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Vetores abstratos! Chegamos. Esse é o ponto em que as considerações


iniciais e as discussões que fizemos nos capítulos anteriores passam a ter
mais significado. A partir delas, os conceitos que vamos desenvolver neste
capítulo dão sentido também para a escolha do título que fizemos para este
pequeno livro.

§1. Espaços e subespaços vetoriais


Depois de mencionarmos a definição de um espaço vetorial abstrato
provavelmente não conseguiremos evitar que nossas atenções retornem para
as prévias discussões que fizemos sobre o plano analítico de Euclides.

5.1.1 Definição: Seja 𝑉 um conjunto não vazio e + uma operação de adição


definida em 𝑉 tal que ∀ 𝑢, 𝑣, 𝑤 ∈ 𝑉, valem:
A : 𝑢 + ( 𝑣 + 𝑤) = (𝑢 + 𝑣) + 𝑤;
A : 𝑢 + 𝑣 = 𝑣 + 𝑢;
A : ∃ 𝑜 ∈ 𝑉 tal que 𝑜 + 𝑢 = 𝑢 + 𝑜 = 𝑢;
A : ∃ − 𝑣 ∈ 𝑉 tal que −𝑣 + 𝑣 = 𝑣 + (−𝑣) = 𝑜.
Seja 𝐾 um corpo com o qual possamos construir o conjunto 𝐾𝑉 =
{𝑘𝑣/𝑘 ∈ 𝐾 e 𝑣 ∈ 𝑉} ⊂ 𝑉, produto de 𝐾 por 𝑉, a partir da multiplicação por
escalar
. .. 𝑘𝑣 ∈ 𝑉; ∀ 𝑘 ∈ 𝐾e ∀ 𝑣 ∈ 𝑉, satisfazendo, ∀ 𝑘, 𝑠 ∈ 𝐾e ∀ 𝑢, 𝑣 ∈ 𝑉:
M : 𝑘( 𝑢 + 𝑣) = 𝑘𝑢 + 𝑘𝑣;
M : (𝑘 + 𝑠)𝑣 = 𝑘𝑣 + 𝑠𝑣;
M : (𝑘𝑠)𝑣 = 𝑘(𝑠𝑣);
M : ↿ 𝑣 = 𝑣; onde ↿ é o elemento neutro da multiplicação definida em 𝐾.
Nessas condições dizemos que 𝑉 é um espaço Vetorial sobre (o corpo)
𝐾 . Comumente, escrevemos (𝑉(𝐾), +,⋅) ou simplesmente 𝑉(𝐾) para indicar
que 𝑉 é um espaço vetorial sobre o corpo 𝐾.

5.1.2 Exemplos: Nosso primeiro exemplo vem das discussões feitas no


parágrafo 5 do capítulo 1. Temos que (ℝ (ℝ), +,⋅) é um espaço vetorial sobre
o corpo ℝ dos números.
As cópias de ℝ estudadas em 1.6.11 e 2.2.13 também são exemplos
de espaços vetoriais sobre ℝ. Podemos denotar isso por: (ℂ(ℝ), +,⋅) e
(∁(ℝ), +,⋅).
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5.1.3 Observação: Seja (𝑉(𝐾), +,⋅) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾.


Então, valem:
i) 𝑜𝑣 = 𝑜; ∀ 𝑣 ∈ 𝑉;
ii) (−↿)𝑣 = −𝑣.
Demonstração: Temos 𝑜 + 𝑜 = 𝑜 ⟺ (𝑜 + 𝑜)𝑣 = 𝑜𝑣 ⟺ 𝑜𝑣 + 𝑜𝑣 = 𝑜𝑣 ⟺
−𝑜𝑣 + (𝑜𝑣 + 𝑜𝑣) = −𝑜𝑣 + 𝑜𝑣 ⟺ (−𝑜𝑣 + 𝑜𝑣) + 𝑜𝑣 = 𝑜 ⟺ 𝑜 + 𝑜𝑣 = 𝑜. Segue
que 𝑜𝑣 = 𝑜 e o item i) fica provado.
Agora, as igualdades 𝑣 + (−↿)𝑣 =↿ 𝑣 + (−↿)𝑣 = ↿ +(−↿) 𝑣 = 𝑜𝑣 = 𝑜
mostram que (−↿)𝑣 = −𝑣 é o inverso aditivo de 𝑣 e o item ii) está provado.

5.1.4 Exemplo: O conjunto ℱℝℝ das funções reais munido das operações de
adição e multiplicação por escalar definidas em 16.8 e 1.6.9 é exemplo de
mais um espaço vetorial sobre o corpo ℝ.
As propriedades da adição e da multiplicação por escalar decorrem
das propriedades da adição e da multiplicação definidas no conjunto dos
números. Verificaremos a validade de algumas dessas propriedades.
Sejam 𝑓, 𝑔, ℎ ∈ ℱℝℝ . Então, lembrando a definição de adição em ℱℝℝ ,
concluímos que 𝐷(𝑓 + 𝑔) = ℝ = 𝐷(𝑔 + ℎ) e 𝐶𝐷(𝑓 + 𝑔) = ℝ = 𝐶𝐷(𝑔 + ℎ).
Mais ainda, ℝ = 𝐷 𝑓 + (𝑔 + ℎ) = 𝐷 (𝑓 + 𝑔) + ℎ = 𝐶𝐷 𝑓 + (𝑔 + ℎ) =
𝐶𝐷 (𝑓 + 𝑔) + ℎ . Por fim, ∀ 𝑥 ∈ ℝ, temos, por definição, que
𝑓 + (𝑔 + ℎ) (𝑥) = 𝑓(𝑥) + (𝑔 + ℎ)(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) + ℎ(𝑥). Como a adição
em ℝ é associativa, escrevemos 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) + ℎ(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) + ℎ(𝑥)
= (𝑓 + 𝑔)(𝑥) + ℎ(𝑥) = (𝑓 + 𝑔) + ℎ (𝑥). Portanto, vale a igualdade 𝑓 +
(𝑔 + ℎ) = (𝑓 + 𝑔) + ℎ.
A função
𝑜: ℝ ⟶ ℝ
𝑥 ↝ 𝑓(𝑥) = 0
é tal que (𝑜 + 𝑓)(𝑥) = 𝑜(𝑥) + 𝑓(𝑥) = 0 + 𝑓(𝑥) = 𝑓(𝑥) e também
(𝑓 + 𝑜)(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑜(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 0 = 𝑓(𝑥) ∀ 𝑥 ∈ ℝ. Além disso, vale que
𝐷(𝑜 + 𝑓) = ℝ = 𝐷(𝑓) e 𝐶𝐷(𝑜 + 𝑓) = ℝ = 𝐶𝐷(𝑓) e 𝐷(𝑓 + o) = ℝ = 𝐷(𝑓) e
𝐶𝐷(𝑓 + 𝑜) = ℝ = 𝐶𝐷(𝑓). Então, temos que 𝑜 + 𝑓 = 𝑓 = 𝑓 + 𝑜 e a função 𝑜 é
o elemento neutro da adição definida em ℱℝℝ .
A função
−𝑓: ℝ ⟶ ℝ
𝑥 ↝ (−𝑓)(𝑥) = −𝑓(𝑥)
é o inverso aditivo da função 𝑓.
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Com relação à multiplicação por escalar, ∀ 𝑓, 𝑔 ∈ ℱℝℝ e ∀ 𝑟, 𝑠 ∈ ℝ,


valem as igualdades 𝑟(𝑓 + 𝑔) (𝑥) = 𝑟 (𝑓 + 𝑔)(𝑥) = 𝑟(𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥)) =
𝑟𝑓(𝑥) + 𝑟𝑔(𝑥) = (𝑟𝑓)(𝑥) + (𝑟𝑔)(𝑥) = (𝑟𝑓 + 𝑟𝑔)(𝑥); ∀ 𝑥 ∈ ℝ. Verificado o
que são os domínios e contra domínios, concluímos que 𝑟(𝑓 + 𝑔) = 𝑟𝑓 + 𝑟𝑔.
Depois dessas argumentações não é difícil entender que as outras
propriedades podem ser facilmente verificadas e que ℱℝℝ é um espaço
vetorial sobre ℝ, o que denotamos por ℱℝℝ (ℝ), +,⋅ .

5.1.5 Exemplo: As propriedades relativas às matrizes listadas em 2.2.2 e 2.2.3


mostram que 𝑀 (𝐾), o conjunto das matrizes de ordem 𝑚x𝑛, é um espaço
vetorial sobre o corpo 𝐾. Sem redundância esse espaço pode ser denotado
por (𝑀 (𝐾)(𝐾), +,⋅). Se não causar dúvidas, por (𝑀 (𝐾), +,⋅).

Por comodidade, vamos denotar um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾


por 𝑉(𝐾). A terna contendo também os sinais com as operações estará
implícita.

5.1.6 Exemplo: O conjunto dos polinômios de grau no máximo 1 ≤ 𝑛 ∈ ℕ,


numa variável 𝑡 e com coeficientes no corpo ℝ, juntamente com o polinômio
nulo,
𝑃 (𝑡) = {𝑎 + 𝑎 𝑡 + ⋯ + 𝑎 𝑡 /𝑎 ∈ ℝ; ∀ 𝑖 = 0,1, ⋯ , 𝑛}
é um espaço vetorial com respeito às operações definidas da seguinte forma:
∀ 𝑝(𝑡) = 𝑎 + 𝑎 𝑡 + ⋯ + 𝑎 𝑡 , 𝑞(𝑡) = 𝑏 + 𝑏 𝑡 + ⋯ + 𝑏 𝑡 ∈ 𝑃 (𝑡) e ∀ 𝜆 ∈ ℝ,
+: 𝑝(𝑡) + 𝑞(𝑡) = (𝑎 + 𝑏 ) + (𝑎 + 𝑏 )𝑡 + ⋯ + (𝑎 + 𝑏 )𝑡
. .. 𝜆𝑝(𝑡) = 𝜆(𝑎 + 𝑎 𝑡 + ⋯ + 𝑎 𝑡 ) = 𝜆𝑎 + 𝜆𝑎 𝑡 + ⋯ + 𝜆𝑎 𝑡

Você pode fazer uma pequena discussão e verificar que as


propriedades dessas operações são suficientes para que (𝑃 (𝑡), +,⋅) seja um
espaço vetorial (sobre ℝ) real.
Você é capaz de exibir um subconjunto próprio de 𝑃 (𝑡) que, com
respeito às operações definidas acima, seja um espaço vetorial sobre ℝ?
Tente! Não é difícil.

5.1.7 Definição: Seja 𝑊 um subconjunto não vazio de um espaço vetorial


𝑉(𝐾). Se 𝑊 é um espaço vetorial com respeito às mesmas operações que
definem 𝑉(𝐾) como um espaço vetorial; então 𝑊 é denominado de um
subespaço vetorial de 𝑉(𝐾).

Isso significa que, sendo 𝑊 não vazio, ∀ 𝑤 , 𝑤 ∈ 𝑊 e ∀ 𝜆 ∈ 𝐾, vale que


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𝑤 + 𝑤 , 𝜆𝑤 ∈ 𝑊 e mais, para os elementos em 𝑊 se verificam as


propriedades A , A , ⋯, M listadas em 5.1.1. Um caso é o espaço vetorial
∁(ℝ) mencionado em 5.1.2 que está contido (propriamente) no espaço
vetorial 𝑀 (ℝ). Nesse caso, dizemos que ∁(ℝ) é um subespaço vetorial de
𝑀 (ℝ).

Vale a seguinte caracterização de um subespaço vetorial

5.1.7 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Seja 𝑊 um


subconjunto de 𝑉(𝐾). Então, são equivalentes:
a) 𝑊 é um subespaço vetorial de 𝑉(𝐾).
b) Vale que:
i) 0 ∈ 𝑊;
ii) 𝑤 + 𝑤 ∈ 𝑊; ∀ 𝑤 , 𝑤 ∈ 𝑊;
iii) 𝜆𝑤 ∈ 𝑊; ∀ 𝜆 ∈ 𝐾 e ∀ 𝑤 ∈ 𝑊.
c) Vale que:
i) 𝑊 ≠ 𝜙;
ii) 𝜆𝑤 + 𝑤 ∈ 𝑊; ∀ 𝜆 ∈ 𝐾 e ∀ 𝑤 , 𝑤 ∈ 𝑊.
Demonstração: Pode ser feita no sentido a)⟹ b)⟹ c)⟹ a). Mas,
independentemente da estratégia de demonstração usada, podemos sempre
levar em conta que as propriedades A , A , M , ⋯, M listadas em 5.1.1 são
herdadas pelo subconjunto 𝑊.
No sentido de a) para b) a conclusão é imediata. De b) para c), usando
o fato em i), vemos que 𝑊 ≠ 𝜙 e, por ii) juntamente com iii), vemos que
𝜆𝑤 ∈ 𝑊 e 𝜆𝑤 + 𝑤 ∈ 𝑊; ∀ 𝜆 ∈ 𝐾 e ∀ 𝑤 , 𝑤 ∈ 𝑊. Um bom exercício é a
verificação de que c) implica em a).

5.1.8 Exemplo: Consideremos 𝑀 (ℝ), o espaço vetorial das matrizes


quadradas de ordem 1 ≤ 𝑛 ∈ ℕ. Então, 𝐷 (ℝ), o conjunto das matrizes
diagonais de ordem 𝑛, é um subespaço de 𝑀 (ℝ).
Sabemos que 𝑂, a matriz nula de 𝑀 (ℝ), é um elemento de 𝐷 (ℝ).
Assim, temos 𝐷 (ℝ) ≠ 𝜙. Além disso, ∀ 𝐷 , 𝐷 ∈ 𝐷 (ℝ) e ∀ 𝜆 ∈ ℝ, a matriz
𝜆𝐷 + 𝐷 é uma matriz diagonal. Pelo item c) de 5.1.7, 𝐷 (ℝ) é um subespaço
vetorial de 𝑀 (ℝ).

Notação: Para indicar que um subconjunto 𝑊 é um subespaço vetorial de


𝑉(𝐾), anotaremos 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾). Claro que 𝑊 ⊂ 𝑉(𝐾). Mas, se escrevemos 𝑊 ≤
𝑉(𝐾), é porque 𝑊 é um subconjunto de 𝑉(𝐾) mais especial.
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5.1.9 Exemplo: Consideremos ℱℝℝ (ℝ) = {𝑓: ℝ ⟶ ℝ/𝑓é uma função}, o espaço
vetorial das funções reais sobre o corpo ℝ. Então, é fácil ver que o
subconjunto 𝑊 = 𝑓 ∈ ℱℝℝ (ℝ)/ 𝑓(0) = 𝑓(3) é um subespaço vetorial de
ℱℝℝ (ℝ).
Dados quaisquer funções 𝑓 e 𝑔 em ℱℝℝ (ℝ) e qualquer número 𝜆, temos
que (𝑓 + 𝑔)(0) = 𝑓(0) + 𝑔(0) = 𝑓(3) + 𝑔(3) = (𝑓 + 𝑔) (3) e (𝜆𝑓)(0) =
𝜆𝑓(0) = 𝜆𝑓(3) = (𝜆𝑓)(3). Isso mostra que a soma de duas funções de 𝑊 e o
produto de um escalar por uma função de 𝑊, são funções de 𝑊.
A função nula 𝑜 é tal que 𝑜(0) = 0 = 𝑜(3). E para cada função 𝑓 ∈ 𝑊,
vale que 𝑓(0) = 𝑓(3) ⇔ −𝑓(0) = −𝑓(3) ⇔ (−1)𝑓(0) = (−1)𝑓(3), o que
mostra que (−1)𝑓 = −𝑓 ∈ 𝑊. As demais propriedades que caracterizam um
espaço vetorial, 𝑊 herda de ℱℝℝ (ℝ). Assim, temos 𝑊 ≤ ℱℝℝ (ℝ).

5.1.10 Observação: Sejam 𝑉 (𝐾) e 𝑉 (𝐾) espaços vetoriais sobre um corpo 𝐾.


Então, vale que 𝑉 (𝐾) × 𝑉 (𝐾) = {(𝑣 , 𝑣 )/𝑣 ∈ 𝑉 (𝐾) e 𝑣 ∈ 𝑉 (𝐾)} é um
espaço vetorial, definindo, ∀ (𝑣 , 𝑣 ), (𝑢 , 𝑢 ) ∈ 𝑉 (𝐾) × 𝑉 (𝐾) e ∀ 𝜆 ∈ 𝐾:
+: (𝑣 , 𝑣 ) + (𝑢 , 𝑢 ) = (𝑣 + 𝑢 , 𝑣 + 𝑢 );
. .. 𝜆(𝑣 , 𝑣 ) = (𝜆𝑣 , 𝜆𝑣 ).
Demonstração: O par ordenado 𝑂 = (0,0) é o elemento neutro da adição
definida acima e −(𝑣 , 𝑣 ) = (−𝑣 , −𝑣 ) é o inverso aditivo de cada elemento
(𝑣 , 𝑣 ) em 𝑉 (𝐾) × 𝑉 (𝐾). Além disso, valem as propriedades A , A , M , ⋯,
M listadas em 5.1.1.

Aqui não devemos pensar em herança de propriedades. A coisa


funciona porque podemos olhar em cada componente do produto cartesiano.
Devemos, inclusive, levantar nossos olhares para o fato de podermos
construir um espaço vetorial mais geral, usando o produto cartesiano. Já em
5.1.8 podemos trocar o corpo 𝐾 por 𝐾 e 𝐾 e considerar os espaços 𝑉 (𝐾 ) e
𝑉 (𝐾 ), desde que tenhamos 𝐾 ⊂ 𝐾 ou 𝐾 ⊂ 𝐾 . Nesse caso, a multiplicação
por escalar é definida para 𝜆 em 𝐾 ou 𝜆 em 𝐾 , conforme a relação de
inclusão entre os corpos 𝐾 e 𝐾 .
Consideremos os corpos 𝐾 ⊂ 𝐾 ⊂ ⋯ ⊂ 𝐾 e 𝑉 (𝐾 ), 𝑉 (𝐾 ) ⋯, 𝑉 (𝐾 ),
respectivamente, espaços vetoriais sobre cada um deles; 3 ≤ 𝑛 ∈ ℕ. Então,
𝑃 = 𝑉 (𝐾) × 𝑉 (𝐾) × ⋯ × 𝑉 (𝐾 ) = {(𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 )/𝑣 ∈ 𝑉 (𝐾); 𝑖 = 1, 2, ⋯ , 𝑛}
é um espaço vetorial, definindo, ∀ (𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ), (𝑢 , 𝑢 , ⋯ , 𝑢 ) ∈ 𝑃 e ∀ 𝜆 ∈
𝐾:
+: (𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ) + (𝑢 , 𝑢 , ⋯ , 𝑢 ) = (𝑣 + 𝑢 , 𝑣 + 𝑢 , ⋯ , 𝑣 + 𝑢 );
. .. 𝜆(𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ) = (𝜆𝑣 , 𝜆𝑣 , ⋯ , 𝜆𝑣 ).
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Como são os subespaços de 𝑃 = 𝑉 (𝐾) × 𝑉 (𝐾) × ⋯ × 𝑉 (𝐾 )? Você


pode montar vários exemplos de como essa coisa funciona. Elabore alguns
exemplos usando os espaços vetoriais que já foram apresentados em nosso
texto até aqui.
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5.1.11 Exemplo: Temos que , (0, 3) ∈ 𝐷 (ℝ) × 𝑊 ≤ 𝑀 (ℝ) × ℝ ;
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onde 𝑊 = {(0, 𝑦)/𝑦 ∈ ℝ} é um subespaço de ℝ .

Família de Subespaços
Denotaremos por ℱ ( ) = {𝑊/𝑊 ≤ 𝑉(𝐾)}, a família dos subespaços
de um espaço vetorial 𝑉(𝐾) sobre um corpo 𝐾. É claro que ℱ ( ) não é vazia,
pois {0} e 𝑉(𝐾), os subespaços triviais de 𝑉(𝐾), são membros dessa família.
A ideia agora é definir em ℱ ( ) as operações que comumente são
relacionadas com a teoria dos conjuntos e que definimos no parágrafo 2 de
nosso capítulo inicial.

5.1.12 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Sejam 𝑊


e 𝐿 elementos quaisquer em ℱ ( ) . Então, vale que:
a) 𝑊 ∩ 𝐿 é um subespaço de 𝑉(𝐾);
b) 𝑊 + 𝐿 = {𝑤 + 𝑙/ 𝑤 ∈ 𝑊 e 𝑙 ∈ 𝐿} é um subespaço de 𝑉(𝐾);
c) 𝑊 × 𝐿 = {(𝑤, 𝑙)/ 𝑤 ∈ 𝑊 e 𝑙 ∈ 𝐿} é um espaço vetorial que contém uma
cópia de 𝑊 e uma cópia de 𝐿.
Demonstração: a) Temos que 0 ∈ 𝑊 ∩ 𝐿 ≠ Φ; já que 0 ∈ 𝑊 e 0 ∈ 𝐿. Além
disso, ∀ 𝑢, 𝑣 ∈ 𝑊 ∩ 𝐿, vale que 𝑢, 𝑣 ∈ 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) e 𝑢, 𝑣 ∈ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾). Então,
∀ 𝜆 ∈ 𝐾, vale que 𝜆𝑢 + 𝑣 ∈ 𝑊 ∩ 𝐿. Portanto, temos que 𝑊 ∩ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾).
b) Podemos escrever 0 = 0 + 0; com 0 ∈ 𝑊 e 0 ∈ 𝐿. Então, 0 ∈ 𝑊 + 𝐿 ≠ Φ.
Mais ainda, ∀ 𝑢, 𝑣 ∈ 𝑊 + 𝐿, eles são da forma 𝑢 = 𝑤 + 𝑙 e 𝑣 = 𝑤 + 𝑙 . E, se
𝜆 é um qualquer escalar em 𝐾, temos 𝜆𝑢 + 𝑣 = 𝜆(𝑤 + 𝑙 ) + (𝑤 + 𝑙 ) =
(𝜆𝑤 + 𝑤 ) + (𝜆𝑙 + 𝑙 ); com 𝜆𝑤 + 𝑤 ∈ 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) e 𝜆𝑙 + 𝑙 ∈ 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾).
Isso prova que 𝜆𝑢 + 𝑣 ∈ 𝑊 + 𝐿 e assim, vemos que 𝑊 + 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾).
c) Revendo 5.1.10 é possível concluir que 𝑊 × 𝐿 é um espaço vetorial. Como
as funções
𝜑: 𝑊 ⟶ 𝒲 = {(𝑤, 0)/ 𝑤 ∈ 𝑊} e 𝜓: 𝐿 ⟶ ℒ = {(0, 𝑙)/ 𝑙 ∈ 𝐿}
𝑤 ↝ 𝜑(𝑤) = (𝑤, 0) 𝑙 ↝ 𝜑(𝑙) = (0, 𝑙)
são homomorfismos bijetivos, temos que 𝑊 ≅ 𝒲 ≤ 𝑊 × 𝐿 e também 𝐿 ≅
ℒ ≤ 𝑊 × 𝐿. Que 𝒲 e ℒ são subespaços de 𝑊 × 𝐿, é claro.
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5.1.13 Corolário: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Sejam


𝑊 , 𝑊 , ⋯ , 𝑊 elementos quaisquer em ℱ ( ) ; 3 ≤ 𝑛 ∈ ℕ. Então, vale que:
𝒏
a) ⋂ 𝑊 = 𝑊 ∩ 𝑊 ∩ ⋯ ∩ 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾);

b) 𝑊 = 𝑊 + 𝑊 + ⋯ + 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾).

Demonstração: É imediata!

5.1.14 Exemplo: Os subespaços 𝒲 = {(𝑥, 0)/ 𝑥 ∈ ℝ} e ℒ = {(0, 𝑦)/ 𝑦 ∈ ℝ} de


ℝ são tais que 𝒲 ∩ ℒ = {(0, 0)} e 𝒲 + ℒ = {(𝑥, 𝑦)/ 𝑥, 𝑦 ∈ ℝ} = ℝ . Nem
sempre o subespaço interseção está tão embaixo e o subespaço soma está tão
em cima. Quando isso acontece simultaneamente essa soma recebe um nome
especial.
Se 𝑊 e 𝐿 são elementos quaisquer em ℱ ( ) e 𝑊 ∩ 𝐿 = {0} e 𝑊 + 𝐿 =
𝑉(𝐾), dizemos que 𝑉(𝐾) = 𝑊 ⊕ 𝐿 é uma soma direta dos subespaços 𝑊 e 𝐿.

Uma pergunta que surge naturalmente a respeito de dois elementos 𝑊


e 𝐿 de ℱ ( ) é: 𝑊 ∪ 𝐿 é um elemento de ℱ ( ) ?
Unindo os subespaços 𝒲 e ℒ, vemos que (1, 0) e (0, 1) são elementos
de 𝒲 ∪ ℒ = {𝑣/ 𝑣 ∈ 𝒲 ou 𝑣 ∈ ℒ }. No entanto, a soma desses vetores (1, 0) +
(0, 1) = (1, 1) ∉ 𝒲 ∪ ℒ; o que mostra que 𝒲 ∪ ℒ não é um subespaço de ℝ .
Então, em geral, a resposta a essa pergunta é “não”. Mas, sob determinadas
condições isso acontece.

5.1.15 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Sejam 𝑊


e 𝐿 subespaços de 𝑉(𝐾). Então, vale que 𝑊 ∪ 𝐿 é um subespaço de 𝑉(𝐾) se, e
somente se 𝑊 ⊂ 𝐿 ou 𝐿 ⊂ 𝑊.
Demonstração: (Reveja, no capítulo 1, nosso primeiro parágrafo sobre noções
de lógica). Vamos supor que 𝑊 ∪ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾) e que 𝑊 ⊄ 𝐿. Assim, devemos
mostrar que 𝐿 ⊂ 𝑊.
Seja 𝑙 qualquer elemento em 𝐿. Como 𝑊 ⊄ 𝐿, ∃ 𝑤 ∈ 𝑊 tal que 𝑤 ∉ 𝐿.
Claramente, temos que 𝑙, 𝑤 ∈ 𝑊 ∪ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾). Por isso, 𝑙 + 𝑤 ∈ 𝑊 ∪ 𝐿 e vemos
que 𝑙 + 𝑤 ∈ 𝑊 ou 𝑙 + 𝑤 ∈ 𝐿. Se 𝑙 + 𝑤 ∈ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾), temos que −𝑙 + (𝑙 + 𝑤) =
𝑤 ∈ 𝐿. O que é uma contradição com a escolha de 𝑤. Então, só pode ser que
𝑙 + 𝑤 ∈ 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾). Mas assim, vale que (𝑙 + 𝑤) + (−𝑤) = 𝑙 ∈ 𝑊. Isso mostra
que 𝐿 ⊂ 𝑊.
Supondo 𝑊 ∪ 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾) e que 𝐿 ⊄ 𝑊, argumentos parecidos aos que
fizemos acima mostram que 𝑊 ⊂ 𝐿.
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No outro sentido esse resultado é evidente.

5.1.16 Corolário: Sejam 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾 e


𝑊 , 𝑊 , ⋯ , 𝑊 subespaços de 𝑉(𝐾); com 1 ≤ 𝑚 ∈ ℕ. Então, vale que 𝑊 ∪
𝑊 ∪ ⋯ ∪ 𝑊 = 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) se, e somente se, esses subespaços formam uma
cadeia 𝑊 ⊂ 𝑊 ⊂ ⋯ ⊂ 𝑊 ; onde 𝑡 ∈ {1, 2, ⋯ , 𝑚}; com 𝑖 = 1, 2, ⋯ , 𝑚.
Demonstração: Se 𝑚 = 2, temos a mesma situação que em 5.1.15 e a cadeia
𝑊 ⊂ 𝑊 ou 𝑊 ⊂ 𝑊 .
Suponhamos que existe um primeiro inteiro 𝑚 > 2 de modo que essa
afirmação não vale. Então, para 2 ≤ 𝑚 − 1 < 𝑚 e 𝑊 , 𝑊 , ⋯ , 𝑊
subespaços de 𝑉(𝐾), vale que 𝑊 ∪ 𝑊 ∪ ⋯ ∪ 𝑊 = 𝐿 ≤ 𝑉(𝐾) se, e
somente se, esses subespaços formam uma cadeia 𝑊 ⊂ 𝑊 ⊂ ⋯ ⊂ 𝑊 ;
onde 𝑡 ∈ {1, 2, ⋯ , 𝑚 − 1}; com 𝑖 = 1, 2, ⋯ , 𝑚 − 1.
Agora, para os subespaços 𝐿 e 𝑊 , o resultado em 5.1.15 mostra que
𝐿 ∪ 𝑊 = 𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) se, e somente se 𝐿 ⊂ 𝑊 ou 𝑊 ⊂ 𝐿. Assim, existe o
primeiro inteiro 𝑚 > 2 de modo que essa afirmação não vale. Isso termina a
demonstração do corolário.

Nosso próximo assunto começa com a generalização da definição em


1.5.6 sobre soma de vetores em ℝ .

5.1.17 Definição: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. O vetor 𝑣 =


𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 ; onde 𝛼 ∈ 𝐾 e 𝑣 ∈ 𝑉(𝐾), com 𝑖 = 1, 2, ⋯ , 𝑛, é
denominado uma combinação linear dos vetores 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 .

5.1.18 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Fixados


1 ≤ 𝑛 ∈ ℕ vetores 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 , vale que:
a) 𝑊 = [𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ] = {𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 /𝛼 ∈ 𝐾; 𝑖 = 1, 2, ⋯ , 𝑛 } é
um subespaço vetorial de 𝑉(𝐾). Ele é denominado subespaço gerado por
𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 . Nesse caso, dizemos que { 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 } é um
𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑛𝑡𝑜 (𝑑𝑒) 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟(𝑒𝑠) de 𝑊 e 𝑊 é 𝑛 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜.
b) Dentre os subespaços de 𝑉(𝐾), temos que 𝑊 é o menor subespaço que
contém o conjunto { 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 }. Isso significa que se outro subespaço 𝐿 de
𝑉(𝐾) contém { 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 }; então 𝑊 está contido em 𝐿.
Demonstração: a) Pondo 𝛼 = 𝛼 = ⋯ = 𝛼 = 0, vemos que 0 ∈ 𝑊 ≠ Φ.
Dados 𝑤 = 𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 e 𝑤 = 𝛽 𝑣 + 𝛽 𝑣 + ⋯ + 𝛽 𝑣 em 𝑊 e
𝜆 em 𝐾, o vetor 𝜆(𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 ) + (𝛽 𝑣 + 𝛽 𝑣 + ⋯ + 𝛽 𝑣 ) =
𝜆𝑤 + 𝑤 ∈ 𝑊. Isso mostra que 𝑊 = [𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ] ≤ 𝑉(𝐾).
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b) Suponhamos que 𝐿 é um subespaço de 𝑉(𝐾) tal que { 𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 } ⊂ 𝐿.


Então, ∀ 𝛾 , 𝛾 , ⋯ , 𝛾 ∈ 𝐾, vale que 𝛾 𝑣 + 𝛾 𝑣 + ⋯ + 𝛾 𝑣 ∈ 𝐿. Portanto,
todo de 𝑊 é um vetor de 𝐿 e assim, temos 𝑊 ≤ 𝐿.

O resultado em 5.1.18 sugere a seguinte

5.1.19 Definição: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Seja 𝑆


qualquer subconjunto de 𝑉(𝐾). Então, [𝑆], o subespaço gerado por 𝑆, é
definido como sendo o menor subespaço de 𝑉(𝐾) que contém 𝑆.

Podemos então, em 5.1.18, incluir o caso em que temos 𝑛 = 0 vetores


fixados. Vale o seguinte resultado

5.1.20 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Então,


vale que [Φ] = {0}. O subespaço nulo de 𝑉(𝐾) é gerado por Φ.
Demonstração: Vale que Φ ⊂ {0} ≤ 𝑊; ∀ 𝑊 ∈ ℱ ( ) = {𝑊/𝑊 ≤ 𝑉(𝐾)}.

Nas discussões que faremos adiante, sobre o número de geradores de


um espaço vetorial, surgirão relações aritméticas que exigem que
consideremos a definição em 5.1.19 e assim, entendamos que {0} é 0 gerado.

5.1.21 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial sobre um corpo 𝐾. Se 1 ≤


𝑛 ∈ ℕ e 𝑊 = [𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 ] é um subespaço 𝑛 gerado de 𝑉(𝐾), vale que
[𝑣 , 𝑣 , ⋯ , 𝑣 , 𝑤] = 𝑊, ∀ 𝑤 ∈ 𝑊.
Demonstração: Como 𝑤 é um vetor em 𝑊, existem escalares 𝛼 , 𝛼 , ⋯ , 𝛼 tais
que 𝑤 = 𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 . Portanto, para quaisquer escalares
𝑘 , 𝑘 , ⋯ , 𝑘 , 𝑘, vale que a combinação 𝑘 𝑣 + 𝑘 𝑣 + ⋯ + 𝑘 𝑣 + 𝑘𝑤 =
𝑘 𝑣 + 𝑘 𝑣 + ⋯ + 𝑘 𝑣 + 𝑘(𝛼 𝑣 + 𝛼 𝑣 + ⋯ + 𝛼 𝑣 ) pode ser reescrita
como sendo (𝑘 + 𝑘𝛼 )𝑣 + (𝑘 + 𝑘𝛼 )𝑣 + ⋯ + (𝑘 + 𝑘𝛼 )𝑣 que ainda é
um elemento em 𝑊.

Se olharmos a definição em 1.2.14, admitindo o lema de Zorn em


1.2.15, temos a seguinte

5.1.22 Observação: Seja 𝑉(𝐾) um espaço vetorial não nulo sobre um corpo 𝐾.
Seja 𝑣 um vetor fixo em 𝑉(𝐾). Então, a família 𝒰 = {𝑊/𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) e 𝑣 ∉ 𝑊}
possui um maior elemento 𝑀 e o subespaço 𝑀 + [𝑣]é uma soma direta.
Demonstração: Seja 𝒞 qualquer cadeia dentro da família 𝒰. Provaremos que:
𝐻= 𝐿 é subespaço de 𝑉(𝐾) e que 𝑣 ∉ 𝐻. Primeiro, se 𝑣 ∈ 𝐻; então 𝑣 ∈ 𝐿
∈𝒞
P á g i n a | 122

Para algum termo 𝐿 da cadeia 𝒞. Isso é uma contradição, pois 𝐿 ∈ 𝒰 e por isso
não pode conter 𝑣. Portanto, 𝑣 ∉ 𝐻.
Agora, claro que 0 ∈ 𝐻 ≠ Φ. Além disso, ∀ 𝑢, 𝑣 ∈ 𝐻, vale que 𝑢 ∈ 𝐿 e
𝑣 ∈ 𝐽; onde 𝐿 e 𝐽 estão na cadeia 𝒞. Mas, assim, 𝑢, 𝑣 ∈ 𝐿 ou 𝑢, 𝑣 ∈ 𝐽. De
qualquer modo, ∀ 𝑘 ∈ 𝐾, vale que 𝑘𝑢 + 𝑣 ∈ 𝐿 ou 𝑘𝑢 + 𝑣 ∈ 𝐽. Portanto, 𝑘𝑢 +
𝑣 ∈ 𝐻. Isso mostra que 𝐻 ≤ 𝑉(𝐾). Consequentemente, 𝐻 ∈ 𝒰. Isso mostra
que 𝒰 é indutivamente ordenada. Pelo lema de Zorn, 𝒰 possui um maior
elemento 𝑀. O subespaço gerado por 𝑣, [𝑣] = {𝜆𝑣/ 𝜆 ∈ 𝐾} é tal que, se {0} ≠
𝑀 ∩ [𝑣], ∃ 0 ≠ 𝜆𝑣 ∈ 𝑀 para algum 𝜆 ∈ 𝐾. Mas, se 𝜆𝑣 ≠ 0, temos 𝜆 ≠ 0. Sendo
𝐾 um corpo, ∃ 𝜆 ∈ 𝐾 e 𝜆 (𝜆𝑣) =↿ 𝑣 = 𝑣 ∈ 𝑀. Uma contradição com a
escolha de 𝑀. Assim, segue que 𝑀⨁[𝑣] é uma soma direta.

5.1.23 Exemplo: Se em 5.1.22, substituirmos 𝑣 por um subconjunto Φ ≠ 𝑆


finito de 𝑉(𝐾), podemos concluir que a família 𝑍 = {𝑊/𝑊 ≤ 𝑉(𝐾) e 𝑆 ⊄ 𝑊}
possui um maior elemento 𝑀 e o subespaço 𝑀 + [𝑆] pode não ser uma soma
direta.

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