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A (IM)PERFEIÇÃO E AS OLD CHARGES (I)

Paulo M.

No Livro das Constituições de Andersen, de 1723, aprovado por maçons ilustres como
Desaguliers, Cowper e Payne – reputados e reconhecidos pela sua sabedoria maçónica
– podem encontrar-se estas palavras: “The men made masons must be free-born, no
bastard, and of mature age, and of good report, hale and sound, not deformed, or
dismembered at the time of their making” (Os homens feitos maçons devem ter nascido
livres, não bastardos, de idade madura, boa fama, saudáveis e sãos, não deformados
ou amputados na altura da sua admissão). Isto levanta a questão: manter-se-á esta
exigência nos dias de hoje? Não há melhor forma de entender uma lei do que
descobrir e entender o propósito do legislador quando se deu ao trabalho de a
elaborar.

Em Junho de 1718 – fazia a Grande Loja de Inglaterra um ano – o Grão-Mestre


manifestou o desejo de que os Irmãos que tivessem acesso a registos e escritos
antigos sobre Maçons e Maçonaria os trouxessem à Grande Loja, para que pudessem ser
constatados os antigos usos e costumes da Maçonaria Operativa. Era importante, no
contexto da altura, conferir à Ordem recém criada uma certa patine, alguma daquela
aura de autoridade que só a idade proporciona. Foi assim que, nesse ano, apareceram
diversas cópias de documentos referente à Maçonaria Operativa – as “Gothic
Constitutions”. Face a estas, e não as achando adequadas, o Grão-Mestre e a Grande
Loja ordenaram ao Irmão James Andersen que as coligisse e elaborasse um novo e
melhor Método.

James Anderson, em 1723, com a aprovação da sua Grande Loja, publicou o resultado
do seu laborioso trabalho, no que se tornou uma das obras que mais influenciou a
Maçonaria até aos nossos dias: o primeiro livro de “The Constitutions of the Free-
Masons”. Nele incluiu uma secção chamada “the Charges of a Free-Mason” – os
chamados “Antigos Deveres” – extraída de registos de lojas “para além do mar”, bem
como de Inglaterra, Escócia e Irlanda, para uso pelas Lojas de Londres. Foi assim
que James Anderson fez uso dos antigos manuscritos a que chamou “The Old Gothic
Constitutions”, e que citou e parafraseou extensivamente na sua obra. É por esta
razão que, num livro destinado a Maçons Especulativos, encontramos regras que só
fazem sentido quando aplicadas a Maçons Operativos.

Os “Antigos Deveres” são os documentos históricos que constituem as tais “Gothic


Constitutions”. De um total de 119 documentos, cerca de dois terços são anteriores
à primeira Grande Loja de 1717 – talvez uns 75 – e uns 55 são anteriores a 1700.
Quatro foram escritos por volta de 1600, um é datado de 1583, outro de cerca de
1400 ou 1410, e outro será de cerca de 1390.

Quase todos começam com uma invocação: “Que a vontade do Pai do Céu, com a
sabedoria do seu Glorioso Filho, através da graça e bondade do Espírito Santo, que
são três Pessoas num só Deus, estejam connosco no nosso início, e nos dêem a graça
de que governemos a nossa vida aqui de modo que possamos chegar à Sua felicidade
que não tem fim. Amen.”

Pode ler-se então o anúncio do propósito e do conteúdo, seguido de uma breve


descrição das Sete Artes Liberais ou Ciências, uma das quais é a Geometria. Seguia-
se uma extensa História Tradicional da Geometria, Maçonaria e Arquitetura, que
tomava mais de metade do texto, e que se iniciava nos tempos bíblicos de Noé,
terminando no ano de 930, em que o Príncipe Edwin reuniu uma assembleia de maçons
na cidade de York, e estabeleceu os regulamentos usados “desde esse dia até aos
dias de hoje”.

A seguir vinha a forma de se fazer um juramento: “Um dos anciãos segurava o Livro,
de modo que ele ou eles pudessem colocar as mãos sobre o Livro, e então as regras
eram lidas.” a que se seguia o aviso: “Que cada maçon tome nota destes juramentos,
pois se alguma vez se vir culpado de ter violado um, que possa reconciliar-se com
Deus. E especialmente tu que vais prestar juramento, toma atenção ao cumprimento
destes juramentos, pois é um grande perigo para um homem quebrar um juramento feito
sobre um Livro”.

Seguia-se a lista das regras a cumprir, algumas de cariz comercial, outras de


índole comportamental. Sem dúvida que eram essenciais a uma comunidade de artesãos
que trabalhavam em grande proximidade vinte e quatro horas por dia. Por fim, vinha
o juramento: “Estas ordens que ensaiámos, e outras que pertençam à Maçonaria,
iremos guardar, assim Deus nos ajude, e por este Livro e para o seu poder. Amen.”

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