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Tópicos de Álgebra - Notas de Aula

Ivo Terek*

30 de maio de 2018

Notas de aula da disciplina MAT5797 - Tópicos de Álgebra ministrada


no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, no
primeiro semestre de 2018. As resoluções de alguns exercícios das listas
estarão espalhadas pelo texto, sem compromisso algum (não farei todos).
Agradeço em especial à Janaína Baldan e ao Jonas Gomes por me aju-
darem a manter estas anotações completas, e ao André Gomes pelas várias
correções feitas. Quaisquer erros aqui são de minha única responsabili-
dade.

Sumário
1 Aneis e Álgebras (05/03) 4
1.1 Aneis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Anel quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Álgebras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2 Álgebras livres, geradores e relações (08/03) 10

† Algumas coisas (sobre aneis) da Lista 1 15

3 Mais exemplos (13/03) 21

4 Módulos (15/03) 26
4.1 Módulos e homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.2 Módulo quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
* terek@ime.usp.br

1
5 Submódulos, somas diretas e sequências exatas (20/03) 31
5.1 Submódulos gerados por conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.2 Sequências exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.3 Soma direta interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

6 Continuando com somas e produtos diretos (03/04) 38


6.1 Produto direto de módulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
6.2 Soma direta de módulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.3 Somas diretas internas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

† Algumas coisas (sobre módulos) da Lista 2 44

7 Módulos livres (05/04) 50

8 Produto tensorial (10/04) 55

† Algumas coisas (sobre produtos tensoriais) da Lista 2 63

9 Mais produtos tensoriais (12/04) 68


9.1 Isomorfismos com produtos tensoriais . . . . . . . . . . . . . 68
9.2 Bimódulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

10 Começando com categorias (17/04) 77


10.1 Estruturas em Hom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
10.2 Categorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

11 Funtores, Hom( M, _) (19/04) 85

12 Módulos projetivos e o funtor tensor (24/04) 89


12.1 Módulos projetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
12.2 O funtor ⊗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

† Algumas coisas (sobre funtores) da Lista 2 96

13 Módulos planos (26/04) 99


13.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
13.2 Localização central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

14 Mais localização (03/05) 104


14.1 Propriedade universal e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . 104
14.2 Localização de módulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

15 Módulos Injetivos (08/05) 111

2
16 Injetivos versus Divisíveis (15/05) 113

17 Complexos (17/05) 117

18 Homologia (22/05) 122

19 Sequências exatas longas (24/05) 126

3
1 Aneis e Álgebras (05/03)
1.1 Aneis
Definição 1.1 (Anel). Um conjunto R munido de duas operações binárias

+ : R×R → R e · : R×R → R
( a, b) 7→ a + b ( a, b) 7→ ab
satizfazendo
(i) a + b = b + a, para todos a, b ∈ R;

(ii) a + (b + c) = ( a + b) + c, para todos a, b, c ∈ R;

(iii) Existe 0 ∈ R tal que a + 0 = a, para todo a ∈ R;

(iv) Para todo a ∈ R existe (− a) ∈ R tal que a + (− a) = 0.

(v) a(bc) = ( ab)c, para todos a, b, c ∈ R;

(vi) Existe 1R ∈ R tal que a · 1R = 1R · a = a, para todo a ∈ R;

(vii) a(b + c) = ab + ac e ( a + b)c = ac + bc, para todos a, b, c ∈ R;


chama-se anel. Se R satisfizer também
(viii) ab = ba, para todos a, b ∈ R,
diremos que R é um anel comutativo.
Observação. Ou seja, R munido apenas da operação + é um grupo. A
notação usual “R” vem do inglês “ring”.

Todos os aneis neste curso são aneis com unidade!


Definição 1.2 (Subanel). Um subanel de um anel R é um subconjunto S de
R tal que
(i) 0 ∈ S;

(ii) para todos a, b ∈ S, a − b ∈ S;

(iii) 1R ∈ S;

(iv) para todos a, b ∈ S, ab ∈ S.

4
Exemplo 1.3. Temos que Z é subanel de Q, mas 2Z não é subanel de Z.
Definição 1.4 (Ideal). Um subconjunto I de um anel R é um ideal à esquerda
(resp., direita) se
(i) 0 ∈ I;

(ii) para todos a, b ∈ I, a − b ∈ I;

(iii) para todos a ∈ I e x ∈ R, xa ∈ I (resp. ax ∈ I).


Um subconjunto I de um anel R é um ideal (bilateral) se for um ideal à
esquerda e à direita. Neste caso, notamos I  R.
Observação. Se I é um ideal de R com 1R ∈ I, então I = R, pois para todo
x ∈ R tem-se x = x · 1R ∈ I.

1.2 Anel quociente


Dado um anel R e um ideal I  R, define-se em R a seguinte relação de
equivalência:
a ∼ b ⇐⇒ a − b ∈ I.
As classes de equivalência desta relação são os conjuntos
.
a + I = { a + c | c ∈ I }.
.
O conjunto das classes de equivalência, R/I = { a + I | a ∈ R}, tem uma
estrutura natural de anel dada por
. .
( a + I ) + (b + I ) = ( a + b) + I e ( a + I )(b + I ) = ( ab) + I,

em que 0R/I = 0 + I e 1R/I = 1R + I.


Observação. Deve ser verificado que estas definições independem das es-
colhas dos representantes das classes. O anel quociente R/I herda algu-
mas propriedades de R. Por exemplo, se R é comutativo, então R/I tam-
bém o é.

1.3 Homomorfismos
Definição 1.5 (Homomorfismo). Sejam R e S aneis. Um homomorfismo de
aneis de R em S é uma função f : R → S tal que
(i) f ( a + b) = f ( a) + f (b);

5
(ii) f ( ab) = f ( a) f (b);

(iii) f (1R ) = 1S .
Definem-se ainda:
• o núcleo de f por ker f = { a ∈ R | f ( a) = 0S } = f −1 (0), e

• a imagem de f por Im f = { f ( a) | a ∈ R} = f ( R).


Observação.
• Na definição acima, note que o símbolo + está sendo para denotar
as operações em ambos os aneis. Isto é um abuso comum que não
deve causar confusão.

• São os morfismos na categoria dos aneis com unidade.

• ker f  R.

• Im f é um subanel de S.
Definição 1.6. Um homomorfismo de aneis f : R → S é chamado um iso-
morfismo se for bijetor. Se existir um isomorfismo f : R → S, escrevemos
R∼= S e dizemos que R e S são isomorfos.
Observação. Está implícito na definição acima que se “R é isomorfo a S
então S é isomorfo a R”. Com efeito, se f : R → S é um isomorfismo de
aneis, então f −1 : S → R também o é.
Exercício.
(a) a identidade IdR : R → R é um isomorfismo;

(b) a composta de isomorfismos é um isomorfismo;

(c) a inversa de um isomorfismo é um isomorfismo.

(d) se I  R, então

π : R → R/I
a 7→ a + I

é um homomorfismo sobrejetor (chamado canônico);

(e) um homomorfismo de aneis f : R → S é injetor se e somente se ker f =


{0 R }.

6
Teorema 1.7 (Teorema do homomorfismo). Sejam f : R → S um homo-
morfismo e I  R tal que I ⊆ ker f . Então existe um único homomorfismo
f : R/I → S tal que f ◦ π = f , onde π : R → R/I é o homomorfismo sobrejetor
canônico. Além disto:
.
• ker f = ker f /I = { a + I | a ∈ ker f } e

• Im f = Im f .

Em particular, f é injetor se e somente se I = ker f .

Demonstração: Esboço. Definimos f usando a conclusão desejada f ◦ π =


.
f , ou seja, f ( a + I ) = f ( a).

• f está bem definida, pois I ⊆ ker f ;

• f é um homomorfismo, pois f o é;

• f ◦ π = f é então trivial;

• f é o único homomorfismo de R/I em S satisfazendo f ◦ π = f pois


π é sobrejetora (e portanto pode ser cancelada à direita).

O resto é exercício.
f
R S

π
f

R/I

Figura 1: f desce ao quociente R/I como f se e só se I ⊆ ker f .

Corolário 1.8 (Teorema do isomorfismo). Se f : R → S é um homomorfismo


de aneis, então R/ker f ∼
= Im f .
Demonstração: Faça I = ker f no resultado anterior.

7
1.4 Álgebras
Definição 1.9. Seja k um anel comutativo. Uma k-álgebra é um anel R dado
com uma “multiplicação por escalar”

k×R → R
(λ, a) 7→ λa

satisfazendo
(i) (λµ) a = λ(µa), para todos λ, µ ∈ k, a ∈ R;

(ii) (λ + µ) a = λa + µa, para todos λ, µ ∈ k, a ∈ R;

(iii) λ( a + b) = λa + λb, para todos λ ∈ k, a, b ∈ R;

(iv) 1k a = a, para todo a ∈ R;

(v) λ( ab) = (λa)b = a(λb), para todos λ ∈ k, a, b ∈ R.


O anel k será chamado o anel de coeficientes da álgebra.
Observação.
• Essencialmente, R é um k-módulo, melhorado com a condição (v).

• Na definição acima, se k não é necessariamente comutativo, diremos


apenas que R é um k-anel.

• Sejam k um anel comutativo e R um anel. Então

R é uma k-álgebra ⇐⇒ existe um homomorfismo k → Z ( R),


.
onde Z ( R) = { a ∈ R | ab = ba para todo b ∈ R} é o centro1 de R.
Com efeito, se ϕ : k → R é dado por ϕ(λ) = λ1R , então ϕ é um ho-
momorfismo de aneis, e Im ϕ ⊆ Z ( R) pela condição (v) da definição
de k-álgebra. Reciprocamente, se ϕ : k → R á um homomorfismo
com Im ϕ ⊆ Z ( R), então k × R 3 (λ, a) 7→ ϕ(λ) a ∈ R confere a R
uma estrutura de k-álgebra.
Se R é apenas um k-anel, vale uma caracterização como acima, mas
não tem-se mais Im ϕ ⊆ Z ( R).

• Se k é um corpo, uma k-álgebra é também um espaço vetorial sobre k.


Neste caso, podemos falar em dimk R.
1 Note que Z ( R) é um subanel comutativo de R.

8
• Todo anel é uma Z ( R)-álgebra.
• Todo anel R é uma Z-álgebra. A aplicação Z → Z ( R) definida por


 1| + ·{z
· · + 1}, se n > 0,

 n vezes


0R , se n = 0,
(−1) + · · · + (−1), se n < 0




| {z }
−n vezes
é um homomorfismo. Em outros termos, a multiplicação Z × R → R
é dada por 
|a + ·{z
 · · + }a, se n > 0,

 n vezes


0R , se n = 0,
(− a) + · · · + (− a), se n < 0.





| {z }
−n vezes
• Se R é uma k-álgebra, e I é um ideal “de anel” de R, então também é
um ideal “de álgebra”. Com efeito, se a ∈ I e λ ∈ k, então λ · a ∈ I,
uma vez que
λ · a = λ · (1R a) = (λ · 1R ) a ∈ I,
pois λ · 1R ∈ R. Se estivéssemos trabalhando com aneis sem unidade,
há uma diferença! Isto nos garante que quocientes também terão
uma estrutura de k-álgebra.
Definição 1.10. Se R e S são k-álgebras, um homomorfismo de k-álgebras de
R em S é um homomorfismo de aneis f : R → S satisfazendo também
f (λa) = λ f ( a), para todos λ ∈ k e a ∈ R.
Exemplo 1.11.
.
(1) Se k é um corpo, então Mat(n, k ) = {matrizes n × n com entradas em k}
é uma k-álgebra de dimensão finita dimk Mat(n, k ) = n2 (e uma base é
{ Eij | 1 ≤ i, j ≤ n}, onde Eij é a matriz com 1k na entrada (i, j) e 0K nas
demais).
.
(2) Quatérnios2 : H = R4 . Denotamos:
1 = (1, 0, 0, 0), i = (0, 1, 0, 0), j = (0, 0, 1, 0) e k = (0, 0, 0, 1).
Definimos uma multiplicação em H satisfazendo:
2A notação H remete à Hamilton.

9
• 1α = α1 = α, para todo α ∈ H;
• ij = k = − ji;
• i2 = j2 = −1.

×
k j

Figura 2: A multiplicação em H e o produto vetorial × em R3 .

Em particular, segue também que k2 = −1. Então H é uma R-álgebra


(o principal é verificar que esta multiplicação é de fato associativa), e
o homomorfismo associado é
R→H
1 7→ 1.

Temos que H é um anel com divisão (ou corpo não-comutativo3 ), ou seja,


todo elemento não nulo possui um inverso. Para ver isto, definimos o
conjugado de α = a1 + bi + cj + dk ∈ H por
.
α = a1 − bi − cj − dk.
Temos que αα = a2 + b2 + c2 + d2 é não-nulo4 se α 6= 0, e assim
 
α
α = 1.
αα

2 Álgebras livres, geradores e relações (08/03)


Observação. Sejam k1 e k2 aneis comutativos e λ : k1 → k2 um homomor-
fismo de aneis. Se R é uma k2 -álgebra, então R tem uma estrutura natural
.
de k1 -álgebra via α · a = λ(α) a, para todos α ∈ k1 e a ∈ R. Em particular,
um anel é uma k-álgebra para qualquer subanel k de Z ( R).
3 Ou, em inglês, division ring ou skew-field.
4A rigor αα = ( a2 + b2 + c2 + d2 )1.

10
Exemplo (Alerta). Note que C ⊆ H, temos que

C→H
a + bi 7→ a + bi + 0j + 0k

é um homomorfismo injetor de aneis, C é comutativo, mas H não é uma


C-álgebra, pois C 6⊆ Z (H) (exercício: Z (H) = R). Apesar disto, H tem
estrutura de C-espaço vetorial (com dimC H = 2) e, com a nomenclatura
da aula anterior, H é um C-anel.
Voltamos aos exemplos da aula anterior:
Exemplo 2.1.
(3) A álgebra livre: sejam k um anel comutativo e X um conjunto não-vazio.
Colocamos
( )
.
k h X i = ∑ λ x1 ...xn x1 . . . xn | x1 , . . . , xn ∈ X, λ x1 ...xn ∈ k, n ≥ 0
finita

Os elementos de k h X i são chamados palavras, e os elementos de


.
h X i = { x1 . . . xn | x1 , . . . , xn ∈ X, n ≥ 0}
chamam-se monômios. Então k h X i é uma k-álgebra com operações tais
que λx = xλ para todos λ ∈ k e x ∈ X, e
.
x1 . . . xn · y1 . . . ym = x1 . . . xn y1 . . . ym , com xi , y j ∈ X.

Digamos, se X = { x, y}, então h x, yi = {e, x, y, xx, xy, yx, yy, . . .}, onde
e é a palavra vazia (que será o elemento neutro de kh x, yi). Em Qh x, yi
temos, por exemplo, que
  
1 7 1 7 49
e + 7xy 1xx + y = xx + 7xyxx + y + xyy.
2 3 2 6 3
Os elementos de k h X i são “polinômios” com coeficientes em k nas va-
riáveis não comutativas do conjunto X. Em particular, se X = { x },
então kh X i = k [ x ] é a única k-álgebra livre comutativa.
Proposição 2.2 (Propriedade universal de kh X i). Sejam k um anel co-
mutativo, X um conjunto não-vazio e kh X i a k-álgebra livre sobre X. Dada
uma k-álgebra R e uma funçao j : X → R, existe um único homomorfismo de
k-álgebras ϕ : k h X i → R tal que ϕ( x ) = j( x ), para todo x ∈ X, onde iden-
tificamos X com sua imagem pela aplicação (injetora) X 3 x 7→ 1x ∈ k h X i.

11
Demonstração: Exercício. Dica: dada j, defina
!
.
ϕ ∑ λ x1 ...xn x1 . . . xn = ∑ λ x1 ...xn j( x1 ) . . . j( xn ).
finita finita

(4) Geradores e relações:


Definição 2.3. Sejam k um anel comutativo, R uma k-álgebra, e F ⊆ R
um subconjunto qualquer. Definimos o ideal de R gerado por F como
sendo
. \
( F ) = { I | I  R e I ⊇ F }.
Observação.
• De fato ( F ) é um ideal de R.
• ( F ) é o menor ideal de R (na ordem da inclusão) que contém F.
Definição 2.4. Sejam k um anel comutativo, X um conjunto não-vazio
e F ⊆ k h X i um subconjunto qualquer. A k-álgebra
. khX i
k h X | f = 0, para todo f ∈ F i =
( F)
é chamada a álgebra gerada por X sobre k com relações F.

(a) Por exemplo, se X = { x, y} e F = { xy − yx }, temos que


k h x, y | xy − yx = 0i ∼
= k [ x1 , x2 ]
(anel de polinômios nas variáveis comutativas x1 , x2 ). Para dar
uma ideia de como construir o isomorfismo, começamos com j :
{ x, y} → k[ x1 , x2 ] dada por j( x ) = x1 e j(y) = x2 . Pela propriedade
universal, existe um único homomorfismo ϕ : k h x, yi → k [ x1 , x2 ]
que estende j. Claramente ϕ é sobrejetor. Visto que
ϕ( xy − yx ) = ϕ( x ) ϕ(y) − ϕ(y) ϕ( x )
= j( x ) j(y) − j(y) j( x )
= x1 x2 − x2 x1 = 0,
temos que ( xy − yx ) ⊆ ker ϕ, e daí o Teorema do Homomorfismo
nos dá um homomorfismo sobrejetor (de k-álgebras)
k h x, yi
ϕ: → k [ x1 , x2 ].
( xy − yx )

12
Defina agora outro homomorfismo

k h x, yi
ψ : k [ x1 , x2 ] →
( xy − yx )
levando x1 e x2 nas classes de x e y no quociente. Afirmo que ϕ e
ψ são inversos. Por um lado temos

ϕ ◦ ψ ( x1 ) = ϕ ( x ) = ϕ ( x ) = x1 e
ϕ ◦ ψ ( x2 ) = ϕ ( y ) = ϕ ( y ) = x2 ,

e por outro

ψ ◦ ϕ( x ) = ψ( ϕ( x )) = ψ( x1 ) = x e
ψ ◦ ϕ(y) = ψ( ϕ(y)) = ψ( x2 ) = y.

(b) H ∼= Rh x, y | x2 + 1 = 0, y2 + 1 = 0, xy + yx = 0i. Vejamos como


repetir a estratégia do item anterior neste caso.
Defina j : { x, y} → H por j( x ) = i e j(y) = j. Por universalidade,
estendemos j para um homomorfismo ϕ : Rh x, yi → H, que é so-
brejetor (visto que i e j estão na imagem e k = ij). Note que

ϕ ( x 2 + 1) = ϕ ( x )2 + ϕ (1) = i 2 + 1 = 0
ϕ ( y2 + 1) = ϕ ( y )2 + ϕ (1) = j2 + 1 = 0
ϕ( xy + yx ) = ϕ( x ) ϕ(y) + ϕ(y) ϕ( x ) = ij + ji = 0,

donde o Teorema do Homomorfismo nos fornece um homomor-


fismo (sobrejetor)

ϕ : Rh x, y | x2 + 1 = 0, y2 + 1 = 0, xy + yx = 0i → H.

Por outro lado, defina

ψ : H → Rh x, y | x2 + 1 = 0, y2 + 1 = 0, xy + yx = 0i
.
ψ( a + bi + cj + dk) = a1 + bx + cy + dxy,

onde 1, x e y denotam as classes de 1, x e y no quociente5 . Temos


que ψ é um homomorfismo. Agora finalmente afirmo que ϕ e ψ
são inversos.
5É usual escrever diretamente 1, x e y ao invés de 1, x e y.

13
Por um lado:

ϕ ◦ ψ( a + bi + cj + dk) = ϕ( a1 + bx + cy + dxy)
= aϕ(1) + bϕ( x ) + cϕ(y) + dϕ( x ) ϕ(y)
= aϕ(1) + bϕ( x ) + cϕ(y) + dϕ( x ) ϕ(y)
= a + bi + cj + dik
= a + bi + cj + dk.

Por outro:

ψ ◦ ϕ( x ) = ψ( ϕ( x )) = ψ(i ) = x e
ψ ◦ ϕ(y) = ψ( ϕ(y)) = ψ( j) = y.

(c) k h x, y | xy − yx = 1i é chamada a primeira álgebra de Weyl (relevante


na mecânica quântica, onde os operadores em geral não comutam),
não possui ideais (bilaterais) não-triviais nem divisores de zero, e
é Noetheriano6 .
(d) Suponha que k é um corpo. Veremos na próxima aula que no anel
.
R = k h x, y | xy = 1i, x não é invertível à esquerda, que {yi x j | i, j ≥
0} é uma base de R como k-espaço vetorial e, portanto, dimk R =
+∞.
Por sua vez, k h x, y | xy = 1 = yx i ∼ = k[ x, x −1 ] é conhecido como o
anel dos polinômios de Laurent na variável x com coeficientes em k.
Vejamos como fica o cálculo neste caso. Para evitar qualquer con-
fusão, troquemos x por u. Defina j : { x, y} → k [u, u−1 ] pondo
j( x ) = u e j(y) = u−1 , e por universalidade tome um homomor-
fismo ϕ : k h x, yi → k [u, u−1 ] que estende j. Como

ϕ( xy − 1) = ϕ( x ) ϕ(y) − ϕ(1) = uu−1 − 1 = 0 e


−1
ϕ(yx − 1) = ϕ(y) ϕ( x ) − ϕ(1) = u u − 1 = 0,

temos que ϕ desce ao quociente como

ϕ : k h x, y | xy = yx = 1i → k [u, u−1 ].

Por outro lado, defina um homomorfismo

ψ : k [u, u−1 ] → k h x, y | xy = yx = 1i
u 7→ x.
6 Ou seja, é um domínio Noetheriano simples.

14
Isto necessariamente força ψ(u−1 ) = y. Daí temos
! !
n m n m
ϕ◦ψ ∑ a r u r + ∑ bs u − s =ϕ ∑ a r x r + ∑ bs y s
r =1 s =1 r =1 s =1
n m
= ∑ a r ϕ ( x ) r + ∑ bs ϕ ( y ) s
r =1 s =1
n m
= ∑ a r ϕ ( x ) r + ∑ bs ϕ ( y ) s
r =1 s =1
n m
= ∑ a r u r + ∑ bs u − s ,
r =1 s =1

e também

ψ ◦ ϕ( x ) = ψ( ϕ( x )) = ψ(u) = x,
ψ ◦ ϕ(y) = ψ( ϕ(y)) = ψ(u−1 ) = y,

como queríamos.
(e) Toda álgebra pode ser apresentada por geradores e relações. De
fato, dada uma k-álgebra R, considere um conjunto equipotente a
R, digamos, { x a | a ∈ R}. Então o homomorfismo

ϕ : kh x a | a ∈ Ri → R
x a 7→ a

é, claramente, sobrejetor. Portanto

kh x a | a ∈ Ri kh x a | a ∈ Ri
R∼
= =
ker ϕ (ker ϕ)
= kh x a : a ∈ R | f = 0, para todo f ∈ ker ϕi.

† Algumas coisas (sobre aneis) da Lista 1


Exercício. Sejam R, S e T aneis, f : R → S e h : R → T homomorfismos de
aneis, com f sobrejetor. Mostre que existe um homomorfismo g : S → T
tal que h = g f se, e somente se, ker f ⊆ ker h.

Solução: Suponha que ker f ⊆ ker h. Dado s ∈ S, existe r ∈ R tal que


s = f (r ). Definimos g(s) = h(r ). Temos que g está bem-definida em vista

15
da hipótese ker f ⊆ ker h: com efeito, se r, r 0 ∈ R são tais que f (r ) = f (r 0 ),
então r − r 0 ∈ ker f e portanto r − r 0 ∈ ker h, donde h(r ) = h(r 0 ).
Temos que g é um homomorfismo pois f e h o são. Verifiquemos, por
exemplo, a aditividade: se s, s0 ∈ S, existem r, r 0 ∈ R com s = f (r ) e
s0 = f (r 0 ). Então s + s0 = f (r + r 0 ) pois f é homomorfismo, e isto nos
permite calcular
g ( s + s 0 ) = h (r + r 0 ) = h (r ) + h (r 0 ) = g ( s ) + g ( s 0 ),
usando desta vez que h é homomorfismo. Analogamente mostra-se que
g(ss0 ) = g(s) g(s0 ).
E claro que vale h = g f .
Reciprocamente, assuma a existência de g e tome r ∈ ker f . Então
f (r ) = 0 implica que h(r ) = g( f (r )) = g(0) = 0 e assim r ∈ ker h, como
desejado.
Este resultado pode ser interpretado como um tipo de “Teorema do
Homomorfismo”. Compare o seguinte diagrama com o diagrama da Fi-
gura 1 (p. 7):
h
R T

f
g

S
Figura 3: h se fatora sob f como g se e somente se ker f ⊆ ker h.

.
Exercício. Sejam k um corpo, n um inteiro positivo e R = Mat(n, k) o anel
das matrizes n × n sobre k. Considere o subconjunto T de R formado pelas
matrizes triangulares superiores, isto é,
n
T = {( aij )i,j =1 | aij = 0 se i > j },

e o subconjunto I de R formado pelas matrizes triangulares superiores de


diagonal nula, isto é,
n
I = {( aij )i,j =1 ∈ R | aij = 0 se i ≥ j }.

Mostre que T é um subanel de R, que I é um ideal de T e que T/I ∼


=
k × · · · × k (n fatores).

16
Solução: Que 0n , Idn ∈ T e que T é fechado para diferenças é claro. Sendo
n n
dadas A = ( aij )i,j =1 , B = ( bij )i,j=1 ∈ T, note que

n i −1 n
∑ a i ` b` j = ∑ a i ` b` j + ∑ a i ` b` j = 0
`=1 `=1 `=i

para i > j. Com efeito, a primeira parcela se anula pois i > ` nos dá ai` = 0
e a segunda pois ` ≥ i > j nos dá b` j = 0. Portanto AB ∈ T e T é subanel
de R.
Do mesmo modo temos que 0n ∈ I e que I é fechado para diferenças.
Uma conta análoga a feita acima nos dá que I  T. Finalmente, defina
f : T → kn pondo f (( aij )i,j
n
=1 ) = ( a11 , . . . , ann ). Claramente f é sobrejetora,
e como está definida em T é também um homomorfismo7 . É fácil ver que
ker f = I, donde T/I ∼ = kn , como queríamos.
Exercício. Considere o anel Mat(2, C) como uma R-álgebra de maneira
natural, e seja H a R-álgebra dos quatérnios. Mostre que a função

H → Mat(2, C)
 
a + bi −c − di
a + bi + cj + dk 7→ ,
c − di a − bi

em que a, b, c, d ∈ R, é um homomorfismo injetor de R-álgebras e con-


clua que H é isomorfo à subálgebra S de Mat(2, C) dada por
  
. α −β
S= | α, β ∈ C .
β α

Calcule também as imagens de 1, i, j, k.

Solução: Um cálculo direto8 mostra que essa função é um homomorfismo


de R-álgebras, ao passo que injetividade é clara. Segue disto que H ∼
= S.
As imagens pedidas são:
     
i 0 0 −1 0 −i
1 7→ Id2 , i 7→ , j 7→ e k 7→ .
0 −i 1 0 −i 0

7 Cuidado! Não seria homomorfismo se definida sobre o anel R inteiro.


· ·
8^

17
Exercício. Sejam R um anel e X um subconjunto de R. Defina o centraliza-
dor de X em R como sendo o conjunto
.
CenR ( X ) = { a ∈ R | ax = xa, para todo x ∈ X }.

(a) Mostre que CenR ( X ) é um subanel de R.

(b) Mostre que CenR (CenR ( X )) ⊇ X e que CenR ( X ) ⊇ X se e somente se


X é comutativo.

(c) Mostre que se a ∈ CenR ( X ) for inversível em R, então seu inverso está
em CenR ( X ).
.
(d) O centro de R é definido por Z ( R) = CenR ( R). Mostre que o centro de
um anel com divisão é um corpo.

(e) Seja n ∈ Z, n ≥ 1. Mostre que Z (Mat(n, R)) = {z Idn | z ∈ Z ( R)}.

(f) Mostre que o centro de um anel simples é um corpo. (Dizemos que


um anel S é simples se seus únicos ideais forem {0} e S.)

Solução:
· ·
(a) ^

(b) Se x ∈ X, para provar que x ∈ CenR (CenR ( X )), devemos verificar que
para todo a ∈ CenR ( X ) vale que ax = xa, mas isto é óbvio.
Para a segunda parte, suponha que X é comutativo. Dado x ∈ X,
para mostrar que x ∈ CenR ( X ), devemos tomar y ∈ X e verificar
que xy = yx. Novamente isto é óbvio em vista de X ser comutativo.
Reciprocamente, se x, y ∈ X, temos que x, y ∈ CenR ( X ), donde segue
que xy = yx e X é comutativo, como desejado.

(c) Suponha que a ∈ CenR ( X ) seja inversível. Multiplicando bilateral-


mente ax = xa por a−1 segue que xa−1 = a−1 x, e assim a−1 ∈ CenR ( X ).

(d) Só resta mostrar que Z ( R) é comutativo e possui divisão. Utilizando a


definição de Z ( R), temos que

CenR ( Z ( R)) = CenR (CenR ( R)) ⊇ R ⊇ Z ( R),

e assim o item (b) nos diz que Z ( R) é comutativo. Os inversos de todos


os elementos não nulos de Z ( R) existem em R por hipótese, mas estão
em Z ( R) pelo item (c). Portanto Z ( R) é um corpo.

18
(e) É claro que {z Idn | z ∈ Z ( R)} ⊆ Z (Mat(n, R)). Assim, vejamos a
n
recíproca. Seja A = ( aij )i,j =1 ∈ Z (Mat( n, R )). Isto quer dizer que

n n
∑ aik bkj = ∑ bik akj ,
k =1 k =1

n
para toda matriz B = (bij )i,j =1 ∈ Mat( n, R ). Escolheremos B = Em` =
n
(δim δj` )i,j=1 ∈ Mat(n, R), as matrizes com 1 na posição (m, `) e zero
nas restantes. Segue que
n n
∑ aik δkm δj` = ∑ δim δk` akj =⇒ aim δj` = a` j δim .
k =1 k =1

Se i 6= m, escolhemos j = ` e descobrimos que A se anula fora da


.
diagonal. Se i = m, escolhemos ` = j e vemos que z = aii = a jj para
todos os 1 ≤ i, j ≤ n, donde A = z Idn . Para ver que z ∈ Z ( R), tome
x ∈ R arbitrário e faça B = x Idn .

(f) Suponha que R é um anel simples. Só temos que provar que Z ( R)


tem divisão. Pois bem, seja a ∈ Z ( R) não-nulo. Como R é simples,
aR = Ra = R e assim existem b, c ∈ R com ab = 1 = ca. Afirmo que
.
a−1 = b = c ∈ Z ( R). Com efeito, temos

b = b · 1 = b(ca) = b( ac) = (ba)c = ( ab)c = 1 · c.

Então a−1 ∈ Z ( R) pelo item (c), e concluímos que Z ( R) é um corpo.

Exercício. Sejam I um conjunto e { Ri }i∈ I uma família de aneis. Mostre


que o produto cartesiano

∏ Ri = {(ai )i∈ I | ai ∈ Ri , para todo i ∈ I }


i∈ I

é um anel com soma e multiplicação definidos por


. .
( a i ) i ∈ I + ( bi ) i ∈ I = ( a i + bi ) i ∈ I e ( a i ) i ∈ I · ( bi ) i ∈ I = ( a i bi ) i ∈ I .

Este anel é chamado o produto direto da família { Ri }i∈ I . Mostre que se I


for finito, os ideais de ∏i∈ I Ri são da forma ∏i∈ I Bi , onde Bi  Ri para cada
i ∈ I. O que acontece se I é infinito?

19
Solução: Que as operações dadas tornam ∏i∈ I Ri um anel é um cálculo
direto. Para cada j ∈ I, coloque9

ι j : R j ,→ ∏ Ri
i∈ I
a j 7→ (δij ai )i∈ I .

Se I = {1, . . . , n} e J  ∏in=1 Ri , afirmo que J = ∏nj=1 ι− 1


j ( J ).

• Para a primeira inclusão, considere ( a j )nj=1 ∈ J. Queremos ver que


a j ∈ ι− 1
j ( J ) para todo i = 1, . . . , n. Com efeito, temos que

ι j ( a j ) = (δij ai )in=1 = (δij )in=1 ( ai )in=1 ∈ J,

pois J é ideal. Este argumento funciona mesmo se I é infinito.

• Para a segunda inclusão, considere ( a j )nj=1 ∈ ∏nj=1 ι− 1


j ( J ). Isto signi-
fica que a j ∈ ι− 1 n
j ( J ) e, portanto ( δij ai )i =1 ∈ J para todo j = 1, . . . , n.
Como J é ideal, concluímos que
!n
n n
( ai )in=1 = ∑ δij a j = ∑ (δij ai )in=1 ∈ J.
j =1 i =1 j =1

Este argumento falha se I é infinito, pois não podemos somar uma


quantidade infinita de termos.

E é claro que ι− 1
j ( J )  R j para todo j = 1, . . . , n.
Vejamos então um contra-exemplo para o caso I infinito: suponha que
I = N, e considere J o ideal de todas as sequências quase-nulas em ∏i∈N Ri .
Suponha por absurdo que J = ∏i∈N Bi , onde Bi  Ri para todo i ∈ N. Note
que (δij ) j∈N ∈ J, e assim 1 ∈ Bi . Portanto Bi = Ri . Como o índice i era
arbitrário, concluímos que J = ∏i∈N Ri , contradição.
.
Exercício. Sejam I um conjunto, { Ri }i∈ I uma família de aneis e R = ∏i∈ I Ri
o seu produto direto.

(a) Mostre que para cada j ∈ I, a função νj : R → R j definida por


νj (( ai )i∈ I ) = a j é um homomorfismo de aneis. (Note que νj é sobreje-
tor.)
9 Háum abuso de notação aqui. Rigorosamente, os ai não estão definidos para j 6= i. É
um dispositivo para denotar a família com a j na j-ésima posição, e 0 nas restantes.

20
(b) Mostre que se S é um anel e { f i : S → Ri }i∈ I é uma família de homo-
morfismos de aneis, então existe um único homomorfismo de aneis
f : S → R tal que νi f = f i para todo i ∈ I.

Solução:
· ·
(a) ^
.
(b) É claro que definiremos f : S → R por f (s) = ( f i (s))i∈ I . Temos
que f é um homomorfismo de aneis pois todas as f i o são e as ope-
rações em R são feitas componente a componente. E temos νi ( f (s)) =
νi (( f j (s)) j∈ I ) = f i (s). Para a unicidade, suponha que g : S → R seja
outro homomorfismo de aneis satisfazendo νi g = f i para todo i ∈ I.
Temos que
 
g(s) = νi ( g(s)) i∈ I = f i (s) i∈ I = f (s),

como desejado.

3 Mais exemplos (13/03)


Exemplo 3.1.

(5) Aneis de endomorfismos: seja A um grupo abeliano e considere


.
End( A) = { f : A → A | f é homomorfismo de grupo}.

Então End( A) é um anel com operações

fg : A → A e f +g: A→ A
a 7→ f ( g( a)) a 7 → f ( a ) + g ( a ).
Ainda, 1End( A) : A → A é a aplicação identidade. Em particular, se k é
um copo e V é um k-espaço vetorial, então
.
Endk (V ) = { T : V → V | T é uma transformação k-linear}

é uma k-álgebra com

λT : V → V para todos λ ∈ k e T ∈ Endk (V )


v 7→ λT (v).

21
Observação.
• Endk (V ) é um subanel de End(V ).
• Se dimk V = n < +∞, então Endk (V ) ∼ = Mat(n, k) (como k-
álgebras). Com efeito, se B = (v1 , . . . , vn ) é uma base de V, defi-
nimos

Endk (V ) → Mat(n, k )
T 7→ [ T ] B,
n n
onde [ T ] B = (λij )i,j =1 é caracterizada por T ( v j ) = ∑i =1 λij vi .

Definição 3.2. Sejam k um anel comutativo e R uma k-álgebra. Dize-


mos que um subanel S de R é uma subálgebra de R se λa ∈ S para todos
λ ∈ k e a ∈ S.
Observação. Na definição acima, se k é um corpo, então S é basica-
mente um subanel que também é um subespaço vetorial de R (ou no
caso geral em que k é um anel, é um subanel que é também um sub-
módulo).
Definição 3.3. Sejam k um anel comutativo e R uma k-álgebra. Dado
um subconjunto X ⊆ R, definimos a subálgebra de R gerada por X por
. \
subalgh X i = {S | S é subálgebra de R contendo X }.

Exercício. Mostre que se S é uma família de subálgebras de uma k-


T
álgebra R, então S é uma subálgebra de R.
Exemplo (Subexemplo). Sejam k um corpo e V um k-espaço vetorial
. .
com base (ei | i ≥ 1). Sejam R = Endk (V ) e S = subalgh T, Li, onde T
e S são dadas por

T : ei 7 → ei +1 e L : e1 7 → 0
ei 7→ ei−1 para i ≥ 2.
Em S, temos LT = 1S mas TL 6= 1S . Na realidade, vejamos que vale
S∼= kh x, y | xy = 1i. De fato, considere o homomorfismo de k-álgebras
definido por

ϕ : k h x, yi → S
x 7→ L
y 7→ T,

22
que claramente é sobrejetor. Ainda, temos que

ϕ( xy − 1) = ϕ( x ) ϕ(y) − ϕ(1) = LT − 1 = 0.

Logo, existe um homomorfismo (sobrejetor)

ϕ : k h x, y | xy = 1i → S
x 7→ L
y 7→ T.

Note o abuso de notação: estamos escrevendo x e y ao invés de x e y,


como fizemos na aula anterior.
Em geral é difícil mostrar que ϕ é injetora, mas faremos isso neste caso
(pois definir um homomorfismo definido em uma subalgebra gerada
por algo é pior).
Com efeito: a condição xy = 1 nos permite escrever qualquer elemento
z ∈ kh x, y | xy = 1i como uma soma finita

z = a0 ( y ) + a1 ( y ) x + · · · + a ` ( y ) x ` ,

onde cada ai (y) é um polinômio na variável y. Suponha que z ∈ ker ϕ.


Então

0 = ϕ(z)
= ϕ ( a0 ( y ) + a1 ( y ) x + · · · + a ` ( y ) x ` )
= a0 ( ϕ(y)) + a1 ( ϕ(y)) ϕ( x ) + · · · + a` ( ϕ(y)) ϕ( x )`
= a0 ( T ) + a1 ( T ) L + · · · + a ` ( T ) L ` .

Avaliando em e1 , segue que a0 ( T )e1 = 0. Mas se

a0 (y) = b0 + b1 y + · · · + bs ys ,

então
0 = a0 ( T )e1 = b0 e1 + b1 e2 + · · · + bs es+1 ,
donde b0 = · · · = bs = 0 por independência linear, e assim a0 (y) é o
polinômio nulo. Com isto, repetir o argumento avaliando ϕ(z)e2 = 0,
obtemos que a1 (y) é o polinômio nulo. E assim sucessivamente. Logo
z = 0 e ϕ é também injetor, como desejado.
Note que um argumento análogo nos diz que {yi x j | i, j ≥ 0} é uma
base de k h x, y | xy − 1i sobre k.

23
(6) Aneis de grupos: Sejam R um anel e G = ( G, ∗, e) um grupo. O anel de
grupo de G sobre R é
 
.
 
RG = ∑ a g g | a g ∈ R .
g∈ G, finita
 

A rigor, consideraríamos as funções de G em R com suporte finito, etc..


As operações são
.
∑ a g g + ∑ bg g = ∑ ( a g + bg ) g e
g∈ G g∈ G g∈ F
! ! !
.
∑ ag g ∑ bg g = ∑ ∑ a g bh `.
g∈ G g∈ G g∈ G g∗ h=`

Note que 1RG = 1R e, que


G → RG
g 7→ 1R g
é injetora e multiplicativa, e
R → RG
a 7→ ae
é um homomorfismo injetor de aneis. Ainda, se R é comutativo, en-
tão RG é uma R-álgebra (a última aplicação tem imagem contida em
Z ( RG )), e aí é chamada álgebra de grupo.
Exemplo (Caso particular). Se G é cíclico e infinito (ou seja, G ∼ = Z) e k
é um corpo, então kG ∼ = k[ x, x −1 ] ∼
= kh x, y | xy = yx = 1i é o anel dos
polinômios de Laurent com coeficientes em k.

(7) Aneis de polinômios skew: Sejam R um anel e σ : R → R um endomor-


fismo. Suponha que δ : R → R é uma σ-derivação10 , ou seja, δ é aditiva
e satisfaz δ( ab) = σ( a)δ(b) + δ( a)b.
O anel de polinômios skew definido por σ e δ com coeficientes em R é o
conjunto ( )
n
.
R[ x; σ, δ] = ∑ ai xi | n ≥ 0 e ai ∈ R ,
i =0
com a soma usual, mas com o produto definido de modo a satisfazer a
relação xa = σ( a) x + δ( a).
10 Uma (σ, τ )-derivação δ seria aditiva e satisfazendo δ( ab) = σ( a)δ(b) + δ( a)τ (b).

24
Observação.

• Em geral, este anel não é uma R-álgebra nem se R for comutativo!


• O Teorema da Base de Hilbert também serve pra R[ x; σ, δ] com a
mesma demonstração! Ou seja, se R é Noetheriano (e não neces-
sariamente comutativo), então R[ x; σ, δ] é Noetheriano.

Exemplo (Casos particulares).

(i) R[ x; Id, 0] = R[ x ] é o anel de polinômios usual.


(ii) Se k é um corpo, então k [t][ x; Idk[t] , d/dt] ∼
= khu, v | uv − vu = 1i
é a primeira álgebra de Weyl, que vimos anteriormente.

(8) Funções racionais: Seja k um corpo. Denotamos por k ( x ) o corpo de


frações de k[ x ], ou seja:
 
. f (x)
k( x) = | f ( x ), g ( x ) ∈ k [ x ], g ( x ) 6 = 0
g( x )

Temos que k ( x ) é uma k-álgebra comutativa.

(9) Séries de potências: Seja k um corpo. Denotamos por


( )
.
k [[ x ]] = ∑ λi xi | λi ∈ k
i ≥0

a álgebra de séries de potências formais com coeficientes em k. A k-álgebra


k [[ x ]] também é comutativa e, além disto, é um domínio. Aqui temos
muito mais inversíveis do que em k( x ): uma série λ0 + λ1 x + · · · é
inversível se e somente se λ0 6= 0 (para mostrar isso, usamos a série
geométrica para 1/(1 − x )).

(10) Séries de Laurent: Sejam k um corpo e k (( x )) o corpo de frações de k [[ x ]].


Pode-se mostrar que
( )
k (( x )) = ∑ λi x i | n ∈ Z e λi ∈ k .
i ≥n

25
4 Módulos (15/03)
4.1 Módulos e homomorfismos
Definição 4.1. Seja R um anel. Um R-módulo à direita é um grupo abeliano
aditivo M dado com uma função

M×R → M
(m, r ) 7→ m · r ou mr

satisfazendo

(i) (m + n)r = mr + nr, para todos m, n ∈ M e r ∈ R;

(ii) m(r + s) = mr + ms, para todos m ∈ M e r, s ∈ R;

(iii) m(rs) = (mr )s, para todos m ∈ M e r, s ∈ R;

(iv) m1R = m, para todo m ∈ M.

Notação: se M é um R-módulo à direita, escreveremos simplesmente MR .

Observação.

• Analogamente definem-se R-módulos à esquerda. Se R é comuta-


tivo, todo módulo à direita é naturalmente um módulo à esquerda.
Se R não é comutativo, temos problema com o axioma (i ) acima.

• Para módulos à esquerda, temos R M.

• Se R é um corpo, então M é um R-espaço vetorial.

Exemplo 4.2.

(1) Todo grupo abeliano é um Z-módulo (à direita e à esquerda). Coloca-


mos 
| + ·{z
m · · + m}, se a > 0



a vezes






.

ma = 0 M , se a = 0




(−m) + · · · + (−m), se a < 0.




|
 {z }
− a vezes

26
(2) Se R é um anel, então R é um R-módulo (à direita e à esquerda), via a
.
sua própria multiplicação (x · r = xr, e os axiomas de anel garantem
que os de módulo valem).

(3) Se R é um anel, então Mat(n, R) é um R-módulo à direita e à esquerda:


.
Mat(n, R) R , com A · r = A(r Idn ).

(4) Mais geralmente, se ϕ : R → S é um homomorfismo de aneis (não


.
necessariamente injetivo), então S é um R-módulo à direita via s · r =
.
sϕ(r ), e é um R-módulo à esquerda via r · s = ϕ(r )s.
Note que (2) e (3) são casos particulares desta construção, com os ho-
.
momorfismos ϕ = IdR e ϕ(r ) = r Idn , respectivamente.

Definição 4.3. Seja M um R-módulo à direita. Um subconjunto N de M é


um submódulo de M se N é um subgrupo de M, invariante pela ação de R,
ou seja:

(i) 0 M ∈ N;

(ii) m − n ∈ N para todos m, n ∈ N;

(iii) mr ∈ N, para todos m ∈ N e r ∈ R.

Notação: N 6 M.

Exemplo 4.4. Se I é um ideal à direita de um anel R, então I 6 R R .

Proposição 4.5. Sejam R um anel e M um grupo abeliano aditivo. Então:

(a) Se ϕ : R → End( M ) é um homomorfismo de aneis11 , então M é um R-


.
módulo à esquerda via m · r = ϕ(r )(m), para todos m ∈ M e r ∈ R.

(b) Reciprocamente, se M é um R-módulo à esquerda, então

ϕ : R → End( M )
r 7 → ϕ (r ) : M → M
m 7→ m · r

é um homomorfismo de aneis.

Na realidade, o que temos é uma bijeção

{homomorfismos de aneis R → End( M)} ↔ {estruturas de R-módulo à esquerda em M}


11 End( M ) denota anel dos endomorfismos de grupo de M.

27
Observação.

• Para R-módulos à direita, o análogo (não-óbvio) desta proposição,


teríamos

(a) ϕ : Rop → End( M) define MR ;


(b) MR define ϕ : Rop → End( M),

onde Rop é o anel que contém os mesmos elementos que R, com a


.
mesma soma, e multiplicação dada por a ·op b = ba, para todos os ele-
.
mentos a, b ∈ R. Rigorosamente, teríamos ( R, +, ·)op = ( R, +, ·op ).

• Se M é um R-módulo à direita (resp., esquerda), então M é também


.
um Rop -módulo à esquerda (resp., direita), via r · m = mr. Em parti-
cular, se R é comutativo, todo módulo de de um lado é um módulo
do outro.

Demonstração: Vamos provar a versão para a direita, da observação.

(a) Começamos com

(m + n) · r = ϕ(r )(m + n) = ϕ(r )(m) + ϕ(r )(n) = m · r + n · r.

Além disto, temos

m · (r + s) = ϕ(r + s)(m) = ( ϕ(r ) + ϕ(s))(m)


= ϕ(r )(m) + ϕ(s)(m) = m · r + m · s.

Prosseguindo, temos

m(rs) = ϕ(rs)(m) = ϕ(s ·op r )(m)


= ( ϕ(s) ◦ ϕ(r ))(m) = ϕ(s)( ϕ(r )(m))
= ( ϕ(r )(m))s = (mr )s.

Por fim, m1R = ϕ(1R )(m) = Id M (m) = m.

(b) Agora queremos mostrar que ϕ é um homomorfismo de aneis. Inicial-


mente, temos

ϕ(r + s)(m) = m(r + s)


= mr + ms = ϕ(r )(m) + ϕ(s)(m)
= ( ϕ(r ) + ϕ(s))(m),

28
para todo m ∈ M, donde ϕ(r + s) = ϕ(r ) + ϕ(s). Para a multiplicati-
vidade, temos
ϕ(r ·op s)(m) = ϕ(sr )(m) = m(sr )
= (ms)r = ϕ(r )(ms)
= ϕ(r )( ϕ(s)(m)) = ( ϕ(r ) ◦ ϕ(s))(m)
para todo m ∈ M, donde ϕ(r ·op s) = ϕ(r ) ◦ ϕ(s). Finalmente:
ϕ(1R )(m) = m1R = m = Id M (m)
para todo m ∈ M, donde ϕ(1R ) = Id M (= 1End( M) ).

Definição 4.6. Sejam M e N dois R-módulos à direita. Uma função f : M →


N é um homomorfismo de R-módulos se
f (m + n) = f (m) + f (n) e f (mr ) = f (m)r,
para todos m, n ∈ M e r ∈ R. Diremos que f é um isomorfismo de R-módulos
se f é bijetora. Sendo este o caso, escrevemos M ∼
= N.
Observação.
• Se f : M → N é um isomorfismo de R-módulos, então f −1 : N → M
também o é.
• Um homomorfismo de R-módulos f : M → N é injetor se e somente
.
se ker f = {0 M }. Como anteriormente, definimos ker f = f −1 (0 N ) e
.
Im f = f ( M ). Verifique que ker f e Im f são submódulos de M e N,
respectivamente.
Exemplo 4.7. Se M e N são R-módulos à direita, então
.
HomR ( M, N ) = { f : M → N | f é homomorfismo de R-módulos}
.
é um grupo abeliano via ( f + g)(m) = f (m) + g(m), para todo m ∈ M.
Note que deve ser verificado que f + g ∈ HomR ( M, N ), em primeiro lu-
gar.
Em particular, se M é um R-módulo à direita, temos que
.
EndR ( M) = HomR ( M, M )
tem uma estrutura de anel, com a composição de homomorfismos12 . Note
também que EndZ ( M) = End( M), já que todo grupo abeliano é um Z-
módulo.
12 Mostre f g
que se M → N e N → L são homomorfismos de R-módulos à direita, então
g ◦ f também o é.

29
Exercício 4.1. Dados grupos abelianos M e N, mostre que

HomGrp ( M, N ) = HomZ-mod ( M, N ).

Em geral, HomR-mod ( M, N ) ⊆ HomZ-mod ( M, N ).

4.2 Módulo quociente


Sejam M um R-módulo à direita e N 6 M. O grupo (abeliano) quoci-
ente M/N tem uma estrutura natural de R-módulo à direita:
.
(m + N ) · r = mr + N.

Tal definição não depende da escolha do representante em M do elemento


de M/N.

Observação.

• Recordamos, por conveniência, que se M e N são grupos abelianos,


então
M .
= { m + N | m ∈ M },
N
.
onde m + N = {m + n | n ∈ N }, é um grupo abeliano com operação
.
(bem-definida) (m + N ) + (m0 + N ) = (m + m0 ) + N. A construção
funciona para grupos não-abelianos desde que N seja um subgrupo
normal de M.

• Se M é um R-módulo à direita e N 6 M, então

π : M → M/N
m 7→ m + N

é um homomorfismo sobrejetor de R-módulos à direita.

• Os submódulos de R R são os ideais à direita de R.

Teorema 4.8 (1◦ Teorema do Homomorfismo). Sejam R um anel, M e N R-


módulos à direita e f : M → N um homommorfismo de R-módulos. Se L é um
submódulo de M tal que L ⊆ ker f , então existe um único homomorfismo de mó-
dulos f : M/L → N tal que f ◦ π = f , onde π : M → M/L é o homomorfismo
sobrejetor canônico. Além disto:

• ker f = ker f /L e

30
• Im f = Im f .
Em particular, f é injetor se e somente se L = ker f .
A demonstração é a mesma dada para a versão do teorema para aneis.
Corolário 4.9. Sejam M e N R-módulos à direita e f : M → N um homomor-
fismo de R-módulos. Então M/ker f ∼
= Im f .
Definição 4.10. Sejam M um R-módulo à direita, e N, L 6 M. Definimos
L + N = {` + n | ` ∈ L e n ∈ N } e L ∩ N = { m ∈ M | m ∈ L e m ∈ N }.
Exercício 4.2. Mostre que L + N e L ∩ N são submódulos de M tais que
L ∩ N 6 L, N 6 L + N.
Teorema 4.11 (2◦ Teorema do Homomorfismo). Sejam M um R-módulo à
direita e L, N 6 M. Então
L+N ∼ N
= .
L L∩N
Demonstração: Defina
f : N → ( L + N )/( L)
n 7→ n + L.
Claro que f está bem-definida (pois de fato n + L ∈ ( L + N )/L, já que
n ∈ L + N), e é um homomorfismo sobrejetor de módulos. Rapidamente
vemos que ker f = L ∩ N. O resultado segue do 1◦ Teorema do Homo-
morfismo.

5 Submódulos, somas diretas e sequências exa-


tas (20/03)
5.1 Submódulos gerados por conjuntos
Teorema 5.1 (Teorema da Correspondência). Sejam M um R-módulo à direita
e N um submódulo de M. Então existe uma bijeção que preserva inclusões entre
os conjuntos
N .
SM = {submódulos L de M tais que L ⊇ N }
e
.
S M/N = {submódulos de M/N }.
Além disto, se L 6 M é tal que L ⊇ N, então
M ∼ M/N
= .
L L/N

31
Demonstração: A função
N
SM → S M/N
L 7→ L/N = {` + N | ` ∈ L}
N são tais que L ⊆ L ,
é bijetora e preserva inclusões, isto é, se L1 , L2 ∈ S M 1 2
então L1 /N ⊆ L2 /N e se L1 ( L2 , então L1 /N ( L2 /N. Para provar
que esta função é sobrejetora, dado T 6 M/N, considere π −1 ( T ), onde
π : M → M/N é o homomorfismo canônico. Para a segunda parte do
enunciado, note que

M/N → M/L
m + N 7→ m + L

é um homomorfismo sobrejetor cujo núcleo é L/N.


Definição 5.2. Sejam M um R-módulo à direita e X um subconjunto de M.
Definimos o submódulo de M gerado por X como sendo
. \
XR = { N | N 6 M e N ⊇ X }.

Observação. Fica implícito que a interseção de uma família qualquer de


submódulos de M também o é (verifique!).
Proposição 5.3. Sejam M um R-módulo à direita e X um subconjunto de M.
Então
.
XR = { x1 r1 + · · · + xn rn | n ≥ 0, xi ∈ X e ri ∈ R para i = 1, . . . , n}.

Demonstração: Chame de N o conjunto do lado direito. Nosso objetivo


é então mostrar que XR = N. É fácil ver que N 6 M contém X, donde
XR ⊆ N, por definição de XR. Por outro lado, se é dado L 6 M tal que
L ⊇ X, segue que L ⊇ N.
Definição 5.4. Diremos que um R-módulo à direita M é finitamente gerado
se existir X ⊆ M finito tal que XR = M.
Observação. Para todo anel R, R R é finitamente gerado, pois R = {1} R.
Exemplo 5.5. Cuidado! Um submódulo de um módulo finitamente ge-
rado não precisa ser finitamente gerado.
Sejam k um corpo e considere R = k [ x1 , x2 , . . .]. Temos que R R é fi-
nitamente gerado, e se N = { x1 , x2 , . . .} R 6 R não pode ser finitamente
gerado. Observe que N 6= R, pois N não possui termos constantes. Com

32
efeito, se N fosse finitamente gerado, existiriam polinômios f 1 , . . . , f k ∈ N,
cada um dependendo apenas de uma quantidade finita de variáveis x j , tal
que todo elemento de N se escreve como combinação deles. Isso incluiria
alguma das infinitas variáveis não presentes em nenhum dos polinômios
f 1 , . . . , f k , o que seria uma contradição.
Mais explicitamente, não podemos escrever x j = ∑ik=1 f i ri com coefi-
cientes ri ∈ R se x j não está presente em nenhum dos f i , pois mesmo se
x j estiver presente em algum ri , não está no produto f i ri , visto que f i não
possui termos constantes e então o x j estaria multiplicado por alguma va-
riável xk presente em x j (que “contaminou” x j ).

Definição 5.6. Sejam M um R-módulo à direita e N uma família de sub-


módulos de M. Definimos a soma da família N
. [
 
∑N= N R.

Observação.

• Se N = ( Ni )i∈ I está indexado, como será muito frequente, denotare-


mos a soma da família simplemente por ∑i∈ I Ni .

• Segue da proposição anterior que


.
∑ Ni = {ni1 + · · · + nik | k ≥ 0 e nik ∈ Nik }
i∈ I

Definição 5.7. Diremos que um R-módulo à direita M é cíclico se existe


m ∈ M tal que13 M = mR.

5.2 Sequências exatas


Definição 5.8. Uma sequência de módulos e homomorfismos
f n −1 fn f n +1 f n +2
· · · −−−−−→ Mn−1 −−−−→ Mn −−−−−→ Mn+1 −−−−−→ · · ·

é exata em Mn se Im f n = ker f n+1 , para todo n. E diremos que a sequên-


cia é exata se é exata em todos os módulos exceto, se for o caso, nas suas
extremidades14 .

Exemplo 5.9.
13 Abuso de notação para {m} R.
14 A sequência não precisa ser infinita.

33
f
(1) 0 −−−→ M −−−→ N é exata se e somente se f é injetor.
f
(2) M −−−→ N −−−→ 0 é exata se e somente se f é sobrejetor.
f
(3) 0 −−−→ M −−−→ N −−−→ 0 é exata se e somente se f é um isomor-
fismo.

Proposição 5.10. Sejam M um R-módulo à direita, N um submódulo de M. Se


ι : N → M o homomorfismo de inclusão e π : M → M/N é o homomorfismo
canônico, então a sequência
ι π
0 −−−→ N −−−→ M −−−−→ M/N −−−→ 0

é exata.

Demonstração: Basta notar que ι é injetor, π é sobrejetor, e Im ι = ker π =


N.

Definição 5.11. Uma sequência exata da forma

0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0

é dita uma sequência exata curta.

Observação. Se
f g
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0

é uma sequência exata curta, então Im f ∼


= L e ker g = Im f , e segue que
M M
N∼
= = .
ker g Im f

Então a “única” sequência exata curta é essencialmente a dada na propo-


sição anterior.

5.3 Soma direta interna


Definição 5.12. Se M é um R-módulo e N e L são submódulos de M, dize-
mos que a soma N + L é direta se N ∩ L = {0}. Neste caso, a soma N + L
é denotada por N ⊕ L. Diremos que M é a soma direta interna de N e L se
M = N ⊕ L.

34
Observação. Se M = N ⊕ L, então todo m ∈ M se escreve de modo único
como m = n + ` com n ∈ N e ` ∈ L. Com efeito, se n + ` = n0 + `0 , então
n − n0 = `0 − ` ∈ N ∩ L = {0}, donde n = n0 e ` = `0 .
Definição 5.13. Se M é um R-módulo e N é um submódulo de M, diremos
que N é um somando direto de M se existir outro submódulo L 6 M com
M = N ⊕ L.
Exemplo 5.14.
(1) Se R = k é um corpo, todo subespaço vetorial de M é um somando
direto.
(2) Considere Z Z, e seja N = 2Z 6 M. Afirmamos que N não é um
somando direto de Z. Se fosse, existiria L = nZ tal que Z = 2Z ⊕ nZ
para algum n ∈ Z (já que os submódulos do módulo Z são os ideais
do anel Z). Mas aí 2n ∈ 2Z ∩ nZ nos diria que n = 0 e N = M, o que é
uma contradição.
Observação. São muito raros os módulos para os quais todo submódulo
é um somando direto. Na verdade, todos estes módulos são produtos
diretos finitos de matrizes sobre aneis de divisão.
Lema 5.15. Sejam f : M → N e g : N → M homomorfismos de R-módulos, tais
que f g = Id N . Então f é sobrejetor, g é injetor, e vale M = ker f ⊕ Im g.
α β
Observação. Em geral, se temos M −−−→ N −−−→ L com βα sobrejetor,
então β ś sobrejetor, e se βα é injetor, então α é injetor.
Demonstração: Seja m ∈ ker f ∩ Im g. Então existe n ∈ N com m = g(n),
e daí 0 = f (m) = f ( g(n)) = n nos diz que m = f (0) = 0. Assim, a
soma ker f ⊕ Im f é direta, e falta ver que dá M. Para tanto, dado m ∈ M,
escreva m = m − g( f (m)) + g( f (m)), e veja que
f (m − f ( g(m))) = f (m) − f ( g( f (m))) = f (m) − f (m) = 0.

Definição 5.16. Se f : M → N e g : N → M são homomorfismos de R-


módulos tais que f g = Id N , diremos que f é um homomorfismo sobrejetor
que cinde15 e que g é um homomorfismo injetor que cinde. Além disto, diremos
que uma sequência exata curta
α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0
15 Cindir = quebrar.

35
cinde se α for um homomorfismo injetor que cinde e β for um homomor-
fismo sobrejetor que cinde.
Observação. Uma sequência exata curta cinde se “conseguimos andar ao
contrário” ao longo da sequência.
Proposição 5.17. Seja
α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0

uma sequência exata curta de módulos. São equivalentes:


(a) A sequência exata curta cinde.
(b) α é um homomorfismo injetor que cinde.
(c) β é um homomorfismo sobrejetor que cinde.
(d) Im α = ker β é um somando direto de M.
(e) Para todo homomorfismo de módulos h : L → K, existe um homomorfismo de
módulos h : M → K tal que hα = h.
K

h
h
α β
0 L M N 0

(f) Para todo homomorfismo de módulos t : K → N, existe um homomorfismo de


módulos t : K → M tal que βt = t.

α β
0 L M N 0

t t

Demonstração: Obviamente (a) implica (b) e (c). O lema anterior nos diz
que (b) e (c) implicam (separadamente) (d). Visto que (b) e (c) juntos im-
plicam em (a), é suficiente mostrar que

(d) =⇒ (e) =⇒ (b) e (d) =⇒ ( f ) =⇒ (c).

36
• Assuma (d), provemos (e). Escreva M = Im α ⊕ T e seja h : L → K
um homomorfismo. Dado m ∈ M, existem únicos x ∈ Im α e y ∈ T
tais que m = x + y. Como α é injetor, existe um único z ∈ L tal que
.
x = α(z). Defina h : M → K pondo h(m) = h(z). Observe que h está
bem definida, pois nenhuma escolha foi feita até agora.
Vejamos que h é um homomorfismo de módulos. Sejam m, m0 ∈ M
e r ∈ R. Escrevendo m = x + y, m0 = x 0 + y0 , com x = α(z) e
x 0 = α(z0 ), temos que a única decomposição possivel para m + m0 r é
m + m0 = x + x 0 r + y + y0 r.
Como x + x 0 r = α(z) + α(z0 )r = α(z + z0 r ), segue que

h(m + m0 r ) = h(z + z0 r ) = h(z) + h(z0 )r = h(m) + h(m0 )r,


como queríamos.
• Assuma (e), provemos (b). Devemos construir um homomorfismo
inverso à esquerda para α. Para tanto, basta aplicar o item (e) com
K = L e h = Id L .
• Assuma (d), provemos (f). Escreva M = ker β ⊕ T e seja h : K → N
um homomorfismo. Dado k ∈ K, queremos definir t(k ) ∈ M. Note
que t(k ) ∈ N, de modo que β ser sobrejetora nos fornece m ∈ M
com β(m) = t(k ). Decompondo m = x + y com x ∈ ker β e y ∈ T,
.
colocamos t(k ) = y.
Vejamos que t está bem-defindo, ou seja, que não depende da esco-
lha de m (intuitivamente, a ambiguidade foi eliminada com a escolha
“canônica” de um elemento de M que não tem componente na dire-
ção de ker β). Com efeito, se m, m0 ∈ M são tais que β(m) = β(m0 ) e
decompomos m = x + y e m0 = x 0 + y0 , com x, x 0 ∈ ker β e y, y0 ∈ T,
devemos mostrar que y = y0 . Por um lado, T ser submódulo de M
nos dá que y − y0 ∈ T e, por outro lado, vale
0 = β(m − m0 ) = β( x − x 0 + y − y0 )
= β ( x − x 0 ) + β ( y − y 0 ) = β ( y − y 0 ),
donde y − y0 ∈ ker β ∩ T = {0} e assim y = y0 .
É claro que βt = t, por construção, então resta ver que t é um homo-
morfismo de módulos. Considere então k, k0 ∈ K e r ∈ R. Tomamos
y, y0 ∈ T tais que β(y) = t(k ) e β(y0 ) = k0 . Como y + y0 r ∈ T e
β ( y + y 0 r ) = β ( y ) + β ( y 0 )r = t ( k ) + t ( k 0 )r = t ( k + k 0 r ),

37
concluímos que

t(k + k0 r ) = y + y0 r = t(k ) + t(k0 )r,

como desejado.
• Assuma (f), provemos (c). Devemos construir um homomorfismo
inverso à direita para β. Para tanto, basta aplicar o item (f) com K =
N e h = Id N .

Prosseguimos com o:
Corolário 5.18. Seja
α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0

uma sequência exata curta de módulos, que cinde. Então M ∼


= L × N.
Demonstração: Por um lado, temos M = ker β ⊕ T para algum submó-
dulo T 6 M, e por outro temos
M ∼
N∼
= =T
ker β
via, digamos, ϕ : T → N. Como ker β = Im α, definimos

M = Im α ⊕ T → L × N
α(z) + y 7→ (z, ϕ(y))

é um isomorfismo.
Observação. Cuidado: a condição M ∼ = L × N não implica que a sequên-
cia exata curta cinde. Tal isomorfismo não pode “misturar” L e M (preci-
saríamos mandar L × {0} em Im α).

6 Continuando com somas e produtos diretos (03/04)


6.1 Produto direto de módulos
Sejam R um anel e ( Mλ )λ∈Λ uma família de R-módulos à direita. Então
o produto cartesiano

∏ Mλ = {(mλ )λ∈Λ | mλ ∈ Mλ }
λ∈Λ

38
te uma estrutura natural de R-módulo à direita dada coordenada à coor-
denada por
. .
( mλ )λ∈Λ + ( nλ )λ∈Λ = ( mλ + nλ )λ∈Λ e ( mλ )λ∈Λ r = ( mλ r )λ∈Λ .

Note que 0∏λ∈Λ Mλ = (0 Mλ )λ∈Λ e −(mλ )λ∈Λ = (−mλ )λ∈Λ . Ainda, dado
ρ ∈ Λ, a projeção

πρ : ∏ Mλ → Mρ
λ∈Λ
( mλ )λ∈Λ 7 → mρ

é um homomorfismo sobrejetor de módulos. Nestas condições, ∏λ∈Λ Mλ


é chamado o produto direto da família ( Mλ )λ∈Λ .
Como várias construções que veremos, o produto direto pode ser ca-
racterizado por uma propriedade universal:

Proposição 6.1. Sejam ( Mλ )λ∈Λ uma família de R-módulos, N um R-módulo, e


( f λ : N → Mλ )λ∈Λ uma família de homomorfismos de R-módulos. Então existe
um único homomorfismo de módulos f : N → ∏λ∈Λ Mλ tal que πρ f = f ρ , para
todo ρ ∈ Λ.

∏ Mλ
λ∈Λ

f πρ

N Mρ

Figura 4: A propriedade universal do produto direto.

T
Além disto, temos ker f = λ∈Λ ker f λ .
.
Demonstração: Basta definir f : N → ∏λ∈Λ Mλ por f (n) = ( f λ (n))λ∈Λ .
Como cada f λ é um homomorfismo, f também o é. A condição πρ f = f ρ
para todo ρ ∈ Λ é satisfeita por construção. Se g : N → ∏λ∈Λ Mλ é outro
homomorfismo nestas condições, temos que

g(n) = (πλ ( g(n)))λ∈Λ = ( f λ (n))n∈λ = f (n).

Finalmente, a expressão para ker f é trivial.

39
Observação.

• Vale até a seguinte recíproca: sejam M é um R-módulo à direita e


( pλ : M → Mλ )λ∈Λ uma família de homomorfismos de módulos
com a seguinte propriedade: para todo R-módulo N e toda famí-
lia ( f λ : N → Mλ )λ∈Λ de homomorfismos de R-módulos existe um
único homomorfismo de módulos f : N → M satisfazendo pλ f =
f λ para todo λ ∈ Λ. Então existe um isomorfismo de R-módulos
ϕ : M → ∏λ∈Λ Mλ tal que πλ ◦ ϕ = pλ para todo λ ∈ Λ.

f pλ

N Mλ

Figura 5: Ilustrando a propriedade universal para ( M, ( pλ )λ∈Λ ).

Com efeito, a proposição acima nos dá ϕ e ψ satisfazendo os seguin-


tes diagramas:

∏ Mλ
λ∈Λ M

ϕ πρ ψ pρ

M Mρ ∏ Mλ Mρ
pρ λ∈Λ πρ

Figura 6: Construindo os isomorfismos ϕ e ψ.

Afirmamos que ϕ e ψ são inversas. De fato, temos

40
∏ Mλ ∏ Mλ
λ∈Λ λ∈Λ

ϕψ πρ Id πρ

∏ Mλ Mρ ∏ Mλ Mρ
λ∈Λ πρ λ∈Λ πρ

Figura 7: Provando que ϕ e ψ são inversos.

e a unicidade nos dá que ϕψ = Id∏λ∈Λ Mλ . Analogamente mostra-se


que ψϕ = Id M .
Note que não é necessário pedir que cada pρ seja sobrejetor: isto se-
gue do mencionado acima.

• Se Λ = {1, . . . , n} é finito, denotamos ∏λ∈Λ Mλ por M1 × · · · × Mn


ou ∏in=1 Mi , como de praxe.
Exemplo 6.2. Considere o grupo abeliano Z/30Z e considere os homo-
morfismos sobrejetores
Z
gp : Z →
pZ
a 7→ a + pZ,

para p = 2, 3 e 5. Como 30Z ⊆ ker g p para estes valores de p (pois 2,


3 e 5 todos dividem 30), obtemos homomorfismos f p : Z/30Z → Z/pZ
descendo cada g p ao quociente. Seja

Z Z Z Z
f: → × ×
30Z 2Z 3Z 5Z
dado pela última proposição. Assim temos
2Z 3Z 5Z
ker f = ker f 2 ∩ ker f 3 ∩ ker f 5 = ∩ ∩ = {0},
30Z 30Z 30Z
visto que 2 · 3 · 5 = 30. Portanto f é injetora, e logo um isomorfismo
(pois seu domínio e contra-domínio possuem a mesma cardinalidade fi-
nita). Concluímos que
Z ∼ Z Z Z
= × × .
30Z 2Z 3Z 5Z

41
6.2 Soma direta de módulos
Seja ( Mλ )λ∈Λ uma família de R-módulos à direita. Consideramos
( )
˙ .
Mλ = (mλ )λ∈Λ ∈ ∏ Mλ | {λ ∈ Λ | mλ 6= 0} é finito .
M

λ∈Λ λ∈Λ

˙ 6 ∏λ∈Λ Mλ . Defina, para cada ρ ∈ Λ, a inclusão


L
Note que λ ∈ Λ Mλ
˙
M
ι ρ : Mρ → Mλ
λ∈Λ
m 7 → ( mλ )λ∈Λ ,
onde mρ = m e mλ = 0 para λ 6= ρ. Temos que cada ι ρ é um homomor-
fismo injetor de R-módulos. Nestas condições, diremos que λ˙ ∈Λ Mλ é a
L

soma direta externa16 da família ( Mλ )λ∈Λ .


Temos uma propriedade universal dual à anterior:
Proposição 6.3. Sejam R um anel e ( Mλ )λ∈Λ uma família de R-módulos, N um
R-módulo, e ( f λ : Mλ → N )λ∈Λ uma família de homomorfismos de R-módulos.
Então existe um único homomorfismo f : λ˙ ∈Λ Mλ → N tal que f ι ρ = f ρ , para
L

todo ρ ∈ Λ.
˙
M

λ∈Λ

f
ιρ

N Mρ

Figura 8: A propriedade universal da soma direta externa.

Além disto, Im f = ∑λ∈λ Im f λ .


Demonstração: Desta vez, basta definir
˙
M
f: Mλ → N
λ∈Λ
x 7→ ∑ f λ (πλ ( x )).
λ∈Λ
16 Isto L
justifica o pontinho acima de . Mais adiante definiremos uma soma direta
interna, que é isomorfa à esta. Então aboliremos o pontinho.

42
Note que esta soma é finita, por definição de
L
˙
λ ∈ Λ Mλ . Os detalhes ficam
como exercício.

Observação.

• Note a dualidade: na Figura 8 acima apenas invertemos as setas da


Figura 4 (p. 39).

• Esta propriedade também caracteriza


L
˙
λ ∈ Λ Mλ .

• As projeções e inclusões se relacionam por

(i) πρ ι λ = δρλ Id Mλ , quaisquer que sejam ρ, λ ∈ Λ:

˙ πρ
∏ Mλ −−−−→ Mρ
ι M
Mλ −−−−
λ
→ Mλ ⊆
λ∈Λ λ∈Λ



(ii) ι λ πλ L ˙ = IdLλ˙∈Λ Mλ :
λ ∈ Λ Mλ
λ∈Λ

˙ ˙
∏ Mλ −−−−→ Mλ −−−−→ ∏ Mλ
M πλ ιλ M
Mλ ⊆ Mλ ⊆
λ∈Λ λ∈Λ λ∈Λ λ∈Λ

6.3 Somas diretas internas


Definição 6.4. Sejam M um R-módulo e ( Nλ )λ∈Λ uma família de submó-
dulos de M. Dizemos que a soma ∑λ∈Λ Nλ é a soma direta interna da família
λ∈Λ\{ρ} Nλ = {0} para todo ρ ∈ Λ. Neste caso, denota-
( Nλ )λ∈Λ se Nρ ∩ ∑L
mos ∑λ∈Λ Nλ por λ∈Λ Nλ .
L
Observação. Note que λ∈Λ Nλ seria (caso a soma fosse direta mesmo)
um submódulo de M, enquanto λ∈˙Λ Nλ é sempre um submódulo do
L

produto direto ∏λ∈Λ Nλ . Então formalmente, há uma diferença.

Proposição 6.5. Sejam M um R-módulo e ( Nλ )λ∈Λ uma família de submódulos


de M. São equivalentes:

(a) ∑λ∈Λ Nλ é a soma direta interna.

(b) Para todo k natural, mλ1 + · · · + mλk = 0 com mλi ∈ Nλi para 1 ≤ i ≤ k
implica que mλi = 0 para todo 1 ≤ i ≤ k.

(c) O homomorfismo
L
˙
λ∈Λ Nλ → M induzido pelas inclusões ι λ : Nλ ,→ M é
injetor.

43
Demonstração: Exercício.

Observação.

• Se ∑λ∈Λ Nλ é a soma direta interna, então Nλ ∼


= λ˙ ∈Λ Nλ .
L L
λ∈Λ

• Se { Mλ }λ∈Λ é uma família de R-módulos, então temos que

˙
M M
Mλ = ι λ ( Mλ ) .
λ∈Λ λ∈Λ

Então de agora em diante abandonamos o ponto.

† Algumas coisas (sobre módulos) da Lista 2


Exercício. Sejam g : N → M e f : K → N homomorfismos de R-módulos.
Mostre que se f e g são ambos homomorfismos injetores (resp. sobrejeto-
res) que cindem, então g f é um homomorfismo injetor (resp. sobrejetor)
que cinde. Vale a recíproca?

Solução: Suponha que f e g sejam homomorfismos injetores (resp. inje-


tores) que cindem. Então existe homomorfismos fe: N → K e ge : M → N
tais que f fe = Id N e geg = Id M (resp., fef = IdK e geg = Id N ). Desta forma,
temos que ( g f )( fege) = g f fege = gId N ge = ge
g = Id M (resp. ( fege) g f =
fegeg f = feId N f = fef = IdK ), donde g f é um homomorfismo injetor (resp.
sobrejetor) que cinde.
A situação é resumida no seguinte diagrama:

f g

K N M

fe ge

Figura 9: Ilustrando a situação descrita acima.

Já a recíproca é falsa em geral. Considere dois R-módulos M e N e as


aplicações

π : M×N → M e ι : M → M×N
(m, n) 7→ m m 7→ (m, 0).

44
Então π ◦ ι = Id M é um homomorfismo injetor que cinde, mas π não o
é.
Exercício. Considere a sequência de homomorfismos entre R-módulos à
direita
f1 g2
0 −−−→ M1 −−−−→ M −−−−→ M2 −−−→ 0.
Mostre que são equivalentes as seguintes afirmações:
(a) A sequência exata curta cinde.
(b) Existe uma sequência de homomorfismos de R-módulos
f2 g1
0 −−−→ M2 −−−−→ M −−−−→ M1 −−−→ 0
(que é necessariamente exata e que cinde) tal que, para todos os índices
1 ≤ i, j ≤ 2, valem
gi f j = δij Id Mi e f 1 g1 + f 2 g2 = Id M .

(c) Existe um isomorfismo h : M1 × M2 → M tal que hι1 = f 1 e g2 h = π2 ,


onde ι1 : M1 → M1 × M2 e π2 : M1 × M2 → M2 denotam a injeção e
a projeção canônicas. Desenhe um diagrama comutativo que expresse
essas igualdades.
Solução:
( a) =⇒ (b): Pela Proposição 5.17 (p. 36), temos que
M = ker g2 ⊕ T = Im f 1 ⊕ T
para algum T 6 M.
• Dado m ∈ M, podemos escrever m = f 1 (m1 ) + t, para úni-
cos m1 ∈ M1 (pois f 1 é injetor) e t ∈ T. Defina g1 : M → M1
.
pondo g1 (m) = m1 . Vejamos que g1 é um homomorfismo de
R-módulos: se m, m0 ∈ M e r ∈ R, escrevemos m = f 1 (m1 ) + t e
m0 = f 1 (m10 ) + t0 , de acordo com a decomposição considerada.
Então
m + m0 r = ( f 1 (m1 ) + t) + ( f 1 (m10 ) + t0 )r
= f 1 (m1 ) + f 1 (m10 )r + t + t0 r
= f 1 (m1 + m10 r ) + t + t0 r,
e a unicidade da decomposição em soma direta nos diz que
g1 (m + m0 r ) = m1 + m10 r = g1 (m) + g1 (m0 )r,
como queríamos.

45
• Dado m2 ∈ M2 , como g2 é sobrejetor, existe m ∈ M tal que
g2 (m) = m2 . Podemos escrever tal elemento m unicamente na
forma m = x + t, com x ∈ ker g2 e t ∈ T. Defina f 2 : M2 → M
.
pondo f 2 (m2 ) = t.
Devemos ver que f 2 está bem-definido. Ou seja, se m = x + t
e m0 = x 0 + t0 com x, x 0 ∈ ker g2 e t, t0 ∈ T satisfazem g2 (m) =
g2 (m0 ), então t = t0 . De fato, temos que g2 (t − t0 ) = 0, donde
t − t0 ∈ ker g2 ∩ T = {0}.
Finalmente, devemos ver que f 2 é um homomorfismo de R-
módulos. Consideramos novamente m2 , m20 ∈ M2 e r ∈ R. De-
compomos m2 = g2 ( x + t) e m20 = g2 ( x 0 + t0 ) com x, x 0 ∈ ker g2
e t, t0 ∈ T. Então

m2 + m20 r = g2 ( x + t) + g2 ( x 0 + t0 )r
= g2 ( x + t + x 0 r + t 0 r )
= g2 ( x + x 0 r + t + t 0 r )

e a unicidade da decomposição em soma direta nos dá que

f 2 (m2 + m20 r ) = t + t0 r = f 2 (m2 ) + f 2 (m20 )r,

como queríamos.

Vejamos agora que gi f j = δij Id Mi para todos 1 ≤ i, j ≤ 2.

(1) Se m2 ∈ M2 se escreve como m2 = g2 ( x + t) com x ∈ ker g2 e


t ∈ T, temos f 2 (m2 ) = t, e portanto

g2 ( f 2 (m2 )) = g2 (t) = g2 ( x + t) = m2 .

(2) Se m2 ∈ M2 se escreve como m2 = g2 ( x + t) com x ∈ ker g2 e


t ∈ T, temos f 2 (m2 ) = t. Mas t = f 1 (0) + t ∈ Im f 1 ⊕ T, então a
unicidade da decomposição em soma direta nos diz que

g1 ( f 2 (m2 )) = g1 (t) = 0.

(3) g2 f 1 = 0 pois a sequência inicial dada é exata por hipótese.


(4) Se m1 ∈ M1 , então f 1 (m1 ) = f 1 (m1 ) + 0 ∈ Im f 1 ⊕ T, e segue da
definição de g1 que g1 ( f 1 (m1 )) = m1 .

46
Falta verificar a condição f 1 g1 + f 2 g2 = Id M . Então seja m ∈ M,
escrito na forma m = f 1 (m1 ) + t, com m1 ∈ M1 e t ∈ T, como antes.
Inicialmente, temos
g1 (m) = g1 ( f 1 (m1 )) + g1 (t) = m1 + 0 = m1 ,
e daí f 1 ( g1 (m)) − f 1 (m1 ). Então só falta verificar que, com esta nota-
ção, f 2 ( g2 (m)) = t. Com efeito, por definição de f 2 segue que
f 2 ( g2 (m)) = f 2 ( g2 ( f 1 (m1 )) + g2 (t))
= f 2 ( g2 (t)) = f 2 ( g2 (0 + t)) = t.
(b) =⇒ (c): Basta definir
h : M1 × M2 → M
( m1 , m2 ) 7 → f 1 ( m1 ) + f 2 ( m2 ).
É claro que h é um homomorfismo de R-módulos. Como
h(ι1 (m1 )) = h(m1 , 0) = f 1 (m1 ) + f 2 (0) = f 1 (m1 )
e
g2 (h(m1 , m2 )) = g2 ( f 1 (m2 ) + f 2 (m2 ))
= g2 ( f 1 (m1 )) + g2 ( f 2 (m2 ))
= 0 + m2
= m2
= π2 ( m1 , m2 ),
só resta vermos que h é de fato um isomorfismo. Com efeito, h é
injetor pois se (m1 , m2 ) ∈ ker h, aplicar g1 e g2 separadamente em
f 1 (m1 ) + f 2 (m2 ) = 0 nos dá, respectivamente, que m1 = 0 e m2 = 0.
Finalmente, dado m ∈ M, escrevemos
m = f 1 ( g1 (m)) + f 2 ( g2 (m)) = h( g1 (m), g2 (m)),
donde h é sobrejetor.
O diagrama ilustrando toda esta situação é:
M1 × M2

ι1 π2
h
f1 g2
0 M1 M M2 0
Figura 10: “Pulando” M na sequência inicial com um bom isomorfismo.

47
(c) =⇒ ( a): Suponha válido o diagrama comutativo da Figura 10 acima.
Provemos que

f1 g2
0 −−−→ M1 −−−−→ M −−−−→ M2 −−−→ 0

é exata e cinde. Verificamos a exatidão em dois passos:

• dado m1 ∈ M1 , temos

g2 ( f 1 (m1 )) = g2 (h(m1 , 0)) = π2 (m1 , 0) = 0,

donde Im f 1 ⊆ ker g2 .
• dado m ∈ ker g2 , escrevemos h−1 (m) = (m1 , m2 ): afirmo que
m = f 1 (m1 ). Com efeito, temos

0 = g2 (m) = g2 (h(m1 , m2 )) = π2 (m1 , m2 ) = m2 ,

e assim m = h(m1 , 0) = f 1 (m1 ), como queríamos.

Logo, a sequência é exata. Resta ver que cinde. Afirmamos que

M = ker g2 ⊕ h( M2 ) = Im f 1 ⊕ h( M2 ),

onde identificamos M2 ≡ {0} × M2 , de modo que o resultado se-


gue da Proposição 5.17 (p. 36). Novamente, argumentamos em dois
passos:

• Suponha que m ∈ ker g2 ∩ h( M2 ). Então temos g2 (m) = 0 e


m = h(0, m2 ) para algum m2 ∈ M2 . Assim

0 = g2 (m) = g2 (h(0, m2 )) = π2 (0, m2 ) = m2 ,

e concluímos que m = h(0, 0) = 0.


• Seja m ∈ M. Escrevendo h−1 (m) = (m1 , m2 ), a única coisa ra-
zoável a se esperar é que valha m = f 1 (m1 ) + h(0, m2 ). Com
efeito, temos

f 1 (m1 ) = h(m1 , 0) = h(m1 , m2 ) − h(0, m2 ) = m − h(0, m2 ),

e o resultado segue.

48
Exercício. Sejam R um anel, M um R-módulo à direita, e ( Nj ) j∈ J uma famí-
lia de submódulos de M tais que M = ∑ j∈ J Nj . Suponha que J se escreva
na forma J = λ∈Λ Jλ e que essa união seja disjunta. Para cada λ ∈ Λ, seja
S

Mλ = ∑ j∈ Jλ Nj .
(a) Mostre que M = ∑λ∈Λ Mλ .

(b) Mostre que ∑ j∈ J Nj é direta se, e somente se, as duas condições abaixo
estiverem satisfeitas:

(i) ∑ j∈ Jλ Nj é direta, para todo λ ∈ Λ, e


(ii) ∑λ∈Λ Mλ é direta.

Solução:
(a) Seja m ∈ M. Como M = ∑ j∈ J Nj , existem índices j1 , . . . , jk ∈ J e
elementos n j1 ∈ Nj1 , . . . , n jk ∈ Njk com m = n j1 + · · · + n jk . Mas para
cada i = 1, . . . , k existe λi ∈ Λ tal que ji ∈ Jλi , donde Nji ⊆ Mλi .
Concluímos que M = ∑λ∈Λ Mλ .
L
(b) Suponha que a soma j∈ J Nj é direta. Verifiquemos ambas as condi-
ções (i) e (ii):

(i) Utilizemos a definição. Fixe λ qualquer, e j∗ ∈ Jλ . Como

{0} ⊆ ∑ Nj ⊆ ∑ Nj ,
j∈ Jλ \{ j∗ } j∈ J \{ j∗ }

intersectar esta cadeia de inclusões com Nj∗ nos fornece

Nj∗ ∩ ∑ Nj = {0},
j∈ Jλ \{ j∗ }

como queríamos.
(ii) Utilizemos o item (b) da Proposição 6.5 (p. 43). Sejam k natural,
λ1 , . . . , λk ∈ Λ, e considere a combinação

mλ1 + · · · + mλk = 0,

onde mλi ∈ Mλi para i = 1, . . . , k. Por definição de cada Mλi , a


soma acima pode ser reescrita como

(n1,1 + · · · + n1,s1 ) + · · · + (nk,1 + · · · + nk,sk ) = 0,


| {z } | {z }
= m λ1 =mλk

49
onde s1 , . . . , sk são naturais, ji,r ∈ Jλi para 1 ≤ r ≤ si e ni,r ∈
Nji,r , para 1 ≤ i ≤ k. Como a soma da família ( Nj ) j∈ J é direta,
segue que ni,r = 0 para todas as possibilidades de índices, e assim
mλ1 = · · · = mλk = 0.

Reciprocamente, assuma (i) e (ii). Provemos que a soma ∑ j∈ J Nj é di-


reta. Para tanto, considere um natural k, índices j1 , . . . , jk ∈ J e a com-
binação
n1 + · · · + nk = 0,
onde n1 ∈ Nj1 , . . . , nk ∈ Njk . Como J foi particionado nos vários Jλ ,
para cada 1 ≤ i ≤ k existe um único λi ∈ Λ com ji ∈ Jλi . Isto define
uma aplicação (não necessariamente injetora)

f : {1, . . . , k } → Λ
i 7 → λi

com imagem finita {λ1 , . . . , λ` } (claramente com ` ≤ k). Assim, escre-


vemos
`
0 = n1 + · · · + n k = ∑ ∑ ni .
r =1 i ∈ f −1 ( λ r )

Observando que para cada 1 ≤ r ≤ ` temos ∑i∈ f −1 (λr ) ni ∈ Mλr , a


condição (ii) nos dá ∑i∈ f −1 (λr ) ni = 0 para todo 1 ≤ r ≤ `. Agora, a
condição (i) nos dá que ni = 0 para todo 1 ≤ i ≤ k.

7 Módulos livres (05/04)


Definição 7.1. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Um subcon-
junto X ⊆ M é linearmente independente sobre R se para todo n ≥ 1, para
todos x1 , . . . , xn ∈ X distintos e para todos r1 , . . . , rn ∈ R, tem-se

x1 r1 + · · · + xn rn = 0 =⇒ r1 = · · · = rn = 0.

Definição 7.2. Sejam R um anel e M um R-módulo. Diremos que X ⊆ M


é uma base (sobre R) de M se M for gerado por X e X for linearmente
independente.

Ao contrário do que ocorre com espaços vetoriais, nem todo módulo


possui uma base. Os que possuem merecem um nome especial:

50
Definição 7.3. Um módulo é livre se tiver uma base.

Antes de darmos exemplos, vejamos alguns resultados básicos sobre


módulos livres.

Lema 7.4. Sejam R um anel e M um R-módulo livre com base X. Então


M
M= xR.
x∈X

Demonstração: Como X gera M, temos M = ∑ x∈X xR. Tal soma é direta


por X ser linearmente independente.

Exemplo 7.5. A recíproca é falsa! Não é verdade que se X ⊆ M e M =


L
x ∈ X xR então M é livre com base X. O conjunto X pode não ser line-
armente independente se R possuir divisores de zero e M possuir torção
(veremos o que é isso adiante). Mas se R for um domínio de integridade e
M é livre de torção, a recíproca passa a ser verdadeira.
Vejamos uma situação assim: temos

Z
= 2Z ⊕ 3Z,
6Z
mas {2, 3} não é linearmente independente, já que 2 · 3 + 3 · (−2) = 0.

Outra consequência direta da definição é a:

Proposição 7.6. Sejam R um anel, e M e N dois R-módulos. Se M ∼


=NeMé
livre, então N é livre.

Proposição 7.7. Sejam R um anel e I um conjunto. Então o R-módulo


. M
F= Li ,
i∈ I

onde Li = R R para todo i ∈ I, é livre com base {ιi (1) | i ∈ I }, onde {ιi : Li → F }i∈ I
é a família dos homomorfismos injetores canônicos.
Notamos F = ( R R )( I ) (enquanto ( R R ) I denota o produto direto).

Demonstração: Vejamos que {ιi : Li → F }i∈ I é linearmente independente:


sejam r1 , . . . , rk ∈ R e índices i1 , . . . , ik ∈ I dois a dois distintos tais que

ιi1 (1)r1 + · · · + ιik (1)rk = 0.

51
Aplicando a projeção πi j : F → R, temos

0 = π i j ( ι i1 (1 ) r 1 + · · · + ι i k (1 ) r k )
= π i j ι i1 (1 ) r 1 + · · · + π i j ι i k (1 ) r k
= δi j i1 1r1 + · · · + δi j ik 1rk
= 1r j = r j ,
para todo 1 ≤ j ≤ k. Falta ver que {ιi : Li → F }i∈ I gera F. Para tal, consi-
dere ξ ∈ F. Então
ξ= ∑ ι i πi ( ξ ) = ∑ ιi (1πi (ξ )) = ∑ ι i (1) π i ( ξ ),
i ∈supp(ξ ) i ∈supp(ξ ) i ∈supp(ξ )

como queríamos.
Juntando o que temos até agora, concluímos também a:
Proposição 7.8. Sejam R um anel e M um R-módulo livre com base X. Então
M∼ = ( R R )( X ) .
.
Demonstração: Para cada x ∈ X, ponha L x = R R , e defina o homomor-
fismo
f x : Lx → M
a 7→ xa.

Se f : ( R R )(X ) → M é o homomorfismo fornecido pela propriedade uni-


versal da soma direta, podemos mostrar agora que f é um isomorfismo.
Sabemos que17
Im f = ∑ Im f x = ∑ xR = M.
x∈X x∈X
E f é injetor pois
 

0 = f (ξ ) = f  ∑ ι x π x (ξ )
x ∈supp(ξ )

= ∑ f (ι x (π x (ξ ))) = ∑ f x (π x (ξ ))
x ∈supp(ξ ) x ∈supp(ξ )

= ∑ xπ x (ξ ),
x ∈supp(ξ )

e independência linear de X nos diz que π x (ξ ) = 0 para todo x ∈ supp(ξ ),


donde ξ = 0.
17 Até aqui bastava que X fosse gerador de M.

52
O próximo resultado fica como exercício:
Proposição 7.9. Sejam R um anel, e I e J conjuntos com | I | = | J |. Então
( R R )( I ) ∼
= ( R R )( J ) .
Exemplo 7.10. A recíproca do resultado acima é falsa se R não é comuta-
tivo! Considere a seguinte situação: sejam k um corpo e V um espaço veto-
rial sobre k com base infinita e enumerável {e1 , . . . , en , . . .}, e R = Endk (V )
(que pode ser pensado no espaço de matrizes infinitas com colunas fini-
tas).
Mostremos que como R-módulo à direita, R ∼ = R ⊕ R. Um isomorfismo
é
ϕ: R → R ⊕ R
f 7 → ( f + , f − ),

onde f + (ei ) = f (e2i ) e f − (ei ) = f (e2i−1 ) para todo i ≥ 1. É fácil ver que ϕ
é um homomorfismo de R-módulos, e que ϕ é injetor. Para mostrar que ϕ
é sobrejetor, considere ( g, h) ∈ R ⊕ R. Defina f : V → V por
(
. g(ei/2 ), se i é par
f ( ei ) =
h(e(i+1)/2 ), se i é ímpar.

Por construção, ϕ( f ) = ( g, h).


Observação. Motivamos por isso, diremos que um anel R tem IBN (inva-
riant basis number) se para todos m, n naturais, vale que ( R R )n ∼
= ( R R )m
implica n = m. A rigor, teríamos duas noções de IBN (uma à direita e uma
à esquerda), mas são equivalentes.
Mais exemplos:
Exemplo 7.11 (Bizarrices com módulos).
(1) Se R é um anel, então R R é livre e {u} é uma base, para qualquer u ∈ R
inversível. Note que inversibilidade bilateral é necessária: de um lado
pois a = u(u−1 a) para todo a ∈ R, e por outro que ur = 0 implica
r = u−1 ur = 0.
(2) ZZ é livre, {2} é linearmente independente, mas {2} não é uma base
(2Z 6= Z) e não está contido em nenhuma base de Z. Com efeito, todo
subconjunto de Z com pelo menos dois elementos não é linearmente
independente, visto que se a, b ∈ Z são distintos, vale
a · b + b · (− a) = 0.

53
(3) ZZ é gerado por {2, 3} (pois 2 e 3 são coprimos, Bezout), mas nenhum
subconjunto de {2, 3} é base de Z.

(4) Nem todo submódulo de um módulo livre é livre. Por exemplo, con-
sidere R = Z/6Z. Então R R é livre, mas o submódulo N = {0, 2, 4}
não é livre (todos seus subconjuntos não-vazios são linearmente de-
pendentes). Além disto, em contraste com o que ocorre para espaços
vetoriais, {2} é um gerador minimal de N que não é linearmente inde-
pendente.

(5) Se R é um anel que não tenha IBN, pode-se tomar m, n naturais distin-
tos, e fazer

Mat(n, R) ∼
= EndR (( R R )n ) ∼
= EndR (( R R )m ) ∼
= Mat(m, R).

E de modo análogo ao que ocorreu com álgebras livres, também há


uma propriedade universal para módulos livres:

Teorema 7.12. Sejam R um anel e F um R-módulo à direita com base X. Então,


dados qualquer R-módulo à direita M e uma função j : X → M, existe um único
homomorfismo de R-módulos f : F → M que estende j.
L
Demonstração: Escreva F = x∈X xR, e defina

f x : xR → M
xa 7→ j( x ) a.

Note que f x está bem-definido pois X é base: xa = xb implica x ( a − b) = 0


e daí a − b = 0 por independência linear de X. Ainda, f x é um homo-
morfismo de R-módulos. Agora, a propriedade universal da soma direta
nos fornece um homomorfismo de R-módulos f : F → M que satisfaz
f ι x = f x , onde ι x : xR ,→ F é a inclusão. Daí, se x ∈ X, temos

f ( x ) = f (ι x ( x )) = f x ( x ) = f x ( x1) = j( x )1 = j( x ).

E f é o único homomorfismo nestas condições pois X gera M, então se


dois homomorfismos coincidem em X, são iguais.

Corolário 7.13. Se
β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ F −−−→ 0

é uma sequência exata curta de R-módulos e F é livre, então a sequência cinde.

54
Demonstração: Seja X uma base de F. Como β é sobrejetor, para cada
x ∈ X existe m x ∈ M com β(m x ) = x. Defina j : X → M por j( x ) = m x , e
a propriedade universal dos módulos livres nos dá um homomorfismo de
R-módulos f : F → M que estende j. Claramente β f é a identidade em X
e, portanto, em F. Logo β é um homomorfismo sobrejetor que cinde.
Observação. A recíproca não vale. Isto motivará a definição de módulo
projetivo que veremos adiante.

8 Produto tensorial (10/04)


Definição 8.1 (Produto balanceado). Sejam R um anel, M um R-módulo à
direita e N um R-módulo à esquerda. Um produto balanceado de M e N é um
par ( P, f ), onde P é um grupo abeliano e f : M × N → P é uma função
satisfazendo:
(i) f ( x + x 0 , y) = f ( x, y) + f ( x 0 , y), para quaisquer x, x 0 ∈ M, y ∈ N;

(ii) f ( x, y + y0 ) = f ( x, y) + f ( x, y0 ), para quaisquer x ∈ M, y, y0 ∈ N;

(iii) f ( xa, y) = f ( x, ay), para quaisquer x ∈ M, y ∈ N e a ∈ R.


Observação.
• Segue diretamente da definição acima que se ( P, f ) é um produto
balanceado de MR e R N, então valem

f ( x, 0) = f (0, y) = 0 e f (− x, y) = f ( x, −y) = − f ( x, y),

para todos x ∈ M e y ∈ N.

• Produtos balanceados de fato existem: se P é um grupo abeliano


qualquer, pode-se colocar f = 0.
Com esta noção de produto balanceado, e natural buscarmos um novo
tipo de espaço que “traduza” aplicações balanceadas em termos de homo-
morfismos de grupos.
Definição 8.2 (Produto tensorial). Sejam R um anel, M um R-módulo à
direita e N um R-módulo à esquerda. Um produto tensorial de M e N é
um produto balanceado ( M ⊗ R N, ⊗) com a seguinte propriedade: dado
qualquer produto balanceado ( P, f ) de M e N, existe um único homomor-
fismo de grupos abelianos ϕ : M ⊗ R N → P tal que ϕ ◦ ⊗ = f , ou seja,
.
ϕ( x ⊗ y) = f ( x, y) para todos x ∈ M e y ∈ N, onde x ⊗ y = ⊗( x, y).

55
M ⊗R N

ϕ

M×N P
f
Figura 11: Propriedade universal do produto tensorial.

Observação.

• Se (( M ⊗ R N )1 , ⊗1 ) e (( M ⊗ R N )2 , ⊗2 ) são produtos tensoriais de


MR e R N, então existe um (único) isomorfismo de grupos abelianos
ϕ : ( M ⊗ N )1 → ( M ⊗ N )2 tal que ϕ( x ⊗1 y) = x ⊗2 y, para todos
x ∈ M e y ∈ N.
O argumento é o “de sempre”, tomando como P cada um dos produ-
tos tensoriais dados. Obtemos homomorfismos de grupos abelianos
ϕ e ψ de acordo com os diagramas a seguir:

( M ⊗ R N )1 ( M ⊗ R N )2

ϕ ψ
⊗1 ⊗2

M×N ( M ⊗ R N )2 M×N ( M ⊗ R N )1
⊗2 ⊗1
Figura 12: Construindo os isomorfismos ϕ e ψ.

Com isto, concluímos que o primeiro dos diagramas abaixo também


comuta (o segundo é óbvio):

56
( M ⊗ R N )1 ( M ⊗ R N )1

ψ◦ϕ Id1
⊗1 ⊗1

M×N ( M ⊗ R N )1 M×N ( M ⊗ R N )1
⊗1 ⊗1
Figura 13: Mostrando que ψ ◦ ϕ = Id1 .

Da parte da unicidade da propriedade universal, concluímos que ψ ◦


ϕ = Id1 . Analogamente mostra-se que ϕ ◦ ψ = Id2 .

• Se ( M ⊗ R N, ⊗) é um produto tensorial de MR e R N, o grupo abeli-


ano M ⊗ R N é gerado por { x ⊗ y | x ∈ M e y ∈ N }.
Para ver isto, considere G o subgrupo de M ⊗ R N gerado por

{ x ⊗ y | x ∈ M e y ∈ N }.

Naturalmente, queremos mostrar que G = M ⊗ R N ou, equivalente-


mente, que o quociente ( M ⊗ R N )/G é trivial. Definindo

M ⊗R N
f: M×N →
G
( x, y) 7→ 0 + G,

temos que (( M ⊗ R N )/G, f ) é um produto balanceado de MR e R N.


Isto significa que podemos utilizar a propriedade universal do pro-
duto tensorial M ⊗ R N de modo conveniente. Então considere a pro-
jeção canônica π : M ⊗ R N → ( M ⊗ R N )/G, bem como o morfismo
nulo n : M ⊗ R N → ( M ⊗ R N )/G. Então por definição de G, ambos
os diagramas a seguir comutam:

57
M ⊗R N M ⊗R N

π n
⊗ ⊗

M×N M ⊗R N M×N M ⊗R N
f G f G
Figura 14: Mostrando que π = n.

Assim, concluímos que π = n, como queríamos.

• Em vista dos pontos acima, dizemos que ( M ⊗ R N, ⊗) é o produto


tensorial de MR e R N, e temos que
( )
n
M ⊗R N = ∑ xi ⊗ yi | n ≥ 1, xi ∈ M e yi ∈ N .
i =1

Em particular, note que −( x ⊗ y) = (− x ) ⊗ y = x ⊗ (−y). Mas


cuidado: as expressões dadas por esta caracterização não são únicas
(nem as minimais)!

Discutimos tudo isto, mas até agora não sabemos se produtos tensori-
ais sequer existem. Então:

Teorema 8.3. Sejam R um anel, M um R-módulo à direita e N um R-módulo à


esquerda. Então existe um produto tensorial de M e N.

Demonstração: Considere F o Z-módulo livre com “base” M × N, ou seja,


F = Z( M× N ) . Uma base de F é { β (m,n) | (m, n) ∈ M × N }, onde cada
elemento β (m,n) = (α(r,s) )(r,s)∈ M× N satisfaz
(
1, se (r, s) = (m, n)
α(r,s) =
0, caso contrário.

Agora considere G o submódulo de F gerado por todos os elementos das


formas

• β (m+m0 ,m) − β (m,n) − β (m0 ,n) ;

• β (m,n+n0 ) − β (m,n) − β (m,n0 ) , e;

58
• β (ma,n) − β (m,an) ,

com m, m0 ∈ M, n, n0 ∈ N e a ∈ R. Afirmamos então que se

F
f: M×N →
G
(m, n) 7→ β (m,n) + G,

então ( F/G, f ) é um produto balanceado de MR e R N. Claro que F/G é


um grupo abeliano, pois F e G o são. Verifiquemos por exemplo a lineari-
dade de f na primeira variável: pela definição de G temos

f (m + m0 , n) = β (m+m0 ,n) + G
= ( β (m,n) + β (m0 ,n) ) + G
= ( β (m,n) + G ) + ( β (m0 ,n) + G )
= f (m, n) + f (m0 , n),

quaisquer que sejam m, m0 ∈ M e n ∈ N. Analogamente verifica-se que


f (m, n + n0 ) = f (m, n) + f (m, n0 ) e f (ma, n) = f (m, an), para m ∈ M,
n, n0 ∈ N e a ∈ R.
Feito isto, mostremos algo melhor: ( F/G, f ) é na verdade um produto
tensorial de MR e R N. Seja dado um produto balanceado ( P, g) de MR
e R N, e considere j : M × N → P dada por j(m, n) = g(m, n). Pela pro-
priedade universal dos módulos livres, existe um homomorfismo de gru-
pos abelianos (Z-módulos) ϕ : F → P que estende j, ou seja, que satisfaz
ϕ( β (m,n) ) = g(m, n), qualquer que seja (m, n) ∈ M × N.
Como g é um produto balanceado, a definição de G nos dá a inclusão
G ⊆ ker ϕ. Por exemplo:

ϕ( β (m+m0 ,n) − β (m,n) − β (m0 ,n) ) = ϕ( β (m+m0 ,n) ) − ϕ( β (m,n) ) − ϕ( β (m0 ,n) )
= g(m + m0 , n) − g(m, n) − g(m0 , n)
= 0,

para todos m, m0 ∈ M e n ∈ N. Assim, o Teorema do Homomorfismo


(Teorema 4.8, p. 30) finalmente nos dá o seguinte diagrama comutativo:

59
F

ϕ
F
G
ϕ
f

M×N P
g

Figura 15: Resumindo a situação até aqui.

Ou seja:

ϕ( f (m, n)) = ϕ( β (m,n) + G ) = ϕ( β (m,n) ) = g(m, n),

para todo (m, n) ∈ M × N. Afirmamos que ϕ : F/G → P é o único homo-


morfismo de grupos nestas condições. Com efeito, se ψ : F/G → P satisfaz
ψ ◦ f = g, temos

ψ( β (m,n) + G ) = ψ( f (m, n)) = g(m, n) = ϕ( f (m, n)) = ϕ( β (m,n) + G ).

Visto que { β (m,n) + G | (m, n) ∈ M × N } gera F/G, concluímos que ψ = ϕ


(pois são homomorfismos). Portanto ( F/G, f ) é um produto tensorial de
MR e R N, como queríamos.

Exemplo 8.4.

(1) Sejam m, n ∈ Z, com mdc(m, n) = 1. Vejamos que

Z Z
⊗Z = 0.
mZ nZ

Com efeito, tome a ∈ Z/mZ e b ∈ Z/nZ. É suficiente mostrar que


a ⊗ b = 0. Para tanto, considere inteiros r, s ∈ Z tais que mr + ns = 1,

60
e use que ⊗ é balanceado:

a ⊗ b = ( a · 1) ⊗ b
= ( a · (mr + ns)) ⊗ b
= ( a · (mr )) ⊗ b + ( a · (ns)) ⊗ b
= ( a · (mr )) ⊗ b + a ⊗ ((ns) · b)
= ( am · r ) ⊗ b + a ⊗ (s · nb)
= (0 · r ) ⊗ b + a ⊗ ( s · 0)
= 0⊗b+a⊗0
= 0.
.
(2) Sejam m, n ∈ Z, e d = mdc(m, n). Afirmamos que

Z Z ∼ Z
⊗Z = .
mZ nZ dZ
Para isto, vejamos que é possível equipar Z/dZ com um certo produto
que o torne um produto tensorial de Z/mZ e Z/nZ. Como são muitas
classes de equivalência a serem consideradas, denotaremos-as pelos
colchetes adequados. Além disto, mantenha em mente todo o tempo
que mZ + nZ = dZ.
Considere a função
Z Z Z
f : × →
mZ nZ dZ
([ a]m , [b]n ) 7→ [ ab]d .

Afirmo que (Z/dZ, f ) é um produto tensorial de Z/mZ e Z/nZ sobre


Z. A primeira coisa a ser verificada é que (Z/dZ, f ) é um produto
balanceado:

• Começamos verificando que f está bem definida: suponha que


[ a]m = [ a0 ]m e [b]m = [b0 ]m . Então existem inteiros α, β ∈ Z tais
que a = a0 + αm e b = b0 + βn. Assim

ab = a0 b0 + a0 βn + αb0 m + αβmn = a0 b0 + a0 βn + ( ab0 + αβn)m,


| {z }
∈nZ+mZ=dZ

donde [ ab]d = [ a0 b0 ]d , como queríamos.

61
• Veja que

f ([ a]m + [ a0 ]m , [b]n ) = f ([ a + a0 ]m , [b]n )


= [( a + a0 )b]d
= [ ab + a0 b]d
= [ ab]d + [ a0 b]d
= f ([ a]m , [b]n ) + f ([ a0 ]m , [b]n ).

• Para ver que f ([ a]m , [b]n + [b0 ]n ) = f ([ a]m , [b]n ) + f ([ a]m , [b0 ]n ), o
argumento é análogo ao dado acima.
• Finalmente, se r ∈ Z, temos que

f ([ a]m r, [b]n ) = f ([ ar ]m , [b]n ) = [( ar )b]d


= [ a(rb)]d = f ([ a]m , [rb]n )
= f ([ a]m , r [b]n ).

Resta ver que (Z/dZ, f ) satisfaz a propriedade universal para o pro-


duto tensorial. Considere então um produto balanceado ( P, g) de Z/mZ
e Z/nZ sobre Z. Comece definindo

ϕ: Z → P
x 7→ g([ x ]m , [1]n ).

Como g é balanceado, temos que ϕ é um homomorfismo de Z-módulos.


Além disto, vale que dZ ⊆ ker ϕ: com efeito, se x ∈ dZ, temos que
x = dt para algum t ∈ Z. Ainda, por Bézout existem r, s ∈ Z com
d = rm + sn, donde x = rmt + snt. Portanto

ϕ( x ) = g([ x ]m , [1]n ) = g([snt]m , [1]n )


= g([st]m n, [1]n ) = g([st]m , n[1]n )
= g([st]m , [n]n ) = g([st]m , [0]n )
= 0.

Assim, ϕ desce ao quociente como ϕ : Z/dZ → P, e vale

ϕ( f ([ a]m , [b]n )) = ϕ([ ab]d ) = ϕ( ab)


= g([ ab]m , [1]n ) = g([ a]m b, [1]n )
= g([ a]m , b[1]n ) = g([ a]m , [b]n ),

como queríamos. A situação resume-se ao seguinte diagrama:

62
Z

ϕ
Z
dZ
ϕ
f

Z Z P
× g
mZ nZ
Figura 16: Construindo a linearização ϕ.

Finalmente, suponha que ψ : Z/dZ → P seja outro homomorfismo


satisfazendo ψ ◦ f = g. Temos
ψ([1]d ) = ψ( f ([1]m , [1]n )) = g([1]m , [1]n ) = ϕ(1) = ϕ([1]d ).
Como [1]d gera Z/dZ, concluímos que ψ = ϕ e que (Z/dZ, f ) é um
produto tensorial de Z/mZ por Z/nZ sobre Z, como queríamos.

† Algumas coisas (sobre produtos tensoriais) da


Lista 2
Exercício. Sejam K um corpo, L uma extensão de K, e V um K-espaço
vetorial com K-base { xλ | λ ∈ Λ}. Mostre que L ⊗K V é um L-espaço
vetorial com L-base {1 ⊗ xλ | λ ∈ Λ}.
Solução: Temos que L ⊗K V já é um grupo abeliano por definição, então
só resta equipá-lo com uma multiplicação externa. Dado a ∈ L, note que
m a : L × V → L ⊗K V
.
(b, x ) 7→ m a (b, x ) = ( ab) ⊗ x
é um produto balanceado de L e V sobre K. Com efeito, temos
m a (b + b0 , x ) = ( a(b + b0 )) ⊗ x = ( ab + ab0 ) ⊗ x
= ( ab) ⊗ x + ( ab0 ) ⊗ x = m a (b, x ) + m a (b0 , x ),

63
que

m a (b, x + x 0 ) = ( ab) ⊗ ( x + x 0 )
= ( ab) ⊗ x + ( ab) ⊗ x 0
= m a (b, x ) + m a (b, x 0 ),

e finalmente que

m a (bk, x ) = ( a(bk )) ⊗ x = (( ab)k ) ⊗ x = ( ab) ⊗ (kx ) = m a (b, kx ),

quaisquer que sejam b, b0 ∈ L, x, x 0 ∈ V e k ∈ K. Portanto existe um


homomorfismo de grupos m a : L ⊗K V → L ⊗K V satisfazendo

m a (b ⊗ x ) = ( ab) ⊗ x,

para todos b ∈ L e x ∈ V. Feito tudo isto, a multiplicação externa que


definiremos é

L × ( L ⊗K V ) → L ⊗K V
( a, t) 7→ m a (t).

Como cada m a é um homomorfismo, valem as distributivas da definição


de espaço vetorial. Além disto, temos que m1 = Id L⊗K V , donde concluí-
mos que L ⊗K V de fato tem uma estrutura de L-espaço vetorial.
Agora, resta ver que {1 ⊗ xλ | λ ∈ Λ} é uma L-base de L ⊗K V:

• É linearmente independente sobre L: considere em HomK (V, K ) a


base18 dual { ϕλ | λ ∈ Λ} e, para cada λ ∈ Λ, defina

fλ : L × V → L
( a, x ) 7→ aϕλ ( x ).

Afirmo que ( L, f λ ) é um produto balanceado de L e V sobre K. Como


sempre, temos

f λ ( a + a0 , x ) = ( a + a0 ) ϕλ ( x )
= aϕλ ( x ) + a0 ϕλ ( x )
= f λ ( a, x ) + f λ ( a0 , x ),
18 Que na verdade não é base se dimK V = +∞.

64
de modo análogo

f λ ( a, x + x 0 ) = aϕλ ( x + x 0 )
= a( ϕλ ( x ) + ϕλ ( x 0 ))
= aϕλ ( x ) + aϕλ ( x 0 )
= f λ ( a, x ) + f λ ( a, x 0 ),

f λ ( ak, x ) = ( ak) ϕλ ( x ) = a(kϕλ ( x )) = aϕλ (kx ) = f λ ( a, kx ),

quaisquer que sejam a, a0 ∈ L, x, x 0 ∈ V e k ∈ K. Então existe uma


linearização f λ : L ⊗K V → L. Agora, se são dados λ1 , . . . , λn ∈ Λ e
a1 , . . . , an ∈ L todos dois a dois distintos e tais que
n
∑ ai (1 ⊗ xλi ) = 0,
i =1

reorganizamos tal expressão como


n
∑ ai ⊗ xλi = 0,
i =1

e aplicamos f λ j , de modo a obter


!
n n
0 = fλj ∑ a i ⊗ x λi = ∑ f λ j ( ai ⊗ x λ j )
i =1 i =1
n n
= ∑ ai ϕλj (xλi ) = ∑ ai δji
i =1 i =1
= aj,

como queríamos.

• Gera L ⊗K V: dado t ∈ L ⊗K V, existem a1 , . . . , an ∈ L e vetores


v1 , . . . , vn ∈ V com
n
t= ∑ ai ⊗ vi .
i =1

E para cada 1 ≤ i ≤ n existe uma família quase-nula (biλ )λ∈Λ de


escalares em K tais que vi = ∑λ∈Λ biλ xλ (note que tal soma é finita).

65
Assim, podemos escrever
!
n n
t= ∑ ai ⊗ ∑ biλ xλ = ∑ ∑ ai ⊗ (biλ xλ )
i =1 λ∈Λ λ ∈ Λ i =1
!
n n
= ∑ ∑ (ai biλ ) ⊗ xλ = ∑ ∑ ai biλ (1 ⊗ x λ ).
λ ∈ Λ i =1 λ∈Λ i =1

Note que a soma acima ainda é finita, de modo que terminamos a


demonstração.

Exercício. Sejam R um anel, M e M0 R-módulos à direita, N e N 0 R-


módulos à esquerda, e f : M → M0 e g : N → N 0 homomorfismos de
R-módulos. Mostre que existe um único homomorfismo de grupos

f ⊗ g : M ⊗ R N → M0 ⊗ R N 0

tal que
( f ⊗ g)( x ⊗ y) = f ( x ) ⊗ g(y),
quaisquer que sejam x ∈ M e y ∈ N.

Solução: É suficiente mostrar que se h : M × N → M0 ⊗ R N 0 é definido


.
por h( x, y) = f ( x ) ⊗ g(y), então ( M0 ⊗ R N 0 , h) é um produto balanceado
de M e N sobre R. Verificado este fato, a (única) aplicação fornecida pela
propriedade universal de M ⊗ R N é precisamente f ⊗ g. Primeiramente,
temos

h( x + x 0 , y) = f ( x + x 0 ) ⊗ g(y)
= ( f ( x ) + f ( x 0 )) ⊗ g(y)
= f ( x ) ⊗ g(y) + f ( x 0 ) ⊗ g(y)
= h( x, y) + h( x 0 , y),

em seguida

h( x, y + y0 ) = f ( x ) ⊗ g(y + y0 )
= f ( x ) ⊗ ( g(y) + g(y0 ))
= f ( x ) ⊗ g(y) + f ( x ) ⊗ g(y0 )
= h( x, y) + h( x, y0 ),

66
e finalmente
h( xr, y) = f ( xr ) ⊗ g(y)
= ( f ( x )r ) ⊗ g ( y )
= f ( x ) ⊗ (rg(y))
= f ( x ) ⊗ g(ry)
= h( x, ry),
quaisquer que sejam x, x 0 ∈ M, y, y0 ∈ N e r ∈ R.
Exercício. Dados módulos MR , MR0 , R N, R N 0 , e homomorfismos f 1 , f 2 , f ∈
HomR ( M, M0 ) e g1 , g2 , g ∈ HomR ( N, N 0 ), mostre que:
(a) ( f 1 + f 2 ) ⊗ g = ( f 1 ⊗ g) + ( f 2 ⊗ g);
(b) f ⊗ ( g1 + g2 ) = ( f ⊗ g1 ) + ( f ⊗ g2 );
(c) f ⊗ 0 = 0 ⊗ g = 0;
(d) Id M ⊗ Id N = Id M⊗R N .
Solução: Basta verificarmos as igualdades em tensores simples da forma
x ⊗ y.
(a) Temos
(( f 1 ⊗ g) + ( f 2 ⊗ g))( x ⊗ y) = ( f 1 ⊗ g)( x ⊗ y) + ( f 2 ⊗ g)( x ⊗ y)
= f 1 ( x ) ⊗ g(y) + f 2 ( x ) ⊗ g(y)
= ( f 1 ( x ) ⊗ f 2 ( x )) ⊗ g(y)
= (( f 1 + f 2 )( x )) ⊗ g(y)
= (( f 1 + f 2 ) ⊗ g)( x ⊗ y).

(b) Como antes, temos


(( f ⊗ g1 ) + ( f ⊗ g2 ))( x ⊗ y) = ( f ⊗ g1 )( x ⊗ y) + ( f ⊗ g2 )( x ⊗ y)
= f ( x ) ⊗ g1 ( y ) + f ( x ) ⊗ g2 ( y )
= f ( x ) ⊗ ( g1 (y) + g2 (y))
= f ( x ) ⊗ (( g1 + g2 )(y))
= ( f ⊗ ( g1 + g2 ))( x ⊗ y).

(c) Temos 0( x ⊗ y) = 0 = f ( x ) ⊗ 0(y) = ( f ⊗ 0)( x ⊗ y). Note que o sím-


bolo 0 tem três papeis diferentes nestas igualdades. A demonstração
que 0 = 0 ⊗ g é análoga.

67
(d) Veja que
Id M⊗R N ( x ⊗ y) = x ⊗ y = Id M ( x ) ⊗ Id N (y) = (Id M ⊗ Id N )( x ⊗ y).

Exercício. Dadas as sequências


f f0
M −−−→ M0 −−−−→ M00
e
g g0
N −−−→ N 0 −−−−→ N 00
de homomorfismos de R-módulos à direita e à esquerda, respectivamente,
mostre que ( f 0 ⊗ g0 ) ◦ ( f ⊗ g) = ( f 0 ◦ f ) ⊗ ( g0 ◦ g).
Solução: Como no exercício anterior, basta checar para tensores simples
da forma x ⊗ y. Temos:
(( f 0 ⊗ g0 ) ◦ ( f ⊗ g))( x ⊗ y) = ( f 0 ⊗ g0 ) ( f ⊗ g)( x ⊗ y)


= ( f 0 ⊗ g0 )( f ( x ) ⊗ g(y))
= f 0 ( f ( x )) ⊗ g0 ( g(y))
= ( f 0 ◦ f )( x ) ⊗ ( g0 ◦ g)(y)
= (( f 0 ◦ f ) ⊗ ( g0 ◦ g))( x ⊗ y).

9 Mais produtos tensoriais (12/04)


9.1 Isomorfismos com produtos tensoriais
Proposição 9.1. Sejam R um anel e N um R-módulo à esquerda. Então
η : N → R ⊗R N
y 7→ 1 ⊗ y
é um isomorfismo (de grupos abelianos).
Demonstração: É fácil ver que η é um homomorfismo sobrejetor, mas é di-
fícil provar que é injetor. Então vamos construir o homomorfismo inverso.
Se
f: R×N → N
( a, y) 7→ ay,

68
então ( N, f ) é um produto balanceado entre R R e R N (isto segue das pro-
priedades das operações em R N). Logo, existe uma linearização

ρ : R ⊗R N → N

de f , que satisfaz ρ( a ⊗ y) = ay, quaisquer que sejam a ∈ R e y ∈ N. Daí

ρ ◦ η (y) = ρ(1 ⊗ y) = 1y = y, e
η ◦ ρ( a ⊗ y) = η ( ay) = 1 ⊗ ( ay) = a ⊗ y,

como desejado.

Observação. Note que para mostrar que η ◦ ρ = IdR⊗R N , estamos usando


que η é um homomorfismo (de modo que η ◦ ρ também o é), pois a verifi-
cação está sendo feita apenas num conjunto gerador de R ⊗ R N.

De modo dual à proposição anterior, também temos a:

Proposição 9.2. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Então

µ : M → M ⊗R R
x 7→ x ⊗ 1

é um isomorfismo (de grupos abelianos).

Ou seja, produtos tensoriais “absorvem” o anel de coeficientes (dos


lados adequados).

Exemplo 9.3. Considere Z como submódulo de Z Q. Pelo feito acima, para


todo n ≥ 1 tem-se
Z Z
⊗Z Z ∼
= ,
nZ nZ
mas também
Z
⊗Z Q = 0,
nZ
pois

a ⊗ q = a ⊗ (nn−1 q) = ( an) ⊗ (n−1 q) = an ⊗ n−1 q = 0 ⊗ (n−1 q) = 0.

Então ⊗ pode não preservar inclusões (no sentido em que tomando o pro-
duto tensorial com algo “ainda maior”, obtivemos zero).

Continuando:

69
Proposição 9.4. Sejam R um anel, I um ideal à direita de R, e M um R-módulo
à esquerda. Então existe um isomorfismo (de grupos abelianos)
R M
ϕ: ⊗R M →
I IM
( a + I ) ⊗ x 7→ ax + I M,
onde I M é o submódulo de M gerado por {rx | r ∈ I, x ∈ M }.
Demonstração: Primeiramente, defina
R M
f: ×M→
I IM
(r + I, x ) 7→ rx + I M.
Verifiquemos diretamente que f está bem-definida: se r1 , r2 ∈ R são tais
que r1 − r2 ∈ I, então r1 x − r2 x = (r1 − r2 ) x ∈ I M, donde obtemos que
r1 x + I M = r2 x + I M.
Vejamos agora que ( M/I M, f ) é um produto balanceado de R/I e M
sobre R:
• Começamos com:

f ((r1 + I )+(r2 + I ), x ) = f ((r1 + r2 ) + I, x ) = ((r1 + r2 ) x ) + I M


= (r1 x + r2 x ) + I M = (r1 x + I M ) + (r2 x + I M )
= f (r1 + I, x ) + f (r2 + I, x ).

• Em seguida:

f (r + I, x1 + x2 ) = (r ( x1 + x2 )) + I M = (rx1 + rx2 ) + I M
= (rx1 + I M) + (rx2 + I M) = f (r, x1 ) + f (r, x2 ).

• Por fim:

f ((r + I )r 0 , x ) = f (rr 0 + I, x ) = (rr 0 ) x + I M


= r (r 0 x ) + I M = f (r + I, r 0 x ).

Logo existe a linearização ϕ : R/I ⊗ R M → M/I M, como desejado. Vamos


mostrar que ϕ é um isomorfismo, construindo a sua inversa. Defina
R
g:M→ ⊗R M
I
x 7→ (1 + I ) ⊗ x.

70
É fácil ver que g é um homomorfismo de grupos abelianos. Se r ∈ I e
x ∈ M, temos

g(rx ) = (1 + I ) ⊗ (rx ) = ((1 + I )r ) ⊗ x


= (r + I ) ⊗ x = (0 + I ) ⊗ x
= 0,

donde concluímos que g se anula nos geradores de I M e, portanto, em


todo I M. Assim, g desce ao quociente como

M R
ψ: → ⊗ R M.
IM I
Vejamos que isto funciona. Por um lado, temos

ϕ ◦ ψ( x + I M) = ϕ( g( x )) = ϕ((1 + I ) ⊗ x )
= (1x ) + I M = x + I M,

donde ϕ ◦ ψ = Id M/I M . Por outro lado, se r ∈ R e x ∈ M, temos que

ψ ◦ ϕ((r + I ) ⊗ x ) = ψ(rx + I M ) = g(rx ) = (1 + I ) ⊗ (rx )


= ((1 + I )r ) ⊗ x = (r + I ) ⊗ x,

e a unicidade da linearização na propriedade universal do produto tenso-


rial nos diz que ψ ◦ ϕ = Id.
Como consequência, temos o:

Corolário 9.5. Sejam R um anel, J um ideal à esquerda e I um ideal à direita.


Então
R R R
⊗R ∼ = ,
I J I+J
como grupos.

Demonstração: Sendo J um ideal à esquerda, temos que R/J é um R-


módulo à esquerda, e o resultado anterior nos diz que

R R R/J
⊗R ∼= ,
I J I ( R/J )

de modo que só nos resta verificar que

R/J ∼ R
= .
I ( R/J ) I+J

71
Como J ⊆ I + J, a identidade de R passa para o quociente como um ho-
momorfismo sobrejetor
R R
ϕ: → .
J I+J
Afirmo que ker ϕ = I ( R/J ). Por um lado, se a ∈ I e r ∈ R, temos

ϕ( a(r + J )) = ϕ( ar + J ) = ar + I + J = I + J,

pois ar ∈ I (lembre que I é ideal à direita). Por outro lado, se ϕ(r + J ) = 0,


então r ∈ I + J se escreve como r = a + b, com a ∈ I e b ∈ J. Assim

r + J = a + b + J = a + J = a(1 + J ) ∈ I ( R/J ),

como queríamos.19
.
Observação. Em particular, concluímos novamente que se m, n ≥ 1 e d =
mdc(m, n), então
Z Z ∼ Z
⊗Z = .
mZ nZ dZ
Proposição 9.6. Sejam R um anel, ( Mλ )λ∈Λ uma família de R-módulos à di-
reita, e N um R-módulo à direita. Então existe um isomorfismo (de grupos abeli-
anos) !
M M
ϕ: Mλ ⊗R N → ( Mλ ⊗ R N ) ,
λ∈Λ λ∈Λ

satisfazendo ϕ(( xλ )λ∈Λ ⊗ y) = ( xλ ⊗ y)λ∈Λ .

Demonstração: Defina
!
M M
f: Mλ ×N → ( Mλ ⊗ R N )
λ∈Λ λ∈Λ
(( xλ )λ∈Λ , y) 7→ ( xλ ⊗ y)λ∈Λ .

Note que como ( xλ )λ∈Λ é quase-nula, então ( xλ ⊗ y)λ∈Λ também o é, e


assim f está bem-definida. E é fácil ver que ( λ∈Λ ( Mλ ⊗ R N ), f ) é um
L

produto balanceado. Assim, existe a linearização desejada ϕ.


19 Solução alternativa (Vinicius Rodrigues): mostrar que I ( R/J ) = ( I + J )/J, e assim

R/J R/J ∼ R
= = .
I ( R/J ) ( I + J )/J I+J

72
Resta mostrar que ϕ é um isomorfismo, e faremos isto construindo o
isomorfismo inverso. Para tanto, começamos notando que para cada ρ ∈
Λ, a função
!
M
f ρ : Mρ × N → Mλ ⊗R N
λ∈Λ
( x, y) 7→ ι ρ ( x ) ⊗ y,
L
onde ι ρ : Mρ ,→ λ∈Λ Mλ , é um produto balanceado. Então existem line-
arizações !
M
g ρ : Mρ ⊗ R N → Mλ ⊗ R N,
λ∈Λ
satisfazendo gρ ( x ⊗ y) = ι ρ ( x ) ⊗ y, para todos x ∈ Mρ e y ∈ N. Pela
propriedade universal da soma direta (Proposição 6.3, p. 42), existe um
homomorfismo
!
M M
ψ: ( Mλ ⊗ R N ) → Mλ ⊗R N
λ∈Λ λ∈Λ

satisfazendo ψ ◦ ι0ρ = gρ para todo ρ ∈ Λ, onde

ι0ρ : Mρ ⊗ R N ,→
M
( Mλ ⊗ R N )
λ∈Λ

também denota a inclusão canônica. Resta ver que ψ é a inversa desejada.


Então, por um lado, calculamos:
!
ψ ◦ ϕ(( xλ )λ∈Λ ⊗ y) = ψ(( xλ ⊗ y)λ∈Λ ) = ψ ∑ ι0λ ( xλ ⊗ y)
λ∈Λ
= ∑ ψι0λ ( xλ ⊗ y) = ∑ gλ ( x λ ⊗ y )
λ∈Λ λ∈Λ
!
= ∑ ι λ ( xλ ) ⊗ y = ∑ ι λ ( xλ ) ⊗y
λ∈Λ λ∈Λ
= ( xλ )λ∈Λ ⊗ y.
Pela unicidade dada pela propriedade universal do produto tensorial, te-
mos ψ ◦ ϕ = Id. Por outro lado, note que dado λ ∈ Λ qualquer, temos

( ϕ ◦ ψ) ◦ ι0λ ( x ⊗ y) = ϕ ◦ (ψ ◦ ι0λ )( x ⊗ y) = ϕ( gλ ( x ⊗ y))


= ϕ(ι λ ( x ) ⊗ y) = ι0λ ( x ⊗ y),

73
visto que ι λ ( x ) é a família contendo x na posição λ e zero nas restantes, do
mesmo modo que ι0λ ( x ⊗ y) é a família contendo x ⊗ y na posição λ e zero
nas restantes. Como { x ⊗ y | x ∈ Mλ , y ∈ N } gera Mλ ⊗ R N, temos que
ϕψι0λ = ι0λ , para todo λ ∈ Λ. Segue que ϕ ◦ ψ = Id pela unicidade dada na
propriedade universal da soma direta.
Claro que vale a versão dual do resultado acima:

Proposição 9.7. Sejam R um anel, M um R-módulo à direita e ( Nλ )λ∈Λ uma


família de R-módulos à esquerda. Então
!
Nλ ∼
M M
M ⊗R = ( M ⊗ R Nλ ).
λ∈Λ λ∈Λ

9.2 Bimódulos
Definição 9.8. Sejam R e S aneis. Um grupo abeliano M é um ( R, S)-
bimódulo, denotado por R MS , se M for um R-módulo à esquerda, um S-
módulo à direita e, além disto, que ambas as estruturas sejam compatíveis,
no sentido que
(rm)s = r (ms),
quaisquer que sejam r ∈ R, s ∈ S e m ∈ M.

Exemplo 9.9.

(1) Todo anel R é um ( R, R)-bimódulo. E todo ideal bilateral de R é tam-


bém um ( R, R)-bimódulo.

(2) Sejam R um anel e M um R-módulo à esquerda. Então M é um ( R, Z)-


bimódulo, de forma natural. De modo análogo, se N é um R-módulo
à direita, então N é também um (Z, R)-bimódulo.

(3) Sejam R um anel comutativo e M um R-módulo à direita. Então M é um


.
( R, R)-bimódulo, definindo r · m = mr. De fato, se r1 , r2 ∈ R, temos

(r1 · m)r2 = (mr1 )r2 = m(r1 r2 )


= m(r2 r1 ) = (mr2 )r1
= r1 · (mr2 ).

De um jeito análogo também pode-se mostrar (ignorando parênteses,


em vista da conta acima) que r1 · mr2 = r2 · mr1 .

74
Definição 9.10. Sejam R e S aneis, e M um ( R, S)-bimódulo. Um sub-
grupo de M é um sub-bimódulo se for um R-submódulo à esquerda e um
S-submódulo à direita.
Definição 9.11. Sejam R e S aneis, e M e N dois ( R, S)-bimódulos. Um
homomorfismo de grupos f : M → N é dito um homomorfismo de ( R, S)-
bimódulos se for simultaneamente um homomorfismo de R-módulos à es-
querda e um homomorfismo de S-módulos à direita.
Proposição 9.12. Sejam R, S e T aneis, e bimódulos R MS e S NT . Então M ⊗S N
tem uma estrutura de ( R, T )-bimódulo, tal que

r ( x ⊗ y) = (rx ) ⊗ y e ( x ⊗ y)t = x ⊗ (yt),

quaisquer que sejam r ∈ R, t ∈ T, x ∈ M e y ∈ N.


Demonstração: Vamos construir as estruturas necessárias usando repeti-
damente a Proposição 4.5 (p. 27). Para cada r ∈ R, defina

f r : M × N → M ⊗S N
( x, y) 7→ (rx ) ⊗ y.

Claro que ( M ⊗S N, f r ) é um produto balanceado de M e N sobre S, donde


existe um endomorfismo de grupos

gr : M ⊗ S N → M ⊗ S N

tal que gr ( x ⊗ y) = (rx ) ⊗ y para todos x ∈ M e y ∈ N. Afirmamos que

G : R → End( M ⊗S N )
r 7 → gr

é um homomorfismo de aneis com unidade. Felizmente, a verificação é fá-


cil. Portanto, conseguimos obter uma estrutura de R-módulo à esquerda
em M ⊗S R. Analogamente, define-se uma estrutura de T-módulo à di-
reita, repetimos o argumento utilizando, para cada t ∈ T, a aplicação

ht : M ⊗S N → M ⊗S N

que satisfaz ht ( x ⊗ y) = x ⊗ (yt) para todos x ∈ M e y ∈ N, e o homomor-


fismo de aneis

H : T op → End( M ⊗S N )
t 7→ ht .

75
Finalmente, vejamos que as estruturas são compatíveis: isto traduz-se
como gr ◦ ht = ht ◦ gr , quaisquer que sejam r ∈ R e t ∈ T. Com efeito,
dados quaisquer x ∈ M e y ∈ N, temos

gr ◦ ht ( x ⊗ y) = gr ( x ⊗ (yt)) = (rx ) ⊗ (yt)


= ht ((rx ) ⊗ y) = ht ◦ gr ( x ⊗ y),
e o resultado segue pois { x ⊗ y | x ∈ M e y ∈ N } gera M ⊗S N.

Observação. Com esta linguagem, temos que os isomorfismos da Propo-


sição 9.1 (p. 68) é um isomorfismo de R-módulos à esquerda, e o da Pro-
posição 9.2 é um isomorfismo de R-módulos à direita.
Exemplo 9.13. Se V e W são espaços vetoriais sobre um corpo k, então
V e W são (k, k)-bimódulos, donde V ⊗k W também o é, e assim é um
espaço vetorial sobre k. Ainda, se {vi }i∈ I e {w j } j∈ J são bases de V e W,
respectivamente, então

{vi ⊗ w j | (i, j) ∈ I × J }
é uma base de V ⊗ W, visto que
!  
M M
V ⊗k W = kvi ⊗k  kw j 
i∈ I j∈ J

MM
= (kvi ⊗k kw j )
i∈ I j∈ J

MM
= (k(vi ⊗ w j ))
i∈ I j∈ J
M
= k ( v i ⊗ w j ).
(i,j)∈ I × J

A última igualdade segue do exercício resolvido na página 49, e a única


coisa restante a ser verificada na passagem acima é que fixados índices
i ∈ I e j ∈ J, vale kvi ⊗k kw j ∼
= k(vi ⊗ w j ). Com efeito, já que vi , w j 6= 0,
fica bem-definida a aplicação

f : kvi × kv j → k(vi ⊗ w j )
( avi , bw j ) 7→ ab(vi ⊗ w j ).

É fácil ver que (k (vi ⊗ w j ), f ) é um produto balanceado de kvi e kw j sobre


k, donde existe a linearização ϕ : kvi ⊗k kw j → k (vi ⊗ w j ).

76
Vamos construir a inversa explicitamente. Uma vez verificado20 que
vale vi ⊗ w j 6= 0, o fato de k ser corpo nos garante que fica bem-definida a
aplicação

ψ : k(vi ⊗ w j ) → kvi ⊗k kw j
a(vi ⊗ w j ) 7→ ( avi ) ⊗ w j ,

que claramente é uma transformação linear. Vejamos que funciona. Por


um lado
ϕ ◦ ψ( a(vi ⊗ w j )) = ϕ(( avi ) ⊗ w j ) = a(vi ⊗ w j ),
e por outro

ψ ◦ ϕ(( avi ) ⊗ (bw j )) = ψ( ab(vi ⊗ w j )) = ( abvi ) ⊗ w j = ( avi ) ⊗ (bw j ),

usando que V e W são (k, k )-bimódulos. Concluímos que ψ ◦ ϕ = Id pela


unicidade dada na propriedade universal do produto tensorial.
Em particular, concluímos disto tudo que dimk (V ⊗ W ) = dimk V dimk W.

10 Começando com categorias (17/04)


10.1 Estruturas em Hom
Proposição 10.1. Sejam R, S, T e U aneis, e bimódulos R MS , S NT e T PU . Então
existe um isomorfismo de ( R, U )-bimódulos

( M ⊗S N ) ⊗ T P ∼
= M ⊗S ( N ⊗ T P)

tal que ( x ⊗ y) ⊗ z 7→ x ⊗ (y ⊗ z), quaisquer que sejam x ∈ M, y ∈ N e z ∈ P.

Demonstração: Façamos apenas um esboço, uma vez que neste ponto a


verificação de que certas coisas são produtos balanceados é rotineira. Para
cada z ∈ P defina

f z : M × N → M ⊗S ( N ⊗ T P)
( x, y) 7→ x ⊗ (y ⊗ z).
20 Visto
que vi e w j são não-nulos, podemos tomar funcionais lineares α ∈ Homk (V, k )
e β ∈ Homk (W, k) tais que α(vi ) 6= 0 e β(w j ) 6= 0. Assim, a aplicação

V × W 3 ( x, y) 7→ α( x ) β(y) ∈ k

é um produto balanceado, cuja linearização γ : V ⊗k W → k satisfaz γ(vi ⊗ w j ) =


α(vi ) β(w j ) 6= 0, pois k é corpo. Assim vi ⊗ w j 6= 0.

77
Então ( M ⊗S ( N ⊗ T P), f z ) é um produto balanceado de M e N sobre S,
donde existe um homomorfismo f z : M ⊗S N → M ⊗S ( N ⊗ T P) satisfa-
zendo f z ( x ⊗ y) = x ⊗ (y ⊗ z). Definimos em seguida

g : ( M ⊗S N ) ⊗ T P → M ⊗S ( N ⊗ T P)
(α, z) 7→ f z (α).

Agora ( M ⊗S ( N ⊗ T P), g) é um produto balanceado de M ⊗S N e P sobre


T, donde existe um homomorfismo ϕ : ( M ⊗S N ) ⊗ T P → M ⊗S ( N ⊗ T P)
satisfazendo ϕ(( x ⊗ y) ⊗ z) = x ⊗ (y ⊗ z).
Tal ϕ é um isomorfismo. A construção direta de sua inversa é análoga
ao feito acima.

Proposição 10.2. Sejam R, S e T aneis. Então:

(a) HomR (S MR , T NR ) é um ( T, S)-bimódulo via


. .
(t f )( x ) = t f ( x ) e ( f s)( x ) = f (sx ).

(b) HomR ( R MS , R NT ) é um (S, T )-bimódulo via


. .
(s f )( x ) = f ( xs) e ( f t)( x ) = f ( x )t.

Demonstração: Façamos a verificação de (a), sendo (b) análogo. Já sabe-


mos que HomR (S MR , T NR ) é um grupo abeliano. Dados t1 , t2 ∈ T e x ∈ M
qualquer, temos

(t1 (t2 f ))( x ) = t1 ((t2 f )( x )) = t1 (t2 f ( x )) = (t1 t2 ) f ( x ) = (t1 t2 f )( x ),

donde t1 (t2 f ) = (t1 t2 ) f . Analogamente, se s1 , s2 ∈ S, temos

(( f s1 )s2 )( x ) = ( f s1 )(s2 x ) = f (s1 (s2 x )) = f ((s1 s2 ) x ) = ( f (s1 s2 ))( x ),

e assim21 ( f s1 )s2 = f (s1 s2 ). E que 1 f = f 1 = f é claro. Finalmente,


vejamos que as operações são compatíveis:

((t f )s)( x ) = (t f )(sx ) = t f (sx ) = t(( f s)( x )) = (t( f s))( x ),

donde (t f )s = t( f s).
21 Não confundir f ( s s ) aqui com o valor de f avaliado no elemento s s , isso nem faz
1 2 1 2
sentido!

78
Teorema 10.3 (Isomorfismo de adjunção). Sejam R, S, T e U aneis. Então

ϕ : HomT (( R MS ⊗S S NT ), U PT ) → HomS ( R MS , HomT (S NT , U PT ))

definido por ϕ( f )( x )(y) = f ( x ⊗ y) é um isomorfismo de (U, R)-bimódulos.

Demonstração: A primeira coisa a ser feita é verificar que todas as aplica-


ções relevantes estão bem definidas e são homomorfismos. Isto é feito em
três passos:

• para cada f ∈ HomT (( R MS ⊗S S NT ), U PT ) e cada x ∈ M, a aplicação


ϕ( f )( x ) é um homomorfismo de T-módulos à direita, ou seja, de fato
temos ϕ( f )( x ) ∈ HomT (S NT , U PT ):

ϕ( f )( x )(y + y0 t) = f ( x ⊗ (y + y0 t))
= f ( x ⊗ y + ( x ⊗ y0 )t)
= f ( x ⊗ y) + f ( x ⊗ y0 )t
= ϕ( f )( x )(y) + ϕ( f )( x )(y0 )t.

• para cada f ∈ HomT (( R MS ⊗S S NT ), U PT ), a aplicação ϕ( f ) é um


homomorfismo de S-módulos à direita, ou seja, de fato temos que
ϕ( f ) ∈ HomS ( R MS , HomT (S NT , U PT )). Então tome y ∈ N e faça:

ϕ( f )( x + x 0 s)(y) = f (( x + x 0 s) ⊗ y)
= f ( x ⊗ y + ( x0 s) ⊗ y)
= ϕ( f )( x )(y) + f ( x 0 ⊗ (sy))
= ϕ( f )( x )(y) + ϕ( f )( x 0 )(sy)
= ϕ( f )( x )(y) + ( ϕ( f )( x 0 )s)(y)
= ( ϕ( f )( x ) + ϕ( f )( x 0 )s)(y),

donde ϕ( f )( x + x 0 s) = ϕ( f )( x ) + ϕ( f )( x 0 )s, como desejado.

• ϕ é um homomorfismo de (U, R)-bimódulos. É fácil ver que ϕ é adi-


tiva, então vejamos que é compatível com as multiplicações externas.
Dada qualquer f , temos:

((uϕ)r )( f ) = (uϕ)(r f ) = uϕ(r f ) = u(( ϕr )( f )) = (u( ϕr ))( f ).

Feito isto, vamos construir a inversa de ϕ diretamente: para qualquer


homomorfismo de S-módulos à direita g : M → HomT ( N, P), definimos

79
ge : M × N → P por ge( x, y) = g( x )(y). Então ( P, ge) é um produto balance-
ado de M e N sobre S, que induz um homomorfismo de (U, R)-bimódulos
ψ( g) : M ⊗S N → P satisfazendo ψ( g)( x ⊗ y) = g( x )(y), para todos x ∈ M
e y ∈ N. Então por um lado temos

( ϕ ◦ ψ)( g)( x )(y) = ϕ(ψ( g))( x )(y) = ψ( g)( x ⊗ y) = g( x )(y),

donde ϕ ◦ ψ = Id, e por outro

(ψ ◦ ϕ)( f )( x ⊗ y) = ψ( ϕ( f ))( x ⊗ y) = ϕ( f )( x )(y) = f ( x ⊗ y),

e segue da unicidade dada na propriedade universal do produto tensorial


que ψ ◦ ϕ = Id.
Observação.
• Em particular, se M é um grupo abeliano e R é um anel, temos

HomZ ( R R ⊗Z M, M) ∼
= HomZ ( R RZ , End( M)).

• Em uma linguagem mais categórica (que começaremos a entender a


seguir), denote

F = _ ⊗S N : R modS → R modT

e também
G = HomT ( N, _) : U modT → U modS .
O resultado acima diz que HomT ( FM, P) ∼= HomS ( M, GP).

10.2 Categorias
Definição 10.4 (Categoria). Uma categoria C consiste de:
(i) uma classe Obj( C) de objetos de C;

(ii) para cada par ordenado ( A, B) de objetos de C, um conjunto Hom C( A, B),


cujos elementos são chamados morfismos de A em B;

(iii) para cada terna ordenada ( A, B, C ) de objetos de C uma função

Hom C( A, B) × Hom C( B, C ) → Hom C( A, C )


( f , g) 7→ g f

chamada lei de composição, sujeita às seguintes condições:

80
• se ( A, B) 6= (C, D ), então Hom C( A, B) ∩ Hom C(C, D ) = ∅;
• se f ∈ Hom C( A, B), g ∈ Hom C( B, C ) e h ∈ Hom C(C, D ), então
(hg) f = h( g f ), e;
• para cada A ∈ Obj( C) existe um elemento 1 A ∈ Hom C( A, A)
tal que f 1 A = f para todo f ∈ Hom C( A, B) e 1 A g = g para todo
g ∈ Hom C( B, A).

Observação. Se Cé uma categoria e A, B ∈ Obj( C), então f ∈ Hom C( A, B)


f
pode ser indicado por f : A → B ou A −−−→ B.
Exemplo 10.5.
(1) Set (conjuntos):

• Obj(Set) é classe de todos os conjuntos.


• dados X, Y ∈ Obj(Set), HomSet ( X, Y ) é o conjunto de todas as
funções de X em Y.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de fun-
ções.
• para cada X ∈ Obj(Set), 1X = IdX : X → X (função identidade).

(2) Grp (grupos):

• Obj(Grp) é a classe de todos os grupos.


• dados G, H ∈ Obj(Grp), HomGrp ( G, H ) é o conjunto de todos os
homomorfismos de grupos de G em H.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de homo-
morfismos de grupos.
• para cada G ∈ Obj(Grp), 1G = IdG : G → G (homomorfismo
identidade).

(3) Ab (grupos abelianos):

• Obj(Grp) é a classe de todos os grupos abelianos.


• dados G, H ∈ Obj(Ab), HomAb ( G, H ) é o conjunto de todos os
homomorfismos de grupos de G em H.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de homo-
morfismos de grupos.
• para cada G ∈ Obj(Ab), 1G = IdG : G → G (homomorfismo iden-
tidade).

81
(4) Rng (aneis):
• Obj(Rng) é a classe de todos os aneis.
• dados R, S ∈ Obj(Rng), HomRng ( G, H ) é o conjunto de todos os
homomorfismos de aneis de R em S.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de homo-
morfismos de aneis.
• para cada R ∈ Obj(Rng), 1R = IdR : R → R (homomorfismo iden-
tidade).
(5) Ring (aneis com unidade):
• Obj(Ring) é a classe de todos os aneis com unidade.
• dados R, S ∈ Obj(Ring), HomRing ( R, S) é o conjunto de todos os
homomorfismos de aneis com unidade (ou seja, homomorfismos
de aneis que levam 1R em 1S ) de R em S.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de homo-
morfismos de aneis com unidade.
• para cada R ∈ Obj(Ring), 1R = IdR : R → R (homomorfismo
identidade).
(6) se R é um anel com unidade, temos R-mod e mod-R (módulos):
• Obj( R-mod) e Obj(mod-R) são, respectivamente, as classes de R-
módulos à esquerda e à direita.
• dados M, N ∈ Obj( R-mod) (resp., Obj(mod-R)), HomObj( R−mod) ( M, N )
(resp., HomObj(mod− R) ( M, N )) é o conjunto de todos os homomor-
fismos de R-módulos à esquerda (resp., direita).
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de homo-
morfismos de R-módulos à esquerda (resp. direita).
• para cada M ∈ Obj( R-mod) (resp., Obj(mod-R)), temos 1 M =
Id M : M → M (homomorfismo identidade).
(7) Top (topologia):
• Obj(Top) é a classe de todos os espaços topológicos.
• dados X, Y ∈ Obj(Top), HomTop ( X, Y ) é o conjunto de todas as
funções contínuas de X em Y.
• a lei de composição de morfismos é a lei de composição de fun-
ções.

82
• dado X ∈ Obj(Top), 1X = IdX : X → X (a função identidade é
contínua).

(8) Um exemplo não padrão: fixe R um anel com unidade, e ponha:

• Obj( C) = {1, 2, 3, . . .}
.
• dados m, n ∈ Obj( C), Hom C(m, n) = Mat(m × n, R).
• se m, n, ` ∈ Obj( C), defina a lei de composição de morfismos
como

Mat(m × n, R) × Mat(n × `, R) → Mat(m × `, R)


( A, B) 7→ AB,

ou seja, o produto usual de matrizes.


• Se m ∈ Obj( C), 1m = Idm é a matriz identidade de ordem m.

Definição 10.6. Sejam C e D categorias. Diremos que D é uma subcategoria


de C se valem

(i) Obj( D) ⊆ Obj( C);

(ii) dados A, B ∈ Obj( D), vale Hom D( A, B) ⊆ Hom C( A, B);

(iii) a lei de composição em D é a mesma que a em C;

(iv) para todo A ∈ Obj( D), 1 A em D coincide com 1 A em C.

Ainda, diremos que D é uma subcategoria plena de C se valer a igualdade


em (ii).

Exemplo 10.7.

(1) Ab é uma subcategoria plena de Grp.

(2) Grp não é uma subcategoria de Set. Isto pode ser justificado por pelo
menos dois pontos de vista:

• Formalmente, grupos são pares ( G, ·), onde G é o conjunto subja-


cente ao grupo e · é a operação. Pela definição de par ordenado
(Kuratowski), ( G, ·) = {{ G }, { G, ·}}, e assim cada HomGrp teria
no máximo quatro elementos.

83
• Vendo um grupo G como um determinado subconjunto do pro-
duto X × X × X, onde X é o conjunto subjacente ao grupo (diga-
mos, como ternas ordenadas onde o último membro é o produto
dos dois últimos, levando em conta todas as condições da defini-
ção da operação binária). Isto também nos diria que HomGrp 6⊆
HomSet .
Definição 10.8. Sejam Cuma categoria, A, B ∈ Obj( C) e f ∈ Hom C( A, B).
(i) f é um isomorfismo se existir g ∈ Hom C( B, A) com g f = 1 A e f g = 1B .
(ii) f é mônico se dados g1 , g2 ∈ Hom C(C, A), f g1 = f g2 implica g1 = g2 .
(iii) f é épico se dados h1 , h2 ∈ Hom C( B, C ), h1 f = h2 f implica h1 = h2 .
Estes conceitos tem relações com injetividade e sobrejetividade, para
algumas categorias:
f g
Exercício. Em uma categoria, considere A −−−→ B −−−→ C.
(a) f e g mônicos =⇒ g f mônico;
(b) f e g épicos =⇒ g f épico;
(c) g f mônico =⇒ f mônico;
(d) g f épico =⇒ g épico.
Solução:
(a) Por associatividade, ( g f ) g1 = ( g f ) g2 implica g( f g1 ) = g( f g2 ). Então
g ser mônico nos dá f g1 = f g2 . Como f é mônico, segue que g1 = g2 .
(b) Por associatividade, h1 ( g f ) = h2 ( g f ) implica (h1 g) f = (h2 g) f . Então
f ser épico nos dá h1 g = h2 g. Como g é épico, segue que h1 = h2 .
(c) Se f g1 = f g2 , então g( f g1 ) = g( f g2 ), e por associatividade temos
( g f ) g1 = ( g f ) g2 . Mas como g f é mônico, segue que g1 = g2 .
(d) Se h1 g = h2 g, então (h1 g) f = (h2 g) f , e por associatividade temos
h1 ( g f ) = h2 ( g f ). Mas como g f é épico, segue que h1 = h2 .

Exercício. Em R-mod e Set:


(a) f é mônico ⇐⇒ f é injetor;
(b) f é épico ⇐⇒ f é sobrejetor;
(c) f é um isomorfismo ⇐⇒ f é mônico e épico.

84
11 Funtores, Hom( M, _) (19/04)
Definição 11.1 (Funtor covariante). Sejam C e D categorias. Um funtor
covariante F de C em D consiste de
(i) uma função

Obj( C) → Obj( D)
A 7→ FA,

e;

(ii) para cada par ordenado ( A, B) de objetos de C, uma função

Hom C( A, B) → Hom D( FA, FB)


f 7→ F ( f )

satisfazendo F ( g f ) = F ( g) F ( f ) e F (1 A ) = 1FA , quaisquer que sejam


os objetos e morfismos em C.
f g F F( f ) F ( g)
A −−−→ B −−−→ C =⇒ FA −−−−−→ FB −−−−−→ FC

Definição 11.2 (Funtor contravariante). Sejam Ce D categorias. Um funtor


contravariante G de C em D consiste de
(i) uma função

Obj( C) → Obj( D)
A 7→ GA,

e;

(ii) para cada par ordenado ( A, B) de objetos de C, uma função

Hom C( A, B) → Hom D( GB, GA)


g 7→ G ( g)

satisfazendo G ( g f ) = G ( f ) G ( g) e G (1 A ) = 1GA , quaisquer que se-


jam os objetos e morfismos em C.
f g G G( f ) G ( g)
A −−−→ B −−−→ C =⇒ GA ←−−−−− GB ←−−−−− GC

Observação. Notaremos F : C → D e G : C → D.

85
Exemplo 11.3.
(1) F : Grp → Set definido por FG = “conjunto subjacente ao grupo G”,
e F ( f ) = f (como função entre conjuntos) é chamado um funtor de
esquecimento. Este funtor é covariante, e tem vários análogos definidos
para outras categorias (Rng → Set, Top → Set, etc.).

(2) Se n ≥ 1 é dado, F : Ring → Ring definido por FR = Mat(n, R) e


f
( R −−−→ S) 7→ F ( f ) : Mat(n, R) → Mat(n, S)
n n
( aij )i,j =1 7 → ( f ( aij ))i,j=1

é um funtor covariante.

(3) O funtor de abelianização F : Grp → Ab é definido por FG = G/G 0 , onde


G 0 é o subgrupo de G gerado por { x −1 y−1 xy | x, y ∈ G } (chamado sub-
grupo derivado de G), e um homomorfismo f : G → H é levado na sua
passagem ao quociente F ( f ) : G/G 0 → H/H 0 . É um funtor covariante.

(4) Fixado um anel R, o funtor de dualização D : R-mod → mod-R é defi-


.
nido por DM = M∗ = HomR ( M, R) (lembre que HomR ( R MZ , R R R ) é
um (Z, R)-bimódulo pela Proposição 10.2, p. 78) e, dado f : M → N,
D ( f ) : N ∗ → M∗ é o pull-back dado por D ( f )(α) = α ◦ f . É um funtor
contravariante.
Observação. Lembre que se M e N são R-módulos à direita, então o con-
junto HomR ( M, N ) tem em particular uma estrutura de grupo abeliano,
com soma de homomorfismos definida ponto a ponto. Em particular,
(− f )( x ) = − f ( x ) e 0( x ) = 0 para todos x ∈ M.
Em vista da observação acima, consideraremos agora funtores satisfa-
zendo uma certa condição especial:
Definição 11.4. Sejam C e D duas categorias de módulos22 . Um funtor
F : C → D é aditivo se para todos A, B ∈ Obj( C) e f , g ∈ Hom C( A, B),
vale F ( f + g) = F ( f ) + F ( g).
Observação. Esta definição generaliza-se sob condições adequadas, quando
os conjuntos Hom possuírem estruturas de grupos abelianos. Isto em par-
ticular vale para as categorias de módulos que estamos considerando.
Exemplo 11.5. Na lista dos exemplos anteriores, D é aditivo.
22 Ou seja, C é R-mod ou mod-R e D é S-mod ou mod-S, com as quatro combinações
possíveis.

86
Observação. Em mod-R, denote o módulo nulo por 0R (a menos de iso-
morfismo, claro). Se D é uma categoria de módulos e F : mod-R → D é um
funtor aditivo e φR : 0R → 0R é o homomorfismo nulo, note que 10R = φR
e então
(∗)
1F0R = F (10R ) = F (φR ) = φF0R ,
onde em (∗) usamos que F é aditivo, donde F0R é um módulo nulo em D.
Prosseguimos:
Definição 11.6. Sejam C e D categorias de módulos. Um funtor covariante
aditivo G : C → D é
(i) exato à esquerda se dada qualquer sequência exata
f g
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N,

a sequência
F( f ) F ( g)
0 −−−→ FL −−−−−→ FM −−−−−→ FN,

for exata.
(ii) exato à direita se dada qualquer sequência exata
f g
L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0,

a sequência
F( f ) F ( g)
FL −−−−−→ FM −−−−−→ FN −−−→ 0

for exata.
Definição 11.7. Sejam C e D categorias de módulos. Um funtor contrava-
riante aditivo F : C → D é
(i) exato à esquerda se dada qualquer sequência exata
f g
L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0,

a sequência
G ( g) G( f )
0 −−−→ GN −−−−−→ GM −−−−−→ GL,

for exata.

87
(ii) exato à direita se dada qualquer sequência exata
f g
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N,
a sequência
G ( g) G( f )
GN −−−−−→ GM −−−−−→ GL −−−→ 0
for exata.
Observação. A nomenclatura “direita/esquerda” refere-se a onde o 0 vai
parar depois de se aplicar o funtor!
Exemplo 11.8. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Vamos definir
um funtor covariante aditivo
Hom( M, _) : mod-R → mod-Z
da seguinte maneira:
.
• se N ∈ Obj(mod-R), colocamos Hom( M, _) N = HomR ( M, N ), e;
• se N, L ∈ Obj(mod-R) e f ∈ HomR ( N, L), definimos o push-forward
.
Hom( M, _)( f ) = HomR ( M, f ) : HomR ( M, N ) → HomR ( M, L)
α 7→ f α

Deve-se verificar que HomR ( M, f ) ∈ HomZ (HomR ( M, N ), HomR ( M, L)).


Feito isto, temos que Hom( M, _) é um funtor covariante aditivo.
Com este exemplo, podemos enunciar o primeiro resultado de álgebra
homológica deste curso:
Teorema 11.9. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Então
Hom( M, _) : mod-R → mod-Z
é exato à esquerda.
Demonstração: Seja
f g
0 −−−→ N1 −−−→ N2 −−−→ N3 ,
uma sequência exata em mod-R. É preciso mostrar que
f∗ g∗
0 −−−→ HomR ( M, N1 ) −−−→ HomR ( M, N2 ) −−−→ HomR ( M, N3 ),
onde f ∗ = HomR ( M, f ) e g∗ = HomR ( M, g), é uma sequência exata, ou
seja, que

88
• f ∗ é injetor: se α ∈ HomR ( M, N1 ) é tal que f ∗ (α) = 0, então f α = 0,
e como f é injetor (logo mônico), temos α = 0.

• Im f ∗ = ker g∗ : tome inicialmente β ∈ Im f ∗ e escreva β = f α, de


modo que g∗ ( β) = gβ = g f α = 0α = 0, donde Im f ∗ ⊆ ker g∗ .
Para a outra inclusão, tome β ∈ ker g∗ . Isto nos diz que para todo
x ∈ M temos g( β( x )) = 0, donde β( x ) ∈ ker g = Im f . Assim, existe
y x ∈ N1 tal que β( x ) = f (y x ). Defina α : M → N1 por α( x ) = y x .
Como f é injetora, na verdade só tem uma escolha de y x a ser feita,
e α é um homomorfismo23 . Por construção, β = f ∗ (α), e portanto
ker g∗ ⊆ Im f ∗ como queríamos.

Exemplo 11.10. Apesar do teorema anterior, nem sempre Hom( M, _) é


exato à direita. Vejamos um exemplo. Fixe um inteiro m > 1 e a sequência
exata de Z-módulos
ι q Z
mZ −−−→ Z −−−→ −−−→ 0,
mZ
onde ι e q denotam inclusão e projeção. Mas, aplicando Hom(Z/mZ, _),
temos a sequência
     
Z ι∗ Z q∗ Z Z
HomZ , mZ −−→ HomZ , Z −−→ HomZ , −→ 0,
mZ mZ mZ mZ
| {z } | {z }
=0 6 =0

que não é exata. Com efeito, se α : Z/mZ → Z é um homomorfismo, então


α(1)m = α(1m) = α(m) = α(0) = 0, e como m > 1 temos α(1) = 0, donde
α = 0. Isto impede que q∗ seja sobrejetor.

12 Módulos projetivos e o funtor tensor (24/04)


12.1 Módulos projetivos
Comecemos com uma versão contravariante do Exemplo 11.8 (p. 88):
23 O
argumento é o mesmo dado quando se mostra que a inversa de um isomorfismo é
um homomorfismo.

89
Exemplo 12.1. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Vamos definir
um funtor covariante aditivo
Hom(_, M) : mod-R → mod-Z
da seguinte maneira:
.
• se N ∈ Obj(mod-R), colocamos Hom(_, M) N = HomR ( N, M), e;
• se N, L ∈ Obj(mod-R) e f ∈ HomR ( N, L), definimos o pull-back
.
Hom(_, M)( f ) = HomR ( f , M ) : HomR ( L, M) → HomR ( N, M)
β 7→ β f

Como antes, pode-se verificar que HomR ( f , M) está bem definido, é um


morfismo, e que assim Hom(_, M ) é um funtor contravariante aditivo.
E também temos o:
Teorema 12.2. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Então
Hom(_, M) : mod-R → mod-Z
é exato à esquerda.
Observação. Seria natural pensar que Hom(_, M ) é exato à direita, já que
é contravariante ao invés de covariante, mas lembre da observação que
precede o Exemplo 11.8 (sobre a nomenclatura direita/esquerda)!
Exemplo 12.3. Em vista da observação acima, não deve ser surpreendente
que o funtor Hom(_, M ) nem sempre é exato à direita. Se m > 1 é um
inteiro, consideramos como antes a sequência exata de Z-módulos
ι q Z
0 −−−→ mZ −−−→ Z −−−→ ,
mZ
onde ι e q denotam inclusão e projeção. Aplicando Hom(_, Z) obtemos a
sequência
 
Z q∗ ι∗
HomZ , Z −−−−→ HomZ (Z, Z) −−−−→ HomZ (mZ, Z) −−−→ 0,
mZ
.
que não é exata pois ι∗ = Hom(ι, Z) não é sobrejetor. Com efeito, con-
sidere h ∈ HomZ (mZ, Z) dado por h(mx ) = x. Se fosse h = β ◦ ι para
algum β ∈ HomZ (Z, Z), teríamos
1 = h(m) = β(ι(m)) = β(m) = β(1m) = β(1)m,
o que é absurdo, visto que m > 1.

90
Apesar disto, funtores que são exatos dos dois lados ainda são interes-
santes:
Definição 12.4. Se C e D são categorias de módulos, um funtor covariante
aditivo F : C → D é dito exato se para toda sequência exata curta
α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0
em C, a sequência
F (α) F ( β)
0 −−−→ FL −−−−−→ FM −−−−−→ FN −−−→ 0
for exata.
Observação. Nas condições da definição acima, F é exato se e somente se
for exato à direita e exato à esquerda.
Isto motiva a seguinte pergunta: se R é um anel e P ∈ Obj(mod-R),
qual a condição sobre P para que Hom( P, _) seja exato?
Pela definição, isto ocorre se e somente se dada qualquer sequência
exata curta
α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0
de R-módulos, a sequência
∗α β∗
0 −−−→ HomR ( P, L) −−−− → HomR ( P, M) −−−−→ HomR ( P, N ) −−−→ 0
é exata, onde α∗ = Hom( P, α) e β ∗ = Hom( P, β). Como Hom( P, _) é exato
à esquerda, sabemos que α∗ é sempre injetor, então resta saber quando β ∗
é sobrejetor, nas condições dadas.
Escrever explicitamente o que significa β ∗ ser sobrejetor sempre que β
o for motiva a:
Definição 12.5. Sejam R um anel e P um R-módulo. Diremos que P é
um módulo projetivo se para todo homomorfismo sobrejetor de R-módulos
β : M → N, dado um homomomorfismo h : P → N, existe um homomor-
fismo f : P → M tal que β f = h.

P
f
h
β
M N 0
Figura 17: A “propriedade universal” de um módulo projetivo.

91
A discussão anterior nos diz que um R-módulo P é projetivo se e so-
mente se Hom( P, _) é exato. Para uma classe de exemplos, temos a se-
guinte:

Proposição 12.6. Todo módulo livre é projetivo.

Demonstração: Sejam F um R-módulo livre com base X, β : M → N


um homomorfismo sobrejetor de R-módulos, e h : F → N um homomor-
fismo de R-módulos qualquer. Para cada x ∈ X, existe m x ∈ M tal que
β(m x ) = h( x ). Como X é base, a associação X 3 x 7→ m x ∈ M induz um
homomorfismo f : F → M (único, uma vez fixada a base X), que satisfaz
f ( x ) = m x , para todo x ∈ X. Por construção, β f = h.
Uma caracterização mais eficiente é dada no:

Teorema 12.7. Sejam R um anel e P um R-módulo. São equivalentes:

(a) P é projetivo.

(b) Todo homomorfismo sobrejetor β : M → P cinde.

(c) Toda sequência exata curta 0 −−−→ L −−−→ M −−−→ P −−−→ 0 cinde.

(d) P é isomorfo a um somando direto de um módulo livre.

Demonstração: Façamos na ordem:

( a) =⇒ (b): Seja β : M → P um homomorfismo sobrejetor. Como P é


projetivo, a propriedade universal de P aplicada para IdP : P → P
nos fornece um homomorfismo f : P → M com β f = IdP , donde β é
um homomorfismo sobrejetor que cinde.

P
f
IdP
β
M P 0
Figura 18: Mostrando que β cinde.

(b) =⇒ (c): Vimos esta equivalência na Proposição 5.17 (p. 36).

92
(c) =⇒ (d): Sejam F um módulo livre e β : F → P um homomorfismo
sobrejetor24 . A sequência
β
0 −−−→ ker β −−−→ F −−−→ P −−−→ 0
é exata e, por (c), cinde. Então existe um homomorfismo f : P → F
tal que β f = IdP , que é necessariamente injetor. Vimos no Lema 5.15
(p. 35) que F = Im f ⊕ ker β e que P ∼= Im f .
(d) =⇒ ( a): Suponha que F seja um módulo livre, F = P0 ⊕ Q, e que
P∼
= P0 . Os ingredientes essenciais são os seguintes:
• a projeção π P0 : F → P0 .
• a inclusão ι P0 : P0 → F.
• o isomorfismo ϕ : P0 → P.
Mostremos que P é projetivo: sejam dados um homomorfismo so-
brejetor β : M → N e um homomorfismo h : P → N. Como F é livre,
F é projetivo, e obtemos um homomorfismo f : F → M tal que o
seguinte diagrama comuta:

P0

f ϕ

β
M N 0
Figura 19: Mostrando que P é projetivo.

Então o homomorfismo f ι P0 ϕ−1 testemunha que P é projetivo, pois

β f ι P0 ϕ−1 = hϕπ P0 ι P0 ϕ−1 = hϕϕ−1 = h.


24 Existe. Basta tomar o módulo livre com base P, por exemplo.

93
.
Exemplo 12.8. Seja R = Z/6Z. Temos que R R = 2R ⊕ 3R e vimos que 2R
e 3R não são livres. Mas são projetivos, pois são somandos diretos de R R ,
que é livre.

12.2 O funtor ⊗
Sejam R um anel e M um R-módulo à direita. Definimos um funtor
covariante aditivo M ⊗ _ : R-mod → Z-mod por
.
• se N ∈ Obj( R-mod), ( M ⊗ _) N = M ⊗ R N.

• se N1 , N2 ∈ Obj( R-mod) e f ∈ HomR ( N1 , N2 ), colocamos


.
( M ⊗ _)( f ) ≡ M ⊗ f = Id M ⊗ f : M ⊗ R N1 → M ⊗ R N2 ,

ou seja, o único homomorfismo satisfazendo

( M ⊗ f )( x ⊗ y) = x ⊗ f (y)

quaisquer que sejam x ∈ M e y ∈ N1 . Note que M ⊗ f de fato existe


pois a aplicação

M × N1 → M ⊗ R N2
( x, y) 7→ x ⊗ f (y)

é balanceada.

Que M ⊗ _ é um funtor aditivo segue dos exercícios resolvidos na página


67. De modo análogo, se N é um R-módulo à esquerda, definimos outro
funtor covariante aditivo _ ⊗ N : mod-R → mod-Z por
.
• se M ∈ Obj(mod-R), (_ ⊗ N )( M) = M ⊗ R N.

• se M1 , M2 ∈ Obj(mod-R) e g ∈ HomR ( M1 , M2 ), colocamos


.
(_ ⊗ N ) g ≡ g ⊗ N = g ⊗ Id N : M1 ⊗ R N → M2 ⊗ R N,

ou seja, o único homomorfismo satisfazendo

( g ⊗ N )( x ⊗ y) = g( x ) ⊗ y

quaisquer que sejam x ∈ M1 e y ∈ N.

94
Em contraste com o que aconteceu com os funtores Hom, temos o:
Teorema 12.9. Sejam R um anel, M um R-módulo à direita e N um R-módulo
à esquerda. Então os funtores M ⊗ _ e _ ⊗ N são exatos à direita.
Demonstração: Vamos estudar apenas M ⊗ _, sendo o tratamento dado
para o outro funtor análogo. Considere a sequência exata
f g
N1 −−−→ N2 −−−→ N3 −−−→ 0,

em R-mod. Aplicando M ⊗ _, obtemos


M⊗ f M⊗ g
M ⊗ R N1 −−−−−−→ M ⊗ R N2 −−−−−−→ M ⊗ R N3 −−−→ 0,

e assim temos duas coisas a verificar:


• M ⊗ g é sobrejetor: é suficiente verificar que se x ∈ M e z ∈ N3 ,
existe α ∈ M ⊗ R N2 tal que ( M ⊗ g)(α) = x ⊗ z, visto que o conjunto
{ x ⊗ z | x ∈ M, z ∈ N3 } gera M ⊗ R N3 . Como g é sobrejetor, existe
y ∈ N2 com g(y) = z, e assim

( M ⊗ g)( x ⊗ y) = x ⊗ g(y) = x ⊗ z,

como queríamos.

• Im( M ⊗ f ) = ker ( M ⊗ g): como M ⊗ _ é um funtor covariante adi-


tivo e g f = 0, imediatamente temos que Im( M ⊗ f ) ⊆ ker ( M ⊗ g),
e assim resta verificar a outra inclusão.
A inclusão que já temos diz que M ⊗ g passa ao quociente como o
único homomorfismo
M ⊗ R N2
ϕ: → M ⊗ R N3
Im( M ⊗ f )

satisfazendo ϕ( x ⊗ y + Im( M ⊗ f )) = x ⊗ g(y), quaisquer que sejam


x ∈ M e y ∈ N2 . Como M ⊗ g é sobre, ϕ também o é, e assim vale a
inclusão que queremos verificar se e somente se ϕ é um isomorfismo.
Vamos construir explicitamente uma inversa para ϕ. Começamos
com a aplicação
M ⊗ R N2
α : M × N3 →
Im( M ⊗ f )
( x, z) 7→ x ⊗ y + Im( M ⊗ f ),

95
onde g(y) = z. Esta aplicação está bem-definida, visto que se g(y) =
g(y0 ) = z, então y − y0 ∈ ker g = Im f e assim y = y0 + f (m) para
algum m ∈ M e portanto

x ⊗ y + Im( M ⊗ f ) = x ⊗ (y0 + f (m)) + Im( M ⊗ f )


= ( x ⊗ y0 + x ⊗ f (m)) + Im( M ⊗ f )
= x ⊗ y0 + Im( M ⊗ f ).

É rotineiro verificar que (( M ⊗ R N2 )/Im( M ⊗ f ), α) é um produto


balanceado de M e N3 sobre R, e assim existe um homomorfismo de
grupos
M ⊗ R N2
ψ : M ⊗ R N3 →
Im( M ⊗ f )
satisfazendo ψ( x ⊗ z) = x ⊗ y + Im( M ⊗ f ) para todos x ∈ M e
z ∈ N3 , onde y ∈ N2 é tal que g(y) = z. Por construção, ψ é a inversa
de ϕ.

† Algumas coisas (sobre funtores) da Lista 2


Para estes exercícios, precisamos da:

Definição 12.10. Sejam C e D categorias, e F, G : C → D funtores cova-


riantes. Uma transformação natural entre F e G é uma função que associa
a cada objeto A ∈ Obj( C) um morfismo η A ∈ Hom D( FA, GA), tal que
dados quaisquer A, B ∈ Obj( C) e f ∈ Hom C( A, B), o seguinte diagrama
em D comuta:

F( f )
FA FB

ηA ηB

G( f )
GA GB
Figura 20: Uma transformação natural η : F =⇒ G.

96
Em particular, se cada η A for um isomorfismo, diremos que η é um iso-
morfismo natural entre F e G, e assim que F e G são isomorfos (a naturalidade
estando subentendida).

Exercício. Sejam R um anel. Então Hom( R, _) e o funtor esquecimento de


mod-R em mod-Z são naturalmente isomorfos.

Solução: Seja M um R-módulo à direita. Precisamos definir um isomor-


fismo de grupos abelianos η M : HomR ( R, M) → M. Afirmo que definir
η M (α) = α(1) funciona. É claro que η M é um homomorfismo injetor de
grupos. E se m ∈ M, defina α : R → M por α(r ) = mr. Tal α é um homo-
morfismo de R-módulos, e η M (α) = m, onde η M é um isomorfismo.
Finalmente, sejam M1 , M2 dois R-módulos à direita e f ∈ HomR ( M1 , M2 ).
Como Hom( R, f ) = f ∗ é o push-forward, o seguinte diagrama comuta e
concluímos que η é um isomorfismo natural:

f∗
HomR ( R, M1 ) HomR ( R, M2 )

η M1 η M2

f
M1 M2
Figura 21: O isomorfismo natural η.

Exercício. Sejam C, D, E e F categorias, F e G funtores de D em E, K


um funtor de C em D e H um funtor de E em F. Mostre que se η é uma
transformação natural de F em G, então:

(a) A 7→ H (η A ), onde A ∈ Obj( D), é uma transformação natural de HF


em HG;

(b) B 7→ ηKB , onde B ∈ Obj( C), é uma transformação natural de FK para


GK.

Solução:

(a) Dados A, B ∈ Obj( D) e f ∈ Hom D( A, B), basta aplicar o funtor H


para levar um diagrama comutativo em outro:

97
F( f ) H ( F ( f ))
FA FB HFA HFB

ηA ηB H (η A ) H (ηB )

G( f ) H ( G ( f ))
GA GB HGA HGB
Figura 22: A ação do funtor H.

(b) Dados A, B ∈ Obj( C) e f ∈ Hom C( A, B), depois de aplicar o funtor K


temos que η nos dá o seguinte diagrama comutativo em D:

F (K ( f ))
FKA FKB

ηKA ηKB

G (K ( f ))
GKA GKB
Figura 23: Usando η para os objetos KA e KB.

Exercício. Seja R um anel. Mostre que existem isomorfismos naturais en-


tre os funtores abaixo:
(a) 1R-mod e Hom( R, _) de R-mod em R-mod.
(b) 1R-mod e R ⊗ _ de R-mod em R-mod.
Solução:
(a) É parecido com o que vimos anteriormente nesta mesma leva de exer-
cícios. Para M ∈ Obj( R-mod), defina η M : HomR ( R, M ) → M por
η M (α) = α(1). Temos que η M é um isomorfismo de R-módulos à di-
reita: a única novidade a se verificar é que dado r ∈ R, temos
η M (rα) = (rα)(1) = rα(1) = rη M (α),
lembrando que HomR ( R, M) tem uma estrutura natural de R-módulo
à direita (vista na Proposição 10.2, p. 78).

98
(b) Desta vez, dado M ∈ Obj( R-mod), tomamos η M como o único homo-
morfismo de R-módulos de R ⊗ R M em M satisfazendo η M (r ⊗ m) =
rm, quaisquer que sejam r ∈ R e m ∈ M. Que η M é um isomorfismo
segue da Proposição 9.1 (p. 68), onde sua inversa é dada.
Como {r ⊗ m | r ∈ R, m ∈ M } gera R ⊗ R M, basta verificar que o
diagrama da definição de transformação natural de fato comuta em
tensores simples. Então, dados R-módulos à direita M1 e M2 , e ele-
mentos r ∈ R e m1 ∈ M1 , temos

f (η M1 (r ⊗ m1 )) = f (rm1 ) = r f (m1 )

e também

η M2 ( R ⊗ f )(r ⊗ m1 ) = η M2 (r ⊗ f (m1 )) = r f (m1 ),

donde
R⊗ f
R ⊗ R M1 R ⊗ R M2

η M1 η M2

f
M1 M2
Figura 24: O isomorfismo natural R ⊗ _ ∼
= 1R-mod .

comuta, como desejado.

13 Módulos planos (26/04)


13.1 Definição e exemplos
Exemplo 13.1. Vimos no Teorema 12.9 (p. 95) que M ⊗ _ é sempre exato
à direita. Vejamos que nem sempre é à esquerda. Considere a sequência
exata de Z-módulos
q Q
0 −−−→ Z −−−→ Q −−−→
ι
,
Z

99
onde ι e q denotam inclusão e projeção. Tensorizando sobre Z com Z/2Z,
temos
Z (Z/2Z)⊗ι Z (Z/2Z)⊗q Z Q
0 −−−→ ⊗Z Z −−−−−−−−→ ⊗Z Q −−−−−−−−−→ ⊗Z ,
|2Z {z } |2Z {z } 2Z Z

=Z/2Z6=0 =0

e assim (Z/2Z) ⊗ ι não pode ser injetor. Isto nos diz que o funtor (Z/2Z) ⊗
_ não é exato à esquerda.

Observação. A notação para os elementos do produto tensorial é ambí-


gua: suponha que M e N são R-módulos, L ⊆ N é um submódulo, mas
que M ⊗ L ,→ M ⊗ N não seja injetora. Se a ∈ M e b ∈ L, então a ⊗ b
pode ser pensado como um elemento de qualquer um dos espaços, mas
não podem ser identificados! Por exemplo, 1 ⊗ 1 é nulo em (Z/2Z) ⊗Z Q,
mas não é nulo em (Z/2Z) ⊗Z Z. Nestas situações, deve ser dito explici-
tamente em qual espaço estamos considerando o produto a ⊗ b.

Do mesmo modo que usamos a possível não-exatidão de Hom para


motivar a Definição 12.5 (p. 91), temos a:

Definição 13.2. Sejam R um anel e M um R-módulo à direita (resp., es-


querda). Dizemos que M é um módulo plano25 se M ⊗ _ (resp., _ ⊗ M) for
exato.

Observação.

• Um R-módulo M é plano se e somente se para todo homomorfismo


injetor f : N → L de R-módulos à esquerda, o homomorfismo de
grupos M ⊗ f : M ⊗ R N → M ⊗ N L é injetor. De fato, para a ida
tensorizamos a sequência exata

f L
0 −−−→ N −−−→ L −−−→ −−−→ 0,
Im f

e a volta é clara.

• A ambiguidade da observação anterior não existe para módulos pla-


nos.

Após uma nova definição, buscamos exemplos:

Proposição 13.3. Seja R um anel. Então R R é plano.


25 Em inglês, flat.

100
Demonstração: Seja f : N → L um homomorfismo injetor de R-módulos
à esquerda. Devemos mostrar que R ⊗ f : R ⊗ R N → R ⊗ R L é injetor.
Mas está aplicação é uma composta de três homomorfismos injetores, visto
que R ⊗ R N ∼ = N e R ⊗R L ∼ = L pela Proposição 9.1 (p. 68). Com efeito,
se α : N → R ⊗ R N e β : L → R ⊗ R L são os isomorfismos satisfazendo
α( x ) = 1 ⊗ x e β(y) = 1 ⊗ y para todos x ∈ N e y ∈ L, notando que
β( f ( x )) = 1 ⊗ f ( x ) = ( R ⊗ f )(1 ⊗ x ) = ( R ⊗ f )(α( x )),
temos que o seguinte diagrama comuta:
f
N L

α β

R⊗ f
R ⊗R N R ⊗R L
Figura 25: O módulo regular R R é plano.

Proposição 13.4. Sejam R um anel e ( Mi )i∈ I uma família de R-módulos à di-


reita. Então
M
Mi é plano ⇐⇒ Mi é plano para todo i ∈ I.
i∈ I

Demonstração: Seja f : N → L um homomorfismo injetor de R-módulos


à esquerda. Considere o homomorfismo ϕ satisfazendo
ϕ(( xi ⊗ y)i∈ I ) = ( xi ⊗ f (y))i∈ I ,
qualquer que seja ( xi ⊗ y)i∈ I ∈ ⊗ R N ).
L
i ∈ I ( Mi
M
( Mi ⊗ R N )
i∈ I
ϕ
ι0i
M ιi Mi ⊗ f
( Mi ⊗ R L ) Mi ⊗ R L Mi ⊗ R N
i∈ I

⊗ f ).
L
Figura 26: Construindo ϕ = i ∈ I ι i ( Mi

101
Temos que o seguinte diagrama comuta:


Mi ⊗ f 
L

M
 i∈ I M

Mi ⊗R N Mi ⊗R L
i∈ I i∈ I

α β

M ϕ M
( Mi ⊗ R N ) ( Mi ⊗ R L )
i∈ I i∈ I

Mi ) ⊗ f .
L
Figura 27: A injetividade de ϕ é equivalente à de ( i∈ I

Acima, α e β são os isomorfismos vistos na Proposição 9.6 (p. 72), satis-


fazendo α(( xi )i∈ I ⊗ y) = ( xi ⊗ y)i∈ I e β(( xi )i∈ I ⊗ z) = ( xi ⊗ z)i∈ I , quais-
quer que sejam ( xi )i∈ I ∈ i ∈ I Mi , y ∈ N e z ∈ L são quaisquer. Com
L

efeito, temos
! !
M
β Mi ⊗f (( xi )i∈ I ⊗ y) = β(( xi )i∈ I ⊗ f (y))
i∈ I
= ( xi ⊗ f (y))i∈ I
= ϕ(( xi ⊗ y)i∈ I )
= ϕα(( xi )i∈ I ⊗ y).
O resultado segue observando que ϕ é injetor se e somente se todas as
Mi ⊗ f também o forem.
Corolário 13.5. Todo módulo projetivo é plano. Em particular, todo módulo livre
é plano.
Demonstração: Sejam R um anel e P um R-módulo à direita, projetivo.
Então existem um módulo livre F e submódulos P0 , Q ⊆ F tais que P ∼ = P0
e F = P0 ⊕ Q. Mas R R é plano e F ∼
= ( R R )( I ) para algum conjunto I, então
pela proposição anterior segue que F é plano. Pelo mesmo motivo, P0 é
plano, e portanto P também o é.
Observação. Todo espaço vetorial é livre e, portanto, plano. Não importa
se tiver dimensão infinita.
Veremos que Q não é Z-plano. Mas precisamos de mais ferramentas
para isto.

102
13.2 Localização central
Motivação: imitar a ideia da construção do corpo de frações de um domí-
nio de integridade.
Sejam R um anel.

Definição 13.6. Um subconjunto S do centro Z ( R) é dito multiplicativa-


mente fechado se 1 ∈ S e, dados x, y ∈ S, tem-se xy ∈ S.

Vamos definir uma relação ∼ em R × S:

( a, b) ∼ (b, t) ⇐⇒ existe u ∈ S tal que ( at − bs)u = 0.

Se R não tiver divisores de zero, esta condição é equivalente à at − bs = 0,


como é feito na construção de Q a partir de Z.

Proposição 13.7. ∼ é uma relação de equivalência.

Demonstração:

• Reflexiva: para ver que ( a, s) ∼ ( a, s), podemos tomar u = 1.

• Simétrica: o mesmo u que atesta ( a, s) ∼ (b, t) também testemunha


que (b, t) ∼ ( a, s) (basta multiplicar tudo por −1).

• Transitiva: se u, v ∈ S atestam que ( a, s) ∼ (b, t) e (b, t) ∼ (c, r ),


respectivamente, temos

( at − bs)u = 0 e (br − ct)v = 0.

Multiplicando por v e u, obtemos

aturv − bsurv = 0 e brvsu − ctvsu = 0.

Como S ⊆ Z ( R), somar estas duas relações nos dá

0 = aturv − ctvsu = ( ar − cs)(tuv),

e tuv ∈ S pois S é multiplicativamente fechado. Assim ( a, s) ∼ (c, r ).

.
Chame S−1 R = ( R × S)/∼ . Para cada ( a, s) ∈ R × S, denote a sua
classe de equivalência em S−1 R por
a .
= {(b, t) ∈ R × S | (b, t) ∼ ( a, s)}.
s

103
Vamos definir uma estrutura de anel em S−1 R por

a b . at + bs a b . ab
+ = · = .
s t st s t st
Vamos ver que tais operações de fato estão bem definidas. Se a/s = a0 /s0
e b/t = b0 /t0 , é preciso mostrar que

a0 t0 + b0 s0 at + bs a0 b0 ab
= e = .
s0 t0 st s0 t0 st
Existem u, v ∈ S tais que ( as0 − a0 s)u = 0 e (bt0 − b0 t)v = 0. Multplicando
à esquerda a primeira equação por tt0 v e a segunda por ss0 u, temos

as0 utt0 v − a0 sutt0 v = 0 e bt0 vss0 u − b0 tvss0 u = 0.

Somando, obtemos

(( at + bs)s0 t0 − ( a0 t0 + b0 s0 )st)uv = 0,

e assim a soma está bem definida. Já para o produto, multiplicamos as


primeira equação à direita por bt0 v, e a segunda por a0 à esquerda e su à
direita, e obtemos:

as0 ubt0 v − a0 subt0 v = 0 e a0 bt0 vsu − a0 b0 tvsu = 0.

Somando, segue que

(( ab)(s0 t0 ) − ( a0 b0 )(st))(uv) = 0,

e assim o produto também está bem definido. Já verificação de que tais


operações tornam S−1 R um anel fica como exercício. Tem-se

0 1
0 S −1 R = e 1 S −1 R = .
1 1
Note que 0S−1 R = 0/s e 1S−1 R = s/s qualquer que seja s ∈ S. Este anel é
chamado de localização de R em S, ou de anel de frações de R com respeito à S.

14 Mais localização (03/05)


14.1 Propriedade universal e exemplos
Começamos registrando o seguinte lema, de fácil demonstração:

104
Lema 14.1. Sejam R um anel com unidade e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multi-
plicativamente fechado. Então

λ : R → S −1 R
a
a 7→
1
é um homomorfismo de aneis.

Observação.

• Note, porém, que λ não é injetor em geral. Temos que

a 0
a ∈ ker λ ⇐⇒ = ⇐⇒ existe u ∈ S tal que au = 0.
1 1
Então se R possuir divisores de zero que estejam em S, λ não será
injetor. Mas note que para todo s ∈ S, λ(s) é invertível em S−1 R
(apesar disto, não podemos considerá-los invertíveis em R se λ não
é injetor).

• Se R é um domínio de integridade (comutativo), para S = R \ {0}


obtemos precisamente o corpo de frações de R (nesta situação, λ é
injetor).

O par (S−1 R, λ) é universal, no seguinte sentido:

Proposição 14.2. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativa-


mente fechado. Se T é um anel e f : R → T é um homomorfismo de aneis tal que
.
Im f ⊆ U ( T ) = {t ∈ T | t é inversível}, então existe um único homomorfismo
de aneis f : S−1 R → T tal que f ( a/1) = f ( a), para todo a ∈ R.

f
R T

λ
f

S −1 R

Figura 28: Definindo um homomorfismo em S−1 R.

105
Demonstração: Definimos f : S−1 R → T pela única escolha possível:
a
.
f = f ( a ) f ( s ) −1 .
s
Vejamos que f está bem definida. Se a/s = b/t, existe u ∈ S tal que
( at − bs)u = 0, e assim f (( at − bs)u) = 0. Daí
f (u)∈U ( T )
( f ( a) f (t) − f (b) f (s)) f (u) = 0 =⇒ f ( a ) f ( t ) = f ( b ) f ( s ).
Mas f (s) ∈ U ( T ) nos dá f ( a) f (t) f (s)−1 = f (b). Como st = ts, esta relação
lê-se como26 f ( a) f (s)−1 f (t) = f (b). Agora, usamos que f (t) ∈ U ( T ) e
obtemos f ( a) f (s)−1 = f (b) f (t)−1 , como queríamos.
Resta ver que f é um homomorfismo de aneis.
• f (1S−1 R ) = f (1/1) = f (1) f (1)−1 = 1.
• Se a/s, b/t ∈ S−1 R, temos
   
a b at + bs
f + = f
s t st
= f ( at + bs) f (st)−1
= ( f ( a) f (t) + f (b) f (s))( f (s) f (t))−1
= ( f ( a) f (t) + f (b) f (s)) f (t)−1 f (s)−1
= f ( a ) f ( t ) f ( t ) −1 f ( s ) −1 + f ( b ) f ( s ) f ( t ) −1 f ( s ) −1
= f ( a ) f ( s ) −1 + f ( b ) f ( t ) −1 f ( s ) f ( s ) −1
= f ( a ) f ( s ) −1 + f ( b ) f ( t ) −1
a  
b
= f +f .
s t

• Se a/s, b/t ∈ S−1 R, temos


   
a b ab
f · = f
s t st
= f ( ab) f (st)−1
= ( f ( a) f (b))( f (s) f (t))−1
= f ( a ) f ( b ) f ( t ) −1 f ( s ) −1
(∗)
= f ( a ) f ( s ) −1 f ( b ) f ( t ) −1
a b
= f f ,
s t
26 Se st = ts, temos f (s) f (t) = f (t) f (s), e assim f (t) f (s)−1 = f (s)−1 f (t).

106
onde em (∗) usamos que S ⊆ Z ( R) implica f (S) ⊆ Z (Im f ).

Exemplo 14.3.
(1) S−1 R = 0 se e somente se 0 ∈ S.
(2) Se R é um anel comutativo e p  R é um ideal primo (ou seja, ab ∈ p
implica a ∈ p ou b ∈ p), então S = R \ p é multiplicativamente fechado,
e denotamos S−1 R por Rp . O conjunto M = { a/s ∈ Rp | a ∈ p} é o
único ideal maximal de Rp (ou seja, Rp é um anel local27 ). O corpo
K = Rp /M é chamado o corpo de resíduos de R em relação à p, que é
precisamente o corpo de frações do domínio de integridade R/p.
(3) Como caso particular de (2), tomamos R = Z e p = pZ, com p primo.
Temos Rp = {m/n ∈ Q | p não divide n}.

14.2 Localização de módulos


Sejam R um anel, S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativamente fe-
chado, e M um R-módulo à direita. Repetimos o feito anteriormente, defi-
nindo em M × S a relação
(m, s) ∼ (n, t) ⇐⇒ existe u ∈ S tal que (mt − ns)u = 0,
que como antes, é de equivalência. Denotando a classe de (m, s) por m/s,
temos que
. m
n o
S −1 M = | m ∈ M, s ∈ S
s
possui uma estrutura natural de S−1 R-módulo à direita, com
m n mt + ns m n ma
+ = e · = .
s t st s t st
Ainda, tem-se 0S−1 M = 0/1 = 0/s, para todo s ∈ S. O análogo da Propo-
sição 14.2 (p. 105) é o:
Lema 14.4. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativamente
fechado. Se f : M → N é um morfismo em mod-R, então existe um morfismo
S−1 f : S−1 M → S−1 N em mod-S−1 R tal que
m f (m)
( S −1 f ) =
s s
para todos m ∈ M e s ∈ S.
27 Um anel é chamado local quando possui apenas um único ideal maximal (não trivial).

107
Demonstração: Vejamos que S−1 f está bem definida. Se m/s = n/t,
existe u ∈ S tal que (mt − ns)u = 0. Aplicando f temos

0 = f (0) = ( f (m)t − f (n)s)u,

donde f (m)/s = f (n)/t. Resta ver que S−1 f é um morfismo de S−1 R-


módulos. Que é aditivo segue exatamente como na Proposição 14.2. E
finalmente temos
m a  ma  f (ma)
( S −1 f ) · = ( S −1 f ) =
s t st st
f (m) a f (m) a
= = ·
st  s t
−1 m a
= (S f ) .
s t

Segue então a seguinte proposição, cuja demonstração fica como exer-


cício:

Proposição 14.5. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicati-


vamente fechado. Então

S−1 : mod-R → mod-S−1 R

é um funtor covariante.

Demonstração: Deve ser verificado que valem

S−1 (Id M ) = IdS−1 M e S−1 ( f ◦ g) = S−1 f ◦ S−1 g.

Teorema 14.6. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativa-


mente fechado. Então o funtor S−1 : mod-R → mod-S−1 R é aditivo e exato.

Demonstração: Que S−1 é aditivo fica como exercício. Vejamos que é


f g
exato. Seja L −−−→ M −−−→ N uma sequência exata em mod-R. Apli-
cando S−1 , obtemos

S −1 f S −1 g
S−1 L −−−−−→ S−1 M −−−−−→ S−1 N.

108
Como S−1 é covariante e aditivo, automaticamente vale Im S−1 f ⊆ ker S−1 g.
Para a outra inclusão, tome m/s ∈ S−1 M com m/s ∈ ker S−1 g. Então
m g(m)
0 = ( S −1 g ) =
s s
nos diz que existe u ∈ S com 0 = g(m)u = g(mu). Daí mu ∈ ker g = Im f
nos dá x ∈ L tal que mu = f ( x ), e assim

m mu f (x) x
= = = ( S −1 f ) ,
s su su su
como queríamos.
Com o que fizemos até agora, podemos começar a voltar para módulos
planos.
Teorema 14.7. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativa-
mente fechado. Se M é um R-módulo à direita, existe um isomorfismo de S−1 R-
módulos à direita ϕ : M ⊗ R S−1 R → S−1 M satisfazendo
 a ma
ϕ m⊗ = ,
s s
para todos m ∈ M, a ∈ R e s ∈ S.
Observação.
• Note que S−1 R possui uma estrutura de R-módulo à esquerda dada
pela aplicação λ : R → S−1 R vista no Lema 14.1 (p. 105). Isto permite
construir M ⊗ R S−1 R.

• Ou seja, os funtores S−1 e _ ⊗ S−1 R são naturalmente isomorfos. O


ϕ acima seria η M , na notação da Definição 12.10 (p. 96).
Demonstração: A função

f : M × S −1 R → S −1 M
 a ma
m, 7→
s s
está bem-definida, pois se a/s = b/t, podemos tomar um elemento u ∈ S
tal que ( at − bs)u = 0. E assim (mat − mbs)u = m(( at − bs)u) = m · 0 = 0.
Que (S−1 M, f ) é um produto balanceado de M e S−1 R sobre R fica como
exercício. Então fica induzida a linearização procurada

ϕ : M ⊗ R S−1 R → S−1 M,

109
que é um homomorfismo de grupos abelianos. Para ver que é um homo-
morfismo de S−1 R-módulos à direita, basta olharmos para tensores sim-
ples e usar que ϕ já é aditivo:
   
a b ab mab ma b  a b
ϕ m⊗ = ϕ m⊗ = = = ϕ m⊗ .
s t st st s t b t

Claramente ϕ é sobrejetor. Resta ver que é injetor: comecemos vendo


que todo elemento de M ⊗ R S−1 R é da forma m ⊗ (1/s), com m ∈ M e
s ∈ S. Seja ξ ∈ M ⊗ R S−1 R arbitrário, escrito como
a1 a
ξ = m1 ⊗ + · · · + mk ⊗ k .
s1 sk

Notando que para cada i = 1, . . . , k temos


ai a s . . . s i −1 s i +1 . . . s k
= i 1 ,
si s1 . . . s k
.
chamamos ti = s1 . . . si−1 si+1 . . . sk e s = s1 . . . sk . Então
a1 t1 a t
ξ = m1 ⊗ + · · · + mk ⊗ k k
s s
1 1
= ( m1 a1 t1 ) ⊗ + · · · + ( m k a k t k ) ⊗
s s
1
= ( m1 a1 t1 + · · · + m k a k t k ) ⊗ .
s
.
| {z }
=m

Com isto, se ϕ(ξ ) = 0 temos m/s = 0, o que nos dá u ∈ S tal que mu = 0.


Segue que

1 u 1 1
ξ = m⊗ = m⊗ = mu ⊗ = 0⊗ = 0,
s su su su
como queríamos.

Corolário 14.8. Sejam R um anel e S ⊆ Z ( R) um subconjunto multiplicativa-


mente fechado. Então S−1 R é um R-módulo à esquerda plano.

Demonstração: Essencialmente: os funtores S−1 e _ ⊗ S−1 R são natural-


mente isomorfos, e S−1 é exato. Mais precisamente, se

f g
0 −−−→ N1 −−−→ N2 −−−→ N3 −−−→ 0

110
é uma sequência exata em mod-R, tensorizar isto com S−1 R sobre R e usar
o teorema anterior nos dá o seguinte diagrama comutativo:

f ⊗ S −1 R g ⊗ S −1 R
0 N1 ⊗ R S−1 R N2 ⊗ R S−1 R N3 ⊗ R S−1 R 0

S −1 f S −1 g
0 S−1 N1 S−1 N2 S−1 N3 0

Figura 29: Mostrando que S−1 R é plano.

A primeira linha é exata e as colunas são isomorfismos, então concluí-


mos que a segunda linha é exata também, como desejado.

Exemplo 14.9. Lembre que Q não é um Z-módulo projetivo, mas sabemos


agora que é plano, pois Q = S−1 Z com S−1 = Z \ {0} (em outras palavras,
Q é o corpo de frações de Z!).

15 Módulos Injetivos (08/05)


Vimos nos teoremas 11.9 (p. 88) e 12.2 (p. 90) que dado um anel R e
um R-módulo M, os funtores Hom( M, _) (covariante) e Hom(_, M) (con-
travariante) são sempre exatos à esquerda. Então, definimos os módulos
projetivos (p. 91) para os quais Hom( P, _) é sempre exato (também à di-
reita). Se é dada uma sequência exata curta arbitrária

α β
0 −−−→ L −−−→ M −−−→ N −−−→ 0

de R-módulos, gostaríamos de saber quando

β∗ α∗
0 −−−→ HomR ( N, Q) −−−−→ HomR ( M, Q) −−−−→ HomR ( L, Q) −−−→ 0

é exata, onde α∗ = Hom(α, Q) e β∗ = Hom( β, Q). Como Hom(_, Q)


é exato à esquerda, sabemos que β ∗ é sempre injetor. Então o interesse é
saber quando α∗ é sobrejetor sempre que α for injetor. Com esta motivação,
damos agora a versão “contravariante” de módulos projetivos:

Definição 15.1. Sejam R um anel e Q um R-módulo. Diremos que Q é


um módulo injetivo se para todo homomorfismo injetor de R-módulos

111
α : L → M, dado um homomomorfismo h : L → Q, existe um homomor-
fismo f : M → Q tal que f α = h.

α
0 L M

h
f

Q
Figura 30: A “propriedade universal” de um módulo injetivo.

Então é claro que um R-módulo Q é injetivo se e somente se Hom(_, Q)


é exato. Começamos com uma versão paralela a uma das equivalências do
Teorema 12.7 (p. 92):
Teorema 15.2. Sejam R um anel e Q um R-módulo. Então Q é injetivo se e
somente se toda sequência exata
0 −−−→ Q −−−→ M −−−→ N −−−→ 0
cinde.
Demonstração: Comece supondo que Q é injetivo. Se denotamos por α o
homomorfismo Q → M da sequência exata dada, Q ser injetivo nos per-
mite utilizar a propriedade universal para IdQ : Q → Q, nos fornecendo
então um homomorfismo f : M → Q com f α = IdQ , donde α é um homo-
morfismo injetor que cinde.

α
0 Q M

IdQ
f

Q
Figura 31: Mostrando que α cinde.

Reciprocamente, seja α : L → M um homomorfismo injetor. Queremos


ver que dados um homomorfismo h : L → Q, existe um homomorfismo
f : M → Q tal que f α = h. Para tanto, assumiremos um resultado que
veremos em breve (cuja demonstração não depende desta): existem um
R-módulo injetivo I e um homomorfismo injetor j : Q → I (Teorema 17.1,
p. 117).

112
Claramente a sequência
j
0 −−−→ Q −−−→ I −−−→ I/Im j −−−→ 0

é exata, e por hipótese cinde, donde existe um homomorfismo t : I → Q tal


h : M → I tal que
que tj = IdQ . Por outro lado, I ser injetivo nos fornece e
hα = jh. Então te
e hα = tjh = IdQ h = h.
h testemunha que Q é injetivo, pois te
A situação é resumida no seguinte diagrama:

α
0 L M
h h
e
j
0 Q I I/Im j 0
t
Figura 32: Mostrando que Q é injetivo.

16 Injetivos versus Divisíveis (15/05)


Outra caracterização de módulos injetivos sobre um dado anel é dada
em termos de seus ideais:

Teorema 16.1 (Critério de Baer). Sejam R um anel e Q um R-módulo (à di-


reita). Então Q é injetivo se e somente se para todo ideal (à direita) I de R e todo
homomorfismo f : I → Q, existe um homomorfismo f : R → Q tal que f I = f .

R
f
ι
f
I Q
Figura 33: Critério de Baer.

Demonstração: A ida é trivial:

113
ι
0 I R

f
f
Q
Figura 34: Estendendo f .

Para a recíproca, utilizamos o Lema de Zorn28 . Sejam α : L → M um


homomorfismo injetor e h : M → Q um homomorfismo. Considere no
conjunto
.
S = {( M0 , h0 ) | M0 é um submódulo de M contendo α( L) e
h0 : M0 → Q é um homomorfismo com h0 α = h}
a ordem parcial dada por

( M1 , h1 ) ≤ ( M2 , h2 ) ⇐⇒ M1 é um submódulo de M2 e h2 M = h1 .
1
 −1 
Temos que S 6= ∅ pois α( L), h ◦ (α L ) ∈ S. Agora, se C ⊆ S é uma
cadeia, temos que
. [
Me = { M0 | existe h0 : M0 → Q com ( M0 , h0 ) ∈ C}
é um submódulo de M (pois é união de uma coleção totalmente ordenada
de submódulos), e podemos considerar a extensão comum e h: Me → Q de
0 0 0
todas as h correspondentes aos pares ( M , h ) ∈ C. Claramente temos que
( M,
e eh) ∈ S é uma cota superior para C. Assim, o Lema de Zorn fornece
um elemento maximal ( Mmax , hmax ) ∈ S.
Como de praxe nesse tipo de argumento, afirmamos que Mmax = M, e
a demonstração é feita por absurdo. Se x ∈ M0 \ Mmax , temos que a soma
Mmax + xR contém Mmax propriamente, e I = { a ∈ R | xa ∈ Mmax } é
um ideal à direita de R. A aplicação f : I → Q dada por f ( a) = hmax ( xa)
é um homomorfismo de R-módulos, e por hipótese admite uma extensão
f : R → Q com f I = f . Então ϕ : Mmax + xR → Q dada por ϕ(m + xa) =

hmax (m) + f ( a) é um homomorfismo de R-módulos com ϕα = h, donde
( Mmax + xR, ϕ) ∈ S contradiz a maximalidade de ( Mmax , hmax ).
Deste modo, hmax : M → Q satisfaz hmax α = h e testemunha que Q é
injetivo, como queríamos.

28 Se
em um conjunto não-vazio e parcialmente ordenado, toda cadeia possui uma cota
superior, então existe um elemento maximal.

114
Definição 16.2. Sejam R um domínio de integridade (comutativo) e M um
R-módulo à direita. Diremos que M é divisível se dados elementos u ∈ M
e a ∈ R \ {0}, existe x ∈ M tal que xa = u.

Observação. Isto quer dizer que para todo a ∈ R \ {0}, a multiplicação


por a, m a : M → M, é sobrejetora. Se R não é um domínio de integridade,
pedimos na definição que a condição valha para todo a que não seja um
divisor de zero em R.

Ser divisível é uma propriedade que se comporta bem em relação à


somas diretas e quocientes:

Proposição 16.3. Seja R um domínio de integridade. Então:


L
(i) Se ( Mλ )λ∈Λ é uma família de R-módulos (à direita) divisíveis, então λ∈Λ Mλ
é divisível.

(ii) Se M é um R-módulo (à direita) divisível e N é um submódulo de M, então


M/N é divisível.

Demonstração: A demonstração é um exercício em aplicar a definição:

(i) Sejam (uλ )λ∈Λ ∈ λ∈Λ Mλ e a ∈ R \ {0}. Para cada λ ∈ Λ, existe


L

xλ ∈ Mλ tal que xλ a = uλ . Isto produz um elemento ( xλ )λ∈Λ ∈


L
λ∈Λ Mλ satisfazendo

( xλ )λ∈Λ a = ( xλ a )λ∈Λ = ( uλ )λ∈Λ ,

como desejado.

(ii) Sejam [u] ∈ M/N e a ∈ R \ {0}. Existe x ∈ M tal que xa = u. Assim,


temos que [ x ] a = [ xa] = [u].

A relação deste novo conceito com os módulos injetivos que definimos


anteriormente já começa a ser explorada na:

Proposição 16.4.

(i) Todo módulo injetivo sobre um domínio de integridade é divisível.

(ii) Sobre um domínio de ideais principais, todo módulo divisível é injetivo.

Demonstração: Em partes:

115
(i) Sejam R um domínio de integridade e Q um R-módulo (à direita)
injetivo. Vejamos que Q é divisível. Dados u ∈ Q e a ∈ R \ {0}, defi-
nimos f : aR → Q por f ( ar ) = ur. Esta aplicação está bem-definida
pois ar = as implica a(r − s) = 0 e R ser domínio nos dá r − s = 0.
E é fácil ver que f é um homomorfismo de R-módulos. Pelo Crité-
rio de Baer, existe um homomorfismo f : R → Q estendendo f . Se
x = f (1), temos

xa = f (1) a = f ( a) = f ( a · 1) = f ( a · 1) = u,

como queríamos.

(ii) Sejam R um domínio de ideais principais e Q um R-módulo (à di-


reita) divisível. Vejamos que Q é injetivo. Sejam I um ideal à direita
de R e f : I → Q um homomorfismo de R-módulos. Pelo Critério de
Baer, basta estendermos f . Se I = {0}, então f = 0 serve. Caso con-
trário, como R é um domínio de ideais principais, existe a ∈ R \ {0}
com I = aR. Chame u = f ( a). Como Q é divisível, existe x ∈ Q com
xa = u. Defina f : R → Q por f (r ) = xr. Então f é um homomor-
fismo de R-módulos que estende f , visto que

f ( ar ) = x ( ar ) = ( xa)r = ur = f ( a)r = f ( ar ).

Corolário 16.5. Sobre Z, um módulo é injetivo se e somente se é divisível.

Exemplo 16.6. Q é um Z-módulo injetivo, pois é divisível. Com efeito,


dados q ∈ Q e n ∈ Z \ {0}, temos q/n ∈ Q e (q/n)n = q.

Proposição 16.7. Todo Z-módulo pode ser imerso29 em um Z-módulo injetivo.

Demonstração: Seja M um Z-módulo. Considere um homomorfismo so-


brejetor f : Z( M) → M (que existe pelo 7.12, p. 54), e note que

Z( M ) Q( M )
M∼
= ≤ .
ker f ker f

Segue do Exemplo 16.6 acima e da Proposição 16.3 (p. 115) que Q( M) /ker f
é um Z-módulo injetivo (que contém Z( M) /ker f como Z-submódulo).
29 Diremos que M é imerso em N se existe um homomorfismo injetor de M em N.

116
17 Complexos (17/05)
Começamos com o que ficou pendente da aula anterior:

Teorema 17.1. Seja R um anel. Então todo R-módulo à direita pode ser imerso
em um R-módulo à direita injetivo.

Demonstração: Seja M um R-módulo à direita. Considerando M como


um Z-módulo, pela Proposição 16.7 (p. 116), existe um Z-módulo injetivo
Q e um homomorfismo injetor de Z-módulos j : M → Q.
Temos que30 MR ∼ = HomR ( R R , M) é um R-submódulo de HomZ ( R, M).
Vimos que Hom é um funtor covariante e exato à esquerda (Teorema 11.9,
p. 88), donde j induz um homomorfismo injetor de R-módulos à direita de
.
HomZ ( R, M ) em HomZ ( R, Q). Então, denotando H = HomZ ( R, Q), resta
ver que H é injetivo, ou seja, que o funtor Hom(_, H ) é exato à direita.
Seja i : N 0 → N um homomorfismo injetor de R-módulos à direita.
.
Mostremos que i∗ = Hom(i, H ) : HomR ( N, H ) → HomR ( N 0 , H ) é sobre-
jetor. Usando os isomorfismos de adjunção do Teorema 10.3 (p. 79), temos
o diagrama:

i∗
HomR ( N, H ) HomR ( N 0 , H )

φ φ0
Hom(i ⊗ R, Q)
HomZ ( N ⊗ R R, Q) HomZ ( N 0 ⊗ R R, Q)

Figura 35: Isomorfismos de adjunção.

Lembrando que φ( f )(y ⊗ r ) = f (y)(r ) e analogamente para φ0 , afirma-


mos que o diagrama acima comuta. Com efeito, por um lado temos

(φ0 ◦ i∗ )( f )(n0 ⊗ r ) = φ0 (i∗ ( f ))(n0 ⊗ r )


= φ0 ( f i )(n0 ⊗ r )
= ( f i )(n0 )(r )
= f (i (n0 ))(r )
30 Lembreque se ϕ : S → T é um homomorfismo de aneis, então um T-módulo M
ganha também uma estrutura de S-módulo via xs = xϕ(s), e ainda tem-se tem-se MT ∼
=
HomT ( T, M) ≤ T HomS ( T, M ).

117
e por outro

((i ⊗ R)∗ ◦ φ)( f )(n0 ⊗ r ) = (i ⊗ R)∗ (φ( f ))(n0 ⊗ r )


= (φ( f ) ◦ (i ⊗ R))(n0 ⊗ r )
= φ( f )(i (n0 ) ⊗ r )
= f (i (n0 ))(r )

para todos n0 ∈ N e r ∈ R. Pelo argumento de sempre, concluímos que o


diagrama comuta.
Por outro lado, sendo ψ e ψ0 os isomorfismos da Proposição 9.2 (p. 69),
temos o seguinte diagrama comutativo:

i⊗R
N ⊗R R N 0 ⊗R R

ψ ψ0
i
N N0
Figura 36: Isomorfismo natural entre o funtor identidade e _ ⊗ R.

Aplicando o funtor Hom(_, Q), obtemos o seguinte diagrama comuta-


tivo:
i∗
HomR ( N, H ) HomR ( N 0 , H )

φ φ0
Hom(i ⊗ R, Q)
HomZ ( N ⊗ R R, Q) HomZ ( N 0 ⊗ R R, Q)

Hom(ψ, Q) Hom(ψ0 , Q)

Hom(i, Q)
HomZ ( N, Q) HomZ ( N 0 , Q)

Figura 37: Concluindo que i∗ é sobrejetor.

Mas Q é um Z-módulo injetivo, donde Hom(i, Q) é sobrejetor. Como


as colunas são isomorfismos, concluímos que i∗ também é sobrejetor.
De posse das ferramentas apresentadas até agora, podemos começar a
medir o quanto certos funtores deixam de ser exatos. Começamos com a:

118
Definição 17.2 (Complexo de cadeias). Seja R um anel. Um complexo de
cadeias sobre R é um par ( C, ∂), onde C = {Ci | i ∈ Z} é uma família
de R-módulos à direita e ∂ = {∂i : Ci → Ci−1 | i ∈ Z} é uma família de
homomorfismos tais que ∂i ◦ ∂i+1 = 0, para todo i ∈ Z. Escrevemos

∂ i +2 ∂ i +1
i ∂ ∂ i −1
C : · · · −−−−→ Ci+1 −−−−→ Ci −−− → Ci−1 −−−−→ · · ·

e ∂2 = 0. Diremos que o complexo é exato se a sequência acima for exata.

Observação. Para cada i ∈ Z, a condição ∂i ◦ ∂i+1 = 0 é equivalente à


inclusão Im(∂i+1 ) ⊆ ker ∂i .

Exemplo 17.3.

(1) Toda sequência exata é um complexo exato (eventualmente comple-


tando com zeros).

(2) Resoluções projetivas: sejam R um anel e M um R-módulo. Se P0 é


um R-módulo projetivo e ε : P0 → M é um homomorfismo sobrejetor,
então ker ε é um submódulo de P0 , e assim existem um R-módulo pro-
jetivo P1 e um homomorfismo sobrejetor f 1 : P1 → ker ε. Prosseguindo
e montando compostas, obtemos o seguinte diagrama:

g2 g1 ε
··· P2 P1 P0 M 0
f2 f1

··· ker f 1 ker ε

0 0 0
Figura 38: Resolução projetiva de M.

Fica definido então um complexo ( C, ∂) com


 
P
 i
 , se i ≥ 0,  gi , se i ≥ 1

Ci = M, se i = −1 e ∂i = ε, se i = 0
 
0, se i ≤ −2 0, se i ≤ −1.
 

119
Qualquer confusão com os índices pode ser evitada com a seguinte
visualização:
g2 g1 ε
· · · −−−→ P2 −−−−→ P1 −−−−→ P0 −−−→ M −−−→ 0
2 ∂ 1 0 ∂ ∂
· · · −−−→ C2 −−−− → C1 −−−− → C0 −−−− → C−1 −−−→ 0

Temos que ( C, ∂) é um complexo exato: com efeito, em cada passo es-


tamos realizando a inclusão do núcleo de um homomorfismo, seguida
do próprio homomorfismo. Este complexo é chamado uma resolução
projetiva de M.

(3) Resoluções injetivas: a mesma coisa do exemplo anterior, dualizada.


Sejam R um anel e M um R-módulo. Se Q0 é um R-módulo injetivo e
η : M → Q0 é um homomorfismo injetor, então coker η = Q0 /Im η é
um R-módulo, e existe um R-módulo injetivo Q1 e um homomorfismo
injetor i1 : Q0 /Im η → Q1 . Prosseguindo e montando compostas, ob-
temos o seguinte diagrama:

η j1 j2
0 M Q0 Q1 Q2 ···
i1 i2

Q0 /Im η Q1 /Im i1 ···

0 0 0
Figura 39: Resolução injetiva de M.

Fica definido então outro complexo ( C, ∂) com


 

 0, se k ≥ 2, 0, se k ≥ 2

Ck = M, se k = 1 e ∂k = η, se k = 1
 
Q−k , se k ≤ 0 j−k+1 , se k ≤ 0.
 

Como antes, este ajuste de índices nos dá, lado a lado:


η j1 j2
0 −−−→ M −−−→ Q0 −−−−→ Q1 −−−−→ Q2 −−−→ · · ·

2 1 ∂ ∂0 ∂ −1
C2 −−−− → C1 −−−− → C0 −−−−→ C−1 −−−−−→ C−2 −−−→ · · ·

120
Novamente, ( C, ∂) é um complexo exato: com efeito, em cada passo
temos um homomorfismo seguido da projeção de seu contradomínio
no quociente pela sua imagem. Este complexo é chamado uma resolu-
ção injetiva de M.
(4) Se ( C, ∂) é um complexo de cadeias de R-módulos à direita e F é um
funtor covariante aditivo de mod-R em uma categorias de módulos, en-
tão ( F C, F (∂)) é um complexo de cadeias, onde
F C = { FCi | i ∈ Z} e F (∂) = { F (∂i ) : F (Ci ) → F (Ci−1 ) | i ∈ Z}.
Essencialmente, se
∂ i +2 i ∂ i +1 ∂ ∂ i −1
C : · · · −−−−→ Ci+1 −−−−→ Ci −−− → Ci−1 −−−−→ · · · ,
então
F ( ∂ i +2 ) F ( ∂ i +1 ) F ( ∂i ) F ( ∂ i −1 )
F C : · · · −−−−−−→ FCi+1 −−−−−−→ FCi −−−−−→ FCi−1 −−−−−−→ · · · .
Se ( C, ∂) e F são exatos, então ( F C, F (∂)) também o é.
(5) Se ( C, ∂) é um complexo de cadeias de R-módulos à direita e F é um
funtor contravariante aditivo de mod-R em uma categorias de módulos,
então ( F C, F (∂)) é um complexo de cadeias, onde
F C = { Di | i ∈ Z } e F ( ∂ ) = { ∆ i : Di → Di − 1 | i ∈ Z } ,
com Di = FC−i e ∆i = F (∂−i+1 ). Desta vez, se
∂ i +2 i ∂ i +1 ∂ ∂ i −1
C : · · · −−−−→ Ci+1 −−−−→ Ci −−− → Ci−1 −−−−→ · · · ,
então
F ( ∂ i −1 ) F ( ∂i ) F ( ∂ i +1 ) F ( ∂ i +2 )
F C : · · · −−−−−−→ FCi−1 −−−−−→ FCi −−−−−−→ FCi+1 −−−−−−→ · · · .

Definição 17.4 (Morfismo de complexos). Sejam R um anel e ( C, ∂) e ( C0 , ∂0 )


complexos de R-módulos. Um homomorfismo de cadeias de ( C, ∂) em ( C0 , ∂0 )
é uma família β = { β i : Ci → Ci0 | i ∈ Z} tal que β i ◦ ∂i+1 = ∂i0+1 β i+1 , para
todo i ∈ Z. Temos
∂ i +1 ∂i
··· Ci+1 Ci Ci−1 ···
β i +1 βi β i −1
∂i0+1 ∂i0
··· Ci0+1 Ci0 Ci0−1 ···
Figura 40: Morfismo de cadeias.

121
e escrevemos simplesmente β∂ = ∂0 β.

Definição 17.5. Dado um anel R, definimos a categoria comp-R por:

• Obj(comp-R) é a classe de todos os complexos de cadeias de R-módulos


à direita.

• dados ( C, ∂), ( C0 , ∂0 ) ∈ Obj(comp-R), Homcomp-R ( C, ∂), ( C0 , ∂0 ) é o




conjunto de todos os homomorfismos de cadeias de ( C, ∂) em ( C0 , ∂0 ).

Observação. Analogamente
0 0
 define-se R-comp. Note que cada conjunto
Homcomp-R ( C, ∂), ( C , ∂ ) tem uma estrutura óbvia de grupo abeliano, a
. .
saber, α + β = {γi : Ci → Ci0 | i ∈ Z} com γi = αi + β i .

18 Homologia (22/05)
Com o que fizemos anteriormente, podemos escrever a:

Definição 18.1. Seja R um anel. Para cada i ∈ Z, definimos um funtor


Hi : comp-R → mod-R por:

(i) se ( C, ∂) ∈ Obj(comp-R), escrevemos

. Z ( C)
Hi ( C, ∂) ≡ Hi ( C) = i ,
Bi ( C)
. .
onde Zi ( C) = ker ∂i e Bi ( C) = Im ∂i+1 .

(ii) se ( C, ∂), ( C0 , ∂0 ) ∈ Obj(comp-R) e α ∈ Homcomp-R ( C, ∂), ( C0 , ∂0 ) ,




defina

αei ≡ Hi (α) : Hi ( C) −−−−−→ Hi ( C0 )


zi + Bi ( C) 7→ αi (zi ) + Bi ( C0 ).

Os elementos de Zi ( C) são chamados i-ciclos, enquanto que os de Bi ( C)


são chamados i-bordos, e Hi ( C) é dito o i-ésimo módulo de homologia de
( C, ∂).
Observação. Note que o quociente que define Hi ( C) pode ser escrito jus-
tamente em vista da condição ∂2 = 0 (que é equivalente às inclusões
Im ∂i+1 ⊆ ker ∂i ), e que Hi (α) de fato está bem definido por α ser um
homomorfismo de cadeias. Com efeito, temos que αi ( Zi ( C)) ⊆ Zi ( C0 ) e
também αi ( Bi ( C)) ⊆ Bi ( C0 ) para todo i ∈ Z, pois:

122
• se zi ∈ Zi ( C), então ∂i0 α(zi ) = αi−1 (∂i zi ) = αi−1 (0) = 0.
• se zi ∈ Bi ( C), então zi = ∂i+1 zi+1 para algum zi+1 ∈ Ci+1 , donde
temos αi (zi ) = αi (∂i+1 zi+1 ) = ∂i0+1 αi+1 (zi+1 ).
A interpretação para a homologia é clara: um complexo ( C, ∂) é exato
se e somente se Hi ( C) = 0 para todo i ∈ Z. Aqui, vale registrar mais uma
definição:
Definição 18.2. Sejam R um anel e ( C, ∂) um complexo de cadeias sobre
R. Diremos que ( C, ∂) é um complexo
(i) positivo se Ci = 0 para todo i < 0. Portanto, temos
2 ∂ 1 ∂
C: · · · −−−→ C2 −−−− → C1 −−−− → C0 −−−→ 0.

(ii) negativo se Ci = 0 para todo i > 0. Portanto, temos


∂0 ∂ −1
C: 0 −−−→ C0 −−−−→ C−1 −−−−−→ C−2 −−−→ · · ·

Observação. No caso negativo, é usual definirmos Ci = C−i e di = ∂−i , de


modo a obter
d0 d1
0 −−−→ C0 −−−−→ C1 −−−−→ C2 −−−→ · · ·,

e adaptarmos a nomenclatura dada na Definição 18.1 acima. Os elemen-


tos de Zi ( C) = ker di são chamados i-cociclos, os de Bi ( C) são chamados
.
i-cobordos, e H i ( C) = Zi ( C)/Bi ( C) é chamado o i-ésimo módulo de cohomo-
logia de ( C, d).
Enfim, registramos a:
Proposição 18.3. Para cada i ∈ Z, o funtor Hi : comp-R → mod-R é covariante
e aditivo.
Os resultados principais sobre homologia usam não apenas sequências
exatas de módulos, mas também de complexos:
Definição 18.4. Uma sequência exata de complexos de cadeia é uma sequência
da forma
β
0 −−−→ C0 −−−→ C −−−→ C00 −−−→ 0,
α

onde em cada extrato temos uma sequência exata de módulos


α βi
0 −−−→ Ci0 −−−−
i
→ Ci −−−−→ Ci00 −−−→ 0.

123
Teorema 18.5 (A). Se
β
0 −−−→ C0 −−−→ C −−−→ C00 −−−→ 0
α

é uma sequência exata curta de complexos, então existem morfismos de conexão


δi : Hi ( C00 ) → Hi−1 ( C0 ) satisfazendo δi (zi00 + Bi ( C00 )) = zi0−1 + Bi−1 ( C0 ),
onde zi0−1 ∈ αi−−11 (∂i ( β− 1 00
i ( zi ))).

αei βei
Hi ( C0 ) Hi ( C) Hi ( C00 )
δi

αg
i −1 βg
i −1
Hi−1 ( C0 ) Hi−1 ( C) Hi−1 ( C00 )

Figura 41: O morfismo δi conecta dois extratos diferentes.

Observação. Explicitamente, a última condição do enunciado diz que vale


αi−1 (zi0−1 ) = ∂i ci para algum ci ∈ Ci satisfazendo β i ci = zi00 .
Demonstração: A ideia do argumento é definir um homomorfismo con-
veniente Zi ( C00 ) → Hi−1 ( C0 ), que passe para o quociente. Considere o
seguinte diagrama comutativo:

βi
Ci Ci00 0

∂i ∂i00

α i −1 β i −1
0 Ci0−1 Ci−1 Ci00−1 0

∂i0−1 ∂ i −1

α i −2
0 Ci0−2 Ci−2

Figura 42: O essencial.

Se zi00 ∈ Zi ( C00 ), β i ser sobrejetor nos fornece ci ∈ Ci tal que β i (ci ) = zi00 .
Então, temos que
β i−1 (∂i ci ) = ∂i00 β i (ci ) = ∂i00 zi00 = 0,

124
de modo que ∂i ci ∈ ker β i−1 = Im αi−1 , e podemos escrever ∂i ci = αi−1 (zi0−1 )
para algum zi0−1 ∈ Ci0−1 . Afirmamos que zi0−1 ∈ Zi−1 ( C0 ). Com efeito, te-
mos que
αi−2 (∂i0−1 zi0−1 ) = ∂i−1 αi−1 (zi0−1 ) = ∂i−1 ∂i ci = 0,
e αi−2 ser injetor nos dá ∂i0−1 zi0−1 = 0 como afirmado. Então zi0−1 determina
uma classe de homologia, e podemos definir uma aplicação
Zi ( C00 ) → Hi−1 ( C0 )
zi00 7→ zi0−1 + Bi−1 ( C0 ),

onde zi0−1 ∈ αi−−11 (∂i ( β− 1 00


i ( zi ))) é obtido como na caça acima, que resume-
se no seguinte diagrama:

βi
Ci Ci00
ci zi00
∂i

α i −1
Ci0−1 Ci−1
zi0−1 ∂i ci

Figura 43: Obtendo zi0−1 .

Temos que:
• esta aplicação está bem definida. Ou seja, devemos ver que a classe
final obtida não depende da escolha de ci : suponha que ci , ci∗ ∈ Ci
sejam tais que β i (ci ) = β i (ci∗ ) = zi00 . Realizando o processo de caça
0
para cada um deles, obtemos zi0−1 , zi∗−1 ∈ Zi−1 ( C0 ) satisfazendo
0
∂i ci = αi−1 (zi0−1 ) e ∂i ci∗ = αi−1 (zi∗−1 ).
E além disto, ci − ci∗ ∈ ker β i = Im αi nos dá um elemento zi0 ∈ Ci0 tal
que ci − ci∗ = αi (zi0 ). Aplicando ∂i nesta última relação, vemos que
0
αi−1 (zi0−1 − zi∗−1 ) = ∂i αi (zi0 ) = αi−1 (∂i0 zi0 ),
0
donde αi−1 ser injetor nos diz que zi0−1 = zi∗−1 + ∂i0 zi0 . Concluímos
que
0 0
zi0−1 + Bi−1 ( C0 ) = zi∗−1 + ∂i0 zi0 + Bi−1 ( C0 ) = zi∗−1 + Bi−1 ( C0 ),
como queríamos.

125
00
• é um homomorfismo de módulos: sejam zi00 , zi ∗ ∈ Zi ( C00 ) e r ∈ R.
0
Basta notar que se temos elementos ci , ci∗ ∈ Ci e zi0−1 , zi∗−1 satisfa-
zendo as relações
0
( (
0
α i −1 ( z i −1 ) = ∂ i c i αi−1 (zi∗−1 ) = ∂i ci∗
e 00
β i (ci ) = zi00 β i (ci∗ ) = zi ∗ ,

segue que
0 00
αi−1 (zi0−1 + zi∗−1 r ) = ∂i (ci + ci∗ r ) e β i (ci + ci∗ r ) = zi00 + zi ∗ r.

• seu núcleo contém Bi ( C00 ): se zi00 = ∂i00+1 ci00+1 para algum ci00+1 ∈ Ci00+1 ,
devemos verificar que o zi0−1 encontrado na caça é um elemento de
Bi−1 ( C0 ). Sabemos que existe ci ∈ Ci satisfazendo as relações

αi−1 (zi0−1 ) = ∂i ci e β i (ci ) = zi00 = ∂i00+1 ci00+1 .

Como β i+1 é sobrejetor, conseguimos um elemento ci+1 ∈ Ci+1 tal


que zi00+1 = β i+1 (ci+1 ). Daí

β i (∂i+1 ci+1 ) = ∂i00+1 β i+1 (ci+1 ) = ∂i00+1 zi00+1 = zi00 = β i (ci ),

donde ci − ∂i+1 ci+1 ∈ ker β i = Im αi nos dá um elemento ci0 ∈ Ci0 tal


que ci − ∂i+1 ci+1 = αi (ci0 ). Afirmamos então que zi0−1 = ∂i0 ci0 . Com
efeito, temos que

αi−1 (∂i0 ci0 ) = ∂i αi (ci0 ) = ∂i (ci − ∂i+1 ci+1 ) = ∂i ci = αi−1 (zi0−1 ),

e αi−1 é injetor, donde segue a conclusão.

A aplicação δi : Hi ( C00 ) → Hi−1 ( C0 ) procurada é a induzida por esta.

19 Sequências exatas longas (24/05)


Teorema 19.1 (B). Se
β
0 −−−→ C0 −−−→ C −−−→ C00 −−−→ 0
α

é uma sequência exata curta de complexos, então a sequência de homomorfismos

126
···

αei βei
Hi ( C0 ) Hi ( C) Hi ( C00 )
δi

αg
i −1 βg
i −1
Hi−1 ( C0 ) Hi−1 ( C) Hi−1 ( C00 )

···
Figura 44: Sequência longa de homologia.

é exata.
Observação. O resultado deste teorema pode ser resumido na frase “uma
sequência exata curta de complexos induz uma sequência exata longa de
homologia”.
Demonstração: Temos três verificações a fazer:
αi = ker βei : como Hi é um funtor covariante aditivo e β i αi = 0,
(i) Im e
αi ⊆ ker βei . Para a inclusão contrária, seja zi ∈ Zi ( C) tal
temos Im e
que
0 = βei (zi + Bi ( C)) = β i (zi ) + Bi ( C00 ),
de modo que β i (zi ) ∈ Bi ( C00 ). Então tome um elemento ci00+1 ∈ Ci00+1
tal que β i (zi ) = ∂i00+1 ci00+1 . Mas como β i+1 é sobrejetor, existe um ele-
mento ci+1 ∈ Ci+1 tal que ci00+1 = β i+1 (ci+1 ). Com isto, temos

β i ( z i − ∂ i +1 c i +1 ) = β i ( z i ) − β i ( ∂ i +1 c i +1 )
= ∂i00+1 ci00+1 − ∂i00+1 β i+1 (ci+1 )
= ∂i00+1 (ci00+1 − β i+1 ci+1 )
= ∂i00+1 (0) = 0,
o que nos diz que zi − ∂i+1 ci+1 ∈ ker β i = Im αi . Então podemos
tomar zi0 ∈ Ci0 tal que zi − ∂i+1 ci+1 = αi (zi0 ). E este é o candidato
natural: afirmamos que zi0 ∈ Zi ( C0 ). Com efeito, temos:
αi−1 (∂i0 zi0 ) = ∂i αi (zi0 ) = ∂i zi − ∂i ∂i+1 ci+1 = 0 − 0 = 0,

127
e a injetividade de αi−1 nos diz que ∂i0 zi0 = 0. Assim, zi0 define uma
classe de homologia e podemos calcular
αei (zi0 + Bi ( C0 )) = αi (zi0 ) + Bi ( C)
= zi − ∂i+1 ci+1 + Bi ( C)
= zi + Bi ( C),
donde segue a inclusão reversa ker βei ⊆ Im αei , como queríamos.

(ii) Im βei = ker δi : Para a primeira inclusão, veja que se zi ∈ Zi ( C),


temos
δi βei (zi + Bi ( C)) = δi ( β i (zi ) + Bi ( C00 )) = 0,
pois 0 = ∂i zi = αi−1 (zi0−1 ) implica em zi0−1 = 0 (lembre da definição
de δi ). Logo, obtemos Im βei ⊆ ker δi . Para a inclusão contrária, con-
sidere zi00 ∈ Zi ( C00 ) tal que δi (zi00 + Bi ( C00 )) = 0, e tome elementos
ci ∈ Ci e zi0−1 ∈ Zi−1 ( C0 ) tais que
β i (ci ) = zi00 e ∂i ci = αi−1 (zi0−1 ).
A hipótese nos diz que zi0−1 ∈ Bi−1 ( C0 ), donde existe ci0 ∈ Ci0 tal que
zi0−1 = ∂i0 ci0 , donde
∂i ci = αi−1 (zi0−1 ) = αi−1 (∂i0 ci0 ) = ∂i αi (ci0 )
nos diz que ci − αi ci0 ∈ Zi ( C). Assim fica definida uma classe de
homologia, e podemos calcular
βei (ci − αi (ci0 ) + Bi ( C)) = β i (ci ) − β i (αi (ci0 )) + Bi ( C00 )
= β i (ci ) + Bi ( C00 )
= zi00 + Bi ( C00 ),
donde concluímos que ker δi ⊆ Im βei .
00 00
(iii) Im δi = ker αg i −1 : Para a primeira inclusão, considere zi ∈ Zi ( C ),
zi0−1 ∈ Zi−1 ( C0 ) e ci ∈ Ci tais que
∂i ci = αi−1 (zi0−1 ) e β i (ci ) = zi00 .
Então temos
00 00 0 0
i −1 δi ( zi + Bi ( C )) = αg
αg i −1 ( zi −1 + Bi −1 ( C ))
= αi−1 (zi0−1 ) + Bi−1 ( C)
= ∂i ci + Bi−1 ( C)
= 0,

128
donde Im δi ⊆ ker αg 0 0
i −1 . Para a inclusão contrária, tome zi −1 ∈ Zi −1 ( C )
tal que
0 0 0
0 = αg
i −1 ( zi −1 + Bi −1 ( C )) = αi −1 ( zi −1 ) + Bi −1 ( C).

Tal condição nos diz que αi−1 (zi0−1 ) ∈ Bi−1 ( C) e assim podemos
escolher ci ∈ Ci tal que αi−1 (zi0−1 ) = ∂i ci . Afirmamos então que
β i (ci ) ∈ Zi ( C00 ). Com efeito:

∂i00 β i (ci ) = β i−1 (∂i ci ) = β i−1 (αi−1 (zi0−1 )) = 0,

o que nos dá zi0−1 + Bi−1 ( C0 ) = δi ( β i (ci ) + Bi ( C00 )), como queríamos.

Os morfismos de conexão são naturais, no sentido do:

Teorema 19.2 (C). Seja

α β
0 C0 C C00 0
f0 f f 00
γ η
0 D0 D D00 0

Figura 45: Diagrama em comp-R.

um diagrama comutativo em comp-R com linhas exatas. Então, o diagrama in-


duzido em homologias é comutativo:

αei βei δi
··· Hi ( C0 ) Hi ( C) Hi ( C00 ) Hi−1 ( C0 ) ···
fei0 fi
e f i00
f fg0
i −1
γei ηei δi
··· Hi ( D0 ) Hi ( D) Hi ( D00 ) Hi−1 ( D0 ) ···

Figura 46: Diagrama em homologias.

Demonstração: Como Hi é um funtor, os dois primeiros quadrados são


automaticamente comutativos, e a única tarefa que temos é verificar que o
terceiro quadrado também comuta. Sendo ( C, ∂), ( D, e), etc. os comple-
xos, note que o cubo a seguir comuta:

129
βi
Ci0
αi
/ Ci / Ci00
∂i0 ∂i ∂i00

! α i −1 ! β i −1 !
f i0 Ci0−1 / Ci−1 / Ci00−1
fi f i00

  ηi 
/ /
γi
Di0 Di Di00 f i00−1
ei0 f i0−1 ei f i −1 ei00

!  γi − 1 !  ηi − 1 ! 
Di0−1 / Di − 1 / Di00−1

Figura 47: Conectando dois extratos utilizando os operadores ∂ e e.

Vamos calcular as duas compostas e comparar os resultados. Tome um


elemento zi00 ∈ Zi ( C00 ). Temos:

f i0−1 δi (zi00 + Bi ( C00 )) = g


• g f i0−1 (zi0−1 + Bi−1 ( C0 )) = f i0−1 (zi0−1 ) + Bi−1 ( D0 ),
onde zi0−1 ∈ Zi−1 ( C0 ) é tal que αi−1 (zi0−1 ) = ∂i ci para algum ci ∈ Ci
com β i (ci ) = zi00 .

f i00 (zi00 + Bi ( C00 )) = δi ( f i00 (zi00 ) + Bi ( D00 )) = wi0−1 + Bi−1 ( D0 ), onde


• δi f
wi0−1 ∈ Zi−1 ( D0 ) é tal que γi−1 (wi0−1 ) = ei ti para algum ti ∈ Di com
ηi (ti ) = f i00 (zi00 ).

Para ver que os resultados finais coindidem, é preciso mostrar que


wi0−1 − f i0−1 zi0−1 ∈ Bi−1 ( D0 ). Os elementos ti e ci ligam zi00 a zi0−1 e tam-
bém f i00 (zi00 ) a wi0−1 , então é natural analisar a diferença ti − f i (ci ). Temos
que

ηi (ti − f i (ci )) = ηi (ti ) − ηi ( f i (ci ))


= f i00 (zi00 ) − f i00 ( β i (ci ))
= f i00 (zi00 ) − f i00 (zi00 )
= 0,

de modo que ti − f i (ci ) ∈ ker ηi = Im γi , e assim obtemos ti0 ∈ Di0 tal que

130
ti − f i (ci ) = γi (ti ). Então, calculamos

γi−1 (wi0−1 − f i0−1 (zi0−1 )) = γi−1 (wi0−1 ) − γi−1 ( f i0−1 (zi0−1 ))


= ei ti − f i−1 (αi−1 (zi0−1 ))
= ei ti − f i−1 (∂i ci )
= ei ti − ei f i (ci )
= ei (ti − f i (ci ))
= ei γi (ti0 )
= γi−1 ( ei0 ti0 ),

e segue que wi0−1 − f i0−1 (zi0−1 ) = ei0 ti0 ∈ Bi−1 ( D0 ) como queríamos, pois
γi−1 é injetor.

Observação. No contexto dos Teoremas A, B e C, se


β
0 −−−→ C0 −−−→ C −−−→ C00 −−−→ 0
α

é uma sequência exata curta de complexos, temos um triângulo exato:

H• ( C)

αe• β•
f

H• ( C0 ) δ H• ( C00 )

Figura 48: Triângulo exato de homologias.

Definição 19.3. Sejam ( C, ∂) e ( C0 , ∂0 ) complexos de cadeias sobre um anel


R, e α, β : ( C, ∂) → ( C0 , ∂0 ) morfismos de cadeias. Diremos que α é homotó-
pico a β se existir uma família s = {si : Ci → Ci0+1 | i ∈ Z} de homomorfis-
mos de R-módulos satisfazendo

αi − β i = ∂i0+1 si + si−1 ∂i ,

para todo i ∈ Z. Escreveremos α ∼ β e diremos que s é uma homotopia


entre α e β.

131
∂ i +1 ∂i
··· Ci+1 Ci Ci−1 ···
si αi − β i s i −1
∂i0+1 ∂i0
··· Ci0+1 Ci0 Ci0−1 ···
Figura 49: Homotopia de cadeias. O paralelogramo destacado comuta.

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Referências
[1] Jacobson, Algebra II.

[2] Lam, Lectures on Modules and Rings.

[3] Rotman, An Introduction to Homological Algebra.

[4] Cohn, Basic Algebra.

[5] Cohn, Further Algebra.

[6] S. C. Coutinho, A Primer of Algebraic D-modules

[7] Cohn, Introduction to Ring Theory.

[8] Atiyah & MacDonald, Introduction to Commutative Algebra

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