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Exercı́cio 5.

24:
Mostre que a interseção de uma sequência decrescente I1 ⊃ I2 ⊃ ... ⊃ In ⊃ ... de intervalos é um intervalo ou o
conjunto vazio.

Sejam an = inf In e bn = sup In , então In ⊃ (an , bn ) e [an , bn ] ⊃ In . Assim,

[an , bn ] ⊃ [an+1 , bn+1 ]

e
(an , bn ) ⊃ (an+1 , bn+1 ).
Daı́,

[sup{an }, inf{bn }] = [an , bn ]

⊃ In

⊃ (an , bn )
= (sup{an }, inf{bn }).

Assim, como −∞ ≤ sup{an } ≤ inf{bn } ≤ ∞,



In = (sup{an }, inf{bn }) ou
= (sup{an }, inf{bn }] ou
= [sup{an }, inf{bn }) ou
= [sup{an }, inf{bn }]

e temos o resultado.

200
Exercı́cio 5.25:
Um conjunto é denso em R se, e somente se, seu complementar tem interior vazio.

Seja D um conjunto denso em R. Dado x ∈ R−D e ε > 0, temos que (x−ε, x+ε)∩D ̸= ∅. Assim, x ∈
/ int(R−D).
E, como int(R − D) ⊂ R − D, temos que int(R − D) ̸= ∅.

201
Exercı́cio 5.26:
Se F é fechado e A é aberto então F − A é fechado.

Como A é aberto, Ac é fechado. Então, F ∩ Ac = F − A é uma interseção de dois fechados. Logo, F − A é


fecado.

202
Exercı́cio 5.27:
Dê exemplo de um aberto A tal que A ⊃ Q mas R − A seja não-enumerável.



Seja (xn ) uma enumeração de Q. Definimos A = In , onde
n=1

1 1
In = (xn − n
, xn + n ).
2 2
Temos que A e aberto, pois é uma união de abertos e também A ⊃ Q.
Provemos que R − A ̸= ∅. Consideremos o intervalo compacto [0, 10] e suponhamos que R − A = ∅. Então,

k
existem n1 , n2 , ..., nk ∈ N tais que Ini ⊃ [0, 10].
i=1
Sgue daı́, então, que


k
10 < (sup Ini − inf Ini )
i=1

k
< (sup In − inf In )
i=1

∑ 1
= = 2.
i=1
2n−1

Absurdo. Assim, R − A ̸= ∅.
Se R−A é finito ou enumeráel, podemos adicionar todos os elementos de R−A em uma sequência (yn ) ( de termos

∞ 1 1
repetidosse necessário ) que enumera os elementos de R − A. Daı́, Ã = A ∪ ( I˜n ), onde I˜n = (yn − n , yn + n )
n=1 2 2
é tal que à ⊃ A e à ⊃ R − A. Mas, por argumento análogo ao acima, podemos mostrar que R − à ̸= ∅. Uma
contradição. Portanto, R − A é não enumerável.

203
Exercı́cio 5.28:
Dê exemplo de um conjunto fechado, não-enumerável, formado apenas por números transcendentes.

Seja (xn ) uma enumeração do conjunto dos números algébricos (exercı́cio 3.44). Seja


A= In ,
i=1

1 1
onde In = (xn − n , xn + n ). Temos que A é um aberto que contém todos os números naturais. Assim, pelo
2 2
mesmo argumento usado no execı́cio anterior, F = R − A é não enumerável. E F é um fechado que contém somente
números algébricos.

204
Exercı́cio 5.29:
Defina a distância de um ponto a ∈ R a um conjunto não-vazio X ⊂ R como d(a, X) inf{|x − a|; x ∈ X}. Prove:

1) d(a, X) = 0 ⇔ a ∈ X.
2) Se F ⊂ R é fechado, então para todo a ∈ R existe b ∈ F tal que d(a, F ) = |b − a|.

1
(1) (⇒) Para cada n ∈ N, existe xn ∈ N tal que |xn − a| < . Assim, (xn ) é uma sequência em X que tende à
n
a. Logo, a ∈ X.
(⇐) Seja (xn ) uma sequência em X que tende à a. Então, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que |xn0 − a| < ε.
Assim,

0 = inf{|xn − a|; xn ∈ (xn )}


≥ inf{|x − a|; x ∈ X} ≥ 0,

ou seja, d(a, X) = 0.

(2) Consideremos o compacto C = F ∩ B[a; 2d(a, F )]. Temos, pela definição de d(a, F ), que C ̸= ∅. Seja d =
1
d(a, F ) e xn ∈ C tal que |xn − a| < d + . Como C é compacto, existe uma subsequência (xnk ) de (xn )
n
ε ε
tal que xnk → b ∈ C. Assim, dado ε > 0, existe n + k ∈ N tal que |xnk − a| < d + e |b − xnk | > .
2 2
Consequentemente,
|b − a| ≤ |b − xnk | + |xnk − a| < d + ε.

Portanto, |b − a| ≤ d. Mas, como b ∈ C ⊂ F e pela definição de d = d(a, F ), temos que |b − a| ≥ d e,


consequentemente, |b − a| = d.

205
Exercı́cio 5.30:
Se X é limitado superiormente, seu fecho X também o é. Além disso, sup X = sup X. Enuncie e prove um resultado
análogo para inf .

Temos que X é limitado somente se X é limitado. De fato, se A > 0 em R é tal que existe a ∈ X com a > A,
tomando-se ε = |A − a|, existe x ∈ X tal que |x − a| < ε. Consequentemente, x > A.
Como X ⊂ X, temos imediatamente que (pelo exercı́cio 3.33) que sup X ≥ sup X. Assim, para mostrar que
sup X ≥ sup X, basta provar que para qualquer c ∈ R tal que c < sup X, existe x ∈ X tal que c < x. Então, dado
c tal que c < sup X, existe x ∈ X tal que c < x. Assim, tomando algum x ∈ X tal que |x − x| < |x − c|, temos que
x > c. Portanto, sup X = sup X.
O resultado análogo seria inf A = inf A. E a demonstração desse resultado é também análoga.

206
Exercı́cio 5.31:
Para todo X ⊂ R limitado superiormente, sup X é aderente a X. Resultado análogo para inf .

Pela definição de supremo, para todo ε > 0 existe x ∈ X tal que sup X − ε < x ≤ sup X.
1
Assim, para n ≥ 1 em N, tomando xn ∈ X tal que sup X − > xn ≤ sup X. Temos, assim, que para todo
n
n ∈ N, |xn − sup X| < n1 . Logo, a sequência (xn ) em X tende à sup X e sup X ∈ X.

207
Exercı́cio 5.32:
Para todo X ⊂ R, X ′ é fechado.

Seja a ∈ X ′ . Dado ε > 0, existe x ∈ X ′ tal que x ∈ (a−ε, a+ε). E como x ∈ X ′ , existem infinitos elementos de X
em (x−δ, x+δ), onde δ = min{|x−(a±ε)|}. Assim, infinitos elementos de X pertencem à (a−ε, a+ε) ⊃ (x−δ, x+δ).
Isso implica que a ∈ X ′ . Concluı́mos que X ′ ⊃ X ′ .

208
Exercı́cio 5.33:
Um número a é ponto de acumulação de X se, e somente se, é ponto de acumulação de X.

(⇒) Seja a um ponto de acumulação de X. Então, para todo ε > 0 existem infinitos elementos de X em
(a − ε, a + ε). E como X ⊂ X, existem infinitos elementos de X em (a − ε, a + ε), ou seja, a é ponto de acumulação
de X.
(⇐) Seja a um ponto de acumulação de X. Dado ε > 0, existe x ∈ X tal que x ∈ (a−ε, a+ε)−{a}. Tomando-se
δ = min{|x − a|, |x − (a ± ε)|}, temos que existe x ∈ X tal que |x − x| < δ.
Assim, x ∈ (x − δ, x + δ) ⊂ (a − ε, a + ε) − {a}. Segue daı́ que a é ponto de acumulação de X.

209
Exercı́cio 5.34:
(X ∪ Y )′ = X ′ ∪ Y ′ .

• (X ∪ Y )′ ⊂ X ′ ∪ Y ′ .
Seja a ∈ (X ∪ Y ) e (an ) uma sequência em X ∪ Y − {a} que tende à a. Então, existem infinitos termos de
(an ) em Y. Assim, existe uma subsequência de (an ) em X − {a} ou em Y − {a}. E como esta subsequência
tende à a, temos que a ∈ X ′ ∪ Y ′ .

• (X ∪ Y )′ ⊃ X ′ ∪ Y ′ .
Seja a ∈ X ′ ∪ Y ′ . Então existe uma sequência (an ) em X − {a} ou em Y − {a} que tende à a. Em todo caso,
existe uma subsequência em X ∪ Y − {a} que tende à a, ou seja, a ∈ (X ∪ Y )′ .

210
Exercı́cio 5.35:
Todo ponto de um conjunto aberto A é ponto de acumulação de A.

Seja a ∈ A. Então existe δ > 0 tal que (a − δ, a + δ) ⊂ A.


Assim, dado ε, para δ1 = min{δ, ε} temos que

(a − ε, a + ε) ⊃ (a − δ1 , a + δ1 ) ⊂ A.

Logo, (a − ε, a + ε) contém infinitos elementos de A já que (a − δ1 , a + δ1 ) tem infinitos elementos. Portanto, a é
ponto de acumulação.

211
Exercı́cio 5.36:
Sejam F fechado e x ∈ F. Então x é um ponto isolado de F se, somente se, F − {x} é ainda fechado.

(⇒) Se F = {x}, temos diretamente que F − {x} = ∅ é fechado. Suponhamos que F − {x} = ̸ ∅. Seja (an ) uma
sequência em F − {x} com lim an = a. Como F é fechado e (an ) é uma sequência em F, então a ∈ F. Temos que
a ̸= x, pois para algum ε > 0, (x − ε, x + ε) ∩ F = {x}. Portanto, a ∈ F − {x}. Concluı́mo daı́ que F − {x} é
fechado.
1
(⇐) Suponhamos que x não seja um ponto isolado de F. Então, para todo n ∈ N, existe xn ∈ ((xn − , x +
n
1
) ∩ F ) − {x}. Assim, a sequência (xn ) em F − {x} tende à x. O que implica que F − {a} não é fechado.
n

212
Exercı́cio 5.37:
Seja X ⊂ R tal que X ′ ∩ X = ∅. Mostre que existe, para cada x ∈ X, um intervalo aberto Ix , de centro em x, tal
que x ̸= y ⇒ Ix ∩ Iy = ∅.

Para cada x ∈ X definimos


δx = inf{|x − x̃|; x̃ ∈ X − {x}}.
Temos que δx = 0 somente se x ∈ X . Então, δx > 0 para cada x ∈ X já que X ′ ∩ X = ∅.

Definimos para cada x ∈ X,


δx δx
Ix = (x − , x + ).
2 2
Assim, para x ̸= y em X, temos que se z ∈ Ix ∩ Iy

|x − y| ≤ |x − z| + |z − y|
δx δx
≤ +
2 2
|x − y| |x − y|
≤ + = |x − y|.
2 2
Portanto, Ix ∩ Iy = ∅. E o resultado segue.

213
Exercı́cio 5.38:
Seja F ⊂ R fechado, infinito enumerável. Mostre que F possui uma infinidade de pontos isolados.

Pelo corolário 1 do Teorema 9, temos que F possui algum ponto isolado. Suponhamos que x1 , x2 , ..., xn são
pontos isolados de F. Por indução no resultado do exercı́cio 3.36, temos que F − {x1 , x2 , ..., xn } é fechado. Além
disso, F − {x1 , x2 , ..., xn } é um conjunto sem pontos isolados e infinito enumerável, contradizendo o Corolário 1 do
Teorema 9.

214
Exercı́cio 5.39:
Mostre que todo número real x é limite de uma sequência de números transcendentes dois a dois distintos.

Sejam A o conjunto dos números algébricos em Q (complementar do conjunto dos trancendentes) e x ∈ R.


Dado ε > 0, temos que (x − ε, x + ε) − (A ∪ {x}) é infinito. De fato, pelo exercı́cio 3.44, A é enumerável enquanto
(x − ε, x + ε) é não enumerável. Logo, (x − ε, x + ε) − (A ∪ {x}) é infinito.
Seja ε1 = 1. Podemos escolher
x1 ∈ (x − ε1 , x + ε1 ) − (A ∪ {x}).
E, indutivamente, escolher
xn ∈ (x − εn , x + εn ) − (A ∪ {x}),
onde εn = |x − xn |. Assim (xn ) é uma sequência de termos trancendentes, dois a dois distintos e que tende à x.

215
Exercı́cio 5.40:
Mostre que se X ⊂ R não é enumerável, então X ∩ X ′ ̸= ∅.

Se X ∩ X ′ = ∅, então todo ponto de X é isolado. Mas, pelo Corolário 2 do Teorema 8, temos que isso implica
que X é enumerável.

216
Exercı́cio 5.41:
Se A e A ∪ {a} são abertos então a é ponto de acumulação de A à direita e à esquerda.

Como A ∪ {a} é aberto, existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A ∪ {a}.


Assim,
[a, a + ε) ⊂ A ∪ {a}
e, consequentemente,
(a, a + ε) ⊂ A ∪ {a}.
Daı́ segue que A contém infinitos pontos de [a, a + ε). Logo, a é ponto de acumulação a direita de A.
Analogamente, mostra-se que a é ponto de acumulação à esquerda de A.

217
Exercı́cio 5.42:
Dê explicitamente o significado de cada uma das seguintes afirmações. Em suas explicações, você está proibido de
usar qualquer das palavras grifadas abaixo:
1) a ∈ X não é ponto interior de X;
2) a ∈ R não é aderente a X;
3) X ⊂ R não é um conjunto aberto;
4) O conjunto Y ⊂ R não é fechado;
5) a ∈ R não é ponto de acumulação do conjunto X ⊂ R;
6) X ′ = ∅;
7) X ⊂ Y mas X não é denso em Y ;
8) int(X) = ∅;
9) X ∩ X ′ = ∅;
10) X não é compacto.

(1) Não existe ε ∈ R+ tal que


a ∈ (a − ε, a + ε) ⊂ X.
(2) Existe ε ∈ R+ tal que
(a − ε, A + ε) ⊂ R − X.
(3) Existe x ∈ X tal que para todo ε ∈ R +

(x − ε, x + ε) * X.
(4) Existe x ∈ R − X tal que para todo ε ∈ R+
(x − ε, x + ε) ∩ X ̸= ∅.

(5) Existe ε ∈ R+ tal que


(a − ε, a + ε) ∩ X ⊂ {a}.
(6) Para todo a ∈ R, tal que para todo ε ∈ R+
(a − ε, a + ε) ∩ X ̸= ∅ então a ∈ X.

(7) Existe y ∈ Y e ε ∈ R+ tais que


(y − ε, y + ε) ∩ X = ∅
mas X ⊂ Y.
(8) Para todo x ∈ X e ε ∈ R+ , existe a ∈ R e δ ∈ R+ tais que
(x − ε, x + ε) ⊃ (a − δ, a + δ) ⊂ R − X.

(9) Para todo x ∈ X, existe ε ∈ R+ tal que


(x − ε, x + ε) ∩ X = {x}.

(10) Existe uma sequência (xn ) em R e (εn ) em R+ tais que



X⊂ (xn − εn , x + εn ),
n∈N

mas para nenhum Ñ ⊂ N finito temos que



X⊂ (xn − εn , x + εn ).
n∈Ñ

218
Exercı́cio 5.43:
Se todo ponto de acumulação de X é unilateral, X é enumerável.

Seja D o conjunto dos elementos de X que são pontos de acumulação à direita de X.


Dado n ∈ Z seja
{aλ }λ∈Λ = [n, n + 1] ∩ D.
Para cada λ ∈ Λ, existe Iλ = (aλ − ελ , aλ ), ελ > 0, tal que Iλ ∩ X = ∅. Observemos que para quaisquer λ1 e λ2 ∈ λ,
λ1 ̸= λ2 , teremos que Iλ1 ∩ Iλ2 = ∅. Se Λ é não enumerável, existe ε > 0 tal que para cada n ∈ N existe λn tal que
ελn > ε. Assim,
∑∞
ελn = ∞
n=1

e como os Iλ′ s
são disjuntos e estão contidos em um intervalo de comprimento 1, obtemos uma contradição. Logo,
Λ é finito ou enumerável. E como ∪
D= [n, n + 1] ∩ D,
n∈Z

temos que D é enumerável.


De forma análoga, mostra-se que o conjunto E dos pontos de acumulação à esquerda de X é finito ou enumerável.
E como X − X ′ é finito ou enumerável pelo Corolário 2 do Teorema 8, temos que

X = (X − X ′ ) ∪ E ∪ D

é finito ou enumerável.

219
Exercı́cio 5.44:
Seja X ⊂ R um conjunto arbitrário. Toda cobertura de X por meio de abertos possui uma subcobertura enumerável.
(Teorema de Lindelöf).

Seja {Aλ }λ∈Λ uma cobertura aberta de X. Tomemos E = {xn }n∈N um subconjuntto denso em X. Para cada
n ∈ N fixemos
Rn = {ε ∈ R+ ; (xn − ε, xn + ε) ⊂ Aλ , λ ∈ Λ}.
Sabemos que Rn ̸= ∅. Logo, existe sup Rn = 2εn .
Além disso, existe ε ∈ Rn tal que εn < ε. Ou seja, existe ε ∈ R+ tal que

(x − ε, x + ε) ⊂ Aλ

para algum λ ∈ Λ. Existe, também n ∈ N tal que

xn ∈ (x − ε/4, x + ε/4).

Para qualquer
yn ∈ (xn − 3ε/4, xn + 3ε/4)
temos que
y ∈ (x − ε, x + ε).
Daı́, 3ε/4 ∈ Rn . E, assim,
3ε ε
εn ≥ > .
8 4
Logo,
x ∈ (xn − εn , xn + εn ) ⊂ Aλn .
Concluı́mos daı́ que {Aλn }n∈N ⊂ {Aλ }λ∈Λ é uma cobertura de X.

220
Exercı́cio 5.45:
Com a notação do Exercı́cio 4, prove:

a) Se A é compacto e B é fechado então A + B é fechado;


b) se A e B são compactos, então A + B e A.B são compactos;

c) se A é fechado e B é compacto, A.B pode não ser fechado.

(a) Seja x ∈ A + B e (cn = an + bn )n∈N uma sequência em A + B tendendo à x. A sequência (an )n∈N em A possui
uma subsequência (ank )k∈N tendendo a algum a ∈ A. Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que, para todo n ≥ n0 ,

|an + bn − x| < ε/2.

E também, existe k0 ∈ N tal que, para todo k ≥ k0 ,

|ank − a| < ε/2.

Assim, para
k1 = max{k0 , min{k ∈ N; nk ≥ n0 }}
e todo k ≥ k1 , temos que

|bnk − (x − a)| = |(ank + bnk − x) − (a − ank )|


≤ |ank + bnk − x| + |a − ank |
< ε/2 + ε/2 = ε.

Logo, lim bnk = x − a. Segue daı́ que x − a ∈ B e, consequentemente, x ∈ A + B. Concluı́mos daı́ que A + B
n→∞
é fechado.

(b) A + B é fecado pelo item (a). E, também, temos que

sup(A + B) = sup A + sup B < ∞

e
inf(A + B) = inf A + inf B > −∞.

Seja x ∈ A.B e (cn = an .bn )n∈N uma sequência em A.B tendendo à x. A sequência (an )n∈N em A possui uma
subsequ?ncia (an )n∈N1 tendendo à algum a ∈ A. Por sua vez a sequência (bn )n∈N1 possui uma subsequência
(bn )n∈N2 tendendo a algum b ∈ B. Assim,

x = lim an bn
n∈N2
= lim an lim bn
n∈N2 n∈N2
= a.b ∈ A.B

Segue daı́ que A.B é fechado. E, como

sup(A.B) = sup A. sup B < ∞

e
inf(A.B) = inf A. inf B > −∞,
temos que A.B é limitado. Portanto, A.B é compacto.
(c) Tome B = {0, 1, 1/2, ..., 1/n, ...} e A = Z. Temos que A.B não é fechado. (Vide exercı́cio 5.16)

221
Exercı́cio 5.46:
Obtenha coberturas abertas de Q e de [0, ∞) que não admitam subcoberturas finitas.

Temos que {(−n, n)}n∈N é uma cobertura aberta tanto de Q quanto de [0, +∞) que não admite subcobertura
finita.

222
Exercı́cio 5.47:
Considere as funções f, g, h do Exercı́cio 7. Mostre que para K e L compactos arbitrários, f (K), g(K), h(K), f −1 (L), g −1 (L)
e h−1 (L) são compactos.

Seja (xn ) uma sequência em f −1 (L) tendendo à x ∈ R. Temos que

lim f (xn ) = lim(axn + b)


= a lim xn + b
= ax + b = f (x)

Como f (xn ) é uma sequência convergente no fechado L, temos que f (x) ∈ L e, consequentemente, x ∈ f −1 (L).
Segue daı́ que f −1 (L). Segue daı́ que f −1 (L) é fechado.
Seja (yn = f (xn ))n∈N uma sequência em f (K). Como K é compacto, existe uma subsequência (xnk ) de (xn )
que converge à algum x ∈ K. Assim,

y = lim f (xn ) = lim f (xnk ) = f (x).

Ou seja, y ∈ f (K). Concluı́mos daı́ que f (K) é fechado.


Analogamente, prova-se que g −1 (L), g(K), h−1 e h−1 (K) são fechados.
Por fim, temos que
f (K) = aK + b
g(K) ⊂ K.K
e
K.K.K.
E como os conjuntos aK + b, K 2 e K 3 são limitados(ver exercı́cio 5.45(b)), temos que f (K), g(K) e h(K) são
compactos. E, também,
f (f −1 (L)) ⊂ L,
g(g −1 (L)) ⊂ L
e
h(h−1 (L)) ⊂ L.
Assim, pelas definições de f, g e h temos que se f −1 (L), g −1 ou h−1 (L) fosse limitado, terı́amos que f (f −1 (L)),
g(g (L)) ou h(h−1 (L)) seria limitado contradizendo o fato de L ser limitado.
−1

223
Exercı́cio 5.48:
As seguintes afirmações a respeito de um conjunto X ⊂ R são equivalentes:

(1) X é limitado;
(2) Todo subconjunto infinito de X possui ponto de acumulação (que pode não pertencer a X);

(3) Toda sequência de pontos de X possui uma subsequência convergente.

(1) ⇒ (2) Como X é limitado, temos que X é compacto. Então, todo conjunto infinito em X ⊂ X possui um
ponto de acumulação por ser subconjunto de um compacto.
(2) ⇒ (3) Seja (xn )n∈N uma sequência em X. Se o conjunto P = {xn }n∈N for finito, então para algum p ∈ P e
infinitos n ∈ N, temos que xn = p. Logo, existe uma subsequência de xn tendendo à p. Se P for infinito, então pela
hipótese, P possui um ponto de acumulação x. Logo, é possı́vel encontrar uma subsequência de (xn ) tendendo à x.
(3) ⇒ (1) Se X não fosse limitado, seria possı́vel encontrar uma sequência crescente e ilimitada em X. Tal
sequência não teria subsequência convergente. O que contradiz a hipótese.

224
Exercı́cio 5.49:
Seja X ⊂ R um conjunto compacto cujos pontos, com exceção de a = inf X e b = sup X, são pontos de acumulação
à direita e à esquerda. Então X = [a, b] ou X = {a, b}.

Como X é compacto, temos que a = inf X e b = sup X ∈ X. Suponhamos que X ̸= {a, b}. Então, existe c ∈ X
tal que a < c < b. Seja x ∈ (a, b). Se c ≤ x temos que s = sup([a, x] ∩ X) é tal que a < c ≤ s ≤ x. Assim, se s ̸= x
temos que s ∈ X − {a, b} e [s, x) ∩ X = {s}. Ou seja, s não seria um ponto de acumulação à direita. Absurdo.
Logo, c = s ∈ X. Do mesmo modo, se x ≤ c teremos que x ∈ X. Concluı́mos que X = [a, b].

225
Exercı́cio 5.50:

Se (Kλ )λ∈L é uma famı́lia qualquer de compactos, então Kλ é compacto. Se K1 , ..., Kn são compactos então
K1 ∪ K2 ∪ ... ∪ Kn é compacto. Se K é compacto e F é fechado, então K ∩ F é compacto.


• Kλ , λ ∈ Λ, compactos ⇒ λ∈Λ Kλ é compacto.
Como cada Kλ é fechado, temos que ∩Kλ é fechado. Além disso, temos que, dado algum λ0 ∈ Λ qualquer

inf(∩Aλ ) ≥ inf Aλ0 > −∞

e
sup(∩Aλ ) ≤ inf Aλ0 < ∞.

Daı́, ∩Aλ é limitado. Portanto, ∩Aλ é compacto.


∪n
• Ki , i = 1, 2, ..., n, compacto ⇒ i=1 Ki é compacto.
∪n
Como cada Ki é fechado, temos que i=1 Ki é fechado. Além disso,


n
sup( Ki ) = sup{sup Ki }ni=1 < ∞
i=1

e

n
inf( Ki ) = inf{inf Ki }ni=1 > −∞.
i=1
∪n ∪n
Daı́, i=1 Ki é limitado. Portanto, i=1 Ki é compacto.

• K é compacto e F é fechado ⇒ K ∩ F é compacto.


Como K e F são fechados, K ∩ F é fechado. Além disso,

sup(K ∩ F ) ≤ sup K < ∞

e
inf(K ∩ F ) ≥ inf K > −∞.

Daı́, K ∩ F é limitado. Portanto, K ∩ F é compacto.

226
Exercı́cio 5.51:
Seja X ⊂ R. Uma função f : X → R diz-se não-decrescente no ponto a ∈ X quando existe δ > 0 tal que
a − δ < x ≤ a ≤ y < a + δ ⇒ f (x) ≤ f (a) ≤ f (y). (Bem entendido: x, y ∈ X.) Mostre que se f é não-decrescente
em [a, b] (isto é, x, y ∈ [a, b], x ≤ y ⇒ f (x) ≤ f (y)).

Sejam x, y ∈ [a, b] com x ≤ y. Provaremos que f (x) ≤ f (y). Para cada α ∈ [x, y] existe δx ∈ R+ tal que
α − δα < z ≤ α ≤ w < α + δα implica
∪ f (z) ≤ f (α) ≤ f (z)(para z, w ∈ [a, b]).
Temos então que [x, y] ⊂ α∈[x,y] (α − δα , α + δα ). Asssim, existem α1 , α2 , ..., αn ∈ [x, y] tais que [x, y] ⊂
∪n
i=1 (αi − δα1 , αi + δα1 ). Podemos mostrar, por indução em n, que podemos decompor [x, y] como

[x, β1 − δβ1 ) ⊂ (β1 − δβ1 , β1 + δβ1 ),

[βi−1 − δβi−1 ) ⊂ (βi − δβi , βi + δβi ), i = 1, 2, ..., p − 1,


e
[βp−1 − δβp−1 , y] ⊂ (βp − δβp , βp + δβp )
para {βi }pi=1 ⊂ {αi }ni=1 e βi < βi+1 , i = 1, 2, ..., p − 1. Daı́ escolhemos γi ∈ R, i = 1, 2, ..., p − 1, tais que

βi+1 − δi+1 < γi < βi + δβi e βi < γi < βi+1 .

Assim,
f (x) ≤ f (γ1 ) ≤ f (γ2 ) ≤ ... ≤ f (γp−1 ) ≤ f (y).

227
Exercı́cio 5.52:
Seja [a, b] ⊂ ∪Aλ onde cada Aλ é aberto. Mostre que é possı́vel decompor [a, b] em um número finito de intervalos
justapostos de modo que cada um deles esteja contido em algum Aλ .


Pelo Teorema 2, cada Aλ pode ser decomposto como j∈N A(λ,j) , Nλ ⊂ N, onde os A′(λ,j) s são intervalos abertos
disjuntos.
Existe uma subcobertura {Bi }ni=1 ⊂ {A(λ.j) } de [a, b]. Provaremos que é possı́vel decompor [a, b] como

[a, x1 ) ⊂ C1 , [) ⊂ Ci , i = 2, ..., p, e [xp , b) ⊂ Cp+1 (5.7)

para {Ci }p+1


i=1 ⊂ {Bi }i=1 .
n

Se n = 1, temos o resultado diretamente. Suponhamos que o resultado seja válido para n ≤ k e que estejamos
no caso em que n = k + 1. Como a ∈ Bi , para algum i = 1, 2, ...n, tomemos C1 = Bi e assim

[sup C1 ] ⊂ ({Bj }nj=1 − {Bi }).

Pela hipótese indutiva, existem y1 , y2 , ..., yp e C̃1 , C̃2 , ..., C̃p que decompõe [sup C1 , b] como em (5.7). Assim,
tomando-se
x1 = sup C1
xi = yi , i = 2, ..., p + 1
Ci = C̃i−1 , i = 2, ..., p + 2
temos o que querı́amos.
Então, como cada intervalo da decomposição de [a, b] está contido em algum Ci e este por sua vez contido em
algum Aλ , temos o nosso resultado.

228
Exercı́cio 5.53:
No exercı́cio anterior, mostre que os intervalos nos quais se decompôs [a, b] podem ser tomados com o mesmo
comprimento.

No exercı́cio anterior obtivemos


C1 = [a, x1 )
Ci = [xi−1 , xi ), i = 2, ..., n,
e
Cn+1 = [xn , b]
tais que {Ci }ni=1
é uma partição de [a, b] sendo que Ci ⊂ Aλ1 .
Temos que xi ∈ Aλi +1 . Assim, para cada i = 1, ..., n, existe εi > 0 tal que

(xi − εi , xi + εi ) ⊂ Aλi +1 .

Tomemos q ∈ Z+ tal que


b−a
< min{εi }ni=1 .
q
Consideremos, agora, os intervalos
i−1 i
Ii = [a + (b − a), a + (b − a)), i = 1, ..., q.
q q
Assim, temos que, para cada p = 1, ..., q,
p−1 p
(i) a ou xi ≤ a + (b − a) < a + (b − a) < xi+1 ou b
q q
Ip ⊂ Ci+1 ⊂ Aλi +1

p−1 p
(ii) a + (b − a) < xi < a + (b − a)
q q

Ip ⊂ (xi − εi , xi + εi ) ⊂ Aλi +1 .

Concluimos daı́ que, para p = 1, ..., q, Ip ⊂ Aλ , para algum λ. E temos o nosso resultado.

229
Exercı́cio 5.54:
(Teorema de Baire) Se F1 , F2 , ..., Fn , ... são fechados com interior vazio então S = F1 ∪ F2 ∪ ... ∪ Fn ∪ ... tem interior
vazio. (É possı́vel mostrar que, dado arbitrariamente um intervalo aberto I, existe algum x ∈ I ∩ (R − S). Imite a
demonstração do Teorema 6, Capı́tulo III, onde se tem pontos em vez dos fechados Fn .)

Seja I um intervalo aberto. Como F tem interior vazio, devemos ter x1 ∈ I − F1 . E como F1 é fechado e I
aberto, existe ε1 > 0 tal que (x1 − ε, x1 + ε) ⊂ I ∩ (R − F ). Adiante, J1 = [x1 − ε/2, x1 + ε/2] ⊂ I ∩ (R − F1 ).
Definimos I1 = (x − 1 − ε/2, x1 + ε/2).
Da mesma forma podemos obter J2 compacto contido em I1 ∩ (R − F2 ) e que desta forma J2 ⊂ J1 .
Por indução, podemos tomar intervalos compactos ∩ Jn ⊂ Jn−1 , n ∈ N ∩ [2, ∞), tais que Fn ∩ Jn = ∅.
Logo, existe, pelo Teorema 12 do Capı́tulo V, x ∈ j∈N Jn . E como Jn ∩ Fn = ∅, x ∈ Fn e, consequentemente
x∈/ S.
Asim, I * S. E como I é arbitrário, segue daı́ que S tem interior vazio.

230
Exercı́cio 5.55:
O conjunto R − Q dos números irracionais não pode ser expresso como reunião enumerável de fechados. Analoga-
mente, Q não é intersecção de uma famı́lia enumerável de abertos.

Suponhamos, por absurdo, que existam conjuntos fechados Fn , n ∈ Z+ , em R tais que R − Q = ∪n∈Z+ Fn .
Como cada Fn está contido em R − Q e R − Q possui interior vazio, concluı́mos que Fn tem interior vazio, para
cada n ∈ Z+ .
Seja (qn )n∈Z+ uma enumeração do conjunto Q. Como o conjunto {qn }, para todo n ∈ Z+ , é fechado e tem
interior vazio, temos que R é uma união enumerável de conjuntos fechados com interior vazio pois

R = (R − Q) ∪ Q = (∪n∈Z+ Fn ) ∪ (∪n∈Z+ {qn }).

Assim, pelo Teorema de Baire, R é um conjunto de interior vazio (em R). Uma contradição. Portanto, não podem
existir fechados Fn , n ∈ Z+ , em R tais que R − Q = ∪n∈Z+ Fn .
Suponhamos, por absurdo, que existam abertos An , n ∈ Z+ , em R tais que Q = ∩n∈Z+ An .
Consideremos os fechados Fn := R − An , para todo n ∈ Z+ . Desta forma, terı́amos que

R − Q = R − ∪n∈Z+ An = ∪n∈Z+ (R − An ) = ∪n∈Z+ Fn .

Ou seja, desta forma R − Q seria uma união enumerável de conjuntos fechados. Uma contradição. Portanto, não
podem existir abertos An , n ∈ Z+ , em R tais que Q = ∩n∈Z+ An .

231
Exercı́cio 5.56:
∑n ∑∞
Se [a, b] ⊂ ∪ni=1 [ai , bi ], então b − a 6 i=1 (bi − ai ). Também [a, b] ⊂ ∪∞
n=1 [an , bn ] implica b − a 6 n=1 (bn − an ).
Finalmente, resultados análogos valem para (a, b) em vez de [a, b].


n ∑
n
(I) [a, b] ⊂ [ai , bi ] ⇒ b − a 6 (bi − ai )
i=1 i=1

Para todo k ∈ Z+ e i = 1, . . . , n, temos que


( )
1 1
[ai , bi ] ⊂ ai − , bi + .
2k 2k

Logo,

n n (
∪ )
1 1
[a, b] ⊂ [ai , bi ] ⊂ ai − , bi + .
i=1 i=1
2k 2k
Assim, pela Proposição 1 deste capı́tulo, segue que
∑n (( ) ( ))
1 1
b−a< bi + − ai −
i=1
2k 2k

e, consequentemente,
∑n ( ) ∑ n
1 n
b−a< bi − ai + = (bi − ai ) + .
i=1
k i=1
k
Portanto, ( )
∑n
n ∑
n
b − a 6 lim (bi − ai ) + = (bi − ai ).
k→∞
i=1
k i=1


∪ ∞

(II) [a, b] ⊂ [ai , bi ] ⇒ b − a 6 (bi − ai )
i=1 i=1

Para todo k e i ∈ Z+ , temos que


( )
1 1
[ai , bi ] ⊂ ai − , bi + .
2i+1 k 2i+1 k

Logo,

∪ ∞ (
∪ )
1 1
[a, b] ⊂ [ai , bi ] ⊂ ai − , bi + .
i=1 i=1
2i+1 k 2i+1 k
Assim, pela Proposição 2 deste capı́tulo, segue que
∑∞ (( ) ( ))
1 1
b−a< bi + − ai −
i=1
2i+1 k 2i+1 k

e, consequentemente,
∑∞ ( ) ∑ ∞ ∞ ∞
1 1∑ 1 ∑ 1
b−a< bi − ai + i = (bi − ai ) + i
= (bi − ai ) + .
i=1
2k i=1
k i=1 2 i=1
k

Portanto, ( )
∑∞ ∞

1
b − a 6 lim (bi − ai ) + = (bi − ai ).
k→∞
i=1
k i=1

232

n ∑
n
(III) (a, b) ⊂ [ai , bi ] ⇒ b − a 6 (bi − ai )
i=1 i=1

Temos que

n
[a, b] = [a, a] ∪ [b, b] ∪ [ai , bi ].
i=1

Assim, pelo item (I), temos que


n ∑
n
b − a 6 (a − a) + (b − b) + (bi − ai ) = (bi − ai ).
i=1 i=1


∪ ∑
n
(IV) (a, b) ⊂ [ai , bi ] ⇒ b − a 6 (bi − ai )
i=1 i=1

Temos que


[a, b] = [a, a] ∪ [b, b] ∪ [ai , bi ].
i=1

Assim, pelo item (I), temos que



∑ ∞

b − a 6 (a − a) + (b − b) + (bi − ai ) = (bi − ai ).
i=1 i=1

233
Exercı́cio 5.57:
Seja X ⊂ R. Uma função f : X → R chama-se localmente limitada quando para cada x ∈ X existe um intervalo
aberto Ix , contendo x, tal que f |Ix ∩X é limitada. Mostre que se X é compacto, toda função f : X → R localmente
limitada é limitada.

Sejam X um subconjunto compacto de R, f : X → R uma função localmente limitada, para cada x ∈ X, Ix


um intervalo contendo x e Ax > 0 tais que
|f (y)| < Ax ,
para cada y ∈ X ∩ Ix .
Como x ∈ Ix , para todo x ∈ X, temos que ∪
X= Ix .
x∈X

Sendo X um conjunto compacto, existem x1 ,. . . ,xn em X tais que

X = Ix 1 ∪ · · · ∪ Ix n .

Para A ∈ R definido por


A := max{Ax1 , . . . , Axn }
temos, para y ∈ Ixi , que
|f (y)| < Axi 6 A.
Ou seja,
|f (y)| < A
para todo y ∈ X = ∪ni=1 Ixi . Portanto, f é limitada.

234
Exercı́cio 5.58:
Dado X ⊂ R não-compacto, defina uma função f : X → R que seja localmente limitada mas não seja limitada.

Sendo X não-compacto, basta provarmos que existe uma função f : X → R que seja localmente mas não seja
limitada nos casos:

• X não é limitado;

Seja f : X → R dada por


f (x) = x,
para todo x ∈ X. Desta forma, para cada x ∈ X, o intervalo

Ix = (x − 1, x + 1)

é tal que f |X∩Ix é limitada pois


x − 1 6 f (y) 6 x + 1,
para todo y ∈ Ix ∩ X.
Por outro lado, f ainda não é limitada já que se existe A > 0 tal que

|f (x)| < A,

para todo x ∈ X, terı́amos que


|x| < A,
para todo x ∈ X, contradizendo o fato de X ser ilimitado.

• X não é fechado;

Como X não é fechado, existe a ∈ X ′ − X. Definimos f : X → R por


1
f (x) = ,
a−x
para todo x ∈ X.
Desta forma, para cada x ∈ X, o intervalo
( )
|x − a| |x − a|
Ix = x− ,x +
2 2
é tal que f |X∩Ix é limitada. De fato, para y ∈ Ix , temos que
|y − a| = |(x − a) + (y − x)|
> |x − a| − |y − x|
> |x − a| − |x−a|
2
> |x−a|
2

e, consequentemente,
1 2
|f (y)| = 6 .
|y − a| |x − a|
E f não é limitada já que, dado A > 0 existe x ∈ X tal que

|f (x)| > A.

De fato, como a ∈ X ′ − X, existe x ∈ X tal que


1
|x − a| <
A
e, desta forma,
1
|f (x)| = > A.
|x − a|

235
Exercı́cio 5.59:
Sejam C compacto, A aberto e C ⊂ A. Mostre que existe ε > 0 tal que x ∈ C, |y − x| < ε ⇒ y ∈ A.

Como A é aberto e A ⊃ C, temos que, para todo x ∈ C, existe εx > 0 tal que

(x − 2εx , x + 2εx ) ⊂ A.

A famı́lia
{(x − εx , x + εx ) : x ∈ C}
é uma cobertura aberta para o conjunto C. Como C é compacto, existem x1 ,. . . ,xn ∈ C tais que

n
C⊂ (xi − εxi , xi + εxi )
i=1

Tomemos
ε := min{εx1 , . . . , εxn } > 0.
Supondo que x ∈ C e |x − y| < ε temos que y ∈ A. De fato, como x ∈ C, temos que

x ∈ (xk − εxk , xk + εxk ),

para k = 1,. . . ,n − 1 ou n. Assim,

|xk − y| 6 |xk − x| + |x − y| < εxk + ε 6 2εxk

e, consequentemente,
y ∈ (xk − 2εxk , xk + 2εxk ) ⊂ A.

236
Exercı́cio 5.60:
Dada uma sequência (xn ), seja Xn = {xn , xn+1 , . . . } para todo n ∈ Z+ . Mostre que ∩∞
n=1 Xn é o conjunto dos
valores de aderência de (xn ).

Seja A o conjunto dos valores de aderência de (xn ).


Provaremos separadamente que A ⊂ ∩∞ ∞
n=1 Xn e que ∩n=1 Xn ⊂ A.
Seja a ∈ A. Então, existe uma subsequência (xnk )k∈Z+ de (xn ) tal que limk→∞ xnk = a. Dado n ∈ Z+ , temos
que existe k0 ∈ Z+ tal que
n 6 nk0 < nk0 +p ,
para todo p ∈ Z+ . Assim, (xnk0 +p )p∈Z+ é uma sequência em Xn tal que

lim xk0 +p = lim xk = a.


p→∞ k→∞

Desta forma, a ∈ Xn , para n ∈ Z+ arbitrário. Ou seja, a ∈ ∩∞


n=1 Xn .
Seja a ∈ ∩∞n=1 Xn . Provaremos que existe uma subsequência (xnk )k∈Z+ de (xn )n∈Z+ tal que limk→∞ xnk = a.
Ou seja, que a ∈ A. Comecemos observando que para todo m e k ∈ Z+ existe nk ∈ Z+ tal que
1
nk > m e |xnk − a| < . (5.8)
k
De fato, como a ∈ Xm+1 e Xm+1 = {xn : n > m + 1}, temos que existe xnk ∈ Xm+1 tal que |xnk − a| < k1 e,
desta forma, nk satisfaz (5.8). Assim, pelo princı́pio da definição recursiva, fica bem definida a sequêcia de ı́ndices
(nk )k∈Z+ tal que
n1 := 1
e { }
1
nk := min n ∈ Z+ : n > nk−1 , |xn − a| < ,
k
para k > 1 em Z+ . Logo, a subsequência (xnk )k∈Z+ é tal que

1
|xnk − a| 6 ,
k
para todo k ∈ Z+ , e, consequentemente,
lim xnk = a.
k→+∞

237
Exercı́cio 5.61:
Uma famı́lia de conjuntos (Kλ )λ∈L chama-se uma cadeia quando, para quaisquer λ e µ ∈ L tem-se Kλ ⊂ Kµ ou
Kµ ⊂ Kλ . Prove que se (Kλ )λ∈L é uma cadeia não vazia de compactos não-vazios então a interseção K = ∩λ∈L Kλ
é não vazia (e compacta).

Primeiramente, mostraremos que, dada um conjunto finito L′ contido em L, o conjunto




λ∈L′

não é vazio. Procederemos por indução no número de elementos de L′ . Para L′ = {µ}, temos a afirmação
trivialmente já que ∩
Kλ = Kµ ̸= ∅.
λ∈L′
Suponhamos, como hipóteses de indução, que, para cada conjunto finito L′′ de cardinalidade menor ou igual que
n ∈ Z+ , seja verdade que ∩
Kλ ̸= ∅.
λ∈L′′
Sejam L um subconjunto de L com cardinalidade n + 1 e λ0 ∈ L′ . Definimos s conjuntos

L′− := {λ ∈ L′ \{λ0 } : Kλ ⊂ Kλ0 }


e
L′+ := {λ ∈ L′ \{λ0 } : Kλ0 ⊂ Kλ }.
Temos que (∩ ) ∩ ∩
Kλ0 ∩ λ∈L′+ Kλ = λ∈L′+ (Kλ ∩ Kλ0 ) = λ∈L′+ Kλ0
= Kλ0
e, como L′− tem cardinalidade menor ou igual que n,
(∩ ) ∩
Kλ0 ∩ λ∈L′− Kλ = ′ (Kλ ∩ Kλ0 )
∩λ∈L−
= λ∈L′− Kλ
̸= ∅.
Assim, ((∩ )) (∩ )

λ∈L′ Kλ =Kλ0 ∩ λ∈L′+ Kλ ∩ λ∈L′− Kλ
(∩ )
= Kλ0 ∩ ′
λ∈L− K λ
̸ = ∅.
Portanto, provamos a afirmação do inı́cio do parágrafo.
Fixemos λ0 ∈ L.
Suponhamos, por absurdo, que ( )
∩ ∩
∅= Kµ = Kλ0 ∩ Kλ .
λ∈L λ∈L
Desta forma terı́amos que ∪
Kλ0 ⊂ (R\Kλ ),
λ∈L
ou seja, {R\Kλ }λ∈L seria uma cobertura de Kλ0 por conjuntos abertos em R. Como Kλ0 é compacto, existiria um
subconjunto finito L′ de L tal que ∪
Kλ0 ⊂ (R\Kλ ).
λ∈L′
Porém, isso implicaria que ( )
∩ ∩
Kλ = Kλ0 ∩ Kλ = ∅.
λ∈L′ ∪{λ0 } λ∈L′

Contradizendo, já que L′ ∪ {λ0 } é finito, o que foi provado no primeiro parágrafo desta demonstração.

238
Exercı́cio 5.62:
Se X ⊂ R é não-enumerável, então X ′ também o é.

Todos os pontos de X\X ′ são isolados. De fato, dado x ∈ X\X ′ , temos que x não é um ponto de acumulação
de X e, consequentemente, existe ε > 0 tal que X ∩ (x − ε, x + ε) = {x}.
Como todos os pontos de X\X ′ são isolados, temos, pelo corolário 2 do Teorema 8, que este conjunto é
enumerável.
O conjunto X ∩ X ′ não é enumerável. De fato, como X = (X\X ′ ) ∪ (X ∩ X ′ ), X não é enumerável e X\X ′ é
enumerável, devemos ter que X ∩ X ′ é não enumerável.
Por fim, como X ′ contém o conjunto não enumerável X ∩ X ′ , devemos ter que X ′ é não enumerável.

239
Exercı́cio 5.63:
Para todo X ⊂ R, X − X ′ é enumerável.

Todos os pontos de X − X ′ são isolados. De fato, dado x ∈ X − X ′ , temos que x não é um ponto de acumulação
de X e, consequentemente, existe ε > 0 tal que X ∩ (x − ε, x + ε) = {x}.
Como todos os pontos de X − X ′ são isolados, temos, pelo corolário 2 do Teorema 8, que este conjunto é
enumerável.
Por fim, como X = X ∪ X ′ , temos que X − X ′ = X − X ′ . Logo, X − X ′ é enumerável.

240
Exercı́cio 5.64:
Um número real a chama-se ponto de condensação de um conjunto X ⊂ R quando todo intervalo aberto de centro
a contém uma infinidade não-enumerável de pontos de X. Seja F0 o conjunto dos pontos de condensação de um
conjunto F ⊂ R. Prove que F0 é um conjunto perfeito (isto é, fechado, sem pontos isolados) e que F − F0 é
enumerável. Conclua daı́ o Teorema de Bendixon: todo fechado da reta é reunião de um conjunto perfeito com um
conjunto enumerável.

(I) F0 é fechado:

Mostraremos que todo a ∈ F0 é um ponto de condensação de F . Isto é, que, para um ε > 0 arbitrário,
(a − ε, a + ε) ∩ F não é enumerável.
De fato, sendo a um elemento do feixo de F0 , devemos ter que existe x ∈ (a − ε, a + ε) ∩ F0 . Assim, para ε̃ > 0
tal que
(a − ε, a + ε) ⊃ (x − ε̃, x + ε̃),
temos que
(a − ε, a + ε) ∩ F ⊃ (x − ε̃, x + ε̃) ∩ F.
Como x é um ponto de condensação de F , (x − ε̃, x + ε̃) ∩ F não é enumerável. Logo, (a − ε, a + ε) ∩ F também
não é enumerável.

(II) Se I é um intervalo finito tal que F0 ∩ I = ∅ então F ∩ I é finito ou infinito enumerável

Suponhamos que F ∩ I infinito e não é enumerável. Provaremos que F0 ∩ I ̸= ∅.


Definiremos uma sequência de intervalos compactos ([an , bn ])n∈Z+ contidos em I tais que, para todo n ∈ Z+ ,

[an , bn ] ∩ F é infinito e não é enumerável, (5.9)

[an , bn ] ⊃ [an+1 , bn+1 ] (5.10)


e
b−a
bn − an = . (5.11)
2n−1
Verificaremos que a sequência ([an , bn ])n∈Z+ fica bem definida por

[a1 , b1 ] := I

e  [ ] [ ]

 a , bn−1 −an−1
, se a , bn−1 −an−1
∩F
 n−1 2 n−1 2
[an , bn ] := [ ] é infinito e não é enumerável; (5.12)


 bn−1 −an−1 , bn−1 , caso contrário,
2

para n > 1, e possui as propriedades (5.9), (5.10) e (5.11). O intervalo [a1 , b1 ] = I, satisfaz (5.9) e (5.11) pelas
hipóteses sobre I. Suponhamos que os intervalos [a1 , b1 ], . . . , [an−2 , bn−2 ] e [an−1 , bn−1 ] estejam bem definidos por
(5.12) e satisfazem as condições (5.9), (5.10) e (5.11). Como [an−1 , bn−1 ] ∩ F é infinito e não é enumerável, temos
que [an−1 , (bn−1 − an−1 )/2] ou [(bn−1 − an−1 )/2, bn−1 ] são infinitos e não são enumeráveis. Desta forma, (5.12)
define [an , bn ] de forma que (5.9) e (5.10) são prontamente satisfeitos. Também temos que [an , bn ] satisfaz (5.11)
pois
bn−1 − an−1 b−a
bn − an = = n−1 .
2 2
Assim, temos, pelo Principio da Definição Indutiva, que existe uma sequência de intervalos compactos ([an , bn ])n∈Z+
contidos em I que satisfaz (5.9), (5.10) e (5.11).
Pelo Teorema 12 do Capı́tulo 5, a propriedade (5.10) da sequência de compactos ([an , bn ])n∈Z+ implica que
existe x0 ∈ ∩∞ n=1 [an , bn ]. Mostraremos que x0 ∈ F0 .
Seja ε > 0. Para algum n ∈ Z+ , temos que
b−a
ε > n−1 .
2

241
Como x0 ∈ [an , bn ], segue que
(x0 − ε, x0 + ε) ⊃ [an , bn ].
Logo, (x0 − ε, x0 + ε) ∩ F é infinito e não enumerável já que

(x0 − ε, x0 + ε) ∩ F ⊃ [an , bn ] ∩ F

e [an , bn ] ∩ F é infinito e não é enumerável por (5.9). Com isso, devemos ter que x0 ∈ F0 .
Portanto, x0 ∈ I ∩ F0 = [a1 , b1 ] ∩ F0 .

(III) F0 não possui pontos isolados

Suponhamos que exista x0 em F0 e ε > 0 tais que (x0 −2ε, x0 +2ε)∩F0 = {x0 }. Provaremos que (x0 −ε, x0 +ε)∩F
é finito ou infinito enumerável.
Para todo n ∈ Z+ , a inclusão
( ) [ ]
ε ε
x0 − ε, x0 − = x0 − ε, x0 − ⊂ (x0 − 2ε, x0 )
n+1 n+1

implica que
( )
ε
x0 − ε, x0 − ∩ F0 = ∅.
n+1
Assim, pelo item (II), temos que ( )
ε
x0 − ε, x0 − ∩F
n+1
é finito ou infinito enumerável.
Analogamente, ( )
ε
x0 + , x0 + ε ∩ F
n+1
é finito ou infinito enumerável, para todo n ∈ Z+ .
Segue que
(x0 − ε,(x0 + ε) ∩ F = ) ( )
= ((x0 − ε,(x0 ) ∩ F ∪ ({x0 })∩ F ) )
∪ (x0 , x0 + ε) ∩ F
= ∪n∈Z+ x0 − ε, x0 − n+1
ε
∩ F ∪ ({x0 } ∩ F )
( ( ) )
∪ ∪n∈Z+ x0 + n+1ε
, x0 + ε ∩ F

é finito ou infinito enumerável já que


(( ) )
ε
∪n∈Z+ x0 − ε, x0 − ∩F
n+1
e (( ) )
ε
∪n∈Z+ x0 + , x0 + ε ∩ F
n+1
são uniões enumeráveis de conjuntos finitos ou infinitos enumeráveis.

(IV) F − F0 é enumerável

Para cada x ∈ F − F0 , o conjunto

{ε ∈ R; 0 < ε < 1 e (x − ε, x + ε) ∩ F é finito ou infinito enumerável}

não é vazio e é limitado. Logo, podemos definir, para cada x ∈ F − F0 ,

εx := sup{ε ∈ R; 0 < ε < 1 e (x − ε, x + ε) ∩ F é finito ou infinito enumerável}.

Desta forma,
(x − εx , x + εx ) ∩ F

242
é finito ou infinito enumerável.
Seja E um subconjunto denso e finito ou infinito enumerável de F −F0 (cuja existência é garantida pelo Teorema
6 do Capı́tulo 5). Provaremos que
F − F0 ⊂ ∪e∈E (e − εe , e + εe ) ∩ F.
E, deste fato, concluiremos que F − F0 é finito ou infinito enumerável já que cada (e − εe , e + εe ) ∩ F , para e ∈ E,
é finito ou infinito enumerável e E é finito ou infinito enumerável.
Seja x ∈ F − F0 . Como E é denso em F − F0 , existe e ∈ (x − εx /2, x + εx /2). Desta forma

(e − εx /2, e + εx /2) ∩ F ⊂ (x − εx , x + εx ) ∩ F

é finito ou infinito enumerável. Logo, pela definição de εe , temos que εe > εx /2. Assim,

x ∈ (e − εx /2, e + εx /2) ⊂ (e − εe , e + εe ).

Portanto, concluimos que F − F0 ⊂ ∪e∈E (e − εe , e + εe ) ∩ F .

(V) Teorema da Bendixon: Todo fechado de R é uma união de um conjunto perfeito e um conjunto enumerável.

Seja F um conjunto fechado. Denotemos por F0 o conjunto dos seus pontos de condensação.
Todo ponto de condensação de F é um ponto de acumulação de F . De fato, para todo x ∈ F0 , temos que
(x − ε, x + ε) ∩ F é infinito e enumerável, para todo ε > 0. Logo, para todo x ∈ F0 , temos que (x − varepsilon, x +
ε) ∩ (F − {x}) ̸= ∅, para todo ε > 0. Assim, todo ponto de F0 é um ponto de acumulação de F . Isto é, F0 ⊂ F ′ .
Como
F0 ⊂ F ′ ⊂ F,
Temos que F = F0 ∪ (F − F0 ). Assim, pelos intens (I), (III) e (IV), temos que F é a união do conjunto perfeito F0
e o conjunto finito ou infinito enumerável F − F0 .

243
Capı́tulo 6

Limites de Funções

244
Exercı́cio 6.01:
Na definição do lim f (x), retire a exigência de ser x ̸= a. Mostre que esta nova definição coincide com a anterior
x→a
no caso a ∈
/ X mas, para a ∈ X, o novo limite existe se, e somente se, o antigo existe e é igual a f (a).

Seja L = lim f (x) pela definição antiga.


x→a

• a∈
/X
Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que 0 < |x − a| < δ, x ∈ X, implica |f (x) − L| < ε. Então, como a ∈ X, se
|x − a| < δ, x ∈ X, então |f (x) − L| < ε. Portanto, ainda temos L = lim f (x).
x→a

• a ∈ X e f (a) ̸= L.
Tomando ε = |L − f (a)| > 0 temos que para todo δ > 0 existe x ∈ X tal que |x − a| < δ e |f (x) − L| ≥ ε ( a
saber x = a). Portanto, lim f (x) não mais existe.

• a ∈ X e f (a) = L
Temos que dado ε > 0 existe δ > 0 tal que 0 < |x − a| < δ, x ∈ X, implica |f (x) − L| < ε. Mas, além disso,
|f (a) − L| = 0 < ε. Assim, para todo x ∈ X tal que |x − a| < δ temos que |f (x) − L| < ε. Portanto, ainda
temos lim f (x) = L.

Por fim, se lim f (x) = L pela definição nova, então f e L satisfazem também as condições da definição antiga.
x→a
Logo, lim f (x) = L também pela definição antiga.
x→a

245
Exercı́cio 6.02:
Considere o seguinte erro tipográfico na definição de limite:

∀ε > 0∃δ > 0; x ∈ X, |x − a| < ε ⇒ |f (x) − L| < δ.

Mostre que f cumpre esta condição se, e somente se, é limitada em qualquer intervalo limitado de centro a. No
caso afirmativo, L pode ser qualquer número real.

(⇒) Seja I um intervalo de comprimento ε e centrado em a. Então,

(a − ε, a + ε) ⊃ I

e, pela hipótese, existe δ > 0 tal que


|f (x)| − |L| ≤ |f (x) − L| < δ,
para todo x ∈ (a − ε, a + ε). Logo, para todo x ∈ I temos que

|f (x)| < δ + |L|

e, consequentemente, f é limitada em I.
(⇐) Seja ε > 0. Existe A ∈ R tal que para todo x ∈ (a − ε, a + ε) temos que |f (x)| < A. Daı́ temos que para
todo x ∈ R tal que |x − a| < ε temos

|f (x) − L| ≤ |f (x)| + |L| < A + |L|.

Assim, tomando δ = A + |L| teremos a condição que querı́amos. E como ε é arbitrário a afirmação está provada.

246
Exercı́cio 6.03:
Seja X = Y ∪ Z, com a ∈ Y ′ ∩ Z ′ . Dada f : X → R, tomemos g = f |Y e h = f |Z. Se lim g(x) = L e lim h(x) = L
x→a x→a
então lim f (x) = L.
x→a

Seja ε > 0 dado. Então existem δ1 e δ2 positivos tais que se

x ∈ (a − δ1 , a + δ1 ) ∩ Y

ou
x ∈ (a − δ2 , a + δ2 ) ∩ Z
implicam
|f (x) − L| < ε.
Fixemos δ = min{δ1 , δ2 }.
Seja
x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ X.
Temos que x ∈ Y ou x ∈ Z. No primeiro caso

x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ Y ⊂ (a − δ1 , a + δ1 ) ∩ Y.

Isso implica que


|f (x) − L| < ε.
Analogamente, no segundo caso, também temos que

|f (x) − L| < ε.

Concluı́mos, assim, que em todo caso

|x − a| < δ, x ∈ X ⇒ |f (x) − L| < ε.

Como ε é arbitrário, então temos o resultado.

247
Exercı́cio 6.04:
1
Seja f : R\ → R definida por f (x) = . Então lim f (x) = 0 e lim f (x) = 1.
1 + e1/x x→0+ x→0−

1
Seja f : R \ {0} → R \ {0} dada por f1 (x) = . Temos então que
x
lim f1 (x) = +∞ e lim− f1 (x) = −∞.
x→0+ x→0

Seja f2 : R → R \ {0} dada por f2 (y) = 1 + ey . Então,

lim f2 (y) = +∞ e lim f2 (y) = 1.


y→+∞ y→−∞

1
Por fim, seja f3 : R\ → R dada por f3 (z) = . Então
z
lim f3 (z) = 0 e lim f3 (z) = 1.
z→+∞ z→1

Pelo Teorema 9, temos que


lim f (x) = lim+ (f3 ◦ f2 ◦ f1 )(x) = 0
x→0+ x→0
e
lim f (x) = lim− (f3 ◦ f2 ◦ f1 )(x) = 1.
x→0− x→0

248
Exercı́cio 6.05:
Seja f (x) = x + 10 sin x para todo x ∈ R. Então lim f (x) = +∞ e lim f (x) = −∞. Prove o mesmo para a
x→+∞ x→−∞
x
função g(x) = x + sin x.
2

Da relação
−1 ≤ sin x ≤ 1,
para todo x ∈ R, segue a relação
x x x 3x
= x − ≤ g(x) ≤ x + = ,
2 2 2 2
para todo x ∈ R.
2
Seja A ∈ R arbitrário. Tomemos B = 2A e C = A. Se x ∈ R e x > B = 2A, temos que
3
x
g(x) ≥ > A.
2
E como B só depende de A, segue que
lim g(x) = +∞.
x→+∞

2
Se x ∈ R e x < C = A, temos que
3
3
g(x) ≤ x < A.
2
E como C só depende de A, segue que
lim g(x) = −∞.
x→−∞

249

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