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 Artigos á serem usados:

- A eficácia de protocolos de intervenção com abordagem familiar para tratamento


do adolescente usuário de drogas: revisão sistemática (
http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-
99982018000100041&lang=en )
- The orbitofrontal cortex, drug use and impulsivity: can teenage rebellion be
predicted through neural correlates? ( Robert Whelan, Karen Weierstall & Hugh
Garavan, FUTURE NEUROLOGYVOL. 7, NO. 5 )
- https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/0963721413476512 ( The Teenage
Brain: Sensitivity to Social Evaluation )
- Levantamento de problemas comportamentais/emocionais em um ambulatório
para adolescentes ( https://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-863X2012000300003&lng=pt&nrm=iso )]
- Bagwell, C., Molina, B., Pelham Jr., W., & Hoza, B., “Attention-Deficit
Hyperactivity Disorder and Problems in Peer Relations: Predictions From
Childhood to Adolescence”, Journal of the American Academy of Child and
Adolescent Psychiatry, Volume 40(11), (November 2001)
- Della Porta, Donnatella. ed. (2007) The Global Justice Movement: Cross-national
and transnational perspectives, Boulder: Paradigm.
- Female Rebellion in Young Adult Dystopian Fiction (Day, Sara K., Miranda A.
Green-Barteet, and Amy L. Montz, eds. Female Rebellion in Young Adult
Dystopian Fiction . Farnham : Ashgate , 2014)

Segundo a World Health Organization, o período da adolescência é compreendido


como as idades entre 10 aos 19 anos (WHO,2008), e que a entrada na segunda
etapa do ciclo de ensino fundamental acaba por condizer com o início das
mudanças cognitivas, físicas e sociais (Burke, Brennan & Ronney,2010).

Na esfera histórica, é possível perceber que, após a Segunda Guerra Mundial e


principalmente no contexto americano, vemos a elevação do adolescente no
sistema como “ consumidor e produtor “, ou seja, a percepção dos adolescentes
começa a mudar e consequentemente suas atitudes, o que reflete em diversos
movimentos sociais presentes em um mundo pós duas guerras mundiais, tais como
Woodstock, que contavam com uma grande parcela de jovens aderindo e liderando
o movimento, o início do movimento Punk na Grâ-Bretanha, composto
principalmente por jovens que eram contra a norma capitalista da época, e até
mesmo no Brasil durante o período da Ditadura Militar, com jovens aderindo aos
movimentos de guerrilha ou produzindo entretenimento contra os militares. Essas
atitudes tomadas por adolescentes teve o resultado esperado de irritar a população
considerada “ adulta “ da época, o que levou a uma estereotipazação em massa de
tais adolescentes, os colocando em posições sociais como usuários de drogas
ilicitas, sem rumo de vida, não-religiosos , como sofreram os jovens do Woodstock
ou como encrenqueiros, violentos, “ comunistas “ ( classificação que em um mundo
de contexto de Guerra Fria, carregava um peso muito mais pejorativo ), usuários e
traficantes de drogas ilícitas e pequenos criminosos. Esses estereótipos
contribuiram para a formação arcaica da visão do adolescente problemático e a
reação de figuras familiares/de autoridade perante os adolescentes que viriam pós
esses movimentos sociais. Movimentos sociais compostos por adolescentes
sofreriam uma mudança drástica, pois retendo os pesares societais que as
gerações mais velhas impunham sobre eles, acaba por mostrar que movimentos
como o nascimento do Grunge no USA acabam carregados de uma atitude cínica e
que demonstravam a insatisfação com a percepção dos jovens e do sistema, mas
em nenhum momento do mesmo tamanho do Woodstock e o Movimento Punk, mas
que ainda trouxeram mais pesares para a contribuição do adolescente
problemático.

Antes de falarmos sobre a problemática do “ adolescente-problema “, definir que


fora do aspecto familiar, esse adolescente é muitas vezes visto como um
delinquente juvenil, e essa percepção acaba por alimentar essa imagem
estereotipada ( o adolescente que constantemente briga com os pais, comete
pequenos crimes, faz uso de drogas ilícitas e lícitas, etc ) no imaginário societal,
então comecemos por definir o que é um delinquente juvenil de verdade: “ A
delinquência juvenil tem sido considerada como um transtorno psicosocial, de
desenvolvimento, que deve ser entendida pela complexidade, já que sua
manisfestação ocorrre á partir de variavéis biológicas, comportamentais e cognitivas
do indíviduo, e contextuais, como características familiares, sociais e experiências
de vida negativa “(RUTTER, 2000; SCAPAMELLA, CONGER, SPOTH &
SIMONS,2007). Com essa definição, pertencente á uma ótica de psicologia jurídica,
entendemos de ínicio já que a situação do adolescente-problema não é padronizada
para todos os jovens e que há diversas varíaveis que a influenciam, um adolescente
classe média alta em um bairro nobre sofrerá uma definição de problema
extremamente diferente de um adolescente classe baixa em uma comunidade de
baixa renda, pois ambos irão passar por contextos e experiências diferentes que os
irão moldar de maneira diferente, mas em um país como o Brasil, onde a
desigualdade social tem marcas claras na esfera societal, o mais pobre acaba por
ser visto como delinquente juvenil enquanto o mais rico acabará por ser enxergado
como um problema comportamental apenas, e isso é uma delimitação necessária
para entender o que realmente acaba por ser um adolescente problema, não o que
é retratado na mídia e cultura popular.

Outro fator que influencia muito nessa visão erronêa é a perceção que o mesmo
sofre da sociedade quando possui algum transtorno mental ou algo do tipo, pois seu
comportamento acaba por ser alterado pelos sintomas do transtorno, e que dificulta
o entendimento do que o adolescente está fazendo de propósito ou o que ele faz
devido á condição que possui, utilizando jovens TDAH ( Transtorno de Déficit de
Atenção com Hiperatividade ), no estudos conduzidos por Bagwell, Molina, Pelham
& Moza (2001), foi encontrado que no funcionamento social desse jovens, eles
sofriam com condições como impulsividade, hiperatividade e agressão, fatores
condinzentes com o TDAH mas que podem ser enxergados como comportamentos
pertencentes á um clássico “ adolescente problema “, e esses comportamentos
contribuiam negativamente ao desenvolvimento de relações sociais no início da
adolescência, variável que pode vir a impactar fortemente o seu desenvolvimento
social tardio. Continuando com o exemplo de jovens com TDAH, pelo lado
emocional, é mostrado que esses jovens precisam de um suporte emocional extra
das figuras de autoridade em sua vida, pois os comportamentos que essas figuras
consideram frustrantes e irritantes ( e consequentemente ocorre a punição no jovem
devido a presença desses comportamentos ) são os mesmos que servem como
gatilho para o desenvolvimento de sintomas como ansiedade e baixa auto estima,
que se não forem intervidos, podem se transformar em transtornos depressivos ou
de ansiedade em sua forma completa, como demonstrados nos estudos de
Bierdman et al. (2008).

Do ponto de vista do desenvolvimento neurológico na relação do “ adolescente


problema “, é necessário destacar o desenvolvimento que ocorre na área conhecida
como Cortéx Orbitofrontal (COF). O COF engloba um modelo de recompensa
chamado de “ Dois Sistemas “ pois ocorre o interlapso entre o sistema de
recompensas subcortical e o sistema de controle exercido pelo pré-frontal, e que de
acordo com esse modelo, a impulsividade, um traço comumemte associado aos
adolescentes-problemáticos, partiria do desenvolvimento assíncrono dessas duas
áreas englobadas pelo COF, quando há compreensão de que essa impulsividade
juvenil é um fruto natural do desenvolvimento neurológico do adolescente, a
desmistificação desse vetor pode começar a ocorrer e o entendimento ser mais
aceito.

Um aspecto importante do desenvolvimento do jovem na fase adolescente é a


percepção social que o mesmo possui de si mesmo e dos outros indíviduos na
esfera societal que está inserido, onde suas emoções, atitudes e comportamentos
são moldados e que acabam por influenciar seu desenvolvimento.

Adolescentes tendem a engajar em contato mais frequente com seus iguais do que
com individuos muito removidos de suas semelhanças, e a qualidade das relações
frutos desses contatos muda com rapidez. No estudo de Cairno, Leung, Buchanan
& Cairns, 1995), a função das relações sociais tendem a mudar constantemente de
ranques, colegas de atividade logo viram amigos próximos e relações platônicas
mudam para relações amorosas com rapidez, e mesmo a maior parte das
experiências de adolescentes serem positivas é possível enxergar diversas como
um fluxo que altera constantemente entre positivo e negativo. Isso é apoiado pelo
estudo de Barnes, Hoffman, Welte, Farrell & Dintcheff (2007), que demonstra que
quanto mais próximos da adolescência os jovens chegam, menos tempo eles
passam com suas famílias e passam mais tempo com seus iguais, e como em
constantes relações humanas, com foco principal em adolescentes, tais relações
tendem a se desvair e a rejeição se torna algo comum na constante de vida do
adolescente.

Alternando a perspectiva por um breve momento, de “ figuras de autoridade –


adolescentes “ para “ adolescentes – figuras de autoridade “, é possível enxergar
uma visão quase única, principalmente na cultura pop que tais adolescentes tendem
a consumir e a criar, que recebeu o nome de Teenage Dystopias (Distopia
Adolescente). De acordo com Jon Ostenson, que estuda a literatura de
adolescentes/jovens adultos pela Universidade de Brigham, ele classifica esse tipo
de distopia como “ os ecos que os adolescentes veêm e ouvem do mundo que
conhecem “, pois inseridos desde seu nascimento em um mundo em constante
conflito, marcado por crises econômicas e rápidas mudanças tecnológicas e
societais, é fácil o jovem enxergar as figuras de autoridade em sua vida, figuras que
carregam consigo a internalização do adolescente-problema e podem vir a
enxergar isso nos próprios filhos, como governos militares ditatoriais, grupos
extremistas contra o conceito de liberdade e afins, como acontecem em obras como
“ Jogos Vorazes”. O olhar mágico e fantasioso que as gerações mais velhas tinham
de acordo com o que consumiam na época de sua juventude perdeu espaço para
essa visão cinza, melancólica, depressiva na cultura pop.

Laurence Steinberg, psicólogo na Temple University, explica que esse tipo de


literatura é um produto dessa juventude, mas um produto que convém
perfeitamente com o estágio de desenvolvimento que eles estão passando, pois ele
afirma que não é pura rebelião o que os jovens estão passando, mas sim o início do
período de questionamento ( afinal, a função executiva de pensamento do cérebro
está também sofrendo desenvolvimento ), e que esse questionamento é encarado
como rebelião pelas figuras de autoridade na vida do jovem, o que o faz virar para
esse tipo de distopia para que possa responder seus questionamentos de maneira
segura e sem interferência dos pais ou guardiões. Vemos nisso o mais puro
exemplo de como a problemática do “ adolescente-problema “ está enraizado em
contextos familiares á ponto da mídia popular reproduzir esse tipo de
entretenimento condinzente com o que os jovens sentem e passam diariamente.

Feito a análise social da problemática e demosntrado os estudos empíricos


neurológicos, enxerga-se então que quando o adolescente começa a passar pelo
processo de amadurecimento, questões como o questionamento constante sobre o
mundo, o “ desgrudamento “ famliar ( o que pode enfurecer pais controladores ), o
desenvolvimento neurológico, societal e pessoal do adolescente, ele está no
processo de se tornar um adulto, e problemáticas como o “ adolescente-problema”
só alimentam uma estereotipazação erronêa do que é realmente os
comportamentos dos adolescentes só servem para machucar a dinâmica familiar/de
autoridade onde todos estão inseridos e é totalmente demarcada por preconceitos,
baixo entendimento de transtornos mentais e de humor, embate entre gerações e
nenhum entendimento do ciclo de desenvolvimento neurológico do adolescente.

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