per- de looks diários do Brasil. “O blog nasceu
fil mais para a classe A. Vai ficar uma para democratizar a moda. Era sobre
coisa meio desconectada”, ensina Tetê gente que usa moda, falando disso sem
Rebello. Nesses casos, vale investir ter estudado. Eu falo da valorização do
em uma blogueira antenada, viajada, próprio corpo, do estilo pessoal e de que
alguém mais ligado à moda, para par- não é preciso ter todos os lançamentos
ticipar de coquetéis, lançamentos de da temporada para construir um guarda-
coleções, editoriais e merchandising -roupa eficiente”, lembra Cris.
nas páginas próprias. “A dica para o Com um público fiel – em seu perfil
pequeno é achar essa referência na do Instagram são mais de 23 mil se-
cidade dele, que vai influenciar um guidores –, o site cresceu e acabou se
grupo próximo a ela para divulgar a tornando vitrine de marcas nacionais
marca, sempre de forma bem subjeti- interessadas em atingir possíveis con-
va”, afirma a pesquisadora. sumidoras. Esse movimento, na opinião
É preciso, entretanto, ter cuidado da blogueira, é algo natural e pode fun-
com a propaganda excessiva. O con- cionar, mas inspira cuidado: “As marcas
sumidor quer informações para se po- ganharam uma nova forma de se comu-
sicionar, quer conhecer aquilo que a nicar com as consumidoras de moda,
Fernando Martins

blogueira experimentou e aprovou, não mas não pode ser nada forçado”.
quer ver publieditoriais. Foi assim que o Cris inspirou toda uma geração de
movimento começou, mas algumas de- blogueiras de moda, que hoje tomam
las se perderam comercialmente e aca- conta da internet. A publicitária, no
baram perdendo seguidores. “Os blogs entanto, acredita que o papel desses si-
e redes sociais de celebridades são tes de moda deve ser fazer as pessoas
mais uma ferramenta que ajuda a for- pensarem a moda de forma diferente, e
mar uma opinião de moda, mas quem não incentivar o consumo desenfreado.
tenta forçar um consumo de marca ou “Esse movimento das superblogueiras
de produto acaba perdendo pontos”, de querer ditar moda, de querer fazer as
concorda André Robic. pessoas comprarem essa ou aquela mar-
ca, me dá uma preguiça enorme porque
elas se tornam ferramenta da escravi-
CRIS GUERRA – HOJE zação da moda. Acho lamentável que
VOU ASSIM (BH) essas jovens façam isso, ao invés de dar
ideias e provocar a inspiração”, critica.
No universo das blogueiras e celebri- Mesmo quando a parceria é com
dades da internet, o Hoje vou Assim, cria- pequenas lojas de varejo, a bloguei-
do pela publicitária mineira Cris Guerra, ra preza pela honestidade com as fãs.
em 2007, é considerado o primeiro site “Nunca fecho uma parceria sem pensar

36 VAREJO DA MODA // SEBRAE


em como apresentar essa marca ou loja a experiência com suas seguidoras,
para minhas leitoras de um jeito legal, aprendeu a gastar melhor, a investir
que tenha o meu olhar, a minha leitura em peças mais versáteis e a divulgar o
sobre aquilo que estou ‘vendendo’, para consumo consciente.
não virar apenas exposição de peças Para exemplificar isso, no blog – e
sem conteúdo”, explica. em seu perfil no Instagram, onde tem
A estratégia, segunda ela, que não 26 mil seguidores, e também no Fa-
fala em valores, pode ir desde partici- cebook –, Jojo exerce acima de tudo
pação em eventos na loja parceira, nor- a experimentação. Usa vestido como
malmente com direito a palestras sobre blusa ou como saia, mescla acessórios
moda e autoestima para as clientes, até que normalmente não andariam juntos,
sorteios de peças do varejo escolhidas mistura estampas e tecidos.
por ela, tudo com divulgação maciça A baiana, que mora em São Paulo,
e pensada de maneira conjunta com o divulga peças ou coleções novas de mar-
parceiro, via blog e redes sociais. cas parceiras em alguns de seus posts,
mas afirma que o blog nunca foi muito
comercial. “Várias marcas me procu-
JOJO – UM ANO ram para fazer parcerias”, admite. Mas,
SEM ZARA (SP) mesmo nesses “publieditoriais” ou posts
patrocinados, o Um ano sem Zara tenta
A conta corrente no vermelho e um inovar. “O jeito como eu escolhi fazer isso
armário abarrotado de peças mal-apro- é trabalhando com marcas que tenham
veitadas foram o estopim para a publici- filosofias parecidas com as minhas.”
tária Joanna Moura, a Jojo, decidir ficar Publicitária, Jojo faz questão de
365 dias sem comprar nenhuma roupa, dizer que “não vive do blog” e também
sapato ou acessório de moda. O desafio, não fala em valores, mas em seus posts
registrado em 2011 no blog Um ano sem publicitários sempre deixa claro que o
Zara – marca de fast fashion queridinha conteúdo é resultado de uma parceria
da blogueira – conquistou uma legião de comercial. “Minhas leitoras sempre sa-
fãs e de marcas interessadas em utilizar bem quando estou falando de roupas
Divulgação

sua imagem para divulgação. e acessórios de uma loja ou de uma


“Eu me obriguei a entrar em absti- marca nova”, admite. “Acho interes-
nência porque tinha acabado de voltar sante, para o pequeno varejista, criar
de uma viagem a Nova York devendo estratégias para que minhas leitoras se
quase um mês de salário e com um ar- interessem em ir até a loja dele, então
mário cheio de roupas paradas. Vi que fazemos desde descontos para minhas
era hora de parar de gastar”, explica. seguidoras até promoções com peças
Ao controlar suas aquisições e dividir que escolhi na loja”, explica.

MAIO DE 2015 37
// COMPORTAMENTO //

AGATHA eu compraria e que uso fora dos meus


trabalhos profissionais. E as marcas que
SILVESTRE – (DF) me procuram me reconhecem como uma
possível cliente ou um rosto com o qual
Na direção oposta da maioria das suas clientes se identificam”, acredita.
celebridades da internet, o sucesso da
atriz e modelo brasiliense Agatha Sil- NICHOS
vestre nas redes não veio de um blog,
mas de um canal de humor no Youtube, MODA
o “Canal Só 1 Minuto”. No ar semanal- SUSTENTÁVEL
mente, ao lado do ator Bernardo Felinto,
com vídeos sobre situações cotidianas No mercado de varejo da moda, uma
da vida de um casal, a atriz começou boa tática é investir em nichos especí-
a ser procurada por lojas e marcas in- ficos. A moda sustentável é um deles e
teressadas em emprestar peças para os tem conquistado mercado em estados
figurinos dos personagens. como Acre e Amazonas.
Notou, então, o surgimento de uma Com o projeto Comprador, do Se-
nova oportunidade de trabalho: a di- brae no Acre, as biojoias e os sapatos
vulgação desses parceiros. “Temos mais artesanais da região começaram a
de 8 milhões de acessos e 126 mil ins- ser vendidos no atacado para grandes
critos no canal do Youtube e as pessoas centros. As feiras ganharam força e
sempre perguntam a marca das roupas dez lojas de artesanato foram aber-
que estou usando, do sapato, onde en- tas somente em Rio Branco. O gestor
contrar o modelo”, revela. do projeto, Aldemar Maciel, diz que
A atriz, que utilizava suas redes so- “o trabalho todo começou com a in-
ciais para divulgar fotos de editoriais tervenção do nosso núcleo de design
de moda que havia feito, passou a reco- para sugerir novos produtos e aper-
mendar marcas e lojas em seus posts. feiçoamento dos que já existiam. A
Em alguns casos, Agatha cobra um partir daí os artesãos aumentaram e
valor e negocia a quantidade de posts diversificaram a produção”.
que fará em seu perfil no Instagram – que Vice-presidente da Cooperativa de
tem mais de 12 mil seguidores – ou no Produtos e Serviços Econômicos e So-
Facebook. Em outros, publica looks que lidários do Acre (Cooesa) e criadora
achou interessante das marcas com as da Associação Sementes Vivas, de Rio
quais tem mais afinidade, mesmo sem Branco, a artesã Maria de Fátima Ta-
receber pagamento por isso. “Até nas borga credita ao Sebrae a fama inter-
parcerias comerciais, escolho coisas que nacional das biojoias acrianas. “A gen-
Divulgação

tenham o meu perfil mesmo, peças que te trabalhava no quintal de casa, mas

38 VAREJO DA MODA // SEBRAE


com a ajuda do Sebrae, nossas biojoias
já ganharam o mundo, vendemos até
para uma rede espanhola de lojas de
departamentos”, comemora.
Após os cursos de design e capacita-
ção, as joias, produzidas com sementes
locais, ganharam um olhar de moda.
“Somos sustentáveis pelo cuidado na
colheita das sementes, pelo respeito
aos processos de manejo e beneficia-
mento, mas passamos a pesquisar ten-
dências, cores e modelos que estão na
moda, que chamam a atenção do con-
sumidor”, explica Fátima.
Fotos: Divulgação

Mesmo sem saber da existência de a pensar em sapatos com aquilo que a


um movimento em torno do consumo UnB tinha me ensinado e vi que, usan-
sustentável, em 2007 o seringueiro do a borracha nativa, podia fazer um
e artesão acriano José Rodrigues de produto bonito, e também ecológico”,
Araújo foi pioneiro no mercado de sa- explica. As peças, feitas por ele e a es-
patos ecológicos no estado. “Toda vida posa, Delcilene de Araújo Campos, têm
eu sempre cortei seringa, desde os maior valor agregado ambiental.
meus dez anos de idade, mas depois de Os produtos, vendidos em feiras e
um curso da Universidade de Brasília lojas da região, ganharam o Brasil e o
(UnB) e do Sebrae, vi que tinha como mundo. “O Sebrae me ajudou a pensar
fazer arte com o látex”, conta. meu produto, montar preço, vender
Para criar os produtos, Rodrigues para o governo, para os turistas. Ainda
reúne os ensinamentos tradicionais, re- não consegui montar um ponto de ven-
passados pelo pai, também seringueiro, da em São Paulo ou no Rio de Janeiro,
com a técnica da Folha de Defumação mas esse é o meu sonho e acredito que
Líquida (FDL), desenvolvida pelo Labo- vou realizar um dia”, idealiza.
ratório de Tecnologia Química (Lateq) Durante o processo de profissionali-
da UnB, que deixa a borracha mais lim- zação, o seringueiro participou de outro
pa e fácil de trabalhar. Após dominar projeto no estado, o Acre Látex Design
a técnica e aplicá-la na fabricação de Lab, idealizado pelo Centro de Pesquisa
coloridos sapatos, sandálias e sapati- do Instituto Europeu de Design (IED) de
lhas, ficou conhecido como “Doutor São Paulo, para difundir a cultura dos
Borracha” na região de Epitaciolândia, povos indígenas e possibilitar a gera-
a 243 km de Rio Branco. “Eu comecei ção de renda às famílias de seringuei-

MAIO DE 2015 39
// COMPORTAMENTO //

ros acrianos. Um grupo de designers


e professores da instituição ministrou
oficinas e novas metodologias para que
os artesãos aprimorassem as técnicas.
“Cada artesão é um multiplicador e de-
pois dos cursos, leva os conhecimentos
adquiridos à sua comunidade”, explica
a arquiteta e light designer Marlúcia
Cândida. Depois de montar um catálo-
go com peças mais comerciais, voltadas
para o mercado estrangeiro, o “Doutor
Borracha” foi convidado a apresentar
suas peças no Espaço Brasil S/A do Sa-
lone Internazionale del Mobile (Salão
Internacional do Móvel) de Milão, na
Itália.
Hoje, além da fabricação e ven-
da dos sapatos, das feiras e viagens
nacionais e internacionais, o doutor
Fotos: Divulgação

Borracha trabalha na capacitação de


outros seringueiros e participa de ex-
posições, sempre com um olhar vol-
tado para o meio ambiente. “Gosto
de ser artesão, me vejo como artesão,
mas nasci seringueiro. Acho que sou específica, o público evangélico des- ção das consumidoras e rendeu à Cleide
um defensor da floresta”, filosofa. ponta, agora, no mercado da moda. o primeiro lugar na categoria Microem-
A intensa procura por roupas mais preendedor Individual da etapa estadual
comportadas, mas sem perder a sofis- do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios,
MODA ticação, e a dificuldade em encontrar em 2014, com o relato intitulado “Empre-
EVANGÉLICA opções em Vilhena (RO), levaram a endendo a moda evangélica com fé e de-
empreendedora Cleide Almeida Souza dicação”. Ao participar da etapa nacional,
Em franco crescimento, os evan- Soares a abrir a loja Guerreira Moda a empreendedora se emocionou: “Fiquei
gélicos já representam 25% da po- Evangélica. O estado possui grande surpresa e muito feliz por ser reconhecida
pulação brasileira, segundo dados concentração de evangélicos, 27,7% da e representar as mulheres empreendedo-
do IBGE. Há doze anos, eles eram população local, e o nicho se mostrou ras em um prêmio desse nível. Isso traz
apenas 15% da população no Brasil. atraente. “É um mercado inovador, mui- muita motivação, pois nós, mulheres,
Fiel em relação à compra de produtos ta gente procurava essa moda”, afirma. passamos por muitas dificuldades para
fonográficos originais e de literatura O empreendimento chamou a aten- ter o próprio negócio”.

40 VAREJO DA MODA // SEBRAE


// CONECTIVIDADE //

REDES SOCIAIS VERSUS


VAREJO DA MODA
Mais de 120 milhões de brasileiros estão conectados à internet
e a publicidade nas redes sociais ganha força dia a dia

P
ode parecer clichê dizer que alavancado pelo surgimento do byMK,
está na moda trabalhar o vare- precursor da rede social de moda, criado
jo da moda nas redes sociais, por ele e Renato Steinberg para suas es-
mas os dados não mentem. posas, Marcela e Karen, com a proposta
Os varejistas do setor que investem no de ser uma loja virtual de moda. “Nosso
relacionamento digital com seus consu- site deu voz ao consumidor. Antes dele,
midores conquistam seguidores, conhe- você via tendência nas novelas ou revis-
cem melhor seu público-alvo, divulgam tas. Com ele, pela primeira vez, a pessoa
suas peças e, acima de tudo, vendem tinha uma ferramenta em que podia se
mais. O número de brasileiros conecta- expressar, mostrar o que gostava e o que
dos à internet passa dos 120 milhões, não gostava, antes do Instagram e dos
estando 98% deles cadastrados em al- blogs ficarem famosos.”
guma rede social, sendo o Facebook a O sucesso do site conquistou inves-
plataforma com maior número de usu- tidores e os sócios o transformaram
ários. Os dados são da empresa E.Life, no Fashion.me, que em menos de um
líder em monitoramento, análise da mí- ano já tinha mais de 1 milhão de usu-
dia gerada pelo consumidor e gestão de mente ligado ao avanço das redes sociais ários e 600 mil visualizações por dia.
relacionamento em mídias sociais na no Brasil. “As redes permitiram que qual- Na rede social segmentada, as marcas
América Latina e Portugal. quer pessoa tivesse acesso às marcas e podem usar seus perfis como vitrine
Para Flávio Pripas, criador da rede de lojas, aumentaram o debate em torno das peças, que são utilizadas por to-
moda Fashion.me, o crescimento do in- do assunto, democratizaram a moda”, dos os outros usuários para criar looks
teresse no mercado de moda está direta- acredita. O movimento, segundo ele, foi exclusivos. “Nunca vendemos nada no

MAIO DE 2015 41
// CONECTIVIDADE //

Fashion.me, apenas indicamos onde a


pessoa pode comprar aquela peça de Instagram: #parafazerbonito
que gostou. Encurtamos as distâncias
entre marcas e consumidores”, explica • Não perca seus objetivos de negócios de vista: considere como o
o criador da rede. Instagram pode colaborar para sua estratégia de comunicação.
Os números brasileiros de interação O objetivo é aumentar o conhecimento da marca, mudar a
nas redes já chamaram a atenção do percepção ou atingir um novo público?
jornal Wall Street, que classificou o Bra- • Pense no seu público: ninguém sabe mais do que você sobre o
sil como “capital das mídias sociais do seu negócio e quem se interessa por ele. Tenha sempre em mente
universo”, e da revista Forbes, que de- com quem você está falando.
finiu o país como o “futuro das mídias • Conte a sua história: mostre o que você tem de diferente de todas
sociais”. O diferencial, segundo Pripas, as outras empresas do mercado, seus bastidores, os processos
é que a rede social permite a divulga- criativos por trás do seu produto ou serviço. Compartilhe os
ção de tendências e facilita pesquisas momentos e o ponto de vista da sua marca.
de comportamento do seu consumidor. • Faça conteúdo de alta qualidade: não precisa ser profissional, mas
Porém, nesse contexto, não há su- o conteúdo deve ser criativo e relevante para o seu público.
cesso sem os adequados planejamento • Teste: experimente formatos, temas e abordagens diferentes.
e integração. É preciso entender que há Assim você irá entender e mapear o que gera mais engajamento
inúmeras plataformas de redes sociais em seu perfil. Tenha em mente que a internet pode ser um
digitais disponíveis, cumprindo finalida- grande filtro de pesquisa para a sua marca.
des diferentes para perfis de públicos e • Conte para as pessoas que você tem um Instagram: coloque o
estilos de vida distintos. O Twitter possui endereço do seu perfil no Instagram nas outras comunicações que
pouca aplicabilidade para as marcas do você faz.
segmento de vestuário e acessórios. No
Facebook, é possível criar um relaciona-
mento com o cliente e também fazer um
histórico da marca por meio da timeli-
ne da página. O Pinterest pode ser um
grande catálogo virtual e o Tumblr, um
site para posicionamento da marca. O
Fashion.me é uma grande vitrine social,
em que as pessoas conhecem os produ-
tos e podem se posicionar sobre eles. net, como o site Imprima 3D, o Pinte- caz quanto o Instagram. “O estilo das
O especialista em mídias digitais rest – rede social extremamente visual fotos postadas no Instagram vai dizer
Wagner Tamanaha recomenda o uso do e que é muito usada para o comércio tudo sobre a marca, as peças e o que
Facebook, Twitter e sites para promover virtual – e a tendência do cosplay, ou você oferece para o consumidor. Isso
o “boca a boca”. Ele cita novidades e festas temáticas de épocas. Mas para cria uma imagem mental do que é a
tendências para o segmento na inter- moda, nenhuma rede tem sido tão efi- sua marca e ajuda a definir o público-

42 VAREJO DA MODA // SEBRAE


-alvo, qual segmento você quer atingir.
É uma ferramenta perfeita de posicio-
namento de marca”, elogia Pripas.
Não por acaso, no Instagram, con-
forme o documentário Mundo S/A, do
canal Globo News, a hashtag #fashion
já foi postada mais de 100 milhões
de vezes no mundo todo. No Brasil,
a hashtag #moda aparece 5 milhões
de vezes. A plataforma alcançou mun-
dialmente, no começo do ano, o nú-

Saionara Bandeira
mero de 200 milhões de usuários ati-
vos, e, embora não divulgue números
regionais, por entender que “todas as
pessoas cadastradas no Instagram fa-
zem parte de uma grande comunidade
criativa”, já conta com 20 bilhões de versam, porque trabalham a verdadeira MARIA CANELA – RS (SAPATOS
fotos. Em média, são compartilhadas democratização da moda”, acredita. FEMININOS)
60 milhões de fotos por dia, gerando Alguns varejistas menores e marcas
cerca de 1,6 bilhão de likes diários. que estão começando usam a plata-
KARINE DE BEM
Segundo a gerente de comunicação forma para fechar vendas, associada CARDOSO
do Instagram para a América Latina, ao whatsapp ou a contatos via e-mail.
Melissa Amorim, Instagram e moda Segundo Tamanaha, desde 2013 o Ins- Com pouco mais de 80 mil habi-
andam de mãos dadas. “A hashtag tagram disponibiliza, também, uma tantes, mas considerada uma das dez
#fashion esteve entre as cinco mais ferramenta de venda chamada Arco.vc, cidades gaúchas com melhor qualidade
usadas em 2013 e, atualmente, já conta em que o cliente pode usar um sistema de vida, Ijuí, no Rio Grande do Sul, foi
com mais de 14 milhões de menções no de pagamento via e-mail (Paypal), e a escolhida por Karine de Bem Cardoso
aplicativo (dados de outubro de 2014)”, que já tem 500 vendedores. “Apesar de para inaugurar a loja Maria Canela. “Eu
exemplifica. Para Melissa, as marcas e ainda não estar sendo muito utilizada, sempre fui apaixonada por sapatos, mas
a indústria da moda têm, no aplicativo, a ferramenta pode facilitar a conversão durante um intercâmbio nos Estados
a oportunidade de mostrar mais do que das redes sociais em vendas”, acredita. Unidos, onde gerenciei a Aldo Shoes,
suas roupas. “O Instagram é um parque Para os empresários interessados vivenciei vários padrões de gestão que
de diversões para pessoas criativas. em utilizar o Instagram para divulgar incentivaram ainda mais o meu sonho
Nesse cenário, os pequenos negócios de ou consolidar suas marcas e empresas de empreendimento: um novo conceito
varejo da moda reforçam e fortalecem a no mercado, a rede mantém um blog de loja de calçados”, conta.
relação do aplicativo com o universo da dedicado ao uso do aplicativo para A estratégia foi investir em sapatos
moda, independentemente do tamanho negócios: o Instagram for Business e acessórios de alto valor agregado, com
dos negócios e do público com que con- (http://business.instagram.com/). um mix de marcas famosas no país.

MAIO DE 2015 43
// CONECTIVIDADE //

“Meu diferencial sempre foram o estilo


e o serviço, não o preço”, explica Karine.
A empresária, pós-graduada em
Gestão de Varejo, abriu mais três lojas:
uma na cidade de Cruz Alta, outra em
Passo Fundo e um outlet em Ijuí. “Cada
loja tem seu estilo e seu perfil de con-
sumo bem definido, mas o sistema de
gerenciamento é interligado. Além de
ampliar o negócio, isso nos permite um
giro de mercadorias inteligente e não fi-

Fotos: Saionara Bandeira


camos com estoque parado”, revela.
Karine acredita que o sucesso do
negócio está na proximidade possi-
bilitada pela internet e redes sociais.
“A loja tem a minha cara, então, as
clientes me adicionam no Instagram,
reservam sapatos pelo meu whatsapp,
mas nos procuram também no nosso
perfil no Facebook, no nosso site, é
uma relação muito legal”, revela.
Em parceria com o Sebrae, a em-
presária foi uma das coordenadoras
do projeto de revitalização da Rua 15,
que possibilitou o desenvolvimento SO CUTE – DF (MODA FEMININA)
do varejo local. “Foi um projeto incrí- KAROLINY BUHCOOL
vel, uniu os empresários, permitiu que
os vizinhos se conhecessem e trocas- A estilista brasiliense Karoliny Buh-
sem experiências durante as obras de cool tinha apenas 18 anos quando co-
melhorias nos comércios, melhorou meçou a vender peças desenhadas por
o varejo da moda da cidade como um ela em feiras. Hoje, a So Cute pode ser
todo”, explica. As técnicas aplicadas na encontrada em duas lojas superfemini-
gestão do negócio já lhe renderam um nas e acolhedoras, e nas redes sociais.
prêmio da marca Schutz como melhor “Nossas lojas são muito procuradas, mas
estrutura nacional. Hoje ela está entre como não ficam em pontos comerciais
as 50 maiores compradoras da marca muito estratégicos, nossas consumido-
e ficou entre as finalistas estaduais do ras só chegam até elas depois de serem
Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. atingidas pelas redes sociais”, explica.

44 VAREJO DA MODA // SEBRAE


Antes de abrir seu e-commerce, o
perfil no Instagram e no Facebook era
utilizado para venda direta das peças da
marca. O whatsapp da So Cute também
virou canal de vendas, mas a empreende-
dora preferiu investir em uma loja virtual
para aprimorar a gestão do negócio.
O ponto comercial fixo só surgiu
quando a estilista juntou dinheiro para
abrir a própria loja. “Escolhi um bairro
onde grande parte das minhas clientes
das feiras morava, mas acabei sendo
surpreendida pela procura em Tagua-
tinga (região administrativa do Distrito

Fotos: Camila Rotta


Federal, localizada a 20 quilômetros
do Plano Piloto) e abri uma filial nos
mesmos moldes”, revela. O resultado foi
inesperado: a segunda unidade vende
20% mais que a matriz. AVEC AMOUR – SP “Tenho um espaço físico pequeno, mas
Com roupas românticas, a So Cute (MODA TAL MÃE, TAL FILHA) acolhedor, onde recebo amigas e clien-
investe também em blogueiras e ce- RAQUEL TREVISI tes com bolo, cafezinho. Nosso e-com-
lebridades locais para divulgar as merce e as vendas pelo Instagram, no
coleções. “Nosso trabalho de mídia é O sucesso que as fotos com a filha entanto, dão muito mais retorno”, reve-
bem redondo, com fotógrafos legais caçula faziam nas redes sociais inspi- la. No começo, em 2013, Raquel – que
e modelos que têm a nossa cara, mas rou a blogueira paulista Raquel Trevisi cria toda a coleção e terceiriza mode-
sempre convidamos as blogueiras da a lançar a Avec Amour – marca de moda lagem e produção – produzia 50 peças
cidade, as formadoras de opinião para “tal mãe, tal filha”. “Ser mãe de menina de cada microcoleção. Hoje já são mais
conhecerem e acaba tendo um retorno é muito inspirador, torna o mundo mais de 200 peças por mês. “
legal porque elas têm muita influên- colorido, mais enfeitado. Decidi trans- Ao afirmar que as redes sociais são
cia nas redes sociais, que são o nosso formar minha inspiração em moda de- a alma do negócio da Avec Amour, Ra-
foco”, explica a estilista. pois que percebi um interesse nas fotos quel alerta: “O lado positivo é a venda
Karoliny é responsável por toda a que publicava ao lado da Anita vestindo e o contato direto, que permite receber
gestão do negócio, desde o trabalho de roupas parecidas”, explica. um feedback de forma muito rápida. O
divulgação ao atendimento personaliza- As vendas acontecem em um pe- lado negativo é que essa ferramenta
do nas lojas e nas redes sociais. “Desde queno varejo em Presidente Prudente deixa o consumidor mais exigente e,
o começo me preocupei em fazer cursos (SP), onde a empreendedora investe se você falhar no atendimento, essa
no Sebrae e me aperfeiçoar para garan- em coquetéis e na relação com as clien- insatisfação se tornará pública imedia-
tir que a So Cute cresça saudável.” tes, mas o lucro maior vem da internet. tamente. Você não pode errar”.

MAIO DE 2015 45
// CONECTIVIDADE //

QUE ISSO QUERIDA! – RJ


(MODA FEMININA)

CHLOE LERINA E
MARIANA CINTRA
As amigas e sócias da marca carioca
Que isso Querida!, Chloe Lerina e Maria-
na Cintra, souberam unir, como poucas,
o perfume vintage de suas peças com
novas tecnologias, gadgets, mídias e

Fotos: Divulgação
redes sociais. “Começamos com o Face-
book, criamos um blog, depois passamos
para uma atualização diária do perfil
do Instagram e estamos relançando o
e-commerce”, explica Mariana. logo que ela postou a foto usando a QiQ
Para as estilistas, o investimento de mais de 200 pessoas começaram a nos
tempo e atenção aos consumidores nas seguir. Foi instantâneo”, conta Mariana.
redes sociais é válido. “O Instagram nos A marca, que começou há três anos,
dá um resultado imediato, as pessoas conquistou clientela e, depois de partici-
querem comprar pelo nosso perfil, agen- par de diversas feiras, foi convidada pelo
dam visitas por lá, são marcadas por Sebrae no Rio de Janeiro a fazer parte do
amigos nas nossas fotos e se identifi- grupo Nucleum Moda, que oferece uma
cam com a marca”, comemora Mariana. curadoria a novos talentos. “Desde o co-
Os perfis são utilizados para convidar meço do grupo participamos do Fashion
pessoas para eventos que ampliam as Business, que depois virou Salão Bossa
possibilidades de negócios. “Como so- Nova, do Fashion Rio, onde ampliamos
mos uma marca muito pequena, ainda nosso leque de clientes no atacado, e
conseguimos ser intimistas. Queremos aprendemos sobre este mercado. O Se-
encantar o consumidor, queremos que brae abriu muitas portas para a gente,
ele nos acompanhe e que não seja ‘só para o nosso crescimento.”
mais um’ na nossa timeline.” Hoje, as estilistas investem em uma
A QiQ também é queridinha das grade enxuta, mas estão abertas a pe-
blogueiras, mesmo que Chloe e Maria- didos mais personalizados. “Agora, que
na nunca tenham desembolsado um estamos nos estruturando melhor no
centavo em parcerias com blogs. “Já varejo, se alguém quiser comprar para
aconteceu de mandarmos uma peça vender em multimarcas e pedir uma
para a Camila Coutinho, por exemplo, e grade pequena, nós fazemos.

46 VAREJO DA MODA // SEBRAE


// E-COMMERCE //

COMPRAR
ROUPAS PELA
INTERNET
VIRA MODA
Há dois anos, setor lidera e-commerce
com perspectivas de crescimento e atrai
empreendedores do tradicional varejo

N
o primeiro semestre de
2014, o comércio eletrô-
nico no Brasil faturou R$
16,06 bilhões, o que re-
presenta um crescimento nominal de
26% em relação ao mesmo período de
2013, segundo pesquisa da empresa
e-bit. No último biênio, a categoria
moda e acessórios tornou-se líder ab-
soluta de vendas e movimentou 18%
do número total de pedidos na web.
Há um ano, o comércio de roupas pu-
lou de 13,7% para o patamar atual.
Há 26 anos no mercado, a empresa
Adriana Rufato (SP) pôs a marca em
sistema online em 2013, contratando

MAIO DE 2015 47
// E-COMMERCE //

Fotos: Divulgação
quatro funcionários. Um ano depois, TV Sebrae, para a necessidade de estu-
dobrou a equipe e aumentou as vendas dos dos detalhes antes de pôr o site no
em 43,3%. Na loja virtual Adriana Rufa- ar. “É como a montagem de um quebra-
to, o e-consumidor, além de escolher as -cabeça. É preciso entender bem do ne-
estampas das camisetas, pode sugerir gócio antes de escolher a plataforma de
uma criação exclusiva. navegação. É necessário customizá-la
A decisão de entrar no e-commerce com seu produto. Depois, o empresário
de moda foi planejada. O empresário precisa dominar desde os riscos de frau-
José Claudemir Rufato revela: “Alte- des ao sistema de logística reversa, em
ramos desde a configuração do produto caso de devolução do produto”, ensina.
vendido até a aquisição de máquinas e
equipamentos que viabilizariam a ope- VITRINES VIRTUAIS
ração, incluindo a compra de softwares.
A equipe exclusiva do e-commerce tem Se hoje o mercado de moda lidera
o compromisso de atender ao pedido o comércio eletrônico, foi necessário
do cliente e o produto é postado em vencer alguns tabus. O primeiro deles:
menos de 24 horas”. a percepção táctil da mercadoria. Para
vencer a experiência física dos prova-
QUEBRA DAS PAREDES dores das lojas, é preciso investir na
qualidade da foto do produto oferecido,
Pôr um negócio na internet significa na descrição das peças e no design do
tê-lo funcionando 24 horas e em rede site. “É preciso criá-lo como se estivesse
mundial. É a implosão das quatro pare- decorando uma vitrine”, ensina o pro-
des e do regime em horário comercial. fessor Paulo Chacur.
A lógica de vendas e de operação muda Transformar a apresentação das
completamente em relação à loja físi- roupas em quase um ensaio de moda,
ca. No mercado desde 1995, a Therelli com modelos profissionais clicados em
(SP) experimentou a abrangência ao estúdios, além do detalhamento de
entrar no e-commerce. “No mundo do acabamento da peça. Esse é um dos
e-commerce, não existem paredes que segredos da marca Gabriela Faraco,
barrem os limites de alcance nacional de Santa Catarina, cujo site tem um
que a Therelli possa atender, diferen- cuidado especial com o tratamento
temente de uma loja física, na qual a visual. E é Gabriela quem fotografa
presença da marca depende da quan- e movimenta as mídias sociais. “Não
tidade de lojas”, aponta a proprietária e tenho loja física. Tenho uma fábrica.
estilista Teresa Lima. Meu produto ganha o mundo pela in-
Especialista em e-commerce, Paulo ternet. É muito importante valorizá-
Chacur alerta, em palestras virtuais na -lo em detalhes”, conta.

48 VAREJO DA MODA // SEBRAE


EXPERIÊNCIA ao novo empreendedor de e-commer-
ce. “O mercado está saturado de lojas
CRUZADA generalistas, portanto, novos negócios,
com foco em nichos, tendem a fazer su-
Planejado em 2008, por sócias vin- cesso. Além disso, o e-commerce requer
das de experiências diversificadas, o site altos investimentos, portanto, faça um
OQVESTIR (SP) tem um diferencial: plano de negócios.”
cruzar as vendas do e-commerce com a
curadoria de moda, hoje feita comumen-
te pelos blogs. O público-alvo é a mulher DAFITI EXPANDE SITES
da vida real, que trabalha, brinca com os PARA QUATRO PAÍSES
filhos, vai a um jantar romântico ou de
negócios. Para essa consumidora, o site Maior empresa de e-commerce de
oferece não só o portfólio como também moda da América Latina (são 1.700
possibilidades de combinações, esco- funcionários envolvidos em toda a ca-
lhendo as melhores peças das mais de deia produtiva do Brasil), a Dafiti é um
180 marcas parceiras. exemplo de como seduzir o e-consumi-
Uma das pioneiras no e-commer- dor pelos olhos. No primeiro momento,
ce de moda, a loja virtual OQVESTIR a peça aparece numa visão global. Ao
venceu preconceitos de todos os tipos. passar o mouse, ganha um zoom que
Muitas marcas não queriam se associar destaca a estampa. Se o internauta
às vendas online, mas “com foco na ex- optar em clicar o botão “espiar”, vai en-
celência do conteúdo e serviço de aten- contrar uma série de fotos da criação
dimento ao cliente, conseguimos ultra- em si e do caimento num modelo (em
passar as barreiras”, revela a empresária vista de frente, de costa e de lado). Se
Mariana Medeiros. Ela dá um conselho desejar, pode ainda passear pela janela

MAIO DE 2015 49
// E-COMMERCE //

Fotos: Divulgação

Galpão da Dafiti

“detalhes do produto”, na qual terá in- de online no primeiro ano de existên- as características do produto (tamanho,
formações pormenorizadas sobre a ma- cia. Só em 2012, foram 2,3 bilhões de numeração e cor). “O ideal é que a plata-
téria-prima e as medidas do modelo. visualizações em anúncios. Hoje, os forma baixe automaticamente o produto
Um dos quatro sócios da Dafiti, o ale- principais portais de notícias, blogs e as quando o e-consumidor efetuar a com-
mão Malte Huffmann, conta que, em redes sociais estão repletos de banners pra”, destaca Paulo Chacur.
2011 (ano da criação), havia demanda de patrocinados – o que ajudou a fortale- Outro aspecto crucial é a política da lo-
mercado, mas poucas empresas tinham cer a relação entre o e-consumidor e a gística reversa (devolução), caso o cliente
boas ofertas. Contra o negócio, imperava e-loja, criando um nível de satisfação rejeite o produto. Primeiro, deve-se avaliar
o ceticismo: moda na internet era um de 90% (contra 74% do e-commerce). se o produto tem avarias e se há possibili-
negócio fadado a não dar certo. “Começa- dade de seu retorno ao site. É preciso que
mos com sapatos e foi um sucesso ime- SEGMENTO REQUER esteja assegurada a troca imediata caso
diato, aumentando o tráfego de clientes CUIDADOS ESPECIAIS algo esteja em não conformidade com a
para o site”. Do Brasil, a marca expandiu compra. No caso da moda, essa equação é
sites autônomos para o Chile, a Argenti- Apesar de seguir as regras básicas da sensível. Ao receber o produto em casa, o
na, a Colômbia e o México. Recentemen- operação de uma loja virtual, o e-com- e-consumidor vai reproduzir aquela rela-
te, construiu um centro em Jundiaí capaz merce de moda requer alguns cuidados ção táctil e perceptiva que faria se tivesse
de armazenar 10 milhões de peças. especiais de gestão. As peças que estão visto o produto pela primeira vez numa
O surgimento da Dafiti mudou a re- à venda na plataforma devem espelhar vitrine. E essa experiência continua sendo
lação de mercado, sobretudo, porque a fielmente as encontradas nas prateleiras o ritual que celebra o namoro ou a sepa-
empresa investiu pesado em publicida- físicas, sobretudo, nos itens que definem ração entre o corpo e a roupa.

50 VAREJO DA MODA // SEBRAE


SEBRAE APOIA
O E-COMMERCE
Na internet, o Sebrae está no ar
24 horas com conteúdo de qualidade
sobre e-commerce em vídeos, publi-
cações e artigos voltados à complexi-
dade do segmento. Presencialmente, E-COMMERCE
o Sebrae ajuda em duas fases cru- NO BRASIL
ciais: na abertura e no andamento do
e-commerce. • 1 em cada 3 empresas opera
Em primeira instância, o Sebrae exclusivamente online
ajuda o empresário a entender passo • 58,3% têm até 3
Divulgação

a passo o processo antes de iniciar as funcionários


vendas virtuais. É a fase de planeja- • 7 é a média de funcionários
mento, conceituação, posicionamento em operação no e-commerce
A VEZ DO e definição de público-alvo e plata- • 67,4% das operações de
M-COMMERCE forma de trabalho. Depois, aponta e-commerce foram criadas
ferramentas de como gerir com mais entre 2011 e 2014
Hoje não basta ter um bom site eficácia e produzir melhores resulta- • 57,3% das empresas
de moda. É preciso investir em apli- dos. “O e-commerce no Brasil cresce afirmam operar com lucro
cativos para o sistema móvel que expressivamente desde 2007. Mas, • 57,7% é a taxa média de
movimenta o m-commerce. Segun- nos últimos dois anos, houve uma de- abandono do carrinho de
do relatório da e-bit, o crescimento manda maior em função do aumento compras
de compras com aparelhos móveis
subiu 84% no primeiro semestre de
dos internautas que preferem comprar • 137 pedidos médios mensais
via internet. A confiabilidade aumen-
2014. Em relação ao mesmo período • 18% dos sites recebem
tou entre as lojas e os clientes”, obser-
de 2013, os números são mais im- 1.000 pedidos por mês
va Hyrla Marianna, coordenadora na-
pressionantes. • 18% utilizam Whatsapp
cional de e-commerce da instituição.
Houve uma variação de 102%, para atender clientes
Uma das contribuições do Sebrae é
movimentando R$ 1,13 bilhão em
a Primeira Pesquisa Nacional de Vare-
• 6,4% é o custo da logística
compras e 2,890 milhões de acessos. reversa
A maioria dos aparelhos utilizados jo Online. Realizada em junho e julho
(60%) é de tablets contra 40% de de 2014, a amostragem demonstra • 84,1% de vendas estão no
Sul e Sudeste
smartphones e o segmento Moda e que a força do e-commerce no Brasil é
Acessórios é o mais procurado (17,5%). crescente e desafiante.

MAIO DE 2015 51
// BRANDING //

QUANDO A
MARCA É O
PATRIMÔNIO
Daniel Pinheiro/Divulgação

Cada vez mais


É
quase impossível dissociar Sócio da Ana Couto Branding (SP), Da-
moda de marca. Os conceitos nilo Cid exalta essa íntima relação entre
adotado no estão tão interligados que o moda e marca destacando que, ao evocar
Brasil, os estudos consumidor sabe ler o estilo de
uma roupa pelo legado que aquele logo-
estilos de vida, uma marca mexe direta-
mente com o sentimento e a autoestima
de branding tipo em alto relevo ou estampado traz. A do consumidor. “Isso é a fortaleza do
fortalecem velocidade e a fugacidade do mundo da
moda pedem um detalhado estudo so-
segmento moda. Nesse sentido, a marca
tem que ter, na sua construção, aspectos
a empresa bre a marca e sua capacidade de trans- que a tornem diferente do que existe no
para entrar mitir os valores embutidos. Esse sistema mercado, ser relevante para os públicos
de comunicação dinâmico, que envolve e ter um território consistente que a faça
no concorrido os bens tangíveis e intangíveis em torno memorável – e ainda conseguir lidar com
mercado de moda de uma marca, denomina-se branding. a volatilidade de tendências e estilos
Uma palavra que, para o bem da cadeia sem perder a coerência e a adesão à sua
produtiva de moda no Brasil, passou a proposta inicial. Esse é o grande desafio”,
ser pronunciada, com frequência, por propõe o diretor de criação.
quem quer associar a sua criação a con- Antes de chegar ao desenho, à pa-
sumidores que a desejam vorazmente. leta de cores, ao tipo de letra, à textu-

52 VAREJO DA MODA // SEBRAE


ra, a marca passa por esse minucioso vetor de gestão do patrimônio intangí-
processo de branding, que está inter- vel. É o que vai dar propósito, traduzir
ligado à fase de planejamento do ne- personalidade, construir valor e dar
gócio. É quando os empreendedores, fisicalidade ao produto tangível que
dentro de um mercado cada vez mais estará à venda. “Pessoas não se apaixo-
globalizado, conseguem dar alma ao nam por estratégias de negócios, mas
seu negócio. Criam uma singularidade podem se apaixonar pelas histórias
para a marca que vão pôr nas vitrines e que a marca conta. É com histórias que
sites, diferenciando-a. “As estratégias nos relacionamos. E isso parte de uma
de marca (branding) permitem pre- boa estratégia de marca.”
servar a identidade, mesmo com pro-
prietários e administradores de perfis
diferentes. Ajudam, por exemplo, a
UM JEITO TODO SEU
profissionalizar empresas familiares,
Essas histórias estão bem contadas
estabelecem ações de médio e de lon-
na marca MUV Shoes (DF), e-commerce
go prazo”, ensina o design, arquiteto e
que vende tênis personalizados. Com

Divulgação
mestre em educação Álvaro Guillermo,
formação em branding, Gabriel Lira,
no livro Branding design e estraté-
um dos três sócios, debruçou-se sobre
gias de marcas (Demais Editora).
a prancheta para estudar a marca que
O branding é o processo de estudo
simbolizaria o seu negócio. Ao lado da desenho de identidade de comunicação,
dinâmico que ajuda a clarear e desen-
amiga Rafaela Menezes, foi montando associando as linhas de tênis ao universo
volver esse complexo e delicado mo-
os pilares e conceitos que norteavam da música pop. Os modelos se referem a
mento chamado planejamento e estra-
a criação. A ideia original de que cada ícones como Mick Jagger, John Lennon e
tégia de negócios. É um plano vivo que Queen”, conta Gabriel Lira.
consumidor teria o tênis do seu jeito, no
vai nortear a marca no momento de O estudo de branding para a MUV
estilo “faça você mesmo”, tornou o negó-
contato com o consumidor. Para Dani- Shoes deu resultado imediato. Gabriel
cio único. No processo de concepção e
lo Cid, não há dúvidas. A conceituação Lira passou a perceber que o consumi-
planejamento da empresa, a MUV Shoes
da marca é a chave dessa equação. É o integrou uma série de treinamentos de dor se associa aos valores intangíveis
capacitação oferecida pelo Sebrae. embutidos na marca, como se estivesse
Assim surgiu, com força, a imagem vivendo uma experiência de ser autênti-
da assinatura como forma de fornecer co a partir da aquisição de um tênis que
crédito ao que é autoral e único. “A par- ele ajudou a idealizar. Sente que pulou
tir daí, pegamos o caminho criativo para etapas de conceituação do produto. “São
realizar uma série de estudos que chegou degraus que algumas empresas penam
às referências artísticas como o grafite, o para galgar. Percebo que nosso cliente
que definiu a tipologia da letra. Com essa olha a embalagem, o cartão de visita, o
primeira etapa definida, construímos um produto e vê a qualidade e a credibilida-

MAIO DE 2015 53
// BRANDING //

de que queremos passar. Alguns acham GLOSSÁRIO concorrência. É por isso, também,
que ela não pode ser confundida com
que somos uma multinacional. Não, so-
• Branding – Para a American Marketing outras ou ser tão “corretinha”, pois
mos uma pequena empresa.” passa despercebida.
Association, branding não é fazer com
A experiência da MUV Shoes mostra que um consumidor escolha a sua marca • Brand loyalty – A fidelidade à marca.
que branding pode e deve estar próxi- em vez da concorrente. É fazer com Os consumidores querem coisas novas,
que um potencial consumidor perceba mas que sejam relevantes, éticas e
mo ao negócio de pequeno porte. Ga-
a marca como a única solução para o tenham aderência aos seus estilos de
briel Lira observa que o custo com uma que ele busca. Branding é um sistema vida. É a fidelidade que vai permitir
empresa de design para desenvolver de comunicação que deixa claro por que a recompra, uma identificação mais
a marca importa. É achar e comunicar rápida em uma arena de consumo,
o projeto de branding pode ser ¼ do
algo que atraia os consumidores para a como uma grande loja, uma vez que
montante investido em infraestrutura. essa marca já faz parte do repertório
marca, em vez de você ter que caçá-los
Danilo Cid vai além. Para ele, o bran- de modos, algumas vezes, bem caros. do consumidor. A fidelidade só é
ding é uma estratégia de diferenciação • Brand equity – Mensura o valor do que construída com ações consistentes e
há de intangível na marca. Todas as bem implementadas, coerentes com a
eficaz em relação à enorme quantida-
dimensões psicológicas e emocionais personalidade da marca.
de de concorrentes. Portanto, inevitá- que estabelecem um vínculo profundo • Qualidade percebida – É o tipo de
vel para quem quer se estabelecer no entre a marca e seus públicos. qualidade que os públicos da marca
• Brand associations – A identidade percebem em todas as dimensões do
mercado. “Um investimento em marca,
da marca. É o conjunto de dimensões negócio: do produto, do atendimento,
compatível com a realidade do negócio, dos serviços e processos internos. Tudo
associativas e visuais que uma marca
traz resultados rápidos, seja na constru- pode fazer gestão e que vão além isso perpassa pelo território do branding,
ção de uma imagem clara, seja no de- de uma logo. Alguns envolvem cor da estratégia de marca da empresa. É
e textura, símbolos, iconografia, esse território que estrutura a qualidade
senvolvimento de uma cultura interna, visual, associativa, emocional e sensorial
tipografia, som, cheiro, forma,
seja numa proposta de valor que inspi- comportamento, ritual, navegação. de tudo o que é percebido pelos públicos
re o negócio e a criação e otimização de • Brand awareness – O conhecimento da marca. E é por causa dessa qualidade
da marca. Para a marca, ser conhecida que as pessoas convidam uma marca a
um portfólio de ofertas”, aponta.
é fundamental para ter seu lugar na fazer parte de suas vidas.
mente das pessoas diante da vastidão
OS CAMINHOS de ofertas e produtos e da grande Fonte: Danilo Cid (Ana Couto Branding)

DA CRIAÇÃO
Criar um território sensorial sinérgico que pois cada item é um capítulo da histó-
Quando um cliente procura Danilo vai passar por todos os estímulos visuais ria que contamos. E se o mercado exigir
Cid para conceituar a sua marca, ele (nome, símbolo, logotipo, cor, tipografia, mudanças, o sistema tem que ser bom
define um caminho aqui simplificado: imagem, texturas, ilustrações, tipo de o suficiente para que possa absorver es-
Ter clara a personalidade. Ter uma materiais etc.), pelo jeito de falar, de es- sas mudanças sem perder a coerência. É
proposta de valor que sintetize essa crever, de dialogar em redes sociais, pelo como uma substância que se adapta sem
personalidade e que inspire as pessoas treinamento dos vendedores, e assim por perder o seu reconhecimento.
que trabalham para a marca, os públi- diante. Pode-se, ainda, expandir para estí- Branding é um verbo no presente
cos em geral e suas coleções. mulos sensoriais, como cheiro e som. contínuo – o que significa que, todos os
Criar um campo associativo e visu- Toda essa estratégia precisa ser imple- dias, cada atitude tem de ser alinhada
al que potencialize essa personalidade. mentada com coerência e consistência, com esse plano. É disciplina diária.

54 VAREJO DA MODA // SEBRAE


// VISUAL MERCHANDISING //

As ferramentas
do visual
merchandising
tornam o ponto
de venda um
ambiente que
proporciona
ao cliente uma
experiência de

Divulgação
sentidos

LOJAS CRIAM ATMOSFERA


DE COMPRAS PARA
ALAVANCAR VENDAS

F
oi-se o tempo em que uma conjunto de técnicas, batizado de visu- deliciar-se com um suco de frutas da
loja de roupas se limitava a ter al merchandising. A ambiência sofisti- estação. Tudo agregado num espaço
meia dúzia de manequins na cou-se a tal ponto que o comprador cercado de cores e luzes harmônicas.
vitrine e um letreiro luminoso adentra num lugar único, estimulante “É o que chamamos de atmosfera de
para atrair clientes ao interior, a fim e complexo, onde os cinco sentidos es- compra, completamente envolta pelo
de remexer nos cabides, experimen- tão atiçados à flor da pele. marketing sensorial. Isso aumenta o
tar roupas no provador e levar para A sensação táctil de perceber a tempo de permanência do cliente na
casa, numa sacola estilizada, as novas textura de um vestido, por exemplo, loja”, conta a professora de comunica-
peças do guarda-roupa. Esse roteiro é mesclada a uma música que se es- ção e especialista em visual merchan-
simplista agora é alvo de estudos e palha pelo ambiente. É possível ainda dising Heloísa Omine, sócia-diretora
planejamentos que compreendem um sentir o aroma de flores do campo ou da empresa R2E by Shopfitting.

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// VISUAL MERCHANDISING //

marca algo especial. Uma experiência é


algo mais do que comprar. Aliás, se já
temos tudo, por que comprar mais um
sapato ou mais uma roupa? O visual
merchandising é que te faz querer ter!
É o sensível que é tocado, para que um
cliente entre na loja”, explica a Sylvia do-se também um elemento presente
Demetresco, sócia da empresa Vitrine. do visual merchandising. “O conceito
Autora do livro Vitrines e exposições é baseado no uso convergente da tec-
- Arte e técnica do visual merchandising nologia da informação para melhorar a
(Saraiva), Sylvia Demetresco clama aten- experiência de compra do cliente. Inte-
ção especial à vitrine, que, pela sua trans- gra os campos de interatividade, entre-
parência, “abre as vestimentas do seu tenimento, mobilidade, gestão, varejo
Fotos: Divulgação

mundo aos olhos dos que olham, para ser social, prevenção de perdas, otimização
vista e sentida”. Heloísa Omine faz coro de processos. Tudo visando a uma expe-
com os cuidados com a vitrine e diz que riência de compra diferenciada”, avalia
é preciso planejá-la. Definir, por exemplo, Regiane Relva Romano, presidente da
ESTÍMULOS a periodicidade de troca das peças, dese- Vip Systems Informática (SP).
DE CONSUMO nhar desde o início do ano as vitrines de O espelho interativo é uma das estre-
datas comemorativas. las do portfólio de Regiane Relva Roma-
O visual merchandising é o elo entre o no. Nele, o cliente tira uma foto e arrasta
projeto de mesa e a experiência sensorial LOJAS INTELIGENTES virtualmente as peças e acessórios em
do receptor. “Não basta desenhar o cená- 3D para a sua imagem, montando assim
rio, é preciso mergulhar na história que o diferentes looks. Se quiser, pode escrever
Parece cena de ficção científica, mas
envolve, entender o perfil desse cliente uma mensagem e compartilhar a ima-
não se espante se entrar num provador
potencial. Isso vai mover as decisões do gem para as redes sociais.
que se comunique desta forma: o cliente
projeto. E está totalmente ao alcance do experimenta um produto, que é identifi-
pequeno empreendedor, que precisa ou- cado com uma etiqueta eletrônica. No
sar num mercado saturado e altamente visor, a peça é mostrada em detalhes,
competitivo”, observa Heloísa Omine. com opções de cores e tamanho. Há
A construção da atmosfera de compra também o desfile de combinações com
transforma o ponto de venda na grande outras peças da coleção. Se o comprador
estrela do negócio, onde ganham des- gostou da sugestão, basta tocar na tela
taque a vitrine, a fachada, a disposição que um SMS chamará o vendedor ao lo-
da marca, o layout da loja, a organização cal, estabelecendo uma relação mediada
dos produtos e a sinalização e cartazis- pela interface lúdica e potente.
mo. “Hoje, o impacto, a experiência, a A tecnologia já chegou ao Brasil e se
vivência e o engajamento fazem de uma instala nos pontos de vendas, tornan-

56 VAREJO DA MODA // SEBRAE


Um sonho sobre rodas ção de roupas e acessórios, organização dor diante de uma loja planejada”,
de produtos e iluminação ideal para va- observa Gustavo Carrer, consultor de
Uma carreta de 15 metros de com- lorizar as mercadorias e conceitos. marketing do Sebrae em São Paulo.
primento e 55m² corta o estado de São Os visitantes recebem treina- Com um projeto arrojado e con-
Paulo para apresentar ao pequeno em- mento dentro dessa lógica de con- cepção de acessibilidade para defi-
preendedor os conceitos aplicados do cepção. “Eles saem bastante em- cientes físicos, a Loja Modelo Itine-
visual merchandising. Na Loja Modelo polgados e querendo utilizar essas rante circula gratuitamente pelas
Itinerante, o visitante entende a im- técnicas em seus pontos de vendas. cidades. “É fundamental também
portância das principais ferramentas do O interessante é que percebem a para quem quer abrir um negócio em
modelo de comunicação, como disposi- importância do olhar do consumi- moda”, destaca Gustavo Carrer.

O QUE É MARKETING tante que o comprador perceba o nível Audição: Uma boa trilha sonora
de organização e limpeza do espaço. O faz a diferença na construção da
SENSORIAL? estudo de cores (paredes, móveis) é fun- atmosfera de compras. O tempo musi-
damental e ajuda a aumentar o conforto cal lento evoca tranquilidade, leveza,
Com objetivo de fidelizar e aumentar dentro do espaço. Tudo deve estar bem enquanto o acelerado motiva a alegria.
o consumo, o marketing sensorial é a fer- sinalizado: caixa, provador, seções. Essa Observe o volume dessa trilha. Não
ramenta que se utiliza dos sentidos para comunicação visual pode ser criativa e pode estar acima do nível das conver-
proporcionar experiência de consumo se relacionar com a identidade da mar- sas. A presença de uma fonte de água
marcante e memorável no comprador. ca. Quem puder investir em iluminação numa loja promove a sensação de leve-
vai ganhar em conforto e destaque, com za. Cuidado com sons negativos, como
Visão: O mais poderoso dos refletores que provocam foco e contraluz barulhos irritantes internos (celulares
sentidos e o mais estimulado colorida, criando atmosferas diferentes. de funcionários, conversas extremadas)
num ponto de venda. Deve ser trabalha- Cartazes e displays com destaque da ou externos (buzinas e obras vizinhas).
do desde a zona de transição (fachada e coleção são mais que complementos,
vitrine) até o layout da loja (decoração, fornecendo ao consumidor um recorte Olfato: Provoca sensação de
móveis, manequins). É muito impor- estético sobre a criação. bem-estar e evoca memórias. De

MAIO DE 2015 57
todos os sentidos, é o único que não pode
ser evitado. Seja de qualquer natureza,
o cheiro quando invade o ambiente não
pode ser evitado e provoca reações ime-
diatas no cliente. Assim, uma experiência
olfativa agradável promove uma sensa-

Fotos: Divulgação
ção confortável nas compras. Se puder
desenvolver um aroma próprio, promove
a fidelização do cliente, que o associa ao
espaço. Algumas lojas chegam a ofertar
a fragrância ao cliente. O importante é
O novo sabor da de peças por estações. O ponto alto,

entender que o aroma comunica infor-


Doce Pimentinha no entanto, foram mudanças feitas
na loja com base em um projeto de
mações adicionais, ajudando na forma-
O nome da loja de roupas infan- visual merchandising assinado por
ção do conceito que se deseja passar ao
tojuvenil do casal William Adolpho Heloísa Omine.
cliente. Assim, aumentar a sensação de
Antonio Pimenta e Ana Lúcia Yoko O casal também investiu em ferra-
bem-estar com uma atmosfera agradável
Sato, em Maringá, no Paraná, surgiu mentas de finanças e de atendimen-
e manter o cliente mais tempo dentro do
de uma brincadeira unindo sobre- to, na capacitação dos funcionários e
estabelecimento é outra possibilidade do
nomes dos donos – o japonês Sato passou a estudar melhor a aquisição
marketing olfativo.
significa adocicado. Mas o novo das peças que serão expostas na vitri-
sabor da Doce Pimentinha, que foi ne. O resultado foi imediato: “Apren-
Paladar: Alguns pontos de ven-
inaugurada em 2010, surgiu depois demos a criar combinações e agora
das têm investido nesse sentido
que Pimenta participou do progra- conseguimos montar até 15 looks
que é ligado à sobrevivência e ao convívio
ma Varejo Top Loja, do Sebrae. Em com apenas cinco peças diferentes.
social. Algumas lojas montam pequenos
um ano e meio de curso, o varejista Os clientes se sentem atraídos pelas
cafés e pontos de degustação, ofertando
conheceu os bastidores da indústria composições e, mesmo que comprem
bebidas e petiscos. De sucos e coquetéis
da moda e aprendeu sobre gestão de mais roupas para o dia a dia, já se in-
a iguarias e guloseimas. A ação também
negócios, finanças, programação de teressam mais pelos produtos de alto
pode despertar o senso olfativo, como é
coleções, tendências, texturas e cores valor agregado”, diz Pimenta.
o caso de uma cafeteria. Essa ênfase vai
aumentar conforme o foco do estabe-
lecimento. O importante é utilizar esse
sentido para que o consumidor sinta-se peça, deixar o cliente à vontade para processo de decisão de compra. A “de-
“mimado” e bem atendido. sentir as texturas dos tecidos. Assim, gustação” de uma peça remete às ex-
por meio do tato, o cliente se envolve periências prazerosas do indivíduo. A
Tato: Fundamental para a com o produto, o que promove uma textura provoca e aumenta o envolvi-
moda porque estabelece o sensação de antecipação de posse do mento e a sensação de “estar em casa”,
contato com o produto. É importan- produto. Em muitos casos, essa experi- ajudando na fidelização e no tempo de
te incentivar a experimentação da ência é considerada indispensável no permanência. Fonte: Sebrae

58 VAREJO DA MODA // SEBRAE


// BRECHÓS //

DO BAÚ PARA O VAREJO


Mercado
de brechós
apresenta
expansão
e se torna
oportunidade de
bons negócios

P
ara quem pensa que brechó é Para a consultora de moda es- poder aquisitivo que estão à procura de
lugar de roupas velhas e enca- pecialista em sustentabilidade e preciosidades de luxo, saídas de baús e
lhadas, com cheiro de mofo e idealizadora do SP ECOERA, Chiara closets chiques. Abriu-se, então, o mer-
um certo ar decadente, a notí- Gadaleta, a evolução do mercado de cado dos brechós de luxo.
cia de que o mercado de varejo de usa- brechós é reflexo do avanço registra- A empresária Renata Karlburger re-
dos cresceu 210% em cinco anos pode do na causa da sustentabilidade da conheceu a oportunidade após viajar
surpreender. O número passou de 3.691 moda. “O consumidor tem abraçado mundo afora e resolveu abrir a loja RK
para incríveis 11.469 lojas de roupas, sa- essa causa, tem se tornado mais exi- Deluxe, em Belo Horizonte. A oferta de
patos e produtos usados, entre 2007 e gente e mais consciente. Comprar em peças novas e usadas de grifes como
2012. Quem trabalha com o setor sabe brechós atende a esses conceitos e Dior, Hermès, Prada, Chanel, Louis Vuit-
explicar com perfeição os motivos que promove o reuso de peças que voltam ton e Christian Louboutin, com preços
encantam o consumidor de peças an- a ter valor comercial”, acredita. até 70% menores do que nas lojas das
tigas: a possibilidade de se desfazer de Há alguns anos, o público de brechós marcas, conquistou público cativo.
produtos que entulhavam seu closet, a era formado quase exclusivamente por “Minhas clientes procuram pechin-
compra de peças de qualidade a preços fashionistas, blogueiras de moda ou pes- chas, mas não abrem mão da qualida-
competitivos, o interesse do consumidor soas adeptas do estilo vintage. Hoje, as de, alguns itens são verdadeiros obje-
em consumo sustentável e o fato de as lojas do setor conquistaram um público tos de desejo”, explica. Para garantir
lojas terem ficado mais atraentes. exigente, formado por mulheres de alto a autenticidade dos produtos, uma

MAIO DE 2015 59
// BRECHÓS //

designer de moda faz a certificação e


avalia também a etiqueta interna, que
deve estar intacta.
As peças de marca são, sem dúvida,

Fotos: Divulgação
um chamariz, mas a consultora Chiara
Gadaleta acredita que a estratégia
para conquistar o consumidor é inves-
tir em lojas organizadas, limpas, com
um mix de estilos e épocas na compo- Segundo Juarez de Paula, geren- mudança de hábitos de consumo do
sição de looks atuais. te nacional de Atendimento Coletivo brasileiro. “O crescimento veio de uma
Os pequenos negócios desse co- Comércio do Sebrae, o fórum é uma consciência ambiental que passou a
mércio de segunda mão de roupas, oportunidade importante para troca ser desenvolvida nos últimos anos, a
acessórios, sapatos, móveis, utensílios de ideias, compartilhamento de infor- conscientização do pós-consumo e do
domésticos e até eletrodomésticos mações e conhecimento. “Lançamos descarte”, avalia Wilsa. O mercado volta-
representam 95% do segmento de um olhar para esse mercado e o fórum do para público diversificado é de baixo
usados. Os dados constam em levanta- serve para conhecer as tendências e risco, com concorrência ainda pequena e
mento do Sebrae elaborado durante os necessidades do segmento, para então investimento inicial relativamente bai-
preparativos para o Fórum de Brechós, apoiar seu desenvolvimento e fortale- xo, o que resulta em boa oportunidade
evento organizado pela instituição e cimento”, explica. Reunir esses varejis- de negócio para empreendedores que
que reuniu mais de 300 pessoas em tas, pela primeira vez, também foi uma desejam abrir uma empresa. “É um seg-
São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e forma de mostrar a eles a importância mento interessante porque tem o apelo
Belo Horizonte. de se organizar em associações, para da sustentabilidade, cria a possibilidade
buscar representatividade e melhorias de expandir o tempo de vida útil do pro-
para os seus negócios. duto de moda”, acredita Juarez de Paula.
Os encontros reuniram empresários
e especialistas que são referência em
brechós para debater os desafios e opor- SEGMENTAÇÃO
tunidades do segmento. A coordenadora
nacional do varejo da moda do Sebrae, O setor é tão diversificado, que o
Wilsa Sette, considerou os resultados empresário pode escolher entre reunir
surpreendentes. “Promovemos um deba- uma variedade de itens para atender
te muito rico, tanto em conteúdo quanto um público misto ou especializar-se em
em sugestões para melhoria do setor. um determinado segmento de mercado
Agora temos uma ideia sobre as expecta- voltado para um consumidor específico.
tivas dos empreendedores com relação à O Petit Luxe, em Belo Horizonte,
melhor forma de apoiá-los”, resume. abriu suas portas em 2009 e é especia-
A coordenadora acredita que os nú- lizado em produtos infantis. No local, os
meros positivos do setor resultam da consumidores conseguem economizar

60 VAREJO DA MODA // SEBRAE


mais de 50% em peças de marca ou se- e-commerce, investe muito nas redes gestão de pessoas e relacionamento
minovas. O diferencial da loja, segundo a sociais. “Criei uma fanpage no Facebook com o cliente). “Entendemos que se
consultora de moda e sócia do empreen- e posto looks-tendências montados capacitar em todas as áreas da gestão
dimento, Marina Leite, está na possibili- com peças do brechó, baseados em fo- do negócio de forma contínua, partici-
dade de o cliente trocar suas peças por tografias que encontro na internet ou par de eventos e feiras do segmento, ter
outras que estejam no estoque da loja. em livros e revistas de moda”, revela o uma boa carteira de fornecedores, estar
“No sistema de troca, fica mais atrativo dono, Franz Ambrosio. O empresário sempre procurando inovar são formas
para os fornecedores porque os produtos usa, ainda, o instagram para postar fo- de se preparar para ser mais competi-
saem pela metade do preço”, explica. tos com looks da sua loja montados por tivo”, revela Wilsa Sette.
Ser diferente é o grande atrativo famosas que compraram por lá. “A dica Em 2015 o Sebrae dará continui-
dos brechós, mas investir em inovação é pegar carona na imagem de clientes dade aos fóruns e começará a imple-
também é uma boa dica. A presença que tenham muitos seguidores e usar mentar as primeiras ações para forta-
nas redes sociais é fundamental para hashtags interessantes”, ensina. lecimento dos brechós. Porto Alegre,
melhorar a relação de compra e venda, Curitiba e Goiânia – que são as capitais
mas também é uma oportunidade real com maior densidade de empresas do
de contato com o público-alvo. Popular FORMALIZAÇÃO segmento, depois das quatro que já
como poucos brechós brasileiros, o Mi- E CAPACITAÇÃO receberam o evento – estão na lista de
nha Avó Tinha, que existe há 20 anos prováveis sedes dos encontros.
em São Paulo, percebeu a necessida- De acordo com o estudo do Sebrae,
de de investir na internet e, além do várias empresas do ramo ainda são in- BRECHÓ ASA – SP
formais e estima-se que o número de es- PROFISSIONALIZAÇÃO
tabelecimentos nesse nicho de mercado DEU CARA NOVA A BRECHÓ
seja ainda maior. Muita gente trabalha
com a venda de usados em casa mesmo, Inaugurado em São Paulo há mais de
para garantir um reforço na renda. O co- 35 anos e famoso por oferecer artigos de
mércio de brechó pode ser enquadrado moda e de decoração, o brechó Asa, da
no Simples Nacional e a empresa pode Associação Santo Agostinho, passou por
ser registrada como MEI. A coordena- uma reformulação completa para apro-
dora Wilsa Sette orienta: “Conheça as Milton Michida Sebrae-SP

vantagens e benefícios para o MEI - Mi-


croempreendedor Individual em http://
www.portaldoempreendedor.gov.br“.
O estoque de mercadorias pode de-
finir o sucesso de um brechó. Uma das
dicas mais valiosas é justamente a se-
leção das peças, mas é necessário fazer
a gestão básica do negócio (o que inclui
controle financeiro, gestão de estoques,

MAIO DE 2015 61
// BRECHÓS //

Fotos: Charles Damasceno


veitar o crescimento do mercado de usa- PEÇA RARA – BRASÍLIA
dos. Com apoio do Sebrae em São Paulo, INOVAÇÃO RESULTA
a loja saiu de uma área de 220m² para EM QUATRO LOJAS
uma casa de quase 1.000 m², cedida pela
Fundação Prada. O brechó oferece agora
DIFERENTES
maior variedade de roupas, calçados, ele-
Reciclar, reaproveitar, reutilizar, com-
trodomésticos, móveis e brinquedos.
partilhar. Com isso em mente, a empre-
Os consultores do Sebrae aplicaram
sária Bruna Vasconi abriu, em 2007, a
mudanças simples em aspectos de visual
merchandising que podem resultar em primeira Peça Rara, em Brasília. O brechó,
aumento de vendas entre 12% e 40%. “São voltado para os segmentos infantil e fe-
dicas de como melhorar a disposição das minino, logo conquistou as brasilienses.
roupas e acessórios; reorganizar a expo- “No universo infantil, as coisas têm uma
sição de produtos; estabelecer uma área vida útil muito curta; já no feminino, a
‘vip’ para mercadorias mais sofisticadas, vaidade das mulheres e a própria moda
ganhando espaço para trabalhar com pe- também mudam o tempo todo. Gosto
ças de maior valor agregado; buscar uma de falar que prestamos um serviço para
iluminação ideal, que valorize as peças, quem compra e para quem vende; que
por exemplo”, explica o coordenador de vamos além de vender um artigo caro a
projetos para o comércio varejista do Se- um preço mais em conta. Na verdade,
brae em São Paulo, Rodrigo Palermo. trata-se de uma parceria em que todos os
Há mais de dez anos no comando das lados saem ganhando”, afirma.
atividades do brechó, Elizabeth Azevedo Além de oferecer roupas e artigos de
Conde credita ao Sebrae diversas melho- qualidade a preços acessíveis, a ideia de
rias: “Revisamos vários conceitos, adequan- abrir um brechó conquistou Bruna por
do melhor o mix de produtos ao público- carregar a preocupação com o meio am-
-alvo; aprimoramos o processo de triagem biente. A indústria têxtil é considerada
dos produtos doados e a forma de precifica- uma das que mais consomem recursos
ção. Tivemos orientação ainda para traba- naturais no mundo e o brechó permite
lhar o treinamento dos funcionários”. às roupas que seriam inutilizadas ga-
nhar um novo ciclo de vida útil. Para a
proprietária, o diferencial está também
na seleção das peças.
O modelo de negócio fez sucesso
e hoje a Peça Rara conta com quatro
lojas, que atendem aos segmentos de
casa e aos públicos infantil, feminino
e masculino.

62 VAREJO DA MODA // SEBRAE

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