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Números

Naturais
Parte 1: Axiomas de
Peano e Adição

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Conteúdo
 Parte 1  Parte 2
 Axiomas de Peano  Operações com
 Conjuntos Infinitos números naturais
 Adição
 Construção do  Propriedades
Conjunto IN  Multiplicação
 Operador s(n): sucessor  Propriedades
 Relação de Ordem
em IN
Fundamentos da Matemática III
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Noção Intuitiva
 A ideia de número natural sempre esteve
associada à ideia de quantidade e à
necessidade de contagem, mas a
formalização do conceito de número natural só
aconteceu com a Teoria dos Conjuntos. A ideia
que utilizaremos é uma adaptação da
formulada por Giuseppe Peano, no final do
século XIX, onde é assumida a existência do
conjunto dos números naturais através de
axiomas basilares. (Ferreira, 2013)

Fundamentos da Matemática III


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Axiomas de Peano
A1) Existe um único número natural que não é
sucessor de nenhum outro. Ele se chama “um” e
é representado pelo símbolo 1.
A2) Números naturais diferentes têm sucessores
diferentes.
A3) Todo número natural tem um único sucessor.
A4) Se X  IN é um subconjunto tal que 1  X e se,
além disso, o sucessor de todo n  X , denotado
por n + 1, ainda pertence a X, então X = IN.

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Axiomas de Peano (Ferreira, J.)


 Existe um conjunto IN e uma função s: IN → IN
verificando:
A1) s é injetora
A2) Existe um elemento em IN, que
denotaremos por 0, e chamaremos de zero, que
não está na imagem de s, isto é, 0  Im(s)
A3) Se um subconjunto X de IN satisfizer (i) e (ii)
abaixo, então X = IN
(i) 0  X
(ii) Se k  X, então s(k)  X
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Comparação
 Presença do zero
 Alguns autores não incluem o zero como elemento do
IN. Jamil Ferreira inclui, e assumiremos esta hipótese
também
 A função s: IN → IN apresentada na versão de
Ferreira (de 3 axiomas) está associada à ideia de
sucessor, mas o argumento valeria com outra s
 Os axiomas A2 e A3 da versão de 4 são resumidos
em A1 na versão de Ferreira quando usa o fato de s
ser uma função (todo natural tem único sucessor) e
injetora (naturais diferentes têm sucessores
diferentes)
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Observações
 O conjunto IN, na versão de Ferreira, é chamado
Conjunto dos Números Naturais
 A partir do axioma A3, que é a base para o Princípio
da Indução, usaremos uma nova notação
(temporariamente) para o P.I.M.
 Ao invés de usar:
 Se P(k) é verdade, então P(k+1) é verdade
 Usaremos:
 Se P(k) é verdade, então P(s(k)) é verdade
 Visto que a soma k+1 ainda não foi definida em IN, e,
intuitivamente, sabemos que o sucessor de k,
s(k) = k+1 Fundamentos da Matemática III
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Observações
 O axioma A2 garante que IN é não-vazio, pois 0IN
 Como s(0)0 [0Im(s) e s(0) Im(s)], então IN contém,
pelo menos, os elementos distintos: 0 e s(0)
 Temos que s(s(0))0 e s(s(0))s(0) (s é injetora). Isto
acrescenta o elemento s(s(0)) a IN
 Iteradamente é possível verificar que s(s(s(0)))
(sucessor do sucessor do sucessor de 0) também está
em IN e não é igual a nenhum elemento anterior e
assim infinitamente [será demonstrado adiante]
 Mas é necessário definir primeiramente um conjunto
infinito
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Definição
 Definição:Um conjunto X é infinito quando
existe uma função injetora f: IN → X.
 Um conjunto é infinito quando contiver um
subconjunto Y em bijeção com IN [Y é equipotente a IN]
 Definição dada por Cantor: Um conjunto é
infinito quando existir uma bijeção entre ele
e um subconjunto próprio dele
 As definições são equivalentes, mostraremos isto no
Teorema a seguir quando verificarmos que s: IN →
IN* é uma bijeção
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Definição
 Um conjunto é dito finito quando não for infinito
 Admitindo a notação usual dos números naturais,
podemos verificar que um conjunto X é finito se, e
somente se, ele for vazio ou estiver em bijeção com
um conjunto do tipo In = {1,2,3,...n}, para algum nIN*
 Quando n existe é dito número de elementos de X
 Em concordância com a definição anterior, dizemos
que todo subconjunto de um conjunto finito é
também finito
 As demonstrações das afirmações acima são objetos
da Teoria de Conjuntos, fora do objetivo deste curso
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Teorema
 Se s: IN → IN é a função sucessor, então:
i. s(n)  n, nIN (nenhum natural é sucessor de si
mesmo)
ii. Im(s) = IN\{0} = IN* (0 é o único natural que não é
sucessor de nenhum natural)
 Demonstração
 i] P(n): s(n)  n, nIN
a) Base de indução: P(0) é verdade (?)
 De acordo com A2, 0  Im(s), logo s(0)  0

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Demonstração
b) Se P(k) (é verdade), então P(s(k)) (é verdade) (?)
 Suponha que s(k)  k (hipótese de indução)
 Aplicando s( ) em ambos termos:
 s(s(k))  s(k), pois s é injetora (A1)
 Desta forma P(s(k)) é verdade
 Por a) e b), P(n) é verdade n  IN 

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Demonstração (ii)
ii)] Im(s) = IN\{0} = IN*
 Usaremos Indução sobre o conjunto
 A = {0}  Im(s) [A  IN]
 Queremos mostrar que A = IN
a) Base de indução: 0  A (pela construção de A)
b) k  A  s(k)  A (?)
 Suponha que k  A
 Como s(k)  Im(s) (por definição de imagem) e Im(s)  A
(pela definição de A)
 Temos que s(k)  A. Assim A = IN (P.I.M.)
 Como 0  Im(s) (A2), Im(s) = IN\{0} = IN*
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Observação
 Todo elemento de IN* (notação para IN\{0}
que será adotada para todos os conjuntos
numéricos daqui em diante) é sucessor de
algum número natural que é denominado
seu antecessor
 Referência para estes slides
 Ferreira, Jamil. A construção dos números
– 3ª ed. – Rio de Janeiro: SBM, 2013.

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Parte 2: Operações
 Nesta seção definiremos as operações
de adição (+) e multiplicação (.) sobre o
conjunto dos números naturais
 O que se segue é o próximo passo na
formalização dos conceitos associados
às mesmas operações que conhecemos
intuitivamente pelos mesmos nomes
acima

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Adição em IN
Definição: A adição de dois
números naturais, m e n, é
designada por m + n e definida
recursivamente do seguinte
modo:
m +0=m
 m + s(n) = s(m + n)

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Observações
A definição acima nos fornece a soma
(adição) de um número arbitrário m com 0
 m + 0 = m (o que quase define 0 como elemento
neutro da adição em IN – faltando 0 + m = m)
 Nos fornece também a soma de m com s(0)
 m + s(0) = s(m + 0) = s(m)
 Temos ainda
 m + s(s(0)) = s(m + s(0)) = s(s(m))
 E assim sucessivamente

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A soma m + n
 Como garantir que a definição dada
anteriormente é geral?
 Que, fixado um mIN, a soma m + n está
definida para todo nIN?
 Usemos Indução (sobre n) para mostrar isto
i. (Base de Indução) para n = 0:
 A própria definição já traz a expressão
 m + 0 = m (EXISTE A DEFINIÇÃO!)
 Portanto a soma está definida para n=0
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A soma m + n
ii. Se P(k), então P(s(k))
 Suponha que a soma está definida para n = k, ou seja
 m + k está definida
 Queremos mostrar que a soma está definida também
para s(k), isto é
 m + s(k) está também definida (?)
 Mas a definição nos dá
 m + s(k) = s(m + k) (definição de m + s(k))
 Como m + k está definido, isto mostra que P(s(k)) é
verdade 
 Assim, a soma m + n está definida em todo IN
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Observação
 A definição de adição apresentada aqui é feita de
forma recursiva (como a multiplicação, a potência,
etc.)
 É possível provar que existe uma única operação em
IN com as propriedades e características definidas na
adição (não há outra possibilidade de adição), isto é
 *: IN x IN → IN dada por
 m*0 = m
 m*s(k) = s(m*k)
 * então é a própria adição
 Estas demonstrações são temas de funções recursivas
e não serão abordadas aqui Fundamentos da Matemática III
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Associando à noção intuitiva


 A definição de adição é feita a partir da função
sucessor s(n), único recurso até agora definido em IN
 É necessário definir m + 0 = m , pois 0 não é sucessor
de nenhum natural, portanto não se encaixa em
 m + s(n) = s(m + n)
 Se assumirmos os símbolos dos naturais conhecidos,
temos que s(0) = 1, e:
 m +1 = m + s(0) = s(m + 0) = s(m), isto é
 s(m) = m + 1
 E a definição de soma:
 m + s(n) = s(m + n) fica na forma (utilizada em outros livros)
 m + (n + 1) = (m + n) + 1 Fundamentos da Matemática III
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Definição e Proposição
 Definição:Indicaremos por 1, (lê-se
“um”) o número natural que é o
sucessor de 0, ou seja
1 = s(0)
 Proposição: Para todo natural m, tem-
se
 s(m)
= m + 1 e s(m) = 1 + m, portanto
m+1=1+m

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Demonstração
 Para a primeira igualdade (s(m)=m+1) temos
 pela definição de 1 (1 = s(0))
 m + 1 = m + s(0) usando a definição de adição
 m + s(0) = s(m + 0) = s(m) (também pela definição)
 Para a segunda igualdade (s(m)=1+m)
consideremos a propriedade
 P(m): mIN|s(m) = 1 + m
 Por indução, fazemos:

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Demonstração
 P(m): mIN|s(m) = 1 + m
i. (Base de indução): P(0) é verdade (?)
 s(0) = 1 (def. de 1)
 Pela definição de adição temos
 m + 0 = m (para qualquer m em IN)
 Então vale para m = 1, e temos
1 + 0 = 1, e ficamos com
 s(0) = 1 = 1 + 0 (o que garante a base de indução)

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Demonstração
 P(m): mIN|s(m) = 1 + m
ii. (Se P(k), então P(s(k)))
 Suponha que P(k) é V., isto é
 s(k) = 1 + k
 Queremos mostrar que P(s(k)) é V., ou seja
 s(s(k)) = 1 + s(k) (?)
 Já sabemos que s(k) = 1 + k, então
 s(s(k)) = s(1 + k) que, pela definição de adição
 s(1 + k) = 1 + s(k)  P(s(k)) é V. 

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Definição
A partir desta etapa introduziremos a
notação indo-arábica de base 10
para os elementos de IN
 Já são conhecidos
0 e 1 = s(0)
 Definição: Notação indo-arábica
2 = s(1)
 3 = s(2) ... E assim sucessivamente
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O conjunto IN
 Com as definições acima podemos observar
que IN contém o conjunto
 {0,s(0),s(s(0)),s(s(s(0))),...} = {0,1,2,3,...}
 Resta saber se, de fato, IN = {0,1,2,3,...}, ou
seja, se IN contém outros elementos
diferentes destes. Se não contiver, os
Axiomas de Peano concretizam
formalmente nossa ideia intuitiva do
conjunto dos números naturais

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Teorema
 IN = {0,1,2,3,...}
 D] Seja S = {0,1,2,3,...}. Como a construção de S foi
feita a partir das imagens de s(n), todos os seus
elementos são números naturais
 S  IN por construção
 Por indução, mostremos que S = IN
i. 0  S (ok)
ii. Suponha que k  S
 Por construção, sabemos que s(k)  S
 Logo S = IN  (não há nenhum número natural
diferente da lista apresentada)
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Exemplo e exercício
 Observe as somas:
a) 1 + 1 = s(1) = 2
b) 2 + 1 = s(2) = 3
c) 2 + 2 = 2 + s(1) = s(2 + s(0)) = s(s(2 + 0)) =
= s(s(2)) = s(3) = 4
d) 0 + 2 = 0 + s(1) = s(0 + 1) = s(1 + 0) = s(1) = 2
 Efetue as adições
a) 3+4
b) 11 + 5
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Terminologia
Na adição dos naturais
m +n=p
Dizemos
m e n são as parcelas
 o resultado p é a soma ou total

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Propriedades da adição
 Teorema: Sejam m, n e p números
naturais arbitrários. São verdadeiras as
afirmações:
i. Propriedade Associativa
 m + (n + p) = (m + n) + p
ii. Propriedade Comutativa
 m+n=n+m
iii. Lei do Cancelamento
 m+p=n+pm=n
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Demonstrações
i. Propriedade Associativa]
 P(p): m + (n + p) = (m + n) + p
 Fixemos m e n com indução sobre p
a) P(0): m + (n + 0) = (m + n) + 0 (?)
 m + (n + 0) = m + (n) (def. de adição)
 Que, por outro lado
 (m + n) + 0 = m + n (mesma definição anterior)
 O que conclui a igualdade
 m + (n + 0) = m + n = (m + n) + 0
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Demonstrações
i. Propriedade Associativa]
b) Se P(k), então P(s(k))
 Suponha que m + (n + k) = (m + n) + k
 Queremos mostrar que
 m + (n + s(k)) = (m + n) + s(k) (?)
 Usemos a def. de adição para identificar
 n + s(k) = s(n + k) e ficamos com
 m + (n + s(k)) = m + s(n + k)
 Que pela mesma def.
 m + s(n + k) = s(m + (n + k))
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Demonstrações
 Que pela mesma def.
 m + s(n + k) = s(m + (n + k))
 Usando a hip. de indução
 s(m + (n + k)) = s((m + n) + k)
 E usando novamente a def. de adição
 s((m + n) + k) = (m + n) + s(k)
 O que conclui que P(s(k)) é verdade 
 Como m e n são arbitrários, garantimos a
validade da Propriedade Associativa da
adição em IN Fundamentos da Matemática III
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Demonstrações
ii. Propriedade Comutativa]
 P(n): m + n = n + m
 Usemos Indução sobre n
a) P(0): m + 0 = 0 + m
 Obs.: Já sabemos que m + 0 = m (def. de
adição). Ao provarmos que m + 0 = 0 + m,
estaremos garantindo a existência de um
elemento neutro da adição em IN

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Demonstrações
 Como 0  Im(s), não podemos usar a segunda
expressão da def. de adição, então façamos
indução sobre m
 P(m): 0 + m = m
1. Base de indução: P(0): 0 + 0 = 0 (?)
 Na definição de adição, tome m = 0  P(0) ok
2. Se P(k), então P(s(k))
 Suponha que 0 + k = k, queremos calcular 0 + s(k)
 0 + s(k) = s(0 + k) (def. de adição) = s(k) (hip. de indução)
 Logo, P(s(k)) é Verdade 
 O que garante a existência do Elemento Neutro
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Demonstrações
 A existência do elemento neutro é a base de
indução sobre n para a propriedade comutativa
b) Se P(k), então P(s(k))
 Suponha que m + k = k + m
 Já sabemos que s(n) = n+1 = 1+n, nIN (Proposição)
 s(k) = k + 1 = 1 + k
 Calculando m + s(k), temos
 m + s(k) = m + (k + 1) = m + (1 + k) = (m + 1) + k
(assoc.) = (1 + m )+ k = 1 + (m + k) = 1 + (k + m) (hip.
de indução) = (1 + k) + m (assoc.) = s(k) + m 

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Exercício e Proposição
iii. Lei do Cancelamento: m + p = n + p  m = n
 Exercício!
 Proposição (unicidade do elemento
neutro): Existe um único elemento neutro
para a adição em IN
 D] A existência já foi demonstrada
 Suponha que x é também elemento neutro
 x + 0 = 0 = 0 + x (x é elemento neutro)
 0 + x = x (0 é elemento neutro)
 Logo x = 0 
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Números
Naturais
Parte 2:
Multiplicação e
Relação de Ordem

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Multiplicação em IN
 Definição:A multiplicação de dois
números naturais m e n é designada
por m.n e definida recursivamente por
 m.0 =0
 m.(n + 1) = m.n + m

 Notação
 m.n = mn
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Observação
 Assim como na definição de adição, na
multiplicação aparecem elementos das
propriedades distributiva, elemento neutro
(1) e elemento absorvente (0), muito
embora, essas características serão
enunciadas e demonstradas a seguir
 Como a definição é por fórmula de
recursividade, é necessário definir a
multiplicação de um natural arbitrário m
por 0 separadamente
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Propriedades
 Teorema: Para m, n e p naturais arbitrários,
valem as proposições
i. mn  IN (Fechamento)
ii. 1.n = n.1 = n (Elemento Neutro)
iii. Distributiva em relação à adição
a) m(n + p) = mn + mp
b) (m + n)p = mp + np
iv. m(np) = (mn)p (Associativa)
v. mn = 0  m = 0 ou n = 0
vi. mn = nm (Comutativa)
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Demonstrações
i. mn  IN]
 Fixemos m em IN e façamos indução sobre n
a) P(0): m.0  IN (?)
 Pela própria definição m.0 = 0  IN
b) Se P(k), então P(k + 1)
 Queremos mostrar que m(k + 1)  IN (?)
 Por definição, m(k + 1) = mk + m
 Como mk  IN (Hip. de indução) e mk + m  IN
(adição é fechada)
 P(k + 1) é verdade 
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Demonstrações
ii. 1.n = n.1 = n]
 Calculemos n.1
 1 = (0 + 1), assim n.1 = n(0 +1)
 n(0 + 1) = n.0 + n (def. de mult.)
 n.0 + n = 0+n (def. de mult.) = n (El. Neutro adição)
 Por indução, mostremos que P(n): 1.n = n
a) P(0): 1.0 = 0 (def. de mult.)
b) P(k)  P(k + 1): calculemos 1.(k + 1) = 1.k + 1
(def. de mult.)
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Demonstrações
 1.(k
+ 1) = 1.k + 1
 Usando a hipótese de indução 1.k = k:
 1(k + 1) = k + 1 
iii. Distributivas
a) m(n + p) = mn + mp]
Fixemos m e n e façamos indução sobre p
1. P(0): m(n + 0) = m(n) = mn (def. de adição)
 Por outro lado
 mn + m.0 = mn + 0 = mn
 Assim, P(0) é V. Fundamentos da Matemática III
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Demonstrações
2. Se P(k), então P(k + 1)
 Suponha então que m(n + k) = mn + mk
 Calculemos m(n + (k + 1))
 m(n + (k + 1)) = m((n + k) + 1) (assoc. da soma)
 = m(n + k) + m (def. de mult.)
 = (mn + mk) + m (hip. de indução)
 = mn + (mk + m) (assoc. da soma)
 = mn + (m(k + 1)) (def. de mult.)
O que comprova P(k+1) 
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Exercícios
iii. Distributivas
a) m(n + p) = mn + mp] - (feito)
b) (m + n)p = mp + np]
iv. m(np) = (mn)p]
v. mn = 0  m = 0 ou n = 0
 Para esta prova, use [m + n = 0  m = n = 0]*
vi. mn = nm (Comutativa)
 Para esta prova, use [0.m = 0, m  IN]**
 Mostre que o elemento neutro da
multiplicação é único Fundamentos da Matemática III
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Demonstração de *
 m,n  IN, se m + n = 0, então m = n = 0
 D]Suponha que n  0
 Então n = s(n’) = n’ + 1, para algum n’  IN
 Assim, temos
 0 = m + n = m + (n’ + 1) = (m + n’) + 1 = s(m+n’)
O que é um absurdo, pois 0  Im(s)
 Logo, n = 0 e obtemos
0=m+n=m+0=m

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Demonstração de **
 0.m = 0, m  IN
 D] Usemos indução sobre m
i. P(0): 0.0 = 0 (?)
 Pela definição de multiplicação, com m = 0
ii. Se P(k), então P(k +1)
 Suponha que 0.k = 0, calculemos 0.(k + 1)
 0.(k + 1) = 0.k + 0.1 (distributiva a)
 0.k + 0.1 = 0 + 0.1 = 0.1(hip. Ind.) + (neutro ad.)
 0.1 = 0.(0 + 1) = 0.0 + 0 = 0 (def. mult.)
 Assim, 0.(k + 1) = 0  Fundamentos da Matemática III
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Relação de ordem em IN
A partir da relação de ordem
será possível comparar dois
números naturais e as noções de
> (maior do que) e < (menor do
que) em IN serão formalizadas

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Definição
 Definição: Uma relação binária R em um
conjunto não vazio A diz-se uma Relação de
Ordem em A quando satisfizer as condições
seguintes, para quaisquer x, y e z  A:
i. Reflexiva: xRx
ii. Antissimétrica: xRy e yRx  x = y
iii. Transitiva: xRy e yRz  xRz
 Um conjunto não vazio A, munido de uma
relação de ordem, é dito um Conjunto
Ordenado
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Ordem em IN
 Definição: Dados m,n  IN, dizemos que mRn
se existir p  IN tal que n = m + p
 Exemplos
 1R3, pois 3 = 1 + 2
 2R2, pois 2 = 2 + 0
 Proposição: R, definida acima, é uma
relação de ordem em IN
 Definição: Para m,n  IN, se mRn, por R
definida acima, dizemos que m é menor ou
igual a n e denotamos: m  n  mRn
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Exercícios
1. Demostre a proposição anterior
 Proposição: R, definida acima, é uma
relação de ordem em IN
2. Mostre que 1 > 0
3. Mostre que s(n) > n
 Observação: podemos assumir a
validade dos símbolos de <, > e  já
conhecidos intuitivamente (pIN*)
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Lei da Tricotomia
 Proposição: Para quaisquer m,nIN, temos
que uma, e apenas uma das relações a
seguir ocorre:
i. m<n
ii. m=n
iii. m>n
 A Lei da Tricotomia equivale a dizer que, dados dois
naturais m e n quaisquer, ou m  n ou n  m (dois
naturais são sempre comparáveis). Uma relação de
ordem que satisfaz a Lei da Tricotomia é dita Relação
de Ordem Total (caso contrário é Parcial)
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
 D]Primeiramente demonstremos que duas das
relações não podem ocorrer simultaneamente,
depois, que uma delas, necessariamente, deve
ocorrer
 A incompatibilidade de (ii) com (i) e (iii) é
imediata, por definição, mostremos que (i) e (iii)
são incompatíveis
 Por absurdo suponha
 m<nn=m+pe
 m > n  m = n + p’
 Com p e p’  0 Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
 Podemos então escrever
 n + 0 = n = (n + p’) + p = n + (p’ + p) (El. Neutro +
Associativa + Hipóteses acima)
 Pela Lei do Cancelamento (sobre n), temos
 p’ + p = 0
 O que deduz p’ = p = 0 (proposição)
O que garante a incompatibilidade de (i) e
(iii)

Fundamentos da Matemática III


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Demonstração
 Falta mostrar que uma das três relações ocorre
 Considere m um natural arbitrário e a
proposição P(x): x = m ou x > m ou x < m. Por
indução sobre x, provemos que P(x) é verdade
para qualquer x  IN
a) P(0): neste caso, ou 0 = m ou 0  m (o que garante,
pelo exercício, que 0 < m)
b) P(k)  P(k+1): consideremos 3 situações:
I. k = m: neste caso, k + 1 = m + 1  k + 1 > m
II. k > m: neste caso, pIN*; k = m + p, então
 k + 1 = (m + p) + 1 = m + (p + 1)  k + 1 > m
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
III.k < m: neste caso, pIN*; m = k + p
 Como p  0  p = p’ + 1, para algum p’ IN,
logo
 m = k + (p’ + 1) = k + (1 + p’) = (k + 1) + p’
 Com m = (k + 1) + p’, concluímos
 Se p’ = 0, então m = k + 1 e P(k + 1) é Verdade
ou
 Se p’  0 (p’ > 0), então m > k + 1 e P(k + 1) é
Verdade 

Fundamentos da Matemática III


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Teoremas
1. (Compatibilidade da relação de ordem com as
operações em IN) Sejam a, b e c naturais
quaisquer, são válidas
i. aba+cb+c
ii. a  b  ac  bc
2. (Lei do Cancelamento da Multiplicação) Sejam
a, b e c naturais com c  0
 Se ac = bc, então a = b
3. Sejam a,bIN, então a < b  a + 1  b
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração e Exercícios
1. i) a  b  a + c  b + c]
 Suponha a  b, logo pIN, tal que b = a + p, daí
 b+c = (a+p)+c = a+(p+c) = a+(c+p) = (a+c)+p
 De onde obtemos, pela relação de ordem
 b+ca+c
 ii] (exercício)
 Exercício: Mostre que valem as recíprocas do
Teorema 1
2. Se ac = bc, então a = b]
 Exercício – deverá ser feito onde indicado na lista a
seguir
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração e Exercícios
3. a < b  a + 1  b]
 ] Suponha a < b, então pIN*; b = a + p
 Como p0, p = s(q) = q + 1 (para algum
qIN), então
 b=a+p=a+(q+1)=a+(1+q)=(a+1)+q  b  a+1
 ] Suponha a+1b, então pIN; b=(a+1)+p
 b = (a + 1) + p = a + (p + 1)  b > a 

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Exercícios
1. Mostre que, no Teorema 1
a) Ainda vale se substituirmos  por < (c0 no
item ii)
b) Vale também para  e >
2. Demonstre o Teorema 2 (Lei do
Cancelamento da Multiplicação) – use o
exercício acima

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Observações
1. Da relação de ordem em IN e suas propriedades
decorre que
 Em IN = {0,s(0),s(s(0)), ...} = (0,1,2, ...} temos
 0 < 1 < 2 < 3 < ... , isto é
 Se a  IN, então a < s(a), pois s(a) = a + 1
 Além disso, não há naturais compreendidos entre a
e s(a), aIN
2. A existência de um elemento mínimo num
subconjunto de IN é uma característica especial do
conjunto dos naturais que não é verificada em
muitos outros conjuntos numéricos (segue o PBO)
Fundamentos da Matemática III
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Princípio da Boa Ordem (PBO)


 Definição:
Dizemos que um elemento a de
um conjunto ordenado A é um menor
elemento de A, se
 a  x, xA
a é também chamado de elemento mínimo
de A e denotado por min(A).
Analogamente definimos maior elemento
de A ou elemento máximo de A (max(A))
 Teorema (PBO): Todo subconjunto não vazio
de IN possui um menor elemento
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
 Seja S um tal subconjunto de IN e consideremos o
conjunto
 M = {nIN|n  x, xS}
 É fácil ver que 0M (0  x  S  IN)
 Como S é não vazio, tome s  S
 Observe que s + 1  M, pois, se s + 1 fosse menor ou
igual a qualquer x em S, teria que ser menor ou igual
a s  S, o que é um absurdo
 Não sendo verdadeiro o PIM, M  IN
 Como 0  M e M  IN, deve existir um m  M tal que
m+1  M (senão M = IN pelo PIM)
Fundamentos da Matemática III
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Demonstração
 Afirmamos que m é o menor elemento de S (m = min(S))
 Como m  M, m  x, xS. Só falta mostrar que m  S
 Suponha, por absurdo, que m  S, então m < x, xS
 Pelo Teorema 3, teríamos
 m + 1  x, xS
 O que resultaria m + 1  M
 O que contradiz a escolha de m
 Logo m  S 

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Exercícios
3. Sejam x,y  IN, mostre que:
a) x + y = 1  x = 1 ou y = 1
b) Se x  0, y  0 e x+y=2, então x=y=1
c) xy  0  x  xy

 Referência
 Ferreira, Jamil. A construção dos números – 3ª ed.
– Rio de Janeiro: SBM, 2013.
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