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O SEGREDO DA MEDITAÇÃO

1. O Porquê da Meditação

A meditação permite a cada homem atingir a sua meta: autoconhecimento, que é a fonte de toda sabedoria, e o
domínio dos problemas da vida e do viver.
Somente aqueles que a experimentaram por si próprios poderão entender plenamente o valor da meditação!
Quando algo que não tenhamos experimentado, nos é descrito, teremos apenas suas características; quando nós
mesmos experimentamo-lo teremos sua essência.
A meditação não é para qualquer um. Conquanto seus resultados sejam positivos, a trilha é árdua: haverá frustrações
em tentativas mal sucedidas e esperanças não realizadas. É verdadeiramente uma luta dura e longa; mas "quanto
mais dura a luta, maior ainda será a vitória".
O problema não é como suprimir pequenas e grandes fraquezas, mas como deixá-las para trás, como não ter mais
necessidade delas. Necessitá-las e ainda controlá-las é uma questão de energia, e nada tem a ver com
desenvolvimento superior que é a meta da meditação. Não se quer aumentar a energia armazenada e criar complexos
reprimidos que, por sua vez, tornar-se-ão fonte para novos e maiores problemas.
O proveito advindo da meditação é que nos permite ser humanos. Quase esquecemos como fazê-lo.
Somente aqueles que experimentaram-na poderão julgar a meditação. Ela pertence ao cerne mais profundo do nosso
ser, e demonstra a unicidade dos processos vitais. Ao iluminado ela mostra a grande unidade do nosso mundo com a
nossa própria essência; as verdades aparecerão onde não foram suspeitas, porquanto a verdade está em toda parte.
Acreditar nisso é bonito, mas experimentá-lo é a mais elevada dádiva com que o homem pode ser aquinhoado.
Existem duas maneiras de ajudar a humanidade a atingir felicidade e satisfação: ou pelo provimento de benefícios
materiais para todos, ou pela consolidação dos sentimentos de felicidade e satisfação do homem.
Sêneca dizia: "Se você quer ter felicidade, não multiplique as possessões, mas reduza os desejos".
Isto é mais fácil de se dizer do que de se fazer; porque, mesmo que estejamos convencidos que numerosos desejos
junto com a impossibilidade de satisfazê-los apenas criem sofrimento e insatisfação, os próprios desejos, que são as
verdadeiras fontes do sofrimento, não são com isso removidos. Mesmo a convicção certa de que o objeto desejado
seja inteiramente sem valor, não significa que paremos de empenhar-nos em obtê-lo.
A razão disso é que, enquanto estamos certos acerca do que desejamos, não sabemos por que o desejamos. Nem
sempre nos empenhamos em direção a um propósito prático - amiúde temos os mais confusos, estranhos, obscuros e
inexplicáveis motivos. Certamente, quando uma pessoa mendiga alguns centavos para comprar pão, não há nisso
nada de obscuro; mas, quando uma mulher necessita de um novo vestido porque ela não tem "absolutamente nada
para vestir" (seu guarda-roupa está abarrotado de vestidos), ela pode estar fazendo assim por uma centena de razões
diferentes - por simples vaidade, o desejo de aparecer rica, o desejo de agradar a um admirador, para fazer inveja a
uma amiga, mostrar ao público quanto ela pode se permitir ter em matéria de vestimentas, etc.
Em resumo: o homem está sempre a procura de algo que lhe dará um breve momento de satisfação; e sua psique,
amiúde, seguirá os caminhos mais tortuosos para obter este momento.
Os meios materiais deverão levar à satisfação espiritual - esta lei parece governar nossas vidas diárias. Satisfação
espiritual, no entanto, poderá ser produzida na própria esfera espiritual, e se nós falhamos em obtê-la, é porque não
temos nenhuma concepção dos trabalhos e potencialidades da psique. Sempre estamos a acusar causas externas
pelos nossos infortúnios, sempre procurando um bode expiatório e encontrando-o em todos os lugares, menos onde
este realmente está escondido - em nós mesmos.
Devemos, sempre que possível, procurar as causas que originam os efeitos. Quando não sabemos de onde estes
provêm, tornamo-nos vítimas do nosso próprio mau humor.
Temos que colher experiência, não só do mundo que nos rodeia, como de nós próprios.

Somos demasiadamente influenciados pelas impressões sensitivas para que possamos livrar-nos delas. Se fôssemos
capazes disso, e se olhássemos fundo dentro de nós, colheríamos tremendas forças e grandes potencialidades.
Se quiséssemos saber por que cometemos um determinado erro e saber sua verdadeira causa, teríamos que nos
concentrar neste erro e na sua provável causa por algum tempo, pensando tão só naquilo que desejamos. No entanto,
descobriremos que isto somente seria possível apenas por uns breves momentos ; todo tipo de pensamentos
secundários constantemente nos assaltariam. Geralmente, estes pensamentos nos parecem completamente
irrelevantes e triviais; no entanto, podemos estar certos que estes têm alguma conexão interna com o pensamento
principal.
Num estado de concentração em objeto fixo, muitas vezes os pensamentos que afloram na mente poderão
representar a solução para o problema proposto, ou poderão ser mais importantes do que o problema em questão.
Para as pessoas que não conhecem a meditação e não estão nela treinadas, um problema mal solucionado é
mascarado com mentiras e autodecepção, acompanhado das palavras: "destino", "infortúnio", "má sorte", etc.
A meditação ajuda a auto-análise. Enquanto a psicanálise descobre falhas passadas, a meditação cria sua própria
base psicológica para a ação. Em outras palavras: não terapia mas profilaxia; e que age também contra os germens
para os quais não existe vacina: erros, falsa conclusão, e mesmo, estupidez humana.

2. O que é a Meditação?

Quando um objeto qualquer é desejado, ele exerce um atração sobre nós, e não faz diferença se esta atração é
pequena ou grande, simples ou complicada, natural ou artificial. O que importa é que ela é uma atração.
Há três possibilidades de se atacar os desejos:
1º - O desejo é deslocado. Este é o caminho usual e também o mais simples. Mas um desejo deslocado não é
absolutamente destruído. Um desejo profundamente enraizado só poderá ser removido pela sua consumação.
2º - O desejo é superado ou dominado, quando não for profundamente enraizado, isto é, quando o mesmo não tenha
se tornado obsessão psicológica.
Desejos do momento poderão alterar seu objeto: psicologicamente eles permanecem os mesmos, somente sua forma
material é que muda. Isto acontece, por exemplo, quando a esposa que deseja um casaco de pele, fica plenamente
satisfeita com uma linda jóia.
As pessoas que constantemente acham novos disfarces para seus desejos podem facilmente mentir a si mesmas. Elas
transformam os mais primitivos desejos em objetos tão ideais que facilmente se tornam heróis para si e para os
próximos a ela.
Buda disse sabiamente: "Não somente as más paixões deverão ser superadas, mas as boas também; porquanto todas
as paixões são empecilhos".
3º - A terceira possibilidade é através da meditação.
Como ela funciona? Simplesmente evitando que o desejo se torne uma obsessão psicológica. Não é, porém, o desejo
em si que é influenciado, mas a esfera espiritual em que o desejo está enraizado.
Influenciar o desejo em si significa deslocá-lo; atacar seu conteúdo poderia facilmente "transformá-lo"; porém,
reconhecer e cultivar o solo no qual o desejo cresce, significa afetar o "momentum" espiritual do desejo. Somente
isto poderá ter resultados frutíferos, e deverá ser tentado.
Estranhamente, nunca somos governados pelas nossas forças intelectuais; mas somos pela experiência que a vida
tem nos dado. Este mundo de experiência, no entanto, não se guia pela medida intelectual do bom e do mal; do
contrário, só haveria gente boa e sábia, e não o grande número daqueles que alegremente "fariam o bem", mas, que
não podem. Não podem porque não sabem como usar sua própria experiência acima e além de seu entendimento
intelectual (através da meditação), e não podem seguir o caminho que é melhor para eles e para seus queridos - o
caminho que lhes daria felicidade. É difícil convencer do valor prático da meditação aqueles que estão
absolutamente certos que somente seu ambiente deverá ser culpado pelos infortúnios - e nunca eles próprios.
A meditação nos transforma de pobres vítimas em criadores ativos. Torna-nos cônscios de forças jazentes dentro de
nós, antes não descobertas. Ela nos dá paz e nos levanta acima do desespero.
A meditação é uma medicina homeopática a ser tomada uma ou duas vezes ao dia. É uma trilha sistemática para o
autoconhecimento; é o conhecimento de que o transtorno com o mundo surge de dentro de nós e não é algo que nos
governa de fora. E exige muita paciência que poderá também ser aprendida.

Sinopse e adaptação feitas por Nissim Cohen do livro: The Secret of Meditation (de Hans-Ulrich Rieker) publicadas
no Mudrá nº 2 (setembro/95).

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