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Curso de Variáveis Complexas.

Marcos Paulo Cintra da Silva


2
Sumário

1 Conjunto dos números complexos. 5


1.1 Definições e terminologias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Propriedades algébricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Forma polar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Forma exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.5 Noções topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2 Funções Complexas. 23
2.1 Função de uma variável complexa. . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Translações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 Rotações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Homotetias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5 Transformações lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.6 Função potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.7 Função inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.8 Função recíproca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.9 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3 Funções Analíticas 41
3.1 Limite e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 Derivação complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.3 Equações de Cauchy-Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.4 Funções Harmônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

4 Funções Elementares 69
4.1 Função exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.2 Função logarítmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.3 Potenciação complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.4 Funções trigonométricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

3
4 SUMÁRIO

4.5 Funções hiperbólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83


4.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

5 Integrais 87
5.1 Função de valores reais a valores complexos . . . . . . . . . . . 87
5.2 Integral de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.3 Teorema de Cauchy-Goursat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.4 Teoremas sobre integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
5.5 Fórmula Integral de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
5.6 Morera, Liouville e outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
5.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Capítulo 1

Conjunto dos números


complexos.

1.1 Definições e terminologias.


vVideoaula

Um número complexo pode ser definido como um par ordenado (x, y)


de números reais e interpretado como um ponto do plano complexo, com
coordenadas retangulares x e y, da mesma forma que pensamos em números
reais x como pontos da reta real. Quando exibimos números reais x como
pontos (x, 0) do eixo real, escrevemos x = (x, 0), e fica claro que o conjunto
dos números complexos inclui o dos reais como subconjunto, isto é R ⊂ C.
Os números complexos da forma (0, y) correspondem a pontos do eixo y e
são denominados números imaginários puros se y = 0. Por isso, dizemos
que o eixo y é o eixo imaginário. É costume denotar um número complexo
(x, y) por z, de modo que quando se escreve z = (x, y), definimos x e y
como partes real e imaginária de z e denotadas pelos símbolos Re(z) e Im(z),
respectivamente.

y z

5
6 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

Exemplo 1.1. Faça, na mesma figura, a representação


√ dos seguintes números
complexos z1 = (3, −5), z2 = (1, 3), z3 = (2, 3), z4 = (0, 3) e z5 = (0, 3).
Aponte aqueles que são os números imaginários puros.

z3 2

1 z1
−1 z4
−3 1 3
z5 −1

z2 −2

Dois números complexos z1 = (x1 , y1 ) e z2 = (x2 , y2 ) são iguais se tiverem


as mesma partes real e imaginária. Assim, a afirmação z1 = z2 significa que
z1 e z2 correspondem ao mesmo ponto do plano complexo. A soma z1 + z2
e o produto z1 z2 são respectivamente definidos por

z1 + z2 = (x1 + x2 , y1 + y2 )
z1 z2 = (x1 x2 − y1 y2 , x1 y2 + x2 y1 )

Observe que as operações definidas por meio das equações acima resul-
tam nas operações usuais da adição e da multiplicação quando restritas aos
números reais.

(x1 , 0) + (x2 , 0) = (x1 + x2 , 0)


(x1 , 0)(x2 , 0) = (x1 x2 , 0)

Exemplo 1.2. Mostre que o número complexo z = (x, y) pode ser escrito
na forma z = (x, 0) + (y, 0)(0, 1).
Solução. Usando a multiplicação e depois a adição, obtemos

z = (x, 0) + (y, 0)(0, 1) = (x, 0) + (y · 0 − 0 · 1, 0 · 0 + 1 · y)


= (x, 0) + (0, y) = (x, y).

Fazendo i = (0, 1), segue do Exemplo 1.2 que o número complexo pode
ser escrito como
z = x + yi. (1.1)
Esta é a forma algébrica de um número complexo e.
1.1. DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS. 7

O conjunto de todos os números complexos será denotado por C.


Podemos, então, escrever

C = {z = x + yi | x, y ∈ R}.

Definindo as potências do número complexo z como z 2 = zz, z 3 = z 2 z,


etc., temos que

i2 = −1 ⇒ i = −1.
O número i é denominado unidade imaginária. Aliás, as suas potências
inteiras só admitem quatro valores distintos e que se repetem ciclicamente,
a saber:

i0 = 1, i1 = i,
i2 = −1, i3 = −i.

Usando a notação dada na Equação (1.1), podemos reformular o que


dissemos sobre as operações com números complexos nos seguintes termos:
dados os complexos z1 = x1 + y1 i e z2 = x2 + y2 i, a soma z1 + z2 e o produto
z1 z2 são respectivamente definidos por

z1 + z2 = (x1 + x2 ) + (y1 + y2 )i
z1 z2 = (x1 x2 − y1 y2 ) + (x1 y2 + x2 y1 )i

O conjugado de um número z = x + yi é o número complexo obtido


trocando o sinal parte imaginária de z e denotado por z̄, isto é, z̄ = x − yi.
O conjugado de z é usado na divisão dos números complexos z1 = x1 + y1 i
e z2 = x2 + y2 i da seguinte forma:

z1 z1 z̄2 x1 + y 1 i x2 − y 2 i x1 x2 + y1 y2 x2 y1 − x1 y2
= · = · = + · i.
z2 z2 z̄2 x2 + y 2 i x2 − y 2 i x22 + y22 x22 + y22

Mais importante do que memorizar a expressão acima é entender o seu pro-


cedimento: para dividir dois números complexos, devemos multiplicar o nu-
merador e o denominador pelo conjugado do denominador. Usando o mesmo
raciocínio, podemos obter o inverso de z = x + yi não-nulo por meio da
expressão
1 1 x −y
z −1 = = = 2 + 2 i.
z x + yi x +y 2 x + y2

Exemplo 1.3. Considerando os números complexos z1 = 1 + 2i, z2 = 3 − i,


z3 = −2 − 2i e z4 = 2i, calcular:
8 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

a) z1 + z2 − z3 . b) z2 z3 + 5z1 . c) z1 /z2 . d) z3 /z4 .

Solução.
a) Posicione os números e efetue as contas.

z1 + z2 − z3 = 1 + 2i + 3 − i − (−2 − 2i) = 6 + 3i.

b) Procedendo como item anterior,

z2 z3 − 5z1 = (3 − i)(−2 − 2i) + 5 · 2i = −6 − 6i + 2i + 2i2 + 10i


= −8 + 6i.

c) Multiplicando numerador e denominador pelo conjugado do denomi-


nador, temos

z1 1 + 2i 3 − i 3 − i + 6i − 2i2 1 1
= · = = + i.
z2 3+i 3−i 3 −i
2 2 2 2

d) Podemos proceder como no item anterior, mas aqui chamamos atenção


para um caso especial: como o denominador é um número imaginário puro,
podemos simplesmente usar o i.

z1 2 + 2i i 2i + 2i2
= · = = 1 − i.
z2 2i i 2i2
Exemplo 1.4. Determine o número complexo z tal que iz = z − 1 + 5i.

Solução. Trata-se de uma equação polinomial de primeiro grau na variável


complexa z. Então
−1 + 5i
iz − z = −1 + 5i ⇒ z(−1 + i) = −1 + 5i ⇒ z=
−1 + i
−1 + 5i −1 − i 1 + i − 5i + 5
z= · = = 3 − 2i.
−1 + i −1 − i (−1)2 − i2

O módulo ou valor absoluto de um número complexo z = x+yi é definido


por q
|z| = x2 + y 2 .
Geometricamente, o módulo de z corresponde à distância do ponto (x, y) à
origem do plano complexo.

Exemplo 1.5. Obtenha o módulo dos números complexos do Exemplo 1.3.


1.2. PROPRIEDADES ALGÉBRICAS. 9

Solução.
√ √ q √
|z1 | = 12 + 22 = 5, |z2 | = 32 + (−1)2 = 10,
q √ √ √
|z3 | = (−2)2 + (−2)2 = 2 2, |z4 | = 02 + 22 = 2.

Exemplo 1.6. Descrever geometricamente o conjunto dos números comple-


xos que cumprem com a condição |z − i| = 1.

Solução. Seja z = x + yi. Então

|x + yi − i| = 1
|x + (y − 1)i| = 1
1
x2 + (y − 1)2 = 1

z pertence à circunferência de centro


no ponto (0, 1) e raio 1.

Fechamos esta seção com a interpretação geométrica das operações estu-


dadas até o momento. Observe que um número complexo z = x + yi pode
ser identificado como o vetor z = (x, y).

z1 + z2

z2 z

z1 x
z

Figura 1.1: A soma dos z1 +z2 cor- Figura 1.2: O conjugado de z é si-
responde à diagonal maior do pa- métrico à z em relação ao eixo real.
ralelogramo cujos lados são os ve-
tores construídos à partir de z1 e
z2 .

1.2 Propriedades algébricas.


Relacionaremos aqui as propriedades do conjunto dos números complexos e
das operações definidas na Seção 1.1.
10 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

Teorema 1.7. Sejam z, z1 , z2 , z3 ∈ C. A soma e o produto de números


complexos cumprem com as seguintes condições:

i) Associatividade da adição: z1 + (z2 + z3 ) = (z1 + z2 ) + z3 .

ii) Comutatividade da adição: z1 + z2 = z2 + z1 .

iii) O zero é o elemento neutro da adição: z + 0 = z.

iv) −z é o elemento simétrico da adição: z + (−z) = 0.

v) Associatividade da multiplicação: z1 (z2 z3 ) = (z1 z2 )z3 .

vi) Comutatividade da multiplicação: z1 z2 = z2 z1 .

vii) 1 é o elemento neutro da multiplicação: 1z = z.

viii) z −1 é o elemento inverso da multiplicação: zz −1 = 1.

ix) Distributividade: z1 (z2 + z3 ) = z1 z2 + z1 z3 .

Demonstração. (iii) Seja w ∈ C tal que z + w = z, com z = x + yi. Temos


que
x + yi + w = x + yi ⇒ w = 0.
(vi) Dados o números complexos z1 = x + yi e z2 = a + bi, então

z1 z2 = (x + yi)(a + bi) = xa − yb + (xb + ya)i,


z2 z1 = (a + bi)(x + yi) = ax − by + (bx + ay)i.

Como a multiplicação entre números reais é comutativa os resultados acima


são iguais. Os demais item são deixados como exercício. 

Quando um conjunto em que se define duas operações às quais verificam


todos os itens do Teorema 1.7, como acabamos de ver que acontece com C,
dizemos que esse conjunto é um corpo.

Teorema 1.8. As seguintes propriedades são válidas para qualquer z ∈ C

i) z = z.

ii) z ∈ R e, se somente, se z = z.

iii) z é imaginário puro se, e somente, se z = −z.


z+z z−z
iv) Re(z) = e Im(z) =
2 2i
1.3. FORMA POLAR. 11

v) z1 + z2 = z1 + z2 e z1 · z2 = z1 · z2 .

Além das propriedades relativas ao conjugado de um número complexo,


apresentamos outras sobre o módulo. Cuja demonstração é deixada como
exercício.

Teorema 1.9. Dados z, z1 , z2 ∈ C, tem-se que

i) Re(z) ≤ |Re(z)| ≤ |z| e Im(z) ≤ |Im(z)| ≤ |z|.

ii) |z|2 = z z̄, |z̄| = |z| e |z1 z2 | = |z1 ||z2 |.

iii) |z1 + z2 | ≤ |z1 | + |z2 | (Desigualdade Triangular).

Demonstração. Vamos provar apenas a desigualdade triangular, as demais


serão deixadas como exercícios. Temos que

|z1 + z2 |2 = (z1 + z2 )(z1 + z2 ) (Teorema 1.9(ii))


= (z1 + z2 )(z1 + z2 ) (Teorema 1.8(v))
= z1 z1 + z1 z2 + z2 z1 + z2 z2 (Distributividade)
= |z1 |2 + z1 z2 + z1 z2 + |z2 |2 (Comutatividade e Teo. 1.9(ii))
= |z1 |2 + z1 z2 + (z1 z2 ) + |z2 |2 (Teorema 1.8(i) e (v))
= |z1 |2 + 2 · Re(z1 z2 ) + |z2 |2 (Teorema 1.7(iv))
≤ |z1 |2 + 2|z1 z2 | + |z2 |2 (Teoremas 1.8(iv) e 1.9(i))
≤ |z1 |2 + 2|z1 ||z2 | + |z2 |2 (Teorema 1.9(ii))
≤ (|z1 | + |z2 |)2 .

Agora basta extrair a raiz quadrada em ambos membros e obtemos a


desigualdade triangular.

1.3 Forma polar.


vVideoaula

Sejam z = x + yi um número complexo. Podemos pensar neste número


como se fosse um vetor partindo da origem até o ponto de coordenadas (x, y).
Seja também θ o ângulo entre o vetor que representa z e o eixo real.
12 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

y z
|z |

θ
x

Da figura acima, temos que


x = |z| cos θ, y = |z| sen θ.
Assim podemos reescrever z como
z = |z| cos θ + i|z| sen θ
= |z|(cos θ + i sen θ). (1.2)
que é denominada forma polar ou trigonométrica de z. Neste caso θ é
denominado um argumento de z. O argumento não é único. Por exemplo,
se π/3 é um argumento, então 7π/3, 13π/3, etc, também são argumentos. O
conjunto de todos os argumentos de z é, portanto,
arg z = {θ + 2kπ, k ∈ Z}
onde θ é o argumento pertencente ao intervalo [−π, π[ e denominado argu-
mento principal de z, que denotaremos por Arg z.
Exemplo 1.10. Escrever os números abaixo na forma polar e o conjunto de
todos os seus argumentos.
a) z = 1 + i. b) w = −3i.
Solução. Em cada caso devemos encontrar o módulo e o argumento prin-
cipal. √ √
√ √ 1 2 2 π
a) |z| = 12 + 12 = 2, cos θ = √ = , sen θ = e θ = . Além
2 2 2 4
disso,
√  π π

z = 2 cos + i sen .
4 4
e
π
 
arg z = + 2kπ, k ∈ Z .
4
q 0 −3 3π
b) |w| = (−3)2 = 3, cos θ = = 0, sen θ = = −1 e θ = . Então,
3 3 2
π π
    
w = 3 cos − + i sen − .
2 2
1.3. FORMA POLAR. 13

e
π
 
arg w = − + 2kπ, k ∈ Z .
2

Notemos que
arg(z −1 ) = − arg(z) e arg(zw) = arg z + arg w. (1.3)
A igualdades acima são entre conjuntos e não necessariamente são váli-
das se escolhermos os argumentos principais dos números envolvidos. Basta
considerar, por exemplo, z = w = −i no primeiro caso e z = −1 no segundo
(Verifique!).
Teorema 1.11. Sejam os números complexos z = |z|(cos θ1 + i sen θ1 ) e
w = |w|(cos θ2 + i sen θ2 ). Então
i) zw = |zw| [cos(θ1 + θ2 ) + i sen (θ1 + θ2 )].
ii) z −1 = |z|−1 [cos(−θ1 ) + i sen (−θ1 )].
Demonstração.
i)
zw = |z|(cos θ1 + i sen θ1 )|w|(cos θ2 + i sen θ2 )
= |zw|[cos θ1 cos θ2 + i cos θ1 sen θ2 + i sen θ1 cos θ2 + i2 sen θ1 sen θ2 ]
= |zw|[cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2 + i(cos θ1 sen θ2 + sen θ1 cos θ2 )],

e da trigonometria, concluímos que


zw = |zw| [cos(θ1 + θ2 ) + i sen (θ1 + θ2 )] .
ii)
1
z −1 = [|z|(cos θ1 + i sen θ1 )]−1 = |z|−1
(cos θ1 + i sen θ1 )
1 cos θ1 − i sen θ1
= |z|−1 ·
(cos θ1 + i sen θ1 ) cos θ1 − i sen θ1
= |z| (cos θ1 − i sen θ1 )
−1

= |z|−1 [cos(−θ1 ) + i sen(−θ1 )],

pois, sabemos que cos(−θ1 ) = cos(θ1 ) e sen(−θ1 ) = − sen(θ1 ), da trigono-


metria. 

A forma polar facilita o cálculo de potências e raízes de números comple-


xos. Esses resultados são conhecidos como fórmulas de Moivre.
14 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

z1 z2
z2

θ1 + θ2
z1
θ2
θ1

Figura 1.3: O argumento do produto z1 z2 é a soma dos argumentos de z1 e


z2 .

z
θ
−θ 1
z

z −1

Figura 1.4: Se |z| < 1 (respectivamente >), então |z| < 1 (respectivamente
>) e |z| > 1 (respectivamente <).

Teorema 1.12. Seja n ∈ Z fixo. Então

z n = |z|n [cos(nθ) + i sen(nθ)] (1.4)

Demonstração. Faremos por indução sobre n. Inicialmente notemos que


para n = 0 a propriedade se verifica facilmente, pois

z 0 = 1, |z|0 (cos 0 + i sen 0) = 1.

Supondo que a propriedade também seja válida para n = k − 1, isto é,

z k−1 = |z|k−1 [cos(k − 1)θ + i sen(k − 1)θ],


1.3. FORMA POLAR. 15

vamos provar que ela também é válida para n = k. De fato,

z k = z k−1 z = |z|k−1 [cos(k − 1)θ + i sen(k − 1)θ]|z|[cos θ + i sen θ]


= |z|k {cos(k − 1)θ cos θ − sen (k − 1)θ senθ+
+i[cos(k − 1)θ sen θ + cos θ sen(k − 1)θ]}
= |z|k [cos(kθ) + i sen(kθ)],

onde, na passagem para o último sinal de igualdade, usamos as fórmulas do


seno e cosseno da soma. Agora vamos estender a propriedade para os inteiros
negativos. Suponhamos que exista m ∈ Z+ tal que n = −m, temos que
1
z n = z −m =
zm
1
=
|z|m [cos(mθ)
+ i sen(mθ)]
1 1 cos(mθ) − i sen(mθ)
= · ·
|z|m cos(mθ) + i sen(mθ) cos(mθ) − i sen(mθ)
= |z| [cos(−mθ) + i sen(−mθ)]
−m

= |z|n [cos(nθ) + i sen(nθ)].

Note que, como m é positivo, foi possível usar o que tínhamos provado antes.



Exemplo 1.13. Calcular as potências (−1 + i)7 e (1 + i 3)−3 .

Solução. Façamos z = −1 + i e w = 1 + i 3. Então,
q √ 1 1 3π
|z| = (−1)2 + 12 = 2, cos θ = − √ , sen θ = √ ⇒ θ= .
2 2 4
daí
√  3π 3π √ 1 1
 !
z = ( 2)7 cos 7
7
+ i sen 7 = 8 2 − √ − √ i = −8 − 8i.
4 4 2 2
Além disso,

q √ 1 3 π
|w| = 12 + ( 3)2 = 2, cos θ = , sen θ = ⇒ θ=
2 2 3
e
−3π −3π 1 1
 
w−3 = 2−3 cos + i sen = (−1) = − .
3 3 8 8
16 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

Teorema 1.14. Seja n ∈ N∗ fixo. Todo número complexo z 6= 0 possui n


raízes distintas e que são calculadas pela expressão
√ Arg(z) + 2kπ Arg(z) + 2kπ
q " ! !#
n
z= n
|z| cos + i sen (1.5)
n n
q
onde n
|z| ∈ R+ e k ∈ {0, 1, . . . , n − 1}.
Demonstração. Vamos obter os números

zk = |zk |(cos ϕ + i sen ϕ)



tais que n z = zk , ou, equivalentemente, zkn = z. Então seja z = |z|(cos θ +
i sen θ), usando o Teorema 1.12 temos que

[|zk |(cos ϕ + i sen ϕ)]n = |z|(cos θ + i sen θ)


|zk |n [cos(nϕ) + i sen (nϕ)] = |z|(cos θ + i sen θ),

o que ocorre somente quando


q θ + 2kπ
|zk | = n
|z| e ϕ = , k ∈ Z.
n
Supondo, agora que −θ ≤< θ, vamos calcular os valores de k para os quais
ϕ estejam compreendidos nesse mesmo intervalo.
θ + 2 · 0π θ
k=0 ⇒ ϕ= =
n n
θ + 2π
k=1 ⇒ ϕ=
n
..
.
θ + 2(n − 1)π
k =n−1 ⇒ ϕ=
n
θ + 2nπ θ
k=n ⇒ ϕ= = + 2π
n n
Note que de k = 0 até k = n − 1, ϕ tem n valores distintos tais que 0 ≤ ϕ <
2π. Enquanto que para k = n, o ϕ obtido é o mesmo daquele encontrado
para k = 0 e, por isso, não deve será considerado. O mesmo vale para
k = . . . , −2, −1, n + 1, n + 2, . . . . Portanto, todo número complexo z 6= 0 tem
n raízes distintas, calculadas pela Equação (1.5), onde θ = Arg(z). 

Exemplo 1.15. Calcular todas as raízes quartas de 16. Interprete-as geo-


metricamente.
1.4. FORMA EXPONENCIAL. 17

Solução. Seja z = 16. Temos que |z| = 16 e Arg(z) = 0. Então as quatro


raízes distintas de z são

√ 0 + 2 · 0π 0 + 2 · 0π
    
z0 = 16 cos + i sen = 2,
4

4 4
√ 0 + 2 · 1π 0 + 2 · 1π
    
z1 = 16 cos + i sen = 2i,
4

4 4
√ 0 + 2 · 2π 0 + 2 · 2π
    
z2 = 16 cos + i sen = −2,
4

4 4
√ 0 + 2 · 3π 0 + 2 · 3π
    
z3 = 16 cos + i sen = −2i.
4

4 4

z1

z2 z0

z3

Figura 1.5: Cada raiz quarta de 16 é um vértice do quadrado inscrito na


circunferência de centro na origem e raio 2.

De modo geral, as raízes n-ésimas de z correspondem aos vértices de um


polígono regular de n lados inscrito na circunferência de centro na origem e
raio |z|.

1.4 Forma exponencial.


vVideoaula

Passemos agora a uma quarta forma de se representar o número complexo.


Antes, porém, devemos recordar do Cálculo que a expansão em série de Taylor
18 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

de três funções reais:


x2 x3 x4
ex = 1 + x + + + + ···
2! 3! 4!
x2 x4 x6
cos x = 1 − + − + ···
2! 4! 6!
x3 x5 x7
sen x = x − + − + ···
3! 5! 7!
Trocando x por yi na expressão da exponencial acima e combinando com
as das funções seno e cosseno chegamos à fórmula de Euler, ou seja,
eyi = cos y + i sen y
e afim de estender a propriedade em+n = em en , para m, n ∈ R também para
números complexos, definimos a exponencial de z, denotada por exp z,
como sendo
exp z = ex (cos y + i sen y) (1.6)
Exemplo 1.16. Calcular as seguintes exponenciais.
a) eiπ .
b) e1+πi/2 .
Agora podemos escrever a forma polar de um número complexo de uma
maneira mais abreviada
z = |z|eiθ . (1.7)
Esta é forma exponencial do número complexo z. Geometricamente,
esta fórmula é a representação paramétrica do círculo de centro na origem e
raio |z|. Com ela, reescrevemos a Equação (1.14) como

z = n |z| ei( n ) ,
q θ+2kπ
n

onde θ = Arg z.

Exemplo 1.17. Calcular (− 3 − i)60 .

Solução. Resolveremos com a forma exponencial. Seja z = − 3 − i.
Então

 √ 2 3 1 5π
r
|z| = − 3 + (−1)2 = 2, cos θ = − , sen θ = − , θ = − .
2 2 6
Portanto,
 5π
60
z 60 = 2e−i 6 = 260 e−50iπ = 260 [(eiπ )−1 ]50 = 260 ,
onde usamos o Exemplo 1.16(a) na passagem do último sinal de igualdade.
1.5. NOÇÕES TOPOLÓGICAS 19

1.5 Noções topológicas


vVideoaula

Seja  > 0 um número real. Denominamos disco aberto de centro no


ponto z0 ∈ C e raio  ao conjunto Dr (z0 ) de todos números complexos z que
estão a uma distância menor que  de z0 , isto é

D (z0 ) = {z ∈ C; |z − z0 | < }.

z0

z

A palavra vizinhança também é usada como sinônimo de disco aberto.


Um disco fechado inclui os pontos que estão a distância  de z0 e um disco
perfurado (ou vizinhança perfurada) é um disco aberto sem o ponto z0 .
Esses conjuntos são, respectivamente,

D (z0 ) = {z ∈ C; |z − z0 | ≤ } e D∗ (z0 ) = {z ∈ C; 0 < |z − z0 | < }.

Um número z0 ∈ C é denominado ponto interior de um conjunto S se


existir um disco aberto de centro em z0 inteiramente contido em S. O con-
junto de todos os pontos interiores de S é denominado interior e denotado
pelo símbolo int S e se todos os pontos de S são pontos interiores, ou seja,
int S = S, diremos que S é um conjunto aberto.

Exemplo 1.18. Prove que todo disco aberto D (z0 ) é um conjunto aberto.

Solução. Seja z1 ∈ D (z0 ), temos que |z1 − z0 | < . Se escolhermos


δ <  − |z1 − z0 |, então o disco aberto Dδ (z1 ) ⊂ D (z0 ). De fato, dado
z ∈ Dδ (z1 ), segue da desigualdade triangular que

|z − z0 | = |z − z1 + z1 − z0 | ≤ |z − z1 | + |z1 − z0 | < δ + |z0 − z1 | < .

Exemplo 1.19. O semiplano Im(z) ≤ 1 não é um conjunto aberto, qualquer


disco aberto centrado no ponto z = x + i, com x ∈ R, conterá pontos fora
do semiplano.
20 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

Um número z0 ∈ C é denominado ponto exterior de um conjunto S se


existir um disco aberto de centro em z0 e raio  que não contenha pontos de
S. Se z0 não for um ponto exterior nem ponto interior de S, diremos que
z0 é um ponto de fronteira. Neste caso qualquer disco centrado em z0
conterá pontos dentro e fora de S e a fronteira de S é o conjunto formado
por pontos de fronteira de S. Veja a Figura 1.6.

z1

z2

z3

Figura 1.6: Os pontos z1 , z2 e z3 são pontos interior, exterior e de fronteira,


respectivamente, do retângulo S.

Outra noção importante para o desenvolvimento dos capítulos posteriores


é a de ponto de acumulação. O número z0 ∈ C é um ponto de acumulação
do conjunto S se, dado qualquer  > 0, o disco perfurado D∗ (z0 ) contiver
pelo menos um ponto de S. Isso significa que existem pontos de S distintos
de z0 e tão próximo como se queira. Na Figura 1.6 os pontos z1 e z3 são
pontos de acumulação, mas não é o caso de z2 .
Exemplo 1.20. O conjunto S = {z1 = 1 + 2i, z2 = 2 + 4i} não tem pontos

de acumulação. Basta considerar um disco aberto com raio menor que 5.
Um conjunto S é denominado conexo se quaisquer dois pontos de S
podem ser ligador por uma curva inteiramente contida em S. A grosso modo
isso quer dizer S constitui-se em uma única peça como um disco ou mesmo
o retângulo da Figura 1.6.
Denominamos, ainda, um conjunto aberto e conexo como domínio.
Um domínio junto com todos, nenhum ou alguns dos seus pontos de
fronteira é chamado de região. No primeiro caso, em particular, diremos
que se trata de uma região fechada. Por exemplo, a faixa vertical
S = {z ∈ C; −1 ≤ Re(z) ≤ 1}
é uma região fechada. Finalmente, um conjunto S é denominado fechado
se existir M > 0 de modo que
|z| ≤ M, ∀z ∈ S.
1.6. EXERCÍCIOS 21

Isto significa que S está inteiramente contido em algum disco fechado. Se S


não for fechado, diremos que S é ilimitado.

Exemplo 1.21. O retângulo S = {z = x + yi ∈ C; |x| ≤ 2, |y| ≤ 1} é


limitado, pois está contido no disco fechado D3 (0).

1.6 Exercícios
1. Efetue as seguintes operações

a) i131 .
b) i−10 .
2022
c) ik .
X

k=1
3 + 5i
d) .
1 + 2i
e) (4 + 2i)3 .
√ √
f) (1 + i 3)(1 − i 3).
1 + 2i
 
g) Re .
3 − 4i
2. Determinar o número complexo z de modo que

a) z = −3zi.

b) z 2 = 1 − i 3.
z z−1 1 7
c) + = − + i.
1−i 1+i 2 2
3. Complete a demonstração do

a) Teorema 1.7.
b) Teorema 1.8.
c) Teorema 1.9.

4. Sejam z, z1 , z2 ∈ C. Prove que



a) |z| 2 ≥ |Re(z)| + |Im(z)|.
b) |z1 − z2 | ≤ |z1 | + |z2 |.
c) ||z1 | − |z2 || ≤ |z1 − z2 |.
22 CAPÍTULO 1. CONJUNTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS.

d) z1 z2 + z1 z2 é um número real.
e) |z1 − z2 |2 = |z1 |2 − Re(z1 z2 ) + |z2 |2 .
f) |z1 + z2 |2 + |z1 − z2 |2 = 2(|z1 |2 + |z2 |)2 (Identidade do paralelo-
gramo).

5. Represente graficamente o conjunto dos números complexos z tais que

a) 1 < Im(z) < 2.


b) |z − 1| < |z + 1|.

6. Demonstre os Teoremas 1.12 e 1.14 usando a forma exponencial.

7. Faça z = cos θ+i sen θ na Equação (1.4) e encontre fórmulas para cos 3θ
e sen 3θ.

8. Expresse os números abaixo na forma algébrica



a) 8ei 3 .
b) e2−3iπ .
π 3π
c) ei 4 e−i 2 .

9. Calcular

a) as raízes quartas de −8 + 8i 3.
b) as raízes cúbicas de −8.

10. Prove que e−|z| ≤ |ez | ≤ e|z| , para qualquer z ∈ C.

11. Desenhe e classifique corretamente os conjuntos a seguir com os seguin-


tes termos: aberto, conexo, domínio, região, região fechada ou limitado.

a) {z; Re(z) > 3}.


b) {z; |z − 2i| > 4}.
c) {z; 0 < |z| < 2 e − π
3
< Arg(z) < π3 }.
d) {z; |z + 2| ≤ 1 ou |z − 2| ≤ 1}.

12. Um conjunto com n números complexos é limitado? Por quê?

13. Mostre que D1 (0) é conexo.

14. Mostre que zero é o único ponto de acumulação do conjunto B =


{i/n; n = 1, 2, 3, . . . }
Capítulo 2

Funções Complexas.

2.1 Função de uma variável complexa.


vVideoaula (parte 1)

A partir de agora estudaremos as funções complexas. Reconheceremos


uma semelhança com as funções R2 em R2 . Além disso, muitos conceitos
básicos sobre funções reais como domínio, imagem, zero e bijetividade podem
ser estendidos para as funções complexas.
Uma função complexa é uma função do tipo f : A → C, onde A ∈ C,
que associa cada número complexo z ∈ A a um único número complexo w.
Nesse caso, escreveremos f (z) = w e w é denominado imagem de z pela
função f . O conjunto A é o domínio e o conjunto de todas as imagens é
chamado de conjunto imagem de f .
Quando uma função for dada apenas pela sua lei, convencionaremos que
o domínio será o maior conjunto para o qual a lei dada tenha sentido.
Exemplo 2.1. Obtenha o domínio das funções definidas pelas leis a seguir.
3z − 2
a) f (z) = .
z2 + 4
b) g(z) = z 3 − 5z + 1.
Solução. A função f é definida por uma fração onde, é claro, o denominador
não pode ser zero, isto é,
z 2 + 4 6= 0 ⇒ z 6= ±2i.
Além disso, g é uma função polinomial. Logo, o valor de qualquer número
complexo z pode ser sempre calculado. Portanto, D(f ) = C − {±2i} e
D(g) = C.

23
24 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

Sejam f, g : A → C funções complexas e c um número complexo. Temos


as seguintes operações envolvendo funções de uma variável complexa.

a) Adição: f + g : A → C definida por (f + g)(z) = f (z) + g(z).

b) Produto por constante: cf : A → C definida por (cf )(z) = cf (z).

c) Produto: f g : A → C definida por (f g)(z) = f (z)g(z).

d) Quociente: f /g : A → C definida por (f /g)(z) = f (z)/g(z), g(z) 6= 0.

e) Conjugado: f : A → C definida por f (z) = f (z).

f) Módulo: |f | : A → C definida por |f |(z) = |f (z)|.

Podemos, ainda, expressar uma função complexa em termos das suas


partes real e imaginária no formato

f (x + yi) = u(x, y) + iv(x, y),

onde u(x, y) = Re f (z) e v(x, y) = Im f (z) são funções duas variáveis reais
a valores reais.

Exemplo 2.2. Expressar as partes real e imaginária da função f (z) = zez −


zez como funções das variáveis x e y.

Solução. Seja z = x + yi. Temos que

f (z) = x + yiex+yi − (x + yi)ex+yi


= (x − yi)ex (cos y + i sen y) − (x + yi)ex (cos y − i sen y)
= ex x cos y + iex x sen y − iex y cos y + ex y sen y −
−ex x cos y + iex x sen y − iex y cos y − ex y sen y
= 2iey (x sen y − y cos y).

Portanto u(x, y) = 0 e v(x, y) = 2ey (x sen y − y cos y). 

Uma função complexa pode, ainda, ser expressa na forma polar, isto é, do
módulo e do argumento da variável independente. Veremos que em muitas
situações esta forma pode ser útil.

Exemplo 2.3. Escrever a função f (z) = z 2 na forma polar.


2.2. TRANSLAÇÕES 25

Solução. Seja z = reiθ , onde r é o modulo de z. Então

f (z) = z 2 = (reiθ )2 = r2 e2iθ = r2 (cos 2θ + i sen 2θ)

e temos u(r, θ) = r2 cos 2θ e v(r, θ) = r2 sen 2θ. 

Funções complexas não possuem visualização geométrica, pois teríamos


que fazer os gráficos em R4 , o que não é possível, mas podemos analisar da
seguinte forma: se A é o domínio das funções reais u(x, y) e v(x, y) de duas
variáveis reais, então as equações

u = u(x, y), v = v(x, y)

descrevem uma transformação de A do plano xy no plano uv ou, se preferir,


do plano z no plano w = f (z).
A função f é injetora se elementos diferentes tem imagens diferentes,
isto é,
z1 6= z2 ⇒ f (z1 ) 6= f (z2 ),
para quaisquer elementos z1 e z2 do seu domínio e f é sobrejetora quando
Im(f ) = C. Quando uma função é injetora e sobrejetora ao mesmo tempo,
diremos simplesmente que é bijetora
A imagem inversa de um número complexo w é o conjunto dos números
z ∈ A tais que w = f (z). A imagem inversa de um número complexo pode ser
um único número complexo, vários números complexos ou mesmo nenhum
número complexo.

Exemplo 2.4. A imagem inversa de w = 1 + 2i pela função f (z) = 2z + 1


é z = i, pois
f (i) = 2i + 1 = 1 + 2i.
Neste caso a imagem inversa é único ponto. Se considerarmos a função
g(z) = z 4 , a imagem inversa de w = 16 são 4 pontos, a saber ±2 e ±2i (veja
o Exemplo 1.15). No Capítulo 4, daremos um exemplo de uma função e um
número complexo que não possui imagem inversa por esta função. 

2.2 Translações
Seja b uma constante complexa. Uma função é denominada translação
quando pode ser reduzida à forma

T (z) = z + b. (2.1)
26 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

No caso em que b = 0, a função também recebe o nome de identidade.


Sejam z = x + yi e b = x0 + y0 i, segue da Equação (2.1) que

T (z) = x + x0 + (y + y0 )i,

ou ainda, a imagem do ponto (x, y) por T é o ponto (x + x0 , y + y0 ).

T (z)

Figura 2.1: A função translação T (z) = z + b.

Exemplo 2.5. Obter a imagem do quadrado de vértices em 1 + i, 2 + 2i,


1 + 3i e 2i pela função T (z) = z − 2 − 2i.
Solução. Vamos calcular as imagens de cada vértice.

T (1 + i) = −1 − i, T (2 + 2i) = 0, T (1 + 3i) = −1 + i, T (2i) = −2.

A imagem do quadrado é outro quadrado, cujos vértices são os resultados


acima. Observe que a translação não alterou a dimensão do quadrado original
(veja Figura 2.2). 

2.3 Rotações
Seja a uma constante complexa. Uma função é denominada rotação quando
pode ser reduzida à forma
R(z) = az. (2.2)
Exemplo 2.6. Considere a função R(z) = iz. Mostre que R transforma a
reta y = x + 1 na reta v = −u − 1.
Solução. Sejam z = x + yi e w = u + vi tais que R(z) = w. Temos que

u + vi = i(x + yi) = −y + xi,


2.3. ROTAÇÕES 27

C C

B D B D
T (z)
C0
A A

B0 D0

A0

Figura 2.2: A translação do quadrado.

1 R(z)

−1 −1
−1

Figura 2.3: A rotação do reta.

ou seja, u = −y e v = x. Levando esses resultados na equação da reta


y = x + 1, concluímos que
−u = v + 1 ⇒ v = −u − 1.

Exemplo 2.7. Obtenha a imagem do semiplano Re z ≥ 2 pela função R(z) =
(1 + i)z.
Solução. Sejam z = x + yi e w = u + vi tais que R(z) = w. Temos que
u + vi = (1 + i)(x + yi)
= (x − y) + (x + y)i.
Resolvendo o sistema linear
x−y = u
(
,
x+y = v
obtemos
1 1
x = (u + v), y = (u − v)
2 2
28 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

e, considerando que Re z ≥ 2, chegamos à


1
(u + v) ≥ 2 ⇒ u + v ≥ 4
2


Analisemos o caso em que |a| = 1 usando a forma exponencial. Sejam


z = |z|eiθ e a = eiα . Segue da Equação (2.2) que
R(z) = |z|e(α+θ)i .
Resulta que |R(z)| = |z| e, portanto, z e R(z) pertencem à circunferência de
centro na origem e raio |z| (Veja Figura 2.4).

R(z)

z
α
θ

Figura 2.4: A função rotação de um ponto.

z1 z2 z1 z2
z2 z2

R(z)
θ1 + θ2
θ1 + θ2
z1 z1
θ2 θ2
θ1 θ1

Figura 2.5: A função rotação no caso mais geral.

2.4 Homotetias
Seja k uma constante real não nula. Uma função é denominada homotetia
quando pode ser reduzida à forma
H(z) = kz. (2.3)
2.5. TRANSFORMAÇÕES LINEARES 29

Em particular, a homotetia é denominada dilatação se k > 1 ou de con-


tração se 0 < k < 1.
A imagem de z = x + yi na função definida pela Equação (2.3) é

H(z) = kx + kyi,

ou seja, o módulo de H(z) é multiplicado pelo fator k. Considerando a forma


exponencial z = |z|eiθ , a imagem é

H(z) = k|z|eiθ ,

o que significa que a imagem de z é um ponto da circunferência de raio


k|z|. Além disso, observe que uma homotetia altera o tamanho, mas não a
forma de uma figura. Assim, por exemplo, uma homotetia transforma uma
circunferência em outra, porém maior (dilatação) ou menor (contração) que
a primeira.

Figura 2.6: Função homotetia, tipo dilatação.

Exemplo 2.8. Esboçar a imagem dos números complexos da forma |z| = 3,


pela função H(z) = 2z.
Solução. Usando a forma exponencial, temos que k = 2 e então H(z) =
3 · 2eiθ = 6eiθ .

2.5 Transformações lineares


Definição 2.9. Sejam a e b duas constantes complexas, com a =
6 0. Uma
função é denominada transformação linear quando pode ser reduzida à
forma
f (z) = az + b. (2.4)
30 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

Figura 2.7: Imagem pela homotetia H(z) = 2z.

Observe que trata-se de uma composição envolvendo rotação, homotetia


e translação. De fato, se a = |a|eiθ e b = x0 + y0 i, a Equação (2.4) se torna
f (z) = |a|eiθ z + (x0 + y0 i). (2.5)
Geometricamente, isso corresponde a um rotação de um ângulo θ = Arg a,
seguido de uma homotetia de fator |a| e, finalmente, de uma translação pelo
vetor b.
Exemplo 2.10. Encontrar a imagem do retângulo de vértices −1 − i, 2 − i,
2 + i e −1 + i pela função f (z) = 3iz + 8. Interprete graficamente o efeito
da função sobre o retângulo.
Solução. Calculamos, inicialmente a imagens nos vértices na rotação
R(z) = iz, levamos o resultado na homotetia H(z) = 3R(z) e os resulta-
dos dela na translação T (z) = H(z) + 8, tudo conforme a seguir.

Vértices R(z) = iz H(z) = 2R(z) T (z) = H(z) + 1 + i


A = −1 − i AR = 1 − i AH = 2 − 2i AT = 3 − 3i
B =2−i BR = 1 + 2i BH = 2 + 4i BT = 3 + 5i
C =2+i CR = 1 + 2i CH = −2 + 4i C = −3 + 5i
D = −1 + i DR = −1 − i DH = −2 − 2i DT = −3 − 3i

Note que T ◦ H ◦ R(z) = f (z) = 3iz + 8 e os efeitos dessa transformação


sobre o retângulo dado estão na Figura 2.8. 

Exemplo 2.11. Encontrar a transformação linear f (z) = az + b que faz um


rotação de π/3, uma dilatação de fator 2 e uma translação de 6 − 2i em z.
Solução. A rotação de de π/3 faz com que cada elemento do domínio de
f seja multiplicado pelo fator


π π
 √
a = 2e = 2 cos + i sen
3 = 1 + i 3.
3 3
2.6. FUNÇÃO POTÊNCIA 31

CH BH CT BT

CR BR
C
D

A AR B

DH AH DT AT

Figura 2.8: O efeito da transformação f (z) = 3iz + 8.

Substituindo, juntamente com√ b = 6 − 2i, na Equação (2.5), obtemos a


transformação f (z) = (1 + i 3)z + 6 − 2i. 

Exemplo 2.12. Mostre que w = iz + i transforma o semi-plano Re(z) > 1


no semi-plano Im(w) > 2.
Solução. Usando a forma algébrica, consideremos z = x + yi e w = u + vi
tais que w = f (z). Então

u + vi = (x + yi) + i = −y + (x + 1)i ⇒ u = −y e v = x + 1.

Substituindo-se x = v −1 em Re(z) > 1, dá v −1 > 1, ou ainda, v = Im(w) >


2. Poderíamos ter resolvido da seguinte forma: o termo iz significa a rotação
por um ângulo de π/2 e soma com i provoca uma translação. A primeira
operação nos dá v = Im(w) > 1 e a segunda muda uma unidade para cima,
fornecendo Im(w) > 2 (interprete geometricamente). 

2.6 Função potência


vVideoaula (parte 2)

Seja n ∈ N∗ . Uma função é denominada potência quando pode ser


reduzida à forma
f (z) = z n .
Se w = ρeiφ é a imagem de z = reiθ em pela função potência, então

ρ = rn e φ = nθ.
32 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

A imagem do raio r > 0 com θ = α é o raio ρ > 0 com φ = nα e os


ângulos com vértices na origem são aumentados pelo fator n. Lembrando
que as funções cos nθ e sen nθ tem período igual 2π/n, então f é, em geral,
não é injetora.
Veremos nos exemplos a seguir que a função potência pode transformar
uma figura em outra completamente diferente.

Exemplo 2.13. Seja função f (z) = z 2 .

a) Mostre que f transforma a reta x = 1 em uma parábola.

b) Determine a imagem do triângulo de vértices 0 e 1 ± i.

Solução. a) Dados z = 1 + yi e w = u + vi, temos

u + vi = (1 + yi)2 = 1 − y 2 + 2yi.

Então
u = 1 − y2 e v = 2y.
Dessas equações decorre que

v2
u=1− ,
4
que representa uma parábola (Figura 2.9).

f (z) = z 2

1 1

−2

Figura 2.9: Transformação da reta em uma parábola

b) Começamos por calcular a imagem dos vértices

f (0) = 0, f (1 + i) = 2i, f (1 − i) = −2i.


2.7. FUNÇÃO INVERSA 33

O lado AB pode ser representado por z = x − xi, onde 0 ≤ x ≤ 1. A imagem


desse lado é
f (x − xi) = (x − xi)2 = −2x2 i.
Analogamente, A imagem do lado AC (z = x + xi, onde 0 ≤ x ≤ 1) é

f (x + xi) = (x + xi)2 = 2x2 i

Estes dois lados são segmentos de reta sobre o eixo imaginário. Finalmente,
pelo item anterior, o lado BC é transformado em um arco de parábola (Figura
2.10).

C0
C
f (z) = z 2

A A0 1

B
B0

Figura 2.10: Transformação do quadrado.

Exemplo 2.14. Determinar a imagem de S = {z ∈ C; |z| ≤ 2 e − π/4 ≤


arg z ≤ π/4} pela função w = z 3 .
Solução. Usando a forma exponencial, teremos

z = reiθ ⇒ w = z 3 = r3 e3iθ .

Isto significa que w eleva o módulo ao cubo e triplica o argumento de z.


Então
3π 3π
r3 ≤ 8 e − ≤ arg z ≤ .
4 4
Veja a Figura 2.11. 

2.7 Função inversa


vVideoaula (parte 2)
34 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

w = z3
2 8

Figura 2.11: Transformação do setor circular.

Seja f : A → B uma função bijetora, onde A e B são conjuntos de


números complexos. A função inversa de f , denotada por f −1 é a função
f −1 : B → A, definida por f −1 (w) = z, se f (z) = w.
Segue desta definição, que se a função f transforma z em w, então f −1
desfaz essa transformação. Além disso, como ocorre para funções reais tem-se
que
(f −1 )−1 = f e f ◦ f −1 (z) = f −1 ◦ f (z) = z.
Para se obter a inversa de f resolvemos a equação z = f (w) na incógnita w.
Exemplo 2.15. Obter a inversa da função f (z) = 2z + 1 − 4i. Generalizar
esse resultado para a transformação linear dada pela Equação (2.4).
Solução. Como esta transformação é bijetora, basta inverter z e f (z) (que
trocaremos para f −1 (z) a fim de indicar a inversa).
z − 1 + 4i
z = 2f −1 (z) + 1 − 4i ⇒ f −1 (z) = .
2
De modo geral, fazemos a seguinte permutação na Equação (2.4)
z−b
z = af −1 (z) + b ⇒ f −1 (z) = .
a


Exemplo 2.16. Obter a inversa g da função f : C → C, definida pela lei


f (z) = z 4 de modo que √
2
g(−1) = (1 + i).
2
2.7. FUNÇÃO INVERSA 35

Solução. Temos que g(z) = 4
z, daí
θ + 2kπ θ + 2kπ
!
g(z) = |z| 4
cos + i sen , (2.6)
4 4
onde θ = Arg z e k ∈ Z. Aplicando a condição dada,

2 π + 2kπ π + 2kπ
q !
(1 + i) = 4
(−1) cos
2 + i sen
2 4 4
π π π + 2kπ π + 2kπ
cos + i sen = cos + i sen
4 4 4 4
π + 2kπ π
= + 2nπ,
4 4
com n ∈ Z. A solução da equação precedente é k = 4n. Portanto, a função
dada pela Equação (2.6) é a inversa de f se, e somente se, k é múltiplo de
4. 

Exemplo 2.17. Mostre que a imagem do disco aberto |z + 1 + i| < 1 pela


função w = (3 − 4i)z + 6 + 2i é o disco aberto |w + 1 − 3i| < 5.
Solução. Por definição, dada f : A → B, com f (z) = w, temos
w = f (z) ∈ B ⇐⇒ z = f −1 (w) ∈ D1 (−1 − i)
w − 6 − 2i
⇐⇒ ∈ D1 (−1 − i)
3 − 4i
w − 6 − 2i

− (−1 − i) < 1.

⇐⇒

3 − 4i
Mas notemos que
w − 6 − 2i + (1 + i)(3 − 4i) |w + 1 − 3i|

= < 1.

3 − 4i 5

Portanto, a imagem é |w + 1 − 3i| < 5 (interprete graficamente). 

No próximo exemplo, veremos a inversa da função potência, definida na


seção precedente.
Exemplo 2.18. Seja f (z) = z n com domínio restrito ao conjunto
π π
 
A = re ; r > 0 e − < θ ≤

.
n n
Obtenha a inversa de f .
36 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

Solução. A imagem de A pela função f (z) = z n é o conjunto


n o
B = ρeiφ ; ρ > 0 e − π < θ ≤ π ,

ou seja, todos os pontos do plano w, exceto a origem. Seja g a inversa de f .


Tem-se que
1
z = w n ⇒ g(w) = ρ1/n eiθ/n ,
com w ∈ B não-nulo. A função g é denominada raiz n-ésima principal.
Veja a Figura 2.12. 

f (z) = z n
π/n
−π/n


Figura 2.12: As funções f (z) = z n e g(w) = n
w.

2.8 Função recíproca.


vVideoaula (parte 2)

Seja z 6= 0. A transformação definida pela lei


1
f (z) =
z
é denominada função recíproca ou inversão.
Lembrando que zz = |z|2 , podemos observar que a função recíproca é
uma composição das aplicações
z
w = Z, Z = , (2.7)
|z|2
onde Z é denominada inversão em relação ao círculo de raio 1. Por ela,
um número complexo z 6= 0 tem como imagem o ponto tal que

|Z||z| = 1, arg Z = arg z


2.8. FUNÇÃO RECÍPROCA. 37

Portanto, ela transforma pontos do círculo |z| = 1 em pontos fora do círculo


|Z| = 1 e reciprocamente. Qualquer ponto de módulo 1 é transformado nele
próprio, conforme ilustrado na Figura 2.13(a).
A descrição geométrica da transformação recíproca é uma inversão se-
guida de uma reflexão pelo eixo x. Analisemos essa inversão em colocando
em coordenadas polares,
1 −iθ
z = |z|eiθ , w = ρeiϕ ⇒ w = e ,
|z|

o que significa que a imagem de z tem módulo inverso ao de z, ρ = 1/|z|,


argumento oposto ao de z, ϕ = −θ, e transforma o ponto (|z|, θ) no ponto
(1/|z|, −θ), como você pode ver na Figura 2.13(b).

z1 z1

z2
α
−α 1 1
z2

(a) A inversão Z(z1 ) = z2 . (b) A recíproca w(z1 ) = z2 .

z 1
Figura 2.13: A inversão Z = e a recíproca w = .
|z|2 z

Exemplo 2.19. Mostre que a imagem do semiplano Re(z) > 1/2 pela função
recíproca é o disco aberto D1 (1).

Solução. Dados z = x + yi e w = u + vi, com f (z) = w.


1 1
z= ⇐⇒ x + yi = ∈ D(f ),
w u + vi
ou ainda,
u v
x + yi = − 2 i ∈ D(f ). (2.8)
u2 +v 2 u + v2
Daí
1 u 1
Re(z) > ⇒ > .
2 u2 +v 2 2
38 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

1
f (z) =
z

1/2 2

Figura 2.14: Semiplano transformado em um disco.

e usando o completamento de quadrados chegamos à desigualdade (u − 1)2 +


(v − 0)2 < 1. Logo, a imagem do semiplano é o disco aberto de raio 1. Veja
a Figura 2.14
Exemplo 2.20. Achar a imagem da reta 2x + 2y = 1 pela função recíproca.
Solução. Raciocinando como no exemplo precedente e usando a Equação
(2.8), vem
u v
2 −2 2 =1 ⇒ (u − 1)2 + (v + 1)2 = 2
u2 +v 2 u + v2
(verifique!). Assim, a imagem é disco aberto D√2 (1, −1). 

Exemplo 2.21. Achar a imagem do setor circular


1 5π
 
S = z ∈ C; |z| ≤ e π ≤ arg z ≤
2 4
perfurado na origem, pela função recíproca.
Solução. Seja z = reiθ e sua imagem w = ρeiφ pela função recíproca.
Temos
1 1
r≤ ⇒ ρ= ≥2
2 r
e
5π 5π 3π
π≤θ≤ ⇒ − ≤ −θ ≤ −π ⇒ ≤φ≤π
4 4 4
Veja a Figura 2.15.

2.9 Exercícios
1. Expresse as funções a seguir na forma f (z) = u(x, y) + iv(x, y).

a) f (z) = z 2 − 5z.
2.9. EXERCÍCIOS 39

1
w=
z

Figura 2.15: Setor circular transformado pela função recíproca.

z
b) f (z) = .
z
c) f (z) = Re(iz) + Im(z 2 ).
d) f (z) = e2z+i .

2. Expresse as funções a seguir na forma f (z) = u(r, θ) + iv(r, θ).

a) f (z) = z 3 .
b) f (z) = e2z .
c) f (z) = |z|.
d) f (z) = z.

3. Seja f (z) = (3 + 4i)z − 2 + i. Determine

a) a imagem do disco aberto D1 (1).


b) a imagem da reta y = 1 − 2x.
c) a imagem do semiplano Im(z) ≥ −1.

4. Obtenha a imagem do triângulo de vértices z1 = −2 + i, z2 = −2 + 2i


e z3 = 2 + i pela função w(z) = (2 + i)z − 2i.

5. Seja f (z) = z 2 . Determine

a) a imagem da reta x = −1.


b) a imagem da reta y = 3.
c) a imagem do retângulo {(x, y) | 0 ≤ x ≤ 1, −1 ≤ x ≤ 1}.

6. Obtenha a imagem do setor circular {z = reiθ ; r > 2 e π/4 ≤ θ ≤ π/3}


pela função

a) w = z 3 .
40 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES COMPLEXAS.

b) w = z 4 .
c) w = z 6 .

7. Mostre que

a) A imagem do semiplano y < x − 12 pela função recíproca é o disco



|w − 1 − i| < 2.
2−z
b) O disco |z − i| < 1 é transformado pela função w = no
z
semiplano Re(w) > 0.
c) A função recíproca transforma o disco |z−1| < 2 na região exterior
1 2

à circunferência w + = .

3 3
Capítulo 3

Funções Analíticas

3.1 Limite e continuidade


vVideoaula

Seja f uma função complexa definida em uma vizinhança perfurada de z0


e L ∈ C. Diz-se que o limite de f , quando z tende a z0 , da seguinte forma

lim f (z) = L ⇐⇒ ∀ > 0, ∃ δ > 0; 0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − L| < .


z→z0

Assim, dizer que o limite de f é L, quando z tende a z0 , significa que a


distância entre f (x) e L pode ser tão pequena quanto queiramos, desde que
escolhamos z suficientemente próximo de z0 , mas não igual a z0 . Podemos
reformular a definição de limite em termos de discos abertos como segue

lim f (z) = L ⇐⇒ ∀ > 0, ∃ δ > 0; z ∈ Dδ∗ (z0 ) ⇒ f (z) ∈ D (L).


z→z0

Exemplo 3.1. Prove pela definição que:


a) lim (2 + i)z = 1 + 3i.
z→1+i

b) lim Re z = Re z0 .
z→z0

Solução. a) Nosso objetivo aqui é demonstrar que

∀ > 0, ∃ δ > 0; 0 < |z − (1 + i)| < δ ⇒ |(2 + i)z − (1 + 3i)| < .

Para isso vamos desenvolver a desigualdade que envolve  de modo que te-
nhamos ao que envolva z − (1 + i).
1 + 3i

|(2 + i)z − (1 + 3i)| <  |2 + i| z

⇒ − < ,
2+i

41
42 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

ou ainda,

|z − (1 + i)| < √ .
5

Assim podemos escolher δ = / 5 de modo que

δ > 0; 0 < |z − (1 + i)| < δ ⇒ |(2 + i)z − (1 + 3i)| < .

b) Vamos demonstrar que

∀ > 0, ∃ δ > 0; 0 < |z − z0 | < δ ⇒ |Re z − Re z0 | < .

De fato, pelo Teorema 1.9(i), temos

|Re z − Re z0 | ≤ |z − z0 |

Assim, basta escolher δ =  e teremos

|Re z − Re z0 | ≤ |z − z0 | < δ = .

Muitos teoremas dos limites de funções de uma variável complexa são


similares aos de funções de uma variável real.

Teorema 3.2. O limite de uma função complexa, quando existe, é único

Demonstração. Seja f uma função complexa definida em uma vizinhança


perfurada de z0 ∈ C e os números w1 , w2 ∈ C distintos, tais que

lim f (z) = w1 e lim f (z) = w2 .


z→z0 z→z0

Então podemos escrever

∀ > 0, ∃ δ1 > 0; 0 < |z − z0 | < δ1 ⇒ |f (z) − w1 | < 


∀ > 0, ∃ δ2 > 0; 0 < |z − z0 | < δ2 ⇒ |f (z) − w2 | < .

Raciocinando sobre a diferença w1 −w2 e usando a desigualdade triangular

|w1 − w2 | = |w1 − f (z) + f (z) − w2 |


≤ |w1 − f (z)| + |f (z) + w2 | = |f (z) − w1 | + |f (z) − w2 |

Seja δ = min {δ1 , δ2 } (δ ≤ δ1 e δ ≤ δ2 ). Segue que

0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − w1 | + |f (z) − w2 | < 2.


3.1. LIMITE E CONTINUIDADE 43

Logo,
0 < |z − z0 | < δ ⇒ |w1 − w2 | < 2
|w1 − w2 |
Se tomarmos  = , obtemos
2
|w1 − w2 |
|w1 − w2 | < 2 = 2 = |w1 − w2 |.
2
O que é uma contradição, pois como w1 e w2 são distintos, o módulo da
diferença não pode ser menor que ele próprio. Portanto, w1 = w2 e o limite
de f é único. 

Este teorema pode ser usado para provar quando o limite de uma função
não existe. No caso das funções de uma variável real x só existem duas
formas de x se aproximar de um certo x0 : pela direita ou pela direita (limites
laterais). Já para funções de uma variável complexa z temos uma infinidade
de formas de z se aproximar de um certo z0 .
Exemplo 3.3. Mostre que os limites abaixo não existem.
z
a) lim .
z→0 z

Re z
b) lim .
z→0 Im z

Solução. a) Escolheremos duas formas específicas de aproximar z de zero


(veja a Figura 3.1). A primeira é sobre o eixo real, onde se z = x, então
z=x=xe
z x
lim = lim = 1,
z→0 z z→0 x

A segunda forma de aproximação será sobre o eixo imaginário, no qual z =


yi = −yi e, consequentemente,
z yi
lim = lim = −1.
z→0 z z→0 −yi

Pelo Teorema 3.2, o limite não existe.


b) Seja z = x + yi. Aproximando z de zero pelo eixo real,
Re z x
lim = lim = @
z→0 Im z z→0 0
Portanto, o limite não existe. 

O próximo teorema mostra uma importante relação entre os limites de


uma função complexa e de suas partes real e imaginária.
44 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

z = yi

z=x

Figura 3.1: Aproximando z da origem.

Teorema 3.4. Sejam a função f (z) = u(x, y) + iv(x, y) e os números com-


plexos fixos z0 = x0 + y0 i e w0 = u0 + v0 i. Então
lim f (z) = w
z→z0
(3.1)
se, e somente se,
lim u(x, y) = u0 e lim v(x, y) = v0 . (3.2)
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Demonstração. Suponhamos que o limite da Equação (3.1) seja válido.


Então para qualquer  > 0, existe δ > 0, de modo que
0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − w| < .
Combinando o Teorema 1.9(i) com a desigualdade triangular, temos
|u(x, y) − u0 | ≤ |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0 )i| =
= |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0 i)| = |f (z) − w| < .
Então para qualquer  > 0, existe δ > 0, de modo que
0 < |z − z0 | < δ ⇒ |u(x, y) − u0 | < .
Portanto,
lim u(x, y) = u0 .
(x,y)→(x0 ,y0 )

De forma análoga, você pode deduzir o outro limite das Equações (3.2).
Reciprocamente, suponha que esses limites sejam válidos. Por definição,
para qualquer  > 0, existem δ1 , δ2 > 0, de modo que
0 < |z − z0 | < δ1 ⇒ |u(x, y) − u0 | < /2.
0 < |z − z0 | < δ2 ⇒ |v(x, y) − v0 | < /2.
Seja δ = min{δ1 , δ2 }, novamente entrando com a desigualdade triangular,
vem
|f (z) − w0 | = |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0 i)|
= |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0 )i|
 
≤ |u(x, y) − u0 | + |v(x, y) − v0 | < + = .
2 2
3.1. LIMITE E CONTINUIDADE 45

Fica provado, assim, que

∀ > 0, ∃δ > 0, 0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − w0 | < ,

o que corresponde à Equação (3.1) .

Exemplo 3.5. Calcular lim (z 2 + 4z + 2).


z→1+i

Solução. Dado z = x + yi, desenvolvemos a lei da função dada e obtemos

u(x, y) = x2 − y 2 + 4x + 2 ⇒ lim u(x, y) = 12 − 12 + 4 · 1 + 2 = 6


(x,y)→(1,1)

e
v(x, y) = 2xy + 4y ⇒ lim v(x, y) = 2 · 1 · 1 + 4 · 1 = 6.
(x,y)→(1,1)

Portanto,
lim (z 2 + 4z + 2) = 6 + 6i.
z→1+i

As propriedades operatórias de limites também podem ser adaptadas para


funções complexas.

Teorema 3.6. Sejam f e g duas funções complexas tais que lim f (z) = w1
z→z0
e lim g(z) = w2 . Então:
z→z0

i) lim cf (z) = cw1 , para qualquer constante c ∈ C.


z→z0

ii) lim [f (z) + g(z)] = w1 + w2 .


z→z0

iii) z→z
lim [f (z)g(z)] = w1 w2 .
0

f (z) w1
iv) z→z
lim = , onde w2 6= 0.
0 g(z) w2

A demonstração deste teorema pode ser feita diretamente da definição


de limite, mas fica bem mais fácil se usarmos o Teorema 3.4. No próximo
exemplo, além das propriedades operatórias, usaremos uma fatoração para o
cálculo de um limite

z 2 − 2i
Exemplo 3.7. Calcular lim .
z→1+i z 2 − 2z + 2
46 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

Solução. Aplicar a tendência no lugar de z, neste caso, não é uma boa


ideia, pois obteríamos 0/0. Mas fatorando numerador e denominador, segue
que
(z + 1 + i)(z − (1 + i)) 1+i+1+i
lim = = 1 − i.
z→1+i (z − 1 + i)(z − (1 + i)) 1+i−1+i


Teorema 3.8. Seja f analítica em um ponto z0 . Então

f (z) = f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + µ(z)(z − z0 ),

onde µ → 0 quando z → z0 .

Demonstração. Basta considerar a função µ definida pela lei

f (z) − f (z0 )
µ(z) = − f 0 (z0 )
z − z0
e observar que como f é analítica em z0 , então

f (z) − f (z0 )
" #
lim µ(z) = lim − f 0 (z0 ) = f 0 (z0 ) − f 0 (z0 ) = 0.
z→z0 z→z0 z − z0

O teorema precedente nos auxilia a estender para o caso complexo a Regra


de L’Hospital, muito útil no calculo de limites.

Teorema 3.9. (Regra de L’Hospital) Sejam f e g analíticas em z0 tais


que f (z0 ) = g(z0 ) = 0 e g 0 (z0 ) 6= 0. Então

f (z) f 0 (z0 )
lim = 0 .
z→z 0 g(z) g (z0 )

Demonstração. Pelo Teorema 3.8, podemos obter duas funções µ1 e µ2


tais que

f (z) = f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + µ1 (z)(z − z0 )


g(z) = g(z0 ) + g 0 (z0 )(z − z0 ) + µ2 (z)(z − z0 ),

com
lim µ1 (z) = lim µ2 (z) = 0
z→z0 z→z0
3.2. DERIVAÇÃO COMPLEXA 47

e usando a hipótese f (z0 ) = g(z0 ) = 0, concluímos que

f (z) [f 0 (z0 ) + µ1 (z)](z − z0 ) f 0 (z0 )


lim = lim 0 = 0
z→z0 g(z) z→z0 [g (z ) + µ (z)](z − z ) g (z0 )
0 2 0

Sejam f : A → C uma função e z0 um ponto de ∈ A ⊂ C. Diz-se que a


função f é contínua em z0 se:

a) Existe f (z0 ).

b) Existe lim f (z).


z→z0

c) lim f (z) = f (z0 ).


z→z0

No caso de pelo uma das condições da definição acima não for satisfeita,
diremos que z0 é um ponto de descontinuidade de f . Se f for contínua
em todos os pontos do seu domínio, f é denominada função contínua.
No teorema seguinte, listamos as propriedades das funções contínuas. A
demonstração é deixada como exercício.

Teorema 3.10. Sejam f e g funções complexas e c ∈ C. Tem-se que:

i) A função f : A → C é contínua em z0 ∈ C se, e somente se, as funções


reais Re f e Im f em z0 .

ii) Se as funções f, g : A → C são contínuas em z0 ∈ C então as funções


f + g, f · g, f /g, para g 6= 0, e f ◦ g também são contínuas em z0 .

3.2 Derivação complexa


vVideoaula

Nesta seção vamos definir a derivada de uma função complexa que é


similar a de uma função real. Aliás, praticamente tudo que veremos aqui é
herdado das funções reais.
Seja f : A → C uma função de variável complexa. Diz-se que f é dife-
renciável no ponto z0 ∈ A quando o limite

f (z) − f (z0 )
f 0 (z0 ) = lim , (3.3)
z→z0 z − z0
48 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

existir e for finito. Neste caso, o limite acima é denominado derivada de f


em z0 .
A derivada de f no ponto z0 é denotada por f 0 (z). Se f é diferenciável
em todos os pontos de A, diremos simplesmente que f é diferenciável.
Fazendo ∆z = z − z0 e considerando que z → z0 , a Equação (3.3) pode
ser reescrita como
f (z0 + ∆z) − f (z0 )
f 0 (z0 ) = lim . (3.4)
∆z→0 ∆z

Exemplo 3.11. Calcule, pela definição, a derivada da função f (z) = z 3 .


Solução. Dado z0 ∈ C, vamos partir da Equação (3.3).
z 3 − z03 (z − z0 )(z 2 + zz0 + z02 )
f 0 (z0 ) = lim = lim = z02 + z0 z0 + z02
z→z0 z − z0 z→z0 z − z0
= 3z02 .
Podemos desprezar o subscrito e, portanto, f 0 (z) = 3z 2 . 

Exemplo 3.12. Mostre que a função f (z) = 2x − 3yi, onde z = x + yi não


é diferenciável em ponto algum.
Solução. Neste exemplo usaremos a Equação (3.4), mas antes note que
f (z + ∆z) − f (z) = 2(x + ∆x) + 3(y + ∆y)i − (2x − 3yi) = 2∆x + 3i∆y.
Aplicando a definição,
2∆x + 3i∆y
f 0 (z) = lim .
∆z→0 ∆x + i∆y

Por um lado, se aproximarmos ∆z de zero ao longo de uma reta paralela ao


eixo real, conforme a Figura 3.2(a), obtemos
2∆x
f 0 (z) = lim
=2 (3.5)
∆z→0 ∆x

e, por outro lado, se ∆z tende a zero ao longo de uma reta paralela ao eixo
imaginário (veja a Figura 3.2(b)), então
3i∆y
f 0 (z) = lim = 3. (3.6)
∆z→0 i∆y

As Equações (3.5) e (3.6) contradizem o Teorema 3.2 e, portanto, f não é


diferenciável. 
3.2. DERIVAÇÃO COMPLEXA 49

z0
y0 y0 + ∆y

y0 z0

x0 x0 + ∆x x0
(a) ∆y = 0 e ∆z = ∆x (b) ∆x = 0 e ∆z = i∆y

Figura 3.2: Aproximações de z0 = x0 + y0 i.

Exemplo 3.13. Em que pontos a função f (z) = z é diferenciável?


Solução. Vamos usar as propriedades de módulo e conjugado de um
número complexo e a Equação (3.4).
|z + ∆z|2 − |z|2 (z + ∆z)(z + ∆z) − zz
f 0 (z) = lim = lim
∆z→0 ∆z ∆z→0 ∆z
∆z
!
= lim z + ∆z + z .
∆z→0 ∆z
Tal como no exemplo precedente, façamos ∆z se aproxima de zero por pontos
do eixo real, neste caso teremos ∆z = ∆x = ∆x = ∆z e
∆z
!
f (z) = lim
0
z + ∆z + z = z + z. (3.7)
∆z→0 ∆z
Analogamente, quando ∆z se tende a zero por pontos do eixo imaginário,
então ∆z → 0, quando ∆z = i∆y = −i∆y = −∆z e
!
−∆z
f (z) = lim
0
z − ∆z + z = z − z. (3.8)
∆z→0 ∆z
Devido à unicidade do limite, devemos igualar as Equações (3.7) e (3.8).
Segue que,
z + z = z − z ⇒ z = 0.
Portanto, f é diferenciável apenas em z = 0. 

Como sabemos, a função bastante simples do exemplo precedente é con-


tínua em todo C. Funções reais com essa propriedade são muito difíceis de
se construir, por exemplo, a função de Van Der Waerden, definida pela
lei ∞
1
f (x) = {10n x},
X

n=1 10 n
50 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

onde {x} é a distância de x para o inteiro mais próximo. Voltando para o


caso complexo, vamos dar uma nomenclatura para funções complexas que
diferenciáveis.
Uma função complexa é denominada analítica no ponto z0 se for di-
ferenciável em z0 e todos os pontos de alguma vizinhança de z0 . Se f é
analítica em todos os pontos de uma região R, diremos simplesmente que f
é analítica em R e se f é analítica em todo C, a denominaremos inteira.
Todas as regras de derivação das funções de variável real são válidas para
funções de varável complexa.
Teorema 3.14. Sejam f, g : A → C duas funções deriváveis em z0 ∈ A,
A ⊂ C e c ∈ C uma constante. Temos as seguintes regras de derivação.
a) (cf )0 (z0 ) = cf 0 (z0 ).
b) (f + g)0 (z0 ) = f 0 (z0 ) + g 0 (z0 ).
c) (f g)0 (z0 ) = f 0 (z)g(z0 ) + f (z0 )g 0 (z0 ).
!0
f f 0 (z0 )g(z0 ) − f (z0 )g 0 (z0 )
d) (z0 ) = , onde g(z0 ) 6= 0.
g [g(z0 )]2

Usando o teorema precedente, podemos concluir que as funções polino-


miais e racionais (onde o denominador não se anula) são funções inteiras.
Exemplo 3.15. Calcular a derivadas seguintes funções.
a) f (z) = 4z 3 − 5z 2 + 6z + 2.
1
b) f (z) = .
z
Solução. Das regras de derivação, temos
a) f (z) = 12z 2 − 10z + 6.
1
b) f (z) = − . 
z2

A Regra da Cadeia é outra propriedade que pode ser estendida para


as funções de variável complexa.
Teorema 3.16. Sejam f : A → C e g : B → C, duas funções deriváveis
onde a imagem de A está contida no domínio de g. Se f é diferenciável em
z0 e g é diferenciável em f (z0 ). Então a função composta g ◦f é diferenciável
em z0 e
(g ◦ f )0 (z0 ) = g 0 (f (z0 ))f 0 (z0 ).
3.3. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 51

Exemplo 3.17. Calcular a derivada da função f (z) = (5z 2 + 2)3 .


Solução. Usando a Regra da Cadeia,

f 0 (z) = 3(5z 2 + 2)2 (5z 2 + 2)0 = 30z(5z 2 + 2)2 .

Fechamos essa seção, com uma poderosa ferramenta para cálculo de limi-
tes que também é valida para funções complexas, a Regra de L’Hospital.
Teorema 3.18. Sejam f e g analíticas em z0 , tais que f (z0 ) = g(z0 ) = 0 e
g 0 (z0 ) 6= 0. Então
f (z) f 0 (z0 )
lim
z→z0 g(z)
= lim
z→z0 g 0 (z )
.
0

z 2 − iz − 1 − i
Exemplo 3.19. Calcular lim .
z→1+i z 2 − 2z + 2

Solução. Usando a Regra de L’Hospital,


z 2 − iz − 1 − i 2z − i 1
lim = lim = −i
z→1+i z 2 − 2z + 2 z→1+i 2z − 2 2


3.3 Equações de Cauchy-Riemann


vVideoaula

A partir de agora veremos que, ao contrário do que pode parecer, o “cál-


culo diferencial complexo” não é análogo ao “cálculo diferencial real”.
Teorema 3.20. Seja f : A → C uma função complexa escrita na forma

f (x + yi) = u(x, y) + iv(x, y)


∂u
Se f é diferenciável no ponto z0 = x0 + y0 i, então as derivadas parciais ,
∂x
∂u ∂v ∂v
, e existem em (x0 , y0 ) e satisfazem as relações
∂y ∂x ∂y
∂u ∂v ∂u ∂v
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) = − (x0 , y0 ), (3.9)
∂x ∂y ∂y ∂x
52 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

denominadas equações de Cauchy-Riemann. Além disso, tem-se que


∂u ∂v ∂v ∂u
f 0 (z0 ) = (z0 ) + i (z0 ) e f 0 (z0 ) = (z0 ) − i (z0 ), (3.10)
∂x ∂x ∂y ∂y
onde as derivadas parciais acima são calculadas no ponto z0 = (x0 , y0 ).
Demonstração. Como f é diferenciável no ponto z0 = x0 + y0 i, a Equação
(3.3) é sempre válida, não importando de que maneira z tende a z0 . Façamos
então isso acontecer de forma horizontal. Escolhendo z = x + y0 i, obtemos
f (x + y0 i) − f (x0 + y0 i)
f 0 (z0 ) = lim
(x,y0 )→(x0 ,y0 ) x + y0 i − (x0 + y0 i)
u(x, y0 ) + v(x, y0 )i − [u(x0 , y0 ) + v(x0 , y0 )i]
= lim
x→x0 x − x0
u(x, y0 ) − u(x0 , y0 ) v(x, y0 ) − v(x0 , y0 )
= lim + i lim
x→x0 x − x0 x→x 0 x − x0
∂u ∂v
= (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ) (3.11)
∂x ∂x
E com uma aproximação vertical (z = x0 +yi se aproxima de z0 = x0 +y0 i)
segue que
f (x0 + yi) − f (x0 + y0 i)
f 0 (z0 ) = lim
(x0 ,y)→(x0 ,y0 ) x0 + yi − (x0 + y0 i)
u(x0 , y) + v(x0 , y0 )i − [u(x0 , y0 ) + v(x0 , y0 )i]
= lim
y→y0 (y − y0 )i
u(x, y0 ) − u(x0 , y0 ) v(x, y0 ) − v(x0 , y0 )
= lim + i lim
y→y0 (y − y0 )i y→y0 (y − y0 )i
v(x, y0 ) − v(x0 , y0 ) u(x, y0 ) − u(x0 , y0 )
= y→y
lim lim
− i y→y
0 y − y0 0 y − y0
∂v ∂u
= (x0 , y0 ) − i (x0 , y0 ). (3.12)
∂y ∂y
Pelo Teorema 3.2, os resultados obtidos nas Equações (3.11) e (3.12) devem
ser iguais, logo valem as Equações de Cauchy-Riemann. Além disso, note que
a primeira das Equações (3.10) corresponde à Equação (3.11) e fatorando a
Equação (3.12), temos
" #
∂v ∂u ∂u ∂v
f (z0 ) =
0
(x0 , y0 ) − i (x0 , y0 ) = −i (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ) ,
∂y ∂y ∂y ∂y
3.3. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 53

que é a segunda das Equações (3.10). 

Observe que o teorema que acabamos de ver diz que se f é diferenciável


em z0 , as equações de Cauchy-Riemann se verificam para f .
Exemplo 3.21. Já sabemos que f (z) = z 3 é diferenciável. Verifique, para
esta função, a validade das equações de Cauchy-Riemann.
Solução. Desenvolvendo f em termos de suas partes real e imaginária.

f (z) = x3 − 3xy 2 + (3x2 y − y 3 )i

Agora calculamos as derivadas parciais de u(x, y) = x3 − 3xy 2 e v(x, y) =


3x2 y − y 3 , obtendo
ux = 3x2 − 3y 2 = vy
e
uy = −6xy = −vx ,
o que comprova a validade das a validade das equações de Cauchy-Riemann
neste caso. 

A recíproca do Teorema 3.20 não é válida, ou seja, se as equações de


Cauchy-Riemann não são satisfeitas, a função não é diferenciável.
Exemplo 3.22. Use o Teorema 3.20 para refazer o Exemplo 3.13.
Solução. Neste caso, temos que

u(x, y) = x e v(x, y) = −y

e isso nos dá
ux = 1, uy = 0, vx = 0, e vy = −1.
Portanto, f não é diferenciável. 

Mesmo que as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas em z0 , não


podemos garantir que f seja diferenciável em z0 .
Exemplo 3.23. Mostre que a função

z2
, se z 6= 0



f (z) = z
 0, se z = 0

não é diferenciável em z = 0, apesar de satisfazer as equações de Cauchy-


Riemann.
54 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

Solução. Começaremos pela validade das equações de Cauchy-Riemann.


Isso deve ser feito usando-se a definição de derivada partial.

x3 + 3x · 02
u(x, 0) − u(0, 0)
= lim x + 0
∂u 2 2
(0, 0) = lim = 1,
∂x x→0 x−0 x→0 x

y 3 + 3 · 02 y
∂v v(0, y) − v(0, 0) 02 + y 2
(0, 0) = lim = lim = 1.
∂y y→0 y−0 y→0 y

Fica a seu cargo provar a validade da outra equação. Para ver que f não é
diferenciável em z = 0, usaremos a Equação (3.3). Temos que

z2
−0  2
z
f 0 (0) = lim z = lim .
z→0 z − 0 z→0 z

Quando z se aproxima de z0 , pelo eixo real,


 2
x
f (0) = lim
0
=1
z→0 x

e quando z se aproxima de z0 , ao longo da reta y = x,


2
x − xi

f (0) = lim
0
= −1.
z→0 x + xi

Portanto, f não é diferenciável em z = 0. 

Reiteramos que o Teorema 3.20 nos dá uma condição necessária para que
f seja diferenciável no ponto z0 , vejamos agora que uma condição que garante
a diferenciabilidade de f .

Teorema 3.24. Seja f : A → C uma função complexa escrita na forma

f (z) = u(x, y) + iv(x, y)

∂u ∂u ∂v ∂v
em que as derivadas parciais , , e existem em todo ponto de A.
∂x ∂y ∂x ∂y
Se cada uma dessas derivadas parciais é contínua em um ponto z0 ∈ A e se u
e v satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em z0 , então é diferenciável
em z0 .
3.3. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 55

vVideoaula

Demonstração. Suponhamos que as Equações de Cauchy-Riemann sejam


válidas e que as derivadas parciais nelas presentes seja contínuas em um
disco aberto de D (z0 ), com z0 = x0 + y0 i. Temos que ∆z = ∆x + i∆y, com
0 < |∆x| < , e
∆w = ∆u + i∆v. (3.13)
Vamos raciocinar com ∆u da seguinte forma

∆u = u(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − u(x0 , y0 )


= u(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − u(x0 , y0 + ∆y) + u(x0 , y0 + ∆y) − u(x0 , y0 ).
(3.14)

Como ∂u/∂x é contínua, pelo Teorema do Valor Médio, existe x∗ ∈ ]x0 , x0 +


∆x[ tal que
∂u ∗
u(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − u(x0 , y0 + ∆y) = (x , y0 + ∆y)∆x. (3.15)
∂x
Substituindo este resultado na Equação (3.14), obtemos
∂u ∗
∆u = (x , y0 + ∆y)∆x + u(x0 , y0 + ∆y) − u(x0 , y0 ). (3.16)
∂x
Pela continuidade das derivadas parciais, existe um número 1 tal que
∂u ∗ ∂u
(x , y0 + ∆y) = (x0 , y0 ) + 1
∂x ∂x
Observe que ∆x → 0 e ∆y → 0, então x∗ → x0 e, pela equação acima 1 → 0,
respectivamente. Podemos, então, reescrever a Equação (3.15) como
" #
∂u
u(x0 + ∆x, y0 + ∆y) − u(x0 , y0 + ∆y) = (x0 , y0 ) + 1 ∆x (3.17)
∂x
Analogamente, podemos obter um número 2 de modo que
" #
∂u
u(x0 , y0 + ∆y) − u(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) + 2 ∆y, (3.18)
∂y

onde 2 → 0, quando ∆y → 0. Substituindo as Equações (3.17) e (3.18) na


Equação (3.14) e chegamos a
" # " #
∂u ∂u
∆u = (x0 , y0 ) + 1 ∆x + (x0 , y0 ) + 2 ∆y (3.19)
∂x ∂y
56 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

Repetimos essa mesma ideia com ∆v para encontrar os números 3 e 4


tais que " # " #
∂v ∂v
∆v = (x0 , y0 ) + 3 ∆x + (x0 , y0 ) + 4 ∆y, (3.20)
∂x ∂y
onde 3 → 0 e 4 → 0, desde que ∆x → 0 e ∆y → 0. Nosso próximo passo é
aplicar as Equações (3.19) e (3.20) na Equação (3.13). Segue que
! ! " ! ! #
∂u ∂u ∂v ∂v
∆w = + 1 ∆x + + 2 ∆y + + 3 ∆x + + 4 ∆y i,
∂x ∂y ∂x ∂y

onde as derivadas parciais são calculadas no ponto (x0 , y0 ). Usando as Equa-


ções de Cauchy-Riemann e reagrupando os termos, vem
!
∂u ∂v
∆w = +i (∆x + i∆y) + 1 ∆x + 2 ∆y + (3 ∆x + 4 ∆y)i,
∂x ∂x

ou ainda,

∆w 1 ∆x 3 ∆y 2 ∆x 4 ∆y
!
∂u ∂v
= + i+ + + + i (3.21)
∆z ∂x ∂x ∆z ∆z ∆z ∆z

Ao passar o limite na equação acima, quando ∆z → 0, devemos recordar o


Teorema 1.9(i) para escrever |∆x| ≤ |∆z| e daí
 ∆x ∆x

1
lim
= lim |1 |

≤ lim |1 | = 0,
∆z→0 ∆z ∆z

∆z→0 ∆z→0

pois, conforme vimos anteriormente, 1 → 0, quando ∆x → 0 e ∆y → 0.


O mesmo pode se concluir em relação às parcelas envolvendo 2 , 3 e 4 da
Equação (3.21) e, portanto,

∆w ∂u ∂v
f 0 (z0 ) = lim = (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ),
∆z→0 ∆z ∂x ∂x
o que mostra que f é diferenciável. 

Exemplo 3.25. Seja

f (z) = ex cos y + iex sen y.

Calcule a derivada de f .
3.3. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 57

Solução. Calculamos as derivadas parciais de u(x, y) = ex cos y e v(x, y) =


ex sen y
ux = ex cos y = vy , uy = −ex sen y = −vx ,
Todas elas são funções contínuas. Então f é inteira e usando a primeiras das
Equações (3.10)
∂u ∂u
f 0 (z) = + i = ex cos y + iex seny = f (z).
∂x ∂y


Exemplo 3.26. Mostre que a função f (z) = x3 + 3xy 2 + (y 3 + 3x2 y)i é


diferenciável nos eixos x e y e não analítica em ponto algum.
Solução. Analisemos as derivadas parciais que aparecem nas equações de
Cauchy-Riemann: uma delas se verifica claramente
∂u ∂v
= 3x2 + 3y 2 = .
∂x ∂y
Em relação à outra, temos
uy = −vx ⇒ 6xy = −6xy ⇒ 12xy = 0,
isto é, só é válida para x = 0 ou y = 0. Temos, então que as derivadas
parciais são contínuas e as equações de Cauchy-Riemann são válidas nos
pontos dos eixos. Logo, pelo Teorema 3.24, f é diferenciável apenas nesses
pontos. Finalmente, como em qualquer vizinhança de qualquer um desses
pontos há pontos fora dos eixos, resulta que f não é analítica. 

Se necessário, podemos reescrever as equações de Cauchy-Riemann na


forma polar, conforme o próximo teorema.
Teorema 3.27. Seja f (reiθ ) = U (r, θ) + iV (r, θ) uma função contínua e
definida em alguma vizinhança do ponto z0 = r0 eiθ0 . Se as derivadas parciais
∂U/∂r, ∂U/∂θ, ∂V /∂r e ∂V /∂θ existem em todos os pontos (r0 , θ0 ) e se a
forma polar da Equações de Cauchy-Riemann,
∂U 1 ∂V ∂V 1 ∂U
(r0 , θ0 ) = (r0 , θ0 ) e (r0 , θ0 ) = − (r0 , θ0 ), (3.22)
∂r r0 ∂θ ∂r r0 ∂θ
se verificam, então f é diferenciável em z0 e sua derivada pode ser calculada
por
" #
∂U ∂V
f (z0 ) = e
0 −iθ0
(r0 , θ0 ) + i (r0 , θ0 ) (3.23)
∂r ∂r
58 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

ou
1
" #
∂V ∂U
f (z0 ) = − e−iθ0
0
(r0 , θ0 ) + i (r0 , θ0 ) (3.24)
r0 ∂θ ∂θ
vVideoaula

Demonstração. Lembremos que se z = x + yi = reiθ , então x = r cos θ


e y = r sen θ. Supondo que f (z) = w = u + vi seja diferenciável, segue da
Regra da Cadeia para funções de duas variáveis reais que
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂u
= + = cos θ + sen θ (3.25)
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r ∂x ∂y
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂u
= + = − r sen θ + r cos θ (3.26)
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂θ ∂x ∂y
Em relação à variável v, aplicamos a Regra da Cadeia e as Equações (3.9) e
obtemos
∂v ∂u ∂u
= − cos θ + sen θ (3.27)
∂r ∂y ∂x
∂v ∂u ∂u
= r sen θ + r cos θ (3.28)
∂θ ∂y ∂x
Colocando r em evidência na Equação (3.28) e usando a Equação (3.25), ob-
temos a primeira das Equações (3.23). Fica a seu cargo deduzir a segunda.
Reciprocamente, suponhamos que sejam válidas as Equações (3.22). Resol-
∂u
vendo o sistema formado pelas Equações (3.25) e (3.26) em relação a e
∂x
∂u
, temos
∂y
∂u ∂u ∂u sen θ
= cos θ − (3.29)
∂x ∂r ∂θ r
∂u ∂u ∂u cos θ
= sen θ + (3.30)
∂y ∂r ∂θ r
Devemos resolver também o sistema formado pelas Equações (3.27) e (3.28),
então
∂v ∂v ∂v sen θ
= cos θ − (3.31)
∂x ∂r ∂θ r
∂v ∂v ∂v cos θ
= sen θ + (3.32)
∂y ∂r ∂θ r
3.3. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 59

Substituímos as Equações (3.29) e (3.31) na Equação (3.11), daí

∂u sen θ ∂v sen θ
!
∂u ∂v
f (z) =
0
cos θ − + cos θ − i,
∂r ∂θ r ∂r ∂θ r

usando as Equações (3.22) no parêntesis e fatorando por agrupamento, che-


gamos a Equação (3.23). A dedução da Equação (3.24) fica como exercí-
cio. 
Exemplo 3.28. Mostre que se f é a raiz quadrada principal, isto é
√ √ θ √ θ
f (z) = z = r cos + i r sen ,
2 2
com domínio restrito ao conjunto {reiθ ; r > 0 e − π < θ < π}, então
1
f 0 (z) = √ .
2 z
Solução. Temos que
√ θ √ θ
U (r, θ) = r cos e V (r, θ) = r sen .
2 2
Então
1 θ √ 1 θ
rUr = r √ cos = r cos = Vθ
2 r 2 2 2
e
1 θ
rVr = r √ sen = −Vθ .
2 r 2
As derivadas parciais são contínuas, cumprem com a forma polar das equa-
ções Cauchy-Riemann. Segue do Teorema 3.27 que f é diferenciável e

1 1 1
" # " #
θ θ θ θ
f (z) = e
0 −iθ
√ cos + i √ sen = √ e−iθ cos + i sen
2 r 2 2 r 2 2 r 2 2
1 1 1 1
= √ e−iθ eiθ/2 = √ e−iθ/2 = √ iθ/2 = √ .
2 r 2 r 2 re 2 z


Encerramos essa seção com duas consequências importantes da Equações


de Cauchy-Riemann.
Teorema 3.29. Seja f (z) = u(x, y) + iv(x, y) uma função analítica em um
domínio A.
60 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

i) Se |f (z)| é constante para qualquer z ∈ A, então f é constante A.

ii) Se f 0 (z) = 0 para qualquer z ∈ A, então f é constante A.

Demonstração. i) Suponhamos que |f (z)| seja igual a constante k. Isso


equivale à equação
[u(x, y)]2 + [v(x, y)]2 = k 2
Por simplicidade, deixaremos de indicar o ponto (x, y). Se k = 0, então
teremos necessariamente u = v = 0. Agora, se k 6= 0, derivamos a igualdade
acima em relação a u e em relação a v, trocamos as derivadas parciais de
v pelas de u, segundo as Equações de Cauchy-Riemann, de modo a obter o
sistema
uux − vuy = 0
(
.
uuy − vux = 0
Vamos resolver o sistema tendo como incógnitas as derivadas parciais de u.
Multiplicando a primeira equação por u e a segunda por v, obtemos

(u2 + v 2 )ux = 0 ⇒ ux = 0,

pois estamos supondo k 6= 0. Segue da primeira equação do sistema que

u · 0 − vuy = 0 ⇒ uy = 0.

Pelo Cálculo de Funções de Várias Variáveis, existe um número real a de


modo que u(x, y) = a. Raciocinando de forma similar, podemos obter outra
constante real b tal que v(x, y) = b. Portanto, a função

f (z) = u(x, y) + iv(x, y) = a + bi

é constante.
ii) Pelo Teorema 3.20, a derivada de f é dada por

f 0 (z) = ux + vx i = vy − uy i.

Mas, por hipótese, essa derivada é zero, assim todas as derivadas parciais
devem ser zero também. Pelo que vimos no item anterior, essas condições
implicam em u e v constantes. Logo, f também é constante. 

3.4 Funções Harmônicas


vVideoaula
3.4. FUNÇÕES HARMÔNICAS 61

Seja φ : A → R uma função de duas variáveis reais a valores reais definida


em um domínio A ⊂ R2 . A equação diferencial parcial

∂ 2φ ∂ 2φ
(x, y) + (x, y) = 0
∂x2 ∂y 2
é denominada Equação de Laplace.
Se a função φ tem as derivadas parciais de primeira ordem, de segunda
ordem e mistas todas contínuas contínuas e se φ verifica a Equação de La-
place, denominaremos φ de função harmônica. As funções harmônicas são
utilizadas, por exemplo em eletrostática e dinâmica de fluidos, assumindo
grande importância na Física e na Engenharia. Nesta seção, estudaremos os
mais aspectos mais básicos dessas funções. Começamos com a relação entre
uma função analítica e uma função harmônica.
Teorema 3.30. Se f (z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica em um domínio A,
então as funções u(x, y) e v(x, y) são harmônicas em A.
Demonstração. Provaremos no Capítulo 5 que se f é uma função analítica,
então todas as derivadas parciais de u e v são contínuas. Além disso, as
funções u e v verificam as Equações de Cauchy-Riemann. Derivando essas
equações em relação à x, obtemos

∂ 2u ∂ 2v ∂ 2u ∂ 2v
(x, y) = (x, y) e (x, y) = − 2 (x, y)
∂ 2x ∂x∂y ∂x∂y ∂ x
e derivando em relação à y, obtemos

∂ 2u ∂ 2v ∂ 2u ∂ 2v
(x, y) = − 2 (x, y) e (x, y) = − (x, y)
∂y∂x ∂ y ∂ 2y ∂y∂x
Lembre-se do Cálculo de Funções de Várias Variáveis que a ordem das deri-
vadas parciais mistas pode ser invertida, ou seja,

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2v ∂ 2v
(x, y) = (x, y) e (x, y) = (x, y).
∂x∂y ∂y∂x ∂x∂y ∂y∂x
Segue das equações acima que

∂ 2u ∂ 2v ∂ 2v ∂ 2u
(x, y) = (x, y) = (x, y) = − (x, y)
∂ 2x ∂x∂y ∂y∂x ∂ 2y
Logo,
∂ 2u ∂ 2u
(x, y) + (x, y) = 0.
∂ 2x ∂ 2y
62 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

De modo análogo, prova-se que v é harmônica. 

Se dada uma função harmônica u(x, y) em um domínio A, for possível en-


contrar uma função v(x, y), também harmônica, tal que as derivadas parciais
de u e v satisfazem as Equações de Cauchy-Riemann, diremos que a função
v(x, y) é uma função harmônica conjugada de u(x, y).

Exemplo 3.31. Seja u(x, y) = 2x + 3. Temos que uxx + uyy = 0. Logo u


é harmônica. Verifica-se facilmente que v(x, y) = 2y também uma função
harmônica e que
ux = vy = 2 e uy = −vx = 0.
Logo, v é uma função harmônica conjugada de u e a função

f (z) = 2x + 3 + 2yi = 2(x + yi) + 3 = 2z + 3

é analítica. 

No próximo teorema, veremos como construir uma função harmônica con-


jugada. É interessante notar que a demonstração do teorema fornece um
algoritmo para determinar a função harmônica conjugada.

Teorema 3.32. Seja u uma função harmônica definida em um disco aberto


de raio  centrado ponto (x0 , y0 ). Então existe uma função harmônica conju-
gada v definida no mesmo disco tal que f (z) = u(x, y) + iv(x, y) é analítica.

Demonstração. Seja u uma função harmônica, se existir uma harmônica


conjugada v, então necessariamente devemos ter ux = vy e uy = −vx . Como
temos que determinar a função v, calculamos
Z
∂v Z
∂u
v(x, y) = (x, y) dy = (x, y) dy + h(x), (3.33)
∂y ∂x

onde, na passagem pelo segundo sinal de igualdade, usamos a primeira das


Equações de Cauchy-Riemann e a constante de integração é uma função
h pode ser um número real ou depender apenas de x (considerado como
constante quando se integra em relação a y). A função harmônica v estará
completamente determinada quando calcularmos a função h e para isso vamos
derivar a equação acima em relação a x. Isso nos dá

∂v ∂ Z ∂u
= (x, y) dy + h0 (x)
∂x ∂x ∂x
3.4. FUNÇÕES HARMÔNICAS 63

Usando a outra Equação de Cauchy-Riemann, vem


∂u ∂ Z ∂u
h (x) = −
0
− (x, y) dy. (3.34)
∂y ∂x ∂x
Pode parecer que não, mas o segundo membro acima depende apenas de x.
Para ver isto, basta concluir que a derivada em relação a y é zero, De fato,
" #
∂ 0 ∂ 2u ∂ ∂ Z ∂u
h (x) = − 2 − (x, y) dy
∂y ∂y ∂y ∂x ∂x
" #
∂ 2u ∂ 2 Z ∂u ∂ 2u ∂ 2u
= − 2− 2 (x, y) dy = − 2 − 2 = 0,
∂y ∂x ∂y ∂y ∂x
onde usamos o fato a inversão da ordem das derivadas mistas citada na de-
monstração do Teorema 3.30 e o fato de que u é harmônica. Assim, podemos
calcular h na Equação (3.34) por integração e substituímos o resultado na
Equação (3.33). 

Exemplo 3.33. Prove que u(x, y) = xy 3 − x3 y é uma função harmônica e


obtenha uma função harmônica conjugada para u.
Solução. Inicialmente temos que,
∂u ∂u
(x, y) = y 3 − 3x2 y e (x, y) = 3xy 2 − x3 (3.35)
∂x ∂y
e daí
∂ 2u ∂ 2u
(x, y) + (x, y) = −6xy + 6xy = 0.
∂x2 ∂y 2
Logo u é uma função harmônica. Conforme vimos no teorema precedente,
substituímos a primeira das Equações (3.35) na Equação (3.33), obtendo
Z
1 3
v(x, y) = (y 3 − 3x2 y) dy + h(x) = y 4 − x2 y 2 + h(x).
4 2
Segue da segunda das Equações (3.9) que
1
3x2 y − x3 = −(3xy 2 + h0 (x)) e h(x) = x4 + k.
4
1 3 1
Assim, v(x, y) = y 4 − x2 y 2 + x4 + k é função procurada. 
4 2 4
No próximo exemplo faremos o contrário: dada a função harmônica con-
jugada v, determinaremos a função harmônica u.
64 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

Exemplo 3.34. Determine uma função u de modo que

f (z) = u(x, y) + iey sen x

seja analítica.
Solução. Começamos verificando que v é harmônica. Calculamos as de-
rivadas parciais
∂v ∂v
(x, y) = ey cos x e (x, y) = ey sen x. (3.36)
∂x ∂y
Usando a Equação de Laplace,
∂ 2v ∂ 2v
2
(x, y) + 2 (x, y) = −ey sen x + ey sen x = 0,
∂x ∂y
Então v é harmônica. Pelas Equações de Cauchy-Riemann e pela segunda
das Equações (3.36), temos
Z
∂u Z
∂v
u(x, y) = (x, y) dx + h(y) = (x, y) dx + h(y) = −ey cos x + h(y)
∂x ∂y
e da outra Equação de Cauchy-Riemann junto com o resultado acima temos,
∂u ∂v
(x, y) = − (x, y) ⇒ −ey cos x + h0 (y) = −ey cos x ⇒ h(y) = k.
∂y ∂x
Portanto, u(x, y) = −ey cos x + k. 

Seja F um campo de velocidade de um fluido bidimensional definido no


plano complexo por
F(x, y) = p(x, y) + iq(x, y)
Supondo que F seja irrotacional, então o seu rotacional e o seu divergente
são ambos zero, ou seja,
∂q ∂p ∂p ∂q
(x, y) = (x, y) e (x, y) = − (x, y). (3.37)
∂x ∂y ∂x ∂y
Estas equações são similares às Equações de Cauchy-Riemann. Podemos,
então definir a seguinte função complexa

f (z) = u(x, y) + iv(x, y) = p(x, y) − iq(x, y), (3.38)

onde
∂u ∂p ∂u ∂p ∂v ∂q ∂v ∂q
= , = , =− e =−
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y
3.5. EXERCÍCIOS 65

em todo ponto (x, y). Vamos mostrar que f verifica as Equações de Cauchy-
Riemann. De fato, usando as Equações (3.37), temos

∂u ∂p ∂q ∂v
(x, y) = (x, y) = − (x, y) = (x, y)
∂x ∂x ∂y ∂y
e
∂u ∂p ∂q ∂v
(x, y) = (x, y) = (x, y) = − (x, y).
∂y ∂y ∂x ∂x
Supondo que as funções p e q tenham derivadas parciais contínuas, segue do
Teorema 3.24 que f é analítica e o campo F é o conjugado de uma função
analítica, isto é,
F(x, y) = f (z).
Será provado no Capítulo 5 que toda função analítica possui uma primi-
tiva que também é analítica. Por ora, vamos admitir esse resultado. Seja

F (x, y) = φ(x, y) + iψ(x, y)

a primitiva da função analítica f , isto é, F 0 (z) = f (z). Pelo Teorema 3.30, a


função φ é harmônica e lembrando que ela é uma função de duas variáveis,
consideremos
∂φ ∂φ
∇φ = (x, y) + i (x, y),
∂x ∂y
onde ∇φ denota o gradiente de φ. Aplicando uma Equações de Cauchy-
Riemann da função F no gradiente de φ e juntando os resultados precedentes,
concluímos que
∂φ ∂ψ
∇φ = (x, y) − i (x, y) = F 0 (z) = f (z) = F.
∂x ∂x
Nesse contexto a função φ que satisfaz a igualdade ∇φ = F é denominada
função potencial do fluxo e a sua harmônica conjugada ψ é função do
fluxo. As curvas curvas de nível de φ denominadas curvas equipotenciais
e curvas de nível de ψ são as linhas de fluxo.

3.5 Exercícios
1. Use a definição de limites para mostrar que
iz i
a) lim = .
z→1 2 2
b) lim z = z0 .
z→z0
66 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS

c) lim Im z = Im z0 .
z→z0

2. Calcule os seguintes limites (caso não exista, justifique)

a) lim (z 4 − 2z + 4).
z→2i

z 3 + iz + 1 + i
b) lim .
z→−i z 4 + (2 − 2i)z 3 − (1 + 2i)z 2

z 2 + (−1 + 5i)z − 6 − 3i
c) lim .
z→1−2i z 2 + (3 + 2i)z − 4 + 8i

z 2
 
d) lim .
z→0 z
|z|2
e) lim .
z→0 z

x2
f) lim .
z→0 z

2y 2 x2 − y 2
3. Seja f (z) = − i.
x2 y2
a) Calcule o limite de f quando z se aproxima de zero ao longo da
reta y = −x.
b) Calcule o limite de f quando z se aproxima de zero ao longo da
reta y = 2x.
c) Existe o limite de f quando z se aproxima de zero? Por quê?

4. Considere a função
Re z

, se z =
6 0


f (z) = |z| .
1, se z = 0

f é contínua na origem? Justifique a sua resposta.


xy 3 x3 y
5. Seja f (z) = + i, para z 6= 0 e f (0) = 0.
x2 + 2y 6 5x6 + y 2
a) Mostre que f tende a zero, quando z tende a zero ao longo de
qualquer reta passando pela origem.
b) Mostre que f é descontínua em z = 0.

6. Calcular a derivada das seguintes funções.


3.5. EXERCÍCIOS 67

z 3 − 4z
a) f (z) = .
5z − 2i
b) f (z) = (5z 2 − 3)2 .
c) f (z) = (4z 3 − 5z 2 + 3)(z 2 + 2z − 6).

7. Mostre que as seguintes funções não são diferenciáveis

a) f (z) = Re z.
b) f (z) = Im z.

8. Usando a Equação (3.3), prove que a derivada de f (z) = 1/z é f 0 (z) =


−1/z 2 .

9. Complete a demonstração do

a) Teorema 3.4.
b) Teorema 3.27.
68 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Capítulo 4

Funções Elementares

Neste capítulo estenderemos algumas funções elementares do Cálculo de Va-


riável Real para o domínio complexo.

4.1 Função exponencial


vVideoaula

A função exponencial é a função f : C → C definida pela lei

f (z) = ez ,

que também se denota por exp(z) e pode ser escrita como na Equação (1.6).

Teorema 4.1. A função exponencial complexa f (z) = ez tem as seguintes


propriedades:

i) Se z = x + yi, então |ez | = ex e arg(ez ) = {y + 2kπ ; k ∈ Z}.

ii) É periódica e seu período é 2πi, ou seja, para z, w ∈ C distintos tem-se


que
ez = ew ⇐⇒ ∃k ∈ Z, z = w + 2kπi.

iii) É uma função inteira e a sua derivada é f 0 (z) = ez .

Demonstração. i) Dado z = x + yi. Temos


q √
|ez | = |ex (cos y + i sen y)| = e2x (cos2 y + sen 2 y) = e2x = ex .

Seja w = ρeiψ . Segue que


ex = ρ

69
70 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

e
cos y + i sen y = cos ψ + i sen ψ.
Logo, ψ = y + 2kπ, com k ∈ Z.
ii) Escrevendo w como u + vi, diferente de z, então
ex+yi = eu+vi ⇒ ex (cos y + i sen y) = eu (cos v + i sen v).
Disso resulta que x = u e y = v + 2kπ e obtemos
z = x + yi = u + (v + 2kπ)i = u + vi + 2kπi = w + 2kπi.
A recíproca fica como exercício.
iii) Veja o Exemplo 3.25. 

Existem outras propriedades da função exponencial nos Exercícios. Ve-


jamos algumas transformações que a função exponencial é capaz de fazer.
Exemplo 4.2. Mostre que a função exponencial f (z) = ez transforma o
retângulo R = {(x, y); −1 ≤ x ≤ 1 e − π/4 ≤ y ≤ π/3} no conjunto
S = {ρeiφ ; e−1 ≤ ρ ≤ e}.
Solução. Da condição sobre x em R, vem
−1≤x≤1 ⇒ e−1 ≤ ex ≤ e ⇒ e−1+yi ≤ ex+yi ≤ e1+yi . (4.1)
Notemos, agora, que
e−1 = |e−1+yi | ≤ |ex+yi | ≤ |e1+yi | = e,
onde usamos, sucessivamente, o Teorema 4.1(i), a última das Desigualdades
(4.1) e novamente o Teorema 4.1(i). Além disso,
π π π π
− = Arg (ex+ 4 i ) ≤ Arg (ex+yi ) ≤ Arg (ex+ 3 i ) = .
4 3
Portanto, a função exponencial transforma o retângulo R em “pedaço” um
pedaço da coroa circular, conforme ilustrado na Figura 4.1. 

Exemplo 4.3. Mostre que a imagem da reta 2y = x, pela função f (z) = ez ,


é a espiral w = e(2+i)φ .
Solução. Dados z = reiθ pertencente à reta 2y = x e w = ρeiφ , tais que
w = ez . Segue do Teorema 4.1(i) que
ρ = |w| = |ez | = e2y .
Logo, a imagem de z é w = e2y eiφ = e(2+i)φ . 
4.2. FUNÇÃO LOGARÍTMICA 71

π
4

f (z) = ez
−1 1 1 e
e

− π3

Figura 4.1: Setor circular transformado pela função recíproca.


.

4.2 Função logarítmica


vVideoaula

A função logarítmica real de base (natural) e associa cada x positivo a


um número y real da seguinte forma

loge x = y ⇐⇒ ey = x

e verifica-se que tal função é bijetora: cada número real tem apenas um, e
somente um, logaritmo na base e. O objetivo desta seção é determinar um
número w tal que
ew = z,
o qual denominaremos logaritmo de z 6= 0. Se tentarmos imitar essa defi-
nição para um número complexo z, devemos ter em conta o Teorema 4.1(ii).
Por este resultado cada número complexo terá infinitos logaritmos. De fato,
seja w = u + vi o logaritmo de z = reiθ . Temos que

eu evi = reiθ

ou seja,
u = ln r e v = θ + 2kπ, k ∈ Z.
Observe que cada valor de k dá um valor diferente para o logaritmo de
z, conforme já havíamos dito. Assim, definiremos a função logarítmica
complexa, que é multivariada, pela lei

log z = {ln r + i(Arg z + 2kπ), k ∈ Z}, (4.2)


72 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

sendo que o logaritmo obtido com k = 0 é denominado logaritmo principal


de z e denotado por Log z. Assim,

Log z = ln r + iArg z.

Se z = x ∈ R∗ , teremos Log x = ln x, mostrando que tudo que desenvol-


vemos está em conformidade com o caso real e o mais interessante: a partir
de agora podemos calcular logaritmos de números negativos!

Exemplo 4.4. Calcular os seguintes conjuntos, identificando seus logaritmos


principais.

a) log(−5).

b) log(−ei).

c) log(1 + i).

Solução. a) Seja z = −5 = −5 + 0i, com θ = Arg(z). Temos que


q
r= (−5)2 + 02 = 5, cos θ = −1, sen θ = 1 e θ = π.

Então
log(−5) = {ln 5 + i(π + 2kπ), k ∈ Z},
cujo logaritmo principal é Log (−5) = ln 5 + iπ.
b) Para este caso, temos z = 0 − ei. Fazendo as contas,
q π
r= 02 + (−e)2 = e, cos θ = 0, sen θ = −1 e θ = −
2
e assim
π
   
log(−ei) = 1 + i − + 2kπ , k ∈ Z ,
2
sendo 1 − iπ/2 o seu logaritmo principal.
c) Fazendo z = 1 + i, vem
√ √
√ √ 2 2 π
r = 1 + 1 = 2, cos θ =
2 2 , sen θ = e θ=
2 2 4
e assim  √
π
  
log(1 + i) = ln 2 + i + 2kπ , k ∈ Z .
4

O seu logaritmo principal é ln 2 + iπ/4. 
4.2. FUNÇÃO LOGARÍTMICA 73

Exemplo 4.5. Resolver a equação ez−1 = −ie3 .

Solução. Multiplicando a equação dada por e,


 
ez = −ie4 ⇒ z = log −ie4 .

Como | − ie4 | = e4 e Arg(−ie4 ) = −π/2 + 2kπ, com k inteiro, obtemos


π
 
z = ln e + i − + 2kπ
4
2
(4k − 1)π
= 4+ i,
2
onde k é inteiro. 

Vejamos mais uma propriedade de logaritmo de números reais que pode


ser estendida para números complexos.

Teorema 4.6. Dados três números complexos z, z1 e z2 quaisquer e m 6= 0


inteiro, tem-se que

i) log(z1 z2 ) = log z1 + log z2 .

ii) log(z1 /z2 ) = log z1 − log z2 .

iii) log z m = m log z.

Demonstração. Inicialmente observe que todos os itens são igualdades


entre conjuntos. Assim, devemos provar que um deles está contido no outro
e vice-versa e o faremos apenas para o item ii). Os demais são deixados como
exercícios. Seja w ∈ log z1 − log z2 . Então existem w1 ∈ log z1 e w2 ∈ log z2 ,
tais que w = w1 − w2 e
ew1 z1 z1
ew = ew1 −w2 = ew1 e−w2 = w
= ⇒ w ∈ log
e 2 z2 z2

Agora suponhamos que w ∈ log(z1 /z2 ). Podemos escrever


z1 z1

w = Log + iθ, com θ ∈ arg .

z2 z2

Combinando as Equações (1.3), tem-se que


z1
arg = arg (z1 z2−1 ) = arg z1 + arg z2−1 = arg z1 − arg z2 .
z2
74 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

Assim, θ ∈ arg z1 − arg z2 e podemos obter θ1 ∈ arg z1 e θ2 ∈ arg z2 de modo


que θ = θ1 − θ2 . A partir disso, reescrevemos w como
z1

w = Log + i(θ1 − θ2 ) = (Log |z1 | + iθ1 ) − (Log |z2 | + iθ2 ).
z2

Na última expressão acima, o termo entre parêntesis antes do sinal de menos


é um elemento de log z1 e o termo após o sinal de menos pertence ao conjunto
log z2 e, portanto, w ∈ log z1 − log z2 . 

Vale ressaltar que o Teorema 4.6 não necessariamente é válido se trocar-


mos log por Log. Basta considerar z = w = −i nos itens i) e iii) e também
z = −i e w = i no item ii).
Sejam α ∈ R fixo e θ = Arg(z), com z = reiθ 6= 0. Podemos construir a
função
logα z = ln r + iθ, (4.3)
definida para r > 0 e α < θ ≤ α + 2π. Tal função é um ramo univalorado da
função logarítmica, o seu corte é feito ao longo do raio {reiα ; r ≥ 0} e cada
ponto desse raio é uma descontinuidade. Como
elogα z = z,
segue que a função f (z) = logα z é bijetora e transforma o domínio |z| > 0
na faixa horizontal {w; α < Im(w) ≤ α + 2π}. No próximo exemplo temos
um caso particular desse fato.
Exemplo 4.7. Se α < c < d < α+2π, então a função logarítmica transforma
o pedaço D = {reiθ ; a < r < b e c < θ < d} de uma coroa circular no
retângulo R = {u + vi; ln a < u < ln b e c < v < d}, conforme ilustrado na
Figura 4.2, onde o corte do ramo foi feito no raio {reiα ; r > 0}. 

Teorema 4.8. A função f (z) = log z é analítica em todo o ramo r > 0 e


α < arg z ≤ α + 2π. Além disso, f 0 (z) = 1/z.
Demonstração. Pela definida na Equação (4.3), temos
U (r, θ) = ln r e V (r, θ) = θ.
Essas funções são contínuas e cumprem com as Equações (3.22) de Cauchy-
Riemann (verifique!) e são contínuas. Usando a primeira da Equações (3.23),
concluímos que
1 1 1
f 0 (z) = e−iθ = iθ = .
r re z

4.3. POTENCIAÇÃO COMPLEXA 75

f (z) = logα z R
α

Figura 4.2: Transformação pela função logarítmica.

4.3 Potenciação complexa


vVideoaula

Sejam z, c ∈ C, com z 6= 0. Definimos a potência z c por

z c = ec log z . (4.4)

Observe que o lado direito da Equação (4.4) é um conjunto. Como a função


logarítmica é multivalorada, a potência z c também será. Se escolhermos
trabalhar com o logaritmo principal, teremos a potência principal, isto é

z c = ec Log z (4.5)

e se a potência dada na Equação (4.4) for a lei de uma função complexa, tal
função é denominada função potência, cujo ramo principal será a função
definida pela potência da Equação (4.5).

Exemplo 4.9. Calcular os valores principais das seguintes potências.

a) ii .

b) (1 + i)2−i .

Solução. a) Como acabamos de ver,


π
  
π
ii = exp (i Log i) = exp i i = e− 2 .
2
Observe que é possível elevar um número complexo a uma potência complexa
e obter como resultado um número real!
76 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

b) Pelo Exemplo 4.4(c), temos


  √ π

(1 + i)
2−i
= exp [(2 − i) Log (1 + i)] = exp (2 − i) ln 2+ i
4

π √ π √
= eln 2 e 4 e( 2 −ln 2)i
 
π π
= exp 2 ln 2 + i − i ln 2 +
2 4
π
 
π √  
π √ 
= 2e 4 cos − ln 2 + i sen − ln 2
√2 √ 2
π
= 2e 4 cos ln 2 + i sen ln 2.

A definição de potenciação também faz todo sentido mesmo que z, c ∈ R,


com z > 0, como ilustrado no exemplo a seguir.
Exemplo 4.10. Calcular, usando a Equação (4.4), o valor de 81/3 .
Solução. Temos que
1 2kπ
( )
log 8 = ln 2 + i, k ∈ Z
3 3
Logo,
2kπ
( ! )
1
8 = exp ln 2 +
3 i , k∈Z .
3
Este conjunto tem apenas três valores distintos, a saber:
1
k = 0 ⇒ 8 3 = eln 2 = 2,
1 2π √
k = 1 ⇒ 8 3 = eln 2+ 3 i = −1 + i 3,
1
k = 2 ⇒ 8 3 = eln 2+iπ = −2.

Observe que este resultado não é o mesmo que 3 8 = ±2. 

Sejam n ∈ Z e z = reiθ 6= 0. Temos

n log z = {n ln r + in(θ + 2kπ); k ∈ Z}

e usando o Teorema 4.1(ii) obtemos

z n = exp{[n log z]} = exp{[n ln r + in(θ + 2kπ)]}


= exp{(ln rn )} exp{(inθ)} exp{(2nkπi)}
= rn (cos nθ + i sen nθ)
4.3. POTENCIAÇÃO COMPLEXA 77

que é a Equação (1.4). Suponhamos, agora, que z 6= 0 e seja c = 1/n, com


n ∈ Z∗ , então
1 1 i(θ + 2kπ)
( )
log z = ln r + ; k∈Z
n n n
e a Equação (4.4) se torna

1 1 θ + 2kπ √ θ + 2kπ
  (" #) ( !)
z 1/n = exp log z = exp ln r + i = n r exp i
n n n n
√ θ + 2kπ θ + 2kπ
" ! !#
= n
r cos + i sen ,
n n

ou seja, a Equação (1.5). Tendo em vista novamente o Teorema 4.1(ii), a


equação que acabamos de deduzir nos dá n valores distintos e que correspon-
dem a k = 0, 1, . . . , n − 1. Logo, a potência z 1/n nada mais é que a função
(multivalorada) raiz n-ésima.
Tomando c = m/n, com m e n inteiros primos entre si, a Equação (4.4)
se torna
√ m(θ + 2kπ) m(θ + 2kπ)
" #
z m/n
= n rm cos + i sen .
n n

e neste caso também encontramos n valores distintos correspondentes a k =


0, 1, . . . , n − 1.

Teorema 4.11. Sejam c, d, z ∈ C e n ∈ Z, com z 6= 0. São validas as


seguintes propriedades.
1
i) z −c = .
zc
ii) z c z d = z c+d .
zc
iii) d = z c−d .
z
iv) (z c )n = z cn .

A demonstração deste teorema precedente fica como exercício, porém


vamos mostrar que o item iv) não é necessariamente válido se n fosse um
número complexo. De fato, consideremos z = n = i e c = 2. Segue que

(i2 )i = (−1)i = ei log(−1) = e−(2k+1)π = {e±π , e±3π , e±5π , . . . }.


78 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

Por outro lado,

i2i = e2i log i = e−(4k+1)π = {. . . , e−9π , e−5π , e−π , e3π , e7π , . . . },

que são conjuntos claramente diferentes. Outras propriedades de potências


de números reais que não valem para números complexos estão nos Exercícios.
Agora, vamos calcular a derivada da função potência.

Teorema 4.12. Se f (z) = z c = ec log z , então

f 0 (z) = cz c−1 .

Demonstração. Seja z = reiθ . Usando o ramo principal, isto é, fixando α


de modo que
log z = ln r + iθ, α < arg z ≤ α + 2π,
e lembrando que z = exp(log z), obtemos com auxílio da Regra da Cadeia
c cec log z
f 0 (z) = (z c )0 = (ec log z )0 = ec log z = log z = cec log z−log z = ce(c−1) log z
z e
e, portanto,
f 0 (z) = cz c−1 .

A Equação (4.4) pode ser usada para definir a função exponencial de
base b 6= 0 pela lei
f (z) = bz = ez log b .
Especificando um ramo de logaritmo a potência bz tem valor único e assim
podemos usar as regras de derivação para mostrar que essa função é analítica,
sua derivada é
(bz )0 = bz log b. (4.6)

4.4 Funções trigonométricas.


vVideoaula

Seja y ∈ R. A partir da fórmula de Euler, podemos obter as expressões

eyi = cos y + i sen y e e−yi = cos y − i sen y.

Somando-as e subtraindo-as obtemos, respectivamente,


eyi + e−yi eyi − e−yi
cos y = e sen y = .
2 2i
4.4. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS. 79

Por isso, é natural definirmos as funções cosseno e seno pelas leis


ezi + e−zi ezi − e−zi
cos z = e sen z = .
2 2i
As funções tangente e secante são definidas da mesma forma que para
números reais, isto é,
senz 1
tg z = e sec z = ,
cos z cos z
onde cos z 6= 0. Da mesma forma, as funções cotangente e cossecante,
dadas por
cos z 1
cotg z = e cossec z = ,
senz sen z
onde sen z 6= 0. Além disso não é difícil verificar que a relação fundamental
da trigonometria, as fórmulas de adição e de subtração e do arco duplo são
todas válidas para números complexos.
Exemplo 4.13. Mostre que a função complexa seno é ímpar, isto é

sen (−z) = − sen z.

Solução. Por definição, temos


e(−z)i − e−(−z)i e−zi − ezi ezi − e−zi
sen (−z) = = =− = −sen z.
2i 2i 2i


Exemplo 4.14. Calcular cos(1 + i).


Solução.
e(1+i)i + e−(1+i)i e−1+i + e1−i
cos(1 + i) = =
2 2
e−1 (cos 1 + i sen 1) + e(cos 1 − i sen 1)
=
2
≈ 0, 8337 − 0, 9888i.

No próximo teorema veremos quais são os zeros das funções seno e cos-
seno.
80 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

Teorema 4.15. Os zeros das funções seno e cosseno para números complexos
são os mesmos do caso real. Isto é

sen z = 0 ⇐⇒ z = kπ
π
cos z = 0 ⇐⇒ z = + kπ,
2
com k ∈ Z.
Demonstração. Dado z = x + yi, temos que

e(x+yi)i − e−(x+yi)i e−y+xi − ey−xi


sen z = sen (x + yi) = =
2i 2i
e−y (cos x + i sen x) − ey (cos x − i sen x)
=
2i
e−y − ey ey + e−y
= cos x + i sen x
2i 2i
ey − e−y ey + e−y
= −i(−1) cos x + sen x.
2 2
Lembremos, agora, as funções hiperbólicas do Cálculo,
ey + e−y ey − e−y
cosh y = e senh y = ,
2 2
podemos escrever

sen z = cosh y sen x + i senh y cos x (4.7)

Observe que o cosseno hiperbólico é sempre positivo. Assim, para que o seno
de z se anule devemos impor

cosh y sen x = 0 ⇒ sen x = 0 ⇒ x = kπ,

onde k é inteiro. Aplicando este resultado na parte imaginária da Equação


(4.7), vem

senh y cos kπ = 0 ⇒ senh y = 0 ⇒ y = 0,

(verifique!). Logo, z = x + yi = kπ. O zero do cosseno se obtém de modo


análogo e fica como exercício. 

Agora vamos examinar algumas transformações que a função seno é capaz


de fazer.
4.4. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS. 81

Exemplo 4.16. Determinar a imagem da faixa vertical infinita −π/2 ≤ x ≤


π/2 pela função seno.
Solução. Consideremos a reta x = a. Se w = u + vi é a imagem de
z = a + yi pela função seno, segue da Equação (4.7) que
u = cosh y sen a e v = senh y cos a.
A fim de eliminar a variável y, elevamos estas equações ao quadrado e lem-
brando a identidade cosh2 a − senh2 a = 1, concluímos que
u2 v2
− = 1, (4.8)
sen2 a cos2 a
ou seja, uma hipérbole no plano uv, com focos nos pontos (±sen a, 0). Se
−π/2 < a < 0, a reta x = a, que está à esquerda do eixo y, é transformada
numa hipérbole que fica à esquerda do eixo v. Caso 0 < a < π/2, reta e
hipérbole ficam à direta. Finalmente, se a = 0 ou a = ±π/2, não podemos
usar a Equação (4.8) mas pela Equação (4.7), obtemos
sen (0 + yi) = cosh y sen 0 + i senh y cos 0 = i senh y,
o que significa que os pontos do eixo y são transformados em pontos do eixo
v. Para o caso em que a = π/2, temos
π π π
 
sen + yi = cosh y sen + i senh y cos = cosh y ≥ 1. (4.9)
2 2 2
Caso você não esteja convencido da desigualdade, eis a explicação: dado
qualquer m > 0, então
m2 + 1
(m − 1)2 ≥ 0 ⇒ ≥ 2.
m
Em particular, para m = ey , com y real, vem
ey + e−y 1 ey + 1 1
cosh y = = · ≥ · 2 = 1.
2 2 e y 2
Desse modo, a imagem da reta x = π/2 é a semirreta u ≥ 1 e quando
a = −π/2, recorremos ao Exemplo 4.13:
π π π
      
sen − + yi = sen − + yi = −sen + yi = − cosh y ≤ −1.
2 2 2
(4.10)
Note que como y é arbitrário, não precisamos nos preocupar com o seu sinal
na passagem da primeira igualdade acima e, assim, a imagem da reta x =
−π/2 é a semirreta u ≤ −1. Portanto, a imagem da faixa infinita é todo o
plano uv. 
82 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

f (z) = sen z

Figura 4.3: A reta vertical transformada em hipérbole.

1
Exemplo 4.17. Resolver a equação cosh z = .
2
Solução. Por definição,

ex + e−x 1 1±i 3
= ⇒ (e ) − e + 1 = 0
z 2 z
⇒ e = z
.
2 2 2
Temos, então, que √
1 1± 3
cosh z = ⇐⇒ e = z
.
2 2
Analisemos um dos valores de ez . Pelo Teorema 4.1(i),
v
√ !2
u 1 3
u 2
eRe(z)
= |e | =
z t
+ = 1 = e0 ⇒ Re(z) = 0.
2 2

Segue que z = bi. Consequentemente,


√ √
1 3 1 3 π
e = +
bi
i ⇒ cos b + i sen b = + i ⇒ b= + 2kπ,
2 2 2 2 3
onde k é inteiro. Logo, uma das raízes da equação dada é
π
 
z1 = + 2kπ i.
3
Analogamente,
π
 
z2 = − + 2kπ i
3
é a outra raiz (verifique!). 
4.5. FUNÇÕES HIPERBÓLICAS 83

Exemplo 4.18. Resolver a equação cos z = 4.

Solução.
ezi + e−zi
= 4 ⇒ e2zi − 8ezi + 1 = 0,
2
que é uma√equação polinomial de grau 2 na incógnita ezi , resolvendo obtemos
ezi = 4 ± 15. Passando o logaritmo, concluímos que
 √   √ 
zi = ln 4 ± 15 ⇒ z = −i ln 4 ± 15 .

A equação que acabamos de resolver mostra uma diferença importante


entre as funções trigonométricas de variáveis real e complexa: as funções
complexas seno e cosseno são ilimitadas. A Figura ?? já sugere isso, mas
para verificar isso de forma analítica, basta olhar para as Desigualdades (4.9)
e (4.10). Quanto ao cosseno, dado y ∈ R,
e−y + ey e−y + ey

lim | cos(yi)| = lim

= lim = +∞
2 2

y→+∞ y→+∞ y→+∞

Finalmente, observamos que as derivadas das funções trigonométricas


complexas são as mesmas das funções reais.

Teorema 4.19. As funções trigonométricas complexas são analíticas nos


seus respectivos domínios. Além disso,

(cos z)0 = −sen z, (sen z)0 = cos z,


( tg z)0 = sec2 z, ( cotg z)0 = − cossec2 z,
(sec z)0 = sec z tg z, ( cossec z)0 = − cossec z cotg z,

Demonstração. O seno se decompõe em exponenciais, que já sabemos que


são funções inteiras (Teorema 4.1(iii)). Logo também será inteira e
!0
ezi − e−zi iezi − (−i)ezi ezi + ezi
(sen z)0 = = = = cos z.
2i 2i 2

Fica como exercício completar a demonstração. 

4.5 Funções hiperbólicas


vVideoaula
84 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

A funções seno e cosseno hiperbólicos de variável complexa são de-


finidas pelas seguintes leis
ez + e−z ez − e−z
cosh z = e senh z = .
2 2
Pelo Teorema 4.1(iii), as exponencias que aparecem nas definições acima são
inteiras. Segue que as funções seno e cosseno hiperbólicos são inteiras e
(cosh z)0 = senh z e ( senh z)0 = cosh z.
As funções tangente, cotangente, secante e cossecante hiperbólicos de z
são definidas como no caso real e também são inteiras. Além disso,
( tgh z)0 = sech2 z, ( cotgh z)0 = − cossech2 z,
(sech z)0 = − sech z tgh z, ( cossech z)0 = − cossech z cotgh z.

Teorema 4.20. As funções trigonométricas se relacionam com as funções


trigonométricas hiperbólicas pelas seguintes equações:
−i senh(iz) = sen z, cosh(iz) = cos z,
−i sen (iz) = senh z, cos(iz) = cosh z.
O Teorema precedente torna mais fácil a dedução das seguintes identida-
des
senh(−z) = − senh z, cosh(−z) = cosh z, (4.11)
senh(z + 2πi) = senh z, cosh(z + 2πi) = cosh z, (4.12)
senh(z + w) = senh z cosh w + cosh z senh w, (4.13)
cosh(z + w) = cosh z cosh w + senh z senh w, (4.14)
As Equações (4.11) nos contam que o seno hiperbólico é ímpar e o cosseno
hiperbólico é par, enquanto que as Equações (4.12) significam que o período
dessas funções é 2πi.
Exemplo 4.21. Mostre que cosh2 z − senh2 z = 1, para todo z ∈ C.
Solução. A partir das definições,
!2 !2
ez + e−z ez + e−z
cosh z − senh z =
2 2

2 2
e + 2e e + e
2z z −z −2z
− (e2z − 2ez e−z + e−2z )
= =1
4

4.5. FUNÇÕES HIPERBÓLICAS 85

1
Exemplo 4.22. Resolver a equação cosh z = .
2

Solução. Por definição,



ez + e−z 1 1±i 3
= ⇒ (e ) − e + 1 = 0
z 2 z
⇒ e = z
.
2 2 2

Temos, então, que



1 1± 3
cosh z = ⇐⇒ e =
z
.
2 2
Analisemos um dos valores de ez . Pelo Teorema 4.1(i),
v
√ !2
u 1 3
u 2
eRe(z)
= |e | =
z t
+ = 1 = e0 ⇒ Re(z) = 0.
2 2

Segue que z = bi. Consequentemente,


√ √
1 3 1 3 π
e = +
bi
i ⇒ cos b + i sen b = + i ⇒ b= + 2kπ,
2 2 2 2 3

onde k é inteiro. Logo, uma das raízes da equação dada é

π
 
z1 = + 2kπ i.
3

Analogamente,
π
 
z2 = − + 2kπ i
3
é a outra raiz (verifique!). 

O teorema a seguir, que encerra o capítulo, nos conta que os zeros do


seno e do cosseno hiperbólicos são números imaginários puros.

Teorema 4.23. Sejam z ∈ C e k ∈ Z. Tem-se que

i) senh z = 0 se, e somente se, z = kπi.

π
 
ii) cosh z = 0 se, e somente se, z = + kπ i.
2
86 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES ELEMENTARES

4.6 Exercícios
1. Efetue
a) log(1 + i)3 .
b) log(e3 i).
c) log 8.
d) (1 + i)πi .
e) (−1)1/πi .
f) i2/3 .
2. Resolver as seguintes equações
a) e−1/z = −1.
b) e2z + ez + 1 = 0.
c) Log z = 1 − iπ/4.
d) Log (z − 1) = iπ/2.
e) cos z = 2.
f) senh z = i/2.
3. Complete a demonstração do
a) Teorema 4.1.
b) Teorema 4.6.
c) Teorema 4.11.
d) Teorema 4.15.
e) Teorema 4.20.
4. Prove as seguintes identidades.
a) (cos z)0 = − sen z.
b) | cosh z|2 = cos2 x + senh2 y.
c) cosh2 z − senh2 z = 1.
d) As Equações (4.11) - (4.14).
5. Prove que
a) A função f (z) = sen z não é analítica em ponto algum.
b) A função f (z) = cosh z não é analítica em ponto algum.
c) A função f (z) = cosh z não é analítica em ponto algum.
Capítulo 5

Integrais

5.1 Função de valores reais a valores comple-


xos
vVideoaula

A função w : [a, b] → C definida pela lei


w(t) = u(t) + iv(t), (5.1)
onde u e v são funções reais de t definidas no intervalo [a, b] é denominada
função de valores reais a valores complexos. A sua derivada é calcu-
lada por
w0 (t) = u0 (t) + iv 0 (t),
desde que u e v sejam deriváveis em [a, b]. Várias propriedades das derivadas
de funções reais podem ser estendidas ao caso em que estamos estudando.
Exemplo 5.1. Mostre que para função definida pela Equação (5.1) tem-se
que
d
[w(t)]2 = 2w(t)w0 (t).
dt
Solução. Seja w(t) = u(t) + iv(t). Por simplicidade, vamos omitir a
variável t. Temos que
w2 = u2 − v 2 + 2uvi.
Calculando a derivada,
d
(w(t))2 = 2uu0 − 2vv 0 + 2(u0 v + uv 0 )i
dt
= 2(uu0 + vv 0 i2 + u0 vi + uv 0 i)
= 2(u + vi)(u0 + v 0 i) = 2w(t)w0 (t).

87
88 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Se u e v são integráveis [a, b], definimos a integral definida de a até b


por
Z b Z b Z b
w(t) dt = u(t) dt + i v(t) dt. (5.2)
a a a

Para calcular essa integral, podemos recorrer às primitivas U , V e W de u,


v e w, para as quais,

U 0 (t) = u(t), V 0 (t) = v(t), e W 0 (t) = w(t),

em a ≤ t ≤ b. Segue que
Z b
w(t) dt = [U (t)]ba + i [V (t)]ba = U (b) − U (a) + [V (b) − V (a)]i,
a

ou ainda,
Z b
w(t) dt = W (b) − W (a) = W (t)|ba
a

e isso mostra que o Teorema Fundamental do Cálculo é válido para funções


definidas pelas Equação (5.1).

Z 1
Exemplo 5.2. Calcular (3t − i)2 dt.
0

Solução. Pelo método descrito acima, temos que u(t) = 3t2 + 1 e v(t) =
−6ti. Logo,
Z 1 Z 1 Z 1
(3t − i) dt =
2
(3t + 1) dt − i
2
6t dt = [t3 + t]10 − i · 3t|10 = 2 − 3i.
0 0 0

Z π
2
Exemplo 5.3. Calcular e(1+i)t dt.
0

Solução. Neste caso, e(1+i)t = et cos t + i et sen t e reescrevemos a Equação


(5.2) como
Z π Z π Z π
2 2 2
e (1+i)t
dt = e cos t dt + i
t
et sen t dt,
0 0 0
5.1. FUNÇÃO DE VALORES REAIS A VALORES COMPLEXOS 89

onde as integrais do segundo membro são calculadas por partes (duas vezes
cada!). Vejamos a primeira.
Z π π Z π
2 2
et cos t dt = et sen t 2 − et sen t dt

0 0 0
 Z π
π 2
= e 2 − et (− cos t) − (− cos tet ) dt
0
Z π
π 2
= e2 − 1 − et cos t dt.
0

Tratando como uma equação polinomial, onde a incógnita é a integral, segue


que
Z π
2 1 π
et cos t dt = (e 2 − 1).
0 2
Analogamente,
1 π
Z π
2
et sen t dt = (e 2 + 1)
0 2
e, portanto,
1 π
π
Z
2 i π
e(1+i)t dt = (e 2 − 1) + (e 2 + 1).
0 2 2


O próximo teorema contem as propriedades operatórias da integral de


função de uma variável real a valores complexos.

Teorema 5.4. Sejam f, g : [a, b] → C duas funções integráveis e c, d ∈ C,


com c ∈ ]a, b[. Então:
Z b Z b Z b
i) [df (t) + g(t)] dt = d f (t) dt + g(t) dt.
a a a

Z b Z a
ii) f (t) dt = − f (t) dt.
a b

Z b Z c Z b
iii) f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt.
a a c

iv) A função |f | é integrável e vale a desigualdade


Z
b Z b

f (t) dt ≤ |f (t)| dt.
a a
90 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Demonstração. Provaremos apenas o último item. Ponhamos f (t) =


u(t) + iv(t). Como f é integrável no intervalo [a, b], as funções u, v e, con-
sequentemente, u2 + v 2 também é integrável em [a, b].
√ Além disso, sabemos
que a função h : R+ → R definida pela lei h(x) = x é contínua. Isso faz
com que a função
q
|f |(z) = |f (z)| = [u(t)]2 + [v(t)]2

seja integrável no intervalo [a, b]. Para demonstrar a desigualdade, Rnotemos


que o caso em que a f (t) dt = 0 é trivial. Assim, suponhamos queR ab f (t) dt
Rb

seja igual ao número complexo não-nulo r0 e−iθ , onde θ = Arg( ab f (t) dt).
Segue que
Z
b q

f (t) dt = |r0 eiθ | = r0 (cos θ)2 + (sen θ)2 = r0 . (5.3)
a

Note, ainda, que


Z b Z b
f (t) dt = r0 eiθ ⇒ r0 = e−iθ f (t) dt.
a a

Trabalhando apenas com as partes reais desta última igualdade, obtemos


Z b !
Re(r0 ) = Re e−iθ f (t) dt
a

Da Equação (5.3) e do Teorema 1.9(i), decorre que


Z
b Z b Z b Z b
f (t) dt = Re[e −iθ
f (t)] dt ≤ |e −iθ
f (t)| dt = |f (t)| dt.


a a a a

Teorema 5.5. Sejam f : [a, b] → C contínua e g : [c, d] → R diferenciável


com g 0 integrável em [c, d] e g([c, d]) ⊂ [a, b], então
Z g(d) Z d
f (s) ds = f (g(t))g 0 (t) dt.
g(c) c

Este teorema corresponde ao teorema da mudança de variável do caso


real. Sua demonstração, assim como a dos demais itens teorema precedente
que, consistem em decompor a função f em termos de parte real e parte
imaginária e aplicar os resultados correspondentes do Cálculo de funções
de uma variável real. Usaremos, agora, este resultado para refazer um dos
exemplos deste seção.
5.1. FUNÇÃO DE VALORES REAIS A VALORES COMPLEXOS 91
Z π
2
Exemplo 5.6. Calcular e(1+i)t dt.
0

Solução. Faremos as substituições



du
u = (1 + i)t, ⇒ du = (1 + i) dt ⇒ dt =


1+i .


 t=0 ⇒ u=0
t = π2 u = (1 + i) π2



Isso fornece,
π
Z (1+i) π
du 1 u (1+i) 2 1 − i h (1+i) π
i
2 u
e = e = e 2 − e
0
0 1+i 1+i 0 2
1−i π 1 π i π
= (e 2 − 1) = (e 2 − 1) + (e 2 + 1).
2 2 2

Vimos ao longo desta seção que vários resultados do Cálculo de funções
de variável real podem ser estendidos para o caso complexo. Entretanto, o
teorema do valor médio para integrais não é necessariamente verdadeiro, isto
é, dada uma função f : [a, b] → C contínua, nem sempre existe c ∈ ]a, b[ de
modo que Z b
f (t) dt = f (c)(b − a).
a

De fato, consideremos a função f (t) = eti definida no intervalo [0, 2π] e


calculemos a integral Z 2π
eti dt,
0

fazendo as substituições

u = ti, ⇒ du = i dt



t=0 ⇒ u=0 .
t = 2π ⇒ u = 2πi

Assim, Z 2π Z 2πi
e dt =
ti
−ieu du = −ieu |2πi
0 = 0.
0 0

Porém, dado qualquer c ∈ ]0, 2π[, temos

|f (c)(2π − 0)| = |2πeci | = 2π,

o que significa que f (c)(2π − 0) 6= 0.


92 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

5.2 Integral de contorno


vVideoaula

Denominamos curva qualquer conjunto de pontos z = (x, y) que pode


ser representado de forma paramétrica pela função

C : z(t) = x(t) + iy(t), a ≤ t ≤ b, (5.4)

onde as funções reais x e y são contínuas no intervalo [a, b]. Uma curva
simples é aquela que não possui auto-interseções, ou seja, se z(t1 ) 6= z(t2 ),
sempre que t1 6= t2 , exceto possivelmente quando t1 = a e t2 = b, em cujo
caso diremos que a curva é fechada simples.
Como parâmetro t aumenta de a para b, diremos que o ponto z(a) é o
ponto inicial e que z(b) é o ponto final. Se C é uma curva simples, então
z(t) se move de z(a) até z(b) de forma contínua, segundo uma orientação,
que é o sentido do percurso. Nas figuras deixaremos claro qual é a orientação
da curva por meio de setas. Quando se tratar de uma curva fechada, conven-
cionaremos neste livro que a orientação é aquela em que a região interna
da curva fica sempre à esquerda quando percorremos a curva. A orientação
contrária será denominada negativa.
A função definida pela lei z(t) = x(t) + iy(t) no intervalo [a, b] é deno-
minada diferenciável se as funções x e y também o forem diferenciável e
escreveremos
z 0 (t) = x0 (t) + iy 0 (t), a ≤ t ≤ b.
Diremos ainda que a curva C definida pela Equação (5.4) é suave se
a função z 0 é contínua e não-nula em [a, b]. Neste caso, C tem um vetor
tangente não-nulo em cada ponto z(t) e dado pelo vetor z 0 (t). Se em um
ponto t0 tivermos x0 (t0 ) = 0, então o vetor z 0 (t0 ) = iy 0 (t0 ) é vertical. Se
x0 (t0 ) 6= 0, então a inclinação dy/dx ta reta tangente à curva C no ponto
z(t0 ) = 0 é dado por x0 (t0 )/y 0 (t0 ). Portanto, para uma curva suave o ângulo
de inclinação θ(t) do seu vetor tangente z 0 (t) é definido em todos valores
de t ∈ [a, b] e é contínua. Assim, uma curva suave não tem quebras e nem
pontas.
A curva oposta à curva C dada pela Equação (5.4) é aquela que tem
os mesmo pontos de C mas é traçada segundo a orientação reversa à C. Tal
curva é denotada por −C e é parametrizada por

−C : z ∗ (−t) = x(−t) + iy(−t), −b ≤ t ≤ −a.

Como z(t) = z ∗ (−t), a curva −C é a própria curva C, mas com orientação


oposta.
5.2. INTEGRAL DE CONTORNO 93

Exemplo 5.7. Parametrizar, nos dois sentidos possíveis, um segmento de


reta que une os pontos z1 e z2 .

Solução. Admitamos que o segmento seja orientado de z1 para z2 . Seja z


um ponto genérico desse segmento. Então a distância de z a z1 é menor que
a distância entre z1 e z2 . Seja t a razão entre essas distâncias, isto é,
z − z1
=t ⇒ z(t) = z1 + (z2 − z1 )t.
z2 − z1

Observe que z(0) = z1 e z(1) = z2 . Portanto,

C : z(t) = z1 + (z2 − z1 )t, 0≤t≤1 (5.5)

e para a orientação contrária,

−C : z ∗ (−t) = z2 + (z1 − z2 )t, 0 ≤ t ≤ 1.

Exemplo 5.8. Parametrizar, com uma curva fechada simples, a circunferên-


cia de centro no ponto z0 = x0 + y0 i e raio r.

Solução. Seja z = x + yi um ponto genérico desta circunferência. Temos


que
x − x0
cos t = ⇒ x = x0 + r cos t.
r
Analogamente, y = y0 + r sen t. Concluímos, assim, que

C : z(t) = x0 + r cos t + (y0 + r sen t)i, 0 ≤ t ≤ 2π,

Note que C é uma curva fechada simples pois z(0) = z(2π) e z(a) = z(b),
para a, b ∈ ]0, 2π[. 

Se juntarmos várias curvas suaves de ponta a ponta, obteremos uma curva


a qual denominaremos contorno ou caminho. Dadas as curvas suaves
C1 , C2 , . . . , Cn tais que o ponto final da curva Ci−1 coincide com o ponto
inicial da curva Ci , para todo i = 1, 2, . . . , n, o contorno C será denotado por

C = C1 + C2 + · · · + Cn .

Exemplo 5.9. Obtenha a parametrização do contorno indicado na Figura


5.1
94 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

C1
2
C2

−1 2 3
−1

Figura 5.1: Contorno do Exemplo 5.9.

Solução. O contorno C1 é um segmento de reta horizontal que passa pela


ordenada 2. Podemos parametrizá-lo por
z1 (t) = t + 2i, −1 ≤ t ≤ 2.
O contorno C2 pode ser parametrizado com auxílio da Equação (5.5). Segue
que
z2 (t) = 2 + 2i + (3 − i − (2 + 2i))t = 2 + 2i + (1 − 3i)t,
onde 0 ≤ t ≤ 1. 

Agora vamos definir a integral de uma função complexa f ao longo de


um contorno C no plano, em que o ponto inicial é A = z0 e o ponto final é
B = zn . Para isso, vamos tentar imitar o raciocínio do Cálculo, construindo
uma partição
Pn = {A = z0 , z1 , z2 , . . . , zn = B}
do contorno C e calculando as diferenças ∆zk = zk −zk−1 para k = 1, 2, . . . , n.
Em seguida, escolhemos um ponto zk∗ qualquer de C cada par de pontos zk−1
e zk e calculamos a sua imagem pela função f . Formamos, agora, a soma de
Riemann desta partição
n
S(Pn ) = f (zk∗ )∆zk . (5.6)
X

k=1

Suponhamos agora que exista um único L ∈ C que seja o limite da sequência


S(Pn ) de somas de Riemann definida na Equação (5.6), onde o maior valor
|∆zk | tende a zero para cada sequência de partições. Nessas condições, o
número L é definido como o valor da integral de f ao longo do contorno
C. Em símbolos,
Z n
f (z) dz = lim f (zk∗ )∆zk . (5.7)
X
C n→+∞
k=1
5.2. INTEGRAL DE CONTORNO 95

Exemplo 5.10. Obtenha um valor aproximado para C ez dz, onde C é o


R

segmento de reta que liga o ponto A = 0 ao ponto B = 2 + πi/4.


Solução. Faremos n = 8 na Equação (5.6) e construiremos a partição
k kπ
P8 = + i, k = 0, 1, . . . , 8.
4 32
Neste caso teremos um incremento uniforme e igual a ∆zk = 1/4 + πi/32.
Por conveniência, escolhemos
zk + zk−1 2k − 1 (2k − 1)π
zk∗ = = + i, k = 1, 2, . . . , 8.
2 8 64
Calculando a soma de Riemann, obtemos
8 8
2k − 1 (2k − 1)π 1
" #
π

S(P8 ) = f (zk∗ )∆zk = exp + + i .
X X
i
k=1 k=1 8 64 4 32

Considerando duas casas decimais chegamos ao valor

S(P8 ) ≈ (0, 28 + 0, 13i) + (0, 33 + 0, 19i) + · · · + (0, 78 + 1, 57i) ≈ 4, 23 + 5, 20i

Como se vê no exemplo precedente é muito trabalhoso calcular a integral


a partir de somas de Riemann. Por isso vamos desenvolver um método mais
prático.
Teorema 5.11. Sejam f uma função de uma variável complexa contínua
definida em um domínio D e z(t) = x(t) + y(t), para a ≤ t ≤ b, a parame-
trização da curva suave C. Então
Z Z b
f (z) dz = f (z(t))z 0 (t) dt.
C a

Demonstração. Ponhamos f (z) = u + vi, ∆z = ∆x + i∆y e façamos o


||P || → 0 na Equação (5.7). Para não sobrecarregar a notação, omitiremos
a variável t e os índices. Segue que
Z
f (z) dz = lim (u + vi)(∆x + i∆y)
X
C
hX i
= lim (u∆x − v∆y) + i (v∆x + u∆y) ,
X

ou ainda,
Z Z Z
f (z) dz = u dx − v dy + i v dx + u dy. (5.8)
C C C
96 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Para calcular as integrais de linha reais que obtivemos acima, usamos as


equações paramétricas de z da seguinte forma

x = x(t) ⇒ dx = x0 (t) dt
.
y = y(t) ⇒ dy = y 0 (t) dt

Logo,
Z Z b Z b
f (z) dz = [u(x, y)x − v(x, y)y ]dt + i
0 0
[v(x, y)x0 + u(x, y)y 0 ]dt
C a a

e agora juntamos as integrais e fatoramos


Z Z b
f (z) dz = [u(x, y) + iv(x, y)][x0 (t) + iy 0 (t)]dt.
C a

Portanto, Z Z b
f (z) dz = f (z(t))z 0 (t) dt.
C a


A demonstração dada no teorema precedente é, na verdade, apenas um


esboço, pois alguns detalhes foram omitidos. Vale ressaltar ainda que ele
reduz o cálculo de uma integral de contorno em uma integral do tipo que
aparece na Equação (5.2).

Exemplo 5.12. Calcular C ez dz, onde C é o segmento de reta que liga o


R

ponto A = 0 ao ponto B = 2 + πi/4.

Solução. Usando a Equação (5.5), temos


πi πi
   
z(t) = 2 + t ⇒ dz = 2 + dt
4 4
para 0 ≤ t ≤ 1. Pelo teorema que acabamos de ver,
Z 1
πi πi
Z    
e dz =
z
exp 2+ t 2+ dt
C 0 4 4
πi 1 πi
    
= exp 2+ t = exp 2 + − 1.
4 0 4
Use uma calculadora para saber o valor desta expressão e compare com o
resultado do Exemplo 5.10. 
5.2. INTEGRAL DE CONTORNO 97
Z
Exemplo 5.13. Calcule z dz do ponto z = 0 até ponto z = 4 + 2i, ao
C
longo da curva C é:

a) a curva z(t) = t2 + ti.

b) um segmento de reta.

Solução. a) Inicialmente, notemos que os pontos z = 0 e z = 4 + 2i corres-


pondem respectivamente aos valores t = 0 e t = 2. Pelo Teorema 5.11,
Z Z 2 Z 2
8
z dz = (t2 + ti)(2t + i) dt = (2t3 + 2t − t2 i) dt = 10 − i.
C 0 0 3
b) Da Equação (5.5), vem

z(t) = (4 + 2i)t, 0≤t≤1 ⇒ dz = (4 + 2i) dt.

Segue que
Z Z 1 Z 1
z dz = (4 + 2i)t (4 + 2i) dt = 20t dt = 10.
C 0 0


Z
Exemplo 5.14. Calcule z 2 dz do ponto 0 ao ponto 1 + i, onde C é para-
C
metrizada por:

a) z(t) = t + ti.

b) z(t) = t + t3 i.

Solução. a) Esta parametrização fornece dz = (1 + i) dt e a integral de


contorno se torna
Z Z 1
2 2
z 2 dz = (−2 + 2i)t2 dt = − + i.
C 0 3 3
b) Para este caso obtemos dz = (1 + 3t2 i) dt. Logo,
Z Z 1
2 2
z 2 dz = (−7t6 + t2 − 3t8 i + 5t4 ) dt = − + i.
C 0 3 3


As integrais de contorno tem propriedades operatórias análogas às das


funções que estudamos na seção precedente.
98 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Teorema 5.15. Sejam f e g duas funções contínuas em um domínio D, C


uma curva contida em D. Então:
Z Z Z
i) [kf (z) + g(z)] dz = k f (z) dz + g(z) dz.
C C C
Z Z
ii) f (z) dz = − f (z) dz.
−C C
Z Z Z
iii) f (z) dz = f (z) dz + f (z) dz,
C C1 C2

onde C1 e C2 são curvas suaves tais que o ponto final de C1 coincide com o
ponto inicial de C2 .
Z
Exemplo 5.16. Calcule z dz, onde C é o contorno indicado na Figura
C
5.2.

C2
C1 1 C3
−1 1

Figura 5.2: Contorno do Exemplo 5.16.

Solução. O contorno C por ser parametrizado por

z1 (t) = −1 + ti, 0 ≤ t ≤ 1,
z2 (t) = t + i, −1 ≤ t ≤ 1,
z3 (t) = 1 + (1 − t)i, 0 ≤ t ≤ 1.

Pelo item (iii) do teorema precedente,


Z Z Z Z
z dz = z dz + z dz + z dz
C C1 C2 C3
Z 1 Z 1 Z 1
= (−1 + ti) · i dt + (t + i) · 1 dt + [1 + (1 − t)i](−i) dt.
0 −1 0

Simplificando e separando o lado direito em partes real e imaginária


Z Z 1 Z 1 Z 1 Z 1
z dz = (1 − 2t) dt − i 2 dt + t dt + i dt = 0.
C 0 0 −1 −1
5.2. INTEGRAL DE CONTORNO 99

Observação: O contorno C3 poderia também ser parametrizado por z4 (t) =


1+ti, com 0 ≤ t ≤ 1. Neste caso o contorno seria traçado no sentido contrário
da orientação descrita na Figura 5.2. Assim, para calcular a integral dada,
teríamos que usar o itens (ii) e (iii) do Teorema 5.15 da seguinte forma
Z Z Z Z
z dz = z dz + z dz − z dz
C C1 C2 −C3
Z 1 Z 1 Z 1
= (−1 + ti) · i dt + (t + i) · 1 dt − (1 + ti)i dt
0 −1 0
Z 1 Z 1 Z 1
= −i 2 dt + t dt + i dt = 0.
0 −1 −1

Pode-se demonstrar que a parametrização que você escolhe não interfere no


cálculo da integral de contorno, desde que você observe se ela mantem ou
reverte a orientação do contorno. 

Tal como para as integrais discutidas na seção precedente, é possível obter


uma desigualdade importante envolvendo as integrais de contorno. Antes,
porém, introduzir um conceito.
O comprimento da curva C, parametrizada pela Equação (5.4), é defi-
nido por Z b
L= |z 0 (t)| dt.
a
Se C é suave por partes, o comprimento de C é soma dos comprimentos de
cada parte.
Exemplo 5.17. Determinar o comprimento da circunferência do Exemplo
5.8.
Solução. Temos
q
|z 0 (t)| = (−r sen t)2 + (r cos t)2 = r.
Logo, Z 2π
L= r dt = 2πr.
0
Obtemos, assim, o mesmo resultado da Geometria Plana.

Teorema 5.18 (Desigualdade ML). Seja f é uma função integrável em


um contorno C e que exista um número real positivo M tal que |f (z)| ≤ M .
Então Z
f (z) dz ≤ M L,


C
onde L é o comprimento do contorno C.
100 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Demonstração. Passando o módulo no Teorema 5.11 e usando a desigual-


dade dada no Teorema 5.4, temos
Z
Z b
f (z) dz = f (z(t))z (t) dt
0



C a
Z b Z b
≤ |f (z(t))z (t)| dt ≤
0
M |z 0 (t)| dt = M L.
a a

Exemplo 5.19. Mostre que


1 1
Z
dz ≤ √ ,



C z +1
2
2 5
onde C é o segmento de reta que liga os pontos z1 = 2 e z2 = 2 + i.

Solução. Notemos que |z 2 + 1| = |z − i||z + i|, sendo que |z − i| e |z + i|


correspondem às distâncias de z aos pontos i e −i, respectivamente. Pela
Figura 5.3, podemos observar que

|z − i| ≥ 2 e |z + i| ≥ 5.

Isso nos dá
1 1
|f (z)| = ≤ √ = M.
|z − i||z + i| 2 5
Por outro lado, temos que o comprimento de C é L = 1 e, usando a Desi-
gualdade ML, concluímos que
1 1 1
Z
≤ ML = √ · 1 = √

dz

C z +1
2
2 5 2 5


5.3 Teorema de Cauchy-Goursat


vVideoaula (Parte 1)

O objetivo desta seção é mostrar que em alguns domínios a integral de


contorno ao longo de uma função analítica é zero.
Lembre-se que uma curva fechada simples C divide o plano complexo em
dois domínios distintos: o interior de C e o exterior de C, que é ilimitado.
5.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 101

2
1
|z − i| C
z

|z + i| 2

5
−1

Figura 5.3: As distâncias |z − i| e |z − i| e o contorno C.

Um domínio D é um conjunto aberto e conexo. Geometricamente, isto


significa que quaisquer dois pontos de D podem ser interligados por uma
curva inteiramente contida em D. Diremos que D é um domínio sim-
plesmente conexo quando o interior de qualquer contorno fechado simples
contido em D também está contido em D. Dito de outro modo, o domínio
simplesmente conexo D não apresenta “buracos”. Caso contrário, diremos
que D é um domínio multiplamente conexo

Figura 5.4: Domínio simplesmente Figura 5.5: Domínio multipla-


complexo. mente conexo.

O teorema a seguir nos auxiliará no tema desta seção. Sua demonstração


pode ser encontrada em livros de Cálculo de Funções de Várias Variáveis.

Teorema 5.20. (Green) Seja K ⊂ R2 um fechado e limitado, com interior


não vazio, cuja fronteira é imagem de uma curva γ : [a, b] → R2 , fechada,
simples, C 1 por partes e orientada no sentido anti-horário. Sejam P e Q de
102 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

classe C 1 num aberto contendo K. Nestas condições,


!
Z ZZ
∂Q ∂P
P dx + Q dy = − dxdy
γ K ∂x ∂y

Outro resultado que será útil nesta seção é atribuído ao alemão George
Cantor (1845 – 1918).
Teorema 5.21. (Cantor) Sejam K1 , K2 . . . , Kn , . . . conjuntos fechados e
limitados não-vazios tais que Ki ⊃ Kj para i < j. A interseção

K=
\

λ=1

é fechada, limitada e não-vazia.

Agora vamos ao principal resultado desta seção que é o Teorema de


Cauchy-Goursat. O matemático francês Augustin-Louis Cauchy (1789 –
1857) provou inicialmente esse teorema, mas com a hipótese adicional em
que f é de classe C 1 , isto é, tem a derivada contínua. Anos mais tarde,
seu conterrâneo, Édouard Jean-Baptiste Goursat (1858 – 1936), conseguiu
provar sem usar a continuidade de f 0 .
Teorema 5.22. (Cauchy-Goursat) Seja f é uma função analítica em do-
mínio simplesmente conexo D. Se C é um contorno fechado simples contido
em D, então Z
f (z) dz = 0.
C

Demonstração. (Cauchy) Suponhamos que f seja de classe C 1 . Aplicando


o Teorema de Green às integrais de linha da Equação (5.8), teremos
!
Z ZZ
∂v ∂u
u dx − v dy = − − dxdy
C K ∂x ∂y
(onde P = u e Q = −v) e
!
Z ZZ
∂u ∂v
v dx + u dy = − dxdy,
C K ∂x ∂y
(em que P = v e Q = u). Levando esses resultados na Equação (5.8) e,
usando as Equações de Cauchy-Riemann (ux = vy e uy = −vx ), podemos
concluir que Z ZZ ZZ
f (z) dz = dxdy + i dxdy = 0
C K K
5.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 103

Demonstração. (Goursat) Dividiremos essa demonstração em três casos.


1º Caso: Seja C = γ1 +γ2 +γ3 um contorno triangular. Vamos construir um
novo triângulo, cujos vértices são os pontos médios de cada lado do contorno
C (Figura 5.6). Dessa forma, temos quatro contornos triangulares C1 , C2 ,
C3 e C4 , todos com orientação positiva. Então
Z 4 Z
f (z) dz = f (z) dz.
X
C k=1 Ck

Vamos escolher C(1) dentre os contornos C1 , C2 , C3 e C4 de modo que valha


a desigualdade
Z 4 Z Z
X
f (z) dz f (z) dz 4 f (z) dz , (5.9)

≤ ≤


C
k=1 Ck C(1)

onde, na passagem da segunda desigualdade, usamos a Desigualdade Trian-


gular. Observe que C(1) é o contorno que tem o maior módulo. Segue da
Geometria Plana que
1
L(Ck ) = L(C), k = 1, 2, 3, 4.
2
Em particular
1
L(C(1) ) = L(C).
2
Vamos repetir o procedimento para o contorno triangular C(1) . Então vamos
tomar os pontos médios de cada lado e construir um novo contorno triangular.
Dessa forma, a região triangular C(1) ficou subdividida em outras 4 regiões
triangulares. Adotando a orientação positiva e denotando por C(2) o contorno
de maior módulo dentre os contornos dessas quatro regiões novas, a região
delimitada pelo contorno C(2) está contida na região delimitada pelo contorno
C(1) e a Desigualdade (5.9) se torna
Z Z

f (z) dz 42 f (z) dz .



C C(2)

e, além disso,
1 1 2
 
L(C(2) ) = L(C(1) ) = L(C).
2 2
Após n etapas, teremos uma região triangular delimitada pelo contorno C(n)
contida na região delimitada pelo contorno C(1) e a desigualdade
Z Z

f (z) dz ≤4 n
f (z) dz (5.10)



C C(n)
104 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

e
1
 n
L(C(n) ) =
L(C).
2
Pelo Teorema de Cantor, existe um ponto z0 comum a todas as regiões tri-
angulares. Pois bem, como D é simplesmente conexo e z0 ∈ D, então f é
analítica em z0 . Pelo Teorema 3.8, existe uma função µ tal que

f (z) = f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + µ(z)(z − z0 ),

onde µ → 0 quando z → z0 . Agora, a integral de contorno fica


Z Z
f (z) dz = [f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + µ(z)(z − z0 )] dz
C(n) C(n)
Z Z
= [f (z0 ) − f 0 (z0 )z0 ] dz + f 0 (z0 ) z dz
C(n) C(n)
Z
+ µ(z)(z − z0 ) dz.
C(n)

As duas primeiras integrais no segundo membro da igualdade precedente são


zero, pelo Teorema 5.11. Daí
Z Z
f (z) dz = µ(z)(z − z0 ) dz. (5.11)
C(n) C(n)

Como lim µ(z) = 0 quando z tende a z0 , dado qualquer  > 0, podemos


encontrar um δ > 0 tal que
2
|z − z0 | < δ ⇒ |µ(z)| < .
[L(C)]2
Escolhamos n suficientemente grande tal que C(n) ⊂ Dδ (z0 ), conforme mostra
a Figura 5.7. Como a distância entre z0 e um ponto z qualquer da região de-
limitada pelo contorno C(n) é menor do que o semiperímetro desse contorno,
teremos
1 1 1 1
 n  n+1
|z − z0 | < L(C(n) ) = L(C) = L(C), (5.12)
2 2 2 2
para todo z0 ∈ C(n) . Usando a Equação (5.11) a desigualdade precedente na
Desigualdade (5.10), teremos
Z Z Z

f (z) dz ≤ 4 n
f (z) dz =4 n
− z0 ) dz

µ(z)(z


C C(n) C(n)

2 1
Z Z  n+1
≤ 4n |µ(z)(z − z0 )| dz < 4n L(C) dz,
C(n) C(n) [L(C)]2 2
5.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 105

ou ainda,
2 1
Z Z  n+1
f (z) dz < 4n

dz

C C(n) L(C) 2
e, aplicando Desigualdade M L, onde L é o comprimento do contorno C(n)

2 1 1
Z  n+1  n
f (z) dz <4 n
L(C) = .



C L(C) 2 2

Lembre-se que a integral de contorno é, por definição, um limite e como  é


arbitrário, então Z
f (z) dz = 0.
C
2º Caso: C é a região poligonal A1 A2 . . . An da Figura 5.8. Os segmentos
A1 A3 , A1 A4 , . . . , A1 An−1 dividem C em n − 2 regiões triangulares. As
integrais ao longo dos segmentos A1 A3 e A3 A1 , A1 A4 e A4 A1 , . . . , A1 An−1 e
An−1 A1 cancelam entre si. Logo, pelo caso anterior,
Z Z Z Z
f (z) dz = f (z) dz + f (z) dz + · · · + f (z) dz = 0.
C C1 C2 Cn−2

vVideoaula (Parte 2)

3º Caso: C é uma curva fechada simples qualquer. Suponhamos que C


esteja contida em um domínio D, no qual f é analítica. Vamos escolher n
pontos quaisquer em C que denotaremos por z0 = zn , z1 , z2 , · · · , zn−1 . Seja
P o polígono formado a partir desses pontos e definamos a soma
n
Sn = f (zk )∆zk ,
X

k=1

onde ∆zk = zk − zk−1 . Como


Z
lim Sn = f (z) dz,
n→∞ C

dado  > 0, podemos determinar um índice N ∈ N tal que



Z
f (z) dz (5.13)

n>N ⇒ − Sn < .

C 2
Pelo caso precedente, a integral ao longo do polígono P é dada por
Z z1 Z z2 Z zn
f (z) dz + f (z) dz + · · · + f (z) dz = 0,
z0 z1 zn−1
106 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Na parcela k, somamos e subtraímos f (zk ), k = 1, . . . , n, dentro da integral,


Z z1 Z zn
[f (z) − f (z1 ) + f (z1 )] dz + · · · + [f (z) − f (zn ) + f (zn )] dz = 0,
z0 zn−1
Z z1 Z zn
[f (z) − f (z1 )] dz + · · · + [f (z) − f (zn )] dz + Sn = 0,
z0 zn−1

ou seja,
Z z1 Z zn
Sn = [f (z1 ) − f (z)] dz + · · · + [f (zn ) − f (z)] dz. (5.14)
z0 zn−1

Escolhemos N suficientemente grande de modo que nos lados de C tenhamos


 
|f (z1 ) − f (z)| < , ..., |f (zn ) − f (z)| < . (5.15)
2L(C) 2L(C)

Agora vamos passar o módulo em na Equação (5.14) e usar a Desigualdade


Triangular. Assim,
Z z Z
1
zn
[f (z1 ) − f (z)] dz + · · · + [f (zn ) − f (z)] dz .

|Sn | ≤

z0 zn−1

Entramos com as Desigualdades (5.15) para obter


" #
 Z z1 Z zn

|Sn | < dz + · · · + dz

2L z0
zn−1

 
|Sn | < [|z1 − z0 | + · · · + |zn − zn−1 |] = . (5.16)
2L 2
Finalmente, observando que
Z Z
f (z) dz = f (z) dz − Sn + Sn ,
C C

segue da Desigualdades Triangular, (5.11) e (5.16)


 
Z Z
f (z) dz f (z) dz − Sn + |Sn | + = .

≤ <

C

C 2 2
Portanto, como  é arbitrário,
Z
f (z) dz = 0,
C

o que corresponde à Equação (5.7). 


5.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 107

δ
C1
z0
C3 z
C2 C4

Figura 5.6: Contorno C do 1º caso. Figura 5.7: Contorno C(n) do 1º


caso.

A1
A2
An C
zn−1
A3

A4 An−1 zn = z0 z2
z1

Figura 5.8: Contorno C do 2º caso. Figura 5.9: Contorno C do 3º caso.

Exemplo 5.23. Mostre que


Z
f (z) dz = 0,
C

onde f é qualquer uma das funções exponencial, potência, seno ou cosseno e


C é qualquer contorno fechado simples.

Solução. Como funções acima são todas inteiras, basta aplicar o Teorema
de Cauchy-Goursat. 

Agora veremos alguns consequências do Teorema de Cauchy-Goursat. A


primeira delas nos permite, ao calcular a integral sobre um contorno compli-
cado, trocar por um contorno mais simples.

Teorema 5.24. (Deformação de contorno) Sejam C1 e C2 dois contor-


nos fechados simples e orientados positivamente tais que C2 está contido no
interior de C1 e f é uma função analítica em um domínio D que contem os
108 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

contornos C1 e C2 e a região entre eles. Então


Z Z
f (z) dz = f (z) dz.
C1 C2

C1

C2

Figura 5.10: D é a região do Teorema de Deformação de Contorno.

Demonstração. Vamos construir dois contornos L1 e L2 disjuntos. Como


ilustra a Figura 5.11, o contorno C1 foi dividido em C1∗ e C1∗∗ e o contorno
C2 , em C2∗ e C2∗∗ .
Ainda com base naquela figura, vamos montar os seguintes contornos

K1 = C1∗ + L1 + C2∗ + L2
K2 = C2∗∗ − L1 + C1∗∗ − L2

A função f é analítica no domínio simplesmente conexo D1 que contem K1 e


também analítica no domínio simplesmente conexo D2 que contem K2 . Pelo

C1∗

D1
C2∗
L1 L2
−L1 −L2
C2∗∗
D2
C1∗∗

Figura 5.11: Divisão dos contornos C1 e C2 por L1 e L2 .


5.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 109

Teorema de Cauchy-Goursat,
Z Z
f (z) dz = f (z) dz = 0.
K1 K2

Trabalhando com os contornos K1 e K2 , obtemos

K1 + K2 = C1∗ + L1 + C2∗ + L2 + C2∗∗ − L1 + C1∗∗ − L2


= C1∗ + C1∗∗ + C2∗ + C2∗∗
= C1 − C2 .

Tomando as integrais,
Z Z Z Z
f (z) dz + f (z) dz = f (z) dz − f (z) dz
K1 K2 C1 C2

e, portanto, Z Z
f (z) dz = f (z) dz.
C1 C2


O próximo exemplo, além de ser uma consequência do teorema prece-
dente, será útil também no cálculo de integrais.

Exemplo 5.25. Sejam z0 ∈ C e n ∈ Z. Se C é um contorno fechado simples,


orientado positivamente de modo que z0 pertence ao interior de C, mostre
que
0, se n 6= 1
(
Z
dz
= .
C (z − z0 ) n 2πi, se n = 1
Solução. Como z0 ∈ C, podemos escolher r > 0, tal que a circunferência
de raio r com centro em z0 esteja contida no interior de C. Assim, a função
1
f (z) = ,
(z − z0 )n
com n ∈ Z é uma função analítica em um domínio D, contendo as curvas C
e Cr e a região entre elas. Consideremos, agora, a seguinte parametrização
de Cr

Cr : z(θ) = z0 + reiθ , 0 ≤ θ ≤ 2π ⇒ dz = ireiθ dθ.

O Teorema de Deformação de Contorno, então, garante que


Z
dz Z
dz
= .
C (z − z0 ) n Cr (z − z0 )n
110 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Para n 6= 1, obtemos
Z
dz Z 2π
ireiθ Z 2π
= dθ = ir 1−n
ei(1−n)θ dθ
C (z − z0 )n 0 re inθ 0

r1−n i(1−n)θ
= e =0
1−n
0

e para n = 1,
Z
dz Z
dz Z 2π
ireiθ Z 2π
= = dθ = i dθ = 2πi
C z − z0 Cr z − z0 0 reiθ 0

5.4 Teoremas sobre integração


vVideoaula
Nesta seção mostraremos que se uma função complexa é analítica em
um domínio simplesmente conexo, então a sua integral é independente do
caminho. Em outras palavras, qualquer que seja o contorno C que interliga
dois pontos z1 e z2 , o valor da integral é sempre o mesmo. Isso nos permitirá
dispensar a parametrização da curva. Antes de passarmos aos resultados,
denominaremos a função F de primitiva de uma função analítica f aquela
em que
F 0 (z) = f (z)
para z pertencente a um domínio simplesmente conexo D.

Teorema 5.26. (Integral Indefinida) Seja f uma função analítica em um


domínio simplesmente conexo D. Se z1 ∈ D é fixo e C um contorno qualquer
em D com ponto inicial em z1 e ponto final em z, então a função
Z Z z
F (z) = f (z ) dz =
∗ ∗
f (z ∗ ) dz ∗ , (5.17)
C z1

está bem definida, é analítica em D e a primitiva de f .

Demonstração. Inicialmente provaremos que F está bem definida, isto é,


que não depende do contorno escolhido. Para isso tracemos dois contornos
C1 e C2 que interliguem os pontos z1 e z. Observe que o contorno C1 − C2
5.4. TEOREMAS SOBRE INTEGRAÇÃO 111

é fechado, simples e orientado positivamente. Segue do teorema de Cauchy-


Goursat que
Z Z Z
f (z ∗ ) dz ∗ = 0 ⇒ f (z ∗ ) dz ∗ = f (z ∗ ) dz ∗ .
C1 −C2 C1 C2

Fixemos, agora, z e vamos escolher |∆z| suficientemente pequeno tal que


z + ∆z também pertença ao domínio D. Como z está fixado, podemos obter
a constante w ∈ C, para a qual f (z) = w. Consequentemente,
Z z+∆z Z z+∆z
f (z ∗ ) dz ∗ = w dz ∗ = wz ∗ |z+∆z
z = w∆z = f (z)∆z. (5.18)
z z

Sejam γ o segmento de reta ligando os pontos z e z + ∆z, γ1 o contorno


orientado de z1 até z e γ1 o contorno orientado de z1 até z + ∆z. Pela
definição de F ,
Z z+∆z Z z
F (z + ∆z) − F (z) = f (z ∗ ) dz ∗ − f (z ∗ ) dz ∗
z1 z1
Z Z
= f (z ∗ ) dz ∗ − f (z ∗ ) dz ∗
γ2 γ1
Z
= f (z ∗ ) dz ∗ . (5.19)
γ

A partir das Equações (5.18) e (5.19), obtemos


F (z + ∆z) − F (z) 1 1 Z
Z

− f (z) = f (z ) dz −
∗ ∗
f (z) dz



∆z ∆z γ ∆z γ

1 Z
Z
= (z ∗
) ∗
f (z) dz ∗

f dz −
|∆z| γ

γ

1 Z
≤ |f (z ∗ ) − f (z)| dz ∗
|∆z| γ

Sendo f contínua em z, porque é analítica, para todo  > 0, existe um δ > 0


tal que
|z ∗ − z| < δ ⇒ |f (z ∗ ) − f (z)| < ,
o que será verdadeiro se |∆z| < δ. Este fato juntamente com a Desigualdade
M L nos dão
F (z + ∆z) − F (z) 1


− f (z) ≤  |∆z| = ,

∆z |∆z|


112 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Concluímos, portanto, que

F (z + ∆z) − F (z)
lim = f (z) ⇒ F 0 (z) = f (z).
∆z→0 ∆z


Agora você pode entender melhor certos fatos obtidos anteriormente. A


função f (z) = z do Exemplo 5.13 não é analítica e as integrais de contorno
deram resultados diferentes. Pelo teorema que acabamos de provar, não
precisamos mais da parametrização para resolver o Exemplo 5.14 e próximo
teorema conta-nos como podemos proceder.

Teorema 5.27. (Integral Definida) Seja f uma função analítica em um


domínio simplesmente conexo D. Dados quaisquer z1 , z2 ∈ D interligados
por um contorno qualquer em C, então
Z Z z2
f (z) dz = f (z) dz = F (z2 ) − F (z1 ), (5.20)
C z1

onde F é a primitiva de f em D.

Demonstração. Seja F dala pela Equação (5.17). Isso garante a validade


da Equação (5.20). Mostremos agora que a função F é única a menos de
uma constante. De fato, seja G outra primitiva de f em D. Por definição,
temos G0 (z) = f (z), para qualquer z ∈ D. Definamos a função

H(z) = G(z) − F (z).

É claro que H é analítica em D e, além disso, H 0 (z) = 0. Logo, pelo Teorema


3.29(ii), existe uma constante c ∈ C tal que H(z) = c e, portanto,

G(z) = F (z) + c.

Com esse resultado, podemos calcular a integral de contorno a partir


da primitiva e, assim, estendemos o Teorema Fundamental do Cálculo para
integrais de linha para o caso complexo.

Exemplo 5.28. Calcular C (z


2
+ z −2 ) dz, onde C é o segmento que liga os
R

pontos i e 1 + i.
5.4. TEOREMAS SOBRE INTEGRAÇÃO 113

Solução. A função f (z) = z 2 é inteira e a função g(z) = z −2 é analítica


no domínio no disco aberto D1/2 (1 + i/2), que é um domínio simplesmente
conexo. Note que a origem, onde g não é analítica, não pertence a esse disco.
Suas primitivas são, respectivamente, as funções F (z) = z 3 /3 e G(z) = 1/z.
Pelo teorema precedente,
#1+i
z3 1 7 1
Z Z 1+i "
(z + z ) dz =
2 −2
(z + z ) dz =
2 −2
− = − + i.
C i 3 z i
9 2


Exemplo 5.29. Seja z o ramo principal da função raiz quadrada. Calcular
Z
1
√ dz,
C 2 z

onde C é o segmento que liga os pontos 9 e 3 + 4i.

Solução. Notemos que o segmento dado está contido no domínio sim-


1
plesmente conexo D4 (6 + 2i). Como f (z) = √ é analítica nesse disco,
2 z
temos
1 √ 3+4i √  3 4
Z 
√ dz = z = 5 cos + i sen − 3.
C 2 z 9 5 5


Exemplo 5.30. (Integral Por Partes) Sejam f e g analíticas para todo z


e seja C um contorno qualquer ligando os pontos z1 e z2 . Mostre que
Z Z
f (z)g (z) dz = f (z2 )g(z2 ) − f (z1 )g(z1 ) −
0
f 0 (z)g(z) dz.
C C

Solução. Reescrevemos a fórmula de derivação do produto (Teorema


3.14(iii)) como
f (z)g 0 (z) = [f (z)g(z)]0 − f 0 (z)g(z)
e a mesma fórmula nos diz que f 0 g + f g 0 é a primitiva de (f g)0 . Aplicando o
Teorema da Integral Definida, obtemos o resultado. 

O exemplo precedente mostra que a integração por partes também se


aplica às funções de uma variável complexa.
114 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

5.5 Fórmula Integral de Cauchy


vVideoaula
Teorema 5.31. (Fórmula Integral de Cauchy) Sejam f uma função
analítica em um domínio simplesmente conexo D e C um contorno fechado
simples orientado positivamente e contido em D. Se o ponto z0 pertence ao
interior de C, então
1 Z f (z)
f (z0 ) = dz
2πi C z − z0
Demonstração. Seja
C0 = {z ∈ D; |z − z0 | = δ/2} ⊂ C.
Por hipótese, f é analítica em z0 . Logo, será contínua nesse ponto e, por
isso, dado qualquer  > 0, deve existir δ > 0 tal que
|z − z0 | < δ ⇒ |f (z) − f (z0 )| < . (5.21)
Como f (z0 ) está fixado, podemos multiplicá-lo em ambos os membros do
resultado do Exemplo 5.25 para obter
1 Z f (z0 )
f (z0 ) = dz. (5.22)
2πi C z − z0
Pelo Teorema de Deformação de Contorno, obtemos
Z
f (z0 ) Z
f (z0 )
dz = dz (5.23)
C z − z0 C0 z − z0

Usando as Equações (5.22) e (5.23) e as propriedades de integral, segue que


1 Z f (z) 1 Z f (z) 1 Z f (z0 )


dz − f (z0 ) = dz − dz

2πi C z − z0 2πi C0 z − z0 2πi C0 z − z0

1 f (z) − (z0 )
Z

= dz

2π z − z0

C0

1 Z |f (z) − (z0 )|
= dz.
2π C0 |z − z0 |
Entrando com as Desigualdades (5.21) e a Desigualdade M L,
1 Z f (z)

 δ
dz − f (z0 ) < δ · 2π · = ,

2πi C z − z0 2π 2 2

o que conclui a demonstração, pois  pode ser tomado arbitrariamente pe-


queno. 
5.5. FÓRMULA INTEGRAL DE CAUCHY 115
Z
ez
Exemplo 5.32. Calcule , onde C é a circunferência centrada na
C z−2
origem e raio 3.

Solução. Seja f (z) = ez . O ponto z = 2 pertence ao interior de C e


f (2) = e2 . Segue da Fórmula Integral de Cauchy que

1 Z f (z) Z
f (z)
e2 = dz ⇒ dz = 2πe2 i.
2πi C z − z0 C z − z0

Z
cos πz
Exemplo 5.33. Calcule , onde C é o retângulo com vértices nos
C z2 − 1
pontos ±i e 2 ± i.

Solução. Inicialmente, devemos observar que z 2 − 1 = (z − 1)(z + 1), onde


apenas ponto z = 1 pertence ao interior de C. Façamos, então,
cos πz
f (z) = e z0 = 1.
z+1
Usando a Fórmula Integral de Cauchy
Z
cos πz cos π
= 2πi · f (1) = 2πi · = −πi.
C z −1
2 1+1


Agora vejamos uma consequência importante da Fórmula Integral de Cau-


chy.

Teorema 5.34. (Fórmula Integral de Cauchy para Derivadas) Sejam


f uma função analítica em um domínio simplesmente conexo D e C um con-
torno fechado simples positivamente orientado. Se z é um ponto pertencente
ao interior de C, então

n! Z f (w)
f (n)
(z) = dw,
2πi C (w − z)n+1

para qualquer n natural.

Demonstração. Notemos que f (0) (z) = f (z) e caso n = 0 equivale a


Fórmula Integral de Cauchy. Suponhamos, agora, que n = 1. Podemos obter
r > 0 tal que a circunferência γ centrada em z e formada pelos pontos w
116 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

para os quais |w − z| = r esteja contida no interior de C e seja h de modo


z + h pertença ao interior de γ. Pela Fórmula Integral de Cauchy, obtemos
f (z + h) − f (z) 1 Z 1 f (w) f (w)
" #
= − dw, (5.24)
h 2πi C h w − (z + h) w − z
sendo que
1 f (w) f (w) f (w)
" #
− = .
h w − (z + h) w − z [(w − (z + h)](w − z)
Multiplicando ambos membros desta identidade por h/(w − z) e isolando a
primeira fração, vem
f (w) f (w) hf (w)
= + ,
[(w − (z + h)](w − z) (w − z) 2 [(w − (z + h)](w − z)2
e, assim, a Equação (5.24) se torna
f (z + h) − f (z) 1 Z f (w) hf (w)
" #
= + dw. (5.25)
h 2πi C (w − z) 2 [(w − (z + h)](w − z)2
Passando o limite quando h → 0, o resultado ficará provado desde que pro-
vemos que o segundo integrando tenda a zero. De fato, pelo Teorema de
Deformação de Contorno,
Z
hf (w) Z
hf (w)
dw = dw.
C [(w − (z + h)](w − z)2 γ [(w − (z + h)](w − z)2

Vamos escolher h suficientemente pequeno tal que |h| < 2δ . Das propriedades
de módulo,
r r
|w − (h + z)| ≥ |w − z| − |h| > r − = .
2 2
Além disso, como f é analítica, a sua continuidade garante a existência de
uma constante positiva K tal que |f (w)| ≤ K. Segue das propriedades de
integral e da Desigualdade M L que
1 Z hf (w) dw 2|h| · K

|h| · K
< r · 2πr = ,

2πi γ [(w − (z + h)](w − z)2 2πr · 2
2 r2

isto é, o módulo da segunda integral da Equação (5.25) é menor que um


número positivo, o que significa que a integral lá dentro tende a zero quando
h se aproxima de zero e tal equação se reduz a
1 Z f (w)
f 0 (z) = dw.
2πi C (w − z)2
5.5. FÓRMULA INTEGRAL DE CAUCHY 117

Portanto, o resultado é válido no caso n = 1. Usando a equação precedente


e o raciocínio utilizado para a sua dedução, pode-se construir uma fórmula
análoga para f 00 . Isto ficará como exercício, assim como a fórmula para o
caso geral. 

As duas fórmulas integrais simplificam bastante a solução do Exemplo


5.25, pois para f (z) = 1, a primeira fórmula fornece
1 Z dw Z
dw
1= ⇒ = 2πi
2πi C w − z C w−z
e como f (n−1) (z) = 0, segue da segunda fórmula que
(n − 1)! Z dw Z
dw
0= ⇒ = 0.
2πi C (w − z)n−1+1 C (w − z)n
Vejamos agora duas consequências da Fórmula Integral de Cauchy para
derivadas.
Corolário 5.1. Se f uma função analítica em um domínio D, então para
todo inteiro n ≥ 0, todas as derivadas f (n) (z) existem para z ∈ D.
Solução. Para cada z0 ∈ D, existe um disco fechado centrado em z0 e raio
r contido em D. Escolhendo C como sendo a circunferência centrada em z0
e raio r, decorre da Fórmula Integral de Cauchy para derivadas a existência
de f (n) (z0 ) para todo inteiro n ≥ 0 e, portanto f (n) é analítica em D. 

O corolário precedente mostra uma importante diferença entre as funções


reais e as funções complexas. Acabamos de ver que se f é analítica em um
domínio D, então todas as derivadas de f existem! Já o mesmo não se pode
dizer, por exemplo, em relação à terceira derivada de f (x) = x7/3 no intervalo
aberto ] − 1, 1[. O próximo corolário é resultado usado na demonstração do
Teorema 3.30.
Corolário 5.2. Se u é uma função harmônica em todo ponto (x, y) em
um domínio D, então todas as derivadas parciais ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂ 2 u/∂x2 ,
∂ 2 u/∂x∂y e ∂ 2 u/∂y 2 existem e são funções harmônicas.
Demonstração. Dado qualquer ponto z0 = (x0 , y0 ) ∈ D, existe um número
real r tal que o disco de raio r e com centro em z0 está contido em D. Pelo
Teorema 3.32, neste disco existe uma função harmônica conjugada v tal que
a função f (z) = u + vi é analítica. Segue das Equações de Cauchy-Riemann
que
∂u ∂v ∂v ∂u
f 0 (z) = + i= − i, ∀z ∈ Dr (z0 ).
∂x ∂x ∂y ∂y
118 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

O Corolário 5.1 garante a existência e a analiticidade de f 0 . Pelo Teorema


3.30, as funções ux e uy são harmônicas. Agora basta repetir o raciocínio. O
corolário nos dá a analiticidade de f 00 , onde

∂ 2u ∂ 2v ∂ 2v ∂ 2v
f 00 (z) = + i = − i,
∂x2 ∂x2 ∂y∂x ∂y∂x
com a segunda igualdade como consequência das Equações de Cauchy-Riemann
e ainda
∂ 2v ∂ 2y
f 00 (z) = 2 − 2 i.
∂y ∂y
Por fim, combinamos novamente os Teoremas 3.30 e 3.32 para concluir que
as derivadas de segunda ordem de u também são harmônicas no mesmo
disco. 

5.6 Morera, Liouville e outros


vVideoaula
O primeiro resultado desta seção foi provado em 1889 pelo italiano Gia-
cinto Morera (1856 – 1909) e é uma espécie de recíproca parcial do Teorema
de Cauchy-Goursat.

Teorema 5.35. (Morera) Seja f uma função contínua em um domínio


simplesmente conexo D. Se,
Z
f (z) dz = 0,
C

para qualquer contorno fechado C contido em D, então f é analítica em D.

Demonstração. Escolhendo z1 ∈ D e definindo a função


Z z
F (z) = f (z ∗ ) dz ∗ ,
z1

onde a integral é calculada ao longo do contorno de qualquer com ponto


inicial em z1 e ponto final em z (lembre-se da demonstração do Teorema
5.17). Como f é contínua, para qualquer  > 0, podemos obter δ > 0 tal
que |z ∗ − z| < δ implica |f (z ∗ ) − f (z)| < . Seguindo, ainda, a demonstração
daquele teorema também garante que F 0 (z) = f (z), isto é, F é analítica.
Pelo Corolário 5.1, as funções F 0 e F 00 são analíticas. Portanto, a função
f 0 (z) = F 00 (z) existe e, por isso, f é analítica. 
5.6. MORERA, LIOUVILLE E OUTROS 119

Teorema 5.36. (Valor médio de Gauss) Se f uma função contínua em


um domínio simplesmente conexo D, contendo a circunferência de raio r e
centrada no ponto z0 , então
1 Z 2π
f (z0 ) = f (z0 + reiθ ) dθ.
2π 0
Demonstração. A circunferência pode ser parametrizada por

C : z(θ) = z0 + reiθ , 0 ≤ θ ≤ 2π ⇒ dz = ireiθ dθ. (5.26)

Agora basta aplicar a Fórmula Integral de Cauchy e chegamos a

1 Z 2π f (z0 + reiθ ) iθ 1 Z 2π
f (z0 ) = ire dθ = f (z0 + reiθ ) dθ.
2πi 0 reiθ 2π 0

Vejamos mais um importante resultado.
Teorema 5.37. (Módulo máximo) Seja f analítica e não constante em
um domínio simplesmente conexo D. Então |f (z)| não atinge valor máximo
em nenhum ponto z0 ∈ D. Dito de outro modo, não existe z0 ∈ D tal que
|f (z)| ≤ |f (z0 )|.
Demonstração. Vamos argumentar pela contrapositiva. Assim provare-
mos que se existe z0 ∈ D tal que

|f (z)| ≤ |f (z0 )|, (5.27)

então f é constante. De fato, dada uma circunferência C com raio R, centro


em z0 e contida em D. Usando sucessivamente o Teorema do Valor Médio
de Gauss e a desigualdade M L, vem
1 Z 2π 1 Z 2π

|f (z0 )| = f (z0 + reiθ ) dθ ≤ |f (z0 + reiθ )| dθ, (5.28)

2π 0 2π 0
onde 0 ≤ r ≤ R. Observe que o integrando no segundo membro da Desi-
gualdade (5.28) é uma função real na variável θ. Pela Desigualdade (5.27),
obtemos
1 Z 2π 1 Z 2π
|f (z0 + re )| dθ ≤

|f (z0 )| dθ = |f (z0 )|, (5.29)
2π 0 2π 0
onde 0 ≤ r ≤ R. Segue da Desigualdades (5.28) e (5.29) que
1 Z 2π
|f (z0 )| = |f (z0 + reiθ )| dθ,
2π 0
120 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

ou seja,

1 Z 2π h i
|f (z0 )| − |f (z0 + reiθ )| dθ = 0, 0 ≤ r ≤ R. (5.30)
2π 0
No cálculo de funções de uma variável real, aprendemos que se a integral
de uma função contínua e não-negativa sobre um intervalo é zero, então essa
função é identicamente nula. A desigualdade (5.27) garante que o integrando
da Equação (5.30) cumpre com essa condição, logo

|f (z0 + reiθ )| = |f (z0 )|, 0 ≤ r ≤ R, 0 ≤ θ ≤ 2π.

Isso nos diz que o módulo da função analítica f é constante em um disco


fechado. Decorre do Teorema 3.29(i) que

f (z) = f (z0 ),

no disco fechado de centro em z0 e raio R. Seja z ∗ ∈ D um ponto qualquer


e C um contorno em D ligando os pontos z0 e z ∗ . Denotemos por 2d a
distância mínima de C à fronteira de D. Nessas condições, podemos obter
uma sequência de pontos z0 , z1 , . . . , zn = z ∗ pertencentes à curva C, com
|zk − zk−1 | ≤ d e tais que os discos

Dk = {z ∈ C; |z − zk | ≤ d}, k = 0, 1, . . . , n.

estejam todos contidos em D e cubram a curva C. Cada disco Dk contem


o centro zk+1 do disco seguinte Dk+1 (veja a Figura 5.12). Em particular,
z1 ∈ D e pela Equação (5.30) segue que |f (z)| atinge o seu valor máximo em
z1 . Com a mesma ideia usada nesta demonstração, podemos chegar à

f (z) = f (z1 ) = f (z0 ), ∀ z ∈ D1

e, por indução,

f (z) = f (zk+1 ) = f (zk ), ∀ z ∈ Dk+1 , 0≤k <n−1

e isso nos dá f (z ∗ ) = f (z0 ). Portanto, f é constante. 

O teorema que acabamos de provar pode ser reformulado nos seguintes


termos: Seja f uma função analítica e não constante em um domínio limitado
D. Se f é contínua em uma região R formada por D e sua fronteira, então
|f (z)| assume valor máximo apenas nos pontos da fronteira.
5.6. MORERA, LIOUVILLE E OUTROS 121

z0
zn
z1
z2 zn−1

Figura 5.12: Os discos Dk ⊂ D do Teorema do Módulo Máximo.

Teorema 5.38. (Desigualdade de Cauchy) Seja f analítica em um do-


mínio simplesmente conexo D, contendo a circunferência Cr de centro no
ponto z0 e raio r. Se f é limitada por M em Cr , então
M n!
|f (n) (z0 )| ≤ , n = 1, 2, 3, . . .
rn
Demonstração. Vamos parametrizar Cr conforme a Equação (5.26) e usar
a Fórmula Integral de Cauchy para derivadas. Temos
n! Z f (z)
f (n)
(z0 ) = dz
2πi Cr (z − z0 )n+1
Passando o módulo nessa igualdade, usando o fato de que |z − z0 | = r e
aplicando a Desigualdade M L obtemos
f (z)

n! Z n! M n!
|f (n)
(z0 )| = dz ≤ · M · 2πr =

2πi Cr rn+1 2πrn+1 rn


Teorema 5.39. (Liouville) Se f é inteira e limitada em todo o plano com-
plexo, então f é constante.
Demonstração. Por hipótese, existe uma contate real positiva M tal que
|f (z0 )| ≤ M , para todo z0 ∈ C. Seja C a circunferência parametrizada pela
Equação (5.26) e façamos n = 1 na Desigualdade de Cauchy. Então
M M
|f 0 (z0 )| ≤ ⇒ lim |f 0 (z0 )| ≤ lim = 0.
r r→∞ r→∞ r

Assim, devemos ter f 0 (z0 ) = 0. Como z0 foi escolhido arbitrariamente e f é


inteira, segue do Teorema 3.29(i) que f é constante 
122 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

Exemplo 5.40. Mostre que a função seno é ilimitada

Solução. Pelo Teorema 4.19, a função seno é inteira e pelo teorema pre-
cedente se o seno fosse limitado, então obrigatoriamente seria também cons-
tante, o que não é o caso. Portanto, o seno é ilimitada. 

Encerramos este capítulo com uma aplicação interessante do Teorema de


Liouville na Álgebra.

Teorema 5.41. (Teorema Fundamental da Álgebra) Todo polinômio


P de grau n ≥ 1 tem pelo menos uma raiz complexa.

Demonstração. Usaremos a contrapositiva, isto é, se P (z) 6= 0, para


qualquer z, então tem grau zero (polinômio constante). De fato, se P é
não-nulo, então f (z) = 1/P (z) é uma função inteira. Seja

P (z) = an z n + an−1 z n−1 + · · · + a1 z + a0 .

com ak ∈ C para k = 0, 1, . . . , n e an 6= 0. Isso nos dá

1 1
|f (z)| = =
|P (z)| |an z + an−1 z
n n−1 + · · · + a1 + a0 |
1 1
= · .
|z | a + n−1 + · · · + a1 + a0
n a
n
z z n−1 z n
Ponhamos, agora,
an−1 a1 a0
w= + · · · + n−1 + n . (5.31)
z z z
Então
an−1 a1 a0
 
P (z) = an + + · · · + n−1 + n z n = (an + w)z n (5.32)
z z z
Multiplicando a Equação (5.31) por z n e usando as propriedades de módulo,
temos

|wz n | = |an−1 z n−1 + · · · + a1 z + a0 |


≤ |an−1 z n−1 | + · · · + |a1 ||z| + |a0 |,

ou ainda,
|an−1 | |a1 | |a0 |
|w| ≤ + · · · + n−1 + n (5.33)
|z| |z | |z |
5.6. MORERA, LIOUVILLE E OUTROS 123

Escolhendo R suficientemente grande tal que


|an−k | |an |
|z| > R ⇒ < , k = 0, 1, . . . n − 1,
k
|z | 2n
a Desigualdade (5.33) se torna
|an | |an |
|w| < n = , para |z| > R.
2n 2
Pois bem, como consequência dos fatos acima, vem

|an | |an |
|an + w| ≥ ||an | − |w|| > |an | − =

2 2
e a partir da Equação (5.32) podemos escrever
|an |
|P (z)| = |an + w||z n | ≥ · Rn ,
2
ou ainda,
1 2
|f (z)| = ≤ ,
|P (z)| |an |Rn
o que mostra que f é limitada fora do disco fechado DR (0). Para ver que
o mesmo é verdade dentro desse disco, vamos escrever f em termos de suas
partes real u e imaginária v. Seu módulo é
q
|f (z)| = [u(x, y)]2 + [v(x, y)]2

e usamos o resultado do Cálculo de Funções Várias Variáveis, segundo o qual


toda função real de duas variáveis em conjunto fechado e limitado é limitada.
Desse modo, fica provado então que f é limitada e, pelo Teorema de Liouville,
f tem grau zero. 
Corolário 5.3. A equação polinomial

P (z) = an z n + an−1 z n−1 + · · · + a1 z + a0 = 0,

com n ≥ 1 e an 6= 0 tem exatamente n raízes.


Demonstração. Pelo Teorema Fundamental da Álgebra, a equação prece-
dente tem pelo menos uma raiz z1 . Assim, P (z1 ) = 0 e isso implica

P (z) − P (z1 ) = an z n + · · · + a1 z + a0 − (an z1n + · · · + a1 z1 + a0 )


P (z) = an (z n − z1n ) + · · · + a2 (z 2 − z12 ) + a1 (z − z1 )
= (z − z1 )Q(z),
124 CAPÍTULO 5. INTEGRAIS

onde Q(z) é um polinômio de grau n − 1. Aplicando novamente o Teorema


Fundamental da Álgebra, podemos obter uma raiz z2 (eventualmente igual
a z1 ) de Q(z). Repetindo os passos acima, teremos

P (z) = (z − z1 )(z − z2 )R(z) = 0,

onde o polinômio R(z) tem grau n − 2 e continuando dessa maneira, concluí-


mos que a equação dada tem exatamente n raízes. 

5.7 Exercícios
1. Suponha w a função definida pela Equação (5.1) é diferenciável. Prove
que
a) [aw(t) + b]0 = aw0 (t), onde a e b são constantes complexas.
b) w0 (−t) = −w0 (t).
c) [ew(t) ]0 = ew(t) .
2. Calcular as seguintes integrais.
a) (2t + i)2 dt.
R1
0
π
b) senh(ti) dt.
R 4
0
π
c) teti dt.
R 2
0

3. Denotemos por Cr+ (z0 ) a circunferência de raio r com centro no ponto z0


orientado no sentido anti-horário. Quando o sinal positivo for trocado
pelo sinal negativo, a orientação será no sentido horário. Calcular:
a)
R
C1+ (0) z dz.
b)
R
C2− (0) z dz.
c) C (x
2
− 2yi) dz, onde C é a parte superior de C2+ (0).
R

4. Calcular
a) ez dz, onde C é parametrizada por z(t) = t+t3 i, onde 0 ≤ t ≤ 1.
R
C
b) C (2z − z) dz, onde C é o segmento de reta com extremidades em
R

0 e 1 + 2i.
c) z 2 dz, onde C é a curva z(t) = t2 + i/t, onde 1 ≤ t ≤ 2.
R
C

5. Seja C o triângulo de vértices nos pontos 0, 1 e 1 + i, com orientação


positiva. Calcule
5.7. EXERCÍCIOS 125

a) C (y − xi) dz.
R

b) C (x + 2i) dz.
R

c) C (x − 3yi) dz.
R
Índice Remissivo

caminho, 93 imaginário, 5
comprimento da curva, 99 real, 5
conjunto equação
aberto, 19 de Laplace, 61
conexo, 20 equações de Cauchy-Riemann, 52, 57
fechado, 20 exponencial, 18
ilimitado, 21
imagem, 23 fórmula(s)
contorno, 93 de Euler, 18
contração, 29 de Moivre, 13
corpo, 10 integral de Cauchy, 114, 115
curva, 92 forma
diferenciável, 92 algébrica, 6
fechada simples, 92 exponencial, 18
oposta, 92 polar, 12
simples, 92 fronteira, 20
suave, 92 função
curvas equipotenciais, 65 analítica, 50
bijetora, 25
derivada, 48, 87
complexa, 23
desigualdade
contínua, 47
M L, 99
cossecante, 79
de Cauchy, 121
cosseno, 79
triangular, 11
cosseno hiperbólico, 84
dilatação, 29
cotangente, 79
disco
de classe C 1 , 102
aberto, 19
de valores reais a valores comple-
fechado, 19
xos, 87
perfurado, 19
de Van Der Waerden, 49
domínio, 20, 23
multiplamente conexo., 101 diferenciável, 47
simplesmente conexo, 101 do fluxo, 65
exponencial de base b, 78
eixo harmônica, 61

126
ÍNDICE REMISSIVO 127

homotetia, 28 imaginário puro, 5


identidade, 26 inverso, 7
injetora, 25 módulo, 8
inteira, 50 produto, 6
inversão, 36 soma, 6
inversa, 34
orientação, 92
logarítmica, 71
negativa, 92
potência, 31, 75
positiva, 92
potencial, 65
raiz n-ésima principal, 36 ponto
recíproca, 36 de acumulação, 20
rotação, 26 de descontinuidade, 47
secante, 79 de fronteira, 20
seno, 79 exterior, 20
seno hiperbólico, 84 final, 92
sobrejetora, 25 inicial, 92
tangente, 79 interior, 19
translação, 25 potência, 75
primitiva, 110
harmônica conjugada, 62
raiz
Identidade do paralelogramo, 22 n-ésima, 16
imagem, 23 região, 20
inversa, 25 regra da cadeia, 50
integral Regra de L’Hospital, 46, 51
de contorno, 94
definida, 88, 112 teorema
indefinida, 110 Cauchy-Goursat, 102
por partes, 113 da integral definida, 112
interior, 19 da integral indefinida, 110
de Cantor, 102
limite, 41 de Green, 101
linhas de fluxo, 65 de Liouville, 121
logaritmo, 71 de Morera, 118
principal, 72 deformação de contorno, 107
do módulo máximo, 119
números complexos, 5 do valor médio de Gauss, 119
argumento, 12 fundamental da Álgebra, 122
conjugado, 7 fundamental do Cálculo, 88
conjunto dos, 7 transformação linear, 29
divisão, 7
igualdade de, 6 unidade imaginária, 7
128 ÍNDICE REMISSIVO

vizinhança, 19

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