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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO

PARANÁ

Modelagem de Problemas Usando


Equações Diferenciais
Notas de Aula

Francisco Bartosievicz Netto


versão 1.0 – 15/fevereiro/2024
Material produzido pelos Professores Dr. Francisco Bartosievicz Netto e Dr. José
Eloir Krupechacke com a colaboração dos Professores Dra . Mara Francieli Motin e Me.
Olimpio de Paula Xavier para a disciplina de Modelagem de Problemas Usando Equações
Diferenciais, dos cursos de Engenharia da Pontifı́cia Universidade Católica do Paraná.

Temas de estudo da disciplina:

• Números Complexos.

• Equações diferenciais ordinárias.

• Transformada de Laplace.

• Sequências e Séries.

• Séries de Taylor.

• Séries de Fourier
ii
Sumário

1 Números Complexos 1

1.1 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Operações com Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.3 Forma Polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.4 O Teorema de Moivre e a Fórmula de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Equações Diferenciais Ordinárias 17

2.1 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2 Modelagem Matemática e Equações Diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.2.1 Dinâmica Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.2.2 Meia-vida ou Decaimento Radioativo . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.2.3 Lei de Newton do Resfriamento/Aquecimento . . . . . . . . . . . . 21

2.2.4 Disseminação de uma doença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.2.5 Problemas de Misturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.2.6 Circuitos em Série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2.7 Corpos em queda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2.8 Movimento Harmônico Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

iii
iv SUMÁRIO

2.3 Classificações de uma Equação Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.4 Problema de Valor Inicial (PVI) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.5.1 Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.5.2 Equações Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

2.5.3 Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.5.4 Equações Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

2.5.5 Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . 45

2.6.1 Problema de Valor Inicial e de Valor de Contorno . . . . . . . . . . 45

2.6.2 Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2.6.3 Equações Lineares e Homogêneas de Coeficientes Constantes . . . . 48

2.6.4 Equações Lineares Não Homogêneas de Coeficientes Constantes . . 51

2.6.5 Método dos coeficientes a determinar (Método de Descartes) . . . . 52

3 Transformada de Laplace 57

3.1 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

3.2 Definição da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

3.2.1 Condição de existência da transformada de Laplace . . . . . . . . . 60

3.3 Transformada Inversa de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

3.4 Transformadas de derivadas e Solução de EDO . . . . . . . . . . . . . . . . 66

3.5 Teoremas de translação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68


SUMÁRIO v

3.6 Derivada da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

3.7 Convolução e transformada de Laplace de funções periódicas . . . . . . . . 76

3.8 Delta de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

3.9 Sistemas de EDOs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4 Sequências e Séries 83

4.1 Sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

4.2 Séries Infinitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4.3 Testes de Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

5 Séries: de Taylor e de Fourier 101

5.1 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

5.3 Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

5.3.1 Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

Referências Bibliográficas 125


vi SUMÁRIO
Números Complexos

1.1 Histórico

As equações do 2◦ grau com discriminante (delta) negativo não foram o motivo do


aparecimento dos números complexos. A motivação apareceu quando, em 1545, Gerônimo
Cardano (1501 - 1576) tentou resolver a equação do 3◦ grau x3 = 15x + 4, a qual ele sabia
ter x = 4 como uma das raı́zes.

Aplicando uma fórmula que ele mesmo publicou, conhecida como “Fórmula de
Cardano”(sugerida a ele por Niccolo Tartaglia [1500 - 1557]), apareceu na solução uma
raiz quadrada de número negativo:

√ √
q q
3 3
x = 2 + −121 + 2 − −121

Ele, então, chegou ao seguinte dilema: sabia, por um lado, que −121 não existia
e, por outro lado, que 4 era solução da equação. Cardano não conseguiu explicação para
o fato, mas chamou muita atenção para o problema.

Passados 25 anos, Raphael Bombelli (1523 - 1573), um admirador de Cardano,


escreveu um livro publicado em 1572 (historicamente consta como primeiro estudo dos
números complexos). Observando a equação anterior, Bombelli teve um ideia considerada

por muitos (inclusive o próprio Bombelli) de operar expressões do tipo a + b −1, sendo
√ 2
−1 = −1, sob as mesmas regras dos números reais. Assim, mostrou que as raı́zes
√ √
cúbicas achadas por Cardano eram, respectivamente, 2 + −1 e 2 − −1.

O sı́mbolo −1, introduzido por Albert Girard (1595 - 1632) em 1629, passou
a ser representado pela letra i, a partir de 1777 , por Leonhard Euler (1707 - 1783).
Foi impresso pela primeira vez em 1794 e tornou-se amplamente aceito após seu uso por
Johann Carl Friederich Gauss (1777 - 1855) em 1801. Em 1637, René Descartes (1596 -
1650) empregou, pela primeira vez, os termos real e imaginário.

Gauss foi quem introduziu a expressão “número complexo”, em 1832. John Wallis
(1616 - 1703) foi quem tentou, primeiramente, dar um significado concreto aos números
complexos, por meio de uma “interpretação geométrica”. Gauss e Willian Hamilton
(1805 - 1865) redescobriram a representação geométrica e definiram os complexos: Gauss
2 1.2 Operações com Números Complexos

os definiu da forma a + bi (em 1831) e Hamilton como pares ordenados de números reais
(em 1833).

Um número complexo a+bi pode ser identificado com o ponto (a, b) e representado
graficamente no plano (chamado de plano complexo ou plano de Argand , ou ainda
plano de Argand-Gauss), como na Figura 1.1. No plano complexo, o eixo horizontal
é chamado de eixo real , e o eixo vertical, de eixo imaginário.

Figura 1.1: O Plano Complexo

Você pode encontrar mais sobre a história dos números complexos, e tantos outros
assuntos da história da matemática, veja a referência Boyer1 , considerado por muitos como
o papa da história da matemática.

1.2 Operações com Números Complexos

Definição 1.1 Um número complexo é um número da forma a + bi, onde a e b são


números reais e i é um sı́mbolo com a propriedade i2 = −1.

O número real a é considerado um tipo especial de número complexo, pois a =


a + 0i. Se z = a + bi é um número complexo, então a parte real de z, denotada por Re
z, é a, e a parte imaginária de z, denotada por Im z, é b.
1
BOYER, Carl B. História da Matemática . São Paulo: Editora Edgard Blücler, 1996.
1. Números Complexos 3

Exemplo 1.1 Identifique a parte real e a parte imaginária de cada número complexo
abaixo:
Número complexo Parte real Re(z) Parte imaginária Im(z)
5 + 2i 5 2
√3
√ √ √
17 − 5 7i 3
17 −57
4i 0 4
213 213 0

Definição 1.2 Dois números complexos a + bi e c + di são iguais se suas partes reais e
suas partes imaginárias são respectivamente iguais, isto é, se a = c e b = d.

Definição 1.3 A soma dos números complexos a + bi e c + di é definida como

(a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i

Note que, com a identificação dos números a + bi com a sua forma no plano complexo
(a, b), c + di com (c, d) e (a + c) +(b + d)i com (a + c, b + d), a adição de números complexos
é a mesma que a adição vetorial.

Definição 1.4 O produto de a + bi e c + di é

(a + bi)(c + di) = a(c + di) + bi(c + di) = ac + adi + bci + bdi2

Como i2 = −1, essa expressão fica (ac − bd) + (ad + bc)i. Assim, temos

(a + bi)(c + di) = (ac − bd) + (ad + bc)i

Observe que, em particular a(c + di) = ac + adi; assim, o oposto de c + di é


−(c + di) = (−1)(c + di) = −c − di. Tal fato nos permite calcular a diferença entre
a + bi e c + di da seguinte maneira:

(a + bi) − (c + di) = (a + bi) + (−1)(c + di) = (a + (−c)) + (b + (−d))i

ou seja

Definição 1.5 A diferença de a + bi e c + di é

(a + bi) − (c + di) = (a − c) + (b − d)i


4 1.2 Operações com Números Complexos

Exemplo 1.2 Calcule a soma, a diferença e o produto entre 5 − 4i e −3 + 3i.

• Soma: (5 − 4i) + (−3 + 3i) = (5 + (−3)) + (−4 + 3)i = 2 − i

• Diferença: (5 − 4i) − (−3 + 3i) = (5 − (−3)) + (−4 − 3)i = 8 − 7i

• Produto: (5 − 4i)(−3 + 3i) = −15 + 15i + 12i − 12i2 = −15 + 27i − 12(−1) = −3 + 27i

Definição 1.6 O conjugado de z = a + bi, denotado por z, é o número complexo

z = a − bi

A Figura 1.2 a seguir mostra a interpretação geométrica do conjugado de um


número complexo.

Figura 1.2: O conjugado de um número complexo z

Exemplo 1.3 Identifique o conjugado de cada número complexo abaixo:

Número complexo z Conjugado z


5 + 2i 5 − 2i

3
√ √ √
17 − 5 7i 3
17 + 5 7i
4i −4i
213 213
1. Números Complexos 5

Observação: ao multiplicar um número complexo z pelo seu conjugado z, obteremos um


número real positivo:

z.z = (a+bi)(a−bi) = (a2 −b(−b))+(a(−b)+ba)i = (a2 +b2 )+(−ab+ab)i = a2 +b2 ∈ R+

Ao levar essa caracterı́stica descrita acima, podemos descrever como calcular o


quociente entre dois números complexos.

Definição 1.7 O quociente entre a + bi e c + di é calculado multiplicando o numerador


e o denominador pelo conjugado de c + di:
   
a + bi a + bi c − di (ac + bd) + (bc − ad)i ac + bd bc − ad
= . = = + i
c + di c + di c − di c2 + d 2 c2 + d 2 c2 + d2

Exemplo 1.4 Calcule o quociente entre 5 − 4i e −3 + 3i.

   
5 − 4i 5 − 4i −3 − 3i 5(−3) + (−4)3 (−4)(−3) − 5.3 −27 −3
= . = + i= + i
−3 + 3i −3 + 3i −3 − 3i (−3)2 + 32 (−3)2 + 32 18 18

Note que é muito mais simples fazer a distributiva na conta que memorizar a fórmula do
quociente.

A seguir, algumas propriedades dos conjugados:

Propriedade 1.1 Sejam z e w números complexos:

1) z = z

2) z + w = z + w

3) zw = z.w

4) Se z 6= 0, então (w/z) = w/z

5) z é real se, e somente se, z = z


6 1.2 Operações com Números Complexos


Agora, vamos desenvolver as potências naturais de i (i = −1). Assim:

i0 =1
i1 =i
i2 = −1
i3 = i2 .i = (−1).i = −i
i4 = i2 .i2 = (−1).(−1) = 1
i5 = i4 .i = 1.i = i
i6 = i5 .i = i.i = i2 = −1
i7 = i6 .i = (−1).i = −i
..
.
Observe que formou-se um padrão nos resultados das potências naturais de i:
1, i, −1, −i e repete novamente. Logo, de 4 em 4, as potências de i se repetem. Assim,
temos a seguinte tabela:

1 i0 i4 i8 i12 ...
i i1 i5 i9 i13 ...
−1 i2 i6 i10 i14 ...
−i i3 i7 i11 i15 ...

Exemplo 1.5 Determine as seguintes potências naturais de i:

a) i312 = i4×78 = (i4 )78 = (1)78 = 1

b) i1493 = i4×373+1 = (i4 )373 .i1 = (1)373 .i = i

c) i18 = i4×4+2 = (i4 )4 .i2 = (1)4 .(−1) = −1

d) i995 = i4×248+3 = (i4 )248 .i3 = (1)248 .(−i) = −i

No histórico apresentado no inı́cio deste capı́tulo, foi apresentado que um número com-
plexo a + bi pode ser representado geometricamente no plano complexo através do ponto
(a, b). Assim, finalmente podemos conceituar o conjunto dos números complexos:

Definição 1.8 O conjunto {z = (x, y)|x, y ∈ R}, representado por C, ao conjunto dos
números complexos, onde são satisfeitas as seguintes relações:

a) (a, b) = (c, d) ⇔ a = c e b = d

b) (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)

c) (a, b).(c, d) = (ac − bd, ad + bc)


1. Números Complexos 7

E como o plano complexo é análogo ao plano cartesiano, podemos nos aproveitar


de algumas caracterı́sticas do plano cartesiano para apresentar mais algumas definições
importantes nos números complexos.

Definição 1.9 O módulo (ou valor absoluto) |z| de um número complexo z = a + bi


é a sua distância até a origem do plano complexo.


|z| = |a + bi| = a2 + b 2

Como mostrado na Figura 1.3, obtemos o resultado acima pelo Teorema de


Pitágoras.

Figura 1.3: O módulo de z

Já foi apresentado que sendo z = a + bi, temos que z.z = a2 + b2 . Portanto,

z.z = |z|2

e essa fórmula nos dá uma nova forma de expressar o quociente de dois números complexos
w e z:

w w z wz
= . = 2
z z z |z|

A seguir, mais algumas propriedades envolvendo números complexos e seu módulo:


8 1.3 Forma Polar

Propriedade 1.2 Sejam z e w números complexos:

1) z = 0 se, e somente se, z = 0

2) |z| = |z|

3) |zw| = |z|.|w|

1 1
4) Se z 6= 0, então =
z |z|

5) |z + w| ≤ |z| + |w|

1.3 Forma Polar

Já foi apresentado que um número complexo z = a + bi pode ser representado


geometricamente pelo ponto (a, b). Logo, também podemos utilizar o sistema de coor-
denadas polares (r, θ), com r ≥ 0 para representar o número complexo z = a + bi na
sua forma polar :
a = r cos θ e b = r sen θ

logo,
z = a + bi = r cos θ + (r sen θ)i

Figura 1.4: Forma polar de um número complexo


1. Números Complexos 9

Definição 1.10 Um número complexo z = a + bi tem sua forma polar (ou forma
trigonométrica) descrita por

z = r(cos θ + i sen θ)


onde r = |z| = a2 + b2 e tg θ = b/a. O ângulo θ é chamado de argumento de z,
denotado por arg z.

Note que arg z pode ser o ângulo θ adicionado ou subtraı́do de qualquer múltiplo
inteiro de 2π, que resultará em outro arg z, mas representando o mesmo ponto. Note ainda
que o valor calculado por θ = tan−1 (b/a), especialmente quando feito por uma calculadora,
trará como resposta, ângulos corretos apenas para o primeiro e quarto quadrantes. Assim,
deve-se tomar cuidado em observar em qual quadrante do plano polar encontrar o número
complexo considerado (como na letra b do exemplo a seguir).

Exemplo 1.6 Determine o módulo, o argumento e a forma polar de cada número com-
plexo a seguir:

a) z1 = 3 − 4i , está no quarto quadrante


p
módulo: r = |z1 | = 32 + (−4)2 = 5
 
−4 −4 ∼ 3π
argumento: tg θ = ⇒ arg z1 = θ = arctg = −53.13◦ ∼
=−
3 3 10
    
3π 3π
forma polar: z1 = 5 cos − + i sen −
10 10
b) z2 = −2 + 2i , está no segundo quadrante, atenção ao argumento!
p √
módulo: r = |z2 | = (−2)2 + 22 = 2 2
2 π
argumento: tg θ = = −1 ⇒ arg z2 = θ = arctg (−1) = −45◦ = −
−2 4
mas como z2 está no segundo quadrante do plano polar, logo seu argumento não

deve valer −45◦ , mas sim 135◦ = (por quê?). Assim, sua forma polar correta é:
4

    
3π 3π
forma polar: z2 = 2 2 cos + i sen
4 4
c) z3 = 1 + i , está no primeiro quadrante
√ √
módulo: r = |z3 | = 12 + 12 = 2
1 π
argumento: tg θ = = 1 ⇒ Arg z3 = θ = arctg (1) = 45◦ =
1 4
√  π   π 
forma polar: z3 = 2 cos + i sen
4 4
10 1.3 Forma Polar


d) z4 = 3+i
q√
módulo: r = |z4 | = ( 3)2 + 12 = 2
 
1 1 π
argumento: tg θ = √ ⇒ Arg z4 = θ = arctg √ = 30◦ =
3 3 6
 π   π 
forma polar: z4 = 2 cos + i sen
6 6

Com esta definição da forma polar para os números complexos, vamos apresentar
interpretações geométricas para a multiplicação e a divisão dos números complexos. Mas
primeiros, lembremos das seguintes identidades trigonométricas:

cos(θ1 + θ2 ) = cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2


sen (θ1 + θ2 ) = sen θ1 cos θ2 + cos θ1 sen θ2

Considere z1 = r1 (cos θ1 + i sen θ1 ) e z2 = r2 (cos θ2 + i sen θ2 ). Assim, vamos à


multiplicação de z1 e z2 :

z1 z2 = r1 (cos θ1 + i sen θ1 )r2 (cos θ2 + i sen θ2 )


= r1 r2 [(cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2 ) + i( sen θ1 cos θ2 + cos θ1 sen θ2 )]

assim, temos:

z1 z2 = r1 r2 [cos(θ1 + θ2 ) + i sen (θ1 + θ2 )]

isso mostra que |z1 z2 | = |z1 ||z2 | e que arg(z1 z2 ) = arg z1 + arg z2 , ou seja, para multi-
plicar dois números complexos z1 e z2 , devemos multiplicar seus módulos e somar seus
argumentos.

Figura 1.5: Multiplicação de dois números complexos na forma polar


1. Números Complexos 11

De maneira análoga, a divisão de z1 e z2 resulta em:

z1 r1
= [cos(θ1 − θ2 ) + i sen (θ1 − θ2 )]
z2 r2

ou seja, para dividir dois números complexos, dividimos seus módulos e subtraı́mos seus
argumentos.

Ainda olhando para este último resultado, podemos definir o inverso de um


número complexo na forma polar. Sendo z1 = 1 (logo θ1 = 0) e z2 = z 6= 0 (logo
r2 = r 6= 0 e θ2 = θ), temos:

1 1 1
= [cos(0 − θ) + i sen (0 − θ)] = [cos(θ) − i sen (θ)]
z r r

tal fórmula também pode ser obtida pelo quociente apresentado na seção anterior e então
obtendo sua forma polar.


Exemplo 1.7 Determine o produto e o quociente de −2 + 2i e 3 + i.

Do exemplo 1.6, temos que:


√ √
    
3π 3π  π   π 
−2 + 2i = 2 2 cos + i sen e 3 + i = 2 cos + i sen
4 4 6 6
portanto,

√ √
    
3π π 3π π
(−2 + 2i)( 3 + i) = 4 2 cos + + i sen +
4 6 4 6


    
11π 11π
= 4 2 cos + i sen
12 12

√     
−2 + 2i 2 2 3π π 3π π
√ = cos − + i sen −
3+i 2 4 6 4 6


    
7π 7π
= 2 cos + i sen
12 12

fica a cargo do estudante conferir as respostas obtidas comparando com a forma algébrica
de multiplicar e dividir dois números complexos.
12 1.4 O Teorema de Moivre e a Fórmula de Euler

Repare que o produto também pode ser calculado como visto na seção anterior:
√ √ √
(−2 + 2i)( 3 + i) = (−2 3 − 2) + (2 3 − 2)i. Logo, temos a seguinte comparação:

√ √
 
11π
−2 3 − 2 = 4 2 cos
12

√ √
 
11π
2 3−2 = 4 2 sen
12

portanto:

  √ √ √
11π 2 3+2 − 6− 2
cos =− √ =
12 4 2 4
  √ √ √
11π 2−2 3 6− 2
sen = √ =
12 4 2 4

sendo esta uma forma interessante de calcular o seno e o cosseno de ângulos não notáveis
(confira os valores acima na sua calculadora e surpreenda-se).

1.4 O Teorema de Moivre e a Fórmula de Euler

Se n é um número inteiro positivo e z = r(cos θ + i sen θ), o uso repetido da


fórmula do produto de números complexos na forma polar nos fornece uma fórmula para
as potências de z:

z 2 = r2 (cos 2θ + i sen 2θ)


z 3 = zz 2 = r3 (cos 3θ + i sen 3θ)
z 4 = zz 3 = r4 (cos 4θ + i sen 4θ)
..
.

Esse padrão foi apresentado como teorema e provado pelo matemático francês
Abraham de Moivre (1667 - 1754):

Teorema 1.1 Se z = r(cos θ + i sen θ) e n ∈ IN∗+ então:

z n = rn (cos nθ + i sen nθ)


1. Números Complexos 13

Exemplo 1.8 Determine (1 + i)8 e (1 + i)9

Do exemplo 1.6, temos que:


√  π   π 
1 + i = 2 cos + i sen
4 4

Assim, temos:
√   π  π 
(1 + i)8 = ( 2)8 cos 8 + i sen 8 = 16 (cos (2π) + i sen (2π)) = 16
4 4

e
√   π  π  √  π   π 
(1 + i)9 = ( 2)9 cos 9 + i sen 9 = 16 2 cos + i sen = 16 + 16i
4 4 4 4

A Figura 1.6 mostra (1 + i)n , n = 0, 1, . . . , 9. Repare na espiral que vai se for-


mando e na invariância do ângulo acrescido a cada potência feita.

Figura 1.6: Potências de 1 + i


14 1.4 O Teorema de Moivre e a Fórmula de Euler

Através do Teorema de Moivre, podemos também calcular a raiz n-ésima de um


número complexo z. Seja w um número complexo tal que

wn = z

e nas suas formas polares, digamos que sejam

w = s(cos φ + i sen φ) e z = r(cos θ + i sen θ)

logo, pelo Teorema de Moivre, temos:

sn (cos nφ + i sen nφ) = r(cos θ + i sen θ)

Se igualarmos os valores absolutos, temos:



sn = r equivalente a s = r1/n = n
r

e também temos que:


cos nφ = cos θ e sen nφ = sen θ
Como seno e cossenos são ambas funções de perı́odo 2π, isso implica que nφ e θ diferem
por um múltiplo de 2π, ou seja:
θ + 2kπ
nφ = θ + 2kπ ou φ =
n

sendo k ∈ Z. Assim, finalmente temos o resultado:

Teorema 1.2 Sejam z = r(cos θ + i sen θ) e n ∈ IN+ . Então z tem exatamente n raı́zes
distintas dadas por
    
1/n 1/n θ + 2kπ θ + 2kπ
z =r cos + i sen
n n
para k = 0, 1, 2, . . . , n − 1.

Exemplo 1.9 Determine as quatro raı́zes quarta de -81.

Na forma polar, −81 = 81(cos π + i sen π). Assim, as raı́zes quarta de -81 são:
    
1/4 1/4 π + 2kπ π + 2kπ
(−81) = 81 cos + i sen para k = 0, 1, 2, 3
4 4
Assim, para cada valor de k:

π   π i √ √ ! √ √
h 2 2 3 2 3 2
k = 0: 811/4 cos + i sen =3 + i = + i
4 4 2 2 2 2
1. Números Complexos 15

     √ √ ! √ √
π + 2π π + 2π 2 2 3 2 3 2
k = 1: 811/4 cos + i sen =3 − + i =− + i
4 4 2 2 2 2

     √ √ ! √ √
π + 4π π + 4π 2 2 3 2 3 2
k = 2: 811/4 cos + i sen =3 − − i =− − i
4 4 2 2 2 2

     √ √ ! √ √
π + 6π π + 6π 2 2 3 2 3 2
k = 3: 811/4 cos + i sen =3 − i = − i
4 4 2 2 2 2

Note como as quatro raı́zes de −81 são igualmente espaçadas em π/2 radianos
ao longo da circunferência de raio 3 centrada na origem, apresentado na Figura 1.7.

Figura 1.7: Raı́zes quartas de −81

Outro resultado muito importante nos números complexos, é a famosa Fórmula


de Euler, considerada por muitos como a fórmula mais bela de toda a matemática. Sua
dedução será um exercı́cio que depende de um assunto que abordarem mais adiante.

Teorema 1.3 Para todo x ∈ R, temos que

eix = cos x + i sen x

Este resultado da fórmula de Euler nos possibilita escrever a forma polar de um


número complexo de maneira resumida, como a seguir:

z = r (cos θ + i sen θ) = reiθ


16 1.4 O Teorema de Moivre e a Fórmula de Euler

Exemplo 1.10 Determine a forma de Euler para −2 + 2i.

Do exemplo 1.6, temos que:


√ √
    
3π 3π
−2 + 2i = 2 2 cos + i sen = 2 2e3iπ/4
4 4

Ainda podemos seguir o sentido inverso desta ideia e escrever uma exponencial
complexa na forma polar e, por tanto, na sua forma algébrica a + bi.

Exemplo 1.11 Determine a forma a + bi dos seguintes números:

a) eiπ
eiπ = e0+iπ = e0 eiπ = 1(cos π + i sen π) = −1 + i · 0 = −1

Neste exemplo, podemos ver que temos eiπ + 1 = 0. Esta é considerada uma das
relações mais impressionantes de todos os tempos da história da matemática. Ela
envolve as operações fundamentais da adição, multiplicação e exponenciação, en-
volve também os elementos neutros da adição, o número 0, e da multiplicação, o
número 1. Ainda, os dois números transcendentes mais importantes: π e e, além
da unidade complexa i. Tudo isso, em uma única relação!

b) eiπ/3 √
iπ/3 0+iπ/3 0 iπ/3
 π π 1 3
e =e =e e = 1 cos + i sen = + i
3 3 2 2

Finalmente, se z = reiθ = r(cos θ + i sen θ), então

z = r(cos θ − i sen θ)

Tomando que a função cosseno é par: cos(−θ) = cos(θ) e a função seno é ı́mpar:
sen (−θ) = − sen (θ), nos permite reescrever o conjugado acima da seguinte forma:

z = r(cos θ − i sen θ) = r(cos(−θ) + i sen (−θ)) = rei(−θ)

Assim, se z = reiθ , entao z = re−iθ .

Esta nova forma de representar um número complexo, a forma de Euler, também


nos permite demonstrar em um única linha o Teorema de Moivre:

z n = [r(cos θ + i sen θ)]n = (reiθ )n = rn einθ = rn (cos nθ + i sen nθ)


Equações Diferenciais Ordinárias

2.1 Histórico

Sem saber realmente o que são equações diferenciais e como resolvê-las, não pa-
rece muito interessante saber a história deste ramo da matemática. Mas o desenvolvi-
mento das ditas equações diferenciais está diretamente ligado ao desenvolvimento geral
da matemática e não há como separar uma coisa da outra. Antes de começar a mostrar
a história, vem a pergunta: “o que é uma equação diferencial?”. A resposta está na
definição a seguir:

Definição 2.1 Equações contendo derivadas são chamadas de equações diferenciais.

As equações diferenciais começaram a ser estudadas por Isaac Newton (1642 -


1727) e por Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 - 1716) durante o século XVII. Newton
cresceu no interior da Inglaterra e tornou-se Professor de Matemática em 1669, em Cam-
bridge. As descobertas de Newton sobre o cálculo e as leis fundamentais da mecânica
datam de 1665. Seus amigos mais próximos já conheciam seus resultados, mas Newton só
os publicou em 1687, quando apareceu no seu livro mais famoso, Philosophiae Naturalis
Principia Mathematica. Muito embora Newton tenha atuado pouco na área de equações
diferenciais, seu desenvolvimento do cálculo e os princı́pios básicos da mecânica forma-
ram a base para a aplicação das equações diferenciais no século XVIII, especialmente por
Euler.

Leibniz nasceu em Leipzig, tendo completado seu doutorado em filosofia aos 20


anos de idade. Era autodidata em matemática, seu interesse na área surgiu aos vinte e
poucos anos. Leibniz chegou aos seus resultados sobre o cálculo independentemente de
Newton, e embora um pouco depois dele, foi o primeiro a publicá-los, em 1684. Leibniz sa-
bia que uma boa notação matemática tinha um poder muito grande, tanto que a notação
que utilizamos para derivada, dy/dx, bem como o sı́mbolo da integral, são devidos a ele.
Ele descobriu o método da separação das variáveis em 1691, a redução de equações ho-
mogêneas a equações separáveis também em 1691 e o procedimento para resolver equações
lineares de primeira ordem em 1694 (todas estas equações nós veremos em breve). Leibniz
manteve contato com muitos matemáticos do seu tempo, em especial os irmãos Bernoulli
18 2.1 Histórico

e, com estes, foram resolvidos muitos problemas em equações diferenciais durante o final
do século XVII.

Nativos da Basileia (Suiça), os irmãos Jakob (1654 - 1705) e Johann (1667 - 1748)
Bernoulli obtiveram muitos resultados sobre o desenvolvimento de métodos para resolver
equações diferenciais e com isso ampliar o campo de suas aplicações. Jakob tornou-se
professor de matemática na Basileia em 1687, e Johann foi nomeado para a mesma posição
após a morte do seu irmão em 1705. Em 1690, Jakob resolveu a equação diferencial
y 0 = [a3 /(b2 y − a3 )]1/2 e no mesmo artigo usou pela primeira vez a palavra “integral”no
sentido moderno. Em 1694, Johann conseguiu resolver a equação dy/dx = y/ax. Um
problema resolvido por ambos os irmãos e que gerou atrito entre eles foi o problema da
braquistócrona 1 : encontrar uma curva ao longo da qual uma partı́cula desliza sem atrito,
em um tempo mı́nimo, de um ponto dado P até outro ponto Q, em que o segundo ponto
está mais baixo que o primeiro, mas não diretamente debaixo. Este problema foi proposto
por Johann em 1696. Tanto Johann, quanto Jakob encontraram soluções corretas para
este problema. Além deles, Newton, Leibniz e Guillaume François Antoine (1661 - 1704),
o Marquês de L’Hôpital, também resolveram este problema.

Daniel Bernoulli (1700 - 1782), filho de Johann, incorporou à Academia de São


Petesburgo em sua juventude, mas retornou à Basileia em 1733 como professor de botânica
e, mais tarde, de fı́sica. Seus interesses eram, especialmente, em equações diferenciais
parciais e suas aplicações. Como exemplo, a equação de Bernoulli em mecânica dos
fluı́dos é devido a ele. Além disso, foi o primeiro a encontrar as funções que, um século
depois, seriam chamadas como funções de Bessel.

Leonhard Euler cresceu perto da Basileia e foi aluno de Johann Bernoulli. Ele
seguiu seu amigo Daniel Bernoulli à Academia de São Petersburgo em 1727. Dividiu
da sua vida entre a Academia de São Petersburgo (1727 - 1783) e a Academia de Ber-
lim (1741 - 1766). Seus interesses abrangeram todas as áreas da matemática e muitos
campos de aplicação; suas obras completas enchem mais de 70 livros volumosos. Dentre
tantos trabalhos, Euler identificou a condição para que equações diferenciais de primeira
ordem sejam exatas e a teoria dos fatores integrantes no mesmo artigo (1734 - 1735), e
encontrou a solução geral para equações diferenciais lineares homogêneas de coeficientes
constantes em 1743, estendendo este resultado para equações não-homogêneas em 1750 -
1751. Próximo de 1750, Euler usou com frequência as séries de potências para resolver
equações diferenciais. Ainda, entre 1768 e 1769, propôs um método numérico para resolver
equações diferenciais ordinárias e fez importantes contribuições em equações diferenciais
parciais.
1
A palavra “braquistócrona” vem das palavras gregas brachisto, que significa o mais curto, e chronos,
que significa tempo.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 19

Joseph-Louis Lagrange (1736 - 1813) tornou-se professor de matemática em Tu-


rim, sua cidade natal, aos 19 anos de idade. Sucedeu Euler na Academia de Berlim em
1766 e foi para a Academia de Paris em 1787. Entre 1762 e 1765, mostrou que a solução
geral de uma equação diferencial linear homogênea de ordem n é uma combinação linear
de n soluções independentes. Depois, entre 1774 e 1775, desenvolveu o método de variação
dos parâmetros.

Pierre-Simon de Laplace (1749 - 1827) foi eleito para a Academia de Ciências de


Paris em 1773. A transformada de Laplace recebeu o nome em sua homenagem, mas seu
uso na resolução de equações diferenciais só veio acontecer bem mais tarde.

Ao final do século XVIII, vários métodos elementares para resolver equações di-
ferenciais ordinárias já tinham sido descobertos. A partir do século XIX, o interesse
passou a ser as questões mais teóricas sobre a existência e a unicidade das soluções das
equações diferenciais, e no desenvolvimento de métodos menos elementares (como as séries
de potências). As equações diferenciais parciais começaram a ganhar cada vez mais espaço
pelo seu papel em fı́sica matemática. As equações que ainda podiam ser resolvidas de
forma analı́tica, levaram às investigações de métodos numéricos, que aproximam a res-
posta. Próximo de 1900, já havia diversos métodos numéricos, mas sua execução ainda
era prejudicada devido a necessidade de máquinas de calcular, ainda rudimentares, ou de
severas contas realizadas à mão.

Nos últimos 60 anos, o desenvolvimento dos computadores possibilitaram a im-


plementação de tais métodos e, com isso, a resolução de problemas cada vez mais signi-
ficativos. Já no século XX, criaram-se métodos geométricos ou topológicos, em especial
para equações não-lineares, cujo objetivo é compreender, mesmo que qualitativamente, o
comportamento de soluções de um ponto de vista geométrico. Nos últimos anos, juntando
métodos numéricos computacionais, com a computação gráfica, diversas áreas estão sendo
utilizadas para entender estas soluções, tais como atratores estranhos, caos e fractais, le-
vando a novos estudos e novas abordagens em diferentes aplicações.

Adentraremos pra valer no assunto de equações diferenciais (e para facilitar, cha-


maremos de ED), primeiro mostrando diversas modelagens matemáticas que recaem nas
tais EDs. Depois, suas classificações e, então, os métodos de resolução clássicos.
20 2.2 Modelagem Matemática e Equações Diferenciais

2.2 Modelagem Matemática e Equações Diferenciais

É de extrema importância descrever problemas fı́sicos, quı́micos, sociológicos ou


econômicos (dentre demais áreas possı́veis) através de termos matemáticos. E esta des-
crição é chamada de modelagem matemática ou de modelo matemático. Assim,
vejamos alguns modelos matemáticos para diversas situações.

2.2.1 Dinâmica Populacional

Uma das primeiras tentativas de modelagem do crescimento populacional humano


por meio de um modelo matemático foi feita pelo economista inglês Thomas Malthus, em
1798. Basicamente, a ideia por trás do modelo malthusiano é a hipótese de que a taxa
segundo a qual a população de um paı́s cresce em um determinado instante é proporcional
a população total do paı́s naquele instante. Em outras palavras, quanto mais pessoas
houver em um instante t, mais pessoas existirão no futuro. Em termos matemáticos, se
P (t) for a população total no instante t, então essa hipótese pode ser expressa por:

dP
= kP,
dt

onde k é uma constante de proporcionalidade, serve como modelo para diversos fenômenos
envolvendo crescimento ou decaimento.

Este modelo é simples, e não leva em conta muitos fatores que podem influenciar
a população humana tanto no crescimento, quanto no decrescimento (fatores como imi-
gração/emigração, doenças em larga escala e guerras, por exemplo). As populações que
crescem à taxa descrita neste modelo são raras, sendo interessante para avaliar o cresci-
mento de pequenas populações em um intervalo de tempo curto, como o crescimento de
bactérias numa placa de Petri, por exemplo.

2.2.2 Meia-vida ou Decaimento Radioativo

Em fı́sica, meia-vida é uma medida de estabilidade de uma substância radioativa.


A meia-vida é simplesmente o tempo gasto para metade dos átomos de uma quantidade Q0
se desintegrar ou se transmutar em átomos de outro elemento. Quanto maior a meia-vida
de uma substância, mais estável ela é.

Por exemplo, a meia vida do ultra radioativo rádio, Ra-226, é cerca de 1700 anos.
Em 1700 anos, metade de uma dada quantidade de Ra-226 é transmutada em Radônio,
2. Equações Diferenciais Ordinárias 21

Rn-222. O isótopo de urânio mais comum, U-238, tem uma meia-vida de aproxima-
damente 4.500.000.000 de anos. Nesse tempo, metade de uma quantidade de U-238 é
transmutada em chumbo, Pb-206.

Da mesma forma que no crescimento populacional, a meia vida de uma substância


é descrita pelo mesmo modelo matemático:

dQ
= kQ,
dt

Estes dois primeiros modelos matemáticos nos mostram que uma única equação
diferencial pode servir como modelo matemático para vários fenômenos diferentes.

2.2.3 Lei de Newton do Resfriamento/Aquecimento

De acordo com a lei de resfriamento de Newton, a taxa segundo a qual a tempe-


ratura de um corpo varia é proporcional a diferença entre a temperatura de um corpo e
a temperatura do meio que o rodeia, denominada temperatura ambiente. Isto é, se T (t)
representar a temperatura de um corpo no instante t, Tm é a temperatura do meio que
o rodeia e dT
dt
é a taxa segundo a qual a temperatura do corpo varia, a lei de Newton do
resfriamento é dada por:
dT
= k(T − Tm ),
dt

onde k é uma constante de proporcionalidade.

2.2.4 Disseminação de uma doença

Uma doença contagiosa - por exemplo, o vı́rus da gripe - espalha-se em uma


comunidade por meio do contato entre pessoas. Seja x(t) o número de pessoas que con-
traı́ram a doença e y(t) o número de pessoas que ainda não foram expostas. É de se supor
que a taxa dx/dt segundo a qual a doença se dissemina seja proporcional ao número de
contatos que os dois grupos de pessoas mantém. Se supormos que estes contatos sejam
proporcional ao produto xy, então
dx
= kxy,
dt

onde k é a constante de proporcionalidade usual aos modelos.


22 2.2 Modelagem Matemática e Equações Diferenciais

Suponha que em uma pequena comunidade tenha uma população fixa de n pes-
soas. Se uma pessoa infectada for introduzida nesta comunidade, pode-se argumentar que
x(t) e y(t) estão relacionados por x + y = n + 1. Isolando y e substituindo no modelo
acima, temos:
dx
= kx(n + 1 − x),
dt

note que este problema nos fornece uma informação extra: x(0) = 1. Este tipo de
informação “extra” será de suma importância no estudo das EDs.

2.2.5 Problemas de Misturas

A mistura de duas soluções salinas com concentrações diferentes dá origem a uma
equação diferencial de primeira ordem para a quantidade de sal contida na mistura. Para
esta aplicação, vamos considerar as unidades de medida para volume em litros (L), massa
em gramas (g) e o tempo em minutos (min).

Suponha que um tanque contenha um volume inicial V0 de salmora (água na qual


foi dissolvida uma quantidade inicial de sal Q0 ). Uma outra salmora é bombeada para
dentro do tanque a uma certa taxa qe (L/min) e com uma concentração de sal conhecida
Ce (g/L). Quando esta solução estiver bem misturada, ela será bombeada para fora a
uma certa taxa qs (L/min) e com uma certa concentração Cs (g/L). Se Q(t) denotar a
quantidade de sal no tanque no instante de tempo t, a taxa segundo Q(t) varia será uma
taxa lı́quida:

dQ
= (taxa de entrada de sal) − (taxa de saı́da de sal) = Re − Rs ,
dt

A taxa de entrada Re do sal no tanque é produto do fluxo de entrada de fluı́do qe


pela concentração de sal Ce , ou seja, Re = qe .Ce e o mesmo vale para a saı́da Rs = qs .Cs .
Repare na unidade de medida para Re e Rs : min L
· Lg = min
g
. Ainda temos que, sendo C a
concentração de Sal, Q a quantidade de sal em t e V o volume concentração salina, segue
que:
Q Q
V = V0 + (qe − qs )t , C = e ainda Cs = ,
V V0 + (qe − qs )t

logo

dQ qs .Q
= qe .Ce − .
dt V0 + (qe − qs )t
2. Equações Diferenciais Ordinárias 23

2.2.6 Circuitos em Série

Para um circuito em série contendo apenas um resistor e um indutor, a segunda


lei de Kirchhoff estabelece que a soma das quedas de tensão no indutor (L(di/dt)) e no
resistor (iR) é igual a tensão aplicada no circuito (E(t)). Obtemos, assim, a equação
diferencial linear para a corrente i(t).

di
L + Ri = E(t),
dt

onde L e R são constantes conhecidas como a indutância e a resistência, respectivamente.

A queda de tensão em um capacitor com capacitância C é dada por q(t)


C
, onde
q é a carga no capacitor. Assim sendo, para o circuito em série R-C, a segunda lei de
Kirchhoff nos dá
1
Ri + q = E(t).
C

dq
Mas a corrente i e a carga q estão relacionadas por i = dt
, dessa forma, a equação
acima transforma-se na equação diferencial linear

dq 1
R + q = E(t).
dt C

2.2.7 Corpos em queda

A segunda lei do movimento de Newton nos diz que a massa de um objeto,


multiplicada por sua aceleração é igual a força total atuando sobre o objeto, ou seja
F = ma, onde F é a força total agindo sobre o objeto, m é a massa do objeto e a é a
aceleração do objeto. Suponha que o objeto está caindo na atmosfera, próximo do nı́vel
do mar. A aceleração e a velocidade estão relacionados da forma a = dv/dt. Assim,
podemos escrever
dv
F =m
dt

Considerando as forças que agem no objeto em queda. A gravidade exerce uma


força igual ao peso do objeto, ou mg, em que g é a aceleração gravitacional determinada
experimentalmente como 9, 8m/s2 próximo à superfı́cie da Terra. A resistência do ar é
proporcional a velocidade do objeto, assim ela terá magnitude γv, onde γ é uma constante
chamada de coeficiente da resistência do ar. Esta depende muito da superfı́cie do objeto
24 2.2 Modelagem Matemática e Equações Diferenciais

(se lisa ou rugosa) e da aerodinâmica do objeto. Ainda, sua unidade é kg/s. Assim, γv
terá unidade de força, ou seja, kg · m/s2 .

A expressão da força total F , será considerada lembrando que a gravidade sempre


age para baixo (sentido positivo), enquanto a resistência do ar age para cima (sentido
negativo). Logo,

F = mg − γv,

e com isso temos


dv
m = mg − γv,
dt

ou
dv γ
+ v = g.
dt m

Ainda, se levarmos em conta que a posição s(t) do objeto é relacionada com a


velocidade v = ds/dt, temos também:

d2 s γ ds
+ = g.
dt m dt

2.2.8 Movimento Harmônico Simples

O movimento harmônico simples (MHS) é o movimento oscilatório que acontece


quando a aceleração e a força resultante são proporcionais e opostas ao deslocamento, sem
atrito. É um tipo de frequência do movimento, onde oscila a massa. Para o movimento
harmônico simples unidimensional, a equação dos movimentos é aplicada à segunda lei
linear com uma equação diferencial ordinária com seus coeficientes constantes, a partir
da segunda lei de Newton e da lei de Hooke:

d2 x
F = ma = m = −kx,
dt2

logo,
d2 x k
2
+ x = 0,
dt m

ou, equivalentemente, considerando a frequência angular ω 2 = k/m e k a constante de


elasticidade da mola
d2 x
+ ω 2 x = 0.
dt2
2. Equações Diferenciais Ordinárias 25

2.3 Classificações de uma Equação Diferencial

Como visto na definição 2.1 e em todas as modelagens matemáticas na seção


anterior, uma equação diferencial é uma equação que envolve derivadas. Mas estas podem
ser classificadas, ou categorizadas, quanto a diversos aspectos:

• Se a ED é ordinária ou parcial;

• quanto a sua ordem e grau;

• se a ED é linear ou não linear.

Definição 2.2 Equações Diferenciais Ordinárias (EDOs) são as equações nas


quais aparecem apenas derivadas simples (isto é, com uma apenas uma variável depen-
dente).

Exemplo 2.1 Exemplos de EDO’s:

• y 00 + y + 2 = 0
dy
• dt
− 5y = 1
dy
• (y − x)dx + 4xdy = 0, também pode ser escrita como 4x dx +y =x

Observação: todas as equações diferenciais apresentadas nas modelagens matemáticas na


seção anterior são EDOs.

Definição 2.3 Equações Diferenciais Parciais (EDPs) são as equações nas quais
aparecem derivadas parciais (isto é, com duas ou mais variáveis dependentes).

Exemplo 2.2 Exemplos de EDP’S:

• ut − c2 uxx = 0 (Equação do Calor)

• utt − c2 uxx = 0 (Equação da Onda)

• uxx + utt = 0 (Equação de Laplace)


26 2.3 Classificações de uma Equação Diferencial

Definição 2.4 A ordem de uma ED é a mais alta ordem de derivada que aparece na
equação.

Exemplo 2.3 As ED’s e suas respectivas ordens:

• y 00 + y + 2 = 0 ordem 2
dy
• dt
− 5y = 1 ordem 1

• (y − x)dx + 4xdy = 0 ordem 1

• ut − c2 uxx = 0 ordem 2
d2 y dy 3

• dx 2 + 5 dx − 4y = ex ordem 2

Equações Diferenciais Ordinárias (EDO) de primeira ordem tem a forma:


dy
= f (x, y)
dx

Definição 2.5 O grau de uma ED é o maior dos expoentes a que está elevada a derivada
de mais alta ordem contida na equação.

Exemplo 2.4 As ED’s e seus respectivos graus:

• y 00 + y + 2 = 0 grau 1

• (y − x)dx + 4xdy = 0 grau 1

• ut − c2 uxx = 0 grau 1
 2 2
d y dy 3

• dx 2 + 5 dx − 4y = ex grau 2
 3
2  3
d y d4 y
• x − y dx3 =1+ dx4
grau 3

Definição 2.6 Uma ED é dita linear se satisfaz as seguintes condições:

1. a variável dependente y e todas as suas derivadas são do primeiro grau, isto é, a
potência de cada termo envolvendo y é 1;

2. cada termo depende apenas da variável independente x.

E uma ED é não-linear se não satisfaz pelo menos uma das condições descritas acima.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 27

Exemplo 2.5 Exemplos de ED’s lineares:

• y 00 + y + 2 = 0

• xdy + ydx = 0
d y 3 2
2d y dy
• x3 dx3 − x dx2 + 3x dx + 5y = e
x

Exemplo 2.6 Exemplos de ED’s não-lineares:

• y.y 00 − 2y 0 = x
d3 y
• dx3
+ y2 = 0

Compreendido como uma Equação Diferencial pode ser classificada, parte do


objetivo dessa disciplina é discutir as soluções dessas equações e como encontrá-las. Antes
disso:

Definição 2.7 Toda função φ, definida em um intervalo I que tem pelo menos n deriva-
das contı́nuas em I, as quais quando substituı́das em uma equação diferencial ordinária
de ordem n reduzem a equação a uma identidade, é denominada uma solução da equação
diferencial no intervalo.

Em alguns contextos, a solução φ é chamada de integral da equação. O intervalo


I na definição 2.7 é chamado de intervalo de definição, intervalo de existência,
intervalo de validade ou domı́nio da solução, podendo ser um intervalo aberto (a, b),
um intervalo fechado [a, b], um intervalo (a, ∞) e assim por diante.


Exemplo 2.7 Verifique que a função u(x, t) = ln( x2 + t2 ) é solução da equação de
Laplace uxx + utt = 0.

x t2 − x2
ux = 2 , uxx = 2
x + t2 (x + t2 )2

t x2 − t2
ut = 2 , utt = 2
x + t2 (x + t2 )2

Substituindo na ED, temos:

t 2 − x2 x2 − t 2 t2 − x2 + x2 − t2
uxx + utt = + = =0
(x2 + t2 )2 (x2 + t2 )2 (x2 + t2 )2

Logo, está verificado.


28 2.3 Classificações de uma Equação Diferencial

x4 dy
Exemplo 2.8 Verifique que y = é solução da equação não-linear dx
= xy 1/2 .
16

dy 4x3 x3
= =
dx 16 4
1/2
x4 x2 x3

1/2
xy =x =x =
16 4 4

Ao desenvolver os dois membros da equação obtemos a mesma expressão, logo, está veri-
ficado.

Exemplo 2.9 Verifique que y = xex é solução da equação linear y 00 − 2y 0 + y = 0.

y 0 = 1ex + xex = (x + 1)ex

y 00 = 1ex + (x + 1)ex = (x + 2)ex

Substituindo na ED, temos:

y 00 − 2y 0 + y = (x + 2)ex − 2((x + 1)ex ) + xex = (x + 2 − 2x − 2 + x)ex = 0

Logo, está verificado.

Existem vários tipos de solução de uma equação diferencial, são elas:

1. Solução geral: é a solução da equação que contém tantas constantes arbitrárias


quantas forem as unidades da ordem da equação. Dessa forma, uma equação de
primeira ordem apresenta apenas uma constante arbitrária em sua solução geral.
Uma de segunda ordem apresentará duas constantes, e assim por diante.

2. Solução particular: é a solução da equação deduzida da solução geral, atribuindo-


se valores particulares às constantes arbitrárias.

3. Solução singular: é a solução da equação, que não pode ser deduzida da solução
geral. Assim sendo, apenas alguns tipos de equações apresentam essa solução. No
exemplo 2.8, y = 0 é uma solução singular (verifique!), pois ela não pode ser obtida
da famı́lia mediante atribuição de valor numérico especı́fico à constante c.

Observe que para algumas Equações Diferenciais, dado mais que uma solução, então a
combinação linear delas também é solução da ED.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 29

Definição 2.8 O gráfico de uma solução, ou integral da equação, φ de uma EDO é


chamado de curva integral.

Uma vez que φ é uma função diferenciável, ela é contı́nua no seu intervalo de
existência I. Com isso, pode haver uma diferença entre o gráfico da função φ e o gráfico
da solução φ. Ou seja, o domı́nio da função φ não precisa necessariamente ser igual ao
intervalo I de existência da solução.

Exemplo 2.10 Esboce as curvas integrais da ED y 0 = 2x.

Sendo y = x2 + c a solução da ED, repare que para valor de c ∈ R, tem uma solução
diferente. Assim, os gráficos a seguir exemplificam possibilidade de y para diferentes
valores de c.

Figura 2.1: Algumas soluções de y 0 = 2x

Ao olhar para o exemplo 2.10 acima, para cada valor de c diferente, temos uma
solução diferente. A este conjunto de soluções, chamamos de famı́lia de soluções a um
parâmetro. E a solução de uma equação diferencial que não dependa de parâmetros
arbitrários é chamada de solução particular.
30 2.4 Problema de Valor Inicial (PVI)

2.4 Problema de Valor Inicial (PVI)

Na aplicação 2.2.4 vimos que surgiu uma informação “extra”na modelagem. E


muitas vezes pode-se observar a necessidade de impor uma condição chamada de condição
dy
inicial ao problema. Sendo assim, a EDO de primeira ordem dx = f (x, y) sujeita a
condição inicial y(x0 ) = y0 , em que x0 é um número no intervalo I e y0 é um número
real arbitrário, é chamada de problema de valor inicial (PVI). Em termos geométricos,
procura-se uma solução para a equação diferencial definida em algum intervalo I tal que
o gráfico da solução passe por um ponto (x0 , y0 ) determinado a priori.

Exemplo 2.11 Verifique que, para qualquer constante c, y = cex é solução da ED y 0 = y.


Depois, dada a condição inicial y(0) = 3, qual é a solução do PVI? Esboce a famı́lia de
soluções e destaque a solução do PVI.

Sendo y 0 = cex e substituindo na ED: cex = cex torna a identidade verdadeira. Logo, é
solução. Note ainda que y = cex é uma famı́lia a um parâmetro de soluções.

Tomando a condição inicial y(0) = 3 e substituı́mos esta na solução, temos: 3 = ce0 ,


entao c = 3, por tanto, a solução do PVI é y(x) = 3ex

Figura 2.2: Famı́lia de soluções de y 0 = y e a solução particular y = 3ex

Quando consideramos um PVI pode-se questionar duas coisas:

1. Existe uma solução para cada problema?

2. Se existe uma solução, ela é única?


2. Equações Diferenciais Ordinárias 31

dy
Em outras palavras, a equação diferencial dx = f (x, y) possui alguma solução
cujo gráfico passa pelo ponto (x0 , y0 )? E será que essa solução, se existir, é única?


4  dy
x = xy 1/2
Exemplo 2.12 Verifique que y = 0 e y = são soluções para o PVI dx .
16  y(0) = 0

• Para y = 0: temos que y 0 = 0. Substituindo na ED: 0 = x(0)1/2 = 0 e substituindo


na condição inicial: y(0) = 0. Logo, y = 0 é solução do PVI.
x4
• Para y = : a substituição na ED já foi feita no exemplo 2.8. Substituindo na
16
04 x4
condição inicial: y(0) = = 0. Logo, y = é solução do PVI.
16 16

Note que nesse exemplo, existe solução, mas não é única. Dessa forma, tem-se o
seguinte teorema.

Teorema 2.1 Existência de uma única Solução


Seja R uma região retangular no plano xy definida por a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d, que contém
o ponto (x0 , y0 ) em seu interior. Se f (x, y) e ∂f
∂y
são contı́nuas em R, então existe um
intervalo I centrado em x0 e uma única função y(x) definida em I que satisfaz o problema
de valor inicial 
dy
Resolva: = f (x, y)

dx .
 Sujeito a: y(x ) = y
0 0

Observação 2.1 Note que:

1. Garantir que existe solução não significa que é possı́vel exibi-la.

2. O teorema tem condições de existência e unicidade fáceis de serem verificadas.

3. Se a equação diferencial não satisfaz as condições do teorema pode não ter solução,
ter uma única solução ou ainda mais que uma solução.

Exemplo 2.13 Para


dy
= x2 + y 2
dx
observe que f (x, y) = x2 + y 2 e ∂f
∂y
= 2y são contı́nuas em todo plano xy. Logo, para
qualquer ponto (x0 , y0 ) passa uma e somente uma solução para a equação diferencial.
Porém a equação não pode ser resolvida em termos de funções elementares, podemos
expressar uma solução aproximada usando métodos numéricos.
32 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

A partir de agora, serão discutidas as metodologias de resolução de equações de


primeira ordem, dependendo do tipo de equação diferencial ordinária de primeiro grau
em que se pretende resolver.

2.5.1 Variáveis Separáveis

Definição 2.9 Equação Separável: Uma equação diferencial da forma

dy g(x)
=
dx h(y)

é chamada separável ou tem variáveis separáveis.

Note que, a Equação Separável pode ser escrita da forma h(y)dy − g(x)dx = 0.

Para resolver esse tipo de equação diferencial, como o próprio nome já diz, deve-
se SEPARAR AS VARIÁVEIS, isto é, deve-se deixar o coeficiente da diferencial dy uma
função exclusivamente da variável y e o coeficiente da diferencial dx uma função exclusi-
vamente de variável x:
h(y)dy = g(x)dx

e então, integrando os dois lados, segue que,


Z Z
h(y)dy = g(x)dx + c

Exemplo 2.14 Resolva as seguintes equações por separação de variáveis e verifique se a


função obtida é de fato solução:

dy
a) = 3x − 1
dx
dy = (3x − 1)dx, integrando ambos os lados
3x2
y= −x+c
2
3x2 dy
Verificando: derivando a função y = −x+c temos = 3x−1, que é exatamente
2 dx
a ED que querı́amos resolver. Deste modo, a função encontrada é de fato solução
da EDO dada.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 33

dy x
b) =−
dx y
ydy = −xdx, integrando ambos os lados
y 2 = −x2 + c
Verificando: derivando implicitamente a solução obtida temos 2yy 0 = −2x, isolando
dy x
y 0 temos novamente a ED = − . Deste modo, a solução encontrada é de fato
dx y
solução da EDO dada.

Exemplo 2.15 Em uma cultura, há inicialmente P0 bactérias. Uma hora depois, t = 1, o
número de bactérias passa a ser 23 P0 . Se a taxa de crescimento é proporcional ao número
de bactérias presentes, determine o tempo necessário para que o número de bactérias
triplique.

dP
Como = kP (modelo matemático 2.2.1) é de variáveis separáveis, segue que:
dt
dP
= kdt, integrando ambos os lados
P
ln |P | = kt + c

P = ekt+c = ekt ec = Cekt


3 3 3
Além disso, como P (1) = P0 , então P0 = P0 ek , isto é, ek = , logo, k = ln(3/2) ≈ 0, 4.
2 2 2

Portanto, P (t) = P0 e0,4t .

Agora, qual é o tempo t para que P (t) = 3P0 ? Note que: 3P0 = P0 e0,4t , então 3 = e0,4t e
t = ln(3)
0,4
≈ 2, 7h. Portanto, será necessário aproximadamente 2h42 para que o número de
bactérias triplique.

2.5.2 Equações Homogêneas

Antes de considerar o conceito de equação diferencial homogênea de primeira


ordem e seu método de solução, é necessário entender o que é uma função homogênea.

Definição 2.10 Função Homogênea: Se uma função f satisfaz

f (tx, ty) = tn f (x, y)

para algum real n e para todo real t > 0 tal que (tx, ty) esteja no domı́nio de f , então f
é uma função homogênea de grau n.
34 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

Exemplo 2.16 Verifique se as seguintes funções são homogêneas:

a) f (x, y) = x2 − 3xy + 5y 2
Aplicando a definição 2.10: f (tx, ty) = t2 x2 − 3t2 xy + 5t2 y 2 = t2 (x2 − 3xy + 5y 2 ) =
t2 f (x, y), portanto, f é homogênea de grau 2.
p
b) f (x, y) = 3 x2 + y 2
p √3
p
Aplicando a definição 2.10: f (tx, ty) = 3 (tx)2 + (ty)2 = t2 3 x2 + y 2 = t2/3 f (x, y),
portanto, f é homogênea de grau 2/3.

c) f (x, y) = x3 + y 3 + 1
Aplicando a definição 2.10: f (tx, ty) = (tx)3 +(ty)3 +1 = t3 (x3 +y 3 )+1 6= t3 f (x, y),
portanto, f não é homogênea.
x
d) f (x, y) = +4
2y
tx x x
Aplicando a definição 2.10: f (tx, ty) = +4 = + 4 = 1. + 4 = t0 f (x, y),
2ty 2y 2y
portanto, f é homogênea de grau 0.

Observação 2.2 Se f (x, y) for uma função homogênea de grau n, então podemos escre-
ver  y  
n n x
f (x, y) = x f 1, e f (x, y) = y f ,1
x y
 
em que f 1, xy e f xy , 1 são ambas de grau zero.


Exemplo 2.17 Aplique a observação acima a f (x, y) = x2 + 3xy + y 2

Note que "  #


2  
2 x x 2 x
f (x, y) = y +3 +1 =y f ,1
y y y
e  
2 y  y 2 2
 y
f (x, y) = x 1+3 + = x f 1, ,
x x x
portanto, f é homogênea de grau 2.

Definição 2.11 Equação Homogênea: Uma equação diferencial da forma

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0

é chamada homogênea se ambos os coeficientes M e N são funções homogêneas do mesmo


grau.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 35

Método de Solução

Uma equação diferencial homogênea M (x, y)dx+N (x, y)dy = 0 pode ser resolvida
por meio de uma substituição algébrica.

Especificamente, a substituição y = ux ou x = vy, em que u e v são as novas


variáveis independentes, transformará a equação em uma equação diferencial de primeira
ordem separável.

De fato, se (
y = ux
,
dy = udx + xdu
como M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0, segue que,

M (x, ux)dx + N (x, ux) [udx + xdu] = 0.

Agora, pela propriedade de homogeneidade, isto é,

M (x, ux) = xn M (1, u)

N (x, ux) = xn N (1, u),


pode-se escrever
xn M (1, u)dx + xn N (1, u) [udx + xdu] = 0
ou
[M (1, u) + uN (1, u)] dx + xN (1, u)du = 0,
assim,
dx N (1, u)du
+ = 0.
x M (1, u) + uN (1, u)

Note que, nessa última expressão tem-se uma equação separável.

Exemplo 2.18 Verifique se a equação é homogênea, se for, resolva:

a) (x2 + y 2 )dx + (x2 − xy)dy = 0.


Note que M (x, y) = x2 + y 2 e N (x, y) = x2 − xy são homogêneas de grau 2, logo
a equação é homogênea. Assim pelo método de solução das equações homogêneas,
considere (
y = ux
,
dy = udx + xdu
logo a equação pode ser escrita como:
36 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

(x2 + u2 x2 )dx + (x2 − ux2 )(udx + xdu) = 0

x2 (1 + u)dx + x3 (1 − u)du = 0
1−u 1
du + dx = 0
1+u x
 
2 1
−1 + du + dx = 0, integrando ambos os lados
1+u x
−u + 2 ln |1 + u| + ln |x| = ln |c|
(1 + u)2 x
u = ln
c
y
Voltando a mudança de variável y = ux, então u = :
x
y (x + y)2
= ln
x cx
(x + y)2 = cxey/x .

b) 2x3 ydx + (x4 + y 4 )dy = 0.

Note que M (x, y) = 2x3 y e N (x, y) = (x4 + y 4 ) são homogêneas de grau 4, logo
a equação é homogênea. Assim pelo método de solução das equações homogêneas,
considere (
x = vy
,
dx = vdy + ydv

logo a equação pode ser escrita como:

2(vy)3 y(vdy + ydv) + ((vy)4 + y 4 )dy = 0

2v 3 (vdy + ydv) + (v 4 + 1)dy = 0

2v 4 dy + 2v 3 ydv + (v 4 + 1)dy = 0

(3v 4 + 1)dy + 2v 3 ydv = 0

2v 3 ydv = −(3v 4 + 1)dy


2v 3 dy
4
dv = − , integrando ambos os lado (no primeiro membro por substituição)
3v + 1 y
1
ln |3v 4 + 1| = − ln |y| + c
6
x
Voltando a mudança de variável u = vy, então v = :
y
1  3x4 
ln |y| + ln y4 + 1 = c.
6
2. Equações Diferenciais Ordinárias 37

2.5.3 Equações Exatas

Para resolver as Equações Exatas usaremos a definição de diferencial, isto é, se


z = f (x, y) então a sua diferencial é dada por:

dz = fx dx + fy dy.

Sendo assim, iniciaremos com um exemplo. Considere a equação diferencial

ydx + xdy = 0.

Embora ela seja separável e homogênea, também é possı́vel escrevê-la como a


diferencial do produto, isto é,

ydx + xdy = d(xy) = 0

E por integração, obtém imediatamente a solução implı́cita xy = c.

∂f ∂f
Lembre-se: Se z = f (x, y) como o seu diferencial é dz = dx + dy.
∂x ∂y

Então, se f (x, y) = c tem-se que

∂f ∂f
dx + dy = 0.
∂x ∂y

Isto significa que, dada uma famı́lia de curvas f (x, y) = c, é possı́vel gerar uma
equação diferencial de primeira ordem, calculando a diferencial.

Definição 2.12 Equação Exata: Uma expressão diferencial

M (x, y)dx + N (x, y)dy

é uma diferencial exata em uma região R do plano xy se ela corresponde à diferencial


total de alguma função f (x, y). Uma equação diferencial da forma

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0

é chamada de uma equação exata se a expressão do lado esquerdo é uma diferencial


exata.

Mas como saber se uma diferencial é exata ou não? Quem responde a esta
pergunta é o teorema 2.2 enunciado a seguir:
38 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

Teorema 2.2 Critério para uma Diferencial Exata: Sejam M (x, y) e N (x, y)
funções contı́nuas com derivadas parciais contı́nuas em uma região retangular R. Então,
uma condição necessária e suficiente para que

M (x, y)dx + N (x, y)dy

seja uma diferencial exata é


∂M ∂N
= .
∂y ∂x

Demonstração 2.1 Note que se a equação M (x, y)dx + N (x, y)dy é exata, então deve
existir uma função f talque M = fx e N = fy . Disso segue que ∂M ∂y
= fxy e ∂N
∂x
= fyx .
Mas como as derivadas de M e N são contı́nuas significa que as derivadas de segunda
ordem de f também são contı́nuas e isso implica que fxy = fyx . Portanto, tem-se que
∂M ∂N
= .
∂y ∂x

Método de Solução

∂M ∂N
Dada a equação M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 mostre primeiro que = .
∂y ∂x

∂f ∂f
Sendo f (x, y) tal que
= M (x, y) e = N (x, y) pode-se começar pela pri-
∂x ∂y
meira igualdade para chegar à solução f (x, y) = c. Ou também, pode-se começar pela
segunda igualdade para chegar à solução f (x, y) = c.

Vamos considerar a primeira opção: integrando M (x, y) com relação a x (consi-


derando y constante), encontre f :

Z
f (x, y) = M (x, y)dx + g(y), (2.1)

em que a função arbitrária g(y) é a constante de integração.

Agora, derivando (2.1) com relação a y, segue que:


Z
∂f ∂
= M (x, y)dx + g 0 (y) = N (x, y).
∂y ∂y
Assim,

Z
0 ∂
g (y) = N (x, y) − M (x, y)dx. (2.2)
∂y
2. Equações Diferenciais Ordinárias 39

Finalmente, integre (2.2) com relação a y e substitua o resultado em (2.1). A solução


para a equação é f (x, y) = c.

Exemplo 2.19 Verifique que a equação é exata, resolva pelo método e então verifique se
a função encontrada é de fato solução da EDO:

a) 2xydx + (x2 − 1)dy = 0


Se M (x, y) = 2xy e N (x, y) = x2 − 1, segue que ∂M ∂y
= 2x = ∂N
∂x
, assim, a equação
é exata, então existe f tal que fx = M e fy = N .
Escolhendo fx = M = 2xy, integrando ambos os membros em relação à x segue que:
Z
f (x, y) = 2xydx = x2 y + g(y).

Derivando essa expressão em relação à variável y, segue que


∂f
= x2 + g 0 (y) = x2 − 1 = N,
∂y
logo, g 0 (y) = −1, então g(y) = −y.
Portanto, f (x, y) = x2 y−y é a solução da ED é dada implicitamente por f (x, y) = c,
ou seja, x2 y − y + c = 0, logo,
c
y= 2 .
x −1
Verificando: Reescrevendo a funcão y = x2c−1 da forma y(x2 − 1) = c, e derivando
implicitamente temos
dy 2
(x − 1) + y(2x) = 0,
dx
multiplicando toda a equação por dx e reorganizando segue que

2xydx + (x2 − 1)dy = 0.

Desta forma, a equação encontrada é solução da EDO.

b) (2x − y + 1)dx − (x + 3y − 2)dy = 0


Se M (x, y) = 2x − y + 1 e N (x, y) = −(x + 3y − 2), segue que ∂M ∂y
= −1 = ∂N
∂x
,
assim, a equação é exata, então existe f tal que fx = M e fy = N .
Escolhendo fx = M = 2x − y + 1, integrando ambos os membros em relação à x
segue que: Z
f (x, y) = (2x − y + 1)dx = x2 − xy + x + g(y).

Derivando essa expressão em relação à variável y, segue que


∂f
= −x + g 0 (y) = −(x + 3y − 2) = N,
∂y
40 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

3y 2
logo, g 0 (y) = −3y + 2, então g(y) = − + 2y.
2
3y 2
Portanto, f (x, y) = x2 − xy + x − + 2y é a solução da ED é dada implicitamente
2
3y 2
por f (x, y) = c, ou seja, x2 − xy + x − + 2y = c.
2
Verificando: Derivando implicitamente a solução, temos:
 
dy dy dy
2x − y + x + 1 − 3y +2 =0
dx dx dx
Multiplicando toda a expressão por dx e colocando em evidência os termos com dx
e os termos com dy, temos novamente a ED do enunciado. Desta forma, a equação
encontrada é solução da EDO.

2.5.4 Equações Lineares

Uma equação diferencial linear de primeira ordem e primeiro grau tem a forma
canônica:

dy
+ P (x)y = Q(x) (2.3)
dx

Fator de Integração

Este método consiste em transformar uma equação linear numa equação exata.
Para tal, pode-se escrever a equação (2.3) como

dy + [P (x)y − Q(x)] dx = 0 (2.4)

Equações lineares tem a propriedade através da qual pode-se sempre encontrar


uma função µ(x) em que

µ(x)dy + µ(x) [P (x)y − Q(x)] dx = 0 (2.5)

é uma equação diferencial exata se

∂ ∂
µ(x) = µ(x)[P (x)y − Q(x)] (2.6)
∂x ∂y
2. Equações Diferenciais Ordinárias 41

ou melhor,

= µ(x)P (x).
dx

Portanto,


= P (x)dx
µ(x)
Z
ln |µ(x)| = P (x)dx
R
P (x)dx
µ(x) = e . (2.7)

A função µ definida em (2.7) é uma fator de integração para a equação linear.

Observe que, esse fator integrante transforma a equação diferencial linear numa
expressão fácil de ser resolvida. De fato, note que
R
µ0 = P (x)e P (x)dx
= P (x)µ

sendo assim, multiplicando a equação (2.3) pelo fator integrante obtemos a derivada do
produto:
µ(x)y 0 + P µ(x)y = Qµ(x).
| {z }
(µ(x)y)0

Resumo do método

• Para resolver uma equação linear de primeira ordem, primeiro coloque-a na forma
(2.3).
R
P (x)dx
• Identifique P (x) e encontre o fator de integração µ(x) = e .

• Multiplique a equação obtida em (2.3) pelo fator de integração:

dy
µ(x) + P (x)µ(x)y = Q(x)µ(x).
dx

• O lado esquerdo da equação anterior é a derivada do produto do fator de integração


e a variável dependente y, isto é,
d
[µ(x)y] = Q(x)µ(x).
dx

• Integre a equação encontrada no item anterior e isole y.


42 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

Exemplo 2.20 Verifique se a equação é linear e resolva:

dy
a) x − 4y = x6 ex
dx
Note que a ED deve ser reescrita na forma canônica:
dy 4
− y = x5 ex ,
dx x
assim, o fator integrante é
R −4 1
µ=e x
dx
= e−4 ln x = x−4 = .
x4
Multiplicando a ED pelo fator integrante segue que:
1 dy 1 4 1
4
− 4 y = 4 x5 ex , simplificando a expressão
x dx x x x
1 dy 4
− y = xex , reconhecendo o primeiro membro como a derivada do produto
x4 dx x5
 0
1
y = xex , integrando ambos os membros em relação a x
x4
Z
1
y = xex dx, integrando o segundo membro por partes
x4
Z
1
y = xe − ex dx
x
x4
1
y = xex − ex + c, isolando o y
x4
y = x5 ex − x4 ex + cx4 .

dy
b) + 2xy = x, y(0) = −3
dx
A ED já está na forma canônica de uma ED linear, assim, o fator integrante é
2
R
2xdx
µ=e = ex .
Multiplicando a ED pelo fator integrante segue que:
2 dy 2 2
ex +ex 2xy = xex , reconhecendo o primeiro membro como a derivada do produto
dx
x2 0 2
(e y) = xex , integrando ambos os membros em relação a x
Z
2
x2
e y = xex dx, integrando o segundo membro por substituição

2 1 2
ex y = ex + c, isolando o y
2
1 2
y = + ce−x
2
Aplicando a condição inicial y(0) = −3, temos:
1 2 7
−3 = + ce−0 , então c = −
2 2
1 7 −x2
y= − e .
2 2
2. Equações Diferenciais Ordinárias 43

2.5.5 Equação de Bernoulli

Resolver equações diferenciais não lineares é muito difı́cil, mas existem algumas
delas que mesmo sendo não lineares, podem ser transformadas em equações lineares. Os
principais tipos de tais equações são Bernoulli e Ricatti. Vamos tratar apenas da equação
de Bernoulli.

A equação diferencial

dy
+ P (x)y = Q(x)y n (2.8)
dx

em que n é um número real qualquer, é chamada de equação de Bernoulli. Para n = 0


e n = 1, a equação (2.8) é linear em y.

Método de Solução:

Multiplicando ambos os membros de (2.8) por y −n , y 6= 0, obtemos

dy
y −n + P (x)y 1−n = Q(x). (2.9)
dx

Nessa equação, faça seguinte mudança de variável y 1−n = t e derivando em relação


dy
a x tem-se que (1 − n)y −n dx dt
= dx . Logo, de (2.9), tem-se que:

dy
(1 − n)y −n = (1 − n) Q(x) − P (x)y 1−n .
 
(2.10)
dx

e então,
dt
= (1 − n) Q(x) − P (x)y 1−n

dx

como y 1−n = t, tem-se que:


dt
= (1 − n) (Q(x) − P (x)t)
dx

isto é,
dt
+ [(1 − n)P (x)] t = (1 − n) Q(x).
dx

Tornando-se assim uma equação linear a ser resolvida pelo método anterior. Após
resolvida, deve-se voltar a variável original y.
44 2.5 Equações Diferenciais de Primeira Ordem

Passos para resolução de uma Equação de Bernoulli:

• dividir a equação por y n ;

• fazer a substituição t = y 1−n ;

• resolver a equação linear;

• voltar a variável y.

Exemplo 2.21 Resolva as equações abaixo:

dy 1
a) + y = xy 2
dx x
dy 1 −1
Dividindo a equação por y 2 : y −2 + y =x
dx x
dt dy dt 1
Fazendo a substituição t = y −1 e = −y −2 , com isso: − + t = x
dx dx dx x
dt 1
Ajustando a equação para linear: − t = −x
dx x
R 1
Fator de integração: e − x dx = e− ln |x| = x−1
dt 1
Multiplicando a ED pelo fator de integração: x−1 − 2 t = −1
dx x
0
Reconhecendo o primeiro membro como a derivada do produto: (x−1 t) = −1
Integrando ambos os lados: x−1 t = −x + c
Isolando t: t = cx − x2
Voltando a substituição: y −1 = cx − x2
1
Logo y =
cx − x2
dy
b) − 2y = 3xy −3
dx
dy
Dividindo a equação por y −3 : y 3 − 2y 4 = 3x
dx
dt dy 1 dt
Fazendo a substituição t = y 4 e = 4y 3 , com isso: − 2t = 3x
dx dx 4 dx
dt
Ajustando a equação para linear: − 8t = 12x
dx
R
Fator de integração: e −8dx = e−8x
dt
Multiplicando a ED pelo fator de integração: e−8x − 8e−8x t = 12xe−8x
dx
0
Reconhecendo o primeiro membro como a derivada do produto: (e−8x t) = 12xe−8x
2. Equações Diferenciais Ordinárias 45

3 −8x
Integrando ambos os lados: e−8x t = − e (8x + 1) + c
16
3
Isolando t: t = − (8x + 1) + ce8x
16
3
Voltando a substituição: y 4 = ce8x − (8x + 1)
16
r
3
Logo y = 4 ce8x − (8x + 1)
16

2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Supe-


rior

As equações lineares de ordem n tem a forma:

dn y dn−1 y dy
an n
+ a n−1 n−1
+ . . . + a1 + a0 y = b
dx dx dx
onde an , an−1 , . . . a1 , a0 e b dependem apenas de x ou são constantes.

2.6.1 Problema de Valor Inicial e de Valor de Contorno

O problema de valor inicial para equações diferenciais lineares de ordem n é dado


por:
n
d y d yn−1 dy
Resolva: an dxn + an−1 dxn−1 + . . . + a1 dx + a0 y = b (2.11)
(n−1)
Sujeito a: y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 , . . . , y (n−1) (x0 ) = y0 (2.12)

(2.12) são chamados de condições iniciais do problema.

Teorema 2.3 Existência e unicidade da solução: Se an , an−1 , . . . a1 , a0 e b são


contı́nuas então existe uma única solução para o problema (2.11) de valor inicial (2.12).

Um outro tipo de problema consiste em resolver uma equação diferencial de ordem


2 ou maior no qual a variável dependente y ou suas derivadas são especificadas em pontos
diferentes.

d y 2 dy
Resolva: a2 dx 2 + a1 dx + a0 y = b (2.13)
Sujeito a: y(a) = y0 , y(b) = y1 (2.14)
46 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

Os valores especificados y(a) = y0 e y(b) = y1 são chamados de condições de


contorno ou de fronteira. Um solução para o problema em questão é uma função que
satisfaça a equação diferencial em algum intervalo I, contendo a e b cujo gráfico passa
pelos pontos (a, y0 ) e (b, y1 ).

Observação 2.3 Mesmo quando as condições do Teorema 2.12 estiverem satisfeitas, um


problema de valor de contorno pode ter várias soluções, uma única solução ou nenhuma
solução.

2.6.2 Solução

Para resolver as Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de ordem superior,


iniciaremos com as de ordem 2, como já vimos, elas tem a forma:

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = r(x) (2.15)

onde

• p(x), q(x) e r(x) são os coeficientes;

• y(x) é a solução do sistema.

Definição 2.13 Classificação de homogênea: Se r(x) = 0 então a ED é chamada


de homogênea. E se r(x) 6= 0 a ED é chamada de não homogênea.

A ED de ordem dois, dada em (2.15) e homogênea, possui duas soluções, y1 (x)


e y2 (x) e são linearmente independentes, isto é, yy21 (x)
(x)
= u(x) 6= constante.

Além disso, é possı́vel verificar se duas funções contı́nuas são linearmente inde-
pendentes analisando o seu wronskiano, isto é,

y1 (x) y2 (x)
W (y1 , y2 ) = 6= 0.
y10 (x) y20 (x)

Observação 2.4 Se a equação diferencial possuir mais que duas soluções, para analisar
a independência linear só é válido utilizar o wronskiano.

Dessa forma, quando y1 (x) e y2 (x) são L.I., eles formam uma base para a solução
da EDO de ordem 2 homogênea.
2. Equações Diferenciais Ordinárias 47

Teorema 2.4 Princı́pio da Superposição - Equações Homogêneas: Sejam y1 (x)


e y2 (x) soluções linearmente independentes da equação diferencial linear de ordem 2 ho-
mogênea. Então, a combinação linear

y = c1 y1 (x) + c2 y2 (x),

em que c1 e c2 são constantes arbitrárias, é também uma solução.

Se temos uma solução y1 (x) pode-se obter y2 (x) mais facilmente. Basta utilizar
o fato que elas devem ser L.I., isto é,

y2 (x)
= u(x),
y1 (x)

logo,
y2 (x) = u(x)y1 (x).

Exemplo 2.22 Obtenha y2 (x) solução da ED x2 y 00 − 6y = 0, dada a solução y1 (x) = x3 .

Seja y2 = uy1 = ux3 , temos

y20 = u0 x3 + 3x2 u

y200 = u00 x3 + 6x2 u0 + 6xu (verifique!)

Substituindo na ED:

x2 (u00 x3 + 6x2 u0 + 6xu) − 6(ux3 ) = 0

u00 x5 + 6x4 u0 = 0 (÷x5 )

6
u00 + u0 = 0
x
Fazendo a mudança de variável w = u0 , temos a ED linear de primeira ordem:

6
w0 + w = 0
x
6
R
dx
Assim, resolvemos obtendo o fator de integração µ = e x = x6 , logo:

x6 w0 + 6x5 w = 0

(x6 w)0 = 0
48 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

x6 w = c1 , logo w = c1 x−6

Voltando à variável u:

u0 = c1 x−6 , integrando ambos os lados

c1 −5
u= x + c2
−5

Fazendo c1 = −5 e c2 = 0 e substituindo em y2 = ux3 , temos:

y2 = x−2

que é a segunda solução da ED (verifique!)

Para encontrar as soluções de uma EDO linear é necessários analisar os seus


coeficientes. Na sequência discutiremos como encontrar as soluções para cada tipo de ED.

2.6.3 Equações Lineares e Homogêneas de Coeficientes Cons-


tantes

As equações diferenciais ordinárias lineares e homogêneas de coeficientes constan-


tes são da forma:
dn y dn−1 y dy
an n + an−1 n−1 + . . . + a1 + a0 y = 0
dx dx dx
onde an , an−1 , . . . , a1 e a0 são constantes.

RESOLUÇÃO:

dy
Para n = 1, tem que se: + ay = 0, então a solução tem a forma: y = ce−ax .
dx

Dessa forma, para equações de ordem maior, é natural procurar por soluções
exponenciais. Sendo assim, para n = 2, tem-se que a ED é dada por:

ay 00 + by 0 + cy = 0, (2.16)

onde a e b são constante. Utilizando uma solução da forma y = eλx e substituindo em


(2.16) segue que

aλ2 eλx + bλeλx + ceλx = 0


eλx (aλ2 + bλ + c) = 0 (2.17)
2. Equações Diferenciais Ordinárias 49

Como eλx 6= 0 para qualquer valor de x, de (2.17), segue que

aλ2 + bλ + c = 0, (2.18)

a qual iremos chamar de equação caracterı́stica p(λ) da ED (2.16).

Em relação a equação caracterı́stica p(λ) = aλ2 + bλ + c = 0, temos três casos a


considerar:

Caso 01: Raı́zes reais e distintas

Com a hipótese de que a equação caracterı́stica (2.18) possui duas raı́zes reais e
distintas λ1 e λ2 , encontramos duas soluções para a ED

y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x .

Como as soluções são L.I., segue que a solução geral para (2.16) é da forma:

y = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x .

E para uma equação de ordem n fica:

y = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x + . . . + cn eλn x .

Exemplo 2.23 Encontre a solução geral da equação: 2y 00 − 5y 0 − 3y = 0.

Equação Caracterı́stica: p(λ) = 2λ2 − 5λ − 3 = 0, cujas raı́zes são λ1 = 2 e λ2 = 3, logo


y = c1 e2x + c2 e3x .

Caso 02: Raı́zes reais e iguais

Se λ1 = λ2 = λ, aplicando a regra do caso anterior terı́amos y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x .


No entanto, é necessário encontrar soluções que sejam linearmente independentes, pois
com as raı́zes iguais temos que yy12 = 1 = constante.

Assim, temos que encontrar uma segunda solução que seja linearmente indepen-
dente. Supondo a equação em (2.16) e utilizando o conceito de base em que y2 (x) =
u(x)y1 (x), onde y1 = eλx , tem-se que:

y2 = ueλx ,

y20 = u0 eλx + λueλx ,


50 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

y200 = u00 eλx + 2λu0 eλx + λ2 ueλx .

Substituindo em (2.16), segue que

au00 eλx + 2aλu0 eλx + aλ2 ueλx + bu0 eλx + bλueλx + cueλx = 0

e assim:
eλx au00 + (2aλ + b)u0 + (aλ2 + bλ + c)u = 0.


b
Como eλx 6= 0 e aλ2 +bλ+c = 0 (equação caracterı́stica) tem como sua única raiz λ = − 2a ,
isto é, 2aλ + b = 0, tem-se que:
au00 = 0,

u00 = 0,

logo:
u0 = C

e assim,
u = Cx + K.

Portanto,
y2 = (Cx + K)eλx .

Como a solução do problema é uma combinação linear de y1 e y2 , então ela é


dada por:
y = c1 eλx + c2 xeλx .

A propriedade se estende para equações de ordem superior:

y = c1 eλx + c2 xeλx + c3 x2 eλx + . . . + cn xn−1 eλx .

Exemplo 2.24 Encontre a solução geral da equação: y 00 − 10y 0 + 25y = 0.

Equação Caracterı́stica: p(λ) = λ2 − 10λ + 25 = 0, cujas raı́zes são λ1 = λ2 = 5, logo


y = c1 e5x + c2 xe5x .

Caso 03: Raı́zes complexas

Se λ1 = a + bi e λ2 = a − bi as raı́zes da equação caracterı́stica. Aplicando a


condição do caso 01, temos a solução da forma:

y = c1 e(a+bi)x + c2 e(a−bi)x . (2.19)


2. Equações Diferenciais Ordinárias 51

Porém, na prática, preferimos trabalhar com funções reais em vez de exponenciais


complexas. Para tal, utilizaremos a fórmula de Euler:

eiθ = cos θ + i sen θ.

Como seno é uma função ı́mpar e cosseno é uma função par, segue que:

e−iθ = cos θ − i sen θ.

Assim, em (2.19), segue que

y = eax (c1 + c2 ) cos(bx) + i(c1 − c2 ) sen (bx) ,


 

fazendo
c1 + c2 = C 1

i(c1 − c2 ) = C2 ,

segue que
y = eax C1 cos(bx) + C2 sen (bx) .


Exemplo 2.25 Encontre a solução geral da equação: y 00 + y 0 + y = 0.

−1 ± 3i
Equação Caracterı́stica: p(λ) = λ2 + λ + 1 = 0, cujas raı́zes são λ = , logo
     2
−x 3x 3x
y = e 2 c1 cos + c2 sen .
2 2

2.6.4 Equações Lineares Não Homogêneas de Coeficientes Cons-


tantes

Como já foi visto, podemos escrever uma Equação Linear Não Homogênea
da seguinte forma:
y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = r(x)

E sua solução geral é escrita como:

y(x) = yh (x) + yp (x)

onde

• y1 (x), y2 (x) formam uma base para a solução da EDO de ordem 2 homogênea;

• yh (x) solução da EDO de ordem 2 homogênea, isto é, yh (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x);
52 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

• yp (x) uma solução particular, função qualquer que satisfaz a EDO de ordem 2 não
homogênea.

A parte da solução dada por yh foi discutido na seção anterior. Para determinar
yp , denominada solução particular dispomos dos seguintes métodos:

(i) Método dos coeficientes a determinar ou método de Descartes;

(ii) Método da variação de parâmetros ou método de Lagrange;

(iii) Método do operador derivada D.

Nessa disciplina, estudaremos apenas o primeiro método.

2.6.5 Método dos coeficientes a determinar (Método de Descar-


tes)

O método de Descartes ou também chamado de métodos dos coeficientes inde-


terminados, limita-se apenas a equações lineares não homogêneas que:

• tem coeficientes constantes;

• r(x) tem que ser uma constante, uma função polinomial, uma função exponencial,
função seno ou cosseno ou somas e produtos finitos dessas funções.

O candidato a solução particular yp (x) depende do termo r(x). Na tabela a seguir


encontra-se a expressão para tal solução dependendo de qual termo é o r(x):

Termo em r(x) Proposta para yp (x)


Pn (x) = a0 xn + a1 xn−1 + · · · + an s
x (A0 x n+h
+ A1 xn+h−1 + · · · + An+h )
Pn (x)eαx xs (A0 xn+h + A1 xn+h−1 + · · · + An+h )eαx
(
sen βx xs (A0 xn+h +A1 xn+h−1 +· · ·+An+h )eαx cos βx+

αx
Pn (x)e
cos βx +(B0 xn+h +B1 xn+h−1 +· · ·+Bn+h )eαx sen βx

2. Equações Diferenciais Ordinárias 53

Observação 2.5 Note que:

1. se r(x) é uma composição de funções da primeira coluna, yp (x) é composição das


respectivas funções na segunda coluna.

2. se r(x) coincide com uma função que compõe yh (x), multiplique por xs , s denota o
menor inteiro não negativo (s = 0, 1, ou 2) que garanta que nenhuma parcela de
yp (x) seja solução da equação homogênea correspondente.

3. h denota a derivada de menor ordem da equação diferencial.

Exemplo 2.26 Resolva:


a) y 00 + 3y 0 + 2y = 4x2

• Parte homogênea:
Equação Caracterı́stica: p(λ) = λ2 +3λ+2 = 0, cujas raı́zes são λ1 = −1 e λ2 = −2,
logo
yh = c1 e−x + c2 e−2x .

• Parte não-homogênea:
Como r(x) = 4x2 tem a forma polinomial, vamos supor

yp = Ax2 + Bx + C.

Além disso, como r(x) não coincide com nenhum termo de yh , não se faz necessário
alterar yp . Assim, yp0 = 2Ax + B e yp00 = 2A.
Substituindo na ED:
2A + 3(2Ax + b) + 2(Ax2 + Bx + C) = 4x2
(2A)x2 + (6A + 2B)x + (2A + 3B + 2C) = 4x2
por igualdade de polinômios, temos

 2A = 4,

6A + 2B = 0,

2A + 3B + 2C = 0

logo A = 2, B = −6 e C = 7. Por tanto

yp = 2x2 − 6x + 7

Finalmente

y(x) = c1 e−x + c2 e−2x + 2x2 − 6x + 7


54 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

d3 y dy
b) 3
−4 = 1 − 3x
dx dx
• Parte homogênea:
Equação Caracterı́stica: p(λ) = λ3 − 4λ = 0, cujas raı́zes são λ1 = −2, λ2 = +2 e
λ3 = 0, logo
yh = c1 e−2x + c2 e+2x + c3 .

• Parte não-homogênea:
Como r(x) = 1 − 3x tem a forma polinomial, vamos supor

yp = Ax + B.

Mas, como r(x) coincide com um termo de yh , se faz necessário alterar yp , multi-
plicando por x:
yp = (Ax + b)x = Ax2 + Bx.

note como agora yp não tem nenhum termo semelhante a yh .


Assim, yp0 = 2Ax + B, yp00 = 2A e yp000 = 0.
Substituindo na ED:
0 − 4(2Ax + B) = 1 − 3x
(−8A)x + (−4B) = −3x + 1
por igualdade de polinômios, temos
(
−8A = −3,
−4B = 1,
3 −1
logo A = eB= . Por tanto
8 4

3x2 −x
yp = −
8 4
Finalmente

3x2 −x
y(x) = c1 e−2x + c2 e+2x + c3 + −
8 4
2. Equações Diferenciais Ordinárias 55

c) y 00 + y = 4 sen x

• Parte homogênea:
Equação Caracterı́stica: p(λ) = λ2 + 1 = 0, cujas raı́zes são λ = ±i, logo

yh = e0x (c1 cos x + c2 sen x)

yh = c1 cos x + c2 sen x.

• Parte não-homogênea:
Como r(x) = 4 sen x tem a forma trigonométrica, vamos supor

yp = A cos x + B sen x.

Mas, como r(x) coincide com um termo de yh , se faz necessário alterar yp , multi-
plicando por x:

yp = (A cos x + B sen x)x = Ax cos x + Bx sen x.

note como agora yp não tem nenhum termo semelhante a yh .


Assim,
yp0 = A cos x − Ax sen x + B sen x + Bx cos x
e
yp00 = −2A sen x − Ax cos x + 2B cos x − Bx sen x.

Substituindo na ED:
−2A sen x − Ax cos x + 2B cos x − Bx sen x + Ax cos x + Bx sen x = 4 sen x
−2A sen x + 2B cos x = 4 sen x
igualando os membros, temos
(
−2A = 4,
2B = 0,
logo A = −2 e B = 0. Por tanto

yp = −2x cos x

Finalmente

y(x) = c1 cos x + c2 sen x − 2x cos x


56 2.6 Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior
Transformada de Laplace

Nas engenharias, vários problemas práticos envolvem sistemas elétricos e/ou


mecânicos sob a ação de impulsos ou de forças descontı́nuas. Nestes casos, os métodos
apresentados no capı́tulo anterior são de difı́cil ou impossı́vel aplicação. Um outro tipo
de método que pode ser usado em diversas aplicações, mas particularmente nas equações
diferenciais, baseia-se na transformada de Laplace. Neste capı́tulo veremos sua definição,
propriedades e como resolver EDOs de coeficientes constantes através desta técnica.

3.1 Histórico

Já mencionado no capı́tulo anterior, a transformada de Laplace tem este em home-


nagem ao seu descobridor, Pierre-Simon de Laplace, que estudou a seguinte transformada
integral
Z β
F (s) = K(s, t)f (t)dt
α

(que entenderemos melhor logo adiante) em 1782.

Muito embora só no final do século XIX e inı́cio do século XX, a teoria de geração
de funções através de transformadas começou a ser mais desenvolvida pelo matemáticos
Mathias Lerch (1860 - 1922), Oliver Heaviside (1850 - 1925) e Thomas John I’Anson
Bromwich (1875 - 1929); no entanto, somente após a segunda guerra mundial que a
transformada de Laplace foi difundida (principalmente na engenharia), substituindo o
cálculo operacional de Heaviside. O responsável por ter apresentado as vantagens de
utilizar a transformada foi o matemático Gustav Doetsch (1892 - 1977).

3.2 Definição da Transformada de Laplace

A transformada de Laplace de uma função f é uma transformada integral. Isto


é, ela é da forma:
Z β
F (s) = K(s, t)f (t)dt. (3.1)
α

A função K(s, t) é chamada de núcleo da transformada.


58 3.2 Definição da Transformada de Laplace

Para definir a transformada de Laplace, precisamos da noção de integral imprópria:

Definição 3.1 Integral imprópria: Se f (t) estiver definida para t ≥ 0, então a integral
imprópria Z ∞
K(s, t)f (t)dt
0
é definida por um limite
Z ∞ Z b
K(s, t)f (t)dt = lim K(s, t)f (t)dt.
0 b→∞ 0

Se esse limite existir, dizemos que a integral existe ou é convergente. E se o limite não
existe, dizemos que a integral não existe ou é divergente. O limite em questão existirá
somente para certos valores da variável s.

A escolha K(s, t) = e−st fornece uma transformada integral especialmente impor-


tante.

Definição 3.2 Transformada de Laplace: Seja f : [0, ∞) → R. A transformada de


Laplace da função f (t) é
Z ∞
F (s) = L {f (t)} = e−st f (t)dt,
0

se a integral imprópria converge, pelo menos para algum valor de s.

Exemplo 3.1 Calcule a transformada de Laplace das seguintes funções:

a) f (t) = 1
Aplicando a definição 3.2
Z ∞ Z b b
−e−st −e−sb + 1 1
L {1} = −st
e 1dt = lim e−st dt = lim = lim =
0 b→∞ 0 b→∞ s b→∞ s s
0
k
desde que s > 0. Generalização: L {k} = , se s > 0.
s
b) f (t) = et
b
∞ b
e(1−s)t
Z Z
L {e } =
t
e −st t
e dt = lim e (1−s)t
dt = lim
0 b→∞ 0 b→∞ 1 − s
0
e(1−s)b − 1 1
= lim =
b→∞ s s−1
1
desde que s > 1. Generalização: L ekt =

, se s > k.
s−k
3. Transformada de Laplace 59

c) f (t) = t, t ≥ 0
 
Z ∞ b Z b
−st
−te 1
L {t} = e−st tdt = lim  + e−st dt
0 b→∞ s s 0
  0
b b
−st −st −bt −sb
 
−te e −be + 0 e − 1 1
= lim  − 2  = lim − =
b→∞ s s b→∞ s s2 s2
0 0

n!
desde que s > 0. Generalização: L {tn } = , se s > 0.
sn+1
(
0, se 0 ≤ t < 5
d) f (t) =
2, se 5 ≤ t
Z ∞ Z 5 Z b 
L {f (t)} = −st
e f (t)dt = lim −st
e 0dt + −st
e 2dt
0 b→∞ 0 5
b
−e−st
 −sb
−e + e−5s 2e−5s

= 2 lim = 2 lim =
b→∞ s b→∞ s s
5
desde que s > 0. A generalização deste tipo de função será visto mais adiante.

Como a transformada de Laplace envolve integração, é natural que a transformada


herde propriedades da integral. Uma delas é a linearidade. Sejam f e g duas funções cujas
transformadas de Laplace existem. Então:
Z ∞
L {αf (t) + βg(t)} = e−st (αf (t) + βg(t))dt
0Z ∞ Z ∞
−st
= α e f (t)dt + β e−st g(t)dt
0 0
= αL {f (t)} + βL {g(t)} , ∀ α, β ∈ R

O resultado acima permite que calculemos a transformada de algumas funções a


partir de outras transformadas já conhecidas.

Exemplo 3.2 Calcule:

a) L {5 + 8t} se t ≥ 0
1 1 5s + 8
L {5 + 8t} = 5L {1} + 8L {t} = 5 + 8 2 = desde que s > 0.
s s s2
et + e−t
b) L {cosh(t)} se t ≥ 0, cosh(t) = .
2
e + e−t
 t 
1 1 1 1 1 1 s
L {cosh(t)} = L = L {et } + L {e−t } = + = 2
2 2 2 2s−1 2s+1 s −1
s
desde que s > 1. Generalização: L {cosh(kt)} = 2 , se s > k
s − k2
60 3.2 Definição da Transformada de Laplace

et − e−t
c) L {senh (t)} se t ≥ 0, senh (t) = .
2
e − e−t
 t 
1 1 1 1 1 1 1
L {senh (t)} = L = L {et }− L {e−t } = − = 2
2 2 2 2s−1 2s+1 s −1
k
desde que s > 1. Generalização: L {senh (kt)} = 2 , se s > k
s − k2

Teorema 3.1 Transformada de Algumas Funções Básicas:

1
a) L {1} = , se s > 0.
s
n!
b) L {tn } = , n = 1, 2, . . ., se s > 0.
sn+1
1
c) L ekt =

, se s > k.
s−k
k
d) L {sen (kt)} = , se s > 0.
+ k2 s2
s
e) L {cos(kt)} = 2 , se s > 0.
s + k2
k
f ) L {senh (kt)} = , se s > k.
− k2 s2
s
g) L {cosh(kt)} = 2 , se s > k.
s − k2

3.2.1 Condição de existência da transformada de Laplace

A integral que define a transformada de Laplace não, necessariamente, converge.


Sendo assim, quais são os tipos de funções que possuem transformadas de Laplace? Para
responder a esta pergunta, necessitamos de duas definições.

Definição 3.3 Uma função f é contı́nua por partes em [a, b], se em qualquer intervalo
há apenas um número finito de descontinuidade e toda descontinuidade é de primeira
espécie, ou seja, existem os limites laterais.

Exemplo 3.3 Analisando o gráfico das funções a seguir, determine quais delas são con-
tı́nuas por partes:
3. Transformada de Laplace 61

a) A função não apresenta descontinuidades, logo não só é contı́nua por partes, mas
como é contı́nua;

b) A função apresenta duas descontinuidades, mas em ambas, existem os limites late-


rais (mesmo que diferentes), logo, é uma função contı́nua por partes;

c) A função não está definida onde ela está marcada em vermelho, logo, não existe
o limite lateral no primeiro ponto de descontinuidade pela direita nem no segundo
ponto de descontinuidade, pela esquerda. Portanto, esta função não é contı́nua por
partes.

Definição 3.4 Ordem Exponencial: Uma função f é de ordem exponencial em [0, ∞)


se existem constantes C > 0 e k, tais que |f (t)| ≤ Cekt , ∀t ∈ (0, ∞) ∩ Df .

Isto significa, que f é limitada superiormente por uma exponecial, ou seja, f tem
crescimento menor que de uma exponencial.

Exemplo 3.4 Analisando o gráfico das funções determine quais delas são de ordem ex-
ponencial:

a) |t| ≤ et , para todo t > 0, com C = 1 e k = 1. Então f (t) = t é de ordem exponencial;

b) |e−t | ≤ et , para todo t > 0, com C = 1 e k = 1. Então f (t) = e−t é de ordem


exponencial;

c) |2 cos t| ≤ 2 = 2e0t ≤ 2et , para todo t > 0, com C = 2 e k = 0. Então f (t) = 2 cos t
é de ordem exponencial;.
62 3.3 Transformada Inversa de Laplace

Para a classe de funções que são contı́nuas por partes e de ordem exponencial, a
transformada de Laplace está bem definida e vale o seguinte teorema:

Teorema 3.2 Condições Suficientes de Existência: Seja f uma função contı́nua


por partes no intervalo [0, ∞) e de ordem exponencial tal que existe uma constante C > 0
onde |f (t)| ≤ Cekt , então sua transformada de Laplace existe para s > k.

Observação 3.1 O teorema garante que se a função é contı́nua por partes e de ordem
exponencial, então existe sua transformada de Laplace. Porém, essas condições são sufi-
cientes, mas não necessárias, para a existência da transformada. Por exemplo, a função
f (t) = √1t não é contı́nua por partes para t ≥ 0, mas sua transformada de Laplace existe.

Ainda, nem toda função de s é transformada de Laplace de alguma função


contı́nua por partes de ordem exponencial.

Teorema 3.3 Se f é uma função contı́nua por partes em [0, ∞), de ordem exponencial,
e F (s) = L {f (t)} então lim F (s) = lim L {f (t)} = 0.
s→∞ s→∞

3.3 Transformada Inversa de Laplace

Estávamos trabalhando com o problema de dada uma função encontrar a sua


transformada, isto é, transformar a função f (t) em outra função F (s) por meio da integral.
Denotamos isso como:
L {f (t)} = F (s).

Agora, vamos trabalhar com o problema inverso, ou seja, dada uma função F (s),
tentaremos encontrar uma função f (t) cuja transformada de Laplace seja F (s). Dizemos
que f (t) é a transformada de Laplace inversa de F (s) e escrevemos

f (t) = L −1 {F (s)} .

A transformada inversa também é um operador linear, isto é,

L −1 {αF (s) + βG(s)} = αL −1 {F (s)} + βL −1 {G(s)} .


3. Transformada de Laplace 63

Teorema 3.4 Algumas Transformada Inversas:

 
1
a) 1 = L −1
s
 
n!
b) t =L
n −1
, n = 1, 2, . . .
sn+1
 
1
c) e =L
kt −1
s−k
 
k
d) sen (kt) = L −1
s2 + k 2
 
s
e) cos(kt) = L −1
s2 + k 2
 
k
f) senh (kt) = L −1
s2 − k 2
 
s
g) cosh(kt) = L −1
s2 − k 2

As transformadas de Laplace inversa de uma função F (s) pode não ser única. Se
f1 e f2 são contı́nuas por pares em [0, ∞) e de ordem exponencial, então, se L {f1 (t)} =
L {f2 (t)}, pode-se mostrar que f1 e f2 são essencialmente iguais, isto é, elas podem ser
diferentes somente nos pontos de descontinuidade.

Exemplo 3.5 Calcule:

 
1
a) L −1
s5

Precisamos adequar a função na transformada inversa para ficar “igual”a uma das
transformadas inversas apresentadas no teorema 3.4. Assim, identificando com o
item b) do teorema, o valor de n = 4:
t4
   
1 1 −1 4! 1 4
L −1
= L = t =
s5 4! s5 4! 24
 
1
b) L −1
s2 + 64

Identificando com o item d) do teorema, o valor de k = 8:


   
1 1 −1 8 sen (8t)
L −1
2
= L 2
=
s + 64 8 s + 64 8
64 3.3 Transformada Inversa de Laplace

 
3s + 5
c) L −1
s2 + 7

Utilizando as propriedades de linearidade da transformada inversa, e identificando



com os itens d) e e), com k = 7:
( √ )
√ √
   
3s + 5 s 5 7 5
L −1 2
= 3L −1 2
+ √ L −1 2
= 3 cos( 7t)+ √ sen ( 7t)
s +7 s +7 7 s +7 7
 
1
d) L −1
(s − 1)(s + 2)(s + 4)

Note que a função deste exemplo não se enquadra em nenhuma das opções do teo-
rema 3.4. Neste caso, vamos precisar separar a função em suas frações parciais:
1 A B C
= + +
(s − 1)(s + 2)(s + 4) (s − 1) (s + 2) (s + 4)

1 A(s + 2)(s + 4) + B(s − 1)(s + 4) + C(s − 1)(s + 2)


=
(s − 1)(s + 2)(s + 4) (s − 1)(s + 2)(s + 4)

1 = As2 + 6As + 8A + Bs2 + 3Bs − 4B + Cs2 + Cs − 2C

1 = (A + B + C)s2 + (6A + 3B + C)s + (8A − 4B − 2C)

Por igualdade de polinômios, temos o sistema linear:



 A + B + C = 0

6A + 3B + C = 0

8A − 4B − 2C = 1

1 1 1
cuja solução é: A = , B = − e C = , assim:
15 6 10

1 1 1 1 1 1 1
= − +
(s − 1)(s + 2)(s + 4) 15 (s − 1) 6 (s + 2) 10 (s + 4)

Voltando à transformada inversa do exemplo, identificando com o item c) do teorema


3.4:
   
1 1 1 1 1 1 1
L −1
=L −1
− + =
(s − 1)(s + 2)(s + 4) 15 (s − 1) 6 (s + 2) 10 (s + 4)
     
1 −1 1 1 −1 1 1 −1 1
= L − L + L =
15 (s − 1) 6 (s + 2) 10 (s + 4)

et e−2t e−4t
= − +
15 6 10
3. Transformada de Laplace 65

 
3s − 2
e) L −1
s (s2 + 4)
2

Novamente, note que a função deste exemplo não se enquadra em nenhuma das
opções do teorema 3.4. Neste caso, vamos precisar separar a função em suas frações
parciais:
3s − 2 3s − 2 A B Cs + D
= = + 2+ 2
s2 (s2 + 4) 2 2
(s − 0) (s + 4) s s s +4

3s − 2 As(s2 + 4) + B(s2 + 4) + (Cs + D)s2


=
s2 (s2 + 4) s2 (s2 + 4)

3s − 2 As3 + 4As + Bs2 + 4B + Cs3 + Ds2


=
s2 (s2 + 4) s2 (s2 + 4)

3s − 2 = (A + C)s3 + (B + D)s2 + (4A)s + 4B


Por igualdade de polinômios, temos o sistema linear:


 A + + C = 0

 + B + + D = 0


 4A = 3
= −2

4B
3 1 3 1
cuja solução é: A = , B = − , C = − e D = , assim:
4 2 4 2

3s − 2 31 1 1 3 s 1 1
= − 2− 2 + 2
s2 (s2 + 4) 4s 2s 4s +4 2s +4

o último termo necessita de um ajuste com k = 2 para identificar com o item d) do


teorema 3.4:

3s − 2 31 1 1 3 s 1 2
= − 2− 2 + 2
s2 (s2 + 4) 4s 2s 4s +4 4s +4

Voltando à transformada inversa do exemplo, identificando com os itens a), b), c)


e d) do teorema 3.4:
   
3s − 2 31 1 1 3 s 1 2
L −1
=L −1
− − + =
s2 (s2 + 4) 4 s 2 s2 4 s2 + 4 4 s2 + 4
       
3 −1 1 1 −1 1 3 −1 s 1 −1 2
= L − L − L + L =
4 s 2 s2 4 s2 + 4 4 s2 + 4

3 t 3 1
= − − cos(2t) + sen (2t)
4 2 4 4
66 3.4 Transformadas de derivadas e Solução de EDO

3.4 Transformadas de derivadas e Solução de EDO

O nosso objetivo é usar a transformada de Laplace para resolver certos tipos de


equações diferenciais. Para isso precisamos calcular a transformada da derivada.

Se f 0 (t) é contı́nua para t ≥ 0, da integração por partes segue que


Z ∞ ∞
Z ∞
L {f (t)} =
0 −st 0 −st
e f (t)dt = e f (t) + s e−st f (t)dt = −f (0) + sL {f (t)}
0 0 0

Logo,
L {f 0 (t)} = sF (s) − f (0).

De forma análoga, segue que

L {f 00 (t)} = sL {f 0 (t)} − f 0 (0),

e substituindo L {f 0 (t)} obtem-se

L {f 00 (t)} = s2 F (s) − sf (0) − f 0 (0).

Assim, segue o teorema:

Teorema 3.5 Transformada de uma derivada: Se f (t), f 0 (t), . . . , f (n−1) (t) forem
contı́nuas em [0, ∞) de ordem exponencial, e se f (n) (t) for contı́nua por partes em [0, ∞),
então
L f (n) (t) = sn F (s) − sn−1 f (0) − sn−2 f 0 (0) − . . . − f (n−1) (0),


onde F (s) = L {f (t)}.

Podemos aplicar a transformada de Laplace para resolver problemas de valor


inicial. A transformada de Laplace é apropriada para problemas lineares de valor
inicial com coeficientes constantes.

Exemplo 3.6 Use a transformada de Laplace para resolver o problema de valor inicial
y 0 + 3y = et , y(0) = 0

Aplicando a transformada de Laplace na ED, e aplicando o teorema 3.5 à derivada y 0 :

1
sY (s) − y(0) + 3Y (s) =
s−1

aplicando a condição inicial y(0) = 0:


3. Transformada de Laplace 67

1
(s + 3)Y (s) =
s−1

1
Y (s) =
(s − 1)(s + 3)

1 1 1 1
Y (s) = −
4s−1 4s+3

Aplicando a transformada inversa à equação acima:

et e−3t
y(t) = − .
4 4

Exemplo 3.7 Resolva o PVI:



00 0
 y − y − 6y = 0

y 0 (0) = −1

y(0) = 2

Aplicando a transformada de Laplace na ED e o teorema 3.5 às derivadas y 00 e y 0 :

s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) − (sY (s) − y(0)) − 6Y (s) = 0

aplicando as condições iniciais y(0) = 2 e y 0 (0) = −1:

s2 Y (s) − 2s − (−1) − (sY (s) − 2) − 6Y (s) = 0

(s2 − s − 6)Y (s) = 2s − 3

Fatorando s2 − s − 6 = (s − 3)(s + 2):

2s − 3
Y (s) =
(s − 3)(s + 2)

3 1 7 1
Y (s) = +
5s−3 5s+2

Aplicando a transformada inversa à equação acima:

3 7
y(t) = e3t + e−2t .
5 5

Observação 3.2 Observe que, para resolver o PVI, não encontramos primeiro a solução
geral da equação homogênea. O método da transformada de Laplace fornece diretamente
a solução particular desejada.
68 3.5 Teoremas de translação

Não é conveniente usar a definição da transformada de Laplace cada vez que for
necessário encontrar a transformada de uma função, alguns exemplos são extremamente
trabalhosos.

A seguir veremos vários teoremas que facilitam o cálculo de transformadas. Isso


nos possibilita construir uma lista mais extensiva de transformadas sem a necessidade de
usar a definição da transformada de Laplace.

3.5 Teoremas de translação

Teorema 3.6 Primeiro teorema de translação: Se c ∈ R, então

L {ect f (t)} = F (s − c)

onde F (s) = L {f (t)}.

Demonstração 3.1 Pela definição da transformada segue que:

Z ∞ Z ∞
L e f (t) =
ct −st ct
e−(s−c)t f (t)dt = F (s − c)

e e f (t)dt =
0 0

Z ∞
pois F (s) = L {f (t)} = e−st f (t)dt.
0

A forma inversa desse teorema pode ser escrita como:

L −1 {F (s − c)} = ect f (t)

onde f (t) = L −1 {F (s)}.

O teorema acima nos diz que uma translação no eixo s corresponde a uma mul-
tiplicação da função em t por uma exponencial.

Exemplo 3.8 Calcule:

a) L {e5t t3 }

6 6
Como L {t3 } = 4
, então, pelo teorema da translação: L {e5t t3 } = .
s (s − 5)4
3. Transformada de Laplace 69

b) L {e−2t cos(4t)}

s
Como L {cos(4t)} = , então, pelo teorema da translação:
s2 + 16
s+2 s+2
L {e−2t cos(4t)} = 2
= 2 .
(s + 2) + 16 s + 4s + 20
 
1
c) L −1 2
s − 4s + 5
1
Note que s2 − 4s + 5 = (s − 2)2 + 1 e L {sen t} = = F (s).
s2 + 1
1 1
Então temos que F (s − 2) = . Assim, L {e2t
sen t} =
s2 − 4s + 5 s2 − 4s + 5
 
1
Portanto: L −1 = e2t sen t
s2 − 4s + 5

Definição 3.5 Função Degrau Unitário: A função U(t − c) é definida por


(
0, 0 < t < c
U(t − c) =
1, t≥c

Esta também é chamada de função de Heaviside.

Exemplo 3.9 Descreva e esboce a função dada:

a) U(t) = U(t − 0) = 1
70 3.5 Teoremas de translação

(
0, 0 < t < 2
b) U(t − 2) =
1, t≥2

(
0, 0<t<1
c) (t − 1)U(t − 1) =
t − 1, t≥1

(
0, 0 < t < 2π
d) sen (t)U(t − 2π) =
sen (t), t ≥ 2π

Este item do exemplo desempenha um papel muito importante. Considere uma função
qualquer f (t), t ≥ 0. A função definida por partes
(
0, 0<t<a
f (t − a)U(t − a) =
f (t − a), t≥a

é importante para a ideia a seguir. O gráfico de uma função y = f (t − a)U(t − a)


coincide com o gráfico de y = f (t), t ≥ 0 deslocado a unidades à direita sobre o eixo t, e
é identicamente nulo para 0 < t < a.
3. Transformada de Laplace 71

Teorema 3.7 Segundo teorema de translação: Se c for uma constante positiva,


então

L {f (t − c)U(t − c)} = e−cs F (s)

onde F (s) = L {f (t)}.

Demonstração 3.2 Pela definição da transformada de Laplace, segue que:


Z ∞ Z ∞
L {f (t − c)U(t − c)} = −st
e f (t − c)U(t − c)dt = e−st f (t − c)dt.
0 c

Fazendo a mudança de variável u = t − c, segue que


Z ∞ Z ∞
L {f (t − c)U(t − c)} = e−s(u+c)t
f (u)du = e−cs
e−su f (u)du = e−cs F (s).
0 0

Exemplo 3.10 Calcule:

a) L {U (t − c)}

1
Note que f (t) = 1 e L {1} = . Assim, pelo segundo teorema da translação segue
s
que:
1 e−cs
L {U(t − c)} = e−cs = .
s s

b) L {sen (t)U(t − 2π)}

Note que este exemplo não está na forma do teorema 3.7, mas sen (t) = sen (t−2π),
1
e ainda L {sen (t)} = 2 assim:
s +1

e−2πs
L {sen (t)U(t − 2π)} = L {sen (t − 2π)U(t − 2π)} = 2
s +1

A forma inversa desse teorema pode ser escrita como:

L −1 {e−cs F (s)} = f (t − c)U(t − c)


72 3.5 Teoremas de translação

Exemplo 3.11 Calcule:

e−πs/2
 
a) L −1
s2 + 9
 
π 1 1
Note que c = e f (t) = L −1
2
= sen (3t), logo,
2 s +9 3
 −πs/2    
e 1   π   π 1 3π π
L −1
= sen 3 t − U t − = sen 3t − U t − =
s2 + 9 3 2 2 3 2 2
1  π
= cos (3t) U t − .
3 2

1 − e−2s
 
b) L −1
s2

1 − e−2s
     
1 1 −2s
L −1
=L −1
−L −1
e = t − (t − 2)U (t − 2)
s2 s2 s2

 
00
 y + y = f (t)
  0, 0 < t < π

Exemplo 3.12 Dado o PVI: y(0) = 0 em que f (t) = 1, π ≤ t < 2π .

 0 
y (0) = 0, 0, t ≥ 2π

a) Use a transformada de Laplace para resolver o PVI dado.


Primeiro, vamos analisar f (t) e escrevê-la como a combinação de degraus unitários:

Note que até o instante t = π, a função vale 0. A partir do instante t = π, a função


vale 1, assim, temos um degrau “ativo”. Ao chegar no instante t = 2π, a função
volta a valer 0, assim, subtraı́mos um degrau unitário da função, obtendo:

f (t) = U(t − π) − U(t − 2π)

Assim, a ED fica: y 00 + y = U(t − π) − U(t − 2π)


3. Transformada de Laplace 73

Aplicando a transformada de Laplace à ED:

1 1
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) + Y (s) = e−πs − e−2πs
s s

aplicando as condições iniciais:

1 −πs
(s2 + 1)Y (s) = (e − e−2πs )
s
1
Y (s) = (e−πs − e−2πs )
s(s2+ 1)
1
abrindo em suas frações parciais:
s(s2
+ 1)
 
1 s
Y (s) = − (e−πs − e−2πs )
s s2 + 1
1 s 1 s
Y (s) = e−πs − 2 e−πs − e−2πs + 2 e−2πs
s s +1 s s +1

finalmente, aplicando a transformada inversa, temos:


y(t) = U(t − π) − cos(t − π)U(t − π) − U(t − 2π) + cos(t − 2π)U(t − 2π)
y(t) = U(t − π) + cos(t)U(t − π) − U(t − 2π) + cos(t)U(t − 2π)
ou


 0, 0 < t < π
y(t) = 1 + cos(t), π ≤ t < 2π

2 cos(t), t ≥ 2π

b) Verifique se a solução encontrada está correta.


y(t) = U(t − π) + cos(t)U(t − π) − U(t − 2π) + cos(t)U(t − 2π)
y 0 (t) = − sen (t)U(t − π) − sen (t)U(t − 2π)
y 00 (t) = − cos(t)U(t − π) − cos(t)U(t − 2π)
Substituindo na ED:
y 00 + y = − cos(t)U(t − π) − cos(t)U(t − 2π) + U(t − π) + cos(t)U(t − π)
− U(t − 2π) + cos(t)U(t − 2π) = U(t − π) − U(t − 2π) = f (t)
e verificando as condições iniciais:
y(0) = 0 + cos(0).0 − 0 + cos(t).0 = 0
y 0 (0) = − sen (0).0 − sen (0).0 = 0
Logo, y(t) é solução do PVI.
74 3.6 Derivada da transformada de Laplace

3.6 Derivada da transformada de Laplace

Sendo F (s) = L {f (t)}, então derivando sob o sinal da integração segue que
Z ∞
d
ds
F (s) = ds d
e−st f (t)dt
Z ∞0
d  −st 
= e f (t) dt
0 Z ds ∞
= − e−st tf (t)dt
0
= −L {tf (t)} .

Analogamente, tem-se que

d2 2
F (s) = L t f (t) .
ds2

Disso segue o próximo teorema:

Teorema 3.8 Derivada da transformada: Para n = 1, 2, 3, . . ., tem-se que

dn
L {tn f (t)} = (−1)n F (s)
dsn

onde F (s) = L {f (t)}.

Exemplo 3.13 Calcule:

a) L {te3t }

1
Note que L {e3t } = = F (s).
s−3
 0
1 1
Assim, L {te } = (−1)F (s) = −
3t 0
= .
s−3 (s − 3)2

b) L {t2 sen (t)}

1
Note que L {sen (t)} = = F (s).
s2
+1
00
6s2 − 2

1
Assim, L {t sen (t)} = (−1) F (s) =
2 2 00
2
= 2 .
s +1 (s + 1)3
3. Transformada de Laplace 75

 
6s
c) L −1
(s + 9)2
2

3 6s
Note que F (s) = = L { sen (3t)} e F 0 (s) = − 2 ,
+9s2 (s + 9)2
6s
e como L {tf (t)} = −F 0 (s), então L {t sen (3t)} = 2 .
(s + 9)2
 
6s
Portanto, L −1
= t sen (3t).
(s2 + 9)2


00 0 2 3t
 y − 6y + 9y = t e

Exemplo 3.14 Use transformada de Laplace para resolver o PVI: y(0) = 2

 0
y (0) = 6.

Aplicando a transformada de Laplace à ED:

2
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) − 6(sY (s) − y(0)) + 9Y (s) =
(s − 3)3

aplicando as condições iniciais:

2
s2 Y (s) − 2s − 6 − 6sY (s) + 12 + 9Y (s) =
(s − 3)3

2 2
(s2 − 6s + 9)Y (s) = 2s − 6 + 3
= 2(s − 3) +
(s − 3) (s − 3)3

fatorando s2 − 6s + 9 = (s − 3)2 , temos:

2 2
Y (s) = +
s − 3 (s − 3)5
 
1
A continuidade é aplicar a transformada inversa, mas veja que calcular L −1
(s − 3)5
1
não é óbvio ou direto. Mas sabendo que L {e3t } = = F (s), vamos derivar até
s−3
encontrar um termo parecido. Assim:

1 2 6 24
F 0 (s) = − 2
, F 00 (s) = 3
, F 000 (s) = − 4
e F (IV ) (s) = ,
(s − 3) (s − 3) (s − 3) (s − 3)5

1 1 (IV ) 4 1
logo, 5
= F (s) = (−1) F (IV ) (s).
(s − 3) 24 24

1 4 3t
Então, aplicando a tranformada inversa, temos: y(t) = 2e3t + te .
12
76 3.7 Convolução e transformada de Laplace de funções periódicas

3.7 Convolução e transformada de Laplace de funções


periódicas

Definição 3.6 Convolução: Se as funções f e g forem contı́nuas por partes em [0, ∞),
então a convolução de f e g é dada pela integral
Z t
(f ∗ g) (t) = f (x)g(t − x)dx.
0

Da definição segue que:


f ∗ g = g ∗ f.

Exemplo 3.15 Calcule et ∗ e−4t .


t
t t
et e−4t
Z Z
x −4(t−x) 5x−4t 1
t
e ∗e −4t
= e e dx = e dx = e5x−4t = −
0 0 5 5 5
0

Teorema 3.9 Teorema de convolução: Sejam f (t) e g(t) funções contı́nuas por par-
tes em [0, ∞) e de ordem exponencial, então

L {f ∗ g} = L {f } · L {g} = F (s) · G(s)

Esse teorema é algumas vezes útil no cálculo da transformada de Laplace inversa


de um produto de duas transformadas. Do teorema segue que

L −1 {F (s)G(s)} = f ∗ g.

Exemplo 3.16 Calcule:

Z t 
a) L x
e sen (t − x)dx
0
Z t 
Note que L x
e sen (t − x)dx = L {et ∗ sen t} = L {et } L { sen t} =
0

1 1 1
= · 2 =
s−1 s +1 (s − 1)(s2 + 1)
 
1
b) L −1
(s − 1)(s + 4)
et e−4t
   
1 1 1
Note que L −1
=L −1 t −4t
=e ∗e = −
(s − 1)(s + 4) s−1s+4 5 5
3. Transformada de Laplace 77

Teorema 3.10 Transformada de Laplace de uma função periódica: Seja f (t)


contı́nua por partes [0, ∞) e de ordem exponencial. Se f (t) é periódica de perı́odo T ,
então
Z T
1
L {f (t)} = e−st f (t)dt
1 − e−sT 0

Exemplo 3.17 Calcule a transformada de Laplace da função periódica dada pelo gráfico:

(
t, 0 ≤ t < 1
Note que f (t) tem perı́odo T = 2. Assim, podemos descrever f (t) =
0, 1 ≤ t < 2
Z T Z 1 Z 2 
1 1
Logo, L {f (t)} = e −st
f (t)dt = −st
e tdt + e−st
0dt =
1 − e−2s 0 1 − e−2s 0 1

   
1 1
−st Z 1 −s
1  te 1 1  e − 0 − 1 e−st  =
= −2s
+ e−st dt = −2s
1−e −s s 0 1−e −s s2
0 0

e−s e−s
 
1 1
= − − 2 + 2
1 − e−2s s s s

3.8 Delta de Dirac

No teorema 3.3 vimos que F (s) = 1 não pode ser a transformada de Laplace
de uma função contı́nua por partes e de ordem exponencial. No entanto, agora veremos
uma função, mais precisamente, uma função generalizada, cuja transformada de Laplace
é F (s) = 1.

Sistemas mecânicos sofrem frequentemente a ação de uma força externa (ou força
eletromotriz num circuito elétrico) de grande magnitude que age somente por um curto
perı́odo. Por exemplo, a asa de um avião vibrando poderia ser atingida por uma raio,
78 3.8 Delta de Dirac

uma massa numa mola poderia sofrer a ação de uma martelada, uma bola poderia ser
mandada pelos ares quando atingida violentamente por algum tipo de tacada.

Primeiramente, consideremos uma


função que pode servir como modelo para
tal força:


 0, 0 ≤ t < t0 − a
1

δa (t − t0 ) = , t0 − a ≤ t < t0 + a
 2a Figura 3.1: Gráfico de δa (t − t0 )


0, t ≥ t0 + a

onde a > 0 e t0 > 0 poderia servir como


Z forças como esta. A função δa (t − t0 ) é chamada de impulso unitário,
um modelo para

pois satisfaz: δa (t − t0 )dt = 1, cujo gráfico está na Figura 3.1.
0

Na prática, é conveniente trabalhar


com um outro tipo de impulso unitário, uma
função que aproxima δa (t−t0 ) e é definido pelo
limite
δ(t − t0 ) = lim δa (t − t0 ).
a→0

Note que δ(t − t0 ) na verdade não é


uma função, mas pode ser caracterizada por
duas propriedades:
(
∞, t = t0
(i) δ(t − t0 ) =
6 t0
0, t =
Z ∞
(ii) δ(t − t0 )dt = 1
0

O impulso unitário δ(t−t0 ) é chamado


de função delta de Dirac. Figura 3.2: Gráficos de δa , quando a → 0

É possı́vel obter a transformada de Laplace da função delta de Dirac supondo


formalmente que L {δ(t − t0 )} = lim L {δa (t − t0 )}. No próximo teorema temos a trans-
a→0
formada de tal função.

Teorema 3.11 Teorema da função delta de Dirac: Para t0 > 0,

L {δ(t − t0 )} = e−st0
3. Transformada de Laplace 79

Demonstração 3.3 Começamos escrevendo a função δa (t−t0 ) a partir da função degrau


unitário:
1
δa (t − t0 ) = [U (t − (t0 − a)) − U (t − (t0 + a))] .
2a

Assim,
1 e−s(t0 −a) e−s(t0 +a) e − e−sa
   sa 
L {δa (t − t0 )} = − =e −st0
. (3.2)
2a s s 2sa
Como (3.2) é uma indeterminação quando a → 0, aplicamos a regra de L’Hôpital:

esa − e−sa
 
L {δ(t − t0 )} = lim L {δa (t − t0 )} = e −st0
lim =
a→0 a→0 2sa

sesa + se−sa
 
2s
=e −st0
lim = e−st0 = e−st0 .
a→0 2s 2s

Note que se t0 = 0, então L {δ(t)} = 1. Além disso, pelo teorema 3.3, espe-
rarı́amos L {f (t)} → 0 quando s → ∞, mas isso não alcontece com a função delta de
Dirac.

Exemplo 3.18 Resolva y 00 + y = 4δ(t − 2π) sujeito à y(0) = 1 e y 0 (0) = 0 usando


transformada de Laplace.

Aplicando a transformada de Laplace à ED:

s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) + Y (s) = 4e−2πs

e aplicando as condições iniciais:

(s2 + 1)Y (s) = s + 4e−2πs

s 1
Y (s) = +4 2 U(t − 2π)
s2 +1 s +1

aplicando a transformada inversa

y(t) = cos(t) + 4sen(t − 2π)U(t − 2π)

y(t) = cos(t) + 4sen(t)U(t − 2π) Figura 3.3: Gráfico da solução y(t)


(
cos(t), 0 < t < 2π
y(t) =
cos(t) + 4 sen (t), t ≥ 2π
80 3.9 Sistemas de EDOs

3.9 Sistemas de EDOs

Considere um sistema de equações diferenciais lineares:




 x01 = a11 x1 + . . . + a1n xn + g1 (t)

 x0 =

a21 x1 + . . . + a2n xn + g2 (t)
2
.. .. . .. ..


 . = . + .. + . + .
 x0 =

an1 x1 + . . . + ann xn + gn (t)
n

veremos agora, como resolver sistemas lineares com coeficientes constantes usando a trans-
formada de Laplace. A ideia é transformar o sistema de equações diferenciais linear em
um sistema de equações lineares algébrico aplicando a transformada de Laplace. Após
obter a solução deste sistema, aplicamos a transformada inversa de Laplace e com isso
obtemos a solução do sistema original.

Exemplo 3.19 Resolva o PVI (


x0 = x − 2y
y 0 = 5x − y

x(0) = −1 y(0) = 2

Aplicando a transformada de Laplace às duas equações do sistema:


(
sX(s) − x(0) − X(s) + 2Y (s) = 0
sY (s) − y(0) − 5X(s) + Y (s) = 0

e aplicando as condições iniciais, obtemos:


(
(s − 1)X(s) + 2Y (s) = −1
−5X(s) + (s + 1)Y (s) = 2

Note que o sistema agora é um sistema algébrico, nas variáveis X e Y . Assim, isolando
Y (s) na primeira equação:

1 (s − 1)
Y (s) = − − X(s)
2 2

e substituindo na segunda equação, temos:


 
1 (s − 1)
−5X(s) + (s + 1) − − X(s) = 2
2 2
3. Transformada de Laplace 81

(s + 1) (s + 1)(s − 1)
−5X(s) − − X(s) = 2
2 2
10X(s) + (s + 1) + (s + 1)(s − 1)X(s) = −4

((s + 1)(s − 1) + 10)X(s) = −4 − (s + 1)

4 s+1
X(s) = − −
(s + 1)(s − 1) + 10 (s + 1)(s − 1) + 10

5 s
X(s) = − − 2
s2 +9 s +9

aplicando a transformada inversa:

5
x(t) = − sen (3t) − cos(3t)
3

Agora falta encontrar y(t). Para isto, vamos tomar a expressão que encontramos para
5 s
X(s) = − 2 − 2 e substituir na expressão de Y (s):
s +9 s +9

1 (s − 1)
Y (s) = − − X(s)
2 2
 
1 (s − 1) 5 s
Y (s) = − − − 2 −
2 2 s + 9 s2 + 9

1 (s − 1)(s + 5)
Y (s) = − +
2 2(s2 + 9)

−s2 + 9 + s2 + 4s − 5 4s − 14 2s − 7
Y (s) = 2
= 2
= 2
2(s + 9) 2(s + 9) s +9

s 1
Y (s) = 2 −7 2
s2 +9 s +9

aplicando a transformada inversa:

7
y(t) = 2 cos(3t) − sen (3t)
3
82 3.9 Sistemas de EDOs
Sequências e Séries

4.1 Sequências

Olhando para a palavra “sequência”, em geral nos vem à mente a ideia de uma
sucessão de coisas em uma determinada ordem, seja ela de tamanho ou cronológica, por
exemplo. Na matemática, o termo “sequência” é usado, em geral, para denotar uma
sucessão de números cuja ordem é determinada por uma função ou por uma lei.

Começamos com a ideia informal de que uma sequência infinita, ou, simples-
mente, sequência é uma sucessão interminável de números, chamados de termos. Estes
termos devem ter uma ordem definida, como se estivessem em uma fila. Ou seja, cada
termo tem sua posição bem definida na sequência: o primeiro termo a1 , o segundo termo
a2 e assim por diante. Normalmente a sequência é escrita como

a1 , a2 , a3 , a4 , . . .

Exemplo 4.1 Algumas sequências simples


a) 1, 2, 3, 4, . . .

b) 2, 4, 6, 8, . . .
1 1 1
c) 1, , , , . . .
2 4 8
d) 1, −1, 1, −1, . . .
1 2 3 4
e) − , , − , , . . .
2 3 4 5

No exemplo 4.1 acima, todas as sequências tem um padrão definido, tornando fácil
adicionar mais termos, admitindo que estes também sigam o mesmo padrão. Pensando
nisto, este padrão “aparente” pode ser falso. Assim, é melhor ter uma regra ou fórmula
que gere os termos da sequência. Na sequência

2, 4, 6, 8, . . .

cada termo é obtido pelo dobro da sua posição na sequência. Assim, é fácil imagina que
o n-ésimo termo da sequência é denotado por 2n. Logo, denotamos da seguinte forma

2, 4, 6, 8, . . . , 2n, . . .
84 4.1 Sequências

e chamamos a função f (n) = 2n, n ∈ N∗ de termo geral desta sequência. Então, se


quisermos determinar um termo especı́fico desta sequência, basta calcular pelo seu termo
geral.

Exemplo 4.2 Determine o termo geral para cada item do exemplo 4.1.

a) 1, 2, 3, 4, . . ., logo, f (n) = n, n ∈ N∗

b) 2, 4, 6, 8, . . ., logo, f (n) = 2n, n ∈ N∗ (exemplificado no texto acima)


1 1 1 1
c) 1, , , , . . ., logo, f (n) = n−1 , n ∈ N∗
2 4 8 2
d) 1, −1, 1, −1, . . ., logo, f (n) = (−1)n−1 , n ∈ N∗
1 2 3 4 n
e) − , , − , , . . ., logo, f (n) = (−1)n , n ∈ N∗
2 3 4 5 n+1

Quando conhecemos o termo geral de uma sequência, não há a necessidade de


escrever os primeiros termos, é comum escrever tão somente o termo geral envolvido
por chaves: {an }+∞
n=1 . A letra n é chamada de ı́ndice para a sequência e não precisa,
necessariamente, iniciar 1 (por mais que seja comum).

Se em uma sequência a ser estudada ou analisada, os termos especı́ficos e/ou o


ponto inicial para o ı́ndice não for importante, podemos escrever apenas {an }. Além disso,
sequências diferentes podem utilizar letras diferentes para denotá-las: {an }, {bn } e {cn }
denotam três sequências distintas, por exemplo.

Definição 4.1 Uma sequência é uma função cujo domı́nio é um conjunto de inteiros.
Denotada por {an }+∞ ∗
n=1 (ou apenas {an } quando possı́vel), também por f (n) = an , n ∈ N .

Dado que as sequências são funções, faz sentido pensar no seus gráficos. Vamos
tomar o exemplo a seguir.

 ∞
1
Exemplo 4.3 Seja .
n n=1

1
O gráfico desta sequência é o gráfico de y = , n = 1, 2, 3, . . .. Como o domı́nio está
n
definido apenas para valores inteiros positivos, assim seu gráfico é feito por uma sucessão
de pontos isolados, como está definido na Figura 4.1 (este tipo de gráfico é dito discreto).
4. Sequências e Séries 85

1
Figura 4.1: y = , n = 1, 2, 3, . . .
n

1
Veja que isto é diferente do gráfico de y = , x ≥ 1, que é uma curva contı́nua (Figura
x
4.2).

1
Figura 4.2: y = ,x ≥ 1
x

Uma vez que sequências são funções, também podemos nos questionar quanto a
seus limites. Mas como a sequência {an } está definida apenas para valores inteiros de n
(não negativos), o único limite que faz sentido é o de an quando n → ∞.

Definição 4.2 Dizemos que uma sequência {an } converge para o limite L se dado
 > 0 qualquer, existir um número inteiro positivo N , tal que |an − L| <  para n ≥ N .
Neste caso, escrevemos
lim an = L
n→∞

Dizemos que uma sequência diverge quando não converge para algum limite finito.

Figura 4.3: Limite de uma sequência


86 4.1 Sequências

Do ponto N em diante, todos os pontos da sequência estão dentro de  unidades


de L. E as propriedades usuais de limites se aplicam a sequências.

Teorema 4.1 Suponha que as sequências {an } e {bn } convergem respectivamente para
L1 e L2 e seja c uma constante. Então
a) lim c = c
n→∞

b) lim can = c lim an = cL1


n→∞ n→∞

c) lim (an + bn ) = L1 + L2
n→∞

d) lim (an − bn ) = L1 − L2
n→∞

e) lim (an bn ) = L1 L2
n→∞
 
an L1
f ) lim = (se L2 6= 0)
n→∞ bn L2

Exemplo 4.4 Determine se a sequência converge ou diverge. Se convergir, ache o limite

 ∞
n
a)
2n + 1 n=1

Dividindo o numerador e o denominador por n, temos


n 1 lim 1 lim 1 1 1
n→∞ n→∞
lim = lim = = = =
n→∞ 2n + 1 n→∞ 2 + 1/n lim (2 + 1/n) lim 2 + lim 1/n 2+0 2
n→∞ n→∞ n→∞
 ∞
n
b) (−1)n+1
2n + 1 n=1

Note que esta sequência é a mesma da letra a), exceto pelo fato (−1)n+1 , o qual oscila
entre +1 e −1. Logo, os termos desta sequência oscilam entre valores positivos
e negativos, sendo que os termos de posição ı́mpar são positivos (e idênticos aos
do item a) e os termos de posição par são negativos (e opostos aos termos das
respectivas posições do item a). Como os termos do item a) tem limite igual a 21 ,
temos que os termos das posições ı́mpares desta sequência tendem a 12 . Já os termos
pares desta sequência, tendem a − 21 . Portanto, esta sequência não tem limite, ou
seja, ela diverge.

Às vezes, os termos ı́mpares e pares de uma sequência comportam-se de forma


diferente o bastante para investigar separadamente a sua convergência (como no exemplo
4.4 acima). Para isto, vale o teorema a seguir
4. Sequências e Séries 87

Teorema 4.2 Uma sequência converge para um limite L se e somente se as sequências


dos termos de posição par e ı́mpar convergem ambas para L.

A seguir, estão listados alguns resultados, propriedades e teoremas pertinentes a


sequências, mas que não farão parte do nosso estudo em si para a disciplina.

Teorema 4.3 Teorema do Confronto para Sequências: Sejam {an } , {bn } e {cn }
sequências tais que an ≤ bn ≤ cn (para todos os valores de n acima de algum N ). Se as
sequências {an } e {cn } tiverem um limite comum L quando n → ∞, entao {bn } também
terá o limite L quando n → ∞.

Sequências
  podem ser definidas de forma recorrente, por √ exemplo: y0 = 1 e
1 2
yn+1 = 2
yn + yn , n = 0, 1, 2, . . .. Esta sequência converge para 2 (tente constatar
este fato!).

Definição 4.3 Uma sequência {an }+∞


n=1 é chamada

estritamente crescente se a1 < a2 < · · · < an < · · ·


crescente se a1 ≤ a2 ≤ · · · ≤ an ≤ · · ·
estritamente decrescente se a1 > a2 > · · · > an > · · ·
decrescente se a1 ≥ a2 ≥ · · · ≥ an ≥ · · ·

Se uma sequência for estritamente crescente ou estritamente decrescente, ela é chamada


de estritamente monótona. Se a sequência for crescente ou decrescente, ela é chamada
de monótona

Definição 4.4 Se for descartado um número finito de termos do começo de uma sequência
e se a sequência assim produzida tiver uma certa propriedade, então dizemos que a
sequência original tem essa propriedade a partir de um certo termo.

Teorema 4.4 Se uma sequência {an } for crescente a partir de um certo termo, então
tem-se duas possibilidades:

a) Existe uma constante M , chamada de cota superior para a sequência, tal que
an ≤ M para todo n a partir de um certo termo, e, neste caso, a sequência converge
a um limite L satisfazendo L ≤ M .

b) Não existe cota superior, e, neste caso, lim an = +∞


n→∞
88 4.2 Séries Infinitas

Teorema 4.5 Se uma sequência {an } for decrescente a partir de um certo termo, então
tem-se duas possibilidades:

a) Existe uma constante M , chamada de cota inferior para a sequência, tal que
an ≥ M para todo n a partir de um certo termo, e, neste caso, a sequência converge
a um limite L satisfazendo L ≥ M .

b) Não existe cota superior, e, neste caso, lim an = −∞


n→∞

4.2 Séries Infinitas

Nesta seção, nosso objetivo é entender e definir “somas” com um número infinito
de termos.

Definição 4.5 Uma série infinita é uma expressão que pode ser escrita na forma

X
uk = u1 + u2 + u3 + · · · + uk + · · ·
k=1

Os números u1 + u2 + u3 + . . . são chamados de termos da série.

Como é impossı́vel somar diretamente infinitos números, as somas de séries infi-


nitas são definidas e calculadas por um processo limite indireto. Para apresentar a ideia
básica de soma da série, vamos a um exemplo.

Exemplo 4.5 Seja o decimal infinito 0, 33333333 . . .

Ele pode ser visto como a série infinita

0, 3 + 0, 03 + 0, 003 + 0, 0003 + · · · (4.1)

ou equivalentemente
3 3 3 3
+ 2 + 3 + 4 + ··· (4.2)
10 10 10 10

Uma vez que (4.1) é a expansão decimal de 31 , qualquer definição razoável para soma
de uma série infinita deve resultar em 13 para a soma (4.2). Agora, vamos observar a
sequência de somas (finitas):
4. Sequências e Séries 89

3
s1 = = 0, 3
10
3 3
s2 = + = 0, 33
10 102
3 3 3
s3 = + 2 + 3 = 0, 333
10 10 10
3 3 3 3
s4 = + 2 + 3 + 4 = 0, 3333
10 10 10 10

A sequência s1 , s2 , s3 , s4 , . . . pode ser vista como uma sucessão de aproximações à “soma”


da série infinita, a qual sabemos que deve valer 31 . Avançando nesta sequência, torna-
se óbvio que a aproximação será cada vez melhor. Isto nos sugere que a soma desejada
deve ser o limite desta sequência. Para constatar este fato, tomemos o termo geral desta
sequência
3 3 3
sn = + 2 + ··· + n (4.3)
10 10 10

O problema em calcular
 
3 3 3
lim sn = lim + + ··· + n
n→∞ n→∞ 10 102 10

está no fato de que o número de termos e o último termo desta soma variam com n. Neste
caso, e sempre que possı́vel, devemos reescrever tais limites onde o número de termos não
1
varie. Uma forma de se obter isto, é multiplicar ambos os membros de (4.3) por 10 para
obter
1 3 3 3
sn = 2
+ 3 + · · · + n+1 (4.4)
10 10 10 10

e então subtraı́mos (4.4) de (4.3) para obter


1 3 3
sn − sn = − n+1
10 10 10
 
9 3 1
sn = 1− n
10 10 10
 
1 1
sn = 1− n
3 10

e do fato que 1/10n → 0 quando n → ∞, temos que


 
1 1 1
lim sn = lim 1− n =
n→∞ n→∞ 3 10 3

ou seja
1 3 3 3
= + 2 + ··· + n + ···
3 10 10 10
90 4.2 Séries Infinitas

Com o exemplo anterior, podemos definir o conceito geral de “soma” de uma série
infinita u1 + u2 + u3 + · · · + uk + · · ·

O número sn é chamado de n-ésima soma parcial da série e a sequência {sn }∞


n=1
é chamada de sequência das somas parciais.

Definição 4.6 Seja {sn } a sequência das somas parciais da série u1 + u2 + u3 + · · · +


uk + · · · . Se a sequência {sn } convergir para um limite S, dizemos, então, que a série
converge para S, e S é a soma da série. Denotamos com

X
S= uk
k=1

Se a sequência das somas parciais divergir, dizemos que a série diverge. Uma série
divergente não tem soma.

A seguir, são apresentadas duas séries especiais.

Uma série em que cada termo é obtido pela multiplicação do termo anterior por
uma constante fixa (chamada comumente de razão) é chamada de série geométrica. O
termo inicial deste tipo de série costuma ser simbolizado por a.

Teorema 4.6 Uma série geométrica



X
ark = a + ar + ar2 + ar3 + · · · (a 6= 0)
k=0

converge se |r| < 1 e diverge se |r| ≥ 1. Se a série convergir, então a soma da série é

X a
ark =
k=0
1−r

E uma das séries divergentes mais importantes de todas é a série harmônica



X 1 1 1 1
=1+ + + + ···
k=0
k 2 3 4

a qual surge em conexão com os sons harmônicos produzidos pela vibração de uma corda
musical. A demonstração da divergência desta série antecede a descoberta do cálculo e
foi feita pelo bispo e professor francês Nicolau Oresme (1323 - 1382).
4. Sequências e Séries 91

4.3 Testes de Convergência

Na seção anterior, vimos o processo de achar a soma de uma série encontrando


uma forma fechada para a n-ésima soma parcial e tomando seu limite. Mas nem sempre
é possı́vel obter a tal forma fechada para a n-ésima soma parcial da série. Logo, são
necessários métodos alternativos para achar tais somas. Uma possibilidade é determinar
se a série converge, e então aproximar a soma por uma soma parcial com suficientes termos
para atingir a precisão na resposta da soma da série.

Iniciaremos com um teorema sobre as propriedades algébricas das séries infinitas.

Teorema 4.7 Propriedades algébricas das séries infinitas:


X X X X
a) Se uk e vk são séries que convergem, então (uk + vk ) e (uk − vk ) são
séries que convergem também. Ainda

X ∞
X ∞
X
(uk + vk ) = uk + vk
k=1 k=1 k=1
X∞ X∞ X∞
(uk − vk ) = uk − vk
k=1 k=1 k=1

X X
b) Se c é uma constante não-nula, então ambas as séries uk e cuk convergem
ou divergem. No caso de haver convergência, a soma está relacionada por

X ∞
X
cuk = c uk
k=1 k=1

c) A convergência ou a divergência não é afetada pela retirada de um número finito de


termos de uma série, ou seja, para um número K ∈ Z∗ , as séries

X
uk = u1 + u2 + u3 + · · ·
k=1
X∞
uk = uK + uK+1 + uK+2 + · · ·
k=K

são ambas convergentes ou divergentes.

Nesta seção, são listados vários testes que podem ser usados para determinar se
uma dada série converge ou diverge.
92 4.3 Testes de Convergência

Tabela 4.1: Resumo dos testes de convergência para séries infinitas


Nome do teste Proposição do teste Indicação de uso
P
Teste da Divergência Se lim uk 6= 0, então uk diverge. Se lim uk = 0, então a
k→∞ k→∞
P
série uk pode ou não
convergir.
P
Teste da Integral Seja uk uma série com termos positivos e Este teste aplica-se apenas
seja f (x) a função que resulta quando k for para séries com termos po-
substituı́do por x no termo geral da série. Se f sitivos. Tente este teste
é decrescente e contı́nua no intervalo [a, +∞), quando f (x) for fácil de
∞ Z +∞
X integral
então uk e f (x)dx ambas convergem
k=1 a
ou ambas divergem.

X X∞
Teste da Comparação Sejam ak e bk séries de termos não- Este teste aplica-se ape-
k=1 k=1 nas para séries com ter-
negativos e suponha que
mos positivos. Tente este
a1 ≤ b1 , a2 ≤ b2 , . . . , ak ≤ bk , . . . teste em último caso; ou-
P P tros testes costumam ser
Se a bk convergir, então ak converge. Se
P P mais fáceis de se aplicar.
ak divergir, então bk diverge.
P P
Teste da Comparação Sejam ak e bk séries de termos positivos Este teste é mais fácil
ak
dos limites tal que ρ = lim de aplicar que o teste da
k→∞ bk
Se 0 < ρ < +∞, então ambas as séries con- comparação, mas requer
vergem ou divergem habilidade na escolher de
P
bk para realizar a com-
paração.
P
Teste da Razão Seja uk uma série com termos positivos e Teste este teste quando
uk+1
suponha que ρ = lim uk envolver fatoriais ou k-
k→∞ uk
A série converge se ρ < 1; a série diverge se ésimas potências.
ρ > 1 ou ρ = +∞; o teste é inconclusivo se
ρ=1
P
Teste da Raiz Seja uk uma série com termos positivos tal Teste este teste quando

que ρ = lim k uk uk envolver k-ésimas
k→∞
A série converge se ρ < 1; a série diverge se potências.
ρ > 1 ou ρ = +∞; o teste é inconclusivo se
ρ=1
Teste da Série Alter- Se ak > 0 para k = 1, 2, 3, . . ., então as séries: Este testes aplica-se ape-
nada a1 −a2 +a3 −· · · e −a1 +a2 −a3 +· · · convergem nas para séries alternadas.
se a1 > a2 > a2 > · · · e se lim ak = 0
k→∞
P
Teste da Razão para Seja uk uma série com termos diferentes de A série não precisa ter ter-
Convergência Absoluta |uk+1 | mos positivos e não pre-
zero tal que ρ = lim
k→∞ |uk |
cisa ser alternada para uti-
A série converge absolutamente se ρ < 1; a
lizar este teste.
série diverge se ρ > 1 ou ρ = +∞; o teste é
inconclusivo se ρ = 1
4. Sequências e Séries 93


X k 1 2 3 k
Exemplo 4.6 Teste da Divergência: A série = + + +· · ·+ +· · ·
k=1
k+1 2 3 4 k+1
k 1
diverge, pois lim = lim = 1 6= 0.
k→∞ k + 1 k→∞ 1 + 1/k

Exemplo 4.7 Teste da Integral: Use o teste da integral para determinar se as seguin-
tes séries convergem ou divergem.

X 1
a)
k=1
k

Sabemos que esta é a série harmônica, que é divergente. Mas, aplicando o teste da
1
integral, substituindo k por x temos f (x) = que é decrescente e contı́nua para
x
x ≥ 1 (com isso a = 1):
Z +∞ Z b
1 1
dx = lim dx = lim (ln b − ln 1) = +∞
1 x b→∞ 1 x b→∞

com isso a integral diverge, logo, a série também diverge.



X 1
b)
k=1
k2

1
Aplicando o teste da integral, substituindo k por x temos f (x) = 2 que é decrescente
x
e contı́nua para x ≥ 1 (com isso a = 1):
Z +∞ Z b   b  
1 1 1 1
dx = lim dx = lim − = lim 1 − =1
1 x2 b→∞ 1 x2 b→∞ x b→∞ b
1
com isso a integral converge, logo, a série também converge. Mas cuidado, o fato
da integral resultar em 1 não significa que a soma da série é igual a 1. A tı́tulo de
curiosidade, a soma desta série infinita é π 2 /6.

As séries no exemplo 4.7 são casos particulares de uma classe de séries chamadas
de p-séries ou séries hiper-harmônicas. A p-série é uma série da forma

X 1 1 1 1
p
= 1 + p + p + p + ···
k=1
k 2 3 4

Teorema 4.8 Convergência de uma p-série:



X 1 1 1 1 1
p
= 1 + p + p + p + · · · + p + · · · converge se p > 1 e diverge se 0 < p ≤ 1.
k=1
k 2 3 4 k
94 4.3 Testes de Convergência

1 1 1 1
Exemplo 4.8 p-Série: A p-série 1 + √
3
+√
3
+√
3
+ ··· + √
3
+ · · · é divergente,
2 3 4 k
pois p = 31 < 1.

Afim de utilizar o teste da comparação, vamos tomar dois princı́pios informais,


ou seja, duas ideias que não são tomadas por teoremas formais e não há garantias de que
sempre funcionam, mas funcionam o bastante para serem úteis.

Princı́pio Informal 4.1 Termos constantes no denominador de uk podem geralmente


ser eliminados sem afetar a convergência ou a divergência de uma série.

Princı́pio Informal 4.2 Se um polinômio em k aparecer como um fator no numerador


ou denominador de uk , todos os termos do polinômio podem ser usualmente descartados,
exceto o termo de maior expoente, sem afetar a convergência ou a divergência da série.

Exemplo 4.9 Teste da Comparação: Use o teste da comparação para verificar se as


séries a seguir convergem ou divergem.

X 1
a) √ 1
k=1
k− 2

De acordo com o princı́pio informal 4.1, podemos eliminar a constante do denomi-


nador sem afetar a sua convergência ou divergência. Assim, a série do exemplo deve

X 1
se comportar (espera-se que sim) da mesma forma que √ que é uma p-série
k=1
k
1

divergente p = 2 . Assim temos a comparação
1 1
√ <√ para k = 1, 2, . . .
k k − 12
E como a “série menor” diverge, a “série maior” diverge também.

X 1
b)
k=1
2k 2 +k

De acordo com o princı́pio informal 4.2, podemos eliminar todos os termos do po-
linômio, exceto o de maior expoente, sem afetar a sua convergência ou divergência.
Assim, a série do exemplo deve se comportar (espera-se que sim) da mesma forma

1X 1
que que é uma p-série convergente (p = 2). Assim temos a comparação
2 k=1 k 2
1 1
< 2
2k 2+k 2k
E como a “série maior” converge, a “série menor” converge também.
4. Sequências e Séries 95

Exemplo 4.10 Teste da Comparação dos limites: Use o teste da comparação dos
limites para determinar se convergem ou a divergem as seguintes séries:

X 1
a) √
k=1
k−1

Assim como no exemplo 4.9, o princı́pio 4.1 sugere que a série, provavelmente, se
comporte como a p-série divergente (p = 21 ). Provaremos que a série diverge utili-
1 1
zando a comparação dos limites entre: ak = √ e bk = √ . Logo,
k−1 k

ak k 1
ρ = lim = lim √ = lim =1
k→+∞ bk k→+∞ k − 1 k→+∞ 1 − √1
k

Logo, como ρ é finito e positivo, a série diverge. (O que está de acordo com a
conclusão obtida no exemplo 4.9).

X 3k 3 − 2k 2 + 4
b)
k=1
k7 − k3 + 2
∞ ∞
X 3k 3 X 3
A partir do princı́pio 4.2, é provável que a série se comporte como 7
= ,
k=1
k k=1
k4
que é convergente, pois é uma constante multiplicando uma p-série (p = 4). Prova-
remos que a série converge utilizando a comparação dos limites:

3k 3 − 2k 2 + 4
7 3 3k 7 − 2k 6 + 4k 4
ρ = lim k − k + 2 = lim =1
k→+∞ 3 k→+∞ 3k 7 − 3k 3 + 6
k4
Logo, como ρ é finito e positivo, a série converge.

Exemplo 4.11 Teste da Razão: Use o teste da razão para determinar a convergência
ou a divergência das seguintes séries:

X k
a)
k=1
2k

A série converge, pois


uk+1 k + 1 2k 1 k+1 1
ρ = lim = lim k+1 = lim = <1
k→+∞ uk k→+∞ 2 k 2 k→+∞ k 2
96 4.3 Testes de Convergência


X (2k)!
b)
k=3
4k

Note que esta série começa com o ı́ndice k = 3. Podemos reescrever esta série para
começar com o ı́ndice em 1, mas isto não é necessário, pois o teste não faz esta
exigência. Assim, esta série é divergente, pois

uk+1 [2(k + 1)]! 4k 1 (2k + 2)!


ρ = lim = lim k+1
= lim =
k→+∞ uk k→+∞ 4 (2k)! 4 k→+∞ (2k)!
1
= limk→+∞ (2k + 2)(2k + 1) = +∞
4

Exemplo 4.12 Teste da Raiz: Use o teste da raiz para determinar a convergência ou
a divergência das seguintes séries:

X 4k − 5 k
a) ( )
k=2
2k + 1

A série diverge, pois


4k − 5
ρ = lim (uk )1/k = lim =2>1
k→+∞ k→+∞ 2k + 1


X 1
b)
k=1
(ln(k + 1))k

A série converge, pois


1
ρ = lim (uk )1/k = lim =0<1
k→+∞ k→+∞ ln(k + 1)

Até aqui os testes foram voltados a séries de termos exclusivamente não-negativos.


Porém, existem séries que contém termos positivos e negativos. As séries cujos termos
alternam entre positivo e negativo são chamadas séries alternadas.

Em geral, uma série alternada tem uma das formas:



X
(−1)k+1 ak = a1 − a2 + a3 − a4 + · · ·
k=1


X
(−1)k ak = −a1 + a2 − a3 + a4 − · · ·
k=1

onde todos os termos ak são positivos.


4. Sequências e Séries 97

Exemplo 4.13 Teste da Série Alternada: Use o teste da série alternada para deter-
minar a convergência das seguintes séries:

X 1
a) (−1)k+1
k=1
k

As duas condições do teste da série alternada estão satisfeitas, pois

1 1 1
ak = > = ak+1 e lim = 0.
k k+1 k→+∞ k

Logo, a série é convergente1 .



X k+3
b) (−1)k+1
k=1
k(k + 1)

As duas condições do teste da série alternada estão satisfeitas, pois

ak+1 k+4 k(k + 1) k 2 + 4k k 2 + 4k


= · = 2 = 2 < 1 logo
ak (k + 1)(k + 2) k+3 k + 5k + 6 (k + 4k) + (k + 6)
1 3
k+3 + 2
ak > ak+1 e lim = lim k k = 0.
k→+∞ k(k + 1) k→+∞ 1
1+
k
Logo, a série é convergente.

Observação 4.1 Se uma série violar a condição lim ak = 0 do teste da série alternada,
k→+∞
então a série deve divergir pelo teste da divergência. No entanto, se esta condição estiver
satisfeita, mas a1 > a2 > a3 > · · · não estiver, a série pode convergir ou não.

Ainda sobre séries alternadas, temos mais um resultado interessante e importante


no seu estudo.

Teorema 4.9 Se uma série alternada satisfaz as hipóteses do teste da séries alternada,
e se S for a soma da série, então

a) S está entre duas somas parciais sucessivas, isto é sn < S < sn+1 ou sn+1 < S < sn
dependendo de qual soma parcial for maior.

b) Se S for aproximada por sn , então o erro absoluto |S − sn | satisfaz |S − sn | < an+1 .


Além disso, o sinal do erro S − sn é igual ao do coeficiente de an+1 .
1
A série deste exemplo é chamada de série harmônica alternada.
98 4.3 Testes de Convergência

1 1 1 1 1 1
A série 1 − − 2 + 3 + 4 − 5 − 6 + · · · não se enquadra em nenhuma das
2 2 2 2 2 2
categorias estudadas até aqui, pois há uma mistura de sinais, mas não se comporta como
uma série alternada. A este tipo de série que se aplica o último teste apresentado neste
material, mas antes, necessitamos de uma definição e um teorema.

Definição 4.7 Dizemos que uma série



X
uk = u1 + u2 + u3 + · · ·
k=1

converge absolutamente se a série de valores absolutos



X
|uk | = |u1 | + |u2 | + |u3 | + · · ·
k=1

converge e dizemos que diverge absolutamente se a série de valores absolutos diverge.

Teorema 4.10 Se a série



X
|uk | = |u1 | + |u2 | + |u3 | + · · ·
k=1

convergir, então a série



X
uk = u1 + u2 + u3 + · · ·
k=1

também converge.

Exemplo 4.14 Teste da Razão para Convergência Absoluta: Use o teste da razão
para convergência absoluta para determinar se as seguintes séries convergem:

X 2k
a) (−1)k
k=1
k!

2k 2k
Tomando o valor absoluto do termo geral uk , temos: |uk | = (−1)k =
k! k!

Assim,
|uk+1 | 2k+1 k! 2
ρ = lim = lim k
= lim = 0 < 1.
k→+∞ |uk | k→+∞ (k + 1)! 2 k→+∞ k + 1

Logo, a série converge absolutamente e, portanto, converge.


4. Sequências e Séries 99


X (2k − 1)!
b) (−1)k
k=1
3k

(2k − 1)!
Tomando o valor absoluto do termo geral uk , temos: |uk | = (−1)k =
3k
(2k − 1)!
3k

Assim,
|uk+1 | [2(k + 1) − 1]! 3k 1 (2k + 1)!
ρ = lim = lim k+1
= lim · =
k→+∞ |uk | k→+∞ 3 (2k − 1)! k→+∞ 3 (2k − 1)!
1
= lim (2k + 1)(2k) = +∞.
3 k→+∞

Logo, a série diverge.


100 4.3 Testes de Convergência
Séries: de Taylor e de Fourier

5.1 Histórico

Brook Taylor (1685 - 1731) foi um matemático inglês, nasceu em uma famı́lia de
posses. Artistas e músicos eram frequentadores da casa de Taylor, os quais influenciaram
o jovem Brook. Anos mais tarde, ele publicou um trabalho definitivo sobre a teoria
matemática da perspectiva e obteve resultados importantes sobre vibrações das cordas.
Existe um trabalho não publicado, On Musick, que faria parte de uma publicação conjunta
com Isaac Newton. O perı́odo mais produtivo de Taylor foi de 1714 a 1719 durante o qual
escreveu sobre magnetismo, ação capilar (!), termômetros, perspectivas, e cálculo; em seus
últimos anos, dedicou seus esforços a escrever sobre filosofia e religião. De acordo com
o próprio Taylor, o trabalho que leva seu nome foi motivado por uma conversa, em um
café, sobre os trabalhos de Newton a respeito do movimento planetário e os trabalhos de
Halley (aquele mesmo, o do cometa) sobre raı́zes de polinômios. O estilo de escrita de
Taylor era tão conciso e difı́cil de entender que ele nunca recebeu créditos para muitas de
suas inovações.

Colin Maclaurin (1698 - 1746) foi um matemático escocês. Maclaurin entrou na


Universidade de Glasgow como estudante de teologia, mas logo mudou para matemática.
Com dezessete anos tornou-se mestre, começando a lecionar no Marischal College em
Aberdeen, na Escócia. Durante uma visita a Londres em 1719, encontrou Newton e dali
em diante tornou-se um dos seus discı́pulos. Durante esta época, muitos trabalhos de
Newton foram duramente criticados, e muitos dos trabalhos importantes de Maclaurin
resultaram dos seus esforçoes em defender geometricamente as ideias de Newton. Um
trabalho de Maclaurin Um tratado de Fluxonios (1742) foi a primeira formulação sis-
temática dos métodos de Newton. Este trabalho foi tão meticulosamente feito, que se
tornou padrão de rigor matemático em cálculo, até o trabalho de Augustin-Louis Cau-
chy (1789 - 1857), em 1821. Maclaurin foi um notável experimentalista. Desenvolveu
inúmeros inventos mecânicos e engenhosos, fez importantes observações astronômicas, re-
alizou cálculos atuariais na área de seguros e ajudou a melhorar os mapas das ilhas em
torno da Escócia.

Jean Baptiste Joseph Fourier (1768 - 1830) foi preso duas vezes durante a Re-
volução Francesa, depois serviu como conselheiro cientı́fico do exército de Napoleão Bo-
102 5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor

naparte (1769 - 1821) n oEgito e foi governador da provı́ncia de Isère (Grenoble), de 1801
a 1815. Foi o primeiro a fazer uso sistemático de séries trigonométricas, embora em uma
investigação não completamente rigorosa, em seus artigos de 1807 e 1811 sobre a condução
do calor. os artigos não foram publicados devido a objeções dos matemáticos que os jul-
garam, principalmente Lagrange. Embora a afirmação de generalidade de Fourier seja
forte demais, seus resultados inspiraram um fluxo de pesquisa importante, que continua
até hoje.

5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor

Lembre-se que a aproximação linear local de uma função f em um ponto x0 é


dada por
f (x) ≈ f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ).

Nesta fórmula, a função aproximante

p(x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )

é um polinômio do primeiro grau cujo valor em x0 é f (x0 ) e cuja derivada em x0 é f 0 (x0 ).


Assim, a aproximação linear local de f em x0 tem a propriedade de que o seu valor e o
de sua derivada coincidem com aqueles de f em x0 .

Se o gráfico de f tiver uma “curva-


tura” pronunciada em um ponto x0 , então
podemos esperar que o valor da apro-
ximação linear local de f em x0 irá dimi-
nuir rapidamente à medida que se distancie
de x0 (Figura 5.1). Uma maneira de con-
tornar este problema é aproximar a função
f por um polinômio p de grau dois com a
propriedade de que o valor de p e o de suas
duas primeiras derivadas coincidem com os
Figura 5.1: Aproximação linear local de f em x0 . Isso garante que o gráfico de f
e p não somente tem a mesma reta tangente
em x0 , mas também têm curvaturas na mesma direção naquele ponto (ambos côncavos
para cima ou para baixo). Como consequência, esperamos que o gráfico de p seja próximo
ao gráfico de f por um intervalo maior em torno de x0 do que o gráfico da aproximação
linear local. O polinômio p é chamado de aproximação quadrática local de f no
ponto x0 .
5. Séries: de Taylor e de Fourier 103

Para ilustrar essa ideia, vamos encontrar uma fórmula para a aproximação qua-
drática local de uma função f em um ponto x = 0. Esta aproximação tem a forma

f (x) ≈ c0 + c1 x + c2 x2

onde c0 , c1 e c2 devem ser escolhidos de tal forma que os valores de p(x) = c0 + c1 x + c2 x2


e as suas primeiras derivadas coincidem com os de f em x0 . Assim, queremos

p(0) = f (0), p0 (0) = f 0 (0), p00 (0) = f 00 (0)

Mas os valores de p(0), p0 (0) e p00 (0) são os seguintes:

p(x) = c0 + c1 x + c2 x2 p(0) = c0
p0 (x) = c1 + 2c2 x p0 (0) = c1
p00 (x) = 2c2 p00 (0) = 2c2

00
Assim, temos c0 = f (0), c1 = f 0 (0), c2 = f 2(0) e substituindo esses valores em
p temos a aproximação quadrática local de f em x = 0:
f 00 (0) 2
f (x) ≈ f (0) + f 0 (0)x + x
2

Exemplo 5.1 Obter as aproximações linear a quadrática locais de ex em x = 0 e fazer


juntos os gráficos de ex e de suas duas aproximações.

Se tomarmos f (x) = ex , então

f 0 (x) = f 00 (x) = ex

e, portanto, temos

f (0) = f 0 (0) = f 00 (0) = 1.

Assim, temos como aproximação


linear local em x = 0:

ex ≈ 1 + x

e a aproximação quadrática local em


x = 0:
x2
ex ≈ 1 + x + Figura 5.2: ex e suas duas aproximações locais
2
104 5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor

Ao observar a construção anterior, é natural se questionar se é possı́vel melhorar


a precisão de uma aproximação quadrática local usando um polinômio de grau 3, ou 4,
ou 5. Ou seja, poderı́amos buscar por um polinômio de grau n com a propriedade que
seu valor e os valores de suas n primeiras derivadas coincidissem com aqueles de f em um
ponto. Assim, vamos considerar o seguinte problema:

Problema 5.1 Dada uma função f que possa ser diferenciada n vezes em um ponto x0 ,
ache um polinômio p de grau n com a propriedade de que o valor de p e os das suas n
primeiras derivadas coincidem com aqueles de f em x0 .

Vamos começar resolvendo o problema no caso onde x0 = 0. Assim, queremos


um polinômio
p(x) = c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + · · · + cn xn
tal que
f (0) = p(0), f 0 (0) = p0 (0), f 00 (0) = p00 (0), . . . , f (n) (0) = p(n) (0)

Mas
p(x) = c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + · · · + cn xn
p0 (x) = c1 + 2c2 x + 3c3 x2 + · · · + ncn xn−1
p00 (x) = 2c2 + 3 · 2x + · · · + n(n − 1)cn xn−2
..
.
p(n) = n(n − 1)(n − 2) · · · (1)cn

Portanto, temos:
f (0) = p(0) = c0 = 0!c0
f 0 (0) = p0 (0) = c1 = 1!c1
f 00 (0) = p00 (0) = 2c2 = 2!c2
f 000 (0) = p000 (0) = 3 · 2c2 = 3!c3
..
.
f (n) (0) = p(n) (0) = n(n − 1)(n − 2) · · · (1)cn = n!cn

o que resulta em nos coeficientes de p(x):

f 00 (0) f 00 (0) f (n) (0)


c0 = f (0), c1 = f 0 (0), c2 = , c3 = , . . . , cn =
2! 3! n!

O polinômio que obtemos ao substituir estes coeficientes em p(x) é chamado de


n-ésimo polinômio de Maclaurin para f .
5. Séries: de Taylor e de Fourier 105

Definição 5.1 Se f puder ser diferenciada n vezes em 0, então definimos o n-ésimo


polinômio de Maclaurin para f como sendo

f 00 (0) 2 f 000 (0) 3 f (n) (0) n


pn (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + x + ··· + x
2! 3! n!

Este polinômio tem a propriedade de que seu valor e o de suas n primeiras derivadas
coincidem com os valores de f e o de suas n primeiras derivadas em x = 0.

Exemplo 5.2 Obter os polinômios de Maclaurin p0 , p1 , p2 , p3 e pn para ex .

Seja f (x) = ex . Assim

f 0 (x) = f 00 (x) = f 000 (x) = · · · = f (n) (x) = ex

e
f 0 (0) = f 00 (0) = f 000 (0) = · · · = f (n) (0) = 1.

Logo,
p0 (x) = f (0) = 1
p1 (x) = f (0) + f 0 (0)x = 1 + x
f 00 (0) 2 x2
p2 (x) = f (0) + f 0 (0)x + x =1+x+
2! 2
00 000
f (0) 2 f (0) 3 x2 x3
p3 (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + x =1+x+ +
2! 3! 2 6
00 (n)
f (0) f (0) x2 xn
pn (x) = f (0) + f 0 (0)x + x2 + · · · + xn = 1 + x + + ··· +
2! n! 2 n!

Até este momento, foi apresentado aproximações em torno de x = 0. Vamos


agora tomar o caso mais geral de aproximar f nas proximidades de um ponto genérico
x0 . A ideia inicial é a mesma à já anterior: queremos encontrar um polinômio de grau n
com a propriedade de que seu valores e os valores de suas n primeiras derivadas coincidam
com aqueles de f em x0 .

Para simplificar alguns cálculos, vamos tomar o polinômio p(x) com a seguinte
forma:

p(x) = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + c3 (x − x0 )3 + · · · + cn (x − x0 )n

Ficará como exercı́cio, para você estudante, provar que


f 00 (x0 ) f 00 (x0 ) f (n) (x0 )
c0 = f (x0 ), c1 = f 0 (x0 ), c2 = , c3 = , . . . , cn =
2! 3! n!
106 5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor

Definição 5.2 Se f puder ser diferenciada n vezes em x0 , então definimos o n-ésimo


polinômio de Taylor para f em torno de x = x0 como sendo

f 00 (x0 ) f (n) (x0 )


pn (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + · · · + (x − x0 )n
2! n!

Observação 5.1 Note que os polinômios de Maclaurin são casos especiais dos polinômios
de Taylor com x0 = 0.

Exemplo 5.3 Obter os quatro primeiros polinômios de Taylor para ln x em torno de


x = 3.

Seja f (x) = ln x. Então

f (x) = ln x, f (3) = ln 3
0
f (x) = 1/x, f 0 (3) = 1/3
f 00 (x) = −1/x2 , f 00 (3) = −1/9
f 000 (x) = 2/x3 , f 000 (3) = 2/27

Logo,

p0 (x) = f (3) = ln 3
p1 (x) = f (3) + f 0 (3)(x − 3)
1 Figura 5.3: ln x e suas aproximações em torno de x0 = 3
= ln 3 + (x − 3)
3
f 00 (3) 1 1
p2 (x) = f (3) + f 0 (3)(x − 3) + (x − 3)2 = ln 3 + (x − 3) − (x − 3)2
2! 3 18
00 000
f (3) f (3)
p3 (x) = f (3) + f 0 (3)(x − 3) + (x − 3)2 + (x − 3)3
2! 3!
1 1 1
= ln 3 + (x − 3) − (x − 3) + (x − 3)3
2
3 18 81

Para um valor fixado de x próximo de x0 , é de se esperar que a aproximação de


f (x) por seu polinômio de Taylor pn (x) em torno de x0 melhore à medida em que n cresce,
visto que ele tem o efeito de fazer coincidir as derivadas de ordem cada vez mais altas de
f (x) com as de pn (x) em x = x0 . Assim, é plausı́vel supor que podemos obter qualquer
precisão em um ponto x escolhendo-se n suficientemente grande. Caso isso aconteça,
teremos (convencionado que f (0) (x0 ) denota f (x0 )):
n +∞ (k)
X f (k) (x0 ) k
X f (x0 )
f (x) = lim (x − x0 ) = (x − x0 )k
n→∞
k=0
k! k=0
k!
5. Séries: de Taylor e de Fourier 107

Definição 5.3 Se f tiver derivadas de todas as ordens em x0 , então chamamos a série

+∞ (k)
X f (x0 ) f 00 (x0 )
(x − x0 )k = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
k=0
k! 2!
f (k) (x0 )
+··· + (x − x0 )k + · · ·
k!

de série de Taylor para f em torno de x = x0 . No caso especial em que x0 = 0, a


série fica

+∞ (k)
X f (0) k f 00 (0) 2
0 f (k) (0) k
x = f (0) + f (0)x + x + ··· + x + ···
k=0
k! 2! k!

e, neste caso, chamaremos de série de Maclaurin para f.

Exemplo 5.4 Obter as séries de Maclaurin para

a) ex
No exemplo 5.2 encontramos o n-ésimo polinômio de Maclaurin para a função ex :
n
X xk x2 xn
=1+x+ + ··· +
k=0
k! 2 n!

Assim, a série de Maclaurin para ex é


+∞ k
X x x2 xk
=1+x+ + ··· + + ···
k=0
k! 2! k!

b) sen x
Nos polinômios de Maclaurin para sen x, aparecerão apenas as potências ı́mpares
de x. Seja f (x) = sen x, assim:
f (x) = sen x, f (0) = 0
f 0 (x) = cos x, f 0 (0) = 1
f 00 (x) = − sen x, f 00 (0) = 0
f 000 (x) = − cos x, f 000 (0) = −1

e na continuação das derivadas, f (4) = sen x = f (x), o padrão 0, 1, 0, −1 se repetirá


indefinidamente. Desta forma, os polinômios de Maclaurin para sen x são
108 5.2 Séries de Maclaurin e de Taylor

p0 (x) = 0
p1 (x) = 0 + x
p2 (x) = 0 + x + 0
x3
p3 (x) = 0 + x + 0 −
3!
x3
p4 (x) = 0 + x + 0 − +0
3!
x3 x5
p5 (x) = 0 + x + 0 − +0+
3! 5!
x3 x5
p6 (x) = 0 + x + 0 − +0+ +0
3! 5!
x3 x5 x7
p7 (x) = 0 + x + 0 − +0+ +0−
3! 5! 7!
..
.
Assim, a série de Maclaurin para sen x é
+∞
X x2k+1 x3 x5 x7 x2k+1
(−1)k = +x − + − + · · · + (−1)k + ···
k=0
(2k + 1)! 3! 5! 7! (2k + 1)!

1
c)
1−x
1
Seja f (x) = , assim:
1−x
1
f (x) = , f (0) = 1 = 0!
1−x
1
f 0 (x) = , f 0 (0) = 1 = 1!
(1 − x)2
2
f 00 (x) = , f 00 (0) = 2 = 2!
(1 − x)3
3·2
f 000 (x) = , f 000 (0) = 3!
(1 − x)4
4·3·2
f (4) (x) = , f (4) (0) = 4!
(1 − x)5
.. ..
. .
k!
f (k) (x) = , f (k) (0) = k!
(1 − x)k1
.. ..
. .

+∞
1 X
Assim, a série de Maclaurin para é xk = 1 + x + x2 + x 3 + · · · + xk + · · ·
1 − x k=0
Ou seja, a série de Maclaurin para 1/(1 − x) é a série geométrica com termo inicial
igual a 1 e razão igual a x.
5. Séries: de Taylor e de Fourier 109

As séries de Maclaurin e de Taylor, assim como as demais séries anteriormente


apresentadas, dependem de ter sua convergência atestada. Nessa disciplina não será
trabalhada a convergência das séries de Taylor e Maclaurin. A tabela a seguir lista as
séries de Maclaurin mais importantes, com a condição para ter a convergência garantida.

Tabela 5.1: Séries de Maclaurin e suas convergências


Série de Maclaurin Intervalo de
Convergência
+∞
1 X
= xk = 1 + x + x2 + x3 + · · · −1 < x < 1.
1 − x k=0
+∞
1 X
2
= (−1)k x2k = 1 − x2 + x4 − x6 + · · · −1 < x < 1.
1+x k=0
+∞ k
x
X x x2 x3
e = =1+x+ + + ··· −∞ < x < +∞
k=0
k! 2! 3!
+∞
X x2k+1 x3 x5 x7
sen x = (−1)k =x− + − + ··· −∞ < x < +∞
k=0
(2k + 1)! 3! 5! 7!
+∞
X x2k x2 x4 x6
cos x = (−1)k =1− + − + ··· −∞ < x < +∞
k=0
(2k)! 2! 4! 6!
+∞
X xk x2 x 3 x4
ln(1 + x) = (−1)k+1 =x− + − + ··· −1 < x < 1
k=0
k 2 3 4
+∞ 2k+1
−1
X
k x x3 x5 x7
tg x= (−1) =x− + − + ··· −1 ≤ x ≤ 1
k=0
2k + 1 3 5 7
+∞
X x2k+1 x3 x5 x7
senh x = =x+ + + + ··· −∞ < x < +∞
k=0
(2k + 1)! 3! 5! 7!
+∞
X x2k x2 x4 x6
cosh x = =1+ + + + ··· −∞ < x < +∞
k=0
(2k)! 2! 4! 6!
+∞
X m(m − 1) · · · (m − k + 1)
m
(1 + x) = 1 + xk −1 < x < 1
k!
k=1 (m 6= 0, 1, 2, . . .)

A última série apresentada na tabela 5.2 é chamada de série binomial. O compor-


tamento nos extremos finais no seu intervalo de convergência depende de m: para m > 0,
a série converge absolutamente nos extremos; para m ≤ −1, a série diverge nos extremos;
e para −1 < m < 0, a série converge condicionalmente (ou seja, uma série que converge,
mas diverge absolutamente) em x = 1 e diverge em x = −1.
110 5.3 Séries de Fourier

5.3 Séries de Fourier

Existe uma classe inteira de séries infinitas envolvendo senos e cossenos. Essas
séries trigonométricas são chamadas de séries de Fourier. Elas são análogas às séries
de Taylor no sentido de que ambos os tipos de séries fornecem um modo de expressar
funções complicadas em termos de certas funções elementares familiares.

Vamos começar com uma série da forma

+∞
a0 X   mπx   mπx 
+ am cos + bm sen . (5.1)
2 m=1
L L

No conjunto de pontos em que a série (5.1) converge, ela define uma função f
cujo valor em cada ponto é a soma da série para aquele valor x. Nesse caso, dizemos que
a série (5.1) é a série de Fourier de f . Vamos determinar quais as funções que podem ser
representadas como uma soma de uma série de Fourier e encontrar maneiras de calcular
os coeficientes na série correspondente a uma função dada. O primeiro termo da série
(5.1) é escrito como a0 /2, em vez de a0 , para simplificar uma fórmula para os coeficientes
que serão deduzidas adiante. E para tal dedução, necessitamos de algumas propriedades
das funções seno e cosseno.

Para discutir as séries de Fourier, é necessário desenvolver algumas propriedades


das funções trigonométricas sen(mπx/L) e cos (mπx/L), em que m ∈ N∗ .

Periodicidade das funções seno e cosseno:

Definição 5.4 Uma função é dita periódica com perı́odo T > 0 se o domı́nio de f
contém x + T sempre que contiver x, e se f (x + T ) = f (x), ∀x.

Logo, se T é um perı́odo de f , então 2T também é, como qualquer múltiplo


inteiro de T . O menor valor de T para o qual a periodicidade acima é válida é chamado
de perı́odo fundamental de f . Uma função constante pode ser considerada periódica
com qualquer perı́odo, mas não tem um perı́odo fundamental.

Se f e g são duas funções periódicas com perı́odo comum T , então seu produto
f g e qualquer combinação linear c1 f + c2 g também são funções periódicas. Além disso,
pode-se mostrar que a soma de qualquer número finito, ou até mesmo a soma de uma
série infinita convergente, de funções de perı́odo T também é periódica com perı́odo T .
5. Séries: de Taylor e de Fourier 111

Em particular, as funções sen(mπx/L) e cos (mπx/L), m = 1, 2, 3, . . ., são


periódicas com perı́odo fundamental T = 2L/m. Lembre-se que sen x e cos x têm perı́odo
fundamental 2π e que sen αx e cos αx têm perı́odo fundamental 2π/α. Assim, esco-
lhendo α = mπ/L, vemos que o perı́odo de sen(mπx/L) e cos (mπx/L) é dado por
T = 2πL/mπ = 2L/m. E do fato que qualquer múltiplo inteiro também fornece um
perı́odo para a função, logo, sen(mπx/L) e cos (mπx/L) tem o perı́odo comum 2L.

Ortogonalidade das funções seno e cosseno:

Para definir esta segunda propriedade essencial de sen(mπx/L) e cos (mπx/L),


vamos generalizar o conceito de ortogonalidade de vetores.

Definição 5.5 O produto interno de duas funções reais f1 e f2 em um intervalo [α, β]


Z β
é o número (f1 , f2 ) = f1 (x)f2 (x)dx.
α

As funções f1 e f2 são ditas ortogonais em α ≤ x ≤ β se seu produto interno


for igual a zero. Um conjunto de funções é dito um conjunto ortogonal se cada par de
funções diferentes pertencentes ao conjunto é ortogonal.

Teorema 5.1 O conjunto formado por sen(mπx/L) e cos (mπx/L), m = 1, 2, . . . é or-


togonal no intervalo [−L, L].

  nπx   mπx 
Demonstração 5.1 Começando entre cos , cos .
L L
  nπx   mπx  Z Lh 
nπx   mπx i
cos , cos = cos cos dx
L L −L L L
1 L
Z     
(n + m)πx (n − m)πx
= cos + cos dx
2 −L L L
"   L
1 L (n + m)πx
= sen
2 (n + m)π L −L
  L #
L (n − m)πx
+ sen
(n − m)π L −L

1 L
= ( sen ((n + m)π) − sen ((n + m) − π))
2 (n + m)π

L
+ ( sen ((n − m)π) − sen ((n − m) − π))
(n − m)π
= 0
112 5.3 Séries de Fourier

  nπx   mπx 
Agora, para sen , sen .
L L
  nπx   mπx  Z L h  nπx   mπx i
sen , sen = sen
sen dx
L L −LL L
1 L
Z     
(n − m)πx (n + m)πx
= cos − cos dx
2 −L L L
"   L
1 L (n − m)πx
= sen
2 (n − m)π L −L
  L #
L (n + m)πx
− sen
(n + m)π L −L

1 L
= ( sen ((n − m)π) − sen ((n − m) − π))
2 (n − m)π

L
+ ( sen ((n + m)π) − sen ((n + m) − π))
(n + m)π
= 0

  nπx   mπx 
Fazendo para cos , sen .
L L
  nπx   mπx  Z L h  nπx   mπx i
cos , sen = cos dx sen
L L −L L L
1 L
Z   
 
(m + n)πx (m − n)πx
= sen + sen dx
2 −L L L
| {z }
Q(m,n)

se m = n:
Z L    
1 2mπx 0πx
Q(m, n) = sen + sen dx
2 −L L L
"   L #
1 L 2mπx
= − cos
2 2mπ L −L

−L
= (cos(2mπ) − cos(−2mπ))
4mπ
−L
= (cos(2mπ) − cos(2mπ))
4mπ
= 0
5. Séries: de Taylor e de Fourier 113

se m 6= n:
"   L
1 −L (m + n)πx
Q(m, n) = cos
2 (m + n)π L −L
#
 L 
−L (m − n)πx
− cos
(m − n)π L −L

1 −L
= (cos((m + n)π) − cos((m + n) − π))
2 (m + n)π

−L
− (cos((m − n)π) − cos((m − n) − π))
(m − n)π

1 −L
= (cos((m + n)π) − cos((m + n)π))
2 (m + n)π

−L
− (cos((m − n)π) − cos((m − n)π))
(m − n)π
= 0

Do teorema 5.1, concluı́mos que sen(mπx/L) e cos (mπx/L) satisfazem as se-


guintes relações de ortogonalidade (os resultados para m = n ficam como exercı́cio):

(
L
0, m 6= n,
Z  mπx   nπx 
cos cos dx = (5.2)
−L L L L, m = n;
Z L  mπx   nπx 
cos sen dx = 0, todos m, n; (5.3)
−L L L
(
L
0, m 6= n,
Z  mπx   nπx 
sen sen dx = (5.4)
−L L L L, m = n;

As fórmulas de Euler-Fourier: vamos supor que uma série da forma 5.1 converge, e
vamos chamar essa soma de f (x):

+∞
a0 X   mπx   mπx 
f (x) = + am cos + bm sen . (5.5)
2 m=1
L L

Com as condições de ortogonalidade (5.2), (5.3) e (5.4), podemos determinar os


coeficientes a0 , am e bm .
114 5.3 Séries de Fourier

Teorema 5.2 Em uma Série de Fourier

1 L
Z
a0 = f (x)dx (5.6)
L −L
1 L
Z  mπx 
am = f (x) cos dx, m = 1, 2, . . . (5.7)
L −L L
1 L
Z  mπx 
bm = f (x) sen dx, m = 1, 2, . . . (5.8)
L −L L

Demonstração 5.2 Primeiro a0 . Integrando ambos os lados de (5.5) de −L a L:

 
Z L Z L ∞ Z L Z L
a0 X   mπx   mπx  
f (x)dx = dx +  a n cos dx +b n sen dx
−L 2 −L
 L L 
m=1 | −L {z } | −L {z }
=0 =0
L
a0 a0
= x = 2p
2 −L 2

portanto Z L
1
a0 = f (x)dx
L −L

 
nπx
Agora, para obtermos am , multiplica-se (5.5) por cos em que n é fixo e integra-se
p
ambos os lados de −L a L:
Z L
a0 L
 nπx  Z  nπx 
f (x) cos dx = cos dx
−L L 2 −L L
∞  Z L    
X mπx nπx
+ am cos cos dx
m=1 −L p p
Z p  mπx   nπx  
+bm sin cos dx
−p L L
Z L  
2 nπx
= an cos dx
−L p
1 L
Z   
2nπx
= an 1 + cos dx
2 −L L
  L !
L 2nπx
= an L + sen
2nπ L −L

= an L
5. Séries: de Taylor e de Fourier 115

então Z L  nπx 
f (x) cos dx = an L
−L L

portanto (trocando n por m):

1 L
Z  
mπx
am = f (x) cos dx, m = 1, 2, . . .
L −L p

 
nπx
E, finalmente, para obtermos bm , multiplica-se (5.5) por sen em que n é fixo e
p
integra-se ambos os lados de −L a L:
Z L
a0 L
  Z  
nπx nπx
f (x) sen dx = sen dx
−L p 2 −L p
X∞  Z L  mπx   nπx 
+ am cos sen dx
m=1 −L L L
Z L     
mπx nπx
+bm sen sen dx
−L p p
Z L  
2 nπx
= bn sen dx
−L p
1 L
Z   
2nπx
= bn 1 − cos dx
2 −L L
  L !
L 2nπx
= bn L − sen
2nπ L −L

= bn L

então Z L  nπx 
f (x) sen dx = bn L
−L L

portanto (trocando n por m):


Z L
1  mπx 
bm = f (x) sen dx, m = 1, 2, . . .
L −L L

As fórmulas no teorema 5.2 são conhecidas como fórmulas de Euler-Fourier para


os coeficientes de uma série de Fourier. Portanto, se a série (5.5) convergir para f (x) e se
a série puder ser integrada termo a termo, então os coeficientes terão que ser dados pelas
fórmulas dos teorema 5.2.
116 5.3 Séries de Fourier

Observe, também, que as fórmulas do teorema 5.2 dependem apenas dos valores
de f (x) no intervalo −L ≤ x ≤ L. Como cada um dos termos na série de Fourier
(5.5) é periódico com perı́odo 2L, a série converge para todo x sempre que convergir em
−L ≤ x ≤ L, e sua soma também é uma função periódica de perı́odo 2L. Logo, f (x) fica
determinada para todo x por seus valores no intervalo −L ≤ x ≤ L.

Exemplo 5.5 Suponha que existe uma série de Fourier convergindo para a função f
periódica definida por (
−x, −2 ≤ x < 0,
f (x) =
x, 0 ≤ x < 2;
com f (x + 4) = f (x). Determine os coeficientes nessa série de Fourier.

Essa função representa uma onda triangular (Figura 5.4) e é periódica com perı́odo 4.

Figura 5.4: A onda triangular

Então, nesse caso, L = 2 e a série de Fourier tem os seguintes coeficientes:


1 0 1 2
Z Z
a0 = (−x)dx + (x)dx = 1 + 1 = 2
2 −2 2 0
1 0 1 2
Z  mπx  Z  mπx 
am = (−x) cos dx + x cos dx
2 −2 2 2 0 2
 mπx  0
" #
1 2  mπx   2 2
= − x sen − cos
2 mπ 2 mπ 2
−2

 mπx  2
" #
1 2  mπx   2 2
+ x sen + cos
2 mπ 2 mπ 2
0
"  2  2  2  2 #
1 2 2 2 2
= − + cos(mπ) + cos(mπ) −
2 mπ mπ mπ mπ

 − 8 , m ı́mpar

4
= 2
(cos(mπ) − 1), (m = 1, 2, . . .) = (mπ)2
(mπ) 
0, m par
5. Séries: de Taylor e de Fourier 117

Finalmente, segue, da equação (5.8), de maneira análoga, que bm = 0, m = 1, 2, . . .

Desta forma, obtemos a série de Fourier de f :


       
8 πx 1 3πx 1 5πx
f (x) = 1 − 2 cos + 2 cos + 2 cos + ···
π 2 3 2 5 2
+∞
8 X cos(mπx/2)
= 1− 2
π m=1,3,5,...
m2
+∞
8 X cos((2n − 1)πx/2)
= 1− 2
π n=1 (2n − 1)2

Figura 5.5: A onda triangular e as duas primeiras somas parciais de Fourier

Na figura 5.5 apresenta a onda triangular e as duas primeiras somas parciais para a série
de Fourier associada. A curva mais distante das “quinas” da onda triangular é a primeira
soma parcial s1 = 1 − π82 cos πx

2
e a curva mais próxima das “quinas” da onda triangular
é a segunda soma parcial s2 = 1 − π82 cos πx
 1 3πx

2
+ 9
cos 2
. Essas duas somas parciais
já se aproximam bem, ao menos visualmente, da onda triangular. Tomando cada vez mais
termos da série de Fourier, a aproximação torna-se cada vez mais perfeita!


 0, −3 < x < −1,

Exemplo 5.6 Seja f (x) = 1, −1 < x < 1, e suponha que f (x + 6) = f (x) (veja a

0, 1<x<3

figura 5.6). Encontre os coeficientes da série de Fourier.

Figura 5.6: Gráfico de f (x) do exemplo 5.6


118 5.3 Séries de Fourier

Como f tem perı́odo 6, segue que L = 3 para este problema e a série de Fourier tem os
seguintes coeficientes:
1 3 1 1
Z Z
2
a0 = f (x)dx = 1dx =
3 −3 3 −1 3

Analogamente,
1
Z 1
1  mπx  1  mπx  2  mπ 
am = cos dx = sen = sen , m = 1, 2, . . .
3 −1 3 mπ 3 mπ 3
−1

e
1
Z 1
1  mπx  1  mπx 
bm = sen dx = − cos = 0, m = 1, 2, . . .
3 −1 3 mπ 3
−1

Assim, a série de Fourier de f é


+∞
1 X 2  mπ   mπx 
f (x) = + sen cos
3 m=1 mπ 3 3
√          
1 3 πx 1 2πx 1 4πx 1 5πx
= + cos + cos − cos − cos + ···
3 π 3 2 3 4 3 5 5

Note que passando pela primeira soma parcial (em verde), pela segunda soma parcial (em
azul claro) e a terceira soma parcial (em vermelho), a série vai tomando a forma de f .

Figura 5.7: Gráfico de f (x) do exemplo 5.6 e as 3 primeiras somas parciais da série de
Fourier

Tomando termos da soma parcial cada vez mais altos, como na figura 5.8, é nı́tida a
semelhança que a série de Fourier vai apresentado em relação a f .

Figura 5.8: Gráfico de f (x) do exemplo 5.6 e a 15a soma parcial da série de Fourier
5. Séries: de Taylor e de Fourier 119

5.3.1 Funções Pares e Ímpares

Existem duas classes de funções para as quais as fórmulas de Euler-Fourier podem


ser simplificadas. Essas classes são formadas pelas funções pares e ı́mpares, que são
caracterizadas, geometricamente, pela propriedade de simetria em relação ao eixo dos y
e à origem, respectivamente.

Analiticamente, f é uma função par se seu domı́nio contém o ponto −x sempre


que contiver o ponto x, e se
f (−x) = f (x)
para cada x no domı́nio de f . Analogamente, f é uma função ı́mpar se seu domı́nio
contém −x sempre que contiver x, e se

f (−x) = −f (x)

para cada x no domı́nio de f .

Exemplos de funções pares: 1, x2 , cos nx, |x| e x2n . Exemplos de funções ı́mpares:
x, x3 , sen nx e x2n+1 .

As propriedades elementares de funções pares e ı́mpares incluem as seguintes:

1. A soma (diferença) e o produto (quociente) de duas funções pares são pares.

2. A soma (diferença) de duas funções ı́mpares é ı́mpar; o produto (quociente) de duas


funções ı́mpares é par.

3. A soma (diferença) de uma função ı́mpar e uma função par não é nem par nem
ı́mpar; o produto (quociente) de tais funções é ı́mpar.1

Também são importantes as duas propriedades integrais de funções pares e ı́mpares


a seguir

4. Se f for uma função par, então


Z L Z L
f (x)dx = 2 f (x)dx
−L 0

5. Se f for uma função ı́mpar, então


Z L
f (x)dx = 0
−L
1
Essas afirmações precisam ser modificadas se uma das funções for identicamente nula.
120 5.3 Séries de Fourier

Séries em Cossenos:

Suponha que f e f 0 sejam contı́nuas por partes em −L ≤ x < L e que f é uma


função periódica par com perı́odo 2L. Segue, das propriedades 1 e 3, que f (x) cos(nπx/L)
é par e que f (x) sen(nπx/L) é ı́mpar.

Como consequência das propriedades 5 e 6, os coeficientes de Fourier de f são


dados por
Z L
1
a0 = f (x)dx
L −L
Z L
1  mπx 
am = f (x) cos dx, m = 1, 2, . . .
L −L L

bm = 0, m = 1, 2, . . .

Logo, f tem a série de Fourier em cossenos:

+∞
a0 X  mπx 
f (x) = + am cos
2 m=1
L

Séries em Senos:

Suponha que f e f 0 sejam contı́nuas por partes em −L ≤ x < L e que f


é uma função periódica ı́mpar com perı́odo 2L. Segue, das propriedades 2 e 3, que
f (x) cos(nπx/L) é ı́mpar e que f (x) sen(nπx/L) é par.

Como consequência das propriedades 5 e 6, os coeficientes de Fourier de f são


dados por

a0 = 0

am = 0
Z L
2  mπx 
bm = f (x) sen dx, m = 1, 2, . . .
L 0 L

Logo, f tem a série de Fourier em senos:

+∞
X  mπx 
f (x) = bm sen
m=1
L
5. Séries: de Taylor e de Fourier 121

Exemplo 5.7 Seja f (x) = x, −< x < L, e seja f (−L) = f (L) = 0. Seja f definida no
restante da reta de modo a ser periódica de perı́odo 2L (veja a Figura 5.7). A função
definida desse modo é chamada de função dente de serra. Obter a série de Fourier desta
função.

Figura 5.9: A função dente de serra no Exemplo 5.7.

Como f é uma função ı́mpar, ela tem uma série de Fourier em senos. Assim:
Z L
2  mπx 
bm = x sen dx
L 0 L
 2  L
2 L  mπx  mπx  mπx 
= sen − cos
L mπ L L L
0

2L
= (−1)m+1 , m = 1, 2, . . .

+∞
2L X (−1)m+1  mπx 
Logo, a série de Fourier de f é f (x) = sen
π m=1 m L

Figura 5.10: Décima primeira soma parcial da série de Fourier da função dente de serra.
122 5.3 Séries de Fourier

Note que a função f é descontı́nua nos pontos ±L, ±3L, . . ., como mostra a Figura 5.7.
Nesses pontos, a série de Fourier converge para o valor médio dos limites à esquerda e à
direita, neste caso, resultando em zero. Esta é uma propriedade chamada de fenômeno de
Gibbs. A soma parcial s11 está ilustrada na Figura 5.10. Este fenômeno de Gibbs ocorre
novamente em cada ponto de descontinuidade.

Vale observar que a função onda triangular (Exemplo 5.5) e a função dente de
serra que acabamos de trabalhar são idênticas no intervalo 0 ≤ x < L. Portanto, seuas
séries de Fourier convergem à mesma função, f (x) = x, nesse intervalo. Assim, se for
necessário representar a função f (x) = x em 0 ≤ x < L por uma série de Fourier, é
possı́vel fazer isso com uma série em cossenos ou uma série em senos.

No primeiro caso, f tem que ser estendida como uma função par para o intervalo
−L < x < 0 e periodicamente para o resto da reta (a função onda triangular). No segundo
caso, f tem que ser estendida para o intervalo −L < x < 0 como uma função ı́mpar e
periodicamente para o resto da reta (a função dente de serra). Se f for estendida de outra
maneira qualquer, a séri de Fourier resultante vai convergir para x em 0 ≤ x < L, mas
irá envolver termos em seno e cosseno.

Muitas vezes é útil expandir uma função f , dada originalmente no intervalo [0, L],
em uma série de Fourier de periódo 2L. Podemos fazer:

1. Definir uma função g de perı́odo 2L tal que


(
f (x), 0 ≤ x ≤ L,
g(x) =
−f (x), −L < x < 0

A função g é, então, a extensão periódica par de f . Sua série de Fourier, que é em
cossenos, representa f em [0, L].

2. Definir uma função h de perı́odo 2L tal que



 f (x),
 0 < x ≤ L,
h(x) = 0, x = 0, x = L,

−f (−x), −L < x < 0

A função h é, então, a extensão periódica ı́mpar de f . Sua série de Fourier, que é
em senos, representa f em (0, L).

Em geral, a forma da expansão usada será determinada, ou pelo menos sugerida,


pelo propósito para o qual é necessária. No entanto, se existir uma escolha sobre o tipo
5. Séries: de Taylor e de Fourier 123

de série de Fourier a ser usada, a seleção poderá se basear, em alguns casos, na velocidade
de convergência. Por exemplo, a série em cossenos para a onda triangular converge mais
rapidamente do que a série em senos para a função dente de serra, embora ambas convirjam
para a mesma função em 0 ≤ x < L. Isso se deve ao fato de que a onda triangular é
uma função mais suave que a função dente de serra, sendo, portanto, mais fácil de ser
aproximada. Em geral, quando mais derivadas contı́nuas tem a função na reta inteira,
mais depressa vai convergir sua série de Fourier.

Exemplo 5.8 Suponha que


(
1 − x, 0 < x ≤ 1,
f (x) =
0, 1 < x ≤ 2.

Como indicado anteriormente, podemos representar f por uma série em cossenos ou por
uma série em senos. Esboce o gráfico da soma de cada uma dessas séries para −6 ≤ x ≤ 6.

Nesse exemplo, L = 2, de modo que a série em cossenos para f converge para a extensão
periódica par de f de perı́odo 4, cujo gráfico está esboçado na Figura 5.11.

Figura 5.11: Extensão periódica par de f (x) do exemplo.

Analogamente, a série em senos para f converge para a extensão periódica ı́mpar de f de


perı́odo 4. O gráfico dessa função está esboçado na Figura 5.12.

Figura 5.12: Extensão periódica ı́mpar de f (x) do exemplo.


124 5.3 Séries de Fourier
Referências Bibliográficas

[1] ANTON, Howard. Cálculo, um novo horizonte. 6.ed. Porto Alegre: Bookman,
2000.

[2] BOYCE, William E. DIPRIMA, Richard C. Equações diferenciais elementares


e problemas de valores de contorno. 10.ed. Rio de Janeiro: GEN, 2015.

[3] BOYER, Carl B. História da matemática . São Paulo: Edgard Blücler, 1996.

[4] BRONSON, Richard; COSTA, Gabriel B. Equações diferenciais. Porto Alegre:


Grupo A, 2008.

[5] CALDEIRA, A. M. et al. Pré cálculo. 3.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

[6] OLIVEIRA, Eduardo C. TYGEL, M. Métodos matemáticos para a engenharia.


Rio de Janeiro: SBM, 2005.

[7] POOLE, D. Álgebra linear. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

[8] ZILL, Dennis G. Equações diferenciais: com aplicações em modelagem. 9.ed.


São Paulo: Cengage Learning, 2011.

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