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MAPA DA

PROCRASTINAÇÃO
Resumo da Live de 15/03/2021 no perfil do Instagram

@murillonascente

Procrastinar é o ato de adiar atividades importantes, muitas vezes


fundamentais, para fazer outra coisa menos importante ou mesmo para
não fazer nada.
É diferente de postergar, que seria deixar para depois,
estrategicamente, alguma atividade que não é prioridade no momento. Na
procrastinação, decidimos conscientemente adiar algo importante,
sabendo que teremos prejuízos futuros, para nos livrar do desconforto
imediato que aquela tarefa irá gerar. E o pior é que as vezes a tarefa nem
gera tanto desconforto, ele está, muitas vezes, só na nossa imaginação, na
crença que cultivamos sobre o que iremos fazer.
Quantas vezes você já teve preguiça de iniciar algo, mas depois que
começou viu que não foi tão ruim assim? É importante percebermos que
não procrastinamos realmente as atividades, mas tentamos adiar o
sofrimento que “imaginamos” que aquela atividade trará. Muitas vezes
estamos redondamente enganados.
Todos nós procrastinamos! O que muda é a intensidade e em que
assunto enfrentamos maior desconforto. Algumas pessoas procrastinam
coisas relacionadas ao trabalho, aos estudos, outras procrastinam cuidados
com a saúde, dietas, exercícios físicos, e tem quem procrastine até mesmo
atividades que gosta de fazer.
Se todos procrastinamos, porque isso seria um problema? A grande
questão é que em algumas pessoas o impacto da procrastinação é
devastador. Por estar sempre adiando e deixando coisas importantes para
depois, acaba por manter sua vida paralisada, seus sonhos não vividos e
gera uma profunda sensação de incompetência existencial.

@murillonascente
Você pode fazer parte do seleto grupo de pessoas que procrastinam
muito pouco, e que não vê impactos negativos disso na própria vida. Porém
se você faz parte do imenso grupo que sofre por ter adiado e não ter
realizado coisas que julgava importantes para a sua vida, é justamente para
você estou escrevendo esse mini mapa mental da procrastinação.
Eu também já deixei projetos importantes morrerem por falta de
ação no momento certo. Timing, como chamam os especialistas. Tive os
momentos de decepção e tristeza com meu próprio rendimento.
Felizmente minha profissão me dá a oportunidade de analisar o
comportamento de diversas pessoas. Ouvir, ponderar, meditar e achar
caminhos.
Não foram poucos os procrastinadores que me procuraram com
queixas de ansiedade, insônia, depressão e insatisfações diversas. Depois
de muito ouvir percebi que grande parte das pessoas que desenvolvem
sintomas psiquiátricos, na verdade estão insatisfeitas com a própria vida,
não raro por se sentirem incompetentes, por não assumirem o
protagonismo das suas escolhas, por deixar sempre para depois, e em
algum momento, tropeçarem na poeira que jogaram para baixo do tapete.
Como bom ouvinte, atento, por mais de 15 anos anotei detalhes das
rotinas procrastinadoras de milhares de pacientes. Passei a entender o
mecanismo mental da procrastinação, aquele que vem antes, antes de você
abandonar seus estudos para olhar o celular, abandonar o trabalho para
ficar olhando o vazio, ou deixar a dieta para começar na próxima segunda
feira.
Vou compartilhar com você, claro que muito resumidamente, devido
ao formato dessa publicação, os principais mecanismos e gatilhos que
provocam o atraso na sua vida, e quem sabe, assim como centenas de
pacientes, você poderá usar esse conhecimento para procrastinar menos e
produzir mais, atingindo suas metas e se transformando na pessoa que você
quer, merece e tem toda a capacidade de ser.

@murillonascente
O mecanismo mental da procrastinação

A procrastinação acontece quando você decide que vai fazer algo.


Nesse exato momento, lá dentro do seu cérebro, você evoca uma série de
memórias que tem a respeito daquela atividade que pretende
desempenhar. Essas memórias são tudo o que você lembra a respeito
daquela atividade e vem carregadas de emoções, boas ou ruins. O conjunto
formado pelo que pensa a respeito de algo e as emoções que tem sobre
aquilo forma o que podemos chamar de crenças.
Logo, se você decide que irá escrever um texto, assim como estou
fazendo agora, se lembrará de todas as vezes que tentou escrever, de todas
as vezes que de fato escreveu, dos resultados que teve, também se
lembrará do que as pessoas próximas falam sobre escrever, o que você
pensa sobre escritores, e isso imediatamente despertará uma emoção. Ou
seja, despertou uma crença. O que você pensa e sente sobre escrever.
Se suas emoções forem negativas em relação a escrever, mesmo que
escreva muito bem, ou que ganhe muito dinheiro escrevendo, ou ainda
mesmo que nunca tenha escrito nada na vida, você sentirá desconforto
interno. Por enquanto nada muito forte, apenas um mal estar vago, e é a
partir daí que o gatilho da procrastinação entra em cena.
Quando algo não te soa divertido, mesmo que você não saiba
exatamente se vai ser legal ou não, você liga o “modo on procrastinador”.
Seu cérebro começa a dar opções para que você não se estresse com aquilo,
pelo menos não naquele momento. Esse é o estágio das chamadas “frases
procrastinadoras”.
Começam a surgir pensamentos como “ninguém manda em mim”, ou
“ah, a vida é muito curta”, ou ainda “não estou com vontade de fazer isso
agora”. Dependendo da sua personalidade, as frases podem ser mais
potentes, como “nossa, se eu fizer isso aí e ninguém gostar? Vai ser
horrível”, ou “será que devo fazer isso mesmo?” ou ainda, “é certeza que
não vou dar conta, não vou nem começar”.
Preste atenção na sequência, primeiro vem a ideia de fazer algo,
imediatamente você evoca suas “crenças” sobre aquilo que se propôs a
fazer, sente desconforto, aí começa a usar suas “frases procrastinadoras”,

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que são as descritas no parágrafo acima. Claro que não são só essas,
existem muitas outras, como “será que não podia fazer isso amanhã?”, ou
ainda “preciso conversar com alguém para ter certeza disso”. Cada pessoa,
durante sua vida, passa por inúmeras experiências, e vai criando suas frases
preferidas, o importante aqui é que você identifique as suas.
A partir desse momento você está igual uma pessoa fazendo dieta,
sem poder comer doces, dentro de uma confeitaria. Vivendo uma agonia,
uma tortura. Porque? Porque tem algo a fazer, acredita que aquilo será
ruim, e uma vozinha dentro da sua cabeça começa a tentar te convencer a
não fazer. O desconforto inicial cresce exponencialmente, só a ideia de
sentar para começar já é insuportável. Você está quase derrotado!
O golpe de misericórdia vem quando as “desculpas procrastinadoras”
surgem. Vou citar algumas delas aqui. “Eu faço o que eu quiser já que
ninguém manda em mim”. Ou, “o dia está tão bonito”, “essa chuvinha dá
uma vontade de dormir”, “ainda não estou preparado, vou me preparar
melhor”, “só estarei pronto quando comprar aquela caneta” (nesse caso
pode ser qualquer objeto, livro, cadeira de escritório, roupa, você acha que
a vontade de fazer virá quando comprar algum objeto que está “faltando”).
Muitas vezes a desculpa é “quando eu sentir vontade eu faço”, ou “quando
eu estiver motivado eu faço”, ou simplesmente você se pune com uma
autoacusação “eu nunca dou conta mesmo, sou um azarado ou um
incompetente”.
Pronto, fechou o círculo, você está preso e foi derrotado. Agora para
finalizar, basta escolher a sua “atividade procrastinadora”. As atividades
procrastinadoras são aquilo que você escolhe fazer no lugar do que deveria
estar fazendo, geralmente para te dar alívio do imenso desconforto que
essa sequência que acabei de descrever gerou.
Entre as atividades mais utilizadas estão dormir, navegar em redes
sociais, pensar, assistir a uma série, comer, sair para fazer compras,
conversar com algum amigo. Sempre atividades simples, com as quais você
não tem nenhum compromisso, e que, portanto, trarão prazer imediato
sem qualquer responsabilidade posterior.
Um detalhe muito importante aqui é que procrastinar trás um lado
bom, que é o alívio imediato da tensão e do desconforto, e também um
lado ruim, que é aumentar a lista das coisas que você não fez, e que

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provavelmente deverá fazer depois. O impacto desse atraso que definirá se
você é ou não um procrastinador crônico e que precisa rever seu
comportamento.

Uma visão biológica da procrastinação

O nosso cérebro foi criado e selecionado em um período de muita


escassez, e nosso único intuito era nos manter vivos e passar nossos genes
adiante, ou seja, nos reproduzir. As vezes temos a ideia de que nossa
inteligência sempre trabalha a nosso favor, e isso é um erro, porque as
vezes ela nos ilude, justamente para fazermos o que a natureza quer, viver
e procriar.
Nesse raciocínio precisamos entender que atividades que nos
mantém vivos e nos dão a chance de procriar, como comer, nos exibir, ou
seja, impressionar nossos semelhantes, fazer sexo, e superar rivais, foram
programadas no nosso cérebro para nos dar extremo prazer. Até aqui não
há nada errado, porém há um detalhe. Se essas tarefas forem cumpridas
uma vez só, ou raramente, não resolve. Precisamos repetir constantemente
essas atividades, afim de aumentarmos nossa chances de sobrevivência,
para isso o prazer que elas nos proporcionam tem que ser efêmero, durar
pouco tempo, e logo dar lugar à insatisfação.
Olha que situação a nossa. Obtemos prazer em algumas atividades,
mas esse prazer não pode durar para sempre, porque nesse caso, faríamos
uma vez só e não sobreviveríamos nem procriaríamos no ritmo necessário.
Então o prazer dura pouquinho e logo queremos mais. Insatisfeitos sempre.
Porém essa artimanha evolutiva do seu cérebro não pode ser
“descoberta”. Ele precisa manter a ilusão de que você será eternamente
feliz quando ceder aos encantos dos prazeres. Por isso ao vermos uma
rosquinha açucarada, ficamos completamente seduzidos, e esquecemos
que após comer a primeira não ficaremos felizes, mas sim teremos a intensa
vontade de comer a segunda, e a terceira, e o resto dessa história você já
conhece.
Coisa semelhante acontece quando deseja uma roupa nova, um carro
novo, um novo parceiro sexual. Sempre imaginamos que aquilo será a

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solução definitiva para todos os nossos problemas. Aí você vai, se entrega,
logicamente fracassa miseravelmente, e passa a desejar a próxima ilusão.
Esse mecanismo cerebral ancestral mantém o homem vivo, enquanto
espécie, há mais de 150 mil anos nesse planetinha azul e tem muito a ver
com sua procrastinação. Talvez você esteja se perguntando, mas porquê?
Porque nosso cérebro foi programado para dar muito mais atenção para os
estímulos que vem primeiro, do que para as consequências tardias. É
justamente isso que mantém as ilusões válidas.
Você não compraria uma roupa nova, se percebesse de antemão que
depois de poucos dias já iria querer outra. O frisson da compra as vezes
passa na chegada em casa, há quem compre roupas e guarde para nunca
nem mesmo experimenta-las. Quem comeria um delicioso hamburguer se
já o fizesse pensando no esforço em cima da esteira para queimar aquelas
calorias? Todos tomamos atitudes pensando apenas nas consequências
imediatas. Iniciamos relacionamentos com juras de amor eterno, que as
vezes duram poucas semanas. “Que seja infinito enquanto dure!”, Vinícius
de Morais não podia estar mais correto do ponto de vista biológico.
Como vimos anteriormente, a procrastinação tem dois efeitos, um
imediato, de alívio, e outro tardio, de gerar insatisfação e frustração. Lendo
os últimos parágrafos você já entendeu quem geralmente vence, e também
o porquê!
Baseado nisso, podemos entender que o ser humano é praticamente
construído para a procrastinação, nossos cérebros foram fabricados para
nos iludir que é melhor buscar migalhas de alívio agora, que resultados
excepcionais depois. Então, a regra geral é procrastinar.
E porque alguns de nós conseguem vencer isso? Como agem as
pessoas que vencem, pelo menos parcialmente, a forte tendência
procrastinadora ditada pela nossa arquitetura interna?

Técnicas para evitar a procrastinação

Basicamente a procrastinação ocorre de forma ativa e é uma escolha,


trocar um problema futuro por um prazer imediato. Poderíamos simplificar

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dizendo que a procrastinação pode ser gerada pela falta de URGÊNCIA, nos
resultados que você precisa apresentar. Por isso temos mais dificuldade de
procrastinar atividades quando temos um chefe bravo, um professor
exigente, alguém que te cobra diariamente. Quando não temos alguém
assim, deixamos “para a última hora”.
O que significa “a última hora”? O momento em que surge a urgência!
Percebe? Vamos procrastinando até não dar mais. Aí quando é urgente, ou
seja, o castigo virá logo ali na frente, optamos por fazer. Então uma das
técnicas é criar URGÊNCIAS ARTIFICIAIS.
São muitas as possibilidades, desde pedir que alguém cobre você, até
comunicar verbalmente a alguém a quem não queira decepcionar que irá
se comprometer a fazer aquilo. Pode ser que se negue algum prazer diário,
caso não cumpra a tarefa determinada. Trace metas com prazos, escreva e
deixe públicos na sua casa.
Todas as atividades acima fazem parte da técnica de criar urgências
artificiais, que muitos de nós usa, sem nem mesmo perceber que o estão
fazendo. Alguns usam para determinadas atividades e não para outras, por
isso tem resultados diferentes. Seria uma boa tentativa!
Outra opção é compreender toda a rotina procrastinadora, que
descrevi e deixarei resumida no mapa no fim do texto. Identificar suas
crenças procrastinadoras, suas frases, suas desculpas e atividades
procrastinadoras mais frequentes. E assim como faz um caçador, observa a
rotina da presa, e a surpreende quando menos se espera. Nesse caso, você
é o caçador, sua procrastinação, a caça! Entenda bem todos as rotinas da
sua caça, a acompanhe pacientemente por dias, semanas, meses, quando
souber tudo sobre ela, puxe o gatilho! Boa caçada!
Uma terceira dica que posso apresentar aqui, finalizando para que
isso não vire um livro, é que junte duas atividades. Se tem que estudar, e
essa é uma atividade que não te dá prazer, faça junto com outra que você
gosta, por exemplo ouvindo música. Se você, ao lembrar de estudar,
conseguir conectar esse pensamento com o momento prazeroso em que
ouvirá sua play list preferida, provavelmente sua crença sobre estudos irá
mudar. Essa dica vale para exercícios físicos, que podem ser feitos
assistindo à uma série da Netflix, ou mesmo seu trabalho, que pode ser

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realizado enquanto saboreia aquele seu chá preferido. Existem infinitas
combinações possíveis!
O assunto da procrastinação é imenso e poderíamos escrever um
livro completo sobre isso. Aliás, se você gostou do texto, e ficou com
vontade de ler mais a respeito, comente comigo via direct no Instagram. Se
muitas pessoas se interessarem, posso ampliar e melhorar o texto, com
mais exemplos, histórias e casos clínicos. Meu trabalho é ajudar você a
vencer seus monstros internos, mas para isso preciso saber se estou usando
a ferramenta certa. Peço que me dê seu feedback.
Logo abaixo colocarei o mapa em formato de gráfico, para que possa
ter um recurso mnemônico, lembrando-se de todo o texto de forma rápida
e didática. Aqui te peço mais um favor! Se foi útil para você, se gostou da
leitura, apenas se gostou e foi importante, peço que printe esse gráfico,
poste nas suas redes sociais e me marque. Coloque na descrição o que
sentiu ao ler e se foi importante para você. Irei, com todo o carinho,
comentar em baixo de cada postagem em que eu estiver marcado. Muito
obrigado por sua atenção até aqui! Até os próximos.

@murillonascente

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