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6 SINGULARIDADES E RESíDUOS

Quando uma funçǎo ƒ (x) nǎo é diferenciável num complexo xO, diremos que xO é
uma singularidade de ƒ (x) ; xO dir-se-á uma singularidade isolada de ƒ (x) se, contudo, ƒ
(x) for holomorfa numa bola perfurada
Do(xO) = (x : 0 < |x — xO| < o} ,
de centro em xO e raio o > 0, suficientemente pequeno. A independência do valor do

integral (ver a secçǎo 5, DESENVOLVIMENTOS EM SÉRIES DE POTÊNCIAS)
1
2vi Cr(x0)
ƒ (x) dx,

relativamente às circunferências simples e positivamente orientadas, Cr(xO), de centro em


xO e raio 0 < r < o, assume um papel de grande relevo. Constitui-se com ele o chamado
resíduo de ƒ em xO, que representaremos por Res (ƒ, xO).
Considerando o desenvolvimento de Laurent de ƒ em Do(xO),
Σ∞
ƒΣ(x)∞= a (x — x )n + bn
, x ∈ D (x ), (1)
o O
n O
n=O n=1 (x — xO)n
a série
∞ bn
Σ
n
,
n= (x — x O)
1
dita parte singular da série de Laurent, pode constituir a pedra-de-toque para a
classifi- caçǎo dessas singularidades. Note-se que pelo teorema de Laurent (ver secçǎo 5.1,
SÉRIES DE LAURENT) o resíduo de ƒ em xO coincide com o coeficiente b1, do primeiro
termo da mesma parte singular.

6.1 CLASSIFICAÇÃO DE SINGULARIDADES

Através daquela série podemos, de um modo bastante natural, distinguir os diversos


tipos de singularidades de acordo com a seguinte definiçǎo:
Definição 1 Se(a xO uma singularidade isolada de ƒ. Diremos que:
i) xO é uma singularidade removível se todos os coe cientes bn forem nulos;
ii) xO é um polo, se apenas um número nito dos coe cientes bn não forem nulos; se bk
=/ 0 e bn = 0 para cada n > h, xO diz−se um polo de ordem h (usaremos a
terminologia de polo simples quando h = 1, de polo duplo quando h = 2, etc.).
iii) xO é uma singularidade essencial de ƒ, se uma in nidade dos coe cientes b n forem
diferentes de zero.

Observemos que quando xO s é uma singularidade removível da funçǎo ƒ,



temos que n O
n=O

1
Σ∞
ƒ (x) = a (x — x )n,

n O
n=O

2
para x ∈ Do(xO), onde esta série é convergente. Como tal podemos tornar ƒ diferenciável
em xO, mediante a chamada remoção da singularidade, a qual consiste simplesmente em
atribuir à funçǎo o valor aO no ponto xO. De facto, desse modo, passamos a ter ƒ analítica
em xO.

6.2 TEOREMA DOS RESíDUOS


À custa do conceito de resíduo podemos entretanto proceder a uma extensǎo da
teoria de Cauchy-Goursat através do importante teorema que a seguir
estabelecemos.
Teorema 2 (Teorema dos Æesíduos) Se(a ƒ uma função que no aberto e convexo U
apenas tem um número nito de singularidades isoladas, x1, ..., xq. Se F for uma linha
fechada em U que não passe por estas singularidades, então
∫ Σ
ƒ(x)dx = 2vi I(F, x()Res(ƒ, x(). (2)
F
q

(=1

Dem.: Para cada j = 1, ..., q, existe, pelo teorema de Laurent, uma bola perfurada
Dr( (x() = (x : 0 < |x — x(| < r(} ,
de centro em x( e raio r( > 0 suficientemente pequeno, na qual,

Σ b(n

ƒ (x)
(n Σ
n=O
( n .
(x — x n=1 (x — x ()n
= a
Para cada j = 1, ..., q, consideremos )a +
família de funçǒes

Σ b(n
(
σ n= .
1 (x — x ()n
(x) =
Observemos que cada uma destas séries é absolutamente convergente em K (x(; 0, ∞) =
x : 0 < x (j = 1, ..., q)) e neste conjunto σ((x) é uma funçǎo holomorfa (veja-se a este
( |
propósito as observaçǒes feitas no final da secçǎo 4.2, FUNÇÕES ANALÍTICAS).
Assim, podemos afirmar que cada σ( é holomorfa em s x( (j = 1, ..., q) .
\(
Deste modo, através de
q
g(x) = ƒ(x) — Σσ((x)
(=1

constituímos uma funçǎo holomorfa em U\ (x1, ..., xq} . Porém, em cada x(, (j = 1, ..., q),
g possui uma singularidade removível, já que na correspondente bola perfurada, Dr( (x(),
é ∞ q
Σ Σ
g(x) = a(n(x — x()n — σk(x).
n kk (

Logo, após a remoçǎo das respectivas singularidades, podemos tomar g como uma

3
q
funçǎo holomorfa em U, vindo pelo teorema de Cauchy que
∫ Σ ∫
ƒ (x) dx = σ( (x) dx.
F F

(=1

4
Por outro lado, para cada j = 1, ..., q, tem-se

∫ ∫ b(n
σ (x) dx = Σ n
dx,
( F
F n=1 (
e como ∫ (x — x
b
(n dx = 0,
n
para n ≥ 2, podemos concluir F (x — x()

que

S( (x) dx = 2vib(1I(r, x() = 2viI(r, x() Res(ƒ, x(),
F

ficando o teorema demonstrado.

6.3 CÁLCULO DE RESíDUOS


A importância do teorema dos resíduos levou a que se procurassem métodos de
classi- ficaçǎo de singularidades e de cálculo dos respectivos resíduos sem recorrer à
utilizaçǎo do correspondente desenvolvimento em série de Laurent. Tais métodos podem
ser profícuos sobretudo na análise de singularidades removíveis e de polos. O
comportamento das funçǒes em torno de singularidades essenciais é
significativamente mais complexo.

Teorema 3 Se(a xO uma singularidade isolada de ƒ.


i) xO é uma singularidade removível se e só se existir
lim ƒ (x) = , (3)
x→x0 /
sendo então Res (ƒ, xO) = 0.
ii) xO é um polo de ordem h se e só se existir
lim (x xO)k ƒ (x) = 0, . (4)
x→x0 — /
Então se h =
1 Res (ƒ, xO) = lim [(x xO) ƒ (x)] ; (5)
x→x0 —
h i
se h > 1
Res (ƒ, x ) = lim Dk—1 (x — x )k ƒ (x) (6)
1
Dem.: Relativamente a umaO certa bola perfurada,
x Do(xO),O de centro em xO, consider-
(h — 1)! 0
emos o correspondente desenvolvimento em série de Laurent de ƒ:
Σ∞ a (x — x )n +
bn
ƒ (x) = (x ∈ D (x )) .
Σ∞
n n O (x — o O
n
i) Se xO é uma singularidade removível entǎo para x ∈ Do(xO)
n O
n

3
Σ∞
ƒ (x) = a (x — x )n.

n O
n

4
Como tal, existe limx→x0 ƒ (x) = aO.
Inversamente, a existência deste limite implica que
lim (x xO)ƒ (x) = 0.
x→x0 —

Isto significa que para qualquer 6 > 0, existe r ∈ ]0, o[ , suficientemente pequeno, digamos
tal que r < 1, de modo que para qualquer x ∈ Br(xO),

|ƒ(x)(x — xO)| < 6.

Ora sendo, para n ≥


1, 1 ∫
bn = ƒ(x)(x — xO)n—1dx,
2vi
Cr(x0)

temos que
1
|b n| ≤ max n—1
2 |ƒ(x)| |x — x | s (C(x , r))
O O
maxm2C (x r

2C (x ) n—2
≤ |ƒ(x)| |x — xO| |x — xO|
r 0
r
< 6 rn—1 < 6.

Da arbitrariedade de 6, concluímos que bn = 0, para cada n = 1, 2, ... .


Quanto ao resíduo, tem-se obviamente Res (ƒ, xO) = 0.
ii) Se xO é um polo de ordem h, entǎo com bk /= 0,

Σ∞ kΣ
bn
ƒ (x) = na (x —Ox ) + n

n n (x —
para x ∈ Do(xO). Nestas circunstâncias, temos


Σ O k
an(x — xO)n+k + b1 (x — xO)k—1 + ... + b k—1 (x — xO) + bk,
n=O
(x — x ) ƒ
pelo que(x)existe
=
→x (x — xO) ƒ (x) = bk
k
0, ∞.
limx
0
k
=/
Inversamente, se existe limx→x0 (x — xO) ƒk (x) /= 0, ∞, por i), a funçǎo (x — xO) ƒ (x)
tem uma singularidade removível em xO. Como tal, temos para x em torno de xO,


Σ O k an(x — xO)n,
n=
(x — x ) ƒ O
(x) =
em que aO = limx
→x (x — xO ) ƒ (x) =/ 0. Deste modo, o desenvolvimento de Laurent de
k
0

ƒ
em torno de xO é dado por
5
ƒ (x) = aO ak—1
Σ∞ a (x — x )n—k = + ... + + (x — x )n,
n Σ∞
a
n O n O
(x — (x — n

e, por conseguinte, xO é um polo de ordem h.

6
Quanto ao resíduo, notemos com base no desenvolvimento de Laurent de (x — xO)k ƒ (x)
em torno de xO, que por derivaçǎo termo-a-termo
h i Σ∞
Dk—1 (x — x )k ƒ (x) = (n + h) ...n(x — x )n+1 + (h — 1)!b ,
x O n

a
O 1
n
resultando em consequência,
1 h i
Res (ƒ, x O) =
(h — 1)!lim 0D x (x — x O) ƒ (x) .
k—1 k

Reanalisando o teorema de Goursat (ver secçǎo 2.1, TEOREMA DE GOURSAT) podemos


observar, à luz do ponto i) deste teorema, que a singularidade que ele refere é uma singu-
laridade removível cuja remoçǎo permite a aplicaçǎo imediata do teorema de Cauchy.

6.4 CASO DE FUNÇÕES ƒ(x) = g(x)/k(x)


Quando
ƒ(x) = g(x)
k(x)
em que g e k sǎo funçǒes holomorfas num dado aberto U, as potenciais singularidades
de ƒ sǎo os zeros da funçǎo k. Neste contexto, tem a chamada multiplicidade dos zeros
de g e de k um papel relevante na classificaçǎo da singularidade.
Perante uma funçǎo, $, holomorfa numa vizinhança de um ponto xO, se xO é um
zero de $ tal que
$J(xO) = 0, ..., $(m—1)(xO) = 0 e $(m)(xO) 0, (m ≥ 1),
diremos que $ tem em xO um zero de multiplicidade m. (Utilizaremos também as
desig- naçǒes de zero simples, quando m = 1, zero duplo para m = 2, etc.).

Exemplo 4 A função $(x) = x3 — 2x2 + x tem apenas dois zeros: 0 e 1. Gomo $J(0) =
1 = 0, temos que 0 é um zero simples de $. Gontudo $J(1) = 0 e $JJ(1) = 2 0, o que
/
signi ca que 1 é um zero duplo de $.

Se numa vizinhança de xO, a funçǎo $, nǎo possuir outros zeros para além de xO,
diremos que xO é um zero isolado de $. Neste sentido, notemos que se xO é um zero
de multiplicidade m, entǎo através do desenvolvimento em série de Taylor de $ em
torno de xO, se tem
$(x) = (x — xO)m $ 1(x) ,
para x numa certa bola aberta, Bo (xO) , de centro em xO e raio o > 0, onde
$(m)(xO)
$1 (x) = +$
(m+1)
(xO) $(m+2)(xO) (x — xO) 2 + ... .
m! (x — xO) (m + 2)!
(m + 1)!
+
Sendo $1 (x) contínua e

7
$1 (xO) = /= 0
(m) m!
$ (xO)
podemos escolher o suficientemente pequeno de modo que seja $1 (x) 0 para qualquer
x ∈ Bo (xO) . Como tal, xO é um zero isolado de $.

8
Teorema 5 Se(a ƒ(x) = g(x)/k(x), com g e k holomorfas num dado aberto U, e xO U

um zero de k de multiplicidade m.
i) Se g(xO) /= 0, então xO é um polo de ordem m de ƒ.
ii) Se xO é um zero de g de multiplicidade h m então xO é uma singularidade removível

de ƒ.
iii) Se xO é um zero de g de multiplicidade h < m então xO é um polo de ƒ de ordem
q = m — h.

Dem.: É claro que sendo xO um zero isolado de k, xO será uma singularidade isolada
de ƒ.
Consideremos entǎo os desenvolvimentos de Taylor de g e de k em torno de xO:
g(k)(xO) k
g(k+1)(xO) (x — k+1
g(x) = (x — xO) + (h + 1)! + .. g(k) (xO) 0 ,
h! x O) .

k(m)(xO) k(m+1)(xO) (x —
m
m+1
k(x) = (x — xO) + (m + 1)! + .. k(m) (xO) /= 0 .
m! x O) .

Entǎo, para o > 0 suficientemente pequeno, temos na bola aberta, Bo (xO) , de


centro em xO e raio o:

k g(k)(xO) (k+1) ,
g(x) = (x — +g (xO)
h!
(x — xO) +
m k(m)(xO) (h + 1)!
k(m+1)(xO)
k(x) = (x — xO) , (8)
+ (x — xO) +
...
m! (m + 1)!
e consequentemente, , ,
g(h)(x0) (h+1)
(x0)
k + g
(x — x ) + ...
O
,
k( (m) (m+1)
(x(x—
— xO) h (x0) h (x0)
g(x) k! + (x — x ) +
ƒ(x) = = , m!
(k+1)!
(m+1)! O
i) Se g(xO) /= 0, entǎo h = 0 .
e
m!g(xO)
lim (x — x )m ƒ (x) = 0, ∞.
O (m)
x→x0 k (xO)

Logo xO é um polo de ordem m de ƒ (x) .


ii) Se h ≥ m ≥ 1 também
(k)
lim ƒ (x) = m! g(m)(xO) ∞.
x→x0

9
Logo xO é uma singularidade removível.1 h! k (xO)
1
Note-se que depois de removida a singularidade, fica ƒ(zO) 0, se k = m, e ƒ com um zero em zO de
multiplicidade k — m, se k > m.

1
iii) Se m > h ≥ 1, com q = m — h, temos que

lim (x — xO)
m! g(k)(xO) /= 0, ∞,
qƒ (x) (m)
=
x→x0 h! k (xO)
pelo que xO é um polo de ordem q.
No que respeita ao cálculo dos resíduos, pode proceder-se segundo as fórmulas (5)
ou (6).
Argumentos semelhantes aos usados no teorema anterior permitem-nos uma general-
izaçǎo às funçǒes holomorfas da conhecida regra de Cauchy.

Teorema 6 (Æegra de Cauchy) Se(am g e k holomorfas num dado aberto U, e xO ∈ U


tais que g (xO) = k (xO) = 0. Então
1 J

J 1
g (x) g ( g g
li = e = ,
x→x0 k (x) x→x0 k (x)
J x→x0 1
h(x) x→x0 1
J

h(x)

onde a não existência de um dos limites implica a não existência do outro.

Dem.: Suponhamos tal como acima que xO é uma zero de multiplicidade h de g (x) e
um zero de multiplicidade m de k (x) . Entǎo por (7) e (8) temos, respectivamente,

g (x) = (x — xO)k g1 (x) e k (x) = (x — xO)m k1 (x) ,

onde

g(k)(xO)
(k+1)
g1 (x) = +g (xO)
h! (x — xO) + ...
(m)
(h + 1)!
k (xO) (m+1)
k1 (x) = +k (xO)
(x — xO) + ...
m! (m + 1)!
sǎo funçǒes holomorfas e nǎo nulas numa vizinhança de xO.
Notemos que
lim g (x) g1 (xO) lim (x — xO)k—m .
x→x0 k (x) = k1 (xO) x→x0

De

gJ (x) = h (x — xO)k—1 g1 (x) + (x — xO)k gJ (x) ,


1
kJ (x) = m (x — xO)m—1 k1 (x) + (x — xO)m kJ 1(x) ,
resulta
também

lim g (x) lim (x — xO) [hg1 (x) + (x — xO) g 1(x)]


J k—1 J
=
x→x0 kJ (x) x→x0 (x — xO)m—1 [mk1 (x) + (x — xO) kJ (x)]
1
hg1 (xO) lim (x — xO)k—m .
=
Assim, se h = m temos
1
mk1 (xO) x→x0

g (x) gJ (x)
lim = lim ,
x→x0 k x→x0 kJ (x)
(x)

1
o mesmo acontecendo quer quando h > m, caso em que ambos os limites sǎo zero,
quer quando h < m, caso em que os dois limites sǎo .

Analogamente,
1 1
lim g(x) = lim (x— k1 (xO) lim (x m—k
= x )
x→x 0 1 x→x 0
x0)hg1(x)
1 — O
h(x) (x—x0)mh1(x) g1 (xO) x→x0

e
J

1 k(x—x0)h—1g1(x)+(x—x0)hgr (x)
g
— [(x—x )hg 1
0
=
m(x—x0)m—1h1(x)+(x—x0)mhr 1
(x)
x→x0
li 0
x→x J1
— [(x—x0)mh1(x)]2
h(x) [k1 (x)]2 (x — xO)k—m [hg1 (x) + (x — xO) gJ (x)]
2(m—k)
= lim (x xO) 1
x→x0 — [g1 (x)]2 [mk1 (x) + (x — xO)m kJ 1(x)]
[k1 (xO)]2 [hg1 (xO)]
= lim (x — xO)2(m—k) (x — xO)k—m
x→x0 [g1 (xO)]2 [mk1 (xO)]
hk1 (xO) lim (x — xO)m—k ,
=
mg1 (xO) x→x0
donde resulta igualmente J
1 1
g(x)
lim g(x) = lim .
x→x0 1 J
h(x) x→x0 1
h(x)

Pelos argumentos usados podemos ainda concluir que a nǎo existência de um dos
limites implica a nǎo existência do outro.

6.5 RESíDUO NO PONTO INFINITO


Se ƒ é uma funçǎo holomorfa num conjunto

Do(∞) = (x : |x| > o} ,

também o ponto in nito pode ser tomado, com algumas vantagens em certos casos,
como uma singularidade de ƒ.
Notemos que também os valores dos integrais
1
2vi ƒ (x) dx,

Cr

relativos a qualquer circunferência simples e negativamente orientada, Cr— , de centro


na origem e raio r > o, sǎo invariantes com r; constitui-se com eles o chamado resíduo
de ƒ no ponto in nito, que representaremos por Res(ƒ, ∞).
Observemos que parametrizando a circunferência Cr— através da funçǎo r (t) = re—it,
1
com t a variar no intervalo [0, 2v] , entǎo com $(x) = ƒ(1/x)
1
1 ∫ 2π
2vi ∫ ƒ (x) dx = —it —ire—it dt
2vi O ƒ re

Cr

∫ 2π
!
1 1 1
= — ƒ e
i ir
O eit
∫ 2π !
1∫
= — ƒ 1e 1 2i d
2vi O e re
1 $(x) r
= —
it

+
C (O,1/r) dx,
x2
pelo que 2vi

$(x)
Re s (ƒ, ∞) = —Re s x ,0 , (9)

tendo em conta que a funçǎo $(x)/x2 é holomorfa em D1/o(0) = x : 0 < x < 1/o com
( | | }
uma singularidade em x = 0.
É no âmbito do teorema dos resíduos que o resíduo no ponto infinito de uma
funçǎo assume alguma relevância prática de acordo com o que se explicita no teorema
seguinte.
Teorema 7 Se ƒ for uma função com um número nito de singularidades isoladas,
x1, ..., xm, em s, então
m
ΣRes(ƒ, x() + Re s(ƒ, ∞) = 0. (10)
(=1

De facto, considerando uma circunferência simples e positivamente orientada, Cr,


de centro na origem e raio r suficientemente grande de modo que x1, ..., xm intCr, entǎo
( }
pelo teorema dos resíduos temos

1 ∫ m
Σ 1
2vi ƒ (x) dx = Re s(ƒ, x() = ƒ (x) dx = —Re s(ƒ, ∞).
2vi ∫

Cr
(=1 Cr

∫ F (t) = 2eit, t ∈ [0, 2v] , pelo teorema dos resíduos e por (10), o integral
Exemplo 8 Gom
1 1 1
dx = 2vi Re s , 1 + Re s , —1
2
2
F x — 1 x —1 2
x —1
= —2viRe s (ƒ, ∞) .
Aplicando (9) obtemos que

1
1 $(x)
dx = 2vi Re s , 0 = 0,
2
F x — 1 x2
(á que neste
1
caso
$(x) 1 1
1
1
x2
= ƒ = 2 =
x2 x2 x x 1 — x2
é uma função diferenciável em x = 0.

1
6.6 EXERCíCIOS RESOLVIDOS
1. Através dos correspondentes desenvolvimentos em série de Laurent, classifique as
singularidades das funçǒes indicadas a seguir e indique os respectivos resíduos:

a) ƒ(x) = sin x
.
x
b) ƒ(x) = x3ei/x.
1
c) ƒ(x) = 2 .
(1—x)
x
d) ƒ(x) = .
x2 + 1
1
e) ƒ(x) = 2 .
x(1—x)

2. Sem recorrer aos desenvolvimentos em série de Laurent, classifique as


singularidades das funçǒes indicadas a seguir e determine os respectivos
resíduos:

sin2 x
a) ƒ(x) = .
x3
i)2
(eix
b) ƒ(x) = — .
x—π
2
2x+1
c) ƒ(x) = .
(x—1)(x2—2x+2)

d) ƒ(x) = e — 1 .
ix

sin x

3. Com respeito ao caminho r dado por r (t) = 2e—i2t, t [0, v] , calcule os



seguintes integrais:

a) r e(1—1/x) dx.
∫ 1
b) r (x2+1) 2 dx.

c) r
sec2 x dx.

1
6.6.1 RESOLUÇÕES
1.a): A funçǎo
sin x
ƒ(x) =
x
possui uma única singularidade na origem. Podemos construir o desenvolvimento de
Laurent de ƒ em torno da origem através do desenvolvimento de Mac-Laurin da
funçǎo sen x, obtendo-se
1 ∞
1 Σ (—1) Σ (—1)
∞ n n
ƒ(x) = sen x 2n+1 2n
= x (2n + x = (2n + x ,
x n=O 1)!
n=O
1)!
válido para x D∞(0) = x : 0 < x . Podemos entǎo concluir imediatamente que a
∈ ( |
origem é uma singularidade removível de ƒ e que, como em qualquer singularidade
desse tipo, Res (ƒ, 0) = 0. Note-se que após a remoçǎo da singularidade se obtém ƒ (0) =
1 e por conseguinte
lim sin
x→O x = 1.
x

1.b) : Tal como no exemplo anterior, a funçǎo

ƒ(x) = x3e1/x

tem na origem a sua única singularidade. O desenvolvimento de Laurent de ƒ em


torno da origem pode agora ser obtido à custa do desenvolvimento de Mac-Laurin da
funçǎo exponencial. Temos entǎo, para x ∈ D∞(0) = (x : 0 < |x|} ,
ƒ (x) = x 3 e1/x = x 3 Σ∞ 1 1 Σ∞ 1
1 1 1 1 1
Σ∞ =
3
=x +x + 2
x+ + .
2 3
n n! n n! xn n n! xn
Esta última série constitui a parte singular da correspondente série de Laurent de ƒ
em D∞ (0), o que nos permite concluir que a origem é uma singularidade essencial de ƒ
e que Res(ƒ, 0) = 1/4! = 1/24. A parte regular da mesma série é constituída apenas por
1 1
+ x + x2 + x3.
3! 2!
1.c) : Como
1 1
, =
(1 — x)2 (x — 1)2
o desenvolvimento em série de Laurent de ƒ(x) em torno de x = 1, única
singularidade da funçǎo, resume-se a
1
ƒ (x) = 2
.
(x — 1)
Isto significa que x = 1 é um polo duplo e que Res(ƒ, 1) = 0.
1d): As singularidades de

1
x x
ƒ(x) = = ,
x2 + 1 (x + i)(x — i)

1
sǎo x = i. Podemos determinar o desenvolvimento de Laurent da funçǎo em torno de
x = i, através da decomposiçǎo
1 1 1 1
ƒ(x) = + .
2 (x + i) 2 (x — i)
Como para x tal que |x — i| < 2,
1 1 1 1
=
2 (x + i) 2 (2i + x — i)
1 1
=
4i 1 + x—i

2

= 1 Σ —1 n

4i (x — i)n
n=O 2i
n
1Σ∞ i
= (x — i)n
4i 2
n=O
Σ∞ in—1 n
=
(x — i) ,
n=O 2n+2

obtemos

n—1 1 1
ƒ(x) = Σi + ,
n=O (x — i) 2 (x — i)
2n+2
para x ∈ D2(i).
Por comparaçǎo com (1) temos que

in—1
an =, n ≥ 0,
2n+2
e que b1 = 1/2, bn = 0, para n > 1, o que nos permite concluir imediatamente que x = i
é um polo simples de ƒ e que
Res(ƒ, i) = 1/2.
Analogamente em torno de x = —i temos para x ∈ D2(—i)
1 1 1 1 1 1
ƒ (x) = — = — 1
(x + i)n,
2 (x + Σ
4i 1∞— 2x n 2n+2

e, por conseguinte, ƒ tem também naquele ponto um polo simples, sendo Res(ƒ, —i) = 1/2.
1.e): x = 0 e x = 1 sǎo as singularidades de
1
ƒ(x) =2
.
x (1 — x)
Para obtermos o desenvolvimento de Laurent em torno de x = 0, notemos

1
primeira- mente que
1 (1 — 1
= Dx .
2
x) 1—x

2
Como para x ∈ B = (x : |x| < 1} se tem

1 Σ∞
= xn,
1 n

entǎo dada a possibildade de derivarmos termo-a-termo


! uma série de potências, obtemos

1 xn =
=Dx nxn—1.
(1 — Σ∞
Σ∞

n n

Assim, para x ∈ D1 = (x : 0 < |x| < 1} , é



1
ƒ(x) = nx n—1 =
x Σ nxn—2,
Σ∞
n=1 n=1

ou seja, ∞ ∞
1 1
ƒ(x) = + Σnx n—2
= + Σ(n + 2) x.
x x
n=2 n=O

Por comparaçǎo com (1) podemos concluir que para n 0, an = n+ 2 e que b1 = 1, bn = 0


para n > 1. ≥
Logo x = 0 é um polo simples e Res (ƒ, 0) = 1.
No que respeita a x = 1, a série de Laurent em D1 (1) = x : 0 < x 1 < 1 pode ser
( | — | }
obtida através de
1 1 1 1
ƒ(x) = =
(x — 1)2 x (x — 1)2 1 + x — 1

1 Σ(—1)n (x — 1)n
= (x — 1)2
∞ n=O

= Σ(—1)n (x — 1)n—2
n=O
1 1
= — + (—1)n (x — 1)n—2
Σ∞(x — (x —

n
1 1
= — + (—1)n (x — 1)n .
Σ∞(x — (x —

Comparando com (1) temos que para n ≥ 0, an = (—1)n enquanto que que b1 = —1, b2 =
1, bn = 0 para n > 2.
Logo x = 1 é um polo duplo e Res (ƒ, 0) = —1.

2
2.a) : A única singularidade da funçǎo

sin2 x
ƒ(x) =
x3
é a origem. Notando
que
sin2 x sin2 x
lim x = =1 0, ∞,
lim
3 2
x→O x x→O x

2
podemos concluir que ƒ tem na origem um polo simples, e que Res (ƒ, 0) = 1.
2.b) : Neste caso,
ƒ(x) = (eix — i)2
x—π
2
possui também uma única singularidade, agora em x = v/2. Considerando as funçǒes
g(x) = (eix — i)2 e k(x) = x — π , observamos que g( π ) = 0 e k( π ) = 0. Como
2 2 2

gJ(x) = 2ieix(eix — i), gJ( ) = 0,


v
2
gJJ(x) = —2eix(eix — i) — 2e2ix, JJ
vg ( ) = /= 0,
22
e
v
kJ 2= 1 /= 0,
temos que que x = π é um zero duplo de g(x) e um zero simples de k(x). Entǎo pelo Teo-
2
rema 5 ii) concluímos que ƒ possui em x = uma singularidade removível. O respectivo
π 2

resíduo é naturalmente igual a


zero.
2.c) : As singularidades de
2x + 1
ƒ(x) = ,
(x — 1) (x2 — 2x + 2)
sǎo x = 1 e as raízes de √
2 4—8
x2 — 2x + 2 = 0 e x = =1 i.
2
Deste modo podemos escrever
2x + 1
ƒ(x) = .
(x — 1) (x — 1 — i) (x — 1 +
o que permite observar que i)

3
lim (x 1) ƒ(x) = 3 /= 0, ∞,
= — (—i) i
x→1 3+ 3
2i
lim (x — 1 — i) ƒ(x) — 0, ∞,
x→1+i i2i = —i
= 2
3 — 2i 3
lim (x 1 + i) ƒ(x) =
x→1—i =— + 0, ∞.
— —i (— i2
2i)
Logo todas as singularidades de ƒ(x) sǎo polos simples e

2
3 3
Re s (ƒ, 1) = 3, Re s (ƒ, 1 + i) = — — i, Re s (ƒ, 1 — i) = — + i.
2 2
2.d) : Sendo
ƒ(x) = eix — 1
sin x

2
consideremos as funçǒes auxiliares

g (x) = eix — 1, k (x) = sin x.

Os zeros de k (x) sǎo x = hv (h = 0, 1, 2, ...) e simultaneamente as singularidades da


funçǎo ƒ. Como kJ (hv) = cos (hv) = ( 1)k = 0, podemos concluir que x = hv sǎo zeros

de k (x) de multiplicidade 1.
Distingamos os casos h ímpar e h par, ou seja quando x = (2n + 1) v e x = 2nv
(n Z) .

Ora como
g ((2n + 1) v) = —2 0,
pelo Teorema 5 i) os reais x = (2n + 1) v (n Z) sǎo polos de ordem 1 de ƒ. Aplicando

(5) vem
Res (ƒ, (2n + 1) v) = lim (x — (2n + 1) v) (eix —
x→(2n+1)π
1)
Por aplicaçǎo da regra de Cauchy obtemos sinx .

lim (x — (2n + 1) v) (eix — = lim eix — 1 + (x — (2n + 1) v)


= 2.
x→(2n+1)π 1) sin x x→(2n+1)π ieix
cos x
Logo
Res (ƒ, (2n + 1) v) = 2.
Nos reais x = 2nv (n ∈ Z) temos que

g (2nv) = 0, gJ (2nv) = iei2nπ = i /= 0,

ou seja, g (x) tem em x = 2nv zeros de multiplicidade 1. Como x = 2nv também sǎo
zeros de k (x) de multiplicidade 1, podemos concluir, pelo Teorema 5 ii), que x = 2nv sǎo
singularidades removíveis de ƒ (x) . Os respectivos resíduos sǎo todos nulos.
3.a) : Como
ƒ (x) = e(1—1/x)
possui uma única singularidade em x = 0, e pelo teorema dos resíduos tem-se

e(x+1/x) dx = 2viI (r, 0) Res (ƒ, 0) .
r

O desenvolvimento de Laurent de ƒ em torno de x = 0 vem dado por

e(1—1/x) = e e—1/x
1 1 n
= e Σ
n! —x
n≥O
e ( 1)n 1
= Σ
n!— ,
n≥O xn
o que permite concluir que x = 0 é uma singularidade essencial e que

Res (ƒ, 0) = —e.

2
Como I (r, 0) = —1 entǎo

e(1—1/x) dx = 2vei.
r

3.b) : As singularidades de
1
ƒ(x) = 2
(x2 + 1)
sǎo x = i e por
conseguinte 1
ƒ(x) =
(x — i)2 (x + i)2
.

Como I (r, i) = —1 temos pelo teorema dos resíduos


∫ 1
dx = —2vi [Res (ƒ, i) + Res (ƒ, —i)] .
2 2
r (x + 1)
Tendo em atençǎo que
1 1
lim (x — i)2 ƒ(x) = =— 0, ∞,
x→i (2i) 2 4
2
1 1
lim (x + i) ƒ(x) = =— 0, ∞,
x→ — i
(—2i)2 4
pelo Teorema 3 ii) ambas as singularidades sǎo polos duplos.
Quanto aos valores dos resíduos podemos utilizar (6) com h = 2 e obter

Res (ƒ, i) = x→i


lim Dx (x i)2 ƒ(x)

= lim D 1
x
x
—2+
(x
= lim
x→—i (x + i)3
—2
= (2i)3
i
= — .
4
Analogamente

Re s (ƒ, i) = lim Dx (x + i)2 ƒ(x)


x→ — i

= lim D
1
x→ — i
x
(x — i)2
—2
= lim
x→ — i
(x — i)3
—2
=
2
(—2i)3
i
= .
4

2
Logo

1 i i
dx = —2vi — + = 0.
2
r (x + 4 4
NOTA: Observemos que poderia ter sido utilizada aqui a relaçǎo (10) do Teorema 6,
segundo a qual
Res (ƒ, i) + Res (ƒ, —i) = — Res (ƒ, ∞)
Como por (9) .

sendo
$(x)
—Res (ƒ, ∞) = Res x ,0 ,
$(x) = 1 1 = 1 x4 = x2
1 1
x2 x2 ƒ = x2 x12 + 1 x2 (1 + x2)2 (1 + x2)2
2
x
uma funçǎo diferenciável em x = 0, temos que

$(x)
Res (ƒ, i) + Res (ƒ, —i) = Res x ,0 = 0.

3.c) : As singularidades de
1
ƒ(x) = sec2 x = ,
2
cos x
sǎo os reais v
x = + hv, (h ∈ Z) .
2
Porém, em intr apenas se encontram
x = .v
2
Como I r, π = —1 ∫ temos novamentehpelo teorema dos resíduos i
2 v v
sec2 x dx = —2vi Res ƒ, + Res ƒ, — .
r 2 2
Façamos
g (x) = 1, k (x) = cos2 x.
Temos k ( v/2) = 0, e
v
kJ (x) = —2 sin x cos x, kJ 2 = 0,
v
kJJ (x) = —2 cos2 x + 2 sin2 x, kJJ
2 = 2 /= 0,
/ Como g
o que mostra que k (x) tem em x = v/2 zeros de multiplicidade 2. π = 1 =
0, pelo Teorema 5 i) estamos perante polos duplos da funçǎo ƒ. Por (6) com h 2= 2
obtemos "
v #
Res
2
(ƒ, 2
2 ) = lim x π2
x→ π/2 Dx
cos2 x
π 2 π 2
= lim 2 2 2 x
4
x→ π/2 cos x + 2cosx x sin x cos
x
= 2 lim π π 2
x 2 cos x+ x 2 sin x
x→ π/2 cos3 x .

2
Entǎo por aplicaçǎo sucessiva da regra de Cauchy, vem

v π π 2
Res (ƒ, ) = 2 lim 2 cos x2 + x
2
2 x→ π/2 sin—3
x +cosx x sin xcos x
π π 2
2 2 3x
= 2 lim
2 3
x→ π/2 6 cos cos
x sinx —x —x 3 cos sin
x
π 2 π
= 2 lim 2 3 cos x 2— 5 x
x→ π/2 6 sin3 x + 12 cos2 x sin x + 9 cos2 x sin x
0— sin x — x cos x
= 2· π
—6 sin3 2
= 0.

Logo

sec2 x dx = —2vi [0 + 0] = 0.
r

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