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Números

Inteiros

Parte 1
Definição e Adição

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Introdução
 A primeira ideia nova que deve ser introduzida a
partir da definição de números inteiros é a dos
números negativos
 A priori, intuitivamente, estes são introduzidos
para satisfazer propriedades e resultados de
subtrações de naturais, dando significado a
expressões do tipo: 2 – 7, 4 – 10

Fundamentos da Matemática III


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Introdução
 Como nos inteiros a divisão também não é
fechada, somente a subtração será
‘acrescentada’ para este conjunto
 Muito embora, vamos precisar redefinir as
operações de adição e multiplicação, pois o
ambiente será outro
 Osnúmeros inteiros então serão construídos
a partir da estrutura aritmética do IN através
de noções básicas de Teoria dos Conjuntos
e das Relações de Equivalência (Ferreira,
2013) Fundamentos da Matemática III
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Construção do conjunto ℤ
 Definição: Definimos a relação ~ em IN x IN por
(a,b)~(c,d) quando a + d = b + c
 Usando a noção intuitiva conhecida de subtração,
podemos perceber que a relação acima é
equivalente a: a – b = c – d, o que nos diz que dois
pares ordenados são equivalentes segundo ~
quando a diferença entre suas coordenadas (na
mesma ordem) coincidem
 Essa foi a solução encontrada pelos matemáticos
do final do século XIX para introduzir o ℤ sem usar
subtração, partindo de IN
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Construção do conjunto ℤ
 Teorema: A relação ~ (em IN x IN) dada por
(a,b)~(c,d)  a+d = b+c é de equivalência
 D]
 (i) Reflexiva: (a,b)~(a,b) (?)
 Sabemos que a+b = b+a, pois a adição em IN é
comutativa
 (ii) Simétrica: (a,b)~(c,d)  (c,d)~(a,b) (?)
 Por hipótese, a+d = b+c
 Queremos verificar se c+b = d+a (?)
 O resultado é imediato levando-se em conta a
comutatividade de + em IN Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
 (iii) Transitiva: (a,b)~(c,d) e (c,d)~(e,f) 
(a,b)~(e,f) (?)
 Por hipótese, a+d = b+c e c+f = d+e
 Somando c+f em a+d e d+e em b+c obteremos, a
a partir das igualdades estabelecidas por hipótese,
resultados iguais:
 a+d + (c+f) = b+c + (d+e)
 Usando comutatividade e associatividade da
adição em IN, obtemos:
 a + f + (c+d) = b + e + (c+d) e, pela Lei do
Cancelamento da adição de IN
 a + f = b + e  (a,b)~(e,f)  Fundamentos da Matemática III
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Classes de equivalência de ~
 Denotaremos por (𝑎, 𝑏) a classe de
equivalência do par ordenado (a,b)
pela relação ~, isto é:
 (𝑎, 𝑏) = 𝑥, 𝑦 ∈ 𝐼𝑁 × 𝐼𝑁 𝑥, 𝑦 ~(𝑎, 𝑏)}
 Exemplos
 (2,0) = {(2,0), (3,1), (4,2), (5,3), ...};
 (0,2) = {(0,2), (1,3), (2,4), (3,5), ...};
 (5,2) = {(3,0), (4,1), (5,2), (6,3), ...}.
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Intuição sobre ℤ
 Com essa ideia de classes, como estão
representados os números negativos?
 O elemento (4,0) é o equivalente ao conhecido
intuitivamente por 4 ou (+4), pois 4 – 0 = 4
 (0,4), por sua vez, equivale ao (–4), pois 0 – 4 = –4
 Isto vale para qualquer elemento da classe, veja:
 (4,0)~(7,3) e 7 – 3 = 4
 (0,4)~(10,14) e 10 – 14 = –4
 Assim os inteiros negativos são inseridos sem essa
conotação, mas por ‘extensão’ direta do conjunto IN
 Esse método de ‘extensão’ faz com que ℤ seja
‘herdeiro’ de muitas propriedades de IN
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Os Números Inteiros
 Definição: O conjunto quociente
IN x IN/~, constituído pelas classes de
equivalência (𝑎, 𝑏), se denota por ℤ e
será chamado de Conjunto dos
Números Inteiros
 ℤ = (IN x IN/~) = {(𝑎, 𝑏)|(𝑎, 𝑏) ∈ 𝐼𝑁 × 𝐼𝑁 }
 Obs.:o símbolo ℤ tem origem na palavra
alemã “zahl” que significa número
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Operações em ℤ
 Adição (noção intuitiva): da ideia que
(𝑎, 𝑏) = (𝑐, 𝑑) equivale a (a – b) = (c – d), nos
leva intuitivamente a somar
 (a – b) + (c – d) = (a + c) – (b + d)
O que nos leva à classe (𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)
 Isto permite que definamos a operação de
adição em ℤ sem utilizar subtração de
naturais, nem números negativos nem outros
elementos da Matemática elementar
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Adição em ℤ
 Definição: Dados (𝑎, 𝑏) 𝑒 (𝑐, 𝑑) ∈ ℤ, definimos
a soma (𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) como sendo o inteiro
(𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)
 (𝒂, 𝒃) + (𝒄, 𝒅) = (𝒂 + 𝒄, 𝒃 + 𝒅)
 Observação: Toda vez que uma definição é
apresentada através de classes de
equivalência é necessário garantir que o
resultado não depende do representante da
classe utilizado na operação. Estamos
mostrando com isso que a operação é bem
definida Fundamentos da Matemática III
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Adição bem definida


 Exemplos:
 (3,2) + (1,6) = (4,8) que pode também ser
representada por:
 (4,3) + (10,15) = (14,18)
 Observe que (4,8)~(14,18)  (4,8) = (14,18)
 Intuitivamente
 3 – 2 = 1 e 1 – 6 = –5  1 + (–5) = –4 → (4,8)
 4 – 3 = 1 e 10 – 15 = –5
 Os exemplos não são suficientes para garantir
que a operação é bem definida, somente
ilustram Fundamentos da Matemática III
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Teorema: Adição em ℤ é bem


definida
 Teorema: Se (𝑎, 𝑏) = (𝑎′, 𝑏′) e (𝑐, 𝑑) = (𝑐′, 𝑑′),
então (𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) = (𝑎′, 𝑏′) + (𝑐′, 𝑑′), isto é, a
adição de inteiros é bem definida
 D]

 Partindo de (𝑎, 𝑏) = (𝑎′, 𝑏′) , que é


equivalente a (a,b)~(a’,b’), temos que
 a + b’ = b + a’ (*)
 E, do mesmo modo
 c + d’ = d + c’ (**)
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Demonstração
 Pela definição de adição de inteiros, temos
 (𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) = (𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)

(𝑎′, 𝑏′) + (𝑐′, 𝑑′) = (𝑎′ + 𝑐′, 𝑏′ + 𝑑′)


 Queremos mostrar que
 (𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑) = (𝑎′ + 𝑐′, 𝑏′ + 𝑑′) (?)
 O que equivale a verificar que
 a + c + b’ + d’ = b + d + a’ + c’ (?)
 Somando as igualdades (*) e (**), obtemos
diretamente o resultado esperado
 (a + c) + (b’ + d’) = (b + d) + (a’ + c’) 

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Propriedades da Adição
 Teorema: A operação de adição em ℤ é
Associativa, Comutativa, tem (𝟎, 𝟎) como
Elemento Neutro e vale a Lei do
Cancelamento, como em IN.
 Além disso, vale a Propriedade do Elemento
Oposto (ou simétrico, ou inverso aditivo)
 Dado (𝑎, 𝑏) ∈ ℤ, existe um único (𝑐, 𝑑) ∈ ℤ tal
que (𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) = (0,0) . Este (𝑐, 𝑑) é o
elemento (𝑏, 𝑎).

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Referências
 Ferreira, Jamil. A construção dos números –
3ª ed. – Rio de Janeiro: SBM, 2013.

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Números
Inteiros

Parte 2
Multiplicação

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Multiplicação em ℤ
 Definição: Dados (𝑎, 𝑏) e (𝑐, 𝑑) em ℤ ,
definimos o produto (𝑎, 𝑏) ∙ 𝑐, 𝑑 como sendo
o inteiro (𝑎𝑐 + 𝑏𝑑, 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐)
 (𝒂, 𝒃) ∙ 𝒄, 𝒅 = (𝒂𝒄 + 𝒃𝒅, 𝒂𝒅 + 𝒃𝒄)
 Exemplos:Efetue, seguindo a definição, os
produtos abaixo e certifique-se da ‘regra de
sinais’
1. (4,1) ∙ 3,4 =
2. (1,5) ∙ 2,7 =
3. (2,1) ∙ 2,0 =
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Propriedades
 Teorema: A multiplicação em ℤ é bem
definida
 Teorema: A multiplicação em ℤ satisfaz às
propriedades:
i. Comutativa
ii. Associativa
iii. Possui Elemento Neutro (𝟏, 𝟎)
iv. Distributiva em relação à adição
v. Lei do Cancelamento multiplicativo
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Demonstração
 As demonstrações do primeiro teorema e de alguns
itens do segundo teorema são análogas às vistas na
adição e são deixadas como exercícios
 D]
 Comutativa: Sejam (𝑎, 𝑏) 𝑒 (𝑐, 𝑑) ∈ ℤ . Queremos
mostrar que (𝑎, 𝑏) ∙ 𝑐, 𝑑 = (𝑐, 𝑑) ∙ 𝑎, 𝑏 (?)
 Por definição, temos:
 (𝑎, 𝑏) ∙ 𝑐, 𝑑 = (𝑎𝑐 + 𝑏𝑑, 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐)
 (𝑐, 𝑑) ∙ 𝑎, 𝑏 = (𝑐𝑎 + 𝑑𝑏, 𝑐𝑏 + 𝑑𝑎)

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Referências
 Ferreira, Jamil. A construção dos números –
3ª ed. – Rio de Janeiro: SBM, 2013.

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Números
Inteiros

Parte 3
Relação de Ordem

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Relação de Ordem em ℤ
 Definição: Dados os inteiros (𝑎, 𝑏) e (𝑐, 𝑑) ,
escrevemos:
 (𝑎, 𝑏) ≤ 𝑐, 𝑑 quando 𝑎 + 𝑑 ≤ 𝑏 + 𝑐
 Exercício: Verifique que a relação acima é bem
definida
 Observação: A ordem definida em ℤ adota os
mesmos símbolos de ℕ , mas o contexto
distinguirá uma relação da outra, a priori. Em
seguida, a relação de ordem dos inteiros será
apresentada como uma extensão da ordem
dos naturais
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Exemplos
 Useos símbolos corretos da relação
de ordem para os inteiros abaixo
1. 4,1 ____ 3,4
2. 1,5 ____ 2,7
3. 2,1 ____ 2,0
4. 3,2 ____(7,6)

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Teorema
 A relação  definida anteriormente é uma
Relação de Ordem em ℤ, ou seja, é reflexiva,
antissimétrica e transitiva. Além disso, essa
relação é compatível com as operações em ℤ,
ou seja, para α, 𝛽 𝑒 𝛾 ∈ ℤ arbitrários, valem:
i. 𝛼 ≤ 𝛽 ⇒ 𝛼 + 𝛾 ≤ 𝛽 + 𝛾;
ii. 𝛼 ≤ 𝛽 e 𝛾 ≥ 0,0 ⇒ 𝛼𝛾 ≤ 𝛽𝛾;
iii. (Lei da Tricotomia): Apenas uma das
situações seguintes ocorre: 𝛼 = (0,0) ou 𝛼 <
(0,0) ou 𝛼 > (0,0).
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Demonstração R.O.
 Reflexiva: 𝛼 ≤ 𝛼, ∀𝛼 ∈ ℤ (?)
 Considere α = (𝑎, 𝑏) e temos que 𝑎 + 𝑏 ≤ 𝑎 + 𝑏 (em
IN). Assim, 𝛼 ≤ 𝛼
 Antissimétrica: 𝛼 ≤ 𝛽 e 𝛽 ≤ 𝛼, então 𝛼 = 𝛽 (?)
 Sejam 𝛼 = (𝑎, 𝑏) e 𝛽 = (𝑐, 𝑑)
 Por hipótese temos:
 𝛼 ≤𝛽 ⇒𝑎+𝑑 ≤𝑏+𝑐
 𝛽 ≤𝛼 ⇒𝑐+𝑏 ≤𝑑+𝑎
 Como a+d e b+c são naturais, satisfazem a prop.
Antissimétrica, assim:
 𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐 ⇒ 𝑎, 𝑏 ~ 𝑐, 𝑑 ⇒ 𝛼 = 𝛽
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Demonstração R.O.
 Transitiva: 𝛼 ≤ 𝛽 𝑒 𝛽 ≤ 𝛾 ⇒ 𝛼 ≤ 𝛾 (?)
 Sejam 𝛼 = (𝑎, 𝑏), 𝛽 = (𝑐, 𝑑) e γ = (𝑒, 𝑓)
 Por hipótese temos:
 𝛼 ≤𝛽 ⇒𝑎+𝑑 ≤𝑏+𝑐
 𝛽 ≤𝛾 ⇒𝑐+𝑓 ≤𝑑+𝑒
 Nas desigualdades acima valem as propriedades
dos naturais, assim, somando os primeiros membros
e os segundos, preserva-se a desigualdade e
temos:
 𝑎+𝑑+𝑐+𝑓 ≤𝑏+𝑐+𝑑+𝑒 ⇒𝑎+𝑓 ≤𝑑+𝑒 ⇒𝛼 ≤𝛾 

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Demonstração
 (i)] 𝛼 ≤ 𝛽 ⇒ 𝛼 + 𝛾 ≤ 𝛽 + 𝛾 (?)
 Sejam 𝛼 = (𝑎, 𝑏), 𝛽 = (𝑐, 𝑑) e γ = (𝑒, 𝑓)
 Por hipótese temos:
 𝛼 ≤𝛽 ⇒𝑎+𝑑 ≤𝑏+𝑐
 𝛼 + 𝛾 = (𝑎 + 𝑒, 𝑏 + 𝑓)
 𝛽 + 𝛾 = (𝑐 + 𝑒, 𝑑 + 𝑓)
 Queremos mostrar que
 𝑎 + 𝑒 + 𝑑 + 𝑓 ≤ 𝑏 + 𝑓 + (𝑐 + 𝑒) (?)
 Partindo da hipótese 𝑎 + 𝑑 ≤ 𝑏 + 𝑐 e adicionando
𝑒 + 𝑓 ∈ 𝐼𝑁 preservamos a desigualdade e obtemos
o resultado 
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Demonstração
 (ii)] 𝛼 ≤ 𝛽 𝑒 𝛾 > (0,0) ⇒ 𝛼𝛾 ≤ 𝛽𝛾 (?)
 Sejam 𝛼 = (𝑎, 𝑏), 𝛽 = (𝑐, 𝑑) e γ = (𝑒, 𝑓)
 Por hipótese temos:
 𝛼 ≤𝛽 ⇒𝑎+𝑑 ≤𝑏+𝑐 e𝑓 ≤𝑒
 Pela Ordem em IN temos que existem 𝑝, 𝑞 ∈ 𝐼𝑁 t.q.:
 𝑏+𝑐 =𝑎+𝑑+𝑝 (1)
 𝑒 =𝑓+𝑞 (2)
 Multiplicando 𝑒 e 𝑓 em (1), obtemos:
 𝑏𝑒 + 𝑐𝑒 = 𝑎𝑒 + 𝑑𝑒 + 𝑝𝑒 e 𝑏𝑓 + 𝑐𝑓 = 𝑎𝑓 + 𝑑𝑓 + 𝑝𝑓 e segue:
 𝑎𝑒 + 𝑑𝑒 + 𝑝𝑒 + 𝑏𝑓 + 𝑐𝑓 = 𝑎𝑓 + 𝑑𝑓 + 𝑝𝑓 + 𝑏𝑒 + 𝑐𝑒 (3)

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Demonstração
 (ii)] 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑖𝑛𝑢𝑎çã𝑜:
 𝑝𝑒 = 𝑝𝑓 + 𝑝𝑞 (4)
 De (3) e (4) temos:
 𝑎𝑒 + 𝑑𝑒 + 𝑝𝑓 + 𝑝𝑞 + 𝑏𝑓 + 𝑐𝑓 = 𝑎𝑓 + 𝑑𝑓 + 𝑝𝑓 + 𝑏𝑒 +
+ 𝑐𝑒
E assim concluímos que:
 𝑎𝑒 + 𝑑𝑒 + 𝑏𝑓 + 𝑐𝑓 ≤ 𝑎𝑓 + 𝑑𝑓 + 𝑏𝑒 + 𝑐𝑒 ⇒ 𝛼𝛾 ≤ 𝛽𝛾
 Lei da Tricotomia] Exercício

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Imersão de IN em ℤ
 Uma ideia comum é tratarmos os conjuntos
numéricos sempre ‘incluindo’ o conjunto
anterior. Ao usar classes de equivalência
sobre pares ordenados de IN para definir os
inteiros, mudamos a natureza desses
números e eliminamos a possibilidade direta
de inclusão de IN em ℤ.
 Queremos mostrar com as próximas
observações que, apesar de IN  ℤ, existe
uma ‘cópia’ de IN contida em ℤ
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Imersão de IN em ℤ
 A partir da Relação de Ordem em ℤ e da Lei da
Tricotomia dos inteiros observamos:
 (𝑎, 𝑏) > (0,0) ⇒ 𝑎 + 0 > 𝑏 + 0 ⇒ 𝑎 > 𝑏 e também
 (𝑎, 𝑏) < (0,0) ⇒ 𝑎 + 0 < 𝑏 + 0 ⇒ 𝑎 < 𝑏
 Os resultados 𝑎 > 𝑏 e 𝑎 < 𝑏 implicam:
 𝑎 =𝑏+𝑚
 𝑏 =𝑎+𝑚

 Assim, podemos associar:


 (𝑎, 𝑏) = (𝑚, 0) para (𝑎, 𝑏) positivo
 (𝑎, 𝑏) = (0, 𝑚) para (𝑎, 𝑏) negativo
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Imersão de IN em ℤ
 As afirmações acima e a Lei da Tricotomia nos
trazem
 ℤ= 0, 𝑚 𝑚 ∈ 𝐼𝑁 ∗ ∪ {(0,0)} ∪= 𝑚, 0 𝑚 ∈ 𝐼𝑁 ∗
 Com todas as partes disjuntas [ℤ∗− ∪ { 0,0 } ∪ ℤ∗+ ]
 É fácil verificar que o conjunto dos Inteiros não-
negativos ℤ+ = ℤ∗+ ∪ {(0,0)} está em bijeção com
IN. Para garantir que esses conjuntos são cópias
algébricas um do outro falta garantir a
preservação das operações como descrito no
Teorema a seguir
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Imersão Algébrica de IN em ℤ
 Teorema: Seja 𝑓: 𝐼𝑁 → ℤ dada por 𝑓 𝑚 = 𝑚, 0 .
Então 𝑓 é injetora e valem as propriedades:
i. 𝑓 𝑚 + 𝑛 = 𝑓 𝑚 + 𝑓(𝑛)
 Soma de naturais levada em soma de inteiros
correspondentes 2 + 4 = 6 ⇒ (2,0) + (4,0) = (6,0)
ii. 𝑓 𝑚𝑛 = 𝑓 𝑚 𝑓(𝑛)
 Produto de naturais levado no produto de inteiros
correspondentes 2 ∙ 4 = 8 ⇒ (2,0) ∙ (4,0) = (8,0)
iii. 𝑚 ≤ 𝑛 ⇒ 𝑓 𝑚 ≤ 𝑓(𝑛)
 Ordem dos inteiros é uma extensão por 𝑓 da Ordem
dos naturais correspondentes 2 ≤ 4 ⇒ (2,0) ≤ (4,0)
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Observações sobre a imersão


𝑓 𝐼𝑁 = ℤ+
 ℤ é infinito (pois seu subconjunto ℤ+ , uma cópia de IN, o
é);
 Para 𝑚 ∈ 𝐼𝑁 , o simétrico de (𝑚, 0) é (0, 𝑚) (como já
sabemos). Assim ao identificarmos 𝑚 com (𝑚, 0) ,
associamos
 −𝑚 = − 𝑚, 0 = (0, 𝑚)
 Com a observação acima, podemos associar os inteiros
negativos à sua notação convencional (intuitiva): (0,2) =
− 2, (0,5) = −5, etc.
 A subtração pode então ser definida para os naturais:
 𝑎 − 𝑏 = 𝑎, 0 − 𝑏, 0 = 𝑎, 0 + − 𝑏, 0 = 𝑎, 0 + 0, 𝑏 =
= 𝑎, 𝑏
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Referências
 Ferreira, Jamil. A construção dos números –
3ª ed. – Rio de Janeiro: SBM, 2013.

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Números
Inteiros

Parte 4
Boa Ordem e Hipótese
do Contínuo

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Definição
 Seja X um subconjunto não vazio ℤ. Dizemos
que X é limitado inferiormente se existe α ∈ ℤ
tal que 𝛼 ≤ 𝑥, ∀𝑥 ∈X. Esse α é chamado de
cota inferior de X. Analogamente, definimos
subconjunto de ℤ limitado superiormente e
cota superior.
 Exemplo: 0 é cota inferior de IN ⊂ ℤ . Da
mesma forma, –1 e qualquer inteiro negativo
também são cotas inferiores de IN

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Resultados importantes
 Teorema - Princípio da Boa Ordem (para ℤ): Seja
X⊂ ℤ não vazio e limitado inferiormente, então X
possui elemento mínimo.
 Definição: Dizemos que um conjunto X é
enumerável se existe uma bijeção entre X e IN. A
essa bijeção dá-se o nome de enumeração.
 Numa enumeração, a imagem do 1 é dito o
primeiro elemento de X
 A imagem do 0 é chamada de zero-ésimo
elemento de X

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4

Observações
 Proposição: A função f:IN→IN* dada por f(x)=x+1
é uma bijeção
 Corolário: Se um conjunto estiver em bijeção
com IN*, então ele estará em bijeção com IN,
logo será enumerável
 Isso evita a necessidade da existência do zero-
ésimo elemento para que o conjunto seja
enumerável
 Proposição: ℤ é enumerável
2𝑛 − 1, 𝑠𝑒 𝑛 > 0
 Considere a função bijetora 𝜎 𝑛 = ቊ
−2𝑛, 𝑠𝑒 𝑛 ≤ 0
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Ideias sobre a Hipótese do


Contínuo
 Diz respeito às cardinalidades de conjuntos
enumeráveis (e não enumeráveis) - #(X) ou (X)
 Assumindo o resultado proposto por Cantor que
afirma que o número de elementos de um conjunto
(finito ou infinito) é sempre menor do que o número
de elementos das partes desse conjunto, podemos
observar que nenhuma função injetora de X em P(X)
pode ser sobrejetora
 Uma injeção natural de X em P(X) leva x em {x}, assim é
fácil imaginar que, se X é infinito, P(X) também o é, mas
com magnitude superior
 Expressamos isso dizendo que a cardinalidade de P(X) é
maior do que a de X Fundamentos da Matemática III
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Cadeia de cardinalidades
 Considere a sequência de conjuntos das partes de IN
 #(IN) < #(P(IN)) < #(P(P(IN))) < ...
 Essa cadeia começa com a cardinalidade de IN
que, pela definição de conjunto infinito (possuir
algum subconjunto em bijeção com IN), pode ser
considerada a menor cardinalidade infinita
(chamado número aleph 0 - ℵ0 ) e segue com ℵ1 =
2ℵ0 (Beth 1 = ℶ1 ) segundo a Teoria dos Conjuntos com
Axioma da Escolha proposta por Zermelo-Fraenkel,
que seria a cardinalidade de IR (#(IR))
 Objeto de estudo da Teoria dos Conjuntos: números
cardinais e ordinais
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Hipótese do Contínuo
 A não existência de cardinalidades intermediárias entre ℵ0
e ℵ1 (ou entre dois pontos da cadeia) é objeto de
discussão
 Baseado em Zermelo-Fraenkel, não há como garantir que sim
ou que não
 A suposição de que é a negativa é válida é chamada de
Hipótese Generalizada do Contínuo e foi provado por Kurt
Gödel que não está em contradição com os outros axiomas da
Teoria dos Conjuntos de Zermelo-Fraenkel, o que significa que
esta hipótese pode ser adicionada como axioma à Teoria dos
Conjuntos sem contradições
 O termo ‘generalizada’ refere-se a qualquer elo entre duas
partes da cadeia, a Hipótese do Contínuo, refere-se
somente à primeira desigualdade
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Hipótese do Contínuo
 Como não é possível obter uma bijeção entre IN e
P(IN), aliado às afirmações anteriores, podemos
concluir que IR não é enumerável
 “Assumindo a Hipótese do Contínuo, concluímos que,
no imenso e matematicamente rico universo
existente entre IN e IR, onde, como veremos, moram
os números racionais, irracionais, transcendentes e
algébricos reais, não são obtidas cardinalidades
distintas das desses dois conjuntos, isto é, qualquer
subconjunto infinito de IR, ou é equipotente a IN
(enumerável), ou é equipotente a IR.” (Ferreira, 2013)

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Referências
 Ferreira, Jamil. A construção dos números –
3ª ed. – Rio de Janeiro: SBM, 2013.

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