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Cora Coralina
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por ter concedido vida e saúde para concluir este trabalho
e aos meus pais, Edna e Plínio, pelo amor, carinho e suporte, desde os primeiros suspiros da
minha vida.
Agradeço aos meus amigos de graduação, Kairo, Laura, Lia e Mirian, pelos momentos
de alegria e por estarem presentes e oferecerem apoio nas etapas mais difíceis desta.
Agradeço a Profª. Drª. Alessandra pela disponibilidade e paciência durante todo este
projeto.
Resumo
Este trabalho de conclusão de curso abarca o estudo dos números complexos e algumas
de suas principais propriedades. Num primeiro momento definimos a Esfera de Riemann
e a projeção estereográfica. Em seguida estudamos as transformações lineares fracionárias
que são importantes para a anatomia do tema central deste trabalho, as transformações de
Möbius. Por fim apresentamos a caracterização de funções holomorfas definidas no disco
unitário.
Introdução
Neste trabalho veremos que é possível “embrulhar” a esfera unitária, centrada na origem,
com o plano complexo. Além disso, trabalharemos com as transformações de Möbius, que
possuem propriedades muito interessantes. Uma, em especial, é que são unicamente deter-
minadas por três pontos distintos. Enfim, caracterizaremos todas as aplicações do disco
no disco. Tais temas são abordados em seis capítulos. Ao longo do texto usaremos como
referência [ 1 ], [ 2 ] e [ 3 ].
No Capítulo 1, abarcaremos a definição de números complexos, incluindo suas repre-
sentações, sendo estas, par ordenado, algébrica e polar, juntamente com suas propriedades.
Também mostraremos a estruturação algébrica do corpo dos números complexos.
No Capítulo 2, apresentaremos algumas noções topológicas no conjunto dos números
complexos e algumas propriedades com relação a funções complexas, discutiremos um pouco
sobre funções contínuas, funções holomorfas e singularidades de funções. Apresentaremos
também alguns teoremas importantes que serão importantes para o capítulo final, sendo eles,
Teorema de Rouché, Teorema do mapeamento aberto e Princípio do Módulo Máximo.
No Capítulo 3, definiremos a Esfera de Riemann (ou plano complexo estendido) e, então,
construiremos uma função bijetora entre a esfera unitária centrada na origem e a Esfera de
Riemann. A inversa desta aplicação é a chamada projeção estereográfica.
No Capítulo 4, incluiremos as transformações elementares (translação, rotação, homotetia
e inversão), que são essenciais para a composição das transformações de Möbius. Daremos
um enfoque para a inversão, dado que possui características interessantes.
No Capítulo 5, introduziremos as transformações de Möbius, com suas principais propri-
edades, e, além disso, finalizaremos este capítulo com algumas aplicações.
No Capítulo 6, contém o Lema de Schwarz e outros resultados fundamentais para poder-
mos caracterizar as funções holomorfas bijetoras do disco unitário no disco unitário.
x
xi
Sumário
1 Os Números Complexos 1
1.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 O corpo dos números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Interpretação geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3.1 Representação polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 A exponencial complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3 Projeção estereográfica 17
3.1 Construção da projeção estereográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
5 Transformações de Möbius 29
5.1 Transformação linear fracionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
5.2 Transformação de Möbius . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5.3 Transformações de Möbius entre domínios de C . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Capítulo 1
Os Números Complexos
1.1 Preliminares
Definição 1.1. Sejam A um conjunto não vazio e ∗ uma operação. Se a1 ∗a2 ∈ A, quaisquer
que sejam a1 , a2 ∈ A, dizemos que a aplicação f : A × A −→ A, definida por f (a1 , a2 ) =
a1 ∗ a2 , com a1 , a2 ∈ A, é uma operação binária em A.
Definição 1.2. Considere a terna (C, +, ×) formada por um conjunto não vazio C e
duas operações binárias definidas em C (+ e × são chamadas de operações de adição e
multiplicação, respectivamente). Dizemos que (C, +, ×) é um corpo se satisfizer as seguintes
propriedades aditivas e multiplicativas:
Definição 1.3. Um número complexo é um par ordenado z = (x, y), em que x e y são
números reais. O número real x é chamado de parte real de z e o número real y é chamado
de parte imaginária de z.
Denotamos a parte real e imaginária do número complexo z por Re(z) e Im(z), respec-
tivamente.
Definição 1.4. O conjunto formado por todos os números complexos é denotado por C e
chamado de conjunto dos números complexos.
Teorema 1.5. O conjunto C dos números complexos, dotado das operações de adição e
multiplicação ((1.1) e (1.2)) é um corpo.
(b) Comutatividade:
z1 + z2 = (x1 , y1 ) + (x2 , y2 )
= (x1 + x2 , y1 + y2 )
= (x2 + x1 , y2 + y1 )
= (x2 , y2 ) + (x1 , y1 )
= z2 + z1 .
z1 z2 = (x1 , y1 )(x2 , y2 )
= (x1 x2 − y1 y2 , x1 y2 + y1 x2 )
= (x2 x1 − y2 y1 , x2 y1 + y2 x1 )
= z2 z1 ;
(c) Existência do elemento neutro: (0,0) é o elemento neutro. De fato, qualquer que seja
z1 = (x1 , y1 ) ∈ C, z1 + (0, 0) = (x1 + 0, y1 + 0) = (x1 , y1 ) = z1 ;
(d) Existência do elemento oposto: dado z1 = (x1 , y1 ) ∈ C, o seu elemento oposto é o número
−z1 = (−x1 , −y1 ). De fato, z1 + (−z1 ) = (x1 + (−x1 ), y1 + (−y1 )) = (0, 0);
(e) Existência da unidade: (1,0) é a unidade. De fato, qualquer que seja z1 = (x1 , y1 ) ∈ C,
temos z1 (1, 0) = (x1 , y1 ) = z1 ;
(f) Existência doelemento inverso:dado z1 = (x1 , y1 ) 6= (0, 0) ∈ C, o seu elemento inverso é
x1 −y1
o número z1−1 = , 2 . De fato,
x1 + y1 x1 + y12
2 2
x1 −y1 −y1 x1
z1 z1−1 = x1 2 2
− y1 2 2
, x1 2 2
+ y1 2 = (1, 0);
x1 + y 1 x1 + y 1 x1 + y 1 x1 + y12
4 1. Os Números Complexos
(g) Distributividade:
Observação 1.6. É notável que (x1 , 0) + (x2 , 0) = (x1 + x2 , 0) e (x1 , 0)(x2 , 0) = (x1 x2 , 0),
quaisquer que sejam x1 , x2 ∈ R. Assim, podemos identificar número complexo (x, 0) com o
numero real x.
Observação 1.8. A forma algébrica de um número complexo z = (x, y) é dada por z = x+iy,
a qual é obtida a partir de
Usaremos de agora em diante ambas as notações para nos referirmos a um número com-
plexo.
Da última equação, segue que (x21 + y12 )x2 = 0 e (x21 + y12 )y2 = 0. Como x21 + y12 6= 0, segue
que x2 = 0 e y2 = 0. Portanto, z2 = 0.
1.3. Interpretação geométrica 5
Definição 1.11. O módulo de um número complexo z = (x, y), denotado por |z|, é definido
por
p
|z| = x2 + y 2 .
∞
X xn x2 x3
x
e = =1+x+ + + ··· (1.4)
n=0
n! 2! 3!
∞
X (−1)n x2n x x 2 x3
cos x = =1+ + + + ···
n=0
(2n)! 2! 4! 6!
∞
X (−1)n x2n+1 x x2 x3
sen x = =x+ + + + ···
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!
∞
iy
X (iy)n (iy)2 (iy)3 (iy)4 (iy)5 (iy)6 (iy)7
e = = 1 + iy + + + + + + ···
n=0
n! 2! 3! 4! 5! 6! 7!
y2 y3 y4 y5 y6 y7
1 + iy − −i + +i − − i ···
2! 3! 4! 5! 6! 7!
1.4. A exponencial complexa 7
y2 y4 y6 y3 y5 y7
1− + − ··· + i y − i + i − i ··· = cos y + i sen y.
2! 4! 6! 3! 5! 7!
Capítulo 2
Este capítulo contém definições e resultados sobre o conjunto dos números complexos,
que serão úteis no desenvolvimento dos capítulos posteriores. Algumas demonstrações são
apresentadas e outras apresentadas apenas uma referência.
D(z0 , r) = {z ∈ C : |z − z0 | ≤ r}.
C(z0 , r) = {z ∈ C : |z − z0 | = r}.
Definição 2.5. Um conjunto X ⊂ C é dito aberto se todos os seus pontos são interiores.
Observação 2.8. Vale ressaltar que se um conjunto X interseccionado com sua fronteira
∂X é diferente do vazio, então ele não é aberto. De fato, se x0 ∈ X ∩ ∂X, então para todo
ε > 0, D(x0 , ε) ∩ X 6= ∅ e D(x0 , ε) ∩ X c 6= ∅. Daí, não conseguimos obter um disco aberto
centrado em x0 contido em X.
Proposição 2.9. Sejam A ⊂ C e a ∈ A tal que, |a| ≥ |b|, para todo b ∈ A, então a ∈ ∂A.
Demonstração: Escrevemos a = (c, d). Para cada ε > 0, temos B(a, ε) ∩ A = 6 0. Por
outro lado, x0 = (c + ε/2, d) ∈ Ac , pois |x0 | > |a| e, além disso, |x0 − a| = ε/2. Portanto,
x0 ∈ B(a, ε) ∩ Ac . Assim, A não é aberto pela observação anterior.
Observação 2.14. Podemos dizer que f é contínua em z0 se, e somente, se lim f (z) =
z→z0
f (z0 ).
Observação 2.15. É válido ressaltar que lim f (z) = f (z0 ) se, e somente, se para toda
z→z0
sequência (zn )n∈N ⊂ A tivermos que lim zn = z0 implica lim f (zn ) = f (z0 ).
n→∞ n→∞
Proposição 2.16. Sejam f, g : A ⊂ C −→ C duas funções que são contínuas num ponto
z0 , então:
(a) lim [f (z) + g(z)] = f (z0 ) + g(z0 ) = lim f (z) + lim g(z).
z→z0 z→z0 z→z0
Demonstração: (a) Como f e g são contínuas em z0 , dado > 0, existem δ1 , δ2 > 0, tais
que,
2.2. Funções contínuas e holomorfas 11
(b) Suponhamos f (z0 ) 6= 0. Como f e g são contínuas em z0 , dado > 0, existem δ1 , δ2 > 0,
tais que
Além disso, é fácil verificar que g é limitada numa vizinhança de z0 . De fato, para = 1,
existe δ 0 > 0, tal que 0 < |z − z0 | < δ 0 e z ∈ A=⇒ |g(z) − g(z0 )| < 1 =⇒ |g(z)| − |g(z0 )| <
1 =⇒ |g(z)| < 1 + |g(z0 )|.
Tomando δ = min{δ1 , δ2 , δ 0 }, se 0 < |z − z0 | < δ e z ∈ A, então
|(f g)(z) − (f g)(z0 )| = |f (z)g(z) − f (z0 )g(z) + f (z0 )g(z) − f (z0 )g(z0 )| =
|g(z)(f (z) − f (z0 )) + f (z0 )(g(z) − g(z0 ))| ≤ |g(z)||f (z) − f (z0 )| + |f (z0 )||g(z) − g(z0 )| <
ε ε
(1 + |g(z0 )|) + |f (z0 )| = 2ε.
1 + |g(z0 )| |f (z0 )|
Suponhamos f (z0 ) = g(z0 ) = 0. Temos que lim f (z) · lim g(z) = 0. Provemos que
z→z0 z→z0
lim f (z)g(z). Como f e g são contínuas em z0 , dado > 0, existem δ1 , δ2 > 0, tais que
z→z0
√
0 < |z − z0 | < δ1 e z ∈ A=⇒ |f (z)| <
e
√
0 < |z − z0 | < δ2 e z ∈ A=⇒ |g(z)| < .
√√
|(f g)(z)| = |f (z)||g(z)| ≤ = .
12 2. Definições e resultados úteis de análise complexa
f (z) − f (z0 )
lim . (2.1)
z→z0 z − z0
f (z) − f (z0 )
f 0 (z0 ) = lim ,
z→z0 z − z0
Observação 2.19. Para a verificar se uma função tem derivada em um ponto z0 podemos
calcular o limite (2.1) ou o seguinte limite:
f (z0 + h) − f (z0 )
lim .
h→0 h
f (z) f (z0 )
−
g(z) g(z0 ) f (z)g(z0 ) − f (z0 )g(z) 1
lim = lim · =
z→z0 z − z0 z→z0 z − z0 g(z)g(z0 )
f (g(z0 + hn )) − f (g(z0 ))
lim
n→∞ zn
Caso 2: Suponha que g(z0 ) = g(z0 − hn ) para infinitos valores de n. Escrevemos (hn ) como
a união de duas sequências (un ) e (vn ), em que onde g(z0 + un ) 6= g(z0 ) e g(z0 + vn ) = g(z0 ),
para todo n. Como f e g são deriváveis,
g(z0 + vn ) − g(z0 )
lim =0
h→∞ vn
14 2. Definições e resultados úteis de análise complexa
e
f (g(z0 + vn )) − f (g(z0 ))
lim = 0.
h→∞ vn
Além disso, pelo primeiro caso
(f ◦ g)(z0 + un ) − (f ◦ g)(z0 )
lim = f 0 (g(z0 ))g 0 (z0 ) = 0.
h→∞ un
Portanto,
(f ◦ g)(z0 + hn ) − (f ◦ g)(z0 )
lim = 0 = f 0 (g(z0 ))g 0 (z0 ).
h→∞ hn
Definição 2.22. Seja f : A ⊂ C −→ C uma função definida num aberto A. Dizemos que f
é analítica ou holomorfa em A se possuir derivada em todo ponto de A.
Definição 2.25. Seja f uma função que tem singularidade em z0 . Dizemos que f tem polo
em z0 se
lim f (z) = ∞.
z→z0
Definição 2.26. Seja f uma função que tem singularidade em z0 . Dizemos que f tem
singularidade removível em z0 , se existe uma função analítica g : D(z0 , r) −→ C, tal que,
g(z) = f (z), ∀z ∈ D(z0 , r) − {z0 }.
Proposição 2.27. Se f uma função definida em um conjunto aberto A e tem uma sin-
gularidade isolada em um ponto z0 ∈ A, então z0 é singularidade removível se, e somente
se,
lim (z − z0 )f (z) = 0.
z→z0
Notemos que
z2 − z
lim (z − 0) = lim(z 2 − z) = 0.
z→0 z z→0
Vejamos que
3z 3 + 2z − 1
lim (z − 0) = lim(3z 3 + 2z − 1) = 3 + 2 − 1 = 4.
z→1 z z→1
Teorema 2.33. (Teorema do mapeamento aberto) Seja f uma função holomorfa e não
constante em um domínio A ⊂ C. Então, f é uma função aberta.
|f (a)| ≥ |f (z)|, ∀z ∈ A.
Demonstração: Seja B = f (A) e b ∈ B tal que f (a) = b. Por hipótese, temos que
Vejamos que, pela Proposição 2.9, b ∈ ∂B. Logo, B não é aberto, pois se fosse, existiria
um disco aberto D(b, ε) ⊂ B, e isto não acontece. Desse modo, f não é uma função aberta.
Portanto, pelo Teorema 2.33, f é constante.
17
Capítulo 3
Projeção estereográfica
Agora, para cada z ∈ C, considere a reta r passando por z e N . Essa reta intercepta a
esfera S 2 em exatamente um ponto P 6= N . Notemos ainda que:
18 3. Projeção estereográfica
Observemos que quando z se aproxima do infinito, ou seja, |z| → ∞, a reta r tende a ser
paralela ao plano C e o ponto P se aproxima de N . Em outras palavras, se fizermos |z| → ∞,
temos P → N . Sendo assim, podemos identificar N com o infinito (∞) e, consequentemente,
S 2 com C∪{∞}. O conjunto C∪{∞} é chamado de Esf era de Riemann ou P lano Complexo
Estendido.
Nosso objetivo agora é encontrar uma aplicação Φ que relacione cada coordenada de z =
x + iy = (x, y, 0) ∈ C com as coordenadas de seu ponto correspondente P = (x1 , y1 , z1 ) ∈ S 2 .
Inicialmente precisamos determinar a equação da reta r passando por z e N . Para tal,
consideremos o vetor diretor
−→
zN = (−x, −y, 1).
−→
r : {z + t · zN : t ∈ R},
e
(1 − t)2 x2 + (1 − t)2 y 2 + t2 = 1
⇔ (1 − t)2 x2 + (1 − t)2 y 2 = 1 − t2
⇔ (1 − t)2 (x2 + y 2 ) = 1 − t2
⇔ (1 − t)2 |z|2 = 1 − t2
(1 − t)|z|2 = 1 + t
3.1. Construção da projeção estereográfica 19
⇔ |z|2 − t|z|2 = 1 + t
⇔ t + t|z|2 = |z|2 − 1
⇔ t(|z|2 + 1) = |z|2 − 1
|z|2 − 1
⇔t= .
|z|2 + 1
Substituindo esse valor de t na equação da reta r obtemos o ponto
|z|2 − 1
2x 2y
P = , , .
|z|2 + 1 |z|2 + 1 |z|2 + 1
Observemos que, se |z| → ∞, então P → N . Sendo assim, podemos definir a aplicação
Φ : C ∪ {∞} −→ S 2 ,
|z|2 − 1
2x 2y
Φ(z) = , , , se z = x + iy ∈ C;
|z|2 + 1 |z|2 + 1 |z|2 + 1
Φ(∞) = (0, 0, 1) .
|z1 |2 − 1 |z2 |2 − 1
2x1 2y1 2x2 2y2
Φ(z1 ) = , , = , , = Φ(z2 ).
|z1 |2 + 1 |z1 |2 + 1 |z1 |2 + 1 |z2 |2 + 1 |z2 |2 + 1 |z2 |2 + 1
Analisando a igualdade das duas terceiras coordenadas, temos |z1 | = |z2 |. De fato,
|z1 |2 − 1 |z2 |2 − 1
=
|z1 |2 + 1 |z2 |2 + 1
⇔ 2|z1 |2 = 2|z2 |2
⇔ |z1 |2 = |z2 |2 .
⇔ x1 = x2 e y1 = y2 .
x1 x2
x= e y= .
1 − x3 1 − x3
x1 + ix2
Agora, tomando z = , temos
1 − x3
|z|2
2x1 2x2
− 1
x1 + ix2 1 − x3 1 − x3 (1 − x23 )
Φ(z) = Φ = , ,
1 − x3 |z|2 |z|2 |z|2
+ 1 + 1 + 1
(1 − x23 ) (1 − x23 ) (1 − x23 )
(1 − z) (|z|2 − (1 − x3 )2 )
2x1 (1 − x3 ) 2x2 (1 − x3 )
= , ,
(1 − z) (|z|2 + (1 − x3 )2 ) (1 − z) (|z|2 + (1 − x3 )2 ) (1 − z) (|z|2 + (1 − x3 )2 )
2x1 (1 − x3 ) 2x2 (1 − x3 ) 2x3 (1 − x3 )
= , , = (x1 , x2 , x3 ).
2(1 − x3 ) 2(1 − x3 ) 2(1 − x3 )
x1 + ix2
Φ−1 (x1 , x2 , x3 ) = , se (x1 , x2 , x3 ) ∈ S 2 − {(0, 0, 1)};
1 − x3
Φ−1 (0, 0, 1) = ∞.
Capítulo 4
T (z) = a + z
T (z) = z + (1 + i)
Definição 4.3. Considere beiφ ∈ C, φ ∈ [0, 2π), de forma que |b| = 1. A transformação
T (z) = bz
é chamada de rotação no plano complexo de z por meio do vetor unitário b. Mais precisa-
mente, se z = reiθ ,
T (z) = reiθ eiφ = rei(θ+φ) .
T (z) = iz.
Notemos que,
Logo, se z = reiθ ,
T (z) = rei(θ+π/2) .
A aplicação T envia o conjunto A na faixa infinita {z : 0 < Im(z) < 1}. Veja Figura
3.2.
T (z) = ρz
T (z) = (ρr)eiθ .
transforma a região retangular de área ab no retângulo de área 4ab. Veja Figura 3.3 abaixo.
Se o vetor z é não nulo, então ele é contraído (ou dilatado), rotacionado e, por fim,
transladado através da ação de T .
Vejamos que,
√ √
1+i= 2(cos(π/2) + i sen(π/2) = 2eiπ/2
Logo, se z = reiθ
√
T (z) = ( 2r)ei(θ+π/2) + 2
24 4. Transformações no plano complexo
T (z) = z
T (z) = x + iy = x − iy.
1
T (z) = , z 6= 0.
z
4.1. Transformações elementares 25
Neste momento vamos dar uma atenção especial à transformação de inversão. Iremos
definí-la na origem e no ponto infinito ∞. Para isso, definimos intuitivamente os seguintes
limites
1 1
lim T (z) = lim = 0 e lim T (z) = lim = ∞. (4.1)
z→∞ z→∞ z z→0 z→0 z
T : C ∪ {∞} −→ C ∪ {∞}
1
T (0) = ∞, T (∞) = 0 e T (z) = .
z
26 4. Transformações no plano complexo
Assim definida, podemos dizer que T é contínua em C ∪ {∞} pois, para qualquer z0 ∈
C ∪ {∞},
1
Se z = a+ib 6= 0, a transformação de inversão associa z ao ponto w = o qual denotamos
z
por x + iy. Sendo assim,
1 z z a − ib a b
w= = = 2 = 2 = − i ,
z zz |z| a + b2 a2 + b 2 a2 + b 2
ou seja,
a b
x= , y=− . (4.3)
a2 + b2 a2 + b2
Além disso, como
1 w w x − iy x y
z= = = = = − i ,
w ww |w|2 x2 + y 2 x2 + y 2 x2 + y 2
segue que
x y
a= , b=− . (4.4)
x2 + y2 x2 + y2
Essas observações serão úteis na demonstração do seguinte resultado.
x2 y2
x −y
A + +B +C +D =0
(x2 + y 2 )2 (x2 + y 2 )2 x2 + y 2 x2 + y 2
2
x + y2
x −y
⇒A +B +C +D =0
(x2 + y 2 )2 x2 + y 2 x2 + y 2
4.1. Transformações elementares 27
1 x −y
⇒A +B +C +D =0
x2 + y 2 x2 + y 2 x2 + y 2
⇒ A + Bx − Cy + D(x2 + y 2 ) = 0. (4.6)
a2 b2
a −b
A+B −C +D + =0
a2 + b 2 a2 + b 2 (a2 + b2 )2 (a2 + b2 )2
2
a + b2
a −b
⇒A+B −C +D =0
a2 + b 2 a2 + b 2 (a2 + b2 )2
a −b 1
⇒A+B −C +D =0
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
⇒ A(a2 + b2 ) + Ba + Cb + D = 0.
iii) uma reta que não passa pela origem (A = 0 e D 6= 0) é transformada pela in-
versão em um círculo que passa pela origem;
iv) uma reta que passa pela origem (A = 0 e D = 0) é transformada pela inversão
em uma reta que passa pela origem.
Uma reta no plano complexo estendido pode ser considerada como um círculo que passa
por ∞. Assim, podemos dizer que a inversão transforma círculos em círculos.
28 4. Transformações no plano complexo
29
Capítulo 5
Transformações de Möbius
a1 z + b 1 a2 z + b 2
Demonstração: Por hipótese, T1 (z) = e T2 (z) = são transformações
c1 z + d 1 c2 z + d 2
lineares fracionárias. Então,
a2 z + b 2
a1 + b1
a2 z + b 2 c2 z + d2
(T1 ◦ T2 )(z) = T1 (T2 (z)) = T1 = =
c2 z + d 2 a2 z + b 2
c1 + d1
c2 z + d 2
a2 z + b 2 c2 z + d 2
a1 + b1
c2 z + d 2 c z + d2 a (a z + b2 ) + b1 (c2 z + d2 )
= 2 = 1 2 =
a2 z + b 2 c2 z + d2 c1 (a2 z + b2 ) + d1 (c2 z + d2 )
c1 + d1
c2 z + d 2 c2 z + d2
(a1 a2 + b1 c2 )z + (a1 b2 + b1 d2 )
= ,
(c1 a2 + d1 c2 )z + (c1 b2 + d1 d2 )
ou seja, T1 ◦ T2 é uma transformação linear fracionária.
30 5. Transformações de Möbius
T2 (I(H1 (T1 (H2 (z))))) = T2 (I(H1 (T1 (cz)))) = T2 (I(H1 (cz + d)))
cz + d bc − ad bc − ad a bc − ad + cza + ad az + b
= T2 I = T2 = + = = .
bc − ad c(cz + d) c(cz + d) c c(cz + d) cz + d
É evidente que uma transformação de Möbius é um caso especial de transformação linear
fracionária, que também é uma composição de translações, rotações, homotetias e inversões.
Assim, possui a propriedade de enviar círculos em círculos.
e
az + b
d −b
az + b cz + d
(T ◦ S)(z) = S(T (z)) = T = = z.
cz + d az + b
−c +a
cz + d
Logo, S é a aplicação inversa de T , ou seja, S = T −1 .
Relembremos agora a definição de ponto fixo de uma função.
Proposição 5.7. Se uma transformação de Möbius for diferente da identidade, então ela
tem no um ou dois pontos fixos.
5.2. Transformação de Möbius 31
az + b
Demonstração: Seja T (z) = uma transformação de Möbius diferente da identi-
cz + d
dade. Para encontrarmos seus pontos fixos vamos analisar a equação T (z) = z. Observemos
que
az + b
= z ⇔ cz 2 + (d − a)z − b = 0.
cz + d
Como a equação acima tem uma ou duas raízes, então T tem um ou dois pontos fixos.
Observe que se T fosse a identidade, a equação teria infinitas soluções.
Por simplicidade, introduzimos a notação C∞ = C ∪ ∞
Proposição 5.8. Dados três pontos distintos em z1 ,z2 ,z3 ∈ C∞ e outros três pontos distintos
w1 ,w2 ,w3 ∈ C∞ , existe uma única transformação de Möbius T : C∞ −→ C∞ , de forma que,
T (z1 ) = w1 , T (z2 ) = w2 e T (z3 ) = w3 .
(z2 − z3 )(z − z1 )
S(z) = , se z1 , z2 , z3 ∈ C;
(z2 − z1 )(z − z3 )
(z2 − z3 )
S(z) = , se z1 = ∞;
(z − z3 )
(z − z1 )
S(z) = , se z2 = ∞;
(z − z3 )
(z − z1 )
S(z) = , se z3 = ∞.
(z2 − z1 )
32 5. Transformações de Möbius
−iz + i
T1 (z) = .
z+1
Pela Proposição 4.8, essa transformação é a única satisfazendo (4.1). Observemos que
ad − bc = −2i 6= 0 e T1 (1) = 0 ∈ V . Recorrendo as considerações do início da seção, fica
evidente que T1 envia U em V . Logo é a transformação procurada.
(−iei3π/2 )z 2 + i
F (z) = (T1 ◦ R ◦ f )(z) = .
(ei3π/2 )z 2 + 1
Exemplo 5.12. Consideremos a faixa infinita U = {z ∈ C : 0 < Im(z) < π/2} e o disco
V = {z ∈ C : |z| < 1}. Queremos construir uma aplicação bijetora que leve U em V .
Primeiramente, enviaremos U em W = {z ∈ C : Re(z) > 0, Im(z) > 0}. Faremos isto
levando cada reta horizontal L(t) = t + iα, 0 < α < π/2, t ∈ R, na semi-reta aberta saindo
de 0, l(t) = et eiα , t ∈ R, através da função exponencial. Então, a aplicação procurada G é
a composição da função F do exemplo anterior com a função l, ou seja,
(−iei3π/2 )e2z + i
G(z) = (F ◦ l)(z) = .
(ei3π/2 )e2z + 1
34 5. Transformações de Möbius
35
Capítulo 6
Neste capítulo traremos resultados, com o auxílio de algumas definições e teoremas dos
capítulos anteriores, que caracterizaram todas funções bijetoras holomorfas do disco unitário
no disco unitário.
f (z) ,
se z 6= 0
g(z) = z
0
f (0), se z = 0,
é a extensão holomorfa de f (z)/z. Ainda mais, podemos escrever f (z) = zg(z), ∀z ∈ D(0, 1).
Por hipótese, |f (z)| ≤ 1, ∀z ∈ D(0, 1), e então
1
|zg(z)| ≤ 1 ⇒ |g(z)| ≤ , ∀z ∈ D(0, 1) − {0}.
|z|
1 1
|g(z)| ≤ = . (6.1)
|z| r
36 6. Aplicações do disco no disco
O Princípio do Módulo Máximo garante que a desigualdade (6.1) é válida para todo z ∈ C
tal que 0 < |z| ≤ r.
e
|f 0 (0)| = |g(0)| ≤ 1.
Agora, vamos supor que |f 0 (0)| = 1 ou que |f (z0 )| = |z0 |, para algum z0 ∈ D(0, 1) − {0}.
Temos então,
f (z0 )
0
|g(0)| = |f (0)| = 1 ou |g(z0 )| = = 1. (6.2)
z0
Nestas condições |g| assume seu valor máximo num ponto do conjunto aberto D(0, 1). Pelo
Princípio do Módulo Máximo, concluímos que g é constante, ou seja, existe λ ∈ C tal que
g(z) = λ, ∀z ∈ D(0, 1). De (6.2),
|g(z0 )| = |λ| = 1.
z−a
Dado a ∈ D(0, 1), consideremos a função φa (z) = . Desde que (−a) · (−a) = aa =
1 − az
|a| < 1, ou seja, |a| =
2 2
6 1, assim φa é uma transformação de Möbius.
O único pólo de φa (z) ocorre no ponto 1/a. Assim, poderíamos considerar φa em todo o
disco D(0, 1/|a|). No entanto, vamos considerar φa apenas em D(0, 1); observe que D(0, 1) ⊂
z+a
D(0, 1/|a|). A inversa de φa é dada pela transformação de Möbius φ−a (z) = . De
1 + az
fato, para z ∈ D(0, 1),
z + a − a(1 + az)
z+a 1 + az z(1 − aa)
(φa ◦ φ−a )(z) = φa (φ−a ((z)) = φa = = =z
1 + az 1 + az − a(z + a) 1 − aa
1 + az
6.2. Transformações de Möbius que preservam o disco D(0,1) 37
e
z − a + a(1 − az)
z−a 1 − az z(1 − aa)
(φ−a ◦ φa )(z) = φ−a (φa (z)) = φ−a = = = z.
1 − az 1 − az + a(z − a) 1 − aa
1 − az
Proposição 6.2. A função φa é holomorfa no disco D(0, 1) e φ0a (a) = 1/(1 − |a|2 ) e φ0a (0) =
1 − |a|2 .
z+h−a z−a
−
φa (z + h) − φa (z) 1 − a(z + h) 1 − az
lim = lim
h→0 h h→0
h
(z + h − a)(1 − az) − (z − a)(1 − a(z + h))
(1 − a(z + h))(1 − az)
= lim
h→0
h
h + aah
(1 − a(z + h))(1 − az)
= lim
h→0 h
h(1 − aa)
= lim
h→0 h(1 − a(z + h))(1 − az)
1 − aa
= lim
h→0 (1 − a(z + h))(1 − az)
1 − aa
=
(1 − az)(1 − az)
1 − aa
= .
(1 − az)2
1 − aa
Assim, φ0a (z) = . Em particular,
(1 − az)2
1 − aa 1 1
φ0a (a) = 2
= =
(1 − aa) 1 − aa 1 − |a|2
e
1 − aa
φ0a (0) = = 1 − |a|2 .
1
z−a
Proposição 6.3. Seja φa (z) = , em que a ∈ D(0, 1). Então, φa é uma transformação
1 − az
de Möbius que leva o disco D(0, 1) nele mesmo e também envia a fronteira ∂D(0, 1) nela
mesma.
38 6. Aplicações do disco no disco
Demonstração: Dado z ∈ ∂D(0, 1), escrevemos z = eiθ , com θ ∈ [0, 2π). Assim,
iθ
e − a eiθ − a 1 eiθ − a z − a
iθ
|φa (z)| = |φa (e )| =
= = = = 1,
1 − aeiθ eiθ (e−iθ − a) |eiθ | e−iθ − a z − a
ou seja, φa (z) ∈ ∂D(0, 1). Como a é arbitrário e |a| = |−a|, φ−a também envia a fronteira do
disco unitário em si mesma. Para concluir esta demonstração, basta verificarmos que o disco
D(0, 1) é levado em si mesmo. Suponha que isto não ocorra, ou seja, que exista z0 ∈ D(0, 1)
e |φa (z0 )| ≥ 1. Pelo Princípio do Módulo Máximo, teríamos que |φa | é constante, que é
uma contradição. Dessa forma, φa (D(0, 1)) ⊂ D(0, 1). Novamente, como a é arbitrário e
|a| = |−a|, φ−a (D(0, 1)) ⊂ D(0, 1). Desde que φ−a é a inversa de φa , temos que φa (D(0, 1)) =
D(0, 1).
Proposição 6.4. Seja f : D(0, 1) −→ C uma função holomorfa não constante. Se fixarmos
1 − |b|2
a ∈ D(0, 1) e tomarmos b = f (a), então |f 0 (a)| ≤ .
1 − |a|2
|φ−a (z)| ≤ 1 ⇒ |f (φ−a (z))| ≤ 1 ⇒ |φb (f (φ−a (z))| ≤ 1 ⇒ |g(z)| ≤ 1, ∀z ∈ D(0, 1). (6.3)
Ainda mais,
φ−a (0) = a ⇒ f (φ−a (0)) = f (a) = b ⇒ φb (f (φ−a (0)) = φb (b) = 0 ⇒ g(0) = 0. (6.4)
1 − |a|2
0
g (0) = φ0b (f (φ−a (0)) 0
· f (φ−a (0)) · φ0−a (0) = φ0b (b) 0
· f (a) · φ0−a (0) = f 0 (a).
1 − |b|2
Logo,
2 2
1 − |a| ≤ 1 ⇒ |f 0 (a)| ≤ 1 − |b| .
|g 0 (0)| ≤ 1 ⇒ 0
f (a)
1 − |b|2 1 − |a|2
Consequentemente,
f (z) = φ−b (λφa (z)), ∀z ∈ D(0, 1) (6.5)
Teorema 6.6. Sejam f : D(0, 1) −→ D(0, 1) uma bijeção holomorfa e com um único
a ∈ D(0, 1) satisfazendo f (a) = 0. Então, existe λ ∈ C, |λ| = 1, de modo que
f (z) = λφa (z), ∀z ∈ D(0, 1).
Demonstração: Desde que f é bijeção, existe uma função h : D(0, 1) −→ D(0, 1), que é
sua inversa, satisfazendo h(f (z)) = z, ∀z ∈ D(0, 1). Aplicando a Proposição 5.5 em f e h,
temos
1
|f 0 (a)| ≤ e |h0 (0)| ≤ 1 − |a|2 .
1 − |a|2
Como h(f (z)) = z, ∀z ∈ D(0, 1), pela regra da cadeia, obtemos
1
1 = |h0 (0)f 0 (a)| = |h0 (0)||f 0 (a)| < (1 − |a|2 ) · = 1,
1 − |a|2
Assim, estamos nas condições da Observação (6.5). Podemos concluir que existe λ ∈ C,
|λ| < 1, tal que f (z) = φ0 (λφa )(z) = λφa (z), ∀z ∈ D(0, 1).
Vejamos que, o que torna o Teorema 6.6 fascinante, é que basta uma função holomorfa ser
bijetiva e definida do disco D(0, 1) no disco D(0, 1), para que ela seja uma transformação de
Möbius.
41
Referências Bibliográficas