Você está na página 1de 12

O IMPACTO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NO

APRENDIZADO ESCOLAR INFANTIL

Mariene da Silva Dioniso Magalhães1


Clério Cezar Batista Sena2

Resumo
O objetivo deste artigo é descrever o impacto das funções executivas na aprendizagem
escolar em crianças e adolescentes, conceituar função executiva, apontar os efeitos das
funções executivas na aprendizagem escolar na infância e descrever a importância das
funções executivas no desempenho escolar. Esta é uma pesquisa bibliográfica qualitativa,
com pesquisas em livros, artigos científicos, bibliografia especializada, relatórios de sites
institucionais e demais fontes com características acadêmicas, realizado através de busca
nas bases de dados Scielo, Google acadêmico e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD). O artigo aponta que um bom desenvolvimento do funcionamento
executivo na infância está associado a um melhor desempenho na vida escolar, acadêmica e
posteriormente na sua atividade profissional.

Palavras-Chave: Funções executivas, aprendizagem, desenvolvimento infância.

1 INTRODUÇÃO

A função executiva do cérebro vem tornando-se estabelecida como um grupo de


competências, que de forma incorporada, permitem ao indivíduo conduzir comportamentos a
objetivos, realizando ações facultativas. Tais atividades são auto-organizadas, sobre a análise
de sua adaptação e eficiência em conhecimento ao objetivo desejado, de modo a selecionar as
formas mais eficientes, considerando assim, questões imediatas, e/ou de médio e longo prazo
(MALLOY-DINIZ; SEDO; FUENTES; LEITE, 2008).
A etapa da vida entendida do nascimento até os seis anos de idade, conhecido de
primeira infância, é um período importante para a construção de diversas competências. Nesta
etapa da vida, há alta plasticidade cerebral, o que representa uma melhor possibilidade de
modificação do cérebro pertinente aos estímulos e experiências vivenciados. As competências
1
Especialista em Neuropsicopedagogia Institucional e Educação Especial e Inclusiva. E-mail:
marienedionisio@outlook.com
2
MESTRE EM EDUCAÇÃO: Psicologia da Educação, PUC-SP / Neuropsicopedagogia e Educação Especial
Inclusiva / Neuropsicopedagogia Clínica - CENSUPEG / MBA: Gestão Empreendedora Educação, UFF/SESI /
Especialista em Gestão da Escola – FE/USP / Psicopedagogo Institucional e Clinico / Especialista em Educação
Infantil e Pedagogo. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
concebidas neste início serão essenciais para o desenvolvimento de competências mais
complexas em etapas posteriores da vida (PELA, 2016).
Compreender a desenvolver reflexões particulares e ter independência, são
competências intimamente referentes à construção das funções executivas. Tais habilidades
envolvem processos cerebrais que permitem ocorrer e associar diferentes conhecimentos,
analisar a modo de pensar, planejar e separar devaneios. Sem um bom andamento executivo,
faz-se difícil para o sujeito se focar em seus pensamentos, a fim de organizá-los e planejá-los
de modo criativa e exclusiva.
O presente estudo apresenta como foco sobre das funções executivas produzidas desde
a infância abordando a relevância do desenvolvimento dessas habilidades na infância. A
importância deste estudo leva em consideração contribuir para o conhecimento científico
sobre o desenvolvimento das funções executivas na infância.
O Objetivo geral deste estudo será de descrever o impacto das funções executivas em
crianças nas atividades escolares. Tratando-se dos objetivos específicos será de contextualizar
o tema proposto, apontar os seus benefícios na aprendizagem e de que forma esse
desenvolvimento das funções executivas refletem no desempenho escolar da criança.
O tema abordará o impacto das funções executivas na aprendizagem escolar infantil,
dessa forma a problematização do estudo está baseado na questão de como as funções
executivas podem interferir na aprendizagem e no desempenho da criança em suas atividades
escolares. Uma vez que nessa fase existe a possibilidade de tratar os déficits de aprendizagem
que podem surgir e ser corrigidos precocemente.
A justificativa do presente trabalho está na relevância em razão de funções executivas
pouco desenvolvidas podem estar associados a problemas como déficits escolares, transtornos
de neurodesenvolvimento, abandono escolar entre outros, dessa forma existe evidências que
estas alterações podem ser descobertas na infância e a partir do diagnóstico realizar o
tratamento adequado.
Esta pesquisa utilizará a abordagem qualitativa para descrever o tema proposto. Trata-
se de uma revisão bibliográfica, apresenta os procedimentos metodológicos de teses e
dissertações em sites como Scielo, Google acadêmico, BTDT (Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações) e livros correspondentes aos descritores da pesquisa. No capitulo a
seguir abordará a contextualização do assunto sobre as funções executivas e suas
características.

2
2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE AS FUNÇÕES EXECUTIVAS

A importância que as funções executivas têm em influenciar no desenvolvimento e no


comando da prestação cognitiva e conativa, tanto na condição de conservação e de adaptação
ao ambiente assim como, no conhecimento, na execução de atividades e interação social,
revela ser um dos seus pontos mais relevantes para a educação escolar (TRIDAS, 2014).
Segundo Goldberg (2001) revela que as funções executivas tem a capacidade de
condução e também constitui uma conjunto neurofuncional da aprendizagem, em que consiste
na conexão com as funções cognitivas e conativas. O agente administrador neurofuncional
moderno é o córtex pré-frontal, local em que envolve no cérebro humano por volta de
aproximadamente um terço do seu tamanho cortical.
Enquanto que FUSTER (2008) observou que a função executiva atua por meio de
redes neurais interativas e sobrepostas, onde estão espalhadas na região dos córtices de
associação, uma vez que essas tramas, denominadas cógnitos, com a função de manter o ciclo
percepção-ação, constituindo desta forma as formas básicas do processamento executivo.
De acordo com o autor precedente argumenta que a função executiva de integração
temporal do córtex pré-frontal é composta pelas funções cognitivas de ajuste de preparação,
controle de inibição e memória de execução, desse modo uma análise psicológica e fisiológica
a respeito do funcionamento das três regiões anatômicas pré-frontais estão relacionadas em
uma diferente condição da atenção, pois a região medial e o giro cingulado anterior são
referentes a transferência e na motivação, ao passo que a região lateral está ligada ao ajuste da
preparação e a memória de execução, enquanto que a região orbital é responsável pelo
controle de inibição aos estímulos.
A função executiva quando apresenta redução no desempenho provoca a alteração da
função cognitiva de formar os dados de maneira racional em detrimento a um período
determinado, porém, o relevante é que, mesmo o córtex pré-frontal seja essencial para
conectar-se e ativar a informação relacionada a uma determinada função, em certos casos ele
mesmo não abrange tal informação, uma vez que outras partes do cérebro a abrange, e o
córtex pré-frontal somente as solicita (GOLDBERG, 2001).
Assim, Fonseca argumenta sobre a atividade do córtex pré-frontal:
“O córtex pré-frontal está diretamente relacionado com o córtex
associativo posterior, a mais proeminente formação de associação
perceptiva e de reconhecimento multissensorial (visual, auditivo e tatil-
cinestésico), e evidentemente ligado com o córtex pré(psico)motor, com
os gânglios da base e com o cerebelo, todos comprometidos na
3
elaboração, controle e execução da motricidade. “(FONSECA, 2010,
pag.22).

Conforme Meltzer (2010):


“a função executiva abrange vários aspectos como na iniciação e a
planificação de ações, na elaboração e organização de procedimentos;
no auxílio na atenção; na alteração quanto a plasticidade
comportamental; na modificação estratégica; a no controle de estímulos;
nas redefinições de comportamentos; e sobre os eventos de questões
adaptativas ou comportamentais.” (Meltzer, 2010, pag. 41).

Corroborando tal ponto de vista, as funções executivas estão compostas por várias
redes cognitivas, relacionados com a atenção, forma de processamento de informações
relevantes na memória de trabalho, autocontrole, planejamento das ações, flexibilidade
cognitiva e comportamental, em observância das condutas. Desta forma torna-se efetivos a
realização de ações onde esses processos cognitivos direcionados a tal tema permitem a um
sujeito iniciar, planejar, sequenciar e controlar seus comportamentos e cognições
(GAZZANIGA et al, 2006; PLISZKA, 2004).
Além disso, os elementos essenciais para o desenvolvimento das habilidades
individuais a que toda criança possui e que tem a oportunidade de compreender de acordo
com o seu grau de potencial deve-se ao fato de que na escola a criança conta com grande
participação no crescimento dessas possibilidades de se desenvolver cognitiva, social e
afetivamente (KARANDE; KULKARNI,2005).
Portanto, identificar as dificuldades no processo de ensino é de fundamental
importância para o desenvolvimento de estratégias voltadas para o aprimoramento do
funcionamento cognitivo e escolar. Deste modo, conhecer os elementos que estão
compreendidos no crescimento escolar e nas funções neuropsicológicas, tais como a
inteligência, atenção e funções executivas, proporciona definir o perfil cognitivo associado
para tal forma de aprendizado.

3 FUNÇÕES EXECUTIVAS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR

De forma que no ser humano as redes neurais que compõe a estrutura do neocórtex são
inteiramente plásticas, dinâmicas e variáveis sinapses se forma e permitem o seu surgimento

4
em fragmentos de segundos, a todo momento possibilitando a nós, humanos, um potencial de
aprendizado e resiliência provavelmente muito maior do que imaginamos compreender. Essa
capacidade de adaptação intensa e espontânea demonstra que o cérebro humano apresenta um
alicerce teórico para sustentar as teorias de aprendizagem (DOUGLAS; MARKRAM;
MARTIN, 2004).
Além disso, Posner (2010) aponta que
“o córtex pré-frontal abrange, ainda, um elemento superior, o dorso
lateral responsável pela formação de trabalho e pela sua fiscalização e
metacognição e, consequentemente, apresenta o núcleo da expressão do
comportamento onde atuam as funções estratégicas de grande
importância para a subsistir, adaptação ao meio e, por fim, para a
aprendizagem escolar.” (POSNER, 2010, pag. 116).

Ainda mesmo autor argumenta claramente que as disfunções executivas dorsolaterais


podem provocar aspectos específicos de ausência de atenção, dificuldade de planejamento,
desordem e importantes déficits de acesso à memória de trabalho, neste cenário, determinados
distúrbios executivos derivam-se de diversos sinais das Perturbações ou Transtornos de
Hiperatividade e Déficit de Atenção e das Dificuldades de Aprendizagem Específicas do qual
decorre constantemente, Em suma, esses déficits referidas efeito relevantes na conduta e
aprendizagem.
Assim, disfunções no controle executivo vem sendo observadas em alguns casos,
sobretudo em crianças e adolescentes, no que se refere aos problemas de conduta, em casos
de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade; transtornos invasivos ou globais do
desenvolvimento, segundo a maneira daqueles envolvidos que se enquadram como autistas de
como a dislexia, nos casos de condições neurológicos, apresentam a epilepsia e dentre os
casos que envolvem alterações cromossômicas, como a Síndrome de Down (LANFRANCHI;
JERMAN; DALPONT; ALBERTI; VIANELLO, 2010).
Outras formas de alterações executivas em crianças podem apresentar Distúrbio
Específico de Linguagem, no qual indicam agravos em relação de atenção, memória, controle
de inibição e memória de trabalho presentes no diagnóstico, tem sido realizado também uma
forma de recomendação de responsabilidade destas competências nos casos de aprendizagem,
excepcionalmente, nos casos de a dislexia e discalculia (ARGOLLO, 2008; BENEVENTI et
al, 2010).
Commodari e Guarnera (2005) argumentam que a atenção apresenta:
5
“um estado essencial para o desenvolvimento na escolarização infantil,
desse modo, o comportamento da atenção no processamento de
informações, na integração de informações selecionadas, nos processos
mnêmicos e na programação de respostas motoras e comportamentais,
representam a capacidade de destacar um incentivo através de algum
período e evitar a intervenção de estímulos pouco relevantes à situação é
uma competência essencial para uma aprendizagem de qualidade.”
(COMMODARI; GUARNERA, 2005, pag. 375).

Assim, a maioria das funções escolares necessita, principalmente da organização e a


associação lógica dos diversos ramos das funções executivas, deve-se recordar, que muitas
crianças e jovens com transtornos, distúrbios ou dificuldades executivas ou com funções
executivas pouco desenvolvidas, podem apresentar problemas de sobrecarga de informação de
em seu desempenho, na produtividade e no aproveitamento escolar (MELTZER, 2010).
Além disso, Meltzer expõe as competências que estão relacionadas com as funções
executivas possuem a capacidade de produzir atos que condicionam algumas partes sem
utilizar notas, fazer atividades lúdicas e desenvolver tática com jogos sem regras, ao passo
que no processo de aprendizagem as funções executivas oferecem a incorporação ideias na
linguagem oral e escrita e resolução de problemas de matemática em diversos graus de
dificuldade (MELTZER, 2010).
Durante o período de desenvolvimento infantil, a flexibilidade cognitiva permite que a
criança conheça diferentes maneiras de jogar um jogo e também em casos para tentar novas
formas estratégicas na resolução de questões, dessa maneira de acordo à aprendizagem
escolar, a flexibilidade cognitiva consequentemente busca por promover à criança para
observar diferentes tarefas a fim de produzir algum resultado esperado através de um
experimento de ciências ou de um problema matemático (GATHERCOLE, 2004).
Outra questão é o valor da escolarização recebida na infância também tem sido base de
julgamento, uma vez que segundo seus dados, o impacto de investimento financeiro em
recursos físicos e ambientais das escolas, tal como a qualidade dos recursos humanos, de
qualidades de comportamentos apresentados pelo professor e da administração do ambiente
de aprendizagem tem influência direta no desenvolvimento escolar da criança (ENGEL et al.,
2014).
Em suma, um estudante com diagnóstico de transtorno de aprendizagem e de
propriedade do conhecimento de que déficits de memória de trabalho estão relacionados a

6
esse diagnóstico, um professor conseguiria reduziras exigências das tarefas propostas sobre
esta capacidade.
Para isso, seria capaz estabelecer tarefas mais estruturadas, promover instruções
breves e práticas, continuar com maior frequência os objetivos da tarefa, sendo ajudado neste
processo pelo psicólogo escolar. No meio clínico, seria importante a atuação para incentivar o
desenvolvimento destas competências ou submeter seu comprometimento com suportes
externos.

4 IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NO DESEMPENHO ESCOLAR

Nas escolas contemporâneas, tem se notado que os alunos se colocam frente a


diferentes funções, exemplos delas são as leituras extensas; sínteses, notas e registros escritos
de alta grau de dificuldade; resolução de problemas matemáticos muito extensos e complexos;
projetos de trabalho extensos; testes e exames mais aprofundados; que necessariamente
demandam muito esforço, em muito, das funções executivas que estamos tratando
(MELTZER, 2010).
Portanto, Willis (2010) revela o dever essencial e capital do córtex frontal:
“o controle dos comportamentos voluntários que são acometidos pelas
seus danos ou transtornos, embora recentemente, os agentes educadores,
os terapeutas em educação e os professores do ensino específicos, sem
contar aqueles outros profissionais de educação, possuem método de
identificar a extensão das funções executivas no desempenho escolar.
“(WILLIS, 2010, pag. 265).

Entretanto, nos caso de negligenciar tarefas sem termina-las, apresentar dificuldade em


concentração e sustentar a atenção, déficit em organização e planejamento, déficit em
memória de trabalho, consequentemente provoca o esquecimento eventos, sendo todos esses
sinais regularmente relacionadas com o transtorno e que levam a determinante efeito no
desempenho funcional do indivíduo (SABOYA; SARAIVA; PALMINI; LIMA, COUTINHO,
2007).
Assim sendo, a identificação na infância de transtornos tanto de déficit de atenção e
hiperatividade como também de transtornos do espectro autista provocam danos no
desenvolvimento das funções executivas e portanto apresentam um baixo desempenho em
testes que avaliam o funcionamento executivo, ou seja, esses transtornos, tanto quanto a maior
7
parte dos transtornos psiquiátricos, estão ligados a danos nas funções executivas e falha no
controle das ações, emoções e consciência (ZELAZO, 2006).
De acordo com Denckla (2007) explana que em muitos casos, a espaço entre as
capacidades dos alunos e as qualidades apresentadas no currículo demonstra grande
discrepância no qual muitas disfunções executivas se encontram na raiz dos problemas de
aprendizagem ou nos fatores que as originam, em estudo de Denckla observou algumas das
funções executivas em crianças diagnosticadas com dislexia, em sua pesquisa evidenciou-se
que as crianças com o transtorno na leitura apresentavam desempenho abaixo ao do grupo
controle nos casos de funções de memória de trabalho, expressão verbal e de figuras, e
controle inibitório de estímulos, além disso, em um contexto geral obtiveram amostras de
prejuízo em algumas habilidades executivas que prejudicam no desempenho.
Todavia, as funções executivas segundo Fonseca são conceituadas:
“métodos intelectuais complexos onde se origina o desenvolvimento do
indivíduo e posteriormente do desempenho cognitivo, aprimora as suas
respostas de adaptação e o seu controle comportamental em ocasiões
que envolvem a manipulação de instrumentos, a coordenação, e controle
de processos cognitivos e conativos, de certa forma, possuem um grupo
de recursos mentais que são essenciais para aprender e atingir o
desempenho desejado. “(FONSECA, 2014, pag. 1-8).

Segundo Willis no que refere a desenvolvimento neuropsicológica, quanto


aprendizagem, por uma competência, de uma estratégia, na capacidade de alteração
comportamental por longo período de atividade, por exercício de resistência inicial a uma
competência final, tal como, a um exercício executado de forma automática, melodiosa,
espontânea, autônoma e sujeita a qualificar novas qualidades, portanto, demonstra-se esse
vínculo estabelecido entre as habilidades executivas e o desempenho escolar (WILLIS, 2010).
Enquanto Balbi (2008) em sua pesquisa observou modificação na memória de trabalho
em relação ao ambiente, assim como no desempenho da atenção, em comparação, o
desempenho similar em idades de prematuros seria definido como um déficit secundário das
funções executivas no autismo e corrobora com análises realizadas em alunos pré-escola. Os
autores completam que o prejuízo na área função executiva apresenta não ser primário ou
causal ao autismo e que tais déficits no desempenho podem agravar com o tempo.
Para Natale (2007) argumenta que os processos cognitivos de inibição de estímulos
desenvolvem-se rápido em média de um e seis anos de idade, entretanto o pensamento

8
flexível tem se considerado seu desenvolvimento cerca dos quatro anos, atravessando um
crescente desenvolvimento dessa habilidade entre os seis e os dez anos de idade (NATALE,
2007). Ainda de acordo com Natale, entre quatro e cinco anos, as crianças demonstram uma
notável evolução no desempenho de tarefas quanto ao planejamento e flexibilidade cognitiva.
Os ensaios de Argollo (2009) evidenciam que os testes neuropsicológicos são
essenciais recursos que analisam as questões quantitativas e qualitativas do desempenho
escolar, tendo grande validade para o reconhecimento de perfis cognitivos de grupos de
indivíduos com determinadas características clínicas. Mais além, Haase e Colaboradores
(2012) observaram que a análise neuropsicológica tem demonstrado ser um instrumento
eficaz, ao passo que proporciona medidas padronizadas, objetivas e confiáveis dos diferentes
panoramas de comportamento humano, permitindo que se trace um perfil particular do
funcionamento de cada aluno.
Outro ponto a destacar refere-se a desvalorização no nível socioeconômica, que pode
ser visto como um estado adverso no alcance de habilidades da função executiva, ao passo
que em famílias com maior escassez material podem ter dificuldade em desenvolver ou
vincular-se a condições favoráveis ao crescimento escola; entretanto, algumas pesquisas
observaram que crianças de menor nível socioeconômico apresentam desempenho inferior em
testes de memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva (KISHIYAMA,
2009; NOBLE, 2007).
As capacidades que constituem as funções executivas são destacadas simultaneamente,
pois estão associadas a um mesmo conjunto de regiões cerebrais. Além disso, são capacidades
inter-relacionadas de tal maneira que o desempenho de uma habilidade influencia
profundamente o da outra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, propomos que os déficits de aprendizado provavelmente sejam, na verdade,


déficits executivos, associados, assim, com a atenção, ou com a memória de trabalho, ou com
o controle inibitório. Logo, nos parece ser pouco plausível que uma criança ou um adulto
desenvolvam uma resistência pura em aprender, já que até os moluscos aprendem, e bem.
O que consideramos estar ocorrendo com essa criança ou esse adulto é que eles por
vezes não estejam sendo capaz usar o que aprenderam. Assim sendo, pretendemos que os
indivíduos que demonstrem suspeita de “déficit de aprendizagem” sejam sujeitos a testes de

9
função executiva, pois talvez aí resida a real origem do problema, e daí possa expressar-se
alguma alternativa de abordagem terapêutica.
Diversos estudos apontam que um bom desenvolvimento do funcionamento executivo
na infância está relacionado a um melhor desempenho na vida escolar e acadêmica.

REFERÊNCIAS
ARGOLLO, N. Avaliação Neuropsicológica da discalculia do desenvolvimento com o
Nepsy II: avaliação neuropsicológica do desenvolvimento. In A. SENNYEY, F. C.
CAPOVILLA & J. M. MONTIEL (Orgs.), Transtornos de Aprendizagem: da avaliação à
reabilitação (pp. 115-124). SP: Artes Médicas. 2008.

ARGOLLO, N., BUENO, O. F. A., SHAYER, B., GODINHO, K., ABREU, K., DURÁN, P.,
ASSIS, A., LIMA, F., SILVA, T., GUIMARÃES, J., CARVALHO, R., MOURA, I.,
SEABRA, A. G. Adaptação transcultural da bateria Nepsy – avaliação neuropsicológica
do desenvolvimento: estudo-piloto. Avaliação Psicológica, 8(1), 59-75. Artmed. 2009.

BALBI, A. Two clinical cases of children with arithmetic learning disability. Working
memory deficit in dyslexia: behavioral and fMRI evidence. International Journal of
Neuroscience January 120(1), 51-59. 2008.

BERTHOZ A. La Décision. Paris: Odile Jacob: Biologia da mente. Porto Alegre, RS:
Artmed. 2003.

COMMODARI, E., GUARNERA, M. Attention and reading skills. Perceptual and Motor
Skills, Ed. 100, 375-386. 2005.

COUTINHO, G., MATTOS, P., ARAÚJO, C., DUSCHENE, M. Transtorno do déficit de


atenção e hiperatividade: contribuição diagnóstica de avaliação computadorizada de
atenção visual. Revista Psiquiatria Clínica, 34(5), 215- 222. 2007.

DENCKLA M. Executive function: binding together the definitions of attention déficit


hyperactivity disorders and learning disabilities. In: Meltzer L, ed. Executive function in
education: from theory to practice. New York: Guilford Press; 2007.

DOUGLAS, R., MARKRAM, H., MARTIN, K. Neocortex. In G. M. Shepherd (Ed.), The


synaptic organization of the brain. New York: Oxford University Press. 2004.

ENGEL, A. P. M. J., NIKAEDO, C., A. N., TOURINHO, C. J., MIRANDA, M. C., BUENO,
O. F. A., MARTIN, R. Working memory screening, school context, and socioeconomic
status: an analysis of the effectiveness of the working memory rating scale in Brazil.
Journal of Attention Disorders, 18(4), 346-356. 2014.

FONSECA V. Aprender a aprender. 3ª ed. Pag. 1-8, Lisboa: Âncora; 2014.

FONSECA V. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos


factores psicomotores. 3ª ed. Pag. 22-40, Lisboa: Âncora; 2010.

10
FUSTER, J. M. The prefrontal córtex. Ed 4. London: Academic Press. 2008.

GATHERCOLE, S. E., PICKERING, S. J., KNIGHT, C. STEGMANN, Z. Working


memory skills and educational attainment: Evidence from national curriculum
assessments at 7 and 14 years of age. Appl. Cogn. Psychol. 18, 1–16, 2004.

GAZZANIGA, M. S., IVRY, R. B., MANGUN, G. R. Neurociência cognitiva: A


GOLDBERG E. The executive brain: unifying cognition. New York: Oxford University
Press; 2001. 2006.

HAASE, V. G.; SALLES, J. F.; MIRANDA, M. C., MALLOY-DINIZ, L.; ABREU, N.;
ARGOLLO, N.; MANSUR, L. L.; ALICE, M.; PIMENTA, M.; FONSECA, P.; MATTOS, P.
Neuropsicologia como ciência interdisciplinar: consenso da comunidade brasileira de
pesquisadores/clínicos em Neuropsicologia. Revista Neuropsicologia Latinoamericana, Ed.
4(4), Pag. 1-8. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. 2013.

KISHIYAMA, M. M.; BOYCE, W. T.; JIMENEZ, A. M.; PERRY, L. M; KNIGHT, R. T.


Socioeconomic disparities affect prefrontal function in children. J. Cogn. Neurosci. Ed.
21, Pag. 1106–1115. 2009.

LANFRANCHI, S.; JERMAN, O.; DAL PONT, E.; ALBERTI, A.; VIANELLO, R.
Executive function in adolescents with Down Syndrome. Journal of Intellectual Disability
Research, 54(4), 308 – 319. 2010.

MALLOY-DINIZ, L. F., SEDO, M., FUENTES, D., & LEITE, W. B. Neuropsicologia das
funções executivas. In D. FUENTES, L. F. MALLOY-DINIZ, C. H. P. CAMARGO, R. M.
COSENZA (Eds.), Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed. 2008.

MELTZER L. Promoting executive function in the classroom. New York: Guilford Press; 2
(3), pag. 40-45, 2010.

NATALE, L. L.; TEODORO, M. L. M.; BARRETO, G. V.; HAASE, V. G. Propriedades


psicométricas de tarefas para avaliar funções executivas em pré escolares. Psicologia em
Pesquisa, 2(2), 23-35. 2008.

NOBLE, K. G.; MCCANDLISS, B. D.; FARAH, M. J. Socioeconomic gradients predict


individual differences in neurocognitive abilities. Developmental Science 10, 464–480.
2007.

PELA, Comitê Científico do Núcleo Ciência et al. Funções Executivas e Desenvolvimento


na primeira Infância: habilidades necessárias para a autonomia. Estudo III. 2016.

PLISZKA, S. R. Neurociência para o clínico de saúde mental. Porto Alegre: Artmed. 2004.

POSNER M. Neuroimaging tools and the evolution of educational neuroscience. In:


SOUSA DA, ed. Mind, brain & education. Bloomington: Solution Tree Press; pag. 116-221
2010.

11
SABOYA, E.; SARAIVA, D.; PALMINI, A., LIMA, P.; COUTINHO, G. Disfunção
executiva como uma medida de funcionalidade em adultos com TDAH. Jornal Brasileiro
de Psiquiatria, 56 (supl.1), 30-33. 2007.

TRIDAS E. A. D. H. D. Reading and executive function: a perfect storm. 29th Learning


Differences Conference at Harvard Graduate School of Education, Boston, 2014.

WILLIS J. Current impact of neuroscience on teaching and learning. In: SOUSA D. A,


ed. Mind, brain & education. Bloomington: Solution Tree Press; pag. 265-281, 2010.

ZELAZO, P. D. The Dimensional Change Card Sort (DCCS): a method of assessing


executive function in children. Nat. Protoc. 1, 297–301 (2006).

12

Você também pode gostar