Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
23 de novembro de 2010
1
E-mail: rodney@mat.ufmg.br; homepage: http://www.mat.ufmg.br/∼rodney.
Sumário
1 Séries de Fourier 15
1.1 Propriedades das Funções Seno e Cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.1 Periodicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.2 Relações de Ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.1.3 Produto Interno no Espaço das Funções Quadrado-Integráveis . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2 Cálculo dos coeficientes da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3.1 Funções Contı́nuas por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3.2 O Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.4 Séries de Fourier de Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4.1 Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4.2 Extensões Periódicas Pares e Ímpares de Funções Definidas em Intervalos . . . . . . . 30
1.5 Estimativa dos Coeficientes de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.6 Diferenciação e Integração Termo a Termo da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1
Rodney Josué Biezuner 2
2.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Se ϕ(x, t) < 0, o calor está fluindo para a esquerda. A quantidade total de calor que entra na fatia por
unidade de tempo é dada pela diferença entre a quantidade de calor que entra pela seção transversal em x
e a quantidade de calor que sai pela seção transversal em x + ∆x, isto é,
4
Rodney Josué Biezuner 5
É claro que calor pode sair da fatia pela seção transversal em x (se ϕ(x, t) < 0), assim como calor pode
entrar na fatia pela seção transversal em x + ∆x (se ϕ(x + ∆x, t) < 0); se a diferença acima for negativa,
então o resultado final é que calor sai da fatia.
Figura 0.1
Esta quantidade de calor total que entra ou sai da fatia por instante de tempo pode ser calculada em
função das temperaturas nas seções transversais que delimitam a fatia através da Lei de Condução do Calor
de Fourier (esta lei foi empiricamente observada por Fourier no inı́cio do século XIX):
Lei de Condução do Calor de Fourier. Sejam P1 e P2 duas placas formadas de um mesmo material
e de mesma área igual a A, mantidas respectivamente a temperaturas constantes T1 e T2 . Se elas
forem colocadas paralelamente a uma distância d uma da outra, haverá passagem de calor da placa
mais quente para a placa mais fria e a quantidade de calor transferida de uma placa para a outra por
unidade de tempo (ou seja, a taxa de transferência de calor, medida em Joules/s) é dada por
|T2 − T1 |
Φ = kA ,
d
onde k é uma constante especı́fica do material entre as placas, chamada condutividade térmica do
material.
Denotemos
Agora fixe um segmento qualquer da barra entre as posições x = a e x = b. Vamos calcular a quantidade
total de calor Q que entra neste segmento no perı́odo de tempo que vai de t0 até t1 . Esta é a diferença entre
o calor que entra na seção transversal que ocupa a posição x = a e o calor que sai pela seção transversal que
ocupa a posição x = b durante o perı́odo de tempo considerado:
∫ t1 ∫ t1
Q= ϕ(a, t)A dt − ϕ(b, t)A dt
t0 t0
∫t1
= kA[ux (b, t) − ux (a, t)] dt.
t0
Logo, como k é constante (pois assumimos que a barra é feita de um único material homogêneo), temos
∫ t1 ∫ b
Q = kA uxx (x, t) dxdt. (1)
t0 a
Por outro lado, também é observado experimentalmente que a quantidade de calor absorvida por uma
substância em um perı́odo de tempo é diretamente proporcional à massa desta substância e à variação média
de sua temperatura durante o intervalo de tempo considerado:
Q = cm∆u.
A constante de proporcionalidade, denotada por c, depende de cada substância e é chamada o calor especı́fico
da substância; em outras palavras, o calor especı́fico nada mais é que a quantidade de calor necessária para
elevar em um grau a temperatura de uma unidade de massa da substância; no S.I., o calor especı́fico tem
como unidades Joules/kgK. Embora o calor especı́fico de uma substância em geral varie com a temperatura
em que ela se encontra (isto é, c = c(u)), para diferenças de temperaturas não muito grandes o calor especı́fico
é aproximadamente constante.
Aplicamos esta lei empı́rica novamente a um segmento qualquer da barra entre as posições x = a e x = b.
A variação média da temperatura neste segmento da barra no intervalo de tempo que vai de t0 até t1 é
obtida tomando-se a média das variações médias das temperaturas de todos os pontos da barra, ou seja
∫ b
1
∆u = [u(x, t1 ) − u(x, t0 )] dx.
b−a a
Pelo Teorema Fundamental do Cálculo segue que
∫ b [∫ t1 ]
1
∆u = ut (x, t) dt dx.
b−a a t0
sendo m a massa deste segmento e c o calor especı́fico do material que constitui a barra. Escrevendo
m = ρA(b − a), onde ρ é a densidade da barra, e trocando a ordem dos limites de integração, obtemos
∫ t1 ∫ b
Q = cρA ut (x, t) dxdt. (2)
t0 a
Rodney Josué Biezuner 7
Igualando as duas expressões obtidas em (1) e (2) para a quantidade total de calor Q que entra no
segmento da barra entre x = a e x = b no perı́odo de t0 até t1 , obtemos a equação do calor em sua forma
integral:
∫ t1 ∫ b ∫ t1 ∫ b
cρ ut (x, t) dxdt = k uxx (x, t) dxdt.
t0 a t0 a
Mas a, b, t0 , t1 são arbitrários, logo os integrandos são necessariamente iguais e assim obtemos a equação do
calor na sua forma diferencial
ut = Kuxx , (3)
k
onde K = é chamada a difusividade térmica do material. A equação (3) é chamada simplesmente
cρ
a equação do calor e representa a lei de variação da temperatura u(x, t) de uma barra uniforme com
superfı́cie lateral termicamente isolada. Ela descreve como o calor se espalha ou se difunde com o passar do
tempo, um processo fı́sico conhecido como difusão. Outras quantidades fı́sicas também se difundem seguindo
esta mesma equação diferencial parcial (em situações unidimensionais), como por exemplo a concentração de
substâncias quı́micas, tais como perfumes ou polutantes, e por este motivo a equação (3) também é chamada
mais geralmente de equação de difusão.
Observação: A forma diferencial da equação do calor também pode ser obtida mais diretamente. De fato,
diferenciando a lei de Fourier
ϕ(x, t) = −kux (x, t)
em relação a x obtemos
ϕx = −kuxx . (4)
Por outro lado, vimos acima que
∫ t1 ∫ b ∫ t1
Q=− [ϕ(b, t) − ϕ(a, t)]A dt = cρA ut (x, t) dt dx.
t0 a t0
Agora, ao invés de usar a lei de Fourier na integral do lado esquerdo como fizemos acima para obter (1),
usamos o Teorema Fundamental do Cálculo para escrevê-la na forma
∫ t1 ∫ [∫ ]
t1 b
[ϕ(b, t) − ϕ(a, t)]A dt = ϕx (x, t) dx A dt.
t0 t0 a
Logo,
∫ b ∫ t1 ∫ b ∫ t1
− ϕx (x, t) dt dx = cρ ut (x, t) dt dx.
a t0 a t0
Como a, b, t0 , t1 são arbitrários, os integrandos devem ser iguais e portanto obtemos a equação
ϕx = −cρut . (5)
Igualando as expressões (4) e (5) para ϕx , obtemos novamente a equação do calor. No entanto, é sempre
preferı́vel obter a formulação integral, como fizemos anteriormente, e a partir dela obter a formulação difer-
encial. A formulação integral tem a vantagem de valer mesmo em situações em que u não é diferenciável, ou
mesmo descontı́nua.
Rodney Josué Biezuner 8
de modo que
∫ t1 ∫ b
Q=A [k(x)ux (x, t)]x dxdt.
t0 a
Do mesmo modo, pode ocorrer que o calor especı́fico do material que constitui a barra varie com x, assim
como a sua densidade (o que certamente ocorrerá na situação dada acima como exemplo). Logo,
∫ t1 ∫ b
Q=A c(x)ρ(x)ut (x, t) dxdt
t0 a
Portanto, nesta situação, a equação do calor que descreve a variação da temperatura da barra com o passar
do tempo se torna
c(x)ρ(x)ut = [k(x)ux ]x , (6)
Esta equação é chamada a equação do calor na forma divergente.
Pode também ocorrer que exista uma fonte interna de calor em regiões da barra, devida por exemplo a
reações quı́micas, nucleares ou aquecimento elétrico. Denotemos
q(x, t) = quantidade de calor gerada por unidade de volume por unidade de tempo.
À quantidade total de calor Q que entra no segmento da barra entre x = a e x = b no perı́odo de t0 até t1
devido ao fenômeno de condução do calor ao longo da barra, deve ser somada a quantidade de calor gerada
internamente no segmento durante este perı́odo, antes de igualar à expressão obtida em (2) (isso nada mais
é que a lei de conservação do calor, um caso particular da lei de conservação da energia). Pela definição de
q(x, t), este calor gerado internamente é dado por
∫ t1 ∫ b
q(x, t)A dxdt.
t0 a
u(x, 0) = f (x).
Esta é a única condição inicial necessária. Matematicamente, esta necessidade é expressa pelo fato da equação
diferencial parcial (3) possuir uma derivada parcial em relação ao tempo de primeira ordem (como no caso de
equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, em que é necessário saber apenas uma condição inicial,
o valor da função no instante inicial, para se conhecer a solução única da equação).
Além disso, a distribuição de temperaturas na barra ao longo do tempo também deve depender do que
se passa nas extremidades da barra, que podem não estar isoladas termicamente e portanto podem permitir
a entrada ou saı́da de calor, influindo na distribuição de temperaturas da barra com o passar do tempo. As
condições nas extremidades da barra são chamadas de condições de fronteira. Matematicamente, isso se
deve ao fato da equação diferencial parcial (3) depender também da variável x. Podemos imaginar vários
tipos de condições de fronteira para o problema da barra:
u(0, t) = T1 e u(L, t) = T2 .
2. Temperaturas nas extremidades variando com o tempo de acordo com funções conhecidas:
3. Extremidades isoladas termicamente (ou seja, o fluxo de calor através das extremidades é nulo e a
barra está completamente isolada):
ux (0, t) = ux (L, t) = 0.
u(0, t) = 0 e ux (L, t) = 0.
Com uma condição inicial e qualquer uma destas condições de fronteira o problema matemático está
bem posto, admitindo uma única solução, conforme veremos em detalhes em um capı́tulo posterior. Uma
condição do tipo 1 ou 2, em que são dados valores para a solução da equação diferencial parcial na fronteira,
é chamada uma condição de Dirichlet. Uma condição do tipo 3 ou 4, em que são dados valores para a
derivada da solução da equação diferencial parcial na fronteira em relação à variável espacial, é chamada
uma condição de Neumann. Uma condição mista, envolvendo tanto o valor da solução como o de sua
derivada espacial na fronteira, exemplificada pela condição do tipo 5, é chamada uma condição de Robin.
Rodney Josué Biezuner 10
Observação: O fato da equação do calor (3) ter uma derivada parcial em relação à variável x de segunda
ordem não tem nada a ver com o fato de precisarmos de duas condições de fronteira. Este fato é simples-
mente uma conseqüência da fronteira de um segmento ser formada por dois pontos (no caso, a fronteira do
segmento [0, L] é formada pelos pontos 0 e L). Na verdade, essencialmente temos apenas uma condição de
fronteira; o que ocorre é que, no caso de um segmento, a fronteira é desconexa e esta condição de fronteira
é mais facilmente expressa por duas sentenças. Este conceito ficará mais claro quando estudarmos equações
diferenciais parciais em regiões do plano e do espaço.
Uma condição de fronteira de grande interesse prático ocorre quando a barra está em contato com um
fluido em movimento, como ar ou água. Como exemplo desta situação, imagine uma barra quente em
contato com ar mais frio em movimento. Calor deixa a barra, aquecendo o ar, que leva o calor embora,
sendo substituido por ar mais frio, no conhecido processo de convecção. Experimentos mostram que o fluxo
do calor que deixa a barra é proporcional à diferença de temperatura entre a barra e a temperatura exterior:
Tentaremos resolver este problema pelo chamado método de separação de variáveis. No método de
separação de variáveis, supomos que a solução u(x, t) do problema pode ser escrita como o produto de duas
funções de uma variável, uma dependendo apenas de x e a outra dependendo apenas de t:
Esta é apenas uma suposição, que pode ou não ser correta (na verdade, veremos que em geral esta suposição
está errada, mas ainda assim ela nos ajudará a encontrar a solução correta para o problema). A vantagem
de fazer esta suposição é que ela simplifica consideravelmente o problema, transformando um problema de
resolver uma equação diferencial parcial, que não sabemos como fazer, em um problema de resolver uma
Rodney Josué Biezuner 11
equação diferencial ordinária, que sabemos como fazer. De fato, substituindo (10) na equação do calor,
obtemos
F (x)G′ (t) = KF ′′ (x)G(t)
donde
F ′′ (x) 1 G′ (t)
= .
F (x) K G(t)
Note que o lado esquerdo desta equação depende apenas de x, enquanto que o lado direito depende apenas
de t. Isso só pode ser possı́vel se na verdade ambos os lados forem independentes de x e t, isto é,
F ′′ (x) 1 G′ (t)
=σ e =σ
F (x) K G(t)
onde σ ∈ R é uma constante. Portanto o problema se reduz a resolver duas equações diferenciais ordinárias:
• A equação diferencial de segunda ordem
F ′′ (x) − σF (x) = 0 (11)
para 0 < x < L.
• A equação diferencial de primeira ordem
G′ (t) − σKG(t) = 0 (12)
para t > 0.
Vamos resolver primeiro (11). Fazemos isso, apesar dela ser uma equação mais complexa que (12), porque
as condições de fronteira de (9) implicam que F satisfaz as condições
F (0) = F (L) = 0. (13)
De fato, a condição de fronteira u(0, t) = 0 implica que F (0)G(t) = 0 para todo t > 0, o que por sua vez
implica que F (0) = 0 (a menos que G(t) = 0 para todo t, o que significaria que u ≡ 0, uma solução que não
nos interessa, exceto no caso raro em que a condição inicial seja também f ≡ 0); similarmente a condição
de fronteira u(L, t) = F (L)G(t) = 0 implica que F (L) = 0. A condição (13) restringe as soluções de (11), o
que ultimamente limitará os valores possı́veis de σ. Em princı́pio, há três soluções possı́veis, dependendo do
sinal de σ:
1. σ > 0 : Neste caso, a solução geral de (11) é da forma
√ √
F (x) = c1 e σx
+ c2 e− σx
.
Logo, a condição (13) implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
{
c1 + c =0 √
√ 2 .
c1 e σL + c2 e− σL = 0
Mas a única solução deste sistema é c1 = c2 = 0, o que levaria a F ≡ 0 e portanto u ≡ 0, solução que
não nos interessa.
2. σ = 0 : A solução geral de (11) neste caso é da forma
F (x) = c1 x + c2 .
A condição (13) implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
{
c2 = 0
.
c1 L + c2 = 0
cuja única solução também é c1 = c2 = 0 e novamente F ≡ 0, o que não nos interessa.
Rodney Josué Biezuner 12
√
3. σ < 0 : Denotando λ = −σ, a solução geral de (11) neste último caso é da forma
Como não queremos c2 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N pode ser um
inteiro positivo qualquer.
Portanto, para cada valor de n uma solução não nula para o problema (11), (13) é da forma
nπ
Fn (x) = sen x, (14)
L
por este motivo chamada uma autofunção para o problema (11),(13) associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = . (15)
L2
A equação (12) é imediatamente resolvida através de uma integração simples. A solução de (12) é da
forma
G(t) = ceσKt ,
onde c ∈ R é uma constante real. Como os valores de σ para que o problema (9) tenha soluções não nulas
são os dados em (15), segue que para cada valor de n temos uma solução relevante de (12) dada por (a menos
da constante)
n2 π 2
Gn (x) = e− L2
Kt
. (16)
Segue que para cada n = 1, 2, 3, . . ., temos uma função
n2 π 2 nπ
un (x, t) = e− L2
Kt
sen x
L
que é uma solução para a equação diferencial parcial do problema (9) satisfazendo às suas condições de
fronteira.
Por outro lado, precisamos de uma solução que também satisfaça à condição inicial u(x, 0) = f (x). Logo,
as soluções que encontramos só funcionam se a função f (x) tem uma forma muito particular, ou seja, se
f (x) for um múltiplo escalar da função seno. Por exemplo,
π
se f (x) = 3 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 3u1 ;
L
5π
se f (x) = 17 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 17u5 .
L
É óbvio que isso raramente ocorre.
Na verdade, porém, ainda podemos obter soluções para o problema (9) a partir destas soluções se f (x)
for apenas uma combinação linear de senos. Por exemplo,
π 9π
se f (x) = 3 sen x + 25 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 3u1 + 25u9 ;
L L
2π 2 22π √ 901π 2 √
se f (x) = 4 sen x − sen x + 5 sen x, então (9) tem solução u(x, t) = 4u2 − u22 + 5u901 .
L 3 L L 3
Isso é verdade porque a equação do calor é uma equação linear, o que significa que combinações lineares
de soluções da equação diferencial são também soluções da equação diferencial e, além disso, as condições
Rodney Josué Biezuner 13
de fronteira de (9) são homogêneas, logo combinações lineares de soluções que satisfazem as condições
de fronteira continuam satisfazendo as condições de fronteira (isso pode ser imediatamente verificado e é
deixado para o leitor se convencer). Assim, qualquer expressão da forma (isto é, qualquer combinação linear
de soluções)
∑N
u(x, t) = cn un (x, t)
n=1
∑
N
nπ
f (x) = cn sen x,
n=1
L
segue que
∑
N
n2 π 2 nπ
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen x (17)
n=1
L
é uma solução do problema (9).
Mas, na maioria dos casos, f não é uma combinação linear de senos. Então Fourier teve a idéia brilhante
de tomar “combinações lineares infinitas”, isto é, séries infinitas, assumindo que toda função pode ser escrita
como uma série infinita de senos. Em outras palavras, assumindo que podemos escrever toda função f na
forma
∑∞
nπ
f (x) = cn sen x
n=1
L
para certos coeficientes bem determinados cn , o que atualmente chamamos a série de Fourier de f , então o
candidato para solução do problema de valor inicial e de condição de fronteira (9) seria a função
∞
∑ n2 π 2 nπ
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen x. (18)
n=1
L
1. Será que toda função f (x) realmente pode ser escrita como uma série de Fourier?
2. Se a resposta à pergunta anterior for negativa, quais são as funções que possuem séries de Fourier?
Será que elas formam uma classe suficientemente grande para abranger todas ou uma quantidade
significativa das funções que surgem nos problemas práticos?
3. Mesmo que f (x) possa ser representada por uma série de Fourier, será que a série definida acima para
u(x, t) converge para uma função diferenciável em t e duas vezes diferenciável em x que é a solução de
(9)?
Estas perguntas mostram a necessidade de se desenvolver uma teoria para as séries de Fourier. Faremos isso
no próximo capı́tulo.
Observação: Note que nem o candidato à solução (18), e nem mesmo a solução (17), são produtos de duas
funções de uma variável, uma dependendo apenas de x e outra dependendo apenas de t (elas são na realidade
somas de produtos de funções de uma variável, soma finita em um caso, soma infinita no outro). Portanto a
suposição inicial de que partimos no método de separação de variáveis é errada para a maioria das condições
iniciais, a não ser que elas sejam múltiplos de sen(nπx/L). Mas, usando a linearidade da equação do calor,
pudemos usar as soluções obtidas através do método de separação de variáveis e a partir delas construir a
solução para o problema geral. Este é um método frequentemente usado em ciências exatas: simplificar um
problema complexo através de uma suposição simplificadora que em geral não é válida, mas, a partir da
solução para o problema simplificado, construir a solução correta para o problema complicado.
Rodney Josué Biezuner 14
0.3 Exercı́cios
1. Mostre que a equação do calor é linear, isto é, se u1 (x, t) e u2 (x, t) são soluções da equação diferencial
parcial ut = Kuxx , então au1 (x, t) + bu2 (x, t) também é, quaisquer que sejam a, b ∈ R. Além disso, se
elas satisfazem as condições de fronteira homogêneas u(0, t) = u(L, t) = 0, então au1 (x, t) + bu2 (x, t)
também satisfaz.
2. Mostre que a equação mais geral do calor, c(x)ρ(x)ut = [K(x)ux ]x + q(x, t), também é uma equação
linear.
3. Proceda como fizemos no texto e encontre um candidato à solução para o seguinte problema de valor
inicial com condição de fronteira de Neumann homogênea:
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L.
Capı́tulo 1
Séries de Fourier
Para determinar a possibilidade de uma determinada função poder ser expressa como uma série de Fourier,
bem como para obter os coeficientes da série de Fourier da função quando isso ocorrer, precisamos estudar
certas propriedades das funções seno e cosseno.
Claramente, se T é um perı́odo para a função f , então qualquer múltiplo inteiro de T também é um perı́odo
para f : 2T , −2T , 3T , −3T , 4T , −4T , etc. Por exemplo,
1.2 Definição. O menor perı́odo positivo de uma função periódica f é chamado o perı́odo fundamental
de f .
Em geral, o perı́odo fundamental de uma função periódica é chamado simplesmente de o perı́odo da função.
1.3 Exemplo. a) As funções seno e cosseno são periódicas e ambas têm perı́odo 2π.
b) Funções constantes são funções periódicas que não possuem perı́odo fundamental, pois qualquer
número real não nulo é um perı́odo para a função constante, logo não existe um menor perı́odo positivo.
Do mesmo modo, a função {
1 se x é racional,
f (x) =
0 se x é irracional,
é uma função periódica que não possui perı́odo fundamental, pois todo número racional não nulo é um
perı́odo para f (mas observe que números irracionais não são perı́odos para f ).
c) A função f (x) = x − [x], onde [x] é a função piso, isto é, [x] é maior inteiro menor que ou igual a
x, é periódica de perı́odo 1.
15
Rodney Josué Biezuner 16
1.5
0.5
−0.5
−1
−3 −2 −1 0 1 2 3
d) Podemos encontrar uma infinidade de exemplos de funções periódicas, simplesmente definindo uma
função em um intervalo de comprimento T e declarando que ela é periódica de perı́odo T , desta forma
definindo ela na reta toda. Ou seja, suponha que a função f foi inicialmente definida no intervalo I
de comprimento T ; dado x ∈ R, se x ∈ / I determine um inteiro k tal que x + kT ∈ I (k é positivo se x
está localizado à esquerda do intervalo I e negativo se x está à direita de I) e defina
f (x) = f (x + kT ).
Desta forma, definimos uma função f na reta toda que é automaticamente periódica de perı́odo T . Por
exemplo, podemos definir uma função g por
{
−x se − L 6 x < 0,
g(x) =
x se 0 6 x < L,
3
2
1
0
−1
−6 −4 −2 0 2 4 6
Figura 1.2. L = 2.
Para que a definição desta extensão periódica seja consistente, observe que o intervalo I deve ser fechado
em um extremo e aberto no outro ou, se o intervalo I for fechado nos dois extremos, a função deve ter
os mesmos valores nestes extremos.
Com relação aos perı́odos das funções que constituem a série de Fourier, fazemos a seguinte importante
observação:
nπx nπx 2L
1.4 Proposição. As funções sen e cos têm perı́odo fundamental igual a .
L L n
Prova. De fato, na verdade vale a seguinte afirmação mais geral: para qualquer valor α ∈ R, α ̸= 0,
2π
sen αx e cos αx têm perı́odo fundamental igual a .
α
Rodney Josué Biezuner 17
Isso pode ser determinado através do argumento a seguir. Queremos encontrar o menor valor positivo de T
para o qual vale
sen α(x + T ) = sen αx para todo x ∈ R,
ou seja,
sen αx cos αT + cos αx sen αT = sen αx para todo x ∈ R.
Para determinar αT , o que consequentemente determinará T , basta obter os valores de sen αT e cos αT ,
pois um ângulo fica completamente determinado quando se conhece os valores de seu seno e de seu cosseno,
a menos de múltiplos de 2π. Para isso, observamos que a equação acima é válida para qualquer valor de x.
Em particular, substituindo o valor x = 0 na expressão acima, obtemos (já que sen 0 = 0 e cos 0 = 1)
sen αT = 0,
π
e concluı́mos que αT deve ser um múltiplo de π. Agora, substituindo o valor x = na expressão acima,
2α
π π
obtemos (já que sen = 1 e cos = 0)
2 2
cos αT = 1.
Logo, αT é necessariamente um múltiplo de 2π. Como queremos o menor valor positivo de T , segue que
αT = 2π
e, portanto,
2π
T =
.
α
A mesma conclusão vale para a função cos αx, já que a função cosseno nada mais é que a função seno defasada
π/2.
nπx nπx
1.5 Corolário. As funções sen e cos têm um perı́odo em comum, igual a 2L.
L L
Prova. Como qualquer múltiplo inteiro do perı́odo fundamental é um perı́odo, segue do resultado anterior
2L nπx nπx
que n · = 2L é um perı́odo comum para sen e cos .
n L L
y y
1.0 1.0
0.5 0.5
0.0 0.0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
x x
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
sin(x) cos(x)
sin(2*x) cos(2*x)
sin(3*x) cos(3*x)
Estas relações podem ser obtidas através de integração direta e uso das identidades trigonométricas. Por
exemplo, se n ̸= m, escrevemos
∫ L ∫ [ ]
nπx mπx 1 L (n − m)πx (n + m)πx
sen sen dx = cos − cos dx
−L L L 2 −L L L
[ L
11 1 (n − m)πx 1 (n + m)πx
= sen − sen
2π n−m L n+m L −L
= 0.
Se n = m, escrevemos
∫ ∫ ( ∫ [ ]
L
nπx mπx L
nπx )2 1 L 2nπx
sen sen dx = dx =
sen 1 − cos dx
−L L L −L L 2 −L L
[ L
1 L 2nπx
= x− sen
2 2nπ L −L
= L.
das funções definidas no intervalo [a, b] cujo quadrado é integrável, podemos definir um produto interno por
∫ b
⟨u, v⟩ = u(x)v(x) dx.
a
Porque as funções são quadrado-integráveis, a integral acima está bem definida e é finita. De fato, como
para quaisquer A, B ∈ R vale a desigualdade 2AB 6 A2 + B 2 , segue que
∫ b ∫ b ∫ b
1 1
u(x)v(x) dx 6 u2 (x) dx + v 2 (x) dx < ∞.
a 2 a 2 a
Rodney Josué Biezuner 19
ou seja, que a série no lado direito seja convergente e convirja para a função f em todo ponto x ∈ R. O
lado direito da expressão acima é chamado a série de Fourier de f . [O motivo de termos escrito a20 ao
invés de simplesmente a0 ficará claro a seguir.] Em particular, f tem que ser periódica com perı́odo 2L,
nπx nπx
pois este é o perı́odo comum das funções sen e cos ; portanto, funções definidas na reta toda que
L L
não satisfazem esta condição não possuem séries de Fourier. Suponha, além disso, que a função f seja
integrável no intervalo [−L, L] e que a série do lado direito possa ser integrada termo a termo. Das relações
nπx
de ortogonalidade (observando que a função identicamente 1 corresponde a cos para n = 0) segue que
L
∫ L ∫ ∞
( ∫ L ∫ L )
a0 L ∑ nπx nπx
f (x) dx = dx + an cos dx + bn sen dx
−L 2 −L n=1 −L L −L L
= a0 L,
donde
∫ L
1
a0 = f (x) dx. (1.2)
L −L
Os outros coeficientes também podem ser obtidos facilmente explorando as relações de ortogonalidade. Mul-
nπx
tiplicando ambos os lados da equação (1.1) por cos e integrando de −L a L, obtemos
L
∫ L ∫ ∞
( ∫ ∫ L )
nπx a0 L nπx ∑ L
mπx nπx mπx nπx
f (x) cos dx = cos dx + am cos cos dx + bm sen cos dx
−L L 2 −L L m=1 −L L L −L L L
= an L,
donde
∫ L
1 nπx
an = f (x) cos dx. (1.3)
L −L L
[Por este motivo escrevemos o termo constante da série de Fourier na forma a20 : deste modo, a fórmula para
os coeficientes an é a mesma, independente se n = 0 ou n ̸= 0.] Analogamente, multiplicando ambos os lados
nπx
da equação (1.1) por sen e integrando de −L a L, obtemos
L
∫
1 L nπx
bn = f (x) sen dx. (1.4)
L −L L
Rodney Josué Biezuner 20
1.6 Exemplo. Admitindo que existe uma série de Fourier que convirja para a função abaixo, calcule os seus
coeficientes.
−x se − L 6 x 6 0,
f (x) = x se 0 6 x < L,
é periódica de perı́odo 2L.
Solução. Temos
∫ [ ∫ ∫ L ] ( )
L 0
1 1 1 L2 L2
a0 = f (x) dx = − x dx + x dx = + = L.
L −L L −L 0 L 2 2
Os outros coeficientes podem ser calculados através de integração por partes. Temos
∫ [ ∫ ∫ L ]
1 L nπx 1 0
nπx nπx
an = f (x) cos dx = − x cos dx + x cos dx
L −L L L −L L 0 L
[( 0 ∫ 0 ) ( L ∫ L )]
1 L nπx L nπx L nπx L nπx
= − x sen + sen dx + x sen − sen dx
L nπ L −L nπ −L L nπ L 0 nπ 0 L
[ 0 L ]
1 L2 nπx L2 nπx
= − 2 2 cos + 2 2 cos
L n π L −L n π L 0
[ ]
1 L2 L2 L2 L2
= − 2 2 + 2 2 cos nπ + 2 2 cos nπ − 2 2
L n π n π n π n π
2L
= 2 2 (cos nπ − 1)
n π
{
0 se n é par,
= 4L
− 2 2 se n é ı́mpar.
n π
e
∫ [ ∫ ∫ L ]
L 0
1 nπx 1 nπx nπx
bn = f (x) sen dx = − x sen dx + x sen dx
L −L L L −L L 0 L
[( 0 ∫ 0 ) ( L ∫ L )]
1 L nπx L nπx L nπx L nπx
= x cos − cos dx + − x cos + cos dx
L nπ L −L nπ −L L nπ L 0 nπ 0 L
[ 0 L ]
1 L2 L2 nπx L2 L2 nπx
= cos nπ − 2 2 sen − cos nπ + 2 2 sen
L nπ n π L −L nπ n π L 0
= 0.
Portanto,
∞
L 4L ∑ 1 (2n − 1)πx
f (x) = − 2 cos .
2 π n=1 (2n − 1)2 L
Observe que a série do lado direito é convergente em todo ponto x, já que os coeficientes diminuem na
1 (2n − 1)πx ∑∞ 1
razão de , cos 6 1 e a série n=1 n2 é sabidamente convergente.
(2n − 1) 2 L
Veja na Figura 1.3 a seguir os gráficos das somas parciais da série de Fourier de f desde n = 1 até
n = k para k = 1, 2, 3, 4, 5 e 10. Observe como a convergência é bastante rápida. Para k = 10 a soma
parcial da série de Fourier de f é virtualmente indistinguivel de f dentro da resolução utilizada.
Rodney Josué Biezuner 21
k=1 k=2
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
k=3 k=4
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
k=5 k = 10
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
Por outro lado, a convergência é mais lenta nas quinas, isto é, nos pontos onde f não é diferenciável.
Para perceber isso melhor, considere x = L = π, de modo
∞
π 4∑ 1
π= − cos(2n − 1)π
2 π n=1 (2n − 1)2
ou
∑∞
π2 1 1 1 1
= =1+ + + + ...
8 n=1
(2n − 1)2 9 25 49
Rodney Josué Biezuner 22
Enquanto que π = 3.1415926536 é uma aproximação para π com 10 casas decimais, temos:
v
u k 3.141274327
u ∑ 1
se k = 1000,
t8 = 3.141589470 se k = 100000,
(2n − 1)2
n=1 3.141592335 se k = 1000000.
a0 ∑ ( nπx )
∞
nπx
+ an cos + bn sen .
2 n=1
L L
A próxima questão é saber para que pontos x esta série converge e se nestes pontos ela converge para o valor
f (x).
é contı́nua por partes em qualquer intervalo fechado da reta. Seus pontos de descontinuidade são os
pontos com valores inteiros e os limites laterais nestes pontos são −1 e 1.
y
1.0
0.5
−3 −2 −1 1 2 3
−0.5 x
−1.0
Figura 1.5
b) A função
1 se x < 0,
g(x) = 0 se x = 0,
sen 1 se x > 0,
x
não é contı́nua por partes no intervalo [−1, 1] pois não existe o limite lateral à direita em x = 0.
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−0.5 −0.4 −0.3 −0.2 −0.1 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
−0.2 x
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Figura 1.6
c) Similarmente, a função
1
se x < 0,
|x|
h(x) =
0 se x = 0,
1 se x > 0,
não é contı́nua por partes no intervalo [−1, 1], pois não existe o limite lateral à esquerda em x = 0.
Rodney Josué Biezuner 24
y
16
14
12
10
−0.5 −0.4 −0.3 −0.2 −0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
x
Figura 1.7
y
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
−0.03
−0.04
−0.05
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−0.6
−0.8
−1.0
e f periódica de perı́odo 2L. Observe que f satisfaz as hipóteses do teorema de Fourier, já que sua
derivada é a função identicamente nula, exceto nos pontos múltiplos de L, onde a derivada não existe.
Rodney Josué Biezuner 26
y
1.0
0.5
−3 −2 −1 0 1 2 3
x
Figura 1.9: L = 1.
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
Figura 1.10: Gráfico das somas parciais desde n = 1 até n = k para k = 1, 2, 3, 4, 5 (L = π).
Rodney Josué Biezuner 27
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
Para os valores de descontinuidade (x = kL, k ∈ Z), os senos se anulam e a série de Fourier de f tem
valor igual a L/2, exatamente a média dos limites laterais nestes pontos. Nos demais pontos, a série
de Fourier converge para f , mas com uma convergência lenta, já que os seus coeficientes são da ordem
de 1/(2n − 1).
c) (Onda triangular ) Defina g : R −→ R por
{
−x se − L 6 x < 0,
g(x) =
x se 0 6 x < L,
e g periódica de perı́odo 2L. Observe que g é contı́nua e diferenciável por partes (isto é, g ′ é contı́nua
por partes), logo a série de Fourier de g converge para g em todo ponto. A série de Fourier de g foi
calculada no Exemplo 1.6.
1.11 Definição. Uma função real f : R −→ R é par se f (−x) = f (x); f é ı́mpar se f (−x) = −f (x).
nπx 2
1.12 Exemplo. a) As funções constantes, |x|, x2 , x4 , x2n e cos para qualquer n ∈ N, ex , são funções
L
pares.
nπx
b) As funções x, x3 , x2n+1 e sen para qualquer n ∈ N, são funções ı́mpares.
L
c) As funções ex , x2 + x + 1 não são nem pares, nem ı́mpares.
1.13 Proposição. (Propriedades elementares das funções pares e ı́mpares)
(i) A soma de duas funções pares é uma função par; a soma de duas funções ı́mpares é uma função ı́mpar.
(ii) A soma de uma função par e uma função ı́mpar não é par, nem ı́mpar (a não ser que uma delas seja a
função nula).
(iii) O produto de duas funções pares é uma função par; o produto de duas funções ı́mpares é uma função
par.
Rodney Josué Biezuner 28
(iv) O produto de uma função par e uma funções ı́mpar é uma função ı́mpar.
Prova: A verificação destas propriedades é muito fácil: por exemplo, se f e g são ı́mpares, então
(b) Seja f : R −→ R uma função ı́mpar, integrável em qualquer intervalo limitado. Então, para todo L ∈ R
vale ∫ L
f (x) dx = 0.
−L
Prova: Temos ∫ ∫ ∫
L 0 L
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
Como conseqüência destas duas proposições, obtemos que a série de Fourier para uma função par é uma
série de cossenos, enquanto que a série de Fourier para uma função ı́mpar é uma série de senos:
logo
∞
a0 ∑ nπx
f (x) = + an cos .
2 n=1
L
Rodney Josué Biezuner 29
(b) Seja f : R −→ R uma função ı́mpar que satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. Então,
an = 0 para todo n,
∫ L
2 nπx
bn = f (x) sen dx, n = 1, 2, . . . ,
L 0 L
logo
∞
∑ nπx
f (x) = bn sen .
n=1
L
1.16 Exemplo. (Onda em dente de serra) Considere a função f (x) = x, se −L < x < L, f (−L) = f (L) =
0, periódica de perı́odo 2L.
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−3 −2 −1 1 2 3
−0.2 x
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Figura 1.12
y
3
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
−1
−2
−3
Figura 1.13: Gráfico das somas parciais desde n = 1 até n = k para k = 1, 2, 3, 4, 5 (L = π).
y
3
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
−1
−2
−3
100
80
60
40
20
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
x
−20
y
100
80
60
40
20
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−20 x
−40
−60
−80
−100
que é a onda em dente de serra, cuja série de Fourier é a série de senos calculada acima:
∞
2L ∑ (−1)n+1 nπx
f (x) = sen .
π n=1 n L
1
Os coeficientes de Fourier da série de cossenos de f decrescem na ordem de 2 , enquanto que os
n
1
coeficientes de Fourier da série de senos de f decrescem na ordem de . Portanto, a convergência da
n
expansão em cossenos de f é muito mais rápida do que a convergência da expansão em senos de f . Isso
se deve ao fato de que a extensão de f a uma função par é uma função contı́nua na reta toda, enquanto
que a extensão de f a uma função ı́mpar é uma função que possui descontinuidades nos pontos da
forma x = 2kL, k ∈ Z. Em geral, como veremos na seção a seguir, quanto maior a regularidade de f ,
mais rápida é a convergência da sua série de Fourier.
Definindo a constante ∫ L
1
M0 = |f (x)| dx,
L −L
obtemos portanto as seguintes estimativas para os coeficientes de Fourier:
|an | , |bn | 6 M0 para todo n. (1.5)
Como a função é apenas integrável, tudo o que conseguimos obter é que os coeficientes de Fourier são
limitados. A série de Fourier pode nem mesmo convergir. Suponha agora que
2. f é contı́nua e sua derivada f ′ é absolutamente integrável em [−L, L].
Desta vez podemos integrar por partes para obter
∫ ∫ L
1 L nπx 1 nπx L 1 nπx
an = f (x) cos dx = f (x) sen − f ′ (x) sen dx
L −L L nπ L −L nπ −L L
de modo que
∫ L
1 nπx
an = − f ′ (x) sen dx. (1.6)
nπ −L L
Analogamente,
∫ ∫ L
1 L
nπx 1 nπx L 1 nπx
bn = dx = −
f (x) sen f (x) cos + f ′ (x) cos dx
L−L L nπ L −L nπ −L L
∫ L
1 1 nπx
=− (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f ′ (x) cos dx
nπ nπ −L L
Rodney Josué Biezuner 33
de modo que
∫ L
1 nπx
bn = f ′ (x) cos dx. (1.7)
nπ −L L
Denotando os coeficientes de Fourier da derivada f ′ de f por
∫
1 L ′ nπx
a′n = f (x) cos dx,
L −L L
∫
′ 1 L ′ nπx
bn = f (x) sen dx,
L −L L
segue que
L ′
an = − b , (1.8)
nπ n
L ′
bn = a .
nπ n
Como já vimos antes (no passo 1), temos que
c1
|a′n | , |b′n | 6 M para todo n, (1.9)
onde ∫ L
c1 = 1
M |f ′ (x)| dx. (1.10)
L −L
Lc
Portanto, se M1 = M1 , segue que
π
M1
|an | , |bn | 6 para todo n ̸= 0. (1.11)
n
Desta vez, com as hipóteses adicionais sobre f (f mais regular, mais suave), obtivemos que os coeficientes
de Fourier convergem para zero quando n tende a infinito. Isso ainda não assegura que a série de Fourier
converge, é claro. Suponha agora que
3. f e f ′ são contı́nuas e a derivada segunda f ′′ é absolutamente integrável em [−L, L].
Usando o passo 2 acima, temos
L ′′
a′n = − b ,
nπ n
L ′′
b′n = a ,
nπ n
donde
( )
L ′ L L ′′ L
an = − bn = − an = − 2 2 a′′n , (1.12)
nπ nπ nπ n π
( )
L ′ L L L
bn = an = − b′′n = − 2 2 b′′n .
nπ nπ nπ n π
L2 c
Portanto, se M2 = M2 , segue que
π2
M2
|an | , |bn | 6 para todo n ̸= 0. (1.15)
n2
Nestas condições, sem usar o Teorema de Fourier concluı́mos pelo teste da comparação que a série de Fourier
∑∞ 1
converge, pois a série 2
é convergente (mas é claro que isso não permite concluir que a série de Fourier
n=1 n
converge para f ). Além disso, a velocidade de convergência é relativamente rápida, de ordem quadrática.
Procedendo por indução, vemos que quanto mais regular ou suave f for, mais rapidamente os coeficientes
de Fourier convergem para zero e, consequentemente, maior será a velocidade de convergência da série de
Fourier.
Os cálculos acima mostram também que é possı́vel calcular os coeficientes de Fourier das derivadas de
uma função a partir dos coeficientes de Fourier da própria função.
Todos estes resultados são resumidos no teorema a seguir:
1.18 Teorema. (Coeficientes de Fourier das derivadas de uma função) Seja f : R −→ R uma função
periódica de perı́odo 2L, k vezes diferenciável, tal que f, f ′ , f ′′ , ..., f (k−1) são contı́nuas em R e f (k) é
(j) (j)
absolutamente integrável em [−L, L]. Então, se an , bn denotam os coeficientes de Fourier de f (j) ,
temos para 2 6 j 6 k
nπ nπ
a′n = bn b′n = − an
L L
n2 π 2 n2 π 2
a′′n = − an b′′n = − bn
L2 L2
n3 π 3 n3 π 3
a′′′
n =− bn , b′′′
n = an ,
L3 L3
(4) n4 π 4 (4) n4 π 4
an = an , bn = bn ,
L4 L4
.. ..
. .
j j j j
σj n π an
σj+1 n π bn
(j) j
se n é par, (j) j
se n é par,
an = L bn = L
σj n j j
π
σj+1 n j j
π
bn se n é ı́mpar, an se n é ı́mpar,
Lj Lj
onde {
1 se j = 0 mod 4 ou j = 1 mod 4,
σj =
−1 se j = 2 mod 4 ou j = 3 mod 4.
Além disso, existe uma constante Mk > 0 tal que
Mk
|an | , |bn | 6 para todo n ̸= 0.
nk
donde
nπ nπ
a′n = bn e b′n = − an .
L L
O resultado geral segue por indução:
nπ ′ nπ ( nπ ) n2 π 2
a′′n = bn = − an = − 2 an ,
L L L L
′′ nπ ′ nπ ( nπ ) n2 π 2
bn = − an = − bn = − 2 bn ,
L (L 2L2 ) L
3 3
nπ nπ n π n π
a′′′
n = b′′
n = − 2
b n = − bn ,
L L L L3
( 2 2 )
nπ ′′ nπ n π n3 π 3
b′′′
n = − a = − − a n = an ,
L n L L2 L3
( )
nπ ′′′ nπ n3 π 3 n4 π 4
a(4)
n = bn = 3
an = an ,
L L L L4
( 3 3 )
nπ ′′′ nπ n π n4 π 4
b(4)
n = − an = − − 3 bn = bn ,
L L L L4
( )
nπ (4) nπ n4 π 4 n5 π 5
a(5)
n = bn = 4
b n = bn ,
L L L L5
( )
nπ (4) nπ n4 π 4 n5 π 5
b(5)
n = − an = − 4
a n = − 5 bn ,
L L L L
e assim por diante.
A constante Mk é dada por ( )
∫ L
Lk 1 (k)
Mk = k f (x) dx .
π L −L
Então a série de Fourier de f ′ é a série obtida derivando termo a termo a série de Fourier de f :
∞ (
∑ nπ nπx nπ nπx )
f ′ (x) = − an sen + bn cos .
n=1
L L L L
Prova: Pelo Teorema de Fourier, sabemos que f ′ possui uma série de Fourier que converge para f ′ nos
pontos de continuidade de f ′ e para a média dos limites laterais de f ′ nos pontos de descontinuidade:
A0 ∑ ( nπx )
∞
nπx
f ′ (x) = + An cos + Bn sen .
2 n=1
L L
Rodney Josué Biezuner 36
A0 = 0,
nπ
An = bn ,
L
nπ
Bn = − an .
L
Temos ∫ L
1 1
A0 = f ′ (x) dx = (f (L) − f (−L)) = 0
L −L L
porque f tem perı́odo 2L, logo f (L) = f (−L). Assumindo, para simplificar a demonstração, que f ′ é
contı́nua, podemos integrar por partes para obter os outros coeficientes:
∫ [ ∫ L ]
1 L ′ nπx 1 L nπx L L nπx
An = f (x) cos dx = f (x) cos + f (x) sen dx
L −L L L nπ L −L nπ −L L
[ ∫ ]
L 1 1 L nπx
= (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f (x) sen dx
nπ L L −L L
L
= bn .
nπ
∫ [ ∫ L ]
L L
1 nπx 1 L nπx L nπx
Bn = f ′ (x) sen dx = f (x) sen − f (x) cos dx
L −L L L nπ L −L nπ −L L
[ ∫ ]
L 1 L nπx
=− f (x) cos dx
nπ L −L L
L
=− an .
nπ
1.20 Exemplo. Se f é descontı́nua, então a conclusão deste teorema falha: mesmo que f possua uma série
de Fourier que converge para f em seus pontos de continuidade, não podemos derivar a série de Fourier
de f termo a termo para encontrar a série de Fourier de f ′ . Por exemplo, se f : R −→ R é a onda em
dente de serra, isto é, a função periódica de perı́odo 2L definida no intervalo fechado [−L, L] por
{
x se − L < x < L,
f (x) =
0 se x = L, −L,
então a série de Fourier de f é a série de senos dada por
∞
2L ∑ (−1)n+1 nπx
f (x) = sen ,
π n=1 n L
como vimos anteriormente. Como f ′ satisfaz também as hipóteses do Teorema de Fourier, sabemos
que f ′ também possui uma série de Fourier que converge para f ′ nos pontos de continuidade e para a
média dos limites laterais nos pontos de descontinuidade. No entanto, como f não é contı́nua, ocorre
que esta série de Fourier não pode ser obtida através da derivação termo a termo da série de Fourier
de f . De fato, a derivada termo a termo da série de Fourier de f
∞
∑ nπx
2 (−1)n+1 cos
n=1
L
Rodney Josué Biezuner 37
não é nem mesmo uma série convergente em nenhum ponto, divergindo tanto nos pontos de descon-
tinuidade como em pontos de continuidade de f . Por exemplo, no ponto x = 0, a série é
∞
∑
2 (−1)n+1 = 2(1 − 1 + 1 − 1 + ...)
n=1
que oscila entre os valores −2 e 0. Em geral, a série diverge em qualquer ponto porque
lim cos nx ̸= 0
n→∞
para todo x ∈ R. Para provar isso, suponha por absurdo que lim cos nx = 0 para algum x. Isso
n→∞
( )2
implica evidentemente que lim cos2 nx = 0 também, pois lim cos2 nx = lim cos nx . Também
n→∞ n→∞ n→∞
segue que lim cos 2nx = 0, pois {cos 2nx} é uma subseqüência de {cos nx}. Mas então, tomando o
n→∞
limite quando n → ∞ em ambos os lados da identidade trigonométrica
1 + cos 2nx
cos2 nx = ,
2
obteremos o absurdo 0 = 1/2. Isso prova que lim cos nx ̸= 0 para todo x ∈ R e portanto a série
n→∞
diverge em todos os pontos.
Podemos calcular a série de Fourier de f ′ diretamente a partir da definição de f ′ : temos que f ′ (x) = 1
se −L < x < L, f ′ não está definida nos pontos múltiplos de L (mas podemos redefinir nestes pontos
como valendo 1) e é periódica de perı́odo 2L, logo seus coeficientes de Fourier (note que f ′ é par) são
∫ ∫
1 2L 1 2L
a0 = f (x) dx = dx = 2,
L 0 L 0
∫
1 2L nπx
an = cos dx = 0,
L 0 L
bn = 0,
No caso da questão de se é permitido integrar termo a termo a série de Fourier de f , as hipóteses sobre
f para que isso seja possı́vel são muito mais fracas. Podemos integrar a série de Fourier de f termo a termo
para obter a integral de f mesmo quando a série de Fourier de f não converge uniformemente para f . De fato,
podemos integrar a série de Fourier de f mesmo quando a série de Fourier de f não converge pontualmente
para f , e mesmo quando ela não é uma série convergente! Para mostrarmos isso, necessitaremos do seguinte
resultado elementar:
1.21 Proposição. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo T . Então, para qualquer a ∈ R vale
∫ T ∫ a+T
f (x) dx = f (x) dx.
0 a
Rodney Josué Biezuner 38
basta provar que F é constante. Para isso, mostraremos que F ′ ≡ 0. De fato, escrevendo
∫ 0 ∫ a+T ∫ a ∫ a+T
F (a) = f (x) dx + f (x) dx = − f (x) dx + f (x) dx
a 0 0 0
F ′ (a) = −f (a) + f (a + T ) = 0.
Em outras palavras, este resultado diz que a integral de uma função periódica de perı́odo T tem o mesmo
valor em qualquer intervalo de comprimento T .
1.22 Teorema. (Integração Termo a Termo da Série de Fourier) Seja f : R −→ R uma função periódica de
perı́odo 2L, tal que f é contı́nua por partes. Então, mesmo se a série de Fourier de f
a0 ∑ ( nπx )
∞
nπx
+ an cos + bn sen
2 n=1
L L
para todo t ∈ R.
Prova: Defina ∫ t[
a0 ]
F (t) = f (x) − dx.
0 2
Observe que F satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. De fato, F é periódica de perı́odo 2L, pois
∫ t+2L [ ∫ t[ ∫ t+2L [
a0 ] a0 ] a0 ]
F (t + 2L) = f (x) − dx = f (x) − dx + f (x) − dx
0 2 0 2 t 2
∫ t+2L [
a0 ]
= F (t) + f (x) − dx
t 2
e
∫ ∫ t+2L ∫ ∫ t+2L ( ∫ )
t+2L [ a0 ] a0 t+2L 1 1 L
f (x) − dx = f (x) dx − dx = f (x) dx − f (x) dx 2L
t 2 t 2 t t 2 L −L
∫ L ∫ L
= f (x) dx − f (x) dx = 0.
−L −L
Além disso, F é contı́nua na reta toda, pois é a integral de uma função contı́nua por partes, e F ′ = f é
contı́nua por partes, por hipótese. Portanto, F possui uma série de Fourier que converge para F em todo
ponto:
∞ ( )
A0 ∑ nπt nπt
F (t) = + An cos + Bn sen .
2 n=1
L L
Rodney Josué Biezuner 39
∫ [ L ∫ L ]
1 L
nπt 1 L nπt L ′ nπt
Bn = F (t) sen dt = − F (t) cos + F (t) cos dt
L −L L L nπ L −L nπ −L L
[∫ ] [ ∫ ]
L (
1 a0 ) nπx 1 a0 L nπx
= f (t) − cos dt = Lan − cos dt
nπ −L 2 L nπ 2 −L L
L
= an .
nπ
Falta calcular A0 . Para isso, notamos que da definição de F segue que F (0) = 0, logo
∑∞ ∞
A0 L ∑ bn
=− An = .
2 n=1
π n=1 n
Assim,
∫ t[
a0 ]
∞
L ∑ bn
f (x) − dx = ,
0 2 π n=1 n
donde
∫ ∫ ∞ ∞ ( )
t t
a0 L ∑ bn L∑ bn nπt an nπt
f (x) dx = dx + + − cos + sen
0 0 2 π n=1 n π n=1 n L n L
∞ [ ( )]
a0 L ∑ an nπt bn nπt
= t+ sen − cos −1 .
2 π n=1 n L n L
Capı́tulo 2
Pelo Teorema de Fourier, será sempre possı́vel escrever f desta forma se f e sua derivada f ′ forem contı́nuas
por partes; neste caso os coeficientes cn são exatamente os coeficientes de Fourier da extensão periódica
ı́mpar de f :
∫
2 L nπx
cn = f (x) sen dx.
L 0 L
40
Rodney Josué Biezuner 41
É necessário provar que o nosso candidato à solução u definido em (2.2) é de fato uma solução para o
problema de Dirichlet (2.1). Para isso precisamos definir mais precisamente o conceito de solução. Talvez
surpreendentemente, a definição deste conceito depende fortemente do tipo de aplicação que se tem em
mente, ou seja, do tipo de resposta que se espera do modelo matemático. Por exemplo, a função
f (x) se 0 6 x 6 L e t = 0,
u(x, t) = 0 se x = 0, L e t > 0,
1000 se 0 < x < L e t > 0,
satisfaz todas as condições do problema (2.1), mas em princı́pio não parece ser uma solução fisicamente
aceitável, pois os valores da função no interior da faixa retangular não tem qualquer relação com os valores
na fronteira. Em geral, esperamos que a distribuição de temperaturas na barra varie de maneira contı́nua com
o tempo, a partir da distribuição de temperaturas inicial, e que em qualquer instante de tempo considerado a
distribuição de temperaturas ao longo da barra também seja contı́nua e em particular que não haja um salto
descontı́nuo na temperatura da barra em seus extremos. Estas considerações levariam à seguinte definição
de solução para o problema (2.1):
Dizemos que uma função u : R → R é uma solução de (2.1),
se u ∈ C 0 (R), u ∈ C 2 (R) e u satisfaz todas as condições de (2.1).
R denota a região fechada R = {(x, t) ∈ R2 : 0 6 x 6 L e t > 0} = [0, L] × [0, +∞). Em particular, esta
definição exige que a distribuição inicial de temperaturas seja contı́nua e que f (0) = f (L) = 0 (note que,
como consequência destes dois fatos, a extensão periódica ı́mpar de f também será uma função contı́nua).
No entanto, esta condição sobre f pode ser uma restrição muito grande em certos problemas fı́sicos e não
corresponder à realidade observada. Um exemplo de uma situação fı́sica em que isso não ocorre é quando
consideramos duas barras homogêneas formadas de um mesmo material, inicialmente isoladas uma da outra
(e do meio ambiente) e mantidas a temperaturas constantes mas diferentes (por exemplo, uma é mantida
à temperatura constante de 0◦ C, enquanto que a outra é mantida à temperatura constante de 100◦ C); se
elas forem colocadas imediatamente uma em contato com a outra através de uma de suas extremidades,
então temos um sistema que na prática é uma única barra com uma distribuição inicial de temperaturas
dada por uma função descontı́nua (porém contı́nua por partes). Por outro lado, não é razoável que a solução
u(x, t) esteja totalmente desconectada da distribuição de temperaturas inicial. Para evitar este problema,
utilizaremos a seguinte definição de solução para a equação do calor:
2.1 Definição. Dizemos que uma função u : R → R é uma solução de (2.1), se u é contı́nua em
b
R={(x, t) ∈ R2 : 0 6 x 6 L e t > 0}, u ∈ C 2 (R), lim u(x, t) = f (x) se f é contı́nua em x, e u satisfaz
t→0
todas as condições de (2.1).
Estas são condições que a solução do problema de valor de fronteira deve satisfazer. O próprio problema de
valor de fronteira deve ainda satisfazer duas condições importantes para que ele seja considerado um modelo
matemático válido para o problema fı́sico em questão: ele deve possuir uma única solução e esta única
solução deve ser estável. De fato, esperamos que se um problema fı́sico foi bem compreendido, com todas
as variáveis levadas em consideração, ele deva ter uma única solução (se estivermos estudando um fenômeno
determinı́stico); se o correspondente modelo matemático possuir mais de uma solução, é sinal de que ele ainda
não é um modelo matemático correto para o problema em questão e que são necessárias hipóteses adicionais
para limitar o número de soluções a uma única solução. Da mesma forma, na medição experimental de
fenômenos fı́sicos, esperamos um certo grau de incerteza e que as medidas obtidas sejam apenas aproximações.
Por exemplo, a medição da temperatura inicial da barra é uma aproximação e certamente deve conter erros;
analogamente, não é razoável esperar que as temperaturas nas extremidades da barra possam ser mantidas
o tempo todo na temperatura exata 0. Consequentemente, a solução do modelo matemático é apenas uma
aproximação da solução real. Para que ela seja uma boa aproximação deveremos requerer que a solução
dependa continuamente das condições de fronteira, isto é, pequenas mudanças nas condições de fronteira,
acarretam apenas pequenas mudanças na solução. Um problema que satisfaz todas estas condições, isto é,
possui uma solução única estável, é chamado um problema bem-posto no sentido de Hadamard.
Rodney Josué Biezuner 42
2.2 Exemplo. Considere o problema de Dirichlet (condução do calor em uma barra infinita, [Rothe, 1928]):
{
ut = Kuxx se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 1) = f (x) se − ∞ < x < ∞.
2.3 Teorema. Seja f : [0, L] → R uma função contı́nua por partes tal que f ′ também é contı́nua por partes.
Então
∑∞
n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2 Kt sen
n=1
L
com ∫ L
2 nπx
cn = f (x) sen dx
L 0 L
b e de classe C 2 em R. Além disso, u(x, t) → f (x) quando
é uma solução para (2.1), contı́nua em R
t → 0 se f é contı́nua em x.
Esboço de Prova: Como vimos no capı́tulo anterior, quando estimamos os coeficientes de Fourier, existe
uma constante M > 0 tal que |cn | < M . Portanto, para todo t > t0 , qualquer que seja t0 > 0, vale
∑∞
nπx ∑∞
2 2
− nLπ n2 π 2
cn e 2 Kt
sen 6M e− L2 Kt0 .
L
n=1 n=1
A série numérica do lado direito converge, por exemplo pelo teste da raiz:
( )1/n
π 2 Kt0 π 2 Kt0
lim e− L2
n2
= lim e− L2
n
= 0.
n→∞ n→∞
Segue do teste-M de Weierstrass que a série do lado esquerdo converge uniformemente em {(x, t) : 0 6 x 6 L
b
e t > t0 } e portanto u(x, t) é contı́nua aı́. Mas t0 é arbitrário, logo concluı́mos que u(x, t) é contı́nua em R.
Aplicando novamente o teste-M de Weierstrass, concluı́mos que as séries obtidas diferenciando a série de
u(x, t) termo a termo, uma vez em relação a t e duas vezes em relação a x, são uniformemente convergentes,
Rodney Josué Biezuner 43
Então existe um ponto (x0 , t0 ) ∈ R ∪ ℓ4 tal que u(x0 , t0 ) = maxR u. Defina a função
M −m
v(x, t) = u(x, t) + (x − x0 )2 ,
4L2
onde L = x2 − x1 . Como em ℓ1 ∪ ℓ2 ∪ ℓ3 temos
M −m 2 3 M
v(x, t) 6 m + L = m+ < M,
4L2 4 4
e u(x0 , t0 ) = v(x0 , t0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de R ∪ ℓ4 , digamos
em (x, t) ∈ R ∪ ℓ4 . Como (x, t) é um ponto de máximo para v, devemos ter
vt (x, t) > 0,
vxx (x, t) 6 0.
Em particular,
vt (x, t) > Kvxx (x, t).
Por outro lado, da definição de v, para todo (x, t) obtemos
vt (x, t) = ut (x, t),
M −m
vxx (x, t) = uxx (x, t) + ,
4L2
e como u satisfaz a equação do calor, segue que
M −m
vt (x, t) = ut (x, t) = Kuxx (x, t) = Kvxx (x, t) − K < Kvxx (x, t)
4L2
para todo (x, t), uma contradição.
Para provar que o mı́nimo de u também é atingido em ℓ1 ∪ ℓ2 ∪ ℓ3 , basta observar que −u também satisfaz
a equação do calor e que min u = − max(−u).
No caso da equação do calor, o princı́pio do máximo nada mais é que a expressão matemática do fato de que
o calor flui de regiões mais quentes para regiões mais frias. Se a temperatura mais alta da barra estivesse
localizada em um ponto x0 com 0 < x0 < L em um instante t0 > 0, então a temperatura estaria crescendo
em x0 por algum tempo antes do instante t0 (a menos que a temperatura seja a mesma em todos os pontos
da barra). Mas então o calor necessário para aumentar a temperatura em x0 deveria vir de algum ponto
próximo a x0 com temperatura maior em algum instante de tempo t < t0 , logo a temperatura mais alta não
pode ocorrer em (x0 , t0 ). O mesmo argumento vale para a temperatura mı́nima.
Rodney Josué Biezuner 45
2.6 Teorema. (Unicidade da Solução do Problema de Dirichlet) Se existir uma solução contı́nua em R
para o problema de Dirichlet
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g (t) se t > 0,
u(L, t) = h (t) se t > 0,
Prova: Suponha que u1 (x, t) e u2 (x, t) sejam duas soluções contı́nuas para (2.1). Então, como a equação
do calor é uma equação linear, a diferença u = u1 − u2 é uma solução contı́nua do problema de Dirichlet
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0.
min u = max u = 0,
R R
2.7 Teorema. (Estabilidade da Solução do Problema de Dirichlet) Se o problema de Dirichlet com condições
inicial e de fronteira contı́nuas possuir uma solução contı́nua, então ele é bem-posto no sentido de
Hadamard.
Prova: Já sabemos pelo teorema anterior que se existir solução contı́nua, ela é única. Resta provar apenas
a dependência contı́nua das soluções com as condições iniciais e de fronteira. Mediremos a proximidade das
condições inicial e de fronteira através da norma do sup. Sejam u1 e u2 soluções dos problemas de Dirichlet
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f1 (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g1 (t) se t > 0,
u(L, t) = h1 (t) se t > 0,
e
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f2 (x) se 0 6 x 6 L,
u(0, t) = g2 (t) se t > 0,
u(L, t) = h2 (t) se t > 0,
Rodney Josué Biezuner 46
π2
Definindo α = 2 K, notando que e−n αt 6 e−nαt = (e−αt )n com e−αt < 1 para t > 0 e lembrando que
2
L
∑∞ r
rn = para |r| < 1, concluı́mos que
n=1 1 − r
e−αt
|u(x, t)| 6 M ,
1 − e−αt
de modo que
lim u(x, t) = 0.
t→∞
Isso era esperado: já que as extremidades da barra não estão termicamente isoladas, a temperatura em
todos os pontos da barra deve decair até atingir a mesma temperatura que as suas extremidades, com o
calor escapando da barra através delas. Na verdade, a desigualdade acima mostra que a temperatura decai
rapidamente, com decaimento exponencial da ordem de e−αt .
1.0
1.0
0.8
0.8
0.6
z 0.6
0.4 z
0.4
0.2
0.2
0.0 3
0
1 2
2 x
0.0
3 1 0 1 2 3 4 5
4 x
t 0
t
5
Figura 2.1. Solução u(x, t) = e−t sen x para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = sen x.
Rodney Josué Biezuner 47
0.3
0.2
0.1
0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0
x
Para este problema, o princı́pio de superposição de soluções não funciona, pois apesar da equação do calor ser
linear, as condições de contorno não são homogêneas. Vamos obter a solução através de algumas considerações
fı́sicas.
É de se esperar que, após decorrido um tempo suficientemente longo, devido ao fato do calor se propagar
rapidamente os efeitos da distribuição inicial de temperaturas na barra se dissiparão e será atingida uma
distribuição de temperaturas permanente v(x), ou seja, independente do tempo t e da condição inicial. Como
v deve obedecer à equação do calor, mas vt ≡ 0, segue que v é uma solução do problema
{ ′′
v (x) = 0 se 0 < x < L,
(2.4)
v(0) = T1 , v(L) = T2 ,
v é chamada a solução de estado estacionário. Da equação de v obtemos que v(x) = ax+b; os valores das
constantes a, b são obtidos através das condições de contorno, de modo que a solução de estado estacionário
é
T2 − T1
v(x) = x + T1 . (2.5)
L
Rodney Josué Biezuner 48
T2
T1
0 L
O fato da distribuição de temperaturas no estado estacionário ter a forma de uma reta é sugerida pela própria
equação do calor ut = Kuxx . O significado da equação do calor é que a variação da temperatura ut em um
ponto da barra com o passar do tempo é proporcional à curvatura da função temperatura naquele ponto
(isto é, uxx ). Logo, se a curvatura da função temperatura é positiva (uxx > 0, concavidade para cima),
então ut é positiva também, e portanto a tendência nesta região da curva é que as temperaturas aumentem,
diminuindo a concavidade e rectificando a curva na região; se a curvatura da função temperatura é negativa
(uxx < 0, concavidade para baixo), então ut é também negativa, o que significa que a tendência é que as
temperaturas diminuam naquela região, diminuindo a concavidade e rectificando a curva na região.
Para encontrar a solução u(x, t) para (2.3), tentamos expressá-la como a soma da solução de estado
estacionário v(x) e uma outra distribuição de temperatura w(x, t):
A distribuição de temperatura w(x, t) é chamada transiente, porque ela desaparece à medida que o tempo
passa, ou seja, torna-se arbitrariamente pequena até o ponto de se tornar completamente irrelevante, per-
manecendo apenas a solução de estado estacionário. Como w(x, t) = u(x, t) − v(x), segue que w(x, t) satisfaz
o problema de Dirichlet homogêneo
wt = Kwxx se 0 < x < L e t > 0,
w(0, t) = w(L, t) =( 0 ) se t > 0,
T2 − T1
w(x, 0) = f (x) − x + T1 se 0 6 x 6 L,
L
Como vimos no final da seção anterior, de fato w(x, t) → 0 quando t → ∞. Portanto, a solução do problema
(2.3) é a soma da solução de estado estacionário e a solução transiente:
∑∞
T2 − T1 n2 π 2 nπx
u(x, t) = x + T1 + cn e− L2 Kt sen . (2.6)
L n=1
L
z 4
0
0
3
1
2 2
3
t 1
4 x
5 0
Vamos resolver este problema pelo método de separação de variáveis. Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t),
obtemos as equações diferenciais ordinárias
{ ′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(2.8)
F ′ (0) = F ′ (L) = 0,
(a única coisa que mudou aqui foi a condição de contorno desta equação diferencial) e
de modo que √ √ √ √
F ′ (x) = c1 σe σx + c2 σe− σx .
A condição inicial F ′ (x) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
{ √ √
c1 σ + c2 σ = 0 √
√ √ √ .
c1 σe σL + c2 σe− σL = 0
F (x) = c1 x + c2 ,
de modo que
F ′ (x) = c1 .
A condição inicial F ′ (x) = F ′ (L) = 0 implica c1 = 0, mas desta vez podemos ter c2 ̸= 0 e portanto
uma solução aceitável é a função constante
F (x) ≡ c0 .
√
3. σ < 0: Denotando λ = −σ, a solução geral de (2.8) é da forma
de modo que
F ′ (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição inicial F ′ (x) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
{
c2 λ = 0
.
−c1 λ sen λL = 0
Logo c2 = 0 e como não queremos c1 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N
pode ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada valor de n, uma solução para (2.8) é a
função
nπ
Fn (x) = cos x,
L
chamada uma autofunção para o problema (2.8) associada ao autovalor
n2 π 2
−σ = λ2n = .
L2
2.0
2.0
1.5
1.5
z 1.0
z 1.0
0.5
0.5
0.0
0.0 3 3 5
0
1 2 2 4
2 3
3 1 1 2
x x 1 t
t 4
5 0 0 0
Figura 2.5. Solução u(x, t) = 1 + e−t cos x para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = 1 + cos x.
De forma semelhante à da primeira seção deste capı́tulo, é possı́vel provar que esta é de fato a única solução
de (2.7), e que (2.7) é um problema bem-posto no sentido de Hadamard.
Resolveremos este problema também pelo método de separação de variáveis. Escrevendo u(x, t) =
F (x)G(t), obtemos como de costume as equações diferenciais ordinárias
{ ′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(2.12)
F (0) = F ′ (L) = 0,
e
G′ (t) − σKG(t) = 0.
Para resolver (2.12), analizamos o sinal de σ:
de modo que √ √ √ √
F ′ (x) = c1 σe σx + c2 σe− σx .
A condição inicial F (x) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
{
c1 + c2√= 0
√ √ √ .
c1 σe σL + c2 σe− σL = 0
2n − 1
o que não é imediatamente claro, pois não é um inteiro. No entanto, podemos imaginar que 2L está
2
fazendo o papel de L na série de Fourier, de modo que o que temos que obter é uma extensão periódica ı́mpar
de perı́odo 4L de f . Ainda assim, sobra o problema de que aparecem apenas os termos de coeficiente ı́mpar
nesta série de senos de f . Precisamos determinar uma extensão ı́mpar de f de tal modo que os coeficientes
de Fourier de f correspondentes aos inteiros pares sejam iguais a zero. A solução para este problema é definir
a seguinte extensão para f :
f (x) se 0 6 x 6 L,
fe(x) = f (2L − x) se L 6 x 6 2L,
−f (−x) se − 2L 6 x 6 0,
f é periódica de perı́odo 4L;
observe que ao extendermos f no intervalo [L, 2L], o fizemos de tal modo que o gráfico de fe é simétrico em
relação à reta x = L (veja a figura a seguir).
Rodney Josué Biezuner 53
y
4
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1 x
−2
−3
−4
an = 0,
∫ 2L ∫ ∫
2 e nπx 1 L nπx 1 2L nπx
bn = f (x) sen dx = f (x) sen dx + f (2L − x) sen dx
2L 0 2L L 0 2L L L 2L
∫ ∫
1 L nπx 1 0 nπ(2L − t)
= f (x) sen dx − f (t) sen dt
L 0 2L L L 2L
∫ ∫ ( )
1 L nπx 1 L nπt
= f (x) sen dx + f (t) cos nπ sen − dt
L 0 2L L 0 2L
∫ ∫
1 L nπx 1 L nπt
= f (x) sen dx + f (t)(−1)n+1 sen dt
L 0 2L L 0 2L
0 ∫ se n é par,
= 2 L nπx
f (x) sen dx se n é ı́mpar.
L 0 2L
Com argumentos semelhantes aos utilizados anteriormente, pode-se provar que de fato a função
∞
∑ (2n−1)2 π 2 (2n − 1)πx
u(x, t) = c2n−1 e− 4L2
Kt
sen
n=1
2L
com ∫
2 L
(2n − 1)πx
c2n−1 = f (x) sen dx
L 0 2L
é a única solução de (2.11), e que (2.11) é um problema bem-posto no sentido de Hadamard.
Rodney Josué Biezuner 54
1.0
0.8
0.6
z
0.4
0.2
0.0
0 3
2
4 2
6 1
8
t 10 0 x
x x
Figura 2.7. Solução u(x, t) = e− 4 sen
t
para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = sen .
2 2
ut − Kuxx = 0;
2.8 Exemplo. Considere o seguinte problema de condução de calor em uma barra uniforme, homogênea,
cuja superfı́cie lateral é isolada termicamente:
ut = uxx + sen x se 0 < x < π e t > 0,
u(0, t) = 1 se t > 0,
u x (π, t) = 2 se t > 0,
u(x, 0) = 1 + sen x se 0 6 x 6 π.
Observe que uma das extremidades da barra é mantida a uma temperatura constante, enquanto que a
outra extremidade tem uma taxa de fluxo de calor constante (condição de fronteira de Robin). Além
disso, vemos que calor é gerado internamente na barra (a função seno é positiva no intervalo (0, π)),
dependendo do ponto da barra, mas independente do tempo.
Vamos encontrar primeiro a solução de estado estacionário v(x). Embora, à primeira vista, fisicamente
talvez não seja tão claro que ela exista nestas condições, se pudermos encontrá-la matematicamente
isso por si só será prova suficiente da sua existência. Como v deve obedecer à equação do calor, mas
vt ≡ 0, segue que v satisfaz à equação 0 = v ′′ (x) + sen x, logo v é uma solução do problema
′′
v (x) = − sen x se 0 < x < L,
v(0) = 1, (2.15)
′
v (π) = 2.
v ′ (x) = cos x + c1 ,
v(x) = sen x + c1 x + c2 .
As constantes de integração c1 e c2 são determinadas através das condições de fronteira. A condição de
fronteira v(0) = 1 permite concluir que c2 = 1, enquanto que a condição v ′ (π) = 2 implica que c1 = 3.
Assim, a solução de estado estacionário é
v(x) = sen x + 3x + 1.
Escrevendo u(x, t) = v(x) + w(x, t), segue que a solução transiente w satisfaz o problema
wt = wxx se 0 < x < π e t > 0,
w(0, t) = wx (π, t) = 0 se t > 0,
w(x, 0) = −3x se 0 6 x 6 π.
com ∫
6 π
(2n − 1)x 24(−1)n
c2n−1 = − x sen dx = .
π 0 2 π(2n − 1)2
Portanto, a solução do problema é
∞
24 ∑ (−1)n − (2n−1)2 t (2n − 1)x
u(x, t) = sen x + 3x + 1 + e 4 sen .
π n=1 (2n − 1)2 2
Rodney Josué Biezuner 56
2.9 Exemplo. Considere uma barra homogênea, completamente isolada termicamente (ou seja, inclusive
nas suas extremidades), feita de material radioativo, de modo que calor é gerado internamente à uma
taxa constante. O modelo matemático para este problema é
ut = Kuxx + q se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L.
Fisicamente, não deve haver uma temperatura de estado estacionário. Matematicamente, se supuser-
mos que existe uma solução de estado estacionário v(x) independente do tempo e tentarmos resolver o
correspondente problema para v
{ ′′
v (x) = a se 0 < x < L,
v ′ (0) = v ′ (L) = 0
v ′ (x) = ax + c1 ,
donde
a 2
v(x) =x + c1 x + c2 .
2
A condição de fronteira v ′ (0) = 0 permite concluir que c1 = 0, mas então a condição de fronteira
v ′ (L) = 0 implica que a = 0, uma contradição (pois q ̸= 0); além disso, observe que a constante c2
permanece indeterminada.
Este problema pode ser resolvido pelo método de variação dos parâmetros, como veremos na próxima
subseção.
A motivação do método de variação dos parâmetros é a seguinte. Se tivéssemos q = 0 (isto é, equação do
calor homogênea), então a solução do problema seria
∞
∑ n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2
Kt
sen .
n=1
L
onde os parâmetros constantes cn são substituı́dos pelos parâmetros variáveis cn (t), que devem ser deter-
minados. Observe que esta solução já satisfaz as condições de fronteira. Precisamos escolher os coeficientes
cn (t) de tal forma que u (x, t) satisfaça a equação do calor não-homogênea e a condição inicial; esta última
obviamente será satisfeita se tivermos
∫
2 L nπx
cn (0) = f (x) sen dx. (2.18)
L 0 L
Rodney Josué Biezuner 57
Temos
∑∞ [ ]
n2 π 2 n2 π 2 2 2 nπx
ut (x, t) = c′n (t) e− L2 Kt − 2
Kc n (t) e− nLπ
2 Kt
sen ,
n=1
L L
∑∞ ( 2 2 )
n2 π 2 n π nπx
uxx (x, t) = cn (t) e− L2 Kt − 2 K sen .
n=1
L L
Se para cada t > 0 fixado a função q (x, t) é representada por sua série de Fourier de senos
∞
∑ nπx
q (x, t) = qn (t) sen ,
n=1
L
segue que
∑∞ [ ] ∞ [ ]
′ n2 π 2 2 2
− nLπ nπx ∑ n2 π 2 2 2
− nLπ nπx
cn (t) − 2
Kcn (t) e 2 Kt
sen = − 2 Kcn (t) e 2 Kt
+ qn (t) sen .
n=1
L L n=1
L L
Igualando os termos da série (pois a série de Fourier de uma função definida na reta toda é única), obtemos
para cada n ∈ N a equação diferencial ordinária
[ ]
n2 π 2 n2 π 2 n2 π 2 n2 π 2
c′n (t) − 2
Kc n (t) e− L2 Kt = − 2 Kcn (t) e− L2 Kt + qn (t)
L L
ou
n2 π 2
c′n (t) = qn (t) e L2
Kt
, (2.19)
sujeita à condição inicial (2.18). A solução para este problema de valor inicial é obtida através de uma
simples integração: ∫ t
n2 π 2
cn (t) = cn (0) + qn (s) e L2 Ks ds. (2.20)
0
Este método também funciona quando consideramos condições de Neumann ou de Robin homogêneas.
2.10 Exemplo. Como exemplo, vamos usar o método de variação de parâmetros para resolver o problema
de Neumann do Exemplo 2.9. Escrevemos
∞
c0 (t) ∑ n2 π 2 nπx
u(x, t) = + cn (t) e− L2 Kt cos .
2 n=1
L
Como
q0 = q,
qn = 0 para todo n > 1,
Rodney Josué Biezuner 58
segue que
c0 (0)
c0 (t) = qt + ,
2
cn (t) = cn (0) para todo n > 1,
logo
∞
c0 ∑ n2 π 2 nπx
u(x, t) = qt + + cn e− L2 Kt cos ,
2 n=1
L
onde cn são os coeficientes da série de Fourier de f . Note que quando t → ∞ a solução se comporta
como
c0
v (x, t) = qt + .
2
Neste sentido, podemos chamar v (x, t) de solução de estado estacionário. Observe como a temperatura
aumenta a uma taxa constante à medida que o tempo passa tornando-se arbitrariamente grande, como
esperávamos.
onde a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R são constantes não-negativas tais que a1 , b1 não são simultaneamente nulas, a2 , b2 não
são simultaneamente nulas e (La1 + b1 ) a2 + a1 b2 ̸= 0 (esta última condição exclui problemas de Neumann).
Embora não faça sentido obter uma solução de estado estacionário, já que o problema todo é dependente
do tempo, ainda assim podemos considerar escrever
Em outras palavras, como no problema geral a equação é não-homogênea e as condições de fronteira também
são não-homogêneas, dividimos o problema em dois problemas mais simples: no problema (2.24) a equação é
homogênea e as condições de fronteira são não-homogêneas; no problema (2.25) a equação é não-homogênea
mas as condições de fronteira são homogêneas. A solução do problema (2.24) é ainda uma função linear em
x, mas desta vez os coeficientes lineares dependem de t:
Os coeficientes A (t) e B (t) são determinados pelas condições de fronteira. Resolvendo o sistema resultante
{
a1 B (t) − b1 A (t) = g (t)
,
a2 [A (t) L + B (t)] + b2 A (t) = h (t)
obtemos
a1 h (t) − a2 g (t) b1 h (t) + (La2 + b2 ) g (t)
v (x, t) = x+ . (2.27)
(La1 + b1 ) a2 + a1 b2 (La1 + b1 ) a2 + a1 b2
Observe que para resolvermos este sistema, a condição (La1 + b1 ) a2 + a1 b2 ̸= 0 é essencial.
Para resolver o problema (2.25), como as condições de fronteira são homogêneas, podemos usar o método
de variação de parâmetros introduzido na subseção anterior, desde que tenhamos um problema de Dirichlet
ou um problema de Robin do tipo tratado anteriormente. Caso contrário, a situação fica mais complicada,
como mostrado na próxima seção.
onde g(x) = f (x) − v(x). Usando o método de separação de variáveis, escrevendo w(x, t) = F (x)G(t),
concluı́mos que F e G devem satisfazer
′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
F (0) = 0, (2.29)
′
F (L) + hF (L) = 0,
e
G′ (t) − σKG(t) = 0.
Como antes, é possı́vel
√ verificar que apenas no caso σ < 0 temos soluções que não são identicamente nulas.
Denotando λ = −σ, a solução geral de (2.29) é então da forma
de modo que
F ′ (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição F (0) = 0 implica que c1 = 0, enquanto que a condição F ′ (L) + hF (L) = 0 implica que
ou seja,
λ
tan λL = − .
h
Existem infinitas soluções para esta equação transcendental em λ (pois a reta de inclinação −1/h intercepta
o gráfico de tan λL infinitas vezes); de fato, para cada n ∈ N existe uma única solução λn satisfazendo
assumindo que toda função razoável g pode ser escrita como uma série de Fourier generalizada
∞
∑ λn
g(x) = cn sen x.
n=1
L
Os valores de λn podem ser obtidos através de métodos numéricos (eles certamente não são uma constante
vezes n, como no caso da série de Fourier). A resolução completa deste problema pede portanto uma teoria
de séries de Fourier generalizadas, o que não faremos neste curso (para ver o desenvolvimento desta teoria,
uma boa referência é [5]).
A partir daı́, o correspondentes problema com a equação do calor não-homogênea seria resolvido usando
o método de variação de parâmetros como fizemos na seção anterior. Para ver se é realmente possı́vel
fazer isso, como observado antes terı́amos que nos aprofundar mais no estudo da teoria de problemas de
Sturm-Liouville.
onde x é o comprimento de arco ao longo do fio. Observe que as condições de fronteira são uma conseqüência
da hipótese de que o contato entre as duas extremidades do fio é perfeito do ponto de vista térmico. Este é
evidentemente um problema de condições de fronteira mistas. Estas não são exatamente prescritas, mas são
condições de fronteira periódicas, já que podemos imaginar o problema definido para todo x (não apenas para
x entre −L e L), com o ponto x sendo fisicamente igual ao ponto x + 2L, logo tendo a mesma temperatura.
Resolvendo este problema pelo método de separação de variáveis, chegamos ao problema de Sturm-
Liouville periódico ′′
F (x) − σF (x) = 0 se − L < x < L,
F (−L) = F (L), (2.33)
′
F (−L) = F ′ (L).
A única solução periódica para este problema, além da solução constante F0 (x) = c (correspondente à σ = 0),
é
F (x) = c1 cos λx + c2 sen λx.
√
onde, como de costume, λ = −σ. Usando a primeira condição de fronteira, obtemos
donde
2c2 sen(λL) = 0.
Rodney Josué Biezuner 62
donde
2λc1 sen(λL) = 0.
Se sen(λL) ̸= 0, então c1 = c2 = 0. Portanto, teremos uma solução não identicamente nula somente se
sen(λL) = 0,
nπ n2 π 2
o que corresponde a λ = . Logo, σ = − 2 e
L L
nπx nπx
Fn (x) = an cos + bn sen ,
L L
n2 π 2
Gn (t) = e− L2
Kt
.
Assim, a solução do problema é
∞ ∞
a0 ∑ n2 π 2 nπx ∑ n2 π 2 nπx
u(x, t) = + an e− L2 Kt cos + bn e− L2 Kt sen , (2.34)
2 n=1
L n=1
L
onde an e bn são os coeficientes da série de Fourier da extensão periódica de f de perı́odo 2L. Este é um
exemplo de uma solução que envolve ambos senos e cossenos.
2.7 Exercı́cios
Note que estes exercı́cios são apenas complementares aos exercı́cios do livro-texto.
Exercı́cio 2.1. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
ut = uxx se 0 < x < 1 e t > 0,
(a) u(0, t) = 0, u(1, t) = 100 se t > 0,
u(x, 0) = 100x (1 − x) se 0 6 x 6 1.
ut = uxx se 0 < x < 10 e t > 0,
u(0, t) = 0,
{ u(10, t) = 100 se t 6 0,
(b)
0 se 0 6 x < 5,
u(x, 0) =
100 se 5 < x 6 10.
ut = uxx se 0 < x < π e t > 0,
(c) ux (0, t) = u(π, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = x se 0 6 x 6 π.
Exercı́cio 2.2. Usando algum software matemático (Scilab, Maple, Matlab, etc.) ou algum pacote gráfico
(OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do problema anterior e veja como a
solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 2.3. O problema de valor inicial e de fronteira para tempo negativo
ut = Kuxx se 0 < x < L e t < 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t 6 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
Rodney Josué Biezuner 63
Exercı́cio 2.4. Determine se o princı́pio do máximo vale para a equação do calor não homogênea
ut = Kuxx + q,
onde q é uma função contı́nua tal que q > 0. (Sugestão: considere a função u(x, t) = (1 − e−t ) sen x.)
onde ε é uma constante positiva, não possui uma solução limitada em [0, L] × [0, +∞) (em outras
palavras, este problema não possui uma solução de estado estacionário).
Exercı́cio 2.6. (Equação do Calor em uma Barra com Convecção na Superfı́cie Lateral) Assuma que uma
barra uniforme homogênea é isolada termicamente apenas em suas extremidades e que ela perde calor
através de sua superfı́cie lateral a uma taxa por unidade de comprimento diretamente proporcional
à diferença u (x, t) − T , onde T é a temperatura do meio ambiente ao redor da barra. Mostre que a
equação de propagação do calor agora é
ut = Kuxx − h (u − T ) ,
onde h é uma constante positiva. Resolva o problema (de Neumann) associado, usando a função
v = eht (u − T )
x K2
ξ= e τ= t,
L L2
a equação do calor
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0
é transformada em
ut = uxx se 0 < x < 1 e t > 0.
Exercı́cio 2.9. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
Rodney Josué Biezuner 64
ut = Kuxx + a se 0 < x < L e t > 0,
(a) u(0, t) = b, u(L, t) = c se t > 0, onde a, b, c ∈ R.
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut = Kuxx + Ce−px se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, onde p, C são constantes positivas.
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
Exercı́cio 2.10. Encontre o valor constante de q e o menor valor da constante M para os quais o problema
ut = Kuxx + q se 0 < x < 1 e t > 0,
ux (0, t) = 1, ux (1, t) = 3 se t > 0,
u(x, 0) = x (1 − 2x) + M se 0 6 x 6 1,
Exercı́cio 2.11. Prove o seguinte princı́pio de comparação: Se u e v são duas soluções da equação do calor
que satisfazem as mesmas condições de fronteira e tais que
u (x, 0) 6 v (x, 0)
1. As vibrações ocorrem em um plano. Denotaremos as coordenadas deste plano por (x, u), de modo que
u(x, t) denota a posição do ponto x da corda no instante de tempo t.
2. As vibrações são transversais. Ou seja, as partı́culas constituintes da corda deslocam-se apenas na
direção do eixo u.
3. A corda é flexı́vel. Isso significa que a corda não oferece resistência a ser dobrada (ou seja, resistência
a flexão, daı́ o nome). Como consequência, a força atuando em cada ponto da corda é sempre tangente
à corda, chamada a tensão da corda.
T(x2,t)
T(x1,t)
Como não há movimento da corda na direção do eixo x, isso significa que a resultante das componentes
horizontais das tensões atuando em cada pedaço da corda é nula. Portanto, se T (x1 , t) e T (x2 , t) são as
65
Rodney Josué Biezuner 66
tensões atuando nos pontos x1 e x2 e θ(x1 , t) e θ(x2 , t) são os ângulos destas forças com relação à horizontal
(o eixo x), no instante de tempo t, segue que
para todos x1 , x2 . Portanto, a componente horizontal da tensão é constante ao longo da corda, independente
do ponto x, embora ela possa depender do tempo t. Vamos denotar a componente horizontal da tensão por
τ (t):
τ (t) := T (x, t) cos θ(x, t).
θ(x, t)
T (x, t)senθ(x, t)
T(x,t)
Para calcular a resultante vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 ,
observamos primeiro que a força vertical atuando em um elemento infinitesimal da corda compreendido entre
os pontos x e x + ∆x é dada por:
T (x + ∆x, t) sen θ(x + ∆x, t) − T (x, t) sen θ(x, t) = τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] .
Usando o fato de que tan θ(x, t) é a inclinação da reta tangente ao gráfico de u(x, t) no instante de tempo t,
ou seja, a derivada ux (x, t) da função u com relação a x, obtemos
τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] = τ (t) [ux (x + ∆x, t) − ux (x, t)] = τ (t)uxx (x, t)∆x
onde, pelo Teorema do Valor Médio, x é algum ponto compreendido entre x e x + ∆x. Portanto, a resultante
vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 é dada por
∫ x2
resultante vertical = τ (t) uxx (x, t) dx. (3.1)
x1
Isso significa que em cada ponto x da corda, a força devida à tensão atuando nele no instante de tempo t
é dada por τ (t)uxx (x, t), o produto da tensão horizontal naquele ponto pela curvatura da corda no ponto.
Intuitivamente isso faz sentido, pois a tensão atuando na corda é principalmente uma força horizontal e
quanto maior é a curvatura em um ponto na corda, maior deve ser a tensão naquele ponto. Imagine uma
corda presa nas suas extremidades. Ao tentarmos flexioná-la, ela oferece resistência exatamente por estar
presa (as extremidades presas “puxam” a corda em suas direções), e quanto mais puxarmos a corda em um
determinado ponto, o que significa que estamos cada vez aumentando mais a curvatura da corda naquele
ponto, maior é a tensão na corda, isto é, a sua resistência a ser assim flexionada.
Rodney Josué Biezuner 67
Além das forças de tensão (forças internas à corda), a corda pode também estar sujeitas a forças externas,
tais como a força da gravidade e a resistência ao movimento da corda imposta pelo meio onde ela está situada
(forças de atrito ou fricção), mas assumiremos que a contribuição destas forças é negligı́vel (por exemplo, a
corda é feita de um material muito leve e o meio não oferece resistência significativa). Em outras palavras,
estamos assumindo que as vibrações são livres.
Por outro lado, se utt (x, t) é a aceleração em um ponto x da corda no instante de tempo t (representada
apenas pelo seu componente vertical, já que o seu componente horizontal é nulo) e se a densidade linear da
corda no ponto x é ρ(x), segue da segunda lei de Newton que em cada elemento infinitesimal da corda a
força atuando nele é dm utt (x, t) = ρ(x)dx utt (x, t), de modo que
∫ x2
resultante vertical = ρ(x)utt (x, t) dx. (3.2)
x1
Igualando (3.1) a (3.2), usando o fato de que x1 e x2 são arbitrários, e denotando c2 = c2 (x, t) = τ (t)/ρ(x),
obtemos a equação da onda:
utt = c2 uxx . (3.3)
Fisicamente, ela significa que a aceleração em cada ponto da corda é proporcional à curvatura da corda
naquele ponto. Pontos com concavidade para cima (isto é, uxx > 0) tendem a ser acelerados para cima
(utt > 0), enquanto que pontos com concavidade para baixo (uxx < 0) tendem a ser acelerados para baixo
(utt < 0); é claro que deve-se levar em conta também a velocidade e a direção em que a corda está-se movendo
no momento.
Quando a corda é homogênea, a densidade é constante: ρ(x) ≡ ρ. Se as vibrações são pequenas, de
modo que θ(x, t) ∼ 0 e consequentemente cos θ(x, t) ∼ 1, a força de tensão não varia com o tempo: τ (t) ≡ τ .
Quando estas duas condições são obedecidas, segue que o parâmetro c é uma constante. Observe que o
parâmetro c tem dimensão de velocidade, e o significado fı́sico disso será explicado mais tarde.
onde as condições iniciais f e g são funções contı́nuas. Este é o caso de uma corda de violão, em que a corda
é deslocada e depois solta para começar a sua vibração (f ̸= 0 e g ≡ 0) ou da corda de um piano, em que a
corda em repouso é percurtida por um golpe de martelo (f ≡ 0 e g ̸= 0).
Podemos também considerar o problema da corda com extremidades livres, em que as extremidades
da corda são presas a trilhos colocados perpendicularmente à corda, no plano de vibração:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
Podemos ainda considerar condições de fronteira mistas (uma extremidade fixa, uma extremidade livre)
ou um problema em que as extremidades da corda se movem transversalmente de acordo com uma lei
conhecida:
2
utt = c uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = a(t) se t > 0,
u(L, t) = b(t) se t > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 6 x 6 L.
3.1 Definição. Dizemos que uma função u : R → R é uma solução do problema da corda vibrante,
se u é contı́nua em R={(x, t) ∈ R2 : 0 6 x 6 L e t > 0}, u ∈ C 2 (R) e u satisfaz todas as condições
iniciais e de fronteira.
1. Vibrações forçadas: Se F (x, t) é uma força externa transversal atuando em cada ponto x da corda no
instante de tempo t, levando em conta este termo na dedução da equação da onda acima, vemos que
a equação que descreve o movimento da onda é dada por
F (x, t)
utt = c2 uxx + .
ρ
Por exemplo, se a única força externa que atua na corda é a força gravitacional, então F (x, t) = −ρ(x)g
e portanto
utt = c2 uxx − g
2. Vibrações amortecidas: Se a corda estiver imersa em um fluido que opõe uma resistência ao movimento
da corda, e esta força for proporcional à velocidade da corda, temos
Se o atrito depender do quadrado da velocidade da corda, então teremos uma equação não-linear:
onde f (0) = f (L) = f ′′ (0) = f ′′ (L) = g(0) = g(L) = 0 e c é uma constante. Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t),
obtemos as equações diferenciais ordinárias
{ ′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
(3.5)
F (0) = F (L) = 0,
e
G′′ (t) − σc2 G(t) = 0. (3.6)
O problema de Sturm-Liouville (3.5) já foi estudado na Introdução. Suas autofunções são
nπx
Fn (x) = sen , (3.7)
L
associadas respectivamente aos autovalores
n2 π 2
−σn = .
L2
Agora o problema (3.6) é
c2 n2 π 2
G′′ (t) + G(t) = 0,
L2
cuja solução geral é
cnπt cnπt
Gn (t) = cn cos + dn sen . (3.8)
L L
Portanto, as soluções fundamentais da equação da onda que satisfazem às condições de fronteira são as
funções ( )
nπx cnπt cnπt
un (x, t) = sen cn cos + dn sen . (3.9)
L L L
O candidato à solução de (3.4) é a série infinita
∞
∑ ( )
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen cn cos + dn sen .
n=1
L L L
Os seus coeficientes an , bn são determinados através das condições iniciais. Como u(x, 0) = f (x), temos
∞
∑ nπx
f (x) = cn sen ,
n=1
L
Mais uma vez, é possı́vel provar rigorosamente que este candidato é de fato a única solução para o problema
(3.4) sob hipóteses razoáveis:
3.2 Teorema. Sejam f, g : [0, L] → R funções tais que f é de classe C 2 e g é de classe C 1 , satisfazendo
f (0) = f (L) = f ′′ (0) = f ′′ (L) = g(0) = g(L) = 0. Então
∑∞ ( )
nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen cn cos + dn sen
n=1
L L L
com
∫ L
2 nπx
cn = f (x) sen dx,
L 0 L
∫ L
2 nπx
dn = g(x) sen dx,
cnπ 0 L
b e de classe C 2 em R.
é a única solução para (3.4), contı́nua em R
3.3 Exemplo. Resolva o problema
utt = uxx se 0 < x < π e t > 0,
u(0, t) = u(π, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = sen x se 0 6 x 6 π,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 π.
Observe que em cada instante de tempo t a forma da corda é uma senoidal, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Por exemplo,
√
u(x, 0) = sen√x, u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) = 0,
√
u(x, π/2) = 0, √ u(x, 7π/4) = 22 sen x
u(x, 3π/4) = − 22 sen x, u(x, 2π) = sen x.
u(x, π) = − sen x,
u
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
x
−0.2
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Este exemplo ilustra de forma clara a diferença da equação do calor para a equação da onda. Na equação
da onda, o termo dependente de t também é uma função periódica, de modo que a corda vibra. Na equação
do calor, diferentemente, o termo dependente de t é um decaimento exponencial em t: o calor se propaga (e
se dissipa) rapidamente.
3.4 Exemplo. Resolva o problema
utt = uxx se 0 < x < π e t > 0,
u(0, t) = u(π, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 π,
ut (x, 0) = sen x se 0 6 x 6 π.
Pelo método de separação de variáveis, obtemos
u(x, t) = sen x sen t.
Aqui também a forma da corda é uma senoidal em cada instante de tempo t, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Apenas o intervalo de tempo é deslocado de uma constante, porque a corda começa
do repouso: √
u(x, 0) = 0, √ u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) = sen√x,
u(x, π/2) = sen
√
x, u(x, 7π/4) = − 22 sen x
2
u(x, 3π/4) = 2 sen x, u(x, 2π) = 0.
u(x, π) = 0,
3.5 Teorema. (Solução de D’Alembert, 1747) Suponha que u é uma função de classe C 2 que satisfaz a
equação da onda
utt = c2 uxx
onde c é uma constante. Então existem funções F, G : R → R de classe C 2 tais que
Prova: Se u é da forma u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct), para algumas funções F, G de classe C 2 , então u é
uma solução de classe C 2 da equação da onda porque
ux = F ′ (x + ct) + G′ (x − ct),
uxx = F ′′ (x + ct) + G′′ (x − ct),
ut = cF ′ (x + ct) − cG′ (x − ct),
utt = c2 F ′′ (x + ct) + c2 G′′ (x − ct) = c2 uxx .
Reciprocamente, para provar que toda solução da onda tem esta forma, vamos primeiro introduzir novas
variáveis
r = x + ct e s = x − ct
e definir uma nova função v(r, s) por
ux = vr rx + vs sx = vr + vs ,
uxx = (ux )x = (vr + vs )x = vrr rx + vrs sx + vsr rx + vss sx = vrr + 2vrs + vss ,
ut = vr rt + vs st = c(vr − vs ),
utt = (ut )t = c(vr − vs )t = c[vrr rt + vrs st − vsr rt − vss st ] = c2 (vrr − 2vrs + vss ).
Aqui usamos o fato de que v é de classe C 2 para garantir que vrs = vsr .
Como utt = c2 uxx , segue que
e, portanto,
vrs = 0.
É fácil resolver esta equação por integração simples. Por exemplo, (vr )s = 0 implica que vr é constante em
relação a s, isto é, vr é uma função apenas de r:
vr (r, s) = f (r);
∫
Definindo F (r) = f (r)dr, segue que F é de classe C 2 e
com F e G de classe C 2 .
A expressão F (x + ct) é chamada uma onda viajante movendo-se para a esquerda com velocidade c, porque
o gráfico de F (x + ct) é o gráfico de F (x) deslocado ct unidades para a esquerda. Analogamente, G(x − ct) é
uma onda viajante movendo-se para a direita com velocidade ct. A solução da equação da onda é portanto
a soma de duas ondas viajantes, movendo-se com a mesma velocidade mas em sentidos opostos.
u u u
x x x
u u u
x x x
u u u
x x x
nπc
Mas, os coeficientes cn , dn são por definição os coeficientes de Fourier que aparecem na série de Fourier
L
de senos de f e g, logo
∞
∑ nπx
fe(x) = cn sen ,
n=1
L
∑∞
nπc nπx
ge(x) = dn sen .
n=1
L L
Portanto,
∫ ∞ ∞
1 x+ct
1∑ nπ(x − ct) 1 ∑ nπ(x + ct)
ge(s) ds = dn cos − dn cos . (3.16)
2c x−ct 2 n=1 L 2 n=1 L
Como vimos antes, as funções F e G não podem ser determinadas de maneira única porque se k é uma
constante arbitrária, então F + k e G − k levam à mesma solução para o problema. Mas por este mesmo
motivo, não há perda de generalidade se impusermos a condição
F (0) = 0.
Além disso, o problema envolve apenas os valores de x e t tais que 0 6 x 6 L e t > 0, logo apenas os
valores de F em [0, +∞) e de G em (−∞, L] são relevantes para a solução. Estes valores serão unicamente
determinados pelas condições iniciais e de fronteira.
Das condições iniciais do problema, obtemos
se 0 6 x 6 L. Como f (0) = F (0) = 0, segue que G(0) = 0. Integrando a última expressão, obtemos
∫
1 x
F (x) − G(x) = g(s) ds
c 0
Rodney Josué Biezuner 77
se 0 6 x 6 L. Concluı́mos que
∫ x
1 1
F (x) = f (x) + g(s) ds,
2 2c 0
∫ x
1 1
G(x) = f (x) − g(s) ds
2 2c 0
para x ∈ [0, L]. Para encontrar os valores de F e G além deste intervalo, usamos as condições de fronteira.
De u(0, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (ct) + G(−ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
e de u(L, t) = 0 para todo t > 0, obtemos F (L + ct) + G(L − ct) = 0 para todo t > 0, isto é,
(Em outras palavras, G em [−L, 0] é a extensão ı́mpar da restrição de F ao intervalo [0, L].) Agora, se fe, ge
são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, então para x 6 0 temos
fe(x) = −f (−x),
∫ −x ∫ −x ∫ x
g(s) ds = − ge(−s) ds = ge(s) ds,
0 0 0
de modo que ∫ x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo − L 6 x 6 L.
2 2c 0
ou, tomando x = −y + L,
G(y) = G(y − 2L) para todo y 6 L,
o que significa que G é a restrição a (−∞, L] de uma função periódica de perı́odo 2L. Segue então de (3.17)
que o gráfico de F em [0, +∞) é obtido do gráfico de G em (−∞, 0] por simetria com respeito à origem, de
modo que F é a restrição a [0, +∞) de uma função periódica de perı́odo 2L. Portanto,
∫
1 1 x
F (x) = fe(x) + ge(s) ds para todo x > 0,
2 2c ∫ 0 (3.19)
x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo x 6 L.
2 2c 0
Para que F e G sejam de classe C 2 , precisamos que f seja de classe C 2 e que g seja de classe C 1 . Além
disso, como fe é ı́mpar, derivando fe(x) = −fe(−x) duas vezes produz fe′′ (x) = −fe′′ (−x) para todo x; em
Rodney Josué Biezuner 78
particular, fe′′ (0) = −fe′′ (0), o que implica fe′′ (0) = 0, e fe′′ (L) = −fe′′ (−L) = −fe′′ (L) (porque fe tem perı́odo
2L), logo fe′′ (L) = 0 também.
Como F e G foram determinadas de maneira única nos intervalos [0, +∞) e (−∞, L], respectivamente,
segue que a única solução para o problema é
∫ x+ct
1 e e 1
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + ge(s) ds.
2 2c x−ct
É fácil verificar a partir desta expressão que a solução depende continuamente dos valores iniciais, pois
se u1 e u2 são soluções de (3.4) correspondentes aos valores iniciais f1 , g1 e f2 , g2 , respectivamente, então
∫
1 e e e e
1 x+ct
|u1 (x, t) − u2 (x, t)| 6 f1 (x + ct) + f1 (x − ct) − f2 (x + ct) − f2 (x − ct) + [ge1 (s) − ge2 (s)] ds
2 2c x−ct
∫ x+ct
1 1
1
6 fe1 (x + ct) − fe2 (x + ct) + fe1 (x − ct) − fe2 (x − ct) + max |ge1 − ge2 | ds,
2 2 2c [x−ct,x+ct] x−ct
Como
e
f1 (x + ct) − fe2 (x + ct) 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
e
f1 (x − ct) − fe2 (x − ct) 6 max |f1 − f2 | ,
[0,L]
cnπt cnπt
= cn cos + dn sen .
L L
Portanto,
∞
∑ ( )
nπx cnπt
u(x, t) = αn sen sen + θn . (3.20)
n=1
L L
Esta é a chamada solução de Bernoulli e é imediatamente passı́vel de interpretações fı́sicas. Para cada n,
as vibrações individuais (isto é, soluções da equação da onda sob as mesmas condições de fronteira (i.e.,
extremidades fixas), mas sem especificar a condição inicial)
( )
nπx cnπt
un (x, t) = αn sen sen + θn
L L
são chamados harmônicos. A vibração da corda é a superposição destes infinitos harmônicos. Se consider-
armos apenas o harmônico un cada ponto da corda se moveria com as seguintes caracterı́sticas:
nπx
amplitude αn sen ,
L
fase θn ,
2L
perı́odo ,
cn
cn
frequência .
2L
Em particular, a frequência em todos pontos da corda para cada harmônico é a mesma, e aumenta linearmente
com n. A frequência do primeiro harmônico, chamado o harmônico fundamental, é a chamada a frequência
fundamental da corda: √
c 1 τ
ω1 = = .
2L 2L ρ
Note ainda que para cada harmônico existem pontos da corda que não se movem (os zeros da função sen nπx L );
estes são chamados pontos nodais.
O ouvido humano é capaz de distinguir poucos harmônicos. Isso se deve não só pelo fato da frequência dos
harmônicos aumentar linearmente com o ı́ndice n, como também porque a amplitude e, consequentemente,
a energia destes harmônicos decrescer com n. Para ver isso, vamos calcular a energia de cada harmônico.
Rodney Josué Biezuner 80
se as extremidades da corda estão fixadas de modo que ut (0, t) = ut (L, t) = 0, ou se as condições de fronteira
são tais que ux (0, t) = ux (L, t) = 0. Logo,
∫ t0 (∫ )
L
1 d
T = −τ 2
ux (x, t) dx dt
0 2 dt 0
∫ ∫
τ L 2 τ L 2
= ux (x, 0) dx − u (x, t0 ) dx,
2 0 2 0 x
o que mostra que o trabalho da tensão para levar a corda da configuração inicial para a configuração final
depende apenas destas duas e portanto independe das configurações intermediárias, o que nos permite definir
esta expressão como uma energia potencial.
Portanto, a energia total da corda é
∫ ∫
τ L 2 ρ L 2
E (t) = U (t) + K (t) = ux (x, t) dx + u (x, t) dx. (3.23)
2 0 2 0 t
Na verdade, como a corda vibrante nesta situação é um sistema conservativo (não há forças dissipadoras de
energia e o sistema é isolado de influências externas ou estas são desprezı́veis), a energia total da corda é
constante e igual à sua energia no instante 0 (este fato é rigorosamente demonstrado no Teorema 3.10) ou
seja,
∫ ∫
τ L 2 ρ L 2
E (t) = E (0) = u (x, 0) dx + u (x, 0) dx.
2 0 x 2 0 t
Se u (x, 0) = f (x) e ut (x, 0) = g (x), segue que a energia total da corda pode ser expressa em função das
condições iniciais como
∫ ∫
τ L ′ ρ L
E= [f (x)]2 dx + [g(x)]2 dx. (3.24)
2 0 2 0
Rodney Josué Biezuner 81
onde an , bn são os coeficientes de Fourier de h. Como vimos antes, se u (x, 0) = f (x) e ut (x, 0) = g (x), os
coeficientes cn e dn são tais que
∑∞
nπx
f (x) = cn sen ,
n=1
L
∑∞
cnπ nπx
g(x) = dn sen ,
n=1
L L
de modo que
∑∞
nπ nπx
f ′ (x) = cn cos ,
n=1
L L
e a identidade de Parseval implica portanto que
∫ ∫ ∑∞ ∑∞
τ L ′ ρ L n2 π 2 2 c2 n2 π 2 2
E= [f (x)]2 dx + [g(x)]2 dx = ρc2 L 2
c n + ρL dn
2 0 2 0 n=1
L n=1
L2
∞
∑ ∞
∑ ∞
∑
( )
= M π2 ωn2 c2n + d2n = M π 2 αn2 ωn2 = En .
n=1 n=1 n=1
onde
hx se 0 6 x 6 a,
f (x) = a
L−x
h se a 6 x 6 L.
L−a
(Supõe-se que o músico dedilha a corda em um ponto distante a da extremidade 0 a uma altura h.) Os
harmônicos deste problema são encontrados diretamente encontrando a série de Fourier de f (já que
dn = 0, pois não há velocidade inicial, o músico simplesmente solta a corda):
( )
2h L2 nπa nπx cnπt
un (x, t) = sen sen cos .
a(L − a) n π
2 2 L L L
A vibração total da corda é a superposição destes harmônicos. Observe que, dependendo do ponto
a, alguns harmônicos podem estar ausentes (correspondentes a sen nπa L = 0); estes são os chamados
harmônicos mudos. Por exemplo, se a = L/2, todos os harmônicos pares são mudos. Em geral, se o
ponto a for um ponto nodal do n-ésimo harmônico, este será mudo. O primeiro harmônico (que não
possui pontos nodais) nunca é mudo.
A altura do som é medida pela frequência, e em geral ela é dada pelo harmônico fundamental
√
1 τ
ω1 = .
2L ρ
Assim, quanto menor o comprimento da corda, maior é a frequência, recurso utilizado nos instrumentos
musicais e pelos músicos. Além disso, a frequência depende da tensão, daı́ a necessidade de se afinar
os instrumentos musicais, pois com o passar do tempo a tensão em suas cordas varia.A intensidade
depende da energia, já o timbre é uma qualidade que depende da forma global de u(x, t) e portanto
permite distinguir entre instrumentos diferentes.
u
u
u
x
x
x
u
u u x
x
u
u x
u x
x
Rodney Josué Biezuner 83
Prova: Suponha que u1 e u2 sejam duas soluções do problema acima. Então u = u1 − u2 é solução do
problema
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L.
É claro que a energia inicial é E(0) = 0. Logo, pelo princı́pio de conservação da energia,
∫ ∫
τ L 2 ρ L 2
E(t) = ux (x, t) dx + u (x, t) dx = 0
2 0 2 0 t
para todo t. Segue que ux (x, t) = ut (x, t) = 0, portanto u é constante. Mas u(0, t) = 0, logo esta constante
é a constante nula, isto é, u ≡ 0 e portanto u1 = u2 .
Rodney Josué Biezuner 84
3.5 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Use o método de separação de variáveis para resolver os seguintes problemas de valor ini-
cial e de fronteira (em alguns problemas, pode ser necessário encontrar antes a solução de “estado
estacionário”).
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(a) ux (0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(c) u(0, t) = A, u(L, t) = B se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(d) u(0, t) = A + Bt, u(L, t) = C + Dt se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(e) (Corda sujeita à ação da gravidade)
utt = c2 uxx − g se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = 0, u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L.
(i) (Corda percurtida por um martelo plano) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, {
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v se |x − a| 6 δ,
com g(x) =
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
Rodney Josué Biezuner 85
(j) (Corda percurtida por um martelo convexo) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0, {
π (x − a)
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0, v cos se |x − a| 6 δ,
com g(x) = 2δ
u(x, 0) = 0
se 0 6 x 6 L, se |x − a| > δ.
0
ut (x, 0) = g (x) se 0 6 x 6 L,
Exercı́cio 3.2. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do exercı́cio
anterior e veja como a solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 3.3. (Princı́pio de Duhâmel) Mostre que a solução do problema de Dirichlet para a equação da
onda não-homogênea com condições iniciais homogêneas
utt = c2 uxx + q(x, t) se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t > 0,
u(x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut (x, 0) = 0 se 0 6 x 6 L,
é dada por ∫ t
u(x, t) = u(x, t; s) ds,
0
onde u (x, t, s) é a solução do problema de Dirichlet para a equação da onda homogênea
utt (x, t; s) = c2 uxx (x, t; s) se 0 6 x 6 L e t > s,
u(0, t; s) = u(L, t; s) = 0 se t > s,
u(x, s; s) = 0 se 0 6 x 6 L,
ut (x, s; s) = q(x, s) se 0 6 x 6 L.
Exercı́cio 3.5. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), crie uma animação para ver como as funções F e G se
sobrepõe para criar a solução u para o problema de Dirichlet da equação da onda em um intervalo
[0, L]. Escolha vários pares de funções F e G que satisfaçam as condições do Teorema 3.5.
Exercı́cio 3.6. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
utt = c2 uxx − g
é
g
u (x, t) = x (x − 1) + F (x + ct) + G(x − ct),
2c2
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 .
Exercı́cio 3.7. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Neumann homogêneo para a equação da
onda.
Exercı́cio 3.8. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Robin homogêneo para a equação da
onda com condições de fronteira u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0.
Rodney Josué Biezuner 86
Exercı́cio 3.9. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
é ∫
1
u (x, t) = F (x + ct) + G(x − ct) + q (r, s) drds,
2c T
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 e T é o triângulo de vértices (x − ct, 0), (x + ct, 0) e
(x, t).
Vamos agora obter uma formulação matemática para cada termo que aparece na expressão acima.
A quantidade total da substância dentro do volume de controle no instante de tempo t é
∫ b
Quantidade total da substância
= u(x, t)A dx.
dentro do volume de controle a
Definimos o fluxo ϕ(x, t) da substância no tempo t como sendo a quantidade da substância fluindo através
da seção transversal em x no tempo t por unidade de área, por unidade de tempo. Assim as dimensões de
ϕ são [ϕ] = quantidade da substância / (área × tempo). Por convenção, ϕ será positivo se a substância
estiver se movendo na direção positiva do eixo x, e negativo se ela estiver se movendo na direção negativa
do eixo x. Portanto, no tempo t, a quantidade lı́quida de substância permanecendo no volume de controle
será a diferença entre a quantidade da substância entrando em x = a e a quantidade da substância saindo
em x = b:
Taxa de transferência lı́quida da substância
= ϕ(a, t)A − ϕ(b, t)A.
para dentro do volume de controle
A taxa de criação ou destruição da substância, que chamaremos de termo fonte e denotaremos por
f (x, t, u), tem dimensões [f ] = quantidade da substância / (volume × tempo), tendo sinal positivo se a
substância é criada dentro do volume de controle e negativa se a substância for destruı́da dentro do volume
de controle. Observe que ela pode depender da própria quantidade da substância disponı́vel, medida pela
densidade u. A taxa de criação ou destruição da substância dentro do volume de controle é então dada por
∫ b
Taxa de criação da substância
= f (x, t, u)A dx.
dentro do volume de controle a
Assim, após cancelar o termo comum A, a lei de conservação pode ser matematicamente escrita na forma
∫ b ∫ b
d
u(x, t) dx = ϕ(a, t) − ϕ(b, t) + f (x, t, u) dx. (3.26)
dt a a
Esta é a lei de conservação na forma integral, valendo mesmo se u, ϕ ou f não forem funções diferenciáveis
(o que pode ocorrer em certos fenômenos fı́sicos, como por exemplo naqueles que envolvem ondas de choque
ou outros tipos de descontinuidade). Se estas funções forem continuamente diferenciáveis, podemos derivar
sob o sinal de integração na primeira integral
∫ ∫ b
d b
u(x, t) dx = ut (x, t) dx
dt a a
3.12 Exemplo. (Equação do Calor) No caso da equação do calor, a relação constitutiva é a lei de Fourier:
et + ϕx = 0.
cρut − kuxx = 0,
ut = Kuxx .
3.13 Exemplo. (Equação da Difusão) Não apenas na difusão do calor, mas em muitos outros processos
fı́sicos observa-se que a substância flui a uma taxa diretamente proporcional ao gradiente de densidade,
de regiões de maior densidade para regiões de menor densidade. Esta relação geral é chamada de lei
de Fick :
ϕ(x, t) = −Dux (x, t), (3.28)
onde D é a constante de difusão. Se o termo fonte é independente de u, obtemos de maneira análoga
à equação do calor a equação da difusão
ut = Duxx . (3.29)
O nome difusão vem do fato de que a substância difunde-se para regiões adjacentes por causa de
gradientes (i.e., diferenças) de concentração, e não porque é transportada pela corrente (i.e., não
através de convecção). Por este motivo, o termo Duxx é chamado de termo difusivo.
Além do calor, exemplos de outras substâncias que se comportam assim são substâncias quı́micas
dissolvidas em algum fluido (neste caso, u representa a concentração quı́mica) e até mesmo populações
de insetos. Além de ser confirmada através de observações empı́ricas, a lei de Fick que governa estes
e vários outros fenômenos fı́sicos e biológicos pode ser justificada teoricamente através de argumentos
baseados em modelos probabilı́sticos e caminhos aleatórios.
3.14 Exemplo. (Equação da Continuidade) Se ρ denota a densidade de um fluido e c é a velocidade de
escoamento do fluido, o fluxo de massa (taxa de transferência de massa, medida em quantidade de
massa / (área)×(tempo)) é dado por
ρt + (ρc)x = 0.
3.15 Exemplo. (Equação do Transporte) Quando a velocidade do fluido é constante, o fluxo de massa
é dado por uma relação linear simples. No caso unidimensional (por exemplo, quando o fluido está
restrito a um tubo ou cano), o fluxo é
ϕ = cρ, (3.30)
onde c é a velocidade do fluido e denotamos a densidade por u. Neste caso, a equação da continuidade
torna-se
ρt + cρx = 0. (3.31)
Esta é a chamada equação do transporte ou equação da advecção. Advecção refere-se ao movi-
mento horizontal de uma propriedade fı́sica. Este é o modelo mais simples de convecção.
ut + cux = 0,
onde (x, t) ∈ R × R e c é a velocidade escalar do fluido: convencionamos c > 0 se o fluido está movendo-se
para a direita e c < 0 se o fluido está movendo-se para a esquerda. Esta é uma equação diferencial parcial
de primeira ordem linear e é a equação diferencial parcial mais simples.
Uma solução para esta equação é uma função u : R × R −→ R de classe C 1 . Voltando ao modelo
fı́sico, onde u representa a densidade de massa, fica claro qual deve ser o aspecto geral da solução desta
equação. Dada uma distribuição de massa u(x, t0 ) em um certo instante de tempo t0 , a distribuição de
densidade de massa u(x, t1 ) no instante de tempo posterior t1 será exatamente a distribuição de densidade
de massa anterior deslocada espacialmente pela distância percorrida pelo fluido no intervalo de tempo ∆t =
t1 − t0 . Dado que o fluido se move com velocidade constante c, esta distância é c∆t. Portanto, devemos
ter u(x, t1 ) = u(x − c(t1 − t0 ), t0 ). A distribuição de densidade u(x, t) é transportada horizontalmente pelo
movimento do fluido, daı́ o nome equação do transporte ou equação da advecção. Esta expectativa intuitiva
é demonstrada rigorosamente no teorema a seguir. Nele vemos que a equação do transporte linear com
coeficientes constantes possui uma solução geral, o que não é usual para equações diferenciais parciais,
mesmo lineares. Esta solução geral permite resolver o problema de existência e unicidade para o problema
de valor inicial da equação do transporte.
ut + cux = 0 em R × R
é
u(x, t) = f (x − ct) (3.32)
para alguma função f : R −→ R de classe C 1 .
u(x, t) = f (x − ct)
Isso significa que v é uma função constante. Defina uma função diferenciável f : R −→ R por
Segue que
f (x − ct) = u(x − ct, 0) = v(x,t) (−t) = v(x,t) (0) = u(x, t).
Na demonstração do Teorema 3.16, vimos que v é uma função constante. Em particular, isso implica que
para cada ponto fixado (x0 , t0 ), u é constante ao longo da reta que passa por (x0 , t0 ) e tem inclinação c (esta
é precisamente a reta s 7→ (x0 + cs, t0 + s), ou s 7→ (x0 , t0 ) + s(c, 1)); estas são as retas
x − ct = constante.
Portanto, se soubermos o valor de u em qualquer ponto desta reta, saberemos o valor de u em todos os
pontos da reta. Expressamos este fato através de uma analogia fı́sica, dizendo que a informação sobre o
valor de u em um ponto da reta é transmitida para todos os pontos da reta; se o parâmetro t é interpretado
como representando o tempo decorrido, então podemos dizer que a informação é transmitida com velocidade
c. Esta reta é chamada uma reta caracterı́stica do problema.
Podemos também enxergar a solução como o gráfico de f (a onda) movendo-se com velocidade c para a
direita, se c > 0, ou para a esquerda, se c < 0.
Observe que faz sentido atribuir ao problema de valor inicial
{
ut + cux = 0 se x ∈ R e t ∈ R,
u(x, 0) = f (x) se x ∈ R,
uma solução mesmo se a condição inicial f não for de classe C 1 . Isto é claro se f for diferenciável, mas mesmo
se f é apenas contı́nua, ainda assim u(x, t) = f (x − ct) deve ser a solução do problema (imagine f como
representando a concentração inicial de uma substância quı́mica em um fluido, incapaz de se difundir neste
fluido: esta concentração inicial, mesmo que apenas contı́nua, é deslocada, para a direita ou para a esquerda,
com o movimento do fluido). Na verdade, isto faz sentido mesmo se f for descontı́nua (as descontinuidades
são igualmente transportadas pelo movimento do fluido). Neste caso, dizemos que u(x, t) = f (x − ct) é uma
solução fraca para o problema; quando u(x, t) é de classe C 1 , o que ocorre se e somente se f for de classe
C 1 , u é chamada uma solução clássica.
Rodney Josué Biezuner 91
H P
bem diferente da equação anterior v ′′ (x) = a. Note que esta é uma equação diferencial não-linear. A solução
geral desta equação diferencial ordinária de segunda ordem é
(x )
v(x) = a cosh + c1 + c2 .
a
Substituindo as condições v(0) = 0 e v(L) = 0, obtemos os valores das constantes c1 e c2 .
Capı́tulo 4
Neste capı́tulo iniciamos o estudo das equações da onda e do calor em dimensões 2 e 3. Isso nos levará
naturalmente ao estudo da equação de Laplace no próximo capı́tulo. Aqui nos restringiremos a domı́nios
retangulares.
onde, para cada y ∈ [0, b], os coeficientes de Fourier são dados por
∫
1 a nπx
an (y) = f (x, y) cos dx para n > 0,
a −a a
∫ a
1 nπx
bn (y) = f (x, y) sen dx para n > 1.
a −a a
Em seguida, suponha que cada um dos coeficientes an , bn : [0, b] → R, que na verdade são funções de y, tenha
regularidade suficiente, de modo que se estendermos cada um deles a uma função periódica de perı́odo 2b,
podemos escrever
∞ (
an0 ∑ mπy mπy )
an (y) = + anm cos + bnm sen para n > 0,
2 m=1
b b
∞ (
cn0 ∑ mπy mπy )
bn (y) = + cnm cos + dnm sen para n > 1,
2 m=1
b b
onde
93
Rodney Josué Biezuner 94
∫ b
1 mπy
anm = an (y) cos dy para m > 0,
b −b b
∫ b
1 mπy
bnm = an (y) sen dy para m > 1,
b −b b
e
∫ b
1 mπy
cnm = bn (y) cos dy para m > 0,
b −b L
∫ b
1 mπy
dnm = bn (y) sen dy para m > 1.
b −b L
Em outras palavras,
[ ∞ (
]
1 a00 ∑ mπy mπy )
f (x, y) = + a0m cos + b0m sen
2 2 m=1
b b
[ ∞ (
]
mπy )
∑∞ ∑
an0 mπy nπx
+ + anm cos + bnm sen cos
n=1
2 m=1
b b a
[ ∞ (
]
mπy )
∑∞ ∑
cn0 mπy nπx
+ + cnm cos + dnm sen sen ,
n=1
2 m=1
b b a
de modo que
1 ∑( nπx ) 1 ∑ ( mπy )
∞ ∞
a00 nπx mπy
f (x, y) = + an0 cos + cn0 sen + a0m cos + b0m sen
4 2 n=1 a a 2 m=1 b b
∞ (
∑ nπx mπy nπx mπy nπx mπy nπx mπy )
+ anm cos cos + bnm cos sen + cnm sen cos + dnm sen sen
n,m=1
a b a b a b a b
onde ∫ ∫
1 a b nπx mπy
anm = f (x, y) cos cos dxdy para n, m > 0,
ab −a −b a b
∫ a∫ b
1 nπx mπy
bnm = f (x, y) cos sen dxdy para n > 0, m > 1,
ab −a −b a b
∫ a∫ b (4.1)
1 nπx mπy
cnm = f (x, y) sen cos dxdy para n > 1, m > 0,
ab −a −b a b
∫ a∫ b
1 nπx mπy
dnm = f (x, y) sen sen dxdy para n, m > 1.
ab −a −b a b
O teorema a seguir dá as condições que f precisa satisfazer para que a série definida acima seja convergente
e convirja para f :
4.1 Teorema Seja f : R2 −→ R uma função de classe C 1 , periódica de perı́odo 2a na variável x e periódica
de perı́odo 2b na variável y e tal que existe a derivada parcial mista fxy em cada ponto. Então a série
de Fourier de f definida acima converge uniformemente para f .
De maneira completamente análoga é possı́vel definir séries de Fourier triplas e vale um teorema semel-
hante para elas.
Rodney Josué Biezuner 95
∫ [∫ ] ∫ [ ∫ b ]
a b
1 mπy nπx 1 a mπy nπx
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 2 f (x, y) cos dy cos dx
ab −a −b b a ab −a 0 b a
∫ [∫ a ] ∫ [ ∫ a ]
2 b nπx mπy 2 b nπx mπy
= f (x, y) cos dx cos dy = 2 f (x, y) cos dx cos dy
ab 0 −a a b ab 0 0 a b
∫ ∫
4 a b nπx mπy
= f (x, y) cos cos dxdy,
ab 0 0 a b
∫ [∫ b ]
1 a mπy nπx
bnm = f (x, y) sen dy cos dx = 0,
ab −a −b b a
∫ [∫ a ]
1 b nπx mπy
cnm = f (x, y) sen dx cos dy = 0,
ab −b −a a b
∫ [∫ a ]
1 b nπx mπy
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 0.
ab −b −a a b
• f é ı́mpar com relação a ambas as variáveis x e y, isto é,
f (x, y) = −f (−x, y) ,
f (x, y) = −f (x, −y) .
Então,
∫ [∫ ]
a b
1 mπy nπx
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 0,
ab −a −b b a
∫ [∫ a ]
1 1 b nπx mπy
bnm = = f (x, y) cos dx sen dy = 0,
ab ab −b −a a b
∫ [∫ b ]
1 a mπy nπx
cnm = f (x, y) cos dy sen dx = 0,
ab −a −b b a
∫ [∫ ] ∫ [ ∫ a ]
a b
1 nπx mπy 1 b nπx mπy
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 2 f (x, y) sen dx sen dy
ab −a −b a b ab −b 0 a b
∫ [∫ b ] ∫ [ ∫ b ]
2 a mπy nπx 2 a mπy nπx
= f (x, y) sen dy sen dx = 2 f (x, y) sen dy sen dx
ab 0 −b b a ab 0 0 b a
∫ ∫
4 a b nπx mπy
= f (x, y) sen sen dxdy.
ab 0 0 a b
Rodney Josué Biezuner 96
É claro que outras situações são possı́veis, por exemplo f par em uma variável e ı́mpar na outra. Em cada
caso, o cálculo dos coeficientes de Fourier pode ser simplificado usando os argumentos acima. Propriedades
semelhantes também podem ser usadas para simplificar o cálculo dos coeficientes de Fourier de séries de
Fourier triplas.
Aqui dv denota o elemento de volume dx dy dz. Em 3 dimensões, o fluxo pode ser em qualquer direção, logo
ele é uma grandeza vetorial que denotaremos por ϕ(x, t). Se η(x) denota o vetor unitário normal apontando
para fora da região V , a taxa de transferência lı́quida da substância para fora do volume de controle através
de sua fronteira ∂V é dada por
∫
Taxa de transferência lı́quida da substância
= ϕ(x, t) · η(x) ds,
para fora do volume de controle ∂V
onde ds denota o elemento de área da superfı́cie do volume de controle. A lei de conservação é, portanto,
∫ ∫ ∫
d
u(x, t) dv = − ϕ(x, t) · η(x) ds + f (x, t, u) dv. (4.2)
dt V ∂V V
Se u, ϕ e f forem todas de classe C 1 (assim como a fronteira do volume de controle), podemos derivar sob
o sinal de integração e usar o Teorema da Divergência
∫ ∫
ϕ(x, t) · η(x) ds = div ϕ(x, t) dv,
∂V V
para obter a lei de conservação em forma diferencial (o volume de controle foi escolhido arbitrariamente):
De fato, para materiais isotrópicos (isto é, materiais em que não existem direções preferenciais) verifica-
se experimentalmente que o calor flui de pontos quentes para pontos frios na direção em que a diferença
de temperatura é a maior. O fluxo de calor é proporcional à taxa de variação da temperatura nesta
direção, com a constante de proporcionalidade k sendo a condutividade térmica do meio. Como
sabemos, a direção onde uma função cresce mais rápido é exatamente aquela dada pelo vetor gradiente
da função, e o módulo do gradiente fornece a magnitude da taxa de variação da função nesta direção.
O sinal negativo ocorre, como no caso unidimensional, porque o vetor gradiente aponta na direção de
crescimento da temperatura, enquanto que o fluxo do calor se dá na direção oposta (da temperatura
maior para a temperatura menor). O fluxo do calor em uma região bi ou tridimensional pode ser
facilmente visualizado quando se lembra que o gradiente de uma função é perpendicular às superfı́cies
de nı́vel da função. No caso em que a função é a temperatura, as superfı́cies de nı́vel são chamadas
superfı́cies isotérmicas ou, simplesmente, isotermas. Assim, o calor flui das isotermas mais quentes
para as isotermas mais frias, e em cada ponto da isoterma perpendicularmente à isoterma. Em outras
palavras, as linhas de corrente do fluxo de calor correspondem às linhas de fluxo do campo gradiente
da temperatura.
Sem a presença de termo fonte, a lei de conservação na forma diferencial é
et + div ϕ = 0.
onde e(x, t) = cρu(x, t) é a densidade de energia térmica. Substituindo a relação constitutiva obtemos
ou
ut = K∆u, (4.7)
Rodney Josué Biezuner 98
Para que o problema da condução do calor em uma placa bidimensional Ω ⊂ R2 possua uma solução única,
é necessário dar a condição inicial e a condição de fronteira, como no caso unidimensional. Por exemplo,
podemos ter um problema de Dirichlet homogêneo:
ut = k∆u se (x, y) ∈ Ω e t > 0,
u(x, y, t) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω e t > 0, (4.9)
u(x, y, 0) = f (x, y) se (x, y) ∈ Ω,
Também podemos ter problemas não-homogêneos ou com condição de Robin (condições de Dirichlet em
porções da fronteira ∂Ω e condições de Neumann em outras porções da fronteira).
De agora em diante assumiremos que Ω é um retângulo R = (0, a) × (0, b) (chapa retangular). No caso
em que Ω é um retângulo, a condição inicial se escreve como
Desta vez, usando o método de separação de variáveis, vamos tentar encontrar uma solução para o problema
que seja o produto de três funções de uma variável:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
ut = F (x)G(y)H ′ (t),
uxx = F ′′ (x)G(y)H(t),
uyy = F (x)G′′ (y)H(t).
Rodney Josué Biezuner 99
Como o lado esquerdo desta equação é uma função somente de t e o lado direito é uma função apenas de
x, y, segue que ambos os lados são constantes:
donde
F ′′ (x) G′′ (y)
=− + σ = ρ.
F (x) G(y)
Pelo método de separação de variáveis, chegamos portanto às seguintes equações diferenciais ordinárias:
F ′′ (x) − ρF (x) = 0,
G′′ (y) + (ρ − σ)G(y) = 0,
H ′ (t) − σKH(t) = 0.
a menos que u seja a solução identicamente nula (porque as soluções das equações diferenciais ordinárias
de F , G e H não produzem nenhuma solução que se anula em conjuntos diferentes de pontos isolados).
Obtemos, portanto, os problemas de Sturm-Liouville
{ ′′ { ′′
F (x) − ρF (x) = 0, G (y) − (σ − ρ)G(y) = 0,
e
F (0) = F (a) = 0, G(0) = G(b) = 0,
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para ρ = − ,
a a2
e
mπy m2 π 2
Gm (y) = sen para σ − ρ = − .
b b2
Segue que ( )
m2 π 2 n2 π 2 m2 π 2 n2 m2
σ =ρ− = − − = −π 2 +
b2 a2 b2 a2 b2
e o problema em t é ( )
′ n2 m2
H (t) − Kπ 2
+ H(t) = 0,
a2 b2
Rodney Josué Biezuner 100
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y:
∞
∑ nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
ou seja,
∫ a∫ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.14)
ab 0 0 a b
Escrevendo
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t)
encontramos, como antes,
1 H ′ (t) F ′′ (x) G′′ (y)
= + =σ
K H(t) F (x) G(y)
e
F ′′ (x) G′′ (y)
=− + σ = ρ.
F (x) G(y)
As condições de fronteira desta vez implicam
F0 (x) = c para ρ = 0,
nπx n2 π 2
Fn (x) = cos para ρ = ,
a a2
Rodney Josué Biezuner 101
G0 (x) = c para σ = ρ,
mπy m2 π 2
Gm (y) = cos para σ − ρ = − .
b b2
Segue que o problema em t é ( )
n2 π 2 m2 π 2
H ′ (t) − K 2
+ H(t) = 0,
a b2
cujas solução geral é
H00 (t) = c,
2 n2
Hn0 (t) = e−π a2
Kt
,
2
−π 2 m Kt
H0m (t) = e a2 ,
( )
n2 2
−π 2 a2
+m
b2
Kt
Hnm (t) = e .
A solução do problema de calor da chapa com margens termicamente isoladas é, portanto,
∞ ( )
∑ −π 2 n2
+m
2
Kt nπx mπy
u(x, y, t) = Anm e a2 b2 cos cos , (4.16)
n,m=0
a b
o que é equivalente a escrever (redefinindo os coeficientes, de forma a obter uma mesma fórmula integral
para todos os coeficientes)
∞ ∞
A00 1∑ 2 n2 nπx 1 ∑ 2 m2 mπy
u(x, y, t) = + An0 e−π a2 Kt cos + A0m e−π a2 Kt cos
4 2 n=1 a 2 m=1 b
∞ ( )
∑ −π 2 n2
+m
2
Kt nπx mπy
+ Anm e a2 b2 cos cos ,
n,m=1
a b
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
par de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica par de perı́odo 2b na variável y:
∞ ∞ ∞
A00 1∑ nπx 1 ∑ mπy ∑ nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = + An0 cos + A0m cos + Anm cos cos ,
4 2 n=1 a 2 m=1 b n,m=1
a b
ou seja,
∫ a∫ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) cos cos dxdy, n, m > 0. (4.17)
ab 0 0 a b
são transversais, o que quer dizer, que cada ponto da membrana vibra apenas na direção perpendicular ao
plano do retângulo). É possı́vel mostrar que as vibrações desta membrana são então governadas pela equação
bidimensional da onda
utt = c2 (uxx + uyy ),
onde u(x, y, t) é o deslocamento com relação ao plano do retângulo no instante de tempo t e c(x, y, t) =
τ (t)/ρ(x, y). A equação da onda também pode ser escrita na forma compacta
utt = c2 ∆u.
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 6 x 6 a e 0 6 y 6 b,
ut (x, y, 0) = g(x, y) se 0 6 x 6 a e 0 6 y 6 b.
Pelo método de separação das variáveis, tentamos encontrar uma solução da forma:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
Como o lado esquerdo desta equação é uma função somente de t e o lado direito é uma função apenas de
x, y, segue que ambos os lados são constantes:
Pelo método de separação de variáveis, chegamos portanto às equações diferenciais ordinárias:
F ′′ (x) − ρF (x) = 0,
′′
G (y) + (ρ − σ)G(y) = 0,
H ′′ (t) − σc2 H(t) = 0.
A solução do problema é
∞
∑ nπx mπy
u(x, y, t) = sen sen (Anm cos λnm t + Bnm sen λnm t) . (4.21)
n,m=1
a b
onde os coeficientes Anm , Bnm são determinados como sendo os coeficientes das séries de Fourier duplas das
funções apropriadas. Temos
∞
∑ nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
de modo que, estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função
periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
∫ a∫ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.22)
ab 0 0 a b
e, portanto,
∞
∑ nπx mπy
g(x, y) = ut (x, y, 0) = λnm Bnm sen sen ,
n,m=1
a b
logo, procedendo de modo análogo estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x
e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
∫ a∫ b
4 nπx mπy
Bnm = g(x, y) sen sen dxdy. (4.23)
abλnm 0 0 a b
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
1.0
1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0
1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4
0.4
y 0.2 x y x
0.2 0.2
0.2
0.0 0.0
0.0 0.0
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
Figura 4.1. Gráficos de u12 , u21 , u22 , u13 , u23 , u32 , u31 , u33 .
Capı́tulo 5
A Equação de Laplace
∆u = 0. (5.1)
Esta é chamada a equação de Laplace (ou equação de Laplace homogênea). Como não há dependência
com o tempo, problemas envolvendo a equação de Laplace não possuem condições iniciais, mas apenas uma
condição de fronteira, que pode ser uma condição de Dirichlet
{
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
(5.2)
u(x, y) = f (x, y) se (x, y) ∈ ∂Ω,
ut = K∆u + q(x),
a solução de estado estacionário é solução da equação de Laplace não-homogênea, conhecida como a equação
de Poisson
∆u = f (x) . (5.5)
Além de descrever a distribuição de temperaturas no estado estacionário, a equação de Laplace descreve
as soluções de estado estacionário em diversos outros fenômenos fı́sicos, tais como propagação de ondas,
escoamento de fluidos, potencial elétrico e gravitacional, entre outros.
106
Rodney Josué Biezuner 107
então
u = u1 + u2 + u3 + u4 .
Para obter a solução geral do problema de Dirichlet, basta portanto resolver cada um dos quatro problemas
acima. A tı́tulo de exemplo, vamos resolver o segundo explicitamente:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 0, u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
segue que F ′′ (x)G(y) + F (x)G′′ (y) = 0 e portanto
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre as equações diferenciais ordinárias acima:
Logo, {
F ′′ (x) − σF (x) = 0,
F (0) = F (a) = 0,
e {
G′′ (y) + σG(y) = 0,
G(0) = 0.
As autofunções do primeiro problema são
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para σn = .
a a2
Rodney Josué Biezuner 108
A solução geral do segundo problema (de valor inicial) é conveniente escrever na forma
nπy nπy
G(y) = c1 cosh + c2 senh
a a
porque a condição G(0) = 0 implica que c1 = 0. Assim, as soluções obtidas através de separação de variáveis
são os produtos
nπx nπy
sen senh .
a a
A solução u2 do segundo problema será a função
∞
∑ nπx nπy
u2 (x, y) = bn sen senh ,
n=1
a a
onde ∫ a
2 nπx
bn = f2 (x) sen dx,
nπb 0 a
a senh
a
pois
∞ (
∑ )
nπb nπx
f2 (x) = u2 (x, b) = bn senh sen .
n=1
a a
nπb
É mais conveniente, para efeitos de memorização, incorporar a constante senh na solução, escrevendo-a
a
na forma
nπy
∑∞
nπx senh a
u2 (x, y) = bn sen (5.7)
a nπb
n=1 senh
a
de modo que ∫
2 a nπx
bn = f2 (x) sen dx (5.8)
a 0 a
tem a forma padrão dos coeficientes da série de Fourier.
De maneira análoga, obtemos as soluções para os outros problemas:
nπ(b − y) ∫
∞
∑ nπx senh a 2 a nπx
u1 (x, y) = an sen , an = f1 (x) sen dx, (5.9)
a nπb a 0 a
n=1 senh
a
nπ(a − x) ∫
∑∞ senh
b nπy 2 b nπy
u3 (x, y) = cn nπa sen , cn = g1 (y) sen dy, (5.10)
n=1 senh b b 0 b
b
nπx ∫
∞
∑ senh
b nπy 2 b nπy
u4 (x, y) = dn nπa sen b , dn = b g2 (y) sen dy. (5.11)
n=1 senh 0 b
b
Portanto, a solução do problema de Dirichlet (5.6) no retângulo é
nπ(b − y) nπy
∞
∑ ∑∞
nπx senh a nπx senh
a
u(x, y) = an sen + bn sen (5.12)
a nπb a nπb
n=1 senh n=1 senh
a a
nπ(a − x) nπx
∑∞ ∑∞
nπy senh b nπy senh b
+ cn sen nπa + d sen ,
b senh nπa
n
n=1
b senh n=1
b b
Rodney Josué Biezuner 109
Prova: Sejam
M = max u e m = max u
Ω ∂Ω
e suponha por absurdo que m < M . Então existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ Ω − ∂Ω tal que u(x0 , y0 ) = M . Defina
a função
M −m
v(x, y) = u(x, y) + [(x − x0 )2 + (y − y0 )2 ],
4d2
onde d = diam Ω. Se (x, y) ∈ ∂Ω, temos
M −m 2 3 M
v(x, y) 6 m + d = m+ < M,
4d2 4 4
e como u(x0 , y0 ) = v(x0 , y0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de Ω − ∂Ω,
digamos em (x, y). Mas, como (x, y) é um ponto de máximo para v, devemos ter
∆v(x, y) 6 0,
enquanto que, pela definição de v e pelo fato de u satisfazer a equação de Laplace, para todo (x, y) temos
M −m M −m
∆v(x, y) = ∆u(x, y) + = > 0,
4d2 4d2
uma contradição. Isso mostra que u atinge o seu máximo em ∂Ω. Para provar que o mı́nimo de u também é
atingido em ∂Ω, basta observar que −u também satisfaz a equação de Laplace e que min u = − max(−u).
Prova: Se u1 e u2 são duas soluções para o problema de Poisson acima, então u = u1 − u2 é uma solução
para o problema de Laplace com condição de fronteira homogênea
{
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω.
max u = max u = 0,
Ω ∂Ω
min u = min u = 0,
Ω ∂Ω
donde
uxx = urr rx2 + uθθ θx2 + 2urθ rx θx + ur rxx + uθ θxx . (5.15)
Trocando x por y, obtemos também
Similarmente,
y x2
ry = e ryy = .
r r3
y
Por outro lado, diferenciando θ = arctan com relação a x, obtemos
x
1 ( y ) y y
θx = ( y )2 − 2 = − 2 2
= − 2,
x x +y r
1+
x
Rodney Josué Biezuner 111
y (2rrx ) 2xy
θxx = 4
= 4
r r
e
−x (2rrx ) 2xy
θyy = 4
=− 4 .
r r
Em particular, valem as seguintes identidades:
θxx + θyy = 0 e rx θx + ry θy = 0.
uxx + uyy = urr (rx2 + ry2 ) + uθθ (θx2 + θy2 ) + 2urθ (rx θx + ry θy ) + ur (rxx + ryy ) + uθ (θxx + θyy )
x2 + y 2 x2 + y 2 x2 + y 2
= 2
urr + 4
uθθ + ur
r r r3
1 1
= urr + 2 uθθ + ur .
r r
Em outras palavras, o Laplaciano de u em coordenadas polares é dado por
1 1
∆u(r, θ) = urr + ur + 2 uθθ . (5.17)
r r
onde f é uma função contı́nua que satisfaz f (0) = f (2π). Resolver este problema nestas coordenadas significa
encontrar uma função u(r, θ) contı́nua em D e de classe C 2 em (0, R) × (0, 2π) tal que u(r, 0) = u(r, 2π) para
todo 0 < r < R.
Escrevendo
u(r, θ) = F (r)G(θ),
obtemos
1 1
F ′′ (r)G(θ) + F ′ (r)G(θ) + 2 F (r)G′′ (θ) = 0,
r r
donde
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (θ)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(θ)
Do fato de G(θ) satisfazer a equação diferencial ordinária
σ = n2
Como a solução u é contı́nua, devemos ter F (r) limitada próximo a r = 0, o que implica que c2 = 0. Portanto,
as soluções de F admissı́veis para este problema são
A solução do problema é
∞
a0 ∑ rn
u(r, θ) = + [an cos nθ + bn sen nθ], (5.19)
2 n=1
Rn
onde an , bn são os coeficientes de Fourier de f (lembre-se que f está definida no intervalo [0, 2π], satisfaz
f (0) = f (2π) e é natural supor que ela é perı́ódica de perı́odo 2π)
∫
1 2π
an = f (θ) cos nθ dθ, n > 0,
π∫0 (5.20)
2π
1
bn = f (θ) sen nθ dθ, n > 1.
π 0
onde {
100 se 0 < θ < π,
f (θ) =
0 se π < θ < 2π.
Temos ∫ π {
100 100 se n = 0,
an = cos nθ dθ =
π 0 0 se n > 1,
Rodney Josué Biezuner 113
e
∫ {
100 π
100 0 se n é par,
bn = sen nθ dθ = (1 − cos nπ) = 200 .
π 0 nπ se n é ı́mpar.
nπ
Logo, a solução é
∞
200 ∑ (−1)n+1 2n−1
u(r, θ) = 50 + r sen(2n − 1)θ.
π n=1 2n − 1
Esta solução pode ser escrita em forma fechada com o auxı́lio da identidade
∞
∑ sen nθ r sen θ
rn = arctan . (5.21)
n=1
n 1 − r cos θ
De fato, usando a identidade cos nπ sen nθ = sen n(θ − π) e reescrevendo a solução anterior, obtemos
∞
100 ∑ 1 − cos nπ n
u(r, θ) = 50 + r sen nθ
π n=1 n
∞ ∞
100 ∑ n sen nθ 100 ∑ n sen n(θ − π)
= 50 + r − r
π n=1 n π n=1 n
100 r sen θ 100 r sen(θ − π)
= 50 + arctan − arctan
π 1 − r cos θ π 1 − r cos(θ − π)
de modo que ( )
100 r sen θ r sen θ
u(r, θ) = 50 + arctan + arctan . (5.22)
π 1 − r cos θ 1 + r cos θ
Esta solução é prontamente escrita em coordenadas cartesianas:
( )
100 y y
u(x, y) = 50 + arctan + arctan . (5.23)
π 1−x 1+x
Em particular torna-se fácil determinar as isotermas (isto é, curvas de temperatura constante) desta
solução. Igualando o lado direito a um valor T , temos
y y π(T − 50)
arctan + arctan = .
1−x 1+x 100
Aplicando tan a ambos os lados desta equação e usando a identidade trigonométrica
tan a + tan b
tan(a + b) = ,
1 − tan a tan b
obtemos y y ( )
+ 1+x πT π πT
(
1−x
)( ) = tan − = − cot ,
1− y y 100 2 100
1−x 1+x
donde
2y πT
= − cot ,
1 − x2 − y 2 100
ou
x2 + y 2 − 1 πT
= tan .
2y 100
Rodney Josué Biezuner 114
Se o domı́nio Ω é suficientemente regular, pode-se provar que existe um número infinito de autovalores,
todos eles positivos (daı́ o sinal negativo na frente do laplaciano). Além disso, eles são discretos, podendo
ser enumerados em uma sequência
λ1 < λ 2 6 λ3 6 . . .
com
λn → ∞.
A importância de se obter os autovalores e os autovetores do laplaciano é que eles permitem resolver facilmente
a equação de Poisson em Ω, como veremos na próxima seção, e também os problemas da equação do calor e
da onda em Ω.
Nesta seção obteremos os autovalores e as correspondentes autofunções do laplaciano no retângulo. Antes
disso, observe que o correspondente problema de autovalor para o laplaciano no intervalo [0, L] é o problema
de Sturm-Liouville {
−u′′ = λu se 0 < x < L,
u (0) = u (L) = 0,
cujos autovalores (como vimos na Introdução) são
n2 π 2
λn =
L2
e cujas correspondentes autofunções são
nπx
un (x) = sen .
L
Considere agora o problema de autovalor no retângulo:
−uxx − uyy = λu se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = 0 se 0 6 x 6 a, (5.24)
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Vamos obter os autovalores e autofunções do laplaciano pelo método de separação de variáveis e séries de
Fourier. Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
Rodney Josué Biezuner 115
segue que
−F ′′ (x)G(y) − F (x)G′′ (y) = λF (x)G(y)
e portanto
F ′′ (x) G′′ (y)
− − = λ,
F (x) G(y)
donde
F ′′ (x) G′′ (y)
− =λ+ =σ
F (x) G(y)
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre as equações diferenciais ordinárias acima:
n2 π 2 nπx
σn = com Fn (x) = sen ,
a2 a
enquanto que a solução do segundo problema é
m2 π 2 mπy
λ − σn = com Gm (x) = sen .
b2 b
Portanto, os autovalores do laplaciano com condição de Dirichlet no retângulo são
( 2 )
n m2
λnm = π 2 + (5.25)
a2 b2
uxx + uyy = f (x, y) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a, (5.27)
u(0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
A solução deste problema pode ser escrita como a soma das soluções de dois problemas
u = u 1 + u2
que já sabemos resolver, e u2 é a solução da equação de Poisson com condição de Dirichlet homogênea
uxx + uyy = f (x, y) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = 0 se 0 6 x 6 a, (5.29)
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
onde os coeficientes anm devem ser determinados. Substituindo esta expressão na equação de Poisson, temos
que
∑∞ ( 2 )
n m2 nπx mπy
− anm π 2
2
+ 2 sen sen = f (x, y) .
n,m=1
a b a b
117
Rodney Josué Biezuner 118
Então ( )
1
F (r)G′′ (t) = c2 F ′′ (r)G(t) + F ′ (r)G(t) ,
r
donde
1 G′′ (t) F ′′ (r) 1 F ′ (r)
= + = −λ2 .
c2 G(t) F (r) r F (r)
Aqui, decidimos que a constante de separação de variáveis é negativa porque esperamos obter soluções de G
periódicas, pois as vibrações de uma membrana que não está sujeita a forças externas ou dissipativas devem
ser periódicas no tempo. Isso nos leva às seguintes equações diferenciais ordinárias:
{
rF ′′ (r) + F ′ (r) + λ2 rF (r) = 0 se 0 < r < R,
(6.2)
F (R) = 0,
e
G′′ (t) + c2 λ2 G(t) = 0.
A primeira equação é conhecida como a equação de Bessel (de ordem 0) e parâmetro λ. Ela não possui
soluções em forma fechada. No entanto, ela aparece tão freqüentemente nas aplicações que as suas soluções
receberam um nome especial: as funções de Bessel.
Observação: Poderı́amos em princı́pio também ter λ = 0, pois funções constantes também são periódicas
com perı́odo 2π, e neste caso terı́amos uma equação de Euler. No entanto, a solução geral para esta equação
de Euler seria F (r) = c1 + c2 log r e a condição F (R) = 0 implicaria que F ≡ 0.
que é a série
∞
∑ { }
[c(c−1)+c−p2 ]a0 +[(1+c)(1+c−1)+(1+c)−p2 ]a1 x1+c + [(n + c)(n + c − 1) + (n + c) − p2 ]an + an−2 xn+c = 0,
n=2
ou seja,
∞
∑ { }
(c2 − p2 )a0 + [(1 + c)2 − p2 ]a1 x1+c + [(n + c)2 − p2 ]an + an−2 xn+c = 0.
n=2
ou seja,
1
a2 = − a0 ,
22 (1 + p)
1 1
a4 = − 2 a2 = 4 a0 ,
2 2(2 + p) 2 2(1 + p)(2 + p)
1 1
a6 = − 2 a4 = − 6 a0 ,
2 3(3 + p) 2 3!(1 + p)(2 + p)(3 + p)
(−1)k
a2k = a0 . (6.8)
22k k!(1 + p)(2 + p) · · · (k + p)
Usando a função gama Γ(x) (se você não conhece esta função, veja o apêndice no final desta seção) podemos
simplificar a notação. Utilizando a propriedade Γ(x + 1) = xΓ(x), segue que
Γ(1 + p)[(1 + p)(2 + p) · · · (k + p)] = Γ(2 + p)[(2 + p) · · · (k + p)] = Γ(3 + p)[(4 + p) · · · (k + p)] = . . .
= Γ(k + p + 1),
logo
Γ(k + p + 1)
(1 + p)(2 + p) · · · (k + p) = . (6.9)
Γ(1 + p)
Rodney Josué Biezuner 120
Escolhendo
1
a0 = , (6.10)
2p Γ(1 + p)
temos que a primeira solução da equação de Bessel pode ser escrita na forma
∞
∑ (−1)k ( x )2k+p
y(x) = . (6.11)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
As funções
∞
∑ (−1)k ( x )2k+p
Jp (x) = (6.12)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
são chamadas funções de Bessel de ordem p de primeiro tipo. Se p é um inteiro não-negativo, temos
simplesmente
(−1)k ( x )2k+p
∞
∑
Jp (x) = .
k!(k + p)! 2
k=0
Para obter a solução geral para a equação de Bessel, precisamos obter uma segunda solução linearmente
independente de Jp (pois a equação de Bessel é uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem).
Para isso, quando p não é um inteiro, basta fazer a segunda escolha possı́vel para c, ou seja, c = −p. Neste
caso obtemos
∑∞
(−1)k ( x )2k−p
J−p (x) = . (6.13)
k!Γ(k − p + 1) 2
k=0
Observe que, embora esta definição faça sentido se p é um inteiro negativo (mesmo que Jp e J−p não sejam
linearmente independentes neste caso) se p é um inteiro positivo então Γ(k − p + 1) não está definido para
k = 0, . . . , p − 1. Para ter uma definição para J−p mesmo quando p é um inteiro negativo, costuma-se definir
As funções Yp são chamadas funções de Bessel de ordem p do segundo tipo e são também soluções
para a equação de Bessel, linearmente independente de Jp quando p é um inteiro.
Com isso, obtemos a solução geral para a equação de Bessel:
se p não é um inteiro. Se p é um inteiro, então a solução geral para a equação de Bessel de ordem p é
Γ(n + 1) = nΓ(n) = n(n − 1)Γ(n − 2) = n(n − 1)(n − 2)Γ(n − 3) = . . . = n(n − 1)(n − 2) . . . 3 · 2 · Γ(1) = n!
Assim, a função gama pode ser vista como uma extensão da função fatorial, que é definida apenas para
números naturais, a uma função definida para todos os números reais positivos. Por este motivo, ela é às
vezes chamada de função fatorial generalizada.
É possı́vel também defini-la para números reais negativos que não sejam inteiros negativos (isto é, para
x < 0, exceto para x = 0, −1, −2, ...). De fato, basta aplicar a propriedade
1
Γ(x) = Γ(x + 1)
x
sucessivamente. Como os limites laterais desta função em inteiros negativos são infinitos, não faz sentido
defini-la nestes números.
Rodney Josué Biezuner 122
6.3 Teorema. Se f : [0, R] → R é uma função contı́nua por partes tal que sua derivada também é contı́nua
por partes, então f tem uma série de Bessel de ordem p no intervalo (0, R). No intervalo (0, R), a
f (x+) + f (x−)
série converge para f (x) se f é contı́nua em x, e para nos pontos de descontinuidade
2
de f .
onde
(−1)k ( x )2k
∞
∑
J0 (x) =
(k!)2 2
k=0
e
Jq (x) cos qπ − J−q (x)
Y0 = lim .
q→0 sen qπ
No entanto, a função Y0 não é limitada perto de 0 e esperamos que as soluções da membrana vibrante sejam
contı́nuas e, portanto, limitadas. Assim, devemos ter c2 = 0. Segue que
donde ∫
2 R (α )
0,n r
cn = 2 2 f (r)J0 r dr, (6.26)
R J1 (α0,n ) 0 R
Rodney Josué Biezuner 124
e
α0,n c ( α0,n )
∞
∑
g(r) = ut (r, 0) = dn J0 r ,
n=1
R R
donde ∫
2c R (α )
0,n r
dn = g(r)J0 r dr. (6.27)
Rα0,n J12 (α0,n ) 0 R
com f (R, θ) = g(R, θ) = 0 para todo 0 6 θ 6 2π. Pelo método de separação de variáveis, tentamos escrever
u(r, t) = F (r)G(θ)H(t),
de modo que
( )
1 1
F (r)G(θ)H ′′ (t) = c2 F ′′ (r)G(θ)H(t) + F ′ (r)G(θ)H(t) + 2 F (r)G′′ (θ)H(t) ,
r r
e daı́
1 H ′′ (t) F ′′ (r) 1 F ′ (r) 1 G′′ (θ)
= + + = −λ2 .
c2 H(t) F (r) r F (r) r2 G(θ)
Mais uma vez, tomamos a constante de separação de variáveis negativa porque esperamos obter soluções
periódicas no tempo. Obtemos, então,
H ′′ (t) + c2 λ2 G(t) = 0 (6.28)
e
F ′′ (r) 1 F ′ (r) 1 G′′ (θ)
+ = −λ2 − 2 ,
F (r) r F (r) r G(θ)
donde
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (θ)
r2 +r + λ2 r 2 = − = µ2 ,
F (r) F (r) G(θ)
onde, mais uma vez, escolhemos o sinal da constante de separação de variáveis de acordo com a nossa
expectativa que G(θ) é periódica de perı́odo 2π. Portanto, usando as condições de fronteira, obtemos as
equações diferenciais { ′′
G (θ) + µ2 G(θ) = 0 se 0 < θ < 2π,
G(0) = G(2π),
donde concluı́mos que µ = m e as sua solução geral é
para n = 0, 1, 2, . . ., e
{
r2 F ′′ (r) + F ′ (r) + (λ2 r2 − n2 )F (r) = 0 se 0 < r < R,
(6.30)
F (R) = 0.
Rodney Josué Biezuner 125
Esta última é uma equação de Bessel na forma paramétrica. Fazendo a mudança de variáveis y(r) = F (r/λ),
como no caso radial, concluı́mos que as suas soluções são da forma
F (r) = Jn (λr), n = 0, 1, 2, . . .
(pois as soluções Yn são ilimitadas e podem ser descartadas através de argumentos fı́sicos). Como F (R) = 0,
segue que λR = αn,m é um zero da função de Bessel Jn , logo
αn,m
λ= .
R
Assim, as soluções da equação de Bessel acima são
(α )
n,m r
Fnm = Jn (6.31)
R
para n = 0, 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . ., e as soluções de H são
αn,m ct αn,m ct
Hnm (t) = Anm cos + Bnm sen (6.32)
R R
para n = 0, 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . . A solução geral é, portanto,
(α r) ( )
n,m αn,m ct αn,m ct
unm (r, θ, t) = Jn (an cos nθ + bn sen nθ) Anm cos + Bnm sen , (6.33)
R R R
cuja solução é
∞ ∑
∑ ∞ (α )
n,m r αn,m ct
u1 (r, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos , (6.35)
n=0 m=1
R R
Para obter os coeficientes, fixamos r de modo que fr (θ) = f (r, θ) é uma função apenas da variável θ,
escrevemos
( ∞ )
∞
∑ (α r) ∑ ∞ ∑ (α r)
0,m n,m
fr (θ) = a0m J0 + anm Jn cos nθ
m=1
R n=1 m=1
R
( ∞ )
∑∞ ∑ (α r)
n,m
+ bnm Jn sen nθ.
n=1 m=1
R
Definindo
∞
∑ (α )
0,m r
a0 (r) = 2 a0m J0 ,
m=1
R
∞
∑ (α )
n,m r
an (r) = anm Jn ,
m=1
R
∑∞ (α )
n,m r
bn (r) = bnm Jn ,
m=1
R
segue que
∫ R (α )
1 0,m r
a0m = a0 (r)J0 r dr,
R2 J12 (α0,m ) 0 R
∫ R (α )
2 n,m r
anm = 2 2 an (r)Jn r dr,
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
∫ R (α )
2 n,m r
bnm = 2 2 bn (r)Jn r dr.
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
temos que 2a0 (r), an (r) e bn (r) são os coeficientes de Fourier da função fr (θ), logo
∫ 2π
1
a0 (r) = f (r, θ) dθ,
π 0
∫ 2π
1
an (r) = f (r, θ) cos nθ dθ,
π 0
∫ 2π
1
bn (r) = f (r, θ) sen nθ dθ.
π 0
Portanto,
∫ R ∫ 2π (α )
1 0,m r
a0m = f (r, θ)J0 r dθdr,
πR2 J12 (α0,m ) 0 0 R
∫ R ∫ 2π (α )
2 n,m r
anm = 2 f (r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.36)
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
∫ R ∫ 2π (α )
2 n,m r
bnm = 2 f (r, θ) sen nθJn r dθdr,
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
Rodney Josué Biezuner 127
para m = 1, 2, . . .
O segundo problema é
( )
1 1
u = c2
u + u + u se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt rr
r
r
r2
θθ
u(R, θ, t) = 0 se 0 6 θ 6 2π e t > 0,
u(r, θ, 0) = 0 se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
ut (r, θ, 0) = g(r, θ) se 0 6 r 6 R e 0 6 θ 6 2π,
cuja solução é
∞ ∑
∑ ∞ (α )
n,m r αn,m ct
u2 (r, θ, t) = Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen , (6.37)
n=0 m=1
R R
devido à condição inicial u(r, θ, 0) = 0. Usando um argumento similar ao usado no primeiro caso, obtemos
∫ R ∫ 2π (α )
1 0,m r
c0m = g(r, θ)J0 r dθdr,
πcα0,m RJ12 (α0,m ) 0 0 R
∫ R ∫ 2π (α )
2 n,m r
cnm = 2 g(r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.38)
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
∫ R ∫ 2π (α )
2 n,m r
dnm = 2 g(r, θ) sen nθJn r dθdr,
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
para m = 1, 2, . . .
Portanto a solução do problema geral é u = u1 + u2 , ou seja,
∞ ∑
∑ ∞ (α )
n,m r αn,m ct
u(R, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos
n=0 m=1
R R
∞ ∑
∑ ∞ (α )
n,m r αn,m ct
+ Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen ,
n=0 m=1
R R
Neste capı́tulo desenvolveremos a teoria da equação de Laplace tridimensional em domı́nios simétricos tais
como o cilindro e a bola. Não desenvolveremos a teoria para domı́nios cúbicos tais como paralelepı́pedos,
pois esta é uma extensão trivial da teoria para domı́nios retangulares: ao invés de séries de Fourier duplas e
seus coeficientes expressos como integrais duplas, basta considerar séries de Fourier triplas cujos coeficientes
são integrais triplas.
θ = arctan , (7.2)
x
z = z.
O Laplaciano em três dimensões é dado por
128
Rodney Josué Biezuner 129
radialmente simétricas. Em particular, não existe dependência da variável θ: ou seja, u = u(r, z). Considere
um cilindro com raio da base R e altura H. Este problema é modelado pela seguinte equação diferencial
parcial e pelas seguintes condições de fronteira:
1
urr + ur + uzz = 0 se 0 < r < R e 0 < z < h,
r
u(r, 0) = u(R, z) = 0 se 0 6 r 6 R e 0 6 z 6 h,
u(r, H) = f (r) se 0 6 r 6 R.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos
1
F ′′ (r)G(z) + F ′ (r)G(z) + F (r)G′′ (z) = 0.
r
Dividindo a equação por F (r)G(z), segue que
Levando em conta que F deve ser limitada na origem, as autofunções do primeira problema são
(α )
0,n
Fn (r) = J0 r ,
R
Rodney Josué Biezuner 130
α0,n
com λ = . Levando em conta que G(0) = 0, as autofunções do segundo problema são (aqui é mais
R
conveniente escrever a solução geral da equação diferencial ordinária de G na forma G(z) = c1 cosh λz +
c2 senh λz) (α )
0,n
Gn (z) = senh z .
R
Assim, a solução do problema é
∑∞ (α ) (α )
0,n 0,n
u(r, z) = an J0 r senh z . (7.4)
n=1
R R
Como
∑∞ [ (α )] ( α )
0,n 0,n
f (r) = u(r, H) = an senh H J0 r ,
n=1
R R
segue que
∫ R (α )
2 0,n r
an = (α ) f (r)J0 r dr. (7.5)
R2 senh
0,n
H J12 (α0,n ) 0 R
R
Para ver que Ip é a solução da equação de Bessel modificada de ordem p note que
Jp (ix)
Ip (x) = , (7.9)
ip
√
onde i = −1. De fato,
∞
∑ ( )2k+p ∞
∑ ( x )2k+p
(−1)k ix (−1)k i2k
Jp (ix) = = ip
k!Γ(k + p + 1) 2 k!Γ(k + p + 1) 2
k=0 k=0
Assim,
1 [ 2 2 ′′ ]
x2 Ip′′ (x) + xIp′ (x) − (x2 + p2 )Ip (x) = x i Jp (ix) + xiJp′ (x) − (x2 + p2 )Jp (ix)
ip
1 [ ]
= p (ix)2 Jp′′ (ix) + ixJp′ (x) − (−(ix)2 + p2 )Jp (ix)
i
1 [ 2 ′′ ]
= p z Jp (z) + zJp′ (z) + (z 2 − p2 )Jp (z)
i
= 0,
Rodney Josué Biezuner 131
quando p é um inteiro. A solução geral para a equação de Bessel modificada de ordem p é então
A função de Bessel modificada I0 é estritamente crescente para x > 0, logo não pode satisfazer I0 (R) = 0,
enquanto que as funções de Bessel modificadas próximas à origem são ilimitadas.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos como antes
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (z)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(z)
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre G:
nπ
e conseqüentemente a equação de Bessel modificada de ordem 0 e parâmetro :
H
n2 π 2 2
r2 F ′′ (r) + rF ′ (r) + r F (r) = 0.
H2
Como a função de Bessel modificada do segundo tipo é ilimitada na origem, a solução geral desta equação
pertinente ao nosso problema é ( nπr )
Fn (z) = I0 .
H
Assim, a solução do problema é
∑∞ ( nπr ) nπz
u(r, z) = bn I0 sen . (7.13)
n=1
H H
Como
∞ [ ( )] (
∑ nπR α0,n )
f (z) = u(R, z) = bn I0 J0 r ,
n=1
H R
segue que
∫ H
2 nπz
bn = ( nπR ) f (z) sen dz. (7.14)
H I0 H 0 H
uρ = ur rρ + uθ θρ + uϕ ϕρ = ur rρ + uθ θρ ,
pois ϕ não depende de ρ (ρ está definida em termos das variáveis r, θ apenas) e portanto ϕρ = 0. Diferenciando
ρ
θ = arctan , obtemos
z
1 1 z r cos θ cos θ
θρ = ( ρ )2 = 2 2
= 2 2 2 2
= .
z z +ρ r cos θ + r sen θ r
1+
z
Diferenciando ρ = r sen θ implicitamente com relação à ρ, temos
donde
1 − cos2 θ
rρ = = sen θ.
sen θ
Logo,
cos θ
uρ = sen θur + uθ
r
e ( )
1 1 cos θ 1 cot θ
uρ = sen θur + uθ = ur + 2 uθ
ρ r sen θ r r r
Concluı́mos que o Laplaciano em coordenadas esféricas é dado por
2 1 ( )
∆u(r, θ, ϕ) = urr + ur + 2 uθθ + cot θ uθ + csc2 θuϕϕ . (7.20)
r r
onde −1 < x < 1. Vamos obter as suas soluções usando o método de séries de potências, escrevemos
∞
∑
y(x) = am xm
m=0
donde
∞
∑ ∞
∑ ∞
∑ ∞
∑
am m(m − 1)xm−2 − am m(m − 1)xm − 2 am mxm + σ am xm = 0.
m=2 m=2 m=1 m=0
porque os termos adicionados aos dois somatórios intermediários são todos nulos e reindexando o primeiro
somatório. Segue que
∞
∑
[(m + 2)(m + 1)am+2 + (−m(m − 1) − 2m + σ) am ] xm = 0.
m=0
Logo,
(m + 2)(m + 1)am+2 − (m(m + 1) − σ) am = 0,
donde obtemos a relação recursiva
m(m + 1) − σ
am+2 = am . (7.21)
(m + 2)(m + 1)
As duas soluções linearmente independentes da equação de Legendre são obtidas escolhendo a0 = 0, a1 = 1
e a0 = 1, a1 = 0. No primeiro caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos ı́mpares, enquanto que
no segundo caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos pares. Assim, estas duas soluções podem
ser respectivamente escritas nas formas
∞
∑ 2(k + 1)(2k + 1) − σ
y1 (x) = x2k+1 (7.22)
2(k + 1)(2k + 3)
k=0
e
∞
∑ 2k(2k + 1) − σ 2k
y2 (x) = x . (7.23)
2(k + 1)(2k + 1)
k=0
m(m + 1) − n(n + 1)
am+2 = am ,
(m + 2)(m + 1)
ou
(n − m)(n + m + 1)
am+2 = − am . (7.25)
(m + 2)(m + 1)
Rodney Josué Biezuner 135
Daı́ obtemos
n(n + 1)
a2 = − a0 ,
2
(n − 2)n(n + 1)(n + 3)
a4 = a0 ,
4·3·2
(n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5)
a6 = − a0 ,
6·5·4·3·2
..
.
e
(n − 1)(n + 2)
a3 = − a1 ,
3·2
(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)
a5 = a1 ,
5·4·3·2
(n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6)
a7 = a1 ,
7·6·5·4·3·2
..
.
onde
n(n + 1) 2 (n − 2)n(n + 1)(n + 3) 4 (n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5) 6
y1 (x) = 1 − x + x − x + ...
2 4! 6!
e
(n − 1)(n + 2) 3 (n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4) 5 (n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6) 7
y2 (x) = x− x + x − x +. . .
3! 5! 7!
Se n é par, então a série y1 é na verdade o polinômio
(2n)!
an = . (7.26)
2n (n!)2
Rodney Josué Biezuner 136
Os outros coeficientes são então determinados por uma relação recursiva reversa. Temos
(m + 2)(m + 1)
am = − am+2 ,
(n − m)(n + m + 1)
ou (trocando m por m − 2)
m(m − 1)
am−2 = − am . (7.27)
(n − m + 2)(n + m − 1)
Assim,
e, em geral,
(2n − 2m)!
an−2m = (−1)m . (7.28)
2n m!(n − m)!(n − 2m)!
n n−1
Tomando M = , se n é par, e M = , se n é ı́mpar, o n-ésimo polinômio de Legendre é
2 2
1 ∑
M
(2n − 2m)!
Pn (x) = (−1)m xn−2m . (7.29)
2n m=0 m!(n − m)!(n − 2m)!
P0 (x) = 1,
P1 (x) = x,
1
P2 (x) = (3x2 − 1),
2
1
P3 (x) = (5x3 − 3x),
2
1
P4 (x) = (35x4 − 30x2 + 3),
8
1
P5 (x) = (63x5 − 70x3 + 15x),
8
1
P6 (x) = (231x6 − 315x4 + 105x2 − 5),
16
1
P7 (x) = (429x7 − 693x5 + 315x3 − 35x).
16
7.1 Teorema. Se f é uma função contı́nua por partes cuja derivada é contı́nua por partes no intervalo
[−1, 1], então f tem uma expansão em série de Legendre
∞
∑
f (x) = An Pn (x)
n=0
com ∫ 1
2n + 1
An = f (x)Pn (x) dx.
2 −1
Além disso, a série de Legendre de f em x converge para f (x) se f é contı́nua em x e para a média
f (x+) + f (x−)
dos limites laterais , caso contrário.
2
u(r, θ) = F (r)G(θ).
s = cos θ.
Portanto,
cos θ
G′′ (θ) + cot θG′ (θ) + σG(θ) = (1 − s2 )G′′ (s) − sG′ (s) + [− sen θG′ (s)] + σG(s)
sen θ
= (1 − s2 )G′′ (s) − sG′ (s) − sG′ (s) + σG(s)
= (1 − s2 )G′′ (s) − 2sG′ (s) + σG(s),
σ = n(n + 1) (7.31)
Fn (r) = rn . (7.33)
Portanto,
un (r, θ) = rn Pn (cos θ).
Levando em consideração a condição de fronteira, obtemos
∞
∑ ( r )n
u(r, θ) = An Pn (cos θ) (7.34)
n=0
R
com ∫ π
2n + 1
An = f (θ)Pn (cos θ) sen θ dθ. (7.35)
2 0
Para obter esta expressão para os coeficientes An , multiplique a série de u(R, θ) = f (θ) por Pm (cos θ) sen θ,
integre termo a termo e use a substituição x = cos θ nas integrais resultantes sob o somatório. Isso produz
∫ π ∞
∑ ∫ π
f (θ)Pm (cos θ) sen θ dθ = An Pn (cos θ)Pm (cos θ) sen θ dθ
0 n=0 0
∑∞ ( ∫ −1 )
= An − Pn (x)Pm (x) dx
n=0 1
2m + 1
= Am .
2
Capı́tulo 8
Transformada de Fourier
a0 ∑ ( nπx )
∞
nπx
f (x) = + an cos + bn sen (8.1)
2 n=1
L L
Se f não é uma função periódica, então ela não pode ser representada por uma série de Fourier. Podemos,
no entanto, representar f por uma integral de Fourier, se f for pelo menos suave por partes e satisfizer além
disso a condição ∫ ∞
|f (x)| dx < ∞,
−∞
Mais precisamente,
8.1 Teorema. Seja f : R → R uma função suave por partes, absolutamente integrável. Então f tem uma
representação por integral de Fourier que converge para f (x) nos pontos de continuidade de f e para
a média dos limites laterais nos pontos de descontinuidade de f .
139
Rodney Josué Biezuner 140
Esta representação integral para f pode ser motivado da seguinte forma: restrinja f ao intervalo fechado
[−L, L] e estenda ela periodicamente fora deste intervalo. Então, no intervalo [−L, L], f tem a representação
em série de Fourier dada em (8.1) com os coeficientes dados em (8.2). Fazendo L → ∞, como a função f
é integrável em R, segue que necessariamente a0 → 0. Além disso, a integrabilidade de f também implica
que a integral de f em R pode ser aproximada pela integral de f no intervalo [−L, L], desde que L seja
suficientemente grande. Assim, temos que os coeficientes an e bn podem ser aproximados por
∫
1 ∞ nπt π ( nπ )
an ≈ f (t) cos dt = A ,
L −∞ L L L
∫
1 ∞ nπt π ( nπ )
bn ≈ f (t) sen dt = B .
L −∞ L L L
Logo,
∞ [ (
∑ nπ ) nπx ( nπ ) nπx ] π
f (x) ≈ A cos +B sen .
n=1
L L L L L
Mas, se denotarmos ωn = nπ/L e ∆ω = π/L, o que equivale a fazer uma partição do intervalo [0, ∞) em
subintervalos de comprimento ∆ω, reconhecemos uma soma de Riemann:
∞
∑
f (x) ≈ [A(ωn ) cos ωn x + B(ωn ) sen ωn x] ∆ω.
n=1
Fazendo L → ∞, o que corresponde a fazer a norma da partição ∆ω → 0, esta soma de Riemann converge
para a integral de Fourier de f .
8.2 Exemplo. Obtenha a representação integral de Fourier da função
{
1 se |x| 6 1,
f (x) =
0 se |x| > 1.
Temos
∫ ∞ ∫ 1
1 1 2
A(0) = f (t) dt = dt = ,
π −∞ π −1 π
∫ ∫ 1
1 ∞
1 sen ωt
1
2 sen ω
A(ω) = f (t) cos ωt dt =
cos ωt dt = =π ω ,
π −∞ −1 π πω −1
∫ ∞ ∫ 1 1
1 1 cos ωt
B(ω) = f (t) sen ωt dt = sen ωt dt = = 0.
π −∞ π −1 πω −1
Observe que lim A(ω) = A(0) (ou seja, obtivemos neste caso a função A(ω) contı́nua) e a função B é
ω→0
a função identicamente nula, o que era de se esperar, porque f é uma função par. Logo
∫
2 ∞ sen ω
f (x) = cos xω dω.
π 0 ω
Em particular, segue do teorema da integral de Fourier que
∫ ∞ π/2 se |x| < 1,
sen ω
cos xω dω = π/4 se |x| = 1,
ω
0 0 se |x| > 1,
e, escolhendo x = 0, obtemos o valor da integral de Dirichlet
∫ ∞
sen ω π
dω = .
0 ω 2
Rodney Josué Biezuner 141
Como vemos no exemplo acima, quando uma função é par ou ı́mpar, sua integral de Fourier é mais
simples (da mesma forma e pelo mesmo motivo que a série de Fourier de uma função periódica par ou ı́mpar
é mais simples):
8.1.1 Exercı́cios
1. Encontre a representação integral de Fourier das funções dadas (em todos os casos, a > 0).
{ {
1 se 0 < x < 1, x se 0 < x < a,
a) f (x) = h) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
{ {
1 se − a < x < a, x2 se 0 < x < a,
b) f (x) = i) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
−1 se − 1 < x < 0, {
1 − |x| se − 1 < x < 1,
c) f (x) = 1 se 0 < x < 1, j) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
0 se − 1 < x < 1, {
1 − x2 se − 1 < x < 1,
d) f (x) = 1 se 1 < |x| < 2, k) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
{
x se − 1 < x < 1,
e) f (x) = l) f (x) = e−|x| .
0 caso contrário.
{ π π
cos x se − <x< ,
m) f (x) = e−x .
2
f ) f (x) = 2 2
0 caso contrário.
{ x se 0 < x < 1,
sen x se 0 < x < π,
g) f (x) = n) f (x) = 2−x se 1 < x < 2,
0 caso contrário.
0 caso contrário.
2. (a) Use o Exemplo 1 para mostrar que
∫ ∞
sen ω cos ω π
dω = .
0 ω 4
(c) Use a identidade trigonométrica sen2 ω + cos2 ω = 1 e o item anterior para obter
∫ ∞
sen4 ω π
2
dω = .
0 ω 4
1
(Sugestão: sen2 ω = sen4 ω + sen2 ω cos2 ω = sen4 ω + 4 sen2 2ω.)
3. Usando a representação integral de Fourier, prove que as seguintes integrais impróprias têm os valores
especificados abaixo.
∫ ∞ 0 se x < 0,
cos xω + w sen xω
a) dω = π/2 se x = 0,
1 + ω2
0 πe−x se x > 0.
∫ ∞ {
1 − cos πω π/2 se 0 < x < π,
b) sen xω dω =
0 ω 0 se x > π.
∫ ∞
cos xω π
c) 2
dω = e−x se x > 0.
0 1+ω 2
πw π
∫ ∞ cos cos xω cos x se |x| <
π
,
d) 2 dω = 2 2
π
0 1−ω 2
0 se |x| > .
2
∫ { π
∞
sen πω sen xω sen x se 0 6 x 6 π,
e) dω = 2
0 1 − ω2 0 se x > π.
∫ ∞
ω 3 sen xω π
f) dω = e−x cos x se x > 0.
0 ω4 + 4 2
Observe que apesar da função f ser uma função definida na reta (isto é, uma função de uma variável real)
tomando valores reais, em geral a função fb é uma função definida na reta tomando valores complexos. De
fato, a função fb pode ser escrita mais explicitamente, usando a fórmula de Euler, na forma
(∫ ∞ ∫ ∞ )
1
fb(ω) = √ f (t) cos ωt dt − i f (t) sen ωt dt .
2π −∞ −∞
A parte complexa de fb será nula e portanto fb será uma função real se e somente se a integral
∫ ∞
f (t) sen ωt = 0.
−∞
Isso ocorrerá se e somente se a função f for par. Portanto, no estudo da transformada de Fourier é inevitável
o aparecimento de funções de R em C, já que a maioria das funções não são pares. Diremos que uma função
de R em C é absolutamente integrável se as suas partes real e imaginária (que são funções de de R em R)
forem absolutamente integráveis. O espaço de tais funções será denotado por L1 (R, C). Na notação acima,
temos que ∫ ∞
1
f (x) = √ fb(ω)eiωx dω. (8.7)
2π −∞
Isso nos leva à seguinte definição. Definimos a transformada de Fourier de f , como sendo a função F
que associa a cada função absolutamente integrável f : R → R a função fb : R → C definida pela expressão
Rodney Josué Biezuner 144
(8.6); a sua inversa, chamada a transformada de Fourier inversa, é a função F −1 que associa a cada
função fb : R → C que pertença ao conjunto imagem de F a função absolutamente integrável f : R → R
definida pela expressão (8.7). Assim, se f é contı́nua,
F −1 (F(f )) = f. (8.8)
8.3 Exemplo. A transformada de Fourier de uma função absolutamente integrável, apesar de ser uma
função contı́nua, não é em geral uma função absolutamente integrável. O contra-exemplo clássico é a
função pulso {
1 se |x| 6 1,
f (x) =
0 se |x| > 1.
De fato, calculando a transformada de Fourier de f , obtemos
∫ ∞ ∫ 1
1 1 1 1
b
f (ω) = √ f (t)e−iωt
dt = √ e−iωt dt = − √ e−iωt −1
2π −∞ 2π −1 2πiω
1 ( −iω ) 1
= −√ e − eiω = − √ (cos ω − i sen ω − cos ω − i sen ω)
2πiω 2πiω
2i sen ω 2 sen ω
= √ = √ .
2πiω 2πω
Segue que a transformada de Fourier de f é a função
√
b 2 sen ω
f (ω) = ,
π ω
que não é uma função absolutamente integrável, como pode ser verificado. Observe porém que a
descontinuidade da função pulso foi suavizada pela sua transformada de Fourier, já que fb é uma
função contı́nua. Com efeito,
∫ ∞ ∫ 1 √
1 1 2 2
fb(0) = √ f (t)e−iω0 dt = √ dx = √ =
2π −∞ 2π −1 2π π
e portanto lim fb(ω) = fb(0). Isso não foi um acidente e é sempre verdade.
ω→0
8.4 Teorema. Se f : R → R é uma função absolutamente integrável, então sua transformada de Fourier
fb : R → C é uma função contı́nua e limitada. Se, além disso, fb for absolutamente integrável, então f
é contı́nua.
A transformada de Fourier da função pulso no Exemplo 2 é uma função real porque ela é uma função
par. Em geral, a transformada de Fourier de uma função real é uma função complexa, como no próximo
exemplo.
Temos
∫ ∞ ∫ ∞ ∫ ∞
1 1 1
fb(ω) = √ f (t)e−iωt dt = √ e−t−iωt dt = √ e−(1+iω)t dt
2π −∞ 2π 0 2π 0
∞
1
= −√ e−(1+iω)t .
2π(1 + iω) 0
Como e−iωt = 1, segue que
lim e−(1+iω)t = lim e−t e−iωt = lim e−t = 0,
t→∞ x→∞ t→∞
logo
1 1 − iω
fb(ω) = √ =√ .
2π(1 + iω) 2π(1 + ω 2 )
Se f : R → C é uma função duas vezes diferenciável absolutamente integrável tal que f ′ e f ′′ também
são funções absolutamente integráveis, então
Em geral, se f : R → C é uma função k vezes diferenciável absolutamente integrável tal que as suas
derivadas até a ordem k também são funções absolutamente integráveis, então
Se f : R → C é uma função absolutamente integrável tal que x2 f (x) também é uma função absoluta-
mente integrável, então
F(xf (x))(ω) = −F(f )′′ (ω).
Em geral, se f : R → C é uma função absolutamente integrável tal que xk f (x) também é uma função
absolutamente integrável, então
Multiplicando ambos os lados por −i obtemos a primeira fórmula. As outras fórmulas seguem da
aplicação iterada da primeira.
Propriedade 4 (Transformada de Fourier de uma Translação). Se f : R → C é uma função absolu-
tamente integrável, então
F(f (x − a))(ω) = e−iωa F(f (x))(ω).
Reciprocamente,
F(eiax f (x))(ω) = F(f (x))(ω − a).
Propriedade 5 (Transformada de Fourier de uma Dilatação). Se f : R → C é uma função absolu-
tamente integrável e a ̸= 0, então
1 (ω )
F(f (ax))(ω) = F(f ) .
|a| a
Em particular,
F(f (−x))(ω) = F(f ) (−ω) .
Rodney Josué Biezuner 147
Se a < 0, temos
∫ ∞ ∫ −∞
1 −iωt 1 1
f (t)e−i a t dt
ω
F(f (ax))(ω) = √ f (at)e dt = √
2π −∞ 2π ∞ a
∫ ∞ (ω)
1 1 1
f (t)e−i a t dt =
ω
= √ F(f (x)) .
−a 2π −∞ |a| a
Podemos assegurar que ela está bem definida (isto é, a integral imprópria que a define converge para todo
x), se as funções f e g, além de serem absolutamente integráveis, são também quadrado-integráveis, isto é,
seus quadrados também são absolutamente integráveis:
∫ ∞ ∫ ∞
2 2
|f (t)| dt, |g(t)| dt < ∞.
−∞ −∞
a2 b2
|ab| 6 + ,
2 2
válida para todos a, b ∈ R, segue que
∫ ∞ ∫ ∞ ∫ ∫
1 ∞ 1 ∞
f (x − t)g(t) dt 6 |f (x − t)g(t)| dt 6
2
|f (x − t)| dt +
2
|g(t)| dt < ∞.
2 2
−∞ −∞ −∞ −∞
Denotamos o espaço das funções quadrado-integráveis na reta por L2 (R). Além disso, a convolução de
funções absolutamente integráveis, quando está definida, é também uma função absolutamente integrável,
de modo que a sua transformada de Fourier está definida:
∫ ∞ ∫ ∞∫ ∞ ∫ ∞ (∫ ∞ )
|(f ∗ g)(x)| dx 6 |f (x − t)| |g(t)| dt dx = |g(t)| |f (x − t)| dx dt
−∞ −∞ −∞ −∞ −∞
∫ ∞ (∫ ∞ ) (∫ ∞ ) (∫ ∞ )
= |g(t)| |f (x)| dx dt = |f (x)| dx |g(t)| dt
−∞ −∞ −∞ −∞
< ∞.
A transformada de Fourier comporta-se extremamente bem em relação a convoluções: ela transforma con-
volução de funções essencialmente em produto de funções:
−∞
Aplicando a transformada de Fourier a ambos os lados desta equação, obtemos (usando as Propriedades
1, 2 e 3)
iω fb(ω) + aifb′ (ω) = 0
ou
ω
fb′ (ω) + fb(ω) = 0.
a
Resolvendo esta equação através de uma integração simples, obtemos
2
fb(ω) = Ce− 2a
ω
Rodney Josué Biezuner 149
ω
para alguma constante C. [Em uma notação mais usual, a equação diferencial é y ′ + y = 0, donde
a
ω y′ ω 2
y ′ = − y ou = − ; integrando ambos os lados desta equação obtemos log y = − ω2a + C e daı́
a y a
o resultado acima.] A constante C pode ser determinada através da integral imprópria relembrada
acima:
∫ ∞ ∫ ∞ √ ∫ ∞
1 1 at2 1 2 1
C = fb(0) = √ −
e−s ds = √ .
2
f (t) dt = √ e 2 dt = √
2π −∞ 2π −∞ 2π a −∞ a
x2
A função gaussiana e− 2 não é a única função cuja transformada de Fourier é ela própria.
Rodney Josué Biezuner 150
{
e−ax se x > 0, 1 1
12. , a > 0. √
0 se x < 0, 2π a + iω
{
0 se x > 0, 1 1
13. , a > 0. √
eax se x < 0, 2π a − iω
( )
Γ(n + 1) 1 1
|x| e−a|x| , a > 0, n > 0.
n
14. √ +
2π (a − iω)n+1 (a + iω)n+1
1 ω2
e− 2 x , a > 0. √ e− 2a
a 2
15.
a
Rodney Josué Biezuner 151
8.2.5 Exercı́cios
1. Calcule a transformada de Fourier das funções a seguir (em todos os casos, a > 0).
{ {
1 se |x| < a, x se |x| < 1,
a) f (x) = g) f (x) =
0 se |x| > a. 0 caso contrário.
{
−|x| x2 se |x| < 1,
b) f (x) = e . h) f (x) =
0 caso contrário.
{ {
e−|x| se |x| < 1, 1 − |x| se |x| < 1,
c) f (x) = i) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 caso contrário.
{ {
ex se x < 0, 1 − x2 se |x| < 1,
d) f (x) = j) f (x) =
0 se x > 0. 0 caso contrário.
{ { x
sen x se |x| < π, 1− se |x| < a,
e) f (x) = k) f (x) = a
0 caso contrário. 0 se |x| > a.
{ π
cos x se |x| < ,
f ) f (x) = 2
0 caso contrário.
F 2 (f )(x) = f (−x).
(c) Conclua que f é uma função par se e somente se F 2 (f ) = f ; f é uma função ı́mpar se e somente
se F 2 (f ) = −f .
(d) Mostre que para qualquer função f temos F 4 (f ) = f .
4. Use o exercı́cio anterior e transformadas de Fourier de funções conhecidas para calcular as transfor-
madas de Fourier das seguintes funções:
cos x sen 2x
a) f (x) = x2 . b) f (x) = |x| .
e e
cos x + cos 2x sen x + cos 2x
c) f (x) = . d) f (x) = .
x2 + 1 x2 + 4
{ {
cos x se |x| < 1, sen x se |x| < 1,
e) f (x) = f ) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 se |x| > 1.
Rodney Josué Biezuner 152
5. Use uma transformada de Fourier conhecida e as propriedades operacionais para calcular a transfor-
mada de Fourier das funções a seguir.
{
x se |x| 6 1, x2
a) f (x) = f ) f (x) = .
0 se |x| > 1. (1 + x2 )2
d
u xx (ω, t) = iωb
u(ω, t),
d
u 2
xx (ω, t) = (iω) ub(ω, t) = −ω 2 u
b(ω, t),
ou seja, derivadas espaciais são transformadas em expressões que envolvem apenas a função u b(ω, t) multi-
plicada por um monômio em ω. Por outro lado, derivando dentro do sinal de integração com relação a t,
temos que
∫ ∞ ( ∫ ∞ )
1 d 1
ubt (ω, t) = √ ut (x, t)e−iωx dx = √ u(x, t)e−iωx dx = u
bt (ω, t),
2π −∞ dt 2π −∞
o que significa que a derivada temporal é preservada pela transformada de Fourier. Assim, vemos que quando
aplicamos a transformada de Fourier a uma equação diferencial parcial em duas variáveis, as derivadas
parciais espaciais desaparecem e apenas as derivadas temporais permanecem. Em outras palavras, aplicando
a transformada de Fourier transformamos a equação diferencial parcial em uma equação diferencial ordinária
em t. Esta observação é a essência do método da transformada de Fourier para resolver equações diferenciais
parciais. Em resumo, o método funciona da seguinte maneira:
Passo 1: Obtenha a transformada de Fourier de todas as equações envolvidas (i.e., a equação diferencial
parcial e a condição inicial).
Passo 2: Resolva a equação diferencial ordinária, obtendo a solução ub(ω, t).
Passo 3: Aplique a transformada de Fourier inversa a u b(ω, t) para obter u(ω, t).
À tı́tulo de exemplo, vamos aplicar este método às equações do calor e da onda.
Rodney Josué Biezuner 153
Assumimos que a função f é contı́nua, limitada e absolutamente integrável. A última condição garante que
a energia térmica total da barra é finita, mesmo a barra sendo infinita (lembre-se que temperatura é uma
medida de densidade térmica). Aplicando a transformada de Fourier a este problema, obtemos a equação
diferencial ordinária em t {
bt (ω, t) = −kω 2 u
u b(ω, t)
b(ω, 0) = fb(ω).
u
A solução geral desta equação é
b(ω, t) = C(ω)e−kω t .
2
u
Para obter o valor de C(ω), usamos a condição inicial:
fb(ω) = u
b(ω, 0) = C(ω).
Portanto,
b(ω, t) = fb(ω)e−kω t .
2
u (8.12)
Tomando transformadas de Fourier inversas de ambos os lados da equação, obtemos
∫ ∞
1
fb(ω)eixω−kω t dω.
2
u(x, t) = √
2π −∞
Esta solução não é conveniente para as aplicações práticas, já que o integrando é complexo, enquanto que
a solução para o problema de Cauchy é real. Além disso, o integrando envolve a transformada de Fourier
da condição inicial, ao invés dela própria, o que dificulta a análise de como a solução depende desta última
(já que, como vimos nos exemplos, a transformada de Fourier de uma função é muito diferente da função).
Usando a propriedade da transformada de Fourier com relação a uma convolução, podemos obter uma solução
b(ω, t), observamos
real e em termos da condição inicial f (x). De fato, voltando à equação que dá a solução u
que a segunda função do lado direito é uma gaussiana em ω que, conforme vimos anteriormente, a menos de
uma constante é a transformada de Fourier dela própria. Mais precisamente,
1 ω2
F(e− 2 x ) = √ e− 2a .
a 2
a
Daı́, se √
1 − x2
g(x) = e 4kt ,
2kt
então
gb(ω) = e−kω t .
2
b(ω, t) = fb(ω)b
u g (ω).
Lembrando agora que a transformada√de Fourier de uma convolução é o produto das transformadas de
Fourier das funções multiplicadas por 2π, ou seja
1
fb(ω)b
g (ω) = √ f[∗ g(ω),
2π
Rodney Josué Biezuner 154
segue que
1
b(ω, t) = √ f[
u ∗ g(ω).
2π
Portanto, aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos
1
u(x, t) = √ (f ∗ g)(x)
2π
ou ∫ ∞
1 (x−s)2
u(x, t) = √ f (s)e− 4kt ds. (8.13)
2 πkt −∞
Esta é a solução da equação do calor em uma barra infinita, e além disso a única solução do problema, se
entendermos por solução uma função contı́nua, limitada em t > 0 e absolutamente integrável (existem outras
soluções, mas elas não são limitadas, e do ponto de vista fı́sico esperamos que a solução do problema seja
uma distribuição de temperaturas limitada).
1 ω2 ω2 t 1 (1+t)ω 2
b(ω, t) = fb(ω)e−kω t = √ e− 4 e− 4 = √ e− 4 .
2
u
2 2
Logo, √
1 (1+t)ω 2 1 2 − 1+t
x2 1 x2
u(x, t) = √ F −1 (e− 4 ) = √ e =√ e− 1+t .
2 2 1+t 1+t
pois fazendo 1+t 1 2
4 = 2a , segue que a = 1+t . Observe que como não há termo fonte, nem perda de
energia, a energia térmica é conservada, o que é confirmado pelo fato que
∫ ∞ ∫ ∞
1 x2 √
u (x, t) dx = √ e− 1+t dx = π
−∞ 1 + t −∞
Assumimos que as funções f, g são contı́nuas, limitadas e absolutamente integráveis. Aplicando a transfor-
mada de Fourier a este problema, obtemos a equação diferencial ordinária em t
ubtt (ω, t) = c2 ω 2 u
b(ω, t)
b(ω, 0) = fb(ω),
u
bt (ω, 0) = gb(ω).
u
Rodney Josué Biezuner 155
fb(ω) = u
b(ω, 0) = A(ω),
gb(ω) = u
bt (ω, 0) = cωB(ω).
Portanto,
gb(ω)
b(ω, t) = fb(ω) cos cωt +
u sen cωt. (8.15)
cω
Aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos a solução do problema:
∫ ∞[ ]
1 b gb(ω)
u(x, t) = √ f (ω) cos cωt + sen cωt eiωx dω. (8.16)
2π −∞ cω
Para obter uma solução real, usamos a tabela da transformada de Fourier e suas propriedades. Pela pro-
priedade da transformada de Fourier de uma translação temos
e icωt
+ e−icωt 1 [ icωt b ]
fb(ω) cos cωt = fb(ω) = e f (ω) + e−icωt fb(ω) ,
2 2
de modo que
( ) 1
F −1 fb(ω) cos cωt = [f (x + ct) + f (x − ct)] . (8.17)
2
Pelo item (1) da tabela de transformadas de Fourier temos
√
sen cωt π
gb(ω) = gb(ω)b
h(ω),
ω 2
onde {
1 se |x| < ct,
h (x) =
0 se |x| > ct,
de modo que
( ) √ ∫
−1 gb(ω) 1 1 π 1 ∞
F sen cωt = √ (g ∗ h)(x) = g (s) h (x − s) ds
cω c 2π 2 2c −∞
∫ x+ct
1
= g (s) ds. (8.18)
2c x−ct
Portanto ∫ x+ct
1 1
u (x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + g (s) ds. (8.19)
2 2c x−ct
1
Solução: Denotando f (x) = , segue que
1 + x2
√
π −|ω|
b(ω, t) = fb(ω) cos ωt =
u e cos ωt.
2
Logo,
√ √ ( )
π −1 −|ω| π −1 eiωθ + e−iωθ −|ω|
u(x, t) = F (e cos ωt) = F e
2 2 2
( √ ) ( √ )
1 −1 iωθ π −|ω| 1 −1 −iωθ π −|ω|
= F e e + F e e
2 2 2 2
( )
1 1 1
= + ,
2 1 + (x + t)2 1 + (x + t)2
(√ )
−1 π −|ω| 1
usando a propriedade da transformada de Fourier de uma translação, pois F e = .
2 1 + x2
Como a condição de fronteira está expressa em termos da variável x, faremos a transformada de Fourier em
relação à variável x, ou seja, consideraremos
∫ ∞
1
b(ω, y) = F(u(x, y)) = √
u u(x, y)e−iωx dx. (8.20)
2π −∞
Aplicando a transformada de Fourier à equação de Laplace, obtemos
2
F (uxx + uyy ) = F (uxx ) + F (uyy ) = (iω) u
b(ω, y) + u
byy (ω, y)
= −ω 2 u
b(ω, y) + u
byy (ω, y),
A(ω) = 0 se ω > 0,
B(ω) = 0 se ω < 0.
b(ω, y) = fb(ω)e−y|ω| .
u
Aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos a solução do problema:
∫ ∞
1
u(x, y) = √ fb(ω)eiωx−y|ω| dω. (8.22)
2π −∞
Para obter uma solução real, usamos a tabela da transformada de Fourier e suas propriedades. Pelo item
(9) da tabela, temos
( ) √2 y
−y|ω|
F e = .
π y + x2
2
Portanto,
b(ω, y) = fb(ω)P
u cy (ω) ,
onde a função √
2 y
Py (x) = (8.23)
π x + y2
2
∫ 1 s=1
100 1 100 y − s
= ( ) ds = − x arctan
πx −1 1 + y−s 2 πx x s=−1
[ x
]
100 y+1 y−1
= arctan − arctan
π x x
[ ]
100 1+y 1−y
= arctan + arctan .
π x x
Rodney Josué Biezuner 158
8.3.4 Exercı́cios
1. Resolva a equação do calor ou da onda dada. Em todos os casos, assuma −∞ < x < ∞ e t > 0.
utt = uxx {
utt = uxx
π π
1 cos x se − 6 x 6 ,
a) u(x, 0) = b) u(x, 0) = 2 2
4 + x2
0 caso contrário,
ut (x, 0) = 0.
ut (x, 0) = 0.
{ ut = 1
ut = uxx se − ∞ < x < ∞ e t > 0, 100 u{
xx
c) d) 100 se − 1 6 x 6 1,
u(x, 0) = e−x
2
se − ∞ < x < ∞. u(x, 0) = .
0 se x > 1.
utt = uxx √ u = uxx
t {
2 sen x |x|
e) u(x, 0) = f) 1− se − 2 6 x 6 2, .
π x
u(x, 0) = 2
0 se x > 1.
ut (x, 0) = 0.
ut = 1
ut = 14 uxx{
100 u
xx
100 se − 2 < x < 0,
g) 20 se − 1 6 x 6 1, h)
u(x, 0) =
u(x, 0) = 50 se 0 < x < 1,
0 se x > 1.
0 caso contrário.
{ {
ut = uxx ut = uxx
i) 100 j)
u(x, 0) = . u(x, 0) = e−|x| .
1 + x2
Rodney Josué Biezuner 159
2. Usando o método da transformada de Fourier, resolva o problema de valor inicial dado. Em todos os
casos, assuma −∞ < x < ∞ e t > 0.
uxt = uxx√ {
utt = uxxxx
a) π −|x| b)
u(x, 0) = e u(x, 0) = f (x).
2
{ {
3ut + ux = 0 aut + bux = 0
c) d)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x).
{ {
ut + tux = 0 ut = t 2 ux
e) f)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = 3 cos x.
{ {
ut + a(t)ux = 0 ut + (sen t)ux = 0
g) h)
u(x, 0) = f (x), u(x, 0) = sen x.
{ {
u t = ux ut = tuxx
i) j)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x),
{ utt + 2ut = −u
ut = a(t)uxx
k) , a(t) > 0. l) u(x, 0) = f (x),
u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x).
{ {
ut = e−t uxx ut = tuxxxx
m) n)
u(x, 0) = 100, u(x, 0) = f (x),
utt = uxxt utt − 4uxxt + 3uxxxx
o) u(x, 0) = f (x), p) u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x). ut (x, 0) = g(x).
3. Resolva o problema do calor com convecção na barra infinita (isto é, existe troca de calor da barra com
o meio ambiente): {
ut = c2 uxx + kux se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se − ∞ < x < ∞.
1
De posse desta propriedade resolva o problema de Dirichlet para f (x) = . Quais são as isotermas
1 + x2
neste caso?
Referências Bibliográficas
[1] ASMAR, Nakhlé, Partial Differential Equations and Boundary Value Problems, Prentice Hall, New
Jersey, 2000.
[2] BOYCE, William E. e DI PRIMA, Richard, Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores
de Contorno, 7a. Ed., LTC, Rio de Janeiro, 2002.
[3] EDWARDS, C. H. e PENNEY, D. E., Equações Diferenciais Elementares com Problemas de Contorno,
3a. Ed., Prentice-Hall do Brasil, Rio de Janeiro, 1995.
[4] FIGUEIREDO, Djairo Guedes de, Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais, Projeto Eu-
clides, IMPA, Rio de Janeiro, 1987.
[5] GONZÁLEZ-VELASCO, Enrique A., Fourier Analysis and Boundary Value Problems, Academic Press,
San Diego, 1995.
[6] HABERMAN, R., Elementary Applied Partial Differential Equations, with Fourier Series and Boundary
Value Problems, Prentice Hall, New Jersey, 1998.
161