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INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

AA-807: Fundamentos de Cálculo


Prof. Filipe Moreira
Derivadas - Parte 01

1 Derivadas

Até aqui discutimos uma noção intuitiva de limite, condições de existência de limites, limites
fundamentais, limites para casos de indeterminação e Continuidade. Nessa aula vamos explorar
o assunto derivadas, apresentando a definição, interpretação geométrica, mostrando a relação
entre continuidade e derivabilidade e apresentando as regras básicas de derivação.

1.1 Derivada: conceito e interpretação geométrica

Considere uma função f (x) e uma reta secante a essa função, cortando seu gráfico em dois
yB − yA
pontos distintos A e B. O coeficiente angular dessa reta secante é dado por ms = ,
xB − xA
mas como os pontos A e B pertencem à interseção da reta secante com o gráfico de f (x),
f (xB ) − f (xA )
podemos reescrever o coeficiente angular apresentado como: ms = . Tome o
xB − xA
caso em que o ponto A permanece fixo, mas o ponto B vai se movendo, ao longo do gráfico de
f (x), até tornar-se tão perto do ponto A quanto se queira. Naturalmente, a noção de limite
pode ser aplicada e a reta que antes era secante, tende a se tornar tangente.
 Logo, o coeficiente

f (x) − f (xA )
angular da reta tangente à f (x) no ponto x = xA é dado por: mt = lim . O
x→xA x − xA
coeficiente angular da reta tangente ao gráfico da função f (x) no ponto x = xA é exatamente
o conceito da derivada da função f (x) nesse ponto. A notações mais usuais para essa derivada
são:

 
′ df (a) f (x) − f (a)
f (a) = = lim (1)
dx x→a x−a

1
Obviamente, para que a derivada exista no ponto x = a, o limite que a define tem que existir,
assim é necessário que os limites laterais existam e sejam iguais, ou seja, as derivadas laterais
precisam existir e serem iguais.

Exemplo 1: Use a definição de derivada para calcular o coeficiente angular da reta tangente
à função f (x) = x3 no ponto x = 3.

Solução:

x3 − 27 (x − 3) (x2 + 3x + 9)
   

= lim x2 + 3x + 9 = 27.

f (3) = lim = lim
x→3 x−3 x→3 (x − 3) x→3

Exemplo 2: Use a definição de derivada para calcular o coeficiente angular da reta tangente
à função f (x) = ex no ponto x = 2.

Solução:

ex − e2 e2 (ex−2 − 1) (ey − 1)
     
2

f (2) = lim = lim = e lim = e2 .
x→2 x−2 x→2 x−2 y→0 y

Exemplo 3: Use a definição de derivada para mostrar que a função f (x) = |x − 4| não é
derivável no ponto x = 4.

Solução:
   
f (x) − f (4) f (x) − f (4)
Para fazer essa demonstração será necessário calcular lim+ , lim−
x→4 x−4 x→4 x−4
e mostrar que ambos são distintos. De fato, sobre a função f (x) = |x  − 4|, sabe-se que
f (x) − f (4)
f (x) = x − 4, quando x ≥ 4 e f (x) = −x + 4, caso contrário. Assim: lim+ =
     x→4 x − 4
x−4−0 f (x) − f (4) −x + 4 − 0
lim+ = 1. Já o limite lim− = lim− = −1. As
x→4 x−4 x→4 x−4 x→4 x−4
derivadas laterais são distintas para x = 4 e isso mostra que ess função é não derivável nesse
ponto. Na prática, dizemos que há um “bico”no gráfico dessa função para a abscissa x = 4. É
importante observar que o valor de f (4) existe e lim− f (x) = f (4), ou seja, a função é contı́nua
x→4
para x = 4, mas ela não é derivável nesse ponto. Esse resultado leva à observação de que as
funções deriváveis em um ponto, certamente são contı́nuas nesse ponto, mas o contrário não é
verdade.

2
1.2 Forma Alternativa de Escrever a Derivada

Já discutimos que a derivada é um limite, escrito de acordo com a Equação (1), mas se escre-
vermos ∆x = x − a, o mesmo limite pode ser reescrito na forma:
 
′ df (a) f (a + ∆x) − f (a)
f (a) = = lim . (2)
dx ∆x→0 ∆x

Como o resultado da Equação (2) vale para todo a ∈ Df , então, ela pode ser reescrita direta-
mente em função de x na forma:
 
′ df (x) f (x + ∆x) − f (x)
f (x) = = lim . (3)
dx ∆x→0 ∆x

1.3 Regras de Derivação

Utilizando a definição de derivada explicitada pela equação 3 podemos demonstrar propriedades


importantes da derivada. São elas:

1) Sejam k1 , k2 ∈ ℜ e considere as funções deriváveis f (x) e g(x). Defina h(x) = k1 · f (x) + k2 ·


g(x). Então, h′ (x) = k1 · f ′ (x) + k2 · g ′ (x).

2) Regra do Produto: Considere as funções deriváveis f (x) e g(x). Defina h(x) = f (x)·g(x).
Então, h′ (x) = f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′ (x).

3) Regra da Cadeia: Considere as funções deriváveis f (x) e g(x). Defina h(x) = f (g(x)).
Então, h′ (x) = f ′ (g(x)) · g ′ (x).

f (x)
4) Regra do Quociente: Considere as funções deriváveis f (x) e g(x). Defina h(x) = .
g(x)
f ′ (x) · g(x) − f (x) · g ′ (x)
Então, h′ (x) = .
(g(x))2

3
1.4 Tabela Básica de Derivadas

f (x) = k =⇒ f ′ (x) = 0

f (x) = xn =⇒ f ′ (x) = nxn−1

f (x) = ex =⇒ f ′ (x) = ex

f (x) = ax =⇒ f ′ (x) = ax ln(a)

1
f (x) = ln(x) =⇒ f ′ (x) =
x

1
f (x) = loga (x) =⇒ f ′ (x) =
x ln(a)

f (x) = sen(x) =⇒ f ′ (x) = cos(x)

f (x) = cos(x) =⇒ f ′ (x) = − sen(x)

f (x) = tg(x) =⇒ f ′ (x) = sec2 (x)

f (x) = sec(x) =⇒ f ′ (x) = sec(x) tg(x)

f (x) = cossec(x) =⇒ f ′ (x) = − cossec(x) cotg(x)

f (x) = cotg(x) =⇒ f ′ (x) = − cossec2 (x)

1
f (x) = arcsen(x) =⇒ f ′ (x) = √
1 − x2

−1
f (x) = arccos(x) =⇒ f ′ (x) = √
1 − x2

1
f (x) = arctg(x) =⇒ f ′ (x) =
1 + x2

4
Exercı́cios Propostos

EP1: Calcule as derivadas das funções dadas.


2 +1)
a) f (x) = sen(x2 + ln(x)) f) f (x) = (sen(3x))ln(x

√ 
b) f (x) = arcsen x3 + 3
x2 + 1 g) f (x) = sen(x) · cos(x) · cos(2x) · cos(4x)

2) n
c) f (x) = x(x Y
h) f (x) = sen(x) · cos(kx)
k=1
d) f (x) = x2 ln(cos(x))
i) f (x) = (cos(2x))tg(3x)
cos(3x2 + 5)
e) f (x) =
arctg(x) j) f (x) = ex sen(x)


EP2: Considere as funções: f (x) = ax , com a > 1 e g(x) = 2px, com p > 0. Mostre que
uma condição necessária e suficiente para que seus gráficos se tangenciem é que: a = ep/e .

2 Aplicações de Derivada

2.1 Regra de L’Hospital

Sejam as funções deriváveis f (x) e g(x) com f ′ (x) e g ′ (x) contı́nuas.

f (x) f ′ (x)
Caso 1: Se f (a) = g(a) = 0, então lim = lim ′ .
x→a g(x) x→a g (x)

f (x) f ′ (x)
Caso 2: Se f (a) → ±∞ e g(a) → ±∞, então lim = lim ′ .
x→a g(x) x→a g (x)

√6
7x3 + 8 − 2
Exemplo 4: Calcule lim √ . Observe que se trata de um caso de indeterminação
x→2 5 x4 + 16 − 2
0
e ambas as funções são deriváveis, logo cabe a aplicação da regra de L’Hospital. Assim:
0 √
1/6 −5/6
6
7x3 + 8 − 2 (7x3 + 8) − 2 (1/6) (7x3 + 8) (21x2 ) 5 (64)−5/6 (21)
lim √ = lim = lim = =
x→2 5 x4 + 16 − 2 x→2 (x4 + 16)1/5 − 2 x→2 (1/5) (x4 + 16)−4/5 (4x3 ) 6 (32)−4/5 (4 · 2)
5 · 21 35
= .
12 · 8 32

5
Exemplo 5: Calcule lim (cotg(x))(1/ ln(x)) . Observe que se trata de um caso de indeterminação
x→0
00 . Para usar a regra de L’Hospital,
 primeiro temos que transformar esse limite num caso de
0 ∞
indeterminação do tipo ou ± . Supondo que o limite estudado exista e vale L, então
0 ∞  
vamos tirar ln dos dois lados da igualdade. ln lim (cotg(x))(1/ ln(x)) = ln(L). Dado que a
1  x→0  1
função h(x) = é contı́nua, então: lim ln (cotg(x))(1/ ln(x)) = lim ln (cotg(x)) =
ln(x) x→0 x→0 ln(x)
 
ln (cotg(x)) 0
lim . Agora estamos num caso de indeterminação do tipo e podemos aplicar
x→0 ln(x) 0
− cossec2 (x)
 

ln (cotg(x)) cotg(x) −x cossec2 (x)


a regra de L’Hospital. ln(L) = lim = lim   = lim =
x→0 ln(x) x→0 1 x→0 cotg(x)
x
−x sen(x) −x
lim = lim . Mas temos que sen(2x) = 2 sen(x) cos(x) então :
x→0 sen2 (x) · cos(x) x→0 sen(x) · cos(x)

−2x 1
ln(L) = lim = −1. Assim, ln(L) = −1 ⇔ L = . Esse limite foi uma questão do
x→0 sen(2x) e
concurso da Escola Naval 2002. Na época essa questão foi contestada porque o limite não pode
ser tomado para x → 0, uma vez que a função ln(x) não é definida para valores negativos de x,
logo, para que esse limite fizesse sentido, o enunciado correto deveria ser: lim+ (cotg(x))(1/ ln(x)) .
x→0
No ano seguinte, a Escola Naval colocou em seu concurso, a mesma questão, mas considerando
a forma correta, ou seja, exigindo apenas o limite lateral à direita de zero.

Exercı́cios Propostos

EP3: Calcule os limites.


   x
20x 1
a) lim d) lim 1+ √
x→0 cos(5x) − cos(7x) x→+∞ x

x + ex
   
cos(5x) − 1
b) lim e)lim
x→+∞ e2x + x2 x→0 tg(x2 )

sen(x2 )
   
ln(3x)
c) lim f)lim
x→+∞ ln(x) x→0 cos(x) − 1

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