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Aula teórica: 01 21.06.2021


Tema 1. Operações com conjuntos numéricos.
- Representação e descrição de conjuntos;
- Operações de reunião, intersecção e diferença de conjuntos.

. .
Objectivos
No fim desta aula os estudantes devem ser capazes de:
• Representar e descrever conjuntos numéricos por extensão e por compreensão;
• Efectuar as operações de reunião, intersecção e diferença de conjuntos numéricos;
• Aplicar as propriedades de operações de conjuntos na resolução de diversos problemas.
. .

1. Operações com conjuntos numéricos

1.1. Conjuntos
O termo matemático "conjunto" não tem uma definição rigorosa mas pode ser explicado a
partir de exemplos:

Exemplo 1.

1) O conjunto das consoantes do alfabeto latino.

2) O conjunto de números reais (R).

3) O conjunto de funções continuas no intervalo [a, b].

4) O conjunto de funções integráveis no intervalo [a, b].

5) O conjunto das teorias sobre o surgimento da terra.

6) O conjunto de átomos que constituem o sistema solar.

7) O conjunto de peças de automóvel.

8) O material de protecção individual.

Portanto, se pode considerar conjunto a uma família ou colecção de objectos, tendo em conta
algum tipo de caracteristica comum. O essencial no conceito de conjunto é o acto de unir
diferentes objectos do mundo real ou da intuição humana em um todo.

Para descrever um conjunto é necessário apresentar todos os seus elementos ou caracterizá-


lo através das suas propriedades específicas.

Um conjunto pode ser finito ou infinito. É finito o conjunto que apresenta um número li-
mitado de seus elementos e caso contrário diz-se infinito.
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Para representar conjuntos, comummente, utilizam-se letras maúsculas do nosso alfabeto (A,
B, C,...,Z). Aos objectos coleccionados denominam-se elementos ou membros do conjunto e
representam-se pelas letras minúsculas (a, b, c,...,z).

Para escrever, simbolicamente, que o elemento x pertence ao conjunto A, representa-se por


x ∈ A. Por outro lado, para referir que o elemento x não pertence ao conjunto A, designa-se
por x ∈
/A.

1.1.1. Descrição de conjuntos


Existem duas formas para descrever os conjuntos:
1) Extensão
Na descrição de conjuntos por extensão, realiza-se uma listagem dos elementos de con-
junto, agrupados entre chavetas e separados por vírgula ou ponto e vírgula. No caso
em que os elementos do conjunto são variaveis continuas, utilizam-se os intervalos para
descrever os respectivos conjuntos.

Exemplo 2. Os conjuntos de números pares, de letras do alfabeto português e de números


reais maiores que zero e menores que dez representam-se, respectivamente, por:
{2, 4, 6, 8, ...}, {a, b, c, ..., z} e ]0; 10[. Notemos que o conjunto de letras do alfabeto por-
tuguês é finito enquanto que os outros dois são infinitos.

Exemplo 3. Descreva por extensão os seguintes conjuntos:


{ }
2x + 1
(a) A = x ∈ R : 1 ≥ √ ≥ −(x + 1)
2−2
(b) D = {T ∈ R : T>0 seja o menor período da função f (x) = cos2 x }
{ }
nx sin(n!)
(c) E = x ∈ R : lim =0
n→∞ n+1

Resolução √ √ [ √ √ ]
2x + 1 −3 + 2 1− 2 −3 + 2 1 − 2
(a) 1 ≥ √ ≥ −(x + 1) ⇐⇒ ≤x≤ √ =⇒ A = , √ .
2−2 2 2 2 2

1 + cos 2x
(b) f (x) = cos2 x = . Agora resolvemos a equação f (x) − f (x + T ) = 0, isto é,
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1 + cos 2x 1 + cos[2(x + T )]
− = 0 ⇐⇒ cos 2x − cos[2(x + T )] = 0 ⇐⇒
2 2
[ ] [ ]
2x − 2(x + T ) 2x + 2(x + T )
2 · sin · sin = 0 ⇐⇒ sin(−T ) · sin (2x + T ) = 0 ⇐⇒
2 2

sin(T ) = 0 ⇐⇒ T = kπ, k = 1, 2, 3, .... Deste modo, D = {π}

nx sin(n!) nx
(c) Como | sin(n!)| ≤ 1, n = 1, 2, 3, ... =⇒ lim = 0 ⇐⇒ lim = 0 ⇐⇒
n→∞ n+1 n→∞ n + 1
x < 1. Portanto, E =] − ∞, 1[ .
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2) Compreensão
Na compreensão apresentam-se, entre chavetas, todas as características específicas do
conjunto.
Exemplo 4. O conjunto de números pares representa-se por:
{x : x é divisivel por 2} e lê-se: "conjunto formado por todos os x tal que x é divisivel
por 2".

O conjunto das letras do alfabeto português representa-se por:


{x : x é uma letra do alfebeto português } e lê-se: "conjunto formado por todos os x tal
que x é uma letra do alfebeto português".

Na área de Métodos Numéricos merecem especial atenção os conjuntos números.

1.1.2. Conjuntos numéricos


Um conjunto numérico é aquele cujos elementos são números, e pode ser:

1) Conjunto de números naturais:

N = {1; 2; 3; 4, ...}

2) Conjunto de números inteiros relativos:

Z = {0; ±1; ±2; ±3; ±4; ...}

3) Conjunto de números racionais:


{ }
x
Q= : x, y ∈ Z, y ̸= 0
y
Todos os números racionais podem ser representados por fracções decimais finitas ou
infinitas periódicas.

Exemplo 5.
Fracções decimais finitas.
0, 5; 11, 158; −0, 0258

Fracções decimais infinitas periódicas.


1
= 0, 3333... (o número 3 repete-se interminavelmente)
3
2
= 0, 285714285714... (o número 285714 repete-se interminavelmente)
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4) Conjunto de números reais


É o conjunto de todos os números representados por fracções decimais finitas ou infinitas
e, obviamente, designa-se por R.
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5) Conjunto de números irracionais

É o conjunto constituido por todos os números reais que não são racionais, ou seja,
que não podem ser representados sob a forma:
{ }
x
: x ∈ Z, y ∈ Z, y ̸= 0
y
O conjunto de números irracionais representa-se por I. Os números irracionais podem
ser apresentados em fracções decimais infinitas aperiódicas.

Exemplo 6. São irracionais os seguintes números:



2 = 1.4142135623731...
π = 3.1415926535897...
e = 2.7182818284590...

6) Conjunto de números complexos


É o conjunto de números definidos da seguinte forma:

C = {a + i · b : i = −1; a, b ∈ R}

Exemplo 7. São complexos os seguintes números:


√ √
i, 2, 5 + −1, −5, 2 + 4i, π + 3i.

A partir dos conjuntos numéricos apresentados anteriormente, não é tarefa dificil definir seus
subconjuntos positivos e negativos. Portanto, designaremos por A− e A+ aos conjuntos cons-
tituidos por números negativos e positivos do conjunto A, respectivamente. Da mesma forma,
diremos que A0 é o conjunto A incluindo o zero.

Exemplo 8.
Ao conjunto de números naturais incluindo o zero representa-se por N0 = {0; 1; 2; 3; ...}.
As representações Z+ = {1; 2; 3; 4, ...} e Z− = {−1; −2; −3; −4, ...} se correspondem com os
conjuntos de números inteiros positivos e negativos, respectivamente. Os números inteiros não

negativos e não positivos designam-se por Z+0 = {0; 1; 2; 3; 4, ...} e Z0 = {0; −1; −2; −3; −4, ...},
respectivamente.

Na teoria de conjuntos se definem dois tipos de relação entre conjuntos e seus elementos:

1) Relação de pertença

Diz-se relação de pertença à conexão que se pode estabelecer entre elemento e conjunto
através dos símbolos ∈ e ∈/.

Exemplo 9. São verdadeiras


√ as seguintes
√ proposições:
√ √
−1 ∈ Z; 1.5 ∈
/ N; 2 + 2 ∈ C; 5∈/ Q; 4∈
/ I; 2+ −2 ∈ C.
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2) Relação de inclusão

Diz-se relação de inclusão à conexão que se pode estabelecer entre conjuntos através
dos símbolos ⊂, ⊆, ⊃, ⊇, ⊂ /, ⊆
/, ⊃
/ e⊇/ . Para ilustrar, simbolicamente, o emprego destas
relações, se consideram os conjuntos A e B. Então, se podem definir as seguintes relações:

(a) A ⊂ B , significa que o conjunto A é subconjunto de B (ou A está contido em B).


(b) A ⊆ B , significa que o conjunto A é subconjunto ou é igual ao conjunto B.
(c) A ⊃ B , significa que o conjunto B é subconjunto de A (ou A contém B).
(d) A ⊇ B , significa que o conjunto B é subconjunto ou é igual ao conjunto A.
(e) A ⊂
/ B , significa que o conjunto A não é subconjunto de B.
(f) A ⊆/ B , significa que o conjunto A não é subconjunto de B e, obviamente, os dois
conjuntos são distintos.

Exemplo 10. É válida a seguinte cadeia de relações de inclusão:

N⊂Z⊂Q⊂R

Para a representação gráfica das relações e propriedades de conjuntos utilizam-se os diagramas


de Venn1 . Os respectivos diagramas consistem de curvas fechadas desenhadas sobre um plano
e, frequentemente, se utilizam círculos e um rectângulo. O rectângulo representa o conjunto
que contém os outros conjuntos representados pelos circulos. Por exemplo, geometricamente,
a cadeia de relações de inclusão apresentada no exemplo anterior é representada da seguinte
forma:

Figura 1 (Diagrama de Venn para a representação gráfica da relação N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R).

Agora apresentam-se algumas propriedades fundamentais de inclusão:

1) Todo conjunto é subconjunto de si mesmo.

2) Se A ⊂ B e B ⊂ A, então A = B . A representação A = B significa que os conjuntos


A e B são iguais ou idênticos.

3) Se A ⊂ B e B ⊂
/ A, então A ̸= B .

Em conformidade com as propriedades anteriores, se conclui que os conjuntos A =


{2, 4, 6, 8} e B = {6, 4, 8, 2} são iguais.
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John Venn (1834–1923) — matemático Britânico
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O número ou quantidade dos elementos constituintes de um conjunto A diz-se cardinal de A


e representa-se por |A|. Existe uma relação entre o cardinal de um conjunto A e o número
total de seus subconjuntos |P(A)|, isto é,

|A| = n =⇒ |P(A)| = 2n .

Exemplo 11. Determine o número de subconjuntos de A = {1, 2, 3} e verifique-o através da


apresentação dos respectivos subconjuntos.

Resolução
|A| = 3 =⇒ |P(A)| = 23 = 8.

Portanto, os subconjuntos de A são: ∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {1, 2, 3} e {2, 3} 

Na teoria de conjuntos existem três conjuntos especiais:

1) Conjunto vazio
Diz-se vazio ao conjunto que não possui nenhum elemento e denota-se por ∅ ou { }. O
vazio é subconjunto de qualquer conjunto.

Exemplo 12. São vazios os seguintes conjuntos:

(a) {x ∈ R : ax2 + bx + c = 0, b2 − 4ac < 0; a, b, c ∈ R}


(b) {x ∈ R : x2 + ax + 1 = 0, |a| < 2, a ∈ R}
(c) {x ∈ R : ex − x = 0}

2) Conjunto unitário
Diz-se unitário ao conjunto que possui apenas um elemento.

Exemplo 13. São unitários os seguintes conjuntos:

(a) {x ∈ R : x é par e primo} = {2}


{ }
b
(b) {x ∈ R : ax + bx + c = 0, b − 4ac = 0, a, b, c ∈ R, a ̸= 0} = −
2 2
2a

3) Conjunto universal ou universo


Diz-se conjunto universal ao conjunto constituido por todos os elementos do universo
considerado. O conjunto universal contém todos os possíveis conjuntos desse universo e,
comummente, representa-se pelas letras "U" ou "E".

Exemplo 14. São universos os seguintes conjuntos:

(a) {x ∈ R : ax2 + bx + c > 0, b2 − 4ac < 0, a, b, c ∈ R, a > 0} = R


(b) {x ∈ R : ex > x = 0} = R
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{ { }
a 1 x + b 1 y = c1
(c) (x, y) ∈ R2 : , a1 b2 − b1 a2 = 0, c1 = c2 ; ai , bi , ci ∈ R; i = 1, 2 = R2
a 2 x + b 2 y = c2

1.1.3. Operações com conjuntos

Sejam os conjuntos A e B. Então se podem definir as seguintes operações entre A e B:

1) A reunião de A e B é um conjunto constituído por elementos de A ou de B ou de ambos


conjuntos. Simbolicamente se escreve:

A ∪ B = {x : x ∈ A ou x ∈ B}

Figura 2 (Diagrama de Venn para a representação gráfica de A ∪ B ).

2) A intersecção de A e B é um conjunto constituído por elementos de ambos conjuntos e,


simbolicamente, se escreve:

A ∩ B = {x : x ∈ A e x ∈ B}

Figura 3 (Representação gráfica de A ∩ B ).

Se A ∩ B = ∅, então A e B dizem-se disjuntos.

Figura 4 (Representação gráfica de dois conjuntos disjuntos A e B ).

3) A diferença de A e B é um conjunto constituido por elementos de A que não pertencem


a B.

A \ B = {x : x ∈ A e x ∈
/ B}

Figura 5 (Representação gráfica de A \ B ).


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4) Complementar de um conjunto
O complementar de um conjunto A é um outro conjunto constituido por elementos de
universo que não pertencem a A e, simbolicamente, se escreve:

A = {x : x ∈ U e x ∈
/ A} = U \ A

Figura 6 (Representação gráfica de A).

5) Diferênça simétrica de dois conjunto


Diz-se diferênça simétrica dos conjuntos A e B à reunião das diferênças A \ B e B \ A,
designando-se por:

A △ B = (A \ B) ∪ (B \ A)

Figura 7 (Representação gráfica de A △ B ).

Exemplo 15. São verdadeiras as seguintes proposições:

Q ∪ I = R; Z \ N = Z−
0; N ∩ Z = N; R \ Q = I; Q = R \ Q = I.

1.1.4. Propriedades fundamentais de operações com conjuntos

Considere A, B e C três conjuntos quaisquer. Sejam U e ∅ conjuntos universal e vazio, respec-


tivamente. Então são válidas as seguintes propriedades:

a) A ∩ ∅ = ∅ b) A ∪ ∅ = A c) A ∩ A = A d) A ∪ A = A e) A ∩ B = B ∩ A

f) A ∪ B = B ∪ A g) A ∩ A = ∅ h) A ∪ A = A i) U = ∅ j) ∅ = U k) A = A

l) A ∩ B = A∪B m) A ∪ B = A∩B n) A∪(B ∪C) = A∪B ∪C o) A∩(B ∩C) = A∩B ∩C

p) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) q) A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C)

r) A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C = A ∪ B ∪ A ∪ C s) A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C = A ∩ B ∩ A ∩ C .

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