Você está na página 1de 7

rigo Siviéri

Rod PARTE 1

A NOVA ECONOMIA

GESTÃO FINANCEIRA MODERNA


O conceito de nova economia foi registrado pela primeira vez em 1983, na revista
americana Time. Em seu artigo “The New Economy”, o jornalista Charles P. Alexander afirma
que a nova economia é marcada por mudanças rápidas e contrastes acentuados.

O sucesso de empresas como Uber, Nubank e Airbnb representa muito bem as


transformações causadas pela nova economia. Além do avanço da tecnologia, outro fator
em comum entre esses negócios disruptivos é o foco no consumidor e na experiência do
cliente. Essa é uma das principais inovações trazidas pela nova economia.

Você já parou pra pensar? O Uber é a maior empresa de transporte de passageiros do


mundo e não possui veículos próprio. O AirBnb é a maior empresa de hospedagem do
mundo e não é proprietária de nenhum imóvel.

As corporações buscam hoje transformar produtos em serviços, utilizar novas tecnologias e


ganhar maior escalabilidade, assim como no caso das startups. Essas questões rondam as
grandes empresas de forma cada vez mais constante, sobretudo em momentos de crise.

¹ “O objetivo de uma empresa é envolver todas as partes interessadas para a


criação de valor compartilhado e sustentável. Ao criar esse valor, uma
empresa atende não apenas seus acionistas, mas também todas as partes
interessadas – funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e
sociedade em geral. A melhor maneira de entender e harmonizar os
interesses divergentes de todas as partes interessadas é por meio de um
compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortaleçam a
prosperidade no longo prazo de uma empresa.”

Enquanto as indústrias tradicionais estão sofrendo com a concorrência estrangeira, as


novas empresas de tecnologia irão liderar o mundo em inovação.

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 1
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

QUEM NÃO MUDA SE LIMITA!


A empresa que não souber se adaptar à nova economia pode sofrer graves
consequências. Prova disso são os diversos negócios que já foram reconhecidos como
grandes corporações de sucesso, mas que não souberam lidar com a transformação
digital e acabaram falindo, sendo vendidos ou perdendo mercado. Um grande exemplo
de uma empresa que caiu no esquecimento foi a Blockbuster, que já chegou a ser a
maior rede de locadoras do mundo. A empresa não foi capaz de prever ou adaptar seu
modelo de negócio para as transformações da nova economia. Ela teve, inclusive, a
chance de comprar a Netflix, quando esta era ainda um serviço de entregas de DVDs
pelo correio.

O tempo passou e a Netflix só cresceu e se expandiu, enquanto a Blockbuster foi


perdendo relevância e permaneceu no modelo antigo de negócios até vir a falência.

Figura 1 - A Ascensão do Netflix e a queda do Blockbuster

Fonte: SLOAN, Molly. Netflix vs Blockbuster – 3 Key Takeaways. June 1, 2020.

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 2
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

NEM TUDO É LUCRO LÍQUIDO!

Ao longo do tempo, deparei com alguns empreendedores, investidores, profissionais


do mercado financeiro que discordavam do título desse tópico. Afinal, era possível ver
toda uma indústria investindo em negócios sem geração de lucros e caixa. “Olha os
vários unicórnios com enormes prejuízos aí!”, diziam. Na verdade, as coisas não são bem
assim.

Mas então, como uma empresa como o Nubank, que estreou recentemente na Nasdaq
(Bolsa de Valores de Nova York) com valor de mercado de U$S 41,5 bilhões, que teve
em 2021 seu primeiro semestre lucrativo (R$ 76 milhões) desde sua fundação, valer mais
que o Itaú Unibanco que teve um lucro líquido de aproximadamente R$ 15 bilhões no
mesmo período?

Uma das explicações do Nubank ter uma avaliação de mercado tão alta, é a
expectativa de forte crescimento que os investidores veem para os próximos anos. Por
mais que não esteja entregando lucro agora, isso não significa que não trarão lucro lá
na frente e que não deveriam valer o que valem hoje.

Neste exemplo, Peter Thiel resume muito bem o que é o valuation e a representação
do valor futuro de um negócio, no momento atual:

² “Compare o valor do New York Times Company com o Twitter. Cada um


emprega alguns milhares de pessoas e cada um oferece a milhões de
pessoas uma maneira de obter notícias. Mas quando o Twitter foi aberto em
2013, ele foi avaliado em US$ 24 bilhões – mais de 12 vezes a capitalização
de mercado do New York Times – apesar de o Times ter ganho US$ 133
milhões em 2012, enquanto o Twitter perdeu dinheiro. O que explica o
enorme prêmio do Twitter? A resposta é fluxo de caixa. Isso parece bizarro
no começo, já que o Times era lucrativo enquanto o Twitter não. Mas um
grande negócio é definido por sua capacidade de gerar fluxo de caixa no
futuro. Os investidores esperam que o Twitter consiga capturar lucros de
monopólio na próxima década, enquanto os dias de monopólio dos jornais
terminaram.”

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 3
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

ENTÃO QUAIS MÉTRICAS SÃO INDISPENSÁVEIS NA


NOVA ECONOMIA?
O conceito clássico de margem de contribuição e ponto de equilíbrio nem sempre se
adaptara perfeitamente a todos os negócios, especialmente os negócios muito
associados às tendências da nova economia.

Alguns exemplos de negócios que não se encaixam perfeitamente nesses conceitos


são: serviços por assinatura, alguns tipos de negócios com receitas recorrentes,
contratos de prestação de serviços de longo prazo, serviços da economia
compartilhada.

Na nova economia há algumas métricas que são indispensáveis entendermos com


mais detalhes, como custo de aquisição de clientes (CAC) e lifetime value do cliente
(LTV), também conhecido como CLV (da sigla em inglês, Customer lifetime Value). Essas
métricas surgiram muito associadas às necessidades de tomada de decisão em
marketing, mas prestam um elevadíssimo serviço às finanças. Na verdade, essas métricas
são como certa adaptação do conceito de margem de contribuição às necessidades
da nova economia, transferindo o foco de unidade vendida para cliente adquirido.

Entendendo
A margem de contribuição é um indicador de lucratividade do negócio. Ela
indica, a cada unidade vendida, quanto de dinheiro sobra para pagar os gastos
fixos do negócio.
O LTV é o valor presente líquido de todos os lucros futuros que um cliente poderá
proporcionar ao negócio ao longo do tempo em que se relacionará com a firma.
CAC é custo de aquisição do cliente, é o custo incorrido na data zero – no
momento atual – para adquirir esse cliente.

Na nova economia é comum se deparar com empresas que sofre prejuízos por
períodos, em seu processo de construção do negócio, mas cujos frutos futuros – lucros
futuros – compensarão com sobra aquela queima de caixa inicial.

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 4
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

Ainda assim, mesmo que seja parte de uma decisão estratégica, é preciso ter
compreensão sobre a natureza desse consumo de caixa – o cash burn. Não se trata de
um simples descasamento temporário (como o capital de giro). Trata-se efetivamente
de um consumo de caixa para sustentar fases da empresa em que ainda não há
geração de lucros no negócio.
O burn rate Trata-se de um indicador da velocidade com o qual o caixa levantado
em determinada rodada de funding será consumido pela operação da empresa.
Entender se o negócio está perdendo muitos clientes é outra métrica importante a ser
analisada.
O churn refere-se à perda de clientes em determinado período de tempo – por
exemplo, um mês ou um ano. A cada cem clientes adquiridos, quantos são aqueles cujo
relacionamento com a empresa está “vivo” após um ano? É muito importante que antes
de investir tempo e dinheiro para aumentar muito a base de clientes, invista-se tempo e
dinheiro para manter os clientes atuais.

Na imagem a seguir, Bruna Losada (2020) enfatiza as perguntas de ouro feitas no dia
a dia de uma startup. Na nova economia, ter as repostas para essas perguntas é
essencial em uma análise.

Figura 2 – As perguntas de ouro sobre o dia a dia para startups


Fonte: Bruna Losada (Finanças para startups, 2020, p.72)

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 5
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

E COMO ENCONTRAR O VALOR DE UM NEGÓCIO?

Damodaran (2018) sintetiza algumas perguntas amplas que ajudam a compreender


esses determinantes do valor:

Quais fluxos de caixa serão gerados pelos investimentos já existentes da empresa?


Quanto valor será adicionado, se houver, por crescimento futuro do negócio?
Quão arriscados são os fluxos de caixa esperados por investimentos já existentes,
bem como pelo investimento e crescimento futuro, e qual é o custo de financiá-los?
Quando a empresa irá atingir sua maturidade, de forma que possamos estimar um
valor terminal (residual/perpétuo) para ela?

³ “Mesmo em negócios clássicos – em setores cuja dinâmica já é conhecida,


há histórico de indicadores financeiros, e a empresa aparenta já estar
próxima de sua maturidade –responder a essas perguntas podem ser difíceis.
Quando se trata de startups, então, ainda mais em seus estágios iniciais, é
tão mais difícil e desafiador.”

No processo de avaliação do negócio para a entrada de acionistas (ou aumento de


participações de alguns acionistas já existentes), é necessário analisar aquela relação
entre aporte de recursos versus direitos sobre o negócio.

Trata-se de um cash-in? Caso em que o dinheiro investido será mantido 100% na


empresa e, portanto, haverá provável diluição dos antigos acionistas em razão
dessa entrada de novos recursos.
Ou será que se trata de um cash-out? Em que o valor investido (seja total, seja
parcialmente) será retirado da empresa por um ou mais acionistas, tratando-se,
portanto, da efetiva compra de sua participação no negócio.

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 6
rigo Siviéri
Rod PARTE 1

REFERÊNCIAS

¹ SCHWAB, Klaus. Davos Manifesto 2020: The universal purpose of a company in the
Fourth Industrial Revolution. World Economic Forum.

² THIEL, Peter. Zero to One: Notes on Startups, or How to Build the Future.1th edition. New
York: Crown Business. 2014.

³ Losada, B. (2020). Finanças para startups – O essencial para empreender, liderar e


investir em startups. São Paulo: Saint Paul Publishing (Brazil).p.307.

DAMODARAN, Aswath. The dark side of valuation: valuing young, distressed and complex
businesses. 3rd edition. New York: Pearson Education, 2018.

Figura 1 - SLOAN, Molly. Netflix vs Blockbuster – 3 Key Takeaways. June 1, 2020.


Disponível em: https://www.drift.com/blog/netflix-vs-blockbuster/

Figura 2 - Losada, B. Finanças para startups: O essencial para empreender, liderar e


investir em startups. São Paulo: Saint Paul Publishing, 2020, p.72.

Rodrigo Siviéri
rodrigosivieri
rodrigo_sivieri

SÃO PAULO, 05.01.22

rodrigo.sivieri@outlook.com 7

Você também pode gostar