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Notas de Equações Diferenciais Ordinárias

para Graduação

por Alan Almeida Santos1

Itabaiana, 28 de Novembro de 2012

1 Prof. Associado do DMAI - UFS


Conteúdo

1 Introdução 4

1.1 Conceitos fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.2 Existência e unicidade de soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 Equações diferenciais de primeira ordem 10

2.1 Equações separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.2 Equações lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.3 Equações exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.3.1 Fator integrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4 Substituição de variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.4.1 Equações homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.4.2 Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Modelagem com equações diferenciais de primeira ordem 26

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.2 Um problema de misturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.3 Crescimento populacional e a equação logı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.4 Resfriamento e aquecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

1
2

3.5 Trajetórias ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4 Equações diferenciais lineares e aplicações 37

4.1 Teoria básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.1.1 A linguagem de operadores lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4.1.2 Sobre E.D.O. linear homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.1.3 Sobre E.D.O. não-homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.1.4 Resumo da teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.2 Redução de ordem para E.D.O. linear homogênea . . . . . . . . . . . . . . . 42

4.3 Equações homogêneas com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.3.1 E.D.O.’s lineares de ordem superior com coeficientes constantes . . . 45

4.4 O caso não homogêneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4.4.1 O método da variação dos parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.4.2 O método dos coeficientes a determinar . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.5 Aplicação: o oscilador harmônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

4.5.1 O oscilador harmônico livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.5.2 Oscilador harmônico forçado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

5 Soluções analı́ticas 65

5.1 Preliminares sobre séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5.1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5.1.2 Raio de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5.1.3 Propriedades de séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

5.1.4 Série de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68


3

5.2 Método direto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

5.3 Pontos singulares de equações lineares de segunda ordem . . . . . . . . . . . 77

5.3.1 Equação de Cauchy-Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

5.3.2 O método de Frobenius . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

6 Transformada de Laplace 85

6.1 Transformadas integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

6.2 Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

6.3 Equações diferenciais ordinárias lineares com coeficientes constantes . . . . . 89

6.4 Funções degrau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

6.5 Produto de transformadas e convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

7 Sistema de EDO’s lineares 104

7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

7.2 Teoria Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

7.3 Alguns conceitos da álgebra linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

7.3.1 Cálculo de autovetores e autovalores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

7.4 Soluções de um sistema linear de EDO’s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

7.4.1 Caso de autovalores reais e distintos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

7.4.2 Caso de autovalores complexos e distintos . . . . . . . . . . . . . . . 111

7.4.3 Caso de autovalores múltiplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112


Capı́tulo 1

Introdução

1.1 Conceitos fundamentais

Sejam J, I ⊆ R intervalos da reta real e

F :J×I×R . . × R} → R
| × .{z
nvezes

uma função real de n + 2 variáveis reais.

Definição 1.1.1 Um equação diferencial ordinária de ordem n é uma restrição do tipo

F (x, y, y ′, . . . , y (n) ) = 0 (1.1)

imposta sobre uma função incógnita y(x).

Exemplo 1.1.2 Para F (x, y, z, w) = −x2 + xy + sin(x)z + w a e.d.o. correspondente é

y ′′ + sin(x)y ′ + xy = x2 .

Exemplo 1.1.3 Para F (x, y, z) = −1 + 2xy + z a e.d.o. correspondente é

y ′ + 2xy = 1.

Definição 1.1.4 Uma solução explı́cita da e.d.o. (1.1) é uma função n vezes diferenciável
y : (a, b) ⊆ J → I tal que

F (x, y(x), y ′(x), . . . , y (n)(x)) = 0 para todo x ∈ (a, b)

O intervalo (a, b) é chamado intervalo de definição da solução.

4
Cap.1 Introdução 5

Exemplo 1.1.5 Uma solução para a equação do exemplo (1.1.3) é


Z x2
−x2 2 2
y(x) = e et dt + c · e−x , x ∈ R.
0

Dizemos que a equação (1.1) está na forma normal se ela puder ser expressa como

y (n) = f x, y, y ′, . . . , y (n−1)

O termo ordinária refere-se ao fato da incógnita y ser função apenas de uma variável inde-
pendente.

Definição 1.1.6 Uma e.d.o. linear de ordem n é uma equação do tipo

an (x)y (n) + . . . + a1 (x)y ′ + a0 (x)y = g(x) (1.2)

onde ai (x) são funções contı́nuas definidas num intervalo J ⊆ R e an (x) 6= 0 para todo x ∈ J.
Quando g(x) = 0 para todo x ∈ J, a equação (1.2) é dita homogênea.

O nosso curso é dedicado ao desenvolvimento de técnicas para obter soluções de alguns


casos da equação (1.1). Nesse sentido, as equações diferenciais lineares são privilegiadas em
relação às não-lineares. Para as primeiras existe toda uma teoria desenvolvida com o intuito
de descrever explicitamente as soluções gerais da equação. Para as não-lineares uma tal
teoria não está disponı́vel e nosso estudo ficará restrito a classes especiais de equações de
primeira ordem.

Exemplo 1.1.7 Classificação de e.d.o.’s e suas soluções.


1. Determine a ordem de cada equação e classifique-a como linear ou não-linear.

a) y ′′ + sin(x)y ′ − y = 0 b) y ′′ + x2 y = 0
dx
c) D 3 y + xDy + cos2 (xy) = x2 + tx2 = 0
d)
dt
2. Verifique em cada caso se as funções dadas são soluções das e.d.o. e especifique um
intervalo de definição apropriado

a) y ′′ − y = 0; y1 (x) = ex , y2 (x) = sinh x

b) x2 y ′′ + 5xy ′ + 4y = 0; y1 (x) = x−2 , y2 (x) = x−2 ln x


c) y ′′ + y = sec x;
y(x) = cos x ln(cos x) + x sin x
Z x
x2 2 2

d) y − 2xy = 1; y(x) = e e−t dt + ex
0
3. Que valores de r tornam a função y(x) = erx solução da equação linear y ′′′ −3y ′′ + 2y ′ = 0.
Cap.1 Introdução 6

1.2 Existência e unicidade de soluções

A primeira questão a ser dirimida em problemas definidos por equações é a existência de


soluções. Em caso positivo, é pertinente indagar se há outras soluções para o mesmo prob-
lema. Na teoria de equações diferenciais, classifica-se um problema como bem-posto se sua
solução existe e é única. Caso contrário dizemos que o problema é mal-posto.

Seguem dois exemplos de problemas mal-postos:

y · y ′ = 1, y(0) = 0

que não tem solução e


y ′′ + y = 0, y(0) = 0
que possui uma quantidade infinita de soluções, e.g., yc (x) = c sin(x).

Esses exemplos justificam a necessidade de estabelecer condições suficientes para que um


problema definido por uma e.d.o. seja bem-posto.

Considere um e.d.o. na forma normal



y (n) = f x, y, y ′, . . . , y (n−1) (1.3)

Teorema 1.2.1 Se f é uma função de classe C 1 num aberto W ⊆ R × Rn então para cada
ponto (x0 , y1o, y2o , . . . , yno ) ∈ W existe uma única função y = y(x) definida num intervalo
aberto em torno de x0 que é solução de (1.3) e satisfaz as condições iniciais

y(x0 ) = y1o, y ′ (x0 ) = y2o, ... y (n−1) (x0 ) = yno (1.4)

Ou seja, para que o problema de valor inicial da forma



y (n) = f x, y, y ′, . . . , y (n−1)

y(x0 ) = y1o, y ′ (x0 ) = y2o, ... y (n−1) (x0 ) = yno


tenha solução única é necessário que a função f , que define a E.D.O., seja de classe C 1 num
domı́nio aberto que contenha as condições iniciais.

O teorema (1.2.1) é conhecido como Teorema da Existência e Unicidade para equações


diferenciais ordinárias. Uma versão mais forte desse teorema exige apenas que f seja contı́nua
e que as derivadas parciais em relação às n últimas variáveis sejam contı́nuas.
Cap.1 Introdução 7

Definição 1.2.2 Um problema de valor inicial é composto de uma e.d.o. como em (1.1) e
n condições iniciais da forma (1.4)

Exemplo 1.2.3 O problema de valor inicial


2
y ′ = 3y 3 , y(x0 ) = 0 (1.5)
2
tem φ(x) = (x − x0 )3 e ψ(x) = 0 como soluções. Isso ocorre porque a função f (x, y) = 3y 3 ,
que define a e.d.o., não é de classe C 1 (R2 ).

Usando o teorema (1.2.1), verificações triviais de prováveis soluções podem ser suficientes
para resolver o problema de valor inicial.

Exemplo 1.2.4 Considere a função f (x, y, z) = −2xz + x−2 y. Ela é C 1 no aberto R+ × R2 .


Portanto o problema de valor inicial

y ′′ = f (x, y, y ′), y(1) = 0 y ′(1) = 0 (1.6)

tem uma única solução. Note que a função y(x) = 0 para todo x > 0 resolve a equação
diferencial e satisfaz y(1) = 0 e y ′ (1) = 0. Logo, por unicidade das soluções y(x) ≡ 0 é a
única solução de (1.6)

Exemplo 1.2.5 O problema

y ′′ + y = 0, y(0) = 1 e y(π) = −1

tem infinitas soluções do tipo y(x) = cos x + λ sin x onde λ ∈ R é uma constante. Por que
isso não contraria o teorema (1.2.1)?
Cap.1 Introdução 8

Lista de Exercı́cios I
1. Informe a ordem de cada e.d.o. e classifique-a como linear ou não-linear.

a) x2 y ′′ + xy ′ + 2y = sin x b) (1 + y 2)y ′′ + xy ′ + y = ex

c) y (iv) + y ′′′ + y ′′ + y ′ + y = 1 d) y ′′ + sin(x + y) = sin x

2. Verifique se as funções dadas são soluções das e.d.o.’s abaixo

a) y ′′′ + 2y ′ − 3y = 0; y1 (x) = e−3x , y2 (x) = ex


x x
b) y ′′′′ + 4y ′′′ + 3y = x; y1 (x) = , y2 (x) = e−x +
3 3
c) 2x2 y ′′ + 3xy ′ − y = 0, x > 0; 1/2
y1 (x) = x , y2 (x) = x−1

3. Quais valores de r fazem y(x) = xr , para x > 0, solução de

a) x2 y ′′ + 4xy ′ + 2y = 0 b) x2 y ′′ − 4xy ′ + 4y = 0

4. Considere a e.d.o. y ′′′ = 0. Mostre que y1 (x) = x2 e y2 (x) = −x2 , para x ∈ R, são
soluções. Pergunta: a função  2
x, x≥0
y(x) = 2
−x , x < 0
é também solução da mesma e.d.o.? Justifique!

5. Sejam c ∈ R constante e
1
φ(x) = −
x+c
a) Verifique que φ é solução da equação y ′ = y 2.
b) Determine a solução do problema y ′ = y 2, y(0) = y0 para y0 = 1, y0 = −1 e y0 = 0. Em
cada caso especifique o intervalo de definição da solução.

6. Verifique que, independente dos valores de c1 e c2 , a função y(x) = c1 cos(ax) + c2 sin(ax)


é solução da equação y ′′ + a2 y = 0 (a > 0). Calcule a solução que satisfaz
a) y(0) = −1 e y ′ (0) = 2a
b) y(0) = 0 e y ′ (0) = 0

7. Considere uma equação do tipo

y ′′ + a(x)y ′ + b(x)y = 0
Cap.1 Introdução 9

onde a(x) e b(x) são funções de classe C 1 definidas num intervalo J ⊆ R. O que se pode dizer
acerca de uma solução y = y(x) cujo gráfico é tangente ao eixo x em algum ponto x0 ∈ J?

8. Mostre que φ(x) = tan(x) é a solução do problema de valor inicial


 ′
y = 1 + y2
y(0) = 0

Baseie-se no teorema (1.2.1) para demonstrar que não existe solução alguma definida num

intervalo − π2 − ǫ, π2 + ǫ com ǫ > 0.

9. Tente descobrir duas soluções do problema

xy ′ = 2y, y(0) = 0

e explique por que este PVI não possui solução única.

Respostas

2. a) não e sim
b) sim e sim
c) sim e sim

3. a) r = −1 e r = −2 b) r = 1 e r = 4
1
5. b) φ1 (x) = − x−1 , J = (−∞, 1) ou J = (1, +∞).
1
φ2 (x) = − x+1 , J = (−∞, −1) ou J = (−1, +∞).
φ3 (x) = 0, J = R.

6. a) y(x) = − cos(ax) + 2 sin(ax) para x ∈ R.


b) y(x) = 0 para x ∈ R.

7. y(x) = 0 para todo x ∈ J.


Capı́tulo 2

Equações diferenciais de primeira


ordem

2.1 Equações separáveis

São equações, em geral não-lineares, do tipo


p(y)y ′ + q(x) = 0 (2.1)
onde p : I → R e q : J → R são funções contı́nuas e p(y) 6= 0 para todo y ∈ I.

O teorema da função implı́cita será útil neste capı́tulo.

Teorema 2.1.1 Seja F : J × I → R uma função de classe C 1 . Se (x0 , y0) ∈ J × I é tal


∂F
que (x0 , y0 ) 6= 0 então existe uma única função φ definida num intervalo aberto (a, b)
∂y
contendo x0 que satisfaz
φ(x0 ) = y0 (2.2)
F (x, φ(x)) = F (x0 , y0) (2.3)
para todo x ∈ (a, b).

Neste caso, dizemos que a função y = φ(x), x ∈ (a, b) é definida implicitamente pela
equação F (x, y) = C onde C = F (x0 , y0).

Vamos agora ao método para resolver um P.V.I. do tipo



p(y)y ′ + q(x) = 0
(2.4)
y(x0 ) = y0 .

10
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 11

Com as primitivas de p(y) e q(x), denotadas respectivamente por P (y) e Q(x), defina a
função F : J × I → R pela regra

F (x, y) = P (y) + Q(x)

Por vezes, F é dita uma integral primeira para a e.d.o. separável.

Seja C = F (x0 , y0 ) e considere a equação

F (x, y) = C (2.5)

Verificando a condição de não-degenerescência temos que


∂F
(x, y) = p(y) 6= 0 para todo (x, y) ∈ J × I
∂y
e pelo Teorema da Função Implı́cita (2.1.1), existe uma única função y = φ(x) tal que

F (x, φ(x)) = C, ∀ x ∈ (a, b) ⊂ J
φ(x0 ) = y0 .

Proposição 2.1.2 A função definida implicitamente por (2.5) é a solução do PVI (2.4).

Prova: Com efeito, derivando a identidade F (x, φ(x)) = C com respeito a x obtemos
∂F ∂F
· φ′ (x) + =0
∂y ∂x
donde segue que p(φ(x)) · φ′ (x) + q(x) = 0. A condição inicial é trivialmente satisfeita.

Vemos portanto que o problema de valor inicial dado por uma e.d.o. separável se reduz
a resolver uma equação em duas variáveis.

Observação 2.1.3 É fundamental para boa definição da solução, estabelecer corretamente


os intervalos de definição das funções p e q.

Exemplo 2.1.4 Determine uma integral primeira da equação


1 x
· y′ + = 0 com x ∈ R e y ∈ (−1, ∞) (2.6)
1+y 1 + x2
Sol.: Neste exemplo temos
1
p(y) = , y ∈ (−1, ∞) = I
1+y
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 12

x
q(x) = , x∈R=J
1 + x2
cujas primitivas são
P (y) = ln(1 + y)
1
Q(x) = ln(1 + x2 )
2
Assim, a solução y = φ(x) é definida implicitamente pela equação
1
ln(1 + y) +ln(1 + x2 ) = ln C
2
onde C > 0 é constante e y ∈ (−1, +∞). Aplicando propriedades de ln temos

(1 + y)2(1 + x2 ) = C 2 .

Perceba que neste exemplo é possı́vel explicitar φ(x). Obtemos como solução geral de 2.6 a
famı́lia a um parâmetro
C
y = φ(x) = −1 + √
1 + x2

Exemplo 2.1.5 Resolva o problema de valor inicial



y 2 1 − x2 y ′ − arcsin x = 0, y(0) = 1 (2.7)

no intervalo x ∈ (−1, 1) = J.

Sol.: Separando as variáveis temos que


arcsin x
p(y) = y 2 e q(x) = √
1 − x2
Evitamos p(y) = 0 restringindo o domı́nio de p ao intervalo I = (0, ∞). As respectivas
primitivas são
y3 1
P (y) = e Q(x) = − arcsin2 x
3 2
Logo, y = φ(x) é solução da equação
y3 1
− arcsin2 x = C
3 2
Impondo a condição inicial x0 = 0 e y0 = 1 encontramos
1
C=
3
donde   31
3 2
y = φ(x) = 1 + arcsin x , x ∈ J.
2
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 13

Exemplo 2.1.6 Determine a solução do problema


dx
= x − x2 , x(0) = x0 (2.8)
dt
para x0 ∈ (0, 1) = I1 e para x0 ∈ (1, ∞) = I2 .

Sol.: Tanto em I1 como em I2 temos x − x2 6= 0. Escrevendo a equação como em 2.1 temos


p(x)x′ + q(t) = 0 onde
1
p(x) = , x ∈ Ik e q(t) = −1, t∈R
x − x2
Sobre o domı́nio R × I1 a integral primeira é
 
x
F1 (t, x) = ln −t
1−x

Sendo C1 = F1 (0, x0 ) a equação que define a solução φ1 é


   
x x0 x0 et
ln − t = ln ⇒ x = φ1 (t) = , t∈R
1−x 1 − x0 (1 − x0 ) + x0 et

Sobre o domı́nio R × I2 a integral primeira é


 
x
F1 (t, x) = ln −t
x−1

Sendo C2 = F2 (0, x0 ) a equação que define a solução φ2 é


   
x x0 x0 et
ln − t = ln ⇒ x = φ2 (t) = , t ∈ (λ, +∞)
x−1 x0 − 1 (1 − x0 ) + x0 et

onde λ = ln(x0 − 1) − ln(x0 ) < 0.

Esse último exemplo mostra a importância em deixar claro quem são os domı́nios I e J
e como essas escolhas afetam o resultado de um P.V.I.

2.2 Equações lineares

De acordo com a definição (1.1.6) as e.d.o. lineares de primeira ordem podem ser escritas
na forma
y ′ + p(x)y = f (x) (2.9)
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 14

onde p e f : J → R são funções contı́nuas.

Veja como a parte homogênea da equação (lado esquerdo) se assemelha à derivada de um


produto do tipo µ(x) · y. Devido a essa observação, vamos multiplicar o primeiro membro
por uma função µ : J → R a ser determinada de modo que

µ(x) · [y ′ + p(x)y] = [µ(x) · y]′ .

Isso permitiria integrar a equação e determinar explicitamente a solução. Uma tal função µ,
deve satisfazer a e.d.o. separável
µ′ = p(x) · µ (2.10)
A integração de (2.10) é imediata tem como solução positiva a função
Z x 
µ(x) = exp p(s)ds . (2.11)

Por razões óbvias,

Definição 2.2.1 a função (2.11) é chamada fator integrante de (2.9).

Na resolução da e.d.o. (1.2), multiplicamos ambos os lados pelo fator integrante µ,


obtendo
[µ(x)y]′ = µ(x)f (x)
cuja integração leva a  Z 
x
1
y(x) = C+ µ(s)f (s)ds (2.12)
µ(x)
onde C é uma constante de integração determinada por uma condição inicial y(x0 ) = x0 .

Com isso, mostramos que se y(x) é solução de (2.9) então ela deve ser da forma (2.12).
Havendo uma condição inicial y(x0 ) = y0 , a solução de (2.9) fica
 Z x 
1
y(x) = y0 · µ(x0 ) + µ(s)f (s)ds , x ∈ J. (2.13)
µ(x) x0

Observação 2.2.2 Note que o intervalo de definição da solução (2.13) é o mesmo domı́nio
das funções p(x) e f (x).

Exemplo 2.2.3 Resolver a equação

xy ′ + 2y = 4x2 , y(1) = −2 (2.14)


Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 15

Sol.: Colocando a equação na forma normal temos

y ′ + 2x−1 y = 4x

donde
2
p(x) = e f (x) = 4x
x
Aqui devemos escolher o intervalo de definição da solução. Observe que o domı́nio de p(x)
é (−∞, 0) ∪ (0, ∞). Pelo fato de x0 = 1 ∈ (0, ∞) restringiremos a equação diferencial ao
intervalo J = (0, ∞).

O fator integrante é Z 
x
2
µ(x) = exp ds = exp(2 ln x) = x2
s
De acordo com (2.13) a solução procurada é
 Z x 
1 2 1  3
y(x) = 2 −2(1) + s 4sds = 2 −2 + x4 − 14 = x2 − 2 ,
2
x ∈ J.
x 1 x x

Exemplo 2.2.4 Calcule a solução do problema

x3 y ′ + 2x2 y = sin x, y(1) = 0 (2.15)

Sol.: Na forma (2.9) a equação (2.15) fica


sin x
y ′ + 2x−1 y =
x3
donde tiramos
2 sin x
p(x) = e f (x) = 3
x x
Novamente devemos restringir o domı́nio da equação ao intervalo J = (0, ∞) devido a x0 =
1 ∈ (0, +∞). O fator integrante é o mesmo do exemplo (2.2.3). Aplicando a fórmula (2.13)
obtemos  Z x  Z
1 2 2 sin s 1 x sin s
y(x) = 2 0 · (1) + s 3 ds = 2 ds. (2.16)
x 1 s x 1 s
A função definida por Z x
sin s
Si(x) = ds (2.17)
0 s
é chamada função integral do seno. Em (2.17), é dado o valor 1 para o integrando quando
s = 0.

Em termos de Si(x), a solução (2.16) fica


Si(x) − Si(1)
y(x) = , x ∈ J.
x2
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 16

2.3 Equações exatas

Considere equações do tipo


N(x, y) · y ′ + M(x, y) = 0 (2.18)
onde M, N são funções de classe C 1 definidas num retângulo aberto J × I ⊂ R2 e N(x, y) 6= 0
para todo (x, y) ∈ J × I. Dividindo a equação (2.18) por N(x, y) ela apresenta-se na forma

y ′ = f (x, y)

com f de classe C 1 e, de acordo com o teorema da existência e unicidade (1.2.1), para cada
ponto (x0 , y0 ) ∈ J × I existe uma única função y = y(x), definida num intervalo (a, b) ⊂ J
que é solução do problema

N(x, y) · y ′ + M(x, y) = 0, y(x0 ) = y0 (2.19)

Doravante, admitiremos que (2.18) satisfaz a

Definição 2.3.1 Uma equação do tipo (2.18) é dita exata se existir uma função F : J×I → R
tal que
∂F ∂F
=M e =N (2.20)
∂x ∂y
As restrições (2.20) implicam que F deve ser constante ao longo das soluções de (2.18). Com
efeito, sendo y : (a, b) → I uma solução de (2.18), temos que
d ∂F ∂F dy
F (x, y(x)) = + = M(x, y(x)) + N(x, y(x))y ′ = 0, ∀x ∈ (a, b)
dx ∂x ∂y dx
ou seja, F é constante ao longo da solução (x, y(x)). Assim, se y = y(x) é a solução do
problema (2.19) então ela satisfaz F (x, y(x)) = F (x0 , y0 ).

Por outro lado, uma vez que ∂y F = N 6= 0, o teorema das funções implı́citas (2.1.1)
garante que para cada ponto (x0 , y0 ) ∈ J × I existe uma única função y = φ(x) definida
numa vizinhança de x0 tal que F (x, φ(x)) = F (x0 , y0 ) e φ(x0 ) = y0 . Ora, a solução y(x) da
e.d.o. exata também satisfaz F (x, y(x)) = F (xo , y0 ) e y(x0 ) = y0 de modo que na interseção
de seus domı́nios ambas são iguais, isto é, y(x) = φ(x).

O raciocı́nio acima mostra que a solução de uma equação exata é definida implicitamente
pela equação F (x, y) = C onde C = F (x0 , y0 ).

Vamos agora estabelecer um critério para decidir se uma equação do tipo (2.18) é exata
e, neste caso, como determinar a integral primeira F.
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 17

Proposição 2.3.2 Sejam M, N : J × I → R funções de classe C 1 com N(x, y) 6= 0. Então a


equação (2.18) é exata se, e somente se, My = Nx .

Prova: ⇒) Suponha que (2.18) é exata. Então existe F : J × I → R tal que


∂F ∂F
=M e =N
∂x ∂y
Sendo M e N de classe C 1 podemos derivar mais uma vez, a primeira em relação a y e a
segunda em relação a x para obter, segundo o teorema de Schwarz, o resultado
∂2F ∂2F
My = = = Nx
∂y∂x ∂x∂y
⇐) Agora admita que My = Nx no domı́nio J × I. Fixe um ponto qualquer (x1 , y1 ) ∈ J × I.
Defina Z x
f (x, y) = M(s, y)ds
x1
Derivando em relação a y temos
Z x Z x
∂f
= My (s, y)ds = Nx (s, y)ds = N(x, y) − N(x1 , y)
∂y x1 x1
Ry
Se adicionarmos a f a integral y1 N(x1 , s)ds obtemos a função F procurada. Com efeito, se
Z x Z y
F (x, y) = M(s, y)ds + N(x1 , s)ds (2.21)
x1 y1

então
∂F
= M(x, y)
∂x
e
∂F
= N(x, y) − N(x1 , y) + N(x1 , y) = N(x, y)
∂y

Observação 2.3.3 A derivação sob o sinal de integral é possı́vel desde que M e N sejam
de classe C 1 .

Exemplo 2.3.4 Vamos resolver a e.d.o.

(y cos x + 2xey ) + (sin x + x2 ey + 2) · y ′ = 0 (2.22)

Sol.: Temos M(x, y) = y cos x + 2xey e N(x, y) = sin x + x2 ey + 2 > 0 para todo (x, y) ∈ R2
donde
My = cos x + 2xey = Nx
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 18

Portanto a equação (2.22) é exata. Tomando (x1 , y1) = (0, 0) usamos a fórmula (2.21) para
calcular a integral primeira
Z x Z y
x
F (x, y) = y
y cos s + 2se ds + sin(0) + 02 ey + 2ds = y sin s + s2 ey 0 + 2s|y0
0 0

F (x, y) = y sin x + x2 ey + 2y
As soluções de (2.22) são definidas implicitamente pela equação

y sin x + x2 ey + 2y = C.

2.3.1 Fator integrante

Considere agora uma equação do tipo (2.18) que não é exata, por exemplo

y − xy ′ = 0

Multiplicando a equação por 1/xy obtemos


1 1 ′
− y =0
x y
que é exata.

Generalizando a ideia, procuremos uma função µ(x, y) tal que o produto da equação (2.18)
por µ seja exata. Para isso, µ deve satisfazer

∂y (µ · M) = ∂x (µ · N)

donde obtemos a equação diferential parcial de primeira ordem

µ · (∂y M − ∂x N) = N · ∂x µ − M · ∂y µ (2.23)

A função µ(x, y) recebe o nome de fator integrante.

Encontrar µ através de (2.23) nem sempre é uma tarefa fácil. No entanto, podemos listar
alguns casos simples onde o µ é facilmente determinado
Z x 
1
Se (∂y M − ∂x N) = f (x) então µ(x) = exp f (s)ds (2.24)
N
Z y 
1
Se (∂x N − ∂y M) = f (y) então µ(y) = exp f (s)ds (2.25)
M
Em geral, escrevemos a equação (2.23) e fazemos hipóteses simplificadoras tais como µ
depende só de x, ou só de xy ou ainda, µ é do tipo xm y n , etc...
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 19

Exemplo 2.3.5 Resolva a e.d.o. para x > 0 e y > 0


   2 
6 x y
3x + + +3 y′ = 0 (2.26)
y y x
6 x2 y
M(x, y) = 3x + e N(x, y) = +3
y y x
6 2x y
⇒ ∂y M = − 2 e ∂x N = −3 2
y y x
Verifica-se que a equação (2.26) não satisfaz as condições (2.24) e (2.25). Sugerimos então um
fator integrante da forma µ(x, y) = xm y n . Assim, para que ∂y (µM) = ∂x (µN) é necessário
que
3nxm+1 y n−1 + 6(n − 1)xm y n−2 = (m + 2)xm+1 y n−1 + 3(m − 1)xm−2 y n+1
Basta então tomar m = n = 1. Assim, µ = xy é o fator integrante de (2.26). Multiplicando
a equação por µ temos
3x2 y + 6x + (x3 + 3y 2)y ′ = 0 (2.27)
que é exata. A integral primeira de (2.27) é
Z x Z y
2
F (x, y) = (3s y + 6s)ds + (13 + 3s2 )ds
1 1

F (x, y) = x3 y + 3x2 + y 3 − 5
Tomando x0 > 0 e y0 > 0 calcula-se C = F (x0 , y0 ) e determina-se y = y(x) resolvendo a
equação
F (x, y) = C

Exemplo 2.3.6 Resolva o problema de valor inicial


  π 
2
cos x + 1 + sin x · y ′ = 0, y =1 (2.28)
y 2
Sol.: Para assegurar N(x, y) 6= 0 tomamos J = (0, π) e I = (0, +∞). Temos então que

M(x, y) = cos x ⇒ ∂y M = 0
   
2 2
N(x, y) = 1 + sin x ⇒ ∂x N = 1 + cos x
y y
Verificando as condições (2.24) e (2.25) notamos que
Z y 
∂x N − ∂y M 2 2
=1+ ⇒ µ(y) = exp 1 + ds = exp(y + 2 ln y) = ey y 2
M y s
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 20

O produto de (2.28) por µ(y) nos dá



ey y 2 cos x + ey y 2 + 2yey sin x · y ′ = 0 (2.29)

que agora satisfaz


∂y M = (2yey + y 2 ey ) cos x = ∂x N
Pela fórmula (2.21), a integral primeira de (2.29) é
Z x Z y
y 2
 π
F (x, y) = e y cos sds + es s2 + 2ses sin ds
π
2
1 2
x y
F (x, y) = ey y 2 sin s π + es s2 1
= ey y 2 sin x − ey y 2 + ey y 2 − e = ey y 2 sin x − e
2

Calculando a constante C = F (x0 , y0 ) obtemos


π
C = e1 12 sin
−e=0
2
donde a solução de (2.28) é definida implicitamente pela equação

ey y 2 sin x − e = 0

para x ∈ J e y ∈ I.

2.4 Substituição de variáveis

Assim como no cálculo de integrais a mudança de variáveis em equações diferenciais consiste


na substituição de antigas por novas variáveis dependentes e independentes e também das
derivadas. Imagine que desejamos trocar as variáveis na edo de primeria ordem

y ′ = f (x, y) (2.30)

através de difeomorfismos de classe C 1

y = φ(z) e x = ψ(t) (2.31)

A notação linha ′ que indica derivação em relação a x será substituı́da pela notação ponto
· que simboliza derivada com respeito a t. Observando que y = φ(z(t(x)) a regra da cadeia
nos dá que
dy dy dz dt
=
dx dz
|{z} dt dx
|{z}
funcão de z funcão de t
Substituindo y , y = φ(z) e x = ψ(t) em (2.30), a nova equação toma a forma

ż = g(t, z) (2.32)
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 21

2.4.1 Equações homogêneas

Definição 2.4.1 Dizemos que a função M(x, y) é homogênea de grau p se para todo λ > 0
vale
M(λx, λy) = λp M(x, y) (2.33)

Exemplo 2.4.2 A função


x 1
M(x, y) = + 2 (2.34)
y3 +x3 x + xy
é homogênea de grau −2.

Definição 2.4.3 Uma equação do tipo (2.18) é dita homogênea se as funções M(x, y) e
N(x, y) forem homogêneas de mesmo grau.

A resolução de e.d.o.’s homogêneas passa pela mudança de variáveis


y
z= e y ′ = xz ′ + z (2.35)
x
que as transformam em equações separáveis.

Exemplo 2.4.4 Resolva o problema de valor inicial

y 2 − xy + x2 y ′ = 0, y(1) = 1. (2.36)

Para assegurar N(x, y) 6= 0 tomamos o domı́nio onde x > 0 e y > 0.

M(x, y) = y 2 − xy e N(x, y) = x2

Note que M e N são funções homogêneas de grau 2. Procedendo a troca indicada em (2.35)
obtemos a equação separável
z 2 + xz ′ = 0
cuja integral primeira no domı́nio (0, ∞) × (0, ∞) é
1 x
F (x, z) = ln x − ⇒ F (x, y) = ln x −
z y
Usando a condição inicial temos F (1, 1) = −1. Neste caso, a solução y(x) de (2.36) pode ser
explicitada a partir da equação F (x, y) = −1
x 1
y(x) = , x> .
ln x + 1 e
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 22

2.4.2 Equação de Bernoulli

Sejam p, q : J → R funções contı́nuas e n ∈ Z, n 6= 0, 1.

Definição 2.4.5 A equação


y ′ + p(x)y = q(x)y n (2.37)
é chamada equação de Bernoulli.

Para resolver (2.37) fazemos a mudança de variáveis

z = y 1−n (2.38)

A derivação de (2.38) em relação a x nos dá


1
z ′ = (1 − n)y −n y ′ ⇒ y′ = y nz′
1−n
Substituindo y ′ em (2.37) e multiplicando a equação por y −n obtemos a equação linear

z ′ + (1 − n)p(x)z = (1 − n)q(x). (2.39)

Exemplo 2.4.6 Resolver o problema


y4
y ′ + x2 y = , y(−1) = −2 (2.40)
x2
Sol. Comparando com o modelo (2.37) temos n = 4,
1
p(x) = x2 , q(x) = , para x ∈ J = (−∞, 0)
x2
e y ∈ I = (−∞, 0). Neste caso a mudança z = y −3 transforma o problema (2.40) em
−3 1
z ′ − 3x2 z = , z(−1) = (−2)−3 = −
x2 8
cujo fator integrante é Z 
x
2 3
µ(x) = exp −3s ds = e−x

Usando a fórmula (2.13) temos a solução definida para x ∈ J


Z x −s3 ! Z x 3
!−1/3
3 1 3 e 3 e e−s
z(x) = ex − e−(−1) − 3 2
ds ⇒ y(x) = −e−x /3 +3 ds .
8 −1 s 8 −1 s2
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 23

Lista de Exercı́cios II
1. Resolva, implicita ou explicitamente, as seguintes equações separáveis.
p
a) a2 − y 2 + (a2 + x2 )y ′ = 0, a 6= 0

b) (3 + x)yey y ′ + x = 0

c) (1 + x2 ) ln(y)y ′ + yx2 = 0

d) cos θr ′ + r sin θ = 0
2 −y 2
e) ex yy ′ = x + 2x3
π
f ) x sin yy ′ + cos y = 0, com y(1) =
3

2. Para as equações abaixo, calcule a solução que satisfaz y(0) = 1. Especifique o domı́nio
de definição das soluções.
1+y
a) y ′ = b) y ′ − 2xy = x
1+x
1 + x2
c) y ′ = (1 + x)(1 + y) d) y ′ =
1 + y2

3. Resolva as e.d.o.’s lineares

a) y ′ − y = 1 b) 3y ′ + 2y = 5

c) y ′ + y = x d) xy ′ + y = x2 + 1

e) (tan x)y ′ − 2y = 2 f ) y ′′ − y ′ = 1 sugestão: z = y ′

4. Resolvas equações exatas com condições iniciais

a) (x2 + y 2) + 2xyy ′ = 0, y(1) = −1

b) (x2 − y 2 ) − 2xyy ′ = 0, y(1) = 1

c) 3x2 y 2 + 2x3 yy ′ = 0, y(1) = −1

d) 2xey + x2 ey y ′ = 0, y(1) = 0

e) (x2 − 2xy) − (x2 + 2y)y ′ = 0, y(0) = −1


Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 24

5. Use a técnica de fator integrante para resolver os problemas

a) y + (y 2 − x)y ′ = 0 y(−1) = 1

b) y + y 2 − xy ′ = 0 y(1) = 0

c) x − y + (2x + y)y ′ = 0 y(1) = 0

d) 4y(yx2 + 3) + (12x + 3x3 y)y ′ = 0 y(1) = 1

6. Use a substituição 2.35 para resolver os problemas de valor inicial


y+x
a) y ′ = , y(1) = 0 b) 2xyy ′ + x2 + y 2 = 0, y(1) = 1
x
c) xey/x y ′ − x − yey/x = 0, y(−1) = − ln 2
1
d) xy + (y 2 − x2 )y ′ = 0, y(1) = −
2
e) (y 3 + x3 ) − xy 2 y ′ = 0, y(1) = 1

f ) (y 2 − xy) + (y 2 − xy + x2 )y ′ = 0, y(1) = 1

g) (2x + y) + (2y − x)y ′ = 0, y(1) = 3

Não esqueça de especificar o domı́nio da solução.


2
7. Resolva a equação de Bernoulli: y ′ + y = xy 3

Respostas

1. x y 
1
a) arctan + arcsin =C
a a a
b) (y − 1)ey + x = ln(|C(x + 3)|3 )
1 2
c) x − arctan x + ln y = C
2
2 2
d) r = C cos θ e) (2x2 + 3)e−x − e−y = C
x
f ) y(x) = arccos
2

2. a) y(x) = 2x + 1, x ∈ (−1, ∞).


2
3ex −1
b) y(x) = 2
Cap.2 Equações diferenciais de primeira ordem 25

x2
c) y(x) = 2ex+ 2 − 1
d) y(x) é solução da equação y 3 + 3y − 3x − x3 − 4 = 0 cuja solução em radicais é
s r s r
3
3 3x + x + 4 (3x + x3 + 4)2 3
3 3x + x + 4 (3x + x3 + 4)2
y(x) = + 1+ + − 1+
2 4 2 4

3. a) y(x) = −1 + cex
b) y(x) = 52 + ce−2x/3
c) y(x) = x − 1 + ce−x
2
d) y(x) = 1 + x3 + xc
e) y(x) = c sin2 x − 1
f) y(x) = −x + c1 + c2 ex
 2
1/2
4
4. a) y(x) = − 3x − x3
 2 1/2
x 2
b) y(x) = 3 + 3x
c) y(x) = −x−3/2
d) y(x) = − ln x2
2
 1/2
x3 x4
e) y(x) = − x2 − 1 + 3
+ 4

5. a) y(x) = −x, x < 0
b) y(x) = 0, x > 0
√   √
c) 12 ln(x2 + xy + y 2) − 3 arctan 2y+x

3y
= π 3
6
d) x4 y 3 + 6x2 y 2 = 7
q
3
6. a) y(x) = x ln(x) b) y(x) = 4−x 3x
c) y(x) = x ln [2 + ln(−x)]
d) x2 + 2y 2 ln(−2y) = 4y 2
e) y 3 − x3 = 3x3 ln(x)
f) y 2 + x2 − 2xy = 2y 2 ln(y)
g) ln(x2 + y 2) − arctan xy = ln(4) − π/3

7. y(x) = (x − 3 + ce−x/3 )3
Capı́tulo 3

Modelagem com equações diferenciais


de primeira ordem

3.1 Introdução

Na maioria das aplicações a variável independente é o tempo indicado pela letra t. Se x


representa uma grandeza fı́sica então ẋ denota a taxa de variação instantânea dessa grandeza
com relação ao tempo. Por exemplo, se x é volume então ẋ é vazão; se x é espaço percorrido
então ẋ é velocidade; se x é número de indivı́duos de uma população então ẋ é taxa de
crescimento. Vejamos alguns problemas interessantes.

3.2 Um problema de misturas

Um tanque com V litros de salmoura recebe uma solução de água salgada com concentração
de C g/l a uma taxa de Q l/min. A mistura é homogeneizada através de agitação constante.
No mesmo instante em que a solução é injetada, abre-se uma válvula liberando a solução na
mesma vazão. Qual a quantidade de sal no tanque após t min? Suponha que a concentração
inicial de sal é C0 .

Sol.: Denote por x(t) a massa de sal no tanque no instante t. Supondo que o processo de
injeção é contı́nuo, a modelagem deste problema é feita através de balanço das taxas de

26
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 27

variação de massa no tanque. Entenda-se por taxa, a vazão mássica de soluto.

ẋ(t) = ẋ (t) − ẋs (t) (3.1)


|{z} | e{z } | {z }
taxa no tanque taxa de entrada taxa de saída

De acordo com enunciado do problema temos


l g g
ẋe (t) = Q ·C = QC · (3.2)
min l min
l x g Qx g
ẋs (t) = Q · = · (3.3)
min V l V min
Note que o volume de solução é constante pois a vazão de saı́da é a mesma da entrada.
Assim, o comportamento de x(t) é governado pela equação linear

Q
ẋ + · x = Q · C, x(0) = x0 (3.4)
V
onde x0 = C0 · V. Segundo (2.13), a solução de (3.4) é dada por
 Z t 
−Qt/V Qs/V
x(t) = e x0 + e QC ds
0

x(t) = x0 · e−Qt/V + V C 1 − e−Qt/V (3.5)

É útil observarmos o comportamento da concentração no tanque após um longo perı́odo de


tempo. Basta fazer o cálculo

x(t) 1 VC
lim = lim x(t) = =C
t→∞ V V t→∞ V
Ou seja, a tendência da concentração no tanque é igualar-se com a concentrção da solução
que entra.

3.3 Crescimento populacional e a equação logı́stica

Para uma população sem restrições de alimentação e que não sofre ação de predadores estima-
se que a taxa de crescimento populacional seja diretamente proporcional à população, isto

dP
= kP (3.6)
dt
Por esse modelo a população P (t) é dada por P (t) = P0 ekt .
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 28

No entanto, a realidade é um pouco mais cruel. Fatores restritivos como a concorrência


por alimento afetam o crescimento de uma população. Com o intuito de descrever melhor o
que ocorre na natureza sugerimos um modelo onde o fator de proporcionalidade k varia com
P numa relação linear e decrescente como k = a − bP onde a, b são constantes positivas. A
equação que descreve o comportamento da população agora fica
dP
= (a − bP ) · P (3.7)
dt
Podemos adimensionalizar as variáveis fazendo a substituição P = ab x e s = at. Procedendo
a troca obtemos
dP a dx ds  a a
= = a−b x x
dt b ds dt b b
donde  
′ d
x = (1 − x)x, ′= (3.8)
ds
Vamos analisar o comportamento qualitativo das soluções de (3.8) em função da população
inicial x(0) = x0 . Para isso, denote f (x) = x(1 − x). A equação (3.8) se resume a

x′ = f (x)

De acordo com esta última equação, vemos que o sinal de f (x(s)) nos dá o sentido da evolução
de x ao longo do tempo. Esta relação é visı́vel no retrato de fase descrito abaixo.

0 1 x

0 1 x

Figura 3.1: Retrato de fase de 3.8

Um fato interessante a ser notado é o seguinte: se x0 pertencer a um dos intervalos (−∞, 0),
(0, 1) ou (1, ∞) então a solução que inicia com x(0) = x0 ali permanece para todo o tempo.
Isso é conseqüência do teorema (1.2.1). Com efeito, uma vez que f (0) = f (1) = 0, as funções
constantes
ϕ1 (s) = 0 e ϕ2 (s) = 1, s∈R (3.9)
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 29

são soluções de (3.8) chamadas soluções de equilı́brio. Suponha então que x(s) seja uma
solução de (3.8) tal que x(s0 ) = 1 em algum instante s0 . Ocorre então que, tanto x como ϕ2
são soluções do PVI
x′ = (1 − x)x, x(s0 ) = 1

Por unicidade das soluções devemos ter que x(s) = ϕ2 (s) para todo s ∈ R.

Outra informação menos trivial é que as soluções contidas nos intervalos (0, 1) e (1, ∞)
convergem para o valor limite x∗ = 1 quando s → +∞.

Lembrando que a equação (3.8) é a mesma do exemplo (2.1.6) temos que


x0
x(s) = (3.10)
x0 + (1 − x0 )e−s

onde o intervalo de definição é J(x0 ) = R ou (λ, +∞) conforme x0 ∈ I1 ou I2 .

Observação 3.3.1 Como previsto, para qualquer valor inicial x0 > 0 a solução x(s) satisfaz

lim x(s) = 1
s→∞

traduzindo o fato de que, pelo modelo (3.8), as populações devem crescer ou decrescer con-
forme a inicial esteja abaixo ou acima da população de equilı́brio ϕ2 (s) = 1.

Abaixo vemos os gráficos de quatro soluções com condições iniciais x0 = 0, 1, 1/4, 3/2,
respectivamente

Figura 3.2: curvas logı́sticas


Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 30

3.4 Resfriamento e aquecimento

A lei empı́rica, elaborada por Newton para modelar o comportamento da temperatura T


de um corpo exposto a um ambiente de temperatura Tm , diz que a taxa de resfriamento
(ou aquecimento) é diretamente proporcional à diferença de temperatura Tm − T. Mais
precisamente
dT
= k(Tm − T ) (3.11)
dt
onde k é uma constante de proporcionalidade obrigatoriamente positiva.

Trata-se de uma equação linear. Admitindo que Tm seja constante, podemos separar as
variáveis para obter a solução com condição inicial T (0) = T0

T (t) = Tm + (T0 − Tm ) exp(−kt) (3.12)

Exemplo 3.4.1 Um bolo sai do forno com uma temperatura de 150oC. Uma hora depois
sua temperatura é de 50o C. Admitindo que Tm = 25o C determine em quanto tempo sua
temperatura será 30o C.

Solução: Note que o problema fornece a temperatura do bolo em dois instantes. Isto serve
para determinarmos o valor da constante k. Reescrevendo (3.12) na forma
 
T − Tm
ln = −kt
T0 − Tm
temos que
   
T (1) − Tm 50 − 25
−k · 1 = ln = ln = − ln(5) ⇒ k = ln(5)
T (0) − Tm 150 − 25

Assim para que T (t) = 30o C o tempo necessário é de


 
1 30 − 25 ln(25)
t= ln = = log5 (25) = 2 h
− ln(5) 150 − 25 ln(5)

Observação 3.4.2 A função constante T (t) = Tm é a solução de equilı́brio de (3.11). É


óbvio que se o corpo está com a temperatura do ambiente, não há troca de calor e portanto
a sua temperatura não deve variar.
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 31

3.5 Trajetórias ortogonais

A integração de uma e.d.o. de primeira ordem quase sempre nos leva a uma equação do tipo
f (x, y, C) = 0 onde C é uma constante e fy 6= 0, condição esta que, segundo o TFI, garante
a existência da famı́lia de soluções y = y(x, C).

Façamos agora a pergunta recı́proca: dada uma famı́lia de funções a um parâmetro


y = y(x, λ) definida implicitamente por f (x, y, λ) = 0 qual é a e.d.o. da qual ela é solução?

O mais óbvio é derivar a equação f = 0 em relação a x para obter

fx (x, y, λ) + fy (x, y, λ)y ′ = 0 (3.13)

Agora é preciso eliminar a constante λ. Vamos então admitir que fλ 6= 0. Pelo TFI existe
uma função λ = λ(x, y) tal que f (x, y, λ(x, y)) = 0. Inserindo essa função λ(x, y) em (3.13)
temos
M(x, y) + N(x, y)y ′ = 0 (3.14)
Vamos aplicar essa idéia à determinação de trajetórias ortogonais.

Seja f (x, y, λ) = 0 uma famı́lia de curvas a um parâmetro definidas implicitamente.


Suponhamos que fx , fy , fλ 6= 0. A questão é determinar uma famı́lia a um parâmetro
g(x, y, λ) = 0 tal que na interseção das curvas de g e de f o ângulo entre as tangentes
seja π/2. Impondo essa condição, a equação diferencial que define as curvas ortogonais deve
ter a forma
−1
M(x, y) + N(x, y) =0
y′
que corresponde à equação
M(x, y)y ′ − N(x, y) = 0 (3.15)

Exemplo 3.5.1 Determine as trajetórias ortogonais à famı́lia de cı́rculos

x2 + y 2 = r 2 (3.16)

Solução: Como domı́nio de f (x, y, r) vamos tomar o aberto (R+ )3 . Derivamos (3.16) em
relação x
x + yy ′ = 0
e em seguida, trocamos y ′ por (−y ′ )−1 para obter

xy ′ − y = 0
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 32

cuja integração conduz a


ln y − ln x = C

donde y = Kx, (K = eC > 0).

Exemplo 3.5.2 Determine as trajetórias ortogonais à famı́lia de parábolas

y = λx2 (3.17)

Solução: Vamos admitir, x, y, λ > 0. Derivando (3.17) em relação a x temos

y ′ − 2λx = 0

A eliminação de λ é feita a partir da própria equação (3.17)


y y
λ= ⇒ y′ − 2 =0
x2 x
De acordo com (3.15), 3.15 as trajetórias ortogonais são dadas por
x
y′ + =0
2y
cuja integração resulta na famı́lia de elipses

x2
+ y 2 = C.
2

l=1

C=1 C=2

l=-1

Figura 3.3: Famı́lias ortogonais


Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 33

Lista de Exercı́cios III


1. Um pequeno paı́s tem um montante M = $1010 em papel moeda e a cada dia T = $50.106
chegam aos bancos. O goveno resolve trocar a moeda velha por moeda nova, fazendo com
que os bancos troquem notas velhas por notas novas sempre que a moeda antiga entrar nos
bancos. Denote por x(t) a quantidade de moeda nova em circulação no tempo t dias, com
x(0) = 0.

a) Formule um modelo matemático que descreva o fluxo de moeda nova em circulação.

b) Resolva o problema de valor inicial encontrado na parte a).

c) Quanto tempo será necessário para que a moeda nova represente 90% do montante em
circulação?

2. Um tanque contém 1 m3 de salmoura onde 500 Kg de sal estão dissolvidos. Uma solução
com 750 Kg/m3 de sal é injetada no tanque a uma vazão de 0, 02 m3 /min. A mistura, que
é mantida homogênea por agitadores, escoa do tanque a uma taxa de 0, 025 m3 /min.

a) Determine a quantidade de sal m(t) no tanque após um tempo t min.

b) Qual a concentração da solução no tanque?

c) Em quanto tempo o tanque estará vazio?

d) Qual é o comportamento de m(t) quando a vazão de saı́da for também 0, 02 m3 /min?

3. O modelo de uma população suburbana de uma grande cidade é dado pelo PVI abaixo
dP
= P (10−1 − 10−7 P ), P (0) = 5.000
dt
onde t é medido em meses. Qual é o valor limite da população? Em que instante a população
será a metade do valor limite?

4. Considere o modelo logı́stico ẋ = (1 − x)x que descreve a taxa de crescimento de um


população de peixes sujeita a restrições alimentares. Introduza nesse modelo um termo que
represente a retirada de λ peixes por unidade de tempo. Faça um estudo qualitativo da
solução x(s) com condição inicial x(0) = x0 .
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 34

Procedimento: sendo a equação do tipo ẋ = f (x) esboce o gráfico de f × x para esse


modelo. Haverá três situações possı́veis em função de λ. Para cada caso, logo abaixo do
gráfico de f trace uma reta representando o eixo x e nele marque os pontos de equilı́brio
x∗ (se existirem) onde f (x∗ ) = 0. Em seguida, através de setas orientadas, represente o
comportamento de uma solução x(s) que nasce em cada um dos intervalos delimitados pelos
equilı́brios x∗ guiando-se pela informação dada pela edo, isto é, no intervalo onde f é positiva
tem-se x(s) crescente e onde f é negativa tem-se x(s) decrescente. Feito isso, num segundo
gráfico x × s, logo abaixo dos outros, esboce as soluções de equilı́brio e o as soluções com
condição inicial x0 posicionada em cada um dos intervalos onde f tem sinal bem definido.
Agora sim, sabendo como as soluções se comportam, faça as contas e resolva a edo nas
três situações para λ. Observe que no caso λ > 1/4 (retirada excessiva) uma solução com
qualquer população inicial x0 sempre termina por se extinguir num tempo T finito. Calcule
T em função de x0 .

5. Determine as trajetórias ortogonais das famı́lias de curvas a um parâmetro abaixo e


esboce os gráficos.

a) y = cx b) x2 + 2y 2 = c2 c) x2 − y 2 = k

d) xy = k e) y 2 = c(1 + x)

6. Um termômetro é removido de uma sala onde a temperatura ambiente é de 70oF e levado


para fora onde a temperatura é de 10oF. Após meio minuto o termômetro indica 50o F. Qual
será a leitura do termômetro em t = 1 min? Quanto tempo levará para o termômetro indicar
15o F?

7. Um médico legista é chamado ao local de um crime onde a temperatura ambiente é de


25o C. Lá chegando, por volta das 15:00 h, a temperatura do cadáver é anotada em 28o C.
Após 5 min o legista mede novamente a temperatura do cadáver e acha 27, 5o C. Qual a hora
em que ocorreu o crime? Admita temperatura do corpo humano igual a 36, 5oC.

Resposta: 1. c) t = ln(10) M
T
≈ 461 dias
2.
15 5
a) m(t) = (200 − t) − (200 − t)5
4 4 · 2004
m(t) 5
b) C(t) = = 750 − (200 − t)4
V (t) 4 · 2003
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 35

c) T = 200 min para esvaziar o tanque.


d) m(t) = 750 − 250 exp(−0.02t)

3. P ∗ = 1.000.000 de habitantes. t1/2 = 5, 29 meses.

4. Para 0 < λ < 1/4: temos f (x) = −(x − x1 )(x − x2 ) onde


r r
1 1 1 1
x1 = − − λ < x2 = + − λ.
2 4 2 4
Neste caso, a solução dependerá do intervalo Ix0 .

0 < x0 < x1 : Tomamos I = (−∞, x1 ) e J = R. A solução é


√  
x2 − x1 α−1 e− 1−4λt ln α
x(t) = √ , t ∈ −∞, − √
1 − α−1 e− 1−4λt 1 − 4λ
x1 −x0
onde α = x2 −x0
< 1.

Tempo de extinção:  
1 λ − x0 x1
Text = √ ln .
1 − 4λ λ − x0 x2
x1 < x0 < x2 : tomamos I = (x1 , x2 ). A solução é

x2 + x1 α−1 e− 1−4λt
x(t) = √ , t∈R
1 + α−1 e− 1−4λt
x0 −x1
onde α = x2 −x0
> 0. Nesse caso, temos

lim x(t) = x1 e lim x(t) = x2 .


t→−∞ t→+∞

x2 < x0 : tomamos I = (x2 , ∞). A solução é


√  
x2 − x1 α−1 e− 1−4λt ln(α)
x(t) = √ , t ∈ −√ ,∞
1 − α−1 e− 1−4λt 1 − 4λ
x0 −x1
onde α = x0 −x2
> 1. Nesse caso, temos

lim x(t) = x2 .
t→+∞

Para λ = 1/4: temos f (x) = −(x − 1/2)2

x0 < 1/2: tomamos I = (−∞, 1/2). A solução é


 
1 1 − 2x0 2
x(t) = − , t ∈ −∞, .
2 2 − (1 − 2x0 )t 1 − 2x0
Cap.3 Modelagem com edo’s de primeira ordem 36

Tempo de extinção:
4x0
Text = .
1 − 2x0
x0 > 1/2: tomamos I = (1/2, ∞). A solução é
 
1 2x0 − 1 −2
x(t) = + , t∈ ,∞ .
2 2 + (2x0 − 1)t 2x0 − 1

Nesse caso, temos


1
lim x(t) = .
t→+∞ 2
 1 2 1

Para λ > 1/4: temos f (x) = − (x − 2 ) + (λ − 4 ) e I = R.
√ √   
1 4λ − 1 4λ − 1 π π
x(t) = + tan (L − t) , t ∈ − √ + L, √ +L
2 2 2 4λ − 1 4λ − 1
 
2
onde L = √4λ−1 arctan √2x4λ−1
0 −1
. Tempo de extinção:
    
2 2x0 − 1 1
Text =√ arctan √ + arctan √ .
4λ − 1 4λ − 1 4λ − 1

5. a) x2 + y 2 = a2 b) y = cx2 c) xy = c d) x2 − y 2 = c
e) y(1 + x)1/2 = c

6 T (1) ≈ 36, 76oF. t ≈ 3, 06 min.

7. aproximadamente às 14:23 h.


Capı́tulo 4

Equações diferenciais lineares e


aplicações

4.1 Teoria básica

Vamos considerar um problema de valor inicial definido por uma E.D.O. linear de ordem n

an (x)y (n) + . . . + a1 (x)y ′ + a0 (x)y = g(x)

cuja solução está sujeita às condições iniciais

y(x0 ) = y0 , y ′(x0 ) = y1 , ..., y (n−1) (x0 ) = yn−1

As funções ai , g : J → R (i = 0, . . . , n) são tomadas contı́nuas e a função an (x) 6= 0 para todo


x ∈ J.

Uma propriedade interessante das equações lineares é que o domı́nio para a variável y e
suas derivadas é R. Daı́ os valores iniciais (y0 , y1 , . . . , yn−1 ) da solução podem ser quaisquer
ao passo que para a variável independente x, os valores iniciais devem pertencer ao intervalo
de definição das funções ai (x).

O teorema de existência e unicidade para E.D.O. lineares é um pouco mais forte que o
usual. Com efeito, vale o seguinte

Teorema 4.1.1 Se g ∈ C 0 (J) então para cada x0 ∈ J e cada lista de valores iniciais
y0 , y1 , . . . , yn−1 ∈ R existe uma única função y : J → R que é solução do PVI acima.

37
Cap.4 Equações lineares 38

Note que o domı́nio das soluções da E.D.O. linear é o mesmo da equação enquanto que
o domı́nio da solução de uma E.D.O. não-linear é, em geral, um subintervalo de J.

4.1.1 A linguagem de operadores lineares

Neste parágrafo, a letra D indica o operador derivada substituindo a tradicional linha ′.


Sejam f1 , f2 funções de classe C n definidas num intervalo J. Do cálculo I sabemos que
D(λf1 + f2 ) = λDf1 + Df2
Isto traduz o fato de que D opera linearmente sobre o conjunto de funções diferenciáveis.
Derivando a equação acima temos
DD(λf1 + f2 ) = λDDf1 + DDf2 ou D 2 (λf1 + f2 ) = λD 2 f1 + D 2 f2
Ou seja, o operador D 2 , derivada segunda, também é linear. Não é difı́cil enxergar que a
composição sucessiva de operadores lineares também é linear de modo que a derivada n-ésima
da combinação λf1 + f2 satisfaz
D n (λf1 + f2 ) = λD n f1 + D n f2 .
A multiplicação de um operador diferencial D k por uma função a(x) define um novo operador
que age da seguinte forma
[a(x)D k ](f ) = a(x)f (k) (x)
A soma de dois operadores do tipo acima nos dá um novo operador
L(f ) = [a(x)D k + b(x)D m ](f ) = a(x)f (k) (x) + b(x)f (m) (x)
Inserindo λf1 + f2 no lugar de f vemos facilmente que
[a(x)D k + b(x)D m ](λf1 + f2 ) = λ [a(x)D k + b(x)D m ](f1 ) + [a(x)D k + b(x)D m ](f2 )
| {z } | {z } | {z }
L L L

donde segue que L age linearmente.

Dadas n + 1 funções contı́nuas aj (x) (j = 0, . . . , n) construimos o operador diferencial L pela


composição
L = an (x)D n + . . . + a2 (x)D 2 + a1 (x)D + a0 (x)Id (4.1)

Definição 4.1.2 O operador (4.1) é chamado operador diferencial linear de ordem n.


Com o auxı́lio da notação (4.1) podemos escrever a E.D.O. linear numa forma mais compacta
L(y) = g. (4.2)
Cap.4 Equações lineares 39

4.1.2 Sobre E.D.O. linear homogênea

Nesta seção buscamos caracterizar o conjunto de soluções de um E.D.O. linear homogênea.

Proposição 4.1.3 Sejam φ1 , . . . , φn ∈ C n (J) soluções da equação homogênea L(y) = 0.


Então para toda lista de constantes c1 , . . . , cn ∈ R a função

φ = c1 φ 1 + . . . + cn φ n (4.3)

satisfaz L(φ) = 0.

Prova: Usando a linearidade do operador L e a hipótese de que L(φj ) = 0 para todo


j = 1, . . . , n temos que

L(φ) = L(c1 φ + . . . + cn φn ) = L(c1 φ1 ) + . . . + L(cn φn ) = c1 L(φ1 ) + . . . + cn L(φn ) = 0.

É comum dizermos que a função φ é uma combinação linear das funções φ1 , . . . , φn . Nestes
termos, a proposição diz que toda combinação linear de soluções de uma E.D.O. linear
homogênea também é solução da mesma equação.

Sejam φ1 , . . . , φn funções de classe C n definidas no intervalo J.

Definição 4.1.4 O Wronskiano de φ1 , . . . , φn é o determinante


φ1 (x) φ2 (x) ... φn (x)
φ′1 (x) φ′2 (x) ... φ′n (x)
W [φ1 , . . . , φn ](x) = .. .. .. .. (4.4)
. . . .
(n−1) (n−1) (n−1)
φ1 (x) φ2 (x) . . . φn (x)

Exemplo 4.1.5 Se φ1 (x) = ex , φ2 (x) = sin x e φ3 (x) = cos x então o cálculo do wronskiano
das três funções dá
ex sin x cos x
W [φ1 , φ2 , φ3](x) = ex cos x − sin x = −2ex
ex − sin x − cos x
Seja L um operador diferencial linear de ordem n como em (4.1).

Definição 4.1.6 Dizemos que n funções φ1 , . . . , φn constituem um conjunto fundamental


para L se
1. L(φj ) = 0 para todo j = 1, . . . , n.
2. W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0 para algum x0 ∈ J.
Cap.4 Equações lineares 40

Observação 4.1.7 Um fato que não demonstraremos aqui é que se o Wronskiano de n


soluções da equação L(y) = 0 é não-nulo num ponto x0 então o mesmo será não-nulo
para todo x ∈ J. Esse resultado é consequência das propriedades do determinante frente à
derivação, mas o leitor pode escrever sua demonstração no caso de E.D.O.’s de segunda
ordem (n = 2).

O próximo teorema mostra que um conjunto fundamental para L é suficiente para gerar
todas as soluções da equação homogênea.

Teorema 4.1.8 Se {φ1 , . . . , φn } é um conjunto fundamental para L então toda solução da


equação L(y) = 0 é do tipo c1 φ1 + . . . + cn φn

Prova: Seja φ : J → R uma solução da equação homogênea L(y) = 0. Tome x0 ∈ J tal que
W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) 6= 0 e denote as constantes b1 = φ(x0 ), b2 = φ′ (x0 ), . . . , bn = φ(n−1) (x0 ).
Agora considere o sistema linear

c1 φ1 (x0 ) + c2 φ2 (x0 ) + ... + cn φn (x0 ) = b1


c1 φ′1 (x0 ) + c2 φ′2 (x0 ) + ... + cn φ′n (x0 ) = b2
.. .. .. .. .. (4.5)
. . . . .
(n−1) (n−1) (n−1)
c1 φ 1 (x0 ) + c2 φ2 (x0 ) + . . . + cn φn (x0 ) = bn

O determinante principal do sistema é o wronskiano W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) que, por hipótese é


não nulo. Pela regra de Cramer, o sistema é possı́vel e determinado tendo, portanto, uma
única solução (c1 , . . . , cn ). Com esse números defina ψ ∈ C n (J) pela regra

ψ(x) = c1 φ1 (x) + . . . + cn φn (x)

Por se tratar de uma combinação linear das soluções, φj a função ψ também satisfaz L(ψ) = 0.
Além disso, por construção, temos que

ψ(x0 ) = b1 , ψ ′ (x0 ) = b2 ... ψ (n−1) (x0 ) = bn

Ou seja, ambas as funções ψ e φ resolvem o PVI



L(y) = 0, sujeita às condições iniciais
y(x0 ) = b1 y ′(x0 ) = b2 , . . . , y (n−1) (x0 ) = bn

Pelo teorema (4.1.1) devemos ter φ(x) = ψ(x) para todo x ∈ J mostrando assim que a
solução φ é do tipo (4.3).
Cap.4 Equações lineares 41

Segundo a demonstração acima, as constantes c1 , . . . , cn são determinadas pelo sistema


(4.5). Ou seja, um conjunto fundamental para o operador L determina todas as soluções do
problema homogêneo L(y) = 0.

Para um operador linear como em (4.1) um conjunto fundamental sempre existe. Com
efeito, seja x0 ∈ J. Pelo teorema (4.1.1) existem n funções φ1 , . . . , φn ∈ C n (J) tais que
L(φj ) = 0 para j = 1, . . . , n e
(n−1)
φ1 (x0 ) = 1, φ′1 (x0 ) = 0, . . . , φ1 (x0 ) = 0
(n−1)
φ2 (x0 ) = 0, φ2 (x0 ) = 1, . . . , φ2

(x0 ) = 0
.. .. .. ..
. . . .
(n−1)
φn (x0 ) = 0, φn (x0 ) = 0, . . . , φn (x0 ) = 1

Claramente, o wronskiano W [φ1 , . . . , φn ](x0 ) = 1 e portanto {φ1 , . . . , φn } constitui um con-


junto fundamental para L.

4.1.3 Sobre E.D.O. não-homogênea

Seja g : J → R uma função contı́nua e suponha que é conhecida uma solução particular
yp : J → R da equação não homogênea L(y) = g. Temos então o seguinte

Teorema 4.1.9 Toda solução de L(y) = g é do tipo yp + yh onde yh é uma solução da


equação homogênea.

Prova: Se φ é uma solução de L(y) = g então a função φ(x)−yp (x) é solução da homogênea
pois
L(φ − yp ) = L(φ) − L(yp ) = g − g = 0

Denotando yh (x) = φ(x) − yp (x) temos que φ = yp + yh , como querı́amos demonstrar.

4.1.4 Resumo da teoria

A fim de resolvermos o PVI


L(y) = g

y(x0 ) = y0 , y ′(x0 ) = y1 , ..., y (n−1) (x0 ) = yn−1

fazemos o seguinte:
Cap.4 Equações lineares 42

1. determinamos um conjunto fundamental para L. A solução geral do problema homogêneo


L(y) = 0 é escrita como combinação linear

yh (x) = c1 φ1 (x) + . . . + cn φn (x)

2. determinamos uma solução particular yp da equação L(y) = g.

3. A solução geral do problema não-homogêneo é a soma yp + yh . Sobre ela aplicamos as


condições iniciais para o cálculo das constantes c1 , . . . , cn .

Doravante, vamos restringir o cálculo de soluções para as equações lineares de segunda


ordem
L(y) = y ′′ + p(x)y ′ + q(x)y = g(x) (4.6)

Nesse caso, o conjunto fundamental para L é formado por duas funções φ1 , φ2 de classe C 2
satisfazendo L(φj ) = 0 e W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0.

4.2 Redução de ordem para E.D.O. linear homogênea

Suponha que φ seja uma solução não trivial da equação homogênea L(y) = 0. A ideia para
obter uma outra solução do conjunto fundamental é reduzir a ordem da equação por meio
de uma mudança de variáveis. Com efeito, façamos

y = φ(x)z (4.7)

Com um pouco de paciência vemos que

L(y) = zL(φ) + φz ′′ + [2φ′ + pφ]z ′

Lembrando que L(φ) = 0 temos que a equação L(y) = 0, para y da forma (4.7), é equivalente
a
φz ′′ + [2φ′ + pφ]z ′ = 0

cujo domı́nio é {x ∈ J tal que φ(x) 6= 0}. Tal equação pode ser transformada numa E.D.O.
linear de primeira ordem fazendo z ′ = v.

Observação 4.2.1 Interessante notar que as soluções φ(x) e φ(x)z(x) tem wronskiano não-
nulo. (Exercı́cio!)
Cap.4 Equações lineares 43

Exemplo 4.2.2 Sabendo que φ(x) = x é solução da equação (1 − x2 )y ′′ − 2xy ′ + 2y = 0,


para x ∈ (−1, 1), determine uma outra solução do conjunto fundamental.
Sol.: Temos que
2x ′ 2
L(y) = y ′′ − 2
y + y=0
1−x 1 − x2
Fazendo a mudança (4.7) ficamos com a equação
 
′ 2 2x
v + − v=0 (4.8)
x 1 − x2

cujo domı́nio para x não pode conter x = 0. Consideramos então os intervalos (−1, 0) e (0, 1)
separadamente. A integração de (4.8) nos dá

C
v(x) =
x2 (1
− x2 )

donde Z   
C 1 1 1+x
z(x) = dx = C − + ln
x2 (1 − x2 ) x 2 1−x
Assim, uma outra solução da equação dada é
 
x 1+x
y(x) = −1 + ln
2 1−x

cujo domı́nio é todo o intervalo (−1, 1).

4.3 Equações homogêneas com coeficientes constantes

Considere a E.D.O. (4.6) com p e q funções constantes e g = 0.

L(y) = y ′′ + py ′ + q = 0 (4.9)

Nesse caso, o domı́nio das soluções é J = R.

A ideia é propor soluções do tipo y(x) = exp(λx). Com efeito, calculando a função L(y(x))
obtemos
(λ2 + pλ + q)eλx = 0

Então, para que y(x) seja solução de (4.9), devemos tomar λ tal que

λ2 + pλ + q = 0 (4.10)
Cap.4 Equações lineares 44

Definição 4.3.1 A equação polinomial (4.10) é chamada equação caracterı́stica da E.D.O.


(4.9).

Existem três casos a considerar dependendo do discriminante ∆ = p2 − 4q.

Caso I: ∆ > 0.
Temos duas raı́zes distintas λ1 , λ2 que fornecem duas soluções φ1 (x) = exp(λ1 x) e φ2 (x) =
exp(λ2 x) cujo wronskiano é

eλ1 x eλ2 x
W [φ1 , φ2](x) = = (λ2 − λ1 )e(λ1 +λ2 )x 6= 0
λ1 eλ1 x λ2 eλ2 x

e portanto constituem um conjunto fundamental para L. A solução geral de (4.9) é

y(x) = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x (4.11)

Exemplo 4.3.2 Resolver a E.D.O.

y ′′ − 5y ′ + 6y = 0 (4.12)

Sol.: Equação caracterı́stica é λ2 − 5λ + 6 = 0 cujas raı́zes são λ1 = 2 e λ2 = 3. Portanto a


solução geral é
y(x) = c1 e2x + c2 e3x

Caso II: ∆ = 0
Tem-se apenas uma raı́z e uma solução não trivial φ1 (x) = eλx onde λ = −p/2. Nesse caso,
aplica-se o processo de redução de ordem para calcular outra solução. Fazendo y = φ1 (x)z
a equação (4.9) torna-se
eλx z ′′ + (2λeλx + peλx )z ′ = 0

z ′′ = 0

cuja solução geral é z(x) = ax + b. Podemos então tomar φ2 (x) = xeλx e a solução geral de
(4.9) é dada na forma
y(x) = c1 eλx + c2 xeλx (4.13)

Exemplo 4.3.3 Resolva a E.D.O.

y ′′ − 6y ′ + 9y = 0 (4.14)
Cap.4 Equações lineares 45

Sol.: Equação caracterı́stica λ2 − 6λ + 9 = (λ − 3)2 = 0 cuja única solução é λ = 3. Seguindo


(4.13) temos que
y(x) = c1 e3x + c2 xe3x
Caso III: ∆ < 0.
A equação caracterı́stica tem duas raı́zes distintas λ = a + bi, λ̄ = a − bi ∈ C onde b > 0.
Mesmo assim, as funções complexas

z1 (x) = exp(λx) = eax (cos bx + i sin bx) (4.15)


z2 (x) = exp(λ̄x) = eax (cos bx − i sin bx) (4.16)

são soluções da E.D.O. (4.9) no corpo dos complexos. Combinações lineares complexas de
z1 e z2 são também soluções. Portanto,
z1 (x) + z2 (x)
φ1 (x) = = eax cos bx
2
z1 (x) − z2 (x)
φ2 (x) = = eax sin bx
2i
são soluções reais de (4.9) e claramente o wronskiano das duas é não-nulo. A solução geral
fica
y(x) = c1 eax cos bx + c2 eax sin bx (4.17)

Exemplo 4.3.4 Resolva a E.D.O.

y ′′ + y ′ + y = 0 (4.18)

Sol.: Equação caracterı́stica λ2 + λ + 1 = 0. O discriminante ∆ = −3 < 0 e suas raı́zes


complexas são √ √
1 3 1 3
λ1 = − + i e λ2 = − − i
2 2 2 2
Por (4.17) a solução geral é
√ ! √ !
3 3
y(x) = c1 e−x/2 cos x + c2 e−x/2 sin x
2 2

4.3.1 E.D.O.’s lineares de ordem superior com coeficientes con-


stantes

Seja
y (n) + an−1 y (n−1) + . . . + a1 y ′ + a0 y = 0 (4.19)
Cap.4 Equações lineares 46

uma equação linear de ordem n > 2 com coeficientes constantes. Os resultados obtidos para
o caso de ordem 2 podem perfeitamente ser generalizados para o caso de ordem superior. No
entanto, uma demonstração aceitável dos fatos a seguir se torna incompatı́vel com o nı́vel
desse texto. Vamos então, ao procedimento para resolver a equação (4.19).
1. Escrever o polinômio caracterı́stico
p(λ) = λn + an−1 λn−1 + . . . + a1 λ + a0
2. Calcular as raı́zes de p, denotadas por λ1 , . . . , λn , com suas respectivas multiplicidades.
3. A cada raiz λ = a + b · i com b ≥ 0 e multiplicidade m faz-se corresponder uma seqüência
de soluções do tipo
xk eax cos(bx), xk eax sin(bx) 0≤k<m
4. Escrever a solução geral como combinação linear dessas funções.

Exemplo 4.3.5 Calcule a solução geral para


y (4) − 6y (3) − 22y ′′ − 48y ′ + 40y = 0 (4.20)
Sol. Seguindo os passos descritos acima temos como polinômio caracterı́stico
p(λ) = λ4 − 6λ3 + 22λ2 − 48λ + 40
Testando os divisores de 40 como raiz de p encontramos λ = 2 com multiplicidade 2. Usando
Briot-Ruffini para reduzir o grau do polinômio achamos o fator λ2 − 2λ + 10 cujas raı́zes são
1 + 3i e 1 − 3i. Assim, o conjunto fundamental para a equação (4.20) é formado por
e2x , xe2x , ex cos(3x), ex sin(3x)
e a solução geral é escrita na forma
yh (x) = c1 e2x + c2 xe2x + c3 ex cos(3x) + c4 ex sin(3x)

4.4 O caso não homogêneo

Sejam p, q, f : J → R funções contı́nuas e considere o problema


L(y) = y ′′ + p(x)y ′ + q(x) = f (x) (4.21)
De acordo o teorema (4.1.9), a solução geral de (4.21) tem a forma yp (x) + yh (x) onde yp
é uma solução particular da própria (4.21) e yh é a solução geral do problema homogêneo
L(y) = 0. A seguir, fornecemos dois métodos para o cálculo de yp .
Cap.4 Equações lineares 47

4.4.1 O método da variação dos parâmetros

Se {φ1 , φ2 } é um conjunto fundamental para L então a solução geral da equação homogênea



yh (x) = c1 φ1 (x) + c2 φ2 (x) c1 , c2 ∈ R (constantes arbitrárias)

A ideia é procurar uma solução particular de (4.21) sob a forma

yp (x) = u1 (x)φ1 (x) + u2 (x)φ2 (x) (4.22)

onde u1 e u2 satisfazem a condição

u′1 φ1 + u′2 φ2 = 0

Observação 4.4.1 Vê-se agora o porquê do nome variação dos parâmetros.


O cálculo de L(yp ) nos dá

L(yp ) = u1 L(φ1 ) +u2 L(φ2 ) +u′1 (x)φ′1 (x) + u′2 (x)φ′2 (x)
| {z } | {z }
=0 =0

Assim, para que yp seja solução de (4.21), as funções u1 e u2 devem satisfazer o sistema

u′1 φ1 + u′2 φ2 = 0 (4.23)


u′1 φ′1 + u′2 φ′2 = f (4.24)

cujo determinante principal é W [φ1 , φ2 ](x) 6= 0 para todo x ∈ J. Pela regra de Cramer temos

−f (x)φ2 (x) f (x)φ1 (x)


u′1 (x) = e u′2 (x) =
W [φ1 , φ2 ](x) W [φ1 , φ2 ](x)

donde Z x Z x
−f (s)φ2 (s) f (s)φ1 (s)
u1 (x) = ds e u2(x) = ds (4.25)
W [φ1 , φ2](s) W [φ1 , φ2 ](s)

Exemplo 4.4.2 Encontre a solução geral da E.D.O.

y ′′ + 8y ′ + 16y = e−x (4.26)

Sol. A equação homogênea associada é y ′′ + 8y ′ + 16y = 0 e sua equação caracterı́stica é

λ2 + 8λ + 16 = 0 (∆ = 0)
Cap.4 Equações lineares 48

cuja única solução é λ = −4. Temos então o conjunto fundamental para L composto por

φ1 (x) = e−4x e φ2 (x) = xe−4x

O wronskiano é W [φ1 , φ2 ](x) = e−8x . Usando as fórmulas (4.25) obtemos


Z x Z x
−e−s se−4s 3s e3x (3x − 1)
u1 (x) = ds = − se ds = −
e−8s 9
Z x −s −4s Z x
e e 3s e3x
u2 (x) = ds = e ds =
e−8s 3
Por (4.22) uma solução particular é

e3x (3x − 1) −4x e3x −4x e−x


yp (x) = − e + xe =
9 3 9
e a solução geral fica
e−x
y(x) = + c1 e−4x + c2 xe−4x
9

Exemplo 4.4.3 Resolva o problema

4y ′′ + 36y = csc(3x) (4.27)


π  π 
y = 1, y ′ = −1
6 6
Sol.: O intervalo para x é tal que sin(3x) 6= 0 e x0 = π/6 pertença a ele. Temos que
J = (0, π/3) e observe que nesse intervalo sin(3x) > 0. A equação homogênea associada é

y ′′ + 9y = 0

Equação caracterı́stica
λ2 + 9 = 0 ⇒ λ = ±3i

Conjunto fundamental

φ1 (x) = cos(3x) φ2 (x) = sin(3x)

Wronskiano
cos(3x) sin(3x)
W [φ1 , φ2 ](x) = =3
−3 sin(3x) 3 cos(3x)
donde Z x Z x
− csc(3s) sin(3s) 1 x
u1 (x) = ds = − ds = −
4·3 12 12
Cap.4 Equações lineares 49

Z x Z x
csc(3s) cos(3s) 1 cos(3s) 1
u2 (x) = ds = ds = ln | sin(3x)|
4·3 12 sin(3s) 36
A solução particular é
x sin(3x)
yp (x) = − cos(3x) + ln | sin(3x)|
12 36
que fornece a solução geral
x sin(3x)
y(x) = − cos(3x) + ln | sin(3x)| + c1 cos(3x) + c2 sin(3x)
12 36
π
Impondo as condições iniciais obtemos c1 = 72
+ 13 e c2 = 1. O intervalo de definição de y(x)
é (0, π/3).

4.4.2 O método dos coeficientes a determinar

Vamos nos limitar a equações do tipo (4.21) onde

• p, q são funções constantes;

• f é uma combinação linear ou soma de produtos finitos de seno, coseno, exponencial e


polinômios.

A ideia do método consiste na conjectura de que a solução particular yp é uma combinação


linear das funções elementares que compõem a função f (x) e de suas derivadas. A tabela
abaixo mostra alguns tipos de soluções prospostas para cada f (x)

f (x) yp
a0 + . . . + an xn b0 + . . . + bn xn
eαx beαx
cos(ax) ou sin(ax) c1 cos(ax) + c2 sin(ax)
(a0 + . . . + an xn )eαx cos(βx) ou (b0 + . . . + bn xn )eαx cos(βx)+
(a0 + . . . + an xn )eαx sin(βx) (c0 + . . . + cn xn )eαx sin(βx)

Ilustraremos o método através de exemplos

Exemplo 4.4.4 Resolver a E.D.O.

y ′′ + y = (x2 + 7)e−x (4.28)


Cap.4 Equações lineares 50

Sol.: O problema homogêneo associado é y ′′ + y = 0 cuja solução geral é

yh (x) = c1 cos x + c2 sin x

De acordo com a tabela acima, a solução particular proposta deve ser do tipo

yp = (Ax2 + Bx + C)e−x

Temos então
yp′ = −(Ax2 + Bx + C)e−x + (2Ax + B)e−x
yp′′ = (Ax2 + Bx + C)e−x − 2(2Ax + B)e−x + 2Ae−x
Agora substituı́mos essas derivadas na E.D.O. e encontramos

2Ax2 + (2B − 4A)x + 2C − 2B + 2A = x2 + 7

donde
1
A= B=1 C=4
2
Assim, a solução geral de (4.28) é

x2
y(x) = ( + x + 4)e−x + c1 cos x + c2 sin x
2

Exemplo 4.4.5 Resolver a E.D.O.

y ′′ − 2y ′ + 2y = e2x (cos x − 3 sin x) (4.29)

Sol.: O problema homogêneo associado é y ′′ − 2y ′ + 2y = 0 cuja solução geral é

yh (x) = c1 ex cos x + c2 ex sin x

A solução particular proposta deve ser do tipo

yp = Ae2x cos x + Be2x sin x

Derivando...
yp′ = (2A + B)e2x cos x + (2B − A)e2x sin x
yp′′ = (3A + 4B)e2x cos x + (5B − 4A)e2x sin x
Substituindo na E.D.O. ficamos com

(A + 2B)e2x cos x + (B − 2A)e2x sin x = e2x cos x − 3e2x sin x


Cap.4 Equações lineares 51

donde 
A + 2B = 1 7 1
⇒ A= B=−
−2A + B = −3 5 5
A solução geral é
7 1
y(x) = e2x cos x − e2x sin x + c1 ex cos x + c2 ex sin x
5 5

Observação 4.4.6 Se algum termo da solução yp for solução da homogênea associada, a


proposta de solução deve ser xyp . Se ainda xyp for solução da homogênea associada propõe-se
x2 yp . E assim por diante...

Exemplo 4.4.7 Resolver a E.D.O.

y ′′ − 5y ′ + 4y = ex (4.30)

Sol. O problema homogêneo associado é y ′′ − 5y ′ + 4y = 0 cuja solução geral é

yh (x) = c1 ex + c2 e4x

A solução particular proposta deveria ser do tipo yp = Aex . No entanto a substituição em


(4.30) nos daria que 0 = ex . Assim, propõe-se yp = Axex como solução. A derivação e
posterior substituição em (4.30) nos dá

Aex (x + 2) − 5Aex (x + 1) + 4Axex = ex

donde −3A = 1. A solução geral é portanto


1
y(x) = − xex + c1 ex + c2 e4x
3

Exemplo 4.4.8 Resolver a E.D.O.

y ′′ + y = x cos x (4.31)

Sol. O problema homogêneo associado é y ′′ + y = 0 cuja solução geral é

yh (x) = c1 cos x + c2 sin x

A solução particular proposta deveria ser do tipo

yp = (Ax + B) cos x + (Cx + D) sin x


Cap.4 Equações lineares 52

Mas veja que a parte B cos x + D sin x é solução da homogênea. Assim propomos

yp = x(Ax + B) cos x + x(Cx + D) sin x

yp′ = (Cx2 + (2A + D)x + B) cos x + (−Ax2 + (2C − B)x + D) sin x

yp′′ = (−Ax2 + (4C − B)x + 2A + 2D) cos x − (Cx2 + (4A + D)x + 2B − 2C) sin x

Substituindo na equação obtém-se

(4Cx + 2A + 2D) cos x − (4Ax + 2B − 2C) sin x = x cos x

donde 

 4C = 1 C = 41

2A + 2D = 0 D=0


 −4A = 0 A=0
B = 14

2B − 2C = 0
Assim a solução geral de (4.31) fica

x x2
y(x) = cos x + sin x + c1 cos x + c2 sin x
4 4

Exemplo 4.4.9 Obter a solução geral de

y (3) − 3y ′′ + 4y = 36x2 e2x + cos x (4.32)

Sol. O problema homogêneo associado é y (3) − 3y ′′ + 4y = 0 cuja solução geral é

yh (x) = c1 e2x + c2 xe2x + c3 e−x

Neste exemplo vamos aplicar a ideia contida no exercı́cio 1 da lista IV. Vamos resolver
separadamente as equações

i) y (3) − 3y ′′ + 4y = 36x2 e2x ii) y (3) − 3y ′′ + 4y = cos x

e somar os resultados.
Para a equação i): A solução particular proposta deveria ser do tipo

yp (x) = (Ax2 + Bx + C)e2x

Mas a parte Bxe2x é solução da homogênea. Multiplicamos yp por x

yp (x) = (Ax3 + Bx2 + Cx)e2x


Cap.4 Equações lineares 53

Ainda temos a parcela Cxe2x como solução da homogênea. Multiplicamos de novo yp por x
e propomos
yp (x) = (Ax4 + Bx3 + Cx2 )e2x
Derivando 3 vezes obtemos
yp′ = e2x [2Ax4 + (4A + 2B)x3 + (3B + 2C)x2 + 2Cx]
yp′′ = 2e2x [2Ax4 + (8A + 2B)x3 + (6A + 6B + 2C)x2 + (3B + 4C)x + C]
yp(3) = 2e2x [4Ax4 + (24A + 4B)x3 + (36A + 18B + 4C)x2 + (12A + 18B + 12C)x + 3B + 6C]
Substituindo na E.D.O. e organizando as parcelas temos
yp(3) − 3yp′′ + 4yp = 6e2x [6Ax2 + (3B + 4A)x + B + C] = 36x2 e2x
donde por comparação de coeficientes devemos fazer

 36A = 36 A=1
4A + 3B = 0 ⇒ B = − 34
C = 34

B+C =0
A solução particular de i) fica
 
4 4 3 4 2 2x
yp (x) = x − x + x e
3 3
Para a equação ii): A solução proposta deve ser da forma
yp (x) = D cos(x) + E sin(x)
Derivando...
yp′ = −D sin(x) + E cos(x)
yp′′ = −D cos(x) − E sin(x)
yp(3) = D sin(x) − E cos(x)
e substituindo na E.D.O. temos
yp(3) − 3yp′′ + 4yp = (−E + 7D) cos x + (D + 7E) sin x = cosx
donde  7
−E + 7D = 1 D = 50
⇒ 1
D + 7E = 0 E = − 50
A solução de ii) é
7 1
yp (x) = cos x − sin x
50 50
e a solução geral de (4.32) fica
 
4 4 3 4 2 2x 7 1
y(x) = x − x + x e + cos x − sin x + c1 e2x + c2 xe2x + c3 e−x
3 3 50 50
Cap.4 Equações lineares 54

Lista de Exercı́cios IV
1. Seja L = an (x)D n + . . . + a1 (x)D + a0 (x)Id um operador diferencial linear de ordem n.
Sejam f1 , . . . , fk funções contı́nuas e φ1 , . . . , φk as respectivas soluções das equações

L(y) = f1 , . . . , L(y) = fk .

Mostre que, dadas as constantes c1 , . . . , ck , a função c1 φ1 + . . . + ck φk é solução da equação

L(y) = c1 f1 + . . . + ck fk

2. Seja L = D 2 − 5D + 6Id. Sabendo que


φ1 (x) = −xe2x é solução de L(y) = e2x ,
2
φ2 (x) = x6 + 18
5 19
x + 108 é solução de L(y) = x2
φ3 (x) = 12 cos x − 12 sin x é solução de L(y) = cos x
determine uma solução de L(y) = 2e2x + 3x2 − 5 cos x.

3.[Mat] Seja f contı́nua. Mostre que a função


Z x
y(x) = y0 cos x + v0 sin x + sin(x − t)f (t) dt
0

é solução de y ′′ + y = f (t).

4. Verifique que φ1 (x) = 1 + x e φ2 (x) = ex formam um conjunto fundamental para


L = xD 2 − (1 + x)D + Id sobre o domı́nio x > 0.

5. Mostre que φ1 (x) = x2 sin x é solução do PVI

x2 y ′′ − 4xy ′ + (x2 + 6)y = 0, y(0) = 0 y ′(0) = 0

A função φ2 (x) ≡ 0 também é outra solução. Algo errado ou não? Isso contraria o teorema
(4.1.1)? Reflita!!!

6. Mostre que y(x) = c1 + c2 x2 é uma famı́lia de soluções a dois parâmetros da equação


xy ′′ − y ′ no domı́nio J = R. Em seguida, verifique que não existe membro dessa famı́lia que
satisfaça as condições iniciais y(0) = 0 e y ′(0) = 1.

7. Determine um intervalo centrado em x = 0 sobre o qual o PVI

(x − 2)y ′′ + 3y = x, y(0) = 0, y ′(0) = 1


Cap.4 Equações lineares 55

tem solução única.

8. Verifique se as funções dadas formam um conjunto fundamental para L no domı́nio J.


Em caso afirmativo, escreva a solução geral da equação homogênea L(y) = 0.

a) L = D 2 − D − 12Id, φ1 (x) = e−3x e φ2 (x) = e4x . J = R.


b) L = D 2 − 2D + 5Id, φ1 (x) = ex cos(2x) e φ2 (x) = ex sin(2x). J = R.
c) L = 4D 2 − 4D + Id, φ1 (x) = ex/2 e φ2 (x) = xex/2 . J = R.
d) L = x2 D 2 − xD + Id, φ1 (x) = x3 e φ2 (x) = x4 . J = (0, +∞).
e) L = x3 D 3 + 6x2 D 2 + 4xD − 4Id, φ1 (x) = x, φ2 (x) = x−2 e φ3 (x) = x−2 ln x. J = (0, +∞).

9. Em cada item, verifique se y(x) é a solução geral da equação não homogênea L(y) = f.

a) y ′′ − 7y ′ + 10y = 24ex ; y(x) = 6ex + c1 e2x + c2 e5x . J = R


b) y ′′ + y = sec x; y(x) = x sin x + (cos x) ln(cos x) + c1 cos x + c2 sin x, J = (−π/2, π/2).

10. Para as equações do exercı́cio 9 calcule as soluções que satisfazem y(0) = 0 e y ′ (0) = 1.
Atenção: é a mesma condição inicial para as duas equações.

11. [Mat] Agora, imagine que você não conhece as funções trigonométricas. Sejam s(x) e
c(x) as únicas soluções dos problemas
 ′′  ′′
 y +y =0  z +z =0
(I) y(0) = 0 (II) z(0) = 1
 ′  ′
y (0) = 1 z (0) = 0
a) Mostre que s′ (x) = c(x). Sugestão: Veja primeiro que s(x) e c(x) são de classe C n (R)
pra qualquer n ∈ N. Em seguida, confira que ψ(x) = s′ (x) resolve o problema II.
b) Use o item a) para provar a identidade
s2 (x) + c2 (x) = 1, para todo x ∈ R
Sugestão: Mostre que a derivada do lado esquerdo é identicamente nula. Sendo R conexo,
o lado esquerdo é uma função constante.

12. [Mat] Mostre que s(x + a) = c(a)s(x) + s(a)c(x). Sugestão: Calcule a solução do
problema
y ′′ + y = 0
y(0) = s(a)
y ′(0) = c(a)

13. Nos itens abaixo, φ1 é uma solução da equação dada. Use redução de ordem para
calcular a solução geral na forma c1 φ1 + c2 φ2 .
Cap.4 Equações lineares 56

a) y ′′ − 4y ′ + 4y = 0, φ1 (x) = e2x .
b) x2 y ′′ − 7xy ′ + 16y = 0, φ1 (x) = x4 .
c) x2 y ′′ − xy ′ + 2y = 0, φ1 (x) = x sin(ln x).
d) (1 − x2 )y ′′ + 2xy ′ = 0, φ1 (x) = 1.

14. Verifique que φ1 (x) = x é solução da E.D.O. x2 y ′′ + xy ′ − y = 0 para x > 0. Use redução
de ordem para encontrar outra solução L.I.

15. Calcule a solução geral das seguintes equações homogêneas.


a) y ′′ − 3y ′ − 10y = 0 e) y (3) + 4y ′′ + y ′ − 6y = 0
b) y ′′ + 6y ′ + 9y = 0 f) y (3) − 3y ′′ + 4y = 0
c) y ′′ − 2y ′ + 5y = 0 g) y (3) − 3y ′′ + 7y ′ − 5y = 0
d) y ′′ + 4y ′ + 13y = 0 h) y (4) − 4y (3) + 24y ′′ − 40y ′ + 100y = 0

16. Escreva a solução geral das seguintes equações não homogêneas.


a) y ′′ − 3y ′ − 10y = x
b) y ′′ + 6y ′ + 9y = ex
c) y ′′ − 2y ′ + 5y = 10
1
d) y ′′ + 3y ′ + 2y = 1+e x

e) y ′′ + 3y ′ + 2y = sin(ex )

17. Combine os métodos de variação de parâmetros e de coeficientes a determinar para


achar a solução geral da equação
3y ′′ − 6y ′ + 30y = 15 sin x + ex tan(3x)

18. Aplique coeficientes a determinar na equações abaixo


a) y ′′ + 6y ′ + 9y = −xe4x
b) y ′′ + y = 8 cos(2x) − 4 sin x; y(π/2) = −1 y ′(π/2) = 0
c) y ′′′ − 3y ′′ + 3y ′ − y = ex − x + 16
d) y ′′ + 4y ′ + 4y = 2x + 6
e) y ′′ + y ′ + y = x sin x.

Respostas

8. Apenas o item d) não apresenta um conjunto fundamental.

10. a) y(x) = 6ex − 253


e2x + 37 e5x
b) y(x) = x sin x + (cos x) ln(cos x) + sin x
Cap.4 Equações lineares 57

13. a) φ2 (x) = xe2x


b) φ2 (x) = x4 ln |x|
c) φ2 (x) = x cos(ln x)
d) φ2 (x) = x − x3 /3
1
14 φ2 (x) = 3x2

15. a) y(x) = c1 e−2x + c2 e5x


b) y(x) = c1 e−3x + c2 xe−3x
c) y(x) = c1 ex cos(2x) + c2 ex sin(2x)
d) y(x) = c1 e−2x cos(3x) + c2 e−2x sin(3x)
e) y(x) = c1 e−2x + c2 e−3x + c3 ex
f) y(x) = c1 e2x + c2 xe2x + c3 e−x
g) y(x) = c1 ex + c2 ex cos(2x) + c3 ex sin(2x)
h) y(x) = c1 ex cos(3x) + c2 ex sin(3x) + c3 xex cos(3x) + c4 xex sin(3x)
x 3
16. a) y(x) = − 10 + 100 + c1 e−2x + c2 e5x
x
b) y(x) = e16 + c1 e−3x + c2 xe−3x
c) y(x) = 2 + c1 ex cos(2x) + c2 ex sin(2x)
d) y(x) = e−x ln(1 + ex ) − e−x + e−2x ln(1 + ex ) + c1 e−x + c2 e−2x
e) y(x) = e−2x sin(ex ) + c1 e−x + c2 e−2x

17. y(x) = − 91 ex cos(3x) ln(sec x + tan x) + 2


17
cos x + 9
17
sin x + c1 ex cos(3x) + c2 ex sin(3x)
1 2 4x
18. a) y(x) = − 49 xe4x + 343
e + c1 e−3x + c2 xe−3x .
b) y(x) = −π cos x − 11 3
sin x − 83 cos(2x) + 2x cos x
c) y(x) = 61 x3 ex + x − 13 + c1 ex + c2 xex + c3 x2 ex
d) y(x) = x2 + 1 + c1 e−2x + c2 xe−2x √  √ 
3
e) y(x) = sin x + 2 cos x − x cos x + c1 e−x/2
cos 2 x + c2 e−x/2
sin 23 x .
Cap.4 Equações lineares 58

4.5 Aplicação: o oscilador harmônico

Considere o modelo experimental esboçado na figura abaixo

x
~ a
Fk Fext
m

0 Fat x (t)
Figura 4.1: Oscilador forçado amortecido

Trata-se de um sistema mola-massa onde o corpo de massa m é submetido à ação de três


forças: uma externa (oscilatória), a força de atrito entre a superfı́cie e o corpo e a força
exercida pela mola.

A força resultante sobre o corpo é a soma


Fk + Fat + F̃ext
onde Fk = −kx é a força exercida pela mola dada pela lei de Hooke, Fat é a força de atrito
estimada como Fat = −µv e F̃ext uma força externa qualquer. Os parâmetros k e µ são
constantes positivas que dependem da mola e do materiais envolvidos no experimento. Seus
respectivos nomes são constante de elasticidade e constante de amortecimento.

De acordo com a segunda lei de Newton, a equação diferencial que governa a posição da
massa m sobre o eixo x é
mẍ = −kx − µẋ + F̃ext
Reformulando a equação, temos
ẍ + ν ẋ + ω 2 x = Fext (4.33)
onde fizemos ω 2 = k/m, ν = µ/m e Fext = F̃ext /m.

A equação (4.33) é conhecida como modelo do oscilador harmônico forçado e amortecido.


p
Definição 4.5.1 o número ω = k/m é chamado freqüência natural de vibração do sistema
mola-massa.

Vamos estudar o caso não-amortecido (desprezando Fat ) em duas situações: não-forçado


e forçado com uma força externa periódica.
Cap.4 Equações lineares 59

4.5.1 O oscilador harmônico livre

A equação (4.33) assume a forma


ẍ + ω 2 x = 0 (4.34)

cuja solução geral é


xh (t) = C1 cos(ωt) + C2 sin(ωt)

Adotando condições iniciais x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 a função posição é dada pela regra
v0
x(t) = x0 cos(ωt) + sin(ωt) (4.35)
ω
p
Definindo A = x20 + (v0 /ω)2 é possı́vel calcular um ângulo 0 ≤ φ < 2π tal que
x0 v0
sin φ = e cos φ =
A ωA
Substituindo x0 e v0 em (4.35) temos a seguinte expresão para x(t)

x(t) = A sin(ωt + φ) (4.36)

Na expressão (4.36)

• A é amplitude do movimento e indica o afastamento máximo da posição central; φ é o


ângulo de fase do movimento e está diretamente ligado às condições iniciais.

• O tempo necessário para execução de um ciclo é o perı́odo que corresponde a T = 2π/ω.


O inverso do perı́odo f = ω/2π é a freqüência do movimento oscilatório;

Figura 4.2: x(t) = 4 sin(πt + π/6)


Cap.4 Equações lineares 60

4.5.2 Oscilador harmônico forçado

Considere uma força externa horizontal e periódica atuando sobre o corpo de massa m dada
pela expressão
Fext (t) = F0 cos(αt) (4.37)

A equação (4.33) toma a forma

ẍ + ω 2 x = F0 cos(αt) (4.38)

A solução geral do problema homogêneo é

xh (t) = C1 cos(ωt) + C2 sin(ωt)

De acordo com o método de coeficientes a determinar a solução particular pode ser de dois
tipos

1. xp (t) = A cos(αt) + B sin(αt) se α 6= ω ou

2. xp (t) = At cos(αt) + Bt sin(αt) se α = ω

Caso 1: α 6= ω

Substituindo xp (t) = A cos(αt) + B sin(αt) em (4.38) e comparando os coeficientes obte-


mos a seguinte expressão para xp

F0
xp (t) = cos(αt)
ω2 − α2
Sobre a solução geral xp + xh impomos as condições iniciais x(0) = ẋ(0) = 0 e chegamos à
seguinte função
cos(ωt) − cos(αt)
x(t) = −F0 (4.39)
ω 2 − α2
Usando a fórmula    
u+v u−v
cos u − cos v = −2 sin sin
2 2
a função (4.39) torna-se
   
2F0 ω−α ω+α
x(t) = 2 sin t sin t (4.40)
ω − α2 2 2
Cap.4 Equações lineares 61

0.4

0.2

0 1 2 3 4 5 6 7 8

±0.2

±0.4

Figura 4.3: Onda de Amplitude Modulada

Análise da solução (4.40): note que o primeiro seno tem uma freqüência de oscilação
menor que o segundo. Denote por A(t) a expressão
 
2F0 ω−α
A(t) = 2 sin t
ω − α2 2

Ela corresponde à amplitude da onda gerada pelo segundo seno. Dizemos então que, o
segundo seno ou a onda x tem a amplitude modulada por A(t). A função x(t) assume a forma
ω+α
x(t) = A(t) sin (γt) , γ= freqüência média (4.41)
2

Caso 2: α = ω.

Pelo método de coeficientes a determinar a função xp (t) = At cos(ωt)+Bt sin(ωt) será solução
de (4.38) se
F0
A=0 e B=

É evidente que a solução xp satisfaz as condições x(0) = ẋ(0) = 0. Analisando o comporta-
mento da onda
F0
x(t) = t sin(ωt) (4.42)

vemos que sua amplitude A(t) = F0 t/2ω é ilimitada.

Em algum instante finito, o sistema fı́sico da figura (4.1) deve ter sua estrutura rompida.

Quando a freqüência da força externa é igual à freqüência natural de vibração dizemos


que o sistema entrou em ressonância pura.
Cap.4 Equações lineares 62

1.5

0.5

0 1 2 3 4 5 6

±0.5

±1

±1.5

Figura 4.4: Ressonância pura

O fenômeno de ressonância é o responsável por inúmeros desastres ocorridos em obras


de engenharia. No projeto de grandes estruturas, forças externas periódicas (principalmente
ação do vento) devem ser estudadas e neutralizadas para que estas jamais entrem em res-
sonância com a vibração natural da estrutura. O descadenciamento de um pelotão militar ao
passar sobre uma ponte é uma precaução para evitar a ressonância entre os passos dos solda-
dos e a vibração natural da ponte. O exemplo mais notório de desastre na engenharia civil
causado por ressonância oriunda da ação do vento é o desmoronamento da ponte Tacoma
Narrows no estado de Washington (E.U.A.) em 1940. Para ler sobre este assunto consulte
as referências abaixo

• BRAUN, M. Differential equation and their applications, springer-verlag, pag. 248

• ZILL, D.G., Equações diferenciais com aplicações em modelagem, editora Pioneira,


pag. 263

Exemplo 4.5.2 Uma massa m é presa a uma mola cuja constante de elasticidade é k.
Depois que a mola atinge o equilı́brio, seu suporte começa a oscilar verticalmente em relação a
um linha horizontal L. Na figura abaixo, o valor de h(t) determina a distância em pés medida
a partir de L. Escreva a E.D.O. que rege o movimento sabendo que o sistema encontra-se
imerso num meio que oferece uma resistência numericamente igual a ν ẋ. Em seguida, admita
que uma massa de 1/2 lb distende a mola em 4 ft e aplique os valores ν = 2, h(t) = 5 cos(t),
x(0) = 0, ẋ(0) = 0 e g = 32 f t/s2 para escrever a função x(t).

Sol. Adotamos o sentido que aponta para baixo como positivo.


Estabelecido o equilı́brio, situação na qual o peso do corpo é neutralizado pela ação da mola
Cap.4 Equações lineares 63

L h(t)

m
0
x(t)
m

Figura 4.5: Suporte que oscila

distendida, usamos os dados do problema para calcular o valor de k


1/2 · 32
m·g =k·x ⇒ k = = 4 lbf /f t
4
Depois disso as forças atuantes sobre a massa são:
Força resistiva: Fat = −ν ẋ
Força elástica: Fel = −k(x − h)
onde nesta última o termo x − h indica a deformação lı́quida sofrida pela mola. Somando as
forças temos
mẍ = −k(x − h) − ν ẋ
e a equação do movimento fica
k ν
ẍ + µẋ + ω 2x = ω 2 h(t), onde ω 2 = eµ=
m m
Substituindo os valores numéricos das constantes e a expressão de h(t), chegamos ao seguinte
PVI
ẍ + 4ẋ + 8x = 40 cos(t) (4.43)
x(0) = ẋ(0) = 0 (4.44)
As raı́zes do polinômio caracterı́stico são: λ = −2 ± 2i donde a solução geral da equação
homogênea é
xh (t) = C1 e−2t cos(2t) + C2 e−2t sin(2t)
Pelo método de coeficientes a determinar achamos como solução particular a função
56 32
xp (t) = cos(t) + sin(t)
13 13
Aplicando as condições iniciais a solução do PVI é
56 32 56 72
x(t) = cos(t) + sin(t) − e−2t cos(2t) − e−2t sin(2t)
13 13 13 13
Cap.4 Equações lineares 64

Lista de Exercı́cios V
Em todos os problemas adote g = 10 m/s2 .
1. Um corpo de 1 Kg estende uma mola em 10 cm. Se puxarmos o corpo 4 cm para baixo e
soltarmos qual a amplitude, frequência e perı́odo do movimento?

2. Uma corpo de massa m = 4 Kg é preso a uma mola cuja constante de elasticidade é 64


N/m. Sobre ela atua uma força cuja intensidade é F = 5 cos3 (αt). Calcule todos os valores
de α para os quais ocorre ressonância. Sugestão: cos(3a) = 4 cos3 (a) − 3 cos(a).

3. Um sistema mola-massa possui m = 1 Kg e k = 3 N/m e está imerso num meio viscoso


cuja constante de amortecimento é µ = 2 N.s/m. Em t = 0 a massa é puxada a 1/2 m
abaixo de sua posição de equilı́brio e em seguida liberada. Mostre que a posição da massa
tenderá ao equilı́brio quando t → +∞.

4. Um sistema mola-massa possui m = 1 Kg e k = 1 N/m e está imerso num meio viscoso


cuja constante de amortecimento é µ = 2 N.s/m. Em t = 0 a massa é puxada a 1/4 m
abaixo de sua posição de equilı́brio e em seguida é imprimida uma velocidade inicial de 1
m/s. Mostre que a massa passará uma única vez pela posição de equilı́brio e então tenderá
à mesma.

5. Um sistema mola-massa possui m = 2 Kg e k = 32 N/m. Com a massa estacionada


na posição de equilı́brio inicia-se a aplicação de uma força periódica cuja intensidade é
F (t) = 68e−2t cos(4t). Determine a expressão de x(t) para a posição da massa.

Respostas:

1. A = 4 cm, f = 5/π ciclos/seg e T = π/5 seg.

2. α = 4 e α = 4/3.

5. x(t) = − 21 cos(4t) + 49 sin(4t) + 12 e−2t cos(4t) − 2e−2t sin(4t)


Capı́tulo 5

Soluções analı́ticas

5.1 Preliminares sobre séries de potências

5.1.1 Introdução

Funções analı́ticas são aquelas que podem ser descritas em termos de séries de potências
convergentes num intervalo aberto. Se a função f que estabelece um PVI do tipo
 ′
y = f (x, y),
y(x0 ) = y0

é analı́tica então a solução também é analı́tica. Dessa forma podemos estimar a solução como
uma série de potências com coeficientes a determinar e usar a EDO para construir fórmulas
de recorrência que permitirão calculá-los. Usaremos essa estratégia na resolução de alguns
tipos de EDO lineares com coeficientes não constantes. Mas antes, devemos revisar alguns
conceitos e resultados da teoria de funções analı́ticas.

5.1.2 Raio de convergência

Definição 5.1.1 Uma série de potências é uma expressão formal do tipo



X
cn xn (5.1)
n=0

onde cn ∈ R é o n-ésimo coeficiente da série.

65
Cap.5 Soluções analı́ticas 66

P
Para cada xo ∈ R fixo, a expressão cn xno torna-se uma série numérica que pode convergir
ou divergir. Esta observação instiga a

P
Definição 5.1.2 O domı́nio de convergência da série de potências cn xn é o conjunto

X
D = {x ∈ R / cn xn converge} (5.2)
n=o
| {z }
série numérica

Observe que D 6= ∅ uma vez que 0 ∈ D.

Uma série de potências define uma função cujo domı́nio é D

S: D → R

X
x 7→ cn xn .
n=0

A geometria do domı́nio de uma série de potências é determinada pelo

P
Teorema 5.1.3 Dada uma série de potências cn xn , apenas uma das afirmações abaixo é
verdadeira

i) D = {0}

ii) D = R

iii) existe r > 0 tal que (−r, r) ⊆ D ⊆ [−r, r]

P
Definição 5.1.4 Se iii ocorre, o número r é chamado raio de convergência da série cn xn .

Teorema 5.1.5 (Cálculo do raio de convergência) Se existir


p
n
lim |cn | = ℓ > 0
n→∞
P
então o raio de convergência da série cn xn é dado pela equação
1
r= (5.3)

Cap.5 Soluções analı́ticas 67

Corolário 5.1.6 Se cn 6= 0 para todo n e existir

cn+1
lim =ℓ>0
n→∞ cn

então r = 1/ℓ.

Observação 5.1.7 Nos casos em que ℓ = 0 ou ∞, tem-se D = R ou D = {0}, respectiva-


mente.

5.1.3 Propriedades de séries de potências


P
Sejam r > 0, cn xn uma série de potências que converge sobre (−r, r) e S : (−r, r) → R a
função definida por

X
S(x) = cn xn
n=0

Teorema 5.1.8 (continuidade) A função S é contı́nua, isto é, para todo xo ∈ (−r, r) vale

lim S(x) = S(xo ) (5.4)


x→xo

Teorema 5.1.9 (integrabilidade) A função S é integrável à Riemann e vale a fórmula


Z x ∞
X cn n+1
S(t) dt = x (5.5)
0 n=0
n+1
P
Além disso, se r é o raio de convergência da série cn xn então também o será da série
(5.5)

Teorema 5.1.10 (diferenciabilidade) A função S é derivável em (−r, r) e vale a fórmula



X

S (x) = ncn xn−1 (5.6)
n=1
P
Além disso, se r é o raio de convergência da série cn xn então também o será da série
(5.6)
Cap.5 Soluções analı́ticas 68

Corolário 5.1.11 A função S é C ∞ sobre (−r, r) e vale a fórmula



X
S (k) (x) = n(n − 1) · · · (n − k + 1)cn xn−k (5.7)
n=k

Em particular,
S (k) (0) = k!ck (5.8)
Pelo corolário (5.1.11), se uma função C ∞ tem expansão em série de potências convergente
num intervalo de R então sua k-ésima derivada avaliada no centro do intervalo pode ser
calculada em função dos coeficientes ck através da fórmula (5.8) e vice-versa.

5.1.4 Série de Taylor

Sejam J ⊆ R uma intervalo aberto e f : J → R uma função C ∞ .

Definição 5.1.12 A série de Taylor de f em torno de xo ∈ J é a série formal



X f (n) (xo )
(x − xo )n (5.9)
n=0
n!

Observe que ao fazermos a translação z = x − xo , a série (5.9) aparece como uma série de
P (n)
potências cn z n onde cn = f n!(xo ) .

Seja, então, r > 0 o raio de convergência de (5.9) e considere a função



X f (n) (xo )
S(x) = (x − xo )n , x ∈ (xo − r, xo + r). (5.10)
n=0
n!

Em geral, não vale S(x) = f (x). Como exemplo tome



exp(− x1 ), se x > 0
f (x) =
0, se x ≤ 0
Usando a regra de L’Hospital calcula-se f (n) (0) = 0 para todo n. Sua série de Taylor é
portanto convergente e S(x) = 0 6= f (x).

Definição 5.1.13 Dizemos que uma função f é analı́tica em xo se existe ε > 0 e uma
seqüência {cn } tal que

X
f (x) = cn (x − xo )n (5.11)
n=0
Cap.5 Soluções analı́ticas 69

para todo x ∈ (xo − ε, xo + ε).

Segue do corolário 5.1.11 e da fórmula (5.8) que, se f analı́tica em xo então f é C ∞ e os


valores de f sobre seu domı́nio são dados por S(x) em (5.10).

Algumas funções analı́ticas e suas representações em série de potências em torno de xo = 0



1 X
= xn D = (−1, 1) (5.12)
1 − x n=0

x
X xn
e = , D=R (5.13)
n=0
n!

X x2n
cos(x) = (−1)n , D=R (5.14)
n=0
(2n)!

X x2n+1
sin(x) = (−1)n , D=R (5.15)
n=0
(2n + 1)!

X xn+1
ln(1 + x) = (−1)n , D = (−1, 1) (5.16)
n=0
n+1

ex − e−x X x2n+1
sinh(x) = = , D=R (5.17)
2 n=0
(2n + 1)!

X x2n+1
arctan(x) = (−1)n D = [−1, 1] (5.18)
n=0
2n + 1

Observação 5.1.14 Uma última infomação sobre séries de potências é que podemos somar
e multiplicar séries usando a mesma regra aplicada a polinômios.

5.2 Método direto

Sejam p, q : J → R funções analı́ticas.

Teorema 5.2.1 Se f : J → R é analı́tica então, para cada x0 ∈ J e a0 , a1 ∈ R, a única


solução y(x) do problema linear

y ′′ + p(x)y ′ + q(x)y = f (x) (5.19)


y(x0 ) = a0 y ′(x0 ) = a1 (5.20)

é definida e analı́tica em J.
Cap.5 Soluções analı́ticas 70

Se as funções p, q, f tem séries de Taylor convergentes em |x − x0 | < r então o mesmo


pode-se dizer para a solução y(x).

Exemplo 5.2.2 Considere a seguinte equação

(x2 + 1)y ′′ + xy ′ − y = 0 (5.21)

Esrevendo-a na forma normal temos que os coeficientes


x 2
p(x) = e q(x) =
1 + x2 1 + x2
são analı́ticos e têm representação em série de potências convergentes no domı́nio |x| < 1.
Portanto a solução com condição inicial em x0 ∈ (−1, 1) também é analı́tica sobre o mesmo
intervalo.
P
O método direto consiste em escrever y(x) = an (x − x0 )n e inseri-la em (5.19). As
condições iniciais, a0 = y(x0 ) e a1 = y ′(x0 ), juntamente com a álgebra formal de séries de
potências permite determinar os coeficientes an através de relações de recorrência.

Exemplo 5.2.3 Escrever a solução geral em série de potências para a equação

y ′′ + y = 0 (5.22)

Sol.: Propomos

X
y(x) = an xn (5.23)
n=0

X ∞
X
n−1

y (x) = nan x = (n + 1)an+1 xn (5.24)
n=1 n=0

X ∞
X
y ′′ (x) = n(n − 1)an xn−2 = (n + 2)(n + 1)an+2 xn (5.25)
n=2 n=0

Substituindo em (5.22) temos



X ∞
X ∞
X
n n
(n + 2)(n + 1)an+2 x + an x = [(n + 2)(n + 1)an+2 + an ]xn = 0
n=0 n=0 n=0

donde tiramos a relação de recorrência


−an −an−2
an+2 = , n≥0 ou an = , n≥2
(n + 2)(n + 1) n(n − 1)
Cap.5 Soluções analı́ticas 71

Admitindo a0 6= 0 e a1 6= 0 temos para n = 2k par

an an an−2 · · · a2 (−1)k (−1)k (−1)k


= = = =
a0 an−2 an−4 . . . a0 n(n − 1) · · · 2 · 1 (n)! (2k)!

e para n = 2k + 1 ı́mpar

an an an−2 · · · a3 (−1)k (−1)k (−1)k


= = = = .
a1 an−2 an−4 . . . a1 n(n − 1) · · · 2 · 1 n! (2k + 1)!

Em termos de a0 e de a1 os coeficientes da solução são calculados por

(−1)k a0 (−1)k a1
a2k = a2k+1 = (5.26)
(2k)! (2k + 1)!

Agora escolhemos condições inciais apropriadas para obtermos as soluções do conjunto fun-
damental da equação. Fazendo a0 = 1 e a1 = 0 temos

X (−1)k
φ1 (x) = x2k
k=0
(2k)!

e tomando a0 = 0 e a1 = 1 temos a solução



X (−1)k 2k+1
φ2 (x) = x
k=0
(2k + 1)!

Uma vez que os coeficientes da equação diferencial são funções analı́ticas em todo R, o
teorema (5.2.1) nos garante que as séries acima convergem para todo x ∈ R. A solução geral
é a função analı́tica dada por

y(x) = c1 φ1 (x) + c2 φ2 (x)

Exemplo 5.2.4 Descreva o conjunto fundamental da equação do exemplo (5.2.2)

Solução: Não é necessário pôr a equação na forma normal. Inserimos as séries (5.23-5.25)
na equação e trabalhamos as séries para compararmos coeficientes.

X ∞
X ∞
X
(x2 + 1) n(n − 1)an xn−2 + x nan xn−1 + − an xn = 0
n=2 n=1 n=0


X ∞
X ∞
X ∞
X
n(n − 1)an xn + (n + 2)(n + 1)an+2 xn + nan xn − an xn = 0
n=2 n=0 n=1 n=0
Cap.5 Soluções analı́ticas 72


X
2a2 − a0 + 6a3 x + [(n + 1)(n − 1)an + (n + 2)(n + 1)an+2 ]xn = 0
n=2

donde tiramos
a0 (n − 1)
a2 = , a3 = 0 e an+2 = − an , n≥2
2 (n + 2)
Variando o ı́ndice n observamos que a2k+1 = 0 para k ≥ 1 e série de potência que representa
a solução geral tem a forma
 
1 2 1 4 3 6 15 8
y(x) = a0 1 + x − x + x − x + . . . + a1 x (5.27)
2 8 48 384
Note que uma das funções do conjunto fundamental é φ2 (x) = x. A outra φ1 é uma série de
potências com centro em x0 = 0 e raio de convergência r = 1.

Exemplo 5.2.5 Escreva a solução do PVI abaixo em série de potências.

y ′′ + x2 y = 0, y(0) = 1, y ′(0) = 1 (5.28)


P
Sol: Procedendo a substituição da série formal y = an xn na edo acima temos

X ∞
X
n−2 2
n(n − 1)an x +x an xn = 0
n=2 n=0


X
2a2 + 6a3 x + [an+2 (n + 2)(n + 1) + an−2 ] xn = 0
n=2

donde segue que


an−2
a2 = a3 = 0 e an+2 = − para n ≥ 2
(n + 2)(n + 1)
Calculando os primeiro coeficientes encontramos as séries
   
1 4 1 8 1 5 1 9
y(x) = a0 1 − x + x − . . . + a1 x − x + x −...
12 672 20 1440
Substituindo a0 = 1 e a1 = 1 obtemos a solução do problema (5.28).

Exemplo 5.2.6 (Equação de Legendre) Seja λ ≥ 0 inteiro. Use série de potências cen-
trada em x0 = 0 para encontrar um conjunto fundamental da equação

(1 − x2 )y ′′ − 2xy ′ + λ(λ + 1)y = 0, −1 < x < 1 (5.29)


Cap.5 Soluções analı́ticas 73

Sol. Substitua diretamente (5.23-5.25) na equação para determinar a relação de recorrência



X ∞
X ∞
X
2 n n
0 = (1 − x ) (n + 2)(n + 1)an+2 x − 2x (n + 1)an+1 x + λ(λ + 1) an xn
n=0 n=0 n=0

= 2a2 + λ(λ + 1)a0 + {6a3 − 2a1 + λ(λ + 1)a1 }x



X
+ {(n + 2)(n + 1)an+2 − n(n − 1)an − 2nan + λ(λ + 1)an } xn
n=2
donde
λ(λ + 1) (λ − 1)(λ + 2)
a2 = −a0 a3 = − a1
2! 3!
n(n + 1) − λ(λ + 1) (λ − n)(λ + n + 1)
an+2 = an = − an n = 2, 3, . . .
(n + 2)(n + 1) (n + 2)(n + 1)
Do mesmo modo como no exemplo (5.2.2) temos
(λ − n + 2)(λ + n − 1)
an = − an−2 , n≥2
n(n − 1)
Admitindo a0 6= 0 e a1 6= 0 temos para n = 2k par
an an an−2 · · · a2
= = Leg(n, λ)
a0 an−2 an−4 · · · a0
e para n = 2k + 1 ı́mpar
an an an−2 · · · a3
= = Leg(n, λ)
a1 an−2 an−4 · · · a1
onde fizemos
k
(−1)k Y
Leg(n, λ) = [λ − (n − 2j)](λ + n + 1 − 2j)
n! j=1
cujo valor de k é determinado por n = 2k ou n = 2k + 1.

Por exemplo
(λ − 2)λ(λ + 1)(λ + 3)
a4 = a0
4!
(λ − 3)(λ − 1)(λ + 2)(λ + 4)
a5 = a1
5!
(λ − 4)(λ − 2)λ(λ + 1)(λ + 3)(λ + 5)
a6 = − a0
6!
(λ − 5)(λ − 3)(λ − 1)(λ + 2)(λ + 4)(λ + 6)
a7 = − a1
7!
Combinando que Leg(0, λ) = Leg(1, λ) = 1, podemos escrever a solução geral

X ∞
X
y(x) = a0 Leg(2k, λ)x2k + a1 Leg(2k + 1, λ)x2k+1 (5.30)
k=0 k=0
Cap.5 Soluções analı́ticas 74

Observação 5.2.7 Perceba que se λ = 2m então Leg(2k, 2m) = 0 para todo k > m. Isso
faz da primeira série em (5.30) um polinômio de grau 2m. Enquanto que, se λ = 2m + 1
então Leg(2k + 1, 2m + 1) = 0 para todo k > m. A segunda série de (5.30) é um polinômio
de grau 2m + 1.

Os famosos polinômios de Legendre são definidos a partir das soluções polinomiais de


(5.29).
i) Se λ = 2m fazemos a1 = 0 e

1, se m = 0
a0 =
(−1)m 1·3···(λ−1)
2·4···λ
, se m > 0

ii) Se λ = 2m + 1 fazemos a0 = 0 e

1, se m = 0
a1 = (−1)m 1·3···λ
, se m > 0
2·4···(λ−1)

Tais polinômios são denotados por Pλ (x). Como exercı́cio verifique que

P0 (x) = 1 P1 (x) = x
1 3 3 5
P2 (x) = − + x2 P3 (x) = − x + x3
2 2 2 2
3 15 35 15 35 63
P4 (x) = − x2 + x4 P5 (x) = x − x3 + x5
8 4 8 8 4 8
Cap.5 Soluções analı́ticas 75

Lista de Exercı́cios VI
1. Reescreva as expressões abaixo como uma única série de potências

X ∞
X
n−1
a) 2nan x + 3an xn+1
n=1 n=0


X ∞
X ∞
X
n n−2
b) n(n − 1)an x + 2 n(n − 1)an x +3 nan xn
n=2 n=2 n=1

2. Pelo método direto, determine as soluções do conjunto fundamental da equações abaixo


em série de potências centradas em x0 = 0.

a) y ′′ − xy ′ = 0 b) y ′′ − 2xy ′ + y = 0

c) y ′′ + x2 y ′ + xy = 0 d) (x − 1)y ′′ + y ′ = 0

e) y ′′ − (x + 1)y ′ − y = 0 f ) (x2 + 2)y ′′ + 3xy ′ − y = 0

3. Use o mesmo método para calcular as soluções dos PVI’s.

a) (x − 1)y ′′ − xy ′ + y = 0, y(0) = −2, y ′(0) = 6

b) (x + 1)y ′′ + (x − 2)y ′ + y = 0, y(0) = 2, y ′(0) = −1

c) y ′′ − 2xy ′ + 8y = 0, y(0) = 3, y ′(0) = 0

d) (x2 + 1)y ′′ + 2xy ′ = 0, y(0) = 0, y ′(0) = 1

Respostas

X
1. a) 2a1 + [2(n + 1)an+1 + 3an−1 ] xn
n=1


X
b) 4a2 + (12a3 + 3a1 )x + [n(n − 1)an + 2(n + 2)(n + 1)an+2 + 3nan ] xn .
n=2

2. a) φ1 (x) = 1 e φ2 (x) = x + 16 x3 + 1 5
40
x + ...

b) φ1 (x) = 1 − 21 x2 − 18 x4 + . . . e φ2 (x) = x + 61 x3 + 1 5
24
x + ...

c) φ1 (x) = 1 − 61 x3 + 1 6
45
x − 7
3240
x9 + . . . e φ2 (x) = x − 61 x4 + 5
252
x7 − 1
567
x10 + ...
Cap.5 Soluções analı́ticas 76


X xn
d) φ1 (x) = 1 e φ2 (x) =
n=1
n

e) φ1 (x) = 1 + 21 x2 + 61 x3 + 61 x4 + . . . e φ2 (x) = x + 12 x2 + 21 x3 + 41 x4 + . . .

f) φ1 (x) = 1 + 41 x2 − 7 4
96
x + 161 6
5670
x − . . . e φ2 (x) = x − 16 x3 + 7
120
x5 − 17 7
720
x + ...

X xn
3. a) y(x) = 8x − 2 = 8x − 2ex
n=0
n!

x3 x4 x5
b) y(x) = 2 − x − 2x2 − 3
+ 2
− 30
+ ...

c) y(x) = 3 − 12x2 + 4x4 .



X (−1)n 2n+1
d) y(x) = x .
n=0
2n + 1
Cap.5 Soluções analı́ticas 77

5.3 Pontos singulares de equações lineares de segunda


ordem

Nesta seção, levaremos em conta equações lineares homogêneas de ordem 2 do tipo

a2 (x)y ′′ + a1 (x)y ′ + a0 (x)y = 0 (5.31)

onde ai : J → R são funções analı́ticas. Na formal escrevemos

y ′′ + P (x)y ′ + Q(x)y = 0

Definição 5.3.1 dizemos que o ponto x0 ∈ J é uma singularidade da equação (5.31) se


a2 (x0 ) = 0.

Seja x0 uma singularidade da equação (5.31). Expandindo a2 (x) numa série de potências em
torno de x = x0 escrevemos

X
a2 (x) = cn (x − x0 )n
n=0

onde c0 = a2 (x0 ) = 0. Considere então o inteiro

m = min{n/ cn 6= 0}

Claramente, temos m > 0. Fatorando a série de a2 achamos

a2 (x) = (x − x0 )m r(x)

X
onde r(x) = cn+m (x − x0 )n satisfaz r(x0 ) = cm 6= 0. Dividindo a equação (5.31) por r(x)
n=0
podemos reescreve-la sob a forma

(x − x0 )m y ′′ + p(x)y ′ + q(x)y = 0 (5.32)

onde p e q são funções analı́ticas em x0 .

Seja x0 ∈ J uma singularidade de (5.31).

Definição 5.3.2 dizemos que x0 é uma singularidade regular de (5.31) se for possı́vel escr-
ever a equação na forma

(x − x0 )2 y ′′ + (x − x0 )p(x)y ′ + q(x)y = 0 (5.33)


Cap.5 Soluções analı́ticas 78

onde p, q : J → R são analı́ticas em x0 .

Se uma singularidade não satisfaz a definição (5.3.2) dizemos que a mesma é irregular.

Exemplo 5.3.3 A equação de Bessel

x2 y ′′ + xy ′ + (x2 − n2 )y = 0 (5.34)

tem uma singularidade regular em x = 0.

Exemplo 5.3.4 A equação de Legendre (5.29) tem duas singularidades regulares em x = 1


e em x = −1. Com efeito, basta multiplicar a equação (5.29) por (1 − x) para tê-la sob a
forma
2x (1 − x)
(x − 1)2 y ′′ + (x − 1) · ·y ′ + λ(λ + 1) · ·y=0
1 + x
| {z } 1 + x
| {z }
analitica em x=1 analitica em x=1

e por x + 1 para termos

2x (1 + x)
(x + 1)2 y ′′ − (x + 1) · · y ′ + λ(λ + 1) · ·y = 0.
− x}
|1 {z − x}
|1 {z
analitica em x=−1 analitica em x=−1

Observação 5.3.5 A mudança de variável t = x − x0 transforma a equação (5.32) em

tm ÿ + p̃(t)ẏ + q̃(t)y = 0 (5.35)

onde o ponto · indica derivada em relação à variável t, p̃(t) = p(t + x0 ) e q̃(t) = q(t + x0 ).

Assim sendo, podemos nos limitar ao estudo equações que têm singularidade em x = 0.
No que segue abaixo, x = 0 será uma singularidade regular para a equação (5.31).

5.3.1 Equação de Cauchy-Euler

É o exemplo mais simples do modelo (5.31) que tem o ponto x = 0 como singularidade
regular. Trata-se da equação
x2 y ′′ + axy ′ + by = 0 (5.36)

onde a, b ∈ R são constantes.


Cap.5 Soluções analı́ticas 79

Para resolver a equação (5.36) procedemos a troca de variável t = ln |x|. A princı́pio,


admita que x > 0. A troca de derivadas obedecerá a regra
dy dy dt
= ⇒ y ′ = ẏx−1
dx dt dx
  2
d2 y d2 y dt dy d2 t
2
= 2
+ 2
⇒ y ′′ = ÿx−2 − ẏx−2
dx dt dx dt dx
Substituindo as derivadas em (5.36) obtemos a equação com coeficientes constantes

ÿ + (a − 1)ẏ + by = 0 (5.37)

A depender das raı́zes r1 e r2 da equação caracterı́stica r 2 + (a − 1)r + b = 0 podemos ter as


seguintes soluções para (5.36)

r1 6= r2 ⇒ y(x) = c1 xr1 + c2 xr2 (5.38)


r1 = r2 = r ⇒ y(x) = c1 xr + c2 xr ln(x) (5.39)
r = α ± iβ ⇒ y(x) = c1 xα cos [β ln(x)] + c2 xα sin[β ln(x)] (5.40)

Se admitirmos x < 0 então a mudança t = ln(−x) produz as mesmas soluções com −x no


lugar de x. Como exercı́cio refaça as contas.

Exemplo 5.3.6 Resolver a equação de Cauchy-Euler

x2 y ′′ − xy ′ + 5y = 0 (5.41)

Solução Após a mudança t = ln |x| a equação fica

ÿ − 2ẏ + 5y = 0

cujas raı́zes caracterı́sticas são r = 1 ± 2i. A solução geral do problema é

y(x) = c1 |x| cos(2 ln |x|) + c2 |x| sin(2 ln |x|)

5.3.2 O método de Frobenius

Para demonstração do método de Frobenius considere a equação

x2 y ′′ + xp(x)y ′ + q(x)y = 0 (5.42)


Cap.5 Soluções analı́ticas 80

P P
onde p(x) = pk xk e q(x) = qk xk são convergentes no domı́nio x ∈ (−R, R) (R > 0).
Motivados pela solução da equação de Cauchy-Euler vamos propor como solução (formal)
P
de (5.42) uma série do tipo y(x) = |x|ν ck xk com ν ∈ R constante e c0 6= 0. Temos então
que
X∞
y(x) = |x|ν ck xk × q(x) (5.43)
k=0

X
y ′ (x) = |x|ν ck (ν + k)xk−1 × xp(x)
k=0

X
y ′′(x) = |x|ν ck (ν + k)(ν + k − 1)xk−2 × x2
k=0

A inserção dessas séries em (5.42) nos dá



X ∞
X ∞
X
k k
ck (ν + k)(ν + k − 1)x + p(x) ck (ν + k)x + q(x) ck xk = 0
k=0 k=0 k=0

Substituindo as expressões de p(x) e q(x) e efetuando o produto de séries obtemos



( k k
)
X X X
(ν + k)(ν + k − 1)ck + (ν + j)cj pk−j + cj qk−j xk = 0
k=0 j=0 j=0

donde a nulidade da série exige que


k
X
(ν + k)(ν + k − 1)ck + [(ν + j)pk−j + qk−j ] cj = 0 (5.44)
j=0

para todo k ≥ 0. Quando k = 0 a identidade fica

ν(ν − 1)c0 + (νp0 + q0 )c0 = 0

e uma vez que c0 6= 0 devemos ter

ν(ν − 1) + νp0 + q0 = 0 (5.45)

A equação (5.45) é chamada equação indicial associada a (5.42). Suas raı́zes são os valores
admissı́veis para ν de forma que (5.43) seja solução formal de (5.42). Elas são chamadas
expoentes caracterı́sticos.

Observando que p0 = p(0) e q0 = q(0) a equação pode ser escrita mais simplesmente

ν(ν − 1) + νp(0) + q(0) = 0


Cap.5 Soluções analı́ticas 81

Introduzimos agora a notação

I(ν) = ν(ν − 1) + νp(0) + q(0).

Sejam ν1 , ν2 ∈ C os expoentes caracterı́sticos de (5.42) e suponha que Re(ν1 ) ≥ Re(ν2 ).


Retomando a fórmula (5.44) para k ≥ 1 e fazendo ν = ν1 obtemos
k−1
X
(ν1 + k)(ν1 + k − 1)ck + [(ν1 + k)p0 + q0 ]ck + [(ν1 + j)pk−j + qk−j ] cj = 0
j=0

onde o fator de ck é

(ν1 + k)(ν1 + k − 1)ck + (ν1 + k)p0 + q0 = I(ν1 + k).

Pela escolha de ν1 , certamente I(ν1 + k) 6= 0 para todo inteiro k ≥ 1. Extraindo ck em função


dos demais coeficientes obtemos
k−1
1 X
ck = − [(ν1 + j)pk−j + qk−j ] cj (5.46)
I(ν1 + k) j=0

Através da fórmula (5.46) determinamos a partir de c0 os coeficientes da série formal (5.43).


Prova-se ainda que a série assim obtida é convergente no intervalo x ∈ (0, R) sendo portanto
uma solução de (5.42). Esse é o conteúdo do Teorema de Frobenius.

Mas o problema ainda não acabou. A equação (5.42) é linear e portanto para escrevermos
sua solução geral é preciso achar outra solução do conjunto fundamental. Temos duas saı́das,
a depender se a diferença ν1 − ν2 é ou não um número inteiro (positivo, obviamente).

Se ν1 −ν2 6∈ Z+ então I(ν2 +k) 6= 0 para todo inteiro positivo k. A fórmula (5.46) pode ser
usada para determinar os coeficientes de uma outra série do mesmo tipo que (5.43) associada
ao expoente ν2 .

Se ν1 − ν2 ∈ Z+ então a fórmula de recorrência (5.46) não pode ser usada pois, com
certeza, teremos I(ν2 + k) = 0 para algum inteiro k ≥ 1. O jeito é então proceder uma
redução de ordem da equação (5.42), sobre o domı́nio x ∈ (0, R), usando como φ a solução
(5.43) obtida com os coeficiente (5.46).

Observação 5.3.7 (Sobre expoentes complexos) Se os expoentes caracterı́sticos forem


números complexos conjugados ν = a ± ib com (b 6= 0) então a diferença ν1 − ν2 = 2bi
Cap.5 Soluções analı́ticas 82

não é inteiro e portanto a fórmula (5.46) aplicada a cada expoente nos dá dois conjuntos
de coeficientes complexos, associados a ν1 e a ν2 respec., os quais compõem as soluções
complexas

X ∞
X
a+bi k a−bi
|x| ck x e |x| dk xk (5.47)
k=0 k=0

Inserindo as identidades ck = fk + igk e

|x|a+bi = |x|a cos(b ln |x|) + i|x|a sin(b ln |x|)

para separar as partes real e imaginária da primeira solução, obtemos


∞ ∞
! ∞ ∞
!
X X X X
n n n n
u fn x − v gn x + i v fn x + u gn x
k=0 k=0 k=0 k=0

onde fizemos u(x) = |x|a cos(b ln |x|) e v(x) = |x|a sin(b ln |x|).

Pela linearidade da equação (5.42) vemos facilmente que as funções



X ∞
X
n
φ1 (x) = u fn x − v gn xn (5.48)
k=0 k=0


X ∞
X
n
φ2 (x) = v fn x + u gn xn (5.49)
k=0 k=0

são soluções reais de (5.42).


Cap.5 Soluções analı́ticas 83

Lista de Exercı́cios VII


1. Determine e classifique, como regular ou irregular, as singularidades das equações lineares
abaixo.

a) x2 (x + 1)3 (x − 1)y ′′ + xy ′ − 2y = 0

b) x3 y ′′ + x2 y ′ + 4y = 0

c) (x2 − 9)2 y ′′ + (x + 3)y ′ + 2y = 0

d) (x2 + x − 6)y ′′ + (x + 3)y ′ + (x − 2)y = 0

e) x2 (x − 5)2 y ′′ + 4xy ′ + (x2 − 25)y = 0

f) (x2 − 4)2 y ′′ + 3(x − 2)y ′ + 5y = 0.

2. Determine a solução geral das seguintes equações de Euler. (assuma x > 0)

a) x2 y ′′ + 5xy ′ + 3y = 0 b) x2 y ′′ + 3xy ′ − 4y = 0
c) 4x2 y ′′ + 4xy ′ − y = 0 d) x2 y ′′ + 5xy ′ + 4y = 0
e) x3 y ′′′ + xy ′ − y = 0 f) 2x2 y ′′ + 5xy ′ + y = x2 − x
g) x2 y ′′ − 2xy ′ + 2y = x4 ln(x)

3. Aplique o método de Frobenius para determinar soluções das equações diferenciais abaixo.

a) 2xy ′′ − y ′ + 2y = 0

b) 3xy ′′ + (2 − x)y ′ − y = 0

c) 2x2 y ′′ − xy ′ + (x2 + 1)y = 0

d) 2x2 y ′′ + 3xy ′ + (2x − 1)y = 0

e) x2 y ′′ + xy ′ + (x − 1)y = 0

f) x2 y ′′ − xy ′ + (x + 2)y = 0

Respostas

2. a) φ1 (x) = x−1 e φ2 (x) = x−3


√ √
5−1 5−1
b) φ1 (x) = x e φ2 (x) = x−
Cap.5 Soluções analı́ticas 84

c) φ1 (x) = x1/2 e φ2 (x) = x−1/2

d) φ1 (x) = x−2 e φ2 (x) = x−2 ln(x)

e) φ1 (x) = x, φ2 (x) = x ln(x) e φ3 (x) = x ln2 (x)


1 2
f) y(x) = 15
x − 61 x + c1 x−1 + c2 x−1/2 .

g) y(x) = 16 x4 ln(x) − 5 4
36
x + c1 x + c2 x2

3. a) φ1 (x) = 1 + 2x − 2x2 + 94 x3 − 2 4
45
x + ... e
3/2 2 2 2 4

φ2 (x) = x 1− 5
x + 35
x − 945
x3 + ...
1 2
b) φ1 (x) = 1 + 21 x + 10 1 3
x + 80 1
x + 880 x4 + . . . e

φ2 (x) = x1/3 1 + 13 x + 181 2 1
x + 162 1
x3 + 1944 x4 + . . .
√ 
1
c) φ1 (x) = x 1 − 16 x2 + 168 x4 + . . . e
1 2 1

φ2 (x) = x 1 − 10 x + 360 x4 + . . .
√ 
2 2
d) φ1 (x) = x 1 − 25 x + 35 4
x − 945 2
x3 + 10395 x4 − . . . e

2 4
φ2 (x) = x−1 1 + 2x − 2x2 + 49 x3 − 45 x + ...

1 2
e) φ1 (x) = x 1 − 13 x + 24 1
x − 360 1
x3 + 8640 x4 + . . . e

φ2 (x) = ln(x)φ1 (x) + x−1 −2 − 2x + 94 x3 − 28825 4
x + ...
 
f) φ1 (x) = x cos ln(x) 1 − 51 x − 40
1 2 3
x + 520 x3 − . . . − x sin ln(x) 52 x − 40
3 2 7
x + 1560 x3 − . . . e
 
1 2
φ2 (x) = x sin ln(x) 1 − 15 x − 40 3
x + 520 x3 − . . . + x cos ln(x) 52 x − 403 2 7
x + 1560 x3 − . . .
Capı́tulo 6

Transformada de Laplace

6.1 Transformadas integrais

Em geral, transformadas integrais são funções definidas pela regra


Z b
ˇ
f (s) = K(s, t)f (t)dt (6.1)
a

onde f é uma função definida e integrável sobre [a, b] e K(s, t) é uma função de duas variáveis
chamada núcleo da transformada. O domı́nio da transformada fˇ é o conjunto de valores de
s para os quais t 7→ K(s, t)f (t) é integrável sobre [a, b].

6.2 Transformada de Laplace

Seja f : [0, ∞) → R uma função integrável à Riemann e considere o conjunto


 Z ∞ 
−st
Df = s ∈ R / e f (t)dt converge
0

Suponha que Df 6= ∅

Definição 6.2.1 A transformada de Laplace de f é a função F : Df → R definida por


Z ∞
F (s) = e−st f (t)dt (6.2)
0

85
Cap.6 Transformada de Laplace 86

Observação 6.2.2 Recordemos o conceito de integral imprópria como sendo um limite


Z ∞ Z b
g(t)dt = lim g(t)dt
0 b→∞ 0

Notação: F = L{f }, Y = L{y}, etc...


2
Nem toda função possui Df 6= ∅. Com efeito, seja f (x) = ex . Note que, para todo s ∈ R
2
fixado a seqüência numérica en −sn não converge a zero e consequentemente sua série diverge.
Assim, Z ∞
2
e−sx ex dx também diverge
0

Definição 6.2.3 Dizemos que f : [0, ∞) → R é de ordem exponencial se existem constante


positivas M e k tais que
|f (x)| ≤ Mekx para 0 ≤ x < ∞ (6.3)

Definição 6.2.4 Uma função f : [a, b] → R é contı́nua por partes se existir uma partição
{a = x0 < x1 < . . . < xn = b} do intervalo [a, b] onde f é contı́nua sobre cada subintervalo
aberto (xi−1 , xi ) e os limites laterais

lim f (x) existem para todo i = 0, . . . , n


x→x±
i

Definição 6.2.5 Uma função f : [0, ∞) → R é dita admissı́vel se f é de ordem exponencial


e contı́nua por partes sobre cada subintervalo finito de [0, ∞).

Proposição 6.2.6 Se f é uma função admissı́vel tal que |f (x)| ≤ Mekx então (k, +∞) ⊆
Df .

Prova: Da continuidade por partes segue que f é integrável sobre todo intervalo do tipo
[0, b] com b > 0. Além disso,
Z b Z b
M  b→∞ M
−sx
e |f (x)|dx ≤ Me(−s+k)x dx = e(k−s)b − 1 −→
0 0 −s + k s−k
desde que s > k. Assim, a integral imprópria é absolutamente convergente para todo s > k.
Isso mostra que (k, +∞) ⊆ Df .
Cap.6 Transformada de Laplace 87

A demonstração acima também nos dá a estimativa


M
|F (s)| ≤
s−k
por onde deduzimos que a transformada de uma função admissı́vel é de ordem s−1 .

Proposição 6.2.7 Se f é admissı́vel então a integral


Z x
g(x) = f (t)dt
0

também é admissı́vel.

Prova: As desigualdades
Z x Z x
M kx
|g(x)| ≤ |f (t)| dt ≤ M ekt dt = (e − 1) < M ′ ekx
0 0 k
mostram que g é de ordem exponencial. E por construção g é contı́nua por partes. Logo, g
também é admissı́vel e sua transformada está definida para todo s > k.

Denotando por F o espaço vetorial de funções admissı́veis sobre [0, ∞] é fácil ver que L
é uma transformação linear definida sobre F , isto é

L{λf1 + f2 } = λL{f1 } + L{f2 }

para quaisquer λ ∈ R e f1 , f2 ∈ F . Aplicando o teorema de aproximação polinomial de


Weierstrass pode-se mostrar que se h ∈ ker{L} então h(x) = 0 para todo x exceto pos-
sivelmente nos pontos onde h é descontı́nua. Assim, se f, g ∈ F são tais que L{f } = L{g}
então f = g exceto possivelmente nos pontos de descontinuidade. Podemos então inverter à
esquerda o processo da transformada e falar na transformada inversa de F (s) como sendo a
função f (x) tal que L{f } = F.

Como exemplo vamos calcular algumas transformadas de funções úteis à resolução de


e.d.o.’s.

Exemplo 6.2.8 f (x) = 1


Z b b
−e−sx −e−sb 1 b→∞ 1
e−sx 1dx = = + −→
0 s 0 s s s
1
⇒ L{1} =
s
Cap.6 Transformada de Laplace 88

Exemplo 6.2.9 f (x) = ekx Considere s > k.


Z b Z b b
−sx kx −e−(s−k)x −e−(s−k)b 1 b→∞ 1
e e dx = e−(s−k)x dx = = + −→
0 0 s−k 0 s−k s−k s−k

1
⇒ L{ekx } = para s > k
s−k

Exemplo 6.2.10 f (x) = exp[(k + ωi)x]. Admitindo s > k temos


Z b Z b b
exp[(−s + k + iω)x]
exp(−sx) exp[(k + ωi)x]dx = exp[(−s + k + iω)x]dx = =
0 0 −s + k + iω 0

e(−s+k)b [cos(ωb) + i sin(ωb)] 1 b→∞ 1


− −→
−s + k + iω −s + k + iω s − k − iω
s−k ω
⇒ L{ekx cos(ωx) + iekx sin(ωx)} = 2 2
+i (6.4)
(s − k) + ω (s − k)2 + ω 2
Igualando as partes real e imaginária da identidade (6.4) obtemos as fórmulas

s−k ω
L{ekx cos(ωx)} = e L{ekx sin(ωx)} =
(s − k)2 + ω 2 (s − k)2 + ω 2

Exemplo 6.2.11 (Transformada de derivadas) Seja f derivável em (0, +∞) e contı́nua


em [0, ∞). Suponha que f ′ é admissı́vel. Então f é admissı́vel pois trata-se da primitiva de
f ′ (6.2.7). Agora, fazendo integração por partes temos que
Z b Z b Z b
−sx ′ −sx b −sx −sb +
e f (x)dx = e f (x) + s 0
e f (x)dx = e f (b) − f (0 ) + s e−sx f (x)dx
0 0 0

Passando o limite quando b → ∞ obtemos a fórmula

L{f ′ }(s) = sL{f }(s) − f (0+ ) (6.5)

Suponha que f é duas vezes derivável e ′′


é admissı́vel. Então

L{f ′′}(s) = sL{f ′ }(s) − f ′ (0+ ) = s2 L{f }(s) − sf (0+ ) − f ′ (0+ ) (6.6)

Generalizando, se f é n vezes derivável e f (n) é admissı́vel então pode-se provar por indução
a seguinte fórmula

L{f (n) }(s) = sn L{f }(s) − sn−1 f (0+ ) − sn−2 f ′ (0+ ) . . . − f (n−1) (0+ ) (6.7)
Cap.6 Transformada de Laplace 89

n!
Exemplo 6.2.12 f (x) = xn . Nesse caso f (j) (x) = (n−j)!
xn−j para j = 0, . . . , n. Aplicando
a fórmula (6.7) temos
L{n!}(s) = sn L{f }(s)
n!
⇒ L{f }(s) =
sn+1
Rx
Exemplo 6.2.13 g(x) = 0
f (τ ) dτ . Aplicamos de novo a fórmula (6.5) para g

L{g ′}(s) = sL{g}(s) − g(0+ )


1
⇒ L{g}(s) = L{f }(s)
s

Para demais fórmulas de transformadas consulte uma tabela.

6.3 Equações diferenciais ordinárias lineares com coe-


ficientes constantes

Considere o problema de valor inicial

y ′′ + by ′ + cy = f (x) (6.8)

sujeita a y(0) = y0 e y ′ (0) = y1 . Aplicando a transformada de Laplace à equação e usando


(6.7) obtemos
(s2 + bs + c)Y (s) − (s + b)y0 − y1 = F (s)

donde
F (s) + (s + b)y0 + y1
Y (s) = (6.9)
s2 + bs + c
Calculando a transformada inversa de Y (s) obtemos a solução y(x) do problema (6.8).

Exemplo 6.3.1 Resolver o problema

y ′′ + y ′ − 6y = 0, y(0) = 1 y ′(0) = −1 (6.10)

Sol.: Aplicando a transformada de Laplace obtemos


s
(s2 + s − 6)Y (s) − (s + 1)1 − (−1) = 0 ⇒ Y (s) =
s2 +s−6
Cap.6 Transformada de Laplace 90

Para obter y(x) faz necessário decompor Y (s) em frações parciais a fim de simplificar os
cálculos de inversão. Fazendo as contas chegamos a
3 2
s 5 5
Y (s) = = +
s2 + s − 6 s+3 s−2
donde
3 2
y(x) = e−3x + e2x
5 5

Exemplo 6.3.2 Resolver o problema

y ′′ + y = x, y(0) = 1 y ′(0) = −2 (6.11)

Sol.: Aplicando a transformada de Laplace obtemos

1 s3 − 2s2 + 1
(s2 + 1)Y (s) − s + 2 = ⇒ Y (s) =
s2 s2 (s2 + 1)

Novamente, devemos decompor Y (s) em frações parciais

s3 − 2s2 + 1 1 s 3
Y (s) = = + −
s2 (s2 + 1) s2 s2 + 1 s2 + 1

donde y(x) = x + cos x − 3 sin x.


Cap.6 Transformada de Laplace 91

Lista de Exercı́cios VIII


1. A função f (x) = xx é de ordem exponencial? Sugestão: xx = ex ln x .

2. Use a fórmula (6.2) para calcular a transformada de Laplace de f quando


 
−a, se 0 ≤ x < 1 x, se 0 ≤ x < 1
a) f (x) = b) f (x) =
a, se x ≥ 1 1, se x ≥ 1

0, se 0 ≤ x < π2
c) f (x) = d) f (x) = x cos x
cos x, se x ≥ π2

3. Mostre que, se L{f } = F (s) e a ∈ R então

L{eax f (x)} = F (s − a) (6.12)

4. Agora faça uso das propriedades da transformada de Laplace para calcular L{f } quando

a) f (x) = x5 b) f (x) = (x + 2)3 c) f (x) = sinh x


2
d) f (x) = ex − e−x e) f (x) = cos(5x) + e−2x sin(3x) f) f (x) = ex cosh x

g) f (x) = sin(2x) cos(2x) h) f (x) = cos2 (ax) i) f (x) = cos3 (x)

5. A função gama Γ : R+ → R é definida pela regra


Z ∞
Γ(α) = xα−1 e−x dx (6.13)
0

Demonstre as fórmulas
Γ(α + 1)
a) Γ(α + 1) = αΓ(α) b) L{xα } = , α > −1
sα+1
 √
6. Dado que Γ 12 = π aplique o exercı́cio 5. para calcular a transformada das funções
abaixo
a) f (x) = x−1/2 b) f (x) = x1/2 c) f (x) = x3/2

7. Use a fórmula (6.6) para calcular L{ex sin x}.

8. Use a técnica de frações parciais para calcular a transformada inversa.


s s−3
a) F (s) = b) F (s) =
s2 + 2s − 3 s2 − 3
Cap.6 Transformada de Laplace 92

2s − 4 6s + 3
c) F (s) = d) F (s) =
(s2 + s)(s2 + 1) s4 + 5s2 + 4

9. Resolva os problemas de valor inicial aplicando a transformada Laplace

a) y ′ + y = e−3x cos(2x), y(0) = 0

b) y ′′ + 5y ′ + 4y = 0, y(0) = 1 y ′(0) = 0

c) y ′′ − y ′ − 6y = 3x2 + x − 1, y(0) = −1 y ′(0) = 6

d) 2y ′′′ + 3y ′′ − 3y ′ − 2y = e−x , y(0) = 0 y ′ (0) = 0 y ′′ (0) = 1

e) y ′′′ + y ′′ + 4y ′ + 4y = −2, y(0) = 0, y ′(0) = 1, y ′′ (0) = −1

Respostas

1. Não.
−s −1 1−e−s −sπ/2 s2 −1
2. a) F (s) = a 2e s
b) F (s) = s2
c) F (s) = − es2 +1 d) F (s) = (s2 +1)2
.
120 6 12 12 8 1
4. a) F (s) = s6
b) F (s) = s4
+ s3
+ s2
+ s
c) F (s) = s2 −1

8 s 3 s−1
d) F (s) = s3 −4s
e) F (s) = s2 +25
+ (s+2)2 +9
f) F (s) = (s−1)2 −1

2 s2 +2a2 s(s2 +7)


g) F (s) = s2 +16
h) F (s) = s(s2 +4a2 )
i) F (s) = (s2 +1)(s2 +9)
pπ √ √
π 3 π
6. a) F (s) = s
b) F (s) = 2s3/2
c) F (s) = 4s5/2

ex +3e−3x
√ √ √
8. a) f (x) = 4
b) f (x) = cosh( 3x) − 3 sinh( 3x)

c) f (x) = −4 + 3e−x + cos(x) + 3 sin(x) d) f (x) = −2 cos(2x) − 21 sin(2x) + 2 cos(x) + sin(x)

9. a) y(x) = 41 e−x − 14 e−3x cos(2x) + 14 e−3x sin(2x) b) y(x) = 31 [4e−x − e−4x ]


2
c) y(x) = − x2 + 45 e3x − 95 e−2x d) y(x) = − 89 e−x/2 + 91 e−2x + 5 x
18
e + 21 e−x

e) y(x) = − 12 + 15 e−x + 3
10
cos(2x) + 53 sin(2x)
Cap.6 Transformada de Laplace 93

6.4 Funções degrau

Definição 6.4.1 Para cada c ≥ 0 definimos a função degrau unitária pela regra

0, se x < c
uc (x) = (6.14)
1, se x ≥ c

Exemplo 6.4.2 Esboce o gráfico de y(x) = u3 (x) − u2 (x) + u1 (x).


Pela definição temos que 
 0, se x<1

1, se 1≤x<2
y(x) =
 0,
 se 2≤x<3
1, se 3≤x

0 1 2 3 x

Figura 6.1: Gráfico de y(x)

A transformada de Laplace para a função degrau é

e−cs
L{uc } = , s>0 (6.15)
s
Uma das utilidades da função degrau é a translação de gráficos. Com efeito, o gráfico da
função 
0, se 0 ≤ x < c
g(x) = uc (x)f (x − c) =
f (x − c), se x ≥ c
é construı́do a partir do gráfico de f deslocado c unidades para direita.

Proposição 6.4.3 Seja c > 0 uma constante positiva. Se existe F (s) = L{f } para s > k
então
L{uc (x)f (x − c)} = e−cs F (s) para s > k (6.16)
Cap.6 Transformada de Laplace 94

f g

f(0) f(0)

x c x

Figura 6.2: translação de gráficos

Prova: Tomando b > c podemos escrever que


Z b Z b Z b−c
−sx −sx
e uc (x)f (x − c)dx = e f (x − c)dx = e−s(z+c) f (z) dz
0 c 0
Z b−c
= e−sc e−sz f (z) dz
0
Assim, podemos fazer b → ∞ em ambas as integrais obtendo
Z ∞ Z ∞
−sx −sc
e uc (x)f (x − c)dx = e e−sx f (x)dx
0 0

Exemplo 6.4.4 Calcule a transformada de Laplace para



sin x, se 0 ≤ x < 2π
f (x) = (6.17)
sin x + cos x, se x ≥ 2π

Sol.: Basta observar que f (x) = sin x + u2π (x) cos x = sin x + u2π (x) cos(x − 2π). Aplicando
L temos
1 s 1 + se−2πs
F (s) = 2 + e−2πs 2 =
s +1 s +1 s2 + 1

Exemplo 6.4.5 Calcule a transformada inversa de


1 − e−2s
F (s) = (6.18)
s2
Sol.:
1 1
F (s) = 2
− e−2s 2 ⇒ f (x) = x − u2 (x)(x − 2)
s s
donde 
x, se 0 ≤ x < 2
f (x) =
2, se x ≥ 2
Cap.6 Transformada de Laplace 95

Observação 6.4.6 E se F (s) fosse dada por F (s) = (1 − e2s )/s2 ? Existiria uma função
admissı́vel f tal que L{f } = F ?

Exemplo 6.4.7 (Uma e.d.o. com termo não-homogêneo descontı́nuo) Seja f


dada por 
1, se π ≤ x < 2π
f (x) =
0, se 0 ≤ x < π e x ≥ 2π
Resolva o problema de valor inicial

y ′′ + 4y = f (x), y(0) = 1 y ′ (0) = 0 (6.19)

Sol.: Primeiramente veja que f (x) = uπ (x) − u2π (x). Aplicando L sobre a e.d.o. temos

e−πs e−2πs
(s2 + 4)Y (s) − sy(0) − y ′(0) = −
s s
s e−πs e−2πs
⇒ Y (s) = + −
s2 + 4 s(s2 + 4) s(s2 + 4)
Usando frações parciais calcula-se que
 
1 1 1 s
2
= − 2
s(s + 4) 4 s s +4

Logo, vem que


   
s e−πs 1 s e−2πs 1 s
Y (s) = 2 + − 2 − − 2
s +4 4 s s +4 4 s s +4

donde, pela fórmula (6.16) obtemos


1
y(x) = cos(2x) + {uπ (x)[1 − cos 2(x − π)] − u2π (x)[1 − cos 2(x − 2π)]}
4
1
y(x) = cos(2x) + f (x)[1 − cos(2x)]
4

 cos(2x), se 0 ≤ x < π
3 1
y(x) = 4 cos(2x) + 4 , se π ≤ x < 2π

cos(2x), se x ≥ 2π
Exercı́cio: Mostre que y(x) acima é de classe C 1 mas não é de classe C 2 .
Cap.6 Transformada de Laplace 96

Lista de Exercı́cios IX
1. Calcule a transformada inversa para
e−2s e−πs
a) F (s) = b) F (s) =
s3 s2 + 1
se−πs/2 e−2s
c) F (s) = d) F (s) =
s2 + 4 s2 (s − 1)

2. Calcule a transformada de Laplace para

a) f (x) = (x − 1)u1(x) b) f (x) = e2−x u2 (x)

c) f (x) = (3x + 1)u1 (x) d) f (x) = cos(2x)uπ (x)

3. Escreva as funções abaixo em termos da função degrau e em seguida calcule suas trans-
formadas
( 1, se 0 ≤ x < 4 
0, se 0 ≤ x < 1
a) f (x) = 0, se 4 ≤ x < 5 b) f (x) =
x2 , se x ≥ 1
1, se x ≥ 5
 
sin x, se 0 ≤ x < 2π x, se 0 ≤ x < 2
c) f (x) = d) f (x) =
0, se x ≥ 2π 0, se x ≥ 2

4. Resolva os problemas de valor inicial.



′ 0, se 0 ≤ x < 1
a) y + y = f (x), y(0) = 0 onde f (x) =
5, se x ≥ 1

x, se 0 ≤ x < 1
b) y ′ + 2y = f (x), y(0) = 0 onde f (x) =
0, se x ≥ 1
c) y ′′ + 4y = sin(x)u2π (x),y(0) = 1 y ′ (0) = 0
( 0, se 0 ≤ x < π
d) y ′′ + y = f (x), y(0) = 0 y ′ (0) = 1 onde f (x) = 1, se π ≤ x < 2π
0, se x ≥ 2π
e) y ′′ + 4y ′ + 3y = 1 − u2 (x) − u4 (x) − u6 (x), y(0) = 0 y ′ (0) = 0

5. Uma função f : R → R é dita periódica de perı́odo T > 0 se f (x + T ) = f (x) para todo


x ∈ R. Mostre que, se f é admissı́vel e perı́odica de perı́odo T então
Z T
1
L{f } = e−sx f (x)dx (6.20)
1 − esT 0
Cap.6 Transformada de Laplace 97

0 1 2 3

Figura 6.3: Onda quadrada.

6. Use a fórmula (6.20) para calcular a transformada da função onda quadrada cujo gráfico
é esboçado na figura (6.3).

Respostas
1 2

1. a) f (x) = 2
x − 2x + 2 u2 (x) b) f (x) = −uπ (x) sin(x)

c) f (x) = uπ/2 (x) cos(2x − π) d) f (x) = u2 (x) (1 − x + ex−2 )


e−s e−2s 4 3
 se−sπ
2. a) F (s) = s2
b) F (s) = s+1
c) F (s) = e−s s
+ s2
d) F (s) = s2 +4

3. a) f (x) = 1 − u4 (x) + u5 (x); F (s) = (1 − e−4s + e−5s ) /s


1 2 2

b) f (x) = x2 u1 (x); F (s) = e−s s
+ s2
+ s3

1−e−2sπ
c) f (x) = (1 − u2π (x)) sin x; F (s) = s2 +1

1 −2s
d) f (x) = (1 − u2 (x))x; F (s) = s2
− (2s + 1) e s2
x
4. a) y(x) = 5(1 − e1−x )u1 (x) b) y(x) = 2
− 41 (1 − e−2x ) − 14 u1 (x)[1 − e−2(x−1) + 2(x − 1)]

c) y(x) = 61 u2π (x)(2 sin(x) − sin(2x)) + cos(2x)

d) y(x) = (1 + cos x)uπ (x) − (1 − cos x)u2π (x) + sin(x)


−x −3x 
e) y(x) = e −e2
− 61 (2 + e−3(x−2) − 3e−x+2 )u2 (x) + (2 + e−3(x−4) − 3e−x+4 )u4 (x)

+(2 + e−3(x−6) − 3e−x+6 )u6 (x)
1
6. F (s) = s(1+e−s )
.
Cap.6 Transformada de Laplace 98

6.5 Produto de transformadas e convolução

Sejam f e g duas funções admissı́veis e F (s) e G(s) suas respectivas transformadas de Laplace.

Definição 6.5.1 A convolução de f e g é a função definida em [0, ∞) pela regra


Z x
(f ∗ g)(x) = f (τ )g(x − τ ) dτ (6.21)
0

É fácil verificar que se f e g são funções admissı́veis então f ∗ g também é admissı́vel.

Proposição 6.5.2 Propriedades da convolução


a) f ∗ g = g ∗ f
b) f ∗ (g ∗ h) = (f ∗ g) ∗ h
c) f ∗ (g + h) = f ∗ g + f ∗ h
d) L{f ∗ g} = L{f }L{g} = F (s)G(s)

Prova: a) Fazendo a mudança de variáveis τ = x − ξ temos


Z x Z 0
(f ∗ g)(x) = f (τ )g(x − τ ) dτ = − f (x − ξ)g(ξ) dξ
0 x
Z x
= g(ξ)f (x − ξ) dξ = (g ∗ f )(x)
0

b) Por definição
Z x Z x−v 
[f ∗ (g ∗ h)](x) = f (v) g(u)h(x − v − u) du dv =
0 0
Z x Z x−v  Z x Z x−v
f (v) g(x − v − u)h(u) du dv = f (v)g(x − v − u)h(u) du dv =
0 0 0 0
ZZ
f (v)g(x − v − u)h(u) du dv
A2

onde A2 = {(u, v) ∈ R2 : u, v ≥ 0 e u + v ≤ x}.

Vamos chamar ψ(u, v) = f (v)g(x − v − u)h(u) e definir a mudança de variáveis

T (ξ, τ ) = (x − τ, ξ) = (u, v)

Temos então que A2 = T (A1 ) onde A1 = {(ξ, τ ) ∈ R2 : 0 ≤ ξ ≤ τ ≤ x}.


Cap.6 Transformada de Laplace 99

t v

x x
A1 T
t v
A2
0 t x x 0 x-v x u

Figura 6.4: Transformação (ξ, τ ) 7→ (u, v)

Usando a fórmula de mudança de variáveis temos que


ZZ ZZ
ψ(u, v) du dv = ψ(T (ξ, τ ))| det(DT )| dξ dτ =
A2 A1
Z x Z τ Z x Z τ 
f (ξ)g(x − ξ − x − τ )h(x − τ ) dξ dτ = f (ξ)g(τ − ξ) dξ h(x − τ ) dτ =
0 0 0 0

[(f ∗ g) ∗ h](x)
c) Novamente, usando a fórmula (6.21) temos
Z x Z x
[f ∗ (g + h)](x) = f (τ )(g + h)(x − τ ) dτ = f (τ )[g(x − τ ) + h(x − τ )] dτ =
0 0
Z x Z x
f (τ )g(x − τ ) dτ + f (τ )h(x − τ ) dτ = (f ∗ g)(x) + (f ∗ h)(x)
0 0

d) Sabemos que
Z ∞ Z b
−sτ
F (s) = e f (τ ) dτ = lim e−sτ f (τ ) dτ
0 b→∞ 0
Z ∞ Z b
G(s) = e−sξ g(ξ) dξ = lim e−sξ g(ξ) dξ
0 b→∞ 0
Fazendo o produto das duas integrais próprias temos
Z b Z b Z b Z b 
−sτ −sξ −sτ −sξ
e f (τ ) dτ e g(ξ) dξ = e f (τ ) e g(ξ) dξ dτ =
0 0 0 0
Z b Z b 
−s(τ +ξ)
f (τ ) e g(ξ) dξ dτ
0 0
Na integral interna fazemos a troca de variáveis x = τ + ξ, dx = dξ e obtemos
Z b Z b  Z b Z b+τ
−s(τ +ξ)
f (τ ) e g(ξ) dξ dτ = e−sx f (τ )g(x − τ )dx dτ =
0 0 0 τ
Cap.6 Transformada de Laplace 100

ZZ
e−sx f (τ )g(x − τ )dx dτ
L
onde L é o losango descrito na figura (6.5) a seguir.

Sendo χL a função caracterı́stica de L temos que a integral acima é igual a


ZZ
χL e−sx f (τ )g(x − τ )dx dτ
[0,b]×[0,2b]

T1 T2
t

0 t b t+ b 2b x

Figura 6.5: losango L = T1 ∪ T2

Pelo teorema de Fubini podemos trocar a ordem de integração e reescrever


ZZ ZZ
−sx
χL e f (τ )g(x − τ ) dτ dx = e−sx f (τ )g(x − τ ) dτ dx =
[0,2b]×[0,b] L
ZZ ZZ
e−sx f (τ )g(x − τ ) dτ dx + e−sx f (τ )g(x − τ ) dτ dx =
T1 T2
Z bZ x Z 2b Z b
−sx
e f (τ )g(x − τ ) dτ dx + e−sx f (τ )g(x − τ ) dτ dx
0 0
|b τ −b
{z }
I(b)

Chegamos então à seguinte identidade


Z b Z b Z b
−sτ −sξ
e f (τ ) dτ e g(ξ) dξ = e−sx (f ∗ g)(x)dx + I(b)
0 0 0

Se tivermos que I(b) → 0 quando b → ∞ então

F (s)G(s) = L{f ∗ g}

Vamos agora mostrar que realmente I(b) → 0 quando b → ∞. Com efeito podemos supor
que
|f (x)| ≤ Mekx e |g(x)| ≤ Mekx
Cap.6 Transformada de Laplace 101

Assim
|f (τ )g(x − τ )| ≤ M 2 ekτ ek(x−τ ) = M 2 ekx

donde ZZ
b2 2 (k−s)b b→∞
|I(b)| ≤ e−sx M 2 ekx dτ dx ≤ M e −→ 0
T2 2
Lembre que na integral de Laplace s > k.

Observação 6.5.3 Uma demonstração alternativa para o item b) é a seguinte: pelo item d)

L{f ∗ (g ∗ h)} = L{f }L{g ∗ h} = F (s)[G(s)H(s)] = [F (s)G(s)]H(s)

= L{f ∗ g}L{h} = L{(f ∗ g) ∗ h}

Sendo a convolução de funções uma função contı́nua temos que f ∗ (g ∗ h) = (f ∗ g) ∗ h.

Considere o problema de valor inicial

y (n) + an−1 y (n−1) + . . . + a1 y ′ + a0 y = f (x) (6.22)

y(0) = y ′(0) = . . . = y (n−1) (0) = 0

Aplicando a transformada de Laplace em (6.22) obtemos

P (s)Y (s) = F (s)

onde P (s) = sn + an−1 sn−1 + . . . + a1 s + a0 . Temos assim


1
Y (s) = F (s)
P (s)

Pela proposição (6.5.2) temos


y(x) = (f ∗ g)(x) (6.23)

onde  
−1 1
g(x) = L .
P (s)
Note que y(x) dada por (6.23) é uma solução particular da equação não-homogênea 6.22. A
solução geral é então
y(x) + yh (x)

onde yh (x) é a solução geral da equação homogênea.


Cap.6 Transformada de Laplace 102

Exemplo 6.5.4 Determine a solução geral da e.d.o.

y (iv) − 4y ′′′ + 6y ′′ − 4y ′ + y = sin(2x) (6.24)

Sol.: Impondo condições iniciais nulas como em (6.22) e aplicando a transformada de Laplace
achamos
2 2 1
(s4 − 4s3 + 6s2 − 4s + 1)Y (s) = ⇒ Y (s) =
s2 +4 s2 + 4 (s − 1)4

A transformada inversa que nos interessa buscamos numa tabela:


 
−1 1 1 4 x
L = x e = g(x)
(s − 1)4 4!

Usando (6.23) temos que


Z x
1
yp (x) = sin(2τ ) (x − τ )4 ex−τ dτ
0 24
A solução geral do problema homogêneo é

yh (x) = (c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 )ex


Z x
1
Resp. y(x) = sin(2τ )(x − τ )4 ex−τ dτ + (c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 )ex
24 0
Cap.6 Transformada de Laplace 103

Lista de Exercı́cios X
1. Calcule 1 ∗ 1 e 1 ∗ 1 ∗ 1.

2. Calcule

a) L{x cos(2x)} b) L{x2 sinh(x)} c) L{1 ∗ x3 } d) L{e2x ∗ sin(x)}

3. Use a fórmula de convolução para calcular a transformada inversa de Laplace das funções
1 1
a) F (s) = b) G(s) = (a 6= b)
s(s2+ 1) (s − a)(s − b)

s2 1
c) H(s) = d) P (s) =
(s2 + 1) s2 (s + 1)

4. Use o sı́mbolo de convolução para escrever a solução geral das equações abaixo

a) y ′′′ + y = ex b) y ′′ + 6y ′ + 13y = cos x

c) y (iv) + y = x d) y ′′ − 4y ′ + 4y = sin x
 √ 2
  √ 2

4 2 1 2 1
Sugestões: λ + 1 = λ + 2 + 2) · λ − 2 +2
 
λ3 + 1 = (λ + 1) (λ − 21 )2 + 34

Respostas

1. 1 ∗ 1 = x e 1 ∗ 1 ∗ 1 = x2 /2.
s2 −4 6s2 +2 6 1
2. a) (s2 +4)2
b) (s2 −1)3
c) s5
d) (s−2)(s2 +1)

3. a) f (x) = 1 − cos x b) g(x) = (ebx − eax )/(b − a) c) h(x) = (x cos x + sin x)/2

d) p(x) = x + e−x − 1
√ √  √  √ 
2 3 3 3 3
4. a) y(x) = 3
sinh(x) ∗ ex/2 sin 2
x + c1 e−x + c2 ex/2 cos 2
x + c3 ex/2 sin 2
x

b) y(x) = 21 cos(x) ∗ [e−3x sin(2x)] + c1 e−3x cos(2x) + c2 e−3x sin(2x)


h √  √ i h √  √ i
2
c) y(x) = 2x ∗ e − 2x/2
sin 2 x ∗ e 2x/2
sin 22 x +
√  √  √  √  √ √  √ √ 
c1 e− 2x/2 cos 22 x + c2 e− 2x/2 sin 22 x + c3 e 2x/2 cos 22 x + c4 e 2x/2 sin 22 x

d) y(x) = sin(x) ∗ [xe2x ] + c1 e2x + c2 xe2x


Capı́tulo 7

Sistema de EDO’s lineares

7.1 Introdução

Abordaremos problemas do tipo

ẋ = ax + by
ẏ = cx + dy

onde x(t) e y(t) são funções de classe C 1 (R) e a, b, c, d ∈ R constantes.

Se denotarmos    
x a b
X= e A=
y c d
então o sistema de equações diferenciais é abreviado para

Ẋ = A · X (7.1)

Neste capı́tulo aprenderemos como integrar esse sistema pelo método de autovalores e da
transformada de Laplace

7.2 Teoria Geral

Sistemas lineares comportam-se de maneira muito previsı́vel e sua teoria é bastante simples
e rica em resultados. Por exemplo, do mesmo jeito que no caso unidimensional, combinação
linear de soluções também é solução.

104
Cap.7 Sistemas lineares 105

Proposição 7.2.1 Se X(t) e Z(t) são soluções de (7.1) então para todos k1 , k2 ∈ R tem-se
que k1 X(t) + k2 Z(t) também é solução.

Prova: Chamando ϕ(t) = k1 X(t) + k2 Z(t) temos que a derivação de ϕ juntamente com o
fato de X e Z serem soluções de (7.1) explicam a dedução

ϕ̇ = k1 Ẋ(t) + k2 Ż(t) = k1 AX(t) + k2 AZ(t) = A(k1 X(t) + k2 Z(t)) = Aϕ.

Além disso, temos o seguinte enunciado de existência e unicidade de soluções

Teorema 7.2.2 Dado o sistema Ẋ = AX, para cada (x0 , y0 ) ∈ R2 existe uma única solução
X(t) = (x(t), y(t)) definida para t ∈ R e tal que X(0) = (x0 , y0 ).

Para o bom entendimento dos corolários deste teorema, faz-se necessário introduzir o
conceito de independência linear

Definição 7.2.3 dois vetores X, Z ∈ R2 são ditos linearmente dependentes se um deles for
múltiplo do outro. Caso contrário eles são ditos linearmente independentes.

Exemplo 7.2.4 (2, 3) e (6, 9) são LD. Enquanto que (2, 3) e (2, 0) são LI.

Observação 7.2.5 O vetor nulo juntamente com qualquer outro vetor formam um par de
vetores linearmente dependentes.

Corolário 7.2.6 Sejam X(t) e Z(t) duas soluções de (7.1). Então X(t) e Z(t) são LI para
todo t ∈ R se, e só se, X(0) e Z(0) são vetores LI.

Prova: Suponha que X(0) e Z(0) sejam LD, isto é, X(0) = kZ(0) para algum k ∈ R.
Considere a função vetorial
ϕ(t) = X(t) − kZ(t).

Por construção temos que ϕ(0) = (0, 0) e pela proposição (7.2.1), ϕ também solução de (7.1).
Ora, a única solução de um sistema linear que se anula num ponto é a solução nula. Logo,
ϕ(t) = 0 para todo t ∈ R o que implica em X(t) = kZ(t) para todo t ∈ R. A recı́proca é
trivial.
Cap.7 Sistemas lineares 106

Corolário 7.2.7 Sejam X(t) e Z(t) duas soluções de (7.1) linearmente independentes.
Então toda solução de (7.1) é combinação linear de X e Z.

Prova: Seja ϕ(t) uma solução (7.1) e denote

v = ϕ(0), u1 = X(0), u2 = Z(0).

Uma vez que u1 e u2 são LI, o sistema linear algébrico

v = ξu1 + ηu2

é possı́vel e determinado tendo portanto uma solução ξ, η ∈ R. Assim, a função vetorial


ξX(t) + ηZ(t) é solução de (7.1) com o mesmo valor inicial de ϕ. Por unicidade temos

ϕ(t) = ξX(t) + ηZ(t) para todo t ∈ R.

Temos assim que a solução geral do sistema (7.1) é da forma

k1 X(t) + k2 Z(t)

onde X e Z são duas soluções LI quaisquer.

Destarte, nosso trabalho terá como foco o cálculo de duas soluções LI de (7.1).

7.3 Alguns conceitos da álgebra linear

Considere uma matriz real A dada por


 
a b
A= .
c d

Definição 7.3.1 Dizemos que λ é um autovalor de A se existe um vetor coluna não-nulo X


tal que
A · X = λX.
Nesse caso, o vetor X é dito um autovetor de A associado ao autovalor λ.

Exemplo 7.3.2
           
1 2 1 1 1 2 2 2
· =3 e · = −2
3 0 1 1 3 0 −3 −3
Cap.7 Sistemas lineares 107

Proposição 7.3.3 Autovetores de uma matriz A associados a autovalores distintos são lin-
earmente independentes.

Prova: Sejam AX = λ1 X e AY = λ2 Y com λ1 6= λ2 . Suponha por absurdo, que Y = kX


para algum k ∈ R não-nulo. Então

A(Y ) = A(kX) ⇒ λ2 Y = λ1 kX

λ2 kX = λ1 kX ⇒ (λ2 − λ1 )X = 0

e como X 6= 0 devemos ter λ1 = λ2 (contradição). Logo, Y e X não são múltiplos um do


outro.

7.3.1 Cálculo de autovetores e autovalores

Para que λ seja um autovalor da matriz A é necessário que exista um vetor X não nulo tal
que
(A − λI)X = 0

Ou seja, o sistema linear cuja matriz principal é A − λI é possı́vel e indeterminado e portanto


seu determinante principal é nulo. Assim, para λ ser um autovalor de A é necessário que

det(A − λI) = 0 (7.2)

Sendo    
a b 1 0
A= e I=
c d 0 1
a equação (7.2) fica
λ2 − (a + d)λ + ad − bc = 0

Definição 7.3.4 o polinômio p(λ) = det(A − λI) é chamado polinômio caracterı́stico de A.


Suas raı́zes são os autovalores de A, os quais podem ser reais e distintos, real de multiplici-
dade dois ou complexos.

Veremos como fica o cálculo dos autovetores em cada uma dessas situações.

• Autovalores reais e distintos: λ1 6= λ2


Cap.7 Sistemas lineares 108

Para cada λj , resolvemos o sistema linear


     
a − λj b x1 0
· =
c d − λj x2 0

e encontramos dois vetores v1 ev2 linearmente independentes tais que

Avj = λj vj .

 
5 9
Exemplo 7.3.5 Para a matriz A = o polinômio caracterı́stico é λ2 − 4λ − 32
3 −1
cujas raı́zes são λ1 = 8 e λ2 = −4. Calculando os autovetores associados a λ1 = 8 temos
      
5−8 9 x1 0 −3x1 + 9x2 = 0
· = ⇒
3 −1 − 8 x2 0 3x1 − 9x2 = 0

donde segue que x1 = 3x2 e x2 ∈ R. Atribuindo x2 = 1 temos v1 = (3, 1).

Procedendo da mesma forma para λ2 = −4, obtemos


      
5 − (−4) 9 x1 0 9x1 + 9x2 = 0
· = ⇒
3 −1 − (−4) x2 0 3x1 + 3x2 = 0

donde segue que x1 = −x2 e x2 ∈ R. Atribuindo x2 = 1 temos v2 = (−1, 1).

• Autovalor real de multiplicidade 2: λ

Resolvemos o sistema linear


     
a−λ b x1 0
· =
c d−λ x2 0

e podemos encontrar dois vetores v1 e v2 linearmente independentes ou apenas um autovetor


linearmente independente. O caso em que surgem dois autovetores linearmente indepen-
dentes para um único autovalor é exclusivo de matrizes múltiplas da identidade.

 
1 9
Exemplo 7.3.6 Para a matriz A = o polinômio caracterı́stico é λ2 − 8λ + 16
−1 7
cuja única raiz é λ = 4. Calculando os autovetores associados a λ = 4 temos
      
1−4 9 x1 0 −3x1 + 9x2 = 0
· = ⇒
−1 7 − 4 x2 0 −x1 + 3x2 = 0

donde segue que x1 = 3x2 e x2 ∈ R. Atribuindo x2 = 1 temos v = (3, 1).


Cap.7 Sistemas lineares 109

• Autovalores complexos e distintos: λ 6= λ̄

Para λ ∈ C, resolvemos o sistema linear


     
a−λ b x1 0
· =
c d−λ x2 0
e encontramos um autovetor com coordendas complexas v = (a1 + b1 ι̇, a2 + b2 ι̇, ) = u1 + ι̇u2
com u1 , u2 ∈ R2 . Uma vez que Av = λv, passando a barra de conjugação sobre a equação
obtemos Āv̄ = λ̄v̄. Mas A é uma matriz real e portanto

Av̄ = λ̄v̄

ou seja, v̄ é autovetor de A associado ao autovalor conjugado λ̄.

Uma informação importante é que sendo v = u1 + ι̇u2 e v̄ = u1 − ι̇u2 linearmente


independentes então as partes real e imaginária destes vetores também são vetores de R2
linearmente independentes
1 1 1 1
u1 = v + v̄ e u2 = v − v̄.
2 2 2ι̇ 2ι̇
 
3 2
Exemplo 7.3.7 Para a matriz A = o polinômio caracterı́stico é λ2 − 2λ + 5
−4 −1
cujas raı́zes são λ1 = 1 + 2ι̇ e λ2 = 1 −2ι̇. Calculando os autovetores associados a λ1 = 1 + 2ι̇
temos
      
3 − (1 + 2ι̇) 2 x1 0 (2 − 2ι̇)x1 + 2x2 = 0
· = ⇒
−4 −1 − (1 + 2ι̇) x2 0 −4x1 − (2 + 2ι̇)x2 = 0
−1 − ι̇
donde segue que x1 = x2 e x2 ∈ C. Atribuindo x2 = −2 temos v1 = (1 + ι̇, −2). E
2
pela análise acima, temos que v2 = (1 − ι̇, −2) é autovetor de A associado a λ2 = 1 − 2ι̇.
Além disso
u1 = (1, −2) e u2 = (1, 0).

7.4 Soluções de um sistema linear de EDO’s

Imitando a integração da equação ẋ = ax em dimensão um podemos iniciar a análise pela


imposição de uma solução da forma

X(t) = eλt · X0 , (X0 6= 0)


Cap.7 Sistemas lineares 110

Assim, se X(t) é solução de (7.1) então

λeλt X0 = Aeλt X0

donde resulta que  


1 0
(A − λI)X0 = 0 com I =
0 1
Ou seja, para que eλt · X0 seja solução de Ẋ = AX, o escalar λ deve ser um autovalor com
autovetor X0 . Reciprocamente, se X0 ∈ R2 \ {(0, 0)} e λ ∈ R são tais que

(A − λI)X0 = 0

então por substituição direta verifica-se que X(t) = eλt X0 é solução do sistema (7.1).

7.4.1 Caso de autovalores reais e distintos

Sejam v e w autovetores associados a autovalores λ1 6= λ2 ∈ R. Pela proposição (7.3.3),


v, w são vetores LI e pelo corolário (7.2.6) as soluções

X(t) = eλ1 t v e Z(t) = eλ2 t w

são LI. Logo, pelo corolário (7.2.7), a solução geral de Ẋ = AX é

ϕ(t) = k1 eλ1 t v + k2 eλ2 t w (7.3)

Exemplo 7.4.1 Calcule a solução do PVI

ẋ = 5x + 9y, x(0) = −2
3x − y,
ẏ = y(0) = −2
 
5 9
Com efeito, os autovalores da matriz A = são λ1 = 8 e λ2 = −4 com autovetores
3 −1
v = (3, 1) e w = (−1, 1), respectivamente. A solução geral é

(x(t), y(t)) = k1 e8t (3, 1) + k2 e−4t (−1, 1).

Impondo as condições iniciais obtemos



3k1 − k2 = −2
k1 + k2 = −2
donde k1 = −1 e k2 == −1. A solução do PVI é

x(t) = −3e8t + e−4t e y(t) = −e8t − e−4t .


Cap.7 Sistemas lineares 111

7.4.2 Caso de autovalores complexos e distintos

Lema 7.4.2 Se ϕ(t) = X(t) + ι̇Z(t) é uma solução complexa de (7.1) então X(t) e Z(t)
também são soluções de (7.1).

Prova: Se ϕ é solução do sistema linear então

ϕ̇ = Ẋ + ι̇Ż = A(X + ι̇Z) = AX + ι̇AZ

donde Ẋ = AX e Ż = AZ.

Seja v = u1 + ι̇u2 um autovetor de A associado ao autovalor λ = a + bι̇ (b 6= 0). Temos


que eλt v e eλ̄t v̄ são soluções complexas LI de (7.1) e pelo lema (7.4.2) suas partes real e
imaginária de eλt v são soluções reais do sistema (7.1).

eλt v = eat+ι̇bt (u1 + ι̇u2 ) = eat (cos bt + ι̇ sin bt)(u1 + ι̇u2 )

= eat (cos bt · u1 − sin bt · u2 ) + ι̇eat (sin bt · u1 + cos bt · u2 )


A solução geral do sistema fica portanto

ϕ(t) = k1 eat (cos bt · u1 − sin bt · u2 ) + k2 eat (sin bt · u1 + cos bt · u2 ) (7.4)

Exemplo 7.4.3 Calcule a solução do PVI

ẋ = 3x + 2y, x(0) = −1
ẏ = −4x − y, y(0) = 2
 
3 2
Com efeito, os autovalores da matriz A = são λ = 1 + 2ι̇ e λ̄ = 1 − 2ι̇ com
−4 −1
autovetores v = (1, −2) + ι̇(1, 0) e v̄ = (1, −2) − ι̇(1, 0), respectivamente. A solução geral é

(x(t), y(t)) = k1 et [cos 2t · (1, −2) − sin 2t · (1, 0)] + k2 et [sin 2t · (1, −2) + cos 2t · (1, 0)].

Impondo as condições iniciais obtemos



k1 + k2 = −1
−2k1 = 2
donde k1 = −1 e k2 = 0. A solução do PVI é

x(t) = −et (cos 2t − sin 2t) e y(t) = 2et cos 2t.


Cap.7 Sistemas lineares 112

7.4.3 Caso de autovalores múltiplos

Admita que a matriz A tenha apenas um autovalor λ com multiplicidade dois. Suponha
ainda que A não é múltipla da matriz identidade, a fim de evitarmos trivialidades.

Ao resolvermos o sistema de equações


     
a−λ b x1 0
· =
c d−λ x2 0

temos que o sistema é possı́vel e indeterminado donde obtém-se uma única direção de au-
tovetores.

Seja v 6= 0 um autovetor associado a λ. Então Av = λv e ϕ(t) = eλt v é uma solução de


Ẋ = AX.

Para determinarmos a outra solução, seja u um vetor qualquer linearmente independente


de v. Proponha uma solução de Ẋ = AX do tipo φ(t) = eλt u + teλt v. Devemos ter

λeλt u + eλt v + λteλt v = eλt Au + teλt Av

Cancelando eλt e usando que Av = λv vem

λu + v = Au ⇒ (A − λI)u = v. (7.5)

Ou seja, calculando um vetor u tal que (A − λI)u = v obtemos uma solução do tipo

φ(t) = eλt u + teλt v.

Para finalizar o cálculo das soluções de Ẋ = AX devemos mostrar que ϕ e φ são LI. Para
isso, basta notar que em t = 0, φ(0) = u e ϕ(0) = v os quais são LI devido à equação (7.5).
A solução geral fica:

X(t) = k1 φ(t) + k2 ϕ(t) = k1 eλt u + (k1 t + k2 )eλt v

Exemplo 7.4.4 Calcule a solução do PVI

ẋ = x + 9y, x(0) = −2
ẏ = −x + 7y, y(0) = 1
Cap.7 Sistemas lineares 113



1 9
Com efeito, o autovalor da matriz A = é λ = 4 com autovetor v = (3, 1). O
−1 7
sistema      
1−4 9 x1 3
· =
−1 7 − 4 x2 1
resume-se a −x1 + 3x2 = 1, donde, fazendo x2 = 1, obtemos u = (2, 1). A solução geral fica

(x(t), y(t)) = k1 e4t (3, 1) + k2 e4t [(2, 1) + t(3, 1)].

Impondo as condições iniciais obtemos



3k1 + 2k2 = −2
(−2, 1) = k1 (3, 1) + k2 (2, 1) ⇒
k1 + k2 = 1

donde k1 = −4 e k2 = 5. A solução do PVI é

x(t) = −2e4t + 15te4t e y(t) = e4t + 5te4t .


Cap.7 Sistemas lineares 114

Lista de Exercı́cios XI
1. Determine as soluções dos seguintes PVI’s:
 
ẋ = 2x − 3y x(0) = 2 ẋ = 2x + 2y x(0) = −1
a) b)
ẏ = x − 2y y(0) = 1 ẏ = x + 3y y(0) = 3
 
ẋ = x + 2y x(0) = 0 ẋ = −6x + 3y x(0) = −2
c) d)
ẏ = 21 x + y y(0) = 2 ẏ = −5x + 2y y(0) = 1
 
ẋ = 4x + 3y x(0) = 1 ẋ = −6x + 4y x(0) = −1
e) f)
ẏ = −3x − 2y y(0) = −2 ẏ = −4x + 2y y(0) = 4
 
ẋ = 19 7
x + 47 y x(0) = 2 16
ẋ = − 11 9
x + 11 y x(0) = −1
g) 1 23 h) 4 28
ẏ = − 7 x + 7 y y(0) = −1 ẏ = − 11 x − 11 y y(0) = 3
 
ẋ = x − 2y x(0) = 2 ẋ = 6x − y x(0) = 1
i) j)
ẏ = x + 3y y(0) = −1 ẏ = 5x + 2y y(0) = −2

2. Resolver os mesmos PVI’s acima pelo método da transformada de Laplace.

Respostas:
1 3 1 1
1. a) x(t) = e−t + et e y(t) = e−t + et
2 2 2 2
8 5 4 5
b) x(t) = − et + e4t e y(t) = et + e4t
3 3 3 3
c) x(t) = −2 + 2e2t e y(t) = 1 + e2t
13 −3t 9 −t 13 15
d) x(t) = − e + e e y(t) = − e−3t + e−t
2 2 2 2
e) x(t) = (1 − 3t)et e y(t) = (−2 + 3t)et

f) x(t) = (−1 + 20t)e−2t e y(t) = (4 + 20t)e−2t

g) x(t) = (2 − 87 t)e3t e y(t) = (−1 − 74 t)e3t


21 14
h) x(t) = (−1 + 11
t)e−2t e y(t) = (3 + 11
t)e−2t

i) x(t) = 2e2t cos(t) e y(t) = e2t [− cos(t) + sin(t)]

j) x(t) = e4t [cos(t) + 4 sin(t)] e y(t) = e4t [−2 cos(t) + 9 sin(t)]


Bibliografia

[1] Zill, D.G., Equações diferenciais com aplicações em modelagem, Cengage Learning,
2011.

[2] Braun, M., Differential Equations and Their Applications: An Introduction to Applied
Mathematics Texts in Applied Mathematics, v. 11, Springer, 4th edition, 1993.

[3] Coddington, E.A., An Introduction to Ordinary Differential Equations, Dover Books on


Mathematics, Dover, 1989.

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