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Fundamentos de Matemática Elementar

Jéferson Silva

Universidade Federal Delta do Parnaíba


Curso de Licenciatura em Matemática
j.n.silva@ufpi.edu.br
Parnaíba-PI

August 30, 2021

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 1 / 129
Conjunto dos Números Naturais

1 Conjunto dos Números Naturais

2 Conjunto dos Números Inteiros

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Conjunto dos Números Naturais

Introdução
A origem dos números naturais estar ligada diretamente a necessidade humana de
expressar quantidades através do processo de contagem. Por exemplo, a
correspondência de ovelhas de um rebanho por pedrinhas contidas em sacos,
utilizada pela civilização Incas.
A construção formal do conjunto dos números naturais tem como base
fundamental os axiomas de Peano, a saber:
Aximas De Peano
Existe um conjunto N e uma função s : N → N satisfazendo:
(P1 ) s é injetora, isto é, se n 6= m, então s(n) 6= s(m).
(P2 ) Existe um elemento em N, que denotamos por 0, e chamamos de zero, que
não está na imagem de s, ou seja, 0 6∈ Im(s).
(P3 ) Se um subconjunto X de N verificar as condições (i) e (ii) abaixo, então
X = N.
(i) 0 ∈ X
(ii) Se k ∈ X , então s(k) ∈ X .

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Conjunto dos Números Naturais

Introdução

Figure: Giuseppe Peano (1858-1932)

O conjunto N é chamado de conjunto dos números naturais. Admitiremos duas


operações que satisfazem algumas propriedades. Chamaremos os elementos desse
conjunto de números naturais, e denotamos por N = {0, 1, 2, . . . }. As operações
são denominadas adição e multiplicação.

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Operações em N

Definição (Adição)
Dados a, b ∈ N. Definimos de forma indutiva a operação de adição, como

a + 0 = a e a + s(b) = s(a + b).

Propriedade da Adição
Dados a, b, c ∈ N, então:
(A1 ) (Associativa) (a + b) + c = a + (b + c)
(A2 ) (Comutativa) a + b = b + a
(A3 ) (Elemento neutro) O 0 (zero) satisfaz: a + 0 = a.
(A4 ) (Lei do cancelamento) Se a + b = c + b, então a = c

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Operações em N

Exemplo 1
O elemento neutro da adição é único, ou seja, se existir u ∈ N tal que a + u = a
para todo a ∈ N, então u = 0.

Resposta: Aplicar a lei do cancelamento.

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Operações em N
Definição (Multiplicação)
Dados a, b ∈ N. Definimos de forma indutiva a operação de multiplicação, como

a · 0 = 0 e a · s(b) = a · b + a.

Propriedade da Multiplicação
Dados a, b, c ∈ N, então:
(M1 ) (Associativa) (a · b) · c = a · (b · c)
(M2 ) (Comutativa) a · b = b · a
(M3 ) (Elemento neutro) O 1 (um) satisfaz: a · 1 = a.
(M4 ) (Lei do cancelamento) Se a · b = c · b e b 6= 0, então a = c.
(M5 ) (Lei do anulamento do produto) Se a · b = 0, então a = 0 ou b = 0.
Equivalentemente, Se a 6= 0 e b 6= 0, então a · b 6= 0.
(M6 ) (Distributiva) a · (b + c) = a · b + a · c.
(M7 ) Se a · b = 1, então a = 1 e b = 1.
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Operações em N
Exemplo 3
Mostre que, 0 · m = 0 para todo m ∈ N.

Resposta: Pelas propriedades A3 e M3 , respectivamente, obtemos

m · (1 + 0) = m · 1 = m. (1)

Por outro lado, pela propriedade distributiva, tem-se:

m · (1 + 0) = m · 1 + m · 0 = m + m · 0. (2)

Pela transitividade da relação de igualdade em (1) e (2), tem-se:

m =m+m·0

Finalmente, pela lei do corte da adição, tem-se: m · 0 = 0.


Exercício 1
Mostre que, se r + s = 0, então s = 0 e r = 0.
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Relação de Ordem em N

Definição 1 (Menor que ou igual)


Dados a, b ∈ N. Dizemos que a é menor que ou igual b, e indicamos por a ≤ b,
se existir u ∈ N tal que b = a + u. O número u é chamado diferença entre a e b,
e indicamos u = b − a.

Exemplo 4
Coloque V ou F. Justifique.
( ) 3 ≤ 11
( ) 12 ≤ 12
( ) 7≤5

Resposta: Note que a diferença nos dois primeiros itens são 8 e 0. Porém, no
último não existe número natural que represente tal diferença. Portanto, tem-se:
V,V e F, respectivamente.

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Relação de Ordem em N
Propriedades da Relação de Ordem
Dados a, b, c ∈ N, então:
(O1 ) (Reflexiva) a ≤ a.
(O2 ) (Antissimétrica) Se a ≤ b e b ≤ a, então a = b.
(O3 ) (Transitiva) Se a ≤ b e b ≤ c, então a ≤ c.
(O4 ) (Ordem total) a ≤ b ou b ≤ a.
(O5 ) (Compatibilidade da adição) Se a ≤ b , então a + c ≤ b + c, para todo c ∈ N.
(O6 ) (Compatibilidade da multiplicação) Se a ≤ b , então a · c ≤ b · c, para todo
c ∈ N.
Demonstração: Em (O1 ), segue do fato que a + 0 = a.
Em (O2 ), por hipótese, tem-se:
a ≤ b ⇔ ∃r ∈ N; b = a + r (3)
e
b ≤ a ⇔ ∃s ∈ N; a = b + s (4)
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Propriedades da Relação de Ordem


Demonstração: Substituindo (4) em (3), tem-se:
b = (b + s) + r
= b + (s + r )
Aplicando a lei do corte da adição, segue 0 = r + s. Finalmente, pelo exercício 1,
segue r = 0 e s = 0.
Em (O3 ), por hipótese, tem-se:
a ≤ b ⇔ ∃u1 ∈ N; b = a + u1 (5)
e
b ≤ c ⇔ ∃u2 ∈ N; c = b + u2 (6)
Substituindo (5) em (6), tem-se:
c = (a + u1 ) + u2
= a + (u1 + u2 )
Como (u1 + u2 ) ∈ N, logo a ≤ c.
Em (O4 ), omitiremos por hora, por usar indução. Pesquisem!!!
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Propriedades da Relação de Ordem

Demonstração: Em (O5 ), por hipótese, tem-se:

a ≤ b ⇔ ∃u ∈ N; b = a + u.

Logo,

b+c = (a + u) + c
= a + (u + c)
= a + (c + u)
= (a + c) + u.

Daí, a + c ≤ b + c.
Em (O6 ), a prova é análoga a feita em (O5 ).


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Propriedades da Relação de Ordem

Notação: N∗ = {1, 2, 3, · · · }

Definição 2 (Menor que)


Dados a, b ∈ N. Dizemos que a é menor que b, e indicamos por a < b, se existir
u ∈ N∗ tal que b = a + u.

Exemplo 5
Coloque V ou F. Justifique.
( ) 3 < 11
( ) 12 < 12
() 7<5

Resposta: Note que a diferença no primeiro item é 8. Porém, nos dois últimos
não existe número natural não nulo que represente tais diferenças. Portanto,
tem-se: V, F e F, respectivamente.

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Propriedades da Relação de Ordem

Exercício 2
Façam uma analise das propriedades (O1 ) − (O6 ) e escreva quais dessas
propriedades ainda valem para a relação de ordem estrita ” < ”. Caso necessário
façam adaptações. Por exemplo, em (O6 ) adaptamos e reescrevemos como

a < b e c ∈ N∗ ⇒ ac < bc.

Observação 1
(i) a ≤ b ⇔ a < b ou a = b.
(ii) a < b ⇔ a ≤ b e a 6= b.

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Propriedades da Relação de Ordem


Outras Propriedades
(O7 ) Se a < b, então a + 1 ≤ b.
(O8 ) Seja L ⊂ N e não-vazio. Então, existe um menor número m0 em L (ou seja,
m0 ∈ L satisfazendo m0 ≤ l para todo l ∈ L). Denotamos m0 = Min L.

Demonstração: Em (O7 ), por hipótese, tem-se:

a < b ⇔ ∃u ∈ N∗ ; b = a + u. (7)

Note que
u ∈ N∗ ⇔ ∃p ∈ N ; u = p + 1. (8)
Substituindo (8) em (7), tem-se:

b = a + (p + 1)
= a + (1 + p)
= (a + 1) + p.

Daí, a + 1 ≤ b.
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Relação de Ordem em N
Demonstração: Em (O8 ), usaremos o axioma (P3 ) dos axiomas de Peano. Dado
L ⊂ N e não-vazio. Defina o conjunto auxiliar

M = {m ∈ N| m ≤ l, ∀l ∈ L}.

Verificaremos se é verdadeira as hipóteses de indução em M. Primeiro, como


0 ≤ n, ∀n ∈ N, e L ⊂ N, logo 0 ≤ n, ∀n ∈ L. Daí, 0 ∈ M.
A segunda parte, como L 6= ∅, logo existe l ∈ L. Como l < l + 1, logo l + 1 6∈ M.
Daí, M 6= N. Portanto, é falso o item (ii) de (P3 ). Ou seja, existe m0 ∈ M tal que
(m0 + 1) 6∈ M.
Agora, mostraremos que m0 é o menor elemento de L. De fato, como m0 ∈ M,
logo m0 ≤ l, ∀l ∈ L. Falta apenas verificar que m0 ∈ L. Suponha por contradição
que m0 6∈ L. Como m0 ∈ M, logo m0 < l, ∀l ∈ L. Por (O7 ), tem-se:

m0 + 1 ≤ l, ∀l ∈ L

. Daí, m0 + 1 ∈ M uma contradição.



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Primeiro Princípio da Indução


Primeiro Princípio da Indução

Seja a ∈ N e suponha que a cada número natural n ≥ a esteja associada uma


afirmação P(n) . Admitimos ainda que seja possível provar o seguinte:
(i) P(a) é verdadeira.
(ii) Para cada r ≥ a, se P(r ) é verdadeira, então P(r +1) é verdadeira.
Então, P(n) é verdadeira para todo n ≥ a.

Figure: Sequência de Domino

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Primeiro Princípio da Indução


Exemplo 5
Mostre que,
n(n + 1)
1 + 2 + 3 + ··· + n = , ∀n ∈ N. (9)
2
Resposta: Primeiramente, reconheceremos afirmação P(n) como a identidade em
1(1 + 1)
(9). Agora, verificaremos as hipóteses de indução. De fato, como 1 = ,
2
logo P(1) é verdadeira.Na segunda hipótese de indução, para cada r ≥ 1, suponha
que P(r ) é verdadeira. Ou seja, vale a identidade
r (r + 1)
1 + 2 + 3 + ··· + r = . (10)
2
Falta provar que P(r +1) é verdadeira. Vejamos,
1 + 2 + 3 + · · · + (r + 1) = 1 + 2 + 3 + · · · + r + (r + 1)
r (r + 1)
= + (r + 1).
2
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Primeiro Princípio da Indução


Resposta:
r (r + 1) + 2(r + 1)
1 + 2 + 3 + · · · + (r + 1) =
2
(r + 1)(r + 2)
= .
2

Exemplo 6
Quantos subconjuntos existem em um conjunto com n elementos?

Resposta: Primeiramente, faremos uma conjectura sobre a resposta. Em seguida,


usaremos argumentação por indução para provar tal conjectura. Vejamos algumas
situações:
(A) Se X = {a}, então existem P(X ) = {a}; {∅} .


(B) Se X = {a, b}, então existem P(X ) = {a}; {b}; {∅}; {a, b} .


(C) Se X = {a,
 b, c}, então existem
P(X ) = {a}; {b}; {c}; {∅}; {a, b}; {a, c}; ; {b, c}; {a, b, c} .

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Conjunto dos Números Naturais

Primeiro Princípio da Indução

Resposta:
(D) Se X = {a, b, c, d}, então existem P(X ) = {a}; {b}; {c}; {d}; {∅}; {a, b};


{ a, c}; { b, c}; { a, d}; { b, d}; { c, d}; { a, b, c}; { a, b, d}; { a, c, d}; { b, c,


d}; {a, b, c, d} .
Daí, concluímos que um conjunto com 1 elemento tem 2 subconjuntos, um
conjunto com 2 elementos tem 4 subconjuntos, um conjunto com 3 elementos
tem 8 subconjuntos e um conjunto com 4 elementos tem 16 subconjuntos. Note
ainda que,
2 = 21 , 4 = 22 , 8 = 23 , 16 = 24 .
Portanto, conjecturamos P(n) : conjunto com n elementos tem 2n subconjuntos.
De fato, a primeira hipótese de indução é imediata pelo item (A). Na segunda
hipótese de indução, para cada r ≥ 1 suponha que P(r ) seja verdadeira.
Mostraremos que P(r +1) é verdadeira. Vejamos:
Seja X um conjunto com (r + 1) elementos. Seja x ∈ X e X 0 = X − {x }. Então,
X = X 0 ∪ {x }. Note que, os subconjuntos de X são aqueles que possuem o
elemento x e os que não possuem. Assim,

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Primeiro Princípio da Indução

Resposta:
os subconjuntos de X que não possuem x são exatamente a quantidade de
subconjunto de X 0 . Pela hipótese de indução, existem 2r subconjuntos de X 0 .
os subconjuntos de X que possuem x são exatamente os subconjuntos de X 0
unido com {x }. Portanto, 2r é a quantidade de subconjuntos de X que
possuem x .
Portanto, a quantidade de subconjunto de X é:

2r + 2r = 2 · 2r = 2r +1 .

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Problemas com indução matemática.


Problema
Prove, por indução, que

n · (n + 1) · (n + 2)
1 · 2 + 2 · 3 + · · · + n · (n + 1) = , ∀n ≥ 1. (11)
3
Resposta: Primeiramente, reconheceremos afirmação P(n) como a identidade em
(11). Agora, pelo Primeiro princípio de indução, devemos verificar duas condições
da indução. Vejamos,
(i) P(1) é verdadeira.
1 · (1 + 1) · (1 + 2)
De fato, 1 · (1 + 1) = 2 = .
3
(ii) Para cada r ≥ 1, se P(r ) é verdadeira, então P(r +1) é verdadeira.
De fato,

1 · 2 + 2 · 3 + · · · + (r + 1) · (r + 2) = 1 · 2 + 2 · 3 + · · · + r · (r + 1) +
+ (r + 1) · (r + 2).

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Problemas com indução matemática.

Resposta:

r · (r + 1) · (r + 2)
1 · 2 + 2 · 3 + · · · + (r + 1) · (r + 2) = + (r + 1) · (r + 2)
3
r · (r + 1) · (r + 2) + 3 · (r + 1) · (r + 2)
=
3
(r + 1) · (r + 2) · (r + 3)
= .
3
Portanto, como as duas condições da indução são verificadas, então pelo princípio
de indução tem-se que (11) é verdadeira.

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Conjunto dos Números Naturais

Problemas com indução matemática.


Problema (Torre de Hanói)
Mostre que o número ótimo de movimentos da torre de Hanói com n discos é
(2n − 1).

Resposta: Vejamos uma situação particular, com n = 3.

Figure: Torre de Hanói com três discos.

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Conjunto dos Números Naturais

Problemas com indução matemática.

Resposta:

Figure: Torre de Hanói com três discos.

Portanto, foram realizados 7 (sete) movimentos. Agora, para o caso geral


reconheceremos afirmação

P(n) : Torre com n − discos tem solução ótima 2n − 1. (12)

Para provar (12) pelo primeiro princípio de indução, devemos verificar as duas
condições da indução. De fato, a primeira condição é imediata.

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Conjunto dos Números Naturais

Problemas com indução matemática.


Resposta: Para a segunda condição, suponha que P(r ) é verdadeira com r ≥ 1.
Mostraremos que P(r +1) é verdadeira também. Observe que,

Figure: Torre de Hanói com (r+1)-discos.

Daí, tem-se que o número ótimo para a torre com (r+1)-discos será:
(2r − 1) + 1 + (2r − 1) = 2(r +1) − 1.
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Conjunto dos Números Naturais

Somatórios e Produtórios em N.
Definição (Somatório e Produtório)
Sejam a1 , a2 , . . . , an ∈ N, com n ≥ 1. Definimos,
(i) a soma dos n termos a1 , a2 , . . . , an por:
n
X
ai = (a1 + a2 + ... + an−1 ) + an .
i=1

(ii) o produto dos n fatores a1 , a2 , . . . , an por:


n
Y
ai = (a1 · a2 · ... · an−1 ) · an .
i=1

Exemplo
Escreva na notação de somatório.

(a) 1 · 2 + 2 · 3 + · · · + n · (n + 1).
(b) 1 + 2 + 3 + · · · + n.
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Somatórios e Produtórios em N.

Resposta:
n
X
(a) 1 · 2 + 2 · 3 + · · · + n · (n + 1) = i · (i + 1).
i=1
n+1
X
(b) 1 + 2 + 3 + · · · + n = (k − 1).
k=2

Exercício
Defina potência em N. Em seguida, dado a ∈ N, use indução para provar que,
(i) am+n = am · an , ∀m, n ∈ N.
(ii) am·n = (am )n , ∀m, n ∈ N.

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Somatórios e Produtórios em N.

Propriedades do Somatório e Produtório


Sejam a1 , a2 , . . . , an , b1 , b2 , ·, bn ∈ N, com n ≥ 2, e θ ∈ N. Então,
n n−1 
X n
Y n
Y n
 Y 
(iv) (ai · bi ) =
X
(i) ai = ai + an . ai · bi .
i=1 i=1 i=1 i=1 i=1
n  n−1 n n
X 
Y  X
(v) (θai ) = θ
Y
(ii) ai = ai · an . ai .
i=1 i=1 i=1 i=1
Xn n
X n
X n
Y n
Y 
(iii) (ai + bi ) = ai + bi . (vi) (θai ) = θn ai .
i=1 i=1 i=1 i=1 i=1

Demosntração: Os itens (i) e (ii) seguem da definição de somatório e


produtório, respectivamente. Os demais itens são provados por indução sobre n.
Provaremos os itens (iv ) e (vi), e deixamos como exercício a prova de (iii) e (v ).

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Conjunto dos Números Naturais

Somatórios e Produtórios em N.
Demosntração: Em (iv ), identificamos afirmação P(n) como a igualdade em (iv ).
A primeira condição da indução é simples de verificar, uma vez que para n = 2
tem-se:
2
Y
(ai · bi ) = (a1 · b1 ) · (a2 · b2 )
i=1
= a1 · [b1 · (a2 · b2 )]
= a1 · [(b1 · a2 ) · b2 ]
= a1 · [(a2 · b1 ) · b2 ]
= a1 · [a2 · (b1 · b2 )]
= (a1 · a2 ) · (b1 · b2 )
Y 2  Y 2 
= ai · bi .
i=1 i=1

Daí, P(2) é verdadeira. Agora, para a segunda condição da indução, para cada
r ≥ 2, suponha que P(r ) é verdadeira. Mostraremos que P(r +1) é verdadeira.
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Somatórios e Produtórios em N.
Demonstração: De fato,
rY
+1
(ai · bi ) = (a1 · b1 ) · (a2 · b2 ) · ... · (a(r +1) · b(r +1) )
i=1
= (a1 · b1 ) · (a2 · b2 ) · ... · (ar · br ) · (a(r +1) · b(r +1) )
hY r i
= (ai · bi ) · (a(r +1) · b(r +1) )
i=1
r
h Y r
 Y i
= ai · bi · (a(r +1) · b(r +1) )
i=1 i=1
 rY
+1   rY
+1 
= ai · bi .
i=1 i=1

Portanto, as duas condições da indução são verificadas. Pelo Primeiro princípio de


indução, tem-se que P(n) é verdadeira para todo n ≥ 2.

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Conjunto dos Números Naturais

Somatórios e Produtórios em N.
Demonstração: Em (vi), podemos mostra (vi) como consequência de (iv ).
Basta identificar os termos bi = θ para todo i = 1, 2, ..., n. Então,
n
Y n
Y n
 Y 
(θai ) = θ · ai
i=1 i=1 i=1
n
Y 
= θn ai .
i=1


Exemplo
Calcule.
X 5
(a) (3i + 2)
i=1
4
Y
(b) (i + 2)2
i=1

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Somatórios e Produtórios em N.
Resposta:
(a)
5
X 5
X 5
X
(3i + 2) = 3 i+ 2
i=1 i=1 i=1
5(5 + 1)
= 3· +2·5
2
= 55.

(b)
4
Y 4
hY 4
i hY i
(i + 2)2 = (i + 2) · (i + 2)
i=1 i=1 i=1
= (3 · 4 · 5 · 6) 2

= 129600.

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Conjunto dos Números Naturais

Somatórios e Produtórios em N.

Definição (Somatório duplo)


Sejam a1 , a2 , ..., am , b1 , b2 , ..., bn ∈ N, com m ≥ 1 e n ≥ 1. O somatório duplo dos
termos ai bj , com 1 ≤ i ≤ m e 1 ≤ j ≤ n, é definido por:
m X
X n m
X n
 X 
ai bj = ai · bj .
i=1 j=1 i=1 j=1

Exemplo
Calcule.
X 2 X3
(a) (2i)(3 + j)
i=1 j=1
3 X
X 2
(b) i 2 2j .
i=1 j=1

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Somatórios e Produtórios em N.
Respostas:
(a)
2 X
X 3 2
X 3
h X i
(2i)(3 + j) = 2i (3 + j)
i=1 j=1 i=1 j=1
2 h X
X 3 3
X i
= 2 i 3+ j
i=1 j=1 j=1
2(2 + 1) 3(3 + 1)
= 2· · [3 · 3 + ]
2 2
= 6(9 + 6) = 90.
(b)
3 X
X 2 3
X 2
X
i 2 2j = · 2j
i=1 j=1 i=1 j=1
= 14 · 6 = 84.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 35 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Somatórios e Produtórios em N.

Observação
m X
X n n X
X m
ai bj = ai bj .
i=1 j=1 j=1 i=1

Exercício
n X
X n h n(n + 1) i2
Mostre que, ij = .
i=1 j=1
2

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Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N

Definição (Divisibilidade)
Dados a, b ∈ N, dizemos que a divide b, e denotamos por a|b, quando existir
c ∈ N tal que b = ac. O número c é chamado quociente de b por a, e denotamos
c = ba .

Exemplo
(a) 2 divide 0, pois 0=2·0. Escrevemos 0 = 02 .
(b) 3 divide 6, pois 6=3 · 2. Escrevemos 2 = 36 .
(c) 4 não divide 6. De fato, caso existisse tal quociente q teríamos que 3 = 2q.
Daí, 3 seria um número par, um absurdo!

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Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N.


Propriedades da Divisibilidade
Sejam a, b, c, d ∈ N. Então,
(D1 ) (Reflexiva) a|a
(D2 ) (Anti-simétrica)Se a|b e b|a, então a = b .
(D3 ) (Transitiva) Ss a|b e b|c, então a|c.
(D4 ) Se a|b e a|c, então a|(xb + yc) para todo x , y ∈ N.
(D5 ) Se c|a, c|b e a ≤ b, então c|(b − a).
(D6 ) Se a = b + c e d|b, então d|a ⇔ d|c.
(D7 ) Se a|b e b 6= 0, então a ≤ b.

Demonstração: A demonstração dos itens (D1 ) − (D3 ) fica como exercício.


Em (D4 ), por hipótese tem-se:
a|b ⇔ ∃r ∈ N; b = ar (13)
e
a|c ⇔ ∃s ∈ N; c = as. (14)
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Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N.

Demonstração: De (14) e (13), tem-se

xb + yc = a(xr + ys), ∀x , y ∈ N.

Em (D5 ), por hipótese:

a = cr e b = cs, para algum r , s ∈ N.

Além disso, b = a + u, com u = b − a. Então, u = c(s − r ).


Em (D6 ), basta usar (D5 ) em (⇒) e (D4 ) em (⇐).
Em (D7 ), por hipótese, existe q ∈ N∗ tal que b = aq. Além disso, como q ∈ N∗ ,
existe u ∈ N tal que q = u + 1. Assim,

b = a(1 + u) = a + au.

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Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N.

Exemplo
Mostre que, 9|(10n + 3 · 4n+2 + 5), ∀n ≥ 0.

Resposta: Primeiro identificamos P(n) = {n ∈ N; 9|(10n + 3 · 4n+2 + 5)}.


Vejamos que
(i) P(0) é verdadeira.
De fato, 100 + 3 · 40+2 + 5 = 1 + 3 · 16 + 5 = 54 = 9 · 6.
(ii) Para cada r ≥ 1, se P(r ) é verdadeira. Mostraremos que P(r +1) é verdadeira.
De fato, a hipótese de indução garante que existe q ∈ N tal que
10r + 3 · 4r +2 + 5 = 9q. Assim,

10r +1 + 3 · 4r +3 + 5 = 10r · (9 + 1) + 3 · 4r +2 · (3 + 1) + 5
= 9 · 10r + 9 · 4r +2 + (10r + 3 · 4r +2 + 5)
= 9 · (10r + 4r +2 + q).

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Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N.


Resposta: Como ((10r + 4r +2 + q) ∈ N, logo 9|[10r +1 + 3 · 4r +3 + 5]. Portanto,
pelo primeiro princípio de indução segue que P(n) é verdadeira para todo n ≥ 0.

Exercício
Prove que 11|(22n−1 · 3n+2 + 1) para todo n ≥ 1.

Proposição (Algoritmo da divisão em N)


Sejam a, b ∈ N com b > 0. Então, existem únicos r , q ∈ N satisfazendo

a = bq + r , com 0 ≤ r < b.

Demonstração: Fixado um número positivo b. Seja a ∈ N, existem apenas duas


possibilidades:
1º Caso: a é múltiplo de b.
Neste caso, temos que a = bq com q ∈ N.
2º Caso: a não é múltiplo de b.
Neste caso, considere o conjunto X = {n ∈ N| a < bn}.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 41 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em N.


Demonstração: Note que
X 6= ∅.
De fato, como b ≥ 1, logo ad ≤ a. Somando b, obtemos que
b(a + 1) ≥ a + b. Por outro lado, a + b > a. Por transitividade, obtemos que
b(a + 1) > a. Ou seja, (a + 1) ∈ X .
Existe elemento mínimo de X .
De fato, devido ao Princípio da boa ordenação (P.B.O.). Digamos que
Min X = q + 1.
Agora, como q < q + 1 e q + 1 = Min X , logo q 6∈ X . Ou seja,

bq ≤ a < b(q + 1).

Assim, existe r ∈ N tal que a = bq + r . Falta provar que 0 < r < b.


De fato, suponha que b ≤ r . Logo, b(q + 1) ≤ r + bq.
Por outro lado, como r = a − bq, logo a = r + bq. Destes fatos, obtemos que

b(q + 1) ≤ a.

Contradizendo a minimalidade de q + 1.
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Divisibilidade em N

Agora, mostraremos a unicidade.


De fato, suponha que existam µ, θ, q, r ∈ N tais que

a = bµ + θ = bq + r , com 0 ≤ θ < b e 0 ≤ r < b.

Caso θ 6= r , temos que θ < r ou r < θ. Digamos que, 0 < θ − r . Então,


θ − r < b.
De fato, como 0 ≤ θ < b e 0 ≤ r < b, logo θ − r < b.
b ≤ θ − r.
De fato, note que bq = bµ + (θ − r ). Logo b|(θ − r ). Isto implica que,
b ≤ θ − r.
Absurdo!!!
Portanto, θ = r . Isto implica que µ = q.


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Conjunto dos Números Naturais

Problemas com o algoritmo da divisão

Algoritmo da divisão de Euclides


Sejam a, b ∈ N, com b 6= 0. Então, existe um único par de números naturais
(q, r ) de modo que:
a = bq + r , com 0 ≤ r < b.
Em particular, bq ≤ a < b(q + 1).

Problema:
Na divisão euclidiana de a por b, q = 106 e r = 304. Qual o maior número de que
se pode aumentar o dividendo b e o divisor a sem que o quociente se altere? E se
q = 356 e r = 4623?

Resposta: Pelo algoritmo da divisão, tem-se:


(
a = 106b + 304, 304 < b
(15)
106b ≤ a < 107b.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 44 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Problemas com o algoritmo da divisão.

Resposta: Dado x ∈ N tal que:

106(b + x ) ≤ a + x < 107(b + x ). (16)

De (15), tem-se: 304 = a − 106b. Subtraindo 106b + x em (16), obteremos:

105x ≤ 304 < b + 106x .

Analisando a desigualdade acima, tem-se que x ∈ {0, 1, 2}. Portanto, x = 2.


Para o caso em que q = 356 e r = 4623, raciocina-se analogamente para
determinar x = 13.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 45 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Problemas com o algoritmo da divisão.


Problema:
a(a2 + 2)
Mostre que, a expressão é um número natural, para todo a ≥ 1.
3
Resposta: Pelo algoritmo da divisão, tem-se a = 3q + r , com r ∈ {0, 1, 2}.
a(a2 + 2)
Analisando cada caso mostraremos que ∈ N. Vejamos:
3
a(a + 2)
2
1 Para a = 3q, tem-se: = q(9q 2 + 2).
3
2 Para a = 3q + 1, tem-se:

a(a2 + 2) (3q + 1)[(3q + 1)2 + 2]


= = (3q + 1)(3q 2 + 2q + 1).
3 3
3 Para a = 3q + 2, tem-se:

a(a2 + 2) (3q + 2)[(3q + 2)2 + 2]


= = (3q + 2)(3q 2 + 4q + 2).
3 3
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Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Definição (MDC)
Sejam a, b ∈ N. Um número natural d é chamado de máximo divisor comum
(MDC) de a e b, se satisfazer as duas condições:
(i) d|a e d|b.
(ii) Se c ∈ N tal que c|a e c|b, então c|d.
Notação: d= mdc(a,b).

Exemplo
Determine mdc(a, b).
(a) mdc(6,8)
(b) mdc (9,15)

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 47 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Resposta: Denotemos por Dn o conjunto dos divisores de n. Podemos reescrever


as duas condições anteriores em função de Dn . Vejamos:
(i) d ∈ Da ∩ Db .
(ii) Se c ∈ N tal que c ∈ Da ∩ Db , então c ∈ Dd .
No item (a), tem-se D6 = {1, 2, 3, 6} e D8 = {1, 2, 4, 8}. Então,
D6 ∩ D8 = {1, 2}. Portanto, mdc(6, 8) = 2.
No item (b), de modo análogo obtermos mdc(9, 15) = 3.

Proposição
Dados a, b ∈ N tal que a|b, então mdc(a, b) = a.

Demonstração: Por hipótese, tem-se a|b. Logo, a satisfaz a condição (i) da


definição de MDC. Vejamos a segunda condição, seja c ∈ N tal que c|a e c|b.
Claramente, c|a. Portanto, a = mdc(a, b).


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 48 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Proposição
Dados a, b ∈ N tal que a = bq + r , 0 ≤ r < b. Então,

mdc(a, b) = d ⇐⇒ mdc(b, r ) = d.

Demonstração:
(⇒) Por hipótese, tem-se que mdc(a, b) = d. Logo, d|a e d|b. Como d|b, logo
d|bq. Assim, Como a = bq + r , d|a e d|bq, logo d|r . Para a segunda
condição da definição de MDC, seja c ∈ N tal que c|b e c|r . Então, c|bq.
Como a = bq + r , c|r e c|bq, lodo c|a. Por fim, como d = mdc(a, b), c|a e
c|b, então c|d. Portanto, d = mdc(b, r ).
(⇐) Analogamente, fica como exercício.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 49 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum


Exemplo
Determine o mdc(a, b).
(a) mdc(26, 78)
(b) mdc(132, 64)
(c) mdc(82, 24)

Resposta:
(a) Como 78 = 3 · 26, logo 26|78. Daí, mdc(26, 78) = 26.
(b) Pelo algoritmo da divisão, tem-se:

132 = 64 · 2 + 4
64 = 4 · 16 + 0.

Daí,
mdc(132, 64) = mdc(64, 4) = 4.
(c) Analogamente ao item (b), obtemos mdc(82, 24) = 2.
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Máximo divisor comum

Definição (Números primos entre si)


Dados a, b ∈ N. Dizemos que a e b são números primos entre si, quando
mdc(a, b) = 1.

Exemplo
Os pares (2,3) , (8,9) e (101,100) são números entre si.

Exercício
Mostre que, dois números naturais consecutivos são primos entre si.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 51 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum


Proposição:
Se d = mdc(a, b) e s ∈ N, então mdc(sa, sb) = sd.

Demonstração: Pelo algoritmo da divisão, existem q1 , r1 ∈ N tal que


a = bq1 + r1 , com 0 ≤ r1 < b. Então, mdc(a, b) = mdc(b, r1 ).
Caso r1 = 0, tem-se b = d e sa = sbq1 . Logo, mdc(sa, sb) = sb.
Caso r1 6= 0, podemos repetir o processo anterior. Pelo algoritmo da divisão,
existem q2 , r2 ∈ N tal que b = r1 q2 + r2 , com 0 ≤ r2 < r1 . Então,
mdc(b, r1 ) = mdc(r1 , r2 ).
Aplicando sucessivamente o algoritmo da divisão aos quocientes e restos, teremos:

a = bq1 + r1 , 0 ≤ r1 < b
b = r1 q2 + r2 , 0 ≤ r2 < r1
r1 = r2 q3 + r3 , 0 ≤ r3 < r2
···
r(n−2) = r(n−1) qn + rn , 0 ≤ rn < r(n−1) .

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 52 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Demonstração: Daí, temos que

mdc(a, b) = mdc(b, r1 ) = mdc(r1 , r2 ) = ... = mdc(r(n−2) , r(n−1) ) = mdc(r(n−1) , rn )

e
r1 > r2 > r3 > ... > r(n−2) > r(n−1) > rn ≥ 0.
Como a sequência de restos é decrescente de números naturais, logo para algum
n ∈ N teremos rn = 0. Portanto, r(n−1) = mdc(a, b) = d.
Multiplicando por s cada identidade do sistema anterior, tem-se:

sa = (sb)q1 + sr1 , 0 ≤ sr1 < sb


sb = (sr1 )q2 + sr2 , 0 ≤ sr2 < sr1
sr1 = (sr2 )q3 + sr3 , 0 ≤ sr3 < sr2
···
sr(n−2) = (sr(n−1) )qn + 0.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 53 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Demonstração: Daí, temos que

mdc(sa, sb) = mdc(sb, sr1 ) = mdc(sr1 , sr2 ) = ... = mdc(sr(n−2) , sr(n−1) ) = sr(n−1) .

Daí, mdc(sa, sb) = sd.



Corolário
Dados a, b ∈ N∗ . Se mdc(a, b) = d, então mdc( da , db ) = 1.

Demonstração: Note que,


a b a b
d = mdc(a, b) = mdc(d · , d · ) = d · mdc( , ).
d d d d
Portanto, mdc( da , db ) = 1.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 54 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Corolário
Se mdc(a, b) = 1 e a|(bc), então a|c.

Demonstração: Como a|(bc) e a|(ac), logo a|mdc(ac, bc). Por outro lado,
Como mdc(a, b) = 1, logo mdc(ca, cb) = c.

Corolário
Dados a, b, c ∈ N com c 6= 0. Se a|c, b|c e mdc(a, b) = 1, então (ab)|c.

Demonstração: Como a|c, então (ab)|(bc). Como b|c, então (ab)|(ac).


Portanto, (ab)|mdc(ac, bc). Por outro lado, Como mdc(a, b) = 1, logo
mdc(ac, bc) = c.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 55 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Máximo divisor comum

Exemplo
Dados a, b ∈ N. Mostre que, mdc(a, ab + 1) = mdc(b, ab + 1) = 1.

Resposta: Primeiro, mostraremos que mdc(a, ab + 1) = 1.


De fato, seja d = mdc(a, ab + 1). Note que,
(i) 1|a e 1|(ab + 1).
(ii) Como d = mdc(a, ab + 1), logo d|a e d|(ab + 1). Daí, como d|a , logo
d|(ab).
Como d|(ab) e d|(ab + 1), então d|1.
A segunda parte é mostrar que mdc(b, ab + 1) = 1. Fica como exercício.

Exercício
Dados a, b ∈ N. tal que mdc(a, b) = 1. Prove que, mdc(a + b, a2 + ab + b 2 ) = 1.

Dica: mdc(a, b) = 1 ⇒ mdc(a2 , b 2 ) = 1.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 56 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Mínimo de múltiplo comum.

Definição (MMC)
Sejam a, b ∈ N. Um número natural m é chamado de mínimo múltiplo comum
(MMC) de a e b, se satisfazer as duas condições:
(i) a|m e b|m.
(ii) Se m0 ∈ N tal que a|m0 e b|m0 , então m|m0 .
Notação: m= mmc(a,b).

Exemplo
Determine mmc(a, b).
(a) mmc(6,8)
(b) mmc (2,3)

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 57 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Mínimo múltiplo comum


Proposição
Dados a, b ∈ N − {0}. Então,

mdc(a, b) · mmc(a, b) = a · b.

Demonstração: Denotemos mdc(a, b) = d e mmc(a, b) = m. Mostraremos que,


m = abd . De fato,
(i) Primeiro, como d|a, então d|ab ∈ N. Além disso, temos

a ab b
b= =a .
d d d
Daí, segue que a|( ab
d ) e b|( d ).
ab

(ii) Dado m0 ∈ N tal que a|m0 e b|m0 . Podemos escrever,

m0 = ar e m0 = bs (17)

para algum r , s ∈ N. Por (17), segue ar = bs. Então,


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 58 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Mínimo múltiplo comum

Demonstração:  
a ar b
r= = s.
d d d
Ou seja, da | d s. Como mdc(a, b) = d, logo mdc(d|a, d|b) = 1. Assim, como
b


d | d s e mdc(d|a, d|b) = 1, logo d |s. Podemos escrever, s = d t, para algum


a b a a


t ∈ N. Multiplicando por b a identidade s = d t e substituindo que m0 = bs,


a

obteremos
ab ab 0
m0 = ( )t ⇔ |m .
d d
De (i) e (ii), segue que ab
d = mmc(a, b).

Corolário
Dados a, b ∈ N − {0} primos entre si. Então, mmc(a, b) = a · b.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 59 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Mínimo múltiplo comum

Corolário
Sejam m = mmc(a, b) e s ∈ N. Então, mmc(sa, sb) = sm.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 60 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Problemas com MDC e MMC.

Problema
Dados a, b ∈ N. tal que mdc(a, b) = 1. Prove que, mdc(a + b, a2 + ab + b 2 ) = 1.

Resposta: Seja d = mdc(a + b, a2 + ab + b 2 ). Mostraremos que d = 1.


De fato, note que d|(a + b) e d|(a2 + ab + b 2 ). Então, d|(a + b)2 . Assim, como
d|(a2 + ab + b 2 ) e d|(a + b)2 , então d|(ab).
Como d|(ab) e d|(a2 + ab + b 2 ), logo d|(a2 + b 2 ).
Sem perda de generalidade, suponha que a < b. Logo, (a + b)(b − a) = b 2 − a2 é
um número natural. Como d|(a + b), logo d|(b 2 − a2 ). Finalmente, como
d|(b 2 − a2 ) e d|(a2 + b 2 ), logo d|2a2 e d|2b 2 . Daí, d|mdc(2a2 , 2b 2 ). Mas,
mdc(2a2 , 2b 2 ) = 2. Portanto, d|2 implicando que d ∈ {1, 2}.
Caso d = 2, teríamos que 2|ab com mdc(a, b) = 1. Mas, tomando a = 3 e b = 5
tem-se mdc(3, 5) = 1 e 2 6 |15. Absurdo!
Portanto, d = 1.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 61 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Problemas com MDC e MMC.

Problema
Determine o menor número natural que dividido por 12, 20 e 38 dar o mesmo
resto 10.
Resposta: Seja m ∈ N tal que m = 12q1 + 10, m = 20q2 + 10 e m = 38q3 + 10.
Logo, (m − 10) é múltiplo comum à 12, 20 e 38. Como queremos determinar o
menor número natural m, logo m − 10 = mmc(12, 20, 38).
Calcular mmc(12,20,38).
Como

mmc(12, 20) = 4mmc(3, 5) = 4 · 3 · 5 = 60


e
mmc(60, 38) = 2mmc(30, 19) = 2 · 30 · 19 = 1140,
então
mmc(12, 20, 38) = mmc(mmc(12, 20), 38) = 1140.
Portanto, m − 10 = 1140 ⇒ m = 1150.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 62 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Problemas com MDC e MMC.

Problema
Determine dois números naturais cuja soma é 120 e cujo mmc é 144.

Resposta: Sejam a, b ∈ N tais que a + b = 120 e mmc(a, b) = 144. Denote


a b
R= eS= números naturais, logo tem-se que
12 12
R + S = 10 e mmc(R, S) = 12.

Seja D = mdc(R, S), logo existem x , y ∈ N tais que R = Dx e S = Dy com


mdc(x , y ) = 1. Sabemos que: mdc(R, S) · mmc(R, S) = R.S. Então, 12 = Dxy
implicando que D|12. Por outro lado, como D(x + y ) = 10, logo D|10. Portanto,
D|mdc(10, 12). Como mdc(10, 12) = 2, logo D = 1 ou D = 2. Caso D = 2,
tem-se que x + y = 5 e xy = 6 implicando que x = 2 e y = 3. Daí, R = 4 e
S = 6 implicando que a = 48 e b = 72.
Para D = 1 tem-se que x + y = 10 e xy = 12 implicando não existir solução em N.

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Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Definição (Número primo)


Dado a ∈ N. Dizemos que p é número primo, quando satisfazer as duas
condições:
(i) p 6= 0 e p 6= 1.
(ii) Se x |p, então x = 1 ou x = p.

Exemplo
(a) 2 é número primo.
(b) 13 é número primo.
(c) 6 não é número primo.

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Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Observação:
(i) O 2 é o único número par que é número primo.
(ii) Se p não é número primo com p 6= 0 e p 6= 1, então existem p > b ≥ a > 1
tal que p = ab. Neste caso, dizemos que p é um número composto.

Exemplo
Se p 6 |a e p é número primo, então mdc(a, p) = 1.

Resposta: Seja d = mdc(a, p). Então, d|a e d|p. Assim, como p é número
primo e d|p, logo d = 1 ou d = p.
Como p 6 |a e d|a, logo d = 1.

Proposição
Dados a, b, p ∈ N. Se p é número primo e p|(ab), então p|a ou p|b.

Demonstração: Caso a = 0 ou b = 0. Como ab = 0 e p|(ab), logo p|a ou p|b.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 65 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Demonstração: Caso contrário, tem-se a 6= 0 e b 6= 0. Sem perda de


generalidade, suponha que p 6 |a e mostraremos que p|b. De fato, pelo exemplo
anterior tem-se mdc(a, p) = 1.
Como p|(ab) e mdc(a, p) = 1, então p|b.

Proposição
Seja a ∈ N, com a 6= 0 e a 6= 1. Então, o mínimo do conjunto

Sa = {x ∈ N : x > 1 e x |a}

é um número primo. Em particular, todo número composto possuí um divisor


primo.

Demonstração: Usaremos o PBO. Note que, Sa ⊂ N e como a ∈ Sa ,logo Sa 6= ∅.


Pelo PBO, existe um menor número p de Sa .
Afirmação: p é numero primo.

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Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Demonstração: De fato, suponha que p seja número composto. Logo, existem


p > b ≥ c > 1 tal que p = bc. Daí, tem-se que b|p. Como p ∈ Sa , logo p|a.
Portanto, b|a implicando que b ∈ Sa . Contradizendo a minimalidade de Sa .

Teorema Fundamental da Aritmética (TFA)
Seja a ∈ N com a > 1. Então, existem números primos p1 , p2 , ..., pr ∈ N tal que:

a = p1 p2 ...pr , com p1 ≤ p2 ≤ ... ≤ pr . (18)

A decomposição (18) é única, ou seja, se existem q1 , q2 , ..., qs números primos tal


que
a = q1 q2 ...qs , com q1 ≤ q2 ≤ ... ≤ qs ,
então r = s e qi = pi .

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 67 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).


Demonstração: A prova é feita em duas partes.
1º Parte: (Existência)
Usaremos o seguinte resultado:
Segundo Princípio de Indução:
Seja a ∈ N e suponhamos que cada natural n ≥ a esteja associada uma afirmação
P(n) . Se
(i) P(a) é verdadeira;
(ii) Para cada l > a, se P(k) é verdadeira com a ≤ k < l, então P(l) é verdadeira.
Então, P(n) é verdadeira para todo n ≥ a.

Identificamos P(n) como os números naturais n > 1 que satisfaz a identidade (18).
Verificaremos as duas condições do resultado acima. De fato,
(i) P(2) é verdadeira, pois 2=2 e 2 é número primo.
(ii) Para cada l > 2, se P(k) é verdadeira com 2 ≤ k < l. Mostraremos que P(l) é
verdadeira.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 68 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Demonstração: Com efeito, caso l é número primo. Nada a fazer!


Caso l é número composto, pela proposição anterior, existe número primo p1 tal
que p1 |l. Daí, existe k ∈ N tal que l = p1 k com k < l. Caso k é número primo,
nada a fazer!
Caso k é número composto, tem-se que 2 ≤ k < l. Pela hipótese de indução,
tem-se que P(k) é verdadeira. Ou seja, existem números primos p2 , p3 , ..., pr tal
que k = p2 p3 ...pr . Portanto, l = p1 p2 p3 ...pr implicando que P(l) é verdadeira.
2º Parte: (Unicidade)
Dado a ∈ N com a > 1. Suponha que existam p1 ≤ p2 ≤ ... ≤ pr e
q1 ≤ q2 ≤ ... ≤ qs números primos tais que

a = p1 p2 ...pr e a = q1 q2 ...qs .

Logo, p1 p2 ...pr = q1 q2 ...qs . Sem perda de generalidade, suponha que r ≤ s.


Como p1 |(q1 q2 ...qs ), então p1 divide algum qi com i ∈ {1, 2, ..., s}. Digamos que
p1 |q1 . Como p1 é primo, logo p1 = q1 .

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 69 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Demonstração: Repetindo o mesmo argumento para p2 , p3 , ..., pr , tem-se que


p2 = q2 , p3 = q3 , ..., pr = qr . Caso r < s, pela lei do corte, tem-se:

1 = q(r +1) q(r +2) ...qs ⇒ qs |1.

Absurdo, já que qs é número primo.



Exemplo:
Encontre a decomposição em fatores primos.
(a) 84
(b) 143

Resposta:
(a) 84 = 2 · 2 · 3 · 7
(b) 143 = 11 · 13

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 70 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Exercício:
Dados a, b ∈ N tal que mdc(a, b) = 1. Mostre que, mdc(a + b, ab) = 1.

Podemos reescrever a decomposição em (18) como:

TFA:
Seja a ∈ N com a > 1. Então, existem números primos p1 , p2 , ..., pr ∈ N tal que:

a = p1α1 p2α2 ...prαr , com p1 < p2 < ... < pr e αi ∈ N∗ . (19)

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 71 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Consequências do TFA

1 O MDC e MMC, mais uma vez;


2 O número de divisores τ (x ) de um número natural x .

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Conjunto dos Números Naturais

Problema com Teorema Fundamental da Aritmética(TFA).

Problema
Determine α e β para que n = 23 3α 7β tenha 84 divisores.

Resposta: Lembre que: Se a decomposição de n = p1α1 p2α2 ...prαr pelo TFA, então
n tem τ (n) = (α1 + 1)(α2 + 1)...(αr + 1) divisores.
Assim,

84 = τ (n)
= 4(α + 1)(β + 1)

Simplificando, tem-se 21 = (α + 1)(β + 1). Por outro lado, podemos escrever:


21 = 3 · 7 ou 21 = 1 · 21.
Para 21 = 3.7, tem-se: α = 2 e β = 6; α = 6 e β = 2.
Para 21 = 1.21, tem-se: α = 0 e β = 20; α = 20 e β = 0.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 73 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Números Primos e Crivo de Eratóstenes.

O resultado a seguir garante que existe uma sequência suficientemente grande


sem números primos. Ou seja, quanto um número natural escolhido
suficientemente grande, tem-se que é raro ser um número primo.
Proposição
Seja n ∈ N∗ , então existe uma sequência de n números naturais consecutivos com
nenhum desses números sendo primo.

Demonstração: Denotemos (n + 1)! = 1 · 2 · ... · n · (n + 1). Considere a sequência

(n + 1)! + 2, (n + 1)! + 3, (n + 1)! + 4, ..., (n + 1)! + n, (n + 1)! + (n + 1).

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Conjunto dos Números Naturais

Números Primos e Crivo de Eratóstenes.

Exemplo
(a) Para n = 3, tem-se: 4! + 2, 4! + 3, 4! + 4. Ou seja, 26, 27, 28.
(b) Para n = 5, tem-se: 6! + 2, 6! + 3, 6! + 4, 6! + 5, 6! + 6. Ou seja,
722, 723, 724, 725, 726.

Proposição(Euclides)
Seja P o conjunto dos números primos. Então, P é infinito.

Demonstração: Suponha por absurdo que o resultado seja falso. Então,


P = {p1 , p2 , ..., pr } tem r elementos. Escolha x = p1 p2 ...pr + 1. Daí, x 6∈ P uma
vez que x > pi para todo i = 1, 2, ..., r . Portanto, existe i tal que pi |x . Agora,
como pi |(p1 p2 ...pr ) e pi |x , logo pi |1. Absurdo!


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 75 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Números Primos e Crivo de Eratóstenes.

Proposição(Crivo Erastóstenes)
Seja n > 1 um número composto. Então, existe um número primo p satisfazendo

p|n e p 2 ≤ n.

Demonstração: Como n é um número composto, logo podemos escrever n = ab


com 1 < a ≤ b < n. Daí, a2 ≤ n. Se a for número primo nada a fazer mais. Caso
contrário, existe um número primo p que divide a. Logo, p 2 |a2 implicando que
p 2 ≤ a2 .

Exemplo
Determine todos os números primos entre 0 e 50.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 76 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Número Primo e Crivo de Eratóstenes.

Resposta:
60 61 2 3 64 5 66 7 68 69
6 10 11 6 12 13 6 14 6 15 6 16 17 6 18 19
6 20 6 21 6 22 23 6 24 6 25 6 26 6 27 6 28 29
6 30 31 6 32 6 33 6 34 6 35 6 36 37 6 38 6 39
6 40 41 6 42 43 6 44 6 45 6 46 47 6 48 6 49
6 50 6 51 6 52 53 6 54 6 55 6 56 6 57 6 58 59
Table: Crivo de Erastóstenes de 0 a 59

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 77 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Número Primo e Crivo de Eratóstenes.

Exemplo
Investigue o número 271 é primo ou composto.

Resposta: Note que, 162 = √ 256 e 172 = 289. Logo, 162 < 271 < 172 .
Simplificando, tem-se: 16 < 271 < 17. Os números primos menores ou igual a
16 são: 2, 3, 5, 7, 13. Mas, nenhum deles divide 271. Portanto, 271 é primo.
Exercício
Investigue o número 597 é primo ou composto.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 78 / 129
Conjunto dos Números Naturais

Números Primos e Crivo de Eratóstenes.

Problema:
Seja n ≥ 2 tal que (2n − 1) é número primo. Mostre que, n é número primo.

Resposta: Lembre que: an − 1 = (a − 1)(an−1 + an−2 + ... + a + 1), com


a, n ∈ N∗ . De fato, suponha que n seja composto. Logo, existem r , s ∈ N tais
que: n = rs e 1 < r ≤ s < n. Daí,

2n − 1 = 2rs
= (2r )s
= (2r − 1)[(2r )s−1 + (2r )s−2 + ... + 2r + 1].

Ou seja, (2r + 1)|(2n − 1) e (2r − 1) ≥ 2 contradizendo a hipótese de que (2n − 1)


é primo.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 79 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

1 Conjunto dos Números Naturais

2 Conjunto dos Números Inteiros

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 80 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

A Construção formal do conjunto dos números inteiros é dada por meio de uma
relação de equivalência apresentada no apêndice B do livro texto. Admitiremos
tal construção desse conjunto, assim tem-se:

Z = {..., −3, −2, −1, 0, +1, +2, +3, ...}

representa o conjunto dos números inteiros.


Observação
(I) A construção formal de Z tem por objetivo resolver o problema da equação
em N:
a + x = b, com b < a.
(II) As operações de adição e multiplicação em Z estão definidas no apêndice B.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 81 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.
Propriedade da Adição
Dados a, b, c ∈ Z, então:
(A1 ) (Associativa) (a + b) + c = a + (b+c)
(A2 ) (Comutativa) a+b = b+a
(A3 ) (Elemento neutro) O 0 (zero) satisfaz: a+0=a.
(A4 ) (Elemento Oposto) Para todo a ∈ Z, existe elemento b ∈ Z tal que
a + b = 0. A saber: b = −a.

Proposição (Lei do cancelamento)


Se a + c = b + c, então a = b.

Demonstração:

a = a + [c + (−c)] = (a + c) + (−c) = (b + c) + (−c) = b.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 82 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Definição (Diferença)
Sejam a, b ∈ Z. A diferença entre a e b, denotada por a − b, é definida por:

a − b = a + (−b).

Observação
A diferença em Z é uma operação.

Exemplo
Mostre que,
(a) Se a, b ∈ Z, então −(a + b) = (−a) + (−b).
(b) Se a ∈ Z, então a = −(−a).

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 83 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Resposta: Em (a), tem-se:

(a + b) + [(−a) + (−b)] = [a + (−a)] + [b + (−b)] = 0.

Daí, pela unicidade do elemento oposto segue que −(a + b) = (−a) + (−b).
Em (b), tem-se:
(−a) + [−(−a)] = 0.
Daí, pela unicidade do elemento oposto segue que a = −(−a).

Exemplo
Mostre que, a equação
a + x = b, a, b ∈ Z (20)
tem solução única em Z.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 84 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Resposta: Primeiro a existência. Note que, (b − a) é uma solução de (20). De


fato,
a + (b − a) = [a + (−a)] + b = b.
Agora, vejamos a unicidade da solução. Seja x0 uma solução de (20). Logo,
a + x0 = b. Por outro lado, a + (b − a) = b. Por transitividade,
a + x0 = a + (b − a). Pela lei do corte da adição, segue x0 = b − a.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 85 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Propriedade da Multiplicação
Dados a, b, c ∈ Z, então:
(M1 ) (Associativa) (a · b) · c = a · (b · c)
(M2 ) (Comutativa) a · b = b · a
(M3 ) (Elemento neutro) O 1 (um) satisfaza · 1 = a.
(M4 ) (Lei do anulamento do produto) Se a · b = 0, então a = 0 ou b = 0.
Equivalentemente, Se a 6= 0 e b 6= 0, então a · b 6= 0.
(M5 ) (Distributiva) a · (b + c) = a · b + a · c.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 86 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.
Proposição
Sejam a, b, c ∈ Z, então:
(i) a · 0 = 0
(ii) a(−b) = (−a)b = −(ab)
(iii) a(b − c) = ab − ac
(iv) (−a)(−b) = ab
(v) (Lei do cancelamento) Se a · b = c · b e b 6= 0, então a = c.

Demonstração: Em (i), note que a · 0 = a · (0 + 0) = a · 0 + a · 0. Pela lei do


corte da adição, segue a · 0 = 0.
Em (ii), mostraremos que a(−b) = −(ab) e o outro caso (−a)b = −(ab) é
análogo. Note que,

ab + a(−b) = a[b + (−b)] = a · 0 = 0.

Pela unicidade o elemento oposto, segue a(−b) = −(ab).


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 87 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Demonstração: Em (iii), note que

a(b − c) = a[b + (−c)] = ab + a(−c) = ab − (ac).

Em (iv ), Exrecício!
Em (v ), note que

0 = ab + [−(ab)]
= ab + [−(cb)]
= b(a − c).

Pela lei do anulamento, segue a − c = 0 implicando que a = c.




Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 88 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Definição (Menor que ou igual)


Dados a, b ∈ Z. Dizemos que a é menor que ou igual b, e indicamos por a ≤ b,
se existir u ∈ Z+ tal que b = a + u.

Notações
(a) Z+ = {0, 1, 2, 3, ...}
(b) Z∗+ = {1, 2, 3, ...}
(c) Z− = {..., −3, −2, −1, 0}
(d) Z∗− = {..., −3, −2, −1}
(e) Z∗ = {..., −3, −2, −1, 1, 2, 3, ...}

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 89 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Propriedades da Relação de Ordem


Dados a, b, c ∈ Z, então:
(O1 ) (Reflexiva) a ≤ a.
(O2 ) (Antissimétrica) Se a ≤ b e b ≤ a, então a = b.
(O3 ) (Transitiva) Se a ≤ b e b ≤ c, então a ≤ c.
(O4 ) (Ordem total) a ≤ b ou b ≤ a.
(O5 ) (Compatibilidade da adição) Se a ≤ b , então a + c ≤ b + c, para todo c ∈ Z.
(O6 ) (Compatibilidade da multiplicação) Se a ≤ b e c ∈ Z∗+ , então a · c ≤ b · c.

Exemplo
Sejam a, b, c, d ∈ Z tais que a ≤ b e c ≤ d, então a + b ≤ c + d.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 90 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.
Resposta: Por hipótese, tem-se:

a ≤ b ⇔ ∃r ∈ Z+ ; b = a + r

e
c ≤ d ⇔ ∃s ∈ Z+ ; d = c + s.
Daí,

b+d = (a + r ) + (b + s)
= (a + b) + (r + s).

Como (r + s) ∈ Z+ , logo a + c ≤ b + d.

Exercício
Sejam a, b, c, d ∈ Z tais que a ≤ b e c ≤ d. Mostre que, ac ≤ bd é falso em
geral.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 91 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Definição (Menor que)


Dados a, b ∈ Z. Dizemos que a é menor que b, e indicamos por a < b, se existir
u ∈ Z∗+ tal que b = a + u.

Exemplo
Dado a ∈ Z∗ . Prove que, a2 > 0.

Resposta: Como a ∈ Z∗ , logo a > 0 ou a < 0.


Para a > 0: Pela propriedade (O6 ), tem-se a2 ≥ 0. Logo, a2 > 0 ou a2 = 0.
Suponha que a2 = 0. Então, a2 = 0 = a · 0. Pela lei do corte, segue a = 0
contradizendo que a ∈ Z∗ .
Para a < 0, tem-se −a > 0. Repete o argumento anterior.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 92 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Exercício (REGRAS DE SINAIS)


Dados a, b ∈ Z. Então,
(i) Se 0 < a e 0 < b, então 0 < ab.
(ii) Se a < 0 e b < 0, então 0 < ab.
(iii) Se a < 0 e 0 < b, então ab < 0.

Definição (Cota inferior)


Seja S ⊂ Z e S 6= ∅. Um número k é dito cota inferior de S, quando:

k ≤ s, ∀s ∈ S.

Quando a cota inferior k de S pertence a S, dizemos que k é o mínimo de S.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 93 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.
Exemplo
Encontre uma cota inferior de S e Min S, se possível.
(a) S = {−2, −1, 1, 4, 7, 13, 19, 26}
(b) S = Z−

Proposição (Princípio do menor inteiro - PMI)


Seja S ⊂ Z e S 6= ∅. Se S tem alguma cota inferior em Z, então S possui número
mínimo.
Demonstração: Seja k ∈ Z uma cota inferior de S. Defina o subconjunto auxiliar

M = {m ∈ Z| m = s − k, com s ∈ S}.

Note que M 6= ∅, pois S 6= ∅. Além disso, M ⊂ N, pois como k ≤ s, ∀s ∈ S, logo


s − k ≥ 0. Pelo P.B.O. em N, existe Min M = m0 .
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 94 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Demonstração: Como m0 ∈ M, logo existe s0 ∈ S tal que m0 = s0 − k.


Afirmamos que s0 = Min S. De fato, dado s ∈ S tem-se:

s − k ≥ m0 = s0 − k ⇒ s ≥ s0 .


Exercício
Defina cota superior para um subconjunto em Z. Em seguida, use P.M.I. para
mostrar que:

Seja T ⊂ Z e T 6= ∅. Se T tem alguma cota superior em Z, então T possui


número máximo.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 95 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

1Operações e relação de ordem em Z e Princípio de


indução matemática.
Primeiro Princípio da Indução

Seja a ∈ Z e suponha que a cada número inteiro n ≥ a esteja associada uma


afirmação P(n) . Admitimos ainda que seja possível provar o seguinte:
(i) P(a) é verdadeira.
(ii) Para cada r ≥ a, se P(r ) é verdadeira, então P(r +1) é verdadeira.
Então, P(n) é verdadeira para todo n ≥ a.

Figure: Sequência de Domino


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 96 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.
Exemplo (Desigualdade de Bernoulli)
Se 0 < a + 1, então na + 1 ≤ (a + 1)n , para todo n ∈ Z∗+ .

Resposta: Primeiro identificamos P(n) = {n ∈ Z| na + 1 ≤ (a + 1)n }. Então,


(i) P(1) é verdadeira.
De fato, 1 · n + 1 = a + 1 e (a + 1)1 = a + 1.
(ii) Para cada r ≥ 1, se P(r ) é verdadeira. Mostraremos que P(r +1) é verdadeira.
De fato,
(1 + a)(r +1) = (1 + a)r (1 + a)
≥ (ar + 1)(1 + a)
= ar + a2 r + a + 1
= a(1 + r ) + 1 + a2 n
≥ a(1 + r ) + 1.
Portanto, (1 + a)(r +1) ≥ a(1 + r ) + 1.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 97 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Operações e relação de ordem em Z e Princípio de indução


matemática.

Exercício
Prove, por indução, que
(a) (−1)2n = 1, para todo n > 0.
(b) (−1)(2n+1) = −1, para todo n > 0.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 98 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Definição (Somatório e Produtório)


Sejam a1 , a2 , . . . , an ∈ Z, com n ≥ 2. Definimos,
(i) a soma dos n termos a1 , a2 , . . . , an por:
n
X
ai = (a1 + a2 + ... + an−1 ) + an .
i=1

(ii) o produto dos n fatores a1 , a2 , . . . , an por:


n
Y
ai = (a1 · a2 · ... · an−1 ) · an .
i=1

Observação
As propriedades de somatório e produtório em N, são válidas em Z.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 99 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Exemplo
Calcule.
X 4
(a) (11 − 5i 2 )
i=1
5
Y
(b) (−2i)
i=1
Xn
(c) [(i + 1)3 − i 3 ].
i=1

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 100 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Exercício
Sejam ai , bi ∈ Z, com i = 1, 2, ..., n. Mostre que,
n
X n
X
(a) Se ai ≤ bi , para todo i = 1, 2, ..., n, então ai ≤ bi .
i=1 i=1
n
X
(b) ai2 = 0 se, e só se, ai = 0, para todo i = 1, 2, ..., n.
i=1

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 101 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Definição (Valor absoluto)


Seja x ∈ Z. O valor absoluto (ou, módulo) de x , denotador |x |, é dado pelo
máximo no conjunto {x , −x }.

Exemplo
Calcule o valor absoluto.
(a) 5
(b) −7

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 102 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Proposição
Sejam x , y ∈ Z. Então,
(i) |x | = | − x |
(ii) −|x | ≤ x ≤ |x |
(iii) |yx | = |y ||x |
(iv) (Desigualdade triangular) |y + x | ≤ |y | + |x |

Exemplo
Mostre que,
|y | − |x | ≤ |y − x | ≤ |x + y |
para todo x , y ∈ Z.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 103 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.


Problema (Desigualdade Triangular Generalizada em Z)
Sejam a1 , a2 , ..., an ∈ Z. Prove que
Xn X n
ai ≤ |ai |.


i=1 i=1
Xn X n
Resposta: Primeiro identificamos P(n) = {n ∈ Z∗+ ; ai ≤ |ai |}. Vejamos

i=1 i=1
que
(i) P(1) é verdadeira.
X 1 1
X
De fato, ai = |a1 | ≤ |a1 | = |ai |.

i=1 i=1
(ii) Para cada r ≥ 1, se P(r ) é verdadeira. Mostraremos que P(r +1) é verdadeira.
De fato,
Xr +1 Xr
ai = ai + a(r +1) .


i=1 i=1
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 104 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Somatório e Produtório em Z, e valor absoluto em Z.

Resposta:
Xr +1 Xr
ai = ai + a(r +1)


i=1 i=1
Xr
≤ ai + |a(r +1) |

i=1
r
X
≤ |ai | + |a(r +1) |
i=1
r +1
X
= |ai |.
i=1

Xr +1 r +1
X
Portanto, ai ≤ |ai |.

i=1 i=1

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 105 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.

Definição (Divisibilidade)
Dados a, b ∈ Z, dizemos que a divide b, e denotamos por a|b, quando existir
c ∈ Z tal que b = ac. O número c é chamado quociente de b por a, e denotamos
c = ba .

Exemplo
(a) 2 divide 0, pois 0=2.0. Escrevemos 0 = 02 .
(b) -3 divide 6, pois 6=(-3)(-2). Escrevemos −2 = −3 .
6

(c) -4 não divide 6. De fato, caso existisse tal quociente q teríamos que
3 = (−2)q. Daí, 3 seria um número par, um absurdo!

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 106 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.


Propriedades da Divisibilidade
Sejam a, b, c, d ∈ Z. Então,
(D1 ) (Reflexiva) a|a
(D2 ) Se a|b e b|a, então a = b ou a = −b.
(D3 ) (Transitiva) Ss a|b e b|c, então a|c.
(D4 ) Se a|b e a|c, então a|(xb + yc) para todo x , y ∈ Z.
(D5 ) a|b ⇔ |a| |b|.

(D6 ) Se a = b + c e d|c, então d|a ⇔ d|b

Demonstração: A demonstração dos itens (D1 ), (D3 ), (D4 ) e (D6 ) são análogas a
feitas no capítulo 2.
Em (D2 ), por hipótese tem-se:
a|b ⇔ ∃r ∈ Z; b = ar (21)
e
b|a ⇔ ∃s ∈ Z; a = bs. (22)
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 107 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.

Demonstração: Substituindo (22) em (21), tem-se 1 = rs. Daí, r = 1 e s = 1,


ou, r = −1 e s = −1. Portanto, segue que a = b, ou, a = −b, respectivamente.
Em (D5 ),
(⇒) Por hipótese, a|b ⇔ ∃c ∈ Z; b = ac. Daí,

|b| = |ac| = |a||c| ⇒ |a| |b|.


(⇐) Por hipótese, |a| |b| ⇔ ∃c ∈ Z; |b| = |a|c. Como |b| ≥ 0 e |a| ≥ 0, logo

c ≥ 0. Analisamos os casos:
Se b ≥ 0, logo |b| = b. Daí,

b = |a|c ⇒ b = a(±c) ⇒ a|b.

Se b < 0, logo |b| = −b. Daí,

b = |a|(−c) ⇒ b = a(∓c) ⇒ a|b.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 108 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.

Exemplo
Sejam a, b, c ∈ Z tais que a|(b − 3c) e a|(3b − 8c). Prove que, a|c e a|b.

Resposta: Primeiro mostraremos que a|c. Por hipótese, tem-se que a|(b − 3c),
logo a|(3b − 9c). Assim, Como a|(3b − 9c) e a|(3b − 8c), logo a|c.
Agora, mostraremos que a|b. Por hipótese tem-se:

a|(b − 3c) ⇒ a|(8b − 24c)

e
a|(3b − 8c) ⇒ a|(9b − 24c).
Como a|(8b − 24c) e a|(9b − 24c), logo a|b.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 109 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.


Exemplo
Mostre que, 9|(22n + 15n − 1), ∀n ≥ 0.

Resposta: Primeiro identificamos P(n) = {n ∈ Z∗+ ; 9|(22n + 15n − 1)}. Vejamos


que
(i) P(0) é verdadeira.
De fato, 22·0 + 15 · 0 − 1 = 20 + 0 − 1 = 0.
(ii) Para cada r ≥ 1, se P(r ) é verdadeira. Mostraremos que P(r +1) é verdadeira.
De fato, a hipótese de indução garante que existe q ∈ Z tal que
22r + 15r − 1 = 9q. Assim,
22(r +1) + 15(r + 1) − 1 = 22r +2 + 15r + 15 − 1
= 4 · 22r + 15r + 14
= 4 · 22r + 15r + 14 + (4 · 15r − 4 · 15r ) + (4 − 4)
= 4 · (22r + 15r − 1) + 15r + 14 − 4 · 15r + 4
= 4 · 9q − 3 · 15r + 18
= 9 · (4q − 5r + 2).
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 110 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.


Resposta: Como (4q − 5r + 2) ∈ Z, logo 9|[22(r +1) + 15(r + 1) − 1]. Portanto,
pelo primeiro princípio de indução segue que P(n) é verdadeira para todo n ≥ 0.

Exercício
Prove que 5|(8n − 3n ) para todo n ≥ 0.

Proposição (Algoritmo da divisão em Z)


Sejam a, b ∈ Z com b > 0. Então, existem únicos r , q ∈ Z tal que

a = bq + r , com 0 ≤ r < b.

Demonstração: Se a ≥ 0, a demonstração é a mesma feita em N.


Se a < 0, logo −a > 0. Aplicaremos o algoritmo da divisão em (−a) e b, logo
existem únicos Q, R ∈ Z+ tal que −a = bQ + R com 0 ≤ R < b. Daí, tem-se:

a = b(−Q) + (−R) e 0 ≤ b − R ≤ b.

Analisamos dois casos. Se R = 0, tem-se que q = −Q e r = 0.


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 111 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.


Demonstração: Se R > 0, logo 0 < b − R < b. .Note que
a = b(−Q) + (−R)
= b(−Q) + (−R) + (b − b)
= b(−Q − 1) + (b − R).
Tomando q = −(Q + 1) e r = b − R segue o resultado.

Exemplo
Determine r e q quando a = −124 e b = 58.

Resposta: Repetiremos o processo da demonstração. Aplicando o algoritmo da


divisão em 124 e 58, tem-se 124 = 58 · 2 + 8. Note que,
−124 = 58 · (−2) − 8
= 58 · (−2) + (−8) + (58 − 58)
= 58 · (−2 − 1) + (58 − 8).
Daí, −124 = 58 · (−3) + 50. Assim, q = −3 e r = 50.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 112 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.


Exercício
Determine r e q quando a = −420 e b = 37.

Problema
Seja a ∈ Z tal que 2 6 |a e 3 6 |a. Mostre que, 24|(a2 + 23).

Resposta: Aplicando o algoritmo da divisão em a e 6, tem-se a = 6q + r com


0 ≤ r < 6. Por hipótese, tem-se 2 6 |a e 3 6 |a, logo r = 1 ou r = 5. Analisaremos
cada caso, vejamos:
Se r = 1, tem-se a = 6q + 1. Assim,
a2 + 23 = (6q + 1)2 + 23
= 36q 2 + 12q + 24
= 12 · (3q 2 + q + 2)
= 12 · [q(3q + 1) + 2].
Portanto, para garantir que 24|(a + 23), é suficiente mostrar que q(3q + 1) é
2

múltiplo de 2.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 113 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Divisibilidade e Algoritmo da divisão em Z.

De fato, como q ∈ Z, logo q = 2k ou q = 2k + 1 com k ∈ Z. Caso q seja número


ímpar, logo

q(3q + 1) = (2k + 1)[3(2k + 1) + 1]


= (2k + 1)(6k + 4)
= 2 · (2k + 1)(3k + 2).

Caso q seja número par, é imediato afirmação.


Se r = 5, tem-se a = 6q + 5. Basta repetir argumento similar ao caso anterior,
fica como exercício.
Exercício
Seja m um número inteiro ímpar. Mostre que o resto da divisão euclidiana de m
por 4 é 1 ou 3.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 114 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Definição (MDC)
Sejam a, b ∈ Z. O máximo divisor comum de a e b, denotado por mdc(a, b), é
um número inteiro não negativo dado por:

mdc(a, b) = mdc(|a|, |b|).

Exemplo
(a) mdc(−3, 9)
(b) mdc(−2, −5)
(c) mdc(0, −3)

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 115 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Proposição
Se a|b, então mdc(a, b) = |a|.

Proposição
Se a = bq + r , então mdc(a, b) = mdc(b, r ).

Exemplo
Determine mdc(12378, 3054).

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 116 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.
Resposta.
12378 = 4 · 3054 + 162
3054 = 18 · 162 + 138
162 = 1 · 138 + 24
138 = 5 · 24 + 18
24 = 1 · 18 + 6
18 = 3 · 6 + 0.
Ou seja,
mdc(12378, 3054) = mdc(3054, 162)
= mdc(162, 138)
= mdc(138, 24)
= mdc(24, 18)
= mdc(18, 6)
= 6.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 117 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Exercício
Verifique que,
6 = 12378 · 3186 + 3054 · (−12913).

Proposição (Identidade de Bézout)


Sejam a, b ∈ Z∗ . Então, existem números inteiros x0 e y0 tais que

mdc(a, b) = a · x0 + b · y0 .

Demonstração. Considere o conjunto

S = {ax + by ∈ Z∗+ | x , y ∈ Z}.

Temos que:
S 6= ∅, pois a2 + b 2 > 0.
Pelo P.M.I., existe elemento mínimo de S. Digamos, min S = d.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 118 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Demonstração. Mostreremos que mdc(a, b) = d.


De fato, note que
(i) d|a e d|b.
Com efeito, aplicando o algoritmo da divisão em a e d, temos a = dq + r ,
com 0 ≤ r < d. Por outro lado, como d ∈ S, logo existem x0 , y0 ∈ Z tais
que d = ax0 + by0 . Portanto,

r = a(1 − qx0 ) + b[q(−y0 )].

Mas, como 0 ≤ r < d e d = min S, logo r = 0. Daí, d|a. Analogamente,


temos que d|b.
(ii) Se c|a e c|b, então c|d.
Com efeito, como c|a e c|b, logo c|(ax + by ), para todo x , y ∈ Z. Em
particular, c|d.
De (i) e (ii), segue que d = mdc(a, b).


Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 119 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Exemplo.
Determine x0 e y0 tais que (−68)x0 + 42y0 = mdc(−68, 42).

Resposta. Primeiro vamos calcular o mdc(−68, 42) via algoritmo da divisão,


vejamos:

−68 = 42 · (−2) + 16
42 = 16 · (+2) + 10
16 = 10 · (+1) + 4
10 = 4 · (+2) + 2
4 = 2 · (+2) + 0

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 120 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Daí, mdc(−68, 42) = 2. Além disso, podemos reescrever as identidades anteriores


como:

16 = (−68) + 42 · (+2) (23)


10 = 42 − 16 · (+2) (24)
4 = 16 − 10 · (+1) (25)
2 = 10 − 4 · (+2). (26)

Substituindo (23), (22) e (21) em (24), teremos:

2 = (−68) · 8 + 42 · 13.

Daí, x0 = 8 e y0 = 13.
Exercício
Determine x0 e y0 tal que (−102)x0 + (−49)y0 = 1.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 121 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Definição (MMC)
Sejam a, b ∈ Z. O mínimo multiplo comum de a e b, denotado por mmc(a, b),
é um número inteiro não negativo dado por

mmc(a, b) = mmc(|a|, |b|).

Exemplo
(a) mmc(−2, −3)
(b) mmc(−3, 9)

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 122 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

MDC e MMC em Z.

Proposição
Sejam a, b ∈ Z. Então,

mdc(a, b) · mmc(a, b) = |a| · |b|.

Demonstração. Basta analisar o sinal de |a| e |b|.




Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 123 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Números primos em Z.

Definição (Número primo)


Dado p ∈ Z. Dizemos que p é número primo, se |p| é número primo em N.

Exemplo
(a) −2, 5, −7, 17 e −11 são números primos em Z.
(b) −4 não é número primo.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 124 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Números primos em Z.
Destacamos as propriedades:
Proposição
Dados a, b, p ∈ Z. Se p é número primo e p|(ab), então p|a ou p|b.

Teorema Fundamental da Aritmética (TFA).


Seja a ∈ Z com |a| > 1. Então, existem números primos p1 , p2 , ..., pr ∈ Z tal que:

a = p1 p2 ...pr ou a = −(p1 p2 ...pr ), (27)

conforme a > 0 ou a < 0. A fatoração em números primos em (27) é única.

Exemplo
Encontre a fatoração em primos.
(a) -449
(b) -511

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 125 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Números primos em Z.
Resposta:
(a) Neste caso a fatoração é trivial, uma vez que -449 é número primo. Para
mostrar isso, basta aplicar o crivo de Eratóstenes. De fato, note que
(21)2 = 441 < 449. Se 449 fosse composto teríamos um divisor primo menor
que ou igual a 21. Porém, os primos menores que 21 não dividem 449.
(b) −511 = −(7 · 73).

Exemplo.
Dado n ∈ Z. Se n3 − 1 é número primo, mostre que n = 2 ou n = −1.

Resposta: Note que, n3 − 1 = (n − 1)(n2 + n + 1). Daí, (n − 1)|(n3 − 1). Como


n3 − 1 é número primo, logo n − 1 = 1 ou n − 1 = n3 − 1. Analisaremos cada
caso.
(I) Se n − 1 = 1, tem-se que n = 2.
(II) Se n − 1 = n3 − 1, tem-se que 1 = n2 . Daí, n = 1 ou n = −1. Caso n = 1,
teríamos que n3 − 1 é zero contradizendo a hipótese de que n3 − 1 é número
primo. Portanto, n = −1.
Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 126 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Números primos em Z.

Exercício
Para todo inteiro n, prove que:

mdc(n − 1, n2 + n + 1) = 1 ou 3.

Exemplo
Mostre que há infinitos números primos da forma 4k + 3 com k ∈ Z. Conclua que
o conjunto dos números primos em Z é infinito.

Resposta. Observe que, dado um número primo ímpar p, aplicando o algoritmo


da divisão tem-se que p = 4k + 1 ou p = 4k + 3.
Sem perda de generalidade, consideremos apenas primos positivos. Suponha que o
resultado seja falso. Ou seja, existem apenas (r + 1) números primos da forma
4k + 3, a saber: 3 < p1 < p2 < ... < pr . Escolha o número x = 4 · (p1 p2 ...pr ) + 3.
Observe que, pi 6 |x para i ∈ {1, 2, ..., r }. De fato, caso exista i ∈ {1, 2, ..., r } tal
que pi |x , logo pi |3 contradizendo o fato de que 3 < pi .

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 127 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Números primos em Z.

Resposta: Por outro lado, pelo TFA existem primos q1 ≤ q2 ≤ ... ≤ qt tal que
x = q1 q2 ...qt . Para cada j ∈ {1, 2, ..., t}, tem-se que qj |x . Portanto, qj é primo
do tipo (4kj + 1) com kj ∈ N.
Afirmação: Sejam a e b números da forma 4k + 1. Então, ab é da forma 4k + 1.
De fato, como a = 4ka + 1 e b = 4kb + 1, logo

ab = (4ka + 1)(4kb + 1) = 4(4ka kb + ka + kb ) + 1.

Daí, ab = 4kab + 1 com kab = 4ka kb + ka + kb .


Pela afirmação, segue que a fatoração em números primos de x é da forma
4k + 1. Contradição, uma vez que x foi escolhido da forma 4k + 3.
Exercício.
Mostre que há infinitos números primos da forma 4k + 1 com k ∈ Z. Conclua que
o conjunto dos números primos em Z é infinito.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 128 / 129
Conjunto dos Números Inteiros

Referência Bibliografica

DOMINGUES, Hygino Hugueros. Fundamentos de Aritmética. 2ª Ed. Rev. –


Florianópolis: Editora da UFSC, 2017.
FERREIRA, Jamil. A construção dos números. 3 ª ed. – Rio de Janeiro:
SBM, 2013.

Jéferson Silva (UFDPar) Fundamentos de Matemática Elementar August 30, 2021 129 / 129

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